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Organização Mundial de Comércio

O que está em Jogo na OMC


A Rodada do Milênio, que começa em novembro próximo, em
Seattle (EUA), traz a oportunidade da redução dos subsídios e
dos protecionismos ao setor agrícola e melhoria do acesso dos
produtos brasileiros no mercado internacional.

Cerca de dois terços das importações mundiais de produtos


agrícolas são realizadas por países desenvolvidos protecionistas.

Entre o início da Rodada Uruguai e o início da Rodada do Milênio


houve uma deterioração nos níveis do protecionismo mundial.

A OCDE estima que os subsídios totais ao produtor atingiram,


em 98, US$ 362 bilhões/ano, contra US$ 320 bilhões no período
1986-1988.

O agronegócio responde por 32% do PIB (Produto Interno Bruto)


brasileiro (cerca de US$ 250 bilhões/ano), 38% da pauta de
exportações (US$ bilhões/ano) e mais de 40% da população
economicamente ativa.

O Brasil enfrenta um preocupante desequilíbrio na balança de


pagamentos. Para reverter esse quadro, é necessário exportar
mais. A meta de US$ 100 bilhões em exportações até 2003 (US$
44 bilhões no agronegócio) depende das negociações na OMC.

Para ter uma idéia da importância da Rodada do Milênio, vale


citar alguns exemplos de práticas protecionistas dos principais
parceiros comerciais do Brasil.

O açúcar e o fumo brasileiros estão limitados nos EUA a


reduzidas quotas de importação. O suco de laranja paga um
imposto de US$ 432/t para entrar nos EUA.

O peito de frango paga 78% de imposto para entrar na Europa,


e a pequena quota de 7,1mil t obtida no Gatt não é respeitada.

Por causa de um surto de peste suína controlado há mais de 20


anos, o Brasil não consegue exportar esse tipo de carne para a
Europa e para os EUA.

Quando não são proibidas, as exportações agroindustriais


brasileiras estão sujeitas a tarifas elevadas, reduzidas quotas de
importação ou ao mecanismo da escalada tarifária.

As palavras de ordem da agricultura na maioria dos países


desenvolvidos são preços de sustentação administrados pelos
governos, restrições às importações, barreiras técnicas
(sanitárias, de qualidade, e agora ambientais e sociais),
formação de estoques públicos, ajudas diretas aos produtores,
salvaguardas especiais, compras governamentais e comércio
dominado por monopólios públicos e privados.

Fechando o ciclo da proteção, os excedentes são exportados por


meio de abundantes subsídios e créditos governamentais.
 

Cartas na mesa
Tudo indica que o Brasil e o Grupo de Cairns irão se pautar pelas
seguintes propostas:

1- Radicalização na eliminação dos subsídios à exportação. Essa


posição parte do princípio de que é inaceitável a prática de
transferir os elevados custos da proteção dos países
desenvolvidos para os agricultores de países competitivos como
o Brasil.

2- Avanço sensível na questão do acesso a mercados. Espera-se


uma sensível redução dos picos e escaladas tarifárias.

3- Redução dos subsídios domésticos, de forma a eliminar as


distorções de comércio provocadas por esse tipo de
protecionismo.

Em 1947, 23 países assinaram o Acordo Geral de Tarifas e


Comércio (Gatt), visando estabelecer normas e procedimentos
de conduta para o comércio internacional de mercadorias.

Dali para frente, a estrutura de funcionamento do Gatt se


baseou em rodadas periódicas de negociações multilaterais.

A oitava e última dessas rodadas, a Rodada do Uruguai, ocorreu


entre 1986 e 1993, sendo que desde então o Gatt se
transformou na Organização Mundial de Comércio (OMC).

A Rodada Uruguai trouxe novas reduções tarifárias nos bens


industriais, aumentando a exposição dos países ao livre
comércio. Dos temas tratados, o mais polêmico foi o
protecionismo agrícola e seus impactos negativos sobre o
comércio.

Em abril de 1994, 123 países assinaram em Marrakech, na


conclusão da Rodada Uruguai, um acordo sobre agricultura com
vigência de nove anos.

Pela primeira vez, a agricultura passou a contar com regras de


conduta, disciplinas e procedimentos para solucionar disputas
comerciais.

Isso significou a fixação de um teto para a escalada de subsídios


que vinha ocorrendo. Os subsídios agrícolas foram enquadrados
dentro de limites máximos permitidos, além da fixação de níveis
mínimos de acesso aos mercados dos países mais ricos.

Ocorreu também alguma redução nos subsídios à exportação e


no apoio doméstico aos produtores, em relação aos níveis do
final dos anos 80. Mas a expectativa de eliminação total dos
subsídios foi frustrada.

O Acordo Agrícola manteve formas desleais de comércio nas


commodities agrícolas, praticamente mantendo os subsídios
vigentes no início dos anos 90.

O acordo acabou oficializando a maior parte das políticas


protecionistas e dos subsídios praticados pelos países
desenvolvidos, principalmente pelos EUA e pela EU.

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