PROVA DE DIREITO PENAL – III –P2 (10/06/21)-VALOR: 10 PONTOS
ALUNO: Nathan Abrahão Saad.
5 questões valendo dois pontos cada.
1- Em que momento se dá a consumação do crime de furto? Para o
reconhecimento da qualificadora do rompimento de obstáculo no furto é necessário o que? O furto em supermercado, dotado de sistema de vigilância, caracteriza crime impossível? Explique.
O crime de roubo se consuma quando a coisa é passada para o
poder do agente, independentemente da posse tranquila, desvigiada e pacífica da coisa. Ou seja, o roubo se consuma com a remoção do bem subtraído. É necessário a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de inexistência ou desaparecimento de vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não permitirem a confecção do laudo. O Código Penal, em seu artigo 17, descreve a figura do crime impossível, que é a impossibilidade de conclusão do ato ilícito, ou seja, a pessoa utiliza meio ineficaz ou volta-se contra objetos impróprios, o que torna impossível a consumação do crime. O artigo prevê que, no caso de crime impossível, não se pode punir nem mesmo a tentativa. Assim no caso de um mercado com sistema de vigilância o crime em hipótese da subtração de coisa alheia móvel ocorrida em lugares guarnecidos por vigilância eletrônica ou humana. Deve-se analisar o caso concreto, a fim de checar se o meio não se torna absolutamente ineficaz, concretizando a hipótese de crime impossível. Afinal, se comprovada a excelência da vigilância, de modo a impedir integralmente qualquer movimentação furtiva, torna-se inviável a consumação, os sistemas de segurança não impedem de forma absoluta a ocorrência de tais furtos, não se podendo assim alegar a impossibilidade do delito pela ineficácia absoluta do meio.
2- Qual é a diferença entre furto qualificado mediante fraude e o
estelionato? Explique e dê um exemplo de cada um. No furto mediante fraude o uso comportamental ardiloso, em regra, é usado com a finalidade de facilitar a subtração pelo próprio agente dos bens que pertencem à vítima. Um sujeito, dolosamente, passando-se por funcionário público de uma cidade do interior e simulando a intenção de adquirir um veículo, procura uma revenda de carros na capital e solicita fazer um test drive. Após sair do local dirigindo o automóvel, o acusado não retorna a concessionária.
No estelionato, o agente emprega a fraude e faz com que a vítima
- sujeito passivo do crime, entregue o bem com espontaneidade. E mais, a posse é desvigiada. Não tenha dúvida que imperam duas vontades, a do sujeito ativo e a do sujeito passivo. Um exemplo de estelionato é a hipótese do agente que vende veículos com gravame judicial, sendo que nem tinha a propriedade, recebendo antecipadamente, o respectivo pagamento.
3- João xingou Manoel de “ladrão” e “corrupto”. Tal conduta caracteriza
calúnia, difamação ou injúria? Dê as diferenças entre honra objetiva e honra subjetiva e diga se a pessoa jurídica pode ser vítima de crime contra a honra ou não?
No caso apresentado a conduta se caracteriza injúria, segundo o
Artigo 140 do Código Penal: Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro. Assim a injúria não há imputação de fato algum, e, sim, de uma característica negativa sobre alguém. Se enquadram aqui xingamentos ou palavras negativas, que insultam e afetam a autoestima da vítima. Honra objetiva pode ser entendida como o juízo que terceiros fazem acerca dos atributos de alguém, é a visão externa, da sociedade, sobre as qualidades de determinado indivíduo. Cuida-se da reputação do sujeito no seio social. Em suma, trata-se do julgamento que as pessoas fazem de alguém. Honra subjetiva é o juízo que determinada pessoa faz acerca de seus próprios atributos, é o próprio sentimento que cada um possui sobre as suas respectivas qualidades físicas, morais e intelectuais. É o juízo singular que cada um faz de si mesmo. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime de difamação; não porém, de injúria ou calúnia.
4- Quanto ao crime de ameaça, diga quais são as elementares do crime e se
é preciso que a agente pratique o crime com ânimo calmo e refletido para a configuração do delito; diga ainda, se na hipótese de ameaça de marido contra mulher, o autor do crime terá direito aos benefícios previstos na Lei n. 9099/95? Fundamente.
O crime de ameaça está previsto no artigo 147 do Código Penal,
em que consiste na séria promessa de causar um mal grave e injusto a alguém, tratando-se de violência moral destinada a perturbar a liberdade psíquica da vítima. Assim, tal conduta pode ser praticada por palavra, escrito, gesto ou qualquer outro meio simbólico (como exemplo: mediante a exibição de boneco decapitado). Portanto, para a configuração do delito é necessário que o agente o faça possuindo seriedade na afirmação, com propósito atemorizante, de intimidação. Em relação a hipótese apresentada, de acordo com a Súmula 536 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos delitos que envolvem a Lei Maria da Penha não é possível a aplicação da suspensão do processo condicional e a transação penal, institutos presentes na Lei n° 9.099/95. Desse modo, mesmo quando o crime cometido for o de ameaça, em caso de representação haverá denúncia e instrução processual, sem a possibilidade de ser aplicado nenhum instituto despenalizador.
5- No crime de roubo, explique como ficou a questão do uso de arma de
fogo e de arma branca, depois das alterações legislativas. Diga como será tratado o uso de arma de brinquedo (sumulacro) e o uso de arma com defeito (que não realiza disparos)?
No caso da arma branca, a causa de aumento será de um terço até
metade. passa a ser majorado o crime cometido com emprego de arma branca. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. A melhor interpretação parece ser, entretanto, a de que o crime praticado com essas armas torna o crime majorado, com a duplicação da pena na terceira fase da dosimetria. Para a caracterização de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo, pois o medo da vítima independe da veracidade da arma, o objetivo de aumentar a pena de quem usa arma de fogo no crime de roubo não é o grau de medo da vítima, mas o nível de perigo a que ela é exposta quando se trata de uma arma verdadeira. Essa majorante somente poderá ser considerada se o laudo pericial constatar que ela realmente tinha eficiência positiva para disparar uma munição, pois o que se pune com mais severidade é a maior exposição da vítima a risco. O STJ determinou a suspensão das ações que discutem a necessidade de perícia em arma para aumento da pena em crime de roubo e, assim, proferir uma decisão a nível nacional quando a possibilidade de aumentar a pena do roubo mesmo que não tenha sido realizada a perícia. tecnicamente, a imprescindível a comprovação de que a arma de fogo tinha capacidade de disparar uma munição para aumentar a pena no crime de roubo, mas que, na prática, é possível encontrar julgamentos contrários a esse entendimento e que o STJ determinou a suspensão de todas as ações que versam sobre o tema, de modo a unificar o entendimento.