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História Mundial

Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia


P D D P P S

Apresentação

Olá caro estudante!

É com muita satisfação que entregamos para você nossa aula escrita sobre
as, assim conhecidas, Revoluções Burguesas ou Revoluções Liberais.
Trataremos aqui, especificamente, das Revoluções Inglesa e Francesa e dos
movimentos de 1830 e 1848.

Antes de começarmos, gostaríamos de fazer algumas ponderações com


você sobre esses temas (e que também valerão para as demais aulas e
conteúdos de nosso curso). Desde 2010, as provas para do Concurso de
Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) tem se tornado bastante detalhistas
nas suas questões de história de um modo geral. Em algumas delas, a
cobrança chega ao nível de nomes e datas (teremos oportunidades de indicá-
los isso depois). Sendo assim, nosso papel como professores fica bem
complicado porque teremos de adentrar com mais detalhes cada um dos
eventos de temas a serem trabalhados, demandando de você maior leitura!
Mas pretendemos realizar isso da maneira mais fácil e tranquila possível.

Gostaríamos igualmente de ressaltar que o conteúdo de Revolução Inglesa


é relativamente recente nas provas do CACD. Este conteúdo apareceu a partir
de 2013 e surgiu de novo em 2014 (com uma questão em cada ano), mas não
foi cobrado em 2015 e 2016. Assim sendo, trataremos desta Revolução com
um pouco menos de profundidade, certo?

Em nosso material de hoje (e das demais aulas que se seguirão),


apresentaremos o conteúdo e resolveremos questões relativas a ele,
comentando o porquê do certo e do errado de cada um dos itens.

Agora, “Aux armes, citoyens!”


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1. Revolução Inglesa ou Revolução Puritana (1640-


1688)
1.1 Antecedentes da Revolução

Bem, pessoal, para compreendermos adequadamente o processo


revolucionário inglês, é importante darmos alguns passos para trás e
entender melhor qual era a situação inglesa no período pré-revolucionário.

É comum que os historiadores marquem a ascensão da Dinastia dos


Tudor como o pano de fundo dos desenvolvimentos que levariam, enfim, à
Revolução. Isso porque é partir da ascensão de Henrique VII (o primeiro
Tudor) e, em particular, dos reinados de Henrique VIII e Elizabeth I que
convencionalmente consideramos o início do chamado “absolutismo inglês”.

O que significa essa palavra, “absolutismo”? Esse termo foi cunhado no


século XIX para designar o conjunto do sistema político europeu que
vigorava antes da Revolução Francesa (ou seja, pré-1789) em que o rei
governava “sozinho” por intermédio de seus ministros. A expressão “rei
absoluto” significava, na idade moderna (1453-1789), que o monarca não
conhecia na terra outra autoridade secular acima dele. Ou seja, ele
encarnava as próprias soberania e legitimidade e, por isso, tinha o direito de
governar.

Acontece que nos séculos XVII e XVIII, os reis europeus passaram a


governar cada vez mais “sozinhos”, ou seja, sem recorrer (ou recorrendo
cada vez menos) aos tradicionais ambientes de discussão (mas não de
deliberação) chamados – variando conforme o país – de Parlamentos (caso
inglês e francês), ou Cortes (caso português e espanhol) ou Dieta (caso do
Sacro-Império).

Pois bem, a Inglaterra, embora possuísse muitas particularidades


quando comparada aos demais países do continente europeu, passou,
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gradativamente, por processo similar. Henrique VIII e Elizabeth I, apesar de
manterem o Parlamento inglês funcionando com certa regularidade,
começaram a concentrar cada vez mais o poder em si, em detrimento do
poder da nobreza e dos grupos representados no Parlamento. Um bom
exemplo desta maior concentração de poder foi o fortalecimento e o uso
político da Star Chamber, um tribunal de apelação criado no século XV que,
durante o reinado de Henrique VIII, foi utilizado para combater os inimigos
do poder real. Posteriormente, os Stuart também a usaram para governar
sem o Parlamento.

Para além da concentração de poder real, outro processo do período,


também importante para o estouro da revolução e iniciado no período Tudor
e continuado durante os Stuart (com modificações), foi o movimento dos
cercamentos (enclosures).

Os cercamentos foram um movimento capitaneado pela alta nobreza e


pela gentry (grupo da baixa nobreza dona de terras, de onde surgiu o termo
gentleman) para demarcar mais “racionalmente” as terras e campos
ingleses. O processo completo dos cercamentos alcançou o século XVIII,
mas, para nosso escopo, ficaremos com as primeiras “ondas” desse
movimento.

Como assim “demarcar mais ‘racionalmente’”? Para entender a


demarcação dessas terras é preciso ter em mente que o campo – entendido
num sentido lato, isto é, as relações de trabalho, o uso do campo para
plantar e criar animais etc. – era, em geral, de traços medievais. Dentre as
características dos campos medievais estavam a divisão de terras entre
herdeiros de uma maneira não tão clara, ausência de demarcações exatas,
áreas de um mesmo dono que eram descontínuas (ou seja, por vezes a
terra era espalhada em “ilhas” entre terras de outras pessoas), uso de terra
comum para pastoreio dos gados da comunidade como um todo. Bem,
acontece que nos séculos XVI e XVII, a produção de lã por parte da
nobreza e da gentry estava em alta e esses grupos queriam organizar
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melhor os campos para ampliar sua criação de ovelhas.1 Um dos meios
encontrados foi o de tornar as terras contínuas e liquidar com os campos
comuns, cercando as propriedades – daí o nome do processo,
“cercamentos”.

Os interessados em realizar esse empreendimento precisavam gastar


bastante com especialistas em medir as áreas, outros para comprovar que
eram donos das terras e outros ainda para iniciarem o processo junto ao
poder real. Ou seja, os custos dos cercamentos eram muito altos. Óbvio é
constatar que as classes de camponeses menos favorecidas não tinham
condições de fazer tudo isso, ficando à mercê dos cercamentos alheios,
além de perder as áreas comuns. Não queremos com isso dizer que os
camponeses pobres eram “roubados”, mas que, por vezes, ao negociar as
terras com os nobres no processo de demarcação, ficavam com campos
menos férteis ou sem condições de criar muitos animais.

Resultado: espoliados das melhores terras e campos, muitos


camponeses começaram a sair de suas terras e seguir para as “grandes
cidades” da época, criando exércitos de mendigos e desvalidos2. Tudo isso
gerou enorme descontentamento com o poder real porque as classes mais
baixas viam o rei como “pai” que deveria protegê-los, mas que não o estava
fazendo.3

Aos dois motivos já elencados – concentração do poder real e o


descontentamento das classes baixas decorrente dos cercamentos –,
devemos adicionar ainda doses de intolerância e perseguição religiosas.

A Inglaterra, no século XVI, também participou da Reforma Protestante.


O rei Henrique VIII, por questões políticas, matrimoniais e econômicas as

1
A avidez por aumentar a produção de ovelhas foi abordada de maneira irônica pelo Chanceler
inglês Thomas More em seu livro Utopia: “Esses animais são, habitualmente, bem mansos e
pouco comem. Mas disseram-me que, no momento, mostram-se tão intratáveis e ferozes que
devoram até os homens, devastam os campos, casas e cidades.” MORE, Thomas. Utopia.
Brasília: FUNAG, 2004, 17. Acessível em: http://funag.gov.br/loja/download/260-Utopia.pdf
2
Marx, três séculos depois da Revolução vai creditar a esse movimento um dos motivos pelos
quais a Inglaterra saiu em vantagem na Revolução industrial, por já possuir um contingente de
mão-de-obra ocioso no século XVIII.
3
Vale a pena ressaltar que os Stuart tentaram frear os cercamentos, mas foram incapazes de ir
contra o movimento. Essa ação alienou mais ainda os nobres ingleses do governo de Jaime I e
Carlos I.
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quais fogem ao objetivo desta aula, separou-se (e todo seu reino) da Igreja
Católica em 1534 com o Ato de Supremacia. Esse ato, passado no
Parlamento, tornava-o autoridade máxima da Igreja da Inglaterra ou Igreja
Anglicana. Depois disso, a Igreja inglesa passou por grandes mudanças –
com a tradução da Bíblia para o inglês, a adoção do book of prayers,
mudanças teológicas etc. Com esse ato, iniciou-se um período de grande
turbulência interna, com o início de várias perseguições aos católicos
ingleses.

Essa perseguição aos católicos também se estendeu às outras vertentes


do protestantismo que não os anglicanos, como, por exemplo, os puritanos
e os anabatistas (alguns dos quais embarcariam no Mayflower e iriam para
a América), abalando muito a estabilidade do reino durante os séculos XVI
e XVII – incluindo até tentativas de assassinato contra Elizabeth I e Jaime I.

Finalmente, temos, então, entre os fatores para desencadear a


revolução, a ascensão dos Stuart ao trono inglês. Os Stuart eram os reis
escoceses e os parentes mais próximos de Elizabeth I, que morreu sem
herdeiros. Em 1603, a Coroa inglesa foi herdada por Jaime I (Jaime VI da
Escócia). Para além das questões apontadas acima, Jaime contribuiu ainda
mais para o aumento das tensões no reino inglês desenvolvendo o
chamado “direito divino dos reis”. Para ele – um protestante –, o poder
vinha diretamente de Deus para o rei, sendo este somente responsável
perante os olhos do Altíssimo e não de nenhum outro mortal (o alvo dele
neste escrito era o papado). Contudo, esta concepção de poder diferia
completamente da tradição inglesa.

Esta ideia de Jaime I se materializou em seu jeito de governar, que foi


herdado por seu filho, Carlos I: cada vez menos ele convocou o Parlamento,
governando cada vez mais “sozinho” com seus ministros.

Em 1625, Jaime I morreu e a coroa passou para seu filho Carlos I. Em


seu governo, enfrentou graves problemas financeiros. A solução encontrada
por seu governo foi convocar o Parlamento inglês em 1628, que, em suas
reuniões, aprovou a Petição de Direito (Petition of Right, favor não confundir
com a Bill of Rights), que continha: a necessidade de consentimento do
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Parlamento para criação de novos impostos, o fim das prisões arbitrárias, a
proibição da lei marcial em tempos de paz e outras medidas. Acossado, o
rei fechou o Parlamento à força e alguns de seus membros foram presos.

Em 1640, no entanto, revoltas na Escócia e na Irlanda aprofundaram a


penúria das finanças reais e Carlos se viu na necessidade de convocar o
Parlamento inglês depois de quase 12 anos (um período muito longo se
considerarmos a tradição inglesa). Esse novo Parlamento criou uma série
de leis, como a obrigatoriedade da convocação do Parlamento a cada três
anos, além de mecanismos de maior controle parlamentar sobre os
ministros e impediu o rei de criar novos impostos.

Diante de uma tal resistência e de tantos problemas, Carlos tentou mais


uma vez fechar o Parlamento à força, o que não deu certo. 4 Face à
agressão real, o Parlamento decidiu reagir, iniciando a Guerra Civil Inglesa.

1.2 A guerra Civil Inglesa ou Revolução Puritana (1640-1649)

Os dois lados da Guerra Civil inglesa eram: o rei, apoiado por parte da
alta nobreza, por alguns membros da gentry; o Parlamento liderado por
Oliver Cromwell, apoiado majoritariamente pela gentry, por grupos
mercantis e alguns nobres contrários à política real. Seus interesses eram:
por parte do rei, um domínio maior da política inglesa, livre dos
constrangimentos do Parlamento, uma Igreja Anglicana mais ritualizada e
“catolicizada”; por parte do Parlamento, maior controle sobre os assuntos
públicos, aprofundamento dos cercamentos e uma acentuação da reforma
religiosa num sentido mais puritano, menos ritualizado.

À primeira vista, o rei possuía vantagem militar pois tinha a seu lado
grande parte da tradicional nobreza guerreira. Possuía um exército um
pouco maior do que o do Parlamento e mais cavalaria (o que era
fundamental para as guerras da idade moderna modernas). No entanto,
seus exércitos eram muito rígidos hierarquicamente, contando mais a

4
Não estamos considerando aqui neste texto a experiência do “Parlamento Curto”.
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Morto o rei, o Parlamento instaurou uma República sob o liderança de
Cromwell, a chamada Commonwealth.

1.3 A Commonwealth (1649-1660) e a Restauração (1660)

Com a vitória do Parlamento e a formação da Commonwealth, a


Inglaterra iniciou seus passos para se tornar uma potência colonial e
mercantil e a dona dos mares. Durante este período (1649-1660),
ampliaram-se as áreas de dominação colonial inglesa na América e outras
localidades e se investiu maciçamente na Marinha. Não à toa, suas
ambições mercantis e navais a colocaram em vias de choque com os
holandeses, com quem travaram uma guerra e saíram vencedores (1652-
1654).

Em 1653, diante de crises internas, particularmente no Exército de Novo


Tipo, o Parlamento decidiu investir Cromwell de poder político, tornando-o
Lorde Protetor da Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda. O título era
hereditário.
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conflito, Luís XIV reconheceu Guilherme III como soberano legítimo da
Inglaterra.

Em termos políticos e econômicos, a Revolução Gloriosa (assim


chamada porque não houve derramamento de sangue) significou o controle
do Estado inglês pelo Parlamento e os grupos sociais nele contidos, dentre
os quais poderíamos destacar uma “nobreza aburguesada” e a burguesia
mercantil de grosso trato. Tendo controle dos assuntos públicos, essas
classes tomaram várias medidas para “modernizar” a economia –
aprofundando os cercamentos, por exemplo – e lançando as bases para a
Revolução Industrial.

Vejamos agora uma das questões sobre Revolução Inglesa,


particularmente sobre a Revolução Gloriosa (Item 51 da prova de 2014):

A respeito do contexto da denominada Revolução Gloriosa (1688-1689),


julgue (C ou E) os itens a seguir.

1. A Revolução Gloriosa marcou o início de uma nova etapa da relação entre


os monarcas ingleses e o Parlamento, cimentada pelo Bill of Rights (Declaração
de Direitos), em 1689, na qual se estabeleceu que os reis, a partir daquele
momento, necessitariam do aval dos representantes políticos para implementar
medidas que afetassem áreas importantes da vida no reino.
Resposta: Correta.
Comentário: Como foi dito acima, a partir da Revolução Gloriosa, o rei não
mais teria os mesmos poderes que antes, necessitando do Parlamento. Questão
fácil!

2. Originária da Escócia, a dinastia dos Stuart reinava na Inglaterra desde a


morte de Elizabete I, em 1603, apesar das constantes pressões políticas da
oposição anglicana, que não se conformava com a entronização de uma
linhagem católica.
Resposta: Errada.
Comentário: A dinastia dos Stuart não era uma linha católica, somente seu rei
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Jaime II era católico e foi retirado do poder. Questão ainda fácil!

3. Em 1688, com a deposição de Jaime II, o parlamento inglês dividiu-se em


dois grupos, tories e wighs, cujas características políticas correspondiam ao
credo religioso professado: os tories, conservadores, eram católicos; os wighs,
liberais, eram anglicanos.
Resposta: Errada.
Comentário: Em primeiro lugar, a divisão entre Tories e Whigs não se dá por
conta da religião. E em segundo lugar, os tories não eram católicos, ao contrário,
advogavam por uma igreja anglicana mais forte. Inclusive, foram contra Jaime II
exatamente pelo fato de ele ser católico. Uma dica galera: depois da reforma de
1534, quase não havia grupos que apoiassem o catolicismo na Inglaterra da
idade moderna (com a exceção clara de Jaime II). Se vir algo do tipo na prova,
desconfie! Questão mediana!

4. Para contornar os problemas políticos criados pelo reinado de Jaime II, a


solução sucessória, encontrada na Holanda, foi o genro do monarca inglês,
Guilherme de Orange, que invadiu a Inglaterra a pedido da oposição e subiu ao
trono como Guilherme III, envolvendo os ingleses em seus projetos de vencer
militarmente a França de Luís XIV.
Resposta: Correta.
Comentário: Esta seria uma questão fácil não fosse o detalhe no final sobre
Luís XIV. Comumente, quando estudamos Revolução Inglesa, não se fala sobre
os desdobramentos no campo das relações internacionais da subida de
Guilherme III, já que o período moderno tem muitas, muitas guerras. Mas, de
fato, a subida do holandês ao trono inglês levou, como dito, à entrada da
Inglaterra na guerra contra a França. Também não estranhe o termo “invasão”.
Os holandeses realmente invadiram a Inglaterra, mas com grande apoio do
Parlamento e sem derramamento de sangue.

2. Revolução Francesa (1789-1799)


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A Revolução Francesa é um dos eventos mais importantes da
contemporaneidade e certamente um dos conteúdos mais significativos da
prova do CACD, porque ela inaugura uma nova realidade que impactará
todo o advir do século XIX e planta a semente de vários eventos do século
XX. Você perceberá que muitos itens da prova sobre o século XIX buscarão
a relação com a Revolução. A vertente historiográfica que embasa a prova
– em particular as obras de Hobsbawm – tomam este evento como capital
para todas as transformações políticas e econômicas posteriores. Desde a
prova de 2005 o tema, de alguma forma ou de outra, vem sendo cobrado no
concurso, então muita atenção para este conteúdo!

Fenômeno complexo – bem mais que a Revolução Inglesa – a


Revolução Francesa é tradicionalmente dividida em: Antecedentes, a
revolta aristocrática e a Monarquia Constitucional (1789-1792), a
Convenção jacobina e o Terror (1792-1794), o governo do Diretório (1794-
1799). Após o governo do Diretório, temos o governo de Napoleão
Bonaparte, que, apesar de não fazer parte do recorte da Revolução
Francesa, também abordaremos aqui para dar subsídios a você para
compreender melhor o tal Congresso de Viena – um objeto que cai nas
provas desde 2006.

2.1 Antecedentes da Revolução

Os antecedentes da Revolução Francesa abrangem todos os aspectos


da vida francesa durante a segunda metade do século XVIII, isto é, a
política, a economia, a sociedade e a cultura.

Politicamente, o reino da França era uma monarquia absoluta, naquele


sentido que abordamos acima quando falamos da Revolução Inglesa.
Contudo, mais do que qualquer outra monarquia da época, a coroa francesa
havia conseguido, a partir do reinado de Luís XIV (1643-1715), concentrar
mais e mais o poder em suas mãos, “domando” a nobreza e o clero. Não à
toa, pôde-se atribuir a ele a famosa frase “O Estado sou eu”. Essa ação,
contudo, resultou num alienamento de vários grupos sociais do poder e as
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críticas ao poder real sobre os aspectos da política começaram a recair
cada vez mais sobre o monarca. Como assim, você pode se perguntar, Não
recaíam antes?

Para entender esse aspecto, faz-se necessário compreender uma


característica da política moderna entre os séculos XVI e XVII que é a
seguinte: o rei é visto por seus súditos como dispensador da justiça, pai da
nação, espelhando as características divinas do Deus cristão. O papel do
governo durante este período (e também durante a Idade Média) era “dar a
cada um o que lhe era devido”, mantendo a ordem e a paz social. Ou seja,
não era obrigação real governar como nós entendemos hoje como, por
exemplo, construir estradas, dar moradia ou saúde. Não que algumas
dessas coisas não fossem feitas, mas isso não era ESPERADO pelo povo
como atribuição do governo real. Pois bem, quando algo ia mal no reino,
normalmente se atribuía a alguma interferência externa ou a algum mal-
comportamento de nobres ou ministros que estariam levando o rei a tomar
decisões ruins (isso aconteceu copiosamente na França durante o século
XVI e XVII). Nesse sentido, a ira da população normalmente era dirigida a
essas figuras ministeriais ou nobres e não contra o rei.

Isso começou a mudar a partir da segunda metade do século XVII e se


intensificar no século XVIII. O próprio sentido de “governar” iniciou uma
transformação e os reis passaram a ser cada vez mais atuantes na
condução de seu reino. Como dito, a partir de Luís XIV isso fica
estabelecido na França e críticas cada vez mais contundentes começaram
a ser feitas ao rei pessoalmente.

Embora tenham existido críticas ao governo de Luís XIV, particularmente


no campo da política externa, a coroa francesa passou praticamente
incólume pelo reinado do Rei-Sol. No entanto, a partir do reinado de seu
neto, Luís XV, e bisneto, Luís XVI, as críticas foram aumentando, fazendo
com que a população deixasse progressivamente de apoiar o rei. A origem
dessas críticas pode ser delineada a partir de questões econômicas e
culturais.
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Economicamente, a França do século XVIII estava em franca
decadência. Num mundo em que o papel do comércio e da produção
manufatureira ganhava espaço, os grupos econômicos franceses – a
nobreza (tanto a nobreza de sangue quanto a nobreza de “toga”, ou seja,
homens ricos que compravam títulos de nobreza) – decidiram ir pela via do
recrudescimento das obrigações feudais e não da “liberalização” da
economia – caminho adotado pela Inglaterra e pela Holanda – mantendo
firmemente as teses mercantilistas6 de proteção do mercado interno e de
monopólios. A nobreza desprezava o comércio e os “ofícios mecânicos” e
se devotava a estas tarefas somente quando necessário, preferindo viver de
pensões do Estado. As classes burguesas, por sua vez, frequentemente se
viam tolhidas em seu desenvolvimento por obstáculos impostos pelo
Estado, como monopólios e tabelamento de preços (até por volta da década
de 1770), e por medidas protecionistas. Os camponeses se viam
pressionados pelos impostos e taxas feudais deles cobrados pela nobreza
fundiária.

Essa situação tornou-se pior por conta dos altos gastos militares
franceses, da vida de luxo da Corte francesa, das reformas liberais de
Turgot e Necker e por desastres agrícolas na década de 1780.

Desde o reinado de Luís XIII (1610-1643), a França não parou de entrar


em guerras sucessivas contra seus vizinhos europeus e, por isso, aumentou
significativamente o tamanho de seu Exército. Duas guerras, porém, foram
mais impactantes para o fisco francês: a guerra dos sete anos (1756-1763),
ocorrida em vários teatros de guerra, e a guerra de independência dos
Estados Unidos (1776-1781). A França saiu derrotada da primeira –
perdendo territórios na América e influência na Ásia – e vitoriosa na
segunda sem, contudo, obter benefício econômico dos Estados Unidos ou
da Inglaterra.

Além dos gastos maiores com Exército, a Corte francesa, habitando em


Versalhes e longe do mundo dos comuns, gastou progressivamente mais
desde o reinado de Luís XIV. A mudança da corte e o gasto com pensões

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O mercantilismo foi, podemos assim dizer, a face econômica do Antigo Regime.
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foi realizado pelo Rei-Sol como parte de sua política de conter a resistência
da nobreza – que havia dado mostras de sua deslealdade desde a
ascensão de Henrique IV ao trono francês em 1589. Retirando a alta
nobreza de suas bases territoriais e econômicas nas províncias, o monarca
conseguiu torná-la dependente do Estado e, portanto, absolutamente leal. O
gasto com essas pessoas – que não pagavam impostos, como se verá
adiante – foi tornando-se muito alto (já em 1685 eram mais de 36000
pessoas vivendo e trabalho na corte) e fonte de escoamento de receitas.

Percebendo que as finanças estavam muito ruins, Luís XVI decidiu


liberalizar a economia conforme os ideais então em voga dos fisiocratas
franceses e outros advogados de economias abertas, como Adam Smith.
Para tanto, o rei convidou dois conhecidos intelectuais franceses para
atuarem como ministros e reformarem a economia francesa, Messieurs
Turgot e, posteriormente, Necker. Embora as reformas tenham sido vistas
como necessárias – fim de monopólios, cobrança mais racional de
impostos, redução ou fim de tabelamentos –, a rapidez com que foi
empreendida desestabilizou o reino, aumentando rapidamente os preços
dos gêneros alimentícios (que eram tabelados e deixaram de ser com as
reformas), enfurecendo os mais pobres e irritou profundamente as classes
altas por interferir em alguns de seus privilégios de classe.

Como vemos, a situação para Luís XVI não estava nada fácil e ficou pior
com a interferência de fatores climáticos. Secas em algumas regiões e
inundações em outras ocorreram desde 1787, causando perdas
expressivas de produção de comida, elevando ainda mais o preço dos
víveres básicos. Para enfrentar essa situação, o rei então decidiria criar
impostos para as classes privilegiadas do reino, assunto que chegaremos
daqui a pouco.

Socialmente, a França possuía um estrutura muito claramente definida.


A sociedade era dividida em três ordens: o clero, a nobreza e o terceiro
estado (Tiers état). Certo era que esses grupos não eram monolíticos,
havendo diferenças dentro deles. O clero pode ser dividido em alto
(cardeais, bispos, abades) e baixo (padres de paróquias simples e pobres).
A nobreza, além da divisão entre alta (duques, marqueses, condes) e baixa
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(viscondes, barões e cavaleiros) também se dividia na França entre a
nobreza de espada (noblesse d’épée), ou seja, a antiga nobreza guerreira
de sangue, e a nobreza de toga (noblesse de robe), advinda de grupos ricos
do terceiro estado que compravam cargos e títulos de nobreza. O terceiro
estado, por sua vez, era o mais diversificado porque abarcava todos os que
não eram do clero nem da nobreza. Então, temos desde banqueiro, grandes
donos de terra não-nobres, comerciantes de grosso trato, passando por
“profissionais liberais” como professores e advogados até “pequenos
burgueses”, pequenos artesãos e camponeses. Pode-se imaginar
facilmente, então que havia múltiplos interesses dentro deste estrato social.

Mas se havia algo que unia o clero e a nobreza eram os chamados


“privilégios”. Para entendermos essas peculiaridades da época, precisamos
voltarmo-nos para a cultura política da época.

Para os modernos (de um modo geral) seguindo a tradição medieval, os


grupos sociais existentes deveriam, todos, colaborar para a manutenção e
perpetuação do organismo social (entendido como um corpo mesmo).
Como a sociedade da época era bastante religiosa, no primeiro lugar dessa
organização estava o clero, responsável pela salvação das almas dos
crentes; em segundo, estava a nobreza, responsável pela defesa de toda a
sociedade; em terceiro, os demais, responsável pelo sustento de todos.
Importante é notar que esta noção de sociedade foi formada na Idade
Média, quando este terceiro grupo era, basicamente, formado por
camponeses, cuja obrigação era de plantar, colher e criar animais (vale a
pena recordar também que os “impostos” eram pagos em espécie gênero e
não em dinheiro).

Sendo assim, não cabendo ao clero e à nobreza sustentar a sociedade,


deles não se deveria cobrar impostos! Esse era um dos privilégios
mencionados. Outros eram a desigualdade jurídica (nobres e homens do
clero só podiam ser julgados por seus pares em casos de crime, com
exceção de lesa-majestade) e os direitos feudais que tinham sobre
camponeses ou burgos (cidades) uma vez que eram também senhores
feudais.
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Essa estrutura social foi, contudo, tornando-se cada vez mais
anacrônica conforme adentrava o século XVIII. O clero foi se tornando
menos e menos importante para os franceses (falaremos adiante), a
nobreza perdeu seu caráter guerreiro desde meados do século XVII e o
terceiro estado foi se complexificando progressivamente, dinamizando-se, e
criando grupos dentro do terceiro estado que eram, por vezes, opostos.
Críticas a esse modelo foram sendo construídas durante o tal chamado
“século das Luzes” pelos pensadores iluministas (os philosophes).

Chegamos, enfim, ao último aspecto: o cultural. Ponto polêmico entre


historiadores, falaremos brevemente do papel da religião e, em seguida,
abordaremos o Iluminismo em tópico à parte.

Após surto de devoção de pietismo que tomaram a França por cerca de


50 anos após as guerras de religião que a devastaram no século XVI,
percebe-se, primeiro e prioritariamente nas regiões urbanas, uma
progressiva secularização da vida humana. Embora sem causas muito
claras, alguns historiadores explicam esse fenômeno referindo-se à
necessidade dos europeus conviverem com diferentes religiões, fruto da
Reforma protestante. Depois de um século de guerras religiosas na Europa
como um todo (pouco mais de 30 anos em solo francês), a saída
encontrada teria sido a retirada da religião do espaço público para a vida
privada. Não se quer dizer com isso que a sociedade francesa de repente
abandonou a religião, mas que ela passou a ser de foro íntimo e não mais
público.

Isso teve profundas consequências para a Europa e a França em


particular, uma vez que as bases da legitimidade real e da sociedade
organizada em ordens estavam assentadas na religião, neste caso, católica.

Saindo a religião do espaço público, o clero foi perdendo


progressivamente espaço e importância social. Encontrar motivos para
justificar os privilégios de que gozavam foi ficando mais difícil.
Politicamente, a saída da religião também significou uma perda grande de
suporte para o rei, que era visto como um ungido de Deus para aquele
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ofício (vale destacar que um dos rituais mais importantes da monarquia
francesa era a “sagração” do rei em Reims).

Contribuiu para esse afastamento da religião do espaço público os


escritos de pensadores e filósofos do século XVIII, os conhecidos
iluministas. Pela importância do tema, vamos ver com mais detalhes
algumas de suas características e pensadores.

2.1.1 O movimento da Ilustração – Sapere aude!

Buscando responder à pergunta “O que é o Iluminismo?” (Was ist


Aufklärung?) proposta por um jornal alemão na segunda metade do século
XVIII, Kant sintetizou da seguinte maneira: é um processo (portanto, não
algo pontual ou um evento específico) de saída da humanidade da
menoridade intelectual, isto é, da incapacidade de pensar por si mesmo,
para a maioridade, passando a buscar o conhecimento e entender o mundo
a partir do uso da Razão. Em uma frase: “Ousa saber!” (Sapere aude!).

Antes de falarmos dos pontos mais importantes desse movimento, faz-


se necessário trazer rapidamente um debate historiográfico sobre a
pluralidade dele. Alguns historiadores consideram o movimento como algo
único, como uma grande família, desconsiderando por vezes as diferentes
tradições intelectuais dos diferentes países. A partir dessa visão, utilizam
sempre o singular “O Iluminismo”, buscando traçar pontos em comum
dentre os vários pensadores do período.

Outra vertente mais recente, podendo citar Gerture Himmelfarb e


Jonathan Israel entre os seus autores,7 destaca a variedade de
pensamentos e tradições que permearam o século XVIII e aborda os pontos
divergentes das correntes de pensamento entre povos geograficamente
apartados (ingleses, escoceses, franceses e alemães) e socialmente
díspares (padres, pastores, ateus, nobres, burgueses). Nesse caso, fala-se
de “Iluminismos” ou, como é significativo, de “Caminhos para a
modernidade”. Ressaltar essa diferença é importante para não acharmos

7
ISRAEL, Jonathan. Iluminismo Radical. São Paulo: Madras, 2009.
HIMMELFARB, Gertrude. Caminhos para a Modernidade. São Paulo: É Realizações, 2011.
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que todos os autores são concordes uns com os outros em todos os
aspectos. Isso nos ajuda a compreender as diferenças entre os pensadores
que faremos a seguir e das diferentes apropriações que serão feitas deles.

Os filósofos iluministas atacaram em várias frentes esse mundo do


Antigo Regime que descrevemos anteriormente. Atacaram a economia
mercantilista com os fisiocratas e outros, como Adam Smith. Atacaram a
supremacia da religião na sociedade e na educação, como Voltaire.
Atacaram a sociedade de ordens, como Diderot. Atacaram as superstições,
propondo, em alguns casos, um racionalismo radical, como o Barão de
Holbach.

Dada a similaridade entre o que propuseram, os pensadores iluministas


e o programa político-social que foi implementado pelos revolucionários,
alguns contemporâneos acharam que a Revolução tinha sido fruto de um
grande complô de filósofos. Não caia nessa interpretação! Mas, claramente,
houve influência do pensamento iluminista na processo revolucionário.

Quais pensadores foram mais importantes nesse processo? E que


autores podemos ver sendo apropriados pela Revolução para justificar suas
ações? Passemos rapidamente por alguns dos principais pensadores desse
movimento intelectual.

 John Locke

John Locke foi um inglês do século XVII que escreveu seus mais
importantes trabalhos durante os eventos da Revolução Gloriosa. Suas
obras giram em torno de dois grandes temas: como o homem é capaz de
conhecer o mundo; como o governo se formou e como deve ser seu papel.
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Com efeito, Rousseau preconizava que os homens deveriam
reafirmar sua liberdade nata e reconciliar-se com sua natureza pacífica,
combatendo os vícios sociais, como a desigualdade e as relações de poder,
rumo à consolidação de uma sociedade igualitária. Perceba que Rousseau
não dirige suas ideias diretamente para os indivíduos, mas sim à sociedade
como um todo. Em divergência com a filosofia lockeana, em que a vontade
individual se sobressai à vontade geral, para o pensador suíço a vontade
geral se sobrepõe ao indivíduo. Para tanto, far-se-ia necessária a
reestruturação do contrato social, com vistas à diminuição das diferenças
entre os indivíduos, sobretudo por meio da educação, para o pleno
estabelecimento da vontade geral. O contrato social, portanto, deve
submeter-se à vontade geral.
Devido ao caráter popular e igualitarista de sua filosofia, Rousseau é
considerado uma das principais influências ideológicas dos revolucionários
franceses, em especial os jacobinos. Ademais, suas ideias continuaram a
mover as rodas revolucionárias, sobretudo aquelas de tradição jacobina, ao
longo do século XIX, influenciando o socialismo nascente.

 Kant

Immanuel Kant foi um filósofo alemão do século XVIII. Sua vasta e


complexa obra abrangeu temas como a filosofia moral, a estética, a política
e as relações internacionais. Seu pensamento concentrava características,
e pode ser considerado uma síntese filosófica, da tradição racionalista,
marcante em Descartes e Leibniz, e da tradição empírica inglesa, na qual
se sobressaíram John Locke e David Hume. Dentre suas obras, destacam-
se a “Crítica da Razão Pura” (1781), “Fundamentação da Metafísica dos
Costumes” (1785) e “A Paz Perpétua” (1795).
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Esse reis ficaram conhecidos como “déspotas esclarecidos”. Os mais
conhecidos desses fora d. José I de Portugal, José II da Áustria, Frederico II
da Prússia e Catarina II da Rússia. Suas principais reformas foram na área
de educação, retirando os domínio da Igreja sobre o ensino (como a
expulsão dos jesuítas de Portugal e Espanha). Contudo, não realizaram
reformas políticas radicais, antes, buscaram fortalecer seu poder e seus
domínios a partir de reformas inspiradas na Ilustração!

Estes foram, em geral, os antecedentes da Revolução. Passemos então


para seus desenvolvimentos!

2.2 A rebelião aristocrática, a monarquia constitucional e proclamação da I


República (1789-1792)

Em 1787, a situação francesa era crítica financeiramente. Por conta


disso, Luís XVI decidiu convocar uma Assembléia de Notáveis, uma antiga
câmara consultiva composta somente de membros do clero e nobres, para
costurar uma saída que resultasse na cobrança de impostos das classes
privilegiadas. Essa reunião, no entanto, saiu pela culatra e o reino foi
pressionado a convocar a Assembleia dos Estados Gerais (États Generaux)
para lidar com a matéria. O objetivo dos clérigos e nobres era convencer o
terceiro estado a pagar mais impostos para cobrir os rombos fiscais e livrar-
se do problema.

E o que eram os Estados Gerais? Era um corpo também consultivo sem


capacidade deliberativa, que normalmente era convocado em momentos de
graves problemas para aconselhar o rei (e pressioná-lo, claro) sobre que
caminhos tomar. Essa assembleia era eleita pelo país e se dividia pelos
estados, isto é, o clero, a nobreza e o terceiro estado. O voto era por estado
e não por cabeça. As medidas, portanto, de criação de impostos para os
dois primeiros estados poderia, assim, ser facilmente vencida por uma
união entre nobreza e clero.

Na eleição para os Estados Gerais, os eleitores também escreviam os


chamados cadernos de queixas, em que sugeriam ou reclamavam da
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receio de que o rei angariasse apoio aos émigrés na contrarrevolução, a
Assembleia Nacional, que logo se transformaria na Convenção Nacional,
sob a liderança de Robespierre, julgou o rei em 1792 por traição à nação,
no qual foi considerado culpado e depois guilhotinado (1793). Em seguida,
foi proclamada a República Francesa que seria dominada, inicialmente
pelos jacobinos radicais, e passaria por transformações significativas.

2.3 A Convenção Nacional, o Terror (1792-1793) e o Diretório (1795-1799)

A Convenção Nacional era um órgão legislativo unicameral que, neste


momento, era a fonte única do poder, modelo de organização inspirado na
teoria da “Vontade Geral” de Rousseau. Nesta câmara, havia, basicamente,
dois grupos políticos: os jacobinos e os girondinos.

Os jacobinos eram os mais radicais, provindos das classes baixas


urbanas, particularmente dos chamados sans-cullotes. Defendiam a
república e propunham o aprofundamento das reformas sociais e políticas.
Os girondinos eram formados por grupos burgueses ricos e que apoiavam a
experiência da monarquia constitucional e, de modo geral, eram contrários
às reformas radicais dos jacobinos.

Assumindo o poder sob a liderança de Robespierre, os jacobinos


colocaram em prática seus planos. Aprovaram o voto universal para os
homens, a lei do Preço Máximo (tabelamento de preços), o fim da
escravidão negra nas colônias (que precipitaria a Revolução haitiana) e
uma reforma agrária a partir do confisco das terras da nobreza émigrée e da
Igreja. Contudo, a morte do rei, a proclamação da República e a condução
do Estado por radicais jacobinos precipitou a guerra externa, liderada por
países absolutistas vizinhos. Por outro lado, as turbulências internas
levaram à rebelião de uma região atrasada da França, a Vendéia, e à
interrupção momentânea da produção de víveres que redundou em fome e
críticas ao governo.

Para lidar com estas situações extremas, Robespierre adotou uma série
de medidas que ficaram conhecidas em seu conjunto como “Terror” (1793-
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mostras de uma questão fulcral que apareceria novamente no século XX,
quando os socialistas tomaram o poder na Rússia e em outros países. O
Terror foi a expressão máxima desta política, mas seu radicalismo e
violência minou qualquer possível base de sustentação contínua.

O Diretório foi uma reação mais conservadora de membros da alta


burguesia contra as medidas tomadas pelos jacobinos. Seu governo foi
visto pela população como bastante corrupto e foi atacado em várias
frentes: monarquistas tentaram um golpe para restaurar a antiga dinastia,
jacobinos tentaram um golpe para se re-estabelecerem no poder, as
potências externas continuaram a tentar conter a revolução. Diante deste
quadro de várias crises, percebendo que poderiam perder a direção dos
eventos, os membros do Diretório articularam, eles mesmos, um golpe com
setores do Exército, especialmente com um general que destacara-se nas
atuações militares revolucionárias, Napoleão Bonaparte. Em 18 de
Brumário (pelo calendário da Revolução, 9 de novembro no nosso),
Napoleão, em concerto com políticos como Taillerand e apoiado pela
burguesia temerosa do retorno jacobino, tomou o poder, fechou a
assembleia e aboliu o Diretório e tornou-se primeiro-Cônsul juntamente com
o abade Emmanuel Joseph Sieyès e Roger Ducos. Seu governo seria
marcado por uma grande centralização política, por agressões externas no
plano internacional e grandes reformas internas. Considera-se, aqui, o fim
da Revolução francesa e o início da Era Napoleônica.

2.4 Balanços da Revolução Francesa e alguns conceitos importantes

A Revolução Francesa é um dos eventos mais importantes da


contemporaneidade – não à toa marca o início da Idade Contemporânea –
porque colocou em prática uma série de princípios e ideias que romperam,
de maneira irremediável, com o passado que existia.

Acabando com o Antigo Regime, o movimento revolucionário


estabeleceu as bases da soberania popular, ressignificou o conceito de
“nação”, implementou e experimentou formas políticas diferentes. A partir
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de 1789, a Europa não mais seria a mesma e ainda que tenha havido as
tentativas de restauração depois de Napoleão – como veremos em outra
aula – o mundo ocidental já não poderia mais voltar ao que fora antes. Os
impactos da Revolução se fizeram sentir não só na Europa, incluindo os
decadentes reinos de Portugal e Espanha, mas também na América.

A partir da bibliografia cobrada no CACD, como podemos interpretar


essa revolução? Para Hobsbawm, principal autor do concurso para esse
conteúdo, a Revolução significou uma “aliança” entre a burguesia e as
classes baixas para retirar a aristocracia do poder e instalar uma ordem
liberal, em que o dinheiro e o mérito, e não o sangue ou a dinastia,
importassem mais. Para ele, ela foi a “Revolução burguesa” por excelência,
transformando o Estado em um agente promotor das mudanças exigidas ou
requeridas por essa classe social. De uma maneira simples: das palavras
de ordem da Revolução – “Liberdade, igualdade e fraternidade” – ela só
teria implementado a primeira. A igualdade e a fraternidade, ainda nesta
perspectiva, não teriam passado da experiência jacobina e somente viriam
à tona novamente no movimento de 1848, como estudaremos depois.

Também é importante ressaltar que a Revolução trouxe uma percepção


de que o progresso humano era inevitável e inesgotável, tanto no sentido
material quanto intelectual. Esse novo conceito foi entranhado no século
XIX e durou até a I Guerra Mundial, num momento em que a tecnologia
avançava rapidamente, que o mundo se tornava cada vez mais globalizado
e que as classes médias e altas ganhavam espaço político e social nunca
antes visto. O progresso era a palavra-chave do século XIX e só veio a ruir
com as destruições da Grande Guerra.

O capitalismo, assim, com a Revolução e nessa perspectiva


historiográfica, estaria liberto das amarras que o prendiam no Antigo
Regime e pronto para se expandir: primeiro nas áreas mais periféricas da
Europa e depois nas áreas periféricas do mundo. A acumulação primitiva de
capitais feita durante a idade moderna teria plena aplicação neste momento
triunfante da burguesia.
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Finalmente, é importante comentarmos sobre o conceito mesmo de
“Revolução”. Não sei se você percebeu, mas a tal “Revolução Gloriosa” ou
mesmo todo o “processo revolucionário” inglês não parece ter tido nem a
mesma intensidade nem o mesmo impacto da revolução francesa. Usamos
a mesma palavra para os dois processos – termo que também foi usado
pelos contemporâneos dos dois eventos – mas sem que nos pareçam
equivalentes em seus impactos.

Isso acontece porque também os conceitos possuem uma história. O


conceito “Revolução” é bem anterior a essas duas revoluções e surgiu
relacionado ao movimento astronômico dos planetas e estrelas. A revolutio
era o retorno, a um ponto inicial, de um planeta ao redor de uma estrela, ou
seja, voltar ao mesmo lugar (nada mais díspar do que pensamos ser uma
“revolução” hoje, certo?). Depois disso, o termo foi usado metaforicamente
para se referir ao “movimento” dos sistemas políticos, teorizado por
Aristóteles, Políbio e outros.8 Assim, a “revolução” do sistema político era
voltar a um ponto anterior virtuoso de onde o governo, em algum momento,
tivesse se desviado. É nesse sentido que os contemporâneos da
“Revolução gloriosa” entenderam o termo: o retorno a uma forma de
governar virtuosa conforme as tradições inglesas.

O significado do conceito tal como temos hoje, qual seja, a ruptura


radical com o presente, a destruição das bases da sociedade e a criação de
algo novo, foi-nos legado pela Revolução Francesa e incrementado pelas
experiências revolucionárias do século XX (que muito se inspiraram no
movimento revolucionário francês). Diferentemente dos ingleses, os
franceses buscaram criar um novo mundo ab ovo, destruindo o passado
dos privilégios e do que eles percebiam como opressão. Uma sociedade
nova, um governo novo, um mundo novo. Isso foi fonte de muitos conflitos
para a sociedade francesa porque não conseguiu, à luz dessa proposta e
ideia, conciliar seu passado nacional, trazendo grandes “cicatrizes” e
radicalizando posições políticas. Como conciliar o “Antigo Regime” com o

8
Governo virtuoso de um (monarquia) -> governo corrupto de um (tirania) -> governo virtuoso
de alguns (aristocracia) -> governo corrupto de alguns (oligarquia) -> governo virtuoso de
muitos (democracia, para Políbio) -> governo corrupto de muitos (oclocracia, para Políbio) ->
retorno para o governo positivo de um (monarquia) e repete-se o ciclo.
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mundo pós-revolucionário? Ou você apoia a Revolução (incluso o Terror) ou
o mundo anterior (inclusas as desigualdades)! Esse foi o dilema francês do
século XIX sobre o qual se debruçaram muitos intelectuais.

Para explicar esse fenômeno e buscar alternativas de “regenerar” a


história nacional, Alexis de Tocqueville e Benjamin Constant deram duas
respostas interessantes. Tocqueville afirmou em seu livro – “Antigo Regime
e a Revolução” – que a Revolução, ao contrário do que muitos pensavam,
acelerou o processo de centralização administrativa que vinha ocorrendo
desde o século XVII, chegando ao ápice com os jacobinos e depois com
Napoleão. Dessa forma, haveria uma linha de continuidade entre as
administrações absolutistas e as revolucionárias. Constant, por sua vez,
dirá que os revolucionários fizeram uma tentativa de democracia direta num
mundo em que não mais havia espaço para esse tipo de atividade política.
No mundo capitalista, em que os indivíduos precisavam trabalhar e dedicar-
se ao sustento próprio, a atividade política deveria ser dirigida por
representantes eleitos. Ele lançava, assim, as bases teóricas para o
parlamentarismo representativo.

E assim fechamos a Revolução Francesa, pelo menos em seus


aspectos mais importantes. Foque-se na questão iluminista, nos problemas
da França pré-revolucionária, nas “inovações institucionais” dos
revolucionários, nos conceitos e nos impactos da Revolução. Agora vamos
praticar?

Prova do CACD de 2006, questão 37

“Poucas vezes a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi


demonstrada de forma mais decisiva do que na geração pós-1815. Evitar uma
segunda Revolução Francesa, ou, ainda, a catástrofe pior de uma revolução européia
generalizada tendo como modelo a francesa, foi o objetivo supremo de todas as
potências que tinham gasto mais de 20 anos para derrotar a primeira, até mesmo dos
britânicos, que não simpatizavam com os absolutismos reacionários que se
restabeleceram em toda a Europa e sabiam muito bem que as reformas não podiam
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nem deviam ser evitadas, mas que temiam uma nova expansão franco-jacobina mais
do que qualquer outra contingência internacional. E, ainda assim, nunca na história
da Europa e poucas vezes em qualquer outro lugar, o revolucionarismo foi tão
endêmico, tão geral, tão capaz de se espalhar por propaganda deliberada como por
contágio espontâneo.”
Eric J. Hobsbawm. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981, p. 127.

O texto se reporta ao período da história do mundo ocidental conhecido como Era


Revolucionária. Em linhas gerais, entre as últimas décadas do século XVIII e a
primeira metade do século XIX, assiste-se ao confronto entre as forças sociais que
se batiam pela superação do Antigo Regime e as que defendiam a manutenção dele,
ainda que sob condições e intensidade variáveis. Nesse contexto, com referência à
Revolução Francesa, assinale a opção correta.

A. O que aconteceu na França a partir de 1789 foi a explosão do sentimento


generalizado de repulsa a um absolutismo crescentemente anacrônico, ainda
que amenizado pelo reformismo assumido pela dinastia Bourbon, a qual
empreendera estratégia de conferir ao regime ares de pretensa modernidade
— o despotismo esclarecido.
Resposta: Errada
Comentário: O erro desta afirmativa é considerar que o estouro da
revolução se explica por uma repulsa ao absolutismo. Embora isso não seja
de completamente errado, sabemos que houve muitos outros motivos
somados a esse. Igualmente, os Bourbon não empreenderam reformas
significativas antes do estouro revolucionários. Lembremos que, inclusive,
foi a necessidade de realizá-las que levou o rei a convocar a Assembleia de
Notáveis em 1787 e depois os Estados Gerais em 1789.

B. Entende-se a Revolução Francesa como um processo que não se esgota


rapidamente, com períodos de maior ou menor intensidade do fervor
revolucionário. De todas as fases desse processo, a Convenção Nacional,
dominada pelos jacobinos, foi a que conferiu caráter mais radical à
Revolução, de que são exemplos o fim da monarquia, a adoção do sufrágio
universal e o grande número de execuções de adversários.
Resposta: CERTA
Comentário: De fato, como vimos, a Revolução dura 10 anos, com mais ou
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menos intensidade ou dramaticidade. Desses anos todos, os mais violentos,
dramáticos e fervorosos foram os da Convenção jacobina, em cujo período
temos a expressão máxima de violência e perseguição com o Terror e o
Tribunal o Tribunal Revolucionário, utilizados para destruir os adversários
do regime.

C. O pensamento iluminista, mesmo restrito a alguns países da Europa


ocidental no transcurso do século XVIII, foi decisivo para a eclosão da Era
Revolucionária. Entre seus principais expoentes, Voltaire se destaca, por ter
formulado a teoria da separação dos poderes, fundamental para a contestação
ao Estado absolutista.
Resposta: Errada
Comentário: O erro se encontra em dizer que fora Voltaire quem teria
formulado a teoria da separação dos poderes. Como vimos, o responsável
por isso foi o Barão de Montesquieu.

D. Por simbolizar a luta contra o despotismo, a Revolução Francesa foi alvo da


reação conjunta dos defensores do Antigo Regime, na qual se sobressaiu a
Inglaterra, a quem convinha a manutenção da estrutura de poder absolutista
para a expansão de negócios financeiros e para a abertura de mercados para
seus produtos industrializados.
Resposta: Errada
Comentário: Embora o texto esteja correto em afirmar que a Revolução
trouxe para si o ódio das potências absolutistas, o erro se encontra em dizer
que a Inglaterra defendia o absolutismo e em dizer que a manutenção desse
sistema faria com que os mercados fossem abertos para o seu produtos. A
“teoria econômica” que vigora no absolutismo é o mercantilismo, que tem
como uma de suas características, a proteção dos mercados nacionais.

E. Graças a Napoleão Bonaparte, liderança que emergiu na última fase da


Revolução Francesa, o processo revolucionário iniciado em 1789 adquiriu
feições de movimento essencialmente popular, como demonstra o
isolamento político da classe burguesa.
Resposta: Errada
Comentário: Esta questão está claramente errada ao dizer que houve um
isolamento da classe burguesa com o governo de Napoleão. Como dito, ele
obteve o apoio da burguesia para chegar ao poder. Também podemos
considerar errada a afirmação de que seu governo foi essencialmente
popular, já que, embora ele consiga inflamar a população com um grande
zelo revolucionário, Bonaparte concentrou totalmente o poder em suas mãos,
sem consultar ninguém.
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Prova do CACD de 2010, caderno D, questão 60

Assinale a opção correta com relação às transformações institucionais introduzidas


pela Revolução Francesa.

A. A conscrição maciça de homens solteiros entre 18 e 25 anos, medida


precursora do recrutamento militar obrigatório.
Resposta: Correta
Comentário: Embora o enunciado nem o título façam um recorte temporal
específico, de fato essa foi uma das transformações da Revolução durante o
período jacobino que permaneceu posteriormente. A chamada lévee en
masse seria mantida por Napoleão, embora tenha sido modificada pelos
Bourbon restaurados.

B. A concessão de voto universal, independentemente de renda.


Resposta: Errada
Comentário: Aqui temos um “peguinha”. O voto universal foi estabelecido
para os HOMENS. Estaria correto se estivesse escrito: “A concessão de voto
universal masculino...”. A expressão “voto universal” hoje inclui mulheres, o
que não era o caso revolucionário.

C. A tentativa bem-sucedida de aprovação de um código civil, já em 1789.


Resposta: Errada
Comentário: Não houve um código civil aprovado pela Assembleia. Tenta-
se aqui confundir o candidato com a Constituição Civil do Clero, aprova pela
Assembleia.

D. A separação entre Igreja e Estado, uma das principais reformas da


Assembleia Nacional no ano de 1789.
Resposta: Errada
Comentário: Como dito claramente acima, não houve separação entre Igreja
e Estado nesse momento. Mesmo com o jacobinismo na Convenção e a
destruição de mosteiros e a perseguição a padres refratários, não houve ato
formal neste sentido.

E. A instituição de um sistema de compra de cargos públicos, em substituição


ao sistema hereditário existente no Antigo Regime.
Resposta: Errada
Comentário: Essa questão está completamente errada. Na verdade, era no
Antigo Regime que havia compra de cargos, o qual a Revolução viria a
abolir.

Prova do CACD de 2013, questão 46


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A execução de Carlos I, em 30 de janeiro de 1649, foi decisão do Parlamento inglês
que simbolizou o fim do absolutismo na Inglaterra e comprometeu o mito da
identificação entre poder real e sua origem divina. Manifestação inicial da crise do
Antigo Regime, a Revolução Inglesa do século XVII foi o ponto de partida da Era
das Revoluções, que, entre fins do século XVIII e primeira metade do século XIX,
iria desvelar o mundo contemporâneo. Relativamente a esse processo histórico,
assinale a opção correta.

A. A Revolução Francesa de 1789 marcou o perfil ideológico das revoluções


burguesas, dado seu caráter liberal e pioneiramente democrático, que
acompanhou todo o processo revolucionário, da queda da Bastilha à
ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder.
Resposta: Errada
Comentário: O erro desta questão encontra-se no fato de que esse perfil
democrático não acompanhou todo o processo. Exemplo disso é o golpe
Termidoriano e o Golpe 18 de Brumário.

B. A Revolução Puritana de 1640 e a Revolução Gloriosa de 1688, ainda que


integrantes de um mesmo contexto, são distintas nos propósitos e nos meios
utilizados, visto que a segunda se insurgiu contra o Parlamento, mas
procurou manter incólume o poder monárquico.
Resposta: Errada
Comentário: A afirmativa está correta até o termo “utilizados”, passando ao
erro quando afirmou que a Revolução Gloriosa se insurgiu contra o
Parlamento. Como visto, a “invasão holandesa” e a subida de Guilherme de
Orange ao poder foram realizadas com o apoio do Parlamento, que não
queria uma linhagem católica no trono inglês.

C. Dois motivos excluem a Revolução Industrial do conjunto de revoluções


burguesas que sepultaram o Antigo Regime: ter mantido em aberto o
processo de transição do feudalismo ao capitalismo e ter exercido diminuta
influência na transformação política dos países que se industrializavam.
Resposta: Errada
Comentário: Embora não tenhamos visto aqui ainda a Revolução industrial,
esta é uma questão simples de se responder. A Revolução industrial foi a
face econômica e ao mesmo tempo o desdobramento das Revoluções Inglesa
e Francesa. Tanto quanto os movimentos revolucionários jogaram por terra
as instituições políticas do Antigo Regime, a Revolução Industrial liquidou –
progressivamente – as bases econômicas nas quais se assentava o
absolutismo monárquico.
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D. Chamados iluministas, pensadores europeus do século XVIII —


especialmente franceses — revolucionaram intelectualmente o mundo
moderno ao atacarem com vigor a injustiça, a intolerância religiosa e os
privilégios, preparando o terreno para as revoluções que destruiriam o
Antigo Regime.
Resposta: Correta
Comentário: Como vimos na seção de Iluminismo, os filósofos se
dedicaram a atacar o Antigo Regime, particularmente os privilégios, as
intolerâncias e a diferenciação social baseada no nascimento. Suas críticas
tiveram grande apelo social e inspiraram muitos que engajar-se-iam na
Revolução.

E. Considerada a primeira revolução americana, a independência das 13


colônias inglesas da América do Norte foi facilitada pela homogeneidade da
colonização e pela decisão da Inglaterra de não reagir militarmente ao
movimento separatista, para assegurar a continuidade dos negócios na
região.
Resposta: Errada
Comentário: Vimos de maneira tangencial a questão da revolução
Americana e com o que aprendemos dá para percebemos o erro muito
facilmente: houve guerra sim entre as 13 colônias e a Inglaterra, como
afirmamos quando descrevíamos a situação financeira da França no século
XVIII.

3. A Era Napoleônica (1799-1815)

O conteúdo da Era Napoleônica não caiu (até 2016) nas provas. No


entanto, é muito importante conhecermos a período napoleônico para
podermos compreender o período do Equilíbrio posterior ao Congresso de
Viena, que ocorreu após a derrocada de Napoleão. Portanto, seremos
relativamente sintéticos ao abordar esse assunto, ok?

Napoleão Bonaparte nasceu na ilha da Córsega, em 1769, pouco depois


de ela ter sido transferida para a França pela República de Gênova. Em
1784, foi estudar na Escola Militar de Paris, tornando-se oficial de artilharia.
Notabilizou-se como líder militar durante o período jacobino e manteve-se
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com bastante prestígio depois, não sofrendo maiores prejuízos com a
derrocada de Robespierre. Sob o Diretório, liderou uma campanha na Itália
contra as forças austríacas e papais, saindo vencedor. Depois, invadiu o
Egito para prejudicar os interesses ingleses no Oriente Médio e na Índia.
Saindo de uma guerra vencedor, apesar de ter enfrentado vários
problemas, e chegando em Paris com vários espólios do Egito (que hoje
podem ser encontrados no museu do Louvre), consagrou-se como um
grande líder militar e político.

Como vimos, em face das grandes dificuldades enfrentadas, com o


apoio tácito do Diretório e de outros políticos influentes, tomou o poder
usando o Exército, iniciando seu governo, que pode ser divido em três
fases: o Consulado (1799-1804), o Império (1804-1814) e o governo dos
Cem dias (1815).

3.1 O Consulado (1799-1804)

O Consulado iniciou-se como um triunvirato, como dito anteriormente.


Contudo, Napoleão – que ocupava o posto de primeiro-cônsul –, desde o
começo, por sua capacidade política e prestígio conseguiu rapidamente
centralizar o poder em suas mãos, acumulando mais poderes depois da
Constituição do Ano X de 1802. De um modo geral, podemos afirmar que o
Consulado foi um momento de reorganização interna da França, que havia
passado por muitas tribulações. Embora tenha havido guerra externa neste
período, as questões mais importantes se referem às medidas tomadas por
Bonaparte para estabilizar a situação de seu país.

Nesse sentido, Napoleão criou o Banco da França, criou o padrão


monetário do franco, tomou medidas contra a inflação ao controlar melhor a
emissão de moeda, unificou o sistema de pesos e medidas, criou o Código
Civil, realizou reformas no ensino, particularmente o ensino do Direito e das
escolas militares, pacificou a relação com a Igreja Católica, realizando uma
concordata com o papa Pio VII, e modernizou e ampliou o Exército francês.
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Suas reformas podem ser vistas como uma grande vitória da classe
burguesa, tanto nas reformas econômicas – que facilitaram bastante o
comércio e a atividade financeira na França – quanto nas reformas sociais,
uma vez que seu código civil salvaguardava as principais exigências feitas
pelos burgueses: liberdade individual, liberdade de trabalho, liberdade de
consciência, igualdade perante a lei e direito à propriedade privada.
Em face de sua grande popularidade e após a realização de acordos
de paz importantes, como o realizado com o Reino Unido em 1802,
Napoleão chegou ao auge de sua popularidade como cônsul. Após a
realização de um plebiscito popular, a monarquia foi reimplementada na
França, mas com Napoleão como Imperador. A partir de então, ele assumiu
um poder completo sobre o país, como nenhum governante antes dele
havia feito. A participação popular continuou existindo, mas Napoleão
conseguia manter controle sobre a situação política por meio de uma
intrincada organização política. Foi no Império que ele chegou ao apogeu e,
também, conheceu sua derrocada. Seriam os frutos de sua política imperial
que levariam, depois, à construção do equilíbrio de poder europeu.

3.2 O Império (1804-1814) e o Governo dos Cem Dias (1815)

Coroado por si mesmo em 1804, numa cerimônia que ficou para sempre
marcada na História, Napoleão iniciou seu Império. Tendo reorganizado
internamente a França e estabilizado a situação pela qual passavam seus
súditos havia mais de 10 anos, Napoleão retomou suas ações bélicas,
como também seus inimigos se reorganizaram em novas coalizões.
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exército de 600000 homens (entre franceses e aliados subjugados) foi
enviado para invadir a Rússia em 1812. Para o público francês, a guerra
contra a Rússia foi justificada – e não devemos acreditar que foi uma
declaração hipócrita ou falsa – como a guerra revolucionária contra o
bastião do Antigo Regime e do absolutimos, o czar.

Seguindo sua tradição militar de destruir a terra, impedindo o inimigo de


prover-se da localidade, e esperar a vinda do inverno, os russos saíram
vitoriosos da invasão – e com um alto grau de prestígio. Dos 600000
homens, voltaram pouco mais de 100000 para a França, completamente
desmoralizados.

Foi nessa situação que a Prússia, a Áustria, a Inglaterra e outros


Estados germânicos decidiram agir e atacar a França, no que ficou
conhecido como a guerra da sexta coalizão, que foi de 1812 a 1814. Mesmo
tendo exaurido seu exército principal, Napoleão conseguiu recrutar outro de
quase 400000 homens. Embora tenha obtido relativas vitórias contra forças
austríacas e prussianas, o imperador foi derrotado e o termo de sua
rendição era a abdicação. Ele abdicou e foi preso, enviado para a ilha de
Elba, no Mediterrâneo, em 1814.

Essa prisão, pessoal, não era como entendemos hoje. Na realidade, ele
foi para essa ilha e ficou proibido de lá sair, mas não numa cela ou coisa do
gênero. Era vigiado, mas tinha certa liberdade de trânsito dentro da ilha.
Dessa forma, articulou secretamente com seus apoiadores um retorno à
França (que naquele momento estava com um Bourbon no poder). Em
março de 1815 ele fugiu da ilha de Elba, com a ajuda de alguns de seus
guardas, e chegou em solo francês no dia 20 do mesmo mês. Iniciava-se o
chamado Governo dos Cem Dias, em que Napoleão, chegando à França,
expulsou o rei e retomou o controle sobre o país.

A Inglaterra e seus aliados da sexta coalizão não poderiam aceitar o


retorno de Napoleão ao poder. Por 10 anos ele havia empreendido guerras
e conquistado territórios por toda a Europa. Seu gênio militar poderia
facilmente fazer da França uma potência, desestabilizando o equilíbrio de
poder europeu. Assim sendo, organizaram a sétima e última coalizão para
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impedir Napoleão para restabelecer-se na França. A última batalha das
guerras napoleônicas ocorreu em Waterloo, em 18 de junho de 1815.
Napoleão foi derrotada por uma aliança de forças inglesas e prussianas. Ele
foi preso e enviado para a ilha de Santa Helena no Atlântico. Era o fim do
primeiro Império Napoleônico e iniciava-se o período de Restauração e de
equilíbrio europeu de poder.

Bem, pessoal, o conteúdo de nossa aula acaba aqui! Na próxima,


abordaremos o que todo esse movimento revolucionário e o período
napoleônico significaram para as relações entre os Estados na Europa do
século XIX!

Vamos praticar então esses conteúdos que vimos hoje? Mãos à obra!

1) Fundação Getúlio Vargas – 2013

“A Reforma, a despeito de sua hostilidade à magia, estimulara o espírito


de profecia. A abolição dos intermediários entre o homem e a divindade,
bem como a ênfase na consciência individual, deixavam Deus falar
diretamente a seus eleitos. Era obrigação destes tornar conhecida a Sua
mensagem. E Deus não fazia acepção de pessoas: preferia falar a John
Knox do que à sua rainha, Maria Stuart da Escócia. O próprio Knox
agradeceu a Deus ter-lhe dado o dom de profetizar, que assim estabelecia
que ele era um homem de boa-fé. Na Inglaterra, as décadas revolucionárias
deram ampla difusão ao que praticamente constituía uma profissão nova –
a do profeta, quer na qualidade de intérprete dos astros, ou dos mitos
populares tradicionais, ou, ainda, da Bíblia.”

HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. Ideias radicais durante a Revolução


Inglesa de 1640. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo, Companhia das Letras, 1987, p.
103.

O texto se refere ao ambiente político e religioso da Inglaterra no século


XVII. A esse respeito é correto afirmar:

a) A insatisfação popular na Inglaterra era decorrente da perspectiva


protestante de manter os sacerdotes como intermediários entre Deus e os
homens.
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Resposta: Errado.

Comentário: A insatisfação popular não decorria de querelas


internas ao protestantismo inglês, mas sim das disputas políticas de
seus líderes para com a coroa britânica. Vale ressaltar, aliás, que o
protestantismo não prega a mediação entre Deus e os homens a partir
de sacerdotes.

b) Os revolucionários basearam-se em princípios estritamente racionais


e científicos, em uma nítida ruptura com as crenças e o profetismo da
época.

Resposta: Errado.

Comentário: Os revolucionários eram majoritariamente de origem


calvinista, e conhecidos como puritanos.

c) Apesar de todas as disputas religiosas dos séculos XVI e XVII, os


monarcas ingleses mantiveram-se neutros, o que permitiu a preservação da
monarquia.

Resposta: Errado.

Comentário: As disputas religiosas, aliadas a uma série de outros


fatores, levaram à derrocada do regime absolutista inglês durante os
acontecimentos da Revolução Inglesa, período marcado pela queda e
ascensão de diferentes monarcas ingleses.

d) Para os revolucionários ingleses, Deus considerava apenas os


parlamentares como pessoas aptas a transmitir a doutrina e indicar os
caminhos da salvação.

e) A movimentação revolucionária esteve vinculada aos conflitos


religiosos decorrentes da chamada Reforma Protestante iniciada no século
XVI.

Resposta: Certa.
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Comentário: A Revolução Inglesa teve motivações de foro
econômico e político, lideradas pelas autoridades puritanas, as quais
depuseram Carlos I e deram início ao processo revolucionário.

2) (UEM – 2012)

No século XVII, na Inglaterra, e no final do século XVIII, na França,


ocorreram processos revolucionários que são conhecidos como revoluções
burguesas. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) Na França do Antigo Regime, o primeiro e o segundo estados, clero e


nobreza, detinham direitos exclusivos, tais como a isenção de pagamento
de impostos.

Resposta: Certa.

Comentário: De fato, ambos estados possuíam privilégios sociais e


jurídicos que lhes distinguiam do terceiro estado, dentre eles a
isenção de impostos.

02) Tanto na Inglaterra quanto na França, era disseminada a crença no


caráter sagrado do poder dos reis.

Resposta: Certa.

Comentário: Tanto na Inglaterra pré-revolucionária do século XVII,


quanto na França pré-1789, predominava dentre os principais
expoentes intelectuais defensores do regime absolutista a tese do
direito divino dos reis, segundo a qual os monarcas absolutos não
deveriam prestar contas de suas ações a ninguém além de Deus, o
qual os escolheu como chefes naturais de suas nações.

04) Embora realizada em nome da liberdade e da igualdade, os


revolucionários franceses mantiveram os privilégios jurídicos da nobreza.

Resposta: Errada.

Comentário: Grande parte dos privilégios jurídicos do 1º e 2º estados


do Antigo Regime francês (Clero e Nobreza, respectivamente)
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desapareceram com o advento da Revolução Francesa, sobretudo
durante o período do Terror.

08) A revolução gloriosa, no final do século XVII, estabeleceu a república na


Inglaterra. Somente no início do século XVIII, a monarquia foi restaurada e
se estabeleceu o parlamentarismo.

Resposta: Errada.

Comentário: A Revolução Gloriosa restabeleceu a normalidade


monárquica na Inglaterra, com a coroação de Guilherme de Orange
como Guilherme III, no lugar do rei Jaime II, deposto no início da
revolução.

16) Na obra O Leviatã, Thomas Hobbes defendeu o primado da razão sobre


a fé, o direito à autodeterminação dos povos e fez a defesa da república.

Resposta: Errada.

Comentário: A Obra O Leviatã, publicada por Thomas Hobbes durante


a Revolução Inglesa, defendia um contrato social onde o poder
absoluto do soberano, cabeça natural do corpo social, estivesse
assegurado. Portanto, não há uma defesa do regime republicano por
parte do pensador.

3) (UFU – 2012)

Entre os eventos que merecem destaque na consolidação do


absolutismo inglês estão o embate entre os York e os Lancaster, na Guerra
das Duas Rosas, o controle dos nobres por Henrique VII e, finalmente, as
ações de Henrique VIII, que rompeu com o papa e fundou a Igreja
Anglicana, mantida sob sua tutela. Com a morte de Henrique VIII e a
ascensão de Elizabeth I, o absolutismo inglês conheceu seu período de
maturidade. As ações de Elizabeth I e de seus sucessores, adotando
medidas mercantilistas, criando companhias de comércio, dissolvendo o
Parlamento, exigindo pensão vitalícia e criando taxas, marcaram
acontecimentos que culminaram, décadas mais tarde, numa página da
história da sociedade inglesa conhecida como Revolução Gloriosa. Neste
cenário:
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a) a economia inglesa, diante da instabilidade política, teve um
desenvolvimento irregular no século XIX, atrasando sua industrialização
frente a outros países.

Resposta: Errada.

Comentário: O fim da Revolução Inglesa, com a coroação de


Guilherme III e a instituição da monarquia constitucional, propiciou o
surgimento de um cenário propício ao desenvolvimento econômico,
tornando a Inglaterra o berço da Revolução Industrial, a qual atingiria
o seu apogeu durante o século XIX, século da chamada Pax britanica.

b) a monarquia absolutista inglesa, reconhecendo suas limitações,


tomou a iniciativa na criação do Bill of Rights, evitando novas guerras civis
no país.

Resposta: Certa.

Comentário: a Bill of Rights (Declaração de Direitos de 1689) foi um


documento basilar para a formação da monarquia constitucional
inglesa. Criada pelo Parlamento inglês após a derrocada do rei Jaime
II, a Carta foi aceita pelo rei Guilherme III e sua esposa, Maria II, antes
mesmo de ascenderem ao trono, em um gesto que apontava para a
pacificação das relações entre a Coroa e o Parlamento, tão abaladas
desde o início da Revolução.

c) as medidas absolutistas insuflaram questionamentos na sociedade


inglesa, favorecendo mudanças e rupturas na estrutura política do país.

Resposta: Errada.

Comentário: Muito cuidado pessoal! Esta questão faz referência à


Revolução Gloriosa, fase final do período revolucionário inglês,
contexto em que a monarquia absoluta inglesa já havia cedido lugar a
uma nova configuração política, onde o Parlamento assumira as
prerrogativas governativas outrora pertencentes exclusivamente ao
Rei.
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d) as características absolutistas da monarquia inglesa a afastavam do
modelo constitucional que, desde o final da Idade Média, predominava na
Europa.

Resposta: Errada.

Comentário: O absolutismo era predominante em praticamente toda


a Europa, e não somente na Inglaterra. Aliás, será este país o primeiro
a justamente abandonar o absolutismo em favor do
constitucionalismo.

4) (ENEM – 2012)

Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender


as leis ou seu cumprimento. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a
Coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em
época e modo diferentes dos designados por ele próprio. Que é
indispensável convocar com frequência os Parlamentos para satisfazer os
agravos, assim como para corrigir, afirmar e conservar as leis.

Declaração dos Direitos. Disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br.


Acesso em: 20 dez. 2011 (adaptado).

No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra


diante dos demais Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade
inglesa e o regime político que predominavam na Europa continental estão
indicados, respectivamente, em:

a) Redução da influência do papa — Teocracia.

b) Limitação do poder do soberano — Absolutismo.

Resposta: Certa.

Comentário: A primeira opção caracteriza a monarquia


constitucionalista surgida a partir do fim da Revolução Gloriosa
inglesa, enquanto que a segunda define o principal regime político em
voga no restante da Europa até o fim do século XVIII.

c) Ampliação da dominação da nobreza — República.


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d) Expansão da força do presidente — Parlamentarismo.

e) Restrição da competência do congresso — Presidencialismo.

5) (UFV – 2010)

Sobre as Revoluções Inglesas do século XVII, é CORRETO afirmar que:

a) Oliver Cromwell evitou a centralização do poder quando se tornou o


Lorde Protetor da Inglaterra em 1653, pois repudiava o poder absolutista.

Resposta: Errada.

Comentário: Após assumir o poder, Oliver Cromwell centralizou o


poder em torno de si, sobretudo após a dissolução do Parlamento, em
1653.

b) após a guerra civil da década de 1640, o rei Carlos I foi executado e a


República na Inglaterra foi estabelecida temporariamente.

Resposta: Certa.

Comentário: O regicídio (morte do Rei Carlos I) ocorreu por


autorização do Parlamento, e deu origem a um breve regime de
características republicanas, sob a liderança de Oliver Cromwell.

c) Guilherme de Orange, um dos líderes do Exército Revolucionário que


lutou na década de 1640 contra o poder absolutista do rei Carlos I, foi
coroado como o novo rei inglês.

Resposta: Errada.

Comentário: Guilherme de Orange não lutou na revolução de 1640


(se quer era vivo neste ano), mas sim na Revolução Gloriosa de 1689,
evento marcado por sua marcha até a Inglaterra (pois era holandês),
pela qual depôs, com o apoio do Parlamento, Jaime II e ascendeu ao
trono como Guilherme III.

d) a Revolução Gloriosa (1688) representou a ascensão ao poder dos


grupos sociais mais radicais que aboliram a propriedade privada.

Resposta: Errada.
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Comentário: A Revolução Gloriosa recebe esta nomenclatura
justamente por praticamente não ter sido marcada por derramamento
de sangue. A partir dela, e do estabelecimento da monarquia
constitucional, a burguesia mercantil, aliada à nobreza rural, passa a
ganhar grande protagonismo nacional. Portanto, este contexto é
marcado pela pacificação da política inglesa, e não por sua
radicalização.

6) (PUC-Rio – 2006)

Em 1688-1689, a sociedade inglesa vivenciou o episódio então


denominado de Revolução Gloriosa. Entre suas características, destaca-se
a promulgação do "Bill of Rights", uma espécie de declaração de direitos
que passava a regulamentar os poderes do monarca e do Parlamento.
Sobre a importância e os significados do "Bill of Rights", assinale a única
afirmativa CORRETA.

a) Houve o fortalecimento das atribuições do Parlamento frente ao poder


decisório do monarca, instaurando um conjunto de leis que regulavam,
inclusive, a atuação do soberano.

Resposta: Certa.

Comentário: A Revolução Gloriosa pôs um fim definitivo no


absolutismo monárquico, inaugurando a monarquia constitucional, a
qual passou a ser regulada pelo Parlamento.

b) Houve a deposição de Guilherme III, sob a acusação de ter elevado


impostos sem o consentimento prévio do Parlamento, como era previsto
pelo "Bill of Rights".

Resposta: Errada.

Comentário: A Revolução Gloriosa depôs o rei Jaime II. Aliás, a Bill


of Rights apenas foi promulgada em 1689, pouco antes da coroação de
Guilherme III.
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c) Instituiu-se a tolerância religiosa, estabelecendo severas punições
para qualquer tipo de discriminação ou perseguição, em especial com
relação aos que professassem a religião católica.

Resposta: Errada.

Comentário: Todo o período revolucionário foi marcado pela


intensa intolerância religiosa, sobretudo por parte dos grupos
protestantes puritanos em relação à minoria católica inglesa. A
Revolução Gloriosa não pôs fim a este cenário, pois uma de suas
principais motivações foi justamente o fato do Rei Jaime II professar o
catolicismo romano, o que desagradava a maioria protestante.

d) Houve a ascensão política da burguesia comercial, destituindo


progressivamente dos cargos ministeriais os representantes dos "landlords"
e demais grupos aristocráticos.

Resposta: Errada.

Comentário: Apesar deste item acertar em apontar a ascensão da


burguesia comercial como uma das principais consequências da
Revolução Gloriosa, ele erra ao dizer que, com isto, a aristocracia teria
perdido poder, pois, ao contrário do que viria a ocorrer em grande
parte da Europa, sobretudo na França de 1789, na Inglaterra pós-
revolucionária nobreza e burguesia se uniriam em torno de um pacto
político.

e) Instituiu-se o direito de propriedade e, de forma complementar,


promulgaram-se leis que garantiram a defesa do trabalho livre e dos
pequenos proprietários frente a ameaças tais como a servidão por dívidas.

Resposta: Errada.

Comentário: Não houve defesas do tipo como decorrência da


Revolução Gloriosa.

7) (UECE – 2008)

Sobre as Revoluções Burguesas, são feitas as seguintes afirmações:


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I. Consolidam o liberalismo e marcam mudanças nas estruturas
econômicas, políticas e sociais de suas respectivas sociedades.

Resposta: Certa

Comentário: A consolidação do liberalismo político e econômico foi


uma das principais consequências das Revoluções burguesas,
sobretudo a inglesa, francesa e as liberais do início do século XIX.

II. Têm como base a defesa do Antigo Regime e iniciam a transição do


feudalismo para o capitalismo.

Resposta: Errada.

Comentário: Item totalmente errado! As Revoluções burguesas


marcam, justamente, uma reação da burguesia às estruturas do Antigo
Regime.

III. Seus exemplos mais expressivos são: Revolução Inglesa (1644),


Revolução Americana (1776) e Revolução Francesa (1789).

Resposta: Certa.

Assinale o item correto.

a) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.

b) Apenas as afirmações I e III são falsas.

c) Apenas as afirmações II e III são falsas.

d) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.

Item correto: letra d)

8) (PUCRJ)

“A Revolução Francesa constitui um dos capítulos mais importantes da


longa e descontínua passagem histórica do feudalismo ao capitalismo. Com
a Revolução (científica) do século XVII e a Revolução Industrial do século
XVIII na Inglaterra, e ainda com a Revolução Americana de 1776, a Grande
Révolution lança os fundamentos da História contemporânea”.
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[Mota, C. G. A Revolução Francesa].

Entre as transformações promovidas pela Revolução na França, iniciada


em 1789, é CORRETO afirmar que:

a) os privilégios feudais e o regime de servidão foram abolidos


destruindo a base social que sustentava o Antigo Regime absolutista
francês.

Resposta: Certa.

Comentário: A Revolução Francesa (1789-1799) marcou o fim do


Antigo Regime francês e de suas bases estruturais, dentre elas os
privilégios do 1º e 2º estados e a servidão ainda praticada.

b) a Revolução aboliu o trabalho servil e fortaleceu o clero católico


instituindo uma série de medidas de caráter humanista.

Resposta: Errada.

Comentário: O clero católico, representante do 1º estado, perdeu


grande poder político face ao transcorrer da Revolução.

c) os revolucionários derrubaram o rei e proclamaram uma República


fundamentada no igualitarismo radical na qual a propriedade privada foi
abolida.

Resposta: Errada.

Comentário: Duplo pega! Primeiramente, a Revolução, em seu


início, não derrubou o rei Luís XVI, mas sim limitou o seu poder régio.
Sua morte ocorreu apenas entre 1792-93, ano de transição para o
período jacobino, ou do Terror, contexto no qual medidas radicais
foram adotados pelas lideranças locais, não levando, no entanto, à
abolição da propriedade privada, ainda que isto tenha sido intentado
por grande parte dos Jacobinos.

d) a Revolução rompeu os laços com a Igreja católica iniciando uma


reforma de cunho protestante que se aproximava dos ideais da ética do
capitalismo moderno.
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Resposta: Errada.

Comentário: A Revolução Francesa, apesar de ter rompido com o


clero católico, não teve, por sua vez, um caráter protestante, como
afirma o item, mas sim tons de radical laicidade.

e) a Revolução, mesmo em seu momento mais radical, não foi capaz de


romper com as formas de propriedade e trabalho vigentes no antigo regime.

Resposta: Errada.

Comentário: A Revolução pôs fim à servidão, regime de trabalho de


origem medieval ainda existente na França. Ademais, no desenrolar da
Revolução, propriedades de terra pertencentes ao 1º e 2º estados
foram expropriadas pelo governo revolucionário.

9) (Fuvest – 2013)

Oh! Aquela alegria me deu náuseas. Sentia-me ao mesmo tempo


satisfeito e descontente. E eu disse: tanto melhor e tanto pior. Eu entendia
que o povo comum estava tomando a justiça em suas mãos. Aprovo essa
justiça, mas poderia não ser cruel? Castigos de todos os tipos,
arrastamentos e esquartejamentos, tortura, a roda, o cavalete, a fogueira,
verdugos proliferando por toda parte trouxeram tanto prejuízo aos nossos
costumes! Nossos senhores colherão o que semearam.

Graco Babeuf, citado por R. Darnton. O beijo de Lamourette. Mídia,


cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 31.
Adaptado.

O texto é parte de uma carta enviada por Graco Babeuf à sua mulher, no
início da Revolução Francesa de 1789. O autor:

a) discorda dos propósitos revolucionários e defende a continuidade do


Antigo Regime, seus métodos e costumes políticos.

Resposta: Errada.

Comentário: O autor defende a legitimidade das pretensões do


“povo comum”, e, portanto, aprova a sua indignação face às
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estruturais desiguais do Antigo Regime. No entanto, desaprova os
atos cruéis tomados pelos revolucionários.

b) apoia incondicionalmente as ações dos revolucionários por acreditar


que não havia outra maneira de transformar o país.

Resposta: Errada.

Comentário: Como dito acima, o autor não apoiou de forma


incondicional as ações revolucionários, ao menos não em relação às
ações mais radicais e cruéis.

c) defende a criação de um poder judiciário, que atue junto ao rei.

Resposta: Errada.

Comentário: O autor não trata deste tema.

d) caracteriza a violência revolucionária como uma reação aos castigos


e à repressão antes existentes na França.

Resposta: Certa.

Comentário: De fato, o autor sugere essa caracterização, ainda que


desaprove tais métodos.

e) aceita os meios de tortura empregados pelos revolucionários e os


considera uma novidade na história francesa.

Resposta: Errada.

Comentário: Olhar os comentários dos itens a) e b).

10) (UNB – 2012)

No processo da Revolução Francesa, quando destruíram os últimos


resquícios do feudalismo na eufórica noite de 4 de agosto de 1789, os
deputados concordaram em manter o dízimo da Igreja, em vez de
simplesmente aboli-lo sem qualquer compensação. Mas, desde então,
houve sinais de que a promessa seria abandonada. “Eles desejam ser
livres, mas não sabem ser justos”, reclamou o abade de Seyès, referindo-se
a alguns colegas da Assembleia. Robespierre não era nem antipadres nem
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anticlerical; é difícil determinar sua posição quanto ao futuro da Igreja na
Revolução. Às vezes, era veemente crítico e, em outras vezes, retornava à
interpretação da doutrina cristã, pois, a seu ver, o cristianismo era a religião
dos pobres e daqueles de coração puro — riqueza chamativa e luxo não
deveriam fazer parte dele. Os pobres, segundo ele, eram oprimidos não
apenas pela fome, mas também pelo espetáculo escandaloso de clérigos
autoindulgentes, que esbanjavam insensivelmente o que pertencia aos
pobres por direito.

Ruth Scurr. Pureza fatal: Robespierre e a Revolução Francesa. Rio de


Janeiro/São Paulo: Record, 2009, p. 140-1 (com adaptações).

Com base no texto acima, julgue os itens a seguir.

a) A invasão da Península Ibérica, etapa do expansionismo francês


conduzido por Bonaparte, gerou cenário estimulador do processo de
independência das colônias espanholas e portuguesa na América.

Resposta: Certo.

Comentário: A invasão das tropas napoleônicas à Península Ibérica


causou grande agitação nas estruturas coloniais mantidas por
Portugal e Espanha nas Américas, levando, posteriormente, ao
despontar do processo de independências locais.

b) As características aristocráticas, conservadoras e eclesiásticas do


sistema feudal, que impediam práticas comerciais e financeiras, explicam a
sobrevivência desse sistema até 1789.

Resposta: Errado.

Comentário: Mesmo antes de 1789 as práticas feudais, ao menos


em relação às questões econômicas, já se encontrava em extinção,
sobretudo por conta das práticas mercantis, em expansão desde o fim
do período medieval.

c) O dízimo, imposto que abrangia o universo dos cristãos, possibilitou


que os papas, desde a Idade Média até o final do Antigo Regime,
destinassem a Roma 10% da riqueza produzida na Europa, o que
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transformou a Igreja na principal instituição a ser combatida pelos
iluministas e revolucionários do século XVIII.

Resposta: Errado.

Comentário: A maior parte dos valores acumulados com os dízimos


pagos em toda a Europa eram destinados à Roma, pois a maior parte
era mantida dentro dos próprios reinos arrecadadores.

d) A Reforma, ocorrida quase três séculos antes da Revolução


Francesa, constituiu evento de ruptura no interior do cristianismo. Entre
outros aspectos, ela condenava o espetáculo pouco cristão dos
eclesiásticos católicos, quer no plano econômico, quer no plano dos
costumes.

Resposta: Certo.

Comentário: A Reforma Protestante, iniciada no século XVI, teve


como uma de suas premissas o combate de determinadas práticas
internas ao catolicismo, sobretudo em relação ao comportamento de
grande parte do clero.

e) A forma como a autora do texto refere-se ao abade de Seyès e a


Robespierre permite compreender a convivência, no auge dos
acontecimentos da Revolução Francesa, de duas perspectivas, a tradicional
e a moderna, assumidas, inclusive, por um mesmo indivíduo.

Resposta: Certo.

Comentário: O texto deixa claro que o pensamento de Roberpierre


reunia pontos tanto favoráveis quanto contrários ao clero francês.

f) Os miseráveis da época mencionada no texto não eram


representantes da totalidade do povo, o qual, como categoria social,
compreendia também indivíduos e grupos que estavam além da linha de
miséria. Essa categoria teria, em seguida, seu significado ampliado ao nível
político da nação.

Resposta: Certo.
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Comentário: O Terceiro estado, referido pelo termo “miseráveis”,
não incluía somente membros pertencentes às camadas mais pobres
da sociedade francesa, como também burgueses e outros membros
ricos, desprovidos de privilégios sociais e/ou jurídicos, a despeito de
sua situação econômica privilegiada.

11) (UFTM)

A cada um a sua função e o seu lugar na terra. No topo estão os


religiosos, intermediários indispensáveis entre a cidade terrestre e a cidade
celeste (...). Depois vêm os nobres, que receberam da Providência a
qualidade de guerreiros e estão, portanto, investidos da missão de
manutenção da ordem. Finalmente, para o último lugar são relegados os
trabalhadores, destinados ao trabalho e ao sofrimento para o bem comum.

(Pierre Bonnassie. Dicionário de história medieval, 1985. Adaptado.)

O texto faz referência:

a) a um tipo de organização social que se apoiava nas diferentes


aptidões dos seres humanos.

Resposta: Errado.

Comentário: Pega!! De fato, apesar de tratar de “aptidões”, o texto


deixa claro que as mesmas procedem de um ordenamento natural,
oriundo de dos desígnios de Deus.

b) às crenças milenaristas, segundo as quais apenas os pobres


alcançariam o reino dos céus.

Resposta: Errado.

Comentário: O texto não se refere ao milenarismo ou afins.

c) à igualdade social, que caracteriza a sociedade ocidental desde a


Antiguidade.

Resposta: Errado.

Comentário: O texto deixa claro a existência de desníveis naturais


entre os diferentes estamentos sociais.
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d) ao antropocentrismo, que reservava lugar de destaque para a vontade
dos indivíduos.

Resposta: Errado.

Comentário: A visão teocêntrica é predominante no texto, e não a


antropocêntrica.

e) à divisão da sociedade em três ordens, colocada em xeque pela


Revolução Francesa.

Resposta: Certo.

Comentário: Exato! O texto se refere aos três estados do antigo


regime francês: o clero (1º estado), a nobreza (2º estado) e o restante
da população (3º estado).

12) (UNB – 2011)

A Revolução Francesa representou um momento crucial de expansão de


direitos no mundo ocidental. Tal expansão, no entanto, desencadeou, ao
longo dos séculos XIX e XX, complexo processo em que nem todos esses
direitos foram, simultaneamente, concedidos a todos os grupos sociais.
Acerca do processo da expansão de direitos civis, políticos e sociais na
França, nos vinte anos subsequentes ao início da Revolução Francesa, é
correto afirmar que:

a) a Constituição francesa de 1791 aboliu a escravidão tanto no território


metropolitano quanto nas zonas coloniais, conferindo, com isso, direitos
civis e políticos aos ex-escravos.

Resposta: Errado.

Comentário: A abolição da escravidão ocorrerá somente em 1794.

b) o Estado francês, logo nos primeiros anos após a tomada da Bastilha,


passou a garantir direitos políticos aos homens de proveniência protestante
e judia que residiam no território francês.

Resposta: Certo.
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Comentário: A garantia de direitos políticos a todos os cidadãos
franceses, independentemente do credo professado, foi ponto basilar
do ideário revolucionário, sobretudo devido ao seu caráter laico.

c) o Código Civil francês, instituído por Napoleão Bonaparte, concedeu


às mulheres direitos políticos, como o de votar nas eleições municipais e
nas eleições para o parlamento nacional.

Resposta: Errado.

Comentário: O Código civil francês, ou Código napoleônico,


restringia direitos já consolidados das mulheres, ao invés de ampliá-
los, como afirma o item acima.

d) o período da Convenção Nacional, sob o comando dos jacobinos,


caracterizou-se pela ampla proteção aos direitos civis por parte do Estado.

Resposta: Errado.

Comentário: Não por um acaso, o período de domínio dos


Jacobinos é conhecido como o “período do Terror”, ou do “Grande
Medo”. A frente do governo, os jacobinos deram início a um contexto
de perseguições políticas e execuções sumárias de inimigos da facção
jacobina, sob a acusação de traição ao ideal revolucionário.

13) (ENEM – 2010)

Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela


probidade, os usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a
tirania da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo
desprezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de
alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa companhia pelas boas
pessoas, a intriga pelo mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela
verdade, o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade, a mesquinharia dos
grandes pela grandeza do homem.

HUNT, L. Revolução Francesa e Vida Privada. In: PERROT, M. (Org.)


História da Vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Vol. 4.
São Paulo: Companhia das Letras, 1991 (adaptado).
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O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho
transcrito é parte, relaciona-se a qual dos grupos político-sociais envolvidos
na Revolução Francesa?

a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês


como força política dominante.

Resposta: Errado.

b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta


burguesia.

Resposta: Errado.

c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram


as potências rivais e queriam reorganizar a França internamente.

Resposta: Errado.

d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato, com os


intelectuais iluministas, desejava extinguir o absolutismo francês.

Resposta: Errado.

e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas


populares, que desejavam justiça social e direitos políticos.

Resposta: Certo.

Comentário: Os jacobinos eram os principais representantes destes


grupos sociais, ao contrário dos girondinos, que buscavam
representar os interesses da alta burguesia.
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Lista das questões apresentadas na aula

1) A respeito do contexto da denominada Revolução Gloriosa (1688-1689), julgue


(C ou E) os itens a seguir.

a) A Revolução Gloriosa marcou o início de uma nova etapa da relação entre os


monarcas ingleses e o Parlamento, cimentada pelo Bill of Rights (Declaração de
Direitos), em 1689, na qual se estabeleceu que os reis, a partir daquele momento,
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necessitariam do aval dos representantes políticos para implementar medidas que
afetassem áreas importantes da vida no reino.
b) Originária da Escócia, a dinastia dos Stuart reinava na Inglaterra desde a morte
de Elizabete I, em 1603, apesar das constantes pressões políticas da oposição anglicana,
que não se conformava com a entronização de uma linhagem católica.
c) Em 1688, com a deposição de Jaime II, o parlamento inglês dividiu-se em dois
grupos, tories e wighs, cujas características políticas correspondiam ao credo religioso
professado: os tories, conservadores, eram católicos; os wighs, liberais, eram
anglicanos.
d) Para contornar os problemas políticos criados pelo reinado de Jaime II, a solução
sucessória, encontrada na Holanda, foi o genro do monarca inglês, Guilherme de
Orange, que invadiu a Inglaterra a pedido da oposição e subiu ao trono como Guilherme
III, envolvendo os ingleses em seus projetos de vencer militarmente a França de Luís
XIV.

2) Prova do CACD de 2006, questão 37

“Poucas vezes a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi


demonstrada de forma mais decisiva do que na geração pós-1815. Evitar uma segunda
Revolução Francesa, ou, ainda, a catástrofe pior de uma revolução européia
generalizada tendo como modelo a francesa, foi o objetivo supremo de todas as
potências que tinham gasto mais de 20 anos para derrotar a primeira, até mesmo dos
britânicos, que não simpatizavam com os absolutismos reacionários que se
restabeleceram em toda a Europa e sabiam muito bem que as reformas não podiam nem
deviam ser evitadas, mas que temiam uma nova expansão franco-jacobina mais do que
qualquer outra contingência internacional. E, ainda assim, nunca na história da Europa e
poucas vezes em qualquer outro lugar, o revolucionarismo foi tão endêmico, tão geral,
tão capaz de se espalhar por propaganda deliberada como por contágio espontâneo.”

Eric J. Hobsbawm. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981, p. 127.
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O texto se reporta ao período da história do mundo ocidental conhecido como Era
Revolucionária. Em linhas gerais, entre as últimas décadas do século XVIII e a primeira
metade do século XIX, assiste-se ao confronto entre as forças sociais que se batiam pela
superação do Antigo Regime e as que defendiam a manutenção dele, ainda que sob
condições e intensidade variáveis. Nesse contexto, com referência à Revolução
Francesa, assinale a opção correta.

a) O que aconteceu na França a partir de 1789 foi a explosão do sentimento


generalizado de repulsa a um absolutismo crescentemente anacrônico, ainda que
amenizado pelo reformismo assumido pela dinastia Bourbon, a qual
empreendera estratégia de conferir ao regime ares de pretensa modernidade — o
despotismo esclarecido.
b) Entende-se a Revolução Francesa como um processo que não se esgota
rapidamente, com períodos de maior ou menor intensidade do fervor
revolucionário. De todas as fases desse processo, a Convenção Nacional,
dominada pelos jacobinos, foi a que conferiu caráter mais radical à Revolução,
de que são exemplos o fim da monarquia, a adoção do sufrágio universal e o
grande número de execuções de adversários.
c) O pensamento iluminista, mesmo restrito a alguns países da Europa ocidental
no transcurso do século XVIII, foi decisivo para a eclosão da Era
Revolucionária. Entre seus principais expoentes, Voltaire se destaca, por ter
formulado a teoria da separação dos poderes, fundamental para a contestação ao
Estado absolutista.
d) Por simbolizar a luta contra o despotismo, a Revolução Francesa foi alvo da
reação conjunta dos defensores do Antigo Regime, na qual se sobressaiu a
Inglaterra, a quem convinha a manutenção da estrutura de poder absolutista para
a expansão de negócios financeiros e para a abertura de mercados para seus
produtos industrializados.
e) Graças a Napoleão Bonaparte, liderança que emergiu na última fase da
Revolução Francesa, o processo revolucionário iniciado em 1789 adquiriu
feições de movimento essencialmente popular, como demonstra o isolamento
político da classe burguesa.
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3) Prova do CACD de 2010, caderno D, questão 60

Assinale a opção correta com relação às transformações institucionais introduzidas pela


Revolução Francesa.

a) A conscrição maciça de homens solteiros entre 18 e 25 anos, medida precursora


do recrutamento militar obrigatório.
b) A concessão de voto universal, independentemente de renda.
c) A tentativa bem-sucedida de aprovação de um código civil, já em 1789.
d) A separação entre Igreja e Estado, uma das principais reformas da Assembleia
Nacional no ano de 1789.
e) A instituição de um sistema de compra de cargos públicos, em substituição ao
sistema hereditário existente no Antigo Regime.

4) Prova do CACD de 2013, questão 46

A execução de Carlos I, em 30 de janeiro de 1649, foi decisão do Parlamento inglês que


simbolizou o fim do absolutismo na Inglaterra e comprometeu o mito da identificação
entre poder real e sua origem divina. Manifestação inicial da crise do Antigo Regime, a
Revolução Inglesa do século XVII foi o ponto de partida da Era das Revoluções, que,
entre fins do século XVIII e primeira metade do século XIX, iria desvelar o mundo
contemporâneo. Relativamente a esse processo histórico, assinale a opção correta.

a) A Revolução Francesa de 1789 marcou o perfil ideológico das revoluções


burguesas, dado seu caráter liberal e pioneiramente democrático, que
acompanhou todo o processo revolucionário, da queda da Bastilha à ascensão de
Napoleão Bonaparte ao poder.
b) A Revolução Puritana de 1640 e a Revolução Gloriosa de 1688, ainda que
integrantes de um mesmo contexto, são distintas nos propósitos e nos meios
utilizados, visto que a segunda se insurgiu contra o Parlamento, mas procurou
manter incólume o poder monárquico.
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c) Dois motivos excluem a Revolução Industrial do conjunto de revoluções
burguesas que sepultaram o Antigo Regime: ter mantido em aberto o processo
de transição do feudalismo ao capitalismo e ter exercido diminuta influência na
transformação política dos países que se industrializavam.
d) Chamados iluministas, pensadores europeus do século XVIII — especialmente
franceses — revolucionaram intelectualmente o mundo moderno ao atacarem
com vigor a injustiça, a intolerância religiosa e os privilégios, preparando o
terreno para as revoluções que destruiriam o Antigo Regime.
e) Considerada a primeira revolução americana, a independência das 13 colônias
inglesas da América do Norte foi facilitada pela homogeneidade da colonização
e pela decisão da Inglaterra de não reagir militarmente ao movimento
separatista, para assegurar a continuidade dos negócios na região.

5) Fundação Getúlio Vargas – 2013

“A Reforma, a despeito de sua hostilidade à magia, estimulara o espírito de


profecia. A abolição dos intermediários entre o homem e a divindade, bem como a
ênfase na consciência individual, deixavam Deus falar diretamente a seus eleitos.
Era obrigação destes tornar conhecida a Sua mensagem. E Deus não fazia acepção
de pessoas: preferia falar a John Knox do que à sua rainha, Maria Stuart da Escócia.
O próprio Knox agradeceu a Deus ter-lhe dado o dom de profetizar, que assim
estabelecia que ele era um homem de boa-fé. Na Inglaterra, as décadas
revolucionárias deram ampla difusão ao que praticamente constituía uma profissão
nova – a do profeta, quer na qualidade de intérprete dos astros, ou dos mitos
populares tradicionais, ou, ainda, da Bíblia.”

HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. Ideias radicais durante a


Revolução Inglesa de 1640. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo, Companhia das
Letras, 1987, p. 103.

O texto se refere ao ambiente político e religioso da Inglaterra no século XVII. A


esse respeito é correto afirmar:

a) A insatisfação popular na Inglaterra era decorrente da perspectiva protestante


de manter os sacerdotes como intermediários entre Deus e os homens.
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b) Os revolucionários basearam-se em princípios estritamente racionais e
científicos, em uma nítida ruptura com as crenças e o profetismo da época.

c) Apesar de todas as disputas religiosas dos séculos XVI e XVII, os monarcas


ingleses mantiveram-se neutros, o que permitiu a preservação da monarquia.

d) Para os revolucionários ingleses, Deus considerava apenas os parlamentares


como pessoas aptas a transmitir a doutrina e indicar os caminhos da salvação.

e) A movimentação revolucionária esteve vinculada aos conflitos religiosos


decorrentes da chamada Reforma Protestante iniciada no século XVI.

6) (UEM – 2012)

No século XVII, na Inglaterra, e no final do século XVIII, na França, ocorreram


processos revolucionários que são conhecidos como revoluções burguesas. A esse
respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

a) Na França do Antigo Regime, o primeiro e o segundo estados, clero e


nobreza, detinham direitos exclusivos, tais como a isenção de pagamento de
impostos.
b) Tanto na Inglaterra quanto na França, era disseminada a crença no caráter
sagrado do poder dos reis.
c) Embora realizada em nome da liberdade e da igualdade, os revolucionários
franceses mantiveram os privilégios jurídicos da nobreza.
d) 08) A revolução gloriosa, no final do século XVII, estabeleceu a república na
Inglaterra. Somente no início do século XVIII, a monarquia foi restaurada e
se estabeleceu o parlamentarismo.
e) 16) Na obra O Leviatã, Thomas Hobbes defendeu o primado da razão sobre
a fé, o direito à autodeterminação dos povos e fez a defesa da república.

7) (UFU – 2012)

Entre os eventos que merecem destaque na consolidação do absolutismo inglês


estão o embate entre os York e os Lancaster, na Guerra das Duas Rosas, o controle
dos nobres por Henrique VII e, finalmente, as ações de Henrique VIII, que rompeu
com o papa e fundou a Igreja Anglicana, mantida sob sua tutela. Com a morte de
Henrique VIII e a ascensão de Elizabeth I, o absolutismo inglês conheceu seu
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período de maturidade. As ações de Elizabeth I e de seus sucessores, adotando
medidas mercantilistas, criando companhias de comércio, dissolvendo o Parlamento,
exigindo pensão vitalícia e criando taxas, marcaram acontecimentos que
culminaram, décadas mais tarde, numa página da história da sociedade inglesa
conhecida como Revolução Gloriosa. Neste cenário:

a) a economia inglesa, diante da instabilidade política, teve um desenvolvimento


irregular no século XIX, atrasando sua industrialização frente a outros países.

b) a monarquia absolutista inglesa, reconhecendo suas limitações, tomou a


iniciativa na criação do Bill of Rights, evitando novas guerras civis no país.

c) as medidas absolutistas insuflaram questionamentos na sociedade inglesa,


favorecendo mudanças e rupturas na estrutura política do país.

d) as características absolutistas da monarquia inglesa a afastavam do modelo


constitucional que, desde o final da Idade Média, predominava na Europa.

8) (ENEM – 2012)

Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou
seu cumprimento. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o
concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo
diferentes dos designados por ele próprio. Que é indispensável convocar com
frequência os Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para corrigir,
afirmar e conservar as leis.

Declaração dos Direitos. Disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso


em: 20 dez. 2011 (adaptado).

No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra diante


dos demais Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime
político que predominavam na Europa continental estão indicados, respectivamente,
em:

a) Redução da influência do papa — Teocracia.

b) Limitação do poder do soberano — Absolutismo.

c) Ampliação da dominação da nobreza — República.


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d) Expansão da força do presidente — Parlamentarismo.

e) Restrição da competência do congresso — Presidencialismo.

9) (UFV – 2010)

Sobre as Revoluções Inglesas do século XVII, é CORRETO afirmar que:

a) Oliver Cromwell evitou a centralização do poder quando se tornou o Lorde


Protetor da Inglaterra em 1653, pois repudiava o poder absolutista.

b) após a guerra civil da década de 1640, o rei Carlos I foi executado e a


República na Inglaterra foi estabelecida temporariamente.

c) Guilherme de Orange, um dos líderes do Exército Revolucionário que lutou


na década de 1640 contra o poder absolutista do rei Carlos I, foi coroado como o
novo rei inglês.

d) a Revolução Gloriosa (1688) representou a ascensão ao poder dos grupos


sociais mais radicais que aboliram a propriedade privada.

10) (PUC-Rio – 2006)

Em 1688-1689, a sociedade inglesa vivenciou o episódio então denominado de


Revolução Gloriosa. Entre suas características, destaca-se a promulgação do "Bill of
Rights", uma espécie de declaração de direitos que passava a regulamentar os
poderes do monarca e do Parlamento. Sobre a importância e os significados do "Bill
of Rights", assinale a única afirmativa CORRETA.

a) Houve o fortalecimento das atribuições do Parlamento frente ao poder


decisório do monarca, instaurando um conjunto de leis que regulavam, inclusive, a
atuação do soberano.

b) Houve a deposição de Guilherme III, sob a acusação de ter elevado impostos


sem o consentimento prévio do Parlamento, como era previsto pelo "Bill of Rights".

c) Instituiu-se a tolerância religiosa, estabelecendo severas punições para


qualquer tipo de discriminação ou perseguição, em especial com relação aos que
professassem a religião católica.
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d) Houve a ascensão política da burguesia comercial, destituindo
progressivamente dos cargos ministeriais os representantes dos "landlords" e demais
grupos aristocráticos.

e) Instituiu-se o direito de propriedade e, de forma complementar, promulgaram-


se leis que garantiram a defesa do trabalho livre e dos pequenos proprietários frente
a ameaças tais como a servidão por dívidas.

11) (UECE – 2008)

Sobre as Revoluções Burguesas, são feitas as seguintes afirmações:

I. Consolidam o liberalismo e marcam mudanças nas estruturas econômicas,


políticas e sociais de suas respectivas sociedades.

II. Têm como base a defesa do Antigo Regime e iniciam a transição do


feudalismo para o capitalismo.

III. Seus exemplos mais expressivos são: Revolução Inglesa (1644), Revolução
Americana (1776) e Revolução Francesa (1789).

Assinale o item correto.

a) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.

b) Apenas as afirmações I e III são falsas.

c) Apenas as afirmações II e III são falsas.

d) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.

12) (PUCRJ)

“A Revolução Francesa constitui um dos capítulos mais importantes da longa e


descontínua passagem histórica do feudalismo ao capitalismo. Com a Revolução
(científica) do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII na Inglaterra, e
ainda com a Revolução Americana de 1776, a Grande Révolution lança os
fundamentos da História contemporânea”.

[Mota, C. G. A Revolução Francesa].

Entre as transformações promovidas pela Revolução na França, iniciada em


1789, é CORRETO afirmar que:
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a) os privilégios feudais e o regime de servidão foram abolidos destruindo a base
social que sustentava o Antigo Regime absolutista francês.

b) a Revolução aboliu o trabalho servil e fortaleceu o clero católico instituindo


uma série de medidas de caráter humanista.

c) os revolucionários derrubaram o rei e proclamaram uma República


fundamentada no igualitarismo radical na qual a propriedade privada foi abolida.

d) a Revolução rompeu os laços com a Igreja católica iniciando uma reforma de


cunho protestante que se aproximava dos ideais da ética do capitalismo moderno.

e) a Revolução, mesmo em seu momento mais radical, não foi capaz de romper
com as formas de propriedade e trabalho vigentes no antigo regime.

13) (Fuvest – 2013)

Oh! Aquela alegria me deu náuseas. Sentia-me ao mesmo tempo satisfeito e


descontente. E eu disse: tanto melhor e tanto pior. Eu entendia que o povo comum
estava tomando a justiça em suas mãos. Aprovo essa justiça, mas poderia não ser
cruel? Castigos de todos os tipos, arrastamentos e esquartejamentos, tortura, a
roda, o cavalete, a fogueira, verdugos proliferando por toda parte trouxeram tanto
prejuízo aos nossos costumes! Nossos senhores colherão o que semearam.

Graco Babeuf, citado por R. Darnton. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e


revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 31. Adaptado.

O texto é parte de uma carta enviada por Graco Babeuf à sua mulher, no início
da Revolução Francesa de 1789. O autor:

a) discorda dos propósitos revolucionários e defende a continuidade do Antigo


Regime, seus métodos e costumes políticos.

b) apoia incondicionalmente as ações dos revolucionários por acreditar que não


havia outra maneira de transformar o país.

c) defende a criação de um poder judiciário, que atue junto ao rei.

d) caracteriza a violência revolucionária como uma reação aos castigos e à


repressão antes existentes na França.
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e) aceita os meios de tortura empregados pelos revolucionários e os considera
uma novidade na história francesa.

14) (UNB – 2012)

No processo da Revolução Francesa, quando destruíram os últimos resquícios do


feudalismo na eufórica noite de 4 de agosto de 1789, os deputados concordaram em
manter o dízimo da Igreja, em vez de simplesmente aboli-lo sem qualquer
compensação. Mas, desde então, houve sinais de que a promessa seria abandonada.
“Eles desejam ser livres, mas não sabem ser justos”, reclamou o abade de Seyès,
referindo-se a alguns colegas da Assembleia. Robespierre não era nem antipadres
nem anticlerical; é difícil determinar sua posição quanto ao futuro da Igreja na
Revolução. Às vezes, era veemente crítico e, em outras vezes, retornava à
interpretação da doutrina cristã, pois, a seu ver, o cristianismo era a religião dos
pobres e daqueles de coração puro — riqueza chamativa e luxo não deveriam fazer
parte dele. Os pobres, segundo ele, eram oprimidos não apenas pela fome, mas
também pelo espetáculo escandaloso de clérigos autoindulgentes, que esbanjavam
insensivelmente o que pertencia aos pobres por direito.

Ruth Scurr. Pureza fatal: Robespierre e a Revolução Francesa. Rio de


Janeiro/São Paulo: Record, 2009, p. 140-1 (com adaptações).

Com base no texto acima, julgue os itens a seguir.

a) A invasão da Península Ibérica, etapa do expansionismo francês conduzido


por Bonaparte, gerou cenário estimulador do processo de independência das
colônias espanholas e portuguesa na América.

b) As características aristocráticas, conservadoras e eclesiásticas do sistema


feudal, que impediam práticas comerciais e financeiras, explicam a sobrevivência
desse sistema até 1789.

c) O dízimo, imposto que abrangia o universo dos cristãos, possibilitou que os


papas, desde a Idade Média até o final do Antigo Regime, destinassem a Roma 10%
da riqueza produzida na Europa, o que transformou a Igreja na principal instituição a
ser combatida pelos iluministas e revolucionários do século XVIII.

d) A Reforma, ocorrida quase três séculos antes da Revolução Francesa,


constituiu evento de ruptura no interior do cristianismo. Entre outros aspectos, ela
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condenava o espetáculo pouco cristão dos eclesiásticos católicos, quer no plano
econômico, quer no plano dos costumes.

e) A forma como a autora do texto refere-se ao abade de Seyès e a Robespierre


permite compreender a convivência, no auge dos acontecimentos da Revolução
Francesa, de duas perspectivas, a tradicional e a moderna, assumidas, inclusive, por
um mesmo indivíduo.

f) Os miseráveis da época mencionada no texto não eram representantes da


totalidade do povo, o qual, como categoria social, compreendia também indivíduos e
grupos que estavam além da linha de miséria. Essa categoria teria, em seguida, seu
significado ampliado ao nível político da nação.

15) (UFTM)

A cada um a sua função e o seu lugar na terra. No topo estão os religiosos,


intermediários indispensáveis entre a cidade terrestre e a cidade celeste (...). Depois
vêm os nobres, que receberam da Providência a qualidade de guerreiros e estão,
portanto, investidos da missão de manutenção da ordem. Finalmente, para o último
lugar são relegados os trabalhadores, destinados ao trabalho e ao sofrimento para o
bem comum.

(Pierre Bonnassie. Dicionário de história medieval, 1985. Adaptado.)

O texto faz referência:

a) a um tipo de organização social que se apoiava nas diferentes aptidões dos


seres humanos.

b) às crenças milenaristas, segundo as quais apenas os pobres alcançariam o


reino dos céus.

c) à igualdade social, que caracteriza a sociedade ocidental desde a Antiguidade.

d) ao antropocentrismo, que reservava lugar de destaque para a vontade dos


indivíduos.

e) à divisão da sociedade em três ordens, colocada em xeque pela Revolução


Francesa.

16) (UNB – 2011)


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A Revolução Francesa representou um momento crucial de expansão de direitos
no mundo ocidental. Tal expansão, no entanto, desencadeou, ao longo dos séculos
XIX e XX, complexo processo em que nem todos esses direitos foram,
simultaneamente, concedidos a todos os grupos sociais. Acerca do processo da
expansão de direitos civis, políticos e sociais na França, nos vinte anos subsequentes
ao início da Revolução Francesa, é correto afirmar que:

a) a Constituição francesa de 1791 aboliu a escravidão tanto no território


metropolitano quanto nas zonas coloniais, conferindo, com isso, direitos civis e
políticos aos ex-escravos.

b) o Estado francês, logo nos primeiros anos após a tomada da Bastilha, passou a
garantir direitos políticos aos homens de proveniência protestante e judia que
residiam no território francês.

c) o Código Civil francês, instituído por Napoleão Bonaparte, concedeu às


mulheres direitos políticos, como o de votar nas eleições municipais e nas eleições
para o parlamento nacional.

d) o período da Convenção Nacional, sob o comando dos jacobinos,


caracterizou-se pela ampla proteção aos direitos civis por parte do Estado.

17) (ENEM – 2010)

Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela


probidade, os usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a tirania da
moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício, a
insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo
amor à glória, a boa companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o
espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia pelo encanto da
felicidade, a mesquinharia dos grandes pela grandeza do homem.

HUNT, L. Revolução Francesa e Vida Privada. In: PERROT, M. (Org.) História


da Vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Vol. 4. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991 (adaptado).

O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho transcrito


é parte, relaciona-se a qual dos grupos político-sociais envolvidos na Revolução
Francesa?
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a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês como
força política dominante.

b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta burguesia.

c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram as


potências rivais e queriam reorganizar a França internamente.

d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato, com os intelectuais


iluministas, desejava extinguir o absolutismo francês.

e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares,


que desejavam justiça social e direitos políticos.
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Gabarito

01. C/E/E/C
02. E/C/E/E/E
03. C/E/E/E/E
04. E/E/E/C/E
05. E/E/E/E/C
06. C/C/E/E/E
07. E/C/E/E
08. B)
09. E/C/E/E
10. C/E/E/E/E
11. D)
12. C/E/E/E/E
13. E/E/E/C/E
14. C/E/E/C/C/C
15. E/E/E/E/C
16. E/C/E/E
17. E/E/E/E/C
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Referências Bibliográficas

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Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1989.
FURET, François. Pensar a Revolução Francesa. Lisboa: Ed. 70, 1988.
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São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
______. O Mundo de ponta a cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
______. A Revolução inglesa de 1640. Lisboa: Editorial Presença, 1985.
______. O Século das Revoluções (1603-1714). São Paulo: Unesp, 2012.
HIMMELFARB, Gertrude. Caminhos para a Modernidade. São Paulo: É
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HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


2009.

ISRAEL, Jonathan. Iluminismo Radical. São Paulo: Madras, 2009.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

MORE, Thomas. Utopia. Brasília: FUNAG, 2004. Acessível em:


http://funag.gov.br/loja/download/260-Utopia.pdf.

SOLÉ, Jacques. A Revolução em questões. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,


1989.
VOLVELLE, Michel. A Revolução Francesa. São Paulo: Unesp, 2012.
Banco de questões In História Online. Disponível em:
https://historiaon.files.wordpress.com Acesso em: 10 fevereiro 2017.
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Apresentação

Olá caro aluno!

É com satisfação que entregamos a você nossa segunda aula, concernente,


agora, ao período posterior à Revolução Francesa e ao período Napoleônico,
mais conhecido como o Concerto Europeu ou a Restauração. O período do
Concerto varia um pouco conforme os autores, mas trabalheremos aqui com o
corte cronológico de 1815, fim dos trabalhos do Congresso de Viena, até 1848,
momento da chamada “Primavera dos Povos” em que quase toda a Europa foi
tomada por movimentos revolucionários. A crise, decadência e substituição do
sistema montado em Viena serão apresentadas na próxima aula, com as
guerras franco-prussiana e de unificação da Itália.

Este conteúdo, faz-se necessário ressaltar, é bastante importante para a


prova da CACD e tem caído com frequência no certame. Não é um tema
particularmente difícil, então está fácil para você gabaritar!

Ao término da explanação, faremos, tal como na última aula, resoluções das


questões do CACD e de outras provas que cobram este conteúdo. Avancemos,
com o espírito comedido de von Metternich e Talleyrand!
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1. A Restauração europeia e o Equilíbrio de poder

Tendo passado o furacão napoleônico, que transformara o cenário europeu


de maneira indelével, os líderes dos grandes países da Europa se reuniram em
Viena para discutir o que fazer e traçar estratégias para montar um novo
sistema internacional que tentasse, ao máximo, restaurar a ordem que existia
antes da Revolução e evitar que novos conflitos desse gênero tornassem a
ocorrer.

Antes de entrarmos nos meandros dessa história, no entanto, cremos que


seja interessante abordarmos, primeiramente, o conceito de “sistema
internacional” e, segundamente, voltarmos um pouco no tempo, analisando
como eram as relações entre as unidades políticas antes da Revolução
Francesa.

Podemos chamar as relações internacionais dos séculos XVII e XVIII de


sistema internacional? O que isso significa? Uma deifinição clara nos é dada
por Amado Cervo:

O sistema internacional corresponderia à interação econômica,


política e estratégica entre Estados-agentes, os quais, ao
guiarem-se pelos interesses próprios, depedem uns dos outros
para atingir seus fins externos. Cada sistema fixa regras,
instituições e valores comuns, que servem de veículos e
parâmetros para a ação e condicionam a conduta dos Estados-
membros.1

Estamos dizendo, portanto, que tanto no século XVII quanto no século XIX
foram estabelecidas regras e valores mínimos que nortearam as ações dos
Estados europeus por algum tempo. No caso de Westphalia, o sistema
perduraria até 1792 e, no caso de Viena, até por volta de 1870.

O sistema de Westphalia foi montado após a guerra dos 30 anos. Este


conflito, um dos maiores e mais destruidores da Europa, opôs a casa de
Habsburgo (que ocupava os tronos da Áustria e da Espanha) e seus aliados
(Bavária e outro estados menores alemães, católicos em sua maioria) contra os
principados germânicos protestantes, a Suécia e, por fim, a França.
1
CERVO, Amado Luiz. “Hegemonia coletiva e equilíbrio” IN SARAIVA, José Flávio Sombra.
História das Relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 45.
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Almejando o imperium hegemônico dentro e fora da “Alemanha”, na esteira
das tradições políticas medievais de aliança entre altar e trono, os Habsburgo
empreenderam políticas internas ao Sacro-Império Romano Germânico que
buscaram a recatolicização do império (principalmente com o édito de
Restituição de 1629),2 maior centralização do poder imperial (com uma série de
medidas tomadas sem a convocação e aprovação da Dieta imperial) e
preponderância da Áustria sobre os demais principados, causando uma série
de conflitos entre 1618 e 1648. Com o intento de evitar a hegemonia da casa
de Habsburgo – o que implicaria em perda de poder e prestígio –, os franceses,
liderados por Luís XIII e Richelieu, apoiaram, informalmente, os adversários
dos Habsburgos e se engajaram diretamente na guerra em 1635, depois que a
Áustria já havia sustentado a guerra contra seus inimigos por 17 anos.
Inflingindo derrotas a uma Áustria já debilitada, os franceses conseguiram
impor-lhe uma paz que enterrou definitivamente as intenções hegemônicas do
imperador e inauguraram uma nova ordem internacional.

O Congresso de Westphalia (1648) – primeiro grande encontro internacional


moderno – definiu que era necessário à paz e ao equilíbrio de poder na Europa
que o território germânico continuasse decentralizado e fragmentado em
múltiplos principados. Uma Alemanha unificada sob um imperador era por
demais inquietante para as demais monarquias. Essa solução inicia, então,
uma “sociedade de Estados independentes”3 cujo objetivo era impedir a
hegemonia de um só país na Europa, ainda que continuasse a existir um
conjunto de países poderosos que, seguindo seus desígnios específicos,
viessem a expandir-se às custas dos demais. Os princípios que norteariam as
relações interestatais seriam, a partir de então, a soberania, a não-intervenção
e o diálogo diplomático, sendo a força o último recurso.4

Percebemos aqui que a vontade política de um país de tornar-se


incontestavelmente mais poderoso que os demais levou à reação violenta dos

2
O Édito de Restituição foi uma tentativa do imperador austríaco Fernando II para fazer valer a
“reserva eclesiástica”, isto é, a ordem legal de 1555 que proibia a secularização de terras de
senhorios e bispados católicos, como ocorrera com vários bispados durante o auge da reforma
na Alemanha. Por incapacidade dos imperadores depois de Carlos V de fazer valer a lei,
Fernando II tentou retomar a questão no século XVII.
3
Idem, p. 43.
4
Idem, p. 44.
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vizinhos que buscavam manter um equilíbrio sem hegemonia e assegurando as
independências dos pequenos principados do centro da Europa. Esse sistema,
embora precário, permaneceria, com modificações, até o estouro da Revolução
Francesa. Como entender bem esse movimento internacional? Uma boa chave
explicativa nos é fornecida pelo pesquisador e teórico das Relações
Internacionais, Adam Watson.

Em sua longa carreira, Watson se devotou ao estudos de como os Estados


se relacionaram entre si na história. Como fruto de suas pesquisas, Watson
chegou a uma teoria, hoje conhecida como “Pêndulo de Watson”, na qual ele
afirma que as relações entre os Estados varia, nos extremos, entre a busca da
hegemonia por um país e a das múltiplas independências (e consequente
pulverização dos Estados). No primeiro caso, Watson afirma que o “Império”,
controlaria a ação dos demais Estados existentes, enquanto que no outro, os
Estados seriam fragmentados, sem a presença desta influência hegemônica.
Os extremos, embora sejam meramente abstrações teóricas, servem como fio
condutor nas análises das relações internacionais modernas e
contemporâneas.

O movimento pendular retornou para o extremo da hegemonia com a


Revolução Francesa. Sob o ímpeto revolucionário, os franceses,
particularmente depois de Napoleão, iniciaram campanhas militares contra os
países absolutistas, ganhando território, aglutinando países, desmembrando
outros, colocando membros da família Bonaparte em tronos de outros países,
enquanto subjugava, uma a uma, as potências continentais, com exceção da
Rússia. Era a primeira vez na história moderna da Europa que algum país
chegava tão próximo da hegemonia europeia completa como a França nesse
momento (poderíamos dizer que somente o Império Romano havia alcançado
mais poder e dominância antes). Considerar esse movimento pendular muitos
nos ajuda a compreender os relacionamentos entre os Estados no século XIX.

Findo o período de Napoleão, as “grandes potências” (conceito introduzido


no Congresso)5, quais sejam, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e França6,

5
VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato: história mundial contemporânea (1776-
1991): da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG,
2012, p. 45.
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reuniram-se em Viena para restabelecer a ordem vigente antes de Napoleão,
num movimento que Hobsbawm considera como uma tentativa de deter o
curso da história.7

Os princípios gerais que guiaram as negociações em Viena foram a


Restauração dos territórios antes de Napoleão, da Legitimidade, de
entronizar as dinastias derrotadas e do Equilíbrio de poder entre os Estados
europeus. Vamos problematizar cada um desses aspectos.

A Restauração do mapa europeu, apesar de ser algo simples, pode


enganar-nos quando fazemos as provas do CACD. De fato, houve um esforço
considerável para retornar as fronteiras europeias anteriores à Revolução. A
França foi realinhadas às “fronteiras naturais”, a Confederação do Reno foi
desfeita e a Áustria conseguiu seus territórios italianos. Contudo, houve
mudanças significativas, as mais importantes no território alemão. As centenas
de pequenos principados do Sacro-Império foram reduzidas para cerca de
trinta e foram reagrupadas numa nova organização, a Confederação
Germânica, e a Prússia ganhou territórios a oeste (tornando-se um Estado
descontínuo) próximos da França.

De maneira clara, a chamada “Restauração” não restaurou o mapa europeu


exatamente como ele existia antes. E o motivo disso repousa sobre o fato de
que os grandes cinco pensaram, sob os auspícios ingleses particularmente,
cujas capacidades militares se provaram ao longo das guerras napoleônicas,
em uma nova configuração que pudesse trazer paz “duradoura”. Para tanto,
fazia-se necessário remodelar o território alemão, tal como haviam pensado os
estadistas de Westphalia, mas agora de outra maneira. A unificação não era
uma saída possível. O poderio de um território alemão unificado ainda causava
temor na Europa, tanto quanto em 1648. Contudo, ao invés de seguir os

É importante considerar, em termos da prova do CACD, que as “grandes potências” podem ser
consideradas prefigurações dos “membros de segurança da ONU”, conforme questão 61 da
prova de 2010 e seu correspondente gabarito. Embora, em termos históricos, isso seja um
anacronismo, devemos estar atentos à construção da prova.
6
A França participou do Congresso sendo representada por Talleyrand. Este argumentou que
a França Restaurada fora vítima da Revolução e conseguiu fazer com que seu país mantivesse
prestígio e influências nos negócios Europeus mesmo tendo sido o agressor responsável pelas
guerras. Cf. Visentini, p. 45.
7
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1981, p. 127.
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passos do cardeal de Richelieu e manter os principados alemães fragmentados
– o que daria grande margem de atuação para a França – decidiram consolidar
a Alemanha, conforme expressão utilizada por Kissinger,8 criando a tal
Confederação citada acima. Os objetivos de estratégia internacional com a
criação dessa entidade política será comentada mais à frente.

A Legitimidade foi um princípio significativo para este período e selou a


base sobre a qual se edificaria o sistema de Viena. Para além do retorno das
dinastias aos seus respectivos tronos, a legitimidade inspiraria, em última
análise, intervenções nos países europeus para esmagar revoluções contrárias
aos reis legítimos. Foi o caso, por exemplo, da intervenção francesa na
Espanha em 1823 e, mais à frente, da intervenção russa na Áustria em 1848.
As primeiras rachaduras sobre esse sistema, no entanto, apareceriam quando
os países americanos começassem seus processos de independência, o que
veremos adiante.

Por fim, o Equilíbrio de poder era o grande objetivo dos pactuantes dos
acordos de Viena. Uma nova ordem internacional se formava e se propunha a
resolver os conflitos em conjunto, de modo a impedir novos conflitos e a
emergência de uma nova hegemonia.

O sistema internacional resultante, conhecido como Concerto Europeu,


obteve relativo sucesso em manter a paz, já que somente em 1854 as
potências entrariam em conflito na guerra da Criméia (Rússia versus França e
Inglaterra), e estabeleceu o que alguns autores chamam de “condomínio de
poder”9 ou de “hegemonia coletiva”10 nas relações interestatais. Os
mecanismos pelos quais conseguiram manter esse equilíbrio foi por meio de:

 (1) Da Quádrupla Aliança (formada em 1814), composta pela


Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia, cujo objetivo era atuar para
manter o equilíbrio, colocando em xeque, particularmente, a França;
e
 (2) Da Santa Aliança, uma organização composta por Áustria
(católica), Prússia (luterana) e Rússia (ortodoxa), em que se

8
KISSINGER, Henry. Diplomacia. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 67.
9
Cf. Visentini, p. 45.
10
Cf. Cervo, p. 49.
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misturavam elementos consevadores da ordem política com
aspectos religioso. Discutiremos a seguir as tramas sobre a qual o
sistema de Viena foi construído e mantido, os diferentes congressos
e os dois sistemas de alianças mencionados.
 (3) Congressos em que se discutiam os atritos e as questões
internacionais, dos quais se destacam o Congresso de Aix-la-
Chapelle em 1818, o de Troppau de 1820, o de Laybach de 1821 e o
de Verona em 1822;

1.1 As tramas, as realidades, as dificuldades do equilíbrio de poder


1.1.1 A Quádrupla Aliança e o Reino Unido

Dentre as resoluções tomadas no Congresso, uma das mais significativas


para a manutenção da política de equilíbrio de poder foi a criação da Quádrupla
Aliança. Formada por Reino Unido, Prússia, Rússia e Áustria, esta aliança se
destinava a colocar em xeque a França, que ainda inspirava muito temor nas
demais potências – vale lembrar que, enquanto ocorriam as negociações
durante 1814, Napoleão voltaria para a França, no episódio conhecido como
Governo dos Cem Dias, e retomaria as atividades bélicas contra os países
reunidos em Viena. Kissinger chega a comparar o temor dos franceses no
século XIX ao temor que a Alemanha inspiraria no século XX.11

Para além de conter a França, a Quádrupla Aliança se atribuía a autoridade


de conter os expansionismos graves de outros países que porventura viessem
a desbalancear o equilíbrio. Não se propunha, no entanto, a intervir nos
assuntos internos dos países membros, contendo ou apoiando movimentos no
interior das diferentes potências.

Essa postura de não-intervenção da Quádrupla Aliança foi uma condição


estabelecida pelo Reino Unido. Tal atitude derivou do fato de que o governo
inglês estava, neste momento, mais preocupado com suas expansões
econômicas e olhava cada vez mais para o Oriente. Sintomático dessa vontade
de se desvincular de conquistas europeias está o fato de que, nas negociações

11
Cf. Kissinger, p. 69.
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com as demais potências, somente pediu compensações territoriais na África
do Sul e outras localidades menores no Caribe. Portanto, a maior potência
econômica e naval do século XIX, não queria “ficar presa”, comprometer-se
com as potências absolutistas, defendendo-lhes de seus próprios súditos em
rebeliões, fossem elas de caráter nacionalista ou liberal. Nada ganharia o
Reino Unido em imiscuir-se nos problemas de cada país ou defendendo as
formas de governo dos demais. Como se posicionou Castlereagh – o
responsável britânico pelas negociações em Viena – em carta de 1820:

[A Quádrupla Aliança foi formada para a] libertação de um


grande parte do continente europeu que se encontrava sob o
domínio militar da França (...) Porém, nunca foi concebida
como uma união para o governo do mundo ou para a
superintendência nos assuntos internos de outros países .12

Seria característica marcante do Reino Unido durante este período manter-


se distante de acordos com “princípios abstratos” ou que os levasse a
combater “perigos especulativos”.13 Inclusive, como veremos adiante, os
ingleses participariam dos congressos acima citados somente como
observadores, evitando comprometer-se com as diretrizes tomadas. Os
diferentes governos que se sucederam na condução do país mantiveram, em
linhas gerais, a política de se manifestarem sobre questões europeias somente
a medida que elas surgiam. Eram de um pragmatismo notável, sempre
colocando seus interesses acima do interesse coletivo dos demais quatro
grandes, tendo em vista sempre o equilíbrio. Agindo desta forma, os ingleses
enfraqueciam o sistema montado, já que numa “hegemonia coletiva” somente o
trabalho dialogado em conjunto poderia efetivamente conservá-lo.

Mesmo Castlereagh, que acreditava na necessidade de intervenção de seu


país de maneira mais ativa nas relações continentais, não conseguiu
convencer seus pares de suas ideias. A relativa segurança em que se
encontravam as ilhas britânicas de agressões provindas do continente – afinal,
separadas pelo mar – e a estabilidade interna – depois de estabelecido o
sistema político dominado pelas classes burguesas ou aburguesadas em 1688
– não criava quaisquer sentimentos de solidariedade para com as potências do
continente. Não passavam por turbulências nacionalistas ou liberais, nem

12
Apud Kissinger, p. 77
13
Apud Idem.
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possuía vizinhos expansionistas por terra. A mesma coisa não poderiam dizer
os russos ou, principalmente, os austríacos.

É importante adentrarmos rapidamente esse pragmatismo inglês para


compreendermos as relações internacionais nesse período. Pois bem,
iniciemos pelas independências americanas e o impacto para a ordem de
Viena.

Napoleão, como vimos na aula passada, não deixou a península ibérica ao


largo de sua política expansionista. Em 1808, Napoleão sequestrou o então rei
de Espanha, Felipe VII, e colocou seu irmão, José Napoleão, no trono. Isso
provocou imediata reação de parte da elite espanhola que, reunida em Sevilha,
autoproclamar-se-ia Cortes – uma assembleia no estilo dos Estados Gerais
franceses que vimos em 1789 – que governariam na ausência do rei legítimo
Fernando.

O resultado dessa movimentação política também foi sentida nas Américas,


que começaram a organizar-se para também criarem suas próprias Cortes a
partir de 1810. Os detalhes desses diversos movimentos serão abordados na
aula de independência dos países latino-americanos. Importa-nos saber agora
que, depois de restaurado o rei Fernando VII, em 1813, os movimentos
independentistas estavam começando a ganhar força e que, numa Europa
restaurada, a matéria das independências americanas era um problema a ser
discutida pelas potências.

Enquanto os países mais conservadores do concerto europeu defendiam o


auxílio à Espanha para reconquistar e manter suas colônias, numa tentativa de
manter o status quo, o Reino Unido se mostrou fortemente contrário à iniciativa
e impediu que qualquer coisa do gênero fosse feita. Seus interesses
econômicos foram colocados à frente das negociações pelo equilíbrio de poder,
colocando o sistema montado em Viena sob notável tensão. O que ganharia o
governo inglês em defender uma potência colonial em plena decadência? O
que o governo espanhol (por muito tempo rival da Inglaterra) poderia oferecer-
lhe? Quebrar o exclusivismo colonial e negociar diretamente com as elites
criollas acordos benéficos ao capital inglês lhe parecia muito mais vantajoso.
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Muito similarmente agiria a Inglaterra quando da independência do Brasil.
Embora tenha havido menos clamor (embora não menos temor das elites
brasileiras) pela intervenção europeia para restaurar o domínio português na
América – já que se formava uma monarquia cujo imperador era herdeiro do rei
de Portugal – o Reino Unido novamente agiria para negociar o conflito e
finalizá-lo com a independência do Império brasileiro.

No entanto, em 1823, durante os conflitos internos na Espanha – de que se


falará adiante – a Inglaterra não se opôs à intervenção francesa para suprimir o
movimento constitucionalista e restabelecer – sob o signo da legitimidade – o
absolutismo real espanhol.

Já quando das revoluções de 1830 e 1848, na França e na Europa como


um todo, a Inglaterra – apesar de simpatizar com alguns dos movimentos
nacionalistas – não se oporia à ação intervencionista da Rússia na Áustria para
estabelecer o domínio dos Habsburgo, ou ao esmagamento dos movimentos
nacionalistas em Nápoles ou na Polônia em 1848.

Esta política externa inglesa seria seguida ao longo do século XIX, com a
Inglaterra afastando-se mais e mais das problemáticas europeias, envolvendo-
se somente quando seus interesses mais imediatos eram colocados em perigo,
como é o caso da guerra da Crimeia, em 1854, contra a Rússia. Essa prática
se intenficou à medida que uma novas gerações de políticos chegavam ao
poder sem terem experimentado ou vivido o perigo da tentativa de hegemonia
francesa sob Napoleão. Esse esquecimento do que haviam sido as guerras
napoleônicas e seus impactos seria um dos grandes responsáveis pelo fim da
Quádrupla Aliança e, em última instância, do sistema de Viena.

Tendo visto e exemplificado esta política inglesa, vamos ver agora o outro
sistema montado sob o ímpeto de Alexander I,14 a Santa Aliança.

14
Em português, Alexandre I.
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1.1.2 A Santa Aliança, a Áustria e a Rússia

Enquanto a Quádrupla Aliança havia sido formada pelas potências


vitoriosas das guerras napoleônicas para colocar a França em xeque e manter
o equilíbrio de poder na Europa, a Santa Aliança foi pensada com propósito
diferente.

Saído grande vencedor, com grande prestígio internacional, o czar russo


tinha grandes ideias para a nova ordem que surgia. Para ele:

O curso formalmente adoptado pelas potências nas suas


relações mútuas deveria ser fundamentalmente alterado e de
que era urgente substituí-lo por uma ordem de coisas baseada
nas exaltadas verdades da eterna religião do nosso Salvador. 15

Essa política conservadora em nada agradou a Grã-Bretanha que, como


vimos, não faria parte dessa Aliança. A Áustria e a Prússia, no entanto, mais
conservadoras, aderiram a esta liga não tanto por seus zelos religiosos, mas
por suas necessidades políticas e por conta das ameaças que as cercavam.

Como potência continental plurinacional, a Áustria tinha grandes problemas


a enfrentar. Governada pelo imperador absoluto a partir de Viena, a elite
política austríaca, liderada por Metternich, queria manter a todo o custo os
velhos edifícios políticos que marcavam o país desde o século XVII – com a
exceção clara das instituições do Sacro-Império, extintas em 1806. Essa
manutenção seria cada vez mais custosa de ser alcançada por vários motivos.

Militar e economicamente, a Áustria era uma potência em declínio. Suas


forças militares não se mostraram capazes contra Napoleão e, após a
decorrada dele, não seria páreo para frear os possíveis expansionismos de
seus vizinhos. Politicamente, a Áustria era uma panela de pressão. As diversas
etnias sob seu domínio – tchecos, croatas, italianos, húngaros dentre outros –
sentiram um forte apelo às ideias de soberania da nação trazidas pela França
no contexto napoleônico. Depois do Congresso de Viena, os temores dos
governantes austríacos de reivindicações nacionalistas eram grandes.
Geograficamente, a Áustria estava, tanto quanto a Prússia, no centro da
Europa. Limitada ao norte pela Prússia, a leste pela Rússia, a Oeste pelos

15
Apud Kissinger, p. 69.
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reino do Piemonte-Sardenha e ao sul pelo Império Otomano – em franca
decadência – e pelos Estados eslavos dos Bálcãs, estava exposta a qualquer
situação de beligerância, mesmo que somente como corredor de tropas
estrangeiras.

Essa configuração explosiva fazia crescer o temor dos dirigentes austríacos


sobre sua situação interna e externa e, para Metternich, a única saída era por
meio da aliança incômoda com a Rússia. Ele sabia que dado o prestígio de
Alexander depois das guerras napoleônicas, o czar queria ter voz nas decisões
a serem tomadas na Europa, e como fica claro pela transcrição feita acima,
dirigir a nova ordem internacional conservadora.

Aliar-se com a Rússia significava, para a Áustria, a possibilidade de um


aliado capaz tanto de auxiliá-la a manter a ordem e paz internas – como de fato
viria a acontecer em 1848 – quanto de frear o expansionismo russo em direção
às suas terras e colocá-la na mesa de negociação para resolver os problemas
externos.

Esta aproximação, no entanto, não poderia ser total, uma vez que unir-se
demais à Rússia significava afastar-se do Reino Unido, país que passou a ver
os russos como uma ameaça à ordem pós-napoleônica. Manter-se no fino
equilíbrio entre seus dois aliados seria uma tarefa difícil e necessária para a
política externa austríaca comandada por Metternich. Até 1854, esse caminho,
apesar de difícil, foi trilhado, mas a guerra da Crimeia estourou, Áustria e
Rússia tomaram rumos separados, que teve sérias consequências para a
primeira. Como afirmou Kissinger:

A Santa Aliança uniu os monarcas conservadores no combate


à revolução, mas também os obrigou a agir apenas
concertadamente (...). O Concerto da Europa implicava que as
nações, concorrentes a um determinado nível, teriam de
resolver consensualmente os assuntos que afectassem a
estabilidade geral. (...) [seu significado operaciona] era o de
introduzir um elemento de limitação moral nas relações entre
as grandes potências. O investimento empenhado
desenvolvido quanto à sobreviência das suas instituições
internas levou os países continentais a evitarem conflitos que
no século anterior teriam levado por diante. (...) Precisamente
porque Metternich não confiava em Alexandre, insistia em
manter-se perto dele, concentrando-se em evitar o surgimento
de ameças da sua parte. (...) Sob sua liderança, a Áustria se
expusesse ou tomasse parte em actos unilaterais. (...) Sempre
que possível, tentou temperar os planos de cruzada do czar,
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envolvendo-o em consultas demoradas e limitando-o apenas
ao que seria tolerado pelo consenso europeu. O dilema de
Metternich era que quanto mais se aproximava do czar, mais
arriscava sua ligação com a Grã-Bretanha, e tanto mais
arriscava esta quanto mais tivesse de se aproximar do czar
para evitar o isolamento. Para Metternich, a combinação ideal
teria sido o apoio britânico para preservar o equilíbrio territorial
e o apoio da Rússia para dominar as convulsões internas. (...)
Quanto mais as alianças se paroximavam de um sistema de
segurança colectiva, mais a Grã-Bretanhase sentia impelida a
dissociar-se delas. E, quanto mais a Grã-Bretanha se afastava,
mais dependente da Rússia se tornava a Áustia e,
consequentemente, mais rigidamente defendia os valores
conservadores.16

Tendo explicado as diversas tramas internacionais para a construção da


ordem de Viena, faz-se necessário, agora, abordar duas comparações – que à
primeira vista podem parecer estranhas –, feitas por Kissinger, entre Woodrow
Wilson e Metternich e Wilson e Castlereagh. Como os três são figuras
importantes para nós no estudo das relações internacionais, parece-nos
relevante ressaltá-las aqui.

Metternich acreditava que se as instituições internas dos países fossem


compatíveis – neste caso, as instituições do Estado absoluto – e eles
estivessem preocupados em mantê-las, a paz seria possível. Também
Woodrow Wilson, um século depois, compartilharia desta perspectiva, mas a
partir de um outro conjunto de crenças políticas. Para Wilson, a democracia,
sendo universalmente compartilhada, levaria à paz e à cooperação entre as
nações. Nada mais odioso para um homem que vivera as guerras trazidas pela
república francesa jacobina com seus ideais ‘democráticos’. Antes, para
Metternich, eram os governos legítimos dos reis que poderiam trazer a paz. A
legitimidade era o princípio para a tranquilidade da ordem internacional nesta
visão.17

Castlereagh e Wilson, por sua vez, assemelham-se pelo fracasso de seus


intentos. Nenhum dos dois conseguiu convencer seus compatriotas da
necessidade da criação de um sistema de segurança coletiva e o motivo
parece ser o mesmo: os dois países estavam relativamente seguros de
quaisquer perigos externos. No entanto, embora Castlereagh não tenha “feito

16
Idem, p. 70; 73-74.
17
Idem, p. 70.
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
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escola” na política externa britância, os ideias de Wilson seriam seguidos nos
pós-IGM.18

1.1.3 Os Congressos

Agora que já abordamos as duas alianças firmadas em Viena, vamos tratar


agora dos congressos que marcaram essa “hegemonia coletiva” do concerto
europeu.

O primeiro deles foi o Congresso de Aix-la-Chapelle, em 1818, ocorrido na


atual cidade alemã de Aachen (como na prova alguns termos são
aportuguesados, vale a pena também a versão “Congresso de Aquisgrão”).
Estiveram presentes como efetivos membros as potências vencedoras das
guerras napoleônicas. Também foi permitida a presença da França nas
reuniões.

O tema mais importante a ser debatido no Congresso se referia às tropas


de ocupação que estavam na França e o papel deste país na nova ordem. O
representante francês conseguiu negociar com sucesso a retirada das tropas
estrangeiras do país, o que ocorreu em 30 de novembro de 1818. Igualmente,
a França foi convidada a participar do novo concerto, formando-se assim a
Quintupla Aliança. As potências tomaram as decisões de renovar a Quádrupla
Aliança contra os possíveis excessos franceses e realizaram uma declaração
pública de manterem-se unidos para a preservação da paz. O representante
russo tentou fortalecer a Santa Aliança, mas foi em vão, dada a oposição
britânica. Igualmente, uma tentativa foi feita para discutir-se a questão das
independências latino-americanas, mas, também por oposição inglesa, foi
rejeitada.

A Grã-Bretanha foi para o congresso com ordens claramente definidas. O


objetivo de Castlereagh era impedir a realização de qualquer acordo que
levasse a intervenção interna em outros países – ou seja, que não se
enredasse em assuntos continentais – e fazer com que a França fosse mantida
em xeque. Com a entrada da França no concerto, o Reino Unido rejeitou

18
Idem, p. 76-77.
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
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participar como membro dos demais congressos, mandando somente
observadores.19

Em 1820, em face do movimento insurrecional de liberais em Nápoles, os


países aliados decidiram se reunir mais um vez, em Troppau (atual Opava na
República Tcheca, território austríaco na época), para decidir que ação tomar.
Os ingleses e franceses enviaram ministros sem poderes de decisão, ficando
as potências do centro-leste europeu com domínio sobre as ações a serem
tomadas. A resolução (protocolo de Troppau) era de que os países tinham o
dever de intervir para suprimir movimentos revolucionários que pudessem
colocar em perigo a paz, apesar das fortes objeções inglesas quanto a isso.
Decidiu-se depois de tomada a resolução, convocar outro congresso no ano
seguinte para a tomada de novas ações.

Organizado em Laibach (atual Ljubljana capital da Eslovênia ou Liubliana,


em português), o novo congresso decidiria a questão napolitana por meio da
intervenção das armas austríacas na região, pela supressão da rebelião militar
ocorrida em março no Piemonte e pelo reforço da mensagem de que as
potências absolutistas interviriam na supressão dos movimentos
revolucionários nacionalistas ou liberais. Também no Congresso, ficaram
sabendo do início das atividades militares pela guerra de independência grega,
embora nenhuma ação tenha sido tomada nesse sentido em Laibach.

O Congresso de Verona, na época território austríaco, foi marcada por duas


grandes questões: o movimento de independência grega e a possibilidade de
intervenção na Espanha.20 A Questão grega21 foi delicada porque mostrava as
debilidades e fraturas no sistema montado. Havia uma contradição
fundamental, já que, tradicionalmente, a Rússia e seus aliados autocratas
advogavam o combate aos movimentos revolucionários de qualquer natureza;
porém, o czar tinha interesse no movimento grego porque significava o

19
Idem, p.75-76.
20
Houve outras questões discutidas, como a ocupação austríaca em Nápoles e a sucessão do
reino da Sardenha dentre outros. Para nosso intento, estas são questões menores. Caso
queira se aprofundar nelas, ver NICHOLS JR, Irby C. The European Pentarchy and the
Congress of Verona, 1822. Haia: MARTINUS NIJHOFF, 1971.
21
A questão da independência grega também pode ser colocada sob o rótulo de que Questão
do Leste que se estende que se refere à desintegração do Império Otomano nos Bálcãs e os
problemas internacionais que resultaram dela.
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
P D D P P S
enfraquecimento de seu rival, o Império Otomano, muito embora não apoiasse
a independência per se. Somente certo tempo depois de iniciado o conflito a
Rússia apoiaria a independência abertamente. Por sua vez, a Inglaterra
defendia uma saída que impedisse a Rússia de expandir sua influência na
região, particularmente se isso resultasse num controle russo dos estreitos de
Bósforo e Dardanelos – que dariam controle russo à naveção do Mar Negro e
do Mediterrâneo Oriental. Apelaram, assim, para a unidade e o concerto entre
as potências, usando um tom mais ameno em relação à Rússia do que nas
demais ocasiões. Como nos escreve Kissinger:

O dilema colocado ao sistema de Metternich consistia no facto


de entrar em conflito com o empenhamento de tal sistema na
manutenção do status quo e de os movimentos de
independência, agora dirigidos à Turquia, poderem amanhã
visar a Áustria. Além disso, o czar, que era o mais empenhado
na legitimidade, era também o mais ansioso por intervir, mas
ninguém – certamente nem Londres nem Viena – acreditava
que, depois do avanço dos seus exércitos, o czar quisesse
manter o status quo. (...) Por pouco que os ingleses se
importassem com detrminadas questões dos Bálcãs, um
avanço russo na direcção dos estreitos era entendido como
uma ameaça aos interesses britânicos no Mediterrâneo e
enfrentaria uma oposição tenaz.22

A questão espanhola foi relativamente mais simples. A França requisitava a


permissão para invadir a Espanha para recolocar no poder como monarca
absoluto o rei Fernando VII, que enfrentava revoltas internas. Esta intervenção
foi realizada em 1823. Ponto polêmico e vencido pela Grã-Bretanha foi a da
intervenção nas colônias espanholas, em franco processo de rompimento com
a metrópole, que foi descartada, como dito acima.

Finalizamos aqui a parte essencial do Congresso de Viena e do Concerto


europeu em seu apogeu. Veremos sua crise na aula que vem com as
unificações alemã e italiana. Resolveremos algumas questões sobre o tema
que acabamos de ver e depois prosseguiremos para as revoluções de 1820,
1830 e 1848.

22
Kissinger, p. 77-78.
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Prova do CACD de 2006, questão 38

Relativamente ao “revolucionarismo endêmico” a que o texto se refere, julgue (C ou


E) os itens subseqüentes.

( ) Com a derrota de Bonaparte, os países vitoriosos reuniram-se em Viena, em 1815,


dispostos a restaurar o status quo vigente na Europa antes de 1789, o que pode ser
entendido como tentativa de dar sobrevida ao Antigo Regime.

Resposta: Correta
Comentário: Item básico, testando somente as datas do canditato. Alguém que não
soubesse exatamente as datas poderia se questionar sobre a questão (afinal, considera-
se 1814 ou 1815 o tal do Congresso?), mas é bem tranquila no geral. Percebam que
aqui ele não afirma que o status quo voltou exatamente ao que era antes, mas que
esse era o intento dos países reunidos em Viena.

( )A decisão de se criar a Santa Aliança, emanada do Congresso de Viena,


subordinava-se, fundamentalmente, a dois objetivos: sufocar, na Europa, novas
tentativas revolucionárias que pudessem surgir no rastro da Revolução Francesa e
impedir que, na América, se concretizassem os ensaios emancipacionistas das
colônias.

Resposta: Correta
Comentário: Como vimos acima, a Santa Aliança, ao contrário da Quádrupla
Aliança, buscava ser uma liga intervencionista contra os movimentos revolucionários
nacionalistas/liberais. Igualmente, discutiu, embora não tenha tomada ação nesse
sentido, a possibilidade de intervenção para conter os movimentos independentistas
da América.

( )A trajetória política vivida pelo Brasil, da independência aos primeiros anos do


Segundo Reinado, apresenta semelhanças com o quadro de sucessivas ondas
revolucionárias que atingiram parte considerável da Europa na primeira metade do
século XIX. Disso é exemplo a Revolução Praieira, cujo sentido social se aproxima
do ideário das revoluções européias de 1848.

Resposta: Correta
Comentário: Embora por vezes estudemos a história do Brasil independente como
algo muito a parte das questões europeias, a realidade histórica não foi bem assim. Se
colocarmos o Império numa cronologia mais geral, perceberemos que o movimento
de 1820 em Portugal acabou levando à nossa independência em 1822; o movimento
de 1830 na França, animou os ânimos contra o imperador, que abdicou em 1831; e,
em 1848, tanto quanto ocorriam as revoltas na “Primavera dos povos”, ocorreu em
Pernambuco a Revolução Praieira, inspirada nos movimentos europeus.

( ) Quando a Era Revolucionária se esgotou, em 1848, o mapa político e social


europeu em muito se aproximava do cenário pré-1789, o que demonstra ter sido o
impacto da industrialização bem mais aparente que real para a configuração da nova
sociedade liberal e burguesa.
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Resposta: Errada
Comentário: Depois de 1815 e 1848, temos mudanças muito significativas no mapa
europeu. Política e geograficamente, temos aquelas mudanças nos países e fronteiras
que vimos – isto é, não se voltou exatamente para o que existia antes, principalmente
na região germânica; com a revolução de 1848, como se verá adiante, a França torna-
se uma república. Socialmente, a Europa também havia mudado. Conforme
Hobsbawm, a partir de 1848 – ano da revolução e do Manifesto Comunista – há uma
divisão social clara entre a burguesia e o proletariado, o fim da aliança que tinha
colocado fim ao Antigo Regime, conforme o mesmo autor.

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima)

Texto para as questões de 44 a 46

Poucas vezes, a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi


demonstrada de forma mais decisiva que na geração pós-1815. Evitar uma segunda
Revolução Francesa, ou ainda a catástrofe pior de uma revolução européia
generalizada tendo como modelo a francesa, foi o objetivo supremo de todas as
potências que tinham gasto mais de vinte anos para derrotar a primeira. Houve três
ondas revolucionárias principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. A primeira
ocorreu em 1820-4. Na Europa, ela ficou limitada principalmente ao Mediterrâneo,
com a Espanha, Nápoles e a Grécia como seus epicentros. A Revolução Espanhola
reavivou o movimento de libertação na América Latina. A segunda onda
revolucionária ocorreu em 1829-34 e afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o
continente norteamericano, pois a grande época de reformas do presidente Jackson
deve ser entendida como parte dela. Ela marca a derrota definitiva dos aristocratas
pelo poder burguês na Europa Ocidental. A classe governante dos próximos cinqüenta
anos seria a grande burguesia de banqueiros, grandes industriais e, às vezes, altos
funcionários civis. Ela determina, também, uma inovação ainda mais radical na
política: o aparecimento da classe operária como uma força política autoconsciente e
independente na Grã- Bretanha e na França e dos movimentos nacionalistas em
grande número de países na Europa. A terceira e maior das ondas revolucionárias foi
a de 1848. Nunca houve nada tão próximo da revolução mundial com que sonhavam
os insurretos que essa conflagração espontânea e geral. O que, em 1789, fora o
levante de uma só nação era, agora, assim parecia, a primavera dos povos de todo um
continente.

Eric J. Hobsbawm. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 127-30
(com adaptações).

Questão 44

Tendo o texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico ao


qual ele se reporta, assinale a opção incorreta.

A. As ondas revolucionárias citadas no texto refletem, ao lado de outros fatores, o


choque entre as forças comprometidas com o Antigo Regime e as identificadas com o
anseio de transformações na sociedade européia na primeira metade do século XIX.
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Resposta: Correta
Comentário: De fato, as ondas revolucionárias sucessivas que se abateram sobre a
Europa desde 1789 foram – em síntese e num plano geral – um embate entre as forças
do Antigo Regime e as novas forças – identificadas nesta perspectiva historiográfica
com as classes sociais, isto é, burguesia e proletariado contra a aristoricracia. É
importante notar que mesmo tendo constituições em 1830 e 1848, a França passaria
por suas revoluções porque a sociedade francesa não aceitou medidas que viu como
retrocessos e reminiscências do Antigo Regime.

B. O segundo período do texto revela um dos principais objetivos do Congresso de


Viena, qual seja, o de impedir a repetição da experiência libertária que a França
protagonizara a partir de 1789 e que Bonaparte, a despeito de sua vocação imperial,
disseminara pela Europa.

Resposta: Correta
Comentário: “Evitar uma segunda Revolução Francesa, ou ainda a catástrofe pior de
uma revolução europeia generalizada tendo como modelo a francesa, foi o objetivo
supremo de todas as potências que tinham gasto mais de vinte anos para derrotar a
primeira.” Eis o segundo período. Sim, de fato, como vimos até agora em nosso texto,
o objetivo central das potências reunidas foi evitar uma nova conflagração
revolucionária que havia sido levada a toda a Europa devido à guerra e à expansão
napoleônica

C. O Nacionalismo já se manifestava nas ondas revolucionárias mencionadas no texto


e teve, nas unificações alemã e italiana, na segunda metade do século XIX, dois de
seus símbolos mais expressivos.

Resposta: Correta
Comentário: Embora questionável o uso do termo “nacionalismo” por historiadores
mais recentes, a historiografia utilizada na prova não vê problema no uso desse
vocábulo. Então sem problemas conceituais aí. Quanto ao restante, sem dúvida que há
reivindicações nacionalistas nas revoltas e revoluções, como exemplificamos com o
caso de Nápoles. Mas os maiores movimentos nacionalistas do período foram o
italiano e alemão, que veremos aula que vem.

D. A Revolução Constitucionalista do Porto, de 1820, inscreveu-se no contexto da


primeira onda revolucionária européia e, em seus desdobramentos, provocou o
retorno de D. João VI a Portugal e a adoção de medidas recolonizadoras pela
metrópole, o que impulsionou o processo de independência do Brasil.

Resposta: Correta
Comentário: Aqui temos um item que mistura História Mundial e História do Brasil.
A Revolução de 1820 no Porto está no mesmo contexto histórico das demais
revoluções da década de 1820 da Europa. Ao saber da Revolução, alguns conselheiros
de D. João tentaram persuadi-lo a permanecer no Brasil, mas um movimento do
exército português estacionado no Rio de Janeiro forçou-o a voltar a Lisboa.

E. Tendo ficado imune às ondas revolucionárias que convulsionaram a Europa


continental, a Grã-Bretanha recusou-se a aceitar as determinações do Congresso de
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Viena e, internamente, a promover reformas em suas instituições políticas.

Resposta: Errada
Comentário: Embora tenha passado pelo movimento cartista em 1834, a Grã-
Bretanha de fato ficou de certa forma livre de movimentos revolucionários tais como
ocorreram no continente. O erro da questão estão na afirmação de que o país não
havia promovido reformas em suas instituições. Essas reformas mais “liberalizantes”
foram feitas um século antes da revolução francesa, razão pela qual a ilha não
passaria por revoluções similiares que os demais.

Prova do CACD de 2010 (caderno C)

Questão 61

Do ponto de vista da importância diplomática do Congresso de Viena (1814/1815),


julgue C ou E.

( )Permitiu, como exercício pleno de diplomacia parlamentar, ativa participação de


todos os delegados presentes na Conferência.

Resposta: Errada
Comentário: Neste caso, deemos lembrar do detalhe de que a França não participou
ativamente das negociações de Viena, embora tenha enviado um diplomata. Ela
somente entrará efetivamente a partir do congresso de Aix-la-Chapelle de 1818.

( )Lançou as bases do chamado Concerto Europeu, que assegurou maior estabilidade


ao continente europeu no período que vai até 1914.

Resposta: Correta
Comentário: É a partir do Congresso de Viena que se inicia o período do Concerto
Europeu. A dúvida poderia vir da afirmação da “maior estabilidade” até 1914, uma
vez que houve algumas guerras no período. Em verdade, houve conflitos, como a
guerra da Crimeia em 1854, as guerras de unificação da Itália e da Alemanha. No
entanto, foram conflitos de menores proporções do que as do período anterior e não
abalaram a estabilidade criada em 1815 de modo geral.

( )Foi a partir de então que se formou o conceito de “grandes potências”, considerado


por vários autores como precedente histórico da categoria “Membros Permanentes”
do Conselho de Segurança da ONU.

Resposta: Correta
Comentário: Item comentado anteriormente e um pouco anacrônico, mas possível de
ser considerado correto, já que as grandes potências exerceram prerrogativas de
controle dos conflitos de maneira similar (mas não igual a) aos membros do conselho
da ONU.

( )Não logrou resolver o problema da ordem de precedência do corpo diplomático, o


que provocou conflitos protocolares com sérias implicações políticas.

Resposta: Errada
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Comentário: Uma questão um pouco sem sentido. Essa questão de conflitos
protocolares com implicações políticas não existiu. Errada!

Prova do CACD de 2012

Questão 47

A respeito da ordem internacional decorrente do Congresso de Viena, encerrado em


1815, assinale a opção correta.

A. A partir de 1815, a ordem internacional, uma espécie de condomínio de poder


pautado pela força, favoreceu o equilíbrio e a estabilidade no continente europeu ao
longo do século XIX.

Resposta: Errada
Comentário: O Concerto de Viena não foi pautado pela força e sim pela negociação
entre as grandes potências do período.

B. Entre 1815 e 1848, embora divergissem em determinados aspectos relacionados à


ordem, as grandes potências europeias, fazendo uso do direito de intervenção
coletiva, agiram em concerto, do que decorre a expressão Concerto de Viena.

Resposta: Correta
Comentário: Embora possa vir a causar dúvida por conta da relutância inglesa em
intervir em outros países, a questão é correta porque as grandes potências de modo
geral vieram sim a agir concertadamente, conjuntamente, harmoniosamente, para
intervir, como exemplificam os casos napolitano, espanhol e piemontês abordados
rapidamente acima.

C. A Ordem de Viena definiu um arranjo de poder com dois eixos claramente


delimitados: o formado por Inglaterra e Prússia, consideradas potências liberais, e o
constituído por Áustria, França e Rússia, consideradas potências conservadoras.

Resposta: Errada
Comentário: O erro da questão encontra-se na definição da Prússia como potência
liberal e da França como potência conservadora. Até a República de Weimar, pós-
IGM, não podemos considerar a Prússia/Império Alemão como liberal. E claro,
depois de Weimar até 1945, igualmente não.

D. O princípio geral do equilíbrio entre as potências europeias valia tanto para a


geopolítica quanto para a esfera econômica do continente.

Resposta: Errada
Comentário: O aspecto econômico não entrou em questão na definição da ordem de
Viena e sabemos que o Reino Unido despontava como principal potência econômica
do período, sem par nem igual.

E. Uma das principais características da ordem que se construiu a partir de 1815 e


perdurou até o final do século XIX foi a ausência de guerras entre as grandes
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potências europeias.

Resposta: Errada
Comentário: Como foi comentado, houve várias guerras no período, desde 1854
entre as grandes potências: na Crimeia (Rússia vs Inglaterra e França) nas guerras
italianas (década de 1850 entre o reino do Piemonte-Sardenha vs Áustria) e na guerra
de unificação alemã (1871, França vs Alemanha).

Prova do CACD de 2015

Questão 53

O título dado por Henry Kissinger a sua tese de doutoramento — O Mundo


Restaurado — desvela a correta dimensão do Congresso de Viena (1815).
Aparentemente, vencida estava a etapa histórica representada pela Revolução
Francesa e pelo expansionismo napoleônico. Todavia, cinco anos depois, iniciaram-se
ondas revolucionárias (1820, 1830, 1848) que convulsionariam a Europa e, em larga
medida, a América.
A respeito do Congresso de Viena, julgue (C ou E) os itens que se seguem.

1 O princípio do equilíbrio europeu norteou as decisões tomadas; para tanto, limitou-


se o poderio francês.

Resposta: Correta
Comentário: Como vimos, o objetivo do Congresso foi manter o equilíbrio de poder
e, lembremos, foi criada a Quádrupla Aliança para que se pudesse reagir rapidamente
ao poderio francês, caso houvesse alguma agressão.

2 A criação da Santa Aliança estava subordinada a duplo objetivo: manter a ordem na


Europa e impedir a independência das colônias.
Resposta: ANULADA pelo gabarito oficial
Comentário: Se observarem bem, esta questão é bem parecida com a questão 38 de
2006, mas foi anulada. O motivo pode ter sido a mudança da banca ou da bibliografia
ou da força argumentativa de um recurso. Possivelmente esta anulação se deva ao fato
de que, objetivamente, nenhuma colônia foi invadida e controlada a partir do
princípio de intervenção da Santa Aliança. Ou que o objetivo, desde o nascimento,
fosse o controle das colônias.

3 O resultado do congresso em apreço foi parcialmente frustrado devido a guerras


entre a França e a Espanha e entre o Piemonte e a Suíça.

Resposta: Errada
Comentário: O sistema de Viena não foi colocado em xeque por essas duas guerras.
Somente a partir da Guerra da Crimeia em 1854 que ele entraria em crise.

4 O princípio da legitimidade foi utilizado na defesa da política de restauração da


antiga ordem.

Resposta: Correta
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Comentário: Item bem simples. De fato, o princípio da legitimidade foi a base, como
nos diz Kissinger, para o novo sistema internacional.

Prova do CACD de 2016

Questão 57

A respeito do Congresso de Viena (1814-1815), a ordem internacional por ele


estabelecida e eventos correlacionados a esse tema, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.

1 A Quádrupla Aliança, selada em 1815 entre a Grã-Bretanha, o Império Austríaco, o


Império Russo e o Reino da Prússia, impediu a participação da França no Congresso
de Viena e assegurou a exclusão desse país do círculo das grandes potências
europeias até a metade do século XIX.

Resposta: Errada
Comentário: Como vimos, a França entrou no concerto das grandes potências a
partir do congresso de Aix-la-Chapelle de 1818. Questão simples!

2 A Guerra da Crimeia — um dos maiores conflitos militares em que se envolveram


Estados europeus e asiáticos entre as Guerras Napoleônicas e a Primeira Guerra
Mundial —, ao opor, de um lado, Grã-Bretanha e França, e, do outro, a Rússia,
provocou séria elevação no nível de tensão do sistema internacional.

Resposta: Correta
Comentário: Embora não tenhamos tratado essa guerra detalhadamente, foi-se dito
múltiplas vezes que a Guerra da Crimeia seria um turning point no sistema,
aumentando a tensão e quebrando alianças, como a aliança russo-austríaca.

3 O equilíbrio entre os grandes Estados europeus, estabelecido no Congresso de


Viena, rompeu-se com a agressiva política externa realizada na Alemanha por Otto
von Bismarck, a qual, após a fundação do II Reich, causou perdas territoriais
expressivas à Grã-Bretanha, à Rússia, à França e à Áustria.

Resposta: Errada
Comentário: Embora o sistema de “hegemonia coletiva” tenha sido comprometido
com a unificação alemã, o equilíbrio não foi rompido. Igualmente errada é a
afirmação de que a Alemanha causou perdas territoriais à Grã-Bretanha e à Rússia.
No processo de unificação alemã, Bismarck consquistou terras que estavam sob
domínio austríaco, dinamarquês e francês.

4 Apesar de comprometido com a preservação de valores políticos e sociais pré-


revolucionários, o Congresso de Viena não restaurou a ordem internacional vigente
antes da Revolução Francesa; em lugar disso, produziu um novo tipo de equilíbrio
entre os Estados europeus.

Resposta: Correta
Comentário: Essa pode ser perigosa, por conta da negativa: “não restaurou a ordem
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internacional vigente antes da Revolução Francesa”. De fato, não houve uma
restauração exata do que existia antes, como dissemos. Houve restauração das
monarquias, de algumas fronteiras, mas o mundo não era mais o mesmo e nem
voltaria a sê-lo.

2. As Revoluções liberais

As chamadas revoluções liberais ou burguesas compreendem, de modo


geral, as revoluções inglesa, francesa, de 1820, de 1830 e de 1848, dentro da
perspectiva historiográfica mais tradicional. Embora existam claras diferenças
entre estes movimentos, esta linha interpretativa afirma que a partir dessas
revoluções o mundo do liberalismo político foi sendo construído em detrimento
da ordem estabelecida anteriormente, daí revoluções liberais, em que a
burguesia assumiu o comando do Estado como classe hegemônica, em
prejuízo da antiga aristocracia e em oposição ao nascente proletariado. Saiba,
estudante, que há várias outras interpretações historiográficas e contestações
a essa narrativa estabelecida, mas, até o presente momento, a lista
bibliográfica mais significativa para o CACD tem mantido este viés
interpretativo.

Como já abordamos as revoluções inglesa e francesa, vamos nos focar


agora nas revoluções de 1820, de 1830 e de 1848. Percebam que elas não tem
um “nome” como as outras duas e isso porque ocorreram movimentos
revolucionários em várias partes da Europa e com reivindicações variadas. Os
movimentos mais significativos desses são o português, o espanhol e o grego
em 1820, o francês em 1830 e no último caso, o movimento global na Europa e
seu caráter marcadamente social.

Este conteúdo vem sendo bastante cobrado nas provas do CACD, seja ele
“puro” ou “misturado” com outros temas, como o Congresso de Viena ou a
expansão do capitalismo mundial. Portanto, bastante atenção! Vamos abordar
cada um dos casos individualmente e depois sintetizar com a análise que
Hobsbawm faz desses movimentos!
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2.1 O caso português – a Revolução do Porto

A Revolução liberal do Porto em Portugal foi fruto de uma conjuntura muito


particular do reino ibérico que nos remete, mais uma vez, às guerras
napoleônicas. Na política portuguesa, havia duas “facções” no governo de Sua
Majestade Fidelíssima nesse período conturbado: um grupo que considerava
que Portugal deveria manter-se aliada com a Inglaterra, já que esta possuía a
marinha mais poderosa do mundo e isso poderia ser revertido contra as
colônias portuguesas na América, África e Ásia. E os “afrancesados” que
propunham uma aliança com a França contra os ingleses, uma vez que a
França, vencedora no continente, poderia muito facilmente invadir o reino de
Portugal a partir da Espanha.

Em face dessa dupla ameaça, o então regente D. João, decidiu


simplesmente protelar: não dizia à França que se aliava à Inglaterra, nem o
contrário. Sua política protelatória durou até o 1807. Depois de saber do
bombardeio de Copenhague pela marinha inglesa e da decisão de Napoleão
de invadir o reino ibérico numa expedição franco-espanhola, D. João decidiu
partir para sua colônia com toda sua corte, movimento político ímpar na história
europeia e americana.

Sua estadia nas possessões americanas estava, inicialmente, ligada à


continuidade das agressões napoleônicas. Terminada a ameaça em 1815, no
entanto, o príncipe regente permaneceu no Brasil, elevando-o à condição de
Reino Unido para legitimar sua continuidade aqui, que se prolongaria até 1821.

Em Portugal, a presença do rei em sua colônia foi vista como uma inversão
no nexo colonial até então existente. Temos de lembrar que era do rei que se
emanava o poder – Portugal era uma monarquia absoluta naquele momento –
e onde estava a corte, estava o centro deste poder. Igualmente, é importante
entender que para a cultura política da época, como já dito na aula anterior, o
rei era o “pai”. Apartados do rei, pai e centro do poder, o portugueses reinois se
sentiram abandonados e quanto mais tempo D. João permanecia na América –
sem perspectiva de retorno imediato – mais insatisfeitos eles ficavam.
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Some-se a isso que o governo regente em Portugal, comandado por Lord
Beresford – um inglês – era mal-visto e parecia para a elite e as pessoas
comuns que se tratava de um governo inglês no Reino. O descontentamento
crescente com o governo regente e a ausência do rei chegaram a uma
tentativa de golpe em 1817, mesmo ano que no Brasil ocorria a Revolução
Pernambucana contra D. João. Os dois movimentos foram esmagados, mas já
eram mostras de que o reino unido do Brasil não estava imune às “ideias
francesas” – os pensamentos franceses que inspiraram a revolução – e que o
descontentamento estava chegando às raias da insurreição.

Em 1820, um movimento articulado na cidade do Porto conseguiu o apoio


de militares e descendo o país, tomaram a capital Lisboa, acabaram com a
regência instalada e proclamaram a reunião das Cortes Portuguesas – antiga
reunião dos estados do reino, similar aos Estados gerais franceses de 1789 –,
mas com a proposta de criarem uma constituição para o reino unido. Tomaram
como exemplo a constituição espanhola de Cádiz de 1812. Expediram
comunicados para as diversas províncias da América portuguesa, falando de
sua proposta liberal e conseguiu imediata adesão das províncias do Norte e
Nordeste.

Ao ficar sabendo do que havia ocorrido no reino, D. João VI se viu numa


situação bastante delicada. Ele poderia resistir às determinações das Cortes –
que se entendiam como fontes da soberania – permanecendo no Brasil e então
articular uma reação ao movimento. Ou poderia aquiescer, acatar as decisões
e governar constitucionalmente.

Fosse qual fosse seu pensamento sobre todo esse movimento, D. João
achou por bem cooperar inicialmente. Jurou aceitar a Constituição portuguesa,
deixou seu filho como regente do reino do Brasil e retornou a Portugal em
1821. Com o início dos trabalhos constituintes das Cortes, os ânimos das duas
partes do Império atlântico se acirrariam, levando à cisão do Reino do Brasil e
o início da guerra de independência brasileira, as os meandros dessa história
vamos deixar para o conteúdo de História do Brasil.

O vida constitucional de Portugal não duraria muito. Em 1823, no momento


em que a Espanha era invadida por tropas francesas para sufocar o movimento
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liberal espanhol, o infante D. Miguel, apoiado pelos setores mais tradicionais da
sociedade portuguesa, iniciaram um levante a partir de Vila Franca (daí o nome
Vilafrancada) para acabar com o governo liberal das Cortes e restabelecer o
governo absoluto de D. João. Em 1826, morreu o rei e iniciou-se uma disputa
pela coroa portuguesa. O herdeiro, Pedro I do Brasil, reinstituiu a Constituição
em Portugal e abdicou da coroa portuguesa em favor de sua filha, D. Maria da
Glória, então com 7 anos. Prometeu sua filha em casamento ao tio e tornou-o
regente enquanto a rainha fosse menor de idade.

No entanto, esse arranjo não satisfez d. Miguel. Para alguns setores, D.


Pedro não era o legítimo herdeiro e, portanto, não poderia passar a coroa para
sua filha. Em 1828, então, ele começou um movimento, apoiado por grupos
pró-absolutismo, para tomar o poder para si, em detrimento de sua sobrinha,
dos acordos feitos e do sistema liberal montado por seu irmão, abolindo a
Constituição e a divisão dos poderes. D. Pedro I, a partir do Brasil, articulou
uma reação liberal contra seu irmão (daí o motivo da beligerância ser chamada
de guerras liberais, guerras miguelistas ou guerras dos dois irmãos). Muito
imiscuído nas questões portuguesas e acusado de absolutismo no Brasil, D.
Pedro abdicaria a coroa brasileira em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, e
partiria para Portugal para auxiliar a filha contra seu D. Miguel.

As forças “pedristas” estavam em menor número em Portugal. De modo


geral, seu único bastião era a cidade do Porto. Em 1834, depois de uma
investida desesperada, D. Pedro conseguiu tomar a cidade de Lisboa. Pouco
depois, as grandes potências decidiram intervir em Portugal contra D. Miguel.
Golpe decisivo, as forças miguelistas foram derrotadas e o absolutismo
definitivamente enterrado em Portugal com o exílio de D. Miguel.

Esse foi, em resumo, o movimento de 1820 em Portugal. Vamos passar a


fronteira e falar agora do que ocorreu em Espanha no mesmo período.

2.2 O caso espanhol – o vai-e-vem dos governos liberal e absoluto

Tendo abordado algumas situações espanholas em páginas precedentes,


seremos breves nesta etapa.
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Em 1807, como dito, os reis Bourbons de Espanha foram sequestrados por
Napoleão e seu irmão, José, tornado rei. Seu governo não é bem visto pelos
espanhóis, que iniciam sublevações e movimentos de guerrilha. Num passo
importante, Juntas provinciais se formam e se reúnem numa Junta central em
1808, transladando-se para Cádiz em 1810, arrogando-se o direito de governar
o reino na ausência do rei. Em seguida, propõe-se a criar uma constituição
para o reino, pronta em 1812.

O movimento das Juntas espanholas acabou inspirando a criação de juntas


nas América, um passo que se daria para as independências americanas. Este
desdobramento, no entanto, deixaremos para a aula correspondente de
independências latino-americanas.

Quando Napoleão foi derrotado, Fernando VII retornou ao poder e suprimiu


a Constituição. O monarca quis voltar ao governo absoluto e, por um breve
período, foi bem sucedido. No entanto, sua inabilidade política, o fim do
controle espanhol sobre grande parte de suas colônias e o descontentamento
internos dos liberais espanhóis fez iniciar uma revolta em 1820 para restaurar o
governo liberal, que durou até 1823, o chamado triênio liberal. Em 1823, como
dito, o exército da França restaurada invadiu a Espanha, esmagou o
movimento liberal e colocou Fernando VII sob o trono como monarca absoluto
novamente.

Seu reinado perdurou mais 10 anos, marcado por seu reacionarismo


implacável. O movimento liberal somente triunfaria com a subida de sua filha,
Isabel II, no trono espanhol em 1833.

2.3 O caso grego

Antes mesmo da queda da cidade de Constantinopla em 1453, o território


que hoje chamamos de Grécia estava sob domínio turco-otomano. Tentativas
isoladas de sair do domínio turco foram feitas ao longo dos séculos XVII e
XVIII, sem muito sucesso, no entanto. Em 1820, uma nova onda nacionalista
emergiu no território grego depois de perseguições religiosas contra
comunidades e lideranças ortodoxas gregas. A diferença agora em
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comparação com os períodos anteriores era a força interna do Império
Otomano.

Politicamente, desde o século XVII, o Império Otomano acabou sofrendo a


influência e a dominância dos janízeros – uma organização militar de escravos
que havia sido criada no século XIV e a principal força otomana contra seus
adversários europeus – nos assuntos públicos. Esta força conservadora, seria
um obstáculo para a modernização do exército, da economia e da sociedade
turca, que acabaria caindo num atraso patente para seus vizinhos europeus.

No início do século XIX, várias revoltas na região otomana dos Bálcãs se


iniciaram e obtiveram relativo sucesso, como o caso do ganho de autonomia
dos sérvios. Encontrando-se os otomanos fracos e cercados de inimigos, os
gregos decidiram iniciar seu movimento independentista na década de 1820
inspirados pelas ideias e movimentos da Europa ocidental.

Fato notável da independência grega foi o auxílio que eles obtiveram de


várias partes do mundo. Voluntário dos mais diferentes países – americanos,
franceses, ingleses dentre outros – juntaram-se à luta grega. O movimento
conhecido como “filoheleno” era composto de pessoas amantes da cultura
grega clássica e que lutavam na esperança utópica de restaurar aquela cultura
ou em retribuição ao pensamento grego (ou, ao menos, pensavam assim).

Como vimos anteriormente, esse movimento independentista grego não


passou despercebido. Em Laibach, as potências ficaram sabendo do que
estava ocorrendo na Grécia e em Verona apareceram os atritos entre Grã-
Bretanha e Rússia pela influência na região e no leste do Mediterrâneo.

A situação grega começou a ser discutida pela França, Inglaterra e Rússia


em 1828, depois de os gregos, com ajuda externa, terem derrotado várias
vezes os turcos. A questão que se impunham em 1828 era a de definir suas
fronteiras. Em 1831 foi o primeiro chefe de Estado grego foi assassinado e a
situação interna foi se desestabilizando. Para resolver o problema, novamente
as potências acima citadas se reuniram, agora em Londres, e decidiram em
1832 que a Grécia se tornaria uma monarquia independente sob o príncipe
Otto da Bavária, que possuía ascendência grega.
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2.4 As revoluções de 1830


2.4.1 As Jornadas de Julho na França

Em 1815, depois do Congresso de Viena, a dinastia dos Bourbon retornou


ao poder na França. Mas os reis restaurados não governariam mais como seus
antepassados: seriam agora uma monarquia constitucional (mais uma razão
para dizermos que o retorno das instituições e dos países depois de Viena não
foi 100% igual ao passado).

A monarquia francesa restaurada embora constitucional não era


parlamentar. O rei indicava os ministros que então governariam o país. Em
outras palavras, não era uma maioria no Parlamento que formaria o governo,
como ocorria no Reino Unido.23 O Parlamento, portanto, tornava-se uma fonte
de oposição, já que não era responsável pela administração do país. Esse
dado é importante para entendermos o que viria a acontecer em 1830.

Luís XVIII, o rei restaurado, assumiu em 1814 e reinou até 1824. Fez o que
pôde para reunificar e tranquilizar um país marcado pela guerra e pelo
sentimento de “revolucionarismo endêmico” – expressão que continuará a valer
até 1848 – que havia passado desde 1789. Isto é, buscou um reinado de
reconciliação nacional.

Morto aos 69 anos e sem filhos, herdou o trono francês seu irmão, Carlos X,
à época com 66 anos. Assumindo um país menos convulsionado e inicialmente
popular, Carlos X, profundamente religioso, cercou-se de ministros
conservadores da alta nobreza e deu prosseguimento a uma política
considerada reacionária pela população parisiense e pelos liberais franceses.

Três atos em especial causaram a queda de popularidade do rei Carlos X: o


ato Anti-Sacrilégio, a restituição dos bens dos perseguidos pela revolução e a
censura à imprensa. O primeiro foi uma lei que punia pesadamente o sacrilégio
aos bens sagrados e à hóstia consagrada católica, a segunda medida

23
O modelo brasileiro foi muito similar a esse francês durante o primeiro reinado, com algumas
mudanças no período de Pedro II.
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determinou que os bens confiscados durante a Revolução deveriam ser
devolvidos a seus donos anteriores ao movimento revolucionário.

O crescente descontentamento transformou-se em oposição parlamentar.


Em face disso, o rei sucessivamente suprimiu a Câmara dos Deputados
tentando vencer sua oposição. Depois de medidas duras contra a imprensa,
em julho de 1830, iniciou-se um movimento revolucionário – cujo principal
símbolo foram as barricadas montadas em Paris – exigindo a saída do rei. A
incapacidade de articular-se com as forças militares e a falta de apoio político
levaram à abdicação do rei e de seu filho e um de seus primos, Luís Felipe de
Órleans, foi aclamado, iniciado a chamada monarquia de Julho. Este
movimento e seu consequente governo foi a vitória definitiva da alta burguesia
sobre a aristocracia, a ponto de o rei Luís Felipe ser conhecido como o “rei
burguês”. Esta monarquia, no entanto, também não conseguiria sanar os
problemas enfrentados e responder aos anseios populares e cairia 18 anos
depois.

2.4.2 Os impactos do movimento francês no restante da Europa

O movimento revolucionário francês repercutiu em várias partes e de


diferentes maneiras. Vamos levantar aqui o movimento de independência da
Bélgica, o impacto no movimento cartista inglês e os levantes poloneses.

Inspirados pelos movimentos revolucionários franceses em 1830, os belgas


iniciaram também seu próprio movimento, mas de caráter independentista. O
pano de fundo dessa revolta refere-se a questões étnicas, religiosas e
econômicas.

Os belgas se viam como povos diferentes daqueles das províncias do norte.


Embora o norte da Bélgica falasse holandês/neerlandês, o sul falava francês,
diferenciando parte dos belgas do restante dos “holandeses”. Majoritariamente,
a Bélgica era habitada por católicos enquanto o norte, incluso o monarca –
William I – era calvinista. A elite econômica belga, pelas características de seus
negócios, desejavam um governo protecionista, enquanto o norte era
tradicionalmente adepto do livre-mercado. Politicamente, a região e os povos
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belgas eram sub-representados no Parlamento do Reino Unido, causando
bastante instabilidade, já que a elite política era vista como ilegítima. Para
piorar a situação, o rei William tentou forçar a língua holandesa sobre a
Bélgica, acirrando os já animados ânimos.

Com a notícia do revolução de Julho na vizinha França, os belgas se


inflamaram de zelo revolucionário e começaram sua luta contra os holandeses.
Auxiliados pela nova monarquia francesa, foram vitoriosos nas armas e já em
1830 as potências se reuniram em Londres para discutir a nova situação belga.
Embora os holandeses não tenham aceitado imediatamente a independência
(o que ocorreu somente em 1839), as potências – França, Rússia, Inglaterra,
Prússia, Áustria – fizeram-no e prometeram guardar sua independência e
neutralidade, o que a Alemanha descumpriria em 1914. A independência belga
favoreceu a Inglaterra, que dividiu as forças econômicas do Reino Unido dos
Países Baixos e ainda conseguiu evitar que a França anexasse partes de seu
vizinho.

Do outro lado do Canal da Mancha, não haveria revolução, mas uma


reforma política significativa, que Hobsbawm coloca como parte do mesmo
movimento – afirmando, inclusive, que foi uma das poucas vezes que houve
coincidência de eventos no continente e nas ilhas britânicas. A reforma cartista
foi um movimento popular que pediu várias mudanças: sufrágio universal
masculino, remuneração parlamentar (para dar oportunidades para que
trabalhadores pudessem participar do Parlamento), mudanças na legislação
trabalhista.

Inicialmente, o Parlamento inglês não cedeu às pressões populares. Mas,


receoso que algo semelhante à revolução ocorrida na França viesse a ocorrer
na Inglaterra, foi aquiescendo progressivamente às propostas, criando a lei de
proteção ao trabalho infantil (1833), a jornada de trabalho de 10 horas (1847), a
lei permitindo as associações políticas, dentre outras. Por meio da reforma, os
ímpetos revolucionários populares foram controlados.

Os ecos revolucionários chegaram a todas as partes da Europa, incluindo


aquelas sob jugo russo, como a Polônia. Também animados pelos sucessos
franceses e por movimentos que se espalhavam pelo continente, os poloneses
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iniciaram uma sublevação contra os russos, mas foram imediatamente
derrotados. Iriam novamente tentar em 1848, sem grandes resultados.

1830 teve impacto muito superior aos movimentos de 1820, uma vez que
atingiram mais países, dando maior impacto e zelo aos revolucionários. No
entanto, o sucesso ocorreu somente na França e na Bélgica, resultando em
fracasso nos demais lugares. Também é importante frisar que pela primeira vez
a carta geográfica desenhada em 1815 pelo Congresso de Viena foi alterada
com a independência Bélgica (não entra a independência grega porque ela foi
contra o Império Otomano, fora das negociações de Viena em 1815).

Não passariam 20 anos antes que outra revolução convulsionasse a


Europa, abalando as estruturas políticas de quase todos os países do
continente (excluindo aí o Reino Unido) e trazendo consequências significativas
para a segunda metade do XIX.

Vamos praticar agora?

(Cesgranrio) A história política da Europa, durante o século XIX, foi marcada por
uma sucessão de "ondas" revolucionárias caracterizadas especificamente numa
das opções a seguir. Assinale-a.
a) O Congresso de Viena representou a consolidação da obra revolucionária na
implantação da sociedade burguesa.
b) Os movimentos revolucionários de 1830 marcaram o processo de Restauração,
liderados pela aristocracia.
c) As "ondas" revolucionárias corresponderam ao avanço dos cercamentos dos campos -
os "enclousures" - que liberaram a população camponesa para as cidades.
d) Os movimentos de 1848 contaram com a participação das camadas populares e com a
forte influência das ideias socialistas.
e) Os movimentos de 1870, na Itália e na Alemanha, deixaram a questão nacional em
segundo plano, priorizando a conquista da ordem democrática.

Gabarito: ALTERNATIVA D
Comentários: a. É equivocadíssimo associar a ação burguesa ao Congresso de Viena.
O objetivo do Congresso era, sobretudo, reorganizar a Europa a partir das lógicas
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monárquicas e, consequentemente, aristocráticas. A ordem burguesa foi a virtual
responsável pela convulsão político-social europeia contra a qual o Congresso se
organiza.
b. Os revolucionários de 1830 foram inspirados nas vontades burguesa de
liberalização, tendo por objetivo a ampliação de sua participação no Estado. Ou seja, a
Restauração era, basicamente, a antagonista às revoluções de 1830. Enquanto a
primeira buscava o enrijecimento no sentido do antigo regime, as segundas foram no
sentido da limitação do poder real.
c. Como vocês viram na última aula, os cercamentos foram, fundamentalmente, um
fenômeno inglês dos séculos XVII e XVIII. Bem como as ondas revolucionárias da
primeira metade do XIX foram inspiradas pelas burguesia estabelecida nas cidades, e
não pelos excluídos pelo êxodo rural.
d. O socialismo nascente foi importante para a estruturação dos sentimentos
coletivistas das cidades, reorganizando as forças que eclodiriam nas revoluções de
1848. Alternativa correta.
e. Os movimentos unificadores italiano e alemão usaram fortemente as noções de
nação, de grupo unido de suas sociedades. Da mesma forma, os processos desaguaram
em monarquias ainda distantes do processo democrático.

(Puccamp) Analisando-se o Movimento Revolucionário ocorrido na França, em


1848, verifica-se que apresenta uma significativa diferença em relação às demais
Revoluções Liberais europeias do período de 1815 a 1850. Indique a alternativa
que diz respeito a essa diferença.
O Movimento Revolucionário:
a) foi nitidamente liberal, provocando a queda de Carlos X e o início da chamada
"Monarquia de Julho".
b) teve o duplo caráter: nacional e liberal, representando um momento decisivo contra o
estatuto político-territorial estabelecido pelo Congresso de Viena.
c) adquiriu um caráter bonapartista, antirrepublicano e antilegitimista.
d) assumindo uma conotação socialista, dividiu as forças revolucionárias, atemorizando
a burguesia.
e) colaborou para a vitória de uma experiência socialista através da organização das
"Oficinas Nacionais".
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Gabarito: ALTERNATIVA D.
Comentários: a. A queda de Carlos X se deu em julho de 1830, dando início à
Monarquia de Julho, e não no Movimento Revolucionário de 1948.
b. É equivocado atribuir um caráter liberal ao Movimento Revolucionário de 1948,
progressivamente mais próximo ao socialismo.
c. As jornadas de 1948, ao contrário dos movimentos de 1930, tinha uma forte carga
anti-monárquica, ao contrário do que afirma a opção.
d. A organização das forças revolucionárias em 1948, ao contrário do que havia
acontecido até então no século XIX, separou as classes mais baixas da burguesia, que
insistia na liberalização do governo, mas não nas questões socialistas. Alternativa
correta.
e. A experiência socialista foi bastante curta, e não vitoriosa, como aponta a
alternativa.

(Puccamp) As revoluções liberais burguesas ocorreram na Europa na primeira


metade do século XIX. Sobre elas pode-se afirmar que
a) difundiram-se a partir dos países da Península Ibéricas e da Grã-Bretanha.
b) resultaram em mudanças radicais na estrutura social, promovidas pela burguesia
aliada ao proletariado.
c) marcaram a vitória do poder burguês sobre a aristocracia na Europa Ocidental.
d) representaram um retrocesso significativo no âmbito das artes, da industrialização e
da urbanização.
e) não atingiram a Itália e Alemanha porque esses países tinham fortes lideranças
socialistas.

Gabarito: ALTERNATIVA C.
Comentários: a. É incorreto falar que a fonte das turbulências está na Grã-Bretanha e
na Península Ibérica. Pelo contrário, estes países foram alvos das reverberações das
agitações ocorridas na França; ou seja, sofreram seus desdobramentos.
b. Houve, em diferentes graus, diversas alterações nos Estados europeus; mas nada que
possa ser colocado como realmente radical, uma vez que as monarquias, ainda que
reformadas, permaneceram no poder. Manteve-se, portanto, uma base importante da
estrutura social.
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c. A ascensão burguesa nas revoluções de 1830 marcou um momento importante da
vida europeia, redimensionando o lugar da aristocracia dentro dos Estado,
diminuindo-lhes a importância. Alternativa correta.
d. Pelo contrário. As transformações sociais vividas pela Europa no período deram um
novo ânimo para economia, expandindo a indústria, bem como marcou um novo
momento da artes europeias.
e. Os territórios germânicos e itálicos sofreram algumas alterações periféricas, mas
seguiam sob intensa vigilância de todo o continente. Por sua vez, estes territórios ainda
estavam distante das questões do proletariado e do socialismo.

Em 1830 o rei Carlos X, líder dos ultra-realistas da França, desfechou um golpe


com a intenção de restaurar o absolutismo, o que resultou nas jornadas gloriosas
de julho, em Paris, que tiveram como conseqüência a
a) proclamação da República, em que se destacou Luiz Bonaparte, que organizou o
Partido da Ordem.
b) liquidação do absolutismo dos Bourbons e a instalação de uma monarquia liberal sob
o governo de Luiz Felipe de Orleans.
c) instauração do governo do comitê de salvação pública e a declaração de guerra à
Santa Aliança.
d) conquista do México para desviar a tensão política interna e restaurar o prestígio dos
Bourbons.
e) enunciação da Doutrina Monroe, prevendo a conquista do Oeste dos Estados Unidos
pela província francesa do Quebec.

Gabarito: ALTERNATIVA B
Comentários: a. Com as jornadas de junho de 1830, sob ao poder na França o rei Luiz
Felipe de Orleans, e não Bonaparte III. A França continuava sendo uma monarquia, e
não uma República, mas, desta vez, fortemente aliada à burguesia e aos compromissos
liberais.
b. De fato, os Bourbons caíam do poder em 1830 para que Luiz Felipe de Orleans, o rei
burguês, chegasse ao poder. Ou seja, a monarquia liberal chegava ao trono da França.
Alternativa correta.
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c. O equilíbrio do reinado de Luiz Felipe manteve a situação internacional da França
sob controle, enquanto enfrentava o aumento das pressões domésticas. Ou seja,
contava com o apoio da Santa Aliança.
d. A tensão política doméstica na França continuou sendo o centro das atrações,
culminando, isto sim, com a queda dos Bourbons do trono francês.
e. A doutrina Monroe previa a expulsão das influências europeias do continente
americano, incluindo os franceses do Quebec.

(Ufrs) Nas origens das revoluções democrático-burguesas dos séculos XVIII e XIX,
encontram-se condições que envolvem o conflito entre o que se poderia denominar
de forças de transformação e as chamadas forças de conservação, isto é:
a) de um lado, as relações sociais estabelecidas essencialmente em torno da terra e, de
outro, um modelo de exploração baseado na posse do homem pelo homem.
b) os direitos de socialização da terra pelo proletariado agrícola e uma economia
assentada predominantemente na agricultura.
c) de um lado, o capitalismo agrário e industrial e as reivindicações da burguesia e, de
outro, os remanescentes da economia feudal e os setores privilegiados representados
pelo clero e pela aristocracia.
d) o progresso do poder real que tende a organizar o Estado Moderno e a permanência
do exercício da justiça pelo soberano sobre seus vassalos.
e) a resistência crescente dos camponeses às exigências dos senhores e o aparecimento
de uma forma de transição entre a economia agrícola feudal e a economia agrícola
capitalista: o trabalho escravo.

Gabarito: ALTERNATIVA C
Comentários: a. A elite europeia ligada à terra era antagonizada, isto sim, pela
burguesia, que enriquecia com o comércio e com a industrialização, marcando a
estruturação do sistema capitalista em contraposição ao mercantilismo da primeira. Ou
seja, é equivocado atribuir à burguesia a ideia de “posse do homem pelo homem”
b. Os problemas das revoluções de 1830 giravam em torno de garantir à burguesia um
lugar no espaço, superando a dimensão agrícola fortemente entranhada nas lógicas
das monarquias absolutas. Ou seja, as questões do campo eram secundárias para os
revoltosos burgueses, preocupados com a estruturação de uma economia industrial e
urbana
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c. Alternativa perfeita. Tratava-se, sobretudo, de um embate entre os setores mais
avançados da sociedade, a burguesia, contra o conservadorismo/reacionarismo dos
privilegiados do antigo sistema feudal, cuja força era relativizada a passos largos pelo
crescimento da burguesia com a revolução industrial. Alternativa correta.
d. As revoluções burguesas miravam contra a noção do poder natural do rei sobre seu
povo, exigindo impor-lhe limitações e práticas estabelecidas, liberalizando, assim, o
governo. Ou seja, reorganizar o Estado moderno impondo, sobretudo, limites de ação
ao soberano.
e. O trabalho escravo é um estatuto típico do modo de produção agrícola do Antigo
Regime, e não do período industrial. A necessidade de criar um novo mercado
consumidor fez a burguesia abominar a lógica do trabalho escravo.

(FUVEST 2013 - Primeira Fase) Maldito, maldito criador! Por que eu vivo? Por
que não extingui, naquele instante, a centelha de vida que você tão desumanamente
me concedeu? Não sei! O desespero ainda não se apoderara de mim. Meus
sentimentos eram de raiva e vingança. Quando a noite caiu, deixei meu abrigo e
vagueei pelos bosques. (...) Oh! Que noite miserável passei eu! Sentia um inferno
devorar-me, e desejava despedaçar as árvores, devastar e assolar tudo o que me
cercava, para depois sentar-me e contemplar satisfeito a destruição. Declarei uma
guerra sem quartel à espécie humana e, acima de tudo, contra aquele que me havia
criado e me lançara a esta insuportável desgraça!
(Mary Shelley. Frankenstein. 2a ed. Porto Alegre: LPM, 1985.)
O trecho acima, extraído de uma obra literária publicada pela primeira vez em
1818, pode ser lido corretamente como uma
a) apologia à guerra imperialista, incorporando o desenvolvimento tecnológico do
período.
b) crítica à condição humana em uma sociedade industrializada e de grandes avanços
científicos.
c) defesa do clericalismo em meio à crescente laicização do mundo ocidental.
d) recusa do evolucionismo, bastante em voga no período.
e) adesão a ideias e formulações humanistas de igualdade social.

Gabarito: ALTERNATIVA B.
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Comentários: a questão pode ser resolvida com uma leitura atenta do trecho e com
algum conhecimento do período, mas, de todo modo analisemos alternativa por
alternativa.
a. Para Shelley, os avanços tecnológicos do início do século XIX eram uma fonte de
perturbação constante para a sociedade, progressivamente mais ansiosa e
desintegrada. Não se pode, portanto, esperar este tipo de apoio; bem como, no período
em tela, não cabe ainda falar de guerras imperialistas, já que os grandes impérios
ainda não haviam sido estruturados.
b. A sociedade industrial ainda vivia, na primeira metade do século XIX, suas graves
dores de crescimento, gerando desordens urbanas e dúvidas sobre as virtudes da
tecnologia. Alternativa correta.
c. A saída pela tradição religiosa tampouco se mostrava ser realmente viável, uma vez
que a Igreja estava constantemente próxima dos reacionários do Antigo Regime.
d. “A origem das espécies”, de Charles Darwin, só seria publicada em 1859, fundando
as noções evolucionistas. Ou seja, não se pode associar esta corrente filosófica aos
escritos de Mary Shelley de 1818.
e. A igualdade social não é esboçada em nenhum momento do texto de Shelley, bem
como as revoluções liberais do seu período não pretendia a igualdade social, mas sim a
igualdade política.

(FUVEST) – Os homens do século XIX ensurdecem a história com o clamor de


seus desejos (…) Longe dos odores do povo – é conveniente arejar após a
permanência prolongada da empregada, após a visita da camponesa, após a
passagem da delegação operária – a burguesia, desajeitadamente, trata de
purificar o hálito de casa. Latrinas, cozinha, gabinete de toalete pouco a pouco
deixarão de exalar seus insistentes aromas (…) O que significa essa acentuação da
sensibilidade? Que tramas sociais se escondem por detrás dessa mutação dos
esquemas de apreciação? (A. CORBIN, Sabores e odores, S. Paulo, Cia das Letras,
1987) Responda às duas questões colocadas pelo autor.

a) O texto refere-se aos movimentos do século XIX e às mudanças provocadas pela


decadência da burguesia
b) O texto refere-se ao contexto do século XIX e às mudanças provocadas pela
ascensão da burguesia
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c) O texto refere-se ao contexto do século XIX e às mudanças provocadas pela
decadência da burguesia
d) O texto refere-se aos movimentos do século XIX e às mudanças provocadas pela
ascensão preconceituosa da burguesia

Gabarito: ALTERNATIVA B
Comentários: Os avanços tecnológicos da revolução industrial, que acompanharam o
mundo pari passu com o avanço da burguesia, promoveram uma revolução na vida
privada da Europa como um todo. Ou seja, o texto se refere às transformações sociais
do Velho Mundo no século XIX, criando-lhe um novo contexto com a ascensão
burguesa.

(VUNESP) Assinale a alternativa incorreta sobre o Mundo Contemporâneo:

a) A imposição de José Bonaparte como rei da Espanha provocou uma insurreição que
repercutiu na América
b) A queda de Napoleão (1815) acarretou a reação absolutista na Europa, corporificada
no Congresso de Viena
c) A Santa Aliança foi um pacto conservador de oposição aos movimentos liberais
d) Através da encíclica Rerum Novarum, a Igreja procurou conciliar capital e trabalho
e) A Unificação Alemã, realizada por Bismarck, deu origem a uma questão solucionada
pelo Tratado de Latrão (1929), que criou o Estado do Vaticano

Gabarito: ALTERNATIVA E
Comentários: a. Está correta a alternativa, uma vez que a coroação de José Bonaparte
em Madri gerou uma discussão em todo império espanhol sobre a legitimidade do novo
rei. Na América espanhola, a recusa sistemática em servir ao rei ilegítimo gerou
movimentos contestatórios, convocando as Cortes na colônia para discutir sobre o
futuro do governo.
b. A reação absolutista se deu, fundamentalmente, pela queda napoleônica, que deixava
patente a possibilidade e a necessidade de reorganização da Europa como um todo
para que nada parecido voltasse a ocorrer. Isto é, o Congresso de Viena foi convocado
para que as monarquias absolutistas se reorganizassem num concerto internacional
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capaz de garantir uma estabilidade tal que nada pudesse repetir algo como o período
napoleônico.
c. A Santa Aliança, valendo-se da defesa dos valores cristãos contra as “inovações”
sociais vividas pela Europa nas primeiras décadas do século XIX, configurava uma
aliança pronta para ação em defesa das monarquias absolutas que a integravam.
Assegurava-se, portanto, um concerto contra a liberalização exigida pela burguesia.
d. A encíclica Rerum novarum, editada pelo papa Leão XIII em 1891, tinha por objetivo
alertar o mundo católico sobre grave situação do proletariado de todo o mundo, que
exigia a atenção católica. Renegando o socialismo como via possível para questão
operária, a encíclica acionava valores cristão para conciliar as dificuldades do
proletariado.
e. O Tratado de Latrão resolvia as questões sobre os territórios papais, fortemente
alterados pela unificação italiana. A criação do Estado do Vaticano, em 1929,
assegurava um novo momento entre a Igreja e o governo italiano, estabelecendo novas
relações e superando as desconfianças sobre as perdas dos territórios papais ocorridas
no século XIX. Portanto, esta é a única alternativa errada da questão.

(PUC – RIO) O Congresso de Viena, concluído em 1815, após a derrota de


Napoleão Bonaparte, baseou-se em três princípios políticos fundamentais. Assinale
a opção que apresenta corretamente esses princípios:

a) Liberalismo, democracia e industrialismo.


b) Socialismo, totalitarismo e controle estatal.
c) Restauração, legitimidade e equilíbrio europeu.
d) Conservadorismo, tradicionalismo e positivismo.
e) Constitucionalismo, federalismo e republicanismo.

Gabarito: ALTERNATIVA C
Comentários: Todo o Congresso de Viena tinha por objetivo a reorganização da
Europa pós-Napoleão sob os princípios da Restauração das monarquias absolutas,
cujo poder e legitimidade derivariam da divindade. Desta forma, qualquer alternativa
que cite o republicanismo como um valor do grande congresso monárquico deve ser
descartada. Da mesma forma, as ideias de constitucionalismo e de liberalismo estavam
muito distantes da realidade do Congresso, que entendia os poderes reais como
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ilimitáveis; ou seja, defendia as lógicas totalitárias. Outra grave preocupação do
Congresso era assegurar que jamais algo parecido acontecesse novamente na Europa,
buscando a estabilização de um concerto capaz de afastar as possibilidades de
agressões internacionais e de intervenções indesejadas. Por fim, a reconstrução da
noção de legitimidade de poder derivada da fé é uma preocupação central do
Congresso, tentando restaurar os tronos usurpados pela onda napoleônica. Desta sorte,
a única alternativa que só contém ideias relacionadas ao Congresso de Viena é a
alternativa C: Restauração, legitimidade e equilíbrio europeu.

(Mossoró - RN) O Movimento Cartista, na primeira metade do século XIX, na


Inglaterra, tinha entre seus objetivos a:
a) limitação dos direitos reais por um parlamento livre.
b) eliminação da monarquia, com a organização de uma república.
c) promoção da unificação das nações numa comunidade britânica.
d) obtenção do voto secreto e o sufrágio universal masculino.
e) adoção de uma constituição escrita que limitasse o poder real.

Gabarito: ALTERNATIVA D
Comentários: a. A limitação da atuação da coroa inglesa já havia sido alcançada com
a Revolução Gloriosa, século XVII.
b. O cartismo pretendia alcançar reformas políticas sem a necessidade de subverter o
sistema como um todo. Ou seja, era reformar os direitos políticos dentro da monarquia
parlamentarista já existente.
c. Tratava-se de uma reforma de direitos políticos, mas não de uma reforma
administrativa dentro do Reino Unido.
d. Alternativa precisa, o cartismo pretendia a expansão dos direitos políticos,
liberalizando o arranjo estatal e retirando privilégios políticos da aristocracia.
e. Como apontado na primeira observação, algo muito semelhante a isto já havia sido
alcançado com a Bill of Rights no século XVII.
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Lista de Exercícios apresentados

Prova do CACD de 2006, questão 38

Relativamente ao “revolucionarismo endêmico” a que o texto se refere, julgue (C ou E)


os itens subseqüentes.
( ) Com a derrota de Bonaparte, os países vitoriosos reuniram-se em Viena, em 1815,
dispostos a restaurar o status quo vigente na Europa antes de 1789, o que pode ser
entendido como tentativa de dar sobrevida ao Antigo Regime.
( )A decisão de se criar a Santa Aliança, emanada do Congresso de Viena, subordinava-
se, fundamentalmente, a dois objetivos: sufocar, na Europa, novas tentativas
revolucionárias que pudessem surgir no rastro da Revolução Francesa e impedir que, na
América, se concretizassem os ensaios emancipacionistas das colônias.
( )A trajetória política vivida pelo Brasil, da independência aos primeiros anos do
Segundo Reinado, apresenta semelhanças com o quadro de sucessivas ondas
revolucionárias que atingiram parte considerável da Europa na primeira metade do
século XIX. Disso é exemplo a Revolução Praieira, cujo sentido social se aproxima do
ideário das revoluções européias de 1848.
( ) Quando a Era Revolucionária se esgotou, em 1848, o mapa político e social europeu
em muito se aproximava do cenário pré-1789, o que demonstra ter sido o impacto da
industrialização bem mais aparente que real para a configuração da nova sociedade
liberal e burguesa.

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima)


Texto para as questões de 44 a 46
Poucas vezes, a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi
demonstrada de forma mais decisiva que na geração pós-1815. Evitar uma segunda
Revolução Francesa, ou ainda a catástrofe pior de uma revolução européia generalizada
tendo como modelo a francesa, foi o objetivo supremo de todas as potências que tinham
gasto mais de vinte anos para derrotar a primeira. Houve três ondas revolucionárias
principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. A primeira ocorreu em 1820-4. Na
Europa, ela ficou limitada principalmente ao Mediterrâneo, com a Espanha, Nápoles e a
Grécia como seus epicentros. A Revolução Espanhola reavivou o movimento de
libertação na América Latina. A segunda onda revolucionária ocorreu em 1829-34 e
afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o continente norteamericano, pois a grande
época de reformas do presidente Jackson deve ser entendida como parte dela. Ela marca
a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental. A classe
governante dos próximos cinqüenta anos seria a grande burguesia de banqueiros,
grandes industriais e, às vezes, altos funcionários civis. Ela determina, também, uma
inovação ainda mais radical na política: o aparecimento da classe operária como uma
força política autoconsciente e independente na Grã- Bretanha e na França e dos
movimentos nacionalistas em grande número de países na Europa. A terceira e maior
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das ondas revolucionárias foi a de 1848. Nunca houve nada tão próximo da revolução
mundial com que sonhavam os insurretos que essa conflagração espontânea e geral. O
que, em 1789, fora o levante de uma só nação era, agora, assim parecia, a primavera dos
povos de todo um continente.

Eric J. Hobsbawm. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 127-30
(com adaptações).

Questão 44
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico ao qual
ele se reporta, assinale a opção incorreta.

A. As ondas revolucionárias citadas no texto refletem, ao lado de outros fatores, o


choque entre as forças comprometidas com o Antigo Regime e as identificadas com o
anseio de transformações na sociedade européia na primeira metade do século XIX.
B. O segundo período do texto revela um dos principais objetivos do Congresso de
Viena, qual seja, o de impedir a repetição da experiência libertária que a França
protagonizara a partir de 1789 e que Bonaparte, a despeito de sua vocação imperial,
disseminara pela Europa.
C. O Nacionalismo já se manifestava nas ondas revolucionárias mencionadas no texto e
teve, nas unificações alemã e italiana, na segunda metade do século XIX, dois de seus
símbolos mais expressivos.
D. A Revolução Constitucionalista do Porto, de 1820, inscreveu-se no contexto da
primeira onda revolucionária européia e, em seus desdobramentos, provocou o retorno
de D. João VI a Portugal e a adoção de medidas recolonizadoras pela metrópole, o que
impulsionou o processo de independência do Brasil.
E. Tendo ficado imune às ondas revolucionárias que convulsionaram a Europa
continental, a Grã-Bretanha recusou-se a aceitar as determinações do Congresso de
Viena e, internamente, a promover reformas em suas instituições políticas.

Prova do CACD de 2010 (caderno C)


Questão 61
Do ponto de vista da importância diplomática do Congresso de Viena (1814/1815),
julgue C ou E.

( )Permitiu, como exercício pleno de diplomacia parlamentar, ativa participação de


todos os delegados presentes na Conferência.
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( )Lançou as bases do chamado Concerto Europeu, que assegurou maior estabilidade
ao continente europeu no período que vai até 1914.
( )Foi a partir de então que se formou o conceito de “grandes potências”, considerado
por vários autores como precedente histórico da categoria “Membros Permanentes” do
Conselho de Segurança da ONU.
( )Não logrou resolver o problema da ordem de precedência do corpo diplomático, o
que provocou conflitos protocolares com sérias implicações políticas.

Prova do CACD de 2012


Questão 47
A respeito da ordem internacional decorrente do Congresso de Viena, encerrado em
1815, assinale a opção correta.

A. A partir de 1815, a ordem internacional, uma espécie de condomínio de poder


pautado pela força, favoreceu o equilíbrio e a estabilidade no continente europeu ao
longo do século XIX.
B. Entre 1815 e 1848, embora divergissem em determinados aspectos relacionados à
ordem, as grandes potências europeias, fazendo uso do direito de intervenção coletiva,
agiram em concerto, do que decorre a expressão Concerto de Viena.
C. A Ordem de Viena definiu um arranjo de poder com dois eixos claramente
delimitados: o formado por Inglaterra e Prússia, consideradas potências liberais, e o
constituído por Áustria, França e Rússia, consideradas potências conservadoras.
D. O princípio geral do equilíbrio entre as potências europeias valia tanto para a
geopolítica quanto para a esfera econômica do continente.
E. Uma das principais características da ordem que se construiu a partir de 1815 e
perdurou até o final do século XIX foi a ausência de guerras entre as grandes potências
europeias.

Prova do CACD de 2015


Questão 53
O título dado por Henry Kissinger a sua tese de doutoramento — O Mundo Restaurado
— desvela a correta dimensão do Congresso de Viena (1815). Aparentemente, vencida
estava a etapa histórica representada pela Revolução Francesa e pelo expansionismo
napoleônico. Todavia, cinco anos depois, iniciaram-se ondas revolucionárias (1820,
1830, 1848) que convulsionariam a Europa e, em larga medida, a América.
A respeito do Congresso de Viena, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
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1 O princípio do equilíbrio europeu norteou as decisões tomadas; para tanto, limitou-se
o poderio francês.
2 A criação da Santa Aliança estava subordinada a duplo objetivo: manter a ordem na
Europa e impedir a independência das colônias.
3 O resultado do congresso em apreço foi parcialmente frustrado devido a guerras entre
a França e a Espanha e entre o Piemonte e a Suíça.

4 O princípio da legitimidade foi utilizado na defesa da política de restauração da antiga


ordem.

Prova do CACD de 2016


Questão 57
A respeito do Congresso de Viena (1814-1815), a ordem internacional por ele
estabelecida e eventos correlacionados a esse tema, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.

1 A Quádrupla Aliança, selada em 1815 entre a Grã-Bretanha, o Império Austríaco, o


Império Russo e o Reino da Prússia, impediu a participação da França no Congresso de
Viena e assegurou a exclusão desse país do círculo das grandes potências europeias até
a metade do século XIX.
2 A Guerra da Crimeia — um dos maiores conflitos militares em que se envolveram
Estados europeus e asiáticos entre as Guerras Napoleônicas e a Primeira Guerra
Mundial —, ao opor, de um lado, Grã-Bretanha e França, e, do outro, a Rússia,
provocou séria elevação no nível de tensão do sistema internacional.
3 O equilíbrio entre os grandes Estados europeus, estabelecido no Congresso de Viena,
rompeu-se com a agressiva política externa realizada na Alemanha por Otto von
Bismarck, a qual, após a fundação do II Reich, causou perdas territoriais expressivas à
Grã-Bretanha, à Rússia, à França e à Áustria.
4 Apesar de comprometido com a preservação de valores políticos e sociais pré-
revolucionários, o Congresso de Viena não restaurou a ordem internacional vigente
antes da Revolução Francesa; em lugar disso, produziu um novo tipo de equilíbrio entre
os Estados europeus.

(Cesgranrio) A história política da Europa, durante o século XIX, foi marcada por
uma sucessão de "ondas" revolucionárias caracterizadas especificamente numa
das opções a seguir. Assinale-a.
a) O Congresso de Viena representou a consolidação da obra revolucionária na
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implantação da sociedade burguesa.
b) Os movimentos revolucionários de 1830 marcaram o processo de Restauração,
liderados pela aristocracia.
c) As "ondas" revolucionárias corresponderam ao avanço dos cercamentos dos campos -
os "enclousures" - que liberaram a população camponesa para as cidades.
d) Os movimentos de 1848 contaram com a participação das camadas populares e com a
forte influência das ideias socialistas.
e) Os movimentos de 1870, na Itália e na Alemanha, deixaram a questão nacional em
segundo plano, priorizando a conquista da ordem democrática.

(Puccamp) Analisando-se o Movimento Revolucionário ocorrido na França, em


1848, verifica-se que apresenta uma significativa diferença em relação às demais
Revoluções Liberais europeias do período de 1815 a 1850. Indique a alternativa
que diz respeito a essa diferença.
O Movimento Revolucionário:
a) foi nitidamente liberal, provocando a queda de Carlos X e o início da chamada
"Monarquia de Julho".
b) teve o duplo caráter: nacional e liberal, representando um momento decisivo contra o
estatuto político-territorial estabelecido pelo Congresso de Viena.
c) adquiriu um caráter bonapartista, antirrepublicano e antilegitimista.
d) assumindo uma conotação socialista, dividiu as forças revolucionárias, atemorizando
a burguesia.
e) colaborou para a vitória de uma experiência socialista através da organização das
"Oficinas Nacionais".

(Puccamp) As revoluções liberais burguesas ocorreram na Europa na primeira


metade do século XIX. Sobre elas pode-se afirmar que
a) difundiram-se a partir dos países da Península Ibéricas e da Grã-Bretanha.
b) resultaram em mudanças radicais na estrutura social, promovidas pela burguesia
aliada ao proletariado.
c) marcaram a vitória do poder burguês sobre a aristocracia na Europa Ocidental.
d) representaram um retrocesso significativo no âmbito das artes, da industrialização e
da urbanização.
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e) não atingiram a Itália e Alemanha porque esses países tinham fortes lideranças
socialistas.

Em 1830 o rei Carlos X, líder dos ultra-realistas da França, desfechou um golpe


com a intenção de restaurar o absolutismo, o que resultou nas jornadas gloriosas
de julho, em Paris, que tiveram como conseqüência a
a) proclamação da República, em que se destacou Luiz Bonaparte, que organizou o
Partido da Ordem.
b) liquidação do absolutismo dos Bourbons e a instalação de uma monarquia liberal sob
o governo de Luiz Felipe de Orleans.
c) instauração do governo do comitê de salvação pública e a declaração de guerra à
Santa Aliança.
d) conquista do México para desviar a tensão política interna e restaurar o prestígio dos
Bourbons.
e) enunciação da Doutrina Monroe, prevendo a conquista do Oeste dos Estados Unidos
pela província francesa do Quebec.

(Ufrs) Nas origens das revoluções democrático-burguesas dos séculos XVIII e XIX,
encontram-se condições que envolvem o conflito entre o que se poderia denominar
de forças de transformação e as chamadas forças de conservação, isto é:
a) de um lado, as relações sociais estabelecidas essencialmente em torno da terra e, de
outro, um modelo de exploração baseado na posse do homem pelo homem.
b) os direitos de socialização da terra pelo proletariado agrícola e uma economia
assentada predominantemente na agricultura.
c) de um lado, o capitalismo agrário e industrial e as reivindicações da burguesia e, de
outro, os remanescentes da economia feudal e os setores privilegiados representados
pelo clero e pela aristocracia.
d) o progresso do poder real que tende a organizar o Estado Moderno e a permanência
do exercício da justiça pelo soberano sobre seus vassalos.
e) a resistência crescente dos camponeses às exigências dos senhores e o aparecimento
de uma forma de transição entre a economia agrícola feudal e a economia agrícola
capitalista: o trabalho escravo.
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(FUVEST 2013 - Primeira Fase) Maldito, maldito criador! Por que eu vivo? Por
que não extingui, naquele instante, a centelha de vida que você tão desumanamente
me concedeu? Não sei! O desespero ainda não se apoderara de mim. Meus
sentimentos eram de raiva e vingança. Quando a noite caiu, deixei meu abrigo e
vagueei pelos bosques. (...) Oh! Que noite miserável passei eu! Sentia um inferno
devorar-me, e desejava despedaçar as árvores, devastar e assolar tudo o que me
cercava, para depois sentar-me e contemplar satisfeito a destruição. Declarei uma
guerra sem quartel à espécie humana e, acima de tudo, contra aquele que me havia
criado e me lançara a esta insuportável desgraça!
(Mary Shelley. Frankenstein. 2a ed. Porto Alegre: LPM, 1985.)
O trecho acima, extraído de uma obra literária publicada pela primeira vez em
1818, pode ser lido corretamente como uma
a) apologia à guerra imperialista, incorporando o desenvolvimento tecnológico do
período.
b) crítica à condição humana em uma sociedade industrializada e de grandes avanços
científicos.
c) defesa do clericalismo em meio à crescente laicização do mundo ocidental.
d) recusa do evolucionismo, bastante em voga no período.
e) adesão a ideias e formulações humanistas de igualdade social.

(FUVEST) – Os homens do século XIX ensurdecem a história com o clamor de


seus desejos (…) Longe dos odores do povo – é conveniente arejar após a
permanência prolongada da empregada, após a visita da camponesa, após a
passagem da delegação operária – a burguesia, desajeitadamente, trata de
purificar o hálito de casa. Latrinas, cozinha, gabinete de toalete pouco a pouco
deixarão de exalar seus insistentes aromas (…) O que significa essa acentuação da
sensibilidade? Que tramas sociais se escondem por detrás dessa mutação dos
esquemas de apreciação? (A. CORBIN, Sabores e odores, S. Paulo, Cia das Letras,
1987) Responda às duas questões colocadas pelo autor.

a) O texto refere-se aos movimentos do século XIX e às mudanças provocadas pela


decadência da burguesia.
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b) O texto refere-se ao contexto do século XIX e às mudanças provocadas pela
ascensão da burguesia.
c) O texto refere-se ao contexto do século XIX e às mudanças provocadas pela
decadência da burguesia.
d) O texto refere-se aos movimentos do século XIX e às mudanças provocadas pela
ascensão preconceituosa da burguesia.

(VUNESP) Assinale a alternativa incorreta sobre o Mundo Contemporâneo:

a) A imposição de José Bonaparte como rei da Espanha provocou uma insurreição que
repercutiu na América
b) A queda de Napoleão (1815) acarretou a reação absolutista na Europa, corporificada
no Congresso de Viena
c) A Santa Aliança foi um pacto conservador de oposição aos movimentos liberais
d) Através da encíclica Rerum Novarum, a Igreja procurou conciliar capital e trabalho
e) A Unificação Alemã, realizada por Bismarck, deu origem a uma questão solucionada
pelo Tratado de Latrão (1929), que criou o Estado do Vaticano

(PUC – RIO) O Congresso de Viena, concluído em 1815, após a derrota de


Napoleão Bonaparte, baseou-se em três princípios políticos fundamentais. Assinale
a opção que apresenta corretamente esses princípios:

a) Liberalismo, democracia e industrialismo.


b) Socialismo, totalitarismo e controle estatal.
c) Restauração, legitimidade e equilíbrio europeu.
d) Conservadorismo, tradicionalismo e positivismo.
e) Constitucionalismo, federalismo e republicanismo.
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(Mossoró - RN) O Movimento Cartista, na primeira metade do século XIX, na
Inglaterra, tinha entre seus objetivos a:
a) limitação dos direitos reais por um parlamento livre.
b) eliminação da monarquia, com a organização de uma república.
c) promoção da unificação das nações numa comunidade britânica.
d) obtenção do voto secreto e o sufrágio universal masculino.
e) adoção de uma constituição escrita que limitasse o poder real.
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Gabaritos

Prova do CACD de 2006, questão 38

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima), questão 44


Letra E

Prova do CACD de 2010 (caderno C), questão 61


E
C
C
E

Prova do CACD de 2012, questão 47


Letra B

Prova do CACD de 2015, questão 53


C
ANULADA
E
C

Prova do CACD de 2016, questão 57


E
C
E
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C

(Cesgranrio) A história política da Europa, durante o século XIX, foi


marcada por uma sucessão de "ondas" revolucionárias caracterizadas
especificamente numa das opções a seguir. Assinale-a.
Letra D

(Puccamp) Analisando-se o Movimento Revolucionário ocorrido na


França, em 1848, verifica-se que apresenta uma significativa diferença em
relação às demais Revoluções Liberais europeias do período de 1815 a
1850. Indique a alternativa que diz respeito a essa diferença.
O Movimento Revolucionário:
Letra D

(Puccamp) As revoluções liberais burguesas ocorreram na Europa na


primeira metade do século XIX. Sobre elas pode-se afirmar que
Letra C

Em 1830 o rei Carlos X, líder dos ultra-realistas da França, desfechou um


golpe com a intenção de restaurar o absolutismo, o que resultou nas
jornadas gloriosas de julho, em Paris, que tiveram como conseqüência a
Letra B

(Ufrs) Nas origens das revoluções democrático-burguesas dos séculos


XVIII e XIX, encontram-se condições que envolvem o conflito entre o que
se poderia denominar de forças de transformação e as chamadas forças
de conservação, isto é:
Letra C

(FUVEST 2013 - Primeira Fase) O trecho acima, extraído de uma obra


literária publicada pela primeira vez em 1818, pode ser lido corretamente
como uma
Letra B

(FUVEST) – Os homens do século XIX ensurdecem a história com o


clamor de seus desejos (…) Longe dos odores do povo – é conveniente
arejar após a permanência prolongada da empregada, após a visita da
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camponesa, após a passagem da delegação operária – a burguesia,
desajeitadamente, trata de purificar o hálito de casa. Latrinas, cozinha,
gabinete de toalete pouco a pouco deixarão de exalar seus insistentes
aromas (…) O que significa essa acentuação da sensibilidade?
Que tramas sociais se escondem por detrás dessa mutação dos
esquemas de apreciação? (A. CORBIN, Sabores e odores, S. Paulo, Cia
das Letras, 1987) Responda às duas questões colocadas pelo autor.

Letra B

(VUNESP) Assinale a alternativa incorreta sobre o Mundo


Contemporâneo:
Letra E

(PUC – RIO) O Congresso de Viena, concluído em 1815, após a derrota de


Napoleão Bonaparte, baseou-se em três princípios políticos
fundamentais. Assinale a opção que apresenta corretamente esses
princípios:
Letra C

(Mossoró - RN) O Movimento Cartista, na primeira metade do século XIX,


na Inglaterra, tinha entre seus objetivos a:
Letra D
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Referências Bibliográficas

CERVO, Amado Luiz. “Hegemonia coletiva e equilíbrio” IN SARAIVA, José


Flávio Sombra. História das Relações internacionais contemporâneas. São
Paulo: Saraiva, 2007.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981.
KISSINGER, Henry. Diplomacia. Lisboa: Gradiva, 2007.
NICHOLS JR, Irby C. The European Pentarchy and the Congress of Verona,
1822. Haia: MARTINUS NIJHOFF, 1971.
VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato: história mundial
contemporânea (1776-1991): da independência dos Estados Unidos ao colapso
da União Soviética. Brasília: FUNAG, 2012.
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Apresentação

Olá caro aluno!


Seguindo nosso curso, apresentamos hoje para vocês nossa aula sobre a
crise do sistema de Viena, a partir de 1854 com a Guerra da Crimeia, as
unificações da Itália e da Alemanha e os impactos disso na história e política
mundiais.

Embora não sejam conteúdos que caiam muito nas provas do CACD, são
muito importantes para compreendermos os desenvolvimentos das relações
internacionais no período subsequente, em particular a nova lógica pela qual se
relacionariam os novos Estados. Esses desenvolvimentos serão primordiais
para compreendermos o que gestaria a Primeira Guerra Mundial! Pela
complexidade do tema, aqui também teremos de adentrar alguns detalhes dos
movimentos internacionais e das políticas nacionais dos principais atores
envolvidos.

Sigamos pois para o período de “ferro e sangue” do sr. Bismarck!


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1. “Le Printemps des peuples”: o ano de 1848 e a Primavera dos Povos

As décadas de 1820 e 1830 foram marcadas por diversas insurreições


revolucionárias em todo o continente europeu. Em 1820, países como a Grécia
e Portugal observaram surgir, em seu seio, movimentos de caráter liberal e
constitucionalista, os quais antagonizavam os interesses gestados pelas
monarquias restauradas após o Congresso de Viena em 1815. Ao fervor liberal
de 1820, somou-se, durante 1830, um crescente espírito nacionalista, o qual
repercutiu com maior intensidade na França, com a queda dos Bourbon, nas
regiões italianas, onde o ímpeto pela unificação crescia em ritmo acelerado, e
também na Bélgica, Prússia, Espanha, Portugal e Polônia. Até mesmo do outro
lado do oceano, nas antigas colônias ibéricas na América, viu-se o despontar
revolucionário.

O ano de 1848, na esteira do processo desencadeado nas décadas de 20 e


30, voltou a solapar o edifício sobre o qual se reerguera o concerto europeu no
pós-1815, amplamente questionado pelos setores ligados à burguesia industrial
e aos setores médios e pobres urbanos, sobretudo aqueles de inclinação
socialista. Na realidade, o ano de 1848 foi de tal modo decisivo para o
desenrolar de uma nova ordem política e institucional no cenário europeu, com
reflexos também em outros continentes, que passou a ser conhecido pela
alcunha de “Primavera dos Povos”.

Os anos de 1846-47 foram marcados por perdas no campo em grande parte


da Europa, sobretudo nas regiões da França, península itálica, Prússia, Império
Austríaco e Império Russo. Eric Hobsbawm, cuja interpretação histórica das
revoluções liberais norteia a prova do CACD, remonta, em sua obra, ao período
inicial de detonação do ímpeto revolucionário Europa afora:

Na França, o centro natural e detonador das revoluções


européias, a república foi proclamada em 24 de fevereiro. Por
volta de 2 de março, a revolução havia ganho o sudoeste
alemão; em 6 de março, a Bavária, 11 de março, Berlim, 13 de
março, Viena, e, quase imediatamente, a Hungria; em 18 de
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março Milão e, em seguida, a Itália (onde uma revolta
independente havia tomado a Sicília). Além disso, 1848 foi a
primeira revolução potencialmente global, cuja influência direta
pode ser detectada na insurreição de 1848 em Pernambuco
(Brasil) e poucos anos depois na remota Colômbia. Num certo
sentido, foi o paradigma de um tipo de “revolução
mundial” com o qual, dali em diante, rebeldes poderiam
sonhar e que, em raros momentos como no pós-guerra das
duas conflagrações mundiais, eles pensaram poder
reconhecer. (Grifo Meu)1

Percebemos que, conforme aponta Hobsbawm, o ano de 1848 se


caracteriza pela internacionalização dos anseios revolucionários. Como uma
pólvora acesa, a revolução, iniciada por operários franceses em protesto contra
medidas tomadas por seu monarca, rapidamente se espalha por quase toda a
Europa, chegando até mesmo ao outro lado do Atlântico. Encontravam-se em
marcha, como pontua Saraiva, três ideias-força na Europa, e que marcaram o
curso dessas revoluções de 1848, afetando:

(...) as relações internacionais: nacionalismo, democracia e


interesse popular. As três são inter-relacionadas. A
democracia era vista como emergência dos direitos do povo,
de tal sorte que a cada demos corresponderia um Estado
independente. Liberais e nacionalistas julgavam isso inevitável
e justo, admitindo intervenções pela causa. Os conservadores
preocupavam-se, tanto mais quando socialistas e teóricos
raciais contribuíam para a efervescência das ideias.2

A principal ideia motora das jornadas de 1848, ainda mais do que o


liberalismo norteador das jornadas de 1820 e 30, era a ideia de nacionalismo.
De operários socialistas a burgueses liberais, uma grande massa de populares
tomou as ruas da Europa para reivindicar a soberania de suas nações
(italianos, alemães, húngaros, sérvios, tchecos, eslavos, dentre outras) frente
aos grandes impérios multiculturais assentados pelo concerto europeu de
1815. O Império Austríaco dos Habsburgos será o mais afetado pela luta de
diferentes nações envolvidas pelos seu imenso e heterogêneo império, levando
à demissão de Metternich, o principal articulador do concerto de Viena, e ao

1
HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital (1848-1875), pág. 20.
2
SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais Contemporâneas, pág. 76.
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enfraquecimento gradual dos austríacos no cenário europeu. Analisemos
alguns dos principais cenários do palco revolucionário, a começar pela França.

A crise econômica ganhou corpo, principalmente, entre os franceses.


Atribuía-se ao rei Luís Felipe I e a seu Primeiro-Ministro, François Guizot, a
culpa pela crise em escalada desde 1846. Os problemas econômicos, por sua
vez, somente levaram a um aprofundamento ainda maior da crise social,
sobretudo na cidade de Paris.

A industrialização francesa, em marcha desde os tempos do Império


Napoleônico, ganhara grande impulso sob a Monarquia de Julho e suas
medidas liberalizantes, não por um acaso Luís Felipe I era chamado por muitos
de o “rei burguês”. O crescimento da industrialização em França propiciou um
exponencial aumento da população urbana, sobretudo em torno da capital
Paris, fortemente composta por operários e demais profissionais liberais. O
aumento nos preços e o ciclo de demissões nas indústrias francesas,
decorridos da crise galopante de 1846-48, atingiu em cheio a população mais
pobre, sobretudo a de operários urbanos. Somava-se a isso a insatisfação
popular em torno da participação política quase inexistente dos mais pobres e o
anseio pelo sufrágio universal fomentado por líderes socialistas como Louis
Blanc, e o tanque revolucionário estava prestes a explodir.

Entre fevereiro e março, foram convocadas várias manifestações pelos


socialistas parisienses, levando centenas de milhares de franceses,
pertencentes as mais diversas camadas sociais, mas envolvendo
principalmente as mais pobres, às ruas de Paris. O governo de Luís Felipe
buscou responder com a repressão da polícia, o que estimulou grande parte
dos manifestantes a tomarem as ruas de Paris com barricadas. Os confrontos
entre manifestantes e a Guarda Nacional, por incrível que pareça, foi
controlado por um estranho acaso: a maior parte dos soldados da Guarda
acabou por passar para o lado dos manifestantes. Acuado, Luís Felipe I
abdicou em favor de seu sobrinho homônimo, o Conde de Paris, que, no
entanto, não chegou a assumir de fato a coroa, pois foi destronado pelos
manifestantes, agora apoiados por muitos burgueses. O parlamento foi
dissolvido e a monarquia abolida, proclamava-se a Segunda República
francesa.
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1848 na França

Entre março e junho de 1848, a revolução que derrubara a monarquia


francesa se espalhou como uma tempestade pela Europa. O Império austríaco
de Metternich viu crescer em seu âmago o anseio nacionalista, sobretudo nos
cantões suíços e entre os húngaros, sérvios, tchecos, croatas e italianos do
norte. Na Itália, os nacionalistas comandados pela Jovem Itália e por expoentes
como Giuseppe Garibaldi, liderados e financiados pelo Reino da Sardenha,
aproveitavam as debilidades domésticas da Áustria e atacavam as suas
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possessões italianas no norte, na região do Vêneto, bem como áreas dos
Estados Pontifícios e a própria cidade de Roma, levando o Papa Pio IX a exilar-
se por um breve período.

Na Confederação alemã, em especial na Prússia, o rei Frederico Guilherme


IV convocara, em 1847, a Dieta para debater empréstimos econômicos
voltados para o estímulo ferroviário na Prússia. Porém, os liberais da Dieta, a
maioria convocada, utilizaram-se da reunião para pressionar o rei a convocar
um parlamento eleito pelo povo e a publicar uma constituição para a Prússia.
Acuado, o rei dissolveu a Dieta, levando os liberais a se unirem aos operários e
à população pobre, já descontente com a má safra do ano, e a tomarem as
ruas de Colônia em março de 1848.

Barricadas de 1848 em Berlim

Na França, a Segunda República conseguiu instaurar o sufrágio universal


masculino e convocar uma assembleia constituinte para abril. A situação
começaria a sair do controle, pois socialistas e anarquistas, dentre eles o
importante teórico Pierre-Joseph Proudhon, agitavam o operariado parisiense,
em união com os camponeses do interior, a radicalizarem a situação política.
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Do lado socialista, o ano de 1848 foi marcado pela publicação do “Manifesto do
Partido Comunista” (Manifest der Kommunistischen Partei) pelos pensadores
alemães Karl Marx e Friedrich Engels, financiados pela Liga dos Comunistas,
radicada em Paris. A obra convocava os operários europeus a lutarem contra a
burguesia e a lutarem pela instauração de uma ditadura do proletariado,
primeiro passo rumo ao Comunismo marxista. Já os anarquistas franceses,
liderados por Proudhon, lutavam pelo fim da propriedade privada e pela
radicalização das reformas sociais em França. Em todo país, propriedades de
nobres e indústrias foram invadidas e destruídas por revolucionários ligados ao
socialismo e anarquismo.

Temerosos de uma convulsão social como a Revolução francesa de 1789,


setores da alta burguesia industrial francesa, bem como membros da nobreza,
deram espaço a uma maior participação de socialistas no poder, a começar
pelo governo provisório constituído no mês de março, uma coalizão de políticos
burgueses e socialistas.

Na Áustria, as barricadas tomaram conta das ruas de Viena, e em poucas


semanas a revolução obrigou o septuagenário Metternich a entregar o seu
cargo, por ele ocupado já há mais de três décadas, exilando-se em seguida na
Inglaterra. O rei Fernando I, que sempre dependera de Metternich para
governar, acabou por aceitar as reivindicações dos liberais e a convocar uma
assembleia constituinte, que produziu uma constituição liberal para o Império,
instituindo, dentre outras reformas, o sufrágio masculino. Enquanto o centro do
império se agitava com a repentina vitória dos liberais, os demais centros de
poder de seu imenso território via as agitações revolucionárias properarem.

O nacionalismo húngaro reivindicava independência, ainda que os húngaros


já gozassem de considerável autonomia, possuindo uma Dieta própria,
controlada pela aristocracia magiar, e uma estrutura política relativamente
unificada3. O principal empecilho para a causa nacionalista húngara era
existência de outras múltiplas nacionalidades sob o comando húngaro, e com o
apoio austríaco, basicamente formadas por croatas, sérvios, eslovacos,
romenos, ucranianos e uma minoria alemã, compondo quase 60% da

3 HOBSBAWM, Idem, pág. 28.


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4
população total da Hungria . Sendo a própria Hungria um território multicultural
controlado por uma minoria étnica, a retórica emancipacionista dos magiares
perdia legitimidade na medida em que esta não reconhecia o igual direito das
demais etnias na busca por suas independências nacionais.

Entre o fim de 1848 e o início de 1849, a aristocracia magiar, liderada por


Lajos Kossuth, declarou a independência dos territórios magiares, com capital
em Budapeste. No entanto, a ação húngara foi bloqueada pelo estouro de
inúmeras insurreições internas por parte das demais etnias nacionais. Ao
passo em que se desenrolavam essas atitudes, em junho de 1848,
nacionalistas tchecos tomavam a cidade de Praga e, reunidos no Congresso
Pan eslavo, redigiram uma constituição liberal, denominada de Carta da
Boêmia, que exigia a autonomia do povo tcheco dentro do Império.

Na Itália, conforme será visto de forma mais detalhada em tópico específico,


aproveitando-se das agitações internas ao Império, o Reino da Sardenha
declarou guerra à Áustria, conjuntamente a outros grupos nacionalistas
monarquistas e republicanos, pela anexação dos territórios da Lombardia,
Vêneto e Milão, todas sob domínio austríaco, porém, de maioria itálica.
Enquanto isso, no centro e sul da península itálica, diversos reinos e territórios
dos Estados Pontifícios caíram sob domínio dos revolucionários, ocasionando a
queda das dinastias monárquicas existentes e dando lugar a uma série de
monarquias constitucionais e repúblicas temporárias.

A reação, porém, não tardou. Na França, a Assembleia constituinte,


dominada pelo Partido da Ordem, controlado pela nobreza e alta burguesia, foi
marcada pelo conflito destes grupos em relação aos socialistas e anarquistas,
que exigiam a aprovação de medidas sociais radicais na nova Constituição.
Descontentes, os socialistas, liderados por Auguste Blanqui, voltaram às ruas
em junho de 1848, ocasionando em ferozes disputas com a polícia parisiense.

O ministro da Guerra, general Cavaignac, foi então nomeado pela


Assembleia como chefe do governo provisório, dando-o poder de ação contra
os insurretos. Cavaignac liderou as suas tropas até as ruas de Paris, e por

4 Idem.
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quatro dias disputou espaço com as barricadas socialistas, resultando na vitória
do governo, e em um saldo aproximado de 1.500 mortos e em milhares de
insurretos presos, os quais foram deportados, em sua maioria, para a Argélia.
Em novembro de 1848 foi promulgada a nova constituição da Segunda
República, seguida pela eleição, que levou, à presidência da República, Luís
Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte.

Na Prússia, enquanto os liberais dominavam Berlim, nas demais cidades,


como Colônia e Frankfurt, movimentos de inspiração comunista e anarquista,
animada a primeira por Marx e Engels, enquanto que a segunda pelo
anarquista Mikhail Bakunin, ganhavam espaço e pressionavam o novo governo
liberal por medidas sociais radicais. A contraofensiva partiu da Hohenzollern, a
aristocracia prussiana, que se organizou em torno do exército prussiano, e
pouco a pouco suprimiu com sucesso as insurreições revolucionárias, com a
prisão e deportação dos líderes insurretos, e derrubou o governo liberal que
formara meses antes, acabando com a Constituição e retomando o status quo
anterior ao início da revolução na Prússia. No entanto, os acontecimentos
deste ano deixaram vivas entre a Hohenzollern as aspirações unificadoras da
Alemanha sob a liderança prussiana, em detrimento da Áustria.

No Império austríaco, aliás, Schwartzenberg retomou o controle de Viena e


obrigou o imperador Fernando I a abdicar ao trono em nome de seu filho,
Francisco José I, que reinaria até a sua morte, em 1916, compondo um dos
mais longevos reinados da história europeia. À coroação do novo imperador,
segui-se o fechamento do Parlamento e a abolição da Constituição e das
demais medidas por ele tomadas. O próximo alvo do exército austríaco foi o
movimento húngaro, derrotado após a tomada de Budapeste em janeiro de
1849, graças ao apoio russo às tropas austríacas. Em seguida, foram repelidas
as insurreições tcheca e italiana, alcançando-se, em meados de 1849, a
estabilidade política ao Império.

Com a derrota das tropas sardo-piemotesas no Vêneto, e queda dos


movimentos nacionalistas em quase toda a Itália entre 1848-49, a unificação
italiana foi colocada em xeque novamente. Será, conforme veremos mais à
frente, graças à ação do primeiro-ministro sardo-piemontês, o conde de
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Cavour, que a causa unificadora voltará a crescer e finalmente ganhará um
rumo bem delineado na política local. Por ora, as tropas sardo-piemontesas
retornaram derrotadas, levando à abdicação do rei Carlos Alberto em favor de
seu filho, Vítor Emanuel II.

Assim chegaram ao fim as revoluções de 1848, que “surgiram e quebraram-


se como uma grande onda, deixando pouco, exceto mito e promessa” 5. Tal
como a primavera, a printemps des peuples conheceu um repentino início e um
brusco fim. No entanto, apesar do cenário europeu ter retornado quase que
fielmente ao ponto inicial, as jornadas de 1848 deixaram marcas indeléveis na
cultura política regional: graças a ela Luís Napoleão chegou à presidência da
França, passando, em 1852, mediante a um golpe de Estado, ao título de
imperador como Napoleão III. Como imperador, Napoleão marcará os rumos
da Europa por meio de ataques abertos ao concerto europeu de 1815,
desmontando-o dentro de pouco tempo.

Além disto, outras marcas de 1848 foram: o enfraquecimento austríaco no


cenário europeu, o fortalecimento dos nacionalismos italiano e alemão, sob a
gerência da Prússia, e o surgimento de uma nova força política que viria a
dominar a cena internacional nas décadas posteriores, qual seja, os socialistas,
comunistas e anarquistas. Apesar de ter sido apenas uma primavera
passageira, os ventos de 1848 continuaram a ser sentidos nas estações que
ainda estariam por vir.

5
HOBSBAWM, Idem, pág. 33.
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Mapa dos movimentos de 1848

Vamos ver agora como o CACD cobrou o conteúdo de Revoluções?

Prova do CACD de 2005 – Questão 09


Considerando-se os dados estritamente cronológicos, a exposição a que se refere o
texto III ocorreu no último ano do século XIX. Tempo das revoluções, como é
conhecido, o século XIX é também assinalado por grandes representações, a exemplo
do industrialismo, do liberalismo, do nacionalismo e do socialismo. Julgue (C ou E) os
itens a seguir, relativos ao quadro revolucionário de fins do século XVIII e da primeira
metade do século XIX.

( ) A Revolução Francesa, iniciada em 1789, conheceu longa e complexa travessia em


suas etapas. Ao ser concluída, com a era napoleônica, estavam parcial ou totalmente
destruídas muitas das bases sobre as quais se assentava o Antigo Regime.
Resposta: Correta
Comentário: Como comentamos anteriormente em nossa primeira aula, a revolução
jogou a baixo muitas das instituições do Antigo Regime, embora, como diz
Tocqueville, o processo de centralização do poder e da administração iniciado no
Antigo Regime foi acentuado pela Revolução.

( ) Historicamente, a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte, em


1776, a qual integra o cenário em que se desenrolou a Revolução Francesa, exerceu
notória influência nos movimentos de emancipação política das colônias ibéricas no
continente americano.
Resposta: Correta
Comentário: Teremos oportunidade de discutir a emancipação das 13 colônias em
outra aula. Dito isto, é correto afirmar que a revolução americana exerceu grande
impacto sobre as colônias ibéricas durante o fim do século XVIII e durante o XIX,
particularmente quando das discussões constitucionais que muitas das repúblicas
fundadas na América Latina irão realizar sobre federalismo.
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( ) Na Europa, ondas revolucionárias em 1820, 1830 e 1848 demonstram não ter sido
tarefa simples o aniquilamento do Antigo Regime, o qual, após o vendaval
revolucionário francês, ganhou certo fôlego restauracionista com a queda de Napoleão
Bonaparte.
Resposta: Correta
Comentário: O espírito revolucionário que tomou conta da Europa tinha diferentes
facetas, como afirmamos ao longo de nossas explanações sobre esses movimentos.
Alguns foram de caráter nacionalista, outros, liberal. O caráter das revoluções liberais
de fato pode ser visto – por uma determinada vertente historiográfica – como os
últimos golpes contra o Antigo Regime.

( ) Pode-se afirmar que o processo revolucionário vivido pela Europa Ocidental


apresentava, até 1848, clara simetria entre suas duas frentes — a econômica,
representada pela Revolução Industrial, e a política, representada pelas revoluções
liberais. A partir de 1848, a unidade se rompeu, e a bandeira do liberalismo burguês
assumiu contornos cada vez mais conservadores.
Resposta: Correta
Comentário: Hobsbawm afirma que a partir de 1848 as duas grandes forças sociais
que haviam realizado as revoluções até então – proletariado e burguesia – iriam se
separar para se tornarem inimigos de classe. A partir do momento – ainda segundo essa
interpretação marxista – que a burguesia assumiu o poder e controlou o passou a
controlar o processo de expansão do capital e da revolução industrial, ela passou a lutar
contra as mudanças propugnadas pela classe operária, isto é, lutas para ganhos sociais.

Prova do CACD de 2010 (Caderno C) – Questão 62

Acerca do movimento revolucionário de 1848, julgue C ou E.

( ) A publicação do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, tornou-se, rapidamente, a


referência ideológica do movimento revolucionário em toda a Europa.
Resposta: Errada
Comentário: O manifesto comunista, embora considerado hoje um dos documentos
mais significativos e inspirados para os socialistas e marxistas, não foi entendido assim
imediatamente após sua publicação. Marx e Engels não se tornaram o símbolo do
comunismo/socialismo logo após a publicação do manifesto.

( ) Na França, a burguesia, a nobreza e os setores populares mais conservadores


consideravam o sobrinho de Napoleão, Luís Napoleão, eleito presidente em 1849 e
proclamado Imperador em 1851, um “domador de revoluções”.
Resposta: Errada
Comentário: Apesar de capcioso, o item peca ao utilizar o termo “domador de
revoluções”, uma vez que Luís Napoleão foi de certo modo um entusiasta das jornadas
de 1848, e possuía (e nisto o item está correto) uma grande aptidão para lidar com a
população pobre, justamente aquela com maior ímpeto revolucionário. Ademais,
Napoleão viria a tomar certas decisões futuras, favoráveis aos mais pobres, que o
aproximaria ainda mais das classes populares francesas.

( ) Em algumas regiões, o movimento de 1848 assumiu, rapidamente, características


nacionalistas: na Hungria, o governo provisório efetivamente declarou a independência
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do Império austro-húngaro, o qual só recuperou os territórios perdidos com a ajuda de
tropas russas.
Resposta: Errada
Comentário: Questão complicada! Na verdade, o erro do item se encontra no uso da
nomenclatura “Império austro-húngaro”, termo que só passaria a ser usado a partir de
1867, após uma aliança entre as nobrezas austríaca e húngara. À época, chamava-se
“Império austríaco” somente. Além disto, também está errado afirmar que houve uma
independência plena, conquanto tenha havido uma tentativa frustrada de declaração de
independência.

( ) A Inglaterra foi pouco atingida pela onda revolucionária de 1848, pois já vinha
adotando medidas liberais.
Resposta: Correta
Comentário: A Inglaterra poucas vezes em sua história política esteve pari passu com
os desenvolvimentos políticos do continente. Muito embora Hobsbawm afirme que em
1830 tenha havido semelhança entre os movimentos continentais e o movimento
cartista britânico, não houve coisa semelhante em 1848 entre o reino insular e os países
continentais.

2. A guerra da Crimeia e a crise do sistema de Viena

Após a revolução de 1848, a Europa passaria por várias transformações,


alcançando suas as relações interestatais. Muito significativa seria a saída,
finda a revolução, de um dos grandes idealizadores e criadores da ordem
Viena do governo austríaco, Metternich. Não levaria muito tempo depois
desses eventos para o que o sistema criado após Napoleão viesse a naufragar.

A crise logo veio em 1854, envolvendo três das cinco grandes potências,
Rússia, França e Grã-Bretanha, num conflito sobre a questão oriental, ou seria
melhor dizer, da desintegração do Império Otomano e os Bálcãs. Vejamos os
meandros deste conflito que poria fim ao sistema de Metternich.

Como vimos, em 1848, o sobrinho de Napoleão se tornou o primeiro


presidente da II República Francesa e em 1852, proclamou-se, depois do
plebiscito, imperador dos franceses. Este personagem histórico foi central para
os principais desenvolvimentos que ocorreram na política internacional do
período, junto com Bismarck, e falaremos bastante dele aqui. Essa relevância
se deve ao fato de que Napoleão III odiava o sistema de Viena, que havia sido
criado, segundo sua visão, para controlar a França e impedi-la de crescer.
Portanto, suas diretrizes para as relações internacionais francesas desde que
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assumiu o poder, foi a de, sistematicamente, tentar mudar o mapa europeu
criado em 1815 e fazer da França novamente uma potência hegemônica.
Como veremos, ele não terá êxito.

Para além dessa visão – acertada – do Congresso de Viena, algumas


características pessoais de Napoleão III são significativas para
compreendermos o papel francês na construção da ordem internacional que se
seguiria à guerra da Crimeia. Ele tinha sonhos bastante grandiosos para a
França, mas, segundo H. Kissinger, era incapaz de seguir firmemente em seus
propósitos quando surgiam dificuldades; sua habilidade para lidar com
questões diplomáticas era bastante limitada porque se submetia, por vezes, à
busca por popularidade interna; deixou-se guiar por seus ideais de
autodeterminação nacional, mesmo quando interesses franceses pediam o
contrário; por fim, demonstrou grande incapacidade na análise e na tomada de
decisão quando surgiram conflitos e oportunidades durante o período de seu
governo.

Analisando o quadro das relações interestatais no início de seu governo,


Napoleão III percebeu que seria necessário, de imediato, acabar com a Santa
Aliança e os acordos de defesa mútua instaurados em Viena. Para tanto, seria
necessário destruir a confiança mútua entre as potências, criando problemas
em áreas periféricas da Europa, longe do centro dos interesses de seus rivais,
ou seja, o centro europeu.

O local e o pretexto encontrado por Napoleão para concentrar suas


energias foi os Bálcãs, num período em que o Império Otomano se
desintegrava, como já antecipamos aula passada ao abordarmos a
independência grega. As potências envolvidas na região eram a Rússia,
diretamente interessada na geopolítica local e antiga rival dos otomanos, a
Grã-Bretanha, por seu interesse na manutenção do controle dos estreitos sob
domínio Otomano (e tutela inglesa, claro) e a Áustria, que, embora aliada da
Rússia, não queria o domínio russo na região.

Napoleão III decidiu ali atuar para desafiar a Rússia. Esta escolha foi feita
por dois motivos: 1) porque o governo do czar Nicolau I era hostil a Napoleão,
já que este havia subido ao poder por meio de uma revolução, o que causava
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medo aos russos. Esta hostilidade se transparecia nas cartas e documentos
trocados entre os dois países, em que Nicolau se recusava a chamar Napoleão
de “irmão”, como era costume entre as casas reais, demonstrando aí que, para
os Romanov, o governo do imperador francês não gozava da legitimidade das
demais cabeças coroadas da Europa. E 2) porque esta hostilidade russa em
relação aos franceses era, na análise de Napoleão, uma tentativa de dotar as
potências conservadoras de uma unidade de propósito que havia tornado frágil
desde 1848.

Desmantelar a Santa Aliança, jogando seus membros uns contra os outros


seria um grande golpe contra o sistema de Viena e deixaria aberto o futuro
para mudanças. De fato, sem a Rússia, a Áustria ficaria muito vulnerável aos
ataques franceses e italianos em suas possessões na península, aberta ao sul
nos Bálcãs e isolada internacionalmente. A Prússia, por sua vez, liberta do
controle russo poderia ambicionar crescer na Alemanha às expensas
austríacas. Sem a Santa Aliança, também a Rússia deixaria de contar,
inicialmente, com colaboradores no centro europeu para barrar a França. Essa
estratégia adotada por Napoleão mostrar-se-ia a mais inteligente e a única
exitosa de todo seu governo.

Para entendermos bem este conflito da Crimeia, precisamos ter ciência de


um componente das relações internacionais da época que não faz parte, ou
não faz tanto, do sistema internacional atual: o prestígio. Uma variável difícil de
ser mensurada, o prestígio era de suma importância para os países da época e
era indicador da riqueza, poder, cultura, capacidade de influência e
interferência nos outros países, dentre tantas outras coisas. E esse não era
somente um fator de importância para as monarquias ou para a Europa, mas
para todo o Ocidente.

Pois foi neste ponto específico que Napoleão decidiu atacar a Rússia. Não
que seu intento inicial já fosse de provocar uma guerra, mas diminuir o
prestígio russo. Para tanto escolheu um motivo que não só provocaria o czar,
como também tinha chances de minar as relações entre a Áustria (católica) e a
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Rússia (ortodoxa), qual seja, a proteção dos lugares sagrados e dos cristãos
em terreno otomano.6

Em 1852, a França exigiu dos otomanos que entregassem o controle dos


lugares sagrados para mogens católicos, negando aos ortodoxos o papel
protetor que tinham até então. A irritação russa foi imediata e justamente o que
o imperador francês esperava. Nicolau I imediatamente tentou reverter a
situação, buscando mostrar aos países da Europa ocidental que os otomanos
temiam mais os russos que os franceses. A primeira tentativa foi de enviar uma
missão diplomática pedindo que o ministro turco que havia cedido aos
franceses fosse demitido e reconhecendo que o czar russo fosse reconhecido
como protetor dos cristãos do império otomano, tal como havia sido
estabelecido em acordo de 1774. Os turcos, no entanto, negaram e as tensões
se ampliaram.

Preocupado com a repercussão da missão diplomática e do aumento das


hostilidades turco-russas, o czar enviou outras missões à Inglaterra e à Áustria,
para assegurá-las de que respeitaria os interesses das potências na região.
Como resposta à negativa do governo do sultão, tropas russas invadiram as
províncias da Moldavia e da Valáquia, então sob domínio turco. O governo do
czar afirmou que não desocuparia o local até que suas demandas fossem
antedidas.

Esse movimento foi visto pela Grã-Bretanha e pela Áustria com bastante
preocupação. Para a primeira, isso era sinal do avanço russo sobre os
estreitos, o que, como dito em aula passada, era um ponto bastante
preocupante para a política externa inglesa. Para a última, o controle dos
russos naquelas províncias colocava bastante pressão sobre as fronteiras ao
sul da monarquia áustro-húngara. As potências tentaram então uma solução
por meio de um congresso em 1853, que falhou por não atender as
expectativas russas. Para frear o que era visto como expansionismo russo, os
ingleses enviaram uma frota para águas turcas. Essa atitude de confrontação
britânica havia colocado, irrevogavelmente, o Reino Unido numa aliança com a
França contra a Rússia.

6
BRIDGE, F.R.; BULLEN, Roger. The great powers and the European states system (1814-
1914). Londres: Pearson & Longman, 2005, p. 114.
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Essas indicações de apoio das potências ocidentais deu confiança ao
Império Otomano, que declarou guerra ao Império Russo em 4 de outubro de
1853. Pouco depois, os russos conseguiram uma vitória naval importante em
Sinope. Em sequência, em março de 1854, o Reino Unido e a França deram
um ultimato à Rússia, para que desocupasse as províncias turcas, o que foi
rejeitado em São Petersburgo. Iniciava-se a Guerra da Crimeia.

O czar buscou apoio europeu, mandando missões diplomáticas aos seus


aliados em Berlim e em Viena, querendo deles declarações de neutralidade.
Contudo, essas missões falharam e, com elas, a Santa Aliança.

Em termos gerais, a guerra da Crimeia marcou uma alteração definitiva das


relações internacionais na Europa. A Inglaterra e a Rússia, que até então
possuíam o protagonismo no sistema de Viena, foram substituídas por uma
França revigorada depois de derrotar os russos, seus principais adversários
desde 1815. Napoleão conseguira transformar um conflito localizado, causado
por motivos aparentemente pequenos, em uma oportunidade de completa
mudança do sistema europeu.

Para a Áustria, a guerra foi um grande dilema.7 Ela precisava da Rússia


para manter-se segura interna e externamente, como mostrou a revolução de
1848, mas sua presença nos Bálcãs era fragilíssima. No entanto, caso a
Rússia vencesse, estabelecer-se-ia ao sul da Áustria, agravando a situação.
Portanto, naquele momento, sua segurança exigia o enfraquecimento russo e a
necessidade de uma região de buffer entre os dois Estados. Assim, contra
meio século de relações diplomáticas amigáveis, a Áustria lançou um ultimato,
em julho de 1854, para que os russos desocupassem as províncias da
Moldávia e da Valáquia. Diante da possibilidade de outra potência se juntar às
outras já em guerra, o czar cedeu.

O fim da aliança áustro-russa foi de grande importância para os


desenvolvimentos posteriores na Europa. Os czares que se seguiram não
perdoaram a Áustria pelo que fez. Disse o czar à época: “the time has come not
to fight the Turks and theirs allies, but to concentrate all our efforts against

7
Idem, p. 118.
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perfidious Austria and to punish her severely for her shameful ingratitude”. 8

Incapaz de perceber sua dependência em relação à Rússia, a Àustria


enfraqueceu-se no cenário internacional, mas particularmente na Confederação
Alemã. Bismarck notaria esse isolamento internacional e aproveitar-se-ia dele
depois para expulsar os austríacos da Alemanha.

Auxiliadas diplomaticamente pela Áustria, as potências ocidentais, depois


de vitória expressiva em Sebastopol em 1855, junto ao Império russso
decidiram negociar a paz. O tratado de Paris estabelecia duras perdas para os
russos, como o fim da presença naval russa no Mar Negro, a entrega da
Bessarábia para a Moldávia e a embocadura do rio Danúbio aos turcos. A
perda da Bessarábia, por demanda austríaca, foi um grande golpe ao orgulho
russo e que fez aumentar o ódio em relação ao governo de Viena.

Mapa das operações militares da Guerra da Crimeia

Embora uma vitória diplomática para Napoleão, por ter colocado fim às
instituições de 1815, a guerra não resultou numa mudança expressiva do mapa
europeu no Ocidente, tal como ele esperava e pelo qual ele continuaria lutando
até o fim de seu governo.

Para a Inglaterra, significou a perda da preponderância que ela possuía até


então nos assuntos diplomáticos europeus, passando a liderança para a

8
Em tradução livre: “Chegou a hora não de lutar contra os turcos e seus aliados, mas de
concentrar todos os nossos esforços com a pérfida Áustria e para puni-la severamente por sua
vergonhosa ingratidão.” Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 119.
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França. Para a Rússia, o acordo de 1856 levou a uma mudança importante no
foco de sua política exterior, como nos dizem Bridge e Bullen:

The Russians were deeply humiliated by the exclusion of their


naval forces from the Black Sea. They regarded it as an affront
to their status as a great power. After the Peace of Paris the
principal objective of their foreign policy was to rid themselves
of this humiliation. Under Nicholas I Russia had been the
guardian of the status quo in Europe (…). After 1856 the
maintenance of order in Europe was relegated to second place.
This was a profound change, which significantly altered
Russia’s relations with the other powers. (…) In the decade
after 1841 they [United Kingdom and Russia] had worked
together in Europe to contain the French threat to the 1815
settlement. On most issues the other powers had been forced
to follow either a British or a Russian lead. In the fifteen years
after the Crimean War the British and the Russians ceased to
co-operate; consequently they ceased to dominate Europe. 9

Finalizada a Guerra da Crimeia, um novo momento iniciar-se-ia nas


relações entre os Estados europeus. Ao desmoronamento do sistema de
Viena, seguiram-se quase duas décadas de guerras intermitentes entre as
grandes potências, que remodelaram a Europa, particularmente as guerras de
unificação da Itália e da Alemanha.

E o que viria a substituir o modelo de Metternich? Qual seria a “linguagem”


utilizada nas relações entre os países a partir daquele momento? Em uma
palavra, cheia de significado, a Realpolitik.

Enquanto que o sistema de Viena havia mantido em cheque ambições dos


países por meio dos congressos e de um apelo “moral” aos membros, o fim da
legitimidade como princípio para o relacionamento entre as unidades políticas
faria com que a nova configuração fosse guiada pelas simples considerações
de poder – militar em especial. A partir de então, estabelecendo-se
definitivamente após 1871, seria o cálculo de força, e não princípios morais ou
de caráter religioso, o guia para a formação de alianças, para a definição dos

9
Idem, p. 124-125. Em tradução livre: “Os russos se sentiram profundamente humilhados pela
exclusão de suas forças navais do Mar Negro. Eles perceberam isso como uma afronta a seu
status de grande potência. Depois do acordo de Paris, o principal objetivo de sua política
externa foi livrarem-se dessa humilhação. Sob Nicolau I, a Rússia foi a guardiã do status quo
na Europa. (...) Depois de 1856, a manutenção da ordem na Europa foi relegada a segundo
plano. Isso foi uma profunda mudança, que significativamente alterou as relações da Rússia
com as outras potências. (...) Na década depois de 1841, eles [Reino Unido e Rússia]
trabalharam juntos para conter a ameaça francesa ao sistema de 1815. Na maioria dos
assuntos, as outras potências foram forçadas a seguir ou a liderança britânica ou russa. Nos
quinze anos após a guerra da Crimeia, britânicos e russos cessaram de cooperar;
consequentemente, eles deixaram de dominar a Europa.”
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momentos de ataque ou, em última análise, para a manutenção do equilíbrio
entre os Estados. Com a Realpolitik, uma versão atualizada da raison d’État de
Richelieu do século XVII, a linguagem do poder levaria adiante uma busca
incessante por manter o equilíbrio por meio da força militar – a chamada paz
armada que vingaria de 1871 a 1914.

Passemos então para algumas características do período após o fim do


sistema de Viena e então para as unificações italiana e alemã.

3. As relações entre os Estados entre 1856 a 1871


3.1 As características gerais

As alianças e os princípios estabelecidos no Congresso de Viena


mantiveram a Europa em relativa paz durante 40 anos. O temor de novas
guerras provinha não só do receio de mudanças que alterassem o equilíbrio de
poder, mas também da possibilidade de conflitos domésticos nas monarquias
mais tradicionais e conservadoras, particularmente pelo surgimento de
movimentos liberais e nacionalistas – que o digam a Áustria e os principados
italianos. Depois da guerra da Crimeia, no entanto, isso alterar-se-ia
substacialmente, com alguns líderes capitaneando esses fervores e
sentimentos ‘revolucionários’ em ações belicosas para alcançar seus objetivos
políticos. Assim, a guerra seria um meio de fortalecer os regimes
conservadores contra os inimigos internos, a lógica inversa do período pré-
1848.10 Neste sentido, seriam as monarquias mais tradicionais a revolucionar o
sistema de Estados neste momento!

A guerra deixou de ser vista como um grande perigo à estrutura social, mas
sim o meio pelo qual se alcançaria as alterações que a elite política
considerava importante. Neste momento histórico, não se vislumbrava na
Europa a possibilidade de uma conflagração generalizada que envolvesse
todas as potências. Os conflitos eram localizados e com finalidades muito
claras e pontuais

10
Idem, p. 126.
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Depois da assinatura da paz de 1856, a ideia de manutenção do status quo
a todo custo foi abandonada e em seu lugar foi criado um sistema “frouxo”, sem
amarras, que permitiu as mudanças territoriais que se seguiram. Era o fim das
alianças de longo prazo baseadas em princípios gerais. Agora chegava o
momento das alianças de curto prazo, agressivas e de objetivos claros. A paz
existiria enquanto ela fosse do interesse dos Estados, como afirmou o ministro
da Baviera em Viena já em 1857:

The cabinets want peace, because they and Europe require it,
and they work together in this direction at every opportunity, bur
more or less as their own interests demand and without having
ay common line in principle. That such a state of affairs is
precarious is quite obvious. Many things are left to chance,
many things to the boldness of one cabinet or another. The
peace has no firm basis; it will last only so long as it
remains a necessity for one power or another and so long
as interests do not come all to openly into conflict.11 (Grifo
nosso)

Sendo essas as características mais gerais do sistema, vamos ver como se


comportaram a Rússia, a França e a Grã-Bretanha nesse período (deixaremos
a Itália e a Prússia para comentários detalhados a parte).

A Rússia cessara de ser a “polícia” da Europa. Não só seu


comprometimento com a ordem Viena havia deixado de existir, como dito
acima, como também seus governantes perceberam as fraquezas russas em
face de seus adversários ocidentais. O poder militar russo já não era páreo
para lidar com as ameaças francesas ou britânicas. Economicamente também,
a Rússia não era capaz de investir tanto no exército quanto na marinha, ficando
à mercê da atuação marítima inglesa, à época bastante hostil aos russos.
Necessitando atuar em várias áreas internamente para dinamizar seu país
(como viria a fazê-lo com a abolição da servidão em 1861), o czar limitou sua
atuação internacional para a revisão do tratado de Paris, particularmente a
exclusão do Mar Negro.

11
Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 129. Em tradução livre: “Os gabinetes querem paz porque eles
e a Europa a necessitam e porque eles trabalham juntos nessa direção a cada oportunidade,
mas mais ou menos segundo seus interesses a demandam e sem haver qualquer princípio.
Que tal estado é precário é bastante óbvio. Muitas coisas são deixadas à sorte, muitas coisas
para a ousadia de um gabinete ou outro. A paz não tem base firme; ela durará enquanto ela
continuar uma necessidade para uma potência ou outra e enquanto interesses não se tornarem
abertamente conflituosos”.
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Não que a Rússia não tivesse importância nos jogos de poder entre os
Estados, mas sua vontade de vingança contra a Áustria e sua atitude pró-
Prússia a levariam a ficar à margem dos principais eventos que ocorreriam
próximos a sua fronteira. Suas atuações mais significativas externamente
seriam em direção ao Oriente e não ao Ocidente.

A França, por sua vez, embora tenha alcançado seu objetivo ao destruir o
concerto de 1815, não conseguiu a revisão dos territórios a oeste que
desejava. Tentou então, sem obter sucesso, uma entente entre a França, o
Reino Unido e a Rússia para controlar os assuntos e revisar o mapa europeu.
A desconfiança russa e a falta de interesse inglês fariam naufragar esse plano.

Devido a isso, forçaria sua mão novamente nas terras italianas, aliando-se
com o reino do Piemonte contra a Áustria, desencadeando um processo que
resultaria na unificação italiana. O que ele não esperava era que, tão logo a
Áustria fosse derrotada, o reino da Itália começaria a criar suas rusgas com o
Império francês – como se verá adiante.

Na sua contínua busca por prestígio e por comando dos assuntos europeus,
Napoleão III iniciaria um política voltada para o centro do continente em
flagrante desacordo com a tradição da política externa francesa: ao invés de
buscar as múltiplas independências da Alemanha, acabaria por precipitar um
movimento que resultaria na unificação alemã.

Tentou ainda expandir o Império para além-mar, forçando sua mão na


América ao instalar Maximiliano no México – um império que duraria pouco
tempo e cujo resultado foi desastroso – e expandir os territórios franceses na
África e na Ásia. Disso resultou que as forças francesas ficaram perigosamente
divididas em várias partes do mundo e na hora do conflito com a Prússia em
1870, fariam bastante falta.

O Reino Unido, depois da conferência de Paris, deixaria em segundo plano


seu papel de líder diretor do equilíbrio europeu, resignando-se a um
isolacionismo cada vez mais intenso, cuidando somente para que a Rússia não
se envolvesse em seus planos para o Oriente e que a França não avançasse
sobre a Bélgica – o grande sonho de Napoleão III. Esta recusa tácita em
imiscuir-se nos assuntos do continente permitiria a criação dos dois novos
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Estados que constituir-se-iam em grandes rivais, particularmente o Império
alemão. Quando se desse conta do que sua ausência havia causado, já seria
tarde demais.

De modo geral, esse seria o panorama até 1871. Você deve ter percebido
que deixamos a Áustria de fora. Isso porque ela está envolvida nas duas
guerras de unfiicação de que se falará agora.

3.2 A Unificação italiana – obra de Cavour

A unificação italiana esteve inserida em um complexo jogo de interesses por


parte das principais nações europeias e de reinos e possessões estrangeiras
internas à península italiana. O interesse nacionalista em torno da unificação
italiana, também conhecida como Risorgimento, remonta-se às consequências
diretas para a estabilidade da região advindas do pós-Congresso de Viena,
avançando até os anos de 1870-71, momento em que o Reino da Itália se
consolidaria em ocasião da Guerra Franco-Prussiana e da tomada de Roma.

O Congresso de Viena, conforme analisado na aula anterior, teve por


objetivo a reorganização da Europa pós-napoleônica, por meio da consolidação
de um concerto europeu que privilegiasse a política de alianças e a repartição
de poderes entre as principais nações europeias, firmadas, sob a égide da
Quádrupla Aliança, em torno da Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e, mais
tarde, também a França.

O concerto de Viena, liderado pelo austríaco Metternich, conseguiu lograr


relativo êxito entre 1815 e a década de 1850, a despeito das ranhuras
apresentadas pelas jornadas revolucionárias de 1820, 1830. Não obstante, a
“primavera dos povos” de 1848, conforme já visto, consolidou os nacionalismos
continentais como parte preponderante da política europeia, o que determinaria
nos anos seguintes os interesses divergentes entre as nações aliadas.

A divisão da península itálica remonta a séculos de ocupação por parte de


diferentes povos ao longo de quase dois milênios de história. Ocupada ao
longo dos anos por romanos, germânicos e descendentes dos primeiros
habitantes da região, a península desenvolveu-se segundo uma preponderante
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heterogeneidade cultural, alavancadas segundo a distância territorial, o que
pode ser percebido ainda na atualidade quando se compara o norte e o sul da
Itália. Todavia, os habitantes da península compartilhavam traços linguísticos
em comum (o que não significa dizer a mesma língua) remontados ao italiano
ali falado há séculos, bem como tradições e costumes similares. Porém, cabe à
religião católica, assentada em torno de Roma, sede do papado ocidental, o fio
condutor que ajudou a cimentar os vínculos culturais entre os diferentes
territórios italianos.

No início do século XIX, em ocasião das guerras napoleônicas, a região foi


amplamente envolvida nos interesses franceses, os quais levaram à formação
de reinos favoráveis a Napoleão, o qual coroou no trono do Reino de Nápoles o
seu próprio irmão, José Bonaparte. Derrotado Napoleão, e formada a Santa
Aliança em 1815, o território italiano foi reestruturado segundo as mesmas
prerrogativas do Congresso de Viena, as quais se assentavam no
reestabelecimento da tradição monárquica anterior a Napoleão.

Além de re-empossar as dinastias derrubadas com as guerras


napoleônicas, o Congresso de Viena dividiu o território italiano de modo a
balancear os interesses estrangeiros sobre a península. O norte da Itália, a se
dizer, a Lombardia, o Vêneto, a Istria, Parma e Piacenza, Módena e Toscana,
ficaram sob domínio e gerência da Áustria. O restante do território foi dividido
entre os Reinos de Sardenha, governado pela casa de Savóia, o Reino das
Duas Sicílias, governado pelos Bourbons, e os Estados Pontifícios, sob a
autoridade do Romano Pontífice, cuja capital era Roma.
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Península itálica entre 1815-1859

Grande parte dos territórios italianos constituídos sob o concerto europeu


de 1815 foram governados por casas reais estrangeiras, as quais não gozavam
de popularidade entre os habitantes locais. No início de 1820 houve o
surgimento de diferentes sociedades secretas envolvidas em torno da defesa
da autonomia política da Itália, sociedades estas que orbitavam entre os ideais
maçônicos e republicanos, como a Carbonária, criada pelo general francês e
cunhado de Napoleão Bonaparte, Joaquim Murat, em Nápoles, e o ideal de
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constituição de uma Itália monárquica sob o governo temporal do papado, o
que foi defendido pelos neoguelfos, liderados por Vincenzo Gioberti.

Um ponto em comum entre estas sociedades secretas foi, apesar das


diferentes inclinações políticas e ideológicas, a defesa de uma Itália unificada.
No entanto, suas pretensões não conseguiram atingir o apelo popular,
restringindo-se a poucos grupos ligados às elites locais, sobretudo em Nápoles
e na Sicília. Foi Giuseppe Mazzini, antigo carbonário que, após uma prisão por
agitação revolucionária em 1831, passou a advogar pelo envolvimento de
populares nas pretensões revolucionárias em voga.

Os levantes de 1848, que atingiram grande parte da Europa, deram início


de facto à luta pela unificação italiana. Neste mesmo ano, Mazzini deu início ao
movimento Giovine Italia12, o qual contou com o apoio de expoentes políticos
como Giuseppe Garibaldi, que compôs por pouco tempo a organização. As
pretensões da Jovem Itália foram amplamente apoiadas pelo rei Carlos Alberto,
do Reino da Sardenha, o qual, por inclinação liberal e nacionalista, apoiou
militarmente os revolucionários, declarando guerra contra a Áustria neste
mesmo ano, sendo, no entanto, derrotado e levado a abdicar do trono em favor
de seu filho, Vitor Emanuel II.

Um dos principais aportes ideológicos do nacionalismo italiano verificado


nas jornadas de 1848 foi o jornal Il Risorgimento, fundado pelo piemontês
Camilo Benso, o conde de Cavour. Sua influência sobre o movimento
revolucionário foi tamanha que se atribui aos seus escritos a principal fonte de
inspiração do rei Carlos Alberto na declaração de guerra à Áustria, bem como
da luta em outras áreas da Itália, que em 1848 chegou a ter inúmeras
insurreições declarando diferentes repúblicas, como a República romana, que
seria afogada, assim como as demais, por uma coalização de forças oriundas
das monarquias católicas da França, Espanha e Áustria.

O conde de Cavour se destacou como o principal artífice da unificação


italiana, graças a sua ampla formação intelectual, seu ímpeto político e sua
tenaz capacidade de articulação diplomática. Cavour viajara em sua juventude
por toda a Europa, tendo frequentado os melhores institutos educacionais, o

12
T J I
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que fora possível graças a sua herança aristocrática. Em suas viagens, o
conde se enamorara pelo sistema político britânico, e buscara desde então
articular a consolidação de um sistema liberal que pudesse tornar possível a
modernização política e econômica da Itália.

O principal empecilho, em sua opinião, para a consolidação de sua


estratégia de modernização era a falta de coesão política entre os diferentes
territórios italianos, deflagrado pelo constante intervencionismo estrangeiro nos
assuntos internos da região, sobretudo por parte da Áustria. As derrotas
sofridas, ao término de 1848, pelos nacionalistas italianos não foram
interpretadas como algo definitivo pelo conde, o qual percebera, pelos rumos
tomados, que a causa unificadora necessitava de um Estado forte a conduzi-la,
e, principalmente, do apoio de aliados externos. Ele buscaria implementar uma
arrojada e intricada política externa favorável à causa a partir de 1852, quando
foi convidado pelo rei Vítor Emanuel II da Sardenha a assumir o cargo de
Primeiro-Ministro. Seu principal objetivo seria a mobilização internacional à
questão italiana, pois:

(...) the realist Cavour was always acutely aware of the futility of
the doctrine of “Italia farà da sé”. To him, the lesson of 1848-49
was all too clear: unless some external power could be enlisted
to defeat the Austrian army, there could be no hope of
challenging the order of 1815 in Italy.13

Como presidente do Conselho do Reino da Sardenha (Primeiro-Ministro),


Cavour deu início a uma série de largas reformas políticas e econômicas na
região, melhorando a agricultura local, investindo na expansão da indústria,
sobretudo na área de têxteis, ampliando o comércio com outras áreas da Itália
e com outros países. Suas reformas tinham por objetivo colocar em prática as
ideias que havia muito gestara em sua mente, sobretudo como um espaço de
treinamento para algo maior: levar as mudanças para toda a Itália, sob a égide
da coroa da casa de Saboia.

13
Bridge; Bullen, 2005, p. 139. Em tradução livre: “O realista Cavour sempre esteve consciente
sobre a futilidade da doutrina de "Italia farà da sé". Para ele, a lição de 1848-49 era muito clara:
a menos que algum poder externo pudesse ser alistado para derrotar o exército austríaco, não
poderia haver nenhuma esperança de desafiar a ordem de 1815 em Itália”.
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Como dito, Cavour bem sabia que os reinos italianos não eram, por si
próprios, suficientes para expulsar os austríacos dos territórios do norte, e este
deveria ser o primeiro alvo da Sardenha, antes que pudesse mirar o sul, sob
influência francesa. No passado, Napoleão desmontara a península de modo a
diminuir a capacidade de organização regional, evitando, portanto, o
surgimento de um reino poderoso capaz de disputar a hegemonia local. A
mesma estrutura, com ligeiras mudanças, manteve-se no concerto de Viena, o
que não fora até então questionado.

Ocorre que a Guerra da Criméia, da qual já falamos, abriu um novo


horizonte de expectativas para as pretensões de Cavour. Ele ponderara que o
auxílio à coligação franco-britânica poderia suscitar na comunidade
internacional o auxílio de que necessitava. Terminada a guerra em 1856, com a
vitória da coligação, o Reino da Sardenha cresceu em estima junto ao
Imperador Napoleão III, em detrimento de um enfraquecimento gradual da
Áustria. O imperador francês analisava que um apoio à Itália poderia significar
um enfraquecimento ainda maior da influência austríaca e, consequentemente,
do próprio concerto europeu, já desestruturado por conta da guerra, ainda que
não percebesse que com isso acabaria fortalecendo o poder da Prússia na
comunidade germânica.

Em 1858, Napoleão III e o conde Cavour se encontraram para debater a


questão da presença austríaca no norte da Itália, e deste encontro surgiu o
Pacto de Plombières, pelo qual firmava-se o apoio francês à Sardenha em caso
de ataque externo oriundo da Áustria. Pelo pacto, a França reconhecia a causa
italiana e aceitava a criação de um Reino da Itália, no entanto, este reino
deveria abranger as regiões da Lombardia, Veneza, dos ducados de Parma e
Modena e o norte dos Estados Pontifícios. No centro da península formar-se-ia
um novo reino sob a proteção de Napoleão, em torno do ducado da Toscana,
enquanto que o restante dos territórios papais e o Reino das Duas Sicílias
permaneceriam em seus lugares. Ademais, todo o território das províncias de
Saboia e Nice seria entregue à França em pagamento por seu auxílio militar.14

14
Idem, p. 138.
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O acordo correspondia exatamente aos interesses de Napoleão:
primeiramente, ajudaria a desmantelar ainda mais a influência austríaca no
concerto europeu, em segundo lugar conseguiria construir mais um reino
vizinho leal à coroa francesa, sem que, para tanto, este reino pudesse significar
um perigo para os interesses franceses. Este era o principal objetivo de
Napoleão em não aceitar uma completa unificação da península itálica sob
uma mesma coroa. De certo, este acordo não correspondia aos interesses
originais de Cavour, o qual advogava pela plena unificação, porém, ao menos
por ora, representaria uma grande ajuda para os nacionalistas.

Entusiasmado pela vitória no campo diplomático, Cavour logo tratou de


buscar “animar” o exército austríaco a atacar os seus exércitos, o que
conseguiria em 1859, por meio de uma série de manobras militares nas
fronteiras com a Áustria, a qual respondera com um ultimato ao rei Vítor
Emanuel II, que acabou por ser ignorado. O prestígio do governo austríaco,
tópico do qual já falamos, impelia-os ao ataque, o que afastava dos austríacos
qualquer chance de apoio por meio de uma coalização internacional baseada
nos tratados do Congresso de Viena, uma vez que o ataque fora desferido por
ela e não pela Sardenha.

Napoleão III, honrando o pacto firmado, enviou uma tropa de 100 mil
soldados para a Sardenha, a fim de combater as forças austríacas.
Transcorridas as batalhas, com sucessivas derrotas, os austríacos decidiram
firmar um armistício com os franceses. Napoleão, por sua vez, estava
impaciente com os rumos inesperados que a participação francesa na guerra
gerou dentre os católicos franceses, que protestavam contra o imperador
devido aos ataques desferidos nos territórios sob controle do Papa (vale
lembrar que os franceses ainda eram, em sua ampla maioria, católicos
romanos), e temia que a continuação da guerra pudesse levar os protestos a
virarem uma revolução. Havia ainda um amargo tempero na caldeira francesa:
a possibilidade de apoio prussiano à Áustria, o qual fora oferecido em troca de
um maior protagonismo prussiano dentro da Confederação germânica.

Em resposta a estes problemas, Napoleão assinou em 11 de julho de 1859


o armistício de Villafranca com a Áustria, por meio do qual a França receberia
desta o controle da Lombardia, que seria passada para a Sardenha, enquanto
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que os reinos e ducados centrais da Itália voltariam a ter os seus governos
reestabelecidos. A atitude de Napoleão, que feria gravemente o Pacto de
Plombières, foi amplamente contestada por Cavour e pelo rei Vítor Emanuel,
mas sem gerar nenhuma comoção por parte da França. A desilusão levou
Cavour a demitir-se do cargo de Primeiro-Ministro, o qual voltaria a ocupar em
breve. Nesse interregno, o rei Vítor Emanuel se viu obrigado a ratificar o
armistício por meio do Tratado de Zurique.

A França, apesar das aparências, nada ganhara com o armistício. Napoleão


logo se viu entre a cruz e a espada: por um lado, ela sabia que não poderia
exigir os territórios de Nice e Saboia, conforme previsto no pacto original com a
Sardenha, uma vez que a guerra foi interrompida, e por outro, não havia
justificativa para a participação francesa nos eventos militares na Itália sem que
os franceses tivessem ganho nenhuma vantagem com a guerra.

Esta foi uma das primeiras grandes derrotas diplomáticas de Napoleão III,
que, no entanto, acabou por ser amenizada graças a um acordo vantajoso para
franceses e sardo-piamonteses: Cavour, novamente empossado como
Primeiro-Ministro, prometeu entregar Nice e Saboia à França, caso Napoleão
apoiasse a anexação dos territórios centrais da Itália pela Sardenha, o que fora
referendado mediante uma série de plebiscitos votados nessas regiões
miradas, todos favoráveis, no fim, à anexação. Para resgatar um pouco de seu
prestígio, Napoleão III decidiu aceitar o acordo. Como se não bastasse, os
recentes eventos haviam chamado a atenção do ingleses para a causa italiana,
a qual passaram a defender de forma integral, de modo a contrabalancear o
protagonismo francês na península.

Os prestígios do rei Vítor Emanuel II e do conde de Cavour cresceram


enormemente entre os nacionalistas italianos após os eventos de 1860,
servindo de combustível para a consolidação do objetivo inicial do conde: a
plena unificação da península italiana sob a liderança da Sardenha. Em abril de
1860, Giuseppe Garibaldi liderou, com o apoio de Cavour, uma insurreição
dentro do Reino das Duas Sicílias, logrando êxito após poucos meses de
batalha, na qual fora apoiado militarmente pelas tropas da Sardenha. O rei
Vítor Emanuel aproveitara o levante de Garibaldi para marchar sobre os
Estados Pontifícios, dominando-os quase por completo. Assim, em 1861, além
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dos Estados Pontifícios (à exceção de Roma), anexava-se também à Sardenha
o Reino das Duas Sicílias. Em 17 de março de 1861, Vítor Emanuel II era
coroado rei da Itália.

O conde de Cavour se tornou o Primeiro-Ministro do novo Reino da Itália


ainda em fevereiro de 1861, no entanto, ocupou o cargo por apenas quatro
meses, falecendo em junho de 1861, em meio às negociações pela anexação
do Vêneto, sob controle da Áustria, e de Roma, ainda sob o cetro papal, à
Itália. O Vêneto acabou por ser anexado em 1868, graças à derrota austríaca
na guerra austro-prussiana de 1866, que foi vencida pelas tropas prussianas,
apoiadas pelos italianos, e pela qual receberam, por apoio prussiano, a região
do Vêneto.

Cavour

Ainda faltava a cereja do bolo, pois a cidade eterna permanecia alheia às


constantes tentativas de anexação por parte da Itália. Em 1862, Garibaldi
conduziu as tropas italianas até Roma, porém foi rechaçado da cidade,
sobretudo graças ao apoio dos romanos ao governo papal. A tentativa de uma
nova anexação em 1867, que a priori fora bem-sucedida, gerou grande
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comoção entre os católicos franceses, levando Napoleão III a enviar tropas
para expulsar os italianos e recolocar o Papa no poder.

Ocorre que em 1870, com a deflagração da guerra Franco-Prussiana,


Napoleão necessitou enviar as tropas francesas presentes em Roma para o
campo de batalha, desguarnecendo as muralhas de Roma e abrindo o flanco
romano para a invasão italiana, que sairia vitoriosa em 20 de setembro de
1870. O rei Vítor Emanuel buscou oferecer, em 1871, uma indenização ao
Papa Pio IX pela perda dos territórios, o que foi rechaçado veementemente
pelo Sumo Pontífice, devido a agressiva invasão italiana nos territórios
pontifícios. O Papa permaneceu enclausurado no Vaticano desde então,
declarando-se um prisioneiro do Reino da Itália. Assim se inaugurou a
chamada “Questão Romana”, que somente veio a ser resolvida em 1929, por
meio da Concordata de São João Latrão, assinada por Benito Mussolini e o
Papa Pio XI, por meio da qual o Estado italiano reconhecia a soberania do
Estado do Vaticano.

Mapa com as datas das anexações italianas pelo Piemonte-Sardenha


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Roma se tornou a nova capital do Reino da Itália entre 1870-71, e este
evento marcou o fim do Risorgimento. Graças à inteligência política e tenaz
ação diplomática do conde de Cavour, o antigo sonho dos nacionalistas
carbonários, evoluída desde a década de 1820, pôde concretizar-se em um
Estado italiano unificado, sob a égide da coroa de Saboia e do antigo Reino da
Sardenha, conforme fora pensado por aquele. Cavour conseguiu entender, e
assim soube respeitar, o pragmatismo diplomático de um mundo em enérgica
mudança. Cabe a ele, certamente, o mérito pela capacidade de ação
compartilhada com os interesses concretos de outras nações, sedentas pelo
protagonismo regional. Ademais, foi ele o principal responsável por dar uma
causa em comum, bem como os instrumentos necessários, aos diferentes
movimentos nacionalistas espalhados pela Península. Tal como Cavour, do
outro lado do Reno, no mesmo ano da capitulação de Roma, findava-se a
guerra franco-prussiana, por meio da qual se erigia mais um Estado forjado sob
a excelência do pensamento de um visionário político, chamado Otto von
Bismarck.

3.3 A Unificação alemã – obra de Bismarck

Para compreendermos o processo de unificação alemã, devemos voltar um


pouco na história do território da Europa centrl para colocar as problemáticas
enfrentadas por Bismarck para unificar o que chamamos hoje de Alemanha.

O centro da Europa fora um território fragmentado, com múltiplos Estados


que variavam muito de tamanho entre os séculos XIV-XIX. Organizados por um
sistema político pouco centralizado – o Sacro-Império Romano Germânico de
que falamos antes – as várias unidades políticas germânicas eram bastante
ciosas de suas independências apesar de se sentirem parte de um mesmo
povo e compartilhadores de uma mesma cultura.
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Sacro-Império em 1789

Essa preocupação com a independência tornou-se mais aguda com a


Reforma Protestante. Principados luteranos ou calvinistas não aceitavam a
hegemonia ou controle de Estados católicos (o caso do sacro-imperador da
casa de Habsburgo) e vice-versa (como quase aconteceu quando um príncipe
calvinista ganhou o apoio de metade dos votos para se tornar imperador no
século XVII). Esta cisão levaria à Guerra dos 30 Anos entre os estados
luteranos e o imperador católico, cuja paz estabeleceu os princípios da política
externa na Europa e no centro europeu em particular até o século XIX.

Que princípio era esse? Como mencionado anteriormente por algumas


vezes, a paz de Westphalia de 1648 estabeleceu, sob orientação francesa de
Richelieu, uma “Alemanha” dividida em múltiplas unidades e com o poder
imperial bastante diminuído frente aos príncipes. Este sistema foi pensado para
que, pelo “bem do equilíbrio” – leia-se para o conforto francês de não ter um
vizinho poderoso –, não houvesse um poder centralizado no Sacro-Império
capaz de subjugar os demais países europeus.
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Uma mudança significativa, mas ainda não mortal para o Sacro-Império, foi
a criação do reino da Prússia em 1701 após conquistas alemãs para o leste em
direção ao mar Báltico. Esse reino, que surgiu pelas conquistas territoriais do
duque de Brandenburgo, rapidamente se tornou uma potência europeia pela
capacidade econômica e, particularmente, pelo poderio militar. Sua hierarquia
social rígida associada a um grande exército levaria Mirabeau a dizer que:
“Prússia, não é um Estado com um exército, mas um exército com um Estado”.
A Prússia se tornaria a principal rival da Áustria pela hegemonia entre os
principados germânicos a partir do século XVIII.

Essa realidade permaneceu pouco alterada até o advento da Revolução


Francesa (como quase tudo de que falamos até aqui). Com a subida de
Napoleão ao poder e sua tentativa de conquistar a Europa, houve uma
mudança definitiva no mapa europeu: o fim do Sacro-Império. Em 1806, o
então imperador Francisco II (Franz I da Áustria), depois de derrota desastrosa
para o exército francês em Austerlitz e da criação da Confederação do Reno,
abdicou da coroa imperial e assumiu somente a coroa da Áustria e dos reinos
sob controle austríaco.

Como vimos na aula passada, com o Congresso de Viena, o mapa do


centro europeu não voltou a ser exatamente o que fora antes de Napoleão.
Para relembrarmos, de centenas de unidades políticas, reduziu-se a pouco
mais de 30 principados. No lugar do Sacro-Império, criou-se a Confederação
Germânica, que abarcava todas os Estados alemães, incluso a parte
germânica da Áustria. A Confederação tinha propósito defensivo, e não
ofensivo, e deveria ser um buffer contra outras possíveis invasões francesas.

Os dois maiores Estados da confederação eram a Áustria e a Prússia. A


liderança era da Áustria, tal como fora a coroa de Kaiser durante, pelo menos,
dois séculos. Esta liderança, no entanto, já não era inconteste e a Prússia
buscou, ao longo do século XIX, tomar a dianteira nos assuntos alemães.

Para realizar este intento, a Prússia decidiu “atacar” o front econômico.


Criou assim na década de 1830, o Zollverein, uma união aduaneira com os
principados alemães, excluindo o império austríaco. A proposta era realizar
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uma integração econômica entre estes Estados, forçando-os a uma
interdependência econômica, mas particularmente atrelada à Prússia.

Mapa do Zollverein

A rivalidade alcançaria maiores proporções após a subida de Bismarck ao


poder na Prússia em 1862. Havia naquele momento histórico dois principais
projetos de unidade alemã: a grande Alemanha e a pequena Alemanha. O
primeiro, envolvia a Áustria e era defendida por ela e pelo papado. O plano era
ampliar a Confederação Germânica, expandindo para todo o domínio do
Império Austro-Húngaro, tendo Viena um poder dominante. Para o imperador
Fransciso José (Franz Joseph), o ideal político era a de uma Confederação que
assumisse a unidade (mas não a unificação) da Alemanha, com liderança
austríaca secundada pela Prússia. O projeto da pequena Alemanha excluía a
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Áustria e dava preponderância para a Prússia com o propósito de unficação
sob a direção de um só governo.15

Como falamos repetidas vezes, as coisas começaram a serem alteradas no


concerto de Viena após 1856. Tendo a Áustria abandonado a aliança com a
Rússia e a Prússia tendo reafirmado seus laços com o czar, o status quo
estava à beira do colapso.

Relembrando as palavras do embaixador bávaro, a paz era mantida na


Europa somente enquanto os gabinetes considerassem isso necessário. Com
Bismarck à frente do Estado prussiano, a paz já não seria desejada. O
chanceler alemão sabia que aquele momento histórico era favorável à
unificação alemã pela Prússia, embora isso não pudesse ser feito de uma vez.
Em suma, o chanceler sabia o que deveria fazer para alcançar seus objetivos e
isso implicava enfraquecer a já cambaleante Áustria.

Esse poderio econômico e militar prussiano, no entanto, não transformar-


se-ia facilmente em poder político:

Her bullying of the other members of the Zollverein was much


resented in the middle states; and the absence of Prussia alone
from the Frankfort festivities only underscored her isolation from
the centers of political power within the Confederation. Indeed,
whatever esteem Prussia May have enjoyed among elements
of the commercial and military élites, she was undoubtedly less
highly regarded than Austria in the eyes of the German opinion
generally. There liberal views prevailed and since the advent of
Bismarck to power Prussia was increasingly regarded as a
reactionary, militaristic state. Of the two popular organizations
set up in the late 1850s to promote German unit, the
großdeutsch Reformverein, which looked to Vienna and saw in
the leadership of Germany by a multinational empire a
guarantee of the multifaceted diversity of German political life,
was making great strides. (…) Altogether, therefore, insofar as
Austria’s position in the Confederation was a ‘German’ affair,
the leading role she had enjoyed since 1815 seemed secure. 16

15
Bridge; Bullen, 2005, p. 146-147.
VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato : história mundial contemporânea (1776-
1991) : da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG,
2012, p. 90.
16
Bridge; Bullen, 2005, p. 146. Em tradução livre: “A sua intimidação contra os demais
membros do Zollverein era muito ressentido pelos Estados centrais; e a ausência única da
Prússia das festividades de Frankfurt somente ressaltou seu isolamento dos centros de poder
político da Confederação. De fato, qualquer estima de que ela gozasse entre os membros das
elites comerciais e militares, ela era sem dúvida menos bem vista que a Áustria aos olhos da
opinião alemã em geral. Nesta, as opiniões liberais, prevaleciam e, desde o advento de
Bismarck ao poder, a Prússia era cada vez mais percebida como um Estado reacionário e
militarista. De duas organizações populares instaladas no fim da década de 1850 para
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Manter essa chefia da Confederação parecia ser cada vez mais difícil para
a Áustria, abandonada como estava de aliados. Afastou-se de seus aliados
tradicionais quando da guerra da Crimeia, no entanto, não conseguiu se
aproximar das potências a oeste na medida em que não aceitava as mudanças
que se operavam nem estava preparada para ceder à pressões estrangeiras,
como o caso do pedido francês para a cessão de Veneza para os italianos. Os
austríacos se apegavam aos princípios legitimistas, uma vez que somente isso
poderia manter a monarquia em pé. Como afirmou o ministro das relações
exteriores ao embaixador inglês:

What was the Austrian Monarchy? It was an empire of


nationalities. If she gave up Venetia today to please King Victor
Emmanuel… where would his ambition lead him? Would he rest
satisfied before he had wrested all the Austrian possessions in
the Adriatic from their rightful owner? ... The prince of
Hohenzollern might some day find out that there was a
considerable Romanian population in Transylvania, and that
therefore it would be right that it should be added to Moldo-
Wallachia. The prince of Serbia might also claim the Serbs in
Austria… in fact, … we are determined to take our position in
defence of our principles and our rights, which are based on
treaties, and if war should be the consequence, we shall do our
best to protect the various possessions and interests of which
the Empire is composed.17

A situação começaria a mudar na relação Áustria-Prússia na Confederação


na década de 1860, com o problema da Dinamarca e dos dois ducados
Schleswig-Holstein.

Estes dois ducados eram soberanos, mas governados pelos reis


dinamarqueses desde o fim da Idade Média por meio de união pessoal (ou
seja, ele era rei da Dinamarca e duque de Schleswig – um feudo dinamarquês
– e de Holstein – um feudo alemão –, cada um desses ducados com leis

promover a unidade alemã, a großdeutsch Reformverein, que olhava para Viena e viu na
liderança da Alemana por um império multinacional uma garantia de uma diversidade
multifacetada da vida política alemã, caminhava a passos largos; (...) No conjunto, assim, na
medida em que a posição da Áustria na Confederação era uma assunto ‘alemão’, seu papel de
liderança desde 1815 parecia segura.”
17
Idem, p. 150. Em tradução livre: “O que era a monarquia austríaca? Era um império de
nacionalidades. Se ela entregasse Veneza hoje para agradar o rei Victor Emmanuel... onde sua
ambição o levaria? Ficaria ele satisfeito antes que tivesse tomado todas as possessões
austríacas no Adriático de seu dono legal? ... O príncipe de Hohenzollern pode um dia achar
que havia uma considerável população romena na Transilvânia e que, portanto, seria de direito
que ela fosse adicionada a Moldo-Valáquia. O príncipe da Sérvia pode igualmente reivindicar
os sérvios da Áustria... de fato,... nós estamos determinados a mantermos nossa posição em
defesa de nossos princípios e direitos, que são baseados em tratados, e se a guerra for a
consequência, nós faremos nosso melhor para proteger as várias possessões e interesses dos
quais o Império é composto.”
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sucessórias diferentes). O Schleswig era de maioria dinamarquesa e o Holstein
de maioria alemã e parte do Sacro-Império. Por um tratado de 1460, os dois
ducados não poderiam ser separados. Depois da Revolução de 1848, o rei
dinamarquês promulgou uma constituição comum à Dinamarca e aos ducados,
o que levou a um movimento separatista nestes. O movimento foi apoiado pela
Prússia numa guerra, mas que resultou numa paz de status quo em 1851 após
intervenção das demais potências.

Holstein (amarelo) e Schleswig (marrom e vermelho claro) na península da Jutlândia

Situação similar ocorreria em 1863-1864. Os liberais dinamarqueses


pressionariam o rei para a promulgação de uma nova constituição para o reino
e para os ducados. Só que dessa vez, os arranjos de Viena já não mais
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impediram a atuação da Prússia e da Áustria, que decidiram envolver-se para
resolver a situação deixada sem solução em 1851.

Numa guerra rápida e bem localizada, as duas potências germânicas


liquidaram rapidamente a vizinha escandinava e tomaram controle dos dois
ducados. Na paz acertada em 1864, a administração dos dois ducados seria
compartilhada, a Prússia com Schleswig e a Áustria com Holstein. Esse arranjo
mostrar-se-ia péssimo para a Áustria, já que poucos anos depois levaria a uma
guerra entre Prússia e Áustria.

A guerra dos ducados seria uma amostra das guerras localizadas que
ocorreriam sem intervenção das potências – uma situação possível após o
desmanche do sistema de Metternich. A entrada da Áustria na guerra com a
Prússia, que não havia acontecido anteriormente, significava uma luta para se
manter a frente dos assuntos alemães. Incapaz de evitar um conflito e a vitória
da Prússia sozinha, preferiu adentrar as hostilidades de modo a participar
também das negociações de paz. Além do mais, para os austríacos, a guerra
foi percebida como a concretização de seus ideais de política externa: uma
aliança conservadora e legitimista contra a Revolução (liberal neste caso).

Para as potências não-germânicas, a guerra não foi vista como um perigo


ao equilíbrio de poder. Para o czar russo, a vitória do legitimismo perpetrada
por seu tio prussiano foi um alívio por ser a derrota dos princípios
revolucionários. Já o imperador francês não tinha muito o que fazer: seus
exércitos estavam atuando na Argélia e no México, incapacitando-o para
influenciar os acontecimentos alemães. Os britânicos, por outro lado, não
possuíam uma força terrestre significativa para se opor aos exércitos
germânicos – Bismarck afirmou que caso o exército inglês descesse em solo
alemão mandaria a polícia prussiana prendê-lo.18 E mesmo que tivessem, para
a política externa inglesa, uma vitória prussiana, embora ruim para a
Dinamarca, seria boa para a Europa como um todo. Por incrível que nos
pareça hoje, o gabinete inglês achava que seria melhor uma Alemanha forte
contra as potências ‘agressivas’ da Rússia e da França, como afirmou
Palmerston:

18
Idem, p. 152.
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As to France, we know how restless and aggressive she is, and
how ready to break loose for Belgium, for the Rhine, for
anything she would be likely to get without too great exertion.
As to Russia, she will in due time become a Power almost as
great as the old Roman empire. She can become mistress of
Asia, except British India, whenever she chooses to take it.
Germany ought to be strong in order to resist Russian
aggression, and a strong Prussia is essential to German
strength.19

Neste contexto, não havia saída para os dinamarquese que não ceder às
pressões de seus vizinhos germânicos. Mas a vitória deles significou a abertura
de nova rodada de problemas no centro europeu. Bismarck passaria,
rapidamente, a planejar os meios de rever a situação da Alemanha, buscando
um meio de retirar a Áustria de lá. A diplomacia, no entanto, não parecia ser o
caminho para Bismarck. Como dito anteriormente, a Áustria era mais bem vista
por vários setores e principados alemães, isto é, a vantagem na luta
diplomática estava ao lado dos austríacos. Assim sendo, a solução deveria
passar pelas armas.

A administração dos ducados foi o pretexto. Bismarck utilizar-se-ia de


alguns problemas da administração deles para iniciar problemas com a Áustria.
Para resolver os problemas, foram convocadas reuniões da Confederação em
Frankfurt. Nessas reuniões, não houve apoio à posição prussiana, que pedia o
controle completo dos ducados. Em face da derrota diplomática, já esperada,
os prussianos se retiraram do congresso e iniciaram as hostilidades contra a
Áustria e seus aliados.

A derrocada austríaca foi completa. Pressionada em várias frentes, seu


exército foi rapidamente derrotado e as intenções prussianas forçadas. Os
principados foram anexados, a confederação abolida, território alemão da
Áustria conquistado e vários aliados da Áustria passaram a ficar sob controle
da Prússia. Os quatro estados do sul alemão foram organizado numa
Confederação do Sul.

Idem. Em tradução livre: “Em relação à França, nós sabemos como inquieta e agressiva ela
1919

é e como está pronta para se libertar para tomar a Bélgica, o Reno, qualquer coisa que ela
conseguiria sem muito esforço. Em relação à Rússia, ela irá, em tempo adequado, tornar-se
uma potência tão grande quanto o antigo Império Romano. Ela pode se tornar senhora da Ásia,
exceto a Índia inglesa, quando ela escolher tomá-la. A Alemanha deve ser forte para resistir à
agressão russa e uma Prússia forte é essencial para a força alemã.”
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Guerra Austro-prussiana: Lado austríaco: vermelho e rosa; Lado prussiano: azul


escuro e azul claro; Neutros: verde; Schleswig-Holstein: amarelo

As questões mais impressionantes da guerra austro-prussiana foram: 1)


como a Áustria conseguiu manter-se por tanto tempo nesta condição de líder
da Confederação Alemã? 2) Por que a França não interviu para evitar a
hegemonia prussiana na Alemanha?

Em relação à primeira pergunta, o problema austríaco era o de que as


questões políticas alemãs tornavam-se sempre questões concernentes a todo
o continente, tal como ocorrera em 1618 e depois desde 1815 até 1864. Como
vimos, os russos deixaram de apoiar a Áustria e passaram a criar laços mais
estreitos com sua rival, a Prússia. O governo tory da Inglaterra, já distante há
um tempo dos assuntos continentais, estava focado em lidar com questões fora
do continente europeu e incapaz de intervir na Alemanha, tanto quanto não
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pudera auxiliar a Dinamarca anos antes. A Áustria fora capaz de manter uma
posição de liderança da Confederação germânica porque as demais potências
a permitiram e endossaram. Na medida em que o sistema europeu de Viena
fracassara, os austríacos se viram sozinhos – e incapazes – na manutenção
dessa posição.

Certamente pareceu estranho aos que acompanhavam as relações


exteriores dos países europeus naquele momento a inação francesa
relativamente ao que acontecia em seus territórios vizinhos. Como falamos
algumas vezes, desde o século XVII, a política francesa face ao centro europeu
era o de manter diferentes independências de modo a garantir a segurança das
fronteiras do reino.

No entanto, Napoleão III não agiu para evitar a hegemonia prussiana em


território alemão. Por quê? Alguns motivos podem ser elencados. Em primeiro
lugar, devemos recordar a rivalidade austro-francesa. Napoleão queria uma
Áustria enfraquecida porque ela fora uma das artífices do sistema de 1815. Em
segundo lugar, o imperador francês imaginava que, numa guerra entre Prússia
e Áustria, esta última teria vantagem e que caso fosse necessário intervir, seria
ao lado dos prussianos. Em terceiro lugar, Bismarck deu a entender a
Napoleão que o apoiaria numa possível tomada da Bélgica e uma revisão do
mapa europeu – o grande sonho do imperador francês, mas que não ocorreu.
Em quarto lugar, Napoleão considerava a Confederação Germânica como uma
instituição criada para opor-se aos interesses franceses. Logo, sua derrocada
era, para ele, uma vantagem política. Em quinto lugar, sua percepção era a de
que uma guerra que enfraquecesse as duas principais potências da Alemanha
permitiria que ele expandisse a influência francesa no território da Europa
central.

Napoleão III não poderia estar mais errado. Sua neutralidade tornou
possível a derrocada completa da Áustria e hegemonia da Prússia. A
unificação alemã estava a um passo de concretizar-se e em grande medida
graças à inatividade dos franceses.

A vitória de Bismarck, embora significativa, não resultou, nem parecia


aos contemporâneos que resultaria, na unificação. Após a organização da nova
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configuração alemã – com a Confederação do norte e a aliança defensiva entre
esta e os estados do sul alemão – Bismarck se viu em problemas para juntar o
norte e o sul alemão. Isso por alguns motivos. Como dissemos anteriormente,
os estados alemães eram bastante ciosos de sua independência. Não
adeririam livremente ao comando de uma casa real. Consideravam, também,
que a Prússia – que liderava a confederação do norte – era muito autoritária, o
que significaria, numa unificação, menor autonomia para os demais membros.
Por fim, os estados ao sul eram de maioria católica, enquanto o norte, de
protestantes luteranos e calvinistas.

O problema para Bismarck era o de que ele não poderia, em face da


opinião pública alemã, simplesmente atacar e anexar seus vizinhos. Isso
poderia desencadear intervenções de outros países para defender a
integridade dos vizinhos prussianos – fosse dos franceses ou dos austríacos.
Assim sendo, a via que o chanceler de ferro deveria tomar deveria ser, por
força maior, a da diplomacia. O caminho mais simples – embora não fácil –
seria o de unificar os estados do sul ao desencadear uma guerra de agressão
de outro país. Assim, os estados do sul se aliariam à Confederação do Norte,
facilitando a união. Este plano foi facilitado pelo medo que os estados do sul
tinham de uma possível agressão francesa. Bismarck atuaria, então, desde a
vitória sobre os austríacos, no sentido de fomentar esse medo e de provocar a
França a uma guerra de agressão.

Enquanto isso, na França, o imperador se via com dificuldades. Não só


havia isolado seu país das demais potências, como também começava a
enfrentar problemas internos, com o desgaste de sua imagem e da economia.
Além disso, começou um clamor público francês contra a Prússia, que percebia
a vitória prussiana e o controle alemão por ela como uma humilhação à França
e uma perda de status de grande potência. Essa pressão daria a Napoleão
maior confiança num possível engajamento militar contra seus vizinhos.

O pretexto para o conflito foi a candidatura prussiana à coroa espanhola,


que estava com problemas sucessórios e sobre a qual o príncipe Leopoldo da
Prússia tinha direito. Para Bismarck, caso houvesse sucesso na candidatura,
seria colocar um rival da França no trono da Espanha tornando a fronteira sul
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francesa vulnerável. Mas caso fracassasse, poderia resultar num conflito militar
– desejado por ele – entre Prússia e França.

Napoleão exigiu que a candidatura fosse retirada e que o monarca


prussiano desse garantias de que não haveria mais qualquer tipo de intenção
de colocar um Hohenzollern no trono espanhol. O rei, no entanto, respondeu
negando este último pedido – que era, na realidade, uma humilhação à França.
Bismarck, então, mudou o tom da resposta do rei, tornando-a mais agressiva e
publicou nos jornais. A resposta alterada de Bismarck (mas que todos
acreditavam ser a resposta real do primeiro-ministro) causou grande clamor na
França por uma guerra que reparasse o orgulho nacional ferido. Napoleão,
assim, declarou guerra à Prússia em 1870.

Neste momento, os estados do sul, pelas convenções feitas com a


Confederação do Norte, entraram na guerra ao lado da Prússia. O conflito
durou pouco tempo, com o exército francês sofrendo grave derrota em Sedan
em setembro de 1870 que resultou na captura do imperador Napoleão. Os
prussianos derrotaram as forças que restaram da III República – proclamada
após a notícia da captura de Napoleão – e coroaram o então rei da Prússia
imperador da Alemanha dentro do Palácio de Versalhes na França (uma
verdadeira humilhação ao adversário vencido), unificando os territórios
alemães e tomando a região da Alsácia-Lorena dos franceses. Os reinos
alemães – como a Prússia e a Baviera – continuariam a existir dentro do
Império, mas sem independência de ação.

Em Paris, a guerra e a derrota levariam a um levante popular de caráter


marxista que tomou conta da cidade formando a “Comuna de Paris”. Falaremos
desse evento, no entanto, em aula posterior.

A unificação alemã abriria um novo momento na história das relações


internacionais da Europa, que ficou conhecido como “paz armada”. As relações
de força foram completamente alteradas com o nascimento do Império alemão
que, como potência industrial e militar, iria reivindicar seu espaço na expansão
capitalista e colonial com os demais europeus. As rivalidades que surgiriam
deste período levariam aos sistemas de alianças e ao grande conflito que
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conhecemos como I Guerra Mundial. Mas esses e outros detalhes traremos na
aula sobre o esse conteúdo mais a frente!

Bismarck (à esquerda) e Napoleão III (à direita)

Coroação de Guilherme I como Kaiser alemão no palácio de Versalhes


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Império Alemão em 1871

Vamos agora praticar e responder algumas questões sobre esses temas


que trabalhamos nesta aula?

Prova do CACD 2008 – Caderno Água

Questão 27
Entre os movimentos nacionalistas que se destacaram na Europa do século XIX,
poucos poderiam rivalizar, em termos de importância, com as unificações alemã e
italiana. Fatores internos e externos se conjugaram para que, ao fim de complexo
processo de luta, Alemanha e Itália surgissem como Estados nacionais. A propósito
desses acontecimentos, julgue (C ou E) os itens subseqüentes.

( ) Absorvido pela política interna da Prússia, o chanceler Otto von Bismarck não
empreendeu projetos na área econômica que pudessem contribuir para a Alemanha
como um todo.
Resposta: Errado
Comentário: Ao contrário, o período em que Bismarck esteve a frente do governo
alemão, a economia alemã cresceu aceleradamente, tornando-se, rapidamente, uma das
principais economias da Europa. Podemos nos lembrar rapidamente das isenções
tributárias colocadas em prática por ele após a Guerra Austro-Prussiana que ligou
economicamente a Prússia e os demais Estados da Confederação do Sul e que
impulsionou a integração econômica alemã.
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( ) Para reduzir custos e ampliar a possibilidade de alianças externas, Bismarck optou
por não investir na modernização do exército prussiano, apostando na via diplomática e
na ação política para isolar a Áustria, cujo interesse era a manutenção de uma
Alemanha fragmentada.
Resposta: Errado
Comentário: A questão está errada por dois motivos. O primeiro é a afirmação de que
Bismarck não investiu na modernização do exército prussiano. Muito embora o
chanceler de ferro tenha utilizado bastante da diplomacia para alcançar seus objetivos,
utilizou o exército prussiano quando necessário. O segundo trata-se de afirmar que a
Áustria queria manter uma Alemanha fragmentada. Em realidade, o projeto austríaco
era o de uma Alemanha unida em torno de sua liderança, com órgãos de governança
mútua estabelecidos pela Confederação germânica – o projeto conhecido como
‘Grande Alemanha’, o contrário do projeto prussiano da ‘Pequena Alemanha’, que
excluía a Áustria em que o protagonismo seria prussiano.

( ) A guerra de 1870 contra a França surpreendeu o chanceler Bismarck, que


considerava o conflito empecilho perigoso a seus planos de unificação da Alemanha.
Resposta: Errado
Comentário: Muito errado! A guerra franco-prussiana foi gestada e pensada por
Bismarck como uma forma de unir a Confederação do Sul e a Confederação do Norte
sob a liderança prussiana. Logo, a guerra não foi um empecilho perigoso para os
projetos de Bismarck de unificar a Alemanha.

( ) Na Itália, o processo de unificação, que teve em Mazzini e Garibaldi lideranças


exponenciais, envolveu necessariamente confrontos externos, até porque seu território
era alvo de interesses múltiplos, a exemplo dos interesses austríacos, dos pontifícios e
dos franceses
Resposta: Correto
Comentário: Como colocamos em nosso texto, a unificação da Itália foi um processo
que envolveu múltiplos atores internacionais, dentre os quais os Estados pontifícios –
com o centro italiano e Roma –, a França com seus interesses de hegemonia na
península e a Áustria que tinha presença no Vêneto. A luta dos políticos do Piemonte
foi árdua porque teve de alterar suas alianças frequentemente para poder, na medida
que os acontecimentos alteravam o equilíbrio europeu, alcançar seus objetivos.

Prova do CACD de 2013 – Questão 52

No que concerne à unificação da Itália e suas consequências, assinale a opção correta.

A A questão romana e do pontificado somente seria resolvida em 1929, no Tratado de


Locarno, em que se estabeleceu a criação do Estado do Vaticano.
Resposta: Errada
Comentário: O erro desta questão – bastante detalhista, por sinal – encontra-se no
nome do tratado. O tratado de 1929 que resolveu a questão romana é o de Latrão,
proposto por Mussolini ao papa da época, Pio XI. Os tratados de Locarno foram
realizados para lidar com questões surgidas após a primeira guerra mundial.

B O Romantismo literário, o republicanismo revolucionário e o historicismo que


enfatizava a singularidade nacional inspiraram o processo de unificação da Itália.
História Mundial
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Resposta: Errada
Comentário: O principal erro do item foi afirmar que todo o processo de unificação
italiana esteve inspirado no ideal republicano. Ainda que tenha estado presente com
grande força, sobretudo sob a figura de Garibaldi, o republicanismo não conseguiu
vingar, e a unificação, quanto processo concreto, acabou por ser fruto da ação de
Cavour e da monarquia sarda-piemontesa. Ademais, o romantismo e o historicismo
estiveram mais identificados com a unificação alemã do que com a italiana.

Com o processo de unificação da Itália iniciou-se nos Condados de Nice e de Savoia,


que comandavam a guerra contra a Áustria e conseguiram amalgamar os movimentos
secessionistas que começaram a eclodir em 1859.
Resposta: Errada
Comentário: O processo de unificação se iniciou com o reino do Piemonte e Sardenha
e não de Nice e de Savóia!

D A deposição de Napoleão III na França liquidou as garantias de que gozava o Papa,


que assistiu à invasão dos Estados Pontificais pelas forças unionistas e à conversão de
Roma em capital da Itália unificada.
Resposta: Correta
Comentário: Com a guerra franco-prussiana, as tropas de Napoleão foram retiradas
dos Estados Papais – reduzidos agora somente ao Lácio e ao domínio da cidade de
Roma. Com a saída das tropas francesas, os italianos invadiram Roma e a
transformaram em sua capital. O papa, diante disso, se fechou no Vaticano e se
declarou prisioneiro. Iniciava-se a questão romana.

E A unificação italiana teve consequências diretas no equilíbrio da política europeia,


em especial, na intensificação da política denominada isolamento esplêndido (splendid
isolation), implementada pela Inglaterra.
Resposta: Errada
Comentário: De fato, a unificação italiana deve consequências diretas no equilíbrio de
poder, pois colocou um novo ator poderoso no concerto da Europa. No entanto, a
questão afirma que a unificação resultou na intensificação do isolamento esplêndido
inglês, coisa não-correlata com o processo italiano.

UDESC 2009
Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos.

A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do


Século XIX.
B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul.
C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos
“Seringueiros”.
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D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a
monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação
política.
E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do
período.

Comentários: a. A Primavera dos Povos foi, por definição, um grande berço de


consciências nacionais e de movimentos sociais que povoariam o século XIX na Europa
e na América.
b. A Primavera dos Povos foi um fenômeno europeu, que abalou o centro do continente.
Ainda que tenha tido reverberações na América do Sul, é equivocadíssimo negar o
caráter europeu dos acontecimentos.
c. A questão da borracha no norte brasileiro é muito posterior ao acontecimento do
nacionalismo europeu.
d. De fato, o grande evento da Primavera dos povos pode ser associado à queda do rei
burguês na França, com a proclamação da Segunda República francesa e a chegada de
Napoleão III ao poder. Alternativa correta.
e. Pelo contrário, os acontecimentos nacionalistas tiveram grande importância também
para outros países, como, por exemplo, o império Austro-Húngaro.
Gabarito: ALTERNATIVA D

UFMG 2009
O ano de 1848 ficou célebre em razão da onda de revoluções que varreu, então, a
Europa - evento denominado Primavera dos Povos. O objetivo maior dos
revolucionários de toda parte era alcançar a liberdade e combater a opressão; em
algumas regiões, porém, as palavras de ordem reivindicavam, também, o fim do
jugo estrangeiro, ou seja, demandavam autonomia para as nações. Considerando-
se os eventos ocorridos em 1848 e suas conseqüências, é CORRETO afirmar que:

A) na Alemanha, se instalou, com sucesso, uma República parlamentar, que aboliu as


instituições imperiais e consolidou a unidade do país.
B) na França, se proclamou, outra vez, a República, mas Luís Napoleão Bonaparte, o
presidente eleito, instituiu, por meio de um golpe, o II Império.
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C) na Inglaterra, uma série de greves gerais colocou em xeque a Monarquia, que
precisou recorrer à Lei Marcial para recobrar a ordem.
D) na Rússia, os revolucionários ocuparam o poder durante alguns meses, o que
provocou reação sangrenta e guerra civil.

Comentários: a. É incorreto falar num Estado alemão em 1848. Como visto, apesar de
abalos importantes, a confederação dos Estados germânicos ainda demoraria algumas
décadas para ser unificada.
b. A França foi, novamente, o país que passou pelas transformações mais severas. As
agitações de 1848 condenaram o reinado de Luís Felipe, proclamando, novamente, a
República. No entanto, o novo presidente, Napoleão III, daria um golpe de Estado,
reinstituindo o Império. Alternativa correta.
c. A monarquia inglesa passou, linhas gerais, incólume às agitações continentais,
concentrando-se em manter seus interesses comerciais ativos com o continente.
d. Os revolucionários das franjas do império russo jamais ameaçaram de fato o
governo de São Petersburgo.
Gabarito: ALTERNATIVA B.

MACKENZIE
A unificação política da Alemanha (1870 – 1871) teve como conseqüências:

a) a ruptura do equilíbrio europeu, o revanchismo francês, a revolução industrial alemã


e a “Política de Alianças”;
b) o enfraquecimento da Alemanha e a miséria de grande parte dos habitantes do Sul,
responsável pela onda emigratória do final do século XIX;
c) a anexação da Alsácia e Lorena, o empobrecimento do Zollverein e a retração do
capitalismo;
d) a corrida colonial, o revanchismo francês, o enfraquecimento do Reich e a anexação
da Áustria;
e) o equilíbrio europeu, a aliança com a França, a formação da união aduaneira e a Liga
dos Três Imperadores.

Comentários: Comentemos elemento por elemento citado nas alternativas.


História Mundial
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A ruptura do equilíbrio europeu: correto. O concerto de Viena exigia que os Estados
germânicos continuassem fragmentados, garantindo que não surgisse no coração da
Europa um Estado forte o suficiente para contestar o equilíbrio. Ou seja, a unificação
alemã solapou o equilíbrio de 1815.
O revanchismo francês: correto. A guerra franco-prussiana, grande marco da
unificação alemã, criou um sentimento de profundo revanchismo entre os franceses,
cuja segurança era colocada em jogo com uma Alemanha fortalecida.
Revolução industrial alemã: correto. A força econômica da Alemanha unificada
permitiu que o país caminhasse com mais tranquilidade no sentido de sua
industrialização.
Política das alianças: correto. Ficava claro que a dinâmica de forças militares havia
sido profundamente alterada com a unificação alemã, exigindo que novas alianças
fossem feitas, superando as dimensões valorativas do Concerto de Viena.
O enfraquecimento da Alemanha e a miséria de seus habitantes: errado. A unificação
alemã permitiu às populações germânicas um novo momento econômico, cuja união
revelou a Alemanha como a nova potência europeia.
Anexação da Alsácia e Lorena: correto. Estes foram territórios perdidos pela França
na guerra franco-prussiana.
Retração do capitalismo: errado. O surgimento de uma Alemanha fortíssima no
coração da Europa deu um novo ânimo para o capitalismo, uma vez que emergia uma
potência industrial no seu centro.
Liga dos Três Imperadores: correto. A Liga se deu como uma forma de unir Áustria-
Hungria, Alemanha e Rússia numa aliança mais estável, afastando a França. Uma
evidente consequência da unificação alemã.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

UNIP
As Revoluções de 1848 foram provocadas por diversos fatores, destacando-se,
entre outros:
a) o fascismo, o comunismo e o positivismo;
b) a social-democracia, o anarquismo e o comunismo;
c) o sindicalismo, o republicanismo e o conservadorismo;
d) o liberalismo, o nacionalismo e o socialismo.
e) o populismo, a social-democracia e o parlamentarismo.
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Comentários: a. O fascismo é um fenômeno do século XX, muito distante da realidade


de 1848.
b. A social-democracia também é uma forma de organização social mais cara ao século
XX, uma inovação capitalista.
c. O conservadorismo pode ser visto como um dos grandes inimigos das revoluções de
1848, que exigiam uma alteração profunda das suas sociedades.
d. Liberalismo, nacionalismo e socialismo são as três grandes ideologias que
circulavam entre os revolucionários de 1848. Alternativa correta.
e. Parlamentarismo não era propriamente uma das exigências dos revolucionários,
apesar de ser uma das respostas possíveis.
Gabarito: ALTERNATIVA D.

UFPR
Na questão a seguir, indique a alternativa que contém a soma dos itens corretos.
A França do século XIX é marcada por movimentos sociais que acabaram por
associá-la a um "laboratório" de experiências políticas. Sobre tais movimentos, é
correto afirmar que:
(01) A Revolução Liberal de 1830 assinalou a derrota política da aristocracia
diante do avanço da burguesia. Marco da urbanização e industrialização, projetou
os industriais e os banqueiros como nova classe dirigente.
(02) A Revolução de 1848, início da Segunda República, foi marcada pelos
movimentos proletários urbanos. Para combater o desemprego, o governo adotou
as propostas socialistas de Louis Blanc de criação de Oficinas Nacionais.
(04) O golpe de Louis Bonaparte em 02 de dezembro de 1851 (o “18 do Brumário”)
encerrou a Segunda República e inaugurou o Segundo Império. Napoleão III, o
novo imperador, desenvolveu um vasto programa de obras públicas, entregando as
reformas de Paris ao Barão Haussmann.
(08) A guerra Franco-Prussiana criou condições para um imenso levante popular
na capital, que instaurou a Comuna de Paris (1871). Os revolucionários
propuseram a formação de um estado constituído por comunas autônomas. Foram
duramente reprimidos pelas tropas do governo.
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(16) A Comuna de Paris, assim como as Internacionais Operárias de 1864 e 1889 e
o Manifesto Comunista de 1848, foram expressões da oposição à montagem da
ordem burguesa na França, bem como na Europa do século XIX.

a) 30.
b) 22.
c) 06.
d) 13.
e) 12.

Comentários: 01. De fato, os revolucionários de 1830 foram os burgueses, que


assumiram um papel importante na política francesa. No entanto, o poder ainda estava
com a aristocracia, sob a cabeça coroada de Luís Felipe. Errado.
02. A Segunda República francesa foi inaugurada pela insatisfação das classes mais
baixas, o proletariado urbano. Suas políticas, portanto, eram fortemente voltadas para
estas classes. Correto.
04. O 18 do Brumário marca exatamente o golpe que vitimava a Segunda República
para fundar o Segundo Império, coroando Napoleão III. A preocupação com a
modernização da França, com grandes obras, foi uma das marcas do período. Correto.
08. A quimera da Comuna de Paris foi uma decorrência imediata da desestabilização
do Segundo Império após a derrota para a Prússia na guerra. A nova proposta de
Estado, organizado em comunas, teve uma tímida sobrevida entre as barricadas
parisienses, que foram dizimadas pelas tropas francesas. Correto.
16. De fato, os eventos citados na alternativa são claras reações das classes mais
baixas à organização da burguesia como uma classe dirigente. Burgueses e proletários
lutaram juntos contra a aristocracia, mas os primeiros conseguiram controlar o
aparelho estatal e passaram a contrariar os interesses do proletariado. Correto.
Alternativas corretas: 02, 04, 08, 16. Somatório: 30.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

UERJ
“O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as
condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas
as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de
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representações e concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas
envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que era sólido se volatiza, e os
homens são por fim obrigados a encarar com os olhos bem abertos a sua posição
na vida.”
Karl Marx e Fredrich Engels. Adaptado do Manifesto do Partido Comunista.
Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as
transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa
Ocidental.
Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram:

a) crescimento industrial – garantia de direitos sociais


b) aceleração tecnológica – aumento da divisão do trabalho
c) mecanização da produção – elevação da renda salarial média
d) diversificação de mercados – valorização das corporações sindicais

Comentários: a. A alternativa erra por falar em críticas à garantia de direitos sociais.


A primeira metade do século XIX estava ainda muito distante de elaborar direitos
sociais, dominada pelo laissez-faire dos industriais. Ou seja, não há cabimento falar
disso no Manifesto Comunista.
b. As incertezas da aceleração tecnológica sem um substrato teórico-filosófico foram as
grandes responsáveis pela volatização da realidade criticada por Marx e Engels. Da
mesma maneira, a alienação do processo produtivo gerada pela divisão excessiva do
trabalho foi outro ponto central de crítica. Alternativa correta.
c. É absurdo falar que o comunismo surgiria para combater a elevação dos padrões de
renda. Pelo contrário, uma de suas raízes está na diminuição da qualidade de vida dos
mais pobres, os operários.
d. As corporações sindicais eram uma das maneiras de alcançar-se a consciência de
classe do proletariado, ponto central para a chegada da revolução comunista.
Gabarito: ALTERNATIVA B.

Fuvest
“Fizemos a Itália, agora temos que fazer os italianos”. “Ao invés da Prússia se
fundir na Alemanha, a Alemanha se fundiu na Prússia”.
Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã:
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a) aludem às diferenças que as marcaram, pois, enquanto a alemã foi feita em benefício
da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha de Roma para capital, contemplou
todas as regiões.
b) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritário e incompleto de
ambas, decorrentes do passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão.
c) chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das duas unificações, imposta
pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha.
d) escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritária e aristocrática e a
italiana foi democrática e popular.
e) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugerem quanto ao caráter
impositivo de processo liderado por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na Alemanha.

Comentários: a. É equivocado falar que a unificação italiana foi feita “em benefício
de todos”, uma vez que os próprios romanos rechaçaram as forças revolucionárias.
Tratava-se, antes de tudo, de um esforço de Piemonte-Sardenha para a unificação da
península.
b. Alternativa cronologicamente absurda: fascismo e nazismo seriam fenômenos
observados apenas no século XX. Não podem ser vistos, portanto, como precursores
das unificações nacionais do século XIX.
c. A Prússia e o Piemonte-Sardenha foram os motores fundamentais das unificações
alemã e italiana, respectivamente. A vontade autoritária destes reinos foi fundamental
para a ocorrência. Alternativa correta.
d. A unificação italiana, apesar de ter gerado uma comoção popular, foi de corte
também aristocrático, estabelecendo uma monarquia sob Vitor Emanuel II.
e. As frases do enunciado refletem, sim, algumas posições básicas de Cavour e de
Bismarck quanto às suas formas de pensar as unificações nacionais.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

UFRS
Leia os itens abaixo que se referem a possíveis resultados imediatos da guerra
Franco-Prussiana de 1870.

I- A ocupação imperialista da Argélia pela França.


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II- A fundação da Internacional pelos nacional-socialistas da Áustria.
III- O fim do II Império Francês de Luís Bonaparte e a instauração do II Reich.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.

Comentários: I. Errado. A ocupação francesa na Argélia começou em 1830. Errado.


II. A Internacional e o nacional-socialismo foram fenômenos ligados à Primavera dos
Povos, e não à guerra franco-prussiana. Errado.
III. A crise decorrente da guerra fez cair o Segundo Império na França e organizou o
Segundo Reich na Alemanha. Correto.
Portanto, apenas a afirmação III está correta.
Gabarito: ALTERNATIVA C.
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Lista de Exercícios Apresentados

Prova do CACD de 2005 – Questão 09

Considerando-se os dados estritamente cronológicos, a exposição a que se refere o texto


III ocorreu no último ano do século XIX. Tempo das revoluções, como é conhecido, o
século XIX é também assinalado por grandes representações, a exemplo do
industrialismo, do liberalismo, do nacionalismo e do socialismo. Julgue (C ou E) os
itens a seguir, relativos ao quadro revolucionário de fins do século XVIII e da primeira
metade do século XIX.

( ) A Revolução Francesa, iniciada em 1789, conheceu longa e complexa travessia em


suas etapas. Ao ser concluída, com a era napoleônica, estavam parcial ou totalmente
destruídas muitas das bases sobre as quais se assentava o Antigo Regime.
( ) Historicamente, a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte, em
1776, a qual integra o cenário em que se desenrolou a Revolução Francesa, exerceu
notória influência nos movimentos de emancipação política das colônias ibéricas no
continente americano.
( ) Na Europa, ondas revolucionárias em 1820, 1830 e 1848 demonstram não ter sido
tarefa simples o aniquilamento do Antigo Regime, o qual, após o vendaval
revolucionário francês, ganhou certo fôlego restauracionista com a queda de Napoleão
Bonaparte.
( ) Pode-se afirmar que o processo revolucionário vivido pela Europa Ocidental
apresentava, até 1848, clara simetria entre suas duas frentes — a econômica,
representada pela Revolução Industrial, e a política, representada pelas revoluções
liberais. A partir de 1848, a unidade se rompeu, e a bandeira do liberalismo burguês
assumiu contornos cada vez mais conservadores.

Prova do CACD de 2010 (Caderno C) – Questão 62

Acerca do movimento revolucionário de 1848, julgue C ou E.


( ) A publicação do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, tornou-se, rapidamente, a
referência ideológica do movimento revolucionário em toda a Europa.
( ) Na França, a burguesia, a nobreza e os setores populares mais conservadores
consideravam o sobrinho de Napoleão, Luís Napoleão, eleito presidente em 1849 e
proclamado Imperador em 1851, um “domador de revoluções”.
( ) Em algumas regiões, o movimento de 1848 assumiu, rapidamente, características
nacionalistas: na Hungria, o governo provisório efetivamente declarou a independência
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do Império austro-húngaro, o qual só recuperou os territórios perdidos com a ajuda de
tropas russas.
( ) A Inglaterra foi pouco atingida pela onda revolucionária de 1848, pois já vinha
adotando medidas liberais.
Prova do CACD 2008 – Caderno Água

Questão 27

Entre os movimentos nacionalistas que se destacaram na Europa do século XIX, poucos


poderiam rivalizar, em termos de importância, com as unificações alemã e italiana.
Fatores internos e externos se conjugaram para que, ao fim de complexo processo de
luta, Alemanha e Itália surgissem como Estados nacionais. A propósito desses
acontecimentos, julgue (C ou E) os itens subseqüentes.
( ) Absorvido pela política interna da Prússia, o chanceler Otto von Bismarck não
empreendeu projetos na área econômica que pudessem contribuir para a Alemanha
como um todo.
( ) Para reduzir custos e ampliar a possibilidade de alianças externas, Bismarck optou
por não investir na modernização do exército prussiano, apostando na via diplomática e
na ação política para isolar a Áustria, cujo interesse era a manutenção de uma Alemanha
fragmentada.
( ) A guerra de 1870 contra a França surpreendeu o chanceler Bismarck, que
considerava o conflito empecilho perigoso a seus planos de unificação da Alemanha.
( ) Na Itália, o processo de unificação, que teve em Mazzini e Garibaldi lideranças
exponenciais, envolveu necessariamente confrontos externos, até porque seu território
era alvo de interesses múltiplos, a exemplo dos interesses austríacos, dos pontifícios e
dos franceses

Prova do CACD de 2013 – Questão 52


No que concerne à unificação da Itália e suas consequências, assinale a opção correta.
A A questão romana e do pontificado somente seria resolvida em 1929, no Tratado de
Locarno, em que se estabeleceu a criação do Estado do Vaticano.
B O Romantismo literário, o republicanismo revolucionário e o historicismo que
enfatizava a singularidade nacional inspiraram o processo de unificação da Itália.
C O processo de unificação da Itália iniciou-se nos Condados de Nice e de Savoia, que
comandavam a guerra contra a Áustria e conseguiram amalgamar os movimentos
secessionistas que começaram a eclodir em 1859.
História Mundial
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D A deposição de Napoleão III na França liquidou as garantias de que gozava o Papa,
que assistiu à invasão dos Estados Pontificais pelas forças unionistas e à conversão de
Roma em capital da Itália unificada.
E A unificação italiana teve consequências diretas no equilíbrio da política europeia, em
especial, na intensificação da política denominada isolamento esplêndido (splendid
isolation), implementada pela Inglaterra.

UDESC 2009
Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos.

A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do


Século XIX.
B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul.
C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos
“Seringueiros”.
D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a
monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação
política.
E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do
período.

UFMG 2009
O ano de 1848 ficou célebre em razão da onda de revoluções que varreu, então, a
Europa - evento denominado Primavera dos Povos. O objetivo maior dos
revolucionários de toda parte era alcançar a liberdade e combater a opressão; em
algumas regiões, porém, as palavras de ordem reivindicavam, também, o fim do
jugo estrangeiro, ou seja, demandavam autonomia para as nações. Considerando-
se os eventos ocorridos em 1848 e suas conseqüências, é CORRETO afirmar que:

A) na Alemanha, se instalou, com sucesso, uma República parlamentar, que aboliu as


instituições imperiais e consolidou a unidade do país.
B) na França, se proclamou, outra vez, a República, mas Luís Napoleão Bonaparte, o
presidente eleito, instituiu, por meio de um golpe, o II Império.
C) na Inglaterra, uma série de greves gerais colocou em xeque a Monarquia, que
precisou recorrer à Lei Marcial para recobrar a ordem.
D) na Rússia, os revolucionários ocuparam o poder durante alguns meses, o que
provocou reação sangrenta e guerra civil.
História Mundial
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MACKENZIE
A unificação política da Alemanha (1870 – 1871) teve como conseqüências:

a) a ruptura do equilíbrio europeu, o revanchismo francês, a revolução industrial alemã


e a “Política de Alianças”;
b) o enfraquecimento da Alemanha e a miséria de grande parte dos habitantes do Sul,
responsável pela onda emigratória do final do século XIX;
c) a anexação da Alsácia e Lorena, o empobrecimento do Zollverein e a retração do
capitalismo;
d) a corrida colonial, o revanchismo francês, o enfraquecimento do Reich e a anexação
da Áustria;
e) o equilíbrio europeu, a aliança com a França, a formação da união aduaneira e a Liga
dos Três Imperadores

UNIP
As Revoluções de 1848 foram provocadas por diversos fatores, destacando-se,
entre outros:
a) o fascismo, o comunismo e o positivismo;
b) a social-democracia, o anarquismo e o comunismo;
c) o sindicalismo, o republicanismo e o conservadorismo;
d) o liberalismo, o nacionalismo e o socialismo.
e) o populismo, a social-democracia e o parlamentarismo

UFPR
Na questão a seguir, indique a alternativa que contém a soma dos itens corretos.
A França do século XIX é marcada por movimentos sociais que acabaram por
associá-la a um "laboratório" de experiências políticas. Sobre tais movimentos, é
correto afirmar que:
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(01) A Revolução Liberal de 1830 assinalou a derrota política da aristocracia
diante do avanço da burguesia. Marco da urbanização e industrialização, projetou
os industriais e os banqueiros como nova classe dirigente.
(02) A Revolução de 1848, início da Segunda República, foi marcada pelos
movimentos proletários urbanos. Para combater o desemprego, o governo adotou
as propostas socialistas de Louis Blanc de criação de Oficinas Nacionais.
(04) O golpe de Louis Bonaparte em 02 de dezembro de 1851 (o “18 do Brumário”)
encerrou a Segunda República e inaugurou o Segundo Império. Napoleão III, o
novo imperador, desenvolveu um vasto programa de obras públicas, entregando as
reformas de Paris ao Barão Haussmann.
(08) A guerra Franco-Prussiana criou condições para um imenso levante popular
na capital, que instaurou a Comuna de Paris (1871). Os revolucionários
propuseram a formação de um estado constituído por comunas autônomas. Foram
duramente reprimidos pelas tropas do governo.
(16) A Comuna de Paris, assim como as Internacionais Operárias de 1864 e 1889 e
o Manifesto Comunista de 1848, foram expressões da oposição à montagem da
ordem burguesa na França, bem como na Europa do século XIX.

a) 30.
b) 22.
c) 06.
d) 13.
e) 12.

UERJ
“O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as
condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas
as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de
representações e concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas
envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que era sólido se volatiza, e os
homens são por fim obrigados a encarar com os olhos bem abertos a sua posição
na vida.”
Karl Marx e Fredrich Engels. Adaptado do Manifesto do Partido Comunista.
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Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as
transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa
Ocidental.
Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram:

a) crescimento industrial – garantia de direitos sociais


b) aceleração tecnológica – aumento da divisão do trabalho
c) mecanização da produção – elevação da renda salarial média
d) diversificação de mercados – valorização das corporações sindicais

Fuvest
“Fizemos a Itália, agora temos que fazer os italianos”. “Ao invés da Prússia se
fundir na Alemanha, a Alemanha se fundiu na Prússia”.
Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã:

a) aludem às diferenças que as marcaram, pois, enquanto a alemã foi feita em benefício
da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha de Roma para capital, contemplou
todas as regiões.
b) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritário e incompleto de
ambas, decorrentes do passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão.
c) chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das duas unificações, imposta
pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha.
d) escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritária e aristocrática e a
italiana foi democrática e popular.
e) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugerem quanto ao caráter
impositivo de processo liderado por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na Alemanha.

UFRS
Leia os itens abaixo que se referem a possíveis resultados imediatos da guerra
Franco-Prussiana de 1870.

I- A ocupação imperialista da Argélia pela França.


II- A fundação da Internacional pelos nacional-socialistas da Áustria.
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III- O fim do II Império Francês de Luís Bonaparte e a instauração do II Reich.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.
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Gabaritos

Prova do CACD de 2005 – Questão 09

C
C
C
C

Prova do CACD de 2010 (Caderno C) – Questão 62


E
E
E
C

Prova do CACD 2008 – Caderno Água

Questão 27

E
E
E
C

Prova do CACD de 2013 – Questão 52


LETRA D

UDESC 2009
LETRA D
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UFMG 2009
LETRA B

MACKENZIE
LETRA A

UNIP
LETRA D

UFPR
LETRA A

UERJ
LETRA B

Fuvest
LETRA C

UFRS
LETRA C
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Apresentação

Saudações caro aluno!

Nesta semana apresentamos a você mais uma aula de nosso curso de


história mundial! Viemos até aqui abordando os desenvolvimentos políticos e
internacionais da Europa, desde a Revolução inglesa até o colapso do sistema
montado no pós-Revolução Francesa no Velho Mundo a partir da guerra da
Crimeia e com as unificações italiana e alemã.

Daremos agora uma guinada para o continente americano, iniciando pela


história de nosso vizinho do norte, os Estados Unidos. Nesta aula veremos
desde a colonização das terras das 13 colônias até a guerra de secessão entre
União e Confederação. Nas próxima aula, dedicar-nos-emos à história da
América Latina no século XIX.

A colonização do continente norte-americano não foi um tema abordado nas


provas do CACD até agora, mas é importante conhecê-la para
compreendermos a independência e os desenrolar da política norte-americana
no século XIX, temas esses que mais recentemente apareceram na prova.

Sigamos, então, adiante a desbravar um novo conteúdo!


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1. As 13 colônias inglesas

Para melhor compreendermos o movimento de colonização da Inglaterra no


Novo Mundo, faz-se necessário entendermos a história inglesa e o que lá
ocorria, tal como devemos estudar a história portuguesa previamente à
colonização da América do Sul.

Comparativamente aos países ibéricos, a Inglaterra, tanto quanto a França,


ficara para trás na corrida colonial empreendida por portugueses e espanhóis.
A historiografia mais clássica – que tem embasado a prova do concurso –
fornece uma explicação relativamente simples para o sucesso ibérico e o
fracasso inglês/francês: a fraqueza do poder real e o dispêndio de recursos em
outras áreas no continente.

O que explica essa suposta fraqueza do poder real? No caso inglês, temos
guerras e instabilidades contínuas desde o século XIV até o século XVI. De
maneira mais clara, temos a guerra dos Cem Anos (1337-1453) enfrentada
contra a França – da qual a Inglaterra saiu derrotada –, seguida por
instabilidades religiosas causadas pelos lolardos (movimento contestador da
interpretação e autoridade católicas que tomou o reino no século XIV),
passando pela guerra civil entre a casa de Lancaster e York, a chamada guerra
das rosas (1455-1485), e, por fim, os graves conflitos religiosos advindos da
reforma anglicana do século XVI.

Para alguns historiadores e estudiosos, a dinastia dos Tudor – da qual


falamos na primeira aula – tendo subido ao poder num país cansado e
desestruturado após décadas de conflitos internos e externos, teria sido capaz
de concentrar mais o poder político em suas mãos. Isso, no entanto, não levou
ao movimento de colonização imediatamente das terras americanas. Somente
após a Reforma e o com o crescente “absolutismo” do rei é que a empresa
colonial seria iniciada pelo reino insular.

Enquanto espanhóis e portugueses já estavam no caminho de estabelecer


feitorias e colônias, a Coroa inglesa lutava por se afirmar dentro de seu país.
Quando conseguiu, faltavam-lhe os recursos humanos e financeiros para
colonizar o novo mundo. Elizabeth I, a última soberana dos Tudor, incentivou,
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assim, os corsários ingleses para caçar os galeões espanhóis cheios de ouro
das Américas.

Na ausência de capital para conduzir os avanços sobre o novo continente,


os ingleses decidiram ir por outra via, o do fornecimento de cartas de
concessão de terras, de maneira muito similar ao que os portugueses fizeram
com as chamadas capitanias hereditárias. No caso específico, a rainha
Elizabeth concedeu permissão a sir Walter Raleight para fundar colônias na
América:

Walter Raleight poderá apropriar-se de todo o solo dessas


terras, territórios e regiões por descobrir e possuir, como antes
se disse, assim como todas as cidades castelos, vilas e
vilarejos e demais lugares dos mesmos, com os direitos,
regalias, franquias e jurisdições tanto marítimas como outras,
nas ditas terras ou regiões ou mares adjuntos, para utilizá-los
com plenos poderes, para dispor deles, em todo ou em parte,
livremente ou de outro modo, de acordo com os ordenamentos
das leis da Inglaterra [...] reservando sempre para nós, nossos
herdeiros e sucessores, para anteder qualquer serviço, tarefa
ou necessidade, a quinta parte de todo o mineral, ouro ou prata
que venha se obter lá (25 de março de 1585).1

Sir William se estabeleceu às terras americanas, às quais chamou de


Virgínia em homenagem à Elizabeth, conhecida como “rainha virgem”. Sua
tentativa de montar povoamentos fracassou diante da resistência indígena, de
doenças e da fome. Fracassado o experimento de William, não houve outra
tentativa de colonização até o início do século XVII.

Sob o domínio dos Stuarts, tendo passado os perigos políticos mais


imediatos à Inglaterra – como a tentativa de invasão espanhola e as várias
tentativas de assassinato de Elizabeth – novo esforço colonizador foi colocado
em prática. Dessa vez, no entanto, provavelmente inspirado pelos holandeses,
a colonização foi entregue a duas empresas: a companhia de Londres e de
Plymouth. A primeira recebeu a exploração das entre o cabo Fear e Nova York,
a segunda, a região entre a Flórida atual e o rio Potomac.

Novamente, a colonização não seria de muito sucesso. As duas empresas


entraram em colapso econômico em 1624 (Companhia de Londres) e em 1635
(Companhia de Plymouth).

1
Apud KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto, p.40.
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Observem que os problemas iniciais da colonização inglesa foram muito
grandes, se compararmos com o sucesso dos países ibéricos. Mesmo assim,
as tentativas não cessaram no século XVII e, aos poucos, o núcleos de
povoamento que foram sendo criados ao longo dessas tentativas de
estabelecimento na América foram crescendo. Isso deve-se, em parte, ao
contínuo esforço da Coroa em entrar na disputa colonial, mas também pelo
crescimento da população na Inglaterra e pelas perseguições religiosas na
metrópole.

Ao contrário do que ocorria com o pequeno reino de Portugal, a Inglaterra


passava já por problemas de crescimento demográfico. Tal como falamos na
primeira aula, o problema dos cercamentos foi levando a um crescimento de
pobres nas “grandes” cidades inglesas, particularmente Londres. Essa massa
de camponeses sem terra e outros grupos indigentes era visto como
potencialmente explosiva na metrópole – como também seria, se não pior, no
século XIX. Esse conjunto de pessoas seria aproveitada pela companhias e
pela Coroa para iniciar a colonização da América. Resolvia-se, assim, dois
problemas para o governo inglês.

Por outro lado, um grupo de pessoas que migraria para o Novo Mundo
neste contexto seria o de protestantes puritanos que se recusavam a aceitar os
preceitos da Igreja Anglicana, a oficial da Inglaterra. Perseguidos pela não-
conformidade com os princípios anglicanos, uniram-se e partiram para a
América, para lá formarem uma nova sociedade baseada em seu credo. É a
famosa viagem do Mayflower, o navio que levou os “pais protestantes” para os
Estados Unidos.

Embora nos soe bastante comum e prosaico dizer que os Estados Unidos
foram formados por protestantes brancos puros – numa contraposição ao que
teria sido o começo da colonização da América do Sul, com degredados e
prisioneiros – eles compunham somente um dos vários grupos que migrou para
a América. Somente após a independência, na luta pela afirmação de uma
nacionalidade própria, é que os estudiosos americanos iriam voltar ao passado
e elencar esse grupo de protestantes como os “verdadeiros americanos” ou a
“raiz” do novo país. Em realidade, tanto quanto na América ibérica, gente de
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toda estirpe migrou para a América do Norte em busca de novas oportunidades
– ou uma vida longe da guerra – que não encontravam na Inglaterra.

Neste tópico, é interessante introduzirmos alguns aspectos da sociedade e


da economia das 13 colônias inglesas, que foram sendo formadas ao longo do
século XVII e XVIII.2

Nome Fundada por Ano


Virgínia Companhia de Londres 1607
New Hampshire Companhia de Londres 1623
Massachussets John Mason e outros 1620-1630
(Plymouth) puritanos
Maryland Lord Baltimore 1634
Connecticut Emigrantes de Mass 1635
Rhode Island Roger Williams 1636
Carolina do Norte Emigrantes da Virgínia 1653
Nova York Holandeses 1613
Nova Jersey Barkeley Carteret 1664
Carolina do Sul Nobres ingleses 1670
Pensilvânia William Penn 1681
Delaware Suecos 1638
Geórgia George Oglethorpe 1733

De maneira geral, podemos dividir as 13 colônias em dois grandes


conjuntos que possuíam características diferentes: colônias do sul e colônias
do norte. As colônias do sul possuíam uma geografia apropriada para o cultivo
do solo para culturas que se popularizavam na Europa, como o tabaco e,
posteriormente, o algodão. A produção foi organizada em plantations, isto é,
grandes propriedades com mão-de-obra servil/escrava (houve inicialmente na
colonização o uso de servos brancos vindos da Europa) com produtos voltados
ao exterior, importando, por sua vez, produtos manufaturados/industrializados.
Pela necessidade intrínseca da venda de matérias-primas para o Velho

2
Segue tabela com as trezes colônias. Cf. KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos.
São Paulo: Editora Contexto, p. 44.
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Era um atividade altamente lucrativa, entre outros motivos por
garantir que o navio sempre estivesse carregado de produtos
para vender em outro lugar.3

Essas diferenças entre as colônias do norte e do sul irão, depois de feita a


independência, somente aumentar, criando tensões que explodiriam
posteriormente com a guerra civil.

Em termos sociais, as trezes colônias inglesas foram marcadas por


profundo zelo religioso cristão – cabe aqui lembrar que o episódio das “bruxas
de Salem” ocorreu nas colônias inglesas protestantes. Apesar do termo
unificador “cristão”, havia muitas e diferentes denominações religiosas na
América deste período, dentre anglicanos, quakers, anabatistas, católicos
(poucos), luteranos, calvinistas, dentre outros. Essa multiplicidade de
profissões de fé é considerada por muitos historiadores como uma das razões
da maior tolerância religiosa que existia no novo mundo anglo-saxão do que
nas metrópoles europeias no mesmo período.

O impulso protestante para a leitura da Bíblia seria um dos motivos pelos


quais o letramento das crianças seria levado bastante a sério pelas autoridades
e lideranças religiosas coloniais. Assim, várias escolas e universidades foram
fundadas com o objetivo de dar condições aos colonos de lerem a Sagrada
Escritura. Essa afirmação não pode nos confundir sobre a inexistência de
instituições do mesmo tipo na América católica ibérica. A diferença reside no
maior número na América do Norte.

Dado o surgimento de muitas dessas colônias como movimento espontâneo


de migrantes fugidos da Europa e a relativa incapacidade da Coroa inglesa de
dirigir a empresa colonial, as relações colônia-metrópole eram relativamente
tranquilas, com poucos atritos entre os ingleses da América e os ingleses da
Europa. A situação viria a mudar quando, fortalecido o governo inglês após os
problemas internos e ameaças externas, a metrópole buscou controlar mais a
situação na América e procurou explorar os colonos como não havia feito
antes. Uma série de medidas protecionistas e de maior controle da metrópole
sobre as colônias resultaria na guerra de independência dos Estados Unidos
da América.

3
KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto, p. 56.
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2. O processo de Independência
2.1 Os conflitos entre colônias e metrópole

As treze colônias britânicas cresceram muito rapidamente durante os


aproximadamente dois séculos de colonização. Em 1700, a população girava
em torno de 250 mil pessoas, passando a pouco mais de 2,5 milhões durante o
período da independência concentrada na costa leste (para se ter ideia, o
Império do Brasil faria sua independência em 1822 com pouco mais de 4
milhões de habitantes espalhados pelo imenso território).

Como dissemos acima, a Inglaterra não mantinha sobre esses colonos um


rígido controle, e isso porque não era capaz ainda de direcionar suas forças
para tanto. A situação alterar-se-ia ao longo do século XVIII, com o
fortalecimento militar e econômico da metrópole.

Para compreendermos bem o movimento de independência, faz-se


necessário abordar alguns eventos e a medidas tomadas pela Inglaterra que
foram aumentando as tensões entre os colonos e o governo inglês.

Leandro Karnal elenca alguns conflitos desencadeados na Europa que


levaria a crescentes problemas entre as duas partes destacadas.4 A primeira
seria a guerra contra a França no fim do século XVII após a subida de
Guilherme III ao poder na chamada revolução Gloriosa. Recorde-se de que
falamos na primeira aula que depois da coroação de Guilherme, a Inglaterra
declararia guerra a sua rival. Essa guerra teve seu principal teatro de guerra no
Velho Mundo, mas também se desenrolaria na América. Lá, os principais
combatentes seriam os colonos americanos, que tomaram pontos importantes
das possessões coloniais francesas. Finda a guerra, as conquistas americanas
seriam entregues de volta aos franceses, desconsiderando os interesses (e o
esforço) dos colonos.

O conflito seguinte deveu-se a sucessão do trono espanhol em 1703. O rei


espanhol Carlos II morreu sem herdeiros. Duas casas reais se viram, então,

4
Idem, p. 71-74.
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com possibilidades de colocar seus familiares no trono espanhol: os Habsburgo
austríacos e os Bourbon franceses. Para evitar uma hegemonia francesa no
continente, a Inglaterra decidiu apoiar os austríacos e evitar qualquer tipo de
união pessoal entre franceses e espanhóis.

Mais uma vez, as Américas se viram em combate por questões europeias.


Os exércitos coloniais foram mobilizados e tropas inglesas foram enviadas para
as colônias. Desta vez o inimigo era mais forte, pois se lutava contra franceses
e seus aliados indígenas ao norte e espanhóis ao sul. A guerra terminaria 1713
com a vitória dos franceses na Europa, colocando um Bourbon no trono
espanhol, mas com mudanças na América do Norte, com a Inglaterra
aumentando seu controle sobre a baía do rio Hudson e adquirindo outros
territórios.

Em meados do século, outro conflito de grande escala no velho mundo


tragaria a América: a guerra de sucessão austríaca (1740-1748). Neste caso, a
rainha Maria Teresa de Habsburgo era a única herdeira de seu pai, Carlos VI.
A França negava sua legitimidade, afirmando que uma mulher não poderia
estar a frente do trono austríaco e do Sacro-Império. Assim, iniciou-se um
conflito que novamente colocaria as principais potências rivais em campos
opostos. Mais uma vez, a Inglaterra se opôs à França, levando suas colônias
ao mesmo. A guerra não mudaria muito a geografia política americana, mas
causou muito desgaste aos colonos.5

Pouco tempo depois, a maior guerra europeia até então eclodiria, a


chamada Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Fruto de muitas disputas entre as
potências europeias, a guerra dos sete anos ocorreu em vários locais do
mundo, envolvendo fortemente todas as colônias europeias. Para além do
continente europeu, um dos mais importantes teatros de guerra foi a América
do Norte, onde ocorreram grandes embates entre franceses e ingleses/colonos.

Nessa investida contra os franceses na América, os ingleses enviaram


muitas tropas para as treze colônias, aumentando sua presença militar a um
nível nunca antes experimentado pelos colonos. O desfecho da guerra foi

5
Ao fim da guerra, Maria Teresa manter-se-ia no trono austríaco, apesar de ser obrigada a
ceder partes de seu território para a Prússia.
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favorável aos ingleses, que conseguiram tomar todas as posses francesas na
América, afastando, definitivamente a ameaça de invasão das colônias
britânicas.

O fim da guerra trouxe uma nova realidade para as possessões coloniais


americanas da Inglaterra. Depois de derrotada a França, o Parlamento inglês
decidiu manter um exército regular em suas colônias que deveria ser custeado
por essas últimas. Essa situação já mostrava o intento inglês de manter maior
domínio sobre seus colonos e o alto custo de manutenção dessa força militar
muito desagradou a elite colonial.

Esses muitos conflitos dos quais falamos rapidamente aqui acabaram por
aumentar bastante as tensões entre o governo inglês e os elementos coloniais,
particularmente a elite produtora e comercial, que se via diretamente atingida
pelo envolvimento inglês em tantas guerras. Finda a Guerra dos Sete Anos, o
novo direcionamento da política inglesa faria com que os colonos fossem,
progressivamente, tomando consciência de seus interesses em contraposição
aos interesses britânicos.

Como dito, os problemas agravaram quando o Reino Unido decidiu tomar


maior controle sobre as colônias. A partir de 1750, o governo britânico emitiu
uma série de leis que antagonizavam diretamente com os colonos. Vamos falar
sobre algumas delas.

A primeira foi o Sugar Act de 1764, que previa uma redução nos impostos
sobre o melaço, mas aumentava as taxas sobre açúcar, o vinho, artigos de
luxo, roupas brancas, café e seda de outros locais que não colônias inglesas.
Essa medida tinha por objetivo resguardar os interesses dos produtores de
açúcar das Antilhas britânicas. No entanto, isso ia contra os interesses
daqueles diretamente envolvidos no comércio triangular, que buscavam
comprar onde fosse mais barato e nem sempre era o caso de uma colônia
inglesa.

Houve reações imediatas ao Sugar Act, com panfletos e boicotes a


produtos ingleses. John Otis, um colono, chegou a publicar uma obra em que
afirmava que “taxação sem representação é ilegal”. O princípio expresso por
Otis seria um dos grandes lemas do período e significava que toda forma de
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Em 1767, após a formação de um novo governo, outras medidas foram
executadas com o propósito de controlar mais as colônias. Essas medidas
ficaram conhecidas como Atos Townshend, nome do ministro da Fazenda
responsável por editá-las. Previa-se o aumento de impostos sobre o vidro, chá
e corantes. A assembleia de Nova York foi dissolvida por não cumprir a lei da
Hospedagem. Outros funcionários foram nomeados para aumentar a
fiscalização real. Seguiram-se mais protestos, boicotes e declarações que
forçaram o governo a retroceder.

Por fim, em 1773, foi entregue o monopólio do comércio do chá para a


Companhia das Índias Orientais. Nas colônias, tanto quanto na metrópole, o
chá era uma bebida bastante comum e popularizada. O monopólio dado pela
metrópole resultou num encarecimento do produto. Como forma de reação,
muitos colonos passaram a consumir outras bebidas, como o café e o
chocolate. Um pequeno grupo formado de 150 colonos vestidos de índios, no
entanto, decidiu invadir os navios da Companhia ancorados em Boston e jogar
as caixas de chá ao mar. Em face dessa resistência, o Parlamento inglês
decidiu tomar outras medidas mais duras contra seus colonos, as chamadas
“leis intoleráveis”: fechava-se o porto de Boston até que fosse pago o prejuízo
do ataque, transformava-se a colônia de Massachussets em colônia real –
acabando com a autonomia local –, restringia-se o direito de reunião, dentre
outras providências. Com elas, acendia-se os pavis para a revolução.

2.2 A separação, a guerra revolucionária e conceitos relevantes

Com as “leis intoleráveis” e o acúmulo de tensões entre colonos e


britânicos, chegava-se às raias da separação entre as duas partes. Inspirados
por filósofos iluministas, como John Locke, os habitantes ingleses das
Américas consideravam tirânica a atuação do governo de Sua Majestade Rei
Jorge III, principalmente pelo fato de que não eram representados no
Parlamento, isto é, não possuíam voz na política britânica. Além disso, as leis e
medidas tomadas a partir da segunda metade do século XVIII foram muito
graves e foram vistas como contrárias às tradições e liberdades britânicas.
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federação estava se formando. Diferentemente de “França”, “Portugal” ou
“Inglaterra”, o nome escolhido não implicava uma história comum ou um
conjunto de princípios ou um mito fundador, típico dos países europeus ou
mesmo asiáticos. O que unia aqueles colonos, ao contrário, era um sentimento
em negativo, ou seja, o de antimetrópole, antibritânico, e não positivo, ou
melhor, de características comuns. O mito fundador seria criado mais tarde,
com os “pais fundadores” tão conhecidos atualmente.

O outro, trata-se do medo das elites coloniais norte-americanas daqueles


elementos perigoso de sua sociedade: os escravos. Embora o número de
escravos ainda fosse crescer substancialmente no decorrer do século XIX,
havia o temor – tanto quanto houve no Brasil e nas áreas de grande
concentração de escravos – que a chama revolucionária de busca da liberdade
pudesse inspirar também os elementos servis a quebrar seus grilhões. Isso
compõe parte da explicação do porquê os colonos tentaram manter seus laços
com os ingleses e não buscar a independência logo de uma vez.

Bem, continuemos com a narrativa dos eventos que levaram ao fim do


domínio inglês sobre os Estados Unidos. Pelo que já comentamos em aulas
pretéritas, você deve imaginar que a luta contra a Inglaterra não foi simples.
Afinal, combater a maior marinha do mundo e a maior potência econômica do
período não é tarefa fácil!

A primeira coisa que devemos ter em mente sobre o processo


revolucionário é que não houve consenso entre os cidadãos das colônias pela
cisão de laços com a Inglaterra. Claro, grupo expressivo apoiou o movimento,
mas houve colonos que apoiaram o rei inglês (afinal, o poder simbólico da
monarquia e o sentimento de pertencimento a um grupo maior – o inglês –
eram muito fortes no período), e outros que ficaram indiferentes à guerra,
somente buscando viver sua vida sem envolver-se em questões políticas
maiores.

Dito isso, depois da declaração de independência realizada pelos founding


fathers, era necessário vencer o exército britânico presente na América. Foi
escolhido então George Washington como líder do exército revolucionário.
Washington era um fazendeiro e possuía conhecida experiência militar. Seu
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“exército”, no entanto, nada mais era do que a reunião de homens dispostos a
lutar, com pouca ou nenhuma experiência bélica. Igualmente, pouco
armamento possuíam. O primeiro passo do exército, que mais se assemelhava
a milícias, foi o de conseguir armas, o que foi feito com ataques surpresas a
vários depósitos de armamento ingleses.

Figura 4 - Founding Fathers

Mesmo armado às custas inglesas, os americanos não eram páreos para o


exército profissional inglês, já treinado em várias guerras no continente e na
América. Assim, o exército inglês obteve significativas vitórias sobre os colonos
até que as potências europeias rivais da Inglaterra decidiram intervir – a França
e a Espanha. Diferentemente do que ocorrera ao longo do século XVIII, desta
vez não era um conflito europeu que interferia na América, mas o contrário.
Percebendo uma chance de vingar a derrota na Guerra dos Sete Anos e de
fazer fracassar alguns planos ingleses, os franceses deram total suporte aos
americanos, fornecendo armas e homens para o combate. 6 A presença
francesa e espanhola foi fundamental para que os americanos fossem
vitoriosos no campo de batalha. Vencidos os ingleses depois de anos de
combate, em 1783, os Estados Unidos tiveram sua independência reconhecida.

6
RECORDANDO: Esse apoio custaria muito caro aos franceses, sem que obtivessem retorno à
altura do gasto. Essa guerra aprofundaria a crise fiscal francesa, sendo um dos fatores para a
eclosão da revolução francesa, tal como abordamos na primeira aula.
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A independência da primeira colônia da América teve um profundo impacto
nas demais colônias do continente. O exemplo norte-americano ecoaria nos
movimentos do início do século XIX, quando o furacão napoleônico precipitou
os movimentos independentistas da América Latina. Seu modelo político seria
imitado por muitos dos novos países que se fariam livres do jugo colonial –
repúblicas presidencialistas bicamerais. O que causaria discórdia seria a
federação, da qual falamos acima.

Finda a guerra de independência e, portanto, do inimigo comum que unia a


todos os agora cidadãos, impunha-se a difícil tarefa de criar um país, de lidar
com suas questões internas e seus conflitos.

3. Cria-se uma nova nação


3.1 O modelo político

Tendo abordado o processo revolucionário de independência, temos de


entender agora o sistema políticos adotado para o novo Estado: uma República
Federativa Presidencialista, a primeira de seu tipo. Vamos entender cada um
desses conceitos?

O conceito “república” provém do latim res publica e significa, em termos


etimológicos, “coisa pública”. Funcionou como uma organização política na
Antiguidade clássica romana. Em contraposição ao governo hereditário e
baseado na soberania da linhagem dinástica típicos da monarquia, a res
publica seria uma forma de governar baseada na alternância dos dirigentes
políticos no poder e baseada nas decisões do “povo”, entendido aqui como
aqueles que possuíam direitos políticos. A República romana, de acordo com
Políbio, seria o sistema político perfeito porque misturaria elementos da
monarquia (os cônsules que dirigiriam a república), da aristocracia (o senado) e
da democracia (com os comícios votados pelos cidadãos romanos).

Mais do que um sistema político, a “república” passou, durante a idade


moderna, a significar, em alguns casos, o Estado ou domínio do rei e/ou uma
inclinação do governo para o bem comum. É por isso que podemos encontrar
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exemplos de reis que afirmavam tomar determinadas decisões pelo “bem da
república”.

Durante o século XVI, no auge do Renascimento, os textos clássicos e a


história romana seriam retomadas e inspiraram uma série de estudos e autores
que, contra a corrupção e luxo dos governantes renascentistas, propunham
uma vida política mais austera num movimento que ficou conhecido como
“republicanismo cívico”. Não que eles defendessem o fim da monarquia, mas
que o príncipe se devotasse a um engrandecimento de suas virtudes pessoais
e governasse buscando o bem comum. Esses escritos e estudos teriam grande
impacto no período da revolução inglesa e inspiraram alguns de seus líderes.

Assim, quando as autoridades políticas desse novo Estado proclamaram


uma república, ela não era novidade no mundo político e no mundo das ideias
políticas europeias. Desde a Idade Média havia repúblicas na Europa, como a
República de Veneza, de Gênova, ou mesmo a de Novgorod na atual Rússia.
O diferencial dessa república americana se daria com seu sistema de Estado e
com a liderança do poder Executivo, isto é, a federação e o presidencialismo.

A federação, ou seja, a autonomia dos estados – considerados como


instância própria de poder –, foi a solução encontrada pelas autoridades do
movimento revolucionário para lidar com as ex-colônias ciosas de suas
independências. Assim, o governo central serviria somente para combater
ameaças externas enquanto que a maior parte da administração pública e
investimentos ficariam por conta dos estados. Ao dizermos que a federação foi
uma novidade, não queremos afirmar com isso que não havia autonomia de
“gestão” na Europa. Como dissemos na primeira aula, havia no velho mundo
várias “liberdades”, isto é, vários “direitos” que davam aos vários “corpos” da
sociedade graus de autonomia variáveis. A diferença agora é que uma
determinada circunscrição geográfica chamada “estado” seria reconhecida pela
lei maior do país – a constituição – como o locus próprio do poder político. Esse
reconhecimento pode ser percebido por meio de várias instituições, como o
colégio eleitoral, o trâmite para a realização de emendas constitucionais, as
constituições estaduais etc.
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A “novidade federativa”, se podemos assim chamá-la, seria fonte de
inspiração para vários outros países americanos durante o século XIX. No
Brasil imperial, grupos de políticos advogariam pela causa de uma monarquia
federativa como uma forma de resolver as gritantes diferenças entre as
diversas partes do país. Também a Argentina passaria por essas questões e
de uma maneira bem mais grave e sanguinolenta que no Brasil. Do outro lado,
os inimigos da federação na América Latina, tendiam a ver a organização
federativa como anárquica e que levaria a manutenção de determinados
privilégios políticos (o caso brasileiro exemplifica bem isso, com a federação da
Primeira República).

O presidencialismo, por sua vez, também foi uma invenção norte-


americana. Baseando-se na teoria da separação de poderes de Montesquieu, o
braço executivo do poder central dos Estados Unidos ficou a cargo de um
presidente. Este seria eleito pelo colégio eleitoral, não podendo ser destituído
por um “voto de confiança” do Parlamento, ou seja, o Executivo não provinha
da maioria legislativa no Congresso. O presidente era o comandante-em-chefe
das forças militares, poderia vetar leis aprovadas pelo Congresso, poderia
indicar membros para a Suprema Corte dentre outras prerrogativas. Muito se
assemelhava com o papel executivo que os reis na Europa possuíam, com a
vital diferença de que seus poderes estavam demarcados na lei e que poderia
ser destituído do poder por meio de impeachment. Perceba aqui que a
engenharia política norte-americana foi toda baseada no princípio do checks
and balances, ou melhor, no equilíbrio entre os poderes. Nenhum dos poderes
pode ter maior relevância ou capacidade de interferência na vida social que o
outro. E, mais ainda, um pode tolher o outro nesta tentativa. Esse modelo
também serviria de grande inspiração para a tradição jurídica ocidental.7

Para além dessas questões, devemos ainda ressaltar algumas das


primeiras emendas feitas à Constituição norte-americana e que são muito
representativas do ideário político que inspirou a criação do novo país.

7
Diferentemente do modelo americano, o modelo francês não previa os tais equilíbrios.
Inspirados pela Vontade Geral encarnada na Convenção ou na Assembleia, os franceses iriam
pela decisão da maioria reunida no poder Legislativo, espécie de encarnação do desejo de
todos os cidadãos. Essa tradição francesa permaneceria por longo tempo na república
francesa e seria alterada com a reforma de De Gaulle na década de 1950.
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Várias emedas foram apresentadas em 1789 e, dado que o processo de
mudança constitucional exigia a aprovação de 2/3 dos estados federados,
somente em 1791 fora aprovadas. A primeira emenda tinha o propósito de
limitar os poderes do Estado na relação com os cidadãos. Ela proibia a fixação
de uma religião oficial, a perseguição a qualquer religião, a censura à
imprensa, a limitação do direito de reunião e de expressão. A segunda emenda
deu aos cidadãos o direito de portar armas. A explicação para isso reside no
efetivo medo que os cidadãos norte-americanos possuíam da tirania do Estado.
Caso o governo se tornasse tirânico – e seguindo a tradição lockeana – os
cidadãos deveriam ter o direito de resisti-lo por meio de armas. Essa emenda
teve forte apoio porque foram os cidadãos armados que formaram o grosso do
exército revolucionário americano.

A terceira emenda proibiu o aquartelamento de soldados nas casas das


pessoas, uma clara resposta às leis britânicas de aquartelamento pretéritas à
Revolução. A quarta emenda, proibiu a busca e apreensão de judiciais sem
motivo razoável e mandado com justa argumentação. E, para ficarmos
somente com as cinco primeiras, a famosa quinta emenda estabeleceu a
possibilidade de tribunal de júri, o direito de ficar calado em tribunais, o direito
de ser julgado somente uma vez sobre o mesmo fato e a compensação por
bens desapropriados.

Vemos assim que estava entranhado na tradição político-jurídica do novo


país a defesa acirrada dos direitos individuais dos cidadãos, restringindo ao
máximo o poder de interferência do Estados em suas vidas. Após essa breve
explanação do sistema político americano, passemos para alguns dos
principais eventos e processos que ocorreram no século XIX.

3.2 A nova guerra de independência e a expansão para o Oeste

Após a independência, os primeiros presidentes precisaram focar seus


esforços em estabilizar o novo país, fazer valer as leis, reformar a constituição.
Foi o caso dos presidentes George Washington, John Adams e Thomas
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Jefferson. A situação externa passaria a influir diretamente nos negócios
americanos a partir do mandato do presidente James Madison (1809-1817).

Durante o mandato do quarto presidente, os conflitos na Europa estavam


em seu auge. Napoleão subjugara boa parte da Europa e a Inglaterra resistia
quase que exclusivamente ao imperador francês. O governo norte-americano
não quis envolver-se nos problemas do continente e adotou a neutralidade –
uma postura que o país manteve por todo o século XIX em relação aos
assuntos europeus – significando que manteria relações comerciais com
ambos os países. Isso, no entanto, não agradou aos ingleses, que passaram a
tomar navios americanos que se dirigiam à França e a obrigar os marinheiros
desses navios a trabalhar para os ingleses em seu esforço de guerra.

Em face desses problemas que vinham ocorrendo desde o governo de seu


antecessor, James Madison passou uma lei – Lei de Proibições ao Comércio –
em 1809 que ditava que os comerciantes nacionais não poderiam comercializar
com a Inglaterra e a França. A primeira das duas nações que retirasse suas
restrições ao comércio americano teria suas relações reatadas com os EUA. O
mecanismo, entretanto, não funcionou: comerciantes estadunidenses
simplesmente ignoraram a medida e, mais ainda, o mercado americano não
era tão grande quanto eles haviam calculado.

A impotência em resolver esse imbróglio envolvendo as potências


europeias foi uma afronta ao brio nacional. A humilhação sofrida levou a
acirrados ânimos contra a Inglaterra e impulsionou o governo de Madison a
declarar guerra ao Reino Unido em 1812 – mesmo ano em que Napoleão
enviava suas tropas para invadir a Rússia.

Se o governo norte-americano achava que seria fácil vencer uma Inglaterra


desgastada por Bonaparte, enganou-se profundamente. Os ingleses possuíam
ainda colônias – e, portanto, tropas – ao norte dos EUA – o Canadá – e
contavam com a marinha mais poderosa do mundo. O combate militar terrestre
não viu avanços significativos por parte de nenhum dos lados, embora as
tropas inglesas tenham invadido a capital do país, incendiando-a. O grupo
político americano que desejava um avanço para o norte, em direção ao
Canadá, também se viu frustrado.
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Ao governo inglês não interessava continuar uma guerra do outro lado do
Atlântico enquanto seu principal rival e inimigo estava à solta na Europa. Diante
disso e do “empate” nos desenvolvimentos militares terrestres, a Inglaterra
sentou para assinar um tratado de paz, ocorrido em 1814, levando ao fim das
hostilidades em 1815.

O fim da guerra resultou num certo alívio para os americanos, que poderiam
muito bem ter perdido a guerra dada a disparidade de forças em conflito.
Outrossim, era a primeira vez que o governo independente lidava com guerra
externa e saía vitorioso.

Terminada a guerra de 1812 ou segunda guerra de independência (embora


seu motivo não fosse a independência, vale lembrar), os EUA se dedicariam à
consolidação de seu sistema político por meio de reformas eleitorais e à
expansão de suas fronteiras a Oeste, em direção às terras controladas por
indígenas, franceses, espanhóis e mexicanos.

O primeiro ponto é relativamente simples. O sétimo presidente dos EUA –


Andrew Jackson (1829-1837) – concorreu a eleição norte-americana contra
John Quincy Adams. O estilo de Jackson, mais simples e rústico, foi
contraposto à forma mais “educada e polida” de Adams, numa espécie de
acusação de que este último teria um estilo aristocrático – algo abominável aos
olhos dos americanos. Jackson acabou vencedor da corrida eleitoral e realizou
amplas reformas eleitorais que expandiram o direito de voto a todos os
cidadãos – homens brancos e maiores de idade. Essa mudança é apontada
por Hobsbawm como fazendo parte das ondas revolucionárias que atingiram o
mundo ocidental na década de 1830 – num estilo próximo do movimento
cartista inglês. Este ponto pode ser um “peguinha” na prova porque não houve
uma “universalização do voto”, o que pode ser entendido como a extensão do
direito de voto a toda a população, incluindo mulheres, negros etc. Isso não
ocorreu. Atenção!

Quanto à expansão territorial, a primeira investida americana se deu neste


contexto da Revolução Francesa, antes mesmo da segunda guerra de
independência. Em 1803, durante o Consulado de Napoleão, os Estados
Unidos ofereceram 15 milhões de dólares à época para se apropriarem de todo
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o território da Louisiana francesa, que compreendia um território de 2.144.476
quilômetros quadrados. Esse imenso território seria depois dividido em vários
estados (embora não tenham sido incorporados como unidades da federação
imediatamente após a compra), que são hoje: Arkansas, Missouri, Iowa,
Minnesota, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebrasca, Novo México, parte do
atual Texas, Oklahoma, Kansas, Montana, Wyoming e Colorado.

Dez anos depois, no contexto da expansão imperial napoleônica pela


Europa, outra investida seria feita no sentido de incorporação de novos
territórios, neste caso, contra os espanhóis. A Espanha, internamente instável
dado o sequestro do rei e a instauração das juntas governativas – tema que
abordamos na segunda aula – se mostrava incapaz de administrar suas
colônias. Assim, em 1813, Madison enviou tropas para a Flórida sob o pretexto
de que os espanhóis não estavam sendo capazes de lidar com os indígenas
locais que estavam prejudicando as terras americanas. Em 1817, Andrew
Jackson – que viria a se tornar presidente depois – foi enviado para “pacificar”
os indígenas e ocupar todo o norte da área da costa do Golfo. O secretário de
Estado – espécie de ministro das relações exteriores do governo norte-
americano – Jonh Quincy Adams acusou o governo espanhol de incapaz de
lidar com os indígenas e sugeriu que o território fosse vendido aos EUA. Com
medo de que essa questão levasse a um conflito armado e efetivamente
impossibilitado de atuar com mais energia no local, o governo espanhol
assinou um tratado em 1819 vendendo a Flórida, que foi incorporada como um
novo Estado à Federação.

Entre as décadas de 1820 e 1840, outra onda de expansão territorial


tomaria conta das políticas americanas. O alvo, desta vez, seriam os
mexicanos. A expansão se iniciaria com o Texas. Em 1821, o México se tornou
independente e herdou consigo o território do atual Texas, que era
esparsamente habitado por mexicanos. Em 1823, o governo mexicano fez uma
acordo com dois americanos – Moses e Stephen Austin – para trazerem
colonos americanos para essas terras. Mas observe, o território continuava sob
jurisdição mexicana, sob leis mexicanas. No entanto, vários problemas e atritos
de fronteira ocorriam nesse local entre México e EUA. Todos os escravos que
cruzavam a fronteira ganhavam a liberdade e os colonos americanos que
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chegavam às terras texanas eram convertidos à força ao catolicismo. Os
problemas com os migrantes americanos, que desrespeitavam as leis
mexicanas, foi crescendo e o México proibiu a entrada de mais pessoas.

Em 1833, Austin foi até a capital mexicana levar as reclamações dos


americanos habitantes do Texas e tentar obter a independência do território.
Resultado: acabou preso por mais de um ano. Os colonos estadunidenses
iniciaram então uma revolta e, em 1836, declararam o Texas um Estado
independente com uma constituição similar àquela dos Estados Unidos. Houve,
então, uma retaliação do governo mexicano, que enviou tropas para atacar as
posições do rebeldes texanos e venceram temporariamente. O governo dos
EUA, que há muito ansiava por aquele território, não tardou a apoiar os
rebeldes. Declararam, então, guerra ao México e enviaram um grande
contingente de homens para auxiliar a causa texana. No mesmo ano de 1836,
o governo mexicano foi derrotado, reconheceu a independência do Texas e
cedeu territórios para os Estados Unidos. Pouco tempo depois, o Texas
adentraria a federação como estado escravista.

Terminada esta fase, a prioridade seria seguir para o Pacífico e anexar a


Califórnia, neste período parte da República Mexicana. Os conflitos ocorreriam
na década de 1840, com vitória americana. Em 1848, foi feito o acordo
Guadalupe-Hidalgo que reconhecia a fronteira do Rio Grande e a cessão do
Novo México e Califórnia para os Estados Unidos. O território sob domínio
americano, agora, tocava os dois Oceanos.

Claro que esses tratados não significaram um povoamento imediato destas


áreas. A ida dos americanos para o Oeste ainda teria de passar pelo
enfrentamento com os indígenas, algumas tribos as quais simplesmente não
aceitariam negociar com o governo e resistiram até o extermínio completo. O
movimento mais intenso de ida para a costa Oeste foi realizado quando da
descoberta de ouro na Califórnia, na segunda metade do século XIX.

O forte expansionismo norte-americano é explicado por, em geral, duas


questões. A primeira e mais simples é dada pela entrada dos EUA na mesma
onda imperialista que varria a Europa. Enquanto que os países europeus se
expandiam e colonizavam a África e a Ásia, os norte-americanos passaram,
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seria conhecida como “destino manifesto”. Para além da ocupação territorial, foi
articulada um outra noção, de que cabia ao governo dos Estados Unidos levar
a “liberdade e a democracia” para as áreas que as desconheciam, ou seja,
mais atrasadas. Claro que esses conceitos se moldavam conforme as
necessidade de justificativa por parte dos expansionistas para lidar com as
diferentes situações. Também aqui vemos um traço de similaridade com o
imperialismo europeu. Enquanto ingleses, franceses, belgas e outros povos
afirmavam estar levando a “civilização” e o “progresso” aos povos africanos e
asiáticos, os EUA estavam “espalhando” a “liberdade e a democracia”.
Interessante é notar que esta retórica não saiu completamente hoje do
vocabulário político norte-americano, que, até recentemente, utilizou-a para
justificar suas intervenções em outros países.

A expansão americana, embora tenha trazido por determinado momento um


sentido de unidade para seus cidadãos, acabou resultando em mais problemas
para o país. Isto porque a questão da escravidão se impunha como uma
realidade de difícil trato. Como seriam admitidos os novos estados na União:
como escravistas ou não-escravistas? Como seria o equilíbrio de forças dentro
da Federação com a incorporação de tantos novos territórios?

Essas e outras questões levariam a uma escalada de tensões entre os


estados do sul, escravistas, e os estados do norte, não-escravistas, que
acabou resultando na tentativa de separação dos primeiros em relação aos
segundos. Para entendermos bem essa história, precisamos rever os pontos
problemáticos para a União e a realidade política americana nesse período.

3.3 Guerra civil, de secessão ou guerra de agressão do Norte?

Embora o Sul e o Norte dos EUA tivessem suas desavenças, estavam


integrados economicamente antes da guerra civil. As plantations do sul
alimentavam as indústrias têxteis do norte, enquanto este fornecia aquele com
bens de consumo não-duráveis. No entanto, as desavenças entre os estados
sulistas e nortistas foram se ampliando na medida que o país foi se
expandindo.
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Os estados sulistas gozavam de muita influência no governo federal – na
Câmara dos Representantes, para ser mais exato – porque o número de
deputados a que os estados tinham direito estava baseada no tamanho da
população e para o cálculo os escravos contavam, dando ao Sul, portanto, uma
quantidade considerável de deputados.

Essa influência se transformava em poder político na medida em que o país


se expandiu para o Oeste. Para continuar a manter seu poder, os estados do
sul exigiam da União que a escravidão fosse válida em estados incorporados à
federação. O Norte protestou em várias ocasiões e o governo federal foi
pressionado a adotar uma política de conciliação, em que alguns estados se
tornariam escravocratas e outros não. Um exemplo concreto e o mais tenso
antes da guerra civil foi a das regiões do Kansas e do Nebrasca. Como nos traz
Luiz Fernandes e Marcus de Morais:

Mais um exemplo das disputas com o Norte foi o projeto de


governo territorial pensado para as novas regiões de Kansas e
Nebrasca. Os sulistas (...) propuseram uma lei em que nenhum
projeto de administração territorial poderia ser aprovado a não
ser que contivesse uma cláusula que anulasse a proibição da
escravidão. O Congresso aprovou o projeto que passou a se
chamar Lei Kansas-Nebrasca, e os nortistas ficaram indignados
pelo fato de o governo federal e o presidente Franklin Pierce
(1853-1857) terem se curvado diante da “escravocia”. Desse
modo, o império do algodão desfiava, de uma vez por todas, o
“imperialismo do solo livre”. O território do Kansas tornou-se um
verdadeiro palco de disputas políticas em torno do controle
político da região, além de ficar amplamente aberto aos
imigrantes que acabavam apresentando posturas pró e contra
o regime da escravidão.9

As eleições para a Câmara dos Representantes durante o mandato do


presidente Pierce viu a eleição – sob alegações de fraudes e ilegalidades – de
uma maioria sulista, o que irritou profundamente os estados nortistas.

As eleições presidenciais na década de 1860 colocou no centro do debate


político a questão da escravidão. O democratas – escravocratas – colocaram o
nome de Stephen Douglas e os Republicanos, de Abraham Lincoln, um jovem
advogado. Lincoln era contra a instituição da escravidão, mas não um
abolicionista, isto é, ele não gostava da instituição, entretanto, não defendia
ativamente por seu fim. Para ele, a escravidão deveria ser fixada no Sul e não

9
FERNANDES, Luiz; MORAIS, Marcus V. de. “A ‘casa dividida’ e a guerra de secessão”. In:
KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto, 2011, p. 130.
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expandida para o Oeste, muito embora afirmasse que caberia aos estados – e
não à União – decidirem pela continuidade ou pelo fim da escravidão.

Essa posição de Lincoln, no entanto, era considerada para os estados


sulistas suficientemente ruim. Eles queriam que a escravidão avançasse para o
Oeste para que a instituição pudesse sobreviver ao fim do tráfico de escravos
decretado em 1808. Quando a eleição deu vitória a Lincoln, os níveis de
tensão entre os dois grupos chegou ao auge. Isto porque o presidente recém-
empossado afirmara que não aceitaria qualquer secessão da federação e os
desejos de separação já rondavam as elites políticas sulistas.

O estopim foi aceso na Carolina do Sul, onde se convocou uma assembleia


que anulou a ratificação da constituição norte-americana. Pouco depois,
seguiram seu exemplo o Alabama, Flórida, Mississipi, Geórgia e Texas, que,
juntos, formaram os Estados Confederados da América e elegeram um
presidente, Jefferson Davis.

Você pode se perguntar: como assim anularam a ratificação da


Constituição? Isso era possível? Esse é um dos aspectos mais intrigantes
desse conflito. Conforme a interpretação corrente à época, os estados haviam
formado uma federação de maneira livre e espontânea e nela poderiam
permanecer enquanto lhes fossem respeitados suas autonomias e direitos. Na
medida em que isso não ocorresse, seria possível – mais uma vez, a partir de
uma das interpretações constitucionais do período – sair da União. Ao
formarem uma confederação, os estados do sul buscavam uma forma ainda
mais flexível de unidade, com mais autonomia ainda aos estados
confederados.

De maneira resumida então: os estados do sul, por questões políticas – de


manutenção do poder no governo federal e procura por maior autonomia – e
econômicas – busca de livre-comércio do sul versus protecionismo do norte; e
manutenção e expansão da escravidão versus trabalho livre – decidiu sair da
União e fundar um novo país.

O início dos combates se deu na Carolina do Sul, onde havia um forte


guarnecido por tropas da União, forte Sumter. O governo confederado exigiu a
imediata retirada das tropas nortistas em abril de 1861. Lincoln então aumentou
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a guarnição com mais 80 mil homens ao que os confederados retaliaram e
atacaram. Pouco depois, mais quatro estados se juntaram à Confederação.
Iniciava-se a guerra mais sangrenta e destrutiva ocorrida em solo norte-
americano.

Iniciamos este tópico com uma pergunta: guerra civil, guerra de secessão
ou guerra de agressão do Norte? Com o que dissemos acima, podemos refletir
apropriadamente sobre esses termos. Uma guerra civil é entendida como um
conflito entre membros de um mesmo país, normalmente associado a disputas
de poder. Uma guerra de secessão é uma que implica que um grupo inicia
hostilidades contra o governo central para deixar de fazer parte daquele país.
Uma guerra de agressão é de um país contra o outro para anexá-lo ou obter
vantagens sobre ele.

Atualmente, em grande parte dos Estados Unidos, este conflito é tratado


como “guerra civil”, entendendo-se aí uma luta fratricida. No Brasil, diz-se
“guerra de secessão”, entendendo-se a luta entre uma parte que buscava sua
independência e a União. E, por fim, no sul dos EUA, ela entendida como
“guerra de agressão do Norte” porque, para os sulistas, como a constituição
permitia a saída dos membros da União e um novo governo havia sido
fundado, ao manter seus soldados nos forte Sumter e recusar-se a sair,
estavam abrindo hostilidades aos confederados. Nesta última perspectiva, não
houve uma guerra civil, mas uma guerra entre dois países.

O início da guerra foi de muito otimismo nos dois lados. Ambos acreditavam
que a guerra seria rápida e sem muitos danos e custos. Este seria um
tremendo erro de cálculo estratégico. Durando mais de 4 anos, a guerra teria
um efeito desastroso tanto em termos humanos quanto econômico para os
Estados Unidos.

O norte possuía claras vantagens sobre o sul: tinha mais de quatro vezes o
número de pessoas aptas para servir militarmente que o Sul – que não alistaria
de fato os escravos – abrigava a maior parte do parque industrial americano e
milhares de quilômetros de estradas de ferro – o que muito facilitava a
locomoção das tropas. Também possuía um número maior de navios. O sul,
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guerra, o sul manteve totalmente o direito de expressão. Isso resultou em
críticas ferozes de jornais que diminuíam o moral das tropas e da sociedade
civil.

Durante o desenrolar da guerra, a escravidão foi um ponto fundamental.


Como uma das questões opunha o Sul e o Norte, e iniciada a guerra entre
ambas as partes, a União, liderada por Lincoln, decidiu tomar algumas atitudes
contrárias à instituição como uma estratégia de guerra contra seus opositores.
Como nos trazem Fernandes e Morais:

O presidente Abraham Lincoln propôs, então, uma


emancipação dos escravos de modo lento, gradual e
indenizado, em que o governo pagaria a quantia equivalente ao
valor dos escravos libertos para os fazendeiros, já que os
escravos eram verdadeiras mercadorias e perdê-los significaria
perder um bem, um investimento. Lincoln reafirmava, assim,
que seu objetivo maior era manter a União. Em agosto de
1861, foi aprovada a primeira “Lei do Confisco”, em que
qualquer propriedade usada em favor dos confederados (como
gado, algodão, matérias-primas e, sobretudo, escravos) que
caísse em mãos dos nortistas seria imediatamente confiscada.
Essa lei impulsionou as fugas coletivas de escravos das
fazendas, pois sabiam que, em mãos dos nortistas, poderiam
alcançar a liberdade. (...) [Em 1862] foi aprovada a segunda
“Lei do Confisco”, que finalmente declarava livre todo escravo
capturado ou fugido.10

Diante de grupos de pressão contrários à escravidão, o governo federal foi


tomando outras medidas, que aos poucos destruía os pilares sobre os quais se
baseavam esse sistema de trabalho e que resultou, por sua vez, na
desarticulação da economia sulista. Em 1863, foi proclamada a Lei de
Emancipação dos Escravos. Em 1865, depois de terminada a guerra, seria
aprovada a décima terceira emenda, que proibia a escravidão em todo território
do país.

FERNANDES, Luiz; MORAIS, Marcus V. de. “A ‘casa dividida’ e a guerra de secessão”. In:
10

KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto, 2011, p. 133.
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A respeito da história norte-americana no século XIX, julgue (C ou E) os itens que se
seguem.

1 O governo de Andrew Jackson conduziu os EUA a uma democracia de massas, e


suas propostas inovadoras — universalização do voto, demarcação de terras indígenas
e grandes obras públicas — angariaram o que antes parecia impossível: o apoio de
democratas e republicanos, de lideranças sulistas e nortistas.

Resposta: Errada

Comentário: Como comentamos anteriormente, o governo de Jackson não


universalizou o voto, mas o estendeu a grupos maiores de homens brancos. Embora
Jackson tenha demarcado algumas terras indígenas, a expulsão dos índios foi
extremamente violenta e resultou na morte de milhares de autóctones durante a
viagem para essas terras, no que ficou conhecida como “Trilha das Lágrimas”.
Finalmente, Jackson, um democrata, não conseguiu esse apoio bipartidário. Em suas
duas campanhas eleitorais foram grandes os ataques entre candidatos e que resultou
em divisão durante o período de governo.

2 Na Guerra de Secessão, defrontaram-se o Sul — essencialmente agrícola, senhorial


e escravista — e o Norte, onde vigoravam o trabalho assalariado, a pequena
propriedade e uma sólida classe média urbana; em ambos os casos, porém, o negro
estava excluído da vida política.

Resposta: Correta

Comentário: De fato, essas características elencadas são apropriadas para cada um


dos lados da guerra civil. Enquanto o Sul apostava no sistema de plantation –
latifúndios, monocultores, agroexportadores e escravistas – o Norte possuía um
sistema econômico baseado na pequena propriedade policultora, mas, principalmente
na indústria e no trabalho livre. Essa diferença econômica guardava semelhanças,
contudo, na exclusão dos negros dos direitos políticos.

3 Legítimo representante do Norte empreendedor e capitalista, Abraham Lincoln era


antiescravista e abolicionista, defensor da igualdade racial: por tais posições, sua
eleição constituiu a senha que deu início ao conflito que dividiu o país ao meio.

Resposta: Errada

Comentário: Essa questão está errada em dois aspectos. Primeiramente, Lincoln,


apesar de antiescravista, não era abolicionista, como afirmarmos anteriormente no
texto. Ele era contra a escravidão, mas não “militava” por seu fim. Em segundo, ele
não era a favor da igualdade racial, isto é, pela igualdade entre brancos e negros civil
e politicamente.

4 A partir da aquisição da Louisiana à França, no governo de Thomas Jefferson, o


sentimento nacionalista norte-americano começou a ganhar nova roupagem, a de
conquistas territoriais, vindo a Marcha para o Oeste traduzir esse espírito

Resposta: Correta
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Comentário: A conquista territorial norte-americana foi realizada por meio de


compras e conquistas militares. A compra do território da Louisiana, imensa faixa de
terra do Oeste norte-americano, impulsionou a colonização e a marcha para o Oeste
dos Estados Unidos, dentro daquela perspectiva discutida do “Destino Manifesto”,
isto é, de que cabia aos americanos a missão de ocupar os territórios entre as duas
costas oceânicas e levar a “liberdade e democracia” para essas terras.

Prova do CACD 2016, questão 60

Para a geração dos “pais fundadores”, a expansão dos Estados Unidos da América
para o oeste abria a possibilidade de realizar uma utopia espacial grandiosa. Na visão
de Thomas Jefferson, os EUA tinham uma oportunidade sem precedentes de evitar o
declínio das velhas sociedades europeias, na medida em que o seu desenvolvimento
se realizasse no espaço e não precipuamente no tempo.

Jürgen Osterhammel. Die Verwandlung der Welt. Eine Geschichte des 19.
Jahrhunderts. München: CH Beck, 2011, p. 479 (traduzido e adaptado).

A propósito do tema abordado no texto precedente, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1 O reconhecimento oficial dos Estados Confederados da América pela Rússia e pela


França, nos primeiros meses da Guerra Civil, conferiu aos secessionistas certa
legitimidade internacional, garantindo-lhes mercado consumidor para as suas
exportações agrícolas, além do fornecimento de armas e munição.

Resposta: Errada

Comentário: O erro desta questão se encontra na afirmação de que a França e a


Rússia reconheceram os Estados Confederados. Nenhuma nação reconheceu o Estado
secessionista.

2 Em meados do século XIX, com a expansão que acrescentou ao território


estadunidense áreas como a antiga colônia francesa de Luisiana, e as antigas colônias
espanholas da Flórida Ocidental, da Flórida Oriental e do Texas, os Estados Unidos
da América transformaram-se na maior potência econômica e militar do planeta.

Resposta: Errada

Comentário: Até a palavra “Texas” está tudo correto. A afirmação que se segue é
que é errônea. O Estados Unidos não se tornaram nem a maior potência econômica
nem militar durante o século XIX. Somente no século XX é que eles se tornariam a
maior potência do Ocidente, particularmente depois da Segunda Guerra Mundial.

3 O processo de expansão territorial estadunidense foi acompanhado da integração


das populações autóctones à sociedade da fronteira expandida, ainda que, geralmente,
as pessoas de origem indígena não ocupassem posições privilegiadas na comunidade
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política nem no sistema econômico.

Resposta: Errada

Comentário: Os indígenas não foram integrados à sociedade norte-americana. Ao


contrário, a política dos diversos governos foi de expulsão, combate ou de criação de
reservas específicas para esses povos. Resumindo então pessoal, sempre que se
referirem à política indígena dos EUA, pensem sempre no extermínio dos povos
autóctones!

4 Para a Guerra de Secessão contribuíram divergências entre estados do norte e do sul


dos Estados Unidos da América a respeito da escravidão, que se associaram, entre
outros, a conflitos de interesse decorrentes da defesa do livre-comércio pelos
fazendeiros sulistas e da defesa do protecionismo pela elite industrial nortista.

Resposta: Correta

Comentário: Como escrevemos mais acima, os conflitos entre os estados do sul e do


norte se davam mais do que somente a escravidão. Embora este fossem um dos
pontos, outros se acumulavam, como a disputa política entre estados do escravistas e
não-escravista no governo federal e como a questão econômica, em que os sulistas
defendiam o livre-comércio para se beneficiarem com comércio inglês, enquanto o
norte queria que suas indústrias fossem protegidas dos produtos europeus – naquele
momento, de maior qualidade.

(UFMG-MG) Abaixo se encontram descritas diferentes características dos


processos de independência da América Latina e da América do Norte. Sobre esse
contexto, leia as alternativas abaixo.
I. Nos Estados Unidos, como coincidência imediata de seu processo de
independência, ocorreu a abolição da escravatura.
II. Em toda a América Espanhola ocorreu uma aliança entre as elites locais e os
setores populares contra os interesses metropolitanos sem, contudo, produzir
mudanças nas formas de governo.
III. Na América Portuguesa, a transferência da corte para o Rio de Janeiro, bem
como a abertura dos portos às nações amigas, constitui-se em importante fator
para a crise do sistema colonial.
IV. O processo de independência no Haiti caracterizou-se por uma rebelião
escrava, constituindo-se em um singular modelo de luta anticolonial.
Marque a opção correta.

a) Todas estão corretas.


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b) Todas estão incorretas.
c) Apenas a I e a IV estão corretas.
d) Apenas a I e a III estão corretas.
e) Apenas a III e a IV estão corretas.

Comentários: I. Os Estados Unidos são aboliriam a escravidão quase um século após


sua independência e após uma violenta guerra civil. Errado.
II. Equivocado supor uma aliança generalizada entre população e elites locais. Errado.
III. A experiência brasileira com a transferência da Corte e com todas as
transformações sociais da era napoleônica foram importantes momentos para as
discussões sobre a independência. Correto.
IV. O caso haitiano se revelou singular em toda a experiência da América, já que foram
os escravos que lideraram o levante colonial contra a metrópole, inspirados pelo
modelo da revolução francesa. Correto.
Portanto, apenas as afirmações III e IV estão corretas.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Mackenzie-SP) Leis britânicas acirraram as divergências entre colonos


americanos e a Coroa inglesa, provocando a luta pela independência. Dentre os
objetivos dessas leis, destacam-se:
a) aumentar a receita real, impedir o contrabando e o comércio intercolonial e recuperar
a Companhia das Índias Orientais.
b) aumentar o consumo de chá e de açúcar na colônia, obrigar o uso de selos nas
correspondências e aumentar as exportações da colônia.
c) abolir a escravidão nas colônias, separar juridicamente as Treze Colônias e ajudar a
Pensilvânia a anexar terras no Oeste.
d) recuperar Companhia das Índias Ocidentais, abrir o porto de Boston às nações
amigas e aumentar as importações da colônia.
e) pagar indenizações à França, devido à derrota inglesa na Guerra dos Sete Anos,
revogar os atos Townshend e favorecer os produtores locais de açúcar.

Comentários: a. Um dos grandes erros do Reino Unido foi tentar controlar a sua
colônia americana pela força quando esta já havia alcançado um grau de
complexidade bastante grande. Tentar sufocar suas iniciativas econômicas e aumentar
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o controle econômico pelo fortalecimento da Companhia das Índias Ocidentais são,
sim, um dos pontos mais críticos do relacionamento. Alternativa correta.
b. As questões sobre o chá e o selo foram quanto à tentativa da Coroa inglesa de taxá-
los, o que os tornaria mais restritos. Além disto, tratava-se de uma tentativa de
controlar as exportações da colônia, e não de expandi-las.
c. A expansão para o oeste só seria discutida no século XIX, bem como a escravidão
não era alvo dos interesses britânicos naquele momento.
d. Em verdade, os ingleses optaram por restringir o comércio colonial, fortalecendo a
Companhia das Índias Ocidentais. O fechamento do porto de Boston a algumas nações
foi um dos símbolos desta nova política.
e. Queria-se impor fortes sanções contra a produção doméstica de açúcar. Bem como,
os ingleses venceram a Guerra dos Sete Anos.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(FUVEST) “O puritanismo era uma teoria política quase tanto quanto uma
doutrina religiosa. Por isso, mal tinham desembarcado naquela costa inóspita, (...)
o primeiro cuidado dos imigrantes (puritanos) foi o de se organizar em sociedade”.
Esta passagem de A DEMOCRACIA NA AMÉRICA, de A. de Tocqueville, diz
respeito à tentativa:
a) malograda dos puritanos franceses de fundarem no Brasil uma nova sociedade, a
chamada França Antártida.
b) malograda dos puritanos franceses de fundarem uma nova sociedade no Canadá.
c) bem-sucedida dos puritanos ingleses de fundarem uma nova sociedade no Sul dos
Estados Unidos.
d) bem-sucedida dos puritanos ingleses de fundarem uma nova sociedade no Norte dos
Estados Unidos, na chamada Nova Inglaterra.
e) bem-sucedida dos puritanos ingleses, responsáveis pela criação de todas as colônias
inglesas na América.

Comentários: a. Os puritanos eram, sobretudo, protestantes ingleses. Enquanto, os


franceses eram, em sua maioria, católicos.
b. Idem.
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c. A sul da costa leste dos Estados Unidos não pode ser propriamente descrito como
inóspito. Pelo contrário, trata-se de um terreno fértil e propício para a fixação do
homem.
d. A Nova Inglaterra, no norte dos Estados Unidos, foi o primeiro grande foco dos
puritanos ingleses, que, organizados em uma sociedade muito coesa, conseguiram
vencer as dificuldades do terreno. Alternativa correta.
e. É errado restringir aos ingleses a fundação das colônias americanas, que também
contaram com irlandeses e holandeses.
Gabarito: ALTERNATIVA D.

(UFF-RJ) Os processos de ocupação do território americano do Norte simbolizam,


para muitos historiadores, a presença do ideário europeu no Novo Mundo. Os
pioneiros ingleses do Mayflower construíram uma sociedade baseada na justiça e
no cumprimento dos valores religiosos e morais protestantes. Essa base fundadora
teve papel essencial na formação dos Estados Unidos da América.
Assinale a opção que contém a relação correta entre a fundação e a formação dos
Estados Unidos.
a) A Revolução Americana de 1776 representou, nos Estados Unidos, a presença dos
valores da Revolução Francesa, mostrando como os americanos estavam sintonizados
com a Europa e não queriam se separar da Inglaterra.
b) A Revolução Americana de 1776 foi o episódio que representou, de forma mais
cabal, a presença da tradição dos primeiros colonos, através do sentido de liberdade e da
ideia de "destino manifesto".
c) A Revolução Americana de 1776 apresentou valores que eram oriundos das culturas
indígenas da região americana e por isso garantiu a expressão radical de liberdade, na
revolução.
d) A revolução de 1776 foi um episódio isolado na história dos Estados Unidos, pois
fundamentou-se em valores de unidade que não foram capazes de fazer dos Estados
Unidos um país americano.
e) A Revolução Americana de 1776 foi apenas um ensaio do que ocorreria no século
XIX nos Estados Unidos, por isso, podemos pensá-la como um apêndice da Guerra de
Secessão, esta sim vinculada à Revolução Francesa.
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Comentários: a. Erro cronológico grosseiro, uma vez que a revolução americana
(1776) aconteceu 13 anos antes da francesa (1789). Além disso, a separação da
Inglaterra, apesar de controversa, fazia parte do imaginário de alguns setores da
revolução.
b. A Revolução Americana, de fato, marca a cisão simbólica e prática entre os colonos
americanos e as tradições europeias, tornando muito profunda a ideia de destino
especial do povo americano. Alternativa correta.
c. Os puritanos ingleses jamais tiveram um contato profundo com as nações indígenas
da América do Norte e a Revolução Americana foi, sobretudo, uma ação desses
puritanos. Ou seja, associar a Revolução aos valores indígenas está incorreto.
d. A alternativa conta com uma redação bastante pobre, mas o Estado criado com a
revolução de 1776 teve sucesso e, com algumas transformações menores, conseguiu
organizar-se como uma federação bem-sucedida.
e. A Guerra de Secessão foi um conflito interno, entre cidadãos americanos; enquanto a
Revolução de 1776 foi uma guerra contra os ingleses. Causas bastante distintas,
portanto.
Gabarito: ALTERNATIVA B

(Cesgranrio-RJ) Durante o século XVII, grupos puritanos ingleses perseguidos por


suas ideias políticas (antiabsolutistas) e por suas crenças religiosas (protestantes
calvinistas) abandonaram a Inglaterra, fixando-se na costa leste da América do
Norte, onde fundaram as primeiras colônias. A colonização inglesa nessa região foi
facilitada:
a) pela propagação das ideias iluministas, que preconizavam a proteção e o respeito aos
direitos naturais dos governados.
b) pelo desejo de liberdade dos puritanos em relação à opressão metropolitana.
c) pelo abandono dessa região por parte da Espanha, que então atuava no eixo México-
Peru
d) pela possibilidade de explorar grandes propriedades agrárias com produção destinada
ao mercado europeu.
e) pelas consciências políticas dos colonos americanos, desde logo treinados nas lutas
coloniais.
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Comentários: a. A ideia de direito natural foi, isso sim, rediscutida pelos iluministas,
que preferiam a ideia de contrato social para definir a organização do Estado. Além
disso, as ideias, por si só, não fixariam os colonos em terreno tão inóspito.
b. Os puritanos eram, antes de tudo, perseguidos em busca de liberdade para suas
crenças. O ambiente do Reino Unido lhes era francamente desfavorável, sendo
preferível arriscarem tudo num novo mundo. Alternativa correta.
c. A Espanha não havia conquistado aquela porção do território da América do Norte.
d. Este fator não explicaria, por exemplo, a construção das colônias do nordeste do
continente, onde o clima e o solo eram muito parecidos com aqueles do continente
europeu. Ou seja, não eram atrativas do ponto de vista comercial.
e. Os colonos americanos eram pouco habituados à vida militar e ao conflito.
Gabarito: ALTERNATIVA B

(FGV-SP) A conquista colonial inglesa resultou no estabelecimento de três áreas


com características diversas na América do Norte. Com relação às chamadas
“colônias do sul” é correto afirmar que:
a) baseava-se, sobretudo, na economia familiar e desenvolveu uma ampla rede de
relações comerciais com as novas colônias do Norte e com o Caribe.
b) baseava-se numa forma de servidão temporária que submetia os colonos pobres a um
conjunto de obrigações em relação aos grandes proprietários de terras.
c) baseava-se numa economia escravista voltada principalmente para o mercado externo
de produtos, como o tabaco e o algodão.
d) consolidou-se como o primeiro grande pólo industrial da América com a
transferência de diversos produtores de tecidos vindos da região de Manchester.
e) caracterizou-se pelo emprego de mão de obra assalariada e pela presença da grande
propriedade agrícola monocultora.

Comentários: a. O clima das colônias do sul e as possibilidades de expansão


territorial fez da região uma zona produtora de alto interesse para os mercados
europeus. Ou seja, sua vocação foi voltada para Europa, e não para região.
b. A economia das colônias do sul não se baseava na servidão, mas sim na escravidão
baseada na cor da pele.
c. Capitaneadas pelo cultivo do algodão e do tabaco, as colônias do sul se organizaram
com base na mão de obra escrava, no latifúndio e na monocultura. Alternativa correta.
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d. A vocação industrial das treze colônias ficou com o Norte, enquanto o Sul se baseava
na plantation.
e. A forma de produção presente no Sul, como já dito, combinava o latifúndio e mão de
obra escrava.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(PUC-PR) O chá veio da China e atingiu a Europa no início do século XVII com o
primeiro carregamento chegando a Amsterdã em 1609. A partir do século XVIII, a
Inglaterra torna-se o principal importador de chá da Europa. Nesse mesmo
período, o chá consistiu em importante bebida da população dos Estados Unidos
da América, ainda colônia inglesa. A partir desse contexto, marque a alternativa
CORRETA:
a) Esse período é marcado pela questão dos impostos, especialmente a aprovação, em
1773, do imposto inglês sobre o chá, produto importado e muito consumido pelos
colonos.
b) Em meados do século XVIII, fortaleceram-se as relações entre colonos norte-
americanos e a sua metrópole inglesa, especialmente com o apoio dos colonos contra os
invasores espanhóis.
c) Além do imposto sobre o chá, o Parlamento inglês aprovou também o imposto sobre
o açúcar. No entanto, essa lei não foi tão grave, pois esse produto não era importante
para os Estados Unidos, que, nessa época, quase não consumiam açúcar.
d) A Lei do Chá está relacionada ao episódio em que colonos ingleses, vestidos de
índios, jogaram um carregamento de chá no mar, no porto de Boston. Esse incidente
radical levou a Inglaterra a reconhecer a independência dos Estados Unidos.
e) Os conflitos entre Inglaterra e França (Guerra dos Sete Anos - 1756-1763) estão
relacionados diretamente à 'Guerra de Secessão' norte-americana.

Comentários: a. Tentando restabelecer o controle sobre a colônia e sanear as finanças


metropolitanas, os ingleses decidiram por taxar as importações coloniais de chá.
Alternativa correta.
b. A Coroa espanhola já não tinha mais grandes condições de tentar uma expansão
territorial no século XVIII. Ao mesmo tempo, em meados do século, ingleses e colonos
americanos experimentavam alguns desentendimentos severos.
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c. O açúcar fazia parte do comércio internacional das colônias americanas,
principalmente com sua triangulação com as Antilhas e a África.
d. Apesar de importante, o caso do chá no porto de Boston ainda estava muito longe de
desdobrar-se na independência das colônias americanas.
e. A Guerra dos Sete Anos e a Guerra de Secessão estão distantes um continente e um
século uma da outra.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Fatec) No caso da história americana, um dos eventos mais retratados pela memória
social é, sem dúvida, a chamada Marcha para o Oeste. Mesmo antes do surgimento
do cinema, esses temas já faziam parte das imagens da história americana. A
fronteira foi um tema constante dos pintores do século XIX. A imagem das caravanas
de colonos e peregrinos, da corrida do ouro, dos cowboys, das estradas de ferro
cruzando os desertos, dos ataques dos índios marcam a arte, a fotografia e também a
cinematografia americana. (CARVALHO, Mariza Soares de. In:
http://www.historia.uff.br/primeirosescritos/files/pe02- 2.pdf, acessado em
29.08.2009)
Entre os fatores que motivaram e favoreceram a Marcha para o Oeste está:
a) a possibilidade de as famílias de colonos tornarem-se proprietárias, o que também
atraiu imigrantes europeus.
b) o desejo de fugir da região litorânea afundada em guerras com tribos indígenas
fixadas ali desde o período da colonização.
c) a beleza das paisagens americanas, o que atraiu muitos pintores e fotógrafos para
aquela região.
d) o avanço da indústria cinematográfica, que encontrou no Oeste o lugar perfeito para a
realização de seus filmes.
e) a existência de terras férteis que incentivaram a ida, para o Oeste, de agricultores que
buscavam ampliar suas plantações de algodão.

Comentários: a. A expansão para o Oeste foi acompanhada da distribuição de terras


para os colonos que estivessem dispostos à fixação do território e aos riscos da
empreitada. Alternativa correta.
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b. Pelo contrário, a penetração no continente era que representava a possibilidade real
de choque com as nações indígenas, que haviam refluído para o continente após
décadas de embates na costa.
c. O delta do Mississipi no sul das treze colônias era muito mais interessante do que as
agruras do deserto além das rochosas. Tratava-se de uma geografia difícil para os
pioneiros.
d. O cinema só seria inventado, na França, no final do século XIX; enquanto a marcha
para o Oeste data do início do século.
e. Era uma expedição incerta para a agricultura, principalmente pelos riscos
constantes de ataque. Além disso, a oeste das rochosas, há o deserto central americano.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Puc-SP) A expansão dos Estados Unidos em direção ao oeste, na primeira metade


do século XIX, envolveu, entre outros fatores, a:
a) intervenção norte-americana na guerra de independência do México, da América
Central e de Cuba.
b) anexação militar do Alasca, resultado de longo conflito armado com a Rússia.
c) Guerra de Secessão, que opôs os escravistas dos estados do sul aos abolicionistas do
norte.
d) implantação de um sistema legal rigoroso nas áreas ocupadas, evitando conflitos
armados na região.
e) remoção indígena, transferindo comunidades indígenas que viviam a leste do rio
Mississipi para outras regiões.

Comentários: a. A guerra hispano-americana data do final do século XIX, quando o


território continental dos EUA já havia alcançado os dois oceanos.
b. O Alasca foi adquirido da Rússia em 1867, num outro contexto e sem a necessidade
de conflito armado.
c. A Guerra de Secessão é posterior à marcha para o Oeste colocada em causa.
d. A expansão territorial foi feita com dificuldades de ampliação do Estado, estando
mais a cargo dos homens da região do que do governo central em Washington. Ou seja,
foi um movimento marcado pela violência e pela lei do mais forte.
e. Os embates constantes contra as nações indígenas foram uma das grandes marcas do
período, exigindo remoções e alguns acordos de paz.
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Gabarito: ALTERNATIVA E.

(UFF 2009)
“Todos os homens foram criados iguais e são dotados de certos direitos
inalienáveis, dentre os quais estão a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade”.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos foi marco de um processo que
apontou para grandes transformações; com ela rompia-se o domínio colonial
europeu sobre o continente americano. Entretanto, não assistimos só a rupturas,
mas também a continuidades na separação das colônias inglesas e na
formação estadunidense. Sobre tal processo, pode-se afirmar que:
I. embora baseada nos ideais liberais de igualdade e liberdade, a legislação
americana, à época da independência, por mais que garantisse a liberdade de
religião, de expressão e de reunião, construiu uma soberania popular restrita, a
partir de um sistema eleitoral censitário, que beneficiava os proprietários;
II. a Constituição de 1787 reforçava o poder central e equilibrava as disparidades
entre os estados, através do Congresso bicameral – o Senado e a Câmara de
Representantes – e do papel atribuído à Suprema Corte, construindo um sistema
inteiramente novo;
III. os ideais liberais da Revolução Americana definem-se pela defesa intransigente
da liberdade econômica e pela renúncia a qualquer tipo de protecionismo,
resultando na dominação dos setores do Norte, de forte tradição comercial e pela
necessidade de importação dos bens produzidos pela indústria
inglesa, contrariando os interesses dos proprietários sulistas, que buscavam
fortalecer a sua economia, para abastecer o mercado interno;
IV. a manutenção da escravidão, uma das grandes heranças do período colonial,
visava a atender os interesses dos proprietários rurais da região sul, bem como dos
comerciantes de almas, inclusive retirando-se da redação final da Declaração de
Independência o trecho que criticava a propriedade escrava.
Assinale a opção correta.
a) A afirmativa I está correta.
b) As afirmativas I, II e III estão corretas.
c) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
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Comentários: I. De fato, os preceitos de igualdade e de liberdade, como era comum


também na Europa, não se estendiam sobre os direitos eleitorais, que continuavam a
operar com uma noção mais restrita sobre a cidadania e seus alcances. Afirmativa
correta.
II. Pela primeira vez, a tripartição do poder era elevada à prática mais genuína e
equilibrada, construindo um sistema de pesos e contrapesos para evitar a tirania.
Afirmativa correta.
III. A afirmativa dá algumas chances ao candidato para compreender que está errada.
Primeiro, a Constituição americana não alcançou a regulação da vida econômica,
ainda que preveja a livre iniciativa. Além disso, o Sul preferia a abertura do mercado e
o fim do protecionismo, uma vez que suas mercadorias tinham alta capacidade de
competição no mercado internacional.
IV. A redação da Constituição, por fim, não determinava o fim da escravidão, que só
viria com a 13ª emenda, um século mais tarde. Afirmativa correta.
Portanto, estão corretas I, II e IV.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(Cesgranrio) No início do governo Abraão Lincoln, os Estados Unidos


apresentavam-se divididos e, nas palavras desse Presidente, o país era “uma casa
dividida contra si mesma”, uma vez que:
I - os sulistas, favoráveis ao sistema escravista, reagiram com hostilidade à eleição
de um Presidente contrário à expansão desse sistema;
II - a secessão sulina era um rude golpe para o país, face ao caráter complementar
das economias do norte e do sul;
III - os Estados nortistas não abriram mão da política livre-cambista, condenada
pelo Sul protecionista;
IV - divididos internamente, os Estados Unidos não poderiam prosperar
economicamente e enfrentar desafios externos.

Assinale se estão corretas apenas:


a) I e II
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b) I e III
c) II e IV
d) I, II e III
e) I, II e IV

Comentários: I. A eleição de Lincoln era um risco aos interesses sulistas quanto à


manutenção da escravidão. Afirmativa correta.
II. O perfil agroexportador das colônias sulistas associado à indústria nascente dos
estados do norte criava um complexo econômico bastante dinâmico e saudável para os
EUA. Afirmativa correta.
III. O Sul preferia uma postura mais liberal quanto ao comércio internacional,
enquanto a indústria nascente nortista pedia proteções para o mercado doméstico.
IV. Os custos de uma divisão doméstica e suas consequências praticamente
imobilizavam o país nascente, tanto pela questão econômica quanto pela instabilidade
político-militar. Afirmativa correta.
Portanto, estão corretas as afirmativas I, II e IV.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Cesgranrio) A expansão territorial dos Estados Unidos, ao longo do século XIX,


caracterizou-se por um forte sentimento nacionalista. Sobre essa expansão
podemos afirmar que:
a) encerrou as divergências entre o Norte e o Sul, quanto à utilização da mão-de-obra
escrava.
b) retardou o crescimento demográfico da população norte-americana.
c) priorizou a mineração em detrimento das atividades industriais e agrícolas.
d) acarretou o fortalecimento político da representação nortista no Congresso Norte-
Americano.
e) impediu a emigração devido à política de defesa das fronteiras do país.

Comentários: a. A expansão territorial não só não saneou as rivalidades domésticas,


como também as tornou um pouco mais profundas. Tanto que décadas mais tardes
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ocorreria a guerra civil.


b. O sonho do garimpo e da conquista de novas terras atraiu novos imigrantes para os
Estados Unidos, injetando um novo ânimo ao crescimento demográfico do país.
c. A mineração foi, sem dúvida, um vetor importante para a expansão territorial; no
entanto, é equivocado falar que isto se deu às custas da indústria e da agricultura.
d. A atração exercida pela economia nortista e a resistência federal em permitir a
escravidão nos novos estados fez com que a expansão revertesse o desequilíbrio no
Congresso, anteriormente favorável ao Sul. Alternativa correta.
e. Os fluxos de pessoas foram características essenciais para o bom funcionamento da
expansão territorial.
Gabarito: ALTERNATIVA D.

(Fuvest) Da vitória dos estados nortistas na "Guerra de Secessão" resultou:


a) diminuição do número de pequenos e médios proprietários e o crescimento da
aristocracia rural no sul.
b) unificação do mercado interno, desenvolvimento capitalista e transformação dos
EUA em potência econômica.
c) anexação da região do Texas ao território dos EUA.
d) extinção do tráfico de escravos negros para os EUA.
e) regulamentação, pelo compromisso do Missouri, dos territórios que passaram a ser
escravistas ou livres.

Comentários: a. Os resultados foram muito ruins para os estados sulistas, que já tinha
sua aristocracia rural antes da guerra.
b. A vitória do norte conseguiu selar a unificação territorial sob a federação; bem
como a vitória do sistema capitalista industrial sobre a plantation sulista. Apesar de ser
exagerado falar na transformação dos EUA numa potência, a alternativa está correta.
c. A anexação do Texas foi consequência da guerra americana contra o México.
d. O tráfico negreiro para os Estados Unidos já havia sido abolido antes da guerra
civil.
e. A escravidão foi abolida em todo território americano pela 13ª emenda à
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Constituição.
Gabarito: ALTERNATIVA B

(Fuvest) Ao final da Guerra de Secessão, a constituição dos Estados Unidos sofreu


a XIII Emenda, que aboliu a escravidão. Os brancos sulistas:
a) abatidos, emigraram em massa, para não conviver com os negros em condições de
igualdade política e social.
b) inconformados com a concessão de direitos aos negros, desenvolveram a segregação
racial e criaram sociedades secretas que os perseguiam.
c) arruinados, tiveram suas terras submetidas a uma reforma agrária e distribuídas aos
ex-escravos.
d) desanimados, abandonaram a agricultura e voltaram-se para a indústria, a fim de se
integrarem à prosperidade do capitalismo do norte.
e) recuperados, substituíram as plantações de algodão por café, contratando seus ex-
escravos como assalariados.

Comentários: a. Os brancos sulistas permaneceram em suas propriedades, bem como


não aceitaram completamente a igualdade com os negros.
b. Com o fim da guerra e da escravidão, os brancos sulistas tentaram manter suas
superioridades sociais contra os antigos escravos, desta vez organizando uma
segregação amparado nas liberdades de cada estado legislar sobre muitos temas.
Alternativa correta.
c. A reforma agrária americana observou, sobretudo, as terras anexadas a oeste.
d. O Sul, apesar da integração ao sistema capitalista, continuou muito próximo das
lógicas agrícolas.
e. Não se pode falar que os brancos sulistas saíram recuperados da guerra, já que
lutaram por muito tempo às expensas de suas propriedades.
Gabarito: ALTERNATIVA B.

(Puc-SP) "A Guerra Civil Norte-americana (1861-65) representou uma confissão


de que o sistema político falhou, esgotou os seus recursos sem encontrar uma
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solução (para os conflitos políticos mais importantes entre as grandes regiões


norte-americanas, a Norte e a Sul). Foi uma prova de que mesmo numa das
democracias mais antigas, houve uma época em que somente a guerra podia
superar os antagonismos políticos."
(Eisenberg, Peter Louis. GUERRA CIVIL AMERICANA. S. Paulo, Brasiliense, 1982.)

Dentre os conflitos geradores dos antagonismos políticos referidos no texto está a


a) manutenção, pela sociedade sulista, do regime de escravidão, o que impediria a
ampliação do mercado interno para o escoamento da produção industrial nortista.
b) opção do Norte pela produção agrícola em larga escala voltada para o mercado
externo, o que chocava com a concorrência dos sulistas que tentavam a mesma
estratégia.
c) necessidade do Sul de conter a onda de imigração da população nortista para seus
territórios, o que ocorria em função da maior oferta de trabalho e da possibilidade do
exercício da livre-iniciativa.
d) ameaça exercida pelos sulistas aos grandes latifundiários nortistas, o que se devia aos
constantes movimentos em defesa da reforma agrária naquela região em que havia
concentração da propriedade da terra.
e) adesão dos trabalhadores sulistas ao movimento trabalhista internacional, o que
ameaçava a estabilidade das relações trabalhistas praticadas na região norte.

Comentários: a. As lógicas capitalistas que se fortaleciam a passos largos no Norte


não comportavam as pressões escravocratas do Sul, cujos padrões de produção
agroexportadora exigiam a mão de obra escrava. Alternativa correta.
b. O Norte manteve-se atrelado à produção industrial, até porque suas características
físicas não lhe permitiam entrar de maneira competitiva no mercado internacional de
produtos agrícolas.
c. Pelo contrário, a possibilidade de chegar a territórios onde a escravidão fora banida
fazia com que os escravos sulistas tentassem fugir para o Norte, que concentrava os
estados abolicionistas.
d. Os latifúndios americanos se concentravam nos estados do Sul. As ideias
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progressistas do Norte, isto sim, representavam uma ameaça ao modelo de plantation


do Sul.
e. O Sul queria manter distância de qualquer discussão trabalhista, uma vez que sua
economia se baseava quase que inteiramente na mão de obra escrava.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Ufmg) Todas as alternativas contêm razões econômicas responsáveis pela eclosão


da Guerra Civil Americana, EXCETO:
a) A disputa entre as ideias protecionistas do Norte e o livre-cambismo proposto pelo
Sul.
b) O aguçamento das contradições gerado pela conquista do Oeste, quando surgiram
novos estados.
c) O desequilíbrio da balança comercial americana provocado pela crise no sistema de
transportes de mercadorias do Norte para o Sul.
d) O grande obstáculo à ampliação do mercado consumidor representado pela
permanência da estrutura escravista.
e) Os profundos contrastes econômicos entre o norte industrial e o sul agroexportador.

Comentários: a. Por ser altamente competitivo, o Sul preferia a adoção de uma


política de livre-mercado; enquanto a indústria nascente do Norte preferia a proteção
ao mercado doméstico.
b. O surgimento de novos estados com a expansão territorial gerou um desequilíbrio na
dinâmica política americana. Entre outros fatores, diluiu a força dos sulistas na
Câmara dos Representantes.
c. Não faz sentido falar em desequilíbrio da balança comercial entre Norte e Sul, uma
vez que se tratava de um só país. Ou seja, esta é a única alternativa errada.
d. A estrutura escravista do sul mantinha uma parcela significativa da população fora
do mercado consumidor, fora do alcance das dinâmicas capitalistas da indústria do
norte. Isto é, representava numa subutilização do mercado doméstico.
e. As orientações dos dois modelos econômicos em funcionamento num mesmo país, por
serem contraditórias entre si, geravam uma série de tensões de difícil administração.
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Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UFV) "Os Estados Confederados podem adquirir novo território. [...] Em todos
esses territórios, a instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos Estados
Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e pelo governo
territorial; e os habitantes dos vários Estados Confederados e Territórios terão o
direito de levar para esse território quaisquer escravos legalmente possuídos por
eles em quaisquer Estados ou Territórios dos Estados Confederados [...]."
("Constituição dos Estados Confederados da América", Art. IV, seção 3, 1861.)

O texto acima reflete um dos pontos centrais de discórdia que geraram a Guerra
Civil Americana. Esta guerra civil foi o resultado:
a) da ação imperialista americana que, a partir da Doutrina Monroe, passou a intervir na
América Latina.
b) da luta entre os colonos e a Metrópole Inglesa, o que redundaria na independência
dos Estados Unidos.
c) da Grande Depressão, intensificando a pobreza e o desemprego nas grandes cidades
americanas.
d) da luta pelos direitos civis, particularmente dos negros, forçando uma reinterpretação
da Constituição Americana.
e) da oposição dos interesses dos Estados do Sul e do Norte em torno da questão da
escravidão e da expansão para o Oeste.

Comentários: a. A Guerra de Secessão foi uma questão intestina dos Estados Unidos, e
não uma contradição com a região.
b. A independência americana foi consolidada em 1776; ou seja, um século antes da
guerra civil.
c. A Grande Depressão corresponde, grosso modo, à década de 1930. Isto é,
completamente fora do período em tela.
d. A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos foi uma reação contra o sistema de
segregação racial erigido no Sul como uma reação à derrota na Guerra de Secessão.
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e. A reorganização do país após a expansão para o Oeste e o desacordo fundamental


em da escravidão foram, de fato, pontos fundamentais para a eclosão da guerra.
Alternativa correta.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Unesp) “A Ku-Klux-Klan foi organizada para segurança própria... o povo do Sul


se sentia muito inseguro. Havia muitos nortistas vindos para cá (Sul), formando
ligas por todo o país. Os negros estavam se tornando muito insolentes e o povo
branco sulista de todo o estado de Tennessee estava bastante
alarmado.” (ENTREVISTA DE NATHAN BEDFORD FORREST ao JORNAL DE
CINCINNATI, Ohio, 1868.)
A leitura deste depoimento, feito por um membro da Ku-Klux-Klan, permite
entender que esta organização tinha por objetivo

a) assegurar os direitos políticos da população branca, pelo voto censitário, eliminando


as possibilidades de participação dos negros nas eleições.
b) impedir a formação de ligas entre nortistas e negros, que propunham a reforma
agrária nas terras do sul dos Estados Unidos.
c) unir os brancos para manter seus privilégios e evitar que os negros, com apoio dos
nortistas, tivessem direitos garantidos pelo governo.
d) proteger os brancos das ameaças e massacres dos negros, que criavam empecilhos
para o desenvolvimento econômico dos estados sulistas.
e) evitar confrontos com os nortistas, que protegiam os negros quando estes atacavam
propriedades rurais dos sulistas brancos.

Comentários: A questão mais remete à interpretação de texto do que propriamente ao


conhecimento sobre os desenvolvimentos da KKK. Da entrevista, entende-se que a
principal preocupação dos fundadores deste tipo de organização é a reorganização dos
brancos sulistas em núcleos sólidos no sentido de garantir a supremacia branca nos
antigos estados escravocratas. Desta forma, a alternativa mais adequada é a C, que
fala da reação dos brancos sulistas contra a possibilidade de organização dos negros e
dos nortistas no sentido de desafiar-lhes a supremacia.
Gabarito: ALTERNATIVA C.
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Lista de Exercícios Apresentados

Prova do CACD 2015, questão 59

Independentes em 1776, os EUA lançaram-se ao esforço de consolidação nacional ao


longo do século XIX, assumindo e vencendo muitos desafios, mas foram envolvidos em
uma monumental guerra civil que explicitou diferenças marcantes — aparentemente
inconciliáveis — entre o Sul e o Norte do país. Ao fundo, o que estava em jogo era o
modelo de desenvolvimento econômico, que colocava no centro do debate a dramática
questão da escravidão. A eleição de 1860, na qual Abraham Lincoln saiu-se vitorioso,
polarizou de tal forma o debate acerca do trabalho escravo que abriu o caminho para a
Guerra de Secessão.

A respeito da história norte-americana no século XIX, julgue (C ou E) os itens que se


seguem.

1 O governo de Andrew Jackson conduziu os EUA a uma democracia de massas, e suas


propostas inovadoras — universalização do voto, demarcação de terras indígenas e
grandes obras públicas — angariaram o que antes parecia impossível: o apoio de
democratas e republicanos, de lideranças sulistas e nortistas.
2 Na Guerra de Secessão, defrontaram-se o Sul — essencialmente agrícola, senhorial e
escravista — e o Norte, onde vigoravam o trabalho assalariado, a pequena propriedade e
uma sólida classe média urbana; em ambos os casos, porém, o negro estava excluído da
vida política.
3 Legítimo representante do Norte empreendedor e capitalista, Abraham Lincoln era
antiescravista e abolicionista, defensor da igualdade racial: por tais posições, sua eleição
4 A partir da aquisição da Louisiana à França, no governo de Thomas Jefferson, o
sentimento nacionalista norte-americano começou a ganhar nova roupagem, a de
conquistas territoriais, vindo a Marcha para o Oeste traduzir esse espírito

Prova do CACD 2016, questão 60

Para a geração dos “pais fundadores”, a expansão dos Estados Unidos da América para
o oeste abria a possibilidade de realizar uma utopia espacial grandiosa. Na visão de
Thomas Jefferson, os EUA tinham uma oportunidade sem precedentes de evitar o
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declínio das velhas sociedades europeias, na medida em que o seu desenvolvimento se
realizasse no espaço e não precipuamente no tempo.

Jürgen Osterhammel. Die Verwandlung der Welt. Eine Geschichte des 19.
Jahrhunderts. München: CH Beck, 2011, p. 479 (traduzido e adaptado).
A propósito do tema abordado no texto precedente, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1 O reconhecimento oficial dos Estados Confederados da América pela Rússia e pela


França, nos primeiros meses da Guerra Civil, conferiu aos secessionistas certa
legitimidade internacional, garantindo-lhes mercado consumidor para as suas
exportações agrícolas, além do fornecimento de armas e munição.
2 Em meados do século XIX, com a expansão que acrescentou ao território
estadunidense áreas como a antiga colônia francesa de Luisiana, e as antigas colônias
espanholas da Flórida Ocidental, da Flórida Oriental e do Texas, os Estados Unidos da
América transformaram-se na maior potência econômica e militar do planeta.
3 O processo de expansão territorial estadunidense foi acompanhado da integração das
populações autóctones à sociedade da fronteira expandida, ainda que, geralmente, as
pessoas de origem indígena não ocupassem posições privilegiadas na comunidade
política nem no sistema econômico.
4 Para a Guerra de Secessão contribuíram divergências entre estados do norte e do sul
dos Estados Unidos da América a respeito da escravidão, que se associaram, entre
outros, a conflitos de interesse decorrentes da defesa do livre-comércio pelos
fazendeiros sulistas e da defesa do protecionismo pela elite industrial nortista.

(UFMG-MG) Abaixo se encontram descritas diferentes características dos


processos de independência da América Latina e da América do Norte. Sobre esse
contexto, leia as alternativas abaixo.
I. Nos Estados Unidos, como coincidência imediata de seu processo de
independência, ocorreu a abolição da escravatura.
II. Em toda a América Espanhola ocorreu uma aliança entre as elites locais e os
setores populares contra os interesses metropolitanos sem, contudo, produzir
mudanças nas formas de governo.
III. Na América Portuguesa, a transferência da corte para o Rio de Janeiro, bem
como a abertura dos portos às nações amigas, constitui-se em importante fator
para a crise do sistema colonial.
IV. O processo de independência no Haiti caracterizou-se por uma rebelião
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escrava, constituindo-se em um singular modelo de luta anticolonial.
Marque a opção correta.

a) Todas estão corretas.


b) Todas estão incorretas.
c) Apenas a I e a IV estão corretas.
d) Apenas a I e a III estão corretas.
e) Apenas a III e a IV estão corretas.

(Mackenzie-SP) Leis britânicas acirraram as divergências entre colonos


americanos e a Coroa inglesa, provocando a luta pela independência. Dentre os
objetivos dessas leis, destacam-se:
a) aumentar a receita real, impedir o contrabando e o comércio intercolonial e recuperar
a Companhia das Índias Orientais.
b) aumentar o consumo de chá e de açúcar na colônia, obrigar o uso de selos nas
correspondências e aumentar as exportações da colônia.
c) abolir a escravidão nas colônias, separar juridicamente as Treze Colônias e ajudar a
Pensilvânia a anexar terras no Oeste.
d) recuperar Companhia das Índias Ocidentais, abrir o porto de Boston às nações
amigas e aumentar as importações da colônia.
e) pagar indenizações à França, devido à derrota inglesa na Guerra dos Sete Anos,
revogar os atos Townshend e favorecer os produtores locais de açúcar.

(FUVEST) “O puritanismo era uma teoria política quase tanto quanto uma
doutrina religiosa. Por isso, mal tinham desembarcado naquela costa inóspita, (...)
o primeiro cuidado dos imigrantes (puritanos) foi o de se organizar em sociedade”.
Esta passagem de A DEMOCRACIA NA AMÉRICA, de A. de Tocqueville, diz
respeito à tentativa:
a) malograda dos puritanos franceses de fundarem no Brasil uma nova sociedade, a
chamada França Antártida.
b) malograda dos puritanos franceses de fundarem uma nova sociedade no Canadá.
c) bem-sucedida dos puritanos ingleses de fundarem uma nova sociedade no Sul dos
Estados Unidos.
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d) bem-sucedida dos puritanos ingleses de fundarem uma nova sociedade no Norte dos
Estados Unidos, na chamada Nova Inglaterra.
e) bem-sucedida dos puritanos ingleses, responsáveis pela criação de todas as colônias
inglesas na América.

(UFF-RJ) Os processos de ocupação do território americano do Norte simbolizam,


para muitos historiadores, a presença do ideário europeu no Novo Mundo. Os
pioneiros ingleses do Mayflower construíram uma sociedade baseada na justiça e
no cumprimento dos valores religiosos e morais protestantes. Essa base fundadora
teve papel essencial na formação dos Estados Unidos da América.
Assinale a opção que contém a relação correta entre a fundação e a formação dos
Estados Unidos.
a) A Revolução Americana de 1776 representou, nos Estados Unidos, a presença dos
valores da Revolução Francesa, mostrando como os americanos estavam sintonizados
com a Europa e não queriam se separar da Inglaterra.
b) A Revolução Americana de 1776 foi o episódio que representou, de forma mais
cabal, a presença da tradição dos primeiros colonos, através do sentido de liberdade e da
ideia de "destino manifesto".
c) A Revolução Americana de 1776 apresentou valores que eram oriundos das culturas
indígenas da região americana e por isso garantiu a expressão radical de liberdade, na
revolução.
d) A revolução de 1776 foi um episódio isolado na história dos Estados Unidos, pois
fundamentou-se em valores de unidade que não foram capazes de fazer dos Estados
Unidos um país americano.
e) A Revolução Americana de 1776 foi apenas um ensaio do que ocorreria no século
XIX nos Estados Unidos, por isso, podemos pensá-la como um apêndice da Guerra de
Secessão, esta sim vinculada à Revolução Francesa.

(Cesgranrio-RJ) Durante o século XVII, grupos puritanos ingleses perseguidos por


suas ideias políticas (antiabsolutistas) e por suas crenças religiosas (protestantes
calvinistas) abandonaram a Inglaterra, fixando-se na costa leste da América do
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Norte, onde fundaram as primeiras colônias. A colonização inglesa nessa região foi
facilitada:
a) pela propagação das ideias iluministas, que preconizavam a proteção e o respeito aos
direitos naturais dos governados.
b) pelo desejo de liberdade dos puritanos em relação à opressão metropolitana.
c) pelo abandono dessa região por parte da Espanha, que então atuava no eixo México-
Peru
d) pela possibilidade de explorar grandes propriedades agrárias com produção destinada
ao mercado europeu.
e) pelas consciências políticas dos colonos americanos, desde logo treinados nas lutas
coloniais.

(FGV-SP) A conquista colonial inglesa resultou no estabelecimento de três áreas


com características diversas na América do Norte. Com relação às chamadas
“colônias do sul” é correto afirmar que:
a) baseava-se, sobretudo, na economia familiar e desenvolveu uma ampla rede de
relações comerciais com as novas colônias do Norte e com o Caribe.
b) baseava-se numa forma de servidão temporária que submetia os colonos pobres a um
conjunto de obrigações em relação aos grandes proprietários de terras.
c) baseava-se numa economia escravista voltada principalmente para o mercado externo
de produtos, como o tabaco e o algodão.
d) consolidou-se como o primeiro grande pólo industrial da América com a
transferência de diversos produtores de tecidos vindos da região de Manchester.
e) caracterizou-se pelo emprego de mão de obra assalariada e pela presença da grande
propriedade agrícola monocultora.

(PUC-PR) O chá veio da China e atingiu a Europa no início do século XVII com o
primeiro carregamento chegando a Amsterdã em 1609. A partir do século XVIII, a
Inglaterra torna-se o principal importador de chá da Europa. Nesse mesmo
período, o chá consistiu em importante bebida da população dos Estados Unidos
da América, ainda colônia inglesa. A partir desse contexto, marque a alternativa
CORRETA:
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a) Esse período é marcado pela questão dos impostos, especialmente a aprovação, em
1773, do imposto inglês sobre o chá, produto importado e muito consumido pelos
colonos.
b) Em meados do século XVIII, fortaleceram-se as relações entre colonos norte-
americanos e a sua metrópole inglesa, especialmente com o apoio dos colonos contra os
invasores espanhóis.
c) Além do imposto sobre o chá, o Parlamento inglês aprovou também o imposto sobre
o açúcar. No entanto, essa lei não foi tão grave, pois esse produto não era importante
para os Estados Unidos, que, nessa época, quase não consumiam açúcar.
d) A Lei do Chá está relacionada ao episódio em que colonos ingleses, vestidos de
índios, jogaram um carregamento de chá no mar, no porto de Boston. Esse incidente
radical levou a Inglaterra a reconhecer a independência dos Estados Unidos.
e) Os conflitos entre Inglaterra e França (Guerra dos Sete Anos - 1756-1763) estão
relacionados diretamente à 'Guerra de Secessão' norte-americana.

(Fatec) No caso da história americana, um dos eventos mais retratados pela memória
social é, sem dúvida, a chamada Marcha para o Oeste. Mesmo antes do surgimento
do cinema, esses temas já faziam parte das imagens da história americana. A
fronteira foi um tema constante dos pintores do século XIX. A imagem das caravanas
de colonos e peregrinos, da corrida do ouro, dos cowboys, das estradas de ferro
cruzando os desertos, dos ataques dos índios marcam a arte, a fotografia e também a
cinematografia americana. (CARVALHO, Mariza Soares de. In:
http://www.historia.uff.br/primeirosescritos/files/pe02- 2.pdf, acessado em
29.08.2009)
Entre os fatores que motivaram e favoreceram a Marcha para o Oeste está:
a) a possibilidade de as famílias de colonos tornarem-se proprietárias, o que também
atraiu imigrantes europeus.
b) o desejo de fugir da região litorânea afundada em guerras com tribos indígenas
fixadas ali desde o período da colonização.
c) a beleza das paisagens americanas, o que atraiu muitos pintores e fotógrafos para
aquela região.
d) o avanço da indústria cinematográfica, que encontrou no Oeste o lugar perfeito para a
realização de seus filmes.
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e) a existência de terras férteis que incentivaram a ida, para o Oeste, de agricultores que
buscavam ampliar suas plantações de algodão.

(Puc-SP) A expansão dos Estados Unidos em direção ao oeste, na primeira metade


do século XIX, envolveu, entre outros fatores, a:
a) intervenção norte-americana na guerra de independência do México, da América
Central e de Cuba.
b) anexação militar do Alasca, resultado de longo conflito armado com a Rússia.
c) Guerra de Secessão, que opôs os escravistas dos estados do sul aos abolicionistas do
norte.
d) implantação de um sistema legal rigoroso nas áreas ocupadas, evitando conflitos
armados na região.
e) remoção indígena, transferindo comunidades indígenas que viviam a leste do rio
Mississipi para outras regiões.

(UFF 2009)
“Todos os homens foram criados iguais e são dotados de certos direitos
inalienáveis, dentre os quais estão a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade”.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos foi marco de um processo que
apontou para grandes transformações; com ela rompia-se o domínio colonial
europeu sobre o continente americano. Entretanto, não assistimos só a rupturas,
mas também a continuidades na separação das colônias inglesas e na
formação estadunidense. Sobre tal processo, pode-se afirmar que:
I. embora baseada nos ideais liberais de igualdade e liberdade, a legislação
americana, à época da independência, por mais que garantisse a liberdade de
religião, de expressão e de reunião, construiu uma soberania popular restrita, a
partir de um sistema eleitoral censitário, que beneficiava os proprietários;
II. a Constituição de 1787 reforçava o poder central e equilibrava as disparidades
entre os estados, através do Congresso bicameral – o Senado e a Câmara de
Representantes – e do papel atribuído à Suprema Corte, construindo um sistema
inteiramente novo;
III. os ideais liberais da Revolução Americana definem-se pela defesa intransigente
da liberdade econômica e pela renúncia a qualquer tipo de protecionismo,
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resultando na dominação dos setores do Norte, de forte tradição comercial e pela
necessidade de importação dos bens produzidos pela indústria
inglesa, contrariando os interesses dos proprietários sulistas, que buscavam
fortalecer a sua economia, para abastecer o mercado interno;
IV. a manutenção da escravidão, uma das grandes heranças do período colonial,
visava a atender os interesses dos proprietários rurais da região sul, bem como dos
comerciantes de almas, inclusive retirando-se da redação final da Declaração de
Independência o trecho que criticava a propriedade escrava.
Assinale a opção correta.
a) A afirmativa I está correta.
b) As afirmativas I, II e III estão corretas.
c) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) As afirmativas II, III e IV estão corretas.

(Cesgranrio) No início do governo Abraão Lincoln, os Estados Unidos


apresentavam-se divididos e, nas palavras desse Presidente, o país era “uma casa
dividida contra si mesma”, uma vez que:
I - os sulistas, favoráveis ao sistema escravista, reagiram com hostilidade à eleição
de um Presidente contrário à expansão desse sistema;
II - a secessão sulina era um rude golpe para o país, face ao caráter complementar
das economias do norte e do sul;
III - os Estados nortistas não abriram mão da política livre-cambista, condenada
pelo Sul protecionista;
IV - divididos internamente, os Estados Unidos não poderiam prosperar
economicamente e enfrentar desafios externos.

Assinale se estão corretas apenas:


a) I e II
b) I e III
c) II e IV
d) I, II e III
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e) I, II e IV

(Cesgranrio) A expansão territorial dos Estados Unidos, ao longo do século XIX,


caracterizou-se por um forte sentimento nacionalista. Sobre essa expansão
podemos afirmar que:
a) encerrou as divergências entre o Norte e o Sul, quanto à utilização da mão-de-obra
escrava.
b) retardou o crescimento demográfico da população norte-americana.
c) priorizou a mineração em detrimento das atividades industriais e agrícolas.
d) acarretou o fortalecimento político da representação nortista no Congresso Norte-
Americano.
e) impediu a emigração devido à política de defesa das fronteiras do país.

(Fuvest) Da vitória dos estados nortistas na "Guerra de Secessão" resultou:


a) diminuição do número de pequenos e médios proprietários e o crescimento da
aristocracia rural no sul.
b) unificação do mercado interno, desenvolvimento capitalista e transformação dos
EUA em potência econômica.
c) anexação da região do Texas ao território dos EUA.
d) extinção do tráfico de escravos negros para os EUA.
e) regulamentação, pelo compromisso do Missouri, dos territórios que passaram a ser
escravistas ou livres.

(Fuvest) Ao final da Guerra de Secessão, a constituição dos Estados Unidos sofreu


a XIII Emenda, que aboliu a escravidão. Os brancos sulistas:
a) abatidos, emigraram em massa, para não conviver com os negros em condições de
igualdade política e social.
b) inconformados com a concessão de direitos aos negros, desenvolveram a segregação
racial e criaram sociedades secretas que os perseguiam.
c) arruinados, tiveram suas terras submetidas a uma reforma agrária e distribuídas aos
ex-escravos.
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d) desanimados, abandonaram a agricultura e voltaram-se para a indústria, a fim de se


integrarem à prosperidade do capitalismo do norte.
e) recuperados, substituíram as plantações de algodão por café, contratando seus ex-
escravos como assalariados.

(Puc-SP) "A Guerra Civil Norte-americana (1861-65) representou uma confissão


de que o sistema político falhou, esgotou os seus recursos sem encontrar uma
solução (para os conflitos políticos mais importantes entre as grandes regiões
norte-americanas, a Norte e a Sul). Foi uma prova de que mesmo numa das
democracias mais antigas, houve uma época em que somente a guerra podia
superar os antagonismos políticos."
(Eisenberg, Peter Louis. GUERRA CIVIL AMERICANA. S. Paulo, Brasiliense, 1982.)

Dentre os conflitos geradores dos antagonismos políticos referidos no texto está a


a) manutenção, pela sociedade sulista, do regime de escravidão, o que impediria a
ampliação do mercado interno para o escoamento da produção industrial nortista.
b) opção do Norte pela produção agrícola em larga escala voltada para o mercado
externo, o que chocava com a concorrência dos sulistas que tentavam a mesma
estratégia.
c) necessidade do Sul de conter a onda de imigração da população nortista para seus
territórios, o que ocorria em função da maior oferta de trabalho e da possibilidade do
exercício da livre-iniciativa.
d) ameaça exercida pelos sulistas aos grandes latifundiários nortistas, o que se devia aos
constantes movimentos em defesa da reforma agrária naquela região em que havia
concentração da propriedade da terra.
e) adesão dos trabalhadores sulistas ao movimento trabalhista internacional, o que
ameaçava a estabilidade das relações trabalhistas praticadas na região norte.

(Ufmg) Todas as alternativas contêm razões econômicas responsáveis pela eclosão


da Guerra Civil Americana, EXCETO:
a) A disputa entre as ideias protecionistas do Norte e o livre-cambismo proposto pelo
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Sul.
b) O aguçamento das contradições gerado pela conquista do Oeste, quando surgiram
novos estados.
c) O desequilíbrio da balança comercial americana provocado pela crise no sistema de
transportes de mercadorias do Norte para o Sul.
d) O grande obstáculo à ampliação do mercado consumidor representado pela
permanência da estrutura escravista.
e) Os profundos contrastes econômicos entre o norte industrial e o sul agroexportador.

(UFV) "Os Estados Confederados podem adquirir novo território. [...] Em todos
esses territórios, a instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos Estados
Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e pelo governo
territorial; e os habitantes dos vários Estados Confederados e Territórios terão o
direito de levar para esse território quaisquer escravos legalmente possuídos por
eles em quaisquer Estados ou Territórios dos Estados Confederados [...]."
("Constituição dos Estados Confederados da América", Art. IV, seção 3, 1861.)

O texto acima reflete um dos pontos centrais de discórdia que geraram a Guerra
Civil Americana. Esta guerra civil foi o resultado:
a) da ação imperialista americana que, a partir da Doutrina Monroe, passou a intervir na
América Latina.
b) da luta entre os colonos e a Metrópole Inglesa, o que redundaria na independência
dos Estados Unidos.
c) da Grande Depressão, intensificando a pobreza e o desemprego nas grandes cidades
americanas.
d) da luta pelos direitos civis, particularmente dos negros, forçando uma reinterpretação
da Constituição Americana.
e) da oposição dos interesses dos Estados do Sul e do Norte em torno da questão da
escravidão e da expansão para o Oeste.
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se sentia muito inseguro. Havia muitos nortistas vindos para cá (Sul), formando
ligas por todo o país. Os negros estavam se tornando muito insolentes e o povo
branco sulista de todo o estado de Tennessee estava bastante
alarmado.” (ENTREVISTA DE NATHAN BEDFORD FORREST ao JORNAL DE
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A leitura deste depoimento, feito por um membro da Ku-Klux-Klan, permite
entender que esta organização tinha por objetivo

a) assegurar os direitos políticos da população branca, pelo voto censitário, eliminando


as possibilidades de participação dos negros nas eleições.
b) impedir a formação de ligas entre nortistas e negros, que propunham a reforma
agrária nas terras do sul dos Estados Unidos.
c) unir os brancos para manter seus privilégios e evitar que os negros, com apoio dos
nortistas, tivessem direitos garantidos pelo governo.
d) proteger os brancos das ameaças e massacres dos negros, que criavam empecilhos
para o desenvolvimento econômico dos estados sulistas.
e) evitar confrontos com os nortistas, que protegiam os negros quando estes atacavam
propriedades rurais dos sulistas brancos.
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Gabaritos

Prova do CACD 2015, questão 59


E
C
E
C

Prova do CACD 2016, questão 60


E
E
E
C

(UFMG-MG) Abaixo se encontram descritas diferentes características dos


processos de independência da América Latina e da América do Norte. Sobre esse
contexto, leia as alternativas abaixo.
ALTERNATIVA E

(Mackenzie-SP) Leis britânicas acirraram as divergências entre colonos


americanos e a Coroa inglesa, provocando a luta pela independência. Dentre os
objetivos dessas leis, destacam-se:
ALTERNATIVA A

(FUVEST) “O puritanismo era uma teoria política quase tanto quanto uma
doutrina religiosa. Por isso, mal tinham desembarcado naquela costa inóspita, (...)
o primeiro cuidado dos imigrantes (puritanos) foi o de se organizar em sociedade”.
ALTERNATIVA D

(UFF-RJ) Os processos de ocupação do território americano do Norte simbolizam,


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para muitos historiadores, a presença do ideário europeu no Novo Mundo. Os
pioneiros ingleses do Mayflower construíram uma sociedade baseada na justiça e
no cumprimento dos valores religiosos e morais protestantes. Essa base fundadora
teve papel essencial na formação dos Estados Unidos da América.
ALTERNATIVA B

Cesgranrio-RJ) Durante o século XVII, grupos puritanos ingleses perseguidos por


suas ideias políticas (antiabsolutistas) e por suas crenças religiosas (protestantes
calvinistas) abandonaram a Inglaterra, fixando-se na costa leste da América do
Norte, onde fundaram as primeiras colônias. A colonização inglesa nessa região foi
facilitada:
ALTERNATIVA B

(FGV-SP) A conquista colonial inglesa resultou no estabelecimento de três áreas


com características diversas na América do Norte. Com relação às chamadas
“colônias do sul” é correto afirmar que:
ALTERNATIVA C

(PUC-PR) O chá veio da China e atingiu a Europa no início do século XVII com o
primeiro carregamento chegando a Amsterdã em 1609. A partir do século XVIII, a
Inglaterra torna-se o principal importador de chá da Europa. Nesse mesmo
período, o chá consistiu em importante bebida da população dos Estados Unidos
da América, ainda colônia inglesa. A partir desse contexto, marque a alternativa
CORRETA:
ALTERNATIVA A

(Fatec) No caso da história americana, um dos eventos mais retratados pela memória
social é, sem dúvida, a chamada Marcha para o Oeste. Mesmo antes do surgimento
do cinema, esses temas já faziam parte das imagens da história americana. A
fronteira foi um tema constante dos pintores do século XIX. A imagem das caravanas
de colonos e peregrinos, da corrida do ouro, dos cowboys, das estradas de ferro
cruzando os desertos, dos ataques dos índios marcam a arte, a fotografia e também a
cinematografia americana. (CARVALHO, Mariza Soares de. In:
http://www.historia.uff.br/primeirosescritos/files/pe02- 2.pdf, acessado em
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29.08.2009)
ALTERNATIVA A

(Puc-SP) A expansão dos Estados Unidos em direção ao oeste, na primeira metade


do século XIX, envolveu, entre outros fatores, a:
ALTERNATIVA E

(UFF 2009)
“Todos os homens foram criados iguais e são dotados de certos direitos
inalienáveis, dentre os quais estão a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade”.
ALTERNATIVA C

(Cesgranrio) No início do governo Abraão Lincoln, os Estados Unidos


apresentavam-se divididos e, nas palavras desse Presidente, o país era “uma casa
dividida contra si mesma”, uma vez que:
ALTERNATIVA E

(Cesgranrio) A expansão territorial dos Estados Unidos, ao longo do século XIX,


caracterizou-se por um forte sentimento nacionalista. Sobre essa expansão
podemos afirmar que:
ALTERNATIVA D

(Fuvest) Da vitória dos estados nortistas na "Guerra de Secessão" resultou:


ALTERNATIVA B

(Fuvest) Ao final da Guerra de Secessão, a constituição dos Estados Unidos sofreu


a XIII Emenda, que aboliu a escravidão. Os brancos sulistas:
ALTERNATIVA B

(Puc-SP) "A Guerra Civil Norte-americana (1861-65) representou uma confissão


de que o sistema político falhou, esgotou os seus recursos sem encontrar uma
solução (para os conflitos políticos mais importantes entre as grandes regiões
norte-americanas, a Norte e a Sul). Foi uma prova de que mesmo numa das
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democracias mais antigas, houve uma época em que somente a guerra podia
superar os antagonismos políticos."
ALTERNATIVA A

(Ufmg) Todas as alternativas contêm razões econômicas responsáveis pela eclosão


da Guerra Civil Americana, EXCETO:
ALTERNATIVA C

(UFV) "Os Estados Confederados podem adquirir novo território. [...] Em todos
esses territórios, a instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos Estados
Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e pelo governo
territorial; e os habitantes dos vários Estados Confederados e Territórios terão o
direito de levar para esse território quaisquer escravos legalmente possuídos por
eles em quaisquer Estados ou Territórios dos Estados Confederados [...]."
ALTERNATIVA E

(Unesp) “A Ku-Klux-Klan foi organizada para segurança própria... o povo do Sul


se sentia muito inseguro. Havia muitos nortistas vindos para cá (Sul), formando
ligas por todo o país. Os negros estavam se tornando muito insolentes e o povo
branco sulista de todo o estado de Tennessee estava bastante
alarmado.” (ENTREVISTA DE NATHAN BEDFORD FORREST ao JORNAL DE
CINCINNATI, Ohio, 1868.)
ALTERNATIVA C
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Referências Bibliográficas

AMEUR, Farid. A Guerra de Secessão, 1861-1865. Lisboa: Edições 70, 2005.


MELANDRI, Pierre. História dos Estados Unidos desde 1865. Lisboa: Edições 70,
2002.
KARNAL, Leandro (org). História dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2007.
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Apresentação

Olá caro aluno!


Seguindo nosso curso, estudaremos os processos de independência na
América Latina, a difícil construção das identidades nacionais na região ao longo
do século XIX e a Revolução Mexicana de 1910.

As independências latino-americanas se inserem no amplo contexto social e


político que temos estudado ao longo das últimas aulas. Politicamente,
resultaram de uma contraofensiva autonomista por parte das colônias hispânicas
(pois aqui não incluiremos o caso brasileiro, visto que será trabalhado por
História do Brasil) à invasão das tropas napoleônicas em Espanha, que levaram
à prisão do rei Fernando VII, desenrolando, no entanto, em ações separatistas
nos anos seguintes.

Socialmente, as independências responderam aos anseios das populações


locais, sobretudo de suas elites comerciais, que buscavam a quebra do exclusivo
colonial e a abertura comercial com outros países parceiros, como a Inglaterra.
Assim, em um misto de autodefesa e desejo de emancipação, os povos latino-
americanos alçaram voo rumo às suas independências ao longo do século XIX
(ainda que com grandes dificuldades externas e, principalmente, internas). O
tema desta aula já foi explorado outras vezes pela prova do CACD, e seu
conteúdo é deveras importante para a compreensão do desenvolvimento
político-econômico da região ao longo do século XX, bem como de sua interação
com outros países, sobretudo os Estados Unidos da América.

Portanto, foco nos estudos e “Arriba América”!


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1. O despontar das Independências latino-americanas

1.1- A descoberta das Américas

Entre os séculos XV e XVI, os principais reinos europeus voltaram-se para os


mares em busca de novos parceiros econômicos e políticos, bem como terras e
mão-de-obra. Os dois reinos que mais se destacaram nesta empresa foram os
reinos de Portugal e Espanha, os primeiros protagonistas do grande
expansionismo marítimo europeu que se denotou pelas conquistas de novos
territórios e pelo avanço tecnológico e científico que marcou os Renascimentos
do fim da Baixa Idade Média.

Portugal foi o primeiro reino a buscar a expansão marítima de seu tímido


território nacional ainda na segunda metade do século XV, fator tradicionalmente
remetido à localização geográfica do país (na costa sudoeste da Península
Ibérica, às margens do oceano atlântico) e a sua precoce centralização política,
o que teria possibilitado à coroa portuguesa arcar com suntuosos investimentos
no campo científico-militar, sobretudo em torno da Escola de Sagres, em nome
da consolidação de sua marinha mercante.

Ao passo em que o Reino de Portugal colonizava pequenas ilhas da costa


atlântica norte do continente africano, do outro lado da estremadura, castelhanos
e aragoneses, sob a coroa dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de
Aragão, buscavam consolidar a ensejada unificação das “Espanhas”, o que
recebeu grande impulso neste período, sobretudo após a capitulação do Reino
de Granada em 1492, que representava o último resquício dos antigos califados
árabes na Península Ibérica. No entanto, o Império de Espanha apenas tomaria
forma sob a coroa de Carlos I, neto de Isabel e Fernando.

O ano da queda de Granada também foi marcado por outro ato que seria
crucial para a potencialização das Grandes Navegações e para a hegemonia
internacional europeia nos séculos seguintes: a chegada das embarcações
espanholas à costa caribenha. Em 1492, o navegador genovês Cristóvão
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Colombo, após conseguir convencer à rainha Isabel de Castela a financiá-lo em
uma longa expedição marítima que buscava abrir novas rotas comerciais rumo
à Ásia partindo de Castela, encontrou outras rotas não esperadas, que o levou
ao então desconhecido continente americano.

À época, Portugal também já há muito buscava traçar novas rotas marítimas


que tornassem mais rápidas, baratas e eficientes as longas e onerosas viagens
terrestres rumo às Índias, como eram conhecidos os diferentes reinos
coabitantes da península indiana, e que eram cobiçados graças à produção de
especiarias. O objetivo inicial foi finalmente alcançado apenas entre 1497 e 1499,
pelo navegador Vasco da Gama, isto é, cerca de cinco anos após à chegada de
Colombo às Américas. Não obstante, o objetivo de ambos os reinos permanecia
sendo o alcance das Índias, ao menos em um primeiro momento. Após o retorno
de Vasco da Gama, coube a Pedro Álvares Cabral a missão de estabelecer os
primeiros tratados comerciais com os reinos indianos, e que visava o
favorecimento português frente à Castela na compra de suas raras especiarias.
No entanto, sua busca foi eclipsada por inesperadas correntes marítimas que, à
altura da ilha de Cabo Verde, acabaram levando-o rumo ao Monte Pascoal, na
atual cidade de Porto Seguro, localizada no estado brasileiro da Bahia, no ano
de 1500. A descoberta de Cabral novamente equiparou os dois reinos ibéricos,
e abriu os horizontes para o início da era colonial, também chamado de período
colonial ou ainda colonialismo de Antigo Regime.

1.2 O estabelecimento do Império espanhol: da ascensão ao declínio

O Império colonial espanhol talvez tenha sido o mais bem-sucedido exemplo


de colonialismo propugnado pelos reinos europeus entre os séculos XVI e XVIII.
Denotou-se pelo domínio de amplos territórios, que abarcavam grande parte da
atual América Latina, e pela exploração de imensas somas de minérios raros e
valiosos, sobretudo de ouro e prata. Coube também aos espanhóis a subjugação
e o controle das populações indígenas que compunham suas novas terras, fosse
por meio da cooptação de suas lideranças, a partir da distribuição de favores e
títulos nobiliárquicos, ou ainda por meio da ressignificação das antigas
instituições sociais e culturais com as quais as populações locais já estavam
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habituadas. Em última instância, recorria-se à violência como mecanismo de
controle social, o que não poucas vezes veio a ocorrer.

Não cabe aqui proporcionarmos uma visão pormenorizada do


desenvolvimento do império espanhol ao longo dos séculos de colonização, no
entanto, faz-se necessário vislumbrarmos brevemente como se dava a
organização política e econômica das colônias de Su Majestad Católica, de
modo a compreendermos o cerne das principais questões que evoluiriam à luta
revolucionária a partir do fim do século XVIII, culminando nas revoluções de
independência.

A partir de meados do século XVI, o Império espanhol passou a objetivar o


fortalecimento do poder régio sobre suas novas colônias, possibilitando maior
eficiência ao controle da extração das ricas jazidas de ouro dos astecas e, mais
tarde, da prata andina. Para tanto, fez-se imperativo a consciência de que
apenas um império colonial rigidamente estruturado poderia ser capaz de
proteger os interesses de Espanha sobre um território que a cada dia chamava
mais atenção dos demais reinos europeus recém-chegados à corrida colonial,
como França, Inglaterra e Países Baixos.

Assim, no auge da presença espanhola, as colônias hispânicas do continente


passaram a ser concentradas em uma estrutura política hierarquizada segundo
a importância geopolítica e econômica do território. As áreas de maior
importância eram organizadas em Vice-reinados, pontas-de-lança do
colonialismo espanhol, e em Capitanias-gerais. Inicialmente houveram três Vice-
Reinos, os de Nova Espanha, Nova Granada e o Vice-Reino do Peru, aos quais
mais tarde, em 1776, passou a integrar o Vice-Reino do Rio da Prata, criado para
conter o avanço colonial português sobre o estuário do Rio da Prata.

De modo geral, os Vice-Reinados se concentravam em regiões de grande


importância econômica para o Império, residindo ali o maior número de
funcionários da coroa, oriundos de Espanha, e de tropas. Haviam ainda quatro
Capitanias-gerais, que tinha por objetivo controlar regiões de importância política
para o Império, sobretudo em locais com maior índice de revoltas indígenas e de
ações de pirataria. Eram elas: Capitania-Geral de Cuba, do Chile, da Guatemala
e da Venezuela. Por fim, na parte mais inferior da estrutura colonial espanhola,
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encontravam-se os ayuntamientos, mais conhecidos como cabildos, que
funcionavam como instâncias representativas de caráter local, geralmente
concentradas em importantes cidades coloniais.

Socialmente, as colônias hispânicas também eram hierarquizadas sob uma


ótica essencialmente metropolitana. À frente dos altos cargos públicos e da
liderança militar se encontravam os chapetones (ou peninsulares), colonos
nascidos na Espanha. Abaixo em termos de importância vinham os criollos, que
eram em sua maioria compostos de filhos de espanhóis nascidos e radicados
nas colônias. A maior parte da população colonial, entretanto, compunha-se de
mestiços, indígenas e escravos africanos.

Apesar de ricos e influentes nas colônias, os criollos eram desprivilegiados


em relação aos espanhóis metropolitanos, sobretudo pelo impedimento real à
ocupação de altos cargos públicos nas áreas políticas e econômicas por seus
membros, em grande medida pelo favorecimento dado à nobreza espanhola na
ocupação destes cargos e, na mesma medida, pelo temor de desvios e
corrupção por parte das elites locais. O fato é que esta medida gerava grande
descontentamento dentre parcelas das elites políticas americanas.

O descontentamento dos criollos em relação à metrópole espanhola não se


resumia somente ao campo estritamente político. Também no campo econômico
este grupo social veio a exercer grande pressão sobre a coroa espanhola. O
principal motivo para isto se devia à manutenção do monopólio econômico
metropolitano sobre as colônias.

O exclusivo metropolitano (ou colonial) é o termo utilizado para a política


espanhola de controle da produção, compra e venda de produtos por parte das
colônias, estabelecendo-se assim um monopólio favorável à Espanha. Este
monopólio foi criado ainda no início da colonização e correspondia à mentalidade
mercantilista comum às monarquias europeias entre os séculos XVI e XVIII. Para
esta, cabia à metrópole o direito de controle da produção colonial como forma de
fortalecimento da economia nacional, que seria favorecida pela mediação
constante da metrópole sobre os interesses das terras de sua majestade.
Portanto, todos os produtos comprados pelas colônias deveriam ter origem
espanhola ou autorização de comércio expedido pela Espanha; do mesmo
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modo, todos os itens de exportação das colônias deveriam ter como origem
primeira a metrópole.

O exclusivo metropolitano inicialmente ajudou a enriquecer e fortalecer as


elites criollas, sobretudo por a elas caber a produção local e as atividades
intermediárias necessárias à exportação e importação de produtos. Além disto,
os portos utilizados pela marinha mercante metropolitana geralmente eram
administradas por estas elites, o que resultava em grandes lucros para seus
representantes. Na mesma medida, durante o auge da colonização, o governo
espanhol desenvolveu em grande medida as colônias, tornando muitas de suas
cidades em versões dignas das grandes cidades do Império, repletas de grandes
praças públicas, suntuosas Catedrais, palácios, universidades (algo inexistente
no Brasil colônia), escolas e bibliotecas. Portanto, enquanto se reverteu em lucro
para a população local, o exclusivo metropolitano não foi encarado com mal-
estar pelos criollos.

A situação sofreu radicais mudanças ao longo do século XVIII.


Primeiramente, devido à crise da economia mineradora local, agravada pela
escassez de parte das principais jazidas de ouro e prata das colônias, e também
pelas constantes crises políticas e sociais que abalaram as bases da monarquia
espanhola ao longo deste século. Soma-se, ainda, a estes fatores a manutenção
do monopólio comercial por Espanha, a falta de autonomia local e a baixa
representatividade política das elites criollas junto à Coroa.

Do mesmo modo, as relações com as colônias também sofreram abalos


quanto à manutenção das antigas políticas de trabalho que vigoravam na região
desde o início da colonização. Destacavam-se a mita e a encomienda. A mita
consistia em um trabalho compulsório a ser desempenhado por nativos aos
chapetones e criollos em determinados momentos do ano, a partir de um sorteio
de escolha e de pequenas compensações posteriores ao término do trabalho. Já
a encomienda era o direito de exploração de determinados territórios indígenas
por pessoas escolhidas pela coroa, as quais adquiriam a liberdade de uso da
mão-de-obra local para o trabalho, em troca de garantias de um bom tratamento
para com os mesmos.
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Ocorre que ambas instituições sociais tiveram suas bases de legitimidade
abaladas ao longo do século XVIII devido à determinadas rebeliões surgidas em
meio às populações indígenas, diretamente impactadas pelas reformas. Em
1780, teve início a principal revolta indígena do período colonial, ocorrida no
Vice-Reino do Peru e liderada por José Gabriel Condorcanqui, mais tarde
autodenominado Túpac Amaru II, título utilizado em homenagem ao último
imperador inca. Túpac Amaru fora até o início da rebelião, devido a sua alta
instrução e descendência nobre inca, um dos curacas daquele povo, os quais
representavam junto à administração do Vice-Reino as comunidades indígenas
sob sua tutela. As principais obrigações destas comunidades eram o
cumprimento da mita e o pagamento de determinados tributos à administração
colonial. Endividado, sobretudo pelas custosas guerras nas quais havia se
envolvido, o governo espanhol decretou no mesmo ano o aumento dos impostos
cobrados das comunidades indígenas, além de promover mudanças no
cumprimento da mita, as quais permitiram, na prática, a piora das condições de
trabalho dos indígenas.

Túpac Amaru decidiu, devido ao cenário em que os indígenas se


encontravam, enviar determinadas solicitações à coroa que visavam modificar
as condições de trabalho daqueles. Diante da recusa do governo central, o líder
inca deu início à revolta, por meio da mobilização de milhares de indígenas. A
revolta atingiu grandes proporções, e colocou em perigo a manutenção do poder
régio sobre seus súditos incas. No fim, as tropas enviadas por Espanha deram
fim às revoltas, com a prisão e morte das principais lideranças do movimento.
Túpac Amaru foi condenado ao enforcamento em praça pública e ao
esquartejamento.

Politicamente, o Império espanhol, como já dito, encontrava-se em franca


decadência. Os demais reinos europeus, em especial o Império britânico, já o
percebiam como o elo fraco e doente das coroas europeias. O Império, com suas
estruturas econômicas arcaicas, afundava em uma crescente dependência
externa, sobretudo com vistas à manutenção dos custosos privilégios da nobreza
espanhola. Devido a isto, desde meados do século XVIII a coroa perdera força
junto às elites criollas, permitindo-lhes o relativo aumento da autonomia
administrativa local. A situação ousou sofrer radicais mudanças com a ascensão
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do bourbon Carlos III ao trono espanhol, que até então fora regido pelos
Habsburgo.

Carlos III, e mais tarde seu filho Carlos IV, empreendeu um amplo esforço de
modernizações políticas e econômicas ao Império, com vistas a reintroduzi-lo
entre os grandes protagonistas da política europeia, e que ficaram conhecidas
como as Reformas Bourbônicas. As reformas tinham como meta refortalecer as
estruturas bases que alçaram o Império espanhol à hegemonia europeia no início
do século XVI, porém, para tanto, solapou, ou reformou radicalmente,
determinadas instituições e políticas já tradicionais do império. Em suma, as
reformas trataram de elevar a arrecadação imperial, modificar o exclusivo
metropolitano, aumentando o número de portos coloniais que poderiam
comercializar com a metrópole, e tornar mais forte a presença do reino sobre as
colônias. Se por um lado as reformas empreendidas pelos Bourbon visavam
modernizar internamente o reino, por outro prejudicava em todas as suas frentes
a autonomia recentemente adquirida pelas colônias e por suas elites criollas, que
começavam a angariar postos sociais até então enublados por sua origem não
peninsular.

O descontentamento interno gerado pelas reformas modernizadoras


adotadas no Império no fim do século XVIII permaneceram adormecidos por
alguns anos. Somente no início do século XIX, em reação às agressões oriundas
da França napoleônica, o ímpeto revolucionário voltou a ser instigado entre os
colonos de sua majestade católica.

2 As guerras de Independência na América hispânica

2.1 As guerras napoleônicas e a invasão de Espanha

Entre 1802 e 1814, transcorreram no continente europeu as guerras


napoleônicas, que consistiram em sucessivas batalhas militares entre o Império
francês de Napoleão Bonaparte e os demais reinos da Europa. Como não pudera
deixar de acontecer, também Espanha foi atingida pelo avanço dos exércitos
napoleônicos, levando à abdicação de Carlos IV e a posterior prisão de seu filho,
Fernando VII.
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A invasão da Espanha, ocorrida entre 1807 e 1808, fez parte de um amplo
esforço francês de consolidação do Bloqueio continental contra sua inimiga
Inglaterra. Este movimento militar, no entanto, não fez parte dos objetivos iniciais
de Napoleão. Em um primeiro momento, Napoleão buscou promover a
hegemonia francesa na Península Ibérica por meio de tentativas de concordatas
com os reinos ibéricos. Seu esforço encontrou ecos na corte de Carlos IV, o qual
tinha interesses sobre o seu vizinho português, bem como em evitar novos
problemas com a França.

Anos antes, entre 1793 e 1795, Espanha participara da Primeira Coligação


contra a então Convenção Nacional francesa, e participara da Campanha do
Rossilhão, que consistiu em uma ampla movimentação militar por parte de
Portugal, Espanha e Inglaterra sobre a região dos Pirineus, motivada pela
execução de Luís XVI e a radicalização da Revolução Francesa. A Campanha
chegara ao fim de forma negativa para ambos reinos ibéricos, com a Paz da
Basiléia e a perda de territórios pelos dois reinos, como a parte espanhola da
ilha de Hispaniola (ou São Domingos) no Caribe para a França (parte do atual
Haiti). Uma nova guerra com uma França ainda mais poderosa não estava nos
planos da corte espanhola.

Napoleão, por sua vez, percebia na Espanha uma aliada natural (tanto por
sua rivalidade histórica quanto por sua posição geográfica) em uma possível
invasão de Portugal, ideia então em gestação. Ocorria que D. João VI, príncipe
regente de Portugal, permanecia neutro quanto à política do Bloqueio
Continental, em revelia às inúmeras cartas e intimados expedidos pelo governo
de Paris em exigência de uma tomada de posição. Portugal era um histórico
aliado político e econômico dos ingleses na Europa continental, e a possibilidade
de rompimento com seus aliados britânicos causava a inércia do príncipe.

Em 1807, por meio do Tratado de Fontainebleau, França e Espanha se


aliavam contra Portugal e tramavam a invasão deste país por meio do ataque de
um exército franco-espanhol, que tomaria de assalto Lisboa e pegaria de
surpresa D. João VI. O Tratado previa que, após a invasão, Portugal se dividiria
em três diferentes reinos, o Reino da Lusitânia Setentrional, o Algarve e o Reino
de Portugal (que seria o menor e mais frágil dos três). No entanto, Napoleão e
seus aliados espanhóis ignoravam a tenacidade do pensamento do príncipe
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português. Secretamente, Portugal e Inglaterra firmaram um acordo pelo qual
acordava-se que a Marinha inglesa escoltaria a Corte portuguesa até o Brasil.
Desta forma, quando da chegada das tropas de Napoleão à Lisboa, toda a corte
portuguesa já se encontrava em alto-mar.

Não obstante a vitória com gosto amargo de França em território português,


Napoleão se utilizou da invasão para consolidar um já plano anteriormente
arquitetado. Em fins de 1807, sob o pretexto de organizar os exércitos que
atacariam à Portugal, Napoleão enviou para a Espanha um imenso contingente
armado, que deveria se abrigar provisoriamente em solo espanhol até o início
das manobras militares. Os marechais franceses, então, instigaram as tropas
espanholas aliadas e parte da população civil em uma revolta contra Carlos IV,
que já se encontrava debilitado devido à forte insatisfação popular frente ao seu
reinado nos últimos anos. Por fim, Carlos IV se viu forçado a abdicar do trono
em favor de seu filho Fernando VII em 19 de março de 1808. Apesar de
controverso, já é bastante aceito entre os historiadores a existência de uma
possível trama secreta envolvendo o então infante Fernando e Napoleão, que o
teria convencido a estimular os motins populares contra o seu pai.

O fato é que Fernando VII assumira como o novo rei de Espanha em março
de 1808, no entanto, seu reinado duraria aproximadamente três meses.
Fernando VII fora mais uma peça no intricado jogo político de Napoleão, o qual
demonstrara mais de uma vez uma astuta e fria capacidade de calcular medidas
cujos fins poderiam resultar em maior prestígio e poder para o seu Império.
Assim o fez também na Espanha. Entre maio e junho de 1808, com o apoio das
tropas francesas presentes em Espanha e Portugal e se aproveitando do
afastamento momentâneo do grosso das tropas espanholas, que se
encontravam espalhadas em diferentes frentes de batalha Europa a fora em
parceria com as tropas francesas, Napoleão aprisionou Fernando VII, o qual foi
mantido em cárcere na França até 1812, e em seu lugar coroou a seu irmão mais
velho, José Bonaparte, como o rei de Espanha.
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2.2 A Guerra de Independência espanhola e a Junta de Cádiz: a guerra se
espalha pelo reino

A coroação de Luís Bonaparte como rei de Espanha gerou grande


repercussão dentre os espanhóis. Imediatamente, os legalistas (favoráveis ao
rei deposto) convocaram as Cortes espanholas (também chamadas de Juntas
Gobernativas) para debater uma contraofensiva à invasão francesa. As Juntas,
as quais representavam não somente as diferentes províncias da Espanha como
também as suas colônias além-mar, decretaram a ilegitimidade de José e
passaram criar instâncias locais de governo, que não reconheciam o novo rei e
suas ações. Ainda em setembro, as diferentes Juntas existentes se reuniram em
torno de uma Junta Central Suprema de Governo do Reino, a qual buscou
contrapor as tropas francesas e restabelecer a autonomia do país. No entanto,
o poderio militar francês fez frente à oposição espanhola, levando à derrota das
tropas legalistas (realistas) e forçando as Cortes reunidas em torno da Junta
Central a se deslocarem para a região de Cádiz, no ano de 1810. Ali, formou-se
a Junta de Cádiz, coração das guerras que se travariam contra os franceses
entre 1810 e 1812, e cerne dos problemas que mais tarde assombrariam o
reinado restaurado de Fernando VII.

Entre 1808 e 1810, a Junta Central ajudou a organizar nas colônias


espanholas americanas uma série de Juntas governativas provisórias cujo
objetivo inicial também seria o não reconhecimento de José e a manutenção dos
territórios em favor do verdadeiro rei, Fernando VII. Por toda a América
espanhola, em torno dos diferentes Vice-Reinos, Capitanias Gerais e dos
cabildos se organizaram Juntas legalistas sob o comando dos chapetones e das
elites criollas. A constituição destas Juntas demarcou um importante momento
de eclosão da ideia de autodeterminação e soberania popular juntos às colônias
e também dentro da própria Espanha.

A Junta de Cádiz, por exemplo, foi um laboratório a céu aberto, no qual se


experimentaram diferentes concepções de poder e Estado entre 1810 e 1812,
discussões estas que tiveram forte impacto sobre as Juntas provisórias coloniais.
Em Cádiz, reuniam-se desde grupos favoráveis à manutenção do status quo
anterior a 1808, de tendência mais conservadora e absolutista, quanto grupos
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de tendência liberal e constitucionalista, cujas ideias emanavam de escritos de
filósofos franceses e ingleses, como Montesquieu e Jeremy Bentham. Ainda em
1810, o primeiro grupo liderou a proposta de criação de uma regência provisória
e à subsequente submissão das Cortes reunidas em Cádiz a seus atos, visto
que estes emanariam da vontade do próprio rei exilado.

Os liberais não aceitavam o expurgo das Cortes e a manutenção do status


quo absolutista, e além do mais, consideravam que cabia à Junta de Cádiz
garantir por meio de atos concretos a ilegitimidade do governo francês de José
I. Por isto, após comporem maioria nos debates em vigência, conseguiram
decretar ainda em 1810 que as Cortes ali reunidas eram as legítimas
depositárias do poder nacional e que, como fonte legítima do poder, das Cortes
emanava o verdadeiro poder constituinte da Nação. Formulou-se, a partir de
então, o texto constitucional que seria definitivamente aprovado e promulgado
pela Junta de Cádiz em 1812, surgindo assim a Constituição de 1812, que na
prática transformava o reino em uma Monarquia constitucional de forte inclinação
liberal.

As influências da Constituição de 1812 se fizeram sentir do outro lado do


atlântico, marcando enormemente as Juntas governativas americanas. Ainda
que a influência marcadamente liberal de Cádiz não tivesse como foco, em um
primeiro momento, as colônias americanas, suas ideias de soberania popular e
autodeterminação nacional ganharam repercussão e apoio dentre elites criollas
ciosas de maior autonomia e independência local. No entanto, nem todas as
influências da Constituição sobre o contexto colonial foram positivas. Vale
lembrar que, segundo as leis e costumes espanhóis, as colônias estavam
intimamente ligadas à coroa, como bens dos reis de Espanha e de seus
herdeiros. A Junta de Cádiz, deste modo, ao retirar do monarca o cerne do poder,
atacou um dos princípios basilares da sustentação do sistema colonial e da
ligação natural das colônias a sua metrópole. A Constituição submetia, ainda, as
colônias aos ditames legais da península, o que também fragilizava o tratamento
tradicional entre colônias e metrópole.

O período 1808-1810 observou a formação de uma série de Juntas


provisórias cujos objetivos eram a preservação da autonomia local e a
manutenção da soberania do legítimo rei espanhol sobre suas terras além-mar.
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No entanto, na medida em que o cativeiro de Fernando VII e a reação liberal à
presença francesa no reino avançavam, mais as juntas locais ganhavam
autonomia de ação e soberania sobre os seus territórios. Somavam-se a esse
repentino ganho de soberania o crescente sentimento independentista que
ganhava força entre os membros das elites criollas e o acirramento das disputas
entre estes e seus antagonistas chapetones, sobretudo nas discussões relativas
à condução das juntas. O sentimento de manutenção do status quo, vivo no início
da formação das Juntas provisórias, começa a perder peso frente ao desejo de
emancipação local na medida em que os interesses dos criollos passam a se
chocar com os rumos tomados pela metrópole, bem como a partir do momento
em que a causa emancipatória se constitui em movimento popular de grande
expressão, gerando conflitos entre locais e tropas realistas espanholas.
Entendamos o contexto das lutas de independência.

2.3 O Império fraturado: a Primeira e Segunda Guerra de Independência (1810-


1824)

As Guerras de Independência na América espanhola são tradicionalmente


divididas em dois amplos movimentos insurrecionais: a chamada Primeira
Guerra de Independência, desenrolada entre 1810 e 1816, cuja marca foi a
proclamação de declarações e cartas constitucionais em diversos Vice-Reinos e
Capitanias espanholas. Como já falado, boa parte destes documentos ainda não
possuíam, nos idos de 1810, a intenção deliberada de constranger a governança
espanhola sobre aqueles territórios, uma vez que foram encarados por parte das
elites criollas como medidas necessárias para a garantia da soberania destes
territórios frente às investidas dos franceses.

Não obstante, tanto por influência ideológica (sobretudo de ideias atreladas


ao largo escopo de pensamento dos iluminismos inglês e francês, bem como do
jus naturalismo espanhol) quanto por interesses imediatos das elites criollas, em
pouco tempo o espírito independentista passou a protagonizar a política local,
sobretudo no trato com espanhóis e com a Junta de Cádiz, ainda a estância
máxima de representação política das Cortes espanholas (aqui também
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realistas e, somente alguns anos mais tarde, definitivamente libertada pelas
tropas de Bolívar. Já a região da Banda Oriental (atual Uruguai, também
chamada no período de Cisplatina pelos brasileiros) permaneceu alheia às
políticas adotadas por Buenos Aires por muitos anos, sobretudo por conta da
anexação militar da região ao Brasil por ordem de D. João VI.

No Vice-Reino da Nova Espanha, os levantes revolucionários se iniciaram


em 1810 e, ao contrário do restante do continente, teve grande protagonismo
popular e um forte apelo social, destacando o caso mexicano do restante do
continente (o qual será analisado mais a frente de forma destacada). Na América
Central e no Caribe, a revolução se iniciaria somente anos mais tarde.

Em meio aos levantes revolucionários que tomaram de assalto as


possessões de sua Majestade na América, a Junta de Cádiz se debilitou
enormemente, dando lugar a um Conselho de Regência, presidido por cinco
membros escolhidos pelas cortes para governar a Espanha e suas colônias até
o retorno do rei. Fernando VII permanecia apartado de seu reino, e acabou sendo
ajudado pelos ventos da fortuna. Em 1812, a Inglaterra, aproveitando-se da
campanha de Napoleão na Rússia, reorganizou a Coligação e voltou a desferir
um forte golpe contra a frente ocidental do Império. Desta vez, os ingleses (que
haviam há pouco retomado Portugal do jugo francês) utilizaram-se deste país
como zona de contato inglesa com o restante do continente. A partir dali, os
ingleses marcharam para a Espanha e expulsaram os franceses junto com José
Bonaparte. Em seu lugar, por meio do Tratado de Valença (1814),
reempossaram Fernando VII como rei de Espanha.

A despeito da euforia popular representada pelo retorno de Fernando VII a


seu trono, as Cortes de Cádiz viram com assombro o repentino retorno do rei e
a rápida tomada de ações por sua parte que ameaçavam destruir a quase
totalidade das reformas introduzidas pelos liberais na Espanha durante a
ausência do rei. Logo após reassumir o seu trono, Fernando VII extinguiu as
Cortes, anulou a Constituição de 1812 e voltou a assumir a roupagem de
monarca absoluto. A próxima medida de Fernando VII foi suspender as Juntas
provisórias americanas e enviar reforços militares rumo às Américas de modo a
extirpar as revoluções de Independência. As tropas enviadas eram
encabeçadas, em sua maioria, por grandes e renomados generais espanhóis,
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os quais, contando com ajuda interna provida pela minoria realista da região,
conseguiram efetivar com sucesso a retomada de quase todos os territórios
tornados independentes entre 1810 e 1815.

A segunda Guerra de Independência se caracterizou pela reação espanhola


aos primeiros movimentos independentistas surgidos nos anos anteriores. Foi o
período de destaque de algumas figuras de grande renome militar dentre os
revolucionários, tais como José de San Martín, Simon Bolívar e Bernardo
O'Higgins. O período de 1817 a 1824 se destacou por duas frentes de batalha
na América do Sul, bem como pela radicalização no México e na América
Central.

A primeira frente de batalha sul-americana foi liderada pelo venezuelano


Simon Bolívar, um general experimentado na arte da guerra e com anos de
estada na Europa, período em que viveu e estudou na Espanha, Itália e França.
Bolívar retornou à Venezuela em 1807 e participou das primeiras guerras ao lado
de Francisco de Miranda. Após a retomada do Vice-Reino pelas forças realistas,
Bolívar reorganizou as tropas revolucionárias dispersas e preparou uma nova
investida entre 1817 e 1821 contra as forças realistas. Após sucessivas batalhas,
Bolívar conseguiu retomar a região do domínio realista e fundar, ainda em 1819,
a República da Grã-Colômbia, que reunia as atuais Colômbia, Venezuela,
Equador e Bolívia, e a qual presidiu até o ano de sua morte em 1830.

Enquanto Bolívar descia com suas tropas a partir da Colômbia rumo o


Equador e a Bolívia, liberando o norte da América do Sul do domínio espanhol,
no Cone Sul, José de San Martín avançava com suas tropas a partir de Buenos
Aires rumo ao norte. San Martín, outro militar experiente com ampla formação
intelectual, foi o principal líder da guerra de independência das Províncias Unidas
do Rio da Prata, que foram concluídas em 1816. Após a liberação da Argentina,
San Martín concluiu o processo de independência do Chile, já encabeçado por
Bernardo O´Higgins desde 1810, após um feito militar memorável: conseguir
atravessar são e salvo os altos picos enevoados dos Andes liderando milhares
de soldados montados, de modo a derrotar as tropas realistas assentadas em
Santiago com o efeito surpresa. Do Chile, seguiu rumo ao Peru, onde também
expulsou as tropas realistas ali presentes e deu bases para a posterior
independência do país.
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San Martín e Bolívar se encontraram pessoalmente em julho de 1822 na
cidade de Guayaquil, no Equador. Ali se realizou a Conferência de Guayaquil,
na qual a liderança das revoluções sul-americanas foi passada para Bolívar, por
meio de uma concordata de San Martín, que logo após se retiraria em definitivo
da América do Sul para viver em um autoexílio na Europa. Os motivos para esta
inesperada decisão ainda são desconhecidos pelos historiadores, ainda que se
argumente que as diferentes visões dos dois líderes quanto ao futuro das regiões
libertadas tenham motivado San Martín a tomar esta atitude, inclusive como uma
forma de evitar guerras entre as próprias lideranças revolucionárias.

O desfecho das lutas entre realistas e revolucionários foi facilitado graças aos
acontecimentos internos ao próprio reino. Após ter rasgado a Constituição de
1812 e ter iniciado uma forte perseguição aos seus adversários liberais,
Fernando VII passou a lidar com intensas manifestações opositoras dentro de
seu próprio país, muitas das quais sob inspiração republicana. Em 1820, após a
revolta de Riego, o rei se viu forçado a se afastar da vida política, situação que
perdurou até 1823, conformando o chamado Triênio Liberal, que foi sufocado por
uma ação conjunta da Santa Aliança, sob liderança francesa, que permitiu o
retorno do rei ao trono em 1823. O fato é que os anos do Triênio liberal
permitiram às tropas revolucionárias contraporem os seus adversários
espanhóis nas guerras travadas nas colônias.

As guerras de independência cessaram entre 1824 e 1825, com a quase


completa separação da América de seus colonos ibéricos (lembrando que em
1822, também o Brasil se tornou independente de Portugal), e a formação de
novos países independentes, como a Grã-Colômbia, Chile, Peru, Paraguai,
Províncias Unidas do Rio da Prata, México e a República Dominicana (mais tarde
anexada pelo Haiti até 1861). O Uruguai tornar-se-ia independente somente em
1828, concluída a Guerra da Cisplatina sob mediação da Grã-Bretanha. Outros
países também se tornaram independentes somente nas décadas seguintes,
como Nicarágua (1838), Guatemala e Honduras (1839) e El Salvador (1841).
Permaneceram como colônias espanholas apenas Porto Rico e Cuba, que se
tornariam protetorados norte-americanos, conjuntamente às Filipinas (Ásia) e
Guam (Micronésia), somente após finalizada a Guerra Hispano-Americana e
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assinado o Tratado de Paris, onde Espanha se comprometia a transmitir o
controle destes locais aos Estados Unidos da América.

O período final das guerras de independência teve forte repercussão dentre


as potências europeias no pós-1815. Até este momento, a Grã-Bretanha ainda
não havia conseguido se posicionar de modo claro em relação à causa
independentista, principalmente por ainda se encontrar envolvida nas guerras
napoleônicas. No entanto, a partir de 1815, preso Napoleão Bonaparte, pode a
Inglaterra se voltar para a América e a conformação da nova ordem política local.
É fato que as independências atraíram o apoio britânico, sobretudo pela
necessidade de garantir o livre-comércio e a livre-navegação dos rios
interioranos. Também era de interesse inglês a contenção da influência
diplomática norte-americana sobre os revolucionários, os quais já se
encontravam ideologicamente alinhados à matriz republicana federalista norte-
americana.

Fernando VII, entre 1823 e 1825, após ter retornado ao trono espanhol graças
a uma intervenção militar da Santa Aliança, ainda tentou angariar o apoio da
mesma para a contenção das guerras de independência. Todavia, a recusa
britânica ao pedido do monarca foi decisiva para o não envolvimento europeu
nas lutas na América. Os ingleses foram, aliás, os grandes panfletários das
novas nações americanas, buscando o seu reconhecimento diplomático em toda
a Europa. Não obstante, por décadas a monarquia espanhola se recusou a
reconhecer a independência das novas nações, vindo a fazê-lo somente a partir
de 1850. Não por um acaso, pois com a perda de seus vastos territórios
coloniais, os espanhóis perderam grande parte de seu faturamento interno,
decaindo nos anos seguintes ao posto de potência de segunda classe.

3 A Longa espera: a Formação nacional na América Latina


independente
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3.1 Bolivarianismo, Republicanismo e Federalismo

Buscar compreender as guerras de independências da América espanhola


também é reconhecer a sua importância para a constituição política das novas
nações latino americanas. Diversos historiadores, como Eric Hobsbawm,
costumam atrelar os rumos tomados por estas nações ao longo do século XIX
como uma forma de manutenção do status quo anterior às guerras, qual seja:
uma sociedade rigidamente estratificada sob o controle político e econômico das
elites criollas e com a permanência das estruturas coloniais sobre as quais se
assentavam os seus privilégios. No entanto, observa-se na historiografia
recente, como em Tulio Halperin Donghi, conclusões bastante diferentes:

En 1825 terminaba la guerra de Independencia; dejaba en toda


América española un legado nada liviano: ruptura de las
estructuras coloniales, consecuencia a la vez de una
transformación profunda de los sistemas mercantiles, de la
persecución de los grupos más vinculados a la antigua metrópoli,
que habían dominado esos sistemas, de la militarización que
obligaba a compartir el poder con grupos antes ajenos a él
(...)2(Grifo Meu)

O despontar das novas nações encarnou, portanto, a quebra do vínculo


histórico com Espanha, não apenas no nível das estruturas políticas e
econômicas, conforme apresentado no trecho acima, como também no nível
social e cultural, ao menos nas áreas mais cosmopolitas e mercantis, que
passaram a sofrer forte influência inglesa e norte-americana durante o século
XIX.

Terminadas as independências, as novas nações passaram à discussão das


formas de Estado e governo mais apropriadas às realidades locais. A frente
monarquista (favorável à instauração de monarquias com base em casas

2
HALPERIN DONGHI,Tulio. Historia Contemporánea de América Latina. Madrid: Alianza
Editorial, 2010, pág. 135. Tradução livre: “Em 1825 terminava a guerra de Independência, que
deixava em toda a América espanhola um legado nada leviano: ruptura das estruturas
coloniais, consequência, por sua vez, de uma transformação profunda dos sistemas mercantis,
da perseguição dos grupos mais vinculados à antiga metrópole, que haviam dominado estes
sistemas, da militarização que obrigava ao compartilhamento do poder entre grupos antes
alheios a ele (...)”.
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dinásticas europeias e/ou com base nas dinastias pré-colombianas, como a inca)
teve certa influência durante a Primeira Guerra de Independência, perdendo
força a partir de 1817 para o republicanismo, graças, principalmente, às ideias
republicanas de Simon Bolívar. San Martín, por sua vez, encarnava um dos
poucos defensores do monarquismo, no entanto, após o seu autoexílio em 1822,
o ideário bolivariano ganhou destaque e permeou todo o restante do conflito, se
alongando após o seu término.

A primeira República federalista moderna constituiu-se em torno das 13


colônias inglesas na América, que passaram a se autodenominar Estados
Unidos da América. O federalismo norte-americano consistia em uma
engenharia política inovadora, cujo objetivo central seria a manutenção da
autonomia dos diferentes estados que compunham o país (federação), ligados
entre si somente por um arcabouço de leis em comum e um governo central que
deveria zelar pela constituição e pela representatividade das mesmas. Deste
modo, o ideal basilar do federalismo republicano estadunidense era a limitação
da ação do governo central (União) frente às autonomias dos demais estados,
os quais são encarados como as verdadeiras fontes de poder da nação.

O exemplo estadunidense influenciou enormemente diversos expoentes


criollos nas regiões de colonização ibérica do continente americano, ciosos como
eram por maior representatividade e autonomia sobre os seus próprios assuntos.
Lembremo-nos de que a instância principal de representação política dos criollos
eram os cabildos, os quais configuravam a unidade política de cidades e/ou
pequenas regiões circunscritas às unidades administrativas maiores. Deste
modo, interessava-lhes a existência de um sistema político que pudesse manter
a autonomia dos antigos cabildos coloniais frente aos novos governos centrais
surgidos do término das guerras de Independência.

Outro modelo republicano utilizado como inspiração por parte das elites
criollas foi o francês, mais exatamente aquele experimentado durante a I
República francesa a partir da Convenção Nacional. O modelo francês, que
durante o jacobinismo foi inspirado no princípio da Vontade geral de Rousseau,
tinha como marca central o sufrágio universal masculino e a centralidade das
funções legislativa e executiva em torno de uma Assembleia geral nacional. Nisto
residia a principal diferença entre o modelo republicano francês e o
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estadunidense, uma vez que em França o Poder executivo nacional (segundo a
tripartição de Montesquieu, adotada em ambas nações), ao mesmo tempo
Legislativo nacional, concentrava enorme poder de ação frente às demais
províncias do reino, ausentes de representações políticas locais.

Na América Latina pós-1825, os debates tocantes à formação política dos


novos Estados independentes, giraram em torno destas duas concepções de
Republicanismo. O modelo bolivariano, de inspiração francesa, foi apresentado
formalmente às elites criollas em 1826, durante o Congresso do Panamá, onde
se reuniram representantes da Grã-Colômbia, México, Peru (incluso a Bolívia),
as Províncias Unidas da Centro-América e Estados Unidos. Não estiveram
presentes os representantes das Províncias Unidas do Rio da Prata e do
Paraguai.

Bolívar tinha por meta fincar bases para a criação de uma unidade de países
hispano-americanos em toda a América, cujas relações se dariam em torno da
paz e da cooperação pan-americana. Deste modo, o objetivo final de Bolívar
seria levar à criação de um grande país hispano-americano que pudesse garantir
as independências recém-conquistadas e fazer frente à hegemonia continental
dos Estados Unidos e do Império do Brasil, bem como a uma tentativa
recolonizadora da região por parte de Espanha e de seus aliados europeus.

Contudo, apesar do êxito momentâneo logrado pelo Congresso, onde se


aprovou pautas como a cooperação militar mútua (em caso de agressões
externas), um efetivo militar máximo a ser atingido pelos diferentes países, de
modo a evitar a criação de conflitos internos, o estabelecimento de Congressos
com a finalidade de se debater problemas (ou seja, a opção pela via diplomática
ante a militar) e a abolição do tráfico negreiro em todo o continente, em pouco
tempo os seus ideais se perderam em meio a conflitos e disputas internas. Não
obstante, a semente de uma cooperação pan-americana com base na igualdade
de forças entre as nações americanas continuou a germinar em diferentes
momentos, assentando-se no pensamento de diversos diplomatas latino-
americanos ao longo dos séculos XIX e XX.

O republicanismo, não obstante o fracasso da proposta bolivariana, saiu-se


vitorioso em todas as nações hispano-americanas. No entanto, a proposta
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federalista não conseguiu lograr êxito com a mesma facilidade, devido,
sobretudo, às disputas de interesse existentes entre os criollos de todo o
continente.

3.2 Militarismo e Caudilhismo na condução dos novos Estados

A emancipação política dos novos Estados foi conquistada com base na força
militar das elites criollas e de parte dos peninsulares com interesses locais. Do
mesmo modo, estes mesmos criollos permaneceram à frente da hierarquia
social, política e econômica de suas nações após as independências, cabendo
a eles as discussões fundamentais em torno de como seriam os novos países,
desde o seu modelo político até a sua matriz econômica.

Do ponto de vista político, as jovens nações logo se viram divididas entre dois
grupos de interesses distintos, os federalistas e os unitaristas. O primeiro grupo
defendia a constituição de Estados baseados na existência de governos centrais
mínimos, garantidores da autonomia de suas províncias (ou Estados, como no
caso da Grã-Colômbia). Já o segundo grupo, os unitaristas (ou centralistas, a
depender do país), defendiam a formação de Estados centralizados em torno de
um governo unitário nacional.

O federalismo era defendido principalmente pelos caudilhos interioranos, cujo


poder político e econômico se assentavam no campo, na produção agropecuária
e no apadrinhamento das comunidades rurais, por meio da manutenção de
vínculos de fidelidade e obediência dos camponeses para com os caudilhos. É
preciso ressaltar, caro estudante, que o caudilhismo deste período, apesar de
ter servido de paradigma para os caudilhos populistas do século XX, possui
algumas diferenças e características essenciais em relação a estes últimos. O
caudilho original costumava ser um grande proprietário de terras, cujo poder de
ação política era assentado em suas milícias armadas (algo similar aos
“jagunços” nordestinos, servidores de seus coronéis). Ou seja, o modus operandi
do caudilhismo do século XIX se baseava no uso da força e da guerra como
forma de concretização de seus ideais. O caudilhismo do século XX, por sua vez,
não necessariamente se baseava na figura do grande proprietário de terra (ainda
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que muitos tenham sido) ou no uso da força como ação política (o que a maior
parte, no entanto, o fez), mas sim no uso do personalismo, do carisma pessoal
e na cooptação da vontade popular como artifícios de manobra política. No
século XX, portanto, caudilhismo e populismo muitas vezes se confundiram em
um só, abarcando a quase totalidade das relações políticas praticadas na maior
parte da América Latina.

O unitarismo, por sua vez, foi alavancado por elites criollas (e também
caudilhas) mais ligadas às atividades mercantis, geralmente localizadas em
áreas mais cosmopolitas, próximas ou não aos grandes portos e zonas
extrativistas que se destacavam ao longo do continente. A atividade mercantil,
em ritmo de crescimento desde o início do século XIX, cooperou com o
enriquecimento destas zonas mercantis/extrativistas e de suas elites, e sua
concretização se baseava na centralidade de poder em torno das cidades ali
presentes, de modo a garantir a manutenção da prosperidade local.

A disputa entre federalismo e unitarismo pelo controle interno das jovens


nações latino-americanas não obscurantizou uma questão salutar ao
desenvolvimento destes países ao longo do século XIX: a marcante presença de
capitais externos, em especial ingleses, e a consolidação do modelo
agroexportador da região. Diversos historiadores defenderam que a
consolidação de um modelo econômico baseado na exportação de matérias-
primas básicas em troca da importação de produtos manufaturados britânicos
concorreu para um “novo pacto colonial”, onde a antiga e decadente metrópole
espanhola fora substituída pela pujante e moderna “metrópole” britânica. À parte
os debates historiográficos acerca desta questão, o fato é que ao longo da
segunda metade do século XIX as nações latino-americanas se tornaram
satélites das economias capitalistas europeias, especialmente a inglesa, o que
concorreu para a definitiva consolidação de um modelo político centralizador
(unitarista) em praticamente todo o continente.
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3.3 - O caso mexicano: da Revolução de Independência até a Revolução
Mexicana

Entre 1810 e 1910 o México, país localizado no coração do antigo Vice Reino
de Nova Espanha na América Central, partindo da Península de Yucatán em
direção da América do Norte, vivenciou um dos mais turbulentos contextos pós-
independência de toda a América Latina.

Desde as suas guerras de independência, para a qual as questões relativas


às desigualdades sociais se mostraram bem mais determinantes do que nas
demais nações hermanas, o México se viu envolto uma longa era de
instabilidade política, permeada de governos democráticos e, principalmente,
autoritários.

Inicialmente, cabe mencionar algumas questões de suma importância para o


desenrolar da história mexicana até a revolução de 1910. Em primeiro lugar, a
questão da posse da terra. No início de sua colonização por espanhóis, a região
mexicana era habitada por uma imensa população indígena, de maioria asteca
e maia. O processo colonizador, por sua vez, precisou fazer uso de sistemas de
trabalho e de organização social precedentes aos espanhóis (algo também feito
com os incas, conforme já vimos!), de modo a angariar, da melhor forma
possível, a colaboração da mão-de-obra nativa para os empreendimentos do
Império espanhol. Uma das instâncias sociais essenciais ao antigo Império
Asteca que foram ressignificadas pelos espanhóis foram os ejidos, os quais eram
grandes porções de terra pública (pertencentes ao imperador asteca) de uso
coletivo dentre a população asteca. Os espanhóis, de modo a fazer uso destas
terras, restabeleceu os ejidos sob a figura das encomiendas, por nós já
analisadas anteriormente. Todavia os esforços dos espanhóis para a utilidade
dos ejidos para a estrutura colonial, veremos que entre o fim do século XVIII e o
início do século XX, por múltiplos motivos, as terras comunais mexicanas foram
alvo de interesses e disputas por parte das elites criollas locais, e chegaram
praticamente a desaparecer, causando inúmeras rebeliões indígenas (incluso o
próprio estopim da independência).
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Em segundo e último lugar, a questão religiosa é de suma importância para
este período da história mexicana. Quanto a este ponto, cabe ressaltar a
presença marcante da Igreja católica e de seu clero em meio à sociedade
mexicana (cerne da contrarreforma espanhola na América no início da
colonização). Essa presença se denotava por meio de uma interação sempre
presente entre Igreja e Estado no México (bem como em praticamente toda a
América Espanhola), relação esta que foi alvo de amplos ataques por parte de
elites criollas e peninsulares de veio liberal a partir do início do século XIX. É
importante lembrarmos, no entanto, a heterogeneidade do clero católico
mexicano, composto, em sua maior parte, por membros da baixa hierarquia
(sacerdotes, frades, monges, etc.), os quais, por sua estreita relação com as
populações indígenas e de mestiços pobres, fizeram-se porta-vozes das causas
das camadas mais baixas da sociedade mexicana. Não obstante, muitos
membros da alta hierarquia eclesiásticas também se envolveram nas revoltas
populares daquele contexto.

O estopim das guerras de independência do México é um exemplo perfeito


da sincronia entre as duas questões acima colocadas. Em 1810, inserido no
contexto político de Cádiz e da prisão de Fernando VII, teve início a
independência do Vice-Reino de Nova Espanha, inicialmente em nome do rei e
contrária à Junta de Cádiz. Seu primeiro grande líder foi o Padre Miguel Hidalgo
y Costilla, o qual decidira declarar ilegítimo o novo governo espanhol e,
sobretudo, o seu viés liberalizante, oposto às tradições católicas espanholas.
Além do debate em torno da ilegitimidade de Cádiz, Pe. Hidalgo também
inaugurou os debates em torno da posse da terra, sendo o grande opositor às
grandes propriedades privadas de terra e à minoria criolla e peninsular detentora
da maior parte do território mexicano, às custas de expurgos forçados de
populações indígenas dos centenários ejidos ali existentes.

Pe. Hidalgo, que já liderara levantes indígenas e populares contra criollos e


peninsulares anos antes de 1810, começara a articular uma revolução social no
México, primeiramente contra as próprias elites locais, em seguida contra o
próprio governo peninsular. Após o decreto de 1810 de Cádiz, que transferia a
soberania do reino às Cortes ali reunidas (à revelia das colônias e de suas
lideranças), Pe. Hidalgo conclamou a população à guerra contra o governo
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ilegítimo de Espanha e às más elites locais por meio do “Grito de Dolores”,
emitido a partir da paróquia de Dolores Hidalgo em Guanajuato, em 16 de
setembro de 1810, sob os gritos de “Viva a Virgem de Guadalupe! Morte ao mal
governo! Viva Fernando VII”.

Ao conclame popular, seguiu-se a rápida reunião de populares em torno de


Hidalgo, que marcharam rumo, a partir de Guanajuato, rumo à Cidade do México,
atacando terras privadas e matando peninsulares e criollos, bem como seus
apoiadores. Após a tomada de Zacatecas, San Luís de Potosí e Valladolid, as
tropas populares de Hidalgo enfrentaram os primeiros destacamentos militares
enviados pelo Vice-Rei para o abafamento da revolta. As tropas populares
conseguiram se sair vencedoras, no entanto, enfraquecidas pela batalha e as
perdas, deixaram de rumar à Cidade do México e seguiram para o norte, no atual
Texas. Ali, já em março de 1811, foram vencidas de forma definitiva e Pe.
Hidalgo, após julgamento, foi fuzilado em julho e seu corpo mutilado.

Hidalgo foi substituído pelo também sacerdote José María Morelos y Pavón,
responsável pela reorganização das tropas populares e pela iniciativa de isolar
a Cidade do México do restante das províncias, objetivo conquistado por poucos
meses, os quais, no entanto, foram muito frutíferos. Morelos, durante o cerco,
conseguira reunir membros de todas as províncias em torno de um Congresso
independente, de onde se originou a declaração de independência mexicana, de
6 de novembro de 1813. Ocorre que as tropas espanholas (já entendidas como
realistas) conseguiram romper o cerco e retomaram boa parte dos territórios
insurgentes, levando os congressistas e suas tropas a se retirarem para o interior
do país, sob a liderança do generalíssimo Morelos. Em 1814, Morelos e os
demais congressistas aprovaram e juraram a constituição nacional, que, no
entanto, permaneceria inapta por muitos anos, pois em 1815, após uma batalha
fracassada contra tropas realistas, Morelos e os congressistas foram presos, e
o primeiro também fuzilado, assim como Hidalgo.

A principal mudança ocorrida durante a liderança de Morelos, não obstante a


sua derrota, foi a união de grupos de criollos e peninsulares à guerra de
independência, que fora desde o seu estopim essencialmente popular (e
contrária a essas mesmas elites coloniais). A aliança pragmática entre criollos,
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peninsulares e populares permitiu que, mesmo após a morte de Morelos, a
guerra atingisse nova estatura, insuflando todo o Vice-Reino à guerra entre 1815
e 1821. Emergiram neste contexto as três figuras mais emblemáticas do período
final da guerra de independência mexicana: os criollos Guadalupe Victoria e
Vicente Guerrero, com o acréscimo, mais tarde, de Agustín de Iturbide.

Victoria e Guerrero lideraram não guerras abertas, como até então fora feito,
mas sim guerras de guerrilhas e localizações estratégicas, uma vez que as
tropas populares se encontravam sensivelmente diminuídas e enfraquecidas,
sobretudo após muitos populares aceitarem o indulto concedido pelo Vice-Rei
Juan Ruíz. Certo da vitória realista, Juan enviou para derrotar, de forma
definitiva, aos dois líderes independentistas o também criollo e fiel súdito de Sua
majestade, Agustín de Iturbide. Caudilho astuto e católico fervoroso, Iturbide
combatera todos os líderes revolucionários desde 1810, vencendo e matando
muitos destes. No entanto, guardava (ou projetou) internamente o desejo de
colaborar com a formação de um México independente, onde pudesse ter maior
ascensão social e política. Seu ímpeto somente emergiu quando das primeiras
batalhas travadas contra as tropas de Victoria e Guerrero, entre 1820 e 1821.
Seu envio à frente de batalha coincidiu com o golpe de Estado liberal em
Espanha, o qual forçou Fernando VII a aceitar a Constituição de 1812 e a se
retirar do poder (na prática, o rei fora aprisionado pelos liberais até 1823, ano de
sua reação). Iturbide percebeu que este seria o momento ideal para a derrocada
das forças realistas, que já se encontravam com a vitória definitiva praticamente
em mãos. Ele e os outros dois caudilhos revolucionários se encontraram em
campo de batalha e firmaram um pacto de ajuda mútua, que daria origem ao
“Pacto de Iguala”, firmado pelos três em 24 de fevereiro de 1821.

O Pacto de Iguala determinava que o novo país seria regido por um monarca
oriundo, prioritariamente, de alguma casa dinástica europeia ou, em última
instância, dentre os próprios criollos mexicanos. Além disto, firmava que criollos
e peninsulares tornar-se-iam iguais em direitos sob a nova constituição (o que
não significava iguais ao restante da população) e que as suas terras
permaneceriam privadas. Ainda, a religião católica continuaria sendo a fé oficial
do Estado mexicano. Satisfeitas as lideranças, Iturbide tornou-se então o líder
do exército revolucionário (engrossado por populares convocados em todas as
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províncias), chamado de “Exército das Três Garantias”, e a sua frente marchou
até a Cidade do México, onde forçou a abdicação do Vice-Rei, que, antes de sua
retirada, assinou com Iturbide o “Tratado de Córdoba”, pelo qual se reconhecia
a independência do México. O Pacto de Iguala, por conta de suas brechas,
permitia que algum criollo reivindicasse o trono do novo país, o que fora feito,
por meios militares, pelo próprio Iturbide, o qual forçou o Congresso constituinte,
a partir de ameaças, a reconhecê-lo como rei, o que veio a acontecer em 19 de
maio de 1822. Iturbide foi coroado como Agustín I, sob o título de Imperador do
México.

Agustín I reinou, no entanto, por apenas 10 meses. Entre o fim de 1822 e o


início de 1823, alguns grupos republicanos contrários ao regime monárquico
instituído, sob a liderança de Guadalupe Victoria, passaram a tramar um golpe
de Estado. A trama somente conseguiu se sair vitoriosa graças ao apoio do
general e caudilho Antonio López de Santa Anna (ou simplesmente Sant´Anna),
que firmara um acordo com Victoria, chamado de “Pacto de Veracruz”, exigindo
a reabertura do Congresso mexicano, que fora fechado pelo rei após a sua
coroação. Poucos meses depois, em março de 1823, Sant´Anna angariou do rei
a sua abdicação.

Com a abdicação de Agustín I, o México se transformou em uma República


de inspiração liberal e anticlerical. Sant´Anna se tornou o mais importante
expoente político do período 1823-1855, caracterizando-se como um caudilho
forte e autoritário, que soube fazer uso da fraudulenta máquina eleitoral
republicana para se perpetuar no poder, ainda que não de modo constante, mas
sim alternado a outros políticos por ele apadrinhados. Sant´Anna se tornou
presidente da República mexicana primeiro em 1833, e depois por mais dez
vezes foi eleito presidente, provisório ou efetivo, em intervalos de tempo muito
curtos. Apesar de autoritário, Sant´Anna foi o grande responsável pela
estruturação do exército profissional mexicano pela tentativa de modernização
da economia do país, por meio da atração de estímulos estatais e de
investimentos externos, principalmente no setor ferroviário e agrário. Não
obstante, também a ele se credita a perda do Texas e de territórios limítrofes na
desastrosa guerra mexicano-americana de 1846-1848, que levou à perda de
quase metade do território original do México.
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A crescente insatisfação dos caudilhos mexicanos aos governos de
Sant´Anna foi materializada por Benito Juarez, caudilho aliado dos liberais
mexicanos. Juarez derrubou Sant´Anna em 1855 e assumiu provisoriamente o
governo até 1857, promovendo durante este período reformas liberais radicais,
de forte cunho anticlerical e positivista. Instituiu-se a educação secularizada e a
tentativa de conversão dos ejidos existentes em pequenas propriedades
privadas voltadas aos indígenas e mestiços, iniciativa que foi, no entanto,
fracassada pelo tempo. Todas estas reformas foram instituídas pela Constituição
liberal de 1857, que despertou, sobretudo por suas posições anticlericais, a
reação dos grupos conservadores católicos, despertando uma guerra civil que
durou mais de três anos, sendo finalizada com a vitória de Juarez e dos liberais
em 1861.

Juarez voltou à presidência mexicana, cargo que ocupou por apenas um ano.
Em 1862, devido às constantes guerras travadas em solo mexicano, a economia
do país se viu solapada, evitando, portanto, o pagamento da dívida externa
mexicana com os credores franceses, ingleses e espanhóis. Napoleão III, em
sua desastrosa política de hegemonia francesa no continente americano (algo
que buscava atender os seus interesses frente à Grã-Bretanha e sua liderança
global), invadiu o México em 1862 com o apoio de opositores de Juarez.
Conseguiu que o príncipe Maximiliano de Habsburgo, irmão do Imperador
Fernando José I da Áustria e primo de D. Pedro II do Brasil, aceitasse assumir a
coroa do Império mexicano restaurado. Deste modo, Napoleão buscava tornar o
México um território satélite dos interesses franceses no coração da América (e
ao lado dos Estados Unidos). Tornou Maximiliano I, Imperador do México.

Maximiliano I reinou com grandes dificuldades e com pouca lealdade local


entre 1864 e 1867, ano em que Benito Juarez, com o apoio militar dos
estadunidenses, liderou uma revolta liberal contra Maximiliano I (ele próprio um
rei de inspiração liberal), o qual se encontrava apoiado por apenas algumas
poucas tropas francesas, visto que a maior parte dos soldados franceses já havia
retornado à Europa para fortificar o exército francês em suas dificuldades. O
golpe definitivo foi dado em 1867, com o cerco de Santiago de Querétaro, onde
Maximiliano foi capturado junto com seus generais e fuzilado. Juarez retornou
ao poder, restaurou a República e governou até 1872, ano de sua morte. Entre
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1872 e 1876, o México foi novamente assolado por uma guerra civil, que levou
ao poder o caudilho Porfírio Diaz, que governaria de forma quase absoluta entre
1876 e 1910, período em que se afastou do poder somente entre 1880-1884,
durante a presidência de Manuel González.

O período de primado das ideias de Porfírio Diaz ficou conhecido como


Porfiriato, e se marcou pelo restabelecimento das boas relações institucionais do
Estado mexicano com a Igreja Católica, pela modernização econômica e infra
estrutural do país e pela manutenção de boas relações diplomáticas com outras
nações, incluso com os Estados Unidos, para o qual Diaz teria dedicado a
famosa frase “Pobre México. Tan lejos de Dios, tan cerca de Estados Unidos”3.
O Porfiriato foi, portanto, um período de inserção internacional do México como
potência agroexportadora, sob a égide de um governo autoritário, o qual
perseguia seus opositores de modo a manter a sua hegemonia por meio de
eleições fraudulentas (algo também observado em quase toda a América Latina
no mesmo contexto, à exceção honrosa do Brasil até 1889).

A concentração de terras, e o subsequente aumento da pobreza no campo,


aumentou durante os anos do Porfiriato, aguçando o sentimento anti-porfirista
entre os setores populares. Não bastasse, também entre as elites liberais,
destronadas após a ascensão de Porfirio Diaz ao poder, cresceram em
insatisfação contra os atos do governo, sobretudo no tocante à restauração das
boas relações com a Igreja Católica e ao modo como ele lidava com a oposição
política ao seu governo.

Em 1910, Porfírio Díaz voltou a se candidatar à presidência mexicana, pleito


no qual se saíra, novamente por meio de fraudes, corrupção e aprisionamento
de seu principal rival eleitoral, Francisco Madero, vencedor. Madero, logo após
a vitória de Díaz, conseguiu fugir da prisão e se exilar nos Estados Unidos, de
onde criou, com o apoio de outros opositores do porfirismo dentro do México, o
Plano de San Luis, que convocava o povo a pegar em armas contra a ditadura
de Díaz. Iniciava-se a Revolução Mexicana.

3
Tradução livre: “Pobre México. Tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos”.
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O conflito arquitetado por Madero logo tomou todo o norte do México, para
onde ele se dirigiu com o apoio militar norte-americano. Do norte, as tropas
revolucionárias se dirigiram para o sul, rumo à Ciudad Juárez (atual Chihuahua),
onde enfrentaram as tropas porfiristas, derrotando-as após uma sangrenta
batalha. Percebendo a animosidade de seus opositores, Porfírio Díaz se
convenceu de que uma invasão à capital seria inevitável, terminado por renunciar
ao governo e buscar asilo político na França.

Francisco Madero foi eleito para a presidência em 1911, porém, a falta de


ação em favor de reformas profundas na sociedade mexicana (causa que
animara a população mais pobre contra Díaz) levou à reinstalação da revolução
contra o seu governo. Os principais líderes desta revolta foram Emiliano Zapata
(líder popular e membro de uma família de rancheros pobres da região de
Morelos) e Pascual Orozco (rico investidor extrativista originário de uma família
de hacienderos da região de Guerrero e radical opositor do porfirismo).

Zapata era o que mais se destacava dentre os revolucionários. Rígido em


seus ideais, não aceitara desmobilizar suas tropas (como outros fizeram) após a
saída de Díaz e o estabelecimento do interinato de León de la Barra. Do mesmo
modo, recusou-se a desarmar seu exército de camponeses após a eleição de
Madero e de seu pedido para a desmobilização das tropas zapatistas, ao menos
enquanto não se cumprisse o que fora prometido no Tratado de Ciudad Juárez
em relação a uma reforma agrária que democratizasse o uso da terra.

Após rejeitar as exigências de Zapata, Madero convocou o general Felipe


Ángeles para acabar com o exército zapatista, ato que levou Zapata a firmar o
Plano de Ayala (pois fora firmado em Villa de Ayala), onde acusava Madero de
tirania e conluio com os inimigos da revolução, e negava a legitimidade de seu
governo. O Plano indicava Orozco como “Chefe da Revolução” e Zapata como
seu braço direito.

Madero convocou Victoriano Huerta para sufocar a rebelião convocada por


Orozco com apoio de Zapata e Pancho Villa, e no fim se saiu vitorioso,
derrotando as tropas de Villa e levando-o a fugir rumo os Estados Unidos. No
entanto, a vitória de Huerta o elevou ao nível de herói nacional entre as classes
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médias e altas, o que lhe levou a tramar contra Madero. Em fevereiro de 1912,
com o apoio de generais maderistas cooptados para a causa, confirmou-se o
golpe de Estado que pôs fim ao governo de Madero, que viria a ser assassinado
a caminho do presídio federal, e ficou conhecido como Decena Trágica.

Victoriano Huerta impôs uma nova ditadura ao país, cujas características


muito o assemelhava ao “Porfiriato”. A meta central de Huerta foi o fim da
Revolução, e, para tanto, buscou a reunir membros de todas as facções
revolucionárias em um armistício. Não obstante, diante da oposição declarada
apresentada pelos congressistas ao seu governo, Huerta dissolveu o Congresso
e assumiu poderes extraordinários, tornando-se, em suma, um ditador.
Entretanto, Huerta conseguiu o apoio de Orozco, a despeito da negativa de
Zapata a um armistício.

Desconhecendo o regime huertista, Zapata e Francisco Villa, aliados a


Venustiano Carranza, governador de Coahuila, consolidaram-se em torno do
Plano de Guadalupe, pelo qual desconheciam os Três poderes da federação e
criavam um Exército Constitucionalista, cujo objetivo seria “restituir a
normalidade constitucional” do México. Revoltaram-se contra Carranza e
aprofundaram a guerra civil.

Villa pôde contar com apoio norte-americano, ao menos por um período


limitado, para lutar contra Carranza. Em meio à guerra, no ano de 1917,
Carranza aprovou uma nova Constituição nacional, com forte tendência liberal-
positivista e anticlerical. Dentre seus artigos, proibia-se aos sacerdotes e
membros do clero católico o uso de vestimentas eclesiásticas em espaço
público, bem como a sua participação política (limitava-se, até mesmo, o direito
de expressão política aos sacerdotes). Outrossim, nada se falava da questão da
terra e dos males sociais no campo.

A luta revolucionária mexicana causou alvoroço internacional, mobilizando


jovens socialistas e anarquistas de outros países para a revolução. A inserção
estrangeira aconteceu, principalmente, por meio da Casa del Obrero Mundial,
sediada em Cidade do México. Desde então, parte dos revolucionários cedeu à
ideologia socialista, que passou a divulgar a causa mexicana mundialmente.
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Em meio aos ataques oriundos de todas as frentes revolucionárias, Carranza
conseguiu, entre 1915 e 1916, o apoio e o reconhecimento de seu governo por
parte dos Estados Unidos, que até então apoiava Villa. Sentindo-se traído, Villa
comandou suas tropas até a cidade de Columbus, no Novo México, e ali pilhou
e matou cidadãos norte-americanos. Em resposta, o presidente Wilson autorizou
uma investida de tropas estadunidenses dentro do México, em busca de Villa, o
que, no fim, não logrou êxito.

Graças ao apoio norte-americano, Carranza conseguiu governar até 1920,


ainda que em meio à guerra. O período entre 1920 e 1923 foi marcado pelos
assassinatos de Zapata (1919), Carranza (1920) e Villa (1923), pondo fim a uma
década de revolução. No entanto, muito se discute acerca da data final da guerra
civil, com muitos pesquisadores recentes defendendo que a Guerra Cristera
(1927-29), marcada por violentos e sangrentos embates entre as forças federais
e tropas camponesas católicas, teria marcado o verdadeiro término da
Revolução mexicana, visto que fora uma reação dos católicos mexicanos às
medidas anticlericais da Constituição de 1917.

A Revolução Mexicana serviu de paradigma para o pensamento


revolucionário latino-americano, por sua pauta social e agrária, que por décadas
motivou os movimentos guerrilheiros socialistas existentes durante o período das
ditaduras militares latino-americanas. No entanto, os seus efeitos sobre o próprio
México foram tímidos, apesar de muito expressivos ainda atualidade, sobre em
meio aos modernos movimentos autodenominados “zapatistas” espalhados pelo
interior mexicano. Isto posto, vamos praticar!

Prova CACD – questão 45 – 2007

Considerando as duas primeiras ondas revolucionárias do século XIX, citadas no texto, e


sua vinculação, direta ou indireta, com o continente americano, assinale a opção correta.

( ) Fatores internos, ainda que existentes, tornaram-se irrelevantes para a desintegração


do sistema colonial ibérico frente à influência exercida pela conjuntura revolucionária
europeia no processo de independência latino-americana, conforme sugerido pelo texto.

Resposta: Errada
Comentário: O processo revolucionário pode ser entendido como uma conjunção de
fatores externos (guerras napoleônicas e invasão francesa à Espanha) e fatores internos
(conflitos sociais entre criollos e peninsulares/ busca por autonomia local, etc), e não
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unicamente como a consequências das revoluções europeias (que apenas abriram o
caminho para as independências).

( ) Entre os grandes libertadores da América espanhola, Simon Bolívar notabilizou-se


pelo destemor com que se lançou à luta para emancipar a atual Argentina e pela convicção
de que a prosperidade da América subordinava-se à existência de Estados plenamente
autônomos.

Resposta: Errada
Comentário: Duplo erro: primeiramente, Bolívar lutou no Cone Norte, e não no Sul, e
segundo, cria na ideia de um grande Estado hispano-americano centralizado.

( ) A onda revolucionária de 1848, por sua amplitude e espontaneidade, foi amplamente


exitosa em suas aspirações populares, tanto na Europa – com o fim do sistema eleitoral
censitário – quanto na América – com as reformas de Jackson (EUA).

Resposta: Errada
Comentário: Não houve “amplo êxito” na Primavera dos povos, ao menos não de forma
imediata, por conta da forte reação dos Impérios centrais. Sua semente sobreviveu em
meio à ideologia revolucionária que prosperaria na Segunda metade do XIX.

( ) Semelhantemente ao ocorrido quando da invasão da Península Ibérica pelas tropas


francesas de Napoleão (1808), a Revolução Espanhola de 1820 contribuiu para o
recrudescimento da luta pela independência das colônias latino-americanas.

Resposta: Correta
Comentário: Corretíssimo! Em 1820, ano do estouro liberal em Espanha, em muitas
regiões da América Latina as guerras começavam a se reverter contra os revolucionários,
o que estancou com a paralização da monarquia absolutista espanhola.

( ) Inexistência de mercado interno expressivo e impossibilidade de aplicação de capitais


pela via de empréstimos aos Estados são dois poderosos motivos que explicam o reduzido
impacto da expansão capitalista europeia, ocorrida na segunda metade do século XIX,
sobre a América Latina.

Resposta: Errada
Comentário: Por boa parte do Século XIX a Inglaterra (principalmente) lutou pela
pacificação do continente e pela abertura de portos e veios de rios, garantindo assim o
livre-comércio e a livre-navegação pelo interior do continente, e o motivo era justamente
a crença de que o interior representaria um bom mercado consumidor para seus produtos.
Já a segunda metade do XIX representou a forte presença inglesa no continente, logo, a
inserção latino-americana no capitalismo internacional.

Prova CACD – questão 66 – 2010

Acerca da Revolução Mexicana de 1910 e de política mexicana no Século XX, julgue C


ou E.
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( ) Representante do continuísmo dos regimes surgidos após a Revolução Mexicana, o
Partido Revolucionário Institucional (PRI) mantém-se no poder até os dias atuais.

Resposta: Errado
Comentário: A questão é bastante factual (e aí se encontra o erro). O PRI foi
originalmente criado como Partido Nacional Revolucionário (PNR) em 1929, por
Plutarco Elías Calles, após o fim da Guerra cristera. O PRI reinou soberano entre 1929 e
1989, ano em que começou o seu declínio.

( ) A expressão porfiriato refere-se ao longo período em que Porfírio Diaz dominou a


política mexicana, até 1911. O porfiriato pode ser descrito como um período de
estabilidade e expansão econômica, mas também de repressão e de injustiça social
crescentes.

Resposta: Certo
Comentário: Exato! O Porfiriato, como vimos, foi marco pela modernização da
infraestrutura pública mexicana e pela entrada de capitais externos no país (especialmente
norte-americano), em compensação, além da perseguição política aos desafetos de
Porfírio Díaz, a questão da posse da terra se tornou ainda mais problemática com a Lei de
Baldios e o fim dos pueblos.

( ) Depois da ascensão, em 1911, de Pancho Villa à presidência do país, registrou-se um


surto de desenvolvimento industrial paralelo ao processo de reforma agrária.

Resposta: Errado
Comentário: Em 1911, tornou-se presidente Francisco Madero, após a queda de Díaz.
Pancho Villa jamais foi eleito presidente.

( ) A Constituição de 1917, fruto do processo revolucionário, continua sendo a


Constituição dos Estados Unidos Mexicanos.

Resposta: Certo
Comentário: A Constituição de 1917, apesar de inúmeras reformas sofridas desde a sua
promulgação, permanece como a Carta constituinte mexicana até os dias atuais.

Prova CACD – questão 52 – 2014

Os processos de independência que afetaram as colônias europeias da América


compartilham vários aspectos, embora haja especificidades que não podem ser
desprezadas pelos historiadores. A respeito desse contexto histórico, julgue (C ou E) os
itens subsequentes.

( ) No Chile, cuja Ata de Independência data de 1818, os enfrentamentos entre os


partidários da Coroa espanhola e os libertários e, em seguida, o choque entre os que
defendiam a visão centralista e os federalistas convulsionaram o jovem país, que suportou
longo períodos de guerras, até que, em 1830, a facção conservadora centralista venceu a
disputa.

Resposta: Certo
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Comentário: O Chile, assim como outros países da região, também sofreu com as lutas
entre federalistas e centralistas (ainda que tenha resolvido a questão mais cedo do que
seus vizinhos).

( ) O processo de independência da Venezuela esteve ligado ao da Colômbia, Equador e


do Panamá, com os quais a Venezuela formava, em 1821, a Gran Colombia, embora essa
unidade, repleta de conflitos, só tenha sido mantida até a morte de Simon Bolívar, seu
principal defensor.

Resposta: Errado
Comentário: Questão bastante factual. O processo, na realidade, iniciou-se em 1819,
com Venezuela e Nova Granada, já me 1821 ocorreu a entrada do Panamá e em 1822 da
Venezuela. Porém, de fato, após a morte de Bolívar em 1830, foi uma questão de tempo
a desintegração da Grã Colômbia, convulsionada pela disputada entre federalistas e
centralistas.

( ) A independência dos EUA (1776), que antecedeu a dos demais países americanos,
costuma ser apontada pela historiografia como fonte inspiradora para o discurso dos
movimentos separatistas ibero-americanos, principalmente em razão dos ideais de
igualdade, liberdade e respeito aos direitos dos indivíduos.

Resposta: Certo
Comentário: A independência dos EUA, de fato, tornou-se um paradigma para as jovens
nações latino-americanas, que dela retiraram a sua inspiração na luta contra Espanha, bem
como para a formação dos novos Estados independentes.

( ) A independência da Argentina, em 1816, foi fruto das invasões napoleônicas,


momento em que as elites agrárias aproveitaram o vazio do poder colonial e, de forma
coesa, implantaram um sistema federalista que garantiu a estabilidade política do país até
a Guerra do Paraguai.

Resposta: Errado
Comentário: Primeiramente, a independência definitiva em 1816 não se deve às invasões
napoleônicas (que já estavam finalizadas), mas sim à fatores internos, como a liderança
de San Martin e a luta contra as tropas realistas. Em segundo lugar, a estabilidade política
em Argentina apenas se deu após 1862, com a unificação em torno da opção centralista.

Prova CACD - questão 52 – 2015

Entre fins do século XVIII e as primeiras décadas do século seguinte, a maior parte das
colônias americanas conquistou sua independência. Em geral, malgrado a singularidade
de cada colônia, essas emancipações enquadram-se no contexto mais amplo de crise do
Antigo Regime europeu e, sobretudo em relação às colônias ibéricas, também refletem o
quadro histórico suscitado pela Era Napoleônica. Com relação ao processo de
independência nas Américas, julgue (C ou E) os itens a seguir.

( ) Na América Hispânica, a luta pela independência pretendia alcançar uma espécie de


novo pacto colonial, de modo que seus produtores pudessem ter contato direto com a
grande potência econômica que a Revolução Industrial consagrara, a Inglaterra.
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Resposta: Certo
Comentário: Interpretação da historiografia clássica, que aludia as independências a um
desejo intrínseco às elites criollas de se firmarem a outra potência hegemônica em lugar
de Espanha, então em franco declínio.

( ) Os colonos na América Inglesa sublevaram-se contra o monopólio comercial, a


interdição da produção local de manufaturas e a proibição do cultivo do chá.

Resposta: Errado
Comentário:

( ) Na América Hispânica, o processo de independência foi liderado pela elite


mineradora, em reação ao imposto da Coroa de 20% sobre a produção de metais
preciosos.

Resposta: Errado
Comentário: Não houve ligação direta entre a cobrança do imposto e os anseios
independentistas, cujas causas mais se assemelham aos interesses das elites criollas
aliadas a parte de peninsulares e populares insatisfeitos com a administração espanhola.

( ) Os movimentos de independência nas Américas inglesa e hispânica tinham em comum


o fato de terem se originado de alterações no equilíbrio europeu causado pela França e o
de defenderem a forma federalista de organização do Estado pós-independência.

Resposta: Errado
Comentário: A independência das 13 colônias inglesas (1776) não se deu em um
contexto de alteração do equilíbrio europeu pela França, mas sim pelo declínio nas
relações entre Inglaterra e colônias, e quanto à proposta federalista, que de fato surgirá
entre os colonos da América inglesa, esta será amplamente debatida entre os Estados
latino-americanos, sem definições claras até a Segunda metade do XIX (com a vitória do
centralismo em quase todo o continente).

(UFAL) Entre as causas políticas imediatas da eclosão das lutas pela


independência das colônias espanholas da América, pode-se apontar:

a) a derrota de Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo;

b) a formação da Santa Aliança;

c) a imposição de José Bonaparte no trono espanhol;

d) as decisões do Congresso de Viena;


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e) a invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal e a coroação de D. João VI
no Brasil.

Comentários: a, b e d. A desorganização política na Europa provocada pelo


império napoleônico foram importantes para acirrar os ânimos na América
espanhola no sentido das independências. Ou seja, não se pode atribuir a queda
de Napoleão nem suas consequências como motores das revoltas coloniais.

c. A imposição de José Bonaparte sobre a monarquia espanhola abriu uma


crise de legitimidade em todo império espanhol, fazendo com que as elites se
organizassem politicamente, o que facilitaria o processo de independência.
Alternativa correta.

e. As consequências da invasão francesa em Portugal e da coroação do


príncipe regente no Brasil não podem ser extrapoladas para a realidade colonial
espanhola. A relação estabelecida entre Paris e Madri durante o Primeiro Império
foi diferente do que houve com Portugal.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(FUVEST) A Revolução Mexicana de 1910, do ponto de vista social,


caracterizou-se

a) pela intensa participação camponesa;

b) pela aliança entre operários e camponeses;

c) pela liderança de grupos socialistas;

d) pelo apoio da Igreja aos sublevados;

e) pela forte presença de combatentes estrangeiros.


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Comentários: a. Os camponeses mexicanos foram um grupo fundamental
para o sucesso da revolução. Alternativa correta.

b. O operariado mexicano era muito reduzido devido ao grau rarefeito da


industrialização do país à época da sua revolução; não podendo compor
numericamente um grupo capaz de desequilibrar os rumos políticos.

c. As lideranças de Pancho Villa e de Emiliano Zapata não podem ser


interpretadas como realmente socialistas.

d. A Igreja se manteve fiel às classes dirigentes, principalmente às elites


agrárias enquanto os revolucionários exigiam pontos como a reforma agrária.

e. Apesar das intervenções americanas em alguns pontos da revolução,


socialmente, a sua marca foi a interiorização do conflito.

Gabarito: ALTERNATIVA A.

(UFS) O fim da Guerra Civil Mexicana (1917) encontrou a nação arruinada.


Politicamente, afirmou-se a hegemonia dos generais do Norte do país, sendo na
década de 20 governado praticamente por:

a) Hurtado e Camacho

b) Obregón e Calles

c) Cárdenas e Villa

d) Zapata e Dias

e) Carranza e Huerta

Comentários: Os líderes revolucionários Zapata e Villa foram mortos pouco


depois do fim da revolução; assim como líderes latifundiários tradicionais, como
Carranza e Cárdenas, perderam espaço na política mexicana. Durante
praticamente toda a década de 1920, os maiores líderes foram Obregón e Calles.

Gabarito: ALTERNATIVA B.
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(UFSCar-SP) A independência das colônias espanholas da América deveu-


se a diversos fatores.

Assinale a opção na qual todos os fatores relacionados contribuíram para


essa independência.

a) Política mercantilista da Espanha; influência da independência brasileira;


interesse dos Estados Unidos no comércio das colônias espanholas.

b) Monopólio comercial em benefício da metrópole; desigualdade de direitos


entre os criollos, nascidos nas colônias, e os chapetones, nascidos na Espanha;
enfraquecimento da Espanha pelas guerras napoleônicas.

c) influência das ideias políticas de Maquiavel; auxilio militar brasileiro à


independência dos territórios vizinhos; exemplo da independência dos Estados
Unidos.

d) Liberalismo político e econômico, adotado pelas cortes espanholas;


enfraquecimento do governo espanhol por causa da intervenção militar francesa;
política do Congresso de Viena favorável à independência das colônias.

e) Interesse econômico da Inglaterra na independência das colônias; política


de suspensão das restrições de importações, seguida pelo governo de José
Bonaparte; aliança entre chapetones, colonos nascidos na Espanha, e criollos,
nascidos nas colônias para promover a independência.

Comentários: a. A debilidade estatal espanhola não permitiria, no início do


século XIX, um maior controle real das colônias na América. Além disso, muitas
das independências da América hispânica ocorreram antes da independência
brasileira.

b. Havia, de fato, uma fragilização generalizada do Estado espanhol, com


uma maior dinâmica das elites criollas na América. A crise de legitimidade
ocorrida na Europa fez abalar a estabilidade do domínio colonial. Alternativa
correta.
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c. Além das ideias maquiavélicas pouco dialogarem com as libertações
americanas, o Estado brasileiro ainda não existia quando ocorreram as
independências na América espanhola.

d. Não se pode afirmar que a Espanha, mesmo debilitada, praticava uma


política liberal com suas colônias. Bem como o Congresso de Viena estava
voltado no sentido de fortalecer o discurso de legitimação das monarquias
tradicionais.

e. Os ingleses ainda viviam sob uma preocupação muito forte quanto ao


continente, bem como mantinham várias possessões na América do Norte e no
Caribe. Por sua vez, chapetones e criollos enfrentavam um período de
enfrentamento político no interior do império espanhol.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(FUVEST/SP) Da Independência dos Estados Unidos (1776), da Revolução


Francesa (1789) e do processo de independência da América Ibérica (1808-
1824), pode-se dizer que todos esses movimentos:

a) decidiram implementar a abolição do trabalho escravo e da propriedade


privada;

b) tiveram início à pressão popular radical e terminaram sob o peso de


execuções em massa;

c) conseguiram, com apoio da burguesia ilustrada, viabilizar a Revolução


Industrial;

d) adotaram ideias democráticas e defenderam a superioridade do homem


comum;

e) sofreram influências das ideias ilustradas, mas variaram no


encaminhamento das soluções políticas.
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Comentários: Trata-se de uma questão de fácil resolução graças ao grande
espectro de revoluções que ela abarca, encontrando, quase sempre, uma
exceção à proposta de cada alternativa.

a. O trabalho escravo foi, de fato, abolido na França continental, mas


sobreviveu à Revolução Americana. Por outro lado, a propriedade privada não
foi totalmente suprimida em nenhuma das experiências citadas.

b. A participação popular foi marcante em vários movimentos do período,


ainda que em diferentes níveis. No entanto, o caso americano não redundou num
clima generalizado de perseguição política e de execuções em massa.

c. As independências da América Latina, não raro, foram alimentadas por


fortes produtores rurais, que se mantiveram contrários à modernização
econômica dos seus países.

d. A adoção democrática foi bastante imperfeita em muitos destes


movimentos, gerando tanto uma democracia robusta nos Estados Unidos quanto
a formação de um império na França.

e. A renovação filosófica ocorrida na Europa nos séculos XVIII e XIX foram


importantes para ampliar-se as discussões sobre as liberdades populares e
individuais. No entanto, as interpretações e os rumos políticos que essas
revoluções assumiram foram bastante díspares entre si.

Gabarito: Alternativa E

(PUC-RIO) Assinale a opção correta a respeito das lutas de independência


no Haiti (1791-1804) e nas Treze Colônias Inglesas (EUA - 1776-1783).

a) Ambas promoveram a instalação de governos republicanos e a imediata


abolição do trabalho escravo.

b) O ideal federalista conformou a implantação do regime republicano no Haiti


e nos EUA no momento imediatamente posterior à independência.

c) As pressões dos grandes proprietários de terras, tanto no Haiti quanto nas


Treze Colônias Inglesas, resultaram na manutenção do trabalho escravo.
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d) Diferentemente do que ocorreu nas Treze Colônias, as lutas de
independência no Haiti estiveram associadas a uma série de rebeliões escravas
que conduziram à abolição da escravidão.

e) Tanto no Haiti quanto nas Treze Colônias Inglesas, facções da burguesia


comercial, na defesa de seus monopólios junto às antigas metrópoles, tentaram
impedir a proclamação da independência política.

Comentários: a. A experiência das treze colônias, mesmo após a


independência, conservou o trabalho escravo.

b. Para o caso haitiano, não faz sentido falar-se em “ideal federalista”, que foi
tão precioso para os estadunidenses.

c. O Haiti teve sua revolução liderada por escravos, o que resultou na


abolição da escravidão, ao contrário do que ocorrera nos EUA.

d. De fato, a liderança escrava nos levantes haitianos foi essencial para a


criação de uma república livre do trabalho escravo; enquanto os americanos,
com a força das colônias sulistas, optaram pela conservação deste tipo de mão
de obra. Alternativa correta.

e. O caso americano foi marcado pela exigência da burguesia local contra o


domínio colonial.

Gabarito: ALTERNATIVA D.

(FUVEST-SP) “Neste território não poderá haver escravos. A servidão foi


abolida para sempre. Todos os homens nascem, vivem e morrem livres...”; “Todo
homem, qualquer que seja sua cor, pode ser admitido em qualquer emprego”.
Artigos 3 e 4 da Constituição do Haiti, assinada por Toussaint L’Ouverture, 1801.

Lendo o texto acima e associando-o ao processo de independência das


Américas espanhola e francesa, é possível concluir que:

a) como no Haiti, em todos os demais movimentos houve uma preocupação


dominante com as aspirações populares.
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b) a independência do Haiti foi um caso especial nas Américas, pois foi
liderada por negros e mulatos.

c) na mesma década da independência do Haiti, as demais colônias do


Caribe alcançaram a libertação.

d) o movimento de independência do Haiti foi inspirado pelo modelo dos


Estados Unidos.

e) a independência do Haiti foi concedida por Napoleão Bonaparte, com base


nos princípios liberais.

Comentários: a. O caso haitiano foi um caso muito especial de participação


popular na libertação da América Latina. Muitos dos outros casos foi marcado
pelo controle do Estado nascente pelas elites herdadas do período colonial.

b. A liderança escrava de negros e mulatos sob inspiração dos


revolucionários franceses foi a grande marca da Revolução Haitiana, um
momento bastante singular na história da região. Alternativa correta.

c. A libertação do Haiti ocorreu na última década do século XVIII, enquanto o


Caribe ainda lutaria por sua independência até o final do século seguinte.

d. A grande inspiração dos libertadores haitianos vinha do trinômio Liberdade,


Igualdade e Fraternidade dos revolucionários franceses de 1789.

e. A liberdade haitiana não foi produto de uma concessão da França, que,


mesmo sob a República, recusava-se a estender os princípios de sua revolução
ao Haiti.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(PUC-SP) Para o reconhecimento da independência cubana, a Emenda Platt,


de 1901, definindo as relações entre os Estados Unidos e Cuba, permitia:

a) a intervenção direta dos EUA na organização do exército cubano.

b) a ocupação militar da ilha de Cuba pelos americanos por quarenta anos.


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c) a intervenção americana nos assuntos internos e o estabelecimento de
bases na ilha.

d) a arrecadação de 1/3 das rendas da produção açucareira durante trinta


anos.

e) a intervenção direta dos EUA na organização das alfândegas cubanas.

Comentários: A emenda Platt definia que os Estados Unidos tinha o direito


de intervir em Cuba quando os interesses de ambas as partes estivessem em
risco real, principalmente em face às possibilidades de influência europeia na
ilha. Para tanto, os americanos deixariam bases em Cuba (entre elas,
Guantánamo) com o exército americano pronto para agir. Portanto, quanto à
emenda Platt, a alternativa C é correta.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UM-SP) Recentes acontecimentos neste país, tais como a revolta dos


zapatistas e o assassinato de um candidato a presidente, provocaram reflexões
sobre a maior revolução de massas da história latino-americana, que teve entre
seus líderes Pancho Villa, Emiliano Zapata e o liberal Francisco Madero.

Apoiado na legitimidade revolucionária, o Estado bloqueou o avanço da


democracia política, não solucionando também as desigualdades sociais; um
único partido controla o poder há décadas.

O texto lembra qual revolução?

a) Revolução Cubana.

b) Revolução Nicaraguense.

c) Revolução Mexicana.

d) Revolução Peruana.

e) Revolução Dominicana.
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Comentários: Ao citar como líderes da revolução Emiliano Zapata e Pancho
Villa, o enunciado deixa muito claro que se trata da Revolução Mexicana, que
resultou no controle político do Partido Nacional Revolucionário, cujas práticas,
não raro, fragilizam as estruturas democráticas do país.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UFPR 2010) A mão de obra utilizada nas plantations que se estabeleceram


nas colônias europeias na América era formada majoritariamente por escravos
trazidos da África e seus descendentes. Sobre os processos de independência
na América e sua relação com a escravidão de africanos e afrodescendentes,
assinale a alternativa correta.

a) A libertação dos escravos na América do Norte foi o principal motivador da


Independência das Treze Colônias inglesas.

b) Os escravos e os negros e mestiços livres haitianos armaram-se para a


luta e tiveram papel fundamental nos levantes contra as autoridades francesas
que culminaram na Independência do Haiti e na abolição da escravidão nesse
território.

c) As palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade, tornadas lema da


Revolução Francesa, foram estendidas às suas colônias e concretizadas quando
o governo revolucionário da França aboliu simultaneamente a escravidão em
todos os seus territórios na América, desencadeando as guerras de
independência.

d) Somente Colômbia, Venezuela e Equador levaram a cabo a abolição da


escravidão durante seus processos de independência.

e) O Haiti e as Treze Colônias inglesas declararam sua independência das


metrópoles, respectivamente França e Inglaterra, proibindo o tráfico de escravos
nas últimas décadas do século XVIII.
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Comentários: a. Os Estados Unidos mantiveram a escravidão até a segunda
metade do século XIX, só abolindo-a depois da guerra civil.

b. Sobretudo, a Revolução Haitiana partiu dos levantes escravos contra as


autoridades francesas e a aristocracia rural instaladas no Haiti. Alternativa
correta.

c. A reação de Paris quanto aos movimentos independentistas na América foi


absolutamente brutal, tentando suprimir de todas as maneiras a ação dos
revolucionários de suas colônias.

d. No mínimo, a alternativa está errada por não incluir o Haiti na lista dos
países americanos que aboliram a escravidão.

e. Os Estados Unidos só proibiram o tráfico de escravos em 1815, enquanto


o Haiti, uma vez independente (1801), aboliu completamente a escravidão.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(UFPR 2009) Vários movimentos contrários à opressão colonial ocorreram


nas Américas, sobretudo no século XIX, visando à independência em relação às
metrópoles. Sobre esses movimentos, é correto afirmar:

a) A maioria deles fracassou, permanecendo os países submetidos às suas


metrópoles, como colônias, até o século XX.

b) San Martín e Simón Bolívar foram líderes de movimentos de


independência ocorridos na América Latina.

c) A Guerra dos Farrapos foi o principal movimento pela independência do


Brasil em relação a Portugal.

d) Os movimentos de independência foram inspirados no exemplo das


colônias africanas, que estavam tornando-se países independentes no século
XIX.

e) Os movimentos de independência da América Latina foram determinantes


na independência das colônias norteamericanas.
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Comentários: a. Boa parte das colônias ibéricas na América alcançaram suas
independências ainda na primeira metade do século XIX.

b. San Martín e Simón Bolívar foram figuras centrais nas lutas de libertação
da América espanhola. Alternativa correta.

c. A Guerra dos Farrapos foi travada entre 1835 e 1845, ou seja, com o Brasil
já independente de Portugal e vivendo o turbulento período das regências.

d. As colônias africanas só alcançariam o grande momento de suas


libertações na segunda metade do século XX; principalmente, a partir de 1960,
considerado o ano internacional da descolonização.

e. A independência dos Estados Unidos, de 1776, ocorreu antes das


revoluções latino-americanas.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(Unesp – 2013) Leia:

É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma única
nação com um único vínculo que ligue as partes entre si e com o todo. Já que
tem uma só origem, uma só língua, mesmos costumes e uma só religião, deveria,
por conseguinte, ter um só governo que confederasse os diferentes Estados que
haverão de se formar; mas tal não é possível, porque climas remotos, situações
diversas, interesses opostos e caracteres dessemelhantes dividem a América.
(Simón Bolívar. Carta da Jamaica [06.09.1815]. In: Simón Bolívar: política, 1983.)

O texto foi escrito durante as lutas de independência na América Hispânica.


Podemos dizer que:

a) ao contrário do que afirma na carta, Bolívar não aceitou a diversidade


americana e, em sua ação política e militar, reagiu à iniciativa autonomista do
Brasil.
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b) ao contrário do que afirma na carta, Bolívar combateu as propostas de
independência e unidade da América e se empenhou na manutenção de sua
condição de colônia espanhola.

c) conforme afirma na carta, Bolívar defendeu a unidade americana e se


esforçou para que a América Hispânica se associasse ao Brasil na luta contra a
hegemonia norte-americana no continente.

d) conforme afirma na carta, Bolívar aceitou a diversidade geográfica e


política do continente, mas tentou submeter o Brasil à força militar hispano-
americana.

e) conforme afirma na carta, Bolívar declarou diversas vezes seu sonho de


unidade americana, mas, em sua ação política e militar, reconheceu que as
diferenças internas eram insuperáveis.

Comentários: a. Bolívar não agiu contra a independência brasileira, entre


outros motivos, porque, segundo o próprio enunciado, reconhecia que a
realidade político-cultural brasileira era diversa daquela vivida pela América
hispânica.

b. Simón Bolívar foi um dos principais líderes das lutas de independência da


América espanhola, tendo sido a figura mais importantes da libertação de muitos
países da região.

c. A principal questão para Bolívar era a unidade dos países que haviam sido
colonizados pela Espanha, pois reconhecia as diferenças existentes com relação
aos outros processos de colonização.

d. Não houve ação de Bolívar contra o território brasileiro, muito menos em


associação com as forças espanholas.

e. O sonho da unidade americana era, para Bolívar, a melhor saída para a


construção de um Estado robusto capaz de uma inserção internacional madura.
No entanto, o reconhecimento sobre as diversidades regionais fez com que o
revolucionário relativizasse sua vontade de unir as antigas colônias espanholas
sob uma confederação. Alternativa correta.
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Gabarito: ALTERNATIVA E.

Lista de Exercícios apresentados

Prova CACD – questão 45 – 2007

Considerando as duas primeiras ondas revolucionárias do século XIX, citadas


no texto, e sua vinculação, direta ou indireta, com o continente americano,
assinale a opção correta.

( ) Fatores internos, ainda que existentes, tornaram-se irrelevantes para a


desintegração do sistema colonial ibérico frente à influência exercida pela
conjuntura revolucionária europeia no processo de independência latino-
americana, conforme sugerido pelo texto.

( ) Entre os grandes libertadores da América espanhola, Simon Bolívar


notabilizou-se pelo destemor com que se lançou à luta para emancipar a atual
Argentina e pela convicção de que a prosperidade da América subordinava-se à
existência de Estados plenamente autônomos.

( ) A onda revolucionária de 1848, por sua amplitude e espontaneidade, foi


amplamente exitosa em suas aspirações populares, tanto na Europa – com o fim
do sistema eleitoral censitário – quanto na América – com as reformas de
Jackson (EUA).

( ) Semelhantemente ao ocorrido quando da invasão da Península Ibérica pelas


tropas francesas de Napoleão (1808), a Revolução Espanhola de 1820
contribuiu para o recrudescimento da luta pela independência das colônias
latino-americanas.
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( ) Inexistência de mercado interno expressivo e impossibilidade de aplicação


de capitais pela via de empréstimos aos Estados são dois poderosos motivos
que explicam o reduzido impacto da expansão capitalista europeia, ocorrida na
segunda metade do século XIX, sobre a América Latina.

Prova CACD – questão 66 – 2010

Acerca da Revolução Mexicana de 1910 e de política mexicana no Século XX,


julgue C ou E.

( ) Representante do continuísmo dos regimes surgidos após a Revolução


Mexicana, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) mantém-se no poder até
os dias atuais.

( ) A expressão porfiriato refere-se ao longo período em que Porfírio Diaz


dominou a política mexicana, até 1911. O porfiriato pode ser descrito como um
período de estabilidade e expansão econômica, mas também de repressão e de
injustiça social crescentes.

( ) Depois da ascensão, em 1911, de Pancho Villa à presidência do país,


registrou-se um surto de desenvolvimento industrial paralelo ao processo de
reforma agrária.

( ) A Constituição de 1917, fruto do processo revolucionário, continua sendo a


Constituição dos Estados Unidos Mexicanos.
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Prova CACD – questão 52 – 2014

Os processos de independência que afetaram as colônias europeias da América


compartilham vários aspectos, embora haja especificidades que não podem ser
desprezadas pelos historiadores. A respeito desse contexto histórico, julgue (C
ou E) os itens subsequentes.

( ) No Chile, cuja Ata de Independência data de 1818, os enfrentamentos entre


os partidários da Coroa espanhola e os libertários e, em seguida, o choque entre
os que defendiam a visão centralista e os federalistas convulsionaram o jovem
país, que suportou longo períodos de guerras, até que, em 1830, a facção
conservadora centralista venceu a disputa.

( ) O processo de independência da Venezuela esteve ligado ao da Colômbia,


Equador e do Panamá, com os quais a Venezuela formava, em 1821, a Gran
Colombia, embora essa unidade, repleta de conflitos, só tenha sido mantida até
a morte de Simon Bolívar, seu principal defensor.

( ) A independência dos EUA (1776), que antecedeu a dos demais países


americanos, costuma ser apontada pela historiografia como fonte inspiradora
para o discurso dos movimentos separatistas ibero-americanos, principalmente
em razão dos ideais de igualdade, liberdade e respeito aos direitos dos
indivíduos.

( ) A independência da Argentina, em 1816, foi fruto das invasões napoleônicas,


momento em que as elites agrárias aproveitaram o vazio do poder colonial e, de
forma coesa, implantaram um sistema federalista que garantiu a estabilidade
política do país até a Guerra do Paraguai.
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Prova CACD - questão 52 – 2015

Entre fins do século XVIII e as primeiras décadas do século seguinte, a maior


parte das colônias americanas conquistou sua independência. Em geral,
malgrado a singularidade de cada colônia, essas emancipações enquadram-se
no contexto mais amplo de crise do Antigo Regime europeu e, sobretudo em
relação às colônias ibéricas, também refletem o quadro histórico suscitado pela
Era Napoleônica. Com relação ao processo de independência nas Américas,
julgue (C ou E) os itens a seguir.

( ) Na América Hispânica, a luta pela independência pretendia alcançar uma


espécie de novo pacto colonial, de modo que seus produtores pudessem ter
contato direto com a grande potência econômica que a Revolução Industrial
consagrara, a Inglaterra.

( ) Os colonos na América Inglesa sublevaram-se contra o monopólio comercial,


a interdição da produção local de manufaturas e a proibição do cultivo do chá.

( ) Na América Hispânica, o processo de independência foi liderado pela elite


mineradora, em reação ao imposto da Coroa de 20% sobre a produção de metais
preciosos.

( ) Os movimentos de independência nas Américas inglesa e hispânica tinham


em comum o fato de terem se originado de alterações no equilíbrio europeu
causado pela França e o de defenderem a forma federalista de organização do
Estado pós-independência.

(UFAL) Entre as causas políticas imediatas da eclosão das lutas pela


independência das colônias espanholas da América, pode-se apontar:

a) a derrota de Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo;


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b) a formação da Santa Aliança;

c) a imposição de José Bonaparte no trono espanhol;

d) as decisões do Congresso de Viena;

e) a invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal e a coroação de D. João VI


no Brasil.

(FUVEST) A Revolução Mexicana de 1910, do ponto de vista social,


caracterizou-se

a) pela intensa participação camponesa;

b) pela aliança entre operários e camponeses;

c) pela liderança de grupos socialistas;

d) pelo apoio da Igreja aos sublevados;

e) pela forte presença de combatentes estrangeiros.

(UFS) O fim da Guerra Civil Mexicana (1917) encontrou a nação arruinada.


Politicamente, afirmou-se a hegemonia dos generais do Norte do país, sendo na
década de 20 governado praticamente por:

a) Hurtado e Camacho

b) Obregón e Calles

c) Cárdenas e Villa

d) Zapata e Dias

e) Carranza e Huerta

(UFSCar-SP) A independência das colônias espanholas da América deveu-se a


diversos fatores.
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Assinale a opção na qual todos os fatores relacionados contribuíram para essa
independência.

a) Política mercantilista da Espanha; influência da independência brasileira;


interesse dos Estados Unidos no comércio das colônias espanholas.

b) Monopólio comercial em benefício da metrópole; desigualdade de direitos


entre os criollos, nascidos nas colônias, e os chapetones, nascidos na Espanha;
enfraquecimento da Espanha pelas guerras napoleônicas.

c) influência das ideias políticas de Maquiavel; auxilio militar brasileiro à


independência dos territórios vizinhos; exemplo da independência dos Estados
Unidos.

d) Liberalismo político e econômico, adotado pelas cortes espanholas;


enfraquecimento do governo espanhol por causa da intervenção militar francesa;
política do Congresso de Viena favorável à independência das colônias.

e) Interesse econômico da Inglaterra na independência das colônias; política


de suspensão das restrições de importações, seguida pelo governo de José
Bonaparte; aliança entre chapetones, colonos nascidos na Espanha, e criollos,
nascidos nas colônias para promover a independência.

(FUVEST/SP) Da Independência dos Estados Unidos (1776), da Revolução


Francesa (1789) e do processo de independência da América Ibérica (1808-
1824), pode-se dizer que todos esses movimentos:

a) decidiram implementar a abolição do trabalho escravo e da propriedade


privada;

b) tiveram início à pressão popular radical e terminaram sob o peso de


execuções em massa;

c) conseguiram, com apoio da burguesia ilustrada, viabilizar a Revolução


Industrial;

d) adotaram ideias democráticas e defenderam a superioridade do homem


comum;
História Mundial
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P D D P P S
e) sofreram influências das ideias ilustradas, mas variaram no encaminhamento
das soluções políticas.

(PUC-RIO) Assinale a opção correta a respeito das lutas de independência no


Haiti (1791-1804) e nas Treze Colônias Inglesas (EUA - 1776-1783).

a) Ambas promoveram a instalação de governos republicanos e a imediata


abolição do trabalho escravo.

b) O ideal federalista conformou a implantação do regime republicano no Haiti e


nos EUA no momento imediatamente posterior à independência.

c) As pressões dos grandes proprietários de terras, tanto no Haiti quanto nas


Treze Colônias Inglesas, resultaram na manutenção do trabalho escravo.

d) Diferentemente do que ocorreu nas Treze Colônias, as lutas de independência


no Haiti estiveram associadas a uma série de rebeliões escravas que conduziram
à abolição da escravidão.

e) Tanto no Haiti quanto nas Treze Colônias Inglesas, facções da burguesia


comercial, na defesa de seus monopólios junto às antigas metrópoles, tentaram
impedir a proclamação da independência política.

(FUVEST-SP) “Neste território não poderá haver escravos. A servidão foi abolida
para sempre. Todos os homens nascem, vivem e morrem livres...”; “Todo
homem, qualquer que seja sua cor, pode ser admitido em qualquer emprego”.
Artigos 3 e 4 da Constituição do Haiti, assinada por Toussaint L’Ouverture, 1801.

Lendo o texto acima e associando-o ao processo de independência das


Américas espanhola e francesa, é possível concluir que:

a) como no Haiti, em todos os demais movimentos houve uma preocupação


dominante com as aspirações populares.

b) a independência do Haiti foi um caso especial nas Américas, pois foi liderada
por negros e mulatos.
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c) na mesma década da independência do Haiti, as demais colônias do Caribe
alcançaram a libertação.

d) o movimento de independência do Haiti foi inspirado pelo modelo dos Estados


Unidos.

e) a independência do Haiti foi concedida por Napoleão Bonaparte, com base


nos princípios liberais.

(PUC-SP) Para o reconhecimento da independência cubana, a Emenda Platt, de


1901, definindo as relações entre os Estados Unidos e Cuba, permitia:

a) a intervenção direta dos EUA na organização do exército cubano.

b) a ocupação militar da ilha de Cuba pelos americanos por quarenta anos.

c) a intervenção americana nos assuntos internos e o estabelecimento de


bases na ilha.

d) a arrecadação de 1/3 das rendas da produção açucareira durante trinta


anos.

e) a intervenção direta dos EUA na organização das alfândegas cubanas.

(UM-SP) Recentes acontecimentos neste país, tais como a revolta dos


zapatistas e o assassinato de um candidato a presidente, provocaram reflexões
sobre a maior revolução de massas da história latino-americana, que teve entre
seus líderes Pancho Villa, Emiliano Zapata e o liberal Francisco Madero.

Apoiado na legitimidade revolucionária, o Estado bloqueou o avanço da


democracia política, não solucionando também as desigualdades sociais; um
único partido controla o poder há décadas.

O texto lembra qual revolução?

a) Revolução Cubana.

b) Revolução Nicaraguense.
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c) Revolução Mexicana.

d) Revolução Peruana.

e) Revolução Dominicana.

(UFPR 2010) A mão de obra utilizada nas plantations que se estabeleceram nas
colônias europeias na América era formada majoritariamente por escravos
trazidos da África e seus descendentes. Sobre os processos de independência
na América e sua relação com a escravidão de africanos e afrodescendentes,
assinale a alternativa correta.

a) A libertação dos escravos na América do Norte foi o principal motivador da


Independência das Treze Colônias inglesas.

b) Os escravos e os negros e mestiços livres haitianos armaram-se para a luta e


tiveram papel fundamental nos levantes contra as autoridades francesas que
culminaram na Independência do Haiti e na abolição da escravidão nesse
território.

c) As palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade, tornadas lema da Revolução


Francesa, foram estendidas às suas colônias e concretizadas quando o governo
revolucionário da França aboliu simultaneamente a escravidão em todos os seus
territórios na América, desencadeando as guerras de independência.

d) Somente Colômbia, Venezuela e Equador levaram a cabo a abolição da


escravidão durante seus processos de independência.

e) O Haiti e as Treze Colônias inglesas declararam sua independência das


metrópoles, respectivamente França e Inglaterra, proibindo o tráfico de escravos
nas últimas décadas do século XVIII.

(UFPR 2009) Vários movimentos contrários à opressão colonial ocorreram nas


Américas, sobretudo no século XIX, visando à independência em relação às
metrópoles. Sobre esses movimentos, é correto afirmar:
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a) A maioria deles fracassou, permanecendo os países submetidos às suas
metrópoles, como colônias, até o século XX.

b) San Martín e Simón Bolívar foram líderes de movimentos de independência


ocorridos na América Latina.

c) A Guerra dos Farrapos foi o principal movimento pela independência do Brasil


em relação a Portugal.

d) Os movimentos de independência foram inspirados no exemplo das colônias


africanas, que estavam tornando-se países independentes no século XIX.

e) Os movimentos de independência da América Latina foram determinantes na


independência das colônias norteamericanas.

(Unesp – 2013) Leia:

É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma única nação
com um único vínculo que ligue as partes entre si e com o todo. Já que tem uma
só origem, uma só língua, mesmos costumes e uma só religião, deveria, por
conseguinte, ter um só governo que confederasse os diferentes Estados que
haverão de se formar; mas tal não é possível, porque climas remotos, situações
diversas, interesses opostos e caracteres dessemelhantes dividem a América.
(Simón Bolívar. Carta da Jamaica [06.09.1815]. In: Simón Bolívar: política, 1983.)

O texto foi escrito durante as lutas de independência na América Hispânica.


Podemos dizer que:

a) ao contrário do que afirma na carta, Bolívar não aceitou a diversidade


americana e, em sua ação política e militar, reagiu à iniciativa autonomista do
Brasil.

b) ao contrário do que afirma na carta, Bolívar combateu as propostas de


independência e unidade da América e se empenhou na manutenção de sua
condição de colônia espanhola.
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c) conforme afirma na carta, Bolívar defendeu a unidade americana e se esforçou
para que a América Hispânica se associasse ao Brasil na luta contra a
hegemonia norte-americana no continente.

d) conforme afirma na carta, Bolívar aceitou a diversidade geográfica e política


do continente, mas tentou submeter o Brasil à força militar hispano-americana.

e) conforme afirma na carta, Bolívar declarou diversas vezes seu sonho de


unidade americana, mas, em sua ação política e militar, reconheceu que as
diferenças internas eram insuperáveis.
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Apresentação

Olá caro aluno!

Neste PDF analisaremos o desenvolvimento da política externa norte-


americana em relação à América Latina desde a criação da Doutrina Monroe em
1823 até o fim do Corolário Roosevelt e o surgimento da OEA e do Tratado de
Interamericano de Assistência Recíproca em 1947. Por meio deste estudo,
esperamos que você, futuro ou futura diplomata, consiga reconhecer a
historicidade do pensamento diplomático dos Estados Unidos da América,
principalmente no que tange suas relações com os “vizinhos do Sul”.

Portanto, foco nos estudos e “America for the Americans”!


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1. A Doutrina Monroe: um paradigma diplomático
para os EUA no século XIX

Em 1823, as guerras de Independência latino-americanas se encontravam


em vias de fato, com a maior parte do antigo território espanhol já se encontrando
independente. Não obstante, neste mesmo ano um evento europeu prometeu,
ainda que brevemente como acabou por se mostrar, reverter favoravelmente a
situação espanhola nas guerras contra suas colônias.

O ano de 1823 foi marcado, conforme aprovado pelo Congresso de Verona


em 1822, pela intervenção da Santa Aliança, sob a liderança francesa, ao
território espanhol, com vistas à restauração da coroa absolutista de Fernando
VII, destronado desde 1820 pelo Triênio Liberal. A revolução de 1820, que
restaurou a Constituição liberal de 1812 e retirou o monarca de seu trono,
possibilitou o fortalecimento das forças independentistas nas colônias
americanas, graças à diminuição da presença bélica espanhola no continente.
No entanto, os ventos de 1823 abriam novos horizontes para a tentativa de
restauração do poderio espanhol na América, o que seria guiado pelos mesmos
princípios que levaram à restauração em Espanha. Não obstante a aparente
impossibilidade para uma intervenção europeia (Fernando VII havia reclamado
à Santa Aliança a intervenção nas guerras de independência, no entanto, por
pressão britânica, tal auxílio havia sido negado ao monarca espanhol), o governo
dos Estados Unidos da América, sob a presidência de James Monroe (1817 a
1825), decidiu se posicionar de forma clara à possibilidade de restauração
europeia nas Américas.

Em 2 de dezembro de 1823, o presidente James Monroe, dirigiu uma


mensagem ao Congresso estadunidense que balizaria as relações diplomáticas
deste país com seus vizinhos latino-americanos até o fim do século XIX:

Julgamos propícia esta ocasião para afirmar como um princípio


que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os
continentes americanos, em virtude da condição livre e
independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser
considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por
nenhuma potência européia.
Tendo sido dito, no começo da última sessão, que a Espanha e
Portugal faziam grandes esforços para melhorar a sorte do povo
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e que esta nobre tarefa parecia conduzida com extraordinária
moderação, é mais ou menos supérfluo observar que o resultado
foi muito diferente daquele que então se esperava. Temos
seguido sempre, com curiosidade e interesse, os
acontecimentos que se verificaram nesta parte do globo com a
qual mantemos tantas relações e à qual devemos nossa origem.
Os cidadãos dos Estados Unidos nutrem os mais cordiais
sentimentos pela liberdade e ventura de seus irmãos do outro
lado do Atlântico. Jamais nos imiscuímos nas guerras que as
potências européias empreenderam por questões particulares;
tal é a nossa política. Somente quando nos atacam ou vemos
seriamente ameaçados os nossos direitos, é que nos
consideramos ofendidos ou nos preparamos para a defesa.
Temos ligações mais imediatas com os acontecimentos deste
hemisfério, e a razão é bem patente para todo observador
imparcial e esclarecido. O sistema político das potências aliadas
é essencialmente diverso, a esse respeito, do sistema político
da América. Essa distinção procede da que existe entre os
respectivos governos e o nosso, conquistado ao preço de tanto
sangue e de tanto ouro, amadurecido pela sabedoria de nossos
mais esclarecidos cidadãos e sob o qual temos desfrutado de
uma felicidade sem igual; a nação inteira se consagra à sua
defesa.
Devemos, no entanto, à nossa boa-fé e às relações
amistosas que existem entre as potências aliadas e os
Estados Unidos, declarar que consideraríamos como
perigosa para a nossa paz e segurança qualquer tentativa
da sua parte, para estender seu sistema a qualquer parcela
deste hemisfério. Não temos interferido, nem interferiremos em
assuntos das atuais colônias ou dependências de nenhuma das
potências européias. Mas, quanto aos governos que
proclamaram e têm mantido sua independência que
reconhecemos, depois de séria reflexão e por motivos
justos, não poderíamos considerar senão como
manifestação de sentimentos hostis contra os Estados
Unidos qualquer intervenção de alguma potência européia
com o propósito de oprimi-los ou de contrariar, de qualquer
modo, os seus destinos. Na guerra entre esses novos
governos e a Espanha, declaramos nossa neutralidade, na
época de seu reconhecimento, e a ela permanecemos fiéis;
assim continuaremos, contanto que não surja modificação que,
a juízo das autoridades competentes de nosso governo, torne
necessário, também de nossa parte, uma modificação
indispensável à nossa segurança.
Os últimos acontecimentos na Espanha e em Portugal provam
que ainda não há bastante tranqüilidade na Europa. A prova
mais cabal deste fato importante é que as potências aliadas
julgaram conveniente, de acordo com os princípios que
adotaram, intervir pela força nos distúrbios da Espanha. Até
que ponto pode estender-se tal intervenção, segundo o
mesmo princípio? Esta é urna questão na qual estão
interessados todos os poderes independentes, cujos
governos diferem dos deles, e nenhum está mais
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interessado que os Estados Unidos. A política que adotamos
a respeito da Europa, no começo mesmo das guerras que,
durante tanto tempo, agitaram essa parte do globo, continua a
ser sempre a mesma, e consiste em nunca intervir nos negócios
internos de qualquer potência européia; em considerar o
governo de fato como governo legítimo; em estabelecer relações
amistosas com ele e conservá-las, por meio de uma política
franca, firme e corajosa, admitindo, sem distinção, as justas
reclamações de todas as potências, mas sem tolerar ofensas de
nenhuma. Quando se trata, porém, do nosso continente, as
coisas mudam completamente de aspecto. É impossível que as
potências aliadas estendam seu sistema político a qualquer
parte dos continentes americanos, sem pôr em perigo a nossa
paz e segurança, nem se pode supor que nossos irmãos do Sul
o adotassem de livre vontade, caso os abandonássemos a sua
própria sorte. Ser-nos-ia, igualmente, impossível permanecer
espectadores indiferentes dessa intervenção, sob qualquer
forma que tivesse. Se considerarmos a força e os recursos da
Espanha e dos novos governos da América bem como a
distância que os separa, é evidente que a Espanha jamais
poderá chegar a submetê-los.1 (Meus Grifos)

A mensagem de Monroe ao Congresso estadunidense tinha por objetivo


central expor aos congressistas a real ameaça que uma possível intervenção
europeia no continente poderia apresentar à estabilidade interna dos Estados
Unidos. Analisando-se a mensagem acima, sobretudo os trechos em negrito,
podemos retirar algumas importantes linhas de pensamento e ação delineadas
pelo presidente Monroe. Primeiramente, Monroe busca demonstrar às nações
europeias a imparcialidade e neutralidade estadunidense frente às guerras de
independência das colônias hispânicas, o que se evidenciaria pela inexistência
de apoios militares por parte dos EUA aos exércitos revolucionários. No entanto,
Monroe aponta de modo categórico a defesa da legitimidade dos governos
independentes já constituídos e reconhecidos pelo governo estadunidense e seu
apoio a qualquer uma destas nações que viessem a ser vítimas de tentativas
recolonizadoras por parte de Espanha (ou Portugal) no continente.

No mesmo tom, Monroe faz questão de frisar, apesar de sua defesa enérgica
à autonomia de seus “vizinhos do Sul”, que os EUA não pretendiam intervir nos

1
Mensagem de Monroe (2 de dezembro de 1823). Disponível em:
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-
cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/doutrina-
monroe-1823 html Acesso em: 10 de abril de 2017.
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conflitos em andamento entre Espanha e suas colônias (mantendo-se, portanto,
o que já vinha sendo praticado até então) e, por conseguinte, nem mesmo
interviriam na política interna de cada um dos novos países formados na
América. A única exceção a essa política seria uma ação externa no continente
que pudesse colocar a própria estabilidade política estadunidense em perigo.

A mensagem de Monroe se tornou célebre nas décadas seguintes, por definir


os rumos que seriam seguidos, dali por diante, pela política externa
estadunidense. Assim, Monroe assentava sobre esta mensagem a perspectiva
do isolacionismo diplomático dos EUA frente às questões internacionais, o que
vigoraria até o início do século seguinte.

Mas, além do objetivo de tornar público o seu desejo de não lidar com outros
assuntos que não os seus próprios, o que estava exatamente motivou esse
desejo de autodefesa do presidente Monroe? Para chegarmos à resposta,
devemos relembrar a expansão para o Oeste e seus princípios basilares.
Conforme já trabalhado em outro PDF, sobre o surgimento dos EUA, havia entre
os primeiros colonos daquele país (e mais tarde se tornou ainda mais intenso) a
ideia de que os americanos estavam predestinados a governar sobre todo o
território que se expandia entre as duas costas, a leste (onde se situava as 13
colônias) e a oeste. Isto ocorria, segundo os mesmos, por desígnio de Deus, o
qual preparara a população estadunidense para ser o farol dos princípios de
democracia e liberdade em todo o continente, a começar pelos povos nativos
que habitavam todo o imenso território central que separava ambos litorais.
Portanto, era um Destino Manifesto a todos os americanos a missão sagrada de
expandir o território nacional, civilizar as populações nativas e, somente mais
tarde, tornar os Estados Unidos a grande nação civilizadora do mundo.

O princípio do “Destino Manifesto”, apesar de defendido apenas por alguns


grupos religiosos, sobretudo de linha puritana, acabou servindo de pressuposto
ideológico para a expansão para o Oeste, que se encontrava em seus estágios
iniciais à época da proclamação da Doutrina Monroe. Logo, podemos encarar
que o verdadeiro objetivo intentado à época pelos políticos estadunidenses não
era a projeção externa do EUA como potência regional (o que também não
significa dizer que era um ideal inexistente em meio à classe política) mas sim
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concretizar a constituição da nação estadunidense dentro de suas “fronteiras
naturais” (conforme o mesmo princípio do Destino Manifesto).

A Doutrina Monroe, apesar do seu pouco impacto imediato, formulou uma


linha de pensamento diplomático que conseguiu lograr êxito nas décadas
seguintes, abrindo espaço para outras políticas de grande impacto sobre as
relações bilaterais dos EUA e dos países latino-americanos.

2 – A Política externa dos EUA na América Latina

2.1 – De Monroe a Theodore Roosevelt: uma política externa


entre o isolacionismo e o Big Stick

A política externa estadunidense face a América Latina começou a se


desenhar ainda com a Doutrina Monroe, em 1823. Ali, conforme já visto,
pautava-se, dentre outras noções importantes para a compreensão do
pensamento diplomático pregresso americano, a lógica da defesa de uma
América soberana e livre de intervenções externas (em suma, a partir de
Europa), cujo caminhar fosse pautado pela autodeterminação de seu próprio
povo, sob a constante vigilância dos EUA. Daí, temos a clássica frase que
resume o espírito da Doutrina Monroe: a “América para os americanos”.

A Doutrina Monroe abria caminho para a ascensão futura dos EUA como uma
possível potência regional, o que, no entanto, não ocorrera de imediato,
conforme visto. A América latina, não obstante, ocupava um lugar especial para
a concretização dos planos deste país. O primeiro país da região a ocupar um
lugar específico nos objetivos dos estadunidenses era o México. À época, o
território mexicano se estendia até a América do Norte, ocupando todo o território
onde atualmente se encontra o Meio oeste e a Costa oeste americana, até a
Califórnia. A maior parte dessas terras foram conquistadas por meio de guerras,
destacando-se a guerra mexicano-americana.

As relações entre os EUA e o México eram essenciais para a execução do


expansionismo americano, visto que parte de seu território se encontrava dentro
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das “fronteiras naturais” da nação estadunidense. Entre 1840 e 1860, o México
perdera quase metade de seu território original para os EUA, que o fizera por
meio de anexações e/ou compras.

Entretanto, a atitude belicista dos EUA em relação ao México neste período


foi uma exceção se comparada ao restante do continente. Podemos dividir a
política externa americana em relação à América Latina entre o século XIX e a
primeira metade do XX em dois contextos principais: o primeiro, relativo ao
período 1823-1890, e o segundo, a partir de 1890 até o entre guerras.

O primeiro corte cronológico foi definido pelo isolacionismo e o foco na


política de consolidação interna do país. O expansionismo rumo aos territórios
mexicanos foi uma “consequência inevitável” desta consolidação nacional, assim
como a atitude do presidente James Monroe em assegurar a independência do
continente (e dos próprios americanos) frente a qualquer tentativa de expansão
europeia na região. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que Monroe e seus
sucessores se isolavam em busca de progresso interno, sua visão diplomática
já assentava as bases para uma futura hegemonia regional.

A guerra de secessão americana (1861-65) foi determinante para a definição


do longo processo de consolidação nacional, iniciado com a independência em
1776. A partir do fim da guerra, com a vitória nortista, os EUA passariam a se
dedicar enormemente para a expansão da industrialização local, o que
acarretaria cedo ou tarde na busca por mercados. Este último imperativo tinha
como obstáculo a própria expansão industrial dos Impérios europeus, em
especial da Grã-Bretanha, neste momento a grande potência econômica e global
mundial.

Todavia, o capitalismo norte-americano ganhou imenso impulso com o


advento da segunda metade do século XIX e sua definitiva inserção na Segunda
Revolução Industrial. Em poucos anos, a nação americana se tornou um
paradigma de pujante expansão industrial aliada a um eficiente sistema social
permissível ao mundo científico e ao desenvolvimento de inovações tecnológicas
industrializáveis. Algumas inovações científicas marcaram os EUA neste
período. Destacam-se os estudos em torno do uso da eletricidade, sobretudo por
Nikola Tesla e Thomas Edison, e da massificação do uso dos motores de
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combustão interna, algo alcançado por Henry Ford em seus automóveis, os
primeiros do mundo.

Ford também marcou a produção industrial mundial a partir da criação das


linhas de montagem, voltadas, primeiramente, para a produção rápida e seriada
de automóveis em suas fábricas, mas logo tornar-se-ia uma ideia exportada para
todo o mundo industrial, influenciando de forma definitiva o colapso do antigo
sistema de produção manufatureira, marca da Primeira Revolução Industrial.

A Segunda Revolução Industrial alçou de modo irremediável a nação norte-


americana ao status de potência econômica regional e de Estado postulante de
uma ação mais incisiva e determinante no curso das Relações internacionais. A
opinião pública estadunidense passou a focar, de modo crescente, a presença
de seu país nos assuntos externos, em especial em relação aos seus irmãos do
Sul. Em primeiro lugar, a doutrina do Destino Manifesto postulava aos EUA o
papel de nação civilizadora de seus vizinhos, de modo a integrar-se a eles sob
a hegemonia dos princípios republicanos de democracia, liberdade individual e
constitucionalismo, o que, de fato, não era corrente em grande parte da América
Latina. Outrossim, buscava-se novos mercados potenciais para a composição
da clientela norte-americana, de modo a garantir a expansão de seu capitalismo,
sobretudo em oposição à presença marcante dos capitais britânicos e franceses
no continente.

Outro efeito crucial da expansão industrial sobre a mentalidade diplomática


norte-americana foi a prerrogativa pelo expansionismo militar, de modo a lhes
elevar ao mesmo grau de relevância global do imperialismo europeu. Os dois
primeiros alvos dos norte-americanos foram a região caribenha e o Extremo
Oriente asiático, em especial o Japão. Tanto em um caso, quanto no outro, o
que se apregoava era a contenção da hegemonia europeia (em especial
britânica) em ambas regiões. As pretensões norte-americanas se tornavam cada
vez mais claras: assumir a chefia do continente (ressignificando o termo
“América para os americanos” da Doutrina Monroe) e, partir desta área
privilegiada, expandir-se mundo a fora. Para tanto, os americanos buscaram se
firmar como potência regional, em um primeiro momento, por meio da elaboração
de um projeto de integração intercontinental americana que privilegiasse os seus
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intentos, bem como de suas indústrias e bancos. Falaremos mais acerca deste
ponto no próximo tópico do PDF.

A partir de 1890 os Estados Unidos definitivamente saíram de seu


isolacionismo pragmático rumo ao expansionismo internacional, por meios
econômicos e militares. Uma reinterpretação da Doutrina Monroe, que colocava
os norte-americanos em um papel privilegiado de arbitragem e intervenção em
disputas internas na América Latina, colaborou enormemente com as novas
premissas balizadoras da política externa norte-americana em relação aos seus
vizinhos.

O interesse norte-americano sobre o Caribe crescera desde o término da


guerra de secessão, e duas regiões eram alvos de seu maior interesse: o
Panamá, onde se objetivava a criação de um canal que ligasse o Atlântico ao
Pacífico, facilitando o comércio marítimo estadunidense, e Cuba, que fascinara
a população americana desde o período anterior à 1861, levando, inclusive, os
futuros confederados a intentarem a compra de Cuba de Espanha.

Durante a década de 1890, Cuba conheceu o crescimento de um pujante


movimento intelectual independentista sob a liderança de José Martí, cujas
bases de ação se concentravam principalmente em solo norte-americano, na
Flórida e em Nova York. Pouco a pouco a diplomacia estadunidense passou a
olhar com elevado interesse para a possibilidade de uma Cuba independente e
satélite norte-americana na região caribenha. Por este motivo, o governo norte-
americano passou a colaborar secretamente com a causa, permitindo a
utilização de seu solo para a compra de armamentos e o uso em segredo de
parte da tripulação estadunidense no tráfico de armamentos para Cuba.

Durante o ano de 1897, a opinião pública norte-americana, motivada pelos


ataques apaixonados de jornalistas americanos presentes em Cuba, inflamou-
se contra a presença espanhola em Cuba, sobretudo após as primeiras batalhas
entre espanhóis e revolucionários no início daquele ano, vistas como um
verdadeiro massacre perpetrado pelo Império espanhol. Algumas semanas
depois, após novas batalhas, Martí e os revolucionários conseguiram tomar o
poder e estabelecer um governo independente. A opinião pública dos EUA
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novamente pressionou o governo federal a garantir a independência cubana,
fazendo valer, desta forma, os preceitos da Doutrina Monroe.

No fim de 1897, por volta de outubro, o governo norte-americano enviou para


Cuba (sob o pretexto de proteção dos cidadãos americanos ali radicados) o
encouraçado de guerra USS Maine, que aportou em Cuba apenas no início de
1898, após uma longa viagem de reordenamento das forças navais americanas
no Pacífico. Em 15 de fevereiro, o USS Maine, aportado em Havana, sofreu uma
explosão que logo foi reportada como uma ação espanhola. Forçado por
democratas e republicanos, o governo do presidente McKinley autorizou uma
represália diplomática à Madrid, que respondeu com um ultimato de guerra.

A guerra Hispano-Americana, como ficou conhecida, durou por volta de 10


semanas e logo foi vencida pela poderosa marinha de guerra norte-americana,
que exigiu o reconhecimento da independência cubana (que seria,
provisoriamente, organizada por uma administração estadunidense) e a
transmissão da posse das Filipinas e de Guam para os americanos. Deste modo,
projetou-se de modo decisivo a política externa norte-americana sobre o Caribe,
e na mesma medida a consciência de que era dever dos EUA, em nome da
proteção do continente de invasões estrangeiras e de seus próprios interesses
internos, o dever de vigiar, por meio de intervenções militares e de uma dura
diplomacia, os vizinhos latinos.

Em 1902, o presidente venezuelano Cipriano Castro se recusou a consolidar


o pagamento da dívida do governo da Venezuela para com credores oriundos
da Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, o que redundou em um bloqueio naval
conjunto destas nações ao litoral venezuelano neste mesmo ano, o que se
manteria até o pagamento da dívida do país. Imediatamente, a Doutrina Monroe
foi avocada. O presidente norte-americano à época era Theodore D. Roosevelt,
que se recusou a agir militarmente na região contra as forças europeias,
argumentando que a Doutrina Monroe somente teria validade quando ocorresse
uma tentativa recolonizadora por parte das potências europeias.

O posicionamento pragmático de Roosevelt gerou uma péssima repercussão


dentre as nações sul-americanas (exceto o Brasil), cuja crítica foi condensada
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pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina, Luis María Drago, na forma
de uma argumentação anti-imperialista, mais conhecida como Doutrina Drago.

Roosevelt, no entanto, foi ao Congresso norte-americano e em sua


mensagem anual de 1904 anunciou as bases do que mais tarde seria chamado
de Corolário Roosevelt. O presidente definia que, para evitar novas ocorrências
como o de 1902, cabia aos Estados Unidos o papel de “polícia do mundo”, cuja
responsabilidade maior recaía sobre os próprios vizinhos latino-americanos, em
especial os caribenhos. Como polícia regional, caberia aos norte-americanos,
nesta perspectiva, intervir militarmente em qualquer nação local que estivesse
em situação de perigo econômico e endividamento, de modo a evitar que os
vícios de algumas nações corroessem a autonomia de todo o continente em
relação a possíveis novas intervenções por parte dos impérios europeus (que se
encontravam em plena corrida neocolonial na África e Ásia).

A partir do Corolário se criaria, em meio à diplomacia norte-americana, uma


constante política de ocupações militares por parte dos Estados Unidos no
Caribe e no Leste asiático, implementando a diplomacia do Big Stick (“Grande
Porrete”), pela qual a força militar (Hard Power) norte-americana tornar-se-ia
parte da política externa do país na medida do necessário. A força seria aliviada
por meio de generosas ofertas financeiras a outras nações, de modo a angariar
com maior suavidade o apoio de suas elites políticas, por meio da diplomacia do
dólar, cujo objetivo central seria a dependência econômica de outras nações por
meio de vultuosos e onerosos empréstimos ofertados a nações mais pobres.
Este tripé diplomático dos EUA duraria até a década de 1930, Franklin D.
Roosevelt o substituiria pela Política da Boa Vizinhança. Não obstante, por meio
deste tripé, os negócios norte-americanos angariaram enorme apoio, reforçando,
por meio de diversas intervenções militares, os interesses dos EUA na região
caribenha, dentre os quais a construção de canais marítimos, como o do Panamá
e da Nicarágua, que colaborassem para a facilitação do comércio exterior das
empresas norte-americanas.
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3 – O Pan Americanismo e as experiências de


integração na América Latina

Após terminadas as guerras de independência na América espanhola,


determinados grupos políticos, encabeçados por Simon Bolívar, propuseram a
criação de uma Confederação de países hispano-americanos em todo o território
das antigas colônias, do México à Argentina. A proposta de união dos países
hispânicos a partir de laços de fraternidade cultural surgiu da mentalidade de
Bolívar e foi nomeada como Pan Americanismo.

A proposta foi primeiramente apresentada no Congresso do Panamá em


1826, o qual fora convocado pelo próprio Bolívar. Reuniram-se ali representantes
da Grã-Colômbia (onde Bolívar era presidente), Estados Unidos da América,
México, Peru, Bolívia e dos países da América Central. Apesar do acordo firmado
visar a cooperação mútua, apenas a Grã-Colômbia o ratificou, e somente até
1830, quando o país entrou em colapso com as independências da Venezuela e
Equador. Assim, o sonho de Bolívar se viu frustrado ainda em sua origem.

Ao longo do século XIX, a proposta Pan Americana não angariou grandes


apoiadores, visto que a própria região latino-americana se encontrava em
processo de formação de seus Estados-Nações. Apenas no final do século XIX
a proposta pan-americanista voltou a recuperar força, ainda que não mais sob
uma perspectiva exclusivamente latino-americana, pois a sua retomada se deve
a uma ação essencialmente norte-americana.

Já em 1880, cogitou-se, a partir da diplomacia norte-americana, a criação de


uma organização multilateral entre os diferentes Estados americanos, de modo
a viabilizar o protagonismo regional dos Estados Unidos na liderança do
continente, sobretudo em questões econômicas. Em suma, buscava-se, no
campo econômico, a criação de uma União aduaneira entre as nações
americanas (com privilégios para o irmão do Norte e a exclusão de nações
estrangeiras do acordo, funcionando como uma espécie de Zollverein norte-
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americana) e, no campo político, a implementação de um sistema de arbitragem
obrigatório no continente, sob supervisão e liderança norte-americana.

Ambas ideias foram primeiramente discutidas na prática durante a I


Conferência Pan-americana (1889-1890) organizada pelos Estados Unidos. Foi
neste ano que o termo “pan-americanismo” foi pela primeira vez utilizado, muito
provavelmente por influência de jornais norte-americanos interessados na
criação de zonas de influência americanas ao longo do continente. A
Conferência, ocorrida durante a presidência de Benjamin Harrison, ocorreu na
cidade de Washington, e reuniu membros de todos os países do continente, à
exceção da República Dominicana.2

As duas ideias-chaves da Conferência (arbitragem norte-americana em


conflitos locais e a criação da zona aduaneira) foram colocadas sobre a mesa,
não resultando, porém, no efeito esperado pelos estadunidenses: no fim, apenas
se aprovou recomendações de apoio a tratados de reciprocidade comercial e a
criação da União Internacional de Repúblicas Americanas, que, por meio de seu
Bureau Comercial, funcionaria como uma instituição de representação e
divulgação comercial dos países-membros. A Conferência foi encerrada em 14
de abril, que mais tarde, em 1930, seria chamado de o “Dia Pan-Americano”.

O Bureau Comercial deveria funcionar por um prazo inicial de 10 anos,


cabendo-se a uma nova Conferência reafirmá-lo ou não. Em 1901, por ocasião
de seus dez anos de funcionamento, reuniram-se novamente os delegados dos
Estados-membros, desta vez no Palácio Nacional, na Cidade do México. A
Conferência pouco inovou no sentindo de ampliação dos pactos firmados uma
década antes, aprovando-se apenas resoluções relativas ao arbitramento
compulsório de disputas no continente e às questões comerciais regionais. No
entanto, a Segunda Conferência ficou marcada pela crescente preocupação dos
países latino-americanos referente ao envolvimento dos EUA na guerra de
independência de Cuba, bem como quanto ao crescimento de seu interesse pelo

2
O Brasil começou sua representação na Conferência ainda como Monarquia, cuja delegação
ficara a cabo de Lafaiete Rodrigues Pereira. No terceiro dia de Conferência, no Brasil, o marechal
Deodoro da Fonseca derrubava a Monarquia e proclamava a República. Quintino Bocaiúva,
designado Ministro das Relações Exteriores do governo provisório, rapidamente destituiu
Lafaiete Rodrigues do cargo e enviou para ocupar o seu lugar Salvador de Mendonça, um
republicano de forte inspiração estadunidense.
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Caribe. Lembremo-nos de que 1901 é o ano em Theodore Roosevelt assume a
presidência após o assassinato de seu antecessor, presidente McKinley, morto
durante a Feira Mundial de Buffalo, Nova York, organizada no início do mesmo
ano, e que, portanto, marca o início do Corolário Roosevelt e da política do Big
Stick.

Outras conferências foram convocadas nas décadas seguintes, ainda que


com destaques pontuais. A Terceira Conferência se reuniu na cidade do Rio de
Janeiro no ano de 1906, pouco tempo após Theodore Roosevelt anunciar ao
Congresso as premissas de seu Corolário. A conferência foi marcada por um
profundo sentimento de antiamericanismo por boa parte dos delegados latino-
americanos, que encabeçaram as discussões em torno da prevenção das
intervenções armadas às nações devedoras do continente. Contudo,
predominaram as discussões em torno da manutenção das boas relações
continentais (em especial para com o irmão do Norte), sobressaindo-se, mais
uma vez, o papel hegemônico dos EUA face aos demais países.

A Quarta Conferência foi reunida em Buenos Aires (Argentina) em 1910, por


ocasião das grandiosas comemorações do centenário da independência
argentina, durante a presidência de William Taft nos EUA, o mesmo presidente
precursor da chamada “diplomacia do dólar”. Ali se colocou a situação da disputa
territorial envolvendo Bolívia, Chile, Paraguai e Argentina (sem muitos efeitos
práticos) e os conflitos diplomáticos entre Argentina e Brasil, ambos aspirantes
à hegemonia latino-americana. Uma das poucas novidades anunciadas se
referiu à mudança de nome da União Internacional das Repúblicas Americanas
para União de Repúblicas Americanas, e de seu Bureau Internacional para União
Pan-Americana.

A Quinta Conferência veio acontecer somente em 1922 na cidade de


Santiago (Chile), visto que sua data original de realização (que teria sido 1914)
fora adiada em ocasião da eclosão da 1ª Guerra Mundial na Europa. Não
compareceram os delegados do México (rompidos diplomaticamente com os
EUA pelo seu não reconhecimento do governo de Alvaro Obregón), Bolívia e
Peru. A conferência foi marcada por hostilidades entre os delegados latino-
americanos e o representante norte-americano, devido às ocupações militares
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3
dos EUA em países da América Central e Caribe nos últimos anos . No entanto,
aprovou-se o Pacto Gondra, encabeçado por Manuel Gondra, ex-presidente
paraguaio, o qual colocava que os conflitos entre Estados Americanos deveriam
ser tratados, primeiramente, por dois comitês de investigação situados em
Montevidéu e Washington, de modo a se buscar saídas pacíficas antes de
qualquer intervenção armada ou ocasião de guerra.

A Sexta Conferência, ocorrida em 1928 na cidade de Havana (Cuba), marcou


o declínio das relações diplomáticas entre os membros latino-americanos e os
Estados Unidos, sobretudo após a intervenção armada norte-americana em
Nicarágua no ano de 1926, que depôs Augusto Sandino do poder. As
hostilidades diplomáticas, em crescimento desde a Terceira Conferência, foram
novamente capitaneadas pelo representante argentino, desta vez Honório
Pueyrredón, como uma forma de elevar a Argentina ao posto de nação
hegemônica da América Latina no lugar dos EUA e Brasil. Por influência de
Pueyrredón, buscou-se instituir eleições plurais para a presidência da União
Pan-Americana (até então sob chefia exclusiva dos Estados Unidos), medida
que não logrou êxito.

Outras conferências vieram a ocorrer nos anos seguintes sob o mesmo


espírito de hostilidade diplomática. O ponto de virada foi a convocação de uma
Conferência para a Manutenção da Paz e da Segurança Continental no pós-
Segunda Guerra Mundial, no ano de 1947 na cidade do Rio de Janeiro (também
conhecida como Conferência do Rio de Janeiro). A Conferência fora uma
iniciativa do governo norte-americano, que vira durante a década de 1930 e o
desenrolar da Segunda Guerra Mundial uma aproximação inquietante entre
determinados governos latino-americanos e os países que compunham o Eixo.
Seu objetivo seria cuidar para evitar a inserção de novas ideias “antiamericanas”
no continente, sobretudo neste momento, que marcava o despontar da Guerra
Fria.

Ali foi firmado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (também


conhecido como TIAR ou ainda Tratado do Rio), pelo qual os membros da União

3
México (1914-1915), Nicarágua (desde 1911), Haiti (desde 1915) e República Dominicana
(desde 1916).
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Pan-Americana, agora renomeada para Organização dos Estados Americanos
(OEA), cooperariam mutuamente em casos de ataques externos a qualquer dos
Estados-membros. Reforçava-se, portanto, os preceitos originais da Doutrina
Monroe, que voltara a ganhar força após os anos 1930, que marcaram o declínio
do Corolário Roosevelt e do Big Stick.

Assim, percebemos uma certa inconstância nas relações externas entre EUA
e América Latina ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX. O
isolacionismo de Monroe, que perdurara até 1890, logo deu lugar a um desejo
crescente de maior protagonismo norte-americano na América Latina, em
especial na América Central e Caribe (visto que a América do Sul possuía duas
potências regionais, Argentina e Brasil, marcantemente próximas da Grã-
Bretanha, grande rival internacional dos EUA). Este protagonismo foi marcado
pelo advento do Corolário Roosevelt e pelo Big Stick e a “diplomacia do dólar”
iniciada pelo presidente Taft. Em ambos momentos, no entanto, os governos
estadunidenses apontaram, com diferentes matizes, para a direção de uma
política pan-americanista sob liderança norte-americana, o que se afastava do
pan-hispanismo de Bolívar. Deste desejo surgiram as Conferências pan-
americanas, sempre sob chefia e liderança dos representantes norte-
americanos, sobretudo entre 1901 e 1933. Destas conferências veio a surgir o
Tratado do Rio e a OEA, que cristalizavam os anseios hegemônicos dos EUA
sobre a política interna dos países latino-americanos, o que se demonstrará com
os governos militares latino-americanos posteriores, marcados de influências
ideológicas norte-americanas. Isto posto, vamos à prática ... mão na massa!

(UFV-MG) Leia os trechos de notícias de jornais publicados nos Estados


Unidos no século XIX:

1) (...) um espírito de interferência hostil [de outras nações] para


conosco, com o objetivo confesso de deformar nossa política e prejudicar
nosso poder, limitando nossa grandeza e impedindo a realização de nosso
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Destino Manifesto, que é estendermo-nos sobre o continente que a
Providência fixou para o livre desenvolvimento de nossos milhões de
habitantes, que ano após ano se multiplicam. (Democratic Review)

2) A universal nação ianque pode regenerar e libertar o povo do México


em poucos anos; e cremos que é parte de nosso destino civilizar esse belo
país e capacitar seus habitantes para apreciar algumas das numerosas
vantagens e bênçãos de que dispõem. (New York Herald)

Citados por AQUINO, R.S.L. et al. História das sociedades americanas. Rio
de Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981. p.140 e 141.

Quanto à história do expansionismo norte-americano no século XIX, pode-se


afirmar que:

a) na época, os Estados Unidos apossaram-se de várias áreas do território


mexicano sem o pagamento de indenizações e, da mesma forma, apropriaram-
se de colônias da França, da Inglaterra e da Rússia, orientados por seu "Destino
Manifesto".

b) as ações expansionistas dos Estados Unidos pretendiam empurrar suas


fronteiras até o Oceano Pacífico e excluir a região sul do país porque nela
predominava uma economia agrário-exportadora que impedia o avanço da
industrialização.

c) o expansionismo norte-americano sobre as colônias espanholas contou


com o apoio da Santa Aliança porque ela pretendia ver instauradas repúblicas,
livres e democráticas, nas metrópoles europeias e em suas colônias.

d) por força de seu "Destino Manifesto", a descoberta do ouro nas colinas


californianas estreitou as relações entre mexicanos e americanos evitando novos
conflitos e disputas nas fronteiras, o que permitiu o acesso dos Estados Unidos
ao Oceano Pacífico.

e) a imprensa dos Estados Unidos, na época, acreditava que eles tinham uma
predestinação: a missão de civilizar povos inferiores do continente americano
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por causa de seu "Destino Manifesto", ou seja, o seu domínio representava a
vontade de Deus.

Comentários: a. No caso russo, nas relações com a França e com alguns


territórios mexicanos, na verdade, houve sim ou a compra do território ou, ainda,
o pagamento de indenizações.

b. Ainda que seja verdade que a expansão do território americano para o


Oeste tenha, parcialmente, diminuído o peso dos sulistas na Câmara baixa; é
equivocado falar que isto era um objetivo do Destino Manifesto ou do
expansionismo. O isolamento sulista estaria mais bem representado como um
“efeito colateral” da conquista do acesso ao Pacífico.

c. A Santa Aliança tinha um substrato principiológico fundado na legitimidade


das monarquias contra o fator revolucionário das repúblicas. Ou seja, jamais
desejariam que a monarquia espanhola fosse desestabilizada por repúblicas
nascentes nas Américas.

d. A descoberta do ouro no oeste da América do Norte disparou uma corrida


alucinada e violenta, que passou sobre territórios indígenas e espanhois. Ou
seja, o processo de estruturação da mineração na Califórnia nunca foi
harmonioso com o México, mas sim um processo sangrento de disputa territorial.

e. A civilização das “terras incultas” e o pleno desenvolvimento da população


americana eram os dois grandes motores do Destino Manifesto, que tinha todas
as suas ações assentadas sobre a crença da aprovação divina e da vontade de
Deus de promover a conquista do território e da expansão de Sua palavra no
Novo Mundo.

Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Mackenzie-SP) A população que, em 1790, era de quase 4 milhões de


habitantes passou para cerca de 31 milhões em 1860. Dez anos depois,
alcançava os 40 milhões. Boa parte desse contingente era formado por
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estrangeiros: entre 1830 e 1860 entraram no país quase 5 milhões de imigrantes
europeus.

José Robson de A. Arruda e Nelson Piletti. A História dos Estados Unidos da


América.

No que diz respeito à fase do expansionismo interno e à ocupação e ao


povoamento do atual território norte-americano, teve como justificativa a
Doutrina do Destino Manifesto, sobre a qual é INCORRETO afirmar que:

a) explicitava uma visão racista que agia como alimento moral para o
desenvolvimento da nação.

b) seus objetivos nunca foram utilizados para legitimar invasões,


intervenções ou conquistas territoriais em países do continente americano.

c) baseava-se em um sentimento de superioridade do imigrante europeu


branco, diante dos índios e dos mexicanos.

d) contém elementos inspirados no Darwinismo Social, no qual as relações


sociais destacam a sobrevivência dos mais capazes.

e) os norte-americanos tinham sido predestinados por Deus à conquista dos


territórios situados entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Comentários: a. A alternativa é um pouco desequilibrada, já que é um pouco


forte falar de racismo quanto ao Destino Manifesto. Seria mais correto falar em
etnocentrismo, já que investia um povo de um dever divino; mas se pode
considerar a afirmativa correta.

b. O Destino Manifesto foi a principal justificativa moral para as intervenções


dos Estados Unidos na marcha para o Oeste. Civilizar populações e assegurar
o desenvolvimento dos peregrinos encontraram sua tradução na expansão
territorial, que envolveu desde a compra de territórios até as invasões e as
guerras. Portanto, esta é a única alternativa errada.
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c. O europeu branco que alcançou as Américas criou um mito da preferência
divina a seu favor para garantir o progresso dos povos. Neste sentido, o Destino
Manifestou assegurava, moralmente, as ideias de superioridade dos brancos
sobre os nativos e os escravos negros.

d. As ideias do Darwinismo social eram importantíssimas para a organização


do Destino Manifesto, já que elegem os mais fortes e inteligentes como os
escolhidos para liderar os povos na direção do desenvolvimento. O corte étnico
do darwinismo social é precioso para a estruturação de um destino grandioso de
um povo sobre os demais.

e. a ideia da predestinação divina dos americanos para governar sobre as


duas costas foi um propulsor potentíssimo do Destino Manifesto e das
movimentações da conquista do Oeste.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(UFMG)Considerando-se as relações entre a América Latina e os Estados


Unidos a partir de meados do século XIX, é correto afirmar que:

a) a abertura do canal no estreito do Panamá possibilitou o desenvolvimento


de relações comerciais equilibradas entre as Américas.

b) a consolidação dos Estados antilhanos e centro-americanos viabilizou o


apoio constante do governo norte-americano às democracias destas regiões.

c) a derrota do México, na guerra com os Estados Unidos, significou a perda


de quase metade do território mexicano para este país.

d) a política do Big Stick, implementada pelo presidente Theodore Roosevelt,


visava a estreitar o diálogo diplomático entre os países americanos.

Comentários: a. A abertura do canal do Panamá, sobretudo, foi um marco da


assimetria das relações entre as Américas, com uma liderança política e
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econômica inquestionável por parte dos EUA. Sua capacidade de ação e de
influência sobre todo o continente ficou patente com a construção do canal.

b. Com o avanço econômico dos Estados Unidos sobre as antigas colônias


do Caribe e da América Central continental, os regimes destes países passaram
a sofrer grande influência dos interesses estadunidenses. O mais importante
para os EUA era a manutenção de governos favoráveis nas pequenas repúblicas
centro-americanas; ou seja, o compromisso com as regras democráticas destes
países era limitado pelos interesses econômicos.

c. De fato, as derrotas sofridas pelo México nas guerras com os Estados


Unidos comprometeram mais da metade do seu território, que seria anexado no
processo de paz definitivamente aos Estados Unidos. Alternativa correta.

d. Acima de tudo, a política do Big Stick de Theodore Roosevelt queria manter


as potências europeias afastadas dos assuntos americanos no início do século
XX. O estreitamento dos lanços com os demais países das Américas seria, se
ocorresse, um corolário desta política, mas não um objetivo em si mesmo.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UFSCar-SP) A Big Stick Policy, estabelecida nos Estados Unidos da


América no início do século XX, consistiu:

1 – numa reforma ampla do sistema policial, a fim de melhor reprimir as


revoltas da população negra.

2 – numa política interna com a qual se pretendeu corrigir os excessos do


sistema federativo.

3 – numa política externa com a qual se pretendeu reservar o direito de


intervir na América latina.

Assinale a opção correta.

a) Apenas a alternativa 3 está correta.

b) Apenas a alternativa 1 está correta.


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c) Nenhuma alternativa está correta.

d) Apenas a alternativa 2 está correta.

e) As alternativas 1 e 2 estão corretas.

Comentários: 1 e 2. O Big Stick não foi uma doutrina de aplicação doméstica,


mas sim internacional. Afirmações incorretas.

3. Baseada no chavão “fale suavemente e carregue consigo um grande


porrete”, o Big Stick tinha por objetivo afastar os europeus dos assuntos do
continente americano, que deveria passar a pensar suas questões políticas no
âmbito continental. Dada a liderança americana na garantia do afastamento
europeu e sua posição de interlocução entre os dois continentes, a política
acabava por facilitar aos Estados Unidos uma posição intervencionista em todo
o continente. Afirmação correta.

Portanto, apenas a alternativa 3 está correta.

Gabarito: ALTERNATIVA A.
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Lista de Exercícios Apresentados

(UFV-MG) Leia os trechos de notícias de jornais publicados nos Estados


Unidos no século XIX:

1) (...) um espírito de interferência hostil [de outras nações] para


conosco, com o objetivo confesso de deformar nossa política e prejudicar
nosso poder, limitando nossa grandeza e impedindo a realização de nosso
Destino Manifesto, que é estendermo-nos sobre o continente que a
Providência fixou para o livre desenvolvimento de nossos milhões de
habitantes, que ano após ano se multiplicam. (Democratic Review)

2) A universal nação ianque pode regenerar e libertar o povo do México


em poucos anos; e cremos que é parte de nosso destino civilizar esse belo
país e capacitar seus habitantes para apreciar algumas das numerosas
vantagens e bênçãos de que dispõem. (New York Herald)

Citados por AQUINO, R.S.L. et al. História das sociedades americanas. Rio
de Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981. p.140 e 141.

Quanto à história do expansionismo norte-americano no século XIX, pode-se


afirmar que:

a) na época, os Estados Unidos apossaram-se de várias áreas do território


mexicano sem o pagamento de indenizações e, da mesma forma, apropriaram-
se de colônias da França, da Inglaterra e da Rússia, orientados por seu "Destino
Manifesto".

b) as ações expansionistas dos Estados Unidos pretendiam empurrar suas


fronteiras até o Oceano Pacífico e excluir a região sul do país porque nela
predominava uma economia agrário-exportadora que impedia o avanço da
industrialização.
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c) o expansionismo norte-americano sobre as colônias espanholas contou
com o apoio da Santa Aliança porque ela pretendia ver instauradas repúblicas,
livres e democráticas, nas metrópoles europeias e em suas colônias.

d) por força de seu "Destino Manifesto", a descoberta do ouro nas colinas


californianas estreitou as relações entre mexicanos e americanos evitando novos
conflitos e disputas nas fronteiras, o que permitiu o acesso dos Estados Unidos
ao Oceano Pacífico.

e) a imprensa dos Estados Unidos, na época, acreditava que eles tinham uma
predestinação: a missão de civilizar povos inferiores do continente americano
por causa de seu "Destino Manifesto", ou seja, o seu domínio representava a
vontade de Deus.

(Mackenzie-SP) A população que, em 1790, era de quase 4 milhões de


habitantes passou para cerca de 31 milhões em 1860. Dez anos depois,
alcançava os 40 milhões. Boa parte desse contingente era formado por
estrangeiros: entre 1830 e 1860 entraram no país quase 5 milhões de imigrantes
europeus.

José Robson de A. Arruda e Nelson Piletti. A História dos Estados Unidos da


América.

No que diz respeito à fase do expansionismo interno e à ocupação e ao


povoamento do atual território norte-americano, teve como justificativa a
Doutrina do Destino Manifesto, sobre a qual é INCORRETO afirmar que:

a) explicitava uma visão racista que agia como alimento moral para o
desenvolvimento da nação.

b) seus objetivos nunca foram utilizados para legitimar invasões,


intervenções ou conquistas territoriais em países do continente americano.

c) baseava-se em um sentimento de superioridade do imigrante europeu


branco, diante dos índios e dos mexicanos.
História Mundial
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d) contém elementos inspirados no Darwinismo Social, no qual as relações
sociais destacam a sobrevivência dos mais capazes.

e) os norte-americanos tinham sido predestinados por Deus à conquista dos


territórios situados entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

(UFMG)Considerando-se as relações entre a América Latina e os Estados


Unidos a partir de meados do século XIX, é correto afirmar que:

a) a abertura do canal no estreito do Panamá possibilitou o desenvolvimento


de relações comerciais equilibradas entre as Américas.

b) a consolidação dos Estados antilhanos e centro-americanos viabilizou o


apoio constante do governo norte-americano às democracias destas regiões.

c) a derrota do México, na guerra com os Estados Unidos, significou a perda


de quase metade do território mexicano para este país.

d) a política do Big Stick, implementada pelo presidente Theodore Roosevelt,


visava a estreitar o diálogo diplomático entre os países americanos.

(UFSCar-SP) A Big Stick Policy, estabelecida nos Estados Unidos da


América no início do século XX, consistiu:

1 – numa reforma ampla do sistema policial, a fim de melhor reprimir as


revoltas da população negra.

2 – numa política interna com a qual se pretendeu corrigir os excessos do


sistema federativo.

3 – numa política externa com a qual se pretendeu reservar o direito de


intervir na América latina.
História Mundial
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Assinale a opção correta.

a) Apenas a alternativa 3 está correta.

b) Apenas a alternativa 1 está correta.

c) Nenhuma alternativa está correta.

d) Apenas a alternativa 2 está correta.

e) As alternativas 1 e 2 estão corretas.


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Gabaritos

(UFV-MG)

Letra e)

(Mackenzie-SP)

Letra b)

(UFMG)

Letra c)

(UFSCar-SP)

Letra a)
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Prof. D D P P S

Apresentação

Olá caro aluno!

Tendo-nos debruçado sobre a história da América do Norte e América


Latina durante a colonização e o século XIX, voltaremos nossa atenção para os
movimentos europeus de colonização de fins do século XIX e início do século
XX na África e na Ásia, num processo que ficou conhecido como Imperialismo
e neocolonialismo.

Conceitos ambíguos, teremos de salientar os debates acerca deles,


mostrando como diferentes autores os entendem e como podemos interpretá-
los para nossa prova do CACD! Nesse sentido, estejam atentos para as
diversas correntes de pensamento que se misturam com correntes ideológicas
do presente.

Depois de debater o conceito de imperialismo, voltar-nos-emos nosso


estudo para o passo-a-passo da dominação das potências europeias neste
período e como algumas nações em particular resistiram (China) ou se
adaptaram ao novo mundo que agressivamente lhes era imposto (Japão, por
exemplo).

Assim sendo, vamos juntos dominar mais um vasto conteúdo!


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1. Os Imperialismos
1.1 Definição e Recorte temporal

A definição da categoria histórica “Imperialismo” é das mais ambíguas e


polissêmicas do vocabulário do historiador. Pode significar uma gama bastante
alargada de práticas e atividades de países desenvolvidos em relação a países
menos desenolvidos. Pode variar no tempo e no espaço a depender do gosto
do historiador e de sua vertente ideológica. Por conta deste aspecto, é quase
impossível encontrar consenso entre historiadores em relação a quando
começou e por onde se estendeu.

Para os fins desta aula, partiremos de uma definição clara para que você
possa acompanhar com facilidade. Trataremos o “imperialismo” como um
movimento de países ocidentais, especialmente europeus, mas não
exclusivamente, de conquista e dominação de países menos desenvolvidos e
tecnologicamente inferiores na África e na Ásia. Nosso recorte temporal se
estenderá do início do século XIX até a primeira Guerra Mundial.

Isso, embora facilite, não resolve alguns problemas que surgem quando se
estuda esse fenômeno. Historiadores há que consideram as práticas liberais do
século XIX como imperialismo – imperialismo informal –, outros não. De nossa
parte, abarcaremos esse chamado “imperialismo informal” e depois
explicaremos o imperialismo “formal”.

Outro ponto de significativo problema quando se aborda este assunto trata-


se do “neocolonialismo”. Também conceito polissêmico, o neocolonialismo
normalmente é trabalhado em conjunto com o imperalismo, mas ambos não
devem ser confundidos! Há formas de imperialismo, como veremos, que não
“colonizam” os novos territórios. Por conta desta confusão, evitaremos utilizar
este conceito histórico.

Feitas estas ressalvas, vamos iniciar nosso estudo do imperialismo a partir


das práticas liberais utilizadas – e por vezes, forçadas – dos países europeus
após as guerras napoleônicas.
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1.2 Imperialismo informal: liberalismo para o mundo

Ao contrário de nossas aulas anteriores, em que falamos bastante de


eventos e personagens, esta nossa aula será centrada em processos, ou seja,
um conjunto de práticas e ideias que levaram a cabo determinada coisa, nesse
nosso caso, a dominação de várias partes do mundo pela Europa. Este
processo imperialista está umbilicalmente ligado ao desenvolvimento do
capitalismo, do qual tratar-se-á com mais fôlego e profundidade em outras aula.

O primeiro passo desse processo de dominação foi, de acordo com muitos


historiadores, a implantação do liberalismo econômico pelo mundo, iniciando
particularmente na América Latina.

Para entendermos este impulso das potências europeias, temos de ter em


mente o processo de destruição do colonialismo de Antigo Regime que se
operava no continente americano desde 1776 – com a independência dos
Estados Unidos –, mas, principalmente, durante as décadas de 1810 e 1820,
nas quais quase toda a América Latina ficou livre das metrópoles ibéricas.

As independências e cesura de laços entre ex-colônias e metrópoles


acabou por frear por um momento todo ímpeto europeu de colonizar novas
terras. O colonialismo passou a ser visto como algo ruim, inclusive para a
metrópole, que se via despovoada e envolvida em várias guerras que, por
vezes, não lhes trazia nada de muito positivo. Veremos que isso mudará
gradualmente ao longo do século XIX, quando novas teorias e justificativas
surgiram na política e cultura europeias.

Assim sendo, várias potências europeias mudaram de estratégia quanto à


busca do lucro e do engrandecimento do Estado. E isto significou, em muitos
casos, a dominação econômica sem os custos da dominação político-
administrativa. Economicamente mais dinâmica e superior que os demais
continentes do mundo, a Europa valer-se-ia, então, de acordos comerciais que
permitissem que seus produtos – ao invés de suas tropas – “invadissem” os
mercados: os chamados tratados desiguais.
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1.2.1 Os tratados desiguais e a expansão econômica europeia

Como dito, um dos primeiros lugares onde se fariam estes tratados seria na
América Latina. E o primeiro desses seria realizado com Portugal pelo mercado
do Brasil, o famoso tratado de 1810.

Necessitando sair de Portugal para escapar da invasão francesa do reino,


D. João VI precisou contar com o auxílio dos ingleses. Chegando em terras
brasileiras, a primeira medida exigida pelas circunstâncias foi a abertura dos
portos “às nações amigas”, o que se aplicava, naquele momento, basicamente
aos ingleses. Pouco tempo depois, por muita pressão inglesa, foi assinado um
outro tratado – Tratado de Comércio e Navegação – em que se estabeleciam
taxas comerciais preferenciais para os produtos ingleses em terras brasileiras –
15% de impostos para produtos ingleses, 24% para produtos portugueses!

Depois da independência, no bojo das discussões para o reconhecimento


português em 1825, foram criado outros tratados – no momento de discussão,
eram secretos – que ampliavam por mais 10 anos, prorrogáveis por mais 3, as
cláusulas do tratado de 1810. Embora tenham sido bastante criticados na
Assembleia Geral brasileira, os tratados foram ratificados e permaneceram em
vigor até 1840, quando a chamada Tarifa Alves Branco o substituiu.

Outros acordos do mesmo tipo foram realizados em outros países da


América Latina. Quando houve resistências, as potências forçaram sua
dominação econômica – caso da declaração conjunta de guerra do Reino
Unido e da França contra a Argentina pela liberação do comércio das
províncias interiores e de navegação do rio da Prata. Este movimento de
sujeição americano aos interesses europeus é entendido, por Halperín Donghi,
como a superação dos ibéricos pelos britânicos como grande eixo de
dependência da região, capaz de sanar as necessidades de investimentos das
elites econômicas locais.
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De acordo com Amado Cervo, a aceitação dos tratados desiguais pelos
latino-americanos em “troca de nada”1 animou o governo inglês, que decidiu
expandir essa prática para outros lugares e obter as mesmas vantagens.

De acordo com o mesmo autor, o passo seguinte dos ingleses foi em


direção ao mercado turco-otomano. Em 1838, a Inglaterra realizou um tratado
com o sultão, no qual os produtos ingleses pagariam uma taxa de importação
de 5%, o que resultou numa inundação de produtos britânicos e, por
consequência, a destruição das manufaturas otomanas.

Em seguida, os ingleses olharam mais para o Oriente, para os volumosos


mercados da China e do Japão. Estes países, no entanto, seriam mais difíceis
de sucumbir somente às pressões inglesas, e portanto

(...) a abertura dos dois países populosos envolveria o


Concerto Europeu e o apoio diplomático norte-americano para
desfechar golpes imperialistas de força, com notável senso de
oportunidade e ostensiva imoralidade e covardia. Os interesses
econômicos a tudo conferiam legitimidade.2

Assim, por meio de vários acordos realizados entre 1842 e 1860, alguns
dos quais realizados após guerras, as mais famosas, as duas guerras do ópio.
Estes dois casos serão abordados com mais detalhes a frente.

A fase do imperialismo informal, de expansão das forças econômicas para


fora da Europa por meio dos tratados seria um motivo, por mais que isso possa
soar-nos paradoxal, para não realizarem a conquista colonial. Eles estavam
ganhando dinheiro sem terem de preocupar-se com os custos políticos de se
manter vários povos sob seu domínio. Isto, no entanto, mudou quando o
próprio liberalismo começou a sofrer com políticas protecionistas na segunda
metade do século XIX empreendidas por algumas das potências. Seria a
ameaça do fechamento de mercados que então levaria os grandes países a se
expandirem militarmente pelo mundo subdesenvolvido.

Mas antes de entrarmos nesta outra narrativa, cabe aqui salientar as


mudanças na cultura e na percepção do movimento colonizador. Como
dissemos acima, o colonialismo foi mal visto na esteira dos movimentos de

1
CERVO A L H IN “ARAIVA J F “ História das
Relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 63.
2
Idem.
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independência da América Latina e, em particular, após a onda nacionalista
que varreu o Velho Mundo nas décadas de 1820, 1830 e, particularmente,
1848. O princípio da autodeterminação dos povos, ou seja, de que cada povo
deve escolher seu governo e ser governado por “um dos seus”, seria contrário
ao movimento de conquista e dominação de novos territórios. Essa ideologia se
combinou bastante bem com o movimento econômico realizado por meio da
expansão do liberalismo e dos tratados desiguais.

Esse aspecto cultural começaria, no entanto, a mudar a partir da segunda


metade do século com o fortalecimento de tendências existentes
anteriormente, como o caso da ideia de “progresso” e de “civilização”. A
cruzada moral e religiosa que fizera parte do repertório de conquista dos países
ibéricos durante os século XVI e XVII seria substituída pelo “dever” do homem
europeu de levar “as luzes e o progresso” a todos os povos do mundo.
Devemos entender isso não como uma mera justificativa para as ações
europeias, mas algo em que verdadeiramente os homens daquele momento
acreditavam.

Com um tal imperativo moral de levar a civilização à barbárie existente no


mundo, movimento que não estava desvinculado da religião – mas esta agora
com um papel um pouco menor –, os europeus partiram à conquista da África e
da Ásia. Vejamos agora como foram esses desenvolvimentos.

1.3 O Imperialismo formal da África e da Ásia

O chamado imperialismo formal ou “novo imperialismo” da segunda metade


do século XIX até a primeira Guerra Mundial pode ser dividido, conforme
Saraiva, em dois momentos: 1. Um, até por volta de 1890, quando as potencias
puderam expandir-se sem que isso resultasse em tensões na Europa; 2. Outro,
a partir de 1890, quando as faixas de terra não-colonizadas diminuíram e
levaram a problemas de divisão de influência entre as potências.

Para facilitar sua compreensão, vamos iniciar pela partilha da África e


passemos, em seguida, à partilha da Ásia.
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1.3.1 A partilha da África

Ainda que nos surpreenda atualmente, a divisão da África pelas potências


europeias e sua subsequente dominação não foi algo que ocorreu ao longo de
todo o século XIX, com uma lenta e gradual expansão pelo território africano.
Ao contrário, foi fruto de uma rápida conquista que ocorreu a partir do último
quartel do século. De acordo com Saraiva, até 1876 somente 10% do território
do continente era colônia europeia, possessões dentre as quais podemos
destacar as terras do Império Português, a colônia do Cabo da Grã-Bretanha e
a Argélia francesa.

Até a década de 1870, a África estava inserida, como as demais áreas


acima referidas, no contexto de expansão do capitalismo industrial por meio de
acordos e tratados de livre-comércio, com as exceções mencionadas.
Interessante é notar que, até esse período final do século XIX, a África estava à
margem das grandes preocupações europeias. As únicas ressalvas seriam o
Egito, pela posição estratégica de controle do estreito de Suez e da rota
comercial em direção à Índia – o que levará a Grã-Bretanha a dominá-lo – e,
posteriormente a África do Sul pela descoberta tardia de minérios e diamantes.
Neste sentido é que Bismarck exporia, na década de 1870, sua “profunda
rejeição a um engajamento colonial da Alemanha, que ele considerava um luxo
pomposo sem retorno econômico”.3

No entanto, isto muda radicalmente a partir de 1876 e durante os últimos 25


anos do século, os europeus passariam de 10% a 90% de controle do território
africano. Ficariam de fora desta corrida inicial somente a Libéria e a Etiópia.

O surto de colonização na África (conhecido pela expressão inglesa


scramble for Africa) se iniciou após a decisão de alguns militares franceses
presentes no Senegal – mas com proteção e incentivo do governo francês – de
conquistar o interior da África Ocidental e depois expandir o território para a
África Equatorial. Os interesses ingleses e belgas nestes locais ficaram, então,
ameaçados. No caso dos ingleses, verdadeiros defensores do livre-comércio, a
preocupação era com o protecionismo que os franceses poderiam vir a

3
SARAIVA, José Flávio Sombra. A IN História das
Relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 99.
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estabelecer nessas áreas, prejudicando o comércio e a produção inglesa. No
caso belga, o avanço francês punha em risco o sonho do rei Leopoldo II de
estabelecer um grande império na África Equatorial.

O Reino Unido decidiu, então, apoiar as pretensões portuguesas na África


para evitar o expansionismo francês e todo esse movimento em conjunto levou
a reclamações de vários outros países, especialmente da Alemanha. Para
resolver estes imbróglios e impasses foi então convocado, ainda dentro do
espírito de Viena, um congresso, a chamada Conferência de Berlim, para uma
decisão coletiva de como as potências deveriam proceder nesse novo
movimento colonizador.

Ocorrida entre 1884 e 1885, a conferência contou com a presença de todas


as potências europeias e dos Estados Unidos. Ao contrário do que comumente
se pensa, essa reunião não decidiu a partilha dos territórios africanos pelos
Estados europeus – embora tenha havido a tentativa portuguesa de conseguir
ligar suas colônias de Angola e de Moçambique. O objetivo do congresso foi o
de discutir a manutenção do livre-comércio nas regiões disputadas na bacia do
Congo por Portugal, França, Inglaterra e Bélgica e que foi decidido com relativa
facilidade e harmonia dentro dos padrões do concerto europeu. De acordo com
Saraiva, o que deu relevância para a reunião das potências foi o seu caráter
“potencialmente protecionista”. Segundo o autor:

Os participantes definiram condições mais duras, segundo as


quais as aquisições coloniais seriam reconhecidas pelos outros
Estados europeus. (...) decidiu-se a chamada ocupação efetiva
como critério-chave de reconhecimento de domínio colonial
pelas potências européias. Com isso, a presença mais informal,
baseada no comércio legítimo, não serviria mais para definir
domínio colonial.4

Definidas as regras para o reconhecimento das colônias, os países


europeus sairiam desenfreadamente à conquista, de modo a evitar dar mais
espaço a seus adversários.

A Grã-Bretanha, que se tornou o maior dos impérios coloniais nesse


momento, iniciou a ampliação de sua dominação pelo continente africano com
temor de que a expansão de outros países levasse ao aumento do
protecionismo comercial e a levasse a perder mercados para sua potente

4
Idem, p. 100.
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indústria. Assim, ela focou sua expansão para os lugares estratégicos do
caminho marítimo para a Índia e para áreas com interesse comercial imediato,
caso da Nigéria e Gana.

No caso do caminho para a Índia, o Egito se mostrava um ponto


fundamental após a abertura do canal de Suez em 1869. Pelo domínio do
Egito, entraram em contenda a Inglaterra e a França. O Estado egípcio era, à
época, dependente e tutelado financeiramente pelas duas potências. A
influência e preponderância dessas duas nações fez surgir um movimento de
resistência no país árabe e que despertou o uso da força por parte dos
europeus. Como a França se negava a enviar tropas para o Egito, a Inglaterra
o fez sozinha, invadindo o país e dando-lhe o estatuto de protetorado inglês.
Para assegurar o controle do Egito, o Reino Unido conquistou, então, o Sudão,
Uganda e Quênia. O avanço inglês acirrou definitivamente os ânimos entre
Grã-Bretanha e França. Esses problemas internacionais seriam capitalizados
por Bismarck para desviar a atenção francesa das recentes derrotas para os
alemães e canalizar o revanchismo para a corrida colonial, com o Chanceler de
Ferro estimulando a corrida colonial francesa – sabendo que isso afastaria a
França da Inglaterra progressivamente.

Outro foco de expansão do Império britânico foi a África do Sul, mas por
motivos diversos aos elencados acima. De acordo com Saraiva, a África
Austral estava inserida no sistema mundial de maneira diferente que o restante
do continente, com uma história bastante particular. O sul da África havia sido
colonizado por holandeses ao longo dos século XVII e XVIII e se tornara um
ponto de imigração europeia, o que criou uma elite branca dirigente da região,
os chamados bôeres. No fim do século XVIII e início do XIX, a Inglaterra
invadiu a região e acabou com o domínio holandês. A história da colonização
do sul da África pode então ser resumida assim:

a) a ocupação do território pelos colonizadores britânicos que


empurravam as fronteiras da colonização cada vez mais para o
interior; b) a migração dos colonizadores de origem holandesa
(bôeres) para o interior do subcontinente, a fundação pelos
bôeres de várias repúblicas independentes (Natal, Transvaal,
Estado Livre de Orange) e as sucessivas anexações britânicas
desses territórios desde 1845; c) a descoberta de diamantes na
Griqualândia, em 1867, e das maiores jazidas de ouro do
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mundo no Transvaal, em 1885, o que modificou radicalmente a
história da África Austral.5

A descoberto dos valiosos minérios no sul da África levou a uma intensa


colonização de brancos no local, diferentemente de tudo que havia ocorrido até
então. Sucessivamente, a Inglaterra foi estendendo seu domínio pela região,
anexando as repúblicas independentes fundadas pelos bôeres e tomando
territórios dos aborígenes. Incontestavelmente, os ingleses alcançaram a
supremacia imperial na região

A França, que iniciou todo esse processo de corrida colonizadora pela


África, não ficou para trás, embora não tenha tido o mesmo êxito que a
Inglaterra. A Alemanha, que havia chegado tarde no conjunto das potências
europeias – relembremos que o país fora unificado somente em 1871 –
também reivindica seu espaço e consegue algumas colônias no continente.
Acompanhe pelo mapa abaixo quais porções da África ficaram com que
impérios.

5
Idem, p. 102.
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A reação dos povos autóctones variou muito dependendo das relações


entre as etnias presentes no território dominado pelos europeus. Em alguns
casos houve resistência aberta contra a chegada dos europeus, em outros,
plena colaboração. Em situações de disputa entre tribos e grupos rivais, os
europeus eram comumente “convidados” a entrarem na disputa por um dos
lados. Mesmo com essa fragmentação dos povos africanos, a “‘pacificação’
colonial demorou até o início do século XX” 6. A única vitória de africanos nesse
momento se deu na resistência etíope contra os invasores italianos, situação
que seria invertida na década de 1930.

Resumida esta divisão da África, passemos então para o imperialismo


dirigido aos Estados asiáticos.

6
Idem, p. 103.
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1.3.2 O Imperialismo na Ásia

A característica geral mais marcante da atuação imperialista na Ásia é que


ela combinou a conquista direta de territórios e a continuação do que
chamamos de imperialismo informal dos tratados desiguais.

No caso inglês, temos a continuidade do domínio sobre o subcontinente


indiano por meio da cooptação das elites locais (indirect rule), depois que a
Companhia das Índias foi retirada do controle da colonização indiana.
Continua-se, em relação à China, a dominação dos mercados por meio dos
tratados desiguais.7 Mas o império britânico ver-se-ia flanqueado pela rápida e
importante expansão de russos e franceses na região e, depois, pelo avanço
japonês sobre a China.

Os franceses expandiram suas colônias em direção ao sudeste asiático,


conquistando a península da Indochina (Vietnã, Laos e Camboja). Do ponto
vista inglês, o avanço francês era uma ameaça à fronteira leste da Índia. Como
nos explica Saraiva:

A França, que ocupava a Conchinchina desde 1867, decidiu,


em 1882, após muitas hesitações, ampliar o seu domínio sobre
os territórios de Annam e Tonkim (Vietnã), que eram Estados
tributários ao Império Chinês. Depois de uma derrota militar
pelas tropas francesas, no ano de 1885, a China foi forçada a
concordar com o protetorado francês sobre a região.
Finalmente, em 1893, a França declarou o seu protetorado
colonial sobre o Laos. Embora as tensões entre a França e a
Grã-Bretanha tenham-se acentuado, a Grã-Bretanha não
interveio diretamente contra a expansão colonial francesa. Em
vez disso, estendeu e fortaleceu seu domínio colonial na
Malásia (...) e anexou a Birmânia, para segurar a fronteira do
leste da Índia. O Sião (Tailândia) manteve a independência
política por causa da sua utilidade como Estado-Tampão entre
as esferas coloniais britânica e francesa.8

No caso russo, temos a expansão do império do czar pela Sibéria. Ao


contrário dos impérios coloniais de ingleses, franceses, holandeses,

7
Vale aqui destacar as duas guerras do ópio mencionadas acima ocorridas entre 1839-1842 e
1856-1860. Essas guerras ocorreram quando a dinastia Qing chinesa tentou barrar a
importação de ópio realizada pela Inglaterra para terras chinesas. O Reino Unido, que muito
lucrava com o negócio do ópio, declarou guerra à China para a abertura de seu mercado e foi
vencedora nas duas ocasiões que o império chinês tentou enfrentar a potência ocidental.
Esses dois eventos são exemplos claros do imperialismo inglês em relação à China. Embora
outros países não tenham realizados guerras com o mesmo objetivo, o enfraquecimento chinês
perante os ocidentais levaria a uma relação assimétrica entre eles e à progressiva destruição
econômica dos Qing.
8
Idem, p. 104.
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americanos e outros, o império dos russos se expandiam por terra e contíguo
ao núcleo duro do império na Europa, ou seja, não havia descontinuidade no
ultramar desta expansão, fator que por vezes nos engana em relação a sua
natureza imperialista. Abordamos este aspecto quando falamos de movimento
similar realizado pelos Estados Unidos em sua expansão para o Oeste durante
o século XIX.

A ida dos russos em direção ao Oriente foi bastante significativa para as


potências ocidentais que tinham consideráveis interesses na região. Vamos
nos recordar e ligar alguns aspectos que abordamos em aulas anteriores a este
nosso conteúdo agora. Afirmamos na terceira aula que os russos ameaçavam
os interesses britânicos no Mediterrâneo e no mar Negro por sua tentativa de
conquista dos estreitos de Bósforo e Dardanelos dos turcos-otomanos. Estas
ameaças levariam à guerra entre França, Inglaterra e Império Turco contra a
Rússia, na chamada Guerra da Criméia. Derrotada, a Rússia suspendeu por
um tempo sua política de conquista e de expansão em direção à Europa e se
dedicou à expansão em direção à Ásia, colonizando o território da Sibéria.
Embora esparsamente povoada, essa imensa região tinha diferentes povos
com diferentes culturas. Todos seriam subjugados no movimento de expansão
russa.

Se a Inglaterra temia a expansão russa para os estreitos do Mediterrâneo,


tanto mais tinha receio da chegada do império do czar na Ásia. Isto porque o
gabinete de Londres receava que os russos pudessem avançar sobre a jóia do
império britânico – a Índia. O subcontinente indiano fora dominado aos poucos
pelos britânicos ao longo da segunda metade do século XVIII por meio da
atuação da Companhia das Índias Orientais. Após revoltas de indianos contra
algumas das políticas colocadas em prática pela Companhia, o governo passou
para o Parlamento britânico na década de 1850. Pouco a pouco o gabinete
inglês deixou de utilizar os indirect rules e a governar diretamente as
populações indianas. Símbolo dessa nova realidade foi a coroação da rainha
Vitória como imperatriz da Índia em 1877.

A chegada russa motivou tratados entre eles e os chineses para acordos de


comércio no estilo dos que haviam sido feitos com os demais povos europeus.
A expansão russa também iria esbarrar no expansionismo japonês, do qual
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falaremos adiante, e que resultará em guerra – a primeira que levará um povo
europeu a ser derrotado por um país asiático. O medo da expansão russa
levaria os japoneses a uma aliança entre o império japonês e o império
britânico.

O fato concreto que mais preocupou o governo britânico foi o avanço das
tropas russas em direção ao Afeganistão, situado na fronteira Oeste da Índia.
Os britânicos se prepararam para um conflito, mas a Rússia recuou. O
Afeganistão serviria de Estado-tampão entre as duas potências.

A China, embora não tenha sido dividida territorialmente entre os povos


europeus, teve sua soberania atacada por meio de vários acordos, alguns dos
quais frutos de guerra, como dissemos acima. A atuação imperialista se deu
por meio da busca de abertura do mercado chinês aos produtos europeus e
norte-americanos. A partir de 1853, “a Rússia, a França, a Alemanha e o Japão
começaram a dividir a China em esferas exclusivas de influência, o que poderia
ser visto como uma etapa para a divisão colonial”.9 Em Essa divisão, no
entanto, não ocorreu em face do cálculo de custo político-militar que significaria
essa partição. Por outro lado, a Inglaterra e os EUA quiseram manter a China
aberta.

9
Idem.
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Também aqui no imperialismo asiático encontramos um novo ator em cena,


os Estados Unidos. Como afirmamos em aulas precedentes, os norte-
americanos, depois de alcançarem a costa do Pacífico iniciaram sua política
imperialista, em direção ao Caribe – caso de Cuba e de Porto Rico –, em
direção às ilhas do Pacífico – como, por exemplo, o Havaí – e, em direção à
China e ao Japão, conquistando, no processo, as Filipinas.

O caso do Japão, por ser algo bastante específico e importante, vamos


abordar em ponto separado, já que, dentre todos os casos, foi o mais diferente
das nações asiáticas.

1.3.3 O Japão reage: a Restauração Meiji

O império do Japão foi encontrado pelos europeus desde muito cedo, no


século XVI quando da expansão colonial dos países ibéricos. Abrindo-se
inicialmente aos europeus, logo a elite dirigente do país – com Tokugawa a
frente – fechou as ilhas ao comércio e ao proselitismo religioso dos europeus,
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baniu todas as armas de fogo e manteve a mesma estrutura política, militar e
econômica anterior, a que comumente chamamos de “medieval”.

É esse mesmo Japão “medieval” que será visto quando da chegada de


europeus e norte-americanos na região com o impulso imperialista no século
XIX. Em 1853, navios norte-americanos chegaram às ilhas japonesas e
demandaram do governo japonês que abrisse seus mercados aos produtos
norte-americanos. A resistência seria inútil, haja visto a abismal diferença
tecnológica entre os dois povos. Impossibilitado de reagir ao “agressor”, o
governo japonês cedeu e, depois de abrir o mercado aos americanos, liberou
sua economia aos demais povos europeus também.

Numa reviravolta política que não precisa ser abordada em detalhes nesta
aula, o imperador japonês, que desde o século XVI pouco poder possuía na
condução dos negócios políticos, conseguiu tomar as rédeas do país e
expulsar os antigos Daymios que controlavam o país. Esse movimento da
década de 1860, chamado Restauração Meiji, realizaria, então, uma série de
reformas modernizadoras do país, enviando pessoas para estudar em países
europeus, criando indústrias, modernizando seu exército conforme os modelos
mais atualizados da Europa.

Em pouco tempo, o Japão se transformou numa potência regional e iniciaria


também sua expansão imperialista. Entrou em guerra com a China, vencendo
em 1895, recebendo o controle da ilha de Formosa, as ilhas dos Pescadores e
garantiu sua hegemonia sobre a Coreia, que foi anexada em 1910.

O Japão reservou-se os mesmos privilégios comerciais e


políticos que as outras potências imperialistas já tinham
extraído da China. Com a vitória contra a Rússia, em 1905, a
influência japonesa ampliou-se no continente asiático,
principalmente na Manchúria do Sul. Durante a Primeira Guerra
Mundial, a expansão japonesa no território chinês ganhou novo
êxito. Em 1931, finalmente, o Japão retomou, com a invasão da
Manchúria, as conquistas territoriais em grande escala,
iniciando as hostilidades que depois se integraram à Segunda
Guerra Mundial na Ásia.10

Uma questão que sempre surge quando se estuda o imperialismo e o caso


japonês é: por que o Japão escapou dos destinos de que sofreram a China e
seus vizinhos asiáticos?

10
Idem, p. 105.
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Não há resposta simples, nem uma relação causal que possa explicar de
maneira fácil esse movimento japonês. Temos, no entanto, duas grandes
explicações consensuais entre os historiadores: 1. O Japão não possuía, ou
não parecia oferecer, as mesmas riquezas que a Indochina e, claramente, a
China; 2. Ao contrário da China, que se fechou ao estrangeiro e à
modernização, o Japão abraçou as instituições dos ocidentais e se utilizou
delas para sua própria proteção e expansão.

Tendo trabalhado em linhas gerais o movimento de expansão das potências


ocidentais em relação à África e à Ásia, vamos agora entender como várias
correntes tentaram entender e explicar o imperialismo.

2. Como explicar o imperialismo?

Tendo estudado historicamente o fenômeno do imperialismo ocidental ao


longo do século XIX e no início do século XX, cabe-nos agora entender como
diferentes perspectivas intelectuais – misturadas com ideologias políticas –
interpretaram e explicaram o imperialismo.

De acordo com Norberto Bobbio, podemos discernir quatro grandes


tendências interpretativas principais sobre a natureza e a origem do
“imperialismo”: a corrente marxista com três interpretações distintas; a
interpretação social-democrata; a explicação liberal e a corrente baseada na
teoria da razão de Estado.

2.1 As principais interpretações marxistas

Antes de mais nada, é necessário afirmar nesta seção que não existe uma
interpretação dada pelo próprio Karl Marx sobre o imperialismo. Existem
considerações que são feitas a partir de suas ideias sobre o colonialismo, dos
quais os marxistas retiram as bases de suas perspectivas do imperialismo.

Que considerações são essas? Pode-se entender o fenômeno da expansão


imperial dentro da visão de Marx como um desdobramento das contradições
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internas ao sistema capitalista de produção, quais sejam, a tendência de queda
das taxas lucros advindos de maior competição e ao problema da obtenção da
mais-valia. Na tentativa de remediar os problemas inerentes ao capitalismo, as
classes burguesas ligadas ao sistema produtivo impulsionariam a anexação de
novas zonas econômicas anteriormente desconexas do sistema capitalista
global, permitindo a obtenção – temporária – de lucro, até que a competição e
as contradições do sistema pressionassem por mais expansão.

Para as interpretações marxistas que abordaremos a seguir, todas as


formas de violência internacional desde fins do século XIX provinham,
predominantemente, destas contradições do sistema capitalista, cuja face era o
imperialismo. Sendo assim, para eles, somente pela superação do sistema
capitalista, por meio da revolução socialista, é que não mais haveria
imperialismo e, portanto, violência internacional. Temos, portanto, um grupo de
intelectuais que afirma, claramente, que o sistema socialista estaria imune às
tentações expansionistas imperiais porque teria já superado as contradições
típicas do sistema capitalista.

As principais vertentes marxistas são aquelas pensadas por Rosa


Luxemburgo, Lenin e por dois marxistas americanos, Baran e Sweezy.11

2.1.1 A teoria do subconsumo de Rosa Luxemburgo

A explicação de Rosa Luxemburgo para o fenômeno do imperialismo é,


dentro das interpretações marxistas, a com menor expressividade. Toda sua
tese se baseia sobre as questões referentes à mais-valia – conceito
importantíssimo para a teoria marxista e que abordaremos com mais detalhes
na próxima aula.

Para Luxemburgo, a crescente pobreza das classes trabalhadoras gerada


pela expansão do capitalismo faz com que esses grupos tenham menores
rendimentos e poderes aquisitivos. Sendo assim, a expansão capitalista,
gerando pobreza nos países onde se instala, acaba criando os obstáculos para

11
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política.
Brasília: Editora Universidade de Brasilia, 1998, p. 612-613.
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sua novas expansões, já que o excedente produtivo não encontraria mercado
para consumi-lo. Desta forma, o capitalismo, para sobreviver, deveria ser
introduzido em outras áreas pré-capitalistas de modo a permitir sua contínua
expansão. No início do modo de produção capitalista, essas áreas de
expansão eram as áreas “atrasadas” dos países europeus, notadamente o
campo. Posteriormente, far-se-ia necessário ir para as regiões pré-capitalistas
do mundo, por meio do sistema de colônias. Porém, como o território é finito,
logo chegaria o momento em que não mais haveria território para acomodar
todos os interesses capitalistas, resultando em conflitos entre as potências
capitalistas do mundo. Como nos diz Bobbio:

(...) torna-se indispensável, para poder ser absorvida toda a


produção corrente, a existência de uma “terceira pessoa”, de
um comprador extrínseco ao sistema capitalista. Tem de haver,
em resumo, um mundo não capitalista ao lado do mundo
capitalista, para que o funcionamento não fique entravado. (...)
Sendo as áreas de exploração limitadas, mais tarde ou mais
cedo os conflitos serão inevitáveis, como inevitável será
também a catástrofe do sistema capitalista, quando os
mercados externos se tornarem igualmente insuficientes
[conforme a perspectiva marxista].12

Mais significativa do que esta interpretação nos meios marxistas seria a


explicação de Lenin ao imperialismo.

2.1.2 A explicação de Lenin

Interpretação mais “ortodoxa” do campo marxista, a explicação de Lenin


para o imperialismo deriva de outro aspecto da teoria de Marx, que se refere à
decrescente taxa de lucro do sistema capitalista. Essa taxa em queda é
explicada pelo aumento da concorrência entre capitalistas, a qual podemos
explicar assim: a lei de mercado impulsiona os donos dos meios de produção a
investirem largas somas de dinheiro em tecnologia e maquinaria para vencer
seus rivais, gerando um ciclo interminável de novos vultosos investimentos.

12
Idem, p. 613.
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Essa luta diminuiria consideravelmente o lucro que capitalistas obteriam caso
não precisassem competir de maneira tão selvagem.

Por outro lado, a expansão do trabalho das máquinas diminuiria a


necessidade de mão de obra humana, fonte única da mais-valia e, em última
instância, de verdadeiro lucro. A longo prazo, a mecanização também faria com
que poucos capitalistas pudessem sobreviver à intensa concorrência, gerando
uma concentração de capitais nas mãos de uns poucos sem precedentes. A
fase de competição do capitalismo seria, assim, substituída por uma outra –
mais avançada na concepção marxista-leninista –, a do capitalismo de
monopólio.

Este gigantesco poder econômico adquirido pelos poucos capitalistas se


transforma em poder político e em controle das instituições de Estado. É dessa
forma que o Estado passa a se tornar um veículo de defesa e de expansão
desse sistema. Como explica Bobbio:

Naturalmente, com o crescimento e consolidação dos


monopólios, cresce também a tendência ao controle do
Governo do Estado pelo poder econômico. A política nacional
não é senão resultado desta influência. Nesta fase do
desenvolvimento capitalista, dada a organização da produção a
nível mundial, a atividade dos monopólios não pode cingir-se
aos limites do Estado. O “capital financeiro”, fruto da fusão
entre capital bancário e capital industrial, tenta assegurar o
controle das matérias-primas e dos mercados mundiais. Mais
cedo ou mais tarde, os interesses entram em conflito entre si. O
mundo é dividido em áreas de influência entre os diferentes
monopólios, ou então, o que é o mesmo, entre os diferentes
Governos. Concluída a divisão do mundo em áreas de
influência, aumenta a tensão entre os diversos grupos e a
guerra se torna mais cedo ou mais tarde inevitável, deixando
assim aberto o caminho ao desencadeamento da revolução
socialista.13

Observem que estas explicações marxistas são bastante genéricas e não


entram em detalhes sobre como, exatamente, ocorrem alguns processos. Daí a
dificuldade, por vezes, de compreender-se a doutrina marxista.

Essa interpretação de Lenin ganhou mais força do que a de Rosa


Luxemburg por alguns motivos. Em primeiro lugar, temos a própria força
política desses atores influenciando a propagação de suas ideias. Lenin, ao
contrário de Luxemburg, foi vitorioso na implantação do sistema socialista no

13
Idem.
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mundo. Isso fez com que seus escritos ganhassem uma notoriedade muito
maior entre a intelectualidade marxista do que os de sua colega. Em segundo,
Lenin rompeu com R. Luxemburg na Segunda Internacional, taxando os
sociais-democratas alemães de inimigos da revolução socialista. No âmbito
teórico, a explicação leninista pareceu estar mais ligada à realidade histórica,
na perspectiva de alguns intelectuais. Igualmente, sua explanação se ocupa de
um tipo de imperialismo que não estava abarcado na teoria de Luxemburg, qual
seja, aquele voltado também para as áreas já altamente desenvolvidas, como o
caso da conquista da Alsácia-Lorena pela Alemanha. Por fim, ela foi
considerada mais elástica para explicar uma série de acontecimentos no tempo
e no espaço, característica não encontrada na tese do
subconsumo/empobrecimento do proletariado de Rosa Luxemburg.

Embora ortodoxa e hegemônica nos meios marxistas, a explicação de Lenin


também passou por revisões e críticas mais recentes dentro da intelectualidade
de esquerda. Ressaltamos aqui, em conjunto com Bobbio, os autores Baran e
Sweezy.

2.1.3 O Imperialismo à luz de Baran e Sweezy

Lidando com novos dados e uma nova realidade histórica inaugurada no


pós-guerra, um conjunto de novos teóricos iniciaram uma revisão da teoria
leninista do imperialismo. A parte realmente nova desta teoria – que não sai do
espectro do marxismo, para ficar claro – refere-se à questão do gasto militar.
Para Baran e Sweezy, o lucro retirado a partir do trabalho, que eles chamam de
surplus, é destinado para gastos militares. Tais despesas fariam com que mais
pessoas fossem empregadas no serviço militar direta ou indiretamente,
resultando em salário para uma massa de pessoas que, de outra forma, não
teriam acesso a rendimentos e, portanto, a bens de consumo. Para além deste
aspecto, o investimento militar resultaria em avanço tecnológico acelerado – o
caso dos avanços na área aeroespacial, por exemplo.

Daí, na perspectiva desses autores, a explicação para o fato de os EUA


terem tentado frear o avanço da URSS no mundo a partir de investimentos
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maciços no aparato militar. Afinal, não só imbuía a potência socialista de medo
como, também, levava ao desenvolvimento de sua própria sociedade
capitalista. O imperialismo seria assim para eles, a expansão das áreas de
atuação do capitalismo monopolista – em parte como em Lenin –, facilitado
pelo aspecto essencial do militarismo (termo usado por Bobbio) para o
desenvolvimento do sistema capitalista.

Em resumo, as teorias marxistas se explicam: 1. Pela crescente pobreza


das classes trabalhadoras que resulta em menor consumo, exigindo do sistema
capitalista sua expansão para outras áreas pré-capitalistas, ou seja, em
imperialismo (tese de Rosa Luxemburg). 2. Pelos interesses de capitalistas
monopolistas que dominam as instituições estatais e que usam dos governos
para expandirem suas áreas de influência. Quando a partilha de áreas chega
ao fim, a guerra é inevitável (tese de Lenin). 3. Pela necessidade de expansão
dos monopólios capitalistas que resulta em guerra por mercados. Estas guerras
são facilitadas pela importância do militarismo no desenvolvimento e expansão
do capitalismo.

Explanada rapidamente estas diferenças entre as teses marxistas – mas


que não deixam de partilhar de uma base teórica comum – passemos para a
análise da proposta teórica dos social-democratas.

2.2 A interpretação Social-Democrata

O conjunto das interpretações social-democratas possuem duas


características em comum que as diferenciam completamente das teorias
marxistas elencadas acima: 1. Eles rejeitam a tese da relação umbilical entre o
Imperialismo e o capitalismo, isto é, de que é o último que causa o primeiro e
que, portanto, somente por sua superação é que o imperialismo poderá deixar
de existir; e 2. Que as práticas imperialistas do capitalismo podem ser
substituídas por meio de reformas democráticas e econômicas.14

Dito isso, temos alguns autores com características específicas importantes


de serem elencados. O primeiro é Hobson que também trabalha com a ideia

14
Idem, p. 615.
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trazida por Rosa Luxemburg do subconsumo. A diferença de seu pensamento
reside no fato de que, para ele, é possível superar o subconsumo das massas
trabalhadoras por meio de reformas econômicas – incluindo aí um aumento do
gasto público e incentivo da produção – para que a expansão da produção
encontrasse nos mercados internos seus consumidores. Desta forma, evitar-
se-ia as ações imperialistas com vistas a se encontrar novos mercados.

Outro autor importante para essa linha interpretativa do imperialismo é


Kautsky. Este intelectual sustenta a tese de que o imperialismo agressivo não é
uma “fase necessária do capitalismo, mas uma de suas políticas”.15 Em outras
palavras, é uma escolha de membros das elites políticas dos países
desenvolvidos e não uma necessidade específica do sistema de produção.
Para Kautsky, seria possível substituir esta política imperialista por outra, qual
seja, “ultra-imperialista”, uma política de colaboração entre as potências
capitalistas para a organização do mercado mundial.

Kaustsky avança mais ainda e afirma que a implantação de uma tal política
“ultra-imperialista” seria muito mais benéfica às classes trabalhadoras do que a
perseguição do ideal socialista. Ou seja, para as classes subalternas, muito
mais vale lutar pela evolução do capitalismo em seu sentido pacífico –
enfraquecendo o militarismo – do que pela implantação do comunismo.

Como resume bem Bobbio:

Em conclusão, a linha interpretativa social-democrática


do pós-guerra em como característica (...) que se pode
resumir desta maneira: assim como nos países
industrializados mais avançados as políticas
encaminhadas a subordinar o desenvolvimento
econômico ao interesse geral, mesmo sem eliminar
radicalmente o papel da livre iniciativa e do mercado
(planejamento econômico, controle dos investimentos,
política regional etc.), estão em vias de superar os
desequilíbrios econômicos, sociais e territoriais,
provocados por um capitalismo desenfreado, assim o
mesmo poderá ocorrer em dimensões mundiais no que
concerne ao desequilíbrio fundamental entre países
ricos e países pobres, na medida em que o mercado
mundial for orientado pelos meios da programação, da
política regional etc., em vez de ser abandonado à
ação sem controle das grandes empresas
multinacionais.16

15
Idem.
16
Idem, p. 616.
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2.3 A interpretação liberal do imperialismo

A teoria liberal do imperialismo formulada por Schumpeter em 1919 é o


oposto das interpretações marxistas. Ou seja, enquanto que para os marxistas
o imperialismo é uma expressão clara do modo de produção capitalista –
motivado seja pelo subconsumo, pelas disputas de mercado ou pelo impulso
militarista –, a interpretação de Schumpeter afirma que o Imperialismo é a
expressão de formas pré-capitalistas de organização econômica. Neste
sentido, o aprofundamento do capitalismo seria a saída para o fim do
imperialismo!

O argumento de Schumpeter, se aqui podemos resumi-lo rapidamente, é o


de que o capitalismo é essencialmente pacífico. Isto porque as práticas
capitalistas – que visam ao lucro, ao acúmulo de riquezas e ao reinvestimento
– são bastante racionais nos cálculos de custo-benefício, o que, segundo ele,
estende-se para as demais esferas da vida política e social. Neste sentido, o
modo capitalista tenderiam à anulação de atitudes irracionais e violentas nas
relações internas e internacionais – que prejudicariam a produção e o comércio
– e as canalizaria para a competição de mercado. E se persistem ainda
atitudes de violência e de expansionismo numa cultura capitalista, isso é
reflexo da manutenção de elementos pré-capitalistas na cultura e nas condutas
psicológicas da população daquele determinado Estado. O exemplo mais
concreto destas “reminiscências” seria o caso dos nacionalismos exacerbados
frutos, de acordo com o mesmo autor, das lutas de poder que se desenrolaram
na Europa ao longo da idade média e moderna.17

A originalidade do pensamento de Schumpeter fez sucesso porque permitiu


a intelectuais refletirem sobre práticas imperialistas de outros países que não
eram capitalistas, como a União Soviética. Passemos, por fim, à última das
interpretações sobre o imperialismo que abordaremos nesta aula.

17
Idem.
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2.4 A teoria da Razão de Estado

Todas as teorias abordadas anteriormente tem algo em comum, qual seja, o


fato de que para elas o imperialismo resulta, antes de mais nada, de estruturas
internas dos diferentes países – seja o capitalismo, sejam outras formas pré-
capitalistas de produção. Portanto, suas conclusões – embora caminhem em
direções diferentes – são, em abstrato, iguais: somente a superação desta
forma econômico-política do Estado é possível acabar definitivamente com o
imperialismo. Temos, portanto, o primado do plano interno sobre o externo.

Diferentemente dessas teorias, a interpretação do imperialismo a partir da


análise da razão de Estado compreende que as relações internacionais
possuem, em certa medida, autonomia frente às questões internas dos países
– sem que possamos dizer que estejam completamente desconexas. Para esta
orientação “internacionalista” do fenômeno imperialista, as relações
internacionais são “caóticas e anárquicas”, no sentido de que não há
autoridade suprema entre os Estados para regular sua atuação na esfera
internacional, fazendo com que operem como unidades soberanas em
ambiente de anarquia. Desta forma, reina, na interação entre as unidades
política, a lei da força, o cálculo puro de poder, no qual os mais fortes dominam
sobre o mais fracos.

Por outro lado, a necessidade das potências de se manterem como tal e de


se resguardarem do avanço de outros rivais, impele-as a “reforçar
incessantemente (...) o próprio poderio, mesmo mediante a conquista territorial,
onde e quando se ofereça a ocasião e a possibilidade para prevenir a
intervenção das potências concorrentes.”18

Para esta corrente, assim, a única forma de se acabar com o imperialismo


seria por meio da adoção de uma espécie de governo federal mundial, em que
reine a lei e não a força. Das mais originais, esta teoria explica, de maneira
abstrata, muitos dos casos de expansão imperialista que ocorreram no mundo
desde o século XIX o pós Segunda Guerra Mundial.

Finalizada esta apresentação, vamos praticar?

18
Idem, p. 617.
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Prova do CACD de 2005, questão 10

Na segunda metade do século XIX, o imperialismo inclusive por sua vertente


neocolonialista — atesta o grau de desenvolvimento do capitalismo e sua incessante
busca de conquista dos mercados mundiais. A respeito desse processo de expansão,
julgue (C ou E) os itens seguintes.

( ) O surgimento de uma Alemanha unificada, a partir de 1870, adicionou elemento


novo e potencialmente explosivo na acirrada competição por colônias e mercados
encetada pelas potências industrializadas. Esse novo elemento está na raiz de
sucessivas crises que, em princípios do século XX, desnudaram a precariedade do
equilíbrio de poder e do quadro de paz existente na Europa.
Resposta: Correta
Comentário: De fato, como vimos nesta e em outras aulas, a unificação da Alemanha
traria sérios problemas ao equilíbrio europeu, uma vez que o novo país, enxergando-
se como potência, queria abertura no arranjo internacional para seus interesses.

( ) A Conferência de Berlim, em fins da década de 80, tratou da partilha da África


entre os grandes Estados europeus. Digna de destaque foi a preocupação registrada no
documento oficial do encontro, qual seja, a de se respeitar a identidade étnico-cultural
dos povos africanos no momento da definição das fronteiras coloniais.
Resposta: Errada
Comentário: O erro desta questão é muito fácil de ser encontrado. As potências
europeias não pensaram nas diferenças étnico-raciais dos povos autóctones no
momento de demarcar as fronteiras coloniais. Os interesses econômicos e
geopolíticos foram os predominantes na definição dos limites das colônias.

( ) A fragilidade do Estado chinês, imerso em profunda crise interna, facilitou a


presença, nesse país, do imperialismo ocidental na segunda metade do século XIX.
Em pouco tempo, boa parte do litoral da China passou ao controle das potências
ocidentais e, graças a tratados desiguais, a elas foi conferido o direito de
extraterritorialidade.
Resposta: Correta
Comentário: A China durante o século XIX foi incapaz de se modernizar e reagir à
altura do desafio imposto pelas potências europeias. Depois de várias derrotas
militares e diante a incapacidade de lutar contra uma coalizão de potências, a China
aceitou os vários acordos desiguais, os quais vimos alguns nesta aula, e passou alguns
territórios para estrangeiros – Hong Kong sendo o caso mais expressivo deles.

( )Foge aos padrões tradicionais a forma pela qual o Japão reagiu às pressões
externas para que abrisse seu mercado ao comércio internacional. A Era Meiji,
iniciada nesse contexto de expansão do capitalismo, significou a decisão de se
proceder à modernização do país, inserindo-o na nova economia mundial, sem que se
abdicasse da soberania.
Resposta: Correta
Comentário: O caso japonês é bastante interessante exatamente porque foge
completamente à dinâmica dos demais países asiáticos durante o século XIX.
Contrariamente à China e outras localidades da região, o Japão decide ir pela via de
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abraçar a modernização ocidental, ainda que isso tenha significado a destruição das
bases tradicionais nas quais se assentava sua sociedade. A Restauração Meiji, ou Era
Meiji, foi uma modernização autoritária que levou a uma nova sociedade japonesa
que em pouco tempo se transformaria, ela mesma, em imperialista no Extremo
Oriente, enfrentando e conquistando parte do território de sua antiga rival, China.

Prova do CACD de 2006, questão 53

Texto para as questões 53 e 54.

O século XX coincidiu com a máxima expansão das categorias fundamentais do


mundo moderno — sujeito e trabalho —, eixos que presidiram a atualização e
exasperaram os limites do liberalismo e do socialismo, as duas grandes utopias da
modernidade. Tais utopias não nasceram no século XX, mas este foi o laboratório
mais distendido de todas elas, o campo concreto de experimento de suas
virtualidades, das suas figuras e de sua imaginação. Talvez por isso o século XX
exiba uma característica única e contraditória: parece ter sido o mais preparado e
explicado pelos séculos anteriores e, simultaneamente, o que mais distanciou a
humanidade de seu passado, mesmo o mais próximo, decretando o caráter obsoleto de
formas de vida e sociabilidade consolidadas durante milênios. O século XX foi o salto
definitivo da humanidade para o futuro, para a história entendida como transformação
permanente e fluxo contínuo do tempo em direção a um tempo de abundância e
liberdade, perspectiva avalizada pela sistemática ampliação das promessas da ciência,
da tecnologia, das novas modalidades de organização social e da produção material.
Um século, portanto, de mandamentos utópicos que sacrificaram o passado e seus
mitos, mudaram o ritmo da vida e ocidentalizaram a Terra, tornando-a mais
homogênea e seduzida por semelhantes imagens de futuro. Nesse sentido, nada mais
próximo e nada mais distante do século XIX do que o século XX.
Rubem Barboza Filho. Século XX: uma introdução (em forma de prefácio). In:
Alberto Aggio e Milton Lahuerta (orgs.). Pensar o século XX: problemas políticos e
história nacional na América Latina. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 16 (com
adaptações).

Questão 53

No quadro mais amplo da contemporaneidade, o texto aproxima e distingue


tendências do século XIX e do século XX. Nesse contexto, julgue (C ou E) os itens
seguintes.

( ) A Revolução Industrial consolida novas relações de produção e, ao promover a


expansão imperialista, contemplando novas formas de dominação colonial, estende a
atuação do moderno capitalismo às mais distantes regiões do planeta.
Resposta: Correta
Comentário: Como pôde perceber em nossa narrativa sobre o imperialismo no
período do final do século XIX e início do século XX, há uma correlação clara entre
a expansão capitalista e suas correlatas necessidades econômicas e a dominação de
terras na África e na Ásia ou ao menos a propagação dos acordos desiguais. Vemos
nesta questão uma explicação do imperialismo que é associada ao capitalismo, como
é típico de explicações marxistas para o fenômeno. Daí o necessário e estudo e
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entedimento sobre as diferentes perspectivas para a dominação imperialista!

( ) Ao contrário da Ásia e, particularmente, da África, ambas repartidas entre as


principais potências ocidentais, a América Latina praticamente não sofreu a ação do
imperialismo, o que se explica pelo fato de, em larga medida, as antigas colônias
ibéricas terem conquistado sua independência na primeira metade do século XIX.
Resposta: Errada
Comentário: O erro deste item encontra-se na afirmação de que a América Latina
não teria sofrido com o imperialismo. Dois pontos são importantes aqui:
primeiramente destacar que o imperialismo sofrido pelos países da América Latina
foram, em grande parte, realizado pelos EUA, como vimos em aula pretérita. Isso não
quer dizer que os países da Europa não tenham participado disso e, esse é o segundo
ponto, vimos que essa prática imperialista européia se deu principalmente por meio
de tratados desiguais, dentre os quais podemos destacar o “pioneirismo” realizado no
Brasil com os tratados de 1810 e depois de 1827 com a Inglaterra.

( ) Liberalismo e socialismo são duas das grandes representações do século XIX que
estendem sua presença no século seguinte. Ao passo que o socialismo foi empunhado
por setores da burguesia comprometidos com a justiça social e com uma face mais
humanizada do capitalismo, o liberalismo mostrou, desde o primeiro momento, ser o
abrigo natural dos grupos democrático-radicais.
Resposta: Errada
Comentário: Questão muito fácil! O socialismo foi a bandeira de grupos mais
radicais devotados à transformação da sociedade por meio da destruição do sistema
capitalista e sua substituição pelo socialismo. O inimigo por excelência dos
socialistas é o burguês, que é o detentor dos meios de produção no capitalismo. O
liberalismo, por sua vez, é a bandeira dos burgueses – de acordo com a historiografia
com a qual estamos lidando – uma vez que defende a liberalização dos mercados e
das economias e a preponderância das forças econômicas que se regulam sozinhas.

( ) Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, as disputas


imperialistas e o jogo de interesses conflitantes entre as grandes potências européias
inscrevem-se entre os fatores determinantes, mas não únicos, para a eclosão da
Grande Guerra de 1914.
Resposta: Correta
Comentário: Como veremos em aula futura, as disputas por colônias e mercados se
mostrariam importantíssimas no contexto que levou à Primeira Guerra Mundial.

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima), questão 46

Tendo o texto como referência inicial e considerando o quadro histórico do século


XIX no Ocidente, julgue (C ou E) os itens seguintes.

( ) Apesar das ondas revolucionárias pós-1815, os governos reunidos no Congresso


de Viena conseguiram manter o equilíbrio europeu, isto é, evitaram guerras de âmbito
continental, como as que se seguiram à Revolução Francesa.
Resposta: Anulada
Comentário: A questão foi anulada, pode-se especular, porque embora o Congresso
tenha definido normas e valores de convivência internacional e isso tenha resultado
em um período de estabilidade nas relações interestatais – e evitado guerras grandes
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como ocorreram durante a Revolução Francesa – houve, no entanto, guerras
localizadas e sancionadas pelo Concerto Europeu ainda assim.

( ) O processo de expansão do capitalismo, a partir de meados do século XIX, fez-se


à margem dos Estados nacionais, conduzido que foi pela iniciativa privada. Isso
explica a reduzida intensidade das crises que envolveram os países europeus ao longo
da corrida imperialista, quadro que tendeu a modificar-se apenas a partir dos anos
1930, devido ao impacto da grande depressão econômica.
Resposta: Errada
Comentário: Como vimos claramente nesta e em outras aulas, a corrida imperialista
não foi realizada somente por meio da iniciativa privada, mas foi principalmente obra
dos governos nacionais europeus. Isso seria um fator de primeira ordem nas tensões e
conflitos durante a corrida imperilaista e que resultaria, por fim, na eclosão da I GM.

( ) A onda revolucionária de 1848 evidenciou um aspecto historicamente decisivo


daquele momento, isto é, o fato de as burguesias liberais terem assumido,
resolutamente, a partir de então, as bandeiras revolucionárias da democracia social e
de um socialismo mais atenuado, que não se confundia com aquele proposto por
Marx e Engels.
Resposta: Errada
Comentário: De acordo com Hobsbawm, a revolução de 1848 foi o momento
decisivo em que as duas classes que estavam unidas – burguesia e proletariado –
contra o domínio da aristocracia se separaram definitivamente. O proletariado
assumiu as teses socialistas – que não se resumiam às teses marxistas somente – e a
burguesia, agora no poder, passou a implementar decisivamente o liberalismo
econômico e político nos Estados europeus com suas consequentes expansões
imperialistas pelo mundo. Em resumo: a burguesia, em 1848, não assumiu a bandeira
da democracia social/socialismo atenuado. Isso seria assumido pelas classes
operárias.

( ) A partilha da África, decidida na Conferência de Berlim (1885), símbolo marcante


dos princípios, métodos e objetivos da expansão capitalista, reiterou o caráter quase
exclusivamente anglo-francês da competição por novas colônias na passagem do
século XIX ao XX, já que praticamente inexistiam, à época, potências que com
Inglaterra ou França pudessem rivalizar.
Resposta: Errada
Comentário: Bom, como vimos em outra questão logo acima, havia outras potências
com as quais a Inglaterra e a França tinham de contemporizar, cujo exemplo marcante
é a Alemanha, mas também a Itália, países que chegaram “atrasados” na corrida
colonial e que queriam também seu espaço ao sol. Mas também poderíamos citar
potências de “segunda ordem” como os decadentes países ibéricos ou a pequena
Bélgica.

Prova do CACD de 2009 (caderno verde), questão 74

No que concerne ao domínio de potências coloniais na Ásia, no início do século XX,


julgue (C ou E) os próximos itens.

( ) A China, civilização milenar e até então com estrutura política própria, foi
dividida em protetorados sob domínio das potências ocidentais, ficando o imperador
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com sua autoridade restrita a Pequim e arredores.
Resposta: Errada
Comentário: Embora a China tenha sofrido a ação de várias potências ocidentais,
esta se deu, prioritariamente, sob a forma de tratados desiguais, ao contrário de seus
vizinhos na Indochina. Alguns autores explicam este fenômeno pela acirrada
competição entre as potências ocidentais – das quai fazia parte neste momento os
EUA. Assim sendo, dividiram os mercados chineses sem dividir seu território, com
exceções de alguns locais na costa do país que passaram para o controle direto das
potências.

( ) A tentativa de modernização promovida pela imperatriz Tsenhi, na Reforma dos


Cem Dias, gerou tensões que provocaram sua deposição, tendo a Revolução de 1911,
que proclamou a República, posto fim à dinastia Manchu na China.
Resposta: Errada
Comentário: Temos aqui erros na atribuição de alguns papéis. A tentativa de reforma
que ficou conhecida como a Reforma dos Cem dias foi realizada pelo imperador
Guangxu. A imperatriz Cixi, apoiada por setores mais conservadores da China foi
contra as reformas e conseguiu-lo anulá-las. Com a revolta dos Boxers, entre 1899 e
1900, percebeu-se a necessidade de mudanças, mas o governo imperial foi incapaz de
realizá-las a contento. Somente com a proclamação da república em 1911 é que isso
seria feito com mais intensidade.

( ) O Japão preservou sua independência ao promover modernização de grande


envergadura, assimilando métodos e costumes ocidentais.
Resposta: Correta
Comentário: Exatamente. Como vimos, a Restauração Meiji transformou o país,
ocidentalizando-o e permitindo sua rápida modernização. Essa atitude, dentre tantas
outras, permitiu ao Japão manter-se livre da dominação imperialista.

( ) O novo poderio militar japonês ficou comprovado na guerra de 1904-1905 contra


a Rússia.
Resposta: Correta
Comentário: A guerra entre russos e japoneses por área de influência no Extremo
Oriente foi a primeira em que europeus perderam para asiáticos, demonstrando,
assim, o nível técnico e militar que os japoneses tinham alcançado.

Prova do CACD de 2011, questão 49

O conceito de imperialismo é polissêmico, tendo sido utilizado pela historiografia


mundial em referência a diferentes processos históricos. Acerca do imperialismo
formal no final do século XIX e início do século XX, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.

( ) Os indirect rules, forma de ocupação territorial anglofrancesa na Ásia e na África,


constituíram o modelo hegemônico de expansão imperialista europeia nas
denominadas áreas periféricas.
Resposta: Errada
Comentário: O controle indireto não foi o modelo hegemônico ou principal
executado na África e na Ásia. Seu principal exemplo foi o da Índia em determinada
fase de expansão da Inglaterra, mas não se constituiu no padrão da dominação
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europeia nestes continentes.

( ) Segundo Rosa Luxemburgo e Lênin, o imperialismo representava forma colonial


de capitalismo, fusão do capitalismo industrial com a formação de oligopólios.
Resposta: Correta
Comentário: Como vimos em nossa explanação, o que une as explicações marxistas
do imperialismo – por mais que haja diferenças entre elas – é a umbilical relação
entre o imperialismo e o capitalismo. Ou seja, o imperialismo existe porque existe
capitalismo. E enquanto este sistema econômico sobreviver, haverá ações
imperialistas pelo mundo. No momento em que escreveram Rosa Luxemburgo e
Lênin, o capitalismo estava em sua fase industrial avançada, em que em diferentes
países formavam-se grandes oligopólios industriais unidos a bancos. Essas forças
oligopólicas influnciariam – nesta perspectiva – os governos nacionais a expandirem
suas áreas de domínio para, por consequência, abrirem mais mercados a estes grupos
financeiro-industrais.

( ) Durante o século XIX, o imperialismo europeu na África foi caracterizado pela


ocupação gradual de grandes extensões territoriais, diferentemente do que ocorreu,
nesse período, na América Latina.
Resposta: Correta
Comentário: A ação imperialista na Áfrcia caracterizou-se pela ocupação das terras e
controle dos autóctones. Nos países da América Latina, ocorreu a dominação
econômica por meio dos tratados desiguais ou, como argumenta Halperín Donghi, a
transferência da dependência econômica das metrópoles ibérica para, principalmente,
a Inglaterra.

( ) Ao contrário do que aparentava, o imperialismo formal, que caracterizou o final


do século XIX, foi uma continuação histórica de processo anterior, que, já em curso
na história do Atlântico Sul desde os tempos do mercantilismo, permitia a
acumulação capitalista por meio do mercado de escravos e especiarias.
Resposta: Errada
Comentário: Essa questão é capciosa porque compara os movimentos de colonização
dos séculos XVI-XVIII – também chamado de colonialismo de Antigo Regime – com
aqueles realizados em fins do século XIX e início do século XX. O primeiro ponto
que devemos levar em consideração é o mercantilismo. Peça central do colonialismo
de Antigo Regime, deixa de existir nesta nova onda colonial. Como vimos, os
tratados desiguais estabeleciam a implementação do liberalismo e de taxas
preferenciais de comércio com nações desenvolvidas, o que não é caso dos mercados
fechados do mercantilismo. Depois, temos a questão de ocupação dos espaços
geográficos, que também são bastante diferentes. Com poucas exceções – como no
caso da África do Sul – a migração em massa de europeus para colonizar as nova
regiões não ocorreu. As potências europeias chegaram e estabeleceram seu domínio
sob as elites tradicionais existentes na Ásia e na África e criaram elites burocráticas
para governá-las. Por fim, temos a questão da acumulação de capitais e dos produtos
envolvidos. Para os estudiosos marxistas, o período de colonização dos séculos XVI-
XVIII forneceu aos europeus a acumulação de capitais para a expansão ulterior do
capitalismo. Durante o século XIX, a acumulação já havia sido realizada. O comércio
realizado também foi muito diverso. Enquanto no Antigo Regime o foco foi, de fato,
na escravidão e especiarias, no século XIX seria a exportação de bens industrializados
dos países desenvolvidos para as colônias/países dominados.
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Prova do CACD de 2012, questão 49

Com relação ao colonialismo europeu no século XIX, julgue (C ou E) os itens que se


seguem.

( ) A disputa entre Portugal e Bélgica pelas riquezas minerais de Angola exemplifica


a influência determinante exercida pela corrida colonial sobre a política continental,
com a qual se envolveram as potências europeias no período de 1871 a 1890.
Resposta: Errada
Comentário: Não houve disputa entre Portugal e Bélgica pela Angola.

( ) A Conferência de Berlim, realizada entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885,


consagrou o princípio da ocupação declarada de áreas em litígio, garantindo a
soberania ao país que ocupava o território.
Resposta: Errada
Comentário: O princípio consagrado pela Conferência de Berlim não era o de
ocupação, mas sim o de efetividade, isto é, só seriam reconhecidas as potências com
controle efetivo sobre um determinado território. A mera ocupação não garantia
legitimidade sobre a posse da terra.

( ) O novo colonialismo europeu, identificado a partir do último terço do século XIX,


retomou a corrida por possessões coloniais, motivado pelos mesmos interesses e
inspirado pelas mesmas dinâmicas políticas, religiosas, civilizacionais e econômicas
que marcaram o século XVI.
Resposta: Errada
Comentário: Como comentado anteriormente, muitas diferenças haviam entre o
colonialismo de Antigo Regime e o Neocolonialismo. Vide último item da questão 49
de 2011.

( ) A corrida colonialista do final do século XIX, para a qual serve de exemplo de


ordem econômica o capitalismo industrial, necessitado, naquele momento, de ampliar
o fornecimento de matérias-primas e de aumentar o mercado consumidor, resultou da
conjunção de vários processos, entre os quais se incluem fatores de natureza
estratégica e ideológica.
Resposta: Correta
Comentário: Como comentamos em nossa narrativa, uma das explicações para o
fenômeno do imperialismo é dada pela necessidade do capitalismo de se expandir,
sempre necessitando de mais mercados para manter os lucros elevados. Mas também
entram alguns outros aspectos nessa expansão que fogem a meras considerações
econômicas. Havia um forte discurso – que não deve ser entendido como
simplesmente hipócrita ou vazio de sentido – que é o da superioridade dos homens
brancos e da civilização ocidental. Muitos argumentavam sua dominação de ouros
povos sob alegação de que estavam levando o “progresso” e “civilização” para povos
atrasados. Por outro lado, também entravam na “conta” questões estratégicas, como
comentamos da preocupação inglesa com o avanço russo em regiões próximas à
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Índia, ou sua invasão do Egito para controlar a navegabilidade do Canal de Suez.

Prova do CACD de 2014, questão 59

A Revolução Industrial provocou substancial modificação nos fluxos do comércio


internacional, e o fez pela própria natureza de sua produção; paralelamente, o
aumento populacional ampliou a demanda por alimentos de modo a alterar as formas
tradicionais de suprimento desses bens. Ao longo do século XIX, o comércio
internacional sofreu profundas mudanças tanto em relação às principais mercadorias
que o compunham como em relação aos países ou às regiões produtores envolvidos
nesse comércio. Mas também é certo que, após 1870, houve substanciais mudanças
na estrutura e na dinâmica da economia capitalista mundial, com a afirmação de
outras potências, que passaram efetivamente a competir com a Grã-Bretanha. Por
isso, justifica-se a definição de 1870 como um marco cronológico fundamental,
inclusive ao adotar, para o período que aí se inicia, o rótulo de fase imperialista do
capitalismo.
Flávio Azevedo Marques de Saes e Alexandre Macchione Saes. História econômica
geral. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 179-93 (com adaptações).

Considerando as razões pelas quais o texto acima define 1870 como “marco
cronológico fundamental” para o mundo contemporâneo, julgue (C ou E) os próximos
itens.

1 Conduzida pelo vitorioso chanceler prussiano Bismarck, a unificação alemã alterou


radicalmente o cenário político europeu, em especial por ter colocado a França em
posição subalterna. Pequeno foi, contudo, seu impacto econômico em uma época em
que o imperialismo alçava voos em direção às mais distantes regiões do globo.
Resposta: Errada
Comentário: Este item está errado por dois motivos: primeiramente, porque afirma
que a França ficou em posição subalterna. Apesar de derrotada, a França ainda era
uma potência reconhecida e temida – tanto que Bismarck estimulou a corrida colonial
francesa para evitar que esta focasse suas preocupações políticas em revanchismo
contra a Alemanha. Segundamente, porque afirma que o impacto econômico da
unificação alemã foi pequeno. Ora, a unificação das terras alemãs criou uma grande
potência econômica que em pouco tempo foi capaz de rivalizar com a Inglaterra.

2 Nos primeiros anos do século XX, a militarmente poderosa Alemanha e a


economicamente forte Grã-Bretanha, em estreita aproximação, isolaram os impérios
centrais — Áustria-Hungria, Turquia e Rússia — e neutralizaram diplomaticamente a
França, preparando o terreno para a Grande Guerra de 1914.
Resposta: Errada
Comentário: A Inglaterra e a Alemanha não se aproximaram depois da unificação
alemã. Transformada em grande potência, a Alemanha ensaiaria uma aliança com a
Inglaterra – algo que poderia ser facilitado pelos laços dinásticos familiares das duas
casas reais –, mas que é frustrada porque o governo inglês temia o poderio alemão.
Como veremos, o Império Alemão se aliaria com a Áustria-Hungria e com o Império
Turco contra a Entente anglo-francesa e russa, que seria o background diplomático
antes da Primeira Guerra Mundial.

3 A partilha da África foi decidida na Conferência de Berlim, em 1885, sob a


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chancela da Liga das Nações e subordinada a critérios consensualmente aceitos pelos
participantes, a exemplo da observância à identidade cultural das populações locais e
do respeito às fronteiras naturais.
Resposta: Errada
Comentário: Questão muito fácil! Primeiro erro (crasso!): afirmar que a a
conferência de Berlim foi realizada sob a chancela da Liga das Nações. A Liga é
posterior à Primeira Guerra Mundial e não desse período! Segundo erro: afirmar que
os participantes decidiram, ao dividirem as áreas de influência, respeitar a identidade
cultural das populações locais. Como vimos, isso não foi uma questão para as
potências europeias.

4 A expansão imperialista no século XIX, que se estendeu ao século seguinte, foi


conduzida pelas potências industrializadas do Ocidente. Na África, elas
transformaram antigos Estados nacionais em meras colônias e, na Ásia, subjugaram o
Japão e a Indochina, mas não conseguiram conter a vigorosa resistência chinesa.
Resposta: Errada
Comentário: Questão simples também. Observação preliminar: é complicado chamar
os Estados africanos desse período de nacionais, já que havia muitos casos em que
uma etnia ou tribo dominava outras num mesmo território. No entanto, não é o
aspecto que nos leva a considerar – e facilmente – o item como errado. O erro se
encontra na afirmação de que as potências ocidentais subjugaram o Japão e a
Indochina, mas que a China teria resistido. Como falamos longamente, é o reverso
que se processa. A China é subjugada pelos ocidentais, mas o Japão reage,
moderniza-se e resiste à dominação das potências.

Prova do CACD de 2015, questão 57

Seguindo a marcha de afirmação da Revolução Industrial, o século XIX testemunhou


a consolidação do capitalismo como um sistema que estende seu domínio sobre as
demais formas de organização da economia. Como já previa o Manifesto Comunista,
de 1848, ele se universalizou, incorporando as mais diversas regiões do planeta. Esse
processo de expansão é comumente denominado imperialismo e tem no
neocolonialismo sua face mais visível.

Relativamente a esse cenário que desvela, sob o ponto de vista econômico, a


contemporaneidade, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1 A expansão imperialista do século XIX encontrou unidade e consistência na ideia,


disseminada à exaustão, de que a expansão seria benéfica para os povos por ela
atingidos: assim, levar o progresso e propagar a civilização seria missão e direito; e a
incompreensão dos beneficiários seria o “fardo do homem branco”, na conhecida
expressão de Kipling.
Resposta: Correta
Comentário: Como comentamos, havia um forte componente ideológico na
expansão imperialista, a “superioridade da civilização ocidental” sobre as demais, que
gerava um imperativo de ação, isto é, de levar o progresso a todos os povos do
mundo. Certamente que os dominados não compreendiam, na visão dos
colonizadores, a benfeitoria que estava sendo realizada. Daí o “fardo” que os
ocidentais carregavam – trazer bens, mas ser visto como mal.
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2 Na Índia, o impacto da dominação britânica pode ser sintetizado em dois aspectos
essenciais: a desarticulação da economia artesanal, especialmente a rural, e a
exploração imperialista sistemática, ou seja, a adoção de determinadas práticas de
dominação e de controle pelos ingleses.
Resposta: Correta
Comentário: De fato, o domínio imperialista inglês sobre a Índia levou à inundação
do mercado indiano de produtos britânicos. Os baixos custos – frutos do
aprofundamento da revolução industrial – desarticulou a economia indiana baseada
no artesanato, que normalmente gerava produtos mais caros, dada a característica da
produção artesanal. Quanto ao controle inglês sobre a Índia, vimos que o
subcontinente foi dominado por meio dos indirect rules e era a “jóia da Coroa
Britânica”, sistematicamente dominada e controlada pelo governo inglês.

3 No Extremo Oriente, a expansão do mercado capitalista foi facilitada pelo fato de


que China e Japão eram sociedades historicamente abertas ao intercâmbio com
estrangeiros, o que pode ser comprovado pela presença, em ambos os países, de
número considerável de comerciantes e missionários ocidentais.
Resposta: Errada
Comentário: Bem, como afirmamos na aula, China e Japão eram fechados ao mundo
ocidental desde que tiveram contato com missionários e comerciantes europeus no
século XVI. Os cristãos são perseguidos no Japão de Tokugawa e a China se fecha
completamente ao exterior. Somente no século XIX, então, é que esses dois países
seriam abertos – lembrando, à força – para o mundo ocidental.

4 Ainda que possa ser interpretada como uma continuidade da expansão ocorrida na
Idade Moderna, a expansão capitalista ao longo do século XIX assumiu novas
características em termos de motivações inspiradoras, métodos utilizados e objetivos
perseguidos.
Resposta: Correta
Comentário: Isso mesmo! A expansão capitalista continuou, mas sob novas facetas,
como afirmamos repetidas vezes aqui. Não é uma mera continuação do colonialismo
de antigo Regime, haja vista que há novos objetivos, meios e justificativas para essa
nova expansão.

Prova do CACD de 2016, questão 59

Com relação ao colonialismo e ao imperialismo no século XIX e no início do século


XX, julgue (C ou E) os próximos itens.

1 Na Conferência de Berlim (1884-1885), Portugal viu-se forçado a abrir mão das


suas principais possessões coloniais na África, a saber, dos territórios que hoje
correspondem, mais ou menos, a Angola e Moçambique.
Resposta: Errada
Comentário: Portugal não foi obrigado a abrir mão de Angola e Moçambique, Na
realidade, o pequeno país ibérico foi forçado a abrir mão de seu plano (Mapa Cor-de-
Rosa) que pretendia unir territorialmente essas duas colônias africanas.

2 As múltiplas disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha por colônias na África e na


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Ásia, na virada do século XIX para o século XX, e a inexistência de processos de
regulação dessas disputas, constituem a principal causa da deflagração da Primeira
Guerra Mundial.
Resposta: Errada
Comentário: O erro da questão se encontra na afirmação “inexistência de processos
de regulação dessas disputas”. Na realidade, havia sim mecanismos regulatórios das
disputas territoriais e diplomáticas entre as potências envolvidas na disputa
neocolonialista, o que, no entanto, nem sempre incorria em pacificação destas
disputas.

3 A derrota britânica na Guerra de Independência travada pelas treze colônias


inglesas da América do Norte, a independência do Haiti em relação à França, bem
como os processos de emancipação frente às metrópoles ibéricas, conduzidos nas
Américas do Sul e Central nas primeiras décadas do século XIX, marcaram o fim do
colonialismo típico do Antigo Regime e o início de uma nova fase da história colonial
europeia.
Resposta: Correta
Comentário: Como vimos, depois das independências na América ocorridas em fins
do século XVIII e início do século XIX, as potências europeias tomaram um tempo
para realizarem nova expansão. E esse novo movimento foi diferente, como abordado
aqui.

4 Em razão do seu próprio passado colonial e do seu considerável mercado


consumidor interno, os Estados Unidos da América abstiveram-se de participar da
expansão colonial levada adiante pela maioria das grandes potências mundiais no
último quarto do século XIX.
Resposta: Errada
Comentário: Vimos nesta e em outra aula que ao contrário do que afirma a questão,
os EUA participaram ativamente da corrida imperialista, tanto na América quanto na
Ásia – caso de sua intervenção na China e no Japão.

(PUC-RIO 2007) “... Nós conquistamos a África pelas armas... temos direito de nos
glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência no
século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora temos outra missão não menos
meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás...” (“Da
influência civilizadora das ciências aplicadas às artes e às indústrias”. Revue Scientifique,
1889)
A partir da citação acima e de seus conhecimentos acerca do tema, examine as afirmativas
abaixo.
I - A idéia de levar a civilização aos povos considerados bárbaros estava presente no
discurso dos que defendiam a política imperialista.
II - Aquela não era a primeira vez que o continente africano era alvo dos interesses
europeus.
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III - Uma das preocupações dos países, como a França, que participavam da expansão
imperialista, era justificar a ocupação dos territórios apresentando os melhoramentos
materiais que beneficiariam as populações nativas.
IV - Para os editores da Revue Scientifique (Revista Científica), civilizar consistia em
retirar o continente africano da condição de atraso em relação à Europa.
Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa IV está correta.


b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
c) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

Comentários: I. O imperialismo europeu também foi fortemente inspirado pelas ideias de


progressão teleológica da humanidade, cabendo ao Velho Mundo o chamado “fardo do homem
branco”, que era justamente expandir para o mundo o acesso à civilização. Afirmação correta.
II. De fato, a África esteve entre os interesses expansionistas europeus em vários momentos da
história. A título de exemplo, podemos citar as incursões romanas e napoleônicas no norte da
África, além das colônias litorâneas de Portugal e de Grã-Bretanha na África Austral.
Afirmação correta.
III. O discurso de levar o desenvolvimento ao continente africano servia de fator legitimador às
incursões europeias, dentre as quais a França teve um papel de destaque. Levar a civilização
pela técnica foi um dos principais pontos de ação. Afirmação correta.
IV. Está correta a leitura sobre a posição dos editores da revista, já que a noção de
desenvolvimento passava diretamente pela questão civilizatória durante o século XIX.
Afirmação correta.
Portanto, todas as afirmativas estão corretas.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(UDESC) No decorrer do século XIX, as grandes potências européias lançaram-se à


conquista colonial da África e da Ásia. Sobre a ocupação da África e suas conseqüências, é
incorreto afirmar:

a) A violência em que se deu a colonização provocou grandes distorções nas estruturas


econômicas, sociais e culturais dos territórios dominados. Intrigas entre etnias foram
estimuladas e antigos reinos destruídos, vencidos pela superioridade militar dos colonizadores.
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b) Os europeus demarcaram fronteiras, confiscaram terras, forçaram grupos nômades a fixar-se
em territórios específicos. Em conseqüência disso, os Estados africanos atuais, na sua maioria,
não têm a mesma unidade cultural, lingüística e social.
c) A ocupação do território africano destruiu estruturas tradicionais; a economia comunitária ou
de subsistência foi totalmente desorganizada, pela introdução de cultivos e outras atividades,
destinadas a atender exclusivamente às necessidades das metrópoles.
d) A ocupação européia beneficiou o continente africano, pois possibilitou a inserção da África
na economia capitalista mundial. Antes da colonização européia, a economia africana restringia-
se a suprir as necessidades básicas de sua população; assim, os africanos viviam sob condições
de vida bastante atrasadas.
e) A ocupação das colônias criou sérios problemas (muitos ainda não resolvidos, mesmo na
atualidade). Pode-se dizer que muitos dos conflitos étnicos que existem hoje na região são
conseqüências da dominação colonial da África.

Comentários: a. A intervenção europeia na África e na Ásia não levou em consideração as


dinâmicas locais, impondo um estilo de governo e de administração europeus em realidades
diferentes. Desta feita, graças à superioridades militar, desestruturou várias dimensões da vida
nas colônias, valendo-se disto, também, para aumentar o controle sobre a colônia.
b. A maneira violenta como ocorreu a intervenção europeia na África fez com que fossem
rompidas cadeias seculares de cultura e de organização social, criando um ambiente artificial
sob a unidade estatal. Grosso modo, é possível dizer que estas contradições sobreviveram ao
período colonial e ainda hoje são verificadas na realidade africana.
c. A sobreposição dos interesses econômicos metropolitanos aos costumes locais gerou uma
grave distorção das realidades locais, que se adaptaram imperfeitamente às lógicas produtivas
levadas pelas potências europeias.
d. É equivocado atribuir ao fenômeno do imperialismo uma inserção africana no mercado
internacional. Primeiro, já havia uma dinâmica comercial entre aqueles povos e isto não pode
ser desprezado. Segundo, ainda que tímidos, já existiam fluxos comerciais com os europeus
desde os tempos de Roma, bem como os avanços portugueses ao sul da foz do Congo também
ajudaram a conectar comercialmente os povos desde o final do século XV. Por fim, é muito
relativa essa ideia de melhora dos padrões de vida africanos, já que as ações europeias de
desenvolvimento econômico ficaram restritas às pequenas elites coloniais. Portanto, esta é a
única alternativa incorreta.
e. O desrespeito europeu na estruturação das fronteiras africanas às realidades étnicas foi um
elemento central para a criação de conflitos profundos no continente, cuja solução parece
continuar distante.
Gabarito: ALTERNATIVA D.
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(UDESC) É incorreto afirmar, sobre o imperialismo do final do século XIX:

a) A unificação de Itália e Alemanha não se relaciona com as políticas imperialistas do período.


b) O Nacionalismo foi um dos suportes da política imperialista.
c) “O sol nunca se põe no império Britânico” é uma expressão que nos fornece uma idéia sobre
as extensões das políticas imperialistas.
d) O imperialismo provocou aumento da pobreza, em países como a Índia.
e) A política imperialista não ficou restrita à África.

Comentários: a. As unificações italiana e alemã marcaram um novo momento na política


europeia. Com as fronteiras continentais bem definidas, as potências europeias conseguiram
estabelecer um determinado grau de estabilidade para se lançarem na partilha da Ásia e da
África. Portanto, esta é a única alternativa incorreta.
b. O nacionalismo foi peça fundamental para animar governos e sociedades na empresa da
dominação colonial. Imbuídos do espírito de superioridade nacional sobre os povos a serem
colonizados, os europeus organizaram todo um sistema de pensamento muito próprio, segundo
o qual estariam na vanguarda da humanidade, sendo-lhes, portanto, lícito intervir sobre os
povos “atrasados”.
c. “O sol nunca se põe no império britânico” é uma expressão felicíssima que nos lembra que a
qualquer hora sempre há um ponto do império britânico em que seja dia. Em outras palavras,
os britânicos conseguiram espalhar-se por todas as longitudes do globo.
d. As dinâmicas de exploração econômica e de desestruturação das realidades
socioeconômicas locais levaram a ciclos de fome e a uma redução drástica dos padrões de vida
das camadas mais baixas das populações colonizadas.
e. A política imperialista também chegou à Ásia, não ficando só restrita à África.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(PUC-RJ) Assinale a alternativa correta a respeito da expansão imperialista na Ásia e na


África, na segunda metade do século XIX.

a) Ela derivou da necessidade de substituir os mercados dos novos países americanos, uma vez
que a constituição de Estados nacionais foi acompanhada de políticas protecionistas.
b) Ela foi motivada pela busca de novas fontes de matérias-primas e de novos mercados
consumidores, fundamentais para a expansão capitalista dos países europeus.
c) Ela foi consequência direta da formação do Segundo Império alemão e da ampliação de suas
rivalidades em relação ao governo da França.
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d) Ela atendeu, primordialmente, às necessidades da expansão demográfica em diversos países
europeus, decorrente de políticas médicas preventivas e programas de saneamento básico.
e) Ela viabilizou a integração econômica mundial, favorecendo a circulação de riquezas,
tecnologia e conhecimentos entre povos e regiões envolvidos.

Comentários: a. É açodado falar que a ação imperialista europeia na África e na Ásia


decorreu das independências americanas. Além disso, alguns mercados americanos, por serem
francamente agroexportadores, não aderiram ao protecionismo, mantendo-se abertos para
investimentos e para o comércio internacional.
b. As potências europeias viviam a pressão por matérias-primas decorrente da segunda
revolução industrial. Então, era necessário buscar novos mercados e novos produtores. Além
do que os excedentes produtivos do centro do sistema capitalista também precisavam ser
escoados para mercados consumidores periféricos. Alternativa correta.
c. Apesar da unificação alemã ter tido um papel importante no concerto europeu que levaria à
estruturação imperialista, é incorreto falar que esta é decorrência direta daquela.
d. Mais uma vez, a explicação da alternativa até que é correta, mas peca ao dizer que foi um
fator primordial para o imperialismo. De fato, havia um crescimento demográfico perigoso na
Europa decorrente do aprimoramento das ciências médicas; mas este não pode ser atribuído
como um fator deflagrador da corrida imperial.
e. O modelo imperialista não privilegiava trocas de qualquer natureza dentro dos impérios.
Pelo contrário, era dotado de noções racistas e excludentes, organizando-se de maneira
unilateral contra as colônias.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(Mackenzie) Uma das alternativas a seguir NÃO corresponde às diferenças entre o


colonialismo do século XVI e o Neocolonialismo do século XIX.

a) A principal área de dominação do Colonialismo europeu foi a América e o Neocolonialismo


voltava-se para a África e a Ásia.
b) O Colonialismo teve como justificativa ideológica a expansão da fé cristã, enquanto que no
Neocolonialismo, a missão civilizadora do homem branco foi espalhar o progresso.
c) Os patrocinadores do Colonialismo foram a burguesia financeiro/industrial e os Estados da
Europa, América e Ásia, enquanto que os do Neocolonialismo, o Estado metropolitano europeu
e sua burguesia comercial.
d) O Colonialismo buscava garantir o fornecimento de produtos tropicais e metais preciosos,
enquanto que o Neocolonialismo, a reserva de mercados e o fornecimento de matérias-primas.
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e) A fase do capitalismo em que o Colonialismo se desenvolveu denominou-se Capitalismo
Comercial e a do Neocolonialismo, Capitalismo Industrial e Financeiro.

Comentários: Ainda que seja de gosto duvidoso falar-se de neocolonialismo para referir-se ao
imperialismo europeu do século XIX, analisemos as alternativas tomando o enunciado como
perfeito.
a. De fato, o colonialismo ficou concentrado nas Américas e foi capitaneado por Espanha e
Portugal; enquanto o neocolonialismo se voltou para Ásia e África sob a liderança de Grã-
Bretanha e França.
b. A expansão da fé cristã e a conquista dos povos gentios compuseram o grande mote do
colonialismo nos séculos XV e XVI. Já no século XIX, a primazia científica e o fardo
civilizatório do homem branco foram os principais suportes intelectuais para a construção do
neocolonialismo.
c. Apesar da infeliz redação da alternativa, identifica-se como a única errada da questão. É
erro grave falar em burguesia industrial durante o colonialismo do século XVI, bem como
supor a existência de Estados na América nos moldes europeus. Portanto, esta é a única
alternativa errada.
d. O mercantilismo, predominante nos séculos XV e XVI, fazia com que a expansão colonialista
preferisse a busca por metais preciosos e produtos exóticos. Por sua vez, a expansão capitalista
ocorrida no século XIX era impulsionada, também, pela segunda revolução industrial, que
exigia novas matérias-primas.
e. O mercantilismo do colonialismo era dirigido pelo capitalismo mercantil; enquanto a
segunda revolução industrial e o neocolonialismo já viviam sob o capitalismo financeiro e
industrial.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UFG) Leia o texto a seguir:


Por mais que retrocedamos na História, acharemos que a África está sempre fechada no
contato com o resto do mundo, é um país criança envolvido na escuridão da noite, aquém da
luz da história consciente. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e
violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações europeias. Devemos
esquecer Deus e as leis morais. HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal.
Apud HERNANDEZ, Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado]
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O fragmento é um indicador da forma predominante como os europeus observavam o
continente africano no século XIX. Essa observação relacionava-se a uma definição sobre
a cultura, que se identificava com a ideia de:

a) progresso social, materializado pelas realizações humanas como forma de se opor à natureza.
b) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato com o outro, com vistas a manter seus
hábitos.
c) autonomia política, expressa na escolha do homem negro por uma vida apartada da
comunidade.
d) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos padrões éticos europeus.
e) respeito às tradições, associado ao reconhecimento do valor do passado para as comunidades
locais.

Comentários: a. O pensamento europeu identificava o progresso humano como fases de


desenvolvimento, uma seguida da outra, sem possibilidade de adoção de outros caminhos ou de
saltos entre as fases; sendo que o avanço social se dava pelo distanciamento do homem com a
natureza. O triunfo da realização humana sobre a natureza por meio da técnica era o grande
fio condutor do progresso civilizatório. Alternativa correta.
b. A tolerância cívica não fazia parte do horizonte europeu porque entendiam ser um dever
moral a intervenção sobre os menos desenvolvidos. Uma maneira de, desrespeitando as
dinâmicas locais supostamente atrasadas, acelerar o progresso da técnica universal entre
povos atrasados.
c. Como assumiam que a organização cívica dependia exclusivamente do progresso
civilizatório, a autonomia política não era uma possibilidade dentro do imperialismo, já que só
com a intervenção direta seria possível assegurar o progresso.
d. A liberdade religiosa também era vista como um ponto impeditivo do progresso das colônias
pelos europeus. A posição absoluta da técnica dentro da vida exigia o afastamento do
“pensamento místico”, impondo uma forma de explicar o mundo contra as realidades
religiosas locais.
e. As tradições locais eram, antes de tudo, vistas como a grande raiz do atraso civilizatório. Ou
seja, o imperialismo assumiu como necessária a destruição dos costumes locais.

Gabarito: ALTERNATIVA A.

(FGV-RJ) Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, representantes de países europeus,


dos Estados Unidos e do Império Otomano participaram de negociações sobre o
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continente africano. O conjunto de reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de
Berlim, tratou da:

a) incorporação da Libéria aos domínios norte-americanos, em troca do controle da África do


Sul pela Inglaterra e Holanda.
b) independência de Angola e Moçambique e da incorporação do Congo ao império ultramarino
português.
c) ocupação e do controle do território africano de acordo com os interesses das diversas
potências representadas.
d) condenação do regime do Apartheid estabelecido na África do Sul e denunciado pelo governo
britânico.
e) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à transformação do Egito em protetorado da
Alemanha.

Comentários: a. Os Estados Unidos insistiram na preservação da independência da Libéria, e


não na sua incorporação.
b. A independência de Angola e de Moçambique não passava pelas preocupações europeias
naquele momento. Pelo contrário, a diplomacia portuguesa tentava manobrar para, além de
assumir o controle sobre o Congo, conseguir a unificação da costa e da contra-costa africana
sob o domínio lusitano, que, teoricamente, assumiria também a Zâmbia e o Zimbábue.
c. A Conferência de Berlim ajustava os interesses imperialistas da Europa, dos EUA e do
Império Otomano dentre de negociações no sentido de partilhar a África entre as potências
presentes. Alternativa correta.
d. Ainda não existia o regime do apartheid na África do Sul, que só seria organizado no início
do século XX.
e. O imperialismo italiano tentaria a sorte – sem sucesso – contra a Etiópia pela via militar na
década de 1930, bem como o Egito permaneceria sob controle otomano até o final da Primeira
Guerra Mundial.

Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UFPE) A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o


domínio dos países europeus sobre a África e a Ásia foi denominado neocolonialismo.
Sobre o resultado da junção desses dois fenômenos – o imperialismo e o colonialismo – na
África e na Ásia, é correto afirmar que:

a) O imperialismo e o neocolonialismo ajudaram os povos africanos e asiáticos a saírem de seu


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atraso secular, possibilitando-lhes o acesso ao progresso.
b) A segunda Revolução Industrial, o capitalismo monopolista e os ideais de progresso estão
associados ao imperialismo, ao neocolonialismo e ao completo domínio dos Estados Unidos, no
final do século XIX.
c) A maior beneficiária de todo o domínio imperialista e do neocolonialismo na Ásia e África
foi a classe operária, em face do pleno emprego da indústria.
d) Através do imperialismo e do neocolonialismo, as elites econômicas e políticas inglesas
construíram a imagem de que eram o modelo de cultura e civilização a ser imitado em todo o
mundo.

Comentários: a. O período de dominação imperialista sobre a África desestruturou


organizações humanas seculares e prejudicou a criação de soluções socioeconômicas
realmente adaptadas à região. Ou seja, não se pode falar em benefício econômico para as
populações locais como um grande resultado colonial.
b. A alternativa seria perfeita se não fosse a referência à liderança estadunidense no mundo. Os
EUA só seria associados como líderes ao final da Primeira Guerra Mundial.
c. A classe operária, pelo contrário, viu as diferenças sociais serem aprofundadas com o
desenvolvimento colonialista.
d. O domínio colonial permitiu aos europeus a construção da imagem de vanguarda do
processo civilizatório humano. Sua superioridade militar foi, inadvertidamente, associada a
uma superioridade absoluta em termos de desenvolvimento humano. Alternativa correta.

Gabarito: ALTERNATIVA D.

(UNITAU) O Império Chinês, sofrendo pressões de vários países, foi obrigado a ceder
algumas partes de seu território a países europeus. Um desses territórios, em poder do
Reino Unido, foi devolvido ao governo chinês no século passado (1997). Trata-se do
território de:

a) Cingapura
b) Macau
c) Taiwan
d) Hong Kong
e) Saigon

Comentários: a. Cingapura é um dos tigres asiáticos e já estava independente desde meados


do século XX.
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b. Macau foi uma possessão portuguesa.
c. Taiwan já era território da China imperial e, com a revolução chinesa, tornou-se o grande
refúgio dos opositores da China comunista.
d. Hong Kong, após longas negociações e preparativos, foi devolvida aos chineses pelos
ingleses em 1997. Alternativa correta.
e. Saigon é uma cidade do Vietnã, um dos símbolos da guerra entre americanos e norte-
vietnamitas.

Gabarito: ALTERNATIVA D.

(FUVEST) No século XIX, a história inglesa foi marcada pelo longo reinado da rainha
Vitória. Seu governo caracterizou-se:

a) pela grande popularidade da rainha, apesar dos poderes que lhe concedia o regime
monárquico absolutista vigente;
b) pela expansão do Império Colonial Britânico na América, explorado através do monopólio
comercial e do tráfico de escravos;
c) pelo início da Revolução Industrial, que levou a Inglaterra a tornar-se a maior produtora de
tecidos de seda;
d) por sucessivas crises políticas internas, que contribuíram para a estagnação econômica e
empobrecimento da população;
e) por grande prosperidade econômica e estabilidade política, em contraste com uma acentuada
desigualdade social.

Comentários: a. A monarquia inglesa não era absolutista, e sim parlamentarista desde a


Revolução Gloriosa.
b. De fato, o fator mercantil teve um lugar importante na expansão inglesa, mas os ingleses,
antes mesmo do reinado de Vitória I, se opuseram frontalmente à escravidão. Ou seja, não se
pode atribuir o sucesso imperialista à escravidão.
c. A Revolução Industrial teve seu início na segunda metade do século XVIII, cem anos antes do
reinado da rainha Vitória.
d. Pelo contrário, o reinado foi marcado pela grande estruturação do império britânico,
marcando um momento de grande intensidade econômica para a Grã-Bretanha.
e. Apesar de ter ocorrido um aprofundamento das diferenças sociais no interior do império,
excluindo-se tanto proletariados como camponeses das colônias, o império inglês passou por
um grande salto de prosperidade durante o reinado da rainha Vitória. Alternativa correta.
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Gabarito: ALTERNATIVA E.

(FEI) De 1815 a 1891, a Inglaterra viveu um período de grande estabilidade política


interna, combinada com acentuado desenvolvimento econômico, o que possibilitou aos
ingleses o domínio dos mares e a expansão colonialista. As principais realizações desse
período se deram durante:

a) a Era Vitoriana
b) a Revolução Gloriosa
c) o governo de Henrique VIII
d) o governo de Elizabeth I
e) a instalação do anglicanismo

Comentários: a. A Era Vitoriana marcou, fundamentalmente, o apogeu do império britânico e


dos orgulhos nacionais, principalmente na segunda metade do século XIX. Com mais de
sessenta anos de reinado, a rainha Vitória foi convertida num grande símbolo da superioridade
britânica. Alternativa correta.
b. A Revolução Gloriosa marcou a estabilização da monarquia parlamentarista no Reino Unido
no final do século XVII.
c. Henrique VIII reinou sobre os ingleses no início do século XVI.
d. Elizabeth I foi a rainha inglesa no final do século XVI.
e. O anglicanismo foi instalado durante o reinado de Henrique VIII.

Gabarito: ALTERNATIVA A.

(FATEC) Ata Geral da Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885:


“Capítulo I: Declaração referente à liberdade de comércio na Bacia do Congo…
Artigo 6° – Todas as Potências que exercem direitos de soberania ou uma influência nos
referidos territórios comprometem-se a velar pela conservação dos aborígines e pela
melhoria de suas condições morais e materiais de existência e a cooperar na supressão da
escravatura e principalmente do tráfico de negros; elas protegerão e favorecerão, sem
distinção de nacionalidade ou de culto, todas as instituições e empresas religiosas,
científicas ou de caridade, criadas e organizadas para esses fins ou que tendam a instruir
os indígenas e a lhes fazer compreender e apreciar as vantagens da Civilização.”
Pela leitura do texto acima, podemos deduzir que ele:
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a) demonstra que os interesses capitalistas voltados para investimentos financeiros eram a tônica
do tratado;
b) caracteriza a atração exercida pela abundância de recursos minerais, notadamente na região
subsaariana;
c) explicita as intenções de natureza religiosa do imperialismo, através da proteção à ação dos
missionários;
d) revela a própria ideologia do colonialismo europeu ao se referir às “vantagens da
Civilização”;
e) reflete a preocupação das potências capitalistas em manter a escravidão negra.

Comentários: a, b. A alternativa trata de interpretação de texto. O trecho do tratado tem uma


vocação profundamente moral sobre a condução da empresa colonialista na África.
c. É açodado falar em vocação religiosa do imperialismo europeu do século XIX. A vertente
religiosa era uma das feições do fenômeno, mas este era profundamente guiado por noções
científicas do período.
d. Esta no discurso civilizatório o cerne da questão moral tratada pelo trecho do tratado.
Garantir todos os privilégios ao modelo civilizatório europeu era preponderante nas
preocupações sobre as formas de ocupação colonial. Alternativa correta.
e. No século XIX, as potências europeias, principalmente o Reino Unido, já se distanciavam da
escravidão.

Gabarito: ALTERNATIVA D.

(Cesgranrio) A “partilha do mundo” (1870-1914) resultou do interesse das potências


capitalistas europeias em:

a) investir seus capitais excedentes nas colônias, obter mercados fornecedores de matérias-
primas e reservar mercados para seus produtos industrializados;
b) desenvolver a produção de gêneros alimentícios nas colônias, visando suprir as deficiências
de grãos existentes na Europa na virada do século;
c) buscar “áreas novas” para a emigração, uma vez que a pressão demográfica na Europa exigia
uma solução para o problema;
d) promover o desenvolvimento das colônias através da aplicação de capitais excedentes em
programas sociais e educacionais;
e) favorecer a atuação dos missionários católicos junto aos pagãos e assegurar a livre
concorrência comercial.
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Comentários: a. A dinâmica econômica imposta pela Segunda Revolução Industrial fazia com
que as potências procurassem expandir suas áreas de influência e de administração em busca
de mercados, matérias-primas e absorção de investimentos capitalistas. Alternativa correta.
b. Ainda eram limitadas as capacidades de transporte de grãos, dificultando o comércio
internacional no sentido de garantir a segurança alimentar da metrópole com os gêneros
coloniais.
c. A pressão demográfica na Europa, de fato, acabou tendo parte de sua solução encontrada
pelo imperialismo. Mas é equivocado falar que este foi o fator primordial para a “partilha do
mundo”.
d. A exportações de capital se davam, principalmente, em torno das obras de infraestrutura
colonial, capazes de garantir retornos financeiros importantes, ao mesmo tempo que
demandavam um grande volume de recursos. O desenvolvimento econômico da colônia não era
propriamente um problema para a realidade imperialista.
e. A concorrência comercial era um problema para as potências europeias, que preferiam
dividir o mundo em zonas monopolistas amplamente respeitadas. Além disso, o fator científico
do imperialismo fragilizava o lugar da religião, apesar desta estar, de fato, presente. O
catolicismo, por sua vez e com o declínio ibérico, não era mais a religião das grandes
potências europeias, à exceção da França.

Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Cesgranrio) A industrialização acelerada de diversos países, ao longo do século XIX,


alterou o equilíbrio e a dinâmica das relações internacionais. Com a Segunda Revolução
Industrial emergiu o Imperialismo, cuja característica marcante foi o(a):

a) substituição das intervenções militares pelo uso da diplomacia internacional.


b) busca de novos mercados consumidores para as manufaturas e os capitais excedentes dos
países industrializados.
c) manutenção da autonomia administrativa e dos governos nativos nas áreas conquistadas.
d) procura de especiarias, ouro e produtos tropicais inexistentes na Europa.
e) transferência de tecnologia, estimulada por uma política não intervencionista.

Comentários: a. O imperialismo lançou mão da superioridade de equipamentos dos exércitos


europeus para garantir o estabelecimento dos governos nas colônias. A diplomacia ficava
restrita ao âmbito das grandes potências.
b. O excedente de capitais gerado pela Segunda Revolução Industrial e as possibilidades
escassas de investimento no Velho Mundo, bem como a necessidade de estabelecer novos
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mercados consumidores, foram pontos importantes para a organização político-econômica do
imperialismo. Alternativa correta.
c. A imperialismo tinha um perfil marcadamente intervencionista nas colônias, sendo refratário
às posições de respeito às populações nativas.
d. O ciclo de comercialização e exploração de produtos exóticos e de metais preciosos está
mais relacionado ao colonialismo e ao mercantilismo do século XVI.
e. A transferência de tecnologia não era um objetivo europeu com o imperialismo, mas sim a
expansão da sociedade técnica da modernidade.

Gabarito: ALTERNATIVA B.

(Fuvest) A conquista da Ásia e da África, durante a segunda metade do século XIX, pelas
principais potências imperialistas objetivava

a) a busca de matérias primas, a aplicação de capitais excedentes e a procura de novos mercados


para os manufaturados.
b) a implantação de regimes políticos favoráveis à independência das colônias africanas e
asiáticas.
c) o impedimento da evasão em massa dos excedentes demográficos europeus para aqueles
continentes.
d) a implantação da política econômica mercantilista, favorável à acumulação de capitais nas
respectivas Metrópoles.
e) a necessidade de interação de novas culturas, a compensação da pobreza e a cooperação dos
nativos.

Comentários: a. A já explicada tríade matérias-primas – mercados consumidores –


investimento de capitais excedentes da Segunda Revolução Industrial como os grandes fatores
constitutivos do ímpeto imperialista. Alternativa correta.
b. O sistema imperialista não admitia a possibilidade de estruturação de elites locais para a
independência no médio prazo.
c. Pelo contrário, a possibilidade de evasão de excedentes demográficos da Europa para a Ásia
e a África foi um dos grandes atrativos para a empresa imperialista.
d. O mercantilismo foi uma realidade da economia política europeia do século XVI, enquanto o
imperialismo viveu, no século XIX, uma realidade mais voltada para o capitalismo financeiro-
industrial.
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e. A percepção dos nativos como inferiores à civilização europeia foi proibitiva para o
estabelecimento de vínculos sérios de intercâmbio entre metrópoles e colônias, ainda que
existissem iniciativas interessantes (mas, fundamentalmente, unilaterais).

Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Fuvest) A expansão colonialista europeia do século XIX foi um dos fatores que levaram:

a) à diminuição dos contingentes militares europeus.


b) à eliminação da liderança industrial da Inglaterra.
c) ao predomínio da prática mercantilista semelhante à do colonialismo do século XVI.
d) à implantação do regime de monopólio.
e) ao rompimento do equilíbrio europeu, dando origem à Primeira Guerra Mundial.

Comentários: a. O imperialismo, pelo contrário, exigiu que as potências europeias passassem


por uma corrida armamentista, já que tinham de controlar, militarmente, territórios algumas
vezes maiores que suas possessões europeias.
b. A Inglaterra se manteve na liderança industrial por mais algumas décadas, em parte, pelas
possibilidades produtivas e financeiras geradas por suas colônias no século XIX.
c. O imperialismo já não se comunicava com as lógicas mercantilistas do colonialismo do
século XVI; mas sim à vida industrial do século XIX.
d. O monopólio colonial já era uma prática conhecida pela Europa há séculos, não sendo uma
novidade trazida pelo imperialismo.
e. As rivalidades e as tensões políticas resultantes da corrida imperialista, bem como o
aumento da complexidade das relações econômicas, foram peças importantes na construção do
choque das potências na Primeira Guerra Mundial. Alternativa correta.

Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Cesgranrio) Um dos aspectos mais importantes do sistema capitalista, na sua passagem


do conteúdo liberal ao monopolista, é a associação entre:

a) os interesses bancários e os capitais oriundos da produção agrícola na forma do capital


financeiro.
b) o capital bancário e o capital industrial na forma do capital financeiro.
c) o capital financeiro e o capital fundiário como forma de conservação dos ideais fisiocratas.
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d) o Estado e a economia garantindo a manutenção da posição não-intervencionista do Estado
na produção industrial.
e) o Estado e a economia através da distribuição dos lucros da produção industrial aos pequenos
agricultores.

Comentários: a. A principal fonte de excedentes de capitais na Europa da segunda metade do


século XIX era a produção industrial.
b. A conjunção industrial e financeira no capitalismo do século XIX foi essencial para financiar
e para animar as ações imperialistas. Alternativa correta.
c. A fisiocracia vinha sendo varrida dos Estados europeus, em boa medida, pela modernização
estatal, marcadamente voltada para o domínio técnico-científico.
d. Havia, sim, a intervenção estatal ao garantir ao tentar assegurar o acesso industrial
nacional aos mercados coloniais. O liberalismo europeu era bastante moderado no sentido de
guarnecer os interesses industriais.
e. O processo capitalista europeu foi francamente favorável à concentração de renda e
condenou os pequenos agricultores a situações muito delicadas.

Gabarito: ALTERNATIVA B.
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Lista de Exercícios apresentados

Prova do CACD de 2005, questão 10


Na segunda metade do século XIX, o imperialismo — inclusive por sua vertente
neocolonialista — atesta o grau de desenvolvimento do capitalismo e sua incessante
busca de conquista dos mercados mundiais. A respeito desse processo de expansão,
julgue (C ou E) os itens seguintes.
( ) O surgimento de uma Alemanha unificada, a partir de 1870, adicionou elemento
novo e potencialmente explosivo na acirrada competição por colônias e mercados
encetada pelas potências industrializadas. Esse novo elemento está na raiz de sucessivas
crises que, em princípios do século XX, desnudaram a precariedade do equilíbrio de
poder e do quadro de paz existente na Europa.
( ) A Conferência de Berlim, em fins da década de 80, tratou da partilha da África entre
os grandes Estados europeus. Digna de destaque foi a preocupação registrada no
documento oficial do encontro, qual seja, a de se respeitar a identidade étnico-cultural
dos povos africanos no momento da definição das fronteiras coloniais.
( ) A fragilidade do Estado chinês, imerso em profunda crise interna, facilitou a
presença, nesse país, do imperialismo ocidental na segunda metade do século XIX. Em
pouco tempo, boa parte do litoral da China passou ao controle das potências ocidentais
e, graças a tratados desiguais, a elas foi conferido o direito de extraterritorialidade.
( )Foge aos padrões tradicionais a forma pela qual o Japão reagiu às pressões externas
para que abrisse seu mercado ao comércio internacional. A Era Meiji, iniciada nesse
contexto de expansão do capitalismo, significou a decisão de se proceder à
modernização do país, inserindo-o na nova economia mundial, sem que se abdicasse da
soberania.

Prova do CACD de 2006, questão 53


Texto para as questões 53 e 54.
O século XX coincidiu com a máxima expansão das categorias fundamentais do mundo
moderno — sujeito e trabalho —, eixos que presidiram a atualização e exasperaram os
limites do liberalismo e do socialismo, as duas grandes utopias da modernidade. Tais
utopias não nasceram no século XX, mas este foi o laboratório mais distendido de todas
elas, o campo concreto de experimento de suas virtualidades, das suas figuras e de sua
imaginação. Talvez por isso o século XX exiba uma característica única e contraditória:
parece ter sido o mais preparado e explicado pelos séculos anteriores e,
simultaneamente, o que mais distanciou a humanidade de seu passado, mesmo o mais
próximo, decretando o caráter obsoleto de formas de vida e sociabilidade consolidadas
durante milênios. O século XX foi o salto definitivo da humanidade para o futuro, para
a história entendida como transformação permanente e fluxo contínuo do tempo em
direção a um tempo de abundância e liberdade, perspectiva avalizada pela sistemática
ampliação das promessas da ciência, da tecnologia, das novas modalidades de
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organização social e da produção material. Um século, portanto, de mandamentos
utópicos que sacrificaram o passado e seus mitos, mudaram o ritmo da vida e
ocidentalizaram a Terra, tornando-a mais homogênea e seduzida por semelhantes
imagens de futuro. Nesse sentido, nada mais próximo e nada mais distante do século
XIX do que o século XX.
Rubem Barboza Filho. Século XX: uma introdução (em forma de prefácio). In: Alberto
Aggio e Milton Lahuerta (orgs.). Pensar o século XX: problemas políticos e história
nacional na América Latina. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 16 (com adaptações).

Questão 53
No quadro mais amplo da contemporaneidade, o texto aproxima e distingue tendências
do século XIX e do século XX. Nesse contexto, julgue (C ou E) os itens seguintes.
( ) A Revolução Industrial consolida novas relações de produção e, ao promover a
expansão imperialista, contemplando novas formas de dominação colonial, estende a
atuação do moderno capitalismo às mais distantes regiões do planeta.
( ) Ao contrário da Ásia e, particularmente, da África, ambas repartidas entre as
principais potências ocidentais, a América Latina praticamente não sofreu a ação do
imperialismo, o que se explica pelo fato de, em larga medida, as antigas colônias
ibéricas terem conquistado sua independência na primeira metade do século XIX.
( ) Liberalismo e socialismo são duas das grandes representações do século XIX que
estendem sua presença no século seguinte. Ao passo que o socialismo foi empunhado
por setores da burguesia comprometidos com a justiça social e com uma face mais
humanizada do capitalismo, o liberalismo mostrou, desde o primeiro momento, ser o
abrigo natural dos grupos democrático-radicais.
( ) Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, as disputas
imperialistas e o jogo de interesses conflitantes entre as grandes potências européias
inscrevem-se entre os fatores determinantes, mas não únicos, para a eclosão da Grande
Guerra de 1914.

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima), questão 46

Tendo o texto como referência inicial e considerando o quadro histórico do século XIX
no Ocidente, julgue (C ou E) os itens seguintes.
( ) Apesar das ondas revolucionárias pós-1815, os governos reunidos no Congresso de
Viena conseguiram manter o equilíbrio europeu, isto é, evitaram guerras de âmbito
continental, como as que se seguiram à Revolução Francesa.
( ) O processo de expansão do capitalismo, a partir de meados do século XIX, fez-se à
margem dos Estados nacionais, conduzido que foi pela iniciativa privada. Isso explica a
reduzida intensidade das crises que envolveram os países europeus ao longo da corrida
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imperialista, quadro que tendeu a modificar-se apenas a partir dos anos 1930, devido ao
impacto da grande depressão econômica.
( ) A onda revolucionária de 1848 evidenciou um aspecto historicamente decisivo
daquele momento, isto é, o fato de as burguesias liberais terem assumido,
resolutamente, a partir de então, as bandeiras revolucionárias da democracia social e de
um socialismo mais atenuado, que não se confundia com aquele proposto por Marx e
Engels.
( ) A partilha da África, decidida na Conferência de Berlim (1885), símbolo marcante
dos princípios, métodos e objetivos da expansão capitalista, reiterou o caráter quase
exclusivamente anglo-francês da competição por novas colônias na passagem do século
XIX ao XX, já que praticamente inexistiam, à época, potências que com Inglaterra ou
França pudessem rivalizar.

Prova do CACD de 2009 (caderno verde), questão 74


No que concerne ao domínio de potências coloniais na Ásia, no início do século XX,
julgue (C ou E) os próximos itens.
( ) A China, civilização milenar e até então com estrutura política própria, foi dividida
em protetorados sob domínio das potências ocidentais, ficando o imperador com sua
autoridade restrita a Pequim e arredores.
( ) A tentativa de modernização promovida pela imperatriz Tsenhi, na Reforma dos
Cem Dias, gerou tensões que provocaram sua deposição, tendo a Revolução de 1911,
que proclamou a República, posto fim à dinastia Manchu na China.
( ) O Japão preservou sua independência ao promover modernização de grande
envergadura, assimilando métodos e costumes ocidentais.
( ) O novo poderio militar japonês ficou comprovado na guerra de 1904-1905 contra a
Rússia.

Prova do CACD de 2011, questão 49


O conceito de imperialismo é polissêmico, tendo sido utilizado pela historiografia
mundial em referência a diferentes processos históricos. Acerca do imperialismo formal
no final do século XIX e início do século XX, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
( ) Os indirect rules, forma de ocupação territorial anglofrancesa na Ásia e na África,
constituíram o modelo hegemônico de expansão imperialista europeia nas denominadas
áreas periféricas.
( ) Segundo Rosa Luxemburgo e Lênin, o imperialismo representava forma colonial de
capitalismo, fusão do capitalismo industrial com a formação de oligopólios.
( ) Durante o século XIX, o imperialismo europeu na África foi caracterizado pela
ocupação gradual de grandes extensões territoriais, diferentemente do que ocorreu,
nesse período, na América Latina.
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( ) Ao contrário do que aparentava, o imperialismo formal, que caracterizou o final do
século XIX, foi uma continuação histórica de processo anterior, que, já em curso na
história do Atlântico Sul desde os tempos do mercantilismo, permitia a acumulação
capitalista por meio do mercado de escravos e especiarias.
Prova do CACD de 2012, questão 49
Com relação ao colonialismo europeu no século XIX, julgue (C ou E) os itens que se
seguem.
( ) A disputa entre Portugal e Bélgica pelas riquezas minerais de Angola exemplifica a
influência determinante exercida pela corrida colonial sobre a política continental, com
a qual se envolveram as potências europeias no período de 1871 a 1890.
( ) A Conferência de Berlim, realizada entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885,
consagrou o princípio da ocupação declarada de áreas em litígio, garantindo a soberania
ao país que ocupava o território.
( ) O novo colonialismo europeu, identificado a partir do último terço do século XIX,
retomou a corrida por possessões coloniais, motivado pelos mesmos interesses e
inspirado pelas mesmas dinâmicas políticas, religiosas, civilizacionais e econômicas que
marcaram o século XVI.
( ) A corrida colonialista do final do século XIX, para a qual serve de exemplo de
ordem econômica o capitalismo industrial, necessitado, naquele momento, de ampliar o
fornecimento de matérias-primas e de aumentar o mercado consumidor, resultou da
conjunção de vários processos, entre os quais se incluem fatores de natureza estratégica
e ideológica.

Prova do CACD de 2014, questão 59


A Revolução Industrial provocou substancial modificação nos fluxos do comércio
internacional, e o fez pela própria natureza de sua produção; paralelamente, o aumento
populacional ampliou a demanda por alimentos de modo a alterar as formas tradicionais
de suprimento desses bens. Ao longo do século XIX, o comércio internacional sofreu
profundas mudanças tanto em relação às principais mercadorias que o compunham
como em relação aos países ou às regiões produtores envolvidos nesse comércio. Mas
também é certo que, após 1870, houve substanciais mudanças na estrutura e na
dinâmica da economia capitalista mundial, com a afirmação de outras potências, que
passaram efetivamente a competir com a Grã-Bretanha. Por isso, justifica-se a definição
de 1870 como um marco cronológico fundamental, inclusive ao adotar, para o período
que aí se inicia, o rótulo de fase imperialista do capitalismo.
Flávio Azevedo Marques de Saes e Alexandre Macchione Saes. História econômica
geral. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 179-93 (com adaptações).
Considerando as razões pelas quais o texto acima define 1870 como “marco cronológico
fundamental” para o mundo contemporâneo, julgue (C ou E) os próximos itens.
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1 Conduzida pelo vitorioso chanceler prussiano Bismarck, a unificação alemã alterou
radicalmente o cenário político europeu, em especial por ter colocado a França em
posição subalterna. Pequeno foi, contudo, seu impacto econômico em uma época em
que o imperialismo alçava voos em direção às mais distantes regiões do globo.
2 Nos primeiros anos do século XX, a militarmente poderosa Alemanha e a
economicamente forte Grã-Bretanha, em estreita aproximação, isolaram os impérios
centrais — ÁustriaHungria, Turquia e Rússia — e neutralizaram diplomaticamente a
França, preparando o terreno para a Grande Guerra de 1914.
3 A partilha da África foi decidida na Conferência de Berlim, em 1885, sob a chancela
da Liga das Nações e subordinada a critérios consensualmente aceitos pelos
participantes, a exemplo da observância à identidade cultural das populações locais e do
respeito às fronteiras naturais.
4 A expansão imperialista no século XIX, que se estendeu ao século seguinte, foi
conduzida pelas potências industrializadas do Ocidente. Na África, elas transformaram
antigos Estados nacionais em meras colônias e, na Ásia, subjugaram o Japão e a
Indochina, mas não conseguiram conter a vigorosa resistência chinesa.

Prova do CACD de 2015, questão 57


Seguindo a marcha de afirmação da Revolução Industrial, o século XIX testemunhou a
consolidação do capitalismo como um sistema que estende seu domínio sobre as demais
formas de organização da economia. Como já previa o Manifesto Comunista, de 1848,
ele se universalizou, incorporando as mais diversas regiões do planeta. Esse processo de
expansão é comumente denominado imperialismo e tem no neocolonialismo sua face
mais visível. Relativamente a esse cenário que desvela, sob o ponto de vista econômico,
a contemporaneidade, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1 A expansão imperialista do século XIX encontrou unidade e consistência na ideia,
disseminada à exaustão, de que a expansão seria benéfica para os povos por ela
atingidos: assim, levar o progresso e propagar a civilização seria missão e direito; e a
incompreensão dos beneficiários seria o “fardo do homem branco”, na conhecida
expressão de Kipling.
2 Na Índia, o impacto da dominação britânica pode ser sintetizado em dois aspectos
essenciais: a desarticulação da economia artesanal, especialmente a rural, e a exploração
imperialista sistemática, ou seja, a adoção de determinadas práticas de dominação e de
controle pelos ingleses.
3 No Extremo Oriente, a expansão do mercado capitalista foi facilitada pelo fato de que
China e Japão eram sociedades historicamente abertas ao intercâmbio com estrangeiros,
o que pode ser comprovado pela presença, em ambos os países, de número considerável
de comerciantes e missionários ocidentais.
4 Ainda que possa ser interpretada como uma continuidade da expansão ocorrida na
Idade Moderna, a expansão capitalista ao longo do século XIX assumiu novas
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características em termos de motivações inspiradoras, métodos utilizados e objetivos
perseguidos.

Prova do CACD de 2016, questão 59


Com relação ao colonialismo e ao imperialismo no século XIX e no início do século
XX, julgue (C ou E) os próximos itens.
1 Na Conferência de Berlim (1884-1885), Portugal viu-se forçado a abrir mão das suas
principais possessões coloniais na África, a saber, dos territórios que hoje
correspondem, mais ou menos, a Angola e Moçambique.
2 As múltiplas disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha por colônias na África e na
Ásia, na virada do século XIX para o século XX, e a inexistência de processos de
regulação dessas disputas, constituem a principal causa da deflagração da Primeira
Guerra Mundial.
3 A derrota britânica na Guerra de Independência travada pelas treze colônias inglesas
da América do Norte, a independência do Haiti em relação à França, bem como os
processos de emancipação frente às metrópoles ibéricas, conduzidos nas Américas do
Sul e Central nas primeiras décadas do século XIX, marcaram o fim do colonialismo
típico do Antigo Regime e o início de uma nova fase da história colonial europeia.
4 Em razão do seu próprio passado colonial e do seu considerável mercado consumidor
interno, os Estados Unidos da América abstiveram-se de participar da expansão colonial
levada adiante pela maioria das grandes potências mundiais no último quarto do século
XIX.

(PUC-RIO 2007) “... Nós conquistamos a África pelas armas... temos direito de nos
glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência no
século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora temos outra missão não menos
meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás...” (“Da
influência civilizadora das ciências aplicadas às artes e às indústrias”. Revue Scientifique,
1889)
A partir da citação acima e de seus conhecimentos acerca do tema, examine as afirmativas
abaixo.
I - A idéia de levar a civilização aos povos considerados bárbaros estava presente no
discurso dos que defendiam a política imperialista.
II - Aquela não era a primeira vez que o continente africano era alvo dos interesses
europeus.
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III - Uma das preocupações dos países, como a França, que participavam da expansão
imperialista, era justificar a ocupação dos territórios apresentando os melhoramentos
materiais que beneficiariam as populações nativas.
IV - Para os editores da Revue Scientifique (Revista Científica), civilizar consistia em
retirar o continente africano da condição de atraso em relação à Europa.
Assinale a alternativa correta:

a) Somente a afirmativa IV está correta.


b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
c) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

(UDESC) No decorrer do século XIX, as grandes potências européias lançaram-se à


conquista colonial da África e da Ásia. Sobre a ocupação da África e suas conseqüências, é
incorreto afirmar:

a) A violência em que se deu a colonização provocou grandes distorções nas estruturas


econômicas, sociais e culturais dos territórios dominados. Intrigas entre etnias foram
estimuladas e antigos reinos destruídos, vencidos pela superioridade militar dos colonizadores.
b) Os europeus demarcaram fronteiras, confiscaram terras, forçaram grupos nômades a fixar-se
em territórios específicos. Em conseqüência disso, os Estados africanos atuais, na sua maioria,
não têm a mesma unidade cultural, lingüística e social.
c) A ocupação do território africano destruiu estruturas tradicionais; a economia comunitária ou
de subsistência foi totalmente desorganizada, pela introdução de cultivos e outras atividades,
destinadas a atender exclusivamente às necessidades das metrópoles.
d) A ocupação européia beneficiou o continente africano, pois possibilitou a inserção da África
na economia capitalista mundial. Antes da colonização européia, a economia africana restringia-
se a suprir as necessidades básicas de sua população; assim, os africanos viviam sob condições
de vida bastante atrasadas.
e) A ocupação das colônias criou sérios problemas (muitos ainda não resolvidos, mesmo na
atualidade). Pode-se dizer que muitos dos conflitos étnicos que existem hoje na região são
conseqüências da dominação colonial da África.

(UDESC) É incorreto afirmar, sobre o imperialismo do final do século XIX:

a) A unificação de Itália e Alemanha não se relaciona com as políticas imperialistas do período.


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b) O Nacionalismo foi um dos suportes da política imperialista.
c) “O sol nunca se põe no império Britânico” é uma expressão que nos fornece uma idéia sobre
as extensões das políticas imperialistas.
d) O imperialismo provocou aumento da pobreza, em países como a Índia.
e) A política imperialista não ficou restrita à África.

(PUC-RJ) Assinale a alternativa correta a respeito da expansão imperialista na Ásia e na


África, na segunda metade do século XIX.

a) Ela derivou da necessidade de substituir os mercados dos novos países americanos, uma vez
que a constituição de Estados nacionais foi acompanhada de políticas protecionistas.
b) Ela foi motivada pela busca de novas fontes de matérias-primas e de novos mercados
consumidores, fundamentais para a expansão capitalista dos países europeus.
c) Ela foi consequência direta da formação do Segundo Império alemão e da ampliação de suas
rivalidades em relação ao governo da França.
d) Ela atendeu, primordialmente, às necessidades da expansão demográfica em diversos países
europeus, decorrente de políticas médicas preventivas e programas de saneamento básico.
e) Ela viabilizou a integração econômica mundial, favorecendo a circulação de riquezas,
tecnologia e conhecimentos entre povos e regiões envolvidos.

(Mackenzie) Uma das alternativas a seguir NÃO corresponde às diferenças entre o


colonialismo do século XVI e o Neocolonialismo do século XIX.

a) A principal área de dominação do Colonialismo europeu foi a América e o Neocolonialismo


voltava-se para a África e a Ásia.
b) O Colonialismo teve como justificativa ideológica a expansão da fé cristã, enquanto que no
Neocolonialismo, a missão civilizadora do homem branco foi espalhar o progresso.
c) Os patrocinadores do Colonialismo foram a burguesia financeiro/industrial e os Estados da
Europa, América e Ásia, enquanto que os do Neocolonialismo, o Estado metropolitano europeu
e sua burguesia comercial.
d) O Colonialismo buscava garantir o fornecimento de produtos tropicais e metais preciosos,
enquanto que o Neocolonialismo, a reserva de mercados e o fornecimento de matérias-primas.
e) A fase do capitalismo em que o Colonialismo se desenvolveu denominou-se Capitalismo
Comercial e a do Neocolonialismo, Capitalismo Industrial e Financeiro.

(UFG) Leia o texto a seguir:


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Por mais que retrocedamos na História, acharemos que a África está sempre fechada no
contato com o resto do mundo, é um país criança envolvido na escuridão da noite, aquém da
luz da história consciente. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e
violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações europeias. Devemos
esquecer Deus e as leis morais. HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal.
Apud HERNANDEZ, Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado]
O fragmento é um indicador da forma predominante como os europeus observavam o
continente africano no século XIX. Essa observação relacionava-se a uma definição sobre
a cultura, que se identificava com a ideia de:

a) progresso social, materializado pelas realizações humanas como forma de se opor à natureza.
b) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato com o outro, com vistas a manter seus
hábitos.
c) autonomia política, expressa na escolha do homem negro por uma vida apartada da
comunidade.
d) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos padrões éticos europeus.
e) respeito às tradições, associado ao reconhecimento do valor do passado para as comunidades
locais.

(FGV-RJ) Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, representantes de países


europeus, dos Estados Unidos e do Império Otomano participaram de negociações sobre o
continente africano. O conjunto de reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de
Berlim, tratou da:

a) incorporação da Libéria aos domínios norte-americanos, em troca do controle da África do


Sul pela Inglaterra e Holanda.
b) independência de Angola e Moçambique e da incorporação do Congo ao império ultramarino
português.
c) ocupação e do controle do território africano de acordo com os interesses das diversas
potências representadas.
d) condenação do regime do Apartheid estabelecido na África do Sul e denunciado pelo governo
britânico.
e) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à transformação do Egito em protetorado da
Alemanha.

(UFPE) A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o


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domínio dos países europeus sobre a África e a Ásia foi denominado neocolonialismo.
Sobre o resultado da junção desses dois fenômenos – o imperialismo e o colonialismo – na
África e na Ásia, é correto afirmar que:

a) O imperialismo e o neocolonialismo ajudaram os povos africanos e asiáticos a saírem de seu


atraso secular, possibilitando-lhes o acesso ao progresso.
b) A segunda Revolução Industrial, o capitalismo monopolista e os ideais de progresso estão
associados ao imperialismo, ao neocolonialismo e ao completo domínio dos Estados Unidos, no
final do século XIX.
c) A maior beneficiária de todo o domínio imperialista e do neocolonialismo na Ásia e África
foi a classe operária, em face do pleno emprego da indústria.
d) Através do imperialismo e do neocolonialismo, as elites econômicas e políticas inglesas
construíram a imagem de que eram o modelo de cultura e civilização a ser imitado em todo o
mundo.

(UNITAU) O Império Chinês, sofrendo pressões de vários países, foi obrigado a ceder
algumas partes de seu território a países europeus. Um desses territórios, em poder do
Reino Unido, foi devolvido ao governo chinês no século passado (1997). Trata-se do
território de:

a) Cingapura
b) Macau
c) Taiwan
d) Hong Kong
e) Saigon

(FUVEST) No século XIX, a história inglesa foi marcada pelo longo reinado da rainha
Vitória. Seu governo caracterizou-se:

a) pela grande popularidade da rainha, apesar dos poderes que lhe concedia o regime
monárquico absolutista vigente;
b) pela expansão do Império Colonial Britânico na América, explorado através do monopólio
comercial e do tráfico de escravos;
c) pelo início da Revolução Industrial, que levou a Inglaterra a tornar-se a maior produtora de
tecidos de seda;
d) por sucessivas crises políticas internas, que contribuíram para a estagnação econômica e
empobrecimento da população;
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e) por grande prosperidade econômica e estabilidade política, em contraste com uma acentuada
desigualdade social.

(FEI) De 1815 a 1891, a Inglaterra viveu um período de grande estabilidade política


interna, combinada com acentuado desenvolvimento econômico, o que possibilitou aos
ingleses o domínio dos mares e a expansão colonialista. As principais realizações desse
período se deram durante:

a) a Era Vitoriana
b) a Revolução Gloriosa
c) o governo de Henrique VIII
d) o governo de Elizabeth I
e) a instalação do anglicanismo

(FATEC) Ata Geral da Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885:


“Capítulo I: Declaração referente à liberdade de comércio na Bacia do Congo…
Artigo 6° – Todas as Potências que exercem direitos de soberania ou uma influência nos
referidos territórios comprometem-se a velar pela conservação dos aborígines e pela
melhoria de suas condições morais e materiais de existência e a cooperar na supressão da
escravatura e principalmente do tráfico de negros; elas protegerão e favorecerão, sem
distinção de nacionalidade ou de culto, todas as instituições e empresas religiosas,
científicas ou de caridade, criadas e organizadas para esses fins ou que tendam a instruir
os indígenas e a lhes fazer compreender e apreciar as vantagens da Civilização.”
Pela leitura do texto acima, podemos deduzir que ele:

a) demonstra que os interesses capitalistas voltados para investimentos financeiros eram a tônica
do tratado;
b) caracteriza a atração exercida pela abundância de recursos minerais, notadamente na região
subsaariana;
c) explicita as intenções de natureza religiosa do imperialismo, através da proteção à ação dos
missionários;
d) revela a própria ideologia do colonialismo europeu ao se referir às “vantagens da
Civilização”;
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e) reflete a preocupação das potências capitalistas em manter a escravidão negra.

(Cesgranrio) A “partilha do mundo” (1870-1914) resultou do interesse das potências


capitalistas europeias em:

a) investir seus capitais excedentes nas colônias, obter mercados fornecedores de matérias-
primas e reservar mercados para seus produtos industrializados;
b) desenvolver a produção de gêneros alimentícios nas colônias, visando suprir as deficiências
de grãos existentes na Europa na virada do século;
c) buscar “áreas novas” para a emigração, uma vez que a pressão demográfica na Europa exigia
uma solução para o problema;
d) promover o desenvolvimento das colônias através da aplicação de capitais excedentes em
programas sociais e educacionais;
e) favorecer a atuação dos missionários católicos junto aos pagãos e assegurar a livre
concorrência comercial.

(Cesgranrio) A industrialização acelerada de diversos países, ao longo do século XIX,


alterou o equilíbrio e a dinâmica das relações internacionais. Com a Segunda Revolução
Industrial emergiu o Imperialismo, cuja característica marcante foi o(a):

a) substituição das intervenções militares pelo uso da diplomacia internacional.


b) busca de novos mercados consumidores para as manufaturas e os capitais excedentes dos
países industrializados.
c) manutenção da autonomia administrativa e dos governos nativos nas áreas conquistadas.
d) procura de especiarias, ouro e produtos tropicais inexistentes na Europa.
e) transferência de tecnologia, estimulada por uma política não intervencionista.

(Fuvest) A conquista da Ásia e da África, durante a segunda metade do século XIX, pelas
principais potências imperialistas objetivava

a) a busca de matérias primas, a aplicação de capitais excedentes e a procura de novos mercados


para os manufaturados.
b) a implantação de regimes políticos favoráveis à independência das colônias africanas e
asiáticas.
c) o impedimento da evasão em massa dos excedentes demográficos europeus para aqueles
continentes.
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d) a implantação da política econômica mercantilista, favorável à acumulação de capitais nas
respectivas Metrópoles.
e) a necessidade de interação de novas culturas, a compensação da pobreza e a cooperação dos
nativos.

(Fuvest) A expansão colonialista europeia do século XIX foi um dos fatores que levaram:

a) à diminuição dos contingentes militares europeus.


b) à eliminação da liderança industrial da Inglaterra.
c) ao predomínio da prática mercantilista semelhante à do colonialismo do século XVI.
d) à implantação do regime de monopólio.
e) ao rompimento do equilíbrio europeu, dando origem à Primeira Guerra Mundial.

(Cesgranrio) Um dos aspectos mais importantes do sistema capitalista, na sua passagem


do conteúdo liberal ao monopolista, é a associação entre:

a) os interesses bancários e os capitais oriundos da produção agrícola na forma do capital


financeiro.
b) o capital bancário e o capital industrial na forma do capital financeiro.
c) o capital financeiro e o capital fundiário como forma de conservação dos ideais fisiocratas.
d) o Estado e a economia garantindo a manutenção da posição não-intervencionista do Estado
na produção industrial.
e) o Estado e a economia através da distribuição dos lucros da produção industrial aos pequenos
agricultores.
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Gabarito

Prova do CACD de 2005, questão 10


C
E
C
C

Prova do CACD de 2006, questão 53


C
E
E
C

Prova do CACD de 2007 (caderno Lima), questão 46


ANULADA
E
E
E

Prova do CACD de 2009 (caderno verde), questão 74


E
E
C
C

Prova do CACD de 2011, questão 49


E
C
C
E
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Prova do CACD de 2012, questão 49
E
E
E
C

Prova do CACD de 2014, questão 59


E
E
E
E

Prova do CACD de 2015, questão 57


C
C
E
C

Prova do CACD de 2016, questão 59


E
E
C
E

(PUC-RIO 2007) “... Nós conquistamos a África pelas armas... temos direito de nos
glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência no
século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora temos outra missão não menos
meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás...” (“Da
influência civilizadora das ciências aplicadas às artes e às indústrias”. Revue Scientifique,
1889)
ALTERNATIVA E
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(UDESC) No decorrer do século XIX, as grandes potências européias lançaram-se à
conquista colonial da África e da Ásia. Sobre a ocupação da África e suas conseqüências, é
incorreto afirmar:
ALTERNATIVA D

(UDESC) É incorreto afirmar, sobre o imperialismo do final do século XIX:


ALTERNATIVA A

(PUC-RJ) Assinale a alternativa correta a respeito da expansão imperialista na Ásia e na


África, na segunda metade do século XIX
ALTERNATIVA B

(Mackenzie) Uma das alternativas a seguir NÃO corresponde às diferenças entre o


colonialismo do século XVI e o Neocolonialismo do século XIX
ALTERNATIVA C

(UFG) Leia o texto a seguir:


Por mais que retrocedamos na História, acharemos que a África está sempre fechada no
contato com o resto do mundo, é um país criança envolvido na escuridão da noite, aquém da
luz da história consciente. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e
violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações europeias. Devemos
esquecer Deus e as leis morais. HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal.
Apud HERNANDEZ, Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado]
ALTERNATIVA A

(FGV-RJ) Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, representantes de países europeus,


dos Estados Unidos e do Império Otomano participaram de negociações sobre o
continente africano. O conjunto de reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de
Berlim, tratou da:
ALTERNATIVA C

(UFPE) A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o


domínio dos países europeus sobre a África e a Ásia foi denominado neocolonialismo.
Sobre o resultado da junção desses dois fenômenos – o imperialismo e o colonialismo – na
África e na Ásia, é correto afirmar que:
ALTERNATIVA D
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(UNITAU) O Império Chinês, sofrendo pressões de vários países, foi obrigado a ceder
algumas partes de seu território a países europeus. Um desses territórios, em poder do
Reino Unido, foi devolvido ao governo chinês no século passado (1997). Trata-se do
território de:
ALTERNATIVA D

(FUVEST) No século XIX, a história inglesa foi marcada pelo longo reinado da rainha
Vitória. Seu governo caracterizou-se:
ALTERNATIVA E

(FEI) De 1815 a 1891, a Inglaterra viveu um período de grande estabilidade política


interna, combinada com acentuado desenvolvimento econômico, o que possibilitou aos
ingleses o domínio dos mares e a expansão colonialista. As principais realizações desse
período se deram durante:
ALTERNATIVA A

(FATEC) Ata Geral da Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885:


ALTERNATIVA D

(Cesgranrio) A “partilha do mundo” (1870-1914) resultou do interesse das potências


capitalistas europeias em:
ALTERNATIVA A

(Cesgranrio) A industrialização acelerada de diversos países, ao longo do século XIX,


alterou o equilíbrio e a dinâmica das relações internacionais. Com a Segunda Revolução
Industrial emergiu o Imperialismo, cuja característica marcante foi o(a):
ALTERNATIVA B

(Fuvest) A conquista da Ásia e da África, durante a segunda metade do século XIX, pelas
principais potências imperialistas objetivava
ALTERNATIVA A

(Fuvest) A expansão colonialista europeia do século XIX foi um dos fatores que levaram:
ALTERNATIVA E
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(Cesgranrio) Um dos aspectos mais importantes do sistema capitalista, na sua passagem
do conteúdo liberal ao monopolista, é a associação entre:
ALTERNATIVA B
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Apresentação

Olá caro aluno!

Depois de passarmos pelos séculos XVIII e XIX na Europa e na América –


estudando as relações entre os Estados nesses períodos – chegamos, então,
ao evento que, de acordo com Hobsbawm, põe fim definitivamente ao século
XIX e inaugura o “breve” século XX: a Primeira Guerra Mundial.

Evento de primeira magnitude dentro da história do mundo, a Primeira


Guerra Mundial precipitou mudanças radicais no mundo e plantou as sementes
da guerra seguinte, com consequências devastadoras para a humanidade.

Embora as provas do CACD não cobrem tanto questões deste assunto, é


fundamental que nos aprofundemos nele para entendermos a Segunda Guerra
Mundial e as questões que se seguiram a ela. Nossa aula de hoje concentrar-
se-á, especialmente, nos elementos que levaram à guerra e em suas
consequências, como a formação da Liga das Nações, os 14 pontos de Wilson
e o tratado de Versalhes.

Entricheirados, mantenhamo-nos firmes no combate!


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1. Causas da Primeira Guerra Mundial

Como todo evento de grande importância na história, há uma série de


elementos que podem ser elencados para explicar o estouro da Grande
Guerra. Porém, como é comum, há muita polêmica entre os historiadores para
precisar quando e o quê exatamente levaram às hostilidades e aos
antagonismos anteriores ao conflito. Ponto pacífico que devemos estabelecer
logo de início é o fato de que nenhum dos atores envolvidos neste conflito
estava ciente do que estava por vir ou da magnitude que a guerra demostraria
ter.

Sabemos que a guerra era um fenômeno constante na vida dos europeus.


Por muito tempo, conflitos entre os Estados do Velho Mundo eram comuns, os
objetivos políticos normalmente bem definidos, de curta duração, com exércitos
relativamente pequenos se comparados com o tamanho das populações (claro,
podemos encontrar algumas exceções, particularmente durante e depois da
Revolução Francesa). A guerra que iniciar-se-ia em 1914, no entanto, tomaria
outras proporções, envolvendo grandes parcelas da população, utilizando
largamente a indústria no esforço bélico e impactando fortemente toda a
sociedade – como, por exemplo, a ida mais intensa das mulheres ao mercado
de trabalho para os postos deixados pelos homens que partiram para o front.

Dada a complexidade deste evento, algumas questões surgem como


possíveis fatores explicativos, mas nenhum deles consensual entre estudiosos.
Alguns motivos são mais afastados no tempo relativamente ao evento, outros
mais próximos. Vamos destacar nesta aula as seguintes causas: as disputas
imperialistas, os movimentos nacionalistas, as redes de aliança e a diplomacia
secreta e, por fim, a política externa alemã. Todas estas questões estão
interrelacionadas e dividi-las é somente um recurso didático para facilitar seu
entendimento.

Uma das características mais fundamentais das relações exteriores dos


países europeus do período que vai da formação do Império alemão até a
Primeira Guerra Mundial, particularmente a partir de 1890, é a progressiva
polarização dos Estados em dois grandes grupos de alianças, que iriam entrar
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em choque na grande guerra: a Entente e a Tríplice Aliança. Como se dá esse
processo?

Como vimos em nossas aulas anteriores sobre o colapso do sistema de


Viena e a formação dos Estados nacionais alemão e italiano, o panorama das
relações exteriores por volta de 1871 poderia ser assim resumido: a Inglaterra
estava devotada completamente ao seu império colonial e pouco preocupada
com os desenvolvimentos do continente, no movimento que ficou conhecido
como splendid isolation (isolamento esplêndido). Tinha poucas alianças
externas, suas ligações interestatais pautavam-se pelo pragmatismo em lidar
com as questões envolvendo a expansão colonial/imperialista. A França estava
isolada diplomaticamente, sem aliados possíveis, tanto mais depois de
derrotada e humilhada pelos alemães. Depois de proclamada a III República,
foi expandir ainda mais seu império colonial na África e na Indochina. A Rússia
também se encontrava sem grandes aliados – alguns pequenos Estados
eslavos nos Bálcãs dos quais falaremos adiante eram seus aliados, mas sem
grandes capacidades bélicas – e passava por tentativas de reformas
econômicas e militares que a tornassem capazes de se contrapor aos efeitos
da derrota na Guerra da Criméia. Por fim, a Alemanha despontava como uma
grande potência militar e econômica e buscava seu espaço ao sol na corrida
colonial.

A mudança nas relações entre as grandes potências ocorreria após a


mudança de postura do governo alemão em relação aos demais Estados
europeus e após a intensificação da corrida colonial – fatores que não estão
desconexos.

Alguns historiadores apontam como um momento decisivo de virada das


relações entre as potências a saída de Bismarck do poder. Como vimos, o
chanceler alemão foi responsável por uma cuidadosa política externa que
buscou aplacar o revanchismo francês incentivando Paris a buscar expandir
suas colônias na África e na Ásia. Com sua saída, no entanto, a postura do II
Reich iria mudar paulatinamente, com o abandono da “política continental de
segurança” para a chamada Weltpolitik, ou “política mundial”.
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Ao longo das décadas de 1870 e 1880 foram crescendo os antagonismos
alemão e russo, que se somaram à intensa rivalidade alemã-francesa.
Desconsiderando a possibilidade de aliança entre Rússia e França, a
Alemanha nada fez para acalmar os ânimos do Czar e buscar uma conciliação
com o grande império eslavo. Assim sendo, a prepotência nas relações
exteriores alemães precipitou a aliança entre franceses e russos, formando o
embrião da entente cordiale em 1894. A formação desta aliança derrubou o
isolamento diplomático francês – que durava 20 anos – e fortaleceu os vínculos
econômicos de capitais franceses na Rússia. Esta aliança era um pacto militar
defensivo que “previa a ajuda militar mútua no caso de um dos parceiros ser
atacado pela Alemanha ou, com a ajuda desta, pela Itália ou pela Áustria-
Hungria. No caso de uma mobilização militar de um dos Estados da Tríplice
Aliança, a França e a Rússia responderiam em conjunto”.1

Esse pacto militar russo-francês colocava a Alemanha numa posição


precária: no caso de hostilidades, o Reich seria atacado em duas frentes, a
leste e a oeste. Nesta perspectiva, considerando a possibilidade desastrosa de
um ataque em duas frentes, o Império alemão concebeu um plano militar que
teria grandes consequências na guerra que viria, o plano Schlieffen. Tratava-se
de atacar rapidamente a França por meio da Bélgica e alcançar Paris
rapidamente, antes que os russos pudessem invadir o território alemão. Como
veremos, o plano fracassou e atraiu a hostilidade mundial para a Alemanha por
conta da invasão do território belga.

Para contrabalançar a entente franco-russa, o Império alemão decidiu focar


sua diplomacia na construção de uma aliança com a Grã-Bretanha. Algumas
questões atraíam os dois países: uma origem cultural não-latina (poder-se-ia
dizer, germânica), a proximidade das casas reais, a rivalidade com a França,
dentre outros. No entanto, uma série de questões colocariam ingleses e
alemães em lados opostos – algumas das quais criadas por erros diplomáticos
dos teutões no momento de pensar alguns aspectos de sua política externa.

Neste caminho de construção de uma aliança com os ingleses, os


germânicos realizaram alguns acordos para distender as tensas questões

1
Saraiva, p. 114.
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coloniais que antagonizavam os dois governos. Assim, foi feito um tratado
dispondo sobre a ilha de Heligolândia e Zanzibar em 1890, que por um
momento relaxou um pouco os antagonismos. Essa tentativa de aproximação
não durou muito e nem rendeu muitos frutos. Isso porque os interesses
alemães e ingleses entravam em rota de colisão no Oriente Médio e na África,
por um lado, e, por outro, porque o imperador alemão Guilherme II cometeu um
erro diplomático ao entrar em contato com presidente bôer do Transvaal em
1896 felicitando-o por conter uma tentativa de rebelião contra seu governo
orquestrada por oficiais britânicos (a chamada Jameson Raid).

A partir de 1897, a diplomacia alemã, tendo fracassado em impedir a


aliança franco-russa e em aliar-se com a Inglaterra, mudou sua direção
significativamente e entrou numa nova fase, a da freie Hand (mão livre) e da
Weltpolitik, pensada pelo então ministro das relações exteriores e depois
chanceler Bernard von Bühlow. Esse direcionamento diplomático se definia por
“não assumir compromissos ou formar alianças (mater a mão livre) nem com a
Rússia nem com a Grã-Bretanha, até que a Alemanha possuísse uma armada
suficientemente grande para formar com a Rússia um pacto contra a Grã-
Bretanha”2. Perceba aqui que a orientação da diplomacia alemã foi um tanto
quanto errática, ora tentando aliar-se com a Inglaterra, ora com a Rússia, ora
antagonizando ambos.

A ideia de von Bühlow era a de que a Alemanha deveria buscar seu devido
espaço no mundo como grande potência e que as demais grandes nações
deveriam levá-la em consideração nas várias negociações internacionais que
viessem a acontecer.

Sombra Saraiva nos chama a atenção para o fato de que a política mundial
alemã não era claramente definida. Para além do aspecto da mão livre e da
construção de um grande frota capaz de rivalizar com a talassocrática
Inglaterra, a política internacional alemã não definiu metas nem rumos claros.
Embora houvesse planos de expansão do império colonial, os esforços eram
desproporcionais aos ganhos obtidos pelo Reich. Como nos informa Saraiva:

2
Idem, p. 115.
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Esforços e resultados estavam num grotesco
desequilíbrio. Após um imenso esforço político, a
Weltpolitik resultou na aquisição da parte norte de
Samoa (1898-1899), do Kiautchou chinês e de alguns
pequenos territórios na África negra. Da Espanha foram
compradas, em 1899, algumas ilhas, sem valor, no
Pacífico. No Oriente Próximo, a Alemanha tornou-se
mais presente, depois que o imperador Guilherme II,
em 1898, por ocasião de uma viagem a Damasco e a
Jerusalém, delcarou-se o protetor de todos os
mulçumanos no mundo.3

A construção de uma poderosa marinha de guerra alemã que acabou não


se concretizando – levou a um pânico nos círculos governamentais ingleses
que, já temendo o imenso poder militar terresre alemão e sua “semi-
hegemonia” (expressão usada por Saraiva) no continente, agora também era
desafiada no controle dos mares. Assim, buscando contrabalançar a ameaça
alemã, a Grã-Bretanha passou a armar-se progressivamente (tanto quanto as
demais potências, no momento que chamamos de Paz Armada), quanto a
aproximar-se da França e da Rússia. Podemos afirmar, então, que a Weltpolitik
“empurrou” a Inglaterra para fora de seu isolamento esplêndido e a levou a ficar
mais preocupada com os destinos do continente.

É impressionante que o temor da Alemanha tenha levado antigos rivais a se


aproximarem no início do século XX. Isso porque se olharmos as tensões
existentes no plano internacional, os choques eram mais fortes e comuns entre
a Inglaterra e a França e a Inglaterra e a Rússia, do que com a Alemanha. Em
1898, por exemplo, um incidente em Fashoda (no atual Sudão do Sul) quase
levou a um choque militar entre forças britânicas e inglesas por conta da
construção de ferrovias. Ou ainda, quando a Inglaterra por várias vezes freou o
ímpeto russo de avanço em direção ao Oriente por medo de que chegasse à
Índia. Essas rivalidades inclusive se transformaram em aliança defensiva em
1901 entre França e Rússia contra uma possível guerra contra a Inglaterra.
Somente a criação de um inimigo intimidador comum entre os três – no caso, o
Reich alemão – poderia aplacar esses desentendimentos e levar a uma
entente. É assim que percebemos a assertiva de Kissinger quando afirmou que

3
Idem.
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a Alemanha passou ser a potência temida no século XIX, tanto quanto a
França o fora nos séculos XVII-XVIII.4

Buscando então efetivar suas alianças no continente, a Inglaterra realizou


um acordo com a França – mas não imediatamente com a Rússia – em 1904.
Inicialmente, não se tratava de uma aliança, mas um acerto de questões na
África do Norte e no Extremo Oriente. Esse acordo é visto como o nascimento
da Entente Cordiale, pois colocou fim aos conflitos anglo-franceses e permitiu,
por consequência, a futura aliança militar. A Alemanha, ao saber da
aproximação dos dois países sentiu-se atingida diretamente e as pretensões de
uma possível aliança com a Inglaterra, abandonadas.

O governo alemão, em resposta às potências que se aliavam e cercavam


seu país, buscou envenenar o esquema de alianças aproveitando-se da
primeira crise marroquina – ocorrida quando a Rússia estava enfraquecida
após a derrota para o Japão e o “Grande Ensaio” de caráter revolucionário de
1905. Em março de 1905, o kaiser Guilherme II visitou Tânger e reafirmou a
independência do Marrocos, exigindo uma conferência internacional para
abordar o tema. Essa atitude colocava em questão o consenso sobre a
predominância francesa na região, acordada tacitamente entre Grã-Bretanha e
França. Em 1906, na Conferência de Algeciras, encontraram-se as potências
para resolver o imbróglio. Ao contrário do que imaginava a Alemanha, as
relações entre suas rivais não se enfraqueceram. Derrotada diplomaticamente,
a Alemanha viu seus esforços se voltarem contra ela: Inglaterra e França
saíram mais unidas do evento e a preocupação com a ingerência alemã levou
a Inglaterra a procurar uma aliança com a Rússia, algo que ainda não havia
ocorrido. A Entente tornava-se mais “cordial”.

A Rússia, até pouco tempo temerosa de uma aliança com os ingleses,


decidiu por mudar de posição após os problemas internos e externos
enfrentados – vale lembrar, como dissemos em nossa aula sobre imperialismo,
que o Japão e a Inglaterra eram aliados e, após a derrota russa para os
orientais, era importante aproximar-se de um aliado de seu rival. Tanto quanto
os acordos realizados com a França, os primeiros movimentos diplomáticos,

4
Kissinger.
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em 1907, com a Rússia se referiam a assuntos muito práticos, lidando sobre
atritos coloniais na Pérsia, no Tibet e no Afeganistão. Somente depois que
esses acertos se tornaram efetivamente uma aliança. Conforme nos traz
Saraiva, a causa mais profunda dessa aliança se encontra na “intenção
britânica de evitar uma hegemonia alemã na Europa”.5

Após uma décadade uma política externa sem rumos e metas, errática e
agressiva, a Alemanha encontrava-se isolada no concerto das grandes nações.
Sua irracionalidade diplomática afastou as possibilidades de acerto e aliança
com a Inglaterra, precipitando a criação da Entente cujo objetivo final era conter
o Reich. O kaiser podia contar com os decadentes austríacos e turcos e com a
recente Itália (que depois se mostraria uma vira-casaca). Geopoliticamente, o
Império estava cercado. Na fronteira Oeste, a França; na Leste, a Rússia; pelo
Mar, a Inglaterra. Por que a Alemanha caminhara neste rumo?

O debate sobre a Weltpolitik é intenso e sem muitos consensos. Para


alguns historiadores, a questão que dividiu ingleses e alemães era econômica.
Ou seja, a antiga potência industrial não poderia aceitar o rápido
desenvolvimento industrial do II Reich. O desenvolvimento econômico, por sua
vez, teria levado a crescentes desentendimentos sobre o império colonial e a
busca por mais espaço no mundo teria levado a irremediáveis conflitos com os
britânicos.

Essa interpretação, baseada fortemente no econômico, é colocada em


xeque por Saraiva. Para ele, outras questões se colocavam, particularmente a
vinculação entre a política interna e a política externa. De acordo com ele:

... torna-se difícil seguir completamente os partidários


da “grande política” e atribuir à política externa uma
autonomia vis-à-vis à dimensão interna. Sobretudo, a
Weltpolitik alemã é inexplicável, sem se considerar o
seu vínculo com a política interna. (...) A Weltpolitik
deveria, de acordo com Brige e Bullen, resolver a crise
interna do sistema, ou seja, acabar com a ameaça dos
trabalhadores e da social-democracia às elites. O
império colonial e a construção naval teriam a função
de integração social e a grandeza imperial ofereceria
uma compensação pelo progresso social e político
negado pelo regime dos junker.6

5
P. 118.
6
Idem.
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
P D D P P S
Numa monarquia de traços claramente conservadores, o Império alemão
necessitava de apoio de sua população, de unidade nacional, se quisesse
manter sua estrutura política sem realizar concessões a grupos ganhavam
cada vez mais espaço no mundo social alemão, como os citados social-
democratas. Desta forma, falhar ou demonstrar fraqueza nas relações externas
significava perda de poder interno. Por esse motivo, explica-nos Saraiva, as
relações interestatais se tornaram cada vez mais rígidas e menor a disposição
para compromissos diplomáticos.

Um dos momentos que demonstrou essa inflexibilidade diplomática e que


dirigiu as potências perigosamente para um conflito bélico – e que daria o
cenário para o estouro da grande guerra – foi a crise da Bósnia entre 1908-
1909. A região da Bósnia e da Herzegovina fora ocupada pela Áustria-Hungria
em 1878 e era um fato político aceito pelas demais potências europeias. Em
1908, os austro-húngaros decidiram anexar as províncias para não perdê-la
para a Turquia. A Sérvia, no entanto, tinha interesses na região e protestou
diplomaticamente com o apoio da Rússia.

Para a Rússia era importante manter seu apoio aos sérvios para assegurar
seu prestígio e para aplacar os interesses de grupos nacionalistas eslavos
dentro da política interna russa. Esse movimento de defesa dos interesses dos
eslavos viria a ser conhecido como pan-eslavismo, isto é, um sentimento
nacionalista de que todos os eslavos deveriam estar sob o comando de um só
Estado, ou que um poderoso Estado deveria ser o guardião dos interesses
desse povo. Esse elemento nacionalista, ao qual se soma o revanchismo
francês, seria um aspecto de fundamental importância para o início das
hostilidades em 1914.

Para a Áustria-Hungria, manter o território da Bósnia-Herzegovina era uma


questão também de prestígio como grande potência, mas igualmente para
mostrar aos demais eslavos presentes no império que não haveria concessões
nacionalistas a eles.

Não houve confronto entre os grandes países nesse momento por duas
razões: primeiramente, a Rússia e a Áustria-Hungria estavam muito
enfraquecidas militarmente – lembrando da derrota russa para os japoneses
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
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ocorrida em 1905. Os alemães, em apoio a seus aliados austríacos, emitiram
um documento com ameaças veladas de guerra caso a anexação não fosse
aceita pelos demais países. A Entente recuou e os austríacos puderam manter
seu novo território.

Essa vitória diplomática importante para a Tríplice Aliança mostrou-se


prejudicial pouco tempo depois. A Rússia passou a antagonizar abertamente a
Áustria-Hungria, a Entente começou a preparar-se mais intensamente para um
confronto militar, os movimentos nacionalistas sérvios passaram a planejar
suas atividades terroristas contra os austríacos e estes se tornaram
completamente dependentes do Império Alemão.

A vitória dos impérios centrais na crise da Bósnia pouco tempo depois


ofuscada pela derrota na segunda crise marroquina de 1911. O incidente
ocorreu porque a França ocupou a capital marroquina para sufocar uma
rebelião. Em resposta, a Alemanha enviou um navio de guerra para a região,
ameaçando os franceses. Saraiva nos explica que a intenção do governo
alemão era extrair concessões na África em troca do reconhecimento do
protetorado francês sobre o Marrocos. No entanto, a Inglaterra reagiu apoiando
o movimento francês e a Alemanha, despreparada para iniciar um conflito
generalizado, recuou.7

Aproveitando que as energias e atenção das potências estavam focadas na


questão marroquina, a Itália invadiu Trípoli e a Líbia, regiões que faziam parte
do Império Otomano. Enfraquecido o governo do sultão turco, os países dos
Bálcãs iniciaram uma guerra para tomar de vez os territórios que reivindicavam
como seus. Os otomanos foram completamente derrotados e viram quase
todas suas possessões europeias passarem para os países balcânicos. Neste
processo, a Sérvia cresceu bastante, tornando-se uma ameaça ainda maior
para os interesses da Áustria-Hungria e agravando as relações desta com a
Rússia.

A crise acabou por fortalecer as alianças contrárias aos alemães e acelerou


os preparativos para uma guerra que se acreditava próxima. Essa corrida
armamentista ficou conhecida como o período de “Paz armada”, ou seja, um

7
P. 120.
História Mundial
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P D D P P S
momento sem guerras, mas no qual todas as grandes potências se
preparavam, leia-se, armavam-se para um confronto que se acreditava
próximo. A rigidez das relações internacionais, o belicismo, o nacionalismo, as
disputas imperiais estavam levando inexoravelmente – ou assim é crível – à
guerra. Embora tenha havido várias tentativas de negociação entre os países,
em missões diplomáticas tanto de alemães em direção aos russos, tanto dos
ingleses em direção aos alemães, a conjuntura política e diplomática, a
intrasigência de alguns homens de Estado, impediram soluções de
compromisso.

Após todas estas tensões e problemas diplomáticos, todo o cenário estava


montado para o estouro da guerra. Faltava, somente, algum fato que,
precipitando os países ao conflito, tragasse toda a Europa numa grande guerra.
Este fato ocorreu em julho de 1914.

Em 28 de julho de 1914, o herdeiro do trono austríaco, Francisco


Ferdinando, e sua esposa estavam visitando Sarajevo, capital da Bósnia
recém-anexada pela Áustria-Hungria. O príncipe planejava transformar os
domínios balcânicos de seu país em algo similar ao status da Hungria no
Império, ou seja, aumentar a autonomia dos povos locais. Acontece que,
durante sua visita, um radical sérvio membro de uma organização terrorista
chamada “Mão Negra”, Gavrilo Princip, matou-os a tiros enquanto passavam
pelas ruas da cidade.

O incidente foi a gota d´água, a tensão que arrebentou o fino elo que ainda
mantinha as potências em paz. Vamos ver o passo a passo dos
acontecimentos que levaram à declaração de guerra. O atentado ao príncipe
chocou muitas das cortes europeias e foi visto como um grave problema. O
governo austríaco buscou punir a Sérvia pelo ocorrido – e pelos demais
problemas ocorridos anteriormente –, mas para isso precisava do auxílio dos
alemães. Isso porque caso declarasse guerra à Sérvia, a Rússia entraria no
conflito, apoiando o país eslavo. O governo do kaiser, ao contrário de buscar
destender a situação, deu carta branca para o governo de seu aliado,
assegurando-o de seu auxílio em caso de hostilidades generalizadas. Os
belicistas do governo alemão queriam uma oportunidade para realizar uma
guerra “preventiva” contra a Rússia e diminuir seu poder militar.
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Embora tenha dado incondicional apoio aos austríacos, o Reich acreditava
que os russos não apoiariam integralmente os sérvios, esperando que o czar
ficasse estupefato com o assassinato de um membro de uma casa real (ora, se
isso foi feito contra a Áustria, o que impediria de ser feito contra a família do
czar?). Nicolau II, no entanto, não estava disposto a aceitar mais um recuo
diplomático em favor de seus rivais, por mais que o incidente claramente
houvesse sido causado por sua aliada.

A Áustria não fora capaz de agir com a rapidez necessária para mobilizar
seu exército – ao menos na visão da Alemanha. Finalmente, em 23 de Julho, o
governo austro-húngaro fez um ultimato à Sérvia: o governo sérvio deveria
aceitar uma investigação do caso a ser realizada pelo governo austro-húngaro,
suprimir as propagandas contrárias à Áustria e tomar medidas para combater
as unidades terroristas em seu país.

O ultimato tinha um prazo de 24 horas para ser respondido ou Viena


declararia guerra. A Sérvia habilmente aceitou todos os pedidos, com exceção
do primeiro: não aceitaria uma investigação estrangeira sobre seu solo. A
resposta pegou o kaise Guilherme II de surpresa, que não esperava uma
aceitação tão ampla do ultimato. Chegou mesmo a vacilar em relação à guerra
contra a Sérvia, mas foi convencido pelo chanceler Bethamann-Hollweg a não
ceder e apoiar as hostilidades austríacas. Em 28 de julho, seguindo-se a
negação sérvia em cumprir completamente o exigido, a Áustria-Hungria
declarou guerra à Sérvia e, um dia depois, começou a bombardear Belgrado.
Iniciava-se a Primeira Guerra.

2. De conflito local a conflito mundial: as fases da


Primeira Grande Guerra

A Primeira Guerra se inicia, assim, como um conflito entre dois países


relativamente marginais no contexto global, Áustria e Sérvia. No entanto, pelo
sistema de alianças e dados os exaltados sentimentos nacionalistas de todas
as potências, logo se transformou em hostilidade continental. Com a entrada
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dos Estados Unidos e a mobilização das colônias foi que, então, a guerra se
transformou, efetivamente, em mundial.

Para aplacar os movimentos social-democratas e as correntes pacifistas


internas, a Alemanha precisava parecer como agredida e não como agressora.
Nesse sentido, o governo alemão não declarou guerra imediatamente, nem
mobilizou seus exército de pronto. Esperou a mobilização de tropas russas
para argumentar que esse ato era uma agressão ao Reich. Fazendo
exatamente o que se esperava, o czar ordenou uma intensa mobilização de
tropas no dia 30 de julho. A Alemanha reagiu com um ultimato de 12 horas
para que o recrutamento fosse suspenso. Com a recusa russa, a Alemanha
declarou guerra à Rússia no dia 1º de agosto e, dois dias depois, à França.
Seguindo o plano de Schlieffen, o qual abordamos acima, os alemães
invadiram a Bélgica – território neutro – para atacar a França e alcançar Paris
rapidamente. Ao desrespeitar a neutralidade belga e ir contra os acordos de
independência da Bélgica – dos quais os alemães eram signatários – os
ingleses declararam guerra aos teutões em 4 de agosto. A guerra, em termos
geográficos, divide-se, em geral, em duas partes: a frente ocidental e a frente
oriental.
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Seguindo seu plano de guerra, os alemães invadiram território francês e


ganharam terreno rapidamente. Confiavam que chegariam a Paris e pouco
depois poderiam se voltar contra a Rússia, a leste. No entanto, entre 5 e 12 de
setembro de 1914 ocorreu a primeira batalha do Marne que resultou numa
vitória anglo-francesa e que barrou os avanços alemães.

A batalha do Marne é considerada um evento capital da Primeira Guerra


Mundial porque frustrou os planos alemães e demonstrou a todos os
beligerantes que a guerra, ao contrário do que todos esperavam, seria penosa
e longa. Também marcou o início da chamada guerra de trincheiras, que seria
a característica principal da guerra em sua parte ocidental. As trincheiras nada
mais eram do que valas cavadas para proteger os soldados dos projéteis
inimigos. A princípio, as trincheiras eram para ser provisórias, mas acabaram
por se prolongar até o fim da guerra. A partir do estabelecimento das
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trincheiras, pouco se avançou territorialmente, tanto a Alemanha quanto seus
rivais.

Soldados alemães comemorando o Natal nas trincheiras

O teatro de guerra oriental, no entanto, foi marcado por guerra de


movimento. Embora os russos tenham conseguido derrotar os austríacos no
início da guerra, sofreram pesadas derrotas contra os alemães. As sucessivas
perdas militares, a incapacidade administrativa de suprir os civis do necessário
sustento e a ida de Lênin e outros agitadores para o reino do czar precipitaria o
movimento revolucionário de 1917, que levaria ao fim do regime czarista e,
posteriormente, ao estabelecimento do regime comunista na Rússia. Lênin,
quando conseguiu tomar o poder na Rússia, não teve outra possibilidade se
não a de realizar a paz com os alemães. Num tratado humilhante – o de Brest-
Litovsk de 1918 – os russos saíram da guerra, abrindo mão dos territóriso da
Finlândia, dos países bálticos, da Polônia, da Bielorrússia e da Ucrânia,
territórios bastante significativos para a economia russa.

Embora vitoriosa no leste, a Alemanha se mostrava incapaz de quebrar as


linhas de trincheiras na França, sendo derrotada todas as vezes que tentou.
Assim sendo, buscou sufocar a Inglaterra por meio de um grande bloqueio
naval que impedisse a ilha de ser abastecida com víveres comercializados de
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outras partes do mundo. A Alemanha anunciou, então, a todos os países que a
Inglaterra estava bloqueada e se qualquer país tentasse furar o bloqueio, teria
seus navios afundados.

Até aquele momento, os Estados Unidos se mantinham afastados do


conflito, seguindo sua tradição histórica de ficar longe dos conflitos europeus e
de atuar em suas áreas de influência mais significativas: a América,
primeiramente, e o Pacífico – como vimos em nossas aulas anteriores. Sem se
indispor com qualquer um dos envolvidos no conflito, os Estados Unidos,
entretanto, guardavam certa simpatia pelos países da Entente e comercializava
em bons termos com a Inglaterra. O irrestrito bloqueio alemão, porém,
começou a concretizar-se com o afundamento de vários navios americanos e
na recusa alemã de acabar com ele, e os Estados Unidos entraram na guerra
do lados de franceses e ingleses.

Os Estados Unidos, nesse momento histórico, já despontavam como uma


das mais ricas economias do mundo, com uma grande capacidade industrial e
uma reserva de homens grande para lutar. Enquanto as potências europeias já
estavam desgastadas de quase quatro anos de conflito, os EUA estavam
“frescos”. Sua entrada marca o início da derrota da Alemanha. Como nos traz
Márcia Maria Menendes Motta:

Nos meses de junho e julho de 1918, apoiados pela


aviação e artilharia pesada, os aliados começaram a
acumular sucessivas vitórias. A criação de um
comando único em julho, em mãos do general francês
Foch, permitiu uma organização mais racional da
ofensiva aliada [entente]. Um exemplo disso foi a
chamada segunda batalha do Marne. Em junho os
austríacos foram derrotados pelos italianos. Logo
depois, os americanos e ingleses conseguiram romper
as linhas alemãs e, a partir daí, estes foram sendo
sucessivamente derrotados.8

Em 18 de novembro de 1918, após quatro anos do início da maior guerra


que a Europa já vira, a Alemanha pediu para negociar a paz, pouco tempo
depois de seus aliados. Logo em seguida, desmobilizou suas forças militares,
antes das rodadas de negociação começarem. Seus rivais, no entanto,
mantinham ainda suas tropas mobilizadas e, portanto, quando começaram os
diálogos diplomáticos para a paz, França e Inglaterra ainda tinham homens

8
P. 243.
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prontos para combate, a Alemanha, não. Isso significava que os alemães não
poderiam se negar a assinar qualquer tratado que lhes fosse imposto. A
medida de desmobilização significou, na prática, uma rendição incondicional à
Entente.

O problema disso tudo é que os alemães não haviam sofrido qualquer


derrota de grande expressão e ainda poderiam seguir lutando por mais tempo
para tentar negociar uma paz menos desvantajosa. Quando o teor do Tratado
de Versalhes foi exposto aos dirigentes da recém-fundada República de
Weimar – organismo político que sucedeu o Imério Alemão – não havia
qualquer possibilidade de resistência ou de renegociação. Aqui jaz um dos
motivos do orgulho nacional ferido dos alemães no pós-guerra e que levaria à
ascensão do nazismo: foram humilhados na guerra sem terem sofrido derrota
militar de grande escala para a Entente.

Por que então os alemães decidiram negociar e logo desmobilizaram suas


forças? As repostas não são simples, mas alguns historiadores, analisando os
países em contenda puderam perceber que os ingleses e franceses
conseguiram manter o padrão de vida de sua população civil em níveis
similares ao pré-guerra enquanto que, na Alemanha, a população passou a ser
privada de seu estilo de vida em virtude do esforço de guerra. Na medida em
que não se avançava no conflito, o governo alemão foi incapaz de mantê-lo por
mais tempo e teve de negociar a paz.

Antes de entrarmos nas questões mais fundamentais da paz e das


consequências da Primeira Guerra Mundial, é interessante ressaltar alguns
aspectos desse conflito que impactaram o modo mesmo de se fazer guerra e a
sociedade como um todo.

Foi durante a Primeira Guerra Mundial que vimos uma aliança importante
entre a indústria e a guerra. Todo o parque industrial se devotou para a
fabricação de munição, armas, carros, uniformes. Também novos experimentos
industriais na área da química foram transformados rapidamente em armas,
como, por exemplo, o gás mostarda criado pelos alemães e responsável pela
morte de milhares de franceses até que estes descobriram – também por meio
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da ciência – como evitar seus efeitos. Vale dizer aqui que ainda não havia as
probições formais, como hoje existem, do uso de armas químicas em guerra.

Soldados alemães soltando gás mostarda em 1915 aproveitando o vento


favorável

Novas criações foram feitas para a guerra e outras, adaptadas. Foi neste
conflito que, pela primeira vez, foram utilizados tanques de guerra. Embora
bastante primitivos em comparação ao que entendemos hoje como blindados,
foi um avanço sensível nas artes bélicas e que teria grande impacto
posteriormente.
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Soldados alemães retirando o excesso de lama de um tanque inglês capturado


em 1917

Outra invenção que foi colocada à prova (mas sem muito sucesso) durante
a guerra foram os dirigíveis, ou também conhecidos como Zepelins. Os
ingleses temiam que os alemães pudessem se utilizar dos dirigíveis para atacar
Londres, o que nunca ocorreu.

Também o avião foi utilizado na Primeira Guerra Mundial, mas sem o


grande impacto que teria 20 anos depois. De todas as invenções utilizadas na
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guerra, o submarino foi o mais significativo, como vimos, pela capacidade de
bloqueio naval e a dificuldade tecnológica dos navios de combatê-los.

Socialmente, a guerra teve grandes impactos. Com a saída em massa dos


homens para os campos de batalha e por longo tempo, as mulheres tomaram
seus lugares nas fábricas para a necessária produção industrial devotada à
guerra. Não podemos afirmar que as mulheres não participavam da produção
econômica anteriormente, mas, a partir de então, ganhariam mais e mais
espaço. Isso transformou radicalmente os locais de trabalho e levaria as
mulheres a buscarem ampliar seus direitos, tanto trabalhistas quanto políticos.
Esses aspectos seriam intensificados após a Segunda Guerra Mundial.

Culturalmente, a Primeira Guerra inicia uma mudança significativa também.


Em conexão com a ida das mulheres para as fábricas, há alterações nas
estruturas sociais das famílias, a gradual modificação dos papéis de pai e mãe
e da ressignificação da relação parental. Claro, de maneira lenta, vale
remarcar.

Igualmente, considera-se que, com a Primeira Guerra Mundial, a chamada


belle époque chega ao fim. Ou seja, o período de progresso, de
desenvolvimento material, cultural, a ideia de que os seres humanos
alcançariam graus cada vez maiores de aperfeiçoamento moral, de que a
tecnologia e o liberalismo libertariam a humanidade de suas superstições e
atrasos. Com o estouro da guerra e suas atrocidades, este conjunto de ideias
entra em colapso e é substituído por um sentimento difuso de pessimismo, de
que não existe um progresso sem fim, de que a razão humana não pode levar
à felicidade etc. Estas questões seriam expressas nas artes, na filosofia, na
literatura e em outras formas de expressão cultural. Todos estes sentimentos
seriam fortemente agravados, isso é certo, após a segunda guerra mundial,
mas seus gérmens se encontravam no entreguerras e que aprofundaremos em
outra aula.

Muito significativo para nossos estudos e para o período que se desenrolará


posteriormente foi a definição da Paz de Versalhes e os impactos que isso
trouxe para a Europa. Debrucemo-nos sobre este aspecto agora.
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3. A Paz de Versalhes e a ordem mundial resultante

Em 1918, o fim da guerra se avizinhava. Os alemães e seus aliados eram


incapazes de romper as linhas dos inimigos e aos poucos a vitória da Entente
ficava clara. Como dito, o governo alemão pediu para negociar a paz e
desmobilizou seu exército. Este fato levaria a uma paz que seria tão dura e
humilhante que geraria outros problemas depois – claro que os vencedores não
poderiam “adivinhar” o que viria a acontecer no momento em que realizaram os
tratados de Versalhes.

Mas havia uma proposta que fora colocada como guia para as negociações,
os chamado 14 Pontos de Wilson, propostos pelo então presidente americano,
Woodrow Wilson. No início de 1918, Wilson apresentou seu plano de paz para
o Congresso norte-americano. Para o presidente, caberia aos EUA assegurar a
paz entre as nações e seu plano apresentava medidas nesse sentido. Seus 14
pontos, embora fizessem algumas alterações territoriais desvantajosas aos
alemães, eram uma forma de “paz sem vencedores”. Vejamos os pontos da
paz de Wilson:9

1. Abolição da diplomacia secreta, ou seja, a diplomacia entre os países


deveria tornar-se pública;
2. Plena liberdade de navegação, tanto em período de paz quanto na
guerra, o que significava uma crítica à tática do bloqueio naval;
3. Remoção, quando possível, de todas as barreiras econômicas entre as
nações e o estabelecimento de uma igualdade de condições de
comércio entre as nações;
4. Limitação dos armamentos nacionais, reduzidos ao menor nível,
coerente com a segurança nacional;
5. Ajuste imparcial das pretensões coloniais, considerando-se também os
interesses dos colonizados;

9
Retirado de Motta, p. 249-250.
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6. Ajuda à Rússia, para que este país pudesse obter uma oportunidade
desimpedida e desembaraçada para a determinação independente de
seu desenvolvimento político;
7. Restauração da independência da Bélgica;
8. Devolução da Alsácia-Lorena à França;
9. Reajustamento das fronteiras nacionais italianas;
10. Autonomia dos povos da Áustria-Hungria;
11. Restauração da Romênia, de Montenegro e da Sérvia, assegurando o
acesso ao mar aos sérvios;
12. Autonomia dos povos até então submetidos aos turcos;
13. Criação de uma Polônia independente;
14. Criação de uma Sociedade ou Liga das Nações.

As propostas de Wilson previam uma relação entre Estados mais “amistosa”


e pacífica, baseada em princípios gerais de cooperação e justiça que levassem
a uma paz duradoura. Essa proposta de paz apresentada por Wilson ao
Congresso é similar, em princípio, à paz de Viena de 1815. Se pudermos
realizar um exercício intelectual típico de Kissinger, a paz estabelecida no
Congresso de Viena foi uma paz sem vencedores que, estabelecendo
princípios gerais – a legitimidade e a conservação – pelos quais as nações
deveriam guiar-se dali em diante permitiu uma relativa paz entre os Estados
por quase meio século. Também a proposta de Wilson pretendia isso – embora
baseada na justiça, na democracia e na liberdade.

Aqui seria importante apontar algumas similaridades entre Wilson e Lênin


no que se refere à teoria das relações internacionais. Ambos se mostraram
contrários à diplomacia secreta que vigorara no período anterior à guerra.
Igualmente, ambos se mostrariam contrários à ideia de equilíbrio de poder que
fora a linha-mestra de atuação dos Estados entre si desde, no mínimo, o
Congresso de Viena. Ambos defenderiam a noção de autodeterminação,
embora esse conceito significasse coisas diferentes para cada um. 10 Diferiam,

10
“Analisado tanto por Lênin como pelos primeiros autores liberais, o conceito de
autodeterminação significava a luta dos povos contra a dominação ou opressão por parte de
potências estrangeiras. Mas a autodeterminação, para Lênin, era expressão da luta
nacionalista (que visava à emancipação política) e anti-imperialista (refratária à dominação
econômica), ao passo que na linha de raciocínio liberal significava apenas a conquista da
soberania política por parte dos povos que tivessem alcançado determinado grau de
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no entanto, na defesa ardente cada um de seu sistema – a democracia liberal
capitalista para Wilson e o socialismo coletivista de Lênin.

As propostas wilsonianas, no entanto, não agradaram a seus aliados no


Velho Mundo. Os ingleses não estavam interessados numa liberdade dos
mares irrestrita e os franceses, que tinham lutado por quatro anos dentro de
seu território após uma invasão alemã, acreditavam que os teutões deveriam
pagar pelos danos causados à sua terra. Ingleses e franceses, contrariando o
espírito congressual europeu de um século antes, decidiram que os alemães
deveriam pagar caro por sua agressão e ser desarmados para não mais
atacarem seus vizinhos. Percebam que a Alemanha, para os governos inglês e
francês, foi considerada culpada, agressora, violenta. Por conta dela que a
guerra havia começado e, portanto, ela deveria ser responsável pela
reconstrução dos países da Entente.

Esse foi o espírito que vigorou nas conferências de paz. Em 19 de janeiro


de 1919, iniciava-se a Conferência de Paris. Não houve uma efetiva
negociação. Ao contrário, os vencidos sequer foram ouvidos. Os vencedores
simplesmente realizaram um acordo para o que deveria ser reparado pelos
alemães. Conforme nos traz Motta:

Conhecido pelo nome de Tratado de Versalhes para os aliados


e “Ditado de Versalhes” para os alemães, os termos da paz
eram profundamente cruéis para com a Alemanha. Em primeiro
lugar, ela era obrigada a restituir a região da Alsácia e da
Lorena à França, além de entregar a bacia carbonífera do
Sarre para ser explorada pela França durante quinze anos. (...)
Havia outras questões territoriais impostas pelo tratado.
Deveriam ser entregues os distritos de Eupen e Malmedy à
Bélgica; da maior parte do Schleswig à Dinamarca, de Memel à
Lituânia, de grande aprte da Prússia Oriental à Polônia,
inclusive a bacia carbonífera da Alta Silésia. Além disso,
estabelecia-se uma faixa de terra, dividindo o restante da
Prússia Oriental da Alemanha, conhecida com o nome de
“corredor polonês”, para dar uma saída marítima à Polônia.
Transformava-se ainda a cidade alemã de Dantzig em cidade
livre, sob o controle da Liga das Nações, e dividia-se todo o
império colonial alemão pelas potências vencedoras,
principalmente França e Inglaterra. (...) Havia ainda as
chamadas indenizações punitivas. Elas significavam que a
Alemanha deveria pagar 132 bilhões de marcos-ouro, dividos
em quotas, num prazo de trinta anos! Eram ainda confiscados
todos os investimentos e bens nacionais ou privados alemães

maturidade e civilização.” Retirado de: http://www.fee.rs.gov.br/wp-


content/uploads/2015/05/20150525relacoes-internacionais_-conceitos-basicos-e-aspectos-
teoricos.pdf, p. 20.
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existente no estrangeiro. Os alemães eram obrigados também
a entregar anualmente 40 milhões de toneladas de carvão aos
aliados europeus, durante um período de 10 anos! (...) Não
satisfeitos, os aliados fizeram constar no Tratado de Versalhes
ainda mas humilhações. A Alemanha foi obrigada a admitir sua
inteira responsabilidade pela deflagração da guerra. E isso
também significava que ela teve que aceitar a desmilitarização
de seu exército. (...) Os aliados dos alemães – o Império
Austro-Húngaro, o Império Otomano e a Bulgária – também
foram punidos. Pelo Tratado de Saint-Germain, de 10 de
setembro de 1919, e de Trianon, de 4 de junho de 1920, o
Império Austro-Húngaro desapareceu, dando lugar a diversos
países independentes: Áustria, Hungria, Tchecoslováquia,
Iugoslávia e Polônia. (...) A Turquia – nome que assumiu o
núcleo do ex-império otomano – reduziu-se ao planalto
anatoliano e suas adjacências imediatas. A Bulgária, apesar de
não ter participado efetivamente da guerra perdeu, pelo
Tratado de Neuilly, de 7 de novembro de 1919, todas as suas
costas marítimas no Mar Egeu em favor da Grécia.11

Europa antes do estouro da guerra

11
Motta, p. 251-252.
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Europa após a Paz de Versalhes

Dentro do grande conjunto de pontos elecandos, é importante destacar


duas coisas: a questão da culpa alemã e a Liga das Nações.

No artigo 231 do Tratado de Versalhes a Alemanha e seus aliados foram


considerados culpados pelo estouro da guerra, tornando-se, portanto,
responsável pela reparação dos danos, conforme vimos. A culpabilização
alemã, entretanto, não foi consenso à época e permanece um imbróglio
histórico/historiográfico de difícil resolução.

Quanto o conteúdo do tratado foi exposto aos vencidos e vencedores, a


questão da culpa gerou, tal como nos informa Saraiva, uma “guerra mundial
dos documentos”12, com os vários tentando provar sua inocência moral e
jurídica da guerra. Alemanha, Inglaterra, França, Áustria, Iugoslávia e Rússia
lançaram obras coletâneas de documentos para “provar” seu ponto de vista.

O revisionismo alemão – utilizando a “ciência histórica” como argumento –


afirmou que a guerra não ocorrera por culpa alemã. Antes, os alemães teriam
reagido, de maneira justificada em sua visão, a uma agressão russa, dada sua
mobilização de tropas na fronteira com o Reich. Dois historiadores norte-
americanos da década de 1920 também apoiaram o revisionismo alemão,
afirmando que a Sérvia tinha tido grande culpa e que a reação austríaca havia
sido justificada. A Entente, ao entrar na guerra por conta da questão sérvia –

12
Saraiva, p. 124.
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ainda dentro desta perspectiva historiográfica – teria precipitado uma guerra
mundial.13

Do outro lado do espectro historiográfico, alguns autores, como Henri


Kantorowicz, Pierre Renouvin e Bernadotte Schmitt, argumetaram que a
Tríplice Aliança teria maior responsabilidade pela guerra porque a Áustria
declarou guerra à Sérvia deliberadamente e a Alemanha estava diposta a
guerrear contra a Rússia.14

Uma outra linha principal de argumentação surgiu no pós-II GM. Esta outra
interpretação afirma que a não há culpa que possa ser imputada a qualquer um
dos participantes da guerra individualmente, mas deve ser colocada na
estrutura internacional das relações interestatais. Como nos diz Saraiva:

Segundo essa interpretação, foram responsáveis pela guerra a


impossibilidade de limitar os conflitos em razão da divisão
bipolar da Europa, a diplomacia secreta, o automatismo das
reações em cadeia por causa das alianças militar-políticas, o
fatal entrelaçamento de circunstâncias infelizes, mas não as
políticas dos Estados, dos povos ou de políticos individuais. 15

Outras interpretações historiográficas surgiram, retomando, com nuances,


aspectos elencadas por estas apresentadas. Fato concreto é que, para os
alemães que passaram pela catástrofe da Grande Guerra, a Alemanha havia
sido considerada culpada e pagou um alto preço por isso. Fácil é perceber
como o sentimento de humilhação criado pelos tratados de paz criaram um
ambiente político tóxico que permitiria a ascensão de ideologias radicais,
autoritárias e militaristas. Esse aspecto, no entanto, será abordado em outra
aula.

Outra questão significativa foi a criação da Liga das Nações. Aqui, temos de
destacar vários pontos importantes.

Apesar de os ingleses e franceses não terem aceitado vários dos pontos


elecandos por Wilson em suas diretrizes de paz, o ponto 14, ou seja, a ideia da
criação de uma Liga ou Sociedade das Nações que coordenariam as relações
interestatais foi acatada. Em 28 de junho de 1919 ela foi criada pelas potências
vencedoras.
13
Idem.
14
Idem, p. 125.
15
Idem.
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Dentro da engenharia política norte-americana, para que os EUA pudessem
ingressar nessa instituição multilateral, havia a necessidade de aprovação
congressual. Embora o presidente Woodrow Wilson fosse fortemente a favor –
afinal, ele propusera sua criação um ano antes – o Congresso estadunidense
não aprovou, mantendo sua distância das questões europeias, ou, como
alguns preferem dizer, mantendo seu isolacionismo diplomático.

A Alemanha, embora tenha participado inicialmente da Liga, veio a sair em


1933. Como derrotada e depois de humilhada pelos Tratados, a República de
Weimar via com bastante desconfiança esse novo organismo. Para muitos da
elite política alemã, a Liga era mal-vista porque fundada pelos países que
haviam imposto uma paz tão degradante aos alemães. Adolf Hitler, tempos
depois, desrespeitaria os tratados de Versalhes e sairia da Liga das Nações
porque a percebia como um ente limitador das possibilidades e grandezas
alemãs.

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) não entrou na Liga.


Tendo lutado com uma coalizão de países ocidentais após a I Guerra Mundial
durante o contexto de sua guerra civil, os bolcheviques que alcançaram o
poder não queriam relações com as potências capitalistas da nova ordem.

A ausência de um conselho que efetivamente pudesse garantir a


manutenção da ordem internacional, o pacifismo extremado das duas principais
potências presentes na Liga – a Inglaterra e a França – e a ausência de outras
tantas potências – EUA, URSS e Alemanha após 1933 – são alguns dos
aspectos levantados pela historiografia para apontar o fracasso desse
organismo multilateral. Como alguns dos principais atores da nova ordem
mundial não queriam atuar conforme as mesmas regras, o sistema montado
não poderia dar certo. A retórica pacifista e liberal da Liga não encontrava ecos
nos países onde o coletivismo e o autoritarismo vingavam – o fascismo italiano,
o nazismo alemão, o stalinismo soviético, o franquismo espanhol, o
salazarismo português, para citar alguns exemplos. Na indeterminação dos
países dirigente da Liga em realmente levar a cabo as decisões tomadas –
como, por exemplo, as punições previstas para a Alemanha em caso de
desrespeito do Tratado de Versalhes. Incapaz de agir contra os inimigos da
ordem liberal com firmeza, viria a falir na esteira da Segunda Guerra Mundial.
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Estes aspectos da Liga que levariam à Segunda Guerra serão tratados em
outra aula, a de entreguerras.

Agora, vamos praticar o que estudamos?

Prova do CACD de 2005, questão 13

Não são poucos os historiadores que vêem na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
o fim do historicamente longo século XIX Quer pela complexidade de suas causas,
quer por seus efeitos profundos, um dos quais a vitória bolchevique na Rússia, a
Grande Guerra assinala o epílogo de uma era e o início propriamente dito do século
XX. A esse respeito, julgue (C ou E) os itens seguintes.

( ) Entre os fatores determinantes para a eclosão do conflito mundial em 1914,


podem ser destacados o exacerbado nacionalismo — não raro revestido das cores da
xenofobia — e as disputas ditadas pelos interesses imperialistas.
Resposta: Correta
Comentário: Questão muito simples! Como comentamos acima, dois aspectos
essenciais para o estouro da guerra foram o nacionalismo e as disputadas
imperialistas. Dentro dos nacionalismos, podemos destacar muito claramente o pan-
eslavismo (Rússia e Sérvia), o pan-germanismo (Alemanha) e o revanchismo francês.
Também estaria correta se afirmasse que a rede de alianças costurada desde a década
de 1890 foi um dos fatores importantes.

( ) A rápida ascensão da Alemanha no pós-1870 constituiu fator desestabilizante no


cenário europeu. Ainda que tenha mantido permanente aliança econômica com a Grã-
Bretanha, sua disputa com a França por influência política criou condições propícias à
guerra.
Resposta: Errada
Comentário: O primeiro período da questão está certo, como já vimos em aulas
anteriores. A criação do II Reich foi realmente desestabilizador para as relações
interestatais europeias. No entanto, o item se encontra errado ao afirmar que o
Império alemão mantivera aliança econômica com a Grã-Bretanha. Como vimos em
nosso texto, embora os alemães tenham buscado alianças políticas com os ingleses
contra os franceses, suas ambições coloniais e econômicas naufragaram essa
possibilidade.

( ) A expressão“paz armada”consagrou-se como a melhor caracterização do cenário


europeu nos anos imediatamente anteriores a 1914. Nesse contexto, por temerem as
conseqüências da guerra, os diversos Estados renunciaram à velha prática da
diplomacia secreta visto que esta os amarraria a uma perigosa teia de acordos
militares.
Resposta: Errada
Comentário: Novamente, o primeiro período do item está correto. A expressão “paz
armada” caracteriza bem as décadas anteriores à guerra quando as potências passaram
a gastar bastante com equipamentos militares preparando-se para uma possível
guerra. O erro da questão está em afirmar que as potências haviam suspendido a
prática da diplomacia secreta, ou seja, a de negociar alianças e tratados sem que os
demais países ficassem sabendo – se não do todo, ao menos de algumas cláusulas.
Como dito no item acima, seriam essas alianças criadas desde a década de 1890 que
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transformaria um conflito regional em continental/mundial.

( ) Impulsionada pelas circunstâncias da guerra, que explicitaram ainda mais a grave


situação interna da Rússia, a Revolução Russa de 1917 significou a primeira grande
fissura na unidade capitalista que a Revolução Industrial e as revoluções liberais
burguesas haviam começado a edificar desde as últimas décadas do século XVIII.
Resposta: Correta
Comentário: Embora não tenhamos visto ainda revolução russa, é uma questão
muito simples de se responder nesse contexto da Primeira Guerra Mundial. Até 1917,
a Rússia era uma monarquia absoluta governada por um czar. Marcadamente agrária,
a economia russa mostrava sinais de aceleração desde a década de 1880,
particularmente em algumas cidades, como São Petersburgo e Moscou. Em termos
militares, a Rússia assustava porque possuía um enorme contigente de homens para
lutar, numa época em que ter muitos homens no exército era muito importante. No
entanto, as forças russas eram tecnologicamente atrasadas se comparadas com as
alemãs. Durante a guerra o governo russo foi incapaz de abastecer adequadamente
sua população, fazendo com que grandes parcelas do povo passasse fome. Esses
problemas, dentre tantos outros, levou ao estouro da revolução em 1917.
Inicialmente, a revolução não tinha caráter socialista. Mas com a incapacidade do
governo de Kerensky de atender às demandas dos bolcheviques, estes tomaram o
poder e instauraram o primeiro regime socialista do mundo, quebrando com a unidade
capitalista existente até então e transformando em realidade uma, até então, “utopia”.

Prova do CACD de 2007, caderno Lima, questão 49

Ainda com referência ao texto, assinale a opção correta relativamente ao papel


representado pelo presidente Wilson no contexto da Primeira Guerra Mundial e ao
significado de seus Quatorze Pontos.

A As propostas de Wilson — que preconizavam uma “diplomacia nova”, com vistas à


preservação da paz — previam, entre outras medidas, remanejamentos territoriais
norteados pelo princípio da autodeterminação dos povos.
Resposta: Correta
Comentário: Como vimos nos pontos elencados no texto, o presidente Wilson
pretendia que houvesse mudanças no mapa europeu considerando as etnias e culturas
presentes nos respectivos territórios, embora isso pudesse ser questionável. Assim,
propôs a autonomia dos povos do império austro-húngaro, a independência da
Polônia, o retorno da Alsácia-Lorena à França etc.

B Embora questionassem o sistema internacional vigente, Lenin e Wilson admitiam a


diplomacia secreta e as anexações territoriais.
Resposta: Errada
Comentário: Tanto Lenin quanto Wilson eram completamente contrários à
diplomacia secreta. Wilson, em particular, mostrava-se bastante contrário a tomadas
de território com base na força.

C Ao propor a criação da Liga ou Sociedade das Nações, Wilson o fez com o


respaldo da opinião pública norteamericana e, sobretudo, do Congresso de seu país,
razão pela qual os EUA tiveram condições de liderar confortavelmente a nova
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organização internacional.
Resposta: Errada
Comentário: Como colocado no texto, embora o presidente Wilson tivesse proposto
a criação da Liga das Nações em seu discurso ao Congresso em 1918, este mesmo
Congresso proibiu a entrada dos EUA no novo organismo internacional criado em
1919, razão pela qual os norte-americanos não “lideraram” a nova instituição, como
afirma o item.

D Embora tenham entrado na Grande Guerra ao lado das potências centrais (Tríplice
Aliança), os EUA puderam superar essa circunstância aparentemente negativa pela
força de sua economia, vital para a recuperação européia após o conflito.
Resposta: Errada
Comentário: Este item pode confundir o candidato por conta do uso dos termos para
se referir às alianças da Primeira Guerra. Colocamos no texto que havia dois grupos
em contenda: a Tríplice Entente ou somente Entente (Inglaterra, França, Rússia) e a
Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália – até 1915 – e depois Império
Otomano). Acontece que muitos autores se referem à Entente como Aliados, porque o
núcleo da Entente formará os “Aliados” da Segunda Guerra Mundial (Inglaterra,
França, EUA e URSS). Para desfazer esse imbróglio de nomenclatura, associe o
grupo perderdor da I GM – a Tríplice Aliança – com as expressões “Impérios
centrais” ou “Potências centrais”, que são a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália
(embora também sirva para os Otomanos. Esclarecido este aspecto, fica fácil perceber
que o item está errado, já que os EUA não se aliaram às potências centrais e sim à
Entente.

E A partir de Wilson, e de forma acintosa, os EUA passaram a assumir


responsabilidades crescentes na condução da política interna européia, rompendo o
isolamento que praticaram antes da Primeira Guerra Mundial
Resposta: Errada
Comentário: Questão muito simples! Os EUA não romperam com seu isolacionismo
somente após a segunda guerra mundial. Apesar da proposta de Wilson de fazer com
que os Estados Unidos tivessem papel mais preponderante na condução dos assuntos
internacionais por meio da Liga das Nações, os congressistas norte-americanos
discordarvam e impediram essa atuação mais intensa pelo governo. Tanto o é que
mesmo com o estouro da segunda guerra, os EUA se mantêm neutros, atacando o
Eixo somente após o evento de Pearl Harbor em 1941.

Prova do CACD de 2009, caderno verde, questão 75

Acerca do processo histórico que desencadeou a I Guerra Mundial, julgue (C ou E) os


itens a seguir.

1 ( ) A ascensão econômica e política do Império Austro-Húngaro levou-o a


confrontar os interesses ingleses nos Bálcãs. O assassinato do arquiduque Francisco
Ferdinando, em Sarajevo, permitiu que se atribuísse ao imperialismo britânico a
responsabilidade pelo clima de tensão regional, e constituiu o marco inicial da guerra.
Resposta: Errada
Comentário: O item mistura duas questões, uma real e outra inventada, para
confundir o candidato. Então, de fato o assassinato de Francisco Ferdinando em
Sarajevo foi o marco inicial da guerra. No entanto, sua morte não foi fruto do
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imperialismo inglês ou dos interesses ingleses na região dos Bálcãs, mas antes
resultado de tensões entre a Áustria-Hungria e os nacionalistas sérvios que queriam
anexar a Bósnia-Herzegovina à Sérvia.

2 ( ) A expansão econômica da Alemanha levou-a a competir com a Inglaterra e com


a França.
Resposta: Correta
Comentário: Questão simples! Vimos que a unificação da Alemanha em 1871 criou
uma verdadeira potência econômica e militar. Os alemães rapidamente se tornaram
capazes de rivalizar a Inglaterra em termos de produção industrial, destacando-se
particularmente nas indústrias química e de aço. Esse novo player internacional faria
com que as tensões a nível mundial entre as potências aumentasse consideravelmente,
resultando na chamda “Paz armada”.

3 ( ) Na França, o governo do presidente Poincaré, acossado por reivindicações


nacionalistas, encontrou na guerra uma alternativa para desviar as atenções dos
problemas internos.
Resposta: Errada
Comentário: Podemos considerar esta questão como errada pelo fato de que
Poincaré não estava acossado pelos nacionalistas, mas os encabeçava. Ele foi um dos
grndes responsáveis por selar a aliança com a Rússia e dar as garantias de que
interviria em seu favor caso a Alemanha viesse a atacá-la.

4 ( ) No início, a guerra reforçou a coesão nacional no Império Austro-Húngaro e na


Rússia.
Resposta: Correta
Comentário: Questão controversa e bem capciosa. O que torna esta questão correta é
a expressão adverbial de tempo, “no início”. Porque, com sabemos, o contínuo
esforço de guerra causaria, na Rússia, a desintegração do regime czarista e o estouro
da revolução de 1917. Mas, de fato, considerando o tempo indicado, podemos
perceber nos países participantes do conflito uma espécie de euforia com início da
guerra,c om o zelo nacionalista dos envolvidos empolgando a população. Somente
quando a guerra se mostra bastante demorada e as misérias causadas por ela alcançam
a população civil é que o apoio à guerra arrefece e as críticas ao governo e à
condução do conflito começam a aparecer.

Prova do CACD de 2010, caderno C, questão 67

O historiador Geoffrey Barraclough considera que os “14 Pontos” do Presidente


Wilson podem ser interpretados como resposta à revolução mundial concebida por
Lenin. Agrega que os dois líderes apresentam traços em comum. A propósito, julgue
(C ou E) os pontos que os aproximam:

( ) o papel de “profetas da nova ordem internacional”.


Resposta: Correta
Comentário: Podemos considerar esta assertiva correta porque Lenin e Wilson
proporão mudanças nas regras das relações interestatais que serão, com mais ou
menos intensidade, implantadas nos períodos posteriores.
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( ) rejeição do “equilíbrio de poder”.
Resposta: Correta
Comentário: Como vimos, tanto Wilson quanto Lenin iriam contra a ideia de um
equilíbrio de poder, buscando alternativas à diplomacia mundial, cada um conforme
sua ideologia, já que ambos analisavam a rede de alianças como responsáveis pelo
estouro da guerra e sua mundialização.

( ) reconhecimento de que negociações secretas são, às vezes, indispensáveis.


Resposta: Errada
Comentário: Item muito simples. Mais uma vez, Wilson tanto quanto Lenin eram
contrários à diplomacia secreta. Para ele, a relação entre os Estados somente poderia
ser pacífica se os acordos diplomáticos fossem públicos e abertos.

( ) coincidência ideológica, com ênfase democrática.


Resposta: Errada
Comentário: Também uma questão fácil. Enquanto Lenin pregava a ditadura do
proletariado como o caminho para a superação do sistema capitalista e a instauração
do socialismo, Wilson defendia a democracia e a manutenção da ordem liberal.
Podemos pensar nos seguintes termos: Lênin  coletivismo, socialismo,
autoritarismo; Wilson  individualismo, capitalismo, liberalismo/democracia.

(UDESC 2008) Sobre a Primeira Guerra Mundial, é correto afirmar:

a) A Liga das Nações foi criada apenas depois da Segunda Guerra.


b) O movimento Jovem Bósnia foi um dos grandes suportes do império Austro-Húngaro
contra os Sérvios.
c) A instável situação na Península Balcânica, aliada às políticas expansionistas dos
países europeus, levou a efeito à Guerra.
d) No Tratado de Versalhes a Alemanha foi muito prestigiada.
e) As políticas nazista e fascista não se relacionam com o final da Primeira Guerra.

Comentários: a. A Liga das Nações foi uma decorrência da Primeira Guerra Mundial,
sendo criada em 1919.
b. O Jovem Bósnia foi um movimento nacionalista que questionava o domínio do
Império Austro-Húngaro nos Bálcãs; ou seja não pode ser visto como um suporto.
c. A Península Balcânica e suas rivalidades abrigaram o estopim da Primeira Guerra
Mundial, cujas causas profundas estavam sobre os choques expansionistas das
potências europeias. Alternativa correta.
d. O Tratado de Versalhes impôs condições draconianas para a rendição alemã,
gerando uma sensação de humilhação contra a Alemanha.
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e. Os totalitarismos teuto-italianos foram uma decorrência direta dos termos
estabelecidos no sistema internacional ao final da Primeira Guerra.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(PUCCAMP) Em relação às causas da Primeira Guerra Mundial é correto afirmar


que:

a) A incapacidade dos Estados liberais em solucionar a crise econômica do século XIX


colocou em xeque toda a estrutura do sistema capitalista. A instabilidade política e
social das nações europeias impulsionou as disputas colonialistas e o conflito entre as
potências.
b) A desigualdade de desenvolvimento das nações capitalistas europeias acentuou a
rivalidade imperialista. A disputa colonial marcada por um nacionalismo agressivo e
pela corrida armamentista expandiu os pontos de atrito entre as potências.
c) O sucesso da política de apaziguamento e do sistema de aliança equilibrou o sistema
de forças entre as nações europeias, acirrando as lutas de conquista das colônias da
África e da Ásia.
d) O expansionismo na Áustria, a invasão da Polônia pelas tropas alemãs assustaram a
Inglaterra e a França, que reagiram contra a agressão declarando guerra ao inimigo.
e) O desequilíbrio entre a produção e consumo incentivou a conquista de novos
mercados produtores de matérias-primas e consumidores de bens de produção
reativando as rivalidades entre os países europeus e os da América do Norte.

Comentários: a. De fato, a rivalidade no interior do sistema capitalista gerou um


travamento das relações internacionais com uma generalização de “exportações de
crises econômicas”. No entanto, é precipitado falar que a crise do século XIX colocou
em risco toda estrutura do sistema capitalista.
b. Os desenvolvimentos industriais assimétricos criaram pressões complexas no centro
do sistema internacional, incentivando rivalidades por mercados consumidores e por
matérias-primas. A resposta pelo nacionalismo foi combinada com uma corrida
armamentista (noções da civilização da técnica) e com as rivalidades imperialistas,
organizando uma complicada trama político-militar que resultaria na Primeira Guerra
Mundial. Alternativa correta.
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c. O concerto europeu do século XIX conheceu seu desgaste máximo às vésperas da
Primeira Guerra, com uma política de alianças muito estática e perigosa para as
dinâmicas políticas. O apaziguamento ia esgotando-se enquanto as rivalidades
coloniais se agravavam sem que houvesse ferramentas políticas para sua solução.
d. A Áustria-Hungria sofria de uma debilidade político-militar que praticamente a
imobilizava na política internacional do início século XX. Ou seja, não faz sentido falar
em um expansionismo austríaco. Da mesma maneira, foi na Segunda Guerra que a
Alemanha deu início às hostilidades invadindo a Polônia.
e. A corrida imperialista não pode ser apontada como a única causa da guerra.
Gabarito: ALTERNATIVA B.

(Mackenzie) A respeito do envolvimento dos EUA na Primeira Grande Guerra, é


INCORRETO afirmar que:

a) foi influenciado pela intenção germânica de atrair o México, prometendo-lhe ajuda na


reconquista de territórios perdidos para os EUA.
b) os EUA financiaram diretamente a indústria bélica franco-inglesa e enviaram um
grande contingente de soldados ao fronte.
c) uma possível derrota da França e Inglaterra colocaria em risco os investimentos
norte-americanos na Europa.
d) contrariando o Congresso, o presidente dos EUA rompeu a neutralidade, declarando
guerra às forças do Eixo.
e) a adesão dos EUA desequilibrou as forças em luta, dando um novo alento à Entente.

Comentários: É curiosa a disposição da banca a desequilibrar os ânimos dos


candidatos ao elaborar uma questão deste tipo, acendo com exigências de
conhecimentos que, ao cabo, não são necessários. A alternativa D apresenta uma
afirmação disparatada, já que o Congresso americano apoiou a tomada de decisão
presidencial de entrada na Guerra. Além disso, apenas um candidato muito
despreparado poderia afirmar que a ações americana na Primeira Guerra Mundial se
deu contra o Eixo, alvo da Segunda Guerra.
As alternativas B e E são óbvias: a ação americana envolveu o deslocamento de
grandes recursos para viabilizar a resistência da Entente e depois virar a guerra contra
a Tríplice Aliança. Ou seja, havia muito dinheiro americano nas indústrias de França e
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Reino Unido, bem como os deslocamentos militares para a Europa desequilibraram
completamente o impasse de forças vivido pelas potências. Consequentemente, a
alternativa C faz todo sentido, já que, após tantos investimentos internacionais, os EUA
perderiam muito dinheiro em caso de uma vitória aliada na Primeira Guerra.
Por fim, a alternativa A também está correta, já que o governo alemão pretendia ações
de desequilíbrio de status quo em todo mundo, incluindo a América do Norte e a
divisão de esforços americanos.
Gabarito: ALTERNATIVA D.

(Espcex-Aman) A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de enormes


proporções, ocorrido entre 1914 e 1918, que envolveu quase todo o continente
europeu e várias outras regiões do mundo. Sobre esse conflito, é correto afirmar
que

a) a disputa por regiões coloniais acirrou as rivalidades entre as grandes potências,


levando ao fim de grandes alianças, como é o caso do desmantelamento da Tríplice
Entente.
b) a chamada “paz armada” foi imposta ao final do conflito, quando os países europeus
já estavam desgastados com a guerra, com o objetivo de cessar os combates e evitar
novos conflitos.
c) a entrada dos Estados Unidos, com seu apoio econômico e militar, ao lado da
Entente, foi fundamental para a derrota da Tríplice Aliança.
d) o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro húngaro, levou o
Império austríaco, juntamente à Rússia, a declarar guerra à Sérvia, dando início ao
conflito.
e) ao final do conflito, a Alemanha impôs à França a devolução dos territórios da
Alsácia Lorena, ricos em minério de ferro e carvão.

Comentários: a. A rivalidade imperialista, de fato, foi um dos grandes motivos para a


eclosão da guerra, mas esta também só foi possível por um rígido sistema de alianças e
de acordos secretos. A Entente Cordial foi mantida e atuou conjuntamente na guerra.
b. O Tratado de Versalhes, que pôs fim à guerra, ficou caracterizado pela imposição de
uma rendição incondicional à Alemanha, desmontando seu programa militar e lhe
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impondo grandes multas pela guerra. Ou seja, a paz foi um resultado de uma vitória
militar incontestável da Entente e dos EUA sobre a Tríplice Aliança.
c. O desgastante equilíbrio de forças entre a Entente Cordial e a Tríplice Aliança só foi
rompido com a entrada americana na guerra, representando um grande prejuízo para
os aliados. Alternativa correta.
d. Apesar de estar correta quanto ao assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando
como o grande estopim da guerra, a alternativa erra ao afirmar que a Rússia (parte da
Entente) lutou ao lado dos austríacos na guerra.
e. Tendo saída derrotada da guerra, a Alemanha foi obrigada a aceitar uma rendição
incondicional, na qual perdia a Alsácia-Lorena para a França.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(UPE) O período de duração da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, foi
marcado por várias mudanças sociopolíticas que redefiniram o mundo de então.
Sobre esse contexto, assinale a alternativa CORRETA.

a) A Rússia, potência diretamente envolvida no conflito, entrou em um processo


revolucionário interno, que a levou à adoção do socialismo.
b) O Império Austro Húngaro perdeu domínios com o fim do conflito, embora tenha
mantido dois terços do seu território.
c) A França acabou por perder territórios para a Alemanha após a assinatura do Tratado
de Versalhes.
d) O Império Otomano conseguiu manter sua hegemonia na região dos Bálcãs, mesmo
com o fim da guerra.
e) A Inglaterra, após a eclosão da Revolução de 1917, impôs perdas territoriais à Rússia.

Comentários: a. Em 1917, a Rússia imperial entrou em convulsão doméstica,


solapando as bases do czarismo e instaurando a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS). Ou seja, de um só golpe, caíram a monarquia e o regime econômico
da Rússia. Alternativa correta.
b. O Império Austro-Húngaro foi dissolvido ao final da Primeira Guerra, modificando
o mapa central da Europa de maneira profunda.
c. O Tratado de Versalhes impôs contra a Alemanha pontos duríssimos, transferindo
territórios à França.
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d. O Império Otomano também foi dissolvido com o fim da (e sua derrota na) Primeira
Guerra Mundial, cedendo aos nacionalismos balcânicos e arábicos.
e. A Revolução Russa foi combatida em várias frentes, mas sem que o Reino Unido
impusesse perdas territoriais reais à Rússia.
Gabarito: ALTERNATIVA B.

(FGV/SP – modificada)

Fonte: Benoit. M. Histoire Cm. Paris: Hatier, 1985. p. 156.


Observe a foto acima. Nela, que é de 1914, ano em que começou a Primeira
Grande Guerra, em meio a flores e bandeiras, três potências (França, Rússia e
Inglaterra) celebram sua aliança, além de homenagearem a Bélgica, pequeno país
que havia sido invadido. Considerando a política internacional da época, assinale a
alternativa correta:

a) essa aliança teve como plano principal a invasão da Normandia, no “dia D”.
b) a Inglaterra, após dois anos de guerra, rompeu com essa aliança e passou para o lado
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alemão.
c) tal aliança, conhecida como Tríplice Entente, saiu-se vitoriosa na guerra.
d) a Rússia foi o país que mais se beneficiou da guerra, por isso saiu dela em 1917.
e) o que ameaçava os países-membros dessa aliança eram propósitos expansionistas do
nazismo.

Comentários: a. A invasão à Normandia e o Dia D foram manobras militares da


Segunda Guerra Mundial e, aqui, discutimos a primeira.
b. A Inglaterra se manteve junto à Entente até o final da guerra, saindo-se vitoriosa. O
país que trocou de lado durante a guerra foi a Itália, que abandonou a Tríplice Aliança
durante a guerra.
c. A Tríplice Entente (ou Entente Cordial) era formada por Inglaterra, França e Rússia.
Alternativa correta.
d. A Rússia deixou a guerra em 1917 porque seu regime político ruiu em definitivo,
caindo uma monarquia absoluta para a ascensão de uma série de repúblicas
socialistas. A guerra representou para a ruína definitiva para a Rússia czarista.
e. O nazismo foi um fenômeno político marcante da Segunda Guerra Mundial, e não da
Primeira.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(FUVEST) “As lâmpadas estão se apagando na Europa inteira. Não as veremos


brilhar outra vez em nossa existência.” Sobre essa frase, proferida por Edward
Grey, secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, em agosto de 1914,
pode-se afirmar que exprime:

a) a percepção de que a guerra, que estava começando naquele momento e que iria
envolver toda a Europa, marcava o fim de uma cultura, de uma época, conhecida como
a Belle Époque;
b) a desilusão de quem sabe que a guerra, que começava naquele momento, entre a Grã-
Bretanha e a Alemanha, iria sepultar toda uma política de esforços diplomáticos visando
a evitar o conflito;
c) a compreensão de quem, por ser muito velho, consegue perceber que também aquela
guerra, embora longa e sangrenta, iria terminar um dia, permitindo que a Europa
voltasse a brilhar;
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d) a ilusão de que, apesar de tudo, a guerra que estava começando iria, por causa de seu
caráter mortal e generalizado, ser o último grande conflito armado a envolver todos os
países da Europa;
e) a convicção de que à guerra que acabava de começar e que iria envolver todo o
continente europeu haveria de suceder uma outra, a Segunda Guerra Mundial, antes de a
paz definitiva ser alcançada.

Comentários: a. Alternativa perfeita numa questão de aguçada sensibilidade por parte


da banca. A Primeira Guerra Mundial marcou o fim de uma era no processo
civilizatório europeu, o fim da Belle Époque. Alternativa correta.
b. Os esforços político-diplomáticos já vinham sendo corroídos há algum tempo. A
Europa chegou em 1914 a uma condição de insolvência política, um travamento de
relações praticamente insuperável. Mas o lamento de Grey se referia a algo mais
profundo, pensando todo o continente, conforme expresso na alternativa anterior.
c. A alternativa atenta contra a interpretação de texto. Grey é muito claro: talvez as
mesmas luzes jamais voltem a ser vistas na Europa.
d. O fim da ordem moral e cultural da Belle Époque, pelo contrário, trazia consigo uma
sensação de que a Europa seria mais uma vez invadida por guerras sucessivas. Ou,
mais grave ainda, havia a sensação de estar-se diante do Juízo Final.
e. A paz definitiva não estava presente no raciocínio de Grey.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(UNIFESP) “Estamos no promontório dos séculos! De que serve olhar para trás…
Queremos glorificar a guerra — a única cura para o mundo — o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas… e o desprezo pelas mulheres.
Queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater a moralidade, o feminismo
e toda a covardia oportunista e utilitária”.
Essa citação, extraída do Manifesto Futurista de 1909, expressa uma estética que
contribuiu ideologicamente para a:

a) negação da ideia de progresso e, posteriormente, para a reação conservadora.


b) Guerra Civil Espanhola e, posteriormente, para o movimento vanguardista.
c) Revolução Russa de 1917 e, posteriormente, para a Segunda Guerra Mundial.
d) Primeira Guerra Mundial e, posteriormente, para o fascismo.
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e) afirmação do surrealismo e, posteriormente, para a polarização dos anos vinte.

Comentários: a. O progresso ilimitado era a base mais elementar dos futuristas. O


avanço ilimitado da técnica e da civilização eram fundamentais para os seus
raciocínios sobre “o promontório dos séculos”.
b. A Guerra Civil Espanhola eclodiu em 1936, enquanto o manifesto citado é de 1909.
O conflito espanhol colocou em rota de colisão as discussões sobre a liberdade e os
modos de governo.
c. A Revolução Russa não aceitava que a ordem burguesa da Belle Époque pudesse ser
considerada como o “promontório dos séculos”, sendo necessário adiantar o processo
histórico no sentido de garantir a soberania e a ditadura do proletariado. Este tipo de
processo era amplamente negado pelas lógicas dos futuristas.
d. A Primeira Guerra Mundial e os totalitarismos que lhe seguiram são uma derivação
direta da estética futurista. A ideia da guerra como forma de depuração da sociedade
no sentido de assegurar o progresso ilimitado da técnica foi um dos grandes motivos
profundos para a ocorrência da Primeira Guerra. Além disso, a superação infinita do
passado e o estabelecimento de uma sociedade definitiva, propostas futuristas, eram
itens muito caros aos totalitaristas das décadas de vinte e trinta. Alternativa correta.
e. O surrealismo preferia explorar as possibilidades da percepção humana e a superá-
las pela imaginação e pela invenção, contrapondo-se à noção de evolução linear por
meio da técnica dos futuristas.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(PUCCAMP) Uma ameaça que não se cumpriu


Em 1937, em Genebra, no plenário da Sociedade das Nações, o embaixador
japonês barão Shudo levantou a tese de que as regiões inexploradas de vários
países deveriam ser cedidas a nações ricas e populosas, como o Japão,
naturalmente. Nesse caso o Brasil Central desértico era uma preocupação
crescente. (...) Os estrategistas brasileiros concluíram que a Amazônia se
autodefendia do colonizador branco com suas doenças, suas selvas e seu calor. Não
havia porquê recear ali uma investida do Eixo. A mortandade provocada nos
estrangeiros pela construção da ferrovia Madeira-Mamoré, na atual Rondônia,
também corroborava essa tese.
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Muito diferente, no entanto, era a situação da pré-Amazônia mato-grossense e
goiana, com suas extensas faixas de campos e cerrados habitáveis, colonizáveis sem
maiores esforços. Era o caso típico da região do Araguaia-Xingu, que continha a
Serra do Roncador e seus prodígios, além dos garimpos de diamantes do alto
Araguaia, em parte contrabandeados para a Alemanha.
(Adaptado da Revista "Especial Temática". O Brasil que Getúlio sonhou.
n.4. São Paulo: Duetto, 2004. p.71)
A Sociedade das Nações mencionada no texto, também conhecida como Liga das
Nações, foi criada em 1919 com o objetivo de

a) promover a paz armada, após o Tratado de Versalhes, através da liderança do


governo dos Estados Unidos, que presidiu essa organização.
b) unir as nações democráticas e economicamente mais poderosas, para impedir a volta
do nazi-fascismo, cuja expansão causara a Primeira Guerra Mundial.
c) executar as determinações previstas pelo documento conhecido como “14 pontos de
Wilson” e que favoreciam os países da Tríplice Aliança.
d) promover o neocolonialismo na África, Ásia e Oceania, condição fundamental para a
expansão mundial do capitalismo monopolista.
e) intermediar conflitos internacionais a fim de preservar a paz mundial, fiscalizando o
cumprimento dos tratados pós-guerra.

Comentários: a. A ideia de “paz armada” está mais ligada à tensão generalizada


verificada na Europa antes da Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes
previa a desmilitarização da Alemanha e a imposição de controles rígidos sobre os
vencidos. Além disso, os Estados Unidos jamais entraram na Liga das Nações, dado
que o Congresso americano se opôs à iniciativa.
b. O nazi-fascismo foi um fenômeno posterior à Primeira Guerra Mundial.
c. A Liga das Nações era um dos “14 pontos de Wilson”, podendo mesmo ser
considerada como uma possível síntese de todos eles. No entanto, era uma organização
profundamente voltada para os interesses da Entente, vencedora da guerra.
d. O “neocolonialismo” já era uma realidade estabelecida quando da estruturação da
Liga das Nações, cabendo a esta, entre outras coisas, administrar as rivalidades
coloniais surgidas entre os impérios.
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e. A Liga das Nações era a depositária maior dos tratados que puseram fim à Primeira
Guerra Mundial, já que era considerada como a grande instituição responsável por
gerir a paz mundial construída com o fim da guerra. Alternativa correta.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(Fuvest) Os Tratados de Paz assinados ao fim da Primeira Guerra Mundial


“aglutinaram vários povos num só Estado, outorgaram a alguns o status de ‘povos
estatais’ e lhes confiaram o governo, supuseram silenciosamente que os outros
povos nacionalmente compactos (como os eslovacos na Tchecoslováquia ou os
croatas e eslovenos na Iugoslávia) chegassem a ser parceiros no governo, o que
naturalmente não aconteceu e, com igual arbitrariedade, criaram com os povos
que sobraram um terceiro grupo de nacionalidades chamadas minorias,
acrescentando assim aos muitos encargos dos novos Estados o problema de
observar regulamentos especiais, impostos de fora, para uma parte de sua
população. (...) Os Estados recém-criados, por sua vez, que haviam recebido a
independência com a promessa de plena soberania nacional, acatada em igualdade
de condições com as nações ocidentais, olhavam os Tratados das Minorias como
óbvia quebra de promessa e como prova de discriminação.” (Hannah Arendt, AS
ORIGENS DO TOTALITARISMO)
A alternativa mais condizente com o texto é:

a) após a Primeira Guerra, os Tratados de Paz estabelecidos solaparam a soberania e


estabeleceram condicionamentos aos novos Estados do Leste europeu através dos
Tratados das Minorias, o que criou condições de conflitos entre diferentes povos
reunidos em um mesmo Estado.
b) o surgimento de novos Estados-nações se fez respeitando as tradições e instituições
dos povos antes reunidos nos impérios que desapareceram com a Primeira Guerra
Mundial.
c) os Tratados de Paz e os Tratados das Minorias restabeleceram, no mundo
contemporâneo, o sistema de dominação característico da Idade Média.
d) apesar dos Tratados de Paz estabelecidos depois da Primeira Guerra terem tido
algumas características arbitrárias em relação aos novos Estados-nações do Leste
europeu, o desenvolvimento histórico destas regiões demonstra que foi possível uma
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convivência harmoniosa e gradativamente ocorreu a integração entre as minorias e as
maiorias nacionais.
e) os Tratados de Paz depois da Primeira Guerra conseguiram satisfazer os vários povos
do Leste europeu. O que perturbou a convivência harmoniosa foi o movimento de
refugiados das revoluções comunistas.

Comentários: a. As pressões nacionalistas no Leste Europeu vinham crescendo, no


mínimo, desde a Primavera dos Povos (1848). Com o fim do Império Austro-Húngaro,
as diferentes nacionalidades foram reacomodadas de maneira arbitrária sob novos
arranjos estatais, acirrando disputas nacionalistas e embates entre as etnias. Os
Tratados de Minorias foram devastadores para estabilidade política da região.
Alternativa correta.
b. Os Estados criados com o fim da Primeira Guerra foram desenhados segundo as
percepções e as conveniências dos vencedores, sem observar as trajetórias seculares
das nações envolvidas. Antes de tudo, a preocupação era criar uma série de Estados
para evitar-se o vácuo de poder deixado pela queda da Áustria-Hungria.
c. Os sistemas de dominação da Idade Média eram formados por relações de servidão e
de construção simbólica. Ao passo que o sistema deixado pelos acordos do fim da
Primeira Guerra se baseava em relações racionais-legais e num Direito positivado.
d. As minorias do Leste Europeu seguiram insatisfeitas e reprimidas sob o tacão dos
novos governos surgidos na região. Ao longo de todo o século XX, pôde-se verificar
demonstrações da incongruência entre as soberanias estatais e as realidades étnicas da
região.
e. Os movimentos de refugiados do comunismo foram apenas parte da expressão dos
distúrbios da região, que seguiu sofrendo com os desequilíbrios nacionalistas.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(Mackenzie) Ao término da Primeira Grande Guerra, as potências vencedoras


responsabilizaram a Alemanha pela guerra e foi-lhe imposto um tratado punitivo,
o Tratado de Versailles, que teve como conseqüências:

a) degradação dos ideais liberais e democráticos, agitações políticas de esquerda - como


o movimento espartaquista - crise econômica e desemprego.
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b) enfraquecimento dos sentimentos nacionais, militarização do Estado Alemão,
recuperação econômica e incorporação de Gdansk.
c) anexação das colônias de Togo e Camarões, a afirmação dos ideais liberais e
democráticos e a valorização do marco alemão.
d) prosperidade econômica, rearmamento alemão, desmembramento da Alemanha e
fortalecimento dos partidos liberais.
e) surgimento da República Democrática Alemã e da República Federal Alemã,
fortalecimento do nazismo, militarismo e diminuição do desemprego.

Comentários: a. Progressivamente, a Alemanha se afastou das ideias democráticas e


liberais, optando por soluções mais imediatas e rígidas para a crise política e
econômica em que mergulhava com velocidade. As agitações políticas em toda a
Europa na Primeira Guerra derrotada se desenrolaram para os extremos do espectro
político. Alternativa correta.
b. Os sentimentos nacionalistas, pelo contrário, foram constantemente exaltados sob a
ordem estabelecida pelo Tratado de Versalhes.
c. O marco alemão sofreu uma desvalorização vertiginosa no período do entre-guerras.
A situação só seria revertida na segunda metade da década de 1930, com as reformas
nazistas da economia alemã.
d. A Alemanha não sofreu nenhum tipo de desmembramento, bem como a paz obtida em
Versalhes lançou a Europa numa perigosa estagnação econômica.
e. A bipartição da Alemanha descrita na alternativa só ocorreu com o fim da Segunda
Guerra Mundial.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(PUCCAMP) A Primeira Guerra Mundial, que enfraqueceu a Europa em


população e importância econômica,

a) acarretou a criação da Liga Pan-Germânica encarregada de efetivar o "Anschluss".


b) contribuiu para a concretização do Pacto Germânico-Soviético de não agressão,
firmado entre Guilherme II e Nicolau II.
c) contribuiu para a formação, dentro da Sérvia de sociedades secretas, tais como a Mão
Negra fundada em 1921.
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d) contribuiu para a criação de um clima favorável para a aceitação dos princípios do
socialismo utópico.
e) acarretou a difusão das idéias que apontavam as contradições do liberalismo.

Comentários: a. O pan-germanismo e o Anschluss – a anexação da Áustria pela


Alemanha – não pode ser considerado uma decorrência direta da Primeira Guerra
Mundial e do declínio europeu.
b. O Pacto Germânico-Soviético foi firmado entre Adolf Hitler e Joseph Stálin às
vésperas da Segunda Guerra.
c. As sociedades secretas extremistas da Sérvia já estavam ativas desde antes da
Primeira Guerra. Inclusive, a Mão Negra foi uma das responsáveis pelos atentados
contra o arquiduque Francisco Ferdinando.
d. O socialismo utópico foi encarado com grandes desconfianças na Europa,
principalmente após a retirada da Rússia da guerra em decorrência da eclosão
revolucionária, que levaria à URSS.
e. O declínio europeu levantou dúvidas em todo continente contra a segurança e a
conveniência dos ideários liberais, percebidos como incapazes de manter a paz e a
prosperidade. Alternativa correta.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(PUC-RS) Dentre os desdobramentos político-econômicos imediatos na ordem


internacional produzidos pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), é correto
apontar

a) o fim dos privilégios aduaneiros da França no comércio com a Alemanha.


b) o surgimento da Organização das Nações Unidas, por meio do Tratado de Sevres.
c) a criação da Iugoslávia, como decorrência das questões políticas dos Balcãs.
d) a anexação da Palestina, da Síria e do Iraque ao Império Otomano.
e) a incorporação da Hungria e da Tchecoslováquia aos domínios austríacos.

Comentários: a. Pelo contrário, o processo de paz após a Primeira Guerra impôs


condições comerciais francamente desfavoráveis à Alemanha em benefício aos
vitoriosos da guerra.
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b. A grande organização resultante do fim da Primeira Guerra foi a Liga das Nações, e
não a ONU, que só seria criada com o fim da Segunda Guerra.
c. A Iugoslávia foi criada em decorrência do desmonte do Império Austro-Húngaro,
organizando as nacionalidades balcânicas num novo arranjo político ao final da
Primeira Guerra Mundial. Alternativa correta.
d. A derrota na Primeira Guerra marcou o fim do Império Otomano, transferindo o
território da Palestina para o controle britânico.
e. Pelo contrário, os domínios austríacos foram desmantelados em decorrência da
derrota na guerra.
Gabarito: ALTERNATIVA C.

(PUC-RS) Dentre as características e tendências da ordem internacional


conformada após o fim da Primeira Guerra (1914-1918), NÃO é correto apontar

a) o fortalecimento progressivo da Liga das Nações, a organização supranacional criada


pelo Tratado de Versalhes.
b) a intensificação dos antagonismos entre as potências capitalistas, devido às duras
condições impostas aos vencidos.
c) a reformulação política radical da região balcânica mediante a aplicação do princípio
de reconhecimento das nacionalidades.
d) o declínio da hegemonia européia sobre o mundo, com o crescimento do poderio dos
Estados Unidos e do Japão.
e) a internacionalização crescente da questão operária devido à repercussão mundial da
revolução socialista na Rússia.

Comentários: A questão padece de algumas imprecisões que a tornam dúbia nas


alternativas A e C. Analisemos, portanto, as alternativas.
a. Como grande fórum político do mundo, de fato, a Liga das Nações viveu um
crescimento nos anos que seguiram sua criação. No entanto, suas contradições lhe
impuseram um travamento funcional que impede falar em um “fortalecimento
progressivo”. Ou seja, a alternativa está errada.
b. A rendição incondicional da Tríplice Aliança impôs à Alemanha uma situação muito
adversa, reativando, progressivamente, rivalidades graves entre as potências
capitalistas.
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c. De fato, houve uma reformulação radical da política balcânica com o desmonte do
Império Austro-Húngaro e algumas questões étnicas foram levadas em consideração.
No entanto, a criação de um Estado como a Iugoslávia não nos permite asseverar que o
princípio da nacionalidade foi amplamente reconhecido. Ou seja, a alternativa tem
acertos, mas peca por não destacar algumas peculiaridades importantes.
d. A Europa perdia parte de sua relevância relativa e a obrigava a reconhecer que fora
necessária uma intervenção americana para resolver o seu conflito. Econômica e
militarmente, ficava patente que a Europa já não podia mais agir com tanta liberdade,
devendo observar os avanços dos EUA e do Japão.
e. A Revolução Russa acendeu uma chama em torno da questão operária no mundo
todo. A “ameaça comunista” voltava a ser uma preocupação em todo mundo, já que
agora havia uma liderança global disposta a agitar a sublevação internacional do
proletariado em direção à saída comunista.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(UFF) Muitos historiadores consideram a Primeira Guerra Mundial como fator de


peso na crise das sociedades liberais contemporâneas. Assinale a opção que contém
argumentos todos corretos a favor de tal opinião.

a) A economia de guerra levou a um intervencionismo de Estado sem precedentes; a


“união sagrada” foi invocada em favor de sérias restrições às liberdades civis e políticas
e, em função da guerra recém-terminada, eclodiram em 1920 graves dificuldades
econômicas que abalaram os países liberais sobretudo através da inflação.
b) Em todos os países, a economia de guerra forçou a abolir os sindicatos operários, a
confiscar as fortunas privadas e a fechar os Parlamentos, pondo assim em cheque os
pilares básicos da sociedade liberal.
c) Durante a guerra foi preciso instaurar regimes autoritários e ditatoriais em países
antes liberais como a França e a Inglaterra, num prenúncio do fascismo ainda por vir.
d) A guerra transformou Estados antes liberais em gestores de uma economia
militarizada que utilizou de novo o trabalho servil para a confecção de armas e
munições, em flagrante desrespeito às liberdades individuais.
e) Derrotadas na Primeira Guerra Mundial, as grandes potências liberais foram, por tal
razão, impotentes para conter, a seguir, o desafio comunista e o fascismo.
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Comentários: a. O vulto e a duração da Primeira Guerra Mundial surpreenderam os
Estados liberais, obrigando-os a intervir na economia de guerra para assegurar o bom
funcionamento dos seus exércitos e a resistência militar. A crise do sistema capitalista
na década de 1920 também representou um duro golpe contra o liberalismo, que, como
já ocorrera durante a guerra, se mostrava insuficiente para gerir os desafios nacionais
que se impunham no entre-guerras. Alternativa correta.
b. As crises que se seguiram à Primeira Guerra Mundial foram respondidas de diversas
formas pelas potências europeias. As opções autoritárias, por exemplo, não foram
verificadas na França e no Reino Unido, onde se insistiu no modelo liberal.
c. França e Inglaterra não abandonaram o liberalismo nem mesmo depois da Primeira
Guerra.
d. O trabalho servil não foi adotado nas economias de guerra da Entente; pelo
contrário, o sistema capitalista ainda seria aprofundado até sua grave crise em 1929.
e. As potências liberais foram as vencedoras da Primeira Guerra.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(UNESP) As duas Guerras Mundiais, marcadas pelo expansionismo europeu,


deixaram conseqüências profundas. A implosão do Império Soviético está
contribuindo para frear o perigoso confronto Leste-Oeste. O cotidiano europeu,
no entanto, ainda apresenta cenas sombrias. A Guerra Civil na ex-Iugoslávia,
entremeada da brutalidade que gera indignação, tem raízes remotas e profundas
porque:

a) expressa ressentimentos étnico-nacionalistas e diferenças culturais nos Bálcãs.


b) o Pacto Nazista-Soviético colocou os Estados do Báltico sob domínio russo.
c) o colapso do comunismo abriu caminho para a transição capitalista bem sucedida.
d) na federação multinacional iugoslava, o comunismo foi edificado sobre base
camponesa, e não operária.
e) o Tratado de Paz, que consagrou o desmembramento do Império Austro-Húngaro,
pôs fim ao velho antagonismo que dera origem à Primeira Guerra Mundial.

Comentários: a. Os ressentimentos nacionalistas nos Bálcãs se arrastaram durante


todo o século XX sob diversas formas de dominação. Com a derrocada do comunismo,
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houve uma explosão das contradições que a região acumulava desde antes da Primeira
Guerra. Alternativa correta.
b. As divisões políticas dos Bálcãs remontam ao fim da Primeira Guerra com o
desmonte dos impérios Austro-Húngaro e Otomano.
c. O colapso comunista gerou uma série de regimes e de conflitos de difícil definição
em toda região. A transição para o capitalismo não pode ser colocada como bem
sucedida.
d. De fato, a Iugoslávia teve sua experiência comunista liderada pelo campo, e não pela
indústria. Mas isto não pode ser dado como uma “raiz profunda” para os conflitos da
região.
e. O antagonismo nacionalista balcânico não foi resolvido com o desmembramento da
Áustria-Hungria, mas sim reorganizado sob outras formas de dominação.
Gabarito: ALTERNATIVA A.

(UNESP) Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Alemanha dispunha


de um plano militar – o Plano Schlieffen – que tinha como principal objetivo:

a) o ataque naval à Inglaterra.


b) neutralizar os Estados Unidos.
c) a aliança com a Itália e o Japão.
d) agir ofensivamente contra a França e a Rússia.
e) a anexação da Áustria.

Comentários: O Plano Schlieffen tinha por objetivo organizar as forças alemãs para
neutralizar em pouco tempo a França e a Rússia, criando uma zona de segurança em
torno do território alemão inicial. Prevendo uma vitória rápida e definitiva no front
ocidental, o Plano dispunha as forças bélicas para garantir uma vitória no front
oriental sem sofrer pressões militares por parte de França ou Reino Unido. Portanto, a
alternativa D é a correta.
Gabarito: ALTERNATIVA D.

(UNESP) A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) resultou de uma alteração da


ordem institucional vigente em longo período do século XIX. Entre os motivos
desta alteração, destacam-se
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a) a divisão do mundo em dois blocos ideologicamente antagônicos e a constituição de


países industrializados na América.
b) a desestabilização da sociedade européia com a emergência do socialismo e a
constituição de governos fascistas nos países europeus.
c) o domínio econômico dos mercados do continente europeu pela Inglaterra e o cerco
da Rússia pelo capitalismo.
d) a oposição da França à divisão de seu território após as guerras napoleônicas e a
aproximação entre a Inglaterra e a Alemanha.
e) a unificação da Alemanha e os conflitos entre as potências suscitados pela anexação
de áreas coloniais na Ásia e na África.

Comentários: a. A bipolaridade foi um resultado da Segunda Guerra Mundial, dando


origem à Guerra Fria.
b. A emergência do socialismo soviético e dos regimes totalitários na Alemanha e na
Itália foram um resultado da Primeira Guerra Mundial, mas não suas causas. Ou seja,
a alternativa está errada.
c. Apesar da liderança financeira mundial, o Reino Unido não monopolizava os
mercados europeus, que haviam se transformado com a dinamização do imperialismo.
Além disso, não faz sentido falar de um “cerco capitalista à Rússia” antes da revolução
de 1917.
d. A alternativa é confusa; mas, em todo caso, as questões napoleônicas já datavam de
um século e Alemanha e Reino Unido viviam uma inimizade bastante grave porque o
expansionismo alemão feria os interesses capitalistas dos britânicos.
e. As rivalidades imperialistas foram uma das grandes causas do colapso da ordem
liberal do século XIX. Da mesma forma, a unificação alemã gerou um desequilíbrio nas
forças continentais, que ficaria patente com as políticas expansionistas da Alemanha no
início do século XX. Alternativa correta.
Gabarito: ALTERNATIVA E.

(UNIFESP) Para o historiador Arno J. Mayer, as duas guerras mundiais, a de


1914-1918 e a de 1939-1945, devem ser vistas como constituindo um único conflito,
uma segunda Guerra dos Trinta Anos. Essa interpretação é possível pelo fato
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a) de as duas guerras mundiais terem envolvido todos os países da Europa, além de suas
colônias de ultramar.
b) de prevalecer antes da Segunda Guerra Mundial o equilíbrio europeu, tal como
ocorrera antes de ter início a primeira Guerra dos Trinta Anos, em 1618.
c) de, apesar da paz do período entre guerras, a Segunda Guerra ter sido causada pelos
dispositivos decorrentes da Paz de Versalhes de 1919.
d) de terem ocorrido, entre as duas guerras mundiais, rebeliões e revoluções como na
década de 1640.
e) de, em ambas as guerras mundiais, o conflito ter sido travado por motivos
ideológicos, mais do que imperialistas.

Comentários: a. Como sempre, a alternativa que usa palavras como “todos” é muito
frágil. Por exemplo, Portugal se manteve neutro durante a Segunda Guerra Mundial.
b. Não houve equilíbrio europeu no período do entre-guerras. Pelas contrário, viu-se
uma sucessão de transformações políticas gravíssimas em vários pontos da Europa. O
equilíbrio se pretendia estático, mas sempre foi muito precário.
c. As imposições feitas pelo Tratado de Versalhes foram de fundamental importância
para a criação das contradições e das dificuldades políticas que levariam o continente
a uma nova guerra total a partir de 1945. Ou seja, a Segunda Guerra pode ser
considerada um corolário do processo de paz da Primeira Guerra. Alternativa correta.
d. A década de 1640 ficou mais marcada pelas acomodações políticas da Paz de
Vestfália, sendo que a grande revolução do século XVII, a Revolução Gloriosa,
concentrar-se-ia no Reino Unido duas décadas mais tarde. Ou seja, as transformações
políticas ocorridas no entre-guerras não podem ser comparadas com o que ocorreu ao
final da Guerra dos Trinta Anos.
e. As disputas imperialistas foram motivos de extrema relevância para a Primeira
Guerra Mundial, não podendo ser descartados.
Gabarito: ALTERNATIVA C.
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Lista de Exercícios apresentados

Prova do CACD de 2005, questão 13


Não são poucos os historiadores que vêem na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o
fim do historicamente longo século XIX. Quer pela complexidade de suas causas, quer
por seus efeitos profundos, um dos quais a vitória bolchevique na Rússia, a Grande
Guerra assinala o epílogo de uma era e o início propriamente dito do século XX. A esse
respeito, julgue (C ou E) os itens seguintes.

( ) Entre os fatores determinantes para a eclosão do conflito mundial em 1914, podem


ser destacados o exacerbado nacionalismo — não raro revestido das cores da xenofobia
— e as disputas ditadas pelos interesses imperialistas.
( ) A rápida ascensão da Alemanha no pós-1870 constituiu fator desestabilizante no
cenário europeu. Ainda que tenha mantido permanente aliança econômica com a Grã-
Bretanha, sua disputa com a França por influência política criou condições propícias à
guerra.
( ) A expressão“paz armada”consagrou-se como a melhor caracterização do cenário
europeu nos anos imediatamente anteriores a 1914. Nesse contexto, por temerem as
conseqüências da guerra, os diversos Estados renunciaram à velha prática da diplomacia
secreta visto que esta os amarraria a uma perigosa teia de acordos militares.
( ) Impulsionada pelas circunstâncias da guerra, que explicitaram ainda mais a grave
situação interna da Rússia, a Revolução Russa de 1917 significou a primeira grande
fissura na unidade capitalista que a Revolução Industrial e as revoluções liberais
burguesas haviam começado a edificar desde as últimas décadas do século XVIII.

Prova do CACD de 2007, caderno Lima, questão 49


Ainda com referência ao texto, assinale a opção correta relativamente ao papel
representado pelo presidente Wilson no contexto da Primeira Guerra Mundial e ao
significado de seus Quatorze Pontos.

A As propostas de Wilson — que preconizavam uma “diplomacia nova”, com vistas à


preservação da paz — previam, entre outras medidas, remanejamentos territoriais
norteados pelo princípio da autodeterminação dos povos.
B Embora questionassem o sistema internacional vigente, Lenin e Wilson admitiam a
diplomacia secreta e as anexações territoriais.
C Ao propor a criação da Liga ou Sociedade das Nações, Wilson o fez com o respaldo
da opinião pública norteamericana e, sobretudo, do Congresso de seu país, razão pela
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qual os EUA tiveram condições de liderar confortavelmente a nova organização
internacional.
D Embora tenham entrado na Grande Guerra ao lado das potências centrais (Tríplice
Aliança), os EUA puderam superar essa circunstância aparentemente negativa pela
força de sua economia, vital para a recuperação européia após o conflito.
E A partir de Wilson, e de forma acintosa, os EUA passaram a assumir
responsabilidades crescentes na condução da política interna européia, rompendo o
isolamento que praticaram antes da Primeira Guerra Mundial

Prova do CACD de 2009, caderno verde, questão 75


Acerca do processo histórico que desencadeou a I Guerra Mundial, julgue (C ou E) os
itens a seguir.

1 ( ) A ascensão econômica e política do Império Austro-Húngaro levou-o a confrontar


os interesses ingleses nos Bálcãs. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando,
em Sarajevo, permitiu que se atribuísse ao imperialismo britânico a responsabilidade
pelo clima de tensão regional, e constituiu o marco inicial da guerra.
2 ( ) A expansão econômica da Alemanha levou-a a competir com a Inglaterra e com a
França.
3 ( ) Na França, o governo do presidente Poincaré, acossado por reivindicações
nacionalistas, encontrou na guerra uma alternativa para desviar as atenções dos
problemas internos.
4 ( ) No início, a guerra reforçou a coesão nacional no Império Austro-Húngaro e na
Rússia.

Prova do CACD de 2010, caderno C, questão 67


O historiador Geoffrey Barraclough considera que os “14 Pontos” do Presidente Wilson
podem ser interpretados como resposta à revolução mundial concebida por Lenin.
Agrega que os dois líderes apresentam traços em comum. A propósito, julgue (C ou E)
os pontos que os aproximam:

( ) o papel de “profetas da nova ordem internacional”.


( ) rejeição do “equilíbrio de poder”.
( ) reconhecimento de que negociações secretas são, às vezes, indispensáveis.
( ) coincidência ideológica, com ênfase democrática.
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(UDESC 2008) Sobre a Primeira Guerra Mundial, é correto afirmar:

a) A Liga das Nações foi criada apenas depois da Segunda Guerra.


b) O movimento Jovem Bósnia foi um dos grandes suportes do império Austro-Húngaro
contra os Sérvios.
c) A instável situação na Península Balcânica, aliada às políticas expansionistas dos
países europeus, levou a efeito à Guerra.
d) No Tratado de Versalhes a Alemanha foi muito prestigiada.
e) As políticas nazista e fascista não se relacionam com o final da Primeira Guerra.

(PUCCAMP) Em relação às causas da Primeira Guerra Mundial é correto afirmar


que:

a) A incapacidade dos Estados liberais em solucionar a crise econômica do século XIX


colocou em xeque toda a estrutura do sistema capitalista. A instabilidade política e
social das nações europeias impulsionou as disputas colonialistas e o conflito entre as
potências.
b) A desigualdade de desenvolvimento das nações capitalistas europeias acentuou a
rivalidade imperialista. A disputa colonial marcada por um nacionalismo agressivo e
pela corrida armamentista expandiu os pontos de atrito entre as potências.
c) O sucesso da política de apaziguamento e do sistema de aliança equilibrou o sistema
de forças entre as nações europeias, acirrando as lutas de conquista das colônias da
África e da Ásia.
d) O expansionismo na Áustria, a invasão da Polônia pelas tropas alemãs assustaram a
Inglaterra e a França, que reagiram contra a agressão declarando guerra ao inimigo.
e) O desequilíbrio entre a produção e consumo incentivou a conquista de novos
mercados produtores de matérias-primas e consumidores de bens de produção
reativando as rivalidades entre os países europeus e os da América do Norte.

(Mackenzie) A respeito do envolvimento dos EUA na Primeira Grande Guerra, é


INCORRETO afirmar que:

a) foi influenciado pela intenção germânica de atrair o México, prometendo-lhe ajuda na


reconquista de territórios perdidos para os EUA.
História Mundial
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b) os EUA financiaram diretamente a indústria bélica franco-inglesa e enviaram um
grande contingente de soldados ao fronte.
c) uma possível derrota da França e Inglaterra colocaria em risco os investimentos
norte-americanos na Europa.
d) contrariando o Congresso, o presidente dos EUA rompeu a neutralidade, declarando
guerra às forças do Eixo.
e) a adesão dos EUA desequilibrou as forças em luta, dando um novo alento à Entente.

(Espcex-Aman) A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de enormes


proporções, ocorrido entre 1914 e 1918, que envolveu quase todo o continente
europeu e várias outras regiões do mundo. Sobre esse conflito, é correto afirmar
que

a) a disputa por regiões coloniais acirrou as rivalidades entre as grandes potências,


levando ao fim de grandes alianças, como é o caso do desmantelamento da Tríplice
Entente.
b) a chamada “paz armada” foi imposta ao final do conflito, quando os países europeus
já estavam desgastados com a guerra, com o objetivo de cessar os combates e evitar
novos conflitos.
c) a entrada dos Estados Unidos, com seu apoio econômico e militar, ao lado da
Entente, foi fundamental para a derrota da Tríplice Aliança.
d) o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro húngaro, levou o
Império austríaco, juntamente à Rússia, a declarar guerra à Sérvia, dando início ao
conflito.
e) ao final do conflito, a Alemanha impôs à França a devolução dos territórios da
Alsácia Lorena, ricos em minério de ferro e carvão.

(UPE) O período de duração da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, foi
marcado por várias mudanças sociopolíticas que redefiniram o mundo de então.
Sobre esse contexto, assinale a alternativa CORRETA.

a) A Rússia, potência diretamente envolvida no conflito, entrou em um processo


revolucionário interno, que a levou à adoção do socialismo.
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b) O Império Austro Húngaro perdeu domínios com o fim do conflito, embora tenha
mantido dois terços do seu território.
c) A França acabou por perder territórios para a Alemanha após a assinatura do Tratado
de Versalhes.
d) O Império Otomano conseguiu manter sua hegemonia na região dos Bálcãs, mesmo
com o fim da guerra.
e) A Inglaterra, após a eclosão da Revolução de 1917, impôs perdas territoriais à Rússia.

(FGV/SP – modificada)

Fonte: Benoit. M. Histoire Cm. Paris: Hatier, 1985. p. 156.


Observe a foto acima. Nela, que é de 1914, ano em que começou a Primeira
Grande Guerra, em meio a flores e bandeiras, três potências (França, Rússia e
Inglaterra) celebram sua aliança, além de homenagearem a Bélgica, pequeno país
que havia sido invadido. Considerando a política internacional da época, assinale a
alternativa correta:
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a) essa aliança teve como plano principal a invasão da Normandia, no “dia D”.
b) a Inglaterra, após dois anos de guerra, rompeu com essa aliança e passou para o lado
alemão.
c) tal aliança, conhecida como Tríplice Entente, saiu-se vitoriosa na guerra.
d) a Rússia foi o país que mais se beneficiou da guerra, por isso saiu dela em 1917.
e) o que ameaçava os países-membros dessa aliança eram propósitos expansionistas do
nazismo.

(FUVEST) “As lâmpadas estão se apagando na Europa inteira. Não as veremos


brilhar outra vez em nossa existência.” Sobre essa frase, proferida por Edward
Grey, secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, em agosto de 1914,
pode-se afirmar que exprime:

a) a percepção de que a guerra, que estava começando naquele momento e que iria
envolver toda a Europa, marcava o fim de uma cultura, de uma época, conhecida como
a Belle Époque;
b) a desilusão de quem sabe que a guerra, que começava naquele momento, entre a Grã-
Bretanha e a Alemanha, iria sepultar toda uma política de esforços diplomáticos visando
a evitar o conflito;
c) a compreensão de quem, por ser muito velho, consegue perceber que também aquela
guerra, embora longa e sangrenta, iria terminar um dia, permitindo que a Europa
voltasse a brilhar;
d) a ilusão de que, apesar de tudo, a guerra que estava começando iria, por causa de seu
caráter mortal e generalizado, ser o último grande conflito armado a envolver todos os
países da Europa;
e) a convicção de que à guerra que acabava de começar e que iria envolver todo o
continente europeu haveria de suceder uma outra, a Segunda Guerra Mundial, antes de a
paz definitiva ser alcançada.

(UNIFESP) “Estamos no promontório dos séculos! De que serve olhar para trás…
Queremos glorificar a guerra — a única cura para o mundo — o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas… e o desprezo pelas mulheres.
Queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater a moralidade, o feminismo
e toda a covardia oportunista e utilitária”.
História Mundial
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Essa citação, extraída do Manifesto Futurista de 1909, expressa uma estética que
contribuiu ideologicamente para a:

a) negação da ideia de progresso e, posteriormente, para a reação conservadora.


b) Guerra Civil Espanhola e, posteriormente, para o movimento vanguardista.
c) Revolução Russa de 1917 e, posteriormente, para a Segunda Guerra Mundial.
d) Primeira Guerra Mundial e, posteriormente, para o fascismo.
e) afirmação do surrealismo e, posteriormente, para a polarização dos anos vinte.

(PUCCAMP) Uma ameaça que não se cumpriu


Em 1937, em Genebra, no plenário da Sociedade das Nações, o embaixador
japonês barão Shudo levantou a tese de que as regiões inexploradas de vários
países deveriam ser cedidas a nações ricas e populosas, como o Japão,
naturalmente. Nesse caso o Brasil Central desértico era uma preocupação
crescente. (...) Os estrategistas brasileiros concluíram que a Amazônia se
autodefendia do colonizador branco com suas doenças, suas selvas e seu calor. Não
havia porquê recear ali uma investida do Eixo. A mortandade provocada nos
estrangeiros pela construção da ferrovia Madeira-Mamoré, na atual Rondônia,
também corroborava essa tese.
Muito diferente, no entanto, era a situação da pré-Amazônia mato-grossense e
goiana, com suas extensas faixas de campos e cerrados habitáveis, colonizáveis sem
maiores esforços. Era o caso típico da região do Araguaia-Xingu, que continha a
Serra do Roncador e seus prodígios, além dos garimpos de diamantes do alto
Araguaia, em parte contrabandeados para a Alemanha.
(Adaptado da Revista "Especial Temática". O Brasil que Getúlio sonhou.
n.4. São Paulo: Duetto, 2004. p.71)
A Sociedade das Nações mencionada no texto, também conhecida como Liga das
Nações, foi criada em 1919 com o objetivo de

a) promover a paz armada, após o Tratado de Versalhes, através da liderança do


governo dos Estados Unidos, que presidiu essa organização.
b) unir as nações democráticas e economicamente mais poderosas, para impedir a volta
do nazi-fascismo, cuja expansão causara a Primeira Guerra Mundial.
História Mundial
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c) executar as determinações previstas pelo documento conhecido como “14 pontos de
Wilson” e que favoreciam os países da Tríplice Aliança.
d) promover o neocolonialismo na África, Ásia e Oceania, condição fundamental para a
expansão mundial do capitalismo monopolista.
e) intermediar conflitos internacionais a fim de preservar a paz mundial, fiscalizando o
cumprimento dos tratados pós-guerra.

(Fuvest) Os Tratados de Paz assinados ao fim da Primeira Guerra Mundial


“aglutinaram vários povos num só Estado, outorgaram a alguns o status de ‘povos
estatais’ e lhes confiaram o governo, supuseram silenciosamente que os outros
povos nacionalmente compactos (como os eslovacos na Tchecoslováquia ou os
croatas e eslovenos na Iugoslávia) chegassem a ser parceiros no governo, o que
naturalmente não aconteceu e, com igual arbitrariedade, criaram com os povos
que sobraram um terceiro grupo de nacionalidades chamadas minorias,
acrescentando assim aos muitos encargos dos novos Estados o problema de
observar regulamentos especiais, impostos de fora, para uma parte de sua
população. (...) Os Estados recém-criados, por sua vez, que haviam recebido a
independência com a promessa de plena soberania nacional, acatada em igualdade
de condições com as nações ocidentais, olhavam os Tratados das Minorias como
óbvia quebra de promessa e como prova de discriminação.” (Hannah Arendt, AS
ORIGENS DO TOTALITARISMO)
A alternativa mais condizente com o texto é:

a) após a Primeira Guerra, os Tratados de Paz estabelecidos solaparam a soberania e


estabeleceram condicionamentos aos novos Estados do Leste europeu através dos
Tratados das Minorias, o que criou condições de conflitos entre diferentes povos
reunidos em um mesmo Estado.
b) o surgimento de novos Estados-nações se fez respeitando as tradições e instituições
dos povos antes reunidos nos impérios que desapareceram com a Primeira Guerra
Mundial.
c) os Tratados de Paz e os Tratados das Minorias restabeleceram, no mundo
contemporâneo, o sistema de dominação característico da Idade Média.
d) apesar dos Tratados de Paz estabelecidos depois da Primeira Guerra terem tido
algumas características arbitrárias em relação aos novos Estados-nações do Leste
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europeu, o desenvolvimento histórico destas regiões demonstra que foi possível uma
convivência harmoniosa e gradativamente ocorreu a integração entre as minorias e as
maiorias nacionais.
e) os Tratados de Paz depois da Primeira Guerra conseguiram satisfazer os vários povos
do Leste europeu. O que perturbou a convivência harmoniosa foi o movimento de
refugiados das revoluções comunistas.

(Mackenzie) Ao término da Primeira Grande Guerra, as potências vencedoras


responsabilizaram a Alemanha pela guerra e foi-lhe imposto um tratado punitivo,
o Tratado de Versailles, que teve como conseqüências:

a) degradação dos ideais liberais e democráticos, agitações políticas de esquerda - como


o movimento espartaquista - crise econômica e desemprego.
b) enfraquecimento dos sentimentos nacionais, militarização do Estado Alemão,
recuperação econômica e incorporação de Gdansk.
c) anexação das colônias de Togo e Camarões, a afirmação dos ideais liberais e
democráticos e a valorização do marco alemão.
d) prosperidade econômica, rearmamento alemão, desmembramento da Alemanha e
fortalecimento dos partidos liberais.
e) surgimento da República Democrática Alemã e da República Federal Alemã,
fortalecimento do nazismo, militarismo e diminuição do desemprego.

(PUCCAMP) A Primeira Guerra Mundial, que enfraqueceu a Europa em


população e importância econômica,

a) acarretou a criação da Liga Pan-Germânica encarregada de efetivar o "Anschluss".


b) contribuiu para a concretização do Pacto Germânico-Soviético de não agressão,
firmado entre Guilherme II e Nicolau II.
c) contribuiu para a formação, dentro da Sérvia de sociedades secretas, tais como a Mão
Negra fundada em 1921.
d) contribuiu para a criação de um clima favorável para a aceitação dos princípios do
socialismo utópico.
e) acarretou a difusão das idéias que apontavam as contradições do liberalismo.
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(PUC-RS) Dentre os desdobramentos político-econômicos imediatos na ordem


internacional produzidos pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), é correto
apontar

a) o fim dos privilégios aduaneiros da França no comércio com a Alemanha.


b) o surgimento da Organização das Nações Unidas, por meio do Tratado de Sevres.
c) a criação da Iugoslávia, como decorrência das questões políticas dos Balcãs.
d) a anexação da Palestina, da Síria e do Iraque ao Império Otomano.
e) a incorporação da Hungria e da Tchecoslováquia aos domínios austríacos.

(PUC-RS) Dentre as características e tendências da ordem internacional


conformada após o fim da Primeira Guerra (1914-1918), NÃO é correto apontar

a) o fortalecimento progressivo da Liga das Nações, a organização supranacional criada


pelo Tratado de Versalhes.
b) a intensificação dos antagonismos entre as potências capitalistas, devido às duras
condições impostas aos vencidos.
c) a reformulação política radical da região balcânica mediante a aplicação do princípio
de reconhecimento das nacionalidades.
d) o declínio da hegemonia européia sobre o mundo, com o crescimento do poderio dos
Estados Unidos e do Japão.
e) a internacionalização crescente da questão operária devido à repercussão mundial da
revolução socialista na Rússia.

(UFF) Muitos historiadores consideram a Primeira Guerra Mundial como fator de


peso na crise das sociedades liberais contemporâneas. Assinale a opção que contém
argumentos todos corretos a favor de tal opinião.

a) A economia de guerra levou a um intervencionismo de Estado sem precedentes; a


“união sagrada” foi invocada em favor de sérias restrições às liberdades civis e políticas
e, em função da guerra recém-terminada, eclodiram em 1920 graves dificuldades
econômicas que abalaram os países liberais sobretudo através da inflação.
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b) Em todos os países, a economia de guerra forçou a abolir os sindicatos operários, a
confiscar as fortunas privadas e a fechar os Parlamentos, pondo assim em cheque os
pilares básicos da sociedade liberal.
c) Durante a guerra foi preciso instaurar regimes autoritários e ditatoriais em países
antes liberais como a França e a Inglaterra, num prenúncio do fascismo ainda por vir.
d) A guerra transformou Estados antes liberais em gestores de uma economia
militarizada que utilizou de novo o trabalho servil para a confecção de armas e
munições, em flagrante desrespeito às liberdades individuais.
e) Derrotadas na Primeira Guerra Mundial, as grandes potências liberais foram, por tal
razão, impotentes para conter, a seguir, o desafio comunista e o fascismo.

(UNESP) As duas Guerras Mundiais, marcadas pelo expansionismo europeu,


deixaram conseqüências profundas. A implosão do Império Soviético está
contribuindo para frear o perigoso confronto Leste-Oeste. O cotidiano europeu,
no entanto, ainda apresenta cenas sombrias. A Guerra Civil na ex-Iugoslávia,
entremeada da brutalidade que gera indignação, tem raízes remotas e profundas
porque:

a) expressa ressentimentos étnico-nacionalistas e diferenças culturais nos Bálcãs.


b) o Pacto Nazista-Soviético colocou os Estados do Báltico sob domínio russo.
c) o colapso do comunismo abriu caminho para a transição capitalista bem sucedida.
d) na federação multinacional iugoslava, o comunismo foi edificado sobre base
camponesa, e não operária.
e) o Tratado de Paz, que consagrou o desmembramento do Império Austro-Húngaro,
pôs fim ao velho antagonismo que dera origem à Primeira Guerra Mundial.

(UNESP) Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Alemanha dispunha


de um plano militar – o Plano Schlieffen – que tinha como principal objetivo:

a) o ataque naval à Inglaterra.


b) neutralizar os Estados Unidos.
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c) a aliança com a Itália e o Japão.
d) agir ofensivamente contra a França e a Rússia.
e) a anexação da Áustria.

(UNESP) A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) resultou de uma alteração da


ordem institucional vigente em longo período do século XIX. Entre os motivos
desta alteração, destacam-se

a) a divisão do mundo em dois blocos ideologicamente antagônicos e a constituição de


países industrializados na América.
b) a desestabilização da sociedade européia com a emergência do socialismo e a
constituição de governos fascistas nos países europeus.
c) o domínio econômico dos mercados do continente europeu pela Inglaterra e o cerco
da Rússia pelo capitalismo.
d) a oposição da França à divisão de seu território após as guerras napoleônicas e a
aproximação entre a Inglaterra e a Alemanha.
e) a unificação da Alemanha e os conflitos entre as potências suscitados pela anexação
de áreas coloniais na Ásia e na África.

(UNIFESP) Para o historiador Arno J. Mayer, as duas guerras mundiais, a de


1914-1918 e a de 1939-1945, devem ser vistas como constituindo um único conflito,
uma segunda Guerra dos Trinta Anos. Essa interpretação é possível pelo fato

a) de as duas guerras mundiais terem envolvido todos os países da Europa, além de suas
colônias de ultramar.
b) de prevalecer antes da Segunda Guerra Mundial o equilíbrio europeu, tal como
ocorrera antes de ter início a primeira Guerra dos Trinta Anos, em 1618.
c) de, apesar da paz do período entre guerras, a Segunda Guerra ter sido causada pelos
dispositivos decorrentes da Paz de Versalhes de 1919.
d) de terem ocorrido, entre as duas guerras mundiais, rebeliões e revoluções como na
década de 1640.
e) de, em ambas as guerras mundiais, o conflito ter sido travado por motivos
ideológicos, mais do que imperialistas.
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Gabarito

Prova do CACD de 2005, questão 13


C
E
E
C

Prova do CACD de 2007, caderno Lima, questão 49


C
E
E
E
E

Prova do CACD de 2009, caderno verde, questão 75


E
C
E
C

Prova do CACD de 2010, caderno C, questão 67


C
C
E
E

(UDESC 2008) Sobre a Primeira Guerra Mundial, é correto afirmar:


ALTERNATIVA C
História Mundial
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(PUCCAMP) Em relação às causas da Primeira Guerra Mundial é correto afirmar
que:
ALTERNATIVA B
(Mackenzie) A respeito do envolvimento dos EUA na Primeira Grande Guerra, é
INCORRETO afirmar que:
ALTERNATIVA D

(Espcex-Aman) A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de enormes


proporções, ocorrido entre 1914 e 1918, que envolveu quase todo o continente
europeu e várias outras regiões do mundo. Sobre esse conflito, é correto afirmar
que
ALTERNATIVA C

(UPE) O período de duração da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, foi
marcado por várias mudanças sociopolíticas que redefiniram o mundo de então.
Sobre esse contexto, assinale a alternativa CORRETA.
ALTERNATIVA B

(FGV/SP – modificada) Observe a foto acima. Nela, que é de 1914, ano em que
começou a Primeira Grande Guerra, em meio a flores e bandeiras, três potências
(França, Rússia e Inglaterra) celebram sua aliança, além de homenagearem a
Bélgica, pequeno país que havia sido invadido. Considerando a política
internacional da época, assinale a alternativa correta

ALTERNATIVA C

(FUVEST) “As lâmpadas estão se apagando na Europa inteira. Não as veremos


brilhar outra vez em nossa existência.” Sobre essa frase, proferida por Edward
Grey, secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, em agosto de 1914,
pode-se afirmar que exprime:
ALTERNATIVA A
História Mundial
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
P D D P P S
(UNIFESP) “Estamos no promontório dos séculos! De que serve olhar para trás…
Queremos glorificar a guerra — a única cura para o mundo — o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas… e o desprezo pelas mulheres.
Queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater a moralidade, o feminismo
e toda a covardia oportunista e utilitária”.
Essa citação, extraída do Manifesto Futurista de 1909, expressa uma estética que
contribuiu ideologicamente para a:
ALTERNATIVA E

(PUCCAMP) Uma ameaça que não se cumpriu


A Sociedade das Nações mencionada no texto, também conhecida como Liga das
Nações, foi criada em 1919 com o objetivo de
ALTERNATIVA E

(Fuvest) Os Tratados de Paz assinados ao fim da Primeira Guerra Mundial (...)A


alternativa mais condizente com o texto é:
ALTERNATIVA A

(Mackenzie) Ao término da Primeira Grande Guerra, as potências vencedoras


responsabilizaram a Alemanha pela guerra e foi-lhe imposto um tratado punitivo,
o Tratado de Versailles, que teve como conseqüências:
ALTERNATIVA A

(PUCCAMP) A Primeira Guerra Mundial, que enfraqueceu a Europa em


população e importância econômica,
ALTERNATIVA E

(PUC-RS) Dentre os desdobramentos político-econômicos imediatos na ordem


internacional produzidos pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), é correto
apontar
ALTERNATIVA C

(PUC-RS) Dentre as características e tendências da ordem internacional


conformada após o fim da Primeira Guerra (1914-1918), NÃO é correto apontar
História Mundial
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ALTERNATIVA A

(UFF) Muitos historiadores consideram a Primeira Guerra Mundial como fator de


peso na crise das sociedades liberais contemporâneas. Assinale a opção que contém
argumentos todos corretos a favor de tal opinião.
ALTERNATIVA A

(UNESP) As duas Guerras Mundiais, marcadas pelo expansionismo europeu,


deixaram conseqüências profundas. A implosão do Império Soviético está
contribuindo para frear o perigoso confronto Leste-Oeste. O cotidiano europeu,
no entanto, ainda apresenta cenas sombrias. A Guerra Civil na ex-Iugoslávia,
entremeada da brutalidade que gera indignação, tem raízes remotas e profundas
porque:
ALTERNATIVA A

(UNESP) Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Alemanha dispunha


de um plano militar – o Plano Schlieffen – que tinha como principal objetivo:
ALTERNATIVA D

(UNESP) A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) resultou de uma alteração da


ordem institucional vigente em longo período do século XIX. Entre os motivos
desta alteração, destacam-se
ALTERNATIVA E

(UNIFESP) Para o historiador Arno J. Mayer, as duas guerras mundiais, a de


1914-1918 e a de 1939-1945, devem ser vistas como constituindo um único conflito,
uma segunda Guerra dos Trinta Anos. Essa interpretação é possível pelo fato
ALTERNATIVA C

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