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O presente texto visa discorrer sobre a (in)constitucionalidade das

prisões administrativas/disciplinares, assunto esse, que parte de um ponto no


mínimo curioso, a inconstitucionalidade de uma previsão constitucional.
Contudo, em uma análise mais aprofundada se torna visível que o verdadeiro
cerne da questão não parte deste pressuposto.

Ora, aparentemente a constitucionalidade desta modalidade de prisão,


a priori, se demonstra claramente constitucional, por força dos art. 5°, inciso
LXI, juntamente com a vedação constitucional de habeas corpus para punições
disciplinares militares. Todavia, surge a problemática quanto a origem das
normas disciplinares, que foram instituídas através de decreto, ou seja, ato
administrativo, assim como, a questão de quem as executa.

Nesta senda, a atual aplicação das prisões administrativas fere o


princípio da legalidade, visto que apenas lei formal em sentido estrito pode
instituir deveres, imagine uma sanção restritiva de liberdade. Parte da doutrina
afirma que tal situação e solvida pela previsão constitucional, contudo, a Carta
Magna em nenhum momento afirma que tal procedimento pode ser efetuado
por vias administrativas muito pelo contrário. Segue abaixo:

“LXI - ninguém será preso senão em flagrante


delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei”

Concluindo-se assim, que no mesmo instante que a Constituição libera


a prisão por transgressão ou crime propriamente militar; veda a prisão
embasada em qualquer ato, senão por meio de lei. Seguindo a mesma linha
teórica, demonstra ROSA:

“Se a prisão somente pode ser decretada por


uma autoridade judiciária militar com base na
lei, como o sistema poderá admitir uma prisão
administrativa fundada em um ato praticado
por autoridade administrativa que justifica a
sua decisão em um regulamento disciplinar
militar que não foi editado por meio da lei,
mas um decreto executivo?” (ROSA apud
LIMA, 2004, p. 2).

Importante frisa que, a Lei 13.967/2019 vedou as sanções restritivas de


liberdade de caráter disciplinar para policiais militares e bombeiros militares, ou
seja, nestes casos, se deve aplicar a lei em sobreposição ao decreto. Há
divergências quanto a constitucionalidade dessa lei, mas não é o foco do
presente texto entrar nesse mérito. No mais, concluo que a prisão
administrativa é constitucional, contudo, sua aplicação está contrariando os
princípios do próprio artigo que a prevê.

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