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Estatísticas

sobre Educação Escolar


Indígena no Brasil
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Departamento de Educação para Diversidade e Cidadania
Armênio Bello Schimidt

Coordenação-Geral de Educação Indígena


Kleber Matos

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira


Diretoria de Tratamento e Disseminação de Informações Educacionais
Oroslinda Maria Taranto Goulart

Coordenação-Geral de Sistema Integrado de Informações Educacionais


Carlos Eduardo Moreno Sampaio

Coordenação de Sistematização das Informações Educacionais


Jorge Rondelli da Costa

Coordenação de Análise Estatística


Liliane Lúcia Nunes de Aranha Oliveira

Equipe Técnica
Ana Carolina Lopes Reverendo Junqueira
Ana Lúcia Pereira Ramos
Bárbara Fabiana de Sena Bezerra
Carlos Wilson de Barros
Edson Ferreira Lopes
Gustavo Sallum Fortuna
Helio Franco Rull
Jackeline Borges Ribeiro
Jefferson Cristiano dos Santos Silva
Lídia Ferraz
Maria das Dores Pereira
Marina Harumi Okubo
Márlei Afonso de Almeida
Reinaldo Gaya Lopes dos Santos
Vanessa Néspoli
Waldivino João Pereira Júnior

Consultor
Luis Donisete Grupioni
Ministério da Educação – MEC
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP

Estatísticas
sobre Educação Escolar
Indígena no Brasil

Brasília-DF, 2007
Coordenadora-Geral de Linha Editorial e Publicações
Lia Scholze

Coordenadora de Produção Editorial


Rosa dos Anjos Oliveira

Coordenadora de Programação Visual


Márcia Terezinha dos Reis

Editor Executivo
Jair Santana Moraes

Revisão
Antonio Bezerra Filho

Diagramação e Arte-final
Celi Rosalia Soares de Melo

TIRAGEM
1.000 exemplares

EDITORIA
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Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo 1, 4º Andar, Sala 418
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DISTRIBUIÇÃO
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Estatísticas sobre educação escolar indígena no Brasil – Brasília: Instituto


Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2007.

213 p. : tab.

1. Educação indígena. 2. Educação escolar. I. Instituto Nacional de Estudos


e Pesquisas Educacionais. II. Título.

CDU 37:39
Sumário

Relação das Tabelas..................................................................................................... 7

Apresentação ............................................................................................................... 11

1. Análise das Estatísticas sobre Educação Escolar Indígena ...................................... 13


1.1 Diversidade sociocultural ................................................................................... 15
1.2 Escolas indígenas nos sistemas de ensino ........................................................ 17
1.3 Censo Escolar indígena de 1999 ....................................................................... 18
1.4 Censo Escolar 2005 .......................................................................................... 19
1.4.1 Docentes nas escolas indígenas ................................................................ 19
1.4.2 Estudantes nas escolas indígenas ............................................................. 20
1.4.3 Caracterização pedagógica e de infra-estrutura das escolas indígenas ..... 21
1.5 Comparando alguns resultados: 1999 e 2005 .................................................... 23

2. Dados Gerais ........................................................................................................... 27

3. Estabelecimentos ..................................................................................................... 31
Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos ............................................ 35
Caracterização Física dos Estabelecimentos ...................................................... 42

4. Professores .............................................................................................................. 47

5. Matrículas .................................................................................................................. 57
Dependência Administrativa .................................................................................. 60
Sexo e Faixa Etária ................................................................................................. 74
Série e Faixa Etária ................................................................................................. 80

6. Relação dos Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, segundo a Região


Geográfica e a Unidade da Federação – 2005 ......................................................... 83
Relação de Tabelas

2. Dados Gerais ...................................................................................................................................... 27


2.1 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, Professores e Matrícula,
segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ......................................... 29
2.2 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, Professores e Matrículas,
por Nível/Modalidade de Ensino, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 ................................................................................................................................. 30

3. Estabelecimentos ............................................................................................................................... 31
3.1 – Número e Percentual de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência
Administrativa e Localização, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 33
3.2 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Nível/Modalidade
de Ensino, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................... 34

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos


3.3 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Língua em que o Ensino é
Ministrado, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................... 35
3.4 – Número e Percentual de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Utilização
de Material Didático Específico ao Grupo Étnico, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 36
3.5 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependências Existentes
na Escola, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................... 37
3.6 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Equipamentos de Copa/
Cozinha em Uso na Escola, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 38
3.7 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Equipamentos em
Condições de Uso na Escola, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 39
3.8 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Participação em Programas,
segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ......................................... 40
3.9 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Oferecimento de Merenda
Escolar, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ........................... 41

Caracterização Física dos Estabelecimentos


3.10 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Localização em Terra
Indígena, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .......................... 42
3.11 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Local de Funcionamento
da Escola, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................... 43
3.12 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Abastecimento de Energia
Elétrica, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ........................... 44

7
3.13 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Abastecimento de Água,
segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ......................................... 45
3.14 – Número de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Esgoto Sanitário, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 46

4. Professores ......................................................................................................................................... 47
4.1 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência
Administrativa, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ................. 49
4.2 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Nível/
Modalidade de Ensino, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .... 50
4.3 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Nível
de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .................. 51
4.4 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena na Educação
Infantil, por Nível de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 52
4.5 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena no Ensino
Fundamental em 8 Anos, por Nível de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 53
4.6 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena no Ensino
Fundamental em 9 Anos, por Nível de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 54
4.7 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena no Ensino Médio,
por Nível de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .... 55
4.8 – Número de Professores de Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena na Educação
de Jovens e Adultos, por Nível de Formação, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 56

5. Matrículas ........................................................................................................................................... 57
5.1 – Número de Matrículas em Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência
Administrativa, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ................. 59

Dependência Administrativa
5.2 – Número de Matrículas na Educação Infantil em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Dependência Administrativa, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 60
5.3 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 8 Anos nos Estabelecimentos de Educação
Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo a Região Geográfica
e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ........................................................................................ 61
5.4 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 8 Anos – de 1ª a 4ª Série – nos
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 62
5.5 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 8 Anos – de 5ª a 8ª Série – nos
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 63
5.6 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 9 Anos nos Estabelecimentos de Educação
Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo a Região Geográfica e a Unidade da
Federação – Brasil 2005 ................................................................................................................. 64
5.7 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 9 Anos – Anos Iniciais – nos
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 65

8
5.8 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 9 Anos – Anos Finais – nos
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 66
5.9 – Número de Matrículas no Ensino Médio em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Dependência Administrativa, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 67
5.10 – Número de Matrículas na Educação de Jovens e Adultos nos Cursos Presencias em
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Dependência Administrativa, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 68
5.11 – Número de Matrículas em Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Nível/
Modalidade de Ensino, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .... 69
5.12 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 8 Anos nos Estabelecimentos de Educação
Escolar Indígena, por Série, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 70
5.13 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em 9 Anos nos Estabelecimentos de Educação
Escolar Indígena, por Ano, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 71
5.14 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em Estabelecimentos de Educação Indígena,
por Série/Ano, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .................. 72
5.15 – Número de Matrículas no Ensino Médio em Estabelecimentos de Educação Indígena, por Série,
segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ......................................... 73

Sexo e Faixa Etária


5.16 – Número de Matrículas na Educação Infantil em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Sexo e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 74
5.17 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Sexo e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 75
5.18 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental de 1ª a 4ª Série e Anos Iniciais em
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Sexo e Faixa Etária, segundo a
Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .......................................................... 76
5.19 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª Série e Anos Finais em
Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, por Sexo e Faixa Etária, segundo
a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 ....................................................... 77
5.20 – Número de Matrículas no Ensino Médio em Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena,
por Sexo e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação – Brasil 2005 .. 78
5.21 – Número de Matrículas na Educação de Jovens e Adultos em Estabelecimentos de Educação
Escolar Indígena, por Sexo e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade
da Federação – Brasil 2005 ............................................................................................................ 79

Série e Faixa Etária


5.22 – Número de Matrículas no Ensino Fundamental em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Série e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 .................................................................................................................................. 80
5.23 – Número de Matrículas no Ensino Médio em Estabelecimentos de Educação Escolar
Indígena, por Série e Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação
– Brasil 2005 ................................................................................................................................. 81

6. Relação dos Estabelecimentos de Educação Escolar Indígena, segundo a Região


Geográfica e a Unidade da Federação – 2005 ................................................................................ 83

9
Apresentação

O Ministério da Educação, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) e da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC), apresenta, nesta publicação, informações
estatísticas sobre educação indígena no Brasil.

As informações foram levantadas a partir do Censo Escolar, realizado no ano de


2005 em todo o País pelo Inep, em parceria com as secretarias estaduais e municipais de
educação, que coletou informações sobre matrículas, docentes e infra-estrutura de todas as
etapas e modalidades da educação básica.

Com perguntas específicas sobre a modalidade da educação escolar indígena, foi


possível compilar informações acerca dos estabelecimentos de ensino que atendem a
estudantes indígenas em todas as regiões do País. Hoje são 2.323 escolas reconhecidas
como indígenas – com normas e ordenamento jurídico próprios, definidos pelo Parecer 14 e
Resolução 03/99 do Conselho Nacional de Educação –, nas quais estudam 163.693 alunos.

É para esse universo que o Ministério da Educação desenvolve, desde 1991, uma
política nacional de educação escolar diferenciada, pautada pelo reconhecimento e pela
valorização da diversidade étnica representada pelos mais de 220 povos indígenas
contemporâneos em nosso país. Coordenando as ações educacionais voltadas para esses
povos, o Ministério da Educação desenvolve programas e projetos em parceria com os
sistemas de ensino estaduais e municipais, universidades e organizações não-governamentais
indígenas e de apoio aos índios.

A política educacional implementada pelo Ministério da Educação para os povos


indígenas é pautada pela oferta de uma educação escolar específica, diferenciada, intercultural,
bilíngüe/multilíngüe, e tem como objetivo garantir a essas populações a recuperação de suas
memórias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas e a valorização de suas línguas
e ciências, bem como o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da
sociedade nacional, tal como preceituado nos artigos 78 e 79 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.

Essa política tem hoje como prioridade a inclusão das escolas indígenas em todos
os programas governamentais de melhoria da educação, com especial ênfase para a formação
de professores indígenas, para que eles possam assumir as escolas em suas comunidades.
Tem também como prioridade a preparação e publicação de materiais didáticos diferenciados,
escritos nas línguas indígenas, e a adaptação de programas à realidade sociocultural das
comunidades indígenas, como foi o caso da instituição do Programa Nacional de Merenda Escolar
Tradicional. A promoção do controle social indígena sobre as políticas de educação escolar
complementa a política implementada pelo Ministério da Educação, que criou, para esse fim,

11
em 2004, a Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, composta por 15 representantes
indígenas de todas as regiões do País.

Esperamos que a divulgação das informações e análises presentes nesta publicação


auxilie gestores e técnicos governamentais, especialistas, professores e lideranças indígenas
na identificação de problemas e na proposição de ações e políticas que possam melhorar a
inclusão das escolas indígenas no sistema educacional brasileiro, promovendo respeito e
valorização da nossa sociodiversidade.

Integrantes do sistema educacional brasileiro, as escolas indígenas devem propiciar


a seus estudantes a valorização de suas especificidades étnicas, culturais e lingüísticas, visando
ao pleno acesso à cidadania brasileira. Somente uma educação de qualidade pode garantir
um futuro de justiça social, solidariedade e fraternidade, que deve marcar as relações entre os
diferentes segmentos que compõem a sociedade brasileira. Trabalhar pela melhoria das
escolas indígenas deve ser um objetivo a ser buscado por toda a sociedade.

Armênio Bello Schimidt Oroslinda Maria Taranto Goulart


Departamento de Educação para Diretoria de Tratamento e Disseminação
Diversidade e Cidadania da Secad/MEC de Informações Educacionais do Inep/MEC

12
1
Análise das
Estatísticas
sobre
Educação
Escolar
Indígena
Análise das
Estatísticas sobre
Educação Escolar
Indígena

A educação escolar indígena é uma modalidade de ensino que vem recebendo um


tratamento especial por parte do Ministério da Educação, alicerçada em um novo paradigma
educacional de respeito à interculturalidade, ao multilingüismo e a etnicidade. Incumbido de coordenar
as ações educacionais no País, por força do Decreto Presidencial 26/91, em articulação com as
secretarias estaduais e municipais de educação, o Ministério da Educação vem implementando
uma política nacional de educação escolar indígena, atendendo preceitos legais estabelecidos na
Constituição de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no Plano Nacional de
Educação e na Convenção 167 da Organização Internacional do Trabalho.

Nessa legislação, estabeleceu-se como competência do Ministério da Educação a


coordenação das ações de educação escolar indígena no País, por meio da definição de diretrizes
curriculares para a oferta de educação escolar aos povos indígenas, assistência técnico-financeira
aos sistemas de ensino para oferta de programas de formação de professores indígenas e de
publicação de materiais didáticos diferenciados e elaboração de programas específicos para atendimento
das necessidades das escolas indígenas, visando à melhoria nas condições de ensino nas aldeias.

A implementação dessa política tem como objetivo assegurar a oferta de uma educação
de qualidade aos povos indígenas, caracterizada por ser comunitária, específica, diferenciada,
intercultural e multilíngüe. Esta deverá propiciar aos povos indígenas acesso aos conhecimentos
universais a partir da valorização de suas línguas maternas e saberes tradicionais, contribuindo
para a reafirmação de suas identidades e sentimentos de pertencimento étnico.

Formar professores indígenas, membros de suas respectivas etnias, para que assumam
a docência e a gestão das escolas em terras indígenas, é o principal desafio para a consolidação
dessa nova proposta de escola indígena. Hoje estão em curso as primeiras experiências de formação
de docentes indígenas em nível de licenciatura, dando seguimento aos cursos de magistério indígena,
que promovem a escolarização básica e a formação específica de professores indígenas em
diferentes regiões do País.

A qualificação profissional dos docentes indígenas é condição fundamental para que de


fato as comunidades indígenas possam assumir suas escolas, integrando-as à vida comunitária, de
modo que possam responder a suas demandas e projetos de futuro. Não há e nem pode haver um
único modelo de escola indígena a ser desenvolvido em todo o País. O Ministério da Educação tem
procurado, junto aos sistemas de ensino, apoiar a consolidação de experiências particulares de
organização escolar, discutidas e construídas a partir dos interesses e da participação de cada
comunidade indígena, tal como preconiza a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do
Trabalho), que foi ratificada pelo Brasil e entrou em vigor em julho de 2003.

1.1 Diversidade sociocultural

O Brasil hoje reconhece a diversidade sociocultural dos povos indígenas. Ela se expressa
pela presença de mais de 220 povos indígenas distintos, habitando centenas de aldeias localizadas
em praticamente todos os Estados da Federação. Vivem em 628 terras indígenas descontínuas,

15
totalizando 12,5% do territorial nacional. Apesar da ampla distribuição, mais de 60% da população
indígena está concentrada na região da Amazônia Legal.

Do litoral ao sertão, da caatinga ao pantanal, da floresta ao cerrado, são muitos os


ambientes nos quais os povos indígenas estão localizados, resultando em diferentes formas de
interação e adaptação à natureza e em diferentes modos de vida. Há povos que têm na agricultura
sua principal fonte de alimentos, enquanto outros diversificam suas estratégias de sobrevivência
com atividades de pesca, caça e coleta de produtos silvestres. E há também aqueles que estão
inseridos na economia de mercado, seja comercializando excedentes, seja vendendo sua força de
trabalho.

Ainda que não se tenha dados precisos sobre a população indígena no Brasil, é certo
afirmar que eles já foram muito mais numerosos no passado. Estima-se que, em 1500, a população
indígena estava em torno de seis milhões de indivíduos, quando da chegada dos primeiros
conquistadores. E já chegaram a um patamar populacional bem inferior ao estimado no presente:
na primeira metade do século passado, a população indígena teria chegado a 200.000 pessoas.
Nos últimos 30 anos, revertendo a curva decrescente da população indígena, tem se registrado um
aumento populacional constante, ancorado na melhoria das condições sanitárias e de assistência
médica nas aldeias, na proteção e demarcação de territórios indígenas e no reconhecimento dos
direitos dessas populações em manterem suas identidades e especificidades culturais, históricas e
lingüísticas.

A população indígena no Brasil está hoje estimada entre 350 e 500 mil índios em terras
indígenas, segundo agências governamentais e não-governamentais. Não há informações sobre
índios urbanizados, embora muitos deles preservem suas línguas e tradições. De acordo com o
censo populacional do IBGE, realizado em 2000, a população indígena no Brasil seria de 734.131
indivíduos. Esse total é questionado por especialistas, uma vez que o IBGE chegou a ele por meio
do quesito cor de pele, e não por meio da auto-identificação étnica. Assim, pessoas que consideram
que tem a pele cor indígena não necessariamente se reconhecem e são reconhecidas como
pertencentes a uma comunidade indígena particular.

De modo geral, os povos indígenas no Brasil conformam grupos com baixa densidade
populacional: mais de 50% desses povos são constituídos por menos de 500 indivíduos, e apenas
três povos são formados por mais de 20.000 pessoas. Alguns povos indígenas que habitam o território
brasileiro também vivem em países vizinhos. Há notícias da existência de cerca de 40 "povos isolados"
no Brasil que têm se recusado a um contato mais direto e permanente com segmentos da sociedade
brasileira. E, nos últimos tempos, vários povos considerados "extintos" estão ressurgindo em meio
a processos de reafirmação étnica, exigindo o reconhecimento de suas identidades por parte do
governo brasileiro. São, assim, diversas e dinâmicas as experiências históricas de contato dos
povos indígenas com a sociedade brasileira, resultando numa heterogeneidade de situações de
contato e convívio.

As situações sociolingüísticas vividas pelos povos indígenas são também extremamente


diversas. Hoje são conhecidas 180 línguas indígenas, distribuídas em 41 famílias, dois troncos
lingüísticos e dez línguas isoladas. Alguns povos indígenas falam mais de uma língua, outros são
monolíngües, quer na língua indígena, quer no português, como é o caso de vários povos que habitam
próximo ao litoral, para os quais hoje o português é sua única língua de expressão. Em face da baixa
densidade populacional de vários povos e devido ao fato de se constituírem povos minoritários
dentro do Estado Nacional, muitas línguas indígenas, hoje, correm o risco desaparecer. A escola,
que no passado foi um dos principais instrumentos de negação da diversidade lingüística e de
imposição do português como língua nacional, pode ter um papel importante na manutenção e na
valorização das línguas indígenas.

16
1.2 Escolas indígenas nos sistemas de ensino

Foi em 1999, por meio do Parecer 14 e da Resolução 03, que o Conselho Nacional de
Educação, interpretando dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e da
Constituição Federal, instituiu a criação da categoria escola indígena nos sistemas de ensino do
País. Estas deveriam ser criadas atendendo a "normas e ordenamento jurídico próprios", com o
intuito de promover o ensino intercultural e bilíngüe, "visando à valorização plena das culturas dos
povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica" (Resolução CEB 03, art.1º).

Para garantir a especificidade dessa nova categoria de escola e modalidade de ensino,


o Conselho Nacional de Educação definiu os elementos básicos para a organização, estrutura e
funcionamento destas escolas, que deveriam ser localizadas em terras habitadas por comunidades
indígenas, dando atendimento exclusivo a essas comunidades, por meio do ensino ministrado em
suas línguas maternas, e contando com uma organização escolar própria. Esta organização escolar
autônoma deveria ser elaborada com a participação da comunidade indígena, levando-se em
consideração as estruturas sociais, práticas socioculturais e religiosas, atividades econômicas,
formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem,
além do uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural
de cada povo indígena (Resolução CEB 03, arts. 2 e 3).

As escolas indígenas, assim constituídas, deverão contar com regimentos escolares


próprios e projetos pedagógicos construídos com a participação das comunidades indígenas tendo
por base as Diretrizes Curriculares Nacionais referentes a cada etapa da educação básica, as
características particulares de cada povo ou comunidade, suas realidades sociolingüísticas e os
conteúdos curriculares especificamente indígenas, alicerçados nos modos próprios de constituição
do saber e da cultura indígena (Resolução CEB 03, art. 5º).

Dois anos depois de aprovação dessa Resolução, o Plano Nacional de Educação (Lei nº
10.172/2001) estabeleceu o prazo de um ano para a criação da categoria oficial de "escola indígena",
de modo a garantir a especificidade do modelo de educação intercultural e bilíngüe.

Como se vê, ainda que sob regulamentação recente, os sistemas de ensino já deveriam
estar operando com o reconhecimento dessa nova categoria de escola, condição sine qua non para
a realização dessa modalidade particular de ensino, que é a educação escolar indígena. Em todo o
Brasil, porém, as escolas nas aldeias apresentam diferentes situações de reconhecimento legal,
não havendo números precisos sobre quais são reconhecidas como escolas indígenas. Até bem
pouco tempo, as escolas indígenas, em sua grande maioria, eram consideradas como escolas
rurais ou salas de extensão de escolas urbanas, seguindo calendários e currículos próprios destes
estabelecimentos. O reconhecimento das escolas das aldeias como escolas indígenas, com estatuto
diferenciado, é, portanto, algo novo no sistema de ensino e está em processo em todo o Brasil.

Com o intuito de contribuir com o aperfeiçoamento das políticas educacionais dirigidas


às comunidades indígenas, avaliando a eficácia das políticas para o setor e coletando informações
que possam balizar a tomada de decisões em termos de definição de novas prioridades e linhas de
ação tanto por parte do Ministério da Educação quanto dos sistemas de ensino estaduais e municipais,
o Inep realizou em 1999 um censo escolar indígena. Esse foi o primeiro levantamento específico já
realizado para conhecer as características das escolas localizadas em terras indígenas, coletando
informações gerais sobre escolas, professores e estudantes indígenas em todo o País. A partir
desse levantamento foi possível traçar um primeiro panorama da situação da educação escolar
indígena no Brasil. A seguir, reproduzimos alguns resultados desse levantamento, de forma a poder
comparar com os dados coletados no Censo Escolar 2005, cujas informações são apresentadas
na seqüência desta publicação.

17
1.3 Censo Escolar Indígena de 1999

De acordo com o Censo Escolar Indígena de 1999, existiam naquele ano 1.392 escolas
em terras indígenas no País. Com exceção do Piauí e do Rio Grande do Norte, em todos os outros
Estados da Federação havia escolas reconhecidas como indígenas. Mais da metade dessas escolas
localizava-se na Região Norte, onde vive a maior parte da população indígena. Em termos de
dependência administrativa, registrava-se um ligeiro predomínio das escolas municipais, que
respondiam por 54,8% do total das escolas indígenas no País, enquanto 42,7% eram estaduais.

Estavam em atuação nas escolas indígenas de todo o País 3.998 professores. Destes,
3.059 eram professores indígenas e 939, não índios. Em termos percentuais, os professores
indígenas respondiam por 76,5% do total dos professores, enquanto os não índios correspondiam a
23,5%. Notavam-se diferenças marcantes entre as regiões: assim, enquanto na Região Norte os
professores indígenas respondiam por 82,7% do total, na Região Sul eles eram menos da metade
dos professores em sala de aula, correspondendo a 46,2%.

Em termos de gênero, havia mais professores indígenas do sexo masculino que do


feminino: eles representavam 49,9% do total, enquanto as professoras somavam 26,7%. Mesmo
com esses percentuais, nas Regiões Nordeste e Sudeste estavam em atuação mais professoras
que professores índios. O mesmo ocorre com o total de professores não índios: havia mais
professoras não índias (são 16,7% do total) que professores não índios (6,8%).

O censo revelou ainda que os professores indígenas apresentavam uma grande


heterogeneidade de níveis de formação: 28,2% ainda não completaram o ensino fundamental, 24,8%
tinham o ensino fundamental completo, 4,5% tinham ensino médio completo, 23,4% tinham ensino
médio com magistério, 17,6% tinham ensino médio com magistério indígena e 1,5% tinham ensino
superior. Essas proporções se modificavam de região para região e em cada Estado, mas revelavam,
no seu conjunto, a necessidade de se implementar políticas específicas que permitissem que esses
professores indígenas pudessem progredir em termos de sua escolarização e formação profissional.

Nas 1.392 escolas recenseadas pelo Censo Escolar Indígena do MEC em 1999
estudavam 93.037 estudantes indígenas. A maioria destes estudantes, 74.931, representando 80,6%
do total, estava no ensino fundamental. E era nas primeiras séries do ensino fundamental que se
concentrava a maior parte dos estudantes indígenas. Na primeira série estavam 32.629 estudantes,
representando 43,5% do total, na segunda série, 23%, na terceira série, 14,9% e na quarta série,
9,4%. Os restantes, 9,2%, distribuíam-se da quinta à oitava série. Na educação infantil e em classes
de alfabetização estavam 15,2% do total dos estudantes indígenas. No ensino médio havia apenas
1% e em classes de jovens e adultos, 3,2%.

Em termos de distribuição geográfica, 49% dos estudantes indígenas se concentravam


na Região Norte do País. No Nordeste estavam 20,2% e no Centro-Oeste, 20,1%. Na Região Sudeste
localizavam-se 3,1% dos estudantes e na Região Sul, 7,6%. Deste total de estudantes indígenas,
54,2% eram do sexo masculino e 45,8%, do sexo feminino.

No Censo Escolar Indígena de 1999, as escolas foram indagadas a respeito da utilização


de aspectos da cultura indígena no currículo escolar. Verificou-se que mais da metade, 54% do
total, respondeu afirmativamente, havendo diferenças significativas entre as regiões geográficas.
Enquanto na Região Centro-Oeste 75,2% informaram que a cultura indígena faz parte do currículo,
no Nordeste esse índice cai para 22,3% do total das escolas. O mesmo ocorre em relação aos
Estados. No que se refere ao uso de materiais didáticos específicos, o percentual de escolas
indígenas que contam com esse tipo de material é menor. Apenas um terço das escolas indígenas
do País, 30,5%, utilizam material didático específico. E as diferenças entre as regiões e os Estados

18
se acentuam ainda mais: enquanto na Região Sul, por exemplo, 51,7% das escolas contam com
esse tipo de material, na Região Nordeste essas escolas correspondem a apenas 3,5%.

1.4 Censo Escolar 2005

No formulário utilizado para a coleta de informações do Censo Escolar de 2005 havia


um conjunto de perguntas destinadas a levantar dados a respeito das escolas que prestam
atendimento exclusivo para educandos de comunidades indígenas. Ao indicarem que a escola oferecia
educação indígena, três outros quesitos específicos desta modalidade de ensino deveriam ser
preenchidos: 1) em que língua o ensino era ministrado; 2) se a escola utilizava materiais didáticos
específicos ao grupo étnico; e 3) se a escola se localizava em terra indígena.

Por meio dessas respostas, foram identificadas 2.323 escolas indígenas em todos os
Estados da Federação, com exceção do Piauí e do Rio Grande do Norte, que não registraram a sua
existência. Em termos de dependência administrativa, há mais escolas municipais (52,4%) que
estaduais (46,66%) e 0,95% de escolas particulares. Percebe-se, por esses números, que a tendência
para a municipalização da educação indígena no Censo Escolar Indígena de 1999, quando essas
escolas respondiam por 54,8% do total, se manteve.

Ainda que a partir do número total de escolas se possa afirmar que houve um processo
de municipalização das escolas indígenas nos últimos anos, há diferenças importantes entre as
regiões, que merecem ser evidenciadas. Assim, enquanto nas Regiões Norte e Centro-Oeste
predominam as escolas municipais (62,1% e 83,9%, respectivamente), nas Regiões Nordeste,
Sudeste e Sul predominam as escolas estaduais (83,9%, 77,6% e 71,3%, respectivamente).

Essas diferenças se acentuam quando verificamos a distribuição por dependência


administrativa em cada Estado. Aí podemos perceber claramente tendências consolidadas em termos
de vinculação municipal ou estadual. Nos Estados de Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins,
Maranhão, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul e Goiás, de 80% a 100% das escolas são estadualizadas. Situação inversa ocorre
nos Estados do Amazonas, Pará, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
onde mais de 80% das escolas indígenas estão vinculadas aos municípios.

Uma avaliação criteriosa dessas duas tendências é tarefa que se impõe no momento
atual e precisaria ser realizada para que se verificasse o impacto da adoção de um modelo ou outro
na qualidade das escolas indígenas, seja em termos de garantir infra-estrutura adequada e condições
de funcionamento regular do estabelecimento de ensino escolar, seja em termos da manutenção de
programas de formação inicial e continuada dos docentes indígenas e da existência de programas
de apoio para a produção e publicação de materiais didáticos específicos para uso nessas escolas.
Somente uma pesquisa qualitativa poderia fornecer elementos para uma avaliação mais
contextualizada dessa questão.

1.4.1 Docentes nas escolas indígenas

Estão em atuação nessas escolas 8.431 docentes. Como não se tratava de uma pesquisa
específica, não foi possível saber quantos desses professores são indígenas e quantos são não
índios. A Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena da Secad/MEC estima que 90% desses
professores sejam indígenas. Desses docentes, 54,6% são contratados pelos Estados, 44,5% pelos
municípios e 1% estão vinculados a escolas municipais. A maior parte deles, 72%, está concentrada
no ensino fundamental, de 1ª a 8ª série. Uma outra parcela significativa desses professores, cerca
de 14,6%, atua na pré-escola e em creches.

19
Há uma grande heterogeneidade no grau de escolaridade desses professores, situação
que já fora detectada no Censo Escolar Indígena em 1999. No Censo de 2005, 9,9% dos professores
em atuação nas escolas indígenas não concluíram o ensino fundamental; 12,1% têm o ensino
fundamental completo; 64,8% têm o ensino médio; e 13,2% têm ensino superior. Esses percentuais
revelam que tem havido um processo constante de melhoria na qualificação dos professores em
atuação nas escolas indígenas no País. O aumento no percentual de professores com ensino médio
em relação ao censo específico de 1999 e também em relação a dados levantados nos últimos
anos demonstra o resultado das políticas de formação de professores indígenas implementadas
nos últimos anos pelos sistemas de ensino e organizações não-governamentais com apoio técnico
e financeiro do Ministério da Educação.

Cursos com duração média de 4 a 5 anos, realizados de forma presencial e não-


presencial, que permitem aos professores indígenas concluírem a escolarização básica ao mesmo
tempo em que recebem a formação específica para atuação no magistério intercultural, configuram
uma modalidade de formação em serviço que tem possibilitado avanços na qualificação docente
indígena para atuação nas escolas das aldeias. Ainda assim, é expressivo o contingente de
professores indígenas, cerca de 10% do total, em atuação nessas escolas, que não só não concluíram
o ensino fundamental como nunca receberam qualquer formação para atuar como professores,
evidenciando a necessidade contínua de investimentos específicos nessa área. Norte e Nordeste
constituem as duas regiões que concentram um maior número de professores indígenas com menor
escolaridade: nessas regiões, o percentual de professores com o fundamental incompleto é maior
que a média nacional: 18,4% na Região Norte e 12,6% na Região Nordeste.

É ainda pouco expressivo, por sua vez, o percentual de professores em atuação nas
escolas indígenas com formação em nível superior no País. Eles respondem por 13,2% do total,
havendo grande heterogeneidade quando observamos as diferenças nos respectivos Estados. Porém
uma análise mais cuidadosa desse percentual não é possível sem a realização de uma pesquisa
específica que aponte se esses professores são índios ou não. Acredita-se que os professores não
índios em atuação nas escolas indígenas do País, em princípio, tenham essa formação já concluída.

1.4.2 Estudantes nas escolas indígenas

Estudam hoje nas escolas indígenas do País 163.773 estudantes indígenas. Destes,
51,8% estão matriculados em escolas municipais, 47,6% em escolas estaduais e 0,6% em escolas
particulares. Acompanhando os dados referentes à quantidade de escolas e de população indígena,
é na Região Norte que se concentra a maior parte dos estudantes indígenas. Ali estão 52,5% do total
dos alunos indígenas. Nesse cenário, o Estado do Amazonas se destaca dos demais por possuir
49.139 estudantes, o que equivale a 30% dos alunos indígenas brasileiros. Nas demais regiões, os
estudantes indígenas se distribuem da seguinte forma: no Nordeste estão 23,2%; no Centro-Oeste,
15,5%; no Sudeste, 2,9%; e na Região Sul, 5,9%.

A maior parte destes estudantes, 128.984 alunos, representando 81,2%, está no ensino
fundamental de 8 e 9 anos, este último já implantando em algumas escolas indígenas do País.
Nesse nível de ensino, considerando a modalidade de 8 anos, os alunos estão majoritariamente
concentrados nas primeiras séries, totalizando 81,7% dos estudantes nas primeiras quatro séries,
assim distribuídos: 32,8% na primeira série; 20,8% na segunda série; 15,8% na terceira série; e
12,5% na quarta série. Os restantes, 18,3%, estão distribuídos da quinta à oitava série. O ensino
infantil responde por 11,06% dos estudantes, enquanto o ensino médio abriga apenas 2,6% dos
alunos e o ensino de jovens e adultos, 7,5%.

A concentração dos estudantes indígenas nas três primeiras séries do ensino fundamental
tem muitas explicações. Podemos ensaiar algumas aqui, embora o assunto mereça uma investigação

20
mais aprofundada. É sabido que o ensino, em boa parte das escolas indígenas, está voltado à
alfabetização e a rudimentos do conhecimento da matemática, não estando organizado em termos
de séries, anos ou ciclos. Em algumas escolas os estudantes são divididos em iniciantes,
alfabetizados e avançados. Em várias escolas o ensino se dá de forma multiseriada. Assim, uma
primeira explicação para a concentração de estudantes na primeira série é o fato de que as escolas
indígenas não estão trabalhando com a estrutura de séries, anos ou ciclos. Outra explicação é a
baixa escolarização dos próprios professores, impedindo uma diversificação e aprofundamento do
nível de ensino nas escolas indígenas. A pouca formalização do ensino desenvolvido nessas escolas
e a falta de materiais e de infra-estrutura também seriam uma explicação para essa concentração,
uma vez que muitas escolas indígenas só agora começam a ser regularizadas e, assim, a ingressar
nos sistemas de ensino.

Em termos de gênero, há uma predominância de estudantes do sexo masculino em


todos os níveis de ensino. Eles respondem por 52,2% do total de estudantes. As estudantes respondem
por 47,8%.

Nas tabelas apresentadas a seguir pode-se acompanhar a distribuição do número de


estudantes por faixa etária nos diferentes níveis de ensino. A distorção idade/série fica evidente,
sendo mais um indicador da precariedade do ensino oferecido nas escolas indígenas. Se
considerarmos somente as matrículas no ensino fundamental de 1ª a 4ª série e séries iniciais por
faixa etária, iremos verificar que mais da metade dos estudantes estão com idade superior à esperada
para o nível de ensino que estão cursando. Deste modo, verificamos que, nessas séries, 50,4% dos
estudantes têm acima de 11 anos de idade.

1.4.3 Caracterização pedagógica e de infra-estrutura das escolas indígenas

Mesmo o Censo Escolar de 2005 não se constituindo uma pesquisa específica sobre as
escolas indígenas, as duas questões introduzidas no formulário especificamente para aqueles
estabelecimentos de ensino que se declararam como indígenas permitem a sua caracterização
pedagógica sumária. Outras perguntas que fazem parte do formulário nacional ensejam verificar a
infra-estrutura atualmente disponível nesses estabelecimentos. A reunião desses dados nos facilita
ensaiar uma caracterização das escolas das aldeias.

Perguntadas em que língua o ensino é ministrado, 1.818 escolas responderam que o


ensino é ministrado em língua indígena. Essa resposta indica que, em 78,3% das escolas indígenas
no País, alguma forma de ensino na língua ou de ensino bilíngüe é praticada e que em outras 21,7%
a língua indígena não faz parte da realidade escolar. Nesta última porcentagem estão incluídas aquelas
escolas localizadas em comunidades indígenas que perderam sua língua materna no processo
histórico de relacionamento com segmentos da sociedade brasileira, e hoje o português é sua língua
de expressão. Mas inclui também escolas localizadas em comunidades indígenas que, mesmo
falando sua língua materna, não a empregam nas atividades escolares. Somente uma pesquisa
qualitativa poderia, efetivamente, nos dar indicadores sobre a situação sociolingüística do ensino
praticado nas escolas indígenas do País.

É interessante, por sua vez, chamar a atenção para o fato de que 199 escolas, ou seja,
8,6% do total, não declararam o português como língua em que o ensino é ministrado. O pressuposto
é de que, nestas escolas, o ensino seja ministrado somente nas línguas indígenas. Aqui, também,
somente uma pesquisa de caráter mais etnográfico poderia confirmar tal indicação.

Em relação ao uso de materiais didáticos específicos ao grupo étnico, 965 escolas


responderam afirmativamente. Esse número indica que menos da metade das escolas indígenas
do País (41,5%) contam com esse recurso didático diferenciado. Há diferenças significativas entre

21
as regiões. Na Região Norte, que concentra mais da metade das escolas indígenas do País, apenas
33% utilizam material didático específico. Nas demais regiões, esse percentual sobe: no Sul, para
63,9%; no Centro-Oeste, para 60,7%; no Nordeste, para 49,9%; e no Sudeste, para 79,6%. Em
alguns Estados, porém, esse percentual é diminuto. Este é caso, por exemplo, de Rondônia, Pará,
Alagoas e Bahia, onde menos de 20% das escolas indígenas declaram utilizar algum tipo de material
didático específico ao grupo étnico.

Como o uso de material didático diferenciado pode estar restrito a uma única cartilha, livro
de leitura ou mesmo dicionário, a situação é extremamente preocupante, demonstrando a insuficiência
de materiais disponíveis para uma prática de educação pautada pela interculturalidade e pela valorização
dos conhecimentos e saberes próprios às comunidades indígenas. Ainda que o Ministério da Educação
tenha procurado estimular a produção de materiais próprios, escritos nas línguas indígenas, voltados
ao uso na sala de aula das escolas das aldeias, mantendo uma linha de financiamento específico para
apoiar esse tipo de produção, os dados acima indicam que as escolas indígenas no País não contam
com materiais didáticos próprios, elaborados a partir de currículos diferenciados.

Para a elaboração de materiais didáticos diferenciados, um investimento importante não


só de recursos financeiros, mas também humanos, é necessário. É preciso envolver os professores
indígenas em atividades de pesquisa, sistematização e organização de conhecimentos, a partir de
propostas de ensino que busquem a integração dos conhecimentos e saberes tradicionais no cotidiano
das salas de aula. Tal prática permanece, pelos dados acima, muito mais uma referência de um
patamar a ser atingido do que propriamente uma prática institucionalizada nessa modalidade de
ensino. Tanto o Ministério da Educação quanto os sistemas de ensino precisam envidar esforços
para incentivar a produção, publicação e uso de materiais didáticos diferenciados, tal como
preconizado na legislação em vigor.

Quanto ao local de funcionamento das escolas indígenas, o Censo Escolar de 2005


aferiu que, dos 2.323 estabelecimentos de educação escolar indígena, apenas 1.528 funcionam em
prédio escolar próprio, o que representa 65,8%. As demais escolas, 34,2% do total, funcionam
precariamente em diferentes locais, às vezes utilizando mais de um deles: 533 em galpões, 135 nas
casas dos professores, 36 em templos ou igrejas, 14 em outras escolas e 237 em outros locais não
especificados. Embora tenha havido por parte do Ministério da Educação investimentos financeiros
na construção, reforma e ampliação de estabelecimentos escolares em terras indígenas nos últimos
anos, há ainda uma demanda expressiva para ser atendida em termos de melhorar a estrutura física
das escolas. O percentual de escolas em funcionamento que não possuem prédio próprio é muito
alto e revela a precariedade das condições em que o ensino é oferecido nas aldeias.

Essa situação torna-se ainda mais dramática quando cruzamos essas informações com
outras variáveis, como a de ligação desses estabelecimentos com a rede pública de energia, água e
esgoto. Do conjunto das escolas indígenas, apenas 741, ou seja, 31,9% do total, estão ligadas à rede
pública, contando com luz elétrica. Das demais, 313 contam com gerador próprio, 103 com energia
solar, 2 com energia eólica e a grande maioria, 1.175 escolas, não conta com qualquer forma de
abastecimento de energia. Em relação ao abastecimento de água, apenas 137 escolas estão ligadas
a rede pública, 492 contam com poço artesiano, 492 com cisterna ou cacimba e as demais 1.281 se
abastecem com água de rio ou igarapé. Há, ainda, 19 escolas que não contam com qualquer forma de
abastecimento de água, e apenas 16 têm seu esgoto ligado à rede pública. Enquanto 1.201 escolas
possuem fossa, 1.107 não possuem qualquer forma de escoamento de esgoto.

O quadro de dependências existentes nas escolas indígenas também demonstra uma


situação de precariedade em termos da possibilidade de desenvolvimento de atividades diversificadas
do ponto de vista pedagógico. Praticamente em sua totalidade, as escolas indígenas são reduzidas
a apenas uma ou mais salas de aula. Somente 23 escolas registram a existência de laboratórios de

22
informática, 3 têm laboratório de ciências, 55 contam com quadra de esporte e apenas 85 possuem
biblioteca.

O uso de equipamentos de informática e de educação a distância também é restrito. De


acordo com os dados levantados, apenas 307 escolas têm aparelho de televisão, 238 contam com
vídeo cassete e 177 têm antena parabólica. Isto significa que somente 7,6% das escolas indígenas
têm condições de se beneficiar das tecnologias da educação a distância, como, por exemplo, assistir
aos programas da TV Escola. A situação é ainda mais precária em termos de equipamentos de
informática: 126 escolas têm computador, 96 contam com impressora e apenas 22 possuem acesso
à Internet. Em termos percentuais, apenas 5,4% das escolas indígenas do País possuem computador
e menos de 1% delas conta com a possibilidade de se conectar à rede mundial de computadores.

Entre os programas governamentais de melhoria da educação, a merenda escolar é o


mais socializado entre as escolas indígenas: 2.257 escolas indígenas, 97,2% do total, oferecem
merenda escolar. O Programa Bolsa Família, ex-Bolsa Escola, está presente em 1.014
estabelecimentos, beneficiando crianças e famílias indígenas em 43,7% das escolas.

Esses números revelam que a inclusão das escolas indígenas nos sistemas de ensino
não significou uma melhoria nas condições de ensino destas escolas e colocam como um desafio
a ser enfrentado a expansão dos benefícios dos programas governamentais também para esses
estabelecimentos. Revelam, ainda, a necessidade de adequação dos programas à realidade e
especificidade das escolas indígenas do País, por meio da revisão dos critérios de qualificação
desses estabelecimentos, para poderem ser contemplados por esses programas nacionais.

O quadro que resulta do conjunto desses indicadores é extremamente preocupante,


pois evidencia que as escolas indígenas pouco se beneficiaram de sua inclusão, como categoria
própria, nos sistemas de ensino do País. Garantir condições dignas de funcionamento aos
estabelecimentos de educação escolar nas aldeias deve se constituir uma meta tanto para a esfera
federal quanto para os Estados e Municípios.

1.5. Comparando alguns resultados: 1999 e 2005

Os números levantados pelo Censo Escolar de 2005 indicam um aumento do número


de escolas indígenas e de estudantes indígenas, bem como uma maior progressão em termos das
séries freqüentadas.

O aumento do número de escolas indígenas, que passou de 1.392 em 1999 para 2.323
em 2005, explica-se não somente pela criação de novas escolas, fato que certamente ocorreu
nesse período, mas também pela regularização de um grande número de escolas e salas de aula
que antes não eram reconhecidas como indígenas. Em muitos Estados da Federação criou-se a
categoria escola indígena como unidades autônomas dentro do sistema de ensino, e, com isso, se
regularizou a situação de muitas escolas localizadas em terras indígenas, antes consideradas salas
de extensão de outras escolas.

Como se pode verificar pela tabela abaixo, houve um aumento no número de escolas
indígenas em muitos Estados da Federação. Ainda assim, deve-se reconhecer que, de fato, o número
de escolas indígenas é um pouco maior do que o registrado, devido ao processo de nucleação de
escolas, quando várias escolas são vinculadas a um único endereço e, portanto, aparecem como
sendo um único estabelecimento. É o caso, para citar um exemplo, de Minas Gerais, que em 1999
contava com 5 estabelecimentos, aos quais se nucleava um total de 28 escolas. É o que talvez explique
também a diminuição no número de estabelecimentos escolares em alguns Estados da Federação.

23
Comparando a distribuição das escolas indígenas por dependência administrativa,
constata-se que houve no intervalo registrado pelos dois censos um aumento do percentual de
escolas indígenas vinculadas aos Estados, indicando uma tímida tendência para a estadualização
dos estabelecimentos escolares em terras indígenas.

Ainda que haja essa tendência para a estadualização, em termos percentuais as escolas
indígenas vinculadas aos municípios correspondem a mais da metade do total, 52,4%. Em termos
absolutos, em apenas oito Estados a vinculação aos municípios é majoritária: no Amazonas são

24
752 escolas municipais e 12 estaduais; na Bahia, 46 municipais e 5 estaduais; em Mato Grosso, 150
municipais e 26 estaduais; em Mato Grosso do Sul, 38 municipais e 7 estaduais; no Pará, 83
municipais e 8 estaduais; na Paraíba, 22 municipais e 5 estaduais; no Paraná, 25 municipais e 3
estaduais; e no Espírito Santo, onde todas as 7 escolas são municipais. Em todos os demais Estados
da Federação predominam as escolas estaduais.

Se somarmos apenas as escolas municipais do Amazonas e de Mato Grosso, chegamos


a um percentual de 38,83% do total das escolas indígenas, o que reforça, em termos absolutos, a
tendência para a estadualização das escolas entre as diferentes unidades da Federação.

O reconhecimento dos estabelecimentos escolares como escolas indígenas explica


também o expressivo aumento do número de estudantes indígenas, que, em cinco anos, aumentou
em quase 50%. Em 1999, o número de estudantes indígenas era de 93.037, já em 2005 esse número
passou para 163.693 alunos. Nesse período, impressiona o crescimento das matrículas na educação
infantil e em creches: em 1999 foram registradas 7.584 matrículas e, em 2005, 18.114.

Chama a atenção também o aumento do número de matrículas no ensino médio. Em 1999


elas totalizavam 943 e, em 2005, passaram para 4.270. Apesar do crescimento evidente, o número de
matrículas no ensino médio nas escolas indígenas é ainda absolutamente incipiente, revelando a baixa
estruturação dos níveis de ensino nas terras indígenas. Ao não oferecer esse nível, os alunos indígenas
interessados em prosseguir nos estudos devem sair das terras indígenas e buscar a continuidade dos
estudos em escolas não indígenas, nas zonas rural e urbana. O mesmo processo ocorre, em várias
terras indígenas, com as séries finais do ensino fundamental. Vale registrar que o ensino médio em
escolas indígenas é uma realidade apenas em 13 Estados: Acre, Amazonas, Roraima, Tocantins,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. Nos demais Estados não há oferta de ensino médio diferenciada para estudantes indígenas.

Em relação aos estudantes, o dado significativo é que a distribuição dos alunos pelas
diferentes séries do ensino fundamental melhorou, o que demonstra uma maior estruturação e
organização das escolas indígenas. Enquanto o Censo Escolar Indígena de 1999 registra que 43,5%
dos estudantes estavam concentrados na primeira série do ensino fundamental, o Censo Escolar
de 2005 indica que esse número diminuiu para 31,2%, aumentando a distribuição dos estudantes
pelas séries seguintes, conforme podemos observar na tabela abaixo, relativa às matriculas no
ensino fundamental de 8 anos:

A melhor distribuição dos alunos indígenas pelas séries do ensino fundamental evidenciada
no Censo Escolar de 2005, principalmente em relação ao aumento de estudantes da 5ª à 8ª série, é
um dos reflexos dos programas de formação de professores indígenas, que possibilitaram que
esses níveis de ensino começassem a ser ministrados em algumas aldeias.

Outro resultado que o Censo Escolar de 2005 evidencia é em relação ao número de


escolas que passaram a contar com materiais didáticos específicos. Produzidos, em sua grande
maioria, em contextos de formação de professores indígenas, esses materiais, editados em português,
nas línguas indígenas e em versões bilíngües, resultam de uma política de estimulo à produção de
materiais diferenciados para uso nas escolas indígenas, que tem recebido recursos e sido priorizada
pelo Ministério da Educação nos últimos anos, apoiando iniciativas de secretarias estaduais e
municipais de educação, de universidades e de organizações indígenas e de apoio aos índios. Não
obstante esses investimentos, menos da metade das escolas indígenas do País (41,54%) conta
com algum tipo de material diferenciado. Apesar do avanço em relação a 1999, quando apenas
30,5% das escolas contavam com esse tipo de material, sabe-se que este percentual é ainda
insatisfatório para o cotidiano de uma escola indígena que tenha entre seus objetivos valorizar as
línguas indígenas e os conhecimentos tradicionais.

25
Esses números mostram que, apesar dos avanços conquistados nos últimos anos pelos
povos indígenas quanto ao direito a uma educação intercultural, muito ainda é preciso ser construído
em termos de prática de sala de aula, de formação de professores indígenas, de produção de materiais
para que as escolas em terras indígenas ofereçam uma educação diferenciada, de qualidade e que
valorize a língua e os conhecimentos tradicionais desses povos.

A divulgação desses dados, por parte do Ministério da Educação, tem por objetivo propiciar
uma avaliação da política nacional de educação indígena, compondo indicadores que permitam
aferir a eficácia de programas e linhas de ação implementadas pelo governo federal e pelos sistemas
estaduais e municipais de educação. Ao disponibilizar esses dados, espera-se, ainda, contribuir
para que se efetive o controle social indígena sobre as políticas de educação escolar voltadas às
comunidades indígenas.

A seguir apresentamos um conjunto de tabelas organizadas em torno das seguintes


temáticas: dados gerais, estabelecimentos, professores e matrículas. Por fim, é apresentada uma
listagem, organizada por unidade da Federação e municípios, contendo a relação nominal de todas
as escolas indígenas. A divulgação dessa listagem tem como objetivo permitir que tanto professores
indígenas quanto técnicos e gestores dos sistemas de ensino estadual e municipal possam conferir
as escolas declaradas como indígenas, identificando possíveis falhas e omissões e contribuindo,
assim, para a melhoria da qualidade de informação. Nesses casos, o usuário deverá se reportar à

• Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena


Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Ministério da Educação
Edifício CNE – SGAS – Quadra 607, Lote 50, Sala 208
CEP 70068-900 – Brasília – DF
Tel. (61) 2104-6156
Fax (61) 2104-6245

ou à

• Coordenação-Geral do Censo Escolar


Diretoria de Estatísticas da Educação Básica
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
Ministério da Educação
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexos I e II
CEP 70047-900 – Brasília – DF
Tel. (61) 2104-8399
e-mail: censoescolar@inep.gov.br

26
2
Dados
Gerais
Dados Gerais

29
Dados Gerais

30
3
Estabelecimentos
Estabelecimentos

33
Estabelecimentos

34
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

35
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

36
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

37
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

38
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

39
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

40
Estabelecimentos

Caracterização Pedagógica dos Estabelecimentos

41
Estabelecimentos

Caracterização Física dos Estabelecimentos

42
Estabelecimentos

Caracterização Física dos Estabelecimentos

43
Estabelecimentos

Caracterização Física dos Estabelecimentos

44
Estabelecimentos

Caracterização Física dos Estabelecimentos

45
Estabelecimentos

Caracterização Física dos Estabelecimentos

46
4
Turmas
Professores
Professores

49
Professores

50
Professores

51
Professores

52
Professores

53
Professores

54
Professores

55
Professores

56
5
Matrículas
Matrículas

59
Matrículas

Dependência Administrativa

60
Matrículas

Dependência Administrativa

61
Matrículas

Dependência Administrativa

62
Matrículas

Dependência Administrativa

63
Matrículas

Dependência Administrativa

64
Matrículas

Dependência Administrativa

65
Matrículas

Dependência Administrativa

66
Matrículas

Dependência Administrativa

67
Matrículas

Dependência Administrativa

68
Matrículas

Dependência Administrativa

69
Matrículas

Dependência Administrativa

70
Matrículas

Dependência Administrativa

71
Matrículas

Dependência Administrativa

72
Matrículas

Dependência Administrativa

73
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

74
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

75
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

76
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

77
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

78
Matrículas

Sexo e Faixa Etária

79
Matrículas

Série e Faixa Etária

80
Matrículas

Série e Faixa Etária

81
6
Relação dos
Estabelecimentos
de Educação
Escolar Indígena,
segundo a Região
Geográfica e a
Unidade da
Federação – 2005
85
86
87
88
89
90
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