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ESPANHOLA
RESUMO
Este artigo tem como objetivo discutir as mudanças paradigmáticas da Linguística Aplicada a
partir da década de 1990, relacionando-as ao ensino/aprendizagem de línguas na
contemporaneidade e sua importância para o avanço das pesquisas nesta área no Brasil. Será
abordado também, o lugar das investigações relacionadas à língua espanhola no cenário
mundial e nacional, finalizando com a urgência de novos parâmetros em pesquisa para a
Linguística Aplicada que estejam atentos às necessidades globais e locais na era da tão
proclamada globalização.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo discutir los cambios paradigmáticos de la Lingüística
Aplicada a partir de la década de 1990, relacionándolos a la enseñanza/aprendizaje de lenguas
en la contemporaneidad y su importancia para el avance de las investigaciones en este área en
Brasil. Será abordado también, el lugar de las investigaciones relacionadas a la lengua
española en el escenario mundial y nacional, terminando con la urgencia de nuevos
parámetros en investigaciones para la Lingüística Aplicada que estén atentos a las necesidades
globales y locales en la era de la tan proclamada globalización.
Linguística Aplicada (doravante LA) passou por várias transformações até deixar de ser
entendida apenas como aplicação de teorias linguísticas a questões do ensino de línguas,
sobretudo, ao ensino de línguas estrangeiras e atingir o seu atual status de ciência social,
interdisciplinar e independente da Linguística geral ou Linguística teórica.
Neste trabalho me centrarei na LA a partir de 1990, pois, foi nesta década que esta
área do conhecimento começou a se reinventar, expandindo seus horizontes para além dos
limites da sala de aula e outros contextos institucionais passaram a ser foco de pesquisas na
área. Os contextos de ensino e aprendizagem de línguas, principalmente o inglês, ainda
ocupavam grande parte das pesquisas, porém outras fronteiras são perpassadas a fim de que
esta ciência rompesse com os modelos anteriores de teorizar e fazer LA.
Essa nova maneira de compreender a LA faz com que a própria disciplina seja
renomeada e ela recebe algumas qualificações, como: “indisciplinar”, “mestiça” ou
“nômade”, na denominação de Moita Lopes (2006), “transgressiva”, “antidisciplinar” e
“modernista”, conforme a nomeia Pennycook (2001; 2006), ou como LA da
“desaprendizagem” (FABRÍCIO, 2006) que vêm a corroborar com o conceito de Linguística
Aplicada Crítica que é esta nova e recente proposta de mudança na área da Linguística
Aplicada que visa a interferir na realidade social, na medida em que propõe pesquisas e
práticas pedagógicas que dialoguem diretamente com as necessidades sociais dos sujeitos
envolvidos.
Pennycook (1998) propõe em seu artigo: A linguística aplicada dos anos 90: em
defesa de uma abordagem crítica, o que ficou conhecido como Linguística Aplicada Crítica
(doravante LAC), entendendo-a como uma forma de antidisciplina ou conhecimento
transgressivo e esclarece que “as sociedades são desigualmente estruturadas e são dominadas
por culturas de ideologias hegemônicas que limitam as possibilidades de refletirmos o
mundo” (PENNYCOOK, 1998, p.24). O autor acrescenta que a aprendizagem de línguas está
totalmente vinculada à manutenção ou à possibilidade de mudanças dessas desigualdades.
Sabemos, então, que, ao privilegiarmos determinados padrões culturais e linguísticos, nós,
professores de línguas estrangeiras, nos tornamos, na maioria das vezes, reprodutores dessas
desigualdades.
Mais explicitamente sobre a LA, Pennycook (1998, p. 46) defende que:
Como linguistas aplicados, precisamos não só nos percebermos como intelectuais
situados em lugares sociais, culturais e históricos bem específicos, mas também
precisamos compreender que o conhecimento que produzimos é sempre vinculado a
interesses. Se estamos preocupados com as óbvias e múltiplas iniquidades da
sociedade e com o mundo em que vivemos, então creio que é hora de começarmos a
assumir projetos políticos e morais para mudar estas circunstâncias. Isso requer que
(...) representa uma notória preocupação e empenho por ganhar espaço e retorno
monetário no mercado editorial mundial, com o incentivo e promoção a
determinadas editoras. Logicamente, essa postura também se caracteriza como uma
reação frente à ameaça que o ensino de Inglês tem representado, desde o próprio
surgimento de LA e dessa mais recente leva de globalização que estamos vivendo
todos, em maior ou em menor escala, para o bem ou para o mal.
2 A LA NO BRASIL
1
Elio Antonio de Nebrija (1444-1522) foi um humanista e filólogo espanhol, autor da
primeira gramática da língua castelhana (1492) e do primeiro dicionário espanhol (1495).
4 Revista Inventário - 12ª edição - Jan-Julho. 2013- www.inventario.ufba.br. ISSN 1679-1347
A LINGUÍSTICA APLICADA NO BRASIL E AS PESQUISAS EM LÍNGUA ESPANHOLA
teórica. Mundialmente, essa ideia perdurou por muito tempo inclusive para aqueles mais
leigos essa é ainda a concepção da LA, entretanto, ao nos voltarmos para a situação da LA no
Brasil, percebemos que diferentemente da situação das pesquisas em outros países, já há um
quadro epistemológico de ruptura com os paradigmas defendidos até então e que não viam a
LA como uma ciência interdisciplinar que está preocupada com os problemas relacionados ao
uso da linguagem em diferentes contextos sociais.
Para Moita Lopes (2006, p. 16) hoje, é possível dizer que a LA é um campo
relativamente bem estabelecido em nosso país e é possível comprovar este feito pelos muitos
programas de pós-graduação na área, pelo apoio das agências de fomento à pesquisa e pela
criação, em 1990, da Associação de Linguística Aplicada no Brasil – ALAB. A página web da
ALAB 2 indica como objetivo da Associação:
2
http://www.alab.org.br/pt/a-alab Acesso em 21 de maio de 2012
Revista Inventário - 12ª edição - Jan-Julho. 2013- www.inventario.ufba.br. ISSN 1679-1347 5
DORIS CRISTINA VICENTE DA SILVA MATOS
3
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/rbla/ Acesso em 21 de maio de 2012
4
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/rbla/ Acesso em 21 de maio de 2012
6 Revista Inventário - 12ª edição - Jan-Julho. 2013- www.inventario.ufba.br. ISSN 1679-1347
A LINGUÍSTICA APLICADA NO BRASIL E AS PESQUISAS EM LÍNGUA ESPANHOLA
Para entender esse lugar que ocupam os pesquisadores da área de espanhol nas
investigações em LA é importante recorrer aos processos históricos que culminaram na
posição que ela ocupa hoje. Paraquett (2009) enumera os fatos que considera fulcrais para seu
estabelecimento:
- o início da história de seu ensino no Brasil, em 1919, como disciplina no
Colégio Pedro II;
- a criação, em 1941, do curso de Letras Neolatinas na Universidade Federal do
Rio de Janeiro;
- a assinatura, em 1942, do decreto-lei (N. 4.244) que reconhece o espanhol como
uma das línguas do ensino médio e em 1958, o projeto de lei (4.606/58), que obriga o ensino
de espanhol nas mesmas bases do ensino de inglês;
- a assinatura das Leis de Diretrizes e Bases (LDB), em 1961 e 1971;
- a criação dos Centros de Línguas Estrangeiras Modernas, em 1979;
- a fundação no Rio de Janeiro da primeira associação de professores de espanhol
no Brasil (APEERJ), em 1981;
- a assinatura do Tratado de Assunção que resultou no acordo do MERCOSUL,
em 1991;
- a assinatura da atual LDB, em 1996;
- a fundação, em 2000, da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH);
- e a assinatura da Lei 11.161, em 2005, conhecida como a Lei do espanhol.
Estes fatos históricos no percurso do ensino e difusão da língua espanhola no Brasil
não foram suficientes para que a disciplina se estabelecesse de maneira equiparada às
pesquisas de nossos colegas de língua inglesa no âmbito da LA. Para entender esta
discrepância, novamente é necessário remeter ao que acontecia naquele momento, pois
“enquanto nos preocupávamos com nossas questões internas (as leis e as associações), nos
afastávamos dos movimentos paralelos que aconteciam no Brasil, em particular, na área da
LA” (PARAQUETT, 2009, p. 127).
Almeida Filho (2007, p.89) aponta como o início da LA no Brasil o ano de 1978, ano
em que ele e Carmen Rosa Caldas-Coulthard voltaram ao Brasil de seu Doutorado na
Inglaterra, local em que se teorizavam questões em torno à LA e ao ensino de línguas. Esse
nascimento teria ocorrido durante um Seminário na Universidade Federal de Santa Catarina,
que teve como tema o ensino nocional-funcional, última novidade no âmbito do ensino de
línguas na época. Um pouco antes, em meados dos anos 70 estes pesquisadores teriam
presenciado as mudanças paradigmáticas das propostas comunicativas para o ensino de
línguas, na própria Inglaterra e Escócia e naquele momento estavam retornando para o Brasil
com a necessidade de promover mudanças no âmbito da LA aqui também.
Percebe-se que muitos dos teóricos responsáveis pelo início dos trabalhos em LA no
Brasil são da área de inglês e realizaram seus Doutorados em países de língua inglesa, estando
preocupados com o ensino de línguas em geral, porém com forte filiação ao ensino de inglês.
Esta seria uma das principais explicações para o atual descompasso nas pesquisas produzidas
em outras línguas, notadamente o espanhol:
O ensino do inglês pode ser comparado a uma indústria, pois quando falamos em
número e cifras, sua amplitude é gigantesca e milionária, gerando inúmeros postos de trabalho
e pessoas interessadas em sua aprendizagem. O Brasil não fica atrás, pois:
[...] faz parte do grupo de países do ‘círculo em expansão’, ou seja, onde o inglês é
falado e estudado como língua estrangeira (LE), ou para sermos mais coerentes com
o contexto contemporâneo, inglês como língua internacional (ILI). (SIQUEIRA,
2008, p. 91)
em regiões em que a formação de professores de espanhol não é significativa ou que não haja
uma mobilização política para cumpri-la. Através destes dados podemos perceber que o
ensino da língua espanhola nas escolas de nosso país vem aumentando significativamente,
embora ainda não esteja equiparado ao ensino da língua inglesa.
Assim sendo, percebo que nós os pesquisadores em língua espanhola ainda precisamos
ganhar mais espaço nas pesquisas e consequentes publicações em LA e mostrar para a
academia o muito que se tem feito em nossa área, não somente por questões geopolíticas, mas
profissionais, culturais e principalmente sociais. O percurso histórico explica nosso
apagamento científico, porém a história futura está sendo traçada neste momento e dependem
dos pesquisadores a divulgação e o fomento para que ocupemos cada vez mais espaço no
cenário das pesquisas brasileiras e possamos estabelecer o diálogo necessário com as outras
línguas estrangeiras que se ensinam em nosso país, contribuindo, assim, para a pluralidade
linguística e a difusão da LA.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de. Linguística Aplicada, ensino de línguas &
comunicação. Campinas: Pontes, 2007.
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Oficina de Lingüística Aplicada: a natureza social e
educacional dos processos de ensino/ aprendizagem de línguas. Campinas: Mercado de
Letras, 1996.
______. Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
______. A língua espanhola e a linguística aplicada no Brasil. Revista Abeache, São Paulo:
ABH, v. 1, n. 2, 2012, p. 225-239.
PENNYCOOK, A. A lingüística aplicada dos anos 90: em defesa de uma abordagem crítica.
In: SIGNORINI, I. & CAVALCANTI, M. C. Lingüística Aplicada e Transdiciplinaridade.
Campinas-SP: Mercado de Letras, 1998, p. 23-49.
SIQUEIRA, Domingos Sávio Pimentel. Inglês como língua internacional: Por uma
pedagogia intercultural crítica. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia: Instituto
de Letras, 2008.