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Contribuição de outros idiomas à Língua Portuguesa

É sabido que a Língua Portuguesa é proveniente do Latim. É dele que vem a base de sua
estrutura morfossintática e grande parte de seu repertório lexical. Contudo outros idiomas
concorreram para o enriquecimento desse repertório por meio de empréstimos, que o Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa define da seguinte forma:

Rubrica: linguística.
incorporação ao léxico de uma língua de um termo pertencente a outra língua [Dá-se por
diferentes processos, tais como a reprodução do termo sem alteração de pronúncia e/ou
grafia (know-how), ou com adaptação fonológica e ortográfica (garçom, futebol).]

Há inúmeras razões para a ocorrência de empréstimo. Uma delas é a assimilação de


vocábulos da língua dos povos nativos, quando ocorre ocupação ou colonização. As colônias
portuguesas na América e na África deixaram marcas indeléveis na nossa língua.

Outra razão é a imigração de povos de diferentes culturas. O Brasil abriu as portas para a
entrada de uma quantidade imensa de vocábulos de outras línguas por conta de sua generosa
receptividade para com os imigrantes estrangeiros.

Os primeiros foram os africanos - vindos à força - que trouxeram mais de 300 idiomas, a
maioria dos grupos banto e ioruba. Oficialmente, teriam sido trazidos ao Brasil 3.800.000 escravos
africanos, mas o número pode ser, na realidade, muito maior.

Motivos variados trouxeram – e ainda trazem - ao Brasil uma quantidade muito grande de
imigrantes vindos de todas as partes do mundo. Basta dizer que São Paulo hoje é a cidade com mais
italianos, fora da Itália, e a cidade com maior número de portugueses, fora de Portugal.

Seguem abaixo alguns exemplos do que foi dito acima, as línguas e algumas de suas
colaborações.

 Latim: fórum (foro), álibi, o campus / os campi (das universidades), habitat;


 Francês: toalete, guichê, chique, bijuteria, abajur, bufê, baguete, sutiã, nuance, marquise;
 Espanhol: granizo, bolero, caudilho, sombreiro, aperrear, guerrilha, novilho, cedilha;
 Italiano: confete, gueto, gigolô, grafite, vendeta, tchau (ciao), aquarela, arlequim, piloto;
 Chinês: kung fu, tai-chi;

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 Japonês: cabúqui, camicase, caraoquê, caratê, quimono, sushi, tsunami.
 Russo: perestroika, troica, vodca.
 Coreano: tae kwon do;
 Alemão: diesel, dobermann, hambúrguer, hamster, chucrute;
 Inglês: show, performance, rali, fã, caubói, pôster, spray, sexy, tíquete, gay, Workshop.
 Africano: quitanda, dendê, axé, dengo, acarajé, berimbau, moleque, gogó, bagunça;
 Indígena: tocaia, cutucar, peteca, toró, arara, pipoca, maracanã, pixaim, arapuca, canoa.

Observação 1: é importante lembrarmos que foi tão grande a influência das línguas
indígenas e africanas no falar brasileiro, que esse fator acabou distanciando a Língua Portuguesa do
Brasil da de Portugal.
Observação2: a Língua Grega, que muito influenciou a cultura romana, ainda nos socorre,
com seus radicais para a formação de vocábulos, sobretudo na área das ciências:
 Filosofia: filo (amigo) + sofia (sabedoria)
 Fotografia: foto (luz) + grafia (escrita, descrição)
 Hipopótamo: hipo (cavalo) + potamo (rio)
 Hidrômetro: hidro (água) + metro (medida)
 Asteroide: aster (astro) + oide (forma)

Não há como não mencionar, por fim, que o uso de estrangeirismos tem provocado sérios e
inconclusivos debates entre aqueles que acham que se deve evitá-los, quando há forma vernácula
correspondente, e os que preferem utilizá-los livremente. O medo dos primeiros de que a Língua
Portuguesa se despersonalize – e ela é um importante fator de unidade nacional - talvez seja um
exagero, uma vez que isso não ocorrerá enquanto não se alterar sua estrutura morfossintática, ficando
apenas na importação de vocábulos, muito embora haja um certo prenúncio de algo mais sério, de
que pode servir como exemplo a expressão “darei o meu melhor”, tipicamente inglesa (my best),
usada à exaustão no lugar de “darei o melhor de mim”, forma correta em Português. Observe-se no
parágrafo que segue a extremada indignação do Sr. António Viriato, manifestada na publicação
Alma Lusíada.

“Parecem, no entanto, confirmados o gosto e a mania de os portugueses salpicarem os seus


discursos, a propósito e a despropósito, com palavras estrangeiras, principalmente inglesas ou com
expressões, ainda que portuguesas, de sintaxe copiada da Língua Inglesa.
No geral, isto é feito com grandes laivos de presunção e de suposta auto-valorização ou auto-

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promoção (sic). Não há por aí cão nem gato que não solte a toda a hora o seu «é suposto que», o
timing, o trade-off , o balanceamento, o site/saite, o off the record, o low profile, o leadership, o win-
win, o quick win, o kick off, o spread, o skill, o lifting, o piercing, o feeling, etc., etc., como se estes
termos não tivessem tradução possível no Português, nem a nossa Língua dispusesse de termos
equivalentes para traduzir o seu significado.

Na oralidade, surgem agora manias diversas como pronunciar as siglas à inglesa. Assim, o
antigo MIT, até há alguns anos dito m-i-te, passou a dizer-se à inglesa ou melhor à americana: éme-
ai-ti. Veremos se o mesmo irá suceder com a CIA, para passar a dizer-se: ci-ai-ei.”

Talvez achemos uma explicação para esse fenômeno atual de uso abusivo e desnecessário
de vocábulos estrangeiros, neste pequeno trecho que segue, de autoria de Ana Maria Zilles:

“No campo das mudanças linguísticas, os empréstimos de palavras ou expressões


são, em geral, associados a atitudes valorativas positivas do povo que os toma em
relação à língua e à cultura do povo que lhes deu origem. Muitas vezes são
utilíssimos à elite, que assim se demarca como diferente e superior.”

Vamos finalizar, lembrando que a língua é um organismo vivo e dinâmico que, enquanto
estiver em uso, estará em constante mutação e processo de renovação e enriquecimento, para atender
às necessidades daqueles que a utilizam.

BIBLIOGRAFIA

BECHARA, Evanildo. Estudo da língua portuguesa: textos de apoio. – Brasília: FUNAG, 2010.
420p.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss. Editoria Objetiva. Edição: 3.0.

PEREIRA JR, Luiz Costa. Um passeio pela contribuição africana ao português brasileiro. In:
http://revistalingua.uol.com.br/textos/96/forca-afro-bra-sileira-298662-1.asp

MOLINA, Daniela de Souza Leite. Empréstimos linguísticos no campo lexical: a contribuição do


português para o léxico da língua inglesa.
In: http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2010/12/Molina.pdf
ZILLES, Ana Maria S. Ainda os equívocos no combate aos estrangeirismos. In: FARACO, Carlos
Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. 3ª ed. São Paulo: Parábola, 2004, p.
143-161.

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