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GUERRA DO PARAGUAI
A tradução está muito bem feita pelo Sr. Harry E . Menchen, re-
dator da Gazeta do Sul, e por êle dedicada ao 8° RI. Esta tradicional
Unidade, numa atitude elevada e exemplar, fêz preparar pelo pintor
Canovas um retrato a óleo do Cap Werlang, o qual foi solenemente
inaugurado no seu quartel, no dia do Reservista, em 1959; descerrou
o quadro uma filha do herói santa-cruzense (prendada senhora, que
tinha então 82 anos). -
O que .a seguir apresentaremos é o que foi publicado na Gazeta
.
do Sul - não somente o texto do Diário, como a introdução feita
pelo tradutor, para sua melhor compreensão.
Agradecemos ao Comando do 8° RI a pronta atenção que deu
ao nosso pedido, de que nos conseguisse os exemplares da Gazeta
do Sul, em que se publicou o Diário; e também à Direção daquele
jornal, por ter aquiescido em que fizéssemos esta transcrição.
-X X-
-X X-
DEDICATóRIA
O presente trabalho - árduo, confessamos tornou-se-nos mais
ameno desde que o havfamos dedicado a um ideal. Não foi problema
encontra;r êsse êmulo de que necessitávamos. Dado o assunto histó-
rico-militar, que versa,sôbre uma das mais gloriosas e heróicas pas·
sagens de nossa História, resolvemos pedir ao 8° Regimento de Infan-
taria - "Nosso Regimento" - sediado nesta cidade, que nos conceda
a honra e distinção, aceitando o produto de nossp esfôrço, apagado e
insignificante, porém oferecido de coração. Entremeamos neste pedido,
ainda, o de relevar bondosamente nossas imperfeições.
NOTA: Os entretitulos são nossos; trata-se de uma exigência de
técnica jornalistica, à qual nos acomodamos.
DIÁRIO DE CAMPANHA ' DO CAPITÃO PEDRO ••• n:
·n I A R I o·
MARCHA FORÇADA E PRIMEIRA VITóRIA
--- ..
No dia 25 de setembto de 1864 iniciou-se a organização do 50 Corpo,
em Rio Pardo; partimos a 4 de novembro e a 2 de dezembro tr~
pusemos ·a fronteira Oriental.
Como nossas marchas eram forçadas, atingimos no dia 29 do .mes-
mo mês o arroio São Francisco, distante, aproximadamente, meia 'légua
da cidade de Paissandu, e aí acampamos.
No dia. imediato, os cinco batalhões e as duas baterias que nos ha-
viam acompanhado, sitiaram a cidade de Paissandu por terra, pois
pelo lado do rio ela já se achava bloqueada pela nossa esquadra.
Ao raiar do dia 31 nossas baterias iniciaram o bombardeio (:las
trincheiras da cidade, o que durou até as 10 horas da manhã. Eis
quando a nossa infantaria abriu fogo que sustentou, sem parar, até
pela meia-noite. E assim continuou no próximo dia até 2 de janeiro
de 1865, às 8 horas da manhã.
O inimigo hasteou bandeira branca, motivo pelo qual silenciamos
imediatamente o fogo. Procedeu-se sem demora à rendição dos orien-.
tais.
A bela cidade estava grandemente danificada e suas ruas cobertas
de" mortos: .
Marchamos a 6 de janeiro e alcançamos, na data de S de féverefro,
um ponto distante cêrca de tres léguas da cidade de Montevidéu, onde .
acampamos.
A 20 do mesmo mês marchamos e fomos acampar , a 22, próximo
à cidade que .se rendeu, ainda .na mesma data, inclusive suas fortifica-
ções.
No dia 28 de fevereiro partimos da fortaleza e nossa cavalaria
acampou, a 5 de março, próximo à cidadezinha de Santa Luzia.
RuMO AO PARAGUAI
I
A_8 .de maio deixamos Santa Luzia, iniciando nossa marcha turno
à Província do Paraguai. No dia 27 de junho atravessamos o rio Uru-
guai, não longe das cidades de Concórdia e .Salto Oriental, e acampa-
mos junto à nossa infantaria e artilharia que lá já se achavam.
A .essa altura, então, foi organizado o nosso Exército e o nosso
General-em-Chefe ficou sendo Dom Manoel Luiz Osório.
A 18 de · setembro renderam-se os inimigos paraguaios na cidaile
de .Uruguaiana; essa noticia nos chegou no dia 20 do mesmo mês.
. Tôdas as bandas de música começaram a tocar simultâneamente; . -à. :·,·:
12 A DEFESA NACIONAL N. 609
r dados. o
mens e várias bandeiras. O inimigo não teve nem metade das baixas.
VISANDO HUMAITA
CONSTANTE ATIVIDADE
MORRE UM SANTA·CRUZENSE
'
No dia 21 de outubro marchamos (a 2a Divisão) sôbre Humaitá
e fizemos alto a uma distância de mais ou menos 3/4 de légua do forte.
Lá a cavalaria do inimigo costumava conduzir seus cavalos para fora
das fortificações, a fim de que os animais pastassem no campo aberto;
faziam isso diàriamente. Com a progressão da luz do dia, o inimigo
apercebeu-se de nossa presença e aprontou-se para o combate. Eram
aprÇJximadamente 2. 000 homens. Montamos sem demora e investimos,
barrando-lhes o caminho para o passo, enquanto a 6a Divisão se achava
oculta no flanco direito, entre macegais. Tocamos o adversário por
diante sob grande mortandade, até frente às trincheiras de Humaitá. ·
Ai fomos forçados a um urgente recuo, devido aos inúmeros canhões
do forte, que nos tomaram sob cerrado fogo. Nossa 1a Divisão, oculta
na ala esquerda de Humaitá, nos socorreu tarde demais; caso contrá·
rio, nenhum dos 2. 000 teria logrado!) fugir. Conseguimos 150 praças
e 8 oficiais prisioneiros; o número de seus mortos andava entre 700
e 800. Nós perdemos vários oficiais e grande número de feridos. Por
morte perdemos pouca gente, mas os feridos eram muitos. Entre os
que haviam perdido a vida achava-se Frederico Zinn (um dos vohm·
tários de Sants Cruz. Nota do tradutor). Jaz êle junto à Estância São
Solano, onde o enterramos.
EM RECONHECIMENTO
QUASE SURPREENDIDOS
DURAS PERDAS
Perdemos quase todo o 4° Batalhão de Artilbaria. O Comandante
August~ Ernesto da Cunila Matos, com muito.s ofic~ais e soldados, in-
clusive tôda a banda de música, caíram prisioneiros nas mãos do ini-
migo. Além do que ainda nos tomaram vários canhões, entre os quais
um de 32 libras, ~e aço forjado.
Somente dentro da · área de nossa posição, -o adversário perci.eu
3. QOO mortos, além de muitíssimos prisioneiros. Perdemos igualmente
cêrca de 3. 000 homens, entre mortos e feridos: ·Também o Visconde
de Pôrto Alegre recebeu ferimento durante essa luta de seis horas;
até o estado-maior sofreu baixa de vários oficiais, uns mortos e: ou-
tros feridos.
No dia 18 de fevereiro de 1868, tanto a 2° Divisão de Cavalaria como
uma divisão de infantaria foram postas em prontidão para entrar em
combate, acontencendo o mesmo com nossa frota. Ao escurecer mar-
chamos em direção à trincheira Estabelecimento, que ficava a meia ·
légue acima de Humaitá.
No dia ·subseqüente, portanto 19; às 3 horas da madrugada,' seis '
encouraçados de ferro de nossa esquadra conseguiram passar · por
Humaitá, apesar do forte fogo das baterias adversárias.
. Logo ao alvorecer do dia atacamos as fortificações de Estabéleci-
me_nto. A luta durou perto de duas horas e dela resultou ficarmos..
senhores da posição e mais de oito. canh.ões e quantidade de fogue- .
tões. (0 original diz: "foguetões" em português. Nota do tradutor).
Muito nos deram que fazer dois navios de guerra que se achavam
àquelas alturas. l!:sses finalmente se afastaram incólumes, pois entre ,
nós não se achava nenhum artilheiro adestrado, que fõsse capaz ·a e
alvejar um navio a mil passos de distância, com um· tiro de · um dos ;
nossos bons canhões de aço forjado. l
'·
PRóDROMOS DE UMA GRANDE BATALHA AVAf!
(
A DEFESA NACIONAL N. 609
O TIRO DE SINAL!
I
DESCRIÇAO PAVOROSA
O inimigo remanescente foi por nós obrigado a concentrar-se num
montP- só, encurralado. Contava pelos 2. 000 homens.
Fizemos, então, uma carga de cavalaria sôbre o inimigo, e, abaixo
dos mais entusiásticos brados de júbilo, golpeamo-lo a espada e a
lança. Numa diminuta área de uns cem passos de comprimento por
outro tanto de largura, o número de mortos era tal que chegt~vam
e 'jazer uns por cima dos outros.
A seguir nossas fôrças se retiraram, sempre abaixo de chuva,
e acamparam próximo à cidadezinha de Villeta, distante cêrca de
1/ 4 de légua do campo de sangue.
COM LÁGRIMAS . . .
Lá verificamos as nossas baixas e contamos os nossos mortos,
cujo nómero andava em tôrno de mil, entre os quais muitos oficiais
de altas e baixas patentes; entre os mortos tive que encontrar, com
lágrimas, o meu irmão Guilherme, que teve a cabeça trespassada por
ume bala. O número de feridos era tanto quanto o de mortos.
Havíamos derrotado de 5.000 a 6.000 homêns, -dos quais aprisio-
namos 1. 000. Entre êstes se achavam dois coronéis, um tenente-co-
ronel, dois majores e muitos oficiais de inferior graduação, além de
diversas famílias.
SET/ÚUT 66 DIÁRIO DE CAMPANHA DO CAPITÃO PEDRO •••
. Assim pudemos· ·ver Lopes, sua mulher, seus · generais· e seu es·
tado-maior empreendendo retirada em direção à Cordilheira, sem que
lhe barrássemos o caminho.· Isso teria sido fácil; certament~ ao
Marquês de Caxias não convinha prendê-lo.
Conquistamos todos i:)s haveres da famflla 'de Lopes; estavam
acondicionados em diversas carretilhas e se compunham das mais
finas roupas, de ouro e prataria e de dinheiro.
Foi com o coração confrangido, mas também com profundo re!f·
peito, que olhamos para o quadro que se nos apresentou no interior
do forte. O chão estava revolvido pelas . nossas gJ:anadas e coberto
de cadáveres de homens, cavalos, bois, cachorros e outros animais.
O hospital, com milhares de feridos, caiu ern nosso poder, além do
que recuperamos muita gente nossa, que Lop,es havia aprisionado an·
teriormente; entre ela, achava-se o Major Augusto Ernesto da Cunha
Matos e numerosos · oficiais aprisionados na · batalha de 'Tuiuti, no
dia 3 de novembro. Estavam agora libertos.
ANGUSTURA SE RENDE SEM TIRO
Na manhã do dia 29 de dezembro, o Marquês enviou parlamen·
tares ao forte Angustura, sito a meia légua de Lomas, nas margens do
Paraguai; êsse forte vinha impedindo nossa navegação.
Mandou advertir o seu comandante que se rendesse (o coman-
dante era de nacionalidade inglêsa), pois que Lomas tinha ·sido to-
mada e Lopes se foragira.
O ·comandante porém não deu crédito à noticia transmitida pelos
parlamentares e condicionou a poder certificar-se "de visu", acom·.
panhado de uma escolta; o Marquês aquiesceu ao propósito.
Ainda no mesmo dia, pois, apresentou-se o coronel e quan~o de-
parou pessoalmente com a miséria reinante no Interior de Lemas,
meneou a cabeça e concordou imediatamente com a capitulação,.
Esta foi levada a efeito no dia seguinte, 30, ao meio.ffia.
Angustura estava muito bem fortificada, tanto pelo lado do· rio
como por terra; nela se achava granda número de canhões pel:jados e
uma guarnição de 1 . 300 homens. ·
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