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rcülrda~êl11vnllvirTIAntn regional sustentável exigem
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• BRAILE SÃo-
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t1el:tetíc:ios sociais do PIS
de projetos
do País.
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SUSTENTABILIDADE
Agências e prédios
administrativos contam
com critérios de construção
e utilização de equipamentos
paro min im izar seu impacto
no am biente. O ed ifício-sede,
em Belém, é um dos sete que
já receberam o selo " A "
de eficiência energético
do Procel/lnmetro .
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A CAIXA está presente em muitos
municípios brasileiros que não
contam com nenhuma agência
ou posto bancário por meio
de lotérico s e convênio com
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O CAIXA Aqui , totolizo mais
de 34 mil pontos de atendimento.
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vida simples
MARÇO 2014
pág. 42
Uma seleção
de filmes para
ficar de bem
com a vida
nest a ed ição
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todo mês
22 VIRTUDES POSSÍVE IS 06 CARTA AO LEITOR Colunistas
Este mês: justiça 08 MENSAGENS 62 Pensando bem
por Eugenio Mussak
28 CAPA 74 CENAS
66 Em análise
Tente outra vez por Diana Corso
36 COM ER Compartilhe PAG. 12 67 Quarta pessoa
Bom pra chuchu 15 Gente incrível por Gus tavo Gitti
16 Transformação 68 Olhar para dentro
42 MANUA L por Padma Samtm
19 Um café com
Final feliz Fernando Schultz 69 Fora da Caixa
48 PENSAR 20 Essaéboa por Barbara Soalheiro
Verdade seja dita: mentir é humano 70 SantaPaz
por Lucas Tauil de Freitas
54 HORIZONTES
72 Auroras
Semear ofuturo
por Denis Russo Burgiemran
velmente vai se repetir aos Redaçio e CorTespond~ncia: ;\\ d.as :00aç6es Utudu., nll 14' ancb.r. P!nhdros..
1o, aos lz,aos 18,aos zo , aos Slo Paulo. SP. CEP 05<11902. ld 111) llll7-2000 Publicidade Slo Paulo e in-
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de vida, de endereço ... A vi- A11drea Silva mensal da Editort Abril S.A Ed~t..s • ntetlores: \'nula adush'1 tm bancas. pe:lo
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Conselho de Administroç3o: Ginncarlo Civila (Presidente). Esmaré
Weidcman, Hcin Brand. Robcrtn Anamaria Civita, Victor Civila Neto
Ana Holanda, Presidente: Fábio Collelli Barbosa
editora 'INWW.ab rll.com.br
Nosso sonho é simples: menos "fón-fóns" e mais "trin-trins". Que o ir-e-vir seja tão prazeroso quanto o
permanecer. Que o espaço das ruas sej a dos homens e mulheres e não de enormes peças de m etais vazias.
Se a sua hora de pedalar também j á chegou, conte conosco. Na eBikeStore temos bikes urbanas
para iniciantes e experientes. Temos acessórios para você pedalar com segurança, estilo,
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~. ~
Ouça o silêncio
il
Para consultar
Sempre quis escrever, mas o corre-
-corre diário me fez postergar. E, ago-
ERRATA
Ken Wilber não é fundador da psi-
edições antigas, ra, diante desta belíssima capa, resol- cologia transpessoal. Ela foi fu nda-
acesse nosso site: vi quebrar pelo menos este silêncio. da, em 1969, por Abraham Maslow,
vidasimples.abril.com.br Comecei a ler a matéria de capa fa- Stanislav Grofe Anthony Sutich, com
zendo unha no salão. E, claro, havia o lançam ento da primeira edição do
um barulho danado. E eu mergulhei ]ournal of Transpersonal Psycholo -
l] "r tJ na matéria buscando um silêncio in- gy. Seu primeiro livro, O Espectro da
Ou ainda participe terno. Ao chegar em casa, a primei- Consciência, concluído em 1972, mas
de nossas redes sociais ra coisa que senti vontade de fazer publicado em 1977, exerceu um gran-
FACEBOOK revistavidasimples foi ligar o som, mas estava tão conta- de impacto nessa linha de pensamen-
INSTAGRAM vidasimp/es giada pelo silêncio que desisti. Deci- to. E o presidente do Instituto Inte-
TWITTER @vidasimples di buscar o máximo de silêncio pos- gral Brasil é Marcelo Cardoso.
Revelação
-juvenil
Organização fornece câmeras
para que fotógrafos aprendizes
de comu nidades pobres possam
registrar belezas do cotidiano
Nishanti, 16, revela as cores vi brantes de Madurai, no sul da lndia Andrew, 13, capturou esta imagem na periferia de Nova York
@
Corpos
exemplares
Pessoas com deficiência
física serviram de modelo
para a fabricação de mane-
quins improváveis, exibidos
em vitrines de Zurique.
O objetivo da campanha
Because Who is Perfect?
Get Closer ("Porque Quem
é Perfeito? Aproxime-se").
da ONG Pro-lnfirmis, é
questionar os padrões de
beleza vige ntes. - LQ
CAIXA ESCOLAR
Q SOLAR POWER INTERNET SCHOOL é um projeto social da Samsung, que
~ funciona em um contêiner de 12 metros de comprimento. A caixa capta
energia solar e hospeda uma escola, capaz de alocar 21 crianças por t urno, em
Phomolong, na África do Sul. Ali, ensina-se sustentabilidade pela prática. São
nove horas de eletricidade por dia, para a li mentar os notebooks, câmeras e,
claro, a refrigeração da estrutu ra de meta l. - CAROLINA BERGIER
Músico
boa praça
A mesma s índrome que lhe causa
atraso mental faz desse jovem
paraense um ca ra muito bacana
e u m músico se nsacional
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Terapias e práticas para manter a mente sempre aberta
Ioga quente
Versão da atividade em sala
aquecida promete múltiplos
benefícios para quem busca
uma experiência mais intensa
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Assumi ndo
o controle
Os designers Victor
Scopacasa e Erica Idem
desenvolveram o Ginger,
um controle remoto funcio-
nal desenhado para porta-
dores do Mal de Parkinson,
doença degenerativa que
causa tremor. Criado no
curso de design da USP,
o protótipo tem o formato
de alça, pode ser encaixado
na coxa do usuário e t em
botões redondos e grandes.
O revestimento de silicone
Duas versões por sonho
permite que a pessoa Quadros que ret ratam desejos inf antis são reinterpretados no verso
possa operá-lo mesmo por artistas profissionais. A venda das obras terá fins beneficentes
com espasm os.
-RICARDO AMPUDIA Q A FUNDAÇÃO Pão dos Pobres presta assistência a crianças e adolescentes
~ de Porto Alegre desde 1895. Hoje, além de proporcionar comida, educação
e recreação a cerca de 1,2 mil meninos e meninas, a organização realiza um pro-
jeto para angariar fundos e estimular esperança nessa nova geração. No projeto
Por Trás dos Sonhos, 21 crianças pintaram em telas algo que desejavam. Os traba-
lhos foram então enviados a 21 artistas profissionais, que, por sua vez, fizeram
uma releitura desses sonhos no verso de cada tela. O dinheiro arrecadado com
a venda dos quadros duplos será investido nas atividades da instituição. Agora,
diga: de que lado você penduraria?- LEANDRO QUINTAN ILHA
M A R C O 2 0 1• · vida simples 17
COM PARTILHE
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Appda
abolição
Um aplicativo gratuito
desenvolvido pela ONG
Repórter Brasil reúne, por
marcas, reportagens sobre
trabalho escravo, relacio-
nadas a grandes redes do
varejo. O Moda Livre pode
ser baixado na Apple Store
e no Google Play, de acordo
com o sistema operacional
do seu dispositivo. Além
dos dez maiores varejistas,
foram incluídas marcas
PONTO POSITIVO
~ CRIADA POR DAN I EL SENA, a websérie nacional Positivos retrata a vida ..
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'0 de um quarteto de amigos gays soro positivos que dividem apartamento iz:
no Rio de Janeiro. O enredo também inclui portadores heterossexuais do HIV já
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que um grupo de apoio se reúne no apartamento dos protagonistas. Realizada ::;:
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com apoio financeiro do público, a primeira temporada teve dez episódios e :1:
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está disponível de graça no site da série. A segunda já está confirmada.- LQ
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POSITIVOS I serieoositjvos,com .!1
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Paga menos quem
desl iga o celu lar
Um restaurante de
Jerusalém, em Israel, ofe-
rece 50% de desconto no
valor da conta aos clientes
que desligarem os celulares
durante a permanência no
local. Para Jawdat lbrahim,
49, o dono do Abu Ghosh,
os smartphones estragam
a experiê ncia sensorial
de comer fora - e as boas
Não pise no telhado
conversas que ocorrem Arquiteto f rancê s projeta casa com fach ada viva, que dispensa
durante as refeições. tin ta e muda de cor e aroma conforme a estação do a no
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(f) PATRICK NADEAU combin a paisagismo conte mporâneo com am-
~ bientalismo e m seus projetos de "arquitetura viva". Uma de suas úl-
Intercâmbio para timas obras é a Maison-Vague ("Casa-Onda") em Sillery, norte da França.
maiores de 50 A construção, de 110m, é quase toda feita de made ira e vidro, para se in-
Uma agê ncia de Curitiba tegrar à paisagem. As espécies escolh idas para a cobertura, que t ambé m
orga niza intercâmbios garantem o conforto térmico da casa, são uma mistura de ervas aromáti-
para pessoas maduras, a cas, flores e arbustos, que faze m com que a fachada mude de cor e aroma
partir dos 50. Segundo conforme a estação do ano, dando sempre uma cara nova ao imóvel.- RA
a lnte rconnect Brasil, há
cada vez mais interessa- PAT RICK NADEAU I patricknadeau.com
dos na modalidade, seja
para estudar, trabalhar
ou vivenciar uma cultura
Ciclo virtuoso
nova - em um ritmo mais Q NO BRASIL, o s istema integrado de
tranquilo. EUA, Canadá '\::!) aproveita mento de esgot o da Eco-
e Europa estão entre os te lhado usa o descarte orgânico para
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roteiros mais procurados, irrigar e adubar jardins ve rt icais e de o
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mas os destinos disponíveis telhado. O material também é filtrado de i5
incluem cidades da Rússia forma a reter matéria orgânica para o ""'-"<
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e da África do Sul. alimento das minhocas. Isso garante :::>
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mais permeabilidade ao sistema. - LQ õ
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INTE RCONNECT BRASIL
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Paulo Afonso
Tio e padrinho de Rita
Participe da educação
de quem você ama para
REALIZAÇÃO:
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BANDEI RANTES
vida simples
apresenta
VIRTUDES POSSÍVEIS
Virtude Noz
Justiça
PoR José Francisco Botelho
ILusTRAções Carlo Giovani
VIRTUDES POSSiVEIS é uma série de 12 textos sobre qualidades que andam esque-
cidas, pouco comentadas, mas que acreditamos que poderiam -e até deveriam
-ser resgatadas no dia a dia. Na próxima edição, falaremos da Generosidade.
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V I RTUDES P OSS Í VEIS : JUST I ÇA
dessa virtude atravessa nossas di- como o francês Albert Camus e o rus-
ferenças e vê apenas o denominador so Fiodor Dostoiévsky- e laboraram
comum de todos nós: a humanidade versões de um mesmo dilema: o que
que nos iguala. Isso não significa que fazer se, para salvar a humanidade,
a justiça amontoe todas as pessoas em tivéssemos que sacrificar uma pes-
uma massa anônima-essa seria a jus- soa inocente - digamos, uma crian-
tiça dos totalitários, arrogante e irreaL ça? Deveríamos aceitar o sacrifício? A
A mente virtuosa faz o contrário: ao resposta precisa ser não. No momen-
destacar a humanidade presente em to em que a justiça tiver de condenar
cada um, valoriza o que todos temos um inocente, ela deixará de ser justi-
e o que ninguém pode nos tirar. O jus- ça e se transformará em conveniên-
to, enfim, é aquele que jamais perde cia. Mas será que essa virtude aceita-
de vista a dignidade do indivíduo, seu ria condenar toda a humanidade, para
valor central e sua liberdade- inclusi- continuar sendo justa? Para isso, não
ve a liberdade de diferir. há resposta. E mesmo em circunstân-
cias menos apocalípticas, a justiça po-
nspe a ., 1e de ficar muda. Quem poderá julgar
A justiça é difícil de alcançar não ape- um indivíduo de forma perfeitamente
nas porque inexiste na natureza- mas justa? Que balança pode medir o pe-
porque, em alguns momentos, vai na so de toda a história, de todos os aca-
contracorrente do próprio impulso sos e de todos os sofrimentos que es-
humano de vencer e prosperar. "To- tão compactados em cada indivíduo?
do ego é injusto, pois deseja ser o se- A justiça não o decifra completamen-
nhor de todos os outros", escreveu te, e mesmo assim precisa julgá-lo.
Pascal. Por um lado, a justiça é uma No século 18, na obra Observa-
virtude inventada pela mente huma- ções sobre o Belo e o Sublime, o filósofo
na; por outro, ela exige que esqueça- alemão Immanuel Kant definiu dois
mos parte de nossa humanidade na sentimentos principais na forma co-
hora do jtúzo. Toda justiça verdadei- mo experimentamos a arte e a vida.
ra é impessoal: quando ganha carne, Segundo Kant, o belo é aquilo que
sangue e rosto, ela está a um passo de nos causa um prazer despreocupado,
se transformar em favoritismo ou vin- como a visão de uma flor ou de uma
gança. Como o pai que absolve o filho, criança. Já o sublime é o que provoca
sabendo que é culpado; ou o pai que um encantamento misturado com te-
condena o possível assassino de seu mor: como a visão de uma tempesta-
filho, mesmo sem provas suficientes. de. Nesse sentido, a justiça nem sem-
Ambos, humanos- mas não justos. pre é a mais bela das virtudes; mas é
Mas há momentos em que a mais a mais sublime. Humanamente cria-
filosófica das virtudes se depara com da, ela aponta para o que está além do
os limites da lógica humana. Em dife- humano. Não podemos jamais ser ín-
rentes épocas, filósofos e escritores - timos dela: apenas admirá-la.
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Tente outra vez
Desejamos que nossos recomeças sejam sempre
bem-suced idos e que nos ajudem a identificar
o significado perdido ou ainda não encontrado.
Mas o que devemos fazer para isso acontecer?
TE XTo Viviane Zandonadi FOTOGRAFIA A/ex Silva
PRODUÇÃO DE OBJETosAndrea Silva
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HÁ ALGUNS ANOS, meus cabelos eram muito bem bonito. "Voltei para a faculdade e estou es-
longos e cortei-os bem curtinhos. Fiquei o tem- tudando gastronomia", "entrei no curso de mo-
po todo de costas para o espe lho. A cabele ireira da e vou começar a desenhar ", "pedi demissão
prendeu-os e, com um único golpe, reduziu tu- e vou para casa, pensar no que realmente quero
do a menos da metade. Gostei. Durante algum fazer". A paulistana Maria Lucia Lima Soares foi
tempo, senti falta do volume ao ensaboar a ca- médica radiologista em São Paulo por mais de
beça, espantei-me com meu novo reflexo e tive 20 anos. Recebia um ótimo salário e trabalhava
de explicar mil vezes, para os que estranhavam, de 12 a 14 horas por dia. Aos poucos, começou a
por que havia feito aquilo: "deixei crescer, para cortar os fios que a ligavam diretamente ao exer-
poder cortar". Desde então, e nunca mais com cício da medicina e à vida que ela adjetivava de
o mesmo impacto, é claro, as tesouradas pon- " materialista demais". Foi procurando formas
tuam meus novos começos na vida - voltei a es- alternativas de aj udar os outros que deu um jei-
tudar, o amor acabou, fui demitida, me demi- to de inserir em sua rot ina a acupuntura e a ho-
ti, mude i de casa, casei. Simbolicamente, a "te- meopatia . "Me diziam que eu estava enlouque-
soura do desejo" subtrai pontas que perderam cendo, mas aquilo tudo não tinha mais signifi-
o sentido. Na prática, a possibilidade de mudar cado, me aprisionava e eu precisava faze r outra
alarga os horizontes e ganho perspectiva: "pos- coisa." Em 2006, Ma lu alugou seu apartame nto
so recomeçar, logo estou bem viva". em São Paulo, deixou o emprego em um grande
Aqui entre nós, já recomecei tantas vezes hospital e mudou-se para Maceió, onde traba-
o texto que você lê agora que, aplicando literal- lhou como acupunturista voluntária. Agora dá
mente essa lógica, eu deveria estar careca. Foi aulas na Universidade Federal de Alagoas e hos-
difícil, porque recomeçar é uma batalha pesso- peda em sua casa, numa vila de pescadores, es-
al. Quando buscava inspiração, achei no Livro tudantes estrangeiros que trabalham também
do Desassossego, de Fernando Pessoa: "uns gas- com voluntariado. Aos s8 anos, continua inves-
tam a vida na busca de qualquer coisa que não tindo no processo de desprendimento. "Tenho
querem; outros empregam-se na busca do que cada vez menos med o de mudar."
querem e não lhes serve; outros, ainda, se per-
dem". Para desembaraçar os parágrafos que se O caminho pode não ser suave ...
desenrolam a seguir, me perdi bastante por aí. Minha amiga Claudia Grechi Steiner, jornalista,
Recomeçar, verbo transitivo direto, signifi- há mais de dez anos casou, mudou para a Suíça,
ca começar de novo, retomar após interrupção. onde teve uma filha, aprendeu alemão e deixou
Desejamos que nossos recomeços sejam subs- sua can-eira suspensa. Escrever, por um bom
tantivos, que nos ajudem a identificar o signifi- te mpo, foi um proje to adormecido. Há pouco
cado perdido ou ainda não encontrado. E que mais de um ano, "começou a ser" escritora com
ajudem também a dar se ntido ao que já temos. os recursos que possuía no momento: vontade,
É bom saber que, além dos recomeços do calen- talento e computador. Publica em temporadas
dário (a virada do ano, a volta às aulas), temos a o livro Só o Pó, no Facebook, e tem um roman-
chance de reinventar a própria história e encon- ce, O Caderno de Ana, entre os mais vendidos na
trar satisfação fazendo um movimento em di- loja brasileira da Amazon. Fácil? Não. Dinheiro
reção ao novo, em pleno voo. Aquela sensação praticamente não há, ainda. O que vem adian-
de que algo precisa muda r, mas nada é feito en- te ? Não sei. Mas alguma coisa está acontecen-
quanto somos assombrados pelo medo. do. E Claudia está lá no meio.
Chegam a mim cada vez m ais relatos de O projeto online Continuecurioso, que hos-
gente que, com coragem, resolve mudar, fa- peda fi lmes sobre recomeços profissionais, aca-
zer algo que nunca fez concretamente. E isso é ba de lançar a segunda temporada de vídeos. >>
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» Cada um perfila uma pessoa ou grupo que es- de se conhecer. Para novamente se desconhe -
tá tentando fazer algo, promovendo mudanças cer, e assim por diante. Exige muita coragem.
pessoais e coletivas, e com isso está contente. Porque dá um medo danado."
Há a publicitária que e ra infe liz n a agência, vol-
tou para a escola e virou cozinheira, a fa mília ...mas é bem interessante
que foi trabalhar na roça e hoje tem um sítio de Quando visitei minha própria coleção de reco-
orgânicos onde produz, entre outras coisas, mo- meças, percebi que às vezes te nho a tendência
rangos suculentos. Em algum momento de suas mercurial de encerrar na gaveta questões com
vidas, todos deram ouvidos a uma voz interior as quais não quero lidar e subitamente despejá-
que os fez comparecer ao guichê do recomeço. -las no lixo. Sinto um baita alívio e torno a ocu-
Ao recalcular a rota que nos leva ao novo, par o espaço liberado com novidade, ok, mas de
porém, as mudanças nunca são imediatas, mui- um jeito ou de outro a conta do que foi ignorado
to menos perfeitas. Coisas dão errado o te mpo aparece. É a ilusão do controle. A primeira lição
todo, há desistências e várias perdas e, sobretu- sobre recomeças que aprendi ao construir este
do, há a batalha que cada um te m de enfrentar texto é: dizer adeus ao que deixaremos para trás
para ser fiel a si mesmo. Muitos escapam dessa de um jeito profundo é um cuidado fundamen-
briga, mas te nho a impressão de que os que se tal e ajuda a recomeçar.
m ovem não estão fugindo: acreditam que ore- Eu não tinha tanta clareza do significado
começo é rico e mais profundo do que um sim- dessa espécie de luto até conversar com o jorna-
ples corte de cabelo. Principalmente quando lista inglês David Baker. Ele é um dos fundado-
conseguimos avançar em sua direção com al- res da revista Wired inglesa, onde trabalhou, em
guma abertura para dar sentido à vida quando Londres, até 2011. Agora dá aulas na The School
o amor acaba ou preencher o buraco cavado por ofLife, criada pelo filósofo suíço Alain de Bot-
um trabalho que, com o perdão de qualquer tro- ton. A instituição, também inglesa, dedica-se a
cadilho, não nos representa. grandes questões como "relacionamentos po-
A repórter, escritora e documentarista Elia- dem durar a vida inteira?" ou "como entender
ne Brum pediu demissão e começou uma vida melhor o mundo?", usando para isso filosofia,
sem carteira assinada, nova para e la. No tex- literatura, psicologia e arte.
to "Desconhece-te a ti mesmo", publicado em David nos ajuda a refletir sobre uma vida
2010 e reeditado em seu livro A Menina Q]iebra- mais autêntica. "O desejo de começar de novo
da, do ano passado, e la diz: "Naque le momen- é muito bonito, mas, a rigor, recomeçar do zero
to, quando escrevi sobre a m inha escolha, disse é impossível", disse ele. " Estamos, aos 20, 25,
que meu desejo era me rcinvcntar. Hoje, passa- 35 ou 50 anos, no meio d o projeto de vida e se-
dos quase cinco meses dessa mudança, descu- ria uma pena jogar fora o que trazemos. O me-
bro que para me reinventar é preciso, antes, me lhor é olhar para d entro e desfazer-se aos pou-
desconhecer (...). É preciso ser capaz de olhar cos e com cuidado daquilo que não precisamos,
para nós mesmos com estranhamente para que a brindo espaço pa ra o novo de um jeito mais
possamos enxergar possibilidades que um olhar tranquilo e usando as expe riências a nosso fa-
viciado tornaria invisíveis. Esse é o processo de vor", acredita. Ainda que o processo não seja
se desconhecer como uma forma mais profunda exato nem instantâneo, David destaca três pas-
sos para organizar a movimentação.
O primeiro é ide ntificar e dizer adeus para
ANDREA SILVA écoordenadora de produção e co- objetos, hábitos, atividades e relações que não fa-
labora com VIDA S IMPLES há um bom tempo. Ela zem mais sentido. Assim, arejada, a vida abre es-
équem produz a ma i ora de nossas capas. paço para o novo- sabe aquela tarde chuvosa ))
M ARço 20 1• • vidasimples 33
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>> de domingo em que você para diante do armá- fu ndo do copo de cerveja. Será que nos Estados
rio, põe tudo abaixo e limpa, t ira o que não ser- Unidos elas aparecem na lata de refrige rante?
ve, arruma? É por aí. "Para mim, a criatividade Então Mary sorteia um nome na lista tele fôni-
só flui quando há espaço em minha vida, interno ca de Nova York, e escreve para Max a pergunta
e físico. Para conseguir esse espaço, é importan- dos bebês. No envelope, enfia uma barra de cho-
te cumprir um ritual semelhante ao luto, fechar colate e a frase:" Espero que aceite ser meu ami-
ciclos, assimilar o fim, a perda ou a separação do go". O destinatário é o metódico Max, que ten-
que já não nos serve. A seu tempo, uma saudade ta responder à pergunta de Mary. A partir de en-
tranquila tomará o lugar da dor. É um sentimento tão, os dois trocam muitas cartas. E os 20 anos
muito suave e confortante. Muitas vezes as pes- de correspondência e ntre eles pavimentam de
soas simplesmente se esquecem dele." sentido a calçada de suas existências, cheia de
Feita a limpeza dentro da gente, e também rachaduras e emendas, como é a minha e a sua.
em casa, nas gavetas ou onde for necessário, Da- Em uma sociedade habituada a valorizar
vid sugere identificar e atribuir valor ao que é ga nhos materia is, boniteza e felicidade a qual-
importante. É um exercício interessante de au- quer custo, Mary e Max poderiam, em análise li-
toconhecimento, perguntar assim mesmo: o que geira, ser considerados perdedores. Se vivessem
faz você se sentir realmente vivo? A ideia é ob- em nosso tempo, talvez até fingissem no Face-
servar valores, hábitos e atividades que nos defi- book uma vida diferente, ideal, aceita. Mas não.
nem, como talvez para algumas pessoas seja ler, Maty e Max tentam viver a própria verdade, que
fa ze r ioga, brincar com o filho. A sugestão é lis- consiste em contornar os nãos que a vida lhes
tar as sete experiências que façam você se sen- oferece em abundância, fazer perguntas since-
tir vivo. Depois, durante cerca de dez minutos, ras, gostar de chocolate, leite condensado, ba-
pensar em cada um dos tópicos e d esenhar ao rulho de chuva, e cheiro de bicho de estimação
lado objetos, imagens ou situações que os repre- molhado. Na aventura empreendida por todos
sentem . Em seguida, mostrar os desenhos para nós entre o nascer e o morrer, que é a vida, te-
quem estive r ao lado e buscar palavras para des- mos a chance de ser de verdade, como Maty e
crevê-los e explicá-los. Essa reflexão ajuda a en- Max. Também podemos perseguir o pacote con-
xergar o que é importante na vida. A partir daí, vencional casa, carro, emprego fixo e dinheiro,
é construir a nova rotina. "A coragem do reco- supermãe e superpai, faze ndo um jogo que mui-
meço é proveniente do autoconhecimento. Não tas vezes nem nos pertence, mas parece certo.
é uma coragem louca e inconsequente. Nesse Ainda que não tenhamos controle absoluto, é
sentido, recomeçar, se ndo honesto consigo, é interessante notar que, em parte, somos livres
me nos desgastante do que ficar o tempo todo para voltar atrás, recomeçar com o que temos,
tentando ser quem esperam que a gente seja." dar um passo, trabalhar com outra coisa e acei-
tar que, muitas vezes, simplesmente não sabe-
A vida é de cada um mos. Isso tudo é possível desde que estejamos
Ao percorrer histórias reais e fictícias de reco- dispostos a não nos esquivar do que nos define.
meças, acabei assistindo outra vez a Mary & Enfim, o tempo todo somos convidados a
Max, uma animação para adultos (mesmo) . O prestar mais e mais atenção em nossa vida. E a
longa conta a história da menina Mary Daisy (re)vivê-la de verdade, logo. •
Dinkle, australiana de Melbourne, e do ameri-
cano Max Jeny Horovitz, de 44 anos, que vive
sozinho em Nova York. Um dia, Mary quis saber VIV IAN E ZANDONAD I acha que as palavras dão
qual a origem dos bebês america nos. Seu avô lhe sentido à vida. Qpando smte uma revoada de bor-
contou que na Austrália as crianças surgem no boletas 110 estômago, ela aponta o lápis e recomeça.
M ARço 2o 14 • vidasimples 35
COMER
C)
Bom pra chuchu
Abrir o paladar para novos sabores pode ser uma maneira
e tanto de conhecer as suas preferências (e os seus preconceitos),
além de descobrir delícias que você nem imag ina
ESCREVO ESTAS LINHAS apÓs ter acaricia- para as quais eu haveria de franzir o
do meu estômago com uma boa quantidade supercílio, como pintado na brasa
de sopa de chuclm com frango caipira. Per- com uma crosta de parmesão (pois é,
ceba que havia quatro opçoes na padaria peixe e queijo!). E e nfrentei sem medo
onde estive para aplacar minha fome em meu maior inimigo: salsichas. Duas,
uma noite de segunda-feira: feijão com ba- mais precisamente, meticulosamen-
tata, canja de galinha e creme de palmito, te colocadas entre o purê e a maione-
além da já citacfa sopa de chuchu. se de um cachorro-quente na madru-
gada. Porque nem toda experiência ti-
nha que ser agradável.
Em busca do sabor
Quem me acompanhou e m muitas
dessas refeições foi o crítico gastro-
Confesso que ela seria minha última aicmofobia. No caso do chuchu, não é nômico Jeffrey Steingarten, que ficou
opção dentre as alternativas coloca- que eu veementemente o desprezas- famoso por escrever suas impressões
das nos rechauds de inox sobre a ban- se, nada disso. Apenas me adaptei ao na Vogue americana. Enquanto eu gar-
cada de mármore. Mas ela foi, na oca- costume de pegar outros itens da sa- fava um pouco do arroz de frango com
sião, o meu primeiro, segundo e ter- lada e acabar "esquecendo" dele ali. quia bo, ele repousava sobre a mesa,
ceiro pratos. A sopa estava tão boa Mas desde que a Ana, editora m e lem brando que a comida precisa
(saborosa e na textura correta) que desta revista, me propôs escreveres- ser encarada com paixão e destemor.
não ousei traí-la com o creme de pal- se texto sobre experimentar novos sa- Jeffrey mesmo viajou o mun-
mito que borbulhava ao lado, denun- bores ("Vai ser fácil para você que co- do em busca dos mais difere ntes sa-
ciando nas bolhas demoradas a enor- me de tudo, Tonon"), eu me forcei ao bores: foi à Alsácia provar chucrute,
me quantidade de creme de leite ou desafio de comprovar que ela estava descobriu que os espanhóis de Valê n-
espessante (farinha? maisena?). Eu certa, mesmo que em grande medida cia alimentam os caracóis que usam
fiquei ali com meu prato de sopa de n ão estivesse. Ao receber o cardápio na sua tradicional paella com alecrim
chuchu com bom equilíbrio de frango de um restaurante, passei a optar jus- para aportar o sabor da erva à recei-
desfiado e ervas, pensando por que eu tamente por aquele prato que eu não ta, e passou uma semana em Veneza
tinha passado tanto tempo torcendo o pediria, por apontar meu dedo pa- em uma d ieta marinha, degusta ndo
nariz para esse legume verde-pálido. ra aquela opção à qual ele não estava "caranguejos de concha mole e sabor
A verdade é que, de uns anos pa- acostumado, quase tendo que contar doce, e enguias grelhadas devagari-
ra cá, tenho vencido alguns precon- com a força persuasiva da outra mão nho na brasa", conforme me contou,
ceitos que teimava em trazer à mesa. para que ele automaticamente não pa- mesmo que não tão diretamente, pe-
Indício de estar cada vez mais envol- rasse duas linhas acima - ou abaixo. las páginas de O Homem que Comeu de
vido em escrever (e aprender) sobre Descobri, por exemplo, que, se Tudo, o melhor libelo que já li a favor,
gastronomia. Porque é assim: se você não for o alimento mais versátil do justamente, de se comer de tudo. Je-
quer trabalhar com comida, não pode mundo, a berinjela é a grande favo- ffrey (as refeições que tivemos juntos
ter imposições para comer. A não ser, rita para esse posto: provei inúme- me permitem chamá-lo assim) expli-
claro, por um problema de saúde ou ras receitas deliciosas, de conservas ca que todo alimento deve ser comi-
coisa que o valha. Do contrário, preci- de mais de 90 dias à clássica versão do com o uma forma de respeito. "O
sa mesmo meter o garfo, engolir todos a/la parmiggiana; do até então ignora- único propósito de uma fruta é sedu-
os convencionalismos e estar aberto do babaganuche à caponata. Também zir animais como eu e você para que
a novos sabores. Da mesma forma comi boas opções de picles, ótimas nos tomemos alegres joguetes em seu
que um médico não pode ter aversão preparações de figos e uma versão na- cronograma reprodutivo secreto", ele
a sangue nem a assistente do atira- da ortodoxa de pastel de queijo com me ensinou. O que me deu outra pers-
dor de facas apresentar algum tipo de coco e abacaxi. Descobri misturas pectiva sobre orgias gastronômicas. ,,
38 vidasimples · MARç o 20 1 •
(S3M3 11'JV.L) VS3W VN ~(OJ.VMd) V.LS3.i V.LNVS !( VIINJOVMfiOO) SVNidJVV:) MVU A.LJ:) SO!N3WinOVHDV
COMER
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"Outro desafio foi provar o jacaré, que só tinha comido quando pequeno. O sabor é uma mistura de porco com pirarucu. Foi até
agradável, não fosse pela cartilagem que acabei mastigando entre um pedaço e outro. Cartilagem não dá- m e desculpem!"
>> Há alguns meses, conheci outro li- Fiquei até surpreso em pensar so- pessoas que dizem ter nojo de insetos
vro, o d a jornalista e escritora Dana bre os meus preconceitos a partir des- muito provavelmente já ingeriram al-
Goodyear, intitulado Anything that sa afirmação dela. Logo eu, que sem- gum tipo quando e ram crianças, por
Moves (algo como "Tudo que se Mo- pre achei válido comer (ou pelo me- curiosidade. O que mostra como nos-
ve", sem edição no Brasil), que tinha a nos provar) de tudo, percebi que tinha so preconceito é algo adquirido."
ver com essa minha experiê ncia. Co- minhas questões a resolver. Mas por O que ele defende é que a percep-
laboradora assídua da NeiV Yorker, Da- que será que eu encaro numa boa tri- ção de um alimento é muito mais im-
na escreveu no título recém-lançado pa de porco e ainda reluto na hora de portante sobre a decisão de comê-lo
sobre sua tentativa de provar toda a abocanhar um mero caqui ? do que o sabor em si. Muitas vezes re-
sorte de alimentos que ousassem co- jeitamos receitas que nem sequer pro-
locar no seu prato. Desde que, claro, Vencendo preconceitos vamos. "Nosso 'nojo' não está apenas
embasados por tradições culinárias. Procurei o psicólogo Paul Rozin, pro- ligado ao gosto, mas ao sentido de en-
Invencionices despropositadas esta- fesso r da Un iversidade da Pensilvâ- joo da ide ia de comer aquilo. Não gos-
vam fora de seu cardá pio. nia e um dos maiores estudiosos da tar é o mecanismo que nos faz rejeitar
"Os novos chefs de vanguarda es- nossa relação com o gosto, pa ra po- um alime nto cujo sabor não está (ou
tão tentando passar a mensagem de der entender isso melhor. Ele me in- não parece estar) alinhado às nossas
que precisamos ampliar nossas men- formou que não existe ninguém no preferê ncias pessoais", explica.
tes como comedores, oferecendo car- mundo que não desgoste ou que não A melhor forma de nos sobrepor
dápios cada vez mais vastos", ela me tenha nojo de algum alimento. "Al- aos alimentos de que não gostamos é
disse por e-mail. "E foi isso que eu gumas pessoas são se nsíveis ao gos- nos expor a eles. Seja pelo cardápio
fui buscar". De fen o a maconha usa- to amargo, como do café. Outras têm de um chef que admiramos, seja nos
da como tempero, de um tipo de fun- um monte d e categorias de alimen- anúncios das revistas ou frequentan-
go comum no milho (e consumido no tos de que não gostam, como carnes do lugares em que eles são mais co-
México) a sangue de porco, ela pro- e verduras, mas nós realmente não sa- muns. "A exposição nos leva a gostar,
vou de tudo para contar como anda bemos porquê", ele disse. fazendo com que as pessoas aceitem
diversificada a nova cena gastronô- Nossos gostos têm muito mais a mais tipos de comidas, vencendo suas
mica d e Los Angeles, sua cidade na- ver com questões sociais e culturais pequenas aversões", ele disse.
tal, que agrupa imigrantes de várias do que biológicas ou hereditárias. O Como bem defendeu Dana Goo-
nacionalidades, dando à cidade uma paladar se forma por décadas, não de dyear, sem precisar sair de Los An-
cara meio de Babel gastronômica. um dia para o outro. "Os primeiros geles, a globalização vai aume ntar a
Como a experiência dela foi mais seis anos de vida n ão são a fase em quantidade de "comida aceitável" de
intensa que a minha, que no máximo que as nossas prefe rê ncias são cria- culturas a ntagônicas. Como foi oca-
e ncarei uma formiga e algumas tiras das, como muitos acreditam. Eles im- so, e u ouso em dizer, do que aconte-
de orelha de porco, quis saber o que portam tanto quando os segundos ou ceu com os restaurantes japoneses há
ela tinha achado. "Sempre foi descon- terceiros seis anos da vida", contou. É cerca de dez a nos. Ou você se imagi-
fo rtável encarar receitas assim. Mas fato que temos uma preferência inata nava na cena patética de comer peixe
confesso que depois de te r provado por sabores doces, por exemplo. Mas cru com dois palitinhos? A maior ofer-
grilo, pênis de búfalo e outras igua- há quem não ligue para a sobremesa ta é que vai determinar que podemos,
rias, percebi que tenho um estômago ou o chocolate de todo dia. sim, comer um grilo numa boa ou que
mais forte do que imaginava", brin- Os insetos que se tornaram uma pé de porco assado pode ser bom pra
cou a a utora. "Foi bom vencer alguns te ndê ncia gastronômica recente (e chuchu. Uma expressão que agora eu
dos meus preconceitos". e m breve podem estar em um pra- já posso usar com propriedade. •
to perto de você, e n ão apenas sobre-
voa ndo-o) são tidos por mui tas pes-
MARCUS STEI NMEYER fez os retra- soas como nojentos. Mas em outras RAFA EL TON ON é colaborador asstduo
tos da matéria "Faça uma limonada" culturas, como em países asiáticos, da V IDA S IMPLES . Prova até O que não
(edição 133). De pessoas, não de limões. seu consumo é comum. "Muitas das gosta, só para ver se muda de opinião.
®
Fi na I feliz
Uma seleção de fi lmes concebidos para fazer você rir,
se emocionar e chegar aos créditos f inais de bem com a vida
TEXTo Alexandre Carvalho dos Santos ILUSTRAçõEs Paola Saliby
BANHO DE MAR, uma canção de João Donato do clássico A Felicidade Não se Compra, era um
(Lugar Comum), o sorriso da minha sobrinha mestre do gênero. Quando perguntado se ainda
de 2 anos, um passeio de bicicleta com a Ju, mi- era possível fazer cinema com os valores positi-
nha mulher. .. Para mim, é isso. E para você? O vos que encantavam seus fãs, respondeu na la-
que conforta, aconchega, melhora o seu dia na ta: "Se não fosse, seria melhor desistir".
hora? Tem filme que é assim: pensado para fazer E quem não precisa de um pouco de con-
você feliz. Se não der para tanto - já que o cine- forto e otimismo para seguir adiante - ainda
ma não resolve encrencas conjugais nem paga que o pacote seja a fantasia de um filme? Por
contas - , pelo menos faz com que você se sinta isso, preparamos uma seleção de feel-good mo-
otimista, renovado, confiante no próximo. Daí vies para você. Minha dica de condição ideal
o nome que deram para esse tipo de filme:feel- para uma sessão particular: no seu canto pre-
-good movie. Ou seja, "filme para se sentir bem". ferido do sofá (thanks, Sheldon Cooper), com
A receita varia. Afinal, o que serve para um pote de Nutella do lado. Acredite, costuma
mim pode não fazer sentido para você. Mas há funcionar como antídoto para a tradicional de-
regrinhas básicas para se identificar um filme prê de domingo à noite. Troque a marcha fú-
feel-good. Os seis mandamentos são: tem hu- nebre do Fantástico pelo ovo. E seja feliz. ,,
mor (embora não precise ser uma comédia),
envolve afetos (romance ou amizade), é oti-
mista, emotivo, tem final feliz e- condiçãosine A LEXANDRE CARVALHO DOS SANTOS érevisor de
qua non - passa uma mensagem positiva. O di- VIDA S IMPLES, crítico de cinema e editor do blog
retor ítalo-americano Frank Capra (1897-1991), Noitada (!witadasp.com.br)
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MANUAL
UP - ALTAS AVENTURAS (EUA, 2009), FRANKENWEENIE (EUA, 2012), CURTIN DO A VIDA ADOIDADO
de Pele Docter e Bob Peterson. de Tim Burton. Com Charlie Tahan (EUA, 1986), de John Hughes.
Com Ed Asner e Jordan Nagai. e Winona Ryder. Com Matthew Broderick e Alan Ruck.
CONTA COMIGO (EUA, 1986). MEDIANERAS (ARGENTIN A, 2011), ALTA FIDELIDADE (EUA, 2000),
de Rob Reiner. Com Wil Wheaton de Gustavo Toretto. Com Javier Drolas de Stephen Frears. Com John Cusack.
e River Phoenix. e Pilar Lopez de Ayala. lben Hjejle e Jack Black.
MARço 20 1• • vidasimples 47
PENSAR
Tô chegando já
O trânsito tá péssimo!
Que trânsito?
Hoje é domingo! ,. 11
48 vidasimples · MARCO 20 1•
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Verdade seja dita:
mentir é humano
Quase todos os seus comportamentos de hoje foram
selecionados durante o processo evolutivo. A mentira,
portanto, t raz algum benefício, ou não teria se mantido
TEXTO Ivonete Lucirio
PARA VOCÊ, leitor da VIDA SIMPLES, atenção para o conteúdo deste texto.
uma notícia triste: a revista vai fe- Quase todos os comportamentos hu-
char. Pausa dramática ... É mentira, manos foram de algum modo selecio-
uma das cerca de cem que você vai nados durante o processo evolutivo.
ouvir ou le r até o fim do dia. Segundo Por isso, trazem algum benefício, ou
uma pesquisa realizada pela analista não teriam se mantido.
comportamental Pamela Meyer, da "Tre menda adaptação do cére-
e m presa americana Calibrare, todo bro humano. Fisiologicame nte, ele
ser humano fala inverdades em uma não foi preparado para mentir, não
de cada cinco de suas interações diá- é natural", diz a neuropsicóloga Ana
rias. Privilégio da condição humana - Paula Macchia. "É preciso inibir as
o único animal capaz de falar também estruturas cerebrais frontais relacio-
é o único apto a mentir. n adas à realidade, acessar a área da
Mas por que será que mentimos linguagem para escolher as palavras
tanto? De modo geral, cada falsidade e orga nizar o discurso. Dá um tra-
tem seu objetivo. A que abre essa ma- balhão, é uma tarefa muito comple-
téria, por exemplo, quis capturar a sua xa, consome ma is tempo", explica. )I
®
Semear
o futuro
A semente sempre foi símbolo
de esperança e recomeço.
No Mato Grosso,
ela é também um
veículo de mudança
FOTOGRAFIA E TEXTO
Alexandre Macedo
Sobre o saco de feijão branco, a mão marcada do agricultor Placides demonstra o trabalho diário (e sua ligação) com a terra
URUCUM, TINGUI, tarumã, murici-
-do-brejo, caju, mangaba, ipê amare-
lo-do-cerrado, baru e mangá são al-
gumas das espécies de sementes co-
letadas e comercializadas em uma
rede formada por ONGs, fazendeiros,
assentados, indígenas e moradores de
diversas cidades no nordeste do Ma-
to Grosso, entre o Parque Nacional
do Xingue o Rio Araguaia. Trata-se
de uma região machucada pelo mo-
delo de desenvolvimento da ditadu-
ra militar, e m que o objetivo era a co-
lonização. Ali, o desmatamento gerou
proble mas sociais e ambientais que
persistem até os dias de hoje. Mas a
realidade está mudando e as pessoas
da região estão, cada vez mais, pre-
ocupadas e interessadas com a con-
servação do meio ambiente. Da mes-
ma forma como acontece na nature-
za, essa rede funciona como um ciclo
de processos, em que cada pessoa tem
um papel fundamental. Começa com
a necessidade de faze ndeiros em con-
servar e reflorestar suas áreas. A de-
manda por sementes é repassada pa-
ra trabalhadores da região, que fazem
a coleta nas florestas para suprir cen-
tros chamados de Casas de Semente.
Nesses depósitos, a cole ta é confe ri-
da e comprada, o que significa uma
real fonte de renda para os morado-
res da região. Os semeadores do Ara-
guaia/Xingu já percebem que germi-
na ali uma vida nova. •
No mostruário de sementes, parte do acervo coletado e comercializado por moradores da reg ião e trabalhadores rurais.
A grande variedade pode ajudar, por exemplo, a reflorestar as terras de uma grande fazenda
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Força deliCadeza e
Gentileza, sensibilidade, elegância e suavidade não
deixam você mais frágil. É precisamente o contrário
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"DELICADEZA EXIGE FORÇA. A bruta- atos de delicadeza cotidiana costu- O poder da suavidade
lidade é fraca." Com essa frase, meu mam partir daqueles que, por se sa- Sem ser um carateca, e muito menos
amigo Hiroshi tentou sintetizar o ka- berem fo rtes, não precisam sair por aí querer ser um Gandhi das relações,
buji, o teatro japonês, cujos papéis fe- demonstrando sua força, exibindo su- ainda acredito na força da gentileza,
mininos também são representados perioridade e causando medo. Quem da elegância e da suavidade. Convi-
por homens, com movimentos suaves faz isso, na verdade, é fraco. Age co- vo muito com executivos de empre-
e delicados. Mas, cuidado, essa deli- mo um baiacu, o peixe pequeno que sas, líderes corporativos, e noto que
cadeza feminina está longe de ser um se infla todo para parecer grande e os mais experientes e bem-sucedidos,
sinal de falta de força ou de virilida- ameaçador diante do inimigo. muitas vezes considerados "agressi-
de. Antes pelo contrário. Para conse- Quando falei sobre isso com ou- vos" nos negócios, não o são nas rela-
guir controlar o corpo, evitando mo- tro amigo, o Eduardo, que é mestre ções. Ao contrário, são serenos, pas-
vimentos abruptos, é necessária gran- em várias artes marciais, ele, sorrin- sam segurança e confiança. E, ao evi-
de força e controle muscular. do, de pronto me explicou o signifi- tarem a rudeza, conseguem retirar
Isso acontece no teatro japonês, no cado do Goju-Ryu, um estilo de kara- das pessoas de sua equipe o que elas
balé e em inúmeras outras situações tê, que busca aproximar os opostos, têm de melhor. Afinal, confiança, res-
da vida. Nunca me esqueci do pensa- as energias aparentemente antagô- peito e admiração são sentimentos in-
mento de meu companheiro de olhos nicas, para ser mais poderoso. "Go" crivelmente mais poderosos do que
puxados, e não pude evitar de extra- simboliza a força, a rigidez, enquan- medo, obediência e subserviência.
polar essa verdade para o compor- to "Ju" tem o significado de suavidade Infelizmente, todos nós já presen-
tamento cotidiano das pessoas. Do ou flexibilidade. "Ryo" quer dizeres- ciamos atos de brutalidade explícita
palco para a vida. É incrível como, tilo. Esse é o estilo que só os grandes em todos os ambientes. No trabalho,
ajustando a lente da crítica sem jul- conseguem desenvolver. Sendo sua- na rua, no transporte público, em casa
gamento, assistimos a demonstrações ve nos movimentos e forte nos obje- e também nos movimentos de reivin-
de delicadeza e também de grosseria. tivos, surpreende o oponente e leva dicação. Aliás, a brutalidade eclipsou
Percebi que, assim como no balé, os ao controle e à vitória. a força que os movimentos tinham »
>> em sua origem. E eles ficaram fra- elas estão. Essas são as fortes de ver- não estou fala ndo aqui de ascensão
cos. A violência não é forte, concluo. dade. E, o mais importante: tornam- social. Deveria haver uma relação di-
A delicadeza é, acima de tudo, uma -se ainda mais fortes com seus gestos reta entre esses fatos, e algumas vezes
manifestação de força. Lembre-se de e palavras suaves e gentis, pois a partir há, mas já assisti a comportamentos
alguém (todos conhecemos pessoas delas conquistam os demais, e assim bizarros e inconvenientes na sala VIP
assim) que jamais eleva a voz, que é ganham respeito, confiança e, conse- do aeroporto, e cenas de comovente
capaz de sorrir diante da adversida- quentemente, poder. solidariedade e gentileza em locais
de, que usa seus argumentos lógicos Apesar de vivermos em uma so- sim ples e até pobres. Algo falhou na-
não para se impor, mas para colaborar ciedade não selvagem, organizada, queles e deu certo nestes.
com o outro e encontrar a melhor so- extremamente mais segura e con- Definitivamente, não precisamos
lução diante de uma dificuldade. fo rtável do que nunca foi, ainda en- de gritos, quebradeira, músicas que
É sobre essa delicadeza que eu fa- contramos a genética ancestral se ma- fazem apologia à delinquência, gestos
lo, que está a milhas e milhas de ser nifestando pela brutalidade, pelo gri- ofensivos, grafites sem sentido nem
sinônimo de insegurança, subser- to, pela demonstração da força como beleza, desrespeito ao patrimônio pú-
viência ou fraqueza. Não mesmo: é armadura protetora. O evolucionis- blico, invasão ao espaço privado. Pre-
uma demonstração de autocontrole. mo explica. Só que, quando falamos cisamos é de civilização, e esta é, ne-
É bom conviver com alguém assim. de evolução, estamos nos referindo às cessariamente, gentil e delicada, por
Mas ainda há quem ache que os for- espécies, mas podemos estar falando isso é forte. É dessa força social que às
tes são os que demonstram sua força de sociedades e de indivíduos, e é ne- vezes sinto falta na nossa sociedade.
pela agressividade física ou mesmo cessário entender a diferença.
pela grandiloquência da voz. Sinais de evolução, no caso de uma Passos suaves
A verdade é outra. Repare como pessoa ou d e uma sociedade, são a Recentemente assisti a um espetácu-
a delicadeza costuma vir das pesso- educação, a consciência, a civilida- lo que me lembrou tudo isso e me en-
as mais bem resolvidas, confiantes, de, e não a força bruta nem a capaci- cantou profundamente. Fui ver uma
que parecem estar no comando - e dade de causar medo. Mas cuidado, apresentação da Escola Espanhola de
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A pesa r de viverm os hoje em uma sociedade t ida como
civil izada, ainda mantem os comp ortamentos ancestrais,
q ue se manif estam pelo grito e pela brutalid ade
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Equitação, que, apesar do nome, fica baria. Três imensos lustres de cristal ferro, tão fortes eles eram. Os cava-
em Viena, no suntuoso Palácio Impe- e nfeitam o teto, e as valsas de Strauss los Lipizzan, da escola, são descen-
•• rial de Ofburg, em pleno coração da e nchem cada cantinho com seus acor- dentes dos Anda luzes. Imensos, pe-
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capital da Áustria. Esse foi o centro des, sempre leves e alegres. sados, deixam transparecer sua mus-
do poder dos Habsburgo, soberanos Cinco cavalos estavam se apre- culatura poten te por baixo da pele. É
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.... ,
I
entre o século 13 e o final da Primeira
Guerra Mundial, em 1918.
A grandiosidade arquitetônica des-
sentando qua ndo chegamos. Qua-
tro cavaleiros e uma a mazona, to-
dos e legantes, conduziam os animais
a fo rça em estado natural.
Entretanto, não se ouvem suas
passadas, de tão sutis e su aves. Tro-
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se palácio, com seus 2.600 cômodos, com delicadeza. A be leza do conjun- tam como se bailassem, empinam-se
impressiona e encanta quem o visita, to é indescritível. Algo me cha mou a como se em um alongamento. Qua-
além de ser ainda h oje a sede d o go- atenção na moça, que ma ntinha uma se fl utuam, e é isso que impressiona,
verno daquele país. Foi lá que morou postura de bailarina e sorria o tempo cria ndo uma imagem hipnótica.
a mítica Sissi, interpretada pe la be- todo. Ela era magra, apa rentem en- Só conseguem ser delicados por-
la Romy Schneider no cinema. Aliás, te frágil, e formava com o cavalo um que são fortíssimos, como os bailari-
a beleza de ambas é equivale nte. conjunto único. Às vezes, tocava no nos clássicos. Não conseguimos pa-
Fundada no século 16, quando os costado do imenso animal com o de- rar de olhar pa ra eles, e admirá-los.
primeiros cavalos foram trazidos da do mín imo, e ele respond ia de ime- Apreciando aquele balé, eu me lem-
Espanha, a escola foi um dos símbo- diato ao seu comando sutil. brei mais uma vez do meu amigo de
los da realeza e, atualmente, da cultu- Consta que os Andaluzes fora m os olhos puxados: "Delicadeza exige for-
ra daquele p aís. A entrada se faz por primeiros cavalos de sela e os primei- ça . A brutalidade é fraca". Verdade. •
uma escad aria, pois os cavalos são ros nos quais se usou estribo (me dis-
vistos de cima, em seu picadeiro, on- se meu amigo Marins), e isso fez toda
de se e xercita m, treina m e se a pre- a difere nça, pois transformou-os e m EUGENIO MUSSAK confessa quejá per-
sentam. O ambie nte é surpreende n- a rma de guerra, inclusive carregan- deu a paciência muitas vezes, mas pro-
te, pois em nada lembra uma estre- do cavale iros em suas armaduras de cura nunca deixar de lado a elegância.
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AO LADO DA CAMA, sem perceber, eu Quer sejamos religiosos ou não, do, é como morrer temporariamente.
havia ancorado um minúsculo bar- imaginamos que nossos mortos sem- Meu barquinho representa tudo isso.
co de metal. Dentro dele, uma moe- pre estão em algum lugar, no mínimo A morte de cada noite, o extermínio
da esquecida. Já reparou que sempre aquele onde nossos pensamentos os do qual meu pai fugiu, outros não, sua
há algumas quinquilharias que nun- visitam. Talvez para esse fim, ele te- espera pela viagem final e a minha.
ca vão para o seu lugar? Sabe por quê? nha guardado a embarcação de metal. Repare nas suas pequenas ba-
Porque aquele é o seu lugar. Foi assim Para os gregos, era um barco que gunças, elas encerram em si muito
com meu barquinho despropositado. levava para o Hades, terra subterrâ- mais verdades do que os enfeites de
O enfei te, herdei do meu pai. Na nea dos mortos. Porém, o acesso não nossas casas. Os objetos decorativos
verdade o recolhi entre seus objetos, era gratuito: custava uma moeda, en- são como a cara que apresentamos ao
depois que ele se foi . Ele não o teria tregue a Caronte, o soturno barqueiro espelho, nossa versão editada. Já os
dado, estava usando. Como eu, tinha- incumbido da travessia do rio Aque- aparentes desleixos, principalmente
-o parado ali em seu porto, pronto pa- ronte. Para tanto, na cerimônia d e aqueles objetos que se abancam num
ra levá-lo de volta para casa. Eu não ti- despedida dos mortos, uma moed a lugar como se tivessem vontade pró-
nha entendido essa missão. era colocada na boca ou nos olhos do pria, esses contêm muitas verdades. A
Meu pai veio de barco para a defunto, que partia com o pagamen- minha é que vivo a cada dia conscien-
América, fugindo, na época, do na- to necessário. Precavida, jamais vou te d e que estou nesta margem apenas
zismo. No porto, foi a última vez que dormir sem uma em meu barquinho. por um tempo. Grata pela sua dura-
viu seu pai e seu irmão, mas na oca- Cada noite de sono é uma visita ção, mas, quando for a travessia, que-
sião ele não sabia disso. Quem sabe, às margens do Aqueronte. O abando- ro estar devidamente preparada. •
se pudesse navegar de volta àquele no do corpo, indispensável para dor-
momento, pudesse evitar, ou mes- mir, requer também abrir mão da
mo despedir-se com um verdadeiro consciência de si. Ficar inconscien- DIANA CORSO acredita que a felicidade
adeus. Ele partiu com um até logo, te, nem que seja pelas horas que se- até acontece, quando a notamos. Por is-
que sempre lhe pareceu insuficiente. param um dia do outro, pode dar me- so e para isso é psicanalista.
•
-1
4
NA PRIMEIRA CENA, ela está colada à por distração- somada à, digamos, so. Se não estamos autocentrados,
tela, enredada em ideias para um no- falta de infraestrutura para um diá- vemos um outro mundo (não metros,
vo projeto. Ele enxerga um corpo e su- logo. Ele poderia se desculpar assim: mas quilômetros à frente), nos apro-
põe que ela está à disposição. Chama, "Falei aquilo porque estava fazendo ximamos com interesse e com a liber-
pergunta, mas não é a esposa ali. Ela outra coisa, foi um gesto emocional, dade de interromper ou de deixar pa-
fala qualquer coisa para se desvenci- por favor desconsidere o conteúdo". ra depois. Um dos atos mais cruéis é
lhar das interrupções e voltar ao tra- Na terceira e última cena, ela está roubar o tempo, a atenção, a energia
balho. Depois a reclamação: "Você lendo A Soma de Tudo (Sum, do neuro- das pessoas e levá-las a desperdiçar
me ignora, não me ouve, é grossa". cientista David Eagleman), com cor- parte da vida com frivolidades. É um
Ela poderia responder: "É você que po e mente imaginando experiências roubo como qualquer outro.
inicia diálogos de uma posição ruim, possíveis após a morte. Ela não es- Triste: quanto maior a intimida-
sem antes ver onde estou". tá avoada ou longe; ela está presen- de, mais tomamos a proximidade co-
Na segunda cena, ele está la- te em um lugar sutil. Tanto é que se mo estabelecida, menos nos aproxi-
vando louça ou se vestindo, ela es- ele chegasse com uma boa pergunta mamos de verdade. Casar ou morar
tá em outro cômodo. Por comodida- ("O que está visualizando aí em seu junto não significa habitar o mesmo
de (notem o radical em comum), em mundo?"), ela falaria por horas. Mas mundo do outro- e que bom que se-
vez de andar até ela para uma con- ele vem com tudo e mostra o celular: ja assim. Ainda que estejamos sob
versa com 100% de atenção, ele qua- "Pira nesse vídeo!". O modo como o mesmo teto, ou justamente por is-
se grita: "Meu pai está mal. Vamos lá nos aproximamos de alguém escan- so, precisamos sempre bater na porta.
amanhã?". Ela responde como dá, ele cara onde está nossa mente. Se esta- E esperar que ela se abra. •
não cessa a conversa, e em minutos mos autocentrados, chegamos afoba-
entram em um tema espinhoso, que dos, igual faz uma criança, querendo
exigiria um contato olho no olho. Sem sempre a preferencial no trânsito das GUSTAVO GITTI épublicitário egosta de
querer, ele solta uma ofensa e a situa- urgências, como se todos fossem per- trabalhar em espaços de transformação
ção deságua em sofrimento. Brigam sonagens de um mesmo filme: o nos- coletiva. Seu si te é olugar.org
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l MARço 201• • vidasimples
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OLHAR PARA DENTRO
Satisfação ~ermanente
não existe. E tudo bem
Não há conforto que dure para sempre. Compreender
isso é o primeiro passo para se educar a ser mais feliz
SE VOCÊ TIVER MUITO DINHEIRO, for ritos nisso. Ainda assim, a vida passa to raramente. Se a opção for sentir-
amado e respeitado, tiver a mpla ca- e nunca chegamos a um ponto final. -se desassistido, mal-amado, famin-
pacidade de realização de suas aspira- Avançamos e a insatisfação nos alcan- to das coisas do mundo, o sofrimento,
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ções e desejos, isso não garantirá sua ça, ou a impermanência ameaça o que ele, sim, será permanente.
felicidade. Nada do que se obtenha é juntamos, ou ainda o que obtemos se Pior do que isso, só o estado de
permanentemente satisfatório. É co- transforma em problema. raiva interna e agressão contra os ou-
mo um pássaro em um galho aspiran- Os meninos e as meninas pas- tros seres. Nesse caso, você perceben-
.. do voar para outro. Voará pelo vento, sam no vestibular, mas se desiludem do ou não, vivenciará um sofrimen-
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pelo frio, calor, pela flutuação de sua do curso escolhido. Se gostam e se- to permanente, e os traços de alegria
mente. O galho onde ele repousa po- guem, mais adia nte d escobre m que que surjam serão gerados pelo sofri-
de ainda se transformar em um lugar não nascera m para ser economistas, mento que você veja ou provoque nos
• perigoso e fonte de sofrimento. advogados ou funcionários públi- outros. É a descrição dos infernos.
Se sua mente estiver facada na cos, e tc. Fazem seguros e poupanças Essas seis opções surgem como
competição com os outros, veja, es- pois podem ser demitidos, ou perder o resultado mais comum do proces-
sa não é uma condição de felicidade. a saúde. Além do mais, o próprio tra- so de educação. É crucial que as famí-
Olhar para os outros e sentir dor pela balho pode se tornar um ambiente de lias, as comunidades e as escolas se-
alegria e sucesso que tenham torna a sofrimento e a pessoa, sem e nergia, jam instrume ntos de felicidade e do
vida muito vulnerável e infeliz. Mes- conta aflita o tempo que ainda falta educar para a felicidade. Enfim, é o
mo que obtenha os resultados que as- para finalmente se aposentar. que todos queremos, para nós e para
pira, terminará caindo na situação an- Situação mais grave é a dos que, nossos filhos. Como fazer isso? •
terior de insatisfação. embotados, desistem de pensar, de
Caso seu perfil seja o de traba- amar e de fazer esforços. A men-
lhar para melhorar as condições de te fica afetada, o cérebro e mperra, PADMA SAMTEN é lama budista. Fun-
sua vida, para ajudar os que estão à o corpo engorda e pesa, o rosto per- dou e dirige o Centro de Estudos Budis-
sua volta e sua família, há muitos mé- de a expressão, a alegria o visita mui- tas Bodisatva, em Viamão, RS.
I I
Férias em família
Para criar laços sem amarrar a nós cegos, é preciso
reconhecer oportunidades de contato em cada conf ronto
MEU FILHO SAMUEL ainda vai fazer Mas bateu uma sensação que expri- oportunidades para atar nós do que
5 meses de vida. Eu, ele e meu marido, me bem aquela frase conhecida: "Vo- imaginava minha visão sonhadora e
Sérgio, acabamos de voltar de uma cê não está no trânsito; você é o trân- ingênua de até então. Uma mãe, uma
semana na praia. Fomos levá-lo para sito". É um conceito que escancara a avó, um tio, um 'avôdrasto', um pai,
conhecer o mar, ainda que o Samuel impossibilidade de qualquer solução um filho. Cada um de nós circula tão
não possa fixar esse tipo de memó- definitiva. Quando se está no centro perto um do outro. E eu me pergunto:
ria por enquanto. Acabei convidan - daquilo que antes se contemplava de como não nos e mbolarmos?
do a minha mãe e meu padrasto para longe, você se depara com a dificul- Há tantas expectativas, tantas
virem com a gente nessa "iniciação". dade de fazer laços sem que uma pon- instruções, tantos testes, tantos ques-
E, na última hora, minha mãe con- ta escorregue para fora do planejado. tionamentos, tantos erros, tantas lá-
vidou também o meu irmão. No fim Como disse o Sérgio ainda nas fé- grimas, tantas comemorações, tantas
das contas, éramos uma grande famí- rias de fim de a no (outro período de novidades, tanta culpa, tantas descul-
lia em férias na praia. convivência intensa), uma família é pas ... E não há como escapar. Como
Antes de ser mãe, ao olhar de um casal irritado no acostamento da numa imagem pixel ada que só se for-
longe para a instituição família, o rodovia, esperando um borracheiro ma a distância, a beleza que eu enxer-
que eu via era a solidez e a beleza trazer dois pneus. No nosso caso, tu- gava de fora é feita exatamente des-
de laços firmes, muito bem amarra- do isso com um bebezinho chorando. ses pequenos pontos de confronto: os
dos. Eu olhava para trás e enxerga- Foi só o meu peão chegar à casa encontros. No fi m das contas, amar-
va tudo o que me formou durante o "você ganhou um filho" do tabulei- rar laços firmes é um exercício cons-
meu crescimento e pensava em co- ro da vida para o meu mapa das rela- tante de peque nezas. •
mo meus pais - com erros e acertos ções humanas se transformar violen-
- produzira m uma pessoa legal, com tamente. As linhas tênues e leves, mal
capacidade de cuidar de si mesma, vistas a olho nu, começaram a flutu- BARBARA SOALH EIRO queria aprovei-
já que eu me sentia realmente pron- ar rapidamente para a supe rfície, dei- tar a oportunidade para dizer à famí-
ta para cuidar de outro ser humano. xando claro que há mais caminhos e lia que ama muito todos eles.
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Dinheiro dá em árvore
Um começo para mudar a cultura de privilégios para
poucos é aprender a preservar o que já é de todos
AZUL E ÚNI CO, nosso planeta gira em , lo menos três vezes maior do que va- se pudéssemos adquirir outro plane-
torno d a fonte última d e toda a ener- mos usar. Ar, abrigo e alimentos ga- ta quando os recursos deste se extin-
gia de que dispomos, o Sol. Suave, de rantidos, a atenção vai para a geração guirem. Comprometer a única biosfe-
manhã bem cedo, ele me aquece no de energia. Diesel para o motor auxi- ra que nos sustenta é sabotar o casco
convés. O tempo lento dos ventos me liar, gerador e dessalinizadores. Pai- que nos mantém à tona.
faz refletir nas diversas esferas que néis solares e turbinas eólicas carre- O caminho para mudar de uma
protegem e sustentam minha família gam pesadas baterias. cultura de privilégio de poucos para
-o casco físico de nosso barco, a co- O Santa Paz, nosso veleiro, tem uma realidade de dignidade para to-
munidade náutica de que participa- uma área interna de cerca de 25 me- dos, onde o que é público é preserva-
mos, a biosfera que nos envolve. tros quadrados. Escolher o que em- do, depende de conscientização. Nes-
Preparar uma pequena embar- barca e o que fica em terra é sempre sa senda, o ambientalista inglês Tony
cação para uma travessia oceânica é um dilema. Mais alimentos ou equi- Juniper lançou um livro que dá valor
entender os sistemas de manutenção pamentos sobressalentes? Combustí- financeiro aos serviços prestados sem
da vida. Um veleiro navega entre dois vel ou água? O equilíbrio garante nos- custo pela natureza: What Has Natu-
elementos que não sustentam a vida: sa sobrevivência. Gerir e racionar os re Ever Donefor Us - How Money Really
o vento e o mar. Sem o pequeno cas- recursos é o papel da tripulação. Does Grow on Trees (O que a Natureza
co que protege nossa família, até res- Aí vem a pergunta: será que so- Fez por Nós- Dinheiro Dá Sim em Ár-
pirar torna-se um desafio. mos tripulantes responsáveis do pla- vore, em tradução livre). Talvez pelo
Garantir a flutuação e a capaci- neta? A falta de atenção com os siste- bolso, compreendamos como cuidar
dade de navegação de um barco tem mas de manutenção à vida da Terra é bem da nossa casa. •
desdobramentos sem fim; escolha de visível. Solo, ar, oceanos, glaciares e
sistemas e materiais, planejamento, aquíferos são abusados sistematica-
peças de reposição. A prioridade se- mente. Agimos como se os recursos LUCAS TAUIL DE FREITAS é casado com
guinte é a água potável e o alimento. fossem inextinguíveis. Produzimos Sandra Chemin e pai de júlia e Clara.
Costumamos manter um estoque pe- com obsolescência planejada, como A família vive no veleiro Santa Paz.
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www.voluntariado.org.br
centro de
voluntariado
de São Paulo
AURORAS
Sobre abóboras e a
concretude da vida
Almoçar em casa com a família virou um luxo,
mas nos lembra do que realmente importa
HOJE DE MANHÃ, aqui no trabalho, ti- abraçada no macaco de espuma, res- ria dos meus amigos almoça no qui-
ve uma reunião no RH para tirar dú- mungando enquanto a desafiávamos lão. Comer em casa virou luxo, abso-
vidas sobre o novo sistema de distri- a desvirar sozinha. Discuti por uns lutamente inviável para a maioria que
buição dos profissionais na curva nor- minutos com a Joana sobre se aque- mora longe. E, mesmo para quem mo-
mal, com foco na pré-plotagem da le balbucio que ela fez era ou não "pa- ra perto, um hábito exótico.
matriz 9box. É sério. Por sorte, traba- pai" (aqui entre nós, óbvio que era). Ainda vou ao quilão, claro - na
lho perto de casa e vim de bicicleta. Uma hora e meia depois do fim maioria dos dias. O trabalho atrope-
Saí da reunião e, em dez minutos, es- da reunião do RH, eu já estava chegan- la a gente e, quando menos espero,
tava almoçando em casa, dando abó- do de volta ao trabalho, depois de dei- estou discutindo apaixonadamente
bora cozida para a Aurora, minha fi- xar Aurora no colo da tia, ao mesmo a matriz 9box, achando que aquilo é
lha de 7 meses. Depois, liguei o chu- tempo me compadecendo e me orgu- importante, emendando reunião no
veiro no quintal, já que este é o janeiro lhando da carinha de decepção que almoço e e ntrando pela tarde entre
mais quente em São Paulo desde os ela fez quando percebeu que eu esta- reuniões e planilhas e conferências e
Beatles. Pendurei a roupa do trabalho va indo embora. Mas que oxigenador, aprovações e assinaturas e decisões,
num cabide e me meti na água fresca em meio à rotina do trabalho, que é longe dos saltos no vazio. Mas aí, de
abraçado em Aurora, toda pelada, to- ver alguém mergulhando do colo pa- tempos em tempos, entre um carim-
da sorridente. Tinha abóbora nas do- ra a vida, como se não houvesse peri- bo e uma assinatura, a imagem da na-
brinhas do pescoço dela, debaixo de go nenhum no mundo, como se abra- rina coberta pela massa alaranjada da
suas pálpebras e nas narinas. çar um brinquedo querido justificas- abóbora me ocupa a mente e sorrio,
Aurora se sentou no colo da Jo- se qualquer risco. lembrando da concretude da vida. •
ana, sua mãe, enquanto a enxugáva- Lembro muito, na minha infân-
mos. Então, ela avistou um brinquedo cia, de meu pai chegando para almo-
do qual gosta, um macaquinho verde, çar. Eram tempos mais tranquilos, em DENIS RUSSO BURGIERMAN é diretor
e saltou do colo rumo ao vazio. Ficou que a maioria dos meus a migos al- da Superinteressante e quer que Auro-
lá, com a cara enfiada no colchão, moçava com seus pais. Hoje a maio- ra cresça, mas não quer que ela cresça.
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