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JARU – 2021
CLEIDE GONÇALVES LEITE
PRATES RAQUEL VASCONCELOS
TAYANE ANDRADE
JARU – 2021
1-INTRODUÇÃO.
A Canabis Sativa, planta da qual se deriva os canabinoides vem sendo
utilizada na medicina á séculos para tratar inúmeras enfermidades. Havendo registro
de seu uso desde a China antiga, passando pelo Europa Napoleônica e a Inglaterra
do século
XIX. Na Índia antes de 1.000 a.C, é reportado o uso como hipnótico, tranquilizante
no tratamento da ansiedade, histeria e compulsividade. No Brasil a relatos de sua
utilização desde o descobrimento em 1500.
Extratos da planta chegaram a ser comercializados para o tratamento de
transtornos mentais, sedativos e hipnóticos no início do século XX. A planta contém
aproximadamente 400 compostos químicos, dentre eles os canabinoides, que são os
responsáveis pelos efeitos psicoativos (MATOS; et al 2017). No início da terceira
década do século XX, extratos da Cannabis eram comercializados na Inglaterra,
Alemanha e Estados Unidos para o tratamento especialmente de desordens
mentais. Após a II Conferência Internacional de Ópio em 1924, em Genebra/ Suíça,
desencadeou o advento denominado “estado ilegal da droga “e aliado a falta de
conhecimento e segurança acerca dos princípios ativos e efeitos do uso, a maconha
passou a ser proibida em vários países, inclusive com escopo na área medicinal por
ser considerada uma droga licita. A partir de então houve uma redução no uso da
Cannabis sativa para fins médicos, causado sobretudo pelo limitado conhecimento
de seus princípios ativos, ainda não isolados na época. Posteriormente, novas
substâncias foram descobertas e utilizadas como sedativos e hipnóticos (hidrato de
cloral, barbitúricos e paraldeídos).
Na década de 1960, o professor e cientista Raphael Michoulam e seu grupo,
isolou os principais componentes da Cannabis sativa, após anos de pesquisa
finalmente o grupo de cientistas identificaram a estrutura química da planta. Dois
composto em especial chamou maior atenção dos pesquisadores denominado delta
9 tetrahidrocanabidiol (∆9-THC), por ser o responsável pelos efeitos psicoativos da
planta, o outro componente identificado é o canabidiol (CBD), compondo até 40%,
dos extratos da planta, reconhecido como principal composto não psicotrópico da
Cannabis sativa.
Um conjunto sucessivo de evidências alcançadas em estudos tanto em
humanos como em modelos animais, confirmam a capacidade do CBD de
antagonizar os efeitos psicotomiméticos do ∆9-THC, levando a hipótese de que a
planta pode apresentar propriedade ansiolítica, bem como propriedade antipsicótica,
confirmando o potencial
terapêutico do CBD no tratamento dos sintomas de transtornos psiquiátricos de
depressão, ansiedade e psicose. Ensaios clínicos em 1980, demonstraram atividade
antiepilética da substância em pacientes com epilepsia refratária, diagnosticado
somente a sonolência como efeito adverso.
Com a proibição do uso medicinal da Cannabis sativa o avanço cientifico e a
exploração de suas propriedades foram profundamente prejudicados. Apesar disso o
número de casos de pessoas que fazem uso sem orientação médica do CBD para o
tratamento de epilepsia, autismo e outros transtornos psíquicos vem aumentando em
quantidade de casos com efeitos positivos.
3- JUSTIFICATIVA.
O presente trabalho se justifica pela busca de estudos científicos sobre uso, efeitos
terapêuticos, farmacologia, farmacocinética e alternativa terapêutica da Cannabis
sativa no tratamento e controle de doenças relacionadas ao sistema nervoso central
2- OBJETIVO.
Realizar um levantamento das evidências cientificas sobre as aplicações
terapêuticas na farmacologia, potencial terapêutico no tratamento de doenças do
sistema nervoso central, legislação e mecanismo de ação da Canabis sativa,
conhecida como maconha.
3. METODOLOGIA.
Trata-se de um trabalho de pesquisa exploratória em artigos científicos, sites
nacionais e internacionais e legislação brasileira. Desta forma efetuou-se pesquisa
bibliográfica de trabalhos dos últimos 10 anos, que abordassem as estruturas
químicas e a eficácia da substância no tratamento de doenças neurológicas. Para
localização desses estudos utilizou-se descritores como “Cannabidiol/therapeutic use
AND Right to Health OR Judicial Decisions” nos bancos de dados SciELO e Google
Acadêmico.
4- DESENVOLVIMENTO.
4.1- A PLANTA CANNABIS SATIVA.
A Cannabis baseia-se em um arbusto originário da Ásia, pertencente à arbusto
da família Moraceae, cujas as espécies mais conhecidas são Cannabis sativa e
Cannabis indica, que se diferenciam pelo modo de crescimento, características
morfológicas e quantidade de princípios ativos (JULIEN, 1997).
Com altura de um a cinco metros a Cannabis sativa, possui duas espécies a
masculina e feminina. A masculina apresenta porte maior, ramos mais finos e folhas
mais longas, por outro lado, nas plantas fêmeas encontra-se a maior porcentagem
de compostos psicoativos (entre 10 a 20%), a concentração destes composto está
ligada a forma de cultivo, fatores ambientais e genéticos, podendo causar variações
no conteúdo psicotrópico da planta. O caule da Cannabis sativa (Figura 2)
apresenta-se ereto com ramificações na base e possui fibras industrialmente
importantes. As folhas pecioladas tem segmentos lanceolados serrados na margem
e as flores são unixessuais e indistintas, com pelos granulosos que produzem uma
resina nas plantas fêmeas, a qual possui propriedade entorpecente, o ciclo
vegetativo da planta é de dois a três meses.
A planta se propaga através de sementes que crescem vigorosamente em
ambientes ensolarados, apresentando necessidade de nutriente e água em
abundância, após o amadurecimento das sementes esta podem ser colhidas,
comidas por aves ou roedores, ou cair no chão onde poderão germinar. Fatores
ambientais entre eles o ciclo de luz diurno, podem alterar o sexo da planta. A
espécie predominante no Brasil é a Cannabis sativa (Figura 01), a mesma se
desenvolve melhor em climas temperado e tropical.
Figura 01. Planta Cannabis sativa.
Essa planta possui inúmeras propriedades, que podem ser utilizadas de forma
hedonista, industrial e terapêutica (CONTIJO et al, 2016). Há registro de seu uso
como alimento, fibra de papel, fármaco, óleo combustível além de fins têxteis. No
entanto foi na prática medicinal que a Canabis Sativa ganhou destaque e teve seu
uso expandido para outros países.
A principal substância produzida pela maconha ∆9-THC é excretada através da
resina como estrutura de defesa contra a desidratação e ação herbicida. Devido as
características lipofílicas, os solventes ideais para extração dos compostos da planta
são éter de petróleo e clorofórmio, por serem solventes apolares. O processo de
extração da resina constitui-se em destilação por vapor da planta, onde os óleos
essenciais são desassociados seguidos de uma destilação alcoólica e uma nova
destilação, para eliminar o restante de álcool utilizado como solvente. O estrato final
é neutralizado cm uma solução aquosa alcalina para a obtenção da resina que é
insolúvel em água e solúvel em álcool.
O consumo da Canabis vem crescido durante os último anos, sua prevalência
de consumo é vencida apenas pelo uso de cigarro e do álcool. Fato que a
caracteriza como droga ilícita mais consumida no mundo. O possível motivo para
esse alto consumo é de que a maconha seja considerada uma “droga leve” e
inveridicamente ser julgada por não desencadear consequências para a saúde
humana. Em doses consideradas baixas a droga pode causar efeitos eufóricos
quanto depressor, em doses altas provoca depressão, paranoia e até estado de
pânico dependendo do organismo do usuário.
Embora os principais efeitos terapêuticos estejam relacionados ao sistema
nervoso central, os compostos da planta também produzem efeitos sobre uma
determinada quantidade de órgãos envolvendo sistema imunológico e reprodutivo.
Os efeitos em seres humanos que correspondem ao sistema nervoso central estão
relacionados à: analgesia, alteração de humor, estimulo do apetite me indivíduos
tratados com quimioterapia (indivíduos com HIV e câncer), alterações nas atividades
psicomotoras, na cognição, na percepção entre outros. Consequentemente o estudo
e utilização de derivados da Canabis tornou-se foco de inúmeras pesquisa. O
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) estima que,
globalmente, em 2014 cerca de 183 milhões de pessoas com idade entre 15-64 anos
fizeram uso da planta para fins não médicos (UNODC, 2016; WHO, 2016).
4.2- OS CANABINÓIDES.
Com o decorrer dos avanços da área da química ao longo dos anos uma
enorme variedade de constituintes químicos foram identificados na planta, dentre
eles monoterpenos, flavonóides, esteroides além dos canabinoides. Até o momento
mais de 100 constituintes químicos são classificados como canabinóides,
encontrados unicamente me plantas do gênero Cannabis (ELSOHLY e SLADE,
2005; RADWAN et al., 2015). O principal canabinóides da planta é o psicoativo
∆9-THC, dento sua
estrutura química (Figura 3) elucidada no ano de 1963, pelo professor israelense
Raphael Michoulam.
5.2- EPILEPSIA
A definição de epilepsia é determinada pela ocorrência de, pelo menos, uma
manifestação convulsiva, que por sua vez, constituem manifestações temporárias do
comportamento causada pelo disparo desordenado, síncrono e rítmico de vários
neurônios. Tais manifestações geram hiperexcitabilidade e hipersincronismo da
atividade neural. Pacientes epiléticos são submetidos a tratamento com
medicamentos anticonvulsivantes, que atualmente não são capazes de promover a
cura da doença, porém são apropriados para controlara repetição das crises
convulsivas, que quando não tratadas e controladas pioram a qualidade de vida do
paciente.
No panorama farmacológico, o benefício do tratamento inicial das convulsões,
fundamenta-se em reduzir a exitacidade do tecido neuronal elevando o estado
inibitório deste tecido, através dos mecanismos de ação dos anticonvulsivantes que
incluem o bloqueio dos canais de sódio e potássio, potencializando a inibição
GABAérgica (estimulando abertura dos canais de cloreto) e antagonismo dos
receptores glutamatérgicos.
O primeiro relato de uso do CDB, no tratamento de convulsão foi publicado no
dia 04 de fevereiro de 1843, pelo médico irlandês Willian Brook O’Shaughnessy,
mencionando o caso de uma menina indiana com quarenta dias de vida, que sofria
de crises convulsivas severas, as quais não respondiam a qualquer tipo de
tratamento aplicado na época. O’Shaughnessy deu a primeira gota, cerca de 3 mg,
da tintura de Canabis indica, após ingestão nada foi observado, então uma hora e
meia depois as 23:00horas, duas gotas foram dadas. Em poucos minutos a menina
caiu em sono profundo, acordando apenas as 16:00 horas do dia seguinte.
Permanecendo sem convulsões durante quatro dias. No quinto dia as convulsões
voltaram, o tratamento foi retomado com tintura fresca, porém não havia efeito com
doses aplicadas de até 8 gotas, decidiram dar uma dose de 30 gotas, o que resultou
na interrupção das crises de convulsão e sono profundo de treze horas. Não está
claro o tempo de tratamento em que a menina foi submetida, em seus relatos
O’Shaughnessy descreve a saúde com alegria e perfeita saúde, levando a entender
que as crises de convulsões não retornaram.
No Brasil os primeiros estudos acerca dos efeitos anticonvulsivantes oriundos
do CDB, foram realizados primeiro em ratos posteriormente em pacientes, pelo
Centro Brasileiro de Informações sore Drogas Psicotrópicas, na Escola Paulista de
Medicina a partir de 1975, conduzido pelo professor Elisaldo Carlini.
O CBD intensifica a ativação de CB1 por anandamida em receptores que se
encontrem previamente vazios. Em contraste, a ativação de CB1 mantida pela
interação do 2-AG será reduzida pelo CBD, ocorrendo a substituição do
endocanabinoide pela anandamida acumulada, abaixando assim, a ativação dos
circuitos neuronais potencialmente envolvidos na propagação da atividade
epileptidorme (atividade neural responsável pelas crises convulsivas).
As pesquisas clínicas realizadas até o presente momento indicam segurança e
eficácia no uso terapêutico do CBD, podendo ele se tornar o primeiro canabinoide
aplicado no tratamento da epilepsia. Contudo buscam-se mais estudos detalhados
relacionados a farmacocinética para determinação de doses ideais que podem
interferir na eficácia ou promover toxicidade do medicamento.
8- RESULTADOS ESPERADOS.
A partir deste projeto espera-se que as pessoas adquiram maior conhecimento
sobre uso, regulamentação e aplicações terapêuticas da Canabis sativa. Expecta-se
que alcance grande número de pessoas, quanto profissionais da saúde que não
conhecem as funções medicamentosas esclarecidas.
9. CONCLUSÃO
Apesar da eficácia e segurança do uso medicamentoso de quase todas as
drogas ainda necessitarem de comprovação para regulação sanitária, algumas já
teve seu registro e vem sendo utilizadas em vários países como é o caso dos
canabinóides. Atualmente no Brasil, a maior dificuldade referente à realização de
pesquisas clínicas com o CBD ocorre, principalmente, por restrições legais do uso
de compostos derivados da Cannabis.
A liberação da C. sativa, para fins medicinais e de pesquisas, é de grande
importância, uma vez que evidenciado o potencial farmacológico de alguns de seus
princípios ativos, estudos acerca destas substâncias definiriam melhores estratégias
de uso, tanto em relação à dose quanto à frequência e cuidados acerca de possíveis
reações.
A utilização do canabidiol para o tratamento de doenças neurodegenerativas
apresenta-se como uma alternativa promissora, que deve ser alvo de vários estudos
e acompanhamento, a fim de estabelecer a real eficiência deste composto para
tratamento de pacientes.
10- REFERÊNCIAS.
CUZZONI, B. APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DE DROGAS ILÍCITAS.
APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DE DROGAS ILÍCITAS, Rio de Janeiro, 2017.
14,15,16. Disponivel em: <http://www.farmacia.ufrj.br/latox/PDFs/TCC-Bruno-
Cuzzoni.pdf >. Acesso em: 05 set. 2021.