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Os pracinhas eram pessoas simples, agricultores e trabalhadores, nas palavras do então sargento
Sr. Nestor Preima, em depoimento dado em 17 de agosto de 1999: “[...] os pracinhas tinham muitas
características em comum: [...] trabalhadores de serrarias [...]”. O Sr Jovino Ribeiro, depoimento de 10
de agosto de 1999, sublinhou: “Eu nunca mais vi minha família. Quando eu fui servir, morreu a minha
mãe, deram dois dias para ver o funeral em Leonel no município de Itaiópolis”.
Quanto aos treinamentos, a preparação que era feito na Lapa-PR, para
lutar na Itália, o Sr. Roberto Schelbauer, então soldado com 23 anos,
relatou em depoimento do dia 07 de agosto de 1999: “O treinamento nós
tivemos praticamente todo tempo que eu estava servindo, era um
escravidão, nós fomos judiados na Lapa, por isso ninguém queria ficar no
exército, porque era um inferno mesmo. Então foi um ano de inverno
muito bravo. As 05h00 horas da manhã, nós tinha que sair de uniforme de
física e se largar nos campos naquelas geadas e fazer instrução, pular por
cima de rio, se não alcançava outro lado do arroio, a maioria caía dentro,
aquele frio 05h00 da manhã isso foi tudo um treinamento para aguentar
lá na Itália e assim foi até que nos fomos prá guerra. Depois chegamos lá
no Rio, também fizemos mais ou menos isso, as instruções, daí chegamos
na Itália, não tinha mais instrução [...]”
O Sr. Henrique Ruske, também em depoimento de 1999, relatou que muitos soldados choravam
no embarque e, Getúlio Vargas e o Ministro da Guerra para confortar os presentes discursavam: “[...]
vão lá, a guerra está no fim, vocês não vão sofrer muito” e os soldados gritavam: “Aí vai a boiada pro
açougue. Então Getúlio Vargas batia nas costas dos soldados e dizia: Soldados vão com coragem”.
O Sr. Adão Pires de Lima (Pracinha da FEB), assim relatou a viagem: “Nós viajemos 15 dias e 15
noites, nós não via nada, parecia que tava parado, porque nós fomos enganados, nós embarquemo com
o chefe que dizia prá fazer treinamento de navio. Quando foi um dia, lá chamaram todo mundo. Porque
assim que nós fomos separados, nós não andava junto com outros milicos, nós tinha nossa repartição
certa, tudo era diferente, até a comida. Deram ordem prá nós fazer treinamento e fumo, quando tava
dentro do navio já tava desconfiado, que tinha policia [...] revistando, não sabia de nada”.
A viagem transcorria normalmente, não fosse o temor de um ataque, quando, nos relatos do Sr.
Nestor Preima: “[...] lá fora virou um inferno todos os navios atirando e ninguém sabia do que se tratava,
depois soubemos que era um submarino, agora se ele foi afundado ou não isto eu não sei. Isto aconteceu
mais ou menos na linha do equador”.
A primeira terra avistada foi a Costa da África, e antes de atravessarem o Estreito de Gilbratar
houve a despedida dos navios torpedeiros que faziam voltas em torno dos dois navios que transportavam
as tropas brasileiras, com os paracinhas cantando a canção: “Deus salve a América”. O General
Mascarenhas agradecendo a proteção dada pela marinha do Brasil frisou: “Os representantes da
Marinha do Brasil tiveram a grande honra em comboiar vossas forças e fazem votos de todo sucesso para
maior glória das armas brasileiras”.
A receptividade do povo italiano em relação ao soldado brasileiro foi muito boa. Em entrevista
(1999), o Sr. Victório Scardazam (Pracinha da FEB) comentou: “[...] A Itália estava dividida ao meio [...]
metade dela era dos Alemães e metade dos italianos [...]. Nós fomos até Pizza, onde recebemos materiais,
roupas e instruções”.
O Sr. Victório Scardazan, em depoimentos no ano de 1999, lembrou: “não foram logo para frente
de batalha, Monte Castelo estava guarnecido, quase não havia ataques, por causa do inverno, estava -
10 ⁰C, nós ficamos até 40 dias sem tomar banho, só quando íamos para a retaguarda, aí tomava banho
quente e jogava fora as roupas velhas. O frio era tanto que a gente colocava água no cantil e dali a pouco
tinha congelado. Mas, o nosso primeiro ataque foi dia 12/12/44, em Monte Castelo e falhou, nós tivemos
que recuar. Morreu muita gente”.
Além do frio, do medo, as armas também não lhes eram familiares, foram entregues no campo
de batalha, com treinamento muito rápido e superficial, nas palavras do V. Scardazan: “malmente dava
para reconhecer as armas [...]”. Ainda segundo ele: “do Brasil não levamos nada, porque tudo era sucata.
E, o Armamento lá era tudo moderno. As únicas pistolas individuais que carregavam eram aquelas
metralhadoras pequenas, tira colo. Munição tinha a vontade, eles esbanjavam. Os canhões pesados
quem tinha eram os ingleses [...]”.
O Sr. Alfredo Gaetner, entrevistado no ano de 1999, falando de sua participação no combate,
lembrou: “[...] as trincheiras a gente bombardeava, bombardeava, e quando eles recuavam a gente
ocupava as trincheiras deles. Aconteceu de a gente encontrar carteiras de cigarros das marcas nossas.
Como que chegava lá? Até hoje as próprias autoridades militares não sabem”.
O Sr. Roberto Schelbauer, deixou sublinhado que, embora muitos pracinhas fossem de Joinville,
Jaraguá do Sul, Corupá, região colonizada por alemães, os brasileiros viam os nazistas como inimigos,
não demonstrando em momento algum interesse ou apoio pela ideologia alemã. A guerra não lhes dava
trégua, ou liquidavam o inimigo ou jamais voltariam para casa. Os combates não cessavam nem mesmo
nas datas especiais como o Natal. Nas palavras do Sr. Jovino Ribeiro: “[...] No dia 25/12/44, dia de Natal
passamos o dia inteiro mandando fogo. Nesse dia, bem perto da gente, muitos morreram, os caminhões
faziam arrastões de mortos”.
O Sr. Henrique Ruske lembrou que quando prenderam os alemães, perguntaram a eles: “qual era
o melhor soldado do mundo, responderam que em 1º lugar ficava os alemães, em 2º lugar os brasileiros
e por último os americanos, porque só fazem guerra com bombas”.
Finalizando este artigo, o Sr. Ceslau Staviski sublinha: “A guerra é muito triste,
passavam fome, tanta gente que sofre [...]. Quando eu voltei da guerra eu
sonhava que eu tava vendo vagões de trem correndo à noite, todos aqueles
vagões, tudo carregado de caixões de mortos”.
A intenção dos pesquisadores era entrevistar todos, mas, no ano de 1999 muitos já haviam
falecido e outros não desejaram mais lembrar daqueles momentos.
Fonte: https://www.antonioferreira.lel.br/peca.asp?ID=2035
O BRASIL NA CAMPANHA DA ITÁLIA