Você está na página 1de 29

4

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ


UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

OTAVIANO DAMASCENO DA SILVEIRA

O PAPEL DO RÁDIO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Fortaleza
2019
5

OTAVIANO DAMASCENO DA SILVEIRA

O PAPEL DO RÁDIO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

TCC apresentado ao curso de graduação em


Psicologia da Universidade de Fortaleza como
requisito parcial para aprovação na disciplina
de Trabalho de Conclusão de Curso em
Psicologia. Grupo de Pesquisa: Ócio, educação
e saúde: investigações conceituais, básicas e
aplicadas em Análise do Comportamento.
Linha de Pesquisa: Educação e práticas
culturais.

Orientador(a):. Prof. Dra. Fabiana Neiva Veloso Brasileiro

Fortaleza
2019
6
7

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ


UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
CURSO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O PAPEL DO RÁDIO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Autor: Otaviano Damasceno da Silveira


Prof(a). Orientador(a): Dra. Fabiana Neiva Veloso Brasileiro

Palavras-chave: Sociedade contemporânea; Meios de comunicação; Rádio;


Comportamento.

Resumo
O presente trabalho de conclusão do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza investiga qual o
espaço que os meios de comunicação, notadamente o rádio, ocupam em nossa sociedade e o quanto
isso interfere no comportamento humano. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa baseada
em uma abordagem descritiva, na qual foram entrevistados dois jornalistas e seis universitários, estes
em um grupo focal. Posteriormente, os dados foram analisados a partir da Análise de Conteúdo de
Bardin (2009). A partir desta análise, foram elaboradas quatro categorias: papel dos meios de
comunicação na modernidade; alcance e longevidade do rádio na sociedade atual; influência do rádio
no comportamento das pessoas; e eficácia do rádio na influência de consumo de produtos e serviços. A
maioria dos entrevistados afirmou que a principal função do rádio é a de levar informação e de
influenciar o modo como as pessoas se relacionam e interpretam o mundo em que vivem, sendo
apontado que o rádio vem se consolidando ao longo dos anos através da sua difusão por meio das
redes sociais. Comparando os relatos dos comunicadores do rádio com os relatos dos ouvintes, foi
possível atestar que todos convergem para o fato de que o rádio consegue influenciar os mais variados
tipos de comportamento e posturas. Conclui-se que, ao contrário do que apregoava o senso comum de
que o rádio seria um meio de comunicação sem relevância, ele segue atuante com potencial de alterar
comportamentos e se mantendo como um dos principais meios de comunicação no cotidiano dos
brasileiros.
Introdução

Que papel os meios de comunicação, sobretudo o rádio, exercem na sociedade


atual? Qual o seu alcance no mundo contemporâneo? O que é sociedade da informação? São
estas e outras questões que nos instigam a desenvolver esta pesquisa. É possível verificarmos
que a sociedade da informação que vivenciamos atualmente é produto da evolução cada vez
maior da tecnologia e de suas inúmeras realizações no campo da comunicação. Por essa razão,
os meios de comunicação que, acima de tudo, transmitem a informação, têm alcançado uma
relevância cada vez mais crescente em nosso cotidiano como retrata Castells (2006).
Antes, porém, de nos aprofundarmos no detalhamento acerca da influência dos
meios de comunicação na sociedade contemporânea, é importante compreendermos o período
8

em que vivemos, que é de constante evolução e mudança, e destacarmos a concepção de


modernidade a partir do sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman.
A principal característica da modernidade é a de derreter sólidos que ela recebe,
isso significa que as estruturas políticas, sociais, econômicas bem como as relações sociais
sólidas que ela recebia da sociedade tradicional estão sendo dissolvidas. O autor relata, em
uma entrevista concedida ao NPEC - Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais (2011), que a
modernidade está intrinsecamente relacionada ao grau de liquidez, visto que toda a
modernidade se constitui como algo líquido e tem se especializado em desmanchar os sólidos,
as formas de vida recebidas e de reconstituí-las em um molde novo.
Em outra entrevista, dessa vez à Globo News (2012), Bauman esclarece que se
vive hoje na modernidade líquida e na sociedade pós-industrial do consumismo, na transição
da sociedade de produção para a sociedade de consumo. O direcionamento da constituição das
estruturas do poder da sociedade sobre a natureza tem se encaminhado para o lado oposto:
para a cultura de tudo o que busca o instantâneo, o prazer e o individual.
Isso ocorre quando o arranjo social organizado com o intuito de se alcançar o
status de fixo na modernidade se desfaz. Vale lembrar que na etapa inicial do modernismo, os
padrões tradicionais passaram por um processo de desconstrução e depois de reconstrução
junto a outros arranjos a fim de conservar seu formato estável e seu papel de pôr ordem na
sociedade. Quando essa estrutura é diluída, as relações se transmutam e se convertem em algo
volátil, os parâmetros concretos de organização se dissipam. (Bauman, 2001)
Outro filósofo da atualidade, Gilles Lipovetsky, traz uma abordagem bastante
elucidativa para a concepção da sociedade atual. Ele considera como sociedade pós-moderna,
também denominada por ele como “hipermoderna”, aquela

em que reina a indiferença da massa, na qual domina o sentimento de repetição e


estagnação na qual a autonomia particular avança por si mesma em que o novo é
acolhido do mesmo modo que o velho, em que a inovação se torna banal, em que o
futuro não é mais assimilado a um progresso inelutável. (2005, pp. 18 e 19)

A esse respeito, Coelho (2017) afirma que é importante pontuarmos que


Lipovetsky concebe esta sociedade como resultante de um “aprofundamento” ocasionado,
sobretudo, pelo crescimento do fenômeno da globalização e das tecnologias da informação, os
quais fundamentaram também a era da modernidade e, portanto, por não se tratar de uma
suplantação da era moderna, não pode/deve ser chamada de era pós-moderna, mas de
“hipermoderna”.
9

Os sujeitos formados na sociedade hipermoderna, na acepção lipovetskyana,


surgida no pós-guerra, na década de 1950, diferentemente daqueles que os precederam,
passaram a ter menos confiança e esperança no futuro, centrando-se agora no presente. Para
Lipovetsky (2005), a principal causa dessa alteração de ponto de vista em relação ao tempo
está vinculada a questões materiais, principalmente quando surge a economia de consumo e
de comunicação de massa em uma fase na qual a sensação de bem-estar e a possibilidade de
adquirir bens de consumo aumentavam.
Para o autor de A Era do Vazio (Lipovetsky, 2005), “A sociedade do consumo não
pode se reduzir ao estímulo das necessidades e do hedonismo, ela é inseparável da profusão
de informações, da cultura midiática de massa, da solicitude da comunicação. Consumimos
em altas doses e de modo passageiro” (pp. 87 e 88).
Ao falarmos dos avanços tecnológicos, ou seja, da sociedade em rede, é
importante citarmos um dos grandes nomes da atualidade, o espanhol Manuel Castells,
sociólogo e teórico da comunicação, que no seu escrito A Sociedade em rede ( Castells, 2006),
já falava que a sociedade se caracteriza principalmente pela capacidade de transformar a
comunicação. Esta, por sua vez, é a que estabelece o “espaço cognitivo em que as mentes das
pessoas recebem informação e formam os seus pontos de vista através do processamento de
sinais da sociedade no seu conjunto”, isto é, o “espaço público”.
O sociólogo retrata ainda que a estrutura e a dinâmica da comunicação social são
essenciais na construção da consciência e da opinião, e na sustentação do processo de decisão
política do indivíduo. Castells (2006) relata que antes do surgimento da rede das redes (a
Internet), as comunicações tradicionais se dividiam em duas categorias: uma a um ou um-a-
alguns (fax e telefone) e um-a-muitos (TV, rádio, jornal impresso e cinema).
Com o surgimento desse novo ambiente, tornou-se possível modificar as relações
sociais e econômicas as quais constituíram formas inovadoras de se relacionar bem como
novas comunidades e novos consumidores. Esse modelo de relação, chamado agora de
virtual, sem formato e lugar definidos, incorporou-se ao cotidiano das pessoas de modo ímpar.
(Castells, 2006)
Segundo Castells (2006), o rádio, e depois a TV, nos anos de 1950, 1960 e 1970,
em diferentes pontos do mundo e com intensidades variadas, fundaram um novo universo de
comunicação. Com o passar do tempo, os meios de comunicação alcançaram o clímax,
atingindo uma quantidade maior de pessoas e exercendo uma influência cada vez maior sobre
a vida delas, principalmente no que diz respeito ao apelo publicitário, que agora, através do
10

desenvolvimento exacerbado dos meios de comunicação de massa conseguem explorar o


imaginário e o psicológico dos usuários.
De acordo com Meneguel e Oliveira (2008), a primeira experiência em rádio no
Brasil aconteceu no ano de 1922, contudo, apenas no ano seguinte deu-se a instalação da
primeira emissora de rádio, chamada de Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, cujos
proprietários eram o cientista Henrique Morize e o escritor e antropólogo Edgar Roquette
Pinto que vislumbravam no rádio a possibilidade de aumentar o nível cultural dos brasileiros.
Esta primeira rádio protagonizou vários programas direcionados à educação dos
usuários, por meio de aulas de português, literatura, geografia e história, dentre outros
conteúdos, como também conferências e palestras, deixando patente a responsabilidade em
propagar o conhecimento.
Os pesquisadores supracitados relatam que o rádio seguiu em caráter experimental
até o início de 1930, com uma programação direcionada à elite, teve um desenvolvimento
vagaroso mesmo após a liberação das permissões para veiculação de propagandas comerciais
pelas empresas que começaram a pleitear este novo mercado.
Depois de inaugurado, o rádio começou a ser um item obrigatório no dia a dia dos
brasileiros, transformando-se em um “companheiro de todas as horas, mantendo-se presente
até hoje nas mais variadas situações. É um veículo eficaz de informação, denúncia,
entretenimento e propagação “de uma ideologia formadora de opiniões” (Meneguel &
Oliveira, 2008, p. 2)
Os referidos autores afirmam ainda que, devido ao potencial do rádio de cativar
centenas de brasileiros, o rádio converteu-se em um “fenômeno social” capaz de “influenciar
comportamentos e ditar modas”, como podemos observar em alguns versos da música
“Cantoras do Rádio”, interpretada pelas irmãs Carmen e Aurora Miranda, com uma
composição de Lamartine Babo e João de Barros: “Nós somos as cantoras do rádio, levamos a
vida a cantar. De noite embalamos teu sono, de manhã nós vamos te acordar. Nós somos as
cantoras do rádio. Nossas canções, cruzando o espaço azul, vão reunindo num grande abraço,
corações de Norte a Sul” (Nosso Século, 1985, p. 89, como citado em Meneguel & Oliveira,
2008, p.10).
No período compreendido entre 1930 e 1950, o rádio atingiu o seu auge quando
conseguiu implantar várias emissoras que se instalaram por todo o país. Foi à época em que as
radionovelas ganharam espaço e ficaram famosas graças aos grandes patrocínios (Meneguel
& Oliveira, 2008).
11

Podemos afirmar que, desde então até o presente século, o rádio tem se mantido
como um dos principais meios de comunicação no cotidiano dos brasileiros conforme atesta
uma pesquisa recente realizada pelo IBOPE Media, em 2015, que apontou que o alcance do
rádio (quantidade de pessoas que foram expostas ao meio) em 13 regiões metropolitanas do
país, incluindo Fortaleza, chegou ao número de quase 52 milhões de brasileiros, totalizando
89% de audiência.
Outra pesquisa do IBOPE Media, Target Group Index, revelou o que os
brasileiros ouvem no rádio: 70% dos ouvintes escutam qualquer estilo de programação não
musical, sendo que os noticiários locais e os nacionais (com 50% e 40%, respectivamente)
representam a maior parcela, seguidos das programações de trânsito (35%) e dos programas
religiosos (17%) e esportivos ao vivo (14%). (Media, 2015).
Diante desse cenário, defendemos que, em decorrência do grande número de
pessoas que escutam programas radiofônicos, estes podem ser uma importante ferramenta
para tornar ainda mais conhecida a profissão da Psicologia.
É importante ressaltar que a Psicologia, como ciência que se desenvolveu ao
longo dos últimos 100 anos, trata do estudo do comportamento humano, busca dar respostas e
explicar as demandas psíquicas de uma sociedade marcada pelo consumismo e pelo
imediatismo (Bock, Furtado, & Teixeira, 1999).
Entretanto, por se tratar de uma ciência nova, ela ainda é mantida no estigma da
sociedade como uma ciência/profissão que trata de pessoas loucas gerando um afastamento e
uma confusão de interpretação do papel do psicólogo como promotor da saúde psicológica
(Lane, 1981). O que tem corroborado negativamente para a lenta propagação e valorização da
Psicologia, acabando por dificultar que as pessoas sejam alcançadas e beneficiadas pelos
proveitos que esta ciência propõe.
Isto é inaceitável se considerarmos, por exemplo, que de acordo com a OMS, no
seu novo relatório de 02/2017, a depressão atinge 5,8% da população brasileira (11.548.577),
seguida dos distúrbios relacionados à ansiedade que afetam 9,3% (18.657.943) das pessoas
que moram no Brasil das quais, muitas nem chegam a procurar ajuda psicológica. Diante
destes desafios, nós, psicólogos em formação, no âmbito da sociedade contemporânea, vemos
a necessidade cada vez maior de proporcionar aos cidadãos formas de aproximação com o
universo da Psicologia.
Este estudo teve como pressuposto que por meio do rádio, é possível aproximar as
pessoas da Psicologia, e, sobretudo, divulgar efetivamente as informações/abordagens e as
12

possibilidades que a Psicologia, associada a equipes multidisciplinares, pode oferecer à


sociedade. Acredita-se que os programas de rádio continuam influenciando a vida das pessoas
e produzindo mudança de comportamento nos ouvintes.
Esta aproximação pode fazer com que a Psicologia se torne comum às pessoas
como as demais outras profissões da área da saúde, como enfermagem, odontologia,
fisioterapia, nutrição ou medicina. Quanto a essa divulgação, o Código de Ética do Psicólogo
orienta, inclusive, que o psicólogo deve contribuir “para promover a universalização do
acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e
aos padrões éticos da profissão”. (CFP, 2005)
Nossa motivação para a realização deste trabalho é poder incentivar, a partir de
investigações futuras, o uso do rádio como meio de comunicação na modalidade de debates
para levar o conhecimento não apenas da profissão do psicólogo, mas da importância da
Psicologia como ciência, ao público em geral, a fim de desconstruir estigmas referentes à
Psicologia como ciência e profissão, contribuir para a compreensão de que a Psicologia pode
ser mais acessível a todos como também questionar os preconceitos que ainda pairam contra a
profissão do psicólogo.
Desse modo, ratificamos a importância deste trabalho na medida em que buscou
investigar qual o espaço que os meios de comunicação, notadamente o rádio, ocupam em
nossa sociedade e o quanto isso interfere no comportamento humano.
De modo mais específico, objetivamos analisar o papel dos meios de comunicação
na sociedade contemporânea; descrever a evolução histórica dos meios de comunicação e as
mudanças comportamentais decorrentes desta evolução e identificar mudanças
comportamentais produzidas pelos programas de rádio na vida das pessoas na sociedade
contemporânea.

Método

O presente estudo é uma pesquisa que se baseia em uma abordagem exploratória


descritiva de natureza qualitativa. A pesquisa foi realizada na cidade de Fortaleza-CE, com
aplicação de questionário sociodemográfico e através de entrevistas semiestruturadas
contendo perguntas norteadoras sobre a temática investigada. Participaram 08 (oito) sujeitos
acima de 18 anos, dos quais, 02 (dois) são jornalistas atuantes no rádio e 06 (seis) foram
estudantes universitários convidados aleatoriamente para a realização das entrevistas a fim de
13

avaliar a influência dos programas radiofônicos sobre a sociedade. Foram entrevistados


apenas dois jornalistas devido à dificuldade de acesso a estes profissionais para fins de
entrevista e ao tempo exímio para a pesquisa. Foram entrevistados seis estudantes
universitários por conta da facilidade de acesso a estes, pois são em maior número.
Os 08 (oito) respondentes foram convidados a participar da pesquisa do seguinte
modo: por meio de contato via email e pessoalmente, no local de trabalho, no caso dos
jornalistas; e por meio de abordagem pessoal dentro do campus universitário, no caso dos
universitários.
Os participantes foram escolhidos segundo os seguintes critérios de inclusão:
pessoas maiores de dezoito anos, estudantes universitários e profissionais do rádio que
estejam atuando e que aceitem participar da pesquisa; e de exclusão: pessoas menores de
dezoito anos; pessoas que, embora maiores de 18 anos, não aceitem participar da pesquisa;
que não sejam estudantes universitários e que não sejam radialistas em atuação.
As entrevistas semiestruturadas, modelo empregado neste trabalho, são uma
ferramenta facilitadora no processo de coleta de informações justamente por suas
características práticas. Triviños (1987, p. 146) afirma que esse tipo de entrevista “parte de
certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e
que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão
surgindo à medida em que se recebem as respostas do informante”.
As questões desse modelo de entrevista têm origem no problema da pesquisa e
buscam tratar da magnitude do tema, apresentando cada pergunta de maneira mais aberta
possível. Nela há uma conjugação de flexibilidade da questão não estruturada com um roteiro
de controle. Outra vantagem é que a lista de questões chaves pode ser adaptada e alterada no
decorrer das entrevistas. (TRIVIÑOS, 1987).
No dia da entrevista com cada jornalista atuante no rádio, foi entregue o Termo de
Livre Consentimento Esclarecido (TCLE) para ser assinado e a entrevista foi gravada para
apreciação posterior. Além das entrevistas individuais semiestruturadas, também foi aplicado
um questionário de natureza sociodemográfica.
A fim de compreender a temática proposta de modo mais aprofundado, foi
organizado um grupo focal com os seis estudantes universitários participantes da pesquisa, os
quais, após lerem e assinarem o TCLE, foram orientados quanto à proposta da pesquisa e
responderam ao questionário sociodemográfico. O grupo focal foi realizado no turno da tarde
em um espaço do bosque da universidade que dispõe de bancos de jardim. Pretendeu-se com
14

este estudo apontar que os programas de rádio continuam influenciando a vida das pessoas e
produzindo mudança de comportamento nos ouvintes deste meio de comunicação.
O grupo focal foi importante porque permitiu interações com o grupo ao se
discutir determinado tema sugerido pelo pesquisador (MORGAN, 1997). Esta técnica
possibilitou ainda para o pesquisador uma posição mediadora em relação à observação
participante e às entrevistas em profundidade. Esta forma de pesquisar é essencial porque
funciona como excelente recurso na compreensão “das percepções, atitudes e representações
sociais de grupos humanos.” (VEIGA & GONDIM, 2001, p. 8)
Os registros das falas foram feitos por meio de gravação de áudio, mediante
prévia autorização por escrito dos participantes. Os dados coletados passaram por transcrição
fidedigna para, posteriormente, seguir-se à análise dos dados.
A análise de conteúdo para dados qualitativos deu-se por meio do método
proposto por Bardin (2009) o qual consiste em um conjunto de técnicas de análise das
comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens. Deste modo, a análise de conteúdo foi organizada em três momentos: a pré-
análise; a exploração do material; e, por fim, o tratamento dos resultados, ou seja, a inferência
e a interpretação (BARDIN, 2009, p.121).
Na exploração do material, escolhemos categorias que reuniram elementos
compilados de acordo com características similares, empregando critérios semânticos
(temáticos). A categorização teve como propósito reduzir e sintetizar os dados, permitindo
que se destacassem os aspectos mais relevantes. Deste modo, foram escolhidas quatro
categorias para a discussão do presente trabalho, sendo elas: 1. Papel dos meios de
comunicação na modernidade; 2. Alcance e longevidade do rádio na sociedade atual; 3.
Influência do rádio no comportamento das pessoas; e 4. Eficácia do rádio na influência de
consumo de produtos e serviços.
A pesquisa foi desenvolvida em concordância com os padrões éticos, respeitando
a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e com o devido consentimento livre e
esclarecido do participante mediante assinatura do TCLE - Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, que consta nos Anexos. Os procedimentos utilizados na pesquisa visaram atenuar
desconfortos como timidez ao se expressar em público, receio em manifestar suas opiniões
sobre o assunto, embate de ideias divergentes, aproximação com pessoas desconhecidas. Esta
pesquisa foi submetida para avaliação do Comitê de Ética.
A seguir, serão apresentados os resultados desta pesquisa.
15

Resultados e Discussão

Os participantes da presente pesquisa foram 02 jornalistas em atuação no rádio na


cidade de Fortaleza, CE, e 06 estudantes universitários de uma universidade privada de
Fortaleza-CE. Visando à preservação da identidade dos participantes envolvidos, serão
utilizados os termos E1R (entrevistado 1- profissional do rádio); E2R (entrevistado 2 –
profissional do rádio); E3 (entrevistado 3 – grupo focal); E4 (entrevistado 4 – grupo focal);
E5 (entrevistado 5 – grupo focal); E6 (entrevistado 6 – grupo focal); E7 (entrevistado 7 –
grupo focal); e E8 (entrevistado 8 – grupo focal) quando necessário.
Foram entrevistadas duas mulheres e seis homens com idades entre 18 e 60 anos ou
mais. E1R tem 60 anos ou mais, é formado em Jornalismo com pós-graduação em
Comunicação Social e atua como jornalista e comunicador do rádio em uma emissora de
Fortaleza-CE. E2R tem entre 50 a 59 anos, é formada em Jornalismo, tem pós-graduação na
área e também atua como jornalista e comunicadora do rádio com foco em economia em uma
emissora de Fortaleza-CE.
E3 tem entre 21 e 29 anos, está cursando Administração e, atualmente, além de estudar
também trabalha. E4 tem entre 30 e 39 anos, é formada em Publicidade e, atualmente, faz
graduação em Psicologia, além de trabalhar. E5 tem entre 21 e 29 anos, cursa Administração
e, atualmente, trabalha e estuda. E6 tem entre 18 e 20 anos, faz graduação em Psicologia e,
atualmente, só estuda. E7 também tem entre 18 e 20 anos, faz graduação em Psicologia e, no
momento, apenas estuda. E8 tem entre 18 e 20 anos, faz graduação em Cinema e Audiovisual
e, atualmente, só estuda.
As categorias para análise de conteúdo selecionadas serão descritas a seguir.

1. Papel dos meios de comunicação na modernidade

Na sociedade moderna, os meios de comunicação vêm seguindo uma tendência de


mudança, ou seja, de consideração dos avanços que acontecem no tempo presente. Com o
advento da internet, é possível verificarmos a expansão dos meios de comunicação,
permitindo novas formas de comunicação entre as pessoas e possibilitando que os meios de
comunicação mais tradicionais assumissem novos espaços e alcançassem mais pessoas.
Na obra A Sociedade em rede, Castells (2006) já falava que a sociedade se
caracteriza principalmente pela capacidade de transformar a comunicação. O autor chama a
atenção para o fato de que, além de transmitir informação, os meios de comunicação têm
16

adquirido uma relevância cada vez mais crescente no cotidiano das pessoas da sociedade pós-
moderna.
Ao serem questionados sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade
atual, a maioria dos entrevistados afirmou que a principal função é a de levar informação e de
também influenciar no modo como as pessoas se relacionam e interpretam o mundo em que
vivem, como se pode observar nos seguintes relatos:
“Se você falar dos meios de comunicação clássicos ou tradicionais, o objetivo
principal deve ser esse, né? De levar informação às pessoas. (...) Então, os meios
de comunicação tem esse papel de contribuir para que as pessoas obtenham
informações sobre o mundo em que elas vivem.” (E1R)

“Bom, os meios de comunicação na sociedade atual, não só na sociedade atual,


os meios de comunicação, eles sempre foram, é... como é que eu digo... eles foram
essenciais. Por quê? Desde a época da carta, do sinal de fumaça e hoje, os meios
de comunicação, eles estão restritos às mídias digitais, né?”.(E4)

“E eu acho que a gente pode, também, olhar por uma perspectiva mais pessoal
né? Que, por exemplo, a gente está se relacionando aqui, de uma forma física,
mas todo mundo conhece o Instagram de todo mundo aqui. E, querendo ou não, a
gente sofre influência de como a gente se conhece, né? E... e eu acho que isso
influencia de uma forma muito, muito significativa assim, na forma como a gente
se relaciona com as pessoas, hoje em dia”. (E7)

Diante do exposto, é possível concluirmos que os meios de comunicação


cumprem o papel de conectar as pessoas e deixá-las informadas. Boa parte dos entrevistados
reiterou a importância do movimento de expansão dos meios de comunicação a partir do
advento da internet, como se pode verificar no trecho abaixo:

“Então, (o rádio) é um instrumento muito versátil. Mais versátil, acho, do que


qualquer outro, porque a pessoa pode estar fazendo qualquer coisa, enquanto
ouve o rádio. (...) Então o rádio tem essa característica, e eu acho que é por isso
que foi o que o se adaptou melhor depois do surgimento da internet.” (E1R )

Nós ganhamos uma força muito maior com a internet.(...)Então o rádio, ele
passou a ganhar uma força muito maior, nossa audiência cresceu. Inclusive, tem
pesquisas que, hoje, que a audiência de rádio supera a audiência de TV, cuja
fragmentação é muito maior. (...) Então, esse é um veículo que se fortalece.”
(E2R)
17

Castells (2006) relata que antes do surgimento da rede das redes (a Internet), as
comunicações tradicionais se dividiam em duas categorias: uma a um ou um-a-alguns (fax e
telefone) e um-a-muitos (TV, rádio, jornal impresso e cinema).
Com o surgimento desse novo ambiente digital, tornou-se possível modificar as
relações sociais e econômicas as quais constituíram formas inovadoras de se relacionar bem
como novas comunidades e novos consumidores. Esse modelo de relação, chamado agora de
virtual, sem formato e lugar definidos, incorporou-se ao cotidiano das pessoas de modo
singular. (Castells, 2006). Como se pode observar no relato de um dos participantes do grupo
focal:
“Os meios de comunicação hoje, eles são muito restritos às mídias digitais, aos
meios de comunicação de redes sociais e tal. E eu acho que, assim, esse tipo de
modelo, de meio, ele é muito assim, de certa forma, ele atinge uma gama maior
de pessoas. Que enfim, ela tá ligada à internet. Tem um acesso muito maior do
que, por exemplo, modelos passados, tipo jornal, rádio, essas coisas”. (E5)

Nas entrevistas foi possível identificar discursos que evidenciam que na atualidade é
impossível conceber os meios de comunicação sem considerar as possibilidades que a internet
oferece, por exemplo, a possibilidade de alcançar mais pessoas e conectar pessoas que se
encontram em locais geograficamente distantes. Um dos relatos que abordam esta temática
mostra o seguinte:
“Pô cara, eu acho que é importante citar também que isso, de certa forma,
aproximou muito as pessoas que, tipo, os meios de comunicação social
aproximaram as pessoas que não tinham a menor possibilidade de se conectar
com outras pessoas que estão em lugares distantes”. (E7)

Acompanhando esse desenvolvimento dos meios de comunicação proporcionado pela


profusão das tecnologias digitais, os profissionais responsáveis pela comunicação tornaram-se
cada vez mais co-participantes do processo de interpretação e de tradução das informações na
medida em que sua função não é a de apenas informar. O jornalista Thiago Lobo (2013, p.1)
chama a atenção para o fato de que, “devido à saturação da informação, cabe ao jornalista
interpretá-la, atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual que dê ao
receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar”.
Questionados acerca da contribuição da profissão do Jornalismo para o avanço e
para o desenvolvimento dos meios de comunicação na sociedade, os dois jornalistas
entrevistados relataram que o jornalismo profissional contribui para manter as pessoas
informadas e, consequentemente, ajudá-las nas tomadas de decisões. Entre os relatos
registrados, seguem alguns exemplos que coadunam com este pensamento:
18

“... O objetivo principal do jornalismo é levar informação, informação verídica


às pessoas. Eu acho que isso contribui, de modo geral, para melhorar a
sociedade, ou para informar as pessoas, para que as pessoas se orientem nas
decisões que elas vão tomar, a partir de informações verídicas, verificadas, como
faz o jornalismo profissional”. (E1R)

“... porque o jornalismo é uma profissão bastante antiga. Então nesse período,
ela vai construindo um método, vai construindo uma forma de levar as notícias,
que facilita a compreensão do mundo para as pessoas. A partir desse modo, se
pode dizer que contribui para a melhoria das comunicações, ou para a melhoria
da compreensão das pessoas, e assim vai...”

O posicionamento dos jornalistas entrevistados ressoa na caracterização de


sociedade da comunicação formulada por Castells (2006). Para o autor, a sociedade se
caracteriza principalmente pela capacidade de transformar a comunicação que, por sua vez,
estabelece o “espaço cognitivo em que as mentes das pessoas recebem informações e formam
seus pontos de vista”. (p. 23)
Também é possível ratificar posicionamento semelhante ao observarmos as
declarações da segunda jornalista entrevistada, profissional do rádio na área da Economia,
quando esta afirma que o seu trabalho é “contribuir na informação, da forma mais clara
possível, mais leve possível, em que as pessoas possam entender a economia como uma parte
da vida delas, como tudo o que envolve a vida delas e que envolve dinheiro". (E2R). A esse
respeito, a jornalista arremata:

“Então, a nossa ideia sempre foi fazer uma comunicação clara, rápida, leve, em
que as pessoas entendam o contexto em que elas estão inseridas, no caso um país
que tem a economia maior, uma macroeconomia, e que tenha as suas decisões.
Então,a gente não pensa em afetar diretamente a decisão de alguém, mas formar
uma... contribuir nessa formação de consciência, entendeu? Sobre o que ele pode
decidir, e o que está além das decisões de cada um.” (E2R)

Essas declarações conduzem à compreensão de que, direta ou indiretamente,


programas de rádio, tais como os exemplificados pelos jornalistas participantes da pesquisa,
são capazes ou se pretendem à formação de opinião ou de consciência, à reflexão na tomada
de decisões, como já defendido por Castells (2006) em A Sociedade em rede ao afirmar que a
estrutura e a dinâmica da comunicação social são vitais para a construção da consciência e da
opinião, e no alicerce do processo de decisão política do sujeito.

2. Alcance e longevidade do rádio na sociedade atual


19

Castells (2006) relata que, entre as décadas de 1950 e 1970, o rádio, e depois a
TV, em diferentes pontos do planeta, fundaram um novo universo de comunicação. Com o
passar dos anos, os meios de comunicação alcançaram o clímax, atingindo uma quantidade
maior de pessoas e influenciando cada vez mais a vida delas.
Considerando que o rádio é um meio de comunicação utilizado na atualidade, qual
o seu alcance no mundo moderno em meio a tantos recursos de comunicação? De que forma
acontece esse alcance e como o rádio consegue se sobressair e/ou se manter entre tantos meios
e recursos de comunicação?
Levantando esses questionamentos para os entrevistados, uma das comunicadoras
do rádio entrevistadas nos relatou o seguinte:

“O rádio já teve a morte decretada, várias vezes. Quando surgiu a TV, falavam:
‘Ah, a rádio vai morrer’. Como que abrir um jornal impresso, todo dia, tem sua
morte decretada por alguns estudiosos, por algumas pessoas e o senso comum,
mas o rádio nunca foi tão forte”. (E2R)

Como é possível verificar no excerto destacado acima, com o surgimento da TV,


o rádio, enquanto meio de comunicação, já chegou a ser considerado ultrapassado, fadado ao
desaparecimento, porém, ao contrário do previsto, ele ganhou ainda mais força a partir da
revolução trazida pelas redes sociais chegando a ampliar seu poder de alcance para locais que
nunca se pensou que chegaria, como é possível constatar nos relatos a seguir:

“Principalmente com o crescimento das redes sociais, a gente passou a ser


compartilhado, e com a internet, a gente passou a ser ouvido em qualquer lugar.
Então a gente ganhou uma perspectiva de ouvintes muito maior. A gente tem
ouvintes, às vezes, que falam com a gente dos Estados Unidos, que estão longe,
mas são pessoas que já tinham ouvido, e tal. Do jeito que a gente escuta rádios do
Canadá, do Reino Unido, a gente é também, ouvido por outras pessoas, de outras
culturas, e nunca a gente foi tão compartilhado”. (E2R)

“Hoje a pessoa, se quiser ouvir a Rádio Povo, por exemplo, morando na Suíça ou
morando na Itália, ou morando em qualquer lugar do mundo, ela vai poder ouvir.
E o rádio é, também, aquilo que o... Parece um troço meio demagógico, mas é,
assim, aquele companheiro que a pessoa tem. A pessoa entra no carro, liga o
rádio. Às vezes ela prefere estar lá ouvindo alguém falar, conversando com ela do
que estar ouvindo uma música.”( E1R)

Ao que parece, o rádio vem se consolidando e garantindo ainda mais a sua


permanência e eficácia de audiência sobre a vida das pessoas da sociedade atual, ou seja, sua
20

concretização vem se reafirmando ao longo dos anos, pois caminha junto às tendências da
atualidade através da difusão da internet e das redes sociais.

“Por incrível que pareça, com essa verdadeira revolução que teve nos meios de
comunicação com o surgimento da internet, da... enfim, dessa comunicação
eletrônica, o rádio, me parece, que é o que saiu-se melhor. Ele não perdeu as
características que tinha, de falar mais de perto com as pessoas. E ele conseguiu
se adaptar, talvez melhor do que qualquer outro meio. Então, você vê que a
internet talvez tenha dado um novo fôlego ao rádio, porque o alcance aumentou
muito.” (E2R)

Apesar de relatos favoráveis à manutenção do uso do rádio como meio de


comunicação na contemporaneidade, alguns entrevistados apresentaram pensamento
divergente quanto a este tópico e afirmaram que o rádio está a caminho de uma “inutilização”,
discordando da sua permanência e da sua resistência nos dias atuais diante da versatilidade de
recursos digitais, tais como: Spotify e podcast, que permitem o controle sobre o conteúdo que
se quer acessar enquanto que no rádio, o ouvinte precisa se submeter à programação em curso.

“Eu acho que é uma relação difícil, como outras coisas que a gente pode
relacionar com a contemporaneidade, como livraria física, assim, por exemplo.
Tá sumindo né, e tá indo pra digital ...
... Porque na rádio, tu não tem controle do tempo,... O controle do tempo, que eu
digo é, por exemplo: Quando a gente escuta a música no Spotify, a gente fica
mudando... E é o que o Murilo tinha falado. Ele falou que o rádio caminha para o
podcast. No que eu acredito também, porque justamente, no podcast, tu tem o
controle do tempo né? Tu pode escutar... Já no rádio não né, tu tem que escutar a
programação... E já que é uma característica nossa, querer todo esse controle, a
rádio não deixa a gente ter. Por isso, que eu acho que caminha pra um, uma
‘desutilização’, inutilização.” (E7)

Outro argumento contrário à continuidade do rádio como meio de comunicação


em nossa sociedade é o alto custo que ele gera para ser produzido e a existência de outros
recursos mais acessíveis e de custo menor, como o podcast ou o streaming de algum conteúdo
na internet:

“... eu acho que o rádio é um formato que, de certa forma, custa muito mais caro
do que esses outros formatos de podcast ou de streaming de algum conteúdo na
internet... eu acho que, sinceramente, é um formato que, por ser caro, por ser
pouco acessível, e existirem outros formatos que são mais acessíveis, que são
mais simples de serem reproduzidos, é uma parada que, tá sim, num período de,
enfim, de se tornar defasado, infelizmente.” (E8)
21

Diante desses relatos, é importante destacar que o rádio, desde sua fundação em
1930, tem se mostrado como um meio de comunicação essencial e de grande força, capaz de
resistir ao tempo. Desde o início, o rádio foi considerado um item obrigatório no dia a dia dos
brasileiros, transformando-se, em um “companheiro de todas as horas, mantendo-se presente
até hoje nas mais variadas situações”, sendo um veículo eficaz de informação, denúncia,
entretenimento e propagação “de uma ideologia formadora de opiniões”. ( MENEGUEL &
OLIVEIRA, 2008, p. 2)
Uma entrevistada relata a importância do “companheiro de todas as horas” em seu
dia a dia e o quanto o rádio está arraigado a sua rotina:

“Bom, o rádio, ele foi um dos primeiros meios de comunicação, na época que
não tinha nem TV, né? Então, ele servia para informar sobre notícias, guerras e
até formar pessoas, formar caráter, formar opinião. E hoje, o rádio, ele ainda
existe, e eu acredito que ele permanecerá por muito tempo. (...) E a importância
dele, pra mim, como pessoa, eu, Rafaela, eu vejo o rádio como uma importância,
assim... se eu for pro carro e eu não tiver o meu rádio... não interessa se ele só
pega um CD ou se ele é só um AM/FM, pra mim, ele tem que existir, então eu
acho ele essencial.” (E4)

A entrevistada também reafirma a perenidade e a atemporalidade do rádio neste


outro trecho quando cita o quanto o rádio é capaz de, por exemplo, perpetuar canções de
grupos musicais de décadas passadas como é o caso da banda Beatles:

“Então, a importância... Então, eu aprendi que ele é atemporal, porque... Poxa,


Frequência Beatles... Beatles acabou em quando? Não foi quando o John Lennon
morreu em 1980 na frente do edifício Dakota, no dia 08 de dezembro. Não foi.
Beatles até acabou no final da década de 70. E hoje, continua. É a mesma coisa.
Então, ainda tem um programa voltado para os Beatles, o Frequência Beatles?
Tem. Então o rádio, pra mim, chega a ser atemporal, sabe.” (E4)

A seguir, passaremos à descrição da categoria denominada “influência do rádio no


comportamento das pessoas”.

3. Influência do rádio no comportamento das pessoas

Meneguel e Oliveira (2008) afirmam que, devido ao potencial do rádio de cativar


centenas de brasileiros, o rádio converteu-se em um “fenômeno social” capaz de “influenciar
comportamentos e ditar modas”.
Ao questionarmos os dois jornalistas comunicadores do rádio participantes da
pesquisa acerca da percepção que tinham do quanto seus programas de rádio eram capazes de
22

influenciar o comportamento dos seus ouvintes, ambos mostraram-se, inicialmente, receosos


ou surpresos por nunca terem refletido sobre essa questão:
“Isso é difícil de responder, assim, empiricamente né, mas, obviamente, tem um
impacto. O rádio, como qualquer outro meio de comunicação, tem um impacto na
vida das pessoas. Agora, estabelecer, exatamente qual é, só uma pesquisa um
pouco mais aprofundada poderia responder isso né?” (E1R )

“A gente nunca sabe ao certo, como você impacta na vida do outro, a gente não
sabe. Muito menos no rádio, que você não tá vendo ninguém. Mas as pessoas
também não estão te vendo, estão te ouvindo. Mas, você cria... Isso, eu posso te
afirmar, você cria uma intimidade com as pessoas no rádio.” (E2R)

Entretanto, com o desenrolar das entrevistas, foi possível observar que os


jornalistas entrevistados se deram conta de que exercem sim influência sobre as pessoas a
partir do momento em que são vistos como profissionais de referência e dignos da
confiabilidade de sua audiência seja pelo tempo e pela seriedade de sua carreira, seja pela
confiança que o jornal/ emissora no qual trabalham transmitem à sociedade ou mesmo pela
credibilidade dos conteúdos veiculados em seus programas de rádio, como atestam os trechos
a seguir:
“É, o nível de confiança já é uma outra questão né. Uma rádio como a Rádio X,
por exemplo, que existe e que é ancorada num jornal, tem uma longa tradição e
um longo respeito da sociedade. Claro que tem um peso do que é dito aqui na
rádio.(...) Tanto pela tradição do grupo de comunicação, pelo conhecimento que
as pessoas tem dos seus apresentadores, e por aí vai... Isso tem, sim, uma
resposta. E pode influenciar comportamentos”.(E1R)

“Eu acho que, nunca, na história, houve um momento tão importante da


comunicação. E eu acho que essa comunicação, da informação e a sua contra
informação gerou, para nós, jornalistas, uma responsabilidade muito maior com
o conteúdo que a gente coloca no ar. Então, hoje, a gente cria selo de veracidade,
que é mais um comprometimento dos profissionais com a verdade, entendeu?
(...)E nós que fazemos a comunicação, que somos jornalistas por profissão, nós
temos a obrigação de dar esse selo de que a gente tá informando as coisas da
forma mais correta possível. ( E2R)

A esse respeito, um dos jornalistas fez uma exemplificação do quanto um


comunicador do rádio pode influenciar e legitimar a decisão de um ouvinte na contratação de
um serviço de saúde, por exemplo. Vejamos o comentário a seguir:
“... de alguma forma, a gente influencia sim. Já teve ouvinte que ligou pra mim,
eu tava entrevistando uma pessoa, que fazia um serviço de atendimento com
idosos, e um ouvinte ligou pra mim, disse assim: "E2R, você gostou dessa pessoa?
Quê que você achou do serviço dele?"E eu falei: ‘Ah, achei legal’, disse que
gostei”. "Pois eu vou investir nele". E eu falei "Puxa, que responsabilidade a
23

minha né?" Nem eu sabia disso. Enfim, você passa, e é um cuidado que a gente
tem que ter, você passa a legitimar coisas que, às vezes, você não sabe, porque
você tá ali, no primeiro contato, entendeu? Mas, de alguma forma, a pessoa quer
saber a tua sensação em relação àquilo que você colheu, entrevistou.” ( E2R)

Se considerarmos que, no Brasil, até o presente século, o rádio tem se mantido


como um dos principais meios de comunicação no cotidiano de milhões de pessoas conforme
atesta uma pesquisa recente realizada pelo IBOPE Media (2015)1, poderemos chegar à
compreensão de que um meio de comunicação utilizado por tantos ouvintes tem um potencial
enorme de alterar comportamentos.
Como exemplo dessas possibilidades de mudanças de postura ou de
comportamentos, podemos citar a influência positiva exercida pelo rádio quando, por
exemplo, veicula campanhas comunitárias de apelo social tais como: campanhas para doação
de sangue, para vacinação ou para incentivo à doação a instituições ou ONGs. Sobre esse
tópico, listamos abaixo alguns relatos:

“Se o rádio, por exemplo, começa uma campanha, digamos, para doar sangue.
Você vai ver que você vai ter uma resposta muito boa daquilo. Ou qualquer uma
outra campanha que ele possa fazer. Vai ter um retorno daquilo. Agora,
influenciar assim, talvez, definitivamente, ou de forma mais... como eu diria, de
uma forma mais permanente na vida das pessoas, de uma forma mais brusca, eu
não saberia dizer. Mas se o rádio organiza, por exemplo, uma campanha, ele tem
um retorno. Nesse aspecto, ele tem, sim, uma influência.” (E1R )

“... O que a gente vê muito, é alguma campanha beneficente. De as pessoas


serem... Mac Lanche Feliz, que a associação Peter Pan faz, o jornal aqui sempre
apoia e a rádio. Campanha de vacinação, o jornal participa. Campanha de
doação de sangue... Isso, eu percebo que influencia bastante as pessoas, sim, a
reagirem a isso. Eu não tenho dúvida disso, não. (...) O rádio, ele consegue
mobilizar...” (E1 R)

Interessante pontuar que assim como há a possibilidade de influenciar


positivamente os seus ouvintes, o rádio também pode interferir de modo negativo em sua
audiência, se utilizado para fins contrários. Seguem abaixo alguns exemplos trazidos pelos
entrevistados:

“Tem um caso famoso e triste né, que foi naquela guerra que teve em Irlanda, que
tinha uma rádio que incentivava, da etnia hutus, incentivava o massacre da etnia
tutsi. A rádio chamava Mille Collines. É um exemplo que é dado no mundo inteiro

1
Esta pesquisa do IBOPE Media, realizada em 2015, apontou que o alcance do rádio em 13 regiões
metropolitanas do país, incluindo Fortaleza, chegou ao número de quase 52 milhões de brasileiros, totalizando
89% de audiência.
24

de como um meio de comunicação pode ser mal utilizado para praticar crimes
hediondos. Então, aquela rádio influenciava as pessoas a matarem a etnia tutsi
ou dos... que eram mais moderados, dos utus, né. Então, você pode, sim,
influenciar nesse aspecto.” ( E1R)

“Como o rádio, também, pode mobilizar, por exemplo, violência entre as


torcidas. Se o rádio, por exemplo, começar a dizer e... incentivar isso, uma guerra
entre as torcidas. Obviamente, ele pode incentivar maior violência. Agora, se ele
fizer o contrário, ele também pode ajudar a reduzir essa violência. Essa
característica, o rádio tem, como outros meios de comunicação também podem
ter”.( E1)

De forma mais específica, foi citado por um dos jornalistas da área da economia
que a forma como os conteúdos são transmitidos e assimilados pelos ouvintes tem grande
potencial de intervir na forma como as pessoas moldam seu jeito de, por exemplo, tratar a
educação financeira dentro do ambiente familiar.
“A gente, por exemplo, no programa Poupe Economia, eu e a X, a gente interage
muito né. De a X falar: "É E2R, só tenho 2 reais no final do mês". E aí a gente
fala "Pô X, me empresta o seu cartão, E2R ", e eu falei "Nunca! Nunca vou te
emprestar meu cartão", não faço isso com ninguém e, "Ah, olha, não empreste o
seu cartão pra ninguém". (...) Eu digo que não dei um doutrinamento, mas eu
tento passar, pelo menos, pressupostos básicos de educação financeira. (E2R)

“Ontem mesmo, tinha um ouvinte falando que fazia (essa educação financeira)
com as filhas. E ele bota 3 cofrinhos, cada uma recebe 50 centavos para cada
fruta que comeu. E ele fala: "Ah, eu comecei a trabalhar essa questão de gestão
familiar, de educação financeira, e eu desenvolvi esse método". Quer dizer, é um
retorno desse impacto. Ele desenvolveu. O método é dele, entendeu?”(E2R)

É importante mencionar que foi bastante enfatizado pelos jornalistas entrevistados


o fato de que essa influência observada no comportamento das pessoas não é algo intencional,
mas um resultado do modo como as programações são conduzidas:

“Não sei se muda comportamento. Nem temos esse objetivo, de mudar o


comportamento de ninguém, sabe? Nunca foi objetivo nosso, mudar
comportamento de ninguém... Se altera comportamento, esse é um efeito
colateral. Mas a gente não tem essa coisa de doutrinamento, entendeu? A gente
não tem uma linha doutrinária. Tanto que, acho que a nossa grande força é essa:
A gente sempre pegar posicionamentos antagônicos, para dar opção de escolha
para a pessoa.” (E2R)

Ao compararmos os relatos de quem comunica no rádio com os relatos de quem


está do lado de cá como ouvinte, é possível verificarmos que todos convergem para o fato de
que o rádio consegue influenciar os mais variados tipos de comportamento e posturas, tais
como:
a) o incentivo à utilização de serviços governamentais:
25

“Aprendo como utilizar bem os serviços que o governo oferece. Através de alguns
programas do governo, como A Hora do Brasil,...(E3)”

b) a interferência na decisão de compra de algum produto:

“Qualquer veículo de comunicação, ele pode, sim, mudar o comportamento dos


ouvintes, ou alguma coisa da personalidade. A pessoa vai querer comprar, a
pessoa vai querer ouvir, por determinado tipo de pessoa que ouviu, ou porque
quer se identificar com uma pessoa. (E4)

c) a aceitação de fofocas divulgadas como verdades:

“ Porque... existem pessoas que são influentes, que tem programa de rádio. Por
exemplo, tem o fofoqueiro mais conhecido do Brasil, que é o Léo Dias. O que
aquele cara fala, todo mundo acredita. Por quê? Porque ele trabalha,
basicamente, entre aspas, com a ‘verdade dita’ né? Como fofoca de artistas e
tudo.”(E3)

d) o aprendizado de valores:

“Tem programas que ensinam valores. Tem até programas religiosos, também.
Tem muita gente da cultura religiosa que escuta rádio evangélica, que eles falam
as palavras, citam como as pessoas devem se comportar, e tem gente que acaba
seguindo o fluxo da rádio, daquele tipo de programa em específico.” (E3)

e) as escolhas artísticas

“ Tanto de uma maneira artística, com música, política, com A Hora do Brasil ou
então por diversos programas de fofoca, mas também acredito que, tudo é
possível de que a gente mude o nosso comportamento.”(E7)

f) a assimilação de conhecimento

“ Ah, eu acho. Até porque, ele trabalham com informação e informação, hoje, é o
que molda o comportamento das pessoas, assim, a forma como elas tem acesso...
porque elas criam conhecimento a partir da informação né.” (E5)

“Eu já aprendi muita coisa, porque enfim, o rádio é um meio de comunicação em


que você estabelece uma relação de conhecimento e tal... enfim, foram muitas
coisas.” (E5)

Diante do exposto, podemos pensar que o rádio é um meio de comunicação que


cumpre o seu papel social e contribui de modo positivo para a formação e/ou alteração de
comportamentos das pessoas.
Na próxima seção, abordaremos a quarta e última categoria de análise.

4. Eficácia do rádio na influência de consumo de produtos e serviços


26

Ratificando o que já foi exposto por Castells (2006) acerca do fato de que os
meios de comunicação alcançaram seu apogeu e influenciaram um número crescente de
pessoas, principalmente no que diz respeito ao apelo publicitário, estamos agora diante de um
desenvolvimento exacerbado dos meios de comunicação de massa capazes de explorar tanto o
imaginário quanto o psicológico dos usuários.
Perguntados sobre como veem o rádio enquanto ferramenta de publicidade em
massa e se acreditam na sua eficiência para atingir mudança de comportamento dos ouvintes
especificamente para o consumo de produtos e serviços, um dos entrevistados respondeu:

“Se você tem uma marca que é mais conhecida, aquela marca lá vai ser mais
consumida. Por que você vende mais Coca-cola ? É porque ela é melhor que a
Pepsi? Muito provavelmente, não. Mas é porque a marca é mais conhecida. Você
acha que o Adidas é o melhor tênis do mundo? Talvez não. Mas por quê que ele
se vende mais? Porque ele está na chuteira dos atletas, na camisa dos atletas. Aí
a pessoa quer copiar, quer parecer um atleta (...) então, a propaganda funciona.
Se não funcionasse, não haveria agência de propaganda. E funciona, também, no
rádio. É claro que funciona.” (E1R)

Nesse quesito, é importante mencionar que o rádio, assim como os outros meios
de comunicação, dispõe de um setor específico que se dedica e elabora estratégias destinadas
à área de propaganda que é o setor comercial.
Um dos comunicadores do rádio entrevistado relatou um exemplo do quanto o
rádio é capaz de “vender” uma ideia, produto ou serviço, como por exemplo um curso de
educação financeira , a partir da audiência e popularidade de um programa radiofônico:
“... eu tenho um exemplo: ontem, eu estava entrevistando o R. D., que é um
educador financeiro, e ele vende uma metodologia de educação financeira, e tava
dando curso, aqui. E eu dei o telefone do contato, com ele, e disse o nome da
secretária dele, no ar. E ela mandou uma mensagem pra ele, da quantidade de
pessoas que tinham ligado, procurando fazer o curso, porque ouviram no
rádio.(...) Ela mandou um áudio e ele me encaminhou, o áudio, e ele falando:
‘Olha aqui, a tua audiência’, entendeu?” ( E2R)

A grande quantidade de pessoas que investem no rádio como meio de


comunicação com potencial de vender produtos, serviços e ideias é algo que precisa ser
considerado. A capacidade do rádio de interferir no modo como as pessoas tomam decisões
na escolha de produtos ou serviços pode estar relacionada ao nível de confiança que o rádio
inspira em seus ouvintes, como é possível notar nos três relatos a seguir:

“O rádio ainda é um meio de comunicação, que ele vai influenciar, sim. Tanto é
que, se ele não influenciasse, ninguém anunciava mais no rádio, né? As pessoas
27

simplesmente, elas não escutariam mais o rádio. E o consumo de produtos e


serviços? Sim. Principalmente para as pessoas que são um pouco mais velhas.
Que foram acostumadas (que isso é até fisiológico), que aprenderam com os pais
deles. Eles foram acostumados a acreditar nas coisas que o rádio mostra. (...).
Que é diferente da TV. Que a TV mostra o que quer. O rádio, talvez, a gente
tenha um pouco mais de confiança. Por ser uma coisa mais antiga, por ter um
explicamento, uma cultura... e influencia sim, nos produtos e nos serviços.” (E4)

“E tem essa questão do mercado também que, querendo ou não, é um espaço


para você divulgar o seu serviço. Mas, como eu tinha citado, eu acho que tem
ficado cada vez mais caro, e as pessoas vão optar, cada vez mais, por divulgar os
seus serviços em lugares que tenham uma audiência, um alcance maior, e que
também seja mais barato, que é o caso do Spotify, por exemplo e de outras
plataformas de podcast. E é isso.” (E8)

"Você acredita na eficácia do rádio para atingir mudanças de comportamento


nos seus ouvintes?" Sim. Inclusive, tem muitos programas que fazem isso. Tipo
aqueles formadores de opinião, influencers e tal. Mas, eu acho que sim. (E5)

Passaremos agora à exposição das considerações finais.

Considerações Finais

Este artigo teve como objetivo principal investigar qual o espaço ocupado pelos
meios de comunicação, especialmente pelo rádio, em nossa sociedade e o quanto isso interfere
no comportamento das pessoas. De forma mais específica, procuramos analisar o papel dos
meios de comunicação na sociedade contemporânea; delinear a evolução histórica dos meios
de comunicação e as possíveis variações comportamentais decorrentes desta evolução bem
como identificar mudanças comportamentais influenciadas pelos programas de rádio na vida
das pessoas da sociedade contemporânea.
Com esse propósito, foi realizada pesquisa de referencial teórico que pudesse
fundamentar a pesquisa, foram realizadas entrevistas com jornalistas comunicadores do rádio
e foi organizado um grupo focal com estudantes universitários.
A sociedade da informação vivenciada atualmente é produto da evolução
crescente da tecnologia e de suas diversas realizações no campo da comunicação. Por esse
motivo, os meios de comunicação, entre eles o rádio, além de repassarem a informação,
também têm adquirido uma importância cada vez maior no cotidiano das pessoas.
Ao discorrermos acerca dos avanços tecnológicos, ou seja, da sociedade em rede,
é importante lembrar que a sociedade se caracteriza principalmente pela capacidade de
transformar a comunicação, sendo esta capaz de criar um “espaço público”, no qual as
28

pessoas assimilam a informação e desenvolvem os seus pontos de vista. A estrutura e a


dinâmica atuais da comunicação social são fundamentais para que os sujeitos construam sua
consciência e sua opinião, e embasem, por exemplo, um processo de decisão política.
Com o surgimento da internet, tornou-se possível modificar as relações sociais e
econômicas as quais constituíram formas inovadoras de se relacionar bem como novas
comunidades e novos consumidores. Esse modelo de relação virtual foi concretizado nas
“redes sociais”, incorporou-se ao cotidiano das pessoas de modo único e levou alguns a
pensarem que os meios de comunicação mais tradicionais estariam condenados ao
desaparecimento.
Entretanto, ao contrário do que se projetava, os primeiros meios de comunicação
mantiveram-se presentes e agregaram ainda mais força com a profusão das redes sociais,
como é o caso do rádio que, como relembrou uma jornalista entrevistada, “já teve a morte
decretada, várias vezes”, inclusive quando surgiu a TV. Apesar de tudo isso, o rádio nunca
esteve tão forte, sobretudo com o desenvolvimento das redes sociais, como Facebook,
Instagram, Twitter e Whatsapp, que passaram a ser ferramentas de compartilhamento dos
programas de rádio, permitindo a audição de programas radiofônicos em qualquer parte do
planeta.
A partir das entrevistas realizadas com uma jornalista e um jornalista, ambos
comunicadores do rádio, e seis universitários, foram criadas quatro categorias para auxiliar na
compreensão do objetivo proposto.
Na primeira categoria, que diz respeito ao “papel desempenhado pelos meios de
comunicação na modernidade”, a maioria dos entrevistados afirmou que a principal função é a
de levar informação e também de influenciar o modo como as pessoas se relacionam e
interpretam o mundo em que vivem. Deste modo, foi possível ponderar que os meios de
comunicação cumprem o papel de conectar as pessoas e deixá-las informadas. Os discursos
ratificaram que na atualidade é impossível conceber os meios de comunicação sem considerar
as possibilidades que a internet oferece. Boa parte das declarações dos entrevistados apontou
que, direta ou indiretamente, o rádio, como meio de comunicação, propõe-se à formação de
consciência e à reflexão na tomada de decisões.
Na segunda categoria, que aborda “o alcance e a longevidade do rádio na
sociedade atual”, foi colocado que o rádio já chegou a ser cotado como algo que ficaria
ultrapassado, porém, ao contrário do pensado pelo senso comum, ele ganhou ainda mais força
a partir da revolução trazida pelas redes sociais chegando a ampliar seu poder de alcance para
29

locais remotos. Alguns entrevistados, entretanto, apresentaram pensamento divergente quanto


a este tópico, asseverando que o rádio está a caminho de uma “inutilização” e discordando da
sua permanência na atualidade diante de recursos digitais, como: Spotify e podcast, que são
mais acessíveis e de menor custo.
Em contrapartida, a maioria dos entrevistados afirmou que, na verdade, o rádio
vem se consolidando ao longo dos anos através da sua difusão por meio da internet e das
redes sociais, reafirmando sua perenidade e mantendo-se como item indispensável na rotina
de milhares de ouvintes.
Na terceira categoria, foi alocada “a influência do rádio no comportamento das
pessoas”. Inicialmente, os jornalistas entrevistados mostraram-se surpresos quanto ao
questionamento acerca da percepção que tinham da influência dos seus programas de rádio
sobre o comportamento dos ouvintes, porém, depois se deram conta de que exerciam
influência sobre as pessoas a partir do momento em que são vistos como profissionais de
referência. Foram dados alguns exemplos positivos dessas possíveis influências como a
contratação de serviços de saúde, a participação em campanhas para doação de sangue, para
vacinação ou para doação a instituições.
Ao serem comparados os relatos de quem comunica no rádio com os relatos de
quem está do lado de cá como ouvinte, foi possível atestar que todos convergem para o fato
de que o rádio consegue influenciar os mais variados tipos de comportamento e posturas, tais
como: o incentivo à utilização de serviços governamentais, a interferência na decisão de
compra de algum produto, a aceitação de fofocas divulgadas como verdades, o aprendizado de
valores, as escolhas artísticas e/ou a assimilação de conhecimento.
Diante do exposto, foi plausível asseverar que o rádio é um meio de comunicação
que cumpre o seu papel social e contribui para a formação de opinião e alteração de
comportamento das pessoas.
A quarta categoria foi designada como “a eficácia do rádio para influenciar o
consumo de produtos e serviços”. Perguntados sobre como veem o rádio enquanto ferramenta
de publicidade em massa e se acreditam na sua eficiência para atingir mudança de
comportamento dos ouvintes especificamente para o consumo de produtos e serviços, parte
dos entrevistados respondeu que, considerando que o rádio é um meio de comunicação eficaz,
a propaganda de qualquer produto terá o efeito desejado e alcançará o objetivo de conseguir
mais clientes.
30

Desta forma, conclui-se que o rádio, ao contrário do que apregoava o senso


comum de que seria um meio de comunicação sem relevância ou só ouvido pelos mais
antigos, ele segue como meio produtivo e atuante com potencial de alterar comportamentos e
influenciar, inclusive, na aquisição de produtos e serviços. Podemos afirmar que, desde a sua
fundação até o presente século, o rádio tem se mantido como um dos principais meios de
comunicação no cotidiano dos brasileiros conforme atestam pesquisas como a do IBOPE
Media, em 2015, já mencionada neste trabalho.
É importante ressaltar também que a internet e as redes sociais concederam uma
nova perspectiva ao rádio, possibilitando, por exemplo, que possamos escutar rádios de outros
países como a França e a Inglaterra, e termos programas de rádio brasileiros sendo ouvidos
por outras pessoas de outras culturas e nacionalidades. Em suma, o rádio nunca foi tão
compartilhado e, agora, dispõe de muitos mais canais de veiculação, adquirindo uma força
muito maior com a internet e reafirmando a sua perenidade.
Diante desse cenário, defendemos que, em decorrência do grande número de
pessoas que escutam programas radiofônicos, o rádio continua sim influenciando a vida das
pessoas e produzindo mudança de comportamento nos ouvintes.
O presente trabalho foi de grande relevância para o crescimento pessoal e
profissional do pesquisador, pois os dados pesquisados e analisados permitiram, de certa
forma, chegar a elementos importantes relacionados ao objetivo geral da pesquisa que foi o de
compreender o impacto dos programas de rádio sobre o comportamento dos indivíduos da
sociedade contemporânea. Os resultados trouxeram mais esclarecimentos e embasamento
teórico, proporcionando assim a compreensão de que o rádio tem o potencial de alcançar as
pessoas das mais diversas regiões e influenciar o comportamento dos seus ouvintes.
Isso nos faz compreender que o rádio realmente tem papel importante na
sociedade e pode ser um veículo utilizado para divulgação de várias profissões trazendo mais
esclarecimento, por exemplo, sobre a atuação dos profissionais de saúde, notadamente os da
Psicologia, divulgando suas atribuições, qual o seu papel como profissional e como as pessoas
das mais diversas classes sociais podem ser alcançadas em suas demandas
psíquicas/comportamentais/emocionais, quebrando tabus e estigmas quanto à Psicologia e
contribuindo assim para que a sociedade em geral, que dispõe do rádio, possa ser alcançada
por esta ciência da saúde que é a Psicologia, tornando-a cada vez mais popular entre as
pessoas em geral, desmitificando-a.
31

Acreditamos que o debate sobre o tema pesquisado necessite cada vez mais ser
ampliado para se juntar um maior número de elementos que corrobore a eficácia do rádio
como meio de comunicação que influencia o comportamento das pessoas que o ouvem
através dos seus programas.

Referências

Bardin, L. ( 2009). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA.

Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed.

Bock, A. M. B., Furtado, O., & Teixeira, M. de L. T. (1999). Psicologias: uma introdução
ao estudo de psicologia (13a ed.). São Paulo: Saraiva.

Castells, M., & Cardoso, G. (Org.). (2006). A Sociedade em Rede: Do Conhecimento à


Acção Política. Brasil: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006. 439 p. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br:8080/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_rede_-
_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf>. Acesso em: 11 novembro de 2018.

Coelho, G. (2017). Ainda somos modernos? Fronteiras do pensamento. Recuperado em 16


novembro, 2018, de
https://www.fronteiras.com/ativemanager/uploads/arquivos/produtos_culturais/60b80cbfb894
7dde9e26c945ab132b3a.pdf.

Conselho Federal de Psicologia. Resolução n° 010, de 21 de julho de 2005. Aprova o Código


de Ética Profissional do Psicólogo.

Entrevista Bauman, Z. (2017, janeiro 12). Zygmunt Bauman em entrevista ao programa


Milênio, da Globo News. Editora Zahar. Recuperado em 09 novembro, 2018, de
https://www.youtube.com/watch?v=Z3n9Raa1SbM.

Entrevista Bauman, Z. (2011, novembro 28). Entrevista exclusiva Zygmunt Bauman. Núcleo
de Pesquisa em Estudos Culturais Npec. Recuperado em 09 novembro, 2018, de
https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM.

Lane, S. T. M. (2006). O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros
Passos).

Lipovetsky, G. (2005). A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo.


Barueri: Manole.

Lobo T. (2013). Sobre o papel social do jornalismo. Observatório da Imprensa. 01.


Recuperado em 25 maio, 2019, de
http://observatoriodaimprensa.com.br/feitosdesfeitas/_ed743_sobre_o_papel_social_do_jornal
ismo/

Media, Ibope. Rádio é ouvido por 89% de brasileiros, segundo IBOPE Media : Meio alcança
52 milhões de pessoas em 13 importantes regiões metropolitanas do País. (2015). Recuperado
32

em 09 de dezembro, 2018, de https://www.kantaribopemedia.com/radio-e-ouvido-por-89-de-


brasileiros-segundo-ibope-media/.

Meneguel, Y. P., & Oliveira, O. de. (2008). O Rádio no Brasil: Do surgimento à década de
1940 e a primeira emissora de rádio em Guarapuava. 27 p. Artigo (Orientação de outra
natureza)- Universidade Estadual do Centro-Oeste, Universidade Estadual do Centro-Oeste,
Guarapuava, (2008). Recuperado em 09 de novembro, 2018, de
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/713-4.pdf.

Morgan, D.(1997). Focus group as qualitative research. Qualitative Research Methods Series.
16. London: Sage Publications

Opaho.org. Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo. (02.2017). Recuperado


em 17 outubro, 2018, de
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-
o-numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839.

Triviños, A. N. S. (1987). Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa


em educação. São Paulo: Atlas.

Veiga, L. & Gondim, S.M.G. (2001). A utilização de métodos qualitativos na ciência política
e no marketing político. Opinião Pública. 2(1), 1-15

Você também pode gostar