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COLUNA/COLUMNA - VOLUME 4 (1) - JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2005 11

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação epidemiológica das fraturas da coluna torácica e


lombar de pacientes atendidos no Pronto-Socorro do Hospital
do Trabalhador da UFPR de Curitiba – Paraná
Epidemiological evaluation of the thoracic and lumbar spine
fractures attended on the “Hospital do Trabalhador” Emergency
Ed Marcelo Zaninelli Room, UFPR – Curitiba, Paraná
Xavier Soler I Graells
Orli José Néri
Leonardo Dau
Correspondência
Ed Marcelo Zaninelli
Grupo de Cirurgia de Coluna da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia Hospital de Clínicas e Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador de Curitiba –
Universidade Federal do Paraná – UFPR
Av. Getúlio Vargas 2095, Bairro Água Verde, Curitiba Pr, (80250-180)
E-mail: zaninelli@terra.com.br / xaviersoler@uol.com.br - Tel: (41) 352-0545 / 360-1800 Ramal 6145 (Ed Marcelo Zaninelli); (41) 244-5927
Fax: 244-4051/ 9192-9187 (Xavier Soler I Graells)

Versão original aceita em Português


RESUMO ABSTRACT
Como conseqüência dos avanços das técnicas de atendimen- With the advances in the techniques to initial care to the
to inicial a politraumatizados, cada vez mais pacientes víti- politraumatized patients, more and more victims of spine
mas de lesões graves da coluna vertebral têm chegado aos
fractures arrive to the Emergency Room (ER) alive and
prontos-socorros com vida e com condições de tratamento.
Devido à falta de dados nacionais a respeito deste tipo grave in conditios to be treated. Observing the lack of national
e freqüente de traumatismo, foi realizado um levantamento data on this frequent and serious trauma, we did an
epidemiológico das fraturas da coluna torácica e lombar aten- epidemiological study about the fractures of the thoracic
didas em nosso serviço de emergência, no período de janeiro and lumbar spine attended on the ER of our hospital.
de 1999 e março de 2003, totalizando 285 pacientes e 350 Between january 1999 and march 2003 a total of 285
vértebras fraturadas. Foram constatados os seguintes dados: patients with 350 vertebrae fractures were treated and
maior incidência das fraturas da coluna vertebral em homens evaluated. These fractures were more common among men
(3,25:1), com uma idade média de 39 anos (7-86); maior (3,25:1). The average age of the patients was 39 years (7-
entrada ao hospital por meio de viaturas de atendimento emer- 86) and the patients were most commonly brought to the
gencial; as principais causas de trauma foram as quedas de hospital by the emergency ambulances. The main cause
altura, com 58,59% dos casos, e os acidentes automobilísti-
of fractures was fall from heights (58,59%) followed by
cos com 23,15%; 64,56% dos casos corresponderam às fra-
turas isoladas da coluna vertebral; e como lesões mais comu- traffic acidents (23,15%). Isolated spine fractures were
mente associadas tivemos principalmente as fraturas extra- observed in 64,56%. Among those patients that presented
vertebrais, e destas, a maior incidência as dos ossos da per- associated lesions, fractures of other bones were the
na. A junção toracolombar foi a localização mais freqüente- commonest, being fractures of tibiae and fibulae the most
mente acometida, sendo L1 a vértebra mais fraturada com frequent. The thoracic-lumbar transition was the region
112 casos. Foram encontradas lesões neurológicas em 18,94% most frequently fractured, being L1 the vertebrae most
dos pacientes, sendo o nível torácico um mais freqüentemen- frequently fractured (112 cases). Neurologic lesions were
te acometido do que o lombar, em 51,85% dos casos. Utili- present in 18,94% of the patients, being 51,85% of these
zando-se a classificação da AO, as fraturas do grupo A foram fractures on the thoracic level. The AO classification was
a maioria, com 294 casos e, destas, as tipo A1, com 161 e A3, used, and type A fractures were the most common with
com 108 casos foram as mais comuns. A forma mais comu-
294 cases, type A1, 161 fractures and type A3, 108 cases.
mente empregada de tratamento foi a conservadora em 172
casos, e o tratamento cirúrgico foi realizado em 110 casos, Conservative treatment was used in 172 cases, and the
sendo que três pacientes foram a óbito antes de qualquer tra- surgical treatment was necessary in 110 cases. Three
tamento ser estabelecido. patients died before any kind of treatment was performed.

PALAVRAS-CHAVE: fraturas da coluna vertebral, KEY-WORDS: spinal fractures, thoracic injuries,


traumatismos torácicos, epidemiologia epidemiology
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INTRODUÇÃO de 1999 a março de 2003. Foram completados protoco-


É crescente o número de pacientes que chegam para los com os dados de 285 pacientes com fraturas da co-
atendimento nos serviços de emergência vítimas de trau- luna vertebral, torácica e/ ou lombar, perfazendo um
matismo da coluna vertebral. Em um grande número total de 350 vértebras fraturadas, e relacionados dados
de casos estes traumatismos deixam sequelas irreversí- epidemiológicos como idade, sexo, mecanismo do trau-
veis para o paciente, a família, e a própria sociedade, ma, forma de apresentação ao hospital, presença e dis-
sendo os índices de mortalidade também significativos. criminação de lesões associadas, nível de acometimen-
Com o desenvolvimento e o treinamento de equipes es- to da coluna vertebral por vértebra e segmento especí-
pecializadas no atendimento aos pacientes politrauma- fico, classificação radiográfica das fraturas, presença,
tizados nos principais centros urbanos brasileiros, cada localização e classificação de lesões neurológicas, for-
vez mais pacientes graves que necessitam cuidados es- ma de investigação por imagens e métodos de trata-
pecíficos relacionados com fraturas da coluna verte- mento conservador e cirúrgico das fraturas.
bral chegam para atendimento nos principais prontos-
socorros destas cidades com chance de sobrevivência. RESULTADOS
As estatísticas nacionais ainda são muito pobres em A nossa casuística contou com 285 pacientes, sendo 56
relação aos dados epidemiológicos no que concerne aos com fraturas de mais de uma vértebra, na maioria ho-
traumatismos das colunas torácica e lombar. Assim, a mens 76,5% ( n=218 ) e em minoria mulheres 23,5%
avaliação epidemiológica das fraturas da coluna toráci- (n=67 ), com uma relação de 3,25:1. A idade média foi
ca e lombar é difícel de ser realizada, também por não de 39 anos, variando de sete a 86 anos, com maior índi-
ser esta uma condição considerada como de notificação ce de fraturas ocorrendo dos 20 aos 29 anos de idade,
obrigatória. Nos Estados Unidos da América (EUA), conforme os dados do gráfico 1.
cerca de 11 mil novas lesões da medula espinhal exi-
gem tratamento a cada ano, sendo que 15 a 20% dos
pacientes com fraturas das colunas torácica e lombar
sofrem lesões neurológicas1. Estima-se que 40,1 habi-
tantes dos EUA, em cada grupo de um milhão, sofram
Número de casos

trauma da coluna torácica ou lombar a cada ano, o que


sugere ao governo uma despesa total de US$ 250 mil, por
paciente/ ano, podendo chegar a valores totais de quatro
bilhões de dólares por ano, entre custos para tratamento
de saúde e perdas de produtividade para sociedade2. Os
casos de paraplegia traumática têm aumentado significa-
tivamente nas últimas duas décadas, a uma taxa de 4% ao
ano3. Atualmente, estima-se que estejam vivendo nos EUA
cerca de 183 a 203 mil pessoas com lesões medulares, e as Faixa Etária
estimativas de gastos com estes pacientes variam de acor- Gráfico 1 - Distribuição das fraturas segundo a faixa etária
do com a gravidade da lesão e a idade na época da lesão.
Por exemplo, uma lesão em um indivíduo de 25 anos
com quadriplegia alta custa aproximadamente US$ O mecanismo mais freqüente de fratura foi: queda de
1.350.000,00, enquanto uma pessoa de 50 anos com altura, principalmente de andaimes e árvores, com 58,59%
paraplegia custa em torno de US$ 326.000,004. A gran- (n=167); acidente automobilístico, envolvendo ou não
deza destes dados demonstra a importância do estudo e motociclistas, com 23,15% (n=66); atropelamento de pe-
da prevenção dos traumatismos da coluna torácica e destre com 7,36% (n=21); fratura causada por projéteis
lombar. O objetivo deste estudo é a apresentação de de arma de fogo 5,26% (n=15); trauma direto sobre o dor-
dados epidemiológicos dos pacientes atendidos, com so com 4,91% (n=14), e outros mecanismos em menos de
fraturas da coluna torácica e lombar, em um grande 1% dos casos (n=2). Considerando pacientes com mais de
pronto-socorro da cidade de Curitiba (Paraná) nos últi- 75 anos de idade (n=8), encontramos 75% dos casos rela-
mos quatro anos. cionados com quedas de altura.
Os pacientes trazidos por viaturas de atendimento pré-
MATERIAIS E MÉTODOS hospitalar de emergência em Curitiba (SIATE) correspon-
Foi realizada uma pesquisa retrospectiva dos pacientes deram a 54,38% dos atendimentos (n=155); 22,10%
atendidos no Ambulatório de Lesões Traumáticas da Co- (n=63) vieram em ambulâncias de cidades vizinhas e tam-
luna Vertebral do Pronto-socorro do Hospital do Traba- bém do interior do estado; 23,50% (n=67) chegaram de-
lhador da UFPR de Curitiba, Paraná, através do seu ar- ambulando para atendimento hospitalar; 64,56% dos ca-
quivo de radiografias, lista de pacientes do ambulató- sos (n=184) corresponderam a fraturas isoladas da coluna
rio e do centro cirúrgico, e do sistema informatizado de vertebral, enquanto 35,44% (n=101) apresentaram lesões
atendimento do pronto-socorro, no período de janeiro associadas discriminadas na Tabela 1.
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Tabela 1- Discriminação das lesões associadas Tabela 2- Escala de Frankel para lesões
TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO 38 CASOS
neurológicas
TRAUMATISMO DE TÓRAX 22 CASOS FRANKEL A 36 CASOS
TRAUMATISMO ABDOMINAL 16 CASOS FRANKEL B 11 CASOS
FRATURAS EXTRAVERTEBRAIS 47 CASOS FRANKEL C 05 CASOS
FRANKEL D 02 CASOS
FRATURAS DA COLUNA CERVICAL 02 CASOS FRANKEL E 228 CASOS
FERIMENTOS DE PARTES MOLES 09 CASOS
FONTE: SOT-HC/HT-UFPR
FONTE: SOT-HC/HT-UFPR
Foram realizadas radiografias simples para avaliação
Dos casos com fraturas extravertebrais envolvi- das vértebras fraturadas, em 151 pacientes, enquanto 134
das notaram-se 17 casos de fraturas em ossos da per- pacientes possuíam, além das radiografias convencionais,
na, incluindo tornozelo e pilão tibial, 12 casos de filmes de tomografia computadorizada. Foi utilizada a clas-
fraturas de antebraço e punho, cinco casos de fratu- sificação compreensiva das fraturas empregada pelo Gru-
ra de calcâneo, sendo um caso de fratura bilateral, po AO, cujos resultados obtidos estão demonstrados na
quatro casos de fraturas de clavícula, úmero e coste- Tabela 3. As 15 fraturas foram resultado da ação de projé-
las, três casos de fraturas de fêmur, e dois de pelve teis de arma de fogo e dez outras fraturas também não
entre outros. Houve dois casos de fraturas de odon- foram classificáveis por este método por acometerem ou-
tóide associadas a fraturas de outras vértebras, torá- tros elementos vertebrais como os processos transversos e
cica em um caso e lombar em outro. espinhosos.
Com relação ao segmento vertebral acometido, a co-
luna lombar esteve envolvida mais freqüentemente em
223 casos e a coluna torácica em 127 casos. A vértebra Tabela 3- Número e porcentagem de fraturas por
mais comumente fraturada foi L1 (32%) com 112 ca- Tipo e Grupo AO
sos, seguido por L2 (16,28%) com 57 casos e T12 Casos % do Total % do Tipo
(15,42%) com 54 casos. As demais vértebras fratura-
Tipo A 294 90,46
das estão listadas no Gráfico 2. A1 161 49,53 54,76
A2 25 7,70 8,51
A4 108 33,23 36,73
Tipo B 18 5,53
B1 08 2,46 44,44
B2 08 2,46 44,44
Números de fraturas

B3 02 0,61 11,12
Tipo C 13 4
C1 06 1,84 46,15
C2 04 1,23 30,76
C3 03 0,93 23,08

FONTE: SOT-HC/HT-UFPR

A forma predominante de tratamento foi conservado-


ra em 60,99% (n=172) dos pacientes, os quais foram con-
duzidos por uma das diversas modalidades deste trata-
Vértebras mento como: somente repouso, gesso antigravitacional ou
colete de Jewett. O tratamento cirúrgico foi empregado
Gráfico 2 - Distribuição das fraturas conforme a localização em 39,01% (n=110) dos pacientes e as formas de trata-
mento utilizadas foram as Hastes de Harrington com amar-
Verificou-se a presença de lesão neurológica associada a rias sublaminares de Luque em 55 casos, somente amar-
fratura da coluna torácica e/ou lombar em 18,94% dos rias em 06 casos, fixação transpedicular com parafusos e
casos (n=54), não sendo possível a avaliação neuroló- hastes em 43 casos e, finalmente, retirada cirúrgica de
gica em três pacientes que chegaram em estado de coma e projéteis de arma de fogo localizados no interior do canal
foram a óbito nas primeiras 24 horas. 228 pacientes não medular em seis casos. Lembrando que três pacientes fo-
apresentaram qualquer tipo de acometimento neurológico ram a óbito, pela gravidade das lesões associadas, antes
associado. As fraturas da coluna torácica estiveram asso- de serem submetidos a qualquer tratamento das suas fra-
ciadas a lesões neurológicas em 51,85% dos casos (n=28), turas da coluna vertebral.
e as fraturas da coluna lombar em 48,15% dos casos
(n=26). Os pacientes com lesões neurológicas foram clas- DISCUSSÃO
sificados pela escala de Frankel para lesões medulares e Os traumatismos da coluna vertebral são comuns e diver-
os resultados obtidos estão na tabela 2. sificados e sua gravidade pode variar desde uma fratura
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acunhamento simples até uma grave fratura-luxação e, cli- gradil costal, para um segmento móvel, a coluna lombar.
nicamente, podemos nos defrontar com um paciente sem Quando uma força é aplicada de forma a produzir movi-
qualquer envolvimento neurológico ou acometimento de mento além do limite fisiológico, esta transição é alta-
outros órgãos, até um paciente com paraplegia e múlti- mente susceptível de sofrer fraturas e/ou luxações.
plas lesões sistêmicas. A região compreendida entre T12 e L2 é a sede de
Estatisticamente, os pacientes acometidos por fraturas mais de 50% de todas as fraturas da coluna vertebral. Neste
da coluna torácica e/ou lombar são do sexo masculino e os estudo, observamos a predominância das fraturas entre
resultados deste levantamento confirmam os dados da li- T12 e L2, com 63,7% dos casos.
teratura nacional e internacional1,5-9. A presença de lesões neurológicas associadas às fratu-
A faixa etária mais freqüentemente acometida é a de ras da coluna vertebral é amplamente conhecida na litera-
maior produtividade para a sociedade, ou seja, dos 20 aos tura com taxas variando de 20 a 40% dos casos16. Os nos-
59 anos, e a idade média encontrada por nós de 39 anos é sos dados apontam para uma incidência um pouco menor
semelhante à encontrada em outros estudos5,6,8-10. de 18,94% de lesões neurológicas associadas às fraturas
Em nossa pesquisa, verificamos que nenhum outro tra- da coluna torácica e/ ou lombar. Ao contrário do que po-
balho se refere à forma de apresentação do paciente ao deria se esperar, na região lombar (48,15% X 51,85%)
hospital, mas é importante salientar a atuação das equi- houve uma percentagem semelhante de fraturas acarre-
pes de atendimento pré-hospitalar nas medidas iniciais tando lesão medular quando comparada à região torácica
de suporte à vida e prevenção de lesões secundárias. Em onde o menor diâmetro do canal medular e os detalhes
Curitiba, este sistema tem a denominação de SIATE, de circulatórios tornam esta localização mais propícia para
vinculação municipal, e atua desde a década de 80, atual- ocorrerem lesões medulares. Talvez a presença de um
mente em expansão para as outras cidades do Paraná. maior número de fraturas neste segmento ajude a explicar
Em alguns estudos, foram encontrados dados nacio- este fato.
nais a respeito de fraturas da coluna torácica e lombar; Spivak et al.17-18 salientam a importância da investiga-
também foi verificado que o principal mecanismo causa- ção radiológica bem feita para os casos de suspeita de le-
dor destas fraturas são as quedas de altura, que em nossa sões toracolombares e, após esta, a complementação com
revisão chegou a 58,59%. Já na literatura mundial há es- filmes de tomografia computadorizada para detalhamen-
tudos como os de Pierce e Nickel11, que apontam os aci- to das lesões da porção posterior do corpo, incluindo in-
dentes automobilísticos como os principais causadores de vasão do canal medular, e dos elementos posteriores da
fraturas da coluna vertebral em 70% dos casos. Montesa- coluna vertebral.
no e Benson1 destacaram que a causa mais frequente .. de Várias classificações de fraturas da coluna torácica e
lesões da coluna vertebral também são os acidentes auto- lombar têm sido apresentadas ao longo do tempo, utili-
mobilísticos (45%), seguidos por quedas de altura (20%), zando diferentes critérios, e é muito evidente a influência
esportes (15%), e atos de violência (15%), mas ressaltam que o desenvolvimento ocorrido no tratamento dessas le-
que as quedas responsabilizam-se por 70% dos casos de sões, bem como o progresso nos exames de imagem, exer-
fraturas vertebrais nos pacientes na faixa etária acima dos ceram no aprimoramento dos sistemas de classificação.
75 anos, como encontrado por nós em 75% dos casos. Utilizamos a classificação preconizada pela AO (Arbeits-
Em decorrência dos principais mecanismos de lesão gemainchaft für Osteosynthesefragen), que é uma classi-
serem de alta energia espera-se a presença de lesões as- ficação mecanística das fraturas e baseia-se no fato de que
sociadas graves. Estima-se que 5% dos pacientes com trau- a morfopatologia da lesão indica a força ou o momento
ma cranioencefálico (TCE) apresentam, também, uma le- aplicado sobre o segmento vertebral. As três forças bási-
são da coluna e, reciprocamente, 25% dos doentes com cas que produzem as lesões traumáticas do segmento ver-
trauma de coluna têm, pelo menos, um TCE leve12. Saboe tebral são: a compressão, a distração e a rotação, e desse
et al.13 relataram que lesões associadas ocorrem em 47% modo a morfologia da fratura permite a determinação da
dos casos de fraturas da coluna vertebral, envolvendo o patogênese da lesão. A perda de altura do corpo vertebral
crânio em 26% dos casos, o tórax em 24% e os ossos lon- está relacionada às forças de compressão, a ruptura anterior
gos em 23%. As lesões abdominais ocorrem na minoria ou posterior às forças de distração e os desvios rotacionais à
dos casos, e geralmente nos casos de etiologia por aciden- rotação. No estudo original de Aebi et al.19 as fraturas do tipo
tes automobilísticos e associação com fraturas de múlti- A também são as mais freqüentes, porém com incidência
plos níveis vertebrais14,15. Na nossa casuística, encontra- menor (66,16% X 90,46%) do que o encontrado em nosso
mos 38 casos de TCE associados às fraturas vertebrais, estudo, e destas as A1 são as mais freqüentes (52,51% X
mas as mais comuns ainda foram as fraturas extraverte- 54,76%), salientando a freqüência das fraturas do tipo ex-
brais com 47 casos, salientando a maior freqüência das plosão, ou A3 (42,26% X 36,73%). Houve diferença entre os
fraturas dos ossos da perna com 17 casos. valores encontrados por nós para fraturas do tipo B (14,46%
A transição entre os segmentos torácico e lombar da X 5,53%), e do tipo C (19,38% X 4%).
coluna constitui-se em sede freqüente de ocorrência de As formas clássicas de tratamento conservador para
lesões traumáticas, pois neste local ocorre uma transição fraturas da coluna torácica e lombar com repouso no leito,
abrupta de um segmento fixo, a coluna torácica com o redução incruenta e imobilização gessada antigravitacio-
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nal, ou o uso do colete de Jewet, obedeceram os critérios - O principal mecanismo envolvido na etiologia des-
de estabilidade com ausência de lesão neurológica, com- tas fraturas foram as quedas de altura.
pressão do canal vertebral inferior a 50%, cifose inferior - As fraturas extravertebrais foram as lesões associa-
a 30%, e ausência de translação vertebral, e são os mais das mais freqüentemente observadas, e destas, as dos
comumente empregados, assim como na nossa casuística ossos da perna incluindo pilão tibial e tornozelo foram
em 60,99% dos pacientes9,19,20. as predominantes.
O tratamento cirúrgico tem seu papel naquelas fratu- - A associação com lesão neurológica esteve presen-
ras com critérios de instabilidade presentes, seguindo-se te em 18,94% dos casos, e as lesões neurológicas clas-
os parâmetros mencionados acima. No início do funcio- sificadas como Frankel A são as mais comuns.
namento de nosso serviço de emergência não dispúnha- - A transição toracolombar T12-L2 foi a região mais
mos de outro material de fixação senão as hastes e gan- acometida, com mais de 60% dos casos.
chos de Harrington, associados com amarrias sublamina- - As radiografias simples, associadas com imagens
res de Luque. Há dois anos iniciamos a utilização do ma- de TAC fornecem dados de avaliação suficientes para
terial de fixação transpedicular para o tratamento destas determinação do tratamento a ser instituído.
fraturas, sendo que o mesmo já tem seus bons resultados - A classificação AO forneceu um método efetivo de
amplamente conhecidos na literatura nacional e interna- avaliação das fraturas, sendo as fraturas do tipo A as
cional21,22. mais comumente encontradas.
- O tratamento conservador foi a forma mais fre-
CONCLUSÕES qüentemente empregada de tratamento para as fra-
- Os pacientes do sexo masculino e na faixa etária turas da coluna torácica e/ou lombar ocorridas em
dos 20 aos 29 anos foram os mais acometidos. nosso serviço.

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Recebido em: 04/04/2004


Aprovado em: 25/11/2004

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