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A Associação Mais Direitos Humanos, que atua na defesa e promoção dos direitos das
mulheres, conforme preconizado em seu estatuto e regimento interno, elaborou a presente
Nota Técnica, posicionando-se contrariamente as decisões exauridas na sentença que negou
direito de aborto legal à criança vítima de estupro, de forma a ferir e contrariar os direitos da
dignidade da pessoa humana bem como as normativas legais existentes.
2. Breves considerações
Conforme se pode atestar, a adolescente de 13 anos Maria Eduarda sofreu abuso
sexual com violência física. Ao chegar a casa emocionalmente transtornada, a jovem se
trancou em seu quarto e só saiu no dia seguinte, gerando assim uma desconfiança por parte de
sua mãe que ao pressionar a filha ficou ciente do ocorrido e logo em seguida resolveu levar a
filha ao hospital. Chegando ao hospital a jovem e sua mãe foi desacreditada pela equipe de
médicos e enfermeiros, onde os mesmos se valeram de observações e conclusões
equivocadas, pejorativas e de caráter pessoal. Em decorrência do comportamento da equipe
do hospital não foi realizado nenhum tipo de exame físico ou psicológico e, portanto, a jovem
e sua mãe voltaram para a casa sem o atendimento emergencial e preventivo previstos em lei.
3. Análise Jurídica da sentença e sua não legitimidade
a) Direito(s) objetivo(s) e subjetivo(s) que foram violados; Foram violados,
portanto, o direito objetivo da adolescente no que se refere aos primeiros procedimentos
emergenciais previstos em lei, que visam proteger a vitima de DST’s e o desenvolvimento de
uma gravidez indesejada, assim como o registro do B.O policial e o acompanhamento
psicológico. (citação) Compõe o atendimento integral à saúde de pessoas em situação de
violência, o registro da notificação compulsória de suspeita ou evidência de violências
interpessoais e autoprovocadas definidas pela legislação (violências contra crianças,
adolescentes, mulheres e pessoas idosas) de acordo com a Portaria GM/MS nº 1.271 de
06/06/2014 -
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_sexual_n
orma_tecnica.pdf (pag.15) O direito subjetivo da adolescente também foi violado no momento
em que a equipe do hospital se valendo de julgamentos precipitados e pessoais, deixou de
realizar as condutas de prevenção e tratamento ás vítimas de abuso sexual, sendo estes
previstos em lei ,ao qual a adolescente juntamente com sua mãe reconheceu e procurou
atendimento porém não foram atendidas de forma satisfatória e efetiva, resultando assim na
demora e no agravo da situação.
b) Teoria do direito subjetivo utilizado na decisão e os argumentos contrários a
essa teoria; Um direito subjetivo utilizado na decisão da juíza em proibir a interrupção da
gravidez foi baseado no direito do nascituro á vida conforme. Segundo a mesma, previsto na
Constituição Federal, art. 227. Porém esta decisão torna-se incoerente a medida que tomamos
conhecimento do caso e da proporção das decisões propostas em juízo, uma vez que não foi
respeitado o direito da adolescente em interromper uma gravidez não desejada e fruto de um
abuso sexual. Outro ponto a ser ressaltado é que na decisão a juíza afirma também que o
direito á vida do nascituro está acima do direito da adolescente, portanto a mesma entra em
contradição ao citar o art. 227, citado por ela mesma para justificar a não interrupção da
gravidez, não sendo respeitado o direito subjetivo da adolescente, pois no artigo 128, a lei diz
que o aborto é direito da mulher vítima de estupro. No art. 128 inciso II do Código Penal
brasileiro, o abortamento é permitido quando a gravidez resulta de estupro ou, por analogia,
de outra forma de violência sexual. A todo o momento podemos observar na decisão da juíza,
o interesse de assegurar os direitos subjetivos do nascituro em detrimento dos direitos
subjetivos da adolescente, vítima de abuso sexual. Isso se exemplifica quando a mesma diz
que não há evidências da melhora do bem-estar do jovem com aborto e que com 13 anos a
adolescente seria incapaz de decidir ou exercer seu direito subjetivo.
c) Corrente jurídica defendida na decisão e a sua incompatibilidade com princípio
da legalidade (art. 5º, II) e com a imperatividade do ordenamento estatal defendido pelo
positivismo jurídico; A corrente jurídica apresentada pela juíza Ana Paula em sua decisão diz
respeito aos preceitos bíblicos e nas escrituras, e ainda segundo ela, essas se sobrepõem aos
direitos já previstos pela legislação vigente. Essa corrente defendida pela juíza e totalmente
dotada de uma visão particular e de um juízo de valor, deixando ela de julgar segundo as leis
do estado e assim resgatar os direitos da adolescente, que como sujeito de direito não teve
resguardado seu direito de escolha sendo coagida a continuar com a gravidez.
d) Separação metodológica entre direito e justiça pelo positivismo jurídico; O
positivismo jurídico se difere da justiça a medida que pelo pensamento positivista uma norma
se sobrepõe a visão filosófica do seria justo ou injusto, sendo desta forma, o direito positivo
exercido de forma coercitiva. O positivismo jurídico visa estabelecer as normas e apontar
direitos e deveres, e não apenas fazer questionamentos filosóficos.
e) Reflexão entre o princípio da dignidade da pessoa humana, o bem-estar
psicológico da adolescente e o direito a vida (análise zetética); Com podemos ver nesse caso,
o princípio da dignidade humana no que diz respeito ao bem estar da adolescente foi
totalmente desconsiderado. A juíza, em suas considerações finais, abordou o direito à vida ao
se referir ao nascituro, esquecendo-se, porém, dos direitos da adolescente, tendo sido esta
exposta a abuso sexual e posteriormente a omissão de atendimento por parte da equipe
médica. Houve, portanto, por parte da juíza do caso, um julgamento inconstitucional e
incoerente, se olharmos através de uma perspectiva zetética, visto que a juíza se valeu de
opiniões de cunho pessoal e juízo de valor para julgar um caso já com possíveis
desdobramentos e direitos assegurados e previstos em lei. Porém, analisando de forma
dogmática as decisões da juíza foram consentidas pela sociedade daquela pequena cidade, que
assim como ela encorajaram e chegaram até a coagir a jovem a dar continuidade na gravidez,
visto que interrompe-la seria contra as leis das escrituras sagradas e costumes cristãos.
4. Conclusão
Em razão de todo o conteúdo exposto nesta Nota Técnica, como considerações finais,
venho expor, portanto, a inconstitucionalidade que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
instaure procedimento administrativo com objetivo de analisar a sentença proferida pela Juíza,
em manter uma gravidez indesejada, de um abuso sexual. Visto que, como dito em tópicos
anteriores já existe lei prevista, que prevê o direito ao aborto e atendimento emergencial as
vítimas de estupro. A jovem, não teve seus direitos resguardados, pois praticamente ela e sua
mãe tiveram que sair escondidas e buscar em outra cidade os direitos resguardados a jovem e,
portanto que deveria ser aplicado em todo território nacional. Vimos também, nesse caso
especifico como as tradições a valores religiosos sobrepuseram aos direitos e normas já
estabelecidos, e que as normais sociais e culturais podem invalidar uma norma e um direito
adquiridos, sendo eles, objetivos ou subjetivos.
5. Referências Bibliográficas