Questão: Cite e explique três determinantes do insucesso das invasões holandesas na
América Portuguesa, na visão de Vainfas. Resposta: A Holanda se estabeleceu no Brasil através dos investimentos feitos na WIC (Companhia das Índias Orientais) que teve acima de tudo, o objetivo comercial. Mas além disso, do objetivo comercial, também religioso de converter aqueles em seus domínios para o calvinismo (doutrina protestante predominante nos Países Baixos). Um dos alvos da Holanda era o Brasil (colônia portuguesa) e mais especificamente o Nordeste, lugar onde tinham ricos engenhos de açúcar, produto caro e com muita demanda para o mercado europeu (pelo menos por volta de 1635). Isso se deve ao conflito (independência) que os Países Baixos se envolveram com a Espanha no reinado de Filipe II da Espanha, e logo depois da união ibérica, Portugal passa a ser inimiga dos holandeses. O WIC rompeu, em parte, com hegemonia ibérica que predominava nos mares. Isso favoreceu os holandeses em muitos sentidos, inicialmente, o que impulsionou na invasão e na penetração nos territórios coloniais de Portugal. Os holandeses tiveram muitos colaboradores da própria colônia por conta de seu impacto na invasão, além de uma sofisticada organização administrativa e um alto investimento em exércitos que se estabeleceram lá. Porém, apesar dos pontos positivos, a Companhia não conseguiu se manter dentro dessa política de colonização e conflitos, por uma série de elementos que vão desde a economia até mesmo a diferença ética entre católicos e calvinistas. Destaco dentro desse contexto, três fatores ou elementos que desfavoreceram o estabelecimento dos holandeses nas terras do Brasil, sendo o primeiro deles, os próprios colonos. Apesar da estabilidade política inicial à invasão, houve focos de resistência por parte dos moradores que não permitiram um estabelecimento seguro de uma administração holandesa na colônia. Vainfas fala em um trecho da página 232: “(...), mas ainda assim os holandeses se sentiam confinados. O próprio Recife vivia a mercê de incursões-relâmpago, à noite, ordenadas por Matias de Albuquerque (...)”. Essa resistência não se dá exclusivamente pelos brancos, mas principalmente pela aliança com nativos e até mesmo mamelucos descendentes de negros que inclusive se tornaram símbolos da resistência pernambucana, criando mais tarde o mito de brasilidade. O segundo elemento que constitui o insucesso dos holandeses foi a crise financeira que se agravou, principalmente, entre 1641 e 1644 com a queda das exportações de açúcar da WIC e o aumento da importação de escravos (justamente pela mão de obra que os engenhos necessitavam), além da guerra entre Holanda e a Inglaterra (gerou desvios de gastos) que levou consequentemente a um aumento na dívida, tornando-se assim, insustentável ou inviável os investimentos da Companhia na colônia. Nesse viés, a Holanda diminuiu de forma considerável seus gastos em defesas e exigiu mais dos moradores locais, o trabalho necessário para a manutenção, isso fez crescer a ideia de resistência e que os holandeses eram, além de invasores, também tiranos. Vainfas fala na página 254: “Tudo agravado pelo desempenho da economia.” O terceiro e último elemento está ligado a diferença entre ética entre católicos e calvinistas, isso levou a uma incompatibilidade de visões de mundo entre colonos já estabelecidos com cultura portuguesa, e calvinistas que depois, através da tentativa de evangelização, vão tentar converter os mesmos. Vainfas cita um trecho de Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil, onde fala sobre isso, dois mundos distintos onde haveria uma distorção e perversão nisso. Além, é claro, da diferença do “espírito de aventura” (católico) e a ética do trabalho muito característica dos protestantes ou calvinistas.