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RSITY LIBRARIES ST
STANFORD UNIVERSITY LIBRARIES STANFORD U
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3
1
NGEUHOF.
JOAN
IX
Joan Nieuhof
MOACIR N. VASCONCELOS
LIVRARIA MARTINS
RUA 15 DE NOVEMBRO, 135
SÃO PAULO
STANFORD LIBRARY
MAR 8 1966
STACKS
535
981
1537
2
0.
JOHAN NIEUHOFS
Gedenkweerdige
BRASILIAENSE
ZEE- en LANT
REIZ E
Bebelzende
Beneffens
NEERLANTS BRASIL ,
CAMSTERDAM ,
Voor deWeduwe van Jacos van. Mxuns ,opde Keizersgracht. 1682
A obra de Nieuhof é, incontestàvelmente, uma das fontes
mais importantes que existe para o estudo do Brasil Holandês.
De fato, o autor da "Memorável Viagem Marítima e Ter
restre ao Brasil" viveu no Nordeste de 1640 a 1649 e teve,
portanto, tempo suficiente para estudar o país, aprender o
português e anotar com cuidado todos os acontecimentos ocor
ridos nesse importante período de nossa história.
Barlaeus foi o cronista dos feitos nassovianos e Nieuhof o
historiador de tudo quanto aconteceu posteriormente a Nassau.
A publicação recente, em português, da obra de Barlaeus,
pelo Ministério da Educação, pôs ao alcance de todos uma obra
tão rara quanto importante. Acha-se no prelo, graças aos es
forços de Afonso de E. Taunay, a obra de Piso e Marcgrave.
Não sabemos de ninguém que se abalançasse a publicar o ter
ceiro clássico holandês sobre o Brasil. Daí a nossa iniciativa
de incluí-lo na Biblioteca Histórica Brasileira. Para essa
árdua tarefa escolhemos os srs. Moacir N. Vasconcelos, a quem
coube fazer uma excelente tradução baseada na edição inglêsa,
e o historiador José Honório Rodrigues, a quem coube cotejar
a tradução com o original holandês, anotar a obra tôda, nos
seus menores detalhes, redigir a introdução, a magistral nota
bibliográfica e a bibliografia do autor. Esse árduo trabalho
José Honório Rodrigues desempenhou com a maestria que se
esperava de quem tão bem conhece tudo quanto se relaciona com
os holandeses no Brasil. A-fim-de ilustrar esta edição inte
gral e crítica da obra de Nieuhof, resolvemos publicar, além
de todas as gravuras do original, mais algumas, insertas em
rarissimos folhetos contemporâneos, e um mapa colorido, de
Mateus Seutter, cujo efeito não é de se desprezar numa coleção
de livros cujo cunho artístico o editor tem sempre procurado
manter.
R. B. de M.
Introdução
Joan Nieuhof nasceu em Ulsen, no condado de Benthem, na Vest
fália. Entrou mais tarde para o serviço da Companhia das Índias Oci
dentais que o empregou como agente comercial ( 1 ) . Veio para o Brasil
em 1640 e aquí permaneceu nove anos. Em setembro de 1649 , chegava à
Holanda ; logo partia para Zwell, onde nascera seu pai , Joan Nieuhof, e dai
para Benthem , sua terra natal. Quatro anos depois passava para o
serviço da Companhia das Índias Orientais, embarcando para Amsterdã ;
e em 23 de agôsto, de Texel seguia para a Batávia , onde chegou a 29
de abril de 1653. A Batávia era o centro do grande empório holandês
no Oriente e aí já havia chegado ordem para que se organizasse uma
outra embaixada à China, com o fim de estabelecer relações comer
ciais ( 2) ; Nieuhof seguiu na embaixada como agente comercial.
No dia 4 de julho de 1655, partia, visitando Cantão (4 de abril ) ,
Nanquim (4 de maio ) e Pequim ( 16 de julho) ; volta depois a Nanquim,
Cantão ( 28 de fevereiro de 1657 ) e em maio chega à Batávia, onde fêz
uma exposição das negociações ao conselho holandês das Índias (3 ) .
Os dicionários biográficos e as enciclopédias costumam contar com
detalhes essas negociações com os imperadores chineses . Pouco nos
interessam , principalmente porque de tudo isso Nieuhof deixou uma
ampla exposição na primeira Viagem à China . Convidado a partir para
a Holanda, a-fim-de expor os maus resultados da expedição , êle aí
chegou em julho de 1658. Depois de três meses de permanência e de ter
entregue os originais da Viagem à China a seu irmão , foi novamente con
vidado para uma segunda viagem às Índias Orientais (4 ) e em 18 de
julho de 1659 chegava à Batávia. Em 1664 é chamado a Malabar, a- fim
-de negociar tratados comerciais, e James Hustart, governador em Ceilão e
Malabar, concede-lhe credenciais para negociar diretamente acordos co
merciais. Nieuhof era, nessa época, um dos principais agentes da Com
panhia das Índias Orientais, devendo-lhe essa boa parte de seus em-
preendimentos . Nieuhof é viajante incansável, trabalhador pertinaz ;
visita Málaca, Sumatra, Amboina e a costa do Coromandel. Tendo os
holandeses , em 1662 , colocado no trono do Cochim um certo rei, que havia
sido expulso pelos portugueses , foi Nieuhof nomeado agente para confir-
mar as alianças da Companhia com diversos príncipes vizinhos da costa
de Malabar ; foi, depois , enviado a Ceilão, como governador ( 5 ) e, em
seguida, chamado à Batávia . Em 1670, volta à Holanda, chegando em
9 de julho a Texel e embarcando em Enkhuysen chega no dia 11 a Ams-
terdã. Na Holanda, entrega os originais da Viagem às Índias Orientais
e da Viagem ao Brasil a seu irmão, depois de uma conferência com João
Maurício de Nassau e com Guilherme Piso ( 6 ) .
Os diretores ficaram de tal modo satisfeitos com seu procedimento e
suas observações, que o enviaram pela terceira vez às Índias Orientais.
Depois de 1672, chega a Madagascar (7 ) , realizando viagens pelo interior,
onde desaparece.
(5) Voyages and Travels, ed. Osborne, Lintot, 6 vols., 1746, pp. 207 e 219.
(6) Voyages and Travels to East Indies, p. 303 da ed. holand., p. 302 da ed.
inglêsa.
(7) Dissemos depois de 1672, porque na Viagem às Índias Orientais, não se
especifica a data.
(8) Cf. Viagem às Índias Orientais ; ed. de Churchill, Osborne, Lintot, 1746 .
Terceira Viagem às Índias Orientais.
――― XI ―
(16) Zee en Lant Reize door verscheide, etc.. Seria interessante a colheita,
por um estudioso dêsses assuntos , dos nomes portugueses nas obras de Nieuhof.
(17) A expansão da língua portuguesa no Oriente nos séculos XVI, XVII,
XVIII. Portucalense Editora, Lda. Barcelos , 1936. p . 67 e segts.
XV ―
1
Vale a pena lembrar, de passagem, um detalhe pitoresco. A Nieu
hof devem os brasileiros um hábito alimentar nacional : a média, isto é,
o café com leite. Segundo as pesquisas realizadas por estudiosos da his
tória do café, foi Nieuhof quem inventou a mistura. Modernamente,
Padberg Drenkpol ( 21 ) e, também, Afonso de E. Taunay (22 ) regis
tam a crença antiga de que para a tísica não havia como café com leite.
(18) Sôbre a língua falada pelos alemães no sul, veja-se o notável trabalho
de Emílio Willems , Assimilação e populações marginais no Brasil. Brasiliana,
1940, n. 186, pp. 187-207.
( 19) Ob. cit. , pp. 73, 74.
(20) La Richesse de la Hollande, Londres, MDCLXXVIII , p . 52 ; mais tarde,
1780, traduzido para o holandês, Hollands Rijkdom, por E. Luzak, com adições e
correções.
(21 ) Ensaio crítico-histórico sôbre o café e investigação etimológica do nome ;
Boletim do Museu Nacional, vol . III, n. IV, Dezembro, Rio, 1927 , pp. 13-116.
(22) Subsídios para a história do Café no Brasil Colonial. Ed . do Departa
mento Nacional do Café, 1935, Rio, p. 115.
- XVI -
(23) Este trabalho foi novamente publicado em 1918, tomo 84, 1920 , Inst.
Hist. Geogr. Brasileiro, pp . 337-82.
(24) Cf. Anais da Bib. Nac. do Rio-de-Janeiro, 1935 , vol . LVII- 1939 — " Re-
lação do Dr. Antônio da Silva e Sousa sôbre a Rebelião de Pernambuco. "
XVII
(25) Naber S. P., l'Honoré. " Het Dagboek van Hendrik Haecxs, Lid van den
Hoogen Raad van Brazilië (1645-1654 ) " . Bijdragen en Mededeelingen van het His-
torisch Genootschap, Utrecht, XLVI, 1925, pp. 126-311 .
2
— XVIII ―
Cêrca de dezenove anos são passados desde que meu irmão, Joan
Nieuhof, ao partir para sua segunda viagem às Índias , presenteou-me
com uma descrição da China e alguns desenhos por êle feitos durante o
tempo em que foi embaixador naquele Império, trabalhos êsses, que, mais
tarde publicados, foram traduzidos em seis línguas diferentes.
Sabendo-se que os fatos por êle referidos , sôbre a revolta dos portu-
gueses no Brasil, foram literalmente trasladados de apontamentos feitos
durante os nove anos que lá esteve ― sob os governos dos senhores Hen-
drik Hamel, Pieter Bas e Adriaen Bullestrate, - bem como de cartas
HENDRIK NIEUHOF
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE DE
JOAN NIEUHOF (1) AO BRASIL
treitos . Prosseguimos viagem a 28, com vento à feição, pelo canal que
separa a França da Inglaterra.
No dia 29, assaltou-nos violentíssima tormenta que nos obrigou a Violenta
arriar as velas grandes e se prolongou desde a manhã até a noite, quando tempestade.
Nos dias 2 e 3 ventou muito com trovões e relâmpagos, o que nos for
çou a colher as velas grandes e bombear enèrgicamente , porque, desde a
última tormenta, o navio passara a fazer água.
No dia 6, como rumássemos com vento fresco para sussudoeste, avis- Avistam- se
támos dois barcos que navegavam a todo pano em direção a nós, os quais dois navios
imaginámos serem de piratas turcos, suposição que mais tarde se veri- turcos.
ficou exata . Dispusemo-nos, portanto, a nos defender até o extremo.
Deram-se ordens para que se varresse o tombadilho de tudo quanto nêle
havia, armando-se os marinheiros com mosquetes, chuços , lanças e outros
petrechos semelhantes. Logo que todos se puseram a postos , hasteámos
a bandeira de guerra e, ao som dos clarins que soavam a combate, espe-
rámos que o inimigo se aproximasse. Estando, então, muito mal o ca-
pitão do navio, devido a ferimentos anteriormente recebidos e que por
essa época se agravavam, e, não podendo o comissário François Zweers Prepara-
permanecer no tombadilho em razão de sua avançada idade, tive eu que tivos para o
assumir o comando da nau, animando os homens a lutar bravamente por combate.
nossas vidas e liberdade e ordenando-lhes a não abrir fogo de forma algu-
ma antes que o inimigo estivesse bem dentro do alcance de nossas armas,
pois era maior em número que nós.
Por volta do meio-dia avistámos os turcos que se dirigiam a nós ar-
vorando bandeiras côr de laranja que logo substituíram pelas de guerra.
O navio maior salvou-nos com dois tiros de peça de seu castelo de proa,
os quais não nos causaram grande dano, mas, ao vigésimo segundo dis-
paro, quase despedaçou o nosso mastro principal.Nesse momento, como Combate
já nos aproximássemos de outro navio, abrimos um nutrido fogo, que os com dois
turcos se apressaram em retribuir. Pude, então , observar que o navio corsários
maior havia recebido um tiro em cheio, à meia-nau, que o obrigara a se turcos.
Cêrca do meio-dia éramos colhidos por outra tempestade que, por precau-
ção, nos fêz reduzir o pano das grandes velas. Contudo, o tempo logo
serenou.
Esse trecho do mar é denominado pelos holandeses Mar Kroos (4) e
pelos portugueses Mar del Aragaço ( ou Largaço, ou ainda, Sargaço )
porque nessas paragens, de 18 a 30 graus, ou como outros pretendem, de
20 a 22 e a 23 graus, de latitude norte, se encontram sargaços em grande
quantidade, arrastados pelas correntes marinhas. Suas fôlhas são de um
verde pálido, como o dos papagaios, pequenas, finas e recurvas nas pon-
tas. Contêm elas grãos da mesma côr, quase do tamanho de uma pi-
menta, mas, inteiramente ocos, sem nenhuma semente no interior e
sem gôsto algum. Chegam por vêzes a aglomerar-se em massa tão com-
pacta que pode deter um navio em plena marcha. Todavia, tivemos a
sorte de passar por elas sem muita dificuldade . Estávamos , então, a
400 milhas da costa da África, onde não se encontram ilhas nem ancora-
douros . Pode-se temperar essa alga com sal e pimenta para ser ser-
vida como alcaparras ; passa , ainda, por ser bom remédio contra cálculos.
Geralmente encontram-se sargaços sem raízes, tendo apenas alguns bro-
tos finos, os quais , ao que se supõe, se vão agarrar aos bancos de areia.
Outros opinam que são êles transportados das ilhas para o largo pelas
correntes oceânicas.
No dia 18 morreu um membro da tripulação cujo corpo foi lançado
ao mar no dia seguinte. Foi-me, então, dado observar o que aliás já
havia ouvido dizer ― que os cadáveres flutuam, no mar, com a cabeça vol-
tada para o Oriente.
No dia 22 fomos colhidos por nova tempestade , - a que chamam
Travado , acompanhada de relâmpagos e trovões pavorosos e que sur-
preende os navios tão bruscamente que mal lhes dá tempo para reduzir Travado
por que?
as velas, chegando, o fenômeno, a se repetir três vêzes em uma hora.
(4) A palavra Kroos significa lentilha d'água, sargaço, erva do mar. Está
entre 18 e 30 graus ao norte da linha equinocial.
(5) Bonitos : Curvata Pinima Brasiliensibus Lusitanis Bointo ( sic) LXX, 150
e LXXXVI, 338 ) .
(6) Na ed. inglêsa está : " dez pés de comprimento " (p. 3. 2. col. ) ; cf. ed.
holandesa, ( p. 5, 1.ª col., 3.º §) .
6 JOAN NIEUHOF
L
A 24, que foi um lindo dia, avistámos grande quantidade de pássaros
sobrevoando o navio. Conseguimos apanhar um, mais ou menos seme
lhante ao grou, ainda que bem menor.
No dia 26, a 5 graus e 47 minutos, encontrámos tamanha calmaria
que nem se percebia o movimento da nau. Passámos o dia todo entreti
dos na pesca que foi farta ; limitámo-nos, por isso, a escolher apenas o que
havia de melhor, para nossa alimentação. Vimos alí um peixe a que
chamam peixe-rei ( 7) . Como efeito da insondável profundidade do mar,
naquelas paragens , as águas são tão claras e transparentes, quando o tem
po está bom, que se podem ver perfeitamente os peixes se moverem em
grandes cardumes, a dois pés de profundidade. Basta então um prego re
curvo ou qualquer coisa que se pareça com anzol, prêso a uma linha, para
se apanhar o peixe que se quiser. A essa calmaria seguiu-se tremenda
borrasca.
No dia 30, estávamos a 4 graus e 41 minutos, quando deparámos
com o peixe voador ( 8 ) , em grande abundância.
A 3 de dezembro atingíamos a posição de 1 grau e 30 minutos, onde
encontrámos peixes aos milhões . Pescámos quanto nos bastou, salgando
uma parte e preparando o restante com sal e pimenta que esfregávamos
na barriga do pescado para depois pendurá-lo pela cauda e secar ao sol.
Avistámos a No dia 4, ao raiar do dia, com tempo claríssimo, avistámos a ilha de
Ilha de Penedos ou São Paulo (9 ) , como é chamada pelos portugueses. Vista à
São Paulo. distância, dá a impressão de uma grande vela, para depois , à medida que
a gente se aproxima , ir se transformando em cinco altos rochedos. Pelo
meio-dia achávamo-nos a 53 minutos de latitude norte, dirigindo nossa ro
ta cinco milhas para o poente. Aí, por várias vêzes apanhámos algumas
gaivotas. Estas aves se lançam em vôo rápido , como se nos quisessem
atacar, para depois permanecerem imóveis no lugar, até que sejam prê
sas ou mortas .
No dia 5, pelas 11 horas, passávamos a Linha Equinocial e , pela
tarde, estávamos a 5 minutos de latitude sul, onde já não tínhamos mais
motivo para nos queixar de frio. É tal a calmaria que reina nessas para
gens que os navios perdem tempo considerável em atravessá-la.
(12) Na ed. inglêsa está junho (p. 4, 2. col., 4.0 ) ; cf. ed. holandesa, (p. 7,
2. col. 2. §) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 9
DESCRIÇÃO DO BRASIL
(17) Esses nomes geográficos estão, com raras exceções, corretos. Antes de
tudo, convém frisar que Nieuhof escreve, sempre, com K em vez de C. Há apenas
pequenos enganos, conforme veremos. Em primeiro lugar, Nova-Inglaterra não é
Virgínia, pois a primeira ficava bem mais ao norte e, entre elas, existia Nova-Ams-
terdã e Nova-Suécia, que não sabemos por que não figuram entre os Estados citados .
Laet não se refere a Estotilândia, Quivira, Bakalaos e Amian ( Cf. L) . Mas no
Mapa de Ortelius (Cf. LXV) , encontra-se a Estotilândia ao norte, no Atlântico, perto
do Labrador, embora já se encontre uma península e cabo dêsse nome. Quevira de-
mora no Pacífico, perto do antigo e atual cabo Mendoncinho. Amian está mais ao
norte. Quevira nada tem a ver com Nova-Albion ( Cf. L e LXV ) , pois essa demo-
rava um pouco abaixo do Cabo Mendoncinho ( Cf. Mapa Americae sive Indiae Occiden-
talis, Tabula Generalis in L) . Colini é Colima, em Janssonius ( Cf. XLIII ) e com
Zacatula constituíam províncias de Mechoacan (Cf. XLVIII ) . Janssonius escreve
Cuaxacau, em vez de Guaxaca ( Cf. XLIII ) .
(18) Na edição inglêsa está escrito : (P. 5, 2.a col. 1. § ) "its whole circuit
being of about four thousand Italian or one thousand german miles" ; cf. edição ho-
landesa (p. 8, 2.a col. 4. §) .
(19) Pária fica na Venezuela (Cf. L, p. 388 ) . Cumana, província da antiga
Nova-Andaluzia ( L, p. 614) ; Província Chica , perto da atual província de Tucuman.
na Argentina (L, p. 463, 469 ) e Caribana deve ser a atual Caraibas ; Popaian, atual
Colômbia ( Cf. mapa Americae sive Indiae Occidentalis Tabula Generalis in L) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 11
0 Brasil foi descoberto pelo português Pedro Álvares Cabral , pouco Descobri
tempo depois de Américo Vespúcio, isto é, no ano de 1500. Foi pelo des mento do
cobridor denominado " Santa-Cruz ”, nome que posteriormente os portu Brasil.
gueses mudaram para o de Terra do Brasil, devido ao lenho ( 20 ) assim
chamado, que aí se encontra em grande abundância e que, desde então,
42
O país está situado em plena Zona Tórrida, estendendo-se até o Tró Sua
pico de Câncer e a Zona Temperada. situação.
Com respeito à sua extensão de norte a sul, não é pequena a discor
dância existente entre os geógrafos. Segundo, porém, os melhores cál Extensão.
43
culos, pode- se fixar o comêço dêsse país a meio grau ( 21 ) de latitude nor
te, próximo ao rio Pará e o seu têrmo a 24 graus e meio de latitude sul,
junto ao rio Capibarí ( 22 ) , duas léguas acima da cidade de São Vicente.
E assim é que, tôda a sua extensão, de norte a sul, compreende 25 graus
ou 375 milhas. Preferem outros situar o Brasil entre o Rio Maranhão
e o Rio da Prata. Até hoje não foi possível precisar a extensão do Bra
sil de Leste ( onde se limita com o Mar do Norte) a Oeste, por ter sido
muito pequeno o número dos que puderam penetrar tão a fundo pelo in
terior do país . Assim, sua largura de leste a oeste pode ser avaliada em
742 milhas. Há, porém, alguns autores que estendem seus limites mais
para leste, e, para oeste, mais além do Perú ou Gùiana, o que representa
um acréscimo de 188 milhas. Outros, ainda, situam os limites do Bra
sil ao norte com o Rio das Amazonas, ao sul com o Rio da Prata, a leste
com o Mar do Norte e a oeste com as montanhas do Perú ou Gùiana.
Com êsses limites , o Brasil é dividido pelos portugueses em 14 dis Sua
tritos, por êles denominados Capitanias, a saber : Pará, a primeira de divisão.
tôdas, bem ao Norte, Maranhão, Ceará, Potigí ou Rio-Grande, Paraíba,
Pernambuco , Itamaracá, Sergipe-d'El-Rei, Quirimure ou Baía-de-todos
-os-Santos, Nhoe-Combe ou os Ilhéus, Pacata ou Pôrto- Seguro, Rio-de
-Janeiro ou Niterói, São Vicente e Espírito-Santo ( 23 ) .
(20) Marcgrave escreveu : "Haec regio primo à Lusitanis appellata fuit Santa
Cruz, quod nomem postea mutarunt in Terra do Brasil, ... " ( Cf. LXX, liv. 8, cap.
I, p. 260).
(21 ) O tradutor inglês escreveu : "may be fixed99 under the second degree and
a half of nothern latitude near the river Para ... ( p. 5 , 2.ª col. últ. § ) ; cf. edição
holandesa (p. 9, 1.ª col., 1.° §) .
(22) Cf. Marcgrave ( LXX, liv. 8, cap . I, p. 260) .
(23) Essa divisão do Brasil, Nieuhof tirou-a de Marcgrave, pois os nomes es
tranhos que aí encontramos, como Nhoe-Combe e Pacata se encontram, também, na
Historia Naturalis Brasiliae. Assim, escreve Marcgrave ( Cf. LXX, p. 261 ) : "Di
viditur Brasilia, intra hos limites, in certas Praefecturas (capitanias appellant vulgo
Lusitani) & quidem vulgo in quatuordecim. Quarum prima versus Boream est Para,
sequuntur dehinc ordine Maranhaon, Ciara, Potiyi vel Rio Grande, Paraiba, Ita
12 JOAN NIEUHOF
1
maraca, Pernambuco, Quirimure vel Bahia de Todos los Santos, cujus metropolis S.
Salvador, Nhoecombe vel os Ilheos ; Pacatâ, vel Porto Seguro ; Espiritu Santo; Nhe
teroya, vel Rio de Jeneiro, quem Ganabara vulgo vocant Brasilienses ; & S. Vicente".
Quirimure, de que fala Nieuhof, foi, também, por outros cronistas, referida. Assim,
Soares ( Cf. LXXXVI , p. 223 ) se refere a Caramurê e Varnhagen, em nota à p. 483,
acha que o nome deve estar certo, porquanto os jesuítas o repetem, escrevendo-o Qui
grigmuré. Acha que se trata do mesmo local a que se referiu Thevet (f. 129 ) , com
c nome de Pomte de Crouestimourou. Não andaria, porém, já neste nome a idéia
da residência de Caramurú? pergunta o Visconde de Pôrto- Seguro. Teodoro Sam
paio ( Cf. LXXXI, p . 148 ) afirma que Quimimuras significa gente silenciosa ; e es
clarece que é o nome de uma tribu que habitou primitivamente o Recôncavo da Baía
-de-Todos -os-Santos. Ayres de Cazal ( XXVI , p. 100 ) escreve : "Aos antigos Qui
nimuras, primeiros povoadores memoráveis do contorno da enseada de Todos os San
tos, sucederam os Tapuias, pouco depois expulsos pelos Tupinás, vindos do Sertão,
para onde se retiraram os segundos, que jàmais cessaram de inquietar os seus ven
cedores". Mais explícito e preciso já havia sido Cardim ( Cf. XIX, p. 179 ) , que diz :
"Outros que chamão Quirigmã, êstes, forão senhores das terras da Bahia e por isso
se chama a Bahia Quigrigmurê". Batista Caetano, em nota à p. 234, do trabalho
do mesmo cronista, sugere a hipótese acêrca da etimologia do nome.
Restam, ainda, Pacata e Nhoe- Combe. A primeira, segundo Saint-Adolphe ( Cf.
LXXIX, p. 187 ) , refere-se a um rio de Pôrto- Seguro.
No Vocabulário da Língua Brasílica publicado por Plínio Ayrosa, ( n. 261 ) S.
Paulo, 1938, regista-se para a Capitania de Ilhéus o nome indígena " Nhuecebê ".
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 13
(24) A tradução inglêsa não é bem fiel ; pois enquanto no original holandês
está escrito : "De Kompagnie bezat ook de Kapitanie van Maranhaon : maer die wierdt
des jaers zestien hondert vier en veertigh , om zekere redenen , verlaten " ( p . 10 , 2.a
col. 2. § ) ; o tradutor inglês escreveu : "the Captainship of Maranhaon was 1644 ,
by special command of the Company , left by the Dutch ..." (p. 6, 2. col. 2. § ) .
Ora, por várias razões perdido não é o mesmo que abandonado por ordem especial da
Companhia . Veja as razões da perda mais adiante , nota 172 .
(25) Sobre o domínio holandês no Maranhão, consulte-se João Francisco Lis
boa. ( Obras, LIII Lisboa, 1901 ) , p . 318. Foi conquistado em 25 de Novembro de 1641 .
O domínio durou 27 meses, dezessete dos quais se haviam passado em guerra inces
sante. Deixaram o Maranhão a 28 de fevereiro de 1644 e, possivelmente, porque lhes
⚫ falecia de Pernambuco todo o socorro.
3
14 JOAN NIEUHOF
( 26) Sôbre rios, geografia em geral, localizações de engenhos, nomes , etc. , etc.,
devem -se consultar os mapas relativos à ocupação holandesa do Brasil, feitos por
Vingbooms, no vol. II e os relativos à exploração do Brasil pela Companhia das Índias
Ocidentais no vol . IV (Cf. XCVII ) . São, ao todo, 12 mapas.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 15
(27) A edição inglêsa se refere a 35 casas ( p. 7, 1.ª col., últ. § ) , enquanto que
na edição holandesa consta : 35 ou 36 casas ( p. 11 , 2.ª col . , 5. § ) .
(28 ) Foi, realmente, Cristóvão de Barros que iniciou a conquista e colonização
dêsse Estado. Era governador interino da Baía, em 1590 , e tivera ordem de El- Rei
Filipe II "a requerimentos dos povos d'entre rio Real e Itapicurú, que vivião inquie
tados pelos indigenas deste paiz, e piratas franceses, que frequentavão a costa em
busca do páu brasil." ( Cf. XXVI , 2.º tomo, p. 124 ) .
(29) O Barão do Rio-Branco anexou, no exemplar de F. A. Varnhagen "“ His
tória das lutas com os holandeses no Brasil " ( 1871 ) , que lhe pertencera, uma exten
sa biografia de Bagnoli, com documentos que mandara copiar ou copiara na Itália.
Por aí se vê que Bagnoli é uma pequena aldeia nos arredores de Nápoles , sôbre a
praia do mesmo nome. Aí nasceu o Conde de Bagnoli, cujo nome constitue puro dialeto
napolitano. Também escreveu sôbre Bagnoli o sr. Francisco Pettinati, que lhe de
dicou 156 pp. ( Cf. LXVII, pp. 161-227 ) .
16 JOAN NIEUHOF
(30 ) A grafia de Nieuhof é muito flutuante e não parece ser a certa. Nieuhof
escreveu tanto Schop como Schoppe. A grafia correta é Schkoppe, dada por Netscher
(Cf. LXIII, p. 182 ) , segundo a assinatura do coronel e encontrada em um documento
oficial do Arquivo Real ; seu título de nobreza era Senhor de Krebsbergen, Grana
Cotzen.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 17
A CAPITANIA DE PERNAMBUCO
(31 ) Nieuhof escreve ( p. 13, 1.ª col . últ. § ) : van Inferno en bokko, dat eigen
tlijk helle mont gezeit is; " isto é, Inferno e bokko que pròpriamente é conside
rado uma embocadura do inferno ". Batista Caetano (Cf. III, p. 205 ) , escreve : "Afi
nal Paranambuka será rebentação do rio grande, designando-se pelo nome rio grande
parană o semi-mar formado pelos rios Capibaribe e Bybyrybe ". Segundo Teodoro
Sampaio ( Cf. LXXXI, p. 146 ) , a etimologia é "Ant. Paranambuca corr. paranā
buc ou paranã ――― puca, o mar quebra ou o mar arrebenta , isto é, quebra mar em
alusão ao Recife". Alfredo de Carvalho ( Cf. XXVI , p. 63 ) adota a etimologia de
Teodoro Sampaio. Sôbre o nome de Pernambuco, nos velhos mapas, consulte-se o
estudo de Orville Derby ( Cf. XXVIII ) .
18 JOAN NIEUH OF
(32) Nieuhof escreveu (p. 13, 2.a col . , 10.° §) : " Castelo Povoaçano ". Barlaeus
(VII, p. 42) refere-se a êsse forte Povoação e na edição holandesa ( VIII , p . 46 )
está escrito Povoação. O Sr. Cláudio Brandão assim traduziu, seguindo a lição de
Naber. ( Cf. VIII, p. 50 ) . Sôbre o forte de Pôrto- Calvo, cf. XV, p. 180, Cf. nota 13.
(33 e 34 ) Nieuhof escreveu Gongohubi ( p . 14, 1.a col., 3.0 § ) , como, antes, fizera
Barlaeus. O Sr. Cláudio Brandão anotou, muito bem, que a fonte parece ser Marc
grave (LXX , p. 261 e VII, p. 253 e nota 321 ) . Escreveu o Prof. Cláudio Brandão
Gungouí. Segundo J. van Walbeek e H. Moucheron, o Mondai despeja suas águas,
na Alagoa do Norte, pelo lado ocidental ( Cf. XCV, p. 53 ) .
Compare-se esta nota com a de número 38, onde mais uma vez se mostra como
Marcgrave foi, sempre, a fonte segura dos autores coevos ou posteriores.
(35) O tradutor inglês escreveu : "each near half a league in lenght " (p. 8,
2.ª col. ) , enquanto o original holandês diz : “ ieder van een halve uure lang” ( p. 14,
1.ª col ., 4. § ). Trata-se, pois, de meia hora e não de meia légua.
(36) O tradutor inglês omitiu batatas e mandioca . Compare-se a p. 8 , 2.a col.
últ. § da ed. inglêsa com a p. 14, 1. col., 8. § do original holandês. A tâmara e a
cevada não eram nativas no Brasil. Possivelmente o autor se refere no primeiro
caso a certas variedades de côcos, e no segundo ao milho americano.
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RECIFE
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 19
(37) Este trecho sôbre os Palmares é copiado de Marcgrave. (Cf. LXX, Livro
VIII , Cap. I , p. 261 ) . Comparar com Nieuhof, ed. holandesa, p. 214, 2.º col. , os 6 pri
meiros §§ ) .
(38) Nieuhof ( p. 14, 2.a col., 1.0 § ) , como mostramos acima, copiou de Marc
grave. O tradutor inglês, ao invés de 5.000 negros, escreveu 8.000 negros. (p. 8,
2. col., 2.º§) .
(39) O tradutor inglês escreveu (p. 9, 2.a col . 1. § ) : "rocks which in some
places is 20, and in others 30 Paces broad"; cf. ed. holandesa (p. 15, 1.a col.,
11. 7, 8 e 9) .
20 JOAN NIEUHOF.
(43 ) A trad. inglêsa omitiu certos detalhes, como, por exemplo, a referência
às 8 peças de metal ( Comparar : ed. holandesa , p . 17 , 1.ª col., 8.° § e ed. inglêsa p. 11,
1.a col. 5. §) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 23
(44) O engenheiro que construíu a ponte que ligava o Recife a Maurícia foi
um judeu que vivia no Brasil anteriormente a 1628. Chamava-se Baltasar da Fon
seca e, com seu filho e seu neto, confessou judaísmo, quando os holandeses se esta
beleceram no Brasil ( Cf. XI , 135 ) . Barlaeus afirma que o Conselho empreitou a
construção da ponte por 240.000 florins ( Cf. VII , 156 ) . Calado fala em 90.000
cruzados pelo custo da metade da obra. Essa parte tinha sido feita de pedras de
cantaria (Cf. XVII, 151 ) . Calado escreve que as pessoas brancas pagavam uma
placa, os negros duas, os cavaleiros quatro, e os carros dois reales ( id ., id. ) .
(45) O tradutor inglês escreveu 13 ou 14 pés ; ( cf. p. 11 , 2.a col. 2.º § da ed. in
glêsa ep. 18, 1.a col., 2.0 § da ed. holandesa ) .
(46) Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI , 119 ) , Capibaribe vem de caapinar
— y — pe, que se alterou em capibar — y ――― be, rio das capivaras .
24 JOAN NIEUHOF
(47) O tradutor inglês omitiu as " 3 e 4 milhas ". Comparar a p. 18, 2.ª col.,
6. § do original holandês, com a p. 12, 1.ª col., 4.º § da ed. inglêsa.
(48) O tradutor inglês escreevu : 6 a 7 léguas ( p . 12, 1.ª col. , 5.º § ) ; cf. ed.
holandesa ( p. 19, 1.ª col., 1.º § ) .
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OLINDA
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 25
bilíssima residência de verão a que os portugueses denominaram " Boa Sua resi
dência de
Vista". Era rodeada de aprazíveis jardins e lagos de peixes que tam
verão.
bém serviam de baluarte para a defesa da ilha de Antônio Vaz e da
Cidade Maurícia.
O Forte da
Junto ao recife de areia, olhando para o mar ou para o Forte do
Terra.
Mar, havia uma grande fortaleza de pedra a que os portugueses chama
vam S. Jorge, e que nossa gente denominava Forte da Terra, para
distinguí-lo do primeiro. Esse forte defende a entrada do pôrto com
13 peças de ferro.
A cêrca de um tiro de mosquete em direção ao norte, levantava-se
sôbre o mesmo recife de areia um pequeno forte com quatro bastiões,
chamado Forte do Bruin, e daí para o norte, a uma distância de mais O Forte
um tiro de mosquete, havia um reduto chamado de Madame Bruin, tendo do Bruin.
sido construídas pelos holandeses ambas essas fortificações .
Próximo ao continente, não muito longe das salinas, entre o recife
de areia e a Ilha de Antônio Vaz, havia um forte triangular com o nome
de Waerdenburgh. Era a princípio quadrilátero, mas , posteriormente, os O Forte de
holandeses deram-lhe a forma triangular , à vista da impossibilidade de Waerden
defender o quarto baluarte, dada a configuração do terreno. Os três burgh.
A CIDADE DE OLINDA
(49 ) Nieuhof escreveu o mesmo que Barlaeus sobre o convento dos jesuítas.
(Cf. VII, 40) .
(50) Encontravam-se no Brasil holandês monges franciscanos , carmelitas e
beneditinos . Os primeiros eram mais numerosos, e os últimos os mais ricos ( Cf.
XLVI , 197 ) . Realmente, os franciscanos eram os mais numerosos, pois possuíam
5 conventos, a saber : 1 ) Frederica, 2 ) Iguarassú , 3 ) Olinda, 4 ) Ipojuca , 5 ) Seri-
nhaém. Todos os conventos eram belos edifícios . Possuíam, ainda, um pequeno con-
vento no Capibaribe, acima do Massurepe. Viviam de esmolas, pois não possuíam
terras, nem rendas.
Os carmelitas possuíam 2 conventos : um na Paraíba, sem grande importância,
e outro em Olinda. Tinham como patrimônio algumas casas por êles construídas e
alugadas ou construídas por outros , obrigando- se os possuìdores a pagarem foros.
Os beneditinos possuíam dois conventos ; um na Paraíba, belo e pequeno, e outro
em Olinda, belíssimo. Possuíam um canavial, no engenho das Barreiras, na Paraí-
ba. Em Pernambuco, esta ordem possuía um bom engenho, denominado Massurepe,
com extensas terras. ( Cf. XV, 161 ) .
(51 ) Esse sargento foi subornado por Hoogstraeten e o reduto é a guarita de
João Albuquerque, a uma légua do Recife. ( Cf. XVII, p . 246 ) . Moreau relata-nos
que por 1.000 libras e o cargo de mestre o Sargento entregou o forte com 14 soldados
que o guarneciam (LIX , p. 86 ) . Vide nota 293.
(52) As explorações holandesas foram várias. Tôdas resultaram infrutíferas .
Sôbre a história dessas explorações, consulte-se Alfredo de Carvalho (XXI ) . Con-
forme asseverou Pandiá Calógeras : "as explorações modernas nada confirmam dessas
jazidas de metal branco ". ( XVIII , 2.º vol . p . 448 ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 27
(54) Esse trecho referente às cobras é totalmente inspirado em Piso, pois até
a enumeração é a mesma ( Cf. V, 40-70) . Piso, naturalmente, observa-as de um pon
to de vista médico, especificando os antídotos. O livro III "De Venenis Eorumque
Antidotis" foi que serviu de fonte a Nieuhof. Marcgrave descreve mais minucio
samente as serpentes que lhe fôra dado conhecer. A sua lista não é, porém, tão
longa quanto a de Piso, embora as descrições e desenhos , que faz, demonstrem o me
lhor conhecimento de ofiologia.
As diferenças da grafia de Piso e Marcgrave com a de Nieuhof são mínimas.
Procuramos, sempre, anotar as de Piso e Marcgrave, pois são, inquestionàvelmente,
mais autorizadas . (Veja-se p. 22-24 de Nieuhof e compare-se com Marcgrave ( LXX,
pp. 239-241 ) e Piso ( LXX, 40-44 ) .
(55) Marcgrave ( LXX, 239) escreve : "Boî-guacú Brasilianis , cobra de veado
Lusitanis". Piso ( LXXI, 41 ) escreve : "Boiguacu, sive Iiboya, cobre de veado, Lu
sitanis"; Soares (LXXXVI , 304) ; Barlaeus (VII, 382 ) , Cardim ( XIX , 40 ) escreve:
"Esta cobra que por cá ha , e algumas que se acham de 20 pés de comprido; são
galantes, mas mais o são em engulir hum veado inteiro ". Rodolfo Garcia ( XIX, 101 )
anota que ela pertence à família dos Boídeos (constrictor constrictor, L) . Batista
Caetano ( III, 250 ) explica : "traga cobras, donde o nome mboiçuai, o que traga
muitas cobras, nome dado a uma espécie de gibóia que devora as outras : mboiguaçu,
outro nome dado à gibóia ". Artur Neiva ( LXII , 334 ) dedica ao nome gibóia grande
número de páginas, estudando-o demoradamente.
(56) Piso ( LXX, 42 ) descreve-a. Marcgrave não a menciona. Teodoro Sam
paio ( LXXXI, p. III ) fala de araboya, a cobra do ar, a serpente que salta pelos
ares. Gabriel Soares ( LXXXVI, 306 ) escreve sôbre a araboya, cobra que se cria nos
rios e lagos. Waegler fala de Araramboya ( Cf. XCIV, 45 ) .
( 57 ) Nieuhof escreveu Bioby (p . 22, 1.ª col. ) e depois Boiobi ( p. 24, 1.ª col. ) .
Barlaeus (VII, 138) ; Margrave ( LXX, 239 ) descreve-a como de grande bôca, língua
preta e venenosa. Piso ( LXX, 34 ) escreveu : " Boiobi, Brasiliani, cobra verde Lusi
tanis ". O Sr. Cláudio Brandão equivocou-se ao escrever que é a mesma caninana
de Cardim e caninam de Gabriel Soares . Várias razões demonstram claramente o
êrro em que laborou. Em primeiro lugar, Nieuhof, baseado em Piso, distingue bem
a Boiobí da Caninana, pois essa está descrita por ambos em outras passagens de seus
trabalhos ( Cf. nota 84 ) ; em segundo lugar, Piso ao descrever a Boiobí diz ( LXX,
43) : " Boiobi Brasiliensibus, Lusitanis cobre verde ... " ; enquanto que para Caninana
diz (LXX , 43 ) : " Caninana serpens, ventre est flavo, dorso autem viridi ... ". Ora,
uma é a cobra verde, enquanto que a outra tem o ventre amarelo e o dorso é que é
verde. Acresce que, se houvesse lido Soares ( LXXXVI, 310 ) com atenção, teria ve
rificado que êste cronista descreve a Caninana como "cobras meãs na grandura, com
a pele preta nas costas e amarela na barriga" e logo a seguir regista a “Boibu que
quer dizer cobra verde, que não são grandes ...". No próprio Nieuhof as duas va
riedades são bem diferentes . Finalmente, segundo Batista Caetano ( III, 262 ) , mbóy
obì significa "cobra azul ou verde ou mboihobi que é cobra azul ou verde, que por ser
mui ligeira podia ser mboi aíbi ... " Compare-se com as notas 63 e 81 .
(58) Barlaeus ( VII, 138 ) ; Piso ( LXX, 41 ) escreve : Boicininga, à qual os
espanhóis chamam Cascavel ou Tangedor ; Marcgrave (LXX, 240 ) assim a descreve :
66
"Boicininga & Boicinininga & Boitininga atque etiam Boiquira Brasiliensibus : Ayug,
Tapuyis : Lusitanis cascavela, Belgis Kaetel slange ". Soares (LXXXVI , 308 ) ;
Laet ( L, 488 ) regista : Boycininga. Varnhagen, em nota de número 186 , p . 476
(LXXXVI ) escreve que "Boicininga caíu em desuso, só ficando o de cascavel." Car
dim ( XIX, 42 ) . Para Batista Caetano ( III , 250 ) , a palavra é formada de mboí-chinî
= mboitinî, isto é, boi tinini em tupí, onomatopaico, para significar cobra tintinante;
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 29
cia ( XIX , 125 ) supõe que se trata da "amoré pinima, que Marcgrave representa ”.
Não nos parece exata a hipótese, porque Piso e também Nieuhof enumeraram ambas,
distinguindo-as. Marcgrave ( LXX, 242 ) .
(71 ) Piso (LXX, 40 ) cita-a na mencionada lista a que tanto nos temos re
ferido.
(72) Nieuhof ( p. 22, 1.ª col . ) e Piso ( LXX, 40 ) escrevem Tareiboya ; Soares,
taraiboia (LXXXVI , 307 ) ; Varnhagen anota (LXXXVI, 473 ) que Abbeville cha
mou-a Tarehuboy e Baena ( Corografia do Pará, p. 114 ) Tarahiraboia.
(73) Nieuhof (p . 22, 1.a col. ) escreveu Kakaboya e Piso ( LXX , 42 ) cacaboya .
(74) Vide nota 70.
(75) Compara-se com a nota 58. As descrições especiais de cada cobra são
literalmente copiadas de Piso (LXX, 41-44 ) . Daquí em diante o texto é prática
mente igual ao de Piso. Uma ou outra vez confrontaremos os respectivos textos ,
para melhor esclarecimento. O leitor curioso, porém, poderá êle próprio fazer qual
quer comparação desde que sempre indicamos as passagens copiadas.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 31
(76 ) A fonte de Nieuhof continua sendo Piso. Compare-se êsse trecho com o
que escreveu Piso ( LXX, 41 ) no capítulo : “Qui agit De Venenis eorumque Antidotus.
... contra hujus aut qualiscumque serpentis morsus restat, est ipsius nocentis
caput, ..."
(77) Nieuhof escreveu Tiproka ( p. 23 , 1.a col. 1. § ) . Piso escreve Tipiocae,
que adotamos. ( LXX , 41 ) .
(78) A edição inglêsa omitiu êste trecho referente à parte ferida a que se admi
nistra Jacape ( comp. p. 23, 1.ª col., 3.º § da ed . holandesa, com a p. 15, 1. col. da
ed. inglêsa ) . O curioso é que Nieuhof copiara Piso. Assim, compare-se êsse tre
cho com o seguinte de Piso ( LXX, 41 ) : “Ad remedia extrahentia, vulnus dilatantia,
scarificationes, cucurbitulas, & si pars laesa intercipi possit, ad vincula festinandum,
idque junco Iacape, cui remedio maxime fidunt Brasiliani" .. ..
32 JOAN NIEUHOF
(79) Mais uma prova evidente do plágio de Nieuhof. Tendo Piso escrito, à
p. 40 (LXX ) , Manima e Vona , e à p. 2 Mavina e Vocia, Nieuhof, seguindo-o, escre
veu à p. 22, 1.a col. Manima e Vona, e à p. 23, 2.ª col., Mavina e Vocia.
(80) O tradutor inglês escreveu três quartos de jarda (p. 16, 1 col., últ. § ) .
Cf. ed. hol. p. 24, 1.a col., 4 §.
beenen
Auf ont
Schorpicon
flangee
groot
Gekko
Leguwaen
flang
Vier voetige
BRASIL
DO
ANIMAIS
"
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 33
mento é de cêrca de 8 palmos e essa cobra passa por ser de tôdas a menos
venenosa . Alimenta-se de ovos e pássaros ; tanto negros como brasi
leiros comem-lhe a carne depois de decepadas a cabeça e a cauda.
Ibiracoa.
A cobra que os naturais chamam de ibiracoa ( 82 ) , apresenta coloração
muito variada, com manchas pretas, brancas e vermelhas. Sua picada,
muito venenosa, é seguida dos mesmos sintomas que as da surucucú e
mata infalìvelmente , se não se aplicarem os remédios adequados . Nos
casos em que o veneno ainda não tenha atingido o coração costuma- se
ministrar ao paciente, juntamente com vinho, a carne da própria cobra
cozida com certas raízes.
A tareibóia e a cacabóia (83 ) são variedades anfíbias. A primeira,
muito grande, de côr escura, morde, quando provocada, mas sua picada
não é difícil de tratar. A cacabóia é de côr amarelada, tem 6 palmos de
comprimento e alimenta-se de aves domésticas .
SENEMBÍ OU LEGUAN
1
34 JOAN NIEUHOF
( 85) Nieuhof escreveu (p. 25, 1.ª col . , 7.º § ) Bibora . Aliás, é essa a grafia
de Piso (LXX, 43) .
(86) Piso registou-a (LXX, 44 ) e Marcgrave escreveu ( LXX, 253 ) Ambua
Brasiliensibus, centopeia Lusitanis. Soares (LXXXVI , p. 315 ) escreveu Imbuá e
Piso (LXX, p. 44 ) escreve Ambua.
(87) Iaaciaiira escreveu Marcgrave ( LXX , 25 ) , declarando que assim chamavam
os brasileiros ao animal denominado , pelos lusitanos , de escorpião.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 35
(88) Marcgrave escreve (LXX, 253 ) : Formicae hic sunt, ut à Lusitanis Rey
do Brasil appellatur. Piso ( LXXI, 9 ) escreve que elas " exerciam perpétua tirania ".
(89) Marcgrave (LXX, 252 ) escreveu : Formica itidem magna hic reperitur,
muscae majori aequalis, cujus corpus pene semidigitum longum atque tripartitum.
36 JOAN NIEUHOF
fren
verken
Exter
Lafartus
duivel
terwanden
verken
chile
Luyaert fchilt
verken
.
ANIMAIS
BRASIL
DO
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 37
alimento são as fôlhas das árvores. Nunca toma água e quando chove
trata de se esconder. Quando se agarra a qualquer cousa é difícil remo
vê-lo . Costuma emitir, ainda que raramente, um miado semelhante ao
dos gatos .
(93) Laet (L, 487 ) escreve Hay, declarando que Thevet grafara Haü ou
Hautchi. Marcgrave ( LXX, 221-222 ) escreve : Ai sive Iguavus ―――――――――― Ai Brasiliensi
bus, Lusitanis Priguiza, Nostratibus Luyaert, id est Ignavus ... ; vocem rarissime
edit iii, fere ut felis junior. Marcgrave mencionou, também, o nome que lhe dera
Thevet, de Hay e o de Unáu ; Soares ( LXXXVI, 301 ) ; Cardim ( XIX, 39 ) . Frei
Vicente do Salvador ( LXXVIII , 43 ) . Rodolfo Garcia ( XXXVIII , 83 ) . Segundo
Rodolfo Garcia, são ao todo 4 espécies, enquanto que Cláudio Brandão ( VII, 381 ,
nota 153 ) afirma que são sòmente duas. Batista Caetano ( III, 27 ) escreveu : Ái,
interj . de dôr, ai ! onomatopaico de grito, nome do bicho preguiça ( Bradippus ) e de
pois dêste dado ao munjolo de socar milho. Nieuhof escreveu Luyaert (p. 27, 1.a
col. ) . Hoje, escreve-se Luiaard .
38 JOAN NIEUH OF
(96) Marcgrave ( LXX, 231 ) escreve : Tatu & Tatu-Peba Brasiliensibus, Arma
dillo Hispanis, Encuberto Lusitanis : Belgae nostri vocant een Schild- Vercken. Laet
(L, 485) ; Piso ( LXXI, 100 ) menciona, também, Tatupeba, Tatu eté, Tatu apára.
Barlaeus (VII, 138 ) ; Frei Vicente do Salvador ( LXXVIII , 41 ) ; Gandavo ( XXXVI ,
103) ; Abbeville ( XXXVIII , 78 ) regista Tatou e Tatou Ouässou ; Gabriel Soares de
Souza (LXXXVI, 295 ) ; Cardim ( XIX , 35 ) . Batista Caetano ( III, 490 ) explica
-nos que significa casca densa ; entre os citados por Piso - Tatupeba e Tatu apára
- o mesmo autor esclarece : peb é chato e apára arqueado ( êsse é o tatú -bola em
português ) .
(97) Marcgrave ( LXX, 213 ) continua sendo a fonte de Nieuhof. Escreve o
citado autor Andiriaca. Batista Caetano (III, 34) regista andirá, morcego, escre
vendo que se encontra, também, andira por atuá, que significa topete, cabelo em
monte, topetudo ( idem, 53 ) .
(98) Esta descrição constitue mais um plágio de Nieuhof. ( cf. com Marc
grave, ( LXX, p . 218 ) . Piso ( LXXI , p . 82 ) . Batista Caetano ( III, p. 204 ) regista
ipegatiapua, pato de crista ou pato de cousa sôbre a cabeça erguida.
40 JOAN NIEUHOF
Gansos
os holandeses a denominam ganso selvagem. Tem o tamanho de um
selvagens,
de nossos gansos de oito a nove meses (99 ) de idade e a êles se asse-
melham em todos os aspectos . O ventre, a parte inferior da cauda,
assim como o pescoço , são cobertos de penas brancas, mas , sôbre o dorso,
até a nuca, nas asas e na cabeça, as penas são pretas, entremeadas de
algumas verdes. Vêem-se também penas pretas intercalando as brancas,
no pescoço e na barriga. Distingue-se dos nossos gansos por ser um
tanto maior. O bico assemelha-se ao das patas européias , sendo , porém,
preto e revirado na ponta. Sôbre êste se estende um pedaço de carne
preta, arredondada, com manchas brancas. Esses gansos são encontra-
diços nas margens dos rios ; têm carne abundante e saborosa.
Tucano
O pássaro que os brasileiros chamam tucano ( 100 ) tem o tamanho
ou
Bico Grande. aproximado do pombo silvestre. Possue um papo côr de açafrão , de
três a quatro dedos de diâmetro, em tôrno do peito, com penas de um
vermelho vivo pelos bordos. O peito é amarelo e o dorso preto , como
as demais partes do corpo. Seu bico é enorme, de quase um palmo de
comprimento, sendo externamente amarelo e vermelho por dentro. Parece
incrível que pássaro tão pequeno se possa haver com bico tão grande,
embora seja êste muito leve e fino.
O pássaro O pássaro conhecido pelos naturais como socó ( 101 ) é uma espécie
socó. de grou, muito bonito de se ver e do porte de uma cegonha. Seu bico,
de seis dedos de comprimento , é reto, aguçado e de uma côr amarelada
tocada a verde. O pescoço tem quinze dedos de comprido, o corpo dez
e a cauda cinco. As pernas são cobertas até ao meio de penas bran-
cas, a outra metade é lisa . O pescoço e a garganta são brancos e as
partes laterais da cabeça são pretas, mescladas de cinzento. Na parte
inferior do pescoço há penas brancas lindíssimas, leves e finas, que
(99 ) Nieuhof, traduzindo Marcgrave, escrevera : als een gans van acht of
negen maenten ( p. 29 , 2.ª col., 2.º § ) ; o tradutor inglês escreveu ( p . 20, 1.ª col .,
2. §) : of one of our geese of about nine months old.
(100 ) Mais uma vez Nieuhof traduziu para o holandês o texto latino de Marc-
grave ( Cf. LXX, p. 217 ) : - Barlaeus (VII, p. 139 ) . Cardim, ( XIX , p. p. 48 )
escreve Tucána. Soares (LXXXVI , p. 264 ) . Abbeville ( XXXVIII, p. 81 ) men-
ciona o Toucan. Segundo Rodolfo Garcia ( XXXVIII , p. 81 ) , Thevet foi o primeiro
a descrever a ave e a dar-lhe o nome indígena. Para Batista Caetano ( III, p. 541 )
tucanâ vem de tî - cang bico ósseo, língua óssea ou ainda túb - cáb quebra
Ovos. Nieuhof escreve Toukan ( p . 30 , 1.a col . ) . Para Teodoro Sampaio ( LXXXI,
p. 154 ) é a seguinte a etimologia do nome : tu - quã, bico que sobrepuja, exagerado.
(101 ) Nieuhof ( p. 30 , 1.ª col. , 5.0 § ) escreveu Kokoi . Marcgrave ( LXX, 209
foi ainda desta vez furtado. O engano gráfico de Nieuhof vem disso , porque Marc-
grave escreveu cocoi. Piso ( LXXI, 89) . Conforme anota Rodolfo Garcia (XXXIX ,
43-44 ) ¢ocoi -- nome específico atribuído à ave pelos naturalistas antigos , é o eqùi-
valente de socó, apenas diferençado pela grafia latina daqueles escritores, à qual
era estranho o ç. Baseado em Batista Caetano ( III, 95 ) , Rodolfo Garcia dá a se-
guinte etimologia : ço ir + co batendo. É da família Ardeidae.
reflindife vogel
Kroon
leer
mus
Cocor
Schuur West
indife
vegel rave
Bek
Groot -indife
West
Cende
ANIMAIS
BRASIL
DO
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 41
(102 ) O tradutor inglês escreveu : The head and Neck (which is two foot long...
(p. 21 , 1.ª col. 1. § ) ; cf. ed. holandesa ( p. 30, 2. col ., 4. § ) . Logo a seguir, o
tradutor inglês escreveu : The body is two foot and a half in lenght ; and the Tail ...
four fingers ( id ., id ., id. ) ; cf. ed. holandesa ( id ., id., id. ) .
(103) Nieuhof escreveu (p. 30, 2.a col . ) : De vogel, by d'onzen Schuurvogel
genoemt, wordt Jabirú Guaku en Nhandu Apra by de Brasiliaensche volken, en by
de Tupinambas Petiguaras genoemt, o que significa : “ o pássaro chamado pelos nos
sos de schuurvogel, é chamado pelo povo brasileiro pelos nomes de jabirú guaku e
Nhandu Apra e, pelos Tupinambás, Petiguaras ". Na edição inglêsa (p. 21 , 1.ª
col., 2.0 § ) encontra-se omitido Nhandu Apra e pelos Tupinambás, Petiguaras. Como
se vê, Nieuhof equivocou-se, pois só por engano é que poderia escrever que os Tu
pinambás denominavam o Jaburú com o nome de tribu . Ainda mais se considerarmos
que o texto de Marcgrave, inteiramente copiado por Nieuhof, está estropiado. O texto
de Marcgrave é o seguinte ( LXX, p. 200-201 ) : Iabiru guacu Petiguaribus, Nhandu
apoa Tupinambis : Belgis Scurvogel, Rostrum habet magnum, septem & Semis
digitos longum, in extremitate teres & inferius incurvatum ; caret lingua & rostrum
inferius canum est. In summitate capitis mitram osseam coloris albi & cinerei mixti
gerit. Oculi nigri & pone eos aurium foramina ampla. Collum decem digitos longum,
cujus medietas, uti & caput, plumas, et cute squamosa cinerea est tecta, cujus squamae
albicant. Corpore aequat Ciconiam ; caudam habet brevem & nigram, cum qua alae
desinunt... Alae albae, remiges illarum pennae nigrae, rubini colore transplendente
in nigro... Como se vê, Nieuhof mudou completamente o texto latino, pois Marcgrave
escreveu : jabirú guaçu é o nome dado pelos Petiguaras e Nhandu apoá pelos Tupi
nambás ". Piso, na edição de 1658 ( LXXI , 8 ) , escreveu : quae brasiliensibus quibusdam
jabicu guaçu, alliis mediteraneis Nhandú apoá ; nostris scur vogel dicta ". Em
Soares, ( LXXXVI , 269 ) está Jaború. Rodolfo Garcia ( XXXIX , 29 ) escreve : Con
vém notar que houve troca, na Historia Naturalis Brasiliae, entre as figuras do
jabirú e do Tuyuyú, o que induziu em êrro a Lineu, cujas descrições específicas se
baseiam naquela obra. Etimologia : de y, demonstrativo ( = o que, aquêle que ) , +
abirú = farto, repleto, inchado, o que está farto ou repleto ――――― alusão ao grande
42 JOAN NIEUHOF
Tem esta ave o tamanho de uma cegonha, com a cauda curta e negra
que se mantém sempre ao nível da extremidade das asas. A outra parte
do pescoço, bem como todo o corpo, é coberta de penas brancas, sendo
as do pescoço muito longas. As asas são igualmente brancas, pontilha-
das de vermelho . Cozida depois de esfolada, sua carne constitue um
prato agradável. E' muito branca, pôsto que um tanto sêca.
papo du ave. Batista Caetano ( III, 564) escreve : yabirú ou yaburu,s., nome de
cegonhas ; a repleta, a infatuada, a inchada ; abirú ( III, 17 ) , farto, cheio, repleto ;
dão-lhe, também, o nome de ayayá, pode ser que seja ayapirú, o papo inchado
( id., 54) ayayá, o que tem papo, papudo ; nome dado a uma cegonha e, talvez, a
outras aves . Teodoro Sampaio (LXXXI, 134 ) escreveu : jaburú corr. de ya-abirú,
a que é repleta, ou inchada, alusão ao grande papo da ave ; dêsse nome, isto é, a
papuda, alt.: jabirú.
(104 ) Nieuhof escreveu ( p. 31 , 1.a col. ) jamdi. O tradutor inglês escreveu
bamodi ( p. 21 , 2.a col., 1.0 § ) . Iambi regista Piso ( LXX, p . 10 ) .
(105) Em Gandavo ( XXXVI , 111 ) , Macucocaguás. Soares ( LXXXVI , 261 )
escreve Macucagoá ; Abbeville ( XXXVIII, 45 ) escreve como Soares. Staden ( LXXXIX,
162) Mackukawa ; o que não está de acordo com o que afirmou Varnhagen ( LXXXVI ,
469) , em nota n. 153 da obra de Soares, dizendo ter Staden grafado Mackukauca ;
Léry (LII, 135 ) , Mocacouá ; Marcgrave escreve (LXX, 213 ) " Macucagua dos Brasi-
leiros , espécie de galinha silvestre ". Segundo Rodolfo Garcia ( XXXVIII, 45 ) , Ma-
cucagua ou Macagua vem de má por ybá, fruto, e cugiguar por curinhár que traga,
tragador, comedor. Batista Caetano ( II, 213 ) escreve Macagua, Macaua e acauâ,
falcão ou mboi-acá-hár, aquêle que briga com cobras.
Em Gandavo ( XXXVI , 11 ) ; Soares (LXXXVI , 262 ) . Segundo Rodolfo Garcia,
(XXXIX , 31 ) , jacú é composto de y demonstrativo que, aquêle que, a = fruto +
cu comer; o que come grãos . Léry ( LII , 135 ) , jacú ; Abbeville ( XXXVIII, 37 ) ,
iacou ; Nieuhof (p. 31 , 1.ª col. ) , escreveu jaku. Batista Caetano ( III, 565 ) escreveu
yacu, o que traga ou engole frutos.
Nieuhof escreveu Arakua (p. 31 , 1.ª col . ) . Em Abbeville ( XXXVIII, 20 ) ,
Aracouan. Marcgrave não o menciona. Piso ( LXX , 10 ) regista-o entre o Macuca-
gua e o jacú. Aliás, todo êsse trecho , desde o iambi até a jaçana guaçú, é tirado
de Piso. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII ) é preferível a seguinte etimologia :
ará alteração de guirá, pássaro e aquã = ligeiro, rápido.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 43
(106 ) Soares ( LXXXVI , 262 ) . Varnhagen (LXXXVI, nota 153, pp. 470-71 )
diz que mutum é exatamente o crax rubrirostris de Spix ( Av. II, Tab. 67, Cf. XCIV ) .
Abbeville escreve Moyton ( XXXVIII , 52 ) . Rodolfo Garcia anota : nome genérico
dos cracidas. De mytun por pytum e pytuna, noite, escuro, negro por extensão ;
originalmente, qualificativo, dizendo pássaro negro ou escuro. Para alguns é onoma
topaico. Laet escreve Mutu ou Mouton (L, 491 ) . Cardim escreve Mutú ( XIX , 49 ) .
Nieuhof copiou êste trecho de Piso ( cf. LXX , p . 10) ; em Marcgrave ( LXX, p. 194 ) ,
Mitu ou Mutu ; em Léry ( LII , p. 135 ) , Muton.
(107) Nieuhof escreveu guavilon ( p . 31 , 1.º § ) , seguindo, aliás , conforme disse
mos na nota anterior, Piso ( LXX, 10 ) , que escreve guavilaon. Marcgrave ( LXX ,
211 ) escreveu : Caracara Brasiliensibus, Gaviaon Lusitanis.
(108) Teguata e Inage escreveu Nieuhof. Este trecho foi copiado de Piso (cf.
LXX, p. 10 ) , que registou Teguato e Inage.
(109) Nieuhof ( p. 31 , 1.a col . ) escreve Jakana-miri e Jakana-guaku . Em Piso,
iacana miri & iacana guacu ( LXX, 10 ) . Em Marcgrave, ( LXX, p. 190 ) : Iacana dos
brasileiros ". Em Batista Caetano ( III , 566 ) se lê : " yaçana, nome genérico das
aves Parras, galinha d'água " ; Teodoro Sampaio ( LXXXI , 134 ) escreve jaçana, o
que grita forte, o que tem grito intenso (parra jaçana ) . Rodolfo Garcia ( XXXIX,
32) explica dêste modo a etimologia : y , demonstrativo = o que, aquêle que : eça =
ôlho + ena = alerta ; o que está de ôlho alerta . Batista Caetano (XLVI, 312 )
regista, também, nahanâ = yaçanâ, s. , nome da ave Parra jaçana (ñ - eçá enâ,
o que está de ôlho alerta ou erguido ".
(110 ) Nieuhof (p. 31 , 1.a col . ) escreve perkietjes e papegayen. Marcgrave
(LXX, 206 ) dá 7 espécies de papagaios .
44 JOAN NIEUHOF
te-se aquí, seu sapo imundo . " Esse papagaio foi depois oferecido à
rainha da Suécia.
Além dêsses , há um certo passarinho que, conquanto não exceda o
tamanho de uma falange, faz grande ruído, sendo fácil apanhá-lo, até
com as mãos , enquanto adeja de flor em flor, à cata de alimento . De
qualquer lado que se mire esta avezinha minúscula, suas penas revelam
côres novas, variegadas . Por isso as brasileiras atam-nas com fios de
ouro à orelhas , à guisa de brincos . No Brasil os pássaros jàmais sofrem
falta de alimento, pois encontram-no sempre, em abundância, entre as
flôres e os frutos ; lá, as árvores não perdem as fôlhas durante o inverno.
Peixes. Os rios e lagos brasileiros, bem como o mar junto à costa, são
riquíssimos em tôdas as variedades de peixes e estes entram tão larga
mente no regime alimentar do povo, que nem mesmo os doentes atacados
de febre os dispensam. As lagoas do litoral, que por vêzes secam com
pletamente, produzem grande quantidade de lagostas, tartarugas , cama
rões, caranguejos, ostras e várias outras espécies alimentícias. No
Brasil , nota-se grande fartura de peixe, tanto do mar como de água doce,
especialmente na estação chuvosa , quando a enorme descarga das cor
rentes fluviais atrai para os rios os peixes marítimos, os quais, retidos
pela abundância de algas no leito dos caudais, não mais voltam para
o mar.
Dentre os peixes de água doce, os mais conhecidos são o Duja, a
Prajuba e o Acará-pacú ( 111 ) , assemelhando-se êste último à maior
das percas européias.
Proliferam ainda, no Brasil, várias espécies de insetos , alguns dos
quais atingem quatro dedos de comprimento e uma polegada de espes
sura . Também lá se conhece o bicho da sêda ao qual os naturais dão
o nome de isocucú . À sêda, pròpriamente dita , chamam isocure
nimbo ( 112 ) . Há ainda que mencionar as numerosas espécies de piri
lampos, que também se encontram nas Índias Orientais e dos quais nos
ocuparemos mais adiante. Citaremos, ainda, as môscas, os besouros
e finalmente as vespas e abelhas, algumas das quais produzem mel ,
outras não.
Aranhas. Entre as numerosas variedades de aranhas lá existentes, uma delas
se destaca pelo seu tamanho prodigioso e é frequentemente encontrada
Ballar
Kabitto wheende
vliegen
vier
Mbey
Schreuckel
Greate
Spin
ANIMAIS
BRASIL
DO
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 45
5
46 JOAN NIEUHOF
( 117 ) Nieuhof ( p. 33, 2.a col. , 6.° § ) escreveu Kapiverres . Gandavo ( XXXVI ,
p. 102) ; em Soares ( LXXXVI , 293 ) , capibaras ; em Cardim ( XIX, 90 ) , capijuaras ;
em Frei Vicente Salvador (LXXVIII, p. 40 ) capyguaras ; em Abbeville ( XXXVIII ,
26 ) , capyyuare ; Marcgrave (LXX, 20 ) escreve Capy-bara e Piso ( LXXI, 16 ; XX ,
p. 10) Capiverres . Rodolfo Garcia ( XXXVIII , 26 ) escreve que o nome é formado de
capyî capim, erva, e guára particípio do verbo ú comer : o que come capim , o
herbívoro.
( 118 ) Gandavo ( XXXVI, 103 ) . Em Cardim ( XIX , 32 ) Tapyretê. Em Soares
( LXXXVI , 285 ) , Tapiruçu . Em Abbeville, Tapyyre-été ( XXXVIII , 76 ) . Laet ( L ,
484) , Tapirete. Léry ( LII , 124 ) , Tapirussú. Nieuhof escreveu Taperete ou Antes
(p. 33, 2.ª col. ) . Em Marcgrave ( LXX, 229 ) Tapiierete dos brasileiros e Anta dos
lusitanos. Segundo Rodolfo Garcia ( XXXVIII, 97 ) , o nome tupí é susceptível de
várias explicações , mas nenhuma satisfatória .
( 119 ) Nieuhof escreveu Pakas e Kotias (p. 33 , 2.a col. ) . Laet (L, 484) ; Soares
(LXXXVI , 296, 297) . Marcgrave ( LXX, 224 ) , Paca e Aguti ou Acuti. Cardim
(XIX, 33) , Acuti. Gandavo ( XXXVI , p. 103 ) . Em Abbeville, XXXVIII , 62 ) Pac.
Segundo Rodolfo Garcia, ( XIX , 98 ) foi Thevet quem primeiro descreveu êsse animal
que chamou Agoutin. Batista Caetano (III, 22 ) explica que talvez a palavra venha de
a de gente e cúr-ti , modo de comer ou tragar, com as patas dianteiras. A etimologia
de Pac, segundo Rodolfo Garcia ( XXXVII , 62 ) , é pag, acordar, despertar : a esperta ,
a vívida.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 47
(120) Em Piso ( LXX , 10 ) , Vnuana & Teju - lagartos . Segundo Batista Cae
tano (III, 515 ) , Teyú ou teíu ou teiyú , lagarto ; literalmente, significa comida da
gentalha, da tropa. Em outro cronista, como Abbeville ( XXXVIII , 79 ) , Teiou ouas
sou. Soares (LXXXVI , 312 ) tijuaçu , significando lagarto grande. Unuana deve
ser Iguanas ( Conf. nota 53 dêste livro e p. 476 , nota de Varnhagen n. 188 , ( LXXXVI ) .
(121 ) Nieuhof copiou êste trecho de Piso (cf. LXX, p. 11 ) , que registou : " Sin
dia, Gueba & Noja ".
(122) Nieuhof escreveu ( p . 34 , 1.a col. , 6.0 e 7.0 §§ ) Kurima Parati e Kara
pantangele. Laet ( L, 508 ) registou Kurema Parati. Em Piso ( LXX , 11 ) , Curima
parati (Herders Belgis ) ; e " Carapantagele é similar a perca ". Em Marcgrave
(LXX, 181 ) verifica-se
66 que Piso equivocou-se, pois se trata de duas variedades ; assim,
Marcgrave escreve : Curema dos brasileiros, espécie de tainha , maior e mais corpu
lenta" ; enquanto a Faratí é a tainha dos lusitanos ; e Harder dos belgas, tendo um
pé de comprimento e a figura do corpo como a da Curema. Em Abbeville XXXVIII ,
32) Coureman Ouässou e Paraty ( id. 64 ) . Rodolfo Garcia ( XXXVIII , 32 ) anota
que Curema é um dos nomes da tainha, no que se equivocou , visto a distinção feita
por Marcgrave.
48 JOAN NIEUHOF
Saccham
CIDADE
ITAMARACÁ
DE
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 49
los africanos , mas não são tão grandes , pois raramente excedem a cinco
pés de comprimento . Costumam pôr 20 a 30 ovos maiores que os de
ganso, os quais, da mesma forma que a carne, são consumidos por
brasileiros , portugueses e holandeses.
Nos mares próximos ao litoral brasileiro, encontram-se às vêzes
grandes lampreias . Antes da construção da ponte que liga Recife à
Cidade Maurícia , uma delas , de tamanho considerável, instalou-se mes
mo na rota dos botes e, tudo quanto caísse n'água era imediatamente
atacado por ela : homens, cães, que às vêzes acompanham os barcos a
nado, etc .. Um dia, porém, aconteceu que a maré baixou de repente
e a deixou com a maior parte do corpo à tona . Foi então capturada
e trazida para a terra, mas não sem alguma dificuldade.
O território de Pernambuco produz grande variedade de frutas .
O mesmo se dá também com outros pontos do país , dos quais mais
adiante nos ocuparemos .
suspensa. pelos portugueses, que tinha o mesmo nome da povoação, o qual, junta
mente com tôda a ilha, foi tomado pelos holandeses sob o comando do coro
nel Schkoppe. Depois disso passou o lugar a chamar-se Cidade de Sch
koppe. Posteriormente os holandeses fecharam êsse forte pela retaguar
da, na direção da igreja, de modo a servir tanto para a defesa da cidade,
como do pôrto ; o fortim, ao norte, defendia a entrada. Esse forte era
artilhado com onze peças. A entrada setentrional do pôrto, outro reduto
defendia a passagem com três canhões de ferro. Certo senhor, de nome
Dortmont, que fôra governador de Itamaracá, ao perfurar um poço, em
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 51
1645, descobriu sob o citado rochedo uma fonte de água pura, que mais
tarde veio a ser de valor inestimável para a guarnição, visto não poder ser
interceptada pelo inimigo.
Um pouco mais acima do rio Itamaracá, acha-se a ilha de Magiope,
onde há grande abundância de mandioca. Esta ilha que dispõe de
um pequeno pôrto em cada extremidade , um ao norte outro ao sul, sendo
que êste último é o melhor - pode ser fàcilmente contornada em bote .
Junto ao ancoradouro setentrional há um banco de areia que apenas
deixa um canal navegável com 10 ou 12 pés de água . O único pôrto
utilizável da região é, portanto , à entrada meridional do rio que faz de
Itamaracá uma ilha , onde podem ingressar navios calando até 14 ou 15
pés, conquanto o ancoradouro não seja lá muito bom. A extremidade
em que o rio volta a se reùnir ao mar foi , pelos batavos , denominada
Entrada Norte , e, pelos portugueses , Catuama .
Para além do rio Goìana, a mais ou menos três milhas e meia de dis-
tância, há um grande rio chamado Auiaí ( 126 ) , cuja foz é de tal forma Rio Auiaí.
obstruída por bancos de areia que apenas permite a passagem de embarca-
ções pequenas . Recebe êsse rio vários afluentes , no interior. A margem
de um dêles assenta-se a aldeia de Maurício, na de outro, a de Auiaí.
O Porto Francisco está situado numa enseada de três grandes milhas Pôrto
de comprimento ao norte do rio Auiaí. Cinco milhas a noroeste do mesmo Francisco.
rio encontra-se o Gramame, não navegável, além de vários outros riachos.
(126) O tradutor inglês escreveu duas léguas e meia (p. 26, 1.a col ., 3.0 §) . -
Nieuhof escreveu Auyay (p. 37, 2. col. , 8.0 § ) . Terá relação com o Ay, primitivo
nome da foz do rio Iguarassú? ( Cf. Alfredo de Carvalho, XXV, 12-13) .
52 JOAN NIEUHOF
Esta Capitania tomou o nome de sua capital que, por sua vez, o tirou
do rio Paraíba, junto ao qual está situada . E' uma das Capitanias mais
setentrionais e está apenas a cinco milhas de distância, por via marítima .
Esteve antigamente sob o domínio dos franceses , que de lá foram expul
sos em 1585 ― assim como de vários outros portos ― pelo coronel
português Martim Leitão ( 132 ) .
Subindo o Paraíba, a cinco milhas de sua foz, encontra-se uma cidade
fundada pelos portugueses que, em honra a Filipe, Rei da Espanha, tomou
o nome de Filipéia . E' também conhecida por Nossa-Senhora- das-Neves
e por Paraíba dada a sua proximidade do rio. Quando os holandeses A cidade
conquistaram a Capitania, em novembro de 1634 ( 133 ) , mudaram êsse de Paraíba.
(132 ) Nieuhof ( p. 38, 2.ª col., 7.0 § ) escreveu : o Coronel Martim Leitão. Tra
ta-se de um equívoco. Martim Leitão era ouvidor-geral de Pernambuco, cargo para
o qual fôra nomeado em 9 de setembro de 1583. Em 14 de fevereiro de 1585, partia
com reforços a-fim-de assegurar a conquista da Paraíba , de onde haviam sido ex
pulsos os franceses por Diogo Flores, espanhol, e que nessa época se achava assolada
pelos índios petiguaras. Ao assumir a direção da tropa, Martim Leitão foi denomi
nado General. Frei Vicente do Salvador assim relata (LXXVIII , 288 ) : " com todo
êste exército , que foi a mais formosa cousa que nunca Pernambuco viu nem sei se
verá, foi o General Martim Leitão (que assim lhe chamamos nesta jornada ) , dormir
no campo de Igaraçú ... " . Em 6 de abril de 1585, volta a Olinda. A luta pela posse
definitiva da Paraíba continuava. Foi organizada a expedição e escolhido o capitão
Simão Falcão para dirigí-la . Tendo êste adoecido, escolhe- se João Tavares, escrivão
da Câmara e Juiz de órfãos , o qual, partindo a 2 de agôsto , chegou a 3 ; e a 5 de
agosto de 1585, depois de firmada a paz com Piragibe, fundou a povoação de Nossa
-Senhora-das- Neves. — A cidade chamara-se Filipéia, nome que lhe dera Frutuoso
Barbosa. Varnhagen atribue essa idéia de Frutuoso Barbosa ao fato de Diogo Flores
ter chamado de S. Filipe, dia de sua partida da Paraíba , a 1.º de maio de 1584 , ao
forte que fizera construir, depois da expulsão dos franceses em 1584, e não 1585,
como escreve Nieuhof. A João Tavares ficou entregue a capitania. Só em agôsto
de 88 entregou João Tavares a capitania a Frutuoso Barbosa. (Cf. LXXVIII, 287 ,
288, 299, 301 , 303 e LXXII , tomo I, 490-1 , 492, 493 e nota 27 de Capistrano ) . Sôbre
Diogo Flores, nota III de Capistrano ( id. , id . , p . 500 ) .
(133 ) O tradutor inglês cometeu êrro de data . Assim, Nieuhof ( p . 39 , 1.ª col.,
1. §) escrevera que em novembro de 1634 fora conquistada a Capitania, enquanto
na tradução está escrito ( p . 26, 2.ª col. , últ. § ) : after they had in November 1633 ...
54 JOAN NIEUHOF
Forte Santo O forte a que os portugueses deram o nome de Santo Antônio fôra
Antônio. contruído sôbre uma ilhota separada da Ponta Norte por estreito braço .
E' êste o único remanescente da série de quatro grandes fortalezas qua-
drangulares anteriormente construídas pelos portugueses e que mais tarde
foram arrasadas pelos holandeses sendo as ruínas arrastadas pela cor-
renteza do rio. O Forte Santo Antônio é cercado de paliçadas e de um
fôsso abastecido pelo já citado braço de rio. As muralhas são fortís-
Pode ser
simas e, numa bateria, instalaram-se seis peças de ferro .
defendido pela artilharia tanto da cidade de Paraíba como do forte Mar-
garida que lhe fica oposto, do lado meridional, razão pela qual sempre
foi escassamente guarnecido pelos portugueses .
O terceiro O terceiro forte está situado numa ilha triangular , chamada restinga,
forte. não muito distante do anteriormente descrito, apenas um pouco mais
para cima do rio. Era reforçado com paliçadas e, nas baterias , havia
cinco canhões de bronze e outros tantos de ferro.
Duas milhas além dêste rio, em direção ao norte, existe uma baía
Pôrto que oferece seguro abrigo até aos maiores navios . E' conhecida pelos
Lucena. portugueses pela designação de Pôrto Lucena e pelos holandeses por
ONTIEM LMENT
DO
RIO
PARA CADURA
EMBOÍBA
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 55
Terra-Vermelha ( 134 ) , por ser dessa côr o solo da região. Há, aí, um
ancoradouro excelente com cinco ou seis braças de profundidade e tôda
essa zona é dotada de ótimos mananciais , motivo pelo qual os navios
holandeses que deixam o Recife, rumo à Metrópole, costumam aí fazer
escala para se abastecerem de água fresca.
Rio
Meia milha mais ao norte , a 6° 34' , acha-se o rio Mamanguape ( 135 )
Mamangua
que alí desemboca no oceano. Este curso é muito mais largo em suas
pe.
cabeceiras que na foz ; suas margens apresentam espêssa vegetação de
sarças, arbustos e mangueiras . Pouco antes da foz há um recife e, na
própria desembocadura, dois perigosos bancos de areia. Tem êle três
braças de água , na maré baixa.
Cêrca de duas pequenas milhas ao norte do rio Mamanguape há
uma baía que os portugueses chamam Baía da Traìção e onde, a uma
milha de distância da praia, se tem 11 a 12 braças de água . Cinco
milhas para o norte dessa baía encontra-se o rio Barra Konguon ou
Konayo, que apenas dá calado para pequenos veleiros . Perto de meia
milha ( 136 ) dêsse ponto, há uma grande baía de cêrca de duas milhas
de extensão, chamada Pernambuco , e cinco milhas além, ao norte, o rio
Jan de Sta ou Estau ( 137 ) .
Os índios da Paraíba habitam cêrca de sete aldeamentos , o maior
dos quais se chama Pindaúna ( 138 ) , que , em 1634, contava perto de
1.500 habitantes. Os outros poderiam ter, quando muito, 300 almas ,
Nenhum dêsses aldeamentos contava mais que cinco ou seis construções
muito compridas, com uma infinidade de portas, de tamanho diminuto.
A produção desta Capitania consiste em : açúcar, pau-brasil, tabaco ,
peles, algodão, etc .. A cana de açúcar desenvolve-se aí admiràvelmente,
(134) Tanto Nieuhof (p. 39, 2.a col . ) como Herckmans ( Cf. XLI, 261 ) falam de
Terra-Vermelha na Paraíba (Roolant, Roodelant) . Trata-se, segundo a descrição
de Herckmans, de umà terra alta, formando como que um monte que se interrompe
do lado do mar, pelo que os nossos navegantes chamam-na de Terra Vermelha e os
Portugueses de os Barreiros de Mirirí, porque alí desemboca o rio Mirirí ; Em Bar
laeus (VIII , mapa da Paraíba entre pp. 32-33 ) .
( 135) Nieuhof escreve (p. 40, 1. col., 1. § ) : " Mongoape ou Mongoanwapy".
Trata-se do Mamanguape. Aliás, já Herckmans escrevia, também, Mongougoappi ou
Mamanguape. ( Cf. XLI, 261 ) .
(136) O tradutor inglês escreveu légua e meia ( p . 27, 2.a col., 3.0 § ) . Cf. ed.
hol., p. 40, 1.0 col., 6.º §.
(137 ) No mapa 50 de Wieder (XCVII, 2.° vol. ) existem, realmente, uma Barra
e um rio de nome Jan de Staa ; ficam acima da Ponta e Barra de Pernambuco, na
Paraíba. 1
(138) Herckmans ( Cf. XLI, 258-9) se refere às duas aldeias existentes
Findaúna e Joacaca - no distrito de Gramame. " Pindaúna era o nome do potiguar
que construíu as primeiras casas, onde está agora a aldeia do mesmo nome ". Em
língua brasílica significa anzol preto (id., 259 ) . Teodoro Sampaio (LXXXI, 34)
considera bem traduzido por Herckmans o nome indígena. Em Barlaeus, edição de
Naber, (VIII) entre as pp. 24 e 25.
56 JOAN NIEUHOF
nagem à sua irmã. O forte Santo Antônio foi, em sua maior parte,
arrasado, restando apenas um baluarte para defesa da ponta norte do rio.
Decidiu-se também que o forte Restinga fôsse cercado por novas pali-
çadas e que o convento da Paraíba fôsse fortificado com uma muralha
e outras obras externas. Ficou encarregado do governo da Capitania,
bem como do comando da praça, Elias Herckmans ( 146 ) .
Potigí ou
A Capitania de Potigí, Potingí ou Poteingí, também conhecida pelos
Rio-Grande.
pelos portugueses pela designação de Rio- Grande devido ao rio dêsse
nome que a banha, era conhecida, entre os holandeses, por Brasil Norte,
em contraposição às capitanias do Sul. Potigí limita-se, ao sul , com a
Paraíba e, ao norte, com a Capitania de Ceará, pôsto que os geógrafos lusos
estendam seus limites até a ilha de Maranhão .
"
GRANIES
GRANDE
RIO
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 59
(147) Não é exato o que escreveu Nieuhof, pois os franceses não estavam de
posse do Rio-Grande-do-Norte. Em 1597 é que 13 navios franceses atacaram a
Paraíba e logo em seguida o Rio-Grande-do-Norte ( LXXII , tomo II , p . 50-51 ) .
Feliciano Coelho de Carvalho, que Nieuhof chamou de general espanhol e escreveu
Feliciano Creça de Karvalasho ( p. 41 , 2.ª col . ) , era capitão-mor da Paraíba e auxiliou
Manuel de Mascarenhas, capitão-mor de Pernambuco, a expulsar os franceses do
Rio-Grande-do- Norte. Em abril de 1598 é que Feliciano Coelho de Carvalho pôde,
efetivamente, auxiliar com gente da Paraíba a expulsão dos franceses. Sôbre a
colonização do Rio-Grande-do-Norte, vide “ A colonização do Rio Grande do Norte até
a ocupação holandesa ", pelo Dr. A. Tavares de Lira, pp . 1-40, Rev. do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1914 .
( 148) Em Vingbooms se escreve Mopabu (XCVII, vol . II , mapa 45 ) ,
Gonhoa e Goayra. Verdonck escreve ( XCIII, 225 ) : “ Cunhaú. Três milhas acima
de Camaratuba, existe um engenho chamado Cunhaú, o qual faz, anualmente, de
6.000 a 7.000 arrobas de açúcar. Alí moram de 60 a 70 homens, com suas famílias " ;
e logo adiante : ( id. p . 226 ) . " Nesta jurisdição do Rio-Grande pode haver, ao todo,
5 ou 6 aldeias de brasilienses, que juntos devem contar 750 a 800 frexeiros, e a prin
cipal destas aldeias é chamada Moppobú e está situada a 7 milhas ao Sul do Rio
Grande e a 4 ou 5 para o interior ". No Breve discurso sobre as quatro capitanias
conquistadas, escreve que ela está dividida em 4 freguesias, a saber : a de Cunhaú,
a de Guajana ( Goìana ) a de Potingy e ... (branco ) . Souto Maior escreveu
(LXXXVIII , 415 e 416 e 424 ) : Mipibú , Monpibú, Monpebú. Em Baro, Monpabú
(IX, 201 ) .
(149 ) Nieuhof escreveu Goraires ( p. 42, 1.a col., 1 § ) . Cf. XXVI , p. 190, 2 vol.
(150 ) Na edição inglêsa está escrito 50 graus e 42 minutos (p. 29 , 1.a col.,
2. §) ; cf. ed. holandesa ( p. 42, 1.ª col., 7.º §) .
151 ) Forte Keulen. Vários tradutores , como os Srs. José Higino e Cláu
dio Brandão, têm grafado Ceulen. Não aceitamos essa grafia, porquanto
60 JOAN NIEUHOF
FORT
CEAREÁ
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 61
separa o rio Ceará. Não é grande seu território, pois abrange apenas
de 10 a 12 milhas.
O rio Ceará. O rio Ceará, que nasce no âmago do continente, desemboca a sete
milhas e meia ao norte da baía de Mucuripe , a 3º e 40' de latitude sul.
De acordo com o relato dos que os viram diversas vêzes, os brasilei
ros ou moradores dessa Capitania têm estatura avantajada, traços feios,
cabelos longos e tez escura, exceto entre os olhos e a bôca. Costumam
furar as orelhas que lhes pendem até os ombros ; também furam os lá
bios e alguns o nariz e introduzem pedras nesses orifícios , como enfeite.
Alimentam-se de farinha, aves silvestres, peixes e frutas. Bebem, ha
bitualmente, água, mas também fabricam um certo licor, de farinha , e,
ùltimamente, começaram a se habituar com a aguardente de cana que,
entretanto , não se lhes permite levar para suas aldeias, a-fim-de não abu
sarem das bebidas alcoólicas . A região produz cana de açúcar, cristal,
algodão, pérolas, sal e vários outros gêneros. Em suas praias também
se encontra âmbar cinzento.
Em 1630, o interior da região era governado por um rei nativo co
nhecido por Algodão, sujeito, até certo ponto, aos portugueses, que lhe
construíram um forte no rio Ceará e dominaram toda a zona litorânea
adjacente. Entretanto, lusos e selvícolas viveram sempre em contínua
discórdia até 1638 , época em que o forte e tôda a região foram conquis
tados pelos holandeses da maneira que passamos a relatar.
Os nativos dessa zona solicitaram ao Conde Maurício e ao Conselho
O Ceará
que tomassem o forte português lá existente a-fim-de libertá -los da
conquistado
pelos opressão em que viviam. Para tanto ofereciam sua aliança , dando, como
holandeses. penhor de fidelidade, dois jovens de suas melhores famílias. Os batavos
decidiram-se a realizar a expedição . Confiou-se a Joris Garstman o co
mando das tropas destacadas para a operação . Esse homem era de in
discutível valor militar ; entretanto a emprêsa, como mais tarde se veri
ficou, não oferecia grande dificuldade, à vista da cooperação dos nativos
que, além de nutrirem ódio de morte aos portugueses, estavam bem infor
mados sôbre a fôrça da guarnição e conheciam perfeitamente as condi
ções locais . Garstman abasteceu-se de navios , homens, munições e tudo
o mais necessário para a campanha e rumou para o rio Ceará. Lá che
gando, desembarcou suas fôrças , e, recebendo o rei Algodão que se apro
ximara com bandeiras brancas, em sinal de paz , incorporou à tropa os 200
nativos que acompanhavam êste último . A fôrça , assim constituída,
marchou diretamente contra o forte que foi capturado após valorosa resis
tência dos portugueses , alguns dos quais perderam a vida. Grande parte
da guarnição, na qual se encontravam militares de valor, caíu prisionei
ra dos holandeses. Foram capturados, também, três canhões e boa quan
tidade de munição. Depois disso, construíram os nossos um pequeno for
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 63
( 162 ) Olivier van Noord foi o primeiro navegador holandês que fêz a volta
ao mundo . Nasceu em Utrecht. Partiu de Roterdã em 13 de setembro de 1591 .
Tentou apoderar-se do Rio, mas não conseguindo o seu intento , continuou viagem pelo
estreito de Magalhães, costeou o Pacífico, seguiu para as Filipinas, as Molucas, vol-
tando pelo Cabo da Boa Esperança , e chegou a Roterdã a 26 de agosto de 1601. A
relação foi publicada em holandês sob o título : Beschrijving van de Schipvaerd by
Hollanders Ghedaen onder Olivier van Noord, door de straet van Magallanes ende
voorts de gantsche Kloot des aertbodems om . (Amst., 1646) . Com 25 estampas . Essa
viagem foi publicada, depois, na coleção de viagens holandesas " Nederlandsche
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 67
Raizen ", 2 tomos, MDCCLXXXIV, sob o título : Togt rondom den Aardkloot, door
Olivier van Noord, Geduurende Welken zy verscheiden woeste en oubewoonde eilanden
ountdekken, en, naa eene afweezigheid van drie jaaren, den 26 Augusti 1601, te
Rotterdam weder behouden aanlanden. Te Amsterdam, by Petrus Conradi, Te Har
lingen. By V. van der Plaats ; ocupando da p . 147 à 253. A mesma viagem foi
editada, também, em francês : Description du penible Voyage fait autour de l'uni
vers ou globe terrestre, par Sr. Olivier Du Nort, d'Utrecht, general de quatre na
vires ... Amsterdam, chez la Veuve de Cornille Nicolas, 1610, 22 pp . e uma fôlha
não numerada.
Spilbergen empreendeu a primeira viagem em 1601 , 1602 , 1603 e 1604 ; o relato
da expedição foi publicado em holandês, editado na citada coleção " Nederlandsche
Raizen ", tomo III , MDCCLXXXIV, pp. 150-224, sob o título : Eeerste Togt van Joris
Spilbergen, na de Oostindiën, in de Jaaren 1601 , 1603 en 1604 , pp. 150-224.
Mais tarde realizou Spilbergen outra viagem com Jacob le Maire e W. Shouten,
entre os anos de 1614 a 1618 ; foi também publicada em holandês sob o título : Oost
ende West-Indische Spiegel der 2 leste navigatien, ghedaen ... 1614-18, daer in ver
toont wort, in wat gestalt Joris van Spilbergen door de Magallanes de werelt rondom
geseylt heeft .... Met de Australische navigatien, van Jacob Le Maire. Leyden, N.
van Geelkercken, 1619. Foi traduzida para o latim : Speculum Orientalis Occiden
talisque Indiae navigationum; quarum una Georgij à Spilbergen classis cum potes
tate praefecti, altera Jacobi Le Maire auspiciis imperioque directa, annis 1614-18 ;
Lugduni Batavorum, N. à Geelkercken, 1619. Em 1621 , foi traduzida para o fran
cês: Miroir Oost en West Indical, auquel sont descriptes les deux dernieres navi
gations, faictes 1614-18 ... p. J. Spilbergen. Amst. J. Jansz, 1621. Foi, ainda, pu
blicada na " Nederlandsche Raizen ", tomo 8.º, MDCCLXXXV, p. 1-51 . O estreito
descoberto entre a Terra do Fogo e uma ilha foi chamado Estreito Le Maire.
Jacques L'Heremite ou Jakob Heremijt foi outro célebre viajante holandês.
Começou como companheiro de viagem de Steven van der Hagen, na segunda expe
dição por êste realizada às Índias Orientais em 1603 ( LVI, Tomo IV, p. 163 , 164 ,
165) e mais tarde em 1623-1624 empreendeu outra viagem ao redor do mundo. Na
coleção " Nederlandsche Raizen", tomo 8.º, MDCCLXXXV, p. 235-176 , encontra-se a
Togt rondom den Aardkloot, door Jakob Heremiet, Gedaan in de jaare 1623 tot
1626, pp . 135-176.
Sôbre essas viagens em geral, a melhor autoridade é P. A. Tiele. Para os dois
melhores trabalhos dêste autor, vide : XC, XCI.
(163) Brouwer publicou : Journael eende historis verheal van de reyce ge
daen by Oosten de Straet Le Maire, naer de custen van Chili onder het beleyt van
den heer Generael Hendrick Brouwer in de jare 1643 voor gevallen etc..Amst., Broer
Jansz, 1646 , 4.°.
Essa obra foi reimpressa em várias coleções, como as de Hulsius, Churchill,
1746, a " Nederlandsche Raizen ", etc.. Tiele ( XCI, 226-8) trata dessas várias
reimpressões. A obra de Brouwer foi traduzida para o alemão em 1649 ( LVII, 50 ) .
A edição de Osborne e Lintot ( consulte-se a bibliografia de Nieuhof, onde essa co
leção é indicada ) publica, no 1.0 vol., a Viagem de Brouwer e a relação de Elias
Herckmans. Thevenot, no II tomo, dá, também, uma tradução dessa viagem.
Sobre sua expedição existe um folheto (n. 185 de Asher ) , que noticia a expe
dição do General aos Mares do Sul. Intitula-se : Tydingh uyt Brasil aende Heeren
Bewinthebberen van de West-Indische Compagnie, van wegen den tocht by den Ge
nerael Brouwer nae de Zuyd-Zee gedaen ... Amst., by François Lieshout. 1644. A
excelente edição de Barlaeus de 1923 publica dois mapas dos mais importantes para
o estudo das expedições de H. Brouwer. São os seguintes : 1.0) uma reprodução
68 JOAN NIEUHOF
A salubri- Dispõe ainda o Brasil de clima salubérrimo . Pôsto que situado entre
dade do cli- a linha equinocial e o Trópico de Capricórnio, sujeito, portanto, à canícu-
ma brasilei- la abrasadora dessas latitudes, o calor é aí consideràvelmente amenizado
ro. pelos ventos de Leste, que sopram do mar e não encontram, em seu
caminho, montanhas ou ilhas que os barrem. Por isso, talvez, raramente
se encontram , no Brasil, as moléstias que frequentemente assolam Angola,
Guiné, São Tomé e vários outros lugares aos quais as brisas levantinas
não podem proporcionar idênticas vantagens.
As epidemias são desconhecidas no Brasil - que nisso se avantaja
a qualquer outro país. Entretanto, não está isento de febres pútri-
das (164 ) , causadas pelo calor e pela umidade bem como pela excessiva
ingestão de frutas cruas.
Os que demandam a costa brasileira precisam prestar atenção espe
cial à estação do ano, que regula a direção dos ventos e das correntes
marítimas dessas paragens . Além disso é necessário muito cuidado para
do mapa em mss., representando o mar que rodeia a Ilha dos Estados, navegado pela
primeira vez por Brouwer, em 1643 ; êsse mapa encontra-se depositado no Arquivo
Geral do Reino, em Haia, e nunca fôra reproduzido ; 2.º ) uma reprodução do ter-
reno de operações de Brouwer no Chile, conforme um mapa em mss. por E. Herck-
mans. O original encontra-se na mesma coleção que o anterior ( Cf. VIII, p. 5 dos
Aditamentos e Explicações de S. P. L'Honoré Naber) .
A expedição de Hendrick Brouwer, antigo governador das Índias Orientais, que
trouxera da Holanda a incumbência de conquistar o Chile, partiu do Recife a 15 de
janeiro de 1643, levando a bordo Elias Herckmans, a quem seria entregue o governo
da nova conquista. Hendrick Brouwer faleceu quando, depois de fracassado na
marcha por terra, prosseguia, por mar, a conquista da costa. (Cf. Alfredo de
Carvalho, XX, artigo Um poeta aventureiro, Elias Herckmans , p . 97-108, especial-
mente, p. 104-5) .
Sobre a biografia de H. Brouwer, v. Moniteur des Indes , 3 p . 294.
(164) Sôbre moléstias, febres, etc., no Brasil Neerlandês, cf. Piso, ( LXX,
15-38, cap. I, do livro II) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 69
(165 ) Na edição holandesa está escrito ( p. 46, 2.a col., 1 § ) : Want de Stroo
men gaen daer langs de kusten, van Lente tot Zomermaent, geheel Noortwaerts.
Dan kan men de kust van Brasil, van't Noorde na't Zuide, niet bezeilen. Maer
zoo dra de maenden van Lente-maent tot aen Ooghstmaent voorby zijn, dan is de
Noorder-stroom van Zomer-tot Ooghstmaent heel gedaen. Daerna gaet de stroom,
met den eersten of aenvang van Herstmaent tot den laesten van Slachtmaent even
zoo snel na de Zuid; dies men dan daer even zoo quaet van't Zuide na't Noorde, als
van het Noorde na't Zuide kan komen. De winden voegen zich altijt na den stroom ,
en waeien, op d'aenkomste van Maert, Zuid- zuid- oost en Zuid- oost. En gelijk de
stroomen van Zomer-tot Herfstmaent (sic), zoo vertrekken de winden dan na het
Ooste, en waein tot in Herfstmaent (sic) Oost-zuid-oost. Te weten, twee winden,
de Zuid-ooste en Noord-ooste windt, heerschen by beurte langs deze gantsche kust,
en maken en stellen het onderscheit in de regel van de schipvaert. Enquanto que
na edição inglêsa o tradutor escreveu (p . 32, 1.a col. 1. § ) : For it is observable,
that on the coast of Brasil, the stream runs from February till past July, constantly
Northerly, during which time there is no passing from the North to the South;
but after those Months are past the stream turns, and from the beginning of Sep
tember to the latter end of November, runs as violently to the South as it did to
the North before, and consequently there is no sailling from the North to the South,
no more than before from the South to the North. The Winds here turn with the
Stream; and at the beginning of March blow South, South-East, and South-East.
And like the Stream changes its Current till September, so the Winds continue in
the East, and blow till that time out of the East South-East. For there are but
two Winds that reign along this Coast, viz. the South-East and North-East Winds;
according to which Ships must regulate their Course here.
Como se pode verificar, o tradutor inglês, além de não ser fiel, traduziu erra
damente os respectivos meses em holandês .
Onde escrevemos junho grifado estava, no original holandês, agôsto , por evi
dente equívoco, parece-nos de Nieuhof ; de vez que logo a seguir êle diz que nos
meses de junho até agôsto finda a corrente ; logo, a corrente nordeste só acompanha
a costa de março a junho, exclusive. Escrevendo junho torna-se compreensívci a
variação das correntes.
(166 ) Na edição inglêsa não se faz referência às duas horas de distância .
(Cf. edição holandesa, p . 46, 2.a col., últ. § e ed . inglêsa, p. 32, 1.ª col. , 2.º § ) .
70 JOAN NIEUHOF
derica esteve sob a jurisdição holandesa , mas, depois da revolta dos lusos,
o lugar foi abandonado pelo povo e Henrikus Harmannius passou a ser
o único ministro da região . No Recife, na Cidade Maurícia e nos fortes
circunvizinhos, abrangendo quatrocentos protestantes holandeses, fran
ceses e inglêses, havia três ministros que prègavam em língua holandesa :
Nikolaus Vogelius, Petrus Ongena e Petrus Gribius. Além dêstes havia
outro, de nome Joducus Astetten que fôra outrora ministro no Cabo San
to Agostinho que então servia tanto a bordo de nossa frota como nas
expedições terrestres. Após a partida de Joachim Soler, ficou a igreja
francesa sem ministro e, assim, seus fiéis tinham que se contentar com a
leitura de trechos bíblicos e orações , aos domingos, pela manhã. O mi
nistro inglês era o sr. Samuel Batchelaer que, em 1646 , também re
gressava à Inglaterra. Todavia, por essa época já o Brasil Holandês
dispunha de sete ministros nossos compatriotas ( 167 ) .
O nosso culto religioso , tanto no que respeita à doutrina como à prá
tica, era estritamente regulado pelas prescrições do Sínodo Nacional de
Dordrecht, dispensando-se especial atenção à instrução das crianças, às
( 168 ) Nieuhof escreveu Eiruka e Piso Eiruba. Esse trecho referente às abe
lhas é literalmente copiado de Piso ( LXX, 55-6 ) . Nieuhof escreveu Amanakay-Miri,
Amanakay-veu, Aibu , Mumbuka, Pixuna, Urutuetra, Tubuna, Tuiuba, Eiruku, Eixu,
Kubiara e Kurupireira ( p. 47, 2.ª col. 7. § ) . E' preciso indicar que a numeração
da obra está com grandes falhas, pois após o número 47 vem o número 40 e daí
segue até 50. A p. 47, que citamos, é a primeira que traz êsse número) .
Em Soares ( LXXXVI, 279 ) heru. Segundo Batista Caetano ( III , 115 ) eichú é
formado de ei + hub = busca mel, ou pai do mel , abelha mestra, uma espécie de abelha
negra. Segundo ainda o mesmo autor, eir, substantivo, significa abelha e dêle pro
vém numerosos compostos, com os quais se designam várias abelhas e diversas qua
lidades de mel . Segundo Teodoro Sampaio ( XXV , 124 ) , exú é corr. de eichú ou
eira-chú, abelha negra, que faz um ninho rugoso, áspero ; assim como eira é a abelha, a
mãe do mel. Para Batista Caetano, Tubuna ( III , 540 ) . Tubuna é uma espécie de abelha
negra, de tub- abelha mestra e û- pretas. R. von Ihering regista enchú ou inchú;
a pronúncia caipira ichú e também Mombuca. (Dicionário dos Animais do Brasil,
S. Paulo, 1940, pp . 318 e 520) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 73
O mesmo trecho, que foi tão mal traduzido para o inglês, encontra-se em Piso
( LXX, 56 ) e dêle se depreende tratar-se de gonorréia e não de emissão de semen.
Quanto à Tanchagem, já Soares ( LXXXVI, 185 ) a havia descrito. Trata-se
de planta medicinal da família das Plantagináceas. Vide nota 411 .
João Velho do Vale e Pedro Maciel, pouco depois, desertaram para o Pará,
com o pouco auxílio que haviam trazido. Mais tarde é que chegou o capitão An
tônio de Deus, vindo do Pará, com algumas arrobas de pólvora, murrão e bala em
proporção. (LIII , pp. 308-319 ) . Comparar com a nota 24.
PERNAMBUCO
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MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 75
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MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 77
trícios. Com isso sofreu o comércio rude golpe, pois tôda gente re
ceava aventurar-se em negócios nos quais podiam perder todos seus ha
veres numa só noite, e até, possivelmente , pelas mãos de um único homem .
As rendas da Companhia caíram pesadamente e suas despesas subiram ,
forçada que foi a manter de vinte a trinta soldados na defesa de cada
plantação ou engenho de importância . Isso também a impedia de organi
zar uma tropa regular com que enfrentar o inimigo . Tal era a situação
do Brasil Holandês no fim do ano de 1640.
(175) O tradutor inglês escreveu : maio ou junho ( p. 35, 1.a col., 2.° § ) . Cf.
ed. hol., p. 43, 1.ª col., 2.º § ) .
1
78 JOAN NIEUHOF
(176 ) O tradutor inglês escreveu fevereiro. ( cf. p . 43, 2.a col., 2.º § da ed.
holandesa e p. 35, 2.a col., 1. § , da edição inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 79
(177) O tradutor inglês escreveu: "no princípio de 1643 " ( cf. p. 44, 2.a
col., 4.0 § da ed. holandesa e p. 36, 1.ª col., 2.°§ da trad. inglêsa ) .
(178) O tradutor inglês escreveu 1641 (cf. p. 44, 2.ª col., 7.° § da ed. holan
desa e p. 36, 1.ª col., últ. § da trad. inglêsa ) .
80 JOAN NIEUHOF
(179) O tradutor inglês escreveu : " 300 peças de oitavo " ( cf. p. 45, 1.a col.,
8. § da ed. holandesa e p . 36, 2.a col . 1.º § da trad . inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 81
(180) O tradutor inglês escreveu : "300 peças de oitavo " (cf. p. 46, 1.a col. ,
5. da ed. holandesa e p. 37, 1.ª col . , 2. § da trad. inglêsa ) .
82 JOAN NIEUHOF
Aprovação
Com referência ao acordo que Vs. Excias. (o Conselho ) celebraram
dos acordos.
a 14 de dezembro ( 182 ) último, com Jorge Homem Pinto, tivemos de sub
metê-lo várias vezes a debate para, afinal, dá-lo por aprovado com o pa
recer e a sanção prévios dos Conselheiros de Justiça e de Finanças. Jul
gamos, portanto, conveniente aprovar dito acôrdo, não só em obediência
aos seus próprios têrmos, como pelo grande benefício que dêles resultará
para a Companhia. Recomendamos, para sua execução , o mesmo zelo
que nos foi dado observar na conduta e na circunspeção com que Vs.
Excias. se houveram nas negociações desses contratos.
A prova irrefutável de que tais acordos foram, por todos que tinham
algum conhecimento de negócios , considerados de grande interêsse para
a Companhia, temo-la no fato de vários comerciantes terem celebrado
arranjos semelhantes com seus devedores. Para que o assunto fique per
feitamente esclarecido, damos abaixo cópia de um dêsses documentos,
onde claramente se evidencia a circunspeção com que agia o Conselho nos
casos em que estavam em jôgo os interêsses da Companhia, dos senhores
de engenho e de seus devedores.
(181 ) O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 48, 1.a col., 4. § da ed.
holandesa e p. 38, 1.ª col., 1. § da trad. inglêsa) .
(182) Nieuhof, pela primeira vez, emprega a palavra December (p. 48, 1.ª
col. últ. §) . Daquí em diante, embora vigorando a denominação particular holan
desa, aparecerá de vez em quando a denominação de origem latina.
84 JOAN NIEUHOF
CÓPIA DE UM ACÔRDO
(183) A edição inglêsa consigna, aquí, três erros : em primeiro lugar, omite
a parcela referente a Abraham Aboab, de 900 florins ; em segundo lugar, há êrro
na parcela de Daniel Cardoso, que é de 210 florins e não de 910 florins, como
escreveu o tradutor inglês ; em terceiro lugar, há êrro na soma total, pois o tradutor
inglês escreveu ( p. 38, 2. col. , 2.0 § ) : the whole amounting to 40.526 gilders ; en
quanto que na edição holandesa está (p. 49, 1.a col., 12. § ) : monterende ť zamen
een en veertighd duizent vijf hondert zes en twintigh gulden. Portanto : quarenta
e um mil e quinhentos e vinte e seis ( 41.526 ) e não quarenta mil e quinhentos e vinte
'e seis (40.526 ) .
Grande número dêsses devedores tinha nomes que podem ser de judeus. Assim,
por exemplo, Benjamin de Pina foi um dos autores dos Escamoth, isto é do
conjunto de preceitos para regularizar a vida da comunidade, espécie de consoli
dação de leis recompiladas e escolhidas entre as que havia na comunidade (LVIII,
53) . Sôbre os contratos e as dívidas, é útil a leitura de " A Bôlsa do Brasil " e
do " Machadão do Brasil ". O primeiro foi traduzido por José Higino e publicado
pela Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1883 , e mais
tarde no Tomo XXXVII , 1933, da Revista da Sociedade de Geografia do Rio- de
-Janeiro, dessa vez traduzido pelo Padre Geraldo Pauwels. O segundo foi traduzido
por Souto Maior e publicado na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico
Pernambucano, 1908, n. 71. A " Bôlsa do Brasil " relata a situação financeira do
Brasil, em 1647, e traz cópia de vários contratos feitos pela Companhia com várias
pessoas. E', portanto, complemento indispensável ao estudo das condições finan
ceiras dessa época. Basta dizer que Nieuhof cita os credores de Manuel Fer
nandes Gomes, mas pouco trata de Jorge Homem Pinto, cuja dívida montava a
937.997 florins e 13 stuivers , sendo 700.000 à Companhia das Índias Ocidentais.
Era a obrigação mais importante da época , pois êsse era o segundo contrato, já
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 85
I—- Que o débito total deverá ser liquidado dentro dos três próxi-
mos anos, o primeiro pagamento devendo ser efetuado em janeiro de
1645. Se acontecer que a quota paga em um ano seja menor que a
de outro, todo o saldo deverá ser liquidado no último ano.
A razão
Todos os outros contratos foram lavrados pela minuta acima, soman-
de ser
dos do o total de seus valores 2.125.807 florins , importância essa devida pelos
contratos. lavradores aos senhores de engenho, e, por estes, à Companhia.
A principal, senão a única razão pela qual se fizeram tais acordos
(como, aliás, já ficou dito acima ) residia nas exigências e nos vexames
que aos senhores de engenho impunham seus credores , pois, a menos que
os primeiros se sujeitassem a pagar juros à razão de 22 e 3 por cento
( 190 ) ao mês, estes procediam à apreensão de seus negros , vazilhames de
cobre e outros utensílios dos engenhos . Assim, ante a contingência de pa-
garem quantias exorbitantes e a alternativa de se arruìnarem completa-
mente, os senhores de engenho passaram a defender suas propriedades
pela fôrça. A situação, portanto , se encaminhava francamente para uma
insurreição geral, que só se conseguiu evitar com a instituìção dêsses
contratos. Consequentemente, os senhores de engenho, livres da opressão
(189) Por meio dêsse contrato, procurava a Companhia das Indias Ociden-
tais realizar o que, juridicamente , se chama compensação, isto é, desde que um
credor venha a dever ao seu devedor uma quantia semelhante à que êste lhe devia,
a obrigação do devedor é extinta em concorrente quantia. (Cf. Correia Teles, Di-
gesto Português, ou Tratado dos Direitos e Obrigações, etc. Pernambuco, Tipogra-
fia de Santos & Companhia , 1841 , p. 134, n . 1164) .
No caso de que Manuel Fernandes da Cruz faltasse ao pagamento, os devedores
ficariam obrigados a pagar não só a quantia parcelada , como o total, isto é,
renunciariam ao benefício da divisão. Embora a declaração das parcelas os deso-
brigasse do pagamento in solidum, na verdade não estavam desobrigados, desde que
haviam renunciado expressamente ao benefício da divisão. (Cf. Coelho da Rocha,
Instituições de Direito Civil Português, Tomo II , 1852 , p . 689 ) .
Por êsse contrato, a Companhia ficava habilitada a prosseguir em suas ações
contra Manuel Fernandes da Cruz e seus fiadores e cedia aos diferentes dezesseis
credores de Manuel Fernandes da Cruz devedores da Companhia das Índias Oci-
dentais - a ação de cobrar daquele o que lhes era devido. Tratava-se, assim, de
uma sub-rogação convencional, chamada cedência ou cessão, a qual se verifica
quando o credor originário transmite o seu direito, crédito ou ação a outro, sem
acordo do devedor. (Cf. Coelho da Rocha, id., I tomo, p. 105 ) . Esse benefício é,
ainda hoje, consagrado no Código Civil Brasileiro, art. 986. (Vide II, nota 2, p . 856 ) .
(190) O tradutor inglês escreveu : "2 ou 3 por cento " (cf. p. 51, 1.ª col., 3.º §
da ed. holandesa e p . 40 , 2.a col. 1. § da trad . inglêsa) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 89
( 191 ) Na edição inglêsa está 1647 ( cf. p. 51 , 2.ª col., 3.0 § da ed. holandesa
e p. 40, 2.ª col., 1.° § da trad. inglêsa ) .
( 192 ) O tradutor inglês omitiu : " sob pena de nulidade ", ( cf. p . 52, 1.a col.,
3. § da ed. holandesa e p. 41 , 1. col. da trad. inglêsa) .
90 JOAN NIEUH OF
(193) O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 55, 1.a col., 1. § da ed. ho-
landesa e p. 42, 1. col. 1. § da trad. inglêsa ) .
92 JOAN NIEUHOF
segundo a qual um tal Arent Jansz Van Norden, que durante cêrca de
quatorze meses servira, no Brasil, na qualidade de cadete, lhes havia
declarado em Amsterdã que estivera empregado em um engenho per-
tencente a João Fernandes Vieira, onde, após haver trabalhado dois
meses, fôra convidado por Francisco Berenguer, lavrador, para acom-
panhar seu filho Antônio de Andrade Berenguer à Holanda e de lá a
Portugal , a-fim-de servir-lhe de intérprete. Ante as promessas que lhe
foram feitas , Van Norden aceitara o convite e partira com Antônio
de Andrade a bordo do navio de Liefde para a Zelândia e, a seguir, de
Vlissingen no navio S. Hubes para Lisboa ( 194 ) . Dizia a carta que,
depois de uma convivência de três semanas , Antônio de Andrade Beren-
Cartas pro- guer revelara a Van Norden ser portador de uma carta assinada por
cedentes do
João Fernandes Vieira, Francisco Berenguer , Bernardino Carvalho, João
estrangeiro
Bezerra e Luiz Braz Bezerra, pela qual informavam ao Rei de Portugal
fazem au-
estarem bem abastecidos de homens, dinheiro e armamento para a
mentar as
suspeitas . restauração do domínio português no Brasil . Acrescentava o Conselho
na citada missiva que o Rei de Portugal dera patente de capitão ao dito
Berenguer por êsse pequeno serviço, e, por isso, recomendava ao Grande
Conselho e ao Conde Maurício que mantivessem êsses indivíduos sob
vigilância, tendo em vista a aversão que os portugueses nutriam contra
os holandeses.
Na reunião do Grande Conselho do Brasil, realizada a 16 de março
( 195 ) de 1643, declarou o Conde Maurício ter sido informado de que
portugueses de destaque planejavam surpreender as nossas guarnições
do interior - Muribeca, Santo-Antônio e outros lugares, como o Ma-
ranhão - passando-a a fio de espada , plano êsse que deveria ser pôsto
em execução em um dia santo, quando costumava reùnir grande massa
popular. Residiam na Várzea os que tinham maior responsabilidade
nessa conspiração e se propunha atacar de surprêsa também o Recife,
- o que sem dúvida lograriam fazer. De resto, as outras guarnições
do interior seriam fàcilmente subjugadas, e, assim, sem tropa e sem
comércio, estaria a Companhia impossibilitada de se manter no Brasil
por mais tempo.
Tratou-se, então, de decidir se seria melhor deter imediatamente os
As delibera-
ções toma- cabeças da rebelião ou protelar essa medida para ocasião mais oportuna,
das. a-fim-de que as prisões não alarmassem o povo. Optou-se pela última
(194) O tradutor inglês omitiu o nome do navio S. Hubes ( cf. p. 55, 1.ª col.,
1.º § da ed . holandesa e p. 42, 1.ª col ., 2.º § da trad. inglêsa) .
( 195) O tradutor inglês escreveu fevereiro ( cf. p . 55 , 1.ª col. , últ. § da ed.
holandesa e p. 42 , 1.ª col . , 1.0 § da trad. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 93
alternativa, mesmo por não haver ainda provas seguras sôbre as inten
ções dos indiciados , cujos movimentos, entretanto, passaram a ser aten
tamente observados pelo serviço secreto do Conde Maurício, com tempo
de se tomarem as devidas precauções. Julgou -se, contudo, aconselhável
recolher para o Recife as guarnições do interior e fortificar-se a praça
com novas paliçadas , bem como repararem-se os velhos bastiões de
madeira. Determinou-se, também, que ficasse um navio de prontidão,
do lado do mar, e diversas chalupas fizessem o patrulhamento do rio,
a-fim-de defenderem as ruas do Recife com sua artilharia . Recebe
ram-se, ainda, várias cartas de particulares, algumas anônimas, diri
gidas ao Conde Maurício e ao Grande Conselho, denunciando os traì
çoeiros projetos dos portugueses. Dentre outras, destacava-se uma
remetida ao Conde Maurício por um senhor de nome Van Els e datada
de Serinhaém, 25 de março de 1643 ( 196 ) , dizendo estar seguramente
informado de que certo mulato pertencente à Companhia de Agostinho
Cardoso, interrogado por pessoas daquela freguesia sôbre os motivos
de sua presença naquela cidade, dissera ter ido entregar cartas a pessoas
residentes nas proximidades do Recife e acrescentara que dentro em
pouco veriam êles como a cidade seria tomada sem efusão de sangue,
quer holandês, quer português.
Em dezembro de 1643 , Don Michiel de Crasto, Don Bastiaen Man Embaixado
res do Con
duba de Sonho e Don Antonio Ferdinandes , embaixadores do Conde
de de Sonho
de Sonho, na Angola, chegavam ao Recife a bordo do navio Het Wapen van
recebidos
Dordrecht. Cada um dêles dispunha de apenas um criado, mas trouxeram em
de presente ao Conde Maurício vários negros com colares de ouro, além audiência.
de grande número de escravos destinados à Companhia.
Recebidos em audiência a 21 de janeiro pelo Conde Maurício ( 197)
e pelo Grande Conselho, pediram, em nome de seu chefe, que se não
mandassem auxílios ao Rei do Congo de quem receavam um ataque para
breve , não obstante se acharem ambos em guerra contra os portugueses .
O Conselho respondeu-lhes que escreveria ao diretor da Companhia na
quele país, sr. Nieulant, pedindo que usasse de sua autoridade e mediação,
no sentido de preservar as boas relações e remover qualquer motivo de
discórdia entre o Rei do Congo e seu suserano, pois que ambos eram
confederados dos Estados Gerais. O Conde de Sonho dirigiu , ainda,
uma carta ao Conde Maurício, pedindo licença para comprar uma cadeira,
uma capa, algumas insígnias de guerra, bandeiras e diversas peças de
vestuário.
(196) O tradutor inglês escreveu : "20 de março " ( cf. p. 56 , 1.a col., 1. §
da ed. holandesa e p. 42, 2.ª col., últ. § da trad. inglêsa) .
( 197) O tradutor inglês omitiu a data (cf. p. 56 , 1.a col., 2. § da ed.
holandesa e p. 43, 1.ª col ., 2.0 § da trad. inglêsa) .
94 JOAN NIEUHOF
AO REI
AO CONDE
JOAN MAURITS
Prins van
Naffour.
(200) O texto desde " Diante do portão " até ... " e Adriaen Bullestrate "
foi traduzido diretamente do holandês, por estar omitido na edição inglêsa . ( Cf.
p. 57, 1.ª col. 3.º, 4.º e 5.° da edição holandesa com a p. 43, 2. col. , 2.0 § da
edição inglêsa) .
(201 ) Vide anexo n. 1. Aí damos a música e letra da canção popular Wilhel-
mus van Nassau. Foi composta e escrita por Philippe de Marnix, Senhor de Sain-
te-Aldegonde, que nasceu em Bruxelas, em 1538, e faleceu em 1598. Refugiou -se
na Alemanha , quando os protestantes foram perseguidos nos Países - Baixos . Em
1592, voltou novamente para seu país e pelos escritos, por meio da palavra e da
espada, colaborou com o Príncipe de Orange. Era insinuante orador. Escreveu
Tableau des differends de la religion, 1598, considerado, por Bayle, notável, pela
mescla de erudição e lógica. (XXVII, pp. 6 e 7) .
(202) O tradutor inglês escreveu 1 de julho de 1642. ( Cf. p. 43 , 2. col. , 3. §
da ed. inglêsa e p. 57, 2.ª col., 2.0 § da ed. hol . ) .
96 JOAN NIEUHOF
E' o seguinte o conteúdo da carta que lhes foi entregue pelo Go-
vernador :
100 JOAN NIEUHOF
CARTA DO GOVERNADOR
Com respeito aos seis pontos das instruções secretas que levaram ,
foi o seguinte o relatório apresentado ao Grande Conselho pelos enviados
holandeses :
(204) O tradutor inglês escreveu : "entre 3.000 e 4.000 homens ". (Cf. p. 61,
1.ª col., 2. § da ed. holandesa e p. 46, 2.ª col., 2. § da trad. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 101
mente o açúcar que, consequentemente, não poderia ser vendido pelo prêço
mantido pelos holandeses. Seriam, provavelmente, consideráveis os pre-
juízos que o comércio teria que sofrer, tanto em matéria de juros como
no que respeita aos prazos de entrega, à vista da necessidade de se reù-
nirem em combóios os navios, quando anteriormente tinham liberdade
de regressar à Metropole quando lhes aprouvesse.
III Observaram mais que, a-pesar-de os baianos estarem aguar-
dando a chegada daqueles navios, então em viagem inaugural, algumas
naus portuguesas procedentes tanto da costa lusa como das ilhas, lá
aportaram antes das demais.
(207) Sôbre relações entre o Brasil português e Buenos-Aires, cf. Los por
tugueses en Buenos Ayres, siglo XVII, R. de Lafuente Machain. De La Real Aca
demia de la Historia. (Madrid, El año MCMXXXI, Libraria Cervantes).
104 JOAN NIEUHOF
(208 ) Nieuhof escreveu (p . 66 , 2.ª col ., 1.º § ) : die den vijf en twintighsten
passato vertrocken zijn...
(209 ) Na tradução inglêsa (p. 49, 2.a col., 2.° § ) foi omitido o mês de abril.
(Compare-se com a p. 66, 2.a col. , 2.0 § da edição holandesa) .
(210 ) O tradutor inglês (p. 50, 1.a col., 1.0 ) escreveu 10 léguas, quando
se trata de 12 léguas ( ed . holandesa : p. 67, 1.a col., 1.0 ) . Cf. nota 42.
108 JOAN NIEUHOF
por dois portugueses chegados do Rio São Francisco pelo navio de Jan
Hoen e que desembarcaram junto à Candelária. Inquirido, porém, rigo-
rosamente, o capitão do navio, por ordem do Conselho, declarou o mesmo
que a 8 daquele mês , ao deixar o Rio São Francisco, não havia notícia
da anunciada marcha de Camarão.
A 30 de maio de 1645, certo judeu de nome Abraham Mercado (211 )
entregava ao Conselho uma carta anônima, sob o pseudônimo de Plus
Ultra. Traduzida do português, na mesma noite, apurou-se, de seu con-
teúdo, que três desconhecidos informavam o Conselho que numerosas tro-
pas se deslocavam do Rio- Real para a Paraíba com o propósito de alí
se reùnir a um grupo de descontentes e atacar de surprêsa os fortes ho-
landeses. Aconselhavam ainda os desconhecidos que se efetuasse a
prisão de João Fernandes Vieira, o Chefe da Revolta.
A carta é a seguinte :
9
110 JOAN NIEUHOF
Vs. Excias. quem são estes três fiéis vassalos. Se comparecêssemos pes-
soalmente diante de Vs. Excias., nada mais poderíamos declarar além do
que já ficou acima dito. Devem Vs. Excias. tomar, sem demora, provi-
dências enérgicas contra a tentativa dos rebeldes, sabendo-se que espe-
ram pôr em execução os seus planos nas próximas festas . Estamos pas-
sando a Vs. Excias. estas informações imediatamente após terem chegado
ao nosso conhecimento. Aconselhamos também a prisão de Francisco
Berenguer, sogro de Vieira, e de Antônio Cavalcanti, e, em resumo, de
todos os principais cabeças de Várzea e de outros lugares.
Assinado
A VERDADE
Plus Ultra
Certo corretor chamado Koin, que havia proposto tal acôrdo em nome
de Vieira, fôra incumbido de desempenhar a missão de trazê-lo à capital,
o que certamente conseguiria com facilidade e sem despertar suspeitas .
Entretanto , os feriados de Pentecostes atrasaram por algum tempo essas
providências . Com a mesma diligência empregou o Conselho todos os
meios possíveis para deter outras pessoas da Várzea suspeitas de partici-
pação nos planos rebeldes, recorrendo a pretextos vários , pois que, à
fôrça, difìcilmente seriam êles apanhados , não só por não pernoitarem
em suas residências ou nos engenhos, como porque durante o dia esta-
vam constantemente prevenidos .
A 31 de maio o Vice-Almirante Lichthart e o Tenente Hendrik Haus
propuseram-se entregar João Fernandes Vieira ao Conselho. Esperavam
conseguir agarrá-lo convidando-o para uma pescaria no lago Luiz Braz
Bezerra .
Mais infor-
A 9 de junho ( 212 ) o Grande Conselho recebeu aviso , por carta que
mes sobre a
The endereçou o Sr. Koin, Governador do Rio São Francisco, datada de 1.º
insurreição.
do mesmo mês, de que Camarão havia atravessado aquêle rio à frente
de uma pequena fôrça. Por êsse motivo o informante pedia auxílio de
homens e munições .
(212) O tradutor inglês escreveu 3 de julho ( p. 52, 1.a col., 1.º § ) . Comparar
com a edição holandesa ( p. 69, 2.a col., 4. ° §) .
112 JOAN NIEUH OF
(213) A tradução inglêsa não é fiel ( p . 52, 2.ª col. , 1.º § ) , razão porque o
trecho " Na noite seguinte ..." até 66 e se retiravam " foi traduzido diretamente
do holandês. Cf. p. 70 , 1.ª col. 2.º § da edição holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 113
(214) Nieuhof escreveu (p. 71 , 1.a col. , 1.º § ) : Pater Lourenço d'Alkunha. Pa
rece-nos tratar-se de Lourenço de Albuquerque. (Cf. Varnhagen, ( LXXIII, p. 269 ) .
Nieuhof escreve logo depois (p . 74, 1.a col., 2.º § ) Akunha.
114 JOAN NIEUHOF
teve ordem para a êles se reùnir, com a maior brevidade possível, levan-
do, sob seu comando, 300 nativos.
No mesmo dia depois de examinadas as fortificações de Maurí-
cia ( 215 ) , baixaram-se ordens no sentido de repará-las . Tendo corrido
notícias de que João Fernandes Vieira fôra visto em seu engenho naquela
mesma noite, o Conselho tentou prendê-lo, por todos os meios ao seu al-
cance, sem entretanto o conseguir. Por outro lado ficou perfeitamente
evidenciado, (pelo depoìmento de um de seus empregados do Engenho
São João, feito perante o escrivão Indijk, no Recife, a 21 de janeiro de
1647, que desde seis meses antes de rebentar essa insurreição , João Fer-
nandes Vieira nenhuma noite dormira em sua casa e que, quando aconte-
cia de lá estar durante o dia, permanecia a maior parte do tempo num
torreão, de onde podia descortinar uma grande região nas redondezas.
Se tinha necessidade de descer, punha alguém de atalaia com ordem de
avisá-lo imediatamente da aproximação de duas ou mais pessoas . Se
avistassem um holandês , Vieira se retirava imediatamente para as matas
vizinhas. Tinha também colocado vários negros a certa distância da
casa, incumbidos de avisá-lo da aproximação de qualquer pessoa desco-
nhecida.
A 13 do mesmo mês Sebastião Carvalho e Antônio de Bulhões foram
feitos prisioneiros e levados para o Recife. Os outros que se presumiam
culpados , conseguiram escapar. Tendo sido inquirido naquela mesma
noite pelo Assessor, Sr. Walbeek, a respeito da conspiração, Sebastião
Carvalho fêz o seguinte depoìmento ( 216 ) :
SUA CONFISSÃO
Que era êle um dos três que ainda poucos dias antes denunciara ao
Conselho, por carta, a Conspiração que se processava em Várzea, da qual
o cabeça era João Fernandes Vieira, que, tanto quanto os seus cúmplices
portugueses, confiava nos auxílios prometidos pela Baía, com cuja de-
núncia tinha pensado poder abortá-la. Que todo o plano da conspiração
The tinha sido revelado por meio de um documento pelo qual parecia pre-
tender-se formar uma espécie de associação, o qual lhe fôra entregue
por um empregado do dito Vieira juntamente com uma carta em que lhe
pedia que o subscrevesse. Que apenas duas pessoas, João Fernandes
(217) O tradutor inglês cometeu grave êrro, ao escrever 1500 soldados , quando
Nieuhof escrevera 1500 florins. ( Comparar p. 74, 1.ª col. 2. § da ed. holandesa,
com a p. 54, 2. col. 1. § da ed. inglêsa) .
AURITOPOLTS
MAURÍ
CIDADECIA
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 117
(226) Tabatinga Amador d'Arrauio (p. 77, 1.a col ., 1.° § ) . Trata-se de um
engano de Nieuhof, pois Amador de Araújo era capitão-mor e Tabatinga um riacho
afluente do Ipojuca, ou o engenho em Ipojuca que, em 1637, foi comprado por Ama
dor de Araújo, por 40.000 florins, vencendo a última prestação a 11 de janeiro de
1639. O mesmo engenho pertencera a Cosme Dias da Fonseca e fôra confiscado
pelo governo holandês. ( Cf. Relação dos Engenhos confiscados e que foram vendi
dos em 1637, in Rev. do Inst. Geog. e Arqueol. Pernambucano, p. 197, 1887-90 , vol.
6) . Amador de Araújo era, também, proprietário, em Ipojuca, do engenho Santa
Luzia, igualmente confiscado pelo governo holandês e mais tarde adquirido por êle.
(XV , p. 146 ) . Rio-Branco (LXXV, p. 366 ) afirma que o capitão Jacob Flemming
não estava em Ipojuca quando se verificou o primeiro encontro de armas. Rodolfo
Garcia (LXXII, p. 14, nota 19 ) aceitou a correção de Rio-Branco a Varnhagen.
Nieuhof, porém, confirma êste último. Em Barlaeus (VIII , mapa de Pernambuco,
Pars Borealis, entre pp. 24-25 ) , Tabatinga (em Ipojuca ) .
(227) O tradutor inglês escreveu (p. 57, 1.a col ., 2.0 § ) , 20 de junho ; compa
re-se com a p. 71 , 1.a col., 2.0 § da ed. holandesa.
(228) Vide nota 129. Nieuhof ora escreve Joan ora John Blaer ( Cf. ed. hol.
p. 77, 2. § ) .
122 JOAN NIEUHOF
tre o Recife e as guarnições do Sul. Foi tão bem sucedida essa expedição
que os rebeldes foram batidos e o Tenente-Coronel Haus passou a domi
nar tanto a cidade como o Convento, de onde soltou 40 prisioneiros que
lá estavam sob ferros e forçou os rebeldes a evacuarem tôdas as passa
gens das circunvizinhanças. Entretanto, informado da aproximação de
Camarão com sua força, pediu ao Conselho que lhe enviasse novos refor
ços , mas , estando já bastante reduzidas as guarnições do Recife, não seria
possível àquele atender o pedido do Coronel antes que chegassem recursos
Jejum. da Metrópole.
A 21 de junho o Grande Conselho resolveu ordenar um jejum geral,
no Brasil holandês, a ser observado no próximo dia 28, a-fim-de render
graças ao Altíssimo pela grande mercê manifestada em diversas ocasiões,
especialmente por ter descoberto em tempo as manobras traiçoeiras do
inimigo que o pretendeu surpreender justamente quando menos esparava.
O plano dos
A rebelião tinha sido planejada pelos portugueses da seguinte forma :
portugueses
rebelados. tencionavam êles, durante os feriados de Pentecostes, celebrar com ruì
dosos festejos e cavalhadas e realizar diversos casamentos marcados para
essa ocasião, para os quais pretendiam convidar as figuras de maior des
taque do Brasil holandês , entre civís e militares, as quais, depois de toca
das pelo vinho, seriam assassinadas como nas Noites Sicilianas ou no fa
moso Casamento Parisiense ( 232 ) . Decapitados os chefes do Brasil ho
landês, os demais constituìriam prêsas fáceis, quando atacados em diver
sos pontos simultâneamente. Não tendo, porém, conseguido realizar seu
plano sangùinário naquele dia, transferiram-no para o de São João Ba
tista como sendo o mais propício, pois, nessa ocasião, os navios deviam es
tar fora do pôrto do Recife. Os portugueses sabiam que, não tendo rece
bido novos fornecimentos da Holanda, desde há muito tempo, principal
mente de pólvora, eram escassas as nossas reservas. Portanto, se se apos
10
126 JOAN NIEUHOF
(235) Nieuhof escreveu Digos Lopes Leyte ( p . 81 , 1.a col ., últ. § ) . Diogo
Leite foi um dos que assinaram a Carta dos Aflitos Moradores de Pernam-
buco (Cf. Rev. Inst. Arqueol e Geog. Pern., n. 34, 1887, vol. 6, p . 120-22 ) .
128 JOAN NIEUHOF
(236 ) João Lourenço Francês ( A Bôlsa do Brasil, n. 47 ) " deve tanto a par
ticulares , como a Companhia, 84.509 florins. O contratador tem bastante recur
sos, seus fiadores são três, sendo um advogado que não possue nada e os outros
dois pobretões . Deu 13.000 florins ao Sr. Kodde e 3.000 a outros. "
(237 ) O engenho de Gonçalo Novo de Lira era o Araripe de Cima, situado no
distrito de Iguarassú. ( Cf. Breve Discurso, XVI , p. 152 ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 129
O capitão De acordo com esta resolução o capitão Johan Blaer recebeu ordens
Blaer tem na noite de 29 de junho de se pôr à frente de 300 homens entre os
ordem de quais estavam os 100 brasileiros comandados por Pedro Potí, marchar
partir com
com tôda celeridade possível para fora do Recife ( 240 ) , e, postando-se
suas fôrças.
de emboscada junto às principais passagens, procurar interceptar as
tropas inimigas, na esperança de que conseguisse saber, através dos
prisioneiros , onde se achava Vieira com sua fôrça principal, de quantos
homens se compunham os seus exércitos bem como os reforços da Baía
que já se presumia estarem ao seu lado . Johan Blaer recebeu ordens
terminantes de não incomodar os civís desarmados , mas, ao contrário,
protegê-los bem como às suas propriedades . Teve ainda instruções de
acolher os que pedissem mercê, conduzindo-os ao Recife . Também ao
Tenente-Coronel foram despachadas ordens de marchar para Várzea
com tôda a fôrça de que pudesse dispor da guarnição do Sul, a-fim- de
se reùnir ao Capitão Blaer e tentar o ataque contra os chefes rebeldes.
( 241) Mongioppe escreve Nieuhof ( p . 84, 2.a col., 1.º § ) e Magioppe à p. 37,
1.a col.
132 JOAN NIEUHOF
(242) O tradutor inglês ( p. 62, 2.ª col. ) , além de omitir a data, resumiu o
trecho; o mesmo foi retificado, segundo o texto holandês ( p . 86, 1.ª col., 1.º § ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 133
Vel
Villa
Antonio
Гардер
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 135
que vinham para tratar de certos pontos que estavam prontos a expor
imediatamente ou quando êle se dispusesse a ouví-los . Depois dos cum-
primentos do estilo e do exame das credenciais, o Governador disse aos
delegados que estava pronto a ouví-los a qualquer momento. Diante disso
expuseram os fins de sua missão.
Vossa Excelência sabe com que rigor tem sido observada pelos ha
bitantes do Brasil holandês, em tôdas as suas minúcias, a trégua cele
brada entre Sua Majestade, o Rei de Portugal, e os poderosos Estados
Gerais das Províncias Unidas , mesmo segundo a opinião de baianos e ci
dadãos de outras procedências, que últimamente têm passado pelas nossas
capitanias. Por outro lado jàmais recebemos a menor reclamação nem
de S. Majestade o Rei de Portugal, nem de Vossa Excelência, e, portanto,
isso nos leva a crer que Vossa Excelência jàmais consentiria em que sú
ditos seus praticassem qualquer ato contrário a essa trégua. Entretanto,
alguns de nossos súditos portugueses, pondo de parte sua lealdade para
com êste Estado, tomaram armas e voltaram-se contra o poder consti
tuído, logo que Camarão e Henrique Dias, à frente de alguns brasileiros,
negros e uns tantos portugueses, entraram em nosso território, em fla
grante desrespeito às leis internacionais, sem permissão e nem sequer o
mais leve estímulo de nossa parte, e, reùnindo -se aos rebeldes, abriram
hostilidades contra os nossos súditos, não como soldados, mas
(243 ) Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol . e Geog. Pern. , 1887,
n. 34, vol. 6, p . 109-111 . Não se encontra nessa cópia da citada revista o nome de
Hendrik de Moucheron.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 137
drões e assaltantes. Não podemos, porém, nos persuadir de que tais fôr-
ças tivessem assim agido por ordem ou com o consentimento de Sua Ma-
jestade, o Rei de Portugal, nem de Vossa Excelência, contra os seus con-
federados.
Com a graça de Deus não nos faltam recursos para reconduzir à
razão os nossos súditos revoltados, nem para desbaratar as tropas estran-
geiras. Todavia, para mostrar a todo o mundo como estamos prontos a
cumprir as reiteradas ordens de nossos superiores no sentido de manter
inalterada a trégua firmada entre êles e Sua Majestade, bem como para
evitar más interpretações nas côrtes estrangeiras, com relação ao caso
e dar a Sua Majestade, o Rei de Portugal, e a Vossa Excelência oportu-
nidade de convencer o mundo de que não haveis consentido nem instigado
esta conspiração, nós, em nome dos Poderosos Estados Gerais, de Sua
Alteza o Príncipe de Orange e dos Governadores da Companhia das fn-
dias Ocidentais, enviámos os Srs. Balthazar Van der Voorde, Conselheiro
da Côrte de Justiça , e Diederik Van Hoogstraeten, Comandante em Chefe
do Cabo Santo Agostinho , como deputados nossos junto a Vossa Excelên
cia, com plenos poderes para expor a Vossa Excelência estes pontos e pe-
dir que détermine imediatamente o regresso, dentro de determinado espa-
Subscritos,
De vossa Excelência ,
Amigos bem intencionados,
HENDRIK HAMEL,
A. VAN BULLESTRATE,
P. J. BAS ,
J. VAN WALBEEK e
HENDRIK DE MOUCHERON .
Do Recife, 7 de julho de 1645. (244 )
(244) No texto holandês ( p. 90 , 1.a col . ) está 1640 , mas na errata o ano está
corrigido para 1645 (p . 240 ) .
138 JOAN NIEUHOF
tugueses que haviam seguido em auxílio dos rebeldes não podiam ser
em grande número. Ao que supunha consistiam tais tropas de vaga
bundos e foragidos que, tendo cometido crimes na Baía, se aproveitaram
dessa oportunidade para escapar à ação punitiva da justiça , como aliás
também vinham de Pernambuco para a Baía, sem que isso o levasse a
duvidar da sinceridade do Conselho . Disse-lhes, ainda, o Governador
que estava satisfeitíssimo com a confiança que nêle depositiva o Conselho
com relação à manutenção da trégua pactuada entre Sua Majestade o Rei
de Portugal e os Estados Gerais e assegurou -lhes de que jàmais a que
braria, mesmo pelo perigo que então correria sua vida. E que se tanto
pretendesse, meios não lhe faltariam para agir, com auxílio dos brasileiros.
Entretanto jàmais lhe ocorreu tal cousa, a-pesar-de ter sido provocado
pelos holandeses , os quais, mesmo depois de celebrado o armistício , apre
enderam um navio português e o levaram para o Recife, barco êsse que,
sòmente devido à bravura dos lusos, escapou aos batavos e regressou à
Baía, sendo os marinheiros holandeses postos em liberdade sem sofrer
punição. Assegurou-lhes de que não era insensível à opinião que os lí
deres do Brasil holandês mantinham de sua sinceridade, mas que tinha
motivos para acreditar que, então como de outras vêzes, haviam êles en
viado deputados principalmente para lhe tomar o pulso, julgar de sua
fôrça e sondar-lhe os planos . Que, entretanto, passaria a carta ao seu
Conselho e dar-lhes-ia uma resposta pronta, a-fim-de que pudessem re
gressar, conforme desejo expresso de seus superiores. Levantando-se o
Governador, os deputados deixaram o palácio e voltaram para bordo.
(245) Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,
n.º 34, p. 111-116.
11
142 JOAN NIEUHOF
(247 ) A edição inglêsa ( p . 68, 1.a col., 1.° § , linha 49) consigna dois soldados ;
o texto holandês ( p. 94, 1.ª col. linha 38 ) confere com a cópia publicada na Rev. do
Inst. Arqueol. e Geog. Pern. , 1887-1890 , 6.º vol. , n.º 34, p . 113 .
144 JOAN NIEUHOF
(248) No texto holandês (p. 95, 1. col., 1.0 § ) está escrito : van vier duizent
Tapuyas, isto é, 4.000 Tapuias. Na cópia publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., 1887-1890 , n.º 34, vol. 6, p. 115, está escrito 40 tapuias. Só a consulta
ao original é que poderia certificar-nos da cifra exata, o que, infelizmente, não pư
demos fazer.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 145
(249) " Relatório do Capitão van Hoogstraeten sôbre o seu proceder na Baía,
feito aos senhores do Supremo Conselho no Brasil ", pub. na Rev. do Inst. Hist.
Geog. Bras., Tomo 42, vol. 146 , 1922. Rio, Imprensa Nacional, 1926, p. 206-210.
Esse relatório foi traduzido pelo Padre Frei Zacarias van der Hoeven, O. F. M.
146 JOAN NIEUHOF
tomar cuidado com a sua pessoa , pôr a salvo a si, sua senhora, filhos e
bens. Mas se quiser prestar um serviço ao Rei, meu Senhor, e ao Gover-
nador, será largamente recompensado e não lhe faltarão nem dinheiro,
nem terras, nem engenhos. Terá um hábito de Cristo e dar-se-lhe-ão duas
ou três comendas. Por isso, nada lhe faltará, mas terá tudo quanto de-
sejar (250) .
(250 ) Na edição inglêsa foram suprimidas certas passagens dêsse trecho. Por
essa razão, traduzimo-lo diretamente do holandês. Vide p. 96, 1.a col. 4. § da ed.
holandesa e p. 69 , 2.ª col. da inglêsa. Cf. com a tradução do Frei Zacarias van der
Hoeven, p. 207, vol. 146, Tomo 92 ( 1922 ) , 1926, da Rev. do Inst. Hist. Geog. Bras.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 147
(251 ) Nieuhof escreveu : wel duitsche verstond (p . 97, 1.a col ., 1. § ) . O tra
dutor inglês escreveu : ' compreendia bem holandês ". (p . 70, 1.ª col. ) : the last of
which understood Dutch. O Revmo. Frei Zacarias van der Hoeven ( Rev. Inst. Geog.
Bras., 1922, vol. 146, p. 20) traduziu : " entendia bem o alemão ". Hoje Duitsche, em
holandês, significa alemão, mas já significou • o antigo holandês e o flamengo. Na
letra do Wilhelmus van Nassau, que vem em anexo, encontra-se : Wilhelmus van
Nassau we Benick van Duytschen Bloet ... Cf. anexo I.
(252) Nieuhof escreveu (p. 97, 1.a col., 3. § ) : Zy zullen een gladde ael by de
staert hebben. O Revmo. Frei Zacarias van der Hoeven ( ob. cit., p. 208) traduziu :
"Terão prêsa pelo rabo uma enguia lúbrica ". O tradutor inglês verteu livremente :
"They have catch'd a Mackrel, for I intend to Act the Hypocrite to the Life ”. ( p . 70 ,
1.a col. 1. § ) . Evidentemente, a tradução foi bastante livre.
148 JOAN NIEUHOF
(253) O tradutor inglês não foi fiel, ao escrever (p. 70 , 2.ª col., 1.º § ) : Salva-
dor de Sá e Benevides, who were expected with four Galleons from Rio de Janeiro,
besides some other ships ; and that 2500 Men were designed for this Expedition,
besides those already in Arms in Pernambuko, who were to be sent from Bahia,
and to be landed on the Cape of St. Austin. Comparar com o texto português e o
holandês (p. 97, 2.ª col. 1. § ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 149
C
Os holande- no Rio-Grande. Para esse fim o chefe indígena já havia reùnido grande
ses discu-
fôrça próximo a Cunhaú , principalmente depois que os portugueses co-
tem sôbre o
meteram tôda sorte de barbaridades contra os holandeses e convocaram
aproveita-
mento dos os selvagens denominados Rodelas , da Baía . Entretanto, levando em
tapuias. consideração as devastações que forçosamente acarretaria a marcha de
um povo bárbaro, através do país, julgaram de bom alvitre nada decidir
sôbre êsse ponto , até que se comunicassem com o Tenente-Coronel Haus,
a quem despacharam imediatamente uma carta sôbre o assunto.
A 7 de julho o Tenente- Coronel avisou o Conselho de que pretendia
deixar Muribeca com suas fôrças , naquele mesmo dia, e, depois de se jun-
tar ao Capitão Johan Blaer, atacar o inimigo em São Lourenço. Entre-
tanto, por outra carta datada de 16, de autoria do Capitão Blaer, o Con-
selho soube que os rebeldes continuavam muito fortes em São Lourenço e
esperavam reforços da Mata , onde haviam obrigado o povo a tomar armas
ao lado dêles . O Capitão pedia refôrço de cincoenta homens para desa-
lojá-los de lá. O Conselho resolveu, então, despachar correios tanto a
Haus e Blaer como a Haus, ordenando-lhes que reùnissem as suas tropas e ata-
Blaer têm
cassem os rebeldes próximo de São Lourenço , pois do sucesso dessa ope-
ordem de se
ração dependia, em grande parte, a conservação do Brasil holandês.
reùnirem .
No dia 7 do mesmo mês, o Conselho recebeu carta do Tenente Flem-
ming, datada de Ipojuca , na qual comunicava ter recebido informações
no sentido de que Camarão estava marchando contra êle e que duas com-
panhias já haviam atingido o Engenho Pindoba ( 256 ) . Teve então or-
dem para, caso achasse serem suficientes as provisões de que dispunha
laeus, edição latina, 1647, Iandovius, Iandovio (p . 257 ) ; edição alemã, 1659, Johann
de Wy ( p. 693 ) ; edição holandesa (VIII , p. 240 e 332 respectivamente Joan de Wy
e Jan de Wy ; edição brasileira, Janduí ou João Wy ( ?) . (VII, p. 260-261 ) ;
Marcgrave (LXX, p. 269 ) , Iandui ; Moreau ( LIX, 138, 139, 156 ) Jean Dary ; Baro
(IX, 244, 246 e outras pp. ) Iandhuy e não como afirmou Rodolfo Garcia ( XLI, nota
89, p. 309, vol. II ) , Jean Dory. Wätjen escreveu sempre Jandubi ( em várias págs.) .
Alfredo de Carvalho regista alguma das grafias, sem citar as fontes ( XX, p. 659,
nota 3 ) .
Trata-se de nome tupí de chefe tapuia das tribus Parairiús ou Ostchucaianas.
Pertencia ao denominado grupo Carirí. Aliás, quase todos os objetos dos Tapuias
eram designados com o nome da língua geral ( XXXIV, p. 42 ) . Significa, segundo
alguns escritores, ema pequena . Aliás , Batista Caetano ( III , p. 570 ) regista no
Guaraní yandú ñandú, s. aranha ; s. avestruz ; yandî = ñandû, s . aranha pequena,
aranha que faz teias nas casas. Essa tribu dirigida por Janduí usava, realmente,
peles de ema como ornamento.
(256 ) Pindora escreveu Nieuhof (p. 99, 1.a col., 3. §) . O engenho Pindoba
estava situado na freguesia de Ipojuca, e pertencia a Cosme Dias, que se exilou :
confiscado pela administração holandesa , o engenho Pindoba foi vendido a Mateus
da Costa. Era movido por meio de bois. ( XV, p . 146 ) . Em Vingbooms, encontra-se
o rio e o engenho de Pindoba ( XCVII , vol . II , mapa 45 ) . Em Barlaeus, (VIII, mapa
de Pernambuco, entre as pp. 24-25 ) , Pindoba . Em Van den Broeck, Pindova (XVI,
p. 6 ) . Segundo Mário Melo, Pindoba, afluente do Ipojuca ( LVII , p . 56 ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 151
(257) Nieuhof escreveu Ajama e Jegoaribi ( p. 99, 1.a col., últ. § ) . Em Ving
booms (XCVII, vol. II, mapa 47, Itamaracá ) , são registados o rio Angama e os
engenhos Aujama e Aujama de Baixo, e o rio e engenho Jeguaribi. Alfredo de
Carvalho regista Jaguaribe, como corr. de yaguár - -ype, no rio da onça ( p . 49 ) .
E' um braço do rio Maria Farinha, na ilha de Itamaracá. No Breve Discurso (XV,
p. 141 ) , segue-se um légua ao norte do Tapado, o Rio Doce. Duas léguas ao norte
déste rio, o rio Ajama e uma légua adiante o Iguarassú.
152 JOAN NIEUHOF
cultivasse as boas relações com os Tapuias, tendo, para tanto, enviado pre-
sentes a Janduí, chefe dos selvagens. O Conselho aprovou igual-
mente o ato do Hoek desarmando os portugueses. Na mesma data o Pa-
dre Manuel, Luiz Braz, Manuel Fernandes de Sá, Gaspar de Mendonça
Furtado e Jerônimo de Rocha, todos portugueses e habitantes do Brasil
Holandês , deram entrada a uma petição em que, alegando haver termi-
nado o prazo de seis dias estipulados na última Proclamação para que as
mulheres e filhos dos portugueses revoltados deixassem o país, solicita-
vam ao Conselho lhes fôsse permitido ficar em suas casas pelo menos
até que melhorassem um pouco os caminhos, tornados intransitáveis pelo
transbordamento dos rios. Todavia, considerando que os rebeldes por-
tugueses forçaram o povo, por meio de ameaças e de outras maneiras vio-
lentas, a tomar armas contra o Govêrno, a petição foi indeferida.
PROCLAMAÇÃO
Mais ou menos pela mesma época, cêrca de 1.000 índios, sendo 369
homens e os restantes , mulheres e crianças , refugiaram-se na Ilha de "
Itamaracá, onde estavam sendo mantidos com as reservas alí existentes.
Resolveu então o Conselho, a 21 de julho, para lá enviar o Sr. Listry,
como administrador, a-fim-de ver se conseguia que os índios pudessem
providenciar o seu próprio abastecimento, com víveres provenientes das
respectivas aldeias , aliviando assim a Companhia dêsse encargo. Até
então, tudo corria em paz em Itamaracá, Goìana e Paraíba , graças à
dedicação do Sr. Paulus de Linge, Governador desta última . Logo que a
chama da rebelião irrompeu em Várzea, Ipojuca e Olinda, o Conselho ,
já de sobreaviso com relação a Paraíba, onde se suspeitava que havia
diversos simpatizantes dos rebeldes , para lá enviou um alto funcionário
(260) O tradutor inglês não foi fiel ao texto holandês, pois omitiu que o Sr. Johan
Hek houvesse enviado Ley. Confronte-se a p. 103, 1.ª col . , 3.º § da ed . holandesa, com a
p. 74, 2.a col ., 2.° § da ed. inglêsa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 157
portugueses, nos engenhos de Cunhaú ( 261 ) que se achavam no rol dos portugueses .
12
158 JOAN NIEUHOF
A primeiro de julho, Gonçalo Cabral de Caldas, que, instigado por Dois portu
João Fernandes Vieira, havia assumido a chefia dos rebeldes de Goìana , gueses con
denados à
foi condenado à morte pelo tribunal de Justiça. Idêntico destino aguar
morte.
dava Tomaz Pais, morador de Tijipió, que tinha tentado congregar tro
pas para João Fernandes Vieira ( 264 ) . No mesmo dia o Grande Con
é inteiramente arbitrária. Assim é que êle escreve : "Bery Santantan ", enquanto
que o trecho de Nieuhof está assim redigido : aen hunne legerplaetse quam, de welke
een hooge, steile en rontom getrencheerde of beschanste en gesterkte bergh was, SAN
TANTON by d'inwoonders, en by de Portugesen REAEL NOVO genoemt : (p. 104,
2. col., 3. § ) . Convém indicar que o próprio texto citado de Moreau, talvez por êrro
de impressão, está, também, truncado.
Quanto ao número de feridos e mortos de ambos os lados, a variação dos cronistas
é impressionante. Segundo Calado ( XVII , p. 204, 1.ª col. ) , as fôrças holandesas eram
constituídas de 1500 soldados e 800 petiguaras, enquanto que os portugueses conta
vam com 1200 soldados e apenas duzentas espingardas. ( Na p. 203, fala em mosque
tes e, na p. 204, por duas vêzes, em espingardas) . Os outros soldados estavam
armados com dardos, facões, espadas, rodelas e paus tostados. Oito foram os mortos
e trinta e dois os feridos, dos quais três vieram a morrer, sendo de 254 as perdas ho
landesas - Rafael de Jesús ( XLIV, p. 292 e 308 ) calcula as fôrças holandesas em 1500
soldados e 800 indígenas, e as restauradoras em 1300 e 100 ( p. 308 ) , escravos e índios,
também armados com 200 espingardas e outras armas, como cutelos, paus, espadas en
ferrujadas " que podiam maguar, mas não feriam ". Foram de 370 as perdas sem contar
os feridos, entre os holandeses, e 28 os mortos e 37 feridos entre os nossos, exclusive ne
gros e índios . Do lado holandês, Mattheus van den Broeck calcula em 200 homens per
didos, entre os quais o Capitão Andries Fallo, Capitão Sickema, Tenente Hoyekesloot,
Tenente Jacob Hamel e Tenente Schot. No Diário ou Breve Discurso sobre a
Rebeldia, XXIX, n. 127) calcula-se entre os holandeses de 30 a 40 mortos e 163
feridos. Além dos citados por Mattheus van den Broeck ( XVI ) , dá, também, o Capitão
André van Loo, de Dort, e o Alferes Dorville, e, entre os portugueses, 460 mortos e
6 feridos, dentre os seus principais. - Moreau (LIX, p . 71 ) fala em 100 mortos.
Dentre os historiadores modernos, o Barão de Rio-Branco ( LXXV , p. 437 ) aceitou o
cálculo de Calado, quanto aos mortos e, quanto aos feridos, avaliou-os em 37. Fi
nalmente, Varnhagen ( LXXIII , p. 279) foi o primeiro a mostrar os exageros a que
se entregaram os cronistas portugueses, entre os quais Calado, que avaliou as perdas
dos holandeses em 350 homens.
Essa primeira luta tem duas vantagens principais : em primeiro lugar, propor
cionar armas de fogo e munições tiradas aos inimigos mortos ( Capistrano de Abreu,
(I, p. 105 ) ; o que é exato, pois Calado queixava-se da falta de armas entre as fôrças
restauradoras e lamentava que o inimigo pelejasse com palanquetes e balas enramadas
e muitas delas ervadas, segundo se viu, porque nas bolsas dos mosquetes, que os
mortos deixavam se achou toucinho ( XVII, p. 203, 1.ª col . ) ; e Rafael de Jesús ( XLIV,
p. 306) escreveu : não houve soldado que se não armasse com escolha e índio que se
não vestisse com vaidade. Em segundo lugar, conforme afirma Handelmann ( XL, p.
232) : de fato era enorme o feito ; não sòmente o exército dos patriotas havia susten
tado com sucesso a prova de fogo e imposto a realidade da revolução, mas, também
por seu triunfo êle ficava senhor do interior do país e as fôrças militares holandesas
tinham que se recolher absolutamente às suas praças fortificadas.
4
(264) O tradutor inglês escreveu 1.º de agôsto, enquanto no original está 1.º de
julho. Vide p. 104, 2.ª col. , últ. § da ed. holandesa e a p. 75, 2.ª col., 2.0 § da ed.
inglêsa .
Nieuhof escreveu Tienpio, ( p. 104, 1.ª col. ) . Trata-se de Tijipió. (Cf. Varnha
gen, LXXII, 3.º vol. , p. 28) .
Nieuhof escreve Lagomar, S. Alexo, Porto Dosser, Nambous, ou Lagamar de
Marakaipe ( p. 107, 1. col. , 3.º, 4.º e 5.º §§ ) . Na carta escrita por Antônio Teles da
Silva, datada da Baía, de 21 de julho de 1645, cuja tradução do holandês foi publicada
160 JOAN NIEUHOF
na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern. , n.º 34, 1887, p. 82-84, se encontram as mes
mas informações, o que faz supor que Nieuhof haja escrito baseado nesta carta, que
foi apreendida pelo Almirante Lichthart, quando derrotou J. Serrão de Paiva. Na
mesma revista (p . 74-98 ) , encontram-se, também, tôdas as outras cartas apreendidas.
A carta a que acima nos referimos diz : ... tratará de dar desembarque à gente, com
aviso aos pilotos mais práticos, para maior segurança em Una, Lagamar ou Taman
daré, que fica 3 léguas ao sul da ilha de S. Aleixo. Não vindo a tomar os referidos
portos, tomará o de Fernambuis ( ? ) ou o lagamar de Maracaípe, que demora ...
(em branco ) léguas ao norte da dita ilha de S. Aleixo ; e se, tendo feito tôda a neces
sária diligência, não puder tomar nenhum dos mencionados portos, buscará o das
Galinhas, procurando em todo o caso desembarcar a gente entre Barra Grande e o
pórto das Galinhas, com a recomendação de que mui atentamente vigiará que os navios
não sejam desviados dessas paragens por correntes e ventos , e acontecendo que à
tarde ou à noite cheguem diante da Barra Grande lançarão âncoras, para trazerem
a terra sempre bem reconhecida.
No "Breve Discurso sôbre as quatro capitanias conquistadas " ( XV, 140-1 ) , men
cionam-se, também, o pôrto de Barra Grande, Lagamar e Maracaípe.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 161
riam nos atacar sem sua aprovação ? Também , sempre foi nossa opinião
- à vista da atual situação de incerteza , reinante em Portugal e da alian-
ça existente entre o Rei e os Estados da Holanda , contra a Espanha
que, antes de se convencer da possibilidade de conquistar todo o Brasil
Holandês, o Rei jàmais consentiria em que os atos dos capitães rebeldes
e os socorros a estes prestados tivessem o seu beneplácito ostensivo ; e isso
a-fim-de evitar que a quebra da confiança e todo o seu cortejo de conse-
quências desastrosas desabasse, um dia, sôbre sua cabeça. Desde então
as nossas cogitações se vêm realizando diàriamente, pois, pela resposta
dada à nossa carta e que anexamos à presente, o Governador da Baía,
Antônio Teles da Silva, nega ter tido conhecimento e muito menos coni-
vência na conspiração ; lança tôda a responsabilidade dos acontecimentos
sobre os cabeças, que recusaram acatar suas ordens, e dispõe-se a enviar
emissários para tentar o apaziguamento dos ânimos revoltados. Pro-
põe-se, ainda, o Governador a subjugá-los pela fôrça, obrigando-os a de-
por as armas, caso se recusem a obedecê-lo. Entretanto, o relatório ela-
borado e assinado pelos srs. Van der Voorde e Hoogstraeten, permite-
-nos fazer idéia de quão pouco se harmonizam os protestos formulados
pelo Governador, no sentido de pôr têrmo à rebelião, com as suas verda-
deiras intenções. Nesse documento encontram-se as seguintes palavras
textuais de Antônio Teles da Silva : que " os índios e negros foram dis-
persados por ordem expressa de Sua Majestade, o Rei de Portugal ". Os
inclusos extratos das várias cartas remetidas da Baía e apreendidas aos
respectivos correios, pelas nossas fôrças, em Sergipe, demonstram clara-
mente que diversos baianos , entre os quais se conta o próprio bispo, já,
em maio último, tinham conhecimento das intenções de João Vieira e
seus apaniguados. Adicionem- se a isto as declarações feitas e assinadas
pelo Capitão Diederik Hoogstraeten, com respeito às propostas a êle fei-
tas em particular, quando lá esteve a serviço da Companhia, na qualidade
de um de nossos deputados , declarações essas que desmentem categòri-
camente a resposta que nos dirigiu o Governador e se terão desvendados
os seus secretos intentos. Portanto, tomando como advertência os fatos
expostos ― pois, enquanto os rebeldes recebem suprimentos constantes
da Baía, de nossa parte só nos é lícito esperar um progressivo enfraque-
cimento -
achámos conveniente determinar que o Sr. Balthazar Van
der Voorde, Conselheiro de nosso Tribunal de Justiça, aí fôsse a-fim-de
relatar pessoalmente a Vs. Excias . membros do Conselho dos XIX , de
maneira mais ampla do que o poderíamos fazer por escrito, a deplorável
situação em que nos achamos . Estamos certos de que Vs. Excias. se
decidirão a nos enviar urgentes socorros a-fim-de nos habilitar a restabe-
162 JOAN NIEUHOF
As instru
O Almirante português levava instruções no sentido de fazer sua
ções do Al
mirante por esquadra rumar da Baía para Pernambuco, mantendo- se a uma dis
tuguês. tância de 20 a 30 milhas de terra. Atingindo os 10 graus , deveria aproxi
mar-se do litoral, e , se verificasse que o vento soprava forte, do Sul,
antes de atingir a altura predeterminada, deveria ter muito cuidado pa
ra não ultrapassar aquêle ponto à noite . Depois de inspecionar a re
gião e de se aconselhar com seus melhores pilotos , deveria tentar
o desembarque de seus homens, nos lugares mais seguros que conse
guisse encontrar pelas vizinhas : Una, Lagamar ou Tamandaré, três
milhas ao sul da Ilha de Santo Aleixo. Se , entretanto, não pudesse fran
quear nenhum dêsses portos , o Almirante deveria entrar em Dosser, Nam
bour ou Lagamar de Maracaípe ( 265 ) , situado duas milhas ao norte de
(265 ) O tradutor inglês escreveu fins de julho , (p . 77 , 1.ª col., 3.° § ) ; vide
p. 107, 1. col., últ. § da ed. holandesa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 163
Santo Aleixo. Se, porém, nem mesmo êsses portos conseguisse alcançar, a
esquadra portuguesa deveria apoderar-se do Pôrto-das-Galinhas e desem
barcar seus homens entre aquêle pôrto e Barra Grande. Depois de dei
xar em terra as tropas com víveres e munições , o Almirante deveria
então conduzir sua esquadra para a Baía de Pernambuco a-fim-de en
tregar pessoalmente a carta do Governador aos Senhores do Grande
Conselho.
Os portu
Partiu, pois, a esquadra portuguesa da Baía , pelos fins de julho ou gueses zar
princípios de agôsto e, alguns dias depois, chegou à Baía de Tamandaré pam da
entre os rios Una e Formoso, cêrca de quatro ou cinco milhas além de Baía.
Santo Aleixo e Serinhaém . Tão logo lançaram âncora, a 28 de julho, o
Coronel Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros desembar
caram 1800 ou 2 000 soldados de infantaria entre os quais se achavam
muitos oficiais reformados. A fôrça trazia grande quantidade de ar
mas, munições e tudo o mais que era necessário.
Entretanto, no dia seguinte, tendo perdido de vista os navios por Rebate falso
no Recife.
tugueses, vários comandantes de pequenas embarcações que se tinham
aproximado da frota, no alto mar, informaram tratar-se de grandes na
vios mercantes que , impelidos por forte vento Norte, haviam se aproxi
mado de terra, mas que levavam a direção de Portugal .
(266 ) O tradutor omitiu 27 ( Cf. p . 77, 2.ª col., últ. § da trad. inglêsa, com a
p. 108, 1.a col., 1.0 § da ed. holandesa ) .
(267 ) Passo era um armazém ou trapiche de recolher gêneros, muito comum
na época colonial. Sobre sua significação e os vários Passos existentes, vide " 0
Fasso do Fidalgo ", pelo Dr. F. A. Pereira da Costa, in Rev. do Inst. Arqueol. e Geog.
Pern., vol. 10, 1902-1903 , n.º 56, p. 53-74 e 171-173 e LXXVII , nota n.º 11 , p. 372, Cf.
Diálogos das Grandezas do Brasil, introd . de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo
Garcia. Publicação da Academia Brasileira de Letras, 1930 , Rio, Of. Indústrias
Gráficas, nota 14, p . 168.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 165
(268) O tradutor inglês escreveu 14 de agosto. Vide p. 78, 2.a col., 2.0 § da
ed. inglêsa e p. 108, 2. col . , 7.0 § da edição holandesa.
(269) Esta carta se encontra na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887.
vol. 6, n.º 34, p. 130-131.
166 JOAN NIEUHOF
De Vs. Excias.
Fiel Servidor,
a) Antônio Teles da Silva
Baía, 21 de julho de 1645.
Fiel Servidor,
a) Antônio Teles da Silva
Baía, 22 de julho de 1645.
(270 ) Esta carta se encontra na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,
vol. 6, nota 34, p. 131-132 . Em Nieuhof, a carta está datada de 22 de junho de 1654
( p. 109, 2.a col. ) , enquanto que na citada cópia da Rev. está 21 de julho de 1645.
Quanto ao ano, trata-se, evidentemente, de êrro de impressão.
(271) Esta carta encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,
n. 35, vol. 6, p . 37-38.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 167
Fiel Servidor ,
a) ANTÔNIO TELES DA SILVA
Baía, 25 de julho de 1645.
sua carta S. Excia . o Sr. Antônio Teles da Silva que deu instruções ao Sr.
170 JOAN NIEUHOF
(272) O trecho da tradução portuguesa que começa : "Já que os nossos "...
até expulsá-lo ou conquistá-lo ", foi traduzido diretamente do holandês, pois o
tradutor inglês o omitiu. Cf. p. 112, 2.ª col., últ. § e 113, 1.ª col., 1.º § da ed. holan-
deas e p. 81 , 1.ª col., 1.° § da ed. inglêsa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 171
Pela manhã de 14, pudemos ver que tôda a esquadra se havia feito A armada
ao mar, sendo que boa parte já estava fora do alcance visual . Ora, sa portuguesa
deixa o
bendo-se que os dois barcos que transportavam os nossos e os dois depu
pôrto.
tados portugueses dificilmente conseguiriam alcançar os navios da es
quadra e que os nossos deputados , ao voltar, deveriam informar o nosso
Almirante, a bordo de sua nau capitânea, se o almirante português havia
consentido em mandar o Sr. Jerônimo Serrão de Paiva ao Recife, a-fim -de
expor as suas instruções ao Grande Conselho (o que tinha agora motivos
de sobra para crer que não faria ) , êste despachou ordens imediatas ao
Almirante Lichthart para dar todo pano aos navios sob seu comando, no
encalço dos portugueses, não só para observar os seus movimentos como
também para tentar aproximar-se, com o navio capitânea, do barco em
que viajava o dito Jerônimo Serrão e pedir-lhe que voltasse ao Recife
a-fim-de tratar pessoalmente com o Conselho a respeito das instruções
que trazia. Entretanto, depois de madura deliberação, e considerando o
modo de agir dos portugueses como mero pretêxto , o Conselho expediu
ordens ao Almirante Lichthart, para deter todos os navios portugueses
que conseguisse alcançar, tratando-os , de futuro, como a inimigos.
A 28 de agosto, o Conselho foi avisado por carta, que do Forte de Carta do
Santa Margarida, no Rio- Grande, lhe enviou o Governador Linge, em Rio-Grande
ao Conselho.
data de 24 ( 273 ) , que 12 navios inimigos , depois de desembarcar fôrças
próximo a Tamandaré, entraram na baía de Traìção e que, de acordo
com as declarações de certos prisioneiros portugueses, de bordo da frota
lusa, pretendiam êles desembarcar também aí algumas fôrças , contanto
que pudessem se reùnir aos rebeldes da Mata ; se estes, porém, não vies
sem ao seu encontro, ditas fôrças voltariam para a Baía. O Sr. Linge
teve, então, ordens de trazer tôda a tropa que conseguisse reùnir, quer
fôsse constituída por soldados , tapuias ou brasileiros , a-fim-de evitar o de
sembarque dos lusos e sua junção com os rebeldes, naquela Capitania.
O outro ponto também debatido foi sôbre a conveniência de enviar
uma flotilha sob o comando do Almirante Lichthart, em perseguição da
esquadra portuguesa, para atacá-la . Depois de várias considerações , con
cordou-se em esperar até que todos os nossos navios estivessem aptos para
a empresa, suprindo-se com operários do Recife a falta de marujos , de
maneira a tornarmo-nos tão fortes quão possível, no mar.
Nesse ínterim, o Almirante Lichthart fêz-se ao largo, a 1.º de setem
bro, com quatro navios, um iate e uma fragata ( 274 ) . O Almirante
(273) O tradutor inglês escreveu : em data de 20, ao invés de 24. Cf. p. 113 ,
2. col. § da ed. holandesa e p. 81, 2.a col. 2. § da tradução inglêsa.
(274) O tradutor inglês omitiu uma fragata. Cf. p. 114, 1.a col., 1.0 § da ed.
holandesa e p. 81, 2.a col. últ. § da ed. inglêsa
172 JOAN NIEUHOF
(275) O Forte dos Cinco Bastiões é o de Frederico Henrique. Cf. Breve Dis
curso, ( XV, p. 182) .
(276) Segundo Moreau, ( LIX, p. 82 ) as perdas portuguesas foram de 600 a
700 homens. Calado ( XVII, p. 234) , consigna a perda de 100 pessoas sòmente e
procura justificá-la dizendo que os holandeses não mataram a todos, senão que
deitando-se a nado, sem saberem nadar, se afogaram. Segundo o Breve Discurso
sôbre a Rebeldia ( XXIX , p. 136-7 ) , os holandeses tiveram 3 mortos e 2 feridos . O
que é importante, como resultado da luta é que, a bordo dos navios, acharam_os
holandeses correspondência do Governador Geral para D. João IV e epístolas do Rei
ao seu representante na Baía, das quais claramente se inferiu que um e outro não
só tinham perfeito conhecimento do plano da insurreição pernambucana, como, até,
desde o início, haviam nela influído. ( XCVI , p. 240) .
13
174 JOAN NIEUHOF
9 de setembro de 1645.
Fiel servidor de Vs. Excias.,
a) CORNELISZ LICHTHART
Sendo voz corrente aquí no Recife que Vs. Ss . dizem, aí, que o Al
mirante holandês Jan Cornelisz Lichthart, antes da última batalha, fran
queou a barra hasteando bandeira branca e, surpreendendo os nossos,
matou muitos deles a frio, julguei ser meu deyer informá-los como as
cousas realmente se passaram. De fato, dois dias antes da refrega, apa
receram à entrada da barra um iate e uma barca, com bandeira branca,
contra os quais um de nossos navios menores fêz três disparos de peça .
Quando, porém, o Almirante ingressou na baía, levava hasteadas, tanto a
bandeira holandesa como a vermelha. Nem é verdade o que se diz sôbre
o massacre de portugueses, a frio . Nem um único homem foi abatido a
bordo de meu navio a não ser durante a luta. Cinco ou seis dêles, que
se haviam escondido no tombadilho inferior, foram aprisionados e um
soldado gravemente ferido foi recomendado para ser tratado com todo o
cuidado possível. Também não se deu uma cutilada sequer depois da
capitulação do navio e todos foram tratados de acordo com sua hierarquia
e com as circunstâncias do momento . A razão pela qual tão poucos foram
então indultos, é que quase todos se lançaram ao mar, em primeiro lugar
os marinheiros e depois os soldados. Mesmo de espada em punho não
conseguí evitar que escolhessem entre morrer afogados e enfrentar o pe
rigo a bordo. Duas ou três pessoas de destaque, vendo-me mal ferido,
deram-me clemência, sem me conhecer e sem que eu lha pedisse . Aí está
a prova convincente de que não recusariam clemência a todos quantos
a pedissem. Sinto-me obrigado a dizer que não tenho palavras com que
traduzir minha gratidão para com a humanidade e generosidade do Al
mirante. Além disso , é fora de dúvida que fomos nós quem primeiro
atirámos contra éles, tanto de bordo de nossos navios, como de nossas
baterias instaladas na costa. Dou-lhes, acima, um relato preciso de tôda
176 JOAN NIEUHOF
a refrega, da qual fui testemunha visual, e, por isso , não tenho dúvida
de que Vs. Ss. me darão todo crédito.
(277) O tradutor inglês escreveu 20 de setembro. Cf. p. 117 , 1.a col., 3.° § da
ed. holandesa e p. 84, 1.ª col . 2.º § da trad. inglêsa.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 177
Deus proteja a V. S.
Em nosso Quartel de São João na Várzea , 29 de setembro de 1645.
(278) E' curioso que esta escrito 29 de setembro de 1654 ( p. 118, 1.a col., linha
34) . Não era possível tal data, devendo ser 1645. Na errata está, novamente, 1654
(p. 240) .
178 JOAN NIEUHOF
Vim ter a êste Engenho por ordem de Martim Soares Moreno e An-
dré Vidal de Negreiros, nossos governadores, que atualmente estão muito
ocupados com o desembarque de suas tropas. Enviaram-me à-frente,
a-fim-de evitar qualquer mal-entendido entre nós e Vs. Ss. Se nesse in-
terim Vs. Ss. se decidirem a reùnir suas fôrças às nossas, ou com elas se
retirarem para outro lugar, poderão fazê-lo com tôda segurança, dispon-
do-me desde já a fornecer licença para tal fim, pois que os referidos go-
vernadores vêm com a intenção de pôr fim à presente insurreição.
Ao que nos parece, Vs. Excias. não estão ao par das intenções com
que viemos, motivo pelo qual não nos surpreende encontrá-los em atitu
de defensiva. O Grande Conselho do Brasil Holandês enviou uma em
baixada ao nosso Governador Geral de Terra e Mar, Antônio Teles da
Silva, pedindo que S. Excia. fizesse uso de sua autoridade e força no
sentido de abafar a insurreição nesta Capitania. Tendo sido imediata
mente atendido esse pedido, a-fim-de auxiliar o Conselho e libertar os
portugueses das violências cometidas contras suas famílias e proprieda
des, tivemos instruções de desembarcar as nossas fôrças junto ao Enge
nho Rio Formoso. Isso feito, e prontos como estamos para marchar em
direção ao interior do país, achamos conveniente pô-lo ao par das nos
sas intenções, o que, provavelmente, já chegou ao seu conhecimento, pois
que já foram publicadas em diversos lugares, através de nossas proclama
ções das quais anexamos uma pedindo-lhe que mande afixá-la à porta da
Igreja de Serinhaém. Desejamos, portanto, que V. S. deponha as armas
e deixe de lado qualquer suspeita, certos de que, de sua parte, teremos
recepção favorável, pois, da nossa, tudo faremos a-fim - de restabelecer a
tranquilidade entre os portugueses revoltados , por todos os meios suasó
rios de que pudermos lançar mão. Asseguramos-lhe, entretanto, que, se
V. S. se recusar a vir ao encontro de nossos desejos , causará não pequeno
desprazer ao Grande Conselho do Brasil Holandês.
Deus proteja V. S.
(279) O tradutor inglês escreveu 30 brasileiros ( Cf. p. 121, 1.ª col., da ed. ho-
landesa e p. 87, 1.ª col. da trad. inglêsa ) . Segundo Varnhagen, (XLI, p. 27) , eram
62 os holandeses que se renderam e 49 os índios que foram enforcados. Mattheus van
den Broeck (XVI, p . 10 ) fala em 39 indígenas, e afirma que de acordo com o depoì-
182 JOAN NIEUH OF
que pudessem permanecer nos seus engenhos e nos seus bens ( 282 ) .
A-pesar-do seu gesto, foi obrigado a responder a conselho de guerra. O
oficial que conduziu a guarnição ao Recife entregou ao Conselho, no
mesmo dia, uma carta de Martim Soares Moreno e André Vidal de Ne
greiros, datada de 8 de agosto, dizendo que tinham vindo para o Brasil
Holandês, por ordem expressa do Governador da Baía , e exprobando as
violências que diziam ter sido cometidas pelos holandeses contra os por
tugueses . Essa carta capeava outra do Governador, datada de 30 de
julho, contendo uma proclamação a ser publicada na Capitania de Per
nambuco, em que se intimavam todos os habitantes a comparecerem pe
rante êles, dentro do prazo de oito dias, a-fim-de receber instruções para
o restabelecimento da tranquilidade entre o povo. Era o seguinte o teor
da carta de Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros ( 283 ) :
(282) O trecho dessa tradução, que começa " Roelant de Carpentier... ” até “.
nos seus bens " está omitido na tradução inglêsa ( Cf. p . 121 , 2.a col . últ. § e p. 122,
1.ª col . 1.º § da ed. holandesa e p. 87, 1.a col. da ed. inglêsa ) .
Conforme se lê no Discurso sobre a Rebeldia, ( XXIX , p. 176 ) :
Roeland Carpentier, possuidor do engenho de Rio Formoso, fêz acôrdo com os
portugueses e ficou no mesmo engenho sob a salvaguarda dêles ; mas os portugue
ses, querendo fazerem-se senhores de um tão bom esbulho, acusaram-no (Deus sabe
com que pretexto ) de traição e sem forma de justiça o degolaram .
(283 ) A cópia do original português encontra -se publicada na Rev. do Inst.
Arqueol. e Geog. Pern., 1887 , n. 35, vol . 6, p. 38-41 . Como afirmou Varnhagen
(LXXIII , p. 290 ) , a grande correspondência trocada entre o inimigo e André Vidal
de Negreiros demonstra que os holandeses compreenderam que êle era o verdadeiro
diretor da guerra.
184 JOAN NIEUHOF
mos, em nome de Deus e Dom João IV, que Deus o guarde, bem como em
nome dos Estados Gerais cujo poderio queira Deus aumentar, que nada
mais desejamos que a continuação da paz firmada , desejo êsse que sem
pre norteará tôdas as nossas ações. Trouxemos conosco uma cópia au
têntica do tratado de paz, para servir de justificativa perante todos os
príncipes da Europa. Para conhecimento de Vs. Excias ., anexamos cópia
da Proclamação que publicámos quando desembarcámos nesta Capitania.
PROCLAMAÇÃO
(285) O tradutor inglês escreveu 38 voluntários ( cf. p . 125, 2.ª col. , 1.º § da
ed. holandesa e p. 89, 2.a col . 3. § da ed. inglêsa) .
188 JOAN NIEUHOF
(286 ) Foi Belchior Álvares quem emprestou a Maurício de Nassau o boi que
serviu para as festas da inauguração da primeira ponte no Recife. Um dos diver-
timentos foi o do boi voador. Calado (XVII , 131 ) . Em Barlaeus, ( VIII , mapa
de Pernambuco, entre as p. 16-17 ) , regista-se um curral de Belchior Álvares e (no
mapa de Cirii, entre as p. 8-9) mais dois currais. Em Vingbooms ( XCVII, mapa 86) ,
na fronteira de Pernambuco com Sergipe, à margem do Rio São Francisco, regis-
ta-se a propriedade de Belchior Álvares. Segundo o Relatório sôbre Alagoas : " Bel-
chior Álvares disputou com Gonsalves da Rocha as terras ao sul do rio São Mi-
guel, nas Alagoas , e a questão compôs-se do seguinte modo : Belchior possuìria uma
légua em quadro, sendo a primeira barra para cima e Gonsalves Rocha quatro léguas
ao longo do rio até a igreja de São Miguel ". ( XCV , p . 161 ) .
( 287 ) Nieuhof escreve Algodais ( p . 126, 1.a col. ) . Algodais , como regista o
Breve Discurso ( XXXII , p. 147 ) , estava situado na freguesia do Cabo de Santo
Agostinho (Barlaeus, VIII, mapa de Pernambuco, entre as p. 24-25 ) , e pertencia
a Miguel Pais. Tendo sido confiscado, mas não vendido, porque nêle permanecera o
exército por ocasião do cêrco do Cabo, sofreu grandes estragos (XV, p . 147 ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 189
14
190 JOAN NIEUHOF
dição (XVI , p. 12 ) , foi quem melhor relatou a conferência havida entre os vários
oficiais sôbre dever-se ou não entregar o forte. Dentre estes, três não aceitaram
a capitulação : Isaac Zweers, Johannes Brookhuizen e Abraham van Milligen, sen
do que Klaes Klaesz aceitou a rendição e mais tarde fugiu com 63 soldados.
O Diário ou Breve Discurso ( XXIX, p. 134 ) , depois de reconhecer a im
portância do Pontal, pois se os portugueses houverem o Pontal, terão um pôrto
livre, e poderão carregar cômodamente de açúcar os seus navios, declara que a
11 de setembro recebeu-se a notícia de que a 5 do mesmo mês, Hoogstraeten en
tregara o forte.
Moreau ( LIX , p. 82 ) calcula em 1800 libras e mais o cargo de coronel para
Hoogstraeten e 30 libras para os 650 soldados do forte ; Handelmann ( XL, p. 235 )
calcula em 9.000 cruzados para os quais Vieira contribuíu com 7.000. Segundo
Rafael de Jesús (XLIV, p. 349 ) , eram 275 os rendidos ; Varnhagen ( LXXII , p.
31, vol . 3.º) diz que a entrega do forte ocorreu a 3 de setembro e conta que
foi imposta aos moradores a soma de 4.000 cruzados, à qual se juntou outra igual
mandada da Baía pelo governador geral. Calado ( XVII , p. 240 e 251 ) confirma
o que escreveu Varnhagen, dizendo que João Fernandes Vieira impôs uma finta
para a sustentação da guerra, contribuindo cada um com determinada quantia;
declara que eram 275 soldados, aos quais se deu quatro mil réis por primeira
paga. Os nove mil cruzados estabelecidos no acordo com o fito de pagar os sol
dos devidos aos soldados pela Companhia não parece que tenham sido recebidos
por estes e sim por Hoogstraeten. Permitiu-se, também , que os que quisessem
tomar armas a favor dos restauradores assentassem praça.
Rio-Branco calcula ( LXXV , p. 242 ) em 275 oficiais , declarando certamente
que recebera Hoogstraeten o título de mestre de campo e não de Coronel, como
escreveram Nieuhof e Moreau, pois o cargo de Coronel só foi criado pela re
forma de 15 de novembro de 1707, quando desapareceram os lugares de mestre
de campo e sargento-maior.
Nieuhof equivocou-se outra vez ao falar em Regimento Holandês, pois se trata
de um têrço de estrangeiros, não só de holandeses, cuja chefia foi dada ao mes
tre de campo Hoogstraeten.
(289) A cópia do original português encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., 1887 , n. 35 , p. 45-47.
O tradutor inglês escreveu (cf. p . 90, 2.a col . da ed. ing. e p. 126, 2. col. da
ed. holandesa ) " por carta datada de 26 de agosto de 1645 " , onde estava " 13 do
corrente mês " ; ainda assim continua errado, pois conferindo-se com o referido
original, acima citado, verifica-se que a data é " 3 do corrente mês " (setembro,
pois a carta está datada de 6 de setembro) .
Nieuhof escreveu Damiano de Lankois ( p. 127, 1.a col. , 5.° § ) ; na referida
cópia da Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., está conforme esta tradução.
Sôbre o nome Capivara tudo faz crer tratar-se de índio ( cf. Varnhagen, LXXII,
p. 33, tomo III ) .
Sobre os 4.000 ducados levantados por João Fernandes Vieira, cf. nota 288.
O tradutor não foi fiel ao escrever o navio Bispo ( cf. p. 127 , 1.ª col ., 7.° §,
da ed. holandesa e p. 91 , 1. col. 4. § da ed. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 191
nheiro que V. Excia. nos enviou, e o vinho, com que fui particularmente
presenteado, serviu para celebrar a nossa alegria, em companhia dos
amigos.
Fizemos um excelente negócio, pois , além da importância da posição,
conseguimos para nós os melhores soldados do inimigo . O exemplo ser
virá também para indicar aos demais qual o caminho a seguir. João
Fernandes Vieira conseguiu, no sábado, levantar a soma de 4.000 duca
dos para nosso uso , não, porém, sem o emprêgo da fôrça . Esse dinheiro
veio, entretanto, em muito boa ocasião, pois tendo efetuado a transação,
temos que melhorar a fortificação da praça, cujo pôrto não é inferior
ao do Recife. Não me alongarei, porém, em pormenores enfadonhos
sobre esse ponto.
Senhor.
Deus guarde V. S.
(291 ) O tradutor inglês escreveu Pontal ( Cabo ) ( cf. p. 128, 2.a col. da
ed. holandesa e p. 92, 1.a col. da ed . inglêsa ) . A cópia do original português en-
contra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n. 34, p. 80-81 . ΑΣ
está, também, Forte Nazaré.
Na mesma revista existe, também, cópia de uma carta escrita de Pontal, da-
tada de 6 de setembro de 1645 e assinada por Martim Soares Moreno e André
Vidal de Negreiros ; o conteúdo da carta anterior dada por Nieuhof está muito
truncado (cf. p. 81-82, da citada Revista ) .
194 JOAN NIEUHOF
em tempos como estes. Fizemos uma cópia fiel desta carta em nosso
diário, para que mais tarde nos sirva de documento.
Deus guarde V. S.
Pontal do Santíssimo Sacramento, 6 de Setembro de 1645.
MARTIM SOARES MORENO e
ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS.
Espero que esta o encontre com saúde como o deseja êste seu fiel
amigo. Acho-me em situação regular em Pontal de Nazaré que, depois
de um cerco de 20 dias, capitulou com relativa facilidade , porquanto
os que o comandavam eram casados com mulheres portuguesas e tinham
propriedades nas circunvizinhanças. O Capitão da praça foi o primeiro
a opinar pela capitulação. Conseguiram obter as condições que pre
tendiam, além de uma gratificação de 4.000 ducados. Encontrámos no
forte 300 dos melhores soldados holandeses e doze canhões de bronze
dos quais quatro de quatrocentas e vinte libras ――― e provisões por
três meses, de maneira que, se não tivéssemos feito acordo, a emprésa
ter-nos-ia custado grande número de homens. Entretanto, capturámos
a praça com a perda de um único homem, morto por um tiro acidental
de canhão. Apreendemos, também, uma embarcação que estava atirando
de Pontal antes da capitulação , na qual se achavam várias centenas de
homens que se dirigiam para o Recife. O comandante da embarcação
bem como outro senhor de Serinhaém (ambos magistrados nas suas
respectivas localidades) entregámo-los aos moradores do lugar que logo
os mataram, a despeito de ser um dêles casado com mulher portuguesa ,
pois, havendo êles dito que ainda tinham esperanças de lavar as mãos
em sangue português, as mulheres se exasperaram a tal ponto que êles
foram logo executados. Quase todos os prisioneiros estão detidos em
Santo-Antônio, para de lá serem remetidos para a Baía . Entretanto,
muitos dentre eles estão trabalhando para nós. Calculamos que o
5 de setembro de 1645.
GASPAR DA COSTA ABREU
(293) Sôbre êsse reduto, cf. Calado, ( XVII ) p. 246, 1.a col. e 2.ª col., 1.º §.
Nessa luta, João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros foram acom
panhados por Diederik Hoogstraeten e sua companhia de estrangeiros. Estava êsse
reduto localizado junto à vila de Olinda, a um tiro de mosquete, no meio de
uma restinga de areia, que divide a costa do mar das águas do Rio Beberibe, no
caminho por onde se serve a gente que vai da vila para o Recife. Está a uma
légua do Recife e se chama Forte de Santa Cruz ; chamava-se, em outro tempo,
a guarita de João de Albuquerque.
Foi Diederik Hoogstraeten quem se dirigiu ao Sargento que se rendeu com 60
soldados. Cf., também, Rafael de Jesús (XLIV, p. 345 ) e nota n. 51.
(294) O tradutor inglês escreveu 13 de agosto ( cf. p. 93 , 1.a col. , 2.0 § da
ed. inglêsa e p. 129, 2.a col. últ. § da ed. holandesa) .
196 JOAN NIEUHOF
13 de agosto de 1645.
ANDRÉ VIDAL
Somente na noite anterior à derrota, foi que Haus recebeu notícias, Novo rela-
por um negro prisioneiro; de que o inimigo partira de Muribeca com nu- to da derro-
ta de Haus,
merosa tropa. Na manhã seguinte, uma das nossas sentinelas informou
pelo Capi-
o Coronel que o inimigo estava atravessando o rio. Mais tarde um pouco tão Jacobsz.
o peão do Coronel , que fôra dar de beber a seu cavalo na mesma aguada,
voltou a todo galope, trazendo idêntica informação. Logo depois , ouvi-
mos os primeiros disparos contra a nossa vanguarda que imediatamente
se retirou em direção ao grosso da tropa . O Coronel não chamou seus
homens às armas , nem deu alarme antes que o inimigo tivesse surgido à
nossa vista e carregado contra a nossa linha externa. Estalaram-se al-
gumas escaramuças enquanto Camarão com sua tropa tentava cortar nos-
sa retirada para o Recife, o que não conseguimos impedir, dada a infe-
rioridade numérica de nossas tropas . Haus consultou o Capitão Wilts-
chut, Blaer e o Comandante Listry sôbre o que seria melhor fazer. O
capitão Wiltschut, porém, respondeu que fizesse o que melhor lhe pare-
cesse, já que nunca lhe havia solicitado parecer anteriormente. Foi en-
tão que Haus ordenou a retirada para a casa do Sr. De Wit e incumbiu
o Capitão Blaer, que não esperava clemência, de abrir caminho para o Re-
cife. A casa foi defendida com bravura durante quatro horas. Final-
mente, por falta de pólvora e balas pois que a única meia barrica de
pólvora que possuíam estourou acidentalmente os nossos entregaram-se
a André Vidal, sob a condição única de serem poupadas suas vidas e as
dos brasileiros que se achavam entre êles . Assinado o acordo por Vidal
e dois ou três dos principais chefes portugueses, foi o documento entregue
ao Coronel Haus. A-pesar-disso, porém, os brasileiros foram massacra-
dos pelo povo, com o consentimento dos portugueses , tão logo os holandeses
abandonaram a posição que ocupavam. As mulheres brasileiras vendo
seus maridos assassinados atiraram seus filhos de cabeça contra a pare-
de, para que não caíssem vivos nas mãos dos portugueses . Todos os ba-
202 JOAN NIEUHOF
(297) O tradutor inglês escreveu sòmente 60 ( cf. p . 96, 2.a col. , 2.º § da
ed. inglêsa e p . 135, 1.ª col . 2.º § da ed. holandesa ) .
(298) O tradutor inglês não foi fiel, pois omitiu " Frísia Ocidental, como
homenagem à sua combatividade e honra ". Cf. p. 135 , 1.a col., 6. § da ed. ho
landesa e p. 96, 2.ª col. , 4.° § da ed. inglesa ) .
Sôbre as atribulações por que passou Isaac Zweers, vide XVI , p . 26-29. Foi
libertado a 31 de dezembro de 1645. Isaac Zweers deixou escritos documentos
importantes para o esclarecimento dos últimos anos de revolta, muito especial
mente a rendição da fortaleza do Cabo de Santo Agostinho . ( Cf. VIII, p. 2 dos
Aditamentos de S. P. L'Honoré Naber ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 203
99 66
(299) Esse trecho : " Decorridos alguns dias ... até na primeira noite
escura. ", foi traduzido do holandês. ( Cf. p . 136 , 1.a col . da ed. holandesa e p. 97,
1.a col. da ed. inglêsa ) .
(300 ) Em Vingbooms (XCVII , vol. II , mapa 47, referente a Itamaracá) , en
contra-se Tripicho ; no mesmo autor (col. II, mapa 48 , referente a Pernambuco) ,
encontra-se o engenho Tripicho, à margem do rio Salgado. Os engenhos Algodais
Velho e Algodais Novo, acima e abaixo, respectivamente, no citado mapa de Ving
booms, referente a Pernambuco, demoravam entre o rio Salgado e o Jangada.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 205
Entretanto, a 2 de outubro, por pouco que todo o plano não foi reve Descoberta
lado pela imprudência da mulher do corneteiro, pois, tendo-se embebe a viagem do
dado, contou a pessoas de suas relações que o marido havia partido para corneteiro.
o Recife. Foi então levada prisioneira para o Cabo Santo Agostinho,
onde a torturaram miseràvelmente, mas, sendo mulher resoluta, nada con
fessou . O Major Hoogstraeten, porém, aconselhou os portugueses a que
não deixassem mais os prisioneiros holandeses em Pernambuco, mas re
metesse para a Baía todos aquêles que se recusassem a prestar serviços.
Portanto, todos os prisioneiros batavos que então se achavam no Cabo e
em Santo-Antônio foram transferidos a 4 de agôsto ( 301 ) para Algodoais,
onde o Coronel Pedro Marinho lhes perguntou se queriam servir ao Rei
de Portugal. Os que o não queriam foram imediatamente enviados à
Baía, por terra, viagem tediosa que lhes apresentava ainda o risco de
serem massacrados pelo caminho . Muitos, de receio, se prontificaram a
trabalhar, mas Zweers e Broekhuizen , novamente interrogados , respon
deram que preferiam antes morrer que tomar armas contra sua própria
pátria.
A 5 de outubro, todos os prisioneiros , escoltados por soldados e cam
poneses, foram enviados de Algodoais para Ipojuca. Aí, o Auditor man
dou os outros buscarem Isaac Zweers e levá-lo ao Cabo de Santo Agos
tinho e deitar com o pescoço no tronco, fazendo-o castigar severamen
te (302) .
Todavia, apenas lá chegaram , Zweers teve ordem de voltar para o Zweers
Cabo Santo Agostinho onde foi torturado para que revelasse qual a torturado.
(301 ) O tradutor inglês omitiu a data 4 de agosto ( cf. p . 136 , 2.ª col ., 4.º §
da ed. holandesa e p . 98, 1.ª col. , 1. § da ed. inglêsa ) .
(302) O pequeno trecho referente ao Auditor foi omitido pelo tradutor in
glês. (Cf. p. 137, 1.a col. , 1.0 § da ed. holandesa e p. 98, 1.a col. , 2. § da ed.
inglêsa) .
15
206 JOAN NIEUHOF
(303) Nieuhof (p. 137, 1.a col., 3. § ) escreveu Tapuao. Deve tratar-se de
Itapuã, como grafamos no texto.
(304) O tradutor inglês escreveu 18 de janeiro (cf. p. 137, 1.ª col. , últ. §
da ed. holandesa e p. 98, 2.a col., 1.0 § da ed. inglêsa ) .
(305) O tradutor inglês escreveu 1.º de fevereiro (cf. p. 137 , 1. col. últ. §
da ed. holandesa e p. 98, 2.a col., 1.0 § da ed. inglêsa ) . O Diário de Mattheus van
den Broeck ( XLI, p. 26 ) dá o dia 20 de fevereiro como o da prisão.
(306) Nieuhof ( p. 137, 2.a col. , 1.° § ) escreveu, textualmente : "Em forca
los cachiores treidores "; deu, também, tradução holandesa livre dessas palavras, a
qual foi utilizada pelo tradutor inglês (p. 98 , 2.a col ., 2.º §) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 207
a serem enviados para essa ilha, todos imaginavam que se tratasse apenas
de um pretêxto para atirá-los ao mar. Em viagem, o tratamento que re
ceberam foi pior que anteriormente, pois tiveram que acionar a bom
ba durante todo o tempo e chegaram a passar fome a-pesar-de terem os
marinheiros pescado mais do que poderiam comer. Finalmente chegan
do à Ilha Terceira, a 28 dêsse mês, viram aproximar-se, uma hora depois ,
um navio holandês que ancorou junto a êles. Acenaram para o navio até
(307 ) O tradutor inglês escreveu 7 de maio ( cf. p. 138, 1.a col., 7.0 § da
ed. holandesa e p. 99, 1.ª col., 3. § da ed. inglêsa ) .
208 JOAN NIEUHOF
66
(308 ) O trecho " Quando êles, então , ... " até ...Governador " foi traduzido
do holandês, pela infidelidade da tradução inglêsa. (Cf. p. 138, 2. col . , 2.0 § da
ed. holandesa e p. 99, 1.ª e 2.a cols. da ed. inglêsa ) . O tradutor inglês julgou que
Moor fôsse o nome do governador, talvez pelo fato de haver Nieuhof escrito Pro
vidoor-Moor.
Quanto às ilhas Flamengas, trata-se, como se vê do próprio texto, das Ilhas
dos Açores . Realmente, as Ilhas dos Açores foram, durante muito tempo, conhe
cidos por Ilhas Flamengas. Afonso V doara a ilha do Faial a sua tia Isabel, du
quesa da Burgúndia e, desde então, houve um grande influxo de colonizadores fla
mengos. E isso, naturalmente, foi devido ao domínio que o Duque da Burgúndia,
Filipe-o-Bom, casado com Isabel de Portugal, exercia sôbre o Brabante e a Ho
landa, os quais adquirira por herança de sua mãe em 1433. A Ilha Terceira era
assim chamada, por ter sido a terceira a ser povoada.
Josua van den Berge, do condado de Bruges, foi encarregado da sua coloni
zação ; e outro flamengo, Joost van Heurter, sogro de Martin Bahaim, colonizou uma
outra dessas ilhas. Sôbre essas ilhas, consulte-se J. Mees : "Histoire de la decouverte
des îles Azores et de l'origine de leur denomination d'îles flamands ". J. Lent 1901.
Cf. sôbre o nome A. Montanus, ed. 1671 , p. 51 da Nieuwe en Onbekende Wereld.
(309) Nieuhof escreveu " 9 rijsedaelders " ( p. 138 , 2.ª col., 3.º § ) . O nome certo
é rijkdaalders, moeda oficial de prata, valendo 2 e meio florins e em curso até
a invasão da Holanda pela Alemanha ( 1940 ) .
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VISTAS
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 209
A RÉPLICA DO CONSELHO
pois soube que sua esposa estava sendo maltratada pelos lusos em Seri
nhaém . Foram os rebeldes que iniciaram a série de roubos e assaltos
desde então cometidos também pelos nossos soldados, e que, entretanto,
não pode sofrer comparação com os embustes, fraudes e roubos cometidos
pelos rebeldes contra os credores de suas dívidas e mercadorias ; a-pe
sar-de tudo, dando garantias e outras providências, fizemos tudo quanto
estava ao nosso alcance para evitar essas violências.
O recente assassínio de moradores de Salinas foi cometido a 17,
sem nosso conhecimento, e com grande consternação de nossa parte,
pelos brasileiros fugitivos que, enfurecidos com o massacre de seus ir
mãos, homens, mulheres e crianças em Serinhaém, sem distinção de sexo
ou idade, aproveitaram-se da ocasião para se vingarem . Poderá, tam
bém, V. S. fàcilmente imaginar que os boletins distribuídos por Antônio
Cavalcanti em Iguarassú bastante contribuíram para esse estado de
cousas.
Com respeito às balas que V. S. diz terem sido utilizadas no último
encontro, nós temos mais razões de queixa que V. S., pois recomendamos
continuamente que não se deixem de observar as leis da guerra em casos
semelhantes.
Reconhecemos o cavalheirismo demonstrado pelos seus homens, pou
pando e acolhendo os nossos soldados e estamos prontos a retribuí-lo em
idênticas circunstâncias, pedindo-lhes desde já que nos comuniquem sua
resolução sôbre êste ponto, pelo mesmo tambor.
Sendo evidente, pelo que se alegou, que os passados desmandos de
vem ser imputados aos rebeldes - entre os quais tentámos, por todos os
meios, restabelecer a paz e a tranquilidade ――――― tendo êles persistido em
seus subversivos propósitos, merecem éles, das mãos de V. S., antes o
justo castigo que a menor indulgência. Por esse motivo, protestando pe
rante Deus e todo o mundo contra o procedimento de Sua Excelência o
Sr. Antônio Teles da Silva e contra o que quer que tenha sido praticado
por V. S. contràriamente ao tratado celebrado entre Sua Majestade de
Portugal e os Estados Gerais das Províncias Unidas, não duvidando que,
ao receber a presente, V. S. retirará as suas forças para a Baía e porá
têrmo às violações do referido tratado.
Nessa mesma noite, ante o aviso de que tropas inimigas haviam Preparati-
avançado até Olinda , expediram-se ordens a todos os fortes adjacentes no vos para en-
frentar o
sentido de prepararem uma vigorosa defesa, bem como de se erigirem
inimigo
duas baterias por de-trás da senzala, de onde poderiam dominar as ave- que marcha
nidas que, ao longo do rio, correm em direção ao Recife . Numerosos contra o
voluntários recentemente chegados do interior foram agrupados em Recife.
uma companhia sob o comando do Secretário Hamel, no pôsto de Capitão ,
e Jerônimo Helman, como tenente. Dispuseram-se guardas avançadas ,
sendo uma entre o forte Bruin e o forte Triangular e a outra entre êste e
a fazenda do Conde Maurício. A ponte Boa Vista foi parcialmente de-
molida a-fim-de dificultar a passagem do inimigo, e, considerando-se a
importância do forte Triangular, foi sua guarnição aumentada com um
contingente de 26 homens tirados a várias companhias. Tomaram-se Na Cidade
idênticas precauções com relação à segurança da Cidade Maurícia, da Maurícia e
em outros
Ilha de Antônio Vaz , do Forte Ernesto, do Forte Quinquangular e de
fortes.
todos os demais .
(312) Este pequeno trecho foi traduzido diretamente do holandês ( cf. p . 143 ,
2. col., 8. § da ed. holandesa e p. 103, 1.a col ., 2.0 § da ed. inglêsa ) .
216 JOAN NIEUHOF
as cornas dêsse forte, seu comandante deu ordem para que os soldados,
os brasileiros e 100 negros as nivelassem. Mandou-se derrubar, pelos bra
sileiros que alí trabalhavam, o mato existente entre o forte e os Afogados,
e resolveu-se que se concentrassem as fortificações da Cidade Maurícia
num âmbito menor e se reparassem os muros em torno do Recife. Assim
foi que o Conselho, com seu infatigável cuidado, conseguiu pôr as forti
ficações do Recife e suas adjacências em tão boas condições de defesa que
o inimigo, conquanto muito forte, não ousou tentar, então, qualquer ação.
O Sr. Dortmont tinha transportado para Itamaracá cêrca de 1400 pessoas,
das quais 700 mulheres e crianças, e, por isso , precisava de abastecimen
to de víveres . De resto, dispôs tudo muito bem na Ilha.
Cartas ao Por sua carta datada de Paraíba , 22, o Sr. Linge comunicou ao Con
Conselho selho que, depois da notícia que lhe fôra transmitida da derrota do Co
vindas de ronel Haus, julgara conveniente remover a guarnição e o povo de Fre
Paraíba .
derica para os fortes . Informava, ainda, o Sr. Linge , que os portugueses
continuavam calmos e que tôda sua fôrça consistia em 400 soldados , 100
civís e 50 brasileiros , entre os quais havia bom número de doentes e fe
ridos . Dizia mais, que os tapuias haviam assassinado 12 ou 14 campo
neses. Não havia muito tempo que o Major Hoogstraeten, Ley e Hek
informaram o Conselho terem incendiado tôdas as casas, principalmente
o armazém e a igreja, fora do forte, para facilitar sua defesa e que o
inimigo se havia instalado no morro do Cabo e na Ilha que lhe ficava ao
sul .
66
(313) O trecho " No dia 24 de agosto ... " até “... Sergipe-d'El- Rei e
sua guarnição. " foi traduzido diretamente do holandês ( cf. p. 145, 1.a col. da ed.
holandesa e p. 104, 1.a col. da ed. inglêsa ) . Esse trecho, na tradução inglêsa, está
grandemente resumido .
(314) Nieuhof varia muito a grafia de Lambertsz : ora escreve Lambartz ora
Lambertsz, ora Lambertz, ora, ainda, Lambert ou Lambertszen . ( cf. p. 145, 2.ª col.
218 JOAN NIEUHOF
2.0 ; p. 145, 2.a col . últ. § ; p. 146, 1.a col . 2.0 § ; p . 146, 2.a col. 3. § ; e p. 148,
2. col. 1. §) .
(315) O tradutor inglês escreveu meia légua , quando se trata de meia hora.
( cf. p. 146, 1.ª col. 2. § da ed . holandesa e p. 104, 2.a col. 4. § da ed. inglêsa) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 219
16
222 JOAN NIEUHOF
(318) Na tradução inglêsa existe um êrro de imprensa, pois está escrito 1685
(cf. p. 107, 1.a col. 1. §) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 223
PUBLICAÇÃO DE ANISTIA
(321 ) Nieuhof escreveu dois dias depois, isto é, 23 ( p. 151 , 1.a col., últ. §),
enquanto o tradutor inglês corrigiu, escrevendo três dias após. (p. 108, 1.a col.
3.0 §) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 225
(326 ) O tradutor inglês escreveu 12 de novembro ( cf. p. 109, 2.ª col., 2.º § da
ed. inglêsa e p . 153, 2.a col . últ. § da ed. holandesa) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 229
(327) O tradutor inglês escreveu 100 homens ( cf. p. 110 , 1.a col ., 1. § da
ed. inglêsa e p. 154, 2. col., 1.º 8 da ed. holandesa ) .
(328 ) Nieuhof escreveu ( p . 154 , 2.ª col. , 3.º § ) Coronel e Major. E' um
equívoco, pois tais postos não existiam no século XVII e sim os de Mestre de
Campo e Sargento-Mor (ver nota p . 290 ) . Antônio Dias Cardoso era militar
de primeira linha do exército , com praça de soldado em 1624 ( cf. Biografia da
A. J. Melo, Tomo I, p. 109 ) . Foi para a Baía e lá voltou em 1645, com 45 sol-
dados e logo foi nomeado sargento-mor de toda a gente do bando da liberdade
(Calado, XVII, p. 188 ) . Como escreveu Varnhagen ( LXXIII , p. 260 ) , Antônio
Dias Cardoso deve ser considerado como o verdadeiro orientador militar da cam-
panha, até a chegada de André Vidal de Negreiros e, mais tarde, de Francisco
Barreto de Meneses .
230 JOAN NIEUHOF
bro (331 ) com o assentimento de Vidal e João Vieira, que Klaesz fôsse
preparar uma cilada contra fôrças nossas, em Salinas, com uma fôrça
de 60 holandeses, composta de elementos tirados das quatro companhias
de holandeses a serviço dos portugueses . Como refôrço , destacaram mais
quatro Companhias da reserva. Tendo-lhe sido confiado o comando su-
premo dessas fôrças , Klaesz aproximou -se o mais que pode do forte
Bruin, com seus soldados holandeses . Ao raiar da aurora aproveitou a
oportunidade para atravessar o rio passando com seus homens (todos
desejosos de o seguir) para o nosso lado, no dito forte . O Conselho resol-
veu então confirmar Klaes Klaesz no comando de sua companhia, que
se dispôs a entrar para o nosso serviço . Entretanto, logo que o inimigo
percebeu que fôra traído, desarmou todos os holandeses, a pretêxto de
enviá-los para a Baía, e passou-os todos a fio de espada, em caminho,
juntamente com suas mulheres e filhos .
A 2 de novembro, o Conselho recebeu aviso do Sr. Linge, datado de
1.º do mesmo mês ( 332 ) , na Paraíba, no sentido de que André Vidal
tinha entrado naquela Capitania com 200 homens e que Camarão tinha
escrito a Pedro Potí insistindo para que desertasse do nosso serviço, com
seus brasileiros ; recebera, também, porém, formal recusa . O Conselho
enviou-lhe, como recompensa de sua fidelidade, duas peças de fino linho .
Quando os portugueses começaram a se armar contra o Govêrno, procura-
ram induzir , por meio de cartas repletas de promessas, os regedores ou co-
mandantes dos brasileros a se reùnirem a êles . Estes, porém, não
acederam, ao contrário , enviaram ao Conselho, sem abrí-las, as cartas en-
viadas por Camarão e outros chefes revolucionários, a-fim-de evitar que
sôbre êles pairasse a suspeita de manter correspondência com o inimigo.
Pedro Potí era parente próximo de Camarão. Desde então os referidos
chefes brasileiros se portaram tão corretamente e de tal forma atacaram
os portugueses, onde quer que os encontrassem, matando-os e pilhando-os,
que jamais tivemos ocasião de duvidar de suas sinceridades e intenções. · Os holande-
O mesmo Sr. Linge informou a 4 de novembro que o inimigo nada ses batem
tentara até então. A 14 do mesmo mês , informou que 300 dos nossos , os portu-
gueses.
auxiliados por alguns brasileiros da Paraíba, se tinham empenhado em
luta com 800 inimigos , rechaçando-os depois de feroz embate, no qual
os portugueses perderam bom número de homens. Estimulados por essa
vitória os brasileiros percorreram tôda a planície, e, encontrando um
grupo de portugueses que festejavam a noite de São Martinho, no En.
(331 ) O tradutor inglês omitiu a data. ( cf. p. 155 , 2.a col., 2.0 § da ed .
holandesa e p. 110 , 2.a col., 3.º § da ed. inglêsa ) .
(332) O tradutor inglês omitiu " de 1.º do mesmo mês " (cf. p. 155, 2.a col.,
últ. § da ed. holandesa e p. 111 , 1.a col., 1.0 § da trad. inglêsa) .
232 JOAN NIEUHOF
.XVII
SÉC
DO
PERNAMBUCO
DE
TRAJES
HABITANTES
DOS
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 233
tais fôrças tinham mais utilidade na campanha. Para tanto, foram apro Organização
de 4 compa
veitadas as Companhias do Coronel Garstman, Capitão Juriaen Rembar
nhias de fu
gar, do Capitão Niklaes Niklaez e do Capitão Snijder, de preferência a zileiros.
qualquer outra.
Ainda no mês de dezembro caíu prisioneiro dos brasileiros na Ilha de
Itamaracá um português de nome Gaspar Gonsalves que fôra enviado
especialmente para persuadí-los de que os holandeses pretendiam entre
gá-los aos portugueses , mediante certa soma em dinheiro, e depois se re
tirarem com seus efetivos para a Holanda. Essa informação produziu
não pequena comoção entre os brasileiros, que começaram a dar crédito
ao informante. . E, tendo Gaspar Gonsalves espalhado o boato um pouco
antes da chegada de Kaspar Honighuizen (que a 28 de agosto fôra no
meado comandante em chefe dos brasileiros em Itamaracá em substituì
ção a Johan Listry, aprisionado pelo inimigo ) não sabia êste como dissi
par êsse receio, pois que Jacob Rabbi, segundo carta de 11 de dezembro,
estava se preparando para fazer uma incursão de 80 milhas à procura
dos tapuias , a-fim-de solicitar-lhes auxílio. Entendeu -se finalmente com
Oype, genro do rei Janduí, que lhe prometeu, caso os de Ceará nos
enviassem suas tropas, tentar mobilizar o maior número possível de seus
vassalos ; o rei Janduí escusou-se, porém, alegando que muitos de seus
combatentes haviam morrido de moléstia, no Sertão .
Na noite anterior a 27 de dezembro, o inimigo, servindo-se de uma
jangada, colocara duas bonecas com fogos de artifício, a bordo do navio
Zwaen. Logo, porém, que começaram a queimar, foram descobertas e
apagado o fogo sem causar dano algum à embarcação. O fato serviu ,
entretanto, para que daí por diante se mantivesse uma vigilância cons
tante . Os portu
A 30 de dezembro, duas idênticas bonecas, encontradas em um pe gueses ten
tam incen
queno bote junto ao Forte Bruin foram encaminhadas ao Conselho . Essa
diar os na
jangada, que sem dúvida fôra para lá conduzida com o fim especial de vios holan
atar as bonecas aos navios, avistada pelas sentinelas, foi pelos seus deses.
ocupantes abandonada juntamente com as bonecas.
Em sua carta datada do Forte Margarida, na Paraíba a 30 de dezem
bro, e recebida a 31 (334) , o Sr. De Linge dizia que certo negro deser
tado do inimigo em Santo-André declarara que os portugueses tinham
construído duas grandes barcas com capacidade para 300 homens cada
uma para com elas atacar o entrincheiramento de Pedro Potí, coman
dante dos brasileiros ; que Camarão tinha se demorado cêrca de três se
manas na Paraíba ; que a tropa inimiga consistia em cêrca de 15 ou 16
companhias, mas que havia muitos doentes por falta de recursos e que
tôdas as fôrças adversárias do Rio-Grande se haviam retirado .
A missão A 6 de janeiro de 1646 , Pieter Bas, um dos membros do Grande
de Pieter
Conselho, por ordem dêste, zarpou com duas caravelas - o Lichthart e o
Bas.
Recife - e uma barca denominada Blauwe Boer com destino às Capi-
tanias de Paraíba e Rio-Grande. Levava instruções para consultar o
Sr. Linge, Comandante em Chefe da Paraíba e demais oficiais , sôbre a
maneira de pôr em boas condições de defesa os entrincheiramentos e ou-
tras obras dos brasileiros . Daí deveria ir para o Rio-Grande, onde faria
uma relação das propriedades de portugueses , as quais, por estarem
seus donos ligados aos rebeldes, deveriam reverter à Companhia. Cum-
pria-lhe também tentar recambiar para a Companhia as mercadorias que
pelo mesmo motivo se achassem escondidas ou sonegadas. Levava, ainda,
instruções no sentido de tomar tôdas as providências que julgasse con-
veniente aos nossos interêsses, mas principalmente pela segurança da
Capitania. Assim, fôra igualmente incumbido de exortar os habitantes
Informes a se consagrarem com firmeza ao cumprimento de seus deveres, sem des-
sôbre as cuidar do cultivo da terra e da criação de gado.
intenções Pieter Duinkerken regressou à Paraíba a 12 de janeiro , depois de
do inimigo.
fazer um cruzeiro ao largo do Recife, no navio Hamel, trazendo uma car-
ta do Sr. Linge, datada do Forte de Santa Margarida, a 11 de janeiro.
O Sr. Linge havia encaminhado ao Conselho o Sr. Pieter Steenhuizen,
que fugira ao inimigo quando êste iniciara a matança dos holandeses a
seu serviço . Esse tal Steenhuizen trouxera notícias de que Camarão se-
guira da Paraíba para o Rio-Grande, à frente de 500 soldados escolhidos ,
para ocupar o interior da Capitania e assim impedir que as nossas guar-
nições de lá recebessem gado e farinha. Informou também que o inimi-
go já sofria escassez de carne, azeite, vinho, e outros gêneros mas, por
outro lado, o povo alardeava que, por falta de provisões, logo teríamos
que entregar os nossos fortes aos portugueses . Confirmada a informa-
ção pelo Sr. Linge, em sua carta de 10 de janeiro, convocou-se um con-
Conferên- selho, a reunir-se a 13 de janeiro, ao qual deveriam comparecer os Srs.
cia sôbre Hendrik Hamel e Bullestrate, membros do Grande Conselho, o assessor
o caso.
Walbeek, o Tenente- Coronel Garstman, os srs . Raets Vald , de Wit , Alrich
Volbergen e Lems, a-fim-de deliberar sôbre a situação . Considerou-se,
então, que, se o inimigo dominasse o interior e nos privasse do forneci-
mento de gado e farinha do Rio-Grande, justamente numa ocasião em
que Itamaracá e Paraíba também estavam bloqueadas, ser-nos-ia quase
impossível manter a posse do Brasil Holandês , enquanto não chegassem da
Metrópole os socorros esperados . Discutiu-se, nessa reùnião, se seria mais
fácil manter esta Capitania por meio de uma poderosa digressão ou se,
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 235
tade, o Sr. Bas não pôde desembarcar suas fôrças em Cunhaú a-fim-de
O Sr. Bas
dá conta reùní-las às do Capitão Reinbergh . Só conseguiu efetuar o desembarque
de sua mis nos dias 14 e 15 do mesmo mês, junto a Pirangí. Nesse ínterim, Ca
são. marão logrou romper através da Mata, e, surpreendendo várias pessoas
nas fazendas, massacrou-as, sem distinção de idade nem de sexo. Colo
cou-se, depois , com suas forças compostas de 400 brancos, outros tantos
brasileiros e 80 tapuias sob o comando de Antônio Jácomo Bezerra, na
propriedade de Henrik van Hamme, situada em Monpebú com o propó
sito de interceptar nossos abastecimentos de gado e farinha . As fôrças
batavas, compostas de cêrca de 1000 soldados, brasileiros e tapuias, mar
charam para o sítio de João Lostão Navarro , a-fim-de atacar o inimigo e
forçá-lo a abandonar a Capitania do Rio-Grande. Além dessa tropa,
Jacob Rabbi e os filhos do rei Janduí com 60 tapuias passaram, a 19
daquele mês, pelo forte Keulen , sendo diàriamente seguidos por outros que
Consultas. vieram em nosso auxílio . O Sr. Bas solicitou o fornecimento de víveres,
de que estavam grandemente necessitados , pois havia cêrca de 1500 bra
sileiros, entre velhos, mulheres e crianças , alojados no Castelo. Pediu
também algum dinheiro, munições , linho e sêdas com que presentear os
brasileiros e tapuias. Tudo isso lhe mandou o Conselho e mais algu
mas peças de fazenda vermelha.
Tomando em linha de conta êsse aviso , sendo de recear que o ini
migo, não resistindo ao assalto no Rio- Grande, se retirasse para a Paraí
ba, ponderou-se, a 29 de janeiro, se seria aconselhável perseguí-lo , até a
Paraíba, caso êle para lá se dirigisse voluntàriamente ou impelido pelas
nossas tropas, tentando a seguir, desalojá-lo também daquela Capitania.
Entretanto, considerando que, dada a fraqueza de nossas guarnições, não
poderíamos mandar mais reforços do Recife, de Itamaracá ou da Paraí
ba, sem que as nossas tropas nesses lugares corressem grave risco ; que,
ao contrário, ao inimigo não faltavam meios de reforçar as suas fileiras
com elementos das adjacências ; e mais , que esperávamos a qualquer mo
Seu resul
mento a chegada de socorros da Holanda, resolveu-se não arriscar, numa
tado.
emprêsa dessa ordem, todo o Brasil Holandês .
Expediram-se, por isso, instruções ao Sr. Bas e aos demais coman
dantes de nossas tropas, no sentido de agirem com todo o cuidado possí
vel, contentando-se com a recuperação da Capitania do Rio-Grande e não
perseguindo o inimigo até a Paraíba.
A 30 de abril ( 337) , por ordem especial do Conselho, foi o Coronel
Garstman, pela segunda vez , enviado com alguma tropa para a Capitania
(337) O tradutor inglês escreveu 30 de março ( cf. p. 160, 2.a col . , 2. ° § da ed.
holandesa e p. 114, 1.a col ., 2.0 § da ed . inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 237
17
238 JOAN NIEUHOF
(339) O tradutor inglês escreveu 27 de fevereiro ( cf. p. 162, 1.a col. , 3.º § da
ed. holandesa e p. 115, 1.a col. 1. § da ed. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 239
Sr. Pieter Bas, composta de 500 homens , poderia ser esperado no Reci
fe a qualquer momento. Informava ainda o Sr. Linge que não havia
avistado o inimigo ùltimamente, mas, ciente de que em um vale , próximo
à Aldeia ou à vila de Miageriba, se achava acampada numerosa tropa,
para lá enviara 120 soldados e 100 brasileiros a-fim-de atacá-la e trazer
alguns prisioneiros. Com efeito, a 4 de março, chegava Bas ao Recife
com sua tropa, composta de 500 homens, procedente do Rio-Grande, e,
no dia seguinte, deu contas ao Conselho de sua expedição .
Na noite de 9 de março, três corpos inimigos surgiram junto ao Diversas
forte Príncipe Guilherme e dispararam diversas salvas de armas peque escaramu
cas.
nas. Entretanto , ante a pronta resposta de nossa artilharia, retiraram- se
imediatamente. No mesmo dia despachou-se um destacamento de 50
homens sob o comando do Tenente Mos a-fim-de colher informações .
Tendo, porém, encontrado duas companhias inimigas, feriu-se vigoroso
embate após o qual as nossas fôrças se retiraram, para o forte Waerden
burgh, sem grandes perdas, e o inimigo foi forçado a fugir ante as nos
sas descargas de artilharia. Por carta de 8 de março , datada do forte
Santa Margarida, na Paraíba, o Sr. Linge transmitiu ao Conselho a má
notícia de que, no Rio-Grande, o inimigo havia , por meio de uma retirada
simulada, atraído o Tenente Jan de Wale, com 48 soldados, a uma em
boscada, onde se perderam 30 homens, conquanto , pelo que informaram al
guns desertores que tomaram parte no encontro, também o inimigo ti
vesse sofrido pesadas baixas. Nesse combate estiveram presentes Cama
rão, André Vidal e outros oficiais portugueses. Mais ou menos na mesma
ocasião, 15 brasileiros surpreenderam cinco homens, seis mulheres e oito
crianças num entrincheiramento denominado Papecú e situado sete ho
ras (340) acima de Iguarassú.
Entrementes, os tapuias, que costumam descer das montanhas às cen
tenas, mais ou menos pelos meados do verão, atacaram a Capitania do
Rio-Grande, e , depois de se apoderarem de todos os animais que pude
ram encontrar, voltaram para suas tabas. O regresso dos índios foi
ótimo para nós , pois, sem nossas guarnições, não nos seria possível sub
sistir lá. Escasseando dia a dia as provisões do Recife, o Conselho de
cidiu a 6 de março mandar para Itamaracá os brasileiros engajados no
Rio-Grande, juntamente com uma companhia de fuzileiros, a-fim- de
transportar as reservas dos nossos armazéns e conseguir um pouco de
mandioca na ilha . Apresentaram-se então ao Conselho, os Majores Ba
yert e Pistor para dizer que tendo tido conhecimento de que o povo co
meçava a murmurar contra o fato de se acharem êles em casa, a pretêxto
uma barrica com aveia, uma pipa de vinho, um barril com óleo e outra
com ervilhas sêcas, além de boa quantidade de munições . Dortmont
teve, também, ordem de remeter os brasileiros de volta ao Rio-Grande
para defender a Capitania e saber se o inimigo tinha para lá se dirigido, Boa remes-
sa de man-
a-fim-de que se pudessem sustar os seus passos.
dioca trazi-
Enquanto isso o Almirante Lichthart (de conformidade com sua
da para
carta de 21 de março, para o Conselho ) embarcara alguns soldados e Itamaracá.
brasileiros em Itamaracá, e, dirigindo-se à desembocadura setentrional
do rio, subiu-o até a ilha do Itapessoca (341 ) , de onde conseguiu trazer
grande quantidade de mandioca para consumo dos brasileiros, em Itama-
racá, e para abastecer os armazéns da ilha. Navios
A 30 de março, foi resolvido, com a aprovação do Almirante Lich- despachados
thart, despachar os seguintes navios em cruzeiro ao largo da Baía : o em cruzeiro .
(341 ) Nieuhof escreveu Tapesoque. Vingbooms ( XCVII, vol. II, mapa refe-
rente a Itamaracá) .
(342) O tradutor inglês escreveu 400 soldados e 300 brasileiros ( cf. p . 164,
2. col. 2. § da ed. holandesa e p. 116, 2.a col. 3.º § da ed. inglêsa ) .
(343) O tradutor inglês escreveu 3 léguas ao invés de 3 horas. (cf. p. 164,
2.a col., 4.0 § da ed. holandesa e p. 116, 2.a col. , 5. ° § da trad. inglêsa ) . A data,
segundo Alfredo de Carvalho, é 4 de abril. Por evidente equívoco, no trabalho de
Alfredo de Carvalho está escrito 1647, tanto na edição da Rev. do Inst. Arqu. e Geog.
Pern., 1912, vol. XIV, p. 657-667, ( Um intérprete dos tapuias ) , como na edição
póstuma dirigida pelo Dr. Eduardo Tavares, sob o título " Aventuras e Aventureiros
no Brasil ", Pongetti, 1930, coleção de vários trabalhos de Alfredo de Carvalho, entre
242 JOAN NIEUHOF
Prisão de (344 ) . Por causa disso, Garstman foi prêso sob custódia, por ordem dos
Garstman. Altos Comissários da Justiça e Finanças aos 24 de abril e foi conduzido ao
navio Hollandia. Entretanto , o Major Bayert, ficaria no pôsto de Garst-
man, Jacob Rabbi , outrora , fôra encarregado de estar no meio dos tapuias,
comissionado pela Companhia, para manter os tapuias em amizade e boas
disposições para com êste govêrno ; assim como êle já os tinha, por várias
vêzes, conduzido das montanhas ( onde êles habitavam ) , em nosso auxí-
lio . Êle morava no Rio-Grande, no forte Keulen, e era casado com uma
brasileira, embora fôsse de ascendência alemã . Garstman voltou ao Re-
cife no dia 19 e relatou aos Altos Comissários os seus feitos ( 345 ) . Kas-
os quais " Um intérprete dos tapuias ". Existe, também, uma separata, Recife, 1912,
17 pp ., 4.0. Na ed. de Aventuras e Aventureiros juntou-se o inquérito mandado
realizar pelo Supremo Conselho sôbre o assassinato de Jacob Rabbi ( p . 177-204) ,
traduzido, também, por Alfredo de Carvalho, onde a data dos vários depoìmentos é
1646. Moreau ( LIX, p. 129-133 ) relata o caso e os protestos dos tapuias, mas não
precisa o dia. O Jornal de Arnhem ( XXIX , p . 186, 187 , 193 ) refere-se à chegada
de Garstman a Maurícia, aos protestos dos tapuias e a movimentos de soldados, com
o fito de libertar ou enforcar Garstman.
66
(345) O texto desde " Por causa disso ... " até os seus feitos " foi tradu
zido diretamente do holandês. Além de omissões , contém erros como o de escrever
24 de março ao invés de 24 de abril. ( cf. p. 164, 2.a col. e 165, 1.ª col. da ed . holan
desa e p. 116, 2.ª col. da ed . inglêsa ) .
(346 ) O tradutor inglês escreveu 40 homens ( cf. p. 165, 2.ª col., 2.º § da ed.
holandesa e p. 117, 1.ª col., 3.0 § da trad. inglêsa ) .
244 JOAN NIEUHOF
(351) O tradutor foi infiel neste trecho. (cf. p. 166, 2.a col., 2.0 § da ed.
holandesa e p. 118 , 1.a col. 1. § da trad. inglêsa) .
(352) O tradutor inglês omitiu o número de brasileiros amotinados. ( Cf. p.
166, 2.a col. 2. § da ed. holandesa e p. 118, 1.a col. 2. § da trad. inglêsa) .
(353) O tradutor inglês omitiu a data. ( cf. p. 166, 2.a col. últ. §, da ed. hol.
e d. 118, 1. col. 2.º § da trad. inglêsa ) .
246 JOAN NIEUHOF
Esse português declarou que o dito Vieira lhe havia entregue certo
pergaminho , escrito em linguagem cifrada, bem como uma caixa contendo
diversos outros papéis , para serem entregues ao inimigo, papéis êsses que
exibiu ao Conselho . Rejeitando sua culpabilidade, João Vieira foi sub-
metido à tortura. Negou sempre, até que, encontrando-se entre os papéis
a chave do código, as cartas foram decifradas por um judeu . Nelas o
autor fazia, ao inimigo, completo relato de nossa situação e dava instru-
ções para a conquista do Recife. Vendo-se descoberto, o acusado confes-
Sua sou que havia escrito e entregue êsses papéis cifrados ao português, sendo
execução . por isso executado a 29 de maio.
(354) O tradutor inglês omitiu a data. ( cf. p. 167, 2.a col., 3.º § da ed. hol.
e p. 118, 2.ª col. 3.º § da trad . inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 247
(357) O tradutor inglês escreveu 500 mulheres e crianças ( cf. p. 169 , 1.ª col.
§ da ed. holandesa e p. 119, 2.a col. 2. § da ed. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 249
Assim foi que, para mais de 1200 brasileiros, em sua maioria mulhe
res e crianças, cujos maridos e pais foram mortos em defesa da nossa
causa, embarcaram a bordo do navio Omlandia e de alguns iates , com a
ração de uma libra de bacalhau salgado, por pessoa , sem pão , durante a
viagem, de Itamaracá ao Rio-Grande. Quando lá chegaram tal era o
abatimento em que se achavam, que mais pareciam cadáveres que viven
tes. Atiravam- se àvidamente a tudo quando encontravam na ânsia de
satisfazer seus estômagos famintos , e, dentro de pouco tempo, tinham
consumido tôda a farinha lá existente.
Em cartas de 2 e 5 (358 ) de junho, comunicou o Sr. Linge ab Con
selho que por essa época não se via o inimigo na Paraíba, mas, que dez
tapuias, vassalos do rei Janduí, chegados ao Rio-Grande, mostravam-se
muito aborrecidos com o assassinato de Jacob Rabbi, pelo que se decidiu
reconquistar as boas graças daquele rei para com nossa causa, presentean
[
do-o com o seguinte :
18
254 JOAN NIEUHOF
(360) O tradutor inglês escreveu : " um quarto por 80 a 90 florins ". ( cf. p .
175, 2. col. 1. § da ed. holandesa e p. 123 , 2.ª col . 2. ° § da trad. inglêsa ) .
ww
ww
256 JOAN NIEUHOF
Chegada da Holanda, podia-se ler no semblante de todos nós o intenso júbilo que
de socorros .
êsse socorro representava, chegando justamente no momento em que nos
achávamos na mais penosa situação . Ninguém mais se podia firmar
sôbre as pernas, tal a fraqueza a que nos reduzira a falta de alimentação ;
mesmo assim, porém, todos se arrastavam até o cais onde, de longe, se
podia perceber que o povo chorava de alegria. Esses dois navios , deno
minados Valk e Elizabeth foram fretados pela Câmara de Amsterdã e
haviam zarpado de Texel a 26 de abril. Trouxeram-nos a boa notícia de
que o restante do combóio chegaria a qualquer momento. O Capitão do
Elizabeth contou -me que, certo dia, percebendo vento à feição , disse à sua
tripulação : " tenho certeza de que estão sofrendo penúria no Recife . Deus
nos dê vento e tempo favoráveis , para que possamos socorrê-los a tempo ".
Felizmente foi isso que se deu. Os capitães de ambos os navios receberam
medalhas de ouro com a seguinte inscrição : O Falcão e o Elizabeth salva
ram o Recife (361 ) .
A 23 de junho, o Sr. Pieter Bas, membro do Conselho, foi enviado
O Sr. Bas
enviado a para Itamaracá a-fim-de auxiliar a defesa do forte. Por carta de 28 do
Itamaracá. mesmo mês, mandou dizer que o inimigo continuava em sua posição no
morro e que tinha despachado alguns espiões à cata de informação. A
7 de julho o Sr. Pieter Bas regressou ao Recife com as companhias
comandadas pelo Capitão Blauwenhaen e Koenraet Helt, deixando duas
companhias, a do Capitão Reinier Sikkema e Capitão Dignus Bysterman,
Os portu na guarnição. Dois dias antes os portugueses , depois de destruírem o for
gueses
te do morro, deixaram a ilha levando consigo tôda a artilharia, inclusive
deixam
Itamaracá . duas peças de bronze. Pois, quando viram que recebemos reforços da Ho
landa , em diversos navios , não acharam prudente continuar na ilha até que
cortássemos a retirada com nossa esquadra. Sabiam, também, os lusos
que, sem capturar o forte de Orange, não podiam esperar conservar a pos
se de Itamaracá, pois a entrada meridional era dominada por aquêle forte,
e a passagem Norte pela nossa frota.
A 29 de junho, o Conselho recebeu informação do nosso quartel
-general instalado na casa de João Lostão, no Rio-Grande, dizendo que
lá haviam chegado dois filhos de Janduí, com 23 tapuias, enviados
pelo pai, a-fim-de nos assegurar de suas boas intenções e auxílio ; que,
entretanto, se recusavam vir até o forte Keulen, antes de falar com
(361 ) Sôbre isso, consulte- se " Moedas obsidionais cunhadas no Recife em 1645,
1646, 1654 " . Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pern., 1906-1907 , vol. XII , p. 160-168. Esta
foi a primeira medalha batida no Brasil e precedida de pouco menos de um ano
pelas famosas moedas obsidionais, hoje das mais valiosas raridades numismáticas,
conquanto os pormenores da sua cunhagem até agora tenham permanecido quase
ignorados. (id., p . 161 ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 257
Roelof Baro, que para isso fôra enviado. Mais ou menos por essa época,
diversos comerciantes despacharam embarcações, mas, como isso não se
conseguia senão com grandes despesas e como havia poucos navios por-
tugueses no mar, a emprêsa não produziu resultados , e, por isso, pouco
durou.
Mais ou menos por essa ocasião, deu-se comigo estranho acidente :
havendo os navios da Companhia apreendido uma barcaça carregada de
vinho, os marinheiros se embriagaram a tal ponto que, ao procederem ao
descarregamento , no Recife, mal podendo fazer o seu trabalho, deixaram
cair um barril de vinho, do que resultou a morte de um homem, ficando
vários outros feridos. Dirigí-me ao local, a-fim-de restabelecer a ordem
e impedir que bebessem durante o trabalho e para prevenir outras des-
graças. Logo que entrei no navio, notei que todos os galões de prata do
meu casaco negrejaram e pouco depois fiquei inteiramente cego, para
minha grande aflição. Depois de alguns dias , a cegueira foi pouco a
pouco desaparecendo e recuperei a vista. Atribuo o fato à forte exalação
do vinho, que tinha estado fechado por muito tempo ( 362) .
Por essa ocasião surgiu uma divergência entre oficiais do Exército
e da Milícia Municipal com relação ao comando supremo da Guarda do
Recife, que os da Milícia reclamavam para si a sua instituìção.
Voltemos, porém, aos nossos demorados socorros .
As repetidas cartas dirigidas pelo Conselho do Brasil Holandês aos Uma esqua-
Estados Gerais e aos diretores da Companhia, relatando a posição melin- dra armada
para socor-
drosa em que nos achávamos , causaram tal impressão nos círculos ofi-
rer o
ciais da Metrópole que aconselharam os diretores da Companhia a enviar Brasil.
um refôrço de 5000 ou 6000 homens além de boa armada. Para tanto
os Estados Gerais forneceram 25 companhias de tropas regulares e deram
licença à Companhia para engajar outras tantas , perfazendo um total
de 4.000 soldados, sem contar os marinheiros e voluntários .
Essa frota, composta de numerosos e ótimos navios, estava pronta
para zarpar, em novembro de 1645, mas, devido a uma violenta tem-
pestade de neve, ficou detida no pôrto de Vlissingen até fevereiro de
1646. Comandava-a o Sr. Bankert, Almirante da Zelândia, e os cinco
senhores adiante mencionados que também seguiam com a armada, pois
que foram nomeados diretores do Grande Conselho do Brasil Holandês ,
em substituição aos que estavam em exercício. Eram êles o Sr. Walter
Schonenburgh, Presidente , Michil Van Goch, Pensionário de Vlissin-
gen, Simon van Beaumont, Advogado Fiscal da cidade de Dordrecht,
46
(362 ) Este trecho, desde " Mais ou menos por essa ocasião ... " até por
muito tempo ", foi traduzido diretamente do holandês. (cf. p. 176 , 2. col. 3.0 § da
ed. holandesa e p. 124, 1.a col . últ. § da trad. inglêsa ) .
258 JOAN NIEUHOF
(365 ) O tradutor inglês escreveu 30 de julho ( cf. p. 178 , 2.a col., 4.0 § da ed.
holandesa e p. 125 , col . 3.º § da trad. inglêsa) .
(366) Nieuhof escreveu Pojukus (p. 179, 1.a col., 1.0 § ) . Trata-se de grafia
estropiada, pois o nome certo é Paiacús, do grupo Carirí. Os Paiacús dominavam
desde a ribeira do Jaguaribe até a fronteira do Rio-Grande- do-Norte, com a Pa-
raíba, a serra Cirité. Revoltaram-se mais tarde várias vezes e no século XVIII
Chatas
nommé
PRINCE
JK,GUACE
&ans
i
ARX
PRINC
CULMI IPIS
GUILHERME
PRÍNCIPE
FORTE
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 261
O dia 3 de setembro fôra escolhido para uma revista geral das fôrças
que guarneciam os fortes, nas adjacências do Recife. O Sr. Haecxs e o Revista
comissário Zweers tiveram ordem de inspecionar as fôrças dos fortes Geral.
Ernesto, Waerdenburgh e Boa Vista ; os srs . Beaumont e Moucheron as
dos fortes Antônio Vaz e da Cidade Maurícia ; os srs . Van Goch, Hamel e
Aldrich as do Recife e as das baterias ; os srs. Raetvelt e Kraeyvanger,
Pern., 1887, vol. 6, p. 196-197 ) consta, também, várias vezes o nome de Duarte da
Silveira como comprador. Assim é que comprou a Antônio de Sá, em 17 de junho
de 1637 , por 10.000 florins, o engenho Velho de Beberibe, mais tarde denominado
Eenkalchoven. ( cf. também Pereira da Costa , O passo do Fidalgo, Rev. Inst. Arq.
Geog. Pern., 1902 , n. 56, vol. X, p . 61 ) . A 17 de junho, o engenho chamado Bom
Jesús ou do Tripicho, pertencente a D.ª Isabel de Moura, foi por êle comprado por
60.000 florins e, finalmente, a 23 de junho, o engenho Novo, pertencente a Pais Bar
reto, por 42.000 florins.
Duarte Saraiva foi também um dos que assinaram o pedido para que Nassau
permanecesse no Brasil, no qual pedido se oferecia a Nassau o estipêndio de 7.000
florins anuais. ( cf. Bloom, XI , p . 138 ) .
Gaspar Franco da Costa foi um dos judeus que compraram carga de dois navios
espanhóis apreendidos pelos holandeses. Gaspar Franco da Costa comprou 338 : 2
florins. (cf. Bloom, XI, p. 134 ) .
(368) Tudo leva a crer que seja exata a afirmativa de que João Fernandes
Vieira deixou-se levar muito mais pelas dívidas que lhe pareciam insolváveis do que
pelo programa de idéias de liberdade divina . Depois da descoberta dos papéis iné
ditos relativos a fraudes e má fé de João Fernandes Vieira, feita por Alberto La
mego, ficou comprovado o interêsse econômico como causa principal de ter Vieira
264 JOAN NIEUHOF
Schkoppe, tôda a sua fôrça não ultrapassava 600 homens e que os socorros
por êle trazidos não vão além de 1200 homens, dos quais a maior parte
é constituída por adolescentes e os demais estão doentes ou já mortos.
Como vê V. S., estou bem informado de sua fôrça, pois já abatemos ou
aprisionamos 2.600 de seus melhores soldados e 500 brasileiros, além
dos feridos que foram transportados para o Recife quando as nossas
tropas não dispunham de outras armas que chuços e cacetes . Êsses
feitos constituem verdadeiros prodigios do céu, pois se conseguimos fazer
tudo isso sem pólvora nem balas, o que se não poderá esperar de nossas
fôrças, agora que estão revigoradas por tropas de primeira e bem muni-
ciadas?
que vêm, em pessoa, dêsses lugares. Nada mais lhes disse que a pura
verdade e V. S. o constatará no seguinte : no prosseguimento desta guer
ra, espero que V. S. pondere de que lado está o seu interesse, no que
estou pronto a auxiliá-lo, pois, conquanto os seus governantes não diri
jam a mim sua correspondência, sou eu quem tem o comando supremo
da campanha; estão sob minhas ordens os Coronéis que vieram da Baía
e cuja autoridade não ultrapassa as tropas que com êles vieram.
O Coronel ordenou-me que fornecesse novas roupas aos que tudo per
deram, fazendo o desconto relativo em seus soldos . Respondí-lhe, po
rém, que sendo apenas um cumpridor de ordens, não poderia fazer tal
19
270 JOAN NIEUHOF
quanto ao antigo governo. E quando êles declaravam nada saber, eram seu govêr
ameaçados, para que, assim, manifestassem alguma cousa. Tinha-se ло .
(372) O trecho desde : “ Aos 28 de dezembro ... até “ ... Jeronimus Hellemans "
foi traduzido diretamente do holandês, pois a tradução inglêsa omitiu duas colunas
e meia (p. 187, 1.a col. últ. § até p. 188, 2.ª col. 1. § da ed. holandesa ) . Além disso,
o tradutor inglês cometeu erros de datas, de nomes e resumiu os trechos que tra
duziu ( cf. p. 187, 1.a col. últ. § até p. 189 , 1.a col., 1. § da ed. holandesa e p. 131 ,
1. col. últ. § e 2.ª col., 1.º e 2.º §§ ) .
274 JOAN NIEUHOF
ga de cêrca de 100 cabeças, a qual foi atacada pelo nossos e fugiu . Mas
perto dêsse lugar, o inimigo tinha um acampamento com algumas cen
tenas de homens, que atacaram os nossos e fizeram com que recuassem,
deixando para trás cêrca de 150 homens , cinco capitães, três tenentes e
alguns outros oficiais , dos quais morreu um capitão . Os capitães prisio
neiros eram Samuel Lambert, La Montagne, Gerrit Schut, Kiliaen Sni
jder, Daniel Koin ; o tenente Joost Koyman , Antony Baliart, Jeronimus
Hellemans , com um porta-bandeira.
A 8 de janeiro o Sr. Van Goch, em nome do novo Conselho, comuni
cou-se com os membros do antigo, no sentido de que, tendo ficado resolvi
da a remessa de numerosa fôrça a Paraíba, em importante missão, o
novo Conselho desejava ser informado sôbre a atual situação daquela ca
pitania, bem como se as cidades de Paraíba e Santo-André poderiam ser
defendidas por pequena guarnição. Os membros do antigo Conselho res
Consultas
ponderam que a Cidade Frederica não dispunha de água potável , sendo sôbre a
esta transportada de meio quarto de hora de distância. Nessas condi situação
ções, o seu suprimento poderia ser fàcilmente obstado pelo inimigo. O da Paraíba.
mesmo poderia acontecer com a passagem que conduzia à margem do rio.
Além disso não havia fortificações na cidade ; as que existiam pertenciam
ao mosteiro e não eram de grande monta ; também a igreja de Duarte
Gomes havia sido fortificada pelo inimigo, durante a guerra. Quanto a
Santo-André, essa localidade nada mais era que um engenho de açúcar
situado na barranca do rio a quatro horas de viagem da cidade de
Paraíba. Disseram ainda que as comunicações entre essa localidade e o
forte Santa Margarida poderiam ser fàcilmente interceptadas pelo ini
migo, pois a distância entre a fortaleza e a cidade era de quase 4 horas
(373 ) . Contudo a posição poderia ser socorrida sem dificuldade pelo rio.
O Sr. Van Goch prometeu apresentar um relatório ao Conselho.
A 12 de janeiro, o Conselho recebeu informação de que o inimigo
tinha invadido a Paraíba com poderosa fôrça e tendo avançado até pró
ximo ao engenho de Santo-André, surpreendeu à noite cêrca de 50 holan
deses e brasileiros, entre os quais mulheres e crianças. Em sua fúria,
os soldados haviam aberto a barriga das mulheres.
No dia seguinte o inimigo fêz novamente distribuir panfletos dizen
do, em resumo, que, desde que o povo do Recife não mais tinha esperança
de reforços, o melhor seria chegar a um acordo, pois os portugueses
estavam dispostos a tudo tentar antes de abandonar seu objetivo. Se
porém o acordo não fôsse possível, êles destruìriam todo o país antes
(373) O tradutor inglês escreveu 4 léguas ( cf. p. 189, 1.a col., 4.° § da ed.
holandesa e p. 131 , 2.a col. penúltima linha da trad. inglêsa) .
276 JOAN NIEUHOF
(374) O tradutor inglês omitiu a data 24 de dezembro (cf. p. 190, 2.a col., 2.0
§ da ed. holandesa e p. 132, 2.a col . 3.º § da trad. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 277
calcula em 7.400 soldados , 1.400 negros , 700 gastadores, ao todo, com escravos , etc.,
12 a 13.000 homens e os nossos em 2.500 . Fernandes Pinheiro (LXVIII , p. 317)
calcula em 4.500 soldados e 150 tapuias da parte holandesa.
Variam, também, os cômputos dos feridos e mortos ; mas o certo é, sem dúvida,
o dado por Varnhagen ( LXXII, p. 62 ) , isto é, 515 mortos e 523 feridos, sendo 74
oficiais fora de combate. Rodolfo Garcia confirmou a relação dada por Varnhagen,
ao transcrever o ofício do Supremo Conselho no Recife aos Estados Gerais, datado
de 22 de abril de 1648 ; êsse documento encontra-se entre os Documentos Holandeses
coligidos por Caetano da Silva na Holanda ; encontram-se aí especificados os nomes
dos oficiais mortos e os soldados pertencentes às respectivas companhias (LXXII,
p. 75-79, nota VII de Rodolfo Garcia ) . O Barão do Rio-Branco aceita o mesmo
relato. Wätjen e Netscher (XCVI e LXIII, pp. 264 e 158 respectivamente) cal
culam em 470 mortos e 523 feridos. Handelmann ( XL, p . 247-248 ) avalia em 400
mortos e 500 feridos ; finalmente, o sempre inexato e hiperbólico Rafael de Jesús
(XLIV, p. 594 ) em 1.200 mortos, entre os quais 180 oficiais. Entre os brasileiros,
84 mortos e 400 feridos (Barão do Rio-Branco, LXXV, p. 291 ) . Rodolfo Garcia
(LXXII, p. 79, nota VII ) baseou-se no relato oficial de Francisco Barreto ( Rev. do
Inst. Hist. e Geog. Bras. , 56, parte 1 , 71/75 ) . J. F. Pinheiro ( LXVIII , p. 321 ) .
Handelmann exagerou as nossas perdas, calculando-as em 500 brasileiros entre fe
ridos e mortos (XL, p. 248 ) .
Quanto à segunda batalha de Guararapes, que Nieuhof datou de 16 de abril,
laborando em êrro, verifica -se que o tradutor inglês piorou o êrro, marcando-lhe a
data de 16 de maio (cf. p . 193, 2.a col . 4. § da ed. holandesa e p. 134 , 2.ª col . 23.ª
linha da trad. inglêsa ) . Sôbre essa segunda luta, variam também os cálculos sôbre
os efetivos e os mortos, parecendo-nos, porém, que os melhores foram os feitos por
Varnhagen e Rodolfo Garcia. Segundo o Barão do Rio-Branco ( LXXV, p. 146, 147) ,
as nossas fôrças compunham-se de 2.750 homens e as dos holandeses de 4.200 ou ,
segundo os escritores portugueses, 6.000 . Rafael de Jesús ( XLIV, p. 618 ) calcula
em 5.000 homens ; as perdas foram em número de 1.800, contando com índios , pretos,
marinheiros e feridos ; e os brasileiros 60 mortos e 250 feridos. Essas cifras de
mortos e feridos estão exageradas, pois, segundo Varnhagen ( LXXII , p. 94 ) , os
holandeses perderam 1.045 homens e os nossos 45 mortos e duzentos feridos. Ro
dolfo Garcia, nota II a p. 128-39 ) mostrou que as perdas holandesas montaram a
1.044 e as nossas êle as calculou no mesmo número que Varnhagen. Segundo do
cumento Lyste vande hoge ende lage Officieren mitsgaders de gemeene soldaten
dewelcke in Batalie teghens de Portugiesen aenden Bergh van den Guararapes (3
mijl van't Recif) doot zijn gebleven op den 19 Februarius 1649 ( isto é Relação dos
Oficiais, sub-oficiais e soldados rasos que caíram mortos a 19 de fevereiro de 1649,
na batalha contra os portugueses no monte dos Guararapes ( 3 milhas do Recife ) ,
existente na Bib. Nacional, Miscelânea, IV, 428, n. 139 do Catálogo da Exposição
Nassoviana, 1929 , vol . LI, 1938, o número das perdas holandesas foi de 1.043. Do
lado holandês , deve-se, portanto, comparar esta lista (Anexo II ) pela primeira
vez publicada, com a que se encontrava nos Documentos Holandeses, vol. 4, fls.
198-201, publicada por Rodolfo Garcia LXXII ( nota II a p. 128-139 ) . Do lado
brasileiro, a Relación de la Victoria que los portugueses de Pernambuco Alcançaron
de los de la Compania del Brasil en los Garerapes a 19 de Febrero de 1649, Tra
ducida del Aleman, publicada en Viena de Austria, Año 1649 (B. Nacional, IV-211,2,19
(3) , 10 pp., publicada na Rev. do Inst. Hist., Geog. Bras., vol. 22, p . 331-337 ; e nos
Anais da Bib. Nacional, vol . 20 , p. 153-157.
282 JOAN NIEUHOF
Essa foi a última tentativa que poderíamos ter feito em campo aber
to . Todos os nossos cuidados futuros se concentrariam na manutenção
e defesa do Recife, a menos que recebêssemos novos reforços da Me
trópole. Entretanto, sendo assaz demorada a remessa de recursos, co
meçou-se a recear que, se Deus Onipotente não nos enviasse algum alí
vio repentino, seríamos finalmente forçados a abandonar também aquela
praça à mercê do inimigo. O Grande Conselho atirou a responsabilida
de dos últimos desastres sôbre o Conselho de Guerra e êste, por sua vez,
alegou que a tropa estava mal equipada e há tempos não recebia sôldo.
Quanto a mim, vendo que as cousas iam de mal a pior, achei que o melhor
seria pedir um passaporte para voltar à Holanda , documento êsse que
só com grande dificuldade conseguí. Pus-me então a me preparar para
a viagem .
Entretanto , antes de deixar o Brasil, desejo dar ao leitor rápida no
tícia dos produtos do país.
Imakaru
Kati
Pakonga
Cafia
Levende
Kruvit
worte
Mand l
i
Medicin
BRASILEIR
FLORA A
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 283
(378) Nieuhof não foi absolutamente original neste trecho referente à Man
dioca. Em alguns trechos se baseia em Marcgrave ou em Piso, e, em outros, copia
literalmente o que escreveram os mesmos . Os capítulos plagiados são : De Piso :
Capítulo II do livro IV - De Mandioca ( p . 52-55 ) ; de Marcgrave : o capítulo IV do
livro II (p. 65-68 ) . Indicaremos nos respectivos lugares os trechos plagiados. Não
sabemos o motivo que terá levado Wätjen ( XCVI , p. 445 ) a afirmar que a melhor
descrição da Mandioca foi a feita por Nieuhof. O curioso é que êle não desconhecia
o trabalho de Piso e não ignorava a descrição de Barlaeus. Pondo de lado o traba
lho de Barlaeus, que se utilizou de material acumulado por outros, é de se admirar
tal afirmação, pois melhor do que a descrição de Piso , só a de Marcgrave. E isso admi
tindo ainda a originalidade de Nieuhof, que, como sabemos, é inexistente . Cabe,
ainda, acrescentar que a tradução alemã feita por Wätjen da descrição da Mandioca
de Nieuhof, além de resumida, contém lapsos ( cf. p. 283-284 da ed. alemã Das hollan
dische Kolonialreich in Brasilien. Haia e Gotha, 1921 , ou p. 445-446 da trad.
Brasileira, XCVI ) . Em Piso ( LXX, 52 ) , Maniiba & Mandioca : em Marcgrave
(LXX, 65 ) , Mandijba & Maniiba, Mandioca ; ( Vide sôbre os nomes diferentes Hoene,
CIII , p. 205 ) . Em Soares, Mandioca (LXXXVI, p . 186-188 ) ; em Gandavo ( XXXVI ,
p. 43 e 95 ) ; Cardim ( XIX, p. 60 ) . Em Abbeville ( XXXVIII , p . 46 ) , Manioch ; em
Léry ( LII, p. 112 ) , Maniot ; segundo Batista Caetano não é fácil explicar a etimolo
gia desta dicção, que se acha modificada em outras línguas ; não resta dúvida que
vem do abañeenga ; os vocabulários não a registam ( III , p. 216 , 127 ) . Mandiiba
segundo o mesmo autor ( XLVI , p . 216 ) é nome da árvore da mandioca ; regista
também ( III, p. 217 ) manib como árvore de mandioca.
Maniçoba em Piso ( LXXI, p. 116 ) . Segundo Batista Caetano ( III, p . 216 ) ,
mandiiçob ou maniçob fôlha de mandioca.
(379) Em Marcgrave ( LXX, p. 66 ) qui Brasiliensibus vocatur Co, Lusitanis
Roza. Cô, segundo o Dicionário Português-Brasiliano ( XXX, p. 223 ) , significa roça,
quinta, sítio.
Em Marcgrave ( LXX, p. 66) , Terra elaborata efformatur in monticulos, Lusitani
vocant Monte de terra cavada, Brasilienses Cujo.
284 JOAN NIEUHOF
ferro repleta de furos com bordos cortantes, qual ralo para noz-moscada.
O movimento contínuo da roda rala a mandioca em pequenas partículas
que vão caindo em uma gamela. Essa roda é chamada, pelos brasileiros,
Ibecém Babaca, e, pelos portugueses, Roda de Farinha ( 381 ) . O reci-
piente é denominado Meekaba, pelos brasileiros, e , pelos portugueses,
Côcho de ralar mandioca ( 382 ) . Todavia, as pessoas mais pobres têm de
se arranjar com um ralo manual a que chamam Tapiti ( 383 ) . A raiz,
depois de ralada, vai para um saco tecido de fibras vegetais, medindo
cêrca de quatro polegadas de largura a que os portugueses chamam Es-
premedouro de Mandioca (384 ) . Depois de cheio o saco, é o mesmo colo-
lado em uma prensa onde a mandioca já ralada perde todo o sumo ( dota-
do de propriedades tóxicas ) , chamado Manipuera ou Manipueira pelos
brasileiros e água de mandioca ( 385 ) pelos portugueses. A próxima fase
do processo consiste em fazer a massa passar por uma peneira a que os
brasileiros dão o nome de Urupema (386 ) . Daí a farinha vai para um
recipiente de cobre, ou forno, que é levado ao fogo. A farinha é então
constantemente revolvida com uma pá ou espátula de madeira, até secar
perfeitamente. A êsse algidar os brasileiros chamam Vimovipada, e à
espátula denominam Vipucuitaba. Antes de bem sêca, os brasileiros cha-
mam a farinha Vitinga e os portugueses Farinha Ralada. Quando, porém,
já está completamente sêca e pronta para ser guardada, os brasileiros
20
286 JOAN NIEUHOF
(391 ) Este trecho foi, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67 ) . Piso
(LXX, p. 54 ) .
( 392) Este trecho é, também, copiado de Marcgrave ( cf. LXX, p. 67) , que
regista : Tapurû.
(393 ) Este trecho é, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67) , que
regista : Mandiopuba & Maniopuba. Piso (LXXI, p. 116 ) registou Puba ; e ( LXX,
p. 54) , Mandiopiba.
(394) Este trecho é, talvez, copiado de Marcgrave ( cf. LXX , p . 67) , que
regista : " Mandiopuba ; Caarimâ e Caarimâciu ". Piso ( LXX, p. 54 ) .
(395 ) Este trecho referente ao Mingau é copiado de Marcgrave ( cf. LXX, p.
67) , que regista : " Quiya e Minguipitinga ". Em Piso ( LXX, p. 54 ) , Mingau-pe
tinga ; Piso (LXXI, p . 116 ) regista a flôr Nhambi .
(396 ) Marcgrave (LXX, p . 67) não a menciona ; Piso ( LXX, p . 54 ) regista
Tipioca.
(397) Este trecho foi copiado de Marcgrave ( cf. LXX , p. 67 ) , que regista :
farinha de Caarima e Mingaupomonga .
288 JOAN NIEUH OF
(403) Este trecho foi copiado de Marcgrave ( cf. LXX , p. 67 ) que regista :
Aipimacaxera.
(404) O tradutor inglês não foi fiel ( Cf. p. 202, 2.a col. da ed. holandesa e
p. 138, 1.a col . da trad. inglêsa) .
(405) Trata-se da Vitinga, pois Marcgrave ( LXX, p. 68 ) ao escrever sôbre
o uso da mandioca na Medicina afirma que a Vitinga sara as úlceras .
(406 ) Compare-se com o cap. VII, p. 68, de Marcgrave ( LXX ) , onde êle dá
os diferentes nomes da planta em diversos países (Yuca, Cazave, Quauhcamotli ) e
afirma que a planta é originária do Continente Americano. A mandioca é nativa
no Continente Americano e tem o seu centro no Brasil meridional e central. Cf.
Hoehne, p. 30, XLII.
290 JOAN NIEUHOF
(407) O tradutor inglês escreveu três ou quatro florins por bushels ; omitiu as
mil covas de mandioca e, mais adiante, escreveu dois shillings por três bushels. (Cf.
p. 138, 1.a col., 1.0 § da ed. inglêsa e p. 201 , 1.a col., 3.º e 4.° §§ da edição holan
desa) . Schelling: antiga moeda de prata, no valor de seis stuivers. O stuiver
vale 0,05 florins.
(408) Em Marcgrave (LXX, p. 73, cap. XII ) Caaeo dos Brasileiros ; Herba
viva do vulgo ; Em Gandavo ( XXXVI , p . 100-101 ) . Em Cardim ( XIX, p . 69 ) .
(409 ) Nieuhof escreveu Kalabassen ( p. 201 , 2.a col ., 1.° § ) .
( 410 ) Em Marcgrave ( LXX, 125 ) Iamacurú (árvore de tamanho médio ) e
(LXX, 126 ) Imacuru, árvore de grande tamanho, chamada pelos brasileiros Caxabu
e pelos Lusitanos Cardon. Marcgrave ( id., 23 ) regista também a planta.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 291
Brasileiros. Em Batista Caetano ( III , p. 549 ) : Ubá em vez de uib - á, s., cana;
e p. 553 užb -
— á, mais próprio uĭbae, s .. espécie de cana ; uîbâ = uimâ cana.
Em Marcgrave ( LXX, p. 83 ) Guirapeacojâ dos Brasileiros e Páo de galinha dos
Lusitanos ; Piso ( LXX, 50) Guirapeacoca dos Brasileiros e vulgarmente Pão de
galinha.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL , 295
uvas maduras durante o ano todo terá apenas que podar a vinha em
épocas diversas, conseguindo assim uvas excelentes e vinho tão doce
como o de Malvasia . Infelizmente, porém, as formigas atacam furiosa
mente as vinhas , sugando todo o néctar e deixando ao viticultor apenas
a casca. Diversas espécies de árvores frutíferas foram transplantadas
da Holanda para o Brasil, onde se desenvolvem perfeitamente e produ
zem frutos excelentes .
Bother
FLORA
BRASILEIR A
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 299
(424) Em Soares (LXXXVI, 218 ) apé é " uma árvore do tamanho e feição
das oliveiras ".
300 JOAN NIEUHOF
21
302 JOAN NIEUHOF
um caroço resistente, ovalado, que não difere muito do côco, tem idêntica
espessura, mas não tem poros , e cuja polpa é tão clara como a da noz e
igualmente branca, mas não tão doce como a do côco. Esse fruto é usado
tanto pelos naturais como pelos estrangeiros e dá durante o ano todo.
Os brasileiros chamam-no Inajámirim , isto é, coquinho . A polpa desta
castanha fornece também um óleo branco, refrigerante que tem a mesma
aplicação que o nosso óleo de rosas, e, enquanto fresco, pode ser utiliza-
do para saladas, mas , depois de velho , só serve para iluminação. A
casca dá um óleo de natureza idêntica, mas não tão refrigerante. Do
tôpo da árvore corre uma resina fina e aromática, que pode ser usada
como goma-arábica . Daí tiram também uma espécie de medula que tem
o paladar da nossa noz, e usada com pão e sal constitue poderoso ali-
Coqueiros. mento.
(428) Em Piso ( LXX , 63 ) , o fruto da Pindova é a Inaia miri, que são côcos
pequenos ; Inajaguacuiba as árvores (coqueiro ) e Inajaguacu ( ao fruto) ; em
Marcgrave (LXX, 138 ) , Inaia Guacuiba (árvores ) e Inajaguacu ( o fruto ) ; e
acrescenta que no Congo chamam-na de Ejaquiambutu e aos frutos Quiti inga
quiambtu; os lusitanos chamam-no de coquiero (sic ) . Marcgrave não regista
Inaia-miri ; Soares ( LXXXVI , 221 ) Anajámirim.
(429 ) Marcgrave (LXX, 273 ) escreveu : Universale Brasiliensium alimentum
est Vi, Lusitanis Farinha de Mandioca dicta.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 303
essa arrumação acendem uma fogueira, que deixam arder até que presu
mam estar a carne suficientemente assada. Se acertam o ponto, a carne
fica excelente, melhor que a preparada por qualquer outro processo. A
êsse sistema de preparar chamam Biaribi. O peixe , quer seja assado ou co
zido, comem-no com Inquitaia ( 431 ) , uma mistura de sal e pimenta .
Cozem-no, porém, em sal. Os peixes pequenos são enrolados em folhas
e postos a assar na cinza. Apanham a farinha de mandioca com três
dedos da mão direita e atiram-na para dentro da bôca. O mesmo fazem
com feijão e outros alimentos semelhantes. Alimentam-se frequentemen
te, tanto de dia como à noite, pois não há horário para as refeições.
Raramente usam colheres ; comem com a mão ou servem-se de conchas
ou outro utensílio qualquer. A carne de certos animais selvagens , como
por exemplo a dos vários porcos do mato, é muito apreciada pelos natu
rais. Esse animal tem um calombo nas costas, qual o do camelo, e cuja
vianda é verdadeiramente saborosa.
(435) Pety = petĭm, tabaco (III , p . 372) . Cf. Plínio Ayrosa (LII, p . 163,
nota 400).
(436) Urucuri é nome dado a palmeiras ( III , p . 559 ) e ĭba, árvore ( III, p. 184) .
306 JOAN NIEUH OF
NO LITORAL BRASILEIRO
(440 ) O tradutor inglês não foi fiel ( cf. p. 215, 2.ª col. da ed . hol. e p. 146,
2.a col. da trad. inglesa) .
Sôbre os excessos judaicos no comércio, cf. Wätjen ( XCVI, 365-376) , especial
mente p. 371 , onde se documentam os absurdos das especulações dos mercadores
judaicos. Vide também o capítulo " A queda do domínio holandês ", in Civilização
Holandesa no Brasil (LXXVII, 274, 307) e, finalmente, Bloom (XI, especialmente
pp. 128-144) .
DANSA DE NEGROS
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 309
com incrível firmeza . Ainda no meu tempo, uma negra deu à luz uma
criança cuja pele e cabelos não eram negros , mas vermelhos. Vi, também,
um garoto, filho de pais negros, que tinha pele branca, cabelos e sobran
celhas claros, mas , encaracolados, e nariz chato como o dos pretos . Tive
ocasião de ver negros velhos com longas barbas brancas e cabelos grisa
lhos, apresentando aspecto nobre.
Indígenas. Os nativos do Brasil agrupam-se em diversas nações, que se distin
guem pelos seus nomes próprios : Tubinambás, Tobajaras, Petiguarás e
Tapuias e Tapuyers ou Tapoeyers ( 441 ) . As três primeiras nações usam
a mesma língua que difere apenas nos dialetos . Todavia, a última se subdi
vide em diversas tribus que se distanciam tanto nos costumes quanto na
língua. Os brasileiros que viviam entre nós e os portugueses, eram de es
tatura mediana, fortes, bem conformados e espadaúdos. Tinham olhos ne
gros, bôca rasgada, cabelos pretos, encaracolados e nariz chato . Esse acha
tamento não lhes é natural, mas, considerando-o traço de beleza , os pais
praticam-no nas criancinhas, quando ainda muito tenras. Os selvagens
pintam o corpo e o rosto de diversas côres , e , em geral, são imberbes, con
quanto alguns tenham barba preta . As mulheres têm igualmente estatu
ra mediana, membros bem torneados e não são feias. Também elas pos
suem cabelos pretos e não nascem escuras ; o sol é que lhes dá, aos poucos ,
uma côr amarelo-bronzeada . Os aborígenes chegam logo à maturidade
e atingem a idades avançadas, em perfeita saúde. Também raramente
ficam grisalhos. Vêem-se , igualmente, europeus aí residentes atingi
rem a 100 e 120 anos. Atribue-se êsse fato à temperatura, à água, ao
clima que, de fato , é tão bom, a ponto de espanhóis , que não passavam bem
na Espanha ou nas Índias Orientais, virem para o Brasil a-fim-de des
frutar o ar excelente e a água magnífica . É verdade que a maior parte
das crianças filhas de estrangeiros sofrem de moléstias prolongadas, a tal
ponto que, dificilmente, uma em três consegue sobreviver. Isso , porém,
não se atribue ao clima e sim à má alimentação . Poucos são os aleijados,
entre os aborígenes ; são desempenados e ágeis, o que é realmente de
admirar, porque não costumam enfaixar as criancinhas - a não ser os
pèzinhos por considerar pouco saudável .
Antes de os holandeses se firmarem no Brasil os portugueses haviam
escravizado os indígenas , pensando ser essa a melhor maneira de os ex
terminar, e, de fato, conseguiram realizar o seu intento com tal eficência
(441 ) Compare- se com Marcgrave ( LXX , 268 ) , donde Nieuhof tirou essa
classificação. Tabbajarás em Ayres do Cazal ( XXVI , 198 ) . Em Cardim, ( XIX,
171 ) Potyguaras e Pitiguaras. Afora os cronistas portugueses, do lado holandês
o trabalho de Marcgrave é o mais importante. (V, cap. IV, De Incolis Brasiliae, p.
268-279, afora o texto de Rabbi e Herckmans ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 311
(442) O tradutor inglês escreveu 100 anos (cf. p. 217, 1.a col . da ed. hol.
e p. 148, 1.a col. da trad. inglêsa ) .
(443) O tradutor inglês omitiu êste trecho (cf. p. 217, 2. col ., 3. § da
ed. holandesa e p. 148, 1.a col. da trad. inglêsa) .
(444) Em Marcgrave ( LXX, 278 ) está escrito Guau, Urucapi, Curupirara ,
Guaibipaie, Guaibiguaibiabucu . Também neste trecho Nieuhof plagiou Marcgrave .
312 JOAN NIEUHOF
(ao qual chamam Patigua) , leva outro à cabeça, com todos seus uten
sílios domésticos , ou então uma cesta enorme com farinha. Carrega, ain
da, várias outras vazilhas menores, pendentes de ambos os lados , nas
quais leva água para beber. A criança é transportada num pedaço de
algodão atado em tôrno do busto e pendente do ombro direito. O bebê
fica alí acomodado, com as perninhas abertas, uma esticada diante do
ventre materno e a outra sôbre o quadril. Como se tudo isso ainda não
bastasse, a índia leva um papagaio ou macaco empoleirado na mão e
puxa um cachorro atado a um cordel. Assim parte a família das selvas
para suas viagens, sem mais provisões que pequena reserva de farinha.
Os campos fornecem-lhe alimento ; as fontes e os rios dão-lhe de beber.
Tambem o vegetal denominado Caraguatá, lhes alivia a sêde, pois con
serva sempre um pouco de água pluvial no recesso de suas fôlhas : ver
dadeiro refrigério para os viajantes que, em regiões estéreis , são às
vêzes forçados a percorrer 10 ou 12 milhas ou mais sem encontrar qualquer
espécie de água. À noite os aborígenes penduram suas rêdes em árvores
ou estacas , acendem fogo para preparar a comida e abrigam-se da chuva
com folhas de palmeiras. Quando estão em casa, o marido geralmente
sai pela manhã munido de arco e flecha para a caça, ou então vai pescar,
no mar ou no rio, enquanto a mulher se ocupa das plantações. Algumas
delas seguem seus maridos a-fim-de apanhar as prêsas. Dão caça aos
animais selvagens de diversas maneiras. Matam alguns a flechadas, apa
nham outros em covas feitas a propósito e disfarçadas com ramos e fô
lhas de árvore, dentro das quais colocam alguma carniça para atrair o
animal que pretendem apanhar. A essa armadilha chamam Petaku. Cons
troem também mundéus de madeira e empregam diversos métodos para
agarrar animais selvagens, a cada um dos quais dão nome diferente. Para
caçar pássaros , usam três qualidades de arapucas a que dão o nome de
Jukana. A primeira delas ―― a Jukanabiprara segura as aves pelos
pés ; a segunda prende-as pelo pescoço e é conhecida por Jukanajuprara;
e, finalmente, a terceira apanha -os pelo corpo e tem o nome de Jukanapi
teraba. Matam os peixes com flechas ou pescam-nos com ganchos , usando
para isca vermes que chamam Kanduguaku, minhocas , caraguejos ou
peixinhos. Preparam o pesqueiro pondo na água fôlhas de Japikaj, Tim
potiana, Tinguy ou Tinguirri. Outras vêzes empregam uma fruta cha
mada Kururuape, ou a raiz denominada Magui, ou ainda a casca da ár
vore Anda, a-fim-de obrigar o peixe a nadar pela tona, como morto ; apa
nham-no, então, com uma espécie de peneira denominada Vrupema, feita
de taquara ou caniços e , neste caso, chamam-na Vruguiboandipia. No
mar, pescam com anzóis de ferro e usam carne para isca. Afoitam-se
bastante no oceano , servindo-se apenas de três toras de madeira, atadas,
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 313
(445) Este trecho de Nieuhof desde : " A mulher segue constantemente o ma-
rido ... " até “ ….. Apeiba " parece-nos ser uma tradução do texto latino de Marc-
grave ( LXX, 272-273 ) . Como acentuamos na nota 437, há pequenas diferenças de
grafia.
Marcgrave escreve Timbopotiana e Nieuhof grafou Timpotiana ; Apeiba ( Marc)
e Apiba ( Nieuh.) . Em Soares ( LXXXVI, p. 251 ) Apeyba.
O tradutor inglês omitiu o trecho " vermes que chamam Kanduguaku " ( p. 149 ,
1.a col.) .
Jucana ( XXX , 246 ) o laço ; ( XXX, 246 ) jucanabipiára o laço dos pés ; juca-
naiurípiára - o laço do pescoço, jucanapiteréba , o laço do meio corpo.
Andá ( XXX , 205 ) , certa árvore. Segundo Batista Caetano tem diversas signi-
ficações : contr. de antá, fruto duro, nome dado a vários frutos e côcos (III, p. 34) .
(446 ) Este trecho parece- nos ser também plagiado de Marcgrave (LXX,
271 e 272) . As diferenças de grafia são, afora as citadas na nota 437, as seguin-
tes: Itaque ( M ) Ituque (N ) ; Taquoaquice ( M. ) - Taquoaquia (N ) ; Patiguâ
(M.) ; ―― Patigua (N ) ; Kuite ( N ) Cuieté (M ) ; Kribuca ( N ) - Cuibuca ( M ) .
O trecho de Nieuhof apresenta ordem diversa da de Marcgrave.
314 JOAN NIEUHOF
Parto das As mulheres são muito férteis, têm parto fácil e raramente abortam.
selvagens. Logo que uma delas dá à luz, vai ao rio e lava-se, sem auxílio de ninguém.
Enquanto isso, o marido permanece deitado pelo menos por 24 horas , com-
penetrando-se tanto de seu papel como se estivesse de fato doente . As
mães lamentam a morte de seus filhos chorando e gritando durante três
ou quatro dias consecutivos.
Como rece- Depois de uma longa viagem, recebem os amigos de braços abertos e
bem seus com lágrimas nos olhos . Batem com a testa no peito do recém-chegado
amigos. pretendendo assim recordar os sofrimentos por que passou durante sua
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 317
(450) O trecho desde : " Os tapuias habitam o interior ... " até 66 ...Cua-
çumandiiba " pouco pertence a Nieuhof. Assim, desde " Os tapuias " até " Kara-
kara" o trecho é talvez inspirado em Herckmans, por intermédio de Marcgrave,
do pequeno resumo que êste deu do trabalho " Breve Descrição dos Costumes dos
Tapuias ", in Descrição Geral da Capitania de Pernambuco. O texto de Herck-
mans saíu no cap. XII, pp. 282-283 , de Marcgrave : Alia quaedam de Tapuys ab
Elias Herckmanns descripta. O texto completo se encontra na Rev. do Inst. Arq.
e Geog. Pern., tomo V, 1886, p. 279 e sgts. O trecho desde : " ...outras tribus ...
até ... Dremmenge " é tirado de Marcgrave ( LXX, p . 269 ) . O texto " Os sú-
ditos ... " até " ... é considerado entre êles como ornamento todo especial ” é, tal-
vez, igualmente, inspirado em Herckmans, ( cf. p. 279-280 da Revista citada) . 0
trecho que vai de " Ambos os sexos ... "" até " Guara ou Kaninde " é semelhante
ao de Herckmans ( cf. p. 281 da referida Revista ) .
O trecho referente a trajos é tirado de Marcgrave - cap. VI, p. 270-271 , De
Vestitio & Ornatu Virorum, & Mulierem Brasiliensium _______ até a palavra Miapapa-
caba, com omissão do nome português dado por Marcgrave — Alpargatas (alperca-
tas) . Neste passo cometeu Nieuhof, ao traduzir, um engano, pois ao ornato que
consiste no ajuste dos corais com as penas, é chamado Papixoara e não Aracoya ,
como êle escreveu . Marcgrave escreve ( LXX, p. 271 , linha 25 ) : “ Ligam, também,
muitas penas de Avestruz ou penas de Araras, formando quase um círculo, e reú-
nem-nas com um fio grosso, ajustando-as à região lombar e cobrindo com elas o
anus ; e a êsse ornato, que pende quase até os joelhos, chamam Aracoaya ". Nieuhof
descreveu o ornato Papixoara como se fôra o Aracoaya, e omitiu a descrição dêste,
embora se encontre o nome Aracoya e esteja omitido o nome Papixoara.
O texto referente às armas é também copiado de Marcgrave - cap. X, p. 278,
De Armis Brasiliensium, & exercitiis illorum — Finalmente o trecho sôbre ali-
mentação é inspirado em Piso ( LXX, p. 55, parte final do cap. II De Mandihoca) .
Afora as citadas diferenças gráficas já apontadas na nota 437, convém notar
os seguintes enganos e diferenças de grafia : Tararijou (N ) Tarairyou ( M ) ;
Arigpaygh (N ) - Arigpoygh ( M ) ; Arara ou Kamud em Nieuhof ( p . 223 ) -
Arara ou Caninde ( M., p. 271 ) ; Kazinde ( N., p. 223 ) - Carinde ( M., p . 271 ) ;
Apiyatî (N. p. 224) - Apiyatê (M., p. 271 ) ; Miapakabas (N., p. 224, 2.a col . )
Miapapacaba ou Alpargatas (alpercatas) dos Lusitanos ( M., p. 271 ) : Nhum-
bugaku (N., p. 225 ) - Nhumbugoacu ( M., p. 278 ) ; Meumbrapara (N., p.
225) Membiapara ( M., p . 278 ) ; Cuaçumandiiba ( N. 225) - Cuacûmandijba
(Piso, p . 55 ) .
Os índios tapuias assim chamados pelos holandeses eram os Carirís. Os tupís
denominavam-nos tapuias, o que significa - estranhos à sua tribu, que não fala-
vam o tupí. Os Janduís eram Carirís, assim como os Paiacús e as outras tribus.
Foram os indígenas que mereceram maiores cuidados dos estudiosos, como Marc-
grave e Herckmanns, e dos aventureiros como Rabbi e Baro. Os Janduís habitam
os ribeiros do Assú, Mossoró e Apodi ( cf. Rodolfo Garcia, p. 266 ) . Paul Ehren-
reich (XXXIV, p. 42) , depois de um minucioso estudo baseado no material acumu-
lado pelos cronistas holandeses e nos retratos que Wagner e Eckout deixaram,
22
318 JOAN NIEUHOF
continuaram a atirar seus dardos contra a fera, até que, quando esta
já se esvaía em sangue, um dos bugres saltou -lhe sôbre o dorso e, to
mando-a pelos chifres, atirou-a por terra. Ajudado por seu companhei
ro, matou o animal. A seguir prepararam a carne, assando-a enterrada,
segundo o costume selvagem, e com ela banquetearam-se em companhia
dos demais tapuias presentes.
Os tapuias de ambos os sexos, desde o chefe até o mais simples dos
selvagens, andam inteiramente nus. Os homens apenas escondem as par
tes íntimas, em uma espécie de saquinho ou cesto feito de casca de árvo
re, atando-o com um amarrilho. Quando precisam, retiram êsse estôjo, e,
nisso, mostram mais recato que alguns europeus. Hábito idêntico têm
os demais brasileiros que habitam o interior. As mulheres escondem
suas partes íntimas com um punhado de ervas ou com um ramo de ár
vore atado a um cordel que passam sôbre os quadrís. De idêntica ma
neira procuram velar as nádegas, mas fazem-no tão descuidadamente
que, tanto na frente como atrás, parte do que pretendem esconder con
tinua exposto. Os homens usam, ainda, uma espécie de cora feita de
penas de Guara ou Kaninde, da qual pendem sôbre as costas penas da
cauda da Arara ou Kamud ; alguns atam na mão um fio de algodão , no
qual amarram penas vermelhas ou azues ; a êsse ornato chamam Akan
buaçada. Os aborígenes têm também mantos tecidos com fio de algodão ,
como rêde. Em cada furo enfiam uma pena vermelha de Guara, acom
panhada de penas pretas, verdes e amarelas de Aakukaru, Kazinde e
Arara, arrumando-as de maneira semelhante às escamas de peixe. Den
tro dessa capa existe uma espécie de boné que cobre a cabeça, deixando
que o manto caia sôbre os ombros e o corpo, de forma a cobrí-lo até mais
ou menos o meio. Assim é que êsse abrigo pode ser usado tanto para
ornamentar como para agasalhar, pois a chuva não o atravessa. Tal
capa é conhecida na língua dos selvagens pelo nome de Guara Abuku.
Os aborígenes colam, ainda, com mel silvestre sôbre a testa, a crista de
certas aves, e a êsse ornato dão o nome de Aguana.
Se a um índio morre o pai ou a mãe , arranca êle todo o cabelo da
cabeça. No lóbulo das orelhas os aborígenes costumam fazer furos tão
grandes que nêles se pode introduzir um dedo. Em tais orifícios usam
atravessar um osso de certa espécie de macaco a que denominam Nam
bipaya ou um pedaço de madeira coberto de algodão . No lábio superior
os homens fazem furos onde engastam pedaços de cristal, esmeraldas ou
jaspe do tamanho de uma avelã. A essa pedra chamam Metara, mas, se
for verde ou azul , seu nome é Metarobi; em geral preferem pedras verdes.
Os selvagens fazem também perfurações no rosto, de ambos os lados da
bôca ; aí os casados usam um pedaço de madeira do tamanho e da gros
¦
320 JOAN NIEUHOF
sura de haste de uma pena de ganso . Às vêzes usam nesse orifício uma
pedra chamada Tembekoareta. Nos furos que praticam nas narinas,
os selvagens usam também pedaços de madeira semelhantes aos que cha
mam Apiyati. Pintam todo o corpo com certo suco castanho extraído
do Genipapo; tal hábito estende-se às mulheres e crianças . Além disso ,
colocam em diversas partes do corpo, com mel silvestre ou resina, penas
de várias côres que, a grande distância, lhes dão a aparência de aves.
Essa maneira de ornamentar chama-se, entre êles, Akamongui. Assim é
que adornam os braços com pulseiras de penas vermelhas e amarelas, dan
do a isso o nome de Aguamiranga. Às vêzes entremeiam corais com as
penas, e o ornato passa a chamar-se Arakoaya. Os selvagens fabricam
também braceletes com as sementes de um fruto denominado Aguay
os quais usam nas pernas para fazer barulho quando dansam. As san
dálias que adotam são feitas da casca de Kuragua e têm o nome de
Miapakaba. Algumas nações de tapuias não usam arco e flecha ; limi
tam-se a atirar seus dardos à mão ; os Cariris, porém, trazem arcos. Os
tacapes são feitos de madeira muito dura e largos numa das extremida
des, onde também fincam agudos dentes e ossos ponteagudos . Enrolam
no cabo um cordel ou outra cousa qualquer e atam, na extremidade, um
punhado de penas da cauda da Arara ; no meio, colocam mais uma or
dem de penas. A essa arma dão o nome de Atirabebe e Jatirabebe. As
trombetas, a que chamam Kanguenka, são feitas de ossos humanos ; toda
via, as chamadas Nhumbugaku, de tamanho muito maior, são de chifre.
Existe ainda outra modalidade de corneta feita de taquara e chamada
Meumbrapara . Os tapuias não são tão bons guerreiros quanto os de
mais brasileiros , pois quando a luta é dura êles fogem com incrível rapi
dez. Não semeiam nem plantam qualquer outra cousa que não a man
dioca, e sua alimentação usual é constituída de frutos, raízes, ervas,
animais selvagens e, às vêzes , mel silvestre , que colhem do ôco das árvores.
Dentre todas as outras raízes os nativos apreciam de maneira particular
uma variedade de mandioca nativa que atinge o porte de uma árvore
pequena. Seus galhos e fôlhas lembram os da mandioca comum, mas
nem de longe se lhe assemelha em qualidade. A essa variedade os bra
sileiros do interior chamam Cuguaçuremia e os do litoral Cuaçumandiiba.
Os aborígenes também comem carne humana. Se acontece de uma
mulher abortar, êles imediatamente devoram o feto, alegando que não
podem dar melhor túmulo à criança , que as entranhas de onde veio. Os
tapuias levam vida nômade como a dos árabes, conquanto permaneçam
sempre mais ou menos numa certa área dentro de cujos limites vão
mudando de morada, conforme as diferentes estações do ano. Vivem
de preferência no mato, alimentando- se de caça, em cuja atividade êles
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 321
As Ilhas Corvo e Flôres são duas das nove ilhas a que os portugueses cha-
Flamengas. mam ilhas Açores e os holandeses chamam ilhas Flamengas. A maior
delas é a Terceira, que tem um perímetro de 16 léguas. É muito ro-
chosa, mas, a-pesar-disso, produtiva, pois lá existe grande quantidade de
gado. E' rica, também, em canários e outros pássaros . Aí existe uma
fonte que transforma pau em pedra e diversas águas termais onde se
pode cozer um ovo. Parece que o solo está cheio de concavidades, o que
explica os numerosos terremotos que destroem casas, homens e animais.
A ilha denominada Pico tem uma rocha que atinge às nuvens, ao que se
supõe, talvez seja comparável ao pico da Ilha das Canárias . Entre a
costa do Brasil e essas ilhas a bússola indica precisamente o Norte-Sul.
Tínhamos avançado oito graus mais para Leste do que pretendíamos.
Por volta do meio-dia, encontrávamo-nos a 40° 34' . Continuámos viagem
(451 ) O tradutor inglês escreveu “ 28 léguas " ( cf. p . 154, 2.ª col. da ed.
inglêsa e p. 226, 2. col. da ed. holandesa ) .
(452) O tradutor inglês escreveu " 60 léguas " (cf. p. 226, 2. col . da ed.
holandesa e p. 154, 2.a col . da trad. inglêsa ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 323
(453) Cf. nota 1. O trecho desde : "Assim, depois de uma viagem ... " até
o fim foi traduzido diretamente do holandês , pois o tradutor inglês omitiu 12 pp. e
meia, ou sejam 25 colunas da ed. holandesa, resumindo-as em 2 colunas e um
têrço de coluna, ou sejam 1 p. e 1/3 . ( Cf. p. 228 a 240 da ed . holandesa e p.
155-156 da trad. inglêsa) .
324 AN
JOAN NIEUHOF
vam disso os Altos Comissários , que agiam, então, em todos os casos, como
governantes cuidadosos e diligentes.
Além disso, a sala de conselho dos Altos Comissários estava sempre
aberta para êles, sem qualquer impedimento, atendendo os Altos Comis
sários as informações que traziam e aos projetos que faziam.
Ademais, para dizer a verdade, os Altos Comissários não eram tão
amigos dos portugueses, a ponto de não querer ver a revolta, de vez que,
neste caso, estes últimos não teriam planejado começar a execução de
seus desígnios e de sua revolta matando os Altos Comissários, agindo
como se fôssem seus amigos, conforme mais tarde se soube.
Aliás, eram êles dos homens mais abastados que viviam em fazendas
desta região, e, das investigações procedidas, nada ficou apurado con-
tra êles.
Naquela época, a revolta não atingira, ainda, várias regiões , como
o Rio-Grande, Paraíba, Goìana e outros lugares , cujos habitantes tinham
renovado, a 17 de julho de 1645, o juramento de fidelidade. Paulus de
Linge, da Fortaleza Frederica, situada na Paraíba, nos informara dêsse
juramento e de que, aí, tudo estava em paz e sossêgo, embora fôsse difí-
cil conservar a ordem entre os brasileiros das Aldeias, a-fim-de evitar que
os mesmos pilhassem os residentes portugueses . Informava, mais, que
para evitar essas pilhagens fizera tudo quanto lhe fôra possível .
Diante disso, havia, então, esperanças fundadas de que, brevemen-
te, se restabelecesse a ordem ou, pelo menos, de que o conflito se não
alastrasse.
Não se deve pensar, porém, que sòmente com tais colônias e com o
prestígio do nome romano, povos tão poderosos fôssem dominados . Além
das colônias, os Romanos tinham, por tôda a parte, exércitos perma
nentes, que impediam levantes e revoltas. Jàmais foi mantido um grande
Império sòmente com postos de vigilância e castelos , sem poderio militar
suficiente , com ou sem colônias.
Do que ficou dito , vê-se claramente qual a razão por que, até o ano
de 1629, quando os nossos tomaram Olinda, existiam no Brasil tão poucos
residentes portugueses. De fato , êste só pôde ser habitado no litoral
luta contra os inimigos indígenas e que Jorge de Albuquerque partiu para o Reino
numa quarta-feira 16 de maio do ano de 1563.
De qualquer modo, em 1568, já estava pacificada a capitania de Duarte Coelho
Pereira (cf. Frei Vicente do Salvador, LXXVIII, pp. 108-110, e pp. 184-186 ; Ga
briel Soares, LXXXVI, p. 34-36 ; Ayres de Cazal, XXVI, vol. II, p. 137-138 ) .
(455 ) A suspensão das lutas no Maranhão verificou-se em 27 de novem
bro de 1614. Foi assinada por Ravardière, comandante dos franceses e por Je
rônimo de Albuquerque, comandante da expedição brasileira, que foi à reconquista
dessa ilha (cf. Barão do Rio- Branco, LXXV, 640 e 430 ; e João Francisco Lisboa,
XLIII, p. 302, 303 , 306 ) . A suspensão de armas vigoraria até fins de dezembro de
1615. A 31 de julho de 1615 foi assinado um acordo pelo qual Ravardière se
comprometia a evacuar a ilha dentro de 5 meses, e, como penhor do tratado, en
tregava o Forte de Taparí.
(456 ) Olinda foi conquistada a 16 de fevereiro de 1630. Nieuhof logo a
seguir insiste em escrever 1629 (cf. VI e LXXV, p. 132 ) .
(457) Parece tratar-se de pena. Realmente, o ato de desorelhar era um
antigo suplício que consistia em tirar ou tronchar as orelhas a um condenado . Os
bons dicionaristas , como Bluteau, Domingos Vieira e Moraes, registam desorelhar
e desorelhamento . Na Espanha , " El fuero real " aplicava essa pena ao autor de
roubo de casa ou de igreja. No antigo direito português , essa pena parece ter exis
tido. Afirma Pereira de Sousa, um dos maiores criminalistas e processualistas criminais
do século XVIII , que o cortamento das orelhas era muito usado nas leis dos anti
gos, principalmente contra os roubadores do Templo, e cita os Ordenações livro 5,
tít . LX , § 11 ( LXVI , p. inum., vide Cortamento ) . Ora, o citado parágrafo
336 JOAN NIEUHOF
diz: Que qualquer pessoa que for tomada cortando ou desatando bôlsa ou metendo
a mão em alguma algibeira, ora nelas se ache dinheiro, ora não, se for peão, seja
açoitado, e sendo em igreja, será mais degradado 2 anos para as galés. A pena do
do crime de roubo era, portanto, o açoite e, com a agravante de se verificar na
igreja, a de galés.
A pena de desorelhamento não consta explicitamente das Ordenações Filipinas.
Ela é cominada pelas Leis Extravagantes da época de D. Manuel. Chamavam-se extra-
vagantes as leis não ordenadas.
Nas "Leis Extravagantes colligidas e Relatadas pelo Licenciado Duarte Nunez
do Liam per mandado do muito alto & muito poderoso Rei Dom Sebastião nosso
Senhor" (Com Privilegio Real. Em Lisboa per Antonio Gonçalvez. Anno de
MDLXIX), à p. 120, Tit. II Dos furtos & roubos , Lei I Dos que cortão bolsas,
lê-se : "Determinou el Rei Dom Manuel em relação a 22 de Fevereiro de 1499 que
qualquer pessoa, que fosse tomada cortando ou desatando bolsa, hora na bolsa se
achasse dinheiro, hora não, se fosse pião, fosse açoutado & desorelhado". (Fol. 115
do livro primeiro) . Na Lei III do mesmo título, cominava-se a pena de desorelhamen-
to aos escravos, nos seguintes termos : "Lei III. Dos que furtão vuas em Lisboa ou
riba Tejo, ou na corte. Ordenou o dito Senhor, q qualqr pessoa, q fosse tomada no
termo da cidade de Lisboa, ou da banda dalē, ou riba Tejo, ou em qualqr lugar onde
a corte stiuesse, co vuas furtadas , assi de dia como de noite, se fosse pião, fosse
açoutado publicamente : & se fosse escravo, ale da pena dos açoutes, fosse desore
lhado. ... Per hũ aluara de 8. de julio de 1521 " (fol . 12 do liv. 3) .
Pero Borges, em carta a D. João III , datada do primeiro ano de governo de
Tomé de Souza, de 7 de fevereiro de 1550 , queixa-se de que "nom ay homens pera
serem juizes ordinarios nem vereadores e nestes hofficios metião degradados por
culpas de muita infamia e DESORELHADOS e ffazião outras cousas muito fóra
de vosso serviço e rezão ” ( Cf. Pôrto-Seguro, LXXII, 1.º tomo, p. 233, nota X de
Rodolfo Garcia ) .
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 337
em poucos anos, tão fortes, que não temiam nem o perigo interior nem
o exterior.
til terra nova na Mata, sendo deshabitadas, estavam abertas para êles ,
embora a maior parte delas não servisse para engenhos de açúcar, por
estar fora de mão. Em lugar, porém, de favorecer a colonização por
meio de benefícios especiais e de privilégios , deixando-os , por algum tem-
po, sem a obrigação de pagar impostos ou outras taxas, o Estado, levado
pelos lucros , não só vendeu por preços muito elevados os engenhos con-
fiscados aos portugueses , logo depois de apoderar-se do Brasil, como ain-
da, em lugar de deixar as colônias, por algum tempo, livres de taxas,
impôs tais foros e outras obrigações a todos os bens importados e expor-
tados, que as pessoas livres, com o seu trabalho no interior , não
podiam subsistir . Daí resultou que poucas pessoas partiram para o in-
terior, a-fim-de se dedicarem à agricultura. Quase todos ficaram retidos
no Recife, onde se podia ganhar muito dinheiro : primeiro, porque era a
capital do Brasil Neerlandês, onde havia grande movimento, e segundo
porque, ganhando os feitores , a princípio, grandes fretes de ida, seus pa-
trões empregavam, muitas vêzes , o dinheiro que daí provinha, na cons-
trução de casas, por causa dos grandes aluguéis. Foi essa a razão por
que, procurando cada um completar a sua casa , para receber aluguel, tor-
nou-se difícil conseguirem-se pedreiros e carpinteiros. Porém, pouco
tempo depois, os patrões , não se contentando com as remunerações dos
fretes de volta, deixaram de mandar as cargas. E uma vez que, feito
o armistício com Portugal, não mais chegavam prêsas , os soldados e ma-
rinheiros deixaram de gastar os seus recursos nas estalagens, porque
seus ordenados mal chegavam para seu sustento. Em consequência , o
comércio diminuía dia após dia. De modo que, em lugar de haver o au-
mento de pessoas livres , estas voltavam para a pátria, diante do levante
e da revolta, porque não possuíam meios de subsistência. O que, final-
mente, deveria ter péssimas consequências para êste Estado, conforme
teve realmente.
Assim como êste Estado não atendeu, convenientemente, à questão
das colônias (como se vê claramente pelo que ficou dito acima) , para
segurança do Brasil Neerlandês, assim também parece não ter zelado e
vigiado suficientemente a-fim-de mantê-lo por meio de fortalezas e guar-
nições.
No começo do ano de 1641 , o Conde Maurício confiava em que, para
ocupação das fortalezas e lugares do Brasil, não incluindo o Maranhão,
segundo uma lista em que vêm expressas as guarnições de todos os lu-
gares, para manter subjugados os portugueses , seriam necessários 7.076
soldados. Com êste número de soldados , porém, ainda ficavam desguar-
necidos totalmente todos os engenhos de açúcar, as vilas e passos . Pelo
que ficava aberto aos residentes mal intencionados o caminho para, sob
340 JOAN NIEUHOF
As estampas que ornamentam esta obra são ou reproduções das que se encon-
travam na edição holandesa ou reproduções de estampas de outros trabalhos .
As primeiras foram gravadas segundo as que se encontram no livro de Marc-
grave ( LXX, p. 25 ) . Segundo Ehrenreich, serviram de originais para as gravuras
representando Tupís e Tapuias às pp. 218 e 253 ( é de notar-se que na edição
holandesa de 1682 não existe a p. 253 ; trata-se da estampa entre as pp. 244-225)
as xilografias de Marcgrave, adulteradas e modificadas.
Ehrenreich afirma que as estampas que se encontram em Marcgrave são cópias
tôscas dos originais de Zacharias Wagner ou de Albert Eckhout, executadas sôbre
madeira, por um gravador pouco familiarizado com o seu ofício. Realmente, quem
fizer uma comparação entre as gravuras das pp. 270 e 280 de Marcgrave e as das
pp. 218 e 224 de Nieuhof, verificará a semelhança existente entre as mesmas. As
estampas que se encontram em Nieuhof foram gravadas a água-forte.
A solução do problema da autoria dos desenhos que serviram de originais às
xilografias que ornamentam a obra de Marcgrave resolveria, portanto, o da autoria
das estampas que se encontram em Nieuhof.
Zacharias Wagner, um dos autores a quem se atribuem os desenhos originais
que teriam sido copiados e gravados, chegou a Delft em 1641 e seus desenhos foram
feitos antes de 1641. ( XXXIV, p. 23 ) . Albert Eckhout, outro dos seis pintores
que trabalharam para Maurício de Nassau, desenhou entre os anos de 1641 e 1643.
No primeiro momento parece, pois, que a Zacharias Wagner se deve atribuir a
autoria dos desenhos que, adulterados, serviram de modêlo para as gravuras de
Nieuhof. Acontece, porém, que o próprio Ehrenreich, reconhecendo a dificuldade
de tal problema, escreve : Não devemos coligir como certo que os desenhos de Wa-
gner foram os primeiros e únicamente copiados do natural, não passando os quadros
de Eckhout de meras reproduções em escala maior. Mais provável será derivarem
uns e outros de esboços originais , que porventura se encontravam entre as pinturas
brindadas pelo príncipe. ( XXXIV, p. 23 ) .
Não se sentiu Ehrenreich, portanto, com elementos suficientes para resolver a
questão.
Thomas Thomsen, num estudo recente Albert Eckhout ein niederlandischer
maler und sein gönner Moritz der Brasilianer, ein Kulturbil aus 17 jahrhundert,
Copenhagen, Ejnar Minksgaard, s/d. - encarando o problema, afirma que os tipos
de nativos brasileiros de Eckhout foram reproduzidos em aquarelas por Zacharias
Wagner; considera Thomsen, portanto, que Wagner teria plagiado Eckhout. Ba-
seia-se, para tirar essa conclusão, no estudo das evidências internas e da técnica
de pintura, mostrando que os outros desenhos de Wagner, que não os representando
nativos, copiados de Eckhout, são mais toscos e não apresentam a mesma habili-
dade que a demonstrada nestes.
348 JOAN NIEUHOF
Cabe indicar, ainda, que se, nos retratos dos tapuias, em Eckhout, tanto o
homem como a mulher usam sandálias, em Wagner apenas o homem se acha cal-
çado e em Nieuhof ambos acham-se descalços .
De leste reyse van den Heer " van Dort, met het ver-overen vande Baeye de todos
los Santos, tsamen ghestelt door N. G. Ghedruckt in't Jaer onses Heeren Anno 1624.
By Ian Canin. Registrado no Catálogo Nassoviano, in Anais da Biblioteca Na
cional do Rio-de-Janeiro, vol. LI, 1929, Rio-de-Janeiro, 1938, p. 20, n. 29 e catalo
gado na Bib. Nac. na Miscelânea 1-37 n. Res. 1-5.
2 ) A estampa com os títulos : " Marin D'Olinda de Pernambuco" e " T' Recif
de Pernambvco ", foi gravada a água-forte por anônimo, s/d. Encontra-se regis
tada no Catálogo da Exposição de História Nacional sob o número 16.871 , vol. II ,
1881, onde se afirma que a mesma é reprodução de estampa inserida em : "Johannes
De Laet História ou Anais dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias
Ocidentais, desde o seu comêço até ao fim do ano de 1636 , por Johannes de Laet,
Diretor da mesma Companhia. Traduzido do holandês pelo Bacharel José Higino
Duarte Fereira. Pernambuco, Tipografia do Jornal do Recife ... 1874 ".
3) São tiradas da “ Galerie Agreable du Monde ” de Pieter van der Aa, Leyde,
tomo 65 (relativo à América ) , as seguintes estampas :
4) A estampa com o título : JOAN MAURITS, Prins van Nassouw, etc. foi
gravada a buril por Christian Hagens, da escola holandesa , Amsterdã, séc. XVII.
Está registada sob o n. 228 no Cat. de Salvador de Mendonça e sob o n. 753 em
F. Müller.
24
Bibliografia das Notas
ABREU, JOÃO CAPISTRANO DE - Capitulos de Historia Colonial
(1500-1800 ) . Rio. Briguiet, 1934.
II - ALMEIDA, CÂNDIDO MENDES DE - Codigo Philippino ou Ordenações e
Leis do Reino de Portugal. Rio-de-Janeiro, 14.ª ed., 1870.
III - ALMEIDA NOGUEIRA, BATISTA CAETANO - Vocabulario das palavras
guaranis usadas pelo traductor da "Conquista Espiritual" do Padre A.
Ruiz de Montoya. Rio, Tipografia Nacional, 1880.
IV - ALMEIDA NOGUEIRA, BATISTA CAETANO — Pernambuco. Qual a sua
verdadeira ortographia e a sua etymologia correspondente. In Rev.
do Inst. Arq. e Geog. Pern., n. 54, ano XXXVIII , vol. 9, p. 201-205, 1901.
V AZEVEDO, JOÃO LUCIO DE ― Historia dos Christãos Novos Portuguezes.
Lisboa, Liv. Clássica Editora, 1922.
VI - BAERS, PADRE JOÃO Olinda Conquistada . Narrativa do ..., capel-
lão do Cel. Theodoro de Waerdenburch. Traduzida do hollandez
por Alfredo de Carvalho. Recife, Laemmert, 1898.
VII - BARLAEUS, GASPAR ― História dos feitos recentemente praticados
durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilus-
tríssimo João Mauricio Conde de Nassau etc. , etc. Tradução e
Anotações de Cláudio Brandão. Rio-de-Janeiro, Serviço Gráfico do
Ministério da Educação, MCMXL.
VIII BARLAEUS, GASPAR - Nederlandsch Brazilië onder het bewind van
Johan Maurits Grave van Nassau, 1637-1644. Tradução e Anotações
de S. P. L'Honoré Naber. 's Gravenhage, Martinus Nijhoff.
MCMXXV.
IX -- BARO, ROULOX Relation du Voyage de Roulox Baro, Interprete et
Ambassadeur Ordinaire de la Compagnie des Indes d'Occident, de la
part des Illustrissimes Seigneurs des Provinces Unies au pays des
Tapuyes dans la terre ferme du Brasil. Commencé le troisiesme
Avril 1647 , & finy le quatorsiesme Iuillet de la mesme année.
Tratuict d'hollandoi en François par PIERRE MOREAU de Paray en
Charolois . Paris, Chez Augustin Courbé. M.DC.LI. Avec Privilege
du Roy.
X - BETHENCOURT, CARDOZO DE Notes on Spanish and Portuguese Jews
in the United States, Guiana, and the Dutch and British West Indies
during the Seventeenth and Eighteenth Centuries, in Publications of
American Jewish Historical Society, n. 29 , 1925.
XI BLOOM, HERBERT I. - The Economic Activities of the Jews of Ams-
terdam in the Seventeenth and Eighteenth Centuries. Williamsport,
Penna., The Bayard Press , 1937.
XII - BLOMM, HERBERT I. A Study of Brazilian Jewish History ( 1623-
1654) based chiefly upon the finding of the late Samuel Oppenheim
354 JOAN NIEUHOF
(1) Noord en Oost Tartarje ofte Bondigh ontwerp van eenige dier landen en volken. Zo als
voormaels bekent sijn gewweest etc. , Amsterdam, 1692. (Tartária do Norte e do Oeste ou relatório
extenso de alguns países ou povos tal como eram, então, conhecidos.
364 JOAN NIEUHOF
hof, que editou a obra depois da morte de seu irmão. O privilégio concedido a
Jacob van Meurs é de 1671. Conforme afirma Tiele (2 ) , parece que a obra
esteve muito tempo em preparo. Segundo se verifica na própria viagem de Nieu-
hof às fndais Orientais, êle passou muito tempo com os manuscritos e desenhos
e sòmente por ocasião de sua volta à Holanda, em 1670 , é que apresentou os
originais ao Conde Maurício de Nassau e a Guilherme Piso, em uma reunião
em casa dêste último ; aí, então, é que resolveu publicar a Viagem ao Brasil. Além
disso, deve-se acrescentar outra causa da demora na publicação da obra, qual seja
a declarada por seu irmão Hendrik na introdução da edição holandesa : “ Apre-
senta-se, finalmente, depois de longa demora essa última obra de meu irmão , pois
para completá-la foi necessário muito tempo, particularmente devido à grande
quantidade de projetos e desenhos que deviam ser artisticamente gravados ". A
obra foi oferecida a N. Witsen, não só porque êle era o prefeito de Amsterdã, como
porque, sendo escritor e cartógrafo de nomeada, poderia apreciar o valor do tra-
balho ; e Hendrik Nieuhof afirma que o prefeito leu e deu parecer favorável à
obra, o que iria tornar maior o entusiasmo pela sua publicação e termina afirman-
do: " Com o que V. S. se dignou favorecer o escritor e colaborador dessa obra
que é, para as almas bem formadas, imortal ".
Vemos, assim, que embora fôsse a Viagem ao Brasil realizada em 1640-49 e
que Nieuhof tivesse passado alguns anos de repouso na Holanda, onde fàcilmente
poderia escrever o trabalho, o fato é que sòmente depois de sua volta da segunda
viagem às Índias Orientais, isto é, em 1670, é que foi a obra concluída, pois a
referência que fizemos acima é bem clara. Nieuhof declara (3) " que estando em
Amsterdã, nesse ínterim chegou o Conde Maurício de Nassau, em seu navio, para
ir até a Zelândia e depois a Cléves. Tendo sabido de minha chegada, mandou-me
chamar e tive com êle uma longa conferência acêrca do Estado do Brasil e das
Indias Orientais e mostrei-lhe tudo quanto tinha projetado em escrito e desenho.
Além disso era seu desejo que eu, no dia seguinte, fôsse jantar em casa do Sr.
Dr. Guilherme Piso, pois que várias pessoas de destaque (governadores) como
também altas personagens que estavam em sua companhia igualmente haviam
sido convidadas. Depois do banquete, quando o Conde se dispunha a partir,
despedí-me dêle ". Por aí se vê que Maurício de Nassau, antes da publicação
da obra de Nieuhof, reviu-a e com o autor a discutiu , ouvindo-se, também, a opi-
nião de Piso. Essa informação vem trazer um elemento novo ao juízo de valor
da obra de Nieuhof. Por ela vemos que submeteu os originais à apreciação de
Maurício de Nassau e de seu mais íntimo colaborador, o médico G. Piso, um
dos autores da Historia Naturalis Brasiliae. Sem dúvida, não se trata de uma
relação como a que existiu entre Barlaeus e João Maurício. Esta já foi minucio-
samente estudada na Holanda e certamente estava à altura da obra que preten-
dia expor ao público a administração nassoviana e perpetuar o nome do príncipe
americano. Mas a existência de uma colaboração, por menor e mais rápida que
fôsse, entre Nieuhof e Nassau, ao que nos consta , não foi até hoje indicada. É
claro que foi mínima a intromissão de Nassau na obra de Nieuhof, mas êle não
deixou de discutir e criticar os originais da obra brasílica de Nieuhof.
(2) Nederlandsche Bibliographie over Land en volkerkunde, Amsterdam, Müller, 1884, pp. 178-180.
(8) Zee en lant Reize door verscheidene geweesten van Oost-Indien (Viagem às fndias Orientais) ,
p. 303, 1682, Amsterdam; na edição inglêsa de Churchill (Osborne e Lintot) , p. 302, o trecho está
resumido.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 365
(4) Churchill, Awnscham, livreiro, que com seu irmão John abriu uma casa editora de renome
na época. A publicação mais importante foi a Collection of Voyages and Travels, etc., 1703, 4
vols. fol.. Em 1732, foram editados os 4 primeiros vols., sòmente reimpressas as folhas de rosto
com mais 2 volumes. 3. ed., 6 vols., 1744-46 ; e outra de Th. Osborne, 1752 : A Collection from the
Library of the Earl of Oxford ; L. Th. Osborne, 1745-47, 2 vols., fol. e John Harris, 1744-48, 2
vols., fol., estão comumente ligadas a Churchill porque os impressores publicaram-na por ordem de
Churchill. V. Dict. of Nat. Biography, The Oxford University Press, London, p. 307-8. Vol. IV.
(5) John Ogilby, escritor polígrafo, nasceu perto de Edimburgo, em Nov. de 1600. Teve no
meada em sua época, traduzindo autores gregos e publicando versos, até que começou a se dedicar à
geografia e à história, alcançando o título de cosmógrafo e impressor do rei. Morreu em 4 de de
zembro de 1676. Traduziu Nieuhof (Viagem à China, 1665 ) , 1 ) Atlas Chinensis, compilação de J.
Nieuhof, Dapper e Montanus ; 2 ) Atlas Japanensis, compilação de Montanus, 1670 ; 3) Africa 1670,
trad. de Dapper e observações originais ; 4) América, 1671 , trad. de Montanus ; 5) Ásia, 1673, sendo
a segunda parte a Embaixada à China de Nieuhof.
25
366 JOAN NIEUH OF
(6) Nederlandsche Bibliographie, pp . 178-180 . O n. 2.326 de que fala Tiele é " Descrição de
diferentes fortalezas das Índias Orientais, particularmente de Golconda e Pegu, Rotterdam, in-4.º, 1677. ”
(7) Zee en lant reyse door verscheidene gewesten van Oost-Indien, etc., p. 23, e Mr. J. Nieuhof's
Remarkable Voyages and travels to the East Indies, p. 149-50 , ed. de J. Osborne e H. Lintot, 1746.
(8) Vide M. Nijhoff, Catalogus over Japan, 1876, p. 120, in Tiele, Nederlandsche Bibliographie
over land en volkerkunde.
(9) J. Baptiste Carpentier. Historiógrafo e genealogista . Nasceu em Abscon, perto de Douai
e morreu em Leide, em 1670. Padre agustiniano, abandonou o hábito e casou-se.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 367
Thevenot são mais claras do que as de Carpentier. A Biblioteca Nacional não possue
o original holandês, mas tão somente as edições francesas de Carpentier e de The
venot. Camus , que publicou o melhor trabalho crítico sôbre a coleção Thevenot,
afirma que a edição de Nieuhof nesta coleção é a melhor (10 ) . O abade Prévost
(11 ) , tradutor da Histoire Générale des Voyages ( 21 vols . ) , faz uma longa intro
dução onde se encontram notas críticas sôbre as diferentes edições de Nieuhof.
Considera, também, a de Thevenot como a mais exata, afirmando que em tôdas as
outras têm sido inseridas descrições que não são de Nieuhof. Critica acerbamente a
edição de Carpentier, com exceção das estampas. Quanto ao diário do caminho a
Pequim, Thevenot afirma, igualmente, ter traduzido de um manuscrito de Nieuhof,
tirando certas estampas que lhe pareceram suspeitas. Não é simplesmente um diá
rio do caminho, mas a descrição dos lugares pelos quais passou. Existe ainda hoje
um diário manuscrito dessa viagem de Nieuhof ( 12 ) . ( 13 ) Em 1666 , publicou-se
a primeira edição alemã ; a segunda foi publicada em 1669 e a terceira em 1675 ;
tôdas em Amsterdã , por J. van Meurs. Em 1670, foi feita a segunda edição holan
desa e em 1682 foi novamente publicada a obra na edição de Le Carpentier, em Ams
terdã, por Jacob van Meurs. Em 1668 , foi a obra traduzida para o latim por
Georgius Hornius, escritor e professor, polemista que discutira com Laet, Grotius
e Wagner a origem dos índios americanos ( 14 ) . No prefácio da edição latina se
declara que Jacob Gollius pedira a G. Hornius que traduzisse a obra, o que êste fêz,
considerando não só a autoridade do mestre como a utilidade e raridade da ma
téria (15) .
Em 1693, Waesberg publicava, em Amsterdã, a terceira edição holandesa. As
edições inglêsas são várias. Em primeiro lugar, há a tradução inglêsa feita por
John Ogilby em 1669, outra em 1673. Tôdas as edições posteriores são reedições da
tradução de J. Ogilby. Assim, Astley, em 1746, afirmando, porém, na introdução,
ter feito uso da segunda edição de 1673. Essa edição é excelente, pois possue ano
tações e comparações com a edição de Ogilby. Ternaux-Compans fala, também ,
numa edição de 1670 ; essa edição, talvez, seja a de 1669, " Ásia " de Ogilby, que
junto à embaixada de Dapper traz a de J. Nieuhof. Depois da edição de Astley,
saíu ao do Abade Prévost, 1748, excelente edição em que se faz uso, também, da edi
ção de 1673 , afirmando Prévost : " Na edição inglêsa Ogilby seguiu o título da edição
(10) Camus, A. G. , Memoire sur la collection des Grands et Petits Voyages et sur la collection
de voyages de Melchisedec Thevenot. Paris, 1802, pp. 315-16.
(11 ) Prévost, A., Histoire Génerale des voyages, tomo V, p. 231, ed. in-4.º, tomo XVIII, 9.
247, ed. in-12.
(12) Vide Catalogus over Japan, 1876, p. 120, de M. Nijhoff.
(13) Na Biblioteca Nacional existe a edição de Thevenot em 4 vols., 1696, in-4.º (V-16, 6, 5-8) ;
em 2 vols., 1686, Paris (V-99, 2, 15-15) ; e em 3 vols., 1689, in-12, Paris (IV-249, 1, 21-23) .
(14) G. Hornius. Esse assunto empolgou os homens da época. G. Hornius escreveu De originibus
Americanis, 1652, Hagae commitis, ( 1669, Hemipoli) e Wagner, De Originibus Americanus Disser
tatio, Lipsiae, 1669.
(15) Jacob Gollius era professor da Universidade de Leide ; o mesmo a quem foram entregues,
por Laet, os originais de Marcgrave. Não pôde Gollius publicá-los porque se encontravam em código.
A edição latina representa uma homenagem à memória de Gollius, que acabava de falecer e que
fôra o grande incentivador da tradução para a língua universal, da obra de " Joanne Nieuhovio, ba
tavo experimentadissimo ".
368 JOAN NIEUHOF
de Carpentier e não da edição holandesa, embora seja incerto o original de que usou,
se o holandês ou o francês ; como, porém, não se encontra na edição inglêsa uma
porção de superficialidades que abundam na edição francesa, pode-se presumir que
Ogilby seguiu a cópia holandesa ; suas estampas, que são as mesmas da tradução
francesa, estão longe de serem tão bem gravadas " ; a explicação dos assuntos é feita
em língua inglêsa e holandesa. Essa coleção é excelente ; deve-se consultar na Bi
blioteca Nacional o exemplar impresso por Pierre Hondt (IV-337, 6-14 ) , em Ams
terdã, e não o de Firmin Didot, de París, porque êsse se encontra em lastimável
estado. Em 1768 , saíu essa mesma coleção de Prévost traduzida para o espanhol
por Don Miguel Terracina, onde se publicou também a Viagem à China ; tudo igual
à edição de Prévost ; até mesmo na introdução nada de novo se acentuou.
Em 1786 (Vol . XI ) , saía um resumo no Nederlandsche Reizen ; em 1811 , na
coleção Pinkerton, a viagem completa, e, finalmente, em 1816, La Harpe, num
Abregé de l'Histoire Générale des Voyages, resumia a Viagem à China.
Afora essas edições que comentamos e de que damos, a seguir, a descrição exata,
vamos acrescentar edições indicadas por Petrus van der Aa e por Ternaux-Compans.
Essas edições não as pudemos consultar.
Petrus van der Aa distingue ( 16 ) duas impressões da Viagem ao Brasil pela
espécie de papel ( groote papier ― grand papier e klein papier ) e menciona uma
descrição de Malabar e Coromandel, Amsterdã, 1672, da Ásia, Amsterdã , 1672, Japão,
1669 (?) e da China, por Nieuhof e Dapper, Amsterdã , 1670 e 1693 ; Índias Orien
tais e Ocidentais , Amsterdã, 1682 , do Arquipélago, Amsterdã, 1688 e a edição fran
cesa da Viagem à China, 1665 , Leide. A viagem a Malabar e Coromandel faz parte
da Viagem às Índias Orientais. Quanto à Viagem à Ásia deve haver engano, pois a
Viagem à Asia de Dapper foi publicada em 1673, em inglês, junto com a Viagem à China
de Nieuhof. Quanto à Viagem ao Japão, que faz parte da Viagem às Índias Orien
tais, a referência à edição separada consiste, talvez, num engano, devido à Viagem
ao Japão ( 17) de Montanus, que foi publicada em 1669. A Viagem ao Arquipélago
é uma parte da própria Viagem às Índias Orientais. Essas edições indicadas por
Petrus van der Aa nunca as vimos anunciadas nos catálogos holandeses, donde achar
mos que se trata de um engano do bibliógrafo, uma vez que algumas das viagens que
êle cita se encontram na Viagem às fndias Orientais. Assim também as edições indi
cadas por Ternaux-Compans. Nunca as vimos anunciadas nos catálogos, nem as
bibliografias modernas e especializadas, como a de Tiele, que é a fonte mais segura e
mais exata, embora nem sempre completa, dêsses assuntos. Ternaux-Compans, entre
outras edições , de que já falamos, indica-nos, ainda : 1 ) Edição da Viagem à China,
1664, Haia ; 2 ) Edição holandesa da Viagem à China, 1666 , Amsterdã ; 3 ) edição alemã
de 1668 da Viagem à China, Amsterdã ; 4 ) edição francesa da Viagem à China,
1682. Nenhuma dessas informações vimos confirmadas pelos bibliógrafos modernos.
Cabe-nos, ainda, falar de edições de viagens de Nieuhof que tenham sido im
pressas juntamente com viagens de outros autores.
Em 1670, em Amsterdã , por J. van Meurs, foi editada a Gedenkwaerdige Bedryf
der Nederlandsche Oost-Indische Maetschappije op de Kuste en in het Keizerryk
van Taising of Sina... ; A tradução inglêsa “ Atlas Chinensis " dessa obra de Dap
per foi publicada em 1673, juntamente com a Viagem à China de Nieuhof. Essa
obra de Dapper traz, no entanto, o nome de Montanus, enquanto que a Viagem à
América, de Montanus, na tradução alemã, tem o nome de Dapper. Tiele explica
que Ogilby, tradutor de tôdas essas obras, recebeu, provàvelmente, do mesmo editor
o texto e as gravuras desta obra, antes que fôsse impresso o título e, por isso, julgou
que Montanus fôsse o autor ( 18 ) . E' por essa razão que o " Atlas Chinensis " consta
de duas partes. Meusel, na Bibliotheca Historica, enganou -se ao afirmar que a co
leção de Thevenot conteria uma tradução dessa obra ; porque nela se encontra, como
já vimos, apenas a Embaixada à China de Nieuhof.
Na obra de Montanus " Oud en Nieuw Oost-Indien ", Amsterdam, Sander Wijbrants
Z. Jr., 1680 , in- 12.º ( XIX ) 529 e 33 fls., que é uma reedição das Maravilhas do
Oriente ou Descrição dos feitos guerreiros das Índias Orientais (De Wonderen van
't' Oosten ofte de Beschrijving en Oorlogs - daden van oud en Nieuwe Oost-Indien
vervolgt tot op dese tijt, van de Sond- vloed ..., Amsterdam, Jansz, 1651 , in-12.º) ;
o último capítulo é a descrição da viagem à China de 1655-57 de Nieuhof.
Ainda a tradução inglesa da Viagem à Ásia de Dapper, publicada em 1673, em
Londres, com o título Asia, contém, além de uma descrição da Pérsia, Grão-Mogol
e outras partes da India, a viagem à China, de Nieuhof, em tradução, como sempre,
de John Ogilby.
(18) Tiele, Nederlandsche Bibliographie over land en volkerkunde. Müller, Amsterdam, 1884,
pp. 71-74. 1
O melhor trabalho sôbre a autoria do " Nieuwe en Onbekende Weereld " é o publicado por Alfredo
de Carvalho -- "Dapper versus Montanus" in Rev. do Inst. Arq. e Geogr. Pern., n. 77. p. 349.
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Bibliografia de Nieuhof
1 1665. Het Gezantschap der Neerlandtsche Oost - Indische Compagnie
aan den grooten Tartarischen Cham, den tegenwoord. Keiser van China ... Sedert
den J. 1657 ... Beneffens steden, dorpen, regeering, wetenschappen, Lantwerken,
zeden enz .. Amsterdam, Jacob van Meurs ... 1665, in-fol. ( XII ) , 208 , 258 e 9 fls.
(Papel especial groot papier) . [ Embaixada da Companhia das Índias Orientais
ao Grão-Khan da Tartária, o atual Imperador da China ... desde o ano de 1655 até
1657, como também uma detalhada descrição das cidades chinesas de suas vilas,
governo, ciências, manufaturas, costumes, etc. ] .
A fôlha de rosto é gravada. Beschrijving van't Gesantschap etc. Depois do
título, retrato do autor e as armas de Speigel e Witsen, em páginas diferentes ; em
seguida, a rota da viagem. 35 gravuras fora e muitas no texto, tôdas em cobre.
Em vários exemplares não se encontra a gravura que, conforme a indicação dos en-
cadernadores, deva estar junto à pagina 193, ( Paolinxi ) . Privilégio de 19-4-1664.
Parece que alguns exemplares trazem o ano na fôlha de rosto. Dessa viagem de
Joan Nieuhof ainda existe um diário manuscrito, com desenhos originais, pelos quais
se verifica que o texto foi aumentado de muito nesta edição e que as gravuras não
foram fielmente copiadas. (Vide Catalogus over Japan, Martinus Nijhoff, 1876,
p. 120 ) . A Biblioteca Nacional não possue nenhum exemplar dessa edição holan-
desa.
2 1665. L'Ambassade / De la Compagnie Orientale Des Provinces-
Unies vers / L'Empereur De la Chine, ou / Grand Cam / De / Tar-
tarie, Faite Par les / Srs. Pierre de Goyer, & Jacob de Keyser, / Illustrée d'une
exacte Description des Villes, Bourgs, Villages, / Ports de Mers, & autres Lieux
plus considerables de la Chine : / Enrichie d'un grand nombre de Tailles douces.
/ Le Tout Recueilli Par le / Mr. Jean Nieuhoff, Mre. d' Hotel de l'Ambassade,
à present Gouverneur en Coylan : Mis en François, / Orné, & assorti de mille
belles Particularitez tant Morales que Politiques , par / Jean le Carpentier , Histo-
riographe. Première Partie / A Leyde. / Pour Jacob de Meurs, Marchand Li-
braire & Graveur de la ville d'Amsterdam , 1665.
Pref. + 3 pp. ins. de ind. + 1 p. Prev. + 1 cart. geog. + 290 pp. ns + 32 pp.
ins. + 1f 1. contendo :
"Description / Generale de L'Empire de la Chine. / Où il est traité /
succinctement / Du Gouvernement, de la Religion, des Moeurs, des Scien / -ces,
& Arts des Chinois ; comme aussi des Animaux, des Poissons, des Arbres & Plantes
qui ornent / leurs Campagnes & leurs Rivières : y joint un court Recit des der-
nières Guerres qu'ils ont eu contre les Tartares. / Seconde Partie. / 134 pp. + 1
fl. in. com o índice das ilust. A Bib. Nac. possue dois exemplares, catalogados
com as seguintes indicações : V-256,6,13 e V-52,8,2. 22,5 x 35 cms.
374 JOAN NIEUHOF
5 1669. Trad. inglêsa. The Embassy of Peter de Goyer and Jacob de Keyser
from the Dutch East Company to the Emperor of China in 1665. By John Nieuhof.
Steward to the Embassadors . Translated from the Dutch. London, 1669, in-fol. com
gravs. A Bib. Nac. não possue nenhum exemplar dessa obra.
6 1670. Outra impressão da Viagem à China, ed. holand. Amst. Jacob van
Meurs, fol . ( VIII -
· 208 - 258 - 9 pp) . Também em papel especial. (Groot pa-
pier ) . Retr., gravs. e cartas da 1.ª ed.. A Bib. Nac. não possue nenhum exemplar
dessa obra.
7 - 1670. Atlas Chinensis, Londres, John Ogilby traduziu. A Viagem à China
de Nieuhof é a 2.ª parte do Atlas. A Bib. Nac. não possue nenhum exemplar dessa
obra.
www
376 JOAN NIEUHOF
vigation from its Original to this Time. / Illustrated with near three Hundred
Maps and Cuts, curiously / Engraved on Copper. The Third Edition. / Vol. I /
London : Printed by Assignment from Mssrs. Churchill, For Henry Lintot;
and John Osborn, at the Golden-Ball in Pater Noster Row. / MDCCXLIV ( 1746) .
1 concessão do rei William ; 1 ret. de conf. - Pref. dos editores. Resumo dos
livros da coleção. 8 pp. ins. - XXIX pp. ins. ( catal. e caráter dos livros de viagens ;
latim, francês, etc. ) - 4 pp. ins. (lista das est. em cobre) - IX (An Introductory
Discourse) w w lxxii) -- 668 pp. Indicação da Bib. Nac.: IV-331,7,2 . Ret de Nieu
hof f. r. de Travels, etc. - 1 f. r. da coleção. 2 vols. ( M.DCC.XLIV ) 1 ) Voyages
and Travels to Brasil, p. 1-137. 2) Voyage to the East-Indies, p. 138-301 . 3)
The Third Sea and Land Voyage of John Nieuhoff. Aboard the Arrow to the
isles of Majotte, upon the Africain coast of Moçambique. / Extracted from his
own journals, and brought over and delivered by Captain Reiner Klaeson to his
Brother Henry Nieuhof. p. 303-305. Exemplar da B. Nac.: IV-331,7,1,6.
16 - 1746. A New General Collection of Voyages and Travels, / Con
sisting of the most Esteemed Relations, which have been hitherto published in
any Language : / Comprehending everything remarkable in its kind, in Europe,
Asia, Africa, and America, / With respect to the General Empires, Kingdoms,
and Provinces ; their situation, Extent, Bounds and division, Climate, Soil and
Produce ; their Lakes, Rivers, Montains, Cities, principal Towns, Harbours, Buil
ding, &c, and the gradual Alteration that from Time to Time' have happened in
each : Also the Manners and Customs of the Several Inhabitants ; their
Religion and Government, Arts and Sciences, / Trade and Manufactures : / So as
to form A Complete System of Modern Geography and History, exhibiting the
Present State of all Nations ; illustrated not only with Charts of the Several
Divisions of the Ocean, and Maps of each Country, entirely new Composed, as
well as new Engraved by the best Hands, from the latest Surveys, Discoveries,
and Astronomical Observations : But likewise with variety of Plans, and Pros
pects of Coasts, Harbours, and Cities ; besides Cuts representing Antiquities,
Animals, Vegetables, the Persons and Habits of the People, and other Curiosities;
Selected from the most Authentic Travellers, Foreign as well as English. / Publi
shed by his Magesty's Authority. / Vol . III / London, Printed for Thomas Astley,
in Pater Noster Row. M.DCCXLVI ( 1746 ) . p. 399-431. Liv. I, T. III. Ind. da
Bib. Nac.: V-392,5,3.
les voyageurs ont pénétré ; les moeurs des habitants, la religion, les usages, arts
et sciences, commerce et manufactures. / Par J. F. Laharpe. Tome Sixième. /
A Paris. Chez Ledoux et Tenré, Libraires, Rue Pierre-Sarrazin, n. 8 / 1816. Cap.
II. Viagens, Negociações e Emprêsas dos holandeses na China. Resumo de Nieuhof.
pp.296-333. 12,5 x 19,9 . Ind. da B.N.: X-380 , 4,6.
26
Anexos
ANEXO I
Wilhelmus
Iets vlugger
Breeder
LYSTE
Vande hoge ende lage Officieren / mitsgaders de gemeene Soldaten dewelcke in Ba-
talie teghens de Portugiesen aen den Bergh van de Guararapes (3 mijl van't Recif)
doot zijn gebleven op den 19 Februarius . 1649.
In alles 151 Officieren, ende 892 Soldaten. De gequetste zijn vele. De Por
tugiesen hebben desen aenval ende gevechtuyt een Embuscade gedaen.
MEMORÁVEL VIAGEM MARÍTIMA E TERRESTRE AO BRASIL 389
TRADUÇÃO DO TÍTULO :
TRADUÇÃO DO TEXTO :
A tradução do texto que vai de : " De ghevangene zijn 95 ... ” até 46 ... aenval
ende gevechtuyt een Embuscade gedaen. " é a seguinte:
"Os prisioneiros são 95, entre os quais o Tenente Carpentier, o Tenente Cor
nelis van Anckeren, e o Capitão Hunninga van Groeningen, que se bateram cora
josamente".
Falta a Lista dos Artilheiros que morreram, entre os quais figuram essas no
táveis pessoas ou oficiais : o Vice-Almirante Matthijs Gillissz, o Capitão Toelast, o
Capitão Cornelis Kalback, o Comandante de Artilharia Koeckman.
Introdução VII
Advertência ao Leitor XIX
As estampas de Nieuhof 345
Bibliografia das Notas 351
Crítica Bibliográfica .. 861
Bibliografia de Nieuhof 370
Anexos 383
Índice 391
TRABALHO COMPOSTO E IMPRESSO
ΝΑ
EMPRESA GRAFICA DA " REVISTA DOS TRIBUNAIS " LTDA.
A
RUA CONDE DE SARZEDAS, 38 -- SAO PAULO
PARA A
LIVRARIA MARTINS
EM
MAIO DE 1942
I
.
#
1
1
1
I
1
NFORD UNIVERSITY LIBRARIES ·
STANFORD UNIVERSITY LIBRARIES
981
B582
VERSITY LIBRARIES STANFORD UNIVERSITY LIBRARIES NFORD
v.9
cop. 2
STANFORD UNIVERSITY
RARIES
LIBRARIES STANFORD
VERSITY LIBRARIES