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ARTIGO ORIGINAL
Tabela 1- Discriminação das lesões associadas Tabela 2- Escala de Frankel para lesões
TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO 38 CASOS
neurológicas
TRAUMATISMO DE TÓRAX 22 CASOS FRANKEL A 36 CASOS
TRAUMATISMO ABDOMINAL 16 CASOS FRANKEL B 11 CASOS
FRATURAS EXTRAVERTEBRAIS 47 CASOS FRANKEL C 05 CASOS
FRANKEL D 02 CASOS
FRATURAS DA COLUNA CERVICAL 02 CASOS FRANKEL E 228 CASOS
FERIMENTOS DE PARTES MOLES 09 CASOS
FONTE: SOT-HC/HT-UFPR
FONTE: SOT-HC/HT-UFPR
Foram realizadas radiografias simples para avaliação
Dos casos com fraturas extravertebrais envolvi- das vértebras fraturadas, em 151 pacientes, enquanto 134
das notaram-se 17 casos de fraturas em ossos da per- pacientes possuíam, além das radiografias convencionais,
na, incluindo tornozelo e pilão tibial, 12 casos de filmes de tomografia computadorizada. Foi utilizada a clas-
fraturas de antebraço e punho, cinco casos de fratu- sificação compreensiva das fraturas empregada pelo Gru-
ra de calcâneo, sendo um caso de fratura bilateral, po AO, cujos resultados obtidos estão demonstrados na
quatro casos de fraturas de clavícula, úmero e coste- Tabela 3. As 15 fraturas foram resultado da ação de projé-
las, três casos de fraturas de fêmur, e dois de pelve teis de arma de fogo e dez outras fraturas também não
entre outros. Houve dois casos de fraturas de odon- foram classificáveis por este método por acometerem ou-
tóide associadas a fraturas de outras vértebras, torá- tros elementos vertebrais como os processos transversos e
cica em um caso e lombar em outro. espinhosos.
Com relação ao segmento vertebral acometido, a co-
luna lombar esteve envolvida mais freqüentemente em
223 casos e a coluna torácica em 127 casos. A vértebra Tabela 3- Número e porcentagem de fraturas por
mais comumente fraturada foi L1 (32%) com 112 ca- Tipo e Grupo AO
sos, seguido por L2 (16,28%) com 57 casos e T12 Casos % do Total % do Tipo
(15,42%) com 54 casos. As demais vértebras fratura-
Tipo A 294 90,46
das estão listadas no Gráfico 2. A1 161 49,53 54,76
A2 25 7,70 8,51
A4 108 33,23 36,73
Tipo B 18 5,53
B1 08 2,46 44,44
B2 08 2,46 44,44
Números de fraturas
B3 02 0,61 11,12
Tipo C 13 4
C1 06 1,84 46,15
C2 04 1,23 30,76
C3 03 0,93 23,08
FONTE: SOT-HC/HT-UFPR
acunhamento simples até uma grave fratura-luxação e, cli- gradil costal, para um segmento móvel, a coluna lombar.
nicamente, podemos nos defrontar com um paciente sem Quando uma força é aplicada de forma a produzir movi-
qualquer envolvimento neurológico ou acometimento de mento além do limite fisiológico, esta transição é alta-
outros órgãos, até um paciente com paraplegia e múlti- mente susceptível de sofrer fraturas e/ou luxações.
plas lesões sistêmicas. A região compreendida entre T12 e L2 é a sede de
Estatisticamente, os pacientes acometidos por fraturas mais de 50% de todas as fraturas da coluna vertebral. Neste
da coluna torácica e/ou lombar são do sexo masculino e os estudo, observamos a predominância das fraturas entre
resultados deste levantamento confirmam os dados da li- T12 e L2, com 63,7% dos casos.
teratura nacional e internacional1,5-9. A presença de lesões neurológicas associadas às fratu-
A faixa etária mais freqüentemente acometida é a de ras da coluna vertebral é amplamente conhecida na litera-
maior produtividade para a sociedade, ou seja, dos 20 aos tura com taxas variando de 20 a 40% dos casos16. Os nos-
59 anos, e a idade média encontrada por nós de 39 anos é sos dados apontam para uma incidência um pouco menor
semelhante à encontrada em outros estudos5,6,8-10. de 18,94% de lesões neurológicas associadas às fraturas
Em nossa pesquisa, verificamos que nenhum outro tra- da coluna torácica e/ ou lombar. Ao contrário do que po-
balho se refere à forma de apresentação do paciente ao deria se esperar, na região lombar (48,15% X 51,85%)
hospital, mas é importante salientar a atuação das equi- houve uma percentagem semelhante de fraturas acarre-
pes de atendimento pré-hospitalar nas medidas iniciais tando lesão medular quando comparada à região torácica
de suporte à vida e prevenção de lesões secundárias. Em onde o menor diâmetro do canal medular e os detalhes
Curitiba, este sistema tem a denominação de SIATE, de circulatórios tornam esta localização mais propícia para
vinculação municipal, e atua desde a década de 80, atual- ocorrerem lesões medulares. Talvez a presença de um
mente em expansão para as outras cidades do Paraná. maior número de fraturas neste segmento ajude a explicar
Em alguns estudos, foram encontrados dados nacio- este fato.
nais a respeito de fraturas da coluna torácica e lombar; Spivak et al.17-18 salientam a importância da investiga-
também foi verificado que o principal mecanismo causa- ção radiológica bem feita para os casos de suspeita de le-
dor destas fraturas são as quedas de altura, que em nossa sões toracolombares e, após esta, a complementação com
revisão chegou a 58,59%. Já na literatura mundial há es- filmes de tomografia computadorizada para detalhamen-
tudos como os de Pierce e Nickel11, que apontam os aci- to das lesões da porção posterior do corpo, incluindo in-
dentes automobilísticos como os principais causadores de vasão do canal medular, e dos elementos posteriores da
fraturas da coluna vertebral em 70% dos casos. Montesa- coluna vertebral.
no e Benson1 destacaram que a causa mais frequente .. de Várias classificações de fraturas da coluna torácica e
lesões da coluna vertebral também são os acidentes auto- lombar têm sido apresentadas ao longo do tempo, utili-
mobilísticos (45%), seguidos por quedas de altura (20%), zando diferentes critérios, e é muito evidente a influência
esportes (15%), e atos de violência (15%), mas ressaltam que o desenvolvimento ocorrido no tratamento dessas le-
que as quedas responsabilizam-se por 70% dos casos de sões, bem como o progresso nos exames de imagem, exer-
fraturas vertebrais nos pacientes na faixa etária acima dos ceram no aprimoramento dos sistemas de classificação.
75 anos, como encontrado por nós em 75% dos casos. Utilizamos a classificação preconizada pela AO (Arbeits-
Em decorrência dos principais mecanismos de lesão gemainchaft für Osteosynthesefragen), que é uma classi-
serem de alta energia espera-se a presença de lesões as- ficação mecanística das fraturas e baseia-se no fato de que
sociadas graves. Estima-se que 5% dos pacientes com trau- a morfopatologia da lesão indica a força ou o momento
ma cranioencefálico (TCE) apresentam, também, uma le- aplicado sobre o segmento vertebral. As três forças bási-
são da coluna e, reciprocamente, 25% dos doentes com cas que produzem as lesões traumáticas do segmento ver-
trauma de coluna têm, pelo menos, um TCE leve12. Saboe tebral são: a compressão, a distração e a rotação, e desse
et al.13 relataram que lesões associadas ocorrem em 47% modo a morfologia da fratura permite a determinação da
dos casos de fraturas da coluna vertebral, envolvendo o patogênese da lesão. A perda de altura do corpo vertebral
crânio em 26% dos casos, o tórax em 24% e os ossos lon- está relacionada às forças de compressão, a ruptura anterior
gos em 23%. As lesões abdominais ocorrem na minoria ou posterior às forças de distração e os desvios rotacionais à
dos casos, e geralmente nos casos de etiologia por aciden- rotação. No estudo original de Aebi et al.19 as fraturas do tipo
tes automobilísticos e associação com fraturas de múlti- A também são as mais freqüentes, porém com incidência
plos níveis vertebrais14,15. Na nossa casuística, encontra- menor (66,16% X 90,46%) do que o encontrado em nosso
mos 38 casos de TCE associados às fraturas vertebrais, estudo, e destas as A1 são as mais freqüentes (52,51% X
mas as mais comuns ainda foram as fraturas extraverte- 54,76%), salientando a freqüência das fraturas do tipo ex-
brais com 47 casos, salientando a maior freqüência das plosão, ou A3 (42,26% X 36,73%). Houve diferença entre os
fraturas dos ossos da perna com 17 casos. valores encontrados por nós para fraturas do tipo B (14,46%
A transição entre os segmentos torácico e lombar da X 5,53%), e do tipo C (19,38% X 4%).
coluna constitui-se em sede freqüente de ocorrência de As formas clássicas de tratamento conservador para
lesões traumáticas, pois neste local ocorre uma transição fraturas da coluna torácica e lombar com repouso no leito,
abrupta de um segmento fixo, a coluna torácica com o redução incruenta e imobilização gessada antigravitacio-
COLUNA/COLUMNA - VOLUME 4 (1) - JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2005 15
nal, ou o uso do colete de Jewet, obedeceram os critérios - O principal mecanismo envolvido na etiologia des-
de estabilidade com ausência de lesão neurológica, com- tas fraturas foram as quedas de altura.
pressão do canal vertebral inferior a 50%, cifose inferior - As fraturas extravertebrais foram as lesões associa-
a 30%, e ausência de translação vertebral, e são os mais das mais freqüentemente observadas, e destas, as dos
comumente empregados, assim como na nossa casuística ossos da perna incluindo pilão tibial e tornozelo foram
em 60,99% dos pacientes9,19,20. as predominantes.
O tratamento cirúrgico tem seu papel naquelas fratu- - A associação com lesão neurológica esteve presen-
ras com critérios de instabilidade presentes, seguindo-se te em 18,94% dos casos, e as lesões neurológicas clas-
os parâmetros mencionados acima. No início do funcio- sificadas como Frankel A são as mais comuns.
namento de nosso serviço de emergência não dispúnha- - A transição toracolombar T12-L2 foi a região mais
mos de outro material de fixação senão as hastes e gan- acometida, com mais de 60% dos casos.
chos de Harrington, associados com amarrias sublamina- - As radiografias simples, associadas com imagens
res de Luque. Há dois anos iniciamos a utilização do ma- de TAC fornecem dados de avaliação suficientes para
terial de fixação transpedicular para o tratamento destas determinação do tratamento a ser instituído.
fraturas, sendo que o mesmo já tem seus bons resultados - A classificação AO forneceu um método efetivo de
amplamente conhecidos na literatura nacional e interna- avaliação das fraturas, sendo as fraturas do tipo A as
cional21,22. mais comumente encontradas.
- O tratamento conservador foi a forma mais fre-
CONCLUSÕES qüentemente empregada de tratamento para as fra-
- Os pacientes do sexo masculino e na faixa etária turas da coluna torácica e/ou lombar ocorridas em
dos 20 aos 29 anos foram os mais acometidos. nosso serviço.
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