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EDUCAÇÃO ALIMENTAR

E NUTRICIONAL NO
CONTEXTO ESCOLAR

Autora: Angélica Ribeiro e Silva

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2019


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
SI586e

Silva, Angélica Ribeiro e

Educação alimentar e nutricional no contexto escolar. / Angélica Ri-


beiro e Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

127 p.; il.

ISBN 978-85-7141-292-7

1.Educação alimentar – Brasil. 2.Nutrição na escola básica – Brasil.


II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 371.716

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO...........................................................................05

CAPÍTULO 1
Compreensão da Aplicabilidade da
Educação Alimentar e Nutricional..............................................7

CAPÍTULO 2
Educação Alimentar e Nutricional
Como Promotora da Saúde.........................................................47

CAPÍTULO 3
Sucesso nas Ações de Educação
Alimentar e Nutricional na Educação Básica...........................87
APRESENTAÇÃO
Caro estudante, a disciplina de Educação Alimentar e Nutricional no Contexto
Escolar tem a intenção de oferecer a você meios que permitam o desenvolvimento
e a aplicação de ações de promoção da saúde, focada na alimentação e nutrição,
aos estudantes da educação básica.

Desde a década de 90 estamos vivendo a progressão da transição nutricional,


ou seja, as doenças nutricionais que trazem prejuízos ao indivíduo, às famílias,
comunidades e aos setores de saúde não são mais, predominantemente, as
carências, causadas principalmente pela fome. Hoje, são as doenças crônicas
não transmissíveis, causadas pelos maus hábitos alimentares, principalmente
pelo consumo excessivo de energia, que estão com a prevalência em crescente
ascensão, inclusive na faixa etária infantil.

E é exatamente esta faixa etária que representa o melhor público para


aplicação de intervenções em alimentação e nutrição, uma vez que eles estão
em fase de maturação psicológica e intelectual, aumentando assim as chances
de efetividade das ações.

Outro aspecto positivo em desenvolver hábitos alimentares saudáveis na


infância é que estes perduram por toda a vida do indivíduo, protegendo-o contra
o desenvolvimento de doenças nutricionais em qualquer fase dela. Pois, quando
falamos em hábito estamos nos referindo às atitudes que tendem a se repetir ao
longo do tempo, portanto o nosso desejo é que as escolhas alimentares corretas
se tornem mesmo hábitos alimentares.

Ainda é nesta fase que o indivíduo sai do convívio familiar e entra no contexto
escolar, onde sofrerá influências do seu grupo social e dos estímulos presentes
no sistema educacional, estando aberto a novas experiências e experimentações,
como o contato com novos alimentos.

Portanto, não há lugar melhor que a escola para o desenvolvimento de


intervenções alimentares e nutricionais. Além de ela já ter um papel educador,
garante que as atividades sejam oferecidas de maneira continuada e permanente
sem contar que as crianças são motivadas de maneira positiva quando trabalham
em grupos.

E agora, mais do que nunca, a Educação Alimentar e Nutricional tem na


escola um ambiente privilegiado, pois em maio de 2018 foi aprovada a Lei 13.666/2018
que estabelece a sua inclusão nos currículos de ensino fundamental e médio.
Assim, para guiá-lo nos estudos sobre Educação Alimentar e Nutricional, este
livro estará dividido em três capítulos e cada um deles terá de duas a três seções.
Cada capítulo contará com seus objetivos, atividades de estudo e recomendação
de aprofundamento sobre o tema.

O Capítulo 1 vai introduzir a Educação Alimentar e Nutricional, trazendo o


conceito, as diretrizes, a evolução histórica e os principais métodos para sua
aplicação na faixa etária infantil.

No Capítulo 2, você conseguirá enxergar a Educação Alimentar e Nutricional


como promotora da saúde. Primeiro, irá entender como as doenças crônicas não
transmissíveis atingem e afetam a vida das crianças e, depois, terá acesso a
vários exemplos de ações em alimentação e nutrição que levarão à melhoria na
saúde deste público.

O terceiro e último capítulo vai permitir que você monte suas próprias
ações em Educação Alimentar e Nutricional, pois irá trazer os marcos teóricos
para o desenvolvimento das intervenções e a melhor maneira de dialogar com a
população. Além disso, será abordada a importância da educação permanente
dos profissionais que atuam nesta área.

Esperamos que este livro sirva como base para a sua formação, mas que
também desperte o seu lado questionador e faça você querer se aprofundar neste
tema a ponto de buscar mais informações além das que se encontram nessas
páginas, que ele também o motive no uso de sua criatividade para que você
desenvolva atividades tão marcantes a ponto de transformar para sempre a vida
de muitas crianças.
C APÍTULO 1
Compreensão da Aplicabilidade da
Educação Alimentar e Nutricional

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• assimilar a essência da Educação Alimentar e Nutricional com base em sua


história;

• conhecer as maneiras de executá-la;

• identificar, de modo estratégico, qual o método mais aconselhável para


aplicação da Educação Alimentar e Nutricional em escolares baseado nos
objetivos que se quer alcançar.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

1 Contextualização
A nossa saúde está diretamente relacionada a uma alimentação de qualidade
e em quantidade suficientemente capaz de suprir as necessidades nutricionais de
nosso organismo. Por isso, as ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN)
representam um importante instrumento para a garantia da segurança alimentar,
nutricional e do direito humano à alimentação adequada.

As práticas em EAN permitem que haja mudanças positivas do hábito


alimentar, pois para isto acontecer é necessário o conhecimento sobre o que
comer, uma vez que as atitudes são determinadas por ele. Assim, o processo
educativo deve despertar no outro o desenvolvimento da autocrítica e a
capacidade de intervir sobre sua própria vida, ou seja, gerar autonomia.

Tal autonomia é criada através do diálogo entre os profissionais de saúde e a


população. Para isso, a estratégia educativa escolhida deve possibilitar a criação
de novo sentido para o ato de comer, capaz de alcançar as várias dimensões
do comportamento alimentar respeitando, mas também modificando, crenças,
valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais estabelecidas em
torno da alimentação.

Dessa forma, este capítulo possibilitará que você compreenda a EAN como
importante aliada para melhorar a saúde da população, desde a faixa etária
infantil, e consiga determinar qual metodologia de aplicação da EAN responde ao
objetivo que quer atingir nas suas ações.

2 Conceito E Princípios Da
Educação Alimentar E Nutricional
A educação é um direito fundamental que impacta todas as áreas de nossas
vidas, é através dela que o indivíduo e a sociedade se desenvolvem. Só o
conhecimento nos permite saber sobre o direito à saúde, às condições adequadas
de trabalho e a ter uma alimentação de qualidade. É por meio da educação que
aprendemos a nos preparar para a vida.

Quanto mais conhecimento e acesso à informação, melhores serão as


condições de trabalho do indivíduo e, consequentemente, melhor a renda das
famílias. A educação diminui a desigualdade social e a violência, fortalece a

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

democracia e a cidadania, ajuda a proteger o meio ambiente e promove


A educação diminui
a saúde (LUTZ et al., 2014; SUMANEN et al., 2015; SCHMIDT et al.,
a desigualdade
social e a violência, 2016).
fortalece a
democracia e a Vamos refletir um pouco? Você acha que uma mãe que não teve
cidadania, ajuda acesso a uma educação de qualidade compreende a importância de
a proteger o prevenir doenças, manter o cartão de vacinação em dia e desenvolver
meio ambiente e
hábitos de higiene? Provavelmente ela será muito mais sensível a
promove a saúde
(LUTZ et al., 2014; estas informações se tiver maior nível de ensino. Além disso, poderá
SUMANEN et al., ter hábitos mais saudáveis, como não fumar e consumir alimentos de
2015; SCHMIDT et maneira equilibrada para se evitar doenças.
al., 2016).
Com a educação em alimentação se consegue garantir maior
qualidade de vida. Além de influenciar a saúde e longevidade, o que ingerimos
durante as refeições afeta o humor e a capacidade de trabalhar, estudar
Empoderar a e sentir prazer. E tudo isso se torna muito mais importante quando
população para a
falamos de crianças e adolescentes que estão em plena fase de
adoção de práticas
alimentares desenvolvimento, e por isso, precisam que todos os nutrientes estejam
saudáveis se presentes nas refeições.
torna de extrema
importância para Portanto, empoderar a população para a adoção de práticas
garantir a saúde alimentares saudáveis se torna de extrema importância para garantir
e, também,
a saúde e, também, controlar e prevenir os distúrbios decorrentes da
controlar e prevenir
os distúrbios alimentação e nutrição. Tal empoderamento se dá através de ações
decorrentes da baseadas em Educação Alimentar e Nutricional (EAN), a partir delas o
alimentação e indivíduo consegue ser livre para tomar suas próprias decisões no que
nutrição. diz respeito às escolhas alimentares (BRASIL, 2012a).

Você consegue se lembrar quando começou a escolher o


que queria comer? O que mais o influenciou no início: sua família,
seus amigos, a escola, a mídia? O que influencia suas escolhas
alimentares agora? Este tipo de reflexão é importante para conduzir
a abordagem deste assunto com a população.

A EAN é um campo de ação estratégico para a promoção da alimentação


adequada e saudável proporcionando a segurança alimentar e nutricional que,
por sua vez, visa assegurar a todos o direito humano à alimentação adequada,

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

ou seja, todos têm direito a uma alimentação de qualidade e em quantidade


suficiente, sem que suas demais necessidades essenciais sejam comprometidas
(BRASIL, 2006a).

Assim, através do diálogo entre os profissionais de saúde e a população


proporcionado pelas ações de EAN, é gerada a autonomia para que pessoas,
grupos e comunidades sejam capazes de adotar hábitos alimentares saudáveis.

O conceito e os princípios da EAN abordados neste capítulo


são baseados no Marco de Referência de Educação Alimentar
e Nutricional para as Políticas Públicas, lançado em 2012 com o
objetivo de aprimorar a discussão sobre o tema no país. Apesar da
discussão deste capítulo ser pautada nele, vale a pena acessar o
original que está disponível em: https://www.ideiasnamesa.unb.br/
files/marco_EAN_visualizacao.pdf

2.1 Conceito De Educação Alimentar


E Nutricional
Para a construção de seu conceito foi considerada a sua evolução
Educação Alimentar
histórica e política no Brasil, as diversas dimensões da alimentação e do e Nutricional
alimento e os diferentes campos do saber. Assim, a Educação Alimentar consiste em
e Nutricional consiste em um campo de conhecimento e de prática um campo de
contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional, conhecimento e de
com o intuito de que o indivíduo tenha autonomia para fazer escolhas prática contínua
e permanente,
alimentares adequadas (BRASIL, 2012a).
transdisciplinar,
intersetorial e
Por se tratar de um campo de conhecimento, existem várias multiprofissional,
abordagens educacionais que podem ser consideradas para as com o intuito de
intervenções em EAN, o importante é que elas reúnam, de maneira que o indivíduo
efetiva, o conhecimento científico ao popular. Essas abordagens devem tenha autonomia
para fazer escolhas
envolver os indivíduos ao longo de todo o curso da vida e considerar os
alimentares
múltiplos fatores que compõem o comportamento alimentar. adequadas
(BRASIL, 2012a).
É importante observar que o termo utilizado não é apenas
“educação alimentar” ou “educação nutricional”, mas abrange todos os
aspectos da alimentação, desde os processos de produção, abastecimento e

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

transformações dos alimentos, até as dimensões nutricionais propriamente ditas.


Com isso, espera-se que a EAN contribua para a prevenção e controle tanto
das deficiências nutricionais como das doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), que valorize as diferentes expressões da cultura alimentar e fortaleça os
hábitos regionais, que reduza o desperdício de alimentos e promova o consumo
sustentável de alimentos.

A partir do conceito de EAN e do que você já refletiu até aqui,


descreva quais são seus benefícios para a população infantil.

2.2 Princípios Da Educação


Alimentar E Nutricional
Como a EAN é uma política pública, ela deve ser abordada com base em
princípios (Figura 1), de modo que aconteça de maneira organizada. Abaixo estão
descritos cada um deles de acordo com o marco de referência (BRASIL, 2012a):

FIGURA 1 - BASE DOS PRINCÍPIOS PROPOSTOS PELO MARCO DE REFERÊNCIA DE


EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS

FONTE: A autora

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

2.2.1 Sustentabilidade social, ambiental


e econômica
A primeira coisa que vem à nossa cabeça quando falamos em
sustentabilidade é meio ambiente. Isto é muito comum e está relacionado ao
conceito de desenvolvimento sustentável que diz que as nossas necessidades do
presente não podem comprometer as do futuro, ou seja, os recursos naturais não
renováveis devem ser preservados para as futuras gerações (FERREIRA, 2012;
RIBEIRO; JAIME; VENTURA, 2017).

E realmente, o aumento na produção e no consumo de produtos em


geral provoca grande desequilíbrio ambiental, podendo causar um impacto
irreversível. Por isso, nas últimas décadas vem crescendo a preocupação com
a gestão socioambiental de empresas, que envolve a combinação de boas
práticas administrativas à preservação da natureza, ampliando os compromissos
dos responsáveis pela produção, comercialização e distribuição de produtos
(FERREIRA, 2012).

No que diz respeito aos alimentos, as questões de sustentabilidade ambiental


parecem ser claras no início da cadeia de produção, no campo, e até mesmo
antes dele, na produção de sementes, mudas e insumos, onde os elementos da
natureza têm papel crucial do plantio à colheita. Porém, as etapas posteriores
que levam o alimento até a nossa mesa, e considerando também o descarte
adequado, dependem de práticas sustentáveis (RIBEIRO; JAIME; VENTURA,
2017).

Enquanto a principal preocupação no campo são os agrotóxicos, que poluem


lençóis freáticos e solos levando ao empobrecimento da biodiversidade, na mesa
é o desperdício de alimentos. Na verdade, desde sua distribuição já é descartado
um grande volume de itens alimentícios, o que leva também ao desperdício da
terra, da água, energia e demais matérias utilizadas para a produção e distribuição
dos alimentos.

Porém, não é apenas o cuidado com o meio ambiente que garante a


sustentabilidade proposta neste princípio. Além dele, deve-se cuidar também
de todo o capital humano envolvido desde a produção dos alimentos até o
seu consumo final, com atenção as suas condições de vida (educação, saúde,
violência, lazer, dentre outros aspectos).

Ademais, todas as etapas envolvidas até que o alimento chegue à nossa


mesa devem ser economicamente sustentáveis, ou seja, o desenvolvimento

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

econômico não pode acontecer às custas de más condições de


As necessidades
de alimentos trabalho dos funcionários ou à degradação do meio ambiente da área
dos indivíduos a sua volta.
não podem ser
atendidas a partir Assim, a promoção da alimentação saudável deve levar em conta
do esgotamento de temas como agricultura familiar, produtos orgânicos, desperdício de
recursos naturais
alimentos e boas práticas e condições de trabalho. As necessidades
renováveis e não
renováveis e de alimentos dos indivíduos não podem ser atendidas a partir do
devem levar em esgotamento de recursos naturais renováveis e não renováveis e
conta as relações devem levar em conta as relações econômicas e sociais.
econômicas e
sociais.

2.2.2 Sistema alimentar: uma


abordagem em sua integralidade
O sistema alimentar inclui todos os materiais, processos e infraestruturas
relacionados à produção, distribuição, comercialização e consumo de alimentos.
A geração e destinação dos resíduos produzidos durante cada etapa do processo
também fazem parte deste sistema. Mesmo que a alimentação seja uma necessidade
humana básica, não basta que alimentos estejam disponíveis para a população, é
necessário que eles sejam de qualidade, diversificados, seguros e tenham preços
razoáveis. Além disso, nossa saúde e bem-estar apresentam ligação direta com a
alimentação, tanto as carências nutricionais como a obesidade estão relacionadas
com a forma como produzimos, comercializamos e consumimos os alimentos.

Portanto, as ações de EAN devem abranger estratégias que garantam que


as escolhas dos indivíduos possam interferir de maneira positiva em
As ações de EAN
devem abranger todas as dimensões do sistema alimentar. Ao realizar as intervenções
estratégias que em EAN é importante abordar o crescimento das grandes corporações
garantam que que esmagam os pequenos produtores e lucram a partir do uso e
as escolhas dos comercialização de sementes geneticamente modificadas, agrotóxicos
indivíduos possam e fertilizantes (BRADFORD, 2011). E ainda há as grandes empresas
interferir de maneira
que lucram com a produção em grande escala de alimentos
positiva em todas
as dimensões do ultraprocessados, mais baratos e com baixo teor de nutrientes
sistema alimentar. (RIBEIRO; JAIME; VENTURA, 2017). Assim, desenvolver ações que
despertem o interesse pelo consumo de alimentos naturais e orgânicos
em relação aos alimentos ultraprocessados representa uma proteção ao sistema
alimentar. Além disso, qualquer ação que estimule a diminuição do desperdício
de alimentos, além de representar um ganho para a sustentabilidade ambiental,
também protege o sistema alimentar e a garantia de acesso ao alimento a toda a
população (EEA, 2014).

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

2.2.3 Diversidade: valorização da


cultura alimentar local e respeito à
opiniões e perspectivas, considerando a
legitimidade dos saberes de diferentes
naturezas
A comida é essencial para entender os costumes de um povo. O ato de
comer não satisfaz apenas as necessidades biológicas, ele é fonte de prazer,
socialização, expressão cultural, memória e identidade (ABDALA, 2011; MORAIS,
2011). Não é à toa que, para muitas pessoas, a memória afetiva passa pela
cozinha.

O nosso país apresenta muitas particularidades regionais devido ao processo


histórico que viveu, com a união de diferentes povos, para se transformar no que é
hoje. Com isso, os ingredientes de um prato já dizem muito sobre o local de onde
a pessoa veio, mostrando o quanto as referências simbólicas são importantes
para a construção das preferências alimentares.

Tem alguma comida típica de sua região que pode causar


estranheza se for preparada em um outro estado? Como estes
alimentos regionais interferem no modo como você se relaciona com
a sua comunidade?

A interação entre as diversas culturas contribui para o A interação entre


desenvolvimento humano, já que, nos dias atuais, com a globalização, as diversas culturas
o mundo tende a se comportar de uma única forma, reduzindo as contribui para o
desenvolvimento
diferenças culturais e diminuindo, com isso, a tolerância de algumas
humano.
pessoas para viver em sociedade e conviver com as diferenças.

É verdade que com a entrada das mulheres no mercado de trabalho houve


redução na produção de alimentos em casa, no sentar-se à mesa, no prato típico
da família; e se observou aumento no consumo de alimentos de fácil preparo,
os chamados ultraprocessados (VAZ; BENNEMANN, 2014). Não pode ser
motivo para que percamos o significado de afeto das refeições. É importante,

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

principalmente para as crianças, entenderem que, onde estiverem, a refeição


representa um momento de carinho.

Além da cultura e diversidade geográfica, as preferências alimentares


também são construídas de acordo com as crenças e religiões de cada povo. A
relação entre alimento e fé é muito estreita, tudo o que é consumido de acordo
com os ritos de uma religião, das permissões às proibições, reflete a cultura de
onde ela se originou (FERRARI, 2016).

A EAN deve A EAN deve considerar a legitimidade dos saberes oriundos da


considerar a cultura e religião; e valorizar as expressões de identidade de nosso
legitimidade dos
povo reconhecendo a riqueza das combinações e preparações locais
saberes oriundos da
cultura e religião. e regionais.

2.2.4 Culinária: a comida e o alimento


como referências de valorização da
culinária enquanto prática emancipatória
Quando você vai se alimentar, os nutrientes presentes no alimento
A culinária pode determinam seu consumo? Normalmente as pessoas não se alimentam
aumentar a
de nutrientes e sim de alimentos, que vêm acompanhados de uma
aceitação de
alimentos e carga cultural, social, afetiva e sensorial. Os alimentos têm cheiro,
incorporar na sabor, cor, texturas que fazem com que sejam aceitos ou não pelos
rotina das famílias indivíduos. Mas a culinária pode aumentar a aceitação de alimentos
alimentos mais e incorporar na rotina das famílias alimentos mais saudáveis. Além
saudáveis. disso, saber preparar o próprio alimento gera autonomia, pois amplia o
conjunto de possibilidades dos indivíduos. E para as crianças, aumenta
a possibilidade de reforçar o vínculo afetivo com os familiares e de experimentar
alimentos novos.

O desperdício de alimentos, já citado neste livro, não ocorre apenas no


transporte e armazenamento inadequados, mas também no preparo incorreto.
Dessa maneira, a culinária cumpre o papel da prática de informações técnicas
quanto ao correto preparo de alimentos, inclusive com abordagem sobre o seu
aproveitamento integral.

A culinária também representa um dos modos pelos quais as identidades


assumem materialidade. A comida típica ou a receita secreta da vovó não são
qualquer comida; representam experiências vividas, o passado e, ao fazê-lo, o
coloca em relação com os que vivenciam o presente.

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

Para as crianças, o uso da culinária propicia a exploração de fatos cotidianos,


enfatiza os cuidados com higiene e segurança no preparo dos alimentos, estimula
o conhecimento das formas e cores dos ingredientes de preparações, possibilita
o contato com a leitura através das receitas e rótulos de alimentos, alerta
sobre reaproveitamento de materiais e reciclagem do lixo, transmite conteúdos
socioculturais como a origem de receitas típicas de lugares específicos, e valoriza
a socialização através da troca e da união do grupo na hora de preparar e
experimentar os alimentos.

Nas práticas de EAN, mesmo quando o preparo efetivo de alimentos não for
viável, é necessário que seja realizada uma reflexão sobre a importância e valor
da culinária para a alimentação saudável (DAMATTA, 1987).

2.2.5 Autocuidado para a promoção da


autonomia
O autocuidado significa o cuidado que é realizado por si mesmo Autocuidado
quando você alcança um estado de maturidade capaz de lhe permitir significa o cuidado
controlar, decidir e realizar ações (OREM, 2001). Assim, ele envolve que é realizado por
tomadas de decisões que afetam o comportamento do ser humano si mesmo quando
você alcança
ou o ambiente ao seu redor, ou seja, se refere às práticas cotidianas
um estado de
realizadas por uma pessoa ou família para cuidar de si mesmos. maturidade capaz
de lhe permitir
As ações de autocuidado são voluntárias e intencionais, então, controlar, decidir
para que o indivíduo tenha interesse em cuidar da própria saúde, ele e realizar ações
precisa ter acesso à informação a fim de identificar todos os riscos que (OREM, 2001).
seus maus hábitos podem proporcionar e conseguir realizar mudanças
necessárias para melhorar sua qualidade de vida. Essas ações, ou seja, a
maneira como os indivíduos elegem seu modo de viver, como organizam suas
escolhas e como criam possibilidades de satisfazer suas necessidades dependem
não apenas de sua liberdade ou vontades, mas são determinadas também pelo
contexto social, econômico e cultural em que vivem (BRASIL, 2015).

Para a faixa etária infantil parece que o autocuidado não é tão importante
assim porque as crianças ainda são cuidadas pelos pais ou responsáveis. Mas
isso não é verdade, principalmente quando a criança entra na escola e seus
hábitos passam a ser influenciados pelos colegas e pelos próprios educadores.

Outro fator que influencia nas escolhas das crianças e requer que elas
tenham conhecimento e autonomia é a mídia. Os profissionais do marketing e da

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

propaganda aproveitam dessa fase de desenvolvimento do ser humano, em que


ainda está ocorrendo a maturação neurológica, para criar comerciais persuasivos,
envolventes e direcionados para o público infantil e que, muitas vezes, só
incentivam o consumo de alimentos não saudáveis (BOYLAND; WHALEN, 2015).
Nesse caso, é crucial identificar as potencialidades e desenvolver
A proposta é que capacidades nas crianças, a fim de possibilitar escolhas conscientes
a EAN estimule
sobre suas ações e trajetórias.
a participação
dos indivíduos
no cuidado com Assim, a proposta é que a EAN estimule a participação dos
a própria saúde indivíduos no cuidado com a própria saúde e da comunidade em
e da comunidade seu entorno no que diz respeito à alimentação. Além da orientação,
em seu entorno no o indivíduo também precisa de estímulo e motivação para conseguir
que diz respeito à
atingir sucesso na melhoria e manutenção de comportamentos que
alimentação.
contribuam para sua saúde. E esse processo se torna um ciclo, uma
vez que a autonomia também garante a participação e envolvimento
dos indivíduos nas ações de EAN.

A partir das diretrizes estudadas até aqui, apresente três


objetivos para o desenvolvimento de EAN nas escolas.

2.2.6 A educação enquanto um processo


permanente, participativo e gerador de
autonomia
O homem pode e deve, durante toda a sua vida, instruir-se, formar-se
e buscar evoluir seu lado intelectual, afetivo e moral em suas relações com o
mundo, com o próximo e consigo mesmo. Desse modo, o processo educativo
deve ser dinâmico a fim de satisfazer as exigências da própria personalidade
humana em seu contínuo desenvolvimento.

Esse dinamismo também é necessário em um mundo em constantes


transformações. A cada dia algo é descoberto ou melhorado, inclusive no
que diz respeito à alimentação. Muitas vezes já vimos alimentos benéficos
se transformarem em vilões e vice-versa. Então, a única maneira de manter
a população e os próprios profissionais da área informados sobre tantas
atualizações é através da educação continuada. Os profissionais devem ser
continuamente capacitados a fim de melhorar sua atuação e ajudá-los em suas

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

atividades institucionais, complementando a sua formação básica. É o cotidiano


do trabalho em constante discussão, experimentação e construção-reconstrução
permanente.

É muito mais fácil


Além disso, todo esse processo deve ser repassado também para o indivíduo
para a população através da EAN. É muito mais fácil para o indivíduo desenvolver
desenvolver autonomia em relação à sua alimentação quando ele autonomia em
está em constante contato com as informações acerca do tema. E relação à sua
esse processo é ainda mais efetivo se são desenvolvidas ações que alimentação
quando ele está em
valorizem as atividades práticas (JAIME; LOCK, 2009).
constante contato
com as informações
Outra característica do caráter permanente da EAN está ligada acerca do tema.
aos ciclos da vida. A promoção da saúde através das informações
sobre alimentação e nutrição deve ocorrer ao longo de toda a vida do
indivíduo, desde a infância até a terceira idade. E as atividades desenvolvidas
devem respeitar as diferentes demandas que o ciclo da vida apresenta, desde a
formação de hábitos alimentares até a organização de sua alimentação dentro e
fora de casa.

O processo de educação proposto por essa diretriz também recomenda


que a formação seja voltada à construção de um indivíduo autônomo, capaz de
fazer escolhas, governar, transformar e produzir a própria vida. Nesse sentido,
o educador deve estimular o desenvolvimento do senso crítico do educando,
valorizar a curiosidade e a inquietude, nunca diminuir seu potencial para que a
formação do indivíduo abranja todas as dimensões da vida humana necessárias
para a formação da autonomia.

Diante de múltiplas opções de consumo e de várias regras de condutas


dietéticas, tomar a decisão por qual caminho seguir significa reconhecer as
possibilidades, experimentar, decidir, reorientar, e este é o papel da EAN, gerar
situações para reflexões e busca de soluções a fim de que as escolhas sejam
conscientes e respeitem a liberdade de cada um.

2.1.7 A Prática em Educação Alimentar e


Nutricional na diversidade dos cenários
Como política pública, a EAN requer a parceria de diferentes setores
da sociedade, como instituições educacionais (universidades, instituições
de educação profissional e tecnológica), organizações não governamentais,
organismos internacionais, equipamentos públicos de alimentação e nutrição,
entidades filantrópicas, conselhos de políticas públicas e outras instâncias de

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

participação e controle social e da sociedade civil como um todo. O


O planejamento de
suas ações deve planejamento de suas ações deve apresentar caráter participativo.
apresentar caráter
participativo. Dentre os campos de prática envolvidos na implementação da
EAN destacam-se: setor público (federal, estadual, municipal, regional);
áreas da saúde, assistência social, segurança alimentar e nutricional, educação,
meio ambiente, dentre outras; equipamentos públicos (dentre eles as escolas); e
setor privado.

Reflita a respeito dos lugares em que as práticas de EAN podem


ser desenvolvidas numa cidade e descreva locais não mencionados
no texto acima.

2.2.8 Intersetorialidade
Não se pode pensar Não se pode pensar em construção de políticas públicas sem
em construção de considerar a relevância da interação e integração dos diversos órgãos
políticas públicas e instituições no compromisso comum da efetivação de direitos
sem considerar
(CUSTÓDIO; SILVA, 2015). Essa corresponsabilidade em garantir os
a relevância
da interação e direitos à população é a intersetorialidade. Ela tem sido considerada
integração dos um dos mais importantes meios de trabalho no âmbito das políticas
diversos órgãos de saúde com o objetivo de ampliar o aceso a direitos sociais, como
e instituições no o da alimentação adequada. Quando o governo trata os problemas
compromisso do cidadão de maneira fragmentada, ou seja, cada setor com suas
comum da
demandas, a população se sente insatisfeita, pois não consegue
efetivação
de direitos enxergar que suas necessidades foram atendidas (CUSTÓDIO; SILVA,
(CUSTÓDIO; SILVA, 2015).
2015).
Assim, a intersetorialidade garante o desenvolvimento de ações
conjuntas destinadas à proteção social, envolve articulação de diferentes setores
em torno de objetivos comuns e enfrenta as questões da população de maneira
mais efetiva, considerando-os na sua totalidade.

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Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

2.2.9 Planejamento, avaliação e


monitoramento das ações
A efetividade e manutenção das ações de EAN dependem de um A efetividade e
bom planejamento, e sua qualidade depende do grau de envolvimento manutenção das
e compromisso dos profissionais que as aplicam e, também, dos ações de EAN
dependem de um
indivíduos que participam delas.
bom planejamento.

Com o planejamento adequado é possível antecipar problemas, organizar


todo o processo de trabalho, atualizar saberes e técnicas educacionais, observar
a coerência das etapas previstas, buscar teorias para sustentar autonomia na
ação, humanizar a ação evitando a robotização, melhorar resultados e conquistar
as metas propostas.

Inseridos no planejamento estão o estabelecimento do diagnóstico, a


elaboração de objetivos e conteúdo programático, previsão de custos e recursos
necessários, detalhamento de plano de trabalho, definição de responsabilidades
e parcerias, definição de indicadores de processo e resultados (CERVATO-
MANCUSO, 2011).

A fase do diagnóstico requer disposição de tempo, pois este é o momento de


compreender a vida das pessoas no contexto em que elas habitam. Cada local vai
exigir uma intervenção diferente, portanto, esse é o momento de problematizar e
definir os objetivos a serem alcançados.

Os objetivos devem ser claros e precisos, eles definem os resultados a


serem alcançados e, por isso, servem como indicadores para a avaliação. A partir
da determinação deles, o conteúdo deve ser construído com informação em
quantidade e qualidade suficientes para que eles sejam atingidos. A relação do
cotidiano com a experiência deve sempre ser levada em conta para a construção
do conteúdo, assim como o tempo disponível para a realização das atividades.

A avaliação é uma etapa importante a ser realizada nas ações de EAN, porém
ela é deixada para o final e, muitas vezes, negligenciada. É com a avaliação que
conseguimos analisar os prós e contras do conteúdo proposto para determinada
faixa etária e classe social. As avaliações devem ter papel inclusivo e diagnóstico
que leva à reflexão de tudo o que pode ser melhorado para as demais ações, uma
vez que a EAN tem caráter construtivista e permanente.

21
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Indique quais as bases dos princípios da Educação Alimentar e


Nutricional.

Atendendo a esses princípios, a EAN deve seguir como referências materiais


do Ministério da Saúde, que serão abordados no último capítulo. Mas algumas
questões sempre devem ser consideradas ao promover uma alimentação
saudável, dentre elas, considerar que o consumo de alimentos deve apresentar
quantidade e qualidade suficientes para garantir o equilíbrio no balanço energético,
prevenindo assim deficiências e doenças nutricionais. Para uma alimentação
adequada, devem ser respeitadas as características individuais de cada indivíduo,
como sexo, idade, classe social, preferências pessoais e características físicas e
fisiológicas.

As ações de EAN se tornam efetivas quando realizadas de maneira contínua


e permanente desde a primeira infância. Por isso, elas devem ser consideradas
como práticas cotidianas nas escolas, precisam integrar o projeto pedagógico e
os componentes curriculares.

3 Perspectiva Histórica Da
Educação Alimentar E Nutricional
Não precisaria existir educação em alimentação e nutrição se o alimento
não fosse necessário para nossa sobrevivência. Uma alimentação balanceada
iniciada desde a primeira infância, no momento da introdução alimentar, garante o
crescimento e desenvolvimento adequado do indivíduo, estimula a capacidade de
aprender e previne doenças que podem se manifestar desde a infância até a vida
adulta (VITOLO, 2015).

Desde a época dos homens pré-históricos a alimentação já representava


um importante fator para a construção das comunidades, pois eles procuravam
construir suas moradias em locais onde era possível suprir a necessidade de
alimentos e água. Depois da descoberta do fogo, eles começaram a fabricar
recipientes de barro onde conseguiam cozinhar as carnes, e logo depois deixaram
de comer todo grão que encontravam e passaram a enterrar parte deles para que
germinassem (FERRARI, 2016).

22
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

A variedade de alimentos que existia para os homens pré-


Desenvolver
históricos provavelmente era bem menor do que a que existe nos dias autonomia ao
de hoje, porém, a escolha por qual alimento consumir provavelmente indivíduo para que
tinha determinantes semelhantes, são eles: idade, sexo, condições ele faça escolhas
sociais, econômicas, culturais e o próprio conhecimento sobre mais conscientes
alimentação e nutrição. Além desses determinantes, hoje em dia o e saudáveis se
torna de extrema
nosso comportamento alimentar também é influenciado pelo marketing
importância e faz da
e pela tecnologia de alimentos. Com isso, desenvolver autonomia ao EAN um importante
indivíduo para que ele faça escolhas mais conscientes e saudáveis se instrumento para
torna de extrema importância e faz da EAN um importante instrumento promoção de
para promoção de hábitos alimentares saudáveis. hábitos alimentares
saudáveis.
Segundo uma linha do tempo, a seguir serão descritas as
atividades importantes para a história da EAN:

• 1930

Surgiu o interesse pelo tema no Brasil quando foram instituídas as primeiras


leis trabalhistas, definida a cesta básica de referência e surgiram os primeiros
estudos sobre a desigualdade social e fome no país. Eram os trabalhadores
e suas famílias o público-alvo das ações de EAN, centradas na introdução de
alimentos novos e na adoção de medidas voltadas à suplementação alimentar e
atividades de combate a carências nutricionais (BRASIL, 2010; SANTOS, 2005).

• Década de 1970

A renda se apresentava como principal obstáculo à alimentação adequada e


as ações de EAN apresentavam um interesse econômico, promoviam o consumo
de soja e seus derivados, uma vez que estava sendo iniciada a expansão em sua
produção (DOMINGUES; BERMANN, 2012).

Nessa época, os aspectos culturais e sensoriais eram desconsiderados e


as atividades valorizavam apenas a dimensão nutricional dos alimentos. Com
resultados questionáveis, a EAN foi perdendo seu papel e foi menos destacada
nos programas de saúde pública por aproximadamente duas décadas (BOOG,
1997). A produção acadêmica nesse período sobre o assunto era de natureza
intervencionista e técnica, mediada pela tese da ignorância alimentar (LIMA;
OLIVEIRA; GOMES, 2003).

• Década de 1990

Começam a aumentar as evidências sobre a ligação dos hábitos alimentares


com as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Com as modificações

23
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

dos padrões alimentares, o foco da promoção e prevenção de saúde não eram


mais as carências nutricionais (MONTEIRO et al., 1995) e percebeu-se então a
relevância da EAN para a formação de hábitos alimentares saudáveis.

Assim, a promoção de tais hábitos voltou a fazer parte dos programas oficiais
do governo e, no final da década de 1990, foi implantada a Política Nacional
de Alimentação e Nutrição (PNAN), que incentiva as ações em alimentação e
nutrição (BRASIL, 2013b). Também neste período o termo “promoção de práticas
alimentares saudáveis” começou a aparecer nos documentos oficiais e a EAN
começou a ser apresentada com foco de atuação no sujeito e nos seus aspectos
culturais (LIMA; OLIVEIRA; GOMES, 2003; CAMOSSA et al., 2005).

Nessa época a PNAN previa ações de EAN voltadas ao incentivo do


aleitamento materno e à prevenção dos problemas nutricionais (passando da
desnutrição – deficiências específicas - até a obesidade). Tais ações eram vistas
como condições para cidadania e se buscava um consenso sobre conteúdos,
métodos e técnicas do processo educativo.

PESQUISA: Conhecer os documentos envolvidos na EAN


aumenta sua possibilidade de atuação. A versão mais atual da
Política Nacional de Alimentação e Nutrição se encontra aqui: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_
nutricao.pdf>.

• Década de 2000

O Programa Fome Zero foi implementado e contemplava a


A partir daí, observa- importância da EAN associada à educação para o consumo e orientava
se um aumento a inclusão desse tema no currículo escolar do primeiro grau. Além disso,
de ações de EAN
propunha a criação de norma para a comercialização de alimentos
nas iniciativas
públicas atendendo industrializados, alertava sobre a importância de controlar a publicidade
todos os estratos e aprimorar a rotulagem de alimentos (BRASIL, 2001).
da população,
das crianças aos A partir daí, observa-se um aumento de ações de EAN nas
trabalhadores. iniciativas públicas atendendo todos os estratos da população, das
crianças aos trabalhadores, pela requalificação do Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT),

24
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

dos usuários de restaurantes populares aos de unidades básicas de saúde.



No que diz respeito ao PNAE, ele foi instituído no país desde 1955 e
reformulado ao longo dos anos (BRASIL, 2013a) e hoje, um dos objetivos
apresentados por ele é a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos,
por meio de ações de EAN.

A escola é tão importante para o desenvolvimento de políticas públicas


voltadas à alimentação saudável que o governo lançou em 2006 a Portaria
Interministerial nº 1.010, de 8 de maio, que institui as diretrizes para a promoção
da alimentação saudável nas escolas de diferentes níveis (BRASIL, 2006b). Vale
destacar também a instituição do Programa Saúde na Escola (PSE) com o objetivo
de contribuir para a formação do estudante por meio de ações relacionadas à
prevenção, atenção e promoção à saúde, incluindo nesse contexto a promoção
da alimentação saudável (BRASIL, 2007).

As abordagens sobre EAN também avançaram no setor da saúde como
tema de política pública, inclusive em âmbito internacional. Em 2002 foi
aprovada a Estratégia Global para a Alimentação do Bebê e da Criança Pequena
(WHA, 2002) e em 2004 a Estratégia Global para a Promoção da Alimentação
Saudável, Atividade Física e Saúde (WHO, 2004), que indicaram a EAN como
responsabilidade dos seus 193 Estados-membros, dentre eles o Brasil. Todos
eles deveriam desenvolver ações públicas de educação, comunicação e
conscientização adequadas à realidade socioeconômica e cultural dos diferentes
grupos.

No ano de 2006 foi implementada a Política Nacional de Promoção da


Saúde (PNPS), pela Portaria MS/GM nº 687, de 30 de março, que destacou a
necessidade de ações que influenciassem a situação de saúde da população
a partir de modificações na sociedade. Desde então essa política vem sendo
revisada e, em 2014, a sua atualização proporcionou abordagens mais amplas
nos conceitos e estratégias, permeando a corresponsabilidade dos indivíduos
pela saúde individual e coletiva (BRASIL, 2015).

Nesse mesmo ano de 2006, o Ministério da Saúde, considerando as


diretrizes da Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e
Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), aceitou o desafio de incorporar
alimentação e nutrição na escola, vendo-a como um local além de construção da
cidadania, um espaço propício à formação de hábitos saudáveis (BRASIL, 2006c).

A EAN ainda está presente no Plano de ações estratégicas para o


enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil (BRASIL,
2011a) e na Portaria 1.010/2006 que, em parceria com o Ministério da Educação,

25
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

estabelece as bases da promoção da alimentação saudável nas escolas (BRASIL,


2006b).

Em 2009, a Lei 11.947 surge a partir do fortalecimento da EAN e prevê


a inserção da educação alimentar e nutricional no processo de ensino-
aprendizagem. Além disso, traz como medida a presença de alimentos oriundos
da agricultura familiar local na merenda escolar e orienta a definição do que será
oferecido aos escolares (BRASIL, 2009).

Política Nacional de Promoção da Saúde:


<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
promocao_saude_3ed.pdf>.

• Década de 2010

No campo da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), o desafio da


EAN foi ultrapassar os limites das ações dirigidas ao consumo de alimentos e
impacto na saúde e estendê-las para as dimensões que abranjam a produção
e abastecimento de alimentos. Dos seis objetivos previstos pelo Plano Nacional
de SAN (2012-2015), quatro se relacionavam diretamente com a EAN (BRASIL,
2011b).

No ano de 2011 os Ministérios do Desenvolvimento Social, da Educação


e da Saúde promoveram a realização do 1º Encontro Nacional de “Educação
Alimentar e Nutricional – Discutindo Diretrizes”, com o intuito de ampliar a
discussão sobre o tema no âmbito das políticas públicas e construir diretrizes
específicas para nortear a execução de ações. Esse encontro, em conjunto com a
“Atividade Integradora sobre Educação Alimentar e Nutricional” realizada durante
a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em Salvador/
BA; com a “Oficina de Educação Alimentar e Nutricional nas Políticas Públicas”
realizada no congresso World Nutrition Rio 2012; e a consulta pública realizada
em junho e julho de 2012, resultou no Marco de Referência de Educação
Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas, lançado no final do referido
ano com o objetivo de “promover um campo comum de reflexão e orientação da
prática, no conjunto de iniciativas de EAN que tenham origem, principalmente, na
ação pública, e que contemplem os diversos setores vinculados ao processo de
produção, distribuição, abastecimento e consumo de alimentos” (BRASIL, 2012a).

26
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

EAN aparece em
Além do marco, a PNAN foi atualizada em 2012 e mostra uma todas as diretrizes
evolução na compreensão da EAN que aparece em todas as diretrizes da política como
da política como importante para a promoção, prevenção e o tratamento importante para
de doenças. Além disso, a política determina que os processos sejam a promoção,
participativos e permanentes, e prioriza a elaboração de uma agenda prevenção e o
tratamento de
intersetorial (BRASIL, 2012b).
doenças.

Em 2014 foi elaborado o Guia Alimentar para a População


Brasileira, com o intuito de atender aos princípios e diretrizes estabelecidos pelo
Marco de Referência da Educação Alimentar e Nutricional, configurando-se como
importante instrumento para apoiar as ações em EAN (BRASIL, 2014).

Em 2013, iniciou-se o processo de revisão do Plano Nacional de SAN


e recentemente foi publicada sua segunda edição (2016-2019) com a EAN
presente em suas metas. O plano prevê a inserção da promoção da alimentação
adequada e saudável nas ações e estratégias realizadas pelas redes de saúde,
educação e assistência social; promoção de campanhas com o objetivo de
fortalecer as ações de educação para o consumo saudável; apoio em escolas
de educação básica, a ações voltadas para a educação alimentar e nutricional;
divulgação e implementação de materiais de apoio e qualificação das ações de
Promoção da Alimentação Adequada e Saudável no âmbito do PSE; incentivo às
ações de promoção da alimentação adequada e saudável nas escolas públicas e
particulares (BRASIL, 2017).

Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: <https://


www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/seguranca_alimentar/caisan/
plansan_2016_19.pdf>.

A mais nova conquista no campo da EAN é a aprovação da Lei nº 13.666,


em maio de 2018, que a inclui como tema transversal no currículo escolar dos
ensinos Fundamental e Médio (BRASIL, 2018). Portanto, vários passos já foram
dados para o fortalecimento da EAN como política pública, porém, o processo de
construção de documentos, portarias e leis é contínuo, se beneficiando de novas
experiências, aprendizados, princípios e saberes.

27
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Descreva os principais documentos e determinações do governo


para a evolução da EAN no Brasil.

4 Estratégias Metodológicas Para


Execução De Ações Baseadas Em
Educação Alimentar E Nutricional
É inegável a importância que as ações de EAN desempenham para a garantia
da segurança alimentar e nutricional, principalmente quando são desenvolvidas
para a faixa etária infantil. A partir da informação e do conhecimento sobre
alimentação saudável há o empoderamento do indivíduo e ele toma suas próprias
decisões, torna-se protagonista de suas escolhas e responsável pela sua qualidade
de vida. A implementação de tais ações se torna uma importante estratégia para
enfrentar os problemas alimentares e nutricionais, como obesidade e doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT).

Vamos refletir! Lívia é uma nutricionista formada há pouco


mais de dois anos e trabalha em consultório particular com todas as
faixas etárias, principalmente com pessoas que procuram a perda de
peso. Foi convidada por uma escola particular de sua cidade para
desenvolver ações em EAN com crianças de sete a nove anos.
Porém, as atividades deveriam ser aplicadas no dia em que o convite
foi feito pois uma outra profissional convidada desmarcou em cima da
hora. Você acha que Lívia conseguirá atingir o objetivo de despertar
nas crianças a autonomia para o cuidado com sua alimentação
apenas com a base teórica recebida durante seu curso? Você acha
que em poucas horas é possível desenvolver uma atividade que
seja efetiva? Definitivamente, não. A melhor atitude que Lívia teria
que ter num caso assim seria propor a execução das atividades
para as próximas semanas, se não fosse possível, deveria recusar
a proposta.

28
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

A construção das ações em EAN requer tempo e compromisso. O A construção das


desenvolvimento intelectual do público-alvo, o ambiente onde elas serão ações em EAN
realizadas e o tempo disponível para isto devem ser considerados. requer tempo e
compromisso.
Mas antes disso, é importante destacar que o processo de ensino-
Garantir o
aprendizagem deve garantir o envolvimento ativo do participante por envolvimento ativo
meio da comunicação e do estímulo ao pensar crítico e não apenas do participante
como consumidor de saberes. por meio da
comunicação e do
Vale destacar ainda que desde o nascimento o ser humano está estímulo ao pensar
crítico e não apenas
inserido em um grupo representado pela família, mais tarde se insere
como consumidor
na escola e no trabalho e convive com o grupo de pessoas que o cerca. de saberes.
Por isso não há melhor maneira de transmitir conhecimentos para
modificação de atitude que não seja em atividades grupais.

Para Lewin (1978), quando as pessoas se reúnem em grupos, elas


estão conectadas por relacionamentos sociais, independentemente de suas
semelhanças e diferenças e, por isso, a mudança de estado em uma das partes
provoca mudanças em todas as outras. Ou seja, a interação entre os indivíduos
provoca mudanças de atitudes, além de garantir que as necessidades de inclusão,
controle e afeição sejam satisfeitas (SCHUTZ, 1989).

Existem muitas orientações teóricas sobre a Teoria dos Grupos (Kurt Lewin,
Pichon-Riviére, Bion, Foulkes e Paulo Freire), mas a sua essência é a mesma, a
interdependência entre seus membros. O que determina a diferença entre eles
é o objetivo para o qual ele foi criado. Nesse material, o Grupo Operativo (GO)
vai receber destaque por ser uma teoria legitimada na área da saúde, pois visa
de fato transformar o conhecimento em atitude a partir das necessidades e da
realidade dos participantes (VINCHA; SANTOS; CERVATO-MANCUSO, 2017).

• Grupos Operativos
Grupo representa
A teoria de GO foi desenvolvida na década de 1940 pelo psiquiatra um conjunto de
e psicanalista Pichon-Rivière (1907-1977). Segundo ele, um grupo pessoas ligadas
representa um conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo social, movidas pelo vínculo
por necessidades semelhantes e que se reúnem para desempenhar social, movidas
por necessidades
uma tarefa em comum (PICHON-RIVIÈRE, 2009; BERSTEIN, 1986).
semelhantes e que
se reúnem para
Um aspecto importante é que cada indivíduo pertencente a um desempenhar uma
grupo traz consigo componentes internos como emoções, medos, tarefa em comum
fantasias, ansiedades, toda a sua história de vida; e esses componentes (PICHON-RIVIÈRE,
podem influenciar diretamente o processo grupal onde ele está inserido. 2009; BERSTEIN,
1986).
Assim, é instalada uma resistência no grupo que requer a elaboração

29
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

de estratégias para que todo o processo seja coordenado de maneira a torná-lo


mais fácil, por isso, Pichon propôs o Esquema Conceitual Referencial e Operativo
(ECRO). Esse esquema representa um conjunto de regras que facilita ao grupo
atingir o seu objetivo, porque ele permite observar e analisar os fenômenos que se
dão nos grupos, nas instituições e em suas relações mútuas (PICHON-RIVIÈRE,
2009; FORTUNA et al., 2005). De maneira mais clara, ele representa o conjunto
de experiências, conhecimentos e afetos com os quais o sujeito pensa/sente/age.

Assim, a construção do ECRO se torna condição necessária para a


comunicação e a realização da tarefa pelo grupo, uma vez que, frequentemente,
nos deparamos em grupos com pessoas defensivas, resistentes à mudança,
que apresentarão a negação, medo de perder o poder, o espaço e/ou o
reconhecimento (SOARES; FERRAZ, 2007).

Para aprofundamento sobre o ECRO: “O Processo Grupal”


– contém todos os trabalhos de Pichon-Rivière sobre grupos.
(PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O processo grupal. 8.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2009).

O principal objetivo do GO é promover um processo de aprendizagem a partir


da leitura crítica da realidade e atitude questionadora. Desse modo, o participante
do grupo consegue transformar o conhecimento recebido em atitude por meio do
vínculo, da comunicação e do protagonismo de todos (AFONSO; COUTINHO,
2010; PICHON-RIVIÈRE, 2009). E não é exatamente esse o objetivo da EAN?
Que os indivíduos melhorem o seu hábito alimentar através da mudança de
atitudes? Por isso, utilizar a teoria do GO é um ótimo meio de promover a saúde,
inclusive no que diz respeito à alimentação. Em 2015, Bento e Esteves utilizaram
as técnicas de GO para promover a alimentação materno-infantil de um grupo
de gestantes, em uma UBS, e notou aumento da segurança das participantes
em suas escolhas alimentares, demonstrando o êxito do GO nas questões que
envolvem a EAN.

Vale destacar que nesse modelo de grupo o cumprimento da tarefa é central


no desenvolvimento dos participantes. Para isso, há alguns papéis importantes
que são identificados na condução de um grupo operativo, são eles: porta-voz,
bode expiatório, sabotador e líder da tarefa (GAYOTTO, 2003).

O porta-voz fala das dificuldades encontradas para atingir o objetivo. O bode

30
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

expiatório provoca as adversidades encontradas no grupo. O sabotador desvia


o grupo do objetivo principal. O líder escuta o porta-voz e conduz o grupo para
a realização da tarefa, porém sozinho ele não faz nada, precisa dos demais
membros para alcançar o resultado.

Os elementos que compõem o planejamento do GO estão apresentados no


Quadro 1.

QUADRO 1 - DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA O


PLANEJAMENTO DE UM GRUPO OPERATIVO
Elementos Características
É a fundamentação teórica na qual os profissionais da
Definir referencial teórico saúde se apoiam para conduzir a intervenção. Pode ser
utilizado mais de um autor de GO.
Visa problematizar as questões de saúde da população
Analisar demanda do grupo e suas causas. Fornece suporte para a elaboração do
objetivo.
A partir dele pode-se estabelecer as regras de organização
para o desenvolvimento do grupo, como: local de encontro;
Elaborar objetivos
dias e horário; frequência; número de participantes; e profis-
sionais coordenadores da ação.
Seria o motivo em comum que fez o grupo se unir. É por
Identificar a tarefa meio dela que os participantes estabelecem redes de comu-
nicação e processos de aprendizagem.
Podem ser identificados antes do início do grupo (permite a
Analisar temas pertinentes construção de cronogramas) e/ou a partir nas necessidades
descobertas no decorrer das atividades.
Qual método de ensino vai permitir que meus objetivos
Escolher estratégias educativas
sejam alcançados?
Análise individual e do processo grupal utilizando métodos
Avaliação
quantitativos e/ou qualitativos.
FONTE: A autora, adaptado de Afonso e Coutinho (2010) e Cervato-Mancuso (2011)

Para o referencial teórico no planejamento do GO, além do


autor criador da teoria, existem outros autores mais contemporâneos
que trazem uma leitura mais criativa sobre o método e apresentam
uma teoria direcionada para grupos específicos. Como é o caso de
Mello Filho (2011) e Osório (1986), que defendem a construção de

31
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

grupos homogêneos (por exemplo, portadores de doenças crônicas).


Segundo eles, dessa maneira é mais fácil de o grupo se identificar,
provocar um suporte social e ter como resultado a melhoria da saúde.
Pichon-Rivière (2009) apoia o uso de grupos homogêneos,
mas também reforça que a diferença é enriquecedora para os
participantes de um grupo, pois eles podem ser com os outros sem
terem que ser como os outros para serem aceitos.
Outro autor contemporâneo, Zimerman (2000), traz
denominações diferentes: “grupo operativo de ensino-aprendizagem”
e “grupo operativo de reflexão”. Ele teve a intenção de destacar a
importância de se ter reflexão dentro de grupos que objetivam
informar e formar o participante. Porém, essa ênfase não se faz tão
necessária assim, uma vez que a reflexão e a aprendizagem são
intrínsecas ao GO (PICHON-RIVIÈRE, 2009).
Gayotto (2003), por sua vez, apresenta a teoria de maneira
ampliada para contexto e população, diferentemente dos outros três
autores, que enfatizaram o aspecto terapêutico da intervenção.
O uso de novos referenciais pode até gerar mudanças positivas
na intervenção, dependendo do objetivo dela. Mas a teoria de
Pichon-Rivière (2009) é bem aceita quando a intenção é transformar
conhecimentos com foco na promoção da saúde.

FONTE: VINCHA; SANTOS; CERVATO-MANCUSO, 2017.

Estudo de revisão publicado em 2017 demonstrou que o GO traz resultados


interessantes quando utilizado na prevenção e no tratamento de doenças
crônicas, que requerem mudanças de hábitos de vida e cuidados contínuos.
Em relação à promoção da saúde, o uso do GO esteve associado à educação
alimentar e nutricional (VINCHA; SANTOS; CERVATO-MANCUSO, 2017). Logo,
o GO conduz ao autocuidado, característica que se espera conseguir com a EAN.

Entre no site na Biblioteca Virtual da Saúde (http://bvsalud.


org/) e pesquise por “grupos operativos” AND “educação alimentar e
nutricional”. Agora, divirta-se com as leituras!

32
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

Trabalhar a alimentação envolve dimensões no campo da cognição, da


percepção, do afeto, das relações e das habilidades pessoais (BOOG, 2013),
relacionar a EAN e o GO dentro de um grupo específico de alimentação e nutrição
pode ser propício para superar tal obstáculo.

A utilização de grupos operativos, mesmo com as dificuldades encontradas


por se trabalhar com vários indivíduos caracterizados por histórias distintas, se
mostrou eficiente em estudos com portadores de diabetes, esquistossomose,
câncer, hipertensão, dependentes químicos e homossexuais; alcançando
resultados positivos na promoção, prevenção e educação em saúde (MENEZES;
AVELINO, 2016).

Você foi convidado para aplicar uma ação em EAN para um


grupo de 20 crianças com oito anos. Como você trabalharia com
as características de cada uma para desenvolver um aprendizado
coletivo?

Após compreender que trabalhar em grupo é extremamente positivo para o


desenvolvimento de hábitos de vida saudáveis, inclusive alimentares, é necessário
refletir sobre o local para a realização destes grupos.

• Ambiente Escolar

No caso do público infantil, a escola se torna um espaço privilegiado para a


construção e consolidação de hábitos alimentares saudáveis, pois é um ambiente
já voltado para as práticas educacionais, além de permitir que as ações sejam
implementadas de maneira contínua, por longo período e em larga escala. Dessa
maneira, muitas dimensões do aprendizado são consideradas como o ensino;
a relação da casa com a escola e a comunidade ao redor; e as características
físicas e emocionais da criança (PÉREZ-RODRIGO; ARANCETA, 2001; BRIGGS
et al., 2003).

A infância é o melhor momento para a formação de hábitos e práticas


comportamentais saudáveis, inclusive alimentares, por ser o momento em que o
indivíduo está passando pela maturação psicossocial e intelectual.

Na fase em que a criança já está na escola, o seu hábito alimentar não é

33
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

mais influenciado apenas pela família, mas também por seus amigos, educadores
e pelo marketing. E essa influência externa ao convívio familiar é tão significativa
que políticas públicas foram desenvolvidas para influenciar na construção desse
hábito nos escolares, entre elas o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) e Programa Saúde na Escola (PSE).

Mas, e na prática? Como aplicar todo o conhecimento adquirido durante


anos de estudo? Acredito que você já entendeu que o trabalho em grupo é
fundamental. Mas como fazer com que cada indivíduo presente nesse grupo
aprenda com a experiência do outro? Isso só é possível com a aplicação da
metodologia adequada.

• Metodologia

O método lúdico Os métodos utilizados para a execução das ações em EAN,


estimula a quando se trata do público infantil, devem consistir de processos
compreensão do ativos, lúdicos e interativos que favoreçam mudanças de atitudes e
conteúdo abordado das práticas alimentares. O método lúdico estimula a compreensão do
de forma prazerosa conteúdo abordado de forma prazerosa e reflete a realidade vivenciada
e reflete a realidade
nesta faixa etária (COSCRATO; PINA; MELLO, 2010; LANES et al.,
vivenciada nesta
faixa etária. 2012), pois a brincadeira é inerente a este público, ajudando-os a
refletir e discutir o mundo que o cerca (DALLABONA; MENDES, 2004).

Alguns exemplos de metodologias que usam o lúdico estão descritos abaixo:

• histórias contadas com uso de fantoches;


• teatro infantil (dramatização);
• marionetes;
• pinturas;
• desenhos;
• imagens e pôsteres;
• brincadeiras e jogos pedagógicos;
• atividades de recortes e colagem;
• vídeos;
• entrevista;
• roda de conversa;
• cartazes;
• materiais educativos sobre alimentação e nutrição (cartilhas, livretos, etc.);
• utensílios e equipamentos;
• aplicativos;
• passeios externos orientados;
• dinâmicas (apresentação, aproximação);
• oficinas em geral;

34
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

• oficina culinária com degustação.

No momento de construção da metodologia você deve usar e abusar de


sua criatividade. As oficinas culinárias são muito utilizadas, mas não devem ser a
única opção. Olhe só a quantidade de exemplos listados anteriormente!

A escolha pelos jogos se dá na perspectiva de que, para o ser humano, a


aprendizagem é tão importante quanto o desenvolvimento social, sendo o jogo
uma ferramenta pedagógica que promove tanto o desenvolvimento cognitivo
quanto o social. A execução do jogo pedagógico deve promover alegria, prazer,
diversão, e assim, a aprendizagem (DELVAL, 2002).

O uso da dramatização permite a interação entre o educador e o educado,


e com ele, você, como aplicador do método, consegue acessar os níveis afetivos
e emocionais da criança, se utilizar a linguagem adequada para a faixa etária
(ALVES, 2001; BOOG et al., 2003).

As dinâmicas de grupos são muito usadas para melhorar o entrosamento


entre as pessoas, e para colocar os indivíduos a lidarem com opiniões e atitudes
distintas, promovendo crescimento pessoal. Apesar de o grupo ser um conjunto
de pessoas, mudanças que venham a ocorrer em um indivíduo podem influenciar
o grupo todo (LEWIN, 1978), dessa forma, o aprendizado ocorre de maneira
coletiva, sendo possível obter a troca de experiências.

A oficina já é uma metodologia de trabalho que envolve o indivíduo


na construção ativa do seu próprio conhecimento, ou seja, se aprende A oficina deve ser
fazendo junto com os outros. Portanto, ela deve ser aberta a vivências, aberta a vivências,
diálogos e partilha
diálogos e partilha e não apresenta a figura do educador como único
e não apresenta a
detentor do conhecimento. Esse método permite que os participantes figura do educador
trabalhem ativamente e se mobilizem para encontrar a solução de algum como único detentor
problema a partir da troca de experiências. Quanto mais desafiadora a do conhecimento.
situação em que se encontrarem, maiores as chances de efetividade do
método.

Para que a oficina não se torne muito genérica e sem foco, seus objetivos
devem ser muito claros. E antes de aplicar o conhecimento aprendido é importante
que ela tenha uma base teórica com definição da problematização que precisa ser
solucionada com a ajuda de todos os participantes. Essa reflexão do tema deve
buscar refletir a realidade e suas relações com o nível individual e coletivo. Para
se programar uma oficina bem-sucedida devem ser considerados os seguintes
pontos:

1 Qual é o motivo da realização da oficina?

35
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

O objetivo deve ser bem claro, introduzir novo conceito, avaliar assunto
aprendido, demonstrar técnica eficiente, entre outros temas. Com foco, é possível
planejar e executar uma proposta mais efetiva.

2 Quem são os participantes?



A definição dos participantes direciona a construção da oficina, pois são as
necessidades deles que serão atendidas como método.

3 Quanto tempo eu tenho?



As atividades escolhidas devem levar em conta o tempo previsto para a
realização da oficina. Caso esse fator não seja levado em conta, o participante
pode sair da oficina com mais dúvidas do que respostas.

4 O que eu vou fazer?



O planejamento das atividades a serem desenvolvidas deve considerar
os objetivos propostos. As atividades devem ser significativas e envolventes,
de modo que os participantes consigam se sensibilizar pelo tema e possam
questionar, criar, analisar e sintetizar o conhecimento adquirido. Pode-se utilizar
músicas, poesias, relatos de vida, desenhos, dramatizações, gravuras, contos,
cartazes, fotografias que falem da vida cotidiana das crianças, que facilitem a
aprendizagem e a troca de saberes.

5 Como finalizar?

Ao chegar ao fim de uma oficina, o participante deve refletir sobre o antes e
depois do momento de aprendizagem e conseguir comparar sua prática anterior e
o que pretende fazer de novo.

Para promover a alimentação saudável, um método muito utilizado são as


“oficinas culinárias”. Elas permitem o encontro do saber popular com o científico e
transmitem a informação de maneira lúdica, didática e participativa.

Com a oficina culinária a criança tem oportunidade de vivenciar um aspecto


da vida cotidiana em um ambiente controlado e mediado, capaz de fazê-la
trabalhar com todos os sentidos através do conhecimento teórico, manipulação
e degustação de alimentos (CASTRO et al., 2007; FIGUEIRÊDO et al., 2006;
PEREIRA; SARMENTO, 2012), e muito provavelmente fará parte de suas
memórias.

36
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

Independentemente do método escolhido para o desenvolvimento


Independentemente
de ações em EAN, a efetividade das ações resulta da capacidade do do método
educador de criar vínculo com os participantes, pois só através dele os escolhido para o
conteúdos das atividades poderão ser direcionados à realidade deles desenvolvimento
(FREIRE, 1996). de ações em EAN,
a efetividade das
ações resulta da
Nos temas de alimentação e nutrição, quando se pretende
capacidade do
desenvolver hábitos alimentares saudáveis, sugere-se que o educador de criar
nutricionista seja o responsável pela intermediação dos saberes, vínculo com os
diretamente para as crianças ou para outros profissionais que poderão participantes.
trabalhar esse assunto com as crianças. E quando possível, as
ações de EAN devem ser aplicadas por mais de um profissional para garantir a
multidisciplinaridade, pois outros profissionais agregam qualidade às atividades
com seu olhar diferenciado para o mesmo tema.

As atividades devem, sim, ser previamente planejadas, porém, os


profissionais devem estar abertos às sugestões dos escolares na condução
das atividades, pois dar autonomia ao educando estimula a espontaneidade e
criatividade no enfrentamento dos problemas (FORTUNA, 1994).

A promoção da saúde dentro do ambiente escolar não envolve apenas os


alunos, mas também professores, coordenadores, donos de cantina e pais ou
responsáveis. Por isso, a capacitação de toda a comunidade escolar potencializa
as mudanças e dá suporte para a adoção de hábitos alimentares saudáveis ao
longo da vida (BIZZO; LEDER, 2005; LYTLE; FULKERSON, 2002).

Um trabalho realizado em 2010 na cidade de Brasília indicou que oficinas


contribuíram efetivamente para a transmissão do conhecimento sobre nutrição,
independente se aplicadas por nutricionistas ou por professores previamente
capacitados (YOKOTA et al., 2010). Assim, o professor pode ser considerado
um importante aliado no processo de educação nutricional dos alunos, além de
conseguir repassar o conhecimento, o vínculo necessário para a transformação
do indivíduo já está garantido pelo contato diário.

1 A partir das metodologias apresentadas nesta seção, monte uma


atividade em EAN para crianças de sete anos cujo objetivo seja
aprender a diferença entre alimentos naturais e ultraprocessados.
Use a sua criatividade!

37
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

2 Marque verdadeiro (V) ou falso (F) para as afirmações a seguir:


( ) O que é consumido durante as refeições afeta a saúde,
longevidade, humor, capacidade de trabalhar, estudar e sentir
prazer.
( ) A EAN não é capaz de contribuir para a prevenção e controle
de doenças crônicas não transmissíveis.
( ) Espera-se que a EAN valorize as diferentes expressões da
cultura alimentar e fortaleça os hábitos regionais.
( ) Qualquer ação que estimule a diminuição do desperdício
de alimentos protege o sistema alimentar e garante acesso ao
alimento a toda a população.
( ) Em todas as práticas de EAN deve ser realizado o preparo
efetivo de alimentos, não basta apenas uma reflexão sobre a
importância e valor da culinária para a alimentação saudável.
( ) A partir do Programa Fome Zero foi observado um aumento
de ações de EAN nas iniciativas públicas, atendendo todos os
estratos da população, desde as crianças até os trabalhadores.
( ) Cada indivíduo pertencente a um grupo e traz consigo
componentes internos como emoções, medos, fantasias,
ansiedades, toda a sua história de vida; porém, esses
componentes não influenciam o processo grupal onde ele está
inserido.
( ) Os métodos utilizados para a execução das ações em EAN
devem consistir de processos ativos, lúdicos e interativos que
não favoreçam mudanças de atitudes e das práticas alimentares.

Algumas Considerações
Nesse capítulo você teve acesso ao conceito e princípios da Educação
Alimentar e Nutricional, assimilando que a promoção de hábitos alimentares
saudáveis vai além de repassar para o próximo informações sobre os nutrientes
necessários para cada faixa etária. Além disso, pôde conhecer várias técnicas
metodológicas para construção de atividades que visem criar autonomia ao
indivíduo para escolhas alimentares conscientes.

As ações de EAN devem abordar o indivíduo como um todo, levando


em conta aspectos sociais, ambientais, emocionais, psicológicos, físicos e
fisiológicos. Assim, sugerimos que você reflita sobre a construção dos seus
hábitos alimentares e sobre todos os fatores que os influenciam para que sua
abordagem aconteça de maneira empática e efetiva.

38
Compreensão da Aplicabilidade da Educação Ali-
Capítulo 1
mentar e Nutricional

No capítulo seguinte abordaremos exemplos positivos de ações em EAN a


fim de prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas que já atingem e afetam
a vida das crianças.

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46
C APÍTULO 2
Educação Alimentar e Nutricional
Como Promotora da Saúde

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• compreender as características e fatores de risco para o desenvolvimento das


doenças crônicas;

• conhecer a realidade atual sobre a prevalência de fatores de risco para doenças


crônicas presentes na faixa etária infantil;

• identificar os benefícios de utilizar a Educação Alimentar e Nutricional para


promover a saúde dos escolares;

• discutir a respeito de como as ações em Educação Alimentar e Nutricional têm


sido conduzidas no ambiente escolar.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

48
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

1 Contextualização
Nos últimos anos tem se observado uma evolução da transição demográfica
no Brasil, com diminuição na taxa de fecundidade e mortalidade, fazendo com que
a população brasileira esteja envelhecendo. Concomitantemente, o estilo de vida
está se modificando com o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados,
ricos em gordura, açúcares, além do sedentarismo.

Como consequência ao envelhecimento da população e às mudanças no


estilo de vida, as características das doenças têm se modificado, passando do
caráter agudo para o crônico, tornando-se duradouras e aumentando os gastos
públicos com a saúde. Ademais, os fatores de risco para tais doenças estão se
iniciando cada vez mais precocemente.

Uma maneira de prevenir seu desenvolvimento é através da criação de


intervenções que atuem nas modificações de seus fatores de risco. O principal
deles é a má alimentação, caracterizada pelo alto consumo de alimentos pobres
em nutrientes que elevam a possibilidade de aparecimento de alterações
cardíacas, respiratórias e até ao surgimento de cânceres.

As ações baseadas em Educação Alimentar e Nutricional se configuram como


estratégicas, uma vez que apresentam como objetivo a construção de hábitos
alimentares adequados. Tais ações devem ser realizadas o mais precocemente
possível e se mostram muito efetivas quando acontecem dentro do ambiente
escolar.

Desta forma, este capítulo abordará as características das doenças crônicas


e seus fatores de risco e possibilitará que você conheça as prevalências destes
fatores na faixa etária infantil, além de conseguir refletir sobre como as ações
em Educação Alimentar e Nutricional têm sido conduzidas nas escolas públicas e
privadas.

2 Doenças Crônicas Na Infância E


Adolescência
Cada ciclo da vida do ser humano vem acompanhado por suas
particularidades. Durante a infância e a adolescência as transformações físicas
e psicológicas são muito marcantes e intensas, fazendo com que essas faixas
etárias apresentem certa vulnerabilidade social, comportamental e nutricional.

49
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Como o indivíduo está em fase de crescimento contínuo, suas necessidades


nutricionais não podem ser negligenciadas. Muitas doenças desenvolvidas na
fase adulta são consequências da maneira como foi conduzida a introdução de
alimentos e a construção dos hábitos alimentares, por serem fatores que afetam
o consumo de nutrientes.

Por isso, torna-se imprescindível que as crianças e os adolescentes sejam


assistidos e cuidados de maneira efetiva e, para isso, tanto os seus responsáveis
como os próprios menores devem ter acesso às informações para serem capazes
de garantir sua qualidade de vida.

Desde a década de 90 a população brasileira está passando pela Transição


Nutricional, caracterizada pela modificação dos problemas nutricionais mais
prevalentes, o que significa que as doenças que atingiam a população no passado
provenientes da falta de alimentos (hipovitaminoses, desnutrição, carências de
minerais etc.) estão sendo substituídas por doenças advindas do seu consumo
excessivo (obesidade, doenças do coração, diabetes...). Ou seja, a saúde da
população melhorou devido à diminuição da fome, porém o consumo de alimentos
inadequados não ajudou a população a se manter saudável.

Numa visão simplista, a transição nutricional pode ser configurada


como um processo que seria caracterizado por quatro etapas: (a)
desaparecimento, como evento epidemiológico significativo, do
kwashiorkor ou desnutrição edematosa, aguda e grave, com elevada
mortalidade, quase sempre precipitada por uma doença infecciosa
de elevado impacto patogênico, como o sarampo, atuando sobre
uma criança já previamente desnutrida; (b) desaparecimento do
marasmo nutricional caracterizado pela perda elevada e até extrema
dos tecidos moles (massa adiposa e muscular, principalmente), de
instalação lenta, habitualmente associado a doenças infecciosas de
duração prolongada, como a otite crônica, pielonefrites, tuberculose,
diarreias protraídas e extensas piodermites; (c) a terceira fase
teria como representação o aparecimento do binômio sobrepeso/
obesidade em escala populacional e (d) a última etapa da transição
que se configura na correção do déficit estatural. Seria o capítulo
conclusivo do processo, só podendo ser avaliado mediante seu
seguimento numa perspectiva de tendências seculares.

FONTE: BATISTA FILHO; RISSIN, 2003, p. 187-188.

50
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

Embora as doenças infecciosas ainda sejam importantes e o cenário


de transição nutricional no Brasil está só aumentando, em 2014 a prevalência
de obesidade era três vezes maior que a de desnutrição e apenas crianças
menores de cinco anos foram menos afetadas pelo aumento excessivo de peso
(CONDE; MONTEIRO, 2014). A obesidade se caracteriza pelo acúmulo de
gordura no organismo, sendo considerada um importante fator de risco para o
desenvolvimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).

Tais doenças costumam ser multifatoriais com início gradual, duração de


mais de seis meses e prognóstico incerto; podem se tornar um empecilho para o
bem-estar e qualidade de vida da população, pois acompanham o indivíduo por
longo prazo e, em muitos casos, não há cura, há apenas tratamentos periódicos.

As DCNT representam um significante problema de saúde pública e estão


entre as principais causas de morte no mundo, respondendo por mais de 75%
delas no Brasil segundo dados do Global Burden of Disease Study 2015 (MALTA
et al., 2017b). A urbanização acelerada, aumento progressivo da expectativa
de vida, mudança no padrão alimentar, aumento do tabagismo e sedentarismo
são os responsáveis pelo aumento progressivo dessas doenças (MALTA et al.,
2011). Dentre as principais, destacam-se as doenças cardiovasculares, cânceres,
diabetes e enfermidades respiratórias crônicas (Quadro 1), apresentando como
importantes fatores de risco o excesso de peso, hipertensão arterial, níveis
elevados de colesterol, alimentação inadequada e sedentarismo (GBD 2013,
2015; BRASIL, 2014).

QUADRO 1 - RELAÇÃO DE ALGUMAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS

- Doenças cardiovasculares Doença cardíaca reumática.


Doença cardíaca isquêmica.
Doença cerebrovascular:
acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico;
doença cardíaca hipertensiva;
miocardiopatia e miocardite;
fibrilação Atrial e Flutter;
doença vascular periférica;
endocardite.
Outras doenças cardiovasculares e circulatórias.
- Neoplasias Qualquer tipo de câncer.
- Diabetes Diabetes Mellitus tipo 1 ou 2.
- Doenças respiratórias Doença de obstrução pulmonar crônica.
Pneumoconiose.
Asma.
Doença pulmonar intersticial e sarcoidose pulmonar.
Outras doenças respiratórias crônicas.

51
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

- Cirrose Devido à hepatite B, hepatite C, uso de álcool e outras causas.


- Doenças digestivas Úlcera péptica.
Gastrite e duodenite.
Apendicite.
Íleo paralítico e obstrução intestinal.
Hérnia.
Doença inflamatória intestinal.
Distúrbios intestinais vasculares.
Vesícula biliar e doenças biliares.
Pancreatite.
Outras doenças digestivas.
- Desordens neurológicas Doença de Alzheimer e outras demências.
Mal de Parkinson.
Epilepsia.
Esclerose múltipla.
Enxaqueca.
Dor de cabeça do tipo tensão.
Dor de cabeça por uso excessivo de medicação.
Outros distúrbios neurológicos.
- Transtornos mentais Esquizofrenia.
Distúrbios depressivos.
Transtorno bipolar.
Transtornos de ansiedade.
Distúrbios alimentares - anorexia e bulimia nervosa.
Transtornos do espectro autista.
Transtorno da atenção por deficiência ou hiperatividade.
Transtorno de conduta.
Deficiência intelectual idiopática.
Outros transtornos mentais e do uso de substâncias.
- Doenças urogenitais, sanguí- Glomerulonefrite aguda.
neas e endócrinas Doença renal crônica.
Doenças ginecológicas.
Hemoglobinopatias e anemias hemolíticas.
Distúrbios endócrinos, metabólicos, sanguíneos e imunológicos.
- Desordens musculoesque- Artrite reumatoide.
léticas Osteoartrite - Lombalgia e dor no pescoço.
Gota.
Outros distúrbios musculoesqueléticos.
FONTE: A autora, adaptado de Global Burden of Disease Study 2013 (2015)

52
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

Quando você está sentado numa roda de amigos e ouve que


algum desconhecido foi diagnosticado com diabetes, pressão alta
ou colesterol alto, você imagina ser um adulto ou uma criança? E
quando você descobre que se trata de uma criança, o que você
sente? Indiferença ou preocupação?

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, 45,1% dos


entrevistados relataram apresentar pelo menos uma DCNT. A hipertensão arterial
apresentou prevalência de 21,4%, seguida por problema crônico de coluna
(18,5%), depressão (7,6%), artrite (6,4%) e diabetes mellitus (6,2%) (IBGE, 2014).

Como as DCNT
Como as DCNT normalmente não apresentam cura, a população normalmente
acometida acaba utilizando mais os serviços de saúde em comparação não apresentam
aos indivíduos que não apresentam tais doenças. A ocorrência de cura, a população
internação nos últimos 12 meses para os doentes crônicos aumenta acometida acaba
em 1,7 vezes (IC95% 1,53–1,9) em relação aos que não apresentam utilizando mais os
serviços de saúde
doenças de caráter crônico, a prevalência de consulta médica nos
em comparação
últimos 12 meses é 1,26 vezes maior (IC95% 1,24–1,28) e deixar de aos indivíduos que
realizar atividades habituais nas duas últimas semanas por motivo de não apresentam tais
saúde é 3,1 vezes maior (IC95% 2,78–3,46) (MALTA et al., 2017a). doenças.

A Figura 1 traz dados do Sistema de Informações Hospitalares da atenção


pública de saúde brasileira e apresenta as taxas de internação por diferentes
doenças crônicas. Destaca-se que desde o ano de 2002 tais taxas estão
praticamente estabilizadas.

53
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

FIGURA 1 - TAXA DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR POR DOENÇAS CRÔNICAS


SELECIONADAS DE ACORDO COM O SEXO - BRASIL, 2002 A 2009

FONTE: SANTOS et al., (2015)

Com o envelhecimento da população as doenças crônicas passaram a


representar uma expressiva e crescente demanda para os serviços de saúde.
Porém, essas doenças e seus fatores de risco estão se manifestando cada vez
mais cedo.

A prevenção e o Portanto, a prevenção e o controle das DCNT são fundamentais


controle das DCNT
para deter seu crescimento epidêmico e suas consequências para a
são fundamentais
para deter seu qualidade de vida e o sistema de saúde do país. E a melhor maneira
crescimento de prevenir tais doenças é remover ou diminuir a exposição aos
epidêmico e suas seus fatores de risco, uma vez que tal ação implica na redução da
consequências mortalidade e/ou da prevalência e/ou o surgimento mais tardio das
para a qualidade de patologias (MALTA et al., 2017b).
vida e o sistema de
saúde do país.
São múltiplos os fatores de risco para DCNT que se diferenciam
entre modificáveis ou não modificáveis. Entre os fatores modificáveis estão a
hipertensão arterial, a ingestão de álcool em grandes quantidades, o tabagismo, o
sedentarismo, o estresse, a obesidade e o colesterol elevado. Já entre os fatores
não modificáveis destacam-se a idade, a genética, o gênero e a raça (CASADO;
VIANNA; THULER, 2009).

Assim, as estratégias com o intuito de prevenir e controlar tais doenças


devem focar nos seus principais fatores de risco modificáveis, como excesso de
peso, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, alimentação inadequada e nível

54
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

de atividade física.

• Excesso de peso (sobrepeso e obesidade)



O critério mais utilizado para o diagnóstico do excesso de peso em nível
populacional é o Índice de Massa Corporal (IMC), ajustado por idade e sexo
quando usado para crianças e adolescentes. A partir deste índice o indivíduo
pode ser classificado em: magro ou baixo peso; normal ou eutrófico; sobrepeso
ou pré-obeso; e obesidade (graus I, II e III) (ABESO, 2016).

Desde o diagnóstico de sobrepeso, o risco de desenvolver diabetes tipo II,


cálculo renal (pedras nos rins), hipertensão arterial, apresentar altos níveis de
colesterol no sangue, doenças do coração (FIELD et al., 2001) e certos tipos
de câncer (AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH, 2009) já está
aumentado.

Em 2015, um total de 603,7 milhões de adultos e 107,7 milhões de crianças


eram obesos no mundo. Desde 1980, a prevalência de obesidade dobrou em
mais de 70 países e a taxa de crescimento na faixa etária infantil é maior que
a de adultos em muitos países (GBD 2015, 2017). No Brasil, de 2003 a 2009
o crescimento da obesidade foi 7,6% maior em crianças de 5 a 9 anos quando
comparados a maiores de 18 anos (IBGE, 2010).

Informações do Ministério da Saúde afirmam que o excesso de peso é


responsável por 58% da carga de doença relativa ao diabetes tipo II, 39% da
doença hipertensiva, 21% do infarto do miocárdio, 12% do câncer de cólon e reto
e 8% do câncer de mama (BRASIL, 2011).

Os dados mais recentes do VIGITEL, do ano de 2017, indicam prevalência


de excesso de peso (sobrepeso + obesidade) nos adultos das capitais brasileiras
variando de 46,9% em Palmas e 59,8% em Campo Grande, enquanto a obesidade
variou de 15% em Florianópolis e 23,8% em Manaus (BRASIL, 2018). O excesso
de peso e a obesidade entre crianças e adolescentes também têm mostrado
aumento.

A avaliação do estado nutricional de crianças de 5 a 9 anos de idade,


estudada pela POF 2008-2009, mostrou que o excesso de peso e a obesidade já
atingem mais de 32% e 11%, respectivamente (Figura 2). Na população de 10 a
19 anos, o excesso de peso foi diagnosticado em mais de 23% dos adolescentes,
com prevalência maior no sexo masculino (Figura 3) (IBGE, 2010).

Na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) foi avaliado o IMC de


escolares do 9º ano (13 a 15 anos) das capitais brasileiras (escolas públicas e

55
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

privadas) e apresentou uma prevalência de 16 % no sobrepeso e de 7,2% na


obesidade (IBGE, 2009).

FIGURA 2 - EVOLUÇÃO DE INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS


NA POPULAÇÃO DE 5 A 9 ANOS DE IDADE, POR SEXO -
BRASIL - PERÍODOS 1974-1975, 1989 E 2008-2009

FONTE: IBGE (2010, p. 58)

FIGURA 3 - EVOLUÇÃO DE INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS


NA POPULAÇÃO DE 10 A 19 ANOS DE IDADE, POR SEXO BRASIL
- PERÍODOS 1974-1975, 1989 E 2002-2003 E 2008-2009

FONTE: IBGE (2010, p. 64)

56
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

As causas da obesidade também são multifatoriais, mas dentre As causas da


elas se destacam duas que também são causas das DCNT: a má obesidade são
alimentação e a inatividade física. Com isso, intervir com foco nas multifatoriais, mas
dentre elas se
mesmas previne tanto a obesidade quanto as DCNT.
destacam duas que
também são causas
• Hipertensão arterial das DCNT: a má
alimentação e a
A hipertensão arterial (HA) se caracteriza por níveis elevados inatividade física.
de pressão nas artérias de maneira sustentada. O diagnóstico é
realizado através da aferição da pressão por esfigmomanômetros manuais,
semiautomáticos ou automáticos. A medida deve ser realizada preferencialmente
no braço, utilizando-se manguito adequado à sua circunferência. Para crianças e
adolescentes sua largura deve variar entre 5cm a 8cm, com comprimento entre
15cm e 21cm (SBC, 2016).

Quando a medição da pressão arterial sistólica for maior ou igual a 140mmHg


e da diastólica maior ou igual a 90mmHg o indivíduo é diagnosticado com
hipertensão arterial. Estima-se que esta doença acometa 32,5% de indivíduos
adultos no Brasil, contribuindo para 50% das mortes por doenças cardiovasculares
(SBC, 2016).

Em 2003 ocorreram 1.138.670 óbitos dos quais 339.672 (29,8%)


foram decorrentes de doença cardiovascular, principal causa de
morte no Brasil.

FONTE: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2016.

Em 2014, a PNS mediu a pressão arterial de moradores selecionados em


domicílios sorteados e encontrou a prevalência geral de pressão elevada em 22,3%
deles com predomínio entre os homens (25,3% vs 19,5%) (IBGE, 2014). Dados
do VIGITEL indicam que a prevalência de HA autorreferida entre indivíduos com
18 anos ou mais, residentes nas capitais, variou de 16,1% em Palmas a 30,7%
no Rio de Janeiro (BRASIL, 2018), o que denota a necessidade de controle deste
marcador a fim de diminuir a prevalência de mortes por doenças cardíacas.

Entre a população infantil o quadro também é preocupante. O intervalo de


prevalência de HA variou de 2,3% (Cuiabá-MT) a 13,8% (Vitória-ES) em 9.472
crianças de seis a 10 anos (PEREIRA et al., 2016) e entre 14.115 adolescentes de
10 a 19 anos a prevalência nacional foi de 8% (GONÇALVES et al., 2016).

57
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Dentre os fatores de risco modificáveis para a pressão arterial


Dentre os fatores de
risco modificáveis aumentada destacam-se o excesso de peso, a ingestão de sal e
para a pressão o sedentarismo, que ao serem trabalhados e melhorados também
arterial aumentada previnem contra as DCNT.
destacam-se o
excesso de peso, a • Hipercolesterolemia
ingestão de sal e o
sedentarismo.
A hipercolesterolemia se trata da circulação de níveis aumentados
de colesterol total e da fração LDL-colesterol na corrente sanguínea. Tal circulação
está aumentada quando os valores são maiores que 200mg/dL para adultos acima
de 20 anos e 150mg/dL para crianças e adolescentes de 2 a 19 anos (SBC, 2013).

Estima-se que o colesterol elevado cause 2,6 milhões de mortes a cada ano
(WHO, 2009). De acordo com a PNS realizada no ano de 2013, 12,5% da população
brasileira com mais de 18 anos obtiveram diagnóstico médico de colesterol alto,
sendo 15,1% em mulheres e 9,7% em homens (IBGE, 2014).

Entre 1600 escolares de sete a 14 anos foram identificados níveis médios de


colesterol total, triglicerídeos, LDL-colesterol e HDL-colesterol, respectivamente,
de 160, 79, 96 e 49 mg/dL. Considerando os valores acima de 170 mg/dL, a
prevalência de hipercolesterolemia foi de 35% (MOURA et al., 2000).

Em amostra populacional de 1.053 escolares de Florianópolis com faixa


etária entre sete e 18 anos, foram encontrados valores médios de colesterol total,
triglicerídeos, LDL-colesterol e HDL-colesterol, respectivamente, de 162, 93, 92 e
53 mg/dL. Nesse estudo, 10% dos indivíduos apresentaram hipercolesterolemia,
22% hipertrigliceridemia, 6% LDL-c elevado e 5% HDL-c baixo (GIULIANO, 2005).

Para uma Dentre os fatores de risco para a hipercolesterolemia se encontram


alimentação ser
hipertensão arterial, obesidade e dieta rica em gorduras saturadas e
considerada
adequada, a regra ácidos graxos trans (SBC, 2013).
de ouro é que
o indivíduo dê • Alimentação Inadequada
sempre preferência
ao consumo de Para uma alimentação ser considerada adequada, a regra de ouro
alimentos in natura
é que o indivíduo dê sempre preferência ao consumo de alimentos in
ou minimamente
processados natura ou minimamente processados e preparações culinárias em
e preparações detrimento aos alimentos ultraprocessados (BRASIL, 2014). Para as
culinárias em crianças e adolescentes, a orientação é o consumo de três a cinco
detrimento porções de frutas e hortaliças, uma de feijão e três de produtos lácteos
aos alimentos (SBP, 2012).
ultraprocessados
(BRASIL, 2014).
Quando a dieta é inadequada ela se torna o principal fator de

58
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

risco para a carga global de neoplasias, doenças cardiovasculares e doenças


respiratórias crônicas, levando-se em conta os anos de vida ajustados por
incapacidade, em qualquer estado do país (MALTA et al., 2017b).

Evidências mostram que o consumo adequado de alimentos naturais como


frutas, legumes e verduras, reduz os riscos de doenças cardiovasculares, câncer de
estômago e câncer colorretal (BAZZANO; SERDULA; LIU, 2003; RIBOLI; NORAT,
2003; DUNCAN et al., 2012). Além disso, protege o organismo contra as ações
deletérias de radicais livres, inclusive desenvolvimento de DCNT (PISOSCHI; POP,
2015), devido à presença de compostos antioxidantes em sua composição (LOCK
et al., 2005; CODOÑER-FRANCH et al., 2011).

Os padrões alimentares adotados nas últimas décadas se mostram


prejudiciais de várias maneiras. O consumo inadequado de sódio aumenta o risco
de desenvolvimento de HA e doenças do coração (WHO, 2010, DUNCAN et al.,
2012). Assim, a maioria das populações encontram-se em risco, uma vez que estão
consumindo mais sal que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) para a prevenção de doenças (BROWN et al., 2009), que é de 2000 mg por
dia (ANVISA, 2018).

A alta ingestão de gorduras saturadas e ácidos graxos trans está ligada às


doenças cardíacas (HU et al., 1997, DUNCAN et al., 2012). Dados obtidos em
quatro grandes pesquisas representativas sobre compras de alimentos pelas
famílias do Brasil entre meados da década de 1970 e meados da década de 2000,
mostram aumentos notáveis na compra de alimentos processados, acarretando
aumento no consumo de gorduras saturadas e sódio (LEVY; CLARO; MONTEIRO,
2009).

Em relação ao consumo de alimentos considerados marcadores de padrões


saudáveis de alimentação, o VIGITEL, em 2017, mostrou que o consumo de frutas,
hortaliças e de feijão em cinco ou mais dias da semana foi relatado por 34,6% e
59,5%, respectivamente, da população com 18 anos ou mais (BRASIL, 2018). Em
contrapartida, o consumo de carne com excesso de gordura foi de 37,2%, de leite
integral, 60,6%, o consumo regular de refrigerantes, 23,4% e o consumo regular de
doces foi 21,7%, de acordo com a PNS realizada em 2013 (CLARO et al., 2015).

Para a população infantil foi observado que os dois alimentos marcadores


de alimentação saudável mais consumidos em nível nacional, cinco ou mais dias
por semana, foram o feijão (62,6%) e as frutas (31,5%). Entre os alimentos não
saudáveis, destacam-se guloseimas (50,9%), refrigerantes (37,2%) e embutidos
(13%) (IBGE, 2009).

Nas últimas três décadas houve, entre as crianças, considerável aumento no

59
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

consumo de alimentos ultraprocessados, em sua maioria com alto teor de gordura


saturada, açúcar e sódio (MONTEIRO et al., 2011). O consumo frequente de
alimentos do tipo fast-food (uma ou duas vezes por semana) ou muito frequente
(três ou mais vezes por semana) é de 26,8% das crianças e 51,3% dos adolescentes
em todo o mundo (BRAITHWAITE et al., 2014). Ao comparar os dados da PeNSE
nos anos de 2009 e 2012 foi observada, para a população brasileira, a redução no
consumo de feijão de 62,5% para 60,0% e de frutas de 31,5% para 29,8% (MALTA
et al., 2014).

Outros trabalhos apresentam dados similares. Crianças brasileiras de cinco


a 10 anos de idade apresentaram baixa prevalência no consumo diário de frutas
e verduras (12,21%) e elevada ingestão de guloseimas como sorvetes, doces,
biscoitos doces/recheados e refrigerantes e similares no horário do lanche (46,99%)
(PEDRAZA et al., 2017). Ademais, desde os dois anos de idade elas já consomem
alimentos ultraprocessados (SPARRENBERGER et al., 2015), evidenciando uma
qualidade ruim da alimentação em termos de nutrientes protetores.

Quando se baseia na recomendação no Guia Alimentar para a População


Brasileira (2006) no que se refere às porções, observou-se que apenas 6,5%,
15,0% e 37,9% alcançaram as recomendações para o grupo dos cereais, hortaliças
e frutas, leite e derivados, respectivamente. Por outro lado, o consumo diário
de refrigerantes apresentou prevalência de 66,5%; e de alimentos como pizza,
salgadinhos industrializados, hambúrguer e batata frita, de 41,9% (COSTA et al.,
2012).

Essa dieta inadequada com alto consumo de alimentos ultraprocessados


pode repercutir no desenvolvimento de obesidade e doenças associadas. Ao
avaliar o consumo de alimentos em relação ao estado nutricional foi observado que
brasileiros com maior consumo deste tipo de alimentos eram 37% mais propensos
a apresentarem obesidade comparados com aqueles que consumiam
Dieta inadequada
com alto consumo menos. Sem contar que apenas a disponibilidade domiciliar de produtos
de alimentos ultraprocessados já pode levar ao aumento do IMC e da prevalência de
ultraprocessados excesso de peso (CANELLA et al., 2014).
pode repercutir no
desenvolvimento Portanto, destaca-se a relevância de intervenções nutricionais com
de obesidade
o público infantil a fim de modificar os hábitos alimentares inadequados
e doenças
associadas. que representa importante fator de risco para o desenvolvimento das
DCNT.

• Nível de atividade física

A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido


pelo músculo esquelético que requer gasto energético. Pode ser realizada de

60
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

várias maneiras: caminhada, ciclismo, esportes e formas ativas de recreação


(dança, ioga etc.). A atividade física também pode ser realizada como parte do
trabalho (levantamento, transporte ou outras tarefas ativas) e como parte de tarefas
domésticas remuneradas ou não remuneradas em casa (tarefas de limpeza,
transporte e cuidados) (WHO, 2018).

A prática regular de atividade física protege o organismo contra o


desenvolvimento de DCNT e é diagnosticada através do relato do indivíduo sobre
frequência e intensidade das mesmas. Quando a frequência de atividades for menor
que 60 minutos diários, o indivíduo é considerado fisicamente inativo ou
Quando a
sedentário (SBP, 2017) e pode ter o risco de mortalidade aumentado em
frequência de
20% a 30% (DUNCAN et al., 2012). atividades for menor
que 60 minutos
Entre os benefícios do exercício físico destacam-se: o auxílio no diários, o indivíduo
equilíbrio do balanço energético; aumento do volume de ejeção cardíaca, é considerado
dos parâmetros ventilatórios funcionais e do consumo de oxigênio; fisicamente inativo
ou sedentário (SBP,
redução da pressão arterial; aumento da sensibilidade à insulina e da
2017).
tolerância à glicose; melhora do perfil lipídico; aumento da mineralização
óssea; melhora da cognição, autoestima, sentimento de bem-estar e socialização;
facilidade para manutenção da atividade na vida adulta (SBP, 2017).

Dados da OMS indicam que em todo o mundo “23% dos adultos e 81% dos
adolescentes (11–17 anos) não atendem às recomendações globais da OMS sobre
atividade física para a saúde” (WHO, 2018, p. 15). Notavelmente, a prevalência de
inatividade varia consideravelmente dentro e entre países e pode chegar a 80% em
algumas subpopulações adultas (WHO, 2018).

Entre as crianças e adolescentes brasileiros se observa prevalência de


sedentarismo de até 73,9% nas que apresentavam sobrepeso (ARAGÃO;
LOURENÇO; SOUSA, 2015), outro estudo mostrou prevalência de até 93,5%
(BENTO et al., 2016). É importante destacar que em estudo conduzido com
informações de diferentes países sobre os níveis de atividade física, foi estimado
que 80% dos adolescentes não apresentavam 60 minutos diários de atividade física
(HALLAL et al., 2012).

Nesse público específico o comportamento sedentário tem sido representado


pela exposição às telas, que compreendem as medidas (unificadas ou distintas)
do tempo de televisão, videogame, tablets, aparelhos celulares e computador
(PEARSON; BIDDLE, 2011; TREMBLAY et al., 2011). A PeNSE mostrou que a
prevalência de adolescentes expostos a pelo menos duas horas diárias de televisão
é alta no Brasil (78,0% no total, sendo 79,2% para o sexo feminino e 76,7% para o
sexo masculino) (IBGE, 2009).

61
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Uma revisão sistemática aponta que o volume diário igual ou superior a


duas horas de televisão está associado a diversos malefícios à saúde, como
níveis elevados de peso corporal, diminuição da aptidão física, baixos escores de
autoestima e piora no desempenho estudantil (TREMBLAY et al., 2011).

Em 2018 a OMS lançou o plano de ação global em prol da atividade física


que traz maneiras de reduzir o sedentarismo em 15% nos adultos e adolescentes
até 2030. Recomenda, ainda, um conjunto de 20 áreas políticas que, combinadas,
têm o objetivo criar sociedades mais ativas por meio da melhoria dos ambientes
e oportunidades para pessoas de todas as idades e habilidades para praticarem
mais caminhadas, ciclismo, esportes, recreação ativa, dança e jogos. O documento
também pede apoio ao treinamento de profissionais de saúde e outros profissionais,
sistemas de dados mais sólidos, bem como o uso de tecnologias digitais (WHO,
2018).

1 Quais as principais características das Doenças Crônicas Não


Transmissíveis?

2 Por que elas são consideradas um problema de saúde pública?

3 Há alguma ligação entre os fatores de risco para o


desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis?
Aponte quais são.

4 Dentre as alternativas abaixo, escolha as afirmações verdadeiras:

( ) Mudanças no padrão alimentar e aumento do sedentarismo são


responsáveis pelo aumento progressivo das DCNT.
( ) Os fatores de risco para o desenvolvimento das DCNT só
começam a aparecer nos jovens adultos.
( ) Os fatores de risco para DCNT se diferenciam entre modificáveis
ou não modificáveis. Entre os fatores modificáveis estão a
hipertensão arterial, o sedentarismo, o estresse, a idade e a raça.
( ) O critério mais utilizado para o diagnóstico do excesso de peso
em nível populacional é o Índice de Massa Corporal (IMC), tanto
para adultos quanto para crianças e adolescentes.
( ) Dentre os fatores de risco para a hipercolesterolemia se
encontram hipertensão arterial, obesidade e dieta rica em
gorduras saturada e ácidos graxos trans.
( ) O consumo inadequado de sódio aumenta o risco de

62
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

desenvolvimento de doenças do coração.


( ) Ao comparar os dados de consumo alimentar de crianças
e adolescentes não se observam alterações em relação ao
consumo de alimentos saudáveis como feijão e frutas.
( ) Como prática de atividade física também são consideradas as
atividades realizadas como parte do trabalho e como parte de
tarefas domésticas.

Apesar do rápido crescimento, o impacto das DCNT pode ser revertido por
meio de intervenções amplas de promoção de saúde para redução de seus fatores
de risco, além de melhoria da atenção à saúde, detecção precoce e tratamento
oportuno. Pensando nisso, o governo brasileiro lançou em 2011 um plano de
ação para o enfrentamento das DCNT no Brasil a ser executado até 2022 com o
objetivo de promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas
efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção
e o controle destas doenças e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de
saúde voltados para a atenção aos portadores delas (BRASIL, 2011).

Ao se realizar o monitoramento das metas do plano até 2015 o país foi
colocado em destaque global. A OMS o reconheceu, ao lado da Costa Rica,
como sendo um dos mais promissores países no monitoramento das DCNT por
conseguir reportar 14 metas e compromissos (WHO, 2015).

Confira o documento da Organização Mundial da Saúde: <http://


apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/184688/9789241509459_
eng.pdf?sequence=1>. Acesso em: 18 jan. 2019.

2.1 Características da Infância e


Adolescência
Como este material é voltado à realização de ações em EAN para a educação
básica, torna-se importante caracterizar o público-alvo a fim de se desenvolver
ações orientadas e específicas que consigam alcançar êxito. A educação básica
de ensino brasileiro engloba a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o

63
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Ensino Médio, portanto o público-alvo para as ações de EAN discutidas neste


material são crianças e adolescentes de zero a 17 anos.

As doenças Durante a infância, o indivíduo passa por grandes transformações


nutricionais são físicas, emocionais e cognitivas. Essa fase da vida é caracterizada
mais comuns nessa
por crescimento constante, velocidade no ganho de peso, sistema
fase da vida porque
as necessidades gastrointestinal mais maduro (quando comparado aos primeiros
nutricionais estão dois anos da criança), aumento da atividade física informal devido à
aumentadas e o independência das funções motoras. As doenças nutricionais são
conhecimento sobre mais comuns nessa fase da vida porque as necessidades nutricionais
dieta saudável pode estão aumentadas e o conhecimento sobre dieta saudável pode ser
ser raro, apesar
raro, apesar deste público já estar apto a aceitar novas preparações
deste público já
estar apto a aceitar (VITOLO, 2015).
novas preparações.
O início da independência do indivíduo é importante e, nessa faixa
etária, iniciam-se as atividades educacionais que propiciam a formação de novos
laços sociais com pessoas da mesma idade, determinando o aprendizado em
todas as áreas e o estabelecimento de novos hábitos, incluindo alimentares (SBP,
2012). Nesse período, a criação de vínculos e a formação de hábitos influenciarão
a formação da personalidade da criança. A alimentação tem um papel central
nesse processo e, por isso, é fundamental que a EAN componha as atividades da
Educação Infantil e seja abordada de forma lúdica, orgânica e vivencial.

A adolescência se inicia aos 10 anos e representa uma fase de transição


entre a infância e a vida adulta, marcada por mudanças biológica, psicológica
e social (WHO, 1995). Esta é uma fase de vários conflitos pessoais e com
o mundo, e este comportamento reflete na alimentação, como a preferência
por ingerir alimentos rápidos (KAZAPI et al., 2001). Essa também é a fase de
preocupação excessiva com a estética, realizando-se na maioria das vezes
dietas desequilibradas, com um risco aumentado para transtornos alimentares
(TOSATTI; PERES; PREISSLER, 2007).

Na infância e adolescência ocorre a adoção de novas práticas,


comportamentos, ganho de autonomia e, também, a exposição a diversas
situações que envolvem riscos presentes e futuros para a saúde. Com isso, o
desenvolvimento de ações com o intuito de construir hábitos saudáveis é de
extrema importância para este ciclo da vida.

64
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

2.2 Comportamento Alimentar na


Infância e Adolescência
As escolhas alimentares não são determinadas apenas por fatores
As escolhas
fisiológicos, que envolvem a fome ou o reconhecimento do alimento alimentares não
como próprio ou não para o consumo, mas também por fatores são determinadas
socioeconômicos, culturais, ambientais, psicológicos, entre outros que apenas por fatores
compõem o comportamento alimentar do indivíduo. fisiológicos, que
envolvem a fome ou
o reconhecimento
Os conceitos de comportamento e de hábito alimentar podem se
do alimento como
confundir, porém eles se diferenciam pela característica de não repetição próprio ou não para
do comportamento, ou seja, um conjunto de ações relacionadas ao o consumo.
alimento, mas não tem uma preocupação com a duração delas, como o
que acontece no hábito (CARVALHO, 2013).

Outro pensamento para se entender tal diferença é que o comportamento se


situa na esfera da ação individual, inevitavelmente condicionada pela estrutura
social e dela condicionante, já o hábito relaciona-se com a experiência que se
repete cotidianamente (FREITAS et al., 2012).

Entre os determinantes do comportamento alimentar, destacam-se:

• Escolaridade e renda

Os níveis de instrução e renda são diretamente relacionados ao consumo
de frutas e hortaliças, grãos integrais e carnes magras. Quanto maior o poder
aquisitivo da família, maior a chance de a ingestão alimentar satisfazer as
necessidades energéticas (VAZ; BENNEMANN, 2014).

• Mídia

A televisão é o veículo de informação mais acessível para a população


brasileira e acaba atuando como modelador do consumo alimentar, principalmente
o infantil, tendo em vista a sua vulnerabilidade pela falta de maturação neurológica
e compreensão de escolhas e consequências (BOYLAND; WHALEN, 2015). Por
esse motivo, as indústrias alimentícias investem em propagandas persuasivas e
envolventes. Ao analisar o conteúdo dos anúncios sobre alimentos mostrados nos
programas infantis, observou-se que 41% abrangem alimentos ultraprocessados
como refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos industrializados entre outros
(LOBSTEIN; DIBB, 2005).

65
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

• Imagem corporal

A insatisfação com o próprio corpo pode motivar restrições alimentares que


se caracterizam como uma estratégia que os indivíduos utilizam para controlar o
peso corporal (BERNARDI, CICHELERO, VITOLO, 2005).

• Cultura

O indivíduo aprende o significado cultural e social dos alimentos desde
muito cedo. Sendo assim, para compreender seu comportamento alimentar é
necessário conhecer e considerar os diferentes usos e costumes socioculturais
(VAZ; BENNEMANN, 2014).

• Ambiente familiar e social



Apesar do modelo familiar ter se alterado nos últimos anos com
A família é o a entrada da mulher no mercado de trabalho e o crescente número
principal veículo
de creches que começam a aceitar crianças cada vez mais novas, a
para a formação
do comportamento família ainda é o principal veículo para a formação do comportamento
alimentar. alimentar (PEARSON; BIDDLE; GORELY, 2009).

No entanto, principalmente com o avançar da idade, tal comportamento


também passa a ser influenciado por amigos e escola (VITOLO, 2015; PEARSON;
BIDDLE; GORELY, 2009). O ambiente escolar adquire destaque nesse contexto
principalmente em relação ao acesso do alimento através de lanchonetes ou, no
caso das escolas públicas brasileiras, através das refeições por elas oferecidas
por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (BRASIL, 2017).

• Fatores psicológicos

A autoconfiança garante a segurança necessária para se fazer escolhas
alimentares adequadas em um ambiente que motiva o contrário, principalmente
quando se está na presença dos amigos (VAZ; BENNEMANN, 2014).

Resumo dos determinantes do comportamento alimentar:

• Fatores intrínsecos: método de preparação, características


organolépticas, aspecto, textura, temperatura, cor, odor, sabor,
qualidade.

66
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

• Fatores pessoais: nível de expectativa, prioridade-


familiaridade, influência dos outros, personalidade, humor, apetite,
emoções, família, educação.
• Fatores culturais e religiosos: restrições religiosas, tradições,
influências culturais.
• Fatores biológicos (sexo, idade), fisiológicos (mudanças,
doenças) e psicológicos.
• Fatores extrínsecos: fatores ambientais, fatores situacionais,
publicidade, variações sazonais.
• Fatores socioeconômicos: condições econômicas, custo
dos alimentos, segurança-hábitos passados, convencionalidade,
prestígio.

FONTE: HAMILTON; MCILVEEN; STRUGNELL, 2000. In: VAZ; BENNEMANN, 2014.

O indivíduo, em algumas situações, pode não estar pronto para realizar uma
mudança de atitude em algum comportamento, então, a fim de identificar seu grau
de motivação para modificar suas atitudes alimentares, o Modelo Transteórico se
torna um importante aliado para a efetividade das ações em EAN. Esse modelo
foi proposto por Prochaska e DiClemente (1992) e aborda diferentes estágios de
mudança, são eles: (1) pré-contemplação, quando não há reconhecimento do
problema, sem consideração de mudança; (2) contemplação, quando reconhece
o problema, mas ainda tem diversas barreiras para modificá-las; (3) preparação,
quando é tomada a decisão de alterar a atitude; (4) ação, quando há alterações
de fato no comportamento. Esta fase exige grande dedicação e disposição para
se evitar recaídas; e (5) manutenção, quando se mantém os ganhos obtidos na
fase de ação (TORAL; SLATER, 2007).

Em crianças e adolescentes, a aplicação do Modelo Transteórico se mostra


efetiva para estimular o consumo de frutas e hortaliças, inclusive com identificação
até mesmo de mudanças para estágios mais avançados (ASSIS et al., 2014;
CUNHA et al., 2013; TORAL et al., 2006). Exemplificando, quando as crianças e
os adolescentes acreditam que possuem consumo adequado de frutas e verduras
quando não possuem, isso se torna um obstáculo aos programas de educação
nutricional, uma vez que eles se tornam desmotivados para modificações
dietéticas.

Portanto, para a construção de ações em EAN que sejam efetivas é


importante considerar a fase de vida em que o indivíduo se encontra e todas as
questões relacionadas ao comportamento alimentar que precisa ser modificado,
melhorado ou mantido.

67
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

3 Influência Das Ações De


Educação Alimentar E Nutricional
Para A Saúde Dos Escolares
Até aqui conseguimos entender a importância da EAN para a promoção da
saúde da população, aprendemos sobre seus princípios norteadores e vimos sua
evolução histórica a fim de nos situarmos no panorama atual de maneira crítica
e transformadora. Aprendemos, ainda, sobre locais e métodos para desenvolver
as ações em EAN que sejam mais efetivos considerando nosso público-alvo,
alunos da atenção básica. Conhecemos as consequências e os fatores de risco
para o desenvolvimento das DCNT, assim como as características e fatores que
influenciam o comportamento alimentar de crianças e adolescentes.

Agora chegou a hora de refletir: com todas as informações que


você tem até o momento, você se acha capaz de desenvolver uma
ação em EAN que levará a modificações positivas no comportamento
alimentar de crianças e adolescentes?

Modificar o comportamento de um indivíduo não é simples. Já foi visto que


ele não está baseado apenas na vontade dele próprio, mas em diversos fatores
internos e externos que tornam essa tarefa mais difícil, mas não impossível
quando respaldada em teorias concretas e exemplos exitosos.

Como foi visto, os fatores de risco para o desenvolvimento de DCNT já se


iniciam na infância, justificando assim qualquer intervenção que tenha como
objetivo prevenir doenças ou promover saúde a fim de se garantir qualidade de
vida para esta faixa etária. Portanto, iremos refletir, a partir de exemplos descritos
no Quadro 2, ações em EAN no público de interesse.

Foram incluídos trabalhos dos últimos dez anos e que apresentaram, de


maneira clara, como foi realizada a avaliação da intervenção. Apenas um trabalho
não atendeu a esse critério, mas foi considerado por se tratar de uma metodologia
diferente e interessante, a criação de uma maquete (BOOG, 2010).

68
QUADRO 2 - RESUMO DE ESTUDOS NACIONAIS REALIZADOS A PARTIR DE AÇÕES EM EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO
AMBIENTE ESCOLAR PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONDUZIDOS ENTRE OS ANOS DE 2008 E 2017

Autor, ano.
Metodologia Avaliação Resultados
Local/público-alvo
- Questionário sobre o consumo de alimentos no
período de permanência na escola: os alimentos
- GABRIEL; SANTOS; VASCONCE- - Sete encontros (um por semana). mais adquiridos nas cantinas; os alimentos que, de
- Escola privada: redução significativa nos percentuais de
LOS, 2008. - Duração: não informada. acordo com a preferência dos escolares, deveriam
bolachas recheadas trazidas de casa pelos meninos.
- Florianópolis, SC. - Uso de: jogos, montagem de cardápio e ser comercializados nas cantinas; os alimentos mais
- Escola pública: aumento no consumo da merenda
- 178 escolares no 3º e 4º ano do outras atividades não especificadas com trazidos de casa; o consumo ou não da merenda
escolar e aceitação por frutas.
Ensino Fundamental. clareza. escolar; os alimentos preferidos na merenda escolar,
e os alimentos que deveriam ser oferecidos pelo
Capítulo 2

PNAE.
- FERNANDES et al., 2009.
- Florianópolis, SC. - Oito encontros quinzenais. - Com intervenção: diminuição no consumo de suco
- 135 escolares: - Duração: 50 minutos. artificial (p = 0,013).
55 no grupo com intervenção - Uso de: jogos, teatro de fantoches, - Registro alimentar de três dias. - Sem intervenção: aumento no consumo de salgadinho
(8,2±0,76 anos). cartazes, brincadeiras, músicas e histórias (p = 0,021).
80 no grupo sem intervenção infantis. Aumento no consumo de refrigerante (p = 0,031).
(8,1±0,48 anos)
- Sete semanas.
- Duração: não informada. - Questionário de conhecimento em nutrição no mo-
- 76% das questões avaliadas foram respondidas correta-
- COSTA et al., 2009. - Uso de: palestras, teatro de fantoches, mento inicial e final com 23 questões referentes ao
mente após a intervenção.
- Araçatuba, SP. dinâmicas de grupo, arte culinária, conteúdo das aulas. Os alunos tinham três alternati-
- Aumento na frequência de consumo de cereais, frutas,
- 34 escolares de 7 a 10 anos. informativos com o conteúdo da respectiva vas de respostas, sendo apenas uma correta.
hortaliças, carnes, ovos, leguminosas e leite (p<0,05).
Como Promotora da Saúde

aula juntamente com tarefas para que os - Questionário de Frequência Alimentar.


alunos fizessem em casa.
Educação Alimentar e Nutricional

69
70
- Cinco encontros.
- Duração: não informada.
- Uso de: histórias, atividades em sala de - Grande interesse dos alunos porque a maquete refletia o
- BOOG, 2010.
aula (preparo dos elementos da maquete seu cotidiano e valorizava o trabalho e a história de suas
- Circuito das Frutas, SP
usando materiais como papel crepom, pa- - Qualitativa (interesse dos alunos e receptividade famílias.
Zona Rural.
litos, esponjas pintadas com tinta guache, do programa). - Pais orgulhosos e gratificados ao perceberem o seu
- 155 alunos do 1º ao 7º ano do
caixas de fósforo e outros), montagem da cotidiano como elemento central do trabalho escolar.
Ensino Fundamental.
maquete, degustação de alimentos. - Atividade divulgada pela mídia local falada e escrita.
Maquete do bairro representando estra-
das, escola, moradias e plantações.
- Número de encontros não informado. - Avaliação do conhecimento por dois instrumentos
- YOKOTA et al., 2010.
- Duração: não informada. construídos para o projeto: Instrumento sobre a pirâ-
- Brasília, DF. - A média final de acertos entre os grupos foi similar nos
- Intervenção A: palestras aplicadas por mide dos alimentos (avaliados os grupos das frutas,
- Escolares de 5 a 10 anos: 180 na dois tipos de intervenção para o instrumento sobre a pirâmi-
nutricionistas. carnes e ovos, hortaliças e cereais, pães e massas)
intervenção A e 129 na intervenção de (p=0,37) e higiene das mãos (p=0,10).
- Intervenção B: palestras aplicadas por e sobre a higiene das mãos antes da realização de
B.
professores previamente capacitados. refeições.
- Alta satisfação em relação às oficinas: 85,8% (expressão
- Quatro encontros com intervalo de três facial mais feliz).
- Avaliações verbais breves ao fim da atividade
semanas. - Respostas ao questionário: as oficinas apresentaram um
sobre o assunto abordado.
- Duração: 1 hora e meia. impacto positivo, as respostas às atividades corresponde-
- BOTELHO et al., 2010. - Aceitação por meio de uma escala hedônica
- Uso de: teatro de fantoches; dominó; ram ao esperado.
- Belo Horizonte, MG. adequada à faixa etária.
jogo da memória; atividade de colorir e - Apresentaram grande interesse em expor as opiniões
- 48 escolares de 6 a 10 anos. - Três meses após a finalização:
desenhar; “batata-quente”, bate-papo; acerca das oficinas, recordando os pontos-chave das
entrevista semiestruturada contemplando as princi-
montagem da pirâmide; colagem; monta- atividades.
pais temáticas abordadas na intervenção.
gem de massinha. - As atividades de colorir e pintura com cola foram as que
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

menos agradaram.
- Questionário de práticas alimentares autoaplicável
com questões fechadas, antes e após a intervenção: - Aumento da proporção de estudantes que relataram não
- VARGAS et al., 2011. - Sete encontros.
hábito de consumir frutas, verduras e legumes; consumir lanches vendidos por ambulantes (de 36,7%
- Niterói, RJ. - Duração: não informada.
frequência semanal de consumo de fast food; vs 50,6%; p = 0,02); não substituir almoço (de 44,5% vs
- 272 escolares de 11 a 17 anos: - Uso de: concurso de música e frase, di-
frequência semanal de substituição de refeições 65,2%; p < 0,01) e jantar (de 38,4% vs 54,3%; p < 0,01)
166 no grupo intervenção e 106 no nâmica, vídeo, discussão, oficina dietética,
(almoço e jantar) por lanches; consumo de refri- por lanches; redução na frequência de consumo de fast
grupo controle. filme, elaboração de jornal.
gerantes; origem e consumo de lanches durante o food (72,7% vs 54,4%; p = 0,001).
intervalo escolar.
- Onze encontros. - Questionário com questões relativas ao consumo
- PRADO et al., 2012. - Duração: 60 minutos. de alimentos na merenda escolar, cantina escolar, - Efeito positivo para:
- Cuiabá (MT). - Uso de: aulas expositivas e dialogadas: venda perto da escola e trazidos de casa para o frequência semanal de alimentos trazidos de casa
- Escolares de 8 a 14 anos: 49 no 20 minutos. ambiente escolar. (p=0,023); preferência por frutas e salada de frutas ofere-
Capítulo 2

grupo intervenção e 35 no grupo Material de apoio: - Reavaliação das informações do diagnóstico: efeito cidas pela merenda escolar (p=0,048); aquisição de balas,
controle. pôsteres, vídeos, jogos e atividades de positivo se a reposta se mantinha certa ou ia de pirulitos e chicletes na cantina escolar (p=0,043).
recorte e colagem. errada para certa.
- Nove meses, uma vez por mês.
- Duração: 1 h.
- Uso de: jogos, encenação de teatro,
filmes e espetáculos de marionetes,
- CUNHA et al., 2013. - Redução na frequência de consumo diário de biscoitos
concursos de redação e desenho.
- Duque de Caxias, RJ. - Questionário de Frequência Alimentar. recheados e refrigerantes no grupo de intervenção.
Para reforçar a mensagem: conjunto
- 574 escolares: 281 no grupo con- - Recordatório 24 horas. - Aumento da frequência de consumo de frutas no grupo
de mensagens enviadas às famílias na
trole e 293 no grupo intervenção. de intervenção.
forma de folhetos e receitas ilustradas. Os
professores foram encorajados a trabalhar
com as crianças nos tópicos abordados
em cada sessão de intervenção.
Como Promotora da Saúde

- Um ano, oito encontros. - A pontuação média da 1ª avaliação foi de 14,02±3,36


- ASSIS et al., 2014.
- Duração: não informada. pontos, enquanto a média da 2ª avaliação foi de 17,82 ±
- Juiz de Fora, MG. - Questionário para avaliar o conhecimento aplicado
- Uso de: debates, dinâmicas e gincanas 2,55 (p<0,05).
Educação Alimentar e Nutricional

- 93 adolescentes com idade média antes e após as intervenções.


adequadas à faixa etária e ao tempo - 82,3% dos adolescentes apresentaram aumento do
de 10,6 ± 0,85 anos.
disponibilizado pela escola. conhecimento.

71
72
- Em todos os encontros: grande interesse em expressar
- Dezesseis meses, quatro encontros por suas vontades, hábitos, gostos pessoais e preferências
mês. - As impressões sobre a aceitação e o impacto das alimentares, interagindo espontaneamente, por meio
- SILVA; NEVES; NETTO, 2016. - Duração média: 30 minutos. dinâmicas foram limitados aos relatos dos próprios das exposições de suas vivências e de questionamentos
- Juiz de Fora, MG. - Uso de: histórias com música, teatro de pesquisadores que ministraram as ações e das frequentes.
- 150 alunos de 2 a 5 anos. fantoches, jogo da memória, quebra-ca- profissionais que se relacionavam pessoalmente - Segundo comentários das educadoras/ cuidadoras:
beça, colagem, jogo de tabuleiro, jogo dos com as classes. ótimo impacto sobre a aceitação dos alimentos; as
sete erros. crianças passaram a se portar mais calmamente diante
das refeições.
- PEREIRA, T.; PEREIRA, R; ANGE-
- Aplicação de questionário antes e uma semana
LIS-PEREIRA, 2017. - Um encontro, duas turmas. - Tanto a aplicação do jogo quanto a palestra se mostra-
depois da atividade: 30 questões: conceitos de
- Lavras, MG - Duração: 50 minutos. ram eficientes para aumentar o grau de conhecimento dos
nutrição como ciência e o papel do nutricionista; a
- 59 adolescentes de 13 a 16 - Uso de: intervenção 1: palestra e inter- adolescentes e, quando comparados, os métodos não se
importância da alimentação saudável e a classifica-
anos: 31 na intervenção 1 e 28 na venção 2: jogo tipo Quiz. mostraram diferentes.
ção e a função dos nutrientes.
intervenção 2.

FONTE: A autora
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

Dentre os estudos analisados, observou-se que realizar o diagnóstico antes


de estruturar as atividades não é frequente, ele foi citado apenas quatro vezes
(BOOG, 2010; VARGAS et al., 2011; PRADO et al., 2012; SILVA; NEVES; NETTO,
2016). Um dos métodos diagnósticos utilizados foi o grupo focal, realizado com os
participantes a fim de identificar temáticas de interesse sobre saúde e alimentação
(VARGAS et al., 2011).

A fase do diagnóstico não deve ser negligenciada, pois ela A fase do


representa um importante passo para o sucesso das ações. Em um dos diagnóstico
trabalhos se identificou no ambiente escolar o alto consumo de doces, não deve ser
frituras e refrigerantes adquiridos em cantinas, vendas perto da escola negligenciada, pois
ela representa um
e trazidos de casa. Assim, a escolha do tema principal foi alimentação
importante passo
saudável com ênfase na redução do consumo dos alimentos não para o sucesso das
saudáveis citados e o incentivo à ingestão de frutas e hortaliças ações.
(PRADO et al., 2016).

A alimentação saudável foi um tema muito citado nos estudos, porém em


cada um deles houve uma particularidade uma vez que esse tema possibilita
trabalhar com variados assuntos. Dentre os conteúdos abordados pelos autores,
foi observado:

• Digestão dos alimentos e absorção dos nutrientes.


• Grupos alimentares.
• Alimentos e nutrientes.
• Guia da pirâmide alimentar.
• Construção de cardápios de lanches e com seis refeições diárias.
• Guia da pirâmide de atividades físicas.
• Comparação de calorias entre alimentos pouco e muito nutritivos.
• Ênfase aos nutrientes específicos e suas funções.
• Separação e a reciclagem do lixo, dentre outros.

É importante destacar que em todos os encontros foi feita a recapitulação


dos conteúdos passados nos encontros anteriores.

Entre a metodologia utilizada para a realização das atividades, apenas um


trabalho avaliou a opinião dos participantes que não gostaram de colorir e fazer
pintura com cola (BOTELHO et al., 2010). Esse tipo de avaliação é imprescindível
para a construção de atividades posteriores, uma vez que elas devem acontecer
de maneira continuada e permanente.

É certo que atividades de educação nutricional para o público infantil


baseadas na transmissão vertical de conhecimento, na forma de aula e orientações
nutricionais informais, que se caracterizam por serem pouco participativas e

73
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

críticas, são menos eficazes. Já as atividades participativas chamam mais atenção


e se tornam mais eficientes (IULIANO; CERVATO-MANCUSO; GAMBARDELLA,
2009).

Há diversas estratégias que podem ser incorporadas a fim de facilitar a


criação da autonomia, como a implantação do sistema de distribuição autosserviço
(self service) nas escolas e a produção e cuidados de uma horta escolar. Elas
propiciam discussões como escolhas alimentares saudáveis, cultivo, preparo e
desperdício de alimentos (IULIANO; CERVATO-MANCUSO; GAMBARDELLA,
2009).

Na era da tecnologia se torna essencial termos opções de


atividades que levem em conta essa realidade. Por isso sugerimos
a leitura de um artigo que testou um jogo eletrônico para propagar o
conhecimento em alimentação para escolares.
Link: <http://stat.necat.incubadora.ufsc.br/index.php/IJKEM/article/
view/4259/4725>. Acesso em: 18 jan. 2019.

O planejamento de cardápios balanceados, de cuidados com o preparo de


lanches ou outras refeições e de preparações culinárias cotidianas ou que façam
parte de festividades, deve ser realizado em parceria com os participantes, a
fim de abordar a função social da alimentação e as práticas culturais (YOKOTA,
2010).

Para favorecer a interação dos participantes pelos temas propostos é


interessante que eles confeccionem alguns materiais que serão utilizados nas
atividades, principalmente com materiais recicláveis e de fácil replicação em
outro ambiente (PRADO et al., 2016). Porém, é necessário tempo e integração de
outros profissionais, como os próprios professores, para isso.

A criação de
A criação de novos hábitos se dá através da repetição da oferta,
novos hábitos
se dá através da do contexto social e das consequências fisiológicas da ingestão.
repetição da oferta, As crianças mais novas acabam os adquirindo ao observar outras
do contexto social e crianças e costumam apreciar alimentos que são oferecidos com maior
das consequências frequência. Normalmente elas rejeitam alimentos que consomem
fisiológicas da pela primeira vez, entretanto, quando uma criança com predileções
ingestão.
preestabelecidas é colocada diante de outras, após alguns dias, ela
passa a eleger os alimentos preferidos pelo grupo, modificando suas opções
iniciais (VIANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2008). Portanto, as ações em EAN

74
Educação Alimentar e Nutricional
Capítulo 2
Como Promotora da Saúde

devem levar isso em consideração para a criação de ações que sejam efetivas
em criar e/ou modificar hábitos alimentares.

Normalmente a avaliação das atividades é realizada por meio de questionário


aplicado antes e após as mesmas. Quando as questões são melhor respondidas
no final, considera-se que as atividades propostas cumpriram os objetivos.
Porém, na maioria dos casos as ações em EAN são pontuais, de curto prazo e
não envolvem a comunidade escolar (professores, funcionários e familiares), o
que dificulta a adoção permanente de hábitos alimentares saudáveis.

Outro ponto importante a se discutir é valorizar a multidisciplinaridade nas


ações com a integração de outros profissionais na equipe que as constroem e
aplicam no ambiente escolar. Os profissionais de Educação Física e Psicologia
podem enriquecer muito as discussões e atividades usando suas habilidades na
prática de trabalho em grupo e no reconhecimento das limitações das crianças.
Ademais, os professores são essenciais no processo de educação alimentar e
nutricional, pois as suas orientações informais e comportamentos durante as
refeições influenciam as atitudes dos escolares.

Como o ambiente escolar representa local propício para as ações


EAN por conter um grupo exposto cotidianamente ao aprendizado, Ações efetivas e
a integração dessas atividades no currículo escolar simboliza uma duradouras são
vitória para a garantia da promoção da saúde. Espera-se que as consequências do
contato contínuo e
atividades sejam planejadas por uma equipe multiprofissional, incluindo
permanente desde a
o nutricionista, e que toda a comunidade escolar seja capacitada a primeira infância.
fim de ampliar a realização das atividades na escola. Ações efetivas
e duradouras são consequências do contato contínuo e permanente desde a
primeira infância.

Reflita sobre os trabalhos apresentados nesta seção e relacione


quatro pontos que você faria diferente dos pesquisadores, levando
em conta apenas as informações repassadas por eles.

Algumas Considerações
Nesse capítulo você teve acesso às principais características que envolvem
o desenvolvimento de doenças crônicas e percebeu que a prevalência delas
ainda está em ascensão. Além disso, refletiu sobre as particularidades do público-

75
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

alvo e sobre ações em EAN que já foram desenvolvidas e avaliadas no ambiente


escolar.

Os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças que normalmente


surgem na fase adulta se iniciam na infância, sendo o principal deles a alimentação
inadequada. Assim, ações baseadas em EAN, construídas a partir de atividades
lúdicas e em parceria com outros profissionais, tornam-se fundamentais para este
ciclo da vida.

No capítulo seguinte abordaremos os marcos teóricos para o desenvolvimento


de intervenções; refletiremos sobre a melhor maneira de dialogar com a
população-alvo e sobre educação permanente; além de discutir a EAN como
tema transversal no currículo escolar da educação básica.

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85
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

86
C APÍTULO 3
Sucesso nas Ações de Educação
Alimentar e Nutricional na
Educação Básica

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• obter embasamento teórico para a construção de atividades


baseadas em Educação Alimentar e Nutricional;

• compreender a importância de dialogar de maneira eficiente com a população;

• compreender a importância da formação permanente para o êxito na utilização


de ações baseadas em Educação Alimentar e Nutricional na educação básica;

• construir atividades baseadas em Educação Alimentar e Nutricional;

• dominar a habilidade de dialogar com a população sobre


alimentação e nutrição de maneira eficiente e transformadora.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

88
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

1 Contextualização
Após refletirmos sobre conceitos importantes para as práticas em EAN é a
hora de aprender acerca dos materiais técnicos disponíveis para a construção
das atividades. Tais materiais foram construídos em parceria com o Governo
Federal e trazem diretrizes e princípios para a construção de práticas alimentares
adequadas.

Outra discussão já realizada neste material foi sobre a evolução no


desenvolvimento de doenças crônicas no Brasil, com os fatores de risco
sendo percebidos cada vez mais cedo, demonstrando assim a importância no
desenvolvimento de ações para o público infantil. Atento a esta importância, o
governo incluiu a EAN como tema transversal nos currículos da educação
básica, abrindo possibilidades de atuação para os profissionais nutricionistas e
aumentando a responsabilidade dos educadores.

Porém, para que a promoção da saúde e a prevenção dos agravos sejam


desenvolvidas a ponto de transformar a vida da população, é necessário que o
diálogo com o público-alvo seja efetivo. Dessa forma, este capítulo possibilitará
que você tenha embasamento teórico para a construção de atividades e que
compreenda a importância de dialogar de maneira eficiente com a população,
assim como a necessidade da formação permanente para o êxito das ações em
EAN.

2 Marcos Teóricos Para O


Desenvolvimento De Intervenções
Em Educação Alimentar E
Nutricional
Nesta seção vamos discutir sobre documentos normativos a serem
contemplados na construção das ações em EAN. Atualmente temos:

• Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2008, 2014a).


• Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade
(BRASIL, 2014b).
• Na Cozinha com as Frutas, Verduras e Legumes (BRASIL, 2016a).
• Alimentos Regionais Brasileiros (BRASIL, 2002).

89
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

As finalidades, os princípios e as informações que esses documentos


apresentam sobre maneiras de promover uma alimentação adequada e saudável
serão o foco da argumentação.

2.1 Guia Alimentar para a População


Brasileira
A primeira publicação do Guia Alimentar aconteceu em 2006 com reimpressão
em 2008 e consistia em diretrizes alimentares oficiais para a população brasileira
baseadas no impacto da alimentação saudável na prevenção de mortes
prematuras causadas por doenças cardíacas, câncer, diabetes, hipertensão e
obesidade. Além de considerar também as doenças infecciosas relacionadas às
deficiências nutricionais.

Foi desenvolvido com o intuito de fornecer informações, de base conceitual,


sobre o que é uma alimentação saudável e como alcançá-la no cotidiano das
famílias, sendo direcionado para toda a população, mas principalmente aos
envolvidos com saúde pública, a fim de subsidiar abordagens específicas no
contexto familiar.

Suas diretrizes consideram os alimentos e as refeições normalmente


consumidas pelas famílias brasileiras de qualquer classe econômica, evidenciando
que uma alimentação saudável não tem que ser necessariamente cara.

Diante das transformações sociais vivenciadas pela sociedade brasileira


que impactaram sobre suas condições de saúde e nutrição, fez-se necessária a
ampliação de ações intersetoriais que apresentem resultados positivos sobre as
causas de tais condições. Com isso, a segunda edição do Guia foi publicada em
2014 a partir de consulta pública, que permitiu amplo debate por diversos setores
da sociedade.

Ele se baseia no direito humano à alimentação adequada e leva em conta os


determinantes das práti­cas alimentares, bem como a complexidade dos sistemas
alimen­tares contemporâneos. Apresenta-se como um documento oficial de
amparo às ações de EAN em qualquer setor onde ela possa acontecer.

Segundo Bezerra (2018, p. 30-31), ele se destaca por ser uma “publicação
profundamente instigante, envolvente, primorosa e esteticamente belíssima.
Instigante não somente para o leitor especializado e profissionais das áreas de
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e Educação Alimentar e Nutricional

90
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

(EAN), mas para quaisquer pessoas interessadas por alimentação saudável,


cultura alimentar e bem-es­tar em geral”.

Para a prática dos profissionais que atuam em áreas e setores que


desenvolvem atividades de EAN o Guia é indispensável, apesar de não se tratar
de um manual onde é possível encontrar todas as respostas aos desafios com que
nos deparamos na área de políticas públicas. Ademais, ele permite ao profissional
refletir sobre qualquer situação encontrada no dia a dia de atuação, uma vez que
foi elaborado com o objetivo de ampliar o ângulo de compreensão do alimento,
da alimenta­ção e da nutrição em suas múltiplas dimensões e determinantes,
sociais, políticas e econômicas, bem como suas interfaces com a cultura e com
a subjetividade. Sendo apresentado assim como “uma das estratégias para
implementação da alimen­ tação adequada e saudável que integra a Política
Nacional de Alimentação e Nutrição”. (BRASIL, 2014a, p. 8).

É importante destacar que orientações específicas sobre


alimentação de crianças menores de dois anos são encontradas
em outras publicações do Ministério da Saúde. Dentre elas, o Guia
Alimentar para Menores de Dois Anos, publicado em 2002 e que está
sendo atualizado e apresentou consulta pública aberta em agosto
de 2018. Disponível no link: <http://www.redeblh.fiocruz.br/media/
guiaaliment.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2019.

Os cinco princípios do Guia Alimentar norteiam a compreensão da


alimentação e da nutrição em sua comple­xidade, considerando sua interação com
os significados que o fenômeno alimentar adquire no cotidiano da população, seja
no acesso ou no consumo. Assim, sendo uma estratégia que visa promover a
alimentação saudá­vel e adequada, seus princípios estão em sintonia com aqueles
estabelecidos no Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para
as Políticas Públicas (BRASIL, 2014a, p. 23), discutidos no primeiro capítulo deste
livro. São eles:

• Alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, como também aos


alimentos que contêm e fornecem os nutrientes, a como alimentos são
combinados entre si e preparados, a características do modo de comer
e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos
esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar.

91
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

• Recomendações feitas por guias alimentares devem levar em conta


o cenário da evolução da alimentação e das condições de saúde da
população.
• Recomendações sobre alimentação devem levar em conta o impacto das
formas de produção e distribuição dos alimentos sobre a justiça social e
a integridade do ambiente.
• Em face das várias dimensões da alimentação e da complexa relação
entre essas dimensões e a saúde e o bem-estar das pessoas, o
conhecimento necessário para elaborar recomendações sobre
alimentação é gerado por diferentes saberes.
• O acesso a informações confiáveis sobre características e determinantes
da alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas,
famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas
alimentares e para que exijam o cumprimento do direito humano à
alimentação adequada e saudável.

O primeiro princípio parte da compreensão de que a alimentação é mais


que inges­tão de nutrientes. Considera os nutrientes, alimentos, as combinações
de alimentos, preparações culinárias e as dimensões culturais e sociais para o
desenvolvimento de práticas alimentares saudá­veis e adequadas.

O segundo princípio afirma que as recomendações sobre alimen­tação devem


estar em sintonia com seu tempo, considerando, principalmente, o crescimento da
indústria alimentícia que modificou a qualidade dos alimentos presentes na mesa
do brasileiro com a substituição de refeições preparadas com alimentos naturais,
baseadas em métodos tradicionais, por alimentos prontos para o consumo.

Tal hábito traz como consequência o aumento na prevalência das doenças


crônicas não transmissíveis relacionadas ao consumo excessivo de calorias,
com seus fatores de risco sendo percebidos desde a infância, como é o caso do
sobrepeso e da obesidade. Assim, o Guia orienta a execução de ações que se
dirijam não somente aos efeitos, mas atinjam as causas, as raízes do problema.

O terceiro princípio diz respeito à sustentabilidade social, ambiental e


econômica e a abordagem do sistema alimentar em sua integralidade. Assim,
os alimentos que compõem uma alimentação saudável e adequada não
devem produzir impactos negativos ao meio ambiente e devem proporcionar o
desenvolvi­mento econômico sustentável.

O quarto princípio indica a necessidade de ampliação do saber específico da


área de alimentação e nutrição, incorporando a contribuição de outras áreas de
conhecimento, o que envolve tanto o saber científico como o popular. Isso significa
trabalhar com a problemática da alimentação em suas múltiplas interfaces, por

92
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

meio do diálogo e da contribuição de diferentes saberes.

O quinto e último princípio abrange a geração de autonomia para que as


pessoas possam agir em função de seu autocuidado. Sem dúvida, o conhecimento
adequado vindo por meio de uma abordagem pedagógica problematizadora e
ativa contribui para a construção de sujeitos autônomos, capazes de desenvolver
atitudes positivas de maneira voluntária e não imposta.

Em relação às recomendações sobre as escolhas alimentares, o Guia de


2008 orientava sobre o consumo de número de porções de acordo com grupos de
alimentos, que poderiam ser representados por uma pirâmide (Figura 1).

FIGURA 1 - PIRÂMIDE ALIMENTAR ADAPTADA

FONTE: Philippi (2013, p. 11)

Porém, essa classificação não levava em conta o processamento dos


alimentos, considerado como principal responsável pela evolução das doenças
crônicas na atualidade. Por isso, o Guia de 2014 classifica os alimentos em
quatro categorias de acordo com o seu grau de processamento: 1) alimentos
in natura ou minimamente processados; 2) óleos, gorduras, sal e açúcar; 3)
alimentos processados e (4) alimentos ultraprocessados. A Figura 2 exemplifica
tal classificação.

93
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

FIGURA 2 - CATEGORIAS DE ALIMENTOS SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO


DO GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA - 2014

FONTE: Brasil (2014a, p. 51)

O Guia de 2014 recomenda que a base da alimentação seja composta


de alimentos in natura ou minimamente processados, ressaltando o valor das
preparações culinárias desde que o uso de óleos, gorduras, sal e açúcar seja
moderado.

Destaca-se ainda o incentivo ao consumo de água. O Institute of Medicine


(IOM) recomenda que crianças e adolescentes, de nove a 13 anos, ingiram de
sete a oito copos de líquidos por dia, incluindo a água (Quadro 1).

94
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Quadro 1 - RECOMENDAÇÃO DIÁRIA PARA INGESTÃO


ADEQUADA DE ÁGUA (IOM, 2006)
ÁGUA TOTAL BEBIDAS BEBIDAS
IDADE / GÊNERO (alimentos e (incluindo água) (incluindo água)
bebidas) (L/dia) (L/dia) (copos/dia)
0 a 6 meses 0,7 – Leite
materno
7 a 12 meses 0,8 0,6 3
1 a 3 anos 1,3 0,9 4
4 a 8 anos 1,7 1,2 5
9 a 13 anos / masculino 2,4 1,8 8
9 a 13 anos / feminino 2,1 1,6 7
14 a 18 anos / masculino 3,3 2,6 11
14 a 18 anos / feminino 2,3 1,8 8
FONTE: A autora, adaptado de Azevedo, Pereira e Paiva (2016, p. 8)

Em relação aos alimentos processados a indicação é de que seu


consumo seja limitado a pequenas quantidades ou utilizados como ingre­
dientes de preparações culinárias que tenham por base alimentos in natura ou
minimamente processados. Já a recomendação para o ultraprocessados, por
serem nutricionalmente desbalanceados e suas formas de produção, distri­buição,
comercialização e consumo afetarem negativamente a cultura, a vida social e o
meio ambiente, é a de evitar o consumo.

O problema do processamento dos alimentos é a inclusão de


O problema do
sódio, açúcar e gorduras em sua composição. Em 2016, a Organização processamento
Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou critérios para a identificação dos alimentos é a
dos produtos processados e ultraprocessados levando em conta a inclusão de sódio,
quantidade destes ingredientes nos produtos. Os produtos devem açúcar e gorduras
apresentar menos de 1mg de sódio por caloria, menos de 10% do valor em sua composição.
energético proveniente de açúcares livres e menos de 30% proveniente
de gorduras totais (OPAS, 2016).

Retornando ao Guia, suas recomendações abordam a prática alimen­tar diária


do brasileiro em estreita articulação com os princí­pios apresentados no Marco
de EAN, com os conceitos de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e com o
Direito Humano a uma Alimentação Adequada (DHAA).

Uma “regra de ouro” sintetiza tais recomendações: “prefira sempre alimentos


in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos
ultraprocessados” (BRASIL, 2014a, p. 47).

95
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

1 Liste quatro alimentos pertencentes em cada categoria proposta


pelo Guia Alimentar.

2 Quais substituições devem ser feitas para se cumprir a regra de


ouro determinada pelo Guia?

O Guia de 2014 ainda apresenta orientações específicas de como combinar


alimentos na forma de refeições – café da manhã, almoço, jantar e pequenas
refeições – baseadas nos alimentos presentes na mesa dos brasilei­ros e que
atendam à “regra de ouro”, ou seja, prioritariamente alimentos in natura e/ou
minimamente processados.

Para uma Não há regras ou receitas, mas uma reflexão sobre os alimentos
alimentação
presentes no dia a dia da população com adequada forma de preparo,
adequada são
necessários combinações e substituições de produtos e ingre­dientes. Destaca-se
cuidados com a que, para uma alimentação adequada são necessários cuidados com a
higienização dos higienização dos alimentos, com os utensílios utilizados assim como do
alimentos, com os próprio indivíduo que o manipula.
utensílios utilizados
assim como do
Em seguida, ele discute sobre o prazer e a comensalidade
próprio indivíduo
que o manipula. apresentando como orientação comer com regu­laridade e atenção, em
ambiente apropriado e em companhia. Nesse momento, o Guia imprime
maior destaque à relação entre as dimensões social e cultural da alimentação e o
ato de comer.

Para finalizar, o documento se dedica em discutir os obstáculos para


a adoção de práticas alimentares adequadas. São eles: informação, oferta,
custo, habilidades culinárias, tempo e publicidade. São apresentadas a causa
e consequência de cada um deles, seguidas de maneiras de superá-los. Além
disso, apresenta 10 passos para uma alimentação saudável e adequada (Quadro
2).

96
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

QUADRO 2 - DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E ADEQUADA


DE ACORDO COM O GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2014
1 Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimen-
tação.
2 Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em peque­nas quantidades ao temperar e
cozinhar alimentos e criar prepa­rações culinárias.
3 Limitar o consumo de alimentos processados.
4 Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.
5 Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que
possível, com companhia.
6 Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou
minimamente processados.
7 Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.
8 Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece.
9 Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na
hora.
10 Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimenta-
ção veiculadas em propagandas comer­ciais.
FONTE: Brasil (2014a, p. 125-128)

2.2 Estratégia Intersetorial de


Prevenção e Controle da Obesidade
Diante dos riscos com o aumento de sobrepeso e obesidade para a
população brasileira, a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e
Nutricional (CAISAN), em parceria com o Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (CONSEA) e a Organização Pan-Americana de Saúde/
Organização Mundial de Saúde, publicaram em 2014 o documento Estratégia
Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade. Documento este que está
em sintonia com o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional (2012-2015) e
Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (2011-2022)
e tem como objetivo “prevenir e controlar a obesidade na população brasi­leira,
promovendo a alimentação adequada e saudável e a prática de atividades físicas
no ambiente em que vivemos” (BRASIL, 2014b, p. 13).

São seis os eixos de ação propostos pelo documento e apresentados na


Figura 3 (BRASIL, 2014b, p. 15).

97
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

FIGURA 3 - EIXOS DE AÇÃO PROPOSTOS PELA ESTRATÉGIA


INTERSETORIAL DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA OBESIDADE

FONTE: Bezerra (2018, p. 40)

No que diz respeito às temáticas de ações de EAN, o documento destaca


a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos adequados,
assim como a organização de feiras de alimentos locais e a maior participação dos
produtos orgânicos e de base ecológica no mercado, assim como de pescados.

Dois anos antes da publicação do Guia Alimentar, em 2012, o Governo Federal


instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Pnapo, a fim
de orientar o desenvolvimento rural sustentável, impulsionado pelas preocupações
das organizações sociais e da sociedade em geral, a respeito da necessidade
da produção de alimentos saudáveis com a conservação dos recursos naturais.
A partir dessa política foi criado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica – Planapo (2013-2015), que promoveu avanços na criação, articulação e
adequação de programas e ações, em nível nacional, no campo da agroecologia
e contribuiu para a maior inserção do tema nos processos internos de órgãos
públicos, operadores de crédito, instituições de ensino, pesquisa e extensão, nos
diversos níveis federativos. Em 2016 foi publicada a versão atualizada do Planapo
(2016-2019) contendo as diretrizes que o orientam e suas implicações do ponto de
vista do diálogo com políticas afins (BRASIL, 2016b).

98
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Conheça o Plano Nacional de Agroecologia e Produção


Orgânica (Planapo), acesse: <http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/
sitemda/files/ceazinepdf/PLANAPO_2016_2019.pdf>. Acesso em: 18
jan. 2019.

Retomando, a estratégia de prevenção e controle da obesidade afirma que


para garantir a saúde do indivíduo com sobrepeso e obesidade é necessário que
haja ambientes específicos para promoção da alimentação adequada e saudável,
atividade física e acesso a espaços públicos de lazer com destaque aos espaços
urbanos, ambiente de trabalho e ambiente escolar.

O documento destaca ainda a divulgação do Manual das Cantinas Escolares


Saudáveis a fim de orientar os proprietários de cantinas a transformarem seus
estabelecimentos em locais de promoção da alimentação adequada e saudável.
Ele também fomenta a implantação de hortas pedagógicas e promove o resgate
da cultura alimentar local, principalmente em datas comemorativas.

Manual das Cantinas Escolares Saudáveis – Promovendo a


Alimentação Saudável. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/
docs/portaldab/documentos/manual_cantinas_escolares_saudaveis.
pdf>. Acesso em: 18 jan. 2019.

Uma alimentação saudável, além de ter como base alimentos in natura ou


minimamente processados, também deve estar em condições ideais de consumo
com vistas à qualidade sanitária e à inocuidade. Com isso, as crianças devem ser
orientadas ao modo de conservação e manipulação de alimentos.

Em relação ao processamento de alimentos, foi assinado um termo de


compromisso entre o Ministério da Saúde e associações representativas do setor
produtivo que traz, entre seus objetivos, a redução das quantidades de açúcar,
gorduras e sódio nos alimentos processados devido às evidências do aumento
no risco de desenvolvimento de doenças crônicas advindas do consumo de tais
ingredientes culinários.

99
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Para saber mais sobre controle e regulação dos alimentos,


acesse: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_promocao_da_
saude.php?conteudo=controle>. Acesso em: 18 jan. 2019.

No que diz respeito à regulação e controle de qualidade dos alimentos, o


Governo Federal em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), Organização Pan-Americana de Saúde (OMS) e Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor (IDEC), esforça-se para:

• reformulação de alimentos processados com redução de sódio, gorduras


e açúcares;
• aprimoramento das normas de rotulagem em relação à clareza,
legibilidade e mais informações;
• normati­zação de rotulagem de alimentos geneticamente modificados;
• normas de controle da publicidade de alimentos, notadamente aquela
dirigida às crianças;
• capacitação de agricultores familia­
res com foco no uso de
agrotóxicos e transgênicos.

PUBLICIDADE DE ALIMENTOS

A publicidade de alimentos, principalmente aquela voltada para


o público infantil, tem grande impacto no aumento da obesidade ao
estimular o consumo excessivo habitual de alimentos processados
com altos teores de açúcar, gordura e sal.

Considerando-se o mercado publicitário voltado ao público


infantil, o segundo segmento mais anunciado é o de alimentos,
com destaque para comidas rápidas, biscoitos e salgadinhos. A
promoção comercial de alimentos é realizada por diversos canais
de comunicação: propaganda veiculada pela televisão, exibição
de produtos dentro da programação televisiva, ação nos pontos de
venda, disposição dos produtos nos pontos de venda, patrocínio
de eventos, embalagens, internet, cinemas, ações em espaços
públicos como ruas e praças, ações em instituições de ensino, rádio

100
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

(propaganda veiculada pela televisão e rádio), entre outros tipos de ações.

O Brasil não tem uma legislação nacional que trate especificamente


da promoção comercial de alimentos. No entanto, a publicidade é regulada
pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), que proíbe
toda publicidade enganosa ou abusiva. Isso significa que, para proteger
direitos básicos como informação, saúde e segurança dos consumidores,
os anunciantes devem informar adequadamente as características dos
produtos, inclusive sobre os riscos que podem acarretar. Além disso, não
podem desrespeitar valores sociais fundamentais, induzindo o consumidor
a agir de forma prejudicial à sua saúde e segurança ou aproveitando-
se da deficiência de julgamento e experiência da criança, sob pena de
responsabilização no âmbito civil, penal e administrativo.

Para saber mais, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/


l8078.htm>. Acesso em: 18 jan. 2019.

A abusividade do direcionamento de comunicação mercadológica à


criança, de qualquer tipo de produto ou serviço, também está prevista na
Resolução nº 163/2014 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente), que se soma ao sistema normativo composto
pela Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e Código
de Defesa do Consumidor. Essa norma apresenta exemplos claros das
estratégias comumentemente utilizadas para persuadir, em diversos meios
e lugares, crianças ao consumo de qualquer produto ou serviço, como
presença de personagens, oferta de brindes colecionáveis e linguagem
infantil, além de princípios orientadores às publicidades para adolescentes
e não se aplica às campanhas não comerciais referentes a informações
sobre boa alimentação.

Para ter acesso à Resolução, acesse:


< h t t p : / / p e s q u i s a . i n . g o v. b r / i m p r e n s a / j s p / v i s u a l i z a / i n d e x .
jsp?jornal=1&pagina=4&data=04/04/2014>. Acesso em: 18 jan. 2019.

Além das leis vigentes, há alguns projetos de lei em tramitação.


Nos âmbitos estadual e municipal podem ser realizadas ações locais
que protejam as crianças limitando a veiculação de propagandas e a
disponibilidade de alimentos não saudáveis em locais públicos como
escolas, praças, ginásios, praia, parque etc. Além de fiscalização por
parte poder público, das ações comerciais de divulgação de produtos em
escolas, hospitais, gincanas, clubes e outros locais.

101
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Parte das ações relacionadas à publicidade e à disponibilidade de


alimentos em espaços públicos podem ser reguladas por leis municipais
e estaduais, de acordo com o sistema normativo vigente. É importante
que o Estado proteja crianças e adolescentes por comporem públicos
vulneráveis, que ainda não conseguem se defender dos abusos cometidos
aos seus direitos vulneráveis.

Ações de proteção do Estado com efetiva fiscalização de


irregularidades, sobretudo pelos órgãos de defesa do consumidor e da
infância, são fundamentais para orientar as famílias e demais atores
da sociedade a respeitar, conjuntamente, os direitos de crianças e
adolescentes. É importante que o Estado proteja crianças e adolescentes
por comporem um público vulnerável e que necessita de ações de proteção.

Estas atitudes são mecanismos que reduzem a exposição a


informações e tendem a melhorar o consumo alimentar desse grupo.
Alguns estados e municípios têm iniciativas que vão neste sentido, com
medidas legais que limitam alguns tipos de publicidade, principalmente em
escolas e locais frequentados por crianças e adolescentes.

A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da


Saúde (OPAS/OMS) possui recomendações claras aos governos sobre
a necessidade de regulamentar o mercado de publicidade, dirigida às
crianças, de alimentos ricos em gorduras, açúcar e sal.

Em 2010 foi aprovada na Assembleia Mundial da Saúde uma


resolução que instou os governos dos Estados-membros a dirigirem
esforços para restringirem a promoção e a publicidade de alimentos para as
crianças. Saiba mais em: <http://www.who.int/nutrition/topics/WHA63.23_
iycn_en.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2019.

Em 2012, a Organização Pan-Americana de Saúde publicou um


documento fruto de uma consulta de especialistas sobre o tema. Uma
recomendação básica deste documento é que cada Estado-membro defina
um objetivo claro para a política de redução da exposição das crianças ao
marketing de alimentos ricos em gordura, açúcar ou sal, com a meta de
diminuir os riscos para a saúde infantil.

Acesse aqui as versões da publicação em português, espanhol e inglês:


<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&task=doc_
details&gid=1431&Itemid=423>. Acesso em: 18 jan. 2019.

102
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

A participação social é fundamental para mover a agenda da


publicidade de alimentos. Algumas instituições vêm se destacando no
apoio à regulamentação da publicidade de alimentos, como o Instituto
Alana (http://alana.org.br/) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
- IDEC (http://www.idec.org.br).

Também é importante ressaltar que o Conselho Nacional de


Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, mantém um Grupo de
Trabalho sobre o tema com o objetivo de discutir estrategicamente ações
para regulação da publicidade de alimentos, tendo em vista o direito
humano à alimentação adequada e saudável. O CONSEA, inclusive, já
discutiu o tema da regulação de publicidade de alimentos em plenárias,
tendo enviado a Recomendação nº 006/2013 aos parlamentares para
que apreciem prioritariamente projetos de lei que tratam da regulação da
publicidade de alimentos. Acesse o site do CONSEA em: <http://www4.
planalto.gov.br/consea>.

FONTE: Brasil (2014b, p. 57-60)

2.3 Na Cozinha com as Frutas,


Legumes e Verduras
Para a garantia da manutenção da saúde é imprescindível o consumo de
frutas e hortaliças. Porém, a ingestão destes alimentos ainda é baixa na população
brasileira, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças como
obesidade, hipertensão, diabetes e câncer. Dados apontam que 33,9% da
população brasileira consome estes alimentos cinco vezes ou mais por semana
(BRASIL, 2018a).

O Brasil é um país muito grande, com variedade de solos capazes O Brasil é um país
de desenvolver uma diversidade de frutas e hortaliças que merecem muito grande,
ser melhor aproveitadas na mesa do brasileiro. Por isso “Na Cozinha com variedade de
com as Frutas, Legumes e Verduras” foi elaborada. Ela é resultado do solos capazes de
trabalho conjunto da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição desenvolver uma
diversidade de frutas
do Ministério da Saúde (CGAN/DAB/SAS/MS) em parceria com a
e hortaliças que
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com o apoio da merecem ser melhor
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/Brasil).Traz informações aproveitadas na
sobre características nutricionais e benefícios à saúde, formas de mesa do brasileiro.

103
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

comprar com maior qualidade e preço, maneira adequada de higienizar e


armazenar os alimentos, período de safra além de como diversificar o uso de
diversos alimentos brasileiros no dia a dia (receitas) (Figura 4).

FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DO QUE PODERÁ SER ENCONTRADO NA


PUBLICAÇÃO “NA COZINHA COM AS FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS”

FONTE: Brasil (2016a, p. 12 e 24)

104
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Com isso, os autores esperam que a publicação sirva “para apoiar e estimular
práticas alimentares adequadas e saudáveis no âmbito individual e coletivo, além
de qualificar as ações de educação alimentar e nutricional desenvolvidas nos
serviços de saúde” (BRASIL, 2016a, p. 5).

Como complemento a esta publicação têm-se os “Alimentos Regionais


Brasileiros”.

2.4 Alimentos Regionais Brasileiros


Publicação elaborada para divulgar a diversidade de frutas, hortaliças,


tubérculos e leguminosas brasileiras, com o intuito de estimular a alimentação
acessível, despertar o interesse para o resgate do cultivo, extração racional,
produção e transformação para consumo próprio ou geração de renda e contribuir
com a segurança alimentar e nutricional da população brasileira.

Apresenta os principais alimentos de acordo com a região geográfica


(Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) (Figura 5), trazendo informações
nutricionais e dos modos de consumo e preparação.

Este material pode contribuir para a elaboração de atividades relacionadas à


prática de alimentação saudável junto à população, buscando a valorização dos
alimentos existentes em nosso próprio país e, mais do que isso, em nossa própria
região. Assim como propõe a 3ª diretriz do Marco de Referência de Educação
Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas: valorização da cultura
alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando
a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas (BRASIL, 2012).

105
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

FIGURA 5 - ALIMENTOS TÍPICOS DAS REGIÕES DO BRASIL

FONTE: <http://www.jovemcientista.org.br/webaulas/
webaula2.html>. Acesso em: 18 jan. 2019.

Todos esses materiais indicam os principais temas a serem trabalhados em


ações de EAN, porém nem todos os conceitos estão contemplados neles. Cabe
aos profissionais que construirão as atividades buscarem referências atuais e
em canais de qualidade, como páginas do governo ou sites de busca de artigos
científicos.

106
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

1 Liste cinco temas a serem desenvolvidos em atividades de EAN a


partir do que foi discutido nesta seção.

2
Construa uma atividade em EAN baseada no
processamento dos alimentos.

3 Dialógo Entre Profissionais De


Saúde E População
Até aqui vimos a importância da EAN para a promoção da saúde e Para que as
prevenção no desenvolvimento de agravos a ela. Aprendemos maneiras ações de fato
de construir as atividades objetivando a efetividade das mesmas e alcancem sucesso
discutimos o referencial teórico que deve ser utilizado. Porém, para que é necessário que a
as ações de fato alcancem sucesso é necessário que a comunicação comunicação entre
os profissionais
entre os profissionais de saúde e os receptores daquela informação
de saúde e os
seja clara e enriquecedora. receptores daquela
informação
seja clara e
enriquecedora.

“O maior problema em comunicação é a ilusão de que ela tenha


ocorrido” George Bernard Shaw.

Assim como ter acesso a uma alimentação de qualidade e em quantidade


suficiente para o crescimento e desenvolvimento adequado, compreender as
informações repassadas por qualquer profissional que tenha o objetivo de
transmitir conhecimento ao público é um direito de todos.

Transmissão de conhecimento ou comunicação pode ser entendida como


prática social que advém da interação entre seres humanos expressa por meio da
fala (aspecto verbal), escrita e comportamentos gestuais (aspectos não verbais).

107
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

No contexto das atividades em EAN, a comunicação adequada permite a


implementação do autocuidado e modificação do comportamento alimentar. Para
que isso ocorra é preciso relembrar que os determinantes do comportamento
alimentar existem em vários níveis (Figura 6), desde o individual (aspectos
fisiológicos e físicos), passando pelo interpessoal (família e ciclo social) e
ambiental (cultural e social) e a comunicação em saúde não deve negligenciar
nenhum deles.

FIGURA 6 - DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM TRÊS NÍVEIS

FONTE: A autora

Portanto, é interessante seguir alguns passos para que o diálogo com a


população aconteça de maneira efetiva (adaptados a partir de HIP, 2012). Você
vai perceber que alguns deles já foram citados no primeiro capítulo tamanha é a
importância de segui-los. Então, vamos lá:

• Abordagem sistemática: as intervenções devem ser planejadas,


implementadas e avaliadas. Seguir este processo ajuda a garantir
que intervenções complexas sejam baseadas em evidências, de
maneira organizada e com custos eficazes.

108
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Para o planejamento, deve-se levar em conta as teorias comportamentais


como os Estágios de Mudança propostos pelo Modelo Transteórico abordado
no segundo capítulo deste livro, que descrevem inúmeros fatores que podem
influenciar o comportamento incluindo o conhecimento, a autoeficácia, atitudes
e percepção de risco. Compreender como avaliar e intervir nesses fatores é
fundamental para uma comunicação em saúde eficaz.

Já uma avaliação bem delineada ajuda a aumentar o impacto da intervenção,


pois orienta a melhora de sua execução, o que é particularmente essencial em
atividades comunitárias.

• Contexto cultural e social: devem ser considerados e abordados nas


atividades desenvolvidas, pois os fatores que influenciam o comportamento
de um grupo não se repetem em outro grupo, com isso as intervenções
devem ser adaptadas a fim de atender às necessidades de cada um
deles.

• Objetivos realistas: não adianta desenvolver atividades com objetivos


utópicos. Além de claros, devem apresentar metas de curto e longo
prazo que, muitas vezes, necessitam de tempo e recursos significativos
para alcançar. Por isso, os orçamentos devem responder por despesas de
implementação, monitoramento e avaliação.

• Envolvimento e interação do público: provocar discussões e cativar o


público-alvo não é apenas o esperado no ambiente da comunicação,
é essencial para alcançar a mudança de comportamento. Assim, as
intervenções devem considerar a opinião do público para sua concepção,
implementação, monitoramento e avaliação, sendo isentas de autoritarismo
e preconceitos.

Quando se transmite um conteúdo por um tempo escasso e com informação


insuficiente, imprecisa, ambígua ou excessivamente técnica a respeito do
comportamento alimentar, ocorrem problemas na comunicação. Para diminuir as
dificuldades na transmissão do conhecimento é necessário que a informação seja
clara, compreensível, baseada em evidências e personalizada para a população,
considerando seu nível cultural e adaptada ao seu nível cognitivo. Quando todos
estes pontos são considerados, a satisfação dos participantes nas atividades fica
aumentada, favorecendo a intenção em modificar os hábitos de vida (TEIXEIRA,
2004).

Em um trabalho realizado com egressos do curso de Medicina foi


perguntado sobre a comunicação entre médicos e pacientes. Observou-se que

109
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

eles usaram, com frequência, os verbos transmitir, passar, esclarecer e explicar.


Os verbos transmitir e passar denotam a transferência de conhecimentos sem
a devida atenção à demanda de quem recebe a informação. Por outro lado, os
verbos esclarecer e explicar remetem a uma maior preocupação em se fazer
compreendido (ROSSI; BATISTA, 2006). E é a compreensão que devemos buscar
ao intervir em EAN com as crianças.

Outro ponto a ser considerado na transmissão de informações sobre saúde


é o cuidado com a escuta. Os aplicadores da intervenção devem encorajar os
participantes a fazerem perguntas, a demonstrar seu ponto de vista,
Os aplicadores
suas preocupações e expectativas. Isso gera um efeito positivo na
da intervenção
devem encorajar recepção da informação, ocasionando menos estresse e ansiedade por
os participantes a parte dos ouvintes (TEIXEIRA, 2004).
fazerem perguntas,
a demonstrar seu Problemas na transmissão de informação podem resultar em
ponto de vista, suas comportamentos de adesão insatisfatórios em relação à adoção de
preocupações e
comportamentos saudáveis e desenvolvimento de autocuidados. O
expectativas.
participante deve entender o que é necessário fazer e recordar o que
foi dito para acreditar que vale a pena seguir as recomendações repassadas
(TEIXEIRA, 2004).

A linguagem corporal nos diz muitas coisas e não mente, por


isso se torna importante que os aplicadores de atividades em EAN
entendam um pouco sobre ela, por isso é indicado o livro: O Corpo
Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal.

FONTE: Weil (2015).

Torna-se relevante destacar que a habilidade de comunicação constitui


uma das cinco competências gerais estabelecidas pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) para os cursos da área da saúde e educação (BRASIL,
2001), porém, na realidade brasileira há necessidade de exploração do tema
no processo de formação dos profissionais, tendo em vista que a maioria dos
discentes não tem sido instrumentalizada com habilidades comunicativas no seu
processo de formação (DE MARCO et al., 2010).

110
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Os profissionais aplicadores de intervenção em EAN precisam se apropriar de


tecnologias, conhecimentos, habilidades e técnicas, dentre as quais se situam as
práticas da educação em saúde. Entretanto, para que os processos comunicativos
se deem de forma transformadora, a formação dos profissionais da área deve
ultrapassar a simples aquisição de técnicas e instrumentos rígidos e respeitar a
cultura e os saberes dos indivíduos que receberão aquelas informações. 

3.1 A Linguagem da Criança

Para a criança, a linguagem desempenha funções mais complexas do


que apenas a comunicação. Apresenta como características o simbolismo, a
ludicidade, a imaginação e representação, fazendo com que a criança tenha
múltiplas maneiras de se comunicar (através do olhar, abraço, movimento, gesto,
brincadeira e palavras) (VITÓRIA, 2003).

Por isso, a brincadeira se torna de vital importância quando o


objetivo é transmitir informação para uma criança. Ela representa A brincadeira
liberdade, espontaneidade, criatividade, imaginação, aprendizagem, se torna de vital
importância
desenvolvimento, prazer, diversão, expressividade e afetividade.
quando o objetivo
É através dela que a criança atua e se desenvolve em uma esfera é transmitir
cognitiva, comunica-se e internaliza comportamentos (BERLEZE; informação para
DONADEL; KUNZ, 2015). Não apenas o brincar, mas esta faixa etária uma criança.
também deve ser estimulada pelo teatro, cinema, mídia (televisão,
rádio, jornal), novas mídias (computador, jogos eletrônicos etc.), histórias em
quadrinhos, álbuns de figurinha, poesia e ilustração (VITÓRIA, 2003), tudo de
acordo com a idade e fase de desenvolvimento.

Pesquisadores do Ceará desenvolveram um projeto em que


usaram da tecnologia atual (Web Rádio) para transmitirem aos
escolares informações sobre saúde. Perceberam que ela representa
um meio de muitas possibilidades, constituindo-se em um mecanismo
para melhor ouvir, promover saúde e tirar dúvidas acerca do cuidado
com o corpo. Vale a pena a leitura em: <http://www.jhi-sbis.saude.ws/
ojs-jhi/index.php/jhi-sbis/article/view/325/233>. Acesso em: 18 jan.
2019.

FONTE: TORRES et al., (2015)

111
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

A entrada em cena da tecnologia abre grandes possibilidades de


desenvolvimento de ações e pode representar a adesão dos participantes,
principalmente das crianças que já nascem inseridas neste mundo tecnológico.
Assim, o uso de ferramentas acessíveis e adequadas amplia a exploração e
desenvolvimento do universo de fantasias que as crianças são capazes de criar
para explorar e aprender ao respeito do mundo ao seu redor.

O auxílio de mídias digitais para a contação de histórias foi analisado por


Garcia (2018), que conclui sobre a importância da tecnologia em sustentar
processos criativos coletivos, explorando imagens e fantasias, formas, objetos,
desenhos, cores, texturas, palavras e sons, exercendo o papel de autoras e
protagonistas do processo educativo.

Para finalizar, um elemento chave para o processo de comunicação efetiva


é o uso da empatia, que significa se colocar no lugar do outro tentando entender
as atitudes presentes a partir das experiências vividas por ele. A empatia pode
acontecer de forma verbal e não verbal e seu desenvolvimento é de extrema
importância quando a proposta é cuidar de alguém (TAKAKI; SANT´ANA, 2004).

Reflita sobre as afirmações abaixo e assinale FALSO (F) ou


VERDADEIRO (V). Justifique as afirmativas marcadas como
falsas:

( ) Compreender as informações repassadas pelos profissionais é
importante, mas nem tanto quanto ter acesso à alimentação.
Justificativa:

( ) A maneira como a comunicação é realizada não interfere no


autocuidado e na modificação do comportamento alimentar.
Justificativa:

( ) Uma avaliação das atividades de EAN bem delineada ajuda a


aumentar o impacto da intervenção por permitir orientar a melhora
de sua execução.
Justificativa:

( ) Ao desenvolver os objetivos a serem alcançados em atividade


de EAN deve-se usar a criatividade, objetivos utópicos são bem
aceitos para aumentar os resultados das ações.

112
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Justificativa:

( ) Para diminuir as dificuldades na transmissão do conhecimento é


necessário que a informação seja clara, compreensível, baseada
em evidências e personalizada para a população, considerando
seu nível cultural e adaptada ao seu nível cognitivo.
Justificativa:

( ) O participante de atividades em EAN deve entender o que é


necessário fazer, mas não precisa recordar o que foi dito.
Justificativa:

( )
Para que os processos comunicativos se deem de forma
transformadora, a formação dos profissionais da área não deve
ultrapassar a simples aquisição de técnicas e instrumentos rígidos
apenas, mas respeitar a cultura e os saberes dos indivíduos que
irão receber aquelas informações já é suficiente. 
Justificativa:

( ) Para a criança, a linguagem não apresenta como característica


o simbolismo, ludicidade, imaginação e representação.
Justificativa:

( ) A criança tem múltiplas maneiras de se comunicar: através do


olhar, abraço, movimento, gesto, brincadeira e palavras.
Justificativa:

( ) O uso da tecnologia em ações de EAN é importante para sustentar


processos criativos coletivos, fazendo com que os participantes
sejam autores e protagonistas do processo educativo.
Justificativa:

113
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

3.2 Refletindo Experiência


Já refletimos sobre conceitos importantes e apresentamos, no segundo
capítulo, os resultados de ações em EAN para a saúde da criança, considerando
a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Porém, ainda pode ser
difícil desenvolver atividades em EAN. Em virtude disso, serão indicados materiais
e sites que trazem experiências exitosas, com descrição da metodologia utilizada
a fim de servir como modelo. Mas, não se esqueça: você deve sempre usar e
abusar da sua imaginação e criatividade para a construção das intervenções em
EAN.

A demanda para criação do site “Rede Virtual Ideias na Mesa”


foi detectada pelos participantes do Encontro de Educação Alimentar
e Nutricional – Discutindo Diretrizes, realizado em 2011, em Brasília.
Ele foi criado a partir da parceria entre a Coordenação Geral de
Educação Alimentar e Nutricional / Ministério do Desenvolvimento
Social e Agrário (CGEAN/MDSA) e o Observatório de Políticas de
Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN/UnB). Seu intuito é construir
um espaço democrático para troca de informações e experiências a
fim de construir novos conhecimentos no âmbito da EAN, além de
estabelecer referenciais técnicos, conceituais e metodológicos.

Nessa perspectiva, seus objetivos são:

• Proporcionar um espaço de registro e intercâmbio de práticas,


materiais, métodos e resultados das diversas experiências de EAN
no Brasil.
• Incentivar a troca de experiências e aprendizados vivenciados
no âmbito da EAN.
• Facilitar a busca por materiais e documentos relacionados à
EAN.
• Contribuir com o processo de expansão, qualificação e
inovação das práticas de EAN nos diferentes setores de atuação.
• Gerar reflexões e discussões sobre os desafios para o
aprimoramento das práticas de EAN.
• Divulgar e valorizar as ações de EAN.
• Criar uma rede de comunicação rápida e aberta sobre EAN.

Para saber mais, acesse: <https://www.ideiasnamesa.unb.br/>.


Acesso em: 18 jan. 2019.

114
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Em 2018, o Ministério de Desenvolvimento Social lançou o caderno


“Princípios e Práticas para Educação Alimentar e Nutricional” considerando os
princípios apresentados pelo Marco de Referência, assim como a possibilidade de
combinação entre eles. Com isso, tem o intuito de contribuir para a “percepção dos
diversos caminhos e possibilidades concretas para o planejamento e execução de
ações de EAN à luz dos principais conceitos e princípios do Marco de Referência”
(BRASIL, 2018b, p. 9).

O caderno resgata o conceito de EAN e traz experiências realizadas em todo


o território nacional especificando qual é o princípio a que determinadas atividades
estão atendendo. Para finalizar, reflete sobre caminhos para o planejamento de
ações, tema importante apresentado a você neste livro.

Você poderá consultar o caderno “Princípios e Práticas para


Educação Alimentar e Nutricional”, acessando: <https://www.mds.
gov.br/webarquivos/arquivo/seguranca_alimentar/caisan/Publicacao/
Educacao_Alimentar_Nutricional/21_Principios_Praticas_para_EAN.
pdf>.

Também em 2018, o Ministério da Educação, em parceria com o Fundo


Nacional de Desenvolvimento da Educação e Programa Nacional de Alimentação
Escolar, lançou a “Jornada de Educação Alimentar e Nutricional: melhores relatos
da educação infantil”, com o intuito de dar visibilidade às iniciativas criadas e
aplicadas em diferentes regiões do país. Este material apresenta experiências e
é dividido em temas como: alimentação complementar e prevenção da obesidade
infantil; alimentos regionais brasileiros; prevenção e redução de perdas e
desperdício de alimentos; horta escolar pedagógica; agricultura familiar na escola;
atividades lúdicas para o desenvolvimento social e relacionado ao ato de comer
(BRASIL, 2018c).

Saiba mais a respeito dos temas abordados na “Jornada


de Educação Alimentar e Nutricional: melhores relatos da
educação infantil”, acessando: <https://rebrae.com.br/wp-content/
uploads/2018/03/publicao-Jornada-EAN-DIGITAL.pdf>.

115
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

4 Educação Alimentar E
Nutricional No Currículo Escolar
E Formação Permanente
Como já foi visto, a escola é um ambiente privilegiado para o desenvolvimento
de ações em EAN, uma vez que ela possui a função social de formar cidadãos
críticos sobre diversos assuntos relacionados à vida e à sociedade, dentre eles, à
alimentação e nutrição.

Outra questão importante envolvendo o ambiente escolar é o fato de as


intervenções serem necessariamente realizadas para a faixa etária infantil, fase
em que o aprendizado acontece de maneira mais efetiva e transformadora.
Sem contar que os comportamentos criados nesta fase normalmente seguem o
indivíduo por toda a sua vida.

Neste material estamos tratando da educação básica de ensino, que


compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.
Sendo assim, a formação do cidadão brasileiro engloba uma educação básica
fundamental obrigatória de oito ou nove anos contínuos e uma educação básica
média, progressivamente obrigatória, de três anos (BRASIL, 2013).

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), “a educação


básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Além disso, “a educação básica
poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre
que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar” (BRASIL,
1996, Capítulo II, Seção I).

COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

1 Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos


sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e
explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a

116
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2 Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria


das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise
crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas,
elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar
soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.

3 Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais,


das locais às mundiais, e também participar de práticas
diversificadas da produção artístico-cultural.

4 Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora,


como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem
como conhecimentos das linguagens artística, matemática e
científica, para se expressar e partilhar informações, experiências,
ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos
que levem ao entendimento mútuo.

5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação


e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para
se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
autoria na vida pessoal e coletiva.

6 Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais


e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe
possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho
e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
projeto de vida com liberdade, autonomia, consciência crítica e
responsabilidade.

7 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis,


para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista
e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável
em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em
relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8 Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e


emocional, compreendendo-se na diversidade humana e

117
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e


capacidade para lidar com elas.

9 Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a


cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
qualquer natureza.

10 Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,


flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com
base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis
e solidários.

FONTE: Brasil, 2018e (p. 9)

O currículo da educação básica é composto por Áreas e Temas Transversais.


Os últimos correspondem a questões urgentes para a sociedade, expressam
conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania. É entendida como
uma forma de organizar o trabalho didático-pedagógico em que eixos temáticos
são integrados às disciplinas “convencionais” de forma a estarem presentes em
todas elas (BRASIL, 2013).

A ideia de A ideia de transversalidade se apresenta como uma aposta de


transversalidade
mudança e renovação do ensino a partir do trabalho interdisciplinar.
se apresenta
como uma aposta No Brasil, esse movimento foi mais intenso após a publicação
de mudança e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), pelo Ministério da
renovação do ensino Educação, que trouxeram para o Ensino Fundamental a ideia de ir além
a partir do trabalho das disciplinas ao trabalhar temas que estariam mais relacionados com
interdisciplinar. o cotidiano e a vida dos estudantes (MARINHO; SILVA; FERREIRA,
2015).

Os temas transversais compreendem seis áreas:

• Ética (respeito mútuo, justiça, diálogo, solidariedade).


• Orientação sexual (corpo: matriz da sexualidade, relações de gênero,
prevenções das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST).
• Meio ambiente (os ciclos da natureza, sociedade e meio ambiente,
manejo e conservação ambiental).

118
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

• Saúde (autocuidado, vida coletiva).


• Pluralidade cultural (pluralidade cultural e a vida das crianças no Brasil,
constituição da pluralidade cultural no Brasil, o ser humano como agente
social e produtor de cultura, pluralidade cultural e cidadania).
• Trabalho e consumo (relações de trabalho; trabalho, consumo,
meio ambiente e saúde; consumo, meios de comunicação de massa,
publicidade e vendas; direitos humanos, cidadania) (BRASIL, 1998).

A partir de novembro de 2018 entrou em vigor a Lei nº 13.666/2018, que


acrescenta ao artigo 26 da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases) a
Educação Alimentar e Nutricional como tema transversal nos currículos
da educação básica (BRASIL, 2018d). Esta ação representa um ganho para a
saúde das crianças e para a atuação dos profissionais que trabalham com EAN,
uma vez que tais temas não estão relacionados a apenas algumas disciplinas,
mas são pertinentes para o aprendizado em diferentes áreas, contribuindo para a
formação integral do aluno.

Para as crianças, a lei se torna fundamental para a formação de ambientes


alimentares saudáveis nas escolas como resposta ao grave quadro epidemiológico
de doenças crônicas não transmissíveis. E o profissional nutricionista acaba
se beneficiando, uma vez que o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) e a Resolução FNDE nº 26/2013 preveem que seja ele, na condição de
responsável técnico pelo programa, o responsável por coordenar as ações de
EAN.

Porém, a inserção dos temas transversais no ambiente escolar implica em um


trabalho continuado desde o início da vida escolar, com a abordagem educativa
estando presente em todas as disciplinas a fim de facilitar a incorporação de
ideias e práticas corretas que passem a fazer parte do cotidiano dos indivíduos de
forma a atender suas necessidades reais.

Logo, os professores de educação básica são os profissionais responsáveis


pela abordagem transversal do tema, porém, a falta de motivação e a relação
precária entre docentes e gestores se apresentam como fatores de obstáculo
para esta abordagem, com isso o assunto acaba sendo abordado de maneira
esporádica, apenas em eventos pontuais (RODRIGUES, 2018).

Os temas transversais devem ser abordados em todas as Os temas


disciplinas e vistos como conteúdo de ensino, o aluno deve terminar transversais devem
a educação básica compreendendo sobre todos os temas. Estudo ser abordados em
realizado em 2018 observou que apenas as disciplinas de Ciências todas as disciplinas
e vistos como
e Educação Física abordam o tema “alimentação saudável” em sala
conteúdo de ensino.
de aula e, mesmo assim, os professores ainda reclamam da falta de

119
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

materiais complementares. Além de se sentirem despreparados para trabalhar


essa temática devido à deficiência na formação inicial e continuada (RODRIGUES,
2018).

O marco de referência em EAN aborda este assunto e determina que


profissionais da comunidade escolar, da saúde e da área de desenvolvimento
social devem receber formação específica antes de desenvolver atividades em
EAN (BRASIL, 2012). Estes profissionais devem ser capazes de reconhecer e
compreender a diversidade (cultura, desenvolvimento, experiência de vida);
aceder à perspectiva da criança (cognições, emoções...); articular e integrar
num espaço de vida coletivo a diversidade de interesses e necessidades; buscar
congruência (teoria/ação) e/ou capacidade para (re)construir continuadamente o
seu conhecimento sobre as crianças e sobre como elas aprendem.

4.1 Educação Permanente


Com o advento da tecnologia, as mudanças presentes em vários setores
são constantes, inclusive na área da alimentação. Por isso, torna-se necessário
que, além da formação inicial, profissionais de qualquer área tenham acesso à
educação permanente a fim de serem capazes de prestar uma assistência de
qualidade.

A educação permanente é compreendida como a ação de práticas


A educação
que informam e recriam a teoria, recriando a própria prática, e deve
permanente é
compreendida como ser compreendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela acontece
a ação de práticas no cotidiano das pessoas e das organizações. Possui como principais
que informam e objetivos: promoção de mudança institucional; fortalecimento das ações
recriam a teoria. da equipe e transformações de práticas técnicas e sociais; tendo como
pressuposto para realização uma pedagogia centrada na resolutividade
de problemas e sendo realizada dentro do ambiente de trabalho, promovendo
com isso a apropriação do saber científico (MICCAS; BATISTA, 2014).

É tão importante para os profissionais da área da saúde que o governo


brasileiro criou a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, com o
objetivo de estimular a atuação crítica, reflexiva, compromissada e tecnicamente
eficiente, o respeito às características regionais e às necessidades específicas de
formação dos profissionais que trabalham em serviços de saúde (BRASIL, 2009). 

120
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Você conhecerá mais a respeito da Política Nacional de


Educação Permanente, acessando: <http://portal.anvisa.gov.
br/documents/33856/396770/Pol%C3%ADtica+Nacional+de+
Educa%C3%A7%C3%A3o+Permanente+em+Sa%C3%BAde/
c92db117-e170-45e7-9984-8a7cdb111faa>.

Na proposta da educação permanente, a capacitação da equipe, os conteúdos


dos cursos e as tecnologias a serem utilizadas devem ser determinados a partir da
observação dos problemas que ocorrem no cotidiano do trabalho e que precisam
ser solucionados para que os serviços prestados tenham mais qualidade (SILVA
et al., 2015).

No contexto da EAN, a educação permanente deve ser oferecida à


comunidade escolar por equipes intersetoriais, no âmbito do Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE) ou pelos Centros Colaboradores em Alimentação
e Nutrição do Escolar (CECANE), com o intuito de incorporar o tema alimentação
e nutrição nos currículos escolares, conforme deter­mina a Lei nº 13.666/2018.
Para os profissionais da saúde deve ser realizada pelas secretarias estaduais
e municipais de Saúde com apoio do Ministério da Saúde e pelos CECANE,
principalmente para as equipes de atenção básica em saúde e/ou outros
profissionais que atuam em áreas com interfaces em EAN e Segurança Alimentar
e Nutricional. E para os profissionais da área de desenvolvimento social, deve ser
empreendida pelas secretarias estaduais e municipais de Desenvolvimento Social
ou semelhante e por projetos coordena­dos pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), tendo como público os gestores de
equipamentos de alimentação e nutrição, profissionais dos Centros de Referência
de Assistência Social (CRAS), líderes comunitários e integrantes de organizações
não governamentais.

Em 2017, um infográfico animado sobre Educação


Permanente em Saúde foi produzido como resultado da
dissertação  “Desenvolvimento de infográfico animado para o
fortalecimento e disseminação de ações pedagógicas sobre educação
permanente em saúde”. É possível conferir o material, acessando:
<https://www.youtube.com/watch?time_continue=30&v=2-
E2We4CjdU>.

121
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR

Uma estratégia para a implementação da educação permanente é o ensino


a distância, que tem se mostrado eficaz para a educação de adultos inseridos no
mercado de trabalho com a vantagem de atingir grande número de pessoas.

Como possibilidades do uso da educação à distância deve-se considerar


a flexibilização do tempo e a diminuição de custos que essa modalidade
proporciona. Como limitações, destaca-se a interação entre os participantes
em ambientes virtuais exigida nesta modalidade de ensino, onde a presença do
mediador se faz necessária para a efetividade do programa. Além disso, deve-se
considerar que nem todos os profissionais possuem habilidades para a utilização
de ferramentas virtuais. Todavia, esta modalidade de ensino representa uma
possibilidade educacional para o desenvolvimento contínuo de profissionais da
saúde (SILVA et al., 2015).

1 Reflita sobre a sua formação profissional e descreva como ela o


capacitou para trabalhar com Educação Alimentar e Nutricional.

2 Você tem recebido educação permanente? Reflita e descreva


sobre as vantagens na sua vida e faça um paralelo do que
melhorou em relação ao seu trabalho.

122
Sucesso nas Ações de Educação Alimentar e
Capítulo 3 Nutricional na Educação Básica

Algumas Considerações
Nesse capítulo você teve acesso aos marcos teóricos propostos pelo Governo
Federal para servir de base ao desenvolvimento de ações em EAN, mesmo sem
a descrição dos conceitos de todos os temas propostos. Também refletiu sobre
comunicação efetiva e a relevância dela para as ações em EAN, que agora é
tema transversal no currículo da educação básica, representando um avanço para
a área da nutrição e principalmente para a saúde e o futuro das crianças.

Os profissionais que aplicam atividades em EAN devem ser capacitados para


tal, apresentar uma linguagem clara e compatível ao público-alvo e passarem por
processos regulares de educação permanente.

Com atenção, animação, criatividade, responsabilidade e comprometimento,


somos capazes de criar atividades de caráter transformador e gerar possibilidades
de melhorar a saúde infantil a ponto de melhorar sua qualidade de vida para
quando forem adultos.

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