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MÍMESE

A revelação do real na linguagem da arte


Tanto no texto de Marcelino Freire quanto no de Clarisse Lispector,
percebemos relações com situações da vida. Conseguimos identificar,
nos textos, vivências da realidade social.

O que nos coloca diante da questão: A arte, de fato, imita a vida?

Dois filósofos da Antiguidade dedicaram parte de sua obra para discutir


a natureza da arte e o seu efeito em nós.

Vejamos a perspectiva de cada um deles sobre a “Mímese” (imitação).


Aristóteles
A teoria das ideias ou das formas
de Platão

PLANO Tudo é perfeito


METAFÍSICO DAS IDEIAS Tudo é fixo
DA ESSENCIA
MUNDO INSENSÍVEL
MUNDO ABSOLUTO

MUNDO RELATIVO
MUNDO SENSÍVEL
PLANO DOS SENTIDOS
FÍSICO DA FORMA Tudo mutável
Tudo é imperfeito
Fixo e perfeito

Animal mamífero, carnívoro,


quadrúpede, da família dos Mutável e imperfeito
Canídeos, doméstico, tem
olfato muito apurado.. Pode apresentar
tamanho, forma e
pelagem muito
variável
consoante a raça.
Mundo das ideias
Criador natural

Artesão
Artífice
Artista (poeta)
Imitador
1
IDEIA DE CADEIRA

2
3
“A imitação está, portanto, longe do verdadeiro, e se
ela consegue parecer com todos os objetos, é porque
toca apenas uma pequena parte de cada objeto, que é
só uma sombra”

O artista faz uma “imitação da aparência”.


Com o crescimento das polis (cidades) gregas, um
grande número de pessoas começa a viver dividindo o
mesmo espaço. Por conta disso, começa-se a pensar
sobre a forma de organização dessas pessoas.

A principal obra sobre política de Platão é A república.


Ao pensar na sociedade ideal (aquela que existe somente
no mundo das ideias), Platão fala, também, sobre o
artista e sua produção mimética (imitativa).

Para Platão, o artista deve ser expulso da sociedade


ideal, pois a sua mímese está muito distante da verdade
(mundo das ideias), ou seja, o artista não deve existir na
sociedade ideal, pois sua imitação não é perfeita.

 Platão atribui um valor negativo à arte.


Já para Aristóteles...
Não existe um mundo ideal em que tudo é perfeito. A verdade
é adquirida a partir da investigação do “mundo material” e o
ser humano é naturalmente imitador. Sobre a natureza da
arte, ele explica:

“Parece ter havido para a arte em geral duas


causas, as duas naturais. Uma é que imitar é
natural nos homens desde a infância e nisto
diferem dos outros animais, pois o homem é o
que tem mais capacidade de imitar e é pela
imitação que adquire os seus primeiros
conhecimentos; a outra é que todos sentem
prazer nas imitações.” (A poética, cap. IV)
Verossimilhança
“A função do poeta não é contar o que
aconteceu mas aquilo que poderia
acontecer, o que é possível, de acordo
com o principio da verossimilhança e da
necessidade. O historiador e o poeta [...]
diferem é pelo fato de um relatar o que
aconteceu e o outro o que poderia
acontecer.” (A poética, cap IX)
Verossimilhança Semelhança com a verdade.

Verossímil Aquilo que é semelhante, que parece com a verdade.

Ao comparar o historiador com o poeta, Aristóteles deixa claro que a


responsabilidade do poeta não está com fatos que tenham, de fato, acontecido,
mas sim com aqueles que são possíveis de acontecer, que são críveis, ou seja,
que podemos acreditar que aconteça na realidade.
O que aconteceu O que é possível que aconteça

Não aconteceu, mas é uma situação


que poderia acontecer. No mundo
real situações como essa acontecem,
logo, a cena da série é verossímil
(parecido com a verdade). Quando
assistimos, conseguimos acreditar na
cena, pois é parecida com a verdade.
HISTORIADOR ARTISTA

O que aconteceu O que poderia acontecer

Aconteceu com Pedro Henrique Aconteceu com Poussey Washington


Gonzaga – pessoa real – personagem fictícia que representa
(caso específico) todas as detentas (essência geral)

Particular Universal

A arte consegue, por meio da verossimilhança, representar o que é mais geral e


universal, ela é mais filosófica, sendo superior a história que conta o que aconteceu
na aparência.
 Aristóteles atribui um valor positivo à arte.
“Todas [as artes] imitam com o ritmo,
a linguagem e a harmonia, usando
tais elementos separada ou
conjuntamente [...] os imitadores
imitam caracteres, afetos e ações
(ethos, pathos, práxis).”

 O artista faz uma “imitação da


essência”, que acontece por
meio da verossimilhança.
Catarse
É uma espécie de “purificação”
motivada pela mímese.

Aristóteles usa o termo para designar o efeito


causado pela tragédia nas pessoas.

Quem nunca assistiu um filme, ouviu uma música ou


leu um livro e ficou na condição de tela azul?
Aquele momento de choque que a única coisa que
precisamos é de um tempo para reiniciar o cérebro e
conseguir digerir o que acabou de ver?
O artista, por meio dos sons, das
O efeito catártico
1 palavras, das ações e outros meios
imita a realidade.

Por meio da verossimilhança, o artista


consegue imitar caracteres, afetos e 2

ações, ou seja, a essência do real.

Quanto mais verossímil a mímese,


mais crível a obra é, ou seja, quanto
3 mais próxima da verdade a imitação
estiver, mais acreditarei nela como
verdade, mesmo sabendo que não é..
O efeito catártico acontece quando os
caracteres, afetos e ações imitados
4
causam um certo impacto no
espectador.

Este efeito pode motivar diferentes


sentimentos no espectador, como
5
identificação, repulsa, emoção,
medo...

O que você sentiu ao ter contato com


6
essas manifestações artísticas?
Resumindo...

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