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Evangelho segundo S. Marcos 11,1-10. – cf.par.

Mt 21,1-11; Lc 19,29-38; Jo 12,12-19

Seguir a Cristo: homilia de Bento XVI no Domingo de Ramos


Jornada Mundial da Juventude 2007

CIDADE DO VATICANO, domingo, 1º de abril de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos a


homilia pronunciada por Bento XVI na celebração solene do Domingo de Ramos. Na missa
que ele presidiu na Praça de São Pedro, no vaticano, participaram jovens de Roma e do
mundo por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que neste ano tem o tema: «Que vos
ameis uns aos outros assim como Eu vos amei» (Jo 13, 34).

***

Queridos irmãos e irmãs:

Na procissão do Domingo de Ramos, nós nos unimos à multidão de discípulos que, com
alegria festiva, acompanhou o Senhor em sua entrada em Jerusalém. Com eles, louvamos o
Senhor elevando a voz por todos os prodígios que vimos. Sim, também nós vimos e
continuamos vendo os prodígios de Cristo: como ele leva homens e mulheres a renunciarem
às comodidades da própria vida para colocar-se totalmente ao serviço dos que sofrem; como
dá valor a homens e mulheres para opor-se à violência e à mentira, e dar espaço no mundo à
verdade; como, no segredo, ele induz homens e mulheres a fazer o bem aos outros, a suscitar
a reconciliação onde havia ódio, a criar a paz onde reinava a inimizade.

A procissão é, antes de tudo, um gozoso testemunho que nós oferecemos a Jesus Cristo,
aquele que tornou o Rosto de Deus visível, e por quem o coração de Deus se abre a todos nós.
No Evangelho de Lucas, a narração do início do cortejo nos arredores de Jerusalém está
composta seguindo, em alguns momentos literalmente, o modelo do rito de coroação com
que, segundo o Primeiro Livro dos Reis, Salomão foi declarado herdeiro da realeza de Davi
(cf. 1 Reis 1, 33-35). Dessa forma, a procissão dos Ramos é também uma procissão de Cristo
Rei: professamos a realeza de Jesus Cristo, reconhecemos Jesus como o Filho de Davi, o
verdadeiro Salomão, o Rei da paz e da justiça. Reconhece-lo como Rei significa aceita-lo
como quem nos indica o caminho, Aquele de quem nos fiamos e a quem seguimos. Significa
aceitar, cada dia, sua palavra como critério válido para a nossa vida. Significa ver n’Ele a
autoridade à qual nos submetemos. Nós nos submetemos a Ele porque sua autoridade é a
autoridade da verdade.

Antes de tudo, a procissão dos Ramos é, como foi naquela ocasião para os discípulos, uma
manifestação de alegria, porque podemos conhecer Jesus, porque Ele nos permite ser seus
amigos e porque nos deu a chave da vida. Esta alegria, que se encontra na origem, é também
expressão do nosso «sim» a Jesus e da nossa disponibilidade para caminhar com Ele até onde
ele nos levar. A exortação do início da nossa liturgia interpreta justamente o sentido da
procissão, que é também uma representação simbólica do que chamamos de «seguimento de
Cristo»: «Peçamos a graça de segui-lo», nós dissemos. A expressão «seguimento de Cristo» é
uma descrição de toda a existência cristã em geral. Em que consiste? O que quer dizer
concretamente «seguir Cristo»?
No início, nos primeiros séculos, o sentido era muito simples e imediato: significa que essas
pessoas haviam decidido deixar sua profissão, seus negócios, toda a sua vida para ir com
Jesus. Significava empreender uma nova profissão: a de discípulo. O conteúdo fundamental
dessa profissão consistia em ir com o mestre, confiar totalmente em seu guia. Dessa forma, o
seguimento era algo exterior e ao mesmo tempo muito interior. O aspecto exterior consistia
em caminhar detrás de Jesus em suas peregrinações pela Palestina; o interior, na nova
orientação da existência, que já não tinha os mesmos pontos de referência nos negócios, na
profissão, na vontade pessoal, mas que se abandonava totalmente na vontade do Outro.
Colocar-se à disposição havia se convertido na razão de sua vida. A renúncia que isso
implicava, o nível de desapego, nós o podemos reconhecer de maneira sumamente clara em
algumas cenas dos Evangelhos.

Assim fica claro o que significa para nós o seguimento e sua verdadeira essência: trata-se de
uma transformação interior da existência. Exige que eu já não me feche no meu eu,
considerando minha auto-realização como a razão principal da minha vida. Exige entregar-me
livremente ao Outro pela verdade, pelo amor, por Deus, que em Jesus Cristo me precede e me
mostra o caminho. Trata-se da decisão fundamental de deixar de considerar a utilidade, o
lucro, a carreira e o êxito como o objetivo último da minha vida, para reconhecer, no entanto,
como critérios autênticos a verdade e o amor. Trata-se de optar entre viver somente para mim
ou entregar-me a algo maior. É preciso levar em consideração que a verdade e o amor não são
valores abstratos; em Jesus Cristo eles se converteram em uma Pessoa. Ao segui-lo, eu me
coloco ao serviço da verdade e do amor. Ao perder-me, volto a me encontrar.

Voltemos à liturgia e à procissão dos Ramos. Nela, a liturgia prevê o canto do Salmo 24 (23),
que também em Israel era um canto de procissão, utilizado para subir ao monte do templo. O
Salmo interpreta a subida interior da que era imagem a subida exterior e nos explica o que
significa subir com Cristo: «Quem subirá ao monte do Senhor?», pergunta o Salmo, e
apresenta duas condições essenciais. Aqueles que sobem e querem chegar verdadeiramente
até o cume, até a verdadeira altura, têm de ser pessoas que se perguntam por Deus. Pessoas
que escrutam ao seu redor para buscar Deus, para buscar seu Rosto.

Queridos jovens amigos, que importante é precisamente isso hoje: não podemos nos deixar
levar de um lado para o outro na vida; não podemos nos contentar com o que todos pensam,
dizem e fazem. É preciso escrutar e buscar Deus. Não podemos deixar que a pergunta por
Deus se dissolva em nossas almas, o desejo do que é maior, o desejo de conhecê-lo, seu
Rosto...

Esta é outra condição sumamente concreta para a subida: só pode chegar ao lugar santo quem
tem as «mãos limpas e o coração puro». Mãos limpas são aquelas que não comentem atos de
violência. São mãos que não se sujaram com a corrupção, com os subornos. Coração puro,
quando é puro o coração? Um coração é puro quando não finge e não se mancha com a
mentira e com a hipocrisia. Um coração que é transparente como a água de um manancial,
porque nele não há duplicidade. Um coração é puro quando não se extravia na embriaguez do
prazer; um coração cujo amor é autêntico e não uma simples paixão do momento. Mãos
limpas e coração puro: se caminhamos com Jesus, subimos e experimentamos as purificações
que nos levam verdadeiramente a essa altura à qual o homem está destinado: a amizade com o
próprio Deus.

O Salmo 24 (23), que fala da subida, conclui com uma liturgia de entrada ante a porta do
templo: «Levantai, ó portas, os vossos dintéis! Levantai-vos, ó pórticos antigos, para que entre
o rei da glória». Na antiga liturgia do Domingo de Ramos, o sacerdote, ao chegar ante a
igreja, tocava fortemente com a cruz da procissão a porta, que ainda estava fechada e que
nesse momento se abria. Era uma bela imagem do mistério do próprio Jesus Cristo que, com o
madeiro de sua cruz, com a força do seu amor, tocou, desde o lado do mundo, a porta de
Deus; do lado de um mundo que não conseguia ter acesso a Deus. Com a cruz, Jesus abriu
totalmente a porta de Deus, a porta entre Deus e os homens. Agora ela está aberta. Mas o
Senhor também toca desde o outro lado com a sua cruz: toca as portas do mundo, as portas
dos nossos corações, que com tanta freqüência e em tão elevado número estão fechadas para
Deus. E nos fala mais ou menos dessa forma: se as provas que Deus te dá de sua existência na
criação não conseguirem abrir-te a Ele; se a palavra da Escritura e a mensagem da Igreja te
deixam indiferente, então, olha pra mim, que sou o teu Senhor e o teu Deus.

Este é o chamado que nesse momento deixamos penetrar o nosso coração. Que o Senhor nos
ajude a abrir a porta do coração, a porta do mundo, para que Ele, o Deus vivente, possa vir em
seu Filho, ao nosso tempo, chegar à nossa vida. Amém.

[Tradução realizada por Zenit.


© Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]</

ZP07040101

Evangelho segundo S. Marcos 11,11-26. – cf.par. Mt 21,12-22; Lc 19,45-48

Chegou a Jerusalém e entrou no templo. Depois de ter examinado tudo em seu redor, como a
hora já ia adiantada, saiu para Betânia com os Doze. Na manhã seguinte, ao deixarem Betânia,
Jesus sentiu fome. Vendo ao longe uma figueira com folhas, foi ver se nela encontraria
alguma coisa; mas, ao chegar junto dela, não encontrou senão folhas, pois não era tempo de
figos. Disse então: «Nunca mais ninguém coma fruto de ti.» E os discípulos ouviram isto.
Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que vendiam e
compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de
pombas, e não permitia que se transportasse qualquer objecto através do templo. E ensinava-
os, dizendo: «Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os
povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» Os sacerdotes e os doutores da Lei
ouviram isto e procuravam maneira de o matar, mas temiam-no, pois toda a multidão estava
maravilhada com o seu ensinamento. Quando se fez tarde, saíram para fora da cidade. Ao
passarem na manhã seguinte, viram a figueira seca até às raízes. Pedro, recordando-se, disse a
Jesus: «Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!» Jesus disse-lhes: «Tende fé em
Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: 'Tira-te daí e lança-te ao mar’, e
não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá. Por
isso, vos digo: tudo quanto pedirdes na oração crede que já o recebestes e haveis de obtê-lo.
Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro,
para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. Porque, se não
perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.»

São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja

Catequese baptismal 5
“Tende fé em Deus”

“Quem achará um homem verdadeiramente fiel?”, pergunta a Escritura (Prov 20, 6). Não to
digo para te incitar a abrires-me o coração, mas para que mostres a Deus a candura da tua fé, a
esse Deus que sonda os rins e os corações e que conhece os pensamentos dos homens (Sl 7,
10; 93, 11). Sim, grande coisa é um homem de fé, mais rico do que todos os ricos. Com efeito,
o crente possui todas as riquezas do universo, dado que as despreza e as esmaga aos pés.
Porque, mesmo que possuam imensas coisas materiais, que pobres são espiritualmente os
ricos! Quanto mais juntam, mais consumidos se sentem pelo desejo daquilo que não têm. Pelo
contrário, e esse é o cúmulo do paradoxo, o homem de fé é rico no seio da sua pobreza,
porque sabe que apenas precisa de se alimentar e se vestir; contentando-se com isso, pisa aos
pés as riquezas.

E não somos só nós, os que trazemos o nome de Cristo, que vivemos da fé. Todos os homens,
mesmo os que são estranhos à Igreja, vivem da mesma maneira. É pela fé no futuro que
pessoas que não se conhecem por completo contraem matrimónio; a agricultura baseia-se na
confiança de que os trabalhos empreendidos trarão frutos; os marinheiros depositam a sua
confiança num frágil esquife de madeira. […] A maior parte dos empreendimentos humanos
assenta na fé; toda a gente acredita em princípios.

Hoje, porém, a Escritura apela à verdadeira fé e traça-nos o verdadeiro caminho que agrada a
Deus. Foi esta fé que, em Daniel, fechou a boca aos leões (Dan 6, 23). “Empunhai o escudo
com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno” (Ef 6, 16). […] A fé
sustenta os homens, a ponto de eles conseguirem andar sobre as águas do mar (Mt 14, 29).
Alguns, como o paralítico, foram salvos pela fé de outros (Mt 9, 2); a fé das irmãs de Lázaro
foi tão forte, que ele foi chamado dos mortos (Jo 11). […] A fé dada gratuitamente pelo
Espírito Santo ultrapassa todas as forças humanas. Graças a ela, podemos dizer a esta
montanha: “Muda-te daqui para acolá” e ela mudar-se-á (Mt 17, 21).

São Lourenço Justiniano (1381-1455), cónego regular, depois Bispo de Veneza


Sermão para a festa de São Matias

Deus escolheu o apóstolo Matias

Escreve o apóstolo Paulo: «Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Que


insondáveis são os Seus juízos e impenetráveis os Seus caminhos!» (Rom 11, 33). [...] E diz o
Salmo: «Todas as Vossas obras são fruto da Vossa sabedoria» (Sl 103, 24), isto é, feitas no
Teu Verbo, na Tua Palavra eterna. Se foi no Verbo e pelo Verbo que todas as coisas foram
feitas (Jo 1, 3), quem poderá duvidar de que foi com sabedoria e perfeição, e sem
parcialidades, que Ele escolheu os Seus discípulos? «Ele nos escolheu antes da constituição
do mundo», diz o apóstolo Paulo (Ef 1, 4). [...]

Consideremos a escolha de Matias. Os apóstolos tinham escolhido José Barsabas e Matias


[...]; em seguida, apresentaram essa escolha Àquele que julga segundo o coração e que
«conhecia o coração» de ambos, a fim de que Ele desse a conhecer qual dos dois tinha
escolhido. E Ele tinha certamente escolhido Matias para essa honra antes de as sortes serem
lançadas, antes mesmo da criação do mundo. [...]

«Tudo quanto pedirdes, orando, crede que o recebereis e o obtereis» (Mc 11, 24), diz o
Senhor. É por isso que a Igreja tem o costume de rezar de comum acordo sempre que
considera dever pedir alguma coisa ao Senhor; meio algum tem tanta influência na vontade de
Deus como a oração, se for feita com fé, com serenidade, com humildade e perseverança.
Assim, pois, a sorte em nada prejudicou este glorioso apóstolo porque, como testemunha a
Escritura, os apóstolos começaram por rezar; pelo contrário, foi em resposta à oração deles
que Deus lhes inspirou que tirassem a eleição à sorte. Por outro lado, Matias não obteve uma
graça menor do que a de Pedro ou dos outros apóstolos, ainda que tenha sido chamado em
último lugar. Ele recebeu o Espírito com a mesma plenitude que os outros, e recebeu os
mesmos dons espirituais que eles. Ao poisar sobre ele, o Espírito Santo encheu-o de caridade,
concedendo-lhe que se exprimisse em todas as línguas, que fizesse milagres, que convertesse
as nações, que pregasse a Cristo e que recebesse o triunfo do martírio.

Jean Tauler (cerca de 1300-1361), dominicano


Sermão 46

“A Escritura diz: ‘A minha casa chamar-se-á casa de oração para todos os povos.’ E vós
fizestes dela covil de bandidos”

Em seguida, Nosso Senhor entrou no Templo e, à chicotada, pôs fora todos os que
compravam e vendiam, dizendo: “A minha casa será uma casa de oração. Mas vós fizestes
dela um ninho de bandidos.” Que templo é este que se tornou covil de bandidos? É a alma e o
corpo do homem, que são muito mais o verdadeiro templo de Deus do que todos os templos
jamais edificados (1 Co 3,17; 6,19).
Quando Nosso Senhor quer vir a este templo, encontra-o transformado em ninho de bandidos
e em bazar de mercadores. Que é um mercador? São aqueles que dão aquilo que têm – o seu
livre arbítrio – em troca do que não têm – as coisas deste mundo. E como o mundo inteiro está
cheio destes mercadores! Entre eles, há padres e leigos, religiosos, monges e freiras. Que belo
tema de investigação para quem quisesse estudar como há tanta gente tão cheia da sua própria
vontade!... Por toda a parte, o que vemos é a natureza e a vontade própria; tanta gente que
procura em tudo o seu próprio interesse. Se, pelo contrário, quisessem fazer um negócio com
Deus, dando-lhe a sua vontade, que feliz negócio fariam!
O homem deve querer, deve perseguir, deve procurar Deus em tudo o que faz; e quando tiver
feito tudo – beber, dormir, comer, falar, escutar – que ele deixe então completamente as
imagens das coisas e faça de tal forma que o seu templo fique vazio. Uma vez esvaziado o
templo, depois de teres expulsado aquele bando de vendedores, as imaginações que o
invadem, poderás ser uma casa de Deus (Ef 2,19), mas nunca antes, faças tu o que fizeres.
Então, terás a paz e a alegria do coração, e nada mais te perturbará, nada daquilo que agora
continuamente te inquieta, te deprime e te faz sofrer

Evangelho segundo S. Marcos 11,27-33. – cf.par. Mt 21,23-27; Lc 20,1-8

Regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os doutores da


Lei e os anciãos aproximaram-se dele e perguntaram-lhe: «Com que autoridade fazes estas
coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» Jesus respondeu: «Também Eu vos farei
uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: O
baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.» Começaram a discorrer entre
si, dizendo: «Se dissermos 'do Céu’, dirá: 'Então porque não acreditastes nele?’ Se, porém,
dissermos 'dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um
verdadeiro profeta. Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.» E Jesus disse-lhes: «Nem
Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.»

Santo Hilário (cerca de 315 - 367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja


De Trinitate

“Com que autoridade fazes isso?”

É bem do Pai, este Filho que se lhe assemelha. Vem d’Ele, este Filho que se lhe pode
comparar, porque a Ele é semelhante. É igual a Ele, este Filho que realiza as mesmas obras
(Jo 5,36)… Sim, o Filho cumpre as obras do Pai; por isso, nos pede que acreditemos que Ele é
o Filho de Deus. Não se arroga um título que lhe não seja devido; não é nas suas próprias
obras que apoia a sua reivindicação. Não! Ele testemunha que não são as suas próprias obras
mas as do Pai. Atesta assim que o fulgor das suas acções lhe vem do seu nascimento divino.
Mas como é que os homens teriam podido reconhecer n’Ele o Filho de Deus, no mistério
daquele corpo que Ele tinha assumido, naquele homem nascido de Maria? Foi para fazer
penetrar no coração dos homens a fé n’Ele próprio que o Senhor cumpriu todas aquelas obras:
“Se cumpro as obras de meu Pai, então, mesmo se não quiserem acreditar em mim, acreditem
ao menos nas minhas obras!” (Jo 10,38)
Se a humilde condição do seu corpo parece um obstáculo para qu e creiamos na sua palavra,
Ele pede-nos que ao menos acreditemos nas suas obras. Com efeito, porque é que o mistério
do seu nascimento humano nos impediria de acolher o seu nascimento divino?... “Se não
quiserem acreditar em mim, acreditem nas minhas obras, para saberem e reconhecerem que o
Pai está em mim e Eu no Pai”…
Assim é a natureza que Ele possui pelo nascimento; assim é o mistério de uma fé que nos
garantirá a salvação: não dividir quem é um só, não privar o Filho da sua natureza e proclamar
o mistério do Deus Vivo, nascido do Deus Vivo… “Tal como o Pai que me enviou está vivo,
também eu vivo pelo Pai” (Jo 6,57). “Como o Pai tem a vida em si mesmo, também Ele
concedeu que o Filho também tivesse a vida em si” (Jo 5,26).

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