Você está na página 1de 234

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Hortaliças
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

HORTALIÇAS
LEGUMINOSAS

Warley Marcos Nascimento


Editor Técnico

Embrapa
Brasília, DF
2016
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa Hortaliças
Rodovia BR 060, trecho Brasília-Anápolis, km 09, Brasília - DF
CEP 70.351-970
Caixa Postal 218
Fone: (61) 3385.9000
Fax: (61) 3556.5744
www.embrapa.br
www.embrapa.br/fale-conosco/sac

Unidade responsável pelo conteúdo e pela edição


Embrapa Hortaliças

Comitê Local de Publicações


Presidente
Warley Marcos Nascimento

Editor Técnico
Ricardo Borges Pereira

Membros
Miguel Michereff Filho
Milza Moreira Lana
Marcos Brandão Braga
Valdir Lourenço Júnior
Daniel Basílio Zandonadi
Caroline Pinheiro Reyes,
Carlos Eduardo Pacheco Lima
Mirtes Freitas Lima
Secretária: Gislaine Costa Neves

Supervisor Editorial: Caroline Pinheiro Reys


Normalização Bibliográfica: Antônia Veras de Souza
Revisor de Texto: Warley Marcos Nascimento
Capa: Henrique Martins Gianvecchio Carvalho
Fotos de abertura, dos capítulos e do anexo: Warley Marcos Nascimento

Projeto gráfico e editoração eletrônica: André Luiz Garcia

1ª edição
1ª impressão (2016): 1.000 exemplares

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Hortaliças

Hortaliças leguminosas / Warley Marcos Nascimento, editor técnico. – Brasília, DF : Embrapa, 2016.
232 p. : il. color. ; 17 cm x 24 cm.
ISBN 978-85-7035-589-8
1. Ervilha. 2. Feijão-vagem. 3. Grão-de-Bico. 4. Lentilha. I. Nascimento, Warley Marcos. II. Embrapa
Hortaliças.
CDD 635.65

©
Embrapa 2016
Autores

Antonio Ismael Inácio Cardoso


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Professor da
Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu, São Paulo, SP

Fabio Akiyoshi Suinaga


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento, Pesquisador da Embrapa
Hortaliças, Brasília, DF

Leonardo Silva Boiteux


Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Plant Breeding and Plant Genetics, Pesquisador da
Embrapa Hortaliças, Brasília, DF

Milza Moreira Lana


Engenheira Agrônoma, Doutora em Plant Science, Pesquisadora da Embrapa Hortaliças,
Brasília, DF

Nei Peixoto
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor da Universidade Estadual de
Goiás, Ipameri, GO
Osmar Pereira Artiaga
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, Produtor, Brasília, DF

Patrícia Pereira da Silva


Bióloga, Doutora em Ciência e Tecnologia de Sementes, Bolsista de Pós-Doutorado,
Universidade de Federal de Pelotas, Pelotas, RS

Raquel Alves de Freitas


Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitotecnia, Analista, Embrapa Produtos e Mercados,
Uberlândia, MG

Renan Cardoso Lima


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia, Estudante de Doutorado em Fitotecnia,
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG

Rogério Faria Vieira


Engenheiro Agrônomo, Doutor Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa/Epamig, Viçosa,
MG

Warley Marcos Nascimento


Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Fisiologia de Sementes, Pesquisador da Embrapa
Hortaliças, Brasília, DF
Apresentação

N
os últimos anos, a maior parte mular produtores e indústria a ampliar
do consumo interno brasileiro o conhecimento acerca dessas cultu-
das hortaliças leguminosas, ras, mostrando o potencial que Brasil
principalmente ervilha, grão-de-bico e possui para se tornar um grande pro-
lentilha, vem sendo suprida por meio dutor dessas leguminosas.
de importações. Um dos principais
motivos do desinteresse dos produto- Tendo o cenário descrito como
res por essas hortaliças é a escassez ponto de referência, o livro “Hortaliças
de informações, o consumo reduzido Leguminosas” se propõe a ser uma
e a falta de tradição de cultivo dessas real contribuição à cadeia produtiva
espécies nas condições tropicais do dessas hortaliças. A publicação inclui
País. Assim, torna-se necessário esti- cinco capítulos, sendo quatro sobre as
culturas da ervilha, do feijão-vagem, A Embrapa Hortaliças, editora
do grão-de-bico e da lentilha, além de técnica desta estratégica publicação,
um sobre a qualidade e o uso dessas espera oferecer à comunidade cientí-
leguminosas. Eles foram escritos em fica, estudantes, técnicos e produtores
parceria com renomados técnicos, informações úteis para este segmento
professores e pesquisadores de insti- do agronegócio de hortaliças no Brasil.
tuições públicas e privadas do País.
Boa leitura!

Jairo Vidal Vieira


Chefe-geral da Embrapa Hortaliças
11
Sumário

Capítulo 1
Ervilha..........................................................................................................17

Capítulo 2
Feijão-vagem................................................................................................61

Capítulo 3
Grão-de-bico................................................................................................89

Capítulo 4
Lentilha.......................................................................................................121

Capítulo 5
Leguminosas: Qualidade e Uso.................................................................149

Anexo .......................................................................................................217
Ervilha

Ervilha
Warley Marcos Nascimento
Patrícia Pereira da Silva
Raquel Alves de Freitas
Leonardo Silva Boiteux

Introdução portância, principalmente na nutrição

O
humana, por ser um excelente ali-
provável centro de origem da mento, contendo em sua composição
ervilha (Pisum sativum L.) é o elevados teores de proteínas, vitami-
Oriente Médio com sua distri- nas do complexo B (tiamina, riboflavi-
buição natural alcançando o nordes- na e niacina), minerais (ferro, cálcio,
te da Índia e Afeganistão. A Etiópia é potássio e fósforo), além dos carote-
tida também como centro de origem noides luteína, β-caroteno e violaxan-
secundário. A cultura é bem significa- tina. O teor do aminoácido lisina faz
tiva para a história, existindo vários com que seja, em termos nutricionais,
relatos de ervilha na Bíblia, além de um bom complemento dos cereais.
ter sido de grande importância para Apresenta ainda uma maior digesti-
pesquisas de Gregor Mendel, criador bilidade (90%) quando comparada ao
da genética moderna. Atualmente, as feijão (73%). A Índia é o maior pro-
ervilhas continuam tendo enorme im- dutor mundial, com um volume anual

17
Hortaliças leguminosas

com cerca de 35% da produção, se- vares adaptadas e técnicas de cultivo.


guida da China, com cerca de 23%. A produção de ervilha (seca ou verde)
Esses dois países atingem produtivi- destinada à indústria tem sido realiza-
dades de até 9 t/ha. A União Européia da na forma de contrato entre o pro-
(U.E.) é responsável por aproximada- dutor e a empresa, onde são estabe-
mente 16% e os E.U.A. por cerca de lecidos a área a ser cultivada, a épo-
10% da produção mundial. Na U.E., a ca de plantio, a cultivar, os insumos
França é o maior produtor, com cer- e as demais atribuições relacionadas
ca de 5% do total mundial. As maio- a produção, entrega e preço do pro-
res produtividades desta cultura são duto. A partir da década de 1990, as
obtidas na Bélgica, Países Baixos e agroindústrias passaram a importar
França (14 t/ha -18 t/ha). grãos de ervilha novamente, e depen-
dendo da taxa cambial, este produto é
No Brasil, a ervilha é consumida produzido aqui no país ou é importa-
principalmente na forma de grãos se- do. Dados mostram que a importação
cos reidratados e enlatados ou como de ervilha tem sido relativamente alta
ervilha partida (dry pea); como ervilha nos últimos anos, chegando em 2015
verde / fresca (green pea ou garden ao volume importado de 41 mil tone-
pea) debulhada, enlatada ou congela- ladas, representando um valor de 23
da; como ervilha de vagem comestí- milhões de dólares (Figura 1).
vel (sugar pea) achatada (snow pea)
ou arredondada (snap pea). Existe Em 2010, a área cultivada com
ainda a ervilha forrageira que é desti- ervilhas no Brasil foi de, aproximada-
nada ao consumo animal (gado leitei- mente, 2.575 ha, com produção de
ro principalmente) ou utilizada como 5.963 toneladas. Apesar da expansão
adubo verde (ou cobertura do solo). da produção de ervilha no país nos úl-
Até a década de 1980, quase toda a timos anos, a participação do Brasil no
ervilha consumida no Brasil era impor- mercado mundial de ervilhas ainda é
tada acarretando uma evasão anual inexpressiva, apresentando conside-
de divisas na ordem de sete milhões ráveis oscilações em termos de área
de dólares. Atualmente, toda a de- cultivada e de produção ao longo dos
manda poderia ser atendida pela pro- anos. Assim, é de extrema importân-
dução nacional, graças às pesquisas cia a melhoria de tecnologia de produ-
realizadas pela Embrapa Hortaliças, ção e ou incentivos que favoreçam o
juntamente com as empresas de pes- aumento dessa produção no país. As
quisa e extensão rural dos Estados de informações que seguem visam apre-
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul sentar aspectos importantes relacio-
e as indústrias de processamento, nados à produção de ervilha nas con-
através do desenvolvimento de culti- dições tropicais do Brasil.

18
Ervilha

Figura 1. Importação de ervilha no Brasil entre os anos 2011-2015.

Fonte: MDIC/SECEX, 2016.


Variação: Incrementos percentuais entre os anos de 2011 e 2015.

Botânica P. arvense L. (ervilha forrageira) e P.


sativum L. (ervilha verde). No entanto,
A ervilha é uma leguminosa todos os tipos são classificados den-
pertencente à família Fabacea, subfa- tro da espécie P. sativum, onde se in-
mília Faboideae (sin. Papilionoideae), cluem também as ervilhas forrageiras.
à tribo Vicieae (sing. Fabeae), ao gê-
nero Pisum e à espécie Pisum sativum A ervilha é uma espécie diploide
L. O gênero Pisum possui grande va- (2n=2x=14), anual de inverno, herbá-
riabilidade genética, presente nas va- cea e com germinação hipógea (Figu-
riedades comerciais e nos materiais ra 2). Apresenta hábito de crescimento
dos bancos de germoplasma. Dentro determinado ou indeterminado (Figura
deste gênero, são relatadas sete es- 3), possui hastes finas formadas por
pécies: P. arvense, P. elatius, P. formo- nós e entrenós. As folhas são com-
sum, P. fulvum, P. humile, P. jomardie e postas distribuídas de forma alterna-
P. sativum. Entretanto, alguns autores da, formadas por 2 a 3 pares de fo-
reconhecem apenas duas espécies, líolos ovalados, de margem inteira ou

19
Hortaliças leguminosas

sinuado-dentados na parte superior, ter uma ou mais brácteas, de forma e


na base das folhas dispõem-se duas dimensões variáveis que surgem nas
estípulas arredondadas e podem ser axilas foliares. Até o surgimento da pri-
encontradas em três formas: áfila, se- meira inflorescência, o número de nós
mi-áfila e normal (Figura 4). Suas inflo- é constante, característica utilizada
rescências estão distribuídas de forma para a caracterização de precocidade
alternada ao longo do caule, e podem de cultivares.
Fotos: Warley Marcos Nascimento

Figura 2. Etapas da geminação de sementes de ervilha.


Fotos: Warley Marcos Nascimento

A B

Figura 3. Campos de produção de ervilha de crescimento indeterminado (A) e


determinado (B).

20
Ervilha

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B C

Figura 4. Tipos de folhas de ervilha: áfila (A); semi-áfila (B); normal (C)

A flor da ervilha é composta por tituído pelo pistilo e um ovário e o an-


cinco pétalas, sendo a maior delas droceu é formado por dez estames. O
denominada de estandarte. As péta- pistilo é formado por um único carpelo
las menores são as asas, e na parte e um ovário que contém duas fileiras
anterior da flor se encontram as duas de óvulos inseridos em duas placen-
pétalas que formam a quilha. Já o cá- tas paralelas. As flores podem encon-
lice verde é formado por cinco sépa- trar-se solitárias ou em grupo de 3 ou
las unidas, duas atrás do estandarte, 4 e apresentam uma coloração branca
duas opostas às asas e uma anterior ou violácea (Figura 5).
e oposta à quilha. O gineceu é cons-

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 5. Flores de ervilha de coloração branca (A) e violácea (B).

21
Hortaliças leguminosas

É uma espécie autógama, cleis- Tardias – Neste grupo, as pri-


togâmica, com polinização ocorrendo meiras flores aparecem entre o 11º e
aproximadamente 24 horas antes da o 13º entrenó, respondendo positiva-
abertura da flor (antese). A germina- mente à ação dos dias longos (fotope-
ção do tubo polínico pode levar de ríodo), assim como ocorre um efeito
8 a 12 horas e a fertilização de 24 a quantitativo das baixas temperaturas.
28 horas após a polinização. Seu es-
tigma fica receptivo ao pólen alguns Alguns autores consideram que
dias antes da antese até um dia após o ciclo da ervilha é composto por cin-
o murchamento da flor. O pólen, por co fases: (1) germinação/emergência;
sua vez, é viável desde o momento da (2) crescimento vegetativo; (3) flo-
deiscência das anteras. Após o pro- ração; (4) vingamento e desenvolvi-
cesso da fecundação, desenvolve-se mento das vagens, e (5) maturação
o fruto que consiste em uma vagem dos grãos.
de forma, tamanho, coloração e textu-
A ervilha-vagem (também conhe-
ra variáveis. Suas sementes maduras
cida como “ervilha torta”), (Figura 6),
são globulares, podendo ser lisas ou
não apresenta pergaminho, devido a
rugosas, e o tegumento pode ser tanto
presença de dois genes com interação
hialino quanto colorido e seu embrião
não alélica localizados nos cromosso-
formado por dois cotilédones e um
mos 4 e 6. O genótipo duplo-dominan-
hipocótilo bem desenvolvido. Os coti-
te (PPVV) apresenta esclerênquima
lédones podem ser encontrados nas
nas vagens e o duplo recessivo pro-
cores amarela ou verde e nas texturas
porciona ausência total de fibras. As
lisa ou enrugada. O ciclo vegetativo da
demais combinações (ppVV e PPvv)
ervilha, dependendo da cultivar e das
possuem áreas irregulares de tecido
condições climáticas necessárias para
esclerenquimatoso distribuído nas pa-
o seu desenvolvimento, é de 90 a 140
redes das vagens e, por esse motivo,
dias. Em função do fotoperíodo, são
não são comestíveis.
estabelecidos três distintos grupos va-
rietais de ervilha: As cultivares utilizadas para a
produção de ervilha seca possuem
Precoces – Se caracterizam
sementes redondas e lisas, que po-
pelo aparecimento das primeiras flores
dem ser utilizadas partidas ou inteiras,
entre o 6º e o 9º entrenó e são normal-
e neste caso, visando o enlatamento
mente indiferentes ao fotoperíodo.
após a reidratação (Figura 7a). Já as
Semiprecoces – As primeiras cultivares utilizadas para produção de
flores deste grupo varietal aparecem grãos verdes, destinados ao enlata-
entre o 9º e o 11º entrenó e são me- mento possuem geralmente sementes
dianamente sensíveis ao fotoperíodo. rugosas e elevado teor de açúcar (Fi-

22
Ervilha

gura 7b). No caso dos grãos imaturos

Foto: Warley Marcos Nascimento


destinados ao congelamento, a colora-
ção verde escura é a mais desejável.

A ervilha forrageira (P. sativum


subsp. arvense) apresenta caules fle-
xuosos, estriados, delicados, simples
ou quase simples; suas folhas são
paripinadas apresentando gavinhas,
ramos, geralmente terminais; possui
entre 1 - 3 pares de folíolos ovalados,
mucronados, de margem inteira ou
sinuado-dentados na sua parte supe-
rior. A coloração de suas flores é um
vermelho-violáceas, podendo ser en-
contradas solitárias ou geminadas so-
bre pedúnculos axilares aristados; sua
corola geralmente é rosa-violácea com
alas violáceo-purpúreas (Figura 8).

Os frutos são vagens oblongas,


que podem, de acordo com a sua for-
ma, apresentar terminação obtusa,
curvada ou fortemente em forma de
pico; apresentam sementes lisas, es-
féricas, ovaladas ou rugosas (cilíndri- Figura 6. Produção de ervilha da cultivar
cas, comuns), verdes (normal, pálido, ‘Torta de Flor Roxa’.
Fotos: Warley Marcos Nascimento

A B

Figura 7. Sementes de ervilha lisas (A) e rugosas (B).

23
Hortaliças leguminosas

minado ou indeterminado), coloração


Foto: Warley Marcos Nascimento

das vagens (claras ou escuras), textura


do cotilédone (lisos amiláceos ou enru-
gados doces) e cor do cotilédone que,
com raras exceções quando utilizados
na alimentação humana, são verdes.

As cultivares utilizadas para a


produção de ervilha seca possuem
grãos redondos e lisos, que são utiliza-
dos partidos ou inteiros; nesse último
caso, visando o enlatamento (após rei-
dratação). Grãos pequenos (140 g/100
a 160 g/100 grãos), de tamanho unifor-
me e com baixa porcentagem de des-
coloração são os ideais para a indús-
tria. A cultivar mais plantada no país é
a ‘Mikado’. Essa cultivar (originária da
Figura 8. Detalhe de uma planta de ervilha Holanda) possui um ciclo aproximado
forrageira. de 110 dias e foi introduzida e avalia-
da nas condições brasileiras durante
amarelo), creme, marrons ou com vários anos pela Embrapa Hortaliças.
manchas de cor castanha-púrpura. É bastante produtiva, apresenta ótima
qualidade industrial (tamanho, boa rei-
Como na maioria das dicotile- dratação e menor porcentagem de des-
dôneas, as reservas do endosperma coloramento dos grãos); é, entretanto,
são direcionadas para o embrião, se suscetível ao oídio, uma das principais
acumulando nos cotilédones, sendo doenças que ocorrem em nossas con-
assim denominadas exoalbuminosas. dições. A Embrapa Hortaliças desen-
volveu e liberou várias cultivares visan-
Cultivares do o enlatamento tais como: ‘Amélia’,
‘Dileta’, ‘Flávia’, ‘Kodama’, ‘Luiza’, ‘Ma-
As características que influem na ria’, ‘Marina’ e ‘Viçosa’.
escolha da cultivares para cada tipo
varietal devem estar relacionadas ao Para o segmento de ervilha ver-
sistema de cultivo utilizado e principal- de enlatada utilizam-se cultivares de
mente à finalidade a que se destinam. grãos rugosos. Visando atender este
Assim, deve-se levar em consideração seguimento do mercado, a Embrapa
a arquitetura e o porte da planta (deter- Hortaliças disponibilizou ao mercado,

24
Ervilha

as cultivares ‘Axé’, ‘Forró’, ‘Frevo’, tipos caracterizados por enrugamento


‘Pagode’ e ‘Samba’. Estas cultivares (sementes rugosas). Estas diferenças
são indicadas especialmente para a de composição química e formato das
agroindústria de grãos verdes enlata- sementes podem influenciar a qualida-
dos ou congelados, sem a necessida- de fisiológica e sanitária. Por exemplo,
de de reidratação antes de serem pro- as sementes das cultivares de ervilha
cessadas. A cultivar ‘Axé’ pode ainda verde, por possuírem maior teor de
ser utilizada na produção de ervilha açúcar, são mais suscetíveis ao ata-
verde debulhada. Outras cultivares de que de fungos durante a germinação e
origem estrangeira têm sido utilizadas estabelecimento de plântulas.
por algumas (poucas) empresas aqui
no país que atuam neste segmento. No segmento de ervilha-vagem
Existem outras cultivares de ervilha a cultivar mais utilizada no Brasil é a
verde que são utilizadas para a produ- ‘Torta de Flor Roxa’, que apresenta
ção de ervilha debulhada, geralmente porte indeterminado, com plantas entre
utilizada por pequenos agricultores e 1,2   metros a 1,5 metros, uniflorais e
comercializadas em feiras. tegumento das sementes pigmentado
e cotilédones amarelos (Figura 9). O
A diferença básica entre as cul- comprimento das vagens é de 10 cm a
tivares de sementes lisas e rugosas é 14 cm e a largura é de 2 cm a 3 cm. O
sua composição química. As semen- ciclo é de aproximadamente 100 dias
tes lisas (que é uma característica com início de colheita aos 70 dias. A
dominante) apresentam teores mais maioria das cultivares é suscetível ao
elevados de amido e menor teor de oídio; entretanto, a cultivar ‘MK 13’
sacarose quando comparadas com apresenta resistência a esta doença.
as sementes rugosas que apresentam
um excesso de sacarose. Durante a
maturação das sementes, ocorre ini- Foto: Warley Marcos Nascimento

cialmente maior acúmulo de açúcares


e menor síntese de amido; logo em se-
guida, o conteúdo de açúcar cai brus-
camente e o teor de amido aumenta.
Em cultivares de sementes lisas, o pri-
meiro estágio é bem mais curto; sen-
do que nas sementes rugosas, o acú-
mulo de açúcar é significante. Com a
redução do teor de açúcar durante a
maturação, as sementes das cultiva- Figura 9. Sementes pigmentadas da
res de ervilha verde apresentam fenó- cultivar Torta de Flor Roxa.

25
Hortaliças leguminosas

As cultivares de ervilha do tipo e para cobertura de solo, no inverno.


forrageira são indicadas para aduba- ‘BRS Sulina’ apresenta um rápido
ção verde e cobertura do solo, prefe- crescimento inicial, precocidade e uni-
rencialmente antecedendo gramíneas, formidade, reduzindo assim o uso de
ou para alimentação animal como pas- herbicidas dessecantes em sistema de
to, silagem ou ração. Apresentam ca- plantio direto.
racterísticas importantes para a con-
servação e fertilidade do solo, sendo
Exigências climáticas
cultivada no inverno. Representa tam-
bém opção vantajosa devido ao rápi- Um bom desenvolvimento da
do crescimento inicial, precocidade, cultura da ervilha está relacionado, en-
grande massa verde, uniformidade, tre outros fatores, às condições climá-
redução da utilização de fertilizantes ticas favoráveis. Por ser uma cultura
a base de nitrogênio nas culturas sub- adaptada a climas temperados, o seu
sequentes e redução dos custos de desenvolvimento vegetativo é favore-
produção e dos impactos ambientais. cido por temperaturas compreendidas
A aptidão dos grãos para a formulação entre entre 13 ºC e 18 ºC e umidade
de ração animal, principalmente para relativa entre 60% a 70%; a umidade
suínos, pode ser mais uma alternativa relativa do ar não afeta diretamente a
de utilização, por apresentar altos ní- produção, entretanto acima de 80%
veis de proteína bruta. Nesse segmen- pode propiciar o aparecimento de do-
to, a Embrapa Hortaliças desenvolveu enças, como aumento da incidência
em parceria com a Embrapa Trigo, a do fungo Ascochyta pisi, além de pre-
cultivar forrageira ‘BRS Sulina’ (Figu- judicar a qualidade dos grãos.
ra 10), indicada para adubação verde
É uma planta bem tolerante a
baixas temperaturas, sendo que as
sementes germinam a partir de 4 ºC,
Foto: Warley Marcos Nascimento

embora geadas possam prejudicar


seu cultivo, principalmente na fase de
florescimento e durante a formação de
vagens (Figura 11). A produtividade é
prejudicada em temperaturas acima
de 27 ºC, podendo ainda afetar a
qualidade dos grãos, favorecendo a
conversão dos açúcares em amido.
Assim, o cultivo da ervilha adapta-
Figura 10. Campo de produção de se melhor na região Sul do país, em
sementes da cultivar BRS Sulina. regiões serranas ou de planalto e em

26
Ervilha

microclimas de temperatura amenas Escolha da área


com altitude superior a 500 m. No
Planalto Central, seu cultivo é realizado A escolha da área a ser destina-
durante o inverno sob condições de da à produção de ervilha é de extrema
irrigação, principalmente nas fases importância. Não é aconselhável o cul-
iniciais do seu desenvolvimento. tivo em uma área que foi anteriormen-
te cultivada com outras leguminosas,
uma vez que essas apresentam mui-
Foto: Warley Marcos Nascimento

tas pragas e doenças comuns. Neste


último aspecto, certos patógenos cau-
sadores de importantes doenças po-
dem permanecer no solo e restos de
cultura por vários anos.

A cultura adapta-se a diversos


tipos de solos, desde que bem drena-
dos, de textura arenosa a francoare-
Figura 11. Vagens de ervilha com danos nosa; assim, os aluviões ricos em ma-
causados por geada. téria orgânica (entre 2% a 4%), pH en-
tre 5,5 e 6,5 e com uma condutividade
elétrica menor que 0,4 dS/m determi-
A ervilha é considerada uma das nada no extrato aquoso de proporção
culturas cujo desenvolvimento mais 1:2 (solo/água) são os mais adequa-
fielmente responde ao sistema de uni- dos. A cultura é sensível a hipóxia e o
dades térmicas ou graus-dia. Nesse excesso de água no solo pode retardar
conceito, a taxa de desenvolvimento a germinação. O excesso de umidade
da planta é condicionada pela tempe- pode também favorecer a podridão
ratura do ar no ambiente de cultivo. das sementes, principalmente em er-
Outros fatores ambientais com poten- vilhas de sementes rugosas. As culti-
cial efeito no ciclo da cultura não são vares de sementes rugosas, durante o
considerados no cálculo de graus-dia. processo de germinação, exudam um
Em linhas gerais, a necessidade de maior teor de açúcar que favorece ao
graus-dia de crescimento da ervilha ataque de microrganismos no solo.
é na ordem dos 700 a 850 graus-dia
para as cultivares precoces, 850 a A boa sistematização do terreno
1.000 para as cultivares semiprecoces facilita o plantio, os tratos culturais e
e mais do que 1.000 graus-dia para as principalmente a colheita. Em solos
cultivares tardias. compactados, é necessário o uso de

27
Hortaliças leguminosas

subsoladores para evitar o encharca- Adubação


mento. No sistema convencional de
O conhecimento prévio das
plantio, utiliza-se uma aração mais
exigências nutricionais da cultura é de
profunda para enterrar os restos cul-
grande importância para se estabe-
turais, seguida de duas gradagens. A
lecer a quantidade de fertilizantes
primeira gradagem visa destorroar e
para obtenção de uma boa produção.
nivelar o terreno, e a segunda, tem por
Deve-se levar em consideração as
objetivo incorporar o herbicida, se for
curvas de crescimento e absorção
o caso. Pode-se ainda utilizar o siste-
de nutrientes em função da idade da
ma de plantio direto, sem o preparo do planta. Plantas de ervilha, dependendo
solo (Figura 12). da cultivar, crescem pouco no primeiro
mês, mas alcançam uma alta taxa
de crescimento já no segundo mês.
Foto: Warley Marcos Nascimento

Os teores dos nutrientes nas plantas


apresentam-se na seguinte ordem
decrescente de importância: N, K, Ca,
S, P, Mg, B, Mn, Cu e Mo.

A cultura responde bem à apli-


cação de fósforo e potássio, que pro-
porcionam frequentemente aumento
substancial no tamanho das vagens, no
número de grãos e consequentemente,
uma maior produção. O nitrogênio é o
Figura 12. Detalhe da produção de ervilha nutriente mais exigido, (aproximada-
no sistema de plantio direto. mente 40 kg por tonelada de grãos são
extraídos durante um ciclo da cultura).
Para o suprimento dessa demanda de
A cultura é sensível ao excesso
nitrogênio, o uso de estirpes de Rhizo-
de sais e de calcários, uma vez que
bium leguminosarum (Figura 13) é prá-
neste último tipo de solos as plantas tica comum, proporcionando eficiência
podem apresentar sintomas de clo- comparável à adubação com 50 kg /
roses, ocasionando o endurecimento ha de nitrogênio. O cobalto e o moli-
dos grãos. A formação dos nódulos bdênio são dois elementos de grande
nas suas raízes, em simbiose com o ri- importância para a fixação simbiótica
zóbio é muito afetada pelas limitações de nitrogênio em plantas de ervilha, e
ambientais, como a baixa luminosida- assim, devem ser adicionados durante
de, baixo pH, temperaturas extremas e a inoculação das sementes com estir-
desequilíbrios hídricos. pes de R. leguminosarum.

28
Ervilha

exemplo, no caso de ervilha torta, a


Foto: Warley Marcos Nascimento

adubação pode ser diminuída em até


dois terços caso o cultivo seja estabe-
lecido após o tomate.

Caso haja necessidade de adu-


bação complementar de nitrogênio, de-
ve‑se aplicar de 30 kg/ha a 40 kg/ha de
N aos 30-40 dias após o plantio. Esta
adubação pode ser feita pela água de
irrigação (ferti-irrigação) ou a lanço;
nos dois casos, deve-se fazer a irriga-
Figura 13. Raiz de ervilha apresentando ção em seguida.
nódulos decorrente da simbiose com
Rhizobium leguminosarum.
Origem e qualidade da semente

O sucesso da produção de qual-


A quantidade de calcário reco-
quer cultura depende, principalmente,
mendada irá depender dos resultados
de um adequado estabelecimento de
da análise do solo, devendo ser apli-
plântulas no campo, fator este direta-
cado e incorporado uniformemente até
mente relacionado com a qualidade
25 cm de profundidade, pelo menos
das sementes. A utilização de semen-
três meses antes do plantio. O uso do
tes de boa qualidade proporcionará
calcário dolomítico é recomendado,
maiores possibilidades de sucesso da
uma vez que supre também a necessi-
lavoura e, consequentemente, da pro-
dade de magnésio da planta.
dução. A semente de boa qualidade
Um programa de fertilização deve ter alta germinação, elevada pu-
padrão sugerido para a cultura da reza física e ser livre de pragas e do-
ervilha é de 20 kg/ha de N, 50 kg/ha enças. A semente classificada também
a 80 kg/ha de P 2 O 5 , 100 kg/ha a facilita o plantio mecanizado. Assim,
140  kg/ha de K2O e 20 kg/ha de S. a qualidade fisiológica da semente é
No entanto, o esquema depende da motivo de preocupação, recebendo
exportação média de nutrientes em maior atenção do agricultor, por estar
função da mobilização total dos nu- diretamente relacionada ao estabe-
trientes, do conhecimento da análise lecimento das plântulas em campo e
de solo, do precedente cultural no sis- à obtenção de um estande uniforme,
tema de rotação, da classe de ferti- com reflexos diretos no desenvolvi-
lidade e da produção esperada. Por mento inicial da lavoura.

29
Hortaliças leguminosas

Desta forma é de extrema forma mais racional possível. De modo


importância conhecer a origem da geral, o espaçamento recomendado
semente. A baixa qualidade das para um campo de produção de ervi-
sementes pode ocasionar a contami- lha destinada à indústria é de 20 cm
nação da área por pragas e doenças, entre linhas com cerca de 20-30 se-
além de apresentar baixa germinação mentes por metro linear, dependendo
e vigor, ocasionando estandes desu- da população desejada e da qualidade
niformes, colocando em risco todo o da semente (Figura 14).
investimento realizado.

Foto: Warley Marcos Nascimento


A qualidade genética da semen-
te a ser utilizada é outro importante
atributo que deve ser observado; ela
está relacionada à pureza varietal, ou
seja, à identidade genética da culti-
var que é definida durante o proces-
so de produção de sementes através
de cuidados específicos. A identidade
genética da cultivar, representada por
características de produtividade, re-
sistência a pragas e doenças, ciclo Figura 14. Vista de um campo de produção
de ervilha destinada à indústria.
e arquitetura da planta, qualidade do
produto, dentre outras, deverá es-
tar expressa nas sementes a serem
comercializadas, as quais garantirão A semente deve ser colocada
que todas estas características sele- a uma profundidade de 5 cm, mas
cionadas pelo melhorista se manifes- em solos mais pesados e que apre-
tem nas plantas em campo. sentem melhor retenção de umidade
o plantio deve ser mais superficial,
Espaçamento, semeadura e densi- entre 2 cm a 3 cm.
dade de plantio
O espaçamento adequado é
A obtenção de bons níveis de aquele em que as folhas das plantas
produtividade está também relaciona- cubram toda a superfície entre fileiras
da com o número de plantas por uni- na época do máximo florescimento,
dade de área. O espaçamento ideal é sem que ocorra um entrelaçamento en-
aquele onde as plantas ficam equidis- tre elas. Por esse motivo, as propostas
tantes, para que a absorção da ener- de espaçamento e densidade de plan-
gia solar e dos nutrientes seja feita de tio têm procurado atender às necessi-

30
Ervilha

dades específicas dos tratos culturais

Foto: Warley Marcos Nascimento


e à melhoria da produtividade. Para
as cultivares destinadas à indústria, a
quantidade de semente por hectare irá
depender do tamanho das mesmas,
sendo normalmente necessários em
média, 100 kg/ha a 150 kg/ha. Deve
atentar para regulagem da semea-
deira, com o objetivo de minimizar a Figura 15. Plantas de “ervilha torta”
ocorrência de danos mecânicos, bem tutoradas com fitilhos.
como se obter uma distribuição uni-
forme de sementes nas linhas de
plantio, dando preferência a lotes Irrigação
com sementes de tamanho uniforme,
A água é fator fundamental no
para facilitar a regulagem do equipa-
cultivo da ervilha. O déficit hídrico pode
mento de plantio. Deve-se calcular a
afetar o desenvolvimento das plan-
quantidade de semente para manter
tas, o enchimento e a qualidade dos
uma densidade de cerca de 80 plan-
grãos e sementes, afetando de forma
tas/m2 ou 800.000 plantas/ha. significativa a produtividade. O mane-
jo adequado e eficiente da irrigação é
Já no cultivo de ervilha-vagem também indispensável para obtenção
(ervilha torta), o espaçamento reco- de um estande adequado. Assim, para
mendado é de 1,0 m entre linhas e garantir uma alta produção, as irriga-
0,10 m a 0,2 m entre plantas, o que ções devem ser realizadas antes que
corresponde a densidades entre o déficit hídrico afete o metabolismo
100.000 e 200.000 plantas por hecta- das plantas, comprometendo a sua
re. No segmento de ervilha torta (de produção. No Brasil central, a ervilha
crescimento indeterminado), o tutora- tem sido produzida durante a estação
mento deve ser conduzido em “cerca” seca (maio a setembro), assim é obri-
de 1,50 m de altura, utilizando várias gatório o uso da irrigação para suprir
linhas de fitilho, que vão sendo coloca- as necessidades hídricas das plantas.
das de acordo com o desenvolvimento Em média, as cultivares de ervilha de
das plantas, ou em “cerca cruzada”, ciclo longo (110 a 120 dias) requerem
como em tomate. As plantas desenvol- de 300 mm a 500 mm e as de ciclo cur-
vem-se entre os dois fitilhos e/ou são to (70 a 80 dias) necessitam em média
fixadas naturalmente por meio das ga- de 200 mm a 400 mm de água ao lon-
vinhas (Figura 15). go do ciclo de reprodução.

31
Hortaliças leguminosas

O manejo inadequado da irriga- O método de irrigação recomen-


ção pode ocasionar alguns problemas dado para campos de produção de
durante a produção de ervilha, como ervilha é o de aspersão, como os do
por exemplo: (a) maior incidência de tipo canhão e o pivô central (Figura
doenças; (b) desenvolvimento vegeta- 16A). O método de aspersão pode
tivo em excesso, provocando acama- ser utilizado nas mais diversas con-
mento das plantas; (c) desuniformida- dições climáticas, nos diversos tipos
de na maturação dos grãos; (d) des- de solos e topografias. Apresenta um
coloramento dos grãos, e (e) impactos custo moderado e uma boa eficiência
negativos na produtividade. Portanto, de irrigação entre 60% e 90%, depen-
o manejo adequado da água de irriga- dendo das condições do vento. Po-
ção é de suma importância. rém, para apresentar um bom desem-
Os critérios para se estabelecer o penho, é necessário um bom dimen-
momento da irrigação podem ser base- sionamento do sistema. A escolha do
ados em função do potencial de água sistema ideal de irrigação deve visar
no solo, sendo as culturas, em geral, à facilidade de manejo da água e a
mais sensíveis a baixos potenciais em economia do sistema. Dessa forma, a
determinados estádios de crescimento disponibilidade de recursos e a qua-
que em outros. Os períodos mais críti- lificação da mão de obra são fatores
cos ao déficit de água no solo são du- de extrema importância para escolha
rante a floração e enchimento das va- do tipo de irrigação a ser utilizado.
gens. O nível de umidade do solo pode O sistema de gotejamento tem sido
ser monitorado usando tensiômetros utilizado na produção de ervilha torta
comerciais que devem ser instalados (Figura 16B), mas é economicamente
em áreas representativas da lavoura. A inviável para o cultivo visando proces-
leitura do tensiômetro vai indicar o mo- samento industrial.
mento correto de efetuar a irrigação.
Fotos: Warley Marcos Nascimento

A B

Figura 16. Irrigação de campo de produção de ervilha: sistema de pivô central (A) e por
gotejo na produção de ervilha torta (B).

32
Ervilha

As irrigações em campos de pro- pós-emergência, (Figura 17). Sua


dução de ervilha devem ser suspen- ocorrência depende de vários fato-
sas antes das plantas entrarem em res, principalmente da alta umidade
senescência. Para ervilhas de grãos e do alto potencial de inóculo no solo.
secos, as irrigações devem ser parali- A doença é mundialmente distribuída,
sadas quando 45% a 50 % das vagens causando redução de estandes e de
estiverem com grãos já formados. Ir- produtividade. O controle da doença
rigação ou chuva próximos à colheita é mais eficiente quando se adotam
podem acarretar em um maior desco- medidas integradas, envolvendo práti-
loramento de grãos, afetando a quali- cas culturais (principalmente um bom
dade dos mesmos para enlatamento. manejo da irrigação durante o estabe-
Para ervilhas de grãos verdes, a irriga- lecimento da lavoura), tratamento de
ção pode se estendida até próximo à sementes com fungicidas recomen-
colheita, pois assim ocorre a retarda-
ção da conversão de açúcar em ami-

Foto: Warley Marcos Nascimento


do, tornando os grãos mais doces e
tenros. Para a ervilha torta, a irrigação
deve ser realizada enquanto houver
colheita das vagens.

Doenças e seu controle

A ocorrência de doenças limita a


produção e reduz a qualidade fisioló-
gica, sanitária, nutricional e comercial
do produto. A incidência e intensidade
das doenças variam de acordo com a
região, a época e o sistema de plantio,
a cultivar, a qualidade sanitária da se-
mente e as condições climáticas. Os
patógenos causadores das principais
doenças que ocorrem na cultura da er-
vilha são descritos a seguir:

Rhizoctonia solani Khun  –


Figura 17. Plantas de ervilha apresentando
Fungo cosmopolita comumente asso- um típico sintoma de constrição dos
ciado à podridão de pré-emergência tecidos causados pelo ataque do fungo
e ao tombamento (damping-off) em Rhizoctonia solani Khun.

33
Hortaliças leguminosas

dados, utilização de sementes de boa minado se torna purpúreo e ocorre a


qualidade sanitária e fisiológica e rota- formação de colônias com uma gran-
ção com gramíneas. No entanto, até de massa de esporos (conídios) nas
o momento, a principal medida ado- lesões maduras. A doença é, geral-
tada e a opção mais econômica para mente, identificada pelo sinal do agen-
minimizar os efeitos negativos dessa te causal e, raramente, pelos sintomas
doença tem sido o tratamento das se- do hospedeiro. Os principais sintomas
mentes com fungicidas recomenda- do ataque do fungo são distorção,
dos. Os fungicidas que apresentam amarelecimento e queda prematura
uma maior eficiência no controle e de folhas, além da deformação das
não que afetam negativamente a qua- vagens e o trincamento das sementes,
lidade fisiológica das sementes de er- as quais tornam‑se se cinza-amarron-
vilha são Carbendazim, Pencicurom, zadas e não granadas.
Iprodione e Carbendazim + Thiram.
Em ensaios conduzidos na Embrapa

Foto: Warley Marcos Nascimento


Hortaliças, a mistura Iprodione + Thi-
ram apresentou excelentes níveis de
controle da doença.

Erysiphe sp. (Oidium sp.) – É


uma doença de grande importância,
sendo responsável por elevadas
perdas, tanto em países produtores
tradicionais, quanto em regiões novas,
afetando a qualidade industrial do grão
e a viabilidade das sementes, devido à
redução do número e do tamanho das
vagens e sementes por planta. Figura 18. Sintomas de lesões branco-
pulverulentas em folha de ervilha
O fungo infecta as folhas, es- provocados pelo fungo Erysiphe sp.
típulas, hastes, gavinhas e vagens,
provocando desde crestamento até a
morte da planta. Os sintomas iniciais A doença é mais severa em pe-
são pequenas pontuações (corres- ríodos secos e/ou em áreas irrigadas
pondendo a colônias iniciais do fun- por gotejo. No período chuvoso e/ou
go) na superfície adaxial das folhas em condições de irrigação por asper-
mais velhas (Figura 18). Com o pas- são, os danos são menores, uma vez
sar do tempo, as lesões vão ficando que os esporos são lavados para o
branco‑pulverulentas e o tecido conta- solo reduzindo a quantidade de inócu-

34
Ervilha

lo. Os oídios são parasitas obrigatórios tência dessas cultivares não é do tipo
que dependem do tecido hospedeiro imune, pois podem eventualmente
para viver, tendo, desta forma, nenhu- apresentar um leve crescimento mice-
ma capacidade saprofítica. Os princi- lial do fungo, com pontuações necróti-
pais métodos de controle tem sido a cas no estádio inicial das lesões. Vale
aplicação de fungicidas e o emprego salientar que a cultivar Mikado, a mais
de cultivares resistentes. No Brasil, os cultivada neste segmento de ervilha
fungicidas registrados para o controle seca no país, é altamente susceptível
do oídio são os benzimidazóis, triazóis ao oídio. Com relação ao grupo varie-
e inorgânicos, a base de enxofre; entre- tal de ervilhas tortas, a maioria das cul-
tanto, o uso de fungicidas pode aumen- tivares é susceptível a este patógeno,
tar o risco de surgimento de variantes com exceção da cultivar ‘MK 13’ que
do fungo com níveis maiores de tole- apresenta um alto nível de resistência
rância aos diferentes princípios ativos. a este patógeno.

Neste contexto, o controle mais Ascochyta pisi – É um fungo


recomendado seria a utilização de cul- que ataca desde a pré-emergência
tivares resistentes. Exemplos de culti- da planta até seu estádio vegetativo e
vares de ervilha seca resistentes são: reprodutivo. Ocorre na parte aérea da
Triofin, Luíza, Viçosa, Marina, Samba, planta, principalmente nas folhas, cau-
Maria e Kodama. Algumas pesquisas les e vagens (Figura 19). Os sintomas
com as cultivares Triofin, Luiza, Mari- vão desde necroses da parte aérea
na e Kodama mostraram que a resis- até a formação de cancros escuros

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 19. Sintomas de Ascochyta pisi nas folhas (A) e corpos de frutificação nas
vagens (B) de ervilha.

35
Hortaliças leguminosas

nas vagens. Quando o ataque ocor- palmente quando cultivada sob condi-
re nas vagens mais velhas, pode ser ções de temperatura amena e de alta
observado a presença de picnídios do umidade. É uma das doenças mais
patógeno associados com as lesões. importantes da cultura da ervilha no
Em estádio mais avançado, o fungo Brasil, estando presente nas principais
provoca a seca das folhas e do caule, regiões produtoras de ervilha. Os da-
tornando-os enegrecidos. nos podem ser diretos, com morte de
plantas e redução da produção, mas
Alta umidade relativa do ar e o maior problema reside na inviabiliza-
precipitações excessivas favorecem ção de áreas para novos plantios, pois
o desenvolvimento desta doença. Em o fungo permanece no solo por muitos
condições de inverno chuvoso, a alta anos, não existindo métodos eficazes
umidade relativa do ar (acima de 80%) para a sua erradicação. Em áreas li-
e temperatura abaixo de 23 ºC, podem vres do patógeno, o fungo, na sua
vir a causar sérios danos econômicos. forma de resistência, os escleródios,
Assim, regiões mais secas, como o pode ser transportado junto com o lote
Centro Oeste, têm permitido o cultivo de sementes ou pode ser transmitido
de ervilha sem a ocorrência desta do- pelas sementes através de micélios
ença. No cultivo de ervilha torta, dar dormentes. Caso o lote de sementes
preferência a irrigação por gotejamen- esteja contaminado com escleródios,
to, o qual minimiza o aparecimento e a utilização da esteira inclinada duran-
desenvolvimento da doença. O princi- te o beneficiamento de sementes pode
pal agente disseminador do patógeno ser utilizada para reduzir ou até mes-
são as sementes infectadas/infesta- mo eliminar os escleródios do lote de
das; assim, o uso de sementes livres sementes. Em condições favoráveis
de patógeno ou o tratamento das mes- de umidade e temperatura, os escleró-
mas com fungicidas são as principais dios e o micélio se desenvolvem e ini-
estratégias para o controle da doença. ciam a infecção das plântulas. Muitas
Além disso, a utilização de tratos cultu- das sementes contaminadas podem
rais, como a rotação de cultura por três não germinar, mas podem transmitir o
a quatro anos, o plantio em épocas se- micélio e escleródios.
cas e a destruição dos restos culturais
são técnicas que devem ser adotadas O principal sintoma é o apa-
como medidas de controle da doença. recimento de um abundante micélio
branco sobre as partes atingidas da
Sclerotinia sclerotiorum – planta, assim as folhas e flores des-
Essa patógeno causa uma doença prendidas ficam retidas (Figura 20).
conhecida como mofo-branco, provo- Geralmente, a infecção tem início no
ca grandes perdas na lavoura, princi- estádio do florescimento quando as

36
Ervilha

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 20. Plantas de ervilhas apresentando corpos de frutificação no caule (A); Campo
de produção de ervilha atacado por Sclerotinia sclerotiorum (B).

flores são atingidas pelo fungo, que Tomato spotted wilt virus
acabam atacando outros órgãos. (TSWV) – É um vírus encontrado prin-
Esses órgãos atacados tornam-se cipalmente em campos de produção
desbotados e secos. Assim, a planta na região Centro-Oeste durante o pe-
pode apodrecer, morrer e transmitir a ríodo seco quando o inseto vetor, o
doença para plantas vizinhas. O plan- tripes, abandona as hospedeiras alter-
tio em solos compactados, o excesso nativas e migra para áreas irrigadas.
de água de irrigação, o estande ele- A doença induzida pela infecção do
vado e o crescimento excessivo das TSWV é conhecida pelo nome de va-
plantas favorecem a ocorrência da gem marrom, devido ao bronzeamen-
doença. A utilização de cultivares de to das vagens, as quais podem apre-
ervilha áfilas ou semi-áfilas permite sentar anéis necróticos concêntricos
uma maior aeração entre as plantas, o e estrias avermelhadas. Seu ataque
que minimiza a ocorrência da doença. é mais acentuado durante a formação
Seu controle deve ser de for- de vagens e enchimento de grãos. Nas
ma preventiva, utilizando-se semen- folhas baixeiras pode ser observado
tes certificadas, para evitar a entrada um mosqueado suave e nas folhas e
do patógeno nas áreas onde não foi hastes pequenas, pontuações necróti-
constatada a presença da doença e a cas. Uma planta severamente atacada
limpeza cuidadosa dos implementos apresenta uma clorose apical acentu-
agrícolas. A aplicação de fungicidas à ada, além de murcha das folhas. Não
base de procimidone e a redução da existem evidências de transmissão
água de irrigação são medidas utiliza- desta virose via sementes. Embora
das para o controle da doença. induzindo sintomas severos, a vagem

37
Hortaliças leguminosas

marrom não é uma doença de grande Pragas e seu controle


importância devido a sua relativa bai-
xa incidência. Para seu controle, deve A ervilha é atacada por um nú-
se evitar o plantio de ervilha próximo mero reduzido de pragas nas condi-
a plantações de plantas hospedeiras, ções brasileiras, sendo que o pulgão
como pimentão, tomate, alho, cebola e da ervilha (Acyrthosiphon pisum), as
lentilha. A utilização de cultivares com lagartas das vagens (Helicoverpa sp.),
e os percevejos verde (Nezara viridu-
tolerância de campo, como por exem-
la) e pequeno (Piezodorus guildinii)
plo, a cv. Mikado, tem sido o método
são as principais pragas de importân-
de controle mais eficiente.
cia econômica da cultura.
Meloidogyne spp. – Esse gru-
Acyrthosiphon pisum – O
po de patógenos induzem galhas ra-
pulgão da ervilha apresenta uma fase
diculares que podem causar danos
áptera de grande porte demandando
consideráveis em campos de produ-
um grande volume de seiva das folhas
ção. Diversas espécies podem atacar
e caules das plantas, causando defor-
a ervilha, incluindo uma nova espécie
mação, murcha ou morte das mesmas.
(M. pisi) que foi descrita por pesquisa-
As reboleiras de ataque de pulgão em
dores da Embrapa Hortaliças afetando
ervilha para processamento industrial
o cultivo da ervilha no Brasil. Os sinto-
são facilmente distinguíveis, uma vez
mas iniciais do ataque dos nematoides que ocorre um “afundamento” do se-
podem incluir murcha das plantas nos tor da lavoura atacada. As plantas que
horários mais quentes, além de tornar resistem ao ataque têm seu desenvol-
as plantas raquíticas e amareladas, vimento atrasado. A visita de pássaros
sintomas que se confundem com os de na lavoura pode ser um indicativo da
severa deficiência mineral. Plantas de presença de pulgões ou outros insetos.
ervilha atacadas exibem raízes defor- Além disso, os pulgões são responsá-
madas, com galhas coalescentes que veis pela disseminação do vírus Pea
apodrecem com facilidade. Seed-borne Mosaic Virus – PSbMV.
Não são conhecidas cultivares O controle deve ser iniciado a
resistentes. Desta forma, o controle partir do início da floração; para tan-
dos nematóides-de-galhas em ervilha to, deve-se percorrer constantemente
tem sido realizado com o uso de ne- a lavoura para que se possa detectar
maticidas e através de rotação de cul- precocemente as reboleiras com pre-
turas com gramíneas (milho e sorgo) e sença do pulgão, iniciando imediata-
com plantas leguminosas (crotalárias, mente o controle químico com inseti-
estilosantes e mucunas) que não são cidas recomendados, de preferência
hospedeiras dos nematoides. aficidas específicos.

38
Ervilha

Helicoverpa sp. – As lagartas Sementes danificadas pelo ataque


das vagens se alimentam de folhas e do inseto, geralmente, são mais sus-
hastes das plantas, mas tem preferên- cetíveis ao ataque por pragas de
cia pelas estruturas reprodutivas como grãos armazenados. Seu controle é
botões florais e vagens (Figura 21), realizado através do uso de insetici-
causando deformações ou podridões das sintéticos.
nestas estruturas ou até mesmo a sua
queda. Apresenta grande mobilidade Piezodorus guildinii – Esse
e alta capacidade de sobrevivência, inseto é conhecido como o perceve-
mesmo em condições adversas, po- jo pequeno. Os insetos adultos e as
dendo completar várias gerações ao ninfas, a partir do 3° estádio, atacam
ano e finalizando o seu ciclo de ovo as vagens e grãos de ervilha, desde
a adulto no período de quatro a seis o inicio da formação até o final do ci-
semanas. Como táticas de controle, clo, causando um grande estrago no
pode ser usada as armadilhas com fe- período de enchimento de grãos. Seu
romônio sexual da praga, a eliminação controle é realizado por meio de apli-
de restos culturais e o uso de insetici- cação de inseticidas.
das seletivos.
Na produção de ervilha torta,
Nezara viridula – Esse inse- onde alguns produtores utilizam a
to é conhecido com percevejo verde estrutura da cultura anterior (geral-
ou maria fedida, sendo também uma mente tomate ou pepino), incluindo o
praga da cultura da soja. Os danos mulching, é comum a ocorrência de
causados por esse percevejo na cul- caracóis ou lesmas que se abrigam
tura da ervilha variam com a idade e a sob o plástico (Figura 22A). Estes
condição fisiológica do inseto. Insetos moluscos raspam (com uma estru-
em jejum por 24 horas fazem o mes- tura denominada rádula) as folhas,
mo número de puncturas que os inse- reduzindo a área fotossistética (Figu-
tos que se alimentam continuamente. ra 22B), causando assim, perdas na
Fotos: Warley Marcos Nascimento

A B C

Figura 21. Lagartas das vagens (A) se alimentando das vagens e sementes (B e C).

39
Hortaliças leguminosas

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 22. Ocorrência de caracóis sob o plástico (A); folhas de ervilha apresentando
sintomas causados por caracóis (B).

produtividade. O manejo envolve uma

Foto: Warley Marcos Nascimento


série de medidas de controle, como o
uso de iscas tóxicas, coleta e elimina-
ção manual e uso de armadilhas.

Plantas daninhas e seu controle

A interferência de plantas dani-


nhas em campos de produção de er-
vilha deve ser minimizada pelo menos Figura 23. Campo de ervilha livre de
durante o período crítico, ou seja, até plantas daninhas.
que a cultura se desenvolva, cubra
suficientemente a superfície do solo
e não sofra mais a interferência nega- O controle das plantas daninhas,
tiva delas (Figuras 23). A competição em campos de ervilha, deve ser mais
imposta pelas plantas daninhas é um seletivo nos primeiros estádios de de-
dos fatores que limitam a produtivi- senvolvimento da cultura, entre os 40
dade de uma cultura, pois a compe- e 60 dias após a semeadura, pois a er-
tição por água, luz e nutrientes afeta vilha é bem competitiva e cobre a su-
significativamente a produtividade e perfície do solo rapidamente. Quando
a qualidade fisiológica das sementes não é realizado um controle eficiente
e grãos. Além disso, as plantas dani- das plantas daninhas, pode ocorrer
nhas podem ser hospedeiras de pató- uma redução na produção e na quali-
genos causadores de doenças dade dos grãos de ervilha. Exemplo é

40
Ervilha

a ocorrência de maria pretinha (Sola- ou com a presença de plantas dani-


num nigrum) (Figura 24), em campos nhas menos agressivas, podem ser
de produção de ervilha, onde durante usados herbicidas de pós-emergên-
a colheita tem seus frutos esmagados cia. Em pequenas áreas de produção
na colheitadeira conferindo uma colo- de ervilha torta, o controle de plantas
ração e sabor indesejável aos grãos invasoras geralmente é manual, por
de ervilha. Para o controle das plantas meio de capinas.
daninhas é recomendado uma combi-
nação de herbicidas para o controle Colheita
de folhas largas e estreitas aplicados
em pré-emergência. Em áreas com Em ervilha destinada à indústria
baixa densidade de plantas daninhas de reidratação (grãos secos), a colheita
é recomendada quando os grãos atin-
girem entre 14% a 18% de umidade
Foto: Osmar Pereira Artiaga

(base úmida). É recomendado realizar


a colheita no período da manhã, pois
pode haver perda de grãos nas horas
mais quentes do dia, quando as plan-
tas estão mais secas. Deve-se evitar a
colheita dos grãos em dias de chuva,
pois a chuva compromete a qualidade
dos grãos, principalmente os destina-
dos à reidratação, por provocar a des-
coloração dos mesmos.

A determinação do ponto de co-


lheita dos grãos secos para industria-
lização é de grande importância, pois
quanto mais tempo os mesmos per-
manecerem no campo maior será o
número de grãos descoloridos, preju-
dicando a sua qualidade final. Já para
cultivares de grãos verdes, o ponto
de colheita é determinado pelo ponto
de maciez do grão, que é determina-
do pelo aparelho tenderômetro, sen-
do recomendado a colheita dos grãos
Figura 24. Planta de maria pretinha quando a leitura encontra-se entre as
(Solanum nigrum). faixas de 95 - 115.

41
Hortaliças leguminosas

Sendo a ervilha uma planta su- de de plantas favorece a colheita; em


jeita ao acamamento, principalmente lavouras com maior densidade, a bar-
no final do ciclo, a colheita com auto- ra de corte poderá trabalhar um pouco
motriz exige maior atenção visando à mais distanciada da superfície do solo,
redução de perdas. Para facilitar a co- sem ocasionar perdas significativas
lheita das plantas acamadas, adapta- (Figuras 25A, 25B, 25C e 25D).
-se à plataforma de corte das colhe-
deiras, garfos levantadores. Os garfos As colheitadeiras devem ser
levantadores têm a finalidade de sus- adaptadas de forma que causem o
pender as plantas acamadas para o mínimo de danos nos grãos, pois os
corte; os mesmos podem ser acopla- grãos liberam lipoxigenases quando
dos aos dedos simples ou duplos das sofrem ferimentos, e estas catalisam
barras de corte, distribuídos a cada a oxidação de ácidos graxos poliinsa-
dois ou três dedos. Uma boa densida- turados que causam sabor desagra-

A B

Fotos: Warley Marcos Nascimento


C D

Figura 25. Colheita de grãos secos (A) e detalhe da plataforma de corte (B); colheita de
grãos verdes (C) e detalhe da máquina de colheita de grãos verdes (D).

42
Ervilha

dável. A velocidade de deslocamento variando de 12 cm a 14 cm e 2,5 cm -


da colheitadeira deve ser de 2,5 km/h. 3,5 cm de diâmetro. Um outro sinal in-
A velocidade do molinete deve ser dicativo de colheita é quando os grãos
25% superior à velocidade da máqui- estiverem mais salientes dentro da va-
na, que deverá trabalhar na segunda gem, em média, cerca de 70 dias após
marcha. A velocidade do cilindro ba- o plantio (Figura 26).
tedor e a abertura do côncavo devem
ser ajustadas para reduzir os danos Secagem dos grãos
mecânicos. O cilindro batedor deve
trabalhar a uma rotação em torno de No segmento de ervilha seca, o
400 rpm a 600 rpm. Para evitar danos processo de secagem é utilizado para
mecânicos, é ainda recomendável o reduzir o grau de umidade dos grãos,
uso do cilindro de barras standard. prática de fundamental importância.
A partir dela, conseguimos manter
Já a colheita da ervilha de vagem um produto de boa qualidade para a
é realizada de forma manual, e a época armazenagem, industrialização e o
ideal de colheita é quando as vagens, consumo final. Para uma armazena-
verdes, atingem o máximo tamanho e gem segura dos grãos secos de ervi-
as sementes ainda não estão comple- lha, os mesmos devem ser submeti-
tamente desenvolvidas. Dependendo dos à secagem até atingir entre 12% -
da cultivar, esta época coincide quan- 13% de umidade, utilizando para isto,
do o comprimento das vagens estiver temperaturas entre 55 ºC - 60 ºC.

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 26. Colheita manual de vagens (A); vagens no ponto de colheita (B).

43
Hortaliças leguminosas

Como os grãos são extremamen- regados numa esteira transportadora


tes sensíveis à ação do calor, deve-se para que possa ser feita uma primeira
tomar o cuidado com a temperatura seleção e controle da qualidade e em
utilizada durante a secagem. Altas seguida, os grãos passam por uma sé-
temperaturas podem causar danos rie de ventoinhas para que as impure-
importantes nas suas características, zas mais leves sejam retiradas. Após
como por exemplo, a alteração na a retirada das impurezas mais leves,
integridade dos tecidos, na acidez, os grãos são colocados em um tam-
nos níveis de proteínas e até mesmo bor rotatório para serem lavados com
influenciar na mudança da aparência hipoclorito de sódio, e posteriormente
do grão. Deve-se ter em mente que enxugados. Este processo tem a fina-
um processo de secagem eficiente é lidade de remover impurezas e repor o
aquele, que além de reduzir o teor de grau de umidade que possa ter dimi-
água, favorece o aumento do potencial nuído durante o transporte.
de conservação pós-colheita, preser-
vando as características físicas e as Após a limpeza, os grãos são
propriedades tecnológicas, atribuindo classificados de acordo com o seu
alto valor comercial ao produto. tamanho por meio de peneiras de di-
ferentes diâmetros. Após todas estas
operações, é recomendado realizar o
Beneficiamento dos grãos
processo de branqueamento para que
No segmento de ervilha verde, ocorra a inibição da atividade das li-
por ser perecível, o grão deve ser res- poxigenases. Esse processo consiste
friado para 0 °C logo após a colheita e em uma exposição rápida da semente
deve ser mantido em temperaturas su- a água quente que faz uma inativação
periores ao seu ponto de congelamen- térmica desta e outras enzimas. Assim,
to, que é de aproximadamente - 0,6º C, o processamento industrial deve ser re-
e próximas a 0 °C sob umidade relativa alizado imediatamente após a colheita
do ar elevada. O transporte da lavou- para preservar melhor as caracterís-
ra para a indústria e mesmo dentro da ticas originais da ervilha, garantindo
indústria, deve ser realizado o mais rá- maior qualidade ao produto final.
pido possível, pois a respiração da er-
vilha fresca é alta chegando a provocar As ervilhas destinadas ao con-
significativo aumento da temperatura gelamento são levadas para um fri-
do produto armazenado, se não houver gorífico de leito fluidizado onde é
uma boa circulação do ar frio. utilizado o método de congelamento
Individually Quick Frozen (congela-
Ao chegar à indústria, os grãos mento individual rápido). Os grãos
de ervilha colhidos frescos são descar- vão passando por uma esteira perfu-

44
Ervilha

rada, por onde passam sopros de ar cessados, sendo, o mais comum, a


gelado que congelam rapidamente reidratação dos grãos, a qual pode ser
as ervilhas uma a uma. Esse proce- realizada de diversas formas, como
dimento deve ser feito rapidamente por exemplo: a) imersão de grãos
para manter a forma, textura e sabor em água; b) exposição dos grãos a
dos grãos, e também para evitar uma uma atmosfera de vapor saturado;
menor quantidade de cristais de gelo, e c) percolação de um leito de grãos
para que durante o congelamento os por ar úmido. Após a reidratação dos
grãos estejam soltos. grãos de ervilha recém-colhidos, pode
ser observado altas porcentagens de
Já para o beneficiamento dos grãos duros, que não absorvem água.
grãos secos, as operações são Essa porcentagem vai diminuindo ao
similares às utilizadas para as semen- longo do armazenamento, com qua-
tes. Os equipamentos comumente uti- tro a cinco meses de armazenamento
lizados são a máquina de ventilador essa porcentagem já é mínima.
e peneiras e a mesa de gravidade. A
utilização da máquina de ar e peneiras
Embalagem e armazenamento dos
e da mesa de gravidade elimina ma-
grãos
teriais indesejáveis, aumentando a pu-
reza física e sanitária dos lotes. Caso O armazenamento em condições
exista grande quantidade de grãos adequadas é fundamental para que se
partidos ou mal formados, pode‑se uti- obtenha excelência de conservação
lizar o separador de espiral, que tem dos grãos, alterando o mínimo possível
como base de separação o formato suas estruturas físicas e nutricionais,
do grão, sendo geralmente utilizado além de ajudar na comercialização da
na linha de beneficiamento de grãos produção, evitando as pressões do
arredondados (lisos). O separador de mercado na época da colheita. Os prin-
correia inclinada também pode ser uti- cipais fatores que influenciam na qua-
lizado, geralmente no final do benefi- lidade do armazenamento são a tem-
ciamento contribuindo para a melhoria peratura e a umidade relativa do ar. A
da qualidade, como na eliminação de umidade relativa do ar está relacionada
grãos partidos (bandas) e ou escleró- com o grau de umidade dos grãos, além
dios de Sclerotinia sclerotiorum. de controlar a ocorrência dos diferentes
processos metabólicos que os mesmos
O processamento da ervilha possam sofrer. Já a temperatura in-
requer grãos com propriedades físi- fluencia na velocidade dos processos
cas bem definidas, necessitando, na bioquímicos, ocasionando aumento da
maioria das vezes, de um pré-trata- atividade respiratória e esgotamento
mento dos grãos antes de serem pro- das substâncias de reserva acumula-

45
Hortaliças leguminosas

das. Dessa forma, as melhores condi- Mercado e comercialização


ções para a manutenção da qualidade
dos grãos são baixa umidade relativa Conforme mencionado, os grupos
do ar e baixa temperatura. varietais de ervilha são diferenciados
pelo tipo de grão, coloração, formato
O período de armazenagem das vagens, entre outros. Estas carac-
de grãos de ervilha pode variar de terísticas podem estar relacionadas a
alguns meses até anos, assim, é forma de comercialização e consumo
fundamental que os mesmos estejam nos diferentes segmentos. Assim, em
armazenados em locais adequados. uma forma didática, de acordo com
Grãos em geral podem ser embalados a utilização principal, pode-se classi-
em sacarias ou colocados a granel. ficar a forma de comercialização ou
Grãos de ervilha congelados devem consumo em cinco grupos distintos:
colocados em embalagens de plástico
de pesos variáveis que devem ser 1. Ervilha de grãos secos –
mantidos em câmaras frigoríficas a Estes grãos podem ser utilizados de
uma temperatura de -18ºC e uma três formas, principalmente: (a) grãos
umidade relativa de 80% a 90%. partidos para confecção de sopas; (b)
reidratados e enlatados; (c) farináceos
para confecção de sopas instantâneas
Rendimento e outros produtos na panificação (Fi-
gura 27).
O rendimento é dependente da
cultivar utilizada e das técnicas de 2. Ervilha de grãos verdes para
cultivo. A produtividade da ervilha enlatamento e ou congelamento –
destinada a indústria de grãos verdes
Geralmente comercializada em latas
tem variado de 3,0 t/ha a 7,0 t/ha e a
ou sacos plásticos (ervilha congelada)
ervilha destinada a indústria de grãos
(Figura 28).
secos entre 1,5 t/ha a 3 t/ha. Para a er-
vilha torta, a produtividade média é de 3. Ervilha de grãos verdes
9.000 kg/ha a 13.000 kg/ha de vagens, – Debulhados ou em vagens para
sendo que neste último caso, a comer- debulhar para consumo in natura
cialização é feita em bandejas de po- (Figura  9).
liestireno expandido (isopor) envolta
por filmes plásticos contendo cerca de 4. Ervilha-vagem do tipo co-
250 g de vagens. A ervilha forrageira mestível (ervilha torta) – Comercia-
pode chegar a um rendimento em tor- lizados em bandejas de poliestireno
no de 1.500 kg de grãos e cerca de 13 expandido (isopor) em embalagens de
toneladas de massa verde/ha. 250 g (Figura 30).

46
Ervilha

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B C

Figura 27. Grãos de ervilha: partidos (A); reidratados (B) e na forma de farinha (C).

A B

Fotos: Warley Marcos Nascimento


Figura 28. Grãos verdes recém colhidos (A) e congelados (B).

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 29. Vagens para debulhar (A) e grãos verdes debulhados (B).

47
Hortaliças leguminosas

tio até a segunda quinzena de maio,


Foto: Warley Marcos Nascimento

nas condições do Planalto Central.


Em  egiões com inverno chuvoso, não
se recomenda o plantio de ervilha para
produção de sementes devido à gran-
de incidência de doenças, como por
exemplo, Ascochyta pisi.

Adubação

Figura 30. Ervilha-vagem do tipo comes- O baixo teor de nitrogênio e o


tível (ervilha torta) em bandeja de poliesti- alto teor de fósforo no solo provoca
reno expandido (isopor). o aparecimento de “coração oco” nas
sementes de ervilha, o que acarreta
em sementes de baixo vigor. A defi-
5. Ervilha forrageira – Produção ciência de manganês, principalmente
de forragem, utilização de cobertura
em solos úmidos com alto teor de ma-
morta ou ração animal (Figura 10).
téria orgânica, causa o aparecimento
de uma anormalidade caracterizada
Produção de sementes por uma coloração marrom no interior
dos cotilédones, prejudicando também
Embora as condições de a qualidade fisiológica das sementes.
produção de grãos e sementes de er- Geralmente, é observado baixa con-
vilha sejam similares, existem algumas centração de cálcio e boro nas se-
particularidades que devem ser leva- mentes de ervilha devido à baixa mo-
das em consideração para obtenção bilidade desses nutrientes no floema.
de sementes com alta qualidade, as Assim, a recomendação de adubação
quais são descritas a seguir: nas áreas destinadas à produção de
sementes deve ser baseada na análi-
se de solo, levando em consideração
Exigências climáticas
a concentração dos nutrientes citados.
A produção de sementes de er-
vilha deve ser conduzida em clima Roguing
seco e com temperaturas mais ame-
nas. Os maiores índices de produ- A operação de roguing é a téc-
ção são obtidos quando os plantios nica usada para a eliminação manual
são feitos no mês de abril; contudo, de plantas contaminantes (atípicas e
pode-se estender o período de plan- outras que estão fora do padrão) em

48
Ervilha

campos de produção de sementes, Polinização e isolamento do


com a finalidade de assegurar que o campo
campo produza sementes de desejá-
vel pureza genética, varietal e física A ervilha é uma cultura tipica-
(Figura 31). O formato da vagem, nú- mente autógama, com uma taxa de
mero de flores por pedúnculo floral, cruzamento natural variando de 0,12%
coloração das flores (Figura 32), colo- com uma distância de isolamento de
ração da base da estípula, coloração 3 metros, ou de 0,80% com a distân-
da testa e do hilo são características cia de isolamento de apenas 1 metro.
importantes a serem observadas du- A Instrução Normativa n° 45 de 2013
rante as inspeções dos campos de do Ministério da Agricultura, que regu-
produção de sementes de ervilha. lamenta os padrões nacionais para a
produção, distribuição e comercializa-
ção de sementes de ervilha, recomen-
Foto: Warley Marcos Nascimento

da um isolamento físico dos campos


ou bordadura de no mínimo 50 m.

Colheita de sementes

Na colheita de sementes de er-


vilha pode ser utilizada diversas má-
quinas. Em áreas menores, a colheita
pode ser feita em duas etapas. Pri-
Figura 31. Realização de roguing em meiro, faz-se o corte e enleiramento
um campo de produção de sementes de
das plantas utilizando-se enxadas e
ervilha.
garfos. Neste caso, as sementes po-
Foto: Warley Marcos Nascimento

dem estar com umidade próxima de


30% - 44%. Após a semente atingir a
umidade desejada, procede-se a trilha
utilizando-se batedeiras ou colhedei-
ras de semi-arrasto (Figura 33). Em
áreas maiores, a colheita é realizada
utilizando-se colheitadeiras automotri-
zes; neste caso, o teor de água das
sementes deve ser um pouco menor,
isto é, próximo de 16%.
Figura 32. Campo de produção de semen-
tes de ervilha de flor branca apresentando Sendo as sementes de ervilha
contaminação por planta com flor roxa. arredondadas e com o tecido embrio-

49
Hortaliças leguminosas

como, temperatura e fluxo de ar de se-


Foto: Warley Marcos Nascimento

cagem. No caso da ervilha, como nas


demais sementes de hortaliças, o mé-
todo mais empregado é o estacionário
e a temperatura de secagem deverá
ser de aproximadamente 32 ºC.

Beneficiamento de sementes

Assim como na colheita, o be-


Figura 33. Colheita de sementes de
neficiamento de sementes de ervilha
ervilha utilizando uma colhedeira de semi-
arrasto. deve ser realizado cuidadosamente,
pois podem ocorrer, neste processo,
seja nas moegas, elevadores e demais
nário juntamente com os cotilédones equipamentos, danos mecânicos. A co-
em toda a semente, apresentam gran- loração das sementes é outro aspecto
de suscetibilidade à danificação mecâ- de grande importância, pois pode es-
nica. Assim, tanto sementes destinadas tar relacionada a qualidade fisiológica
ao segmento seco (sementes lisas) do lote de sementes. Através de uma
como no segmento verde (sementes selecionadora eletrônica podem-se
rugosas) devem ser cuidadosamente eliminar sementes manchadas, mistu-
colhidas evitando assim a ocorrência ras varietais, sementes sem tegumen-
de danificações mecânicas; estas dani- to, enfim melhorar a qualidade do lote.
ficações reduzem a qualidade fisiológi- Em ervilha, é muito comum o desco-
ca (germinação e vigor) das sementes. loramento das sementes, principal-
mente em decorrência de chuvas ou
irrigações na pré-colheita. Sementes
Secagem de sementes
descoloridas geralmente apresentam
O método mais utilizado para menor vigor e germinação. Assim, a
secagem de sementes de ervilha é separação pela cor, além de influen-
o artificial, o qual permite que as se- ciar a qualidade fisiológica, seleciona
mentes sejam secas sob condições as sementes que irão apresentar uma
padronizadas e uniformes, garantindo maior tolerância a R. solani em campo.
uma eficiente remoção de água das
mesmas sem lhes afetar a qualidade Tratamento de sementes
fisiológica. O método caracteriza‑se
pela possibilidade de modificação e Um grande número de doenças
controle das propriedades físicas, de grande importância tem as sementes

50
Ervilha

como uma forma de disseminação e

Foto: Warley Marcos Nascimento


perpetuação na natureza. Assim, o
tratamento de sementes é considera-
do uma das medidas mais recomen-
dadas, por controlar as doenças na
fase que antecede à implantação de
um cultivo. É uma medida de simples
execução além de ser uma técnica de
baixo custo e de grande eficácia. Con-
tudo, é preciso conhecimento sobre o
potencial da doença no campo e do
tipo de patógeno presente, bem como Figura 34. Sementes de “ervilha torta”
suas propriedades de disseminação, tratadas e peliculizadas.
sua capacidade de estabelecimento
no solo e o período de sobrevivência
desse patógeno. tipo de patógeno alvo do tratamento,
tipo de infecção/contaminação das se-
A principal medida adotada e a
mentes, a formulação e o ingrediente
opção mais econômica para minimi-
ativo do produto, características do
zar os efeitos negativos das doenças
solo, profundidade de semeadura, en-
tem sido o tratamento químico, atra-
tre outros fatores.
vés do uso de fungicidas, antibióticos
e nematicidas (Figura 34). O uso de
produtos químicos na produção de Embalagem das sementes
sementes de ervilha é uma prática efi-
ciente, principalmente quando as con- Na escolha da embalagem,
dições climáticas durante a semeadu- devem ser consideradas as condições
ra são desfavoráveis à germinação e climáticas sob as quais as sementes
a emergência, deixando a semente serão armazenadas até o próximo
exposta a fungos que habitam o solo, plantio, a forma de comercialização,
como por exemplo, Rhizoctonia solani, disponibilidade e as características
Fusarium spp., entre outros, os quais mecânicas das embalagens. A emba-
provocam deterioração e morte das lagem deve apresentar resistência à
plantas no solo. ruptura, proteção contra insetos, roe-
dores e trocas de vapor d’água com
Para uma maior eficácia, é a atmosfera. No caso de sementes
preciso levar em conta a ação isola- de ervilha, é recomendado utilizar
da ou integrada de fatores, como as sacos valvulados de papel de 40 Kg
condições físicas e fisiológicas do lote, (Figura 35).

51
Hortaliças leguminosas

e como parâmetro para a fiscalização


Foto: Warley Marcos Nascimento

do comércio. Para sementes de ervi-


lha, existe metodologia padronizada
para o teste de germinação nas Re-
gras para análise de sementes (RAS),
sendo recomendados os substratos
Rolo de Papel ou entre Areia, a tempe-
ratura de 20 °C, com leituras aos cinco
e oito dias, correspondendo respecti-
vamente a primeira contagem e a con-
tagem final da germinação.

Foto: Warley Marcos Nascimento


Figura 35. Sementes de ervilhas armaze-
nadas em sacos valvulados de papel de
40 Kg.
Figura 36. Teste de germinação em
sementes de ervilha.
Avaliação da qualidade das se-
mentes Em se tratando de cultivares de
ervilhas utilizadas para processamen-
Na avaliação da qualidade fisio- to industrial, onde a uniformidade das
lógica das sementes, rotineiramente épocas e duração do florescimento e
é usado o teste de germinação (Figu- maturação são necessárias para ob-
ra 36) e, de modo complementar, são tenção de produto adequado, a uti-
utilizados os resultados das análises lização de testes de vigor, capazes
de vigor para identificar diferenças na de detectar diferenças significativas
qualidade fisiológica dos lotes, princi- de qualidade fisiológica entre lotes
palmente daqueles com porcentagem de germinação semelhante, torna-se
semelhante de plântulas normais. O praticamente obrigatória no progra-
teste de germinação apresenta alto ma de produção de sementes. Para
grau de confiabilidade, quanto à possi- ervilha, os testes de envelhecimento
bilidade de reprodução dos resultados acelerado e de condutividade elétri-

52
Ervilha

ca têm apresentado bons resultados; BLIXT, S. Mutation genetics in


este último, é recomendado inclusive Pisum. Agriculture Horticulture
como teste padronizado de vigor para Genetica, v. 30. p. 2-259, 1972.
a espécie.
BLIXT, S. Pisum. In: FRANKEL, O.
Além da qualidade fisiológica, H.; BENNETT, E. (Ed.). Genetic
a sanidade da semente também tem resources in plants: their
reflexos diretos sobre o estabeleci- exploration and conservation.
mento das plântulas em campo. As- Oxford: Blackwell, 1970. p. 321-326.
sim, o teste de sanidade de sementes
é recomendado, pois é um eficiente BRAND, T. S.; BRANDT, D. A.; van
método para determinar a condição der MERWE, J. P.; CRUYWAGEN,
sanitária de um lote de sementes, for- C. W. Field peas (Pisum sativum) as
necendo informações para programas protein source in diets of growing-
de certificação, serviços de vigilância finishing pigs. Journal of Applied
vegetal, tratamento de sementes, en- Animal Research, v. 8, p. 159-164,
tre outros. 2000.

CALIARI, M. F.; MARCOS FILHO,


J. Comparação entre métodos para
Literatura recomendada avaliação da qualidade fisiológica
de sementes de ervilha. Revista
AGUERRE, R.; SUAREZ, C.; Brasileira de Sementes, v. 12, n. 1,
VIOLLAZ, P. E. Drying kinetics of p. 52-75, 1990.
rough rice grain. Journal of Food
Technology, v. 17, n. 6, p. 679-686, CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA,
1982. J. Sementes: ciência, tecnologia e
produção. 4. ed. Jaboticabal: Funep,
ATHIÉ, I.; CASTRO, M. F. P. M.; 2000. 588 p.
GOMES, R. A. R.; VALENTINI,
S. R .T. Conservação de grãos. CASTELLANE, P. D.; NICOLOSI, W.
Campinas: Fundação Cargill, 1998. M.; HASEGAWA, M. Produção de
236 p. sementes de hortaliças. Jaboticabal:
FCAV: FUNEP, 1990. 261 p.
BECKER, H. A.; SALLANS, H. R. A
study of diffusion in solids of arbitrary COUTO, F. A. D. A. Aspectos
shape, with application to the drying of históricos e econômicos da cultura da
the wheat kernel. Cereal Chemistry, ervilha. Informe Agropecuário, v. 14,
v. 32, p. 212-226, 1955. n. 158, p. 5-7, 1989.

53
Hortaliças leguminosas

FIELDS, P. G.; XIE, Y. S.; HOU, X. GRITTON, E. T. Field pea. In:


Repellent effect of pea Pisum sativum FEHR, W. R.; HADLEY, H. H. (Ed.).
fractions against stored-product Hybridization of crop plants.
insects. Journal of Stored Products Madison: American Society of
Research, v. 37, p. 359-370, 2001. Agronomy, 1980. p. 347-356.

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de HAGEDORN, D. J. (Ed.).


olericultura: agrotecnologia moderna Compendium of pea diseases.
na produção e comercialização de 3 rd ed. Minnesota: American
hortaliças. Viçosa: UFV, 2008. 421 p. Phytopathological Society, 1989. 57 p.

GEORGE, R. A. T. Vegetable seed MACHADO, J. C.; SOUZA, R.


production. 3rd ed. Cambridge, M. Tratamento de sementes
2009. 320 p. de hortaliças para controle de
patógenos: princípios e aplicações.
GIORDANO, L. B. Produção In: NASCIMENTO. W. M. (Ed.).
de sementes de ervilha. In: Tecnologia de sementes de
CASTELLANE, P. D.; NICOLOSI, hortaliças. Brasília, DF: Embrapa
W. M.; HASEGAWA, M. (Coord.). Hortaliças, 2009. p. 147-272.
Produção de sementes de
hortaliças. Jaboticabal: FAVJ: MARCOS FILHO, J. Fisiologia de
FUNEP, 1990. p.113-126, sementes de plantas cultivadas.
Piracicaba: FEALQ, 2005. 495 p.
GIORDANO, L. B.; MARQUES, M. R.
C.; MELO, P. E. Estimativa da taxa MAROUELLI, W. A.; GIORDANO,
de cruzamento natural em ervilha. L. B.; OLIVEIRA, C. A.; CARRIJO,
Horticultura Brasileira, v. 9, n. 2, p. O. A. Desenvolvimento, produção e
82-83, 1991. qualidade da ervilha sob diferentes
tensões de água no solo, em dois
GIORDANO, L. de B. Cultivares de estádios da cultura. Pesquisa
ervilha. Informe Agropecuário, v. 14, Agropecuária Brasileira, v. 26, n. 7,
n. 158, p. 22-25, 1989. p. 1041-1047, 1991.
GONÇALVES, M.; NASCIMENTO, MAROUELLI, W. A.; GIORDANO, L.
W. M. Determinação do ponto de B.; SILVA, W. L. C.; GUEDES, A. C.
maturidade fisiológica de sementes Época de paralisação das irrigações
de ervilha cv. Dileta. Horticultura em ervilha. Horticultura Brasileira, v.
Brasileira, v. 12, n. 2, p.184-187, 5, n. 1, p. 18-20, maio 1987.
1994.

54
Ervilha

MAROUELLI, W. A.; OLIVEIRA, C. NASCIMENTO, W. M.; GIORDANO,


A. da S. Irrigação da ervilha. Informe L. B. Avaliação de cultivares de
Agropecuário, v. 14, n. 158, p. 32-7, ervilha quanto ao descoloramento de
1989. grãos. Horticultura Brasileira, v. 6,
n. 1, p. 24-25, 1988.
MULLET, J. H.; WILKINSON, R. J.
The relationship between amounts of NASCIMENTO, W. M.; GIORDANO,
electrolyte lost on leaching seed of L. B.; CÂMARA, F. L. A.; LEITE,
Pisum sativum and some parameters S. L. S. Produção de sementes de
of plant growth. Seed Science and cultivares de ervilha destinadas
Technology, v. 7, p. 393-398, 1979. à industrialização. Horticultura
Brasileira, v. 5, n. 1, p. 34-36, 1988.
NASCIMENTO, W. M. (Ed.).
Hortaliças: tecnologia de produção NASCIMENTO, W. M.; PESSOA, H.
de sementes. Brasília, DF: Embrapa B. S. V. Utilização do separador de
Hortaliças, 2011. 314 p. correia inclinada no beneficiamento
de sementes de ervilha (Pisum
NASCIMENTO, W. M. (Ed.). sativum L.). Informativo Abrates, v.
Tecnologia de sementes de 5, p. 84-85, 1995.
hortaliças. Brasília, DF: Embrapa
Hortaliças, 2009. 432 p. NASCIMENTO, W. M.; SILVA,
P. P.; FREITAS, R. A. Produção
NASCIMENTO, W. M. Efeito do de sementes de ervilha. In:
beneficiamento na qualidade de NASCIMENTO. W. M. (Ed.).
semente de ervilha. Pesquisa Produção de sementes de
Agropecuária Brasileira, v. 29, n. 2, hortaliças. Brasília, DF: Embrapa
p. 309-313, 1994. Hortaliças, 2014. 315 p. v. 1.
NASCIMENTO, W. M.; CICERO, S. NASCIMENTO. W. M.; FREITAS,
M. Qualidade de sementes de ervilha R. A.; GOMES, E. M. L.; SOARES,
tratada com fungicidas. I: qualidade A. S. Metodologia para o teste
sanitária. Revista Brasileira de de envelhecimento acelerado em
Sementes, v. 13, n. 1, p. 5-12, 1991. sementes de ervilha. Horticultura
Brasileira, v. 25, n. 2, p. 205-209,
NASCIMENTO, W. M.; CICERO, S.
2007.
M. Qualidade de sementes de ervilha
tratada com fungicidas II: qualidade PEREIRA, A. S. Ervilha: uma fonte de
fisiológica. Revista Brasileira de nutrientes. Informe Agropecuário, v.
Sementes, v. 13, n. 1, p.13-19, 1991. 14, n. 158, p. 52-54, 1989.

55
Hortaliças leguminosas

PERES, J. R. R.; SUHET, A. R.; SILVA, P. P.; FREITAS, A. R.;


VARGAS, M. A. T. Fixação de NASCIMENTO, W. M. Pea seed
nitrogênio atmosférico pela ervilha treatment for Rhizoctonia solani
em solos de cerrados. Informe control. Journal of Seed Science, v.
Agropecuário, v. 14, n. 158, p. 19, 35, n. 1, p. 17-20, 2013.
1989.
TOMM, G. O.; GIORDANO, L. de
REGRAS para análise de sementes. B.; SANTOS, H. P. dos; VOSS,
Brasília-DF: Ministério da Agricultura, M.; NASCIMENTO, W. M. N.;
Pecuária e Abastecimento: ÁLVARES, M. do C. Ervilha BRS
Secretária de Defesa Agropecuária, forrageira: uma nova alternativa
2009. 395 p. para cobertura de solo. Brasília,
DF: Embrapa Hortaliças; Passo
REIS, N. V. B. dos; OLIVEIRA, C. A. Fundo: Embrapa Trigo, 2002. 4 p.
da S.; GIORDANO, L. de B. Graus-dia Folder.
e época de plantio para produção de
grãos secos de ervilha. Horticultura VIEIRA, F. V.; PINTO, C. M. F.;
Brasileira, v. 7, p. 12-14, 1989. VIEIRA, C. Ervilha (Pisum sativum L.).
In: PAULA JÚNIOR, T. J.; VENZON,
SANTOS, J. R. M.; PESSOA, H. B. M. 101 culturas: manual de
S. V.; GIORDANO, L. B. Resistência tecnologias agrícolas. Belo Horizonte:
de campo a oídio (Oidium sp.) em Epamig, 2007. 800 p.
germoplasma de ervilha (Pisum
sativum). Fitopatologia Brasileira, v. VIEIRA, R. D.; CARVALHO, N. M.
18, n. 1, p. 123-125, 1993. Testes de vigor em sementes.
Jaboticabal: FUNEP, 1994. 164 p.
SANTOS, J. R. M.; REIFSCHNEIDER,
F. J. B.; GIORDANO, L. B.; COBBE, VIEIRA, R. F.; RESENDE, M. A. V.;
R. V. Doenças da ervilha (Pisum SANTOS, C. M. Épocas de plantio de
sativum L.). Brasília: Embrapa – ervilha em Patos de Minas, Uberaba
CNPH, 1991. 39 p. (Embrapa-CNPH. e Janaúba, Minas Gerais. Ciência e
Documentos, 7). Agrotecnologia, v. 24, n. 1, p. 74-80,
2000.
SHARMA, R. D.; FONSECA, C. E.
L. Efeito de meloidogyne javanica VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.; VIEIRA, R.
no crescimento da ervilha. Pesquisa F. Leguminosas graníferas. Viçosa:
Agropecuária Brasileira, v. 35, n. 1, UFV, 2001. 206 p.
p. 115-120, jan. 2000.

56
Ervilha

WANG, H.; HWANG, S. F.; CHANG, WARNOCK, S. J.; HAGEDORN, D.


K. F.; TURNBULL, G. D.; HOWARD, J. Stigma receptivity in peas (Pisum
R. J. Characterization of Ascochyta sativum L.). Agronomy Journal, v.
isolates and susceptibility of pea 46, p. 274-277, 1954.
cultivars to the ascochyta disease
complex in Alberta. Plant Pathology, YALÇIN, I.; OZARSLAN, C.; AKBAS,
v. 49, p.540-545, 2000. T. Physical properties of pea (Pisum
sativum) seed. Journal of Food
engineering, v. 79, n. 2, p. 7

57
Feijão-vagem
Nei Peixoto
Antonio Ismael Inácio Cardoso

Introdução onde foi levada no século XVI. Essa

O
seleção foi feita a partir de mutações
feijão-vagem, feijão-de-vagem ocorridas em feijão-comum, que apre-
ou simplesmente vagem per- sentou baixo teor de fibras nas va-
tence à mesma espécie do gens. Os materiais mutantes foram
feijão comum (Phaseolus vulgaris L.), posteriormente selecionados na Fran-
distinguindo-se deste apenas pela uti- ça e nos Países Baixos. As primeiras
lização de suas sementes e vagens cultivares lançadas no início do século
imaturas como hortaliça. Estas apre- XIX resultaram de cruzamentos entre
sentam baixo teor de fibras e produ- os feijões cultivados na Europa e os
zem grãos com ótima qualidade para procedentes da América Central. Hoje
consumo humano. Essa espécie é ori- é uma das principais hortaliças cultiva-
ginária do continente americano, pro- das no mundo, cuja produção está em
vavelmente do México e Guatemala, torno de 6,5 milhões de t/ano, sendo a
mas foi selecionada na Europa, para China o principal produtor.

61
Hortaliças leguminosas

No Brasil é uma das dez hor- madamente 55 espécies pertencem


taliças com maior volume produzido. ao gênero Phaseolus. Destas, ape-
A  região Sudeste concentra o maior nas cinco são cultivadas: P. vulgaris,
volume de produção, com destaque P. lunatus, P. coccineus, P. acutifo-
para os estados de São Paulo e Rio lius e P. polyanthus. A espécie P. vul-
de Janeiro, seguida da região Sul. garis L. é diploide, com 2n = 2x = 22
A produção é feita principalmente cromossomos.
por agricultores familiares, com
predominância do sistema de cultivo É espécie autógama, com flores
tutorado, normalmente feito em su- hermafroditas, onde ocorre a cleis-
cessão a outras culturas, como pepi- togamia, ou seja, a polinização do
no e, principalmente, tomate. O cultivo estigma ocorre antes da abertura do
do feijão-vagem demanda muita mão botão floral. A morfologia floral favo-
de obra, principalmente para colheita, rece a autopolinização, pois as ante-
classificação e embalagem. ras, protegidas pelas pétalas, estão
no mesmo nível do estigma. Quan-
Além de serem fontes de vitami- do ocorre a deiscência das anteras,
nas A, B1, B2 e C, as vagens são ricas os grãos de pólen caem diretamente
em fósforo, potássio e cálcio. Também sobre o estigma. Apesar do elevado
são importantes fontes de proteína grau de autogamia, pode ocorrer fe-
e de fibras, essenciais para o bom cundação cruzada, principalmente
funcionamento do sistema digestivo. devido à ação de insetos. A maioria
dos autores relata menos de 1% de
Atualmente, para a produção
polinização cruzada, mas existem re-
de vagens de qualidade existem
latos de até 11%.
cultivares com hábito de crescimento
indeterminado ou determinado, e dife- O feijão-vagem tem quatro
rentes manejos e sistemas de cultivo classes de raízes: primária, basais,
que serão descritos neste capítulo. adventícias e laterais. A raiz primária
O feijão-vagem é pouco pesquisado origina-se da radícula já presente no
no Brasil, mas muitas informações embrião da semente e apresenta forte
obtidas com o feijão-comum podem ser gravitropismo positivo e, na ausência
utilizadas para o feijão-vagem. de obstáculos no solo, cresce verti-
calmente para baixo. As raízes super-
Botânica ficiais e as adventícias, numerosas e
extensas, intensificam a exploração
O feijão-vagem (Phaseolus superficial do solo. Portanto, a planta
vulgaris L.) pertence à família Faba- explora pouco as camadas profundas
ceae, antiga Leguminosae. Aproxi- do solo, sendo muito sensível à fal-

62
Feijão-vagem

ta de água no solo. Como as demais

Foto: Warley Marcos Nascimento


espécies da família Fabacea, em con-
dições favoráveis, com inoculação na-
tural ou artificial, apresentam nódulos,
em função da associação mutualística
da planta com estirpes de Rhyzobium
spp. Estas bactérias fixam nitrogênio
da atmosfera, que implica menor gasto
de adubo nitrogenado em comparação
com cereais. Os nódulos, que contêm
as bactérias, são quase esféricos e
podem apresentar tamanho variado.

O caule é herbáceo e seu com-


primento e ramificação dependem do
hábito de crescimento da planta. Nas
cultivares de crescimento determi-
Figura 1. Plantas de feijão-vagem de
nado, cuja altura da planta varia de
crescimento indeterminado.
30 cm a 70 cm, o caule geralmente
é ereto e apresenta inflorescência

Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso


apical. As cultivares de crescimen-
to indeterminado têm caule volúvel
com poucas ramificações e a planta
pode alcançar mais de 2 m de com-
primento, com tendência a se enrolar,
no sentido levógero, em plantas ou
estacas (Figura 1). Figura 2. Folhas de feijão-vagem com
formato cordiforme.
O feijão tem dois tipos de folhas:
simples e compostas. As folhas sim-
Foto: Warley Marcos Nascimento

ples são as duas primeiras (primárias)


a serem formadas. Elas aparecem no
segundo nó do caule e têm formato
cordiforme (Figura 2), enquanto as
demais são trifoliadas, com tamanho
e forma variáveis (Figura 3). O folíolo
central das folhas compostas é simé-
trico, enquanto os dois folíolos laterais
são assimétricos. Figura 3. Folhas de feijão-vagem trifoliadas.

63
Hortaliças leguminosas

As flores são hermafroditas, de As vagens, cilíndricas ou achata-


coloração branca, amarela, creme, ró- das (Figura 5), são verdes, roxas, ver-
sea ou roxa (Figura 4). As flores são melhas, amarelas ou com mais de uma
distribuídas em inflorescência tipo ra- cor. As vagens roxas (Figura 6) ficam
cimo. Nas cultivares de crescimento verdes após o cozimento. Por apresen-
determinado se localizam no final das tarem baixo teor de fibras, as vagens
hastes. Nas cultivares de crescimento são indeiscentes quando secas, ao
indeterminado o florescimento ocorre contrário das do feijão-comum e das
da base para o ápice da planta. Pelo espécies silvestres que lhes deram
grande período de florescimento que origem. Destacam-se, no Brasil, dois
pode passar de dois meses, pode-se tipos de vagens: manteiga e macarrão.
observar na mesma planta desde flores No estádio ideal para colheita, as va-
em antese até vagens bem desenvolvi- gens do tipo manteiga (achatadas) al-
das. Nesse último tipo de florescimen- cançam 21 cm - 23 cm de comprimento
to, a colheita deve ser realizada parce- e 1,5 cm - 2,0 cm de largura. As vagens
ladamente para evitar que as vagens do tipo macarrão (arredondadas) al-
passem do ponto de comercialização. cançam 15 cm - 17 cm de comprimento
e diâmetro médio de 1,0 cm.
Foto: Nei Peixoto

A
As sementes, de formato renifor-
me ou alongado, foscas ou brilhantes,
podem ser brancas, cremes, marrons,

Foto: Nei Peixoto


Foto Warley Marcos Nascimento

Figura 4. Flor de feijão-vagem de colora-


ção branca (A) e rósea (B). Figura 5. Vagens achatadas.

64
Feijão-vagem

nado (arbustivas) (Figura 8), e quanto


Foto: Nei Peixoto

às características comerciais relacio-


nadas ao formato e cor das vagens. As
cultivares indeterminadas apresentam
maior potencial produtivo, desde que
se disponha de mão de obra e mate-
riais para tutoramento.

As cultivares arbustivas vem


ganhando espaço entre os agricul-
Figura 6. Vagens de coloração roxa. tores, devido ao fácil manejo, pois
possibilitam o plantio de grandes áreas
irrigadas. Essas cultivares dispensam
vermelhas, pretas ou com mais de
o tutoramento, apresentam floresci-
uma cor. As sementes brancas são
mento concentrado e ciclo vital mais
as preferidas para a industrialização,
curto, de 60 a 80 dias. Na comerciali-
pois sementes escuras podem colorir
a calda em que são conservadas, que

Foto: Warley Marcos Nascimento


é indesejável.

Cultivares

Uma boa cultivar deve, além de


ser produtiva, apresentar as caracterís-
ticas desejáveis de vagens, ser unifor-
me quanto às características (formato, Figura 7. Plantas de feijão-vagem de
tamanho e cor) do grupo de vagens a crescimento indeterminado.
que pertence, com vagens retas e bai-
xo teor de fibras, além de resistência ou
Foto: Warley Marcos Nascimento

tolerância às principais doenças, tais


como antracnose, ferrugem, mancha
angular e crestamento bacteriano.

Não existem híbridos em feijão-


vagem, sendo comercializadas, ape-
nas cultivares de polinização aberta.
As cultivares podem ser classificadas
quanto ao hábito de crescimento, Figura 8. Plantas de feijão-vagem de
indeterminado (Figura 7) ou determi- crescimento determinado.

65
Hortaliças leguminosas

zação, às vezes, as vagens das culti- vale, todas de formato cilíndrico e cor
vares arbustivas são denominadas de verde, além das cultivares Teresópolis
holandesas (Figura 9). Manteiga Trepador e Manteiga Mara-
vilha, de formato achatado, verdes.
As características comerciais Dentre as cultivares arbustivas tem
das cultivares mais relevantes para sido comercializadas Napoli, Mimoso
o mercado são formato e cor das va- Rasteiro e Macarrão Rasteiro. Outras
gens. Quanto ao formato, as vagens cultivares brasileiras como Alessa,
classificam-se em cilíndricas (tipo ma- Andra e Cota, desenvolvidas pela
carrão) ou achatadas (tipo manteiga), Pesagro, Coralina e Turmalina, desen-
embora haja formatos intermediários, volvidas pela EMGOPA em parceria
com cores verde, roxa, vermelha, com o CIAT, UEL 1 e UEL 2, desen-
amarela e multicoloridas no ponto de volvidas pela Universidade Estadual
colheita. No Rio de Janeiro, vagens do de Londrina, também são plantadas,
tipo manteiga são as preferidas, dife- embora em menor área.
rentemente dos demais estados.
Muitas cultivares de feijão-va-
No mercado brasileiro de se- gem podem ser encontradas no mer-
mentes podem ser encontradas, cado mundial de sementes, com ampla
entre outras, as seguintes cultivares variabilidade que podem ser utilizadas
trepadoras: Macarrão Trepador, Ma- no melhoramento genético da espé-
carrão Favorito, Macarrão Preferido, cie para o desenvolvimento de novas
Macarrão Bragança, Macarrão Horti- cultivares, aliando produtividade, con-
centração de florescimento e colheita,
resistência ou tolerância às principais
Foto: Nei Peixoto

doenças e fatores abióticos, tais como


estresse hídrico, temperaturas extre-
mas e acidez do solo. Tais caracteres
podem ser encontrados dentro da es-
pécie, com genótipos altamente diver-
gentes que poderão resultar na obten-
ção de cultivares com características
desejáveis ao produtor, ao mercado e
ao consumidor.

Exigências climáticas

Entre os fatores climáticos que


Figura 9. Vagens do tipo holandesa. mais afetam o feijão-vagem desta-

66
Feijão-vagem

cam‑se a temperatura e a precipita- aumento da incidência de plântulas


ção pluvial. Desenvolve-se melhor em tombadas.
temperatura amena e não tolera gea-
da nem temperatura elevada. A germi- Sob condições de baixa umida-
nação ocorre em temperatura do solo de do solo, há redução na absorção
de 12 ºC a 35 ºC, com amplitude ótima e translocação de água e nutrientes
de 21 ºC a 27 ºC. Em temperaturas na planta, redução na fotossíntese e
abaixo de 15 oC, pode ocorrer menor translocação de fotoassimilados, den-
emergência de plântulas, que ocorre tre outros fatores, acarretando menor
de forma mais lenta e desuniforme. crescimento da planta e produtivida-
Para um bom crescimento vegetativo de. Como o sistema radicular é super-
as temperaturas médias devem estar ficial, a planta é suscetível a estres-
entre 18 ºC e 27 ºC. Temperaturas bai- se hídrico, se não for irrigada. As fa-
xas, inferiores a 15 oC, atrasam o cres- ses do ciclo de vida do feijão-vagem
cimento e desenvolvimento da planta mais sensíveis ao estresse hídrico
e podem reduzir seu potencial produ- são florescimento e enchimento das
tivo. Temperaturas elevadas, princi- vagens que, no caso das cultivares
palmente acima de 35 oC de dia e/ou de crescimento indeterminado, com-
25 oC à noite, prejudicam a viabilidade preendem a maior parte, pelo menos
dos grãos de pólen, podendo resultar 60%, do ciclo vital da planta.
em abortamento de flores, menor fixa-
ção de vagens ou produção de vagens Ventos fortes podem prejudicar o
deformadas, com baixo valor comer- crescimento das plantas e provocar a
cial. Temperatura elevada talvez seja queda de vagens, principalmente em
o fator climático que mais influencia o cultivo tutorado. Por isso, recomenda-
se a marcação das linhas de seme-
abortamento de flores e a fixação das
adura no sentido predominante dos
vagens. Temperaturas elevadas tam-
ventos, para se evitar rompimento das
bém podem aumentar a população de
espaldeiras, arranquio ou danos das
algumas pragas como a mosca-bran-
plantas. Ventos fortes associados a
ca, importante vetor de viroses.
baixa umidade relativa do ar e/ou alta
Chuvas frequentes favorecem temperatura reduzem o pegamento e
doenças fúngicas e bacterianas no desenvolvimento das vagens.
feijão-vagem. Ademais, o excesso de
água no solo pode reduzir a aeração Escolha da área
do solo e prejudicar o crescimento
das plantas. Na fase inicial da cultura, Em localidades com temperatu-
o excesso de água pode provocar ras médias acima de 8 ºC e abaixo de
o apodrecimento das sementes e 32 ºC, o cultivo do feijão-vagem pode

67
Hortaliças leguminosas

ser feito durante todo o ano, mas a que o feijão-vagem pertence à mesma
cultura desenvolve-se melhor com tem- espécie do feijão-comum e, portanto,
peraturas médias entre 18 oC e 27 oC. o vazio sanitário inclui todos os tipos
Em regiões de verão muito quente de feijão.
(temperatura média acima de 32 oC) e
chuvoso há elevada queda de flores,
Solos e adubação
prejudica a aparência das vagens que
ficam em contato com o solo e reduz Solos com textura média, não
a produtividade. Por isso, período de compactados, bem drenados, com alto
outono-inverno é mais apropriado para teor de matéria orgânica, pH entre 5,5
cultivo nessas regiões, desde que as e 6,5 são os mais adequados para o
temperaturas médias não sejam infe- feijão-vagem. Essas condições, além
riores a 18 oC. Regiões altas (altitude de favorecer as plantas, também be-
acima de 800 m) ou com inverno rigo- neficiam a associação da planta com
roso devem ser evitadas para o cultivo bactérias do gênero Rhizobium, fixa-
no outono-inverno. doras de nitrogênio do ar.
Na semeadura de janeiro a mar- Recomenda-se analisar o solo
ço, nas localidades onde há muita pelo menos dois meses antes da ins-
soja, pode haver elevada incidência talação da cultura para, se necessá-
de mosca-branca (Bemisia tabaci) e do rio, realizar a correção do solo com
mosaico dourado por ela transmitido, calcário para elevar a saturação por
que pode reduzir muito a produtividade. bases para 60% a 70%. Um solo corri-
Nessa época, deve-se obedecer ao gido apresenta menor teor de alumínio,
vazio sanitário estabelecido para cada que pode ser tóxico, e melhor aprovei-
região, o qual é definido pela Instru- tamento e absorção da maioria dos
ção Normativa nº 15, de 16 de junho macronutrientes. Destaca-se que a
de 2014, do Ministério da Agricultura, calagem é uma das práticas mais ba-
Pecuária e Abastecimento (MAPA). ratas e eficazes permitida tanto no sis-
Essa Instrução estabelece o período tema de produção convencional como
de um mês com a ausência de plantas no orgânico.
vivas hospedeiras da mosca-branca no
campo, com o objetivo de minimizar a A adubação depende da análise
incidência desse inseto e do mosaico química e da textura do solo. Para o
dourado. Assim, a semeadura deve estado de São Paulo, recomenda‑se,
ser realizada considerando-se o ciclo em quilos por hectare, de 50 a 300
vital de cada cultivar, de modo que de P2O5, 0 a 100 de K2O e 45 a 100
obedeça ao período estabelecido para de N. O fósforo deve ser aplicado no
cada localidade. Não se pode esquecer sulco de plantio e as doses de nitro-

68
Feijão-vagem

gênio e de potássio divididas em 25% ria ocorrendo devido ao aumento da


no plantio e 75% dividido em três produtividade das culturas que remo-
adubações em cobertura aos 25, 50 vem grandes quantidades de S e ao
e 75 dias após a emergência para uso de fertilizantes que apresentam
cultivares trepadoras (crescimento pequenas quantidades ou não apre-
indeterminado). Para as cultivares ar- sentam esse nutriente. Por isto,
bustivas (crescimento determinado) recomenda-se aplicar de 15 kg/ha a
recomenda-se 40% do nitrogênio e do 30 kg/ha de S, principalmente em solos
potássio no sulco de plantio e apenas pobres em matéria orgânica, importan-
uma cobertura, com os outros 60%, te fonte deste nutriente. O S pode ser
aos 20 dias após a semeadura. No fornecido pelo sulfato de amônio (21%
entanto, se houver disponibilidade de de N e 24% de S) como fonte de
mão de obra, recomenda-se realizar N em cobertura.
a adubação em cobertura com maior
número de parcelamentos, principal- Caso o solo seja deficiente em
mente nas cultivares com crescimen- micronutrientes, principalmente boro
to indeterminado, podendo-se fazer e zinco, recomenda-se corrigi-lo, de
semanalmente a partir dos 25 dias preferência aplicando-se junto à adu-
após a emergência. bação de plantio fertilizantes que con-
tenham esses micronutrientes ou, no
Os nutrientes acumulados em caso de nutrientes com maior mobili-
maior quantidade na planta são N e K. dade na planta, em aplicações folia-
Embora o P seja absorvido e acumu- res. Destaca-se, também, o molibdê-
lado em menor quantidade na planta nio, importante no processo de fixação
que N e K, é, geralmente, mais limitan- biológica do N atmosférico, seja pela
te à produção, pois, além de a maioria inoculação com Rhizobium spp. ou
dos solos ser pobre neste nutriente, a pela presença de isolados nativos, e
maior parte do P adicionado via adu- de ser necessário na redução do nitra-
bação torna-se indisponível às plantas to de amônio.
em razão da retenção do P no solo.
Em sistema orgânico de produ-
Além dos três macronutrien- ção, recomenda-se utilizar antes do
tes (NPK) que normalmente são plantio 10 m3 a 30 m3 por hectare de
adicionados antes do plantio e dos adi- esterco bovino curtido ou compos-
cionados via calagem (Ca e Mg), tam- to orgânico, sendo as doses maiores
bém o enxofre (S) é importante, por ser recomendadas para solos pobres ou
constituinte de alguns aminoácidos im- arenosos. Se for utilizar esterco de ga-
portantes. Vem ocorrendo um aumento linha, a dose não deve ultrapassar 8 m3
das áreas deficientes em S. Isto esta- por hectare. Esses adubos orgânicos

69
Hortaliças leguminosas

devem ser incorporados ao solo pelo Plantas deficientes em P são me-


menos uma semana antes do plantio. nores e as folhas velhas apresentam
coloração verde-azulada, mais pálida
Alguns produtores plantam o que as novas, além de apresentarem
feijão-vagem logo após o tomateiro
caule mais curto e fino. Em média,
para aproveitar a estrutura do tutora-
plantas deficientes apresentam teor
mento. Nesse caso, é comum fazer
de P na folha inferior a 2,5 g/kg de ma-
a semeadura do feijão-vagem sem
téria seca. No caso de deficiência de
adubação de plantio, aproveitando-se
K, ocorre clorose marginal nos folíolos
apenas o residual da adubação pesa-
das folhas mais velhas, que podem
da do tomateiro. Nesse caso, deve-se
evoluir para necrose das margens e
semear o feijão-vagem no sulco de
redução no crescimento da planta. Em
plantio do tomate.
média, plantas deficientes apresentam
Tem crescido, no mundo, a teor de K na folha inferior a 20 g/kg de
adoção de sistemas alternativos de matéria seca.
produção em que o solo é considera-
Plantas deficientes em Ca apre-
do um organismo vivo, no qual não se
sentam redução no crescimento e
admite a aplicação de fertilizantes solú-
pode ocorrer morte dos brotos novos.
veis. Nesse caso, toda adubação é feita
O Ca é um dos nutrientes mais imóveis
com compostos orgânicos ou biofertili-
na planta, por isso os sintomas podem
zantes produzidos na unidade produti-
ocorrer mesmo que o solo apresente
va. Também se pode fazer o enriqueci-
mento do solo com matéria orgânica e teores adequados do mesmo, princi-
com adubos verdes (que reciclam nu- palmente em condições de estresse
trientes). Em razão de o feijão-vagem hídrico que provocam redução na ab-
ser leguminosa, deve-se dar preferên- sorção de água, pois o Ca é absorvido
cia a gramíneas como milho, milheto, ao longo do ciclo vital da planta, quase
sorgo e aveia como adubo verde. não havendo redistribuição das folhas
mais velhas para os órgãos novos, di-
Sintomas de deficiência ferentemente de N, K e P. Em média,
plantas deficientes apresentam teor
Plantas deficientes em N apre- de Ca na folha inferior a 10 g/kg de
sentam folhas amareladas ou verde-pá- matéria seca.
lidas, iniciando-se pelas folhas velhas
devido à mobilidade desse nutriente na A deficiência em Mg se manifesta
planta. Em média, plantas deficientes com clorose internerval das folhas mais
apresentam teor de N na folha inferior velhas, enquanto plantas deficientes
a 30 g/kg de matéria seca. em S podem apresentar folíolos mais

70
Feijão-vagem

novos com clorose. Em média, plantas Estabelecimento e tratos culturais


deficientes apresentam teor de Mg e S
na folha inferior a 2,5 g/kg e 2,0 g/kg de Semeadura e espaçamento
matéria seca, respectivamente.
Um dos fatores mais importantes
Fixação biológica de nitrogê- para o sucesso da cultura é a escolha
da cultivar e da semente que, além dos
nio
aspectos de qualidade genética, física,
As espécies leguminosas, como fisiológica e sanitária, atenda às neces-
o feijoeiro, podem aproveitar o N pre- sidades do produtor e a demanda do
sente no ar do espaço poroso do solo mercado, ao sistema de produção e às
via simbiose com bactérias do gêne- condições edafoclimáticas. Infelizmen-
ro Rhizobium. Esse processo é deno- te não existe em nosso país um pro-
minado fixação biológica do nitrogê- grama oficial de avaliação de cultivares
nio (FBN). A FBN pode contribuir, em das espécies hortícolas, cabendo ao
produtor correr o risco na escolha das
média, com 40% do N que o feijoeiro
cultivares disponíveis no mercado.
necessita, ou seja, pode representar
grande economia em fertilizantes. Esse A semeadura é direta, como a
processo não tem sido explorado pe- realizada com o feijão-comum. A pro-
los produtores de feijão-vagem, mas fundidade de semeadura deve ser de
tem permitido economia de N em fei- 2,5 cm a 5,0 cm.
joeiro comum. Se a FBN for utilizada
pelo produtor de feijão-vagem, as do- O espaçamento varia de 1,0 m a
ses recomendadas de N podem ser re- 1,2 m entre fileiras e de 20 cm a 30 cm
duzidas em cerca de 40%. entre plantas na fileira, com uma ou
duas plantas por cova, quando o tuto-
Adubação em cobertura ramento é feito exclusivamente para
o cultivo do feijão-vagem. Quando o
Principalmente nas cultivares feijão-vagem vem em sucessão ao
de crescimento indeterminado (tuto- tomateiro, utiliza-se o mesmo espaça-
radas), com potencial produtivo maior mento do tomateiro. Se a semeadura
que o das arbustivas e mais longo for feita em cova, pode-se distribuir até
ciclo vital, somente a adubação de três sementes por cova, com posterior
plantio não é suficiente para suprir as desbaste para duas plantas.
necessidades das plantas ao longo
de todo o ciclo, principalmente após No cultivo rasteiro com cultivares
o início do florescimento, quando arbustivas, o cultivo pode ser mecani-
aumenta a demanda em nutrientes zado em todas as fases. O espaçamen-
pelas plantas. to adotado tem sido de 40 cm a 60 cm

71
Hortaliças leguminosas

entre fileiras, com 10 a 15 sementes por de bambu, capim elefante maduro e


metro de sulco, dependendo do porte e seco, e varas diversas encontradas
arquitetura da cultivar (Figura 10). nas propriedades (Figura 11). Em lo-
calidades onde venta pouco, ou den-
tro de casa de vegetação, a utilização
Foto: Warley Marcos Nascimento

de fitas plásticas resistentes é comum


(Figura 12), mas no ambiente aberto
há necessidade de intercalar alguns
tutores rígidos para evitar diferentes
tensões nas fitas depois de amarradas
no fio de arame que as sustentam. Em
qualquer desses casos há necessida-
de de se montar, previamente, o siste-
Figura 10. Espaçamento utilizado no ma de sustentação, tipo cerca com es-
cultivo rasteiro de feijão-vagem. ticadores na cabeceira e estacas, que
podem ser de bambu, a cada 8 a 10
metros. Não há a necessidade de fa-
Tutoramento
zer o amarrio das hastes ao tutor, pois
O tutoramento consiste na con-
dução das plantas para que não fi-
quem em contato com o solo. É utili-
zado nas cultivares de crescimento

Foto: Warley Marcos Nascimento


indeterminado. Tem grande importân-
cia para obter altas produtividades e
qualidade dos frutos, evita o pisoteio
das plantas, que são mais longevas,
e diminui a incidência e severidade de
doenças pela ventilação mais eficiente
do dossel das plantas. Também evita
que os frutos fiquem em contato com o
solo, o que ocasionaria a sua descolo-
ração ou apodrecimento.

Por ser cultivada em nosso país


principalmente com cultivares trepado-
ras, e por pequenos produtores, diver-
sos sistemas de condução são ado-
tados, utilizando tutores vivos, como Figura 11. Tutoramento de plantas de
o milho e, mais comumente, tutores feijão-vagem utilizando estacas de bambu.

72
Feijão-vagem

pontâneas, na manutenção da umi-


Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso

dade do solo e na redução da flutu-


ação da temperatura do solo. Podem
ser utilizadas coberturas com restos
vegetais ou plástico (Figura 13). Ape-
sar das vantagens da cobertura do
solo, ela ainda não é muito utilizada
pelos produtores, exceto por aque-
les que plantam o feijão-vagem em
sucessão ao tomate manejado com
Figura 12. Tutoramento de plantas de cobertura plástica.
feijão-vagem utilizando fitas plásticas.
Alguns produtores plantam fei-
jão-vagem em consórcio com outra
as plantas crescem contornando e fi- cultura. Por exemplo, cultivares de
xando-se ao tutor. Às vezes pode ser crescimento indeterminado podem ser
necessário o amarrio do caule apenas plantadas após o milho, utilizando as
no início do crescimento da planta. plantas desta espécie como tutor. As
cultivares de crescimento determinado
O sistema mais comum de tuto- podem ser plantadas nas entrelinhas
ramento é o adotado para tomateiro, de plantas frutíferas ou de outras hor-
cuja estrutura o produtor utiliza, em taliças com espaçamento largo entre
sucessão com pepino e feijão-vagem, fileiras, como chuchu. Na consorcia-
quando aproveita, inclusive, resíduos ção de culturas, há melhor aproveita-
da adubação pesada do tomateiro. mento da área, e quando é realizada

Outros tratos culturais


Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso
Diferentemente de várias espé-
cies conduzidas com tutoramento, não
há a necessidade de chegamento de
terra junto ao caule (“amontoa”) no
feijão-vagem trepador. Esse trato não
é vantajoso para a cultura e demanda
mão de obra.

A utilização de cobertura do
solo (mulching) pode ser alternativa Figura 13. Produção de feijão-vagem
no manejo de plantas daninhas/es- utilizando cobertura do solo (mulching)

73
Hortaliças leguminosas

com espécies pertencentes a famílias pode danificar as hastes longas e fle-


botânicas diferentes, pode haver redu- xíveis. Nas cultivares trepadoras, reco-
ção de pragas e doenças. menda-se o sistema de irrigação loca-
lizado, que permite maior eficiência no
uso da água e a fertirrigação (irrigação
Irrigação
mais adubação são aplicados juntos),
O feijão-vagem é sensível tanto além de não molhar as plantas, o que
ao déficit como ao excesso de água no pode reduzir a incidência e severidade
solo. A necessidade hídrica das plan- de doenças. No entanto, irrigação loca-
tas aumenta até a fase de colheita de lizada exige maior investimento inicial
vagens imaturas. Déficits nas fases de que a irrigação por aspersão. Por isso,
florescimento e desenvolvimento de ainda é comum a utilização do siste-
vagem reduzem a produtividade e a ma por sulco, que tem menor custo de
qualidade das vagens. implantação que os citados anterior-
mente. A irrigação por sulco apresenta
Com relação aos sistemas de ir- como desvantagens menor uniformida-
rigação na produção de cultivares de de de distribuição da água, menor efici-
crescimento determinado, é comum o ência no uso da água e disseminação
uso do sistema por aspersão (Figura de patógenos de solo, relativamente
14), exceto quando o cultivo for pro- aos outros sistemas citados. Produto-
tegido, quando se utiliza o sistema de res que plantam o feijão-vagem após o
irrigação por gotejo. Nas cultivares de tomate utilizam o sistema de irrigação
crescimento indeterminado, o uso da já existente que, normalmente, é o por
irrigação por aspersão deve ser evi- sulco, apesar de o sistema de irriga-
tado, pois, além de molhar as folhas ção localizada estar aumentando. Em
e ser pouco eficiente no uso da água, áreas de várzeas pode ser utilizado o
sistema por subirrigação.
Foto: Warley Marcos Nascimento

Existem diversas maneiras de


se determinar quando e quanto irrigar.
O momento da irrigação pode ser de-
terminado pela medida da tensão da
água do solo, com tensiômetros, pelo
método do tanque classe A, por mé-
todos fisiológicos, etc. A quantidade
de água a se aplicar pode ser deter-
Foto 14. Irrigação em feijão-vagem atra- minada pelo método da água dispo-
vés do sistema de aspersão. nível no solo, pela evapotranspiração

74
Feijão-vagem

da cultura etc. Os coeficientes das Além dos métodos de contro-


culturas (Kc) são 0,27 no período de les de plantas daninhas “tradicionais”
emergência, 0,40 no período de de- (capina e herbicida), outras técnicas
senvolvimento vegetativo e 1,05 no podem ser utilizadas. Deve-se utili-
período do florescimento e frutifica- zar sementes de origem idônea, sem
ção. Com base no potencial matricial a presença de sementes de espécies
para indicar quando irrigar, estudos proibidas. Também o esterco ou co-
verificaram que o momento de irriga- bertura morta devem ser isentos de
ção de cultivares dos tipos Manteiga sementes e propágulos vegetativos
e Macarrão, de crescimento indeter- de plantas indesejáveis, como a tiri-
minado, foi -0,015 Mpa, até o perío- rica, por exemplo. Deve-se destacar
do da terceira folha trifoliolada, e caiu que a cobertura morta (Figura 15), se
para -0,025 Mpa, no início do flores- isenta de propágulos de plantas inde-
cimento, e -0,030 Mpa, no período da sejáveis, ajuda no manejo das plantas
colheita de vagens. daninhas. Quando o trator ou equipa-
mentos para preparo do solo forem
Excesso de água também é pre- utilizados em outra área, devem ser
judicial ao feijão-vagem, pois reduz a bem limpos para evitar introdução de
aeração do solo e a absorção de água espécies indesejadas.
e nutrientes e favorece patógenos.
Em período chuvoso, recomenda-se

Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso


o plantio em pequenos camalhões ou
canteiros para aumentar a drenagem
do excesso de água na zona radicular.

Plantas daninhas e seu controle

O controle de plantas daninhas


deve ser feito durante quase todo ciclo
vital da cultura, sendo o período críti-
co, nas cultivares de crescimento in- Figura 15. Produção de feijão-vagem
determinado, entre 28 e 58 dias após sobre plantio direto.
a emergência, quando competição
compromete a produtividade. Em cul-
tivos tutorados, o controle de plantas No caso de usar herbicidas, de-
daninhas é feito, usualmente, por meio ve-se observar se o produto é registra-
de capinas, enquanto em cultivo não do para o feijão e seguir as recomen-
tutorado tem-se utilizado herbicidas dações de aplicação. Existem produ-
registrados para o feijão-comum. tos que podem ser utilizados antes do

75
Hortaliças leguminosas

plantio do feijão e após o seu plantio, mentar da cultura, por falta de opção.
tanto em pré como em pós-emergên- Desta maneira, faz-se o controle nas
cia das plantas. Deve-se, sempre que linhas de plantio, cerca de 20 cm a
possível, fazer rotação de princípios 30 cm de cada lado, e nas entrelinhas
ativos para evitar a multiplicação de faz-se apenas um manejo na altura
espécies daninhas resistentes a um das plantas espontâneas, roçando e
determinado produto. deixando-as atingir até 20 cm. Outras
atraem inimigos naturais das pragas
potenciais da cultura ou, ainda, for-
Manejo orgânico
necem matéria orgânica para o solo.
Alimentos orgânicos, inicialmen- Também pode ser feita a soltura de
te consumidos por pequena parcela inimigos naturais que podem ser com-
da população, vêm conquistando es- prados de empresas especializadas.
paço no mercado. Pesquisas mostram Em localidades onde há equilíbrio am-
biental, há redução na necessidade de
que consumidores citam a preocupa-
controle de pragas, visto que os inimi-
ção com a saúde como a principal mo-
gos naturais conseguem reduzir, com
tivação para consumir alimentos orgâ-
eficiência, a população destas.
nicos, devido, sobretudo, à ausência
de agrotóxicos. Com a redução das reservas
naturais de fertilizantes e de petróleo,
O aumento da demanda por pro-
principais matérias-primas para a fa-
dutos orgânicos, associado ao preço
bricação de fertilizantes nitrogenados
mais elevado do produto, em rela-
para a agricultura convencional, a pro-
ção aos produtos convencionais, tem
cura por sistemas mais sustentáveis é
atraído muitos produtores para a agri-
bem-vinda. Nos sistemas orgânicos,
cultura orgânica. A produção do feijão-
a manutenção da fertilidade do solo
vagem no sistema orgânico tem sido
pode ser feita com o plantio de adu-
realizada sem grandes dificuldades,
bos verdes e com a incorporação de
pois, ao se tratar a cultura como com-
estercos ou compostos orgânicos ao
ponente de um sistema que se intera-
solo da área. Toda cultura é extratora
ge, as plantas de feijão-vagem ficam
de nutrientes e o que for retirado para
menos sujeitas a doenças e pragas,
comercialização (exportação de nu-
porque inimigos naturais as controlam trientes) deve ser reposto. Os adubos
com eficiência. A vegetação espontâ- orgânicos, além de serem fonte de nu-
nea que surge na cultura não é con- trientes, melhoram as características
siderada como daninha, pois muitas físicas e biológicas do solo. A FBN
delas alimentam os organismos que, também é útil no manejo da fertiliza-
em sua ausência, passariam a se ali- ção das plantas em manejo orgânico.

76
Feijão-vagem

No entanto, apesar de existirem pes- Pragas e seu controle


quisas e recomendações de utilização
de bactérias do gênero Rhizobium Grande número de insetos causa
para o feijoeiro-comum, não existem dano em diferentes órgãos e estádios
pesquisas com feijão-vagem. Porém, de desenvolvimento do feijão-vagem.
provavelmente, por ser da mesma es- A seguir serão citadas apenas algu-
pécie, as recomendações podem ser mas pragas mais comuns, assim como
extrapoladas. Além disto, há as estir- algumas medidas de controle.
pes naturais que podem se associar
às plantas de feijão-vagem. Na fase de emergência tem-se,
dentre outras, a lagarta-rosca (Agrotis
No manejo de pragas e patóge- ipsilon) e a lagarta-elasmo (Elasmo-
nos no sistema orgânico, não podem palpus lignopalpus), que podem cortar
ser utilizados compostos sintéticos as plântulas recém emergidas. Plantas
(“agrotóxicos”). No entanto, existem com caule menos tenro são pouco afe-
práticas e produtos alternativos reco- tadas por essas pragas. Algumas es-
mendados para o manejo orgânico. tratégias de manejo incluem a elimina-
Alguns desses produtos serão discu- ção ou incorporação profunda de res-
tidos no manejo de pragas e doenças. tos de cultura ao solo, catação manual
Também existe a possibilidade de cul- da lagarta enterrada nas proximidades
tivo em ambiente protegido, com as da planta atacada; pulverização com
plantas de feijão-vagem protegidas inseticidas específicos ou, no caso de
das chuvas e da entrada de insetos sistema orgânico, aplicação de prepa-
(Figura 16). rado à base de pimenta junto ao colo
das plantas.
Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso

Outro grupo de pragas são as


desfolhadoras, como a vaquinha (Dia-
brotica speciosa), a minadora (Lirio-
myza sp.) e algumas espécies de
lagartas. Essas pragas causam perda
de área foliar, reduzindo o crescimen-
to e o potencial produtivo das plantas.
No início do ciclo de vida das plantas,
os danos são relativamente maio-
res. No  caso da vaquinha, as larvas
Figura 16. Produção de feijão-vagem em
também podem atacar as raízes, com
cultivo protegido.
danos diretos e indiretos, pois os fe-

77
Hortaliças leguminosas

rimentos facilitam a entrada de pató- ticas culturais, controle biológico e


genos causadores de doenças, como uso de defensivos apropriados para a
o Fusarium sp. Não existem estudos cultura, de acordo com o sistema de
sobre nível de dano econômico para produção adotado.
desfolhadores em feijão-vagem. Em
feijão-comum, as plantas podem to- No manejo integrado de pragas
lerar níveis consideráveis de desfolha (MIP), várias práticas são recomenda-
(20% - 66%) sem que ocorra redução das como rotação e consorciação de
na produtividade, sendo mais sensível culturas, monitoramento de pragas e
à desfolha no estágio de plântula. inimigos naturais, métodos físicos, bio-
lógicos e químicos de controle. Quase
Outro grupo de pragas é o não há pesquisas com feijão-vagem,
dos raspadores e sugadores, com mas, há muitas com feijão-comum,
destaque para a cigarrinha-verde que podem ser adaptadas, principal-
(Empoasca kraemeri), os tripes, os
mente no que se refere ao monitora-
pulgões, a mosca-branca (Bemisia
mento das pragas.
tabaci) e os ácaros. Geralmente
causam mais danos em época seca Quanto a métodos físicos des-
que em época chuvosa. A mosca- tacam-se a utilização de armadilhas
-branca é vetor do mosaico-dourado, luminosas e de “placas” coloridas. Por
doença altamente danosa à cultura e exemplo, “placas” de cor amarela co-
de difícil controle. Em regiões onde se bertas com goma colante podem atrair
cultiva soja ou algodão, geralmente
e prender vaquinhas.
as populações de mosca-branca são
altas e podem causar grande redução Para o controle biológico, inicial-
de produtividade. mente deve-se manter diversidade de
espécies na área e no entorno da la-
Também existem insetos que pre-
voura para que inimigos naturais pos-
judicam as vagens e sementes, como
sam se multiplicar. Existem alguns
as lagartas-das-vagens (Maruca tes-
tulallis, Helicoverpa armigera, dentre inseticidas biológicos à base, por
outras) e os percevejos-das-vagens exemplo, de Bacillus thuringiensis,
(Nezara viridula, Piezodorus guildini, com efeito sobre algumas lagartas
dentre outros), com redução de produ- e brocas. Também existem substân-
tividade e da qualidade das vagens. cias que têm efeito como inseticidas
naturais ou repelentes, tais como ex-
Todas essas pragas devem ser tratos de Nim, de alho, de pimenta e
controladas, dentro da filosofia do de primavera (Bougainvellea). Apesar
manejo integrado, que envolve prá- de não existirem estudos com feijão-

78
Feijão-vagem

-vagem, existem com outras hortali-

Foto: Warley Marcos Nascimento


ças em que os extratos proporcionam
controle de pragas.

Doenças e seu controle

Muitas doenças podem prejudi-


car a produção e/ou qualidade do fei-
jão-vagem. A importância de cada uma
depende da cultivar (nível de resistên-
Figura 18. Folhas de feijão-vagem apre-
cia/tolerância), do local e da época de
sentado sintomas de ferrugem causada
semeadura, ou seja, das condições por Uromyces appendiculatus.
ambientais mais ou menos favoráveis
a cada patógeno.
Dentre as bacterioses des-
Dentre as doenças fúngicas taca‑se o crestamento bacteria-
destacam-se antracnose (Colletotri- no (Xanthomonas axonopodis pv.
chum lindemuthianum) (Figura 17), phaseoli) e, dentre as viroses, o mosai-
ferrugem (Uromyces appendiculatus) co-comum (Bean common mosaic virus
(Figura 18), mancha-angular (Pseudo- - BCMV) e o mosaico-dourado (Bean
cercospora griseola), murcha-de‑fusa- golden mosaic virus - BGMV). O BCMV
rium (Fusarium oxysporum f. sp. pha- pode ser transmitido pelas sementes e
seoli), mofo-branco (Sclerotinia scle- por algumas espécies de afídeos (pul-
rotiorum), oídio (Erysiphe polygoni) e gões), enquanto o BGMV é transmitido
a podridão-radicular-seca (Fusarium pela mosca-branca (Figura 19).
solani f. sp. phaseoli).
Foto: Warley Marcos Nascimento
Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso

Figura 17. Vagem de feijão-vagem apre-


sentado sintoma de antracnose causado Figura 19. Folhas de feijão-vagem apre-
por Colletotrichum lindemuthianum. sentado mosaico.

79
Hortaliças leguminosas

Assim como no controle inte- consumo de vagens in natura. Tem


grado de pragas, também para as aumentado a produção destinada à
doenças devem ser adotadas medidas indústria de conservas, que é muito in-
preventivas, culturais e curativas. ferior ao consumo in natura. Também
Medidas, como época de semeadura, há pequena produção de vagens que
uso de sementes sadias e tratadas, é refrigerada para a exportação.
densidade de semeadura adequada,
No Brasil a colheita é feita ma-
nutrição e irrigação adequadas, rota-
nualmente, normalmente com vagens
ção e consorciação de cultura, adoção
crescidas e tenras (Figura 20), quando
de vazio sanitário, uso de cultivares
ainda não apresentam saliências
resistentes ou tolerantes, são eficien-
causadas pelas sementes em cres-
tes. Deve-se, sempre que possível,
cimento e com poucas fibras (Figu-
escolher áreas sem histórico de do-
ra 21). A colheita de cultivares trepa-
enças do feijoeiro. É importante a
doras inicia-se aos 50 a 75 dias após
limpeza de máquinas e implementos a semeadura, dependendo da cultivar
sempre que se mudar de área para e do clima, principalmente da tempe-
evitar levar patógenos de uma área ratura. Normalmente são feitas duas
para outra. Os controles de vetores e
da doença com os defensivos, no mo-

Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso


mento apropriado, complementam o
controle. Dentre as medidas de con-
trole biológico destaca-se a utilização
de Trichoderma no manejo de fungos
de solo. No sistema orgânico tem-se
utilizado algumas caldas (bordalesa e
sulfocálcica) com sucesso no manejo
de doenças fúngicas e bacterianas em
hortaliças. No entanto, faltam estudos
com feijão-vagem. Portanto, cuidado
deve ser tomado na utilização dessas
para que não ocorra fitotoxidez, sobre-
tudo em dias ou horários com tempe-
raturas elevadas.

Colheita, classificação e embalagem

A produção do feijão-vagem no Figura 20. Colheita manual de feijão-


Brasil é destinada, principalmente, ao vagem.

80
Feijão-vagem

seguinte, elas passam do ponto ideal


Foto: Antonio Ismael Inácio Cardoso

de comercialização. No caso de culti-


vares arbustivas adequadas a colheita
única, as plantas podem ser arranca-
das e as vagens colhidas com maior
facilidade do que se o trabalhador tiver
que colher agachado. Ressalta-se que
os produtores norte-americanos, onde
mais de 95% das lavouras são feitas
com cultivares arbustivas, vem reali-
Figura 21. Vagens recém colhidas. zando colheitas mecânicas desde a
metade da década de 1950 (Figura 22).
Nesse caso, a maior parte da produção
a três colheitas por semana, por até se destina às indústrias de congela-
mais de 30 dias. A produtividade pode mento ou de conserva. No Brasil,ainda
alcançar mais de 20 toneladas de não se tem colheitadeiras apropriadas
vagens comerciáveis por hectare. As para esse fim, mas as demais opera-
cultivares arbustivas têm ciclo vital de ções podem ser mecanizadas.
menos de 80 dias, com, no máximo,
três colheitas de vagens comerciáveis, Com relação à classificação
o que economiza mão de obra, reduz das vagens, o Instituto Brasileiro de
custo de produção e libera mais rapi- Qualidade em Horticultura, uma or-
damente a área para outras culturas. ganização não governamental, com
Além disso, praticamente todas as a participação da CEAGESP – Cen-
operações de cultivo das cultivares trais de Abastecimento do Estado de
arbustivas, inclusive colheita, podem São Paulo, implantou o Programa
ser mecanizadas. As modernas culti- Brasileiro de Modernização da Hor-
vares arbustivas estão sendo selecio- ticultura de adesão voluntária pelas
nadas para uma só colheita. A produ-
Foto: Warley Marcos Nascimento

tividade dessas cultivares varia de 8 a


15 toneladas de vagens comerciáveis
por hectare.

A colheita manual é fácil nos cul-


tivos tutorados, pois as pessoas po-
dem trabalhar de pé. No entanto, como
a cor da vagem normalmente é verde
com a das folhas, algumas vagens são Figura 22. Colheita mecânica de feijão-
deixadas para trás. Logo, na colheita vagem.

81
Hortaliças leguminosas

demais Centrais de Abastecimen- to, é requisito importante da qualidade


to. Segundo a CEAGESP, o objetivo da vagem. Quanto mais tenra a vagem
do programa é uma comercialização maior o seu valor comercial. A catego-
transparente e justa, possível com a ria Extra está restrita ao grau de tenru-
adoção voluntária de normas de clas- ra 1, a categoria I poderá apresentar os
sificação, que descrevem o produto graus de tenrura 1 e 2, e a categoria II
por características mensuráveis e exi- poderá apresentar os graus de tenrura
gem a obediência a padrões mínimos 1, 2 e 3.
de qualidade e de homogeneidade vi-
sual. Com essa padronização, apenas Infelizmente, ainda é comum a
olhando a etiqueta é possível saber o comercialização de feijão-vagem em
grupo varietal e as características vi- caixas de madeira tipo “K”, com 15 kg
suais e mensuráreis. a 22 kg. Esse tipo de embalagem pode
danificar vagens e aumentar a perda
Por esse sistema adotado na CE- pós-colheita. Atualmente, alguns pro-
AGESP, o feijão-vagem é classificado dutores comercializam as vagens em
de acordo com o seu grupo varietal outras embalagens como bandejas de
(Holandesa, Macarrão, Manteiga e Me- poliestireno expandido (“isopor”) re-
tro), classe (tamanho), categoria (qua- cobertas com filme de policloreto de
lidade) e morfologia, que inclui a cor vinila (PVC) (Figura 23). Essa embala-
da vagem. No grupo varietal denomi- gem melhora a aparência das vagens
nado Holandesa, enquadram a maioria e sua conservação. Se essas bande-
das cultivares arbustivas. O tamanho jas forem acondionadas em ambiente
é caracterizado pelo comprimento da refrigerado (7 +/- 1 oC), há aumento da
menor vagem do lote. O produtor deve vida útil das vagens, que podem durar
obedecer às exigências de uniformida- 12 dias com boa aparência e com pou-
de de comprimento e diâmetro, dentro ca perda de massa.
do limite de variação de 25% para o
comprimento e de 50% para o diâme-
Foto: Warley Marcos Nascimento

tro, entre a maior e a menor vagem do


lote. O resultado da multiplicação do
menor comprimento por 1,25 indica o
maior comprimento permitido no lote.
Cada categoria obedece a limites de
tolerância aos defeitos muito graves
(por exemplo, vagens com podridões,
murchas ou passadas), graves e leves,
ao tamanho fora de especificação e a Figura 23. Feijão-vagem em bandeja de
um grau mínimo de tenrura. O grau de poliestireno expandido e cobertas com
tenrura, ou estádio de desenvolvimen- filme de PVC.

82
Feijão-vagem

No processo de senescência pós- e a antracnose, além da pressão de


colheita, o feijão-vagem amarelece, pragas ser também menor.
fica fibroso e endurecido. A exposição
dessa hortaliça ao etileno acelera es- O sistema de condução da la-
ses sintomas e, por isto, ela deve ficar voura para a produção de semen-
longe de frutos climatérios, motores de tes, geralmente é o rasteiro, isto
combustão e outras fontes de etileno. é, sem tutoramento, para qualquer
cultivar, seja ela arbustiva ou trepa-
Produção de sementes dora. Se o objetivo é a produção de
sementes genéticas ou básicas de
As sementes atualmente utiliza- cultivares trepadoras, recomenda-se
das para a implantação desta cultura no o sistema tutorado, que permite me-
Brasil são nacionais, com importação lhor visualização de plantas atípicas
inexpressiva. Por serem cultivares de para eliminação ou roguing.
polinização aberta, alguns produtores
multiplicam suas próprias sementes. Os tratos sanitários da lavoura
No entanto, se não houver rigoroso para produção de sementes são se-
controle do campo, principalmente melhantes aos da cultura comercial,
sanitário, pode haver a produção de mas com maior ênfase no controle
sementes de má qualidade fisiológica das doenças transmissíveis pelas se-
e/ou sanitária. Como o custo das se-
mentes, inclusive com a eliminação
mentes representa menos de 7% do
de plantas doentes, e melhor controle
custo de produção, geralmente não
de insetos transmissores de doenças
compensa assumir os riscos de produ-
e de percevejos que podem reduzir
ção própria de sementes.
a qualidade das sementes. Também,
Se o objetivo da lavoura for a deve-se ter mais rigor no controle de
produção de sementes, a semeadura plantas de outras espécies ou cultivar,
deve ocorrer de março a maio, para para evitar que as sementes colhidas
colher em período seco, em localida- apresentem misturas inconvenientes.
des onde a pressão de mosca‑branca
é baixa. Nas regiões produtoras de A irrigação deve ser interrompi-
soja, essa baixa pressão da praga da quando a maioria das vagens esti-
só ocorre a partir do final de abril. ver fisiologicamente madura. Para as
Além de manter a qualidade das se- cultivares trepadoras, é recomendada
mentes, a semeadura nesse período irrigação localizada, por gotejamento,
reduz a ocorrência de doenças, in- quando cultivadas sem tutoramento,
clusive as transmissíveis pelas se- para reduzir o contato de vagens ma-
mentes como o mosaico comum, a duras com solo úmido, o que pode re-
murcha de Fusarium, a Sclerotinia duzir doenças.

83
Hortaliças leguminosas

Existem alguns tratos nos cam- no campo, em terreiro de secagem ou


pos de produção de sementes que não sobre lonas, para posterior trilha. Esta
são feitos nos campos de produção de é realizada com trilhadeira, quando as
vagens imaturas, tais como o isolamen- sementes estiverem com teor de água
to e o roguing. O isolamento visa impe- de 16% a 20%. Na colheita semi-me-
dir que ocorra polinização indesejável canizada, a secagem é feita no cam-
das plantas onde serão colhidas as se- po e a trilhadeira recolhe as plantas.
mentes. Como a espécie é fortemente Há diferenças entre cultivares quanto
autógama, com baixíssima taxa de fe- à deiscência, que depende do teor de
cundação cruzada, isolamento de 3 m fibras na vagem. Vagens de cultivares
entre campos de produção de semen- do grupo Manteiga tendem a ser mais
tes de cultivares distintas é suficiente. deiscentes, enquanto as de cultivares
No entanto, na prática, as empresas do grupo Macarrão são mais indeis-
têm utilizado pelo menos 50 m entre centes por causa do baixo teor de fi-
cultivares para maior garantia, inclusive bras no tegumento, o que torna mais
contra mistura física durante a colheita. difícil a trilha.

O roguing consiste na elimina- Pelas normas de certificação, a


ção de plantas atípicas, ou seja, de pureza física mínima do lote deve ser
plantas com características diferentes de 98% e a germinação mínima de
da descrita para a cultivar. Devem ser 80%, com validade do teste de seis
eliminadas plantas com ciclo vital ou meses.
característica morfológica distinta do
esperado: folhas, flores ou frutos com Literatura recomendada
formato ou cores diferentes. É uma
técnica essencial para a manutenção ARF, O.; LEMOS, L. B.; SORATTO,
da qualidade genética do lote a ser R. P.; FERRARI, S. (Ed.). Aspectos
produzido. Durante o roguing aprovei- gerais da cultura do feijão
ta-se para também eliminar plantas Phaseolus vulgaris L. Botucatu:
doentes, principalmente se o patóge- FEPAF, 2015. 433 p.
no que a causou for transmitido por
sementes. ATHANÁZIO, J. C.; TAKAHASHI,
L. S. A.; ENDO, R. M.; SILVA, G.
A colheita é feita por arranque L. da. “UEL 2”: cultivar de feijão-
manual ou mecânico, quando as plan- de-vagem tipo manteiga de hábito
tas apresentarem folhas amareladas de crescimento determinado.
e secas. Em seguida, as plantas são Horticultura Brasileira, v. 16, n. 1, p.
secadas ao sol em fileiras ou montes 92, 1998.

84
Feijão-vagem

CARNEIRO, J. E. de S.; PAULA FERNANDES, M. S. (Ed.). Nutrição


JÚNIOR, T. J. de.; BORÉM, A. (Ed.). mineral de plantas. Viçosa, MG:
Feijão: do plantio à colheita. Viçosa, Sociedade Brasileira de Ciências do
MG: Universidade Federal de Viçosa, Solo, 2006. 432p.
2015. 384 p.
FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de
CARRIJO, I. V. Mimoso Rasteiro AG- olericultura: agrotecnologia moderna
461: nova cultivar de feijao-vagem. na produção e comercialização de
Horticultura Brasileira, v. 9, n. 2, p. hortaliças. 3. ed. rev. ampl. Viçosa:
96, nov. 1991. UFV, 2013. 421 p.

CASTIGLIONI, V. B. R.; TAKAHASHI, GEPTS, P. Origin and evolution of


L. S. A.; ATHANÁZIO, J. C.; common bean: past events and recent
MENEZES, J. R.; FONSECA, M. A. trends. HortScience, v. 33, v. 7, p.
R.; CASTILHO, S. R. ‘UEL 1’ nova 1124-1130, Dec. 1998.
cultivar de feijão-de-vagem com KAPLAN, L. What is the origin of the
hábito de crescimento determinado. common bean? Economic Botany,
Horticultura Brasileira, v. 11, n. 2, p. Bronx, v. 35, n. 2, p. 240-254, 1981.
164, 1993.
LEAL, N. R. Andra: nova cultivar
DALLA PRIA, M.; SILVA, O. C. da. de feijão-de-vagem. Horticultura
(Org.). Cultura do feijão: doenças e Brasileira, v. 8, n. 1, p. 29, 1990.
controle. Ponta Grossa: UEPG, 2010.
LEAL, N. R.; BLISS, F. Alessa:
452 p.
nova cultivar de feijão-de-vagem.
DE OCA, G. M. Mejoramiento Horticultura Brasileira, v. 8, n. 1, p.
genético de la habichuela en el CIAT y 29-30, 1990.
resultados de viveros internacionales.
MARTINS, C. C.; VIEIRA, R. D.;
In: DAVIS, J.; JASSEM, W. (Ed.).
NASCIMENTO, W. M. Produção
El mejoramiento genético de la
de sementes de feijão-vagem.
habichuela en America Latina:
In: NASCIMENTO, W. M. (Ed.).
memorias de un taller. Cali: CIAT,
Hortaliças: tecnologia de produção
1987. p. 60-72 (Documentos de de sementes. Brasília, DF: Embrapa
trabajo, 30). Hortaliças, 2011. v. 1. p. 205-238.
EVANGELISTA, R. M.; CARDOSO, PEIXOTO, N. Interação genótipo x
A. I. I.; CASTRO, M. M.; GOLDONI, ambiente e divergência genética
C. L. Conservação pós-colheita de em feijão-vagem Phaseolus
cultivares de feijão-vagem. Nucleus, vulgaris L. 2001. 67 f. Tese
v. 8, n. 2, p. 155-161, 2011. (Doutorado em Produção Vegetal).

85
Hortaliças leguminosas

Universidade Estadual Paulista, SOUZA, J. L.; RESENDE, P. Manual


Jaboticabal. de horticultura orgânica. Viçosa,
MG: Aprenda fácil, 2014.
PEIXOTO, N.; THUNG, M. D. T;
SILVA, L. O. e; FARIAS, J. G.; VAZ, D. da C. Avaliação agronômica
OLIVEIRA, E. B.; BARBEDO, A. S. C.; e divergência genética em feijão-
SANTOS, G. Avaliação de cultivares vagem arbustivo. 2014. 46 f.
arbustivas de feijão-vagem, em Dissertação (Mestrado em Produção
diferentes ambientes do Estado de Vegetal). Universidade do Estado de
Goiás. Goiânia: EMATER-GO, 1997. Goiás, Ipameri.
20 p. (Boletim de Pesquisa 01).
VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J.;
QUINTELA, E. D. Manejo integrado BORÉM, A. (Ed.). Feijão. 2. ed.
de pragas do feijoeiro. Santo Viçosa, MG: Universidade Federal de
Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Viçosa, 2006.
Feijão, 2001. 28 p. (Embrapa Arroz e
Feijão. Circular técnica, 46).

RAIJ, B. Van; CANTARELLA, H.;


QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M.
C. Recomendações de adubação
e calagem para o Estado de São
Paulo. 2. ed. Campinas: Instituto
Agronômico : Fundação IAC, 1997.
285 p.

86
Grão-de-bico
Warley Marcos Nascimento
Patrícia Pereira da Silva
Osmar Pereira Artiaga
Fabio Akiyoshi Suinaga

Introdução lizada por imigrantes espanhóis e do

O
Oriente Médio.
grão-de-bico (Cicer arietinum
L.) é uma das mais importan- A produção e o consumo dessa
tes leguminosas cultivadas, leguminosa estão, em sua maioria,
sendo a segunda mais consumida no nos países em desenvolvimento,
mundo, atrás somente da soja. É uma como no subcontinente Indiano, Oeste
espécie que pode ser cultivada sob da Ásia, Norte e Leste da África, Su-
grande variedade de climas, desde o doeste Europeu e Centro Americano.
sub-tropical até ao árido e semi-árido Os dez países com maior área culti-
das regiões Mediterrânicas. É originá- vada são: Índia (6.665.000), Paquis-
rio da região sudeste da Turquia, nas tão (1.045.000), Turquia (723.000), Irã
adjacências com a Síria, de onde foi (646.000), Austrália (152.000), Etiópia
levado para a Índia e Europa, sendo (132.000), México (124.000), Myamar
que a sua introdução no Brasil foi rea- (101.000), Malásia (95.000) e, Ban-

89
Hortaliças leguminosas

gladesh (91.000). Por sua vez, os dez totalidade do que é consumido, prin-
países com maior produtividade em cipalmente da Argentina e do México.
kg/ha são: Líbano (2.039), Jordânia Há cinco anos, o volume importado
(1.700), México (1.597), Egito (1.557), era de quatro mil toneladas. De janei-
China (1.333), Itália (1.253), Macedô- ro a maio de 2013, foram consumidas
nia (1.200) e, Chile (1.187). 2,3 mil toneladas no país. A Figura 1
apresenta os dados de importação
A produção mundial de grão-de- de grão-de-bico no período de 2011-
bico aumentou apenas marginalmente 2015. Observa se que em 2015 foram
durante as últimas três décadas devi- importadas cerca de 7 mil toneladas
do à diminuição da área plantada, en- no valor de 6,8 milhões de dólares.
quanto a produtividade aumentou em
torno de 37% durante o mesmo perío- Além disto, no Brasil, há uma
do. Este fato pode ser justificado pelo grande demanda pelo consumo do
desenvolvimento de novas cultivares grão-de-bico, uma vez que essa le-
de alto rendimento e também às novas guminosa apresenta um teor de pro-
tecnologias de produção. No Brasil, a teína elevada, variando de 25,3% a
produção é praticamente inexisten- 28,9%, uma composição balanceada
te, levando o país a importar a quase de aminoácidos (isoleucina, leucina,

Figura 1. Importações brasileiras de grão-de-bico entre os anos de 2011 - 2015.

Fonte:MDIC/SECEX, 2016
Variação: Incrementos percentuais entre os anos de 2015-2016

90
Grão-de-bico

lisina, metionina, fenilalanina, treoni- Botânica


na, triptofano e valina) e um alto teor
de lisina, além de cálcio, fósforo, ferro, O grão-de-bico é uma legumino-
vitaminas A, B e B2. Estudos nutricio- sa, diploide (2n=16), autógama, em
nais demonstram que o grão-de-bico que a polinização é completada antes
possui muito mais nutrientes que o fei- da abertura das flores, fenômeno de-
jão, leguminosa mais consumida pela nominado de cleistogamia. Pertence
população brasileira (Tabela 1). a família Fabaceae, subfamília Papi-
lionoideae e da tribo Cicereae. O gê-
Seus brotos podem ser consumi- nero Cicer possui 43 espécies, sendo
dos como vegetais ou saladas. Seus 9 anuais incluindo o grão-de-bico, 33
grãos podem ser consumidos verdes, perenes e uma não especificada. Pos-
secos e fritos, torrados e cozidos na sui uma ampla variação morfológica,
forma de lanches, doces e condimen- devido a fatores genéticos e ambien-
tados. Os grãos podem também ser tais e também a interação entre eles.
moídos na forma de farinhas e utili-
zados em sopas, pastas e para fazer Sua germinação é do tipo
pães e quando preparados com sal, hipógea (Figura 2). As plântulas cres-
pimenta e limão podem ser servidos cem de forma ereta mostrando ao
como acompanhamentos. nível do solo as primeiras folhas que

Tabela 1. Composição nutricional do feijão e do grão-de-bico (por 100 g).

Componente Feijão-preto Feijão-carioca Grão-de-bico

Calorias (cal) 77 76 355

Proteínas (g) 45,5 4,8 21,2

Lipídeos (g) 0,5 0,5 5,4

Colesterol (mg) 0,0 0,0 0,0

Carboidrato (g) 14 13,6 57,9

Fibra (g) 8,4 8,5 12,4

Cálcio (g) 29 27 114

Ferro (mg) 1,5 1,3 5,4

Fonte: UNICAMP (2011).

91
Hortaliças leguminosas

surgem fechadas, sendo que os coti-

Foto: Warley Marcos Nascimento


lédones permanecem sob o solo. As
primeiras folhas verdadeiras têm dois
ou três pares além de uma folha termi-
nal. A maior parte da plântula é rica em
pilosidade. A raiz primária é comprida
e ramifica com muita rapidez. Suas
hastes apresentam ramificações, sen-
do estas classificadas em: primárias,
secundárias e terciárias. No entanto, a Figura 2. Germinação hipógea do grão-
descrição convencional remete a cin- de-bico.
co classes de hastes:

• Primária basal (emerge das


ereto, semiereto, semi-inclinado, in-
axilas foliares na parte inferior da has-
clinado e prostrado. Os tipos eretos e
te principal);
semieretos são mais adaptados para
• Primária apical (emerge das a colheita mecanizada, enquanto que
axilas foliares na parte superior da os tipos semi inclinado e inclinado são
haste principal); utilizados em áreas com baixa precipi-
tação e alta evapotranspiração.
•  Secundária basal (emerge das
axilas foliares da haste primária basal); A superfície da planta é
densamente recoberta por tricomas
•  Secundária apical (emerge
glandulares e não glandulares. Estas
das axilas foliares da haste primária
estruturas atuam como uma barreira
apical);
mecânica contra vários fatores exter-
• Terciária (emerge das axilas nos como, por exemplo, ataque de her-
foliares da haste secundária basal e bívoros e patógenos, radiação ultravio-
apical). leta, calor extremo, perda excessiva de
água e proteção química, através de
Quanto a coloração, as hastes de liberação de substâncias lipofílicas.
grão-de-bico podem apresentar duas
variações: verde e com manchas de cor As folhas do grão-de-bico podem
púrpura. Estas cores são utilizadas para ser alternas, imparipinadas, com com-
diferenciar os dois tipos de grão-de-bi- primento variando de 5 cm a 10 cm,
co, kabuli de cor verde, e desi de cor compostas por 9 a 19 folíolos também
verde com manchas púrpuras. Pode-se alternos, quase sempre sésseis, ova-
ainda citar cinco hábitos de crescimen- lados ou oblongos, frequentemente
to baseados na inclinação das hastes: obtusos, sendo os superiores serra-

92
Grão-de-bico

dos dentados e os inferiores inteiros, flores produzem vagens e a cultura


denominados uni foliados (Figura 3). necessita de um maior tempo para a
As flores são geralmente de cor púr- maturação.
pura e branca e podem ser utilizadas
para diferenciar os tipos de grão-de-bi- As vagens são infladas e o nú-
co (Figura 4). O florescimento continua mero pode variar de algumas a até
por até 50 dias em condições favorá- trezentas por planta (Figura 5). O
veis, porém em condições adversas, tamanho da vagem é uma caracte-
pode ser paralisado após apenas 20 rística importante na contribuição da
dias. Em condições de temperaturas produção, sendo classificada em pe-
amenas, somente 20% a 50% das quena, média e grande. Geralmente,
as vagens podem conter uma a duas
sementes, embora até 4 sementes
Foto: Warley Marcos Nascimento

já foram observadas.Três formatos


da semente podem ser observados:
angular (formato bicado ou cabeça de
carneiro), cilíndrico (formato da cabe-
ça de coruja), e arredondado (formato
da semente de ervilha). A superfície
da semente pode ser enrugada ou ás-
pera que é característico para o tipo
desi e lisa ou ligeiramente enrugada,
característica do tipo kabuli. O peso
Figura 3. Folhas superiores de grão-de- de 100 sementes pode variar de 8 g
bico serradas e dentadas. a 75 g.

Foto: Warley Marcos Nascimento


Foto: Warley Marcos Nascimento

Figura 4. Flores brancas de grão-de-bico Figura 5. Vagens de grão-de-bico.

93
Hortaliças leguminosas

Como já mencionado anterior- brancas ou beges com a forma de


mente, são encontrados dois principais cabeça de carneiro, tegumento fino e
grupos distintos de grão-de-bico: liso (Figura 6B). As flores são brancas
com ausência de pigmentação de an-
Tipo desi: suas sementes são
tocianina na haste. Em comparação
coloridas e protegidas por um espesso
com o tipo desi, o kabuli tem níveis
tegumento (Figura 6A). As cores mais
mais elevados de sacarose e níveis
comuns incluem várias tonalidades e
mais baixos de fibra. Este tipo ge-
combinações de marrom, amarelo,
ralmente apresenta as sementes de
verde e preto. As sementes são ge-
tamanho maiores sendo mais valo-
ralmente pequenas e angulares com
rizado no mercado. Possui vagens e
superfície rugosa. As flores geralmen-
folhas maiores e apresenta uma esta-
te são de cor púrpura e as plantas
mostram diversos graus de pigmenta- tura mais alta.
ção de antocianina nas hastes. O tipo
Há, ainda, um terceiro tipo de
desi corresponde a aproximadamente
grão-de-bico no mercado mundial, co-
85% da área cultivada no mundo e o
nhecido como Gulabi, variedade cujo
seu consumo é na forma de farinhas e
tamanho se encontra entre o Kalubi
grãos partidos.
e o Desi. Sua superfície é lisa, de for-
Tipo kabuli: é caracterizado ma mais arredondada e parecida com
pela cor das sementes, podendo ser uma ervilha.

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 6. Sementes de grão-de-bico: tipo desi (A) e kabuli (B).

94
Grão-de-bico

Cultivares da zona da Mata e Norte do Estado de


Minas Gerais.
No Brasil, o Instituto Agronômico
de Campinas – IAC foi pioneiro na A partir de 2015, a Embrapa Hor-
recomendação de cultivares de grão- taliças tem disponibilizado, aos produ-
de-bico quando em 1989 indicou a tores do Planalto Central, uma nova
cultivar IAC Marrocos, do grupo kabuli, cultivar de grão-de-bico. Trata-se da
que apresenta grãos de tamanho ‘BRS Aleppo’, selecionada em parceria
médio de 260 g/1000 sementes, ciclo com a UnB e recomendada para áreas
de 125 a 140 dias com recomendação irrigadas com alto potencial produtivo.
de plantio para o estado de São Paulo. Esta cultivar apresenta arquitetura de
planta que permite a colheita mecani-
A Embrapa Hortaliças selecio- zada, sementes de cor creme claro e
nou, em 1994, a cultivar Cícero, com tamanho entre 8,0 mm e 9,5 mm com
características de grão para consumo aptidão industrial e consumo in natura
in natura, de ciclo precoce em torno de (Figura 8).
100 dias com peso médio de 1.000 se-
mentes acima de 640 gramas e com Exigências climáticas
coloração do tegumento creme claro
(Figura 7). A escolha da melhor época de
plantio tem grande efeito sobre o ren-
dimento e o lucro do agricultor. Assim,
Foto: Warley Marcos Nascimento

deve se ter em mente que cada cultu-


ra necessita de condições favoráveis

Fotos: Warley Marcos Nascimento

Figura 7. Sementes da Cultivar Cicero.

A Epamig, em 1999, recomen-


dou a cultivar Leopoldina com 125 a
135 dias de ciclo com 320 gramas por
1.000 sementes e grãos de cor creme
com indicação de plantio para região Figura 8. Cultivar ‘BRS Aleppo’.

95
Hortaliças leguminosas

durante todo o seu ciclo vegetativo. A de maturação e continue a emitir flores


tomada de decisão quanto à época de por tempo indeterminado; por esta ra-
plantio deve-se embasar nos fatores zão, regiões em que ocorram chuvas
de riscos e nos objetivos esperados. no período reprodutivo e clima quente
devem ser evitados. Os intervalos de
Na cultura do grão-de-bico, os
temperatura máxima e mínima mais
principais estresses abióticos que
favoráveis para a maioria das cultiva-
prejudicam a sua produção são o frio,
res são de 25 ºC a 30 ºC e de 10 ºC a
calor e a seca. Desses três fatores, o
15 ºC, respectivamente. A temperatura
mais importante é a seca, e compa-
ótima para germinação das sementes
rando com outras leguminosas como
situa-se entre 20 ºC e 30 ºC, sendo
ervilha ou soja, o grão-de-bico é uma
espécie mais rústica, exigindo tem- que nestas condições, a emergência
peraturas mais amenas e um clima das plântulas ocorre em cinco a seis
mais seco. Pode assim, ser cultivado dias após a semeadura. De modo ge-
como cultura de sequeiro no final do ral, o Planalto Central vem se mostran-
período chuvoso ou com irrigação no do uma região bastante interessante
período seco. Outra forma de contor- para a produção, por apresentar um
nar o efeito da deficiência de umidade clima mais ameno, mais seco e com
em plantios é a alteração das datas de baixa umidade relativa.
semeadura, antecipando-os a fim de
aproveitar a umidade residual das úl-
Escolha da área
timas chuvas.

É uma cultura que se desenvolve A escolha da área para plantio do


bem em regiões com baixa a média grão-de-bico é de grande importância
precipitação pluviométrica e frio mo- para obtenção de produções elevadas,
derado. O excesso de chuvas logo haja vista que o sucesso do cultivo
após o plantio ou durante a época de dependerá da correta decisão das
floração e formação de vagens pode ações que antecedem o plantio. Os
causar sérios danos a cultura. Muito terrenos drenados e profundos, com
calor, por sua vez, reduz o período de uma textura sílico-argilosa, ricos em
crescimento vegetativo e provoca um nutrientes e matéria orgânica, com um
excessivo abortamento de flores, oca- pH entre 6,5 e 7 são os mais indicados
sionando uma redução na produção. para o cultivo desta leguminosa. Assim
Além disso, a ocorrência de chuvas e sendo, solos muito ácidos devem ser
ou calor excessivo durante o período corrigidos através de calagem com
reprodutivo faz com que a planta do antecedência mínima de 60 dias antes
grão-de-bico não entre em processo do plantio.

96
Grão-de-bico

O preparo da área de plantio é pré- Adubação


-requisito importante para se conseguir
uma boa produtividade do grão-de- A adequada adubação de cam-
bico. A cultura é bem adaptada tanto pos de grão-de-bico leva a uma maior
ao sistema convencional quanto ao produção, aliada a uma maior qualida-
plantio direto (Figura 9). Deve-se dar de do grão e maior resistência às ad-
preferência ao sistema de plantio dire- versidades que possam surgir durante
to devido às vantagens que o mesmo a produção. A determinação dos ele-
propicia no controle da erosão, melho- mentos e quantidades a serem apli-
rando a infiltração de água e aeração cadas na área destinada ao plantio é
dos solos mesmo que para isso seja determinada de acordo com os teores
necessária a utilização de plantadoras presentes no solo e as exigências da
adaptadas. cultura, baseada em análise da fertili-
dade do solo.

Conforme mencionado anterior-


Foto: Warley Marcos Nascimento

mente, a cultura do grão-de-bico pre-


fere solo com pH entre 6,5 e 7,0 e rico
em matéria orgânica (acima de 2,5%).
De uma forma geral, é recomenda-
da a realização de uma adubação de
250 kg/ha a 300 kg/ha de superfosfato
simples, 160 kg/ha de cloreto de po-
tássio, 60 kg/ha de nitrogênio e uma
cobertura com uréia na dosagem de
10 kg/ha a 25 Kg/ha entre 20 a 25 dias
após a germinação das sementes.
Caso haja necessidade de cobertura,
recomenda-se realizar uma adubação
nitrogenada parcelada, aplicando-se
parte na semeadura e o restante em
cobertura (30 dias, a lanço).

O grão-de-bico desempenha
papel importante na manutenção da
fertilidade do solo principalmente em
terras secas, pela fixação do nitrogê-
Figura 9. Produção de grão-de-bico em nio atmosférico. A maior parte da de-
sistema de plantio direto. manda de nitrogênio pela planta pode

97
Hortaliças leguminosas

ser obtida pela fixação simbiótica. A culturas de grão-de-bico devem ser


inoculação com bactérias do gênero produzidas em condições adequadas
Rhizobium é a mais efetiva e susten- para obter o máximo de benefício da
tável estratégia de manejo de nitro- atividade rhizobial.
gênio em grão-de-bico (Figura 10).
Devido à associação simbiótica entre
o Rhizobium e as raízes, uma variável Época de plantio
quantidade de nitrogênio é disponibili-
Na escolha da melhor época de
zada as plantas de grão-de-bico.
plantio do grão-de-bico deve se levar
em consideração que, ao longo do ci-
Foto: Warley Marcos Nascimento

clo das plantas e em cada estádio de


seu desenvolvimento, devam ocor-
rer condições ambientais favoráveis.
Assim, para obtenção de um levado
rendimento, o plantio do grão-de-bi-
co deve ser realizado na primavera
ou verão (em regiões de climas mais
frios) ou no inverno (em regiões de
clima tropical). É imprescindível que
o período reprodutivo, ocorra em pe-
Figura 10. Raiz de grão-de-bico apresen- ríodo seco com temperaturas noturnas
tando nódulos decorrente da associação mais amenas; esta condição favorece
simbiótica com Rhizobium. a fecundação e evita o abortamento
das flores e um melhor pegamento
de vagens. As maiores produtividades
A estimativa da quantidade de ocorrem em áreas de altitude acima de
nitrogênio fixada pela cultura varia de 600 metros, sob irrigação e tempera-
1  g/ha - 141 kg/ha. A ampla diferença turas noturnas abaixo dos 15 ºC. Nos
se deve às variações de solo, tempe- cerrados brasileiros, de forma similar
ratura, umidade, qualidade do Rhizo- ao feijão, a cultura deve ser plantada
bium e compatibilidade da planta com em dois sistemas distintos: durante o
a bactéria. Uma vez que a fixação do final de janeiro até meados de feverei-
nitrogênio é um processo simbiótico ro aproveitando a umidade do final das
entre a planta hospedeira e bactérias, chuvas (cultivo de sequeiro); o outro,
qualquer fator que afeta o crescimen- com irrigação a partir de março até 15
to da planta provavelmente afetará a de maio em sucessão com milho (cul-
fixação do nitrogênio. Dessa forma, tivo de inverno).

98
Grão-de-bico

Estudos recentes relatam que a As sementes de grão-de-bico,


região do norte de Minas, em altitudes principalmente das cultivares do tipo
variando de 640 m a 760 m, apresen- kabuli, são mais suscetíveis a danos
ta potencial produtivo para a produção mecânicos durante a semeadura. De
de grão-de-bico, sendo a melhor épo- acordo com a regulagem da semea-
ca de plantio para a cultivar Cícero’, deira, pode causar danos às semen-
sob sistema irrigado, o mês de junho. tes e reduzir o estande durante o es-
Para a cultivar BRS Aleppo, a época tabelecimento da lavoura. Soma-se
de plantio mais recomendada foi maio a isto, a germinação do tipo hipógea
(Montes Claros e Janaúba, MG) e ju- destas sementes, que poderá influen-
nho (Januária, MG). ciar negativamente o estabelecimento
de plantas.
Origem e qualidade das sementes
Semeadura e espaçamento
O sucesso na produção de
Entre as práticas e técnicas cul-
grão-de-bico não depende somente
turais empregadas para a obtenção de
do manejo cultural, mas também da
maior produção de grão-de-bico, a de-
oferta em quantidade e qualidade dos terminação do arranjo de plantas mais
insumos requeridos e, em especial, adequado é de extrema importância. A
da qualidade das sementes utilizadas. utilização de uma densidade de plan-
Portanto, a produção de um estande tas não adequada por unidade de área
com qualidade depende em grande pode levar a uma baixa produtivida-
parte da utilização de sementes de de, pois, plantas espaçadas de forma
boa qualidade. equidistante competem minimamente
por nutrientes, luz e outros fatores.
O conceito de qualidade de se-
mentes é amplo e envolve os com- O plantio de grão-de-bico é
ponentes genético, físico, sanitário e realizado através de semeadura direta
fisiológico, de modo que a qualidade e/ou convencional, utilizando plan-
das sementes seja produto do somató- tadeira de precisão (Figura 11), com
rio de todos estes atributos igualmen- espaçamento de 40 cm a 50 cm entre
te importantes. Sementes de baixa plantas a uma profundidade de semea-
qualidade tendem a originar estandes dura de 3 cm a 5 cm (Figura 12). Para
desuniformes, que comprometem não maximizar a produtividade é recomen-
apenas a produtividade, como tam- dado manter uma população variando
bém a qualidade e padronização do de 100.000 a 240.000 plantas/ha, de-
produto colhido. pendendo do porte da cultivar. O gas-

99
Hortaliças leguminosas

A Irrigação
Fotos: Warley Marcos Nascimento

As baixas produtividades do
cultivo do grão-de-bico observadas
a nível mundial (oscilando entre
490 kg/ha a 820 kg/ha) estão associa-
das às deficiências tecnológicas, como
reduzido uso de fertilizantes para aten-
B
der a demanda da planta e de água
em plantios de sequeiro. Apesar des-
sas limitações, o grão-de-bico é uma
das espécies que apresenta bons re-
sultados de produção sob condições
de reduzida umidade no solo. Estudos
indicam que a utilização de irrigação
permitiu alcançar uma produção mé-
Figura 11. Plantio de grão-de-bico utili- dia entre 1.000 kg/ha e 1.500 kg/ha,
zando plantadeira de precisão (A) e deta- enquanto que em sequeiro a pro-
lhe do disco (B). dução média ficou entre 400 kg/ha e
600 kg/ha. Os períodos considerados
críticos ao déficit de água para a cul-
Foto: Warley Marcos Nascimento

tura são durante as fases de floresci-


mento e enchimento de grãos.

Neste sentido, recomenda-se


aplicar uma lâmina de água de 15 mm
a 20 mm após a semeadura e até a
emergência utilizar entre 4 mm e 6 mm
a cada dois dias (Figura 13). Se ocor-
rerem chuvas durante o período, estas
devem ser levadas em consideração,
Figura 12. Espaçamento recomendado
pois o total de água aplicada à cultura
em campo de produção de grão-de-bico.
deve ser no máximo de 400 mm. Du-
rante o período reprodutivo, deve-se
to de sementes varia de 50 kg/ha a dar preferência a turnos de rega mais
75 kg/ha para cultivares de sementes espaçados (pelo menos uma sema-
menores (tipo desi) ou de 100 kg/ha a na), com lâminas de até 10 mm, o que
120 kg/ha para cultivares de sementes diminui a ocorrência de mofo branco
médias a grandes (tipo kabuli). e é suficiente para uma boa produti-

100
Grão-de-bico

via de disseminação da doença, sen-


Foto: Warley Marcos Nascimento

do que o patógeno pode permanecer


nestas estruturas por até dois anos.
No campo, sua disseminação geral-
mente ocorre por meio da água da
chuva e pelo vento. Seu desenvolvi-
mento é favorecido por alta umidade
relativa (acima de 80%) e temperatu-
ras entre 20 ºC e 27 ºC. Por esse mo-
tivo, tem pouca importância em lavou-
Figura 13. Irrigação em campo de produ- ras localizadas na região do planalto
ção de grão-de-bico. central, ao contrário da região sul onde
pode tornar-se fator limitante da pro-
dução. O principal sintoma são lesões
vidade da cultura. Quando as vagens nas folhas e vagens. As manchas nas
entrarem em maturação fisiológica, a folhas geralmente são pequenas, arre-
irrigação deve ser interrompida. dondadas ou irregulares apresentando
uma coloração acinzentada no centro e
Doenças e seu controle margens mais claras, podendo-se ob-
servar os picnídios do patógeno. Quan-
A ocorrência de doenças é uma do o patógeno afeta as vagens mais
das principais causas de redução da novas, aparecem cancros escuros que
produção. As doenças podem ser cau- podem atingir os grãos, e quando ata-
sadas por fungos, bactérias, vírus e cam vagens mais velhas, observa-se
nematoides, e dependendo das condi- o aparecimento de picnídios. Por ser
ções ambientais, podem causar perda um fungo transmitido por sementes, o
total da produção, depreciar a qualida- principal meio de controle é a utilização
de do produto ou até mesmo inviabilizar de sementes sadias, a preferência por
determinadas áreas para o cultivo. O épocas mais secas para realização do
grão-de-bico é atacado por um número plantio, o controle da irrigação, a rota-
diverso de doenças tais como: queima ção de cultura e a destruição dos restos
de ascochyta, murcha-de-esclerócio e culturais.
de fusarium, podridões de raízes, viro-
ses e nematoides de cistos, formado- Murcha de Fusarium (Fusarium
res de galhas, e parasitas. oxysporum f. sp. ciceris (Padwick)
Snyder & Hans): o patógeno, na au-
Queima de ascochyta (Asco- sência do hospedeiro, pode sobreviver
chyta rabiei (Pass.) Labrouse): as se- na matéria orgânica do solo por até
mentes constituem a mais importante quatro anos e também infectar outras

101
Hortaliças leguminosas

leguminosas como lentilha e ervilha. Murcha de esclerócio (Sclero-


Sua infecção é sistêmica podendo tium rolfsii Sacc): é um patógeno de
afetar todas as partes da planta, in- solo favorecido por alta temperatura
clusive as sementes, provocando e umidade. Causa podridão de colo,
uma redução de 10% a 15% na pro- tombamento e murcha de plântulas,
dução. Causam podridão de raízes e e quando ataca plantas mais velhas
murcha, no início da infecção afetam provoca o amarelecimento das folhas,
as folhas basais tornando-as ama- que murcham e caem (Figura 15A). O
reladas e, progressivamente, toda a fungo desenvolve-se ao longo da has-
planta começa a apresentar sintomas te da planta, formando uma cobertura
(Figura 14). Os principais métodos de branca de micélio, (Figura 15B) po-
controle são o tratamento das semen- dendo produzir esclerócio de cor cre-
tes, a rotação de cultura, o controle me, que se torna marrom escuro, com
da irrigação, e uma adubação equi- formato aproximadamente cilíndrico.
librada. Ensaios realizados na Em-
brapa Hortaliças indicam os produtos

Fotos: Warley Marcos Nascimento


tolylfluanida e captan para o tratamen- A
to de sementes visando o controle
deste patógeno. Outra estratégia tem
sido a utilização de cultivares mais to-
lerantes a Fusarium. A utilização de
cultivares tolerantes a este patógeno
tem sido uma melhor alternativa para
o controle desta doença.
Foto: Warley Marcos Nascimento

Figura 15. Sintomas causados por


Figura 14. Sintoma de podridão de colo, Sclerotium rolfsii: amarelecimento das fo-
causada por Fusarium oxysporum f. sp. lhas (A); cobertura branca de micélio na
ciceris. haste (B).

102
Grão-de-bico

Seu controle é realizado por intermé- a escolha de áreas de plantio em maio-


dio de práticas preventivas, incluindo res altitudes, a aplicação de inseticidas
rotação de culturas, controle da irriga- sistêmicos, o uso de barreiras para
ção, aração profunda, eliminação de evitar a migração dos insetos vetores,
plantas daninhas, que são fontes de entre outros.
inóculo. Pode-se ainda utilizar o con-
trole químico ou biológico. Nematoides formadores de
galhas (Meloidogyne javanica e M.
Podridões de raiz (Rhizoctonia incognita): as plantas afetadas apre-
solani Kuhn): o fungo não produz es- sentam galhas pequenas e arredon-
poros, e geralmente, é encontrado na dadas no sistema radicular, que levam
forma micelial; utilizam como forma de ao nanismo das plantas, às manchas
sobrevivência no solo, a formação de cloróticas ou necroses entre as ner-
estruturas globulosas denominadas vuras, o abortamento de vagens e o
escleródios ou esclerócios que podem amadurecimento prematuro, além do
sobreviver por até um ano. O patógeno murchamento da planta. As medidas
provoca uma podridão escura do colo tradicionalmente recomendadas para
próximo ao solo, podendo estender- o controle de fitonematoides são a
se por toda raiz provocando a morte rotação de culturas e a aplicação de
da planta. Para o seu controle, devem nematicidas.
ser adotadas a remoção e queima das
plantas doentes, eliminação dos res- Pragas e seu controle
tos culturais e rotação de cultura com
gramíneas. A aplicação de calcário, a O grão-de-bico é uma legumi-
1 t/ha reduz o problema. nosa de inverno que tem apresentado
características favoráveis relaciona-
Vira cabeça (Tomato Spotted das com a alta rusticidade, mas aten-
Wilt Virus - TSWV): o vírus é trans- ção especial deve ser dada às lagartas
mitido por tripes, e a doença provoca que atacam as vagens, pois as perfu-
arroxeamento ou bronzeamento das ram precocemente para se alimenta-
folhas, ponteiro da planta virado para rem dos grãos em formação causando
baixo, redução geral do porte da plan- sérios prejuízos à colheita. Apesar de
ta e lesões necróticas nas hastes. Não ser uma cultura rústica, o ataque de
existem evidências de transmissão por pragas consiste em um dos principais
sementes. Seu controle é difícil, e por componentes de perdas na produção
isso é indicado a utilização de práticas desta leguminosa. A seguir serão lis-
integradas, como: rotação de culturas tadas os principais artrópodes-praga
com espécies não suscetíveis ao vírus, desta cultura:

103
Hortaliças leguminosas

Helicoverpa armigera – esta

Foto: Miguel Michereff Filho


lagarta é cosmopolita e apresenta
um alto grau de polifagia, atacan-
do várias culturas no Brasil, como
soja, algodão, milho, feijão, linhaça,
girassol, cereais de inverno, citros,
trigo, cevada, aveia e sorgo, algumas
hortaliças, além do grão-de-bico. Seu
ciclo de vida, em condições ótimas,
varia de 35 a 40 dias/ciclo, poden-
do completar de 3 a 4 gerações por
ciclo da cultura. Sua forma adulta é
uma mariposa de 35 mm a 40 mm de Figura 16. Lagartas da espécie Helicover-
ancho nas asas, com cor amarelo no pa armigera.
primeiro par de asas, com um ponto
escuro mais ou menos visível, e o se-
gundo par de asas com cor mais clara Lagarta das vagens (Etiella-
com uma grande faixa escura distal. zinckenella): a lagarta mede, aproxi-
As lagartas alimentam-se tanto dos madamente, 20 mm de comprimento,
órgãos vegetativos como reproduti- com uma coloração amarela esver-
vos das plantas, causando deforma- deada ou azulada. Causa danos às
ções ou podridões nestas estruturas vagens, onde penetra para consumir
ou até mesmo a sua queda (Figura os grãos ainda em formação (Figura
16). Como táticas de controle, podem 17). Uma lagarta pode danificar di-
ser utilizadas as armadilhas com fero- versas vagens, mas raramente tem
mônio sexual da praga, a eliminação sido observada causando danos mais
de restos culturais e o uso de insetici- intensos ao grão-de-bico.
das seletivos.
Para controle, é recomendado
após a floração três aplicações com
Heliothis virescens: o adulto é
inseticidas em intervalos de 12 dias
uma mariposa com 30 mm a 40 mm
com os seguintes produtos respecti-
de envergadura e asas anteriores
vamente: methamidofós (662 g/ha) +
cinzas esverdeadas ou escuras. As
lifenuron (20 g/ha); acefato (375 g/ha)
lagartas apresentam o corpo claro + clorfuazurom (20 g/ha); methomyl
e cabeça marrom, atacam as flores (107,5 g/ha) + espinosade (96 g/ha).
e vagens provocando sérios danos.
Seu controle é realizado com o uso Lagarta rosca (Agrotis ipsilon):
de inseticidas. mede em torno de 45 mm de com-

104
Grão-de-bico

ca do colo, mede de 10 mm a 20 mm,


Fotos: Warley Marcos Nascimento

A
de cor escura e cabeça amarronzada.
Ataca plantas novas, penetrando no
caule, na região do colo, abrindo ga-
lerias no seu interior. As plantas são
sensíveis ao ataque até 30 dias após
a germinação, provocando murcha e
morte da planta. A ocorrência é mais
frequente em época seca, ou quando
ocorre período de estiagem no início
B do desenvolvimento da planta. O con-
trole mais indicado pode ser o químico
ou o biológico com Beauveria bassia-
na ou Metarhizium anisopliae.

Pragas de armazenamento –
as principais pragas que atacam os
grãos armazenados são os carunchos
(Coleoptera) e as traças (Lepidopte-
Figura 17. Detalhe da lagarta das vagens ra). Provocam perfurações nos grãos,
(A) e danos causados nos grãos (B). diminuindo seu valor comercial, além
disso, atuam como porta de entrada
para microrganismos. O seu controle
primento, apresenta uma coloração
é realizado por meio de expurgo dos
marrom-acinzentada, é robusta, com
grãos sob lona plástica, proporcionan-
tubérculos pretos em cada segmen-
do um ambiente vedado, utilizando,
to. A lagarta ataca a região do colo da
em média, 1 pastilha de 3 g de fosfina
planta, seccionando-a, provocando o
por 15 sacos de 60 kg. O período de
tombamento e murcha das plântulas.
Plantas bem desenvolvidas quando expurgo deve ser de 48 hs a 72 hs.
atacadas conseguem se recuperar, Outra forma de controle é o tratamento
embora a sua produção seja prejudi- dos grãos com inseticidas em pó antes
cada. O tratamento mais indicado é o do ensaque.
químico, tanto das sementes como a
aplicação do produto no sulco de plan- Plantas daninhas e seu controle
tio e, por meio de pulverizações.
As plantas daninhas podem inter-
Lagarta elasmo (Elasmo pal- ferir diretamente na cultura do grão-de-
pus lignosellus): conhecida como bro- bico, através de competição por água,

105
Hortaliças leguminosas

luz e nutrientes, e dessa forma, acabam mantido livre de plantas daninhas,


depreciando a qualidade do produto co- principalmente na fase inicial de cres-
lhido (Figura 18). Atuam ainda de forma cimento, período compreendido entre
indireta como hospedeiras alternativas 30 e 60 dias após a sua emergência
de pragas, doenças e também interfe- (Figura 19). Essa interferência pode
rem nas práticas de colheita. A cultura variar em função de vários fatores re-
apresenta problemas principalmente lacionados com as condições ambien-
com a competição de plantas daninhas tais, características do solo e até da
anuais de folha larga, devido ao padrão própria cultura.
de crescimento similar.

Foto: Warley Marcos Nascimento


Foto: Warley Marcos Nascimento

Figura 19. Campo de produção de grão-


Figura 18. Detalhe de um campo de de-bico livre de plantas daninhas.
produção de grão-de-bico infestado de
plantas daninhas.
O método de controle pode ser
mecânico, químico e cultural. Quando
O manejo de plantas daninhas possível, é aconselhável utilizar a com-
ganha mais importância em razão binação de dois ou mais métodos, sen-
das características da planta de grão- do que o método químico é o mais utili-
de-bico. A lenta emergência das se- zado, isto é, o uso de herbicidas (Figura
mentes, menor estatura das plantas, 20). Suas vantagens são a economia de
crescimento lento e área foliar limita- mão de obra e a rapidez na aplicação.
da nos primeiros estádios iniciais, e o
Entretanto, no Brasil ainda carece
fechamento tardio do dossel nas en-
de herbicidas registrados para a cultura.
trelinhas, resulta em plantas com me-
Estudos tem sido realizados pela Em-
nor capacidade competitiva, portanto
brapa Hortaliças na avaliação da sele-
menor supressão sobre o crescimento
tividade de herbicidas para esta cultura
das plantas daninhas.
e a eficiência no controle de plantas da-
Por esse motivo, o campo de ninhas, principalmente espécies dicoti-
produção de grão-de-bico deve ser ledôneas.

106
Grão-de-bico

assim a contaminação dos grãos por


Foto: Warley Marcos Nascimento

impurezas no momento da trilhagem.


Se esta operação for realizada por
máquina recolhedora, deve-se formar
linhas sobrepostas, que após cinco a
seis dias do corte, estão prontas para
serem trilhadas, sistema semelhante
ao adotado à colheita semi mecaniza-
da do feijoeiro.
Figura 20. Aplicação de herbicida em um
campo de produção de grão-de-bico. Para o sucesso da colheita me-
canizada de grão-de-bico alguns
pontos devem ser considerados:
Colheita
– A área deve estar bem siste-
A maturação do grão-de-bico matizada para que a plataforma da
ocorre geralmente entre 60 a 70 dias colheitadeira possa deslizar, evitando
após a floração, época em que as perdas e recolhendo toda a parte ve-
vagens e folhas se tornam marrom/ getativa da planta;
amareladas (Figura 21). A colheita,
quando manual, deve se iniciar com – Mesmo em áreas de plantio di-
as plantas ainda não muito secas reto, não dispensar o uso de rolos des-
com um grau de umidade no grão em torroadores, pois os mesmos eliminam
torno de 20%. Desta maneira, evita- torrões que porventura possam
se a deiscência das vagens no mo- ser recolhidos pela plataforma da
mento do arranquio ou do corte que colheitadeira prejudicando a qualidade
deve ser rente ao solo evitando-se dos grãos;

– Utilizar preferencialmente,
Foto: Warley Marcos Nascimento

cultivares de porte ereto que facilita m


a colheita mecanizada, minimizando
perdas;

– Considerar o uso de colhei-


tadeiras de cilindro axial ou de duplo
batedor, pois são as que oferecem
Figura 21. Campo de produção de grão- melhor qualidade de grão sem danos
de-bico em ponto de colheita. mecânicos (Figura 22).

107
Hortaliças leguminosas

A grãos. No caso do grão-de-bico, a se-


Fotos: Warley Marcos Nascimento

cagem pode ser feita de duas formas,


natural ou artificial. Quando a colhei-
ta é realizada de forma manual, ge-
ralmente se utiliza a secagem natural
(no campo) antes da trilha, e quando
os grãos são colhidos mecanicamen-
B te, sua umidade, na maioria das ve-
zes, está acima da recomendada para
armazenamento sendo necessário a
sua secagem. Na secagem artificial de
grão-de-bico,é recomendado o uso de
silos com ventilação forçada de ar.

Figura 22. Colheita de grão-de-bico Beneficiamento


utilizando colheitadeiras de cilindro axial
(A) e detalhe da plataforma de corte e mo- Uma das últimas etapas na pro-
linete (B). dução de grão-de-bico é o beneficia-
mento, tendo como finalidade apri-
morar a qualidade do lote, através da
Secagem
retirada de grãos imaturos, rachados
Quando os grãos chegam à ou partidos, sementes de plantas da-
indústria, deve-se realizar o tes- ninhas, material inerte, entre outros.
te de umidade para verificar se esta Para tanto, é preciso que os grãos
característica se encontra ideal para passem por máquinas que levam em
o armazenamento (aproximadamente consideração as diferentes caracterís-
13%). O armazenamento de grãos ticas físicas entre os grãos e o material
com elevado grau de umidade gera o a ser removido. No caso do beneficia-
aquecimento na massa, por meio da mento dos grãos, os equipamentos
fermentação e desenvolvimento de geralmente utilizados são: a máquina
fungos, que irão comprometer a qua- de ventilador e peneira e a mesa de
lidade do grão. gravidade.

A remoção da umidade deve ser Como os grãos vêm do campo


feita de forma que o produto fique em contendo uma grande variedade de
equilíbrio com o ar do ambiente onde impurezas que precisam ser removi-
será armazenado, preservando a das, é necessário realizar uma pré-lim-
aparência e a qualidade nutritiva dos peza para remoção de materiais maio-

108
Grão-de-bico

res, menores e mais leves (Figura 23). proteínas, atrai muitos insetos e apo-
Para esta operação, utiliza-se a má- drecem rapidamente se o ambiente for
quina de ar e peneiras, que reduzem muito úmido. Além disso, o grão-de-
o volume de grãos e aumentam a uni- bico é um produto sujeito ao ataque
formidade da massa, facilitando a ope- de doenças e à deterioração natural
ração dos equipamentos subsequen- durante a fase de armazenamento,
tes. Após esse passo, o grão-de-bico que causam sérios prejuízos qualita-
é submetido ao processo de limpeza, tivos e quantitativos; por essa razão,
também realizado com máquinas de o grão-de-bico deve ser armazenan-
ar e peneiras, porém com mais preci- do de forma adequada. É importante
são, onde são utilizados ventiladores que o grão-de-bico seja armazenado
que removem materiais mais leves e com umidade próximo de 13% e que
peneiras com diferentes tipos de furos passem pelo beneficiamento para a
para separação por largura e espessu- eliminação de impurezas, antes de se-
ra dos grãos. O último passo é a mesa rem ensacados e transferidos para o
de gravidade (densimétrica), que é armazém.
utilizada para separar os grãos leves
decorrentes do ataque de doenças e Os grãos podem ser armazena-
pragas e falhas no enchimento daque- dos a granel ou em sacarias com ca-
las sementes bem formadas, intactas pacidade de 60 kg, e empilhado sobre
e mais pesadas. estrados de madeira em lotes de 200
sacas, sendo 20 sacas na base por
10 fileiras de altura. Os lotes devem
Foto: Warley Marcos Nascimento

estar bem arranjados dentro do ar-


mazém, em pilhas alinhadas entre si,
deixando-se corredores e passagens
entre elas para facilitar o manuseio
e a fumigação, caso necessária. O
ambiente de armazenamento deve
ser sombreado, fresco e ventilado de
modo a minimizar a atividade biológi-
Figura 23. Grãos contendo uma grande ca dos grãos, de insetos e de fungos
variedade de impurezas. durante o armazenamento.

Embalagem e armazenamento Rendimento de grãos

O grão-de-bico, semelhante a O rendimento médio em la-


outras leguminosas, por ser é rico em vouras de sequeiro varia de 600 kg/

109
Hortaliças leguminosas

ha a 750 kg/ha. Vale salientar que deração na produção de sementes de


a média mundial tem sido cerca de alta qualidade, como:
900 kg/ha. Nas condições irrigadas,
os rendimentos são de 1.852 kg/ha a
Escolha da área
2.500  g/ha. Entretanto, a nova cultivar
de grão-de-bico, a ‘BRS Aleppo’, indi- Deve-se evitar o plantio em
cada para plantio em áreas irrigadas áreas cultivadas previamente com le-
do Planalto Central, tem apresenta- guminosas e ou próximo a áreas que
do rendimento acima de 3.000 Kg/ha possuem cultivos de espécies que
podendo em algumas condições de abrigam doenças comuns ao grão-de-
manejo chegar a 3.600  kg/ha. bico. Esse fator aumenta a incidência
de pragas e doenças, que podem cau-
Comercialização sar a deterioração das sementes no
campo. Além disso, a escolha da área
O grão-de-bico pode ser consumi- é importante para garantir a pureza
do na forma fresca, mas, normalmente, física dos lotes de grão-de-bico.
é consumido cozido, sendo misturado
a outros alimentos como hortaliças,
Roguing
carnes, molhos e condimentos. Os
grãos descascados e triturados são A operação de inspeção de
empregados para fazer sopas, pas- campo é uma prática fundamental na
tas ou sobremesas. Já a sua farinha produção de sementes, a qual consis-
pode ser utilizada como ingrediente te na eliminação manual de plantas
na fabricação de pães e bolos ou na contaminantes (atípicas e outras que
formulação de alimentos infantis. No estão fora do padrão da cultivar a ser
Brasil, além do produto enlatado, já multiplicada) em campos de produção
cozido, pode ser encontrado o grão- de sementes. A finalidade do roguing
de-bico seco a venda, embalado, é assegurar que o campo produza se-
normalmente em pacotes de 500g, ou mentes de desejável pureza genética,
a granel (Figura 24). varietal e física. Estas inspeções de-
vem ser realizadas principalmente nas
épocas de pré-floração, floração, pré-
Produção de sementes
colheita e colheita.
No geral, a produção de semen-
tes de grão-de-bico requer os mesmos Colheita de sementes
cuidados tomados na produção de
grãos. Contudo, existem certos aspec- Após a fixação das vagens, ocor-
tos que devem ser levados em consi- re um rápido crescimento durante os

110
Grão-de-bico

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

C D

Figura 24. Grão-de-bico seco, ensacado (A), reidratado (B), à vácuo (C) e a granel (D).

primeiros 10 a 15 dias, sendo que o adequado de umidade no solo. As se-


crescimento das sementes acontece mentes estarão prontas para a colhei-
mais tarde. Logo após o desenvolvi- ta quando 90% das hastes e vagens
mento das vagens e o enchimento, a perdem sua cor verde e se tornam
senescência das primeiras folhas se uma coloração amarelo dourado. Cui-
inicia. Quando há bastante umidade dados na regulagem das colheitadei-
no solo, o florescimento e a formação ras devem ser tomados para minimi-
das vagens continuarão nos nós supe- zar a ocorrência de danos mecânicos
riores. O grão-de-bico pode tolerar al- (amassamento, trincas e quebras nas
tas temperaturas quando há um nível sementes).

111
Hortaliças leguminosas

Beneficiamento de sementes dem levar a danos intoleráveis, devido


ao fato das sementes serem meios
Assim como as demais legumi- potenciais de transmissão de vários
nosas, as sementes de grão-de-bico microrganismos que podem ser disse-
apresentam reserva cotiledonar além minados a longas distâncias e introdu-
de formato esférico. Estes fatores zidos em novas áreas de cultivo. Além
tornam as sementes de grão-de-bico de existirem um pequeno número de
mais suscetíveis aos danos mecâni- espécies de microrganismos, mais co-
cos, afetando negativamente sua qua- mumente espécies dos gêneros Peni-
lidade fisiológica (germinação e vigor). cillium e Aspergillus, que podem estar
Desta maneira, cuidados especiais associados às sementes durante o
devem ser tomados durante o trans-
armazenamento, vindo a causar sua
porte (elevadores) e o beneficiamento
deterioração (Figura 25).
das sementes. Os principais equipa-
mentos utilizados no beneficiamento Dentre o conjunto de práticas
das sementes são a máquina de ar e recomendadas para o controle de mi-
peneira e a mesa de gravidade. crorganismos, destacam-se o uso de
semente de boa qualidade sanitária,
Tratamento de sementes a rotação de culturas, a pré-incorpo-
ração de resíduos seguida de aração
A produção de sementes de profunda, entre outros tratos culturais.
grão-de-bico está sujeita a uma série Mas a medida de controle mais utiliza-
de adversidades bióticas e abióticas. da hoje em dia têm sido o tratamento
Os danos causados pela associação químico. Entre eles, o uso de sementes
de patógenos com sementes englo- tratadas com fungicidas, (Figura 26), o
bam uma série de implicações que po- que a torna uma ferramenta estratégi-

A B
Fotos: Warley Marcos Nascimento

Figura 25. Grãos atacados por fungos de armazenamento (A) e deterioração natural
durante o armazenamento (B).

112
Grão-de-bico

Fotos: Warley Marcos Nascimento


A B

Figura 26. Sementes de grão-de-bico tratadas quimicamente (A) e germinação de


sementes tratadas (B).

ca dentro do contexto do manejo in- porte, armazenamento e comercializa-


tegrado de doenças. O tratamento de ção, mas também para a conservação
sementes mais utilizado tem sido com da qualidade. As embalagens utili-
produto comercial a base de: 25 g/l zadas para o acondicionamento das
Piraclostrobina 225 g/L de Tiofanato sementes variam com as necessida-
metílico, 250 g/L de Fipronil, na dose des e disponibilidade de materiais. No
de 2 ml/kg contra fungos e insetos. caso de sementes de grão-de-bico, é
recomendado utilizar sacos valvulados
Lembrando que deve-se levar de papel de 40 kg.
em consideração a ação isolada ou
integrada de fatores, como as con- As embalagens devem trazer
dições físicas e fisiológicas do lote, informações sobre a espécie, cultivar
o tipo de patógeno, tipo de infecção/ e data. De acordo com a Instrução
contaminação das sementes, a formu- Normativa Nº 40, de 21 de novembro
lação e o ingrediente ativo do produto, de 2014, o lacre das embalagens de
características do solo, profundidade sementes deverá conter o número de
de semeadura, entre outros fatores. inscrição do Registro Nacional de Se-
mentes e Mudas (Renasem) do pro-
dutor ou do reembalador, quando o
Embalagem das sementes
produto for destinado ao comerciante.
A embalagem de sementes é Ainda segundo o texto, a semente a
importante não apenas para o trans- granel somente poderá ser comer-

113
Hortaliças leguminosas

cializada diretamente do produtor ao

Foto: Warley Marcos Nascimento


usuário da semente.

Análise de sementes

Geralmente para se avaliar a


qualidade de um lote de sementes é
utilizado o teste de germinação por
apresentar alto grau de confiabilidade,
quanto à possibilidade de reprodução
dos resultados e como parâmetro para
a fiscalização do comércio. Para se- Figura 27. Teste de germinação de se-
mentes de grão-de-bico, existe meto- mentes de grão-de-bico.
dologia padronizada para o teste de
germinação nas Regras para análise
de sementes (RAS), sendo recomen- tulas é crítico e falhas no estande ou
dados os substratos Rolo de Papel desuniformidade de plântulas podem
(Figura 27) ou entre Areia, a tempera- prejudicar significativamente a produ-
tura alternada de 20 ºC - 30 °C, com ção final. Para a cultura do grão-de
leituras aos cinco e oito dias, corres- bico não existe nem um teste de vigor
pondendo respectivamente, a primeira padronizado, mas alguns autores re-
contagem e a contagem final da germi- comendam o teste de envelhecimento
nação. Ensaios realizados na Embrapa acelerado, pelo fato do teste conseguir
Hortaliças sugerem, no teste de germi- discriminar de forma eficiente os dife-
nação de sementes de grão-de-bico, rentes lotes testados por 72 horas em
umidade do substrato de 2,0 vezes o câmara de envelhecimento.
peso do papel e temperaturas de 20 ºC.
O teste de tetrazólio também
Para garantir um estabelecimen- pode ser utilizado na avaliação da via-
to adequado do estande, é recomen- bilidade e vigor de sementes de grão-
dada a realização de testes de vigor de-bico, na concentração de tetrazólio
para determinar, muitas vezes, a velo- de 0,1% e nos tempos/temperatura de
cidade de germinação e emergência embebição de 4 horas a 41º C e de 6
das plântulas. A rapidez na germina- horas a 41º C.
ção é muito importante porque reduz
o grau de exposição das sementes e Pelo fato da semente de grão-
das plântulas às intempéries. O pe- de-bico ser rica em proteínas, fator
ríodo de tempo compreendido entre a que atrai microrganismos, é recomen-
semeadura e a emergência das plân- dada a realização de análise sanitária

114
Grão-de-bico

ARTIAGA, O. P. Avaliação de
dessas sementes, devido os reflexos Genótipos de Grão-de-bico no
negativos que a associação de pató- Cerrado do Planalto Central
genos com as mesmas podem gerar. Brasileiro. 2012. 92 f. (Dissertação
As sementes podem abrigar e trans- de mestrado). Universidade de
portar microrganismos de todos os Brasília, Brasília, DF.
grupos taxonômicos, que podem ser
patogênicos, levando à ocorrência de ARTIAGA, O.P ; SPEHAR, C.R ;
doenças, ou não patogênicos, levando BOITEUX, L. S. ; NASCIMENTO, W.
a redução da qualidade durante o ar- M. Avaliação de genótipos de grão
mazenamento. de bico em cultivo de sequeiro nas
condições de Cerrado. Agrária, v. 10,
p. 102-109, 2015.
Referência
BHAN, V.M.; KUKULA, S. Weeds
LIMA, D. M.; PADOVANI, R. M.; and their control in chickpea. In:
RODRIGUEZ-AMAYA, D. B.; SAXENA, M.C.; SINGH, K.B. (Ed.).
FARFAN, J. A.; NONATO, C. T.; LIMA, The chickpea. Wallingford: C.A.B.
M. T. de; SALAY, E.; COLUGNATI, International, 1987. p. 319-328.
F. A. B.; GALEAZZI, M. A. M. Tabela
brasileira de composição de alimentos BIABANI, A.; CARPENTER-BOGGS,
- TACO. 4. ed. rev. e ampl. Campinas: L.; COYNE, C. J.; TAYLOR, L.;
Nepa-Unicamp, 2011. Disponível em: SMITH, J. L.; HIGGINS, S. Nitrogen
<https://www.unicamp.br/nepa/taco/ fixation potential in global chickpea
contar/taco_4_edicao_ampliada_e_ mini-core collection. Biology and
revisada.pdf?arquivo=taco_4_versao_ Fertility of Soils, n. 47, n. 6, p. 679-
ampliada_e_revisada.pdf>. Acesso 685, 2011.
em: 17 jun. 2016.
BICER, B. T.; SAKAR, D. Inheritance
Literatura recomendada of pod and seed traits in chickpea.
Journal of Environmental Biology,
AGROFIT – SISTEMA DE v. 31, n. 5, p. 667-669, 2010.
AGROTÓXICOS FITOSSANITÁRIOS.
Herbicidas registrados para cultura do BOITEUX, L. S.; DE ÁVILA, A. C.;
grãos de bico. Disponível em: <http:// GIORDANO, L. de B.; LIMA, M. I.;
extranet.agricultura.gov.br/agrofit_ KITAJIMA, E. W. Apical Chlorosis
cons/principal_agrofit_cons>. Acesso disease of chickpea (Cicer arietimum)
09/01/2015. caused by tomato spotted wilt virus in

115
Hortaliças leguminosas

Brazil. Journal of Phytopathology, v. International Crops Research Institute


143, n. 10, p. 629-631, 1995. for the Semi-Arid Tropics, 2010. 28 p.

BRAGA, N. R. Grão-de-bico: IAC GEORGE, R. A. T. Vegetable seed


avalia introdução no Estado de São production. 3 rd ed. Cambridge:
Paulo. O Agronômico, v. 38, n. 2, p. Cabi, 2009. 320 p.
137-138, 1986.
GIORDANO, L.B.; NASCIMENTO,
BRAGA, N. R.; VIEIRA, C.; VIEIRA, W.M. ‘Cícero’: nova cultivar de grão-
R. F. Comportamento de cultivares de de-bico para cultivo de inverno.
grão-de-bico (Cicer arietinum L.) na Horticultura Brasileira, v. 12, n. 1, p.
micro região de Viçosa, Minas Gerais. 80, 1994.
Revista Ceres, v. 44, n. 255, p. 577-
591, 1997. KANTAR, F.; HAFEEZ, F. Y.;
SHIVAKUMAR, B. G.; SUNDARAM,
BRAGA, N.R. Grão-de-bico: IAC S. P.; TEJERA, N. A.; ASLAM, A.;
avalia introdução no Estado de São BANO, A.; RAJA, P. Chickpea:
Paulo. O Agronômico, 38(2): 137-138, Rhizobium management and nitrogen
1986. fixation. In: YADAV, S. S.; REDDEN,
R. J.; CHEN, W.; SHARMA, B.
FAOSTAT – FAO FOOD AND (Ed.). Chickpea breeding and
AGRICULTURE ORGANIZATION. management. Pondicherry: CABI,
Dados estatísticos de grão de bico. 2007. p. 179-192.
Disponível em: <http://faostat.
fao.org/site/567/DesktopDefault. KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE,
aspx?PageID=567#ancor>. Acesso J. A. M.; BERGAMIN, A. F. Manual
09/01/2015. de Fitopatologia.4. ed. São Paulo:
Agronômicas Ceres, 2005. v. 2, cap.
FATIMA, Z.; ASLAM, M.; BANO, A. 61, p. 542.
Chickpea nitrogen fixation increases
production of subsequent wheat in KNIGHTS, E. J.; AÇIKGOZ, N.;
rain fed system. Pakistan Journal of WARKENTIN, T.; BEJICA, G.;
Botany, v. 40, n. 1, p. 369-376, 2008. YADAV, S. S.; SANDHU, J. S. Area,
production and distribution. In:
GAUR, P. M.; TRIPATHI, S.; YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
GOWDA, C. L. L.; RANGA RAO, W.; SHARMA, B. (Ed.). Chickpea
G. V.; SHARMA, H. C.; PANDE, breeding and management.
S; SHARMA, M. Chickpea seed Pondicherry: CABI, 2007. p. 167-178.
production manual. Pantacheru:

116
Grão-de-bico

MAITI, R. K. The chickpea crop. PITELLI, R. A. Competição e


In: MAITI, R.; WESCHE-EBELING, controle das plantas daninhas em
P. (Ed.). Advances in chickpea áreas agrícolas. Série Técnica IPEF,
science. Enfield: Science Publishers, Piracicaba, v. 4, n. 12, p. 1-24, 1987.
2001. p. 1-32.
REDDEN, R. J.; BERGER, J. D.
NASCIMENTO, W. M. (Ed.). History and origin of chickpea. In:
Hortaliças: tecnologia de produção YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
de sementes. Brasília, DF: Embrapa W.; SHARMA, B. (Ed.). Chickpea
Hortaliças, 2011. 314 p. breeding and management.
Pondicherry: CABI, 2007. p. 1-13.
NASCIMENTO, W. M. (Ed.).
Tecnologia de sementes de SADRI, B.; BANAI, T. Chickpea in
hortaliças. Brasília, DF: Embrapa Iran. In: SAXENA, N. P.; SAXENA,
Hortaliças, 2009. 432 p. M. C., JOHANSEN, C.; VIRMANI, S.
M.; HARRIS, H. (Ed.). Adaptation of
NASCIMENTO, W. M. Clima e época chickpea in West Asia and North
de plantio. In: NASCIMENTO, W. M.; Africa Region. Aleppo: ICARDA,
PESSOA, H. B. S. V.; GIORDANO, 1996. p. 23-34.
L. B. (Ed.). Cultivo do grão-de-
bico (Cicer arietinum L.). Brasília, SHARIF, A.; BAKHSH, A.; ARSHAD,
DF: EMBRAPA-CNPH, 1998. p.3. M.; HAQQANI, A. M.; NAJMA, S.
(EMBRAPA-CNPH. Instruções Identification of genetically superior
Técnicas da Embrapa Hortaliças, 14). hybrids in chickpea (Cicer arietinum
L.). Pakistan Journal of Botany, v.
NENE, Y. L.; HAWARE, M. P.; 33, n. 4, p. 403-409, 2001.
REDDY, M. V. Chickpea diseases:
resistance-screening techniques. SHARMA, H. C.; GOWDA, C. L.
Information Bulletin, n. 10, p. 1-10, L.; STEVENSON, P. C.; RIDSDIL-
1981. SMITH, T. J.; CLEMENT, S. L.;
RANGA RAO, G. V.; ROMEIS, J.;
PATEL, B.D.; PATEL, V.J.; PATEL, MILES, M.; EL BOUHSSINI, M.
J.B.; PATEL, R.B. Effect of fertilizers Host Plant Resistance and Insect
and weed management practices Pest Management in Chickpea. In:
on weed control in chickpea (Cicer YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
arietinum L.) under middle Gujarat W.; SHARMA, B. (Ed.). Chickpea
conditions. Crop Science, v. 1, p. breeding and management.
180-183, 2006. Pondicherry: CABI, 2007. p. 520-537.

117
Hortaliças leguminosas

SINGH, G.; CHEN, W.; RUBIALES, VALKAMA, E.; SALMINEN, J. P.;


D.; MOORE, K.; SHARMA, Y. KORICHEVA, J.; PIHLAJA, K.
R.; GAN, Y. Diseases and Their Comparative analysis of leaves
Management. In: YADAV, S. S.; trichome structure and composition of
REDDEN, R. J.; CHEN, W.; SHARMA, epicuticular flavonoids in Finnish Birch
B. (Ed.). Chickpea breeding and species. Annals of Botany, v. 91, n.
management. Pondicherry: CABI, 6, p. 643-655, May 2003.
2007. p. 497-519.
VIDAL, R. A.; PORTUGAL, J.; SKORA
SINGH, K.B.; SAXENA, M.C. NETO, F. Nível crítico de dano de
Chickpeas. The tropical Agricultural infestantes em culturas anuais.
Series. CTA/Macmilla/ICARDA. Porto Alegre: Evangraf, 2010. 133 p.
Macmillan Education Ltd., London:
UK, 1999. 134p. VIEIRA, R. F.; RESENDE, M. A. V.;
CASTRO, M. C. S. Comportamento
SPEHAR, C. R.; TRECENTI, R. de cultivares de grão-de-bico na Zona
Desempenho agronômico de da Mata e Norte de Minas Gerais.
espécies tradicionais e inovadoras Horticultura Brasileira, v. 17, n. 2, p.
da agricultura em semeadura de 166-170, jul. 1999.
sucessão e entressafra no Cerrado
do Planalto Central brasileiro. WESCHE-EBELING, P.; MAITI, R. K.;
Bioscience Journal, v. 27, n. 1, p. CUEVAS-HERNANDEZ, B.; VERDE-
102-111, 2011. STAR, J. Food Science and Feed
Quality. In: MAITI, R.; WESCHE-
UPADHYAYA, H. D.; KUMAR, S.; EBELING, P. (Ed.). Advances in
GOWDA, C. L. L.; SINGH, S. Two chickpea science. Enfield: Science
major genes for seed size in chickpea. Publishers, 2001. p. 189-214.
Euphytica, v. 147, n. 3, p. 311-315,
Feb. 2006.

118
Foto: Rogério Faria Vieira
Lentilha
Rogério Faria Vieira
Renan Cardoso Lima

Introdução grãos de leguminosas graníferas. Des-


se total, aproximadamente 8% são de

A
lentilha (Lens culinaris Medik.) lentilha (Tabela 1), cuja produção anual
é uma das mais antigas legu- só é superada pelas do feijã­o‑comum
minosas graníferas cultivadas (Phaseolus vulgaris L.), da ervilha
pelo homem. Aproximadamen- (Pisum sativum L.) e do grão-de‑bico
te 7000 A.C., essa espécie foi culti- (Cicer arietinum L.). A produção mun-
vada pela primeira vez no Sudoeste dial de lentilha é semelhante à da
da Ásia. Vavilov (1949/50) encontrou fava (Vicia faba L.) e do caupi (Vigna
grande diversidade genética de lentilha unguiculata L. Walp.).
na Ásia Central, Mediterrâneo, Etiópia
e Oriente Médio. Provavelmente, a A Ásia é o maior consumidor de
lentilha originou-se no Oriente Médio, lentilha. Fora da Ásia, apenas Cana-
onde há muitas formas silvestres. dá, Austrália e EUA estão entre os
grandes produtores (Tabela 1). O Ca-
No mundo, são produzidas em nadá é o maior produtor e exportador
torno de 60 milhões de toneladas de mundial de lentilha. A produção dessa

121
Hortaliças leguminosas

leguminosa aumentou entre 1961-63 e tir de 1984, a Embrapa Hortaliças em


2008-10: de 0,92 para 3,59 milhões de trabalho conjunto com a Universidade
tonelada. Esse crescimento na produ- Federal de Santa Maria introduziu a
ção deveu-se ao aumento da área cul- lentilha no cerrado. Os resultados fo-
tivada, de 1,64 milhão de ha, em 1961- ram alentadores, especialmente com
63, para 3,85 milhões de ha, em 2008- as cultivares precoces Precoz e Sil-
10, e ao aumento de produtividade. vina, de origem argentina. A partir de
Esta teve um aumento de 560 kg/ha, 1988, em uma parceria da Epamig e da
em 1961-63, para 920 kg/ha, em 2008- Universidade Federal de Viçosa com a
10. Em 2013, a produtividade média Embrapa Hortaliças, as cultivares Pre-
mundial atingiu 1140 kg/ha (Tabela 1) coz e Silvina foram testadas em qua-
Estima-se que a produção mundial de tro regiões de Minas Gerais (Zona da
lentilha atinja 5,5 milhões de toneladas Mata, Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba
em 2030. e Norte). Os resultados desses estudos
No Brasil, o cultivo da lentilha pro- revelaram bom potencial de produtivi-
vavelmente começou no Rio Grande do dade da lentilha nesse estado. Dados
Sul, que, em 1920, era o maior produtor mostram que a importação de lentilha
brasileiro. A partir de 1955, a produção no ano de 2015 foi de 11 mil toneladas,
de lentilha nesse estado despencou, e representando um valor de 10 milhões
a produção, hoje, é inexpressiva. A par- de dólares (Figura 1).

Tabela 1. Dez maiores produtores mundiais de lentilha em 2013

País Produção Área Produtividade


(1.000 t) (1.000 ha) (kg/ha)

Canadá 1.880.500 954,2 1.970


Índia 1.134.000 1.890,0 600
Turquia 417.000 281,2 1.483
Austrália 324.100 144,9 2.237
EUA 227.658 140,4 1.621
Nepal 226.931 206,5 1.099
China 150.000 67,0 2.239
Síria 125.000 128,0 977
Etiópia 108.095 108,1 1.201
Irã 73.000 120,0 730
Mundo 4.951.720 4.344,7 1.140
Fonte: FAO (2014).

122
Lentilha

Importações brasileiras de lentilha


2005-2015

Figura 1. Importação de lentilha no Brasil entre os anos de 2011-2015.


Fonte: MDIC/SECEX, 2016.
Variação: Incrementos percentuais entre os anos de 2011 e 2015.

Botânica quatro ou cinco dias. No estádio em


que as plantas apresentam de 11 (cul-
A lentilha é planta anual, com tivares precoces) a 14 (tardias) nós
20 cm a 75 cm de altura e hábito de ocorre o florescimento.
crescimento indeterminado. Esta últi-
ma característica indica que a planta O caule é frágil e ramificado, e
continua a florescer até ocorrer um as folhas, com cerca de 5 cm de com-
estresse, como seca, calor, deficiência primento, são compostas. Os folíolos
de nitrogênio, dano mecânico ou des- (4 a 7 pares) que compõem as folhas
secação química. são oblongo-ovados ou oblongos.
Antes do florescimento, novas folhas
A germinação da semente é hi- desenvolvem gavinhas na extremida-
pógea, ou seja, o cotilédone perma- de. As flores, autoférteis, são dispos-
nece sob o solo após a emergência tas em cachos nas axilas das folhas.
da plântula (Figuras 2 e 3). Nesse São produzidas de uma a três flores
estádio, os dois primeiros nós do cau- no pedúnculo, que podem ser bran-
le ficam sob ou na superfície do solo cas, brancas com veias azuis, rosá-
(Figura 2). Esses nós podem rebro- ceas, azuis ou violáceas. As vagens
tar caso o caule principal seja danifi- têm menos de 2,5 cm de comprimento
cado. No terceiro nó desenvolve-se (Figura 3) e geralmente contêm uma
a primeira folha. Novo nó pode de- ou duas sementes em forma de dis-
senvolver‑se na planta jovem a cada co, com 3  mm a 9 mm de diâmetro

123
Hortaliças leguminosas

Figura 2. Estádios iniciais de desenvolvimento da lentilha.


Fonte: Saskatchewan Pulse Growers.

(Figuras 5A e 5B). A lentilha pode ser A cor do tegumento da semente é


classificada em dois grupos com base creme-esverdeado (Figura 5A), cinza,
no tamanho da semente. O  grupo de bege ou marrom-avermelhada (Figura
sementes grandes – macrosperma (Fi- 5B); também há sementes pretas ou
gura 5A) tem massa de 50 g ou mais multicoloridas. Os cotilédones podem
por 1.000 sementes. O  grupo de se- ser amarelos (Figura 5C), alaranja-
mentes pequenas – microsperma (Fi- dos (Figura 5D) ou, menos comum,
gura 5B) apresenta massa de 40 g ou verdes. As combinações de cores do
menos por 1.000 sementes. tegumento e dos cotilédones, e o ta-

124
Lentilha

manho das sementes, são critérios


Foto: Rogério F. Vieira

usados mundialmente para diferen-


ciar as classes comerciais. A classe
de lentilhas verdes possui sementes
mais achatadas que as da outra clas-
se (comparar Figura 5A com Figura
5B) e cotilédones amarelos (Figura
5C). A lentilha verde possui semen-
tes pequenas, médias ou grandes e é
comercializada inteira. Essa classe é
cultivada especialmente no Mediterrâ-
neo e na América. A classe de lentilhas
vermelhas (Figura 5B) normalmente
possui cotilédones alaranjados (Figura
5D). As sementes dessa classe, a
mais produzida e comercializada mun-
dialmente, podem ser encontradas
Figura 3. Planta jovem de lentilha. no comércio nas seguintes formas:
inteiras (menos comum), sem o tegu-
mento (denominadas football) ou sem
Foto: Rogério F. Vieira

o tegumento e partidas (Figura 5D),


sobretudo no subcontinente indiano

Foto: David Stobbe

Figura 5. Sementes grandes de lentilha


verde (A) ao lado de sementes pequenas
de lentilha vermelha (B). Lentilha verde
sem tegumento (C) ao lado de lentilha
Figura 4. Vagens da lentilha. vermelha sem tegumento e partida (D).

125
Hortaliças leguminosas

(Bangladesh, Sri Lanka, Paquistão, do na floração e no enchimento de va-


Índia) e em partes da África. A semen- gens. Ela é moderadamente resistente
te da classe comercial vermelha pode à seca, mas o grau de tolerância varia
variar de grande a muito pequena. entre cultivares. Lentilhas vermelhas
são mais bem adaptadas à seca e à
Exigências climáticas alta temperatura que as verdes.

A lentilha é produzida em todo o Escolha da área


mundo, com produção pequena nos
trópicos. Em locais de clima subtropi- A lentilha é bem adaptada a dife-
cal, como em parte da Ásia (Turquia, rentes tipos de solos, mas os de textu-
Síria, Irã), no norte da África e na Aus- ra muito argilosa devem ser evitados.
trália, a lentilha é cultivada no inverno; Não tolera solo encharcado e salino.
em locais de inverno rigoroso, como no Solo com pH em água de 6 a 7,5 favo-
Canadá e em parte dos EUA e Europa, rece a lentilha, e a aplicação de calcá-
é cultivada na primavera. No Sudeste rio deve ser considerada quando o pH
e Centro-Oeste do Brasil, a lentilha do solo for menor que 6,0. Solos pro-
pode ser cultivada no outono-inverno, fundos, férteis ou que tenham recebi-
com irrigação. No Centro-Oeste, em do adubo orgânico também favorecem
particular, municípios com mais de 800 essa leguminosa.
m de altitude oferecem ótimas condi-
A semeadura da lentilha após a
ções para seu cultivo.
colheita de outra leguminosa (como
A temperatura ótima para a soja, feijão, ervilha) não é recomendá-
germinação da lentilha é 18 °C - 21 °C; vel, pois a lentilha pode ser susceptí-
temperaturas acima de 27 °C prejudi- vel às mesmas doenças de solo das
cam a germinação. No outro extremo, outras leguminosas. No planejamen-
as plântulas podem sobreviver a tem- to da sequência de culturas na gleba
peraturas até -6 °C. Mesmo quando a devem ser consideradas as doenças
geada é forte o bastante para matar o e os tipos de plantas daninhas que
caule principal, a planta pode rebrotar ocorreram na área de cultivo anterior,
de um dos nós localizados abaixo ou e possíveis resíduos de herbicidas.
na superfície do solo. Temperatura em
torno de 24 °C é considerada ótima Adubação
para o crescimento e desenvolvimento
da lentilha, enquanto abaixo de 10 °C Os resultados da análise de solo
atrasam o florescimento e prolongam o da área de cultivo são úteis para pla-
ciclo de vida da planta. A lentilha é pou- nejar a adubação. Com base nesses
co tolerante ao calor (>  7 °C), sobretu- resultados, recomenda-se, se neces-

126
Lentilha

sário, corrigir o solo com calcário para lação pode ser avaliada entre 20 e 30
a saturação por bases de 70%. Seme- dias após a emergência das plântulas.
lhantemente ao feijão-comum, a len- Como os nódulos se desprendem fa-
tilha responde bem à adubação com cilmente das raízes, estas devem ser
fósforo (P) em solo deficiente nesse retiradas presas a um bloco de solo.
nutriente. Adubação adequada com P O solo preso às raízes é facilmente
também favorece a fixação biológica retirado em um recipiente com água.
do nitrogênio. Dependendo do teor O interior de nódulos ativos é rosa ou
de P no solo, podem ser usados de vermelho. Se os nódulos não estive-
60 kg/ha a 100 kg/ha de P2O5. rem ativos, a aplicação de adubo nitro-
genado em cobertura deve aumentar
Na lentilha, a fixação biológica a produtividade da lentilha. No entan-
do nitrogênio é feita pelo Rhizobium to, vale frisar que o excesso de N pode
leguminosarum bv. viciae, que tam- reduzir a produtividade ao estimular o
bém nodula a ervilha. Plantas bem crescimento das plantas e prolongar
noduladas podem obter, pelo proces- seu ciclo de vida. A inoculação deve
so de fixação biológica, 50% a 80% ser feita toda vez que a lentilha for se-
do N de que necessitam. Se a dispo- meada.
nibilidade de N no solo é baixa, o uso
de pequena dose de adubo nitroge- Adubação com fontes de potás-
nado (20 kg/ha de N) na semeadura sio (K) é necessária em solos com
pode beneficiar o crescimento inicial menos de 70 mg dm-3 de K. Depen-
das plantas. Em estudo conduzido dendo dos resultados da análise de
no cerrado, a produtividade da lenti- solo, podem ser usados de 10 kg/ha
lha foi 1.050 kg/ha, sem inoculante e a 50 kg/ha de K2O. Além do K, a len-
N; 2.135 kg/ha, com 60 kg/ha de N; e tilha também pode responder à pulve-
entre 2.654 kg/ha e 3.026 kg/ha, com rização das plantas, antes do floresci-
a inoculação das sementes com estir- mento, com molibdênio (30 g/ha a 50
pes de R. leguminosarum bv. viciae. g/ha). Em áreas de cerrado, também
Estima-se que a lentilha possa fixar, pode haver resposta positiva da plan-
biologicamente, entre 35 kg/ha e ta à aplicação de zinco. Os resultados
115 kg/ha de N. de análises de solo e das folhas aju-
dam a diagnosticar a necessidade de
No solo, a fixação biológica do aplicação de outros nutrientes.
nitrogênio também é estimulada por
baixa disponibilidade de N, por tem- Época de plantio
peratura amena e por teor de água
moderado durante o crescimento ini- Nos municípios de Santa Maria
cial das plantas. A eficácia da inocu- e São Pedro do Sul no Rio Grande do

127
Hortaliças leguminosas

Sul, a época de semeadura é entre a mentes de plantas daninhas. O uso de


segunda quinzena de maio e a primei- semente com alta sanidade associado
ra quinzena de junho; no Centro-Oes- ao tratamento da semente com fungi-
te, em abril ou maio. Em Minas Gerais cida é medida que pode evitar doença
(Leopoldina, Uberaba, Patos de Minas na lavoura, sobretudo em gleba plan-
e Janaúba), o mês mais indicado para tada pela primeira vez com lentilha.
a semeadura de cultivares precoces
As sementes de lentilha são sus-
geralmente é maio, sobretudo na se-
cetíveis a danos mecânicos durante a
gunda quinzena. Entretanto, em mu-
semeadura, sobretudo quando apre-
nicípios com temperaturas amenas no
sentam teor de água menor que 14%.
início do outono, como nos de Viçosa
Nesse caso, até 30% das sementes
e Coimbra, pode-se semear a lentilha
podem ser danificadas. Baixa veloci-
na segunda quinzena de março ou em
dade da semeadora pode assegurar
abril (Figura 6).
boa população de plantas na lavou-
ra. A emergência das plântulas ocorre
Foto: Rogério F. Vieira

com cinco ou seis dias, se a semeadu-


ra for realizada com temperatura entre
15 °C e 25 °C.

Espaçamento, semeadura e densi-


dade de plantio

A lentilha adapta-se bem tanto


ao plantio convencional como ao plan-
Figura 6. Avaliação de cultivares de tio direto. Para evitar problemas sé-
lentilha em Coimbra, MG. Semeadura em rios com doenças, o cultivo da lentilha
16 de abril. só deve ser repetido na mesma área
cada três ou quatro anos.

Origem e qualidade da semente O espaçamento entre fileiras


pode variar de 20 cm a 40 cm, com
O uso de semente de qualidade pouca influência na produtividade.
é essencial para conseguir emergên- Como a lentilha compete fracamente
cia rápida de plântulas e população de com plantas daninhas, o uso de espa-
plantas uniforme e sadia na lavoura. çamento estreito entre fileiras, como
O ideal é usar sementes de cultivares 20 cm - 25  cm, pode ser vantajoso.
puras recomendadas pela pesquisa; Geralmente, 30 a 40 plantas por me-
com alta germinação, vigor, sanidade tro é a densidade adequada (Figura 7),
(livre de patógenos) e isentas de se- independentemente do espaçamento

128
Lentilha

entre fileiras. Dependendo da condi- ou mais alta. A semeadura a 2,5 cm


ção do solo durante a semeadura e dos permite rápida emergência das plântu-
danos mecânicos às sementes, 10% a las. No entanto, no caso de usar her-
30% das sementes não originam plân- bicidas com certa mobilidade no solo,
tulas viáveis na lavoura. A redução da como metribuzin, as sementes devem
população de plantas deve ser descon- ser depositadas pelo menos 5,0 cm
tada da percentagem de germinação abaixo da superfície do solo.
das sementes quando do cálculo do
número de sementes a ser distribuído Irrigação
por metro. Por exemplo, se o teste de
germinação indica que 90% das se- A aspersão é o método de irriga-
mentes geram plântulas normais em ção mais usado no cultivo da lentilha.
laboratório, e o agricultor estima que Para a emergência e estabelecimento
15 % das plântulas não emergirão na uniforme de plântulas na lavoura, as
lavoura, então a emergência esperada irrigações iniciais devem ser frequen-
de plântulas será de 75%. Logo, 52 se- tes e com lâmina de água que molhe
mentes devem ser distribuídas por me- a camada do solo onde estão as se-
tro para obter ao redor de 39 plantas mentes e as radículas das plântulas
por metro. Dependendo do tamanho emergentes.
e da percentagem de germinação, po-
dem ser necessários entre 50 kg/ha e A produtividade da lentilha é ma-
80 kg/ha de sementes. ximizada com a aplicação de 200 mm
a 350 mm de água durante seu ciclo de
vida. Deve-se evitar o acúmulo de água
Foto: Rogério F. Vieira

na superfície do solo, especialmente


após semeadura. A irrigação geral-
mente é suspensa (por curto período)
um pouco antes do início da floração
para estimular a produção de grãos.
Contudo, irrigações durante a fase de
formação de vagens e enchimento de
grãos nas vagens são imprescindíveis
para obter alta produtividade. Nessas
Figura 7. Lentilha em floração com
duas fases de desenvolvimento da
população adequada de plantas.
lentilha, em torno de 100 mm de água
podem ser necessários. No final do
As sementes podem ser distribu- enchimento de grãos nas vagens, a
ídas na lavoura quando a temperatura irrigação deve ser suspensa, pois es-
do solo na profundidade de semeadu- tresse hídrico é necessário para que as
ra (entre 2,5 cm e 7,5 cm) for de 5 °C plantas maturem.

129
Hortaliças leguminosas

Irrigação excessiva favorece tência completa a essa doença ocorre


doenças e atrasa a maturação da em genótipos cultivados ou selvagens.
lentilha. Em geral, cultivares preco- A podridão de raízes, causada pela
ces adaptam-se melhor a cultivos ir- espécie Rhizoctonia solani, é doen-
rigados; diferentemente das tardias, ça de ocorrência comum no Centro-
não produzem muita massa vegetal Oeste do Brasil. Outros patógenos de
em detrimento da produção de grãos solo que podem causar doença na len-
quando se aplica água em exces- tilha são: Sclerotium rolfsii (podridão-
so. Em áreas com histórico de mofo- do‑­caule), Botrytis cinerea ou B. fabae
branco, doença causada pelo fungo (mofo-cinzento; Figura 9) e Sclerotinia
Sclerotinia sclerotiorum, especial aten-
ção deve ser dada ao bom manejo da

Foto: Shiv Kumar


irrigação para minimizar os danos cau-
sados por essa doença à cultura.

Doenças e seu controle

Doenças podem reduzir a pro-


dutividade se o inóculo (patógeno ou
parte do patógeno) estiver presente
na lavoura e as condições ambientes
Figura 8. Genótipo de lentilha suscetível à
lhe forem favoráveis. Estratégias para
murcha-de-fusarium ao lado de genótipos
prevenir ou reduzir doenças, como resistentes.
uso de semente livre de patógenos,
tratamento de semente com fungicida

Fonte: Canadian Phytopathological Society


e rotação de culturas, são essenciais.
As doenças causadas por fungos são
as que provocam mais perdas no culti-
vo da lentilha.

Baixa emergência de plântulas,


podridão de raízes, nanismo, amare-
lecimento e/ou morte de plantas são
sintomas de doenças causadas por
estes gêneros de fungo: Fusarium,
Rhizoctonia e Pythium. Desses gê-
neros, destaca-se, pela ocorrência
ampla no mundo, a espécie Fusarium
oxysporum f. sp. lentis, que causa a Figura 9. Mofo-cinzento em vagens de
murcha-de-fusarium (Figura 8). Resis- lentilha.

130
Lentilha

sclerotiorum (mofo-branco). Os fungos inoculação da semente com rizóbio.


causadores da murcha-de-fusarium, Logo, a melhor estratégia é fazer a
do mofo-cinzento e do mofo-branco inoculação da semente imediatamen-
são transmitidos pela semente. te antes da semeadura. Na lavoura,
a disseminação do fungo ocorre pelo
As doenças foliares mais comuns
impacto da gota de água na lesão.
na lentilha são mancha-de‑ascochyta
Baixas temperaturas e condições
(Ascochyta fabae f. sp. lentis), ferrugem
úmidas prolongadas favorecem a in-
(Uromyces vicia-fabae), antracnose
fecção de folíolos, caule (Figura 10),
(Colletotrichum truncatum) e mancha‑
flores, vagens (Figura 11) e semen-
de-estenfílio (Stemphylium botryosum).
tes. As lesões (cinzas a marrons, com
Dessas doenças, a mancha-deasco-
margem escura) ocorrem, inicialmen-
chyta causa, globalmente, reduções
te, nos folíolos mais próximos ao solo.
significativas de produtividade.
No centro das lesões, geralmente são
A lentilha já teve alguma impor- observadas pequenas estruturas es-
tância econômica no Sul do Brasil, curas, os picnídios. Baixa severidade
mas o inverno chuvoso da região, que da mancha-de‑ascochyta na parte
favorece doenças, causou redução baixa da planta geralmente não reduz
da área de cultivo. No Rio Grande do a produtividade. Entretanto, se a in-
Sul, já foram identificadas antracnose
(mais frequente), ferrugem, mancha-

Foto: Shiv Kumar


de-ascochyta e doenças causadas
por fungos de solo como R. solani, S.
rolfsii e F. oxysporum f. sp. lentis.

Mancha-de-ascochyta

Ascochyta fabae f. sp. lentis


pode ser introduzida na gleba de cul-
tivo pelas sementes. Mesmo com 1%
das sementes infectadas, pode haver
epidemia na lavoura, se as condições
climáticas forem favoráveis. Por isso,
o tratamento de semente com fun-
gicida (tiabendazole, tiabendazole
+ thiram, pyroclostrobin) é indicado
em outros países. Esse tratamento Figura 10. Sintomas de mancha-de-
de semente deve ser feito antes da ascochyta em caule e folíolos de lentilha.

131
Hortaliças leguminosas

pode chegar a lavouras vizinhas pela


Foto: Shiv Kumar

ação de ventos, onde pode permane-


cer viável por mais de dois anos em
restos de cultura depositados sobre o
solo ou enterrados. Há redução mais
rápida do inóculo em restos de cultu-
ras depositados sobre o solo (como
no plantio direto) em relação aos res-
Figura 11. Sintomas de mancha-de- tos de culturas incorporados ao solo.
ascochyta em vagens de lentilha. Gotas de água ajudam a disseminar
os esporos. Embora o patógeno cau-
sador dessa doença sobreviva na se-
fecção atingir a parte alta da planta, mente, a eficiência da transmissão da
a produtividade geralmente diminui. semente para a plântula é desconhe-
A semente infectada pode apresentar cida. Provavelmente, a infecção da
manchas e descoloração. semente tem pouca importância como
causa de epidemia na lavoura, mas
O controle da mancha-de- não se devem usar sementes colhidas
ascochyta é feito com o uso de culti- de campos com alta severidade de an-
vares resistentes e de sementes livre tracnose. Os sintomas na folha (man-
do patógeno, rotação de culturas, chas cinzas ou pardas) geralmente
tratamento de sementes com fungicida aparecem uma semana antes da flo-
e aplicação de fungicidas nas plantas. ração; em seguida aparecem lesões
Para controlar a doença nas plantas, (marrom a marrom‑douradas) na base
são eficazes em outros países os do caule (Figura 12).
fungicidas clorotalonil, carbendazim,
tiabendazol, pyroclostrobin e estrobi- Nos EUA, o controle da antracno-
rulinas. Esses fungicidas geralmente se é feito com fungicidas como clorota-
são aplicados no início da floração e lonil, pyroclostrobin, protioconazol, azo-
podem ser repetidos até três vezes, xystrobin. Esses fungicidas geralmente
se as condições climáticas mantive- são aplicados no início da floração e
rem‑se favoráveis à doença. podem ser repetidos se as condições
climáticas continuarem favoráveis à
Antracnose doença. É difícil diferenciar mancha-
de-ascochyta da antracnose com base
É favorecida por temperatura de nos primeiros sintomas em folhas e
20 °C a 25 °C e planta molhada por caule. Uma diferença básica entre elas
24 h. Os restos de cultura são a prin- é que, geralmente, a antracnose causa
cipal fonte de inóculo do fungo. Este queda prematura de folhas, enquanto

132
Lentilha

Foto: Shiv Kumar


Foto: Shiv Kumar

Figura 12. Sintomas de antracnose em


folhas e caules de lentilha.

a mancha-de-ascochyta causa aborta-


mento de flores e vagens. Figura 13. Sintomas de ferrugem em
folhas de lentilha.
Ferrugem

É doença difundida em todo


dimefon, oxycarboxin e tebuconazol.
o mundo. Há relatos de redução de
Esses fungicidas são aplicados assim
100% na produtividade. Alta umidade
que surgem os primeiros sintomas da
e tempo nublado, com temperaturas
doença.
de 20 °C - 22 °C, favorecem o desen-
volvimento do fungo. Os sintomas da Mancha-de-estenfílio
ferrugem são visíveis na parte aérea
das plantas, sobretudo nos folíolos É doença comum na Ásia e
(Figura 13). O controle de plantas também ocorre nos EUA e Canadá.
voluntárias de lentilha no verão e a A infecção causada por Stemphylium
remoção de restos culturais fazem par- botryosum ocorre numa ampla faixa
te do manejo integrado da ferrugem. de temperatura (5 °C a 30 °C) e alta
A cultivar Precoz é uma das fontes de umidade. No Canadá, essa doença
resistência à ferrugem mais utilizada aparece em período quente do final do
no Sul da Ásia. São fungicidas usados ciclo de vida da lentilha. Não se sabe
em outros países para controlar essa se ela causa redução de produtividade
doença: mancozeb, propiconazol, tria- naquele país. Há variabilidade entre

133
Hortaliças leguminosas

cultivares na susceptibilidade a essa e pea seed-borne mosaic virus (PSb-


doença. Embora o patógeno infecte MV). AMV, BBSV, BYMV, CMV e PSb-
sementes, a transmissão do fungo da MV são transmissíveis pela semente.
semente para a plântula ainda não foi O controle dos insetos vetores e a eli-
documentada. Os sintomas nas folhas minação precoce de plantas com sin-
(Figura 14) podem ser confundidos tomas de virose geralmente controlam
com as lesões nas folhas da mancha- a doença na lavoura.
-de-ascochyta e com os sintomas de
queda de folíolos da antracnose.
Nematoides

Viroses Em área irrigada do cerrado do


Distrito Federal, houve maior den-
A lentilha é suscetível a mais sidade de nematoides fitoparasitas
de 30 viroses. As mais relevantes (Meloidogyne javanica, Helicotylen-
são alfalfa mosaic virus (AMV), bro- chus dihystera, Pratylenchus bra-
ad bean stain virus (BBSV), bean leaf chyurus e Criconemella ornata) na
roll virus (BLRV), bean yellow mosaic lentilha em relação ao feijão-comum.
virus (BYMV), beet western yellows Em Brasília, DF, estudo em casa de
virus (BWYV), cucumber mosaic virus vegetação, com duas populações de
(CMV), faba bean necrotic yellows vi- M. javanica (uma coletada de feijão e
rus (FBNYV), pea streak virus (PeSV), outra de trigo), indicou que esse ne-
pea enation mosaic virus-1 (PEMV-1) matoide pode reduzir muito o cresci-
mento da lentilha.
Foto: Shiv Kumar

Pragas e seu controle

Globalmente, as pragas tidas


como mais nocivas à lentilha são afí-
dios (Aphis craccivora Koch e Acyr-
thosiphon pisum Harris), lagarta-das-
vagens (Etiella zinckenella Treit., He-
liothis spp.), lagarta-rosca (Agrotis
ipsilon), helicoverpa (Helicoverpa armi-
gera), percevejo (Lygus spp.), gorgulho
(Sitona crinitus Herbst), tripes (Thrips
tabaci Lind.) e pragas de grãos arma-
zenados como Bruchus ervi, B. lentis,
Figura 14. Sintomas de mancha-de- Callosobruchus chinensis, C. analis, C.
estenfílio em folhas de lentilha. maculates e Acanthoscelides obtectus.

134
Lentilha

No Brasil, os relatos de pragas em

Foto: Embrapa Soja


lavouras de lentilha são escassos. Va-
quinhas, pulgões, tripes, mosca-branca,
cigarrinhas, formigas e percevejos de-
vem constar entre as principais pragas.

Os percevejos são pragas da


soja, e também podem causar danos à
lentilha. Entre os percevejos com mais
potencial para causar danos à lentilha
estão o percevejo-verde-pequeno (Fi-
gura 15) e o percevejo-marrom (Figura
16). As ninfas, a partir do terceiro íns-
tar, e os adultos podem causar danos
à cultura desde a fase de formação
de vagens até o final do crescimento
das sementes. Embora possam se ali-
mentar de várias partes das plantas,
as vagens e sementes são as prefe- Figura 15. Adulto de percevejo-verde-
ridas. Portanto, a partir da formação pequeno (Piezodorus guildinii).
de vagens devem ser feitas vistorias
de campo para avaliar a incidência de

Foto: Jovenil José da Silva (Embrapa Soja).


percevejos. O período da manhã, até
10 h, é o mais adequado para essa
avaliação, pois é quando os perceve-
jos estão mais ativos sobre as plantas.

O controle do percevejo geral-


mente é feito com inseticida. Deve-se
escolher o inseticida mais seletivo aos
inimigos naturais e menos tóxico ao
homem. Na soja, a aplicação de in-
seticida é feita apenas quando se ob-
servam, em média, quatro percevejos
adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm
por batida de pano.

Plantas daninhas e seu controle

A semeadura da lentilha logo Figura 16. Adulto de percevejo-marrom


após o preparo do solo retarda o apa- (Euschistus heros).

135
Hortaliças leguminosas

recimento de plantas daninhas. O pré-emergência em solo pobre em


período crítico de controle de plantas matéria orgânica, a irrigação pode mo-
daninhas corresponde aos estádios vimentá-lo no solo, com consequente
do ciclo de vida da lentilha em que as dano às plantas jovens. Por isso, em
plantas daninhas devem ser controla- outros países, atrasa-se a irrigação
das para evitar redução de produtivi- após sua aplicação. Os danos causa-
dade. Esse período crítico começa no dos por esse herbicida às plantas di-
estádio de cinco nós e termina quando minuem à medida que se aumenta a
as plantas apresentam 10 nós. profundidade de semeadura. Na pós-
emergência, a toxicidade do herbicida
Os herbicidas glifosate, 2,4-D e às plantas diminui quando se aplica o
MCPA são opções para controle de metribuzin no estádio de quatro nós.
plantas daninhas antes da semea- A aplicação parcelada do metribuzin
dura. Após a emergência, o controle também é boa estratégia para evitar
de plantas daninhas também merece danos às plantas. Nesse caso, confor-
atenção, pois as plantas são frágeis me recomendado em outros países,
e pouco competitivas, e a distância aplica-se metade da dose no estádio
estreita entre fileiras dificulta o cultivo de dois nós e metade 10 a 14 dias de-
mecânico. No Brasil, não há herbicida pois. A aplicação desse herbicida em
registrado para uso na lentilha. São plantas sob estresse (calor, seca, gea-
usados em outros países ou apresen- da, etc.) deve ser evitada.
tam potencial para uso os seguintes
herbicidas: clethodim, fluazifop-p-butil,
Colheita
haloxyfop, metolachlor, napropamida,
pendimetalina, propaquizafop, quiza- A lentilha tem hábito de cres-
lofop, sethoxydim, trifluralina (sobretu- cimento indeterminado, ou seja, ela
do para controle de folhas estreitas),
continua a florescer até que algum es-
cianazina, diflufenican, diuron, flumet-
tresse (como seca e calor) interrompa
sulam, imazaquin, linuron, prometrina,
o florescimento. Como a secagem do
e metribuzin (folhas largas). A sensibi-
solo na lavoura geralmente é desuni-
lidade da lentilha aos herbicidas varia
forme, a maturação das plantas tam-
entre cultivares.
bém pode ser desuniforme. Esse é um
O herbicida metribuzin é muito dos fatores que favorece a deiscência
usado, mas alguns cuidados devem de vagens (que maturaram primeiro),
ser tomados para evitar toxicida- sobretudo em anos secos e quentes.
de à lentilha. O metribuzin pode ser Dependendo da cultivar e das condi-
aplicado em pré-emergência ou em ções climáticas, a lentilha pode ser
pós-emergência, em dose única ou colhida entre 90 e 195 dias após a se-
parcelado. Após sua aplicação em meadura. Colheita em período seco

136
Lentilha

geralmente resulta em produção de minimizar danos aos grãos, o cônca-


grãos de alta qualidade. vo deve estar bem aberto e a rotação
do cilindro deve ficar entre 250 rpm
O custo da colheita manual da e 500 rpm. A colheita indireta geral-
lentilha pode ficar em torno de 50% mente é feita com ceifador-enleirador
do custo de produção, o que pode in- (Figura 18), seguido, depois de al-
viabilizar o empreendimento. A colhei- guns dias, por recolhedora-trilhadora
ta mecânica, no entanto, reduz esse (Figura 19).
custo pela metade. A baixa altura da
planta associada ao acamamento da Em lavouras com plantas com
lentilha e à maturação desuniforme maturação desuniforme, e muitas
das plantas e vagens são alguns dos plantas daninhas, a dessecação de
desafios a enfrentar na colheita me- todas as plantas facilita a colheita.
cânica.

Foto: Shiv Kumar, ICARDA


Para que a colheita mecânica
seja eficaz, a gleba deve facilitar o uso
de máquinas, ou seja, deve ser pla-
na, livre de pedras e, de preferência,
com baixa população de plantas da-
ninhas. Após a semeadura, o uso de
rolos compactadores elimina sulcos,
saliências e rugosidades do terreno e
facilita, na colheita, o corte das plantas
rente ao solo.

A colheita mecânica pode ser Figura 17. Colheita direta da lentilha.


direta ou indireta. A colheita direta
(Figura 17) é feita com colhedoras Foto: Shiv Kumar, ICARDA

automotrizes, que realizam, simul-


taneamente, as operações de corte,
recolhimento, trilha e abanação dos
grãos. Dedos levantadores e barra re-
tentora de solo são adaptações úteis
que podem ser acopladas à barra de
corte. Os dedos levantadores erguem
as plantas acamadas antes de cortá-
las e a barra retentora protege a co-
lhedora contra a entrada de solo no Figura 18. Corte e enleiramento da
seu interior. Durante a colheita, para lentilha.

137
Hortaliças leguminosas

do antes da colheita da lentilha para


Foto: Shiv Kumar, ICARDA

controlar plantas daninhas perenes. O


glifosate também acelera a secagem
das plantas, mas o faz em velocidade
menor que o dessecante. Não se deve
usar o glifosate em lavoura em matu-
ração cuja produção será usada como
semente.

A colheita direta pode ser feita,


em algumas ocasiões, sem o uso de
dessecante. Essa situação é mais co-
mum quando se usam cultivares pre-
coces e a maturação coincide com
período de alta temperatura. A colhei-
ta, com ou sem dessecante, deve ser
Figura 19. Recolhimento e trilha de leiras
feita quando as sementes apresentam
de lentilha seca.
14% de água, caso o agricultor não
tenha secador. Nesse caso, as per-
das durante a colheita variam de 5%
O dessecante mais usado em outros a 10%. Com secador disponível, a co-
países é o diquat. A melhor fase para lheita pode ser feita quando os grãos
a dessecação é quando as vagens apresentam 16% a 20% de água. Nes-
mais baixas estão marrons e os grãos se caso, a quebra de grãos e as per-
chocalham nas vagens. Nessa fase, das por debulha são reduzidas.
as vagens superiores estão verdes.
No entanto, atraso na dessecação A colheita indireta é muito usa-
pode reduzir a produtividade por cau- da no Canadá. A melhor fase para
sa da debulha das vagens secas, as iniciá-la (com o ceifador-enleirador) é
quais contribuem relativamente mais a mesma indicada para dessecar as
para a produtividade que as verdes. plantas. O corte de plantas em condi-
Dessecar as plantas antes da fase ções de alta umidade reduz perdas por
recomendada também pode reduzir debulha. Baixa velocidade de trabalho
a produtividade e aumentar a quan- do ceifador-enleirador também reduz
tidade de grãos enrugados e desco- debulha e danos à barra de corte. Bar-
loridos. Geralmente a colheita é rea- ra de corte flexível (ou outra alteração
lizada entre três e 10 dias depois da que a faça oscilar) permite aumentar
dessecação. a velocidade de colheita e minimizar
O glifosate não é dessecante. danos às suas peças. Facilitam essa
Esse herbicida geralmente é usa- operação solo nivelado, firme e seco.

138
Lentilha

Posicionar a barra de corte a 5 cm da zená‑los, os grãos devem ser secos


superfície do solo em ângulo de 20° a até seu teor de água baixar para 14%.
30° em relação ao solo é o ideal. O en- Antes do início da secagem, devem-
leiramento de plantas na direção pre- se eliminar impurezas misturadas aos
valecente dos ventos minimiza o movi- grãos que possam interferir no fluxo de
mento de leiras na lavoura. As plantas ar do secador. No caso de grãos com
cortadas e enleiradas secam mais ra- teor de água acima de 24%, a tem-
pidamente que plantas não cortadas. peratura de secagem não deve ultra-
No entanto, chuvas durante o período passar 38 °C, para evitar fissuras nos
de secagem das leiras podem causar grãos. No caso de grãos com menos
enrugamento ou germinação das se- de 18% de água, podem ser usadas
mentes, e as leiras achatadas pelas temperaturas acima de 45 °C. Esta
chuvas podem dificultar o recolhimen- última temperatura não deve ser ultra-
to de plantas. passada, se o objetivo for preservar a
capacidade germinativa da semente.
Há situações em que a desse-
cação das plantas facilita a colheita Beneficiamento de grãos
indireta. Nesse caso, o momento de
aplicar o herbicida é crítico, pois as A lentilha geralmente é bene-
plantas secam rapidamente. ficiada com ventiladores e peneiras
para remover impurezas e materiais
As plantas enleiradas secam inertes. Outros equipamentos de be-
mais devagar que as plantas desseca- neficiamento podem ser usados em
das. Por isso, a qualidade dos grãos caso de necessidade.
originados da colheita indireta geral-
mente é melhor que a dos grãos ori- Os procedimentos para o bene-
ginados da colheita direta. Outra van- ficiamento de grãos de lentilha podem
tagem da colheita indireta é reduzir ser os mesmos mencionados para os
debulha, que pode ser alta durante a grãos de ervilha.
colheita direta. A desvantagem da co-
lheita indireta é o custo mais alto com
Embalagem e armazenamento de
mão de obra e combustível.
grãos

O desejável é que os grãos de


Secagem de grãos
lentilha sejam comercializados logo
Conforme comentado anterior- após a colheita, sem necessidade de
mente, o ideal é debulhar a lentilha armazená-los. Assim, consegue-se
quando os grãos apresentam 16% - comercializá‑los com tegumento claro,
20% de água. Entretanto, para arma- quando alcançam preço mais alto. No

139
Hortaliças leguminosas

Canadá, grãos escuros são vendidos tou o ciclo de vida em 137 dias. Nes-
por valor até 45% menor que o dos se experimento, a semeadura foi feita
grãos claros. em abril (Figura 6). Algumas linhagens
apresentaram ciclo de vida de 160 dias.
Os grãos de lentilha tornam-se
marrons com o tempo, em razão da Em estudo sobre épocas de se-
oxidação do tanino presente no te- meadura (entre fevereiro e agosto) de
gumento. Essa oxidação é acelerada lentilha precoce (Precoz ou Silvina)
em altas temperatura e umidade, e realizado em Minas Gerais (Zona da
quando os grãos são expostos à luz. Mata, Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba
Logo, para retardar o escurecimento, e Norte), os mais altos rendimentos va-
os grãos devem ser armazenados com riaram de 860 kg/ha a 1.640 kg/ha e,
14% de água, em local escuro, seco e dependendo da data de plantio, os
com temperatura em torno de 15 °C. ciclos de vida variaram de 91 a 120
Nessas condições, a descoloração e dias. No cerrado, já foram alcançados
a degradação dos grãos por mofo são 3.000 kg/ha com cultivar precoce e
minimizadas. inoculação das sementes com rizó-
bio. Esses resultados indicam que é
Rendimento de grãos possível, no Sudeste e Centro-Oeste
do Brasil, cultivar a lentilha no outo-
Em condições experimentais, a no-inverno com irrigação. No entan-
lentilha pode render até 4.000 kg/ha to, o potencial produtivo da lentilha
de grãos secos. Em lavouras de agri- é menor que o do feijão-comum. Por
cultores, ela pode atingir 3.000 kg/ha, isso, o preço da lentilha deve com-
ou um pouco mais. Entre os 10 maio- pensar essa menor produtividade
res produtores mundiais de lentilha, as para despertar o interesse do agricul-
mais altas produtividades são obtidas tor pelo seu cultivo.
no Canadá, Austrália e China, com mé-
dias em torno de 2.000 kg/ha (Tabela 1). Mercado e comercialização
No Brasil, são relativamente pou- Como grãos (inteiros, com ou
cos os estudos realizados com lentilha. sem tegumento) ou brotos germinados
Em ensaio conduzido com irrigação na alimentação humana. Mais de 90%
em Coimbra, Zona da Mata de Minas da lentilha vermelha é comercializada
Gerais, a produtividade máxima obtida sem tegumento, inteira ou partida. Na
com linhagens provenientes do ICAR- forma partida, é usada para o preparo
DA foi 2.851 kg/ha. Essa produtividade de sopa denominada dhal na Índia. No
foi obtida com a linhagem FLIP 86 L - Brasil, a lentilha verde, quase toda ela
51 L (79 g por 1.000 sementes), que importada (entre 12 mil/t e 15 mil/t ao
atingiu a altura de 59 cm e comple- ano), é consumida como grãos inteiros

140
Lentilha

cozidos (misturada ou não ao arroz) e, cuidados forem tomados na escolha


por vezes, como ingrediente de sopas e manejo da gleba reservada para a
e saladas. A lentilha também pode ser produção da semente e na colheita e
empregada como adubo verde ou for- pós-colheita da lentilha. Em razão da
ragem (verde ou seca). dificuldade do agricultor em conseguir
sementes de lentilha no Brasil, as duas
A lentilha é excelente fonte de
estratégias (comprar semente certifi-
proteína (16% a 28%), carboidrato,
cada e produzir as próprias sementes)
fibra, vitaminas e minerais. Entre as
serão abordadas. Quando se fala em
leguminosas graníferas, a lentilha é
uma das fontes mais ricas em ferro semente de alta qualidade, as seguin-
(43 mg/kg a 92 mg/kg) e zinco tes qualidades são consideradas: ge-
(32  mg/kg a 63 mg/kg). O conteúdo nética, fisiológica, física e sanitária.
de selênio (Se) dos grãos varia com
o solo onde eles são produzidos e Qualidade genética
com as práticas agrícolas adotadas.
Usar semente com alta qualida-
No Canadá, os grãos contêm entre
de genética significa maximizar o po-
425 µg/kg e 673 g/kg de Se. Logo,
tencial produtivo das plantas na lavou-
100 g de grãos secos de lentilha suprem
de 80% a 120% do Se recomendado ra. O alto potencial produtivo das culti-
na dieta humana. Semelhantemente a vares melhoradas geralmente deve-se
outras leguminosas de grãos, a lenti- à maior tolerância das plantas a es-
lha é deficiente nos aminoácidos me- tresses bióticos (doenças, pragas etc.)
tionina e cisteína. e abióticos (resistência a seca, por
exemplo). Essas características dese-
jáveis numa cultivar resultam de pes-
Produção de sementes
quisas conduzidas em vários locais e
Semente é insumo primário na durante anos, e esse esforço dos pes-
produção de muitas culturas e meio quisadores deve ser aproveitado pe-
eficaz de levar tecnologia ao agricultor. los agricultores. Ademais, a qualidade
O primeiro passo no cultivo da lentilha, genética pode refletir em outras carac-
e o mais importante deles, é usar se- terísticas da planta (arquitetura mais
mente de alta qualidade. No entanto, adequada à colheita mecanizada) ou
por ser cultura de autopolinização, há nos grãos colhidos (melhor qualidade).
agricultores que usam os grãos colhi-
dos na própria lavoura como semente. A produção de sementes segue
Essa forma de proceder, embora não uma sequência de gerações bem de-
seja a ideal, pode dar bom resultado finida. A produção tem início com a
se a cultivar em uso ainda for reco- semente genética fornecida pelo me-
mendada pelos pesquisadores e se lhorista, a qual é multiplicada siste-

141
Hortaliças leguminosas

maticamente até que grande quanti- entes) também ajuda a reduzir a con-
dade de semente certificada seja dis- taminação genética e sanitária. Os ro-
ponibilizada para o agricultor. Nesse guings geralmente são realizados nas
processo de aumento do volume de fases de florescimento e vegetativo da
semente, geralmente atuam fatores lentilha.
que comprometem a qualidade gené-
tica (e também as qualidades físicas e A contaminação mecânica com
sanitárias da semente), por causa do sementes de outras cultivares/espé-
aumento progressivo de contamina- cies pode ocorrer por limpeza insufi-
ção no decorrer dos anos. ciente dos campos (falta de rotação de
culturas), dos equipamentos (semea-
A contaminação genética surge dora, colheitadeira, equipamentos de
de segregações residuais (a cultivar beneficiamento) e dos locais de arma-
ainda não atingiu homozigose comple- zenamento da semente. Portanto, se a
ta), de mutações e/ou de cruzamentos opção for produzir a própria semente, a
naturais com outras cultivares. Este escolha de glebas onde se empregou
último tipo de contaminação é o que rotação de culturas ou onde a lentilha
mais preocupa. Por ser cultura de au- está há mais tempo sem ser cultivada
topolinização, no entanto, a taxa de associada ao uso de equipamentos li-
fecundação cruzada é baixa. Portanto, vres de contaminantes ajudam a man-
isolamento, relativamente estreito (5 m ter a pureza genética e física da cultivar.
a 10 m), do campo de produção de se-
mente de lavouras com outras cultiva- Qualidade fisiológica
res de lentilha minimiza cruzamentos
indesejáveis. Outra forma eficaz de evi- Alta qualidade fisiológica da se-
tar a contaminação genética é realizar a mente implica na obtenção de boa
semeadura das cultivares em datas di- e vigorosa população de plantas na
ferentes, de modo que o florescimento lavoura. Em outros países, um míni-
delas não coincida. Os agricultores que mo de 90% de germinação é exigido
pretendem produzir a própria semente da semente certificada, enquanto no
não devem avançar mais que duas ge- Brasil o minino exigido é de 80%, de
rações com as sementes certificadas acordo com a Portaria nº 457, de 18 de
para que a contaminação não se inten- dezembro de 1986.
sifique e comprometa a produtividade.
Um dos fatores que influenciam
Além do isolamento (no espaço a qualidade fisiológica da semente é o
e/ou no tempo) da gleba onde serão clima. Geralmente, semente de melhor
produzidas as sementes, o roguing qualidade fisiológica é produzida em
(eliminação de plantas atípicas, fora locais secos ou em épocas secas do
do padrão da cultivar ou de plantas do- ano. Na fase de maturação e colheita

142
Lentilha

das plantas, a escassez de chuvas é quantidade) de sementes de outras


particularmente desejável para que se espécies, inclusive de sementes de
possa produzir semente com alta qua- plantas daninhas problemáticas, e de
lidade fisiológica. impurezas como solo, pedras, semen-
tes quebradas etc. Durante a compra
A maturação da lentilha não é da semente, o resultado do teste de
sincronizada e, por isso, a aplicação pureza deve constar do boletim de
de dessecante nas plantas em dife- análise de semente. Alta qualidade fí-
rentes estádios de maturação é práti- sica também implica que as sementes
ca comum. Logo, tanto vagens secas apresentam tamanho uniforme, o que
e maduras quanto vagens verdes são facilita sua distribuição com semeado-
dessecadas, o que leva, geralmente, ra. A colheita de semente com equipa-
à produção de sementes com diferen- mento limpo em glebas com poucas
tes tamanhos e qualidade. Portanto, a plantas daninhas, seguida de benefi-
dessecação das plantas e a colheita ciamento com equipamentos também
devem ser planejadas para minimizar limpos, pode resultar em alta qualida-
os efeitos da desuniformidade de ma- de física do lote.
turação das plantas na qualidade fisio-
lógica da semente. Não se deve usar Qualidade sanitária
glifosato nas glebas reservadas para
a produção de sementes, pois esse Alta qualidade sanitária implica
herbicida pode provocar germinação que a semente apresenta nenhuma ou
desuniforme das sementes e originar baixa infecção ou infestação por pató-
plântulas anormais. Danos mecânicos genos e pragas. É importante lembrar
reduzem a germinação das sementes que sementes infectadas são respon-
e pode diminuir o vigor. Logo, todo cui- sáveis pela introdução de patógenos
dado deve ser tomado na colheita e be- em glebas livres de doença. Se a inten-
neficiamento da semente. Se secagem ção é produzir a própria semente, pro-
adicional da semente for necessária, a cure colhê-la em gleba livre de doença
temperatura do ar não deve exceder ou com relativamente menos doença.
45 °C para que a germinação seja pre- Para melhorar a qualidade sanitária
servada. O armazenamento da semen- da semente, os campos de produção
te com teor menor que 14% de água e devem ser submetidos a um controle
protegida contra pragas deve ser feito mais rígido de doenças e pragas que
em local limpo, seco e fresco. os campos de produção de grãos.

Qualidade física Deve-se evitar o emprego de


semente com mais de 2% de infec-
Alta qualidade física indica que ção por A. fabae f. sp. lentis e Botrytis
a semente está livre (ou com baixa spp., sobretudo em regiões frias e úmi-

143
Hortaliças leguminosas

das. Além de essas sementes serem Tratamento de sementes


fontes dos patógenos que podem dar
origem a focos de mancha-de-asco- As sementes devem ser tratadas
chyta, (Figura 20), e mofo-cinzento com fungicida para o controle de fun-
na lavoura, elas apresentam menor gos do solo e de patógenos presentes
germinação e vigor. Embora o fungo nas sementes como A. fabae f. sp. len-
tis, Botrytis spp. e Rhizoctonia solani
C. truncatum não seja considerado
(Figura 21). Esse tratamento reduz a
patógeno transmissível pela semen-
doença no campo e permite obter boa
te, deve-se evitar o uso de semente
população de plantas na lavoura. Em
com alta infecção por esse fungo. Se-
outros países, é comum o tratamento
mentes de lentilha podem ser infec-
de semente com o fungicida thiram,
tadas por S. botryosum, mas a trans-
com a mistura thiram + thiabendazole
missão desse fungo da semente para ou com pyraclostrobin. Para minimizar
a plântula parece não ocorrer. Várias o tombamento de plantas no campo
viroses, como CMV, PSbMV, BYMV e causado por fungos de solo, os fungi-
AMV, são transmissíveis pela semen- cidas captan ou matalaxyl também têm
te. Quando possível, deve-se usar sido usados. No caso de as sementes
semente livre desses vírus, pois eles serem inoculadas com rizóbio, o reco-
dependem muito da transmissão pela mendado é tratar a semente com fun-
semente para sobreviver. Tolera-se gicida e aplicar o inoculante imedia-
até 0,1% de vírus na semente em áre- tamente antes da semeadura. Essas
as de alto risco e até 0,5% em áreas sementes também podem ser tratadas
de baixo risco. com inseticida (se necessário) e com
uma solução de uma fonte de molibdê-
nio, como molibdato de sódio.
Foto: Warley Marcos Nascimento

Foto: Warley Marcos Nascimento

Figura 20. Manchas causadas pelo fungo


Ascochyta fabae f. sp. lentis em sementes
de lentilha.
Figura 21. Campo de produção de semen-
Fonte: http://www.pulseaus.com.au/growing-pulses/ tes de lentilha infectado com Rhizoctonia
bmp/lentil/southern-guide#Placeintherotation solani.

144
Lentilha

Referência GIORDANO, L. de B.; PEREIRA,


W.; LOPES, J. F. Cultivo da lentilha
FAO. Faostat. 2014. Disponível em: (Lens culinaris Medik). Brasília:
<http://www.fao.org>. Acesso em: 13 Embrapa-CNPH, 1988. Não paginado.
jun. 2016. (EMBRAPA-CNPH. Instruções
Técnicas do CNPHortaliças, 9).
Literatura recomendada
KUMAR, S.; BARPETE, S.; KUMAR,
DELLA VALLE, D. M.; J.; GUPTA, P.; SARKER, A. Global
THAVARAJAH, D.; THAVARAJAH, lentil production: constraints and
P.; VANDENBERG, A.; GLAHN, strategies. SATSA Mukhaptra
R. P. Lentil (Lens culinaris L.) as a Annual Technical Issue, v.17, n.1 ,
candidate crop for iron biofortification: p. 1-13, 2013.
Is there genetic potential for
MANARA, W.; MANARA, N. T.
iron bioavailability? Field Crops
F.; VEIGA, P.; TARRAGÓ, M. F.
Research, v. 144, p. 119-125, 2013.
S. A cultura da lentilha. Informe
ERSKINE, W. Seed-size effects on Agropecuário, v. 16, n. 174, p. 61-70,
lentil (Lens culinaris) yield potential 1992.
and adaptation to temperature and
NASCIMENTO, W. N.; GIORDANO, L.
rainfall in West Asia. Journal of
B. Viabilidade da produção de lentilha
Agricultural Science, v. 126, n. 3, p.
no Brasil. Horticultura Brasileira, v.
335-341, 1996.
11, n. 1, p. 51-52, 1993.
ERSKINE, W.; TUFAIL, M.;
NEGUSSIE, T.; PRETORIUS, Z. A.
RUSSELL, A.; TYAGI, M. C.;
Lentil rust: Present status and future
RAHMAN, M. M.; SAXENA, M. C.
prospects. Crop Protection, v. 32, p.
Current and future strategies in
119-128, 2012.
breeding lentil for resistance to biotic
and biotic stresses. Euphytica, v. 73, SHARMA, R. D.; GOMES, A. C.
n. 1-2, p. 127-135, 1993. Patogenicidade de Meloidogyne
javanica no crescimento da lentilha.
FARIS, M. A. E.; TAKRURI, H. R.;
Pesquisa Agropecuária Brasileira,
ISSA, A. Y. Role of lentils (Lens
v. 27, n. 5, p. 759-762, 1992.
culinaris L.) in human health and
nutrition: a review. Mediterranean VARGAS, M. A. T.; MENDES, I. de
Journal of Nutrition and C.; PERES, J.R.R; SUHET, A. R.
Metabolism, v. 6, n. 1, p. 3-16, Resposta de lentilha à inoculação e
2013. à adubação nitrogenada em um solo

145
Hortaliças leguminosas

de cerrados. Revista Brasileira de VIEIRA, R. F.; RESENDE, M. A. V.;


Ciência do solo, v. 11, n. 1 , p. 147- VIEIRA, C.; FERREIRA, R. T. Época
149, 1994. de plantio da lentilha precoce em
quatro regiões de Minas Gerais.
VARGAS, M. A. T.; SUHET, A. R.; Pesquisa Agropecuária Brasileira,
MENDES, I. de C.; PERES, J. R. R. v. 34, n. 7, p. 1233-1240, 1999.
Fixação biológica de nitrogênio
em solos de cerrados. [Planaltina, VIEIRA, R. F.; ROCHA, G. S.
DF]: Embrapa-CPAC; [Brasília, DF]: Desempenho de lentilhas precoces
Embrapa-SPI, 1994. p. 62-65. em alguns municípios de Minas
Gerais. Revista Ceres, v. 51, n. 298,
VIEIRA, C. Efeito das bactérias p. 803-808, 2004.
dos nódulos radiculares sobre o
rendimento da cultura da lentilha. VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.; VIEIRA, R.
Revista Ceres, v. 12, n. 68, p. 101- F. Leguminosas graníferas. Viçosa,
674105, 1964. MG: Universidade Federal de Viçosa,
2001. p. 161-168.
VIEIRA, R. F. Potencialidade da
cultura da lentilha em Coimbra, Minas
Gerais. Revista Ceres, v. 50, n. 291,
p. 669-674, 2003.

146
Leguminosas: Qualidade e Uso
Milza Moreira Lana

A
s recomendações dietéticas em frutas e hortaliças; rica em legu-
do Ministério da Saúde, des- minosas e outros alimentos que for-
critas no Guia Alimentar para necem proteínas de origem vegetal;
a População Brasileira foram com pequenas quantidades de car-
elaboradas considerando-se o perfil nes, laticínios e outros produtos de
epidemiológico da população bra- origem animal. A versão mais recente
sileira, em que as deficiências nu- do Guia Alimentar reforça a importân-
tricionais, as doenças infecciosas e cia das inúmeras possíveis combina-
as doenças crônicas não transmis- ções entre alimentos, suas formas de
síveis permanecem como problemas preparo, as características do modo
de saúde pública. Para sanar estes de comer e as dimensões sociais e
problemas é recomendada uma dieta culturais das práticas alimentares,
tendo em vista sua influência sobre
rica em grãos, pães, massas, tubér-
a saúde e o bem-estar das pessoas.
culos, raízes e outros alimentos com
alto teor de amido, preferencialmente O aumento do consumo de fru-
na sua forma integral; rica e variada tas e hortaliças pela população brasi-

149
Hortaliças leguminosas

leira é considerada a recomendação a População Brasileira também leva


dietética de mais difícil alcance, tanto em conta que o ato da alimentação
porque as provas científicas dos bene- deve estar inserido no cotidiano das
fícios do consumo desses alimentos pessoas, como um evento agradável e
são irrefutáveis, quanto porque a mé- de socialização. Por isso, uma alimen-
dia de consumo no Brasil é baixa. Para tação saudável deve contemplar, entre
suplantar este desafio, os profissionais outros,os seguintes atributos básicos:
de saúde são orientados a promover o o resgate do sabor como um atributo
consumo de hortaliças nas refeições fundamental; a variedade com o con-
diárias; a informar sobre a importância sumo de vários tipos de alimentos,
de variar o consumo desses grupos de com diferentes colorações, que forne-
alimentos nas diferentes refeições e çam diferentes nutrientes e evitem a
ao longo da semana; informar sobre
monotonia alimentar.
a grande variedade desses alimentos
disponíveis em todas as regiões do A importância deste grupo de ali-
país e incentivar diferentes modos de mentos para a segurança alimentar é
preparo desses alimentos para valori- uma das razões que levou as Nações
zar o sabor. Unidas a declarar 2016 o Ano Interna-
O consumo de leguminosas, cional das Leguminosas (International
principalmente feijões, ainda está Year of Pulses) em atendimento à re-
dentro da faixa recomendada de solução 6/2013 de 22 Junho de 2013
consumo, mas observa-se uma ten- da conferência da FAO – Food and
dência de queda preocupante que pre- Agriculture Organization of the United
cisa ser revertida. Para alcançar este Nations.
objetivo, os profissionais de saúde são
No presente texto, são fornecidas
orientados a promover a manutenção
informações para o público geral sobre
desses níveis de consumo ou mesmo
como comprar, conservar e consumir
o seu aumento de modo que pelo me-
hortaliças leguminosas, em consonân-
nos metade da ingestão diária de pro-
cia com as políticas de promoção da
teínas seja de origem vegetal. Entre
alimentação saudável do governo bra-
as ações recomendadas para tal, des-
sileiro e de órgãos internacionais. São
tacam-se a promoção do consumo de
abordados dois grupos de legumino-
outras leguminosas como a lentilha,
sas. O primeiro grupo inclui a ervilha,
ervilha-seca, grão-de-bico e soja em
a lentilha e o grão-de-bico, comercia-
adição ao consumo de feijões e o uso
lizados como grãos secos. O segundo
de diferentes formas de preparo para
a valorização do sabor de todos os inclui a ervilha e o feijão-vagem, co-
tipos de leguminosas. mercializados como vagens e/ou grãos
verdes. Este agrupamento reflete dife-
Ao definir os atributos da alimen- renças na perecebilidade, no armaze-
tação saudável o Guia Alimentar para namento, nas formas de preparo e de

150
Leguminosas: Qualidade e Uso

consumo e na recomendação dietética. humanas básicas relativas a carboi-


Em relação à recomendação dietética, dratos, proteínas, gorduras, animais
o primeiro grupo inclui alimentos fonte para tração e transporte, hortaliças e
de proteína vegetal (feijões e outras le- fibras animais para cordas e vestuário.
guminosas) cujo consumo diário deve
ser de pelo menos 1 porção, enquanto As mais antigas evidências do
o segundo inclui hortaliças, alimentos uso do grão-de-bico como alimento
fonte de vitaminas, fibras e sais mi- foram encontradas em sítios arqueo-
nerais, cujo consumo diário deve ser lógicos na Síria (8000 A.C) e Turquia
de pelo menos três porções. A versão (7500 a 5450 A.C). Nestes achados,
mais nova do Guia Alimentar não faz nem sempre é possível distinguir as
referência à quantidade de porções, formas selvagens e domesticadas de
mas enfatiza a importância da inclusão Cicer. O cultivo é bem documentado
de hortaliças e leguminosas na alimen- a partir de 3.300 A.C no Egito e no
tação diária. Oriente Médio. A partir de 5500 A.C.,
a cultura se expandiu juntamente com
as demais plantas fundadoras para a
Grãos secos: Ervilha, Grão-de-bico Europa e para o centro oeste da Ásia.
e Lentilha O grão-de-bico foi trazido para a Amé-
rica no século 16 por portugueses e
História do consumo espanhóis.

Os legumes estão entre os ali- A ervilha e a lentilha provavel-


mentos mais antigos consumidos pela mente seguiram a mesma rota de dis-
humanidade e em diferentes culturas persão da agricultura neolítica na Eu-
são considerados como “carne de po- ropa assim como a posterior expansão
bre” pelo maior teor de proteínas em da Europa para as Américas.
relação aos demais alimentos de ori-
gem vegetal. Restos carbonizados de lenti-
lha encontrados na Grécia datados de
O grão-de-bico, a ervilha e a len- 11.000 A.C. são os mais antigos co-
tilha foram domesticados em associa- nhecidos. Lentilhas de grãos pequenos
ção com as culturas de trigo, cevada, (2 mm a 3 mm) foram encontrados na
centeio, linhaça e ervilhaca e com as Síria e datados de 8.500 a 7.500 A.C.
criações de carneiros, cabras, suínos Nos achados arqueológicos do Neo-
e bovinos, como parte da evolução lítico não é possível diferenciar as for-
da agricultura na região do Crescen- mas selvagem e cultivada da lentilha.
te Fértil há cerca de 12.000 a 10.000 Sementes carbonizadas foram encon-
anos atrás. Nesta região, a domesti- tradas em diversos locais incluindo
cação deste conjunto de plantas e de Síria, Irã, Jordânia e Turquia e Grécia
animais supriu todas as necessidades com datações variadas entre os anos

151
Hortaliças leguminosas

de 6250 e 5000 A.C. Restos arqueo- mato achatado. No Brasil, somente a


lógicos de lentilha foram encontrados ervilha verde partida é encontrada no
em escavações da civilização Hara- mercado varejista.
ppan, que floresceu nos atuais Índia e
Paquistão na idade do bronze (3.300 a A ervilha seca é um alimento
1300 A.C.). Relatos históricos de várias popular na Europa para o preparo de
regiões e épocas mencionam diferen- sopas, enquanto na Índia e em ou-
tes tipos de lentilhas incluindo “negras”, tros países asiáticos é usada em uma
“lentilhas não doces”,“mais arredonda- enorme variedade de pratos. A ervilha
das” e de “formato normal”, “variedades partida quando cozida, naturalmente,
selvagens” e assim por diante. Estes se desintegra formando um purê. Por
são indícios de uma seleção contínua isso seu principal uso na cozinha é no
feita pelos agricultores na busca de va- preparo de sopas, cremes e patês.
riedades mais produtivas e com melho-
A partir dos grãos secos obtem-se
res características de cozimento).
a farinha de ervilha, com emprego dire-
A ervilha também já era conhe- to na fabricação de sopas instantâneas,
cida na Europa na época pré-históri- de barras nutritivas (barras de cereais),
ca, tendo sido encontrada em sítios cereais matinais e na panificação. No
arqueológicos da Idade da Pedra es- Brasil, a farinha de ervilha é encontrada
cavados na Hungria e Suíça. Outros em lojas especializadas em alimenta-
achados mostram a presença da er- ção vegetariana ou produtos para dieta
vilha na Alemanha em 6.000 A.C, no com restrição de glúten. Ervilhas secas
Vale do Nilo em cerca de 7.000 A.C. inteiras também podem ser reidratadas
e na Índia em 4.000 A.C.. Na França, e comercializadas enlatadas ou em em-
ervilhas foram encontradas em sítios balagens do tipo tetra-pack.
da Idade do Bronze, datados de 1.000 Grão-de-bico
a 2.000 A.C.
Dois tipos diferentes de grão-de-
Tipos, formas de comercialização e bico são produzidos no mundo, cada
uso um deles com uso e mercado distintos.
O tipo Desi possui grãos miúdos (120 g
Ervilha a 300 g/1000 sementes), formato an-
gular e tegumento mais grosso nas co-
As ervilhas secas são comerciali- res vermelha, verde, marrom e preta.
zadas como grãos inteiros ou partidos, O grão descascado tem cor amarela.
nas cores verde e amarela. Em alguns Pode ser consumido como grão intei-
países como o Canadá e Inglaterra, ro, mas seus principais usos são como
também se produz a ervilha marrow- grão partido sem casca ou na forma
fat, com grãos verdes enrugados e for- de farinha. É um dos alimentos mais

152
Leguminosas: Qualidade e Uso

importantes na Índia. No Brasil, é co- A farinha de grão-de-bico é en-


mercializado somente em lojas espe- contrada no Brasil em lojas especiali-
cializadas. O tipo Kabuli possui grãos zadas e pode ser usada em substitui-
graúdos (260 g a 600 g/1.000 semen- ção ao trigo em dietas com restrição
tes), mais arredondados e de cor cre- de glúten ou como aditivo em receitas
me ou esbranquiçada. Um dos alimen- com trigo para aumentar o teor de fi-
tos mais importantes na culinária do bras.
Oriente Médio e do Norte da África, ele
também é consumido na Ásia e Amé- Lentilha
ricas, incluindo o Brasil. Cerca de 85%
Existe uma enorme variedade
a 90% da produção mundial de grão- de tipos de lentilha que se diferenciam
de-bico é do tipo Desi. quanto ao tamanho da semente, cor
do cotilédone e cor do tegumento. Os
O grão-de-bico é um legume mui-
grãos podem ter entre 2 mm e 9 mm
to versátil, podendo ser usado numa
de diâmetro. O tegumento pode ser
infinidade de combinações que variam
vermelho claro, verde, vermelho esver-
grandemente entre os diversos paí-
deado, cinza, marrom ou preto e com
ses. Na Índia, Paquistão e Bangladesh
frequência tem pontos de cor marrom
ele é usado principalmente como grão
escuro ou preto ou padrão variegado.
partido (dahl) e farinha (besan) no
A superfície do grão é em geral lisa,
preparo de diversos pratos, embora o mas em alguns tipos com sementes
grão inteiro e o grão imaturo também graúdas pode ser rugosa. O cotilédone
sejam usados. O livro The Vegetable pode ter cor laranja, amarela ou verde,
Book, destaca três diferentes prepa- sendo que este último torna-se amarelo
ros tradicionais, quais sejam o Falafel, após algum tempo armazenado. A lenti-
um bolinho frito feito com a massa de lha é comercializada como grão inteiro
grão-de-bico e diversos temperos no com casca, grão inteiro descascado,
Oriente Médio, a Dfeena ou Daphina, grão partido sem casca (lentilha parti-
um cozido com carne preparado para da), brotos ou na forma de farinha.
o Shabat no norte da África e o tuono
e lampo (raio e trovão) na Itália, pre- No Brasil se consome a lenti-
parado com macarrão. No Brasil, o lha de grão graúdo, tegumento verde
uso mais popular do grão-de-bico é no acinzentado e cotilédone amarelo,
preparo de húmus, a pasta de origem vendida na forma de grão inteiro com
árabe feita com grão-de-bico e óleo de casca. Outros tipos são encontrados
gergelim. Nos últimos anos tem se tor- somente em lojas especializadas em
nado mais comum o emprego do grão alimentos importados. Na Índia e no
cozido em saladas, mas o seu uso na Oriente Médio, a lentilha de cotilédone
culinária brasileira ainda está muito laranja, chamada também de lentilha
aquém das possibilidades de uso des- vermelha, é muito popular, sendo co-
te legume. mercializada principalmente na forma

153
Hortaliças leguminosas

de grão partido sem tegumento. Esta verde escuro mais ou menos variega-
lentilha quando cozida se desintegra do de azul escuro. Primeiro legume
formando um purê grosso, seco e de seco a obter o certificado Label Rouge
cor amarelada. Por isso é usada prin- em 1996, também obteve a Indicação
cipalmente para o preparo de purês, Geográfica Protegida (Indication gé-
sopas e pratos indianos como dhals ographique protégée - IGP) em 1998.
sendo seu sabor realçado pelo uso de A  certificação Label Rouge garante
temperos e especiarias indianos. que o produto possui uma série de
características que o coloca em um
Outros tipos de lentilha, culti-
nível de qualidade superior comparati-
vados em menor escala no Ociden-
vamente a produtos similares existen-
te, muito apreciados por amantes da
tes no mercado. A classificação IGP
gastronomia e de movimentos como o
garante que os produtos foram produ-
slow food, incluem:
zidos na região que os tornou conhe-
a) Lentilha verde de Puy (Fran- cidos e cujas características, qualida-
ça): considerada por muitos como a de e modos de confecção estejam de
mais saborosa das lentilhas também acordo com as tradições locais.
é conhecida como “diamante verde”
ou “caviar de Velay”. Apesar de ser a c) Lentilha blonde de Saint-Flour
mesma variedade produzida na região (França): resgate de uma produção
de Berry, a produzida na região de Le que havia desaparecido da região em
puy-em Velay no Departamento do Alto meados do século 20, esta lentilha se
Loire é o único legume seco com deno- tornou produto sentinela do movimen-
minação de origem controlada (appe- to Slowfood em 2006, e obteve o Label
llation d’origine contrôlée - AOC). Os Rouge em 2009. Possui diâmetro infe-
produtos certificados como AOC são rior a 5,5 mm e tegumento de cor dou-
produzidos em locais delimitados, são rada com centro rosado, com alguns
sempre muito conceituados e satisfa- grãos apresentando pontos negros
zem a normas de produção muito es- resultantes da deposição de tanino no
tritas, definidas por decreto. A apelação interior da vagem.
Lentille verte du Puy é então restrita às
lentilhas de 3,25 mm a 5,75 mm de diâ- d) Lentilhas Beluga (Estados
metro, com tegumento de espessura Unidos e Canadá): estas lentilhas de
fina e cor verde pálido com manchas tegumento negro e cotilédone amare-
marmorizadas de cor verde-azulado lo tem seu nome devido à sua seme-
escuro, produzidas na região citada. lhança física com o caviar Beluga. Os
grãos são pequenos e quase esféri-
b) Lentilha verde de Berry (Fran- cos. A cor é esmaecida após cozimen-
ça): Os grãos são pequenos (4 mm to e os grãos mantém o formato com
a 6  mm de diâmetro) com tegumento sabor e textura muito apreciados.

154
Leguminosas: Qualidade e Uso

e) Lentilha “Tierra de Campos” deve-se dar preferência aos grãos de


(Espanha): A lentilha do tipo pardina cor viva, de tamanho uniforme, com
produzida na região espanhola Tierra casca lisa e sem enrugamento.
de Campos possui IGP. Os grãos têm
A qualidade culinária dos grãos é
diâmetro entre 3,5 mm e 4,5 mm, cor
medida principalmente pelo tempo ne-
parda de diversas tonalidades com
cessário para hidratar e para cozinhar
manchas negras e cotilédone amarelo.
os grãos.
f) Lentilha de Armuña (Espanha):
a IGP Lenteja de la Armuña protege a Acondicionamento doméstico
variedade local que leva seu nome. Os
grãos tem cor verde claro com pontos Os legumes secos e crus podem
e manchas de tonalidade mais escura. ser armazenados por anos se manti-
dos em recipiente fechado em local es-
g) Lentilha Castelluccio (Itália): curo, seco e fresco (abaixo de 21 oC).
cultivada em Castelluccio, região de Porém, mesmo sob condições ótimas
Umbria na Itália, possui grãos bem de armazenamento, os grãos perdem
pequenos de cor variando de verde a qualidade sensorial ao longo do tempo
marrom com padrão variegado. Riva- e por isso devem preferencialmente
liza com a lentilha de Puy pelo título ser consumidos no prazo de um ano
de lentilha mais saborosa do mundo. após a compra.
Recebeu IGP em 1997.
O armazenamento dos grãos
Em países produtores e tradicio- secos sob temperaturas elevadas
nais consumidores de lentilha, a lentilha (> 25 oC) e sob alta umidade relativa
verde também é comercializada enlata- (> 65%) acelera a perda de qualidade
da. Flocos de lentilha, com aparência resultando em escurecimento do
similar à de flocos de aveia, podem ser tegumento da semente e endureci-
usados em barras nutritivas ou em ce- mento dos grãos que demandam maior
reais matinais com o beneficio de ter o tempo de cozimento e/ou permanecem
dobro do teor de proteínas dos cereais. relativamente duros mesmo após o
Lentilhas na forma de purê são um in- cozimento. A manutenção dos grãos
grediente para bolos e pães, contribuin- em ambiente seco também é impor-
do para modificar a textura e adicionar tante para evitar absorção de água do
fibras e proteínas à massa. ambiente tornando-os susceptíveis à
infecção por fungos. Várias espécies
Atributos de qualidade de fungos que contaminam os grãos
produzem micotoxinas que são com-
A qualidade visual dos legumes postos extremamente tóxicos que
secos está ligada principalmente à cor tornam o alimento inadequado para
e ao tamanho dos grãos. Ao comprar, consumo humano e animal.

155
Hortaliças leguminosas

Hortaliças: nutrição e benefícios para saponinas. Entre os problemas causa-


a saúde dos por estes compostos estão a inter-
ferência sobre o processo de digestão
As leguminosas são uma fonte por inibidores de hidrolases, lecitinas e
de proteína importante e de baixo custo taninos; a redução da disponibilidade de
para grande parte da população mundial, sais minerais por fitatos e a ocorrência
especialmente em países onde o consu- de distúrbios fisiológicos por saponinas.
mo de proteína animal é limitado pela Este problema, a não ser em casos es-
indisponibilidade ou por razões culturais pecíficos, não tem grande significado
e religiosas. Além de proteínas, estes prático visto que as variedades mais co-
grãos fornecem energia, fibras, minerais mumente consumidas foram seleciona-
e vitaminas essenciais para a nutrição das para menor teor destes compostos.
humana. Pacientes celíacos, que apre- Além disso, a hidratação, seguida do
sentam uma severa intolerância a ali- descarte da água usada, e o cozimen-
mentos com gliadina e glutenina podem to eliminam ou inativam várias dessas
consumir leguminosas que contém so- substâncias. O entendimento do meca-
mente albuminas e globulinas. Legumes nismo de ação destes compostos está
secos também são reconhecidamente sendo alvo de revisão em pesquisas
alimentos com baixo índice glicêmico, mais recentes, pois os mesmos compos-
devido ao seu alto teor de fibras e às tos que apresentam as ações deletérias
características da sua fração amido. Os descritas acima, podem ser benéficos,
grãos de leguminosas contém uma série em pequenas quantidades e apresenta-
de compostos antinutricionais e mesmo rem ação antioxidante, anti-inflamatória,
tóxicos. Resumidamente, os compostos hepatoprotetora, reduzir os níveis de co-
antinutricionais proteicos incluem os ini- lesterol no sangue, reduzir a pressão ar-
bidores de hidrolase e as lecitinas e os terial e prevenir diabetes, osteoporose,
não proteicos incluem alcaloides, fitatos, dano ao DNA, doenças cardiovasculares
compostos fenólicos (como taninos) e e outras desordens.

Os legumes cozidos podem ser ções é cozinhar uma grande quanti-


conservados em geladeira por até 3 dade de legumes e congelá-los. Para
dias ou no congelador por até 6 me- congelar é suficiente colocar os grãos
ses. Em geladeira, os grãos devem cozidos em recipientes próprios para
ser mantidos na água de cozimento congelamento em porções de tama-
para evitar seu ressecamento. Caso nho compatível com o consumo diá-
não haja suficiente água de cozimen- rio da família. O descongelamento
to deve-se acrescentar água fervida pode ser feito em geladeira, em con-
até cobri-los. Uma maneira de eco- dição ambiente ou durante o preparo
nomizar tempo no preparo das refei- do prato.

156
Leguminosas: Qualidade e Uso

Os purês podem ser usados O preparo dos legumes secos,


como pastas para passar em pães e como ervilha, grão-de-bico e lentilha,
torradas ou como ingredientes de ou- é semelhante ao preparo do feijão,
tros pratos. Para fazer um purê deve- alimento básico da culinária brasileira
se amassar ou misturar no processa- (Tabela 1). Antes do preparo, os grãos
dor ¼ xícara (50 mL) de água para devem ser selecionados para remo-
cada 1 xícara (250 mL) de legume co- ção daqueles danificados, murchos ou
zido. Se necessário, adicionar 1 colher com outro tipo de dano, e eventuais
(sopa) de água (15 mL) por vez, até pedras e impurezas. Em seguida, de-
obter a consistência desejada. O purê vem ser lavados em água para remo-
pode ser mantido em congelador por ver poeira e outras sujidades.
vários meses.
Com exceção da lentilha e da
ervilha partida, os legumes secos re-
Formas de preparo
querem hidratação antes do cozimen-
A mais recente edição do Guia to, utilizando-se 2 a 3 xícaras de água
Alimentar para a População Brasileira para cada xícara de grão seco pelo
destaca a importância das habilidades tempo demandado por cada produto
culinárias para a adoção de uma alimen- (Tabelas 1 e 2). Com isso, reduz-se o
tação saudável e equilibrada. No Brasil tempo de cozimento. Adicionalmente,
e em muitos outros países, o processo a hidratação, seguida do descarte da
de transmissão de habilidades culinárias água onde os grãos foram deixados
entre gerações vem perdendo força e as de molho, reduz a quantidade de fato-
pessoas mais jovens possuem cada vez res anti nutricionais dos grãos, incluin-
menos confiança e autonomia para pre- do os compostos que causam flatulên-
parar alimentos. As razões para isso são cia. Por esta razão, a hidratação pode
complexas e envolvem a desvalorização ser usada para lentilha, mesmo que
do ato de preparar, combinar e cozinhar ela não seja necessária para o cozi-
alimentos como prática cultural e social, mento. A hidratação pode ser feita por
a multiplicação das tarefas cotidianas e a quaisquer dos métodos descritos na
incorporação da mulher no mercado for-
Tabela 2.
mal de trabalho, além da oferta massiva
e da publicidade agressiva dos alimen- O cozimento deve ser feito em
tos ultra-processados.O desenvolvimen- panela grande o suficiente, levando-se
to e o compartilhamento das habilidades em conta que os grãos dobram ou tri-
culinárias é fator fundamental para que o
plicam de tamanho após o cozimento.
cidadão tenha autonomia para escolher
O cozimento em panela de pressão re-
suas refeições e tornar mais atraentes
duz significativamente o tempo de co-
as preparações baseadas em alimentos
zimento, mas ele não deve ser usado
in natura ou minimamente processados.
para lentilha e ervilha, que formam es-

157
Hortaliças leguminosas

Tabela 1. Tempo e métodos de cozimento de legumes secos.

Ervilha Ervilha Lentilha Lentilha Grão-de- Grão-de-


Feijão
Inteira Partida Inteira Partida bico Inteiro bico Partido
Enxague Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Hidratação Sim Sim Não Não Não Sim Não
Quantidade 2½-3 2½-3 2 2½-3 2 xícaras 2½-3 2 xícaras
de água para xícaras xícaras xícaras xícaras (500 mL) xícaras (500 mL)
1 xícara (250 (625 mL – (625 mL – (500 mL) (625 mL – (625 mL –
mL) de grão 750 mL) 750 mL) 750 mL) 750 mL)
seco
Tempo de 1-½h 1 ½-2 h 45 min. 10-30 min. 5-15 min. 1½-2h ½ - 1h
cozimento
Tempo de 8-12 min. 5-7 min. Não Não Não 12-15 min. 5-7 min.
cozimento
em panela
de pressão (1)
Rendimento 2½ 2½ 2 2½ 2 xícaras 2 ½ xícaras 2 xícaras
1 xícara (250 xícaras xícaras xícaras xícaras (500 mL) (625 mL) (500 mL)
mL) de grão (625 mL) (625 mL) (500 mL) (625 mL)
seco

O tempo de cozimento em panela de pressão se aplica à condição em que os grãos foram pré-hidratados pelos
(1)

métodos rápidos ou em água fria, e a panela de pressão foi resfriada em água fria para permitir a abertura após
remoção da panela do fogo. Quando a panela permanece fechada até alívio natural da pressão, o tempo de cozi-
mento é menor.
Fonte: Pulses (2010b).

puma que, por sua vez, pode obstruir te o cozimento, deve ser feito em fogo
a saída de vapor pela válvula. baixo após levantar fervura, para evi-
tar que a massa cozida grude no fundo
Temperos como alho, cebola e da panela e queime.
ervas podem ser adicionados à água
de cozimento, mas ingredientes áci- Algumas receitas recomendam a
dos como tomate e vinagre atrasam o adição de bicarbonato de sódio para
cozimento e por isso devem ser adicio- reduzir o tempo de cozimento. O bicar-
nados somente quando os grãos esti- bonato aumenta a absorção de água
verem macios. O cozimento deve ser mas também destrói a tiamina, uma
lento porque o cozimento rápido causa importante vitamina B encontrada em
rompimento da casca. O cozimento de legumes. Além disso, pode causar
ervilhas, que formam um purê duran- amaciamento excessivo prejudicando

158
Leguminosas: Qualidade e Uso

Tabela 2 – Instruções para a hidratação


Leguminosas e flatulência
de legumes secos.
Os legumes são reconhecida-
Métodos de
mente alimentos que causam flatulên-
hidratação de Instruções
cia. Um dos fatores apontados como
legumes secos
provável causa desse desconforto é o
Deixe de molho por 12
Longo, em água alto teor de oligossacarídeos desses
horas ou de um dia para o
fria alimentos. Estes carboidratos não são
outro em geladeira
Coloque os grãos em absorvidos ou hidrolisados pelo siste-
uma panela com água e ma digestivo humano devido à ausên-
leve ao fogo cia da enzima α-galactosidase na mu-
Deixe ferver por 2 cosa intestinal. Os oligossacarídeos
Rápido
minutos passam intactos ao intestino grosso
Desligue o fogo, cubra a onde são fermentados anaerobica-
panela e deixe de molho
mente produzindo dióxido de carbono,
por 1 hora
hidrogênio e traços de metano, gases
Coloque os grãos com
esses que causam flatulência. Alguns
água em um recipiente
resistente a micro-ondas autores argumentam que outras razões
Tampe o recipiente e além da presença de oligossacarídeos
Micro-ondas
deixe em potência alta possam estar envolvidos com a produ-
por 10-15 minutos ção de gases. Independente da causa,
Deixe de molho por para as pessoas que sofrem este des-
1 hora. conforto recomenda-se o consumo de
Fonte: Pulses (2010b). pequenas quantidades de legumes que
são aumentadas gradualmente, permi-
tindo a adaptação da flora intestinal e
a redução deste desconforto ao longo
a textura e reduzindo a qualidade sen- do tempo. Outras medidas que aliviam
sorial dos grãos. Por isso, esta prática os efeitos indesejáveis do consumo de
não é recomendada. Outros autores legumes incluem: ingerir grande quan-
recomendam o uso de bicarbonato de tidade de água ao longo do dia; trocar
sódio para grãos inteiros mas não para a água de hidratação uma ou duas ve-
grãos partidos, pelas razões aponta- zes; descartar a água de hidratação e
das anteriormente. não usá-la para cozimento; cozinhar
bem os grãos; enxaguar os grãos hi-
dratados ou enlatados antes do cozi-
mento ou consumo, respectivamente.

159
Hortaliças leguminosas

160
161
Hortaliças leguminosas

162
Leguminosas: Qualidade e Uso

Receitas
Índice de receitas com legumes secos

Prato Ervilha seca Grão-de-bico Lentilha


Salada Fria – Salada de quiabo e grão-de-bico Salada de lentilha com
erva-doce

Salada Sauté de ervilha e Berinjela com grão-de-bico Assado de lentilha com


quente abobrinha hortaliças

Com carne – Grão-de-bico com frango Ensopado de lentilha


ou frango temperado com limão

Com peixe – Salada de grão-de-bico com atum Peixe com lentilhas

Sopa Sopa de ervilha Sopa de grão-de-bico com Lentilha com abóbora


favorita tomate ao forno

Torta / Pizza / – Quibe de grão-de-bico e cenoura Almôndega de lentilha


Bolinho vermelha

Com – Papardelle com grão-de-bico e Talharim com limão e


macarrão caldo de legumes lentilha

Com arroz – Arroz com grão-de-bico e agrião Arroz com lentilha

Patê ou purê Purê de ervilha Pasta de grão-de-bico Húmus de lentilha


vermelha

Substitutos – Hambúrguer de grão-de-bico Hambúrguer de lentilha


de carne

163
Hortaliças leguminosas

Salada de quiabo e grão-de-bico


Rendimento: 8 porções

Ingredientes:

1 ½ xícara de cebola picada


1 colher (sopa) de azeite de oliva
800 g de quiabo sem o cabinho, cortado ao meio
¼ de xícara de grão-de-bico cozido
½ colher (sopa) de cominho em pó
2 colheres (sopa) de vinagre
½ colher (chá) de açúcar
1 pitada de sal
¼ de colher (chá) de pimenta-malagueta
1 dente de alho amassado

Modo de fazer:

Numa panela média, refogar em fogo médio a cebola no azeite de oliva até
dourar (cerca de 3 minutos). Juntar o quiabo e fritar, mexendo sempre com
uma colher de pau, até ficar verde-escuro (cerca de 5 minutos). Adicionar os
ingredientes restantes, misturar e deixar ferver. Tampar e reduzir o fogo e deixar
cozinhar até o quiabo ficar macio (cerca de 10 minutos). Transferir para uma
tigela média e deixar amornar. Cobrir com filme plástico e levar a geladeira por
cerca de 45 minutos antes de servir.

164
Leguminosas: Qualidade e Uso

Salada de lentilha com erva-doce


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

Para o molho:
Suco de 1 limão grande
2 colheres (sopa) de mel
Sal marinho a gosto
Pimenta preta moída a gosto

Para a salada:
1 bulbo de erva-doce fatiado bem fino
4 xícaras (chá) de alface crespa
1 pepino fatiado sem casca
200 g de broto de lentilha ou lentilha cozida
200 g de queijo de cabra picado

Modo de fazer:

Misturar os ingredientes do molho e reservar. Colocar a erva-doce em uma


vasilha, adicionar o molho, misturar bem e deixar descansar por 10 minutos.
Misturar a alface, o pepino e a lentilha e em seguida juntar a erva-doce temperada
e misturar de modo a cobrir toda a salada com o molho. Decorar com o queijo
de cabra e servir.

165
Hortaliças leguminosas

Sauté de abobrinha e ervilha


Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

1 colher (sopa) de óleo vegetal


2 cebolinhas verdes picadas
2 abobrinhas de tamanho médio, fatiadas
1 xícara (chá) de ervilha seca partida cozida
2 tomates de tamanho médio, fatiados
1 xícara de queijo ralado
1 cebola roxa fatiada
Alho, molho de soja e pimenta a gosto

Modo de fazer:

Aquecer o óleo em uma frigideira funda, em fogo médio. Refogar a cebolinha e a


abobrinha por cerca de 5 minutos, ou até que fiquem macias. Adicionar a ervilha
cozida e mexer ligeiramente. Por cima colocar em camadas o tomate, parte do
queijo ralado, a cebola e o restante do queijo ralado. Salpicar com pimenta, óleo
de soja e alho. Tampar a frigideira e deixar cozinhar por 5 minutos. Servir quente.

166
Leguminosas: Qualidade e Uso

Berinjela com grão-de-bico


Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

1 kg de berinjela
1 colher (chá) de sal
1 xícara de azeite
250 g de grão-de-bico deixado de molho na véspera
5 dentes de alho picados
1 colher (sopa) de gengibre ralado fresco
1 colher (chá) açafrão-da-terra
1 colher (chá) pimenta-do-reino
5 xícaras de água
Azeite para pincelar

Modo de fazer:

Cortar a berinjela em fatias de 1 cm de espessura. Polvilhá-las com sal e deixar


descansar por 30 minutos. Enxaguar em água corrente e em seguida secá-las
em papel toalha. Untar fatias de berinjela com azeite e fritar numa frigideira até
dourá-las dos dois lados. Enquanto isso em uma panela de pressão, aquecer o
azeite, adicionar o grão-de-bico escorrido, o alho, o gengibre, o açafrão-da-terra,
a canela, a pimenta e o sal. Mexer e refogar por 5 minutos. Acrescentar água e
aguardar ferver. Abaixar o fogo e deixar cozinhar por uma hora ou até o grão-
de-bico ficar macio. Em uma travessa, dispor as fatias de berinjela e, no centro,
colocar o grão-de-bico.

167
Hortaliças leguminosas

Assado de lentilha com hortaliças


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

½ abóbora japonesa
1 cebola roxa fatiada
3 pimentões de cores diferentes cortados em fatias de 1 cm de largura
2 dentes de alho picados
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
3 colheres (sopa) de pasta de curry
800 g de lentilha cozida
150 mL caldo de legumes
1 maço de coentro picado

Modo de fazer:

Aquecer o forno a 180 °C - 200 oC. Descascar e remover as sementes e cortar a


abóbora em fatias de cerca de 1 cm de espessura. Colocar as fatias de abóbora
em um refratário e adicionar a cebola, os pimentões e o alho. Misturar o azeite
com a pasta de curry e espalhar sobre as hortaliças, misturando bem para cobrir
todos os ingredientes. Assar por 30 minutos até que fiquem macios. Adicionar
a lentilha e o caldo de legumes e retornar ao forno por mais 5 a 10 minutes.
Adicionar o coentro e servir. A receita original é feita com lentilhas Puy que pode
ser substituída pela lentilha comum.

168
Leguminosas: Qualidade e Uso

Grão-de-bico com frango temperado com limão


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

1 colher (sopa) de óleo


1 cebola partida ao meio e fatiada bem fina
4 peitos de frango sem pele picados
1 pau de canela partido ao meio
1 colher (chá) de salsa
1 colher (sopa) de cominho
Casca e suco de 1 limão
400 g de grão-de-bico cozido
200 mL de caldo de frango
250 g de espinafre

Modo de fazer:

Aquecer o óleo em uma panela e refogar a cebola por 5 minutos. Adicionar o frango
e refogar por cerca de 3 minutos em fogo alto, até dourar. Adicionar os temperos e
a casca de limão, refogar por 1 minuto e em seguida, adicionar o grão-de-bico e o
caldo de frango. Tampar a panela e deixar ferver por 5 minutos. Ajustar o tempero,
adicionar o espinafre e tampar. Deixar o espinafre murchar e em seguida misturá-lo
ao restante dos ingredientes. Quando o espinafre estiver cozido, desligar o fogo.
Adicionar o suco de limão antes de servir

169
Hortaliças leguminosas

Ensopado de lentilha
Rendimento: 20 porções

Ingredientes:

1 kg de lentilha (deixada de molho na véspera)


2 colheres (sopa) de óleo
60 g de toucinho defumado cortado em cubinhos
3 dentes de alho amassados
500 g de paleta defumada cortadas em fatias de 0,5 cm
2 folhas de louro
6 a 7 xícaras de água
Azeite de oliva (opcional)

Modo de fazer:

Em uma panela grande, fritar no óleo o toucinho e o alho por 3 minutos. Juntar
as lentilhas e a paleta. Refogar por 5 minutos. Adicionar as folhas de louro e
água. Cozinhar por 20 minutos ou até que a lentilha esteja bem macia e o molho
grosso. Se necessário juntar mais água. Regar com azeite e transferir para uma
tigela e servir quente.

170
Leguminosas: Qualidade e Uso

Salada de grão-de-bico com atum


Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

300 g de grão-de-bico (deixado na água de véspera)


200 g de atum sólido em conserva no azeite
1/3 de xícara de cebola picada

3 tomates sem sementes picados


4 ovos cozidos duros picados
1/3 de suco de limão

2 colheres (sopa) de manjericão picado


Sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de fazer:

Escorrer o grão-de-bico. Espalhar sobre um pano e esfregar com o mesmo pano


até soltar todas as cascas. Numa panela (se preferir, usar panela de pressão) por
a água e o grão-de-bico e cozinhar até ficar macio, mas inteiro e firme. Escorrer
e colocar na geladeira. Acrescentar todos os outros ingredientes. Cobrir e levar
para gelar até o momento de servir.

171
Hortaliças leguminosas

Peixe com lentilha


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

1 limão cortado em 4 partes


3 colheres (sopa) de óleo
1 cebola picada
1 colher (sopa) de curry em pó
1 lata de purê de tomate
400 g de lentilha cozida
2 colheres (sopa) de chutney de manga, mais extra para servir
4 filés de peixe com cerca de 140 g cada

Modo de fazer:

Picar em pedaços bem pequenos uma das partes do limão. Aquecer 2 colheres
(sopa) de óleo em uma panela média e refogar a cebola por 5 minutos até que
que ela fique macia e mude de cor. Adicionar o curry e o purê de tomate e refogar
por mais 1 minuto. Adicionar 200 mL de água, a lentilha, o chutney e ¼ do limão
picado. Deixar ferver por 5 minutos ou até engrossar. Aquecer o restante do óleo
em uma frigideira. Temperar o peixe com sal e pimenta e fritar dos dois lados
até ele cozinhar e dourar. Espremer o limão sobre o cozido de lentilhas e sobre
o peixe e servir os dois juntos.

172
Leguminosas: Qualidade e Uso

Sopa de ervilha da Universidade do Alaska


Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

2 xícaras (chá) de ervilha seca partida


2 cebolas picadas
2 cenouras picadas
2 talos de aipo picados
4 xícaras (chá) de água
4 xícaras (chá) de caldo de legumes
1 folha de louro
½ colher (chá) de manjericão
½ colher (chá) de orégano
½ colher (chá) de sal
Bacon (opcional)

Modo de fazer:

Selecionar, lavar e escorrer a água das ervilhas. Não é necessário hidratá-las


antes do preparo do prato. Coloque todos os ingredientes em uma panela e
deixe ferver. Se usar o bacon, frite e escorra a gordura antes de adicionar os
demais ingredientes. Deixe cozinhar por cerca de 45 minutos ou até que todos
os ingredientes estejam cozidos. Se necessário adicione água ou leite.

173
Hortaliças leguminosas

Sopa de grão-de-bico com tomate ao forno


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

1 kg de tomate maduro, cortados ao meio


450 g de grão-de-bico cozido
5 galhinhos de orégano fresco picado
1 colher (sopa) de páprica vermelha
6 dentes de alho com casca, amassados com o cabo da faca
2 colheres (sopa) de azeite
Sal a gosto
Iogurte natural e folhas de orégano extras para finalizar

Modo de fazer:

Pré-aquecer o forno a 200 oC. Colocar os tomates, o orégano, a páprica, o alho


e o grão-de-bico em uma travessa. Regar com azeite, colocar no forno e assar
por cerca de 1 hora ou até que os tomates apresentem alguns pontos escuros
e estejam borbulhando. Retirar do forno, separar alguns grãos para decoração
e triturar todos os ingredientes em processador ou liquidificador até obter uma
massa lisa. Se necessário, adicionar um pouco de água. Servir em potes ou
copos largos de vidro transparente. Por cima colocar uma colher de sopa de
iogurte e decorar com oréganos e com os grãos inteiros. Alternativamente, servir
como acompanhamento sem passar os ingredientes pelo processador.

174
Leguminosas: Qualidade e Uso

Lentilhas com abóbora


Rendimento: 12 porções

Ingredientes:

1 kg de lentilha
1 kg de abóbora japonesa sem casca e sem sementes, picada
2 folhas de louro
¼ de colher (chá) de pimenta-do-reino
24 xícaras de água
1 colher (sopa) de sal grosso
6 dentes de alho picados
2 kg de cebolas cortadas em rodelas de 0,5 cm

Modo de fazer:

Em uma panela grande de preferência de pedra, colocar a lentilha, a abóbora, o


louro, a pimenta e a água. Cozinhar em fogo baixo, mexer de vez em quando, por
cerca de 1 hora e meia ou até a lentilha ficar macia. Temperar com sal grosso e
reservar. Em uma panela média, em fogo moderado, refogar o alho no azeite por
2 minutos ou até ele ficar macio. Passar para a panela com a lentilha e misturar.
Reservar. Em outra panela, aquecer o óleo em fogo médio e, aos poucos, frite
a cebola, mexer de em vez em quando, até dourar, cerca de 5 minutos de cada
vez. Retirar com uma escumadeira e deixar escorrer sobre o papel tolha. Passar
para uma travessa e servir a lentilha na própria panela, acompanhada de cebola
frita. Servir quente.

175
Hortaliças leguminosas

Quibe de grão-de-bico e cenoura


Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

1 xícara (chá) de trigo para quibe


2 colheres (sopa) de azeite
1 cebola picada
1 dente de alho amassado
Suco de 1 limão
2 xícaras (chá) de grão-de-bico cozido e amassado
1 cenoura média ralada
1 caixinha de creme de leite
2 colheres (sopa) de folhas de hortelã picadas
2 colheres (sopa) de salsa picada
Azeite para untar
Molho de soja para pincelar

Modo de fazer:

Colocar o trigo em uma tigela e cobrir com água. Deixar de molho por cerca de
40 minutos. Escorrer bem a água e misturar com o restante dos ingredientes.
Colocar em um refratário médio (20 cm x 30 cm) untado, alisando bem a
superfície. Pincelar com azeite e molho de soja. Fazer desenhos com a ponta de
uma faca na superfície e levar ao forno médio (180 °C), preaquecido, por cerca
de 30 minutos ou até dourar. Esperar amornar, cortar em quadrados e servir com
gomos de limão.

176
Leguminosas: Qualidade e Uso

Almôndega de lentilha vermelha


Rendimento: 15 almôndegas

Ingredientes:

200 g (1 xícara de chá) de lentilha vermelha


2 dentes de alho amassados
3 colheres (sopa) de azeite
2 colheres (sopa) de purê de tomate
40 g (1/3 xícara de chá) de flocos de aveia
1 colher (chá) de páprica vermelha
1 pitada de pimenta cayenne ou outra de preferência
Sal a gosto

Modo de fazer:

Lavar as lentilhas, escorrer a água e colocar em uma panela com 1/2 litro de água.
Deixar ferver, abaixar o fogo e cozinhar por cerca de 15 minutos ou até que elas
estejam cozidas. Drenar a água e deixar esfriar um pouco. Amassar as lentilhas
com garfo ou em um processador, pelo tempo suficiente para obter um purê de
textura grosseira com algumas lentilhas ainda inteiras. Colocar esta massa em
uma tigela, juntar os demais ingredientes e misturar bem. Deixar na geladeira
por 30 minutos. Pré-aquecer o forno a 190 oC. Enrolar as almôndegas na mão
e colocá-las em uma travessa rasa coberta com papel manteiga. Assar por 15 a
20 minutos, virando as almôndegas a cada 5 minutos para homogeneizar a cor.

177
Hortaliças leguminosas

Pappardelle com grão-de-bico e caldo de legumes


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

3 colheres de sopa de azeite


2 folhas de louro
1 cebola pequena cortada em pedaços
½ litro de caldo de legumes
2 xícaras de grão-de-bico cozido no caldo
300 g de massa longa tipo pappardelle
Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Modo de fazer:

Em um caldeirão com o azeite, refogar o louro e a cebola até que comece a


dourar. Juntar o caldo de legumes e o grão-de-bico, cozinhar por mais 10 minutos.
Adicionar a massa e cozinhar até ficar ao dente. Temperar com sal e pimenta e
servir em pratos fundos com lascas de parmesão.

178
Leguminosas: Qualidade e Uso

Talharim com limão e lentilha


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

140 g de lentilha
300 g de talharim
50 g de manteiga
1 cebola média picada
3 dentes de alho picados
Casca e suco de 1 limão
1 maço de coentro (folhas e talos) picados grosseiramente
150 g de iogurte não adoçado ou iogurte natural

Modo de fazer:

Cozinhar a lentilha por cerca de 30 minutos, ou até ela ficar macia. Temperar
com sal 10 minutos após iniciado o cozimento. Cozinhar o macarrão, drenar e
reservar. Derreter a manteiga em uma panela e refogar a cebola na manteiga.
Cozinhar até a cebola ficar translúcida, adicionar o alho e cozinhar por mais
alguns minutos. Misturar todos os ingredientes e servir.

179
Hortaliças leguminosas

Arroz com grão-de-bico e agrião


Rendimento: 10 porções

Ingredientes:

2 dentes de alho picados


1 xícara de cebola picada
100 g de manteiga
10 unidades de anis-estrelado
400 g de arroz parboilizado
Sal e pimenta-do-reino a gosto
½ kg de grão-de-bico sem pele
3 colheres (sopa) de salsinha picada
1 maço de agrião (talos e folhas) lavar e picar

Modo de fazer:

Em uma panela grande, dourar o alho e a cebola na manteiga. Juntar 4 unidades


de anis-estrelado e o arroz e refogar. Temperar com sal e pimenta. Adicionar
cinco xícaras de água fervente e deixar secar. Quando estiver quase cozido,
acrescentar o grão-de-bico e a salsinha. Verificar tempero. Esperar terminar de
cozinhar e juntar o agrião. Transferir para uma travessa, decorar com o anis-
estrelado restante e servir.

180
Leguminosas: Qualidade e Uso

Arroz com lentilha


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

1 xícara (chá) de lentilha


1 xícara (chá) de arroz
1 cebola roxa grande picada
Azeite de oliva a gosto
1 dente de alho amassado
Sal a gosto

Modo de fazer:

Lavar e escorrer a lentilha e deixar de molho em água por 30 minutos. Refogar a


cebola no azeite e quando ela estiver translúcida, adicionar o alho. Refogar por
mais 1 minuto. Adicionar a lentilha e o arroz e água suficiente para o cozimento.
Acertar o sal. Cozinhar até que fiquem macios.

181
Hortaliças leguminosas

Purê de ervilha
Rendimento: 2 porções

Ingredientes:

2 xícaras de ervilha crua


⅔ de xícara de água
Sal e pimenta do reino a gosto
½ xícara de leite
5 fatias de bacon fritas e picadas
4 cebolinhas verdes picadas

Modo de fazer:

Colocar em uma panela a ervilha e a água e levar ao fogo, tampada. Cozinhe até
ferver. Abaixar o fogo e deixar cozinhar até amaciar. Escorrer o líquido. Passar
as ervilhas no espremedor de batatas ou bater no liquidificador. Temperar com
sal e pimenta. Acrescentar o leite e voltar ao fogo. Cozinhar até ficar com a
consistência cremosa. Cobrir com bacon e a cebolinha.

182
Leguminosas: Qualidade e Uso

Pasta de grão-de-bico
Rendimento: 3 xícaras

Ingredientes:

1 ¼ de xícara de grão-de-bico
5 colheres (sopa) de molho de tahine
Sal a gosto
4 colheres (sopa) de suco de limão
Salsinha picada para decorar
Azeite para regar
Pimenta síria (opcional)

Modo de fazer:

Lavar o grão-de-bico e deixar de molho em água fria por 24 horas. Cozinhar


o grão-de-bico na panela de pressão, com água suficiente para cobri-lo, por
10 minutos, ou até que ele fique macio. Reservar alguns para decorar o prato.
Bater o restante aos poucos, no liquidificador, com uma xícara de água usada
no cozimento, o molho tahine, o sal e o suco de limão, até formar uma pasta
homogênea e cremosa. Colocar em uma travessa pequena, acrescentar salsa
picada, regar com azeite e decorar com grãos de bico inteiros. Se desejar,
polvilhar pimenta síria. Servir a pasta gelada.

183
Hortaliças leguminosas

Hambúrguer de grão-de-bico
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

2 xícaras de água
¾ de xícara de grão-de-bico
1 cebola pequena, cortada em pedaços (60 g)
2 colheres (sopa) de suco de limão
1 colher (sopa) de salsinha
1 colher (chá) de alho espremido
1 colher (chá) de sal
1 colher (chá) de fermento em pó
1 colher (chá) de coentro picado
½ colher (chá) de cominho
1 pitada de pimenta-do-reino
1 ovo ligeiramente batido
Óleo para untar
6 pães de hambúrguer

Modo de fazer:

Em uma panela média com água, levar o grão-de-bico ao fogo por 2 minutos, até
ferver. Retirar do fogo e deixar de molho por uma hora ou, se preferir, de um dia
para o outro. Escorrer a água. Triturar os grãos com a cebola no processador ou
máquina de moer. Em uma vasilha, misturar bem essa pasta com os ingredientes
restantes, exceto o ovo, o óleo e os pães. Acrescentar o ovo e voltar a misturar
bem. Dividir a massa em seis partes e moldar os hambúrgueres. Em uma
frigideira antiderrapante untada com óleo, fritar os hambúrgueres dos dois lados,
até dourarem. Monte os sanduíches com pães. Servir quente.

184
Leguminosas: Qualidade e Uso

Hambúrguer de lentilha
Rendimento: 6 unidades

Ingredientes:

2 xícaras de lentilha
3 xícaras de água
½ xícara de farinha de trigo integral
1 ovo
Óleo para untar
1 cebola pequena picada
3 dentes de alho picado
2 colheres (sopa) de manteiga
Sal a gosto
6 pães de hambúrguer
12 folhas de alface
12 rodelas de tomate

Modo de fazer:

Colocar a lentilha numa panela, cobrir com a água e cozinhar em fogo alto
até ficar macia. Escorrer e transferir para uma tigela. Acrescentar a farinha de
trigo e o ovo e misturar até obter uma massa firme (se necessário, ponha mais
farinha), reservar. Aquecer o forno em temperatura média (180 °C). Untar uma
assadeira grande com óleo. Numa frigideira, fritar a cebola e o alho na manteiga,
em fogo médio, mexer de vez em quando até a cebola ficar macia. Adicionar à
massa de lentilha e misturar. Temperar com sal e dividir em seis porções. Untar
uma superfície lisa e as mãos com óleo. Modelar cada porção até obter um
hambúrguer. Colocar na assadeira e assar por 30 minutos. Cortar os pães ao
meio. Rechear com duas folhas de alface, um hambúrguer e duas rodelas de
tomate. Servir.

185
Hortaliças leguminosas

Grãos e vagens verdes: Ervilha 3) Snap pea: introduzida na dé-


fresca e feijão-vagem cada de 1970 é intermediária entre
as duas anteriores. Apresenta vagem
O feijão-vagem e a ervilha torta e grãos comestíveis, mas a vagem é
são as leguminosas mais consumidas mais arredondada e mais grossa que
no Brasil como hortaliças frescas. Em a ervilha torta. Seu nome deriva do
alguns países, a vagem verde, as fo- estalido (snap) ouvido quando a va-
lhas e as sementes brotadas da len- gem é curvada e quebrada e pode ser
tilha e do grão-de-bico são usadas consumida crua ou cozida. Pelo co-
como hortaliças. nhecimento da autora não é cultivada
comercialmente no Brasil.
Tipos e atributos de qualidade
A ervilha de debulhar é colhida
Ervilha quando as vagens e grãos estão ple-
namente desenvolvidos mais ainda
Durante milhares de anos a er- verdes; ambos tipicamente com for-
vilha seca foi a forma predominante mato arredondado. As ervilhas de va-
de consumo desta hortaliça. Na Eu- gens de tamanho médio em geral tem
ropa, ervilhas frescas tornaram-se melhor sabor e são mais adocicadas
comuns a partir do século 18. Até o do que aquelas muito grandes. Se os
final do século 17 elas eram uma ra- grãos já estão soltos na vagem, fazen-
ridade que alcançava preços eleva- do um barulho característico quando a
dos na França. Atualmente, três tipos vagem é sacudida, isto indica que ela
de ervilha verde são consumidos no já passou do ponto ótimo de colheita.
mundo:
A ervilha torta é colhida quando a
1) Ervilha de debulhar (em inglês vagem está ainda pouco desenvolvida,
garden peas ou english pea): as va- com a forma achatada, e as sementes
gens são arredondadas e ligeiramente imaturas e pequenas. Quando não
curvas. As sementes são debulhadas são colhidas neste estádio, elas se tor-
para consumo já que a vagem não é nam amiláceas e menos doces e têm
comestível. Os grãos são muito do- menor qualidade sensorial. As vagens
ces quando debulhados e consumidos devem ter cor verde claro e brilhante;
logo após a colheita e podem ser con- a cor fosca e levemente amarelada
sumidos crus ou cozidos. indica que a ervilha já perdeu grande
parte de sua qualidade sensorial.
2) Ervilha torta (em inglês snow
pea ou sugar pea e em francês pois Diferentemente da ervilha torta,
mange tout). É mais doce e tem me- a ervilha do tipo snap alcançam maior
nos amido que a ervilha de debulhar e teor de açúcares e maior qualidade
consome-se a vagem inteira. sensorial quando as vagens estão ple-

186
Leguminosas: Qualidade e Uso

namente desenvolvidas. A presença Para máxima qualidade senso-


do cálice ainda verde aderido à vagem rial, as vagens devem ser colhidas an-
é outro indicativo de frescor do produ- tes de apresentarem-se com protube-
to. Os ramos e folhas jovens e as gavi- râncias devido à presença das semen-
nhas da planta de ervilha torta podem tes bem formadas. As vagens devem
ser consumidas como hortaliças e são ter cor uniforme e brilhante, sem sinais
comercializadas em alguns países jun- de murchamento, ferimentos ou pon-
tamente com outras folhosas. tos escuros e assim como para ervi-
lhas, a presença do cálice ainda verde
Feijão-vagem aderido à vagem é indicativo de fres-
O feijão-vagem é a vagem imatu- cor do produto.
ra da mesma espécie Phaseolus vulga- As vagens, mais leves que o fei-
ris, consumida como grão seco. A qua- jão seco, são de digestão mais fácil e
se totalidade das variedades produzi- não causam flatulência.
das no Brasil pertence a dois grupos:
as vagens tipo manteiga (achatadas) Grão-de-bico
alcançam 21 cm a 23 cm de compri-
mento e 1,5 cm a 2,0 cm de largura e Em regiões produtoras de grão-
são de cor verde-clara; as vagens tipo de-bico na Índia, as folhas são usa-
macarrão (arredondadas) alcançam 15 das como hortaliça. As folhas ainda
cm a 17 cm de comprimento e diâme- verdes são lavadas, picadas e mistu-
tro médio de 1,0 cm. Em menor escala radas a folhas de Brassica, Chenopo-
também são plantadas variedades de dium e Melilotus alba e cozidas a al-
vagem amarela e variedades de vagem tas temperaturas por 30 a 40 minutos.
de metro, de cor verde e cerca de 50 Este preparado é então misturado
cm de comprimento. A vagem de metro com farinha de milho, sal, pimentas
tem sabor mais suave e menos doce e e outros condimentos em um prato
é menos crocante que as vagens man- chamado saag considerado saboro-
teiga e macarrão. Variedades com a so e nutritivo. O consumo do broto de
vagem de cor púrpura (que se tornam grão-de-bico no café da manhã é um
verdes após cozimento) são comercia- hábito antigo na Índia devido à crença
lizadas em outros países. Além dessas de que ele controla o diabetes e pro-
variedades que são consumidas com blemas cardiovasculares. Pequenas
a vagem, existem variedades de feijão quantidades de broto são temperadas
de debulhar, como as favas (Vicia fava) com sal, folhas de coentro, tomate,
e feijão-de-corda (Vigna unguiculata) cebola, alho e suco de limão. O sa-
que não serão abordadas no presente bor é levemente adocicado devido à
texto. hidrólise do amido.

187
Hortaliças leguminosas

Também se consome a vagem Acondicionamento doméstico


verde, colhida uma a duas semanas
antes da maturação. Os grãos verdes Ervilha
têm menores teores de amido e pro-
teína e maiores teores de açúcares do As ervilhas frescas se deterio-
que os grãos secos. Eles são de fácil ram rapidamente após a colheita. Sob
digestão mesmo quando consumidos condições ótimas de colheita e arma-
crus. O consumo do grão verde tam- zenamento, elas mantém-se frescas
bém é relatado em sites de gastrono- por até 2 semanas, a partir de quan-
mia no ocidente e comercializado nos do corre amarelecimento, perda de
EUA. água, alteração da textura, podridões
por microrganismos e grande parte
Lentilha do açúcar é convertido em amido, tor-
nando-as farináceas. Nas condições
Em alguns países, as folhas, brasileiras dificilmente este tempo de
vagens verdes e brotos de lentilha são conservação é atingido devido às con-
consumidos como hortaliças. dições precárias de manuseio na co-

Hortaliças: nutrição e benefícios para a saúde

As hortaliças são parte essencial de uma alimentação saudável, pois fornecem


vitaminas, sais minerais e fibras e por isso devem ser consumidos diariamente. As
hortaliças possuem baixo valor energético e, portanto seu consumo adequado auxilia
na prevenção e controle da obesidade e das doenças relacionadas à obesidade. Por
outro lado, a baixa densidade energética e o baixo teor de proteínas das hortaliças
fazem com que uma dieta baseada somente neste grupo de alimentos seja deficiente
em energia e proteína. As hortaliças também fornecem compostos bioativos que têm
efeito sobre a saúde além da nutrição básica. A ação de compostos individuais sobre
doenças específicas é um campo de pesquisa relativamente novo e ainda objeto de
controvérsias ou carente de evidências mais robustas. Entretanto, as evidências epi-
demiológicas indicam claramente que uma dieta rica em hortaliças tem efeito protetor
contra a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis. A participação das hor-
taliças e frutas no valor energético total fornecido pela alimentação das famílias bra-
sileiras é baixa, variando de 3% a 4% entre os anos de 1974 e 2003. O Ministério da
Saúde recomenda que este valor seja aumentado para 9% a 12% da energia diária
consumida, o que para uma dieta de 2.000 kcal representaria 400 g/dia de consumo
de frutas e hortaliças por um adulto.

188
Leguminosas: Qualidade e Uso

lheita e pós-colheita e ausência de ca- acondicionadas em embalagens de vi-


deia de frio. Preferencialmente, as er- dro ou de plástico. Após este período
vilhas frescas devem ser consumidas podem aparecer manchas escuras nas
no mesmo dia da compra ou em até vagens e a textura fica fibrosa. As va-
2 dias. Em geladeira, elas manterão a gens não devem ser lavadas antes de
turgidez e cor verde por maior período refrigeradas.
de tempo, mas a conversão de açúcar
Para congelar, as vagens devem
para amido e outras alterações da tex-
ser lavadas, ter as pontas e os fios nas
tura e sabor, que reduzem a sua qua-
laterais removidos e as vagens deixa-
lidade sensorial, ocorrem rapidamente
das inteiras ou cortadas em pedaços
após a colheita mesmo sob baixa tem-
grandes. O branqueamento deve ser
peratura. Antes do consumo, as ervi-
feito deixando-as em água fervente
lhas devem ser mantidas em geladei-
por 2 minutos ou no vapor por 3 mi-
ra, acondicionadas em embalagens de
nutos. Em seguida, devem ser imersas
vidro ou de plástico. Elas não devem
em água gelada pelo dobro do tempo
ser lavadas antes de refrigeradas. As utilizado para imersão em água fer-
ervilhas de debulhar devem ser refri- vente. Após escorrer a água, as va-
geradas com a vagem e debulhadas gens devem ser secas com papel ab-
somente antes do preparo. sorvente, colocadas em uma bandeja
ou em outra vasilha aberta e levadas
As ervilhas frescas podem ser
ao congelador. Após o congelamento,
congeladas facilmente. Para congelar
devem ser colocadas em saco plás-
a ervilha torta, as vagens são imer-
tico e levadas novamente ao freezer.
sas em água fervente por 2 minutos,
O tempo de congelamento possível é
deixadas esfriar, acondicionadas em
de 12 meses.
porções em sacos plásticos e congela-
das. Para congelar os grãos debulha- Preparo e formas de consumo
dos o mesmo procedimento é seguido.
O descongelamento pode ser feito di- A forma básica de preparo das
retamente durante o preparo do prato. leguminosas verdes e frescas é o cozi-
mento em água fervente ou no vapor.
Feijão-vagem O cozimento não deve ser prolongado
porque prejudica a qualidade sensorial
Em condição ambiente, as va-
da hortaliça. As duas hortaliças podem
gens conservam-se por 2 a 3 dias no
substituir uma à outra na maioria das
máximo. Após este período, ficam mur-
receitas.
chas, amareladas e podem apodrecer.
Quanto mais seco o ar e mais alta a Ervilha
temperatura, menor a durabilidade. Em
geladeira doméstica, podem ser ar- Para preparar a ervilha de debu-
mazenadas por no máximo 5 a 7 dias, lhar, a vagem é pressionada para se

189
Hortaliças leguminosas

abrir e em seguida raspada em seu Algumas maneiras rápidas de


interior para soltar os grãos. A ervilha preparar a ervilha incluem:
torta e a ervilha tipo snap tem fios nas
laterais da vagem que precisam ser re- • Servir a ervilha torta crua ou
movidos antes do preparo. Para isso é cozida ligeiramente (cozida por 1 a 2
suficiente cortar as pontas e puxar os minutos em água fervente e resfriada
fios do lado. com água gelada) misturada a saladas
de folhas.
As ervilhas verdes requerem
um tempo de cozimento bastante cur- • Servir a ervilha de debulhar
to sejam frescas ou congeladas. Dois cozida ligeiramente (cozida por 1 a 2
a quatro minutos em água fervente, minutos em água fervente e resfriada
vapor ou micro-ondas é em geral su- com água gelada) misturada com ar-
ficiente para as ervilhas torta e snap. roz bem temperado e por último acres-
A ervilha debulhada deve ser cozida centar queijo parmesão ralado.
em água fervente ou no vapor por 10 a
• Usar ervilhas de debulhar co-
12 minutos ou até que fiquem macias
zidas e amassadas com abacate para
ou em micro-ondas por 5 a 7 minutos.
preparar guacamole, na proporção
Terminado o cozimento, a água fer-
de 1 parte de ervilha para 3 partes de
vente é descartada e as ervilhas são
abacate.
enxaguadas com água fria ou gelada
para interromper o cozimento e assim • Refogar rapidamente a ervilha
mantê-las crocantes e verdes. Outra cozida em azeite ou manteiga e acres-
maneira de preparar as ervilhas é re- centar ervas frescas ou secas como
fogá-las à moda chinesa (stir frye), alecrim ou manjericão.
qual seja fritá-las rapidamente em
pequena quantidade de óleo quente • Preparar as ervilhas de de-
usando preferencialmente uma pane- bulhar ao estilo inglês: levar ao fogo
la tipo wok e temperá-las com molho uma panela com água com um pouco
de soja. de sal e pimenta, 1 ramo de hortelã e
um pouco de açúcar. Quando a água
As ervilhas podem ser servidas
ferver, adicionar as ervilhas e cozinhar
de diferentes maneiras. Como ingre-
em fogo médio por cerca de 5 minutos
dientes de saladas variadas ou como
ou até que fiquem macias. Escorrer e
acompanhamento de diferentes tipos
temperar com manteiga e hortelã pica-
de carne branca ou vermelha.Também
da.
podem ser adicionadas ao arroz, ao
macarrão, a sopas e cozidos. Quando Feijão-vagem
usadas como ingredientes de pratos
cozidos devem ser adicionadas so- Antes do cozimento, as vagens
mente ao final do cozimento, para pre- devem ser lavadas em água corrente
servar seu sabor e textura. e terem as pontas removidas. O cozi-

190
Leguminosas: Qualidade e Uso

mento das vagens inteiras ou picadas • Refogar o feijão-vagem cozido


pode ser feito em água fervente com sal na manteiga com alho e sal e adicio-
ou no vapor, com a panela destampada nar noz-moscada.
pelo tempo necessário para deixá-las
macias, mas ainda crocantes, seguido • Fritar fatias de bacon, escorrer
pelo enxague em água fria para impedir a gordura, refogar o feijão-vagem, adi-
que elas fiquem muito macias e ama- cionar tomate picado e acertar o tem-
reladas. O cozimento por tempo pro- pero com sal e pimenta.
longado reduz a qualidade sensorial e • Cozinhar 300 g a 400 g de
nutricional desta hortaliça. A vagem de feijão-vagem; derreter 2 colheres de
metro quando cozida em excesso fica manteiga em outra panela; adicionar
com a textura desagradável. A vagem o feijão escorrido e 2 colheres de par-
pode também ser preparada a moda mesão e pimenta à gosto.
chinesa, como descrito para a ervilha.
• Misturar o feijão-vagem cozido
O feijão-vagem é um excelente com pancetta ou bacon crocante e ce-
acompanhamento para carne verme- bolinha verde e temperar com vinagre
lha, batata e macarrão. Podem ser balsâmico agosto.
usados como ingredientes em sala-
das, cozidos, empanados, tortas, so- • Aquecer as vagens ligeiramen-
pas e farofas. te em manteiga, adicionar algumas
colheres de creme de leite fresco com
Algumas maneiras rápidas de um pouco de suco de limão. Não usar
preparar o feijão-vagem incluem: mais que o suficiente para cobrir as
vagens. Adicionar um pouco de salsa.

191
Hortaliças leguminosas

192
193
Hortaliças leguminosas

Receitas

Índice de receitas com legumes verdes

Prato Ervilha verde Feijão-vagem


Salada fria Salada refrescante Salada de vagem com frango e
laranja

Salada quente Ervilha torta com cogumelo Vagem com hortelã

Com carne ou Filé mignon com ervilha Carne de porco com cogumelos e
frango fresca e abacaxi vagem

Com peixe Garoupa ou badejo com Peixe com cogumelos e vagem


ervilha torta

Sopa Ensopado com ervilha torta Ensopado de inverno

Torta / Pizza / Rolinho de ervilha e frango Bolo de vagem


Bolinho
Com macarrão Espaguete com molho verde Parafuso oriental
secreto

Com arroz Arroz com abóbora e ervilha Risoto integral expresso

Patê ou purê Pasta de ervilha com hortelã –

194
Leguminosas: Qualidade e Uso

Salada refrescante
Rendimento: 15 porções

Ingredientes:

4 xícaras de cebolas roxas cortadas em rodelas finas


Folhas de pé de radicchio cortadas em tiras
1 repolho pequeno cortado em tiras finas
3 xícaras de pimentão amarelo picado
3 xícaras de ervilhas cozidas
¾ de xícara de iogurte integral
¾ de xícara de maionese
2 colheres (sopa) de alcaparras
1 ½ colher (sopa) de manjericão fresco picado
Sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de fazer:

Em uma panela média, aferventar as cebolas por 10 minutos, escorrer e deixar


esfriar. Em uma saladeira, fazer camadas alternadas de radicchio, cebola,
repolho, pimentão e ervilha. Reservar. Em uma tigela misturar o iogurte, a
maionese, as alcaparras e o manjericão. Temperar com sal e pimenta-do-reino.
Despejar o molho sobre a salada e levar à geladeira por cerca de 2 horas. Na
hora de servir, misturar bem.

195
Hortaliças leguminosas

Salada de vagem com frango e laranja


Rendimento: 2 porções

Ingredientes:

150 g de feijão-vagem
1 bulbo de erva-doce
1 abacate
100 g de agrião picado grosseiramente
2 laranjas
2 colheres (sopa) de azeite
2 peitos de frango cozidos e picados

Modo de fazer:

Cozinhar a vagem em água e sal, por 4 a 5 minutos, ou até que fiquem macia,
mas ainda crocante. Fatiar o bulbo de erva-doce, desprezando a parte central do
bulbo. Descascar e picar o abacate e misturar com o agrião. Descascar e picar
as laranjas e adicionar ao agrião com abacate. Reservar um pouco de suco de
laranja para misturar ao azeite e fazer o molho. Temperar a salada com o molho,
adicionar o frango e servir.

196
Leguminosas: Qualidade e Uso

Ervilha torta com cogumelo


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

½ kg de ervilhas tortas
½ kg de cogumelo fresco
3 colheres (sopa) de óleo
6 cebolinhas verdes cortadas em pedaços de 2 cm
1 colher (chá) de gengibre fresco ralado
2 colheres (sopa) de molho de soja

Modo de fazer:

Cortar as pontas e retirar os fios das ervilhas tortas. Lavar bem em água fria.
Enxugar e levar a geladeira até a hora do preparo. Lavar os cogumelos e remover a
parte mais dura do cabinho. Cortar em fatia no sentido do comprimento. Aquecer
o óleo em uma frigideira. Acrescentar a cebolinha e refogar por 1 minuto. Colocar
os cogumelos e fritar, mexendo por mais de 1 minuto. Adicionar o gengibre, as
ervilhas e fritar por mais um ou 2 minutos, até elas estejam macias, mas ainda
crocantes. Acrescentar molho de soja e servir.

197
Hortaliças leguminosas

Vagem com hortelã


Rendimento: 8 porções

Ingredientes:

1/3 de xícara de manteiga


Sal a gosto
800 g de vagem
2 colheres (sopa) de suco de limão
1/4 de xícara de folhas de hortelã

Modo de fazer:

Levar ao fogo alto uma panela com manteiga, sal, a vagem e o suco de limão.
Cozinhar, mexendo às vezes, por 15 minutos ou até a vagem ficar macia.
Misturar a hortelã e servir.

198
Leguminosas: Qualidade e Uso

Filé mignon com ervilha fresca e abacaxi


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

2 xícaras de ervilha fresca


3 colheres (sopa) de manteiga
200 g de abacaxi cortado em cubinhos
4 bifes de filé mignon com 200 g cada um

Modo de fazer:

Numa panela média, ferver 1,5 L de água. Juntar a ervilha fresca e cozinhar por
5 minutos. Retirar do fogo e escorrer bem. Derreter a manteiga numa frigideira
em fogo alto. Por a ervilha, o abacaxi e refogar por 5 minutos ou até as ervilhas
ficarem macias. Temperar com sal e pimenta e reservar. Grelhar a carne até o
ponto desejado e servir com a ervilha e o abacaxi refogados.

199
Hortaliças leguminosas

Carne de porco com cogumelos e vagem


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

½ kg de carne de porco cortado em tirinhas


Sal e pimenta a gosto
Alho a gosto
½ xícara (chá) de óleo
300 g de vagem cortada ao meio e cozidas al dente
250 g de cogumelos em conserva, cortado em fatias finas
1 cebola grande fatiada

Modo de fazer:

Temperar a carne de porco com sal, pimenta e alho. Numa frigideira (grande) ou
numa panela wock, refogar a carne em óleo, virando para dourar os dois lados.
Acrescentar a cebola e deixar cozinhar até que esteja translúcida. Acrescentar
a vagem e os cogumelos, aquecer por 1 minuto e acertar o sal antes de servir.

200
Leguminosas: Qualidade e Uso

Garoupa ou badejo com ervilhas


Rendimento: 8 porções

Ingredientes:

800 g de filé de garoupa (ou badejo) cortado em cubos de 2 cm


1 colher (chá) de sal a gosto
1 pitada de pimenta-do-reino branca
5 colheres (sopa) de azeite
1 colher (sopa) de cebola picada
1 dente de alho picado
1 colher (sopa) de salsinha picada
2 filés de anchova picados grosso
1 ⅔ xícaras de ervilhas frescas (200g)
3 colheres (sopa) de polpa de tomate

Modo de fazer:

Temperar o peixe com a metade do sal e da pimenta. Reservar. Em um refratário,


misturar o azeite, a cebola, o alho, a salsinha e a enchova. Levar ao micro-ondas
em alta potência por 2 minutos. Juntar as ervilhas, a polpa de tomate e o sal
restante. Verificar o tempero e corrigir se necessário. Cobrir com filme plástico
deixando uma pequena abertura e cozinhar em temperatura alta por mais de
5 minutos. Acrescentar o peixe, misturar e levar de volta ao micro-ondas em
potência alta por mais 7 minutos. Mexer e deixar descansar por 3 minutos. Servir
a seguir.

201
Hortaliças leguminosas

Peixe com cogumelos e vagem


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

½ kg de carne de peixe sem espinhas (cação, atum)


Sal e pimenta-do-reino a gosto
1 clara ligeiramente batida
3 colheres (sopa) de maisena
½ xícara de óleo
250 g de vagem cortada em pedaços de 5 cm
1 ½ xícara de cogumelos frescos cortados em finas fatias

Modo de fazer:

Cortar o peixe em pedaços de 5 cm x 2 cm e temperar com sal e a pimenta.


Passar pela clara e pela maisena. Aquecer o óleo numa frigideira grande.
Juntar alguns pedaços de peixe e fritar virando cuidadosamente para que não
desmanchem. Fazer o mesmo com o resto do peixe. Juntar a vagem e fritar por
um minuto. Adicionar os cogumelos e fritar, mexendo de vez em quando, por
mais de 1 minuto. Acrescentar o peixe. Mexer cuidadosamente e aquecer um
pouco. Servir imediatamente.

202
Leguminosas: Qualidade e Uso

Ensopado com ervilha torta


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

Sal a gosto
2 colheres (sopa) de óleo
750 g de alcatra (ou coxão mole) cortada em tiras finas
½ xícara de cebolinha verde
500 g de ervilhas tortas
1 ½ xícara de caldo de carne
3 colheres (sopa) de molho de soja
¼ de colher (chá) de gengibre em pó
2 colheres (sopa) de maisena
2 colheres (sopa) de água fria

Modo de fazer:

Temperar a alcatra com sal. Em uma frigideira grande, aquecer o óleo e fritar
a carne até dourar. Se a carne estiver dura, depois de frita, cozinhar com um
pouco de água. Reservar. Na mesma frigideira, colocar a cebolinha, as ervilhas,
o caldo de carne, o molho de soja e o gengibre. Deixar levantar fervura. Cozinhar
por mais 2 minutos. Dissolver a maisena na água fria e acrescentar ao líquido
fervente na frigideira, mexer sem parar, por mais 2 ou 3 minutos. Verificar o sal.
Juntar a carne reservada, aquecendo bem. Servir quente.

203
Hortaliças leguminosas

Ensopado de inverno
Rendimento: 4 a 6 porções

Ingredientes:

1 kg de coxão mole cortado em cubos


Sal e pimenta-do-reino a gosto
1 cebola grande picada
3 colheres (sopa) de óleo
2 xícaras de água
3 cenouras médias cortadas em rodelas
350 g de vagem cortada em pedaços
1 pimentão vermelho cortado em pedaços

Modo de fazer:

Temperar o coxão mole com sal, pimenta e cebola. Em uma panela grande,
aquecer o óleo em fogo alto e fritar a carne até dourar. Acrescentar a água e
cozinhar até que ela fique macia. Adicionar a cenoura e, quando ela estiver
quase macia, juntar a vagem e o pimentão. Manter no fogo, regando com água
se for necessário, até as hortaliças ficarem macias. Servir a seguir.

204
Leguminosas: Qualidade e Uso

Rolinho de ervilha e frango


Rendimento: 16 rolinhos

Ingredientes:

1 pacote de massa folhada descongelada


2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina
Farinha de trigo em quantidade suficiente para abrir a massa
2 xícaras de carne de frango (assada ou cozida) desfiada
1 lata de ervilha escorrida
1 cebola média picada
1 colher (sopa) de salsinha picada
1 colher (sopa) de cebolinha verde
½ colher (chá) de alecrim seco ou fresco
Sal e pimenta-do-reino a gosto
1 colher (chá) de molho de soja
1 gema

Modo de fazer:

Abrir a massa folhada até ficar bem fina. Cortar em 16 retângulos de mesmo
tamanho. Derreter 2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina. Fritar a cebola
até que esteja macia. Juntar a carne de frango, a ervilha e temperos. Colocar
sobre os retângulos. Fechar e pincelar com a gema. Assar em forno quente
pré-aquecido (220 °C) por 20 minutos. Servir com iogurte temperado com sal,
pimenta, salsinha e cebolinha.

205
Hortaliças leguminosas

Bolo de vagem
Rendimento: 12 porções

Ingredientes:

400 g de vagem cortada fina, cozida, porém tenra


½ xícara (chá) de queijo minas meia cura ralado
1 cebola pequena picada
½ xícara (chá) de azeite
1 ½ xícara (chá) de leite
2 ½ xícaras (chá) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
½ xícara (chá) de cheiro verde
1 cenoura ralada
Sal e pimenta do reino a gosto
3 ovos

Modo de fazer:

Colocar no liquidificador o leite, o óleo, os ovos, o queijo, o sal, a cebola, o alho,


a farinha de trigo e o fermento. Bater até obter uma massa homogênea. Colocar
essa massa numa vasilha e juntar a vagem, o cheiro verde e a cenoura ralada,
misturar tudo e colocar numa forma untada. Levar para assar em forno pré-
aquecido em temperatura alta.

206
Leguminosas: Qualidade e Uso

Espaguete com molho verde secreto


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

400 g de espaguete
100 g de espinafre
140 g ervilha congelada
1 maço pequeno de manjericão
3 colheres (sopa) de pesto verde
150 g de creme de leite fresco
50 g de queijo parmesão ralado, mais uma quantidade extra para servir

Modo de fazer:

Cozinhar o espaguete de acordo com as instruções do fabricante. Reservar.


Colocar o espinafre picado e as ervilhas em uma panela, cobrir com água
fervente e cozinhar até que fiquem macios. Colocar a mistura de ervilha e
espinafre em um processador, adicionar o manjericão, pesto, creme de leite
e parmesão e misturar até obter um creme homogêneo. Drenar a pasta e
reservar a água de cozimento. Retornar o macarrão para a panela, adicionar
o molho e aquecer em fogo baixo até que o molho cubra completamente o
macarrão. Se necessário, adicionar um pouco da água de cozimento.

207
Hortaliças leguminosas

Parafuso oriental
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

1 xícara (chá) de brócolis cozido al dente


1 xícara (chá) de couve-flor cozida al dente
1 pimentão vermelho em tirinhas
150 g de vagem al dente
4 colheres (sopa) de azeite
Sal e pimenta do reino
1 xícara (chá) de molho de soja
500 g de macarrão tipo parafuso cozido

Modo de fazer:

Numa frigideira (grande) ou numa panela wok, dourar rapidamente o pimentão


no azeite, deixando-o macio mas ainda crocante. Acrescentar o brócolis, a
couve-flor e a vagem e dourar rapidamente. Acrescentar o sal, a pimenta e o
molho de soja e misturar bem. Acrescentar o macarrão escorrido, misturar e
aquecer por 1 minuto. Servir.

208
Leguminosas: Qualidade e Uso

Risoto integral expresso


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

1 colher (sopa) de azeite


2 bifes de coxão mole cortado em tirinhas (cerca de 200 g)
1 xícara (chá) de arroz integral
½ xícara (chá) de vagem picada
½ pimentão vermelho picado
2 colheres (sopa) de polpa de tomate
½ xícara (chá) de vinho branco
Sal
½ xícara (chá) de abóbora picada
4 colheres (sopa) de requeijão cremoso
4 colheres (sopa) de cebolinha verde picada

Modo de fazer:

Em uma panela de pressão aquecer o azeite e dourar a carne. Juntar o arroz, o


pimentão, a polpa de tomate, o vinho, o sal e 3 xícaras (chá) de água. Tampar a
panela e levar ao fogo médio. Quando pegar pressão (começar a chiar), cozinhar
por 10 minutos. Retirar do fogo e aguardar sair toda a pressão. Abrir, acrescentar
a abóbora e a vagem e cozinhar por mais 5 minutos, em panela destampada.
Acrescentar o requeijão, misturar e servir polvilhado com cebolinha verde.

209
Hortaliças leguminosas

Pasta de ervilha com hortelã


Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

400 g de ervilha congelada, descongelada


100 g de iogurte natural com baixo teor de gordura
Suco de 1 limão
1 colher (chá) de cominho
1 pequeno maço de hortelã
1 pimenta vermelha picada

Modo de fazer:

Misturar os ingredientes em um processador. Servir com pão ou torradas.

210
Leguminosas: Qualidade e Uso

Referências saúde, 2006. 210 p. Disponível em: <


http://189.28.128.100/nutricao/docs/
AGRICULTURE AND AGRI-FOOD geral/guia_alimentar_conteudo.pdf >
CANADA. Dry Pea - Agriculture And Acesso: 01 jul. 2013.
Agri-Food Canada (AAFC). 2006b.
Disponível em:< http://www.agr.gc.ca/ ______. 2. ed. Brasília, DF: Ministério
eng/industry-markets-and-trade/ da Saúde, 2014. 158 p. Disponível
statistics-and-market-information/ em: <http://portalsaude.saude.gov.br/
by-product-sector/crops/pulses-and- images/pdf/2014/novembro/05/Guia-
special-crops-canadian-industry/dry- Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Miolo-
pea/?id=1174597774743 >. Acesso PDF-Internet.pdf> Acesso: 20 dez.
em: 10 dez. 2014. 2014.

AVIS de mise en consultation d’une BRUMMER, Y.; KAVIANI, M.; TOSH,


demande d’enregistrement d’une S. M. Structural and functional
indication géographique protégée characteristics of dietary fibre in
concernant «lentille blonde de beans, lentils, peas and chickpeas.
Saint-Flour». Bulletin Officiel de la Food Research International,
Concurrence, de la Consommation Barking, v. 67, p. 117-125, Jan. 2015.
et de la Répression des Fraudes,
Paris, n. 4, avril 2005. Disponível DIET, nutrition and the prevention of
em:< http://www.economie.gouv.fr/ chronic diseases: report of a joint
files/files/directions_services/dgccrf/ WHO/FAO expert consultation.
boccrf/05_04/a0040032.htm>. Acesso Geneva : World Health Organization,
em: 19 dez. 2014 2003. 149 p. (WHO Technical
Report Series, 196). Disponível em
BBC Good food: recipes and cooking < http://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_
kips. London. Disponível em: <http:// TRS_916.pdf>. Acesso em: 01 nov.
www.bbcgoodfood.com/>. Acesso em: 2014.
15 jan. 2015.
PULSES: cooking with beans, peas,
BEST COOKING PULSES. Tips for lentils and chickpeas. Manitoba: Pulse
cooking with dried peas. Manitoba, Canada, [2010?]. 28 p. Disponível
2004. Disponível em:< http://www. em:< http://www.manitobapulse.ca/
bestcookingpulses.com/recipeTips. wp-content/uploads/Cooking-with-
php >. Acesso em: 13 out. 2014. Beans-Peas-Lentils-2010b.pdf >.
Acesso em: 27 out. 2014
GUIA alimentar para a população
brasileira: promovendo a alimentação PURDUE-UNIVERSITY. Vegetable
saudável. Brasília: Ministério da of the week: green peas. Disponível

211
Hortaliças leguminosas

em : <https://www.purdue.edu/ BHATTY, R. S. Composition and


enjoyfoodbeactive/docs/fact/ quality of lentil (Lens culinaris Medik):
peasVOW.pdf>. Acesso 10 jan. 2015. a review. Canadian Institute of Food
Science and Technology Journal,
THOMAS, C. Melissa’s great book
Ottawa, v. 21, p. 144-160, 1988.
of produce. Hoboken: John Wiley &
Sons, 2006. 326 p. BIG, D. Pea. In: WILSON-SMITH, A.
YADAV, S. S.; LONGNECKER, N.; (Ed.). The canadian encyclopedia.
DUSUNCELI, F.; BEJIGA, G.; YADAV, Toronto, 2015. Disponível em:< http://
M.; RIZVI, A. H.; MANOHAR, M.; www.thecanadianencyclopedia.ca/
REDDY, A. A.; XAXIAO, Z.; CHEN, W. en/article/pea/>. Acesso em: 12 out.
Uses, consumption and utilization. In: 2014
YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
BOUCHENAK, M.; LAMRI-
W.; SHARMA, B. (Ed.). Chickpea
SENHADJI, M. Nutritional quality
breeding and management.
Oxfordshire: CABI, 2007a. p. 72-100. of legumes, and their role in
cardiometabolic risk prevention: a
review. Journal of Medicinal Food,
Literatura recomendada New Rochelle, v. 16, n. 3, p. 185-198,
ACADEMIA BARILLA. Lenticchia Mar. 2013.
di Castelluccio di Norcia IGP: the
BOYE, J.; ZARE, F.; PLETCH,
lentil (lenticchia) is an annual plant
A. Pulse proteins: Processing,
in the Ervum Lens Leguminose
characterization, functional properties
family. Disponível em:< http://www.
and applications in food and feed.
academiabarilla.com/the-italian-food-
Food Research International,
academy/fruit-vegetables/lenticchia-
castelluccio-norcia.aspx>. Acesso em: Barking, v. 43, n. 2, p. 414-431, Mar.
16 dez.2014. 2010.

AGRICULTURE AND AGRI-FOOD CANTWELL, M.; SUSLOW, T. V.


CANADA. Chickpea - Agriculture And Beans, snap: recommendations
Agri-Food Canada (AAFC). 2006a. for maintaining postharvest quality.
Disponível em:< http://www.agr.gc.ca/ Davis. 1998. Disponível em: <http://
eng/industry-markets-and-trade/ postharvest.ucdavis.edu/pfvegetable/
statistics-and-market-information/ BeansSnap/>. Acesso em: 10 jan.
by-product-sector/crops/pulses-and- 2015.
special-crops-canadian-industry/chick-
peas/?id=1174598188373 >. Acesso GRYGUS, A. Chickpeas (Bengal
em: 12 out. 2014 / Desi type). 2005. Disponível em:

212
Leguminosas: Qualidade e Uso

<http://www.clovegarden.com/ingred/ FRENKIEL, D.; VINDAHL, L. The


bp_chicbz.html>. Acesso em: 12 out. green kitchen. London: Hardie Grant
2014. Books, 2013. 247 p.

COUSIN, R. Peas (Pisum sativum L.). GRIGSON, J. Vegetable book.


Field Crops Research, Amsterdam, London: Penguin Books, 1980, 616 p.
v. 53, p. 111-130, 1997.
HANCOCK, J. F. Plant evolution and
CUBERO, J. I. Origin, taxonomy the origin of crop species. 2nd ed.
and domestication. In: WEBB, C.; Wallingford: CABI. , 2004. 324 p.
HAWTIN, G. (Ed.). Lentils. Slough:
CAB, 1981, p. 15-38. HEALTH. Red-lentil hummus.
2015. Disponível em: < http://
DOBIE, P. Storage losses in legumes. www.health.com/health/
Proceedings of the Nutrition recipe/0,,50400000125494,00.html>.
Society, London, v. 41, p. 75-79, Acesso em: 10 jan. 2015.
1982.
FOOD: red lentil recipes. 2015.
DURANTI, M.; GIUS, C. Legume Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/
seeds: protein content and nutritional food/red_lentil>. Acesso em: 10 jan.
value. Field Crops Research, 2015
Amsterdam, v. 53, n. 1/3, p. 31-45,
June 1997. L’INSTITUT NATIONAL DE
L’ORIGINE ET DE LA QUALITE.
EMBRAPA HORTALIÇAS. Hortaliças Cahier des charges de l’indication
na web. Brasília, DF, 2011. Disponível géographique protégée «Lentilles
em < http://www.cnph.embrapa.br/ Vertes du Berry». 2011. Di Montreuil-
hortalicasnaweb/hortalicas_tambem_ sous-Bois. Disponível em: <http://
arroz.html>. Acesso em : 10 jan. 2015 www.inao.gouv.fr/public/contenu.
php?mnu=170&pageInc=produits/
FELTRIN Sementes. Farroupilha. showTexte.php?ID_TEXTE_
2013. Disponível em < https://www. CONSOLIDE=2030 >. Acesso em: 19
sementesfeltrin.com.br/_uploads/ dez. 2014.
catalogo/Catalogo_1.pdf> Acesso em
: 10 jan. 2015 ______. Lentille vert du Puy: fiche
produit. Montreuil-sous-Bois, 2014.
FLORIDATA. Pisum sativum. Disponível em: < http://www.inao.
Tallahassae, 2010. Disponível em: gouv.fr/public/produits/detailProduit.
< http://www.floridata.com/ref/p/pisu_ php?ID_PRODUIT=3314&from=src >.
sat.cfm >. Acesso em : 10 jan. 2015 Acesso em: 19 dez. 2014.

213
Hortaliças leguminosas

INTERNATIONAL SEED AND PULSE ______. Lentejas de la Armuña


PROCESSOR. Marrowfat pea. denominacion de origen.
Disponível em:< http://www.dunns-ls. Salamanca. Disponível em: < http://
co.uk/products/pulses/marrowfat- www.lasalmantina.com/lentejas-de-la-
peas>. Acesso em: 10 jan. 2015. armuna-denominacion-de-origen.html
> Acesso em: 16 nov. 2014.
ISLA-SEMENTES. Favas e
feijões-vagem. Porto Alegre. LENTEJA pardina Tierra de Campos.
2015. Disponível em: <http:// 2011. Disponível em:< http://www.
isla.com.br/cgi-bin/detalhe. gastronomiaycia.com/2011/03/25/
cgi?id=154&id_emb=100&grupo_ lenteja-pardina-tierra-de-campos/ >.
secao=1&div=menu_ Acesso em: 16 dez.2014.
isla_4_4_0_12&id_subgrupo=12>. LENTILLE Verte du Berry. Bourges.
Acesso em: 10 jan. 2015. Disponível em:< http://www.
lalentillevertedupuy.com>. Acesso em:
JUKANTI, A. K.; GAUR, P. M.; GOWDA,
19 dez. 2014.
C. L. L.; CHIBBAR, R. N. Nutritional
quality and health benefits of chickpea MELISSA’S. Fresh garbanzo beans
(Cicer arietinum L.): a review. Bristish (Chickpeas). Los Angeles. Disponível
Journal of Nutrition, v. 108, S11-S26, em: < http://www.melissas.com/Fresh-
Aug. 2012. Suplemento. Garbanzo-Beans-p/640.htm>. Acesso
em: 01 dez. 2014.
LA LENTILLE verte du puy. Disponível
em:< http://www.lalentillevertedupuy. MUZQUIZ, M.; WOOD, J. A.
com>. Acesso em: 12 out. 2014 Antinutritional factors. In: YADAV,
S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN, W.;
LANA, M. M.; TAVARES, S. A. (Ed.). SHARMA, B. (Ed.). Chickpea
50 Hortaliças: como comprar, breeding and management.
conservar e consumir. 2. ed. rev. Oxfordshire: CABI, 2007. p. 143-166.
Brasília, DF: Embrapa Informação
Tecnológica, 2010. 209 p. NEDER, M. O grande livro de
receitas de Claudia. São Paulo:
LA SALMANTINA. Lenteja Caviar Abril, 2006. 1185 p.
o lenteja beluga ee.uu, Canadá.
NESTLÉ. Cozinha Nestlé: receitas,
Salamanca. Disponível em: < http://
dicas e enciclopédia da nutrição.
www.lasalmantina.com/lenteja-caviar-
2009. Disponível em: < https://www.
o-lenteja-beluga-ee-uu-canada.html>
nestle.com.br/site/cozinha.aspx. >.
Acesso em: 16 nov. 2014.
Acesso em: 10 jan. 2015.

214
Leguminosas: Qualidade e Uso

NYGAARD, D. F.; HAWTIN, G. SAXENA, M. C.; HAWTIN, G. C.


C. Production, trade and uses. Morphology and Growth Patterns,
In: WEBB, C.; HAWTIN, G. (Ed.). In: WEBB, C.; HAWTIN, G. (Ed.).
Lentils. Slough: CAB, 1981. p. 7-13. Lentils. Slough: CAB, 1981. p. 39-52.

PULSE CANADA. Lentil (Lens SUSLOW, T. V.; CANTWELL,


culinaris). Disponível em:< http:// M. Peas: snow and snap pod
www.pulsecanada.com/about-us/ recommendations for maintaining
what-is-a-pulse/lentil>. Acesso em: 16 postharvest quality. Davis. Disponível
dez. 2014. em: < http://postharvest.ucdavis.edu/
pfvegetable/Peas/>. Acesso em: 28
PULSE CANADA. Nutritional out. 2009.
benefits. Disponível em:< http://
www.pulsecanada.com/food-health/ TEXAS AGRILIFE EXTENSION
nutritional-benefits>. Acesso em: 16 SERVICE. Garden peas and spinach
dez.2014 from the Middle East. Disponível
em < http://aggie-horticulture.tamu.
PULSES and the gluten free diet: edu/archives/parsons/publications/
cooking with beans, peas, lentils and vegetabletravelers/peas.html>.
chickpeas Manitoba: Pulse Canada, Acesso em: 12 out. 2014.
[2010?]a. 28 p. Disponível em:< http://
www.manitobapulse.ca/wp-content/ TAR’NA, B. Chickpea. In: WILSON-
uploads/Gluten-Free-Diet-Cooking- SMITH, A. (Ed.). The canadian
with-Beans-Peas-Lentils.pdf>. Acesso encyclopedia. Toronto, 2015.
em:27 out. 2014 Disponível em:< http://www.
thecanadianencyclopedia.ca/en/
REDDEN, R. J.; BERGER, J. D. article/chickpea/>. Acesso em: 12 out.
History and origin of chickpea. In: 2014.
YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
W.; SHARMA, B. (Ed.). Chickpea DINSTEL, R. R. Cooking dried
breeding and management. bean, peas and lentils. Fairbanks:
Oxfordshire: CABI, 2007. p. 1-13. University-of-Alaska : Cooperative
Extension Service, 2014. Disponível
SASKATCHEWAN PULSE CROP em < http://www.uaf.edu/files/ces/
GROWERS ASSOCIATION. Cooking publications-db/catalog/hec/FNH-
with Pulses I Recipes & Nutrition 00360.pdf>. Acesso em 10 jan. 2015.
I Sask Pulse Growers. Disponível
em:< http://www.saskpulse.com/ WALKER, A. F.; KOCHHAR, N. Effect
recipes-nutrition/cooking-with-pulses/ of processing including domestic
>. Acesso em: 13 out. 2014. cooking on nutritional quality of

215
Hortaliças leguminosas

legumes. Proceedings of the YADAV, S. S.; MCNEIL, D. L.;


Nutrition Society, London, v. 41, p. STEVENSON, P. C. Lentil: an ancient
41-51, 1982. crop for modern times. Heidelberg:
CAB, 2007b. 461 p.
WATSON, G.; BAXTER, J. Riverford
farm cookbook: tales from the fields, YADAV, S. S.; REDDEN, R. J.; CHEN,
recipes from the kitchen. London: W.; SHARMA, B. Chickpea breeding
Fourth State, 2008. 422 p. and management. In: YADAV, S. S.;
REDDEN, R. J.; CHEN, W.; SHARMA,
WEBB, C.; HAWTIN, G. Lentils. B. (Eds.). Chickpea breeding and
Slough: CAB, 1981. 216 p. management. Oxfordshire: CABI,
2007c. p. 72-100.

216
Anexo

217
Hortaliças leguminosas

218
Sushi de pasta de grão-de-bico
219
Brotos de lentilha
Hortaliças leguminosas

220
Carne com feijão-vagem
221
Pasta de grão-de-bico
Hortaliças leguminosas

222
Sopa de lentilha
223
Salada de baby leaf de ervilha com peixe frito
Hortaliças leguminosas

224
Grão-de-bico com azeite e salsa
225
Frango com feijão-vagem
Hortaliças leguminosas

226
Ervilha torta com salmão
227
Lentilha refogada
Hortaliças leguminosas

228
Grão-de-bico caramelizado
229
Macarrão parafuso com feijão-vagem
Hortaliças leguminosas

230
Seleta de feijão-vagem

Você também pode gostar