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FACULDADE SUCESSO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

MADALENA ANJELOS DA SILVA PAIVA

A ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO

SENADOR GUIOMARD - AC

2019
MADALENA ANJELOS DA SILVA PAIVA

A IMPORTÂNCIA DO APRENDER BRINCANDO NAS ESCOLAS INFANTIS DO

MUNICÍPIO DE SENADOR GUIOMARD

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Pedagogia da Faculdade
Sucesso – FAS, como requisito essencial
para obtenção do Grau de Licenciado em
Pedagogia.

Orientador: Prof. Francisco Carlos Lopes de


Lima, MSc.

SENADOR GUIOMARD - AC

2019
MADALENA ANJELOS DA SILVA PAIVA

A ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO

Monografia apresentada para obtenção do título de Graduado no Curso de


Pedagogia, da Faculdade Sucesso – FAS.

Banca Examinadora

________________________________________________

Prof. MSc. Francisco Carlos Lopes de Lima– Orientador

________________________________________________

Prof. MSc. Maria de Lourdes Rogério de Oliveira– Membro

Senador Guiomard, Ac. 2019


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RESUMO

PAIVA, Madalena A. S. A alfabetização na perspectiva do letramento: 25 f.


Trabalho de Conclusão de Curso (monografia) – Curso de Pedagogia, Faculdade
Sucesso, 2019

Atualmente, no Brasil, a educação básica encontra-se em total precariedade,


onde indivíduos já escolarizados ainda são considerados analfabetos funcionais,
isto é, não são capazes de compreender o que leem. Buscando esclarecer tais
circunstâncias, este trabalho vem para afirmar a importância de se entender a
significação de alfabetização e letramento, bem como suas diferenciações,
compreendendo a importância da junção desses dois termos para a formação
de indivíduos atuantes na sociedade de modo crítico-reflexivo. Para tanto, a
finalidade do presente trabalho, de cunho bibliográfico, é trazer ao professor e
demais profissionais da área da educação, uma visão mais clara e abrangente
sobre o letramento, pautada nas ações que fazem uso da leitura e da escrita,
como agentes facilitadores de práticas sociais dentro e fora do ambiente escolar,
onde a escola deve ser o principal gerador de momentos que possibilitem a
leitura e a escrita de modo a desenvolver indivíduos alfabetizados e letrados.

Palavras-chave: Educação. Alfabetização. Letramento. Social.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 06

2 A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO 07
2.1 CONCEITOS E IDEIAS 07
2.2 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL 08
2.3 O PAPEL SOCIAL DO LETRAMENTO 10
2.3.1 A dimensão individual do letramento 10
2.3.2 A dimensão social do letramento 11
2.4 O PAPEL DO PROFESSOR COMO FORMADOR DE 16
ALFABETIZADOS LETRADOS
2.4.1 Métodos de alfabetização mais utilizados 17
2.4.2 A importância do ambiente letrado 18
2.4.3 O professor como incentivador da leitura literária 20

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24
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1 INTRODUÇÃO

Para pensar em educação é necessária a compreensão histórica da


sociedade a que esta educação serve. Assim, este trabalho transcorrer-se-á
apenas através da história da alfabetização em nosso país, o Brasil, buscando
com isso, entender o estágio de educação em que o país se encontra hoje.
Esclarecendo, da maneira mais aberta possível, os estágios da alfabetização e
o surgimento de um termo bastante utilizado e valorizado recentemente, o
letramento, procurando entender a importância do mesmo e como utilizá-lo de
forma significativa.
No primeiro momento, será perceptível a ideia de alfabetização e como
a mesma se dá nos inúmeros espaços de ensino aprendizagem, mostrar-se-á,
de maneira clara e objetiva, o trajeto feito pela alfabetização até alcançar a
perspectiva tão sonhada de letramento. Com o passar do tempo ocorreram
modificações. Tais modificações vieram com o intuito de sanar e resolver
problemas sociais e políticos, deixando de ser o mero ato de codificar e
decodificar sinais gráficos utilizados na escrita, o alfabeto, onde, alfabetizado é
aquele que consegue reconhecer as letras do alfabeto.
Posteriormente, é possível notar que existem inúmeros instrumentos que
podem ser utilizados para auxiliar a alfabetização, e que ela assume um caráter
mais consistente, quer-se alfabetizar com uma perspectiva de letramento, ela é
permeada pelas questões sociais, coletivas e individuais, não basta apenas
decodificar símbolos, há que ter significado.
Depois, a abordagem é feita na intenção de demonstrar que letrar é
preciso e é possível, partindo do pressuposto de que todos são possíveis
“aprendedores”. Para letrar, é preciso querer. Cabe aqui o papel do professor,
enquanto mediador, incentivador, responsável em produzir seres pensantes,
atuantes.
7

2 A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO

2.1. CONCEITOS E IDEIAS

De início, fazer a definição de alfabetização aparenta ser desnecessário,


entretanto, é a partir daí que será possível o entendimento de outro
termo presente no tema deste trabalho, o letramento. Ademais, consultando o
Dicionário Aurélio (2012), é possível encontrar três definições para o termo
alfabetizar: 1. ato de ensinar a ler; 2. dar instrução primária a; e 3. aprender a ler
por si mesmo. Com essa definição que se inicia a problemática pesquisada.
Como tudo no mundo tem uma história e um porque, na educação,
principalmente, é imprescindível fazer um trabalho de pesquisa, antropológico,
filosófico, psicológico e antológico para que seja possível entender as mudanças
ocorridas ao longo do tempo no ato de alfabetizar ou letrar alguém. Bem como
entender os motivos que levaram a sociedade a perceber que era preciso ter
ações mais específicas para que a melhora na qualidade desse ato viesse a
acontecer.
Há muito se tem falado em alfabetização para todos. Criança, jovem ou
adulto, não importa a classe social ou a idade, o que realmente interessa é
ser/estar alfabetizado, porém, o que vem a ser um indivíduo alfabetizado? O que
é alfabetizar? Segundo Val (2006, p.13), o termo se resume estritamente ao ato
de decodificar uma série de sinais gráficos, e na capacidade de antologiar,
codificar os ruídos da língua. O que o torna algo especificamente técnico. Porém,
assim como a sociedade mudou, o termo alfabetizar também sofreu diversas
modificações. Tais modificações vieram para suprir as necessidades sociais e
políticas, contrapondo assim, com a definição do simples ato de codificar e
decodificar aqueles sinais gráficos utilizados na escrita, o alfabeto, onde,
alfabetizado é aquele que consegue reconhecer as letras do alfabeto.
Com as transformações ocorridas, a expressão alfabetizado deixa de ser
a denominação de alguém que é capaz de além de ler escrever, também
interpretar um texto. Assim, aqueles que somente leem ou escrevem sem aferir
sentido à leitura ou escrita, passa a ser chamado
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de semianalfabeto ou analfabeto funcional, pois é capaz de apenas decifrar o


alfabeto. Entretanto, só pode ser chamado de analfabeto funcional, ou
semianalfabeto, aquele que possui mais de quinze anos e que tenha cursado até
quatro anos da educação básica.
A partir dessas mudanças, uma pesquisa feita pelo IBOPE – Instituto
Brasileiro de Opinião e Estatística - em 2005, foi constatado que o analfabetismo
funcional atinge cerca de 68% da população (30% no nível 1 e 38% no nível 2).
Somados esses 68% de analfabetos funcionais com os 7% da população que é
totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possui o domínio pleno
da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas 1 de cada
4 brasileiros (25% da população) são plenamente alfabetizados/letrados, isto é,
estão no nível 3 de alfabetização funcional.

2.2. ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL

A alfabetização nem sempre foi entendida como um processo no qual o


indivíduo constrói a gramática e suas variações. Ao contrário disso, o que se
tinha em tempos não tão distantes assim era que alfabetização consistia no
simples ato de aprender a ler e escrever, além disso, a educação não era direito
de todos e dever do Estado e da família3, e isso fez com que o ensino,
principalmente nas escolas públicas, não fosse de qualidade. Porém, quando
essas mudanças começaram a ocorrer? Fazendo um traçado histórico pela
educação brasileira, é possível perceber momentos marcantes desses
acontecimentos, sendo o primeiro, logo na chegada dos portugueses ao Brasil,
pois, mesmo os índios sendo considerados “selvagens”, era possível perceber
um modelo de educação existente, que tinha como principal característica, a
liberdade, diferente da educação europeia que tinha caráter repressivo. Nas
aldeias, os conhecimentos eram passados de pai para filho, o respeito dos índios
mais jovens para com os mais velhos, etc.; e assim sua cultura era preservada.
Porém, esse modelo de educação é interrompido com os colonizadores, que
construíram escolas jesuítas nas comunidades locais, interferindo nos costumes
indígenas e implantando novas maneiras de ensinar e aprender.
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É possível perceber que a alfabetização em si mudou bastante, não só


na sua definição, mas também no modo como ela era conduzida, levando em
consideração os materiais didáticos, a mudança de técnicas de memorização e
métodos empregados, além, é claro, dos fatores sociais, econômicos e políticos.
O que exigiu não só da escola, mas também dos professores em sala de aula,
uma postura diferenciada, com novas didáticas e ainda embasamento teórico
para se ter mais qualidade em sua prática pedagógica, pois os objetivam
absorver e transportar para sala de aula os novos paradigmas que surgem a
cada dia. O Brasil tem sofrido muito quanto às inúmeras teorias e métodos que
“brotam” a todo o tempo, uma das explicações para tantas mudanças está no
fato de o país ainda ser muito “jovem” e inexperiente quanto às questões
socioeconômicas, culturais e políticas.
A esse respeito, o website “Todos pela Educação” (Zero Hora, RS)
publicou o que segue:

Os problemas da educação brasileira extrapolam os limites da sala de


aula. O desempenho pífio revelado em avaliações internacionais se
deve a uma combinação de falhas de educadores, governantes e
famílias, na opinião de especialistas. Essas deficiências incluem erros
de gestão, falta de recursos e pouca cobrança social por resultados
que façam jus ao atual peso econômico e político do Brasil. (2012)

Ou seja, percebe-se uma imaturidade e irresponsabilidade gritante por


parte dos responsáveis pela educação, (no caso em tela, os “gestores” do país)
quanto às questões culturais e políticas. Isso por que, atualmente, o que mais se
tem falado é acerca da falta de investimentos na formação dos profissionais
responsáveis por transmitir o conhecimento, os professores; falta de estrutura
física, e até mesmo a ausência da participação da comunidade na hora das
decisões serem tomadas. O que torna facilmente notável a enorme distância
existente entre o “poder e o povo”.
10

2.3 O PAPEL SOCIAL DO LETRAMENTO

No Brasil, uma das principais autoras que traz discussões acerca do


letramento é Magda Soares. Em suas tentativas de definir letramento, chega a
dizer que, talvez, seja impossível uma definição concreta do mesmo, o que
dificulta sua medição, bem como sua avaliação. Em sua obra “Letramento – um
tema em três gêneros”, ela afirma que o letramento possui duas dimensões,
sendo eles, de certa forma, paradoxais, a dimensão social e a dimensão
individual. Na dimensão social, o letramento é visto como um fenômeno cultural,
enquanto que na dimensão individual, o letramento é tido no âmbito pessoal.
Ademais, o letramento possui duas principais dimensões, sendo elas a
individual e a social. Porém, para que seja possível a compreensão das mesmas,
é preciso que se faça um estudo acerca de outras duas vertentes que fazem
parte desse processo: a leitura e a escrita, de forma simultânea.

2.3.1. A dimensão individual do letramento


No âmbito individual, a leitura é entendida por Soares (2009b, p. 68)
como um conjunto de habilidades linguísticas e psicológicas que se estendem
desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de
compreender textos escritos. Enquanto que a escrita, mesmo também incluindo
habilidades linguísticas e psicológicas, exige habilidades completamente
diferentes das exigidas pela leitura. Nessa mesma perspectiva, Tfouni (2004)
ainda vai além, subdividindo essa dimensão em outras duas concepções, a partir
do termo letramento, que são elas: a individualista-restritiva e a cognitivista.
A individualista-restritiva, de acordo com Tfouni (2004), é restringida
apenas ao processo de aquisição da leitura e da escrita, bem como a capacidade
de codificar e decodificar os símbolos linguísticos. Nesse diapasão, o termo
individualista-restritivo se confunde/parece com o termo alfabetizar.
Enquanto que a cognitivista diz respeito à capacidade de aprender como
resultado de atividades mentais, ou seja, raciocínio, onde o próprio indivíduo é o
principal responsável pelo processo de aquisição da leitura e da escrita. Já que
se pressupõe que é no indivíduo onde se originam as habilidades e
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conhecimentos, ignorando totalmente as influências do meio social e valorizando


apenas os processos internos em si. Nesta acepção, Olson diz que esta
abordagem tenta explicar o que uma criança individual está fazendo e
aprendendo. Focaliza as habilidades, o conhecimento e as intenções de crianças
individualmente; (focaliza) aquilo que é aprendido. (1984, p. 185 apud TFOUNI,
2004, p. 33)
Em relação à escrita, ainda dentro dessa dimensão, ela passa pelo
processo de aquisição da habilidade de codificar, bem como decodificar os
símbolos ou signos linguísticos, chegando à obtenção de sentido àquele que a
observa. Nesse mesmo sentido, Soares (2009b) afirma que a partir do momento
que o indivíduo passa a possui algumas habilidades para ler e escrever, o
mesmo poderá expressar melhor seus pensamentos e ideias. Será capaz de
desenvolver suas habilidades motoras, como escrever, além de outras técnicas
como organização da pontuação, ortografia, e ainda selecionar e organizar suas
ideias, criando elos entre elas, ou seja, sua linguagem será clara, se fará
entendido.
Ante o exposto, ao citar as habilidades de ler e escrever, Soares explica
que na dimensão individual do letramento, o mesmo foca o indivíduo e suas
competências para interpretar todo aquele material que lhe é proposto.
Afirmando que apesar dos termos leitura e escrita serem distintos, os mesmos
se complementam, não podendo ser desenvolvidos de forma dissociada, já que
um indivíduo pode ser capaz de ler e não conseguir escrever, e vice-e-versa.

2.3.2. A dimensão social do letramento


Assim como supracitado, o letramento é entendido como uma
ferramenta de valores social e cultural, onde dissociar a habilidade de leitura da
escrita, de seus usos e finalidades se torna algo contraditório, pelo fato de a
escolarização e o letramento ocorrerem de forma simultânea, até porque a
escola é considerada a principal agência do letramento, em quase todas as
sociedades. Desse modo, pode-se afirmar que:

(...) desde que a escola acolheu o papel de transferir à “todos” a escrita


alfabética, se tornou quase impossível desfazer a mescla ideológica
entre letramento, capacidades (cidadãs e cognitivas), bem falar e
escolaridade – seja para o senso comum, seja para a elaboração
científica sobre o tema. (KLEIMAN, 2001, p. 25).
12

Nesse mesmo sentido, Soares (2004a, p. 17) diz que subjacente a esse
conceito liberal, funcional do letramento, está a crença de que consequências
extremamente positivas resultam, precisamente, dele. No entanto, para o
funcionamento e a participação cabível à sociedade, resultando num sucesso
pessoal, a partir do uso das habilidades de leitura e escrita, o letramento é
acatado como o principal responsável em conduzir grandes resultados, como o
desenvolvimento cognitivo e econômico, mobilidade social, progresso
profissional, cidadania.
Nessa perspectiva, a dimensão social envolve necessariamente a
dimensão individual. Uma dimensão individual que é em sua essência social,
considerando que todo processo de letramento, escolar ou não, se dá numa
relação entre sujeitos “aprendentes” e “ensinantes” (FERNANDEZ, 2001).
Totalmente oposta à dimensão individual do letramento, aqueles que
defendem sua dimensão social, argumentam que o letramento não é somente
um aglomerado/conjunto de habilidades individuais; é o conjunto de diversas
práticas sociais relacionadas tanto à leitura quanto à escrita, onde os indivíduos
se envolvem em seu contexto social. Além disso, assim como existem duas
dimensões subjacentes à individual, na dimensão social existem interpretações
conflitantes acerca da natureza social do letramento, que são elas: a
progressista, “liberal” e outra radical, considerada "revolucionária”.
De acordo com a concepção progressista, “liberal” das relações entre
letramento e a sociedade, o letramento é entendido apenas como
uma ferramenta de aquisição das habilidades básicas necessárias, para que ele
se adapte adequadamente em sua cultura, ou seja, é definido em termos de
habilidades indispensáveis para que o indivíduo “funcione” adequadamente em
um contexto social. É justamente daí que surgiu o termo letramento funcional ou
alfabetização funcional, disseminado após a publicação de um estudo
internacional acerca da leitura e da escrita por Grey, em 1956, para a UNESCO.
Grey (1956) enfatiza a natureza prática e objetiva do letramento quando
passa a adotar o conceito de letramento funcional que, como afirma, surgira a
partir de pesquisas e experiências acerca da leitura desenvolvidas nas duas ou
três décadas anteriores. Ela também define o letramento funcional como sendo
a junção dos conhecimentos com as habilidades de ler e escrever, fazendo com
13

que o indivíduo se torne capaz de “engajar-se em todas aquelas atividades nas


quais o letramento é normalmente exigido em sua cultura ou grupo”.
Mantendo o foco na funcionalidade do letramento como principal
característica das habilidades de leitura e escrita influenciou de forma relevante
a significação de letramento da UNESCO, que foi desenvolvida visando uma
padronização de âmbito internacional das estatísticas educacionais.
Posteriormente, revendo, em 1978, a Recomendação de 1958, a Conferência
Geral da UNESCO entendeu indispensável a introdução de um novo grau de
letramento: por mais que mantivesse a definição de uma pessoa letrada,
fundamentada em habilidades individuais, foi incluso o conceito de “pessoa
funcionalmente letrada”, fundamentado nos usos sociais da leitura e escrita:

Uma pessoa é funcionalmente letrada quando pode participar de todas


aquelas atividades nas quais o letramento é necessário para o efetivo
funcionamento de seu grupo e comunidade e, também, para capacitá-
la a continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo para seu
desenvolvimento e o de sua comunidade. (SOARES, 2004a, p. 72-3
apud UNESCO, 1978, p. 1)

Assim, letramento funcional quer dizer, pois, uma forma de adaptação


ao meio, de acordo com as necessidades que são impostas ao indivíduo, o que
evidencia seu valor pragmático, de sobrevivência. Assim como é definido,
através de uma metáfora, por Scribner (1984, p. 9):

A necessidade de habilidades de letramento na nossa vida diária é


óbvia; no emprego, passeando pela cidade, fazendo compras, todos
encontramos situações que requerem o uso da leitura ou a produção
de símbolos escritos. Não é necessário apresentar justificativas para
insistir que as escolas são obrigatórias a desenvolver nas crianças as
habilidades de letramento que as tornarão aptas a responder a estas
demandas sociais cotidianas. E os programas de educação básica têm
também a obrigação de desenvolver nos adultos as habilidades que
devem ter para manter seus empregos ou obter outros melhores,
receber o treinamento e os benefícios a que têm direito, e assumir suas
responsabilidades cívicas e políticas.

Desse modo, é possível entender que letramento não é somente ler e


escrever, pelo contrário, está muito além disso, é o uso dessas habilidades para
responder às exigências sociais. Nesse mesmo sentido, Kirsch e Jungeblut
14

(1990, p. 1-8), citado por Soares (2004ª, p. 74), definem o letramento como “o
uso de informação impressa e manuscrita para funcionar na sociedade, para
atingir seus próprios objetivos e desenvolver seus conhecimentos e
potencialidades”. Isso por que acreditam no poder do letramento para conduzir
ao progresso social e individual.
Em sentido adverso ao letramento cuja interpretação é liberal, em sua
proposta de letramento como interpretação radical, “revolucionária”, vem afirmar
que o letramento não pode ser considerado um “instrumento” imparcial,
indiferente, a ser utilizado nas práticas sociais somente quando for preciso, mas
é fundamentalmente um conjunto de práticas construídas no meio social que
englobam tanto a leitura quanto a escrita. Onde são criadas por processos
sociais muito mais abrangentes, sendo o grande responsável questionar valores,
tradições e formas de distribuição de poder presentes nos contextos sociais, ou
seja, o indivíduo é considerado letrado quando é capaz de entender, criticar,
indagar seu próprio meio.
De tal modo, os partidários que defendem essa versão “revolucionária”
das relações entre o letramento e a sociedade, alegam que os
resultados/consequências do letramento são considerados como algo desejável
e de caráter totalmente benéfico apenas por aqueles que aceitam como justa e
igualitária a natureza e estrutura do contexto social específico no qual ele ocorre.
Quando isso não ocorre, isto é, tanto a natureza quanto a estrutura das práticas
sociais são indagadas, o letramento é tido como uma ferramenta ideológica,
utilizada com o fito de conservar as práticas e relações sociais correntes,
tornando as pessoas acomodadas às condições vigentes. Paulo Freire é
considerado um dos educadores pioneiros a relevar esse poder “revolucionário”
do letramento ao afirmar que:

Ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como


um meio de tomar consciência da realidade e de transformá-la. Sendo
o papel do letramento ou de libertação do homem ou de sua
“domesticação”, dependendo do contexto ideológico em que ocorre, na
qual sua natureza é de caráter inerentemente político, onde seu
principal objetivo deveria ser o de promover a mudança social. (1976)
15

Sintetizando, as definições de letramento que salientam sua dimensão


social baseiam-se ou em seu caráter pragmático, ou seja, na necessidade de
letramento para o funcionamento literal da sociedade (a versão “fraca”), ou em
seu poder “revolucionário”, isto é, em sua potencialidade de transformar relações
e práticas sociais injustas (a versão forte). Contudo, apesar de toda essa
diferenciação indispensável entre a versão “fraca” e a “forte”, ou “progressista
liberal” e “revolucionária”, relevam a condicionalidade da definição de letramento:
explicam o porquê de as atividades de cunho social que englobam a língua
escrita estão sujeitas à natureza e estrutura da sociedade e dependem do projeto
que cada grupo político pretende programar, variando no tempo e no espaço
preciso. Dessa forma, Graff (1987, p. 23) afirma que:

O principal problema, que retarda muitíssimo os estudos sobre o


letramento, seja no passado ou no presente, é o de reconstruir os
contextos de leitura e escrita: como, quando, onde, por que e para
quem o letramento foi transmitido; os significados que lhe foram
atribuídos; os usos que dele foram feitos; as demandas de habilidades
de letramento; os níveis atingidos nas respostas a essas demandas; o
grau de restrição social à distribuição e difusão do letramento; e as
diferenças reais e simbólicas que resultaram das condições sociais de
letramento entre a população.

Isto é, o significado e contribuição do letramento não pode ser


pressuposto, ignorando “o papel vital do contexto sócio-histórico”. Por isso, a
definição única e concisa do termo letramento se torna impossível, pois cada
pessoa, cada lugar e qualquer contexto sociocultural e/ou político influenciam,
de forma significativa, tal tarefa. Assim, é possível concluir que existem
diferentes definições do termo letramento, conceitos estes que variam de acordo
com as necessidades e esferas sociais específicas de determinado momento
histórico e de determinado estágio de desenvolvimento. Ademais, são várias e
diversas as atividades de letramento em contextos sociais diferenciados,
atividades que assumem determinados papeis na vida de cada grupo e de cada
indivíduo.
Soares tenta esclarecer a importância de analisar/julgar o contexto de
cada local ou população ao se fazer a análise dos lugares e estilos de vida que
são associados aos grupos sociais das pessoas, já que tais fatores determinam,
fundamentalmente, a natureza do comportamento letrado. De tal modo que,
fazer a definição de um conjunto universal de competências que evidenciassem
16

o domínio de um “letramento funcional” é problemático, pois, quais seriam os


parâmetros seriam selecionados para definir tais competências? Igualmente, no
sentido de um letramento “para a libertação”, aquele grupo de pessoas que
possuem interesses de ideais diversos, resultando em objetivos políticos
também diferentes, resultam em práticas opostas de letramento, definidas por
suas afirmações, ideais, valores. Um exemplo claro dessa situação seria o
conceito de letramento em sociedades de países com políticas estáveis
comparadas àquelas em pleno processo de mudança revolucionária (como na
Grécia, em 2012, e em Paris, desde os anos 90).
Contudo, é possível concluir que cumprir a tarefa de definir o letramento
não é simples, pelo fato do tema ser altamente controverso; onde a formulação
de uma definição que possa ser aceita sem qualquer tipo de restrição aparenta
ser impossível. Diante do exposto, Cervero (1985) afirma que “uma definição
geral e comum a todos não é possível... não quer dizer que não haja necessidade
de uma definição geral e comum a todos” (p. 53).

2.4. O PAPEL DO PROFESSOR COMO FORMADOR DE ALFABETIZADOS


LETRADOS

Após o surgimento do termo letramento, muito se tem especulado acerca


dos métodos mais eficazes para se alfabetizar, ensinar. Entretanto, ocorre que
uma das mudanças que a educação sofreu foi justamente a maneira de ensinar,
onde o foco passa a ser a forma com que o aluno aprende e não os métodos de
ensinar, utilizados pelo professor. Mesmo não existindo ferramentas específicas
para transmitir o conteúdo, alguns métodos se tornaram mais utilizados que
outros, popularizando assim, formas “padrões” de se alfabetizar, e dentre os
mais aplicados estão: o sintético, o analítico, o alfabético e o fônico; nos quais
serão explicados, da maneira mais clara possível neste trabalho. Ao utilizar
quaisquer destes métodos, o professor deve estar atento a todos os detalhes de
cada um, para que assim, o ato de ensinar se torne algo significativo.
17

2.4.1. Métodos de alfabetização mais utilizados

Dentre os mais diversos métodos utilizados pelos professores do mundo


todo na alfabetização, estes três são considerados os principais, os mais
utilizados: método sintético, método analítico e método natural. E é também
através desses métodos que o professor alfabetizador, irá utilizar para
desenvolver também o letramento. Para tanto, ao trabalhar com o método
sintético, é preciso ter em mente que este pode ser dividido em três tipos: o
alfabético, o fônico e o silábico. Além disso, esse é um método que trabalha inter-
relacionando a grafia com o som, entre o escrito e o oral, por isso, estudar a
melhor maneira para se aplicar tal método, de forma a abranger seus sentidos
se torna essencial para o profissional da educação que objetiva alfabetizar de
forma integral e eficaz.
O método alfabético, assim como o próprio nome já diz, é aquele que
trabalha, inicialmente, ensinando as letras do alfabeto, para, em seguida, formar
sílabas e só então formar frases. Enquanto que no método fônico ocorre o
inverso do alfabético, ou seja, primeiro se aprende o som de cada letra e depois
o som da junção de vogais e consoantes que formam sílabas, pronunciando as
mesmas. Assim, o aluno aprende o som das letras e sílabas, para só então
aprender a escrever as mesmas. Já o método silábico, é aquele onde o aluno
aprende, de princípio, as sílabas e posteriormente as palavras. Igualmente, o
que pode ser percebido ao analisar cada um desses três métodos sintéticos é
que todos são transmitidos de forma mecânica, através da repetição, o que o
torna, em muitos dos casos, uma tarefa cansativa aos alunos, e por isso, é
considerado como aquele que age fora da realidade da criança, não se
atentando ao que ela conhece.
Denominado de método analítico, este é conhecido por induzir o aluno a
análise do que lhe está sendo proposto; deste, fazem parte: a palavração, a
sentenciação, os contos ou historietas e o natural. Na devida ordem, ao se utilizar
da palavração, o professor trabalha com palavras que acompanham suas
respectivas imagens descritivas. Ao passo que a sentenciação é aquele que
apresenta ao aluno, de uma vez, a frase completa, depois, para as palavras e só
então para as sílabas; este que são notavelmente contrário aos métodos
18

sintéticos. Enquanto que o conto ou a historieta é apenas a ampliação da


sentenciação, assim, ao invés de o aluno estudar apenas uma sentença isolada,
ele estuda uma sequenciação interligada, analisando, de início, o texto inteiro,
depois cada sentença para, mais tarde, examinar as sílabas em si. E por último,
o método natural, que é entendido como aquele que desenvolve primeiramente
o fisiológico de construção de sistemas operacionais de leitura. Porém, é preciso
que a mudança do ambiente de ensino seja de modo geral, já que este método
utiliza os conhecimentos que as crianças tem para a formação de seus textos,
ou seja, antes de se iniciar a alfabetização em si, é extraído, através de
conversas informais, os temas mais interessantes, aqueles que as crianças mais
se identificam, para só então trabalhar, o que pretende ser desenvolvido nas
crianças, a partir das informações colhidas.
Todavia, é possível perceber que cada método possui suas
características próprias, e que, mesmo assim, nenhum deles pode ser chamado
integralmente de o método de alfabetização perfeito, pois nem todos aprendem
da mesma maneira. E o que pode ter funcionado perfeitamente para certa
quantidade de alunos, tendo os feito compreender e adsorver tais informações,
pode não surtir o mesmo efeito em outros, já que cada um possui seu tempo e
modo de aprender. Por isso, se faz necessário, ao professor, ter habilidade e
competência para aplicar o método que seja preciso, o que “funcione”, assim,
conseguirá fazer com que todos aprendam, mesmo sendo necessário trabalhar
de maneira diferente, por que, o que interessa não é a forma com que se aprende
e sim o aprendizado em si.

2.4.2. A importância do ambiente letrado

Quando o aluno já conhece o código alfabético e numérico, ainda que


não seja capaz de ler, a sua reação a ser “apresentado” a elas será bem diferente
daquele que pouco teve contato. Mesmo esse contato, hoje, sendo uma situação
tida como normal para todos, aqueles alunos que ainda não tiveram a mesma
oportunidade de conviver em um ambiente que identifique cada coisa ou objeto
a sua volta, seu aprendizado será sim mais lento, pelo fato de nunca as terem
visto. Para tanto, exemplificar tal fato com um ambiente que, na maioria das
19

vezes, somente as crianças inseridas em Centros Municipais de Educação


Básica, os CMEI's, trazem consigo a bagagem extremamente relevante, já que
foram proporcionadas a elas inúmeras situações de aprendizagem e, com o seu
ambiente letrado (ao lado da janela existe uma placa com o nome “janela”, da
porta, “porta”, etc.), trabalhar o alfabeto com esses alunos é uma tarefa bem mais
fácil do que com aqueles que apenas viveram em casa, que não tiveram a
mesma oportunidade.
Para se falar em leitura literária, é preciso, inicialmente, falar de todos os
fatores que não apenas mostram, mas também comprovam o quão importante é
ser um indivíduo capaz de ler e interpretar textos e situações, ser capaz de poder
exercer a cidadania em sua amplitude, sendo que tais só são possíveis através
da habilidade e competência de ler, em sua integralidade. Do mesmo modo, para
Vygotsky (1984, apud Tfouni – 1995, p.21).

O letramento representa o coroamento de um processo histórico de


transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores.
Representa também a causa de elaboração de formas mais
sofisticadas do comportamento humano que são os chamados
“processos mentais superiores”, tais como raciocínio abstrato,
memória ativa, resolução de problemas, etc.

Foi preciso pontuar tantos aspectos influenciadores para melhor explicar


os desafios que um professor enfrenta bravamente para que sua prática
pedagógica faça sentido, sendo capaz de identificar e avaliar estes diversos
fatores que, assim como podem atrapalhar, são essenciais para que a
aprendizagem aconteça. Pode-se atrapalhar pelo fato de, no caso, o professor
não conhecer a realidade do seu aluno e todos os fatores externos que
contribuem para a não aprendizagem. E de maneira oposta, se o professor
estiver ciente de tais circunstâncias, o mesmo poderá fazer com que cada fator,
que antes era um ponto negativo para a aprendizagem da criança, seja
trabalhado de forma a acrescentar cada vez mais para o sucesso no processo
de transformação das informações em conhecimento.
No caso em tela, a leitura literária encontra-se totalmente interligada a
todos esses fatores que influenciam na hora do aprender. Então, cabe ao
20

professor ter a sabedoria e capacidade de identificar tais aspectos, e mais que


isso, utilizar os mesmos para que sua prática seja mais produtiva, mais eficaz,
levando em consideração que o ignorar dos mesmos apenas dificultará a
aprendizagem de seus alunos, bem como estará prejudicando-os. Por isso,
trabalhar com a leitura literária é extremamente eficaz nesses momentos de
construção do conhecimento.
Além disso, o professor, ao se utilizar desta ferramenta, deve estar ciente
de que toda e qualquer criança possui a capacidade de aprender. Para tanto,
organizar o ambiente escolar para proporcionar-lhes aulas e atividades que
sejam criadas pensando em alcançar a todos, fazendo com que todos consigam
obter o resultado final que é o aprendizado, é medida que se impõe. Pensar em
como as crianças aprendem e desenvolver atividades que exercitem, estimulem
essa capacidade torna o aprendizado, o ato de estudar em si extremamente
significativo e prazeroso.
É sabido que para aprender toda e qualquer matéria escolar, se faz
necessário primeiramente, que saiba ler e escrever. Por isso, ao visar o
aprendizado de todos, a escola precisa traçar as metas a serem alcançadas,
construir sua proposta pedagógica focada na aprendizagem de todos, de um
modo geral, sendo este compromisso responsabilidade de todos os envolvidos
no processo de ensino da escola, e não só dos professores. Assim, todos
crescerão juntos, se desenvolverão de modo que ao invés de se prenderem a
preocupações do tipo se devem ou não ensinar, o ideal seria mudar o foco para
que ocasiões de aprendizagem sejam oferecidas às crianças.

2.4.3. O Professor como Incentivador da Leitura Literária

Os textos, tanto escritos, quanto mudos, são verdadeiros instigadores da


imaginação e da criatividade, principalmente das crianças, bem como são os
textos literários os maiores responsáveis pelo desenvolvimento do mesmo. Esse
fenômeno é explicado pelo fato de a leitura literária ser capaz de transformar o
irreal, a ficção, em algo tão real quanto o próprio mundo com que a criança tem
contato físico.
21

Entretanto, para que o desenvolvimento literário aconteça da maneira


mais relevante possível, criar situações que estimulem a leitura é medida que se
impõe. Isso porque o gosto pela leitura não surge sozinho, do nada. Assim, a
presença do professor que tenha papel de mediador/instigador dessa prática se
torna imprescindível para o sucesso de tal “operação”, pois, fazer com que uma
criança se apaixone pela prática da leitura não é tarefa tão simples quanto
parece. Na maioria das vezes, o profissional da educação, o professor, não tem
capacidade para tanto, pelo contrário, sua forma mecânica e desinteressante de
ensinar faz com que o aluno crie certa repulsa quanto a leitura, com isso, aquele
processo de aprendizagem que poderia ser rápido e positivo, se torna muito lento
e, em alguns casos, aquela criança se torna um adulto iletrado, incapaz de
interpretar e criticar textos, e até mesmo não consegue se fazer entender em
muitas situações.
Além disso, a contribuição dos pais, da família em si, para o incentivo da
prática da leitura é de suma importância para que as crianças adquiram o gosto
pela leitura. Fundamental, pois o primeiro contato das crianças com a educação
é em casa, com a família, para só então receber o da escola, o secundário. Essa
é uma realidade que não pode ser deixada de lado, esquecida ou ignorada, por
que, assim como se escuta em todos os lugares como TV, escola, universidade,
rádio, a escola deve andar de “mãos dadas” com a família, garantindo o
desenvolvimento do aluno de forma integral. Do mesmo modo, quanto à prática
da leitura, não é diferente.
O ato de ler é compreendido como aquele em que o indivíduo é capaz
de não apenas decodificar o sistema alfabético, como também entender a
mensagem que o texto transmite, e podendo além de dizer o que o mesmo diz,
tirar suas próprias conclusões, dar sua opinião, criticar o conteúdo do texto, etc..
Porém, para obter essa capacidade/habilidade, é preciso um processo árduo de
aprendizagem de alfabetização e letramento. Desenvolver a capacidade de
codificar e decodificar, escrever e entender, respectivamente, é algo que se não
for muito bem exercitado, acaba se tornando ineficaz, vazio, inútil.
Utilizar de termos pejorativos assim, nesse caso, não pode ser visto
como algo ofensivo, rude, pelo contrário, aquele que é identificado como
analfabeto na sociedade moderna em que o mundo se encontra, é vítima de
22

preconceito, e por consequência, é deixado para traz por aqueles que são
considerados alfabetizados, letrados. Contudo, assim como já foi evidenciado, a
necessidade de uma sociedade não só alfabetizada, mas também letrada é de
extrema importância, por isso, não se pode falar em literatura, leitura literária
sem se falar em letramento.
O fato de uma pessoa ser letrada que a torna capaz de ser crítica. E
assim como é ensinado todos os dias nas carteiras das universidades, é preciso
que se formem cidadãos críticos, para que, futuramente, não tenhamos
indivíduos com extremas dificuldades em qualquer situação que exija um pouco
mais de raciocínio. Nesse sentido, o professor, ao incentivar o aluno a ler,
propiciando momentos que não sejam tão mecânicos, vexatórios ou forçados,
torna o processo de leitura algo mais interessante e prazeroso. Desse modo,
fazer a leitura literária também se torna uma tarefa mais fácil, e isso é de
fundamental importância para o enriquecimento tanto do vocabulário quanto da
própria leitura em si, da habilidade de ler. Assim, sendo a escola o local formador
de leitores, proporcionar um ambiente já letrado, com inúmeras possibilidades
de o aluno, mesmo ainda não sabendo ler, já ir se acostumando e familiarizando
com o mundo das letras contribui de forma significativa na hora de ser exercitada
a prática de ler propriamente dita.
A partir do momento em que o professor se torna o mediador do
conhecimento, deixando de ser o total possuinte do conhecimento, os papeis se
invertem e o aluno passa a se sentir mais confiante e seguro de si e do que é
capaz. Ora, se o professor não adquire uma postura de auxiliador no processo
de construção do conhecimento, os alunos, na maioria dos casos, não
conseguirão encontrar uma forma de resolver problemas por si próprios, o que
não resultará em cidadãos críticos e atuantes para essa nova sociedade que
está se tornando cada vez mais exigente. Partindo de tais preceitos é que entra
o trabalho do professor, já que todos, do padre ao juiz, passam pela educação
básica, e é na mesma que se obtém tal atribuição, a de ser letrado. Sendo este
o papel do professor, o de educar e desenvolver habilidades para a “criação” do
cidadão completo, a necessidade de se criar situações que provoquem nos
alunos sua curiosidade, os instiguem e os façam crescer é imprescindível.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Letrar é função de todos os professores, pois cada um, em sua área,


conhece usos específicos de leitura e escrita e domina um vocabulário próprio
de sua disciplina. Somente uma equipe de bons leitores e bons produtores de
textos pode formar alunos letrados capazes de enfrentar as transformações
sociais. Eis a tarefa de letrar e ser letrado: construir e construir-se na leitura e na
escrita a partir de referenciais apreendidos no âmbito social.
Contudo, a partir do momento em que o processo formativo possibilita
que o educando abandone uma postura passiva, sem capacidade ser crítico,
este passa a rever sua leitura de mundo podendo, até mesmo, reinventar sua
própria existência. Para Gramsci apud Vale (1992), “o desenvolvimento histórico
se concretizará, em determinado ponto, pela passagem do reino da necessidade
ao reino da liberdade”.
Desse modo, no ponto de vista da educação que busca a formação
integral do indivíduo, a ação educativa passa a ter um caráter revolucionário
comprometido com a “libertação do homem”, onde o indivíduo é instigado a
superar as ideias do senso comum e se reconhecer como sujeito histórico, com
o desejo desperto de construir uma nova sociedade, onde todos os trabalhadores
tenham uma vida digna e sejam livres.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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