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RONALDO MENDES EVARISTO

LABORATÓRIO DE ELETRICIDADE

Telêmaco Borba
2020
RONALDO MENDES EVARISTO

Instituto Federal do Paraná - Campus Telêmaco Borba

Laboratório de Instrumentação e Controle

JHS

LABORATÓRIO DE ELETRICIDADE

Telêmaco Borba
Edição do Autor
2020
Consagração à Nossa Senhora Aparecida Sobre o Autor:

Ó Maria Santíssima, pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Possui curso Técnico em Eletroeletrônica pelo SENAI-PR,
Cristo, em vossa querida imagem de Aparecida, espalhais graduação em Engenharia Eletrônica de Computação pela
inúmeros benefícios sobre todo o Brasil. Eu, embora in-
Universidade Santa Cecília, mestrado em Ciências, Área
digno de pertencer ao número de vossos filhos e filhas, mas
de Concentração: Sistemas Eletrônicos, pela Escola Poli-
cheio do desejo de participar dos benefícios de vossa mise-
ricórdia, prostrado a vossos pés, consagro-vos o meu en- técnica da Universidade de São Paulo e doutorado em Ci-
tendimento, para que sempre pense no amor que mereceis; ências, Área de Concentração: Física, pela Universidade
consagro-vos a minha língua para que sempre vos louve
Estadual de Ponta Grossa. Atualmente é professor efetivo
e propague a vossa devoção; consagro-vos o meu coração,
para que, depois de Deus, vos ame sobre todas as coisas. no Campus Telêmaco Borba do Instituto Federal do Pa-
Recebei-me, ó Rainha incomparável, vós que o Cristo raná, atuando nas áreas de Processamento de Sinais, Cir-
crucificado deu-nos por Mãe, no ditoso número de vos- cuitos Elétricos e Controle de Sistemas Dinâmicos. Tem
sos filhos e filhas; acolhei-me debaixo de vossa proteção;
interesse em assuntos relacionados às Análises de Fou-
socorrei-me em todas as minhas necessidades, espirituais
e temporais, sobretudo na hora de minha morte. rier e Wavelets, Eletromagnetismo e Sistemas Dinâmicos

Abençoai-me, ó celestial cooperadora, e com vossa po- Lineares e Não Lineares. É Membro efetivo da SBMAC -

derosa intercessão, fortalecei-me em minha fraqueza, a fim Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computa-

de que, servindo-vos fielmente nesta vida, possa louvar-vos, cional desde 2010.

amar-vos e dar-vos graças no céu, por toda eternidade. As-


sim seja!

Catalogação elaborada pela Biblioteca do Instituto Federal do Paraná – Campus Telêmaco


Borba

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

E92l Evaristo, Ronaldo Mendes.


Laboratório de eletricidade / Ronaldo Mendes Evaristo. – Telêmaco
Borba : Edição do Autor, 2020.
86 p. : il.

ISBN 978-65-901947-0-1

1. Eletricidade. 2. Eletricidade – Experiências. 3. Eletricidade –


Manuais de laboratório. 4. Circuitos elétricos.

CDD 621.3
Prefácio

Este livro é resultado de pelo menos dez anos de experiência e docência no ensino básico, técnico e
tecnológico em cursos do eixo tecnológico de Controle e Processos Industriais no Campus Telêmaco
Borba do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Não se trata de um texto novo nem inovador, mas
de uma alternativa pontual, lançada de forma independente, para ser trabalhada dentro de um
semestre de atividades de laboratório em disciplinas introdutórias de cursos Técnicos e de cursos
superiores de Tecnologia e Engenharia. Foi construído com base em títulos consagrados dos
professores Francisco Gabriel Capuano, Maria Aparecida Mendes Marino e Salvador José Troise,
primeiramente utilizado como apostila e agora transformado em livro texto para ser aplicado à
estudantes de Elétrica, visto que as atividades de laboratório em cursos técnicos e superiores são
recomendadas por vários educadores para mostrar significado aos tópicos estudados em aulas
teóricas. Esse é o espírito e o principal motivo da construção desta obra.
São abordadas experiências de laboratório de eletricidade envolvendo circuitos elétricos em
corrente contínua, primeiramente são experimentados os circuitos resistivos para que o estudante
consiga compreender as leis e princípios elementares e consiga trabalhar com instrumentos
básicos dos laboratórios de eletricidade (multímetros, protoboards, fontes, geradores de função e
osciloscópios) e em seguida são estudados os capacitores e os indutores. A ordem das experiências
é importante que seja respeitada, visto que conteúdos anteriores são premissas para os posteriores,
isto é, há uma ordem lógica na construção das experiências. Ao final de cada experiência são
propostos alguns exercícios, geralmente retirados das referências bibliográficas, para fixar os
conhecimentos, afinal de nada adianta fazer a leitura e realizar o experimento e não conseguir
resolver problemas simples propostos. Além disso, quando solicitada a construção de gráficos, se
recomenda a utilização de papel milimetrado ao invés de planilhas eletrônicas, pois como dizia o
poeta José Saramago: Trabalhar com as mãos ensina muito.
Por fim, saliento que nenhuma obra é escrita repentinamente do nada, mas com uma base
sólida ancorada em ensinamentos de grandes orientadores para os quais gostaria de tecer fraternos
agradecimentos: Prof. Salvador José Troise (na memória), Prof. Celso Volpe, Prof. Luiz Antonio
Baccalá, Prof. Phillip Mark Seymour Burt e Prof. Antonio Marcos Batista. Certamente o reflexo do
trabalho desses gigantes estão presentes e estampados nas próximas páginas.

Telêmaco Borba, 21 de Novembro de 2019.


Prof. Dr. Ronaldo Mendes Evaristo
Sumário

1 Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 7


1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Corrente Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Potencial Elétrico ou Tensão Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Potência Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.5 Instrumentos de Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 Bipolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.7 Circuitos Elétricos e Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.7.1 Terminologia Empregada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.7.2 Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.7.3 Associação de Elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 Experiência 2: Resistores e Código de Cores 18


2.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.1 Resistores de Fio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.2 Resistores de Filme de Carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.3 Resistores de Filme Metálico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.4 Potenciômetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.1.5 Ohmímetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3 Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 27


3.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1.1 Associação de Resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1.2 Protoboard ou Matriz de Contatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.3 Associação de Resistores em Protoboard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4 Experiência 4: Medição de Tensão e Corrente Contínuas 33


4.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.1.1 Voltímetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.1.2 Amperímetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4
Sumário 5

4.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

5 Experiência 5: Verificação da Lei de Ohm 38


5.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

6 Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 41


6.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.1.1 Estudo Gráfico da Associação em Paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.1.2 Estudo Gráfico da Associação em Série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
6.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

7 Experiência 7: Potência Elétrica em Resistores 47


7.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
7.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
7.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

8 Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 50


8.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
8.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
8.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

9 Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 57


9.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
9.2 Procedimento Experimental 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
9.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
9.4 Procedimento Experimental 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
9.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

10 Experiência 10: A Ponte de Wheatstone 67


10.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
10.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
10.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

11 Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 71


11.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
11.1.1Carga e Descarga do Capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
11.1.2Associação de Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
11.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
11.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
12 Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 79
12.1 Introdução Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
12.1.1Carga e Descarga do Indutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
12.1.2Associação de Indutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
12.2 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
12.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Referências Bibliográficas 87
C APÍTULO 1

Experiência 1: Grandezas Elétricas


e Conceitos Básicos

1.1 Introdução
O estudo da Eletricidade é relativamente recente. No século XIX, Michael Faraday (1791-1867)
e Henry Augustus Rowland (1848-1901) reconheceram a corrente como cargas elétricas em
movimento. Já no século passado, Joseph John Thomson (1856-1940) descobriu o elétron,
Robert Andrews Millikan (1868-1953) mediu sua carga elétrica e Ernest Rutherford (1871-1937)
apresentou um modelo para o átomo que foi desenvolvido posteriormente por Niels Henrick David
Bohr (1885-1962) e Arnold Johannes Wilhelm Sommerfeld (1868-1951).
O modelo apresentado por Rutherford (suficiente para o estudo da Eletricidade) diz que o
átomo é composto por um núcleo central formado por cargas elétricas positivas (prótons) e
neutras (nêutrons), em torno do qual circulam cargas elétricas negativas (elétrons) em órbitas bem
definidas, conforme mostra a Figura 1.1. Os elétrons das camadas mais internas são fortemente
ligados ao núcleo, enquanto que os das camadas mais externas apresentam fraca ligação com
o núcleo. Em certos materiais, conhecidos como condutores, os elétrons da última camada são
tão fracamente ligados ao núcleo que podem se mover livremente pelo material. Tais elétrons de
última camada são chamados elétrons livres e são eles que norteiam o estudo da Eletricidade. Os
materiais conhecidos como isolantes não possuem elétrons livres.

e
e e
e
e e p e e
n
e
e e
e

Figura 1.1: Esboço de um átomo, segundo Rutherford.

As cargas elétricas do elétron e do próton são mensuráveis e medidas efetuadas com grande
precisão mostram que ambas as cargas são iguais em valor absoluto e de sinais opostos. A carga

7
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 8

do elétron é qe = −1, 602 · 10−19 C, ao passo que a do próton é qp = 1, 602 · 10−19 C.


Cargas elétricas interagem, isto é, cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais opostos se
atraem. A força de atração ou de repulsão é calculada pela lei experimental de Coulomb. Essa lei
estabelece que a intensidade dessa força no espaço livre é dada por

~ |q1 | |q2 |
F = k , (1.1)
r2

onde k = 9 · 109 N m2 /C 2 é a constante da eletrostática, q1 e q2 são as medidas das cargas e r é a


distância entre elas. O foco neste curso não está no estudo da força elétrica, abordada em cursos
mais avançados de Eletromagnetismo. Aqui, trataremos da Eletrodinâmica e passaremos a dar
foco nas grandezas elétricas: Corrente, Tensão, Potência e Energia.

1.2 Corrente Elétrica


A corrente elétrica é o movimento ordenado de cargas elétricas. Como os prótons são fortemente
ligados ao núcleo, somente os elétrons livres participam da corrente elétrica.
Consideremos então um grupo de elétrons livres se movendo numa certa região do espaço. Seja
∆q a quantidade de carga transportada por esses elétrons que atravessa uma superfície de área S
num certo intervalo de tempo ∆t. Por definição, se chama intensidade (média) de corrente através
da superfície S a
∆q
I= , (1.2)
∆t
cuja medida é o ampère (C/s = A).
Devemos lembrar que nem todos os materiais permitem o movimento dos elétrons, ou seja, a
corrente elétrica. Quando o material permite a corrente elétrica ele é chamado condutor. Caso
contrário, é chamado isolante.
Quando o valor absoluto e o sentido da corrente em um condutor não variam com o tempo,
estamos tratando de Corrente Contínua (CC ou DC), como mostra a Figura 1.2(a). Equipamentos
alimentados por pilhas ou baterias operam com correntes desse tipo. Se o valor absoluto e o
sentido da corrente variam conforme uma função senoidal (Figura 1.2(b)) estamos tratando de
Corrente Alternada (CA ou AC). As correntes fornecidas pelas concessionárias de energia elétrica
são, em geral, alternadas.

i  t   A i  t   A
Ip
I

t  s t  s
I p
(a) (b)

Figura 1.2: Corrente elétrica: (a) Contínua (CC); (b) Alternada (CA).
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 9

Quando a corrente elétrica passa por um corpo, um ou mais dos seguintes efeitos podem ser
observados:

1. Produção de Calor: resultante do choque entre os elétrons ou da dificuldade que os mesmos


possuem em atravessar um material. Esse efeito fundamenta a ação de inúmeros aparelhos
como chuveiros e aquecedores elétricos.

2. Geração de Luz: por vezes o calor gerado pela corrente elétrica é tão elevado que leva o
condutor à incandescência, produzindo luz no espectro visível.

3. Criação de Campo Magnético: em torno do condutor, fenômeno que fundamenta o funcio-


namento dos motores elétricos.

4. Interferência em Atividades dos Seres Vivos: a manifestação mais evidente é o choque


elétrico; os eletrocardiógrafos, as cercas eletrificadas, os desfibriladores, etc.

5. Reações Químicas: como aquelas utilizadas em eletrólise e cromagem de metais.

A corrente elétrica é o movimento ordenado de cargas elétricas. Como os prótons são fortemente
ligados ao núcleo, somente os elétrons livres participam da corrente elétrica.
Consideremos então um grupo de elétrons livres se movendo numa certa região do espaço. Seja
∆q a quantidade de carga transportada por esses elétrons que atravessa uma superfície de área
∆S num certo intervalo de tempo ∆t. Por definição, se chama intensidade (média) de corrente
através da superfície ∆S a
∆q
Im = , (1.3)
∆t
cuja medida é o ampère (C/s = A). Define-se também a intensidade instantânea de corrente como
sendo
∆q dq
i (t) = lim =
∆t→0 ∆t dt
que fornece a corrente que ocorre em cada instante. Devemos lembrar que nem todos os materiais
permitem o movimento dos elétrons, ou seja, a corrente elétrica. Quando o material permite a
corrente elétrica ele é chamado condutor. Caso contrário, é chamado isolante.

1.3 Potencial Elétrico ou Tensão Elétrica


Para que haja o movimento das cargas que constituem a corrente elétrica é necessário que sobre
elas atue uma força. Tal força é conhecida como força eletrostática (Eq. (1.1)) e toda região que
possua forças dessa origem é chamada de campo elétrico. Sendo assim, para que haja corrente
elétrica é necessário que exista um campo elétrico. Havendo força e deslocamento de cargas,
trabalho é realizado e, portanto, é necessária uma fonte de energia. O dispositivo que fornece
energia para produzir corrente elétrica é chamado gerador ou fonte. Todo gerador tem uma
característica chamada potencial elétrico (tensão elétrica).
Seja ∆E a energia fornecida por um gerador para transportar uma quantidade de carga ∆Q.
Por definição, o potencial do gerador é definido como sendo a energia fornecida por unidade de
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 10

carga transportada, isto é,


∆E
V = , (1.4)
∆q
cuja medida é o volt (J/C = V ).
Resumindo, para que haja corrente elétrica é necessário que exista o fornecimento de energia e
o dispositivo que fornece energia se chama gerador. A Figura 1.3 mostra os símbolos dos geradores
mais comuns utilizados em circuitos elétricos.

I I

V V v(t) i(t)

(a) (b) (c)

Figura 1.3: Símbolos de fontes de tensão: (a) fonte CC; (b) pilha ou bateria; (c) fonte CA.

As fontes CC possuem polaridade, isto é, possuem terminais positivo (+) e negativo (−) que
indicam o sentido no qual o movimento das cargas ocorre. Em CA não há polaridade e os terminais
das fontes ficam alternando entre positivo e negativo conforme uma função senoidal.
Toda região do espaço no qual existam forças de natureza elétrica é chamada de Campo Elétrico.
Para estudar os campos elétricos, define-se em cada um de seus pontos um vetor E, ~ chamado
Vetor Campo Elétrico, como sendo
~
~ = F,
E
q0

onde F~ é a força elétrica que atua sobre a carga q0 colocada naquele ponto.
Como dissemos acima, corrente elétrica é movimento de elétrons. Para que esse movimento
ocorra é necessário que exista uma força atuando sobre esses elétrons. Isso significa que para que
haja corrente elétrica é necessário que exista um campo elétrico, pois assim existirá força. Por
outro lado, é possível mostrar (e a Teoria da Eletricidade mostra) que para que haja campo elétrico
é necessário que exista diferença de potencial ou tensão elétrica. Essa tensão elétrica é definida a
partir do trabalho realizado pela força eletrostática como sendo o trabalho realizado por unidade
de carga, ou seja,

1.4 Potência Elétrica


Vimos acima que quando ocorre a corrente elétrica, energia é consumida, fornecida pelo gerador.
Suponhamos então que uma energia ∆E seja fornecida pelo gerador num intervalo de tempo ∆t.
Por definição, se chama potência elétrica (não confundir com potencial) à energia por unidade de
tempo, isto é,
∆E
P = , (1.5)
∆t
cuja medida é o watt (J/s = W ).
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 11

Podemos obter uma expressão prática para o cálculo da potência associando as Equações (1.2),
(1.4) e (1.5) para obter
P = V I. (1.6)

Quando se lida com tarifação de energia elétrica, é comum se chamar de demanda a potência
exigida por um equipamento e consumo a energia requerida pelo mesmo. A unidade de energia
no Sistema Internacional de Unidades (SI) é o joule (J). Contudo, em energia elétrica utilizamos
uma unidade derivada chamada quilowatt-hora (kWh), visto que, se trabalharmos com joules os
números seriam muito grandes, pois

1kW h = 3600000J. (1.7)

Desta forma, o cálculo prático da energia consumida por aparelhos elétricos é feito por

∆E = P ∆t, (1.8)

usando a potência em kW e o tempo em h.


No caso de potência mecânica, geralmente associada à motores elétricos, se costuma utilizar as
unidades cavalo-vapor (cv) e horse-power (hp), tal que

1cv = 736W e 1hp = 745, 7W . (1.9)

Definimos o rendimento (η) como a relação entre a potência de saída (Ps ) e de entrada (Pe ) de
um sistema ou equipamento, isto é,
Ps
η= · 100. (1.10)
Pe
Essa grandeza adimensional exprime a eficiência de um equipamento ou sistema, pois a
diferença entre essas potências corresponde às perdas (Pp ) que ocorrem dentro do equipamento.
O rendimento é expresso em termos percentuais relativamente à potência de entrada.
O significado dessas potências e das perdas é mostrado na Figura 1.4, no que se chama balanço
de potências. Conforme a Lei da Conservação de Energia, esse balanço sempre deve ser igual a
zero, isto é,
Pe = Ps + Pp . (1.11)

Pp Perdas
(Potência Perdida)

Pe Ps
Equipamento
Entrada Saída
(Potência Absorvida) (Potência Utilizada)

Figura 1.4: Balanço de potências.


Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 12

1.5 Instrumentos de Medida


Tanto a corrente elétrica quanto a tensão elétrica são mensuráveis. Para essas medidas existem
dois instrumentos básicos de medida: os amperímetros e os voltímetros.
Os amperímetros são instrumentos que permitem a medida da corrente elétrica, os quais apre-
sentam escalas graduadas diretamente em ampère (A) ou em miliampère (mA). Os amperímetros
são representados pelo símbolo mostrado na Figura 1.5(a) e devem ser ligados em série com a
carga.
Os voltímetros são instrumentos que permitem a medida da tensão elétrica e apresentam
escalas diretamente graduadas em volts (V). Os voltímetros são representados pelo símbolo
mostrado na Figura 1.5(b) e devem ser ligados em paralelo com a carga.

I I
+A +V
(a) (b)

Figura 1.5: Símbolo dos instrumentos: (a) Amperímetro; (b) Voltímetro.

Maiores detalhes sobre ligações em série e paralelo serão abordados na sequência do texto.
Esses instrumentos são polarizados, isto é, devem ser conectados no sentido correto, pois a
corrente deve circular por eles num sentido determinado, conforme mostra a Figura 1.5. Por essa
razão, existem os sinais + (vermelho) e - (preto) em seus pólos.

1.6 Bipolos
Chamamos de bipolo a todo dispositivo elétrico constituído por dois terminais entre os quais
circula correte elétrica. Dependendo da natureza dos bipolos, nos circuitos elétricos eles são
representados por símbolos, conforme mostra a Figura 1.6.

V R L C

(a) (b) (c) (d) (e)

Figura 1.6: Símbolo de alguns bipolos: (a) Fonte de tensão contínua; (b) Resistor; (c) Indutor; (d)
Capacitor; (e) Bipolo passivo genérico.

Sempre que se aplica uma tensão V sobre um bipolo, aparece uma corrente I que o atravessa e
a experiência mostra que essa corrente é função da tensão aplicada, ou seja, V = f (I). O estudo
dos bipolos é feito por meio de sua curva característica, isto é, uma curva que mostra a relação
entre a tensão aplicada sobre o bipolo e a corrente que o atravessa. A curva característica é obtida
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 13

experimentalmente medindo-se a corrente correspondente a cada tensão aplicada, conforme o


circuito apresentado na Figura 1.7.

I
+ A

+
V V

Figura 1.7: Circuito elétrico utilizado para o estudo de um bipolo.

De acordo com a curva característica, os bipolos podem ser classificados como:

1. Lineares: quando a curva característica pode ser aproximada por uma reta;

2. Não Lineares: quando a curva característica não pode ser aproximada por uma reta;

3. Ativos: quando a curva característica mostra a existência de uma tensão elétrica quando a
corrente é nula (a curva não se inicia na origem);

4. Passivos: quando uma tensão nula corresponde a uma corrente nula (a curva passa pela
origem).

A Figura 1.8 algumas curvas características típicas.

V V V

I I I
(a) (b) (c)

Figura 1.8: Curvas características de bipolos: (a) passivos lineares; (b) passivos não lineares; (c)
ativos lineares.

Os bipolos podem ainda serem classificados como geradores e receptores. Um bipolo gerador é
aquele capaz de produzir, por si só, tensão elétrica, como é o caso das pilhas e baterias. Um bipolo
receptor é aquele que consome energia elétrica, como é o caso de uma lâmpada. Nos receptores a
corrente é produzida por um gerador associado. Existem uma diferença fundamental entre esses
dois tipos de bipolos. No receptor a corrente circula no sentido decrescente do potencial, enquanto
que no gerador, a corrente circula no sentido crescente do potencial, conforme ilustra a Figura 1.9.
Na Figura 1.9 observe atentamente as diferenças de potencial indicadas. No gerador o potencial
cresce no sentido da corrente, enquanto que, no receptor o potencial decresce no sentido da
corrente. Por essa razão, dizemos que em bipolos receptores ocorrem quedas de tensão.
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 14

I + I
+

V V
-
-

(a) (b)

Figura 1.9: Sentidos das tensões e correntes em bipolos (a)geradores e (b)receptores.

1.7 Circuitos Elétricos e Leis de Kirchhoff


1.7.1 Terminologia Empregada
Um circuito elétrico resulta da interligação de elementos (bipolos) de forma a orientar o fluxo de
energia para obter um efeito específico como limitar a corrente em um dispositivo ou ligar um
equipamento elétrico. Na Figura 1.10 é mostrado um exemplo de circuito elétrico envolvendo uma
lâmpada e um motor elétrico CC.

ch1 ch2

V
M

Figura 1.10: Circuito elétrico simples envolvendo uma lâmpada e um motor CC.

No estudo de circuitos elétricos, alguns termos são usados frequentemente. São eles:

1. Nó: ponto de conexão entre três ou mais elementos que compõe um circuito. Na Figura 1.10,
os pontos a e b representam nós.

2. Ramo: trecho do circuito compreendido entre dois nós. No circuito da Figura 1.10 há três
ramos, todos delimitados pelos nós a e b: um com a fonte V , o segundo com o interruptor ch1
e a lâmpada e o último com a chave ch2 e o motor.

3. Laço: qualquer percurso fechado de um circuito. Existem três laços no circuito da Figura
1.10: um externo (contendo a fonte, a chave ch2 e o motor) e dois internos (o primeiro com a
fonte, a chave ch1 e a lâmpada; o segundo com as duas chaves, a lâmpada e o motor).

4. Malha: é um percurso fechado (laço) que não tem qualquer elemento internamente, como é o
caso dos dois percursos internos descritos no caso anterior (fonte, a chave ch1 e a lâmpada;
as duas chaves, a lâmpada e o motor). Note que, toda malha é um laço, mas nem todo laço é
uma malha.
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 15

1.7.2 Leis de Kirchhoff


O estudo dos circuitos elétricos está fortemente ancorado em duas leis enunciadas pelo alemão
Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887). São elas:

1. Lei das Correntes (LKC) ou Lei dos Nós: "A soma algébrica das correntes em um nó é zero."
Adotamos correntes que entram no nó como positivas e as correntes que deixam o nó como
negativas.

2. Lei das Tensões (LKT) ou Lei dos Laços: "A soma algébrica das tensões em um laço é zero."
Adotamos tensões fornecidas como positivas e as tensões consumidas como negativas.

Como exemplo, apliquemos as LKC sobre o nó a do circuito mostrado na Figura 1.11(a), assim
como a LKT sobre o elemento E3 .

V1
I1
(a) (b)
E1 E1
a
I4 I5
V2
E2

E2
V V I 2 V4 V5
E4

E5

E4

E5
V3
E3

E3
I1
b

Figura 1.11: (a) Circuito elétrico contendo um gerador e cinco elementos passivos; (b) Distribuição
de tensão e corrente sobre os elementos do circuito.

O primeiro passo é distribuir as tensões e correntes sobre os elementos dos circuitos, como
mostra a Figura 1.11(b). Perceba que em elementos passivos as setas de tensão e corrente se
confrontam, ao passo que em elementos ativos (fontes e geradores) elas concordam em sentido.
Apliquemos primeiramente a LKC sobre o nó a. Temos que,

I1 − I2 − I4 − I5 = 0 (1.12)

ou
I1 = I2 + I4 + I5 . (1.13)

Note que a corrente I1 sai e retorna ao gerador. Apliquemos agora a LKT sobre o elemento
E3 . Nesse caso, temos que percorrer um laço que englobe o elemento desejado. Temos três
possibilidades,
−V3 − V2 − V1 + V = 0, (1.14)

ou
−V3 − V2 + V4 = 0, (1.15)

ou
−V3 − V2 + V5 = 0. (1.16)
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 16

Note que saímos da parte de menor potencial nas setas de tensão. Isso é uma convenção
adotada neste texto.

1.7.3 Associação de Elementos


Nos circuitos elétricos os elementos (de mesma natureza ou não) são interligados de forma a
produzir algum efeito desejado. Essa interligação ou associação de elementos pode se dar de duas
maneiras: em série ou em paralelo.

Em Série

Dois ou mais elementos estão associados em série quando são percorridos pela mesma corrente.
Sendo assim, os elementos que compõe a associação em série formam um único ramo. Os
elementos E1 , E2 e E3 mostrados na Figura 1.12(a) estão associados em série, sendo a corrente I
comum a todos. As tensões sobre os elementos são, em geral, diferentes entre si e, de acordo com
a LKT,
V = V1 + V 2 + V 3 . (1.17)

Um dos aspectos importantes da associação em série é que a retirada ou avaria de um dos


elementos interrompe o funcionamento de todo o ramo. Dessa forma, esse tipo de associação é
utilizada quando se deseja controlar, proteger ou limitar a corrente em um dispositivo.

V1 V2 V3

I I1 I2 I3
E1 E2 E3

I I I I
V V V V
E1

E2

E3
I I
I
V
(a) (b)

Figura 1.12: Associação de elementos: (a) em série e (b) em paralelo.

Em Paralelo

Dois ou mais elementos estão associados em paralelo quando estão submetidos a mesma tensão.
Portanto, numa associação em paralelo, todos os elementos estão ligados a um mesmo par de
nós do circuito. Na Figura 1.12(b), os elementos E1 , E2 e E3 estão associados em paralelo, todos
submetidos a mesma tensão V . As correntes nos elementos são, em geral, diferentes e vale a LKC,
isto é,
I = I1 + I2 + I3 . (1.18)

A associação em paralelo é utilizada para interligar os equipamentos nas instalações elétricas


residencias e industriais, já que possibilita a alimentação de todos os equipamentos com a mesma
Capítulo 1. Experiência 1: Grandezas Elétricas e Conceitos Básicos 17

tensão da rede elétrica, além de permitir a inserção ou retirada de um aparelho sem interferir no
funcionamento dos demais.
C APÍTULO 2

Experiência 2: Resistores e Código


de Cores

Objetivos: Material Utilizado:


• Conhecer os resistores.
• Dez resistores de valores diversos.
• Ler o valor nominal de resistores através
de código de cores. • Potenciômetro.
• Medir resistência elétrica através do mul-
tímetro. • Multímetro digital.

2.1 Introdução Teórica


Dentre os diversos componentes que podem compor um circuito elétrico, nesta seção discutimos o
resistor. Esse componente possui uma propriedade chamada resistência, grandeza que quantifica
o grau de oposição que um corpo oferece à passagem da corrente elétrica. Resistores são elementos
especialmente construídos para apresentarem resistência. Algumas de suas aplicações são para a
limitação de corrente, produção de calor e produção de luz. Além disso, o fenômeno da resistência
pode ser utilizado por dispositivos chamados sensores que relacionam a resistência com outras
grandezas elétricas, como é o caso dos sensores resistivos de luz (LDR) e de temperatura (NTC ou
PTC).
Os resistores podem ser fixos ou variáveis. Os variáveis, também chamados de potenciômetros
ou trimpots, podem ter sua resistência alterada mecanicamente mediante o giro de um eixo ou via
contato deslizante. Os símbolos dos resistores são mostrados na Figura 2.1.

R R

(a) (b)

Figura 2.1: Resistores: (a) fixo e (b) variável.

Os resistores são bipolos passivos lineares, isto é, a tensão V aplicada sobre o resistor é
diretamente proporcional à corrente I que o atravessa, ou seja,

V ∝ I. (2.1)

18
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 19

A constante que transforma essa proporcionalidade em igualdade é, justamente, a resistência


R, isto é,
V = RI, (2.2)

conhecida como Lei de Ohm, em homenagem a Georg Simon Ohm (1789-1854). A unidade da
resistência no SI é o ohm (Ω) e seu inverso, isto é,

1
G= , (2.3)
R

é chamada condutância, cuja unidade no SI é o siemens (S).


Note que o resistor é um bipolo passivo linear, isto é, a tensão V e a corrente I possuem uma
relação linear, cuja a inclinação da reta depende da resistência R, como mostra a Figura 2.2.

∆V
R = tan α = (2.4)
∆I

V 

0 I I

Figura 2.2: Relação gráfica entre tensão, corrente e resistência.

A resistência de um corpo depende de suas dimensões físicas e do material com que é con-
feccionado. Se L é o comprimento do corpo e A a área de seção reta, sua resistência é dada por

L
R=ρ , (2.5)
A
onde ρ é conhecido como resistividade do material. No SI a resistividade é dada por Ωm porém,
uma unidade mais prática é o Ωmm2 /m. A Tabela 2.1 mostra a resistividade de alguns materiais
utilizados em Eletrotécnica.

Material ρ (Ωmm2 /m)


Aço 0, 0971
Alumínio 0, 0282
Cobre 0, 0172
Prata 0, 0164
Ouro 0, 0244
Ferro 0, 1230
Borracha 1019
Carbono (Grafite) 35

Tabela 2.1: Valores de resistividade a 20◦ C de alguns materiais elétricos.


Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 20

A temperatura também exerce influência sobre o valor da resistência. Nos condutores metálicos
a resistência é diretamente proporcional à temperatura. Já em outros materiais, como o carbono,
essa variação se dá de forma indireta. O coeficiente de temperatura α relaciona a resistência
e a temperatura, ou seja, se Rref é a resistência de um corpo à temperatura de referência Tref
(usualmente 20◦ C), para outra temperatura T , a resistência do corpo será

R = Rref [1 + α (T − Tref )] (2.6)

No SI, a unidade do coeficiente de temperatura é ◦ C −1 e seu valor para alguns materiais pode
ser encontrado na literatura. Note que a Tabela 2.1 mostra o valor da resistividade à temperatura
de 20◦ C.
A potência em resistores pode ser calculada por uma das expressões,

V2
P = V I, P = RI 2 ou P = . (2.7)
R

Enfatizando, resistores são componentes que tem por finalidade oferecer oposição à passagem
de corrente elétrica por meio de seu material. A essa propriedade de oposição ao movimento
de elétrons livres damos o nome de resistência elétrica, cuja unidade no SI é o ohm (Ω). Esses
componentes podem ser classificados em dois tipos: os fixos e os variáveis. Os resistores fixos
são aqueles cujo valor da resistência não pode ser alterado, enquanto que os variáveis têm a sua
resistência modificada dentro de uma faixa de valores por meio de um cursor móvel. Os resistores
fixos são comumente especificados por três parâmetros: o valor nominal da resistência elétrica, a
tolerância, ou seja, a máxima variação em porcentagem do valor nominal e a máxima potência
elétrica dissipada.
Exemplo: Tomemos um resistor de 100Ω ± 5% − 0, 33W . Isso significa que possui um valor
nominal de 100Ω, uma tolerância sobre esse valor de ±5% e pode dissipar uma potência de, no
máximo, 0, 33W.
Os resistores variáveis são especificados pelo valor máximo da resistência, pela potência e pelo
tipo de escala (linear ou logarítmica). Em todos os casos, a potência está relacionada com as
dimensões físicas do componente. Quanto maior fisicamente for o resistor (fixo ou variável), mais
corrente suporta e maior é sua potência.

2.1.1 Resistores de Fio


Consistem basicamente em um tubo cerâmico que serve de suporte para enrolarmos um determi-
nado comprimento de fio, de liga especial, para obter o valor de resistência desejado. Os terminais
desse fio são conectados às braçadeiras ou terminais presos ao tubo. A Figura 2.3a mostra alguns
exemplos de resistores de fio fixos e a Figura 2.3b mostra um exemplo de resistor de fio variável.
Os resistores de fio são encontrados com valores de resistência de alguns ohms até alguns
quilo ohms e são aplicados onde se exigem altos valores de potência (acima de 5W), sendo suas
especificações impressas no próprio corpo. Nos chuveiros e aquecedores elétricos e eletrônicos são
aplicados resistores de fio para geração de calor.
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 21

(b) Variáveis
(a) Fixos.

Figura 2.3: Resistores de fio.

2.1.2 Resistores de Filme de Carbono


Consistem em um cilindro de porcelana recoberto por um filme (película) de carbono. O valor
da resistência é obtido mediante a formação de um sulco, transformando a película em uma
fita helicoidal. Esse valor pode variar conforme a espessura do filme ou a largura da fita. Como
revestimento, encontramos uma resina protetora sobre a qual é impresso um código de cores,
identificando seu valor nominal e tolerância.

(b) Metálicos.

(a) Carbono.

Figura 2.4: Resistores de filmes.

Os resistores de filme de carbono são destinados ao uso geral e suas dimensões físicas
determinam a máxima potência que eles podem dissipar (Figura 2.4a).

2.1.3 Resistores de Filme Metálico


Sua estrutura é idêntica à do resistor de filme de carbono (Figura 2.4b). A diferença é que se
utiliza um liga metálica (níquel-cromo) para formar a película, obtendo valores mais precisos de
resistência, com tolerâncias de 1% e 2%. O código de cores utilizado nos resistores de película é
mostrado na Figura 2.5.
Observações: A ausência da faixa de tolerância indica que esta é de ±20%. Para resistores de
precisão encontramos cinco faixas. As três primeiras representam o primeiro, segundo e terceiro
algarismos significativos e as demais, respectivamente, fator multiplicativo e tolerância.
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 22

Cor 1º Algarismo 2° Algarismo Multiplicador Tolerância


Preto - 0 1 -
1
Marrom 1 1 10 ±1%
Vermelho 2 2 102 ±2%
3
Laranja 3 3 10 -
4
Amarelo 4 4 10 -
5
Verde 5 5 10 -
6
Azul 6 6 10 -
Violeta 7 7 - -
Cinza 8 8 - -
Branco 9 9 - -
Ouro - - 10-1 ±5%
Prata - - 10-2 ±10%

Figura 2.5: Código de cores para resistores.

2.1.4 Potenciômetros
Os resistores variáveis também são conhecidos como trimpots ou potenciômetros, devido às suas
aplicações como divisores de tensão em circuitos eletrônicos. Um potenciômetro (Figura 2.6 )
consiste basicamente em uma película de carbono, ou em um fio que, percorrido por um cursor
móvel por meio de um sistema rotativo ou deslizante, altera o valor da resistência entre seus
terminais. Comercialmente, os potenciômetros são especificados pelo valor nominal da resistência
máxima, impresso em seu corpo e pela potência.

Figura 2.6: Estrutura interna de um potenciômetro.

Na prática, encontramos vários modelos de potenciômetros, que em função do tipo de aplicação


possuem características mecânicas diversas. A Figura 2.7 mostra alguns tipos de potenciômetros.
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 23

Figura 2.7: Vários tipos de potenciômetros eletrônicos.

Os potenciômetros de fio são utilizados em situações em que é maior a sua dissipação de


potência, possuindo uma faixa de baixos valores de resistência (até kΩ). Os potenciômetros de
película são aplicados em situações de menor dissipação de potência, possuindo uma ampla
faixa de valores de resistência (até MΩ). Quanto à variação de resistência, os potenciômetros de
película de carbono podem ser lineares ou logarítmicos, isto é, conforme a rotação de seu eixo,
sua resistência varia obedecendo a uma característica linear ou logarítmica, conforme mostra a
Figura 2.8.

R   R  
(a) (b)
Rnominal Rnominal

0  max  0  max 

Figura 2.8: Características (a)linear e (b)logarítmica dos potenciômetros em função do ângulo de


rotação.

Para medir a variação de resistência de um potenciômetro, utilizamos um ohmímetro, que deve


ser conectado entre o terminal central e um dos extremos. Ao girar o eixo em ambos os sentidos,
ocorre aumento ou diminuição do valor da resistência entre zero e o valor nominal de resistência.
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 24

2.1.5 Ohmímetro
É instrumento com a finalidade de medir resistências elétricas. Contudo, na prática, dispomos
de um medidor que realiza a medição de várias grandezas elétricas chamado multímetro e como
parte de um multímetro, temos um ohmímetro. Encontramos dois tipos de multímetros muito
utilizados em situações práticas: os analógicos e os digitais. Em nossas aplicações utilizaremos
multímetros digitais, como mostra a Figura 2.9. Anotamos na o local onde se localiza o ohmímetro
e onde devem ser conectadas as pontas de prova do instrumento. A ponta preta na entrada COM
e a ponta vermelha na entrada relativa a grandeza que se deseja medir. Neste caso, resistência. A
chave seletora possibilita medidas múltiplas do valor selecionado.

Ohmímetro
(Ω)

Ponta de Prova Ponta de Prova


Preta Vermelha

Figura 2.9: Multímetro digital com destaque ao ohmímetro e as pontas de prova.

Cuidado importante: O ohmímetro só deverá ser utilizado no circuito se esse estiver comple-
tamente desenergizado.
Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 25

2.2 Procedimento Experimental


(a) Faça a leitura e a medida de cada resistor fornecido e preencha a Tabela 2.2. Utilize o
multímetro na função ohmímetro, regulado na escala adequada.

Resistor Nominal (RN ) Tolerância (%) Potência (W) Medido (RM ) Escala ∆R%

R1

R2

R3

R4

R5

R6

R7

R8

R9

R10

Tabela 2.2: Procedimento experimental do item (a)

|RN − RM |
∆R% = · 100
RN

(b) Utilizando o potenciômetro fornecido, analise seu funcionamento com o multímetro e preen-
cha a Tabela 2.3

Potenciômetro Fundo de Escala Nominal (Ω) Fundo de Escala Medido (Ω) Tipo

P1

Tabela 2.3: Procedimento experimental do item (b)


Capítulo 2. Experiência 2: Resistores e Código de Cores 26

2.3 Exercícios
1. Determine a sequência de cores para os seguintes resistores:

(a) 390kΩ ± 10%:


(b) 5, 6Ω ± 2%:
(c) 715Ω ± 1%:
(d) 0, 82Ω ± 2%:

2. O que determina o valor ôhmico de um resistor de filme de carbono?

3. Qual é o parâmetro definido por meio das dimensões físicas de um resistor?

4. Cite um exemplo de aplicação dos resistores de fio.

5. Descreva um procedimento experimental para determinar se um potenciômetro é linear ou


logarítmico.
C APÍTULO 3

Experiência 3: Protoboard e
Associação de Resistores

Objetivos: Material Utilizado:


• Conhecer as matrizes de contato ou proto-
boards. • Resistores de valores: 120Ω, 330Ω, 390Ω,
470Ω, 680Ω e 1, 2kΩ.
• Montar a associação de resistores em sé-
rie, em paralelo e mistas.
• Protoboard.
• Medir resistência equivalente com o mul-
tímetro. • Multímetro digital.

3.1 Introdução Teórica


3.1.1 Associação de Resistores
Os resistores podem ser associados em série ou paralelo como quaisquer elementos. A Figura
3.1(a) mostra a associação de três resistores (R1 , R2 e R3 ) em série. Nesse tipo de associação, a
corrente I que passa pelos resistores é a mesma, sendo a tensão de entrada V dividida entre os
resistores de acordo com a LKT, isto é,

V = V1 + V 2 + V 3 . (3.1)

V1 V2 V3

R1 R2 R3 I I1 I2 I3

I I I I
V R1 V R2 V R3 V

I I
I
V
(a) (b)

Figura 3.1: Associação de três resistores (a) em série e (b) em paralelo.

27
Capítulo 3. Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 28

Substituindo a lei de Ohm na Equação (3.1), temos que,

V = R1 I + R2 I + R3 I = (R1 + R2 + R3 ) I = Req I. (3.2)

sendo,
Req = R1 + R2 + R3 . (3.3)

Essa equação pode ser generalizada para N resistores em série, isto é,

N
X
Req = R1 + R2 + · · · + RN = Ri . (3.4)
i=1

Além disso, note que, se N resistores iguais (de resistência R) estiverem associados em série,
então,
XN
Req = R = NR (3.5)
i=1

No caso da associação em paralelo, mostrada na Figura 3.1(b), a corrente I é dividida pelos


resistores, sendo a tensão aplicada V a mesma para todos os resistores associados. Dessa forma,
de acordo com a LKC, temos que
 
V V V 1 1 1 1
I = I1 + I2 + I3 = + + = + + V = V, (3.6)
R1 R2 R3 R1 R2 R3 Req

sendo,
1 1 1 1
= + + (3.7)
Req R1 R2 R3
ou
1
Req = . (3.8)
1 1 1
+ +
R1 R2 R3
Generalizando para N resistores em paralelo, temos que

1 1
Req = = N . (3.9)
1 1 1 X 1
+ + ··· +
R1 R2 RN
i=1
Ri

Caso N = 2, temos uma equação de muita utilidade prática, isto é,

1 1 R1 R2
Req = = = . (3.10)
1 1 R2 + R 1 R2 + R1
+
R1 R2 R 1 R2

Por fim, caso tenhamos N resistores iguais, isto é, de mesma resistência R em paralelo, obtemos
a equivalente por
1 1 R
Req = = = . (3.11)
N 1 N
X 1 N
R
i=1
R
Capítulo 3. Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 29

O resistor equivalente (Req ) é aquele que exige a mesma corrente I que a associação original se,
sobre ele fora aplicada a mesma tensão V . A fonte não tem como prever o que está ligado sobre
ela e, com isso, fornece a corrente solicitada caso tenha a capacidade de fornecimento.

3.1.2 Protoboard ou Matriz de Contatos


Para se montar circuitos sem a necessidade de se utilizar solda, utilizamos um dispositivo chamada
de Matriz de Contatos, mais conhecida como protoboard (que é marca registrada). A matriz de
contatos é um arranjo de pontos interligados por baixo de uma estrutura de plástico que permite
montar circuitos sem que seja necessário soldar as partes envolvidas. A Figura 3.2 mostra o
aspecto de uma matriz de contato genérica de 840 furos e que consiste de linhas horizontais e
verticais.

Figura 3.2: Protoboard de 840 furos.

As linhas conectadas na horizontal (barramento horizontal) costumam ser utilizadas para a


conexão da alimentação (pólo positivo no vermelho e negativo no azul), como indicado na Figura
3.3. As linhas verticais são utilizadas para colocar os terminais dos componentes envolvidos
no circuito. Perceba como os pontos são interligados entre si para não cometer erros durante a
montagem de um circuito.

Figura 3.3: Forma da interligação entre os furos de uma matriz de contato.

Observar que os dois barramentos horizontais não são conectados entre si, assim como os
barramentos verticais. A Figura 3.4 mostra um exemplo fictício de circuito montado em protoboard.
Note como são conectados os circuitos integrados, isto é, na canaleta central da matriz.
A Figura 3.5 mostra um circuito real montado em matriz de contatos. Note que a montagem
exige certo capricho, caso contrário, dependendo do tamanho do circuito, fica difícil localizar falhas
e realizar medições. Além disso, caso a matriz de contato esteja muito tempo sem utilização é
Capítulo 3. Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 30

Figura 3.4: Exemplo de circuito mostrado em uma matriz de contato.

necessário limpar os contatos com spray específico para evitar maus contatos durante a montagem
de um circuito.

Figura 3.5: Circuito real montado em uma matriz de contato.

3.1.3 Associação de Resistores em Protoboard


Na Figura 3.6 são mostradas como se associam resistores em série e em paralelo por meio da
matriz de contato. Observe como devem ser respeitadas as linhas horizontais e verticais de
contatos.

(a) Três resistores de 1kΩ em série. (b) Três resistores de 1kΩ em paralelo.

Figura 3.6: Associação de resistores em matriz de contato.


Capítulo 3. Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 31

3.2 Procedimento Experimental


(a) Monte os circuitos abaixo e anote nas respectivas tabelas os valores da resistência equivalente
medida entre os terminais A e B de cada associação.

1,2kΩ 330Ω 470Ω 680Ω 390Ω RAB Medido


A B

RAB Calculado

Figura 3.7: Associação em série de resistores.

390Ω

470Ω

1,2kΩ RAB Medido


A B

330Ω RAB Calculado

680Ω

Figura 3.8: Associação em paralelo de resistores.

330Ω 470Ω
1,2kΩ 390Ω RAB Medido
A B

RAB Calculado
120Ω 680Ω

Figura 3.9: Associação mista de resistores.

330Ω 470Ω

1,2kΩ RAB Medido


A B
390Ω
RAB Calculado
120Ω 680Ω

Figura 3.10: Associação mista de resistores (Estrela-Triângulo).

3.3 Exercícios
1. Para os circuitos do item (a) do procedimento experimental, calcule o valor da resistência
equivalente vista entre os terminais A e B e anote nas respectivas tabelas.
Capítulo 3. Experiência 3: Protoboard e Associação de Resistores 32

2. Compare os valores medidos e calculados e explique o motivo da discrepância entre eles.


C APÍTULO 4

Experiência 4: Medição de Tensão e


Corrente Contínuas

Objetivos: Material Utilizado:

• Resistores de valores: 220Ω, 470Ω, 820Ω e


• Constatar, experimentalmente, as propri-
1, 2kΩ.
edades relativas à tensão e corrente em
cada tipo de associação de resistores. • Protoboard.

• Multímetro digital.
• Medir tensão, corrente e resistência com
o multímetro. • Fonte de tensão contínua.

4.1 Introdução Teórica


Nesta experiência aprendemos a realizar a medição de tensões e correntes contínuas com o mesmo
multímetro utilizado na experiência anterior.

4.1.1 Voltímetro
É o aparelho destinado à medidas de tensão elétrica entre dois pontos quaisquer de um circuito,
podendo ser essa tensão: contínua (VCC) ou alternada (VAC). O voltímetro ideal é aquele que
possui resistência interna infinita, não interferindo na medida quando o aparelho é conectado em
paralelo com os pontos entre os quais se deseja medir a tensão.

+ V

+
V R V V R

ü Certo X Errado

Figura 4.1: Ligação de voltímetro: em paralelo com a carga.

Cuidado importante: O voltímetro deve ser ligado em paralelo com a carga onde se deseja
medir a tensão.

33
Capítulo 4. Experiência 4: Medição de Tensão e Corrente Contínuas 34

4.1.2 Amperímetro
É o aparelho para medidas de corrente elétrica (movimento ordenado de elétrons) contínua ou
alternada. Estas devem circular pelo aparelho devendo, portanto ser ligado em série com o ramo
onde se deseja medir a corrente. O amperímetro ideal é o que possui resistência interna nula.

+ mA

+
V R V R mA

ü Certo X Errado

Figura 4.2: Ligação de amperímetro: em série com a carga.

Cuidado importante: O amperímetro não deverá ser ligado em paralelo com uma carga. Como
o amperímetro tem uma resistência interna muito baixa, quando se coloca diretamente a uma fonte
de tensão, o aparelho se comportará como um curto circuito e será danificado instantaneamente.
Na Figura 4.3 é mostrado o mesmo multímetro da experiência anterior, mas agora destacando
as funções de voltímetro e amperímetro em corrente contínua (CC).

Voltímetro
CC Amperímetro
CC

Ponta de Prova Ponta de Prova


Preta Vermelha

Figura 4.3: Multímetro onde se destacam as funções de voltímetro e amperímetro em corrente


contínua.

Para realizar as medições, se deve tomar alguns cuidados para não danificar o instrumento
como sua ligação em série ou paralelo, a polaridade e a escala utilizada na medida.
Capítulo 4. Experiência 4: Medição de Tensão e Corrente Contínuas 35

4.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito, meça e anote na Tabela a resistência equivalente entre os pontos A e E.

220Ω 470Ω 1,2kΩ 820Ω RAE Medido


A E

RAE Calculado

Figura 4.4: Referente ao item (a).

(b) Ligue uma fonte de 12V ao entre os pontos A e E do circuito da Figura 4.4 e preencha as
Tabelas da Figura 4.5.

220Ω 470Ω 1,2kΩ 820Ω


A B C D E

12V

Corrente (mA) IA IB IC ID IE

Medida

Calculada

Tensão (V) 220Ω 470Ω 1,2kΩ 820Ω

Medida

Calculada

Figura 4.5: Referente ao item (b).

(c) Monte o circuito da Figura 4.6, meça e anote na Tabela a resistência equivalente entre os
pontos A e B.

RAB Medido
470Ω 1,2kΩ 820Ω
RAB Calculado

Figura 4.6: Referente ao item (c).


Capítulo 4. Experiência 4: Medição de Tensão e Corrente Contínuas 36

(d) Ligue uma fonte de 12V ao entre os pontos A e E do circuito da Figura 4.6 e preencha as
Tabelas da Figura 4.7.

12V 470Ω 1,2kΩ 820Ω

D
C B E

Corrente (mA) IA IB IC ID IE

Medida

Calculada

Tensão (V) 470Ω 1,2kΩ 820Ω

Medida

Calculada

Figura 4.7: Referente ao item (d).

(e) Monte o circuito da Figura 4.8 , meça e anote na Tabela a resistência equivalente entre os
pontos A e D.

470Ω
1,2kΩ 820Ω RAD Medido
A D

220Ω RAD Calculado

Figura 4.8: Referente ao item (e).

(f) Ligue uma fonte de 12V ao entre os pontos A e D do circuito da Figura 4.8 e preencha as
Tabelas da Figura 4.9.

4.3 Exercícios
1. Preencha as Tabelas do procedimento experimental com os valores teóricos calculados. Para
os cálculos, devem ser utilizados os valores nominais dos resistores.
Capítulo 4. Experiência 4: Medição de Tensão e Corrente Contínuas 37

B
470Ω
1,2kΩ 820Ω
A D

220Ω
C

12V

Corrente (mA) IA IB IC ID

Medida

Calculada

Tensão (V) 220Ω 470Ω 1,2kΩ 820Ω

Medida

Calculada

Figura 4.9: Referente ao item (f).

2. Compare os valores medidos e calculados e explique o motivo da discrepância entre eles.

3. No circuito da Figura 4.10(a), a leitura no amperímetro é de 28,6mA. Calcule o valor de R.

+ A (a) + V (b)
237Ω 150Ω 113Ω

4V 680Ω R

Figura 4.10: (a) Exercício 3; (b) Exercício 4.

4. Calcule o valor da tensão da fonte para o circuito da Figura 4.10(b), sabendo que o voltímetro
indica 3V.
C APÍTULO 5

Experiência 5: Verificação da Lei de


Ohm

Objetivos: Material Utilizado:

• Verificar experimentalmente a Lei de • Resistores de valores: 220Ω, 470Ω, 1kΩ,


Ohm. 2, 2kΩ e 3, 9kΩ.

• Lâmpada incandescente de 12V/1W.


• Determinar a resistência elétrica através
dos valores de tensão e corrente. • Protoboard.

• Multímetro digital.
• Levantar a curva característica de bipolos
ôhmicos e não-ôhmicos. • Fonte variável de tensão contínua.

5.1 Introdução Teórica


Imaginemos que uma diferença de potencial (tensão) seja aplicada sobre um bipolo. Nessas
condições o bipolo será atravessado por uma corrente I a qual depende do potencial aplicado.
Chama-se curva característica do bipolo à curva que mostra a relação existente entre V e I.
A determinação dessa curva é feita variando-se o potencial sobre ele aplicado e medindo-se a
correspondente corrente elétrica que o atravessa. Para isso deve-se montar um circuito com um
voltímetro e um amperímetro monitorando, respectivamente, a tensão e a corrente do bipolo,
tomando-se as seguintes precauções:

1. A fonte de tensão variável deve estar inicialmente desligada e ajustada de tal forma que ao
ser ligada forneça potencial mínimo (normalmente zero). Para isto deve-se girar seu botão de
ajuste totalmente para a esquerda.

2. Todos os instrumentos de medida devem estar em suas maiores escalas de medida.

3. A polaridade da fonte e dos instrumentos de medida devem ser avaliadas antes do circuito
ser ligado.

Primeiramente, estudaremos um bipolo linear que consiste de condutor formado por uma
mistura de material isolante impregnado de impureza condutora cuja concentração define a sua
resistência. Este condutor é chamado resistor. Em seguida, consideraremos um bipolo não linear

38
Capítulo 5. Experiência 5: Verificação da Lei de Ohm 39

que consiste de uma lâmpada incandescente, ou seja, de um bipolo constituído por um fio muito
delgado que, sob a ação da corrente elétrica incandesce, emitindo luz.

5.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito da Figura 5.1, varie a tensão da fonte conforme indicado e anote os valores
de corrente na Tabela para cada resistor selecionado.

R=470Ω R=1kΩ R=2,2kΩ R=3,9kΩ


V(V)
I(mA) I(mA) I(mA) I(mA)

+ 2
mA

+ 4
V R V

10

12

Figura 5.1: Referente ao item (a).

(b) Monte o circuito da Figura 5.2, varie a tensão da fonte conforme indicado e anote os valores
de corrente na Tabela para a lâmpada. Não ultrapasse 12V com a lâmpada.

+ mA

+
V 12V/1W V

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

Figura 5.2: Referente ao item (b).


Capítulo 5. Experiência 5: Verificação da Lei de Ohm 40

(c) Monte o circuito da Figura 5.3 e anote os valores na Tabela.

220Ω

Resistor Lâmpada

V(V)
10V 12V/40mA

I(mA)

Figura 5.3: Referente ao item (c).

5.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos na Tabela do item (a), utilizando papel milimetrado, construa os
gráficos de V = f (I) para cada resistor. Utilize a mesma folha de papel milimetrado para
todos os gráficos. Deve ser notado um comportamento linear para cada resistor.

2. Determine, por meio da declividade das retas obtidas nos gráficos do exercício 1, o valor de
cada resistência, preenchendo a Tabela abaixo. Explique as discrepâncias.

Valor Nominal Valor Determinado pelo Gráfico

470Ω

1kΩ

2,2kΩ

3,9kΩ

3. Com os valores obtidos na Tabela do item (b), utilizando papel milimetrado, construa o gráfico
de V = f (I) para a lâmpada. Neste caso não deve ser observada uma reta, pois o bipolo não é
linear.

4. Trace a reta de carga do circuito do item (c), utilizando a curva obtida no exercício 3.
Determine o ponto de trabalho da lâmpada e compare com os valores obtidos na Tabela do
item (c).
C APÍTULO 6

Experiência 6: Associação Gráfica


de Bipolos

Objetivos: Material Utilizado:

• Verificar graficamente as associações série • Resistor 470Ω.


e paralelo de bipolos.
• Lâmpada incandescente de 12V/1W.
• Determinar a resistência elétrica através
• Protoboard.
dos valores de tensão e corrente.
• Multímetro digital.
• Levantar a curva característica de bipolos
ôhmicos e não-ôhmicos. • Fonte variável de tensão contínua.

6.1 Introdução Teórica


Em muitas aplicações práticas os bipolos são ligados entre si. Dizemos neste caso que os bipolos
estão associados. Essa associação pode ser de dois tipos: em paralelo ou em série. A Figura 6.1
mostra essas duas associações entre dois bipolos B1 e B2 .

B1
B1 B2
B2
Série
Paralelo
Figura 6.1: Exemplos de dois bipolos associados em série e paralelo.

Quando isso ocorre há interesse em saber qual a curva característica resultante da associação,
conhecidas as curvas características dos bipolos associados. Essa curva resultante é a curva
resultante de um bipolo equivalente à associação. Mostraremos a seguir como obter essa curva.

6.1.1 Estudo Gráfico da Associação em Paralelo


A Figura 6.2(a) mostra dois bipolos, denominados B1 e B2 , associados em paralelo. É fácil observar
que nessa associação os bipolos estão submetidos as um mesmo potencial e que a corrente através

41
Capítulo 6. Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 42

da associação é a soma das correntes que atravessam cada um do bipolos, isto é,

V1 = V 2 = V e I1 + I2 = I. (6.1)

V B1 B2
(a) (b)
I1 V
B1
I I
I2 V V P
B2

0 I1 I 2 I1  I 2 I

Figura 6.2: (a) Bipolos B1 e B2 em paralelo; (b) Estudo gráfico da associação em paralelo.

A análise das Equações 6.1 nos permite estabelecer um método gráfico para o estudo da
associação em paralelo que nos permitirá determinar sua curva característica a partir das
curvas características de cada um dos bipolos associados. Para isso observe a Figura 6.2(b),
onde são mostradas as curvas do bipolos linear B1 e não linear B2 . Observe nessa figura que,
para um mesmo potencial V , podemos retirar as correntes I1 e I2 relativas aos bipolos B1 e
B2 , respectivamente. Se as medidas de I1 e I2 forem somadas, obtemos a abcissa do ponto da
associação em paralelo que em conjunto com o potencial escolhido V define o ponto P . Se esse
processo for repetido para diferentes valores do potencial obteremos um sucessão de pontos P , os
quais, unidos determinam a curva característica da associação.

6.1.2 Estudo Gráfico da Associação em Série


A Figura 6.3(a) mostra dois bipolos, B1 e B2 , associados em série. É fácil observar que nesta
associação os bipolos são percorridos pela mesma corrente I e que os potenciais neles aplicados
se somam dando a tensão aplicada sobre a associação, isto é,

I1 = I2 = I e V1 + V2 = V . (6.2)

A análise das Equações 6.2 nos permite estabelecer um método gráfico para o estudo da
associação em série que nos permitirá determinar sua curva característica a partir das curvas
características de cada um dos bipolos associados. Para isso observe a Figura 6.3(b), onde são
mostradas as curvas do bipolos linear B1 e não linear B2 . Observe nessa figura que, para uma
mesma corrente I, podemos retirar as tensões V1 e V2 relativas aos bipolos B1 e B2 , respectivamente.
Se as medidas de V1 e V2 forem somadas, obtemos a ordenada do ponto da associação em série
que em conjunto com a corrente escolhida I define o ponto P mostrado na figura. Se esse processo
for repetido para diferentes valores de corrente obteremos um sucessão de pontos P , os quais,
Capítulo 6. Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 43

V B1 B2
(a) (b)
P
V1  V2
V1 V2 V1
I I
B1 B2

V2

0 I I

Figura 6.3: (a) Bipolos B1 e B2 em série; (b) Estudo gráfico da associação em série.

unidos determinam a curva característica da associação.


Capítulo 6. Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 44

6.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito da Figura 6.4 e levante a curva característica desse resitor, anotando os
resultados experimentais na tabela ao lado. Esse resistor será o bipolo B1 .

+ mA

+
V 470Ω V

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

Figura 6.4: Referente ao item (a).

(b) Utilizando o mesmo procedimento, faça o levantamento da curva característica da lâmpada,


anotando os resultados na tabela ao lado. A lâmpada será o bipolo B2 .

+ mA

+
V 12V/1W V

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

Figura 6.5: Referente ao item (b).

(c) Agora monte o circuito mostrado na Figura 6.6, isto é, a associação em paralelo dos bipolos
B1 e B2 e levante a curva característica da associação, isto é, considerando os dois bipolos
equivalentes a um único dispositivo. Preencha a tabela.

(d) Por fim, monte o circuito mostrado na Figura 6.7, isto é, a associação em série dos bipolos B1
e B2 e levante a curva característica da associação, preenchendo a tabela.
Capítulo 6. Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 45

+ mA

+
V 470Ω 12V/1W V

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

Figura 6.6: Referente ao item (c).

+ mA

12V/1W
+
V V

470Ω

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

Figura 6.7: Referente ao item (d).

6.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos nas Tabelas dos itens (a), (b) e (c), utilizando papel milimetrado,
construa os gráficos de V = f (I) para o resistor, para a lâmpada e para sua associação em
paralelo. Faça os gráficos no mesmo conjunto de eixos para efeitos de comparação.

2. Repita o procedimento do Exercício 1 com os dados dos itens (a), (b) e (d).

3. Utilizando os gráficos experimentais construídos no Exercício 1. Construa um gráfico teórico


conforme descrito na fundamentação teórica para a associação em paralelo entre B1 e B2 .
Compare com o gráfico construído utilizando os dados da tabela do item (c). Discuta os
resultados.
Capítulo 6. Experiência 6: Associação Gráfica de Bipolos 46

4. Utilizando os gráficos experimentais construídos no Exercício 2. Construa um gráfico teórico


conforme descrito na fundamentação teórica para a associação em série entre B1 e B2 .
Compare com o gráfico construído utilizando os dados da tabela do item (d). Discuta os
resultados.
C APÍTULO 7

Experiência 7: Potência Elétrica em


Resistores

Objetivos: Material Utilizado:

• Levantar a curva da potência de um resis- • Resistores de valores: 100Ω/1W e


tor. 100Ω/5W.

• Protoboard.
• Observar o efeito Joule.
• Multímetro digital.
• Relacionar a potência com as dimensões
físicas do resistor. • Fonte variável de tensão contínua.

7.1 Introdução Teórica


No capítulo introdutório desta apostila, discutimos a potência elétrica. Aplicando uma tensão aos
terminais de um resistor aparece uma corrente, isto é, um movimento de cargas elétricas sobre
esse resistor. O trabalho realizado pelas cargas elétricas em um determinado intervalo de tempo
gera uma energia que é transformada em calor por efeito Joule e é definida como potência elétrica.
Numericamente, a potência elétrica é igual ao produto da tensão e da corrente, resultando numa
grandeza cuja unidade é o watt (W). Assim, podemos escrever

∆E
P = = V I. (7.1)
∆t

Utilizando a definição de potência elétrica juntamente com a lei de Ohm, obtemos outras duas
relações usuais para resistores, isto é,

V2
P = e P = RI 2 . (7.2)
R

O efeito térmico produzido pela geração de potência é aproveitado por inúmeros dispositivos, tais
como chuveiro elétrico, secador, ferro elétrico, soldador, etc. Esses dispositivos são constituídos
basicamente por resistências que, alimentadas por tensões e, consequentemente, percorridas por
correntes elétricas transformam energia elétrica em térmica.

47
Capítulo 7. Experiência 7: Potência Elétrica em Resistores 48

7.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito da Figura 7.1 e anote os valores na Tabela.

+ mA

V 100Ω/1W

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

P(mW)

Figura 7.1: Referente ao item (a).

(b) Troque o resistor no circuito da Figura 7.1 por um de 100Ω/5W e repita o procedimento,
preenchendo a Tabela abaixo.

V (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I(mA)

P(mW)

Figura 7.2: Referente ao item (b).

(c) Monte o circuito da Figura 7.3 e anote os valores de tensão e corrente em cada resistor na
Tabela ao lado.

R V(V) I(mA) P(mW)

100Ω/1W
10V 100Ω/1W 100Ω/5W

100Ω/5W

Figura 7.3: Referente ao item (c).


Capítulo 7. Experiência 7: Potência Elétrica em Resistores 49

(d) Verifique o aquecimento dos dois resistores. Anote o que foi observado.

7.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos nas Tabelas dos itens (a) e (b), utilizando papel milimetrado, construa
os gráficos de P = f (I) para cada resistor.

2. Por que o resistor de 100Ω/1W aqueceu mais que o resistor de 100Ω/5W na experiência?

3. Um resistor de fio quando percorrido por uma corrente de 100mA, dissipa uma potência de
5W. Determine a nova potência quando ele for submetido a uma tensão igual ao dobro da
aplicada anteriormente.

4. Para o circuito mostrado na Figura 7.4, determine o valor da tensão da fonte, sabendo que o
resistor se encontra no limite de sua potência e que a leitura do miliamperímetro é de 50mA.

+ mA

V 1kΩ/2,5W

Figura 7.4: Referente ao Exercício 4.


C APÍTULO 8

Experiência 8: Estudo dos Bipolos


Geradores

Objetivos: Material Utilizado:


• Determinar, experimentalmente, a resis-
tência interna, a tensão nominal e a cor- • Resistores de 100Ω e 1kΩ.
rente de curto circuito de um gerador de
tensão. • Potenciômetro linear de 1kΩ.

• Levantar a curva característica da potên-


• Protoboard.
cia de um gerador.

• Determinar o rendimento de um gerador. • Multímetro digital.


• Levantar os parâmetros para máxima
transferência de potência. • Fonte variável de tensão contínua.

8.1 Introdução Teórica


Os bipolos geradores (fontes) são dispositivos que tem por objetivo elevar o potencial elétrico e
assim produzir diferença de potencial a qual, por sua vez, produz corrente elétrica. Essa elevação
de potencial corresponde a um aumento de energia. Isso significa que para o funcionamento
do bipolo gerador se faz necessária uma fonte de energia, a qual é utilizada na realização do
trabalho sobre as cargas elétricas que se movem. Essa fonte de energia adicional depende do tipo
do gerador. Nas pilhas convencionais a energia provém de uma reação química irreversível onde,
gradativamente, os componentes químicos vão sendo consumidos, desgastando a pilha. Existem
alguns tipos de baterias onde a reação química é reversível, isto é, ele pode ser recarregada através
da reversão da reação química. Existem também, geradores eletromagnéticos nos quais a energia
elétrica adicional é obtida pela conversão de energia mecânica em energia elétrica através de um
processo magnético. Isso é o que ocorre nas usinas geradoras utilizadas pelas concessionárias de
eletricidade. Os geradores baseados em reações químicas fornecem corrente contínua, ao passo
que os geradores eletromecânicos fornecem corrente alternada.
Os geradores não são ideais, ou seja, eles mesmo oferecem resistência à passagem de corrente
elétrica. Por essa razão, um gerador real de tensão contínua, por exemplo, deve ser representado
pela Figura 8.1(a), onde Ri representa a resitência interna do gerador e VS representa a tensão

50
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 51

nominal (ou força eletromotriz) do gerador.

I (a) (b)
V

Ri VS

V
VS

0 VS I
I CC 
Ri

Figura 8.1: (a) Gerador real de tensão; (b) Curva da tensão em um gerador real.

Aplicando a LKT sobre a fonte temos,

−V − Ri I + VS = 0 (8.1)

tal que,
V = V S − Ri I (8.2)

cujo gráfico é mostrado na Figura 8.1(b).


Pela equação do gerador, é possível observar que, quando o gerador está fornecendo uma
corrente I, a diferença de potencial V fornecida pelo gerador não é a tensão nominal VS , pois
ocorre uma queda de tensão na resistência interna Ri . A tensão fornecida pelo gerador só coincide
com a tensão nominal do gerador quando a corrente é nula. Além disso, pelo gráfico, notamos
que a tensão fornecida pelo gerador diminui com o aumento da corrente fornecida. Nesse sentido,
existe uma corrente máxima que o gerador pode fornecer, chamada de corrente de curto-circuito
(ICC ). Ela é alcançada quando a tensão fornecida pela fonte é nula, ou seja, é a máxima corrente
que o gerador pode fornecer, isto é,
VS
ICC = . (8.3)
Ri
Existe uma situação prática na qual se observa facilmente o efeito da resistência interna, por
exemplo, de uma pilha. Quando a pilha está bastante usada, o que de fato ocorre com a mesma
é que sua resistência interna está aumentada e, consequentemente, a própria pilha se opõe a
passagem de corrente. Quando uma pilha é nova, sua resistência interna é muito baixa. Isso pode
ser experimentalmente observado com um simples rádio de pilhas. Quando as pilhas estão gastas,
ouvindo-se o rádio em baixo volume (junto ao ouvido) o som tem qualidade. Em alto volume, o
som tem má qualidade ou é atenuado. Isso ocorre porque a corrente solicitada pelo rádio depende
do volume. Em alto volume a corrente solicitada pelo rádio é alta e, com isso, a tensão fornecida
pelo gerador é reduzida fazendo com que o rádio opere fora de suas especificações, prejudicando
assim a qualidade do som.
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 52

A potência de um gerador de tensão é determinada pelo produto entre a tensão e a corrente


fornecidas, isto é,
P = V I = (VS − Ri I) I = VS I − Ri I 2 (8.4)

cujo gráfico é mostrado na Figura 8.2(a).

(a) I (b)
P
VS2
PM 
4 Ri Ri

RL
VS

0 VS VS I
2 Ri Ri

Figura 8.2: (a) Curva da potência de um gerador real de tensão; (b) Estudo de carga ligada no
gerador.

Pelo gráfico da potência, é possível notar que a potência atinge seu valor máximo quando

VS
I= , (8.5)
2Ri

isto é, 2
VS2

VS VS
PM = VS − Ri = . (8.6)
2Ri 2Ri 4Ri
Além disso, quando analisamos melhora a equação da potência do gerador, podemos ver que
existe uma potência nominal gerada (Pg ) e uma potência perdida na resistência interna (Pp ), isto é,

Pg = V S I e Pp = R i I 2 , (8.7)

sendo a potência útil (Pu ) definida como Pu = Pg − Pp . Isso nos permite determinar o rendimento
percentual do gerador como,

VS I − Ri I 2
 
Pu Ri I
η= · 100 = · 100 = 1− · 100. (8.8)
Pg VS I VS

Outra questão importante é a máxima transferência de potência do gerador para uma carga.
Sendo assim, consideremos o circuito mostrado na Figura 8.2(b). A pergunta de interesse é a
seguinte: Qual deve ser o valor de RL para que a potência transferida pelo gerador para a carga
seja máxima?
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 53

No circuito da Figura 8.2(b) temos que

VS
I= (8.9)
Ri + RL

VS
e como a potência máxima PM ocorre quando I = , devemos ter que
2Ri

RL = Ri , (8.10)

isto é, para que tenhamos a máxima transferência de potência entre a fonte e a carga, devemos
ter que o valor da resistência da carga RL deve ser o mesmo da resistência interna do gerador Ri .
Esse é um resultado importante e explica o motivo da necessidade dos chamados casamentos de
impedâncias entre dois circuitos.
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 54

8.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito da Figura 8.3. Variando o valor da resistência do potenciômetro anote
os valores de tensão e corrente na Tabela. O valor da resistência do potenciômetro deve
ser medido fora do circuito e a medida da tensão VS deve ser feita uma única vez com o
potenciômetro desligado do circuito, isto é, com corrente nula.

+ mA

100Ω

+
1kΩ V VS(V)

10V

R(Ω) 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0

I(mA)

V(V)

Figura 8.3: Referente ao item (a).

(b) Troque o resistor de 100Ω no circuito da Figura 8.3 por um de 1kΩ e repita o procedimento,
preenchendo as Tabelas abaixo.

VS(V)

R(Ω) 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0

I(mA)

V(V)

Figura 8.4: Referente ao item (b).

Observação: Os resistores de 100Ω e 1kΩ irão simular a resistência interna do gerador, pois
uma fonte estabilizada como a disponível na mesa analógica, dentro de uma faixa de corrente,
comporta-se como um gerador ideal.
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 55

(c) Substitua novamente o resistor de 1kΩ pelo resistor de 100Ω e, variando a resistência do
potenciômetro, anote os valores de tensão e corrente na Tabela abaixo. Além disso, calcule a
potência e o rendimento do gerador.

R(Ω) 1000 800 600 400 200 100 80 60 40 20 0

I(mA)

V(V)

P(mW)

η(%)

Figura 8.5: Referente ao item (c).

8.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos nas Tabelas dos itens (a) e (b), utilizando papel milimetrado, construa
as curvas características dos geradores V = f (I) para ambos os casos.

2. Determine as resistências internas e as correntes de curto-circuito de ambos os geradores


por intermédio das curvas construídas no exercício anterior.

3. Escreva as equações dos geradores montados nos itens (a) e (b).

4. Com os dados obtidos no item (c), construa a curva da potência em função da corrente,
isto é, P = f (I) para o gerador. Determine graficamente a potência máxima que pode ser
transferida pelo gerador e a corrente de curto-circuito. Qual o valor da carga para que a
potência transferida seja máxima?

5. Determine a equação do gerador mostrado no circuito da Figura 8.6(a), sabendo que, estando
a chave na posição 1, o voltímetro indica 9V e o miliamperímetro 600mA, e quando na posição
2, o voltímetro indica 9,6V e o miliamperímetro 480mA.

6. Escreva a equação do gerador mostrado na Figura 8.6(b) que alimenta a associação de


resistores na situação de máxima transferência de potência.

7. Um gerador em vazio apresenta uma tensão de saída igual a 15V. Quando ligamos aos
terminais deste gerador uma lâmpada de 6W ela consome uma corrente de 500mA. Escreva
a equação desse gerador.

8. Pesquise e explique superficialmente o funcionamento dos circuitos chamados buffers ampla-


mente utilizados para a realização do casamento de impedâncias entre dois circuitos. Em
Capítulo 8. Experiência 8: Estudo dos Bipolos Geradores 56

(a) Ri 10Ω (b)


+ mA

Ri
+ +
1 2 0,6
VS V VS 33Ω 12Ω V
22Ω
15Ω 20Ω

22Ω

Figura 8.6: (a) Referente ao Exercício 5; (b) Referente ao Exercício 6.

geral, esses circuitos utilizam componentes eletrônicos chamados Amplificadores Operacio-


nais.
C APÍTULO 9

Experiência 9: Estudo dos Divisores


de Tensão

Objetivos: Material Utilizado:


• Estudar o divisor de tensão verificando
praticamente suas limitações. • Potenciômetros lineares de 1kΩ e 10kΩ.
• Levantar algumas curvas características
do divisor de tensão.
• Multímetro digital.
• Compreender as complicações referentes
ao acoplamento de carga em fonte de ten-
são. • Fonte variável de tensão contínua.

9.1 Introdução Teórica


Um problema comum que aparece na vida diária é a necessidade de alimentar um dispositivo
elétrico a partir de uma fonte de tensão maior que a tensão nominal de trabalho do dispositivo.
Por exemplo, suponhamos que se deseje ligar um rádio de tensão nominal de 5V a partir de uma
bateria de 12V. É sabido que se o rádio for ligado diretamente à bateria seus componentes poderão
ser danificados. Para resolver essa situação, é possível utilizar duas soluções diferentes: um
circuito de redução de tensão eletrônico (que utiliza transistores e componentes ativos) ou um
simples circuito resistivo, denominado divisor de tensão. Nesta experiência faremos o estudo
dessa segunda opção.
Suponhamos que se tenha um gerador de tensão fixa V e que, a partir dele, se deseje obter
uma tensão Vx ≤ V para alimentar um determinado dispositivo. Para isso, observe o circuito da
Figura 9.1(a).
Aplicado a Lei de Ohm sobre o circuito temos

V V
I= = e Vx = R2 I, (9.1)
RT R1 + R 2

tal que,
R2
Vx = V = αV , (9.2)
R 1 + R2
R2
com α = . Note que, como α < 1, Vx é uma fração de V , isto é, (Vx < V ). Ajustando-se
R1 + R 2

57
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 58

I I
(a) (b)
R1 R1
IL
V V I2
R2 Vx R2 Vx RL

Figura 9.1: Divisor de tensão: (a) sem carga e (b) com carga RL .

convenientemente os valores de R1 e R2 podemos obter a Vx desejada.


Por outro lado, lembremos agora que essa tensão Vx deverá alimentar um dispositivo que será
ligado aos pontos B e C, o qual apresenta resistência aparente RL e que exigirá uma corrente IL
(o índice L é convencionado e vem do inglês load que significa carga). Quando esse dispositivo é
ligado ao divisor de tensão, o circuito fica como o mostrado na Figura 9.1(b).
É fácil observar que agora a tensão Vx não é mais dada pela Equação 9.2, pois o circuito foi
alterado pela inserção, em paralelo a R2 , da resistência RL . Sendo assim, calculemos o novo valor
de Vx . Pelas leis de Kirchhoff, temos que

V = V1 + V2 (9.3)

com V1 e V2 sendo as tensões em R1 e R2 , respectivamente. Como V2 = Vx , podemos escrever que

V1 = V − Vx (9.4)

ou
R1 I = V − Vx (9.5)

e
V − Vx
I= . (9.6)
R1
Além disso, temos que
I = I2 + IL (9.7)

e
V2 Vx
I2 = = . (9.8)
R2 R2
Substituindo as Equações (9.6) e (9.8) em (9.7) temos

V − Vx Vx
= + IL (9.9)
R1 R2
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 59

e, resolvendo para Vx temos que

R2 R1 R2
Vx = V − IL = αV − αR1 IL . (9.10)
R1 + R 2 R1 + R2

Verifica-se pela Equação (9.10) que Vx é agora uma função da corrente de carga IL solicitada
pelo dispositivo, ou o que é a mesma coisa, Vx é uma função da resistência de carga RL , isto é,
da resistência do dispositivo que é alimentado pelo divisor de tensão. Além disso, comparando a
Equação (9.10) com (9.2) verifica-se o termo −αR1 IL como adicional e relativo à adição da carga. A
Equação (9.10) deve ser utilizada nos casos de projetos de divisores de tensão resistivos.
Tomemos um exemplo prático: suponhamos que o dispositivo a ser alimentado pelo divisor
de tensão seja um rádio simples. A corrente solicitada por ele não é constante, pois varia em
função do volume com que é ouvido (mais volume, mais corrente) bem como da frequência dos
sons produzidos (frequências mais baixas - mais graves - exigem maior corrente). Isso significa
que IL varia (o que equivale a variar RL ) e, consequentemente, Vx que alimenta o rádio varia,
prejudicando seu funcionamento. Portanto, o divisor de tensão resistivo não se constitui num
sistema ideal para a redução de tensão.
Façamos um estudo mais formal do divisor de tensão. Para isso, consideremos o circuito
abaixo noas quais as resistências divisoras (R1 e R2 ) são substituídas por um potenciômetro, isto
é, um resistor de resistência variável continuamente e cuja resistência é variada deslizando-se um
cursor sobre uma película de material resistivo, localizado entre os pontos A e C de resistência
total RT = R1 + R2 . O potenciômetro é representado pelo esquema mostrado na Figura 9.2(a).
Observe que R2 é uma fração x da resistência total R e R1 é a resistência complementar.

I
A (a) (b)
A

R1 R1
IL
K
R B V B

R2  xR R2
Vx RL
I2 C
C

Figura 9.2: (a) Potenciômetro ampliado e (b) circuito divisor de tensão com potenciômetro.

Agora, analisaremos o circuito mostrado na Figura 9.2(b). Neste caso, denotamos RT = R1 + R2


e
R2 = xRT , (9.11)

com 0 ≤ x ≤ 1. Coloquemos Vx em função de x e IL . Aplicando-se as leis de Kirchhoff sobre o


circuito da Figura 9.2(b) temos que
I = I2 + IL , (9.12)
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 60

V = R 1 I + R2 I 2 (9.13)

e
Vx = R2 I 2 = RL I L . (9.14)

Além disso, temos que


R1 = RT − R2 = RT − xRT (9.15)

e, substituindo as Equações (9.11), (9.12) e (9.15) na Equação (9.13) temos que

V = (RT − xRT ) (I2 + IL ) + xRT I2 = RT I2 + RT IL − xRT IL . (9.16)

Das Equações (9.14) e (9.11) podemos escrever que

Vx Vx
I2 = = . (9.17)
R2 xRT

Substituindo a Equação (9.17) em (9.16) e resolvendo para Vx encontramos

Vx = (V − RT IL ) x + RT IL x2 , (9.18)

isto é, finalmente chegamos numa expressão de Vx em função de x e IL .


Analisando a Equação 9.18, vemos que a tensão Vx é a soma de duas funções: uma linear
((V − RT IL ) x) cujo gráfico é uma reta e uma quadrática (RT IL x2 ) cujo gráfico é um arco e parábola.
A partir dessa observação, podemos analisar com facilidade o comportamento de Vx em função da
variação da corrente de carga IL (lembre-se que esse é um fato importante, conforme mencionado
no exemplo do rádio alimentado através do divisor de tensão).
Façamos um estudo teórico da Equação (9.18), considerando três situações diferentes:
1) Caso IL = 0:
Neste caso, a corrente solicitada pelo dispositivo é nula e a Equação (9.18) se torna

Vx = xV . (9.19)

Pela Figura 9.2(b) essa situação é obtida abrindo-se o circuito de alimentação da carga através
da chave K. Tem-se então a situação descrita inicialmente no qual estudamos o divisor de tensão
sem carga. O comportamento é linear, como mostra a Figura 9.3.
V
2) Caso IL < :
RT
Neste caso, o coeficiente linear da parcela linear da Equação (9.18) é positivo, isto é, V − RT IL >
0 e o termo linear que se soma ao quadrático é crescente, como mostrado na Figura 9.4(a).
V
3) Caso IL > :
RT
Neste caso, V − RT IL < 0 e o termo linear da Equação (9.18) é decrescente a partir de zero,
como mostra a Figura 9.4(b). É importante observar na Figura 9.4(b) que a região compreendida
entre a origem e o ponto A não tem significado físico, pois corresponde a uma tensão negativa
que não pode ocorrer nesta situação prática. Em vários outros caso dentro da Engenharia são
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 61

Vx  xV
Vx

0 x 1

Figura 9.3: Tensão de saída do divisor de tensão caso IL = 0.

utilizadas tensões negativas em relação a uma determinada referência como, por exemplo, em
fontes simétricas para alimentar amplificadores operacionais. Por outro lado, nesta situação
envolvendo um divisor de tensão resistivo, não há sentido uma tensão negativa.

V V
(a) Vx (b)

RT I L x2 Vx

Vx Vx
V  RT I L  x
A

RT I L x2 V  RT I L  x
0 x 1 0 x 1
V V
Figura 9.4: Tensão de saída do divisor de tensão caso: (a) Caso IL < e (b) Caso IL > .
RT RT
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 62

9.2 Procedimento Experimental 1


(a) Monte o circuito mostrado na Figura 9.5 ajustando a fonte para V = 12V . Anote abaixo o
valor da resistência total do potenciômetro entre os pontos A e C.

RT = R1+R2

R1
K
IL
B
12V RT  1k  + mA

+
R2
V RL  10k 
I2 C

Figura 9.5: Referente ao item (a).

Observação: Utilize um potenciômetro de 10kΩ como carga para que RL possa ser variada ao
longo da experiência, variando assim a corrente de carga IL . Faremos o estudo experimental
das três situação abordadas na teoria.
1a Situação IL = 0:

(b) A corrente de carga é nula quando a resistência de carga é infinita, o que equivale a manter o
circuito aberto. Mantenha então a chave K aberta para obter-se IL = 0 e varie x desde 0 (0%)
até 1 (100%) anotando, em cada caso, o valor de Vx lido no voltímetro, preenchendo a Tabela
da Figura 9.6.

x R2 = xRT (Ω) Vx (V)


1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0

Figura 9.6: Referente ao item (b).


Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 63

V
2a Situação IL < :
RT
V
(c) Considerando os valores de V e RT , calcule I = e anote Tabela da Figura 9.7.
RT

V
I
RT

Figura 9.7: Referente ao item (c).

(d) Feche a chave K para colocar RL no circuito e ajuste seu valor para que a corrente IL seja
V V
menor que I = . Adote um valor próximo de 30% de . Anote na Tabela da Figura 9.8
RT RT

I L  0,3I

Figura 9.8: Referente ao item (d).

(e) Varie x de 1 a 0 sempre ajustando a resistência de carga RL para que a corrente IL na carga
seja o valor anotado no item anterior. Anote Vx na Tabela da Figura 9.9.

x R2 = xRT (Ω) Vx (V)


1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0

Figura 9.9: Referente ao item (e).

V
3a Situação IL > :
RT
V
(e) No item (c) obtivemos o valor de I = . Devemos agora fazer com que IL seja maior que
RT
esse valor. Com a chave K fechada, ajuste RL para que a corrente na carga seja 30% maior
que I e preencha a Tabela da Figura 9.10.

(f) Varie então x de 1 a 0 sempre ajustando a resistência de carga RL para que a corrente IL na
carga seja o valor anotado no item anterior. Anote os valores de Vx na Tabela da Figura 9.11.
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 64

I L  1,3I

Figura 9.10: Referente ao item (e).

x R2 = xRT (Ω) Vx (V)


1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0

Figura 9.11: Referente ao item (f).

9.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos nas Tabelas dos itens (b), (e) e (f), utilizando papel milimetrado ou
software, construa os gráficos de Vx = f (x) para cada caso.

2. Projete o divisor de tensão mostrado na Figura 9.12, de forma que V1 = 4V2 .

4mA

V1 R1
20V

R2 V2

Figura 9.12: Referente exercício 2.

3. Projete um circuito divisor de tensão que permita o uso de uma lâmpada de 8V e 50mA em
um sistema automotivo alimentado com 12V. Qual a especificação de potência mínima do
resistor calculado se os valores disponíveis são 1/4W, 1/2W e 1W? Dica: Utilize a Equação
(9.10).
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 65

9.4 Procedimento Experimental 2


(a) Monte o circuito mostrado na Figura 9.13 e anote os valores de tensão na tabela ao lado.

Medido (V) Calculado (V)


R1=1kΩ VR1 VR2 VR1 VR2

10V

R2=2,2kΩ

Figura 9.13: Referente ao item (a).

(b) Monte o circuito mostrado na Figura 9.14 e anote os valores de VBC mínimo e máximo na
tabela ao lado.

Medido (V) Calculado (V)


R1=1kΩ VBCmin VBCmax VBCmin VBCmax

10V
RP=1kΩ B

Figura 9.14: Referente ao item (b).

(c) Monte o circuito mostrado na Figura 9.15 e anote os valores de tensão e corrente na carga
na tabela ao lado.

100Ω VRL IRL PRL

20V

330Ω 12V/1W

Figura 9.15: Referente ao item (c).

9.5 Exercícios
1. No item (a), calcule os valores de V R1 e V R2 e termine de preencher a tabela.
Capítulo 9. Experiência 9: Estudo dos Divisores de Tensão 66

2. No item (b), calcule os valores de VBCmin e VBCmax e termine de preencher a tabela.

3. No item (c), calcule o valor da potência da lâmpada (PRL ) com os valores obtidos para a tensão
(VRL ) e corrente (IRL ).

4. Determine a leitura do voltímetro para o circuito mostrado na Figura 9.16(a) com a chave K:
(i) aberta e (ii) fechada.

(a) (b)
330Ω
2,2kΩ
A
K B
20V 14V 220Ω

+ C +
V 3,3kΩ 1,8kΩ V
150Ω

Figura 9.16: (a) Referente ao Exercício 4; (b) Referente ao Exercício 5.

5. Determine a leitura do voltímetro do circuito da Figura 9.16(b) estando o potenciômetro com


o cursor ajustado: (i) na extremidade C, (ii) na extremidade A e (iii) na posição central.
C APÍTULO 10

Experiência 10: A Ponte de


Wheatstone

Objetivos: Material Utilizado:

• Estudar experimentalmente a Ponte de • Resistores de 100Ω, 150Ω, 220Ω, 330Ω e


Wheatstone. 470Ω.

• Potenciômetro linear de 1kΩ.


• Utilizar a ponte para medir a resistência
de um resistor desconhecido. • Protoboard.

• Multímetro digital.
• Compreender a importância do circuito
em aplicações de instrumentação. • Fonte variável de tensão contínua.

10.1 Introdução Teórica


A ponte de Wheatstone é um circuito elétrico (Figura 10.1) que permite a medição do valor de
uma resistência elétrica desconhecida. Foi desenvolvida pelo britânico Samuel Hunter Christie
(1784-1865) em 1833, porém foi outro britãnico, Charles Wheatstone (1802-1875), quem ficou
famoso com a montagem, tendo-a descrita dez anos mais tarde. A ponte pode estar em equilíbrio
ou não: a ponte é considerada equilibrada quando os resistores estão ajustados de maneira
que o detector de corrente (amperímetro, voltímetro) está aferindo uma corrente igual a zero.
Desta maneira, é possível descobrir a resistência desconhecida de um resistor através do produto
e quociente das resistências conhecidas, tudo o que é necessário é saber o valor de outros 3
resistores para que se descubra a resistência desconhecida.
Partindo para o equacionamento do circuito, vejamos qual é a condição para que a corrente Ix
seja nula. Num primeiro olhar, vemos que

V V
I1 = e I2 = , (10.1)
R 1 + R2 R3 + R 4

tal que,
R2 R3
V2 = R2 I 1 = V e V3 = R3 I 2 = V. (10.2)
R1 + R 2 R3 + R 4

67
Capítulo 10. Experiência 10: A Ponte de Wheatstone 68

I2 I1
R4 R1
Ix
V + V

R3 V3 V2 R2

Figura 10.1: Ponte de Wheatsthone.

Para que tenhamos equilíbrio, isto é, para que Ix = 0, devemos ter que V2 = V3 , ou seja,

R2 R3
V = V (10.3)
R1 + R2 R 3 + R4

que leva à condição


R1 R 3 = R2 R4 . (10.4)

Com isso, supondo que conhecemos os resistores R2 , R3 e R4 , podemos determinar a resistência


R1 por,
R2 R4
R1 = (10.5)
R3
isso nos permite utilizar a ponte de Wheatstone para determinar com precisão o valor da resistência
de um resistor desconhecido.
Nesta experiência utilizaremos a ponte de Wheatstone em uma situação simples que envolve a
determinação de um resistência desconhecida. Contudo, este circuito é de suma importância em
Instrumentação Industrial para medir, por exemplo, deformações mecânicas utilizando extensô-
metros de resistência elétrica. Dessa forma, em disciplinas posteriores esse circuito deve aparecer
novamente e ser utilizado na medição de várias variáveis.
Capítulo 10. Experiência 10: A Ponte de Wheatstone 69

10.2 Procedimento Experimental


(a) Para os cinco resistores disponíveis, preencha a Tabela da Figura 10.2 com os valores
nominais e os medidos com o multímetro digital, em qualquer ordem.

Resistor Valor Nominal (Ω) Valor Medido (Ω) Erro (%)


R1

R2

R3

R4

R5

Figura 10.2: Referente ao item (a).

(b) Monte o circuito mostrado na Figura 10.3 (Ponte de Wheatstone).

100Ω Rx

5V + mV

150Ω 1kΩ

Figura 10.3: Referente ao item (b).

(c) Coloque no lugar de Rx os outros três resistores disponíveis, ajuste o valor do potenciômetro
de forma a obter tensão nula no voltímetro e preencha a Tabela da Figura 10.4.

Tensão Valor Potenciômetro Valor de Rx Valor de Rx


Rx Erro (%)
Voltímetro (V) Medido (Ω) Calculado (Ω) Medido (Ω)
RA

RB

RC

Figura 10.4: Referente ao item (c).


Capítulo 10. Experiência 10: A Ponte de Wheatstone 70

10.3 Exercícios
1. Calcule o valor de Rx na Tabela do item (c), notando que

100R2
Rx = ,
150

notando que R2 é o valor da resistência do potenciômetro que faz com que a tensão no
voltímetro seja nula. Em seguida calcule o erro percentual entre os valores de Rx medido
pela ponte de Wheatstone e pelo multímetro digital.

2. Para detectar se a ponte de Wheatstone está em equilíbrio, podemos medir a tensão ou a


corrente no ramo central. Caso optemos por medir a corrente, é melhor utilizarmos um
miliamperímetro ou um microamperímetro? Justifique.

3. Calcule o valor de Rx no circuito mostrado na Figura 10.5(a), sabendo que a ponte está no
equilíbrio e o cursor do potenciômetro está no ponto médio.

(a) 150Ω C (b)


I1
20Ω 100Ω 750Ω V1 1,5kΩ

V + µA 10V A + µA B

10Ω Rx Rx 300Ω

Figura 10.5: (a) Referente ao exercício 3; (b) Referente ao exercício 4.

4. Estando a ponte do circuito da Figura 10.5(b) em equilíbrio, determine Rx , VAB , VDC , V1 e I1 .


C APÍTULO 11

Experiência 11: Estudo do


Capacitor em Corrente Contínua

Objetivos: Material Utilizado:

• Compreender o funcionamento básico do • Resistor de 100kΩ.


capacitor em CC.
• Capacitor eletrolítico de 220µF/25V.
• Entender o processo de carga de um ca-
• Protoboard.
pacitor.
• Multímetro digital.
• Compreender a descarga de um capacitor.
• Fonte variável de tensão contínua.
• Entender a associação de capacitores em
série e paralelo. • Cronômetro.

11.1 Introdução Teórica


Os capacitores são bipolos compostos por duas superfícies condutoras separadas por um ma-
terial isolante (dielétrico), cuja simbologia em circuitos elétricos é mostrada na Figura 11.1. Os
capacitores podem ser fixos ou variáveis. Além disso, podem ser polarizados (eletrolíticos) ou
despolarizados.

C C C

(a) (b) (c)

Figura 11.1: Símbolo dos capacitores: (a) Fixo despolarizado; (b) Fixo polarizado (eletrolítico); (c)
Variável.

Quando um capacitor é submetido a uma tensão V , aparece uma corrente elétrica que persiste
até que a diferença de potencial entre as placas seja igual ao potencial aplicado. Com isso, certa
quantidade de cargas elétricas negativas (−Q) é armazenada em uma das superfícies condutoras e

71
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 72

para atender ao equilíbrio eletrostático, a outra superfície fica carregada positivamente com +Q,
como mostra a Figura 11.2. Dessa forma, dizemos que o capacitor armazena carga elétrica.

Q
V Dielétrico

Q

Figura 11.2: Funcionamento do capacitor em Corrente Contínua.

A experiência mostra que a quantidade de carga armazenada em uma das placas do capacitor
é diretamente proporcional à tensão aplicada, isto é,

Q∝V, (11.1)

sendo a constante de proporcionalidade chamada de capacitância (C), medida em farad (F), em


homenagem ao físico britânico Michael Faraday (1791-1867). Sendo assim, para o capacitor vale,

Q = CV . (11.2)

Se a tensão no capacitor não variar, isto é, se for contínua, haverá corrente elétrica somente
até o capacitor carregar. Após isso, não haverá corrente elétrica e o capacitor se comportará como
um circuito aberto. Por outro lado, se a tensão nos terminais do capacitor variar, haverá variação
da carga acumulada nas superfícies condutoras, ou seja,

q(t) = Cv(t) (11.3)

e, nesse caso, surgirá uma corrente elétrica permanente. De fato, derivando a Equação (11.3)
temos que
dq dv
=C (11.4)
dt dt
e como,
dq
i (t) = (11.5)
dt
temos que,
dv
i (t) = C , (11.6)
dt
cuja relação inversa é
1
Z
v (t) = i (t) dt, (11.7)
C
cujos limites de integração dependem da situação prática estudada. Perceba que, devido à
integral, a Equação (11.7) mostra que a tensão no capacitor depende do histórico da corrente.
Dizemos nesse caso, que o capacitor é um componente que tem memória (no sentido de armazenar
informação), uma propriedade muitas vezes explorada em circuitos eletroeletrônicos.
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 73

Os capacitores armazenam energia no campo elétrico existente entre suas placas. Para
verificarmos isso, lembremos que a potência é a taxa de variação de energia, isto é,

dw
p (t) = (11.8)
dt

ou Z Z
w (t) = p (t) dt = v (t) i (t) dt. (11.9)

Substituindo a Eq. (11.6) em (11.9), temos que


 
dv 1 2
Z Z
w (t) = v (t) C dt = C v (t) dv = Cv (t) , (11.10)
dt 2

em joules (J). Notemos que, em corrente contínua, a energia é calculada por

1
W = CV 2 . (11.11)
2

Essa energia pode ser recuperada, visto que um capacitor ideal não pode dissipar energia. De
fato, a palavra capacitor deriva da capacidade desse bipolo de armazenar energia em um campo
elétrico.

11.1.1 Carga e Descarga do Capacitor


Ao aplicar a um capacitor uma tensão contínua por meio de um resistor ele se carrega com uma
carga elétrica cujo valor depende do intervalo de tempo em que se desenvolverá o processo. Na
Figura 11.3(a) é apresentado o circuito de carga do capacitor.

i t 
A S (a)
B
i t  (b) vC  t  (c)

vR  t 
V
R V
R
V
C vC  t 

0 4 t 0 4 t

Figura 11.3: (a) Circuito de carga do capacitor; (b) Corrente i(t) no circuito; (c) Tensão vC (t) no
capacitor.

Estando o capacitor inicialmente descarregado, em t = 0 fechamos a chave S do circuito para a


posição A. A partir desse instante, ao aplicarmos a lei de Kirchhoff das tensões na malha podemos
escrever que
1
Z
Ri (t) + i (t) dt = V . (11.12)
C
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 74

Para resolver essa equação, o primeiro passo é derivá-la para eliminar a integral, isto é,

di 1
R + i=0 (11.13)
dt C

ou
di
RC + dt = 0. (11.14)
i
Integrando a Equação (11.14) temos que

RC ln |i| + t = k1 , (11.15)

onde k1 representa as constantes de integração. Isolando i na expressão anterior chegamos a

i (t) = e(k1 −t)/RC = ek1 /RC e−t/RC = ke−t/RC , (11.16)

tal que a constante k = ek1 /RC depende de alguma condição inicial. Analisando o circuito e com
base no que foi discutido, no instante em que a chave é fechada, a corrente é máxima, isto é,

V
i (0) = (11.17)
R

V
e isso nos leva que k = e, consequentemente,
R

V −t/RC
i (t) = e . (11.18)
R

cujo gráfico é mostrado na Figura 11.3(b). Além disso, a tensão no capacitor vC (t) pode ser obtida
por  
vC (t) = V − vR (t) = V − Ri (t) = V − V e−t/RC = V 1 − e−t/RC , (11.19)

cujo gráfico é mostrado na Figura 11.3(c).


Definimos a constante de tempo do circuito como τ = RC. É fácil verificar que a unidade de τ
realmente é o segundo. De fato,

V C C C
[RC] = [R] [C] = = = = s. (11.20)
AV A C
s

Convencionamos que o capacitor carrega quando decorre quatro constantes de tempo. Sendo
assim, definimos o tempo de acomodação do circuito Ts como

Ts = 4τ . (11.21)

Note que, decorrido Ts , a tensão no capacitor será vC (Ts ) = V 1 − e−4 = 0, 98V , isto é, 98%


do valor final V . Dizemos que para t > Ts o capacitor está em regime estacionário, ao passo que
para t < Ts ele se encontra no chamado regime transitório. Alguns autores definem o tempo de
acomodação como 5τ , tal que, vC (5τ ) = V 1 − e−5 = 0, 99V .

Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 75

Estando o capacitor carregado com uma carga Q0 , automaticamente ele possuirá uma diferença
de potencial entre seus terminais. Nessa situação, caso mudemos a posição da chave S para a
posição B, após transcorrido o tempo de acomodação, isto é, após a carga do capacitor, ele entrará
em processo de descarga. Com isso, a diferença de potencial entre os terminais do capacitor irá
provocar o aparecimento de uma corrente sobre o resistor e dizemos que o capacitor se descarrega
sobre o resistor. Quanto maior o valor de R, mais tempo o capacitor leva para descarregar, visto
que a corrente elétrica será menor.
Analisando a Figura 11.3(a) no processo de descarga, isto é, com a chave na posição B após
o processo de carga, isto é, após Ts na posição A, aparece uma corrente i(t), conforme mostra a
Figura 11.4(a). Aplicando o LKT sobre o circuito, temos que

1
Z
Ri (t) + i (t) dt = 0. (11.22)
C

i t  (a)
i t  (b) vC  t  (c)

vR  t 
V
R V
R

C vC  t 

0 4 t 0 4 t

Figura 11.4: (a) Descarga do capacitor; (b) Corrente i(t) no circuito; (c) Tensão vC (t) no capacitor.

Resolvendo essa equação de forma similar a resolvida no processo de carga, chegamos em

V −t/τ
i (t) = e (11.23)
R

e, consequentemente,
vC (t) = Ri (t) = V e−t/τ . (11.24)

Os gráficos de i(t) e vC (t) na situação de descarga são mostrados nas Figuras 11.4(b) e 11.4(c),
respectivamente.
Uma situação trivial para compreender a descarga de capacitores está nos vários carregadores
de baterias de celulares, notebooks, tablets, etc. Nesses carregadores há, em geral, um LED
indicador de funcionamento. Quando se termina de carregar o dispositivo e retiramos o carregador
da tomada, notamos que leva um tempo até que o LED se apague. Isso mostra que dentro do
carregador há capacitores que entram em processo de descarga ao ser removida a alimentação.

11.1.2 Associação de Capacitores


Assim como os resistores, os capacitores podem ser associados em série e paralelo como mostra a
Figura 11.5 para o caso de três capacitores.
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 76

v1  t  v2  t  v3  t  (a) i t  (b)
i t 
i1  t  i2  t  i3  t 
C1 C2 C3 v t  C1 C2 C3
v t 

Figura 11.5: Associação de três capacitores: (a) em série e (b) em paralelo.

Para a associação em série de três capacitores (Figura 11.5(a)), podemos escrever,


 Z
1 1 1 1 1 1
Z Z Z
v (t) = i (t) dt + i (t) dt + i (t) dt = + + i (t) dt =
C1 C2 C3 C1 C2 C3
(11.25)
1
Z
= i (t) dt
Ceq

tal que
1 1 1 1
= + + (11.26)
Ceq C1 C2 C3
e
1
Ceq = (11.27)
1 1 1
+ +
C1 C2 C3
lembrando que o capacitor equivalente é aquele que substitui a associação. Para N capacitores
em série, o cálculo da capacitância equivalente se torna

1
Ceq = N
. (11.28)
X 1
i=1
Ci

No caso de três capacitores em paralelo (Figura 11.5(b)), temos que

dv dv dv dv
i (t) = i1 (t) + i2 (t) + i3 (t) = C1 + C2 + C3 = (C1 + C2 + C3 ) =
dt dt dt dt
(11.29)
dv
= Ceq
dt

tal que,
Ceq = C1 + C2 + C3 . (11.30)

Generalizando, para N capacitores em paralelo, o cálculo da capacitância equivalente se torna

N
X
Ceq = Ci . (11.31)
i=1
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 77

11.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito mostrado na Figura 11.6. Note que a chave S deve ficar na posição B.

A
B S
100kΩ

12V
+
220µF/25V V

Figura 11.6: Referente ao item (a).

(b) Acione a chave S para a posição A e o cronômetro simultaneamente. Determine e anote o


instante em que cada tensão for atingida, conforme a tabela da Figura 11.7.

VC (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

t(s)

Figura 11.7: Referente ao item (b).

(c) Agora, com o capacitor carregado, altere novamente a chave S para a posição B e preencha o
quadro da Figura 11.8.

VC (V) 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

t(s)

Figura 11.8: Referente ao item (c).

11.3 Exercícios
1. Com os valores obtidos na experiência, construa os gráficos VC = f (t) para a carga (item (b))
e a descarga (item (c)) do capacitor.

2. Calcule o valor da constante de tempo τ do circuito da experiência (Figura 11.6).

3. Considerando ainda o circuito da experiência, verifique no gráfico qual é a tensão nos


terminais do capacitor quando decorridos 5s num processo de carga. Compare-o com o valor
encontrado teoricamente.
Capítulo 11. Experiência 11: Estudo do Capacitor em Corrente Contínua 78

4. Considerando novamente o circuito da experiência, determine o valor da corrente no processo


de carga, no instante t = 3s após o fechamento da chave S para A.

5. Calcule o intervalo de tempo necessário para que o capacitor do circuito mostrado na Figura
11.9(a) se carregue com uma tensão igual a 8V, após acionada a chave S.

S (a) 1kΩ 1,5kΩ (b)

I S
10kΩ

10V 6V 1kΩ
470µF 330µF

Figura 11.9: (a) Referente ao exercício 5; (b) Referente ao exercício 6.

6. Calcule o valor da corrente I indicada no circuito da Figura 11.9(b), após decorridos 40s do
acionamento da chave S.

7. Calcule a capacitância equivalente entre os pontos A e B dos circuitos mostrados na Figura


11.10.

3µF 6µF 60pF


A
0,2µF
A B 20pF 10pF 30pF
7µF
B

Figura 11.10: Referente ao exercício 7.


C APÍTULO 12

Experiência 12: Estudo do Indutor


em Corrente Contínua

Objetivos: Material Utilizado:

• Compreender o funcionamento básico do • Resistores de 470Ω, 1kΩ e 2,2kΩ.


indutor em CC.
• Indutor de 10mH.
• Entender o processo de carga de um indu-
• Protoboard.
tor.
• Protoboard.
• Compreender a descarga de um indutor.
• Gerador de sinais.
• Entender a associação de indutores em
série e paralelo. • Osciloscópio.

12.1 Introdução Teórica


No entorno de um condutor percorrido por uma corrente elétrica i(t), um campo magnético é
criado. Se esse condutor é enrolado em forma de uma bobina de N espiras, esse campo é reforçado.
Os campos magnéticos são representados por linhas e o número de linhas por unidade de área é
denominado fluxo magnético φ(t). O fluxo magnético é diretamente proporcional a corrente e, no
caso de N espiras, o fluxo total é
N φ (t) = Li (t) , (12.1)

onde L é a constante de proporcionalidade chamada indutância, cuja unidade no SI é o henry


(H), em homenagem ao físico Joseph Henry (1797-1878). Os indutores são elementos que se
caracterizam por apresentarem indutância. Há dois tipos principais de indutores: os solenoides
(Figura 12.1(a)) e os toroides (Figura 12.1(b)). Nos toroides as linhas de campo e consequentemente
o fluxo magnético fica concatenado no núcleo, ao passo que nos solenoides as linhas de campo
apresentam um vazamento maior, visto que pelas propriedades magnéticas precisam ser fechadas.

Na Figura 12.2 é mostrado o símbolo do indutor.


Em meados do século XIX, Michael Faraday demonstrou a interação existente entre variações
do campo magnético e a geração de tensão. Segundo a lei da indução de Faraday, se o fluxo
magnético total em uma bobina varia com o tempo, entre seus terminais será induzida uma tensão

79
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 80

(a) (b)

Figura 12.1: Tipos de indutores básicos: (a) solenoides e (b) toroides. Em pontilhado temos as
linhas de campo magnético.

Figura 12.2: Símbolo dos indutores.

(v(t)) proporcional à taxa de variação do fluxo magnético, isto é,


v (t) = N . (12.2)
dt

Conjugando as Equações (12.1) e (12.2), chegamos que

di
v (t) = L (12.3)
dt

cuja equação inversa é


1
Z
i (t) = i (t) dt. (12.4)
L
É interessante observar que, de acordo com a Equação (12.3), só há tensão induzida nos
terminais de um indutor se a corrente que o percorre variar com o tempo. Se o condutor for
percorrido por corrente contínua, sua tensão será nula após um transitório. Nesse sentido,
dizemos que os indutores se comportam como um curto circuito em corrente contínua. Os
indutores armazenam energia pelo campo magnético. De fato, temos que
Z  
di 1 2
Z Z Z
w (t) = p (t) dt = v (t) i (t) dt = L i (t) dt = L idi = Li (t) , (12.5)
dt 2

em joules (J).
Em CC,
1 2
W = LI . (12.6)
2

12.1.1 Carga e Descarga do Indutor


De forma similar ao estudado com o capacitor, ao aplicar, por meio de um resistor, uma tensão
contínua sobre um indutor, ele armazena energia magnética, conforme discutido na seção anterior.
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 81

A esse processo de armazenamento de energia damos o nome de carga. Na Figura 12.3(a) é


apresentado o circuito de carga do indutor.

i t 
A S (a)
B
i t  (b) vL  t  (c)
V
R vR  t  V
R
V
L vL  t 

0 4 t 0 4 t

Figura 12.3: (a) Circuito de carga do indutor; (b) Corrente i(t) no circuito; (c) Tensão vL (t) no
indutor.

De acordo com a Figura 12.3(a), estando o indutor inicialmente descarregado, em t = 0 fechamos


a chave S do circuito para a posição A. A partir desse instante, uma corrente i(t) passa a circular
pelo circuito e, ao aplicarmos a lei de Kirchhoff das tensões na malha temos que

vL (t) + vR (t) = V (12.7)

ou
di
L + Ri = V . (12.8)
dt
Resolvendo essa equação de forma similar ao que foi feito para o capacitor na experiência
anterior, chegamos a
V  
i (t) = 1 − e−t/τ , (12.9)
R
sendo
L
τ= (12.10)
R
a constante de tempo do circuito. O gráfico de i(t) é mostrado na Figura 12.3(b). Passadas quatro
constantes de tempo é encerrado o regime transitório e o circuito entra em regime estacionário,
isto é, o tempo de acomodação do circuito, assim como no caso do capacitor é Ts = 4τ . Note que
após o transitório, a corrente do circuito para a ser V /R, isto é, o indutor passa a funcionar como
um curto circuito.
A tensão vL (t) no indutor pode ser calculada por

vL (t) = V − vR (t) = V − Ri (t) = V e−t/τ , (12.11)

cujo gráfico é mostrado na Figura 12.3(c).


Estando o indutor energizado, isto é, com energia magnética armazenada, podemos estudar o
processo de desenergização, que chamamos de descarga. Nessa situação, caso mudemos a posição
da chave S para a posição B, após transcorrido o tempo de acomodação, isto é, após a carga do
indutor, ele entrará em processo de descarga. Com isso, a energia armazenada fará aparecer
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 82

uma diferença de potencial entre os terminais do indutor e irá provocar o aparecimento de uma
corrente sobre o resistor e dizemos que o indutor se descarrega sobre o resistor. Quanto maior o
valor de R, mais tempo o indutor leva para descarregar, visto que a corrente elétrica será menor.
Analisando a Figura 12.3(a) no processo de descarga, isto é, com a chave na posição B após
o processo de carga, isto é, após Ts na posição A, aparece uma corrente i(t), conforme mostra a
Figura 12.4(a). Aplicando o LKT sobre o circuito, temos que

di
Ri + L = 0. (12.12)
dt

i t  (a)
i t  (b) vL  t  (c)

vR  t 
V
R V
R

L vL  t 
0 4 t 0 4 t
Figura 12.4: (a) Descarga do indutor; (b) Corrente i(t) no circuito; (c) Tensão vL (t) no indutor.

Resolvendo essa equação, chegamos a

V −t/τ
i (t) = e (12.13)
R

e, consequentemente,
vL (t) = Ri (t) = V e−t/τ . (12.14)

Os gráficos de i(t) e vL (t) na situação de descarga são mostrados nas Figuras 12.4(b) e 12.4(c),
respectivamente.
No fundo, indutores e capacitores possuem um processo de carga e descarga em corrente
contínua muito similares, alterando somente a fonte de onde vem a energia. Nos capacitores a
fonte de energia é elétrica e nos indutores é magnética. Além disso, eles possuem comportamentos
distintos quando em regime estacionário, isto é, após Ts = 4τ segundos. Em regime estacionário, os
capacitores se comportam como circuitos abertos, ao passo que os indutores como curto circuitos.

12.1.2 Associação de Indutores


Assim como os resistores e os capacitores, os indutores podem ser associados em série e paralelo
como mostra a Figura 12.5 para o caso de três indutores.
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 83

v1  t  v2  t  v3  t  (a) i t  (b)
i t 
i1  t  i2  t  i3  t 
v t 
L1 L2 L3
L1 L2 L3

v t 

Figura 12.5: Associação de três indutores: (a) em série e (b) em paralelo.

Para a associação em série de três indutores (Figura 12.5(a)), podemos escrever,

di di di di
v (t) = v1 (t) + v2 (t) + v3 (t) = L1 + L2 + L3 = (L1 + L2 + L3 )
dt dt dt dt
(12.15)
di
= Leq
dt

tal que
Leq = L1 + L2 + L3 . (12.16)

Note que, para N indutores em série, o cálculo da indutância equivalente se torna

N
X
Leq = Li , (12.17)
i=1

lembrando que o indutor equivalente é aquele que substitui a associação como um todo.
No caso de três indutores em paralelo (Figura 12.5(b)), temos que

1 1 1
Z Z Z
i (t) = i1 (t) + i2 (t) + i3 (t) = i (t) dt + i (t) dt + i (t) dt =
L1 L2 L3
  (12.18)
1 1 1 1
Z
R
= + + i (t) dt = i (t) dt
L1 L2 L3 Leq

tal que,
1 1 1 1
= + + (12.19)
Leq L1 L2 L3
e
1
Leq = . (12.20)
1 1 1
+ +
L1 L2 L3
Generalizando, para N indutores em paralelo, o cálculo da indutância equivalente se torna

1
Leq = N
. (12.21)
X 1
i=1
Li
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 84

12.2 Procedimento Experimental


(a) Monte o circuito mostrado na Figura 12.6. Ajuste o gerador de funções para uma onda
quadrada com 5V de pico a pico e frequência de 10kHz.

470Ω

5Vpp
10mH
10kHz

Figura 12.6: Referente ao item (a).

(b) Com a ajuda do osciloscópio, meça e construa um esboço cotado das formas de onda da
tensão no indutor e no resistor. Anote também os valores de pico a pico das tensões nos
componentes, conforme a tabela mostrada na Figura 12.7.

Forma de Onda Vpp Medido (V)

Figura 12.7: Referente ao item (b).

(c) Substitua o resistor de 470Ω por um de 1kΩ e preencha do quadro da Figura 12.8.

Forma de Onda Vpp Medido (V)

Figura 12.8: Referente ao item (c).

(d) Substitua o resistor de 1kΩ por um de 2,2kΩ e preencha do quadro da Figura 12.9.
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 85

Forma de Onda Vpp Medido (V)

Figura 12.9: Referente ao item (d).

12.3 Exercícios
1. Para os circuitos dos itens (b), (c) e (d), calcule as constantes de tempo e os respectivos
tempos de acomodação.

2. Explique as diferenças entre as formas de onda de tensão no indutor, nos três casos
experimentais estudados.

3. Podemos medir um indutor com um ohmímetro? O que obtemos?

4. Determine a constante de tempo do circuito da Figura 12.10(a).

180Ω (a) 33Ω (b)


A S
B
330Ω
10Ω
12V 360Ω 15V R2 10Ω
10mH
10H

Figura 12.10: (a) Referente ao Exercício 5; (b) Referente ao Exercício 6.

5. No circuito da Figura 12.10(b), a chave S permanece na posição A durante 5s. Calcule a


tensão no resistor R2 , 1s após a passagem da chave S para a posição B.
Capítulo 12. Experiência 12: Estudo do Indutor em Corrente Contínua 86

6. Calcule a indutância equivalente entre A e B nos circuitos mostrados na Figura 12.11.

4H 6H
A
6H
6H
3H 6H 6H

2H
B A B

Figura 12.11: Referente ao Exercício 4.

7. Na experiência anterior, quando foram estudadas a carga e descarga de capacitores, utilizou-


se simplesmente um cronômetro para levantar o transitório, ao invés de um osciloscópio
como nesta experiência. Nesse sentido, poderíamos utilizar um cronômetro também nesta
experiência? Haveria alguma limitação física e prática? Justifique.
Referências Bibliográficas

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