Você está na página 1de 2

A DESOLAÇÃO ESPIRITUAL

Vimos como as moções são todo movimento interior, impulso, atração da “alma” que aparecem
sobretudo na oração, mas também a partir da vida, dos acontecimentos e de situações eclesiais
e sociais. Como experiências espirituais concretas podem preceder ou acompanhar uma
escolha, uma decisão e também decorrer dela como confirmação.

Chamamos às moções boas de consolação e às moções más de desolação. Ninguém é culpado


por ter más moções. Como as boas moções, as más moções também surgem sem esperar,
acontecem. São reações interiores diante da Palavra de Deus. Costumamos achar que se nos
sentimos mal na oração é porque não rezamos, o que não é verdade! Você rezou sim! Isso só
indica que está havendo moções interiores. Santo Inácio dizia que se não há nenhum
movimento na oração, algo está errado. A desolação também é fruto da oração. Se não se sente
nada enquanto se reza, deve-se verificar se está rezando de modo conveniente.

A Desolação é “obscuridade da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e terrenas,


inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam à falta de fé, de esperança e
amor, achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste e como que separada do seu Criador e
Senhor.” (EE 317)

Vejamos outras características da desolação:

- É experiência de crise, de torpor, de esvaziamento interior progressivo. É impulso para


baixo, para o terreno.
- É desânimo, pessimismo, desconfiança, aridez, desamor, frieza, ressentimento, temor,
confusão, silêncio de Deus.
- É toda frieza diante de Jesus Cristo.
- É sentir que a mudança é impossível, por perda de confiança em si mesmo.
- É perda de interesse pelos outros, para o serviço.
- É experiência existencial, tudo está em desarmonia, desunificado, desintegrado.

A desolação é também um estado interior intenso, fora do normal, perceptível, que repercute
nos outros níveis da pessoa: afetivo, mental, corporal. Uma pessoa desolada sente sua
afetividade ferida se intensificar, amargurada, confusão de idéias, apavorada, mal-estar físico,
preguiça, pesada, mal-estar e desconfiança com os outros.

Não se deve confundir a desolação com a depressão. A desolação tem origem numa situação
interna, se dá na oração, no confronto com a Palavra de Deus, refere-se ao sentido da vida,
aponta para a frente, para o novo, para o desafio. A depressão é provocada por uma situação
externa, por alguém ou por uma frustração, uma derrota, minando as forças da pessoa,
isolando-a, desanimando-a. A desolação está no nível da fé, a depressão está no nível afetivo. A
desolação faz referência ao futuro, a depressão faz referência ao passado. A desolação pode se
aproveitar de uma depressão, somar-se a um estado afetivo frágil.

Quando certas desolações são constantes ao longo de uma caminhada, podem indicar
resistências e conflitos diante de um possível convite ou chamado de Deus. Se a pessoa está
buscando sinceramente o Senhor e a vocação pessoal e sente confusão interior, inquietação,
tristeza..., apesar da busca sincera, significa que algo não está bem com respeito à escolha. Com
efeito, a doação a Deus e aos irmãos sempre deixa a pessoa intimamente satisfeita, apesar do
sacrifício que exige.

A desolação reúne uma série de sentimentos negativos: escuridão da alma;- perturbação de


ânimo; moção para coisas baixas e terrenas (desejo de coisas mundanas e fúteis); inquietação,
com várias agitações e tentações; levando à desconfiança (incluindo dúvidas contra a fé), sem
esperança (sentimento de que nada mais adianta), sem amor; preguiça, tibieza, tristeza, com a
impressão de que estamos afastados de Deus, como se Ele se tivesse esquecido completamente
de nós. (Este último elemento é o mais característico da desolação espiritual). Todas as
expressões desta descrição transmitem a imagem de uma desintegração interior.

Finalmente, a desolação é conhecida pelos pensamentos que saem dela. Exemplo recente de
prolongada e dolorosa desolação é a Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá, que escrevia a
um de seus orientadores espirituais: “Não sabia que o amor podia fazer alguém sofrer tanto”.
Ela “estava dilacerada entre o sentimento de ter perdido a Deus e um insaciável desejo de
alcançá-lo”. E tantos outros testemunhos de vários santos e santas, de ontem e de hoje,
passando por períodos de intensa desolação espiritual, lembram-se da “noite escura” de São
João da Cruz e Santa Teresa d'Ávila. A “noite escura da alma", uma espécie de deserto espiritual
onde se experimenta o silêncio de Deus, é um tema muito frequente nas meditações dos santos
da Igreja.

Enfim, são várias as experiências na vida humana, viver bem não é fácil, mas exigente!!! E
podemos aprender com tudo na vida, não é mesmo? Deus nos ensina através da desolação. Ela
pode ser lição do Senhor! Assim, tudo na vida vivido com profundidade pode ser um
aprendizado constante, somos eternos aprendizes!!!

“Na escuridão, segura,


Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.”

Você também pode gostar