Você está na página 1de 7

PROJETO MEMÓRIA

Prof. Ms Sandro C. Moreira


Historiador
Contato: projetomemoria4@gmail.com
WhatsApp: (47) 9 9290-0440

Apoio:

Prefeitura Municipal de Mafra


Secretaria municipal de educação, esporte e cultura

OS HERÓIS MAFRENSES NA 2ª GRANDE GUERRA MUNDIAL


(1939 – 1945)

PREPARAÇÃO PARA A GUERRA

Assim, em fins dos anos 30 e início dos anos 40, o mundo


estava estremecendo com o Conflito Armado na Europa e no
extremo asiático, isto é, estávamos na 2ª Grande Guerra
Mundial. Em 1943 a guerra já havia se espalhado pela Europa,
chegando ao norte da África e envolvendo quase todos os 5
continentes. E, na costa brasileira o Brasil teve treze navios de
sua frota mercante afundados, ano que o Presidente Getúlio
Vargas cria a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Em 02 de
julho de 1944, sob o comando do General Mascarenhas de
Morais partem para a Itália os primeiros 25.307 homens e 67 mulheres para combater os nazistas. Nesse
grupamento estavam os soldados mafrenses e rio-negrenses: Adão Pires de Lima; Ceslau Staviski;
Henrique Alexandre Ruske; Alfredo Gaertner; Victório Scardazan; Roberto Schelbauer; Jovino Ribeiro;
João Liebel e Nestor Preima, além daqueles que tombaram no campo de batalha no cumprimento do
dever e regressaram na memória como heróis, foram eles: Sargento Max Wolff Filho e o Ten. Ari Rauen.

Os pracinhas eram pessoas simples, agricultores e trabalhadores, nas palavras do então sargento
Sr. Nestor Preima, em depoimento dado em 17 de agosto de 1999: “[...] os pracinhas tinham muitas
características em comum: [...] trabalhadores de serrarias [...]”. O Sr Jovino Ribeiro, depoimento de 10
de agosto de 1999, sublinhou: “Eu nunca mais vi minha família. Quando eu fui servir, morreu a minha
mãe, deram dois dias para ver o funeral em Leonel no município de Itaiópolis”.
Quanto aos treinamentos, a preparação que era feito na Lapa-PR, para
lutar na Itália, o Sr. Roberto Schelbauer, então soldado com 23 anos,
relatou em depoimento do dia 07 de agosto de 1999: “O treinamento nós
tivemos praticamente todo tempo que eu estava servindo, era um
escravidão, nós fomos judiados na Lapa, por isso ninguém queria ficar no
exército, porque era um inferno mesmo. Então foi um ano de inverno
muito bravo. As 05h00 horas da manhã, nós tinha que sair de uniforme de
física e se largar nos campos naquelas geadas e fazer instrução, pular por
cima de rio, se não alcançava outro lado do arroio, a maioria caía dentro,
aquele frio 05h00 da manhã isso foi tudo um treinamento para aguentar
lá na Itália e assim foi até que nos fomos prá guerra. Depois chegamos lá
no Rio, também fizemos mais ou menos isso, as instruções, daí chegamos
na Itália, não tinha mais instrução [...]”

O Sr. Henrique Ruske, também em depoimento de 1999, relatou que muitos soldados choravam
no embarque e, Getúlio Vargas e o Ministro da Guerra para confortar os presentes discursavam: “[...]
vão lá, a guerra está no fim, vocês não vão sofrer muito” e os soldados gritavam: “Aí vai a boiada pro
açougue. Então Getúlio Vargas batia nas costas dos soldados e dizia: Soldados vão com coragem”.

A VIAGEM DOS HERÓIS MAFRENSES A CAMINHO DA 2ª GRANDE GUERRA

A travessia do Atlântico da Força Expedicionária Brasileira – FEB a caminho da Itália.

No ano de 1944 a força expedicionária


brasileira embarcou para a Itália, nos relatos
do Sr. Roberto Schelbauer (pracinha da FEB),
assim foi a travessia do Atlântico rumo a
Europa: “Dentro do navio era um calor de 40°
C prá fora, nós quase não aguentava, ficava
debaixo do chuveiro, não podia aguentar o
calor durante a noite, então nós era 5 mil
sodados no navio. Até nós chegar a linha do
equador passamos muitos calor, dali em
diante, dia-por-dia começou a esfriar de
vereda. Chegamos na Itália, um frio! Chegamos com 18° C negativos”.

Durante a viagem, os pracinhas recebiam orientações e ensinamentos do idioma italiano, e


procedimentos de emergência para abandonar o navio. Nesse particular O Sr. Nestor Preima, então
sargento da FEB, contou que eram frequentes os exercícios de abandono do navio, caso ocorresse uma
investida dos alemães. Em caso de emergência, cada soldado tinha o número de sua barcaça salva-vidas
a fim de na hora do apuro evitar tumultos. O Sr. Jovino Ribeiro (Pracinha da FEB) ao olhar as barcaças
salva-vidas, exclamou: “Não adiantava nada, era muito velho. Até o 2º escalão foi escolhido, depois o
resto foi meio abeça”.
Embora o percurso marítimo até a Itália tenha sido acompanhada por três navios torpedeiros
como escolta, a viagem foi marcada por muita tensão, tanto pelas dificuldades daqueles que nunca
haviam navegado, como também pelo temor de um ataque de submarinos alemães que tomava conta
dos pracinhas.

O Sr. Adão Pires de Lima (Pracinha da FEB), assim relatou a viagem: “Nós viajemos 15 dias e 15
noites, nós não via nada, parecia que tava parado, porque nós fomos enganados, nós embarquemo com
o chefe que dizia prá fazer treinamento de navio. Quando foi um dia, lá chamaram todo mundo. Porque
assim que nós fomos separados, nós não andava junto com outros milicos, nós tinha nossa repartição
certa, tudo era diferente, até a comida. Deram ordem prá nós fazer treinamento e fumo, quando tava
dentro do navio já tava desconfiado, que tinha policia [...] revistando, não sabia de nada”.

A viagem transcorria normalmente, não fosse o temor de um ataque, quando, nos relatos do Sr.
Nestor Preima: “[...] lá fora virou um inferno todos os navios atirando e ninguém sabia do que se tratava,
depois soubemos que era um submarino, agora se ele foi afundado ou não isto eu não sei. Isto aconteceu
mais ou menos na linha do equador”.

A primeira terra avistada foi a Costa da África, e antes de atravessarem o Estreito de Gilbratar
houve a despedida dos navios torpedeiros que faziam voltas em torno dos dois navios que transportavam
as tropas brasileiras, com os paracinhas cantando a canção: “Deus salve a América”. O General
Mascarenhas agradecendo a proteção dada pela marinha do Brasil frisou: “Os representantes da
Marinha do Brasil tiveram a grande honra em comboiar vossas forças e fazem votos de todo sucesso para
maior glória das armas brasileiras”.

A receptividade do povo italiano em relação ao soldado brasileiro foi muito boa. Em entrevista
(1999), o Sr. Victório Scardazam (Pracinha da FEB) comentou: “[...] A Itália estava dividida ao meio [...]
metade dela era dos Alemães e metade dos italianos [...]. Nós fomos até Pizza, onde recebemos materiais,
roupas e instruções”.

Porém, mesmo com toda a boa acolhida dada a esse grupo, a


ansiedade e interregações como o sucesso ou fracasso que
teriam pela frente em uma terra que desconheciam e
combater um adversário valente e suficientemente treinado
para a guerra, estressavam os pracinhas.

O Sr. Henrique Ruske, seguiu no 3º escalão e o desembarque


deste, aconteceu em Nápoles, assustando os brasileiros logo
na chegada, pois os Americanos bombardearam a cidade de
Nápoles para provocar o recuo dos alemães, deixando a
cidadde completamente arrasada. Nas palavras do Sr. Henrique R. “havia mais ou menos uns 50 navios
de ponta cabeça...não tinha nenhuma casa inteira, tudo bombardeado [...]”.
OS PRACINHAS MAFRENSES NO FRONT DA 2ª GRANDE GUERRA

Para os brasileiros não eram somente os


alemães que amedrontavam, mas também o
desconhecido relevo montanhoso da Itália, o
clima com temperaturas de -10⁰C pra mais.
Assim a morte se apresentava dia após dia,
entretanto, apesar do despreparo bélico e
emocional, o orgulho e a vontade de viver
falaram mais alto.

O Sr. Victório Scardazan, em depoimentos no ano de 1999, lembrou: “não foram logo para frente
de batalha, Monte Castelo estava guarnecido, quase não havia ataques, por causa do inverno, estava -
10 ⁰C, nós ficamos até 40 dias sem tomar banho, só quando íamos para a retaguarda, aí tomava banho
quente e jogava fora as roupas velhas. O frio era tanto que a gente colocava água no cantil e dali a pouco
tinha congelado. Mas, o nosso primeiro ataque foi dia 12/12/44, em Monte Castelo e falhou, nós tivemos
que recuar. Morreu muita gente”.

Além do frio, do medo, as armas também não lhes eram familiares, foram entregues no campo
de batalha, com treinamento muito rápido e superficial, nas palavras do V. Scardazan: “malmente dava
para reconhecer as armas [...]”. Ainda segundo ele: “do Brasil não levamos nada, porque tudo era sucata.
E, o Armamento lá era tudo moderno. As únicas pistolas individuais que carregavam eram aquelas
metralhadoras pequenas, tira colo. Munição tinha a vontade, eles esbanjavam. Os canhões pesados
quem tinha eram os ingleses [...]”.

O Sr. Alfredo Gaetner, entrevistado no ano de 1999, falando de sua participação no combate,
lembrou: “[...] as trincheiras a gente bombardeava, bombardeava, e quando eles recuavam a gente
ocupava as trincheiras deles. Aconteceu de a gente encontrar carteiras de cigarros das marcas nossas.
Como que chegava lá? Até hoje as próprias autoridades militares não sabem”.

O Sr. Roberto Schelbauer, deixou sublinhado que, embora muitos pracinhas fossem de Joinville,
Jaraguá do Sul, Corupá, região colonizada por alemães, os brasileiros viam os nazistas como inimigos,
não demonstrando em momento algum interesse ou apoio pela ideologia alemã. A guerra não lhes dava
trégua, ou liquidavam o inimigo ou jamais voltariam para casa. Os combates não cessavam nem mesmo
nas datas especiais como o Natal. Nas palavras do Sr. Jovino Ribeiro: “[...] No dia 25/12/44, dia de Natal
passamos o dia inteiro mandando fogo. Nesse dia, bem perto da gente, muitos morreram, os caminhões
faziam arrastões de mortos”.

Os Pracinhas mafrenses, nossos heróis, desempenharam várias funções na Itália, como a de


atirador de morteiro, atirador de metralhadora, apontador de seção de morteiro, cozinheiro. O Sr.
Henrique Ruske chegou a fazer curso de cozinheiro, ganhando diploma de chefe de cozinha. Porém nem
todos tiveram a mesma sorte, o Sr. Adão Pires de Lima, foi para as trincheiras como soldado raso e
lembrou: “eu tomei um estilhaço de granada aqui na nuca e outros lugares do corpo Lá nos ficava só na
trincheira, não podia sair e o gelo dava pela cintura, [...] dava combate à noite, de dia, mas a noite o
combate era fogo”.

O Sr. Henrique Ruske lembrou que quando prenderam os alemães, perguntaram a eles: “qual era
o melhor soldado do mundo, responderam que em 1º lugar ficava os alemães, em 2º lugar os brasileiros
e por último os americanos, porque só fazem guerra com bombas”.

Finalizando este artigo, o Sr. Ceslau Staviski sublinha: “A guerra é muito triste,
passavam fome, tanta gente que sofre [...]. Quando eu voltei da guerra eu
sonhava que eu tava vendo vagões de trem correndo à noite, todos aqueles
vagões, tudo carregado de caixões de mortos”.

Todos os Pracinhas citados foram entrevistados no ano de 1999, pelos então


acadêmicos do Curso de História, hoje historiadores: Lislane Simões de Oliveira
Magrin, Margarete Maria Gonçalves, Justina Inês Pinto da Silva e Ocimar Luis
Kvitschal (in memoriam), quando da elaboração do Trabalho de Conclusão de
Curso, tendo por orientador Prof. Ms Sandro César Moreira. Este trabalho intitulado: A História dos
Pracinhas mafrenses na 2ª Grande Guerra Mundial está disposição na biblioteca da UnC Mafra.

A intenção dos pesquisadores era entrevistar todos, mas, no ano de 1999 muitos já haviam
falecido e outros não desejaram mais lembrar daqueles momentos.

Ficam aqui os agradecimentos e o reconhecimento aos nossos verdadeiros heróis.


ROTEIRO DA FEB NA CAMPANHA DA ITÁLIA

Fonte: https://www.antonioferreira.lel.br/peca.asp?ID=2035
O BRASIL NA CAMPANHA DA ITÁLIA

Fonte: Atlas Histórico do Brasil - FGV

Você também pode gostar