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Roger Valentim Abdala

Ergonomia, Saúde
e Segurança do
Trabalho
APRESENTAÇÃO

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Ergonomia, Saúde e
Segurança do Trabalho, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendiza-
do dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar
aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidiicar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eiciente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido inluencia sua vida proissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

Unisa Digital
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................5
1 SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO ................................................................................7
1.1 Doença do Trabalho na Antiguidade .......................................................................................................................7
1.2 Doença do Trabalho: a Revolução Industrial.........................................................................................................8
1.3 Organização Internacional do Trabalho (OIT) ......................................................................................................9
1.4 Acidentes de Trabalho ...................................................................................................................................................9
1.5 Indenizações por Acidentes do Trabalho - Teorias........................................................................................... 10
1.6 Conceito Técnico Prevencionista do Acidente do Trabalho ......................................................................... 11
1.7 Risco, Acidente e Lesão .............................................................................................................................................. 15
1.8 Fatores de Acidentes ................................................................................................................................................... 15
1.9 Causas de Acidentes .................................................................................................................................................... 19
1.10 Predisposição a Acidentes ..................................................................................................................................... 19
1.11 Eliminação das Causas de Acidentes .................................................................................................................. 20
1.12 Investigação e Análise de Acidentes ................................................................................................................. 21
1.13 Prevenção de Perdas................................................................................................................................................. 25
1.14 Implantação de Programas de Segurança ...................................................................................................... 26
1.15 Exemplos de Técnicas de Análise de Risco ....................................................................................................... 28
1.16 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................. 32
1.17 Atividades Propostas ................................................................................................................................................ 33

2 ERGONOMIA ........................................................................................................................................... 35
2.1 Áreas de Especialização ............................................................................................................................................ 36
2.2 Objetivos da Ergonomia ........................................................................................................................................... 37
2.3 Antecedentes Históricos da Ergonomia ............................................................................................................. 38
2.4 Modalidades de Atuação .......................................................................................................................................... 39
2.6 Ergonomia Física .......................................................................................................................................................... 40
2.7 Ergonomia Cognitiva .................................................................................................................................................. 43
2.7 Ergonomia Organizacional ...................................................................................................................................... 45
2.8 Ergonomia Prática ....................................................................................................................................................... 46
2.9 Termos e Deinições .................................................................................................................................................... 48
2.10 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................ 51
2.11 Atividades Propostas ................................................................................................................................................ 52

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 53


REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 55
ANEXOS .......................................................................................................................................................... 59
INTRODUÇÃO

A Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho são imprescindíveis para o sucesso das organizações,
constituindo-se em áreas do conhecimento desenvolvidas e praticadas por proissionais em todo o mun-
do. Essa importância deve-se principalmente aos benefícios que podem ser alcançados nas intervenções
ergonômicas e na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
Esta apostila tem o objetivo de proporcionar aos estudantes de Engenharia um conhecimento ini-
cial e básico sobre a Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho. Inicial porque a ciência é dinâmica e
desenvolve-se atualmente com uma velocidade muito rápida. E básica porque essa área do conhecimen-
to é ampla, existem muitas facetas, campos de atuação e formas de intervenção. Dessa maneira, não se
pretende com esta apostila esgotar o assunto, na verdade, pretende-se desenvolver a curiosidade dos
estudantes. A curiosidade de buscar o aprofundamento do tema e inalmente, convidar os futuros enge-
nheiros a atuarem com competência e determinação nas questões ergonômicas e de saúde e segurança
do trabalho nas organizações que possam vir a exercer o seu ofício.
O certo é que aqueles que dominarem os conhecimentos de Ergonomia, Saúde e Segurança do
Trabalho terão um diferencial adicional em relação aos que não dominarem tal especialidade. Isso pode
sem dúvida ser o motivo e a porta de entrada para efetivamente o engenheiro se desenvolver e alcançar
a excelência proissional no mundo do trabalho, havendo ainda a possibilidade de, após a conclusão
da graduação, o proissional recém-formado especializar-se nessa área, tornando-se um Engenheiro de
Segurança do Trabalho.
Apenas para ins didáticos, dividiu-se em 02 blocos esta apostila. O primeiro bloco discorre sobre
os princípios de Saúde e Segurança do Trabalho e o segundo sobre a Ergonomia. Optou-se também por
evitar a transcrições na íntegra de normas regulamentadoras e outras bases legais, visto que o acesso a
elas é gratuito e facilitado no site1 do Ministério do Trabalho e Emprego do governo brasileiro.
Que todos os estudantes possam sentir o doce sabor de alcançar seus objetivos proissionais. A
Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho serão grandes parceiras nessa jornada.

Prof. Roger Valentim Abdala

http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentaDORAS/Default.asp.
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1 SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO

Prezado(a) aluno(a), neste capítulo, estuda- todo o país de estradas de ferro e mesmo assim a
remos a evolução da saúde e segurança do traba- Inglaterra continuou a construir ferrovias, só que
lho, histórico e atualidades. Estudaremos ainda os dessa vez em outros países. Com isso conseguiu
desaios modernos da relação homem e trabalho. também exportar locomotivas, vagões, navios e
Descreveremos ainda as principais técnicas utili- máquinas industriais.
zadas para a prevenção de acidentes e doenças No Brasil, pode-se relacionar a Revolução In-
ocupacionais. dustrial à Era Vargas. Getulio Vargas criou a Justiça
Desde o início do homem no mundo o tra- do Trabalho (1939), instituiu o salário-mínimo, a
balho esteve presente em suas atividades. Devi- Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Getulio
do às suas características únicas em relação aos Vargas investiu também na área de infraestrutura:
demais animais, o homem obteve sucesso no de- criou a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a
correr da história ao criar tecnologias que o possi- Vale do Rio Doce (1942), e a Hidrelétrica do Vale
bilitaram a sobreviver frente às adversidades exis- do São Francisco (1945). E, em 1938, criou o Ins-
tentes em sua época e sobrepô-las, partindo de tituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE).
atividades de caça até a era industrial. O grande marco da legislação acidentá-
Uma das principais características da Revo- ria no país foi o Decreto-lei nº 036, de 10 de no-
lução Industrial foi a utilização de máquinas em vembro de 1944, regulamentado pelo Decreto nº
larga escala para a produção voltada para o mer- 18.809, de 05 de maio de 1945. Com a revogação
cado em todo o mundo. A Inglaterra foi o primei- do Decreto-lei nº 7.036/1944, iniciou-se o pro-
ro país da Revolução Industrial, gerando um cres- cesso de estatização do seguro de acidentes do
cimento da economia desse país a partir de 1780, trabalho, com inequívocos retrocessos e prejuízos
e, em 1840, a indústria já estava praticamente me- aos acidentados do trabalho.
canizada em sua totalidade; havia uma rede em

1.1 Doença do Trabalho na Antiguidade

As referências relativas à saúde, doença e ao O trabalho era considerado uma atividade


trabalho, embora de forma muito restrita, são no- vil, destinada às camadas mais baixas da socieda-
tícias de tempos bem remotos, desde as civiliza- de, carentes de proteção. Os escravos poderiam
ções egípcia, grega e romana. A escassez de mais ser mortos ou mutilados por seus amos, de sor-
informes se prende ao fato de que na Antiguida- te que, nessa época, quase não se podia falar de
de os trabalhos mais pesados, bem como aqueles qualquer tipo de proteção devida em razão de
que envolviam riscos, eram feitos pelos escravos infortúnio resultante do trabalho (COSTA, 2007).
conseguidos nas guerras ocorridas entre as na- Inúmeros escritos mostram quanto eram comuns
ções (COSTA, 2007). as deformações físicas, as enfermidades e muitas

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Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho

outras sequelas, oriundas dos abusos praticados Segundo Costa (2007), naquela época o tra-
pelos empregadores em seus trabalhadores. balho recebia uma conotação vil, era tido como
A ideia de trabalho pesado e de sofrimento uma atividade destinada aos pobres. Talvez por
decorrente da atividade laborativa (trabalhado, isso que o trabalho na época não merecesse uma
relacionado a laborar) é muito antiga e tem in- proteção aos trabalhadores.
luenciado os critérios para a escolha e elabora-
ção de métodos de trabalho até os dias de hoje.

1.2 Doença do Trabalho: a Revolução Industrial

O homem primitivo precisava trabalhar Hoje, as relações comerciais e industriais


para conseguir seus alimentos para subsistên- entre os povos é um fato inconteste (indiscutido,
cia. Seu trabalho era somente extrativo, ou seja, amplamente aceito), em razão da globalização da
não se procurava outras necessidades como im. economia, provocando a lexibilização, a regulari-
Posteriormente, para a vida, o homem, com o uso zação do mundo do trabalho, tornando diferente
exclusivo das mãos, inventou e aperfeiçoou ins- a visão dos povos. Surgiram conceitos modernos
trumentos de trabalho, preparou armas para a de- de inter-relacionamento em que as soluções para
fesa contra os animais e contra os seus próprios a segurança do trabalho são importantes. Assim,
semelhantes (COSTA, 2007). a Revolução Industrial marcou o início da preocu-
No período paleolítico iniciou-se a ativida- pação com questões relacionadas ao acidente do
de da pedra lascada. O homem tentava melhorar trabalho (COSTA, 2007).
sua caça e defesa ao melhorar suas armas. Em se-
guida, o homem passou a preparar a pedra polida Bernardino Ramazzini
(segundo período da Idade da Pedra), e, em se-
guida, para os metais, na Idade do Ferro e do Aço
O médico italiano, Bernardino Ramazzini,
(COSTA, 2007).
nasceu em 1633, na localidade de Carpi, perto de
A civilização começou a aumentar e crescer, Modena. Graduou-se em Parma, no ano de 1659.
e com esse crescimento o homem passou de um Foi professor de Medicina Teórica em Modena, de
simples caçador e agricultor a um ser em busca 1692 a 1700, e de Medicina Prática, em Pádua, até
de novas tecnologias para facilitar a sua vida. Sua morrer em 1714. Nos últimos cinco anos de vida,
cultura rudimentar aos poucos foi se transfor- icou cego. Bernardino Ramazzini foi autor de vá-
mando a partir de novos inventos que permitiam rias obras, entretanto ele icou mais conhecido
avançar da pedra lascada ao fogo, à alavanca, à depois da publicação do livro De Morbis Artiicum
roda e a forças mecânicas. Com isso seu domínio Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores), o qual
também aos poucos se consolidava frente aos ou- descreve as relações entre doenças de trabalho e
tros animais e aos seus semelhantes. o modo operatório das atividades ocupacionais
A Revolução Industrial permitiu as relações daquela época (CAMPANA, 1992).
capitalistas de trabalho (assalariado e patrão). O
sentido social do trabalho iniciou-se, e com ele a
criação de regras de condutas e relacionamentos. Atenção
O sentido protetivo (relativo à proteção) do traba-
Bernardino Ramazzini é considerado o “Pai da
lhador, em contrapartida começou a tomar forma Medicina do Trabalho” e um dos precursores em
(COSTA, 2007). saúde e segurança ocupacional.

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1.3 Organização Internacional do Trabalho (OIT)

O Conselho de Administração da Organi- a) Liberdade sindical e efetivo reconheci-


zação Internacional do Trabalho (OIT) classiicou mento do direito à negociação coletiva;
oito convenções como fundamentais para os b) Eliminação de todas as formas de traba-
direitos dos seres humanos no trabalho, inde- lho forçado ou compulsório;
pendentemente do nível de desenvolvimento c) Efetiva abolição do trabalho infantil;
dos estados-membros. Esses direitos constituem
d) Eliminação da discriminação em rela-
pré-condição para todos os demais, já que pro-
ção ao emprego e ocupação.
porcionam a base necessária para se lutar com li-
berdade pela melhoria das condições de trabalho
coletivas e individuais. Embutidos na Constituição da OIT, esses
A Declaração da OIT sobre os Princípios e princípios e direitos foram expressos e desenvolvi-
Direitos Fundamentais no Trabalho, adotada em dos na forma de direitos e obrigações especíicos
junho de 1998, ressalta esse conjunto de princí- nas Convenções, reconhecidas como fundamen-
pios trabalhistas essenciais, endossados pela co- tais, tanto dentro quanto fora da Organização.
munidade internacional. A Declaração cobre qua-
tro áreas principais para o estabelecimento de um
“piso” social no mundo do trabalho:

1.4 Acidentes de Trabalho

Para iniciar qualquer estudo voltado à Pre-


venção de Acidentes, faz-se necessário deinir o Atenção
que é Acidente do Trabalho.
Acidente do trabalho será aquele que decorrer
A legislação especíica sobre o assunto, a pelo exercício do trabalho, a serviço da empre-
chamada Lei de Acidentes do Trabalho (Decreto- sa, provocando lesão corporal, perturbação fun-
cional ou doença que cause a morte, ou a perda
-lei nº 7.036, de 10 de novembro de 1944), deiniu total ou parcial, permanente ou temporária da
acidente do trabalho em seu artigo 1º: capacidade para o trabalho.

Considera-se acidente do trabalho, para O parágrafo 2º desse artigo e o artigo 3º da


ins da presente lei, todo aquele que se lei ampliam o conceito de acidente do trabalho:
veriique pelo exercício do trabalho, pro- “Parágrafo 2º - Será considerado como do tra-
vocando, direta ou indiretamente, lesão balho, o acidente que, embora não tenha sido a
corporal, perturbação funcional ou doen- causa única, haja contribuído diretamente para a
ça que determine a morte, ou perda total
morte, ou perda, ou redução da capacidade para
ou parcial, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho. o trabalho.”

Essa deinição foi substituída pelo artigo 2º Artigo 3º - Será considerado acidente do
trabalho:
da Lei nº 5.316, de 14 de setembro de 1967:
I - o acidente sofrido pelo empregado
no local e horário de trabalho, em conse-
qüência de:

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a) ato de sabotagem ou terrorismo prati- sião de satisfação de outras necessidades


cado por terceiro, inclusive companheiro isiológicas, no local de trabalho ou du-
de trabalho; rante este o empregado será considerado
a serviço da empresa.
b) ofensa física intencional, inclusive de
terceiro, por motivo de disputa relaciona-
da com o trabalho;
Com pouca diferença, o art. 19 da Lei nº
c) ato de imprudência ou de negligência
8.213/1991, que dispõe sobre os Planos de Bene-
de terceiro, inclusive companheiro de tra-
balho; fícios da Previdência Social, conceitua o que é aci-
dente do trabalho.
d) ato de pessoa privada da razão;
e) outros casos fortuitos ou decorrentes
Atenção
de força maior.
II - O acidente sofrido pelo empregado, Artigo 19
ainda que fora do local e horário de tra- Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exer-
balho: cício do trabalho a serviço da empresa ou pelo
exercício do trabalho dos segurados referidos no
a) na execução de ordem ou na realização inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão
de serviço sob a autoridade da Empresa; corporal ou perturbação funcional que cause a
b) na prestação espontânea de qualquer morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
serviço à Empresa, para lhe evitar prejuí-
zo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da Empresa, seja Então, como é possível observar, o con-
qual for o meio de locomoção utilizado, ceito legal de acidente é o mais amplo possível,
inclusive veículo de propriedade do em- entretanto, para caracterizá-lo, necessariamente
pregado;
deve haver lesão física, perturbação funcional ou
d) no percurso da residência para o traba- doença que cause a morte, a perda ou a redução,
lho ou deste para aquela.
permanente ou temporária, da capacidade de tra-
Parágrafo Único: Nos períodos destina- balho, ou seja, deve haver uma ou mais vítimas.
dos a refeições ou descanso, ou por oca-

1.5 Indenizações por Acidentes do Trabalho - Teorias

A análise das teorias a respeito do funda- em juízo que o patrão era o culpado pelos seus
mento jurídico da obrigação de indenizar as le- danos. O empregador tinha a possibilidade de se
sões decorrentes de acidentes do trabalho é de exonerar de responsabilidades e comprovar sua
suma relevância doutrinária, pois ela representa ausência de culpa, ou culpa do próprio emprega-
a histórica origem da proteção aos infortúnios do do, caso fortuito (casual, acidental), força maior,
trabalho e dimensiona o ciclo evolutivo desde a culpa de terceiros e ainda outras excludentes de
responsabilidade civil até o seguro social. Visto responsabilidade (ANSP, 2007).
que o assunto é bastante vasto, limitou-se, aqui, a O trabalhador tinha que provar que a culpa
algumas considerações. era do patrão e comumente isto era quase que
Salienta-se que as normas anteriores à pre- inalcançável pela própria condição do obreiro.
gressa “Lei de Acidentes do Trabalho”, datada de Com isso, perpetuavam-se as causas dos aciden-
1919, constituíam-se em Direito Privado, dessa tes e os direitos dos trabalhadores não se faziam
forma ressalta-se que era fundamentada na teoria valer. Esse cenário também era comum em outros
da culpa, signiicando que para se obter a repa- países do mundo civilizado (ANSP, 2007).
ração de danos, deveriam os acidentados provar

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Teoria do Risco Proissional Teoria do Risco Social

Essa ideia de diagnosticar a culpa do aci- A teoria do risco social defendia que a res-
dente à própria vítima causava estagnação nas ponsabilidade pelos danos decorrentes dos aci-
propostas de prevenção dessas ocorrências, visto dentes de trabalho deveria ser de todos, ou seja,
que bastaria substituir o trabalhador para elimi- estava fundamentada na Seguridade Social, cujo
nar os acidentes de trabalho. Demonstrando que proveito toda a sociedade se beneicia (ANSP,
essa teoria era infrutífera quanto à necessidade 2007).
de redução dos acidentes, Surge a teoria do risco
proissional, ou responsabilidade civil objetiva, a Com essa teoria confere-se ao seguro
qual se baseava na eliminação de qualquer ideia acidentário a natureza de seguro genui-
de culpa, mesmo do empregado e empregador namente social. Parece equívoco supor
(ANSP, 2007). que o seguro só possa revestir-se de so-
cial se operado por um órgão público.
Com essa teoria, iniciou-se um seguro com- Preconiza-se, assim, que o pagamento do
pulsório pela transferência do risco do empresário seguro-acidente seja feito pela socieda-
para o segurador com a inalidade eminentemen- de. No entanto, tal teoria não trouxe mu-
danças práticas, uma vez que o repasse
te social. Surge, também, a primeira lei especí-
do prêmio, via preço aos consumidores,
ica de acidentes do trabalho do mundo, a qual já os coloca como reais pagadores deste.
é seguida por diversos países, inclusive o Brasil (ANSP, 2007).
(Decreto Legislativo nº 3.274, de 15 de janeiro de
1919) (ANSP, 2007).

1.6 Conceito Técnico Prevencionista do Acidente do Trabalho

O acidente do trabalho é deinido na legisla-


ção brasileira como todo aquele que é decorrente Atenção
do exercício do trabalho e que provoca, direta ou
O conceito prevencionista caracteriza o acidente
indiretamente, lesão, perturbação funcional ou de trabalho como: toda ocorrência não progra-
doença. mada, estranha ao andamento normal do tra-
Veriica-se, portanto, que há uma confusão balho, da qual possa resultar danos físicos e/ou
funcionais, ou morte do trabalhador e/ou danos
na lei entre o que é acidente e o que é prejuízo materiais e econômicos à empresa.
físico sofrido pelo trabalhador.
Sob o ponto de vista prevencionista, essa
deinição não se faz satisfatória, visto que o aci-
dente é deinido em função de suas consequên-
cias no homem.

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Figura 1 – Iceberg dos acidentes de trabalho.

A deinição prevencionista não limita o aci- lesão) e acidentes com lesão incapacitante (inap-
dente à ocorrência de uma lesão física no trabalhador, to, incapaz, inaptidão, inabilidade). A pesquisa
visto que todo acidente deve ser considerado impor- realizada concluiu que há sempre um causador
tante, mesmo aqueles em que não há lesão. Busca-se anterior, ou seja, uma causa pregressa. Descobriu
dessa maneira eliminar a ocorrência destes, amplian- também que nem sempre o homem se encontra
do o registro das ocorrências com ou sem lesão. preparado para executar a atividade, e acaba por
cometer atos inseguros. Além disso, existem con-
Causa dos Acidentes dições inseguras que comprometem a segurança,
portanto, segundo a pesquisa de Heinrich, os atos
inseguros e as condições inseguras constituem
As causas dos acidentes sempre foram tema o fator principal na causa dos acidentes (AEDB,
de debates no âmbito da segurança do trabalho. 2000).
Entretanto, as discussões se restringiam muitas Sua pesquisa apresentou os seguintes re-
vezes ao campo dos custos econômicos dos aci- sultados:
dentes. Em 1930, entretanto, H. W. Heinrich ini- Interpretando a ilustração, veriica-se que
ciou alguns estudos mais aprofundados sobre o
tema, sendo que sua teoria pode ser considerada
precursora das que atualmente são utilizadas no
mundo da segurança do trabalho.

Teoria de Heinrich

A partir de 1931 e nos anos seguintes, Hein-


rich realizou investigações com vistas a veriicar a
relação entre acidentes com danos materiais (sem

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para cada lesão incapacitante (inapto, incapaz, a criação de condições inseguras.


inaptidão, inabilidade) havia 29 lesões não inca- ƒƒ Falhas humanas: devido a alguns tra-
pacitantes e 300 acidentes sem lesão. ços negativos de sua personalidade,
Heinrich durante seu estudo comparou as qualquer homem poderá cometer fa-
causas de acidentes às peças de um dominó. A lhas no exercício do trabalho, os quais
primeira pedra de dominó representa a personali- poderão resultar em acidentes de tra-
dade; a segunda, as falhas humanas; a terceira, as balho (GOMES, 2003).
causas de acidentes – atos e condições inseguras; ƒƒ Causas de acidente: as principais cau-
a quarta peça, o acidente de trabalho; e a quinta, sas de acidentes contemplam as condi-
as lesões (AEDB, 2000). ções inseguras e os atos inseguros, uma
das pedras do dominó.
ƒƒ Personalidade: características positi- ƒƒ Acidente: na presença de uma ou mais
vas e negativas, de qualidades e defei- condições inseguras, ou, se atos inse-
tos, que constituem a personalidade do guros forem feitos pelo trabalhador, a
trabalhador. A personalidade se forma consequência será provavelmente a
através dos anos, por inluência gené- ocorrência de acidente.
tica, do meio social e familiar. Algumas ƒƒ Lesões: é comum que na ocorrência de
das características da personalidade um acidente o trabalhador sofra possi-
são as irresponsabilidades, teimosia, velmente lesões, entretanto nem todo
que podem se constituir em razões acidente provoca lesões no trabalhador.
para a prática de atos inseguros ou para

Segundo Gomes (2003), caso não se consi- os quais poderão ocasionar acidentes de trabalho
ga eliminar alguns traços de personalidade nega- (com ou sem lesões). Caso isso ocorra, tomba-se a
tivos, poderá ocorrer, como consequência dessas pedra “personalidade” e ela ocasionará a queda, em
diiculdades atitudinais do homem no trabalho, a sucessão, de todas as seguintes.
produção de atos inseguros e condições inseguras,

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Deve-se considerar a diiculdade extrema É importante que as condições inseguras


de modiicar a personalidade de um ou mais tra- no ambiente de trabalho sejam eliminadas por
balhadores, portanto a tentativa de se eliminar as completo, bem como se deve também capacitar
falhas humanas no ambiente laboral é um grande os operários para que não pratiquem atos inse-
desaio. Dessa maneira, deve-se buscar principal- guros. Isto se chama a busca por uma “Cultura de
mente a eliminação das causas de acidentes, sem Segurança”, ou seja, a prática da segurança, em
se ater primeiramente à meta de modiicar a per- suas vidas, deverá se transformar hábito dos tra-
sonalidade dos indivíduos (GOMES, 2003). balhadores.

Se conseguirmos eliminar as causas dos aci- Para os prevencionistas, as causas de aci-


dentes, a personalidade das pessoas no ambiente dentes constituem nos fatores que, se fossem
de trabalho poderá até não mudar, entretanto o removidos antecipadamente do ambiente de
resultado será um ambiente de trabalho prova- trabalho, teriam evitado os acidentes. É fácil diag-
velmente mais seguro para todos. nosticar que os acidentes não são inevitáveis, e
Com o passar dos anos, muitos outros estu- que não surgem por acaso, entretanto a diicul-
dos foram feitos, dos quais, podem-se deinir os dade está em intervir em suas causas a tempo,
principais três fatores causadores de acidentes: ou antes de ocasionar tragédias. As causas de aci-
dentes podem se originar por fatores pessoais ou
a) Condições inseguras, inerentes às insta- ambientais. Geralmente, constituem-se na união
lações, como máquinas e equipamentos; desses dois fatores, ou seja, na análise dos aciden-
tes devem ser consideradas causas humanas e
b) Atos inseguros, entendidos como atitu-
tecnológicas (ato inseguro e condição insegura).
des indevidas do elemento humano;
Devido a essa faceta dupla das causas de aciden-
c) Eventos catastróicos, como inunda- tes, segundo Gomes (2003):
ções, tempestades, atos de sabotagem
etc.
Existe então necessidade do envolvi-
mento de proissionais de outras áreas,
principalmente de Ciências Humanas,
É fácil intervir nas condições técnicas a im
para se obter uma evolução nesse se-
de evitar riscos de lesões ou acidentes de traba- tor. Até o presente momento, nenhuma
lho. Intervenções de cunho comportamentais são das máquinas construídas, nenhum dos
mais desaiadoras e seus resultados ocorrem ape- produtos químicos obtidos por síntese e
nas em longo prazo, principalmente quando se nenhuma das teorias sociais formuladas
alteraram fundamentalmente a natureza
trata de questões atitudinais. humana. As formas de comportamento,

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que devem ser levadas em consideração


no esforço de prevenir atos inseguros, Atenção
deverão ser analisadas de modo bastante
abrangente. Os principais causadores de acidentes são: o ato
inseguro, a condição insegura e os eventos catas-
tróicos.

1.7 Risco, Acidente e Lesão

Cada indivíduo está sujeito a algum tipo de confusão, e estas não devem ser utilizadas para
risco de origem hereditária, ou a algum risco es- designar lesões graves ou leves.
pecíico durante a execução de sua atividade de Nesse sentido o termo ‘Lesão’ serve como
trabalho, ou ainda, à soma desses dois tipos de ris- ponto inicial para se descobrir a característica dos
cos, de acordo com as circunstâncias de trabalho e acidentes. O reconhecimento e a caracterização
comportamentais. de suas causas podem ser simples (ex.: um degrau
Os riscos inerentes à indústria necessitam da quebrado de uma escada). Entretanto, cabe aqui
veriicação das condições e dos métodos de traba- salientar que a maioria dos acidentes é multicau-
lho na organização. Um exemplo é a comparação sal, ou seja, na maior parte deles, os acidentes são
entre duas fábricas que, apesar de produzirem o ocasionados por mais de uma causa (PEREIRA; PI-
mesmo tipo de produto, possuem estatísticas dis- NHEIRO, 2003).
crepantes de acidentes e doenças ocupacionais,
consequência muitas vezes das condições tecno- Atenção
lógicas, comportamentais e de gestão.
Não existe “acidente grande” ou “acidente peque-
Não existe “acidente grande” ou “acidente no”. E sim acidentes com lesões graves ou aciden-
pequeno”. O uso dessas expressões pode causar tes com lesões leves.

1.8 Fatores de Acidentes

Didaticamente podemos dividir em cinco os que causa efetivamente a lesão. Exemplo: alguns
tipos de informações que podemos coletar numa materiais com características agressivas, ou uma
investigação a partir das características dos casos ferramenta, a ponta de uma máquina. A lesão e
de acidentes. Estes são os chamados fatores de o local da lesão é o ponto inicial na identiicação
acidentes importantíssimos para elucidação das do agente da lesão. É importante que se obser-
causas dos acidentes e com isso sua prevenção. ve os tipos e as características do agente causa-
Eles são o agente da lesão, a condição in- dor da lesão. Alguns tipos de agentes são muito
segura, o acidente tipo, o ato inseguro e o fator agressivos, como, por exemplo, os ácidos, outros
pessoal de insegurança. produtos químicos, a energia elétrica, entre ou-
tros. Outros tipos de agentes da lesão podem
determinar ferimentos por atritos mais acentua-
Agente da Lesão dos, ou por batidas contra a pessoa ou ainda da
pessoa contra eles. Há ainda agentes da lesão de
Agente da lesão é deinido como o que natureza diferenciada, como, por exemplo, por
entra em contato com o indivíduo acidentado e prensamento ou queda. Importante ressaltar que

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a dureza de um material pode não ser essencial- conscientemente) a um ou mais riscos de aciden-
mente agressiva, mas, de outra maneira, pode tes. Ou seja, é a caracterização de certo tipo de
ocasionar algum tipo de lesão quando entra em comportamento que promove ou facilita a ocor-
contato violento com o indivíduo. O mesmo caso rência de um acidente. Na maioria das vezes está
pode ocorrer se o peso de objetos, os quais, em si, vinculado a uma violação de um procedimento
não constituem agressividade, mas que aliados à seguro consagrado, consequentemente, favore-
dureza do objeto podem determinar ferimentos cendo a ocorrência do acidente de trabalho.
ao cair sobre as pessoas.
Os atos inseguros são considerados como
uma das principais causas de acidentes (conjun-
Condição Insegura tamente com as condições inseguras). Estes são
identiicados, por exemplo, no momento em que
o trabalhador se serve de ferramentas inadequa-
Condição insegura é deinida como uma ou
das de trabalho, pelo “jeitinho brasileiro”, por pre-
mais não conformidades ou falhas no ambiente
guiça de praticar procedimentos de segurança na
físico que comprometem a segurança do traba-
execução de uma ou mais atividades etc.
lhador. Pode-se dizer que as falhas, defeitos, irre-
gularidades técnicas, carência de dispositivos de São exemplos de atos inseguros:
segurança e outros que expõem algum tipo de
risco à integridade física das pessoas e também a) Esforço físico incorreto;
à segurança das instalações e dos equipamentos b) Permanecer embaixo de cargas suspen-
são considerados condições inseguras. Importan- sas;
te ressaltar que há atividades que possuem ris- c) Executar manutenção, lubriicação ou
cos inerentes ao tipo de natureza das atividades, limpeza de máquinas em movimento;
que não devem ser confundidas com condições
d) Praticar abusos, brincadeiras grosseiras
inseguras de trabalho. Por exemplo, trabalho em
etc.;
altura, trabalho com eletricidade. O trabalho em
si é perigoso, podendo apresentar ou não conco- e) Realizar operações para as quais não
mitantemente uma ou mais condições inseguras esteja devidamente autorizado e/ou
durante a execução da atividade em si. treinado;

Exemplos de condições inseguras: f) Remover dispositivos de proteção de


máquinas ou alteração em seu funcio-
namento;
a) Proteção mecânica inadequada;
g) Operação de máquinas em velocidades
b) Condição defeituosa do equipamento,
muito rápidas ou inseguras;
escadas mal projetadas, pisos escorre-
gadios ou mal sinalizados, tubulações; h) Uso de equipamento inadequado, inse-
guro ou de forma incorreta;
c) Projeto ou construções inseguras;
i) Uso incorreto do Equipamento de Pro-
d) Processos, operações ou arranjos inade-
teção Individual (EPI).
quados ou perigosos;
e) Iluminação e ventilação inadequadas
ou incorretas. Acidente-Tipo

Ato Inseguro O acidente-tipo é utilizado para facilitar a


deinição de como as pessoas no ambiente de tra-
balho se acidentam, ou seja, como a lesão se ori-
Deine-se o ato inseguro como a forma em ginou, qual a forma de contato entre a pessoa e o
que o trabalhador se expõe (consciente ou in- agente de lesão, independentemente do grau de

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violência dessa interação ou contato. Salienta-se lhador sofre alguma lesão ao bater con-
que uma correta compreensão do acidente-tipo tra qualquer obstáculo durante uma
irá contribuir na identiicação dos atos inseguros queda ou escorregão, tropeção. A que-
e das condições inseguras. Usualmente classii- da é quase sempre proveniente de con-
cam-se os acidentes-tipo da seguinte maneira: dições inseguras no local de trabalho,
ou seja, um trabalhador pode cair ou se
ƒƒ Batida contra: é caracterizado quando desequilibrar na quebra de uma escada
uma pessoa bate seu corpo ou parte do ou andaime, num piso escorregadio,
seu corpo contra um ou mais obstáculos: num objeto no meio de um trajeto no
isto ocorre mais frequentemente nos mo- chão de fábrica, etc.
vimentos bruscos, descoordenados ou im- ƒƒ Prensagem entre: ocorre quando o
previstos, ou quando ainda predomina um trabalhador tem um segmento corporal
ato inseguro ou, ainda, nos movimentos prensado entre um objeto ixo e outro
normais, quando há condições inseguras, móvel, ou ainda entre dois objetos mó-
tais como: coisas fora do lugar, má arruma- veis. É comum essa ocorrência em tra-
ção, pouco espaço etc. (AEDB, 2000); balhos executados de maneira insegu-
ƒƒ Batida por: caracteriza-se nas oca- ra, principalmente durante o manuseio
siões em que o trabalhador, ao contrá- de peças, embalagens etc., que devido
rio da “batida contra”, não bate contra, ao fato de se colocar ou descansar as
mas, sim, sofre uma batida de algum mãos em pontos perigosos de equipa-
objeto, ou peça, por exemplo. A “bati- mentos pode gerar a prensagem. Previ-
da por” pode ocasionar alguma lesão ne-se a ocorrência desse acidente-tipo
(ou ferida), às vezes pelo trabalhador com o auxílio de dispositivos de segu-
acabar colocando-se em algum lugar rança nos equipamentos (EPC), através
perigoso, ou ainda por não usar o equi- de instruções, treinamentos, capacita-
pamento adequado de proteção (EPI, ções etc. em assuntos relacionados às
por exemplo) e, outras vezes, por não regras de segurança;
haver quaisquer protetores que isolem ƒƒ Esforço excessivo ou “mau jeito”:
as partes perigosas dos equipamentos nesse acidente-tipo o trabalhador so-
(Equipamento de Proteção Coletiva – fre de lesões relacionadas a aspectos
EPC, por exemplo) ou que retenham musculoesqueléticos (distensões, en-
em suas fontes os estilhaços ou outros torses etc.), como, por exemplo: disten-
elementos potencialmente causadores são lombar, lesões na coluna vertebral
de lesão ou perigosos; etc. É consequência da manutenção
ƒƒ Queda de objetos: caracteriza-se nos de uma postura corporal incorreta, do
casos em que o trabalhador é atingido movimento brusco, de más condições
por objetos que caem; essas quedas po- ergonômicas no ambiente de trabalho,
dem ocorrer, por exemplo, no momento ou ainda de grande esforço emprega-
em que o trabalhador está manusean- do, principalmente utilizando-se para
do, levantando ou carregando uma car- tal da coluna vertebral como se fosse
ga com suas mãos e braços, ombro, etc., uma alavanca.
ou essa queda poderá ocorrer a partir ƒƒ Exposição a temperaturas extremas:
de qualquer lugar em que o objeto es- como o próprio nome diz, a exposição
teja apoiado. a temperaturas extremas caracteriza-
ƒƒ Queda da pessoa: caracteriza-se na -se nos casos em que o trabalhador é
situação em que uma pessoa ou traba- exposto a temperaturas muito altas ou

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baixas na execução de suas atividades Enim, a classiicação proposta de “aciden-


laborais. Essas temperaturas podem ou tes-tipo” baseia-se na maneira pela qual a pessoa
não serem radiantes. A consequência sofre alguma lesão, ou entra em contato com o
dessa exposição poderá ser uma lesão agente lesivo, e nada tem a ver com a ocorrência
ou uma doença ocupacional, como, por física do acidente nem com a extensão das possí-
exemplo: prostração térmica, queima- veis lesões dos trabalhadores (AEDB, 2000).
dura por raios de solda elétrica e outros
efeitos lesivos imediatos, os quais po- Fator Pessoal de Insegurança
derão ocorrer sem que o trabalhador
tenha sido exposto diretamente com a
fonte de risco. Considera-se como fator pessoal de inse-
ƒƒ Contato com produtos químicos
gurança a característica mental ou física dos indi-
víduos que favorece ou ocasiona o ato inseguro.
agressivos: caracteriza-se na ocorrên-
Em alguns casos o fator pessoal de insegurança
cia de alguma lesão no trabalhador
pode criar condições inseguras ou permitir que
por aspiração ou ingestão de produ-
elas se mantenham. A indicação do fator pessoal
tos químicos ou pelo contato da pele
de insegurança pode ser subjetiva, mas contribui
com os mesmos. Efeitos alérgicos são
nas investigações de acidentes. Os fatores pes-
incluídos. As dermatites ocupacionais
soais de insegurança mais comuns são:
são uma das principais doenças de tra-
balho e ocorrem devido à falta ou má
condição dos equipamentos de segu- a) Atitude imprópria (desrespeito às re-
rança ou utensílios destinados à mani- gras de trabalho);
pulação dos produtos químicos. Outras b) Má interpretação das normas;
razões são a falta de conhecimento do c) Nervosismo;
trabalhador sobre o produto, ou, ainda, d) Excesso de coniança;
a confusão entre produtos, desorga-
e) Falta de conhecimento das práticas se-
nização. A falta de ventilação adequa-
guras;
da também é responsável por muitas
f) Incapacidade física para o trabalho.
doenças ocupacionais causadas por
produtos químicos (AEDB, 2000);
ƒƒ Contato com eletricidade: as lesões Atenção
desse acidente-tipo são provocadas
pelo contato com ios ou outros pontos Os Fatores de Acidentes são:
energizados, ou ainda com arco voltai- • O agente da lesão;
• A condição insegura;
co. Esses acidentes-tipo são potencial- • O acidente-tipo;
mente graves: acidentes nesses casos • O ato inseguro;
podem causar a morte dos trabalhado- • Fator pessoal de insegurança.

res.
ƒƒ Outros acidentes-tipo: são tipos de
acidentes não especíicos ou desdobra-
mentos dos acima relacionados. Podem ser
classiicados dessa maneira para principal-
mente facilitar a investigação dos acidentes
e realização de intervenções preventivas,
ou seja, são outros tipos menos comuns de
acidentes, que pela incidência menor não
requerem uma classiicação especíica.

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1.9 Causas de Acidentes

Na determinação da causa de acidentes Estes são resultados de acidentes, não causas. A


é importante que se leve em conta os fatores seguir, será estudado o tipo de acidente, tal como
pessoais, que são dependentes do homem, que estudado anteriormente.
originam o ato inseguro, bem como os fatores Após isso é que se busca investigar quais-
relacionados à tecnologia (materiais), que são de- quer condições inseguras facilitadoras direta ou
pendentes das condições existentes nos locais de indiretamente para a ocorrência do acidente,
trabalho e que originam a condição insegura; os como, por exemplo: impropriedade dos antepa-
dois fatores se encadeiam, o que leva a dizer que ros das máquinas ou transmissões, equipamentos
o acidente resulta do ato inseguro mais condi- defeituosos; arranjos físicos perigosos; ilumina-
ção insegura. ção insuiciente etc. Também se procuram quais-
É comum que proissionais da segurança quer atos inseguros que possam ter precedido o
ainda usem com impropriedade o termo ‘descui- acidente, tais como:
do’, o qual continua sendo apresentado como a
maior causa de acidentes do trabalho. Nas inves- a) Falta de uso de equipamento de segu-
tigações de acidentes de trabalho chegou-se a rança;
conclusão de que, entre as causas mais frequen- b) Uso do equipamento de modo incorre-
tes desses acidentes, o descuido era um dos prin- to;
cipais, concomitantemente com a falta de aten-
c) Execução da tarefa sem autorização;
ção, a distração e outras mais, nenhuma, porém,
relacionou como uma das causas dos acidentes d) Trabalho a uma velocidade insegura;
as condições inseguras. Por motivos óbvios, essa e) Uso de equipamento defeituoso,
conclusão infelizmente só faz perpetuar os aci- f) Carregamentos de risco;
dentes de trabalho, visto que a vítima é sempre a g) Postura inadequada;
culpada por sua gênese.
h) Conserto ou lubriicação de maquinaria
Resumindo, é, sem dúvida, o caminho mais em movimento;
fácil a seguir numa análise de acidentes conside-
i) Brincadeiras;
rar o descuido do operário como o único fator
causal. Deve-se lembrar que o descuido não é j) Dispositivos de segurança tornados
uma causa direta de acidente, e por isso devem- inoperantes.
-se procurar as causas reais ou as mais diretas que
podem resultar em ato inseguro. Conclui-se dizendo que o termo ‘descuido’
Em geral, inicia-se a investigação, pelas con- não deve ser empregado com referência à causa
sequências da lesão, tais como cortes, queima- de um ato inseguro ou de um acidente.
duras, escoriações, fraturas ósseas, choques etc.

1.10 Predisposição a Acidentes

Essa teoria deu origem a soisticados traba- duos. Para prevenir os acidentes, era necessário
lhos de forte cunho psicológico, que identiica- afastar esses “tipos” do trabalho.
vam em alguns indivíduos “predisposição a aci- Entre os aspectos interessantes observados
dentes”, sendo essa predisposição tida como uma pelos estudiosos dessa teoria, resultam os seguin-
propriedade biológica particular de certos indiví- tes pontos:

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a) Na ocasião do acidente, era comum que das causas relacionadas aos fatores humanos, e que
operários mais especializados e mais em ordem decrescente de importância são:
experientes izessem repentinamente
coisas que um novato normalmente a) Deiciências físicas (principalmente ór-
não faria; gãos do sentido);
b) Comumente algumas das diretrizes de b) Deiciências psicofísicas;
segurança foram infringidas ao mesmo c) Deiciências mentais e nervosas;
tempo;
d) Preocupações com outros problemas;
c) Enquanto esse esforço autodestrutivo
e) Insatisfação com o trabalho da empre-
era processado, alguns operários obri-
sa;
gavam a ir embora do local os seus co-
legas que tentavam protegê-los. f) Atitude contrária à segurança.

Esses aspectos demonstram em parte as Dessa forma, intervenções devem ser feitas
questões biopsicossociais relacionadas à segu- a im de reduzir aspectos facilitadores de aciden-
rança do trabalho, aspectos estes difíceis de inter- tes de trabalho. Para que essas intervenções te-
venção, pois tratam da complexidade da mente nham maior chance de sucesso, uma equipe for-
humana. mada por proissionais da área da Segurança do
Trabalho, Saúde, Psicologia e Sociologia deve
A “predisposição a acidentes” na realidade
ser montada e gerida em prol do alcance desses
não existe segundo alguns estudiosos (principal-
objetivos prevencionistas.
mente Selling), mas ela encobre em parte algumas

1.11 Eliminação das Causas de Acidentes

Conforme exposto anteriormente nesta b) As causas básicas (causa raiz) são os


apostila, para se prevenir acidentes e doenças fatores preexistentes que contribuíram
ocupacionais, a atuação dos proissionais preven- indiretamente para a ocorrência do
cionistas deverá ocorrer principalmente na busca acidente, por exemplo: a falta de trei-
pela: namento para operar uma máquina ou
um equipamento, sendo este o motivo
a) Eliminação da prática de atos inseguros; de o operador ter colocado parte do
b) Eliminação de condições inseguras. corpo em local inadequado.

As causas imediatas são um resultado ne-


Deve-se sempre procurar a causa real entre
gativo da prática de atos inseguros. Estes, por
as atitudes falhas e as condições inadequadas; em
sua vez, poderão ser reduzidos ou eliminados
todo acidente, pode-se encontrar sempre uma ou
por meio de uma criteriosa seleção proissional e
mais causas básicas atreladas à causa imediata
exames médicos adequados, e, posteriormente,
que o gerou:
através da educação e do treinamento contínuo
(mesmo assim o ser humano muitas vezes é im-
a) As causas imediatas são os fatores que
previsível e de difícil controle).
contribuíram diretamente para a ocorrên-
As causas básicas estão relacionadas às con-
cia do acidente, por exemplo: colocar parte
dições inseguras de trabalho. Dessa forma, essas
do corpo em local inadequado;

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condições de risco podem ser reduzidas e elimi-


nadas através de medidas de engenharia e auto- Atenção
mação que aperfeiçoem e garantam a eliminação
Para haver a prevenção de acidentes e doenças
das condições inseguras no trabalho. ocupacionais, a atuação dos proissionais preven-
cionistas deverá ocorrer principalmente na busca
pela eliminação da prática de atos inseguros e
eliminação de condições inseguras.

1.12 Investigação e Análise de Acidentes

As peculiaridades inerentes a cada indústria, propõem uma série de medidas de pre-


como o espaço físico, produto fabricado, proces- venção, como enclausuramento (reco-
lhido em claustro, convento) da zona de
sos de fabricação (métodos de fabricação, máqui-
operação do robô, instalação de painéis
nas e equipamentos), matérias-primas utilizadas, de controle do robô fora da área de ope-
características socioeconômicas da região onde ração etc., além da recomendação de não
se localiza a indústria, geram riscos de acidentes. utilização dos postes de segurança para
Os acidentes acontecem quando a prevenção fa- limitar os movimentos do robô, caso ele
se “descontrole”, as medidas propostas
lha; nesse sentido, os processos de investigação e
levam ao questionamento da real im-
análise de acidentes se constituem em ferramen- portância do comportamento da vítima
tas de vital importância para a identiicação das na situação em que o acidente ocorreu.
causas e estabelecimento de planos de ação para Cabe ressaltar que já havia descrições na
sanar as não conformidades identiicadas. literatura de acidentes fatais com esse
tipo de equipamento. Isso mostra que o
Uma investigação cuidadosa possibilita a problema de responsabilização da vítima
descoberta de novos riscos e soluções. O proces- não é exclusividade do Brasil, respeitan-
so de investigação e análise de acidentes deve ter do-se a evolução dos países de primeiro
mundo no trato de acidentes.
caráter estritamente preventivo e não punitivo,
com o objetivo principal de levantar todas as cau-
sas relevantes e nunca buscar culpados. Se a partir dos anos 30, os estudos de
HEINRICH izeram avançar a concepção
prevalente acerca dos acidentes de fenô-
Estudo de Caso – EUA menos simples decorrentes de fatores téc-
nicos a fenômenos um pouco mais com-
O relato é de uma investigação de aci- plexos em cuja origem encontravam-se
dente fatal, ocorrido nos Estados Unidos também fatores humanos, no Brasil, esta
(1986), levada a feito pela National Insti- concepção deslocou-se no sentido de
tute for Occupational Safety and Haelth atribuir grande peso aos últimos. Lamen-
(NIOSH, 1997, p. 104), como parte do tavelmente, no que diz respeito à gênese
projeto Fatal Accident Circunstances and dos acidentes de trabalho, a concepção
Epidemiology. O acidentado entrou na unicausal, calcada, sobretudo em fatores
área de operação de um robô e icou humanos, entendidos como descuido,
prensado entre um braço deste e o pos- desatenção e negligência, são expressões
te de segurança de limitação de rotação comumente observadas em relatórios de
do mesmo robô. A investigação chegou análise e investigação de acidentes ten-
à conclusão de que o maior fator da ocor- denciosos, que diicultam a reconstrução
rência do acidente pode ter sido o com- dos fatos como eles realmente acontece-
portamento inadequado do acidentado. ram, no interior da maioria das empresas.
É interessante assinalar que, contradito- (BINDER, 1997, p. 69-92).
riamente à airmação dos relatores, que

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Diversos estudos realizados demonstraram uma postura de trabalho penosa etc.


que os acidentes resultam de uma sequência de b) Acidentes-variações: são as condições
eventos representada pela interação de fatores não habituais ou modiicações que sobre-
técnicos e comportamentais. Aqui se aborda a vêm durante o desenvolvimento do traba-
metodologia denominada Árvore de Causas (ADC), lho, como uma modiicação em seu desen-
que leva em conta todos esses fatores, e é consi- rolar, um incidente técnico etc.
derada pela OIT como uma importante ferramen-
ta de análise e investigação de acidentes.
O acidente só pode ser explicado se houver
Segundo Jesus (2007), a metodologia ex-
pelo menos um elemento que tenha sido altera-
plora “as causas das causas”, conduzindo todo o
do da situação habitual. Ou seja, não é possível a
processo de análise e investigação de acidentes
ocorrência de um acidente considerando-se ape-
até o esgotamento total das informações relacio-
nas os fatores permanentes.
nadas ao acidente, ou ainda, até o total esclareci-
mento de todos os aspectos importantes. A “ár-
vore de causas” está baseada na multicausalidade
Atenção
dos acidentes e exige uma formação adequada
da equipe encarregada dessas análises. O conjunto composto pelo indivíduo, tarefa,
material e meio deine uma unidade de análise:
Uma das falhas dessas metodologias e mo- a ATIVIDADE.
delos é a falta de critérios de controle das infor-
mações e melhorias de desempenho resultantes
A atividade relaciona-se à parte do trabalho
das recomendações pós-investigações. Apesar
que é desenvolvido por um indivíduo no sistema
desses pontos fracos, o processo de análise de
de produção. Por exemplo: em uma fábrica, oici-
acidentes sistêmico (como, por exemplo, o méto-
na, canteiro de obras etc. cada indivíduo corres-
do de ADC), quando bem disseminado e conduzi-
ponde a uma atividade.
do, constitui-se numa excelente oportunidade de
aprendizado e desenvolvimento de toda a orga- Dessa forma, um acidente pode envolver
nização (JESUS, 2007). mais de uma atividade, desde que elas estejam
intimamente ligadas (ocorre principalmente nos
Segundo Binder (1997), para se aplicar o
casos de trabalho em equipe).
método ADC, deve-se construir detalhadamente
e com maior precisão possível a história do aci- Indivíduo (I) é a pessoa, o indivíduo: com
suas características físicas e psicológicas. O indi-
dente, registrando-se apenas fatos, também de-
víduo é considerado trabalhando em seu meio
nominados fatores de acidentes, sem emissão de
proissional e traz consigo o efeito de fatores ex-
juízos de valor e sem interpretações, para, retros-
traproissionais. No acidente, trata-se da vítima,
pectivamente, a partir da lesão sofrida pelo aci- acrescentando-se as pessoas cujas atividades es-
dentado, identiicar a rede de fatores que culmi- tejam em relação mais ou menos direta com as da
nou o acidente do trabalho. vítima (ex.: companheiro de equipe, contrames-
A investigação através do método ADC con- tre, chefe de canteiro etc.). No caso de indivíduo,
siste em organizar um quadro de antecedentes a as variações mais comuns são:
partir do acidente. Os antecedentes podem ser
de dois tipos: ƒƒ Modiicações psicológicas: preocupa-
ção, descontentamento etc.;
a) Antecedentes-estado: condições per- ƒƒ Modiicações isiológicas: fadiga, em-
manentes na situação de trabalho, tais briaguez, sono, condição não habitual
como ausência de proteção sobre uma etc.;
máquina em sua fabricação, um ambien- ƒƒ Formação: sem treinamento, treinamen-
te continuamente quente ou barulhento, to deiciente, pouca experiência etc.;

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ƒƒ Ambiente moral: clima social no local de manutenção, falta de dispositivo de


de trabalho. proteção etc.;
ƒƒ Energia: variação, interrupção, varia-
Tarefa (T) designa de maneira geral as ações ção brusca ou não controlada etc.
do indivíduo que participa da produção parcial
ou total de um bem ou de um serviço, como, por O Meio de Trabalho (MT) designa o quadro
exemplo: chegar ao ambiente de trabalho, utilizar de trabalho e o ambiente físico e social no qual o
uma furadeira, preparar o trabalho etc. No caso indivíduo executa sua tarefa; no caso de meio de
de tarefa, as variações mais comuns são: trabalho, as variações mais comuns que estão no
ambiente físico de trabalho são: iluminação, nível
ƒƒ Do modo operacional: tarefas não ha- de ruído, temperatura, umidade, aerodispersoi-
bituais, raras, imprevistas, modiicação des etc.
em tarefa habitual, precipitação ou rit- A coleta de dados deve ser efetuada imedia-
mo de trabalho fora do normal, neutra- tamente após a ocorrência do acidente seguindo-
lização ou perturbação da máquina ou -se o critério:
produto, antecipação de uma manobra,
interpretação errônea na execução da a) O mais breve possível, logo após a ocor-
tarefa, postura não prevista para efe- rência, quando as pessoas envolvidas
tuar uma operação etc.; não se autocensuram e desabafam in-
ƒƒ Utilização da máquina ou ferramen- formações mais concretas e sem pres-
ta: emprego anormal de uma máqui- são;
na, utilização ou não de ferramenta ou b) No próprio local onde aconteceu o aci-
acessório previsto, emprego de instru- dente, pois as evidências importantes
mento adaptado, uso de ferramenta em ainda estão no mesmo lugar; deve-se,
mau estado etc.; porém, evitar situações constrangedo-
ƒƒ Equipamento de proteção: equipa- ras;
mentos com defeito, impróprios, não c) Reunir pessoas importantes, testemu-
habituais, falta de uso de EPI etc. nhas, como, por exemplo, técnicos es-
pecializados conhecedores do assunto
Material (M) compreende todos os meios (máquinas, operações, proissões etc.),
técnicos, a matéria-prima e os produtos coloca- que possam fornecer o máximo de da-
dos à disposição do indivíduo para executar sua dos elucidativos;
tarefa, como, por exemplo: um caminhão, um tor- d) Registrar e preservar todas as informa-
no, uma peça a usinar, um produto a utilizar etc. ções possíveis para futuras consultas.
No caso de material, as variações mais comuns
são:
No método ADC a coleta é feita apenas dos

ƒƒ Matéria-prima: modiicação em suas


fatos concretos. Evitam-se as interpretações e jul-
gamentos de valores ou as conclusões precipita-
características (peso, dimensão, tempe- das.
ratura), mudança no ritmo de alimenta-
Inicia-se o desenvolvimento da investiga-
ção de material;
ƒƒ Máquinas e meio de produção: mau
ção através do método da ADC a partir da lesão.
A partir dela, procuram-se os fatos concretos que
funcionamento, incidente técnico, resultaram no acidente, retrocedendo, para isso,
pane, modiicação parcial ou total de no máximo possível durante a investigação. O
uma máquina, nova instalação, falta

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objetivo é elucidar causas e seus desdobramen- Estudo de Caso – ADC


tos no encadeamento dos fatores que contribuí- Acidente ao dirigir-se ao refeitório
ram para o acidente.
A investigação do acidente deve ser feita A Senhora B está atrasada para o almoço
criteriosamente e por equipe multidisciplinar, e caminha rapidamente em direção ao
refeitório, fazendo seu trajeto habitual.
reduzindo-se “erros” que possam ser praticados
Ao passar pelo corredor, que dá acesso a
pelos investigadores ao fazer a Árvore. Esses “er- saída do galpão, uma vassoura, que esta-
ros”, ou desvios, são normais e decorrem de cau- va encostada na parede, escorrega à sua
sas como: frente e a Senhora B, ao nela tropeçar, cai
no chão sobre a mão direita, sofrendo fra-
tura do osso escafóide. A Senhora B está
a) Falta de prática ou formação deiciente resfriada e acha que por isso seu trabalho
sobre o método; rendeu menos naquela manhã. O inter-
b) Diferenças individuais entre os investi- valo de almoço é de uma hora e tanto a
Senhora B quanto à encarregada de seu
gadores, considerando-se que cada um setor airmam que ‘o horário de almoço é
tem sua experiência, interesse, objeti- muito corrido porque há ila no refeitório’.
vos e características pessoais diferentes. O refeitório está a cerca de 200 metros da
fábrica. (PIZA, 2010).

Quadro 1 – Quadro de registro de variações.

FATOR DE ACIDENTE COMPONENTE

A Senhora B fratura o escafoide da mão direita Indivíduo


A Senhora B cai sobre a mão direita Tarefa
A Senhora B tropeça na vassoura Tarefa
A vassoura está em local de circulação Meio de Trabalho
A vassoura escorrega na frente da Sra. B. Meio de Trabalho
A Senhora B caminha rapidamente Tarefa
A Senhora B está atrasada Tarefa
Há pressão de tempo no horário de almoço Meio de Trabalho
O intervalo de almoço é de uma hora Meio de Trabalho
Há sempre ila para almoçar Meio de Trabalho
A Senhora B está gripada Indivíduo
Vassoura encostada na parede Meio de Trabalho

Fonte: Piza (2010).

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1.13 Prevenção de Perdas

Voltando um pouco na linha do tempo, até controle. Na escala hierárquica, receberão priorida-
a época da Revolução Industrial, percebe-se que de aqueles incidentes críticos que, por sua ocorrên-
basicamente a preocupação era em reparar mo- cia, possam afetar a integridade física dos recursos
netariamente o dano causado à integridade física humanos do sistema de produção (CICCO; FANTAZ-
do trabalhador, mas não havia a preocupação em ZINI, 1994).
ações para que tais danos não ocorressem. Não se Risco: como sinônimo de Hazard; uma ou
discutia a prevenção. mais condições de uma variável com potencial
Isso icou bem caracterizado com os estu- necessário para causar danos como: lesões pes-
dos de Heinrich (1930), que, trabalhando em uma soais, danos a equipamentos e instalações, danos
companhia de seguros, observou os altos custos ao meio ambiente, perda de material em pro-
representados pelas indenizações decorrentes de cesso ou redução da capacidade de produção.
acidentes e doenças do trabalho. Pelo resultado A existência do risco implica a possibilidade de
dos estudos que efetuou, Heinrich desenvolveu existência de efeitos adversos. Como sinônimo
uma série de ideias e formas de gerenciamento de Risk: expressa uma probabilidade de possíveis
dos problemas relativos à ocorrência dos aciden- danos dentro de um período especíico de tem-
tes e doenças dentro das empresas, enfocando po ou número de ciclos operacionais, podendo
a prevenção acima de tudo. Como Ramazzini ser indicado pela probabilidade de um acidente
(1700), há aproximadamente 230 anos, deu início multiplicada pelo dano em valores monetários,
aos estudos que conhecemos hoje como Medici- vidas ou unidades operacionais; risco pode ain-
na do Trabalho; Heinrich (1930) pode ser conside- da signiicar a incerteza quanto à ocorrência de
rado o precursor do prevencionismo. um determinado evento (acidente), ou, ainda, a
Capitaneado pelos trabalhos de Heinrich chance de perda que uma empresa pode sofrer
(1930), Frank Bird Jr. (1966) efetuou novos estu- por causa de um acidente ou série de acidentes
dos, partindo da ideia de que as empresas deve- (CICCO; FANTAZZINI, 1994).
riam enfocar também os danos às instalações, aos Perigo: como sinônimo de danger, expres-
equipamentos e bens em geral, e não somente sa exposição relativa a um risco que favorece a
nos danos aos trabalhadores. A esse novo enfo- sua materialização em danos; se existe um risco,
que, Bird Jr. chamou de Controle de Danos (Loss face às precauções tomadas, o nível de perigo
Control). Quatro anos depois, o canadense John pode ser baixo ou alto, e, ainda, para riscos iguais,
Fletcher (1970) amplia o enfoque dado por Bird podem-se ter diferentes tipos de perigo (CICCO;
Jr., englobando aspectos para a proteção ambien- FANTAZZINI, 1994).
tal, segurança patrimonial e segurança do produ- Dano: é a gravidade da perda, seja ela hu-
to, acrescentando a palavra “total” no sentido de mana, material, ambiental ou inanceira que pode
Controle Total de Perdas (Total Loss Control). ocorrer caso não se tenha controle sobre um ris-
co: o risco – possibilidade – e o perigo – exposição
Deinições Básicas em Segurança do Trabalho – podem manter-se inalterados e mesmo assim
haver diferença na gravidade do dano (CICCO;
FANTAZZINI, 1994).
Incidente Crítico (ou quase acidente): é
qualquer evento ou fato negativo com potenciali- Causa: é a origem, de caráter humano ou
dade para provocar dano. Também chamado qua- material, relacionada com o evento catastróico,
se acidente, caracteriza uma situação em que não acidente ou falta, resultante da materialização de
há danos macroscópicos ou visíveis. Dentro dos um risco, provocando danos (CICCO; FANTAZZINI,
incidentes críticos, estabelece-se uma hierarqui- 1994).
zação na qual se basearão as ações prioritárias de Perda: é o prejuízo sofrido por uma organi-
zação sem garantia de ressarcimento por meio de

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seguros ou de outros meios (CICCO; FANTAZZINI, Condição Insegura: é deiciências, defeitos


1994). ou irregularidades técnicas na empresa que cons-
Segurança: é a situação em que há isenção tituem riscos para a integridade física do trabalha-
de riscos. Como a eliminação completa de todos dor, para sua saúde e para os bens materiais dela.
os riscos é praticamente impossível, a segurança As condições inseguras são deiciências, como:
passa a ser um compromisso de proteção relativa defeito de instalações ou de equipamentos, falta
à exposição a riscos. É o antônimo de perigo (CIC- de proteção em máquinas, má iluminação, ex-
CO; FANTAZZINI, 1994). cesso de calor ou frio, umidade, gases, vapores e
Ato Inseguro: é comportamentos emitidos poeiras nocivos e muitas outras condições insatis-
pelo trabalhador que podem levá-lo a sofrer aci- fatórias do próprio ambiente de trabalho (CICCO;
dente. Os atos inseguros são praticados por traba- FANTAZZINI, 1994).
lhadores que desrespeitam regras de segurança, Acidente: é uma ocorrência, uma pertur-
que não as conhecem devidamente, ou, ainda, bação no sistema de trabalho, que ocasionando
que têm comportamento contrário à prevenção danos pessoais ou materiais impede o alcance do
(CICCO; FANTAZZINI, 1994). objetivo do trabalho (CICCO; FANTAZZINI, 1994).

1.14 Implantação de Programas de Segurança

Antes da implantação de um método ou mesmo deve ser dividido em seções que conte-
programa novo, seja de que área ele for, é impor- nham os vários itens ou pontos que possam ser
tante que seja feito primeiramente um mapea- abrangidos pelo programa de prevenção.
mento da situação inicial da organização (diag- Para esses itens, são formuladas algumas
nóstico organizacional), a im de veriicar quais questões, as quais quando respondidas permiti-
são as reais necessidades da empresa. rão determinar o grau de execução ou de implan-
Se já existe algum programa em andamen- tação em que se encontra o programa analisado.
to, deve-se analisar para ver se o mesmo está É necessário, portanto, adotar uma escala de ava-
sendo realizado de forma correta e eicaz. Isso é liação a qual permita a gradação do item que foi
possível por meio da caracterização de peris dos
implantado. A escala sugerida por Fletcher (apud
programas de prevenção existentes. Para que um
CICCO; FANTAZZINI, 1994) está apresentada no
peril possa fornecer de forma adequada essas in-
Quadro 2.
formações, segundo Cicco e Fantazzini (1994), o

Quadro 2 – A escala de Fletcher.

GRAU ESCALA DESCRIÇÃO


5 Excelente Totalmente implantado e totalmente efetivo.
4 Bom Satisfatoriamente implantado e efetivo.
3 Regular Implantado, mas não satisfatoriamente.
Parcialmente implantado, mas não satisfatoriamente, existem
2 Fraco
pontos a melhorar.
1 Insatisfatório Algumas tentativas foram feitas, mas sem implantação efetiva.
0 Inexistente Nada foi feito até o momento.

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Com a escala de Fletcher é possível determi- está dimensionada e adequadamente


nar a pontuação obtida em cada setor ou seção, a equipada para dar suporte ao progra-
qual representa a situação corrente da empresa ma: como os documentos e registros
em termos de desempenho. pertinentes ao programa e à área estão
sendo tratados etc.;
Determinação das Prioridades b) Treinamento: esse elemento se preo-
cupa em questionar se realmente todos
na organização conhecem os objetivos
De posse do peril do programa estabeleci-
da empresa, conhecem o programa e
do na fase pregressa, pode-se confrontar a situa-
estão preocupados em “fazer aconte-
ção corrente da organização obtida pela pontua-
cer”; uma pergunta clássica: todos os
ção por meio da escala de Fletcher e a situação
empregados estão devidamente trei-
ideal esperada para cada seção, com isso os ges-
nados para realizarem suas tarefas de
tores podem determinar as prioridades de inter-
forma segura?
venção.
c) Inspeções planejadas: para levanta-
No resultado do confronto dessas situações
mento de áreas que devem acontecer,
analisadas (a situação ideal e a situação atual), i-
com agenda predeinida, em que di-
cam claras as não conformidades e a possível de-
retores, gerentes e responsáveis pelo
iciência do programa executado, que por sua vez
SESMT inspecionam as áreas fabris, fo-
permite fazer a priorização das seções que neces-
calizando irregularidades ou não con-
sitam de maiores esforços.
formidades no ambiente, nas atitudes,
nos processos etc.;
Elaboração dos Planos de Ação d) Atividades insalubres e/ou perigo-
sas: a empresa deve conhecer todas as
Segundo Azzi (2009), após serem estabe- atividades consideradas insalubres e/
lecidas as partes com maior prioridade de inter- ou perigosas, bem como aquelas que
venção, se faz necessário em seguida elaborar o têm probabilidade de vir a ser;
respectivo plano de ação para cada uma delas. e) Análise de risco do trabalho: a análise
O principal objetivo será o de prevenir e contro- de risco do trabalho é uma metodologia
lar as perdas reais e potenciais provenientes dos aplicada para todas as tarefas desenvol-
acidentes. No plano de ação, devem ser claros o vidas dentro da organização, buscando
objetivo geral e os especíicos (a curto, médio e sempre a situação com potencial para
longo prazo), bem como os recursos humanos e gerar acidente;
tecnológicos necessários à implantação e execu- f) Investigação e análise de acidentes
ção do programa. Seguem exemplos de elemen- ou incidentes: gerências diretas, super-
tos de um Programa de Prevenção de Perdas: visores, chefes, técnicos, engenheiros,
encarregados, membros da CIPA etc.
a) Controle administrativo: esse elemen- devem ser treinados em técnicas de in-
to reporta à situação da importância do vestigação e análise, dando real impor-
programa para a empresa, ou seja, a tância às causas básicas dos incidentes
alta administração está engajada na so- e o que fugiu do controle na ocorrência
lução de problemas referentes à saúde do acidente;
e segurança do trabalho? Aqui será au- g) Observação planejada do trabalho: a
ditado, por exemplo, se a composição observação planejada consiste em veri-
do Serviço Especializado em Segurança icar se as tarefas estão sendo cumpri-
e Medicina do Trabalho (SESMT – NR 4) das de maneira segura, igual e uniforme,

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independentemente dos turnos de tra- e exclusivo, destinados a evitar ou mi-


balho ou empregados envolvidos; nimizar uma lesão que poderia advir da
h) Planos de emergência: são as ações tarefa realizada ou da ocorrência de um
que os empregados efetivamente to- acidente; o programa avalia se todos os
marão em caso de emergências, a empregados receberam instruções es-
emergência será determinada, confor- pecíicas quanto ao uso, conservação e
me as características da empresa: pla- substituição dos EPIs e se participaram
no de fuga, em caso de incêndio, serve no processo de aprovação de uso dos
como exemplo; mesmos;
i) Normas e procedimentos: a normati- k) Controles de saúde: aqui é avaliado
zação é de suma importância, pois dela qual o controle de saúde adotado pela
advém as ações a serem tomadas na empresa, como funciona e qual intera-
realização das tarefas de forma segura, ção com as demais áreas da empresa;
principalmente as tarefas consideradas l) Sistemas de avaliação: o sistema de
de risco, como exemplos: procedimento avaliação apresenta indicadores que
para trabalhos em altura, para espaços devem ser divulgados para todos os
coninados, uso de produtos químicos, empregados, mostrando os resultados
solda e corte a quente, uso de equipa- alcançados e quais são as metas do
mentos de proteção individual etc.; programa; aqui, todos os elementos do
j) Equipamentos de proteção indivi- programa são auditados, cobrando-se,
dual: como o próprio nome já diz, são sempre, evidências objetivas.
aqueles equipamentos, de uso individual

1.15 Exemplos de Técnicas de Análise de Risco

Análise Preliminar de Riscos (APR) desenvolvimento prematuro de um novo sistema,


que tem como objetivo determinar os riscos que
A Análise Preliminar de Riscos (APR) consis- poderão estar presentes na sua fase operacional
te em um estudo, durante a fase de concepção ou (Quadro 3) (ALBERTON, 1996).

Quadro 3 – Análise preliminar de riscos.


IDENTIFICAÇÃO DO SISTEMA:

IDENTIFICAÇÃO DO SUBSISTEMA:

Risco Causas Efeitos Categoria Do Risco Medidas preventivas


ou corretivas

Segundo Alberton (1996) a APR é um méto- sistemas de trabalho. É também uma ferramenta
do de análise inicial, qualitativa, desenvolvida na muito útil de revisão geral de segurança em sis-
fase de projeto e desenvolvimento de qualquer temas já operacionais, revelando aspectos que às
processo, produto ou sistema, a qual possui espe- vezes passam despercebidos.
cial importância durante a investigação de novos

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Ainda de acordo com Alberton (1996), a c) Determinação dos riscos principais:


APR não é uma técnica aprofundada de análise devem-se identiicar os riscos potenciais
de riscos, visto que seu objetivo principal é deter- e as probabilidades destes de causarem
minar os riscos e as medidas preventivas antes da lesões diretas e imediatas, perda de fun-
fase operacional de trabalho. ção, danos a pessoas, a equipamentos e
perda de materiais.
As metodologias da APR consistem em se
d) Determinação dos riscos iniciais e con-
realizar uma revisão padronizada dos aspectos
tribuintes: consiste em elaborar uma
de segurança, descrevendo os riscos e fazendo
série de riscos possíveis, determinando,
sua categorização. A partir da descrição desses
para cada risco principal detectado, os
riscos, são identiicadas as causas (agentes) e efei- riscos iniciais e contribuintes que estão
tos (consequências) dos mesmos, o que permitirá associados.
atingir metas de ações e medidas de prevenção
e) Revisão dos meios de eliminação ou
ou correção das possíveis falhas detectadas (AL- controle de riscos: através de um brains-
BERTON, 1996). torming, deve-se descobrir os meios pas-
síveis de eliminação e controle de riscos,
Atenção a im de estabelecer as melhores opções,
desde que compatíveis com as exigên-
A priorização das ações é determinada pela gra-
cias do sistema.
vidade dos riscos, ou seja, quanto mais prejudicial
ou maior for o risco, mais rapidamente o mesmo f) Analisar os métodos de restrição de
deverá ser solucionado (ALBERTON, 1996). danos: pesquisar os métodos possíveis
que sejam mais eicientes para restrição
geral, ou seja, para a limitação dos danos
Segundo Alberton (1996), a APR tem sua gerados, caso ocorra perda de controle
maior importância na determinação de medidas sobre os riscos.
de controle e prevenção de riscos já a partir do iní-
g) Indicação de quem levará a cabo as
cio operacional do sistema, permitindo revisões de
ações corretivas e/ou preventivas: in-
projeto em tempo hábil, no sentido de oferecer a
dicar claramente os responsáveis pela
maior segurança possível, além de deinir respon-
execução de ações preventivas e/ou cor-
sabilidades no que se refere ao controle de riscos.
retivas, designando, também, para cada
unidade, as atividades a desenvolver.
Etapas Básicas para Realização de uma APR

a) Revisão de problemas conhecidos: é A APR possui importância no seu campo de


a busca de analogias ou similaridades atuação, mas necessita ser complementada por
com outros sistemas, para se determinar outras técnicas mais detalhadas e apuradas. Em
os riscos que podem estar presentes no sistemas que sejam já bastante conhecidos, cuja
sistema que está sendo desenvolvido, experiência acumulada conduz a um número de
tomando como base a experiência pas- informações satisfatório sobre riscos, essa técnica
sada. pode ser colocada em by-pass e, nesse caso, partir-
b) Revisão da missão a que se destina: -se diretamente para aplicação de outras técnicas
foco nos objetivos, nas exigências de mais especíicas de análise (ALBERTON, 1996).
desempenho, nas principais funções e
procedimentos, nos ambientes onde
Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE)
se darão as operações etc. Consiste i-
nalmente em estabelecer os limites
de atuação e delimitar o sistema que a A Análise de Modos de Falha e Efeitos
missão irá abranger: a que se destina? (AMFE) constitui-se em outra metodologia de
o que envolve? quem envolve? como análise detalhada, podendo ser qualitativa ou
será desenvolvida?

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quantitativa, a partir da qual se permite analisar vo de aumentar a coniabilidade no sistema (Qua-


as formas pelas quais a tecnologia envolvida num dro 4).
sistema pode falhar e quais efeitos poderão advir,
estimando ainda as taxas de falhas, com o objeti-

Quadro 4 – Análise de modos de falha e efeitos.

Efeitos nos
Causa de Categoria de Probabilidade Métodos de Ações
Item Modo de falha componentes no
falha risco de ocorrência detecção possíveis
sistema

Segundo Alberton (1996), a AMFE é reali- com que se está atuando e qual a função e os obje-
zada inicialmente de forma qualitativa, quer na tivos do mesmo, as restrições sob as quais irá operar,
revisão sistemática dos modos de falha do com- além dos limites que podem representar sucesso ou
ponente, quer na determinação de seus efeitos falha.
em outros componentes, e ainda na determina-
ção dos componentes, cujas falhas podem ter um
Atenção
efeito crítico na operação do sistema.
De acordo com a autora, em seguida é feito O bom conhecimento do sistema em que se atua
um procedimento relacionado à análise quantita- é o primeiro passo para o sucesso na aplicação
de qualquer técnica, seja ela de identiicação de
tiva para estabelecer a coniabilidade ou proba-
perigos, análise ou avaliação de riscos.
bilidade de falha do sistema ou subsistema. Isto
é feito através de um cálculo de probabilidades
de falhas de montagens, subsistemas e sistemas, Análise de Operabilidade de Perigos (HAZOP)
a partir das probabilidades individuais de falha
de seus componentes. A determinação de como O estudo de identiicação de perigos e ope-
poderiam ser reduzidas essas probabilidades rabilidade é uma técnica conhecida como Análise
também é levada em consideração para o cálculo de Operabilidade de Perigos (HAZOP) (Quadro
(ALBERTON, 1996). 5). Essa técnica de análise é qualitativa e foi de-
Para proceder ao desenvolvimento da AMFE senvolvida com o objetivo de examinar as linhas
ou de qualquer outra técnica, é fundamental que se de processo, identiicando os possíveis perigos e
conheça e compreenda profundamente o sistema prevenindo problemas.

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Quadro 5 – Operabilidade perigos.

Palavra-guia Desvio Causas possíveis Consequências Ações requeridas

Palavra-guia Desvio
Nenhum Ausência de luxo ou luxo reverso.
Mais, em relação a um parâmetro físico importante. Ex.:
Mais
mais vazão, maior temperatura, mais pressão etc.
Menos, em relação a um parâmetro físico importante. Ex.:
Menos
menos vazão, temperatura menor, menos pressão.
Alguns componentes em maior ou menor proporção, ou
Mudanças na composição
ainda, um componente faltando.
Componentes a mais em relação aos que deveriam existir.
Componentes a mais
Ex.: fase extra presente, impurezas etc.
Partida, parada, funcionamento em carga reduzida, modo
Outra condição operacio-
alternativo de operação, manutenção, mudança de cataliza-
nal
dor etc.

A técnica ou método HAZOP é indicado alheios à sua área de trabalho. Dessa forma, o
principalmente durante a implantação de novos desenvolvimento do HAZOP alia a experiência e
processos (por exemplo: na fase de projeto ou de competência individual às vantagens do trabalho
modiicações de processos já existentes). O ideal em equipe (ALBERTON, 1996).
é que no desenvolvimento dessa técnica o estudo Para evitar que algum detalhe seja omitido,
já esteja desenvolvido, ainda melhor que seja an- a relexão deve ser implementada de maneira sis-
tes da fase de detalhamento e construção do pró- temática, ou seja, para cada ponto analisado, são
prio projeto. Com isso evita-se que modiicações aplicadas as séries de palavras-guias, identiican-
tenham que ser feitas no detalhamento ou ainda do os desvios que podem ocorrer caso a condição
nas instalações (ALBERTON, 1996). proposta pela palavra-guia ocorra. Em seguida
Vale ressaltar que o HAZOP é conveniente são identiicadas as palavras-guias e os desvios
tanto para projetos e modiicações grandes quan- respectivos.
to pequenas. Às vezes, muitos acidentes ocorrem Segundo Alberton (1996), pode-se ainda
porque se subestimaram os efeitos secundários partir para a elaboração de alternativas cabíveis
de pequenos detalhes ou modiicações, que à pri- para que o problema não ocorra novamente, para
meira vista pareceram insigniicantes e é impossí- que seja minimizado. Convém, no entanto, anali-
vel, antes de se fazer uma análise completa, saber sar as alternativas quanto ao custo e à operacio-
se existem efeitos secundários graves e difíceis de nalidade.
prever.
A aplicação e o desenvolvimento do HAZOP Análise da Árvore de Eventos (AAE)
requerem o envolvimento de equipes inter e mul-
tidisciplinares, favorecendo o trabalho em equipe
e contribuindo para a criatividade da equipe e o A Análise da Árvore de Eventos (AAE) consiste
ganho de compreensão dos problemas das áreas em outro método de análise de processos, o qual
e interfaces do sistema; por exemplo, é comum pode ou não ser usado na área da segurança do
que uma pessoa que trabalhe sozinha acabe es- trabalho. Caracteriza-se por ser um método lógico-
quecendo ou desconhecendo alguns aspectos -indutivo, que serve principalmente para identiicar

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as consequências de certo evento inicial (Quadro eventos indesejáveis, utilizando encadeamentos


6). A técnica também contempla a busca pela de- lógicos a cada etapa de atuação do sistema (SCHE-
terminação de frequências de consequências de NINI; NEUENFELD; ROSA, 2006).

Quadro 6 – Árvore de eventos.

Nas aplicações de uma análise de risco, o calcular as probabilidades associadas a


evento inicial da árvore de eventos é geralmen- cada ramo do sistema que conduz a al-
te uma falha de um componente ou ainda de um guma falha (acidente).
subsistema, sendo os eventos seguintes deter-
minados pelas características do sistema (ALBER-
Segundo os elaboradores dessa metodo-
TON, 1996).
logia, a árvore de eventos deve ser lida sempre
Para o traçado da árvore de eventos, as se- a partir da esquerda para a direita. Encontra-se
guintes etapas devem ser seguidas: na parte esquerda o evento inicial e em seguida
os demais eventos (eventos seguintes ou subse-
a) Deinir o evento inicial que pode con- quentes). A linha superior é “não” e signiica que
duzir ao acidente; o evento não ocorre, a linha inferior é “sim” e sig-
b) Deinir os sistemas de segurança (ações) niica que o evento realmente ocorre (ALBERTON,
que podem amortecer o efeito do even- 1996).
to inicial; É bom lembrar que os exemplos aqui apre-
c) Combinar em uma árvore lógica de de- sentados não contemplam a gama total das téc-
cisões as várias sequências de aconte- nicas existentes, que a cada dia são renovadas
cimentos que podem surgir a partir do em seus conceitos e dinâmicas. Para cada técnica,
evento inicial; uma metodologia deverá ser aplicada no que o
d) Uma vez construída a árvore de eventos, aluno deverá se aprofundar por meio de estudos
em literatura especíica.

1.16 Resumo do Capítulo

No capítulo 01 vimos que Bernardino Ramazzini é considerado o Pai da Medicina do Trabalho e


um dos precursores em saúde e segurança ocupacional. Ainda estudamos as deinições de acidentes de
trabalho:
Acidente do Trabalho será aquele que decorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa,
provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte, ou a perda total ou
parcial, permanente ou temporária da capacidade para o trabalho.

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A deinição legal é: (Artigo 19):


Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exer-
cício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capaci-
dade para o trabalho.
Vimos que o conceito prevencionista caracteriza o acidente de trabalho como: Toda ocorrência
não programada, estranha ao andamento normal do trabalho, da qual possa resultar danos físicos e / ou
funcionais, ou morte do trabalhador e / ou danos materiais e econômicos à empresa.
Estudamos que os principais fatores causadores de acidentes:

a) Condições inseguras, inerentes às instalações, como máquinas e equipamentos;


b) Atos inseguros, entendidos como atitudes indevidas do elemento humano;
c) Eventos catastróicos, como inundações, tempestades, atos de sabotagem etc.

Lemos ainda que não existem “acidente grande” ou “acidente pequeno”. E sim acidentes com lesões
graves ou acidentes com lesões leves e que os Fatores de Acidentes são:

ƒƒ O agente da lesão;
ƒƒ A condição insegura;
ƒƒ O acidente tipo;
ƒƒ O ato inseguro;
ƒƒ Fator pessoal de insegurança.

Algo importante que estudamos foi o conjunto composto pelo indivíduo – tarefa – material e
meio, o qual deine uma unidade de análise, que é a ATIVIDADE.

1.17 Atividades Propostas

1. Qual foi a relação entre a Revolução Industrial e as doenças dos trabalhadores? A ideia de tra-
balho pesado e sofrimento decorrente da atividade laborativa é algo novo?

2. É prática comum em algumas empresas a atribuição da culpa dos acidentes ao próprio traba-
lhador que foi acidentado. Quais as consequências geradas por esta prática de culpabilizar a
vítima como o único fator causador do acidente?

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2 ERGONOMIA

Existem várias deinições de ergonomia, A Associação Internacional de Ergonomia


entretanto, a International Ergonomics Association (IEA) referenciou essa necessidade de se possuir
(IEA) é a referência internacional sobre o tema. conhecimentos relativos ao homem em sua pri-
Mesmo assim, será visto outras, entre as princi- meira deinição de ergonomia:
pais deinições de ergonomia, para que seja vis-
lumbrada e compreendida a maneira pela qual a A ergonomia é o estudo cientíico da re-
ergonomia evoluiu para os próprios proissionais lação entre o homem e seus meios, mé-
de saúde e segurança do trabalho. todos e ambientes de trabalho. Seu ob-
jetivo é elaborar, com a colaboração das
A Sociéte d’ergonomie de langue française diversas disciplinas cientíicas que a com-
(Sociedade de Ergonomia de Língua Francesa – põe, um corpo de conhecimentos que,
SELF) tinha a seguinte deinição de ergonomia na numa perspectiva de aplicação, deve ter
década de 70: como inalidade uma melhor adaptação
ao homem dos meios tecnológicos de
produção e dos ambientes de trabalho e
A ergonomia pode ser deinida como a de vida. (FALZON, 2007).
adaptação do trabalho ao homem ou,
mais precisamente, como a aplicação de
conhecimentos cientíicos relativos ao Atenção
homem e necessários para conceber fer-
ramentas, máquinas e dispositivos que Os objetivos da Ergonomia são: o Conforto, a Se-
gurança e o Bem-Estar dos trabalhadores.
possam ser utilizados com o máximo de
O aumento da produtividade não é um objetivo
conforto, segurança e eicácia. da Ergonomia, apesar de em geral ser uma con-
sequência.

A terminologia “adaptação do trabalho ao


Segundo essa deinição, a Ergonomia faz
homem” utilizada nessa deinição da SELF ainda
uso de outras disciplinas para compor seu cam-
se constitui numa fórmula clássica em Ergonomia.
po de conhecimentos. Por exemplo, a Ergonomia
Segundo o proposto, os meios de trabalho usa conhecimentos das áreas humanas e sociais
devem ser adaptados ao homem, seja qual for (Sociologia, Psicologia, Antropologia) e da saúde
este. Pode-se concluir, portanto, que a Ergonomia (Fisiologia, Anatomia) para compor seu escopo de
é uma ciência antropocêntrica. conhecimentos.
De acordo com o proposto, entende-se que Na atual deinição de ergonomia da IEA, no
a Ergonomia é mais do que simplesmente uma primeiro momento é abordada a questão ergonô-
disciplina, uma ciência, mas também uma tecno- mica em um caráter mais global, em seguida as
logia, ou seja, requer sua aplicação prática. Exem- suas áreas de especialização. Importante salientar
pliicando, pode-se perguntar: Como o trabalho que essas formas de apresentação do tema não
será adaptado ao homem se não se conhece correspondem a setores de atuação (por exemplo,
Ergonomia de Concepção ou a Ergonomia de Ser-
este homem? (falando de suas características, in-
viços, pois estas são indicadas nos campos de apli-
dividualidades, competências e limitações).
cação).

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Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho

Pode-se, de maneira inicial e geral, dividir a


Saiba mais
Ergonomia em 3 tipos:

ƒƒ Ergonomia física;
Outras deinições de Ergonomia são:
• Para Murrel (1965), “a Ergonomia é o estudo do
ƒƒ Ergonomia cognitiva;
ser humano em seu ambiente laboral”;
• Grandjean (1969) considera a Ergonomia como
ƒƒ Ergonomia organizacional. “o estudo do comportamento do homem em
seu trabalho”;
• Para Faverge (1970), “é a análise dos processos
industriais centrado nos homens que asse-
Vale a pena salientar que esses tipos ou guram o seu funcionamento”;
áreas da Ergonomia não são estanques. Um ergo- • Segundo Montmollin (1970), “é uma tecnolo-
nomista comumente tem a tendência do exercí- gia das comunicações dentro dos sistemas
homem-máquina”;
cio preferencialmente em certos campos de apli-
• Para Cazamian (1973), “a Ergonomia é o estu-
cação e em certas áreas de formação proissional, do multidisciplinar do trabalho humano que
mas deve atuar em todas essas áreas da Ergono- pretende descobrir suas leis para formular
melhor suas regras”.
mia para que seu trabalho seja completo.
No Brasil, os ergonomistas são proissionais
especializados, ou seja, com pós-graduação Latu
No Brasil, a Associação Brasileira de Ergo-
Sensu ou Strictu Sensu, e que chegam à disciplina
depois de terem anteriormente se graduado num nomia (ABERGO) deine ergonomia da seguinte
outro curso, por exemplo, numa universidade: um maneira:
médico, um engenheiro, um psicólogo, um advo-
gado, um isioterapeuta, terapeuta ocupacional, Entende-se por ergonomia o estudo das
educador físico, um administrador, entre outros. interações das pessoas com a tecnologia,
a organização e o ambiente, objetivando
Segundo Falzon (2007), os proissionais que
intervenções e projetos que visem me-
praticam a Ergonomia, os ergonomistas, contri- lhorar, de forma integrada e não-dissocia-
buem para a planiicação, concepção e avaliação da, a segurança, o conforto, o bem-estar e
das tarefas, empregos, produtos, organizações, a eicácia das atividades humanas. (ABER-
meios ambientes e sistemas, tendo em vista tor- GO, 2010).
ná-los compatíveis com as necessidades, capaci-
dades e limites das pessoas.

2.1 Áreas de Especialização

Dicionário Os ergonomistas devem ter uma com-


preensão ampla do conjunto da disciplina, levan-
Derivada do grego ergon (trabalho) e nomos (re-
gras), Ergonomia pode ser deinida como “a ciên- do em conta os fatores físicos, cognitivos, sociais,
cia do trabalho”. ambientais e organizacionais (FALZON, 2007).
Conforme visto anteriormente, segundo a
A Ergonomia é uma disciplina antropocên- International Ergonomics Association (IEA, 2000),
trica, ou seja, visa a estabelecer parâmetros para o as áreas de especialização ou os tipos de Ergono-
trabalho, seja desenvolvido em prol da saúde, se- mia são a física, cognitiva e organizacional.
gurança ou conforto do trabalhador, independen-
temente do sistema ao qual o trabalhador esteja
inserido.

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A Ergonomia Física as respostas motoras, a relação das interações entre


pessoas e outros componentes de um sistema etc.
Os temas centrais são a carga mental de trabalho, a
Nesse tipo de Ergonomia são abordadas
tomada de decisão, a interação homem-máquina, a
as características anatômicas, antropométricas,
coniabilidade e o estresse (IEA, 2000).
isiológicas e biomecânicas do homem em sua
relação com a atividade física. A repetitividade, as
cargas e posturas de trabalho, o levantamento e A Ergonomia Organizacional
o carregamento de objetos, a LER/DORT, o layout
do posto de trabalho, a segurança e a saúde são
Aborda a otimização dos sistemas sociotéc-
os aspectos abordados na Ergonomia Física (IEA,
nicos, ou seja, a estrutura organizacional, regras e
2000).
processos, e a empresa, missão, política etc. Os te-
mas mais comuns compreendem a comunicação
A Ergonomia Cognitiva entre os colaboradores, a gestão dos processos
industriais, a concepção do trabalho, os horários
e a jornada de trabalho, o trabalho em equipe, o
A Ergonomia Cognitiva contempla os pro-
trabalho participativo e sua gestão, as novas for-
cessos mentais dos trabalhadores em situação de
mas de trabalho, a cultura organizacional, organi-
trabalho. Os itens mais importantes nesse tipo de Er-
zações virtuais e o teletrabalho (IEA, 2000).
gonomia são: a percepção, a memória, o raciocínio e

2.2 Objetivos da Ergonomia

O campo de atuação da Ergonomia é exten- ƒƒ Ergonomia de Concepção: ao contrá-


so. Ele abrange tudo que fazemos e que nos ro- rio, interfere amplamente no projeto do
deia, desde a disposição do mobiliário e dos ma- posto de trabalho, dos instrumentos, da
teriais de um pequeno escritório até a planta do máquina ou do sistema de produção,
mais alto edifício ou parque industrial, passando organização do trabalho e formação
por detalhes, como altura de mesas, cadeiras, for- pessoal (IIDA, 2003).
mato de tesoura, ruído e temperatura de ambien- ƒƒ Ergonomia de Conscientização: sur-
tes e uma ininidade de fatores que podem dii- giu da necessidade de orientar os pro-
cultar ou facilitar a vida das pessoas (IIDA, 2003). issionais de diversas áreas de atuação,
A Ergonomia pode ser dividida em três seg- com o objetivo de transmitir os conhe-
mentos distintos: cimentos já existentes e fazer com que
esses proissionais os utilizem (IIDA,
ƒƒ Ergonomia de Correção: atua de ma- 2003).
neira restrita, modiicando elementos
parciais do posto de trabalho, tais como Atenção
dimensões, iluminação, ruído, disposi-
A Ergonomia estuda o relacionamento e a inte-
ção de salas de trabalho, entre outros ração entre o homem e os meios de trabalho,
(IIDA, 2003). procurando reduzir possíveis consequências no-
civas sobre o trabalhador (FALZON, 2007).

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Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho

2.3 Antecedentes Históricos da Ergonomia

Entre as técnicas aplicadas na prevenção lizados pelas equipes multidisciplinares foram


de riscos ocupacionais, atualmente se está uti- úteis no pós-guerra. Os conhecimentos adquiri-
lizando a Ergonomia como uma técnica multi- dos puderam ser colocados em prática durante a
disciplinar dedicada a examinar as condições de Revolução Industrial, sendo que dessa vez o foco
trabalho com o im de obter a melhor harmonia era a produtividade e não o ser humano. Mesmo
possível entre o homem e o ambiente de traba- assim, adaptações tecnológicas foram realizadas,
lho, conseguindo também o desenvolvimento de permitindo que o trabalhador produzisse mais e
condições ótimas de conforto e eicácia produti- melhor (IIDA, 2002).
va (GUERIN et al., 2002). Muitas vezes esses problemas de trabalho
A Ergonomia como ciência é fruto de uma eram tão antigos como o próprio trabalho em si,
larga evolução, desenvolvendo-se mediante as ou seja, pode-se ainda dizer que se remontam
análises de situações de trabalho, na busca de desde a fabricação das primeiras ferramentas de
uma adaptação dos postos de trabalho e do am- trabalho. Por exemplo, as formas e o peso de um
biente em que o indivíduo interage, há a execu- martelo eram deinidos em função das caracte-
ção de suas atividades. O termo ‘ergonomia’ foi rísticas da matéria-prima trabalhada (madeira,
utilizado pela primeira vez pelo polonês W. Jastr- pedra, ferro etc.) e do efeito desejado (precisão,
zebowski, autor da obra Ensaio de Ergonomia ou força etc.), independentemente das característi-
Ciência do Trabalho baseado nas Leis Objetivas da cas dos homens que os manejavam (dimensão da
Ciência da Natureza, em 1857 (IIDA, 2002). mão, potência muscular, controle do peso, habili-
Entretanto, desde os primórdios da huma- dades etc.) (IIDA, 2002).
nidade sempre se procurou adaptar as situações
de trabalho aos aspectos humanos, com vistas a Engenharia de Fatores Humanos
facilitar a execução de tarefas, muitas delas sim-
ples, como a fabricação e uso de ferramentas ma-
Human Factors Engineering (Engenharia de
nuais voltadas para a agricultura de subsistência.
Fatores Humanos) foi uma fase em que se buscou
No processo de formação da Ergonomia, cabe
deinir os estudos sobre os processos de trabalho
destacar que os métodos que izeram delagrar
como resposta cientíica aos problemas relaciona-
essa ciência foram os da Análise do Trabalho, ou
dos aos sistemas de organização industrial exis-
seja, procedimentos baseados em observações
tentes nos Estados Unidos, os quais delagraram
sistematizadas que permitiram adotar decisões
investigações tanto no campo da Biologia quanto
de aplicação em função de uma série de regras e
no da Fisiologia do Trabalho, Engenharia, Biome-
recomendações empíricas baseadas em uma ló-
cânica do Trabalho etc., dando lugar à chamada
gica natural (IIDA, 2002).
Organização Cientíica do Trabalho (IIDA, 2003).
Antes disso, porém, destaca-se a 2ª Guer-
Não menos importantes foram os estudos
ra Mundial como uma propulsora da Ergono-
de seus sucessores, como, por exemplo, F. B. Gil-
mia. Isso ocorreu devido às características desse
breth, que sistematizou o estudo de movimen-
conlito: isiologistas, engenheiros, psicólogos e
tos e de tempos, estabelecendo os diagramas de
outros proissionais se uniram para em conjun-
processos, em que, mediante símbolos conven-
to planejar e estruturar o combate. Enquanto os
cionais, era representado o desenvolvimento de
proissionais das áreas da saúde estudavam os
cada operação, com as diversas variáveis depen-
limites do homem, os engenheiros projetavam
dentes do rendimento do trabalho. Essa análise
novas máquinas de guerra. Esses esforços rea-
consistia em um estudo dos movimentos que os

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operários realizavam os trajetos, que seguiam os produtividade, ela pode ser considerada como a
materiais, que utilizavam a colocação e o tipo das primeira tentativa de gestores em pesquisar as re-
ferramentas etc., chegando à conclusão de que lações do trabalhador com o trabalho (IIDA, 2003).
existe um número ótimo de movimentos para A Ergonomia pode ser considerada um
cada trabalho, mediante o qual se obtém o má- marco na história do trabalho. Ela não visa mo-
ximo de eicácia em um menor tempo possível diicar o homem e sim as condições de seu tra-
(IIDA, 2003). balho. A Ergonomia se orienta principalmente na
A característica principal dessa Organização proteção do trabalhador, e não no aumento da
Cientíica do Trabalho foi a de estabelecer normas produtividade, razão pela qual a Ergonomia valo-
rotineiras de trabalho de acordo com um certo rit- ra também os aspectos subjetivos do homem, ou
mo regular de operação, baseado nos movimen- seja, ela vai muito além da identiicação de não
tos do indivíduo, em grande parte adaptados às conformidades físicas (como, por exemplo, a tem-
necessidades da máquina e não o inverso (GUE- peratura, o ruído, a iluminação, a carga física de
RIN, 2002). trabalho etc.); ela entende que aspectos relacio-
O taylorismo e suas escolas teóricas relacio- nados à Psicologia são tão importantes quanto o
nadas têm sido alvo de críticas durante a maior estudo da Fisiologia Humana no âmbito do indi-
parte de sua existência, e às vezes de maneira ge- víduo interagindo com um ambiente de trabalho
nial, como na comédia de Chaplin em seu ilme (FALZON, 2007).
intitulado Tempos Modernos. Apesar da Organiza-
ção Cientíica do Trabalho objetivar o aumento da

2.4 Modalidades de Atuação

ƒƒ Ergonomia do Produto de intervenção ergonômica. Pode ocorrer na con-


Busca o desenvolvimento de produtos com cepção ou durante a correção de um sistema de
base em princípios ergonômicos (segurança, produção (COUTO, 2002; DANIELLOU et al., 1989;
conforto, bem-estar do usuário). É comum em FALZON, 2007; GRANDJEAN, 1980; GUERIN et al.,
ferramentas energizadas ou manuais, artigos es- 2002; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
portivos e de competição e em produtos de uso
individual (antropometria) (COUTO, 2002; DA- ƒƒ Ergonomia de Concepção
NIELLOU et al., 1989; FALZON, 2007; GRANDJEAN, É o planejamento ergonômico em proces-
1980; GUERIN et al., 2002; IIDA, 2003; VIDAL, 2000). sos a serem iniciados, como, por exemplo, em
uma nova planta fabril, um novo empreendimen-
ƒƒ Ergonomia de Produção to, um novo produto. A Ergonomia de Concepção
Estuda as melhores formas de gerencia- é de custo menor, pois as atividades produtivas
mento da produção, a melhoria dos luxos de pro- podem iniciar dentro de critérios de qualidade
dução, layout fabril, qualidade, redução de erros, desenvolvidos pelas bases cientíicas da Ergo-
coniabilidade etc. (COUTO, 2002; DANIELLOU et nomia, reduzindo posteriores interferências ou
al., 1989; FALZON, 2007; GRANDJEAN, 1980; GUE- reformas estruturais. A Ergonomia de Concepção
RIN et al., 2002; IIDA, 2003; VIDAL, 2000). requer grande experiência e habilidade do ergo-
nomista (COUTO, 2002; DANIELLOU et al., 1989;

ƒƒ Ergonomia de Intervenção
FALZON, 2007; GRANDJEAN, 1980; GUERIN et al.,
2002; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
É o desenvolvimento de programas práticos

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ƒƒ Ergonomia de Correção equipamentos, máquinas ou de pessoas para


É o contrário da Ergonomia de Concepção, buscar a redução de agravos ao patrimônio e aos
ou seja, ela ocorre quando já há um processo pro- indivíduos de situações não ergonômicas. Ocor-
dutivo em andamento numa organização e con- re por reação (Ergonomia Reativa) a não confor-
comitantemente há uma demanda e uma efetiva midades, como, por exemplo, o remanejamento
intervenção ergonômica micro ou macro em um de trabalhadores em outros postos de trabalho,
ou mais componentes desse processo. É a for- por motivo de sobrecarga de trabalho anterior e
ma mais comum de trabalho dos ergonomistas, consequente limitação funcional decorrentes de
porém mais onerosa para as organizações, visto LER/DORT (COUTO, 2002; DANIELLOU et al., 1989;
que também são comuns mudanças estruturais, FALZON, 2007; GRANDJEAN, 1980; GUERIN et al.,
desenvolvimento de nova cultura de trabalho 2002; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).

ƒƒ Ergonomia de Modernização
(organizacional) de mobiliário etc. (COUTO, 2002;
DANIELLOU et al., 1989; FALZON, 2007; GRAND-
JEAN, 1980; GUERIN et al., 2002; IIDA, 2003; VIDAL, Possui foco em melhorias, seja por deman-
2000). da de especiicações, como, por exemplo, na
busca de uma certiicação da ISO 9001, seja sim-
ƒƒ Ergonomia de Remanejamento plesmente por demanda pró-ativa (GRANDJEAN,
É a tentativa de realocação de materiais, 1980).

2.6 Ergonomia Física

A Ergonomia tem como objetivo estudar ƒƒ Comandos e indicadores;


o trabalhador e sua relação com as tarefas, ferra- ƒƒ Condições do posto de trabalho;
mentas e a produção. Esse estudo se conduz para ƒƒ Carga física e carga mental.
evitar acidentes e patologias laborais, diminuir a
fadiga física e mental e aumentar o nível de sa-
tisfação do trabalhador. Além desse objetivo hu- As dimensões dos postos de trabalho coni-
mano e social que visa à melhora das condições guram-se em equipamentos e espaços para faci-
de trabalho, a aplicação da Ergonomia no âmbi- litar a execução das tarefas. Incluem-se as mesas,
to laboral produz uma larga gama de benefícios os mostradores, localização dos utensílios/ferra-
econômicos associados a um incremento da pro- mentas de trabalho sobre as áreas de trabalho, o
dutividade e à diminuição dos custos provocados mobiliário, a postura de trabalho, armazenamen-
pelos erros e suas consequências (COUTO, 2002; to etc. Em geral, trata-se de conseguir realizar o
DANIELLOU et al., 1989; FALZON, 2007; GRAND- trabalho com as posturas adequadas e sem a apli-
JEAN, 1980; GUERIN et al., 2002; IIDA, 2003; VIDAL, cação de esforços físicos desnecessários (COUTO,
2000). 2002).
Segundo Couto (2002) e Iida (2003), a apli- O trabalho é uma atividade em que antes
cação da Ergonomia no âmbito laboral se centra das exigências de uma tarefa (trabalho prescrito),
fundamentalmente na otimização dos seguintes o indivíduo necessita de uma série de recursos,
aspectos: capacidades, habilidades, experiências etc. Algu-
mas dessas condutas são físicas, enquanto que
ƒƒ Ferramentas e utensílios de trabalho; outras são de origem psíquica, com o objetivo de
ƒƒ Condições ambientais;
satisfazer os requisitos dessa tarefa (GUERIN et al.,
2002).

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indivíduos, assim como sua evolução ao passar do


Saiba mais
tempo.
Quando as exigências da tarefa são maiores do que
a soma das capacidades do trabalhador de executá-
-la, tem-se como resultado uma sobrecarga de Dicionário
trabalho.
Quando a capacidade do trabalhador é maior do Antropo: pessoas
que as exigências da tarefa, tem-se em contraparti- Metria: medida
da uma subcarga de trabalho.

A partir do corpo humano, pode-se ter um


A sobrecarga e a subcarga de trabalho são grande número de dados antropométricos dife-
nocivas à saúde física e psíquica do trabalhador. A rentes (Figura 2).
Ergonomia procura, portanto, equilibrar a relação
entre exigências de trabalho e capacidade do tra- Figura 2 – Instrumento antropométrico.
balhador.
Historicamente, o trabalho implicava a rea-
lização de muitas tarefas de caráter físico. Isto re-
queria do trabalhador uma maior utilização de
suas capacidades físicas do que suas capacidades
cognitivas. Porém, atualmente, essa relação tem
se invertido. Por trás da mecanização e a automa-
tização, são as máquinas as que executam o tra-
balho físico que antes era realizado pelas pessoas.
Não obstante, existem numerosas atividades em
que o trabalho físico ainda é realizado pelo indiví-
duo. Isso pode provocar situações de desconforto,
insatisfação e desencadear doenças aos trabalha-
dores (IIDA, 2003).
Por isso, a Ergonomia estuda as caracterís- Fonte: Nautilus (2010)
ticas e o conteúdo do trabalho (que intensidade
é necessária, quais tipos de esforços são requeri-
dos, quais grupos musculares estão implicados na Os dados antropométricos de uma popula-
execução da tarefa, quais posturas devem ser ado- ção seguem uma distribuição estatística “normal”,
tadas etc.). Estuda também as condições ambien- cuja representação gráica é uma curva de Gauss
tais (ruído, calor, vibrações etc.) e as condições de (Figura 3).
organização (ritmos de trabalho, pausas etc.) em Isso quer dizer que para qualquer dimen-
que se realizam esse trabalho. Ademais, estuda as são do corpo humano (por exemplo, a estatura),
características individuais que podem ter algum a maioria dos indivíduos está em torno do valor
tipo de incidência na execução do trabalho, tais
médio, existindo poucos indivíduos muito baixos
como: o sexo, a idade, a condição física, o grau de
ou muito altos.
instrução, o estilo de vida e a alimentação (COUTO,
2002; FALZON, 2007; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).

Antropometria

A antropometria é uma disciplina que tem


por objetivo a medida precisa das diferentes di-
mensões corporais, o estudo da variabilidade entre

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Figura 3 – Curva de Gauss.

Fonte: Nautilus (2010).

Os dados antropométricos se expressam deriva pela necessidade de se dispor dos dados


geralmente em percentil. Um percentil é a por- antropométricos da população concreta que será
centagem de indivíduos de uma população dada o objeto de estudo (COUTO, 2002; FALZON, 2007;
com uma dimensão corporal igual ou menor a um GRANDJEAN, 1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
determinado valor (COUTO, 2002; FALZON, 2007;
GRANDJEAN, 1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000). Biomecânica
Assim, o percentil 05 (5%), corresponde a
um indivíduo de estatura pequena (somente 5%
dos indivíduos são menores ou iguais a ele), en- A palavra ‘biomecânica’ pode ser decom-
posta por dois termos: bio, de biológico, ou seja,
quanto que um indivíduo de percentil 95 (95%)
relativo aos seres vivos e, mecânica. Logo, a partir
possui uma estatura alta (COUTO, 2002; FALZON,
da análise morfológica da palavra ‘biomecânica’,
2007; GRANDJEAN, 1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
esta signiica a aplicação dos princípios da me-
cânica aos seres vivos.
a) Normalmente se utilizam o percentil A biomecânica é uma ciência que estuda
05 (5%) para os alcances e dimensões as forças internas e externas que atuam no corpo
externas, como no desenho de disposi- humano e os efeitos produzidos por essas forças.
tivos, pontos de operação ou áreas de Ou seja, é a mecânica aplicada aos sistemas bioló-
alcance em um posto de trabalho (COU- gicos, nesse caso o corpo humano (FALZON, 2007;
TO, 2002; FALZON, 2007; GRANDJEAN, GRANDJEAN, 1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000). A biomecânica preocupa-se com a deter-
b) O percentil 95 (95%) é utilizado para as minação das forças internas e as consequências
dimensões internas, como, por exem- resultantes dessas forças, além de ser uma ciência
plo, o espaço para pernas, bancadas, as- que aborda e estuda as posturas dos indivíduos,
sentos, áreas para descanso etc. (COU- a mecânica do movimento humano e as posições
TO, 2002; FALZON, 2007; GRANDJEAN, adotadas (FALZON, 2007; GRANDJEAN, 1980;
1980; IIDA, 2003; VIDAL, 2000). IIDA, 2003; VIDAL, 2000).
A biomecânica faz uso da Anatomia, da Fi-
As diferentes medidas antropométricas siologia e da Mecânica para substanciar e balizar
variam de uma população para outra, pela qual se suas descobertas. Ou seja, para se desenvolver

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um estudo biomecânico necessitar-se-á da con- Em termos mais especíicos, serão considera-


tribuição dessas três ciências. dos como objetivos da Biomecânica (COUTO, 2002):
A Anatomia é a ciência que estuda as for-
mas e as estruturas dos seres vivos. A Fisiologia é a) Aumentar a eiciência técnica dos sujei-
a ciência que estuda o funcionamento de todas as tos:
partes do organismo vivo, bem como do organis- ƒƒ Estudando e comparando o desempe-
mo como um todo (GUYTON, 1988). E a Mecânica
nho dos melhores com o desempenho
é a ciência que descreve e prediz as condições de
do indivíduo ou grupo a quem se dese-
repouso ou de movimento de corpos sob a ação
ja aumentar a eiciência;
de forças.
Por sua vez, a Cinética estuda as forças as- ƒƒ Analisando as técnicas à luz dos princí-
sociadas ao movimento do corpo e a Cinemáti- pios da mecânica;
ca estuda o movimento do corpo em relação ao ƒƒ Utilizando simulações computadoriza-
tempo, à sua trajetória, à sua velocidade e à sua das;
aceleração. O objeto de estudo da Biomecânica é ƒƒ Melhorando os equipamentos e os ma-
o sistema gestual, isto é, o movimento. Esse estu- teriais.
do do sistema gestual consiste na análise da in-
teração do corpo, que realiza a ação, com o meio
envolvente (GRANDJEAN, 1980; IIDA, 2003; VIDAL, b) Diminuir a probabilidade de se veriica-
2000). rem lesões, do tipo crônico ou agudo
de origem osteomuscular.

2.7 Ergonomia Cognitiva

A Ergonomia Cognitiva é uma especialida-


de da Ergonomia – ciência do trabalho que estu- Dicionário
da as repercussões da organização e dos proces-
Cognição: é o termo psicológico que designa o
sos de trabalho (ambientes, artefatos, métodos) processo de conhecer a realidade, ou, mais espe-
sobre o conforto, segurança, saúde e a eicácia do ciicamente, a capacidade humana para adquirir,
manter e utilizar informações, conhecimentos ou
trabalho.
aprendizagens (CRUZ, 2006).

Atenção
As duas iguras a seguir ilustram exemplos
É uma disciplina cientíica que tem por objetivo de modelos explicativos (de Gagné e de Richard
descrever e explicar os aspectos cognitivos da re- – Figuras 4 e 5) para processos mentais. Veriica-
lação entre a ação humana e os elementos físicos
e materiais do ambiente, mediados pelo uso de -se que as entradas ocorrem no sistema sensorial
artefatos (CRUZ, 2006). humano, esses estímulos são processados cogni-
tivamente e em seguida tem-se uma resposta, a
qual pode ser um simples pensamento até uma
resposta motora.

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Figura 4 – Modelo de Gagné.

Fonte: Cruz (2006).

Figura 5 – Modelo de Richard.

Fonte: Cruz (2006).

Segundo Cruz (2006) as estratégias cogniti- ƒƒ Conhecimentos adquiridos ao longo


vas são empregadas para resolver problemas que da vida;
dependem dos seguintes condicionantes cogni- ƒƒ Raciocínios empregados por juízos
tivos: previamente validados (pautas de ra-

ƒƒ Representações construídas em rela-


ciocínio).

ção à situação presente;

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2.7 Ergonomia Organizacional

Segundo Vidal (2002), a Ergonomia Organi-


zacional é uma especialidade da Ergonomia que Atenção
atua na otimização dos sistemas sociotécnicos,
Compreender a situação de trabalho signiica
incluindo suas estruturas organizacionais, corpo- analisá-la detalhadamente em suas dimensões
rativas e processo de produção e negócio. Suas físicas, cognitivas e organizacionais.
dimensões de atuação são:
Signiica também reconhecer as outras ra-
ƒƒ Comunicação; cionalidades presentes, como a da Produção, da
ƒƒ Gestão do trabalho; Medicina do Trabalho e da Engenharia Ocupacio-

ƒƒ Trabalho em grupo;
nal, a variabilidade do trabalho etc.

ƒƒ Organização temporal do trabalho;


A atuação em Ergonomia deve abranger as

ƒƒ Teletrabalho;
3 dimensões da relação homem-trabalho: física,
cognitiva e organizacional.
ƒƒ Projeto participativo e cooperativo;
ƒƒ Novos paradigmas de trabalho; Estudo de Caso
ƒƒ Organizações virtuais. [...]Supondo que um trabalhador senta-
do em uma cadeira diante da tela e do
teclado de um terminal de computador
De acordo com Vidal (2002), os fatores or- esteja sentindo dores nas costas dor de
cabeça. A tela do vídeo relete a luz e tem
ganizacionais são importantes para a saúde pouco contraste. O ergonomista então
mental do trabalhador. Esses fatores interagem estuda os problemas relacionados com a
diretamente nas questões relacionadas ao com- coluna vertebral do trabalhador contribui
na concepção de cadeiras melhores de
portamento humano e às relações de trabalho. acordo com requisitos ergonômicos. Ele
Algumas das perguntas investigativas de um er- também estuda sobre os olhos e a visão
gonomista podem ser: para desenvolver atividades em telas me-
nos ofuscantes. Este mesmo trabalhador
apresenta sinais de fadiga, pois há várias
ƒƒ Como um líder trata o seu subordinado horas ele trabalha diante do seu terminal
e, além disso, ele não é mais tão jovem. O
no ambiente de trabalho? ergonomista aplica conhecimentos dos
ƒƒ Qual a cultura organizacional da em- efeitos de duração do trabalho sobre o
organismo humano, podendo contribuir
presa?
ƒƒ É permitido comunicações entre cole-
para melhor organizar os horários e as
pausas. Apesar de este trabalhador estar
gas de um setor? apenas sentado, ele não está sem fazer

ƒƒ Há coniança entre os trabalhadores?


nada. Ele executa uma atividade, inter-
preta informações que aparecem na tela,
ƒƒ Qual o estilo de liderança adotado pela
resolve problemas e talvez cometa erros.
O ergonomista estuda as bases da orga-
empresa? nização, monotonia e cognição, podendo
ƒƒ Quais as regras e procedimentos orga- ajudar na melhor formulação dos pro-
blemas e do treinamento. O trabalhador
nizacionais da organização? considera seu trabalho como repetitivo
ƒƒ O trabalhador se sente valorizado por e monótono. O ergonomista com seus
conhecimentos sobre a organização do
seus pares e seus superiores? trabalho, decide auxiliá-lo no desenvolvi-
mento do interesse nas tarefas e estimu-
la as comunicações na equipe. Ele pode
ajudar a conceber uma organização mais

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satisfatória, e, portanto, mais eicaz. To- gonomia a intervenção deve ser global,
das as questões apontadas neste exem- integrando variáveis e respondendo para
plo são importantes. As ações sugeridas aquela situação especíica, tendo como
pelo ergonomista irão contribuir para a objeto de estudo o ser humano. (VIDAL,
melhoria desta situação de trabalho. O 2002).
ergonomista deve abstrair estes conheci-
mentos e olhar para a atividade de trabalho
como um todo, buscando compreendê-
-la. É a partir desta compreensão que ele
decompõe a atividade em dimensões
parciais e produz suas análises. Em er-

2.8 Ergonomia Prática

Neste item ilustraremos algumas regras bá- a) Mobiliário inadequado de trabalho


sicas de intervenções ergonômicas na prática de (exemplo: cadeira inadequada para se
trabalho de proissionais engenheiros, médicos desenvolver atividades com o uso de
do trabalho, tecnólogos e técnicos de segurança computadores);
do trabalho, entre outros que atuam no campo da b) Trabalhar com o monitor deslocado
Ergonomia. Inicialmente abordaremos o uso dos para a lateral;
computadores nos ambientes de trabalho. c) Trabalhar com o telefone preso entre o
pescoço e o ombro;
Ergonomia e o Computador d) Monitor de vídeo excessivamente alto
ou baixo;
É comum icarmos horas e horas na frente e) Teclado excessivamente alto ou baixo;
de um terminal de vídeo, usando o computador e f) Uso do mouse com abdução do ombro
nem percebemos o tempo passar. No inal do dia, direito ou longe do corpo;
no entanto, é comum aquele desconforto no pes- g) Diiculdade visual em esforços prolon-
coço, nos ombros, nas pernas e na coluna. Além gados de visualização do monitor de
do uso prolongado, ao mantermos uma postura vídeo.
estática, contraída e assimétrica, o risco de que
essas dores evoluam para doenças de cunho os-
teomuscular é muito grande (COUTO, 2002; VI- Entre as recomendações para se organizar
DAL, 2002). de maneira ergonômica um posto de trabalho
Vejamos, portanto, o que podemos fazer com computador, Couto (2002) destaca as se-
para se evitar dores musculares e desconfortos guintes:
ao usarmos computadores. Mais importante ain-
da, como proissionais de saúde e segurança do a) Mesa com altura de 75 cm, largura (pro-
trabalho, é imprescindível que se tenha conhe- fundidade) de 75 a 80 cm e comprimen-
cimento sobre como prevenir doenças osteo- to mínimo de 120 cm;
musculares relacionadas à interação entre o ser b) No caso de pessoas muito altas, é im-
humano e a tecnologia disponível (COUTO, 2002; portante a possibilidade de ter em seu
VIDAL, 2002). posto de trabalho uma altura da mesa
Segundo Couto (2002), as principais situa- de cerca de 80 cm;
ções antiergonômicas no trabalho com computa- c) Caso pessoas muito altas e muito baixas
dores são: utilizem a mesma mesa de trabalho, as

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mesmas devem possuir mecanismos do teclado. Lembrando que, durante a


para regulagens de altura; digitação, os punhos não devem estar
d) O monitor de vídeo deve estar à fren- apoiados;
te do usuário, e os olhos do mesmo e h) Deve haver possibilidade de movimen-
o monitor devem formar um ângulo de tar o teclado um pouco para a frente e
leitura desde os olhos até o centro da um pouco para trás;
tela de 32 a 44 graus; i) Deve-se sentar mantendo um ângulo
e) Os braços devem estar na vertical; 2
tronco-coxa de aproximadamente 100
f) Os antebraços devem estar horizontali- graus;
zados e o teclado e o mouse devem es- j) Os pés devem estar apoiados;
tar na altura dos cotovelos; k) Usar o mouse sem abdução de ombros;
g) Deve ser possível apoiar os braços l) Levantar e movimentar-se durante 10
quando necessário. Esse apoio deve ser minutos a cada 2 horas. Alongar-se.
feito sobre os braços da cadeira (que m) Em atividades típicas de digitação de
deve ter altura regulável), como tam- dados, a pausa deve ser de 10 minutos
bém pode ser feito em espuma de bor- para cada 50 trabalhados.
da anterior arredondada situada adiante

Figura 6 – Posições corretas para trabalho em terminais de computador.

2
Para as ciências da saúde, “braço” corresponde apenas ao segmento corporal que vai do ombro até o cotovelo. Do cotovelo ao
punho (e não pulso) não é “braço”, é “antebraço”.

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Ergonomia na Prevenção de Lombalgias d) Protusão intradiscal do núcleo pulposo;


e) Hérnia discal.
Os desconfortos, distúrbios, doenças e le-
sões em coluna vertebral constituem a principal As principais situações de risco de lesão
causa de afastamentos de trabalhadores em to- para a coluna vertebral são:
dos os países desenvolvidos.
No Brasil, país em desenvolvimento a inci- a) Levantar, manusear e carregar cargas
dência de lesões em coluna vertebral também com peso acima de 25 kg;
se constitui num verdadeiro problema de saúde
b) Levantar e carregar cargas muito fre-
pública, custando anualmente aos cofres públi-
quentemente, mesmo que não sejam
cos milhões de reais, devido aos gastos com tra-
pesadas;
tamento, perda de produção e benefícios aos se-
gurados. c) Carregar cargas na cabeça;
Muitas dessas não conformidades pode- d) Levantar e manusear cargas distantes
riam ser evitadas com ações ergonômicas nas do corpo (alto risco de lesão);
organizações, indústrias e empresas em geral. e) Levantar e manusear cargas em torção
Além disso, o desconhecimento de como funcio- e lexão do tronco (com rotação da co-
na o corpo humano é uma das razões para que luna lombar);
trabalhadores negligenciem princípios simples f) Pegar e manusear cargas volumosas e
de segurança, na busca de se evitar sobrecargas de difícil manejo (sem pegas ou alças,
físicas de trabalho e desajustes biomecânicos, perigosas, quentes);
principais causas de lombalgias. Segundo Couto g) Trabalhar sentado mais de 4 horas por
(2002), outras causas de dores na coluna lombar dia;
(lombalgia) são:
h) Trabalhar com o tronco encurvado (le-
tido);
a) Fadiga muscular;
i) Vibração de corpo inteiro (ex.: ao dirigir
b) Torção de coluna lombossacra; empilhadeiras).
c) Estiramento musculoligamentar;

2.9 Termos e Deinições

Análise Ortostática/Análise Postural: é as medidas dos segmentos corporais e signii-


a avaliação que permite constatação da postura ca Antro (homem) e Metria (medidas). Abrange
ou posição assumida para a realização das tare- principalmente o estudo das dimensões lineares,
fas que compõem as atividades laboriosas, se di- diâmetros, pesos, centros de gravidade do corpo
videm basicamente em bípede estação (trabalho humano e suas partes, podendo ser subdividida
realizado em pé) e posição sentada. em estática e dinâmica.
Biomecânica: é o estudo dos movimentos Fisiopatologia do Trabalho Muscular: i-
corporais realizados ou exigidos para a realização siopatologia é resumidamente o estudo do pro-
de uma tarefa ou trabalho, relacionado com apli- cesso de instalação de doença. O trabalho mus-
cação de força, resistência e resultantes vetoriais, cular se traduz pela contração de certos músculos
velocidade, aceleração e espaço. e relaxamento de outros. A contração muscular
Antropometria: é a ciência que estuda é o fenômeno fundamental da atividade física.

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O trabalho muscular estático caracteriza-se por Posto de Trabalho: deinido como a menor
uma contração prolongada da musculatura (ma- unidade produtiva em um sistema de produção.
nutenção de uma postura ou membro contra a Envolve o conjunto de elementos, ferramentas,
gravidade). Dessa forma, o músculo não alonga máquinas, equipamentos, softwares, processo de
seu comprimento e permanece em estado de alta produção etc. que constituem para um trabalha-
tensão, produzindo força durante longo período. dor a base de onde parte a atuação deste para a
Os efeitos isiológicos dos esforços estáticos es- execução de tarefas e também para onde luem
tão ligados à compressão dos vasos sanguíneos. informações relacionadas com essas tarefas. O
O sangue deixa de luir e o músculo não recebe posto de trabalho pode ser adequado, adequado
oxigênio nem nutrientes, os resíduos metabólicos parcialmente e inadequado, sempre consideran-
não são retirados, acumulando-se e provocando do a adaptação às características psicoisiológicas
dor e fadiga musculares. O tempo de manuten- do trabalhador.
ção da contração é em função da tensão. Superfície e Área de Trabalho: para cada
Variabilidade: está associada ao imponde- posição do corpo existe um determinado espaço,
rável, ou àquilo que não foi previsto, manifesto que pode ser alcançado pelos membros superio-
dentro das situações produtivas. Signiica com- res ou inferiores para executar um trabalho. Todos
preender como os trabalhadores enfrentam as os controles manuais ou pedais devem estar loca-
diversidades e as variações de situações e quais lizados dentro desse espaço para que o operador
consequências elas acarretam para a saúde e para possa trabalhar usando um mínimo de movimen-
a produção. tos corporais. Os limites desse espaço constituem
Modo Operatório: é um termo próprio da a superfície de trabalho.
Ergonomia que visa a caracterizar as diferentes Ambiente de Trabalho/Dados Ambien-
maneiras de se executar uma mesma tarefa. A es- tais: muitas vezes, o equipamento em si não re-
colha pelo sujeito de um modo operatório espe- presenta riscos à integridade física de seu usuá-
cíico, deriva das possibilidades de regulação da rio, mas o ambiente que o cerca sim. Nesse caso, a
atividade e de uma competência. análise e projeto do posto devem garantir a pro-
Percentis: determina o limite da faixa de teção do operador em relação aos fatores exter-
utilizadores de um projeto de posto de trabalho, nos agressivos, tais como ruído, calor, frio, ilumi-
objetivando a adaptação às características di- nação deiciente etc.
mensionais de no mínimo 90% dos utilizadores, Aspectos de Layout: a disposição dos mó-
ou seja, pessoas cujas dimensões variam entre veis, máquinas e equipamentos em uma unidade
padrões 5% e 95%. de trabalho pode determinar ou não o conforto
Conceito Pessoa Padrão: dividido em pes- aos seus ocupantes. Na elaboração do projeto
soas padrão 5%, pessoas padrão 95% e pessoas para um ambiente de trabalho, a dimensão física,
padrão médio. Pessoas padrão 5%, signiica que a altura do pé-direito, a iluminação, a propagação
95% das pessoas desse mesmo levantamento do som, os revestimentos do piso e paredes, a
possuem dimensões ou capacidades físicas su- existência de forro no teto, aeração, climatização,
periores a desse padrão 5%. Da mesma forma o limpeza, ventilação, cor predominante, entre ou-
percentual pessoa 95% signiica que apenas 5% tros aspectos deverão ser considerados, sempre
têm dimensões ou capacidades físicas superio- destacando o número de pessoas que ali irão tra-
res a esse padrão. Já as pessoas padrão médio balhar e ainda quais as características desse tra-
signiica que 90% das pessoas do levantamento balho a ser realizado.
considerado atingem a altura média das pessoas Fatores Humanos no Trabalho: quan-
envolvidas. Lembrando que o indivíduo médio é do a capacidade funcional do nosso organismo
uma abstração matemática e o mesmo não existe é ultrapassada, há sinais de sobrecarga e o seu
de fato. funcionamento é diminuído. A fadiga física e/

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ou psíquica frequentemente é responsável por sendo o sono noturno fator regulador orgânico.
“erros” que determinam acidentes no trabalho, Quando existe uma alteração desse ritmo, de-
provocando prejuízos aos trabalhadores e a pro- terminado pela luz solar, trabalhando-se à noite
dução. A importância do conhecimento da limi- e dormindo de dia, impomos ao nosso organis-
tação orgânica do homem e a instalação de pro- mo um desgaste energético para essa adaptação,
cesso produtivo que respeite as necessidades de com débito na sua parcela de sono diária, pois
descanso são medidas preventivas e inteligentes o sono diurno é de má qualidade. Esse débito é
à manutenção dos resultados produtivos positi- cumulativo e a fadiga crônica aparece. Outro fator
vos. importante é saber que o ciclo circadiano acom-
Sistema de Trabalho: é um ambiente físi- panha o ciclo social do ambiente e não o ritmo do
co e social onde uma ou mais pessoas interagem indivíduo.
entre si e por meio de artefatos, em função de ta- Trabalho Repetitivo e Monótono: assim
refas e necessidades de resultados. como a repetitividade pode gerar trauma cumu-
Interação: é o processo mútuo de relacio- lativo de ordem física ao membro submetido à
namento e comunicação entre pessoas e os de- determinada ação seriada, a monotonia é uma
mais componentes de um sistema de trabalho. reação do nosso organismo a um ambiente ou tra-
Situação de Trabalho/Contexto do Traba- balho sem estímulos. Suas consequências diretas
lho: relação entre exigências (físicas, psicológicas são o aparecimento do sono, a perda de atenção
e sociais), competências e resultados. e o aumento de reação quando surge o estímulo.
Ambientes quentes, ruidosos, atividades prolon-
Artefatos: são meios materiais (tecnolo-
gadas e sem criatividade e o isolamento (perda
gias) ou simbólicos produzidos pela cultura hu-
de contato social com outros indivíduos) são as
mana que afetam, interferem ou modiicam as
principais causas da monotonia. As pessoas sub-
capacidades humanas para realizar operações
metidas durante longos períodos a tarefas monó-
cognitivas.
tonas sofrem redução da capacidade física e men-
Tarefa: é o que está prescrito em um siste- tal, provocadas pela falta de estímulos. O cérebro,
ma de trabalho; são os objetivos, metas, regras, por não receber novos desaios aos quais teria de
funções que determinam modos operatórios, responder com ordens, reagindo, passa a tornar-
criação e uso de artefatos. -se apático, atroiado. O número de erros cometi-
Atividade: no sentido psicológico, signiica dos aumenta e o risco de acidentes é maior.
atos conscientes visando aos objetivos. Enfoque Taylorista: visa preponderante-
Atividade de Trabalho: o trabalho tal como mente aos resultados sem considerar as neces-
ele é realizado, ou seja, as características das ope- sidades dos trabalhadores. É baseado no estudo
rações humanas nos sistemas de trabalho. dos movimentos corporais para realizar uma ta-
Interface: é o meio que possibilita a comu- refa e no tempo gasto em cada um desses movi-
nicação entre pessoas e artefatos. mentos. O melhor método de trabalho é escolhi-
Modelo: é uma redução da realidade, uma do pelo menor tempo consumido na realização
elaboração intelectual que tem por objetivo des- das tarefas.
crever, de forma sucinta, determinadas relações Enfoque Ergonômico Tradicional: basea-
ou funções entre fenômenos ou conceitos, ou, do no princípio da redução das exigências bio-
ainda, uma formulação teórica especíica. mecânicas no intuito de minimizar a fadiga física,
Trabalho de Turno: nosso organismo apre- ou seja, considera os limites e capacidades do in-
senta oscilações de suas funções durante o perío- divíduo e as características antropométricas dos
do de 24 horas. Esse período é chamado Circadia- usuários/operadores, em que o posto de trabalho
no, do latim Circa Die (cerca de um dia). O homem é considerado prolongamento do corpo do traba-
é, por deinição biológica, ser de hábitos diurnos, lhador.

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Enfoque Ergonômico Global: abrange o uma empresa, são fatores ergonômicos deci-
enfoque tradicional acrescentando aspectos psi- sivos, determinando o nível de satisfação e a
cológicos e cognitivos do indivíduo, bem como qualidade no ambiente laboral. A organização
os sistemas de produção (incluindo os hardwares do trabalho engloba as normas de produção,
e softwares). No enfoque ergonômico global, o determinação das jornadas de trabalho, divisão
posto de trabalho é considerado um prolonga- de turnos, sistema de qualidade adotado, regras
mento do corpo e da mente humana, pois trata, e procedimentos de segurança, ritmo das ativi-
além dos fatores físicos do posto de trabalho, os dades, entre outros. Os processos de produção
aspectos cognitivos (na interface homem x má- são caminhos entre o início do trabalho até a
quina e processo de produção), bem como as conclusão do produto inal. Não raro, a evolução
relações pessoais e motivacionais no ambiente tecnológica possibilita alterações no processo
de trabalho. O enfoque ergonômico global é apli- produtivo das empresas, favorecendo e simpli-
cado na concepção e/ou adaptação de postos de icando tarefas, diminuindo custos e riscos com
trabalho e/ou ambientes de trabalho informati- aumento da produtividade. A organização do
zados e automatizados em ambientes industriais, trabalho pode ser caracterizada pelas modali-
fabris, operacionais e administrativos. dades de repartir as funções entre operadores e
Projeto Ergonômico de Posto de Traba- as máquinas: é o problema da divisão do traba-
lho: o projeto ergonômico para o posto de traba- lho (LEPLAT; CUNY, 1977). Ela deine quem faz o
lho, em enfoque global, funciona como processo quê, como e em quanto tempo. É a divisão dos
de engenharia simultânea para desenvolvimento homens e das tarefas.
do projeto, onde tudo se integra e interage, aspec- Ritmo de Trabalho: a imposição de ritmos
tos antropométricos, biomecânicos, psicológicos extenuantes, ou o estímulo a competitividade
e cognitivos, aspectos estruturais e operacionais, através da boniicação por aumento de produti-
aspectos organizacionais e ainda ambientais (ilu- vidade, encontra-se como principal agente cau-
minação, ruído, velocidade e qualidade do ar, sador do stress físico e mental nos ambientes de
temperatura, umidade etc.). trabalho. A determinação do ritmo de trabalho
Organização do Trabalho e Processos deverá ser condizente com as características e li-
de Produção: a organização (ou não) do tra- mitações do trabalhador, respeitando-se as dife-
balho, bem como o processo de produção em renças naturais entre um e outro indivíduo, bem
como a estrutura laboriosa constituída.

2.10 Resumo do Capítulo

Os objetivos da Ergonomia são: o Conforto, a Segurança e o Bem-Estar dos trabalhadores. Vimos


que o aumento da produtividade não é um objetivo da Ergonomia, apesar de em geral ser uma conse-
quência.
Estudamos ainda os três tipos de ergonomia: física, cognitiva e organizacional. Lemos que a ergo-
nomia pode ser dividida em três segmentos distintos: Ergonomia de Correção, Ergonomia de Concepção,
Ergonomia de Conscientização.
Vimos ainda que as modalidades de atuação da ergonomia são:

ƒƒ Ergonomia do Produto
ƒƒ Ergonomia de Produção
ƒƒ Ergonomia de Intervenção

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ƒƒ Ergonomia de Concepção
ƒƒ Ergonomia de Correção
ƒƒ Ergonomia de Remanejamento
ƒƒ Ergonomia de Modernização

2.11 Atividades Propostas

1. Quais os três tipos de ergonomia?

2. O que é antropometria?

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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS

CAPíTULO 1

1.
a) Durante a Revolução Industrial as atividades laborais em geral geravam inúmeras sobrecar-
gas físicas e cognitivas ao trabalhador. As doenças e acidentes de trabalho eram comuns.
Entretanto, pouco se fazia para eliminá-los ou até mesmo registrá-los.
b) Em resposta à pergunta das consequências de culpabilizar o trabalhador como única causa
de acidentes, essa prática restringe uma análise mais profunda e detalhada dos acidentes
que em geral é multicausal (fatores humanos, tecnológicos e organizacionais), estagnan-
do a eliminação dos riscos reais geradores dos acidentes, promovendo a perpetuação dos
mesmos nas empresas e onerando toda a sociedade.

CAPíTULO 2

1. Os 3 tipos de ergonomia são:


ƒƒ Ergonomia física: mais antiga que tem foco no ambiente físico de trabalho, como por exem-
plo, mobiliário, repetitividade e carga física de trabalho;
ƒƒ Ergonomia cognitiva: que estuda os processos mentais de trabalho, relacionando-se com o
estresse, o erro humano e a coniabilidade;
ƒƒ Ergonomia organizacional: que estuda as relações de trabalho. Como por exemplo, a cultu-
ra organizacional da empresa, política, comunicação etc.

2. A antropometria é uma disciplina que tem por objetivo a medida precisa das diferentes dimen-
sões corporais, o estudo da variabilidade entre indivíduos, assim como sua evolução ao passar
do tempo.

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ANEXOS

ANEXO 1 - LEI Nº 6.514 DE 22 DE DEZEMBRO DE 1977

Altera o Capítulo V do Titulo II da Consoli- relacionadas com a segurança e a medicina do


dação das Leis do Trabalho, relativo a segurança trabalho em todo o território nacional, inclusive
e medicina do trabalho e dá outras providências. a Campanha Nacional de Prevenção de Aciden-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, tes do Trabalho;
Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL III - conhecer, em última instância, dos re-
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: cursos, voluntários ou de ofício, das decisões pro-
Art 1º - O Capítulo V do Titulo II da Conso- feridas pelos Delegados Regionais do Trabalho,
lidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo De- em matéria de segurança e medicina do trabalho.
creto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a Art 156 - Compete especialmente às Dele-
vigorar com a seguinte redação: gacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua
jurisdição:
“CAPíTULO V” - DA SEGURANÇA E DA MEDICI- I - promover a iscalização do cumprimento
NA DO TRABALHO das normas de segurança e medicina do trabalho;
II - adotar as medidas que se tornem exigí-
SEÇÃO I - DISPOSIÇÕES GERAIS veis, em virtude das disposições deste Capítulo,
determinando as obras e reparos que, em qual-
Art 154 - A observância, em todos os locais quer local de trabalho, se façam necessárias;
de trabalho, do disposto neste Capítulo, não de- III - impor as penalidades cabíveis por des-
sobriga as empresas do cumprimento de outras cumprimento das normas constantes deste Capí-
disposições que, com relação à matéria, sejam tulo, nos termos do art. 201.
incluídas em códigos de obras ou regulamentos Art 157 - Cabe às empresas:
sanitários dos Estados ou Municípios em que se I - cumprir e fazer cumprir as Normas de Se-
situem os respectivos estabelecimentos, bem gurança e Medicina do Trabalho;
como daquelas oriundas de convenções coletivas
II - instruir os empregados, através de or-
de trabalho.
dens de serviço, quanto às precauções a tomar no
Art 155 - Incumbe ao órgão de âmbito na- sentido de evitar acidentes do trabalho ou doen-
cional competente em matéria de segurança e ças ocupacionais;
medicina do trabalho: III - adotar as medidas que lhes sejam deter-
I - estabelecer, nos limites de sua competên- minadas pelo órgão regional competente;
cia, normas sobre a aplicação dos preceitos deste IV - facilitar o exercício da iscalização pela
Capítulo, especialmente os referidos no art. 200; autoridade competente.
II - coordenar, orientar, controlar e super- Art 158 - Cabe aos empregados:
visionar a iscalização e as demais atividades

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I - observar as Normas de Segurança e Me- § 1º - As autoridades federais, estaduais e


dicina do Trabalho, inclusive as instruções de que municipais darão imediato apoio às medidas de-
trata o item II do artigo anterior; terminadas pelo Delegado Regional do Trabalho.
II - colaborar com a empresa na aplicação § 2º - A interdição ou embargo poderão ser
dos dispositivos deste Capítulo. requeridos pelo serviço competente da Delegacia
Parágrafo único - Constitui ato faltoso do Regional do Trabalho e, ainda, por agente da ins-
empregado a recusa injustiicada: peção do trabalho ou por entidade sindical.
a) à observância das instruções expedidas § 3º - Da decisão do Delegado Regional do
pelo empregador na forma do item II do artigo Trabalho poderão os interessados recorrer, no
anterior; prazo de 10 (dez) dias, para o órgão de âmbito
b) ao uso dos equipamentos de proteção nacional competente em matéria de segurança e
individual fornecido pela empresa. medicina do trabalho, ao qual será facultado dar
efeito suspensivo ao recurso.
Art 159 - Mediante convênio autorizado
pelo Ministro do Trabalho, poderão ser delegadas § 4º - Responderá por desobediência, além
a outros Órgãos Federais, estaduais ou municipais das medidas penais cabíveis, quem, após deter-
atribuições de iscalização ou orientação às em- minada a interdição ou embargo, ordenar ou per-
presas quanto ao cumprimento das disposições mitir o funcionamento do estabelecimento ou de
constantes deste Capítulo. um dos seus setores, a utilização de máquina ou
equipamento, ou o prosseguimento de obra, se,
SEÇÃO II - DA INSPEÇÃO PRÉVIA E DO EMBAR- em conseqüência, resultarem danos a terceiros.
GO OU INTERDIÇÃO § 5º - O Delegado Regional do Trabalho, in-
dependente de recurso, e após laudo técnico do
Art 160 - Nenhum estabelecimento pode- serviço competente, poderá levantar a interdição.
rá iniciar suas atividades sem prévia inspeção e § 6º - Durante a paralisação dos serviços, em
aprovação das respectivas instalações pela auto- decorrência da interdição ou embargo, os empre-
ridade regional competente em matéria de segu- gados receberão os salários como se estivessem
rança e medicina do trabalho. em efetivo exercício.
§ 1º - Nova inspeção deverá ser feita quan-
do ocorrer modiicação substancial nas instala- SEÇÃO III - DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA E DE
ções, inclusive equipamentos, que a empresa ica MEDICINA DO TRABALHO NAS EMPRESAS
obrigada a comunicar, prontamente, à Delegacia
Regional do Trabalho. Art 162 - As empresas, de acordo com nor-
§ 2º - É facultado às empresas solicitar pré- mas a serem expedidas pelo Ministério do Traba-
lho, estarão obrigadas a manter serviços especia-
via aprovação, pela Delegacia Regional do Traba-
lizados em segurança e em medicina do trabalho.
lho, dos projetos de construção e respectivas ins-
Parágrafo único - As normas a que se refere este
talações.
artigo estabelecerão:
Art 161 - O Delegado Regional do Trabalho, a) classiicação das empresas segundo o
à vista do laudo técnico do serviço competente número de empregados e a natureza do risco de
que demonstre grave e iminente risco para o tra- suas atividades;
balhador, poderá interditar estabelecimento, se- b) o numero mínimo de proissionais espe-
tor de serviço, máquina ou equipamento, ou em- cializados, exigido de cada empresa, segundo o
bargar obra, indicando na decisão, tomada com a grupo em que se classiique, na forma da alínea
brevidade que a ocorrência exigir, as providências anterior;
que deverão ser adotadas para prevenção de in- c) a qualiicação exigida para os proissio-
fortúnios de trabalho. nais em questão e o seu regime de trabalho;

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d) as demais características e atribuições


dos serviços especializados em segurança e em Art 166 - A empresa é obrigada a fornecer
medicina do trabalho, nas empresas. aos empregados, gratuitamente, equipamento
Art 163 - Será obrigatória a constituição de proteção individual adequado ao risco e em
de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes perfeito estado de conservação e funcionamen-
(CIPA), de conformidade com instruções expedi- to, sempre que as medidas de ordem geral não
das pelo Ministério do Trabalho, nos estabeleci- ofereçam completa proteção contra os riscos de
mentos ou locais de obra nelas especiicadas.
acidentes e danos à saúde dos empregados.
Parágrafo único - O Ministério do Trabalho regu-
lamentará as atribuições, a composição e o fun- Art 167 - O equipamento de proteção só
cionamento das CIPA (s). poderá ser posto à venda ou utilizado com a indi-
Art 164 - Cada CIPA será composta de re- cação do Certiicado de Aprovação do Ministério
presentantes da empresa e dos empregados, de do Trabalho.
acordo com os critérios que vierem a serem ado-
tados na regulamentação de que trata o parágra- SEÇÃO V - DAS MEDIDAS PREVENTIVAS DE ME-
fo único do artigo anterior. DICINA DO TRABALHO
§ 1º - Os representantes dos empregadores,
titulares e suplentes, serão por eles designados. Art 168 - Será obrigatório o exame médico
§ 2º - Os representantes dos empregados, do empregado, por conta do empregador.
titulares e suplentes, serão eleitos em escrutínio § 1º - Por ocasião da admissão, o exame
secreto, do qual participem, independentemente médico obrigatório compreenderá investigação
de iliação sindical, exclusivamente os emprega- clínica e, nas localidades em que houver abreu-
dos interessados. graia.
§ 3º - O mandato dos membros eleitos da § 2º - Em decorrência da investigação clínica
CIPA terá a duração de 1 (um) ano, permitida uma ou da abreugraia, outros exames complementa-
reeleição. res poderão ser exigidos, a critério médico, para
§ 4º - O disposto no parágrafo anterior não apuração da capacidade ou aptidão física e men-
se aplicará ao membro suplente que, durante o tal do empregado para a função que deva exercer.
seu mandato, tenha participado de menos da § 3º - O exame médico será renovado, de
metade do número de reuniões da CIPA. seis em seis meses, nas atividades e operações
§ 5º - O empregador designará, anualmen- insalubres e, anualmente, nos demais casos. A
te, dentre os seus representantes, o Presidente abreugraia será repetida a cada dois anos.
da CIPA e os empregados elegerão, dentre eles, o § 4º - O mesmo exame médico de que tra-
Vice-Presidente. ta o § 1º será obrigatório por ocasião da cessação
Art 165 - Os titulares da representação dos do contrato de trabalho, nas atividades, a serem
empregados nas CIPA (s) não poderão sofrer des- discriminadas pelo Ministério do Trabalho, desde
pedida arbitrária, entendendo-se como tal a que que o último exame tenha sido realizado há mais
não se fundar em motivo disciplinar, técnico, eco- de 90 (noventa) dias.
nômico ou inanceiro. § 5º - Todo estabelecimento deve estar
Parágrafo único - Ocorrendo a despedida, equipado com material necessário à prestação de
caberá ao empregador, em caso de reclamação primeiros socorros médicos.
à Justiça do Trabalho, comprovar a existência de Art 169 - Será obrigatória a notiicação das
qualquer dos motivos mencionados neste artigo, doenças proissionais e das produzidas em virtu-
sob pena de ser condenado a reintegrar o empre- de de condições especiais de trabalho, compro-
gado. vadas ou objeto de suspeita, de conformidade
com as instruções expedidas pelo Ministério do
SEÇÃO IV - DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO Trabalho.
INDIVIDUAL

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SEÇÃO VI - DAS EDIFICAÇÕES Art 176 - Os locais de trabalho deverão ter


ventilação natural, compatível com o serviço rea-
Art 170 - As ediicações deverão obedecer lizado.
aos requisitos técnicos que garantam perfeita se- Parágrafo único - A ventilação artiicial será
gurança aos que nelas trabalhem. obrigatória sempre que a natural não preencha as
Art 171 - Os locais de trabalho deverão ter, condições de conforto térmico.
no mínimo, 3 (três) metros de pé-direito, assim Art 177 - Se as condições de ambiente se tor-
considerada a altura livre do piso ao teto. narem desconfortáveis, em virtude de instalações
Parágrafo único - Poderá ser reduzido esse geradoras de frio ou de calor, será obrigatório o
mínimo desde que atendidas as condições de ilu- uso de vestimenta adequada para o trabalho em
minação e conforto térmico, compatíveis com a tais condições ou de capelas, anteparos, paredes
natureza do trabalho, sujeitando-se tal redução duplas, isolamento térmico e recursos similares,
ao controle do órgão competente em matéria de de forma que os empregados iquem protegidos
segurança e medicina do trabalho. contra as radiações térmicas.

Art 172 - 0s pisos dos locais de trabalho não Art 178 - As condições de conforto térmico
deverão apresentar saliências nem depressões dos locais de trabalho devem ser mantidas dentro
que prejudiquem a circulação de pessoas ou a dos limites ixados pelo Ministério do Trabalho.
movimentação de materiais.
Art 173 - As aberturas nos pisos e paredes SEÇÃO IX - DAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
serão protegidas de forma que impeçam a queda
de pessoas ou de objetos. Art 179 - O Ministério do Trabalho disporá
Art 174 - As paredes, escadas, rampas de sobre as condições de segurança e as medidas
acesso, passarelas, pisos, corredores, coberturas especiais a serem observadas relativamente a ins-
e passagens dos locais de trabalho deverão obe- talações elétricas, em qualquer das fases de pro-
decer às condições de segurança e de higiene do dução, transmissão, distribuição ou consumo de
trabalho estabelecidas pelo Ministério do Traba- energia.
lho e manter-se em perfeito estado de conserva- Art 180 - Somente proissional qualiicado
ção e limpeza. poderá instalar, operar, inspecionar ou reparar
instalações elétricas.
SEÇÃO VII - DA ILUMINAÇÃO Art 181 - Os que trabalharem em serviços
de eletricidade ou instalações elétricas devem es-
Art 175 - Em todos os locais de trabalho de- tar familiarizados com os métodos de socorro a
verá haver iluminação adequada, natural ou artii- acidentados por choque elétrico.
cial, apropriada à natureza da atividade.
§ 1º - A iluminação deverá ser uniforme- SEÇÃO X - DA MOVIMENTAÇÃO, ARMAZENA-
mente distribuída, geral e difusa, a im de evitar GEM E MANUSEIO DE MATERIAIS
ofuscamento, relexos incômodos, sombras e
contrastes excessivos.
Art 182 - O Ministério do Trabalho estabele-
§ 2º - O Ministério do Trabalho estabelecerá cerá normas sobre:
os níveis mínimos de iluminamento a serem ob-
I - as precauções de segurança na movi-
servados.
mentação de materiais nos locais de trabalho, os
equipamentos a serem obrigatoriamente utiliza-
SEÇÃO VIII DO CONFORTO TÉRMICO dos e as condições especiais a que estão sujeitas à
operação e a manutenção desses equipamentos,

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inclusive exigências de pessoal habilitado; acesso às máquinas e equipamentos de grandes


II - as exigências similares relativas ao ma- dimensões, emprego de ferramentas, sua ade-
nuseio e à armazenagem de materiais, inclusive quação e medidas de proteção exigidas quando
quanto às condições de segurança e higiene re- motorizadas ou elétricas.
lativas aos recipientes e locais de armazenagem e
os equipamentos de proteção individual; SEÇÃO XII - DAS CALDEIRAS, FORNOS E RECI-
III - a obrigatoriedade de indicação de carga PIENTES SOB PRESSÃO
máxima permitida nos equipamentos de trans-
porte, dos avisos de proibição de fumar e de ad- Art 187 - As caldeiras, equipamentos e re-
vertência quanto à natureza perigosa ou nociva à cipientes em geral que operam sob pressão de-
saúde das substâncias em movimentação ou em verão dispor de válvula e outros dispositivos de
depósito, bem como das recomendações de pri- segurança, que evitem seja ultrapassada a pres-
meiros socorros e de atendimento médico e sím- são interna de trabalho compatível com a sua re-
bolo de perigo, segundo padronização interna- sistência.
cional, nos rótulos dos materiais ou substâncias
Parágrafo único - O Ministério do Trabalho
armazenados ou transportados.
expedirá normas complementares quanto à se-
Parágrafo único - As disposições relativas ao gurança das caldeiras, fornos e recipientes sob
transporte de materiais aplicam-se, também, no pressão, especialmente quanto ao revestimento
que couber, ao transporte de pessoas nos locais interno, à localização, à ventilação dos locais e
de trabalho. outros meios de eliminação de gases ou vapo-
Art 183 - As pessoas que trabalharem na res prejudiciais à saúde, e demais instalações ou
movimentação de materiais deverão estar fami- equipamentos necessários à execução segura das
liarizados com os métodos raciocinais de levanta- tarefas de cada empregado.
mento de cargas. Art 188 - As caldeiras serão periodicamen-
te submetidas a inspeções de segurança, por en-
SEÇÃO XI - DAS MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS genheiro ou empresa especializada, inscritos no
Ministério do Trabalho, de conformidade com as
Art 184 - As máquinas e os equipamentos instruções que, para esse im, forem expedidas.
deverão ser dotados de dispositivos de partida e § 1º - Toda caldeira será acompanhada de
parada e outros que se izerem necessários para “Prontuário”, com documentação original do fa-
a prevenção de acidentes do trabalho, especial- bricante, abrangendo, no mínimo: especiicação
mente quanto ao risco de acionamento acidental. técnica, desenhos, detalhes, provas e testes rea-
Parágrafo único - É proibida a fabricação, a lizados durante a fabricação e a montagem, ca-
importação, a venda, a locação e o uso de máqui- racterísticas funcionais e a Pressão Máxima de
nas e equipamentos que não atendam ao dispos- Trabalho Permitida (PMTP), esta última indicada,
to neste artigo. em local visível, na própria caldeira.

Art 185 - Os reparos, limpeza e ajustes so- § 2º - O proprietário da caldeira deverá or-
mente poderão ser executados com as máquinas ganizar, manter atualizado e apresentar, quando
paradas, salvo se o movimento for indispensável exigido pela autoridade competente, o Registro
à realização do ajuste. de Segurança, no qual serão anotados, sistemati-
camente, as indicações das provas efetuadas, ins-
Art 186 - O Ministério do Trabalho estabe-
peções, reparos e quaisquer outras ocorrências.
lecerá normas adicionais sobre proteção e me-
didas de segurança na operação de máquinas e § 3º - Os projetos de instalação de caldei-
equipamentos, especialmente quanto à proteção ras, fornos e recipientes sob pressão deverão ser
das partes móveis, distância entre estas, vias de submetidos à aprovação prévia do órgão regional

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competente em matéria de segurança do traba- gião, segundo se classiiquem nos graus máximo,
lho. médio e mínimo.
Art 193 - São consideradas atividades ou
SEÇÃO XIII - DAS ATIVIDADES INSALUBRES OU operações perigosas, na forma da regulamenta-
PERIGOSAS ção aprovada pelo Ministério do Trabalho, aque-
las que, por sua natureza ou métodos de trabalho,
impliquem o contato permanente com inlamá-
Art 189 - Serão consideradas atividades ou
veis ou explosivos em condições de risco acen-
operações insalubres aquelas que, por sua natu-
tuado.
reza, condições ou métodos de trabalho, expo-
nham os empregados a agentes nocivos à saúde § 1º - O trabalho em condições de pericu-
acima dos limites de tolerância, ixados em razão losidade assegura ao empregado um adicional
da natureza e da intensidade do agente e do tem- de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os
po de exposição aos seus efeitos. acréscimos resultantes de gratiicações, prêmios
ou participações nos lucros da empresa.
Art 190 - O Ministério do Trabalho aprovará
o quadro das atividades e operações insalubres e § 2º - O empregado poderá optar pelo adi-
adotará normas sobre os critérios de caracteriza- cional de insalubridade que porventura lhe seja
ção da insalubridade, os limites de tolerância aos devido.
agentes agressivos, meios de proteção e o tem- Art 194 - O direito do empregado ao adicio-
po máximo de exposição do empregado a esses nal de insalubridade ou de periculosidade cessará
agentes. com a eliminação do risco à sua saúde ou integri-
Parágrafo único - As normas referidas neste dade física, nos termos desta Seção e das normas
artigo incluirão medidas de proteção do organis- expedidas pelo Ministério do Trabalho.
mo do trabalhador nas operações que produzem Art 195 - A caracterização e a classiicação
aerodispersóides tóxicos, irritantes, alérgicos ou da insalubridade e da periculosidade, segundo as
incômodos. normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão atra-
Art 191- A eliminação ou a neutralização da vés de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou
insalubridade ocorrerá: Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministé-
rio do Trabalho.
I - com a adoção de medidas que conser-
vem o ambiente de trabalho dentro dos limites § 1º - É facultado às empresas e aos sindi-
de tolerância; catos das categorias proissionais interessadas re-
quererem ao Ministério do Trabalho a realização
II - com a utilização de equipamentos de
de perícia em estabelecimento ou setor deste,
proteção individual ao trabalhador, que dimi-
com o objetivo de caracterizar e classiicar ou de-
nuam a intensidade do agente agressivo a limites
limitar as atividades insalubres ou perigosas.
de tolerância.
§ 2º - Argüida em juízo insalubridade ou
Parágrafo único - Caberá às Delegacias Re-
periculosidade, seja por empregado, seja por
gionais do Trabalho, comprovada a insalubrida-
Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz
de, notiicar as empresas, estipulando prazos para
designará perito habilitado na forma deste artigo,
sua eliminação ou neutralização, na forma deste
e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão
artigo.
competente do Ministério do Trabalho.
Art 192 - O exercício de trabalho em condi-
§ 3º - O disposto nos parágrafos anteriores
ções insalubres, acima dos limites de tolerância
não prejudica a ação iscalizadora do Ministério
estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, asse-
do Trabalho, nem a realização ex oicio da perícia.
gura a percepção de adicional respectivamente
de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cen- Art 196 - Os efeitos pecuniários decorren-
to) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da re- tes do trabalho em condições de insalubridade

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ou periculosidade serão devidos a contar da data estabelecer disposições complementares às nor-


da inclusão da respectiva atividade nos quadros mas de que trata este Capítulo, tendo em vista as
aprovados pelo Ministro do Trabalho, respeitadas peculiaridades de cada atividade ou setor de tra-
as normas do artigo 11. balho, especialmente sobre:
Art 197 - Os materiais e substâncias empre- I - medidas de prevenção de acidentes e os
gados, manipulados ou transportados nos locais equipamentos de proteção individual em obras
de trabalho, quando perigosos ou nocivos à saú- de construção, demolição ou reparos;
de, devem conter, no rótulo, sua composição, re- II - depósitos, armazenagem e manuseio
comendações de socorro imediato e o símbolo de de combustíveis, inlamáveis e explosivos, bem
perigo correspondente, segundo a padronização como trânsito e permanência nas áreas respecti-
internacional. vas;
Parágrafo único - Os estabelecimentos que III - trabalho em escavações, túneis, galerias,
mantenham as atividades previstas neste artigo minas e pedreiras, sobretudo quanto à prevenção
aixarão, nos setores de trabalho atingidas, avisos de explosões, incêndios, desmoronamentos e so-
ou cartazes, com advertência quanto aos mate- terramentos, eliminação de poeiras, gases, etc. e
riais e substâncias perigosos ou nocivos à saúde. facilidades de rápida saída dos empregados;
IV - proteção contra incêndio em geral e as
SEÇÃO XIV - DA PREVENÇÃO DA FADIGA medidas preventivas adequadas, com exigências
ao especial revestimento de portas e paredes,
Art 198 - É de 60 kg (sessenta quilogramas) o construção de paredes contra-fogo, diques e ou-
peso máximo que um empregado pode remover tros anteparos, assim como garantia geral de fácil
individualmente, ressalvadas as disposições espe- circulação, corredores de acesso e saídas amplas e
ciais relativas ao trabalho do menor e da mulher. protegidas, com suiciente sinalização;
Parágrafo único - Não está compreendida V - proteção contra insolação, calor, frio,
na proibição deste artigo à remoção de material umidade e ventos, sobretudo no trabalho a céu
feita por impulsão ou tração de vagonetes sobre aberto, com provisão, quanto a este, de água po-
trilhos, carros de mão ou quaisquer outros apa- tável, alojamento proilaxia de endemias;
relhos mecânicos, podendo o Ministério do Tra- VI - proteção do trabalhador exposto a subs-
balho, em tais casos, ixar limites diversos, que tâncias químicas nocivas, radiações ionizantes e
evitem sejam exigidos do empregado serviços não ionizantes, ruídos, vibrações e trepidações ou
superiores às suas forças. pressões anormais ao ambiente de trabalho, com
Art 199 - Será obrigatória a colocação de as- especiicação das medidas cabíveis para elimina-
sentos que assegurem postura correta ao traba- ção ou atenuação desses efeitos limites máximos
lhador, capazes de evitar posições incômodas ou quanto ao tempo de exposição, à intensidade da
forçadas, sempre que a execução da tarefa exija ação ou de seus efeitos sobre o organismo do
que trabalhe sentado. trabalhador, exames médicos obrigatórios, limi-
Parágrafo único - Quando o trabalho deva tes de idade controle permanente dos locais de
ser executado de pé, os empregados terão à sua trabalho e das demais exigências que se façam
disposição assentos para serem utilizados nas necessárias;
pausas que o serviço permitir. VII - higiene nos locais de trabalho, com dis-
criminação das exigências, instalações sanitárias,
SEÇÃO XV - DAS OUTRAS MEDIDAS ESPECIAIS com separação de sexos, chuveiros, lavatórios,
DE PROTEÇÃO vestiários e armários individuais, refeitórios ou
condições de conforto por ocasião das refeições,
fornecimento de água potável, condições de lim-
Art 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho

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peza dos locais de trabalho e modo de sua execu- Art 3º - As disposições contidas nesta Lei
ção, tratamento de resíduos industriais; aplicam-se, no que couber, aos trabalhadores
VIII - emprego das cores nos locais de traba- avulsos, as entidades ou empresas que lhes to-
lho, inclusive nas sinalizações de perigo. mem o serviço e aos sindicatos representativos
Parágrafo único - Tratando-se de radiações das respectivas categorias proissionais.
ionizantes e explosivos, as normas a que se refe- § 1º - Ao Delegado de Trabalho Marítimo
rem este artigo serão expedidas de acordo com ou ao Delegado Regional do Trabalho, conforme
as resoluções a respeito adotadas pelo órgão téc- o caso, caberá promover a iscalização do cum-
nico. primento das normas de segurança e medicina
do trabalho em relação ao trabalhador avulso,
adotando as medidas necessárias inclusive às
SEÇÃO XVI - DAS PENALIDADES
previstas na Seção II, do Capítulo V, do Título II da
Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação
Art 201 - As infrações ao disposto neste Ca- que lhe for conferida pela presente Lei.
pítulo relativas à medicina do trabalho serão pu- § 2º - Os exames de que tratam os §§ 1º e 3º
nidas com multa, de 3 (três) a 30 (trinta) vezes, o do art. 168 da Consolidação das Leis do Trabalho,
valor de referência previsto no artigo 2º, parágra- com a redação desta Lei, icarão a cargo do Insti-
fo único, da Lei nº 6.205, de 29 de abril de 1975, tuto Nacional de Assistência Médica da Previdên-
e as concernentes à Segurança do Trabalho com cia Social - INAMPS, ou dos serviços médicos das
multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o mes- entidades sindicais correspondentes.
mo valor.
Art. 4º - O Ministro do Trabalho relacionará
Parágrafo único - Em caso de reincidência, os artigos do Capítulo V do Título II da Consolida-
embaraço ou resistência à iscalização, emprego ção das Leis do Trabalho, cuja aplicação será isca-
de artifício ou simulação com o objetivo de frau- lizada exclusivamente por engenheiros de segu-
dar a lei, a multa será aplicada em seu valor má- rança e médicos do trabalho.
ximo.”“.
Art 5º - Esta Lei entrará em vigor na data de
Art 2º - A retroação dos efeitos pecuniários sua publicação, icando revogados os artigos 202
decorrentes do trabalho em condições de insalu- a 223 da Consolidação das Leis do Trabalho; a Lei
bridade ou periculosidade, de que trata o artigo nº 2.573, de 15 de agosto de 1955; o Decreto-lei
196 da Consolidação das Leis do Trabalho, com a nº 389, de 26 de dezembro de 1968 e demais dis-
nova redação dada por esta Lei, terá como limite posições em contrário.
à data da vigência desta Lei, enquanto não decor-
ridos 2 (dois) anos da sua vigência.

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ANEXO 2 - AS NORMAS REGULAMENTADORAS

São as instruções normativas sobre os as- cais de trabalho


suntos deinidos na Lei nº 6.514. É de competên- NR-25 Resíduos industriais
cia do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). NR-26 Sinalização de segurança
Para os vários itens da lei há uma Norma Regula-
NR-27 Registro proissional do técnico de segu-
mentadora especíica, determinando limites, es-
rança do trabalho no Ministério do Trabalho
tabelecendo procedimentos e realizando gestão
sobre o assunto. NR-28 Fiscalização e penalidades
NR-29 Segurança e saúde no trabalho portuário
LISTA DAS NORMAS REGULAMENTADORAS NR-30 Segurança e saúde no trabalho aquaviário
NR-31 Norma Regulamentadora de Segurança e
Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária
NR-1 Disposições gerais
e Silvicultura, Exploração Florestal e Aqui-
NR-2 Inspeção prévia cultura.
NR-3 Embargo ou Interdição NR-32 Segurança e Saúde no Trabalho em Esta-
NR-4 Serviços especializados em Engenharia de belecimentos de Saúde.
Segurança e Medicina do Trabalho NR-33 Segurança e Saúde no Trabalho em Espa-
NR-5 Comissão Interna de Prevenção de Aciden- ços Coninados
tes (CIPA)
NR-6 Equipamento de proteção individual (EPI) Nota: as normas regulamentadoras rurais, NRR, em
NR-7 Programa de Controle Médico e Saúde Ocu- função da implantação da NR-31 foram revogadas
pacional pela Portaria nº 191, de 15 de abril de 2008 (DOU de
NR-8 Ediicações 16/04/08 – Seção 1 – p. 102).
NR-9 Programa de Prevenção de Riscos Ambien-
tais (PPRA) BREVE DESCRIÇÃO DAS NORMAS REGULA-
NR-10 Instalações e serviços em eletricidade MENTADORAS
NR-11 Transporte, movimentação, armazenagem
e manuseio de materiais. Neste item será feita uma breve descrição,
NR-12 Máquinas e equipamentos sem, no entanto, se estender sobre cada uma das
NR-13 Caldeiras e vasos de pressão normas regulamentadoras, para dar uma visão
NR-14 Fornos geral e situar o leitor quanto às exigências da le-
gislação e dos órgãos de controle sobre a segu-
NR-15 Atividades e operações insalubres
rança do trabalho no Brasil.
NR-16 Atividades e operações perigosas
Você pode conferir o texto original das nor-
NR-17 Ergonomia mas regulamentadoras direto no site do Ministé-
NR-18 Condições e meio ambiente de trabalho rio do Trabalho e Emprego: www.mte.gov.br
na indústria da construção
NR-19 Explosivos AS NORMAS REGULAMENTADORAS SÃO (ATUA-
NR-20 Líquidos e combustíveis inlamáveis LIZAÇÃO – Outubro de 2008):
NR-21 Trabalho a céu aberto
NR-22 Trabalhos subterrâneos NR1- Disposições GERAIS:
NR-23 Proteção contra incêndios Estabelece o campo de aplicação de todas
NR-24 Condições sanitárias e de conforto nos lo- as Normas Regulamentadoras de Segurança e

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Medicina do Trabalho do Trabalho Urbano, bem as condições de trabalho, eliminando as possíveis


como os direitos e obrigações do Governo, dos causas de acidentes do trabalho e doenças ocu-
empregadores e dos trabalhadores no tocante a pacionais. As fundamentações legais, ordinárias e
este tema especíico. As fundamentações legais, especíicas, que dá embasamento jurídico à exis-
ordinárias e especíicas, que dá embasamento ju- tência desta NR, são os artigos 163 a 165 da CLT.
rídico à existência desta NR, são os artigos 154 a NR6 - Equipamentos de Proteção Individual
159 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). (EPI):
NR2- Inspeção PRÉVIA: Estabelece e deine os tipos de EPI’s a que as
Estabelece as situações em que as empre- empresas estão obrigadas a fornecer a seus em-
sas deverão solicitar ao MTE a realização de inspe- pregados, sempre que as condições de trabalho o
ção prévia em seus estabelecimentos, bem como exigirem, a im de resguardar a saúde e a integri-
a forma de sua realização. A fundamentação legal, dade física dos trabalhadores. A fundamentação
ordinária e especíica, que dá embasamento jurí- legal, ordinária e especíica, que dá embasamen-
dico à existência desta NR, é o artigo 160 da CLT. to jurídico à existência desta NR, são os artigos
NR3 - Embargo ou Interdição: 166 e 167 da CLT.
Estabelece as situações em que as empresas NR7 - Programas de Controle Médico de
se sujeitam a sofrer paralisação de seus serviços, Saúde OCUPACIONAL:
máquinas ou equipamentos, bem como os pro- Estabelece a obrigatoriedade de elaboração
cedimentos a serem observados, pela iscalização e implementação, por parte de todos os empre-
trabalhista, na adoção de tais medidas punitivas gadores e instituições que admitam trabalhado-
no tocante à Segurança e a Medicina do Trabalho. res como empregados, do Programa de Controle
A fundamentação legal, ordinária e especíica, Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), com o
que dá embasamento jurídico à existência desta objetivo de promoção e preservação da saúde do
NR, é o artigo 161 da CLT. conjunto dos seus trabalhadores. As fundamen-
NR4 - Serviços Especializados em Engenha- tações legais, ordinárias e especíicas, que dá em-
ria de Segurança e em Medicina do trabalho: basamento jurídico à existência desta NR, são os
Estabelece a obrigatoriedade das empresas artigos 168 e 169 da CLT.
públicas e privadas, que possuam empregados NR8 - EDIFICAÇÕES:
regidos pela CLT, de organizarem e manterem Dispõe sobre os requisitos técnicos míni-
em funcionamento, Serviços Especializados em mos que devem ser observados nas ediicações
Engenharia de Segurança e em Medicina do Tra- para garantir segurança e conforto aos que nelas
balho - SESMT, com a inalidade de promover a trabalham. As fundamentações legais, ordinárias
saúde e proteger a integridade do trabalhador no e especíicas, que dá embasamento jurídico à
local de trabalho. A fundamentação legal, ordiná- existência desta NR, são os artigos 170 a 174 da
ria e especíica, que dá embasamento jurídico à CLT.
existência desta NR, é o artigo 162 da CLT. NR9 - Programas de Prevenção de Riscos
NR5 - Comissão Interna de Prevenção de Ambientais:
Acidentes (CIPA): Estabelece a obrigatoriedade de elabo-
Estabelece a obrigatoriedade das empre- ração e implementação, por parte de todos os
sas públicas e privadas organizarem e manterem empregadores e instituições que admitam tra-
em funcionamento, por estabelecimento, uma balhadores como empregados, do Programa de
comissão constituída exclusivamente por empre- Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), visando
gados com o objetivo de prevenir infortúnios la- à preservação da saúde e da integridade física
borais, através da apresentação de sugestões e re- dos trabalhadores, através da antecipação, reco-
comendações ao empregador para que melhore nhecimento, avaliação e consequente controle da

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ocorrência de riscos ambientais existentes ou que ção de caldeiras e vasos de pressão, de modo a se
venham a existir no ambiente de trabalho, tendo prevenir à ocorrência de acidentes do trabalho. A
em consideração a proteção do meio ambiente e fundamentação legal, ordinária e especíica, que
dos recursos naturais. As fundamentações legais, dá embasamento jurídico à existência desta NR,
ordinárias e especíicas, que dá embasamento ju- são os artigos 187 e 188 da CLT.
rídico à existência desta NR, são os artigos 175 a NR14 - FORNOS:
178 da CLT. Estabelece as recomendações técnicas-
NR10 - Instalações e Serviços em ELETRICI- -legais pertinentes à construção, operação e ma-
DADE: nutenção de fornos industriais nos ambientes de
Estabelece as condições mínimas exigíveis trabalho. A fundamentação legal, ordinária e es-
para garantir a segurança dos empregados que pecíica, que dá embasamento jurídico à existên-
trabalham em instalações elétricas, em suas di- cia desta NR, é o artigo 187 da CLT.
versas etapas, incluindo elaboração de projetos,
NR15 - Atividades e Operações Insalubres:
execução, operação, manutenção, reforma e am-
pliação, assim como a segurança de usuários e Descreve as atividades, operações e agen-
de terceiros, em quaisquer das fases de geração, tes insalubres, inclusive seus limites de tolerância,
transmissão, distribuição e consumo de energia deinindo, assim, as situações que, quando viven-
elétrica, observando-se, para tanto, as normas ciadas nos ambientes de trabalho pelos traba-
técnicas oiciais vigentes e, na falta destas, as nor- lhadores, ensejam a caracterização do exercício
mas técnicas internacionais. As fundamentações insalubre, e também os meios de proteger os tra-
legais, ordinárias e especíicas, que dá embasa- balhadores de tais exposições nocivas à sua saú-
mento jurídico à existência desta NR, são os artigos de. A fundamentação legal, ordinária e especíica,
179 a 181 da CLT. que dá embasamento jurídico à existência desta
NR11- Transporte, Movimentação, Armaze- NR, são os artigos 189 e 192 da CLT.
nagem e Manuseio de Materiais: NR16 - Atividades e Operações Perigosas:
Estabelece os requisitos de segurança a se- Regulamenta as atividades e as operações
rem observados nos locais de trabalho, no que se legalmente consideradas perigosas, estipulando
refere ao transporte, à movimentação, à armaze- as recomendações prevencionistas correspon-
nagem e ao manuseio de materiais, tanto de for- dentes. Especiicamente no que diz respeito ao
ma mecânica quanto manual, objetivando a pre- Anexo n° 01: Atividades e Operações Perigosas
venção de infortúnios laborais. A fundamentação com Explosivos, e ao anexo n° 02: Atividades e
legal, ordinária e especíica, que dá embasamen- Operações Perigosas com Inlamáveis têm a sua
to jurídico à existência desta NR, são os artigos existência jurídica assegurada através dos arti-
182 e 183 da CLT. gos 193 a 197 da CLT. A fundamentação legal,
NR12 - Máquinas e Equipamentos: ordinária e especíica, que dá embasamento ju-
Estabelece as medidas prevencionistas de rídico à caracterização da energia elétrica como
segurança e higiene do trabalho a serem adotadas sendo o 3° agente periculoso é a Lei n° 7.369 de
pelas empresas em relação à instalação, operação 22 de setembro de 1985, que institui o adicional
e manutenção de máquinas e equipamentos, vi- de periculosidade para os proissionais da área
sando à prevenção de acidentes do trabalho. A de eletricidade. A portaria MTE n° 3.393 de 17 de
fundamentação legal, ordinária e especíica, que dezembro de 1987, numa atitude casuística e de-
dá embasamento jurídico à existência desta NR, corrente do famoso acidente com o Césio 137 em
são os artigos 184 e 186 da CLT. Goiânia, veio a enquadrar as radiações ionozan-
NR13 - Caldeiras e Vasos de Pressão: tes, que já eram insalubres de grau máximo, como
o 4° agente periculoso, sendo controvertido le-
Estabelece todos os requisitos técnicos - le-
galmente tal enquadramento, na medida em que
gais relativos à instalação, operação e manuten-
não existe lei autorizadora para tal.

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Ergonomia, Saúde e Segurança do Trabalho

NR17 - Ergonomia: NR22 - Segurança e Saúde Ocupacional na


Visa estabelecer parâmetros que permitam Mineração:
a adaptação das condições de trabalho às con- Estabelece métodos de segurança a serem
dições psicoisiológicas dos trabalhadores, de observados pelas empresas que desenvolvam
modo a proporcionar um máximo de conforto, trabalhos subterrâneos de modo a proporcionar
segurança e desempenho eiciente. A fundamen- a seus empregados satisfatórias condições de Se-
tação legal, ordinária e especíica, que dá emba- gurança e Medicina do Trabalho. As fundamenta-
samento jurídico à existência desta NR, são os ar- ções legais, ordinárias e especíicas, que dá em-
tigos 198 e 199 da CLT. basamento jurídico à existência desta NR, são os
NR18 - Condições e Meio Ambiente de Tra- artigos 293 a 301 e o artigo 200 inciso III, todos
balho na Indústria da Construção: da CLT.
Estabelece diretrizes de ordem administra- NR23 - Proteção Contra Incêndios:
tiva, de planejamento de organização, que objeti- Estabelece as medidas de proteção contra
vem a implementação de medidas de controle e Incêndios, estabelece as medidas de proteção
sistemas preventivos de segurança nos processos, contra incêndio que devem dispor os locais de
nas condições e no meio ambiente de trabalho na trabalho, visando à prevenção da saúde e da in-
industria da construção civil. A fundamentação tegridade física dos trabalhadores. A fundamen-
tação legal, ordinária e especíica, que dá emba-
legal, ordinária e especíica, que dá embasamen-
samento jurídico à existência desta NR, é o artigo
to jurídico à existência desta NR, é o artigo 200
200 inciso IV da CLT.
inciso I da CLT.
NR24 - Condições Sanitárias e de Conforto
NR19 - Explosivos:
nos Locais de TRABALHO:
Estabelece as disposições regulamentado-
Disciplina os preceitos de higiene e de con-
ras acerca do depósito, manuseio e transporte
forto a serem observados nos locais de trabalho,
de explosivos, objetivando a proteção da saúde e
especialmente no que se refere a: banheiros, ves-
integridade física dos trabalhadores em seus am-
tiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e água
bientes de trabalho. A fundamentação legal, ordi-
potável, visando à higiene dos locais de trabalho
nária e especíica, que dá embasamento jurídico à
e a proteção à saúde dos trabalhadores. A fun-
existência desta NR, é o artigo 200 inciso II da CLT.
damentação legal, ordinária e especíica, que dá
NR20 - Líquidos Combustíveis e Inlamáveis: embasamento jurídico à existência desta NR, é o
Estabelece as disposições regulamentares artigo 200 inciso VII da CLT.
acerca do armazenamento, manuseio e transpor- NR25 - Resíduos Industriais:
te de líquidos combustíveis e inlamáveis, objeti-
Estabelece as medidas preventivas a serem
vando a proteção da saúde e a integridade física
observadas, pelas empresas, no destino inal a ser
dos trabalhadores m seus ambientes de trabalho.
dado aos resíduos industriais resultantes dos am-
A fundamentação legal, ordinária e especíica,
bientes de trabalho de modo a proteger a saúde
que dá embasamento jurídico à existência desta
e a integridade física dos trabalhadores. A fun-
NR, é o artigo 200 inciso II da CLT.
damentação legal, ordinária e especíica, que dá
NR21 - Trabalho a Céu Aberto: embasamento jurídico à existência desta NR, é o
Tipiica as medidas prevencionistas relacio- artigo 200 inciso VII da CLT.
nadas com a prevenção de acidentes nas ativida- NR26 - Sinalização de Segurança:
des desenvolvidas a céu aberto, tais como, em mi-
Estabelece a padronização das cores a se-
nas ao ar livre e em pedreiras. A fundamentação
rem utilizadas como sinalização de segurança
legal, ordinária e especíica, que dá embasamen-
nos ambientes de trabalho, de modo a proteger
to jurídico à existência desta NR, é o artigo 200
a saúde e a integridade física dos trabalhadores. A
inciso IV da CLT.
fundamentação legal, ordinária e especíica, que

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dá embasamento jurídico à existência desta NR, é bordo como em terra, assim como aos demais
o artigo 200 inciso VIII da CLT. trabalhadores que exerçam atividades nos portos
NR27 - Registro Proissional do Técnico de organizados e instalações portuárias de uso pri-
Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho: vativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora
Estabelece os requisitos a serem satisfeitos da área do porto organizado. A sua existência ju-
pelo proissional que desejar exercer as funções rídica está assegurada em nível de legislação or-
de técnico de segurança do trabalho, em espe- dinária, através da Medida Provisória n° 1.575-6,
cial no que diz respeito ao seu registro proissio- de 27/11/97, do artigo 200 da CLT, o Decreto n°
nal como tal, junto ao Ministério do Trabalho. A 99.534, de 19/09/90 que promulga a Convenção
fundamentação legal, ordinária e especíica, tem n° 152 da OIT.
seu embasamento jurídico assegurado través do NR30 - Norma Regulamentadora de Segu-
artigo 3° da lei n° 7.410 de 27 de novembro de rança e Saúde no Trabalho Aquaviário:
1985, regulamentado pelo artigo 7° do Decreto Aplica-se aos trabalhadores de toda embar-
n° 92.530 de 9 de abril de 1986. cação comercial utilizada no transporte de mer-
NR28 - Fiscalização e Penalidades: cadorias ou de passageiros, na navegação maríti-
Estabelece os procedimentos a serem ado- ma de longo curso, na cabotagem, na navegação
tados pela iscalização trabalhista de Segurança e interior, no serviço de reboque em alto-mar, bem
Medicina do Trabalho, tanto no que diz respeito à como em plataformas marítimas e luviais, quan-
concessão de prazos às empresas para no que diz do em deslocamento, e embarcações de apoio
respeito à concessão de prazos às empresas para marítimo e portuário. A observância desta Norma
a correção das irregularidades técnicas, como Regulamentadora não desobriga as empresas do
também, no que concerne ao procedimento de cumprimento de outras disposições legais com
autuação por infração às Normas Regulamenta- relação à matéria e outras oriundas de conven-
doras de Segurança e Medicina do Trabalho. A ções, acordos e contratos coletivos de trabalho.
fundamentação legal, ordinária e especíica, tem NR31 - Norma Regulamentadora de Segu-
a sua existência jurídica assegurada, a nível de le- rança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuá-
gislação ordinária, através do artigo 201 da CLT, ria Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura:
com as alterações que lhe foram dadas pelo ar- Estabelece os preceitos a serem observa-
tigo 2° da Lei n° 7.855 de 24 de outubro de 1989, dos na organização e no ambiente de trabalho,
que institui o Bônus do Tesouro Nacional (BTN), de forma a tornar compatível o planejamento e
como valor monetário a ser utilizado na cobrança o desenvolvimento das atividades da agricultura,
de multas, e posteriormente, pelo artigo 1° da Lei pecuária, silvicultura, exploração lorestal e aqui-
n° 8.383 de 30 de dezembro de 1991, especiica- cultura com a segurança e saúde e meio ambien-
mente no tocante à instituição da Unidade Fiscal te do trabalho. A sua existência jurídica é assegu-
de Referência (UFIR), como valor monetário a ser rada por meio do artigo 13 da Lei nº. 5.889, de 8
utilizado na cobrança de multas em substituição de junho de 1973.
ao BTN. NR32 - Segurança e Saúde no Trabalho em
NR29 - Norma Regulamentadora de Segu- Estabelecimentos de saúde:
rança e Saúde no Trabalho Portuário: Tem por inalidade estabelecer as diretri-
Tem por objetivo Regular a proteção obri- zes básicas para a implementação de medidas de
gatória contra acidentes e doenças proissionais, proteção à segurança e à saúde dos trabalhado-
facilitar os primeiro socorros a acidentados e al- res dos serviços de saúde, bem como daqueles
cançar as melhores condições possíveis de se- que exercem atividades de promoção e assistên-
gurança e saúde aos trabalhadores portuários. cia à saúde em geral.
As disposições contidas nesta NR aplicam-se aos
trabalhadores portuários em operações tanto a

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NR33 - Segurança e Saúde no Trabalho em


Espaços Coninados:
Tem como objetivo estabelecer os requisi-
tos mínimos para identiicação de espaços coni-
nados e o reconhecimento, avaliação, monitora-
mento e controle dos riscos existentes, de forma a
garantir permanentemente a segurança e saúde
dos trabalhadores que interagem direta ou indi-
retamente nestes espaços.

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