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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ

CAMPUS CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA


Língua Portuguesa I

O que é crônica e suas características?


Muito utilizada em textos do cotidiano publicados por revistas, jornais ou blogs, a crônica
faz parte de uma escrita simples e de fácil compreensão. Além disso, torna o texto mais
próximo ao leitor.
Mas, você sabe o que é crônica, quais são suas características e seus tipos? Você sabe
como utilizá-la?
Nesta aula vamos te apresentar um pouco mais sobre esse gênero contextual. Acompanhe!
O que é crônica?
Crônica é o tipo de texto que aborda acontecimentos do dia a dia em uma narração
curta e situa-se entre o jornalismo e a literatura.
Muito encontrada nos meios de comunicação como revistas, jornais e rádios, tem como
objetivo fazer uma análise crítica das situações cotidianas, possibilitando ao leitor uma
reflexão sobre aquele assunto.
Por ter um texto mais simples e ser utilizada para descrever fatos do cotidiano, a crônica
facilita a aproximação do leitor, como uma conversa entre amigos, tornando a leitura leve e
divertida.
Em geral, as crônicas tratam de temáticas comuns sobre assuntos que estão na “boca do
povo”, apresentando uma crítica de forma objetiva, sem muitos detalhes e, muitas vezes,
fora dos padrões textuais que estamos acostumados.
Em resumo, a crônica pode ser entendida como um retrato verbal particular dos
acontecimentos urbanos e, embora não seja uma regra, a crônica relata de forma
diferenciada as ocorrências, seja de forma artística, em tom crítico ou com humor.
Quais as características da crônica?
Por tratar de assuntos cotidianos e factuais, a crônica tem “vida curta”. Isso quer dizer que
o assunto em pauta hoje não será o mesmo de amanhã, aspecto similar ao jornalismo, já
que os dois buscam inspiração nos acontecimentos do dia a dia.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples e espontânea, situada entre a
linguagem oral e a escrita. Isso contribui para que o leitor se identifique com o cronista, que
acaba se tornando o porta voz daquele que lê. Veja quais são as principais características
da crônica:
 Escrita em textos curtos e de fácil compreensão;
 Possui linguagem despojada e simples;
 Narra situações do cotidiano;
 O uso de poucos personagens (às veze, nenhum);
 Caráter crítico sobre comportamentos e situações;
 O uso do humor crítico, irônico e sarcástico;
 Segue um tempo cronológico determinado.
Para que serve uma crônica?
Por ter caráter jornalístico e apresentar textos que narram e refletem o cotidiano, as
crônicas servem para fazer uma crítica com a intenção de causar reflexão no leitor sobre
determinado assunto. Os bons cronistas são aqueles que conseguem perceber, no dia a
dia de suas vidas, impressões, ideias ou visões da realidade que não foram percebidas por
todos.
Tipos de crônica
Crônica descritiva
Como o próprio nome já diz, a crônica descritiva expõe de forma mais detalhada os atributos
de pessoas, animais ou objetos. Em geral, é um artigo descritivo sobre situações
corriqueiras com uma linguagem dinâmica e conotativa, dando características sobre o local
e/ou personagens que aparecem.
Crônica narrativa
A crônica narrativa apresenta elementos da narração em sua estrutura, que pode ser feita
na 1ª ou 3º pessoa do singular. Nesse caso, a crônica pode ser definida como um gênero
literário marcado pela narração de situações cotidianas sob uma ótica individual.
Nessas crônicas não há longos trechos reflexivos ou argumentativos. Como a tipologia
predominante é a narrativa, o texto apresenta um enredo com personagens, tempo e
espaço. Suas principais características são humor, ação e crítica.
Crônica dissertativa
A apresentação explícita da opinião do autor sobre determinado assunto do cotidiano é a
principal característica desse tipo de crônica, que pode ser escrita em 1ª do singular ou 3ª
pessoa do plural.
Crônica narrativo-descritiva
Apresenta características narrativas e descritivas de maneira intercalada no decorrer do
texto, com acontecimentos retratados em uma sequência temporal.
Crônica humorística
A crônica humorística utiliza a ironia, o humor e o sarcasmo para tratar assuntos que
impactam a sociedade, como por exemplo, política e economia. O uso da ironia, de
comparações inusitadas ou a utilização de temas cômicos são algumas das técnicas
usadas pelos cronistas.
Para atingir esse grau de comédia, cada cronista adota um estilo particular – há aqueles
que usam da ironia para marcar sua linguagem, há outros que abordam assuntos cômicos
por natureza, ou ainda os cronistas que constroem discursos engraçados por meio de
associações inusitadas. Quanto mais original e criativa, melhor será a crônica.
Crônica lírica
A crônica lírica apresenta uma linguagem poética e metafórica que demonstra emoções
como nostalgia, saudade e paixão. Ou seja, o texto escrito deve expressar sentimentalismo.
Crônica poética
Podemos dizer que a crônica poética flerta com o literário, pois apresenta versos poéticos
em forma de crônica, expressando sentimentos e reações de um determinado assunto.
Crônica jornalística
Esse tipo de crônica mistura tipologias textuais narrativa e argumentativa, apresentando
notícias ou fatos baseados no cotidiano. Então, a crônica jornalística pode ser caracterizada
como um gênero que mistura fragmentos narrativos – em geral, pequenos fatos
cotidianos são contados para, em seguida, promover-se uma reflexão sobre eles – e
trechos mais longos de reflexão e argumentação sobre o fato narrado.
É esperado que o tema da crônica jornalística seja de interesse de um grupo social e não
apenas do cronista. Normalmente, os principais acontecimentos do dia ou da semana
anterior são os assuntos redigidos nas crônicas jornalísticas.
Crônica histórica
A crônica histórica é baseada em fatos ou fatos históricos, com personagens, tempo e
espaço definidos e com uma linguagem leve e coloquial.
Crônica-ensaio
Aqui o cronista faz duras críticas a instituições de poder e das relações sociais, de maneira
irônica e sarcástica.
Crônica filosófica
A crônica filosófica traz uma reflexão sobre um fato ou evento.
Principais cronistas brasileiros
Machado de Assis

Sobre
Um dos mais renomados escritores brasileiros, Machado de Assis é autor de diversas
crônicas. Ele abordou, ironicamente, temas como a política, a escravidão e as diferenças
sociais do século XIX.

Clarice Lispector

Sobre
Foi uma das mais importantes escritoras brasileiras, marcando a literatura do século
XX e, com seu estilo intimista, popularizou as narrativas psicológicas no Brasil. A escritora
é um marco no Modernismo e suas obras continuam até hoje entre as mais lidas do Brasil.
Clarice Lispector é considerada uma das primeiras autoras a ganhar notoriedade no país,
tendo um papel fundamental para desconstruir preconceitos e ampliar o horizonte para
tantas outras mulheres na literatura. Além dos diversos romances publicados, a também
jornalista dedicava seu tempo a produzir crônicas como: “Aprendendo a viver” e “A
descoberta do mundo”.

Nelson Rodrigues

Sobre
Reconhecido como um dos mais importantes autores do teatro brasileiro, Nelson é,
também, um dos mais inspirados cronistas tanto no campo dos costumes, da cultura quanto
do futebol. Dramaturgo da cabeça aos sapatos, ele promove uma mistura de drama e humor
em suas obras. Ele inovou o gênero ao inventar personagens ilustres, como O Idiota da
objetividade, O Cretino Fundamental, A Grã-fina com Narinas de Cadáver, o Sobrenatural
de Almeida e o Gravatinha.

João do Rio

Sobre
Seu nome verdadeiro era João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto e atuava
como repórter no Rio de Janeiro. As suas crônicas são carregadas de finas observações e
lirismo requintado.

Paulo Mendes de Campos

Sobre
Nascido em Belo Horizonte (MG), Paulo Mendes de Campos era cronista e poeta e sua
obra destacou-se pela simplicidade com que tratou temas como o mar, a vida carioca,
conversas de bar etc., com textos fluídos e líricos. Escreveu suas primeiras crônicas no
Diário Carioca e manteve por muitos anos, uma coluna semanal na revista Manchete.

Carlos Drummond de Andrade

Sobre
Você já deve ter ouvido falar do mais importante poeta brasileiro, certo? A sua produção é
vasta e única! Ele guardava o essencial para a poesia, mas escreveu belíssimas crônicas,
em textos que mesclavam o moderno com o clássico. O estilo poético de Carlos Drummond
de Andrade ficou caracterizado por observações do cotidiano misturadas a traços de ironia,
pessimismo e humor.

Vinicius de Moraes
Sobre
Além de um dos mais famosos nomes da Música Popular Brasileira (MPB), foi escritor,
poeta, jornalista, crítico de cinema, diplomata e muito mais. Em síntese, foi um dos grandes
nomes da cultura do Brasil no século XX. Conhecido por ser o autor de Garota de Ipanema,
Vinicius de Moraes escreveu crônicas para garantir a sobrevivência. Sem chegar a ser um
cronista original, ele desfilou a condição de craque com um estilo impecável, combinando
leveza, senso de humor e lirismo.

Cecília Meireles

Sobre
Foi a primeira mulher que conquistou destaque e prestígio na literatura brasileira,
publicando mais de 50 obras. Realizou diversos trabalhos como poetisa, professora,
jornalista e pintora, deixando em suas obras características como ritmo, musicalidade e
lirismo. Sua última crônica foi publicada em 1964, ano do seu falecimento.

Lima Barreto

Sobre
Lima Barreto assumia a condição de “mulato, pobre e livre. Além de seu trabalho como
jornalista, em suas crônicas adotava um estilo direto e coloquial, criticando as
desigualdades sociais do século XIX. Seus trabalhos já foram reunidos e publicados por
grandes editoras.

Rubem Braga

Sobre
O jornalista promoveu sozinho uma espécie de Semana de Arte Moderna na crônica ao
inventar novas maneiras de cultivar o gênero. Tornou-se famoso como cronista de jornais
e revistas de grande circulação no país e suas crônicas tinham um tom lírico, humorístico
e extremamente irônico.

Dicas de como fazer uma boa crônica


Escolha um fato: É muito importante escolher um fato do cotidiano que chame a atenção
do leitor e do próprio autor, já que a crônica será publicada em jornais ou revistas o tema
escolhido fará toda a diferença.
Tempo e organização: Separe um tempo, se organize. Isso te ajudará a ter mais foco na
hora de criar uma crônica.
Leitura sobre o tema: É necessário ler sobre o tema escolhido e ter opiniões sobre ele
para colocá-las no seu texto, pois esta é a principal característica da crônica.
Seja observador: Faça observações sobre o ponto de vista de outras pessoas, e se for o
caso aponte uma solução.
Clareza e objetivo: Quando começar a escrever, é importante sempre deixar bem clara a
sua opinião, relacionando o tema com você, com o que você pensa sobre o assunto.
Coloque-se na situação sobre a qual está falando e o que sente diante disso.
Cuidado com a escrita: Estude bastante gramática, concordância e ortografia, um texto
tem de ser claro e objetivo.
Revisão: Depois de terminar o texto, lembre-se de conferir consigo mesmo se o texto que
você escreveu é, de fato, uma crônica. Há personagens demais? Falta opinião? Reflita
sobre essas questões! Leia, faça correções do mesmo e altere o que for necessário, não
só erros gramaticais, mas também verifique a fluidez do texto. Outra dica importante é pedir
para outra pessoa corrigir para você, outra opinião é sempre importante.
CRÔNICA: A DESCOBERTA
_ Bom dia. Eu sou o pai do Buscapé.
_ Do Buscapé?
_ Do Otávio.
_ Ah, do Otávio. Pois não.
_ Ele é um demônio.
_ Eu sei. Quer dizer, não. Ele é um menino, vamos dizer, hiperativo.
_ “Híper” é pouco.
_ Eu não acho que...
_ Por favor. Não precisa se constranger. Eu sou o pai e sei. Ele é um demônio.
_ É.
_ E é sobre isso que eu queria lhe falar.
_ Ele contou que eu gritei com ele na aula...
_ Não, não. Isso ele nem nota. Está acostumado. É que a mãe dele está preocupada.
_ Eu não me preocuparia. Todas as crianças são hiperativas nessa fase. O Buscapé... O
Otávio só é um pouco mais do que as outras. A sua senhora não deve...
_ Mas ela está preocupada com outra coisa...
_ O quê?
_ O Busca não para de ler.
_ Não para de ler? Mas isso é ótimo.
_ Desde que começou a ler, anda sempre com um livro debaixo do braço. Quando a gente
estranha o silêncio dentro de casa, vai ver é ele não fazendo barulho. Está atirado no chão,
soletrando um livro, muito compenetrado.
_ Mas eu não vejo qual o problema.
_ É a mãe dele que... Bom, ela sente falta.
_ Do quê?
_ Da agitação do Busca. Ela não está acostumada, entende? A ter um intelectual em casa.
Outro dia até brigou com ele.
_ Por quê?
_ Ele estava quieto demais. Ela gritou: “Eu não aguento mais. Quebra alguma coisa!”
_ Mas eu não entendo o que eu posso...
_ Bom, se a senhora pudesse, sei lá. Não digo desencorajar o Busca. Só dizer que ele não
precisa exagerar.
_ Mas ele está descobrindo o mundo maravilhoso dos livros. Isso é formidável.
_ É, só que a gente fica, não é? Com um certo ciúme.
Luís Fernando Veríssimo.
Entendendo a crônica:
01 – No texto, a professora recebe o pai de Otávio na escola para uma conversa. Sobre o
que ela inicialmente imaginou que ele queria conversar?
02 – Segundo a professora, Otávio é um menino hiperativo. O que você acha que seja uma
pessoa hiperativa?
03 – O título do texto é “A descoberta”:
a) Como você justifica esse título?
b) A descoberta de Buscapé interfere em seu comportamento? Por quê?

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