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linguísticas que ampliam o conhecimento sobre os níveis que a linguagem possui e a sua relação com sujeitos
produtores de sentidos. Tais signos de significação dão conta também de nos situar no mundo, construindo
nossa identidade social. Essa identificação acontece mediante o discurso, num dado espaço histórico-social,
sendo o resultado dos sentidos entre nós e outros interlocutores que ocupam esse espaço. Assim exposto,
abordaremos um campo do conhecimento da linguagem denominado Análise do Discurso. Para esse campo de
estudo, a linguagem não é um objeto neutro, mas pleno de conteúdo simbólico, o qual só faz sentido porque é
produzido ao longo dos tempos, e devido à nossa interação com o meio em que vivemos. A questão de que o
significado das coisas se dá pela linguagem e como a manipulamos, leva-nos a interpretar as coisas ao nosso
redor. E, conforme argumenta Orlandi, (1999, p.46), “a ideologia é a condição para a constituição do sujeito e dos
sentidos”. Isto explica que, mesmo que intuitivamente, nós buscamos atribuir sentidos a tudo o que ocorre no
nosso cotidiano, por isso a linguagem reflete ideologias na relação que estabelecemos com o mundo.
Por ideologia, se a referência é relativa às estruturas mentais - as linguagens, os conceitos, as categorias, imagens
do pensamento e os sistemas de representação que diferentes classes e grupos sociais desenvolvem com o
propósito de dar sentido, definir, simbolizar, e imprimir inteligibilidade ao modo como a sociedade funciona.
(Hall, 1996).
A partir daí, entendemos que uma ideologia surge quando damos sentido a algo, quando o representamos por
meio de símbolos, oriundos do nosso pensamento que se traduz em linguagem. Tal sistema simbólico se revela
entre o que já nos é conhecido e o novo, e a linguagem está inserida nessa tensão, isto é, podemos reproduzir
Esclareceremos os fins da análise do discurso, que privilegia conceituar discurso e obter uma explicação razoável
para a linguagem como detentora de sentidos ao ser interpelada por um sujeito inserido num contexto social.
Abordaremos, inclusive, os tipos de sujeitos que falam durante o enunciado comunicativo, e citaremos autores e
com o mundo exterior. Primariamente, esta relação ocorre quando estamos ainda dentro da barriga de nossa
mãe, e fazemos uma associação com o nosso corpo e o corpo de nossa mãe, como se fossem um só. E, ao passar
dos anos, quando já crescidos estamos, a separação natural da dependência que sentimos pelo laço materno
ocorre, havendo a necessidade de nos situarmos como sujeitos ao abstrairmos os símbolos com os quais temos
contato no decorrer de nossas vidas em sociedade. A Psicanálise define isso como o processo de identificação,
que é também algo natural, que desenvolve a subjetividade ou individualidade, como o limiar entre o individual
mundo pelas semelhanças e diferenças que percebe nas relações que funda.
Entretanto, nem sempre essa dualidade entre o igual e o diferente é tão clara ou explícita em termos de
identificação ou identidade, assim, pode nos confundir entre o que nos pertence e o que pertence a outrem. E
estamos habituados, como vivemos e convivemos em sociedade, a perceber e conceber um regime completo ou
inteiro de ideologias, isto significa que precisamos conceituar as partes que compõem esse todo, em nível
comportamental para formarmos os grupos sociais. E, a partir de então, nos inserirmos em um deles a fim de nos
representar no mundo. E é através da linguagem, que reúne uma diversidade de significantes, que o indivíduo se
A linguagem se define tanto pelos processos históricos como pelo emaranhado social, no conceito de Lacan
(1998), estudioso das teorias freudianas, o sujeito integra a linguagem à sua vida muito antes de penetrar na
sociedade. A história é importante para formar o sujeito, mas não pelo comportamento social e, sim, porque a
história já está na fala de quem interage com o sujeito, mesmo antes de ele nascer.
Por ser a linguagem um mecanismo de interação humana, nas mais diversas formas, não somente na fala ou na
escrita, evoluindo com o tempo, mas se transformando pela interferência dos sujeitos e do sistema simbólico que
assim possibilita que ela exista e persista. A importância da linguagem para o indivíduo é que ela permite o
nosso relacionamento com outros indivíduos; com os sentidos das coisas que nos rodeiam; e conosco mesmo. E a
linguagem jamais pode ser encarada como algo inerte, mas em pleno desenvolvimento apoiado em ações que se
refletem em discursos sociais. Uma palavra-chave para todo esse andamento que procede da linguagem é o
“dialogismo”, significando, segundo a definição de Mickhail Bakhtin, a interação entre textos, por meio de
polifonias - diferentes vozes, falas, leituras, ou seja, o texto ou discurso é percebido através de outros textos e
Vejamos na sequência um estudo de caso acerca de uma criança com atraso na aquisição de sua linguagem. Tal
estudo motivou-se pela perspectiva interacionista de Lemos (1992-1997). Para a teoria interacionista, o
indivíduo só não aprende a falar devido a problemas de origem orgânica, logo, neste caso, evidencia-se a
linguagem não verbal para traduzir aspectos sobre o sujeito em questão. E a terapia propriamente clínica, mais
precisamente, um bom profissional fonoaudiólogo, deve ser contatado somente quando a criança apresenta
visivelmente sérios problemas na linguagem que estejam interferindo no andamento de sua vida familiar e
social.
Manuela, uma criança de 2 anos de idade, inserida num ambiente familiar integrado, com pais e dois irmãos
morando junto com ela, responde negativamente quando todos estão reunidos a precipitar sua linguagem. Chora
quando se sente pressionada por parte dos pais que, juntos, a incentivam a falar. Seus irmãos, um pouco mais
velhos que ela, mal lhe dão atenção, a não ser quando prestam algum favor aos adultos em casa. Manuela, ao
estar sozinha partilha momentos em que sua linguagem parece sobressair, espontaneamente, mas ainda sem
muito sentido esclarecedor. Quando com o avô, sentada em seu colo, Manuela presta atenção ao que ele lhe diz e
repete silabicamente os sons produzidos pelas terminações das palavras que dele são proferidas.
Constatou-se que o contexto intersubjetivo é o responsável pelo êxito alcançado quando uma criança demonstra,
pelas influências que esse sujeito recebe do meio externo em que vive, ele constrói significados. Com atenção a
isto, iremos abordar por ora aspectos sociológicos e cognitivos que estão intimamente ligados à produção de
sentidos, tais elementos possibilitam que um sujeito produza significados ao utilizar a sua linguagem. O
da ideia de ser algo estático, mas um todo amarrado. E só produzimos sentidos com o auxílio de nosso sistema
cognitivo juntamente com as experiências que compartilhamos socialmente, com outros produtores de sentidos.
Porém, para que compreendamos as coisas, ou um texto, não basta usarmos de nossa capacidade cognitiva, é
preciso atuar na construção desses sentidos. Essa atuação é que nos guia para a produção de sentidos.
Comumente trazemos informações, reflexos, percepções, traços de nossas experiências anteriores para
atribuirmos sentidos às atuais que nos pareçam similares, as quais nós passamos a vivenciar, ou seja, a partir de
uma socialização, a linguagem ganha significado na organização do nosso pensamento. O indivíduo produz
sentido por meio de sua ação, em que tal sentido pode estar ancorado na história socialmente inscrita no
consciente coletivo. Existem alguns facilitadores em nossa língua que contribuem para o significado das coisas,
isto é, eles enquadram a nossa linguagem a um contexto perceptível de nossa realidade, como é o caso da figura
de linguagem denominada Metonímia, cuja ideia é referenciar algo por meio de um conceito aproximado, a parte
pelo todo, o conteúdo pela forma e assim por diante. Exemplo: “Ontem fui à casa de mamãe a acabei me
esquecendo de trazer o Portinari”. Neste caso, refere-se ao quadro do pintor, ou seja, é o autor pela sua obra, por
ter maior relevância em nível conceitual. Outra figura da linguagem bastante utilizada na produção de sentidos é
a Metáfora, que revela uma semelhança entre dois conceitos da realidade, fazendo uma espécie de comparação,
por exemplo: “Tenho na música meu porto seguro”.Revela-se aqui uma conexão possível dentro desse contexto,
que por nós é compreendido, entre dois conceitos próximos, semelhantes, que isolados não condizem com esse
sentido. Outros aspectos importantes para a aquisição de sentidos são os papéis que sintetizam valores
pertencentes à nossa realidade social, como, por exemplo, quando dizemos professor/aluno, sabemos em nosso
pensamento quais as características que se relacionam com essas palavras, simbolizando conceitos e valores.
Observamos pela exemplificação demonstrada que a compreensão acontece porque existe um texto, um
discurso, onde se transfiguram ações sociais cheias de significância. Um texto qualquer pode ser olhado como
uma sequência de palavras, frases, símbolos etc, mas ele só se ativa quando lhe damos sentido a depender do
Para Beaugrande (1997:11), “as pessoas usam e compartilham a língua tão bem precisamente porque ela é um
sistema em contínua interação com seus conhecimentos partilhados sobre seu mundo e sua sociedade”.
Portanto, percebemos que só produzimos sentidos pelas escolhas que fazemos objetivamente, porque temos
uma intencionalidade, uma finalidade que dá efeito a elas num dado contexto social.
Resumindo: para aferir sentidos, o sujeito necessita atuar sobre a própria língua e cognição, através de escolhas
adequadas ao objetivo comunicativo, sabendo que a realidade social constitui sentidos, mas para tal, depende
dos contextos onde se fabrica, se utiliza, e esses processos de significação só existem, de fato, pela mediação da
linguagem que sofre a influência de espaços que variam ao longo dos tempos.
Saiba mais
Você o conhece? Max Weber, sociólogo alemão, estudou o processo de compreensão dos
sentidos, influenciado pela subjetividade dos sujeitos a tentar depreendê-los. Saiba mais no
link http://www.mundociencia.com.br/sociologia/weber.htm.
Organizaremos, a seguir, a maneira como o ato comunicativo se integra num contexto coerentemente.
estruturalismo. O relevante nesse campo é a coesão, a coerência, a interação de produção que se dá na relação
A Semântica Proposicional descreve a situação ou um estado de coisas descritas em frases, apontando valores
modais, temporais, de aspectos e de polaridade. Ex: Marcelo quebrou a perna. No caso, temos uma proposição
proposicional também descreve o tempo em que ocorre a ação enunciativa, no exemplo, ela ocorre no tempo
passado, devido à desinência do verbo “quebrou”. Isto é, a ação do enunciado acontece num momento anterior
ao do discurso. O aspecto está relacionado à perspectiva do ato da enunciação, que ocorre por um fato completo.
E ao tratar da polaridade, ela nos afirma algo que aconteceu com Marcelo no exemplo. Logo, não nega.
A Semântica Lexical é a junção do conjunto de palavras que relacionadas entre si atribuem sentidos da realidade
a depender do contexto onde são empregadas. O neologismo é um exemplo disto, em que novas palavras são
Saiba mais
Nesta entrevista, Márcia Cançado aborda a semântica lexical de forma simplificada e objetiva.
Vale a pena conferir para saber mais a respeito desse tema. http://www.revel.inf.br/files
/9413728ff9736a3e2c00b7f18bf7db89.pdf.
salientarmos a base dela que se encontra nas diversas teorias linguísticas. Esta relação entre o sujeito, o tempo e
o espaço organizam as teses. Um dos autores mais bem conceituados na área que trata da linguística no discurso
é Émile Benveniste, autor francês, que formulou o conceito denominado de Teoria da Enunciação, focando na
linguagem escrita e falada, e mostrando como a subjetividade está presente nos discursos. Benveniste (1989, p.
82) nos define enunciação: “A enunciação é este colocar em funcionamento a língua por um ato individual de
utilização.” Isto é, enunciamos quando dizemos alguma coisa, quando falamos. Observemos o quadro abaixo a
elucidar isso:
Em síntese, enunciação é o processamento da língua pelo falante ou escritor; enunciado é o discurso ou texto em
si.
Os estudos deste autor contribuíram para desenlaçar a observância da diversidade nos discursos. O
aparecimento das primeiras pesquisas sobre enunciação surgiu na década de 70, na França. E, no Brasil, a partir
de então, buscou-se explicar a linguagem pelo campo da análise do discurso. Um dos conceitos fundamentais na
obra de Benveniste é a intersubjetividade, significando que para constituir-se como sujeito, faz-se necessário o
outro. “[...] os aspectos discursivos da linguagem dizem respeito às relações que na e pela linguagem se
enunciação, que faz com que seja possível que haja a comunicação. Mas discursos, de acordo com o que postula
Benveniste, são signos que se atualizam na aproximação do discurso pelo locutor (eu/tu). O sujeito se constitui
Uma língua, considerada em duas datas diferentes, não é idêntica a si mesma. [...] As duas coisas,
quando se quer ter uma visão exata dos acontecimentos, devem ser sempre levadas em conta e em
conjunto. Mas somos obrigados a separá-las, em teoria, para proceder com ordem (SAUSSURE, 2002,
p. 132).
O sentido da frase é de fato a ideia que ela exprime; este sentido se realiza formalmente na língua
pela escolha, pelo agenciamento de palavras, por sua organização sintática, pela ação que elas
As funções sintáticas fornecem ao produtor de enunciados diversos recursos para influenciar o entendimento do
- interrogação: é uma enunciação feita por meio de pergunta com a finalidade de se obter uma resposta.
- intimação: utilização de verbos no modo imperativo (exprimindo ordens, pedidos, etc), vocativos (evocando o
outro) na enunciação.
- asserção: comunica uma certeza, usam-se os advérbios “sim” e “não” para afirmar ou negar com certeza uma
Exemplos:
“Quando eu era criança, diziam-me os meus pais que eu tinha de fazer tudo para ser gente. Ser gente? Mas o que
é ser gente?”
outras pessoas em locais públicos, por bem ou por mal, me parece que deixa de ser privado.”
• O Homem na Língua: para analisarmos esta parte, devemos situar as marcas do sujeito na língua. A
• O Homem na Língua: para analisarmos esta parte, devemos situar as marcas do sujeito na língua. A
linguagem só se realiza ao passo que o homem se coloca como sujeito e transparece sua subjetividade ―
ego.
Toda linguagem, como já mostrou Benveniste, organiza a pessoa em duas oposições: uma correlação
de personalidade que opõe a pessoa (eu ou tu) à não-pessoa (ele), signo daquele que está ausente,
signo da ausência; e interior a essa primeira grande oposição, uma correlação de subjetividade opõe
Ainda conforme Barthes, estudioso das propostas de Benveniste, ao pensar no homem e em sua capacidade de
atingimos um estado em que o homem estivesse separado da linguagem, que elaboraria então para
“exprimir” o que nele se passasse: é a linguagem que ensina a definição de homem, não o contrário.
Filogenético quer dizer um grupo irredutível de organismos que possuem características diferentes das de
outros organismos. O termo ontogenético significa as transformações pelas quais passa um organismo num dado
sistema. Logo, na citação acima referida por Barthes, explica-se que a linguagem antes de certa sociabilidade, não
existe.
• O Léxico e a Cultura: é interessante saber que existem conexões entre o léxico e a cultura, e o primeiro
está presente nas marcas linguísticas, nos discursos, pois só podemos compreender um texto ao perceber
a rede de vocábulos que o compõe e sua estrutura. Por meio da coesão, estabelecemos uma sequência de
pensamento, um todo coordenado de ideias sujeitas à captação de sentidos. Vimos, anteriormente, que há
diversos tipos de coesão que funcionam como referenciais em um dado texto, recuperando uma
informação, antecipando-a, etc. A cultura no que tange à sua relação com o léxico diz respeito a toda uma
gama de variedade linguística, que encontramos predominantemente em diversas proporções: regionais,
sociais, etc. Tais variantes da língua são compreendidos como contextos que se acumulam com o tempo e
se modificam constantemente também na atuação de sujeitos que se comunicam. A visão de mundo de
determinados grupos sociais se refletem no léxico usado por parte destes e que são também
influenciados pelos aspectos socioculturais. Como reafirma Barbosa (1992):
[...] o léxico representa, por certo, o espaço privilegiado desse processo de produção, acumulação,
Portanto, para encontrar sentidos nas coisas, devemos correlacionar indivíduo e sociedade. O léxico descreve
De acordo com a proposta de Émile Benveniste, em sua teoria da enunciação, a linguagem deve fornecer o status
de sujeito. O indivíduo é um ser de linguagem. Só que este não está sozinha, depende de outro para que haja
interação, comunicação, porque a linguagem não acontece se não houver possibilidade de resposta. Então, a
linguagem assume papel da constituição de sujeito pelo falante, ao disponibilizar pronomes, verbos expressando
a pessoa no discurso, advérbios de tempo e outros pronomes expressando o espaço onde esse sujeito aparece.
Uma transcrição de “O Elemento Subjetivo”, parte da obra O Ensaio de Semântica, de Bréal (1992, p.161):
Sobre as três pessoas do verbo, há uma que ele se reserva de modo absoluto (a que se convencionou
chamar a primeira). Desse modo ele opõe sua individualidade ao resto do universo. Quanto à
segunda ela não nos distancia ainda muito de nós mesmos, já que a segunda pessoa não tem outra
razão de ser que a de achar-se interpelada pela primeira. Pode-se, pois, dizer que só a terceira pessoa
representa a porção objetiva da linguagem. [...] Uma observação análoga pode ser feita sobre os
pronomes.
Para este autor referido acima, o sentido é uma relação com o mundo, comparando-a com a subjetividade, temos
a relação entre indivíduo e mundo. Isto define a concretização da interação. A intersubjetividade consiste na
consciência do eu ao compreender que o outro também decide, atua, e não apenas recebe, comporta-se
Para se tornar sujeito, aquele que discursa possui a linguagem, mas não só ela. É preciso também que ele tenha
consciência do seu interlocutor. Ou seja, entendemos que a subjetividade, estudada por Benveniste (1991b), não
surge pelo eu, mas sim na relação do par eu / tu, relação acontecida no atual, momento presente. Assim, a
Concepção de discurso
Para estudarmos o percurso da concepção de discurso, precisamos apontar, historicamente, as linhas de
pesquisa de teóricos sobre o assunto. Uma delas é o Funcionalismo, conforme você já aprendeu, que se originou
na década de 70, ao observar a língua em uso, num sentido pragmático. Para compreendermos o discurso, que só
existe num ato comunicativo, devemos analisar sua estrutura e então identificar os seus sentidos, isto é, suas
ideologias.
O discurso se constrói pela língua, mas é dependente de um contexto social, que se revela no momento dessa
construção, da produção desse texto. Ao criarmos o próprio discurso, baseamo-nos em ideologias que advêm da
política, da sociedade, da cultura, etc., por isso, o outro que nos lê quando interage conosco, precisa saber qual o
Segundo Focault (ano), em um discurso é perceptível uma construção de peculiaridades de uma dada sociedade,
ou grupo social, ou ainda, uma identidade que possui reflexos num desses grupos. Por isso que para um texto
qualquer ter significado, alguém deve compreendê-lo. E esta é tarefa de quem produz o discurso, atentando para
a construção de elementos que traduzam sua intenção no texto, ou seja, que situe o interlocutor no contexto no
No campo de pesquisas sobre a concepção de discurso temos muitas vertentes, dentre elas, a Estética do Discurso
, que consiste em captar por meio de imagens o contexto comunicativo. Não difere totalmente do discurso verbal
ou linguístico, pois trabalha com a sensibilidade dos receptores desse discurso, à medida que os localiza no
A única diferença entre esses dois tipos de discurso é que o estético atinge um dado grupo social: artistas,
apreciadores de arte. Mas o objeto aqui, em questão, é o sentido dentro do discurso, então, temos que pensar que
o discurso é mutável, não é algo permanente, pois varia no contexto, na forma como é concebido, construído ou
estruturado para que atinja seu fim, é um código aberto que depende da interpretação alheia para se efetivar.
Iremos agora fazer um balanço sobre as concepções do discurso, apontando o que há de mais importante em sua
análise.
• Discurso como expressão do pensamento: independe da interferência alheia para construir sentidos,
enunciados. Uma vez que todo pensamento se origina e se desenvolve no interior do indivíduo, portanto,
é um processo individual.
• Discurso como instrumento de comunicação: ao utilizar o código da língua, transmitindo e recebendo
mensagens, tal concepção não leva em consideração os falantes e os contextos, mas o funcionamento
interno da língua, baseado nas pesquisas funcionalistas e transformacionalistas. Ocorre apenas um
processo de decodificação da mensagem, logo, a comunicação é previsível.
• Discurso como forma de interação social: ao falar, utilizar sua linguagem, quem a produz interfere no
comportamento de seu receptor, ocasionando sentidos, influenciados por aspectos sociais, culturais,
ideológicos, etc. durante o processo comunicativo. Esta concepção é mais dialógica, mais pragmática.
Neste caso, a linguagem é ação. O que a difere da Semântica, pois para a compreensão dos sentidos no
discurso não há que se apoiar na sentença, mas na situação comunicativa, no contexto em si.
Entretanto, o campo da análise do discurso é múltiplo, heterogêneo, isto é, porque há muitas formas de
compreender e analisar um discurso. Mas todas essas maneiras de interpretar um discurso confirmam a ideia de
que não existe uma só noção de analisá-lo, porque a linguagem não é neutra. Bakhtin (1986), por exemplo,
classifica o discurso como um dialogismo, já que há uma relação entre linguagem, história e sociedade. Isto se
reflete no enunciado que abrange significados num contexto sócio-histórico. E na interação entre o sujeito que
fala e o outro que escuta, por exemplo, existe a presença inegável da subjetividade. Ainda nos estudos de
Bahktin, percebe-se que o diálogo se dá também entre aquilo que é dito e aquilo que não é dito, ou seja, com algo
extralinguístico, que seria o contexto. Brait (1999) define o que para Bakhtin seria o contexto extraverbal,
assumidos pelos que participam do ato discursivo. Um exemplo clássico é o pedido de recomendação que um
funcionário faz ao ex-chefe, no qual estão expressos estes papéis: o de subalterno e o de patrão. Que também
podem ser entendidos como funções de comunicante (quem comunica algo) com o de interpretante (quem
decodifica e atribui sentido a mensagem). Portanto, o sujeito é observado pelo ato de linguagem a que se dispõe,
e também notamos que após as teorias formalistas perderem força nos estudos a respeito da linguagem, é que o
sujeito passa a ser encarado como instância, uma vez que a pragmática, a teoria da enunciação, e a análise do
discurso comprovam isso ao demonstrarem que a linguagem é percebida pela parceria entre sujeitos numa dada
Concluindo, sabemos, então, que o discurso só é analisado mediante um conhecimento do contexto do qual ele
faz parte, e que para esses estudiosos, o sujeito não é o detentor desse discurso, pois o discurso é um ato social,
é isso Aí!
A proposta deste capítulo é que você compreenda a trajetória no alcance da linguagem, abrangendo diferentes
teorias linguísticas que ampliam o conhecimento sobre os níveis que a linguagem possui e a sua relação com
BARTHES, R. Escrever, verbo intransitivo? In: ______. O rumor da língua. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988. p.
30-39.
BEAUGRANDE, Robert de. 1997. New Founda-tions for a Science of Text and Discourse: Cognition,
Communication, and the Freedomof Access to knowledge and society.Norwood, New Jersey, Ablex.
________________. Estrutura das relações de pessoa no verbo. Problemas de Lingüística Geral I. 3. ed. São Paulo:
BRAIT, B. As vozes bakhtinianas e o diálogo inconcluso. In: BARROS, D.L. P.; FIORIN, J. L (Orgs). Dialogismo,
BRÉAL, M. Ensaio de semântica: ciência das significações. São Paulo: Pontes, 1992.
HALL, Stuart. The problem of ideology: marxism without guarantees. In: MORLEY, David; CHEN, Kuan-Hsing
(Orgs.). Stuart Hall – critical dialogues in cultural studies. London, New York: Routledge, 1996, p. 25-46.
FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça Koch. Linguística textual: introdução. 2.ed. São Paulo:
LACAN, Jacques. Função e campo da fala e da linguagem. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 238
-324.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
SANTOS, Elisângela Rosa. Sintaxe e significação: um estudo enunciativo das orações relativas no