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Gentil Palhares
Frei Orlando
O capelão que não voltou
2ª edição
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO
Rio de Janeiro
2013
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 892
Coleção General Benício Volume 494
ISBN 978-85-7011-496-9
CDD 922
2
Dom José Newton de Almeida Baptista, arcebispo de Brasília e vigário Castrense
do Brasil.
FREI ORLANDO*
(Acróstico)
(autor desconhecido)
3
Durante a Campanha da Itália serviu, como capitão, no 11º RI.
À guisa de explicação
e esclarecimentos
4
Segunda Guerra Mundial.
5
Força Expedicionária Brasileira.
20 Frei Orlando: o capelão que não voltou
anos, somente praticando o bem, possam, no Céu, formar com ele a Cor-
te dos Eleitos de Deus.
E que possa ele, o amigo, soldado de Deus e dos homens,
interceder por nós, pobres pecadores, junto ao Pai Supremo.
A exemplo de Cristo e do humilde filho de Assis, Frei Orlan-
do passou pela existência terrena transformando queixumes em garga-
lhadas, rindo e a todos fazendo rir.
Mas, diz ele em uma de suas missivas que encontraremos
neste livro: “Passei pela vida sempre rindo, embora tivesse muitos moti-
vos de chorar.” E quem não chora nesta vida?
E foi assim, rindo e gargalhando, que enfrentou o mundo,
com seus erros, suas paixões e maldades, para tornar-se missionário do
Amor e da Fé.
Juntos, não nos dias festivos e alegres de paz, porém no fra-
gor das batalhas de uma guerra, passamos a nos entender e a nos esti-
mar. Lado a lado, várias vezes enfrentamos a morte no estouro da bom-
ba ou no avião que surgia com seu ronco macabro e triste.
Divergindo um do outro, no que tange ao sentimento filo-
sófico-religioso, tanta e tamanha, entretanto, foi a nossa boa compreen-
são, caIdeada nos princípios sadios da tolerância, que isso, mais e mais,
nos estreitava. Havia, em tudo, sinceridade de propósitos, consolidando
cada vez mais a nossa estima pelo Ministro da Igreja Católica. Daí afir-
marmos sempre a nossa admiração, a nossa perene reverência à sua me-
mória. Uniram-nos, pois, os sentimentos da Tolerância, hoje pregada e
recomendada por Paulo VI no Trono Papal, para que toda a humanidade
se entenda e se ame verdadeiramente. E para que o mundo possa conhe-
cer a paz. Muitos ignoram como foi a existência do inolvidável capelão
da FEB, como viveu e, sobretudo, como encontrou a morte.
Nesta obra, ora dada a lume, há risos e lágrimas, dor e neve,
sangue e gemidos. É um relato histórico todo paradoxal! A infância e
juventude de Frei Orlando, aureoladas de virtudes e de pureza, formam
o lado humano e belo da obra.
Este livro deve ser para os jovens, os quais, mais do que
nunca, necessitam de exemplos sadios e exaltados nesta hora grave da
nacionalidade. Se algum mérito possui o nosso trabalho, este se firma e
se consolida em um ângulo exclusivo: o da Virtude.
À guisa de explicação e esclarecimentos 21
Gentil Palhares
Sumário
Apresentação ......................................................................................................... 05
Prefácio ......................................................................................................... 17
Capítulo 3 – Ordenação
Sua vida em São João Del Rei ............................................. 81
Infância e vocação
Morada Nova de Minas foi elevada à categoria de Vila, pela Lei nº 312.
No ano de 1943, quando o mundo se encontrava mergulhado no caos
da Segunda Guerra Mundial, ganhou foros de município, com o topôni-
mo de Morada, alterando-se para Moravânia e, posteriormente, Morada
Nova de Minas, seu atual nome.
Sua Comarca data do ano de 1955, pela Lei nº 1.039 de
12 de dezembro de 1953, sendo instalada, definitivamente, a 31 de
março de 1955.
Com a criação da Barragem de Três Marias, foi o município
fortemente atingido pelas águas, por isso que dista apenas 62km da gi-
gantesca obra nacional.
Pequena é a população da sede, não atingindo 15 mil habi-
tantes. Seus distritos são Biquinhas, Moravânia e Frei Orlando, ex-Junco.
A cidade de Morada Nova de Minas surgiu, pois, consoante
se vê do sentimento piedoso e cristão de D. Inácia Maria do Rosário, cujo
nome ficaria perenemente ligado àquele rincão das terras mineiras na
sua região oeste.
Decorridos 98 anos desse evento, vem ao mundo, sob os céus
daquelas paragens, no Distrito de Junco, o menino que se chamaria Antonio
Alvares da Silva. Nasceu, pois, aquele que seria mais tarde um servo fiel de
Deus e seguidor de Francisco de Assis, a 13 de fevereiro de 1913, filho le-
gítimo de Itagyba Alvares da Silva e Jovita Aurélia da Silva, família das mais
conceituadas e estimadas do lugar, pela sua dignidade e honradez.
Itagyba morreu assassinado, quando procurava defender os
seus direitos e o seu nome, na própria casa comercial de que era pro-
prietário. Ao ser atingido pela arma do pistoleiro e bandido José Palalá,
um amigo de nome Isac surge no momento, sacando de sua arma, e dá
duplicidade à tragédia, matando o agressor de Itagyba.
Morada Nova, naqueles tempos, era afamada pelos crimes
bárbaros e traiçoeiros que ali ocorriam. Era um lugar temido a terra que
nos deu o manso e sereno Antonio, o qual ficou, como se depreende, ór-
fão de pai aos três anos incompletos, por isso que a tragédia se verificou
no dia 29 de janeiro de 1916.
Sua mãe, D. Jovita, como veremos, já havia falecido em quatro
de junho de 1914, deixando o caçula Antonio com apenas pouco mais de um
ano de idade. Conclui-se que a existência do órfão de Morada Nova seria, daí
por diante, um rosário de sofrimentos e uma constante incerteza quanto
Infância e vocação 27
ao futuro. Órfãos, igualmente, haviam ficado seus irmãos mais velhos Jeo-
vá, Guaraciaba, Itagiba, José, Alice, Maria, Clara e Fausta, todos residentes
em Minas Gerais. Já existia uma combinação dos dois amigos, seu Ita e seu
compadre, o farmacêutico Sebastião de Almeida Pinho, segundo a qual, por
morte do primeiro, passaria este a criar o menino Antonio.
Eis como, pelas portas da morte e pela bondade dos compa-
dres Sebastião de Almeida Pinho e D. Emirena Teixeira Pinho, foi o me-
nino habitar a casa estranha, mas francamente acolhedora da estimada
família de Morada Nova.
O novo lar, onde imperava sistema rígido, austero, dos an-
cestrais lusitanos e onde a esposa se orientava na vida seguindo os pos-
tulados cristãos, seria, para o pequeno órfão, o ninho macio e cálido da
sua existência, que o conduziria ao altar como sacerdote e ao Trono de
Deus como verdadeiro cristão.
Não era Antonio um simples tutelado, senão um filho muito
estimado dos pais adotivos que a ele se ligaram pelos laços de um afeto
profundo e puro, confundindo-o no lar com os filhos legítimos, que bem,
muito bem, souberam acolher o inesperado irmãozinho.
Como todo menino de sua idade, era travesso, vivo o orfão-
zinho. O relógio do tempo ia rodando e ele crescendo em tamanho e em
idade. Seu brinquedo predileto, entre outros, era o bodoque de atirar
pedras, lançadas a esmo, atingindo as pessoas e, não raro, as casas dos
vizinhos mais próximos. Gostava também, como veremos, de colecionar
fotografias de artistas de cinema e de se tornar, ele mesmo, um artista
armado com seu revólver de madeira.
O pai, sempre bom e paciente, ia tolerando tudo aquilo, por-
que via naquela criança sentimentos nobres. Se às vezes se aborrecia,
não raro, entretanto, à noite levava o filho carinhosamente para o próprio
quarto do casal e, dormindo com ele, entoava antes as saudosas canções
do seu velho Portugal, a Pátria dos seus sonhos e das suas saudades.
Sebastião de Almeida Pinho já era pai meia dúzia de vezes.
Os filhos legítimos, todavia, sob o aconchego total do lar, já não neces-
sitavam tanto dos seus carinhos. Assim pensava, por certo, o estimado
farmacêutico de Morada Nova. E pensava bem, com a alma e o coração
de homem caridoso e voltado para as nobres e elevadas ações. Daí o não
haver relutado em amparar aquele pedacinho de gente, menino muito
vermelho, de olhinhos azuis e travessos.
28 Frei Orlando: o capelão que não voltou
7
CAMPOS, Humberto de. Memórias.
Infância e vocação 29
A Caridade
página valiosa, por isso que emanada de uma fonte credenciada para a
elucidação perfeita, autêntica.
Robustecendo e detalhando a nossa narrativa anterior,
transcrevemo-la como adendo ao que já foi dito, chamando a atenção
dos nossos leitores para o modo singelo e natural com que a referida se-
nhora nos conta o nascimento e grande parte da infância do seu irmão.
Seu Ita, mande chamar depressa siá Emília! Parece que já
está na hora...
Meu pai compreendeu e, por um de seus filhos, mandou
recado urgente para a velha parteira, que minutos após lá estava, pa-
cientemente, servindo minha mãe. Um tanto afobado, meu pai ia e vinha
da porta do quarto para a sala, e ora assobiava, ora cantava. Mas não
terminava nem uma coisa nem outra, porque nervoso, mas no íntimo
alegre, o coração palpitava pelo acontecimento. Querendo brincar com
uma nossa vizinha, que também se encontrava em nossa casa aguardan-
do o resultado, e como sabia muito bem imitar o choro de criança, fê-la
correr ao quarto, e, pressurosa, indagara logo: “homem ou mulher?” Ri-
ram-se todos do logro e tudo voltou a ser silêncio, uma vez que faltava
o bulício das demais crianças, que foram levadas para a residência de
D. Ninita, grande amiga de nossa mãe. Daí a pouco, entretanto, ouviu-
se, de fato, um choro de recém-nascido. Sim, agora era verdade, uma
criança, mais uma vez, vinha ao mundo em nossa casa. Meu pai, na porta
do quarto, com uma garrafa de vinho do Porto, aguardava as ordens da
parteira, para poder entrar. De mansinho, silenciosa, uma porta se abre
e um vulto esguio de mulher, pisando leve, passa pelos presentes e vai
dizendo em voz baixa, dedo indicador na ponta do nariz: “é um rapagão
bonito e forte!”
E meu pai, virando-se para siá Emília: “Volte aqui e venha
brindar comigo a chegada a esta casa de Antonio Alvares da Silva! Não
está bem esse nome, Jovita? É uma homenagem que presto a meu pai”.
Não houve objeção da parte de minha mãe. A folhinha na
parede marcava 13 de fevereiro de 1913. Foi servido o vinho, e, ao se er-
guerem os cálices, meu pai dissera: “Olhem como o garoto está a lamber
os lábios e como olha a garrafa! Esse caboclo vai sair beberrão ou vai ser
padre”. Minha mãe, é claro, protestou logo contra a primeira profecia.
Quanto à segunda, ser padre, mostrou-se alegre, jamais supondo tornar-
se um dia em realidade.
Infância e vocação 37
dizia. Depois da morte de minha mãe, não deixou que se retirassem duas
cadeiras vagas: a dela e a do nosso Tonho. Era um pai modelo, correto,
cumpridor dos seus deveres, exigente para consigo próprio. E íamos vi-
vendo, mas sempre sentindo a falta de nossa querida e saudosa mãe.
No dia 27 de janeiro de 1916, Tonho, como de costume, fora
passar umas horas durante o dia, em nossa casa. Meu pai estava de malas
prontas para seguir viagem, a fim de levar meu mano José para estudar
em Oliveira, aqui em Minas. Os cavalos, condução única que, naqueles
tempos, poderia levá-los à estação próxima – Barra do Paraopeba – já se
encontravam arreados. Porém, Marieta, a filha mais velha do Sr. Pinho,
havia piorado de um tumor no rosto. Em vista disso, meu pai resolveu
adiar a viagem, para fazer companhia aos bons amigos, que tanto fize-
ram por nós. Os cavalos foram desarreados e o Destino nos batia à porta!
Ninguém pode desviar o curso daquilo que está traçado, como veremos.
Antonio, Clara e eu, nesse dia, brincávamos no quarto que tinha acesso
à sala de visitas, vestindo roupas dos grandes. Quando acabamos de nos
“fantasiar”, ouvimos forte discussão na loja de papai. Curiosos, fomos
ver o que era. Oh, tristeza! Nosso pai estava ferido e todo ensanguen-
tado, mas de pé, pálido, trêmulo e com uma carabina na mão. Antonio
abraçou suas pernas e pôs-se a chorar e gritar. O homem que atirara em
nosso pai era um criminoso contumaz, com vários crimes nas costas,
mau, perverso mesmo, e vivia foragido das autoridades. Por infelicidade
nossa, naquele dia, fora cobrar de um senhor certa quantia que lhe era
devida, justamente quando o referido senhor encontrava-se em nossa
loja, fazendo compras. Discutiram e, quando iam às vias de fato, meu pai,
um Juiz de Paz, dera-lhe voz de prisão. O cobrador resistiu e desfechou
cinco tiros em meu pai, que usara sua arma como defesa, mas que não
detonara. Um terceiro, muito nosso amigo, diante da truculência do as-
sassino, sabendo-o perigoso, desfechou-lhe vários tiros, matando-o no
mesmo local. Meu pai fora medicado, mas pressentindo que morreria,
mandara chamar nosso irmão mais velho, que trabalhava em um hotel,
na Barra do Paraopeba. No dia seguinte, quando o mano chegava, meu
pai, ardendo em febre, fez-lhe as últimas recomendações, porque parti-
ria deste mundo aos 37 anos apenas, deixando, na orfandade total, nove
filhos menores, destes Jeová com, apenas, 16 anos de idade.
Papai nas vascas da agonia, mal podendo articular as pa-
lavras, ainda pôde dizer a Jeová: “Meu filho, sei que vou morrer. Tome
Infância e vocação 41
conta dos seus irmãozinhos como se fosse eu próprio. Desejo que todos
estudem e sejam unidos.”
O Vigário de Morada, padre Baroni, estava em sua fazenda,
quando fora chamado para ouvir em confissão a meu pai. Depois de so-
corrê-lo espiritualmente, não lhe fora dada a comunhão, porque não havia
hóstia na Igreja. Padre João Baroni permaneceu bondosamente ao lado
de nosso pai a noite toda, esperando o raiar do dia para celebrar a Missa
e dar-lhe a comunhão. Durante a vigília dolorosa, sofrendo torturas dos
ferimentos, procurando reagir, meu pai perguntava aflito: “E a hóstia, já
veio?” A noite toda ele perguntava por que ainda não havia chegado a hós-
tia, até que realizou o seu desejo e, em perfeita lucidez, acompanhando
as preces dos presentes, entregou sua alma a Deus. Unia-se, assim, à sua
companheira querida, deixando a casa e os seus negócios entregues aos
nove filhos, que mal surgiam para a vida. Daí por diante, o povo de Morada
passou a chamar a nossa casa de “a casa dos meninos”.
Antonio, em companhia de seus pais adotivos, ia crescendo
e, com eles, muito aprendia. Sr. Pinho, católico praticante, não perdia
missa e ofícios outros religiosos, levando pela mão, à Igrejinha, o peque-
no Tonho, quando, então, recomendava-lhe sempre: “Na Igreja não se
brinca, não se conversa. Vossemecê vai ficar muito quietinho lá, ouviu?”
Antonio obedecia e seus olhinhos a tudo observavam na Igreja.
Jeová, como acontecia com meu pai, ia todas as noites com
os irmãos à casa do Sr. Pinho. Certa noite, quando lá chegamos, o nosso
Tonho muito compenetrado chamou-nos todos:
– Venham cá. Já é hora da bênção. E, depois de exigir que nos
encaminhássemos para seu quarto e nos ajoelhássemos, aproximou-se
da cama, que servia de altar, empunhou uma tesoura e cobrindo-a com
uma toalha, que colocara sobre os ombros, virou-se muito compenetra-
do para os assistentes, dizendo imperiosamente:
– Todo mundo de joelhos e cabeça baixa!
Sr. Pinho, de pé, a tudo observava e, rindo, obedeceu às
ordens do improvisado sacerdotezinho. Depois o nosso Tonho fingiu
fechar o sacrário e, batendo com os dedos, que estalavam, ia imitan-
do a campainha: “belém... belém... belém...” E começou a cantar na sua
vozinha desentoada o “Bendito Louvado Seja”. Padre Baroni chegou
ainda a tempo de assistir à brincadeira. Ficara escondido e, ao ver
terminada a célebre “missa”, perguntou aos presentes: “Será que vai
42 Frei Orlando: o capelão que não voltou
ser padre? Eu duvido, porque não é de raça, isso não está muito no
sangue da família!”
Desde pequeno nosso irmão Antonio possuía sempre muita
coragem. Sebastião, filho de uma das principais famílias de Morada, fora
certa vez brincar com o mano. Formavam os dois visível contraste. Anto-
nio, meio gordinho, resoluto, vivo, descalço, camisa com uma ponta para
fora das calças, corria, pulava, falava alto, e, muito mandão, tudo decidia.
Sebastião, menino magro, muito limpo e bem trajado, manso, concorda-
va com tudo. Quando Sebastião percebeu que já se aproximava a noite,
quis voltar para casa, porém teve medo de ir só. Antonio prontificou-se a
levá-lo: “Você tem mesmo coragem, Antonio?” Perguntou-lhe o Sr. Pinho.
– Tenho aqui esse enorme porrete e com ele quebro a cabe-
ça do cachorro que nos atacar – bradou com ares de valentão.
– Então leve o seu amigo, mas não se demore, porque já vem
a noite. Chegando à casa de Sebastião, Tonho conversou um pouco com
o pai do amiguinho. Ao se despedir, ouvindo o invariável “é cedo ainda”,
que lhe dissera o bom senhor, respondeu estufando o peito: “Eu já vou
chegando. Só vim trazer o Sebastião”. Soubemos, depois, que Sebastião
levara do pai boas palmadas, para que fosse mais corajoso e não depen-
desse de um menino menor do que ele para levá-lo até a casa.
Apesar da constante e severa vigilância dos pais adotivos
de Antonio, este sempre fazia suas artes, suas traquinagens, pregava
sua mentirinha, apelidava seus companheiros de folguedos, tirava sal de
Glaubert e pastilhas na farmácia. Sr. Pinho e D. Ninita corrigiam-no nas
menores coisas, mesmo nas pequeninas faltas e, nas reincidências, cas-
tigavam-no. O pior castigo para ele era ficar no “toco”. Era o nome dado
a quem ficava sentado o dia todo em um banquinho, sem poder sair para
lado algum. Muitas vezes D. Ninita dizia-lhe, quando de suas travessuras:
“Vou deixá-lo duas horas de toco, para você aprender a andar direito!” Ele
se punha a chorar e pedia: “Mamãe, me dá uma surra, mas não me deixe
no toco!” Ela, entretanto, mostrava-se inabalável em suas decisões, e era
comum ver D. Ninita sentada, também, a seu lado, com uma tábua ao colo,
enrolando biscoitos e dando bons conselhos ao mano. Em um ambien-
te assim, de vigilância, de austeridade, de paz, de ensinamento humano
e cristão e, sobretudo, de caridade, Antonio viveu seus primeiros anos e
aprendera tão bem a seguir os bons conselhos, que as sementes não tar-
daram a germinar. Um dia, um pobre preto velho, apelidado João Tatu,
Infância e vocação 43
quero mais ser sua mãe!” Saindo de perto do mano, fingiu não mais dar
importância não só ao caso, como a ele próprio. Dessa vez Tonho chorou
de verdade! Foram lágrimas sentidas, que lhe desciam pelas faces, e ele
limpava com a manga do paletó. Se D. Ninita lhe desse o maior castigo fí-
sico, não teria surtido tanto efeito! O menino não esquecia o ar tristonho
de sua mãe adotiva, sua indiferença e de sua descrença nele. Como que
deslocado no ambiente do lar amigo, sentia-se, outrossim, desprezado e
chorava, lastimava-se diante de todos nós. Foi muito bom, porque nunca
mais se soube de outra briga dele na Vila de Morada. Foi nesse ambiente
de zelo, de firmeza e de energia, dosado com amor e carinho discretos,
que nosso pequenino irmão, nosso caçula, recebera os seus primeiros
passos para o aprimoramento do seu caráter e da sua rigorosa formação
moral e cristã. E muitas vezes devemos agradecer isso a Deus!
O professor já referido não continuou na escola, e não se
sabe por que abandonara a Vila. Sr. Pinho ficou preocupadíssimo. Inda-
gava: “O que hei de fazer com esse menino tão vivo e tão inteligente?”
Acidentalmente nosso mano Jeová, que residia havia dois anos em Aba-
eté, chegara à Vila de Morada para uma visita ao Sr. Pinho e ao Tonho.
Foi assim que, entrando em conversa, deliberaram que nosso caçula ter-
minaria os estudos na Cidade de Abaeté. Foi um delírio para o menino
ver caras novas, coisas diferentes... e punha-se a rir e a cantar de alegria.
Os preparativos para a viagem foram feitos com muito cuidado e cari-
nho e Tonho já achava que estava custando a realização dos seus sonhos
de menino. Como os bons sonhos têm na Terra duração fugaz, efêmera,
assim acontecera com Antonio. Em pouco tempo, já havia ele saciado
sua curiosidade, depois de fazer conhecimento com todos os amigos do
irmão e cunhada. Jeová fora muito enérgico com ele; não o compreen-
dera muito bem e, dentro em pouco, se contente se mostrara Tonho em
ir para Abaeté, agora estava radiante com a notícia de que passaria as
férias em Morada, onde pretendia matar as saudades de todos e, sobre-
tudo, de seus pais adotivos, dos quais, afirmava, muita falta sentiu. Sua
alma transbordara de felicidade quando lhe anunciaram que passaria o
fim do ano na terra natal! Um primo incumbiu-se de levá-lo e, em um dia,
fizeram as 12 léguas que separam Morada de Abaeté, mais galopando
nos cavalos do que mesmo andando em marcha moderada e normal. É
que Antonio, dissera o primo, chicoteava constantemente o animal, ale-
gando que estava aflito para chegar. Quando ele avistou a Vila, ninguém
48 Frei Orlando: o capelão que não voltou
“Querida irmã:
Pedia ele sete mil cruzeiros para fazer o curso ginasial. Era,
naquele tempo, quase impossível que seus irmãos pudessem arranjar
esta quantia. Bendita impossibilidade, porque, dois anos depois, estava
ele realizando seus sonhos de atravessar o Atlântico, conhecer a Holan-
da, onde devia continuar seus estudos. Jeová era, então, agente da Cia.
Sul América. Viajava por todo Estado de Minas e, como pretendia fixar
residência em Belo Horizonte, conseguiu minha transferência do grupo
escolar de Abaeté para o “Henrique Diniz”, daquela capital. Uma vez em
Belo Horizonte, passara a residir em casa de D. Margarida Vieira Macha-
do, vizinha e amiga de infância de nosso pai. Foi ela uma verdadeira mãe
para todos nós, a nossa mãe Guida, assim a chamávamos. Antonio tam-
bém a chamava “Mãe Guida”. Descrever a felicidade dos dias passados no
lar de mãe Guida é impossível! Tinha ela seis filhos em casa, três moças e
três rapazes, todos muito alegres e bons filhos. Naquela casa ninguém fi-
cava triste. Vendo o nosso Tonho que suas irmãs eram felizes, em tão boa
Infância e vocação 57
O primeiro seminário
É paz e é guerra, sorrisos e lágrimas, nessa batalha em que todos nos em-
penhamos, porque não pode haver parada, estagnação.
Da Holanda, o jovem estudante escrevia sempre à excelente
D. Emirena, que vivia pensando no filho.
Dizia ele: “Encanto-me com as tulipas e tudo aqui é de uma
beleza incomparável, só mesmo encontrada em nosso Brasil.”
Os parentes, os amigos, os irmãos de Morada Nova também
não o esqueciam, o mesmo ocorria com os que se encontravam em ou-
tras plagas, ligados a ele pelos sentimentos afetivos.
Aos domingos em Morada Nova, à porta do pequeno templo,
no qual Antonio tantas vezes entrara para ajudar na missa, os conhecidos
de D. Emirena cercavam-na para indagações, aquela gente simples e boa!
Queriam saber tudo e de tudo se informar. Para cada um tinha a estima-
da senhora uma informação particular, um recado, uma notícia do filho,
abraços e lembranças... recados e saudades que vinham de tão longe!
E o futuro frade ia escrevendo, sempre que podia.
Suas cartas constituíam um hino admirável de fé, de cons-
tância, revelando um amadurecimento precoce do espírito, tendo em
vista que os pensamentos emitidos afloravam de um jovem.
Jovem, muito jovem para cintilações tão vivas da alma e do
coração, dando conselhos aos mais velhos, falando as suas irmãs com
indescritível zelo e sabedoria no que lhes tocava o futuro.
As cartas abaixo transcritas e remetidas da Holanda são pá-
ginas de estupenda beleza, porque revelam o que seria, mais tarde, o
seguidor de Francisco de Assis.
“Caras irmãs,
abraço-as.
Antonio.”
64 Frei Orlando: o capelão que não voltou
Ouviste?
Antonio.”
O irmão
“Alverna, 30/3/35
Caros irmãos.
Do mano,
Frei Orlando.”
76 Frei Orlando: o capelão que não voltou
9
René Fulep Miller (trad. de Oscar Mendes). Os Santos que abalaram o mundo.
10
Idem.
78 Frei Orlando: o capelão que não voltou
Ordenação
Sua vida em São João Del Rei
No Rio de Janeiro
Um acantonamento de sacrifícios
Frei Orlando apresenta-se
Ainda o acantonamento
do Capistrano
Frei Orlando abençoa o sábio
E continuando:
FEB
Só isso. Nas costas do envelope, o nome e ende-
reço do remetente.
Todas estas cartas serão enviadas pelo correio
local ao Rio, e daqui para onde a gente estiver.
O Mesmo.”
Adeus, Brasil!
Adeus, Capistrano!
15
Colored: para os americanos, a pessoa de pele bem morena, mulata ou preta.
140 Frei Orlando: o capelão que não voltou
16
Convenções de guerra: conjunto de normas aceitas pelas nações civilizadas, com
vista ao tratamento humano dos prisioneiros de guerra.
17
Fox hole: literalmente “buraco de raposa”; escavação retangular, feita pelo pró-
prio combatente e dentro da qual ele se protege do fogo inimigo. (Toca individual)
Capítulo 11
18
Linha Gótica: uma extensa linha de fortificações construída pelos alemães,sobre
as montanhas, para conter o avanço das tropas aliadas no Teatro de Operações da
Itália.
A marcha para o ‘front’ 151
Inimigo à vista!
Vou “orelhar” um tedesco!
19
Very-light corresponde a um tipo de artefato pirotécnico, em geral pequeno para-
quedas do qual pende uma substância que, ao queimar, ilumina o terreno embaixo
da linha da queda, de modo a detectar possível aproximação de tropa inimiga à
noite.
20
“Lourdinha”: apelido dado pelos nossos pracinhas a uma eficiente metralhadora
alemã. Era muito respeitada pelos nossos combatentes.
Inimigo à vista! 155
“(...) Eu, por mim, estou no mundo das nuvens, pois pouco me
interessa ficar aqui ou ali. Mas onde eu possa trabalhar para salvar almas,
aí me é muito bom. Também pouco me importa viver uns anos mais, ou
menos. O que eu desejava para meus irmãos parece-me que, dificilmente,
poderei conseguir: que eles fossem católicos de verdade, pois que vejo no
mundo uma grande ilusão para quem vive só para ele, ao passo que consi-
dero ser o homem destinado a um fim superior, que se não alcança como
vivem os manos.
A amizade de vocês é um laço que deve durar sempre. O laço
da amizade sincera como a eternidade. Ademais, se o mundo todo oferece
vidas para melhorar a humanidade, por que não posso eu oferecer a mi-
nha? E, finalmente, posso ter vindo e voltar sem novidade, sendo isto o que
espero acontecer.”
E concluindo:
eram muito da sua vida. E elas, como aqueles cinco anjinhos, tinham
olhos azuis, cabelos louros, graça e encanto da meninice. Com uma di-
ferença: viviam felizes, alegres, em um país cheio de paz e de bonança e
sem conhecer as privações de uma guerra.
E os dias se sucediam, monótonos e tristes!
Em uma noite muito escura, negra como os corações dos
responsáveis pela hecatombe mundial, noite em que o urro das peças
de artilharia amiga e inimiga não nos dava sossego, o capitão e Frei Or-
lando, alojados no mesmo quarto, ouviram um choro de recém-nascido.
Aplicaram os ouvidos e perceberam que na mísera enxerga de um cômo-
do em ruínas, ao som macabro dos obuses, nascia um “bambino!” Vinha
ao mundo em pleno fragor da guerra em pleno front!
Quando todos que se encontravam alojados na casa toma-
ram conhecimento do acontecido, sentiram alegria com a vinda do “re-
cruta”. E diziam, como que vaticinando:
– Vai ser soldado, vai ser soldado!
E todos lhe previam um futuro de guerreiro, ele que nasceu
debaixo de balas. Frei Orlando era o que mais ria, ria muito, acariciando
o garoto chorão, enquanto o capitão, em um gesto muito seu, esfregava
as mãos, todo contente.
“Está aumentando o efetivo da Companhia”, diziam os sol-
dados, cabos e sargentos, que iam contemplar a carinha vermelha do
mais novo “bambino” da região.
Cuidou-se, certo dia, do batismo. Os nomes italianos foram
lembrados por Frei Orlando: Bruno, Miguel, Angelo, Virgílio – “Menos
Mussolini!”, gritavam todos a um só tempo!
Nenhum servia.
Os palpites surgiam aqui e ali na boca dos presentes, evo-
cando os vultos da história brasileira.
Nada.
“Hitler”, grita um cabo, blasonando, enquanto sentencia
outra coisa muito brasileira: “Leônidas! O nosso Leônidas! Bota nele o
nome de Leônidas! Vai ser jogador de futebol! Nada de briga com ele,
nada de guerra!”
Estava em jogo o nome do menino italiano.
“Eureca!”, brada Frei Orlando: “O menino vai chamar-se Or-
lando Rafael! Terá o meu nome e do nosso capitão aqui”, e bateu no om-
bro do comandante da Companhia.
Ainda Sua Majestade, o Inverno! 165
em 1943. Nosso filho Humberto já ia para três anos de idade, sem que
estivesse batizado. Frei Orlando andava fazendo Missões para a região
da Capela do Bonfim, em São João Del Rei. Casava os que não estavam ca-
sados, batizava os que ainda se encontravam por batizar e ia proceden-
do a uma série de reabilitações dos católicos para com sua Igreja. Era
como se chamasse à ordem os displicentes, ou mesmo aqueles a ela não
filiados, nos quais nos incluíamos. Nosso menino não se achava, pois,
batizado e a esposa, católica praticante, nos vinha advertindo para que
apressássemos o sacramento!
“A guerra está à porta e tudo pode acontecer”, dizia ela como
antevendo o que viria depois.
Não por desdouro às coisas da Igreja, porque, mesmo diver-
gindo dos seus preceitos, sempre a respeitamos, mas por entender que
a força da prece é tudo, e esta já havíamos feito, rogando a Deus que
abençoasse o nosso filhinho; já o considerávamos cristão.
Daí o não se achar satisfeito o pedido da esposa, católica
fervorosa. Frei Orlando não ignorava essa particularidade, pois que já
lho haviam dito. Certa feita, quando das referidas Missões realizadas na
Capela do Bonfim, que ficava próxima à nossa casa, a esposa mandara o
garoto para que o batizasse. Com ele foi nossa irmã Luzia e o padrinho.
Seu Humberto já foi andando, chutando pedras pelo cami-
nho, falando muito e perguntando mais ainda as coisas que ele não en-
tendia.
Na capela, ao lhe ser jogada a água benta na cabeça, deu um
passo para trás, sapecou um tapa na mão do frade e, bem alto, fechando
a cara, irritado, soltou esta: “Tire a mão daí e não desmanche o meu ca-
belo que a mamãe penteou!” O frade quase estourou de rir! A cena ficou
para sempre na intimidade do nosso lar.
Na Itália, certo dia, Frei Orlando, em uma das nossas tertú-
lias e reminiscências da Pátria inesquecível, recordou o fato. E isso mais
e mais aumentava as nossas saudades.
Capítulo 14
Frei Orlando.”
25
Referia-se ao ano de 1945 – fevereiro.
Ainda “Paz e Guerra” 183
Nada de ataque!
Cai a neve...
Ligeiras considerações sobre a guerra
O
estradas, as casas.
inverno intensificara-se assustadoramente! A neve
caía em flocos, embranquecendo tudo, as árvores, as
Paz! Paz!
Era o brado que se ouvia de todas as partes, ecoando pelas
terras do mundo inteiro!
Os responsáveis, entretanto, pela chacina mundial, ainda vi-
viam. Participavam do mecanismo da guerra – à retaguarda.
Stalin, em uma reabilitação fulminante, enfrenta os alemães
em Stalingrado e os rechaça, levando-os até as portas de Berlim em uma
estupenda arrancada.
Hitler, qual louco, desorientado, conclamava todos, nazistas
ou não, para se colocarem em decisiva defesa de Berlim, já ameaçada
pelos russos, que lhe martelavam as portas. Para Hitler, há muito ter-
minara a fase ofensiva. Agora se defendia a todo custo, lançando mão
da juventude hitlerista, sentindo em suas entranhas o que os outros já
haviam sofrido, quando do seu fastígio bélico.
Guerra! Terrível guerra, que caminhava já para um lustro e
não se sabia quando teria fim!
Voltaire, falando das razões das guerras em seu aspecto so-
ciológico e filosófico, afirma:
“Todos os animais estão em guerra perpétua. Cada espécie
nasceu para devorar a outra. Os cordeiros e até as pombas devoram uma
quantidade prodigiosa de animais imperceptíveis.
Os machos de uma mesma espécie entram em guerra pelas
fêmeas, tal qual Minelao e Páris. O ar, a terra e as águas são campos de
destruição.
Deus, dando a razão aos homens, esta deveria adverti-los de
não imitarem os animais, sobretudo sabendo-se que a natureza não lhes
proporcionou nenhuma arma para matar seus semelhantes.
Não obstante, a guerra mortífera é de tal modo patrimônio
dos homens que, salvo duas ou três nações, não existem outras que a
história não as absolva desse crime.”
Ah! Se a humanidade compreendesse que a missão de cada
um e de todos na face da Terra é comum! Que as guerras não resolvem os
problemas humanos e sociais, antes os agravam! Que falta aos homens
para essa compreensão? Por que, tendo a nos orientar um Código Divi-
no, Carta Magna de Deus, pisamos suas páginas em um repúdio às lições
e ensinamentos sagrados?
Nada de ataque! 187
Ribeiro e outros bravos, entre os que mais o foram, são, hoje, apenas,
personagens de uma tragédia, que se perde na voragem dos anos.
Outras guerras, frutos da maldade e incompreensão dos ho-
mens, já se vão desaparecendo do nosso pensamento, embora consigna-
das nos livros.
Outras tragédias bélicas, todavia, hão de vir. Outros confli-
tos armados surgirão na face da Terra, deixando para trás os aconteci-
mentos de que fomos contemporâneos e copartícipes.
É lei natural e humana a sucessão dos homens e das coisas,
nesse giro constante, mutável, à semelhança da própria Terra, que, gi-
rando sempre, vai tecendo o fio do tempo e, com ele, a teia da História.
As guerras, inegavelmente, constituem uma constante preo-
cupação dos povos, desde a criação do mundo.
E tudo isso decorre da função do planeta em que habitamos
– Terra – inferiorizado, purgatório de pecados e de crimes contra Deus.
A bomba atômica aí está, não para fins científicos e huma-
nitários, senão para a destruição e constante ameaça, embora resulte,
também, em um paradoxo, em garantia da paz, porque as nações que a
possuem temem, elas próprias, serem as primeiras a usá-la.
Mas os povos se armam, não tenham dúvida e ainda agora, mal
concluíamos estas páginas, chega-nos a notícia de que a China comunista
lança sua primeira bomba como experiência. E declara ao mundo todo:
“Somos obrigados a realizar as provas nucleares e fazermos
nossas bombas atômicas, porque não podemos permanecer de braços
cruzados diante da ameaça nuclear, cada vez maior, dos Estados Unidos
que acabam de colocar seus submarinos atômicos em nossos mares, ame-
açando-nos.”
Impera, depreende-se, a corrida armamentista. País ne-
nhum deseja ficar para trás, mas acompanhar os demais que avançam
na diabólica arte de fabricar os engenhos de destruição.
Vê-se, pois, que a humanidade está verdadeiramente divor-
ciada do cristianismo, em uma franca violação dos preceitos evangélicos.
Devemos não olvidar que, matando na guerra ou fora dela, obviamente
estamos pisando a Carta Magna de Deus, o Evangelho!
A humanidade ainda não encontrou, eis a verdade, a figura
do manso Nazareno, porque falta encontrar-se a si própria; daí as con-
tendas, os choques armados, o ódio nos corações.
A morte do Frei Orlando 191
‘In Memoriam’
“MINHAS IRMÃS
Capela do 11o RI
Interior da Capela
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Em 28 de abril de 1982
Professor José Pedro Leite de Carvalho
Anexos 221
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Lauro Novaes
... Hoje
29
Na época, Arcebispo do Rio de Janeiro e primeiro vigário Castrense do Brasil.
30
Serviço de Assistência Religiosa.
Anexos 231
DECRETOS
DECRETO-LEI Nº 8.921, DE 26 DE JANEIRO DE 1946
JOÃO GOULART
Tancredo Neves
João de Segadas Vianna