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CONSULTORIA PEDAGÓGICA

MÓDULO II: Aspectos físicos essenciais dos espaços na Educação Infantil


TÓPICO I: TEXTO PRINCIPAL

A importância da valorização dos aspectos físicos na construção e


organização do espaço escolar.

No módulo anterior vimos que a preocupação com os espaços escolares tem sua
historicidade e passou por uma longa trajetória até chegar ao nível de discussão que
temos hoje, mesmo que anteriormente com interesses diferentes que não sejam a
preocupação com o indivíduo em seus aspectos físicos e emocionais como ocorre nos
dias atuais.

O espaço escolar é consagrado, em nossa cultura, como o ambiente destinado


aos processos educacionais e à aprendizagem. Para, Didonet (2002) o espaço da escola
não é apenas um território, que guarda alunos, livros, professores, mas é um lugar de
aprendizagem, há uma docência neste espaço, ele caminha com a dinâmica social: gera
ideias, sentimentos, busca o conhecimento, além de ser alegre, aprazível e confortável.
Sendo assim, compô-lo ou modificá-lo gera uma grande responsabilidade com o
desenvolvimento infantil..

Buscaremos neste módulo verificar alguns aspectos físicos que precisam ser
considerados para garantir segurança e conforto no estabelecimento de relações
interpessoais bem como uma educação integral da criança.

Para iniciar esta discussão podemos recorrer à ideia de Silvia Perrone(2011)


quando esta diz que

a forma como os espaços estão organizados comunicam as ideias e as


concepções que permeiam o pensamento de quem os idealizou, projetou ou
organizou, e podem libertar a alma, o pensamento para o desenvolvimento ou
embotá-lo.

Essa afirmação nos chama atenção devido ao fato de que dependendo das
condições físicas de um ambiente a criança pode ou não desenvolver-se de forma
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completa. É possível entender também o poder e a importância da reflexão ao se pensar
na organização do espaço não como um simples pano de fundo de fotografia, mas
pensar nas ideologias que estarão sendo transmitidas naquele ambiente, os impactos que
trarão na vida social de cada criança que por ali passará, no papel do professor em
promover uma educação para liberdade. Sendo assim, o espaço tem toda uma
intencionalidade e função pedagógica. Não basta apenas colocar objetos ou mobiliário
onde fica mais conveniente para o professor – o adulto-, pois o principal usuário
interessado nessa ferramenta pedagógica é a criança. É ela que vai explorá-lo, utilizando
o que lhe está oferecido. É um grande equívoco pensar o espaço segundo, apenas, a
visão do adulto. A criança precisa ter a chance de modificá-lo, de fazê-lo parte de sua
aprendizagem.

Levando em consideração o que indicam os Parâmetros Básicos de


Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil quando se referem às creches e pré-
escolas, quando afirmam que “o espaço destinado a esta faixa etária deve ser concebido
como local voltado para cuidar e educar crianças pequenas, incentivando o seu pleno
desenvolvimento” (BRASIL, 2006, p. 11), podemos afirmar que o espaço físico precisa
contemplar um aspecto muito importante: segurança, visto que também é um local
voltado para o “cuidar” e não somente o “educar”. Qualquer espaço que a criança tenha
contato precisa transmitir e garantir que seus passos no caminho para a aprendizagem
sejam atenciosamente observados. Assim a criança deve ser vista em todo tempo, como
centro da preocupação da escola de forma a facilitar suas experiências e vivências num
ambiente seguro.

A organização da escola, bem como a manutenção de sua estrutura física e


segurança, revelam muito sobre a vida que ali se desenvolve. A aprendizagem precisa
ter a criança como sujeito ativo e, portanto, construtor de um espaço pedagogicamente
viável. A forma como o ambiente está organizado e os recursos de que dispõe para
serem utilizados pelas crianças de forma que não machuquem a si ou a outros colegas
acaba por influenciar o processo ensino aprendizagem.

O professor que organiza os recursos dispostos na sala tais como o mobiliário,


decoração, manipulativos, entre outros, precisa estar atento não somente às necessidades
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educacionais infantis, mas também à sua integridade física e psicológica. Porém,
espaço escolar não compreende apenas as salas de aula e é por isso que o cuidado com a
área comum – área externa- também é de grande importância. A organização deste
espaço deve ser pensada objetivando oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a
criança, onde possa brincar, criar e se desenvolver sentindo-se assim protegida e feliz.

Tanto a área externa como as salas de atividade precisam estar organizadas de


acordo com a faixa etária possibilitando avanço no desenvolvimento de suas habilidades
cognitivas e motoras e proporcionando experiências significativas. Dessa forma, suas
necessidades específicas serão consideradas e atendidas num ambiente acolhedor e
sensível.

Em diversas realidades é o adulto quem decide todos os aspectos do ambiente e


o modifica de acordo com padrões que não levam em consideração a autonomia da
criança. Por exemplo, ao utilizar um mobiliário que não pode ser alcançado pelos
pequenos tudo passa a depender do educador, uma vez que a criança não desenvolve a
habilidade de organizar seus materiais, de pegar uma garrafa para tomar água ou de
manusear materiais que lhe sejam seguros.

Algumas vezes não compreendemos o quão importante o espaço físico é para as


crianças que estão envolvidas nele. Matos (2007) afirma que “o espaço físico escolar
possui grande importância para o corpo discente, uma vez que este será cenário diário
de aprendizagem e sociabilidade”. Sabemos que este fato ganha uma proporção ainda
maior, visto que as crianças pequenas estão em processo de aquisição de diversas
habilidades motoras, cognitivas e sociais. Segundo Lima (2001, p.16): “o espaço é
muito importante para a criança pequena, pois muitas das aprendizagens que ela
realizará em seus primeiros anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou
acessíveis a ela”. Durante esse processo o local em que estão inseridas faz toda a
diferença e é por isso que precisa contar com desafios nas diversas áreas de
desenvolvimento.

Dependendo da forma como o ambiente está organizado os objetivos


pedagógicos para Educação Infantil podem ou não serem atingidos. Por isso, é sempre
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importante oportunizar a criança de andar, subir, descer e pular, através de várias
tentativas, assim a criança estará aprendendo a controlar o próprio corpo, entregar um
ambiente que estimule os sentidos das crianças, que permitam a elas receber
estimulação do ambiente externo, como cheiro de flores, de alimentos sendo preparados,
sentir a brisa do vento, o calor do sol, o ruído da chuva, experimentar também diferentes
texturas: liso, áspero, duro, macio, quente, frio. Carvalho & Rubiano (2001, p.111)
dizem que: “a variação da estimulação deve ser procurada em todos os sentidos: cores e
formas; músicas e vozes; aromas e flores e de alimentos sendo feitos; oportunidades
para provar diferentes sabores”.

Dispor de diversos tipos de materiais e em diversas texturas permite à criança


um maior número de experiências, faz com desenvolva autonomia na utilização dessas –
sempre com o olhar atento do adulto – e, além disso, sentir-se desafiada a realizar
decisões ou constatar ideias. Sobre isso FALCO (2009, p.05) afirma que

De acordo como é organizado o ambiente, podemos obter experiências


formativas ou outras que serão mais ou menos ricas e enriquecedoras
segundo a organização feita dos espaços e dos recursos. O espaço é também
um contexto de significados e emoções. Cada zona, cada elemento ou
condição do espaço, significa coisas diferentes e o vivenciamos de formas
diferentes. Há espaços para a brincadeira e para o repouso, para compartilhar
e estar só, para o trabalho e para o ócio, espaços de prazer e de obrigações,
próprios e alheios.

O psicólogo e neurocientista Hudson de Carvalho alerta que para um


desenvolvimento psicológico saudável é necessário que se interaja com o ambiente e
que este o desafie, isto é, propor à criança situações que estimulem a busca ativa por
soluções. Ao criar, por exemplo, uma trilha de obstáculos dentro da sala de atividades, o
educador está propondo aos pequenos, desafios que os farão adquirir determinadas
habilidades de esquema corporal.

Outros aspectos também são importantes e devem ser considerados na estrutura


física de uma instituição de Educação Infantil como, por exemplo, a limpeza, a
iluminação e a ventilação. Um ambiente educativo é também um ambiente confortável
para desenvolver a sociabilidade e a aprendizagem. Conforto transmite à criança a
sensação de segurança em estar em um local em que é cuidada e valorizada. É
importante atentar à temperatura do local em que as crianças estejam para não gerar
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algum problema de saúde ou desconforto ao realizar atividades, especialmente as que
necessitam de uma movimentação corporal maior. A limpeza do espaço é algo essencial
ao bom andamento e manutenção higiênica do local em que estão sendo desenvolvidas
as atividades com as crianças, pois a instituição se torna um referencial para ela. Essa
questão atenta principalmente à saúde, é importante que esse ambiente seja limpo
diariamente, pois coloca em questão também o bem estar de todos presentes. Conforme
afirma Nicolau (2003, p.21) “Não basta um lugar limpo e arejado; devemos oferecer um
lugar agradável e bonito, e materiais, apresentados de forma cuidadosa e atraente”.

Sendo assim, podemos compreender a importância de cuidar dos aspectos físicos


dos ambientes escolares em que a criança está inserida, ambiente esse que não é apenas
pano de fundo, mas ferramenta pedagógica aliada às metodologias utilizadas que
proporcionarão às crianças experiências significativas e que ficarão na memória delas
por muito tempo. Por isso, o cuidado com cada aspecto citado é essencial, uma vez que
precisamos proporcionar aos pequenos uma educação integral que contemple as
diversas áreas de seu desenvolvimento. Estes aspectos físicos incidirão diretamente nos
aspectos relacionais e pedagógicos desenvolvidos ao longo das atividades nas áreas de
sala de aula ou externas.

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