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GRADUAÇÃO

Ergonomia e
Segurança
do Trabalho
ME. MAÍLSON JOSÉ DA SILVA

Híbrido
GRADUAÇÃO
Ergonomia
e Segurança
do Trabalho
Me. Maílson José da Silva
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
312 p. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
“Graduação - Híbridos”.
e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
1. Ergonomia 2. Segurança 3. Trabalho. 4. EaD. I. Título. Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
ISBN 978-65-5615-001-7
Design Educacional Débora Leite;Fukushima;
CDD - 22 ed. 331.259 Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey;
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas;
Impresso por: Supervisão de Projetos Especiais Yasminn
Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla
Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock

Coordenador de Conteúdo Fabio Augusto Gentilin


e Crislaine Rodrigues Galan.
Designer Educacional Tacia Rocha.
Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira e Erica
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Fernanda Ortega.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Editoração André Morais de Freitas.
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná
Ilustração Natalia de Souza Scalassara e Welington
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Vainer Satin de Oliveira.
Realidade Aumentada Autoria.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
dos celulares.
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Bem-vindo(a) à disciplina de Ergonomia e Segurança do Trabalho. Ao longo


das nove unidades, estudaremos diversos tópicos relacionados à segurança
e à saúde no desenvolvimento das atividades laborais em diferentes setores.
Nosso material foi organizado pensando nos tópicos gerais que são estudados
na Engenharia de Segurança do Trabalho.
Como nosso objetivo é dar a você uma visão geral dos assuntos relacionados
à segurança e à saúde no trabalho, conheceremos medidas de engenharia e
medidas administrativas usadas na gestão da segurança do trabalho.
Independentemente do curso de engenharia que você esteja frequentando,
os conceitos aqui apresentados serão úteis no desenvolvimento de suas
atividades. Afinal, como entendemos, ergonomia e segurança do trabalho
devem estar presentes não apenas na execução de procedimentos, mas,
antes, no projeto de produtos e instalações. Assim, se você pretende ser um
engenheiro mecânico, civil ou de produção, os conceitos que estudaremos
serão úteis em seu campo de trabalho.
Na Unidade 1, introduziremos o conceito de segurança do trabalho, mos-
trando sua relação com outras disciplinas e falaremos das ações que foram
tomadas ao longo da História para proteger trabalhadores em seus ofícios.
Explicaremos o conceito de risco ambiental e apresentaremos o processo
geral de gerenciamento de riscos.
Na Unidade 2, entenderemos o que é um acidente do trabalho. Veremos a
legislação que define o acidente do trabalho e os principais casos de ocorrên-
cia no mundo do trabalho. Listaremos algumas doenças ocupacionais que
ocorrem devido à exposição aos riscos ambientais sem a devida proteção.
Iremos explicar como é feita a investigação de acidentes.
Na Unidade 3, iniciaremos o estudo de Higiene Ocupacional. Veremos que
esta é uma ciência, dentro da Segurança do Trabalho, usada para analisar
a fundo a gravidade dos agentes ambientais, determinando se oferecem ou
não risco à saúde dos trabalhadores. Iremos estudar o ruído, calor, radiações
e vibrações.
Na Unidade 4, entenderemos algumas características dos agentes químicos.
Veremos a importância de algumas características para determinar o risco
dos produtos químicos e as medidas de proteção que devem ser tomadas.
Estudaremos a hierarquia das medidas de controle usadas na manipulação
de produtos químicos. Sublinharemos, também, os meios de controle da
exposição a agentes biológicos, muito presentes nas atividades de hospitais,
ambulatórios e laboratórios de pesquisa.
A Unidade 5 introduzirá os primeiros conceitos de Ergonomia. A antro-
pometria é apresentada como a base para o projeto de postos de trabalho
e produtos que fiquem adequados às medidas corporais de seus usuários.
A biomecânica ocupacional nos explica o funcionamento dos músculos e
como estes podem ser usados da melhor maneira. A fisiologia do trabalho
explica as diferenças dos organismos de indivíduos noturnos e diurnos.
Na Unidade 6, discutiremos os conceitos de iluminação, manuseio de cargas
e trabalho noturno. Iremos aprender como é medido o nível de ilumina-
ção em um ambiente e como este pode ser avaliado quanto à adequação à
atividade desenvolvida. Iremos estudar maneiras de manusear cargas para
evitar a ocorrência de lesões na coluna vertebral. Estudaremos formas de
organização de turnos para evitar os efeitos nocivos do trabalho noturno.
Na Unidade 7, estudaremos algumas ferramentas da Ergonomia: Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), Método NIOSH e Método RULA, que
fornecem meios para fazer uma análise mais objetiva sobre condições ergo-
nômicas de postos de trabalho, levantamento de cargas e posições de trabalho.
Conheceremos as medidas de segurança utilizadas na indústria da Constru-
ção Civil. Na Unidade 8, iremos apresentar as medidas coletivas e individuais.
Discutiremos, também, as características das áreas de vivência dentro de um
canteiro de obras.
Por fim, na Unidade 9, veremos os aspectos de prevenção e combate a in-
cêndios. Apresentaremos as medidas de proteção ativas e passivas. Explica-
remos como é formada uma brigada de incêndio e descreveremos algumas
das medidas de segurança especiais no manuseio de líquidos inflamáveis e
combustíveis.
Ao final do material, esperamos que você tenha uma base para pensar em
ações de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais em todas as ativi-
dades que for exercer como engenheiro. Comecemos então! Bons estudos!
CURRÍCULO DO PROFESSOR

Me. Maílson José da Silva


Possui Mestrado em Engenharia Urbana pela Universidade Estadual de Maringá, Especializa-
ção em Engenharia de Segurança do Trabalho e Graduação em Engenharia de Produção pela
Universidade Estadual de Maringá (2010). Atualmente é engenheiro de segurança do trabalho
e elaborador de provas de concursos públicos. Tem experiência na área de Engenharia de
Produção e Segurança do Trabalho.
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/2624890823247854
Introdução à
Segurança
do Trabalho

13

Acidentes do
Trabalho
e Doenças
Ocupacionais

45

Higiene
Ocupacional I

75
Higiene
Ergonomia III
Ocupacional II

115 207

Segurança do
Trabalho na
Ergonomia I
Indústria da
Construção Civil

149 237

Prevenção e
Ergonomia II Combate a
Incêndios

177 271
30 Riscos em uma obra de construção civil
88 Formas de trasmissão de calor
131 Capela de exaustão química

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
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Realidade Aumentada.
Me. Maílson José da Silva

Introdução à
Segurança do Trabalho

PLANO DE ESTUDOS

Riscos Ambientais

Introdução à Segurança do Gerenciamento de Riscos


Trabalho

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Apresentar a evolução histórica da segurança do trabalho. • Explicar os processos básicos de gerenciamento de riscos
• Definir os riscos ambientais presentes nos ambientes de ambientais.
trabalho.
Introdução à
Segurança do
Trabalho

Ao ouvir o termo “trabalho”, que aspectos vêm


à sua mente? Provavelmente você pensará nas
operações que são realizadas nos diferentes ti-
pos de trabalho: colocar tijolos em uma parede,
apertar um parafuso em uma fábrica, digitar
um documento em um escritório utilizando um
computador etc. Outro aspecto que você poderá
pontuar são os benefícios do trabalho: produção
de bens, serviços, renda e o desenvolvimento eco-
nômico. No entanto, queremos, aqui, chamar sua
atenção a outro aspecto igualmente importante
relacionado ao trabalho: a segurança e saúde dos
trabalhadores. Este é um aspecto importante nas
relações trabalhistas. A produção de bens e ser-
viços depende do labor dos mais diferentes tipos
de profissionais. Atividades realizadas em escri-
tórios, de caráter mais intelectual, e atividades
realizadas em campo, com maior esforço físico,
demandam um ambiente seguro e saudável para
que possam ser realizadas de forma sustentável
por longos períodos.
A Segurança do Trabalho é a disciplina que on-line)1, desde o ano de 2012, ocorreram mais
estuda as relações entre trabalhadores e emprega- de 4,9 milhões de acidentes com trabalhadores
dores com o ambiente de trabalho. Nesta área, são com carteira assinada no Brasil. Houve um to-
necessários conhecimentos de diversos ramos tal de mais de 18.000 mortes de trabalhadores
para promover ambientes de trabalho seguros decorrentes dos acidentes. Os dias de trabalho
e saudáveis: do Direito (legislação trabalhista, perdidos com os acidentes somam mais de 389
previdenciária, civil e penal), da Física, Química milhões de dias (equivalente a 1065 milênios).
e da Engenharia (estudo da higiene do traba- Dado o impacto dos acidentes na economia e
lho, projeto de sistemas de ventilação, projeto de na vida dos trabalhadores, hoje, diversas orga-
proteções coletivas na construção de edifícios, nizações públicas e privadas atuam na área de
controle de produtos perigosos etc.), da Psico- Segurança do Trabalho, tentando diminuir as
logia (Psicologia Comportamental, Liderança, estatísticas negativas. Até chegar ao patamar atual
Motivação etc.), de Combate a Incêndios, de de preocupação e cuidado com segurança e saú-
Ergonomia etc. de dos trabalhadores, diversas iniciativas foram
Segundo dados do Observatório de Seguran- tomadas ao longo da história. A seguir, apresen-
ça e Saúde no Trabalho (SMARTLABBR, 2019, tamos algumas das quais possuímos registros.

Evolução Histórica da Segurança do Trabalho

Existem registros descrevendo aspectos de segurança e saúde no trabalho em civilizações antigas:


babilônica, grega e romana. Os papiros egípcios Sallier II e Anastasi V, datados do século XX antes de
Cristo, descrevem situações insalubres, perigosas e desgastantes nos ambientes de ofícios, tais como:
ferreiro (mal cheiro do ambiente, desgaste da pele de trabalhadores), talhador de pedra (dores nos
braços), barqueiro (esgotamento físico e ataque de mosquitos), pedreiro (desgaste físico, fortes ventos,
sujeira), dentre outras (EGIPTOSOCIEDADE, 2010, on-line2; MATTOS et al., 2011 apud BARSANO;
BARBOSA, 2014).
Na Babilônia, o código de Hamurabi (datado de, aproximadamente, 1750 a.C.) descrevia a sentença
de morte para arquitetos que projetassem uma casa que viesse a desmoronar e matar pessoas (MATTOS
et al., 2011 apud BARSANO; BARBOSA, 2014).
Em Roma, atividades de risco eram delegadas a escravos (RODRIGUES, 1982 apud BARSANO;
BARBOSA, 2014). Existia também uma instituição para tratar de questões trabalhistas, denominada
de Collegia (FRIEDE, 1973 apud BARSANO; BARBOSA, 2014).
Na Grécia, Hipócrates descreveu a intoxicação saturnina em mineiros. Este tipo de intoxicação se
dá pela exposição ao chumbo. Hipócrates, em seu tratado, explicava a relação entre o ambiente e a
saúde das pessoas. Plínio, o Velho, em seu Tratado de História Naturalis, relata a exposição ocupacio-
nal a óxido de chumbo vermelho, mercúrio e poeiras. Descreve, também, que naquela época haviam
máscaras rudimentares feitas de pano e bexiga de carneiro (BARSANO; BARBOSA, 2014). Para tratar
de questões trabalhistas, existam os Erans (FRIEDE, 1973 apud BARSANO; BARBOSA, 2014).

UNIDADE 1 15
Bernardino Ramazzini, médico Italiano (1633-1714), destacou-se na história da Segurança do
Trabalho por estudar a exposição de agentes químicos em diversas atividades, relacionando-os com
as doenças dos trabalhadores. Ele observou o acometimento de doenças em trabalhos envolvendo
arsênico, calcário, gesso, tabaco, cereais em grão e corte de pedras.
Diversas iniciativas de proteção respiratória foram desenvolvidas ao longo da história. Leonardo Da
Vinci descreveu o uso de um pano molhado para proteção respiratória e um equipamento denominado
“snorkel”, que permitia o trabalho debaixo de águas. Este fornecia ar proveniente da superfície da água,
por meio de um sistema de tubos e uma boia (TORLONI; VIEIRA, 2003).

BABILÔNIA
Código de Hamurabi (1750 a.C.)
Descrevia a sentença de morte
para arquitetos que projetassem
casas que desmoronasse e
matasse pessoas

ASPECTOS DE SEGURANÇA E SAÚDE


ITÁLIA NO TRABALHO NA ANTIGUIDADE
Bernardino Ramazzini
(1633-1714)
Considerado o pai da GRÉCIA
medicina do trabalho, Hipócrates
estudou a relação de (460-370 a.C.)
ROMA
agentes químicos com Sistematizou a
as doenças dos As atividades de risco relação do
trabalhadores eram feitas por escravos ambiente e do
e a Collegia tratava de trabalho na saúde
questões trabalhistas das pessoas

Figura 1 – Aspectos de segurança e saúde no trabalho na Antiguidade


Fonte: o autor.

Na Modernidade, por outro lado, um meio “bizarro” de proteção respiratória foi usado no período
de 1700 a 1800. Para ser bombeiro, um dos requisitos era que a pessoa tivesse barba grande e densa.
Quando molhada, a barba era tomada nos dentes e usada como protetor respiratório nos combates
a incêndios. Vale destacar que, embora seja um meio bem rudimentar, o “respirador” possivelmente
filtrava gases solúveis em água e particulados maiores que fuligens e cinzas (TORLONI; VIEIRA, 2003).
Projetos de máscaras autônomas (respiradores com fornecimento de ar) foram desenvolvidos nos
anos de 1800. Observe as imagens a seguir que ilustram o uso de dois tipos de respiradores.

16 Introdução à Segurança do Trabalho


O capuz da Figura 3 foi desenvolvido para ser
usado por bombeiros. O funil na parte inferior
captava um ar menos contaminado próximo do
solo. Este ar passava também por um filtro feito de
pano, para reter partículas sólidas, e uma esponja
molhada com água, para remover gases solúveis
em água (TORLONI; VIEIRA, 2003).
Um importante filtro de contaminantes atmos-
féricos foi desenvolvido, em 1854, por John Tyn-
dall e E. M. Shaw. O filtro era constituído por três
camadas: algodão seco, cal sodada e carvão ativo.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os ingleses
desenvolveram os filtros eletrostáticos, consti-
tuídos de fibras de lã de carneiro com resina de
breu. A sua eficiência era de 99,99% (TORLONI;
VIEIRA, 2003).
Esses são alguns exemplos do quanto a prote-
ção respiratória foi cada vez mais impulsionada
pelo aumento das atividades exploratórias, como
Figura 2 – Desenho da primeira máscara autônoma de
pressão positiva desenvolvida na Alemanha por Magirus a mineração e a exploração de petróleo. No Brasil,
– Meados de 1840 empresas estrangeiras se instalaram para fabricar
Fonte: Pritchard (1976, p. 7).
e fornecer protetores respiratórios. Atualmente,
A máscara era feita de saco de lona e impermeabili- existem diversos modelos de respiradores e no
zada com borracha. Veja a próxima (Figura 3). Brasil foi formado o CB-32 – Comitê Brasileiro
de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) –
, que desenvolve estudos visando a produção de
equipamentos de qualidade e efetivos.

Ergonomia – Aspectos
Históricos

A primeira definição de Ergonomia, datada em


meados do século XIX, no escopo do movimento
industrialista europeu, do polonês Jastrzebowski,
estabelecia que o trabalho humano é um misto de
esforço, pensamento, relacionamento e dedicação.
Os termos gregos ergon + nomos, respectivamente
Figura 3 – Desenho de más-
cara com filtro contra fumaça trabalho e leis naturais, apregoam que os atributos
– utilizada em 1825 humanos decrescem devido ao seu uso excessivo
Fonte: Pritchard (1976, p. 5).
ou insuficiente.

UNIDADE 1 17
A ergonomia visa, desde sua gênese, segundo Másculo e Vidal (2011), entender a realidade da
atividade do trabalho. Este entendimento deve ser isento de julgamentos pessoais sobre as coisas, ou
seja, é preciso utilizar observação e coleta de dados sobre os fatos que ocorre no ambiente de trabalho.
Dessa forma, a Ergonomia possibilita uma descrição mais próxima do que realmente acontece no
ambiente de trabalho, no uso e manuseio de um software ou na adoção de um layout organizacional
de trabalho. O que realmente importa é como as coisas acontecem.
Entretanto, os primeiros estudos sobre as relações homem versus trabalho vêm desde a origem
dos tempos. Utensílios de pedra lascada foram miniaturizados para melhoria da manuseabilidade
e aumento de resultados produtivos com eficiência da caça e coleta. Com o ganho de eficiência na
caça, permitiu uma divisão de trabalho diferente e diretamente a um aumento da população de seres
humanos. Passando pelos egípcios, há registros de recomendações ergonômicas para fabricação de
utensílios usados em construção civil e arranjos organizacionais para o canteiro de obra das pirâmides.
Ao avançar em uma viagem através do tempo, podemos observar alusões aos cuidados posturais
com a figura de Leonardo da Vinci e seus estudos sobre a mecânica e medidas do corpo, também co-
nhecidos como biomecânica e antropometria. Além disso, este artista também desenvolveu estudos
nas áreas de toxicologia e patologias do trabalho, advindos de aspectos físicos (temperatura e umidade)
e químicos (vapores e poeiras).
Na virada do século XIX para o século XX, a ergonomia deixa de ser ligada exclusivamente aos
fisiologistas, profissionais que desenvolveram uma série de técnicas, métodos e equipamentos que
permitiram mensurar, de forma efetiva, o desempenho do ser humano, e transforma os engenheiros
como os principais agentes ergonômicos.
Forma-se a Ergonomia Clássica no período pós-guerra, como uma disciplina estruturada a partir
de vários estudos. A partir deste momento, a ergonomia passa a ser entendida de forma mais ampla.
Na sua aplicação, utiliza-se conhecimentos sobre anatomia, fisiologia e psicologia. Observa-se como
o homem se relaciona com o seu trabalho – equipamentos e meio ambiente de trabalho.
No período pós-guerras, especificamente após o término da Segunda Guerra Mundial, surgiu uma
nova vertente da Ergonomia. Ela foi impulsionada pela necessidade de reconstrução da atividade
industrial que foi destruída em decorrência da guerra. Com a necessidade de reconstrução, surgiram
estudos sobre as condições de trabalho. Em especial, na indústria francesa de automóveis Renault, foi
criado um laboratório industrial voltado à Ergonomia. A escola francesa de ergonomia possui uma
questão própria que nos ajuda até os dias de hoje em como entender a importância desta ciência:
como projetar novos postos de trabalho considerando a situação existente? Para tanto, surgiu a Aná-
lise Ergonômica do Trabalho (AET) – ferramenta utilizada e exigida nos dias atuais por força de Lei.
Por meio da AET, o posto de trabalho pode ser concebido de tal forma a ser realmente utilizado pelo
trabalhador no seu dia a dia.
No início do desenvolvimento dos estudos sobre a área, havia três linhas de pensamento: a primei-
ra oriunda das escolas de engenharia com desdobramentos sobre os cursos de desenho industrial; a
segunda da escola brasileira de design; e a última das escolas de psicologia.
Ainda que de forma difusa e pontual, estes estudos determinaram várias contribuições para a ciência
da ergonomia, adaptação de produtos e dos postos de trabalho. Muitas pesquisas evoluíram na área,
além de integrar novos conhecimentos da fisiologia. Neste momento, diz-se que a ergonomia ainda

18 Introdução à Segurança do Trabalho


era, aqui no Brasil, puramente universitária. Após este período de muito estudo e pesquisa, temos a
fase de disseminação do conhecimento nos planos educacional, público e de mercado.

Instituições de SST

As instituições ligadas à área de segurança e saúde do trabalho estão presentes em diversos países, es-
pecialmente nos Estados Unidos e na Europa existem instituições de referência. Elas desenvolvem boas
práticas, procedimentos e padrões de referência para todos os demais países. No Brasil, como uma das
principais instituições, temos a presença da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina
do Trabalho (FUNDACENTRO) que estuda e pesquisa as condições dos ambientes de trabalho. Ela
produz materiais com orientações e especificações técnicas nas mais diferentes áreas, como no setor
da Construção Civil, na Indústria Química e na Agricultura.
Confira, a seguir, a lista de alguns órgãos e instituições ligados à área de Segurança e Saúde do Trabalho:
• NIOSH (National Institute of Occupational Safety and Health) – agência norte Americana
estabelecida em 1970, focada no estudo da saúde e segurança do trabalhador e no empodera-
mento de trabalhadores e empregadores para criar ambientes de trabalho seguros e saudáveis
(NIOSH, 2018). Dentre os trabalhos desenvolvidos por esta instituição, destacamos o Manual
de Estratégia da Amostragem, para avaliação da exposição ocupacional a agentes químicos.
• OSHA (Occupational Safety and Health Administration): organização que faz parte do
Departamento do Trabalho dos Estados Unidos. Ela estabelece padrões e promove treina-
mentos, educação e assistência na área de Segurança do Trabalho.
• ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists): estabelece limites
de exposição ocupacional para agentes físicos e químicos. Estes limites são usados como
referência no Brasil.
• AIHA (American Industrial Hygiene Association): fundada em 1939, é uma organização
sem fins lucrativos voltada para os profissionais da higiene ocupacional. Estes fazem a an-
tecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos ambientais (AIHA, 2019).
• ANIMASEG (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao
Trabalho): congrega empresas fabricantes de material de segurança do trabalho no Brasil
(ANIMASEG, (2020),online)3.
• ABHO (Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais): associação criada em 1994 com
fins de estudos e ações voltados para a Higiene Ocupacional. Por meio desta associação, o
profissional de Higiene Ocupacional pode se qualificar e receber certificação na sua área
de atuação (ABHO, (2020),online)4.
• Ministério da Economia: formado pelo antigo Ministério do Trabalho e Emprego. Este pu-
blicou a portaria n° 3.214, em 1978, que trouxe um conjunto de normas regulamentadoras
com requisitos para o desenvolvimento de trabalho seguro e saudável no campo de trabalho
brasileiro. As normas são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e
pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, desde que possuam empregados
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 1978a).

UNIDADE 1 19
Todo trabalho e conhecimento desenvolvido ao
longo dos anos estão voltados para a prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais. Como vimos,
ações voltadas para a segurança no trabalho foram
desenvolvidas aos poucos, à medida que doenças
relacionadas ao trabalho foram identificadas e
organizações formadas para defender os direitos
dos trabalhadores foram instituídas. Ao longo dos
anos, a relação entre o trabalho e doenças fica
cada vez mais evidente. Isso acontece porque os
ambientes de trabalho possuem riscos conhecidos
como riscos ambientais que causam essas doen-
ças. A seguir, explicaremos o que são estes riscos.

20 Introdução à Segurança do Trabalho


Riscos Ambientais

Prezado(a) estudante, a palavra “risco” remete à


ideia de algo que pode acontecer e que terá algu-
ma consequência (negativa ou positiva). Vivemos
cercados de riscos: de morte, de bater o carro, de
perder um ônibus, de obter sucesso com um novo
produto, de se diferenciar da concorrência etc.
Assim, é fácil assimilarmos o significado dessa
palavra. E a palavra “ambiente”? Qual é o seu signi-
ficado? Você provavelmente não terá dificuldades
para descrevê-la, pois vivemos no ambiente terres-
tre, trabalhamos em ambientes abertos e fechados,
buscamos um ambiente tranquilo para descansar
etc, ou seja, essa palavra é de uso corriqueiro e
remete à ideia de um local em que ações de nos-
so interesse ocorrem. Contudo, juntando as duas
palavras, o que seria um risco ambiental? Para
responder, consideremos a realidade dos locais
de nosso interesse: os postos de trabalho.

UNIDADE 1 21
Uma atividade laboral sempre acontece em das pessoas que ali laboram. É preciso avaliar a
um ambiente, seja a céu aberto (construção civil, quantidade de álcool presente no local, o tempo
atividades de agricultura, escavações, capinagem de permanência das pessoas próximo ao produ-
de terrenos, corte de grama etc.) ou em locais to e a concentração do referido agente químico.
fechados (atividades em laboratórios químicos, Podemos afirmar que um agente ambiental pode
aulas, elaboração de projetos de engenharia, sol- se transformar em um risco ambiental quando
dagem de peças metálicas etc.). Esse ambiente, os três elementos natureza, concentração/inten-
por conter uma série de elementos (também cha- sidade e tempo de exposição atuam de forma a
mados de agentes ambientais), como materiais oferecer um risco de agravamento à saúde dos
utilizados no processo de trabalho, equipamen- trabalhadores.
tos, fontes de energia, dentre outros, poderá ofe-
recer risco à saúde daqueles que atuam nele.
Aluno(a), observe o destaque que fizemos no
termo “poderá”. Queremos dizer que um ambien-
te de trabalho pode ou não oferecer risco à saúde Quantitativamente, podemos dizer que “risco” é o
dos trabalhadores. resultado da multiplicação entre a probabilidade
de ocorrência de um determinado evento com o
valor da sua consequência.

Consideram-se riscos ambientais os agentes exis-


tentes nos locais de trabalho que, em função de Para você entender melhor, anote aí os agentes
sua natureza, concentração ou intensidade e de ambientais (que podem se tornar riscos ambien-
tempo de exposição a eles, são capazes de causar tais) passíveis de existirem em um ambiente de
danos à saúde dos trabalhadores. trabalho:
Fonte: adaptado de Brasil (1978a) • Agentes físicos: ruído, calor, frio, radiação
ionizante, radiação não ionizante e vibra-
ções.
A salubridade do ambiente de trabalho depende- • Agentes químicos: poeiras, fumos, né-
rá não somente dos agentes ambientais presentes voas, particulados, gases e vapores.
no local, mas também da sua natureza, concen- • Agentes biológicos: bactérias, fungos,
tração ou intensidade e tempo de exposição a vírus etc.
esses agentes, por parte dos trabalhadores. Assim,
por exemplo, a simples presença de álcool etíli- Vamos entender um pouco mais sobre cada um
co em uma sala não configura um risco à saúde deles?

22 Introdução à Segurança do Trabalho


Agentes Físicos

Os agentes físicos são formas de energia presentes nos ambientes


de trabalho, talvez o mais conhecido deles seja o ruído. Este pos-
sui uma intensidade de pressão sonora que é medida em decibéis
(dB). Quanto maior o valor da intensidade, maior pode ser o dano
ao trabalhador exposto sem proteção adequada. Este dano pode
ser tanto auditivo (perda auditiva induzida por ruído) como não
auditivo. Assim, surge a questão: qual intensidade de ruído não
irá causar perda auditiva nos trabalhadores? No Brasil, existe a
portaria do Ministério do Trabalho e Emprego 3.214/78 que esta-
belece a norma regulamentadora NR-15 - Atividades e operações
insalubres. Esta norma contém um quadro com a intensidade do
ruído contínuo ou intermitente e o tempo máximo de exposição
dos trabalhadores (ela contém, também, limites de tolerância para
outros agentes ambientais). Veja, a seguir, as intensidades de ruído
e o tempo máximo permitido para cada intensidade.
Tabela 1 - Limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente segundo NR-15

NÍVEL DE RUÍDO dB(A) Máxima Exposição Diária Permissível


85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
Fonte: Brasil (1978b, on-line).

UNIDADE 1 23
Observe que a Tabela 1 se refere a limites de tolerância. Esse termo fica exposto a ruídos acima
é muito comum na higiene ocupacional. O limite de tolerância de- de 85 dB(A), será necessário
termina a intensidade ou concentração de um agente ambiental que um equipamento que atenue
não irá causar danos à saúde da maioria dos trabalhadores durante a exposição no ouvido do tra-
sua vida laboral. Isso por que a sensibilidade a cada agente ambien- balhador, no mínimo, para ní-
tal pode variar de pessoa para pessoa. Portanto, nem sempre uma vel inferior de 85 dB(A). Cada
exposição a agente ambiental abaixo do limite de tolerância pode equipamento possui um nível
garantir que não haverá agravos à saúde. Na coluna da esquerda, de atenuação que pode variar
temos o nível de ruído medido em decibéis, e na coluna da direta, em função da frequência de
temos o tempo máximo permissível para o respectivo nível de ruído. som. Isso significa dizer que,
Por exemplo, uma exposição de 85 dB(A) durante 8 horas é aceitável. além de conhecer a intensida-
de do ruído no local, é preci-
so conhecer a sua frequência
(medida em Hertz (Hz)) para
determinar o equipamento de
A Norma Regulamentadora NR-15 é utilizada para verificar a salu- proteção individual mais ade-
bridade dos locais de trabalho. É muito aplicada nos chamados lau- quado.
dos de insalubridade e também no Laudo Técnico das Condições Um segundo tipo de agente
Ambientais do Trabalho (LTCAT), que é um documento utilizado físico é o calor, que é também
nos processos de aposentadoria especial. Conheça mais a NR-15 uma forma de energia que pode
acessando o link: http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no- ser transmitida por três manei-
-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras ras: condução, convecção e irra-
diação. Na condução, o calor é
transmitido de um sólido para
Para proteger os trabalhadores expostos ao ruído, pode-se aplicar outro, por meio de contato. Na
medidas de controle coletivas e/ou individuais. As medidas cole- convecção, o calor é transmi-
tivas são aquelas que beneficiarão vários trabalhadores. Exemplos: tido por meio de fluidos, seja
retirada de fonte de ruído de um local (uma máquina ou ferramenta de camadas de ar com maior
ruidosa), aperto de parafusos para evitar vibração excessiva em má- temperatura para camadas mais
quinas, instalação de camadas absorventes sobre a fonte geradora frias ou massas de um líquido,
de ruído etc. por exemplo a água, com maior
Após a aplicação das medidas coletivas, são aplicadas as medidas temperatura para outra massa
individuais. Em alguns casos, essas são as únicas medidas aplica- de líquido fria. Na irradiação,
das. Elas se constituem em fornecer os chamados equipamentos de o calor se propaga pelo ar de um
proteção individual (EPI). corpo com maior temperatura
Existem, no mercado, os protetores auriculares de inserção ou o para outro de menor tempera-
tipo concha. O primeiro é inserido no canal auditivo do usuário e tura. Isso acontece em regiões
o segundo não é inserido, ele apenas cobre o ouvido. Eles podem próximas de fornos que trans-
ser utilizados individualmente ou de forma combinada. A espe- mitem o calor para o ambiente
cificação do equipamento adequado dependerá da intensidade vizinho. A exposição ao calor
do ruído. Por exemplo, se em 8 horas de trabalho o trabalhador ocorre em ambientes abertos

24 Introdução à Segurança do Trabalho


(trabalho na construção civil, condução de veí- Algumas medidas de controle para evitar a so-
culos, instalação de redes elétricas e cabos de fio brecarga térmica são: aclimatizar trabalhadores
de telefone etc.) e fechados (cozinhas industriais, que estarão expostos constantemente ao calor;
operação de fornos em indústrias, fundições etc.). conceder pausas para descanso fora do local de
Para avaliar se o ambiente de trabalho oferece exposição ao calor; isolar termicamente as fontes
riscos à saúde dos trabalhadores devido à exposi- de calor; diminuir o tempo de exposição etc.
ção do calor, bem como para implementar pausas O terceiro tipo de agente físico conhecido é o
adequadas para evitar a sobrecarga térmica, po- frio. Na verdade, ele se refere à falta de calor ade-
de-se medir a temperatura do local pelo chamado quado em ambientes de trabalho. A exposição ao
Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo frio acontece em câmaras refrigeradas, açougues e
(IBUTG). Este índice é medido por meio de três indústrias alimentícias. Ela pode acontecer em lo-
instrumentos de medição: termômetro de bulbo cais geográficos em que a temperatura é mais bai-
seco (Tbs), termômetro de globo (Tg) e termô- xa. De acordo com Vendrame (2015), o frio pode
metro de bulbo úmido natural (Tbn). Compa- provocar o enregelamento dos membros, pois a
ra-se o valor medido com valores estabelecidos circulação periférica do corpo fica reduzida. Isso
na já citada norma regulamentadora NR-15 e/ pode se agravar, formando gangrena e até a ampu-
ou na Norma de Higiene Ocupacional NHO-06 tação de membros. De forma legal, o artigo 253 da
- Avaliação da Exposição Ocupacional ao Calor. Consolidação das Leis do Trabalho estabelece que:

Art. 253 - Para os empregados que trabalham no interior das câmaras frigoríficas e para os que movi-
mentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois de 1 (uma) hora
e 40 (quarenta) minutos de trabalho contínuo, será assegurado um período de 20 (vinte) minutos de
repouso, computado esse intervalo como de trabalho efetivo.
Parágrafo único - Considera-se artificialmente frio, para os fins do presente artigo, o que for inferior,
nas primeira, segunda e terceira zonas climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho, Industria
e Comercio, a 15º (quinze graus), na quarta zona a 12º (doze graus), e nas quinta, sexta e sétima zonas
a 10º (dez graus) (BRASIL, 1943).

Esse dispositivo legal traz uma medida de controle Outros agentes físicos que podem ser encon-
para a exposição ao frio (pausas a cada 1 hora e 40 trados nos ambientes laborais são as radiações
minutos, no caso de trabalhadores no interior de ionizantes e não ionizantes. As radiações io-
câmaras frigoríficas) e também estabelece o que é o nizantes provocam a cisão de átomos, elas são
ambiente artificialmente frio. Observe que esse am- representadas pelo raio-x, partículas alfa, beta e
biente pode variar conforme a região geográfica do gama, dentre outras substâncias com esse potencial
Brasil. Além da concessão de pausas, outras medi- de ionização. São muito utilizadas na medicina,
das são: fornecer equipamento de proteção indivi- para diagnósticos e tratamento de doenças, seus
dual, como luvas, botas e capuz; realizar o controle efeitos são somáticos – que não se transmitem
médico dos trabalhadores expostos e transmitir hereditariamente – ou genéticos – cujos efeitos
informações sobre procedimentos de segurança e se transmitem hereditariamente. Alterações nos
saúde para trabalhar em ambientes frios. sistemas humanos podem ocorrer, como altera-

UNIDADE 1 25
ção do sistema hematopoiético (diminuição no queimaduras (no caso da exposição à radiação
número de plaquetas, por exemplo), no aparelho infravermelha). As medidas de controle envol-
digestivo, na pele, no sistema reprodutor (redução vem a utilização de roupas de proteção da pele
da fertilidade), nos olhos, no sistema cardiovascu- e proteção dos olhos, limitação do tempo de ex-
lar, no sistema urinário e no fígado (SALIBA, 2014). posição e distanciamento da fonte de radiação
Como medidas de controle para esse tipo de agente, (SALIBA, 2014).
temos a blindagem de fontes de radiação ionizan- Quando os trabalhadores utilizam máquinas
te, utilizando materiais como chumbo, concreto e e ferramentas, geralmente estão expostos às vi-
metal. Indivíduos expostos devem ser monitorados brações. Esse agente ambiental pode provocar
e deve-se afastar mulheres grávidas desse tipo de incômodos lombares, alteração degenerativa pri-
risco ambiental. Aumentar a distância entre o tra- mária das vértebras e dos discos intervertebrais,
balhador e a fonte pode ser eficaz também. danos vasculares, neurológicos e musculares
As radiações não ionizantes não provocam a (SALIBA, 2014). As vibrações podem ser dividi-
cisão de átomos, apenas aumenta sua energia in- das em dois tipos: aquelas transmitidas ao corpo
terna (VENDRAME, 2015). são elas: ultravioleta, inteiro e aquelas transmitidas por meio das mãos
radiação visível e vermelha, laser, micro-ondas e e braços. A primeira ocorre quando o trabalha-
radiofrequências (SALIBA, 2014). Talvez a mais dor está sobre uma superfície vibratória: ônibus,
comum delas seja a radiação ultravioleta – que carro, trator, plataforma de trabalho; a segunda
está presente em ambientes abertos com expo- ocorre na utilização de máquinas e ferramentas:
sição direta ao sol. motosserras, furadeira, lixadeira etc. 
Conhecer os índices UV da região que está Algumas das medidas de controle para evi-
sendo analisada é útil para dimensionar a expo- tar danos devido à exposição às vibrações são:
sição dos trabalhadores a esse agente. Os efeitos realizar vigilância da saúde dos trabalhadores
da radiação não ionizante no organismo humano expostos às vibrações, calibrar pneus de veículos,
podem variar conforme o tipo de radiação, tem- utilizar assentos com amortecedor de vibração,
po de exposição e proteções utilizadas. Alguns aplainar superfícies por onde passam os veículos
efeitos são: escurecimento da pele, eritemas pig- e utilizar ferramentas antivibratórias ou ferra-
mentação retardada (no caso da exposição aos mentas que produzam níveis de vibração mais
raios ultravioleta); lesões na pele e olhos, com baixos (SALIBA, 2014).

26 Introdução à Segurança do Trabalho


Agentes Químicos

Os agentes químicos ocorrem nos ambientes de trabalho na forma de poeira, fumos, névoas, gases e
vapores. Eles podem penetrar no organismo por meio das vias aéreas, via cutânea e pela ingestão de
alimentos contaminados. Hoje, existem uma infinidade de agentes químicos produzidos artificial-
mente. Caso queira conhecer o total de agentes químicos registrados, acesse o site do CAS, nele há o
registro de 143 milhões de substâncias orgânicas e inorgânicas divulgadas na literatura, desde os anos
de 1800 (CAS, 2018).
As poeiras no ambiente de trabalho são pequenas substâncias sólidas que ficam em suspensão
no ar. Elas surgem, por exemplo, quando é feita a varrição do ambiente de trabalho ou a moagem de
alguma substância.
Os fumos são vapores condensados no ar que surgem termicamente, após a volatilização de subs-
tância, como o chumbo ou o zinco (SALIBA, 2014)e estão presentes nas atividades de solda. As névoas
surgem do rompimento mecânico de líquidos, como no caso da pintura a pistola.
As neblinas são mais difíceis de serem geradas são partículas líquidas formadas por condensação
de vapores de substâncias líquidas. Os gases são substâncias que as condições normais de temperatura
e pressão, estão no estado gasoso é o caso da utilização de gás de amônia em abatedouros de aves. Os
vapores são desprendidos por líquidos voláteis, ou seja, é a fase gasosa do líquido. Eles estão presentes
em muitas operações da indústria química e das indústrias que utilizam solventes, como a acetona,
o álcool e a gasolina. Os agentes químicos, como as poeiras, podem causar pneumoconioses, efeitos
tóxicos, efeitos alérgicos e enfermidades leves e reversíveis (como bronquite e resfriados). Ainda, há
diversos outros efeitos, como corrosão de superfícies, nocividade para a pele, lesões oculares, quei-
maduras e morte.
Vale destacar que para conhecer os efeitos de um determinado agente químico, bem como as
medidas de segurança em caso de emergências e para proteção durante o uso do produto, é preciso
consultar a Ficha de Informações de Segurança do Produto Químico - FISPQ. Esta ficha contém fra-
ses de risco, frases de precaução, informações físicas e químicas sobre o produto, EPIs recomendados,
dentre outras informações.

Caro(a) aluno(a), o conteúdo da FISPQ é dado pela Norma ABNT 14725:2009. Conheça um modelo
de FISPQ acessando o link:
http://www.anidrol.com.br/fispq/XILOL%20PA%20-%20COD%20%20A-2415.pdf

UNIDADE 1 27
Para avaliar a exposição ocupacional a agentes químicos, pode-se
fazer avaliação qualitativa e/ou quantitativa. Na primeira, é feito
um levantamento de todas as substâncias químicas manuseadas
no processo produtivo, bem como as quantidades e forma de ma-
nipulação. Utiliza-se a FISPQ para verificar os danos do produto,
visando estabelecer medidas de controle. A partir dessa análise
qualitativa, é feita a avaliação quantitativa que permite detalhar a
concentração do agente químico no ambiente. Essa quantificação
é necessária para dimensionar a exposição dos trabalhadores e
para verificar a eficácia das medidas de controle. É verificada a
concentração de agentes químicos antes e após a implementação
das medidas de controle.
Como sabemos que o agente químico penetra no organismo
humano pelas vias aérea, cutânea e por ingestão, as medidas de
controle para este risco ambiental é a utilização de barreiras que
atuem nessas vias. Antes de aplicar tais barreiras, vale estudar se a
substância química pode ser substituída por uma substância menos
tóxica ou se é possível diminuir a disseminação da substância no
ambiente. Reduzir a quantidade manipulada no trabalho também
tem impacto positivo na redução do risco. As barreiras para evitar o
contato do agente químico com o corpo humano são: enclausurar a
operação, para evitar a liberação do agente químico; realizar a ope-
ração em local afastado do maior número de trabalhadores possível;
realizar operações que envolvem agentes químicos em horários de
menor exposição aos trabalhadores; umidificar o ambiente, no caso
da exposição à poeira; instalar ventiladores e exaustores no local,
para diluir a concentração do agente químico no ar ou diminuir sua
concentração; instalar exaustores para captar e remover o agente
químico do ambiente; e utilizar EPI, como luvas, óculos, roupas de
corpo inteiro e respiradores (essa barreira atua somente no traba-
lhador que utiliza o EPI de forma correta e regular).

28 Introdução à Segurança do Trabalho


Agentes Biológicos

Esses agentes são bactérias, bacilos, vírus, protozoários, dentre


outros microrganismos que podem causar doenças nos trabalha-
dores. Diversas operações oferecem esse tipo de risco ambiental,
como o trabalho em hospitais, laboratórios, estábulos, gabinetes
de autópsias, coleta de lixo urbano etc. O risco biológico é in-
visível, podendo causar doenças e infecções, além da morte dos
indivíduos expostos (VENDRAME, 2015).
O agente biológico pode adentrar o organismo humano por
meio das rotas aérea (inalação), dérmica (contato com a pele ou
mucosas), parenteral (contato direto com sangue ou fluidos),
ingestão (alimentar-se ou fumar no ambiente de trabalho) e
também por meio da transmissão, através de vetor artrópode
(VENDRAME, 2015). Algumas doenças bem conhecidas causa-
das por agentes biológicos são: AIDS, tuberculose, dengue, ebola,
hepatites B e C, gripe asiática etc.
Para controlar a exposição aos agentes biológicos, evitando
que se tornem riscos biológicos, o prevencionista pode buscar
as seguintes medidas de controle: instalar barreira física, por
meio de equipamento de proteção individual, no corpo do tra-
balhador (luvas, máscaras, óculos, jaleco, sapato fechado etc.);
comprar, treinar e exigir o uso de desinfetantes e bactericidas;
implementar um manual de boas práticas na manipulação de
material biológico; providenciar a vacinação dos trabalhadores
(VENDRAME, 2015); utilizar filtro de ar nos ambientes climati-
zados; evitar vazamentos e infiltrações no ambiente de trabalho;
controlar roedores, morcegos e ninhos de aves; providenciar
material descartável e esterilizado; e implementar o controle
médico para monitorar a saúde dos trabalhadores expostos a
agentes biológicos (SALIBA, 2014).

UNIDADE 1 29
Outros Riscos Ambientais

Além dos agentes físicos, químicos e biológicos, existem situações


que também oferecem riscos à segurança e saúde dos trabalhadores.
Podemos destacar as situações ligadas a fatores mecânicos (piso
desnivelado, piso escorregadio, parte móveis de máquinas, super-
fícies cortantes, materiais energizados etc.) e a fatores ergonômicos
(movimentos repetitivos, trabalho em pé, esforços excessivos, in-
clinação da coluna, levantamento de cargas, monotonia etc.). Estes
fatores não são considerados obrigatoriamente agentes de risco
pelos Programas de Prevenção de Riscos Ambientais, porém podem
gerar acidentes e doenças.
Conforme vimos, os ambientes de trabalho podem apresentar
diferentes tipos de riscos classificados em cinco grupos: físicos,
químicos, biológicos, mecânicos e de falta de adaptação ergonômica.
Cada risco possui técnicas de análise e avaliação para confirmar
seu grau de agressividade ao homem. O controle e eliminação dos
riscos ambientais são feitos por meio do gerenciamento de riscos,
assunto do próximo tópico.

Riscos em uma obra de construção civil

30 Introdução à Segurança do Trabalho


Gerenciamento
de Riscos

Conforme vimos, os ambientes de trabalho pos-


suem riscos de diferentes naturezas. Ao identifi-
car sua presença no ambiente de trabalho, o que
devemos fazer? É necessário eliminar todos os
riscos? Haverá recursos financeiros, humanos e
tempo para eliminar ou reduzir todos os riscos?
A resposta a essas perguntas pode ser dada por
meio de um gerenciamento das informações re-
lacionadas aos riscos.
Gerenciar riscos significa fazer a sua identifi-
cação, análise, avaliação e propor medidas de con-
trole para que os riscos evitem perdas humanas
(mortes, doenças, incapacitação temporária ou
permanente), materiais (perda de material, danos
em equipamentos, destruição de instalações) e
financeiras. A Figura 4 ilustra os quatro processos
básicos do gerenciamento de riscos.

UNIDADE 1 31
Tratamento
de riscos

Avaliação
de riscos

Análise
de riscos

Identificação
de riscos

Figura 4 – Processos básicos do gerenciamento de riscos


Fonte: Silva (2018, p. 112).

Os profissionais que lidam com Segurança do Trabalho fazem o


gerenciamento de riscos diariamente. É preciso estar atento para
identificar riscos de acidentes e doenças do trabalho, independen-
temente de sua gravidade. A análise e avaliação de cada risco são
realizadas de forma sequencial, após a identificação, ou de forma
paralela, isto é, ao mesmo tempo em que se identifica o risco já é
feita a sua análise e avaliação. Vejamos, a seguir, as ações tomadas
em cada processo do gerenciamento de riscos.

Processos básicos de gerenciamento de riscos são os processos


necessários para identificar e tratar adequadamente os riscos
ambientais.

32 Introdução à Segurança do Trabalho


Identificação de Riscos

O primeiro passo para gerenciar riscos em um ambiente laboral é


fazer a sua identificação. Em muitas ocasiões, não percebemos que
existe um perigo no ambiente de trabalho. Situações, como piso
escorregadio, proximidade com linhas de transmissão de energia
elétrica, transporte inadequado de materiais, dentre outras, apre-
sentam riscos de acidentes que nem sempre são identificados. Na
identificação do risco, uma situação com probabilidade de gerar
danos passa a ser conhecida e temos o seu registro formal. Cada
situação de risco deverá ser tratada posteriormente.
Nossa percepção do risco nos ambientes de trabalho tende a
aumentar quando não olhamos para uma operação com apenas o
objetivo de executá-la. Quando enxergamos um trabalho do ponto
de vista da segurança e dos riscos presentes, podemos identificar
uma série deles que não seriam identificados até mesmo pela pes-
soa que realiza o trabalho. A falta de uma cultura de segurança do
trabalho nas empresas acaba por influenciar negativamente nossa
percepção dos riscos. Muitos trabalhadores convivem com os ris-
cos sem maiores preocupações. Na ocorrência de um acidente, a
situação será alarmante e, então, alguns irão perguntar: quem foi o
culpado? Por que nada foi feito para evitar o acidente?
Portanto, identificar e documentar os riscos constitui um passo
importantíssimo para que todos tenham consciência da probabi-
lidade e possíveis danos decorrentes de um risco ambiental. Para
melhorar nossa percepção dos riscos, podemos utilizar algumas
ferramentas.
Os checklists nos ajudam a lembrar de pontos críticos na exe-
cução de um trabalho. Veja, no Quadro 1, um exemplo de checklist.

UNIDADE 1 33
Quadro 1 – Exemplo de checklist de segurança do trabalho
PROTEÇÃO COLETIVA SIM NÃO NA EP
Possui sistema de exaustão geral no ambiente do laboratório?

Possui sistema de exaustão local para equipamentos que libe-


ram vapores ou gases?
Máquinas e equipamentos possuem sistemas de proteção em
suas partes móveis?

Existe cabine de exaustão de gases e vapores no setor?

Máquinas e equipamentos perigosos possuem sistema de blo-


queio para pessoas não autorizadas?

Cabine de fluxo laminar possui anteparos de proteção coletiva?

O setor possui sinalização de segurança?


Os equipamentos possuem sinalização de risco?
Escadas fixas possuem dispositivos de segurança (corrimão,
guarda-corpo...)
HIGIENE QUÍMICA SIM NÃO NA EP
Alimentos e bebidas são guardados e ou consumidos no labo-
ratório?
Existem cartazes proibindo o uso de geladeiras para guardar
alimento e bebidas?
Existem cartazes proibindo o uso de micro-ondas para fins
alimentares?
É terminantemente proibido frequentar o laboratório sem os
trajes adequados?

Há o uso de papel absorvente para atividades com reagentes?

Existe um agente absorvente para casos de derramamentos de


produtos químicos?

O laboratório possui sistema de gerenciamento de resíduos?

Existe local adequado para limpeza de equipamentos destinados


à aplicação de defensivos?

Fonte: adaptado de Universidade Federal de Viçosa ([2019], on-line)5.

Este modelo é aplicado para o ambiente de um laboratório de ensino e pesquisa de uma universidade.
Observe que o checklist faz perguntas sobre itens de segurança que são respondidas por meio de uma
visita e observação do local. Caso fosse feita uma inspeção sem o checklist, muitos dos itens contidos
nele passariam desapercebidos pelo inspetor. Além de usar checklists prontos, é recomendado que
sejam elaborados modelos pelo próprio inspetor ou equipe de segurança do local. É preciso que o
checklist atenda às necessidades de cada organização.

34 Introdução à Segurança do Trabalho


Os fluxogramas de processos produtivos fornecem uma visão geral de todo processo. Cada etapa
produtiva é identificada e o responsável por identificar os riscos terá uma referência para saber quais
locais/processos deverão ser inspecionados. Os fluxogramas mostram as etapas/atividades de um
processo. Veja um exemplo na Figura 5.

Corte de
cana-de-açúcar

Recepção Lavagem Preparo


da cana da cana da cana

Coleta de água

Extração
do caldo

Tratamento Geração de
do caldo energia e vapor

Fabricação Fabricação Energia para a


de açúcar de álcool população e
para a usina

Indústria Indústria Comércio Combustível Indústria de Mistura


alimentícia de atacadista/ para o bebidas e na
e ração alimentos varejista carro cosméticos gasolina
animal

Figura 5 – Exemplo de fluxograma de processo


Fonte: Silva (2018, p. 124).

O fluxograma (Figura 5) mostra o processo global de uma usina de cana-de-açúcar. Podemos analisar
os riscos em cada etapa do processo mapeado. Observe que o fluxograma nos dá uma orientação das
áreas em que deverão ser identificados os riscos.
A investigação de acidentes é outra ferramenta de identificação. Acidentes acontecem devido ao
mal gerenciamento dos riscos ambientais e, em algumas situações, os riscos são percebidos apenas após
a ocorrência de um acidente. Na investigação, são levantadas as possíveis causas do acidente e, depois,
cada hipótese é analisada. Acidentes são causados pelo fator humano e pelas condições inseguras do
ambiente. Mudanças em processos e nas condições de trabalho são feitas após a ocorrência de acidentes.

UNIDADE 1 35
Análise de Riscos

Este processo faz o detalhamento das característi-


cas de um risco. Considere o caso de trabalho em As técnicas de análise de risco são: série de ris-
altura na indústria da construção civil. Este tipo de cos, análise preliminar de riscos (APR), análise de
trabalho é necessário e constante em muitas obras. modos de falhas e efeitos (AMFE), técnica de inci-
Como você pode imaginar, existe um risco de dentes críticos, análise de árvore de falhas (AFF).
queda dos trabalhadores que fazem a construção Fonte: adaptado de Carlos ([2019], on-line)6.
de telhados, que trabalham em lajes de edifícios,
dentre várias outras operações executadas acima
de um nível inferior. Avaliação de Riscos
Saber que existe o risco é fazer a sua identi-
ficação. No entanto, analisar este risco é fazer a A avaliação de riscos compreende calcular a
seguinte pergunta: como exatamente é o risco de magnitude de um risco. Para isso, utilizamos es-
queda em altura? Na análise, iremos identificar tatísticas de acidentes e registro de valores gastos
como o risco pode culminar em um acidente. Por com eles. A avaliação envolve estimar a frequên-
exemplo, pode-se analisar que a falta de equipa- cia de ocorrência de acidentes, sua probabilidade
mento de proteção individual ou de proteção e os possíveis valores financeiros decorrentes
coletiva que restrinja os trabalhadores de atingir das perdas.
áreas de risco de queda é uma causa importante Para realizar a avaliação, são necessários re-
do risco. O trabalho em proximidade com o perí- gistros de acidentes ao longo do tempo. Catego-
metro de um telhado proporciona um risco maior rizar os acidentes por tipo de agente também irá
de queda. A condição das telhas de um telhado fornecer dados sobre a magnitude de cada risco.
tem grande influência no grau de risco. Materiais Neste sentido, é importante existir um sistema de
antigos estarão mais deteriorados. Ainda, pode-se registro de acidentes e de incidentes. É preciso
analisar também que o trabalho em dias chuvo- estimular e valorizar a comunicação de todo aci-
sos aumenta mais ainda o risco de queda. A falta dente e dos quase acidentes para que seja criado
de treinamento ou a condição psicológica dos um banco de dados. A título de exemplo, observe
trabalhadores também influenciam no risco de as Tabelas 2 e 3 que mostram dados de acidentes
queda. Enfim, em uma análise de risco, causas, de uma empresa.
consequências e grau de risco são levantados. Es-
sas informações serão úteis para saber o quão ur-
gente uma medida de controle deverá ser adotada.

Toda análise de risco deve ser objetiva e útil para


Tenha sua dose extra de os trabalhadores. Criar documentos sem utili-
conhecimento assistindo ao
dade prática pode ser uma prática frustrante. A
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code. análise de risco deve ser conhecida e realmente
utilizada por aqueles que executam o trabalho.

36 Introdução à Segurança do Trabalho


Ano Nº de acidentes

1 8
2 6
3 10
4 11
5 5

Tabela 2 – Número de acidentes por ano


Fonte: Silva (2018, p. 146).

A Tabela 2 mostra um resumo do número de acidentes durante cinco anos. Estes dados podem ser
comparados com o número total de trabalhadores em cada ano, conforme a Tabela 3.

Frequência de
Ano Nº de acidentes Nº de trabalhadores
acidentes
1 8 1000 0,008
2 6 1000 0,006
3 10 1000 0,010
4 11 1000 0,011
5 5 1000 0,005
Total 40 5000 0,008

Tabela 3 – Frequência de acidentes


Fonte: Silva (2018, p. 146).

Os dados das tabelas nos mostram que o número de trabalhadores, ao longo de cinco anos, perma-
neceu o mesmo e o número de acidentes foi variável. O valor de frequência de acidentes representa a
quantidade de acidentes pelo total de trabalhadores. Estes dados servem para monitorar a ocorrência
de acidentes e demais eventos que indicam o grau de risco de uma atividade.
Conforme a avaliação de cada risco, a organização poderá gerenciar os riscos por conta própria
ou transferir os riscos para um terceiro. Isso pode ser visto nos contratos estabelecidos entre empre-
sas, em que as cláusulas definem as responsabilidades da contratada em relação ao cumprimento de
normas de segurança do trabalho. No entanto, destacamos que a empresa contratante não se exime
de suas responsabilidades no campo de segurança do trabalho, nas atividades desenvolvidas em suas
dependências. Outra forma de transferir os riscos é por meio de seguros. As seguradoras oferecem
cobertura a perdas conforme o valor pago de seguro. Em algumas situações, é possível pagar um valor
mais baixo de seguro se a organização reduzir os riscos existentes em suas instalações.

UNIDADE 1 37
Tratamento de Riscos

O tratamento de riscos envolve implantar medidas de controle coletivas e individuais para eliminar ou
reduzir os riscos identificados, analisados e avaliados. Existem diversas soluções de proteção coletiva,
conforme a atividade:
• Utilização de exaustores, ventilação local e ventilação geral diluidora, para os postos de trabalho
com exposição a agentes químicos.
• Utilização de barreiras acústicas para reduzir o nível de ruído no ambiente.
• Utilização de proteção contra quedas, como guarda-corpo e linha de vida, na indústria da
construção civil.
• Equipamentos de proteção individual para proteger cabeça, membros inferiores, membros
superiores, sistema respiratórios, dentre outras partes do corpo etc.

Essas medidas devem ser implantadas, preferencialmente, em um Programa de Prevenção e Controle


de Perdas. O que isso significa? Significa que implantar medidas de controle de forma isolada não
gerará resultados satisfatórios a menos que essas medidas façam parte de um programa. No programa,
os riscos são atacados conforme sua gravidade e existe um acompanhamento das ações, com prazos
e responsáveis definidos. Conforme você irá observar ao longo de sua carreira profissional, a área de
segurança do trabalho sofre, muitas vezes, com a inércia provocada pela falta de investimentos na
proteção da saúde e integridade dos trabalhadores. Caso as correções necessárias para reduzir os ris-
cos não sejam gerenciadas por meio de um programa, a proteção dos trabalhadores não será efetiva.
Na próxima unidade, estudaremos as doenças que podem surgir devido à exposição aos riscos
ambientais e explicaremos como é feita a investigação de acidentes.

38 Introdução à Segurança do Trabalho


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O trabalho pode gerar doenças e acidentes caso os riscos existentes não se-
jam adequadamente gerenciados. Diante disso, descreva algumas ações que
foram tomadas ao longo da história para promover a saúde e segurança dos
trabalhadores.

2. Os riscos ambientais podem ser divididos em três categorias: físicos, químicos


e biológicos. Considere o trabalho de um motorista de ônibus municipal. A que
riscos este profissional pode estar exposto? Como você aplicaria os processos
básicos de gerenciamento de riscos a esta situação?

3. Sobre um sistema de proteção respiratória que contém fibras umedecidas com


água, é correto afirmar:
a) Não possui características de proteção respiratória úteis.
b) Pode ser usado para filtrar gases e vapores solúveis em água.
c) Foi utilizado pelos gregos para filtrar poeiras de chumbo.
d) Foi utilizado pelos romanos para filtrar poeiras de mercúrio.
e) É usado para filtrar poeiras de álcool.

4. Pedreiros que trabalham em betoneiras na construção civil estão expostos aos


seguintes agentes ambientais:
a) Agentes biológicos: poeiras e vírus.
b) Agentes químicos: vapores de areia e pedras.
c) Agentes físicos: ruídos e radiação não ionizante.
d) Agentes químicos: vapores de gasolina.
e) Agentes físicos: calor e radiação ionizante.

39
LIVRO

As doenças dos trabalhadores


Autor: Bernardino Ramazzini
Editora: Fundacentro
Sinopse: obra de valor inestimável, As Doenças dos Trabalhadores foi publicada,
pela primeira vez em 1700. Observando as queixas de seus pacientes e seus
ofícios, Ramazzini identificou que o trabalho pode ser um determinante do pro-
cesso de adoecimento. Ao discorrer sobre as doenças de diversas profissões,
revela os primeiros indícios de uma prática médica direcionada ao estabeleci-
mento de diagnósticos de doenças ocupacionais. Trezentos anos depois, em
2000, a Fundacentro publicou sua primeira edição da obra de Ramazzini e,
recentemente, em 2016, quando celebrou seus 50 anos, lançou nova edição
reafirmando que a vida da instituição seja tão longa quanto as contribuições e
o sucesso desta obra para a SST.

FILME

Indústria americana
Ano: 2019
Sinopse: neste documentário, uma empresa chinesa reabre uma fábrica em
Ohio e enche o povo de esperança. Entretanto, os conflitos culturais podem
destruir esse sonho americano.

40
AHIA. American Industrial Hygiene Association: About AIHA. 2019. Disponível em: https://aiha.org/
about-aiha. Acesso em: 03 out. 2019.

BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do Trabalho: Guia Prático e Didático. São Paulo: Editora Érica,
2014.

BRASIL. Decreto-lei nº 5452, de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho Brasília:
Presidência da republica, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.
Acesso em: 16 dez. 2019.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 1, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-1 – Dispo-


sições gerais. 1978a. Brasil. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/
NR-01.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-15 – Ati-


vidades e operações insalubres. 1978b. Brasil. Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/
NR/NR15/NR15-ANEXO1.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.

CAS. CAS Registry and CAS Registry Number FAQs. Disponível em: https://www.cas.org/support/docu-
mentation/chemical-substances/faqs. Acesso em: 12 set. 2019.

CDC. The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH): About NIOSH. 2018. Dispo-
nível em: https://www.cdc.gov/niosh/about/default.html. Acesso em: 03 out. 2019.

MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. Ergonomia: trabalho adequado e eficiente. Rio de Janeiro: Elsevier: ABEPRO,
2011.

PRITCHARD, J. A. (ed.) History of respiratory protection. In: Guide to industrial respiratory protection.
Cincinnati: NIOSH, Pub. n. 76-189, 1976. Cap.2.

SALIBA, T. M. Manual prático de Higiene Ocupacional e PPRA. 6. ed. São Paulo: LTr, 2014.

SILVA, M. J da. Gerenciamento de riscos e prevenção de acidentes. Maringá: Unicesumar, 2018.

TORLONI, M.; VIEIRA, A. V. Manual de proteção respiratória. São Paulo: Abho, 2003.

VENDRAME, A. C. Perícias judiciais de insalubridade e periculosidade. São Paulo: edição do autor, 2015.

41
REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: https://smartlabbr.org/. Acesso em: 02 out. 2019.


1

Em: https://pt.slideshare.net/mariafimgomes/egiptosociedade-5847238. Acesso em: 03 nov. 2019.


2

3
Em: https://animaseg.com.br/animaseg/index.php/associacao?switch_to_desktop_ui=52. Acesso em: 09 jan.
2020.

Em: https://www.abho.org.br/arquivos/sobre/institucional.pdf. Acesso em: 09 jan. 2020.


4

5
Em: http://www.ssh.ufv.br/wp-content/uploads/checklist02_laborat%C3%B3rios_atualizado.pdf. Acesso em:
09 jan. 2020.

Em: https://segurancadotrabalhoacz.com.br/tecnicas-de-analise-de-risco/. Acesso em: 03 nov. 2019.


6

42
1. Conforme estudamos, ao longo dos anos, diversas ações foram tomadas para proteger o sistema respi-
ratório dos trabalhadores em decorrência da exposição a agentes químicos. As máscaras foram um dos
primeiros elementos de segurança do trabalho a serem descritos, sendo criadas máscaras de bexiga de
carneiro, projeto de “snorkel” para trabalhos submersos e, nos anos de 1800, foram criadas máscaras para
bombeiros. Encontramos, também, registros que descrevem as situações degradantes de trabalho no Antigo
Egito. Por sua vez, o médico italiano Bernardino Ramazzini foi o primeiro a estudar em profundidade as
doenças que acometiam trabalhadores. No Brasil, a proteção respiratória foi impulsionada pela chegada
das indústrias de petróleo e mineração.

2. O motorista fica exposto aos seguintes riscos:

• Físicos: radiação não ionizante proveniente do sol; vibração proveniente do veículo que ele dirige;
ruído proveniente do trânsito; calor proveniente do sol.

• Químicos: fumos e monóxido de carbono provenientes dos veículos.

• Biológicos: vírus e bactérias provenientes de passageiros do ônibus.

Os processos básicos de gerenciamento de riscos podem ser aplicados da seguinte maneira:

• Identificação de riscos: conforme visto, foram identificados riscos físicos, químicos e biológicos, de-
talhados anteriormente.

• Análise de riscos: pode ser feito uma avaliação quantitativa do nível de ruído e vibração para dimen-
sionar a exposição a esses riscos.

• Avaliação de riscos: pode ser feita uma pesquisa dos casos de acometimento de doenças com moto-
ristas de ônibus e estimar a ocorrência de doenças ocupacionais.

• Tratamento de riscos: podem ser fornecidas pausas para descanso, climatização do veículo e forne-
cimento de protetor solar ou uniforme com proteção UV.

3. B.

4. C.

43
44
Me. Maílson José da Silva

Acidentes do Trabalho
e Doenças Ocupacionais

PLANO DE ESTUDOS

Doenças Ocupacionais

Definição de Acidente do Trabalho Investigação de Acidentes

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conceituar o acidente do trabalho. • Explicar como são feitas as investigações de acidentes


• Descrever as doenças ocupacionais decorrentes da do trabalho.
exposição a agentes ambientais.
Definição de Acidente
do Trabalho

Você já parou para pensar qual é o objetivo final


da disciplina de ergonomia e segurança do traba-
lho? Você sabe por que hoje existem diversos cur-
sos, normas técnicas, equipamentos e tecnologias
voltados para a segurança do trabalho?
Podemos afirmar que o objetivo final da apli-
cação dos conceitos de ergonomia e segurança do
trabalho é prevenir acidentes e doenças, tornando
o trabalho salubre e mais produtivo. Enquanto
engenheiro e prevencionista, se você atingir este
objetivo, saiba que estará fazendo a diferença em
um sistema produtivo. Para prevenir acidentes e
doenças, é fundamental esclarecer o significado
desses termos aplicados à segurança do trabalho.
Por exemplo, você sabia que o tétano e a dengue
são doenças que podem ou não ser relacionadas
ao trabalho? Vamos entender um pouco mais so-
bre a magnitude e definições dos acidentes do
trabalho e doenças profissionais?
Magnitude do Problema

A cidade de Fortaleza, localizada no Estado do Ceará, possui uma população estimada em 2,63 milhões
de pessoas (IBGE, 2017). Você acha este número muito alto? Se sim, talvez se espante de saber que, no
mundo, estima-se que 2,78 milhões de mortes atribuídas ao trabalho ocorrem anualmente, ou seja, quase
o valor da população de Fortaleza. A maioria dessas mortes não está relacionada a acidentes fatais, mas
a doenças ocupacionais. Um total de 86,3% das mortes se devem a doenças ocupacionais e 13,7% a
acidentes fatais, isto é, o trabalho mata muitas pessoas aos poucos. Em relação à distribuição dos casos,
por região geográfica, a Ásia possui cerca de 67% dos casos, seguida por África (11,8%) e Europa (11,7%)
(HÄMÄLÄINEN; TAKALA; KIAT, 2017).
Os grupos de doenças relacionadas ao trabalho que mais contribuem para os casos de mortes são:
doenças circulatórias (31%), neoplasias malignas (26%) e doenças respiratórias (17%) (HÄMÄLÄINEN;
TAKALA; KIAT, 2017). Como visto, estamos diante de um problema significativo. Ora, se para desen-
volvermos como sociedade é preciso empregar pessoas e estas perdem suas vidas ou ficam com sua
capacidade laboral reduzida devido ao trabalho, como podemos alcançar o tão sonhado desenvolvimento
sustentável? Portanto, preste atenção em como você, enquanto engenheiro(a) em uma empresa, pode
trabalhar para melhorar este quadro, pelo menos a nível local. Um único acidente do trabalho pode não
parecer importante diante de inúmeros casos apresentados pelas estatísticas de acidentes. Contudo, para
a pessoa que o vivencia, este único caso já é assustador.
Tendo em vista a exposição da magnitude do problema causado pelos acidentes de trabalho, pode
surgir a seguinte questão: como os países contabilizam os acidentes de trabalho? Um passo inicial é definir
corretamente o que é e o que não é um acidente de trabalho. Vejamos então as definições.

Definições

O que realmente são acidentes e doenças do trabalho? Para responder a esta pergunta, gostaríamos de
destacar três legislações importantes na área de Segurança e Saúde do Trabalho (SST):
• Lei Federal 8.080, de 19 de setembro de 1990, regula as ações e serviços de saúde, incluindo a
saúde dos trabalhadores; visa promover, proteger, recuperar e reabilitar a saúde dos trabalhadores;
estabelece que deverá ser elaborada uma listagem oficial de doenças originadas do processo de
trabalho, que deve ser atualizada constantemente.
• Lei Federal 8.213, de 24 de julho de 1991, define o que é um acidente do trabalho e o que os
empregadores precisam fazer quanto ao acidente; estabelece a obrigatoriedade da Comunicação
de Acidente do Trabalho (CAT).
• Decreto Federal 3.048, de 6 de maio de 1999, em seu Anexo II traz uma lista de agentes pato-
gênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho.

UNIDADE 2 47
Recomendamos que você faça a leitura das legislações mencionadas para entender melhor os termos
relacionados aos acidentes de trabalho. No entanto, vamos agora explicar alguns destes termos. Vejamos
a definição legal do acidente do trabalho, conforme a Lei Federal 8.213/91:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de
empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.
11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, on-line).

Observe, nessa definição, que o acidente provoca uma lesão corporal ou perturbação funcional, ou seja,
após o acidente, o trabalhador pode ficar inapto para desenvolver suas atividades, seja por alguns dias
(temporariamente) ou pelo resto de sua vida (permanentemente). Ainda, o trabalhador pode retornar
ao seu trabalho, porém sua capacidade pode ficar reduzida. Observe que a definição apresenta que o
trabalhador está a serviço da empresa ou do seu empregador doméstico, quando for o caso. Portanto,
acidentes ocorridos fora deste contexto, não são considerados acidentes do trabalho.
As lesões corporais e perturbações funcionais ocorrem tanto de forma imediata (por exemplo,
devido a uma pancada, corte ou prensagem) ou de forma mais lenta, manifestando-se por meio de
doenças ou seja, uma doença pode ser considerada acidente do trabalho. Estas doenças podem ser
entendidas como sendo de dois tipos: doenças profissionais e doenças do trabalho. Observe as relações:
doença-profissão e doença-trabalho. Estas relações mostram que a doença ocorre pelo exercício da
atividade laboral. Portanto, para ser caracterizada como acidente do trabalho, a ocorrência de uma
doença deve existir paralelamente a um nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e agressão ao
corpo ou saúde do trabalhador.

48 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


O que é o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário?
O NTEP, a partir do cruzamento das informações de código da Classificação Internacional de Doen-
ças – CID-10 – e do código da Classificação Nacional de Atividade Econômica – CNAE – aponta a
existência de uma relação entre a lesão ou agravo e a atividade desenvolvida pelo trabalhador. A
indicação de NTEP está embasada em estudos científicos alinhados com os fundamentos da esta-
tística e epidemiologia.
Fonte: Brasil (2015, on-line).

Em outras palavras, as atividades desenvolvidas Para ampliar nosso entendimento sobre o que
em um certo ambiente laboral devem estar rela- é acidente do trabalho, é importante destacar que
cionadas a uma entidade mórbida. É o caso, por existem situações equiparadas ao acidente do tra-
exemplo, de um trabalhador que é acometido da balho. Confira, no quadro a seguir, elaborado com
doença de cataratas devido ao trabalho com sol- base na Lei Federal 8.213/91 (BRASIL, 1991), as
da. Existe um nexo entre o seu trabalho e a enti- situações equiparadas a um acidente do trabalho.
dade mórbida (cataratas). Como sabemos que
existe este nexo? Conforme citamos, o Decreto
Federal 3.048/99 estabelece uma lista relacionan-
do trabalhos que contém os riscos que causam as
doenças, quando materializados.
Além das doenças e fatalidades ocorridas no
ambiente laboral, pode existir o acidente de trajeto. O profissional que pode determinar adequa-
Este é definido como aquele acidente ocorrido no damente se a doença é do trabalho ou não é o
percurso entre o local de trabalho e a residência médico do trabalho.
do trabalhador, ou desta para o local de trabalho.

UNIDADE 2 49
Quadro 1 - Situações e exemplos equiparados ao acidente do trabalho
Situações equiparadas ao acidente do trabalho

Situação Exemplo(s)
Acidente ligado ao trabalho que, embora não
tenha sido a causa única, haja contribuído direta- Morte de trabalhador portador de grave hi-
mente para a morte do segurado, para redução pertensão arterial que atua em fundição junto
ou perda da sua capacidade para o trabalho ou a fornos em trabalho pesado e sujeito a altas
produzido lesão que exija atenção médica para temperaturas.
a sua recuperação.

Um terceiro remove a proteção móvel de uma


Acidente sofrido pelo segurado no local e no
máquina e o trabalhador sofre um acidente; um
horário do trabalho, em consequência de: ato
trabalhador recebe um soco de outro empregado
de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado
devido a uma briga que se iniciou fora do ambien-
por terceiro ou companheiro de trabalho; ofensa
te de trabalho; um empregado derrama líquido
física intencional, inclusive de terceiro, por mo-
no piso e outro trabalhador passa por cima e
tivo de disputa relacionada ao trabalho; ato de
escorrega, sofrendo uma lesão nas costas; um
imprudência, de negligência ou de imperícia de
terceiro que adentra a fábrica, privado do uso de
terceiro ou de companheiro de trabalho; ato de
razão, aponta o maçarico com a chama na perna
pessoa privada do uso da razão; desabamento,
de um trabalhador; desabamento de telhado com
inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou
consequente lesão em trabalhadores, devido a
decorrentes de força maior.
uma chuva muito forte.

O empregado desenvolve uma doença logo após


Doença proveniente de contaminação acidental
se contaminar acidentalmente com um agrotó-
do empregado no exercício de sua atividade.
xico.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora
Acidente ocorrido quando o empregado sai para
do local e horário de trabalho na execução de
comprar um determinado material, à ordem de
ordem ou na realização de serviço sob a autori-
seu superior.
dade da empresa.
Um empregado, em um dia de folga, ao passar
perto da empresa, percebe que alguém deixou a
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora
torneira externa aberta, vazando uma quantidade
do local e horário de trabalho na prestação es-
significativa de água. Como ele possui a chave do
pontânea de qualquer serviço à empresa para
portão, resolve entrar para fechar a torneira. No
lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito.
percurso, ele pisa em um prego, sofrendo uma
perfuração.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora
do local e horário de trabalho em viagem a ser-
viço da empresa, inclusive para estudo quando O empregado sofre um acidente durante a rea-
financiada por esta dentro de seus planos para lização de um curso de reciclagem financiado
melhor capacitação da mão de obra, indepen- pela empresa.
dentemente do meio de locomoção utilizado,
inclusive veículo de propriedade do segurado.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora
do local e horário de trabalho no percurso da Um empregado resolve pegar uma carona com
residência para o local de trabalho ou deste para um colega de trabalho para voltar para casa. No
aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, percurso, ele sofre um acidente.
inclusive veículo de propriedade do segurado.
Fonte: adaptado de Silva (2017).

50 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


O acidente do trabalho provoca lesão corporal ou perturbação
funcional ao trabalhador, deixando-o sem capacidade, temporária
ou permanente, para o trabalho. Além deste conceito de acidente
do trabalho, existem situações equiparadas a ele.

Como visto, para definirmos se um acidente é do trabalho ou não,


é preciso consultar as legislações pertinentes. Além disso, em uma
situação de doença em que o trabalhador pleiteia um auxílio na
Previdência Social, cabe ao perito médico da Previdência emitir o
nexo causal, determinando a natureza da doença (se é profissional,
do trabalho ou não).
Agora que entendemos melhor o que são os acidentes do tra-
balho, surgem as seguintes questões: o que causa os acidentes do
trabalho e quais são suas consequências? O item a seguir mostra
alguns dados e exemplos.

Tenha sua dose extra de conhecimento


assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.

Causas e Consequências dos


Acidentes do Trabalho

Estima-se que 7.500 pessoas morrem todos os dias devido a aciden-


tes do trabalho, sendo 1.000 pessoas devido a acidentes típicos do
trabalho e 6.500 devido a doenças ocupacionais (profissionais ou
do trabalho) (HÄMÄLÄINEN; TAKALA; KIAT, 2017). No Brasil,
no ano de 2016, foram registrados pela Previdência Social um total
de 578.935 acidentes do trabalho, sendo 61% com motivo típico,
19% com motivo de trajeto e 2% com motivo de doença do trabalho
(BRASIL, 2016).

UNIDADE 2 51
De acordo com o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018), as partes do
corpo mais atingidas são o dedo (23%), pé-exceto artelhos (7%), mão (7%), joelho (5%) e partes múl-
tiplas (4%). Os dez agentes mais causadores de acidentes são: motocicleta, motoneta, metal, veículo
rodoviário motorizado, chão, veículo, faca, facão, ferramenta manual sem força motriz, ferramenta,
equipamento, seres vivos, escada móvel ou fixada e máquina. Confira, na figura a seguir, a proporção
de ocorrências destes agentes.
20%

18%
18%

16%

14%
14%

12% 12%
12%
11%
10%
9%
8%
7% 7%
6%
6% 6%

4%

2%

0%
Motocicleta, Veículo rodoviário Veículo, Ferramenta, máquina, Escada móvel
motoneta motorizado NIC equipamento, ou fixada,
veículo, NI NIC
Metal Chão, superfície Faca, facão, Ser vivo, Máquina,
(inclui liga ferrosa utilizada para ferramenta manual NIC NIC
e não ferrosa, TU) sustentar pé sem motor

Figura 1 - Distribuição dos 10 agentes que mais causam acidentes do trabalho


Fonte: adaptado de SmartLab (2018).

Esses agentes fazem parte da lista padronizada de O fator pessoal está ligado ao comporta-
agentes causadores de acidentes do trabalho. A lista mento do trabalhador que é moldado pela sua
completa de agentes pode ser vista na norma técni- experiência ou a falta desta no trabalho. Por outro
ca ABNT NBR 14.280:2001 – Cadastro de acidente lado, o ato inseguro ocorre quando o trabalhador
do trabalho – procedimento e classificação. Pode- contraria um preceito de segurança, por exemplo,
-se observar, na Figura 1, que os veículos utilizados não usa o equipamento de proteção individual ou
pelos trabalhadores possuem grande peso como coletiva de forma correta. Por fim, a condição
causadores de acidentes. Ainda, a norma ABNT ambiente é aquela que, existindo no ambiente de
NBR 14.280:2001 estabelece três grupos de causas trabalho, contribui para a ocorrência do acidente,
dos acidentes do trabalho: fator pessoal de inse- por exemplo a falta de proteção de partes móveis
gurança (fator pessoal), ato inseguro e condição de máquinas, falta de limpeza e organização no
ambiente de insegurança (condição ambiente). ambiente de trabalho e fios elétricos desencapa-

52 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


dos. Estes três grupos de causas podem atuar individualmente ou coletivamente na ocorrência de um
acidente. Na investigação e análise de acidentes, deve-se identificar as causas não de forma imediata,
mas identificar os fatores que se complementam para a ocorrência do acidente.
Como consequência, os acidentes de trabalho geram lesões e perturbações funcionais nos traba-
lhadores. Algumas das principais naturezas de lesão se concentram em (SMARTLAB (2020)):
• Corte, laceração, ferida contusa, punctura (21%).
• Fratura (17%).
• Contusão, esmagamento (15%).
• Distensão, torção (9%).
• Lesão imediata (8%).

Você conhece algum trabalhador (ou até mesmo você) que já sofreu alguma lesão de natureza igual a
uma das mencionadas? Com certeza o efeito dessas lesões na saúde e vida do trabalhador não é positivo
e, infelizmente, o mundo do trabalho carrega consigo um histórico de lesões e doenças.
Além das lesões mencionadas, há como consequência as perturbações funcionais geradas por
doenças. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2010), são reconhecidos
como grupos de doenças profissionais as:
• Doenças ocupacionais causadas por exposição a agentes resultantes das atividades laborais,
como agentes químicos (berílio, cádmio, fósforo, cromo etc.), agentes físicos (ruído, vibrações, ar
comprimido, radiações ionizantes etc.) e agentes biológicos e doenças infecciosas ou parasitárias
(hepatite, tétano, tuberculose etc.).
• Doenças ocupacionais segundo o órgão ou sistema humano afetado, tais como doenças do
sistema respiratório (pneumoconioses causadas por pó mineral fibrogênico, dentre outras),
doenças de pele (dermatose alérgica de contato, dentre outras), doenças do sistema osteomus-
cular (tenossinovites, bursites, síndrome do túnel do carpo etc.) e transtornos mentais e de
comportamento (transtorno de estresse pós-traumático, dentre outros).
• Câncer ocupacional, causado por agentes como amianto ou asbesto, compostos de cromo, cloreto
de vinila, benzeno, radiações ionizantes etc.

Como apresentado, os acidentes de trabalho possuem consequências indesejáveis para a saúde e vida
dos trabalhadores. No entanto, estas não são as únicas, existem as consequências relacionadas à so-
ciedade e economia.
Segundo uma estimativa da OIT, cerca de 4% do PIB de um país é gasto com despesas decorrentes
de acidentes e doenças do trabalho, sendo que, em países mais pobres, este gasto pode chegar a 10%
do PIB (ILO, 2003). Ainda, de acordo com o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho
(2018), estima-se que foram gastos mais de R$ 27 bilhões entre os anos de 2012 a 2017, com benefícios
acidentários.

UNIDADE 2 53
As despesas relacionadas a acidentes do traba-
lho podem ser subdivididas em despesas cobertas
por seguros e despesas não seguradas. Confira as
parcelas de custos relacionados aos acidentes de
trabalho:
• Custo de seguro obrigatório: valor pago
pelas empresas à Previdência Social.
• Custo de outros seguros: as empresas po-
dem pagar seguro contra incêndios e danos
materiais, por exemplo.
• Custo com salário de horas não trabalha-
das: a empresa precisa pagar o salário do
trabalhador durante os quinze primeiros
dias de afastamento, decorrentes de um
acidente do trabalho.
• Custo com reparos: acidentes podem gerar
perda de materiais e quebra de máquinas.
• Outros custos: despesas com atendimento
médico e transporte de acidentados; custos
com perda de produção, pagamento de ho-
ras extras para cobrir perda de produção e
horas para investigar o acidente.

Sabendo o que é o acidente de trabalho e suas con-


sequências, vamos conhecer alguns grupos de doen-
ças que estão relacionados às atividades laborais.

54 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Doenças
Ocupacionais

Para você, o que é uma doença ocupacional? Será


que todas elas são manifestadas imediatamente
após o início do trabalhador em um local insalu-
bre? Como veremos, doenças ocupacionais estão
relacionadas ao trabalho e nem sempre são iden-
tificadas corretamente. Isso acontece, em parte,
devido a algumas diferenças nas características da
doença ocupacional em relação a lesões visíveis
que ocorrem no ambiente laboral.
Alguns acidentes do trabalho geram lesões no
corpo dos trabalhadores facilmente identifica-
das. Isso ocorre, por exemplo, quando o traba-
lhador sofre um corte, uma queimadura ou uma
contusão decorrente das atividades laborativas.
Embora menos visíveis, as doenças ocupacionais
também representam acidente do trabalho. No
caso da doença, o trabalhador precisa ser afastado
de suas atividades para se recuperar ou, então,
para ficar longe dos agentes de risco. As doenças
relacionadas ao trabalho estão listadas na Portaria
nº 1339/1999 e podem ser divididas em quatorze
grupos que listamos a seguir. Entretanto, antes
disso, é fundamental entender a diferença entre
doenças agudas e doenças crônicas.

UNIDADE 2 55
fungos. Trabalhadores da área de saúde sofrem
com a exposição direta a agentes biológicos pelo
contato com pacientes ou amostras de fluidos e
Conheça em detalhes as doenças relacionadas secreções destes. Trabalhadores de frigoríficos,
ao trabalho acessando a Portaria nº 1339/1999. indústria alimentícia, saneamento, coleta de lixo,
Link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ laboratórios e curtumes também ficam expostos
gm/1999/prt1339_18_11_1999.html. a agentes biológicos.
As doenças relacionadas ao trabalho deste gru-
po são (BRASIL, 2001):
• Tuberculose.
Uma dor crônica pode durar até seis meses. Ela • Carbúnculo (Antraz).
ocorre devido a uma certa causa que, quando re- • Brucelose.
movida, faz cessar o sintoma inicial. Ao perdurar • Leptospirose.
por mais tempo, a dor se torna crônica (BRASIL, • Tétano.
2012). Os agentes de risco presentes nos ambien- • Psitacose, ornitose, doença dos tratadores
tes de trabalho podem gerar doenças agudas ou de aves.
crônicas. • Dengue (dengue clássico).
Por exemplo, um trabalhador que se expõe a • Febre amarela.
névoas de agrotóxico com grande concentração • Hepatites virais.
do contaminante pode sentir tontura, dor de cabe- • Doença pelo vírus da imunodeficiência
ça e sensação de vômito. Os sintomas se manifes- humana.
tam imediatamente após a exposição e, portanto, • Dermatofitose e outras micoses superfi-
estamos diante de um quadro de doença aguda. ciais.
Trabalhadores que lidam com a exploração de • Candidíase.
carvão estão sujeitos a desenvolver uma pneu- • Paracoccidioidomicose (blastomicose sul
moconiose devido à exposição ao pó de carvão. americana, blastomicose brasileira, Doen-
Esta doença apresentará sintomas importantes ça de Lutz).
após anos de exposição. Neste caso, ela é uma • Malária.
doença crônica. • Leishmaniose cutânea ou leishmaniose
cutâneo-mucosa.

Doenças Infecciosas e
Parasitárias Relacionadas
ao Trabalho
A dengue também pode ser considerada uma
Trabalhadores que lidam com atividades de cam- doença endêmica e não relacionada ao trabalho.
po, em florestas e matos, estão sujeitos a agen- É preciso avaliar se o trabalho gera realmente
tes de risco provenientes de plantas e animais. uma exposição do trabalhador ao agente de ris-
Estes produzem substâncias alergênicas, irritati- co e fazer um correto relacionamento entre a
vas e tóxicas. Elas são transmitidas por meio de doença e o trabalho.
picadas, mordeduras, pelos, pólens, esporos ou

56 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Por exemplo, trabalhadores expostos à sílica podem desenvolver uma sílico-tuberculose, uma vez que
a exposição pode favorecer a reativação de infecção tuberculosa latente. O tétano pode ocorrer em
circunstâncias de acidentes de trabalho na agricultura, na construção civil, na indústria e até em um
acidente de trajeto. Isso é, caso o trabalhador tenha essas doenças em decorrência de sua atividade
laboral e sua atividade esteja elencada na portaria nº 1339/99, a doença passa a ser considerada um
acidente de trabalho.

Neoplasias (Tumores) Relacionadas ao Trabalho

Este grupo de doenças é originário da perda de controle do processo de divisão celular, em que ocorre
uma multiplicação celular desordenada. O câncer pode surgir da exposição a agentes carcinogênicos
tanto no ambiente de trabalho como fora dele. O período de latência longo da doença dificulta sua
correlação causal com o trabalho. Hoje, existem classificações dos agentes quanto à sua carcinogeni-
cidade. Observe o Quadro 2 que mostra os tipos de classificação para carcinogenicidade.

Quadro 2 - Tipos de classificação para carcinogenicidade


International Agency for Research on Cancer (IARC)
1 Evidência epidemiológica suficiente para carcinogenicidade em seres humanos.
Provavelmente carcinogênico em seres humanos, segundo evidências limitadas em seres
2A
humanos e evidência suficiente em animais.
Possivelmente carcinogênico em seres humanos, segundo evidência suficiente em animais,
2B porém inadequada em seres humanos, ou evidência limitada nesses, com evidência sufi-
ciente em animais.
3 Não classificável.
4 Não carcinogênico.
Environmental Protection Agency (EPA)
A Evidência suficiente de estudos epidemiológicos apoiando uma associação etiológica.
B1 Evidência limitada em seres humanos, segundo estudos epidemiológicos.
B2 Evidência suficiente em animais, porém inadequada em seres humanos.
C Evidência limitada em animais.
D Evidência inadequada em animais.
E Nenhuma evidência em animais ou seres humanos.
American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH)
A1 Carcinogênico humano confirmado.

A2 Carcinogênico humano suspeito, segundo evidência humana limitada ou animal suficiente.

National Toxicology Program (NTP)


A Carcinogenicidade reconhecida em seres humanos.
B Evidência limitada em seres humanos ou evidência suficiente em animais.
Fonte: Brasil (2001, p. 96).

UNIDADE 2 57
O quadro nos mostra que existem diferentes clas- Doença do Sangue e dos
sificações para a carcinogenicidade. Por exemplo, Órgãos Hematopoéticos
para a IARC, um agente de risco pode ser pro- Relacionadas ao Trabalho
vavelmente ou possivelmente carcinogênico em
seres humanos, enquanto para a ACGIH existem O sangue e os órgãos hematopoéticos são res-
as classificações de carcinogênico humano confir- ponsáveis pela produção das células sanguíneas.
mado ou suspeito. Ao longo dos anos e por meio As doenças relacionadas ao trabalho deste grupo
de novas descobertas científicas, os agentes de são (BRASIL, 2001):
risco mudam de classificação quanto à sua car- • Síndromes mielodisplásicas.
cinogenicidade e, ainda, podem ser classificados • Outras anemias devidas a transtornos en-
de forma diferente conforme o órgão que faz a zimáticos.
classificação. • Anemia hemolítica adquirida.
Um tipo de classificação utilizada para avaliar • Anemia aplástica devida a outros agentes
agentes químicos que dão direito à aposentadoria externos e anemia aplástica não especifi-
especial é a classificação IARC. Para identificar a cada.
classificação de um agente químico quanto à sua • Púrpura e outras manifestações hemor-
carcinogenicidade, deve ser feita a consulta na rágicas.
FISPQ do produto. • Agranulocitose (neutropenia tóxica).
Os agentes químicos carcinogênicos são gran- • Outros transtornos especificados dos gló-
des responsáveis pelos casos de câncer em traba- bulos brancos: leucocitose, reação leuce-
lhadores. Por exemplo, leucemias estão relaciona- moide.
das à exposição ao benzeno, radiações ionizantes • Metahemoglobinemia.
e agrotóxicos clorados. As radiações ionizantes
também podem gerar neoplasias malignas dos Ambientes de trabalho contendo benzeno, radia-
ossos e cartilagens articulares dos membros, den- ções ionizantes, chumbo, cloreto de vinila, deriva-
tre outras neoplasias malignas. O breu utilizado dos de fenol, pentaclorofenol, hidroxibenzonitrilo
na pavimentação asfáltica pode causar neoplasias e aminas aromáticas podem levar ao acometimen-
malignas de bexiga. to de alguma(s) das doenças listadas.

Doenças Endócrinas, Nutricionais


e Metabólicas Relacionadas ao Trabalho

A exposição a chumbo, hidrocarbonetos halogenados, dentre outras substâncias, como carbamatos


utilizados em inseticidas, pesticidas, herbicidas e nematocidas, podem gerar este tipo de doença
(BRASIL, 2001).

58 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Transtornos Mentais e do Comportamento
Relacionados ao Trabalho

As alterações na saúde mental dos trabalhadores decorrem de uma combinação de fatores, podendo
ser desde agentes químicos tóxicos a fatores relacionados à organização do trabalho. A sensação
de perder o emprego a qualquer momento ou a falta dele gera quadros de ansiedade e depressão.
Alguns metais pesados e solventes podem gerar distúrbios mentais e alterações de comportamento,
manifestando-se pela irritabilidade, nervosismo, inquietação, distúrbios de memória e de cognição.
Doenças de transtornos mentais e de comportamento de origem ocupacional são (BRASIL, 2001):
• Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais.
• Delirium, não sobreposto à demência, como descrita.
• Transtorno cognitivo leve.
• Transtorno orgânico de personalidade.
• Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado.
• Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho).
• Episódios depressivos.
• Estado de estresse pós-traumático.
• Neurastenia (inclui síndrome de fadiga).
• Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional).
• Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos.
• Sensação de estar acabado (síndrome de burn-out), síndrome do esgotamento profissional).

Por exemplo, a exposição a tolueno e outros solventes aromáticos podem gerar episódios depressivos
nos trabalhadores. Problemas relacionados ao emprego e desemprego podem provocar alcoolismo
crônico (relacionado ao trabalho).

Doenças do Sistema Nervoso Relacionadas ao Trabalho

Tremores e ataxias (falta de coordenação) podem resultar da exposição ocupacional ao tolueno,


mercúrio e acrilamida. Várias outras substâncias químicas podem gerar doenças do sistema nervoso,
como agrotóxicos, solventes orgânicos e metais pesados. As doenças ocupacionais do sistema nervoso
relacionadas ao trabalho são (BRASIL, 2001):

UNIDADE 2 59
• Ataxia cerebelosa.
• Parkinsonismo secundário devido a outros agentes externos.
• Outras formas especificadas de tremor.
• Transtorno extrapiramidal do movimento não especificado.
• Distúrbios do ciclo vigília-sono.
• Transtornos do nervo trigêmeo.
• Transtornos do nervo olfatório (inclui anosmia).
• Transtornos do plexo braquial (síndrome da saída do tórax, síndrome do desfiladeiro torácico).
• Mononeuropatias dos membros superiores: síndrome do túnel do carpo; outras lesões do
nervo mediano: síndrome do pronador redondo; síndrome do canal de Guyon; lesão do nervo
cubital (ulnar): síndrome do túnel cubital; outras mononeuropatias dos membros superiores:
compressão do nervo supra-escapular.
• Mononeuropatias do membro inferior: lesão do nervo poplíteo lateral.
• Outras polineuropatias: polineuropatia devida a outros agentes tóxicos e polineuropatia indu-
zida pela radiação.
• Encefalopatia tóxica aguda.

Vale destacar que as posições forçadas e movimentos repetitivos são causadores de doenças do sistema
nervoso, como a Síndrome do Túnel do Carpo.

Doenças do Olho e Anexos Relacionados ao Trabalho

As lesões oculares são frequentes em países como Finlândia (12% de todos os acidentes ocupacionais),
França (4%) e Estados Unidos (3%) (BRASIL, 2001). Agentes mecânicos, físicos, químicos e biológicos
podem lesionar os olhos, bem como atividades de monitoramento visual que geram sobre-esforço
(levando à astenopia).
As doenças dos olhos relacionadas ao trabalho são (BRASIL, 2001):
• Blefarite.
• Conjuntivite.
• Queratite e queratoconjuntivite.
• Catarata.
• Inflamação coriorretiniana.
• Neurite óptica.
• Distúrbios visuais subjetivos.

As radiações infravermelhas, nas operações de solda, por exemplo, podem causar catarata. O cimento
na construção civil pode ser o responsável por casos de blefarite e conjuntivite.

60 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Doenças do Ouvido Os solventes orgânicos otoneurotóxicos, como o tolueno e o xileno,
Relacionadas ao são responsáveis pela hipoacusia ototóxica. A labirintite pode ser
Trabalho causada por brometo de etila ou pela ação de ar comprimido.

As doenças do ouvido não são


apenas decorrentes da expo- Doenças do Sistema Circulatório
sição ao ruído. Existem subs- Relacionadas ao Trabalho
tâncias neurotóxicas que agem
no ouvido interno. Também, Do total de mortes decorrentes de doenças do sistema circulatório
agentes biológicos podem cau- nos Estados Unidos, estima-se que de 1% a 3% estejam relacionadas
sar otites. As doenças do ouvi- ao trabalho (BRASIL, 2001). Alguns dos fatores de risco de natureza
do relacionadas ao trabalho são ocupacional relacionados a este grupo de doenças são: agentes quí-
(BRASIL, 2001): micos – chumbo, monóxido de carbono, sulfeto de carbono, asbesto
• Otite média não supu- ou amianto, arsênio, mercúrio, agrotóxicos; agentes físicos – ruído,
rativa (barotrauma do vibrações localizadas, baixas temperaturas; problemas relacionados
ouvido médio). com o emprego e o desemprego.
• Perfuração da membra- As doenças que podem acometer trabalhadores são (BRASIL,
na do tímpano. 2001):
• Outras vertigens perifé- • Hipertensão arterial e doença renal hipertensiva ou nefros-
ricas. clerose.
• Labirintite. • Angina pectoris.
• Perda da audição provo- • Infarto agudo do miocárdio.
cada pelo ruído e trauma • Cor pulmonale SOE ou doença cardiopulmonar crônica.
acústico. • Placas epicárdicas ou pericárdicas.
• Hipoacusia ototóxica. • Parada cardíaca.
• Otalgia e secreção audi- • Arritmias cardíacas.
tiva. • Aterosclerose e doença aterosclerótica do coração.
• Outras percepções audi- • Síndrome de Raynaud.
tivas anormais: alteração • Acrocianose e acroparestesia.
temporária do limiar au-
ditivo, comprometimen-
to da discriminação au- Doenças do Sistema Respiratório
ditiva e hiperacusia. Relacionadas ao Trabalho
• Otite barotraumática.
• Sinusite barotraumática. O sistema respiratório constitui uma importante interface do or-
• Síndrome devida ao des- ganismo humano com o meio ambiente, sendo via para a entrada
locamento de ar de uma de diversos contaminantes químicos. A ocorrência de doenças vai
explosão. depender do tipo de agente químico presente no ar, de sua concen-
tração, tempo de exposição, características genéticas dos indivíduos
expostos, doenças preexistentes e hábitos de vida, como o tabagismo.
As doenças deste grupo são (BRASIL, 2001):

UNIDADE 2 61
• Faringite aguda não especificada (angina aguda, dor de gar- Doenças do
ganta). Sistema Digestivo
• Laringotraqueíte aguda e laringotraqueíte crônica. Relacionadas ao
• Outras rinites alérgicas. Trabalho
• Rinite crônica.
• Sinusite crônica. Substâncias químicas, estresse,
• Ulceração ou necrose do septo nasal e perfuração do septo situação da organização do tra-
nasal. balho, posturas forçadas, situa-
• Outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas (inclui ções de tensão e conflito e con-
asma obstrutiva, bronquite crônica, bronquite asmática, dições inadequadas para fazer
bronquite obstrutiva crônica). refeições podem gerar doenças
• Asma. do sistema digestivo em traba-
• Pneumoconiose dos trabalhadores do carvão. lhadores. Este grupo de doenças
• Pneumoconiose devida ao asbesto (asbestose) e a outras compreende (BRASIL, 2001):
fibras minerais. • Erosão dentária.
• Pneumoconiose devida à poeira de sílica (silicose). • Alterações pós-eruptivas
• Pneumoconiose devida a outras poeiras inorgânicas: beri- da cor dos tecidos duros
liose, siderose e estanhose. dos dentes.
• Doenças das vias aéreas devidas a poeiras orgânicas: bissi- • Gengivite crônica.
nose. • Estomatite ulcerativa
• Pneumonite por hipersensibilidade à poeira orgânica: pul- crônica.
mão do granjeiro (ou pulmão do fazendeiro); bagaçose; • Gastroenterite e colite
pulmão dos criadores de pássaros; suberose; pulmão dos tóxicas.
trabalhadores de malte; pulmão dos que trabalham com • Cólica do chumbo.
cogumelos; doença pulmonar devida a sistemas de ar con- • Doença tóxica do fígado:
dicionado e de umidificação do ar; pneumonite de hipersen- com Necrose Hepática;
sibilidade devida a outras poeiras orgânicas; pneumonites com Hepatite Aguda.
de hipersensibilidade devidas à poeira orgânica não espe- • Hepatite Crônica Persis-
cificada (alveolite alérgica extrínseca SOE; e pneumonite de tente; com outros Trans-
hipersensibilidade SOE). tornos Hepáticos.
• Afecções respiratórias devidas à inalação de produtos quí- • Hipertensão portal.
micos, gases, fumaças e vapores: bronquite e pneumonite
(bronquite química aguda); edema pulmonar agudo (edema Por exemplo, a exposição ocu-
pulmonar químico); síndrome da disfunção reativa das vias pacional a névoas ácidas pode
aéreas e afecções respiratórias crônicas. gerar erosão dentária, e a ex-
• Derrame pleural e placas pleurais. posição a mercúrio pode gerar
• Enfisema intersticial. uma gengivite crônica.

62 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Doenças da Pele e do Tecido
Subcutâneo Relacionadas ao Trabalho

As dermatites ocupacionais, em sua grande maioria, são causadas


por agentes químicos. Elas causam desconforto, alterações estéticas
e funcionais que interferem na vida dos trabalhadores. As doenças
são causadas por um grupo de causas indiretas, como idade, sexo,
clima, hábitos e facilidades de higiene, e por um grupo de causas
diretas, como agentes químicos, biológicos, físicos e mecânicos
presentes no ambiente de trabalho. Algumas das doenças deste
grupo são (BRASIL, 2001):
• Dermatoses pápulo-pustulosas e suas complicações infec-
ciosas.
• Dermatite alérgica de contato.
• Dermatites de contato por irritantes.
• Urticária de Contato.
• Queimadura solar.
• Outras alterações agudas da pele devidas à radiação ultra-
violeta: dermatite por fotocontato (dermatite de berloque);
urticária solar; outras alterações agudas especificadas e ou-
tras alterações sem outra especificação.
• Alterações da pele devidas à exposição crônica à radiação
não ionizante: ceratose actínica; dermatite solar, “pele de
fazendeiro”, “pele de marinheiro”.

Doenças do Sistema Osteomuscular


e do Tecido Conjuntivo
Relacionadas ao Trabalho

Este grupo inclui as chamadas Doenças Osteomusculares Rela-


cionadas ao Trabalho (DORT) ou Lesões por Esforços Repetitivos
(LER). Agentes químicos também podem ser responsáveis por al-
gumas dessas doenças.
Posições forçadas e gestos repetitivos podem gerar artroses, dores
articulares, Síndrome Cervicobraquial, dorsalgia, dentre outras.
Outras situações geradoras dessas doenças são: vibrações locali-
zadas, ritmo de trabalho penoso e condições difíceis de trabalho
(BRASIL, 2001).

UNIDADE 2 63
Doenças do Sistema Gênito-Urinário
Relacionadas ao Trabalho

A exposição a agentes químicos, biológicos e farmacológicos podem


gerar doenças deste grupo, de forma aguda ou crônica. A insufi-
ciência renal crônica está relacionada com a exposição a chumbo.
A infertilidade masculina está relacionada ao chumbo, radiações
ionizantes, trabalho em temperaturas elevadas, dentre outras subs-
tâncias. As doenças deste grupo são (BRASIL, 2001):
• Síndrome nefrítica aguda.
• Doença glomerular crônica.
• Nefropatia túbulo-intersticial induzida por metais pesados.
• Insuficiência renal aguda.
• Insuficiência renal crônica.
• Cistite aguda.
• Infertilidade masculina.

Você, provavelmente, percebeu que o trabalho pode gerar uma gran-


de quantidade de doenças em trabalhadores. Estas doenças afetam
diferentes órgãos e sistemas do corpo humano. Vimos que existe
uma relação que define doenças com os fatores de risco presentes
nos ambientes de trabalho. Quando as doenças ocupacionais são
caracterizadas, ocorre, na verdade, um acidente do trabalho. Mesmo
desenvolvendo atividades de prevenção para evitar tais doenças,
você poderá se deparar com situações de acidente. Dessas situações,
podemos tirar algum aprendizado. O próximo tópico tratará da
investigação dos acidentes.

64 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Investigação
de Acidentes

Será que todo acidente do trabalho possui aspec-


tos negativos? É possível aproveitar a experiência
com os acidentes para evitá-los? Após a ocorrên-
cia de um acidente do trabalho, cabe à organização
em que ocorreu o acidente providenciar a sua in-
vestigação, ou seja, a empresa precisa determinar
quais foram as causas que levaram ao acidente.
Conhecendo estas causas, é possível evitar a recor-
rência dele. Por meio da investigação de acidentes,
é possível melhorar normas de segurança do tra-
balho, bem como a confiabilidade de sistemas e
máquinas (BRASIL, 2010, on-line). Dependendo
do acidente, a determinação de suas causas pode
ser simples ou complexa: os acidentes simples
mostram causas óbvias para a sua ocorrência,
como a falta do cumprimento de uma norma de
segurança, enquanto os acidentes complexos
possuem causas menos óbvias.

UNIDADE 2 65
Confira, a seguir, algumas dicas para realizar a investigação de acidentes:
• Mantenha uma estrutura para fazer a investigação de acidentes: investigar um acidente demanda
tempo e recursos humanos e materiais. Portanto, é interessante manter uma equipe treinada para
investigar acidentes, bem como fornecer materiais necessários, tais como máquina fotográfica,
trena e fita de isolamento de área.
• Comece a investigação o quanto antes: é preciso preservar a memória dos fatos. Para tanto, após
o atendimento do acidentado, bem como a emissão da CAT, deve-se registrar imediatamente
os fatos relacionados ao acidente.
• Entreviste testemunhas: a entrevista com o acidentado é fundamental para ouvir o que ocorreu
de fato. No entanto, pessoas que estavam no local do acidente, bem como em sua proximidade,
podem fornecer informações úteis para desenhar o quadro do que realmente ocorreu durante
o acidente.
• Identifique os fatores imediatos, subjacentes e latentes relacionados ao acidente: os fatores ime-
diatos são aqueles que aconteceram logo antes da ocorrência do acidente. Por exemplo, em um
acidente com amputação traumática de um dedo em uma prensa, um fator imediato é a falta
de um dispositivo de proteção da máquina. Os fatores subjacentes são aqueles que antecedem
os fatores imediatos. No nosso exemplo de acidente em uma prensa, alguns fatores subjacentes
são: necessidade de aumento do ritmo de produção, devido a alterações na demanda e falta
de sinalização de riscos próxima da prensa. E os fatores latentes são aqueles mais distantes à
ocorrência do acidente que, no entanto, ajudaram a construir o quadro do acidente. No nosso
exemplo, um dos fatores latentes seria a aprovação de compra da prensa sem os dispositivos
de segurança.

Ainda, conforme destacado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2010, on-line), para
entender as causas de um acidente, é preciso se perguntar: o que aconteceu e por quais razões acon-
teceu? Quais foram os fatores imediatos, subjacentes e latentes relacionados ao acidente? Em relação
às falhas humanas, quais foram contribuintes para a ocorrência do acidente? Houve erros baseados
em habilidades dos operadores? Houve erros de julgamento dos operadores? Houve violações dos
dispositivos de segurança? Na investigação de acidentes, é fundamental fazer questionamentos até
obter informações significativas sobre eles. Por meio dessas informações, a equipe de investigações
pode elaborar um diagrama para organizar as causas que levaram ao acidente. A seguir, observe a
figura de um exemplo de árvore de causas de um acidente.

66 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


ACIDENTE
Queimaduras de 2º e 3º graus em ambas as pernas

Contato com Tenta-se apagar as Companheiros de


trabalho não
as chamas chamas com os pés usam extintores

Existe uma Existem focos Único extintor no Desconhece-se a


Ato instintivo possível toxidade da
mistura inflamável de ignição outro lado da firma substância extintora

Recipiente Serviço com Número insuficiente Falta de informação


com resíduos e localização quanto ao
de gasolina esmeril deficiente uso correto

Desconhece-se Operário Faltam áreas para


perigo da gasolina desconhece operações de risco
a gasolina

Faltam
procedimentos Desorganização
da empresa
com inflamáveis

Figura 2 - Exemplo de árvore de causas de um acidente


Fonte: adaptada de Sobral Jr. (2013).

Observe que, na Figura 2, existem três fatores próximos do acidente: contato com as chamas, tentativa de
apagar as chamas com os pés e falta de uso de extintores. Por meio do questionamento, por exemplo, do
porquê houve contato com as chamas, identifica-se os seguintes fatores: existência de mistura inflamável
e focos de ignição. A investigação pode seguir questionando-se, por exemplo, por que existem focos de
ignição. A resposta é: o uso de esmeril produz faíscas. O questionamento seguinte indaga: por que o es-
meril foi usado? A resposta: porque o operário que o usou desconhece a existência da gasolina no local de
trabalho. Observe que conhecendo as múltiplas causas do acidente, pode-se elaborar planos de prevenção.
Por exemplo: armazenar gasolina em local restrito; informar trabalhadores sobre o risco de explosão com
material inflamável; e treinar trabalhadores sobre combate a incêndio.
A investigação de acidentes pode trazer muitos benefícios para a segurança dos trabalhadores, en-
contrando falhas de segurança que, até então, não estavam evidentes. Ela, inclusive, deve ser aplicada
aos incidentes que ocorrem nos ambientes de trabalho.

UNIDADE 2 67
O que são incidentes?
Incidentes são quase acidentes. Por exemplo,
um trabalhador escorrega em uma superfície
de trabalho, mas não cai e não sofre lesão. Veja
mais em: https://www.epi-tuiuti.com.br/blog/
seguranca-do-trabalho/entenda-diferenca-en-
tre-acidente-e-incidente-de-trabalho/.

A investigação de acidentes é uma atribuição im-


portante dos prevencionistas. Além da sua exigên-
cia dada por lei, vimos que fazê-la permite que o
trabalho seja melhorado, evitando situações que
irão causar os mesmos acidentes ou até outros
mais graves. Ainda, vimos que os quase aciden-
tes ou incidentes são indícios de que há algo de
errado na execução de um trabalho, do ponto de
vista da segurança. Um sistema que identifica es-
tas situações pode ser bem útil para prevenir a
ocorrência de acidentes com perdas materiais e
humanas.
Agora que você já conhece em detalhes o que
é um acidente do trabalho, vamos estudar, nas
próximas unidades, como avaliar a magnitude
dos riscos ambientais por meio das técnicas da
Higiene Ocupacional.

68 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Um trabalhador sofreu um corte leve em seu dedo durante seu trabalho usando
um estilete. Esta situação se configura em acidente do trabalho? Justifique sua
resposta.

2. Trabalhadores que atuam em laboratório de pesquisa sofrem exposição a pós


de chumbo durante todos os dias de trabalho. Identifique algumas doenças que
eles podem desenvolver em decorrência de seu trabalho.

3. Um trabalhador da construção civil, que é contratado por uma empresa de


engenharia, sofre uma queda de mais de dois metros de altura, sofrendo lesão
que o incapacita temporariamente para o trabalho. No momento do acidente,
o trabalhador não estava usando um sistema de cinto de segurança e talabarte.
Elabore uma lista dos possíveis fatores imediatos, subjacentes e latentes que
ocasionaram o acidente.

69
LIVRO

Investigación de accidentes del trabajo y enfermedades profesionales: guía


práctica para inspectores del trabajo
Autor: Organização Internacional do Trabalho
Editora: Organização Internacional do Trabalho
Sinopse: este guia foi desenvolvido em colaboração com o Centro Internacio-
nal de Formação da OIT, em Turim, depois de uma oficina sobre a realização
de investigações de acidentes do trabalho e doenças profissionais, em que
participaram membros do Brasil, Estados Unidos da América, Itália, Noruega,
Portugal, Reino Unido, Romênia, junto com especialistas técnicos do Serviço de
Administração do Trabalho e Inspeção do Trabalho e Segurança e Saúde do
trabalho do Escritório Internacional do Trabalho.

FILME

Another Promise
Ano: 2013
Sinopse: é um filme sul-coreano de 2014, baseado na história verdadeira sobre
a batalha legal entre o conglomerado coreano Samsung e seus funcionários que
contraíram leucemia.
Logo após se formar no ensino médio, Yoon-mi começa a procurar emprego
para ganhar dinheiro para ajudar a sustentar sua família em dificuldades; ela
quer, especialmente, pagar as mensalidades de seu irmão mais novo, Yoon-seok,
quando ele for para a faculdade nos próximos anos. Seu pai, Sang-gu, motorista
de táxi na província de Gangwon , fica orgulhoso e muito feliz quando Yoon-mi é
contratada como operária na fábrica de semicondutores de Jinsung . Contudo,
apenas dois anos depois, ele descobre que sua filha foi diagnosticada com leu-
cemia; quatro anos após seu diagnóstico, Yoon-mi morre no banco traseiro do
táxi de Sang-gu. Depois de saber que vários colegas de trabalho de Yoon-mi na
fábrica também estão sofrendo doenças improváveis, Sang-gu está convencido
de que Jinsung é responsável pela doença e morte de sua falecida filha. Ele faz
uma visita a um advogado trabalhista para registrar uma reclamação contra o
conglomerado mais poderoso do país. Sang-gu e sua família, juntamente com
seu advogado e outras famílias de pacientes com leucemia, logo ficam abalados
quando a empresa usa diferentes métodos de apaziguamento e pressão para
impedir que as famílias se unam, entre elas oferecendo dinheiro para impedir
que o problema se torne público. Os trabalhadores de Jinsung também espio-
nam as famílias dos queixosos, perseguem-nos e os ameaçam, tudo pelo bem
de sua empresa, que eles realmente acreditam estar certa. As pessoas relutam
em ser testemunha de um julgamento, seja por sua lealdade à empresa ou pelo
bem-estar de suas famílias. Contudo, Sang-gu está determinado a continuar em
sua busca pela verdade e pela justiça.

70
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14.280:2001. Cadastro de acidente do trabalho - pro-
cedimento e classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.

BRASIL. Decreto Federal nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o regulamento da Previdência Social e
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BRASIL. Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
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leis/l8080.htm. Acesso em: 18 dez. 2019.

BRASIL. Lei Federal nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência
Social dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.
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2012. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/31572-entenda-a-diferen-
ca-entre-as-dores-agudas-e-cronicas. Acesso em: 09 nov. 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços
de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, Brasília. 2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
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BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Guia de Análise de Acidentes do Trabalho. São Paulo: MTE,
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em: http://www.previdencia.gov.br/saude-e-seguranca-do-trabalhador/politicas-de-prevencao/nexo-tecnico-
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BRASIL. Portaria n° 1339, de 18 de novembro de 1999. Ministério da Saúde, 1999. Disponível em: http://
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SMARTLAB. Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho. Promoção do Meio Ambiente do


Trabalho Guiada por Dados. [2020]. Disponível em: https://smartlabbr.org/sst. Acesso em: 09 jan. 2020.

SOBRAL JÚNIOR, M. Segurança do trabalho: organizando o setor. Manaus: [s.n.], 2013.

72
1. Sim, pois o trabalhador sofreu uma lesão que o incapacitou temporariamente para o trabalho. Essa lesão
ocorreu, pois ele estava prestando um serviço à empresa. Mesmo que a lesão não gere um afastamento
do trabalho, ela se configura em acidente do trabalho.

2. A exposição ao chumbo está associada a diversas doenças, como: doenças do sistema circulatório, doenças
do sistema digestivo, insuficiência renal crônica e infertilidade masculina. Caso algum trabalhador tenha
alguma doença relacionada ao chumbo, conforme portaria nº 1.339/99, será preciso fazer a investigação
quanto à sua relação com o trabalho.

3. Fatores imediatos: falta do uso do sistema de cinto de segurança e talabarte; falta de pontos de ancoragem;
falta de proteção coletiva contra quedas.
Fatores subjacentes: nível de atenção do trabalhador no dia do acidente; nível de percepção de risco do
trabalhador; condições do ambiente.
Fatores latentes: falta de treinamento e segurança do trabalho em altura; falta de exame médico para
realização de trabalho em altura; falta de projeto de proteção coletiva.

73
74
Me. Maílson José da Silva

Higiene
Ocupacional I

PLANO DE ESTUDOS

Calor Vibrações

Ruído Radiações

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Entender os conceitos de avaliação da exposição ocupa- • Entender os conceitos de avaliação da exposição ocupa-
cional ao ruído. cional a radiações.
• Aplicar as técnicas de avaliação quantitativa da exposição • Aplicar as técnicas de avaliação quantitativa da exposição
ocupacional ao calor. ocupacional a vibrações.
Ruído

Você já entrou em um ambiente fabril? Caso sim,


dependendo do segmento da indústria, você ob-
servou que existem diversos fatores que, de certa
forma, “atacam” nosso conforto: barulho de má-
quinas, calor, luz intensa, vibrações, dentre outros.
Estes fatores se constituem em agentes ambientais
que podem ou não provocar acidentes e doenças
nos trabalhadores. Para verificar se os agentes am-
bientais são, de fato, riscos ambientais, é preciso
fazer avaliações utilizando técnicas da Higiene
Ocupacional (HO). Esta unidade iniciará nosso
estudo sobre técnicas de avaliação HO. A HO é
formada por conhecimentos de diversas áreas,
como da física, química, matemática e engenharia,
ela trata do reconhecimento, antecipação, avalia-
ção e controle dos riscos ambientais presentes
no ambiente de trabalho. Os riscos que serão es-
tudados são: ruído, calor, radiações (ionizantes
e não ionizantes), vibrações, agentes químicos, e
agentes biológicos. Já estudamos cada um desses
riscos na Unidade 1. Aqui, iremos mostrar como
cada risco é avaliado utilizando os métodos e fer-
ramentas da HO.
A Higiene Ocupacional pode ser definida como a “ciência e arte dedicada à antecipação, reconheci-
mento, avaliação e controle de fatores ambientais ou fatores estressantes presentes ou originários
do ambiente de trabalho, que podem causar doenças, prejudicar a saúde e bem-estar ou trazer
desconforto significativo entre trabalhadores ou cidadãos de uma comunidade”.
Fonte: Goelzer(1998, s.p.).

Iniciamos esta unidade por um dos riscos mais presentes nos ambientes de trabalho: o ruído. Este é
produzido por máquinas e equipamentos usados em diferentes atividades laborais. Exemplos: um
martelo batendo em um prego ou uma marreta batendo em um material metálico; uma lixadeira
fazendo o corte de uma barra de aço; uma furadeira perfurando uma parede; um secador de cabelos
em um salão de cabeleireiros etc.
O ruído pode ser prejudicial à saúde humana quando estiver em uma intensidade muito alta. Para
saber se uma intensidade sonora é segura, é preciso compará-la com um limite de tolerância. O limite
define intensidades de ruído máximas, conforme o tempo de exposição, que não causarão danos à
saúde auditiva da maioria dos trabalhadores que ficam expostos durante toda a vida laboral. Portanto,
a simples presença de ruído em um ambiente de trabalho não significa que ele é um local insalubre
(um ambiente causador de doenças). É preciso usar técnicas de avaliação da HO para determinar a
gravidade da exposição ao ruído. Caso o ambiente seja insalubre, devem ser adotadas medidas para
modificá-lo e fazer o monitoramento das exposições. Para você entender corretamente as bases da
avaliação ocupacional ao ruído, vamos entender primeiro o que é o som.

O termo “insalubre” é usado para designar um ambiente ou atividade que causa danos à saúde dos
trabalhadores. A insalubridade é avaliada por meio da Norma Regulamentadora NR-15, do antigo
Ministério do Trabalho e Emprego (agora Ministério da Economia). No entanto, vale destacar que
algumas atividades e ambientes geram danos à saúde, mas não estão presentes no texto legal NR-15.

UNIDADE 3 77
Som: Potência, Frequência, Ruído,
Ruído Contínuo e Ruído de Impacto

O som é formado por variações na pressão de um meio. Assim, se não existir um meio de propagação
para as ondas sonoras, seja o ar ou a água, por exemplo, não haverá som. O som é formado por ondas
mecânicas. Como toda onda, a onda sonora possui as características de comprimento de onda, am-
plitude e frequência. Observe a Figura 1, que ilustra uma onda mecânica.

Figura 1 - Parâmetros de ondas


Fonte: Fantazzini (2001 apud SESI, 2007, p. 120).
No eixo vertical (Figura 1), temos representado a potência (P) e no
eixo horizontal o tempo. Observe que a potência muda ao longo
do tempo, possuindo um pico dado pela amplitude da onda (A). A
onda se repete conforme seu comprimento (letra grega lambda - λ).
Por que é importante saber essas características do som?
Quando ouvimos um som “muito forte” significa que a sua po-
tência (dada pela amplitude da onda) é muito alta. A potência do
som é medida por meio da unidade decibéis (dB) (Figura 2).

78 Higiene
Intensidade do ruído em dB
90-120 dB
Sirene, alarme 140 Explosão
130 Avião a decolar

85-115 dB 120 Tiro, buzina


Discoteca,
bar musical, 110 Martelo pneumático
concerto Serra mecânica
100
Máquina perfuradora
90 (bermequim)
70-100 dB 80 Recreio
Leitor de música
70 Aspirador
60 Máquina de lavar roupa
50-90 dB
Tráfego rodoviário 50

40
Biblioteca
30
40-80 dB 20
Sala de aula
10 Cabina insonorizada

0 Limiar auditivo
30-80 dB
Voz ciciada,
falada ou Sons excepcionais: Perigo: Limiar do Sem
lesão irreversível sons lesivos som lesivo risco
gritada
Figura 2 - Exemplos de níveis de ruído
Fonte: adaptada de Cochlea (2001, on-line)1.

Veja que a voz humana possui intensidade de 30 maiores de som, e comprimentos maiores geram
a 80 decibéis (dB). O tráfico rodoviário, porém, frequências menores. A frequência de um som é
possui intensidade que varia de 50 dB a 90 dB. medida pela unidade Hertz (Hz) que é o número
Quanto maior a intensidade, mais prejudicial é o de ciclos por segundo de uma onda. O ouvido
som para a saúde auditiva. Sons acima de 90 dB, humano pode ouvir sons na faixa de 16-20 Hz a
como é o caso do ruído produzido por uma serra 16-20 KHz (SESI, 2007).
mecânica ou um martelo pneumático, oferecem
um perigo expressivo para o ouvido, sendo que
intensidades acima de 115 db(A) oferecem risco
grave e iminente (BRASIL, 1978c).
No entanto, não conseguimos ouvir todo tipo Considera-se grave e iminente risco toda condi-
de som. A audibilidade do som dependerá de sua ção ou situação de trabalho que possa causar aci-
frequência. Conforme o comprimento de onda do dente ou doença com lesão grave ao trabalhador.
som, existirão diferentes tipos de frequência. Com- Fonte: Brasil (1978a).
primentos de onda menores geram frequências

UNIDADE 3 79
Quando diversos sons, de diferentes frequências, são produzidos em um ambiente, existe, na verdade,
um ruído – conjunto de sons de diferentes frequências e intensidades. Este ruído pode ser de impacto –
quando produz picos de energia com duração inferior a um 1 segundo a intervalos superiores a 1 segundo
– ou ruído contínuo ou intermitente.
As características de intensidade sonora (medida em dB), frequência (medida em Hz) e tipo de
ruído são importantíssimas nas medições dos níveis de ruído, explicadas a seguir.

Medições: Limites, Ponderação,


Resposta Dinâmica e Dose de Ruído

Como vimos, um ruído será prejudicial à saúde se possuir uma intensidade tal que ultrapasse um certo
valor de limite de tolerância. No Brasil, os limites de tolerância são dados pela Norma Regulamentadora
NR-15, em seus anexos 1 e 2, conforme ilustra a Tabela 1.
Tabela 1 - Limites de tolerância para ruído
NÍVEL DE RUÍDO dB(A) Máxima Exposição Diária Permissível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
Fonte: Brasil (1978c, on-line).

80 Higiene
Veja, aluno(a), como aponta a Tabela 1, uma ex- “IMPULSE” (impacto) ou “FAST” (rápido).
posição a 85 dB(A) durante 8 horas de trabalho Observe que, em um ambiente de trabalho, po-
é considerada uma exposição dentro do limite dem existir diversas fontes de ruído simultâneas.
de tolerância. Entretanto, uma exposição a um O nível de ruído geralmente não permanece o
ruído de 90 dB(A) durante 5 horas de trabalho é mesmo durante toda a jornada de trabalho. Se al-
considerada insalubre, pois o limite de tolerância guns equipamentos são desligados, por exemplo,
para 5 horas de trabalho é de 88 dB(A). o nível de ruído diminui; se o trabalhador circula
por diferentes ambientes durante sua jornada de
trabalho, o nível de ruído irá variar. Diversas outras
situações causam variação no nível de ruído du-
rante a jornada laboral. Para considerar correta-
O limite de tolerância não é o único parâmetro mente as variações de ruído conforme os limites
usado para iniciar a aplicação de medidas correti- de tolerância explicitadas no Quadro 1, é preciso
vas em um ambiente. Caso o valor da intensidade calcular a dose de ruído.
de ruído seja igual a 50% do valor do limite de
tolerância, deve-se tomar uma ação, pois este
valor representa o Nível de Ação.
Fonte: Brasil (1978b).
Os níveis de impacto deverão ser avaliados em
Observe, na Tabela 1, que o ruído está sendo re- decibéis (dB), com medidor de nível de pressão
presentado com a unidade de dB(A). Este “A” na sonora operando no circuito linear e circuito de
unidade possui um significado importante: que resposta para impacto. O limite de tolerância
o ruído está sendo ponderado na curva de pon- para ruído de impacto será de 130 dB (linear).
deração A. Uma curva de ponderação serve para Em caso de não se dispor de medidor do nível
corrigir a intensidade do ruído conforme sua fre- de pressão sonora com circuito de resposta para
quência, já que o ouvido humano tem uma ten- impacto, será válida a leitura feita no circuito de
dência a escutar menos os sons mais graves (de resposta rápida (FAST) e circuito de compensa-
baixa frequência) e ter uma sensibilidade maior ção "C". Neste caso, o limite de tolerância será
para os sons mais agudos (de alta frequência). de 120 dB(C).
Além da curva de ponderação A, existem as cur- Fonte: adaptado de Brasil (1978c).
vas B, C e linear. Para medir o ruído contínuo ou
intermitente, utilizamos a curva A. Esta deve ser
parametrizada no equipamento de medição (que
iremos explicar em seguida). E para medir o ruí-
do de impacto, utilizamos a curva de compensa-
ção C ou linear. Dose de ruído é um valor que expressa a expo-
Além da ponderação, é preciso parametrizar sição ao ruído durante uma jornada de trabalho.
o equipamento de medição quanto ao circuito de Quando seu valor excede a unidade, significa que
resposta. Para ruídos contínuos ou intermitentes, o limite de tolerância foi ultrapassado.
o circuito de resposta é “SLOW” (resposta lenta); Fonte: baseado em Brasil (1978c).
para ruídos de impacto, podemos usar os circuitos

UNIDADE 3 81
A dose é calculada pela seguinte expressão:
C1 C2 C3 Cn
+ + ...
T1 T2 T3 Tn

Em que:
C: tempo total de exposição a um certo nível de ruído.
T: tempo total de exposição permitida para o nível de ruído.

1 EXEMPLO Um trabalhador fica exposto a 85 dB(A) durante 4 horas e a 90 dB(A) durante 2 horas.
Nesse caso, conforme dados da Tabela 1, o valor da dose de ruído é de:

C1 C2 4 2
1
T1 T2 8 4

Neste caso, a dose de ruído não ultrapassou a unidade e o ambiente não é considerado
insalubre.

Realização de medições
de exposição ao ruído
Tenha sua dose extra de
conhecimento assistindo ao Agora que você conhece os conceitos fundamen-
vídeo. Para acessar, use seu tais usados nas medições, vamos entender como
leitor de QR Code. elas são feitas.
São utilizados, basicamente, dois tipos de equi-
pamentos para medir o ruído: o dosímetro e o
medidor de leitura instantânea (conhecido como
decibelímetro) – Figuras 3 e 4.

Figura 3 – Medidor de ruído


de leitura instantânea

82 Higiene
Figura 4 – Dosímetro de ruído
Fonte: Instrutherm ([2020], on-line)2.

O medidor de leitura instantânea é, geralmente, um equipamento


maior, segurado pelo avaliador próximo da zona auditiva do tra-
balhador. O equipamento registra o nível de ruído instantâneo. O
avaliador deverá registrar o nível de ruído, conforme o intervalo
de tempo. Após fazer diversos registros, é feito o cálculo manual da
dose, se necessário, ou então se compara os níveis medidos com o
tempo de exposição para determinar se o limite de tolerância foi
ultrapassado.
Com a utilização do dosímetro, o avaliador não precisa ficar
segurando o equipamento próximo da zona auditiva do trabalhador.
O microfone do dosímetro é preso no ombro do trabalhador, na
zona auditiva, e a dose é fornecida após a medição. Tanto o dosíme-
tro como o medidor de leitura instantânea devem ser configurados
conforme as características do ruído a ser medido. Para o ruído
contínuo ou intermitente:

UNIDADE 3 83
• Para dosímetros: O dosímetro deve atender a algumas especificações
- Circuito de ponderação “A”. mínimas: atender à norma ANSI S1.25-1991 ou
- Circuito de resposta lento (SLOW). suas versões futuras; classificação mínima do tipo 2.
- Critério de referência – 85 dB (A). O medidor integrador portado pelo avaliador
- Nível limiar de integração – 80 dB (A). deve atender: especificações constantes na Nor-
- Faixa de medição mínima - 80 a 115dB ma IEC 804 ou suas versões futuras; classificação
(A). mínima tipo 2.
- Incremento de duplicação de dose - 3 O medidor de leitura instantânea deve aten-
ou 5 (caso esteja usando a NR-15 como der a: norma ANSI S1.4-1983 e IEC 651 ou suas
referência, usar incremento de 5). versões futuras.
- Indicação de ocorrência de níveis supe- Antes de iniciar as medições, é preciso se cer-
riores a 115 dB (A). tificar que os equipamentos utilizados atendam às
• Para medidores de leitura instantânea: especificações apresentadas. Além dos medidores
- Circuito de ponderação “A”. em si, utiliza-se um calibrador acústico que deve
- Circuito de resposta lento (SLOW) ou atender às especificações da norma ANSI S1.40-
rápido (quando especificado pelo fabri- 1984 ou IEC 942-1988. Os calibradores são usados
cante). antes e depois da medição para verificar se houve
- Critério de referência – 85 dB (A). alteração significativa dos valores lidos (variação
- Nível limiar de integração – 80 dB (A). maior que 1db).
- Faixa de medição mínima - 80 a 115dB.
- Incremento de duplicação de dose - 3
ou 5 (caso esteja usando a NR-15 como Utilização de
referência, usar incremento de 5). Protetores Auriculares
- Indicação de ocorrência de níveis supe-
riores a 115dB (A). A proteção contra ruído deve ser preferencial-
mente feita por meio de medidas que atuem dire-
Para a medição de ruído de impacto, as configu- tamente na fonte de ruído. Enclausurar fontes de
rações mínimas são: ruído, construir paredes com material absorvente,
• Circuito de ponderação “linear” ou “C”. realizar a manutenção de equipamentos, fixar pe-
• Circuito de resposta para medição de nível ças soltas em máquinas, dentre outras medidas,
de pico ou FAST. reduzem o nível de ruído produzido nos ambien-
• Faixa de medição de pico mínimo de 100 tes de trabalho. Caso o nível de ruído ultrapasse
a 150dB. um valor mínimo de 80 dB(A), que é o nível de
ação, será preciso fornecer proteção por meio de
protetores auriculares.

84 Higiene
Existem, basicamente, três modelos, ilustrados pela Figura 5.

Protetor Protetor de inserção de Protetor de inserção de


circum-auricular espuma de expansão lenta polímero pré-moldado
Figura 5 – Modelos de protetores auriculares
Fonte: adaptado de Protcap ([2020], on-line)3, Astro Distribuidora ([2020], on-line)4 e Zeus do Brasil ([2020], on-line)5.

Os protetores que possuem melhor eficiência são os circum-auriculares, seguidos pelos de inserção de
espuma de expansão lenta e pelos de inserção de polímero pré-moldado. Para obter um nível maior de
proteção contra ruídos, pode-se utilizar o protetor circum-auricular juntamente com os de inserção.
O que determina o nível de proteção do protetor é seu valor de atenuação NRR (Noise Reduction
Rate ou Nível de Redução do Ruído) expresso em decibéis. Este valor pode ser determinado por qua-
tro métodos diferentes: método longo, NRR, NRRa e NRRSF. O nível de atenuação determinado pelo
método NRRSF é o mais prático de ser utilizado, pois ele considera o nível de atenuação para usuários
leigos no uso dos protetores auriculares, já que o seu mau uso reduz o nível original de proteção de-
terminado por fábrica.

2 EXEMPLO Em uma fábrica, o ruído constante de diversos equipamentos produz uma intensida-
de sonora máxima de 92dB (A) durante oito horas de trabalho. Um protetor auricular
do tipo de inserção pré-moldado possui NRRSF=18db. Quanto de intensidade sonora
chegará ao ouvido do usuário do EPI? A redução é satisfatória? Neste caso, chegará ao
ouvido do usuário a seguinte intensidade:

dB (A) (ouvido) = dB(A)-NRRSF=92-18=74dB(A).

UNIDADE 3 85
Como o limite de tolerância para oito horas é de 85 dB (A), verificamos que a atenuação é satisfatória.
O exemplo mostrou como é prático o uso do NRRSF. No entanto, seu valor pode ser usado direta-
mente se o trabalhador usar o protetor durante toda sua jornada de trabalho. Caso ele use parcialmente,
deve ser feito uma correção, que é dada pela Tabela 2.
Tabela 2 – Correção para o NRR nominal de protetores
CORREÇÃO PARA O NRR NOMINAL DO PROTETOR
Tempo de uso em porcentagem de jornada de 8 horas
50 75 87,5 94 98 99 99,5 100% do tempo NRR – atenuação nominal
-20 -15 -11 -7 -3 -2 -1 25
-15 -11 -7 -4 -2 -1 -1 20
-11 -7 -4 -2 -1 -1 0 15
-7 -4 -2 -1 -1 0 0 10
-240 120 60 30 10 5 2,5 0
Tempo de não uso em minutos por jornada de 8 horas

Fonte: Fantazzini (apud SESI, 2007, p. 142).

Para o nosso exemplo, se o protetor não é usado durante 1 hora (60 min) da jornada laboral, a porcen-
tagem de uso em relação à jornada de oito horas é de:

480  60
 0, 875  87, 5%
480
Cruzando esse valor com o valor de NRR = 20 na Tabela 2 (usamos o valor de 20, pois é o que mais se
aproxima do valor do NRRSF = 18 do protetor), obtemos um desconto de -7. Portanto, o nível de ruído
médio que chegará ao ouvido do trabalhador durante toda a jornada de trabalho será de:

dB(A)(ouvido) = dB(A) - NRRSF(com desconto) = 92 - 11 = 81dB(A)

Veja que, após avaliar a exposição ao ruído, é preciso determinar o equipamento de proteção mais
adequado que, no caso do protetor auricular, precisa ser verificado quanto ao seu correto uso (durante
toda a jornada de trabalho em que há exposição ao ruído e colocação correta do equipamento).
Vimos que a avaliação do ruído é feita de forma quantitativa, utilizando-se equipamentos de medição
de pressão sonora, e que as medidas de controle são aplicadas conforme o nível de ruído encontrado.
Em algumas situações, quando o nível de ruído não atinge 50% do valor do limite de tolerância, as
medidas de controle podem ser dispensadas.
Agora, vamos estudar outro agente ambiental físico: o calor. Assim como o ruído, o calor pode gerar
apenas um desconforto ou, dependendo de sua intensidade, tempo de exposição e tipo de atividade
desenvolvida, pode gerar doença nos trabalhadores.

86 Higiene
Calor

Neste momento, como está a temperatura do seu


ambiente? Com certeza você já passou pelo des-
conforto criado pelo calor. Especialmente aqui
no Brasil, a temperatura ambiental pode atingir
valores que geram diversas reações no corpo: suor
excessivo, sensação de cansaço e desânimo, difi-
culdade para raciocinar em algumas situações
etc. Será que o calor que sentimos no dia a dia,
especialmente no verão, é prejudicial à nossa saú-
de? O calor se torna prejudicial aos trabalhadores
quando ocorre uma sobrecarga térmica no orga-
nismo. Se o calor gerado pelo corpo não é dissipa-
do satisfatoriamente, ocorre a sobrecarga. O calor
vem de fontes artificiais de ambiente interno e do
sol. Alguns exemplos de fontes artificiais de calor
são: fornos, muflas, fogões industriais, chapa para
fritura de carnes, motores etc. Os trabalhadores
recebem o calor dessas fontes e, ao mesmo tempo,
desempenham atividades que produzem calor em
seu organismo. A combinação da temperatura
ambiente e dos períodos de descanso deve ser tal
que permita uma dissipação do calor produzido
pelo corpo .

UNIDADE 3 87
tes termômetros: termômetro de bulbo úmido
(tbn), termômetro de globo (tg) e termômetro de
bulbo seco (ts). O outro parâmetro avaliado é a
taxa metabólica (M), que é dependente da ativi-
dade realizada. Estes dois parâmetros estabelecem
os limites de tolerância ao calor que, quando ul-
trapassados, gerarão a sobrecarga térmica.
O IBUTG é calculado por duas equações diferen-
tes. Para ambientes sem carga solar, ele é dado por:
IBUTG = 0,7tbn + 0,3tg (1)

E para ambientes com carga solar:

Formas de trasmissão de calor IBUTG = 0,7tbn + 0,2tg + 0,1ts(2)

Para avaliar o risco de uma atividade com exposi- A taxa metabólica não é calculada por meio de
ção ao calor, são avaliados basicamente dois parâ- equação. Ela é obtida por meio de tabelas. A se-
metros. O Índice de Bulbo Úmido Termômetro guir, estão dispostas as taxas de metabolismo
de Globo (IBUTG) é um valor de temperatura por atividade de acordo com a NR-15, anexo III
composto pela temperatura lida por três diferen- (BRASIL, 1978c).

Tabela 3 – Taxas de metabolismo por atividade


TIPO DE ATIVIDADE Kcal/h
SENTANDO EM REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco (ex.: datilografia). 125
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex.: dirigir). 150
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 150
TRABALHO MODERADO
Sentado, em movimentos vigorosos com braços e pernas. 180
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 175
De pé, trabalho moderado, em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 220
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar. 300
TRABALHO PESADO
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remoção com pá). 440
Trabalho fatigante. 550

Fonte: Brasil (1978c, p. 3).

88 Higiene
A temperatura a que trabalhadores ficam expostos
varia significativamente de acordo com o horário do
dia e da atividade. Para avaliar o IBUTG, é preciso Trabalhadores aclimatizados são aqueles que
selecionar o período da jornada de trabalho em que a passaram pela aclimatização, que é a “adaptação
situação está mais crítica. A medição de temperatura fisiológica decorrente de exposições sucessivas e
deve ocorrer por um período de 60 min. Neste pe- graduais ao calor que visa reduzir a sobrecarga
ríodo, a situação térmica deve ser a mais desfavorável fisiológica causada pelo estresse térmico”.
possível, ou seja, com temperatura ambiente alta e Fonte: Fundacentro (2017, p. 13).
taxa metabólica alta. A medição é feita por meio de
um dispositivo que possui os três termômetros que
comentamos, conforme ilustrado pela Figura 6.

Sensor

2,5 cm

Figura 6 – Conjunto eletrônico e convencional para leitura do IBUTG


Fonte: Fundacentro (2017, p. 31).

O dispositivo da esquerda é um conjunto eletrônico que fornece diretamente o valor de IBUTG.


Ele possui uma esfera de cobre oca de seis polegadas de diâmetro, pintada de preto, para captar a
temperatura de globo proveniente do calor irradiado. Ao lado, há um pequeno pote que possui um

UNIDADE 3 89
termômetro envolto por um pavio umedecido. Ele fornece a temperatura de bulbo úmido. E mais à
direita há o termômetro de bulbo seco. O dispositivo da direita da figura é um conjunto convencional,
composto pelos três termômetros já citados, mas que não fornecem a leitura direta do IBUTG e sim a
leitura individual de cada temperatura. Neste caso, é preciso fazer o cálculo do IBUTG por meio das
equações apresentadas. O dispositivo de medição deve ficar posicionado no local em que permanece
o trabalhador e na altura do corpo da região mais atingida.
Vejamos alguns exemplos de medição e avaliação da exposição ocupacional ao calor.

Avaliação do IBUTG para Regime de Trabalho Intermitente com


Períodos de Descanso no Próprio Local de Prestação de Serviço

Há situações em que os trabalhadores que ficam expostos ao calor realizam pausas para descanso (mo-
mento em que a taxa metabólica diminui) no próprio local de trabalho. Este é o caso, por exemplo, de
um trabalhador que carrega com material um forno e espera por alguns minutos, na frente do forno,
para fazer a retirada do material. O período em que ele não faz o carregamento é considerado período
de descanso no próprio local de trabalho. Os limites de tolerância são estabelecidos pela Tabela 4.
Tabela 4 – Limites de tolerância para regime de trabalho intermitente com descanso no próprio local de trabalho

REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE TIPO DE ATIVIDADE


COM DESCANSO NO PRÓPRIO LOCAL
DE TRABALHO (por hora) LEVE MODERADA PESADA

Trabalho contínuo Até 30,0 Até 26,7 Até 25,0


45 minutos trabalho
30,1 a 30,5 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9
15 minutos descanso
30 minutos trabalho
30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9
30 minutos descanso
15 minutos trabalho
31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0
45 minutos descanso
Não é permitido o trabalho, sem adoção
Acima de 32,2 Acima de 31,1 Acima de 30,0
de medidas adequadas de controle

Fonte: Brasil (1978c, p. 1).

90 Higiene
3 EXEMPLO Um trabalhador carrega material em uma mufla para um experimento científico du-
rante 5 min. e, a seguir, ele aguarda por 20 min. o aquecimento do material e gasta
mais 5 min. para fazer a retirada do material. Como não há carga solar, foram medidas
as temperaturas de globo e de bulbo úmido apenas, obtendo-se os seguintes valores:
tg = 35 °C; tbn = 25 °C.
Neste caso, avaliou-se que a atividade do trabalhador é de intensidade moderada e que
o período em que ele aguarda na frente da mufla é considerado período de descanso.
Utilizando a Equação (1), temos:

IBUTG = 0,7tbn + 0,3tg = (0,7x25) + (0,3x35) = 28 °C (Eq.1)

Para este valor de IBUTG, conforme a Tabela 4, o trabalhador deve trabalhar, no máximo,
45 min. e descansar, no mínimo, 15 min. dentro de uma hora de trabalho. O seu ciclo
de trabalho dura 30 min. (soma dos tempos de atividade e descanso). Se em 30 min.
ele trabalha 10 min e descansa 20min (soma dos tempos de carregamento e descarre-
gamento da mufla), significa que, em uma hora, ele irá trabalhar 20 min. e descansar
40 min. Portanto, para o valor de IBUTG = 28 °C, o tempo de descanso e trabalho está
sendo atendido e a atividade não é insalubre do ponto de vista do calor.

Avaliação do IBUTG para Regime de Trabalho Intermitente


com Períodos de Descanso em Outro Local (Local de Descanso)

Quando o trabalhador executa sua atividade exposto ao calor e depois vai para outro ambiente termi-
camente mais ameno, exercendo atividade leve ou ficando em repouso, a avaliação do IBUTG é feita
de outra forma. Neste caso, são utilizados os limites de tolerância da Tabela 5.
Tabela 5 – Limites de tolerância para regime de trabalho intermitente com descanso em outro local (local de descanso)
M (Kcal/h) MÁXIMO IBUTG
175 30,5
200 30,0
250 28,5
300 27,5
350 26,5
400 26,0
450 25,5
500 25,0
Fonte: Brasil (1978c, p. 2).

UNIDADE 3 91
Nesse tipo de avaliação, deve-se registrar o IBUTG e a taxa de metabolismo M para o local de trabalho
e para o local de descanso. Em seguida, são calculados os seus valores médios e é feita a comparação
de seus valores com os dados da Tabela 5. O cálculo dos valores médios é feito da seguinte maneira:
( IBUTGt xTt )  ( IBUTGd xTd )
IBUTG  ( Eq.2)
60

Em que:
IBUTG : IBUTG médio.
IBUTGt: IBUTG no local de trabalho.
Tt: tempo total de trabalho dentro de 60 minutos.
IBUTGd: IBUTG no local de descanso.
Td: tempo total de descanso dentro de 60 minutos.

( M t xTt )  ( M d xTd )
M ( Eq.3)
60
Em que:
M : taxa metabólica média.
Mt: taxa metabólica no local de trabalho.
Tt: tempo total de trabalho dentro de 60 minutos.
M d: taxa metabólica no local de descanso.
Td: tempo total de descanso dentro de 60 minutos.

4 EXEMPLO Um trabalhador carrega material em uma mufla para um experimento científico durante
5 min. e a seguir ele sai da sala e vai para uma sala administrativa e permanece lá por
20 min. Em seguida, ele retorna à mufla e fica exposto ao calor por 5 min. para fazer a
retirada do material. Como não há carga solar, foram medidas as temperaturas de globo
e de bulbo úmido apenas, obtendo-se os seguintes valores para o local de trabalho:
tg = 35 °C
tbn = 25 °C
No local de descanso, os valores de temperatura medidos foram:
tg = 28 °C
tbn = 20 °C
Nesse caso, avaliou-se que a atividade de carregar e retirar o material na mufla tem
intensidade moderada, com M=175 kcal/h e a atividade realizada em sala administra-
tiva tem intensidade leve, com M=125 kcal. Observe que o trabalhador, durante uma
hora, trabalha o equivalente a 20 min. e fica em local de descanso durante um tempo
equivalente a 40 min.
Como os locais de trabalho e descanso são diferentes, devemos calcular o valor médio

92 Higiene
de IBUTG e da taxa metabólica com aplicação das Equações 2 e 3:

IBUTG t (0 , 7x 25 ) ( 0 , 3 x 35) 28 C

IBUTG d (0, 7 x 20 ) (0, 3 x 28) 22 ,4 C

( IBUT Gt xTt) ( IBUTG d xTd ) ( 28 x 20 ) ( 22, 4 x 40)


IBUTG 24, 27 C
60 60
( 175 x 20 ) ( 125 x 40 )
M , kcal / h
14167
60
Para uma taxa M de até 175 kcal/h, conforme os limites de tolerância apresentados,
o valor de IBUTG deve ser, no máximo, 30,5 °C. Portanto, nesta situação, o limite de
tolerância não foi ultrapassado.

Como vimos, o calor é avaliado quantitativamente por meio do índice IBUTG e este se diferencia
conforme o regime de trabalho. Em outro momento, estudaremos outro agente ambiental físico: as
vibrações. Diferentemente do ruído e calor que explicamos como é feita a avaliação quantitativa, iremos
focar na avaliação qualitativa deste agente ambiental.

UNIDADE 3 93
Radiações

Ruído e calor são dois agentes ambientais que


normalmente percebemos em nosso ambiente. E
as radiações, você consegue perceber com facili-
dade? Embora sejam invisíveis, podemos perceber
seus efeitos, principalmente em nossa pele. É fácil
observar que, após uma longa exposição aos raios
solares, nossa pele muda de cor, geralmente com
o aparecimento de manchas ou sinais de queima-
dura. Os raios possuem um conjunto de radia-
ções com efeito térmico. As radiações possuem
muitas aplicações industriais e nas atividades do
cotidiano. As radiações ionizantes são utilizadas
no controle de qualidade de soldas, esterilização
de alimentos, medição de densidade de materiais,
dentre outros. As radiações não ionizantes são
utilizadas na topografia, esterilização de bancadas
de trabalho, solda e corte, cortinas de luz, mapea-
mento de superfícies e iluminação.
A seguir, apresentamos conceitos básicos de
avaliação da exposição ocupacional às radiações.

94 Higiene
Avaliação da Exposição
Ocupacional a Radiações Ionizantes

Este tipo de radiação possui grandes efeitos na saúde humana, como os efeitos genéticos que são trans-
mitidos hereditariamente. Alguns efeitos são: anemia, diminuição do número de plaquetas, inibição
da proliferação celular, redução da fertilidade, fibrose renal e hepatite de radiação (SALIBA, 2014).
As radiações ionizantes são de diferentes tipos: radiações alfa, beta, gama, raios-x, elétrons, prótons
e nêutrons. Conforme o anexo 5 da NR-15, os limites de tolerância, as obrigações e os controles básicos
para a proteção contra os efeitos causados pela radiação ionizante estão na Norma CNEN-NE-3.01
“Diretrizes Básicas de Radioproteção”, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Esta nor-
ma estabelece os limites de dose individual para os indivíduos ocupacionalmente expostos, conforme
Tabela 6.

Tabela 6 – Limites de dose individual


Limites de Dose Anuais [a]

Indivíduo do
Grandeza Órgão Indivíduo ocupacionalmente exposto
público

Dose efetiva Corpo inteiro 20 mSv [b] 1mSv [c]

20 mSv [b]
Dose equivalente Cristalino 15mSv
(Alterado pela resolução CNEN 114/2011)

Pele [d] 500 mSv 50 mSv

Mãos e pés 500 mSv ---


Fonte: CNEN (2014, p. 13).

UNIDADE 3 95
A medição de radiação ionizante é feita por meio de medições de área, que medem o nível de radiação
de maneira instantânea, e por meio de medições individuais, utilizando dosímetros, que registram a
radiação acumulada ao longo do tempo. A unidade de medida é o Sievert(Sv). Dentre os equipamentos
utilizados nas medições existem (SOUZA, 2008):
• Câmara de ionização (medição de raios-x em pulsos).
• Detector Geiger Müller (medição de radiação de partículas alfa, beta, gama e raios-x).
• Detector de cintilação.
• Caneta dosimétrica.
• Filme dosimétrico (medição de raios-x, partículas gama e nêutrons).
• Dosímetro termoluminiscente (medição de elétrons, prótons, partículas gama, beta e raios-x).

O uso de cada tipo de equipamento vai depender da sensibilidade e robustez requeridas e do tipo de
radiação a medir.
Na avaliação das radiações ionizantes, é preciso estar atento às medidas de controle existentes e ao
tempo de exposição, bem como à intensidade de energia recebida pela fonte de radiação. Quanto mais
próximo o trabalhador estiver delas, maior serão os efeitos nocivos.

Avaliação da Exposição Ocupacional


a Radiações Não Ionizantes

As radiações não ionizantes possuem efeito térmico importante no organismo humano. A luz do sol
representa uma radiação não ionizante que pode aquecer tecidos e até penetrar na epiderme. A avaliação
desse tipo de agente físico, para fins de insalubridade, é descrita no anexo 7 da NR-15. Ele determina
que as micro-ondas, ultravioletas e o LASER são radiações não ionizantes e que a exposição a elas, sem
proteção adequada, pode caracterizar situação insalubre.
A avaliação deste agente, para fins legais, é feita de forma qualitativa, ou seja, é preciso:
a) Identificar se existe alguma fonte de radiação não ionizante no local de trabalho, descrevendo
suas características.
b) Identificar se existe proteção adequada que impeça que as ondas atinjam a pele, olhos e demais
partes do corpo humano.
c) Identificar os efeitos da exposição, em decorrência do tipo de radiação não ionizante, sua in-
tensidade e o tempo de exposição.

As radiações não ionizantes são ondas eletromagnéticas que carregam partículas discretas de energia,
porém elas não desalojam elétrons dos tecidos humanos, como as radiações ionizantes.
As micro-ondas e as ondas de alta frequência possuem limites de tolerância definidos pela ACGIH.
As ondas de alta frequência possuem limites de tolerância dados pela Lei 11.934/2009 e resolução
ANATEL 303, de 02 de julho de 2002. Essas ondas possuem comprimentos de onda maiores, de 100
km a 0,3 cm (SESI, 2007). Elas são usadas em estações de rádio, TV, aplicações médicas, radar e no
micro-ondas.

96 Higiene
Os raios ultravioletas se dividem em UVA, UVB e UVC. Seu
comprimento de onda é bem menor do que as micro-ondas e as
ondas de alta frequência, girando em torno de 400 nm a 100 nm
(SESI, 2007). As ondas ultravioletas possuem um efeito térmico e
ocular importantes, sendo que não são percebidos de imediato. O
trabalhador que fica exposto a essas radiações poderá perceber
seu efeito nocivo apenas após 6 ou 12 horas de exposição. Além de
atingirem o corpo diretamente, as radiações UV atacam os traba-
lhadores por meio de ondas refletidas. Algumas fontes de radiação
UV são: sol, arcos elétricos, soldas (principalmente as modalidades
protegidas com argônio – MIG, TIG, MAG), lâmpadas germici-
das, lâmpadas de vapor de mercúrio, cura de resinas, lâmpadas da
indústria gráfica e corpos incandescentes acima de dois mil graus
Celsius (SESI, 2007).
O LASER é uma sigla para Amplificação de Luz por Emissão
Estimulada de Radiação. Ele pode reproduzir vários tipos de radia-
ção não ionizante, possui como característica principal concentrar
uma grande quantidade de energia em uma pequena área. Isso
pode causar a destruição de tecidos atingidos pelo raio LASER.
Ao contrário das demais radiações não ionizantes, o LASER não
perde energia conforme sua distância da fonte que o originou. Para
conhecer a potência do laser, você pode consultar a sua classificação.
Os LASERs são classificados em cinco classes (SALIBA, 2014):
a) Classe I – risco baixo, poder irradiante baixo.
b) Classe II – potência maior que 1,0 mW.
c) Classe IIIA – potência entre 1 a 5,0 mW.
d) Classe IIIB – potência de 5 a 500 mW.
e) Classe IV – potência maior que 500 mW.

As radiações estão presentes em diversas atividades. Como vimos,


é necessário identificá-las, determinando sua natureza. A avaliação
qualitativa das fontes de radiação permite implementar medidas
de controle eficazes. Vejamos, agora, o agente ambiental vibrações.
Diferentemente das radiações que são ondas eletromagnéticas, as
vibrações são formadas por ondas mecânicas. Elas serão explicadas
no tópico a seguir.

UNIDADE 3 97
Vibrações

Você já andou em um veículo em uma estrada não


asfaltada, por exemplo, em um sítio? Se passou
por situação parecida, deve ter experimentado o
efeito das vibrações sobre o corpo. Elas são cau-
sadas pelo movimento de partes rotativas e por
peças de máquinas e equipamentos que possuem
movimentos repetitivos. A vibração acontece pelo
desiquilíbrio de forças atuando sobre um corpo.
Assim, ora existe uma aceleração sobre o corpo,
ora existe uma desaceleração. Esta é a principal
variável utilizada para caracterizar uma vibra-
ção. Outras variáveis associadas são a velocida-
de, frequência e deslocamento produzidos pela
vibração. Imagine, por exemplo, um trabalhador
usando uma furadeira. O movimento rotativo da
broca causará acelerações na mão do trabalhador.
Essas acelerações podem ocorrer nos três eixos
possíveis de movimento – eixos x, y e z. Outro
caso é a vibração causada pelo movimento de
um trator que é transmitida ao operador que se
encontra sentado no equipamento. A vibração
passa pelas suas nádegas e pode ocorrer nos três
eixos possíveis de movimento – eixos x, y e z. A
Figura 7 ilustra os eixos possíveis em que pode
ocorrer aceleração no corpo humano em função
das vibrações.

98 Higiene
z
z

y x
x
x

y
Figura 7 – Eixos de medição de vibração de corpo inteiro
Fonte: Norma ISO 2631:1985 (apud SESI, 2007, p. 169).

Portanto, para saber se uma exposição ocupacional à vibração é prejudicial à saúde, é preciso medir
a aceleração associada ao movimento vibratório, considerando o eixo em que ela ocorre. A vibração
intensa por longos períodos de tempo está associada à degeneração primária de vértebras e efeitos
no sistema nervoso. Caso ela ocorra em ambientes frios ou com más posturas corporais, as dores na
coluna podem ser intensificadas. Considerando estes efeitos, a NR-15, em seu anexo 8, estabeleceu
limites de tolerância para vibração de corpo inteiro (VCI) e vibração de mãos e braços (VMB). Não
detalharemos todos os cálculos envolvidos na avaliação da exposição ocupacional à vibração, mas nos
ateremos aos principais cálculos usados para determinar se uma exposição ultrapassa ou não o limite
de tolerância estabelecido pela norma.

Avaliação de Vibração de Corpo Inteiro

Esta avaliação é feita por meio de equipamento denominado medidor de vibração. Ele deve atender à
norma ISO 8041:2005 (SALIBA, 2014). Este equipamento possui um acelerômetro triaxial que converte
os sinais mecânicos da vibração em sinais elétricos, mostrando o resultado da vibração resultante em
relatórios que são usados para determinar se o limite ocupacional foi ou não ultrapassado durante a
exposição.

UNIDADE 3 99
Deve-se medir a aceleração ponderada (rms) nos três eixos de
vibração e calcular a aceleração soma resultante. Outra grandeza
medida pelo equipamento é o Valor de Dose de Vibração Resultante
(VDVR) que considera acelerações bruscas de vibração. A medi-
ção é feita durante um ciclo de trabalho e, portanto, não engloba a
jornada completa do trabalhador. Neste caso, é preciso calcular a
aceleração resultante normalizada para uma jornada de trabalho.
No cálculo do VDVR, deve-se considerar o tempo de exposição e
o tempo de medição. A seguir, apresentamos as principais equações
utilizadas na avaliação de vibração de corpo inteiro e um exemplo
de sua aplicação (SALIBA, 2014).
At  (1, 4 Awx )2  (1, 4 Awy )2  ( Awx )2 (Eq. 4)

Em que:
At: aceleração resultante.
Awx: aceleração ponderada no eixo x.
Awy: aceleração ponderada no eixo y.
Awz: acelaração ponderada no eixo z.

A Equação 4 mostra o valor de aceleração resultante da vibração


composta pelas vibrações nos três eixos de medição, ou seja, o equi-
pamento de medição mede os valores de aceleração nos três eixos e
elas compõem uma aceleração resultante que é usada para avaliar
a exposição. Essa aceleração resultante é usada na equação a seguir.

a2 w1.t1  a2 w2 .t2  ...  a2 wn .tn


AEQ  (Eq. 5)
t1  t2  ...  tn

Em que:
AEQ: aceleração equivalente ao tempo de exposição total.
a2wn: aceleração ponderada durante parte do tempo de exposição.
tn: tempo de exposição em que ocorreu a n-ésima aceleração.

A Equação 5 é usada para calcular a vibração resultante de diver-


sos tipos de exposição. Na prática, dentro de um ciclo de trabalho,
existem diferentes exposições à vibração. Por exemplo, um trator,
quando está no asfalto, gera vibração bem diferente de quando está
em uma estrada de terra ou quando está fazendo o carregamento
ou descarregamento de um material. Utilizamos a Equação 5 para
determinar a vibração equivalente ao tempo total de avaliação da

100 Higiene
exposição ocupacional à vibração. Dividimos a exposição total em
parcelas de tempo, conforme o valor de aceleração total medida em
cada parcela. A aceleração equivalente representa apenas parte da
exposição e toda a exposição deve ser considerada para uma jor-
nada de trabalho de oito horas. Este valor é obtido pela Equação 6:

T
Aren = are ( Eq.6)
T0
Em que:
Aren: aceleração normalizada resultante para a jornada de trabalho.
Are: aceleração resultante.
T: Tempo de duração da jornada diária de trabalho.
T0: 8 horas ou 480 minutos.

O valor de aceleração equivalente obtido pela Equação 5 deve ser


normalizado para uma jornada de trabalho de 8 horas. Isso é feito
por meio da Equação 6. Além do valor da aceleração normalizada
resultante, existe o valor de dose de vibração:

TE
VDVE = fVDV j 4 (Eq. 7)
TM
Em que:
VDVE: valor de dose de vibração determinado para cada eixo.
f: fator de multiplicação em função de cada eixo.
VDVj: valor de dose de vibração dp j-ésimo eixo.
TE: tempo de exposição em minutos ou hora.
TM: tempo de medição ou da amostra.

Além do valor de aceleração ponderada, é preciso avaliar o valor de


dose de vibração. Este valor é obtido, para cada eixo, por meio da
Equação 7. Após calcular o valor de cada eixo, é feito o cálculo para
o Valor de Dose de Vibração Resultante por meio da Equação 8.

VDVR  4 (1, 4VDVEx ) 4  (1, 4VDVEy ) 4  (VDVEz )4 (Eq. 8)


Em que:
VDVR: valor de dose de vibração resultante.
VDVEx: valor de dose de vibração no eixo x.
VDVEy: valor de dose de vibração no eixo y.
VDVEz: valor de dose de vibração no eixo z.

UNIDADE 3 101
Comparamos os valores de aren e VDVR com os limites de tolerân-
cia, estabelecidos no anexo 8 da NR-15 (BRASIL, 1978c):

aren = 1, 1m / s 2
VDVR = 21, 0m / s1,75

Vejamos um exemplo de medição de vibração.

5 EXEMPLO Um trabalhador fica exposto à vibração de corpo inteiro ao operar um trator. Sua ex-
posição ocorre em ciclos de trabalho com duração total de uma hora. O ciclo se repete
durante quatro vezes na jornada de trabalho e é composto por quatro operações:
Tabela 7 - Operações do ciclo de trabalho

Aceleração Tempo Tempo total na jornada


Operação
m/s² (min) de trabalho (min)

1 - Dirigir trator até o abastecimento 0,70 20 80

2 - Aguardar abastecimento 0,60 5 20

3 - Dirigir trator até o gramado para


0,70 5 20
corte

4 - Realizar corte de grama com o


1,40 30 120
trator

Total 60 240
Fonte: o autor.

Tabela 8 – Valores de dose de vibração medidos em cada eixo

Eixo VDV
x 5,0 m/s1,75

y 6,0m/s1,75

z 9,0 m/s1,75

Fonte: o autor.

Os valores de aceleração medidos já são os valores de aceleração ponderada total para


os três eixos. Portanto, não necessitamos fazer o cálculo utilizando a Equação (4), mas
precisamos calcular a aceleração equivalente:
a2 w1.t1 a2 w2 .t2 a2 w3 .t3 a2 w4 .t4 0, 72.20 0, 62.5 0, 72.5 1, 402.30
AEQ = =
t1 t2 t3 t4 20 5 5 30
72, 85
1,10m/s2
60

102 Higiene
Precisamos, agora, determinar o valor da aceleração normalizada para jornada de oito
horas. Esse valor é dado pela Equação 6, considerando que o tempo total da jornada
com exposição é de 240 min:
T 240
Aren  are  1, 10  0, 78 m / s 2
T0 480

Os valores de dose de vibração determinados medidos para cada eixo precisam ser
projetados de acordo com o tempo de exposição, já que os valores foram obtidos ape-
nas para 60 minutos de exposição (tempo de um ciclo). Fazemos o cálculo do valor de
dose de vibração utilizando a Equação 7. Na aplicação desta equação, vamos considerar
que o equipamento de medição já incorporou, nos valores medidos de VDV, o fator de
multiplicação de cada eixo. Assim, o cálculo fica:
TE 240
VDVEx VDVx 4 =5.4 7, 07 m / s1,75
TM 60
TE 240
VDVEy VDV y 4 =6.4 8, 48 m / s1,75
TM 60
TE 240
VDVEz VDVz 4 =9.4 12, 73 m / s1,75
TM 60
Com esses valores, calculamos o valor de vibração resultante dado pela Equação 8 (sem
os fatores de multiplicação para cada eixo):

VDVR 4 (VDVEx ) 4 (VDVEy ) 4 (VDVEz ) 4 =


4 (7, 07) 4 (8, 48) 4 (12, 73) 4 13,57 m/s1,75
Comparando os valores com os limites de tolerância do anexo 8 da NR-15, concluímos
que a exposição à vibração não ultrapassa os limites de tolerância e, portanto, a ativi-
dade não é insalubre.

Avaliação de Vibração de Mãos e Braço

A vibração localizada, de mãos e braços, provoca a obstrução do sangue (isquemia) que causa o
branqueamento de dedos. Isso acontece quando os trabalhadores ficam expostos diariamente a
vibrações em valores acima de limite de tolerância definido por normas técnicas. Os trabalhadores
podem não perceber este efeito, pois ele se inicia pelo branqueamento de dedos por curtos períodos
de tempo. No entanto, o quadro pode se desenvolver chegando à necrose nas pontas dos dedos das
mãos (SALIBA, 2014).
A Fundacentro e a Comunidade Europeia adotam como limite de tolerância para VMB o valor de
5 m/s² e como nível de ação o valor de 2,5 m/s². Este valor é o da aceleração resultante normalizada.
Inicialmente deve-se calcular o valor da aceleração resultante ou também chamada de aceleração
equivalente, dada pelas Equações 5 e 6, explicadas anteriormente, porém aplicadas para valores de

UNIDADE 3 103
aceleração do vetor resultante, atuando diretamente nas mãos e braços. Veja o cálculo desses valores
no exemplo a seguir.

6 EXEMPLO Um trabalhador da indústria metalúrgica utiliza diariamente uma lixadeira durante


um período de 4 horas de trabalho. Para verificar sua exposição à vibração de mãos
e braços, foram medidos os valores de aceleração resultante em quatro operações
distintas, conforme tabela a seguir.
Tabela 9 – Operações do ciclo de trabalho

Operação Aceleração m/s² Tempo de medição (min)


01 8,5 30
02 8,0 15
03 8,9 5
04 7,5 10

Fonte: o autor.

O valor de aceleração resultante é de:

a2 w1.t1 a2 w2 .t2 a2 w3 .t3 a2 w4 .t4 8, 52.30 82.15 8, 92.5 7, 52.10


AEQ = =
t1 t2 t3 t4 30 15 5 10
4086, 05
8, 25 m/s 2
60

Considerando que o tempo de exposição é de 4 horas, a aceleração resultante norma-


lizada para uma jornada de oito horas é igual a:

T 4
Aren  are  8, 25  5, 83 m / s 2
T0 8

Concluímos que esta exposição é prejudicial ao trabalhador, pois ultrapassa o limite de


tolerância de 5 m / S2, e correções devem ser feitas para diminuir a intensidade do agente.

Finalizamos a primeira parte do nosso estudo de HO. Na próxima unidade, abordaremos os riscos
químico e biológico e apresentaremos exemplos de medidas de controle recomendadas para o controle
da exposição contra agentes químicos.

104 Higiene
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Um trabalhador opera uma empilhadeira dentro de uma fábrica onde existem di-
versos equipamentos, como dobradeiras, lixadeiras, furadeiras e parafusadeiras.
Foi realizada medição de ruído e chegou-se à conclusão que o trabalhador fica
exposto a um nível diário de ruído de 92db(A) durante oito horas de trabalhos.
Considerando essa situação, responda:
a) O valor medido pode ser usado para determinar a exposição ao ruído dos
demais trabalhadores?
b) Qual equipamento de medição de ruído é o mais recomendado para fazer a
medição da exposição ao ruído do operador de empilhadeira?
c) O trabalhador deverá utilizar EPI contra ruídos? Em caso afirmativo, qual equi-
pamento você recomendaria? Em caso negativo, justifique sua resposta.

2. Em uma cozinha industrial, trabalham cinco cozinheiros. Dois deles começaram


a reclamar com frequência que estão com a pressão baixa. Este pode ser um
dos efeitos da exposição ao calor. Considerando esta situação, responda:
a) Na atividade em questão, pode existir a sobrecarga térmica? Justifique sua
resposta.
b) Para confirmar se o trabalho tem relação com o problema de saúde relatado,
o que pode ser feito?
c) Como deve ser feita a medição da exposição ao calor?

105
3. Em um laboratório de pesquisa, foi constatada a presença de radiação beta e LA-
SER. Você foi chamado para avaliar o risco desses agentes ambientais. Responda:
a) Qual é a classificação dessas radiações?
b) Como pode ser feita a avaliação quantitativa da exposição à radiação beta?
c) Como pode ser feita a avaliação qualitativa da exposição ao LASER?

4. Um trabalhador, denominado de trabalhador “A”, utiliza diariamente uma bri-


tadeira em uma obra de construção civil. Outro trabalhador, denominado de
trabalhador “B”, pilota diariamente um trator, dentro da obra, por quatro horas
diárias. A exposição à vibração do trabalhador “B” foi medida e obteve-se o valor
de aceleração equivalente igual a 2 m/s2. Considerando estes dados, responda:
a) A que tipo de vibrações os trabalhadores A e B estão expostos?
b) O trabalhador B trabalha em condições insalubres?

106
LIVRO

Técnicas de Avaliação de Agentes Ambientais: Manual SESI


Autor: Serviço Social da Indústria
Editora: SESI
Sinopse: este Manual é resultado do Curso de Avaliação de Agentes Ambientais,
promovido pelo Departamento Nacional do SESI, em 2004/05, para seus 27 De-
partamentos Regionais. Este curso foi ministrado pelos professores Mario Luiz
Fantazzini e Maria Cleide Sanchez Oshiro que produziram o material pedagógico
que ora se transforma neste Manual.
Comentário: este manual se encontra disponível na internet para ser baixado gra-
tuitamente. Possui um resumo dos métodos de avaliação de agentes ambientais.

107
ANATEL. Resolução n° 303, de 2 de julho de 2002 (revogada). Aprova o Regulamento sobre Limitação da
Exposição a Campos Elétricos, Magnéticos e Eletromagnéticos na Faixa de Radiofrequências entre 9 kHz e 300
GHz. Anatel, Diário Oficial da União, 2002. Disponível em: https://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/
17-2002/128-resolucao-303. Acesso em: 27 jan. 2020.

BRASIL. Lei nº 11.934, de 5 de maio de 2009. Dispõe sobre limites à exposição humana a campos elétricos,
magnéticos e eletromagnéticos; altera a Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965; e dá outras providências. Brasília:
Diário Oficial da União. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/
L11934.htm. Acesso em: 17 jan. 2020.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15 – Atividades e operações insalubres. Brasil. 1978c.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 3 – Embargo e interdição. Diário Oficial da União 1978a.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA. Diário


Oficial da União 1978b.

Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 3.01: Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica. Março
2014. Rio de Janeiro: CNEN, 2014. Disponível em: http://appasp.cnen.gov.br/seguranca/normas/pdf/Nrm301.
pdf. Acesso em: 16 jan. 2020.

FUNDACENTRO. NHO-06: Avaliação da exposição ocupacional ao calor. 2 ed. São Paulo: Fundacentro,
2017. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/normas-de-higiene-ocupacional/publicacao/
detalhe/2018/1/nho-06-avaliacao-da-exposicao-ocuacional-ao-calor. Acesso em: 16 jan. 2020.

GOELZER, B. Occupational Hygiene: goals, definitions, general information and practice. In: ILO. En-
cyclopaedia of Occupational Health and Safety, Geneva: ILO, 1998.

SALIBA, T. M. Manual prático de Higiene Ocupacional e PPRA. 6. ed. São Paulo: LTr, 2014.

SESI. Serviço Social da Indústria (Brasília) (Org.). Técnicas de avaliação de agentes ambientais: manual
SESI. Brasília: Sesi/dn, 2007.

SOUZA, S. R. P. Apostila do curso de Higiene Ocupacional: Agentes Físicos II. São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2008.

108
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: http://www.cochlea.org/po/ruido. Acesso em: 16 jan. 2020.
2
Em: https://www.instrutherm.net.br/seguranca-e-medicina-do-trabalho/acustica-e-vibracao/dosimetro-de-
-ruido/dosimetro-de-ruido-digital-sem-fio-mod-dos-700.html?___store=english&___from_store=brazil.
Acesso em: 16 jan. 2020.

Em: https://www.protcap.com.br/produtos/auditiva/concha/protetor-auricular-concha. Acesso em: 16 jan. 2020.


3

4
Em: https://www.astrodistribuidora.com/protetor-auricular-pomp-plus-3m-ca-5745?gclid=Cj0KCQiAk7Tu-
BRDQARIsAMRrfUYUj5A957SOz24N6xyOZ3GFQEHbfxHx2aP_chOkHxALt25kY00Jd4saAjwcEALw_wcB.
Acesso em: 16 jan. 2020.
5
Em: https://lojazeusdobrasil.com.br/produtos/detalhes/protetor-auricular-cenourinha-espuma-3m/?gclid=-
Cj0KCQiAk7TuBRDQARIsAMRrfUZ2s0z7EMuvX73lSCHArkxB5XTPbRJvNGVBprxlvhf_BA9owbhLD-
9caAnM2EALw_wcB. Acesso em: 16 jan. 2020.

109
1.

a. Não, pois a exposição ao ruído de um operador de empilhadeira é diferente, por exemplo, de um traba-
lhador que opera uma lixadeira diariamente, pois este está mais próximo da fonte de ruído, e a frequência
à exposição de ruído é bem diferente do operador de empilhadeira. Este circula por diversos setores da
fábrica e sua exposição é bem variada.

b. Como a exposição ao ruído é variada, com diferentes fontes e diferentes situações de exposição, o mais
recomendado é a utilização do dosímetro de ruído, que irá fornecer a dose de ruído absorvida durante
todo o período de medição.

c. Como o nível de ruído está acima de 85dB(A) e a exposição se dá por oito horas de trabalho, é recomendado
a utilização de equipamento para diminuir a intensidade de ruído que chega ao ouvido do trabalhador.
Deve ser utilizado um equipamento com NRRSF mínimo de 10, pois este valor diminui a intensidade de
92d(BA) para 82dB(A) , desde que o EPI seja utilizado durante toda a jornada de trabalho.

2.

a. Sim, pois os cozinheiros trabalham constantemente e próximos de fontes de calor: fornos e chamas. Se
o local não tiver uma ventilação adequada, bem como se não forem fornecidas pausas para descanso,
poderá ocorrer a sobrecarga térmica dos trabalhadores.

b. Pode ser feita a medição da exposição ao calor. Se o limite de tolerância for ultrapassado, há forte indício
de que o problema de saúde esteja relacionado ao ambiente de trabalho.

c. A avaliação deve ser feita utilizando-se o termômetro de globo e o termômetro de bulbo úmido. Não é
necessário utilizar o termômetro de bulbo seco, pois a exposição ao calor não envolve a carga solar. A
medição deve ser feita no local e na altura do corpo em que a exposição ao calor é a mais crítica. Deve
ser avaliada a atividade com maior taxa metabólica. O período de trabalho a considerar é de uma ex-
posição de uma hora.

110
3.

a. A radiação beta é uma radiação ionizante e o LASER é uma radiação não ionizante.

b. Podem ser utilizados equipamentos que forneçam valores instantâneos ou a dose, medido em Sievert (Sv).

c. A avaliação envolve:

• Identificar se existe alguma fonte de radiação não ionizante no local de trabalho, descrevendo suas
características.

• Identificar se existe proteção adequada que impeça que as ondas atinjam a pele, olhos e demais partes
do corpo humano.

• Identificar os efeitos da exposição, em decorrência do tipo de radiação não ionizante, sua intensidade
e o tempo de exposição.

4.

a. O trabalhador A está exposto a vibrações de mãos e braços, pois utiliza ferramenta manual. O trabalhador
B está exposto a vibrações de corpo inteiro, pois opera veículo que transmite a vibração a todo o corpo.

b. Para responder à pergunta, é preciso calcular a aceleração resultante normalizada para uma jornada
de oito horas:

T 4
Aren are 2 1, 41 m / s 2
T0 8

Como o limite de tolerância é de 1,1 m/s², conclui-se que o trabalhador opera em condições insalubres.

111
112
113
114
Me. Maílson José da Silva

Higiene Ocupacional II

PLANO DE ESTUDOS

Medidas de controle de
agentes químicos

Agentes químicos Agentes biológicos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Introduzir conceitos da avaliação da exposição ocupacio- • Mostrar como é feita a avaliação da exposição ocupacional
nal a agentes químicos. a agentes biológicos.
• Detalhar algumas das medidas de controle da exposição
a agentes químicos.
Agentes
Químicos

Você já usou algum produto químico “forte” que


lhe causou algum desconforto, como tontura, sen-
sação de enjoo, coceira ou dor de cabeça? Isso
pode ter acontecido, por exemplo, com pessoas
que utilizam água sanitária para lavar banhei-
ros ou quando utilizamos algum detergente para
limpar louças ou outros utensílios. Isso acontece
devido às propriedades dos produtos químicos
que podem causar danos imediatos ou em longo
prazo na saúde humana. No entanto, nem toda
exposição a produtos químicos é prejudicial.
Neste tópico, explicaremos como é feita a ava-
liação da exposição ocupacional a agentes quí-
micos para verificar se estes agentes são ou não
prejudiciais à saúde. Responderemos a algumas
perguntas: que efeitos produzem os agentes quí-
micos no organismo humano? Quão perigoso é
um produto químico? Como saber se um agente
químico será prejudicial à saúde dos trabalhado-
res? Um documento fundamental utilizado para
avaliar exposições a agentes químicos é a Ficha de
Informações de Segurança de Produtos Químicos
(FISPQ). Iremos utilizar esta ficha como base para
explicar a avaliação de exposição ocupacional a
certo produto químico. Vamos começar?
FISPQ elas estejam acessíveis aos trabalhadores e que es-
tes recebam treinamento para compreender seus
A FISPQ é um documento exigido pela Norma dados, bem como medidas para o uso seguro do
Regulamentadora NR-26 – Sinalização, do antigo produto químico.
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Desta-
camos a seguir quatro itens desta norma:
“26.2.3 O fabricante ou, no caso de importa-
ção, o fornecedor no mercado nacional deve
elaborar e tornar disponível ficha com dados
de segurança do produto químico para todo A Ficha de Informações de Segurança de Produ-
produto químico classificado como perigoso. tos Químicos (FISPQ) fornece informações sobre
26.2.3.2 Os aspectos relativos à ficha com da- vários aspectos de produtos químicos (substân-
dos de segurança devem atender ao disposto cias ou misturas) quanto à proteção, à segurança,
em norma técnica oficial vigente. à saúde e ao meio ambiente. A FISPQ fornece,
26.2.3.4 O empregador deve assegurar o para esses aspectos, conhecimentos básicos so-
acesso dos trabalhadores às fichas com da- bre os produtos químicos, recomendações sobre
dos de segurança dos produtos químicos que medidas de proteção e ações em situação de
utilizam no local de trabalho. emergência. Em alguns países, essa ficha é cha-
26.2.4 Os trabalhadores devem receber trei- mada safety data sheet (SDS).
namento: Uma FISPQ deve fornecer as informações sobre o
a) para compreender a rotulagem preventiva produto químico nas seções abaixo, cujos títulos,
e a ficha com dados de segurança do produto numeração e sequência não podem ser altera-
químico. dos: 1 Identificação do produto e da empresa; 2
b) sobre os perigos, riscos, medidas preventi- Identificação de perigos; 3 Composição e infor-
vas para o uso seguro e procedimentos para mações sobre os ingredientes; 4 Medidas de pri-
atuação em situações de emergência com o meiros-socorros; 5 Medidas de combate a incên-
produto químico” (BRASIL, 1978b, p. 2). dio; 6 Medidas de controle para derramamento
ou vazamento; 7 Manuseio e armazenamento;
Observe que a norma exige que todo produto quí- 8 Controle de exposição e proteção individual; 9
mico perigoso possua uma ficha de informações Propriedades físicas e químicas; 10 Estabilidade
de segurança do produto químico e esta ficha deve e reatividade; 11 Informações toxicológicas; 12
atender ao disposto em norma técnica vigente. No Informações ecológicas; 13 Considerações sobre
Brasil, a norma que utilizamos é a ABNT NBR tratamento e disposição; 14 Informações sobre
14725-4 da Associação Brasileira de Normas Téc- transporte; 15 Regulamentações; 16 Outras in-
nicas (ABNT). Como veremos, esta norma estabe- formações”.
lece informações obrigatórias que devem aparecer Fonte: ABNT (2014, p. 5 e 9).
nas fichas. Além de existir as fichas, é preciso que

UNIDADE 4 117
Portanto, um dos primeiros passos em uma avaliação de agentes químicos é obter todas as FISPQs dos
produtos que estão sendo usados no processo produtivo. Por meio de seus dados, pode-se fazer uma
avaliação qualitativa e posterior avaliação quantitativa da exposição aos agentes químicos. Utilizare-
mos como exemplo a FISPQ de um produto químico denominado álcool etílico 96 PA para explicar
alguns dados importantes da ficha para a avaliação e prevenção da exposição ocupacional a agentes
químicos. Este produto é muito utilizado em laboratórios químicos. Ele pode estar muito disperso no
local quando é borrifado, aquecido ou quando é utilizado em grande quantidade. Os subitens a seguir
descreverão algumas das informações contidas na FISPQ e como elas podem ser usadas na avaliação
da exposição ocupacional ao agente químico. Para acessar a FISPQ deste produto na íntegra, utilize o
link disponibilizado no material complementar ao final desta unidade.

Identificação do Identificação de Perigos


Produto e da Empresa
Nesta seção, temos a classificação GHS do pro-
Nesta seção temos informações básicas como duto. Este termo significa Globally Harmonized
o nome do produto e seu fabricante. Esta seção System of Classification and Labeling of Chemi-
mostra também a utilização do produto. No caso cals, ou Sistema Globalmente Harmonizado de
da ficha do álcool etílico 96 PA, seu uso é definido Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos.
para laboratórios e não uso doméstico. Podemos Este sistema foi criado para padronizar a forma
ver também dados de contato do fabricante. de comunicação da classificação e rotulagem de
Por meio dessas informações podemos avaliar substâncias químicas (BUSCHINELLI; KATO,
se o produto químico utilizado é o mais reco- 2011). A Figura 1 apresenta símbolos gráficos do
mendado para a atividade laboral que está sendo GHS utilizados para identificar perigos físicos,
avaliada. perigos para a saúde e para o meio ambiente.

As FISPQs podem ser obtidas pela internet digitando-se o nome da substância química seguida da
palavra FISPQ. Nem toda FISPQ disponibilizada possui todas informações necessárias para uma boa
avaliação. Portanto, caso falte informações, você pode exigir do fabricante que informe dados não
fornecidos na ficha.

118 Higiene Ocupacional II


Pictogramas para identificação de perigos para
saúde e do meio ambiente

GHS01 GHS02 GHS03


Bomba explodindo Chama Chama sobre
circulo

GHS04 GHS05 GHS06


Cilindro de gás Corrosão Crânio e ossos
cruzados

GHS07 GHS08 GHS09


Ponto de exclamação Perigoso à Meio ambiente
saúde
Figura 1 - Pictogramas de perigo utilizados no GHS com código e denominação
Fonte: Wallau e Santos Júnior (2013, p. 608).

Os pictogramas do GHS indicam os perigos as- mente ao entrar em contato com outra substância.
sociados a um agente químico. Com uma leitura O cilindro de gás mostra que o agente químico é
rápida, o usuário pode saber os perigos associados um gás sob pressão e que apresenta risco de explo-
ao produto. Na figura apresentada, da esquerda são sob a ação do calor. O símbolo de um líquido
para direita, o pictograma de bomba explodindo caindo sobre uma superfície e sobre uma mão
indica que o produto é explosivo; o desenho de indica que o produto é corrosivo e prejudicial para
uma chama indica que o produto é inflamável; já metais, pele e olhos. O símbolo de um crânio com
o desenho de uma chama sobre um círculo indica ossos indica que o produto apresenta perigo de
que o produto é um comburente, por exemplo, um toxicidade aguda, seja oral, cutânea ou inalatória.
peróxido que pode entrar em combustão facil- O símbolo de ponto de exclamação indica que

UNIDADE 4 119
o produto apresenta também toxicidade aguda, Analisando a ficha do álcool etílico 96 PA, en-
porém de categoria de perigo menor e pode pro- contramos os símbolos GHS02 e GHS07, bem
vocar irritação ocular, cutânea, pode sensibilizar como a classificação GHS de líquidos inflamáveis
a pele e ser tóxico para órgãos-alvo específicos, (categoria 2) e irritação ocular (categoria 2A). Estas
além de causar efeitos narcóticos e irritação das informações nos indicam que medidas para evitar a
vias respiratórias. O símbolo GHS08 indica efeitos formação de uma atmosfera explosiva e medidas de
mais graves à saúde, como mutagenicidade em cé- proteção ocular devem ser tomadas. Por exemplo,
lulas germinativas, carcinogenicidade, toxicidade este tipo de produto deve ser armazenado em reci-
reprodutiva e toxicidade para órgãos-alvo. O sím- piente bem fechado e em local ventilado, longe de
bolo GHS09 indica perigo para o meio ambiente fontes de calor. No seu manuseio, deve ser fornecida
aquático agudo e/ou crônico. proteção ocular como óculos ou protetor facial.

Composição e Informações sobre os Ingredientes

Esta seção mostra a composição química (fórmula molecular) do agente químico, bem como o número
CAS – Chemical Abstract Substance. Este número é um código único da substância. Ele pode ser usado
para pesquisas relacionadas ao produto. Outra informação importante desta seção são os componentes
do produto químico. Em muitos casos, lidamos com produtos que são misturas, compostos por diver-
sos agentes químicos. Alguns deles podem ser mais prejudiciais do que outros. Nesta seção da FISPQ,
podemos visualizar quais agentes químicos formam o produto que está sendo avaliado, bem como
sua concentração. Por exemplo, veja o Quadro 1 que mostra uma cópia de uma ficha de um produto
denominado “removedor de tintas”.

COMPOSIÇÃO E INFORMAÇÃO SOBRE OS INGREDIENTES

Tipo do produto: “Este produto é um preparado”


Natureza Química: Base solvente

Nome Químico CAS Number Faixa de Conc. (%) Símbolo Frases R

Cloreto de Metileno 75-09-2 30-60 Xn R40

Tolueno 108-88-3 5-10 F/Xn R11/ R20/ R22

Etanol 64-17-5 5-10 F/Xi R11/ R36/ 38

Hidroxipropil Metilcelulose 9004-65-3 0,1-1 ND ND

Aguarrás Mineral 64741-4-61 5-10 F/Xn R11/ R20/ R22

Quadro 1 – Composição do produto denominado “removedor de tintas”


Fonte: Buschinelli e Kato (2011, p. 29).

120 Higiene Ocupacional II


Podemos observar que o produto possui cinco
componentes (cloreto de metileno, tolueno, eta-
nol, hidroxipropil metilcelulose e aguarrás mine-
ral). Portanto, ao avaliar a exposição desse produto
deve-se levar em conta seus componentes que, por Nem sempre todos os componentes de um
sua vez, possuem riscos específicos. produto aparecerão na FISPQ. A Norma Técnica
Saber os componentes do produto também é ABNT NBR 14725-4:2010 exige que sejam mos-
útil para determinar, posteriormente, qual agen- trados os componentes mais críticos, conforme
te químico será avaliado quantitativamente. Por seus perigos, por exemplo, se o componente pos-
exemplo, para o produto “removedor de tintas”, po- sui toxicidade aguda, corrosão/irritação da pele,
dem ser avaliadas exposições de tolueno e etanol. mutagenicidade ou carcinogenicidade. Quanto
No caso do nosso produto de exemplo, o álcool maior for o perigo, mais passível de aparecer na
etílico 96 PA, ele não é uma mistura e, portanto, ficha o produto se torna.
em sua composição aparece apenas o próprio ál- Fonte: Buschinelli e Kato (2011).
cool etílico 96 PA.

Manuseio e Armazenamento

Esta seção apresenta informações importantes de como o produto deve ser manuseado para oferecer
um risco menor a seus usuários. Ela também apresenta informações sobre o armazenamento seguro
do produto e uso final específico. Como precauções no uso do álcool etílico 96 PA, encontramos que
deve ser evitado o contato com a pele e olhos, bem como evitar a inalação do vapor ou névoa que
possa ser formada durante seu uso. É apresentada também a medida de manter o produto afastado de
qualquer chama ou fonte de ignição, bem como evitar a formação de eletricidade estática. Quanto ao
armazenamento, o produto deve ser armazenado em local fresco, seco e bem ventilado. Após o uso, o
recipiente do produto deve ficar fechado.
Essas informações são importantes para avaliar qualitativamente se o produto químico deve ter
algum cuidado especial em seu manuseio e armazenamento, o que implica em um maior risco ocu-
pacional se as medidas não forem seguidas.

UNIDADE 4 121
Controle de Exposição
e Proteção Individual

Esta pode ser considerada uma das principais po de exposição considerado: limite de tolerância
seções do ponto de vista de prevenção aos riscos. média ponderada no tempo, limite de tolerância
Ela fornece orientações sobre como controlar a valor teto e valor máximo.
exposição ao produto químico. Como é feito este O limite de tolerância média ponderada no
controle? Basicamente, o controle é feito evitan- tempo, também chamado de TWA (sigla em in-
do-se a exposição ao contaminante químico pelas glês para Time Weighted Average), se refere a uma
possíveis vias de absorção: dérmica, respiratória e exposição ao agente químico durante uma jorna-
pela ingestão. A proteção pela via dérmica é feita da de trabalho completa de 8 horas ou 48 horas se-
utilizando-se equipamentos de proteção indivi- manais. Ou seja, deve-se avaliar a concentração do
dual (EPI), ou de proteção coletiva (EPC), que agente químico durante uma exposição completa
evitam o contato do produto com a pele. Por outro do dia de trabalho. Portanto, em alguns momentos
lado, a prevenção pela via respiratória é feita por da jornada de trabalho a concentração pode ser
meio de EPIs e EPCs que evitam a inalação do inexistente ou então com valores mais baixos ou
produto químico ou que diminuem a concentra- mais altos do que o valor médio. A contaminação
ção do produto no ar. Para proteger as vias respira- no ar da substância química pode variar significa-
tórias, é preciso conhecer o limite de tolerância da tivamente ao longo do dia. O limite de tolerância
substância química. Quando o produto químico TWA considera o valor médio da exposição.
possui limite de tolerância, o controle é feito de O limite de tolerância valor teto é avaliado para
tal forma a evitar que este limite seja ultrapas- exposições de curta duração. O valor deste limite
sado. O limite de tolerância é a concentração da não pode ser ultrapassado em nenhum momento
substância química, no ar, medida em partes por da jornada de trabalho. Ou seja, a avaliação não
milhão (ppm) ou miligramas por metro cúbico é feita considerando toda a jornada de trabalho e
(mg/m3) que, quando ultrapassada no ambiente sim os momentos com exposições mais críticas.
de trabalho, poderá causar danos à saúde. E o valor máximo se refere a uma concentração
A avaliação de exposição a agentes químicos do agente químico que não pode ser ultrapassada
que busca conhecer a concentração do agente no em nenhum momento da jornada laboral, sob
ar é conhecida também como avaliação quantita- pena de ser considerada situação de risco grave
tiva de agentes químicos. O limite de tolerância se e iminente.
refere a um certo tempo de exposição. A Norma A Tabela 1, a seguir, mostra um extrato do ane-
Regulamentadora NR-15 apresenta basicamente xo 11 da NR-15 que traz os valores dos limites de
três tipos de limites de tolerância conforme o tem- tolerância de algumas substâncias químicas.

122 Higiene Ocupacional II


Tabela 1 – Tabela de limites de tolerância

Até 48 horas/semana Grau de insa-


Absorção lubridade a ser
Agentes Valor
também considerado
químicos teto
p/ pele ppm mg/m3 no caso de sua
caracterização

Álcool etílico 780 1480 Mínimo

Ácido clorídrico + 4 5,5 Máximo

Álcool n-butílico + + 40 115 Máximo

Fonte: adaptada de Brasil (1978a, p. 62).

Esta tabela nos indica qual é o tipo de limite de tolerância de cada substância. O álcool etílico possui
limite de tolerância do tipo média ponderada no tempo, pois na coluna “Valor teto” não existe uma
marcação com o sinal de “+”. Portanto, para avaliar a exposição ao álcool etílico é preciso coletar
uma amostra do ar durante a jornada de trabalho completa. Por outro lado, as substâncias “ácido
clorídrico” e “álcool n-butílico” possuem limites de tolerância valor teto. Durante a coleta de ar para
fazer sua avaliação será preciso identificar o momento mais crítico da exposição para verificar se o
valor teto não foi ultrapassado. Observe também que a tabela indica quais substâncias podem ser
absorvidas pela pele e que exigem, portanto, proteção cutânea na sua manipulação.
Observe que explicamos que a coleta do agente químico no ar deve ser feita conforme o tipo de
limite de tolerância. Você deve ter observado que para avaliar a exposição a um agente químico é
preciso obter uma amostra do ar no ambiente de trabalho e em seguida avaliar a concentração do
contaminante químico de interesse. As técnicas de amostragem e coleta de agentes químicos fazem
parte do conjunto de conhecimentos da Higiene Ocupacional. A seguir, explicaremos brevemente
como os agentes químicos são classificados e quais técnicas podem ser empregadas para fazer sua
avaliação.

UNIDADE 4 123
Avaliação quantitativa de agentes químicos

Conforme vimos, a avaliação quantitativa da exposição ocupacional a agentes químicos deve ser feita
para verificar se o limite de tolerância de uma substância foi ultrapassado. Basicamente, os agentes
químicos são divididos em dois tipos (SALIBA, 2014): poeiras e particulados; gases e vapores. Con-
forme o tipo de agente químico, existem métodos específicos para fazer sua avaliação quantitativa.
Dentre as poeiras prejudiciais à saúde, estão aquelas que contêm a sílica. Este agente químico é en-
contrado abundantemente na natureza. A exposição à sílica pode causar uma doença chamada silicose.
Trabalhadores que lidam com mineração de ouro, ferro, extração de calcário, indústria de refratários,
dentre outros, podem se expor significativamente a este agente químico. Outro tipo de poeira prejudicial
é a poeira de asbesto, encontrado na fabricação de telhas, chapas, caixas d’água, guarnição de freio e
embreagem, lonas de freios, dentre outros (SALIBA, 2014). A poeira de algodão também pode causar
doença nos trabalhadores, denominada de Bissinose. Este tipo de poeira está presente na fabricação
de tecidos e também na indústria da confecção.
A avaliação quantitativa da exposição a poeiras é feita em quatro etapas: preparação de materiais
(filtros e porta-filtros) enviados pelo laboratório que irá fazer a análise química da amostra; coleta
em campo da amostra; análise das amostras em laboratório; e análise de dados. Na primeira etapa, o
responsável pela avaliação do agente químico deve solicitar, ao laboratório que irá analisar a amostra
de ar, os porta-filtros que serão usados no instrumento de coleta de poeira. Em seguida, utilizam-se os
equipamentos de coleta na etapa de amostragem em campo, conforme tempo de coleta determinado
pelo método de análise. Na terceira etapa, os filtros contendo a amostra de ar são enviados ao laboratório
que fará a análise química da concentração do particulado. Por fim, na quarta etapa, é determinada a
concentração do particulado, conforme o tempo de coleta, vazão e massa obtidos. Esta concentração
é então comparada com o limite de tolerância e verifica-se se o ambiente gera ou não uma exposição
prejudicial aos trabalhadores.
Os gases e vapores são representados pelas substâncias químicas que se espalham no ar devido seu
aquecimento ou volatilidade ou devido ao seu próprio estado físico nas condições normais de tem-
peratura e pressão (é o caso dos gases). Sua avaliação é feita por meio de amostradores e bombas para
coleta de ar. A amostragem do ar contendo gases e vapores pode ser feita de forma instantânea ou por
meio de coleta do ar e posterior envio para o laboratório de análise. Na amostragem instantânea, são
utilizados tubos reagentes, conhecidos como tubos colorimétricos, que são acoplados a uma bomba
manual que faz a sucção do ar. O ar passa pelo tubo e reage com seu material interno fazendo com
que ele mude de cor. Essa mudança de cor é lida em uma escala que indica a concentração do agente
químico. Ainda, existem alguns equipamentos digitais que fazem a leitura instantânea da concentração

124 Higiene Ocupacional II


no ar das substâncias químicas. No entanto, os métodos instantâneos não são recomendados para todos
os agentes químicos. Para os agentes químicos com limite de tolerância do tipo média ponderada no
tempo, conforme vimos, deve ser feita a coleta durante toda a jornada de trabalho. Para esse tipo de
agente químico, o método recomendado é aquele que utiliza uma bomba automática acoplada a um
coletor específico para o agente químico. Neste método a bomba faz o ar do ambiente passar por um
amostrador, seja um tubo contendo, por exemplo, carvão ativado ou sílica gel ou um cassete contendo
um filtro. O tubo é enviado posteriormente a um laboratório que faz a análise da concentração de agente
químico presente na amostra. Outro método possível de ser usado é o que usa o coletor passivo. Este
coletor é preso na zona respiratória do trabalhador e a substância química presente no ar reage com
o material do coletor. Após a coleta, o coletor passivo é enviado para o laboratório que irá analisar a
concentração do contaminante químico presente na amostra.

Propriedades Físicas e Químicas

As propriedades físicas e químicas são importantes para se conhecer a capacidade de um agente


químico de se dispersar no ar. Algumas propriedades chave são o limite de odor, ponto de ebulição e
pressão de vapor.
O limite de odor de uma substância química é o valor da concentração da substância química que
irá causar uma sensação olfativa de forma que o agente químico possa ser detectado ou reconhecido.
No entanto, é preciso analisar cada caso, pois algumas substâncias não possuem cheiro. Assim, o limite
de odor pode ou não ser usado como parâmetro para identificar que uma substância está dispersa no
ar. O mercúrio, por exemplo, não possui odor e trabalhadores podem estar expostos a esta substância
sem perceberem.
O ponto de ebulição e a pressão de vapor de uma substância estão relacionados à sua volatilidade, ou
seja, à sua capacidade de se dispersar no ar. O ponto de ebulição é a temperatura em que uma substância
começa a passar do seu estado líquido para o estado gasoso. Quanto menor for o ponto de ebulição,
mais fácil a substância entrará no estado gasoso. Isso significa que substâncias com pontos de ebulição
baixos podem se tornar gases e contaminar o ambiente com mais facilidade do que substâncias com
pontos de fulgor maiores. A título de exemplo considere os pontos de ebulição de três substâncias:
• Éter etílico: 34,6 °C.
• Álcool etílico 96 PA: 78,3 °C.
• Ácido sulfúrico: 290°C.

UNIDADE 4 125
Considerando estes dados, qual substância irá se propagar no ar com mais facilidade? O éter etílico
é a substância que possui o menor ponto de ebulição e, portanto, tende a ser o líquido mais volátil.
Outra propriedade usada para avaliar a volatilidade é a pressão de vapor. Cada substância possui uma
pressão de vapor à certa temperatura. Quando a pressão de vapor se iguala à pressão atmosférica, a
substância entra em ebulição (BUSCHINELLI; KATO, 2011). Quanto maior for a pressão de vapor de
uma substância, mais facilidade ela terá de se evaporar no ambiente de trabalho. A título de exemplo
considere as pressões de vapor das três substâncias citadas anteriormente:
• Éter etílico: 563 hPa a 20°C.
• Álcool etílico 96 PA: 59,5 hPa a 20,0 °C.
• Ácido sulfúrico: 1,33 hPa a 145,8°C.

Considerando estes dados, novamente, chegamos à conclusão que o éter etílico é a substância mais
volátil entre as três substâncias apresentadas, pois possui a maior pressão de vapor.

Informações Toxicológicas

Esta seção da FISPQ informa efeitos importantes sobre a saúde. O parâmetro “Dose letal 50” representa
o valor de uma dose que quando ingerida ou injetada causará a morte de 50% da população exposta.
E o parâmetro “Concentração letal 50” se refere à concentração letal absorvida via inalação de gases
e vapores. Estes parâmetros são obtidos com experiências em animais e são indicativos do perigo da
substância para humanos (BUSCHINELLI; KATO, 2011). Para o agente químico álcool etílico 96 PA,
temos:
• DL50 Oral – Ratazana – 10,470 mg/kg.
• CL50 Inalação – Ratazana – 4h – 124,7 mg/l.

Estes valores de dose e concentração se referem a efeitos agudos. Neste ponto, é importante distinguir
a diferença dos efeitos agudos e crônicos das substâncias.
Os efeitos agudos são aqueles decorrentes de exposições de curta duração, em menos de 24 horas.
Eles se manifestam por uma irritação, danos a um tecido, efeitos narcóticos ou até a morte. Estes efeitos
são decorrentes de altas concentrações do contaminante e se manifestam após minutos ou horas de
exposição (TORLONI; VIEIRA, 2003).
Os efeitos crônicos não se manifestam logo após a exposição aos agentes químicos. Os efeitos irão
aparecer após meses ou anos de contínua exposição. Isso acontece porque as substâncias de efeitos
crônicos vão se acumulando aos poucos no organismo. Se este não conseguir eliminar os contaminantes
por meio de biotransformação e eliminação, haverá o acometimento de sistemas e órgãos específicos
do corpo humano (TORLONI; VIEIRA, 2003). Assim, quando conseguimos reduzir a concentração
no ar das substâncias químicas, estamos proporcionando uma exposição que permitirá ao corpo dos
trabalhadores fazer a devido eliminação, evitando os efeitos crônicos.

126 Higiene Ocupacional II


Em relação à toxicologia das substâncias, é importante saber que elas possuem efeitos local ou
sistêmico. Os efeitos locais são aqueles que ocorrem na superfície de contato do organismo com a
substância, por exemplo, uma irritação de pele ou dos olhos. Os efeitos sistêmicos ocorrem em órgãos
ou sistemas distantes do local por onde a substância entrou no organismo. Assim, por exemplo, um
trabalhador que inala pós de chumbo não irá apresentar efeitos na sua via respiratória, porém irá
apresentar manifestações clínicas gastrointestinais, dores abdominais, vômitos, insuficiência renal,
dentre outras manifestações (GOMES et al., 2015).
Outros efeitos importantes das substâncias são a teratogenicidade, embriotoxicidade, mutage-
nicidade e carcinogenicidade. A teratogenicidade e embriotoxicidade são efeitos relacionados ao
desenvolvimento de fetos e embriões. Mulheres grávidas não podem ficar expostas a substâncias com
estes efeitos. A mutagenicidade é a capacidade de uma substância de alterar o código genético de uma
célula, podendo esta alteração ser passada para os descendentes dos expostos. E a carcinogenicidade é
a capacidade de uma substância de induzir ou aumentar a formação de tumores malignos (BUSCHI-
NELLI; KATO, 2011).
Considerando a FISPQ do produto álcool etílico 96 PA, concluímos que em relação a seus efeitos
toxicológicos principais, temos a irritação ocular grave (efeito agudo e local), irritação do aparelho
respiratório, narcose e baixo risco de carcinogenicidade.
Considerando a necessidade de evitar os efeitos crônicos e agudos das substâncias químicas, a seguir
vamos apresentar algumas medidas de controle da exposição a estes agentes.

UNIDADE 4 127
Medidas de Controle
de Agentes Químicos

A exposição aos agentes químicos pode ser con-


trolada por meio de medidas de controle classifi-
cadas em cinco tipos, conforme a Figura 2. A apli-
cação das medidas deve seguir uma hierarquia.

128 Higiene Ocupacional II


Eliminação

participação e supervisão
Substituição
Sustentabilidade

Necessidade de
Medidas de
Eficácia

engenharia

Controles
administrativos

Equipamento de
proteção individual

Figura 2 - Hierarquia de medidas de controle


Fonte: (SILVA, 2017, p. 286).

A primeira medida é a de eliminação do agente químico nocivo do ambiente de trabalho. Se o agente


for eliminado do processo produtivo, o risco de contaminação será eliminado. Esta é a medida mais
eficaz e de maior sustentabilidade, sem necessidade de monitoramento da exposição. Um segundo tipo
de medida, parecido com o de eliminação do agente, é o de fazer sua substituição por outro agente
menos tóxico. Isso é feito, por exemplo, no caso da fabricação de tintas quando se substitui o chumbo
(elemento químico causador de saturnismo) por sais de zinco, com menor toxicidade (SALIBA, 2014).
Em seguida, caso não seja possível fazer a eliminação ou substituição dos agentes químicos tóxicos,
ou como complemento, parte-se para a implementação das medidas de controle de engenharia.
Essas medidas envolvem a utilização, principalmente, da ventilação industrial para criar ambientes
de trabalho com baixa concentração de contaminantes químicos. As medidas também compreendem
o enclausuramento das fontes que geram os contaminantes químicos, evitando que haja dispersão de
produtos no ar.
Também, pode ser feita a alteração de processos. Por exemplo, ao invés de pintar uma peça utili-
zando uma pistola de pintura que dispersa névoas de produtos químicos no ar, pode ser feita a pintura
por imersão. A automação de processos também ajuda a eliminar o risco de exposição, como no caso
de um processo de ensacamento de pós que é feito de forma automática. Outra medida de engenharia
eficaz, no caso de contaminantes químicos na forma de poeiras, é fazer a umidificação do processo. Por
exemplo, em marmorarias, no processo de acabamento de rochas ornamentais, operações realizadas
a seco irão gerar uma alta concentração de poeiras no ar. Se o processo for feito a úmido, a poeira não
se dispersará no ambiente (ver Figura 3).

UNIDADE 4 129
Figura 3 - Exemplo de operação realizada a seco e a úmido
Fonte: Santos et al. (2008, p. 13).

Uma das medidas de controle mais comum é do ambiente na fonte, evitando sua dispersão no
o uso da ventilação forçada. Esta é dividida em ar. A ventilação geral diluidora é feita por meio da
ventilação local exaustora e ventilação geral di- insuflação de ar limpo no ambiente de trabalho,
luidora. A primeira é feita quando se deseja evi- por meio de ventiladores, de tal forma a diminuir
tar a dispersão do agente químico no ambiente e a concentração do contaminante no ar.
quando sua concentração é muito alta. Por meio Vejamos a seguir alguns exemplos de reco-
de um captor de ar, o agente químico é retirado mendações de medidas de controle de engenharia.

Princípios para a Ventilação Geral

O acesso a ambientes de trabalho com contaminantes químicos no ar deve ser restrito aos traba-
lhadores que realmente necessitam frequentar o local. A Figura 4 mostra um exemplo de local com
ventilação geral. As setas indicam ventilação natural

Saída
de ar
Entrada
de ar

As setas indicam ventilação natural Sistemas de exaustão: ventilação controlada


Figura 4 - Ventilação geral para diminuição da concentração de agentes químicos
Fonte: Ribeiro, Pedreira Filho e Riederer (2012, p.41).

130 Higiene Ocupacional II


Observe que o local é dotado de aberturas para ventilação natural. O
local em que ficam os trabalhadores e equipamentos deve ser tal que
evite a obstrução destas aberturas. Um princípio muito importante
do projeto de ventilação geral é que o projeto deve permitir que a
corrente de ar passe primeiro pelo trabalhador e depois pela opera-
ção, e nunca o contrário. Caso isso ocorra, o contaminante químico
irá para a zona respiratória do trabalhador. Ventiladores devem ser
instalados para exaurir o ar poluído ou então para inflar ar limpo
no local. Recomenda-se que haja, no mínimo, cinco renovações de
ar por hora. O ar poluído deve ser exaurido para fora do prédio e
deve ser permitido aos trabalhadores acessarem a parte externa, ao
ar livre, para tomada de ar limpo (BUSCHINELLI; KATO, 2011).

Bancada com Exaustão


Acoplada a Capelas

Esta medida de controle é muito utilizada em laboratórios de pes-


quisa que lida com pequenas quantidades de agentes químicos,
mas com propriedades tóxicas importantes. A Figura 5 apresenta
um exemplo de capela vista em sua lateral. Capela de exaustão química

Parte frontal Defletor para assegurar


enclasurada corrente de ar homogênea
(tanto quato
possível), por
exemplo, com
um vidro que
desce

Exaustão
Corrente de ar
de no mínimo
0,5 m/s

Profundidade
adequada
para garantir
o fluxo do
vento

m/s = metros por segundo


Figura 5 - Capela para exaustão de vapores e gases
Fonte: Ribeiro, Pedreira Filho e Riederer (2012, p.56).

UNIDADE 4 131
Esta medida de controle permite que a manipulação do agente químico seja feita em lugar quase
inteiramente fechado e com sistema de exaustão. Se a capela estiver funcionando adequadamente,
os gases e vapores não irão atingir a zona respiratória do trabalhador, pois eles serão removidos do
ambiente por um ventilador que faz parte do sistema de exaustão. Observe que um dos requisitos para
o correto funcionamento é que na face da capela a velocidade deve ser de 0,5 m/s. Observe, também,
que a capela possui uma porta de vidro que deve estar o mais fechada possível. A capela não deve estar
perto de portas e janelas, para que correntes de ar não interfiram na exaustão. Ao final do sistema de
ventilação, podem ser instalados filtros ou outros equipamentos para controlar a emissão de poluentes
no ambiente (BUSCHINELLI; KATO, 2011).

Pintura por Pulverização

A utilização de spray para pintura é bem comum nas indústrias metalúrgica e em oficinas de repara-
ção de veículos. A medida de engenharia recomendada é a utilização de cabine de pintura, conforme
ilustra a Figura 6.
Exaustão Exaustão

Splay de água

Fluxo médio
de ar: 1,0 m/s

Pedestal
giratório
Pedestal
giratório Fluxo
de ar

Sistema de
recirculação
de água
Diagrama 1: Cabine para pintura Diagrama 2: Cabine para pintura por
por pulverização (pequena escala; pulverização (com cortina d’água)
peças pequenas)
m/s = metros por segundo

Figura 6 - Cabine de pintura


Fonte: Ribeiro, Pedreira Filho e Riederer (2012, p.116).

A figura nos indica que a velocidade recomendada na face da cabine deve ser de 1,0m/s, para garantir
um fluxo adequado de exaustão. O primeiro requisito no projeto de uma cabine é o tamanho dela, que
deve ser grande suficientemente para conter trabalhadores, equipamentos e material a ser pintado.
É preciso reduzir ao máximo possível a área aberta da cabine. O projeto deve prever tubulação para
exaustão dos gases, vapores e poeiras que seja a mais curta possível, para evitar perdas de carga. O
fluxo de ar dentro da cabine deve ser observado nas operações, de tal forma a evitar que este passe

132 Higiene Ocupacional II


para o trabalhador, trazendo os contaminantes para sua zona respiratória. Isso é conseguido por
meio de uma mesa rotatória para girar objetos. As entradas e saídas de ar dentro da cabine devem se
manter desobstruídas. Uma medida importante para prevenção de acidentes é o uso de instalações
elétricas à prova de explosão dentro da cabine. Isso porque a maioria dos solventes usados no proces-
so são inflamáveis e podem formar atmosferas explosivas. Ao final do sistema de ventilação, podem
ser instalados filtros ou outros equipamentos para controlar a emissão de poluentes no ambiente
(BUSCHINELLI; KATO, 2011).

Enclausuramento

O enclausuramento é uma medida de engenharia que evitará que o agente químico se disperse pelo
ambiente de trabalho. A Figura 7 mostra um sistema enclausurado.

Observe que a matéria-prima


(que é o agente químico) não
Matéria-prima Matéria-prima
é liberado no ambiente de tra-
balho, pois se encontra em um
sistema fechado. Caso seja ne-
cessária sua transferência, esta
é feita por meio de bombas que
transportam o material. Uma
medida importante no projeto
deste sistema é o uso de pressão
negativa para diminuir a chance
de vazamentos (BUSCHINEL-
Tranferência Válvula LI; KATO, 2011).
mecânica em
sistema Alimentação
fechado por gravidade
em sistema
fechado

Bomba

Válvula

Figura 7 - Exemplo de enclausuramento de uma operação


Fonte: Ribeiro, Pedreira Filho e Riederer (2012, p.140).

UNIDADE 4 133
Medidas de Controle Administrativas e
Equipamento de Proteção Individual

Medidas de controle administrativas são aquelas que utilizam pro-


cedimentos e regras operacionais para reduzir a exposição a agentes
químicos. Por exemplo, operações que irão gerar uma alta concen-
tração de contaminantes no ar podem ser planejadas para serem
realizadas apenas por alguns trabalhadores, evitando a exposição
à totalidade deles. Ainda, pode ser feito um revezamento entre os
trabalhadores. Pode ser estabelecida, também, uma regra definin-
do o horário em que a operação deve ser realizada, priorizando os
horários em que haverá menos trabalhadores e população vizinha
próxima do ambiente de trabalho com a contaminação de agentes
químicos. No entanto, para serem implementadas, estas medidas
precisam ser compatíveis com as necessidades de produção.
Como última medida de controle, que é a menos eficaz e que
exige uma maior supervisão em relação à sua aplicação, é o uso
de equipamento de proteção individual. Para os agentes químicos
existem basicamente dois conjuntos de equipamentos. Os EPIs para
proteção contra a exposição dérmica e os EPIs para proteção das
vias respiratórias.
A proteção dérmica se dá por meio de luvas, mangotes, aventais
e roupas de corpo inteiro. Na sua seleção, é preciso considerar para
qual agente químico deverá ser oferecida a proteção.
As luvas de butila oferecem proteção contra peróxidos, ácidos
corrosivos, soluções básicas, álcoois, aldeídos, cetonas e éteres. Con-
tudo, não são recomendadas para proteção contra hidrocarbonetos
alifáticos, aromáticos e solventes halogenados. As luvas de nitrila
oferecem proteção contra solventes clorados, óleos, graxas, ácidos,
agentes cáusticos e álcoois. Entretanto, não são recomendadas para
cetonas, agentes oxidantes e solventes aromáticos. Para a proteção
contra gasolina e fluídos hidráulicos, são recomendadas as luvas de
neoprene (OSHA, 2004, on-line)1.
A proteção respiratória é feita por meio do uso de equipamentos
de proteção respiratória. Existem diversos modelos, marcas e tipos
de respiradores no mercado. A Figura 8 apresenta a classificação dos
equipamentos de proteção respiratória de acordo com a Associação
Brasileira de Normas Técnicas.

134 Higiene Ocupacional II


Com filtro
Não
químico
motorizados
Dependentes da
atmosfera ambiente: Com filtro
respiradores mecânico
purificadores de ar
Motorizados Com filtro
combinado

Fluxo
Respiradores
de linha de ar contínuo
Equipamentos
de proteção comprimido
respiratória De
demanda
Respiradores
de linha de ar
comprimido De demanda
com cilindro com pressão
auxiliar positiva

Independentes da De
atmosfera ambiente: Circuito
demanda
respiradores de aberto
Máscaras
adução de ar
autônomas
Circuito De demanda
fechado com pressão
positiva

Sem
ventoinha

Respiradores Com ventoinha


de ar natural manual

Com ventoinha
motorizada

Figura 8 - Classificação dos equipamentos de proteção respiratória


Fonte: adaptada de ABNT (1999).

Os equipamentos se dividem em duas grandes classes: os dependentes e independentes da atmosfera


ambiente. Os respiradores dependentes da atmosfera ambiente não podem ser utilizados em todas as
situações, pois seu uso depende da existência de uma concentração de oxigênio superior a 18% no
ar (TORLONI; VIEIRA, 2003). Esses respiradores funcionam por meio da selagem do contato das
vias respiratórias com os contaminantes. O usuário coloca o respirador e o ar inspirado passa por
filtros. Estes removem os contaminantes. Selecionar corretamente o filtro irá proporcionar a proteção
adequada. Filtros químicos são indicados para gases e vapores e os filtros mecânicos para aerodisper-
sóides, como poeiras de sílica. Caso exista os dois tipos de contaminantes no ar, podem ser utilizados
filtros combinados. Os respiradores motorizados são aqueles que possuem ventoinha para forçar o

UNIDADE 4 135
atravessamento do ar. Um tipo de máscara mais Como vimos, os agentes químicos nem sempre
simples e comumente usada na construção civil, são prejudiciais à saúde. Seus efeitos são determi-
por exemplo, são as peças faciais filtrantes (PFF), nados pela sua natureza, pelo tempo de exposi-
que podem ser classificadas em três tipos: PFF1, ção a eles e pela concentração usada de produto
PFF2 e PFF3. Eles são eficazes contra poeiras (por em cada atividade. Quando é identificada uma
exemplo, aquelas provenientes da construção ci- situação em que os agentes químicos oferecem
vil), névoas (por exemplo, aquelas geradas pela riscos devido à inalação de gases e vapores em
pintura com spray), fumos (por exemplo, aque- altas concentrações, é preciso aplicar as medidas
les provenientes da atividade de solda), radionu- de controle para diminuir a concentração no ar ou
clídeos e agentes biológicos. Para este último, é para evitar que eles entrem nas vias respiratórias
recomendado o uso de uma peça facial filtrante dos trabalhadores.
denominada de máscara N95. Vejamos agora uma classe de agentes ambien-
Quando a atmosfera ambiente possui baixa tais abordada pela Higiene Ocupacional, cuja ava-
concentração de oxigênio (abaixo de 18%) ou liação é feita normalmente de forma qualitativa:
altas concentrações de contaminantes, devem os agentes biológicos.
ser usados os respiradores de adução de ar. Es-
tes respiradores são mais completos e podem ser
compostos por peça facial, capuz, capacete, gorro
e roupa completa. Os respiradores de adução de
ar fornecem ar limpo ao usuário através de um
cilindro que pode ser acoplado a ele ou então por
meio de ar proveniente de uma fonte distante, por A seleção, manutenção, treinamento e controle
meio de uma mangueira. dos respiradores devem ser feitos por meio de
Todos os respiradores devem ser selecionados um programa denominado Programa de Prote-
criteriosamente, conforme diversos parâmetros ção Respiratória (PPR). Fornecer respiradores
da exposição: tipo de agente químico e sua con- sem treinamento ou sem seleção com critério
centração no ar, teor de oxigênio no ambiente, poderá não proteger adequadamente os traba-
características da atividade, ritmo respiratório du- lhadores. As diretrizes para elaboração do PPR
rante a atividade, existência de agentes ambientais são determinadas no material produzido pela
agravantes, como o calor ou o frio e estresse físico Fundacentro disponível para download, confor-
e psicológico que podem ser gerados durante o me link no material complementar.
uso dos respiradores (TORLONI; VIEIRA, 2003).

136 Higiene Ocupacional II


Agentes
Biológicos

Os agentes biológicos podem representar um ris-


co ocupacional dependendo de sua classificação.
Estamos rodeados de agentes biológicos que, no
entanto, não oferecem risco ocupacional. Os agen-
tes de risco são denominados de agentes patogêni-
cos. Eles são representados por microrganismos,
como fungos, bactérias, vírus e protozoários. Os
ambientes de trabalho que mais possuem riscos
são geralmente laboratórios, hospitais, gabinetes
de autópsia, estabelecimentos de cuidado da saú-
de de animais, atividade de coleta de lixo, dentre
outros (VENDRAME, 2015). No entanto, o risco
biológico nem sempre é evidenciado devido à
incredulidade e falta de informação dos traba-
lhadores expostos.
A avaliação da exposição a agentes biológicos
é feita, principalmente, de forma qualitativa. Isso
porque não existem limites de tolerância defi-
nidos para todos agentes biológicos. Como um
dos poucos valores quantitativos de referência,
podemos citar o Valor Máximo Recomendável
(VMR) para fungos em ambientes internos cli-
matizados, de uso público e coletivo, dado pela
resolução ANVISA nº 09 de 16/01/2003. A coleta
de material biológico para posterior análise pode

UNIDADE 4 137
ser feita por diversos métodos. Por exemplo, pode e não pela via aérea. No entanto, sabemos que a
ser utilizada uma placa denominada placa de Petri via aérea é uma das maneiras de propagação de
que contém material orgânico para alimentar um agentes biológicos, especialmente quando mate-
meio de cultura. Os microrganismos presentes no riais contaminados sofrem agitação ou centrifu-
ar serão depositados na placa por meio da gravi- gação, bem como quando a transmissão se dá por
dade ou impactação natural e se desenvolverão espirro ou tosse de pessoas infectadas. Outras vias
no meio de cultura, evidenciando sua presença de transmissão de agentes biológicos são (VEN-
no ambiente. Existe ainda o uso de equipamentos, DRAME, 2015):
como bombas que succionam o ar até um filtro ou • Via dérmica: se dá pelo contato da pele ou
um meio de cultura adequado (SALIBA, 2014). mucosas com os agentes biológicos.
No entanto, para diversos outros agentes não • Via parenteral: se dá pelo contato direto
existe valor de referência no Brasil. Vale destacar ou indireto do material biológico com o
que cada microrganismo patogênico pode ter sangue ou demais fluidos do hospedeiro,
uma ação diferente conforme as características por exemplo, a contaminação que ocorre
particulares de cada indivíduo, bem como de seu quando um enfermeiro sofre uma perfura-
estado de saúde. A Norma Regulamentadora NR- ção acidental de uma agulha contaminada
15, que trata da insalubridade por exposição a com material biológico.
agentes biológicos, estabelece apenas a avaliação • Ingestão: ocorre devido à ingestão de ali-
qualitativa da exposição aos agentes biológicos mentos, bebidas ou a prática de fumo no
para caracterizar a insalubridade nas atividades ambiente de trabalho contaminado.
envolvendo agentes biológicos. Ela estabelece ain- • Transmissão através de vetores artrópodes.
da que a insalubridade se dá apenas por contato
A transmissão de agentes biológicos patogênicos
ocorre de forma direta ou indireta. A forma direta
se dá pelo contato do agente com o hospedeiro e a
Tenha sua dose extra de forma indireta ocorre quando o agente biológico
conhecimento assistindo ao se aloja em objetos e em seguida estes são usados
vídeo. Para acessar, use seu
pelo hospedeiro.
leitor de QR Code.
Para avaliar o risco biológico em uma ativida-
de, podem ser seguidas as seguintes etapas.

138 Higiene Ocupacional II


Avaliação da Presença de
Agentes Biológicos no Local

É preciso conhecer quais agentes biológicos são manipulados. Como dito, estamos diariamente expos-
tos a diversos agentes que não representam um risco à saúde humana. Existem agentes biológicos de
diferentes classificações de risco. Veja a Tabela 2 que mostra a classificação de risco de quatro agentes
biológicos diferentes. Esta tabela pode ser consultada na íntegra no texto da Norma Regulamentadora
NR-32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde.
Tabela 2 – Classificação de risco de agentes biológicos

Agente biológico Classificação

Escherichia coli (todas as cepas enteropatogênicas, enterotoxigênicas,


2
enteroinvasivas e detentoras do antígeno K 1)

Mycobacterium tuberculosis 3

Vírus Ebola 4
Fonte: adaptada de Brasil (1978c, p. 18).

Os agentes biológicos podem ser classificados em quatro classes (BRASIL, 1978c):


• Classe de risco 1: baixo risco individual para o trabalhador e para a coletividade, com baixa
probabilidade de causar doença ao ser humano.
• Classe de risco 2: risco individual moderado para o trabalhador e com baixa probabilidade de
disseminação para a coletividade. Podem causar doenças ao ser humano, para as quais existem
meios eficazes de profilaxia ou tratamento.
• Classe de risco 3: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade de disse-
minação para a coletividade. Podem causar doenças e infecções graves ao ser humano, para as
quais nem sempre existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.
• Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade elevada de
disseminação para a coletividade. Apresenta grande poder de transmissibilidade de um indi-
víduo a outro. Podem causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem meios
eficazes de profilaxia ou tratamento.

Portanto, a gravidade de uma exposição a agentes biológicos vai depender do tipo de agente presente
no local. Considere, por exemplo, os agentes da Tabela 2. O primeiro deles, a bactéria Escherichia coli
tem classe de risco 2, o que significa que apresenta um risco moderado e, caso algum trabalhador fique
infectado, existem meios eficazes para tratamento. O Mycobacterium tuberculosis, agente causador da
tuberculose, já possui uma classe de risco maior, classe 3. Isso significa que trabalhadores expostos a
este agente estão expostos a um risco elevado. As medidas de controle para este tipo de agente devem
ser bem mais rigorosas e potentes do que as medidas usadas para o agente de classe de risco 2. O vírus

UNIDADE 4 139
Ebola, porém, possui a maior classificação de ris- Avaliação das Medidas
co, classe 4, que significa que há um risco elevado de Controle Existentes
para o trabalhador e também um risco elevado
de disseminação do agente no ambiente. Além As medidas de controle no manuseio de agentes
disso, não existem meios eficazes de tratamento biológicos diminuem o risco de contaminação
e profilaxia para a exposição a este tipo de agente e são representadas pelas medidas de controle
biológico. coletivo, individual e pelas precauções universais
tomadas no manuseio de agentes biológicos.
O uso de cabines de segurança biológica
Avaliação do Tipo permite que os agentes biológicos manipulados
de Exposição não se dispersem para o ambiente de trabalho.
Elas são usadas em laboratórios que manipulam
A Norma Regulamentadora NR-15, no anexo agentes biológicos patogênicos. Estes agentes são
14, estabelece que as condições de insalubridade manipulados no interior da cabine que possui um
devido à exposição a agentes biológicos ocorrem fluxo de ar que impede a dispersão de agentes
apenas por um período de tempo que configure biológicos para fora da cabine. Algumas delas,
exposição permanente. Contudo, sabemos que conforme a necessidade dada pela classe de risco,
mesmo que um trabalhador não esteja exposto a possuem filtros que impedem a dispersão dos
agentes biológicos durante a maior parte de sua agentes para o ambiente externo do prédio.
jornada de trabalho, ele pode ser acometido de A manutenção dos locais de trabalho, evitando
doenças devido a uma contaminação acidental, vazamentos de água e mantendo a higienização
como é o caso da contaminação que ocorre com de superfícies, contribui para evitar a propagação
materiais perfurocortantes. dos agentes patogênicos no local. O controle de
Na avaliação do risco biológico, após identi- roedores, baratas, morcegos, dentre outros vetores,
ficar os agentes biológicos de risco presentes no contribui para o controle do risco ocupacional.
local, bem como sua classe de risco, é preciso ava- Trabalhadores expostos devem receber orien-
liar em que situações os trabalhadores se expõem tação e treinamento para fazer a limpeza de su-
ao risco biológico e qual a sua duração. Quanto perfícies, bem como a esterilização de materiais
maior for o tempo de exposição e o volume de tra- contaminados. Trabalhadores que manuseiam
balho em contato com agentes biológicos, maior agulhas devem ser orientados a não fazer o reen-
será o risco de contaminação. Por exemplo, em cape e desconexão manual de agulhas, para evitar
um ambiente hospitalar, pode ser avaliado o total contaminação acidental. Uma medida de prote-
de pacientes que são atendidos por dia, os tipos ção eficaz é a imunização de trabalhadores ex-
de doenças identificadas, bem como os procedi- postos, por exemplo, com vacina contra hepatite
mentos que são realizados. B, tétano e difteria.

140 Higiene Ocupacional II


Os equipamentos de proteção individual ofe-
recem uma barreira contra a entrada de agentes
biológicos no organismo, apesar de poderem ser
violados devido a materiais perfurocortantes. De- Conforme a classe de risco de um agente bioló-
pendendo do risco, pode ser recomendado o uso gico, e as características da atividade, existe um
de luvas de procedimento, respiradores (descar- nível de biossegurança recomendado. Existem
táveis ou mecanizados), botas e vestimenta im- quatro classificações de níveis de biosseguran-
permeável de corpo inteiro. ça cujo número aumenta com a quantidade de
A avaliação das medidas de controle existen- medidas de controle exigidas. Por exemplo, um
tes em um local em que existe exposição a agen- laboratório de nível de biossegurança 3, que
tes biológicos irá auxiliar na avaliação do risco. lida com a bactéria da tuberculose, deve estar
Quanto menos medidas existirem, conforme a separado do local de passagem geral. Para aces-
necessidade do grau de risco dos agentes bioló- sá-lo, deve existir uma antecâmera. Dentro do
gicos, maior será o risco devido à exposição aos laboratório deve existir um equipamento para
agentes biológicos. descontaminação de materiais, denominado de
Diferentemente dos agentes químicos, os agen- autoclave. Todo material a ser descartado deve
tes biológicos não possuem uma concentração li- ser autoclavado. O laboratório deve possuir um
mite no ar que possa ser usada para determinar se lavatório de mãos com comandos não manuais.
serão ou não prejudiciais à saúde. A avaliação deve O fluxo de ar no laboratório deve ser do ambien-
ser feita de forma qualitativa, pois, por exemplo, te externo para dentro do laboratório.
uma pequena quantidade de material biológico Fonte: Organização Mundial da Saúde (2004,
contaminada com um vírus de classe de risco 4 on-line).
poderá causar a morte de um ou mais indivíduos.
Neste sentido, é preciso seguir as medidas de pre-
venção apresentadas neste tópico, bem como de
manuais de biossegurança.
Finalizamos aqui o estudo sobre Higiene Ocu-
pacional. Na próxima unidade, estudaremos os
aspectos de ergonomia relacionados ao ambiente
de trabalho.

UNIDADE 4 141
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Em um determinado ambiente de trabalho, são manipulados muitos micror-


ganismos nocivos à saúde. Para manter o local limpo, é feita, periodicamente,
uma limpeza em todo o ambiente de trabalho utilizando um produto denomi-
nado “formaldeído”. Pesquise a FISPQ deste produto e responda às seguintes
perguntas:
a) Quais riscos este produto apresenta para a saúde?
b) Gestantes podem manipular este produto? Justifique.
c) Este produto pode ser facilmente disperso no ar? Justifique.

2. Diversas medidas de controle podem ser tomadas para controlar o risco de


exposição a agentes químicos. Assinale a medida de controle que evitará a
dispersão de contaminantes no ambiente de trabalho.
a) Ventilação geral diluidora.
b) Equipamento de proteção individual.
c) Enclausuramento.
d) Medidas administrativas.
e) Substituição de agente químico por outro menos tóxico.

3. No projeto de um laboratório de pesquisa, foi previsto que serão manipuladas


amostras biológicas provenientes de animais. Para estabelecer as medidas de
segurança neste local, quais critérios deverão ser considerados? Justifique sua
resposta.

142
LIVRO

Perícias Judiciais de Insalubridade e Periculosidade


Autor: Antonio Carlos Vendrame
Editora: Vendrame
Sinopse: com pioneirismo, o autor coloca neste livro toda sua experiência em
perícias, atuando como Perito Judicial e Assistente Técnico de empresas, tor-
nando-o obra de consulta indispensável não só aos engenheiros de segurança
do trabalho, enfermeiros do trabalho, higienistas ocupacionais, ergonomis-
tas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e médicos do trabalho, como também aos
advogados (especialmente trabalhistas), profissionais de recursos humanos,
profissionais de meio ambiente industrial e empresários, preconizando que
o conhecimento acerca desta ciência deve ser amplamente divulgado, e não
trancado a sete chaves, como era no passado.
Comentário: a leitura deste material é recomendada para os profissionais que
quiserem se especializar na área de perícias judiciais de insalubridade e pericu-
losidade. O livro apresenta diversos conceitos de Higiene Ocupacional.

WEB

Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos


O link a seguir dá acesso à FISPQ do reagente químico álcool etílico 96 PA.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Programa de Proteção Respiratória


O link a seguir dá acesso ao Programa de Proteção Respiratória (PPR).
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Catálogo de Equipamentos de Proteção Individual


O link a seguir dá acesso a catálogos de equipamentos de proteção individual,
conforme categoria da parte do corpo protegida, alguns dos quais mencionados
no texto desta unidade.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

143
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12543:1999: Equipamentos de pro-
teção respiratória - Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14275-4:2009: Produtos químicos —


Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente. Parte 4: Ficha de informações de segurança de produtos
químicos (FISPQ). Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

BRASIL. Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-15 – Atividades e operações
insalubres. Brasil. 1978a.

BRASIL. Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-26 – Sinalização de segu-
rança. Brasil. 1978b.

BRASIL. Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-32 – Segurança e Saúde no
Trabalho em Serviços de Saúde. Brasil. 1978c.

BUSCHINELLI, J. T.; KATO, M. Manual para interpretação de informações sobre substâncias químicas.
São Paulo: Fundacentro, 2011.

GOMES, R. C. F. et al. Saturnismo após acidente por arma de fogo de grande calibre: relato de caso. Revista
Médica de Minas Gerais, v. 25, n. 1, p.120-124, 2015.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Manual de Segurança Biológica em Laboratórios. 3. ed. Genebra:


Oms, 2004. Disponível em: http://biot.fm.usp.br/pdf/cibio_Manual_de_Seguranca_Biologica_em_Laborato-
rio_OMS.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.

RIBEIRO, M. G.; PEDREIRA FILHO, W. dos R.; RIEDERER, E. E. Avaliação qualitativa de riscos químicos:
orientações básicas para o controle da exposição a produtos químicos. São Paulo: Fundacentro, 2012. Disponível
em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2013/2/avaliacao-qua-
litativa-de-riscos-quimicos-orientacoes-basicas-para-o-controle-da-exposicao-a-2. Acesso em: 05 abr. 2020.

SALIBA, T. M. Manual prático de Higiene Ocupacional e PPRA. 6. ed. São Paulo: LTr, 2014.

SANTOS, A. M. dos A. et al. Marmorarias: Manual de referência: recomendações de segurança e saúde


no trabalho. São Paulo: Fundacentro, 2008. Disponível em: http://ftp.medicina.ufmg.br/osat/arquivos/ma-
nual2008_30092014.pdf. Acesso em: 07 jan. 2020.

SILVA, M. J. da. Gerenciamento de riscos e prevenção de acidentes. Maringá: Unicesumar, 2017.

TORLONI, M.; VIEIRA, A. V. Manual de proteção respiratória. São Paulo: Abho, 2003.

144
VENDRAME, A. C. Perícias judiciais de insalubridade e periculosidade. 3. ed. São Paulo: Vendrame, 2015.

WALLAU, W. M.; SANTOS JÚNIOR, J. A. dos. O sistema globalmente harmonizado de classificação e rotula-
gem de produtos químicos (GHS): uma introdução para sua aplicação em laboratórios de ensino e pesquisa
acadêmica. Química Nova, [s.l.], v. 36, n. 4, p. 607-617, 2013. FapUNIFESP (SciELO).

REFERÊNCIAS On-line

Em: https://www.osha.gov/Publications/osha3151.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.


1

145
1. a) Conforme FISPQ disponível no site http://dinamicaquimica.com.br/freagentes/FORMALDEIDO_37.pdf
(acesso em: 15 jan. 2020), o formaldeído possui os símbolos de toxicidade e corrosividade. Ele é mutagênico
e carcinogênico e pode provocar lesões graves oculares.

b) Este produto não pode ser manipulado por gestantes, pois é mutagênico e carcinogênico, podendo
afetar o feto.

c) Para fazer a avaliação de facilidade de dispersão no ar, podemos avaliar o ponto de ebulição e a pressão
de vapor do produto. O ponto de ebulição é de 100°C e a pressão de vapor é de 53 hPA a 39°C. Conside-
rando que o éter etílico é um produto altamente volátil e que seu ponto de ebulição é de 34,6°C e pressão
de vapor é de 1,228 hPa a 40°C, podemos concluir que o formaldeído não é um produto que se dispersa
facilmente no ar. No entanto, se for manuseado de forma a apresentar agitação do produto ou aqueci-
mento, ele pode se dispersar mais facilmente no ar.

2. C.

3. Será preciso verificar a classificação de risco dos agentes biológicos que serão manipulados no laboratório.
A partir da classificação dos agentes, bem como dos procedimentos que serão realizados, as medidas de
controle serão estabelecidas. Conhecer a classe de risco do agente biológico permite saber se ele apresenta
um risco muito grave ou não para os trabalhadores, sua facilidade de disseminação e se existem medidas
de prevenção adequadas.

146
147
148
Me. Maílson José da Silva

Ergonomia I

PLANO DE ESTUDOS

Biomecânica

Antropometria Fundamentos de
Fisiologia do Trabalho

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Apresentar os conceitos de antropometria. • Mostrar o impacto de alguns aspectos fisiológicos no tra-


• Apresentar os conceitos de biomecânica. balho.
Antropometria

Prezado(a) estudante, como você classificaria sua


altura em relação à população em geral? Você se
considera de estatura alta, baixa ou mediana? E
você já sentiu dores ao utilizar, por exemplo, uma
pia, um conjunto de cadeira e mesa ou outro equi-
pamento devido às dimensões do equipamento
não serem compatíveis com as suas dimensões
corporais? Observe que diversos itens do nosso
dia a dia possuem dimensões padronizadas para
toda a população. Afinal, produzir todos itens
conforme as dimensões de cada indivíduo seria
economicamente inviável. A Indústria utiliza me-
didas do corpo humano, baseadas em estatística,
para determinar a dimensão dos itens que produz
a fim de atender, da melhor maneira, a toda a po-
pulação de usuários. Neste tópico, vamos tratar da
ciência que estuda as medidas do corpo humano,
a antropometria. Ela fornece medidas do corpo
humano que são usadas no projeto de produtos
e espaços de trabalho. Diversos equipamentos e
construções que usamos no nosso dia a dia, como
veículos, mesas, cadeiras, teclados, escritórios,
painéis de controle, corredores e passagens são
baseados em medidas antropométricas.
A Ergonomia é uma ciência que estuda a adap- É fácil entender que cada indivíduo possui ca-
tação do trabalho ao homem. Essa adaptação sig- racterísticas únicas. Além disso, estas caracterís-
nifica tornar algo compatível com as característi- ticas variam ao longo dos anos. Por exemplo, um
cas do homem. No entanto, o ser humano não é ser humano quando nasce possui uma cabeça
um só. Em relação à sua estrutura, o homem possui maior em relação ao seu corpo. À medida que
muitas diferenças. Estas diferenças variam de acor- envelhece e atinge a idade adulta, a cabeça de
do com a idade, sexo, etnia, dentre outros fatores um ser humano fica menor em relação ao seu
influenciadores. Até mesmo pessoas da mesma corpo. A proporção entre a cabeça e estatura do
idade, ou do mesmo sexo e etnia possuem dimen- corpo se altera em até 90%, considerando um re-
sões e pesos diferentes. Diferenças significativas cém-nascido e um homem adulto (IIDA, 2005).
são encontradas entre homens e mulheres. Portan- O sexo de um indivíduo contribui para de-
to, cabe a pergunta: como a ergonomia consegue terminar suas dimensões corporais. Homens
fazer a adaptação das condições de trabalho para são geralmente mais altos e pesados do que as
todos os indivíduos? Esta adaptação é feita por mulheres e possuem um tórax maior e ombros
meio do estudo das medidas do corpo humano. mais largos. As mulheres geralmente possuem
A antropometria está relacionada à parte da bacias mais largas que os homens. Os homens
antropologia que estuda as medidas do corpo hu- possuem uma proporção maior de músculos
mano (PRIBERAM, [2020], on-line)1. Veremos e gordura em relação às mulheres. Além dis-
neste tópico dados das dimensões do corpo hu- so, a gordura se concentra em partes diferentes
mano e como eles são utilizados para projetar do corpo, por exemplo, mulheres possuem um
postos de trabalho e produtos de tal forma a res- maior teor de gordura subcutânea nas regiões
peitar às necessidades humanas de espaços para da coxa. Segundo Iida (2005), as diferenças de
trabalho. Vamos abordar alguns dos fatores que estatura entre homens e mulheres pode varia
possuem influência em nossas medidas corporais: entre 6 e 11%.
a idade, o sexo e a etnia.

A antropometria é a ciência que estuda as medidas do corpo humano. Estas medidas incluem: altura,
medidas da pele, circunferência abdominal, circunferência da panturrilha, circunferência muscular
das axilas e largura do cotovelo. Estas medidas fornecem informação sobre a distribuição da gordura
corporal e massa muscular.
Fonte: adaptado de Goldstein-Fuchs e Lapierre (2014).

UNIDADE 5 151
A etnia é outro fator de grande influência nas medidas antropométricas. Cada povo possui carac-
terísticas que o identifica e estas características incluem também medidas antropométricas. É fácil
distinguir, por exemplo, indivíduos asiáticos de indivíduos europeus: diferenças de altura, peso, porte,
proporções corporais etc. No entanto, indivíduos de mesma etnia possuem também diferenças entre
si. Na África, um indivíduo pigmeu pode chegar a ter 130 cm de estatura e um indivíduo nilótico pode
chegar a ter 210 cm de altura (IIDA, 2005). Além do fator genético, existe a influência dos próprios
costumes e alimentação do local. É possível observar entre imigrantes que vieram para os Estados Uni-
dos que seus filhos nascidos neste país são geralmente mais pesados e altos (IIDA, 2005). No entanto,
estudos mostram que mesmo existindo esta diferença dentro de uma etnia, as proporções corporais
se mantêm. Veja a Figura 1 que mostra as proporções corporais em indivíduos de diferentes etnias.
Figura 1 - Proporções corporais em indivíduos de diferentes etnias

180
160
140
120
100
Estatura
(cm) 80
60
40
20
0
Branco Negro
americano americano Japonês Brasileiro
Nº da amostra 25.000 6.684 233 249
Idade média 23 23 25 26
Estatura média (cm) 174 173 161 167
Peso (kg) 70 69 55 63

Fonte: adaptada de Newman e White (1951), Ishii (1957), Siqueira (1976) apud Iida (2005, p. 102).

152 Ergonomia I
Observe na figura os sujeitos “branco americano” e “negro americano”. Embora morem no mesmo
país eles possuem diferenças nas proporções corporais. O sujeito negro americano possui braços mais
longos e uma silhueta mais fina que o sujeito branco americano.
O estudo de antropometria produz tabelas de medidas dos segmentos corporais. Estas tabelas são
usadas no dimensionamento de produtos e espaços. Neste sentido, existem medidas para três situações:
antropometria estática, antropometria dinâmica e antropometria funcional.
A antropometria estática estuda as medidas do corpo para serem usadas em situações de trabalho
mais estático, como no caso de uma pessoa que trabalha sentada em seu escritório e realiza poucos
movimentos. Por sua vez, a antropometria dinâmica considera as medidas do corpo para situações
de trabalho com grande movimentação dos segmentos corporais, como no caso de operação de um
painel de controle ou na realização de montagem de produtos em uma bancada. E a antropometria
funcional gera medidas para uso em execução de atividades específicas, como o acionamento de uma
manivela. Os dados antropométricos são apresentados, geralmente, em tabelas com valores das medidas
considerando três parcelas de uma amostra ou população: 5%, 50% e 95%. Um exemplo dessas medidas
é dado pela Figura 2 e Tabela 1, que representam dados de medidas antropométricas para homens e
mulheres considerando o corpo sentado e a norma alemã DIN 33403 de 1981.

2,12
2,13

2,1
2,2
2,3

2,4

2,11
2,8
2,6 2,9 2,5
2,10

Figura 2 - Exemplo de variáveis usadas na antropometria estática


Fonte: adaptada de Iida (2005, p. 117).

UNIDADE 5 153
Tabela 1 - Medidas estáticas para homens e mulheres, conforme norma alemã DIN 33402 de 1981
Medida estática (cm) Mulheres Homens
5% 50% 95% 5% 50% 95%
• Altura da cabeça, a partir do
80,5 85,7 91,4 84,9 90,7 96,2
assento, tronco ereto
Altura dos olhos, a partir do as-
68,0 73,5 78,5 73,9 79,0 84,4
sento, tronco ereto
Altura dos ombros, a partir do
53,8 58,5 63,1 56,1 61,0 65,5
assento, tronco ereto
Altura do cotovelo, a partir do
19,1 23,3 27,8 19,3 23,0 28,0
assento, tronco ereto
Altura do joelho, sentado 46,2 50,2 54,2 49,3 53,5 57,4
Altura poplítea parte inferior da
35,1 39,5 43,4 39,9 44,2 48,0
coxa

Comprimento do antebraço, na
29,2 32,2 36,4 32,7 36,2 38,9
horizontal, até o centro da mão

Comprimento nádega-poplítea 42,6 48,4 53,2 45,2 50,0 55,2

Comprimento da nádega-joelho 53,0 58,7 63,1 55,4 59,9 64,5

Comprimento nádega-pé, perna


95,5 104,4 112,6 96,4 103,5 112,5
estendida na horizontal

Altura da parte superior das


11,8 14,4 17,3 11,7 13,6 15,7
coxas
Largura entre os cotovelos 37,0 45,6 54,4 39,9 45,1 51,2

Largura dos quadris, sentado 34,0 38,7 45,1 32,5 36,2 39,1

Fonte: Iida (2005, p. 118).

Observe que a tabela mostra as medidas corporais de acordo com a figura apresentada. Por exemplo, a
medida 2.1 é a medida da altura da cabeça, a partir do assento e com o tronco ereto. São apresentadas
medidas para homens e mulheres. Essas medidas são representadas para três parcelas da população:
5%, 50% e 95%. As medidas foram tomadas para diversos indivíduos e, portanto, é preciso organizar
os dados em porcentagens. A parcela de 5% representa a medida dos indivíduos de menor dimensão.
A parcela de 50% representa a medida de até 50% dos indivíduos. E a parcela de 95% representa as
medidas dos indivíduos maiores. Isso significa que 5% dos indivíduos homens possuem como medida
da altura da cabeça, a partir do assento e com o tronco ereto, a medida de 84,9 cm. Um total de até 50%
dos indivíduos possui essa medida no valor de 90,7 cm. E um total de 95% dos indivíduos homens
maiores possui a medida 2.1, em um valor maior que 96,2 cm (aqui consideramos a diferença entre
100% e 95%, que é igual a 5%). É importante conhecer estas parcelas para projetar espaços de trabalho.
Por exemplo, caso fosse preciso construir uma cabine para um operador trabalhar sentado, de tal forma
a requerer o menor espaço possível, poderia ser considerada a altura da medida 2.1 que englobasse a
maior parte da população. Esta medida é de 96,2 cm, que engloba 95% dos indivíduos.

154 Ergonomia I
Além dos fatores idade, sexo, etnia, estilo de vida e época, as medidas antropométricas também
podem considerar a influência da roupa que está sendo utilizada. Por exemplo, em dias de frio, em que
se usam roupas mais grossas em toda a extensão do corpo, os movimentos podem ficar limitados.

A altura das pessoas serve como um indicativo de suas condições de vida. Isso porque uma má
nutrição irá afetar o crescimento dos indivíduos, desde quando estão no útero materno até a ado-
lescência. No Brasil, por exemplo, uma pesquisa indica que a altura do brasileiro saltou durante o
período da Primeira República (1889-1930).
Caro(a) aluno(a), confira mais sobre essa pesquisa no link a seguir: https://www1.folha.uol.com.br/
ciencia/2017/11/1938281-estatura-do-brasileiro-deu-um-salto-durante-a-primeira-republica.shtml.
Fonte: adaptado de Folha de S. Paulo (2017, on-line).

Conhecer todos os fatores que influenciam nas medidas antropométricas pode lhe auxiliar na aplica-
ção dos conceitos de antropometria no projeto de produtos e espaços de trabalho. Vejamos a seguir
as suas aplicações.

Aplicações da das entre os sexos, reflita: todos os vasos sanitários


Antropometria devem ser fabricados em medidas únicas? Se você
pensa que todos eles devem ser fabricados em
Para proporcionar uma interação adequada entre medidas únicas, talvez considere que a diferença
um produto ou posto de trabalho e seus usuá- das medidas entre os sexos é mínima. Pode ter
rios, é fundamental conhecer o público que o considerado também que fazer produtos com
usará. O grau de padronização de um produto diferentes medidas iria aumentar os níveis de es-
conforme a medida de seus usuários pode variar toque e o custo com máquinas e equipamentos
conforme seu preço, frequência de uso e neces- seria muito maior. Esses argumentos são válidos
sidades dos clientes. Nem sempre os produtos e dizem respeito ao custo industrial. No entanto,
atendem adequadamente as medidas corporais fabricar este tipo de produto de forma persona-
de seus usuários. Por exemplo, homens e mulhe- lizada para homens e mulheres iria considerar
res se diferenciam significativamente em termos adequadamente que estas possuem quadris mais
de medidas corporais. Observe as diferenças das largos e altura poplítea menor em relação aos ho-
medidas 2.6 (altura poplítea, parte inferior da mens. Assim, vasos sanitários para mulheres de-
coxa) e 2.13 (largura dos quadris, sentado) para veriam ser mais baixos e mais largos que os vasos
homens e mulheres da tabela 1. Essas medidas são usados por homens. Esses argumentos também
de interesse para o projeto de um vaso sanitário. são válidos e dizem respeito à adaptação indivi-
Considerando as diferenças existentes das medi- dual dos produtos.

UNIDADE 5 155
Ao projetar um produto ou posto de trabalho, é preciso considerar tanto o argumento de custo indus-
trial quanto o de adaptação individual. É preciso existir um equilíbrio no projeto. Se a empresa respon-
sável pela fabricação deseja ter um desempenho que a diferencie de seus concorrentes, poderia fabricar
dois tipos de vasos sanitários (um modelo para homens e outro para mulheres). O uso das tabelas de
antropometria nos projetos de produtos e postos de trabalho vai depender dos objetivos traçados para
tornar o produto final competitivo.
A utilização dos dados antropométricos nos projetos requer reflexão para balancear as diversas
necessidades. Nesta tarefa, é útil considerar cinco princípios que nortearão as decisões (IIDA, 2005):

1. Projetos dimensionados para a mé- mo acontece com o projeto de uma saída


dia: é o princípio que busca atender uma de emergência: uma altura que atenda à
grande parcela da população de usuários. média da população geraria dificuldades
Este princípio é seguido, por exemplo, no para as pessoas mais altas saírem do local.
projeto de bancos para pontos de ônibus Assim, projetar para atender extremos se
públicos. Este tipo de banco é estático, sem torna justificável conforme a situação de
regulagem. As medidas antropométricas uso do produto ou espaço.
de seus usuários podem divergir muito. 3. Projetos dimensionados para faixas da
Um banco muito baixo irá causar descon- população: neste princípio, os produtos e
forto nos usuários mais altos e um banco espaços são projetados para grupos da po-
muito alto não proporcionará um apoio pulação, para melhor atendê-los. É o caso,
satisfatório para os usuários mais baixos. por exemplo, de roupas e calçados que são
O uso do valor médio permite atender à fabricados conforme grades de tamanho.
maior quantidade de usuários. 4. Projetos feitos com dimensões regu-
2. Projetos dimensionados para um dos láveis: o projeto que segue este princípio
extremos: este princípio orienta o pro- adiciona regulagens nos componentes de
jetista a proporcionar locais ou objetos um equipamento ou produto buscando
maiores ou menores para atender usuários atender melhor o usuário. Exemplos: ca-
com dimensões extremas (muito grandes deiras para escritório, pegas de cortadores
ou muito pequenas). Por exemplo, um pai- de grama, banco de veículos etc.
nel de controle projetado para um homem 5. Projetos adaptados aos indivíduos:
médio iria causar dificuldades para pes- neste princípio, o projeto de produtos e
soas mais baixas alcançar alguns controles. serviços busca atender da melhor maneira
Pela natureza do equipamento, a dificul- o usuário conforme suas necessidades in-
dade de alcançar um determinado contro- dividuais. É o caso de roupas sob medida
le poderia proporcionar prejuízos. O mes- e aparelhos ortopédicos.

Observe que a adequação de produtos e espaços a seus usuários é uma atividade complexa que exige
selecionar o princípio adequado para guiar o projeto. É preciso consultar também as tabelas antro-
pométricas e estudar o público usuário para chegar a uma solução satisfatória do ponto de vista dos
usuários e fabricante.

156 Ergonomia I
Existem também medidas que consideram a postura do corpo humano. Veja a Figura 3 e responda
à seguinte pergunta: quais são as dimensões recomendadas para uma cabine de controle considerando
o usuário sentado?

75 210

90
45

190 130
190

60

De pé Sentado Deitado
100

115 100

160
120

Largura

Inclinado

Figura 3 - Recomendação de espaços para algumas posturas típicas (dimensões em centímetros)


Fonte: adaptada de Iida (2005, p. 144).

Observando a figura, vemos que um trabalhador sentado necessita de um espaço representado por uma
caixa de seção transversal de 90 cm x 130 cm. Esta medida, no entanto, não atende a toda população
de usuários, pois existem os casos extremos. Contudo, observe que, para o trabalho sentado, é preciso
considerar a altura, desde o pé até a cabeça e o espaço entre a cabine e a parte traseira da cadeira do
operador.
Tendo em vista que muitos trabalhos são realizados na posição sentada, a antropometria pode ser
muito utilizada nessas situações para determinar dimensões de superfícies horizontais. Veja na Figura
4 as principais medidas relacionadas a uma superfície horizontal.

UNIDADE 5 157
Três medidas principais precisam ser considera-
B das. A medida “A” é a altura da superfície horizon-
tal em relação ao solo. Ela vai depender do tipo
de trabalho que será realizado. Para trabalhos que
C exigem movimentos mais precisos, geralmente a
A superfície precisa ser mais alta e para trabalhos
com baixa necessidade de precisão e que exigem
mais esforço a superfície precisa ser mais baixa. A
altura também vai depender das dimensões dos
objetos a serem manipulados sobre a superfície.
Figura 4 - Principais medidas relacionadas a superfícies Para o valor da altura “A”, utilize como referência as
horizontais alturas recomendadas de superfícies apresentadas
Fonte: adaptada de Pedroza e Silva (2019). pela Figura 5.

+200 mm
+100 mm
0
-100 mm
-200 mm
-300 mm

1000-1100 900-950 750-900 mm - Homens


950-1050 850-900 700-850 mm - Mulheres

Trabalho de precisão Trabalho leve Trabalho pesado

Figura 5 - Alturas recomendadas de superfícies para trabalhos em pé


Fonte: Kroemer e Grandjean (2005, p. 48).

Observe na figura que as alturas para trabalhos de precisão são maiores do que as alturas para trabalhos
pesados. Caso a altura dos trabalhadores varie muito, é recomendado projetar uma bancada de trabalho
mais alta (para atender ao indivíduo maior) e fornecer um estrado para os pés para os usuários mais
baixos, regulando assim a altura.

158 Ergonomia I
A medida “B” da Figura 4 vai depender dos alcances que deverão ser feitos sobre a superfície de
trabalho. É preciso definir as regiões de alcance ótimo na superfície. Veja na Figura 6 as áreas de alcance
máximo e ótimo sobre uma superfície.

500 mm

250
350-450 550-650

1000
1600

Figura 6 - Áreas de alcance máximo e ótimo em uma superfície de trabalho


Fonte: Kroemer e Grandjean (2005, p. 58).
Objetos que são acessados com mais frequência sobre a superfície devem estar na região de alcance
ótimo (de 350 a 450 mm) e objetos de uso menos frequente na região de alcance máximo. Caso haja
necessidade de acompanhamento visual ou leitura é recomendado que a superfície a ser lida fique
entre 20 a 40 cm de distância dos olhos com inclinação de 45° (IIDA, 2005).
A última medida a ser considerada no trabalho em uma superfície horizontal é a medida “C”, re-
ferente ao recuo para os pés. Esta medida é importante para bancadas que possuem laterais fechadas
solidamente. Se não houver este recuo, o usuário irá se afastar das laterais da superfície e inclinar seu
tronco para utilizá-la. É recomendado deixar um recuo de 10 cm com 10 cm de altura (IIDA, 2005).

UNIDADE 5 159
Biomecânica

O corpo humano possui semelhanças com má-


quinas e equipamentos. Por exemplo, em um car-
ro, ao fazer a ligação do motor, o carro sai de um
estado de repouso para um estado de movimento.
Primeiramente o motor é acionado e os fluidos
internos começam a se movimentar. É produzi-
do calor, ruído e vapores. Quando o veículo co-
meça a se movimentar, o motor é solicitado com
maior intensidade. A inércia do veículo precisa ser
vencida e ocorre um gasto energético maior. Se
o veículo é usado em pistas com más condições,
ele poderá sofrer danos não previstos, compro-
metendo seu funcionamento. Veículos precisam
de pausas para serem feitas manutenções nos seus
componentes: pneus, troca de óleo, troca de amor-
tecedores, substituição de velas etc. Esta dinâmica
de um veículo é parecida com a do corpo humano.
Ao acordar e se levantar, uma pessoa sai de
um estado de repouso para um estado de maior
solicitação de esforços. Sua temperatura corpo-
ral começa a subir. A realização de um trabalho
demanda mais esforço dos músculos. O sangue
começa a circular com maior volume, transpor-
tando uma maior quantidade de oxigênio para os
músculos. Movimentos e esforços não compatí-
veis com o corpo humano podem comprometer
seu funcionamento e desempenho. Com o passar

160 Ergonomia I
do tempo, a maioria das pessoas precisará de tratamento médico
para tratar de alguns danos causados por situações inadequadas ou
pela ação do tempo. Consegue perceber as semelhanças?
Estas semelhanças são importantes para entender o conceito
do presente tópico: biomecânica. Ela é uma ciência que “estuda os
movimentos do homem e do animal a partir do ponto de vista das
leis mecânicas” (HOCHMUTH, 1973 apud BATISTA, 2001, p. 38).
A biomecânica apresenta conceitos-chave para entendermos o fun-
cionamento do corpo e são usados para estabelecer adequações nos
postos de trabalho visando prevenir doenças e acidentes. Vejamos
alguns destes conceitos.

Trabalho Muscular

Durante o trabalho muscular, o corpo demanda oxigênio e um


maior fluxo sanguíneo para eliminação do calor produzido no
movimento. Se a demanda não for suprida adequadamente, dis-
tensões, dores, fraquezas ou inflamações podem surgir. Neste sen-
tido, é importante que antes de uma atividade haja um adequado
aquecimento do corpo.
Veja a Figura 7 que representa o gasto energético desde um
estado de repouso até um trabalho muscular.

6
Metabolismo
5 anaeróbico
Gasto energético (x basal)

4
Metabolismo
aeróbico
3
Débito
2 de oxigênio

1 Basal

0
0 5 10 15 20
Tempo (min)
Repouso Recuperação
Atividade

Figura 7 - Metabolismos anaeróbico e aeróbico na realização de atividades


Fonte: Iida (2005, p. 160).

UNIDADE 5 161
Antes de realizar um movimento, no estado de re- seu coração, deixando-o maior e mais forte, o que
pouso, o gasto energético do corpo humano é de- proporciona um maior volume de sangue bom-
nominado de gasto basal. Ao iniciar uma atividade, beado a um ritmo mais baixo (IIDA, 2005).
o corpo humano ativa o metabolismo anaeróbico
(produção de energia sem oxigênio) e, após um
curto período, o metabolismo aeróbico é iniciado
(produção de energia com oxigênio).
Veja que o primeiro metabolismo é o que opera Para mantermos nosso organismo vivo, precisa-
sem oxigênio. Assim, se o corpo não tiver um tem- mos gastar uma quantidade mínima de energia,
po para se adaptar às exigências da tarefa, haverá e a quantidade é medida pela taxa de metabolis-
um débito de oxigênio. Este, em conjunto com o mo basal. Essa taxa é utilizada em estudos nutri-
glicogênio e com a atuação dos músculos, libera cionais e de consumo energético de indivíduos.
ácido lático e ácido racêmico que irão atuar na Saber o quanto necessitamos de energia mínima
dilatação dos vasos sanguíneos. A dilatação dos é útil para compararmos os gastos energéticos
vasos proporcionará um maior fluxo de oxigênio de certas atividades.
e a liberação do calor durante a atividade (IIDA, Conheça mais sobre como é medida a taxa de
2005). metabolismo basal lendo o artigo disponível no
A demanda por oxigênio dependerá da ativi- link a seguir: https://www.scielosp.org/article/
dade realizada. É preciso existir um equilíbrio csp/2001.v17n4/801-817.
entre a demanda e a quantidade de oxigênio for-
necida pelo sangue. O aquecimento, antes da ati- Assim, para atividades que exijam esforços físicos,
vidade, acelera os ritmos cardíaco e respiratório, é preciso verificar se os trabalhadores estão adap-
aumentando a irrigação e evitando distensões tados suficientemente para realizar o trabalho
musculares. Pessoas adaptadas a esforços físicos muscular. Este pode ser dividido em dois tipos:
constantes podem eliminar calor com mais faci- trabalho estático e dinâmico. Vejamos, a seguir, o
lidade, além de possuírem fibras musculares mais que significa cada um deles e qual sua implicação
espessas e flexíveis. Estas pessoas desenvolvem para a segurança e saúde dos trabalhadores.

Trabalhos Estático e Dinâmico

Durante um movimento, o músculo pode ser exigido de diferentes maneiras e intensidade. Depen-
dendo da exigência imposta ao músculo, podem surgir dores, fraquezas, cãibras e inflamações. Estas
decorrem quando não há uma alternância adequada entre contrações e relaxamento dos músculos.
O trabalho estático desenvolvido por um músculo se refere àquele em que o músculo fica contraído
por um período relativamente grande. Por exemplo, o trabalho de segurar uma caixa e movimentá-la
de um lado para outro, na mesma posição, exige que os músculos do braço fiquem contraídos de forma
estática. Manter a posição do corpo em pé, manter a cabeça erguida ou segurar uma peça também são
exemplos de trabalhos estáticos. Neste tipo de trabalho, se uma força muito alta é realizada por um
longo período de tempo, dores e fadiga irão surgir. O trabalho estático aumenta a pressão interna, cau-
sando um estrangulamento de capilares. O sangue deixa de circular adequadamente e o abastecimento

162 Ergonomia I
de oxigênio no músculo diminui. Monod (1967 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2005) apresentou
um estudo sobre a duração máxima de contração muscular conforme a força exercida (em termos de
força máxima). A Figura 8 apresenta um gráfico de sua pesquisa.

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 8 - Duração máxima de um trabalho muscular estático em relação à força exercida


Fonte: adaptada de Monod (1967 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2005, p. 18).

De acordo com o gráfico, para um trabalho que exige 50% da força máxima, o tempo máximo de
contração do músculo seria não mais que um minuto. Por exemplo, a atividade de segurar uma caixa
com peso que exija 50% da força máxima não deve durar mais que um minuto. O gráfico também nos
mostra que para valores abaixo de 10% da força máxima, a duração da atividade pode ser estendida.
O outro tipo de trabalho realizado pelos músculos, o trabalho dinâmico, é benéfico para o corpo.
Ele é realizado nas atividades com movimentação constante: serrar, martelar, girar, correr, andar etc. O
trabalho dinâmico aumenta a circulação sanguínea em até 20 vezes em relação ao estado de repouso
(IIDA, 2005). Saber diferenciar os trabalhos estático e dinâmico é importante para avaliar o trabalho
realizado pelos trabalhadores.

UNIDADE 5 163
O conteúdo do trabalho deve possuir, na sua maior parte, movimentos que proporcionem o trabalho
dinâmico dos músculos. Se não houver um equilíbrio entre os trabalhos estático e dinâmico e pausas
para recuperação, podem surgir traumas devido a esforços repetitivos: distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT), lesões por traumas cumulativos (LTC) e lesões por esforços repe-
titivos (LER). Estes traumas se manifestam nas tendinites, tenossinovites etc.
Outro ponto importante da biomecânica é da postura corporal. Ela deve ser adequada à atividade
realizada. Vejamos os tipos de posturas e seus benefícios no subitem a seguir.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.

Posturas do Corpo

Todo trabalho é realizado, basicamente, em uma de três posições localizados na zona inferior
corporais ou uma combinação delas: deitada, em pé e sentada. do quadril. Nesta posição, os
Na posição deitada, há uma maior circulação sanguínea. Essa membros superiores podem
posição não é recomendada para o trabalho, no entanto, em al- realizar movimentos mais
guns casos, ela é necessária, como na manutenção de automóveis, precisos.
em que é preciso acessar a parte inferior do veículo. Na posição Um cuidado importante
deitada, podem surgir dores no pescoço e nos braços, devido à em relação à postura corporal
contração dos músculos para realizar movimentos. Uma maneira é a postura da coluna na rea-
de evitar essas dores é utilizar apoio para o pescoço. lização de esforços. Se houver
A posição em pé oferece uma maior mobilidade aos trabalha- esforços cortantes em relação
dores. Nesta posição, o consumo de energia é maior. Ela não pro- à nossa coluna, podem surgir
porciona condições favoráveis para a realização de movimentos traumas. O trabalho estático ou
precisos, pois o corpo em pé fica sem uma posição de referência a realização de forças de alta in-
e busca o equilíbrio constantemente por meio de oscilações em tensidade também podem ge-
torno de um ponto médio. rar traumas. Algumas posturas
Na posição sentada, o peso do corpo faz com que o seu peso inadequadas com riscos de do-
fique concentrado praticamente sobre os ossos ísquio – ossos res são (IIDA, 2005):

164 Ergonomia I
• Ficar longos períodos em pé: esta posição pode gerar dores Em relação à postura corpo-
nos pés e pernas (são formadas varizes). ral, o trabalho de prevenção de
• Ficar sentado sem encosto: esta posição pode provocar dores doenças e acidentes no campo
nos músculos extensores do dorso. da Ergonomia consiste em ava-
• Ficar sentado em assento muito alto ou muito baixo: quando liar a atividade e a posição em
o assento é muito alto, o usuário não consegue colocar ade- que ela é realizada, evitando as
quadamente seus pés no chão, isso irá gerar dores na parte posturas inadequadas.
inferior das pernas, nos joelhos e pés. Assentos muito baixos Outro ponto importante da
irão provocar dores no dorso e no pescoço. biomecânica é o estudo da ca-
• Ficar com os braços esticados: esta posição estática causa pacidade de realizar força em
dores nos ombros e braços. diferentes situações. O traba-
• Utilizar superfícies de trabalho muito baixas ou muito altas: lho deve ser feito de tal forma a
superfícies com altura inadequada podem provocar dores proporcionar o melhor desem-
na coluna vertebral e cintura escapular. penho na aplicação de forças.
• Ficar com a cabeça inclinada por mais de 30° em relação à Vejamos como as forças são
vertical: esta posição irá provocar dores no pescoço. aplicadas no subitem a seguir.

Aplicação de Forças

Durante a aplicação de uma força, os músculos se contraem. Na força, existe a atuação de dois músculos:
os antagonistas e os protagonistas. Cada trabalhador pode usar de forma diferente seus músculos para
a realização de um mesmo tipo de movimento. Essa diferença é bem observada entre trabalhadores
experientes e iniciantes. Os experientes sabem utilizar os músculos sem se fatigarem rapidamente.
É preciso estabelecer um tempo para que trabalhadores iniciantes melhorem seu desempenho nas
atividades que envolvem a aplicação de forças. A exigência de mesmo nível de produtividade para
trabalhadores iniciantes pode resultar em lesões decorrentes da aplicação ineficiente de forças.
As forças são aplicadas utilizando-se os membros superiores e inferiores do corpo. O ato de segurar
uma carga na horizontal ou na vertical cria um momento (momento, no sentido da Física, é a magnitude
de uma força aplicada em relação a um eixo de rotação). O momento criado por uma carga irá exigir
do corpo que seja produzida uma força para equilibrar o movimento. Esta força pode ser aplicada por
um período limitado de tempo. No caso da utilização dos membros inferiores na aplicação das forças
por meio das pernas, a maior força que pode ser desenvolvida é na situação em que as pernas se encon-
tram com um ângulo entre coxa e perna próximo de 0°, ou seja, quando estão estendidas (IIDA, 2005).
O corpo humano geralmente possui maior capacidade de produzir força nas pernas (IIDA, 2005).
Para trabalhos que exigem o acionamento de comandos, por exemplo, com necessidade de aplicação de
forças, é recomendado que estes sejam construídos para serem acionados pelas pernas. A utilização do
momento e da gravidade pode beneficiar a aplicação de forças. O próprio peso do corpo pode facilitar
o movimento de grandes objetos, utilizando, por exemplo, um sistema de roldanas. Para a realização
de força com precisão, os dedos são os membros mais eficientes. Na aplicação de forças, deve haver um
ritmo em harmonia com o corpo humano: forças progressivas, movimentos curvos e suaves.

UNIDADE 5 165
O ponto de aplicação de uma força sobre um objeto irá determinar os valores máximos que podem
ser atingidos. As forças podem aplicadas para puxar ou empurrar. A Figura 9 apresenta valores de
referência para três alturas de ponto de aplicação de força.

6.4 — Aplicação de forças 17

Mulheres Homens
Força Empurrar Puxar Empurrar Puxar
(N)
Máx. D.P. Máx. D.P. Máx. D.P. Máx. D.P.

152 150 48 143 34 284 83 174 14


Altura
152 cm da pega 109 176 68 171 33 342 98 258 26
109 (cm)
68 158 61 179 73 399 95 376 73
68 Média 161 58 164 51 342 101 269 95
D.P. = Desvio padrão

Figura 9 - Forças máximas para empurrar e puxar na posição de pé


Fonte: adaptada de Chaffin, Andres e Carg (1983 apud IIDA, 2005).

Observe, na figura, que os valores de força máxima variam em função da altura do ponto de aplicação
da força e do tipo de força. Os valores também variam conforme o sexo do indivíduo. Veja que a apli-
cação de força em uma altura próxima à altura da cabeça é mais desfavorável que a aplicação de força
em uma altura próxima do peito ou coxas de um indivíduo.
Vamos finalizar o tópico sobre biomecânica trazendo algumas recomendações para realizar o
levantamento e transporte de cargas.

Levantamento e Transporte de Cargas

Segundo Bridger (2003 apud IIDA, 2005), cerca de 60% dos traumas musculares são causados pelo
levantamento de cargas. A coluna vertebral sofre, basicamente, esforços em dois sentidos quando
uma carga é levantada e transportada. Existem os esforços no sentido vertical e esforços no sentido
perpendicular ao eixo da coluna. Estes últimos esforços criam uma força de cisalhamento sobre os
discos da coluna.
Os esforços no sentido da vertical, desde que não muito intensos, são compatíveis com a coluna.
No entanto, os esforços no sentido perpendicular ao seu eixo são muito prejudiciais e provocam
danos nos discos intervertebrais, causando sua ruptura (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Portan-
to, uma das principais recomendações no levantamento de cargas é que a coluna deve ficar o mais
vertical possível. Quando a carga é muito alta, recomenda-se que a coluna fique um pouco inclinada
para trás. Essa inclinação é necessária para evitar que ela fique inclinada para frente, o que criaria
esforços cisalhantes prejudiciais.

166 Ergonomia I
Outras recomendações são:
• Atribuir atividades de carregamento para homens. Em geral, mulheres suportam menos
cargas que homens. Por força de Norma Regulamentadora, o peso máximo de cargas deve ser
nitidamente menor para mulheres e trabalhadores jovens do que o peso de cargas atribuídas
aos homens.
• Proporcionar pontos de pega favoráveis para o movimento ou diminuir dimensões da
carga para facilitar sua pega. Uma adequada pega irá influenciar na capacidade de levanta-
mento e transporte dela. Até mesmo cargas mais leves que se apresentam em peças de grandes
dimensões e com superfícies cortantes oferecerão uma dificuldade para levantamento e mo-
vimentação.
• Manter a carga o mais próximo do corpo. A posição da carga, nos sentidos horizontal e ver-
tical, influencia no momento criado por ela em relação às articulações do braço. Uma carga que
fica muito distante horizontalmente do corpo proporcionará um momento maior e dificultará
o levantamento e movimentação da carga.
• Limitar a massa das cargas a serem levantadas e transportadas. De forma geral, um valor
de referência é o de uma carga com 23 kg. Contudo, este valor pode variar conforme o indivíduo
e o número de viagens feitas no dia com o material. Iida (2005) recomenda que as cargas de-
vem ser aumentadas e as distâncias percorridas devem ser reduzidas, respeitando a capacidade
máxima de levantamento de carga do indivíduo.
• Distribuir simetricamente o peso da carga.
• Realizar preferencialmente o transporte por meio de uma equipe e desobstruir e nivelar o ca-
minho por onde percorrerão os trabalhadores que farão a movimentação das cargas.

Alguns movimentos devem ser evitados no levantamento e manuseio de cargas. Confira esses mo-
vimentos na publicação “Perigos e riscos associados à movimentação manual de cargas no local de
trabalho” disponível no link a seguir: https://osha.europa.eu/pt/publications/factsheets/73.

UNIDADE 5 167
Após estudar a parte biomecânica do funciona-
mento do corpo, vamos abordar os conceitos de
fisiologia importantes para o desempenho no
trabalho.

168 Ergonomia I
Fundamentos de
Fisiologia do Trabalho

É preciso conhecer a fisiologia do corpo para


entender como a organização e projeto de traba-
lho podem influenciar no desempenho e saúde
no trabalho. A fisiologia é a ciência que trata das
funções orgânicas (PRIBERAM, [2020], on-li-
ne)3. Discutiremos, a seguir, o impacto do ritmo
circadiano e alimentação no desempenho de in-
divíduos no trabalho.
O ritmo circadiano do corpo humano influen-
cia no seu desempenho conforme o horário do
dia. Você já deve ter ouvido falar de pessoas que
são noturnas ou diurnas, ou seja, que possuem
um melhor rendimento no trabalho durante certo
período do dia. Isso acontece devido a algumas
características fisiológicas que se alteram ao longo
do dia. Observe a Figura 10 que mostra a variação
da temperatura corporal em indivíduos matutinos
e vespertinos.

UNIDADE 5 169
37,4

37,2
Vespertino
Temperatura corporal (°C)

37,0

36,8
Matutino
36,6

36,4

36,2

36,0
6 12 18 24 6 12 18 24 6

Horas do dia
Figura 10 - Variação de temperatura corporal durante o dia para indivíduos matutinos e vespertinos
Fonte: Iida (2005, p. 343).

Veja, na figura, que os indivíduos matutinos pos- Acidez da urina e produção de hormônios cor-
suem o maior valor de temperatura corporal por ticais também variam ao longo do dia, o que irá
volta das 13 horas, e os indivíduos vespertinos impactar no desempenho dos indivíduos.
por volta das 19 horas. A temperatura do corpo Conhecer o ritmo circadiano dos indivíduos é
irá influenciar na disposição dos indivíduos para importante para definir os melhores trabalhado-
o trabalho. res para trabalhos noturnos ou em turnos. Segun-
do Horne, Brass e Pettitt (1980 apud IIDA, 2005),
o número de falhas identificadas corretamente
por indivíduos matutinos é maior durante o dia
A diferenciação entre indivíduos matutinos e ves- e menor após as 12 horas e o número de falhas
pertinos nem sempre é clara. Na prática, poucos identificadas corretamente por indivíduos vesper-
indivíduos são extremamente matutinos ou ves- tinos é maior após as 12 horas. Conclui-se, assim,
pertinos. que o trabalho realizado no período noturno por
Fonte: adaptado de Iida (2005). indivíduos matutinos estará mais sujeito a erros
e acidentes.

170 Ergonomia I
Possuímos um relógio biológico para o sono e um relógio que
regula nossas funções fisiológicas. O melhor desempenho ocorre
quando estes relógios trabalham em sincronia. Trabalhadores que
iniciam o trabalho noturno terão que se adaptar, pois um dos re-
lógios indica que é tempo de dormir e outro relógio indica que é
tempo de trabalhar. Neste sentido, é importante fornecer um período
de duas semanas para adaptação destes indivíduos ao novo horário
de trabalho (IIDA, 2005).
A alimentação é outro fator que influencia na fisiologia do corpo.
Após uma refeição, a região digestiva recebe uma maior irrigação de
sangue, o que ocasiona uma menor irrigação de sangue nas demais
partes do corpo. Esta alteração no fluxo sanguíneo deixa os indiví-
duos sujeitos a erros. Assim, pausas após as refeições são necessárias
para os trabalhadores recuperarem seu estado de atenção.
Ao planejar o trabalho em turnos, é preciso considerar as ca-
racterísticas fisiológicas do ser humano. O desempenho da equipe
de trabalho será melhor quando o trabalho respeitar a fisiologia
humana.
Vimos, nesta unidade, os conceitos de antropometria, biome-
cânica e fisiologia do trabalho para entender o funcionamento do
corpo durante a realização de atividades laborais. A adaptação das
medidas de mobiliários às medidas corporais, o projeto de controles
para respeitar os limites de força e movimentação e a organização
do trabalho para evitar sobrecarga mental e física em momentos
de menor estado de atenção contribuem para a segurança e pro-
dutividade.

UNIDADE 5 171
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Uma atividade realizada na indústria de eletrônicos consiste em encaixar pe-


quenas peças em uma placa de circuito impresso em espaços milimetricamente
definidos. A atividade deve ser realizada em pé por mulheres.
Considerando os dados apresentados, assinale a alternativa que melhor repre-
senta a altura ideal da bancada de trabalho para esta atividade.
a) 500 mm.
b) 600 mm.
c) 800 mm.
d) 1000 mm.
e) 1200 mm.

2. Em uma análise do movimento de caixas de uma bancada para uma cabine de


um veículo, foi constatado que os trabalhadores seguram ininterruptamente
caixas nas mãos durante 3 minutos. Considerando estes dados e a força máxi-
ma que pode ser exercida por um trabalhador durante esta atividade, faça uma
recomendação para este trabalho.

3. O desempenho no trabalho pode variar conforme o horário do dia. Trabalha-


dores não conseguem manter o mesmo ritmo devido ao desgaste da própria
atividade e também devido a mudanças que ocorrem no corpo ao longo do
dia. Identifique quais são estas mudanças e como elas influenciam no estado
de atenção de trabalhadores.

172
LIVRO

Compreender o Trabalho Para Transformá-Lo: a Prática da Ergonomia


Autor: F. Guérin, A. Kerguelen, A. Laville, F. Daniellou, J. Duraffourg
Editora: Blucher
Sinopse: o objetivo desta obra, que agora surge em edição brasileira, tradu-
zida a partir da segunda edição francesa, amplamente reformulada, é ajudar
a construir um ponto de vista sobre a atividade de trabalho em suas relações
com o funcionamento da empresa. Os autores explicitam a maneira pela qual
a "atividade real" dos operadores traduz e reformula as condições materiais e
organizacionais do trabalho. É essa atividade real que contribui para produzir
as riquezas da empresa, mas também permite dar o sentido que cada qual
atribui, individualmente e coletivamente, ao trabalho. Daí a necessidade de se
levar em conta o conjunto, ampliando o coletivo de concepção e seus objetivos.
A análise da atividade e sua compreensão são apresentadas como um meio
que permite: conhecer melhor e explicar as relações entre as condições de
realização da produção e a saúde dos trabalhadores; propor pistas de reflexão
úteis para a concepção das situações de trabalho; melhorar a organização dos
sistemas sociotécnicos, a gestão dos recursos humanos e, em consequência, o
desempenho da empresa em seu todo.

WEB

NAPO
A série de vídeos do personagem “Napo” mostra diversos cuidados no trabalho
para evitar acidentes e doenças, principalmente, devido à falta de adaptação
ergonômica.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

173
BATISTA, L. A. A biomecânica em educação física escolar: Perspectivas em Educação Física Escolar. Niteroi,
v. 2, n. 1, 2001, p. 36-49.

GOLDSTEIN-FUCHS, D. J.; LAPIERRE, A. F. Nutrition and Kidney Disease. National Kidney Foundation
Primer On Kidney Diseases, [s.l.], Elsevier, p. 467-475, 2014.

IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

KROEMER, K. H. E.; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre:
Bookman, 2005.

PEDROZA, S. S.; SILVA, M. J. da. Ergonomia e Segurança do Trabalho. Maringá: Unicesumar, 2019.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: https://www.priberam.pt/dlpo/antropometria. Acesso em: 14 fev. 2020.


1

2
Em: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/11/1938281-estatura-do-brasileiro-deu-um-sal-
to-durante-a-primeira-republica.shtml. Acesso em: 19 mar. 2020.

Em: https://dicionario.priberam.org/fisiologia. Acesso em: 14 fev. 2020.


3

174
1. Alternativa d), pois é a altura mais ideal para trabalho de precisão realizado por mulheres na posição em
pé, conforme a Figura 5 apresentada na unidade.

2. Considerando que na atividade existe um trabalho estático por 3 minutos, a força desenvolvida deve se
limitar a, no máximo, cerca de 30% do valor da força máxima que pode ser desenvolvida. Essa recomen-
dação se baseia no gráfico da Figura 8 da unidade, que define tempo máximo de contração muscular
conforme a força desenvolvida.

3. Ao longo do dia, a temperatura corporal varia, bem como o nível de hormônios corticais. A alimentação
também causa uma alteração no fluxo sanguíneo em alguns órgãos. Todas estas mudanças influenciam o
estado de atenção do trabalhador. Dependendo do horário do dia e ritmo circadiano do trabalhador, ele
estará propenso a mais ou menos erros.

175
176
Me. Maílson José da Silva

Ergonomia II

PLANO DE ESTUDOS

Manuseio de Cargas

Iluminação Trabalho Noturno

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Introduzir conceitos de avaliação da iluminação de am- • Apresentar o impacto do trabalho noturno na saúde dos
bientes. trabalhadores.
• Apresentar os problemas e recomendações relacionados
ao manuseio de cargas.
Iluminação

Como você se sente em um local com pouca ilu-


minação? Talvez nesse tipo de ambiente você se
sinta confortável se seu objetivo for o de dormir,
assistir a um filme ou fazer uma refeição noturna.
No entanto, para trabalhar, é fundamental que o
local tenha uma iluminação mais intensa. Espe-
cialmente se o trabalho for de precisão, a ilumi-
nação do ambiente irá afetar na produtividade
dos trabalhadores do local. Neste tópico, iremos
explicar a norma brasileira que trata da determi-
nação do nível de iluminação nos ambientes de
trabalho para que esteja adequado para o tipo de
atividade desenvolvida.
A Fundacentro, em 2018, publicou uma Nor-
ma de Higiene Ocupacional (NHO 11 – avaliação
dos níveis de iluminamento em ambientes inter-
nos de trabalho) para avaliar os níveis de ilumi-
namento de ambientes de trabalho interno. Esta
norma serve de ferramenta para a melhoria dos
aspectos qualitativos e quantitativos do trabalho.
A norma apresenta um quadro com níveis mínimos de iluminamento para ambientes, conforme a
atividade ou tarefa desenvolvida. Ela orienta, também, como elaborar um relatório na avaliação do
iluminamento, fornecendo um checklist para avaliação qualitativa de um sistema de iluminação. A
NHO 11 (2018) possui como referência técnica as seguintes normas.
• ABNT NBR ISO/CIE 8995-1, de 2013 (Iluminação de ambientes de trabalho – Parte 1: interior).
• ABNT NBR 5461, de 1991 (Iluminação – Terminologia);
• ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013.
• NHT 10-I/E, de 1986 (Norma para avaliação ocupacional do nível de iluminamento).
• HSE HSG 38, de 1997 (Lighting at Work).

Para verificar se o nível de iluminamento de um ambiente está adequado para certa atividade, é preciso
fazer uma medição ponto a ponto e comparar com valores mínimos exigidos. O nível de iluminamento
(E) é medido em lux. A tabela a seguir mostra um exemplo de níveis de iluminamento mínimo para
alguns ambientes.

Tabela 1 - Níveis mínimos de iluminamento E (lux) em função do tipo de ambiente, tarefa ou atividade
Tipo de ambiente,
E (lux) IRC/Ra Observações
tarefa ou atividade

Nas entradas e saídas, estabelecer


Área de circulação e
100 40 uma zona de transição para evitar mudanças
corredor
bruscas.

Depósito, estoque e câ- 200 lux se forem continuamente


100 60
mara fria ocupados.
Trabalho de precisão
(por exemplo, polimen-
to 1000 90 Tcp mínimo de 4.000 K.
decorativo e pintura à
mão)
Cabeleireiro 500 90
Em locais que apresentem estações de trabalho
com monitores de vídeo ou displays visuais, os
teclados podem sofrer ofuscamento desconfor-
tável ou inabilitador, sendo necessário selecionar
Escrever, teclar, ler e
500 80 e reposicionar as luminárias a fim de se evitar o
processar dados
desconforto por reflexões de alto brilho. Também
pode ser necessária a verificação das telas quanto
à luminância para adequação às condições visuais
da tarefa.
Fonte: adaptado de Fundacentro (2018, p. 20-43).

UNIDADE 6 179
A unidade de medida que quantifica a quantidade de luz incidinda sobre uma superfície é denomi-
nada de lux. Esta unidade é definida como:
1 lux (lx) = 1 lúmem (lm) por metro quadrado.
O lúmem é a unidade de fluxo luminoso. O lux é medido com um equipamento denominado de
luxímetro.
Fonte: adaptado de Kroemer e Grandjean (2007).

Vemos na tabela que, quanto maior a precisão pode ser utilizada, desde que permita um nível
necessária em uma atividade, maior é o nível mí- de iluminância adequada no entorno imediato
nimo de iluminamento requerido. Por exemplo, da tarefa.
áreas de circulação requerem apenas 100 lux en- Um parâmetro dos sistemas de iluminação é
quanto que o trabalho em um escritório ou em o ângulo de corte. Este ângulo é medido a partir
um salão de cabeleireiros requer 500 lux. do plano horizontal, abaixo do qual a lâmpada
A NHO 11 (2018) traz recomendações para a (ou mais de uma lâmpada) fica protegida pela
forma de distribuir a iluminação em um ambien- luminária da visão direta de um observador. Este
te. De forma geral, a iluminação deve ser unifor- ângulo é importante para controlar o ofuscamen-
memente distribuída. Iluminação suplementar to. A Figura 1 mostra exemplos de ângulo de corte.

Corte 47° 106 cm


Corte 30° 193 cm
Corte 20° 304 cm
Corte 15° 411 cm
Corte 10° 622 cm

Figura 1 - Exemplos de ângulo de corte


Fonte: Lightsource ([2020], on-line)1.

180 Ergonomia II
Observe que, quanto maior o ângulo de corte, mais próximo um observador pode chegar da luminária
sem sofrer efeitos de ofuscamento.
Na avaliação quantitativa da iluminação, é feita antes uma avaliação preliminar, de cunho qualitativo.
Dentre os pontos avaliados, destacamos:
1. As áreas de trabalho com riscos e perigos visíveis devem estar bem iluminadas, de tal modo a
permitir que os trabalhadores possam perceber esses riscos e perigos.
2. O sistema de iluminação deve permitir que a sinalização de segurança esteja bem visível.
3. Trabalhadores devem visualizar sua atividade sem dificuldade.
4. Caso necessário, deve ser providenciada iluminação suplementar.
5. Se existirem trabalhadores mais idosos ou com limitações visuais, o sistema de iluminação
deve atender às suas necessidades.
6. Áreas de trabalho devem estar livres de sombras.
7. O ambiente de trabalho deve estar livre de efeito estroboscópio.
8. Variação de brilho aparente ou de cor não deve existir na iluminação.
9. A iluminação natural em janelas, portas etc. não pode provocar algum efeito indesejado.

Para realizar a medição do nível de iluminamento, é utilizado um equipamento denominado de luxí-


metro. Ele deve possuir uma fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e o ângulo de
incidência. O equipamento deve permitir uma configuração de leitura conforme o tipo de lâmpada
utilizada: LED, fluorescente ou vapor de sódio. O equipamento deve ser calibrado por laboratório
creditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
Na medição do nível de iluminamento, o instrumento deve estar a uma altura de 0,75 m do piso
quando não for definido o plano da tarefa visual. Este plano não é, necessariamente, horizontal. Ele
pode ser também na vertical ou inclinado, conforme a tarefa. Além da medição no plano da tarefa,
é preciso determinar a iluminância média do ambiente. A medição do nível médio de iluminância é
feita a 0,75 m do piso ou, em alguns casos, no próprio nível do piso. A NHO 11 (2018) apresenta uma
metodologia de medição e cálculo da iluminância média conforme o tipo de ambiente, existindo seis
configurações possíveis de sistemas de iluminação, conforme ilustra a Figura 2.

UNIDADE 6 181
Tipo 1 Tipo 2
P1 q2
q1
r3

t1 r4 r2 P1 P2
r1
t2
r7
r8 r6
t3
r5
t4

P3 P4

q3
q4 P2

Tipo 3 Tipo 4
P1 q1

t3

q1 q2 q3 q4 P2 t4

t1 r1 r2

t2 r3 r4
P1 q5 q6 q7 q8

q2 P2

Tipo 5 Tipo 6

P1 q1

P1 q1 q2 q3 r1
t2
r2
t1 r3
q4 q5 q6 P2 r4

q2 P2

Figura 2 - Configuração de sistemas de iluminação para determinação da iluminância média


Fonte: adaptada de Fundacentro (2018, p. 45-50).

182 Ergonomia II
Conforme a figura, são determinados os pontos de medição conforme o tipo de sistema de iluminação.
O tipo 1 representa um ambiente retangular com pontos de iluminação com padrão regular, sime-
tricamente espaçados em duas ou mais fileiras. O tipo 2 é um ambiente de área retangular com uma
luminária central. O tipo 3 representa um ambiente retangular com uma única linha de luminárias.
O tipo 4 define um ambiente de trabalho de área retangular com duas ou mais linhas contínuas de
luminárias. O tipo 5 é semelhante ao tipo 3, porém as luminárias estão em uma linha contínua. E o
tipo 6 representa um local de trabalho de área retangular com teto luminoso. Assim, é preciso definir,
primeiramente, o tipo de ambiente para calcular a iluminação média. Esta é calculada por meio de
uma equação estabelecida na NHO 11 (2018) que utiliza os valores dos pontos lidos no ambiente. Por
exemplo, para a configuração tipo 1, o avaliador deverá medir o nível de iluminamento em 18 pontos
diferentes: p1, p2, q1, q2, q3, q4, t1, t2, t3, t4, r1, r2, r3, r4, r5, r6, r7 e r8. O valor da iluminância média
é utilizado como referência para verificar se a iluminância medida ponto a ponto nas áreas da tarefa
estão adequadas. Segundo a norma, a iluminância nos pontos das áreas da tarefa não deve ser inferior
a 70% da iluminância média. Assim, tanto os valores da Tabela 1 como o valor da iluminância média
deve ser levado em conta para verificar se a iluminação em um certo ponto da atividade está adequada.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.

Resumindo, a verificação da iluminação de um ambiente de trabalho deve seguir os procedimentos e


metodologia definidos pela NHO 11 (2018), utilizando um equipamento de medição denominado de
luxímetro. Os valores medidos devem ser comparados com aqueles definidos pela norma como sendo
níveis de iluminamento adequado. Além do nível de iluminamento adequado, devem ser avaliados
outros aspectos qualitativos do sistema de iluminação, como ofuscamentos, contrastes de superfícies
e efeito estroboscópio.

UNIDADE 6 183
184 Ergonomia II
Manuseio
de Cargas

Você já levantou caixas ou móveis durante uma


mudança de residência? Já precisou levantar sa-
cos ou caixas para realizar alguma atividade? Se
sim, você já realizou o manuseio de cargas. Essa
atividade é uma das mais comuns no mundo do
trabalho. Em algumas profissões, os trabalhadores
fazem o manuseio eventual de cargas, como é o
caso de trabalhadores de escritório, que, às vezes,
precisam transportar pequenas caixas contendo
documentos ou algum utensílio, eventualmen-
te. Em outras profissões, o manuseio de cargas é
constante: garis que pegam sacos de lixo, serventes
de pedreiro que levantam sacos de cimento, tra-
balhadores rurais que carregam sacos de semente
ou de adubo, enfermeiros e auxiliares de enfer-
magem em hospitais que levantam pacientes em
seus leitos etc.

UNIDADE 6 185
Além de ser tão comum, o manuseio de cargas também é uma
atividade prejudicial à saúde da coluna. Quando o manuseio de
cargas não é feito da forma mais adequada possível, ao longo dos
anos ou em curtos períodos de tempo, dores na região da coluna
podem surgir. Neste tópico, iremos entender as causas da dor na
coluna devido ao manuseio de cargas e então estudaremos maneiras
de realizar um manuseio mais adequado.
O manuseio de cargas é considerado um trabalho pesado por
envolver trabalhos estático e dinâmico. O manuseio envolve os
movimentos de puxar, empurrar, arrastar, levantar, abaixar e se-
gurar cargas, utilizando a força do corpo. Este tipo de trabalho é
muito realizado por trabalhadores da área da saúde, trabalhadores
rurais e aqueles que lidam com bagagens e mercadorias em hotéis
e armazéns.
Os problemas na coluna decorrentes desta atividade ocorrem,
principalmente, com os trabalhadores na idade de 20 a 40 anos
(KROEMER; GRANDJEAN, 2007). Segundo uma pesquisa, cerca
de um quarto dos distúrbios ocupacionais nos Estados Unidos são
decorrentes de distúrbios causados por sobrecarga na atividade de
manuseio de cargas. Os distúrbios são causados, principalmente,
pelo movimento de levantar cargas, mas também 20% destes dis-
túrbios são causados pelos movimentos de empurrar e puxar cargas
(KROEMER; GRANDJEAN, 2007).
Os problemas na coluna são responsáveis por taxas significa-
tivas de absenteísmo no trabalho e aposentadorias prematuras.
Trabalhadores com distúrbios sofrem com a falta de mobilidade e
vitalidade. Assim, como prevencionista em uma empresa, devemos
nos perguntar: o manuseio de cargas realizado pelos trabalhadores é
prejudicial? Para responder a esta pergunta, vamos entender por que
a coluna sofre com o manuseio inadequado de cargas. Conhecendo
as causas, poderemos tomar medidas para evitá-las.

186 Ergonomia II
Causas dos Vista posterior Vista lateral Vista anterior

Problemas de 7 vértebras
Coluna cervicais

A dor de coluna é vista como


uma doença idiopática, ou
seja, é uma doença em que 12 vértebras
torácicas
nem sempre é fácil encon-
trar as causas ou estas são
desconhecidas. Dores na co-
luna geralmente aparecem de
forma lenta e gradual. Para 5 vértebras
entender como elas apare- lombares

cem devido ao manuseio de


cargas, vamos entender a es- Sacro

trutura de uma coluna ver- Cóccix

tebral. A Figura 3 mostra um Figura 3 - Coluna vertebral em três vistas


esquema de nossa coluna. Fonte: Striano (2015, p. 9).

A figura mostra uma coluna vertebral humana sa. Ao serem desgastados, estes discos se tornam
que é constituída por 24 ossos, denominados de frágeis e quebradiços, podendo liberar o líquido
vértebras. Ela pode ser dividida em três partes: de seu interior. O desgaste de discos interverte-
coluna cervical, torácica e lombar. A coluna possui brais pode provocar o deslocamento de vértebras
um formato em S esticado, o que proporciona e a mobilidade da coluna. Se um movimento é rea-
uma boa absorção de choques decorrentes de lizado adequadamente, não haverá um desgaste
movimentos realizados pelo corpo. Quando uma significativo dos discos. Contudo, se inadequado,
carga é suportada pela coluna (seja a carga do o movimento irá provocar danos nos discos que
próprio corpo ou a carga do corpo mais a carga irá gerar a dor na coluna.
de um objeto), ela tende a se distribuir com maior
intensidade na parte lombar da coluna.
Entre cada vértebra existe um disco denomi-
nado de disco intervertebral. O que acontece neste
disco durante o manuseio de cargas, em grande
parte, explica as dores que ocorrem na coluna. Problemas na coluna não são apenas dores.
Quando a coluna está sob pressão de uma carga, Podem ocorrer também paralisias e espasmos
as vértebras comprimem os discos intervertebrais. (contração involuntária dos músculos).
Estes são formados por uma parede rígida e fibro-

UNIDADE 6 187
As dores na coluna ocorrem não
apenas pelo desgaste dos discos 400
intervertebrais, mas também

Carga sobre os discos invertebrais (%)


pela pressão nos nervos, redu-
ção do espaço entre vértebras e
distensão de tecidos, músculos e 300
ligamentos. Discutiremos, a se-
guir, três das principais causas
destas ocorrências na coluna.
A posição da coluna du- 200
rante o manuseio de cargas irá
influenciar no total de carga im-
posta aos discos intervertebrais
da coluna. Por exemplo, levan- 100
tar um peso com as mãos e a co-
luna dobrada para frente pode
causar picos de carga da ordem
de 300 N/cm2 (KROEMER;
A B C D
GRANDJEAN, 2007). Para ter
ideia do quanto a pressão sobre
Postura do corpo ao levantar pesos
os discos se altera, veja os dados Figura 4 - Influência da postura do corpo na carga sobre os discos intervertebrais
da Figura 4. Fonte: Kroemer e Grandjean (2007, p. 105).

Na posição em pé, podemos observar que a carga sobre os discos é de 100%. Quando um indivíduo
carrega dois pesos de forma simétrica e com a coluna ereta, a carga sobre os discos aumenta para um
valor em torno de 140%. Se estes pesos são levantados com os joelhos dobrados e a coluna reta, a carga
aumenta para cerca de 230%. E na posição com a coluna dobrada para frente, a carga aumenta para
cerca de 380%. Esse aumento de carga pode ser explicado pela dinâmica das forças que atuam sobre
os discos, conforme a posição da coluna. Veja a Figura 5.

188 Ergonomia II
Figura 5 - Distribuição de forças sobre discos intervertebrais conforme posição da coluna
Fonte: Kroemer e Grandjean (2007, p. 106).

Observe que quando a coluna está dobrada, as forças se distribuem de forma desigual sobre os discos.
Uma força maior fica de um lado do disco. Esta força irá comprimir um dos lados do disco causando
seu desgaste. Quando a coluna está reta durante o manuseio de carga, esta se distribui igualmente so-
bre o disco, evitando grandes forças sobre eles. Não somente levantar cargas gera pressão extra sobre
os discos. Outras atividades que geram essa pressão são: andar, correr, inclinar o tronco, rotacionar o
tronco etc.
A distância da carga até o tronco pode aumentar ou diminuir o total de carga que é imprimida
pelos músculos na coluna vertebral. Isso ocorre devido ao efeito do momento criado pela carga.
Uma mesma carga pode provocar diferentes efeitos na coluna vertebral conforme a distância que
é segurada em relação ao tronco. Quanto mais distante ela ficar, mais força os músculos espinhais irão
desenvolver para compensar o peso da carga. Esta força irá gerar uma maior compreensão nos discos
intervertebrais, causando um maior desgaste neles. Veja o gráfico da Figura 6 que mostra as variações
de força de compressão entre as vértebras da coluna lombar e sacral.

UNIDADE 6 189
8.000 Limite máximo
calculadas para L5/S1 (N)

50 cm permissível
Forças de compressão

7.000
prejudicial à
6.000
40 cm maioria segundo
5.000 o NIOSH
30 cm
4.000
20 cm Limite de ação
3.000 prejudicial para
2.000 algumas pessoas
1.000

0 100 200 300 400 500

Carga nas mãos (N)

Figura 6 - Força de compressão calculada sobre discos intervertebrais


Fonte: Chaffin e Andersson (1984 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2007, p. 108).

A figura mostra a variação da força de compressão para quatro distâncias diferentes entre a mão e
a coluna vertebral. As forças de compressão se referem aos discos intervertebrais entre L5 e S1 para
diferentes pesos levantados a quatro distâncias diferentes entre a mão e a coluna vertebral. Veja, por
exemplo, que uma carga de 300 N a uma distância de 20 cm gera uma força de compressão próxima
de 2500 N. Quando essa distância aumenta para 40 cm, a força de compressão aumenta para cerca de
5000 N. Portanto, quanto mais próxima do tronco uma carga for levantada, menor será o dano causado
por ela na coluna. Além da distância entre a carga e a coluna, o fato de se agachar para levantar a carga
pode aumentar a força de compressão se a carga for volumosa. Levantar cargas assimétricas ou sem
alças pode gerar aumento nos esforços da coluna.
Uma maneira quantitativa de verificar se um manuseio de carga irá causar danos à coluna é medir
a pressão intra-abdominal (PIA) durante o manuseio. Esta pressão se refere à pressão existente na
região do abdômen criada pela contração dos músculos abdominais. Ela pode ser medida por meio
de uma cápsula que é engolida pelo indivíduo. Esta cápsula é sensível à pressão e possui um rádio para
transmitir o sinal representando a pressão (KROEMER; GRANDJEAN, 2007). Segundo Davis e Stubbs
(1977 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2007), manuseios de carga que geram valores PIA superiores
a 100 mgHg podem causar problemas na coluna.
Considerando os fatores de posição da coluna, pressão nos discos intervertebrais e pressão intra-
-abdominal na causa dos problemas de coluna, as medidas a seguir devem ser seguidas para evitá-los.

190 Ergonomia II
Recomendações para Prevenção
de Problemas na Coluna

Seguir todas as recomendações para o manuseio de cargas não é


algo simples. Esta atividade é feita, muitas vezes, sem planejamento,
sendo que muitos manuseios ocorrem de forma ocasional. Trei-
nar trabalhadores, antes de iniciar o trabalho, e fazer treinamentos
periódicos e acompanhamento, pode contribuir para que as reco-
mendações sejam seguidas.
Em 1981, o National Institute of Occupational Safety and Health
(NIOSH), dos Estados Unidos, determinou que o peso de uma carga
de 40 kg era admissível para 75% das mulheres e 99% dos homens,
desde que sejam considerados os fatores de distância horizontal da
carga, frequência de levantamento, distância do trajeto percorrido
com a carga, altura da carga no começo do levantamento e quali-
dade da pega.
Em 1991, o valor de referência foi atualizado para 24 kg. No
entanto, não existe um “peso seguro” para se carregar. Isso porque
existem muitas variações entre a capacidade muscular e condição da
coluna dos indivíduos. Como dito anteriormente, as dores de coluna
são geradas por doença idiopática, de avanço lento e de causas nem
sempre identificadas. No entanto, existem algumas recomendações
para evitar danos na coluna no manuseio de cargas.
As recomendações gerais para o manuseio de cargas são ilus-
tradas pela Figura 7.

UNIDADE 6 191
Manter coluna reta e joelho dobrado ao Manter carga o mais próximo possível do
segurar e levantar cargas corpo e, quando possível, entre os joelhos
e com uma boa posição dos pés

Manter a altura da pega da carga acima


dos joelhos
Amarrar cintas e cordas em cargas que
não possuem pega satisfatória

Não rotacionar o tronco quando levantar


ou abaixar carga

Sempre tentar utilizar elemento mecânico


para o manuseio de cargas

Preferir o movimento de empurrar ou puxar


cargas no lugar do movimento de levantar e
abaixar cargas

Figura 7 – Recomendações para o manuseio de cargas


Fonte: adaptada de Kroemer e Grandjean (2007).

192 Ergonomia II
Além dessas recomendações, podemos nos basear em tabelas e valores de referência de estudos sobre
o manuseio de cargas. Por exemplo, veja os dados da Tabela 2.
Tabela 2 - Cargas máximas (N) aceitáveis para levantamento por homens jovens
Distância de pega expressa como uma fração do
comprimento do braço

Condição ¼ ½ ¾ 4/4
De pé
Levantamento com as duas mãos, frontal 350 250 150 100
Levantamento com uma mão, frontal 300 220 140 100
Levantamento com uma mão, lateral 270 200 130 100
Sentado
Levantamento com as duas mãos, frontal 270 170 120 110
Levantamento com uma mão, frontal 350 220 140 100
Levantamento com uma mão, lateral 330 210 140 90
Fonte: Davis e Stubbs (1977 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2007, p. 114).

Os valores da tabela são para movimentos com frequência não maior que uma vez por minuto. Estes
valores de carga foram calculados considerando uma pressão intra-abdominal inferior a 90 mmHg.
Observe que, quando a distância entre a pega e o corpo aumenta, a carga deve ser reduzida para não
prejudicar o indivíduo.
Embora muito dinâmico, o manuseio de cargas pode ser feito de forma segura, respeitando a bio-
mecânica e limites do corpo humano. A utilização da tecnologia para substituir o trabalho humano
pode contribuir significativamente para reduzir os afastamentos ocupacionais decorrentes das lesões
produzidas pelo manuseio de cargas.
Vejamos, agora, características do trabalho noturno e como ele pode ser planejado da melhor ma-
neira considerando a fisiologia do corpo.

UNIDADE 6 193
194 Ergonomia II
Trabalho
Noturno

Normalmente, trabalhamos durante o dia. Entre-


tanto, em alguns casos, na indústria e nos traba-
lhos de segurança patrimonial, é necessário tra-
balhar à noite e de madrugada. Você já laborou
neste período?
O trabalho noturno e em turnos surgiu da
necessidade da indústria de manter sua produ-
ção constante para atender demandas crescentes.
Embora proporcione ganhos para as empresas,
o trabalho noturno faz com que os trabalhado-
res troquem seu sono noturno pelo sono diurno.
Este não é repousante. De forma geral, podemos
afirmar que o trabalho noturno não é adequa-
do devido à falta de sincronização entre o ritmo
endógeno com o ciclo do trabalho. O ritmo en-
dógeno representa nosso relógio biológico que
nos indica o horário de dormir, conforme o ciclo
circadiano.

UNIDADE 6 195
O termo Circadiano vem de circa diem (lat: “cerca de um dia”) e designa o período de, aproximada-
mente, um dia (24 horas), onde se verifica uma alternância luz e escuro, e sobre o qual se baseia
todo o ciclo biológico do corpo humano, fundamentalmente determinado pela luz solar. Para acom-
panhar esta alternância luz e escuro, há necessidade de um “relógio” que marque o tempo de forma
independente de qualquer alteração ambiental, assim como de “sensores” que percebam a variação
temporal, os sincronizadores, e de sistemas humorais e neurais que informem todos os componentes
do sistema do estado de iluminação ambiental. A este relógio endógeno dá-se o nome de relógio
biológico, o qual permite a antecipação a variações cíclicas do meio ambiente, permitindo que o in-
divíduo se prepare para o sono, para o acordar e para todas as atividades que tem de desenvolver,
consoante as condições impostas pelo ambiente.
Fonte: adaptado de Acúrcio e Rodrigues (2009).

A dessincronização existente no corpo do traba-


lhador que atua no trabalho noturno provoca di- O trabalho noturno só deve ser realizado se real-
versos efeitos. Neste tópico, entenderemos melhor mente for justificável. Se for possível aumentar
esses efeitos e veremos recomendações para esta- a produção em períodos diurnos, o trabalho no-
belecer o trabalho noturno, buscando diminuir turno deve ser evitado.
seus efeitos negativos na saúde dos trabalhadores.

Efeitos do Trabalho Noturno


sobre o Corpo Humano

O corpo humano possui controladores de tempo: deveria estar descansando. Esta alteração de ritmo
mudanças do ambiente do claro para o escuro; in- não é possível de se concretizar completamente
terações sociais que indicam o horário; atividade (KROEMER; GRANDJEAN, 2007).
laboral; e conhecimento do relógio. Ao longo do O sono possui grande propriedade recupera-
dia, esses controladores nos indicam que deve- dora. Nosso sono pode ser dividido em quatro
mos trabalhar, descansar, nos alimentar ou dormir. estágios e um estágio denominado de REM – Ra-
Além desses, diversas variáveis em nosso corpo pid Eye Movement. Nosso sono passa por estes
se alteram ao longo do dia: estado de prontidão, estágios mais de uma vez durante uma noite de
temperatura corporal, batimentos cardíacos, nível sono. O primeiro estágio, com duração de 1 a 7
de hormônios, pressão sanguínea, adrenalina, taxa minutos, acontece quando adormecemos. O se-
de respiração, nível de melatonina etc. O trabalha- gundo estágio, representando 50% do tempo total
dor noturno vai contra todos estes indicadores e do sono, é um estágio de sono leve. Os estágios 3 e
força seu corpo para se manter acordado, quando 4, porém, são os mais importantes, pois possuem

196 Ergonomia II
as propriedades recuperáveis especiais. O estágio Dois estudos na Noruega, abrangendo os anos
3 é de sono profundo e o estágio 4 permite um de 1948 a 1959, revelaram que o trabalho noturno
sono mais profundo ainda. Também ocorrem os está relacionado a: problemas estomacais, úlce-
estágios REM, em que há movimentos rápidos dos ra, problemas intestinais, problemas nervosos e
olhos e o cérebro impede movimentos do corpo. problemas cardíacos. Inclusive estes problemas
Observe que, para uma noite renovadora de sono, se manifestaram também em ex-trabalhadores
é preciso que o corpo passe por todos estes está- do turno noturno (THIIS-EVENSEN, 1955 apud
gios. A duração de sono ideal varia de 6 a 8 horas, KROEMER; GRANDJEAN, 2007; AANONSEN,
conforme o indivíduo. Ainda, alguns se sentem 1964 apud KROEMER; GRANDJEAN, 2007).
com sono adequado com 5 horas ou 10 horas de A Figura 8 explica de forma resumida por que
sono (KROEMER; GRANDJEAN, 2007). ocorrem estes problemas.
Trabalhadores que trocam o sono noturno
pelo sono diurno não conseguem passar adequa-
damente pelos estágios do sono e, dessa forma, Dia Noite
acumulam sono que, geralmente, é descontado
nos finais de semana (LILLE, 1967 apud KROE-
MER; GRANDJEAN, 2007). Pesquisa mostra
que durante a semana, os trabalhadores noturnos
Pertubação dos ritmos circadianos
dormem cerca de 6 horas por dia e nos finais de
semana dormem de 8 a 12 horas. O sono desses
trabalhadores é menos profundo com mais mo-
vimentação. No entanto, a perturbação do sono
Sono insuficiente
ocorre mesmo em locais com pouco ruído.
Trabalhadores do turno noturno observam
vantagens nesse tipo de trabalho, devido a menos
Fadiga crônica
perturbações durante o trabalho e um maior valor
de remuneração. No entanto, cerca de um quarto
deles irá abandonar esse tipo de trabalho ao longo
do tempo e cerca de dois terços irão sofrer algum Problemas nervosos Problemas digestivos
grau de problema decorrente da interrupção do re-
lógio biológico (KROEMER; GRANDJEAN, 2007). Figura 8 – Diagrama ilustrativo dos problemas relacionados
ao trabalho noturno
Fonte: Kroemer e Grandjean (2007, p. 208).

UNIDADE 6 197
A figura ilustra as causas e sintomas de doenças apetite e perturbação do sono. Ainda, observa-se
ocupacionais entre trabalhadores de turnos que entre os trabalhadores noturnos alguns casos de
periodicamente trabalham à noite. A troca do dia uso de drogas para dormir e estimulantes para se
pela noite provoca uma perturbação nos ritmos manter acordado. A falta de sono adequado gera
circadianos, o que causa sono insuficiente no um cansaço permanente, mesmo após o sono, e
trabalhador. A falta de sono adequado gera uma uma irritabilidade mental.
fadiga crônica que provoca os problemas nervosos Dado estes problemas relacionados ao traba-
e digestivos. Ela está relacionada a sintomas psi- lho noturno, vejamos algumas recomendações
cossomáticos de problemas digestivos, perda de para planejá-lo.

Recomendações para o Trabalho Noturno e em Turnos

Quando o trabalho noturno é indispensável, deve ser feito o seu planejamento para que gere menos
problemas aos trabalhadores. O planejamento envolve definir adequadamente quem irá trabalhar no
turno noturno e por quanto tempo irá trabalhar. Neste sentido, as recomendações são de criar regras
para selecionar trabalhadores para atuar no turno noturno e, depois de selecionados, definir a escala
de turnos com rotações.
Primeiro, algumas regras para o trabalho noturno são (KROEMER; GRANDJEAN, 2007):

1. O trabalho em turno contínuo deve ser ter uma avaliação regular de sua saúde,
voluntário. Pessoas que não desejam real- devido à relação entre o trabalho noturno
mente trabalhar no turno noturno não e os problemas de ordem digestiva, neu-
devem ser escaladas para tal. rológica e cardíaca.
2. Os trabalhadores mais velhos devem pos- 4. Mulheres devem ser evitadas no traba-
suir preferência de escolha para atuar ou lho noturno, pois existem evidências
não no turno noturno. Essa recomendação de abortos e menor taxa de gravidez
se baseia do fato dos trabalhadores acima dentre aquelas que trabalham nesse
de 40 anos serem mais propensos a terem turno (COSTA, 1996 apud KROEMER;
problemas de saúde decorrentes da altera- GRANDJEAN, 2007).
ção do seu sono. Como referência, pode-se 5. O trabalho noturno não deve ser cons-
limitar os trabalhadores do turno noturno tante, ou seja, deve ser feita a rotação de
dentre aqueles com mais de 25 anos de turnos em curtos períodos de tempo.
idade e menos de 50 anos, priorizando a 6. Fornecer alimentação quente para os tra-
escolha dos mais jovens. balhadores do turno noturno, para preve-
3. Trabalhadores do turno noturno devem nir a ocorrência de problemas digestivos.

198 Ergonomia II
Após selecionar os trabalhadores que irão atuar no período noturno,
o horário de trabalho deve ser planejado adequadamente, permi-
tindo a rotação de turnos para não sobrecarregar os trabalhadores
do turno noturno. Em relação ao horário dos turnos, por exemplo,
a seguinte combinação de horários de início dos turnos pode ser
inadequada:
• Primeiro turno: início às 6h e término às 14h.
• Segundo turno: início às 14h e término às 22h.
• Terceiro turno: início às 22h e término às 6h.

Esta combinação de horários faz com que o trabalhador do primeiro


turno inicie muito cedo seu trabalho, podendo provocar alteração
no seu sono e também no sono dos trabalhadores do terceiro turno.
Esta combinação de horários pode ser trocada para:
• Primeiro turno: início às 7h ou 8h e término às 15h ou 16h.
• Segundo turno: início às 15h ou 16h e término às 23h ou 24h.
• Terceiro turno: início às 23h ou 24h e término às 7h ou 8h.

Esta segunda combinação reduz a perturbação no sono dos traba-


lhadores em geral.
Em relação à rotação de turnos, pode-se seguir as rotas metro-
politana ou continental de turnos. O objetivo da rotação de turnos
é diminuir a perda de sono entre os trabalhadores e permitir o
maior contato social e familiar dos trabalhadores, pois o trabalho
noturno priva o trabalhador de fazer, por exemplo, refeições com
sua família ou desenvolver atividades sociais.
A rota metropolitana de turnos é chamada de rota 2-2-2. Ela
define a repetição dos turnos: turno diurno (TD), turno da tarde
(TT) e turno noturno (TN). Os números da rota significam que
um turno se repete a cada dois dias dentro de um ciclo: TD-TD-
-TT-TT-TN-TN. Assim, por exemplo, a rota metropolitana de um
trabalhador em quatro semanas ficaria da seguinte forma, conforme
o Quadro 1.

UNIDADE 6 199
Quadro 1 – Exemplo de dias de trabalho na rota metropolitana

Semana Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom

1 TD TD TT TT TN TN Descanso

2 Descanso TD TD TT TT TN TN

3 Descanso Descanso TD TD TT TT TN

4 TN Descanso Descanso TD TD TT TT

Fonte: o autor.

Observe que este tipo de rota permite dois dias de descanso a cada seis dias trabalhados. O trabalhador
possui momentos de turno diurno, permitindo uma noite de sono mais adequada e momentos com
sua família e amigos.
Outras combinações de turnos podem ser feitas para gerar momentos de descanso e contato social
adequados. É importante levar em conta que o turno noturno não deve se repetir continuamente, é
preciso permitir a variabilidade de turnos para não sobrecarregar os trabalhadores.
Vimos os motivos de se evitar o trabalho noturno e, quando indispensável, este deve ser objeto de
planejamento. Considerar as necessidades de contato social, familiar e um sono recuperador deve ser
o objetivo de qualquer planejamento do trabalho noturno.

A jornada de trabalho 12 x 36 é comum em trabalhos de revezamento de turno, como nos serviços


de vigilância. Ela funciona da seguinte maneira: após trabalhar 12 horas seguidas, o trabalhador
folga 36 horas ininterruptas. Isso permite a ele um dia e meio de descanso a cada dia trabalhado.
Por exemplo, um trabalhador que inicia seu turno de trabalho na segunda-feira às 7 horas da manhã
irá trabalhar até às 19 horas da noite de segunda feira. Em seguida, ele irá descansar por 36 horas,
retornando ao trabalho na quarta-feira às 7 horas da manhã. Este tipo de jornada, aliado ao horário
de início de trabalho e rotação de turnos, proporciona bons períodos de descanso.

Na próxima unidade, continuaremos nosso estudo sobre Ergonomia, apresentando dois métodos
quantitativos para avaliar o levantamento de cargas e a postura. Discutiremos também a Análise Er-
gonômica do Trabalho (AET).

200 Ergonomia II
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Em relação à norma de higiene ocupacional utilizada na avaliação dos níveis de


iluminamento de ambientes de trabalho, responda:
a) Qual unidade é utilizada para definir os níveis de iluminamento?
b) Como a geometria do ambiente e a disposição de pontos de iluminação afeta
na iluminação do local?
c) Quais fatores adicionais devem ser considerados, além do nível de iluminamento
recomendado, para avaliar as condições de iluminamento de um local?

2. Dois trabalhadores realizam levantamento de carga diariamente ao longo de


um ano. A carga levantada por eles é a mesma e com as mesmas características
de pega e dimensão. No entanto, um dos trabalhadores apresenta reclamações
constantes de dor na coluna enquanto que o outro não apresenta reclamação
alguma. Considerando as causas de dores da coluna decorrentes do movimen-
to de cargas, formule uma hipótese para explicar essa diferença entre os dois
trabalhadores.

3. Explique por que o trabalho noturno deve ser evitado.

201
LIVRO

Trabalhador em turno: fadiga


Autor: Marco Túlio de Melo
Editora: Atheneu
Sinopse: Trabalhador em turno - Fadiga tem por maior e principal objetivo di-
vulgar os mais atuais conhecimentos sobre as condições que induzem à fadiga,
ao erro e ao possível acidente ou incidente para os trabalhadores por turno.
Apresenta os seguintes capítulos: 1. O trabalhador em turno e noturno na so-
ciedade moderna; 2. A saúde do trabalhador; 3. Trabalho por turno e aspectos
psicológicos; 4. Análise das escalas de trabalho; 5. O trabalho e as LER/DORT; 6.
A nutrição no trabalho em turnos; 7. A relação empresa x trabalhador; 8. Fadiga
humana no trabalho. É de se esperar que a leitura do presente trabalho venha,
a um só tempo, alertar e contribuir sobre o controle dos riscos na gestão dessas
condições tão especiais de trabalho com evidentes alterações para a saúde e a
produtividade do trabalhador.

FILME

Dor e glória
Ano: 2019
Sinopse: Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um melancólico cineasta em declí-
nio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu
passado retorna. Entre lembranças e reencontros, ele reflete sobre sua infância
na década de 60, seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro amor
maduro e sua relação com a escrita e com o cinema.
Comentário: o filme retrata os males do corpo sofridos pelo cineasta, pratica-
mente aposentado, Salvador Mallo: dor de coluna e enxaqueca. Muitos traba-
lhadores chegam próximo de sua aposentadoria com estes males, em muitos
casos, decorrentes de suas condições de trabalho ou então agravados por estas.

WEB

Os problemas de saúde causados pelo trabalho noturno


Leia a reportagem que trata dos males causados pelo trabalho noturno.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

202
ACÚRCIO, A. R.; RODRIGUES, L. M. Os Ritmos da Vida: Uma Visão Actualizada da Cronobiologia Aplicada.
Revista Lusófona de Ciências e Tecnologias da Saúde, Lisboa, n. 2, v. 6, p. 216-234, nov. 2009.

FUNDACENTRO. NHO 11: avaliação dos níveis de iluminamento em ambientes internos de trabalho. São Paulo:
Fundacentro, 2018. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/normas-de-higiene-ocupacional/
publicacao/detalhe/2018/8/nho-11-avaliacao-dos-niveis-de-iluminamento-em-ambientes-internos-de-trabalho.
Acesso em: 28 jan. 2020.

KROEMER, K. H. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: Adaptando o trabalho ao homem. 5. ed. Porto


Alegre: Bookman, 2007.

STRIANO, P. Coluna saudável: anatomia saudável. Barueri: Manole, 2015.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: https://www.lightsource.com.br/controle-de-ofuscamento. Acesso em: 24 fev. 2020.


1

203
1.

a) É utilizado o lux.

b) A geometria do ambiente e a distribuição dos pontos de iluminação definem como será calculada a
iluminância média do local. É possível definir 6 tipos de configurações diferentes.

c) Além da medição do lux, é preciso verificar: iluminação adequada da sinalização de segurança do local,
bem como de pontos em que há riscos ou perigos significativos; idade dos trabalhadores e dificuldades
para enxergar, complementando a iluminação se necessário; verificar se existem pontos com sombra so-
bre a superfície de trabalho; verificar a ocorrência de efeitos indesejados de pontos de iluminação: portas,
janelas, ofuscamento causado pela lâmpada etc.

2. Basicamente dois fatores contribuem para a ocorrência ou não de dores nas costas decorrentes do manuseio
de cargas: posição da coluna durante o manuseio e distância da carga até a coluna. Portanto, uma hipótese
seria que o trabalhador com mais dores realiza um movimento com a coluna mais dobrada, enquanto que
o outro trabalhador, sem dores, realiza o movimento com a coluna ereta. Ainda, o trabalhador sem dor,
procura aproximar mais a carga de sua coluna, diminuindo o momento criado pela carga, forçando menos
os músculos da coluna e criando uma pressão menor sobre os discos intervertebrais. Além desses dois
fatores, é preciso considerar a diferença individual entre os dois trabalhadores, em relação à sua estrutura
óssea, muscular, fisiológica etc.

3. O trabalho noturno vai contra o ritmo endógeno do corpo. Os estudos mostram que o ser humano neces-
sariamente precisa dormir no período noturno para ter um sono reparador. O trabalho noturno perturba
os ritmos circadianos, o que causa um sono insuficiente. A falta de sono adequado provoca uma fadiga
crônica nos trabalhadores, o que irá causar problemas nervosos e digestivos. Além desses problemas
biológicos, há um corte dos contatos sociais e familiares.

204
205
206
Me. Maílson José da Silva

Ergonomia III

PLANO DE ESTUDOS

Método NIOSH

Análise Ergonômica do Método RULA


Trabalho (AET)

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Entender a elaboração de uma AET. • Apresentar o método RULA para avaliação de posturas.
• Aplicar o método NIOSH para avaliação do levantamento
de cargas.
208 Ergonomia III
Análise Ergonômica
do Trabalho (AET)

Olá, aluno(a)! Já ouviu falar que um trabalho


que é realizado com movimentos repetitivos,
por exemplo, o de costurar uma roupa ou o de
apertar parafusos ao longo do dia, pode ser preju-
dicial para a saúde do corpo? Talvez você já tenha
visto alguma cena do filme “Tempos Modernos”,
de Charlie Chaplin, em que ele protagoniza um
operário em uma fábrica que precisa fazer mo-
vimentos repetitivos sobre peças que passam em
uma esteira à sua frente. É fácil perceber que este
tipo de movimento, ao longo do tempo, irá causar
problemas de saúde para quem os realiza. Mais
especificamente, estes problemas são represen-
tados por Lesões por Esforços Repetitivos (LER)
e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (DORT). Neste tópico, trataremos da
análise ergonômica cujo um dos objetivos é evitar
estes tipos de problema. Vamos estudar a Análise
Ergonômica do Trabalho (AET).
Segundo o Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999), as LER/DORT representam um conjunto de doenças
decorrentes de movimentos corporais repetitivos que são realizados nas mais diversas atividades
laborais. Estas doenças se manifestam em diferentes estágios, chegando a causar invalidez nos tra-
balhadores. Elas se classificam como Grupo VIII, da Classificação Internacional de Doenças CID-10.
Alguns dos fatores que levam a essas doenças são: pagamento de prêmios de produção, ausência
de pausas durante o trabalho, prática constante de horas extras, dupla jornada etc.
Fonte: adaptado de MTE (2002).

Uma AET busca identificar situações no trabalho que levam a essas doenças para, então, evitá-las.
No entanto, nem sempre é preciso realizar uma AET para fazer correções ergonômicas. Por exemplo,
trabalhar em pé constantemente representa uma situação ruim que pode ser identificada sem uma
AET. Uma solução é alterar o espaço físico e mobiliário de tal modo a permitir que o trabalho seja
realizado em pé e sentado.
A AET é exigida pela Norma Regulamentadora. NR-17 – Ergonomia – que traz esta obrigatoriedade:

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos tra-
balhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar,
no mínimo, as condições de trabalho conforme estabelecido nesta NR (BRASIL, 1978, on-line).

Além de ser usada para melhorar as condições de trabalho, a AET pode ser exigida por um auditor
fiscal de trabalho quando são identificados casos de doenças. A realização da AET é motivada pelas
seguintes situações (PEDROZA; SILVA, 2019):
• Constatação de um número elevado de doenças ou acidentes.
• Reclamações do sindicato dos trabalhadores.
• Notificação de auditores-fiscais do trabalho.
• Necessidade de melhorar a qualidade do produto ou serviço oferecido pela empresa.
• Necessidade de aumentar a produtividade.

Uma AET é utilizada para resolver um problema ergonômico. Por meio dela, é possível compreender
uma situação complexa relacionada a um problema ergonômico, decompondo-a em partes menores. Por
exemplo, o aparecimento de casos de LER/DORT na empresa pode ser uma situação complexa que pode
ser estudada por meio da AET. Por meio dela, identifica-se, primeiramente, os setores em que surgiram
os casos de LER/DORT. Em seguida, é feita uma análise destes setores, entendendo as atividades que
são desenvolvidas neles. Sabendo-se quais são as possíveis atividades relacionadas aos casos de doenças,
cada uma delas é estudada separadamente por meio do estudo de seus elementos. Assim, a AET parte
de uma análise macro, com informações gerais, para uma análise micro, com informações específicas.

210 Ergonomia III


Não existe um modelo completo de AET para todas as situações. Ao elaborá-la, devemos considerar
que o objetivo final da AET é resolver um problema que foi identificado. Ela deve atender aos seguintes
requisitos (PEDROZA; SILVA, 2019):
• Mostrar, em seu relatório, de forma bem clara, o problema que foi identificado e que é objeto
da análise.
• Descrever os métodos e técnicas empregados para abordar o problema.
• Apresentar os resultados da aplicação dos métodos e técnicas.
• Apresentar as proposições de mudança.

Para resolver um problema ergonômico, é preciso buscar quais são as causas raízes deste problema.
Por exemplo, um problema de reclamação de ruído por parte dos trabalhadores pode ter como causa
raiz a forma de arranjo de horários de trabalho em turno e não as fontes de ruído. Ou, o aparecimento
de DORT pode ter como causa raiz não a atividade em si que sempre é desenvolvida e sim uma inten-
sificação do trabalho devido à necessidade de se realizar retrabalho de defeitos que se originaram em
outro setor da cadeia produtiva.
A seguir, apresentamos alguns itens de uma AET com base nas recomendações do Manual de
aplicação da NR-17 do Ministério do Trabalho (MTE, 2002).

Conteúdo da AET

A análise ergonômica do trabalho deve abordar diversos aspectos de um problema ergonômico. Para
guiar nosso trabalho, utilizamos o Manual de aplicação da NR-17 do Ministério do Trabalho. Ele nos
indica os principais elementos que compõem uma AET.

UNIDADE 7 211
1 ANÁLISE DA DEMANDA E DO CONTEXTO
Inicialmente, é feita a descrição do(s) fato(s) que demandaram a realização da AET.
Podem ser consideradas as reclamações que foram registradas, se houve notificação
do Ministério do Trabalho ou se o sindicato da categoria exigiu a elaboração da AET.
Ainda, é feita uma análise da gravidade do problema e identificados os casos de
doenças. Também, nesta análise inicial, é considerado dentro de qual prazo a AET
deve estar pronta.

2 ANÁLISE GLOBAL DA EMPRESA E DE SEU MERCADO DE ATUAÇÃO


Cada AET deve ser feita de acordo com o porte e representatividade da empresa.
É preciso avaliar, então, quantos funcionários ela possui, seu faturamento, seus planos
de expansão e qual tecnologia ela emprega. A AET irá apresentar uma proposta de
solução. Esta deve estar alinhada com a realidade da empresa. É fácil observar que
uma solução muito cara e tecnológica não é aplicável a uma pequena empresa.
É preciso também considerar como outras empresas do mesmo setor lidam com o
mesmo problema identificado, entendendo quais são as soluções possíveis.

3 DESCRIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO


Este item da AET analisa como a produção da empresa é organizada. São levantados
o layout do setor produtivo, as metas de produção, equipamentos utilizados, índices
de produtividade, taxa de ocupação de máquinas, termos utilizados nas operações
produtivas, gestão da qualidade, gestão de estoques, horários de trabalho, política de
remuneração, como é feita a atribuição de tarefas, o nível de terceirização, o
organograma da empresa etc.

4 DESCRIÇÃO DE ASPECTOS LEGAIS APLICADOS NA EMPRESA


Na AET, é importante considerar as legislações que a empresa deve cumprir nas mais
diferentes áreas: ambiental, sanitária, de propriedade industrial etc.

5 ANÁLISE DA POPULAÇÃO DE TRABALHADORES


Neste item, é feito um levantamento das características dos trabalhadores para que
as adequações possam atendê-los. Deve ser conhecida a faixa etária dos
trabalhadores, o tempo de serviço na empresa, os pré-requisitos para contratação,
nível de escolaridade, nível de capacitação, as características antropométricas etc.

6 DEFINIÇÃO DAS SITUAÇÕES DE TRABALHO A SEREM ESTUDADAS


Depois do levantamento dos dados gerais da empresa, é feito o estudo das
atividades que possivelmente geraram o problema, descrevendo suas características.
São feitas hipóteses iniciais para explicar a ocorrência do problema ergonômico.

212 Ergonomia III


7 ANÁLISE DAS TAREFAS PRESCRITAS E REAIS
1

2 A AET precisa analisar as diferenças entre a atividade prescrita e a atividade


3
real. Por exemplo, uma atividade prescrita seria a de se produzir 100 unidades
de um item X durante um dia de trabalho. No entanto, na realidade, o
trabalhador pode produzir menos que o prescrito.

A tarefa real que o trabalhador irá realizar demandará um conjunto de ações:


comunicar-se, ler, controlar a máquina, pegar materiais, realizar medições,
analisar quantidades etc. Observe que a atividade real não se resume apenas
em “produzir 100 unidades do item X”. Ainda, a falta de produção pode
decorrer de problemas nas ferramentas utilizadas, paradas constantes de
máquinas, quebra de equipamentos, falta de matéria-prima etc.

O trabalhador, na atividade real, tenta compensar a diferença na produção


sobrecarregando seu ritmo de trabalho, o que pode causar as lesões pelo
ritmo acelerado. Estes fatos da atividade real indicam que ela não está
adequada e precisa ser melhorada.

Na descrição da atividade, procure levantar os seguintes dados: dados


referentes ao homem – formação e qualificação, quantidade de pessoas na
função, forma de divisão do trabalho, divisão de turnos, características
antropométricas etc.; dados referentes às máquinas – dimensões,
movimentos realizados para operá-las, posturas durante o seu uso, decisões
tomadas durante o uso etc.; dados referentes ao ambiente – dimensões do
espaço, ruídos, temperatura, iluminação, vibração, presença de substâncias
tóxicas etc.

8 EXIGÊNCIAS

Para aprofundar a análise das tarefas, é feita uma análise das exigências.
Alguns exemplos são: necessidade de deslocamentos a pé, de transporte de
cargas, de utilização de escadas, de se assumir posturas inadequadas, de
utilizar sinais com frequência etc. É preciso analisar se existem estas
exigências e qual sua frequência e duração.

9 ANÁLISE DO USO DOS SENTIDOS

O ambiente de trabalho pode influenciar na percepção dos sinais pelos


trabalhadores. Por exemplo, o ambiente pode influenciar no campo de visão
dos trabalhadores, na rapidez de percepção de sinais visuais, na sensibilidade
a diferentes sons etc.

UNIDADE 7 213
10 REALIZAÇÃO DE UM PRÉ-DIAGNÓSTICO
Por meio dos dados coletados nos itens anteriores, é possível elaborar um
pré-diagnóstico com hipóteses sobre o que está causando o problema
ergonômico. Por exemplo, em uma fábrica de confecção, o problema de
aparecimento de distúrbios osteomusculares pode ter como hipótese o
movimento repetitivo das mãos para posicionar as peças de roupa sob a agulha.
Esta hipótese pode ser posteriormente avaliada em detalhes, por meio de uma
filmagem da atividade e contagem do número de vezes que o trabalhador
repete aquele movimento. Esta filmagem também indicará outras
inadequações, como inexistência de pausas, ritmo acelerado de trabalho,
quebra de linha de costura etc.

11 REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO
Após analisar as hipóteses do pré-diagnóstico, é feito um diagnóstico
conclusivo sobre a causa do problema. Por exemplo, na indústria de confecção,
a conclusão para a ocorrência de DORT é que ela é causada pelo movimento
repetitivo da mão direita do trabalhador, que precisa posicionar o tecido a ser
costurado repetidamente sob a agulha da máquina de costura. Esta repetição
de movimento é causada pelo movimento do tecido que é puxado para os
lados devido à ação da gravidade e à falta de suporte adequado.

12 VALIDAÇÃO DO DIAGNÓSTICO
Uma vez formulado o diagnóstico, este deve ser revisado por todos os
envolvidos no processo que poderão confirmar ou rejeitar o diagnóstico. Estes
envolvidos devem possuir conhecimento necessário para saber se o diagnóstico
reflete a realidade e é válido. Eles poderão participar ativamente das alterações
que serão propostas.

13 PROJETO DAS ALTERAÇÕES DO TRABALHO


Após aprovado pelos envolvidos, o diagnóstico deve ser usado para encontrar a
solução do problema. Deve ser feita uma proposta para a adaptação do
trabalho ao homem. Juntamente à proposta deve ser feito um cronograma de
implementação, envolvendo, por exemplo, a construção de protótipos do novo
posto de trabalho. A implantação da solução deve ser acompanhada e sua
eficácia avaliada. Pode ser necessário realizar treinamento para compreender a
nova forma de trabalho ou os novos postos de trabalho criados pelo projeto de
adequação ergonômica.

Conforme vimos, uma AET é usada para resolver um problema ergonômico e na sua elaboração devem
ser considerados diversos elementos que ajudarão a construir uma proposta de adequação ergonô-
mica. Nos próximos tópicos, apresentaremos duas ferramentas da ergonomia que são utilizadas para
analisar movimentos de levantamento de cargas e analisar posturas: método NIOSH e método RULA.

214 Ergonomia III


Tenha sua dose extra de conhecimento
assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.

UNIDADE 7 215
Método Niosh

Neste tópico, proponho a você, caro(a) aluno(a),


que se questione: qual o peso ideal a ser levanta-
do por um trabalhador? Você deve se lembrar da
nossa resposta dada na unidade anterior sobre
manuseio de cargas. Argumento que o peso ideal
varia de pessoa para pessoa e a forma que a carga
é manuseada irá influenciar no efeito final sobre
a coluna. Talvez se lembre que comentamos do
estudo da NIOSH, de 1981 e do estudo atualizado
de 1991 que visou determinar a carga ideal de
levantamento. Neste tópico, explicarei como este
estudo é usado para avaliar se um levantamento
de carga está adequado ou não. Utilizaremos ta-
belas e equações.
A ferramenta NIOSH para análise de levanta-
mento manual de cargas visa verificar se a carga
levantada irá causar alguma lesão no trabalhador.
É feito um cálculo utilizando as variáveis do le-
vantamento. Calcula-se um valor denominado
de Limite de Peso Recomendado (LPR) que
é comparado com o valor da carga que está sen-
do levantada. Esta comparação fornece o Índice
de Levantamento (IL). O IL indica se há uma
chance de o levantamento ocasionar uma lesão
no trabalhador.

216 Ergonomia III


O LPR é dado pela seguinte equação:

LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC (1)

Em que:
FDH: fator de distância horizontal em relação à carga. É dado por:
FDH = 25/distância horizontal da carga em relação ao indivíduo (2)
FAV: fator de altura vertical em relação ao solo. É dado por:
1 - [0,003x(│V-75│)] (3)
FDVP: fator de deslocamento vertical da carga. É dado por:
(0,82 + 4,5/distância total percorrida) (4).
Obs: se distância total percorrida for menor ou igual a 25cm, assume-se que FDVP=1.
FFL: fator frequência de levantamento. É dado por um valor tabelado, que é encontrado por meio do
cruzamento dos dados: levantamentos por minuto, duração da manutenção contínua e altura vertical.
FRLT: fator de rotação lateral do tronco. É dado por:
1-(0,0032 x ângulo de rotação) (5).
FQPC: fator de qualidade da pega de carga. É dado por meio de uma tabela que relaciona o tipo de
pega (boa, razoável, pobre) com a altura vertical em relação ao solo.
Veja que os fatores de distância horizontal e vertical da carga, distância vertical percorrida da carga
de um ponto para outro, rotação do tronco e qualidade da pega possuem grande influência no cálculo
do limite de peso recomendado. Veja na equação que temos o valor de “23” que é o valor de referência
de carga de 23 kg. O LPR aumenta à medida que as condições de levantamento melhoram e ele diminui
à medida que as condições pioram. Ou seja, se o levantamento é feito em boas condições, a equação
permite um peso maior para ser levantado.
Após calcular o LPR é preciso fazer sua comparação com o peso levantado, em quilogramas. Essa
comparação permite fazer o cálculo do Índice de Levantamento (IL) dado pela equação:

IL = Peso levantado (em kg) / LPR (6)

UNIDADE 7 217
O valor de IL pode ser inferior ou superior a 1. Quando IL < 1 sig- Avaliando o caso em questão,
nifica que o levantamento não oferece risco à saúde do trabalhador; foram obtidos os seguintes da-
quando 1≤IL≤2 significa que há um indício de aumento no risco dos do levantamento:
de lesões; e para IL > 2 o risco do trabalhador sofrer uma lesão • Distância horizontal em
na coluna ou em seu sistema músculo-ligamentar é considerável relação à carga: 56 cm. As-
(PINHEIRO et al., 2013). sim, o FDH =
Vejamos agora a aplicação das equações com um exemplo. Ele • 25/56 = 0,45 (aproximada-
é baseado no estudo de caso proposto por Pinheiro et al. (2013). mente).
Este estudo avalia o levantamento de peças pré-moldadas utilizadas • Altura vertical em relação
na construção civil. A figura 1 mostra como o levantamento é feito. ao solo: 50 cm. Assim, o
FAV = 1 - (0,003 x
• (│50-75│)) = 0,925
• Deslocamento vertical
da carga: 66,5 cm. Assim,
FDVP = (0,82 +
• 4,5/66,5) = 0,89 (aproxi-
madamente).
• Frequência de levanta-
mento: 1,3 vezes/minuto.
O levantamento é reali-
zado durante 8 horas por
dia. Consultando a tabela
1, temos que FFL = 0,75.

Figura 1 - Levantamento de peças pré-moldadas


Fonte: Pinheiro et al. (2013, p. 4).

218 Ergonomia III


Tabela 1 - Fatores de frequência de levantamento
Frequência de Levantamento (FFL)

Duração da manutenção
Frequência
<=8 horas <=2 horas <=1 hora

Levantamen-
V < 75 cm V >=75 cm V < 75 cm V>=75 cm V <75 cm V>=75 cm
to(s) por minuto

0,2 0,85 0,85 0,95 0,95 1,00 1,00


0,5 0,81 0,81 0,92 0,92 0,97 0,97
1 0,75 0,75 0,88 0,88 0,94 0,94
2 0,65 0,65 0,84 0,84 0,91 0,91
3 0,55 0,55 0,79 0,79 0,88 0,88
4 0,45 0,45 0,72 0,72 0,81 0,81
5 0,35 0,35 0,60 0,60 0,80 0,80
6 0,27 0,27 0,50 0,50 0,75 0,75
7 0,22 0,22 0,42 0,42 0,70 0,70
8 0,18 0,18 0,35 0,35 0,60 0,60
9 0,00 0,15 0,30 0,30 0,52 0,52
10 0,00 0,13 0,26 0,26 0,45 0,45
11 0,00 0,00 0,00 0,23 0,41 0,41
12 0,00 0,00 0,00 0,21 0,37 0,37
13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,34
14 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,31
15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,28
>15 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Fonte: Wicnewski ([2020], p. 8, on-line)1.

• Rotação lateral do tronco: 45°. Assim, o FRLT = 1-(0,0032 x 45) = 0,86 (aproximadamente).
• Qualidade da pega: as peças não possuem alça e não são uma caixa com dimensões definidas.
Assim, a qualidade da pega foi considerada razoável. Consultando a Tabela 2, o FQPC = 0,95.
Tabela 2 - Fatores de qualidade de pega
Fator Qualidade da Pega da Carga (FQPC)
Pega Vc < 75cm Vc > 75cm
Boa 1,00 1,00
Razoável 0,95 1,00
Pobre 0,90 0,90
Fonte: Wicnewski ([2020], p. 8, on-line)1.

UNIDADE 7 219
Com esses valores, o índice LPR ficou igual a:

LPR = 23 x 0,45 x 0.925 x 0,89 x 0,75 x 0,86 x 0,95 = 5,22 kg

A carga real da peça levantada pelo trabalhador é de 42 kg. Assim,


o IL foi de:

IL = 42 / 5,22 ≈ 8,04

Como o valor de IL é maior que 2, concluímos que há um risco


acentuado de lesões na coluna ou no sistema músculo-ligamentar
do trabalhador. Isso nos indica que são necessárias modificações
nas condições de trabalho. Algumas recomendações são:
• Atribuir a atividade de levantamento das peças para ser rea-
lizada por dois trabalhadores e não por apenas um.
• Utilizar um equipamento para movimentação.

Em resumo, o método NIOSH permite avaliar quantitativamente


se a carga levantada manualmente está adequada e comparar seu
valor com um valor de referência para indicar o risco de ocorrerem
lesões. Por meio deste método, recomendações podem ser feitas a
fim de diminuir o índice de levantamento e diminuir o risco de le-
sões na coluna e no sistema músculo-ligamentar dos trabalhadores.
No próximo tópico, estudaremos outro método quantitativo para
avaliar as posturas adotadas em postos de trabalho.

220 Ergonomia III


Método Rula

Vamos lá, aluno(a), recordar o


que já estudamos: existem po-
sições de trabalho que oferecem
riscos à saúde dos trabalhadores,
como o trabalho estático em pé.
No entanto, diversas posições
podem ser adotadas durante o
trabalho, principalmente com
os braços, mãos e tronco. Será
que é possível fazer uma ava-
liação mais objetiva dessas po-
sições de trabalho? O Método
RULA (Avaliação Rápida dos
Membros Superior, em uma tra-
dução livre) propõe fazer essa
avaliação. Por meio dele, a pos-
tura de trabalho é avaliada, bem
como a contração muscular, ní-
vel de repetição, força exercida e
alcance em uma atividade.

UNIDADE 7 221
O RULA foi proposto em 1993 por Lynn McAtamneu e Nivel Corlett, na Universidade de Not-
tingham, Inglaterra (CAMPUSESINE, [2020]). Esta ferramenta avalia se são necessárias mudanças
em uma postura de trabalho. Explicaremos sua aplicação com um exemplo de posição muito típico
nos dias de hoje: ficar em pé segurando um celular com a mão direita. A Figura 2 ilustra esta posição
e será usada como referência para nossa análise.

É conveniente fazer um registro fotográfico das


posições assumidas durante um trabalho para
aplicar o método RULA. Sua realização depende
da capacidade de o avaliador comparar a posição
assumida com as posições tabeladas.

Parte 1 - Análise dos Braços,


Antebraços e Punho

Qualifique a posição do braço,


conforme a Figura 3

Observando a posição de referência, vemos que


o braço direito do homem fica levemente flexio-
nado, em uma região de 20°. Portanto, iremos
Figura 2 - Posição em pé segurando um celular atribuir o valor de 1 para esta posição. O braço
não está abduzido ou apoiado e o ombro não está
Vamos explicar a aplicação do RULA em três sobre-elevado, não necessitando de acrescentar
partes, analisando figuras de posições do corpo. nota conforme sugerido pela figura.
Para cada posição, será atribuída uma nota. Estas
serão somadas e, por meio de dados tabelados,
será determinada a ação que deverá ser tomada
em relação à posição.

222 Ergonomia III


20° 20° 20°+ 20° – 45° 45° – 90° 90°+
Extensão/Flexão Extensão [+2] Flexão [+2] Flexão [+3] Flexão [+4]
+1 Abdução / +1 Ombro sobre-elevado / –1 Braço Apoiado
Figura 3 - Qualificação da posição do braço
Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

Qualifique a posição do antebraço conforme a Figura 4

Podemos observar pela figura do homem segurando o celular que seu antebraço faz uma flexão acima
de 100°. Para esta posição, conforme a figura, a nota a ser atribuída é de 2. Observamos que o ante-
braço não cruza o plano sagital do tronco ou realiza operações exteriores ao tronco, não necessitando
adicionar mais um ponto à nota conforme sugerido pela figura.

60° – 100° 0° – 60° 100°+


Extensão/Flexão [+1] Extensão [+2] Flexão [+2] Flexão [+3]
+1 se o Antebraço cruzar o plano sagital do tronco ou realizar operações exteriores ao tronco

Figura 4 - Qualificação da posição do antebraço


Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

Qualifique a posição do punho conforme a Figura 5

Ao segurar o celular, o punho do homem fica levemente flexionado, dentro da região de 15°. Assim,
devemos atribuir a nota de 2. Além disso, o punho não fica flexionado para as laterais.

UNIDADE 7 223
0° +15° a -15° >+15° ou <-15° Corrigir Pontuação
1 2 3 Acrescentar 1, se:

Figura 5 - Qualificação da posição do punho


Fonte: adaptada de MacAtmney et al. (1993 apud CAPELETTI, 2013, p. 20).

Qualifique a rotação do punho conforme a Figura 6

O homem ao segurar o celular com a mão direita faz uma leve rotação do punho. Portanto, atribuímos
o valor de 1.

Rotação média [+1] Rotação extrema [+2]


+1 se o pulso está dobrado em relação ao eixo

Figura 6 - Qualificação da rotação do punho


Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

O homem, ao segurar o celular com a mão direita, faz uma leve rotação do punho. Portanto, atribuímos
o valor de 1.

Encontre a nota da parte 1 utilizando os dados da Tabela 3

Com os valores de nota do braço, antebraço, posição do punho e rotação, é atribuída uma nota con-
forme a Tabela 3. Para encontrar a nota da parte 1, utilizamos a tabela a seguir:

224 Ergonomia III


Tabela 3 - Tabela para atribuir nota final conforme posição do braço, antebraço e punho

Posição do punho

1 2 3 4
Braço Antebraço
Rotação Rotação Rotação Rotação

1 2 1 2 1 2 1 2

1 1 2 2 2 2 3 3 3
1 2 2 2 2 2 3 3 3 3
3 2 3 3 3 3 3 4 4
1 2 3 3 3 3 4 4 4
2 2 3 3 3 3 3 4 4 4
3 3 4 4 4 4 4 5 5
1 3 3 4 4 4 4 5 5
3 2 3 4 4 4 4 4 5 5
3 4 4 4 4 4 5 5 5
1 4 4 4 4 4 5 5 5
4 2 4 4 4 4 4 5 5 5
3 4 4 4 4 5 5 6 6
1 5 5 5 6 6 6 6 7
5 2 5 6 6 6 6 7 7 7
3 6 6 6 7 7 7 7 8
1 7 7 7 7 7 8 8 9
6 2 8 8 8 8 8 9 9 9
3 9 9 9 9 9 9 9 9
Fonte: adaptada de Campusesine ([2020], on-line).

Os valores que tinham sido anotados foram:

Braços = 1; antebraços = 2; punho = 2; rotação do punho = 1

Cruzando estes valores na tabela, obtemos o valor de 2. Após obter este valor, para calcular a pontuação
final do grupo de membros “braço, antebraço e punho”, é preciso analisar se a postura é, principalmente,
estática (significa que é mantida por mais que 10 minutos) ou se é repetitiva (se é realizada 4 vezes ou
mais por minuto). Caso sim, é preciso acrescentar 1 ponto à nota anterior. Para o nosso caso, pode ser
considerado que o homem irá utilizar o celular naquela posição por mais de 10 minutos e, portanto,
devemos somar 1 ponto à nota, resultando em 3.

UNIDADE 7 225
Também, deve ser considerado o peso da carga:
• Menos de 2 kg (intermitente) = somar 0.
• De 2 a 10 kg (intermitente) = somar 1 ponto.
• De 2 a 10 kg (estática ou repetida) = somar 2 pontos.
• Mais que 10 kg (ou repetida ou de impacto) = somar 3 pontos.

Como o celular possui carga inferior a 2 kg não é necessário acrescentar pontos e, portanto, a nota
final da parte 1 é de 3 pontos.

Parte 2 - Análise do Pescoço, Tronco e Pernas

Qualifique a posição do pescoço conforme dados da Figura 7

0° – 10° 0° – 20° 20°+

Na extensão

+1 +2 +3 +4

Pescoço está Pescoço está


inclinado para lateral torcendo

+1 Flexão lateral extrema +1 Rotação extrema

Figura 7 - Qualificação da posição do pescoço


Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

O homem, ao utilizar o celular, flexiona seu pescoço entre um ângulo de 10° a 20°. Assim, atribuímos a
esta posição a nota de 2 pontos. Ele não flexiona seu pescoço lateralmente de forma extrema e nem o
rotacional de forma extrema (caso houvesse essas posições, seria preciso acrescentar pontos conforme
indicado pela figura).

226 Ergonomia III


Qualifique a posição do tronco conforme Figura 8

0° 0° 20° – 60°
20°

60°+

+1 +2 +3 +4

Tronco está Tronco está


inclinado torcendo
na lateral

+1 Flexão lateral extrema +1 Rotação extrema

Figura 8 - Qualificação da posição do tronco


Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

Observamos que o homem segura o celular com seu tronco praticamente ereto. Assim, não há flexão
de tronco e então atribuímos o valor de 1 ponto para esta posição. Também, não observamos flexão
lateral extrema ou rotação extrema do tronco, não sendo necessário acrescentar mais pontos à nota.

Qualifique a posição das pernas conforme Figura 9

+ 1 Em pé com o + 2 Pernas e pés


peso distribuído em mal apoiados e peso
ambas as pernas e mal distribuído,
com espaço para em posição sentado
modificar posição ou em pé

+ 1 Sentado com pés bem apoiados e o peso bem distribuído

Figura 9 - Qualificação da posição das pernas


Fonte: Campusesine ([2020], on-line).

Podemos observar que o homem, ao segurar seu celular, fica um pouco mais apoiado em sua perna
direita. Portanto, atribuímos a nota de 2 pontos conforme indicado na figura.

UNIDADE 7 227
Encontre a nota da parte 2 utilizando os dados da Tabela 4

A nota da parte 2 é dada pelo cruzamento das notas do pescoço, tronco e pernas por meio da Tabela 4.

Tabela 4 - Valores da parte 2


Tronco

1 2 3 4 5 6
Pescoço
Pernas Pernas Pernas Pernas Pernas Pernas

1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

1 1 3 2 3 3 4 5 5 6 6 7 7
2 1 3 2 3 4 5 5 5 6 7 7 7
3 3 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 7
4 5 5 5 6 6 7 7 7 7 7 8 8
5 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8
6 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9
Fonte: adaptada de Campusesine ([2020], on-line).

Cruzando os valores atribuídos para a posição do pescoço, tronco e pernas, obtém-se na tabela a nota
de 3 pontos.

Calcule a pontuação final do grupo “pescoço, tronco e pernas”

Para obter a nota final da parte 2, é preciso analisar se a postura é principalmente estática (mantida por
mais que 10 minutos) ou repetitiva (realizada 4 vezes ou mais por minuto). Caso uma dessas situações
ocorra, deve ser acrescentado 1 ponto à nota anterior. Para o nosso exemplo, o homem usa o celular
continuamente por mais de 10 minutos. Portanto, somamos 1 ponto à nota anterior, obtendo o valor
final de 4 pontos.
Também, devemos considerar o peso da carga:
• Menos de 2 kg (intermitente) = somar 0.
• De 2 a 10 kg (intermitente) = somar 1 ponto.
• De 2 a 10 kg (estática ou repetida) = somar 2 pontos.
• Mais que 10 kg (ou repetida ou de impacto) = somar 3 pontos.

Como o celular tem uma carga inferior a 2 kg, a nota de 4 pontos não se altera.

228 Ergonomia III


Parte 3 - Determinação da Ação a Ser Tomada

Utilizando os valores obtidos nas partes 1 e 2, é determinada a ação que deverá ser tomada. Isso é feito
primeiramente, cruzando os valores das partes 1 e 2 na Tabela 5.
Tabela 5 - Valores da pontuação final
Pontuação de pescoço, tronco e pernas
Pontuação de braço,
antebraço e punho
1 2 3 4 5 6 7+

1 1 2 3 3 4 5 5
2 2 2 3 4 4 5 5
3 3 3 3 4 4 5 6
4 3 3 3 4 5 6 6
5 4 4 4 5 6 7 7
6 4 4 5 6 6 7 7
7 5 5 6 6 7 7 7
8+ 5 5 6 7 7 7 7
Fonte: adaptada de Campusesine ([2020], on-line).

O cruzamento dos valores fornece o valor final de 4 pontos. Este valor é comparado nos níveis de ação
dados pela Tabela 6.
Tabela 6 - Interpretação do valor final da ferramenta RULA
Níveis de ação

Postura aceitável se não for


Nível 1 Pontuação de 1 - 2 repetida ou mantida durante
longos períodos

Investigar; possibilidade de
Nível 2 Pontuação de 3 - 4 requerer mudanças; é conve-
niente introduzir alterações

Investigar; realizar mudanças


Nível 3 Pontuação de 5 - 6
rapidamente.

Nível 4 Pontuação de 7+ Mudanças imediatas

Fonte: adaptada de Campusesine ([2020], on-line).

O valor de 4 pontos está dentro do nível 2 que significa “investigar; possibilidade de requerer mudanças;
é conveniente introduzir alterações”. Portanto, podemos concluir que a posição de segurar o celular
com a mão direita, apoiado na perna direita, por mais de 10 minutos, é uma posição que é conveniente
de ser mudada. Contudo, não exige que a mudança ocorra rapidamente.

UNIDADE 7 229
Além do método RULA, existe o método OWAS para identificar
posturas corporais prejudiciais durante a realização de ativida-
des. Saiba mais acessando o link: http://www.fecilcam.br/anais/
vii_eepa/data/uploads/artigos/8-02.pdf.
Fonte: adaptado de Silva, Gonçalves Neto e Barbosa (2013, on-line).

Em suma, o método RULA analisa a posição do pescoço, braço,


antebraço, punho, tronco e perna para verificar, de forma quantita-
tiva, a necessidade de se realizar alterações na posição de trabalho.
Sua aplicação deve ser feita por meio de registro fotográfico das
operações e escolha criteriosa da nota para cada posição.

230 Ergonomia III


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Explique em quais situações a AET deve ser aplicada.

2. Um trabalhador realiza uma tarefa com as seguintes características:


• Frequência de movimento: 4/min
• Peso da peça levantada no movimento: 5 kg
• Tempo de realização da atividade: até 2 horas/dia
• Distância horizontal da carga em relação ao corpo: 30 cm
• Altura vertical inicial do levantamento: 75 cm
• Altura vertical final do levantamento: 60 cm.
Considerando os dados apresentados, calcule o LPR e o IL.

3. Com base no método RULA, determine a melhor posição para o braço, ante-
braço e punho.

231
LIVRO

Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora n° 17


Autor: Ministério do Trabalho e Emprego
Editora: MTE
Sinopse: a elaboração deste Manual, reunindo a experiência prática de 10 anos
de fiscalização, tem como objetivo subsidiar a atuação dos auditores fiscais do
trabalho e dos profissionais de Segurança e Saúde do Trabalhador nas suas
atividades. A publicação contou com a colaboração da Comissão Nacional de
Ergonomia, composta pelos técnicos Mário Gawryszewski, Claudio Cezar Peres,
Rosemary Dutra Leão, Lívia Santos Arueira, Lys Esther Rocha, Paulo Antonio
Barros Oliveira, Carlos Alberto Diniz Silva e Maria de Lourdes Moure.

WEB

Existem aplicativos para aplicar os métodos RULA e NIOSH


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

232
BRASIL. Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras
providências. Brasília: Presidência da República, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D3048.htm. Acesso em: 02 jan. 2020.

BRASIL. Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora Nr-17 – Ergonomia. Brasil. Dispo-
nível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

CAMPUSESINE. RULA - Rapid Upper Limb Assessment. [2020]. Disponível em: http://www.alunos.campu-
sesine.net/rec%20humano/fichas/RULA.PDF. Acesso em: 17 mar. 2020.

CAPELETTI, B. H. G. M. Aplicação do método RULA na investigação da postura adotada por operador


de balanceadora de pneus em um centro automotivo. Monografia de especialização em engenharia de segu-
rança do trabalho. Curitiba, 2013. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/3801/1/
CT_CEEST_XXVI_2014_03.pdf. Acesso em: 17 mar. 2020.

MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora n° 17. Brasília:
MTE, SIT, 2002.

PEDROZA, S. S.; SILVA, M. J. Ergonomia e Segurança do Trabalho. Maringá: Unicesumar, 2019.

PINHEIRO, H. H.; CABRAL, R. R.; SOUSA, R. da S.; SILVA, D. P. A. da; EVANGELISTA, W. L. Uso do Critério de
NIOSH para determinação do Limite de Peso Recomendado em uma empresa de Pré-moldados. In: SEMANA
DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA IFMG, 6. 2013, Bambuí. Anais[...] Bambuí: IFMG, 2013. p. 1-6. Disponível
em: https://www.researchgate.net/publication/270580556_Uso_do_Criterio_de_NIOSH_para_determina-
cao_do_Limite_de_Peso_Recomendado_em_uma_empresa_de_Pre-moldados. Acesso em: 02 fev. 2020.

SILVA, D. A.; GONÇALVES NETO, L. O.; BARBOSA, P. P. Análise ergonômica com a aplicação do método
OWAS: Estudo de caso em uma indústria moveleira do centro-oeste do Paraná. VII Encontro de Engenharia
de Produção Agroindustrial. 2013. Disponível em: http://www.fecilcam.br/anais/vii_eepa/data/uploads/arti-
gos/8-02.pdf. Acesso em: 04 fev. 2020.

REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: http://aulas.verbojuridico3.com/Pos_seguranca_trabalho/Seguranca_Trabalho_Luiz_11FB_Aula2_Par-
te2_finalizado_ead.pdf. Acesso em: 11 mar. 2020.

233
1. A AET é utilizada quando uma fiscalização demanda sua realização para corrigir uma situação de trabalho
inadequada. Também é utilizada para melhorar a qualidade de produtos e serviços, tornando um trabalho
mais eficiente.

2. O cálculo é dado pela equação:

LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC (1)

Pelos dados do problema, temos:

FDH = 25/30 ≈ 0,83

FAV = 1 - [0,003X (V - 75)] = 1 - [0,003X (75 - 75)] = 1

FDVP = (0,82 + 4,5/ distância total percorrida) = (0,82 + 4,5/15) = 1,12

FFL = 0,72 (tabelado)

FRLT = 1 - (0,0032 X 25) = 0,92

FQPC = 1 (tabelado)

Substituindo esses dados na equação (1), temos:

LPR = 23xFDHxFAVxFDVPxFFLxFRLTxFQPC = 23x0, 83x1,12x072x0,92x1 ≈ 16 kg

Calculando o IL, temos:

IL = peso da carga/LPR=5/16=0,3125

3. Conforme a pontuação estabelecida para o braço, antebraço e punho, podemos concluir que a melhor posi-
ção é aquela em que a pontuação é menor, que causará um menor nível de ação. Assim, a melhor posição é:

• Braço: angulação de no máximo 20°.

• Antebraço: angulação de 60° a 100° para frente.

• Punho: sem angulação e sem rotação.

234
235
236
Me. Maílson José da Silva

Segurança do Trabalho
na Indústria da
Construção Civil

PLANO DE ESTUDOS

Medidas de Proteção
Coletiva

Áreas de Vivência Medidas de Proteção


Individual

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Descrever as áreas de vivência na indústria da construção civil. • Indicar medidas de proteção individual recomendadas
• Apresentar medidas de proteção coletiva recomendadas para a indústria da construção civil.
para a indústria da construção civil.
Áreas de
Vivência

Olá, aluno(a)! Estamos iniciando a oitava unidade


ressaltando o setor da construção civil que é um
importante setor na geração de postos de trabalho.
Você já deve ter percebido que durante uma cons-
trução existe a necessidade de se realizar diferentes
tipos de trabalho: escavações, limpeza do terreno,
preparação de concreto, enchimento de caixas de
concreto, assentamento de tijolos, colocação de
instalações elétricas e sanitárias, assentamento de
pisos e demais elementos de acabamento, pintura,
colocação de vidros etc.
Devido a esta diversidade de trabalhos ne-
cessários em uma obra, bem como ao seu porte,
muitos trabalhadores de diferentes especialida-
des são recrutados. Dependendo da obra, alguns
deles dormem no próprio local, em alojamentos
construídos para este fim. Por ser um ambiente
de trabalho, digamos, em construção, uma obra
precisa oferecer, antes de seu início, áreas para que
os trabalhadores tenham qualidade de vida no tra-
balho. A Norma Regulamentadora NR-18 – Con-
dições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria
da Construção define algumas áreas denominadas
de áreas de vivência para que os trabalhadores
tenham suas necessidades fisiológicas atendidas.
As áreas de vivência serão es-
Áreas de vivência são locais construídos na obra para atendimento tabelecidas conforme a quanti-
das necessidades fisiológicas dos trabalhadores. A NR-18 define dade de trabalhadores presentes
as seguintes áreas de vivência: instalações sanitárias, vestiário, na obra. Neste tópico, veremos
alojamento, local de refeições, cozinha (quando houver preparo de algumas das características das
refeições), lavanderia, área de lazer e ambulatório (quando se tra- seguintes áreas: instalações sa-
tar de frentes de trabalho com cinquenta ou mais trabalhadores). nitárias, vestiário, alojamento,
Fonte: badaptado de Brasil (1978a). local de refeições, lavanderias e
área de lazer.

Instalações Sanitárias e Vestiário

As instalações sanitárias são utilizadas para o asseio corporal e atendimento das necessidades fisioló-
gicas de excreção. Basicamente, elas devem ser compostas por: lavatórios, vasos sanitários, mictórios
e chuveiros. A cada 20 trabalhadores na obra, devem ser dispostos um conjunto de lavatório, vaso
sanitário ou mictório e a cada 10 trabalhadores deve ser disponibilizado um chuveiro (BRASIL, 1978a).
Os lavatórios podem ser do tipo individual ou coletivo, com o uso de calhas. Devem possuir tor-
neiras de metal ou de plástico que devem distar, uma da outra, no mínimo, 0,60 m, quando estiverem
em lavatórios coletivos. A altura do lavatório deve ser de 0,90 metros e precisa estar ligado à rede de
esgoto, quando existente. Para facilitar a lavagem e higiene do local, os lavatórios devem ter revestimento
interno liso, impermeável e lavável (BRASIL, 1978a).
Os vasos sanitários devem dispor de, no mínimo, 1,0 m2 de área. Nesta área, deve ser disponibilizado
recipiente com tampa para descarte de papéis usados. Deve estar em local com porta cuja borda inferior
não deve estar a mais de 0,15 m de altura em relação ao chão. As divisórias entre os vasos sanitários
devem ter altura mínima de 1,80 m (BRASIL, 1978a).
Os mictórios devem ficar a uma altura máxima de 0,50 m do piso e, quando forem do tipo calha,
deve ser considerado o trecho de 0,60 m como sendo correspondente a um mictório tipo cuba (BRA-
SIL, 1978a).
Os chuveiros devem dispor de, no mínimo, 0,8 m2 de área e devem ficar a 2,10 m de altura em
relação ao piso. O piso do local deve ter caída para assegurar o escoamento da água e ser feito em ma-
terial antiderrapante. Além do chuveiro, como itens obrigatórios devem ser disponibilizados suporte
para sabonete e cabide para toalha. Chuveiros elétricos devem ser aterrados. A Figura 1 apresenta um
exemplo de projeto de instalações sanitárias.

UNIDADE 8 239
Fachada Corte

Banco
Cabides

Chuveiros
50 armários

Sanitários

Lavatório Mictório

Calçada

Planta
Figura 1 - Exemplo de projeto de instalações sanitárias
Fonte: adaptada de Sampaio (1998). Alojamento

Podemos verificar na figura a disposição de lavatório junto ao mic- Além de ser construído com
tório próximo da entrada. Mais ao fundo, foram dispostos cabides materiais básicos que proporcio-
para troca de roupa e à esquerda foram disponibilizados armários nem conforto e higiene, como
para os trabalhadores. Também foram disponibilizados chuveiros. madeira, concreto e alvenaria,
Este projeto engloba a utilização de instalações sanitárias e vestiário. deve possuir uma área de, no
O vestiário é obrigatório para troca de roupas de trabalhadores mínimo, 3,0 m2 por módulo
que não residem no local. Algumas características obrigatórias são: cama/armário. Os alojamentos
paredes equivalentes à alvenaria ou madeira; piso equivalente a não podem estar localizados em
concreto ou madeira; cobertura para proteção de intempéries; área subsolos ou porões de edifica-
de ventilação de 1/10 de área do piso; armários individuais dotados ções. Não podem existir três ou
de fechadura ou dispositivo com cadeado; pé direito mínimo de mais camas na vertical e entre
2,50 m; e banco no local com largura mínima de 0,3 m. uma cama e outra deve haver

240 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


um espaçamento mínimo de 1,20 m de altura. As camas superiores de beliche devem ter proteção lateral
e escada. Seu tamanho deve ser, no mínimo, de 0,80 m x 1,90 m. As camas devem dispor de lençol, fronha
e travesseiros, mantidos em boas condições de higiene. Nos alojamentos, devem existir armários duplos
individuais para guarda de roupas de trabalho e roupas de uso comum. Ainda nos alojamentos, deve
ser fornecida água potável, filtrada e fresca. A Figura 2 mostra um exemplo de projeto de alojamento.

Fachada

Corte
A

Beliche
Dormitório Dormitório Dormitório Dormitório
Beliche

Planta A

Figura 2 - Exemplo de projeto de alojamento


Fonte: adaptada de Sampaio (1998).

UNIDADE 8 241
Podemos observar, no projeto apresentado, a existência de armários em cada módulo com duas beliches.
O local possui janelas que atende à especificação mínima de área de ventilação de 1/10 da área do piso.

Balcão de COZINHA
devolução
Local de Refeições

Todo canteiro de obras deve Balcão de


Lixeira
Bebedouros distribuição
possuir um local para a reali-
zação de refeições. Este deve Mesa
de apoio
possuir um local exclusivo para Pia
MARMITEIRO
aquecimento de refeições por
meio de um equipamento ade-
Banco Banco
quado. O uso de copos coletivos
Mesa Mesa
é proibido.
O local de refeições deve ter Banco Banco
Lavatório

pé-direito mínimo de 2,8 m com Banco Banco


paredes que isolem o local. Deve
Mesa Mesa
possuir cobertura contra intem-
PROJEÇÃO DA COBERTURA

Banco Banco
péries e piso lavável. O tamanho
do local deve permitir que todos Banco Banco
os trabalhadores façam suas re- Mesa Mesa
feições no horário determinado, LIMITE DO LOTE
Banco Banco
bem como assentos em número
suficiente para atender aos usuá-
LIMITE DO LOTE
rios. As mesas devem possuir
tampos lisos e laváveis e deve
existir no local um recipiente
para descarte de detritos. PLANTA REFEITÓRIO
No projeto do local de refei-
ções, as instalações sanitárias Figura 3 - Exemplo de projeto de refeitório
Fonte: adaptada de Cbic (2015).
não podem ter comunicação
direta com o local. A Figura 3 Observe que o local é dotado de lavatório para as mãos, bebedouros,
mostra um exemplo de projeto equipamento para aquecimento de refeições, pia, lixeira, bancos e
de refeitório. mesas.

242 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Área de lazer

Segundo a NR-18, nas áreas de vivência devem ser previstos espaços para a realização de atividades de
lazer para recreação dos trabalhadores alojados. A norma permite que o local de refeições seja utilizado
para este fim. No local, podem ser instalados mesa de bilhar, sala de TV, sala para jogos etc. Na Figura
4, é apresentado um exemplo de área de lazer.

PROJEÇÃO DA COBERTURA
CALÇADA
A SER CONSTRUÍDO
LIMITE DO EDIFÍCIO

SALA DE TV

VARANDA

LIMITE DO LOTE
MESA DE SINUCA

PLANTA ÁREA DE LAZER

Figura 4 - Exemplo de projeto de área de lazer


Fonte: adaptada de Cbic (2015).

Observe que a NR-18 não determina dimensões mínimas desta área. No entanto, é recomendado que
ela seja projetada conforme o número de trabalhadores que ficarão alojados na obra. Em construções
sem trabalhadores alojados, esta área é dispensável.

UNIDADE 8 243
Lavanderia

Quando existirem trabalhado-


res alojados na obra, será ne-
cessária a construção de uma
área de lavanderia. Ela deve
proporcionar um local coberto,
ventilado e iluminado para que
os trabalhadores possam lavar,
secar e passar suas roupas de
uso pessoal. A Figura 5 ilustra
uma área de lavanderia.

LIMITE DO LOTE
PROJEÇÃO DA COBERTURA

TANQUES
CALÇADA

PLANTA
LAVANDERIA

Figura 5 - Exemplo de projeto de área de lavanderia


Fonte: adaptada de Cbic (2015).

O local deve ser dotado de tanques individuais ou coletivos, em número adequado à quantidade
de trabalhadores. Ainda, caso a empresa queira terceirizar esta atividade, ela poderá fazê-lo, sem
ônus para o trabalhador.
Em resumo, as áreas de vivência são fundamentais em um canteiro de obras para proporcio-
nar condições de higiene e conforto aos trabalhadores. Elas são necessárias para a realização de
alimentação, repouso, lazer e higiene pessoal. Algumas áreas de vivência devem existir apenas
quando os trabalhadores estiverem alojados no local: alojamento, lavanderia e área de lazer. Os
empregadores que cumprem com este requisito da NR-18, além de contribuir para segurança do
trabalho, irão proporcionar uma melhor satisfação aos trabalhadores. A seguir, vamos estudar as
medidas de proteção coletiva e individual aplicáveis na indústria da construção.

244 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Medidas de
Proteção Coletiva

Caro(a) aluno(a), você já percebeu a quantidade


de perigos existentes em uma obra de constru-
ção civil? Trabalhadores lidam com máquinas e
equipamentos, bem como com as estruturas que
estão sendo construídas e com os materiais que
são utilizados na obra. Todos eles podem oferecer
diversos perigos e riscos à saúde e segurança dos
envolvidos na construção, bem como para pessoas
que estão no entorno. Para protegê-los adequada-
mente, são implantadas medidas de segurança que
visam à proteção da coletividade de trabalhadores.
As medidas de proteção coletiva podem ser
divididas em três grupos:

UNIDADE 8 245
• Medidas incorporadas a máquinas e equi-
pamentos para proteção de partes móveis
e de peças que transmitem força.
• Medidas incorporadas à própria obra, Em uma obra de construção, existem diversos
como pontos de ancoragem para a insta- perigos e riscos com diferentes medidas de pro-
lação de linhas de vida. teção. Neste livro, não conseguiremos abranger
• Medidas de proteção específicas para de- todos eles. Fique atento(a) para identificar os
terminados trabalhos, como o escoramen- riscos presentes em uma obra.
to de valas.

Neste tópico, iremos apresentar alguns perigos Cada medida de proteção pode ser aplicada em
presentes na Construção Civil e suas respectivas uma fase da construção. Vejamos algumas delas
medidas de proteção coletiva. baseadas no trabalho de Sampaio (1998).

As medidas de proteção coletiva são medidas de segurança que protegem todos os trabalhadores
envolvidos na construção. Estas medidas devem ser objeto de projeto, quando necessário, e em
conformidade com as etapas de execução da obra.
Medidas da Fase de Demolição

Esta fase ocorre nas obras existentes que serão destruídas para dar lugar a uma nova construção. Nesta
fase, alguns dos principais perigos são a existência de cabos de energia elétrica e instalações de água,
esgoto ou de gás presentes na construção. Um risco presente na demolição é a estabilidade das cons-
truções vizinhas que pode ser afetada. Neste sentido, as medidas de proteção a serem adotadas são:
• Construir tapumes em volta para limitar o acesso de pessoas.
• Remover vidros do local.
• Providenciar plataformas de retenção de entulhos.
• Utilizar andaimes fachadeiros.
• Isolar aberturas de laje.
• Checar estabilidade de construções vizinhas.
• Providenciar cabos guia para engate de cinturão de segurança contra quedas.
• Umedecer materiais para diminuir a poeira produzida na demolição.
• Utilizar calhas para retirada de entulhos.
• Realizar o transporte de materiais e limpeza do local.

Medidas da Fase de Escavações,


Fundações e Desmonte de Rochas

Nesta fase, árvores, muros e edificações vizinhas podem desmoronar devido às escavações. Podem
existir também cabos elétricos subterrâneos. Existe um risco na operação de equipamento denominado
de bate-estacas. Se for necessário fazer o desmonte de rochas, será preciso utilizar explosivos. Assim,
algumas medidas a serem adotadas nesta fase são:
• Escorar taludes instáveis das escavações.
• Impedir a colocação de materiais nas bordas das escavações.
• Realizar a ventilação e o monitoramento do local a ser escavado, devido à possibilidade de
infiltração ou vazamento de gás.
• Proibir o acesso de pessoas não autorizadas na área de escavação.
• Utilizar alarme sonoro antes de detonações.

UNIDADE 8 247
Medidas da Fase de Preparação Medidas de Proteção na
de Armações de Aço Montagem de Estruturas
Metálicas
Nesta fase, os trabalhadores realizam a dobra e
corte de vergalhões. Algumas medidas recomen- As estruturas metálicas são condutoras de energia.
dadas são: Dessa forma, o principal perigo envolvido no seu
• Manter as bancadas de dobragem e corte manuseio é a passagem de correntes elétricas que
afastadas da circulação de pessoas. podem causar choque elétrico nos trabalhado-
• Providenciar cobertura para as bancadas res. Quando estruturas metálicas forem montadas
que seja resistente à queda de materiais e próximas de linhas energizadas, é preciso pro-
intempéries. ceder ao desligamento da rede, bem como fazer
• Providenciar proteção contra impactos nas a proteção das linhas, além do aterramento da
lâmpadas. estrutura metálica e dos equipamentos utilizados.
• Apoiar e escorar armações de vigas e pila- Na montagem de estruturas, é recomendado
res para evitar desmoronamento. que as peças venham previamente fixadas antes
• Proteger pontas de vergalhões. de serem soldadas, rebitadas ou parafusadas. A
• Isolar a área de descarga de vergalhões de aço. suspensão de pilares e vigas deve ser feita por
equipamento de guindar.

Medidas da Fase de
Estrutura de Concreto Medidas de Proteção nas
Operações de Soldagem e
Esta fase envolve a concretagem de formas. As Corte a Quente
medidas recomendas são:
• Inspecionar suportes e escoras das formas Estas operações são necessárias nos trabalhos en-
antes da concretagem. volvendo metais usados na obra. Elas devem ser
• Instalação de dispositivos de segurança nas realizadas apenas por trabalhadores qualificados.
caçambas transportadoras de concreto. É preciso providenciar um anteparo incombustível
• Evitar queda livre de formas e escoramentos. para proteção dos trabalhadores do entorno, evi-
• Fazer o estaiamento ou escoramento de tando a projeção de partículas, bem como a pro-
formas de pilares antes do cimbramento. teção contra a propagação da radiação produzida
• Na protensão de cabos de aço, evitar a perma- pela solda. Substâncias explosivas ou inflamáveis
nência de trabalhadores próximos do local. devem ficar afastadas dos cilindros de oxigênio
utilizados nas operações. Os equipamentos de sol-
da devem estar aterrados. Quando forem utiliza-
dos eletrodos contendo chumbo, zinco ou mate-
riais revestidos de cádmio, deve ser providenciada
ventilação local exaustora dos fumos produzidos.

248 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Medidas de Proteção para Rampas, Passarelas e Escadas

Estes meios de acesso devem ter construção sólida e possuir corrimãos e rodapés. Veja a Figura 6 com
a indicação de algumas medidas de proteção.

1 4 5

40 cm

1m

15°

6
1m

2m

3 A

Degrau
0,25 a 0,38 m 65° a 80°
Ideal: 75°
Espelho
0,15 a 0,18 m

Figura 6 - Exemplos de construção de rampas, passarelas e escadas


Fonte: adaptada de Sampaio (1998).

A figura apresenta exemplos de construção de rampas. No primeiro caso (1), vemos uma rampa que
foi construída com travessas. Observe o detalhe construtivo do distanciamento de 0,4 m entre cada
travessa e de 1 m entre cada travessa inferior para sustentar o peso. A angulação também é importante
para permitir um uso confortável e seguro, no caso, de 15°. Escadas usadas para a passagem de diversos
trabalhadores (2) são dimensionadas com a largura de 2 m e divididas em duas partes (para entrada
e saída de trabalhadores). Os degraus de escadas (3) devem ter um tamanho de 0,25 m a 0,30 m, com
altura de espelho de 0,15 m a 0,18 m.

UNIDADE 8 249
As escadas de mão (4) tam-
bém podem ser usadas nas obras,
A Recomendação Técnica de Procedimentos número 4 (RTP-04) da porém é preciso fixá-las inferior-
Fundacentro tem por finalidade especificar e fornecer disposições mente, seja com uma corda ou
relativas a escadas, rampas e passarelas utilizadas na indústria um pedaço de madeira ligado na
da construção. estrutura (5). A angulação da es-
Saiba mais acessando o link: http://www.fundacentro.gov.br/ cada (6) deve ser de 65° a 80° e o
biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/ montante da escada deve passar
detalhe/2012/9/rtp-04-escadas-rampas-e-passarelas. 1 metro do piso superior. Estas
medidas permitem um uso se-
guro destes dispositivos.

Medidas de Proteção na Movimentação


e Transporte de Materiais e Pessoas

Em uma construção, devido ao seu porte, é necessário realizar o transporte de materiais e pessoas
de forma constante. Os equipamentos utilizados no transporte vertical, como elevadores, devem ser
dimensionados por profissional legalmente habilitado. A montagem, desmontagem e manutenção dos
equipamentos devem ser feitas por trabalhador qualificado.
Um elevador de passageiros deve dispor dos seguintes elementos: interruptor de fins de curso supe-
rior e inferior conjugado com freio automático; sistema de segurança eletromecânico; interruptor de
corrente que permite o movimento somente com as portas fechadas; cabina e metálica com porta. Os
montantes dos elevadores devem estar estaiados e a torre e guincho do elevador devem estar aterrados.
No caso de elevadores de materiais, as faces das torres devem ser revestidas com tela. Os acessos de
entrada às torres de elevador devem possuir barreiras para impedir a entrada de pessoas. Os elevadores
de materiais não devem ser usados para transportar pessoas.
Ao movimentar cargas aéreas, é preciso proibir a circulação de pessoas sob a área. O cabo de aço
situado entre o tambor e a roldana livre deve ficar protegido. Durante o uso de gruas, a mesa deve estar
aterrada e, quando necessário, possuir para-raios. As áreas de carga e descarga devem ser delimitadas
e a grua deve possuir alarme sonoro para a movimentação de cargas. Durante intempéries ou outras
condições desfavoráveis, qualquer trabalho na grua deve ser proibido.

Medidas de Proteção
no Uso de Andaimes

Os andaimes formam uma estrutura temporária para o acesso de trabalhadores em locais altos. Podem
possuir diversas configurações. Um andaime deve ser dimensionado por um profissional legalmente
habilitado. Seu piso deve possuir forração completa, antiderrapante e nivelado. Além disso, devem
possuir guarda-corpos e rodapés em torno de todo seu perímetro. Quando sua torre for maior que
quatro vezes o tamanho de sua menor base, o andaime deve ser estaiado.

250 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Tenha sua dose extra de conhecimento
assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.

Medidas de Proteção em
Locais Confinados

Um espaço confinado é definido como


qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação hu-
mana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída,
cuja ventilação existente é insuficiente para remover contami-
nantes ou onde possa existir a deficiência ou enriquecimento
de oxigênio (BRASIL, 1978b, p. 1).

Os trabalhos realizados nesse tipo de ambiente devem ser permiti-


dos para trabalhadores que fizeram o curso de NR-33 – Segurança
e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados. Antes da entrada
em um espaço confinado, deve ser feita uma inspeção prévia e
elaborada uma ordem de serviço com os procedimentos a serem
adotados. É preciso fazer o monitoramento de possíveis substâncias
que estarão no local e que causarão asfixia, explosão ou intoxicação.
Este monitoramento deve ser realizado por trabalhador qualificado
sob supervisão de responsável técnico. Dependendo do caso, será
preciso providenciar ventilação local exaustora e ventilação local
para insuflação de ar para o ambiente. No caso de trabalhos em
tanques, é preciso fazer sua desgaseificação antes de executar os
trabalhos.

UNIDADE 8 251
Resumo Geral de Medidas de Proteção Coletiva

Como vimos, diversas medidas de proteção coletiva devem ser aplicadas durante a construção de um
edifício. A seguir, apresentamos a ilustração de algumas medidas.
Figura 7 - Proteções coletivas mais usuais
SINALIZAÇÃO ESCORAMENTO DE VALAS

Não Não

ANTEPAROS
Zona Zona
sem com Sim Sim
cargas cargas

Sinal Circulação de
limite pedestres

Guarda-corpo
de segurança

PROTEÇÃO DE FACHADAS PROTEÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

Rede de
1 proteção

2
Guarda-
corpo

PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS

3
Fechamento
de aberturas

5 Tapume Plataforma 4
de obras de proteção

Fonte: adaptada de Sampaio (1998).

252 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


A sinalização em uma obra pode ser feita por meio de placas, tiras refletivas, bandeirolas, sinalização
luminosa, dentre outros itens. Ela serve para advertir sobre os perigos existentes, bem como proibir o
acesso de pessoas não autorizadas em algumas áreas. A escavação de terra e o trabalho em valas exige
que elas sejam escoradas. Próximo às valas deve existir proteção para impedir a queda de objetos.
Anteparos devem ser colocados próximo de aberturas. Veja, na figura, que são delimitados espaços
para circulação de pedestres e a carga armazenada fica distante da vala. Essas medidas impedem o
soterramento dos trabalhadores, bem como o acidente devido à queda de objetos.
Máquinas e equipamentos com partes móveis e cortantes devem estar protegidos para evitar con-
tatos acidentais com estas partes. Em toda obra, devem ser disponibilizados extintores para o combate
a eventuais princípios de incêndio durante as atividades.
As fachadas de uma obra vertical devem possuir proteção lateral, conforme indicado pela figura.
O item 1 representa uma rede de proteção para a contenção de objetos. O item 2 é um guarda-corpo
construído nas laterais para impedir a queda de trabalhadores. O item 3 representa o fechamento de
aberturas, como espaços para janelas. O item 4 é uma plataforma de proteção que é construída con-
forme a altura do edifício. E o item 5 representa o tapume da obra para evitar a entrada de pessoas
não autorizadas.
A implantação das medidas de proteção coletivas em uma construção é dinâmica, pois as ativida-
des possuem baixa repetitividade e padronização. As medidas coletivas devem ser pensadas antes da
execução da obra e implementadas conforme as necessidades de cada fase. A seguir, vamos conhecer
os equipamentos de proteção individual que são utilizados por cada trabalhador da construção civil,
conforme os riscos aos quais cada trabalhador fica exposto.

UNIDADE 8 253
254 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil
Medidas de
Proteção Individual

Você já deve ter visto, na construção de um edi-


fício, trabalhadores utilizando capacetes, luvas e
botas, certo? No entanto, estes são apenas alguns
dos equipamentos de proteção individual que são
utilizados nas atividades da construção civil.
O empregador deve fornecer todos os equi-
pamentos necessários conforme os riscos aos
quais os trabalhadores ficam expostos. Além de
fornecer, o empregador deve tornar obrigatório
seu uso, substituindo-o sempre que necessário.
O empregador também deve higienizar os EPIs
e realizar a sua manutenção, quando necessária.
Por outro lado, o empregado deve utilizar os EPIs,
guardá-los e conservá-los.
Os principais membros corporais que ficam
expostos aos riscos na construção civil são: cabeça,
olhos, face, sistema respiratório, sistema auditivo,
tronco, braços, antebraços, mãos, pernas e pés.
Vejamos a seguir uma lista de EPIs para cada parte
do corpo.

UNIDADE 8 255
EPIs para Proteção da Cabeça, Olhos e Face

O Quadro 1 apresenta os EPIs recomendados para proteção da cabeça, dos olhos e face.
Quadro 1 - EPIs para proteção da cabeça, olhos e face na indústria da construção civil
Descrição Para qual risco é indicado Exemplo
Capacete de segurança ½ aba –
é um equipamento com casco em
plástico rígido e resistente a impac- Queda de materiais sobre a
tos de materiais. Possui no seu inte- cabeça
rior uma carneira e coroa ajustável
conforme as dimensões do usuário.
Óculos de segurança contra im-
pacto – são óculos feitos em ma- Projeção de partículas vo-
terial plástico com proteção lateral lantes sólidas, como aque-
para proteger contra o impacto de las provenientes de cortes
partículas volantes e perfurantes. de peças e picotamento de
Podem ser ou não perfurados nas concreto.
laterais para entrada de ar.
Óculos de segurança panorâ-
mico (ampla visão) – são óculos Poeiras em suspensão, pro-
feitos para se acomodar na face dutos químicos, jateamento
do usuário, em cima de seus olhos. de água, partículas de lixa-
Possuem proteção lateral e são fei- mento etc.
tos em material plástico incolor.
Óculos para serviços de sol-
Radiação ultravioleta pro-
dagem – são confeccionados em
veniente de serviços de sol-
material plástico com encaixe para
dagem e/ou corte a quente
lentes. Possuem material que se
com maçarico.
molda ao rosto do usuário.
Máscara para soldador- é uma
máscara que protege o rosto do
usuário contra fagulhas incandes-
centes e também seus olhos de Radiações ultravioletas e
radiação ultravioleta. Permite que fagulhas incandescentes
o usuário utilize as duas mãos para produzidos nos serviços de
o trabalho. Possui um encaixe na solda.
frente para colocação de lentes fil-
trantes que podem ser de autoes-
curecimento.

Escudo para soldador – seme-


Radiações ultravioletas e
lhante à máscara para soldador,
fagulhas incandescentes
porém possui um cabo preso ao es-
produzidos nos serviços de
cudo para ser segurado pelo usuá-
solda.
rio. Possui um preço mais acessível.

Protetor facial – é uma peça cons-


tituída de carneira, para ser coloca-
da na cabeça, e visor panorâmico Proteção contra partículas
em acrílico ou acetato de cristal. volantes que podem atingir
Este protetor pode ser usado sem os olhos e rosto.
o capacete de segurança ou pode
ser acoplado a ele.
Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

256 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


EPIs para Proteção do Sistema Respiratório

Os EPIs para proteção do sistema respiratório na construção civil são máscaras que possuem peças fil-
trantes conforme o agente químico presente no local. O Quadro 2 mostra exemplos desses equipamentos.
Quadro 2 - EPIs para proteção do sistema respiratório na indústria da construção civil
Descrição Para qual risco é indicado Exemplo

Máscara panorâmica – é uma más-


cara composta por peça em borra-
cha que permite um bom ajuste no
rosto do usuário. Possui tiras para
colocação e aperto no rosto. Além Poeiras, gases e vapores
de fornecer proteção respiratória, presentes em atividades
protege os olhos contra respingos especiais. Deve ser usada
de produtos químicos. Possui mem- quando a concentração
brana acústica para comunicação destes for superior ao nível
oral. Permite o encaixe de filtros de ação.
na sua lateral que são escolhidos
conforme o produto químico pre-
sente no ambiente: poeiras, gases,
ou vapores.

Poeiras, gases e vapores.


Máscara semifacial – semelhante
Deve ser usada quando a
à máscara panorâmica, porém não
concentração destes for su-
possui viseira em policarbonato.
perior ao nível de ação.

Filtro para proteção contra poei-


ras, gases e vapores – as máscaras
panorâmica e semifacial devem ser
usadas em conjunto com filtros que Gases, vapores, poeiras e
são acoplados em entradas de ar névoas de líquidos e gases
dispostas nas máscaras. Cada filtro ácidos ou orgânicos. Deve
oferece uma proteção específica. ser usado quando a concen-
Existem filtros recomendados para tração destes for superior
poeiras, ácidos, vapores orgânicos ao nível de ação.
etc. A seleção do filtro deve ser feita
com base na concentração do agen-
te químico presente no ar.

Peça semifacial filtrante (PFF) –


esta máscara é descartável e deve
ser usada em uma jornada de tra-
balho. É composta por camada de Poeiras, névoas e fumos nos
fibras que filtram alguns agentes trabalhos envolvendo sílica,
químicos. A PFF1 é indicada para solda e demais particulados.
proteção das vias respiratórias con- Deve ser usado quando a
tra poeiras e névoas; a PFF2 é indi- concentração destes for su-
cada para proteção contra poeiras, perior ao nível de ação.
névoas e fumos; e a PFF3 é indicada
para proteção contra poeiras, né-
voas, fumos e radionuclídeos.

Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

UNIDADE 8 257
EPIs para Proteção do Sistema Auditivo

Os EPIs mais comuns para proteção do sistema auditivo na construção civil são os protetores auricular
tipo concha ou de inserção, apresentados no Quadro 3.
Quadro 3 - EPIs para proteção do sistema auditivo na indústria da construção civil
Descrição Para qual risco é indicado Exemplo

Protetor auricular tipo concha – é


constituído por peça com almofadas
acolchoadas de espuma. Pode ser
usado em conjunto com o protetor Níveis de ruído acima do ní-
do tipo de inserção, para aumentar vel de ação.
o grau de proteção. Deve ser sele-
cionado conforme o grau de prote-
ção requerido.

Protetor auricular de inserção –


podem ser feitos de material pré-
-moldado (lavável) ou de espuma de
Níveis de ruído acima do ní-
inserção que se molda ao formato
vel de ação.
do ouvido do usuário (não lavável).
Deve ser selecionado conforme o
grau de proteção requerido.

Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

258 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


EPIs para Proteção do Tronco e Membros Superiores

Os EPIs mais comuns para proteção do tronco e membros superiores (mãos e braços) na construção
civil são apresentados no Quadro 4.
Quadro 4 - EPIs para proteção do tronco e membros superiores na indústria da construção civil
Descrição Para qual risco é indicado Exemplo

Avental de raspa – é um equipa- Corte de peças (devido re-


mento feito em raspa de couro cur- barbas) e fagulhas produzi-
tido. É vestido por meio de amarras das nas atividades de solda-
na cintura e alça no pescoço. gem e/ou corte.

Avental de PVC – avental con-


feccionado em tecido plastificado Respingos de produtos quí-
impermeável. É preso ao corpo do micos como solventes, áci-
usuário por meio de tiras no pesco- dos, desengraxantes e água.
ço e na altura da cintura.

Luva de raspa com punho de


Riscos de corte nas ativida-
7,15 cm ou 20 cm – é uma luva
des de soldagem, corte a
confeccionada em raspa de couro
quente, carregamento de
curtido com costura reforçada no
material etc.
polegar.

UNIDADE 8 259
Luva de PVC com forro e punho
de 35 cm ou 60 cm – luva confec-
cionada em PVC com forro interno Proteção contra alguns pro-
de malha fina, oferecendo resistên- dutos químicos, como áci-
cia mecânica e proteção química. dos, desengraxantes, óleos,
Pode ser usada em operações de graxas etc.
imersão em líquidos com curta du-
ração.

Luva de PVC sem forro e punho Produtos químicos, como na


de 7 cm – é uma luva de PVC me- fase de preparação de tintas
nor, utilizada para operações que e manipulação de cimento,
exigem maior tato e maleabilidade, cal, detergentes, ácidos ou
em serviços leves. álcalis.

Luva para altas temperaturas


– estas luvas podem ser confeccio-
Alta temperatura no manu-
nadas em diversos materiais, como
seio de peças e tratamento
o amianto, couro tratado e aramida.
térmico.
Existem diferentes modelos com di-
ferentes sensibilidades.

Luva de borracha para eletricis-


ta – são luvas confeccionadas em
borracha para isolar a passagem de
corrente elétrica pelo corpo. Pos-
Choques elétricos
suem diferentes modelos confor-
me a tensão de trabalho. Devem ser
selecionadas de acordo com essa
tensão.

Luvas para realização de traba-


lhos que exigem maior malea-
bilidade – na construção civil, o
contato com as peças da obra pode
Riscos de corte e abrasão.
provocar cortes e outras lesões.
Estes podem ser evitados pelo uso
de luvas de algodão, polipropileno,
borracha/látex, dentre outros.

Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

260 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


EPIs para Proteção dos
Membros Inferiores

Os EPIs mais comuns para proteção dos membros inferiores (pernas


e pés) na construção civil são apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 – EPIs para proteção de membros inferiores na indústria da construção civil

Descrição Para qual risco é indicado Exemplo

Perneira de raspa – é um equi-


pamento feito em raspa de couro
curtido. Possui uma parte que co- Corte de peças (devido rebar-
bre o calçado de segurança, evi- bas), fagulhas produzidas nas
tando a penetração de material atividades de soldagem e/ou
fundente pelas frestas. É usada corte.
em conjunto com o avental e luva
de raspa.

Botas impermeáveis de PVC


sem palmilha de aço – calçados
confeccionados em PVC com cano
médio e solado antiderrapante. Umidade e ácidos.
Existem botas de cano curto e lon-
go, conforme as características da
atividade.

Calçado de segurança sem bi-


queira – este calçado é feito em
solado antiderrapante, de poliure- Riscos mecânicos em opera-
tano, borracha ou látex. Pode ser ções mais leves.
confeccionado em vaqueta lisa,
microfibra, couro etc.

Calçado de segurança com bi-


queira – este calçado possui uma
proteção para os dedos por pos-
suir biqueira de aço. Possui solado
Proteção contra queda de ob-
antiderrapante e a biqueira é con-
jetos pesados sobre os pés.
feccionada em aço-carbono. Exis-
tem modelos com ou sem palmilha
de aço, para proteção adicional
contra materiais perfurantes.
Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

UNIDADE 8 261
EPIs para Proteção do Corpo Inteiro

Em muitas situações, os trabalhos da construção civil exigem que os trabalhadores acessem andares
superiores do prédio com risco de queda. Além disso, nos pátios de circulação de veículos, há o risco
de atropelamento. Os EPIs recomendados para estes riscos são apresentados no Quadro 6.
Quadro 6 – EPIs para proteção do corpo inteiro usados na construção civil
Descrição Para qual risco é indicado Exemplo

Trava-quedas – este dispositivo é


preso ao cinturão de segurança do
trabalhador para realizar trabalhos
em altura. Em uma extremidade do
trava-quedas, existe um mosque- Quedas devido à diferença de
tão para fazer o ligamento do dis- altura.
positivo com o cinturão e na outra
extremidade existe uma peça para
ligar em uma corda ou cabo de aço
do sistema de linha de vida.

Cinturão de segurança tipo pa-


raquedista – cinturão confeccio-
nado em poliéster com conexões
para suspender o usuário em caso Quedas devido à diferença de
de uma queda. É utilizado em tra- altura.
balhos em altura. Deve ser usado
em conjunto com o trava-quedas
ou talabarte.

Talabarte em Y – este equi-


pamento é constituído por dois
mosquetões ligados em um tecido
elástico e com absorvedor de ener-
gia. O talabarte em Y é usado em Quedas devido à diferença de
conjunto com o cinturão de segu- altura
rança e permite que o usuário faça
sua ancoragem em linhas de vida e
pontos de ancoragem disponíveis
no local de trabalho.

Colete refletivo – é um colete


com tecido plastificado na cor la-
ranja ou amarela e listras bancas Atropelamento em áreas de
ou cinzas refletivas. Destaca a pre- circulação de veículos.
sença do usuário no ambiente de
trabalho.

262 Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Capa impermeável de chuva
– é uma capa feita em PVC fino e
costurada ou soldada eletronica- Contato da água em dias chu-
mente. Possui botões de pressão vosos.
ou botões convencionais para fe-
chamento.

Fonte: adaptado de Sampaio (1998).

Como visto, existem diversos EPIs recomendados para as atividades da construção civil. Para proteger
os trabalhadores adequadamente, primeiro, é preciso priorizar a implantação das medidas de controle
coletivas e, em seguida, selecionar os equipamentos de proteção individual mais adequados para cada
tarefa. No mercado, existem diferentes fabricantes de um mesmo tipo de EPI que proporcionam di-
ferentes níveis de qualidade, conforto e, consequentemente, de preço. O empregador deve selecionar
os EPIs que efetivamente oferecem proteção contra os riscos encontrados e também que ofereçam
conforto ao usuário. Por exemplo, um calçado que traga dores aos pés dos trabalhadores, mesmo
oferecendo proteção adequada, não é recomendado, pois não oferece conforto. É importante fazer o
teste de diferentes modelos para que os EPIs sejam selecionados adequadamente com a aprovação de
seus usuários.

UNIDADE 8 263
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Em uma obra de construção civil, existem trabalhadores alojados. No total, la-


boram 100 trabalhadores no local. Considerando as áreas de vivência, analise
as assertivas a seguir.
I) Devem ser disponibilizados, no mínimo, 5 chuveiros.
II) A área de lazer pode oferecer um conforto adicional aos trabalhadores, porém
não é obrigatória.
III) A empresa responsável pela construção não é obrigada a construir uma la-
vanderia, desde que ofereça o serviço de lavagem de roupa sem ônus para
o trabalhador.

É correto o que se afirma em:


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

264
2. “O Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu nesta quarta-feira (22) uma
denúncia de que havia irregularidades na obra do bairro Serra, local onde houve
um desmoronamento nesta terça-feira (21). No incidente, um carpinteiro morreu
e um encarregado foi socorrido após ficar seis horas soterrado. Um procurador
do órgão acatou a denúncia e irá apurar o caso”.

Fonte: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/mpt-vai-apurar-soterramento-que-
-matou-trabalhador-em-obra-no-bairro-serra-1.768281. Acesso em: 12. fev. 2020.

Considerando o risco presente na construção civil referente ao acidente descrito


no trecho da reportagem, analise as assertivas.
I) O acidente se refere a atividades que envolvem a movimentação de terra.
Uma medida de proteção coletiva é fazer o escoramento de valas.
II) Próximo de área de escavações devem ser definidas zonas sem cargas para
evitar a queda delas nas valas.
III) Guarda-corpos de segurança devem ser instalados próximos de valas para
evitar a queda de trabalhadores e de materiais.

É correto o que se afirma em:


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.

3. Em certa atividade da construção civil, um trabalhador fica exposto a vapores


orgânicos, acima do limite de tolerância, e precisa preparar tintas. Alguns dos
EPIs recomendados para estes riscos são:
a) Máscara para soldador e luva de raspa.
b) Máscara semifacial e luva de raspa.
c) Máscara peça semifacial filtrante (PFF) e luva de PVC.
d) Máscara semifacial e luva de PVC.
e) Máscara peça semifacial filtrante (PFF) e bota de PVC.

265
LIVRO

Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção Civil


Autor: Hugo Sefrian Peinado (Organizador)
Editora: SCIENZA
Sinopse: O livro Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção Civil
traz um panorama geral da segurança e da medicina do trabalho na construção
de edificações, apresentando ferramentas de gestão de segurança e saúde, cál-
culo de infrações e penalidades e as não conformidades recorrentes observadas
em obras de construção civil.

WEB

EPI na indústria da Construção Civil


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Vídeo sobre a NR-18


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Vídeo sobre áreas de vivência


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

WEB

Vídeo sobre quedas de altura


Para acessar, use seu leitor de QR Code.

266
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 18, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-18 – Con-
dições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. 1978a.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 33, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-33 – Se-
gurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados. 1978b.

CBIC (Ed.). Guia orientativo áreas de vivência: Guia para a implantação de áreas de vivência nos canteiros
de obras. Brasília: Cbic, 2015.

SAMPAIO, J. C. A. PCMAT: Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção.


São Paulo: Pini, 1998.

267
1. C. Conforme estudado, para 100 trabalhadores, é preciso existir 10 chuveiros (um chuveiro atende uma
quantidade de até 10 trabalhadores). A área de lazer é obrigatória quando existirem trabalhadores alojados.
O serviço de lavagem de roupa pode ser terceirizado, sem ônus para o trabalhador.

2. E. Conforme visto na Figura 7, as valas devem ser escoradas e protegidas contra a queda de materiais e
pessoas.

3. D. A máscara para vapores orgânicos deve possuir cartucho químico que é usado com a máscara semifacial.
A preparação de tintas envolve seu manuseio que deve ser protegido com luva de PVC.

268
269
270
Me. Maílson José da Silva

Prevenção e Combate
a Incêndios

PLANO DE ESTUDOS

Brigada de Incêndio

Medidas de Proteção Segurança do Trabalho


Contra Incêndios no Manuseio de Produtos
Inflamáveis

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Descrever as medidas de prevenção contra incêndios. • Entender as medidas específicas para evitar ou mitigar
• Explicar o dimensionamento da brigada de incêndio. incêndios envolvendo líquidos inflamáveis.
Medidas de Proteção
Contra Incêndios

Em muitos locais públicos e comerciais, é comum


vermos extintores de incêndio. Mesmo que você
não saiba usá-los, provavelmente consegue identi-
ficar um. Esta medida de combate a incêndios faz
parte de um conjunto de medidas de segurança
contra incêndios que devem ser implantadas em
fábricas, locais públicos, condomínios residen-
ciais, escritórios, parque de armazenamento de
produtos inflamáveis etc.
Nesta unidade, vamos apresentar as medidas
de segurança contra incêndio e pânico. É impor-
tante que você conheça as medidas para entender
projetos de combate a incêndio. Em cada estado
do Brasil, o Corpo de Bombeiros Militar detalha
cada medida e seus requisitos técnicos. Neste livro,
utilizaremos como referência a norma técnica n°
2 do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do
Mato Grosso do Sul (CBMMS, 2013a). A seguir,
vamos entender como as medidas de segurança
contra incêndio se dividem.
Divisão Geral das Medidas de
Segurança Contra Incêndios

A implantação das medidas de segurança contra incêndios possui


três objetivos: 1) proporcionar a saída segura dos ocupantes de
uma edificação em incêndio; 2) permitir o combate ao princípio
de incêndio, até que a equipe do Corpo de Bombeiros chegue ao
local; e 3) reduzir os danos decorrentes de um incêndio.
Segundo a Norma Regulamentadora NR-23 (BRASIL, 1978a),
cada Estado brasileiro possui um conjunto de normas ou instruções
técnicas que regularizam e orientam sobre as medidas de combate
a incêndio. As orientações devem ser seguidas nos projetos das
edificações. Mesmo com uma regulamentação única para cada
Estado, podemos fazer uma divisão geral das medidas de combate
a incêndios em dois grupos: medidas passivas e medidas ativas.
Vamos conhecer as medidas desses dois grupos.

O fogo é composto por três elementos básicos: combustível, com-


burente e calor. Quando estes elementos agem em cadeia, eles
dão origem ao fogo. A combinação desses elementos é conhecida
na literatura como triângulo ou tetraedro do fogo (o tetraedro
acrescenta mais um elemento: a reação química em cadeia). Ao
se eliminar um desses elementos, elimina-se o fogo.
Fonte: adaptado de Paraná (2013, on-line).

Medidas de Segurança Passivas

Imagine a seguinte situação: ao chegar em casa do trabalho você vi-


sualiza a casa de seu vizinho em chamas. No momento do incêndio,
não existe nenhum ocupante na casa. Entre a casa de seu vizinho e
a sua existem duas casas. Mesmo nessa situação desesperadora de
incêndio, talvez você se tranquilize um pouco quanto à possibilidade
de o fogo atingir também a sua residência. No entanto, o vizinho
bem ao lado da casa em chamas já estaria bem preocupado e nes-

UNIDADE 9 273
ta altura já teria evacuado sua
moradia com alguns pertences.
Nesta situação, será que pode-
mos identificar alguma medida
de segurança? Bem, a distância
da residência em chamas até as
demais residências determina,
em parte, a possibilidade delas
se incendiarem, ou seja, resi-
Propagação entre cobertura e fachada
dências mais próximas do fogo
possuem uma maior chance de
também pegar fogo, devido às
chamas e ao calor irradiante.
Assim, podemos identificar que
o distanciamento ou a utili-
zação de barreiras constituem
uma medida passiva de segu-
rança contra incêndios.
Tecnicamente, uma barrei-
ra deve ser capaz de resistir ao Propagação entre fachadas
fogo por certo tempo estipulado
em projeto. Uma barreira pode Parede corta-fogo
ser constituída por paredes ou
portas corta-fogo. Veja a Figu-
ra 1 que mostra a utilização do
distanciamento e de barreiras
como medida de segurança
contra incêndios.

Figura 1 - Exemplos de distanciamento e barreiras como medidas de segurança


contra incêndios
Fonte: CBMMS (2013c, p. 3-4).

274 Prevenção e Combate a Incêndios


Veja que uma edificação em chamas poderá propagar o fogo e o
calor para outra edificação adjacente conforme a distância entre a
sua cobertura e a fachada da outra edificação ou conforme a dis-
tância entre as fachadas. Paredes corta-fogo podem ser construídas
entre duas edificações para conter um incêndio.
Durante o projeto de uma edificação, as medidas de distancia-
mento e barreiras podem ser previstas. É feita uma análise do en-
torno para determinar um distanciamento seguro e são previstos
materiais que servem de barreiras, como paredes, portas, dentre
outros elementos. Para construções já existentes, podemos analisar o
risco de propagação de incêndios verificando seu distanciamento em
relação às demais edificações e a existência de barreiras contra o fogo.
Outra medida de segurança passiva é a compartimentação. Ela
consiste em isolar o local com materiais que dificultam a propagação
do fogo para outros ambientes. Esta medida faz com que um prin-
cípio de incêndio não se torne um grande incêndio rapidamente.
A compartimentação é feita utilizando elementos como paredes
corta-fogo, porta corta-fogo, lajes corta-fogo, abas horizontais e
verticais em edifícios e o enclausuramento de escadas. Em redes
de ventilação de ar condicionado, podem ser instalados dampers
corta-fogo. A Figura 2 ilustra uma porta corta-fogo.

Figura 2 - Exemplo de porta corta-fogo

UNIDADE 9 275
como dispositivos de exaustão
de fumaça nos corredores das
As portas corta-fogo possuem características diferentes de portas saídas.
comuns. Por exemplo, elas abrem no sentido da rota de fuga e são Agora, imagine a situação
capazes de resistir ao fogo por tempo superior a portas comuns. em que o incêndio ocorre no
Veja o vídeo a seguir para saber mais https://www.youtube.com/ período noturno ou em local
watch?v=3eGcRGsIEog. sem iluminação. Neste caso,
os ocupantes terão dificulda-
des para seguir a rota de fuga
Outra medida para dificultar a propagação de um incêndio é uti- até as saídas do local. Assim,
lizar revestimentos de materiais com características especiais. outra medida de segurança é
Quando o fogo está sob ou perto de uma superfície, ele a esquenta. a instalação de iluminação
O material da superfície começa a liberar vapores que, em conjunto de emergência. A iluminação
com o calor, irão se inflamar. Quanto mais material, e dependendo serve para fazer o balizamento
do seu tipo, haverá uma maior ou menor chance de propagação de – indicação da rota a seguir – e
incêndio. Os materiais de revestimento podem ser selecionados o aclaramento do local.
para proporcionar um tempo maior de combustão antes de uma Existem três tipos de siste-
inflamação generalizada. Os materiais de revestimento podem ser mas de iluminação. A ilumina-
escolhidos conforme seu índice de propagação superficial de chama. ção utilizando blocos autôno-
mos é constituída por aparelho
com lâmpadas incandescentes,
fluorescentes ou similares. Os
blocos possuem carregador e
Os materiais passam por testes para se conhecer o seu compor- sensor de falha de corrente al-
tamento ao fogo. Os testes são realizados de acordo com normas ternada, para serem acionados
técnicas nacionais e internacionais. em caso de falha na alimenta-
Veja um exemplo de teste a seguir: https://www.youtube.com/ ção da rede elétrica. A ilumina-
watch?v=3l41m9fex3k. ção utilizando sistema centrali-
zado com baterias é composta
por uma central de iluminação
de emergência e luminárias
Outra medida de segurança em uma edificação são as saídas de que se ligam à central e que são
emergência. A partir de um princípio de incêndio, alguns ocupan- acionadas automaticamente em
tes da edificação poderão fazer seu combate. Outros necessitarão uma interrupção da alimenta-
abandonar o prédio para evitar possíveis danos à sua saúde causados ção da rede pública de energia.
pelo calor e fumaça do incêndio. As saídas de emergência, correta- E a iluminação com sistema
mente dimensionadas, permitirão que os ocupantes abandonem o centralizado com grupo moto-
prédio a tempo e também servem como via de acesso das equipes gerador fornece energia para
de combate a incêndios. As saídas devem ser estabelecidas em quan- os circuitos de iluminação de
tidade, distanciamento e dimensões adequadas. É preciso verificar emergência na situação de falta
se serão instaladas escadas enclausuradas na rota de saída, bem de alimentação da rede pública.

276 Prevenção e Combate a Incêndios


Para edificações verticais, uma medida de segurança aplicável é a instalação de elevadores de
segurança. Estes equipamentos não param de funcionar durante um incêndio. Eles ficam em área
protegida e são operados pela brigada de Incêndio da edificação ou pelo Corpo de Bombeiros.
A facilidade da chegada do Corpo de Bombeiros no local em incêndio contribuíra para seu combate.
Construir ruas e passagens adequadas para o acesso da viatura do Corpo de Bombeiros se constitui
em outra medida de segurança aplicável em uma edificação.
A Figura 3 ilustra exemplos de requisitos para acesso de viaturas.

6,00 m
Via de acesso

Via de acesso
Via de acesso
EDIFÍCIO
6,00 m

6,00 m
VIA DE ACESSO
Suportar viaturas
de 25.000 kg
em dois eixos

PASSEIO

6,00 m
Saída Entrada

Figura 3 - Exemplos de requisitos para o acesso das viaturas do Corpo de Bombeiros


Fonte: CBMMS (2017, p. 4-5).

Podemos observar que existe uma dimensão (6,0 m) mínima e resistência (25.000 kg) da via de aces-
so. Ainda, a norma exige que haja espaço suficiente para que a viatura do corpo de bombeiros faça
manobras.
A medida de segurança constituída por detectores térmicos, de fumaça, de gás e de chamas, em
conjunto com alarmes sonoros e visuais, permite comunicar aos ocupantes de uma edificação que um
incêndio está ocorrendo. Saber da existência do incêndio é fundamental para que a brigada e o Corpo de
Bombeiros sejam acionados e para que os ocupantes possam evacuar o prédio rapidamente.

UNIDADE 9 277
A sinalização em uma edificação também se constitui em medida
de segurança. Ela informa sobre as rotas de fuga no local e também
previne a ocorrência de incêndios por meio de alerta dos riscos pre-
sentes no local: material inflamável, quadro elétrico, central de GLP
etc. A sinalização é usada também para indicar os equipamentos de
combatem a incêndio, como extintores e hidrantes.
Estas são as medidas de segurança passivas. Vejamos as medidas
usadas de forma ativa para combater um incêndio.

Medidas de Segurança Ativas

Os extintores são provavelmente uma das primeiras medidas ati-


vas de combate a incêndio que imaginamos. Além dos modelos
convencionais portáteis manuais, podem existir extintores sobre
rodas, quando existir um alto risco ou quando for necessária uma
alta vazão e capacidade extintora. Os extintores são constituídos
por acessórios e cilindros metálicos. Dentro dos cilindros, existe
um elemento denominado de agente extintor. Este agente é liberado
para fora do cilindro durante o combate ao incêndio e é direcionado
ao fogo. Os agentes extintores podem ser: água, pó químico seco,
espuma mecânica, gás carbônico e compostos halogenados. Cada
agente é recomendado para certo tipo de classe de incêndio. As
classes são ilustradas pela Figura 4.

APARAS DE PAPEL LÍQUIDOS EQUIPAMENTOS METAIS ÓLEO E


A MADEIRAS B INFLAMÁVEIS C ELÉTRICOS D COMBUSTÍVEIS K GORDURA

Figura 4 - Classes de incêndio


Fonte: Kidde ([2020], on-line)1.

Para a classe A, aparas de papel, madeiras, dentre outros materiais combustíveis, o agente extintor re-
comendado é a água. Para as classes B, líquidos inflamáveis, e C, equipamentos energizados, o agente
extintor recomendado é o gás carbônico ou o pó químico seco (composto por bicarbonato de sódio).
Para a classe D, metais combustíveis, o agente extintor recomendado são os compostos halogenados.
E para a classe K, óleo e gordura em cozinhas, o agente recomendado é o acetato de potássio. Existe
ainda um extintor que possui um agente que combate três classes de incêndio (A, B e C) composto
por amônia. Além de serem selecionados adequadamente conforme a classe de incêndio, os extintores

278 Prevenção e Combate a Incêndios


precisam estar em quantidade satisfatória e em fornecida por meio de um sistema de hidrantes.
localização adequada. O Quadro 1 mostra requi- Esta é uma medida de segurança composta por
sitos mínimos de caminhamento até o extintor, diversos elementos que fornecem água em vazão
conforme o grau de risco da edificação. e pressão suficientes para o combate à determi-
nada situação de incêndio. O sistema é formado
Quadro 1 - Distância máxima de caminhamento até um
extintor por um reservatório de água, sistema de pressuri-
zação, conjunto de peças hidráulicas e uma rede
Risco baixo 25 m
de tubulação.
Risco médio 20 m Para que o sistema funcione adequadamente,
Risco alto 15 m
todos os seus elementos não podem falhar. Os hi-
drantes são instalados em todos os pavimentos de
Fonte: CBMMS (2013d, p. 2). uma edificação. Eles ficam em uma caixa metálica,
protegidos contra o fogo e próximos a escadas de
Considerando os dados do quadro, para uma edi- segurança. A rede dos hidratantes é usada tanto
ficação de baixo risco, a distância máxima que para fornecer água no combate direto ao incêndio,
uma pessoa pode percorrer até um extintor é de por meio de mangueiras instaladas nos hidrantes,
25 m. No entanto, se a edificação possui um risco como também é usada para fornecer água para a
maior, essa distância se reduz. Os dados do quadro viatura do Corpo de Bombeiros.
são exemplificativos e cada Estado possui sua ins- Um sistema específico de hidrantes são os
trução ou norma técnica que deve ser consultada. mangotinhos. Eles são de utilização mais sim-
A água é utilizada no combate a incêndio. Ela ples, pois a mangueira já fica acoplada à válvula
deve estar disponível em quantidade suficiente do hidrante. A Figura 5 mostra os sistemas de
para resfriar uma superfície em chamas. Ela é mangotinhos e de hidrantes.

Válvula de
abertura rápida

Mangueira
de incêndio
Abrigo semirrígida

Tomada de água
para mangueira
de incêndio
40 mm

Esguicho regulável

Figura 5 - Sistemas de hidrante e de mangotinhos


Fonte: CBMMS (2013e, p. 4 e 11).

UNIDADE 9 279
Do lado esquerdo da figura, temos um hidrante. seu combate. Este sistema é mais eficaz para in-
O sistema de hidrante possui uma mangueira que cêndio em materiais que podem receber a água
tem um esguicho que pode ser do tipo agulhe- como agente extintor.
ta ou regulável. A mangueira fica dentro de um No caso de grandes áreas com líquidos infla-
abrigo. Dentro deste, pode ser guardada, também, máveis ou combustíveis, o sistema recomenda-
uma chave para girar a conexão da mangueira no do é o de espuma mecânica. Essa medida de
hidrante, quando necessário. A operação do hi- segurança é eficaz no abafamento das chamas.
drante deve ser feita por pessoas treinadas na sua A espuma faz a separação das camadas de com-
utilização: acoplar a mangueira e desenrolá-la. O bustível e comburente, neutralizando o fogo. Este
mangotinho, porém, ilustrado à direita na figura, sistema não é recomendado para incêndio em
é um sistema mais simples. Ele já fica acoplado equipamentos energizados. A espuma utilizada
à saída da água e seu acionamento se torna mais pode ter diferentes composições (base proteica
rápido em uma situação de emergência. ou base sintética). Os sistemas podem ser: fixos,
utilizados em tanques para armazenamento de
combustíveis; semifixos, com componentes fi-
xos complementados por equipamentos móveis;
e móveis, utilizando veículos e carretas para trans-
A escolha entre um sistema de hidrante ou um portar a espuma.
mangotinho envolve aspectos econômicos e Outro sistema de abafamento, semelhante ao
operacionais. O mangotinho é operacionalmen- de espuma mecânica, é o sistema fixo de gás car-
te mais fácil de ser utilizado, porém pode ter bônico. Este sistema apresenta uma boa eficiência
um custo maior. Ele é recomendado para ser em recintos fechados, embora possa ser aplicado
utilizado por pessoas mais leigas e em edifica- em recintos abertos, para áreas específicas. O gás
ções, tais como grupos de residências e hotéis. carbônico liberado pelo sistema elimina o com-
Veja o vídeo que compara a utilização dos dois burente do local: o oxigênio. Sem oxigênio, o fogo
sistemas: https://www.youtube.com/watch?v=5z- não irá existir. Este sistema pode ser de três tipos:
BmHne-W7E&t=4s.
• Inundação total: o gás carbônico é liberado
pelo sistema em todo o volume do recinto
Para áreas grandes e de difícil circulação, é re- a ser protegido.
comendado o uso de sistema de chuveiros • Aplicação local: o gás carbônico é liberado
(sprinklers). Este sistema é utilizado também sobre elementos específicos, não confina-
quando os ambientes não são compartimentados. dos.
Os chuveiros são acionados automaticamente por • Modular: os dispositivos de liberação de
meio de um elemento termossensível, durante gás carbônico são instalados dentro de
uma situação de incêndio em que a temperatura compartimentos dos equipamentos que
do local se eleva. Podem ser acionados também deverão ser protegidos.
manualmente. O sistema é acionado rapidamente,
evitando que o incêndio se propague, permitindo A Figura 6 mostra um exemplo do sistema de gás
a chegada do Corpo de Bombeiros para realizar carbônico instalado em uma sala.

280 Prevenção e Combate a Incêndios


Difusores

Detectores
automáticos
de incêndio

Figura 6 - Exemplo de sistema de gás carbônico instalado em uma sala


Fonte: CBMMS (2013a, p. 24).

Veja que o sistema possui detectores automáticos de incêndio que enviam um sinal para o sistema
liberar o gás nos difusores.
Outra medida de proteção ativa em uma edificação é aquela formada pelas pessoas que irão fazer
o primeiro combate ao princípio de incêndio: a brigada de incêndio. Ela é formada por pessoas trei-
nadas, ocupantes da edificação, que utilizam as medidas de proteção, como extintores e hidrantes, para
combater princípios de incêndio. O tópico a seguir irá explicar como é formada a brigada de incêndio.
Como vimos, para combater o incêndio em uma edificação são implantadas medidas ativas e passi-
vas. Quanto mais medidas existirem em uma edificação, maior será o nível de segurança proporcionado.
As medidas devem ser implementadas conforme exigido em norma técnica ou instrução técnica de
cada Corpo de Bombeiros Estadual.

UNIDADE 9 281
282 Prevenção e Combate a Incêndios
Brigada de
Incêndio

Conforme vimos no tópico anterior, algumas me-


didas de segurança contra incêndios só funciona-
rão se forem acionadas. É o caso dos extintores,
hidrantes e mangotinhos. Desta forma, é preciso
que exista, dentro de uma edificação, pessoas
treinadas sobre o uso correto destas medidas. Os
corpos de bombeiros estaduais elabora, para isso,
uma norma técnica referente à formação e cons-
tituição de brigadas de incêndio nas edificações.

UNIDADE 9 283
A brigada de incêndio é um grupo organizado de pessoas, volun-
tárias ou não, treinadas e capacitadas em prevenção e combate
a incêndios e primeiros socorros, para atuação em edificações ou
áreas de risco.
Fonte: CBMMS (2013b, p. 5).

As brigadas de incêndio atuam em edificações e eventos temporá-


rios, bem como em áreas de risco (instalações elétricas, radioativas,
de gás ou com algum material inflamável e locais com grande fluxo
de pessoas). Em suma, a função da brigada de incêndio é proporcio-
nar o combate ao incêndio e o atendimento de vítimas até a chegada
da viatura do Corpo de Bombeiros no local. A brigada atua também
no combate junto ao Corpo de Bombeiros, quando solicitada. Ela
tem a função de proteger as pessoas, o patrimônio e o meio ambiente
dos efeitos do incêndio. Neste tópico, vamos estudar os principais
procedimentos para a formação de uma brigada de incêndio e um
exemplo de como fazer seu dimensionamento. As informações são
baseadas na Norma Técnica 17 do Corpo de Bombeiros Militar do
Mato Grosso do Sul (CBMMS, 2016).

284 Prevenção e Combate a Incêndios


Procedimentos para Formação
da Brigada de Incêndio

A brigada de incêndio deve ser formada por trabalhadores que atuam na edificação que possuirá a
brigada. Os brigadistas devem ser selecionados para o curso de formação se atenderem, preferencial-
mente, a maior quantidade dos seguintes critérios: trabalhar no local – ter experiência anterior como
brigadista; ser da área de manutenção das instalações; ter boa saúde e condição física; ser alfabetizado;
e possuir responsabilidade legal. Esses requisitos são importantes para que o brigadista tenha um bom
desempenho nas atribuições que lhe serão dadas.
Os candidatos a brigadista passam por curso com formação específica, conforme o grau de risco da
instalação. Existem três níveis de treinamento: básico, intermediário e avançado. Quanto maior o nível
do treinamento, mais conteúdo ele irá abranger. Dentre os tópicos que são abrangidos no treinamento
estão inclusos: aspectos legais: reconhecer os aspectos legais relacionados à brigada de incêndio; teoria do
fogo: conhecer os elementos básicos para a existência do fogo; propagação do fogo: conhecer as formas
de propagação do fogo; classes de incêndio: identificar as classes de incêndio; prevenção de incêndio;
métodos de extinção; EPI utilizado no combate a incêndio; equipamentos de detecção, alarme e luz de
emergência; abandono de área; pessoas com mobilidade reduzida; reanimação cardiopulmonar; he-
morragias; riscos específicos; emergências químicas e tecnológicas. Após a realização do treinamento e
aprovação dos candidatos, é emitido o atestado da brigada de incêndio. Para manutenção deste, é preciso
fazer a reciclagem anual.
Com a brigada treinada e formada, é hora de fazê-la funcionar. A brigada deve realizar, mensalmente,
reuniões ordinárias para tratar das atribuições de cada brigadista, discutir sobre os riscos identificados na
edificação e enviar notificação para o setor responsável pela correção. A brigada deve também organizar
os exercícios simulados a cada seis meses. Os brigadistas ficam responsáveis pelas ações de prevenção
e emergência.
As ações de prevenção envolvem orientar a população, fixa e flutuante, da edificação sobre a prevenção
de incêndios. Como prevenção, os brigadistas devem estar atentos a situações de risco, como a existência
de extintores com carga vencida ou inadequados, a presença de material inflamável próximo de fontes de
calor ou corredores obstruídos com material. Estas irregularidades devem ser anotadas e comunicadas
aos setores responsáveis por fazer sua correção. Ainda, a brigada de incêndio deve conhecer o plano
de emergência da edificação contendo os equipamentos de combate a incêndio e os procedimentos a
serem adotados em caso de um sinistro.
As ações de emergência devem seguir os procedimentos básicos de emergência. A Figura 7 mostra
um exemplo de fluxograma de procedimentos em situação de emergência.

UNIDADE 9 285
INÍCIO

ALERTA

Análise
da situação

Não Há
emergência?

Sim Acionamento do
Corpo de Bombeiros
e apoio externo
Procedimentos
necessários

Não Não
Há vítimas? Há incêndio?

Sim
Sim

Há Há Há Há Há
Não Não necessidade Não Não necessidade Não necessidade Não
Há necessidade necessidade de necessidade
de cortar a de abandono de isolamento
de socorro? energia confinamento de combate?
da área? da área? da área?
elétrica?

Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Primeiros CORTE DE ABANDONO ISOLAMENTO CONFINAMENTO COMBATE


socorros ENERGIA DA ÁREA DA ÁREA DA ÁREA AO INCÊNDIO

Não Há
necessidade
de remoção?

O sinistro Não
Sim foi controlado?

Socorro
especializado

Sim
INVESTIGAÇÃO

Cópia para os
setores responsáveis
Elaboração
de relatório
Cópia para
FIM
arquivo

Figura 7 – Exemplo de fluxograma de procedimento de emergência da brigada de incêndio


Fonte: CBMMS (2016, p. 25) .

286 Prevenção e Combate a Incêndios


Este procedimento deve ser seguido em caso de um alerta na edificação. A situação que gerou o alerta
deve ser analisada e, caso exista uma emergência, procedimentos relacionados ao incêndio e às vítimas
devem ser tomados. Se não houver emergência, deve ser feita apenas a investigação e elaboração de
relatório sobre o alerta. No caso de uma emergência, prioritariamente, o Corpo de Bombeiros deve
ser acionado. Em seguida, os brigadistas irão verificar se existem vítimas no local e se estas necessitam
de socorro. Caso necessário, serão prestados os primeiros socorros às vítimas e, na necessidade de re-
moção delas do local, deve ser acionado o socorro especializado, para fazer a imobilização da vítima
e retirá-la do local com segurança. No caso de um incêndio, é preciso verificar se existe a necessidade
de cortar a energia do local para fazer o combate. Deve ser feito, também, o abandono da edificação,
caso as pessoas estejam no local. A área deve ser isolada e, se necessário, fazer o seu confinamento.
Em seguida, a brigada deve atuar para fazer o combate ao incêndio, utilizando dos meios disponíveis,
como extintores e hidrantes. Após o sinistro ser controlado, elabora-se um relatório de investigação
do ocorrido para que a causa do sinistro não volte a ocorrer. Este relatório é discutido em reunião
extraordinária da brigada.
A preparação da brigada de incêndio é importante para fornecer uma resposta rápida a uma situação
de emergência. Os seguintes procedimentos complementares devem ser tomados:
• Comunicar a existência da brigada de incêndio dentro do local por meio de placa. Identificar
os brigadistas do local.
• Estabelecer formas de comunicação do alerta (sirene, rádio, telefone, alto-falante etc.) dentro
da edificação.
• Definir o responsável por fazer a ligação para o Corpo de Bombeiros.
• Definir o brigadista responsável por dar a ordem de abandono da edificação. Ele deve ser o
chefe, líder ou coordenador da brigada.
• Preparar um grupo de apoio formado por profissionais da elétrica, encanadores e técnicos
especializados para dar suporte à brigada de incêndio.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.

UNIDADE 9 287
Vejamos, a seguir, um exemplo
de dimensionamento de
brigada de incêndio.

288 Prevenção e Combate a Incêndios


Dimensionamento da Brigada de Incêndio

O dimensionamento da brigada de incêndio é feito com o auxílio de tabela de composição mínima da


brigada de incêndio conforme grupo da edificação, divisão, grau de risco e população fixa. Os corpos
de bombeiros militares estabelecem essa tabela para cada estado. Vamos utilizar aqui como exemplo
a tabela disponibilizada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul.
Tabela 1 – Composição mínima da brigada de incêndio por pavimento ou compartimento

População fixa por pavimento ou Nível de

Grau de Risco
compartimento treinamento
Descrição

Exemplos
Divisão
Grupo

Até Até Até Até Até Acima


2 4 6 8 10 de 10

Intermediário
Baixo 1 2 2 2 2 (nota 5)
(nota 12)
I-Indústria

I-1 Fábricas e
atividades
I-2 Indústria Médio 2 4 4 5 6 (nota 5) Intermediário
industriais
I-3 em geral
Alto 2 4 5 7 8 (nota 5) Avançado

Nota 5: Quando a população fixa de um pavimento, compartimento ou setor for maior que 10 pessoas, será acrescido mais
um brigadista para cada grupo de até 20 pessoas para risco baixo, mais um brigadista para cada grupo de até 15 pessoas para
risco médio e mais um brigadista para cada grupo de até 10 pessoas para risco alto.
Nota 12: As plantas que não possuírem hidrantes em suas instalações podem optar pelo nível de treinamento básico de
combate a incêndio

Fonte: adaptada de CBMMS (2016, p. 12).

A Tabela 1 mostra um trecho da tabela completa disponibilizada pela norma técnica nº17 – Brigada
de Incêndio, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Nesta tabela, devemos
encontrar os dados para fazer o dimensionamento da brigada.
Consideremos o caso de uma indústria que possui um único setor com grau de risco alto, com
trabalho em 2 turnos e com uma população fixa de 80 pessoas no período diurno e 20 pessoas no
período noturno. Neste caso, deve existir brigadistas em todos os turnos e o dimensionamento deve
ser feito de forma separada:
• Quantidade de brigadistas no primeiro turno: conforme a Tabela 1, até 10 pessoas, deve
existir 8 brigadistas para o grau de risco alto. Acima de 10 pessoas, conforme a nota 5, a cada
10 pessoas deve ser acrescido um brigadista. No caso, 80-10=70 pessoas e esta quantidade for-
ma 7 grupos de 10 pessoas. Portanto, além dos 8 brigadistas, devem ser acrescentados mais 7,
totalizando 15 brigadistas no primeiro turno.
• Quantidade de brigadistas no segundo turno: conforme a Tabela 1, até 10 pessoas, deve
existir 8 brigadistas para o grau de risco alto. Acima de 10 pessoas, conforme a nota 5, a cada 10
pessoas deve ser acrescido um brigadista. No caso, 20-10=10 pessoas e esta quantidade forma
1 grupo de 10 pessoas. Portanto, além dos 8 brigadistas, devem ser acrescentado mais 1, totali-
zando 9 brigadistas no segundo turno. A planta vai ter um total de 24 brigadistas que passarão
por treinamento de nível avançado.

UNIDADE 9 289
Em relação ao organograma da brigada, dentre os Observe que o líder de cada turno conta como
24 brigadistas, deve ser escolhido um líder, con- brigadista totalizando a quantidade calculada no
forme ilustra a Figura 8. dimensionamento.
Este dimensionamento foi o mais simples.
Coordenador geral Agora imagine que a indústria possua mais uma
da brigada edificação. Esta segunda edificação possui um ris-
co médio com dois pavimentos e uma população
fixa de 10 pessoas por pavimento, trabalhando
Chefe do Chefe do em apenas um turno. Neste caso, como ficaria a
1º turno 2º turno brigada de incêndio?
Veja que já foi dimensionada a brigada da pri-
meira edificação, composta por 24 brigadistas.
Devemos, agora, dimensionar a brigada da segun-
Líder do setor Líder do setor
da edificação. Consultando a Tabela 1, verificamos
que, para até 10 pessoas, no risco médio, devem
existir 6 brigadistas por pavimento. Assim, a bri-
gada desta segunda edificação deve ser composta
14 brigadistas 8 brigadistas
por um total de 12 brigadistas. O organograma
ficaria da seguinte forma.
Figura 8 – Organograma da brigada de incêndio – caso 1
Fonte: o autor.

Coordenador geral
da brigada

Chefe Chefe do 1º turno Chefe do 2º turno


segunda edificação primeira edificação primeira edificação

Líder Líder Líder Líder


pavimento 1 pavimento 2 do setor do setor

5 brigadistas 5 brigadistas 14 brigadistas 8 brigadistas

Figura 9 – Organograma da brigada de incêndio – caso 2


Fonte: o autor.

290 Prevenção e Combate a Incêndios


A implantação da brigada de incêndio envolve desde a formação dos profissionais que irão atuar na
brigada até seu acompanhamento de funcionamento. Resumindo, as principais etapas para a formação
e manutenção de uma brigada de incêndio são:
1. Designar um responsável pela brigada de incêndio.
2. Estabelecer a composição da brigada de acordo com a quantidade de pessoas na edificação,
classificação da edificação e grau de risco.
3. Estabelecer o organograma da brigada, definindo os papéis de chefe, líder e coordenador.
4. Selecionar os candidatos à brigadista de acordo com os critérios recomendados.
5. Definir o nível de treinamento da brigada, conforme o nível exigido para a edificação.
6. Treinar a brigada na parte teórica e prática de combate a incêndios.
7. Treinar a brigada na parte teórica e prática em primeiros socorros.
8. Fazer a identificação e divulgação da brigada.
9. Disponibilizar EPIs e sistema de comunicação para os brigadistas de acordo com o risco en-
volvido na edificação.
10. Cumprir os procedimentos básicos e complementares da brigada de incêndio.
11. Realizar reuniões ordinárias e extraordinárias. Planejar e realizar os exercícios simulados
semestrais.
12. Garantir a reciclagem da brigada de incêndio.
13. Monitorar e analisar criticamente o funcionamento da brigada.

A brigada de incêndio constituída conforme norma técnica proporcionará um nível de segurança


maior na edificação, pois além dos equipamentos de combate a incêndio, é preciso que estes sejam
operados por pessoas com conhecimento em seu funcionamento. Constituir a brigada de incêndio
é uma obrigação legal e pode evitar a formação de um grande incêndio pela sua atuação durante o
princípio de incêndio.

UNIDADE 9 291
292 Prevenção e Combate a Incêndios
Segurança do Trabalho
no Manuseio de
Produtos Inflamáveis

Você já deve ter ouvido falar de grandes acidentes


em indústrias químicas e pátios de armazenamen-
to de produtos químicos. Em alguns casos, estes
acidentes ocorrem pelo uso de produtos infla-
máveis sem seguir procedimentos adequados de
segurança e com instalações inadequadas. Para
normatizar o uso e as instalações que lidam com
produtos inflamáveis, no Brasil, foi elaborada a
Norma Técnica ABNT NBR 17505:2013 que tra-
ta do armazenamento de líquidos inflamáveis e
combustíveis. Ela é dividida em 7 partes:

UNIDADE 9 293
Observe que a norma técnica detalha os requisitos das
• Parte 1: disposições gerais.
• Parte 2: armazenamento em instalações e procedimentos que lidam com produtos
tanques, em vasos e em re- inflamáveis para diferentes casos. Quando falamos em
cipientes portáteis com ca- segurança nestas operações, devemos observar diversos itens,
pacidade superior a 3000 L. como a quantidade de inflamáveis armazenada, a localização
• Parte 3: sistemas de tubula- do depósito de inflamáveis, os sistemas de proteção dentro do
ções. local, como extintores, canaletas para contenção de vazamento,
• Parte 4: armazenamento em materiais de revestimento, ventilação, sinalização etc. Neste
recipientes e em tanques
tópico, vamos discutir alguns procedimentos e medidas de
portáteis até 3000 L.
segurança no manuseio de produtos inflamáveis em baixa
• Parte 5: operações.
• Parte 6: requisitos para ins- quantidade, até 3000 litros. É comum encontrar esta situação
talações e equipamentos em indústrias que utilizam solventes, laboratórios e demais
elétricos. atividades que manipulam produtos químicos inflamáveis.
• Parte 7: proteção contra in-
cêndio para parques de ar-
mazenamento com tanques
estacionários.

Segundo a norma regulamentadora NR-20, líquidos inflamáveis


são líquidos que possuem ponto de fulgor ≤ 60 ºC (sessenta graus
Celsius). Gases inflamáveis são gases que inflamam com o ar a
20 ºC (vinte graus Celsius) e a uma pressão padrão de 101,3 kPa
(cento e um vírgula três quilopascal). Líquidos combustíveis são
líquidos com ponto de fulgor > 60 ºC (sessenta graus Celsius) e
≤93 ºC (noventa e três graus Celsius).
Fonte: adaptado de Brasil (1978b).

Além da classificação geral de líquidos inflamáveis da NR-20 –


Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis, a
Norma Técnica ABNT NBR 17505:2013 apresenta a classificação
dada pela Tabela 2.

294 Prevenção e Combate a Incêndios


Tabela 2 – Classificação de líquidos combustíveis e inflamáveis
Líquidos Ponto de fulgor (PF) Ponto de ebulição (PE)

Inflamáveis
Classe I PF<37,8°C e PV<275,7 kPa
Classe IA PF<22,8°C PE<37,8°C
Classe IB PF<22,8°C PE≥37,8°C
Classe IC 22,8°C≤PF<37,8°C -
Combustíveis
Classe II 37,8°C≤PF<60°C -
Classe IIIA 60°C≤PF<93°C -
Classe IIIB PF≥93°C -
PV é a pressão de vapor
Fonte: ABNT (2013a, p. 19) .

Os líquidos combustíveis e inflamáveis são divididos em classes a 81 °C é um líquido inflamá-


conforme seu ponto de fulgor ou ponto de ebulição. vel classe IB. Podemos concluir
que o álcool etílico é menos in-
flamável que o éter etílico. Por
outro lado, um óleo diesel, com
ponto de fulgor de 38 °C, não é
um líquido inflamável e sim um
Ponto de fulgor é a menor temperatura corrigida para uma pres- líquido combustível classe II.
são barométrica de 101,3 kPa (760 mmHg), na qual a aplicação Iremos estudar, neste tópico,
de uma fonte de ignição faz com que os vapores da amostra se os requisitos gerais das instala-
inflamem, porém, não mantendo a combustão, sob condições ções, os recipientes utilizados
específicas de ensaio. Ponto de ebulição é a temperatura em que na armazenagem, os armários
a pressão de vapor de um líquido é igual à pressão atmosférica usados no armazenamento de
ao redor. Para o propósito de definir o ponto de ebulição, deve líquidos inflamáveis, a quan-
ser considerada a pressão atmosférica de 101,3 kPa (760 mmHg). tidade máxima permitida de
Fonte: ABNT (2013a, p. 13). armazenagem, os requisitos de
construção, as proteções con-
tra incêndio, características do
Quanto mais inflamável o líquido for, menor é a sua classe. Assim, sistema elétrico, a contenção,
por exemplo, a substância química éter etílico, que possui ponto de drenagem e ventilação do local
fulgor de -40 °C (vaso fechado) e pressão de vapor de 61,3 kPa é um usado no armazenamento de
líquido inflamável classe I. A substância álcool etílico, que possui produtos com base na norma
ponto de fulgor de 13 °C (vaso fechado) e ponto de ebulição de 77,5 técnica ABNT NBR 17505.

UNIDADE 9 295
Requisitos Gerais das Instalações

Armazenar produtos inflamáveis em locais fechados com pouca ventilação representa um risco acen-
tuado. Assim, a norma determina que os produtos inflamáveis de classe I não podem ser armazenados
em porões ou subsolos. Os produtos de classe II e III até podem ser armazenados nestes locais, desde
que o local ofereça um armazenamento protegido, o que significa que o local possui proteção automática
por meio de sprinklers de água ou espuma. Durante um incêndio, se os utensílios do local possuírem
uma boa resistência ao fogo, o incêndio demorará um pouco mais para se propagar. Assim, a norma
determina como requisito geral que a madeira utilizada em prateleiras, suportes e paletes dentro da
edificação deve ter espessura mínima de 25 mm (uma espessura usualmente maior).
Outro cuidado geral é quanto ao empilhamento de embalagens contendo líquidos inflamáveis.
Quando os recipientes de produtos inflamáveis forem empilhados, eles devem ficar estáveis e o empi-
lhamento não pode causar esforços excessivos nas paredes dos recipientes. Esse empilhamento deve
manter uma distância mínima de 1 m em relação a vigas e travas da estrutura de cobertura do local.
Observe que estas medidas visam oferecer resistência ao local no caso de um incêndio ou explosão.

A Norma Técnica ABNT NBR 17505:2013 estabelece que até mesmo o armazenamento temporário
e não frequente de líquidos inflamáveis, como material para pintura, deve ser estocado em quanti-
dade limitada para o uso. A quantidade máxima armazenada deve ser para até 10 dias de consumo.
Fonte: ABNT (2013a).

296 Prevenção e Combate a Incêndios


Recipientes Utilizados na Armazenagem

O armazenamento de produtos inflamáveis em recipientes deve ser limitado à determinada quantidade


conforme o tipo de embalagem. Algumas possuem maior resistência que outras. A Tabela 3 apresenta
um exemplo de limites máximos por embalagem.
Tabela 3 – Capacidades máximas permitidas para armazenamento de líquidos combustíveis e inflamáveis

Volume de líquidos
Volume de líquidos inflamáveis L
Tipo de embalagem combustíveis
de líquidos
Classe IA Classe IB Classe IC Classe II Classe IIIA

Vidro 0,5 1 5 5 20

Recipientes metálicos
(outros que não tambo-
5 20 20 20 20
res) ou de plástico/bom-
bonas aprovados

Recipiente de segurança
10 20 20 20 20
(latão de segurança)

Tambores metálicos
(conforme especificação 450 450 450 450 450
de transporte) (1A1/1A2)

Tanques portáteis me-


tálicos e IBC (conforme
3000 3000 3000 3000 3000
especificação de trans-
porte)

Fonte: adaptada de ABNT (2013a, p. 39).

A tabela nos mostra que as embalagens possuem


restrição quanto à quantidade que deverá ser ar-
mazenada conforme seu tipo e a classe do líquido. Recipiente de segurança, ou latão de segurança,
Por exemplo, se um líquido for classe IA, ele poderá é um recipiente para líquidos inflamáveis, com
ser armazenado em uma embalagem de vidro na capacidade volumétrica de até 20 L. Ele é utilizado
quantidade de até 0,5 L. Quantidades maiores de- no transporte e estocagem de líquidos inflamá-
vem ser armazenadas em recipientes de segurança, veis, dotados de dispositivos de proteção contra
tambores metálicos ou tanques portáteis. Alguns o fogo, como sistema de alívio de pressão e tam-
recipientes devem atender à regulamentação do pas/vedações à prova de vazamentos. Conheça
transporte de produtos perigosos do Ministério um exemplo no link: https://www.petrolider.com.
dos Transportes – ANTT (Agência Nacional de br/galoes-p-combustiveis/container-de-seguran-
Transporte Terrestre). A norma técnica também ca-para-combustiveis-e-liquidos-inflamaveis-an-
exige que recipientes intermediários para granel rí- ti-explosao-em-inox-5-litros
gidos devem possuir teste de ensaio de fogo quan- Fonte: adaptado de ABNT (2013a).
do forem destinados para uso em locais protegidos.

UNIDADE 9 297
Armários Usados no Armazenamento
de Líquidos Inflamáveis

Para armazenar de forma segura pequenas quantidades de produtos metal, deve ser utilizada chapa
inflamáveis, é recomendado o uso de armários especiais. Estes são de bitola nº 18 com parede du-
construídos com materiais e métodos construtivos que diminuem o pla de espaçamento mínimo de
risco de incêndio no local. Segundo a norma técnica, dentro destes 38 mm. As junções do armário
armários deve ser armazenado o volume de até 460 litros de líquidos devem ser herméticas e as por-
das classes I, II e IIIA. Os armários podem conter frascos de vidro, tas devem ter dobradiça de três
latões de segurança ou até mesmo tambores metálicos, dependendo pontos. Pode ser usada madei-
do seu formato. Os armários devem possuir as seguintes caracte- ra na sua confecção, desde que
rísticas apresentadas pela Figura 10. tenha espessura mínima de 2,5
cm, resistente ao rompimento e
separação de lâminas em condi-
Temperatura ções de incêndio. Armários de
no centro e a madeira de duas portas devem
2,5 cm da possuir sobreposição de portas
borda superior
de no máximo de mais de 2,5 cm.
160 °C durante Todas essas características
a exposição são necessárias para que, em
de 10 minutos uma situação de incêndio, o
no fogo
armário proteja o material in-
flamável por certo período de
tempo, permitindo a ação do
Soleira de 5 cm combate por mais tempo. No
material complementar, está
Sinalização indicado um vídeo que mostra
o teste de resistência ao fogo fei-
Figura 10 - Características especiais de armários para armazenamento de líquidos
inflamáveis to em três armários. Neste teste,
Fonte: adaptada de ABNT (2013a). podemos conferir que um ar-
mário simples, sem as medidas
Estes armários devem ser sinalizados indicando a presença do ma- aqui citadas, resiste até 3 min e
terial inflamável. O material usado na sua construção deve ofere- 5s, enquanto que um armário
cer proteção ao fogo de tal maneira que durante 10 minutos de com mais lâminas, feito em fi-
exposição ao fogo a temperatura interna em seu centro chegue a, bra, indicado para estocagem
no máximo, 160 °C. Para conter eventuais vazamentos, os armá- de materiais inflamáveis, resiste
rios devem ter soleiras de 5 cm. Quando forem construídos em por mais de 80 minutos.

298 Prevenção e Combate a Incêndios


Quantidades Máximas que
Podem ser Armazenadas

A norma técnica define quantidades máximas que podem ser arma-


zenadas em estabelecimentos em geral. A Tabela 4 mostra os valores
máximos permitidos para uma área controlável de armazenamento.
Tabela 4 – Limites de armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis para estabelecimentos em geral

Classes de líquidos Quantidade (L)


IA 114
IBeIC 460
Líquidos inflamáveis
I A, I B e I C combinados 460
II 460
Líquidos combustíveis II A 1265
III B 50600
Fonte: ABNT (2013a, p. 40).

Como estabelecido na tabela, em uma área controlável de armaze-


namento deve existir, no máximo, 460 litros de líquidos inflamáveis.
Se o líquido for de classe IA, esse limite é mais restritivo, de 114 litros.
Para líquidos combustíveis podem ser armazenados até 50600 litros
para líquidos classe III B.
Caso seja necessário aumentar o volume armazenado, devem
ser usados armários de segurança, apresentado no subitem
anterior. A quantidade pode ser aumentada em até 100%
para líquidos classe IA ou classes IB e IC. Se a área
possuir chuveiro automático, a quantidade
também pode ser dobrada.
É importante observar que, dentro
de uma edificação, se existir mais de
uma área controlável de armazenamen-
to, ela deve ficar separada por barreiras
corta-fogo com certo tempo requerido
de resistência ao fogo.
Se a edificação for considerada es-
pecial, como é o caso de ambulatórios,
escritórios, creches, presídios, residên-
cias e assembleias, o limite de armaze-
namento é menor, conforme a Tabela 5.

UNIDADE 9 299
Tabela 5 – Limites de armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis para estabelecimentos especiais
Classe de líquidos Quantidade (L)
I e II 40
III A 230
III B 460
Fonte: ABNT (2013a, p. 40).

Observe que os limites da tabela são bem menores que os limites para estabelecimentos em geral. Isso
porque armazenar uma maior quantidade de líquidos inflamáveis nestes estabelecimentos especiais ofe-
rece um maior risco, além de não ser justificável pela natureza das atividades desenvolvidas nestes locais.

Requisitos de Construção

Os materiais empregados na construção de edificações que possuem áreas de armazenamento devem


oferecer resistência ao fogo. A Tabela 6 mostra os valores de referência.

Tabela 6 – Classificação de resistência ao fogo para áreas de armazenamento de líquidos no interior de edificações

Tipo de área de armazenamento Tempo requerido de resistência ao fogo (min)

Paredes internas,
Paredes
tetos, pisos Telhados
externas
intermediários

Espaço de armazenamento interno


60 Não aplicável Não aplicável
Área de piso ≤14 m2

Área de piso > 14 m2 ≤45 m2 120 Não aplicável Não aplicável

Armazéns de líquidos 240 - 120, 240

Fonte: adaptada de ABNT (2013a, p. 41).

Por exemplo, se em uma edificação existir uma sala com 10 m2 destinada ao armazenamento de líqui-
dos inflamáveis, e a sala adjacente for para outro uso, a parede da sala deve oferecer resistência ao fogo
de 60 minutos. Se a área for superior a 14 m2 e inferior a 45 m2, este tempo deve ser de 120 minutos.
Nas aberturas das salas de armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis, devem existir
elementos corta-fogo, como é o caso da porta corta-fogo. As portas devem permanecer fechadas ou
podem ficar abertas caso possuam dispositivo de fechamento automático em situação de incêndio.

300 Prevenção e Combate a Incêndios


Proteção Contra Incêndio

A norma técnica define um número mínimo de extintores para


oferecer proteção manual em caso de incêndio. Um extintor deve Capacidade extintora é a me-
ser instalado até uma distância de 3 metros de uma área interna dida de poder de extinção de
de estocagem de líquidos. O extintor deve ficar do lado externo da fogo de um extintor, obtida em
porta de entrada da área. Ele deve ter capacidade extintora mínima ensaio prático normalizado.
de 40:B. Para um depósito de líquidos, o extintor deve estar loca- Fonte: ABNT (2013b, p. 1).
lizado a menos de 9 metros de qualquer área de armazenamento.

Características do Sistema Elétrico do Local

Quando um líquido inflamável evapora e forma uma atmosfera explosiva, é criado um ambiente pro-
pício a um acidente. O acidente ocorrerá se houver uma fonte de ignição. Além do fogo propriamente
dito e de superfícies quentes, como fornos, um sistema elétrico desprotegido pode também formar
pequenas faíscas dando início a uma explosão. Assim, a norma técnica determina que, se uma área de
armazenamento de líquidos inflamáveis possuir instalações elétricas, dependendo da classe do líquido,
será necessária a instalação de um sistema elétrico protegido.
Se no local os líquidos armazenados permanecem em embalagens fechadas e seladas, não é neces-
sária a instalação do sistema protegido. Contudo, se ocorre a abertura de embalagens e os líquidos em
questão forem de classe I, o cabeamento elétrico e os equipamentos elétricos utilizados devem ser zona
2. Se os líquidos armazenados forem classe II e III, são aceitos o cabeamento elétrico e equipamentos
elétricos do tipo padrão, desde que a temperatura do ambiente não ultrapasse o ponto de fulgor dos
líquidos. Caso a temperatura ambiente for maior que o ponto de fulgor dos líquidos classe II e III, os
requisitos de zona 2 devem ser aplicados.

As zonas são classificações de áreas com base na frequência da ocorrência e duração de uma atmos-
fera explosiva de gás.
• Zona 0: área em que uma atmosfera explosiva de gás está presente continuamente ou por longos
períodos ou frequentemente.
• Zona 1: área em que é provável que uma atmosfera explosiva de gás ocorra periodicamente ou
eventualmente em condições normais de operação.
• Zona 2: área em que não é provável que uma atmosfera explosiva de gás ocorra em condições
normais de operação, mas, se ocorrer, irá existir somente por um curto período.
Fonte: ABNT (2018, p. 3).

UNIDADE 9 301
Contenção, Drenagem e Ventilação do Local

Durante o uso e armazenagem de líquidos inflamáveis e combustíveis, pode ocorrer seu derramamento
no piso do local. A dispersão do líquido para outros ambientes oferece um maior risco de incêndio em
outras instalações, oferecendo um caminho para que o fogo percorra. Para evitar tal situação, devem
ser construídos meios adequados para fazer a contenção dos vazamentos.
A contenção pode ser feita de diversas maneiras:
• Construir soleiras, rampas, lombadas, dentre outros, de tal forma a evitar a dispersão do líquido.
Elas devem ter altura adequada. Uma recomendação é que tais barreiras possuam 10 cm de
altura. O líquido contido deve ser drenado para o exterior ou para caixas internas.
• Construir pisos com caimento.
• Construir canaletas abertas ou com grades que se conectam a um sistema de drenagem.

A norma técnica estabelece como construção obrigatória de tais meios de contenção quando forem
armazenados recipientes cuja capacidade individual exceda 40 litros. A norma também dispensa estes
meios de contenção no caso de armazenamento de apenas líquidos de classe III B.
Nos locais em que são armazenados os líquidos em embalagens maiores e que é feito o envase em
embalagens menores, é necessário providenciar uma ventilação adequada. Esta ventilação pode ser
natural ou, no caso de líquidos classe I, ela deve ser obrigatoriamente mecanizada. As aberturas para
tomada e saída de ar devem ser localizadas de tal forma a promover a movimentação do ar em toda a
área do piso, para evitar o acúmulo de vapores inflamáveis. Os sistemas de ventilação mecânica devem
fornecer uma vazão de 0,3 m3/min/m2 de piso da área e não pode ser inferior a 4 m3/min.
Como vimos, instalações que armazenam e manipulam líquidos inflamáveis devem dispor de me-
didas de segurança extras envolvendo as características construtivas do local, uso de equipamentos
especiais, controle das quantidades armazenadas, recipientes com capacidade limitada de armazena-
mento e medidas de combate a incêndio.

302 Prevenção e Combate a Incêndios


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. Em uma escola primária com grande fluxo de pessoas, foram instalados extinto-
res nos corredores. O diretor da escola acredita que os extintores são suficientes
para oferecer segurança aos alunos e professores. Com base no estudo das
medidas de segurança, elabore um texto para o diretor explicando se existem
outras medidas que podem ser aplicadas na escola.

2. A brigada de incêndio possui papel fundamental no uso dos meios de combate


a incêndio em uma edificação. A brigada deve seguir procedimentos padrão
em uma situação de emergência. Explique qual deve ser o comportamento da
brigada em uma situação de emergência.

3. Durante a elaboração do projeto de uma sala de laboratório, você foi consultado


para opinar nas medidas de segurança do local. Você ficou sabendo que no local
estava sendo prevista a armazenagem de líquidos inflamáveis na quantidade
de 200 litros. Considerando a norma técnica ABNT 17505:2013 que trata do
armazenamento de líquidos combustíveis e inflamáveis, faça uma análise sobre
a viabilidade de armazenamento deste tipo de líquido no local.

303
LIVRO

A Segurança Contra Incêndio no Brasil


Autor: Alexandre Itiu Seito, Alfonso Antonio Gill, Fabio Domingos Pannoni, Rosaria
Ono, Silvio Bento da Silva, Ualfrido Del Carlo e Valdir Pignatta e Silva
Editora: Projeto Editora
Sinopse: há cerca de dois anos, um grupo de pessoas ligadas à Universidade
de São Paulo e ao Corpo de Bombeiros de São Paulo começou a discutir a im-
portância e a necessidade de uma literatura nacional sobre segurança contra
incêndio, que pudesse servir de base para estudos nessa área. Os envolvidos
com a segurança contra incêndio percebem que, em nosso país, o clima de
quase estagnação está se transformando. Uma tendência à uniformização das
legislações estaduais, o surgimento de cursos de pós-graduação em segurança
contra incêndio, a elaboração de normas técnicas em sintonia com o que vem
acontecendo no exterior, são sinais de que a área está em um processo de
evolução. É nesse quadro que este livro pretende trazer sua contribuição.

FILME

Brigada 49
Ano: 2004
Sinopse: Jack Morrison (Joaquin Phoenix) é um bombeiro inexperiente, que
ingressou na corporação há pouco tempo. Logo ele faz amizade com os com-
panheiros de tropa, seguindo à risca as ordens de seu chefe e mentor, o capitão
Mike Kennedy (John Travolta). Ao mesmo tempo em que se arrisca ao realizar
seu trabalho, Jack precisa lidar com as constantes reclamações de sua esposa,
Linda (Jacinda Barrett), que lhe pede mais atenção. Quando Jack fica preso no
pior incêndio que já enfrentou, ele começa a avaliar sua vida e as coisas que
mais preza, sua família e sua carreira.

WEB

Fire Performance Demonstration of Three Types


of Safety Storage Cabinets for Flammables
Veja um teste de resistência ao fogo feito com três armários usados no arma-
zenamento de líquidos inflamáveis no vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

304
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 12693: Sistemas de proteção por extintor de incêndio. ABNT:
Rio de Janeiro, 2013b.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 17505-1: Armazenamento de líquidos inflamáveis e com-
bustíveis - Parte 1: disposições gerais. ABNT: Rio de Janeiro, 2013a.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 17505-4: Armazenamento de líquidos inflamáveis e combus-
tíveis - Parte 1: armazenamento em recipientes e em tanques portáteis até 3000 L. ABNT: Rio de Janeiro, 2013.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR IEC 60079: Atmosferas explosivas Parte 10-1: Classi-
ficação de áreas – Atmosferas explosivas de gás. ABNT: Rio de Janeiro, 2018.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 23, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-23 – Pro-
teção Contra Incêndios. Brasil, 1978a.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 23, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR20 – Se-
gurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis. Brasil, 1978b.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 2: Conceitos
básicos de segurança contra incêndio. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2013a. Disponível em: http://sistemas.
bombeiros.ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2002%20-%20CONCEITOS.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 3: Terminologias
de segurança contra incêndio. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2013b. Disponível em: http://sistemas.bombeiros.
ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2003%20-%20TERMINOLOGIAS.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 7: Separação
entre edificações (isolamento de risco). Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2013c. Disponível em: http://sistemas.
bombeiros.ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2007%20-%20SEPARA%C3%87%C3%83O%20ENTRE%20EDI-
FICA%C3%87%C3%95ES.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 21: Sistema
de proteção por extintores de incêndio. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2013d. Disponível em: http://sistemas.
bombeiros.ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2021%20-%20EXTINTORES.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 22: Sistemas de
hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2013e. Disponível em:
http://sistemas.bombeiros.ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2022%20-%20HIDRANTES%20E%20MANGO-
TINHOS.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

305
CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 17: Brigada de
incêndio. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2016. Disponível em: http://sistemas.bombeiros.ms.gov.br/arquivos/
dat/NT/NT%2017%20-%20BRIGADA%20DE%20INC%C3%8ANDIO.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

CBMMS. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul. Norma Técnica N° 6: Acesso de
viaturas na edificação e áreas de risco. Mato Grosso do Sul: CBMMS, 2017. Disponível em: http://sistemas.
bombeiros.ms.gov.br/arquivos/dat/NT/NT%2006%20-%20ACESSO%20DE%20VIATURAS%20.pdf. Acesso
em: 29 fev. 2020.

PARANÁ. Casa Militar da Governadoria. Manual de prevenção e combate a princípios de incêndio. Módulo
VI. 2013. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/marco2015/cursobrigada/
modulo6_combateincendios.pdf. Acesso em: 16 mar. 2020.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: http://www.kidde.com.br/Documents/ConceitosExtintores.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020.


1

306
1. As medidas de segurança contra incêndios são determinadas por normas técnicas do Corpo de Bombeiros
Militar de cada estado. As normas orientam sobre a obrigatoriedade da implantação de medidas extras de
segurança além dos extintores. Dependendo do grau de risco da edificação e de sua ocupação, medidas
adicionais devem ser implantadas.
Em geral, na escola, podem ser implantadas outras medidas de segurança, como o uso de portas corta-fo-
go, sistema de hidrantes, revestimento das paredes e materiais das salas para evitar a propagação rápida
do fogo, saídas de emergência com sinalização da rota de fuga, bem como iluminação de emergência e
sistema de chuveiros. A escola deve possuir vias de acesso adequadas para o acesso da viatura do corpo
de bombeiros e uma brigada de incêndio pode ser constituída.

2. Caso exista uma emergência, procedimentos relacionados ao incêndio e às vítimas devem ser tomados.
Se não houver emergência, deve ser feita apenas a investigação e elaboração de relatório sobre o alerta.
No caso de uma emergência, prioritariamente, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado. Em seguida, os
brigadistas irão verificar se existem vítimas no local e se estas necessitam de socorro. Caso necessário,
serão prestados os primeiros socorros às vítimas e, na necessidade de remoção delas do local, deve ser
acionado o socorro especializado, para fazer a imobilização da vítima e retirá-la do local com segurança.
No caso de um incêndio, é preciso verificar se existe a necessidade de cortar a energia do local para fazer
o combate. Deve ser feito também o abandono da edificação, caso as pessoas estejam no local. A área
deve ser isolada e, se necessário, fazer o seu confinamento. Em seguida, a brigada deve atuar para fazer
o combate ao incêndio, utilizando dos meios disponíveis, como extintores e hidrantes. Após o sinistro ser
controlado, elabora-se um relatório de investigação do ocorrido para que a causa do sinistro não volte a
ocorrer. Este relatório é discutido em reunião extraordinária da brigada.

3. Em primeiro lugar, deve ser analisada a classe dos líquidos inflamáveis que serão armazenados no local.
Se todos os líquidos forem classe I, a quantidade máxima permitida é de 114 litros. Essa quantidade pode
ser aumentada se for utilizado um armário de segurança que deve possuir características especiais de
construção. De toda forma, é recomendado que no laboratório seja instalado este armário para oferecer
uma proteção contra incêndios. É preciso ainda verificar o ponto de fulgor das substâncias para determinar
se as instalações elétricas deverão ser para zonas classificadas ou do tipo padrão. A parede da sala deve
possuir um tempo de resistência ao fogo conforme a área do local. Próximo do laboratório, do lado de
fora, deve ser instalado um extintor com capacidade extintora de 40:B, no mínimo. A sala deve ser provida
de soleira ou barreira para conter um eventual vazamento de líquido inflamável.

307
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309
310
CONCLUSÃO

Chegamos ao final do nosso material, porém o estudo não termina aqui! Confor-
me vimos ao longo das unidades, a prática da ergonomia e segurança do trabalho
é feita por meio da aplicação de ciência, conceitos jurídicos e normas técnicas. À
medida que acidentes ocorrem e que a tecnologia se desenvolve, os procedimentos
e normas de segurança são atualizados, o que requer a atualização constante do
profissional que lidará com estas questões. Ao longo deste material, estudamos
diversos aspectos da ergonomia e segurança do trabalho.
Na Unidade 1, estudamos o histórico da segurança do trabalho. Vimos que
em um ambiente de trabalho podem existir riscos físicos, químicos, biológicos,
mecânicos e decorrentes de más posturas ou ritmo intenso de trabalho – são os
riscos por falta de adaptação ergonômica. Identificar e gerenciar estes riscos se
constituem como atividades principais de um prevencionista.
Na Unidade 2, conhecemos a definição de acidente do trabalho e suas principais
ocorrências. Nas Unidades 3 e 4, estudamos a Higiene Ocupacional. Esta ciência é
importantíssima para quantificarmos os riscos em um ambiente, para determinar
as melhores medidas de proteção.
Nas Unidades 5, 6 e 7 estudamos os conceitos de ergonomia. Vimos a impor-
tância da antropometria no projeto de produtos e postos de trabalho. Além disso,
estudamos o uso dos músculos e vimos que uma atividade manual deve presar
pelos movimentos e posições que produzem um trabalho dinâmico dos músculos.
Explicitamos, também, como o nível de iluminamento de ambientes é medido e
estudamos formas de evitar lesões na coluna vertebral durante o manuseio de
cargas. Por fim, conhecemos as ferramentas da ergonomia que permitem produzir
relatórios de análise de posições de trabalho, levantamento de cargas, ritmo de
trabalho, movimentos repetitivos, dentre outros aspectos.
Na Unidade 8, estudamos especificamente os aspectos de segurança do tra-
balho na indústria da Construção Civil e, na Unidade 9, traçamos os aspectos de
segurança contra incêndio.
Atuar na área de segurança do trabalho exige do profissional o conhecimento
de diversas áreas científicas. Ao finalizar nosso estudo, você deu o primeiro passo
de uma caminhada que deve ser constante. Na área profissional que você for atuar,
necessitará aprofundar algum dos temas que foram estudados. Desejamos a você
sucesso nesta jornada!
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para
ter acesso aos conteúdos digitais. O download do aplicativo está disponível nas plataformas:

RADUAÇÃO Google Play App Store

A Unicesumar apresenta uma proposta de metodologia, cujo objetivo é a


integração do que temos de melhor: toda a qualidade da nossa educação
a distância, mesclada com a excelência comprovada do nosso ensino pre-
sencial, utilizando tecnologias diversificadas e focando na personalização O Ã Ç A U D A R G
do ensino e da aprendizagem de maneira eficaz. Nessa metodologia, os
encontros presenciais são roteirizados a partir de metodologias ativas de
aprendizagem, além de práticas em laboratório, o que ajuda a criar um
vínculo maior com o aluno. Para embasar tudo isso, os cursos contam com
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Unicesumar e disponibilizados tanto na versão impressa como na digital.

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