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HIPERTIREOIDISMO & HIPERTIREOIDISMO

TIREOTOXICOSE
Prof. Tassia – Sofia R. Colombo – 8º período Epidemiologia:
TIREOTOXICOSE: Síndrome/Estado clínico decorrente do Não é uma doença tão comum. Dados americanos: 1,2% de
excesso de hormônio tireoidiano. Existem determinadas prevalência de Hipertireoidismo na população geral.
situações que causam uma tireotoxicose.
Principais causas de hipertireoidismo:
Exemplificando esse raciocínio: a Sd. de Cushing, por
exemplo, é um conjunto de sinais e sintomas decorrentes Doença de Graves (principal causa), Bócio multinodular
do excesso de cortisol, já as causas dessa síndrome são tóxico (BMNT) e o Adenoma tóxico (AT), também
determinadas condições que levam ao aumento do conhecido como Doença de Plummer.
cortisol.

HIPERTIREOIDISMO: Dentro das causas de tireotoxicose


temos o Hipertireoidismo. Ou seja, o hipertireoidismo é um
tipo de tireotoxicose, sendo decorrente do excesso de
hormônios tireoidianos. Mas, nesse caso, o excesso é
decorrente de uma maior síntese e maior liberação desses
hormônios pela própria glândula.

Então, seguindo esse raciocínio, podemos ter um quadro


de tireotoxicose decorrente de causas “não-
hipertireoidismo”.

Um exemplo seria o caso da figura abaixo.


Imagem: Cintilografia da tireoide. Nesse método de
Essa figura é uma prescrição de uma medicação imagem, um radiofármaco é ingerido pelo pct antes do
manipulada, realizada por um médico, onde ele insere os exame (tecnécio ou iodo); essa substância tem uma
hormônios T3 e T4 para alcançar o emagrecimento. avidez/afinidade pelo tecido tireoidiano, e essa avidez é
dependente do quanto essa glândula está em atividade.
Porém, isso é totalmente proscrito, ou seja, é proibido
fazer isso. O uso dessas medicações para esse fim pode Na primeira imagem vemos a cintilografia de uma tireoide
ocasionar, de forma iatrogênica, a tireotoxicose (quadro normal, com topografia normal, tamanho normal e
relacionado ao excesso de hormônio tireoidiano), além de captação normal.
efeitos deletérios no ponto de vista cardiovascular.
Na DOENÇA DE GRAVES, nota-se uma maior pigmentação
Então, um exemplo de tireotoxicose, além do do radiofármaco difusamente, ou seja, uma
hipertireoidismo, é a tireotoxicose factícia, que é um nome hipercaptação, o que traduz um aumento global/difuso da
dado a esse excesso de hormônio tireoidiano ingerido por glândula
uma medicação.
No BMNT, nota-se também uma hipercaptação da
substância, ou seja, observamos também um aumento da
glândula. Porém, aqui, esse aumento é assimétrico, ou
seja, a hipercaptação é heterogênea. Vemos áreas de
maior e outras de menor captação, devido aos múltiplos
nódulos produtores de hormônios (áreas mais
pigmentadas no exame) em meio ao tecido saudável, que
está hipocaptante por conta da supressão sofrida em
resposta à hiperfuncionalidade dos nódulos.

Já no ADENOMA TÓXICO/ DOENÇA DE PLUMMER há


apenas um nódulo produtor de hormônio, logo, nota-se
uma região específica muito mais impregnada (aumentada
e hiperfuncionante) e outras regiões com pouca captação
do radiofármaco, pois nessa patologia há o excesso de
produção de hormônios apenas por aquele nódulo.

OBS.: o termo “toxico” no nome dessas patologias se


refere à produção exacerbada de hormônio. Quando nos
deparamos com a nomenclatura “bócio multinodular
ATOXICO” ou “adenoma ATOXICO” é porque existem os
nódulos na glândula tireoide, porém não são nódulos
produtores de hormônio.

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Fisiopatologia Resumida de cada ✓ Maior sensibilidade catecolaminérgica: FC aumentada
e, consequentemente, aumenta risco de
Etiologia de Tireotoxicose: taquiarritmias (FA).
✓ Aumento da PAS e diminuição da PAD (PA
DOENÇA DE GRAVES: Excessiva estimulação tireoidiana
divergente), fazendo um contraposto do
por fatores tróficos. Nesse caso, é o Trab-estimulador
hipotireoidismo, onde ocorre uma PA convergente.
(auto-anticorpo anti-receptor de TSH), que vai se ligar nos
✓ ICC de alto débito.
receptores de TSH presentes nas células tireoidianas, vai
✓ Aumento do risco de eventos tromboembólicos
estimulá-los e, assim, vai fazer com que a glândula
(aumento dos fatores de coagulação).
“trabalhe mais”. É como se esse auto-anticorpo fizesse o
✓ Tremor de extremidades, intolerância ao calor,
papel do TSH.
sudorese e hiperidrose.
OBS.: Na aula de hipotireoidismo, foi visto que o Trab ✓ Hipermenorragia e irregularidade menstrual.
também pode ser inibitório, mas maioria dos casos o Trab ✓ Fraqueza mm proximal (mialgia em musculatura
é estimulador. proximal), hiper-reflexia
✓ Ansiedade, insônia, nervosismo... (por isso é comum
ADENOMA TÓXICO E BMNT: Ambas etiologias possuem a que pacientes inicialmente procurem atendimento
mesma fisiopatogenia: ativação constitutiva da síntese e psiquiátrico antes de investigar o hipertireoidismo).
secreção de hormônios. Como assim? Existe uma mutação ✓ Também pode ocorrer o BÓCIO (aumento glandular
que vai desencadear uma ativação constitutiva do difuso/global ou parcial/segmentar, seja qual for a
receptor de TSH, ou seja, é como se o receptor de TSH causa).
“ganhasse vida própria’’, e com isso ele vai começar a
trabalhar de forma independente da ação do hormônio OBS.: o Bócio pode estar relacionado ao hipotireoidismo,
TSH, resultando em células (que compõem os nódulos) ao hipertireoidismo e até mesmo ao eutireoidismo. Por
que produzem e liberam os hormônios tireoidianos de exemplo, no caso dos nódulos tireoidianos, sabemos que
forma autônoma. nem todo nódulo é funcionante, mas dependendo do
tamanho desse nódulo ele gera um aumento glandular
TIREOIDITES (fase inicial): Sabemos que tireoidites são visível a olho nu, e isso não significa necessariamente
inflamações da tireoide. A fisiopatogenia da tireotoxicose alteração bioquímica dos hormônios. Então o bócio, na
nesse caso envolve uma excessiva liberação de hormônios verdade, é uma descrição muito genérica. Ao dizer apenas
pré-formados, por conta de um insulto mecânico, químico, que um indivíduo tem bócio, não é possível concluir
autoimune ou infeccioso. Como isso ocorre? Por resultado nenhum diagnóstico.
dessas agressões, ocorrerá inflamação e consequente
ruptura dos folículos tireoidianos. Sabemos que nos
folículos há o coloide, que contém grande quantidade de
hormônios tireoidianos pré-formados e as próprias células DOENÇA DE GRAVES
foliculares, logo, esses componentes serão liberados na
Doença autoimune, causada pela presença do auto-
circulação. Aqui não há uma hiperfuncionalidade da
anticorpo TRAb (Anti-receptor de TSH), um anticorpo que
glândula, apenas foi liberado de forma indevida a
age de forma estimulatória sobre os receptores de TSH e ,
estocagem que havia nos folículos.
portanto, causam aumento da síntese e liberação
STRUMA OVARII: É um tipo de teratoma, ou seja, é uma hormonal.
condição em que se tem tecido tireoidiano fora da tireoide, É como se o Trab imitasse o papel do TSH e, como
levando ao um excesso de t3 e t4 por causas extra- sabemos, o TSH aumenta o trofismo das células, aumenta
tireoidianas (logo, não é um hipertireoidismo). circulação sanguínea, aumenta a rede capilar da região
TIREOTOXICOSE FACTÍCIA: Ocorre o excesso de tireoidiana, aumenta a função das células tireoidianas etc.
hormônios tireoidianos circulantes pela ingestão
excessiva/inadequada/inadvertida do hormônio
Epidemiologia:
tireoidiano (em medicamentos, por exemplo).
− Mulheres jovens (população mais acometida)
− Pode haver correlação com outras autoimunidades,
Quadro Clínico Geral: com DM1, com anemia perniciosa...
✓ Aumento da Taxa Metabólica Basal, levando à perda − É a principal causa de hipertireoidismo
de peso consequente. − Até 30% podem apresentar remissão espontânea

OBS.: É mais comum ocorrer perda de peso no hiper do Manifestações extra-tireoidianas:


que ganho de peso no hipotireoidismo.
Nem sempre ocorre, mas é importante pesquisar
✓ Aumento da fome (por isso, às vezes, o peso se principalmente a Oftalmopatia de Graves e o Mixedema
mantém; isso é muito relativo). pré-tibial.
✓ Perda de massa magra: óssea (osteoporose) +
muscular (sarcopenia), sendo mais intenso nos
pacientes idosos.

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OFTALMOPATIA DE GRAVES (OG): → Sinais e sintomas da Oftalmopatia de Graves:
− Dor espontânea
− Ocorre em até 50% dos pacientes com Graves, sendo − Dor à movimentação
clinicamente relevante em 20-30% deles ocular
(manifestações mais graves). − Hiperemia conjuntival
− Pode ocorrer um pouco antes das manifestações − Hiperemia palpebral
tireoidianas, ou seja, preceder os sintomas típicos de − Edema palpebral
hipertireoidismo (~20% dos casos). − Quemose (edema de
− Dificilmente ocorre de forma isolada (ou seja, conjuntiva)
presença de oftalmopatia, com ausência da doença − Edema de carúncula
tireoidiana em si), pois a fisiopatogenia da (região interna)
oftalmopatia está intrinsicamente ligada a − Fotofobia, lacrimejamento ou mesmo ressecamento
positividade do TRAb. (ressecamento principalmente quando tem o
− Como ocorre? Na oftalmopatia de graves o Trab vai se lagoftalmo, que é quando o paciente não consegue
ligar (ação cruzada) na região da gordura retro- fechar completamente os olhos, devido a essa
orbitária, e também na musculatura e nos fibroblastos protusão dos olhos).
daquela região, estimulando essas células à − Neuropatia óptica, lesão corneana.
hipertrofia. − Retração palpebral, exoftalmia, tecidos periorbitários,
diplopia.
→ Fatores de risco para a oftalmopatia de Graves:
− Sexo masculino Consegue-se fazer essa avaliação através da RM órbitas e
− Idade > 60 do Exoftalmômetro (quantifica o quanto o olho esta
− Tabagismo protuso).
− Tratamento prévio com rádio-iodo-terapia (RIT)

Esse tipo de terapia acaba sendo um “cavalo de troia”, → Tratamento (OG):


porque é ofertado “iodo” (em forma de radiofármaco), − Inclui mudanças comportamentais: cessar tabagismo,
que é uma substância que a tireoide realmente precisa pra óculos escuros se fotofobia, Colírios lubrificantes
conseguir produzir os hormônios, logo, as células possuem − Melhora da condição da doença tireoidiana (deve-se
receptores/afinidade. Porém, nesses casos, busca-se a buscar o eutireoidismo e abaixar o Trab).
ablação da tireoide, então é utilizado um iodo que exerce − Corticoide (em alguns casos) e Cirurgia s/n.
efeito destrutivo nas células tireoidianas. Com isso, numa
fase inicial, ocorrerá o rompimento das células foliculares OBS.: quando pensamos em doenças autoimunes logo
e liberação de grande quantidade de antígenos pensamos em corticoterapia. Porém, para doenças da
tireoidianos. Esses antígenos estimularão a produção de tireoide não é assim, tanto que quando vimos
mais anticorpos, ou seja, a RIT aumenta o Trab, e hipotireoidismo foi ressaltado o tratamento hormonal.
consequentemente gera essas manifestações Aqui na OG é a primeira vez que é citada a palavra
extratireoidianas, por conta justamente desse excesso de corticoide para tratamento de doença autoimune
Trab circulante. tireoidiana, pois devemos focar na fisiopatogenia, na
redução do Trab.
− TRAb fortemente positivo
→ Manifestações adrenérgicas:
A literatura diz “fortemente positivo”, mas não há um
valor de corte para isso. Importante salientar, que
nem todo olho mais
A titulação do Trab tem, inclusive, um valor prognóstico “arregalado” significa OG,
para nortear o paciente em relação ao risco de orbitopatia. pois podemos encontrar essa
característica também em
− Valores de T3 > 325 a 500 ng/dl (depende da literatura). decorrência de manifestações
− Hipotireoidismo descompensado pós RIT adrenérgias, que podem estar
Como sabemos, a RIT causa uma destruição/ablação das presentes em qualquer tipo de tireotoxicose.
células tireoidianas. Após esse procedimento os pacientes Nessas manifestações adrenérgicas o paciente pode ter
podem evoluir com hipotireoidismo primário, que seria essa característica devido a uma certa retração palpebral
secundário ao RIT. Portanto, terá um TSH muito elevado, que ocorre em decorrência a sintomas adrenérgicos que a
que também parece exercer um efeito estimulatório ao se própria doença de graves ocasiona, o Lid-lag palpebral
ligar aos mesmos receptores do TRAb (aqueles da região (atraso do fechamento das palpebras) e o olhar fixo.
retro-obitária) podendo, então, ocasionar a orbitopatia.
NÃO CONFUNDIR ESSES SINAIS COM A ORBITOPATIA de
− 10% dos pacientes com Hashimoto (que é o GRAVES! Esses achados se assemelham visualmente,
hipotireoidismo) podem desenvolver uma orbitopatia porém ocorrem por mecanismos distintos.
bem semelhante, em decorrência desse mecanismo.
− Predisposição genética

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DERMOPATIA INFILTRATIVA (MIXEDEMIA PRÉ-TIBIAL): além de atuar na supressão da produção hormonal, essa
droga ainda atua na fisiopatologia da doença.
− Ocorre em < 5% dos pacientes (muito mais rara do que
a OG). Ou seja, as DATs auxiliam na melhora da função tireoidiana
− Aspecto em “casca de laranja”, que demonstra e, ainda, diminuem o principal fator relacionado a doença
infiltração da pele por GAG (glicosaminoglicanos), de Graves, que é o TRAb. Por isso é muito importante a
gerando nítido espessamento. mensuração do TRAb, pois assim é possível ir
− Também chamado de mixedema pré-tibial. acompanhando essa queda ao longo do tempo.
− Pode estar associado a acropatia (baqueteamento Os dois representantes dessas drogas que estão
digital). Por isso, um diagnóstico diferencial de disponíveis no Brasil são o PROPILTIOURACIL (PTU) e o
baqueteamento digital é justamente o METIMAZOL, sendo o metimazol o mais comumente
hipertireoidismo por Graves, numa manifestação utilizado. Isso ocorre por uma comodidade de posologia,
chamada dermopatia infiltrativa. pois o metimazol pode ser utilizado 1x ao dia, tem uma
melhor posologia para o paciente, e ainda podem ser
tomados a qualquer hora do dia. Já o PTU precisa ser
utilizado 3x ao dia, gera uma maior chance de
esquecimento de tomar a medicação, dificulta adesão etc.

A principal indicação do PTU é a gestação. No 1º trimestre


é utilizado o PTU pois ele possui menor teratogenicidade
(mas não deixa de ser teratogênico), ou seja, possui
consequências menos graves do que as do metimazol. A
partir do 2º e 3º trimestre podemos voltar a utilizar o
metimazol.

Tratamento da Doença de Graves: As DATs são utilizadas também nos pacientes com risco
cirúrgico proibitivo.
O tratamento visa controlar duas situações: os sintomas
(principalmente num período inicial) e o excesso da De uma forma geral, as DATs acabam sendo a primeira
produção dos hormônios tireoidianos. opção terapêutica, pois dentre as três opções (DATs, RIT
ou tireoidectomia) a única que tem efeito
CONTROLE DOS SINTOMAS ADRENÉRGICOS: imunomodulador são as DATs. Porém, existem pacientes
que respondem menos às DATs; eles não deixam de ser
→ Betabloqueadores (PROPRANOLOL) = 10 a 40mg de 3 candidatos à utilização, porém são pacientes que precisam
a 4x ao dia. de uma maior atenção na avaliação da resposta adequada.
Falamos principalmente no propranolol pois ele, Efeitos Adversos: hepatotoxicidade, mielossupressão
especificamente, exerce um efeito de inibição da (com agranulocitose; o pct pode ter uma diminuição
deiodinase tipo 1, que é a responsável por retirar o iodo do importante dos neutrófilos, o que pode gerar dor de
T4 e transformá-lo em T3, agindo de forma a aumentar a garganta e amigdalite grave, com necessidade de
concentração séria do hormônio biologicamente mais suspenção da DAT; essa relação com amigdalite costuma
ativo. Logo, com o uso do propranolol essa transformação cair em prova!), teratogenicidade (especialmente o MMZ
é inibida. Além disso, os betabloqueadores vão auxiliar no 1º trimestre).
melhorando a FC e a PA.
2. RIT (radio-iodo-terapia):
O atenolol, que seria outra opção aqui, por sua vez, tem o
efeito apenas bloqueador adrenérgico. Pode ser utilizado A ideia da RIT é aquele “cavalo de troia”: é ofertado iodo,
em grávidas (utilizar a menor dose necessária, tanto para que é uma substância com alta afinidade pela tireoide,
grávidas quanto para não grávidas). porém é um iodo que vai causar diminuição do
funcionamento das células tireoidianas.
DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO HORMONAL: (3 opções)
Indicações:
1. DAT (drogas anti-tireoidianas) ou tionamidas:
− Contraindicação às DATs ou não resposta às DATs;
As DATs são drogas da classe das tionamidas. Podemos − Pacientes com planos de iniciar gestação nos
utilizar os dois nomes como sinônimos. próximos 6 meses (uma vez optado pelo tratamento
com RIT, pede-se a paciente para esperar pelo menos
Essas drogas agem inibindo a organificação (que é colocar 6 meses para um plano de gestação, pois o Iodo pode
o iodo dentro da molécula de tireoglobulina) e o passar por via transplacentária e atingir a tireoide do
acoplamento do Iodo (que é a junção do MIT, DIT, T3, T4 feto.)
dentro da tireoglobulina).
− Paciente com Risco Cirúrgico proibitivo (pcts em que
Além disso, elas também possuem efeito a cirurgia apresenta alto risco, por exemplo, pacientes
imunomodulador! Isso é uma característica importante, muito idosos, acamados, presença de certas
pois a fisiopatologia da doença de Graves passa comorbidades...)
necessariamente por uma questão imunológica. Então,

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É uma técnica muito simples de ser administrada: o Não existem pontos de corte para o que seria “muito
paciente vai à uma clínica de medicina nuclear e vai ingerir elevado” ou “muito volumoso”, mas de qualquer forma
uma determinada quantidade desse iodo radioativo e devemos ficar atentos a esse perfil de paciente.
pode voltar para casa.
ACOMPANHAMENTO:
O maior incômodo é que a resposta ao tratamento pode
demorar para aparecer por até 6 meses. A partir desse Devemos avaliar a função tireoidiana com 4 a 6 semanas
tempo o paciente já começa a ter uma melhora substancial após o início da droga, até atingir normalização dos
dos exames sanguíneos. hormônios. Após isso, manter reavaliação a cada 3 meses
e ir realizando os ajustes.
Além do ponto negativo que é a demora da resposta, o
paciente que passou pela RIT ainda pode evoluir para um Lembrando que a avaliação da função tireoidiana é feita
hipotireoidismo. Isso é uma questão a ser muito bem pela dosagem do TSH e do T4 livre.
conversada com o paciente, pois é colocado na balança se
LEMBRAR: Ao exame, T4 livre e T3 total normalizam-se
é menos danoso continuar com o hiper ou desenvolver um
antes do TSH. Os primeiros hormônios a se normalizarem
hipo e, uma vez que os efeitos, principalmente
são o T3/T4, e somente depois é que há uma melhora do
cardiológicos, relacionados ao hiper são muito mais
TSH. Então, na fase inicial da terapêutica, vamos nos guiar
deletérios, o hipotireoidismo é visto como menos grave,
pela dosagem de T3/T4. O TSH no hipertireoidismo
além de ser muito mais simples de se controlar com as
primário estará bem baixo, por conta do feedback
medicações, mostrando uma resposta muito mais
negativo. É por isso que não adianta ficar olhando para o
satisfatória ao tratamento.
TSH logo no início do tratamento, pois isso pode acabar
Contraindicações da RIT: gravidez, lactação, orbitopatia gerando a impressão equivocada de que é preciso
em atividade. aumentar a dose da tionamida.

3. TIREOIDECTOMIA: → Manter tionamidas até 12-18 meses após atingir a


normalização/eutireoidismo, para assegurar de que a
Indicações: medicação exerceu o efeito imunomodulador.
− Pacientes com planos de iniciar gestação nos → Considero remissão da doença se o paciente ainda
próximos 6 meses. apresenta eutireoidismo com 1 ano de suspensão da
tionamida.
− Bócio com sintomas compressivos/ bócios
mergulhantes.
− Pacientes não respondedores as DATs

Riscos: é um procedimento invasivo, então existem os


DOENÇA DE PLUMMER OU ADENOMA
riscos inerentes à cirurgia; além disso existem os riscos TÓXICO
específicos da tireoidectomia: Lesão do n. laríngeo
recorrente e hipoparatireoidismo − Maioria dos pacientes: 30-60 anos
− 6 - 15 Mulheres : 1 Homem
OBS.: hipoparatireoidismo → ocorre por lesão/exérese das − Mais comum em áreas de deficiência de Iodo
paratireoides diretamente ou lesão de vasos que nutrem − Nos EUA: 2% dos casos de tireotoxicose
elas, ocasionando interrupção da produção do PTH. Além
da lesão de vasos, que gera necrose, pode ainda haver Tipicamente: nódulo único, hipercaptante em um espaço
hipofluxo causado pelo edema local. Nos casos de bem delimitado à Cintilografia, mesmo estando presente
hipofluxo esse hipoparatireoidismo é transitório, em pcts em eutireoidismo.
resolvendo-se até 6 meses após a cirurgia. Se o quadro se
estender para mais de 6 meses dizemos que é um Além da hipercaptação, deve-se avaliar a função
hipoparatireoidismo permanente. A consequência do tireoidiana, pois esses pacientes eutireoideos com o
hipoparatireoidismo é a baixa do cálcio, consequente à nódulo hipercaptante podem adquirir características de
baixa do PTH. um hipertireoidismo subclínico, e ainda evoluir para o
hipertireoidismo propriamente dito. Características desse
PREDITORES DE MÁ RESPOSTA ÀS TIONAMIDAS/ DATS: tipo de paciente:

Não vamos deixar de dar a medicação para esses − Idosos


pacientes, mas devemos ficar ainda mais em alerta em − nódulo > 3cm
relação à resposta deles ao tratamento e não atrasar em − residente de áreas de
caso de necessidade de terapia alternativa. baixa ingesta de iodo
− Uso excessivo de iodo
✓ Homens
✓ Crianças
✓ Tabagistas
✓ T3 muito alto (> 500ng/dl)
✓ TRAb muito elevado
✓ Vascularização intensa ao doppler
✓ Bócios muito volumosos Imagem: nódulo hipercaptante

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Fisiopatologia: Quadro Clínico:
A doença de Plummer compartilha da mesma − Sintomas de Hipertireoidismo/tireotoxicose.
fisiopatogenia do BMNT. − Sintomas compressivos se tornam mais prevalentes:
Dispneia, disfagia, disfonia...
Ocorre uma mutação pontual e somática do receptor de
TSH, é como se ele ganhasse vida própria, e com isso Tratamento:
começa a hiperestimular as células tireoidianas. É uma
ativação constitutiva desse receptor! O receptor fica As opções terapêuticas são muito semelhantes ao do
ativado a todo momento, independente do estímulo da Adenoma tóxico. A prioridade, nesse caso, também é a
hipófise pelo TSH. Isso ocasiona uma produção excessiva RIT, e a cirurgia.
dos hormônios tireoidianos.
No caso da terapia com etanol percutâneo, por se tratar
Tratamento: agora de múltiplos nódulos, essa se torna uma terapia
muito desconfortável para o paciente, pois teriam que ser
Aqui, o tratamento se baseia na RIT ou na cirurgia, que feitas várias punções. Então a RIT e a cirurgia têm mais
serão as opções curativas. Nesse caso entram como espaço nessas situações.
primeira opção.
O uso das DATs também fica para um controle paliativo e
Pode-se ainda lançar mão do etanol percutâneo como mais o betabloqueadores para ajudar nos sintomas
uma opção curativa. Nessa terapêutica é realizada uma adrenérgicos.
punção do nódulo guiada por US, e é injetado uma
quantidade de etanol, que vai exercer uma reação
inflamatória local e vai destruir esse nódulo, diminuindo
então a sua função. HIPERTIREOIDISMO SUBCLÍNICO
Já as DATs serão a opção paliativa, pois elas não curam o Possui aproximadamente 0,7% de prevalência (menos
paciente, apenas exercem efeito paliativo. Isso acontece comum que o hipo subclínico).
pois elas não agem na fisiopatologia dessa doença, mas
elas podem maquiar o problema, pois conseguem reduzir Quanto menor o valor de TSH, maior a chance de evoluir
para hipertireoidismo clínico. Ou seja, maior a chance de o
a síntese e a liberação dos hormônios, porém não
T4 livre deixar de ser normal e vir a aumentar de fato.
alcançam a cura.

Na imagem ao lado, pode-se Relembrando mais uma vez: aqui o HIPER subclínico é em
observar a evolução do paciente: relação ao laboratório, aquele TSH baixo e T3/T4 normais
num primeiro momento nota-se (seja livre ou seja total). No HIPO é um TSH alto e T3/T4
uma hiperatividade do lobo normais. Já no HIPER clínico teremos a alteração de
ambos: TSH baixo e T3/T4 elevados.
tireoidiano esquerdo no terço
médio/inferior; já após a RIT,
observa-se que essa glândula
Perfil do paciente:
inclusive diminuiu de tamanho. − Áreas de deficiência de iodo
− Mulheres
− Idosos
− Tabagistas

Causas:
BÓCIO MULTINODULAR TÓXICO São causas de HIPER subclínico: causa exógena (factícia),
(BMNT) Doença de Graves, BMNT* e Adenoma tóxico*. Como
diferenciá-las:
− Idosos (> 60 anos)
USG: mostra glândula maior na doença de graves,
− Predomínio no sexo feminino
múltiplos nódulos no BMNT, ou um nódulo único no
− Muito importante: áreas de carência de Iodo
adenoma tóxico, ou uma glândula normal na causa
− Possui praticamente a mesma fisiopatogenia da
exógena/factícia.
doença de Plummer:
o Nódulos pré-existentes ou nódulos novos que RAIU (cintilografia que avalia a captação de Iodo no tecido
adquirem autonomia e produzem tireoidiano, após 24h de sua ingestão): Na causa factícia a
exageradamente os hormônios T3 e T4; glândula fica hipocaptante. Na doença de Graves fica
o Ocorre uma mutação somática pontual nos hipercaptante difusa. No BMNT fica captante em várias
receptores de TSH, que adquirem autonomia e pequenas áreas da glândula. No adenoma tóxico fica
produzem hormônios em excesso. hipercaptante em um único local, que seria no nódulo
o A diferença é que no BMNT são múltiplos único.
nódulos e não em um nódulo único, como no
adenoma tóxico. TRAb: é positivo na Doença de Graves.

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Tratamento Conduta:
Considerar fortemente o tratamento: O que fazer: PAAF p/ cultura e confirmação diagnóstica,
ATB EV (ATB de amplo espectro na emergência e depois da
→ Se TSH < 0,1 cultura ajusta) e drenagem local (paciente vai pro centro
→ Se alto RCV (nesses, qualquer pequeno aumento dos cirúrgico).
hormônios tireoidianos e supressão do TSH leva a um
risco muito mais aumentado de doenças Prognóstico:
cardiovasculares).
→ Se o paciente tiver osteoporose (uma das Apesar de ser um quadro grave, geralmente o prognóstico
manifestações do hipertireoidismo, pelo consumo da é muito bom. Uma vez que o paciente se recupera, na
massa magra). maioria das vezes, não há comprometimento permanente
→ Se o paciente for > 65 anos (maior risco de hiper da função tireoidiana.
clínico).
→ Se a origem do quadro for Doença de Plummer
(adenoma tóxico) ou BMNT.
TIREOIDITE DE QUERVAIN
Pois sabe-se que para esses pacientes há uma maior
chance do hiper subclínico se tornar clínico. Também conhecida como: Tireoidite Subaguda dolorosa,
ou granulomatosa ou de células gigantes ou, apenas,
subaguda!

É um quadro 5x mais comum em Mulheres (predisposição


TIREOIDITES genética: HLA-B35).

Aqui, o paciente é acometido por linfócitos que foram


Falaremos agora de outras causas de tireotoxicose além ativados devido à uma infecção viral prévia (especialmente
do hipertireoidismo. enterovírus). Ou seja, não é o vírus que ataca diretamente
as células tireoidianas, mas sim, são os linfócitos que,
TIREOIDITE AGUDA depois de ativados pelo vírus, ocorre uma ação cruzada, e
acabam tendo como alvo também as células foliculares.
Também conhecida como: Tireoidite Supurativa ou
Esse ataque gera repercussão sobre a funcionalidade
Infecciosa.
tireoidiana.
Raríssimo! É causada por um agente infeccioso,
geralmente uma bactéria. Quando ocorre, o perfil mais Curso clínico
comum de pacientes são os imunossuprimidos e aqueles
com malformações embrionárias cervicais (cisto 1º - Fase Tireotóxica:
tireoglosso). − Duração em torno de 4 semanas, podendo variar de 2
até 6 semanas.
Bactérias responsáveis: − Associada ao rompimento/ destruição dos folículos.
✓ Staphylococcus aureus (principal)* − Com isso, ocorre grande liberação dos hormônios que
✓ Streptococcus pyogenes estavam pré-formados e estocados no coloide.
✓ S. pneumoniae Teremos então grande liberação de T3 e mais ainda de
✓ Salmonella, TB T4 (relação T3/T4 < 20; é produzido mais T4 do que T3).

Quadro clínico 2º - Fase de Hipotireoidismo:


− Geralmente assintomática.
− Os principais e mais marcantes sinais e sintomas são − É uma fase em que a glândula está tentando retornar
os decorrentes de uma sepse. ao eutireoidismo. E, como houve previamente um
− Abcesso, febre, calafrios, odinofagia, disfagia, excesso de liberação de hormônios tireoidianos, o TSH
leucocitose importante. É um quadro grave! vai estar baixo inicialmente e, depois, para tentar
− ÀS VEZES: tireotoxicose. Os sintomas de tireotoxicoso compensar toda essa destruição, O TSH fica bem
são os que menos chamam atenção, e inclusive nem elevado para tentar recuperar a função tireoidiana.
sempre estarão presentes. − Nesse período então, eu tenho um hipotireoidismo,
que pode ou não ser sintomático.

3º - Fase de recuperação:
− Paciente retorna ao eutireoidismo, em resposta ao
estímulo do TSH.
− Alguns podem evoluir para um hipotireoidismo
permanente.

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Tratamento: TIREOIDITE DE REIDEL
Normalmente esse paciente chega pra gente numa fase − Tireoidite crônica, fibrosa invasiva ou lenhosa.
tireotóxica, numa fase de dor/ desconforto na região − Super rara! 0,05%; mais comum em mulheres na 3ª ou
cervical. Então serão utilizadas medições para auxiliar no 4ª décadas de vida.
processo inflamatório, que seriam os AINEs, e se não − Fibroses também podem ocorrer em tecidos distantes
responsivos, podem ser utilizados os glicocorticoides, mas (extratireoidianos): retroperitoneal, colangite
geralmente com AINE vai muito bem. esclerosante, pseudotumor de órbita, fibrose das
Ainda, podem ser utilizados os Beta Bloqueadores, que parótidas e das glândulas lacrimais.
atuam no controle de sintomas adrenérgicos que podem − Sintomas mais proeminentes: disfagia, dispneia,
ser causados pelo excesso de hormônios tireoidianos. dificuldade de movimentação cervical, disfonia e
rouquidão, ou seja, os sintomas compressivos.
A fase de hipotireoidismo geralmente não requer − Achado no EF: Massa cervical endurecida, indolor.
tratamento. − Maioria dos pacientes cursa sem alterações de função
tireoidiana, mas existem relatos de hipotireoidismo,
Importante ressaltar que não são incluídas aqui as DATs,
pois a fibrose causa redução da disponibilidade de
pois o defeito não está sendo de hiperprodução, o defeito
células foliculares.
está sendo de hiperliberação, que tende a se resolver com
− Tratamento: Corticoide em altas doses.
o tempo.

TIREOIDITE SUBAGUDA INDOLOR CRISE TIREOTÓXICA OU


Associa-se à: TEMPESTADE


predisposição autoimune (HLA-DR3).
período pós-parto. TIREOIDIANA
✓ uso de medicamentos (amiodarona).
É a manifestação mais grave de um
− Obedece às fases da Tireoidite de Quervain, porém hipertireoidismo/tireotoxicose, enquadrando-se como
aqui o quadro não é doloroso. uma das poucas emergências endócrinas.
OBS.: Amiodarona: É uma doença a se ficar muito atento, pois, normalmente
− A amiodarona pode produzir uma tireotoxicose do em um PS não dá pra ficar solicitando TSH (não é rotina, é
tipo 1 (efeito de Jod-Basedow/ excesso de oferta de um exame de alto custo, demorado de sair resultado etc.),
iodo) e do tipo 2 (efeito toxico direto da amiodarona; então é preciso ter uma boa perspicácia, para se antenar
destrói folículos e libera os hormônios = causa a nos casos que é preciso realmente pedir o TSH.
tireoidite subaguda indolor). Por isso foi desenvolvida a escala de Burch e Wartofsky,
OBS.: Período Pós-parto: onde verifica-se a presença de alguns parâmetros e atribui-
se uma pontuação para cada um deles.
− 10% das pacientes no pós-parto desenvolvem uma
Parâmetros da escala de Burch e Wartofsky:
tireoidite subaguda.
− Risco + elevado se essa mulher tiver um Anti-TPO (+) ✓ FC
− Pode ocorrer em até 1 ano do pós-parto ✓ FA
− O clássico: passar pelas 3 fases: ✓ TAX
o Tireotoxicose: 1º - 6º mês ✓ ICC (presença ou não de ICC e a magnitude da ICC)
o Hipo transitório: 3º - 8º mês ✓ Disfunção hepática ou TGI
o Eutireoidismo: 9º - 12º mês ✓ Disfunção SNC
− Mas, ainda podem evoluir com HIPO permanente! ✓ Fator precipitante
Portanto, deve-se ficar atento às mulheres no período
pós-parto, realizando periodicamente a avaliação da
função tireoidiana.
→ < 25: improvável
→ 25-44: possível Crise Tireotóxica (CT)
→ ≥ 45: Crise Tireotóxica

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Tratamento
• Propanolol:
• PTU: − Melhora dos sintomas adrenérgicos
− Bloqueia a síntese e liberação de T3 e T4. − Bloqueia a Deiodinase 1 (diminuindo a conversão
− Bloqueia a Deiodinase 1, ou seja, ele indisponibiliza o periférica de T4 em T3).
T3 para os tecidos periféricos e, consequentemente,
reduz os sintomas. • Hidrocortisona:
− Bloqueia Deiodinase 1
• Lugol:
− Deve ser utilizado apenas 1h após PTU.
− Bloqueia a síntese e liberação de T3 e T4.

O lugol é uma medicação que contém alta concentração


de iodo.

Aqui, queremos provocar o efeito Wolff Chaikoff (aquele


efeito que ocorre quando há muita oferta de iodo para
uma glândula que não precisa tanto dele); isso ocorre pois
já bloqueamos a glândula com o PTU anteriormente. O efeito Wolff–Chaikoff é um fenômeno autorregulatório
que inibe a organificação na glândula tireoide, a formação
Então, esse excesso de iodo do Lugol vai exercer um efeito dos hormônios tireoidianos no interior dos folículos da
de autorregulação nessa glândula, diminuindo a síntese e glândula e a liberação deles na corrente sanguínea. Esse
a liberação de T3 e T4. efeito é um meio eficiente de o organismo rejeitar grandes
Para que isso ocorra corretamente, precisamos primeiro quantidades de iodo ingeridas, prevenindo a tireoide de
sintetizar grandes quantidades de hormônios tireoidianos.
bloquear a síntese hormonal com o PTU. Se o lugol for
ofertado antes da ação do PTU teremos o efeito Jod-
Basedow, que é justamente o contrário do que queremos.

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