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Marcos Reigota

A educa çã o ambiental , como perspective


educativa , pode estar presente cm todas as
disciplinas.
Sem impor limites para seus estudante » , tem
cará ter de educa ção permanente. ILIa , por i
*
só, n ão resolver á os complexos problemas
ambientais planet á rios, mas pode influir
decididamente para isso ao formar cidad ã os e
cidad ã s conscientes de seus direitos c deveres . z
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O
*
Areas de interesse: <
U'
Educação, Meio Ambiente, Sociologia, Polí tica . Imhu uUil
3D
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o ui II É
oleçõo
PRIMEIROS*
PASSOS */ EDUCAÇÃO AMBIENTAL
292 Cole ç c i o

editora brasiliense editora brasiliense


PRplf
^
*
Marcos Reigota

OQUE É
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

editora brasiliense
CONTEXTOS POSSíVEIS PARA A REALIZAçãO
DA EDUCA ÇÃO AMBIENTAL

E consenso na comunidade internacional que a


ção ambiental deve estar presente em todos os
DS que educam o cidadão e a cidadã.
Assim, ela pode ser realizada nas escolas, nos
e reservas ecológicos, nas associações de bair-
fc=k ncs sindicatos, nas universidades, nos meios de co-
cação de massa etc.
Cada um desses contextos tem as suas caracte-
Ifsccaí e especificidades que contribuem para a diversi-
tci-r e a criatividade da educação ambiental.
Nos parques e reservas ecológicos o enfoque é
|prc ^ -_anamente as espécies animais e vegetais que aí
e as suas interdependências. Nas associações de
, analisam- se os problemas ambientais cotidia-

e as suas possibilidades de solução. Nos sindicatos,


cordições de trabalho, manuseio de produtos tóxi-
segurança e riscos são temas imprescindíveis.
INTRODUçãO

A ideia de escrever este livro surgiu a partir do


meu contato com professores e professoras do ensino
básico e fundamental, estudantes, pesquisadores, téc-
nicos de órgãos públicos, empresários e ambientalistas
nos inúmeros cursos e palestras que dei no início dos
anos 1990.
Minha vida vai ser longuíssima porque cada instante é. A im- Embora, naquela época, todos tivessem um
pressão é que estou por nascer e não consigo. Sou um coração grande interesse pela educação ambiental , poucos co-
batendo no mundo. Você que me lê que me ajude a nascer. nheciam a sua história e os seus princípios. Num des -
ses cursos, chamou-me muito a atenção a informação
Clarice Lispector, Agua viva , 12. ed.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993, p. 41.
dada por um funcionário de uma empresa estatal pau-
lista, responsável pelo Departamento de Educação
Ambiental, de que era a primeira vez que ele entrava
em contato com a educação ambiental da forma que
eu a expunha.
8 Marcos Reigota O que é educa çã o ambiental 9

Aliado à quase inexistência de literatura entre sentam como educadores e educadoras ambientais.
nós sobre a educação ambiental , esse fato me estimu- Foram tantos os encontros e os desencontros que é
lou, para não dizer obrigou, a escrever este livro, pois, impossível, e nem seria o espaço mais apropriado, listá-
acreditava que o referido funcionário não era o único los todos aqui. Também se torna impossível fazer uma
com essa responsabilidade e nessa situação. lista de agradecimentos aos colegas que contribuíram
O conteúdo do O que é educação ambiental é a para a difusão deste livro e que enviaram sugest ões e
base dos cursos, seminários e palestras a que me refe- V. críticas, que tentei incluí-las nesta nova edição revista
ri e é também o resultado de discussões sobre educa-
e ampliada.
ção em geral e educação ambiental em particular, com
Como na primeira versão, quero deixar aqui ex -
Fábio Cascino, Hercília Tavares de Miranda , Moacir
plicitado meu agradecimento muito especial a Caio
Ribeiro do Vale, Nicia Wendel de Magalhães Nilda . Graco, na época editor da Editora Brasiliense, que leu
Alves, Rosália Ribeiro de Aragão, Roseli Pacheco e Sa-
a primeira versão deste livro poucos dias antes de seu
lete Abraão.
falecimento. As sugestões que ele fez foram incluídas e
Muitos outros diálogos aconteceram desde que
as críticas foram consideradas.
a primeira edição foi publicada, com outros e outras
colegas, estudantes, funcionários públicos e militantes Esta revisão, quatorze anos depois da primeira
dos movimentos sociais, ambientalistas e ecologistas edição, está relacionada com a necessidade de am-
que consolidaram parcerias, amizades, solidariedades e pliar e aprofundar as ideias apresentadas, revisar os
ampliaram nossas possibilidades de ações pedagógicas conceitos, e a linguagem, e oferecer novas oportuni-
e políticas, coletivas e individuais. dades de (re) posicionar a educação ambiental como
Em outras palavras, esses diálogos ampliaram e educação política, acreditando que a edição inicial
concretizaram relações afetivas e possibilidades de in- cumpriu os seus objetivos de difundir a educação am-
tervenção cidadã. biental no Brasil.
Em outros momentos, esses encontros provoca- A minha reflexão por meio das pr áticas pedagó-
ram rupturas assim como divergências profundas sobre gicas cotidianas, de pesquisas e de militância desde que
o entendimento do papel político da educação ambien- a primeira edição ganhou o espaço público, foi ampliada
tal e do imprescindível compromisso é tico nas pr áticas na mesma propor ção em que o interesse pelo livro e
e ações de todos e todas que se identificam e se apre- pela perspectiva política, cultural e pedagógica da edu-
10 Marcos Rei ota
4
^
cação ambiental aqui apresentada aglutinou adeptos e
-
adeptas e interlocutores e interlocutora .
Esta nova edição, revista e ampliada , t e m como
objetivo reafirmar essas ideias iniciais, (re) discuti las
e principalmente colaborar com os jovem c as jovens
profissionais e militantes interessados pela educação A EDUCA ÇÃO AMBIENTAL
ambiental. A luta continua. COMO EDUCAÇÃO POLÍ TICA

São Paulo, 4 de dezembro de 2008

Antes de definirmos a educação ambiental que


queremos fazer precisamos ter claro que o problema
não está na quantidade de pessoas que existe no plane-
ta e que necessita consumir cada vez mais os recursos
naturais para se alimentar, vestir e morar. Esse argu-
mento que relaciona o aumento da população com a
escassez dos recursos naturais ocupou grande parte dos
debates acadêmicos e políticos e esteve muito presen-
te nos meios de comunicação de massa pnncipalmente
nos anos I 960, 1970 e 1980 . A crítica a essa ideia veio
principalmente dos intelectuais, pesquisadores e mili-
tantes dos países pouco industrializados, com grande
densidade populacional, com grandes recursos naturais
e com baixos índices de escolaridade.
A crítica mais contundente a essa ideia que ligava
aumento da população com o consumo dos recursos
naturais veio de pessoas dos países que naquela época,
12 Marcos Rmtfota O que é educaçã o ambiental 13

eram denominados países do " terceiro mundo " ou ain- nas de garantir a preservação de determinadas espécies
da de “ países em via de desenvolvimento ' ’ . O argumen - animais e vegetais e dos recursos naturais, embora es-
to central da crítica era de que havia uma concentração sas questões (biológicas) sejam extremamente impor-
de consumo dos recursos naturais e das rique / as pro- tantes e devem receber muita atenção.
vocadas pelo modelo capitalista de desenvolvimento Quando afirmamos e definimos a educação am-
nos países industrializados e que o real problema era a biental como educação política, estamos afirmando
concentração de riquezas e de consumo e não o cresci - que o que deve ser considerado prioritariamente na
mento da população (pobre). educação ambiental é a análise das relações políticas,
Os críticos enfatizavam que era necessário am- económicas, sociais e culturais entre a humanidade e a
pliar a distribuição justa e equitativa dos recursos natu- natureza e as relações entre os seres humanos, visando
rais (e dos alimentos) e dos bens culturais (educação) a superação dos mecanismos de controle e de domi-
necessários para a manutenção da vida com dignidade nação que impedem a participação livre, consciente e
em todo o mundo. Em outras palavras, o que se colo- democrática de todos.
cava era: é necessário entender que o problema está no A educação ambiental como educação política
excessivo consumo desses recursos por uma pequena está comprometida com a ampliação da cidadania, da
parcela da humanidade e no desperdício e produção de liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos
artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida. cidadãos e das cidadãs na busca de soluções e alterna-
Outro argumento muito presente na educação tivas que permitam a convivência digna e voltada para
ambiental nas suas primeiras décadas era a de relacio- o bem comum.
ná-la, prioritariamente, com a proteção e a conserva- Pensar as nossas relações cotidianas com os
ção de espécies animais e vegetais. Nesse sentido, a outros seres humanos e espécies animais e vegetais e
educação ambiental estava muito próxima da ecologia procurar alter á- las (nos casos negativos) ou ampliá- las
biológica, sem que ela tivesse de se preocupar com os (nos casos positivos) numa perspectiva que garanta a
problemas sociais e políticos que provocavam esta situ- possibilidade de se viver dignamente é um processo
ação de desaparecimento de espécies. (pedagógico e político) fundamental e que caracteriza
No sentido contrário afirmamos que a educação essa perspectiva de educação.
ambiental não deve estar relacionada apenas com os Dessa forma, o componente “reflexivo ” da e
aspectos biológicos da vida, ou seja, não se trata ape- na educação ambiental é tão importante quanto os
14 Alurcoi Nn çnla O que é educa ção ambiental 15

elementos “participativos ' (estimulai i p. w M< ipaç ao danças no mundo, ela tende a questionar as opções po-
comunitária e / ou coletiva para a busca de solução e líticas atuais (mesmo as consideradas de “ esquerda")
alternativas aos problemas cotidiano . ) ou " « ompoi la - e a própria educação escolar e extraescolar, quando
mentais ” (mudança de comportamentos individuais e preocupadas em transmitir conteúdos científicos que
coletivos viciados e nocivos ao bem comum) ter ão utilidade apenas para os concursos e exames.
A educação ambiental deve procuiai favorecer A educação ambiental como educação política
e estimular possibilidades de se estabelecei coletiva- é por princípio: questionadora das certezas absolutas
mente uma " nova aliança ' (entre os sere - , humanos e e dogmáticas; é criativa, pois busca desenvolver me-
a natureza e entre nós mesmos) que possibilite a todas todologias e temáticas que possibilitem descobertas e
as espécies biológicas (inclusive a humana) a sua convi- vivências, é inovadora quando relaciona os conteúdos
vência e sobrevivência com dignidade . e as temáticas ambientais com a vida cotidiana e esti-
Consideramos então que, com esses princípios mula o diálogo de conhecimentos científicos, étnicos e
básicos, a educação ambiental deve ser entendida como populares e diferentes manifestações artísticas; e críti-
educação política, no sentido de que ela reivindica e ca muito crítica, em relação aos discursos e às práticas
prepara os cidadãos e as cidadãs para exigir e construir que desconsideram a capacidade de discernimento e de
uma sociedade com justiç a social , cidadanias (nacional intervenção das pessoas e dos grupos independentes
e planetária) , autogestão e é tica nas relações sociais e e distantes dos dogmas políticos, religiosos, culturais e
com a natureza. sociais e da falta de ética.
A afirmativa de que a educação ambiental é uma A ética ocupa um papel de importância funda-
educação política está profundamente relacionada com mental na educação ambiental e vários autores bra-
*
o pensamento pedagógico de Paulo Freire , principal- sileiros e estrangeiros têm se dedicado a estudá-la. E
mente nos seus últimos escritos, como os livros Peda- sempre muito dif ícil definir o que é é tica ou ensiná-la,
gogia da autonomia (São Paulo: Paz e Terra , 1997 ) e Pe- mas podemos identificar a sua presença ou a sua ausên-
dagogia da indignação (São Paulo: Unesp, 2000) . cia. Não podemos também transformar a reivindicação
A educação ambiental como educação polí tica por é tica numa lista de preceitos morais, uma lista de
enfatiza antes a questão “por que ” fazer do que "como” “mandamentos ” a serem seguidos. Mas acredito que
fazer. Considerando que a educação ambiental surge e todos os educadores e todas as educadoras ambientais
se consolida num momento histórico de grandes mu- estão colaborando com a ampliação da compreensão
16 Marcos Rei&ota O que é educaçã o ambiental 17

da é tica e da sua presença na vida cotidiana quando Com base no pensamento político, filosófico, cul-
enfatizam a necessidade de respeito a todas as formas tural e pedagógico contempor âneo, que caracteriza a
de vida, quando estimulam a igualdade e o respeito às educação ambiental como educação política, podemos
diferenças étnicas, culturais e sexuais e ao se posicio- afirmar que não há nada de natural na competição (ou
narem contrários a todo tipo de corrupção, privilégios competitividade) , oportunismo, má-fé , ganância e ou-
e violência, principalmente quando, para isso, se utiliza tros termos que na vida cotidiana possibilitam a perma-
do dinheiro e dos espaç os públicos (escolas, universida- nência de privilégios de poucos.
des, instituições do governo etc.) . Por mais apuradas que sejam as pesquisas sobre o
O ser humano contempor âneo vive profundas c ódigo gené tico humano ainda não se conseguiu provar
dicotomias. Dificilmente se considera um elemento da que esses comportamentos encontram-se aí “natural-
natureza, mas um ser à parte, como um observador mente ” explicados. Desse modo, “ querer levar vanta-
e / ou explorador dela. Esse distanciamento da huma- gem ” é um comportamento social, cultural e político
nidade em relação à natureza fundamenta as ações que precisa ser profundamente questionado e superado
humanas tidas como racionais, mas cujas graves con- para que a convivência entre os diferentes possa se dar
sequências exigem, neste início de século, respostas de forma não violenta e menos agressiva.
pedagógicas e políticas concretas para acabar com o A educação ambiental crítica está, dessa forma,
predomínio do antropocentrismo (argumento de que o impregnada da utopia de mudar radicalmente as rela-
ser humano é o ser vivo mais importante do universo e ções que conhecemos hoje, sejam elas entre a humani-
que todos os outros seres vivos têm a única finalidade dade, sejam elas entre a humanidade e a natureza.
de servi-lo) . Desconstruir essa noção antropoc êntrica Voltemos um pouco aos aspectos políticos da
é um dos princípios éticos da educação ambiental. educação ambiental. Desde o seu início, temos insisti-
Nas relações sociais cotidianas e na polí tica bra- do que é absolutamente vital que os cidadãos e as cida-
sileira verificamos que a ética está muito pouco presen- dãs do mundo participem para que se tomem medidas
te. A possibilidade de se levar vantagem em qualquer de apoio a um tipo de crescimento económico que não
situação é o cliché básico predominante , e em muitas tenha repercussões nocivas sobre a população e que
ocasiões isso é entendido como natural , ou seja , que o não deteriore suas condições de vida. Geralmente, o
mats forte e esperto deve mesmo prevalecer diante do modelo económico capitalista de produção intensiva e
mais fraco e pacato. desenfreada enfatiza que possibilitará melhor “ qualida-
18 Marcos Reigota O que é educação ambiental 19

.
de de vida ” e ‘‘ mais emprego " par » lodos Mas ser á isso direitos e deveres. Tendo consciência e conhecimento
mesmo verdade ? Afinal, o que é mesmo "qualidade de da problemática global e atuando na sua comunidade e
vida ” ? Para os interessados em encontrar algumas res- vice-versa haverá uma mudança na vida cotidiana que ,
postas a essa última quest ão sugiro que procurem os se não é de resultados imediatos, visíveis, também não
trabalhos da professora da Faculdade de Saúde Pública será sem efeitos concretos.
da USP Maria Cec ília Focesi Pelícioni . Os problemas ambientais foram criados por ho-
Observe que, no parágrafo acima, enfatizamos mens e mulheres e deles vir ão às soluções. Estas não
a expressão " cidadão e cidadã do mundo ” e a impor- serão obras de gênios, de políticos ou tecnocratas, mas
tância de sua participação na definição de um projeto sim de cidadãos e cidadãs.
económico, portanto polí tico. A educação ambiental
deve orientar-se para a comunidade, para que ela possa
definir quais são os critérios, os problemas e as alter-
nativas, mas sem se esquecer de que dificilmente essa
comunidade vive isolada. Ela está no mundo, receben-
do influências diversas e também influenciando outras
comunidades, num fluxo contínuo e recíproco. Assim,
a educação ambiental entra nesse contexto para auxi-
liar e incentivar o cidadão e a cidadã a participarem da
resolução dos problemas e da busca de alternativas no
seu cotidiano de realidades específicas.
“ Os cidadãos e cidadãs do mundo " , atuando
nas
suas comunidades, é a proposta traduzida na frase mui-
to usada nos meios ambientalistas : “ Pensamento global
e ação local, ação global e pensamento local " .
Claro que educação ambiental por si só não resol-
ver á os complexos problemas ambientais planet ários.
No entanto, ela pode influir decisivamente para isso,
quando forma cidadãos e cidadãs conscientes dos seus
HISTóRIA DA EDUCAÇÃ O AMBIENTAL

A educação ambiental tem uma hist ória quase


oficial, que a relaciona com confer ências mundiais e
com os movimentos sociais em todo o mundo. Antes
de apresentarmos alguns dos principais eventos que
marcam essa história semioficial é necessário lembrar
que, muito antes deles, pessoas e grupos, de forma dis-
creta, mas muito ativa, j á realizavam ações educativas
e pedagógicas próximas do que se convencionou cha-
mar de educação ambiental.
Fazer um levantamento com e na comunidade ou
com os alunos e as alunas sobre quais foram as pessoas
e os eventos que marcaram o surgimento da educação
ambiental é uma forma de ampliar o conhecimento em
relação ao surgimento dessa proposta educativa na co-
munidade e no mundo, e se distanciar de uma história
oficial engessada e definitiva.
22 AhffTOJ SUigfth ê O que é educaçã o ambiental 23

Esse levantamento nobre n hmbVin locíil ou re- aos projetos a longo termo e foi alvo de muitas críticas,
gional da educação ambiental | • i f r i t a lembran - principalmente dos latino-americanos, que liam nas en-
do, como enfatizou Paulo I mu que '
sujeitos trelinhas desse livro a indicação de que, para se conser-
da história " , mesmo qu» .
ujnit • , sejam anónimos var o padrão de consumo dos países industrializados,
e desconhecidos do gt ui ule |nil i|j< net |u< , t ItistcSria não era necessário controlar o crescimento da população
.. .
é apenas um conjunto lineai d< dni v hm >i » r eventos.
Dito isso, podemos então passar aos eventos que são
nos países pobres.
Um dos méritos dos debates das conclusões do
os mais conhecidos e que possibilitaram a difusão e a Clube de Roma foi colocar o problema ambiental em
legitimação internacional da educnç ao ambiental nível planetário, e como consequência disso, a Orga-
Em 1968 foi realizada em Roma uma reunião de nização das Nações Unidas realizou em 1972, em Es-
cientistas dos países industrializados p a t a \ e discutir o tocolmo, Suécia, a Primeira Confer ência Mundial de
consumo e as reservas de recursos naturais nào - reno- Meio Ambiente Humano.
váveis e o crescimento da população mundial at é o sé - O grande tema em discussão nessa conferência
culo XXI. foi a poluição ocasionada principalmente pelas indús-
As conclusões do Clube de Roma deixaram clara trias. O Brasil e a India, que viviam na época “ milagres
a necessidade urgente de se buscar meios para a < onser- económicos ” , defenderam a ideia de que “ a poluição é
vação dos recursos naturais e controlai o crescimento o preço que se paga pelo progresso ” .
da população, além de se investir numa mudança i radi- Com essa posição oficial, o Brasil e a í ndia abriram
cal na mentalidade de consumo e de procriação as portas para a instalação de indústrias multinacionais
Seus participantes observaram que : " O homem poluidoras, impedidas ou com dificuldades de continu-
deve examinar a si próprio, seus objetivos e valores. O arem operando nas mesmas condições que operavam
ponto essencial da questão não é somente a sobrevi- em seus respectivos países.
vência da espécie humana, por ém , ainda mais a sua Essa atitude não será sem consequências e os re-
possibilidade de sobreviver sem cair em um estado inú- sultados se far ão sentir nos anos que vir ão. No Brasil,
til de existência ” . que na época vivia sob uma ditadura militar, o “ exem-
Essa reunião originou o livro Limites do cresci- plo ” clássico é Cubatão, onde, devido à grande concen-
mento ( São Paulo: Perspectiva, 1978) , que foi durante tração de poluição química, crianças nasceram ac éfalas;
r

muitos anos uma referência internacional às políticas e na India, o acidente de Bophal, ocorrido numa indústria
24 Moran AVi|fo /u O que é educação ambiental 25
química multinacional que operava sem a *, medidas de
mos então considerar que aí surge o que se convencio-

morte de milhares de pessoas,


-
segurança exigidas em seu pais d« oiip in . provocou a
nou chamar de educação ambiental.
j Dez anos após a Conferência de Estocolmo foi
Esse acidente junto ao ila usina nu leur de fcher- realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio
nobyl são considerados os a « id< nu , ecológicos con-
Ambiente e Desenvolvimento (observe a mudança do
temporâneos mais dr ásticos , ma -. < evidente que não
nome em relação à confer ência de Estocolmo) no Rio
são os únicos. Na década de 1990 c no -, pi imeiros anos
de Janeiro, que ficou conhecida como Rio-92 .
do século XXI foi possível presenciar uma quantidade A documentação disponível sobre essa confe-
.
enorme de acidentes e de diretri / es politic \ % comple-
tamente antiecológicas como a |x>siç ao dos I stados
r ência é vasta e de fácil localização quando se usa a
internet , mas o que é necessário observar aqui é que
Unidos em relação ao Protocolo de Kyoto, que visa a foi a primeira conferência das Nações Unidas na qual
diminuição de emissão de CO , à atmosfera ou a auto- a sociedade civil (cidadãos e cidadãs do mundo) pude-
rização do plantio de soja transgémca no Brasil ram participar. A intensa participação cidadã marcou
O desmatamento da Amazônia atingiu índices as reuniões posteriores realizadas pelas Nações Unidas
alarmantes, colocando o tema na pauta dos encontros e incluiu, com destaque, o meio ambiente na agenda
entre o governo brasileiro e de outros paí ses, tendo sido
política planetária.
tema de debates acalorados na mídia e nas conversas
Nessa agenda política planetária, a afirmativa da
cotidianas. necessidade da participação e da intervenção dos cida-
As guerras e os massacres ocorridos em Burun- dãos e das cidadãs deixou de ser apenas um discurso
di, Ruanda, ex- lugoslávia , Afeganistão, Iraque etc., nas bem-intencionado e conquistou um importante pro-
quais foram utilizadas armas extremamente sofistica- tagonismo. Nesse sentido, a “ formação ” do cidadão e
das contra a população, e a poluição da agua e do ar da cidadã para atuar diante dos problemas e desafios
provocada não só pelas indústrias, mas também pelas
ambientais adquiriu visibilidade pública, e a educação
guerras e conflitos armados, mostraram que a humani- ambiental deixou de ser conhecida e praticada apenas
dade ainda se encontra no seu estágio de barbárie. por pequenos grupos de militantes.
Uma resolução importante da confer ência de Es- Da Confer ência do Rio de Janeiro saíram inúme-
tocolmo em 1972 foi a que se deve educar o cidadão e a ros documentos como a Agenda XXI, com uma série
cidadã para a solução dos problemas ambientais. Pode- de indicações aos governos (inclusive a de promover a
40 Marcos Reigota O que é educa çào ambiental 41

As universidades dedicam- se à formação de pro- em outros contextos educativos e níveis de es-


fissionais que possam atuar nas diversas áreas do conhe-
cimento voltadas para o meio ambiente; entre elas as Em meados da década de 1980, houve um im-
pcrca :e debate nos meios educacionais. Discutia- se se
ciências mais técnicas, como a engenharia , e as ciências
'

i c - ca ção ambiental deveria ser ou não uma discipli-


mais reflexivas, como a antropologia. As licenciaturas e
os cursos de pedagogia têm se voltado para a educação
^
« = ~i: n o currículo escolar. O Conselho Federal de
ambiental com grande intensidade e contribuição. ípi , o optou pela negativa, assumindo as posições
'

Os meios de comunicação de massa também ^ s conhecidos educadores ambientais brasileiros


Sê zr -ozã que consideram a educação ambiental como
tem um papel educativo importante quando difundem
:e soectiva da educação que deve permear todas
'

filmes, artigos e reportagens aprofundadas enfocando


as questões ambientais e quando promovem debates e
fciriíri: pltnas.
I* No governo de Fernando Henrique Cardoso
dão voz às pessoas que vivem esses problemas e bus-
cam soluções.
.
-’ 02) o Ministério da Educação elaborou o
A escola, da creche aos cursos de pós-graduação,
pc etc Parâmetros Curriculares Nacionais que ficou
do como PCN para a escola fundamental.
é um dos locais privilegiados para a realização da educa- PCN o meio ambiente foi considerado um tema
ção ambiental, desde que se dê oportunidade à criativi- to-'S .ersal.
'

dade, ao debate, à pesquisa e à participação de todos. Os PCN receberam muitas críticas e adesões,
Outro aspecto consensual sobre a educação am- - -i s a s principais críticas partiram dos mais reno-
biental é que não há limite de idade para os seus estu- ò: S pesquisadores e pesquisadoras do Brasil , princi-
dantes. Ela tem a característica de ser uma educação e de especialistas em currículo como, entre ou-
*

permanente , dinâmica, diferenciando- se apenas no que - Antonio Ft ávio Nogueira, Marisa Vorreber Costa,
diz respeito ao seu conteúdo, à temática e à metodolo- àã - ves, Regina Leite Garcia, Silvio Gallo e Tomaz
gia, pois o processo pedagógico precisa estar adequado tore- - ca Silva.
às faixas etárias a que se destina. Essas críticas estavam pautadas nos aspectos
Procurarei enfatizar aqui a educação ambiental fccos e pedagógicos dos PCN, que foram apresen-
nas escolas de ensino básico e fundamental, embora s:; à sociedade brasileira como oriundos da expe-
muitos dos seus aspectos possam ser utilizados e adap- tei da reforma curricular espanhola , com forte
26 Mat eon O que é educa çã o ambiental 27

educação ambiental) e os trata * los elaborados pela so- outros, o fracasso da Rio+ 10 está relacionado com o
ciedade civil , como o Iratado .olm » 1 duração Am- pr óprio fracasso das Nações Unidas, “prisioneira ” dos
biental para as Sociedades Sustent á veis interesses das grandes potências, principalmente dos
Em 2002 , foi realizada em Johannesburgo na Estados Unidos. De qualquer forma, com essas con-
.
Á frica do Sul , a Confer ê ncia * las Nai iVs I Jnulas para o ferências a educação ambiental esteve presente nos
Desenvolvimento Sustent á vel (compair as mudanças discursos e nos documentos, mas principalmente se
dos nomes com as conferem ias d» I stocolmo c do Rio fez presente por meio das ações concretas de muitas
de Janeiro) . pessoas, cidadãos e cidadãs do mundo, em diferentes
Essa Confer ência que ficou conhecida como regiões do planeta.
Rio+ 10, tinha como objetivo avaliai as aplicações e A Unesco foi o organismo da ONU responsável
progressos das diretrizes estipuladas no Rio de Janeiro. pela divulgação dessa nova perspectiva educativa, e
Realizada num momento de grande tensão internacio- desde os anos 1970 realizou vários seminários regionais
nal , logo após o atentado de II de setembro e, poucos em todos continentes, procurando estabelecer os seus
meses antes da invasão americana no Itaque , essa reu- fundamentos.
nião foi considerada um fracasso por uns e por outros A partir desses seminários, um grande número
uma possibilidade de encontros, debates c elaboração de textos, artigos e livros foram publicados pela Unesco
de estratégias comuns, apesar do descr édito público em diversas línguas.
das Nações Unidas. Os principais seminários realizados por essa insti-
A Rio+ 10 teve o mérito de possibilitar aos cida- tuição estão inseridos na história da educação ambien-
dãos e cidadãs do continente africano uma participa- tal e precisam ser destacados.
ção ativa, expondo as mazelas em que vivem, como as Um deles foi realizado em Belgrado, na então lu-
inúmeras guerras civis, o imenso número de pessoas goslávia, em 1975 , e contou com a presença de especia-
contaminadas com o HIV, a poluição da á gua e do ar, o listas em educação, biologia, geografia e história, entre
analfabetismo e a pobreza extrema de grande parte da outros, seminário no qual foram definidos os objetivos
população. da educação ambiental, publicados no documento que
Para muitos analistas, a Rio + 10 foi um Iracasso se convencionou chamar de A Carta de Belgrado.
por não ter possibilitado o avanço efetivo das diretri- Alguns anos depois foi realizado em Tbilissi, na
zes e promessas apresentadas no Rio de Janeiro. Para Georgia (ex-URSS) , em 1977, o Primeiro Congresso
42 Marcos Reigota O que è educação ambiental 43

influência da pedagogia cognitivista conhecida como - r.dusão do tema Meio Ambiente nos PCN
Escola de Barcelona. o cru uma fecunda discussão entre os educado-
Um dos principais argumentos dos críticos aos * sr ecucadoras ambientais no Brasil.
PCN era o da impossibilidade de se definir um currículo As educadoras e os educadores mais familiariza-
nacional em um país com a diversidade social, político, H : s argumentos pedagógicos e políticos con-
cultural e ecológica como o Brasil. i qualquer tentativa de normatização ou pa-

Com a inclusão do tema Meio Ambiente nos H cumcular se situaram entre os críticos aos
PCN, houve uma substituição quase automática de I
terminologia. Muitos passaram a considerar que a edu- As educadoras e os educadores que têm uma
cação ambiental havia, enfim, se tornado oficial. Uma H -is pragmática os receberam positivamente e

outra foi a de considerar transversalidade como sinó- eararr. de sua difusão. A outra parcela procurou
nimo de interdisciplinaridade. Esses dois conceitos são H as ccsições críticas no sentido de ampliá-los e
bem diferentes e implicam práticas pedagógicas com
características diferentes. Numa breve explicação po-
_ cue precisa ser levado em consideração nessa
demos dizer que uma pr ática pedagógica interdisciplinar fctssãc é que. com todos os contras e as adesões, os
trabalha com o diálogo de conhecimentos disciplinares CN"arcaram a história da educação ambiental bra-
e que a transversalidade, pelo menos como foi definida jpKi = r cem possível que novas gerações de educado-
pelos precursores, entre eles Félix Guatarri, não des- ra armadoras ambientais tenham sido formadas sob
considera a importância de nenhum conhecimento, I Hirruência. Quando integrantes dessas gerações,
mas rompe com a ideia de que os conhecimentos sejam rí~e : ze pesquisas, publicações e depoimentos pú-
disciplinares e que são válidos apenas os conhecimenI - rxruserem as influências (positivas ou negati-
tos científicos. H receberam pelos PCN e pelas contribuições
Concordamos que meio ambiente é um tema cue eles trouxeram às suas práticas pedagó-
transversal que pode e deve ser abordado sob diversos e crcervenções cidadãs, poderemos ter acesso a
ângulos e conhecimentos científicos e culturais na es- 2c e idesões com maior diversidade de enfoques

cola, mas o que devemos priorizar ? Quais competên- gcgrcos e políticos.


cias técnicas e específicas são necessárias ? Com qual 3e cuaiquer forma, o debate provocado pela
dimensão política? sé: :: meio ambiente como tema transversal na
28 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 29

Internacional de Educação Ambiental da Unesco, onde Esse livro fornece subsídios temáticos para a
foram apresentados os trabalhos que estavam sendo Confer ência das Nações Unidas realizada no Rio de
realizados em vários países. Janeiro em 1992. E a partir desse livro que a noção de
Dez anos depois, foi realizado em Moscou o Se- desenvolvimento sustentável se torna mais conhecida.
gundo Congresso Internacional de Educação Ambien- Nesse livro também se enfatiza a importância da edu-
tal da Unesco. Nessa época, a então União Soviética cação ambiental para a solução dos problemas e busca
vivia o início da perestroika e da glasnost , que culminou de alternativas.
com o fim do regime socialista e a separação das di- Nos vinte anos que se passaram , entre as con-
versas repúblicas que compunham aquele país, e temas ferências mundiais de Estocolmo e do Rio de Janeiro
como desarmamento, acordos de paz entre URSS e houve uma consider ável mudança na noção de meio
os Estados Unidos, democracia e liberdade de opinião ambiente. Na primeira se pensava basicamente na
permeavam as discussões dos presentes. relação do ser humano com a natureza; na segunda,
Muitos especialistas presentes nesse encontro o enfoque é pautado pela ideia de desenvolvimento
de Moscou consideravam inútil falar em educação am- económico, dito sustentável, ideia que se consolida na
biental e em formação de cidadãos enquanto vários Conferência de Johannesburgo.
paí ses (incluindo o anfitrião) continuavam a produzir Essa mudança se far á sentir nos discursos, nos
armas nucleares e a viver sob regimes totalitários que projetos e nas práticas diversas de educação ambiental
impediam a participação dos cidadãos e das cidadãs nas que surgiram desde então em todo o mundo. Da mes-
decisões políticas. ma maneira, provocará reações contrárias de grupos e
Nesse mesmo período, a pnmeira-ministra no- de educadores e educadoras ambientais, principalmen-
rueguesa, Gro Harlem Brundtland, patrocinou reuni- te dos que atuam na América Latina.
ões em várias cidades do mundo, incluindo São Paulo, Se por um lado temos uma grande variedade de
para se discutir os problemas ambientais e as soluções práticas que se autodefinem como “educação ambien-
encontradas após a confer ência das Nações Unidas re- tal ” , mostrando a sua criatividade e importância, por
alizada em Estocolmo em 1972 . outro temos práticas muito simples que refletem inge-
As conclusões dessas reuniões foram publicadas nuidade, oportunidade, confusão teórica e política.
em várias línguas, no livro Nosso
futuro comum , tam- Nos últimos anos temos observado um forte mo-
bém conhecido como Relatório Brundtland. vimento patrocinado pela Unesco e por grandes ONGs
44 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 45

escola foi um momento histórico importante, cujos re- A r òucação ambiental, como perspectiva educa-
sultados e análises mais detalhadas e aprofundadas pre- scoe estar presente em todas as disciplinas quando
cisam ser apresentados, mostrando assim ser também s 'emas que permitam enfocar as relações entre a
um campo fértil para pesquisas de trabalhos de conclu- e o meio natural e as relações sociais, sem
são de curso nas licenciaturas, monografias de espe- ir 3e íado as suas especificidades.
cialização e também como dissertações de mestrado e Ccno exemplo, vejamos o relato de uma profes-
teses de doutorado. 3
- ir aulo, que me foi dado em 1988 .
Ouvimos com frequência, principalmente dos
políticos apressados, que o ensino de ecologia deve ser as aulas , visitamos uma pedreira perto da escola
,

disciplina obrigatória nos currículos. Há também mui- c - iunos podem observar o mal que a poeira faz à saúde

tos professores e professoras e militantes ambientalis- as coe-ános e analisar uma das principais fontes de polui-
tas que concordam com essa ideia e sempre que possí- rc ar no bairro. Realizamos um levantamento histórico

vel a enfatizam no espaço público. rnsblemas e as possibilidades de solucioná-los.


Geralmente, essa sugestão está acompanhada
da afirmativa “ é necessário ensinar ecologia para que -
'•trodução da educação ambiental na escola

os alunos possam proteger o meio ambiente ” . Trata- se. -ma modificação fundamental na pr ópria con-
efetivamente, de um argumento que deve ser respeita-
. ze educação, provoca mesmo uma revolução
do, mas não há nenhum indício empírico de que o ensi- es - Na reunião da Sociedade Brasileira para
no de ecologia por si só, estimula os alunos a "protege-
Prc-vreiso da Ciência, de 1992 , alguns professores
Bcmaram que a educação ambiental estimulou nos
rem ” o meio ambiente.
Já argumentei aqui que ensino de ecologia e edu- grande interesse pelos temas abordados e
imcica ção nas atividades propostas, elevando consi-
cação ambiental são diferentes, no entanto, é muito |
comum serem vistos como sinónimos. Embora a ecolo- mente o nível de aprendizagem . Outros comen-

gia, como ciência, tenha uma importante contribuição


o envolvimento ocorrido entre os professores
a dar à educação ambiental, ela não está mais autoriza- »SRCLí disciplinas e entre eles e os alunos, não só na

da que a história, o portuguê s, a geografia, a educação Bcaa mas também na comunidade. Provavelmente,
íf sica, as artes em geral etc. lfc»E£ afirmativa e constatação tenha sido verifi-
30 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 31

internacionais, que pretendem modificar o nome de perspectiva pedagógica e política tem aglutinado mili-
educação ambiental para “ educação para o desenvol- tantes, educadores e educadoras, professores e profes-
vimento sustentável ” . Esse movimento inicial de mu- soras conquistado espaço nos órgãos públicos, univer-
dança de nome foi um dos temas mais polêmicos da sidades e movimentos sociais. Ao mantermo-nos fiéis
Confer ência Internacional da Unesco sobre Meio Am- à denominação educação ambiental não abdicamos de
biente e Sociedade: Educação e Consciência Pública nossa história para abraç ar outra, da qual seríamos ape-
para a Sustentabilidade, ocorrida em 1997 em Thessa- nas receptores e não sujeitos.
loniki, na Gr écia, e se concretiza 10 anos depois, nos 30
anos da Carta de Tbilissi, ocorrida na India. Mas nesse
momento a divisão entre os colegas e as colegas e as
instituições favoráveis e contrários à mudança da de
-
nominação educação ambiental para educação para o
desenvolvimento sustentável já estava acirrada.
Pelo menos, entre os educadores e as educadoras
latino-americanos há uma forte resistência a essa mu-
danç a. Consideramos que a educação ambiental tem
conseguido nesses últimos 30 anos abordar uma série
de problemas e possibilitado a organização de grupos
sociais para enfrentá-los e buscar soluções. Considera-
mos também que a discussão e a busca de alternativas
aos modelos de desenvolvimento são extremamente
importantes, mas não consideramos os aspectos pu-
ramente económicos como a dimensão privilegiada
de qualquer projeto de desenvolvimento (mesmo dito
“ sustentável " ) e muito menos o tema central do
pro-
cesso educativo.
Por outro lado, é com a denominação educação
ambiental que no Brasil e na América Latina que essa
46 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 47

fiiié e participação como cidadã e cidadão brasileiros,


cada em vários outros espaços científicos, sociais e no
cotidiano escolar. também como cidadã e cidadão planetários.
Precisamos estar atentos a esse tipo de observa- "ara muitos professores e professoras, pais, alu-

ção que avalia as nossas pr áticas pedagógicas e o que c ; i. jnas, e o público em geral, a educação ambien-
elas estimulam nos nossos alunos e alunas, segundo Ú se pode ser feita quando se sai da sala de aula e se
eles e elas. No momento histórico em que a educação pea a natureza in loco . Essa é uma atividade peda-
ambiental já é bem conhecida, é também interessante fcca ': ca de possibilidades, mas se corre o risco de
observar as resistências que provoca e recebe de todas como única atividade possível, quando é apenas
as pessoas que (ainda) não têm nenhum interesse não as uma.
só pelos problemas e pelas questões ambientais e muito z sempre muito agradável poder passar algumas
menos pela participação política por meio de interven- Tas estudando ou fazendo atividades em parques e
ções cidadãs. .
Osr- -^s ecológicos, jardins botânicos, ou em qualquer
Com a educação ambiental, a tradicional sepa- nco nos seus aspectos naturais e / ou culturais,
ração entre as disciplinas, humanas, exatas e naturais, f No entanto, a natureza conservada não deve ser
perde sentido, já que o que se busca é o diálogo de to- p’ese^.tada como modelo, já que o que existe no coti-
das elas para encontrar alternativas e solução dos pro- e-.zre a sociedade e a natureza é uma relação de
blemas ambientais. cr anente transformação de ambos,
Na educação ambiental escolar deve-se enfatizar
o estudo do meio ambiente onde vive o aluno e a aluna.
f CLaro que devemos preservar determinados lo-
is ãe teresse ecológico, histórico e artístico, conhe-
'

procurando levantar os principais problemas cotidia-


Bfc'; e admirá-los, por ém não devemos tê-los como
nos, as contribuições da ciência, da arte, dos saberes
fcce : extensivo a todo meio natural e /ou construído,
populares, enfim , os conhecimentos necessários e as
possibilidades concretas para a solução deles. |fc ~:Peios são quase sempre estáveis e harmónicos
O fato de a educação ambiental escolar priorizar
cotidiana é feita de relações muitas vezes con-
e em constante modificação.
o cotidiano do aluno e da aluna não significa, de forma
alguma, que as questões (aparentemente) distantes não
- educação ambiental realizada nesses espaços
devam ser abordadas, pois não devemos esquecer que aios deve enfatizar os motivos pelos quais fo-
estamos procurando desenvolver não só a sua identi- - -C- . em ser preservados, bem como ser ressaltada
DEFININDO MEIO AMBIENTE

E ainda muito comum observarmos afirmações


de que educação ambiental é o mesmo que ensino da
ecologia, cabendo aí também a biologia e a geografia.
No entanto, a educação ambiental e o ensino
de ecologia, embora pró ximos, são temas distintos. Se
atentarmos somente à ecologia, verificamos que esta é
uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos
e o seu ambienteí f sico e natural. A ecologia tem tam-
bém as suas subáreas, tais como a ecologia humana e a
ecologia social. Nas últimas décadas do século XX sur-
giu a ecologia política, que está muito mais relacionada
com os movimentos sociais e com a ciência política do
que com as ciências biológicas.
Portanto, há ainda certa confusão conceituai no
que diz respeito ao ensino de ecologia e de educação
ambiental , entre o profissional de ecologia (ecólogo) e o
«»
48 Marcos Reigota O que é educa ção ambiental 49

a sua importância esté tica, histórica e ecológica para as stCLjrr -e .


ugar mas sem se esquecer de que, em qual-
sociedades do passado e para os contempor âneos. -
kugar que estejamos no mundo.
Enfatizei que as pr áticas pedagógicas de educa- Conhecer, debater e se posicionar sobre os moti-
ção ambiental precisam estimular o contato e as rela- l®s e as consequências do desmatamento da Amazô-
ções com a comunidade. As saídas da sala de aula ou iife 0 ze interesse, por exemplo, das estudantes e dos
mesmo da escola devem , sempre que possível, ser rea- |p£-o.2_-:es gaúchos e o plantio da soja transgênica no
lizadas, mas não necessariamente só em visitas às áreas Be Grande do Sul é de interesse das estudantes e dos
":es que vivem na Amaz ônia.
preservadas. PB-i^i
Quantas vezes os professores e as professoras Conhecer, debater e se posicionar sobre os mo-
organizam, com muita dificuldade, atividades em locais hrs 0 as consequências da transposição do rio São
situados a muitos quilómetros de distância da escola, sco diz respeito não só aos moradores de suas
desconsiderando que ali mesmo nas proximidades exis- B
tem possibilidades interessantes ?
Essas atividades de educação ambiental podem B
^ mas a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros
tános.

acontecer na cozinha da escola ao se observar a pre- 1


senç a ou não dos agrotó xicos e dos transgênicos nosl
^ Da mesma forma que a construção de novas
''udeares e o enriquecimento de ur ânio são te-
não dizem respeito apenas ao cotidiano dos
alimentos, os hábitos alimentares, o desperdício e as Hl tes e das estudantes de Angra dos Reis ou de
possibilidades de mudança; no jardim ou no terreno daH|
escola pode- se estudar a biodiversidade. Vuitos parques e reservas ecológicos, assim
Nas imediações da escola, pode-se estudar as ati- B

ras ou ainda as atividades agrícolas, o comércio e o mo-l


^^
vidades das indú strias vizinhas e as suas fontes poluí do- B
: s movimentos ambientalistas, oferecem ativi-
30 educação ambiental às escolas.
- ;umas dessas atividades baseiam- se na trans-
vimento do tr ânsito, além das poluições sonora, visual, 2 áe conhecimentos científicos e na conscientiza-

da água e do ar. o crescimento da população, a rede dei a conservação da natureza. Essas atividades
saneamento básico, entre tantos outros temas. - seu valor, mas se não abordam os aspectos po-
O importante é incluir nas atividades de educa- H
ção ambiental a temática pr ó xima ou distante (geogra- B
ficamente) relacionada com o cotidiano das pessoasl
^^ económicos, culturais e sociais, não podem ser
:-- ' iàos educação ambiental, mas sim ensino de
e ou ecologia, em que, na maioria das vezes,
34 Man of Rtigaia O que é educação ambiental 35

militante político (ecologista) « * também nu relação ao cósmico, geogr áfico,í fsico e o meio social com as suas
termo meio ambiente. instituições, sua cultura, seus valores ”.
Esse termo est á constantemmte presente nos Esses três exemplos de definição de meio am-
meios de comunicação de massa , no disc urso dos po- biente, originados nos meios científicos e que estão
líticos e dos militantes " verdes ” , nos livros didáticos, longe de terminarem aqui, mostram a variedade de sua
nas artes plásticas, na música , no cinema , no teatro compreensão. Outras definições dadas por cientistas,
etc. Mas o que se entendi' por meio ambiente ? Como artistas, militantes, também podem ser identificadas. O
importante é considerar que elas são muitas e variadas.
o definimos ?
Definições de meio ambiente relacionadas com a diver-
As definições podem ser as mais variadas possí-
sidade cultural e étnica também são muito importantes.
veis, dependendo das nossas fontes de consulta. Entre
Será que há diferença nas definições de meio ambiente
as primeiras definições que encontramos, originadas
dadas por pessoas de grupos culturais e é tnicos vivendo
nos anos 1970 e 1980 , temos a do geógrafo francês por exemplo em Hiroshima ou no interior da floresta
Pierre Jorge que o define como: Amazônica?
Provavelmente, você , leitor ou leitora, deve ter
ao mesmo tempo o meio é um sistema de relações onde a
a sua pr ópria definição, cujas características estão in-
existência e a conservação de uma espécie são subordinados
fluenciadas pelos seus interesses, pelas suas convicções
aos equilíbrios entre processos destrutores e regeneradores
e por seus conhecimentos científicos, políticos, filosófi-
e seu meio - o meio ambiente c o conjunto de dados fixos cos, religiosos, profissionais etc.
e de equilíbrios de for ças concorrentes que condicionam a Para que possamos realizar a educação ambien-
vida de um grupo biológico. tal, considero que é necessário, antes de mais nada, co-
nhecermos as definições de meio ambiente das pessoas
Para o ecólogo belga Duvigneaud , " é evidente
envolvidas na atividade. Será que a definição de meio
que meio ambiente é composto por dois aspectos: I ) ambiente das pessoas que participam da mesma ativi-
o meio ambiente abiótico í f sico e químico e 2) o meio dade são iguais ? Quais são os pontos comuns e diferen-
ambiente biótico ” . tes entre as definições encontradas num mesmo grupo
Para o psicólogo Silliamy, meio ambiente " é o que de pessoas? Até que ponto as definições das pessoas se
cerca um indivíduo ou um grupo, englobando o meio aproximam ou se diferenciam da sua?
50 Marcos Reigota O que é educação ambiental 51

o homem (geralmente se esquecem da mulher) é apre- : iracterizado pela visão biologizante da sociedade e
sentado como um elemento a mais na cadeia de ener- dos seres humanos.
gia, ou, ainda, como o vilão da história. Como se todos Em síntese, estou afirmando que o professor e a
os males causados ao meio ambiente fosse de respon- r ^ofessora podem educar (e educar-se) ambientalmen-
sabilidade do " homem ” em geral, sem diferenciação al - te em qualquer lugar.
guma entre nós. Para melhor explicitar o que é, então, educação
Há grandes e significativas diferenças entre, por ambiental, na escola ou fora dela, creio ser necessário
um lado, uma pessoa que extrai da natureza apenas o ãcordar os seus objetivos específicos, os conteúdos, os

necessário para se alimentar e alimentar a sua família, ~etodos e o processo de avaliação dos alunos, o que

entre um agricultor ou agricultora que não utiliza agro- .e'á feito nos pr óximos itens.

tóxicos nas suas plantações nem está interessado nas


sementes transgênicas, um cidadão ou uma cidadã que
vive nos grandes centros urbanos e, por opção, utiliza
os transportes públicos, com uma pessoa que não se
preocupa com o consumo excessivo de energia elé trica
e / ou de água, ou com um produtor de armas nucleares
e biológicas ávido para vender a sua mercadoria. Os im-
pactos ambientais que provocamos com o nosso estilo
de vida são diferentes e diferenciados e precisam ser
enfatizados e não camuflados na afirmativa simplifica-
dora de que " o homem destr ói o meio ambiente ” .
Com o crescente debate relacionando o meio
ambiente às questões sociais, essas atividades, natu-
ralistas e naturalizadoras, de educação ambiental que
enfocam apenas os aspectos biológicos da vida, tendem
a adaptar-se, porém deve-se ficar atento para que o
conservadorismo biológico a que normalmente se pro-
põem não se transforme em conservadorismo político,
36 Man n# Nitram * O que é educação ambiental 37

Assim, para podei expor com mau olnre /.a a mi- da delas nem da história, da literatura, da matemática,
nha proposta de educação . tmbienlal mrno * < locação daíf sica, da química etc.
.
política, considero inevit ável ipiv - .rntm a definição de O processo pedagógico da educação ambiental
meio ambiente que a sustenta r qu« - » dilerente das como educação política enfatiza a necessidade de se
apresentadas anteriormente I labom t\ definição de dialogar sobre e com as mais diversas definições exis-
meio ambiente em 1988 quando realizava meus estu- tentes, para que o pr óprio grupo (alunos e alunas e
dos de doutorado na Universidade Cat ólica de Lou- professores e professoras) possam construir juntos
vain, Bélgica. uma definição que seja a mais adequada para se abor-
Essa definição tem sido usada, ainda hoje, por vá- dar a problemática que se quer conhecer e, se possí-
rios e várias colegas. Eu pergunto - lhe -, se essa definição vel, resolver.
não envelheceu, ou se precisa ser ampliada ou modifi-
cada. Até o momento não registrei nenhuma respos-
ta negativa , motivo pelo qual vou deixa la aqui como
apareceu na primeira edição deste livro, mas observe,
prezado leitor e prezada leitora , que a definição a seguir
tem pelo menos 20 anos.
Defino meio ambiente como: um lugar determi-
nado e / ou percebido onde estão em relação dinâmica e
em constante interação os aspectos naturais e sociais.
Essas relações acarretam processos de criação cultu-
ral e tecnológica e processos históricos e polí ticos de
transformações da natureza e da sociedade.
Podemos comparar essa definição de meio am-
biente com as anteriores e observar que na minha defi-
nição meio ambiente não é visto apenas como sinónimo
de meio natural. Raz ão pela qual parto do princípio de
que educação ambiental não é sinónimo de ensino de
ecologia, biologia ou de geografia, embora não prescin-
OBJETIVOS DA EDUCA çãO AMBIENTAL

Na Carta de Belgrado foram definidos seis obje-


:ivos indicativos da educação ambiental. Apresentarei
e comentarei cada um deles:

I. Conscientização
Levar os indivíduos e os grupos associados a toma-
rem consciência do meio ambiente global e de problemas
:onexos e de se mostrarem sensíveis aos mesmos.

Coment ário:
“ Conscientizar ” significa que a educação am-
biental deve procurar chamar a atenção para os proble-
mas planetários que afetam a todos, pois a camada de
;z ônio, o desmatamento da Amaz ônia, as armas nu-

lieares, o desaparecimento de culturas milenares etc.


são questões só aparentemente distantes da realidade
s :s alunos e das alunas. Um dos problemas desse ob-
5 Marcos Reigota O que é educa çã o ambiental 55
*
euvo é o próprio termo “ conscientização que é mui- permita ao cidadão e à cidadã uma melhor atuação e

to utilizado entre nó s e que geralmente é remetido


ao intervenção cotidiana na busca de soluções e alternati-

oer, sarnento pedagógico de Paulo Freire. O problema vas socioambientais.


e cue uma pessoa não passa automaticamente a sua
III. Comportamento
corsc ència sobre qualquer tema a outra pessoa, ape-
nas pe!a transmissão de conhecimentos. Levar os indivíduos e os grupos a adquirir o sen-
Outros autores duvidam mesmo dessa possibi- tido dos valores sociais, um sentido dos valores sociais,
±zâàe de se “ conscientizar " alguém por meio da edu- um sentimento profundo de interesse pelo meio am-
caçao. Para maior aprofundamento desse tema, sugiro biente e a vontade de contribuir para sua proteção e
cue o eitor e a leitora procurem ler o livro de Paulo qualidade.
z'cre Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e mi-
Coment ário:
nha práxis (São Paulo: Ed. Unesp, 2003, 2 edição) , no
a
Não adianta só falar do meio ambiente, mas tam-
qua! ele se (re)posiciona sobre o que é conscientizar. bém mudar os comportamentos
individuais e sociais.
Os exemplos aqui podem ser vários, dos mais simples
II. Conhecimento
íOS mais complexos, tais como não fumar
nos lugares
Levar os indivíduos e os grupos a adquirir uma coletivos, não destruir árvores economizar energia e
compreensão essencial do meio ambiente global , dos agua, além de outros recursos naturais básicos, utili-
c oblemas que estão a ele interligados e o papel e o lu-
^
zar mais os transportes públicos, respeitar as regras de
gar da responsabilidade crítica do ser humano. tr ânsito etc. Porém, mudar comportamentos, objetivo

Coment ário: muito recorrente e dos mais buscados na educação


O conhecimento proporcionado pela ciência e ambiental, não é simples.
celas culturas não necessariamente escolarizadas so- O que leva uma pessoa ou um grupo a mudar
bre o meio ambiente precisa ser democratizado. As um comportamento considerado de alto impacto
oessoas devem ter acesso a eles. Assim, a educação ambiental ?
ambiental não transmite só o conhecimento científico, A educação ambiental precisa ficar atenta para

mas enfatiza e provoca a necessidade de diálogo entre o cair nem fomentar um discurso moralista de “bom
:omportamento ” , mas discutir e aprofundar a comple-
todo tipo de conhecimento, inclusive com a arte , que
5e Marcos Reigota O que é educo çào ambiental 57

social , económica , cultural e ecoló- problemas cotidianos, provocando e promovendo esses


^ - oortamento, individual e/ou coletivo,
*

diálogos e buscando elaborar meios técnicos de inter-


sugerir e buscar alternativas. • en ção com a ajuda de especialistas , conhecedores au -

todidatas, cidad ãos e cidadãs.


_ r- sr _ -
ia
-civíduos e os grupos a adquirir
a com- V Capacidade de avaliação
: - - sana à solu ção dos problemas. Nem to-

*
Levar os indiv íduos e os grupos a avaliar medidas
2ri caca ; za.ce técnica para resolver os problemas
e programas relacionados ao meio ambiente em função
r e;or, necer essa deficiê ncia é um primeiro de fatores de ordem ecológica , pol ítica , econ ómica , so-
cial , estética e educativa .
Comentário:
- : : i: de competê ncia impregnou o discurso E fundamental para a participação do cidad ão e da
: ; : : r ncipalmente após a d écada de 1990. Mas
'
cidadã poder decifrar a linguagem dos projetos, de riscos
. - c .. zr ~ ca exatamente? ambientais elaborados por técnicos especializados.
.
1 :: e: o definido em Tbilissi é bem claro nes- Esses documentos, muitas vezes, são elaborados
A competê ncia se adquire coletivamente. e escritos para não serem compreendidos para quem
- ::z nho poderá enfrentar os
desafios que se não deté m conhecimento técnico específico. A lingua-
'
N ão se trata apenas de uma compet ê ncia gem técnica , cifrada e compreens ível por um grupo se-
- ;:écn í ca . adquirida com
estudos e formação leto é uma estratégia de poder que a educação ambien -
~
- . oet è ncia é també m a capacidade de ava- tal precisa desconstruir.
> enção, de diálogo e de intercâmbio Quando cientistas dizem , por exemplo, que os
:*e nós tem com pessoas e profissionais cransgê nicos não fazem nenhum mal à sa úde das pes-
:- ' " ecimentos diferenciados e comple- soas e à dinâ mica dos ecossistemas, usando para isso
o apoio de pesquisas cient íficas , apresentando dados
imbiental pode auxiliar a superação estatísticos, conceitos e conclusões que mascaram in-
. = i - :-éncia de competê ncias espec íficas :eresses económicos e ideológicos, impedem que um
.a ana . sar e buscar alternativas
aos ciálogo entre especialistas e leigos se realize. Agindo
5« Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 59

assm os especialistas bloqueiam e / ou negam aos lei- Os organismos da ONU como a Unesco e o Pnud
gc; um direito cívico básico que é a possibilidade de são os mais conhecidos internacionalmente, mega
.
a a ação sobre temas complexos e polêmicos. ONGs como o WWF IUCN ou movimentos como o
A capacidade de avaliação que cada um adquire Greenpeace e Amigos da Terra estão presentes em vá-
oc-' rr.eso da educação ambiental permite ou impede que rios países. No Brasil foi criado o Ministério do Meio
proretos sejam efetuados. A educação ambiental pro- Ambiente e todos os Estados e as inúmeras prefeituras
cura traduzir " e discutir a linguagem técnico-científica possuem suas secretarias de meio ambiente. As uni-
ce cm etos duvidosos para a compreensão de todos. versidades e os institutos de pesquisa acompanharam
esse movimento de institucionalização no qual é possí-
VI . Participação vel observar que a educação ambiental é quase sempre
Levar os indivíduos e os grupos a perceber suas lembrada como um componente central.
'eioonsabilidades e necessidades de ação imediata para
A ampliação da discussão, da difusão e da influ-
a solução dos problemas ambientais. ência da educação ambiental tende também a ampliar
Procurar estimular nas pessoas o desejo de parti- os objetivos definidos na Carta de Belgrado. Vários do-
crpar na construção de sua cidadania. Fazer com que as cumentos como a Agenda XXI, Tratado de Educação
oessoas entendam a responsabilidade, os direitos e os Ambiental para as Sociedades Sustentáveis, Carta da
Deveres que todos têm numa sociedade democrática. ierra, e a Carta das Responsabilidades Humanas tra-
zem elementos novos e aprofundam os objetivos ini-
Coment ário:
Os objetivos definidos na Carta de Belgrado em ciais da educação ambiental. Tudo isso é resultado de
. 975 são históricos e precisam ser contextualizados.
mtensa participação de cidadãos e de cidadãs em todo
Vudanças políticas, sociais, culturais e educacionais ra- o mundo, que, além de darem visibilidade à educação
z za. s ocorreram nesses últimas décadas. As questões
.
ambiental, ampliaram os seus objetivos iniciais. Na De-
ecológicas passaram a ser um componente fundamen- claração do Rio, elaborada na Confer ência das Nações
ta em todos eles. Noções de meio ambiente possibili- Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em
taram a instituição da temática em vários níveis: inter- 992 , foram definidos 27 princípios de ação, entre eles,
nacional. nacional , estadual e local. encontram-se os seguintes:
Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 61
oC

Princí pio das responsabilidades comuns , mas dife- adiar a adoção de medidas efetivas visando prevenir a
degradação do meio ambiente.
Os Estados devem atuar no sentido de coopera-
4) Princípio de participação e exigência de bom governo.
te mundial tendo em vista conservar, proteger e resta- A melhor forma de abordar as questões de meio
ze -ecer a saúde e a integridade do ecossistema terres-
tre Considerando os diferentes papé is representados
ambiente é garantir a participa ção de todos os cidadãos
e cidadãs interessados em n ível adequado. No n ível na-
-a ceg -adação do meio ambiente mundial , os Estados
têm responsabilidades comuns mas diferenciadas. Os cional , cada indiv íduo deve ter assegurado acesso à s in -
ca >es desenvolvidos admitem a responsabilidade que
formações relativas ao meio ambiente que possuem as
~ es cabe no esforço internacional em favor do desen - autoridades p ú blicas, inclusive às informações relativas
c . mento sustentado, considerando a pressão que às substâ ncias tóxicas e às atividades perigosas em sua
i as sociedades exercem sobre o meio ambiente mun -
comunidade , e ter a possibilidade de participar aos pro-
- cessos de tomada de decisão.
ia- e as t écnicas e recursos financeiros que possuem .
Os Estados devem facilitar e estimular a sensibi -
2 Princípio da equidade intra e intergerações na satis- lização e a participação do pú blico disponibilizando as
fação ao direito ao desenvolvimento. informações. Uma possibilidade efetiva de ações judi-
ciá rias e administrativas, principalmente a de indeniza-
O direito ao desenvolvimento deve ser realizado
ções e de recursos, deve ser assegurada .
re forma que satisfaça equitativamente as necessida-
des relativas ao desenvolvimento e ao meio ambiente
das gerações atuais e futuras.

3 Princí pio da precaução e incertezas cient íficas.


Para proteger o meio ambiente , medidas de pre-
cau ção devem ser amplamente aplicadas pelos Estados
segundo suas capacidades. Em caso de risco de conse-
quências graves ou irrevers íveis , a ausê ncia de certe-
za científica absoluta não deve servir de pretexto para
CONTEúDOS DA EDUCAçãO AMBIENTAL

A educação ambiental não se baseia apenas na


transmissão de conteúdos específicos, já que não existe
um conteúdo único, mas vários, dependendo das faixas
etárias a que se destina e dos contextos educativos em
que se processam as atividades.
O conteúdo mais indicado é aquele originado do
levantamento da problemática ambiental vivida coti-
dianamente pelos alunos e pelas alunas e que se quei-
ra resolver. Esse levantamento pode ser feito conjun-
tamente por alunos e alunas com os professores e as
professoras.
Ti-mos encontrado nas atividades de educação
ambiental t na bibliografia disponível, principalmente a
relacionada com livros e material didáticos para os en-
sinos básica e fundamental , conteúdos bem diversos,
como saneamento básico, extinção de espécies, polui-
ção em geral, efeito estufa , biodiversidade, reciclagem
64 Marcos Reigota

ia nuclear, produ-
do lixo doméstico e industrial, energ
ção armamentista etc.
transmissão
A educação ambiental não prioriza a
disciplina ou área
de conceitos específicos de nenhuma
conceitos básicos
de conhecimento. No entanto, alguns
originados da biologia ou da geografia
, como ecossiste- METODOLOGIAS DA EDUCAçãO AMBIENTAL
ma, hábitat, nicho ecológico
, fòtossíntese, cadeia ali-
mentar, cadeia de energia, territ
ório, espaço etc., devem
pelos alunos e pelas
ser construídos e compreendidos
alunas e não decorados e repetidos autom
aticamente.
poderiam
Os conceitos científicos citados, que Muitos são os métodos possíveis para a realiza-
ser outros oferecidos por outras
áreas de conhecimen- ção da educação ambiental. O mais adequado é que
to, têm como função fazer
o elo entre a ciência e a cada professor e professora estabeleça o seu e va ao
temática ambiental cotidiana
. Dessa forma, cada uma encontro das características de seus alunos e de suas
a sua contribuição
dessas áreas de conhecimento tem alunas. Se o professor ou a professora ainda não desen-
para dar à educação ambiental, princi
palmente quando volveu o seu próprio método, o mais indicado é entrar
ógicas os profes-
consegue envolver nas práticas pedag em contato com colegas que têm mais experiência e
sores e as professoras de biolog
ia, português, educa-
f si- constituir uma rede de intercâmbio.
, inglê s, educação í
ção artística, geografia , história Para determinado tema ambiental há diversas
ca, entre outros. possibilidades metodológicas. Algumas mais adequadas
procura pos-
O conteúdo da educação ambiental às condições específicas e às possibilidades concretas
es entre a ciência,
sibilitar ao aluno e à aluna as ligaçõ dos professores e das professoras, outras mais distantes
ões mais gerais, nem
as questões imediatas e as quest e inviáveis. Na escolha e na definição da metodologia
sempre próximas geográfica e cultur
almente. Tendo
, é necessário
de trabalho reside um dos aspectos que caracteriza a
sido escolhido o conteúdo a ser estudado criatividade e a autonomia do professor e da professora
utilizados; que
definir os métodos pedagógicos a serem diante dos desafios e das possibilidades que encontram
serão abordados no próximo item
.
cotidianamente.
66 Marcos Retgota O que é educação ambiental 67

As aulas expositivas não são muito recomenda- A educação ambiental que visa a participação do
das na educação ambiental, mas elas podem ser : dadão e da cidadã na solução dos problemas está mais
muito
importantes quando bem preparadas e quando c -óxima de metodologias que permitam questionar da-
deixam
espaço para os questionamentos e a participação tas e ideias sobre um tema específico, propor soluções
dos
alunos e das alunas. e apresentá-las publicamente.
Uma aula expositiva bem dada, mesmo conside Com metodologias que permitem e convidam à
-
rada tradicional, ainda é muito melhor do que as aulas carticipação, o aluno ou a aluna constrói e desenvolve
em que o professor e a professora se “
fantasiam ” de p'- ogressivamente o seu conhecimento e o seu compor-
estudante para conquistar a sua simpatia, impedindo tamento em relação ao tema junto com os colegas, as
assim que o aluno e a aluna entrem em contato com c ? egas, os professores, as professoras e seus familiares,
as
ideias, os conhecimentos, a experiência e o comporta :e acordo com a idade e a capacidade de assimilação e
-
mento de uma geração que não é a sua. de intervenção naquele momento de sua vida .
Para a realização da educação ambiental pode A metodologia participativa pressupõe que o pro-
-
mos empregar metodologias diferentes cesso pedagógico seja aberto, democrático e dialógico
entre si: a) só
o professor ou a professora fala não deixand entre os próprios alunos e alunas e entre os alunos e as
o espaço
e tempo para nenhuma outra intervenção que alunas e os professores e as professoras e a administra-
não seja
a sua. b) os alunos e as alunas fazem experiê ção da escola com a comunidade em que vivem, com a
ncias, tra-
balhos, discutem e apresentam suas conclusões e família e com a sociedade em geral .
difi-
culdades encontradas sobre o tema; c) os alunos e Vejamos um exemplo de metodologia participati-
as
alunas aprendem a definição de conceitos e descrev •a empregada relatado por uma professora de biologia
em
o que eles puderam observar, por exemplo, em São Paulo, nos anos 1980:
em uma ex -
cursão ou em um filme que assistiram; d) os alunos
e as Para a semana de ecologia, meus alunos realizaram entre-
alunas completam a descrição das observações e
das vistas com os velhos moradores do bairro, que conhecem
intervenções realizadas com os dados e as informaçõ
es a industrialização ali ocorrida. Eles nos contaram como era
e procuram responder a uma série de
questões e dúvi- antes e depois que as indústrias chegaram. Os alunos man-
das sobre o tema abordado.
tiveram também contatos com a associação de moradores
68 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 69

e com grupos ecologistas. Criaram um clube ecológico e


nar o intercâmbio de experiências dos professores e das
um jornal que é distribuído na escola. Além disso, fizemos
orofessoras com os alunos e as alunas e envolver toda a
(inclusive professores e funcionários) uma limpeza geral na
comunidade escolar e extraescolar.
escola e plantamos muitas árvores no bairro. Fizemos um
Mas precisamos ficar atentos para não confun-
levantamento dos principais problemas do bairro e as possi-
bilidades de solução.
dirmos interdisciplinaridade com transdisciplinaridade.
Essas duas noções não são sinónimas. Ao contrário da
A educação ambiental está também muito ligada nterdisciplinaridade, a transdisciplinaridade desconsi-
à interdisciplinaridade, que, como já vimos, é compre- dera a noção de “ disciplina ” , propondo a sua superação.
endida e aplicada das mais diversas formas. A transdisciplinaridade rompe com todos os limites e as
Geralmente, ocorre a interdisciplinaridade quan- categorizações dadas aos conhecimentos em tempos
do docentes de diferentes disciplinas realizam ativida- remotos das ciências.
des comuns, sobre um tema. Assim temos diferentes Outras metodologias têm se mostrado muito
interpretações sobre o assunto em pauta e as possíveis adequadas para a realização da educação ambiental.
contribuições específicas de cada disciplina. Entre elas, citamos: história de vida e pedagogia do
Assim era relatada a pr ática pedagógica consi- projeto.
derada interdisciplinar, por um professor de ciências História de vida é um método originado da antro-
nos anos 1980 que trabalhou com uma colega de por- pologia , que é bastante utilizado em estudos de psico-
tuguê s: logia, sociologia e educação e que se aplica muito bem
Realizamos debates entre os alunos, atividades de sensibi- na educação ambiental. Essa metodologia consiste ba-
lização e exposição oral. encenações teatrais e a realização sicamente no levantamento e na descrição de histórias
de um jornal a partir de reportagens publicadas nos jornais relacionadas sobre um tema ambiental, vividas pelos
sobre meio ambiente. Eu trabalho os aspectos mais cientí- alunos e pelas alunas, por seus familiares, vizinhos e
ficos dos problemas e a professora de português trabalha a amigos. As histórias de vida podem ser apresentadas
interpretação dos textos. de forma oral, escrita ou visual (filmes ou fotografias) .
Geralmente, essa metodologia enfatiza as trajetórias e
Além de uma compreensão mais global sobre o as relações de pessoas e grupos sociais com determina-
tema, essa possibilidade metodológica pode proporcio- do tema em determinado momento histórico.
Wareos Reigota O que é educa çã o ambiental 71

\ a pesquisa que fiz para minha tese de douto- nas no estudo de um tema específico. Ele permite que
raoo. que procurava identificar as representações de cada um (individualmente ou em grupo) desenvolva o
~ e o ambiente e as práticas pedagógicas que incluíam tema proposto sob a sua ótica, interesse e especifici-
a educação ambiental na cidade de São Paulo, obtive o dade. Os pais participam contribuindo com a sua ex-
ceco mento de um professor de matemática, cuja pr á- periência e seu conhecimento sobre o tema. Os alunos
t ca pode ser apresentada como um exemplo da possi-
e as alunas se empenham em explorar particularidades
t cade oferecida pela metodologia de história de vida. que lhes interessam. Num mesmo ano letivo, a escola
E e dizia: pode desenvolver um tema geral, com vários subtemas,
Nós fizemos um levantamento dos problemas ambientais ligando-os ao conhecimento científico, popular, étnico
vividos pelos alunos e por seus pais, nos locais de trabalho, e ao cotidiano.
em casa, na escola. Nós analisamos esses problemas, com- Essa metodologia era pouco empregada no Bra-
parando-os e procurando observar as causas comuns e os sil quando escrevi a primeira versão deste livro. Hoje
efeitos particulares, procurando encontrar a solução para é possível verificar que muitas escolas a adotam com
alguns deles. resultados bastante positivos, principalmente quando
relacionados com as questões ambientais.
Por serem histórias individuais e / ou coletivas, que A pedagogia do projeto é uma metodologia (e
enfatizam as vivências, elas podem parecer fragmenta-
mesmo uma proposta educativa em si) que de forma
das mas, ao serem expostas e discutidas pelos alunos e
geral sintetiza todas as outras aqui abordadas, pois: a)
pelas alunas, permitem a compreensão, a identificação,
conta com os alunos e as alunas nas decisões (cogest ão
as modificações ocorridas e sentidas por eles e a busca
de soluções e respostas coletivas para as questões que
pedagógica) ; b) promove a busca de alternativas e de
eram vistas como questões individuais.
solução dos problemas como um processo de aprendi-
História de vida é uma metodologia pedagógi- zagem; c) utiliza o conhecimento coletivo e individual;
ca que permite empregar a criatividade e expressar a d) emprega a interdisciplinaridade ; e) utiliza a comuni-
compreensão de conceitos científicos e dos problemas dade como tema de aprendizagem.
ambientais em discussão. A educação ambiental, como já foi observado,
A pedagogia do projeto é um método que envol- tem estimulado a consolidação de uma concepção de se
ve toda a escola, incluindo os pais dos alunos e das alu- pensar e praticar a educação contemporânea, nas esco-
n Marcos Reigota

e em outros espaços de aprendizado, que se manifes-


to: nos seus objetivos, conteúdos e metodologias.
Nela encontra- se outro aspecto de extrema im-
oortância e, no entanto, pouco estudado até o momen-
to. Trata- se do processo de avaliação dos alunos e das
a unas, que discutiremos a seguir. A AVALIA ÇÃ O DOS ALUNOS E DAS ALUNAS

O processo de avaliação dos alunos e das alunas


está diretamente relacionado e depende dos objetivos,
ios conteúdos e das metodologias da pr ática pedagó-
g ca. Se a educação está pautada apenas na transmis-
i-eo de conteúdos, de conhecimentos científicos então

e de se esperar que a avaliação seja caracterizada pela


i. aliação de aprendizagem " . Em outras palavras, que
;eja realizada procurando identificar
os conhecimentos
centíficos adquiridos (ou não) pelos alunos e pelas alu-
; por meio das clássicas
provas de perguntas e res-
"
1

ic í tas sobre o conteúdo desenvolvido em sala de aula.

Porém, a educação ambiental como educação po-


está basicamente empenhada na construção e no
32, ogo de conhecimentos, na desconstrução de repre-
-^ tações ingénuas e preconceituosas, na mudança de
'

2 eo talidade, de comportamentos e de valores e


"
na par-
•: cação e intervenção cidadã dos alunos e das alunas.
TX Marcos Reigota O que é educa çã o ambiental 75

Assim, qualquer processo de avaliação é um mo- bilidades que um ou uma estudante encontra para se
mento extremamente delicado se realizado apenas pelo tornar cidadão ou cidadã.
professor e pela professora devido ao seu forte com- As representações, os erros e os acertos sobre
ponente subjetivo. Não se trata de avaliar os conheci- conceitos e conhecimentos científicos dos alunos e das
mentos científicos elaborados e / ou apreendidos pelos alunas, no entanto, podem estimular o diálogo entre eles
alunos e pelas alunas. e quem os avalia, e não provocar uma barreira intrans-
Embora essa aprendizagem seja importante, ponível entre estudantes e professores e professoras.
o processo de avaliação vai muito além dela. Como Para evitar o máximo possível a avaliação tradi-
podemos avaliar a compreensão do que é cidadania? cional e punitiva e estimular a reflexão e o diálogo, uma
Como os alunos e as alunas entendem e praticam essa alternativa é a autoavaliação. Não se trata de õ aluno
perspectiva política? Como se veem como cidadãos e ou a aluna se dar uma menção paira que seja aprovado.
lidadas ? Como se inserem em projetos e se associam Trata- se de um exercício reflexivo de como se deu seu
a movimentos e ações de intervenção, ali onde moram aprendizado, suas mudanças, suas possibilidades e suas
ou em locais distantes do seu espaç o cotidiano? dificuldades em atuar como cidadão ou cidadã diante
Na perspectiva da educação ambiental como do que vive, do que vê, do que considera injusto, re-
educação política a avaliação dos alunos e das alunas pressivo e ecologicamente inviável.
não é realizada para medir incapacidades ou incom- O processo de avaliação é o momento pedagógi-
petências, mas sim para permitir-lhes identificar o que co reservado para a manifestação do envolvimento do
precisam (ou não) explorar, conhecer, analisar e esco- aluno e da aluna com a sociedade. Momento em que
her para a busca de alternativas e interações que pos- podem relacionar o conhecimento adquirido e discuti-
sibilitem a solução dos problemas ambientais que iden- do nas pr áticas pedagógicas com o aprendizado trazido
tificam e que querem superar. de suas experiências individuais, familiares, culturais e
A avaliação tradicional , que busca identificar di- sociais. Em outras palavras, a avaliação proposta é o
ficuldades de aprendizagem, quando bem-feita, pode momento pedagógico no qual se pode verificar o apren-
permitir ao aluno e à aluna conhecerem seus limites dizado que cada um construiu, trouxe e compartilhou
teóricos-práticos-científicos, assumindo o caráter for- com a sua comunidade.
mativo e não punitivo. Mas ela é limitada por não estar A ideia sobre a qual estamos insistindo de que
preocupada em identificar as dificuldades e / ou possi- se deve “ pensar globalmente e atuar localmente ” e
76 Marcos Reigota

"pensar localmente e agir globalmente " pode orientar


a avaliação (e a autoavaliação) considerando prioritário
que o aluno ou a aluna consiga perceber os problemas
da humanidade acima dos seus interesses individuais e
imediatos. No entanto, precisamos estar atentos para
os limites de tal avaliação, para não tirarmos conclusões TICOS
apressadas sobre os alunos e as alunas. A avaliação e
a autoavaliação são processos com avanç os e recuos,
que nos surpreendem constantemente e não nos tra-
zem certezas absolutas e definitivas sobre nada nem
ninguém. A educação ambiental conta com vários recursos
Como a educação ambiental propõe a noção didáticos a ser empregados.
de responsabilidade, não só com o planeta e a comu- Eles podem ser muitos simples ou sofisticados
nidade, mas também consigo próprio, a autoavaliação, por ém, qualquer que seja a sua característica, a suo
constante e processual, é um dos momentos pedagógi- boa aplicação depende muito da criatividade e compe-
cos que mais se aproxima da perspectiva da educação t ência do professor ou da professora. Características
ambiental como educação política. essas que estão relacionadas com a capacidade de c
orofessor ou a professora escolher materiais adequados
- faixa etária dos alunos e das alunas e com conteúdo
oertinente, aprofundado e com embasamento cient/-
~ ic. privilegiando as diversas opiniões e controvérsias

score um mesmo tema.


O professor ou a professora é competente e
^at:’.'o ou criativa quando oferece material que foge
ugar-comum, do óbvio e do que é exaustivamente
c- esentado e repetido (da mesma maneira) principaJ-
• te na televisão.
73 y
4arcos Reigota O JW é educação ambiental

Entre os recursos didáticos simples, considero a aos que hesitam e respeitar o tempo, dispombnidace
pr ópria aula dada desprovida de grandes apetrechos, interesse e possibilidades de cada um.
mas repleta de possibilidades de diálogos e debates de Fora da escola, as áreas verdes, as indústnas
posições diferentes e aprofundados. A aula é um ex- o bairro, enfim, fornecem elementos que estimulam
celente recurso didático quando esta não é confundi- maior participação dos alunos e das alunas como oca -

da com atividade de educação ambiental , esporádica, dãos e cidadãs e também maior conhecimento sotre s»
mas sim quando a perspectiva da educação ambiental e os seus próximos.
é incluída nas pr áticas pedagógicas cotidianas das mais Entre os recursos didáticos, podemos inchar cr
acesso aos meios de comunicação de massa e a tecno-
diversas disciplinas. _
logia (penso aqui na internet) . Discutir em sala de a ^.
Isso ocorre sempre ao relacionar os problemas
artigos publicados na imprensa, programas e reporta-
ambientais vividos cotidianamente pelos alunos e pelas
gens de televisão, entrevistas de rádio, documem: a
alunas e o conhecimento, as ideias e as opiniões (repre-
opiniões presentes em blogs e sites é sempre muito
sentações) existentes entre eles e as possibilidades de
enriquecedor.
intervenção e mudanças.
Um mural ou um “ jornal ambiental ” exposto em
A pr ópria escola, com seus problemas ambientais Ugares onde os alunos e as alunas possam ler e afi * a-
específicos, pode fornecer elementos de estudo e deba- notícias é de simples realização e de resultados muitc
tes e fazer surgir ideias para a solução de muitos deles, positivos. A elaboração de documentos, vídeos e fò-
envolvendo os alunos e as alunas e a comunidade na tografias e disponibilizados em rede (por exemplo n:,

sua manutenção . YouTube) permite o estabelecimento de comumdaces


A participação dos alunos e das alunas, dos fun- virtuais e compartilhamento de ideias e possibilidades
cionários e das funcionárias, dos professores e das de ação. Não são poucos os autores que relacora —
professoras, e outras pessoas que circulam no espaço esse compartilhamento virtual como uma das mais vi-
escolar e nos seus arredores é um exercício de conví- síveis características da cidadania planetária.
vio comunitário, voltado para o bem comum e coletivo. Os recursos didáticos mais sofisticados corre os
,

Mas essa participação não deve ser forçada e intima- estudos do meio ” em regiões de interesse ecológico
dora. Participa quem quiser e se reconhecer nessas ati- ou a produção e veiculação de filmes, vídeos :eamc
vidades. O importante é criar espaços de acolhimento etc. exigem investimentos financeiros, nem sempre de
80 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 81

baixo custo. Porém, algumas entidades culturais e fi- da música indígena que Marlui Miranda realiza há pelo
lantrópicas realizam essas atividades periodicamente a menos tr ês décadas.
preç os acessíveis. Em se tratando de música, precisamos ficar aten-
Nos primeiros anos da década de 1990 , houve to aos diferentes interesses que existem entre gerações
um grande interesse editorial pela publicação de livros e nas mesmas gerações. O intercâmbio de interesses
didáticos de educação ambiental. Uma análise mais ri- musicais (e estéticos) entre gerações é muito rico e
gorosa desses livros impediria de considerá-los de edu- prazeroso quando os preconceitos são desconstruídos
cação ambiental, pois estão mais pr óximos dos livros e deixados de lado.
didáticos de biologia, ciências e/ou geografia. Indicar filmes é sempre um pouco mais compli-
Embora essa produção continue existindo e aden- cado pela dificuldade de acesso, mas, hoje, a produção
trando as escolas, ela tem de dar espaço a livros mais brasileira e internacional , sobretudo curtas-metragens
bem elaborados e aprofundados, que não transformam de cineastas jovens, é bem marcante. Anualmente é re-
o meio ambiente em um discurso vazio e repetitivo. alizado o Festival de Cinema Ambiental na cidade de
A produção brasileira de livros de qualidade voltados Goiás. Vale a pena conferir o que é apresentado ali e
para a temática ambiental, se não é muito grande, é procurar disponibilizar alguns dos filmes para os alunos
pelo menos expressiva. Entre os autores que mais se e as alunas e para a comunidade.
destacam nessa produção estão Nilson Moulin e Ru- Já sabemos do efeito nefasto dos livros didáticos
bens Matuck. Na literatura são vários os textos que po- na sala de aula, por ém, num país com pouca tradição
dem subsidiar pr áticas de educação ambiental desde os no hábito da leitura, esses livros, quando permitem ir
clássicos, como Guimarães Rosa, Jorge Amado (da pri- além do conteúdo que apresentam , podem ser valiosos,
meira fase) e Graciliano Ramos, aos contempor âneos, mas é necessário cautela com eles. O principal cuidado
como Domingos Pelegrini Jr., Ignácio Loyola Brandão, é o de não utilizá-los como guias de atividades de edu-
Manoel de Barros e Milton Hatoum. cação ambiental.
A música tem contribuído muito com o nosso Os recursos didáticos mais artísticos e criati-
tema e a lista de indicações bem conhecidas poderia vos são os mais adequados à perspectiva inovadora
ser muito extensa. Mas sugiro particularmente o traba- que a educação ambiental traz à educação escolar
lho de Tetê Espíndola e Marta Catunda e o de resgate de forma geral.
82 Marcos Reigota

Com a contribuição das artes plásticas é possível


produzir trabalhos simples, baratos e de grande interes-
se. Não são poucos os artistas brasileiros que tiveram
ou tem essa preocupação ambiental e educativa. Entre
eles podemos citar Frans Krajcberg, Helio Oiticica, Ru-
bens Matuck e Siron Franco. A EDUCAÇÃ O AMBIENTAL NO BRASIL
A internet disponibiliza uma série de informa-
ções sobre esses e outros artistas e imagens que po-
dem ser utilizadas nas pr áticas pedagógicas cotidianas.
Não é por falta de informação disponível sobre um
tema e suas diversas interpretações que o professor
Já observamos qual foi a posição brasileira na
ou a professora não realizará a educação ambiental.
Mas atenção com o excesso de informação ! Procure Conferência de Estocolmo. Posição coerente com
fazer uma seleção qualitativa, buscando enfatizar po- o modelo económico de saque aos recursos naturais,
sições divergentes e contraditórias e analisá-las com apoiado no sistema político ditatorial-tecnocrata que
os alunos e as alunas para que eles possam tirar suas esteve no poder no Brasil de 1964 a 1984 .
próprias conclusões e construir conhecimentos sobre No entanto, no início dos anos 1970 foi criada
o tema que possibilitem uma intervenção cidadã, ime- a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) , su-
diata, a médio ou a longo prazo. bordinada ao Ministério dos Transportes, cujo primeiro
secretário foi Paulo Nogueira Neto, famoso ecólogo e
professor da Universidade de São Paulo.
O professor Paulo Nogueira Neto teve uma atu-
ação extremamente importante num momento em que
meio ambiente era visto como “ inimigo do progresso ” e

num momento histórico no Brasil em que ser contrário


ou taxado de opositor ao regime poderia levar à cadeia,
ao exílio ou à morte.
84 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 85

A Sema era responsável pelos projetos de edu- isoladamente, em escolas, parques, clubes e associa-
cação ambiental, e o Ministério dos Transportes o res- ções de bairro.
ponsável pela construção da Transamaz ônica e, como Em 1982, a Secretaria de Meio Ambiente de
se dizia naquele momento, “ pela integração desta re- Porto Alegre realizou o I Encontro de Educação Am-
gião ao resto do País ”. biental que se tem notícia no Brasil, repetindo o mesmo
Essa contradição explicita o contexto político-eco- evento em 1983. Em Sorocaba, interior de São Pau-
nômico-ambiental da época. Os projetos de educação lo, ocorreu em 1984 o Primeiro Encontro Paulista de
ambiental desenvolvidos pela Sema eram extremamen- Educação Ambiental. Embora de caráter regional , esse
te conservacionistas, e a política e as práticas em vigor encontro reuniu os poucos praticantes e pesquisadores
completamente outras, ou seja, nada conservaciomsta. em educação ambiental que apresentaram trabalhos
A educação ambiental oficial, desse período, realizados nos últimos anos. Lá estavam Kazue Ma-
é importante como refer ência histórica e merece ser tsushima, Nicia Wendel de Magalhães e Marcos Ma-
mais bem pesquisada pelas novas gerações, pois, desde rins, referências fundamentais na história da educação
essa época, e não só no Brasil, tem sido um problema ambiental brasileira.
sério quando a educação ambiental fica submetida aos Com o assassinato de Chico Mendes no final dos
interesses políticos e partidários dos eventuais grupos anos 1980 e com a pressão internacional sobre o Brasil
no poder nacional, estadual ou municipal. devido ao desmatamento da Amazônia e com a rea-
Independentemente do autoritarismo do gover- lização da Confer ência das Nações Unidas no Rio de
no tecnocr ático da ditadura militar, uma consciência Janeiro, em 1992 , ocorre o boom da educação ambien-
ambiental crítica surgiu no Brasil nos anos 1970, acom- tal, excessivamente presente na mídia e com poucos
panhando o que estava acontecendo em outros países. fundamentos políticos e pedagógicos.
Destacaram- se nessa época, entre nós, a atuação de, Um exemplo dessa superexposição na mídia e
entre outros, Alberto Ruschi , Aziz Ab ’ Sáber, Cacil- fora dela pode ser verificado nos vários “ Primeiro ” En-
da Lanuza, Frans Krajcberg, Fernando Gabeira , José contro Nacional de Educação Ambiental realizados
Lutzenberger e Miguel Abellá. Como consequência após 1988.
desse movimento, a educação ambiental começ a a ser Diante desse predomínio da quantidade de prá-
realizada timidamente por pequenos grupos e pessoas ticas em detrimento da qualidade, é compreensível a
86 Marcos Reigota O que é educaçao ambiental 87

confusão conceituai, filosófica e metodológica em que Enquanto escrevo isso tenho em mente as greves
se encontrava a educação ambiental. de fome (a primeira ocorreu em outubro de 2005) do
Passado o boom e o interesse da mídia (ou vice- frei Luiz Cappio, contrário à transposição do rio São
versa) , a educação ambiental se solidificou nos movi- Francisco, e a imolação de Francisco Anselmo Barros
mentos sociais, escolas, universidades, secretarias, mi- em Campo Grande, Mato Grosso do Sul , em novem-
nistérios etc. bro de 2005, como protesto pela instalação de usinas
Os eventos, os encontros e os simpósios se mul- de álcool no Pantanal.
tiplicaram por todo o Brasil, atraindo cada vez mais Esses protestos ocorreram num momento em
participantes. Ao mesmo tempo que o movimento da que estávamos distantes da ditadura militar, mas não
educação ambiental aumentou, também aumentou a da herança de sua concepção de desenvolvimento,
necessidade do seu aprofundamento teórico e da sua que não considera ou prioriza as questões ambientais.
pertinência política e social. Embora continuamos a Ocorreram num momento democrático, momento
observar em vários espaços a presença da educação esse que muitos lutaram (e morreram) para que pudés-
ambiental vista e praticada como “espetáculo ” sem semos vivê-lo.
profundidade e questionamentos, a tendência dessa Contestar e se posicionar é um direito e dever de
concepção é se tornar apenas mais uma entre muitas qualquer cidadão ou cidadã numa sociedade democrá-
que se abrigam na cada vez mais ampla definição de tica e livre, e para isso ninguém precisa correr risco de
educação ambiental. vida ou colocar a vida em risco.
O claro posicionamento político de nossas ativi- Quando brasileiros como Luiz Cappio e Francis-
dades pedagógicas e de intervenção cidadã precisam co Anselmo Barros colocam suas pr óprias vidas em ris-
estar pautadas na difusão de noções de bem comum co, eles nos lembram de que ainda estamos distantes da
responsabilidade, autonomia, liberdade, participação, plena democracia de direitos e responsabilidades.
solidariedade, ética e cidadania. Essas noçoes nao po-
dem ser apenas palavras bonitas e "politicamente cor-
retas ” . Elas precisam impregnar nosso cotidiano, nos-
sas ações, nosso corpo, nossas práticas sociais e peda-
gógicas cotidianas.
URAS

Como já foi observado, nas últimas décadas ocor-


reu o boom da educação ambiental, tornando-a quase
um modismo que confunde e afasta os seus praticantes
mais ativos e comprometidos. Muitas atividades exó-
ticas, distantes de um efetivo e aprofundado projeto
político-pedagógico, foram as que tiveram mais visibi-
lidade pública.
Como todo modismo, esse também foi passagei-
ro, e atualmente há muitos projetos que se tornaram
visíveis e influentes exatamente por apresentarem con-
sistência pedagógica e política.
Com a realização da Rio-92 , no Brasil, obser-
vamos o surgimento de pelo menos duas vertentes
de educação ambiental . Uma, bastante numerosa, é
a que vai no sentido do modismo e do oportunismo,
é inerente a todo megaevento, busca visibilidade a
90 Marcos Reigota O que é educação ambiental 91

qualquer custo e se aproxima muito mais de campa- teatro e exposições de artes plásticas com temas am-
nhas publicitárias. bientais se multiplicaram.
O mais problemático foi o surgimento de es- Têm sido realizados eventos científicos por todo
colas de educação ambiental e / ou escolas ecológicas o Brasil; são firmados acordos de cooperação técnica
dentro das concepções conservacionistas na ecologia, e intercâmbios entre diversos países. A Escola de En-
conservadora na política e equivocada no projeto po - genharia da Universidade de São Paulo em São Carlos
lítico-pedagógico. oferece um curso de especialização, provavelmente o
Essa perspectiva de grande apelo publicitário é a mais antigo do Brasil, que há anos atrai pessoas de todo
que ocupou com mais frequência os meios de comu- o país e tem no seu corpo docente profissionais alta-
nicação de massa, os órgãos governamentais voltados mente qualificados e reconhecidos.
para as questões ambientais e até mesmo algumas uni- Em várias outras universidades, públicas, comu-
versidades no período que vai mais ou menos até 1995. nitárias e privadas, se encontram cursos de capacitação
A segunda vertente é a que me interessa abor- e de especialização.
dar e traduz todo o movimento educativo ocorrido na A Fundação Universidade do Rio Grande, no Rio
sociedade brasileira provocado pela Rio-92. Nesse mo- Grande do Sul, oferece mestrado e doutorado especí-
vimento, a educação ambiental voltada para a consoli- fico em educação ambiental. Programas de pós-gra-
dação da cidadania, que estava sendo praticada antes duação em artes, educação, ecologia, saúde pública,
do boom , teve o espaço necessário para se consolidar geografia, sociologia, psicologia, engenharia etc. têm
como opção pedagógica crítica aos modelos educacio- acolhido propostas de teses e dissertações em educa-
nais conservadores. ção ambiental.
Por outro lado, ainda devido à Rio-92 , muitos A quantidade e a diversidade de teses e disser-
livros, revistas especializadas e artigos foram publica- tações hoje disponíveis é muito grande e as pessoas
dos. A mídia realizou debates (às vezes sérios) com interessadas podem consultá-las no portal da Capes
especialistas, políticos, cidadãos e cidadãs; a publici- (www.capes.gov.br).
dade para o consumidor ou consumidora consciente Os movimentos ambientalistas e sociais conquis-
tem destacado aspectos ecológicos; filmes, peç as de taram espaços importantes, o que fortaleceu a socieda-
92 Marcos Reigota O que é educação ambiental 93

de civil e a democracia brasileira, ampliando a noção de É bom lembrar que ser educador ou educadora
cidadania no cotidiano. ambiental é uma identidade, um reconhecimento de
Seria muito ingénuo pensar que todo esse movi- si muito mais que uma profissão como outra qualquer,
mento não passa de um modismo e oportunismo passa- que exige apenas conhecimentos técnicos e habilidades
geiros. Da mesma forma seria muito ingénuo considerar específicas. Uma pessoa que se considera um profissio-
que tudo isso é suficiente para que a educação ambien- nal da educação ambiental, além de seus conhecimen-
tal não precise mais se posicionar e se autoavaliar. tos técnicos e habilidades específicas, não negligencia
Se após a Rio-92 nada será como antes para a nem coloca em segundo plano a sua militância e seu
educação ambiental brasileira, o grande desafio que se compromisso político de construção de uma sociedade
apresenta no século XXI é se, depois de institucionali- justa, democr ática e sustentável .
zada e reconhecida, poderá ela, efetivamente, contri- Espera-se que nos próximos anos aconteça uma
buir para que as intervenções de cada um de nós e dos .
maior produção acadêmica sobre o tema pois inúme-
que a nós se juntarão poderão, enfim, construir uma ras dissertações de mestrado e teses de doutorado es-
sociedade justa, democrática, livre e sustentável. tão sendo elaboradas. Essa contribuição de pesquisa-
Penso que contribuirão com esse processo as dores é de grande importância para ampliar, aprofundar
propostas e as alternativas educativas e ambientalis- e fundamentar os processos de formação (identitária e
tas, pautadas em sólidos projetos político-pedagógicos,
profissional) e as práticas dos educadores e das educa-
mesmo que ainda minoritárias.
doras ambientais.
Outra tendência que poder á se manifestar nos
A tendência é o crescimento da demanda por
pr óximos anos e que vai no sentido contr ário de tudo
especialistas em educação ambiental, daí o provável
aquilo que estamos argumentado aqui é a ênfase na
surgimento de muitos cursos. Por ém, um acompanha-
educação ambiental como disciplina presente em vá-
mento e uma análise mais rigorosos dessas ofertas será
rios níveis de escolaridade.
de fundamental importância para que não tenhamos,
Continuo a afirmar que a educação ambiental
num futuro pr óximo, profissionais formados apressada-
não é uma disciplina, mas sim uma perspectiva peda-
mente influenciando os rumos e conduzindo políticas
gógica e política. Lembro que, todas as vezes que a
públicas da educação ambiental no Brasil. educação ambiental foi proposta como disciplina, essa
94 Marcos Reigota O que é educação ambiental 95

ideia foi firmemente combatida por muitos educadores


comprometida com as questões e os desafios de sua
e educadoras ambientais. Mais recentemente,
no en- época e é nessa possibilidade que devemos investir nos-
tanto, muitos e muitas colegas têm apoiado e divulgado
so tempo, nossa reflex ão e nossa atuação.
a ideia de que é necessário se implementar a educaçã
o Inúmeros educadores e educadoras ambientais
ambiental, como disciplina nas escolas. O debate está têm se aglutinado em redes, associações, grupos de es-
longe de estar concluído e provavelmente voltaremos a
tudos, revistas especializadas etc. A urgência e a neces-
ele muitas outras vezes. sidade de aprofundamento teórico, tendo como base
Penso que a educação ambiental como concep- esses desafios e alternativas buscadas, faz com que
ção político-pedagógica de várias atividades no âmbito
muitos estudos e pesquisas estejam sendo produzidos,
escolar pode ser um exercício rico que antecede a in-
O reconhecimento da educação ambiental por
clusão dessa perspectiva na grade curricular. Mas pers-
parte de outros profissionais da educação tem se torna-
pectiva da educação ambiental não é disciplina.
do concreto. Um exemplo disso é a constituição do Gru-
Não se trata de oferecer uma disciplina de edu- po de Educação Ambiental na Associação Nacional de
cação ambiental, mas sim conquistar brechas e pos
- Pesquisa em Educação - Anped (www.anped.org.br) .
sibilidades da contribuição da educação ambiental a A partir de 2004 , esse grupo de estudo, que reu-
todo processo pedagógico voltado para a ampliação
niu vários colegas de muitas universidades brasileiras,
da cidadania, da democracia, da liberdade, da justiça
se transformou em um Grupo de Trabalho da Anped
e das possibilidades de construção de uma sociedade
(GT 22) ; assim, a educação ambiental passou a ser re-
sustentável.
conhecida pela Anped como uma área do conhecimen-
Por ém se as aulas de biologia, ecologia, geogra- to, como a filosofia da educação, a didática, o currículo,
fia ou de outra disciplina qualquer se transformarem
a educação popular, a história da educação etc.
em disciplina de educação ambiental, fica configurado
Esse grupo tem a responsabilidade de aprofun-
um equivoco que não beneficia nem o desenvolvimento
dar a pr áxis da educação ambiental, seus conceitos e
dessas disciplinas clássicas, nem o desenvolvimento da suas possibilidades, ampliando a sua influência cultu-
educação ambiental como educação política. ral, social e política. Da mesma forma, a educação am-
Vejo que a educação ambiental tende a oferecer
biental tem sido incluída, como grupo de trabalho es-
à sociedade brasileira uma perspectiva de educação
pecífico, nos encontros de outras associações de pes-

« »« m
96 Marcos Reigota

quisadores como a Associação Nacional de Pesquisa


e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade ( Anppas)
e a Associação Nacional de Pesquisa em Ensino de
Ciências ( Anpec) .
Quanto aos aspectos relacionados com a política
contempor ânea e os movimentos sociais, a educação CONSIDERAçõES FINAIS
ambiental tende a dialogar com as propostas de justi-
ça, autonomia e responsabilidade, participando, cola-
borando e se deixando influenciar peias intervenções,
pelas ideias, pelas reivindicações e pelas alternativas
apresentadas nos mais diversos espaços de debate e de A educação ambiental é uma das mais importan-
intervenções pela sociedade civil planetária. tes exigências educacionais contempor âneas não só no
Brasil. Pode ser ainda considerada uma grande contri-
buição à educação em geral.
A educação ambiental que procurei abordar aqui
não está vinculada à transmissão de conhecimentos so-
bre a natureza, mas sim à possibilidade de ampliação da
participação política dos cidadãos e das cidadãs.
Nela está inserida a busca da consolidação da
democracia, a solução dos problemas ambientais e as
condições dignas de vida.
Ela busca estabelecer uma nova aliança entre a
humanidade e a natureza, desenvolver uma nova ra-
zão que não seja sinónimo de autodestruição, exigindo
o componente ético nas relações económicas, políticas,
sociais e pessoais.
Portanto, é condição sine qua non na educa-
ção ambiental o diálogo entre conhecimentos, ge-
98 Marcos Reigota

rações e culturas em busca de cidadanias brasileira


e planetária.
A educação ambiental, assim, está empenhada
na realização do seu projeto utópico de estabelecer
uma sociedade sustentável e mais justa.
Dessa forma, a educação ambiental é uma con-
cepção político-pedagógica presente em vários mo- INDICAçõES PARA LEITURA
mentos de aprendizagens cotidianos.
Do ensino fundamental ao ensino superior pode
estar presente em qualquer disciplina, pois todas as áreas
do conhecimento estão aptas a fornecer especificidades
que possibilitem uma melhor compreensão do mundo e
da época em que vivemos visando a participação cidadã, Na primeira versão deste livro, que escrevi no
de intervenção, de busca de alternativas e de solução. início dos anos 1990 , eram poucos os livros publicados
A educação ambiental necessita de conhecimentos em português que tratavam especificamente da edu-
específicos, aprofundados, produzidos pelas ciências, ar- cação ambiental. Não é o caso nos dias atuais. A bi-
tes e culturas. Necessita também construir conhecimen- bliografia disponível é muito grande, com temática e
tos específicos, provocando o diálogo entre representa- bases teóricas e políticas muito diferentes. Há, portan-
ções sobre um tema e conhecimentos científicos e popu- to, material disponível para os mais diversos interesses,
lares (conhecimento do senso comum) e etno-culturais o que colabora para que se tenha um maior acesso a
(o conhecimento dos povos indígenas, por exemplo) .
ideias e projetos, mas que também exige maior aten-
No entanto, a educação ambiental não pode se
limitar ao acúmulo de conhecimentos, mas sim selecio- ção, pois a qualidade e a profundidade são também
nar e interpretar os conhecimentos disponíveis e sem muito variadas.
perder de vista que o objetivo principal é fazer com que Eu sugiro aos meus alunos e às minhas alunas que
esse conhecimento possibilite e amplie a participação procurem ler livros que ampliem nossa compreensão da
política e social dos alunos e das alunas, dos professores complexidade do mundo.
e das professoras, assim como de todos os sujeitos (di- Há muitos livros que repetem aquilo que já se
retores e diretoras, cozinheiros e cozinheiras, serven- sabe e reafirmam o que é de conhecimento público. Es-
tes) do processo educativo.
ses livros e textos têm um público amplo e podem facil-
100 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 101

mente ser encontrados em qualquer livraria. Alguns au- *


textos, autores e autoras. E , portanto, um processo
tores desses livros, às vezes mudam apenas o título dos
pedagógico. Muitos bons textos, se encontram hoje
livros, copiam ideias e argumentos de outros autores, disponíveis pela internet. Uma opção que recomendo
sem citar as fontes, fazem afirmativas sem comprova- é o portal www.scielo.br.
ção empí rica etc., por isso tenha cuidado, pois, mesmo Feitas essas observações, não acrescento nenhu-
na educação ambiental , há interesse em se obter lucros ma outra recomendação de leitura além daquelas que
fáceis e rápidos. já inclui no texto, pois a minha lista seria muito grande
Também costumo sugerir às leitoras e aos leito- e não quero deixar de fora nenhum deles que considero
res interessados que procurem textos que apresentem importante. Para quem tiver interesse em saber quais
bases teóricas e empíricas, que sejam resultados de são os textos com os quais trabalho, sugiro que procu-
estudos e pesquisas aprofundadas. Mas aqui, infeliz- rem a bibliografia nos meus livros e artigos.
mente, temos de alertar, pois, mesmo entre os pesqui- Pelo papel histórico que os primeiros textos de
sadores e as pesquisadoras de nossa área , o interesse educação ambiental e temas paralelos que serviram de
pelos resultados e lucros fáceis e imediatos é muito apoio para que eu escrevesse a primeira edição deste
presente. Um artigo ou livro publicado por uma revis- livro, deixo-os aqui , lembrando ao leitor e à leitora, no-
ta ou editora de prestígio, de autoria de um professor vamente, que são textos precursores e que depois deles
e /ou pesquisador de alguma universidade renomada, muitos outros, até dos mesmos autores e das mesmas
não significa necessariamente que esses textos te- autoras, foram publicados.
nham qualidade e seriedade.
Indicações da primeira edição
As vezes, e é muito comum, textos, artigos e
Para os que leem espanhol indico: Educación am-
livros com argumentos superficiais e fr ágeis dados
biental , de Maria Novo Villaulde (Madri: Anaya, 1985) .
empí ricos são amplamente divulgados devido às redes
De minha autoria, pode ser encontrado o capítulo “ Por
pessoais de interesses ideológicos e/ou comerciais. Há
uma filosofia da educação ambiental ” , em A questão
muitos bons livros que são dif íceis de serem encontra- ambiental no Brasil , de Magalhães L. E. (São Paulo: Ter-
dos nas grandes livrarias e excelentes textos publica- ra, 1992) , além de artigos em revistas especializadas.
dos em revistas de circulação restrita e portais inde-
Um livro pioneiro entre nós muito interessante
pendentes. Discernir sobre o que se deve ou não ler
na sua proposta interdisciplinar é Educação ambiental ,
é um processo longo, exige fazer escolhas, comparar de Kazue Matsushima ( São Paulo: Cetesb, 1987) .

••••
102 Marcos Reigota O que é educaçã o ambiental 103

Pouco antes da Rio-92, foi publicado o livro do 1990) , O que é ecologia , de Pádua e Lago (São Paulo:
técnico do ibama, Educação ambiental: princípios e prá- Brasiliense, 12a ed., 1983) e O equívoco ecológico , de P
ticas , de Geraldo F Dias ( São Paulo: Global, 1992) . Alphandéry, P Bitoun e Y. Dupont (São Paulo: Brasi-
Para maior compreensão dessa questão indico liense, 1992) . Para a prática política: Como fazer movi-
ainda os seguintes livros: Ecologia e política mundial , de mento ecológico e defender a natureza e as liberdades , de
Hector Leis (org.) (Petr ópolis: Vozes, 1991) - o título Carlos Mine (Petrópolis: Vozes, 1985).
define bem o seu conteúdo; Os (des)caminhos do meio Para a compreensão de alguns dos macros pro-
ambiente , de Gonçalves Porto (São Paulo: Contexto, blemas ambientais brasileiros: De Angra a Aramar : os
1989) - aborda as relações homem versus natureza e militares a caminho da bomba , de Rui de Góes (org.)
os aspectos políticos do problema, indica algumas pos- ( São Paulo: Cedi, 1988) ; As grandes manobras de Itai -
sibilidades e está fundamentado de forma bem didáti- pu , de C. G. Cauteat ( São Paulo: Acadêmica, 1991) , e
ca na contribuição teórica de importantes pensadores São Paulo: trabalhar e viver , de V C. Brandt (São Paulo:
contemporâneos. Ainda na perspectiva política, um Brasiliense, 1989).
clássico: Da ecologia à autonomia , de Cornélius Cas- Para os problemas ambientais, numa perspec-
toriadis e Daniel Cohn-Bendit (São Paulo: Brasiliense, tiva planetária, o criticado e básico Nosso futuro co-
1991) . Para uma análise mais epistemológica: Ecologia mum , da C. M. E. D. ( São Paulo: Fundação Getúlio
cultural , de B. Viertlen (São Paulo: Á tica, 1988) , Quem Vargas, 1989) .
tem medo da ciência? , de Isabelle Stengers ( São Paulo: Para os interessados na educação baseada no diá-
Siciliano, 1989) . logo e na autonomia: Piaget e a filosofia , de B. Freitag
Para uma leitura filosófica das novas relações ( São Paulo: Unesp, 1991) , Concepção fenomenológica da
entre o homem e a natureza, um livro básico é O con- educação , de Antônio M. de Rezende (São Paulo: Cor-
tez , 1990) , Educação e liberdade , de 1llich et alii ( São
trato natural , de Michel Serres (Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990) , e As três ecologias , de Félix Guattari Paulo: Imaginário, 1990) e, para completar, Aula , de
(Campinas: Papirus, 1989).
Roland Barthes (São Paulo: Cultrix , 1978) .
Para conhecer melhor o desenvolvimento da Meus livros
ecologia como ciência e movimento social: História O que é educação ambiental foi o meu primeiro
da ecologia , de Pascoal Acot (Rio de Janeiro: Campus, livro publicado por uma editora comercial. Depois dele
104 Marcos Reigota O que é educa çã o ambiental 105

publiquei vários outros, nos quais ampliei as ideias aqui Foi escrito em 1997 com uma bolsa DAAD/ Capes no
presentes. São eles: Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. A primeira
• Meio ambiente e representação social (São Pau- edição é de 1999.
lo: Cortez, 2005 , 7a edição) . A primeira edição desse •Ecologia , elites e intelligentsia na América Latina:
livro é de 1995. Nele apresento a teoria das representa- um estudo de suas representações sociais ( São Paulo: An-
ções sociais de Serge Moscovici e as suas relações com nablume, 2003, 2ô reimpressão) . Nesse livro faço uma
a educação ambiental. análise das questões ambientais pós- 1992 e como elas
Verde cotidiano: o meio ambiente em discus- são pensadas pela elite latino-americana, estudando ou
são ( Petrópolis: DP õ- Alli, 2008, 3a edição) . Organizei vivendo na Europa e nos Estados Unidos. Esse estudo
esse livro para a coleção O Sentido da Escola, editada foi realizado quando fiz o pó s-doutorado em 1993 com
por Nilda Alves e Regina Leite Garcia. Traz textos de o professor Andr é Giordan na Universidade de Gene-
vários autores e autoras. Para quem quiser conhecer bra. A primeira edição é de 1999 .
nossa posição sobre os Parâmetros Curriculares Nacio- • A floresta e a escola: por uma educação ambien-
nais, esse livro é o mais indicado. A primeira edição é tal pós-moderna (São Paulo: Cortez, 2003, 3a edição) .
de 1999 . Dando continuidade aos fundamentos da teoria das re-
* Tendências da educação ambiental brasileira presentações sociais e dos estudos culturais, estabele -
(Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2001, 2a edição) . Orga- ço o elo dessas duas vertentes teóricas com as práticas
nizado juntamente com Fernando de Oliveira Noal e pedagógicas cotidianas no contexto da pó s-moderni-
Valdo Barcelos, esse livro comemora os vinte anos da dade. As questões ambientais e a educação ambiental
educação ambiental, traz textos de vários autores e au- são entendidas como bases da pós-modernidade. onde
toras e é uma homenagem a Paulo Freire. A primeira os aspectos virtual, abstrato e subjetivo da e na vida
edição é de 1999. cotidiana são presenças constantes. A primeira edição
•Ecologistas ( Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2003, é de 1999.
2 reimpressão) . Nesse livro procuro fundamentar a
Ú
• lugoslávia: registros de uma barbárie anunciada
identidade da segunda geração de ecologistas, herdei- (Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2001) . A guerra da Bos-
ra do chamado “ Pensamento 68 ” . Amplio as ideias que nia e a desintegração da ex- lugoslávia com os seus
Felix Guattari desenvolveu em As três ecologias aproxi- significados políticos, culturais, sociais, religiosos, peda-
mando-me da Teoria Liter ária e dos Estudos Culturais. gógicos e ecológicos são aqui abordados. Procurando
106 Marcos Reigota O que é educação ambiental 107

entender o conflito que marcou os anos 1990 , registro formações mais detalhadas sobre essa produção sugiro
o meu processo de conhecimento sobre o tema, acu- que consultem meu currículo na Plataforma Lattes no
mulando, sistematizando e interpretando situações de endereço www. cnpq.gov.br ou que entrem em conta-
conhecimento público ou vivenciadas na intimidade. to comigo. Terei grande prazer em dialogar com os lei-
* Trajet órias e narrativas através da educação am - tores e as leitoras. Meus e-mails são: marcos.reigota@
biental (Rio de Janeiro: DP Ô- A , 2003) . Com Raquel profuniso.br e marcos.reigota@pq.cnpq.br.
Possas e Adalberto Ribeiro, professores da Universi-
dade Federal do Amapá , organizei esse livro em torno
da noção “ sujeito da hist ória’’ de Paulo Freire. Todos os
textos foram escritos por meus alunos e alunas da Uni-
versidade Federal do Amapá. Por meio das narrativas
( “ história de vida ”) de cada um, ficamos conhecendo
um pouco mais da história e da ecologia da Amaz ônia
e como é viver ali.
•Educação ambiental: utopia e práxis ( São Paulo:
Cortez , 2008) . Organizei esse livro com a pesquisadora
do Instituto Florestal de São Paulo Bárbara Heliodora
Soares do Prado. O livro é resultado do trabalho que
fizemos com os e as extensionistas rurais no Amapá
e com os professores e as professoras da rede pública
de educação no Rio Grande do Sul, do ano de 2000 a
2002. A questão central do livro é uma busca de enten-
der e identificar o processo de uma pessoa que se torna
(ou não) um educador ou uma educadora ambiental.
Publiquei também vários artigos em livros orga-
nizados por colegas, no Brasil e no exterior, além de
artigos em revistas, alguns deles circulam na internet.
As pessoas que estiverem interessadas em obter in-
SOBRE O AUTOR

Marcos Reigota é professor do Programa de Pós-


-graduação em Educação da Universidade de Soro-
/ /

caba. E pesquisador do CNPq, nível 2. E doutor pela


Universidade Católica de Louvain, Bélgica, com pós-
doutorado pela Universidade de Genebra, Suíça. Tem
atuado como pesquisador, professor e palestrante con-
vidado em várias universidades no Brasil e no exterior.
Em 1998 recebeu em São Carlos, São Paulo, da
Ordem dos Advogados do Brasil, o Prémio “ Persona-
*
lidade do Meio Ambiente ” . E membro honorário da
Academia Nacional de Educação Ambiental do Mé-
xico e membro fundador da Olho d Agua: Associação
Promissense de Proteção Ambiental.

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