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A Revolta da Armada

A Revolta da Armada foi uma Rebelião promovida por algumas unidades da Marinha
brasileira contra o governo de Floriano Peixoto. Começa no Rio de Janeiro em setembro
de 1893, estende-se à Região Sul e prolonga-se até março de 1894. Com a renúncia de
Deodoro da Fonseca à Presidência da República em 23 de novembro de 1891, passados
nove meses de governo, o vice-presidente Floriano Peixoto assume o cargo. A
Constituição, no entanto, prevê nova eleição caso a Presidência ou a Vice-Presidência
fiquem vagas antes de decorridos dois anos de mandato. A oposição acusa Floriano de
manter-se ilegalmente à frente da nação. Em 6 de setembro de 1893, um grupo de altos
oficiais da Marinha exige a imediata convocação dos eleitores para a escolha dos
governantes. Entre os revoltosos estão os almirantes Saldanha da Gama, Eduardo
Wandelkok e Custódio de Melo, ex-ministro da Marinha e candidato declarado à
sucessão de Floriano. Sua adesão reflete o descontentamento da Armada com o pequeno
prestígio político da Marinha em comparação ao do Exército. No movimento
encontram-se também jovens oficiais e muitos monarquistas. A revolta consegue pouco
apoio no Rio. Sem chance de vitória, os revoltosos dirigem-se ao sul. Alguns efetivos
desembarcam em Desterro (atual Florianópolis) e tentam, inutilmente, articular-se com
os federalistas gaúchos. Floriano adquire novos navios no exterior e com eles derrota a
Revolta da Armada em março de 1894.

REVOLTA DA ARMADA

Ano: 1893

"Desde a madrugada de ontem começaram a circular notícias de graves acontecimentos.


Soube-se que estava interrompido o trânsito da estrada de ferro central e que a marinha se
puzera em atitude hostil ao governo do Sr. Marechal Floriano Peixoto. Depois foram, pouco a
pouco, aparecendo os verdadeiros pormenores. (...)

No Mar

Segundo estamos informados daí começaram pouco antes da meia noite pelo assalto ao
encouraçado Aquidaban, que apenas tinha a bordo o oficial de quarto, 1o tenente Mello
Moraes. Isso feito, foi atacada e tomada a Armação, e, em seguida, os outros navios da
esquadra e os vapores das companhias Lloyd Brasileiro, Lage e Frigorífica, que foram armados
em pé de guerra e incorporados à esquadra revolucionária,

Todos esses navios receberam grande quantidade de municão na Armação, colocando-se


depois em linha prolongada à terra. As torpedeiras foram também incorporadas à esquadra e
durante todo o dia percorreram a baía. Os navios revolucionários são: os encouraçados
Aquidaban, Javary, Sete de Setembro, cruzadores República, Trajano, Orion, corveta
Amazonas, canhoneira Marajó, torpedeiras de alto mar e de lança. (...)" - Jornal do Brasil, 7
de setembro de 1893.

"Às 9 horas da manhã uma lancha do cruzador República apreendeu uma das lanchas do
cruzador Almirante Tamandaré. Pouco depois, atravessando a baía e rebocador Emperor, uma
das lanchas que policiam o porto, deu dois apitos e, tendo aquele rebocador parado,
aprisionou-o, deixando fundeado um saveiro que aquele conduzia. Foi também aprisionado o
paquete Matilde, e mais tarde levados para a Armação os cruzadores Guanabara, Almirante
Tamandaré e a galeota Quinze de Novembro. O Júpiter foi incorporado à esquadra. (...)" -
Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1893.
"(...) Ao amanhecer o Aquidaban embandeirou em arco e toda a esquadra revoltada içou a
bandeira nacional no topo do mastro grande em comemoração à data de 7 de setembro.
Depois das 7 da manhã, do cais do Arsenal da Marinha começou-se a observar os movimentos
da torpedeira Marcílio Dias, que por diversas vezes chegava à fala aos navios estrangeiros,
naturalmente para parlamentar, e do cruzador República, auxiliado por diversas lanchas, para o
ancoradouro dos paquetes de Lloyd, onde, depois de apreender diversas embarcações
pequenas, começou a apoderar-se dos vapores ali fundeados, os quais eram conduzidos para
junto da esquadra revoltada, por diversos rebocadores. O Júpiter foi tirado do lugar em que
estava e encorporado à esquadra, encarregando-se desse trabalho o 1o tenente Camisão de
Mello. (...) Jornal do Commércio, 8 de setembro de 1893.

"Eis o que ontem se passou. Às 6 horas da manhã o Júpiter levantou ferro e foi fundear no
canal do Engenho. Na passagem foi hostilizado pela bateria da Ilha do Governador. O
Aquidaban recebeu carvão, que lhe levaram um saveiro e uma lancha da Ilha das Enxadas. Da
Ilha do Governador foram disparados alguns tiros contra o Tamandaré.

À tarde o forte de Gragoatá bombardeou a fortaleza Villegaignon. Informam-nos que em


Campos estãp prontos para o serviço dois batalhões da guarda nacional, o 11o e o 39o, com
os oficiais já fardados e as companhias completas. Muitos oficiais de outros corpos também se
fardaram e esperam ordem." Gazeta de Notícias, 9 de fevereiro de 1894.

"O Dia de ontem raiou ao som estridente do forte canhoneio que houve de madrugada entre as
fortalezas da barra, Gragoatá, baterias do morro de S. João em Niterói e da Armação de um
lado, e alguns navios da esquadra revoltosa e Villegaignon de outro.

Foi uma luta renhida que se prolongou até cerca das 9 horas da manhã. Cerca das 2 horas da
manhã quatro lanchas dos revoltosos largaram do Aquidaban e dirigiram-se para os lados da
Armação, disparando para ali os seus canhões de tiro rápido e metralhadoras, e neste posto
tiveram luta com as forças que guarnecem aquele estabelecimento e as da Ponta da Areia.

Naquela ocasião deixaram os seus ancoradouros e aproximaram-se também da Armação o


Aquidaban, o Liberdade e o frigorífico Júpiter, que tomaram parte no combate. As forças da
Armação e Ponta da Areia atacaram com vivo fogo os navios e lanchas, atirando às 6 horas da
manhã as fortalezas de Santa Cruz e da Lage para Villegaignon, e S. João para a Ilha das
Cobras.

Villegaignon respondeu atirando para Gragoatá. Este forte trocou disparos com o encouraçado
Aquidaban. Depois das 10 horas retiraram-se os navios e lanchas.

O sr. general Argolo, chefe das forças que guarnecem Niterói, dirigiu ao sr. Ministro da Guerra
o seguinte telegrama: "As forças legais destroçaram os revolucionários, que tentaram
desembarque na Armação. Morreram três oficiais e muintos marinheiros. Os revolucionários
refugiaram-se no fundo da baía." Consta que por notícias oficiais sabe-se que foram
aprisionados 55 marinheiros e três oficiais, um dos quais de nacionalidade estrangeira.

Às 5 horas a Ilha das Cobras atirou para terra. Nesta ilha houve ontem un incêndio em um
galpão. Pouco depois foi extinto. Da Ilha do Governador fizeram de manhã alguns disparos
contra o Tamandaré , que pouco depois respondeu." Gazeta de Notícias, 10 de fevereiro de
1894.

"Muito semelhante ao anterior foi o dia de ontem. A população ainda se manteve tranqüila,
esperando os acontecimentos, com a máxima confianá no governo e na vitória da República.
Nas ruas notou-se a animação dos dias normais. O comércio conservou francamente abertas
as suas portas, manifestando um total sossêgo e despreocupação da revolta como se
estivessem em época de paz mais absoluta." Diário de Notícias, 9 de fevereiro de 1894.

Grande Vitórias das Forças Legais:


"Na madrugada de ontem a população da nossa capital foi despertada por um vivíssimo
tiroteio, entrecortado de sucessivos tiros de canhão, anunciando um grande combate para os
lados de Niterói.

Efetivamente os revoltosos levados ao desespero em nossa baía pelo heroísmo das forças
legais e pela falta de viveres e disciplina a bordo, imaginaram dar um combate decisivo, pondo
em movimento todas as suas forças e atacando simultâneamente Maruí, Ponta da Areia e
sobretudo a apetecida Armação. O combate nesses três pontos tornou-se renhidíssimo,
trocando a todo momento a artilharia de parte a parte e ouvindo-se continuadas descargas de
fuzilaria.(...)

Mal clareava o dia e em todos os pontos da cidade, de onde se podia divisar a luta travada, a
população aglomerava-se, anciosa de saber o que se passava, e confiada na bravura dos que
defendiam a heroica Niterói. O combate ia muito renhido quando de repente as baterias da
Ponta da Areia e da Armação cessaram o fogo, apriximando-se as lanchas e havendo todos os
indícios de um desembarque. (...)

Muito provavelmente por tática, as guarnições desses pontos tinham-se concentrado e a


marinhagem desenfreada julgava-se já senhora das posições, quando a ofensiva foi tomada,
com valor, as forças desembarcadas foram cercadas pela infanteria e expulsas do território
fluminense, deixando muitos mortos e feridos e fugindo vários marinheiros a nado.

Desalojados das posições, as bandeiras brancas foram arrancadas em meio aos vivas à
República, e a esquadra revoltada, com menos duas lanchas, que foram a pique, fez-se ao
largo, custando-lhe mais uma tremenda derrota, que certamente levará o ex-neutro da Ilha das
Cobras a não tentar outro desembarque." Diário de Notícias, 10 de fevereiro de 1894.

"Pouco antes das 4 horas da manhã de ontem fomos surpreendidos por vivas descargas de
grosso canhão, que repercutiam com grande estrondo no silêncio profundo em que se achava
mergulhada a cidade.

Acudindo ao nosso posto de observação, vimos o Aquidaban e um dos frigoríficos em serviço


da revolta restauradora, que haviam levantado ferro e aproavam bara a barra, achando-se já
próximos de Villegaignon. Os holfotes de S. João e da Glória tinham, porém, projetado pouco
antes os seus focos de luz sobre os dois vultos que se esgueiravam rapidamente pela treva
densa, e das baterias legais e das fortalezas da barra, sempre vigilantes, rompeu desde logo
vivíssimo fogo sobre os dois navios. Assim descobertos e debaixo de um chuveiro de balas,
ambos voltaram rapidamente para os ancoradouros que pouco antes haviam deixado,
naturalmente no intuito de forçar a saída da barra. E cessou assim o canhoneio." O Tempo, 9
de fevereiro de 1894.

"Depois de longos dias de quse completa apatia em que estiveram mergulhados os revoltosos
restauradores resolveram ontem operau uma ação séria e decisiva, que os arrancasse do
estado de aniquilamento em que se acham. Custou-lhes, porém, caro a audácia. Mais uma
derrota formidável lhes foi infligida e mais uma vitória cheia de heroísmo coube à mocidade
entusiástica, às hostes nibilíssimas dos bravos que defendem a república. (...)

Os revoltosos atacaram hoje pela madrugada, simultaneamente, diversos pontos do litoral de


Niterói, desembarcando em alguns deles, de onde foram no fim de pouco tempo desalojados,
deixando muitos mortos e prisioneiros, entre estes alguns oficiais." O Tempo, 10 de fevereiro
de 1894.

"A iminência do ataque decisivo à candilhagem do mar, que desde 6 de setembro ensangüenta
duas cidades, reduz a ruínas a capital do Estado do Rio e infelicita e enxovalha a pátria,
arrastando-a à mais injustificável das guerras civis, não podia deixar de ser ontem a principal
preocupação de todos os espíritos. Diante do aviso prévio, que foi dada a mais laga
publicidade, as famílias moradoras no centro da cidade e nos pontos mais provavelmente
expostos começaram muito cedo a retirada, enchendo literalmente os wagons da Estrada de
Ferro Central do Brasil e os bondes das fiferentes companhias, em demanda dos subúrbios e
dos arrabaldes mais arredados do litoral, onde se acham a abrigo das balas inimigas, que até
há poucos dias tanto sangue generoso e inocente haviam feito derramar." O Tempo, 13 de
março de 1894.

A Revolta - Vitória da República:

"Chegamos tarde para dar a notícia que repercutiu já como um hino festivo em toda a
República, desoprimida do ultraje dos bandidos, das desgraças que eles lhe cavaram desde 6
de setembro do ano passado. Está salva a República! (...)" O Tempo, 15 de março de 1894.

"Está salva a República! A República que durante seis meses resistiu ao Aquidaban, Javarí,
Almirante Tamandaré, Trajano, Guanabara e esquadrilhas de torpedeiras, piquetes e
rebocadores, viu a imediata submissão dos revoltosos restauradores, no dia em que se
anunciou a sua anciosamente esperada batalha."

- BOLETIM D'O PAIZ - ÀS TRÊS HORAS DA TARDE -

"Os revoltosos acabam de se render à discrição. Os oficiais refugiaram-se à bordo dos navios
de guerra ingleses, franceses e portugueses, abandonando os enfermos na Ilha das Enxadas.

Os tiros que estão se ouvindo são para descarga dos canhões. As fortalezas e poucos
fortificados apenas dispararam alguns tiros, que não foram correspondidos.

Honra à República Brasileira. Honra às forças de terra, à grande parte leal da oficialidade da
esquadra!" O Paiz, 14 de março de 1894.

"A cidade do Rio de Janeiro respirou ontem, enfim, desopressa do pesadelo da revolta. As
fisionomias tinham um ar radiante de contentamente e por toda a parte grandes grupos de
populares, entusiasmados, festejavam delirantemente, a vitória da República." O Paiz, 15 de
março de 1894.

"O comandante superior da guarda nacional Dr. Fernando Mendes, acompanhado do seu
estado-maior, comandantes das brigadas, corpos e oficialidades, foi ontem à tarde
cumprimentar os srs. marechal vice presidente da República e ministro da Guerra. Quatro
bandas de música acompanhavam o prestito que depois dos cumprimentos percorreu diversas
ruas da cidade.

No palácio do governo, estando ausente o sr. marechal Floriano, foram os manifestantes


recebidos pelo sr. capitão Antônio José de Siqueira, secretário de s.ex. (...)" Correio da Tarde,
15 de março de 1894.

"O cruzador Trajano, que foi rebocado para a Gamboa, está completamente perdido e quase
imerso. Ao general Pimentel, comandante da 1a brigada de vigilância no litoral apresentaram-
se 31 soldados das forças legais, prisioneiros dos revoltosos nas ilhas do Engenho, Mocanguê
e Ponta da Armação. (...)

O sr. coronel chefe da polícia desta capital dirigiu aos governantes dos estados o seguinte
telegrama: - Neste momento foi dominada a revolta no porto do Rio de Janeiro. Antes de
terminar o prazo de 48 horas, marcado pelo governo para começar as hostilidades, os
revoltosos entregaram-se à discrição, tendo antes abandonado fortalezas e navios e
refugiando-se na ilha das Enxadas. Saldanha e mais oficiais estão asilados em navios de
guerra estrangeiros. O governo trata de mandar forçar para o Paraná e Santa Catarina onde se
acha o almirante Custódio de mello. Mil parabéns. Viva a República!"

"Hoje às 3 1/2 horas da tarde haverá bondes especiais à disposição daqueles que quiserem
cumprimentar os alunos da Escola Militar. (...)
As repartições públicas, praças ajardinadas e diversas casas particulares iluminaram ontem à
noite as suas fachadas. (...)

Foram removidos para a Ilha das Enxadas os marinheiros presos que se achavam recolhidos
ao 1o e 24o batalhões de infantaria." Correio da Tarde, 16 de março de 1894.

O Dia em que invadiram Niteroi- Benvindo Sequeira

Vocês conseguem imaginar Niterói sendo invadida e tomada por rebeldes da Marinha
Brasileira?

Pois foi o que aconteceu na data de hoje em 1894.

Era Presidente da República o Marechal Floriano Peixoto, mais um dos alagoanos


marechais e presidentes.

Governava com mão de ferro, e o Almirante Custódio de Mello rebelou-se em 1893


contra seu governo.

Comandou a esquadra brasileira da época aportada no Rio de Janeiro (um monte de


sucata - navios movidos a roda, outros que só andavam se rebocados...),  mas reuniu
mais de 18 navios contra o Governo Federal e tentou invadir a Capital da República.

O melhor navio da Armada, o couraçado Riachuelo Floriano havia mandado para a


Europa, já que suspeitava que ele também estava na conspiração.

A rebelião durou ano. Bomba pra lá, e bomba pra cá. Porque os fortes da entrada da
Baía se posicionaram a favor de Floriano, mas também não tinham munição. Então era
um escasso jogar de bombas.

Uma vez por semana , se tanto , caía uma bomba no Rio de Janeiro enviada de algum
dos navios rebeldes. E assim ia a revolta, monótona, pobre...

Enfim: uma briga de boquirrotos.

Os rebeldes um dia conseguiram explodir o paiol de munições da Ilha do Governador, e


os legalistas por seu lado conseguiram afundar o couraçado Javari.

Parecia mais aquela Batalha Naval de papel:

-  N 3

- Água

-A7

- Acertou um pedaço de um rebocador...


Assim prosseguiam na sua pirracenta guerra até que  nesta data os rebeldes que não
conseguiam tomar a Capital federal decidiram:

- "Se não tem tu, vai tu mesmo!"   e conseguiram desembarcar em Niterói. Mas não
conseguiram chegar ao Centro da Cidade.

Repelidos deram a volta e  partiram para se reunir com navios  do Rio Grande do Sul
que também estavam revoltados.

Alguns países, como Itália,Portugal, Inglaterra,  França e EEUU a pretexto de defender


seus cidadãos no Brasil quiseram intervir e perguntaram como seriam recebidos se
entrassem no porto do Rio. Então Floriano disse a célebre frase "Serão recebidos à
bala".

Bravata pura, pois não tinham balas nem pra combater Custódio de Mello. Mas de toda
forma foi um gesto de soberania.

Mas, os EEUU, como sempre eles, apoiaram Floriano e enviaram tropas e navios (quase
como fizeram com o Golpe Militar de 1964 com a sua VI Frota), o que ajudou a por fim
à revolta da Armada, e a bucólica  Niterói pôde afinal descansar em paz.

História do Brasil
Revolta da Armada: Setores da Marinha lutam contra
Floriano Peixoto
Comente
Vitor Amorim de Angelo
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

17/10/200819h05
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A Revolta da Armada foi um movimento deflagrado por setores da Marinha brasileira


em 1893 contra o presidente da República, marechal Floriano Peixoto. Encabeçado pelo
contra-almirante Custódio de Melo e pelo almirante Luiz Filipe Saldanha da Gama, o
episódio expressou com clareza os interesses e as disputas políticas do início do período
republicano.

Para compreender melhor a Revolta da Armada, contudo, é preciso retroceder ao


governo anterior, do marechal Deodoro da Fonseca, e aos conflitos que levaram à sua
renúncia, em novembro de 1891, com apenas nove meses de governo constitucional. O
apoio de figuras associadas ao antigo regime político - a Monarquia - só acentuou as
divergências e colaborou para reforçar a imagem de Floriano como consolidador da
República.
As facções políticas estaduais

Quando a República foi proclamada, em 1889, um problema que imediatamente veio à


tona foi a ascensão das oligarquias locais ao poder nos seus respectivos estados. Ocorre
que havia elites em disputa pelo poder, e o presidente provisório, Deodoro da Fonseca,
precisou decidir quem iria apoiar em cada estado. Com isso, logo as oligarquias
desprestigiadas pelo novo regime, política ou economicamente, começaram a fazer
oposição a Deodoro.

Esse movimento atingiu seu ponto alto na eleição presidencial de 1891, da qual
Deodoro saiu vencedor. O vice-presidente eleito, porém, era Floriano Peixoto, apoiado
pela oposição. Deodoro destituiu todos os governadores oposicionistas, nomeando
políticos de sua confiança. Contudo, as bancadas estaduais no Congresso permaneceram
as mesmas, e elas, em sua maioria, eram contra o presidente. Houve, assim, um
descompasso entre os que detinham o poder nos estados e os representantes estaduais no
Congresso Nacional.

Uma exceção foi o Rio Grande do Sul, onde a bancada federal apoiava o governador,
Júlio de Castilhos. Quando, sob pressão, Deodoro renunciou, o vice, Floriano Peixoto,
que assumiu a Presidência da República em novembro de 1891, destituiu os
governadores que apoiavam Deodoro. Uma ferrenha disputa pelo poder instalou-se no
Rio Grande do Sul, envolvendo o grupo de Castilho e as novas facções na luta pelo
poder.

O movimento contra Floriano Peixoto

O presidente, que inicialmente manteve-se neutro, decidiu apoiar o governador que ele
mesmo destituíra. Floriano sabia que, ao favorecer Castilhos, ganharia o apoio da
bancada gaúcha no Congresso. De outro lado, os grupos que passaram a disputar o
poder no Rio Grande do Sul, após a queda do governador, incluíram elementos
identificados com a Monarquia. A oposição a Castilhos chegou a fundar o Partido
Federalista Brasileiro, unindo dissidências do Partido Republicano local e integrantes do
antigo Partido Liberal.

Em 1893, teve início a Revolta da Armada. Custódio de Melo, que havia apoiado
Floriano na eleição para vice-presidente, não aceitou as medidas do governo em relação
à política gaúcha. De outro lado, havia o problema sucessório. Pela Constituição,
Floriano deveria convocar novas eleições no prazo de dois anos após a posse. Porém,
isso não ocorreu. E Custódio, que era candidato à Presidência, ficou contrariado com a
nova situação.

De maneira circunstancial, figuras associadas ao antigo regime também se juntaram ao


movimento contra Floriano Peixoto - caso do almirante Saldanha da Gama, por
exemplo.

A rebelião dos marinheiros, porém, não conquistou maiores apoios na então capital da
República, Rio de Janeiro. Depois de algumas trocas de tiros com o Exército, os
revoltosos seguiram para o sul do país. Parte deles desembarcou na atual cidade de
Florianópolis. Chegaram a ensaiar uma aliança com os federalistas gaúchos - Custódio
de Melo chegou a participar da Revolução Federalista -, mas o acordo não avançou.
Floriano Peixoto, que contava com amplo apoio dentro do Exército e mesmo entre as
elites estaduais (sobretudo a paulista), adquiriu navios no exterior para reforçar o
combate aos revoltosos, finalmente derrotados em março de 1894. Ao suprimir a
Revolta da Armada, que de alguma forma vinculava-se à restauração da Monarquia - o
presidente terminou por credenciar sua própria imagem como um radical defensor da
nascente República.

Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela


Universidade Federal de São Carlos.

As DUAS REVOLTAS

O presidente Marechal Deodoro da Fonseca.

Em novembro de 1891, registrou-se como reação à atitude do presidente da República,


marechal Deodoro da Fonseca que, em meio a uma crise institucional, agravada por
uma crise econômica, e com dificuldades em negociar com a oposição, em flagrante
violação da Constituição recém-promulgada em 1891, ordenou o fechamento do
Congresso.[1] Unidades da Armada na baía de Guanabara, sob a liderança do almirante
Custódio de Melo, sublevaram-se e ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro,
então capital da República.[3] Para evitar uma guerra civil, o marechal Deodoro
renunciou à Presidência da República (23 de novembro de 1891).[2]

Com a renúncia de Deodoro, que ocorreu apenas nove meses depois do início de seu
governo, o vice-presidente Floriano Peixoto assumiu o cargo (1892). A Constituição de
1891, no entanto, garantia que, se a presidência ou a vice-presidência ficassem vagas
antes de se completarem dois anos de mandato, deveria ocorrer uma nova eleição, o que
fez com que a oposição começasse a acusar a Floriano por manter-se ilegalmente à
frente da nação.

A segunda Revolta da Armada

O presidente Marechal Floriano Peixoto.

Começou a delinear-se em Março de 1892, quando treze generais enviaram uma Carta-
Manifesto ao Presidente da República, marechal Floriano Peixoto.[2] Este documento
exigia a convocação de novas eleições presidenciais para que, cumprindo-se o
dispositivo constitucional, se estabelecesse a tranquilidade interna na nação. [4] Floriano
reprimiu duramente o movimento, determinando a prisão de seus líderes.

"Concidadãos,
Aspecto da Baía de Guanabara no dia 13 de setembro de 1893, durante o bombardeio
entre as fortalezas e os navios revoltosos.
Contra a Constituição e contra a integridade da própria Nação, o chefe do
Executivo [Floriano Peixoto] mobilizou o Exército discricionariamente, pô-lo
em pé de guerra e despejou-o nos infelizes estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Contra quem? Contra o inimigo do exterior, contra
estrangeiros? Não. O vice-presidente armou brasileiros contra brasileiros;
levantou legiões de supostos patriotas, levando o luto, a desolação e a miséria a
todos os ângulos da República (...).
Sentinela do Tesouro Nacional como prometera, o chefe do Executivo perjurou,
iludiu a Nação, abrindo com mão sacrílega as arcas do erário público a uma
política de suborno e corrupção. (...)
Viva a Nação Brasileira! Viva a República! Viva a Constituição!
Capital da República, 6 de setembro de 1893.
Contra-Almirante Custódio José de Melo" (in: Jornal do Brasil)
O Combate da Armação, em Niterói (9 de fevereiro de 1894).

Em 6 de setembro de 1893, um grupo de altos oficiais da Marinha exigiu a imediata


convocação dos eleitores para a escolha dos governantes. Entre os revoltosos estavam
os almirantes Saldanha da Gama, Eduardo Wandenkolk e Custódio de Melo,[4] ex-
ministro da Marinha e candidato declarado à sucessão de Floriano.[4] Sua adesão refletia
o descontentamento da Armada com o pequeno prestígio político da Marinha em
comparação ao do Exército. No movimento encontravam-se também jovens oficiais e
muitos monarquistas.[1]

Fortificação de campanha (1894). Vê-se um canhão de 280 mm (único no Brasil),


posicionado à barbeta, e soldados do 4º Batalhão de Artilharia da Guarda Nacional.
Proveniente da série Revolta da Armada, Museu Histórico Nacional.

A revolta teve pouco apoio político e popular na cidade do Rio de Janeiro, onde a partir
de 13 de setembro diversas unidades encouraçadas trocaram tiros com a artilharia dos
fortes em poder do Exército.[1] Houve sangrenta batalha na Ponta da Armação, em
Niterói, área guarnecida por aproximadamente 3.000 governistas, os quais eram
compostos entre outros por batalhões da Força Pública e da Guarda Nacional.[5] [6] A
capital do estado do Rio de Janeiro, então a cidade de Niterói, foi transferida para a
cidade de Petrópolis em 1894, de onde só retornou em 1903. Sem chance de vitória na
baía da Guanabara, os revoltosos dirigiram-se para sul do país. Alguns efetivos
desembarcam na cidade de Desterro (atual Florianópolis) e tentaram, inutilmente,
articular-se com os federalistas gaúchos.[2] [4]

O presidente da República, apoiado pelo Exército brasileiro e pelo Partido Republicano


Paulista conteve o movimento em março de 1894, para o que fez adquirir, às pressas, no
exterior, por meio do empresário e banqueiro estadunidense Charles Ranlett Flint,
alguns navios de guerra, a chamada "frota de papel".[1] Essa frota, adquirida nos Estados
Unidos, foi também denominada pelos governistas como "Esquadra Flint" e viajou do
porto de Nova York até a baía de Guanabara tripulada por mercenários estadunidenses.
De acordo com Joaquim Nabuco, as tropas contratadas para auxiliar o governo federal
eram "a pior escória de filibusteiros americanos".[7]

Em março de 1894 a rebelião estava vencida. O rigor de Floriano Peixoto ante os dois
movimentos revolucionários lhe valeu o cognome Marechal de Ferro

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