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Anatomia e fisiologia:
● É uma glândula que todo mundo tem, e nascer sem ele é incompatível com a vida
● A tireoide está localizada na região cervical, aderida à face anterior à traquéia, sendo a
cartilagem cricóide uma referência.
- Abaixo da cartilagem cricóide
● Pequena com seu peso é de aproximadamente 20 gramas
● Formada por 2 lobos, sendo em geral, maior o direito
- Lobos são unidos pelo istmo
● Órgão bastante vascularizado.
- Em algumas doenças, principalmente de hiperfunção como a doença de graves, sua
vascularização pode ser maior em proporção do que o rim
● Origem endodérmica – assoalho da faringe, trajeto de migração em direção inferior
assinalado pelo ducto tireoglosso (resquícios podem gerar cisto tireoglosso).
- Na hora de se formar dessa origem endodérmica ela desse por esse ducto
tireoglosso, se esse ducto não se fechar completamente e terminar sua formação
pode ter algum resquício que no adulto fica conhecido como cisto tireoglosso
- Faz cirurgia e retira não tendo nenhum prejuízo da função
● Irrigação: Artérias tireocervicais
● Inervação é autônoma
Histologia:
● Células foliculares: produção de hormônio tireoidiano (NIS – sódio e iodo e receptor de
TSH).
- Origem endodérmica
- Produzem
➔ T3 (triiodotironina)
➔ T4 (tetraiodotironina ou tiroxina)
● Células parafoliculares ou Cél. C: produção de calcitonina que vai agir contra regulando o
paratormônio que tem ação na produção do tecido ósseo (quantidade de fósforo e cálcio
que tem para a formação óssea)
- Origem neuroendócrina
- Produzem e secretam calcitonina
● Colóide: armazenamento hormônio tireoidiano dentro das células foliculares
Fisiologia:
● Células foliculares: Hormônios tireoidianos
- Ação no crescimento e desenvolvimento normais
- Regulam funções homeostáticas como a produção de energia e calor
● Células parafoliculares (células C)
- Secretam calcitonina: participa do metabolismo do cálcio (relação direta com o
depósito de cálcio nos ossos)
Eixo:
● No hipotálamo ocorre a produção de TRH (hormônio estimulador de tireotropina)
● Na hipófise anterior o TRH vai estimular a produção de TSH (hormônio tireoestimulante)
● Na tireóide o TSH estimula a produção de T3 e T4
● Feedback (contrarregulação):
- O próprio T3 e T4 faz feedback tanto no TSH quanto no TRH - quando se tem uma
alta produção de hormônios tireoidianos (T3 e T4) eles mesmo fazem esse feedback
para diminuir essa produção em excesso
● Funções:
- Modulação atividade metabólica
- Síntese proteica
- Desenvolvimento SNC
Bócio endêmico:
● Deficiência grave de iodo na dieta: cursa com bócio (crescimento da glândula) +
hipotireoidismo (falta de hormônio tireoidiano)
- Falta de hormônio tireoidiano (T3 e T4↓) - Não consegue produzir pois não tem iodo
- Para tentar fazer a produção dos hormônios tireoidianos ser normal a hipófise
aumenta o estímulo de TSH - TSH ao se ligar no seu receptor além de tentar
estimular a produção estimula a proliferação de células da tireóide
● Raro atualmente
Fisiologia da Tireóide - 4 etapas:
1. Transporte ativo do Iodo através da Membrana basal para dentro das células pelo NIS
● Entram na célula folicular 2 íons Na e 1 iodo por meio do NIS
- Transporte ativo de sódio e iodo para dentro da célula atravessando as células
foliculares
● Situação de suficiência de iodo: Tiróide capta 10% do iodo circulante
● Situação de deficiência de iodo: Tiróide capta até 80% do iodo circulante
- Isso porque ela faz uma reserva ao perceber que o iodo está pouco
● NIS é estimulada pelo TSH e pelo TRAb (subunidade α do beta-hCG, FSH e LH)
- Tudo que se liga ao receptor de TSH estimula o transporte de sódio e iodo
para dentro da célula
2. Oxidação do iodo
● Após a captação, o iodo é transportado pela pendrina para dentro do colóide
onde vai ser usado para produzir os hormônios
● Passa pela Membrana basal -> membrana apical -> dentro do colóide (dentro do
folículo)
● Pendrina: localizada na borda apical
- Transfere o I- para dentro do colóide onde é usado na hormoniogênese
● No folículo: o iodo é oxidado pela enzima TPO (tireoperoxidase)
- Dentro do colóide ocorre todo o processo com o I para ele se transformar em
hormônio tireoidiano
● Biotina:
- Muito utilizada para tratamento de cabelos e unhas
- Não altera a tireoide, mas sim os exames laboratoriais
➔ Interfere nos exames laboratoriais de TSH e T4 livre imitando uma alteração
nos exames mas não causa alteração nenhuma no corpo
- Mimetiza quadro laboratorial de tireotoxicose ou hipotireoidismo dependendo do
tipo de ensaio utilizado
➔ Tireotoxicose: THS suprimido e T4 livre elevado
➔ Hipotireoidismo: TSH aumentado e T4 livre reduzido
- Pedir para cessar o uso 3 dias antes da coleta do exame.
THS elevado e T4 normal:
Hipotireoidismo:
Deficiente produção ou ação dos hormônios tireoidiano
● Quando não está produzindo, produz porém de forma inadequada ou não tem ação
correta dos hormônios tireoidianos
Alentecimento generalizado dos processos metabólicos
● Essa deficiência da produção/ação gera demora nos processos metabólicas pois T3 e T4
são hormônios que agem diretamente no metabolismo
Primário x Secundário x Terciário
● Secundário + terciário: Hipotireoidismo central (A causa é central - Hipotálamo/hipófise)
- Perda do feedback (T3 e T4 baixos e TSH baixo)
● Primário: A causa é na própria tireóide
- O eixo tá funcionando normalmente - mantém o feedback (T3 e T4 baixo e TSH
aumentado)
Raro: resistência generalizada aos HT – Devido a mutações nos receptores
Hipotireoidismo primário – muito prevalente em todo o mundo
Sintomas:
● Início insidioso e geralmente muito lento
● São inespecíficos e por isso não pode ser feito o diagnóstico de hipotireoidismo pelos
sintomas
- Doença com diagnóstico estritamente laboratorial
● Se sobrepõem entre os pacientes com e sem doença da tireoide
● Muitos sinais e sintomas da disfunção tireoidiana não são sensíveis ou específicos
- Por isso não pode ser feito ajuste de dose de medicações e nem diagnóstico de
hipotireoidismo pela clínica
Metabolismo lipídico:
● Hipercolesterolemia:
- Aumento no risco cardiovascular
- Reverte com a restauração do eutireoidismo
● Por isso pacientes com colesterol muito alto e com hipotireoidismo descompensado
primeiro deve tratar o hipotireoidismo e depois repetir os esses exames do colesterol pois
como eles afetam diretamente o colesterol esse não pode ser tratado antes para depois
reavaliar
- Inicia o tratamento do hipotireoidismo e reavalia o colesterol
Manifestações Gastrointestinais e renais:
● TGI:
- ↓Motilidade intestinal - constipação, impactação fecal e megacólon mixedematoso
➔ Megacólon quando ele não consegue evacuar e vira um bolo de fezes
causando aumento do cólon
- Distensão gasosa (por não ter motilidade)
- Devido a ↓Taxa metabólica - ↓apetite - ganho de peso modesto por retenção
hídrica (mixedema)
➔ Não é ganho de peso excessivo pois o corpo reduz o apetite, o ganho de peso
aqui é por retenção hídrica
● Renais:
- ↓Fluxo sanguíneo renal e TFG
- ↓Débito urinário com acúmulo de água livre corporal
- Uma das causas de retenção hídrica é as alterações renais
Manifestações do sistema nervoso central e periférico:
● CRETINISMO - deficiência de HT na vida fetal ou ao nascimento/crescimento:
- É extremamente ruim pois os hormônios tireoidianos agem diretamente na
maturação, crescimento e desenvolvimento do SNC
➔ Essa mielinização e construção do SNC é realizada geralmente nos primeiros
3 anos de vida e se falta o hormônio tireoidiano ali é irreversível
➔ Por isso em gestantes que têm hipotireoidismo quase dobra a dose do
tratamento pois não pode faltar hormônio para essa criança durante seu
desenvolvimento
➔ E por isso é importante realizar o teste do pezinho para diagnosticar o
hipotireoidismo congênito que quando tratado precocemente não deixa
sequelas
- Esses paciente tem:
➔ Hipoplasia dos neurônios corticais, atraso na mielinização - retardo mental
(irreversível)
● Nos adultos: Quando desenvolvido nos adultos
- Raciocínio lento
- Déficit de concentração
- Fala lenta e arrastada
- Perda de memória
- Letargia, apatia
- Demência (principalmente se mais idosos)
- Reflexos tendinosos lentificados: devido atraso na condução nervosa
- Síndrome do túnel do carpo: mixedema do nervo mediano
Manifestações gonadais e hematopoiéticas:
● A falta do TSH vai interferir diretamente na ação de FSH e LH (como eles estão muito
interligados vai ter imaturidade/não maturação dos hormônios sexuas tanto na infância
quando na adolescência com retardo puberal)
- Na infância - imaturidade sexual, se não tratado
- Na adolescência - Retardo Puberal
● Na mulher: devido a subunidade α tem relação no FSH e LH (os eixos conversam entre si)
- Ciclos anovulatórios - sangramentos menstruais volumosos e irregulares e pode
ocorrer amenorréia por meses
➔ Se meses sem menstruar e ovular pode levar a infertilidade
- ↓Libido e fertilidade
- ↑Aborto espontâneo
● No homem:
- ↓Libido, impotência sexual associado
- Oligospermia: Diminuição da produção de espermatozóide pois é o FSH que
estimula diretamente as células de leydig a produzir espermatozoide
● Anemia - ↓produção de eritropoetina pelo rim
- Devido a menor vascularização renal
- Anemia crônica de repetição
Manifestações do metabolismo energético:
● Diminui metabolismo energético e a produção de calor:
- ↓Taxa metabólica basal
- ↓Apetite
- Intolerância ao frio
- ↓Discreta da temperatura corporal
●↓Metabolismo das gorduras - dislipidemia
- Aumenta a gordura disponível no plasma
Quem deve ser rastreado para hipotireoidismo? todo mundo que tem fator de risco
● Mulheres na idade fértil ou mais idosas > 60 anos (homens mais idosos também)
● Grávidas
● Tratamento anterior de radiação na tireoide
● Cirurgia tireoidiana
- Na lobectomia (tira só 1 lobo) - é para o outro conseguir manter a demanda por isso
rastrear para ver se não evolui para hipotireoidismo
● DM1 (é autoimune e por isso predisposição a desenvolver hipotireoidismo autoimune)
● História pessoal de alguma outra doença autoimune
● Síndrome de Down
● Síndrome de Turner
● História familiar de doença tireoidiana
● Presença de bócio e/ou anti-TPO positivo
● Sintomas clássicos
● Uso de drogas (lítio, amiodarona, etc).
- Com alta taxa de iodo que pode levar a depleção
● Hiperprolactinemia
- Ou alterações de outros hormônios do eixo
- Atraso puberal…
● Dislipidemia
- Quando muito alto
● Anemia
- Anemias crônicas que não se resolvem
● Insuficiência cardíaca
Diagnóstico de hipotireoidismo:
● Hipotireoidismo Primário
- TSH elevado (VR: 1,5 – 5,5)
➔ TSH >10 faz diagnóstico de hipotireoidismo
- T4 livre baixo ( VR: 0,5 – 1,5 )
- T3 baixo
- Se TSH > 10 e T4 livre normal: indica que o eixo tá estimulando muito e por conta
disso a tireoide ainda consegue manter a produção de hormônios, porém se não
tratar vai ter uma hora que a tireoide não vai mais aguentar e vai cair os valores
- Início: hipotireoidismo subclínico
➔ TSH 5,5 - 10, T4 livre normal e o paciente sem sintomas
➔ Geralmente é a primeira fase, quando o paciente começa a descompensar a
tireoide
➔ Pra ser subclínico o paciente não pode ter sintomas, alterações do colesterol,
anemias e nem sintomas laboratoriais ou clínicos de hipotireoidismo
OBS: lembrar que TSH é pulsátil (tendo picos durante o dia que dura em torno
de 30 minutos) e pode ser que no dia do exame o paciente dormiu mal,
estava usando corticoide ou outra medicação que atrapalhou fazendo o TSH
dá uma subida e depois normalizar - Por isso não faz diagnóstico de
hipotireodismo quando TSH não passa de 10 (repete exame em 3-4 semanas)
- Secreção preferencial de T3: em 1/3 dos hipotireoidismo o T3 está normal.
● Hipotireoidismo central:
- T4 e T3 estão baixos
- TSH normal ou baixo
- TSH com reduzida bioatividade (perda de feedback).
- Fazer ressonância de sela túrcica para investigar a causa (RNM de cabeça)
- Investigar os outros hormônios também para investigar pampituitarismo
Tratamento do hipotireoidismo:
● Repor T4 - tratamento de padrão ouro
● Levotiroxina (LT4)
- Padrão ouro para o tratamento do hipotireoidismo.
- Eficaz por via oral quando utilizado da maneira correta
- Tem meia vida sérica longa (7 dias)
- Administração diária
- Resolução dos sinais e sintomas na maioria dos pacientes
- Uma pequena proporção de pacientes tratados com LT4 sente que a terapia não é
eficaz.
- Repõe o hormônio menos ativo que é o T4 e espera-se que as desiodinases estejam
funcionando corretamente para fazer a conversão de T4 em T3 nos locais ideais
- Como calcular a dose inicial (início de tto pós diagnóstico)? é pelo peso ideal
(IMC ideal para o paciente de acordo com a sua altura)
➔ 1,6 – 1,8 mcg/kg de peso ideal (pop. Geral)
➔ 2,1 – 2,7 mcg/kg de peso ideal (câncer de tireoide e gravidez).
- Apresentação em MCG:
➔ Euthyrox cp (25; 50; 75; 88; 100; 112; 125; 137; 150; 175; 200)
➔ Syntroid cp (25; 50; 75; 88; 100; 112; 125; 137; 150; 175 e 200)
➔ Puran T4 cp (12.5; 25; 37.5; 50; 62.5; 75; 88; 100; 112; 125; 150; 175; 200; 300).
➔ Levoid cp (25; 38; 50; 75; 88; 100; 112; 125; 150; 175 e 200)
- Repetir TSH em 6-8 semanas e a próxima dose a se ajustar deve ser de acordo
com o valor de TSH e aos poucos
- Obs: deve ser ingerido com água, pela manhã em jejum, e só alimentar-se após
30 minutos.
➔ A ingestão não pode ser com nada além de água pois se trata de
microgramas (doses muito pequenas) outras coisas impede a sua absorção
➔ Longo prazo longe da alimentação
- Café e absorção da levotiroxina:
➔ Se for da máquina/cápsula esperar 3-4 horas por causa do alumínio da
cápsula que não deixa absorver
-Os níveis normais de T4 e TSH são alcançados após 6 semanas do início do
tratamento
➔ Repetir depois de 6-8 semanas os exames
➔ Demora por conta do colóide que armazena os hormônios tireoidianos, então
quando você toma até repor essa reserva e aumentar na circulação vai um
tempo
- TSH é o marcador mais confiável, e o alvo terapêutico:
➔ Pop. Geral (20 – 60 anos) é de 0.5 – 4.0 mUI/L
➔ > 60 anos: até 5.5 mUI/L
➔ > 70 anos: até 7 mUI/L
➔ Em grávidas / idade fértil TSH < 2.5 mUI/
➔ Crianças e RN: 0.5 - 2.0
OBS: Quanto mais jovem o TSH tem que ser mais baixo e quanto mais
envelhece ele pode ir aumentando (por ser protetor hepático, ósseo e ajudar
em várias coisas fisiologicamente em pessoas sem doença na tireoide ele
tende a aumentar mesmo - homeostase normal do corpo)
- Os sintomas sozinhos não possuem sensibilidade e especificidade para ajuste da
dose.
- É recomendado prescrição de marca, evitar mudanças do fabricante.
- A medicação não deve ser consumida junto com outras medicações
➔ RECOMENDAÇÃO: esperar 4 HORAS (no mínimo 1 hora)
- Pacientes que necessitem de doses muito altas de T4, considerar avaliação de
distúrbios gastrointestinais que interferem na absorção (Gastrite com H. Pylori
positiva, Gastrite atrófica, doença celíaca).
➔ Gastrite atrófica autoimune – anticorpos anti-células parietais
➔ Obesidade extrema (IMC > 40)
➔ Cirurgia bariátrica disabsortiva (bypass gástrico)
➔ Aumento extremo de estrogênio (uso de ACO)
- Marcadores de órgãos alvo de resposta ao HT
➔ SHBG: ocorre aumento
➔ Colesterol (repetir após estabilizado o hipotireoidismo): estabiliza o colesterol
➔ Função miocárdica, particularmente a diastólica: vai está normalizada
➔ Espessura da íntima da artéria braquial: vai está normalizada (não vai está
espessa mais)
Coma Mixedematoso:
● Estágio final de um hipotireoidismo prolongado e grave.
● Diagnóstico clínico = não aguardar confirmação laboratorial
- Paciente corre risco de vida, grave, com hipotensão e hipotermia grave
● Acomete idosos, nos meses de inverno
- Intolerância muito grave ao frio
● Elevada taxa de mortalidade (>20%)
● Temperatura subnormal é comum (hipotermia grave)
● Bradicardia e hipotensão grave -> sempre presentes
● Fatores predisponentes:
- Exposição ao frio
- Infecção
- Trauma
- Depressores ou anestésicos do SNC
- Hipoventilação alveolar + retenção de dióxido de carbono
- Hiponatremia dilucional
● Diagnóstico diferencial: AVE de tronco cerebral e Hipotermia
● Paciente vai ter valor de TSH muito alto (>500 por exemplo)
● Tratamento:
- Adm de LT4 dose IV única de 500 – 800 mcg + doses diárias de 100 mcg +
hidrocortisona 5-10 mg/ hora.
- Alternativa = T3 25 mcg (IV) 12/12 horas.]
- Alternativa T4 300 mcg + T3 25 mcg (IV) + T4 100 mcg (IV) ao dia.
- Solução salina hipertônica + glicose
- Ventilação assistida + O2 suplementar.
- Aquecimento interno por perfusão gástrica.
- Evitar aquecimento externo, exceto cobertores.
- Atenção à impactação fecal e retenção urinária
- Avaliar doenças coexistentes (infecção, DAC, AVC).
Livro:
Introdução:
● O hipotireoidismo é uma síndrome clínica resultante da deficiente produção ou ação dos
hormônios tireoidianos (HT), com consequente alentecimento generalizado dos processos
metabólicos.
● Pode ser classificado como:
- Primário - por mau funcionamento da própria tireoide
- Secundário - de causa hipofisária, por deficiência de hormônio tireoestimulante
[TSH], também denominado tireotrofina
- Terciário - por deficiência hipotalâmica do hormônio liberador de tireotrofina [TRH].
➔ A terminologia hipotireoidismo central é preferível, porque nem sempre é
possível distinguir entre causas hipofisárias e hipotalâmicas.
- Periférico ou extratireoidiano - situação rara decorrente de resistência à ação
periférica dos HT ou de sua metabolização aumentada
● O hipotireoidismo primário (HTP) é uma doença muito prevalente em todo o mundo e
responde por 95% do total de casos de hipotireoidismo. Pode ser endêmica em regiões
com deficiência de iodo, mas também se mostra comum em áreas com adequado aporte
alimentar de iodo.
1. Alterações metabólicas:
● A alteração lipídica mais característica do hipotireoidismo é a elevação do LDL-
colesterol, a qual pode vir isolada ou associada à hipertrigliceridemia (em geral
modesta e resultante de baixa atividade da lipase lipoproteica).
- Raramente ocorre elevação isolada dos triglicerídeos
● O HDL-colesterol encontra-se inalterado ou um pouco baixo.
● O aumento do LDL-colesterol resulta da diminuição T3-dependente da expressão do
gene do receptor hepático de LDL. As partículas LDL dos hipotireóideos parecem ser
mais suscetíveis à oxidação, o que potencialmente as torna mais aterogênicas. Uma
suposta maior degradação do receptor de LDL pela pró-proteína convertase
subtilisina quexina tipo 9 (PCSK9) contribuiria também para a elevação do LDL-
colesterol.
● Doença hepática gordurosa não alcoólica é também comum no hipotireoidismo.
● Outros fatores de risco cardiovascular em geral encontrados nessa população são
elevação de proteína C reativa ultrassensível, homocisteína e lipoproteína (a).
● Elevação de transaminases, creatinoquinase e desidrogenase láctica pode também
acontecer.
● Todas essas anormalidades metabólicas revertem com o tratamento adequado do
hipotireoidismo.
2. Alterações endócrinas:
● Destacam-se hiperprolactinemia, redução nos níveis de fator de crescimento
semelhante à insulina-1 (IGF-1) e proteína ligadora 3 de IGF (IGFBP3) (por diminuição
da secreção de GH, resultante do aumento no tônus somatostatinérgico), e
hiporresponsividade do GH aos testes de estímulo
- Hiperprolactinemia se origina de aumento do TRH, bem como da diminuição
do tônus dopaminérgico
● Nos casos de hipotireoidismo primário de longa duração não tratado, pode-se
observar aumento de volume hipofisário à ressonância magnética, inclusive com
extensão suprasselar, em função da hiperplasia das células tireotróficas e
lactotróficas
6. Sistema digestório:
● Anorexia, constipação intestinal e distensão gasosa são as manifestações mais
comuns.
- As duas últimas resultam de menor ingestão alimentar, retardo no
esvaziamento gástrico e alentecimento do trânsito intestinal.
● Algumas vezes, pode haver grave retenção fecal ou íleo paralítico. Megacólon pode
ser constatado por exames radiológicos.
● Acloridria em mais de 50% dos pacientes
● Macroglossia é manifestação tardia do hipotireoidismo não tratado, e ascite
mixedematosa é rara
● Doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose e esteato-hepatite) é mais
frequente entre hipotireóideos do que na população geral.
7. Sistema respiratório:
● O hipotireoidismo pode cursar com respirações lentas e rasas, bem como respostas
ventilatórias alteradas a hipercapnia ou hipoxia. Ocorre dispneia em cerca de 50%
dos pacientes. Pode haver também derrame pleural, bem como apneia do sono
obstrutiva. É comum insuficiência respiratória em pacientes com coma
mixedematoso
8. Sistema Musculoesquelético:
● Pacientes com hipotireoidismo podem manifestar fadiga muscular generalizada,
mialgias e cãibras. Artralgias, derrames articulares, síndrome do túnel do carpo e
pseudogota também podem ocorrer. Em geral, não se observa alteração dos níveis
séricos do cálcio e do fosfato, nem da densidade mineral óssea. Entretanto, há
evidências de redução da remodelação óssea e de resistência à ação do
paratormônio (PTH), o que justificaria a elevação dos níveis desse hormônio e da
1,25(OH)2D.
● Hipotireoidismo é um dos fatores de risco para a miotoxicidade das estatinas,
mesmo quando usadas em doses relativamente baixas.
9. Manifestações renais e distúrbios eletrolíticos:
● No hipotireoidismo, pode haver diminuição do fluxo sanguíneo renal e da taxa de
filtração glomerular, em função da redução do débito cardíaco e do volume
sanguíneo. Como consequência, ocorre elevação dos níveis séricos de creatinina,
ácido úrico e magnésio.
● Proteinúria discreta se faz presente, muitas vezes secundária à insuficiência cardíaca
ou ao aumento da transudação capilar de proteínas.
● Nefropatia perdedora de sal, consequente a mau desempenho dos mecanismos de
reabsorção tubular, resultando em poliúria, hiponatremia, hipocalemia,
hipocloremia, hipocalcemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia
10. Sistema reprodutivo:
● Em mulheres, o hipotireoidismo acompanha-se de irregularidades menstruais
(oligomenorreia, amenorreia primária ou secundária e, sobretudo, menorragia),
anovulação e infertilidade.
● Em homens, podem ser observadas redução da libido, disfunção erétil e
oligospermia.
● Contribuem para esses sintomas o hipotireoidismo em si, bem como o
hipogonadismo induzido pela hiperprolactinemia leve a moderada
11. Sistema hematopoiético:
● Anemia leve a moderada é um achado comum, com frequência bem variável (32 a
84%).
● A anemia causada pelo hipotireoidismo pode ser normocítica ou macrocítica e
responde à reposição de levotiroxina.
● Anemia hipocrômica e microcítica pode também ocorrer, caso surja deficiência de
ferro secundária à menorragia.
● Anemia macrocítica também resulta de absorção deficiente de vitamina B12, que
pode ser multifatorial: diminuição do fator intrínseco, redução da produção renal de
eritropoetina ou associação à anemia perniciosa (vista em até 14% dos pacientes e
decorrente da presença de anticorpos contra as células parietais da mucosa
gástrica). Nesses casos, a administração parenteral de vitamina B12 é necessária.
12. Exame da tireóide:
● Bócio detectado nos primeiros meses ou anos de vida é indicativo de defeito
congênito na síntese dos hormônios tireoidianos. Pode ser, ainda, secundário à
tireoidite de Hashimoto ou à grave deficiência alimentar de iodo. Em adultos,
hipotireoidismo com bócio é quase sempre secundário à tireoidite de Hashimoto.
Hipotireoidismo central cursa sempre sem bócio. O mesmo se aplica aos casos de
hipotireoidismo primário decorrente de ectopia, hipoplasia ou aplasia tireoidianas.
13. Hipotireoidismo na infância:
● No recém-nascido, o hipotireoidismo manifesta-se por persistência da icterícia
fisiológica, choro rouco, constipação intestinal, sonolência, problemas relacionados
com a alimentação, hérnia umbilical, atraso significativo da maturação óssea, e – se
não tratado de maneira adequada e precoce – ocorre importante e irreversível
retardo mental.
- A maioria dos casos de hipotireoidismo congênito não tem, ao nascimento,
sinais ou sintomas da doença, a qual deve ser rastreada em todo neonato
com a utilização do “teste do pezinho”
● Quando o hipotireoidismo se inicia após os 2 anos de idade, não ocorre retardo
mental, e a síndrome se manifesta por baixa estatura (associada a retardo da idade
óssea e hiporresponsividade do GH aos testes de estímulo), desempenho escolar
deficitário, atraso no desenvolvimento puberal e graus variáveis dos sinais e
sintomas observáveis nos adultos.
- O hipotireoidismo primário grave pode se exteriorizar por um quadro de
puberdade precoce incompleta (síndrome de van Wyk-Grumbach), reversível
com a reposição de levotiroxina
●
14. Cretinismo é o termo utilizado para casos de hipotireoidismo congênito associado ao
retardo mental, à baixa estatura e a uma característica inchação da face e das mãos. Com
frequência, acompanha-se de surdo-mudez e sinais neurológicos de anormalidades dos
tratos piramidal e extrapiramidal.
Diagnóstico laboratorial:
1. Hipotireoidismo Primário:
● As alterações clássicas são: TSH elevado e níveis baixos de T4 livre (FT4) e T3.
- De início, observa-se apenas elevação do TSH, caracterizando o
hipotireoidismo subclínico; a seguir, reduzem-se o T4 e, em uma fase
posterior, o T3.
- Pode haver, também, secreção preferencial de T3, de modo que, em pelo
menos um terço dos hipotireóideos, os níveis de T3 estão normais. Por essa
razão, diante da suspeita de hipotireoidismo, a dosagem de T3 sérico torna-se
desnecessária, já que a redução de seus níveis séricos sempre sucede a
redução de T4.
● Hipotireoidismo central:
- O hipotireoidismo central caracteriza-se por níveis séricos de FT4 baixos,
enquanto os do TSH podem estar normais, baixos ou, até mesmo, um pouco
elevados (em geral < 10 mU/ℓ).
➔ Trata-se, contudo, de um TSH com reduzida bioatividade intrínseca, em
função do aumento do conteúdo de ácido siálico no hormônio.
- Há elevação do TSH também em casos de mutações no gene da subunidade
beta do TSH, bem como em casos de resistência a esse hormônio. Os
pacientes com hipotireoidismo central apresentam, com frequência,
deficiência de outras trofinas hipofisárias.
Tratamento:
● O tratamento do hipotireoidismo consiste, em geral, na administração de levotiroxina (L-
T4), em uma dose única diária.
1. Posologia:
● A L-T4 tem meia-vida de cerca de 7 dias e, assim, deve ser administrada em
dose única diária. Os pacientes devem ser orientados a tomar a medicação
em jejum, pela manhã, 30 a 60 minutos antes do desjejum, visto que
alimentação pode reduzir a absorção da medicação. Caso isso não seja
possível, uma alternativa aceitável seria a tomada da medicação à noite, ao
deitar, com o paciente em jejum.
● A dose ideal de L-T4 varia de acordo com a idade e o peso do paciente
● Em adultos (16 a 65 anos), a dose diária ideal é de 1,6 a 1,8 μg/kg de peso ideal.
2. Avaliação terapêutica e monitoramento:
● A resposta ao tratamento do HTP deve ser avaliada pela dosagem do TSH
após 6 semanas, tempo mínimo ideal para que se observe uma resposta
plena do TSH ao tratamento. A normalização do FT4 é mais precoce. Caso o
TSH persista elevado, aumenta-se a dose de L-T4 em 12,5 a 25 μg/dia até que
se consiga sua normalização.
- A meta são níveis entre 1,0 e 2,5 mU/ℓ nos pacientes mais jovens (< 60
anos) e entre 4 e 6 mU/ℓ naqueles > 70 anos
- Um TSH suprimido indica necessidade de redução da dose de L-T4.
● No caso do hipotireoidismo central, o monitoramento e os ajustes das doses
devem ser feitos de acordo com os níveis de FT4 (nunca pelo TSH), que, de
modo geral, devem ser mantidos no terço superior da faixa de normalidade.
Os exames devem ser feitos a cada 6 a 8 semanas até se atingir a dose de
manutenção e, depois, semestral ou anualmente. As avaliações no HTP
também devem ocorrer a cada 6 a 12 meses.
● Um recente consenso de especialistas propôs o termo hipotireoidismo
refratário para os casos em que não se consiga normalizar a função
tireoidiana, a despeito do uso de doses de L-T4 > 1,9 μg/kg/dia. Nesses casos,
deve-se sempre suspeitar de má adesão ao tratamento ou da existência de
condições que afetem a absorção da medicação (ver adiante).
3. Situações determinantes de ajuste da dose de levotiroxina:
● Em algumas situações, os requerimentos diários de L-T4 podem ser alterados
para mais ou para menos
● A não normalização da função tireoidiana a despeito do uso de doses
crescentes de L-T4 tem como etiologia mais frequente a baixa adesão ao
tratamento. Pode, contudo, também resultar de existência de condições que
comprometam a absorção da medicação, como doenças gastrintestinais e
medicamentos
● Resistência às doses convencionais de L-T4 oral foi relatada em pacientes
com distúrbios associados à secreção ácida gástrica prejudicada (gastrite
atrófica e infecção por Helicobacter pylori), doença inflamatória intestinal
(doença de Crohn), intolerância à lactose, doença celíaca, giardíase crônica e
outras parasitoses intestinais.
● Reduzida absorção de L-T4 pode também ocorrer em obesos graves (IMC >
40 kg/m2), com melhora após a perda de peso.
● A ingestão de certos alimentos em quantidade excessiva pode também
reduzir a biodisponibilidade de L-T4, forçando o incremento na dose da
medicação. Entre eles, se incluem fibras alimentares (pão de trigo integral,
granola ou farelo), café expresso, toranja e suplementos de proteína de soja.
● alguns medicamentos coadministrados com a L-T4 interferem em sua
absorção, particularmente os sais de cálcio, os sais de ferro e os inibidores da
bomba de prótons (por reduzirem a acidez gástrica). Caso não possam ser
interrompidas, devem ser tomadas 4 a 6 horas após a L-T4.
- Outras medicações envolvidas são antiácidos, picolinato de cromo,
resinas de ácidos biliares, sucralfato, raloxifeno e ligadores de fosfato
(sevelâmer).
● O uso concomitante de GH recombinante humano estimula a conversão de
T4 em T3, o que pode também levar à necessidade de doses maiores de L-T4.
Em contrapartida, envelhecimento e terapia androgênica são fatores que
determinam a redução das necessidades diárias de L-T4.
4. Efeitos adversos:
● A terapia com L-T4 é muito bem tolerada, desde que monitorada de modo
adequado. Doses excessivas podem causar hipertireoidismo, enquanto o
emprego a longo prazo de doses que suprimam o TSH para valores < 0,1 mU/ℓ
é um fator de risco para fibrilação atrial (em idosos), elevação da pressão
arterial, hipertrofia ventricular esquerda e doença miocárdica isquêmica (se a
idade for > 65 anos).
● O efeito deletério de doses excessivas de L-T4 sobre o osso é ainda um pouco
controvertido. De acordo com a maioria dos estudos (mas não todos), elas
podem levar à osteoporose, mas apenas em mulheres pós-menopausadas.
5. Resposta ao tratamento:
● O uso de L-T4 em doses adequadas possibilita rápida melhora dos sintomas e
sinais do hipotireoidismo, bem como rápida normalização da função
tireoidiana. Contudo, como já ressaltado, muitos pacientes em uso de L-T4
durante o acompanhamento se mostrarão subtratados (TSH alto) ou
hipertratados (TSH suprimido), sendo tais situações mais comuns em idosos
Investigação do Hipotireoidismo:
● deve ser investigado em pacientes com sintomas sugestivos ou fatores de risco para a
doença (idade > 60 anos, presença de bócio, doenças autoimunes, síndromes de Turner e
de Down etc.), bem como em gestantes e pacientes com hipercolesterolemia
Coma Mixedematoso:
● Trata-se da complicação mais grave do hipotireoidismo, com mortalidade muito elevada
(pode chegar a 60% ou mais), mesmo quando as medidas terapêuticas são realizadas em
tempo hábil. Ocorre nos casos de hipotireoidismo grave de longa duração não
diagnosticados ou naqueles tratados de maneira inadequada.