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1.

A Experiência Democrática (1945-


1964) Parte 1

Objetivos:

• Compreender o processo de redemocratização após os anos de


ditadura do Estado Novo;
• Entender as ideologias que predominaram no momento de
redemocratização e a formação dos diferentes partidos políticos.
• Compreender a Constituição de 1946.

1.1 Introdução
Antes de começarmos o próximo ponto, que tal fazermos uma breve
recaptulação das importantes transformações que ocorreram na Era
Vargas? É um momento de transição do Brasil arcáico e rural para o Brasil
moderno, urbanizado e industrializado. Por isso, não custa nada fazer um
breve apanhado desse período tão decisivo da história do Brasil. Vamos
lá!
Quando se encerrou o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-
1954), o Brasil havia passado por uma série de mudanças estruturais que
ganharam velocidade a partir da década de 1930. Essas mudanças diziam
respeito principalmente às bases do desenvolvimento, ao modelo
econômico adotado, à ênfase na industrialização orientada pelo Estado, à
liberalização política e ao controle social e sindical.

Nas décadas de 1930 e 1940, fez-se a travessia do mundo rural para


o mundo urbano industrial, com profundas repercussões em vários
aspectos da vida do país. Uma das mais importantes, do ponto de vista
político, foi a emergência do populismo como recurso de poder para
autoritários e democratas, e a incorporação ao processo político de toda
a população alfabetizada maior de 18 anos. A urbanização cresceu de
forma acelerada, facilitando a expansão desordenada das cidades. O
Brasil vivia o que se chamava então de um intenso processo de
"modernização" política e econômica e sofria todos os impactos, positivos
e negativos, daí decorrentes.

1.2 A Redemocratização do Estado e os novos partidos


políticos

Para o Estado Novo, a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Aliados


teve efeitos contraditórios. De um lado, o regime ganhou tempo. O estado
de guerra representava um bom argumento para o governo adiar, por
tempo indeterminado, a consulta popular que deveria validar a
Constituição de 1937. De outro, a opção por lutar contra o nazi-fascismo
colocou em xeque a manutenção de uma ditadura no país. As oposições
procuraram aproveitar o desgaste do governo decorrente dessa
contradição para retomar a iniciativa. Foi nesse quadro de redefinições
que o Estado Novo entrou em crise e finalmente caiu em outubro de 1945.

A partir de 1942, o governo Vargas começou a se movimentar no


sentido de preparar a transição controlada de um Estado autoritário para
um regime mais aberto. Não por acaso, naquele ano, teve início uma
campanha de popularização da figura de Vargas nos meios de
comunicação, principalmente através do programa radiofônico "Hora do
Brasil". O objetivo era assegurar maior base de apoio para o governo entre
as classes trabalhadoras. Esta era também a raiz da preocupação de
consolidar os direitos sociais e trabalhistas, expressa em medidas
aprovadas em 1943 como a CLT e o aumento do salário mínimo.

Mas a transformação do Estado Novo passava também pela


formulação de uma estratégia para enfrentar a questão político-eleitoral.
No interior do governo, surgiram propostas variadas, todas preocupadas
em criar mecanismos de transição seguros que mudassem o regime, mas
que mantivessem o poder nas mãos de Vargas. Uma alternativa pensada
foi a de se promover eleições imediatamente, com base nas entidades de
classe existentes, em geral dominadas pelo próprio governo. Vargas, no
entanto, procurou não se precipitar e aguardou o rumo dos
acontecimentos nos planos externo e interno.

Ao mesmo tempo, a partir de 1943, a oposição passou a se


movimentar com maior desenvoltura, a despeito da ação da censura e de
outros órgãos repressivos. Durante todo o ano sucederam-se passeatas
de estudantes, promovidas pela UNE, contra o nazi-fascismo. Em outubro,
importantes lideranças civis e liberais de Minas Gerais lançaram um
documento contestando o regime ditatorial conhecido como o Manifesto
dos Mineiros. O governo reagiu punindo vários dos signatários, acusados
de insuflar "nosso pior inimigo: as divergências internas". Vargas prometeu
a normalização da vida política do país para logo após o fim da guerra, em
"ambiente próprio de paz e ordem".

No ano de 1944, as oposições partiram para uma atuação mais


agressiva e começaram a costurar alianças com um ator que ganhava
cada vez mais prestígio naqueles anos de guerra: os militares. Em outubro
de 1944, a candidatura presidencial do brigadeiro Eduardo Gomes, herói
dos 18 do forte, começou a ser articulada nos meios militares e civis. Em
janeiro de 1945, no I Congresso Brasileiro de Escritores, intelectuais de
renome defenderam a imediata redemocratização do país.

Para fazer frente às pressões e romper o isolamento político, em


fevereiro de 1945, o governo resolveu baixar a Lei Constitucional nº 9, que
previa a realização de eleições em data a ser marcada 90 dias depois. Era
o primeiro passo para a redemocratização do país. Em maio foi decretado
o Código Eleitoral: as eleições para a presidência da República e para o
Parlamento Nacional seriam realizadas no dia 2 de dezembro daquele ano,
e em maio de 1946 se realizariam as eleições para os governos e
assembleias estaduais.

De acordo com as regras do jogo, Vargas poderia concorrer às


eleições, desde que se desincompatibilizasse do cargo três meses antes
do pleito. O presidente, no entanto, afirmava que não tinha interesse em
permanecer no poder.
A redemocratização do país mobilizou a sociedade brasileira.
Surgiram partidos políticos nacionais, que teriam a partir daquele
momento, até a década de 1960, grande importância. Foram eles a União
Democrática Nacional (UDN), que reunia grande parte das oposições; o
Partido Social Democrático (PSD), beneficiário da máquina política do
Estado Novo, e, finalmente, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
formado a partir da base sindical controlada por Vargas. Enquanto a UDN
apoiou a candidatura de Eduardo Gomes, o PSD lançou a do general Eurico
Dutra. O PTB inicialmente manteve-se distante dos dois candidatos.

Mesmo com a campanha nas ruas, continuavam as dúvidas. Vargas


seria candidato? Que papel teria ele na redemocratização do país? Setores
oposicionistas e segmentos da elite do Estado Novo temiam os projetos
continuístas do ditador. Temiam também seu prestígio junto às forças
populares. Por isso, queriam afastá-lo do poder o mais rápido possível.

A UDN defendia a convocação imediata da eleição para a presidência


da República, deixando a promulgação de uma nova Constituição para um
segundo momento. Os udenistas não admitiam que coubesse ao ditador
a tarefa de presidir a constitucionalização do país. Já para os comunistas,
que puderam atuar livremente após a anistia de abril de 1945, o primeiro
passo para a implantação do regime democrático deveria ser a instalação
de uma Assembleia Nacional Constituinte. Sob a vigência de uma nova
Carta é que deveriam ser realizadas as eleições para a presidência da
República, governos estaduais e assembleias legislativas.
Na prática, a proposta dos comunistas implicava que Vargas
permanecesse no poder ainda por um largo período. Essa proposta
aproximava o PCB do PTB e fortalecia o movimento queremista, surgido
em meados de 1945, cujas principais palavras de ordem eram "Queremos
Getúlio" e "Constituinte com Getúlio". Rapidamente o queremismo ganhou
as ruas, deixando as elites civis e militares preocupadas com as intenções
continuístas do presidente.

No dia 10 de outubro, Getúlio baixou um novo decreto antecipando


para 2 de dezembro as eleições estaduais. Segundo o decreto, os então
interventores deveriam outorgar dentro de um prazo de 20 dias as
constituições estaduais. Caso quisessem ser candidatos, bastaria
renunciar aos seus mandatos 30 dias antes do pleito. Tudo levava a crer
que Vargas sairia profundamente fortalecido das eleições, realizadas sob
a égide de seu governo.

A partir de então, aceleraram-se as articulações conspiratórias. Entre


os principais envolvidos, estavam o ministro da Guerra, general Góes
Monteiro, e o candidato do PSD à presidência da República e ex-ministro
da Guerra, general Eurico Dutra. Os conspiradores contavam também com
a aval do embaixador americano no Brasil, Adolf Berle.

No dia 25 de outubro, Getúlio nomeou seu irmão Benjamim Vargas


chefe de Polícia do Distrito Federal. Circulavam rumores de que, ao
assumir o cargo, Benjamim prenderia todos os generais que estivessem
conspirando contra o regime. Essa nomeação funcionou como uma
espécie de gota d'água. No dia 29 de outubro, Getúlio Vargas foi deposto
pelo Alto Comando do Exército e, declarando publicamente que
concordava com a deposição, retirou-se para São Borja, sua cidade natal.
No dia seguinte, José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal,
assumiu a presidência da República, para transmiti-la, em janeiro de 1946,
ao candidato vitorioso nas eleições, Eurico Dutra.

1.2.1 Os Partidos Políticos e a Ideologia

Falamos a respeito do processo de redemocratização de 1945,


inclusive retomando alguns pontos abordados na semana 2. Mas
precisamos saber um pouco mais a respeito dos partidos políticos criados
nesse momento, pois eles serão muito importantes até o final do período
democrático, em 1964.
Como vimos, foi na conjuntura final do Estado Novo que foram
criados os principais partidos políticos brasileiros atuantes da década de
1940 à de 1960: a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social
Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A lei eleitoral
de maio de 1945, determinou a constituição de partidos de caráter
nacional, o que rompia com a tradição regionalista da política partidária
brasileira.
Outro partido muito importante nesse momento é o Partido
Comunista do Brasil (PCB), criado em 1922, mas que permaneceu na
ilegalidade por um longo período.

1.2.2 A Constituição de 1946

Não poderíamos deixar de falar sobre a Constituição de 1946. Esse


momento é fundamental para compreender o período da Experiência
Democrática. As principais características dessa constituição são:
• Inspirada na CF de 1934, que, por sua vez, era inspirada na
constituição de Weimar.
• A constituição previa mandatos presidenciais de 5 anos, com
eleições com voto direto e secreto, e voto separado para
presidente e vice-presidente.
• Por sua vez, os mandatos legislativos eram de 4 anos.
• Direitos civis são todos resgatados.
o O Mandado de Segurança surge como uma novidade,
como um remédio à disposição dos cidadãos para
combater violações aos seus direitos líquidos e certos.
o A constituição previa a “assistência jurídica para os
necessitados”, assegurando o acesso ao judiciário.
o Também é assegurado o direito de greve, que havia sido
restringido, especialmente durante a 2ª guerra.
▪ Na CF/1946 o direito de greve é plenamente
garantido, sem qualquer restrição. Porém, ele não
foi regulamentado, prevalecendo a
regulamentação anterior, feita por Dutra,
totalmente restritiva. Ou seja, na prática, embora a
Constituição assegurasse o direito de greve, ele
ficou bem restrito.
• Direitos políticos:
o Bicameralismo;
o Federalismo;
o Pluripartidarismo;
o Voto universal, feminino (exceto analfabetos), secreto,
justiça eleitoral.
• Direitos sociais:
o CLT mantida;
o Unicidade sindical (tutela estatal);
o Imposto sindical;
o Foi mantida a estabilidade no emprego, após 10 anos.
• A Constituição de 1946 sofreu algumas emendas, sendo a mais
importante a EC 04/1961, que instituiu o parlamentarismo.

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