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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

KASSIANO BANDEIRA CERETTA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS


SUPERIORES BRASILEIROS: UMA ANÁLISE A PARTIR DA SELETIVIDADE DO
SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO

Ijuí (RS)
2017
KASSIANO BANDEIRA CERETTA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS


SUPERIORES BRASILEIROS: UMA ANÁLISE A PARTIR DA SELETIVIDADE DO
SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão do Curso de


Graduação em Direito objetivando a
aprovação no componente curricular
Trabalho de Curso - TC.
UNIJUÍ - Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul.
DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientador: Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth

Ijuí (RS)
2017
Dedico este trabalho acima de tudo à
minha família, pelo incentivo, apoio, amor
e confiança em mim depositados durante
toda a minha jornada. E que mesmo não
estando mais presentes em corpo sempre
estarão em espírito pois nunca serão
esquecidos.
AGRADECIMENTOS

À minha amada mãe Ilenir Ana Bandeira Ceretta por todo o tempo, dedicação,
confiança e amor em mim depositados. Seus conselhos e ensinamentos serão
eternos, assim como a saudade e meu amor por você. Continue me olhando e
espero que se orgulhando, te amo.

Ao meu amado pai Dante Von Muhlen Ceretta por toda confiança,
determinação, carinho e amor em mim depositados. Sua felicidade e carisma serão
eternos assim como meu amor por você. Espero que esteja me olhando e torcendo
por mim a cada conquista, te amo.

À minha amada noiva Dieinifer Larisa Robeck, por seu companheirismo,


confiança e amor, a quem sempre vou ser grato pela companhia, conselhos e força
no pior momento de minha vida. São esses momentos que fazem a diferença na
vida de uma pessoa, onde ela realmente revela seu caráter, te amo.

A toda minha família, Bandeira, Ceretta e Robeck pela imensurável ajuda e


amor, e a quem sempre amarei.

Ao meu orientador Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, com quem eu tive o


privilégio de aprender e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando
pelos caminhos do conhecimento.
“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia
encontrares o Direito em conflito com a Justiça,
luta pela Justiça. ”
Eduardo Juan Couture
RESUMO

O presente trabalho aborda a aplicação do princípio da insignificância no


Direito Penal, a partir das decisões dos Tribunais Superiores brasileiros. A pesquisa
parte do seguinte problema: Em que medida a jurisprudência dos Tribunais
Superiores brasileiros permite evidenciar, a partir da aplicação do princípio da
insignificância na esfera penal, a seletividade punitiva, considerando que o princípio
não é aplicado aos casos que envolvem pequenos delitos patrimoniais - praticados
por pessoas pauperizadas e socialmente desfavorecidas - mas é aplicado para
beneficiar pessoas que pertencem a outras classes econômicas, principalmente nos
chamados “delitos fiscais”?. Nesse sentido, o trabalho procura evidenciar que, na
falta de parâmetros precisos para aplicação do referido princípio, ratifica-se a
seletividade do sistema punitivo brasileiro, quando se compara a incidência do
princípio nos julgados que envolvem pequenos delitos patrimoniais – praticados por
pessoas pobres – e nos delitos fiscais – praticados por pessoas pertencentes aos
estratos privilegiados da sociedade.

Palavras-Chave: Princípio da insignificância. Direito Penal. Jurisprudência.


Seletividade.
ABSTRACT

This paper deals with the application of the principle of insignificance in


Criminal Law, based on the decisions of the Brazilian Superior Courts. The research
part of the following problem: to what extent the law of superior courts in Brazil
makes it plain, from the application of the principle of insignificance in Criminal, the
selectivity punitive damages, whereas the principle is not applied to cases involving
petty crimes to property - practiced by people pauperizadas and socially
disadvantaged - but is applied to benefit people who belong to other classes,
especially in the so-called "tax offenses"?. In this sense, the work seeks
to demonstrate that, in the absence of precise parameters for application of that
principle, ratifies the selectivity of the punitive system in Brazil, when comparing the
incidence of principle in the trial involving petty crimes to property - practiced by poor
people - and in Tax offenses - committed by persons belonging to strata privileged
sectors of society.

Keywords: Principle of insignificance. Criminal law. Case law. Selectivity.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................8

1 O DIREITO PENAL COMO ULTIMA RATIO NA PROTEÇÃO DE BENS


JURÍDICOS E A CONSOLIDAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
PENAL.......................................................................................................................11
1.1 O Direito Penal como ultima ratio na proteção de bens jurídicos.................12
1.2 O princípio da intervenção mínima aplicado ao Direito Penal.......................16
1.3 O princípio da insignificância no Direito Penal: conceito e desenvolvimento
doutrinário.................................................................................................................19

2 A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS JULGAMENTOS


DOS TRIBUNAIS SUPERIORES BRASILEIROS E A CONSOLIDAÇÃO DA
SELETIVIDADE PUNITIVA........................................................................................25
2.1 A verificação da seletividade punitiva a partir da aplicação do princípio da
insignificância aos crimes fiscais e patrimoniais.................................................25
2.2 Os critérios adotados pela jurisprudência dos Tribunais Superiores
brasileiros para a aplicação do princípio da insignificância nos delitos
fiscais........................................................................................................................32
2.3 Os critérios adotados pela jurisprudência dos Tribunais Superiores
brasileiros para a aplicação do princípio da insignificância nos delitos
patrimoniais..............................................................................................................40

CONCLUSÃO............................................................................................................59

REFERÊNCIAS..........................................................................................................61
8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da aplicação do princípio da


insignificância frente aos delitos fiscais/descaminho e aos pequenos delitos
patrimoniais presentes na jurisprudência dos Tribunais Superiores brasileiros,
fazendo uma análise de diversos julgados para tentar demonstrar a seletividade
presente no sistema punitivo brasileiro. Essa pesquisa se faz necessária face à
grande homogeneização dentro do sistema carcerário brasileiro, que em regra é
formado por homens jovens, negros, pobres, e que cometeram delitos patrimoniais.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e


por meio eletrônico, analisando principalmente diversos julgados do Supremo
Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, tribunais responsáveis por
analisar e julgar os casos mais emblemáticos envolvendo a aplicação do princípio da
insignificância. Na análise desses julgados será demonstrada a diferença de critérios
empregados pelos dois Tribunais Superiores frente aos casos de aplicação do
referido princípio.

O problema orientador da pesquisa reside na seguinte indagação: Em que


medida a jurisprudência dos Tribunais Superiores brasileiros permite evidenciar, a
partir da aplicação do princípio da insignificância na esfera penal, a seletividade
punitiva, considerando que o princípio não é aplicado aos casos que envolvem
pequenos delitos patrimoniais - praticados por pessoas pauperizadas e socialmente
desfavorecidas - mas é aplicado para beneficiar pessoas que pertencem a outras
classes econômicas, principalmente nos chamados “delitos fiscais”?

Como objetivo geral da pesquisa, buscou-se estudar os diferentes critérios


utilizados para a aplicação do princípio da insignificância aos delitos fiscais e
9

patrimoniais, a partir da análise de julgados dos Tribunais Superiores brasileiros,


buscando evidenciar a seletividade punitiva que permeia essas decisões.

No que diz respeito aos objetivos específicos, foram apontados os seguintes:


a) analisar o princípio da insignificância no Direito Penal (conceito, origem,
desenvolvimento e apropriação pela doutrina e jurisprudências brasileiras);

b) comparar – a partir de julgados dos Tribunais Superiores brasileiros – os


argumentos que são utilizados para a aplicação do princípio da insignificância penal
nos “delitos fiscais” com os que rejeitam a sua incidência nos casos de pequenos
crimes patrimoniais;

c) evidenciar, a partir da análise dos julgados sobre a aplicação do princípio


da insignificância, traços de um modelo de Direito Penal seletivo, apontando para a
necessidade da criação de lei especifica e/ou Súmula vinculante (STF) que
regulamente e defina um quantum específico que norteie os juízes na utilização do
princípio da insignificância penal.

Para atingir os objetivos propostos, o trabalho encontra-se estruturado em


dois capítulos. No primeiro, foi feita uma abordagem do direito penal como ultima
ratio na proteção de bens jurídicos mais relevantes e a consolidação do princípio da
insignificância penal. Também foi feita uma breve abordagem a respeito do princípio
da intervenção mínima aplicado ao direito penal. Finalizando o capitulo, foi
demonstrado o conceito e o desenvolvimento doutrinário do princípio da
insignificância no direito penal.

No segundo capítulo foi analisada mais profundamente a aplicação do


princípio da insignificância nos julgamentos dos Tribunais Superiores brasileiros a
fim de demonstrar que os critérios utilizados consolidam a seletividade punitiva,
notadamente no que se refere à diferença de tratamento dispensado aos delitos
fiscais/descaminho e aos pequenos delitos patrimoniais.

A metodologia empregada na pesquisa foi do tipo exploratória. Utilizando no


seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios
10

físicos e na rede de computadores. Na sua realização foi utilizado o método de


abordagem hipotético-dedutivo, observando os seguintes procedimentos:

a) seleção de bibliografia e documentos afins à temática e em meios físicos e


na Internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o pesquisador
construa um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, responda o
problema proposto, corrobore ou refute as hipóteses levantadas e atinja os objetivos
propostos na pesquisa;

b) leitura e fichamento do material selecionado;

c) reflexão crítica sobre o material selecionado;

d) exposição dos resultados obtidos através de um texto escrito monográfico.

Diante disso, restam demonstrados todos os passos que serão dados na


busca de expor a seletividade punitiva que permeia os julgados dos Tribunais
Superiores a partir da aplicação do princípio da insignificância.
11

1 O DIREITO PENAL COMO ULTIMA RATIO NA PROTEÇÃO DE BENS


JURÍDICOS E A CONSOLIDAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL

O direito penal deve ser visto como o último recurso a ser utilizado para a
proteção de bens jurídicos, pois seu principal intuito é proteger o cidadão e não o
punir, como nos mostra André Lozano Andrade (2014, p. 15, grifo do autor):

Tendo em vista que em um Estado Democrático de Direito o que se


busca é, entre outros, garantir ao cidadão sua liberdade individual e
que a pessoa possa atuar desde que não cause prejuízos a outros,
deve o Estado evitar o uso de sua força, principalmente do Direito
Penal, que é por demasiado violento e estigmatizante para o
indivíduo. Para que a sociedade seja regulada devem antes ser
utilizados outros instrumentos, como o Direito Administrativo ou o
Direito Civil, a isso se dá o nome de subsidiariedade do Direito Penal.
Quando baste a aplicação de normas não penais deve o Estado
aplicá-las, recorrendo ao Direito Penal como ultima ratio, como último
recurso, para a proteção da sociedade e do indivíduo.

Porém, isso não significa que o direito penal sirva apenas como protetor de
direitos, pois quando essa proteção não surte efeito passamos para seu efeito
punitivo, que deve ser utilizado com extrema cautela para não se tornar mais
abusiva que o próprio delito.

Como salienta Cesare Beccaria (1764, p. 10), em sua lição clássica acerca da
necessidade de humanização das penas,

as penas que excedem a necessidade de conservar o depósito da


saúde pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas são
as penas quanto mais sagrada e inviolável seja a sua segurança e
maior a liberdade que o soberano conserva para os súditos.

A partir desta citação, pode-se perceber que Beccaria se baseia no princípio


da proporcionalidade, na medida em que não nega que deve haver punição, mas
quer assegurar que ela não seja abusiva (ESSADO, 2008). Associado à ideia de
proporcionalidade está o princípio da insignificância, que se aplica nos casos em que
o bem jurídico prejudicado é tão ínfimo que a aplicação de uma pena será mais
prejudicial do que o próprio ilícito praticado.
12

Feitas essas primeiras colocações, o presente capítulo tem por objetivo


analisar o princípio da insignificância no direito penal, ou seja, seu conceito e
desenvolvimento doutrinário, além de outros subprincípios, assim como o direito
penal visto como ultima ratio na proteção de bens jurídicos, nos subitens que
seguem.

1.1 O Direito Penal como ultima ratio na proteção de bens jurídicos

Muitos nem ao menos conhecem o significado da expressão “direito penal


como ultima ratio”, que, a grosso modo, significa “última razão” ou “último recurso”.
Significa que o direito penal, em regra, deveria entrar em ação apenas após
exauridos todos os outros mecanismos de tutela disponíveis nos demais ramos do
direito, como salienta Santiago citado por Andrade (2014, p. 106):

o Direito Penal deixa de ser necessário para proteger a sociedade


quando isso puder ser obtido por outros meios, que serão preferíveis
enquanto sejam menos lesivos aos direitos individuais. Trata-se de
uma exigência de economia social coerente com a lógica do estado
social, que deve buscar o maior benefício possível com o menor
custo social. O princípio da ‘máxima utilidade possível’ para as
eventuais vítimas deve ser combinado com o ‘mínimo sofrimento
necessário’ para os criminosos. Isso conduz a uma fundamentação
utilitarista do Direito penal que não tende à maior prevenção
possível, mas ao mínimo de prevenção imprescindível. Entra em
jogo, assim, o ‘princípio da subsidiariedade’, segundo o qual o Direito
penal deve ser a ultima ratio, o último recurso a ser utilizado, à falta
de outros meios menos lesivos.

No mesmo sentido temos o entendimento de Ferré Olivé e Roxin citados por


Andrade (2014, p. 107, grifo do autor):

O princípio da ultima ratio (também chamado subsidiariedade) indica-


nos que a pena é o último recurso de que dispõe o Estado para
resolver os conflitos sociais. Em outras palavras, que somente pode
recorrer ao Direito Penal quando fracassado as outras instâncias de
controle social que tenham capacidade para resolver o conflito é
cada vez mais frequente a denúncia de utilização do direito penal,
não como ultima ratio senão como sola ou prima ratio para solucionar
os conflitos sociais.
13

Podemos perceber que o Direito penal deve perder esse caráter quase que
estritamente punitivo, deixando outros ramos do direito competentes lidarem com o
caso concreto. Na opinião de Essado (2008, p. 29) “o direito penal não tem como
função regulamentar todas as condutas humanas. Muito pelo contrário, somente
deve intervir quando estritamente necessário”.

Nesse contexto, um sistema penal que visa principalmente à penalização do


indivíduo é decorrente de um Estado igualmente punitivo, que na maioria das vezes
deixa-se levar pelo clamor de uma sociedade induzida pelos meios de comunicação,
indução que reflete diretamente em nossa legislação, demonstrando a parcialidade
do legislador assim como o anseio por punição travestido de justiça, como nos
mostra o professor Aury Lopes Junior (2005, p. 206, grifo do autor):

Também a ordem pública, ao ser confundida com o tal “clamor


público”, corre o risco da manipulação pelos meios de comunicação
de massas, fazendo com que a dita opinião pública não passe de
mera opinião publicada, com evidentes prejuízos para todos.

Nesse sentido, também temos o entendimento de Adalberto Narciso


Hommerding e José Francisco Dias da Costa Lyra (2014, p. 3-4, grifo dos autores):

Dito de outro modo, a produção da lei (em especial, a produção da lei


penal) em terrae brasilis caracteriza-se por ser o “mais do mesmo”:
uma produção legislativa que, praticamente, não atende a níveis
adequados de racionalidade legislativa, sendo direcionada tão-
somente à elaboração de leis com forte cunho populista, com forte
apelo midiático, que tendem a colonização do Direito pelos
imperativos sistêmicos da economia de mercado. Ainda, noutras
palavras: elaborar leis penais no Brasil é sinônimo de produzir
legislação simbólica, sem resultados quanto a concretização
normativa dos textos legais.

A opinião de Guilherme De Souza Nucci (2014, p. 70-71, grifo do autor)


também ratifica essa perspectiva:

O Estado deve respeitar a esfera íntima do cidadão. Se o fizer,


haveria respeito à intervenção mínima e, como consequência, ao
princípio da ofensividade. Em outras palavras, não é todo bem
jurídico protegido que merece proteção do Direito Penal. Há outros
14

ramos do direito para isso. Portanto, podemos encontrar situações


ofensivas a determinados bens, mas inofensivas em matéria penal.

Nesta mesma linha de raciocínio argumenta Mercedes García Arán, citada


por Nucci (2014, p. 66), ao referir que “o direito penal deve conseguir a tutela da paz
social obtendo o respeito à lei e aos direitos dos demais, mas sem prejudicar a
dignidade, o livre desenvolvimento da personalidade ou a igualdade e restringindo
ao mínimo a liberdade”.

Por esse motivo o direito penal deve ser a ultima ratio na proteção de bens
jurídicos, pois atualmente seu elevado índice de punição se revela como uma
afronta aos princípios fundamentais, e a Constituição Federal em seu Art. 5º, caput,
dispõe: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. (BRASIL,
2016).

A respeito disso temos a ideia de Luís Paulo Sirvinskas (2003, p. 72, grifo
nosso):

O juiz criminal – ao interpretar a norma penal – deverá observar os


valores constitucionais protetores do garantismo, geralmente não
expressos na norma fundamental, mas encontráveis nos direitos e
garantias individuais.
São os princípios norteadores do estado democrático de direito e, em
especial, o princípio da dignidade da pessoa humana, que deverão
servir de supedâneo para o juiz criminal interpretar a norma
incriminadora com o objetivo de realizar um ato de justiça social.

E é em respeito aos direitos e garantias individuais que devemos utilizar o


direito penal como ultima ratio na resolução de conflitos, ainda mais enquanto
houver outros ramos do direito disponíveis para resolverem a lide.

Outro problema que decorre da utilização do direito penal como prima ratio,
além da afronta aos direitos e garantias individuais, é a banalização da norma penal,
fazendo com que ela perca seu caráter preventivo em decorrência do descrédito
15

dado pela população, resultado de pedidos impossíveis que são negados


diariamente por serem mais lesivos que o próprio ilícito praticado.

Neste sentido temos o entendimento de Nucci (2014, p.66):

Caso o bem jurídico possa ser protegido de outro modo, deve-se


abrir mão da opção legislativa penal, justamente para não banalizar a
punição, tornando-a, por vezes, ineficaz, porque não cumprida pelos
destinatários da norma e não aplicada pelos órgãos estatais
encarregados da segurança pública. Podemos anotar que a
vulgarização do direito penal, como norma solucionadora de qualquer
conflito, pode levar ao seu descrédito e, consequentemente, à
ineficiência de seus dispositivos.

Ainda nas palavras de Nucci (2014, p. 66):

Há outros ramos do Direito preparados a solucionar as desavenças e


lides surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores traumas.
O direito penal é considerado a ultima ratio, isto é, a última cartada
do sistema legislativo, quando se entende que outra solução não
pode haver senão a criação de lei penal incriminadora, impondo
sanção penal ao infrator.

Porém, de nada adianta a criação de uma lei penal incriminadora se essa não
respeitar sua função como ultima ratio e ser utilizada como primeira opção para
resolver os conflitos mais ínfimos. Neste sentido, temos o entendimento de
Hommerding e Lyra (2014, p. 18):

Sem uma Dogmática Jurídica atenta aos problemas da racionalidade


da produção da lei e das políticas legislativas, e as possíveis
dificuldades de aplicação da lei, e, portanto, sem uma Teoria do
Direito que incorpore preocupações com a Teoria da Legislação e
com a problemática do Direito como moral institucionalizada, a
Ciência do Direito corre o risco de continuar “capenga” no que diz
respeito à adequada aplicação do Direito.

Uma ótima analogia sobre a intervenção penal como ultima ratio é construída
por Luiz Flávio Gomes (s.d, p. 16):

Toda preocupação prevencionista, fundada na mera infração da


norma imperativa, deve ser disciplinada em outros ramos do Direito
16

(administrativo, civil, tributário, comercial, trabalhista etc.). O Direito


penal deve sempre ser enfocado como soldado de reserva. Se os
outros sistemas normativos extrapenais falharem, então entra em
ação o Direito penal, como ultima ratio.

Com isso, ficam demonstrados os problemas decorrentes da utilização do


direito penal como prima ratio, o que na maioria das vezes é reflexo de um Estado
punitivo que, no caso brasileiro, atualmente possui a quarta maior população
carcerária do mundo, conforme dados do Ministério da Justiça e Cidadania (2016).
Nesse sentido, resta demonstrado que deve ser utilizado o direito penal apenas nos
últimos casos, quando outras medidas já não servem mais (NUCCI, 2014, p.66).

Desse modo, revela-se a importância da utilização do direito penal como


ultima ratio na resolução de conflitos, permitindo, na sequência, a análise do
princípio da intervenção mínima: seu conceito e características, assim como sua
aplicação na esfera penal.

1.2 O princípio da intervenção mínima aplicado ao Direito Penal

O princípio da intervenção mínima nada mais é que a aplicação da esfera


penal apenas nos últimos casos (mais graves, contundentes), servindo como ultima
ratio e limitando, com isso, os poderes do jus puniendi do Estado, assim como nos
ensina Cezar Roberto Bitencourt (1997, p. 37), ao asseverar que “o princípio da
intervenção mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder
incriminador do Estado”.

A ideia de intervenção mínima já se encontra presente na Declaração dos


Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, a qual prevê em seu art. 8º, que “a lei
apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém
pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do
delito e legalmente aplicada”. (FRANÇA, 2016).

Nesse sentido temos o conceito dado por Nucci (2014, p.94):


17

A intervenção mínima demanda a instituição de lei penal


incriminadora somente em ultima ratio, quando nada mais resta ao
Estado senão criminalizar determinada conduta. Por isso, leis
intermitentes não se coadunam com o texto constitucional de 1988,
reputando-se não recepcionado o art. 3.º do Código Penal.

Sobre o tema, Maurício Antônio Ribeiro Lopes (1997, p. 75) salienta que

só se legitima a criminalização de um fato se a mesma constitui meio


necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se outras
formas de sanção ou outros meios de controle social se revelem
suficientes para a tutela desse bem, a criminalização é incorreta.
Somente se a sanção penal for instrumento indispensável de
proteção jurídica é que a mesma se legitima.

Com isso, fica claro o conceito do princípio da intervenção mínima, que nada
mais é que a utilização de todos os recursos e meios necessários para a resolução
de conflitos, recorrendo para a esfera penal e criminalizando determinada conduta
apenas em casos extremos, quando nenhum outro meio deu resultados e não há
outra opção. Desse modo, o Estado não apenas não deve, como nem pode interferir
nos conflitos como prima ratio.

Logo, também o legislador não pode considerar qualquer comportamento


como criminoso. Isso evidencia a posição que deve tomar o legislador no momento
de criminalizar uma conduta, devendo observar acima de tudo os princípios
fundamentais, de modo a não ser autoritário nem parcial em suas decisões.

Dessa forma, o legislador, baseando-se nos princípios fundamentais e


tutelando apenas os bens jurídicos mais relevantes, permite a consolidação do
princípio da intervenção mínima, que nada mais é que a missão do direito penal,
assim como nos mostra Masson, citado por Gustavo Henrique Comparim Gomes
(2011) a respeito de uma decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça:

A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens


jurídicos mais relevantes. Em decorrência disso, a intervenção penal
deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens mais
importantes e em casos de lesões de maior gravidade.
18

Caso não seja observada essa regra, como já demonstrado no subtítulo


anterior, teremos o problema da banalização da lei penal pelo seu mal-uso, pois
muitas vezes um conflito que poderia ser resolvido na esfera civil ou administrativa é
levado diretamente para a seara penal, sem atentar para o fato de que, muitas
vezes, o indivíduo tem mais receio das penalizações que sofreria nas outras searas
do que na penal.

Para exemplificar o dito anteriormente temos o exemplo citado por Nucci


(2014, p. 67):

Atualmente, somente para exemplificar, determinadas infrações


administrativas de trânsito possuem punições mais temidas pelos
motoristas, diante das elevadas multas e do ganho de pontos no
prontuário, que podem levar à perda da carteira de habilitação – tudo
isso, sem o devido processo legal – do que a aplicação de uma multa
penal, sensivelmente menor. Enfim, o direito penal deve ser visto
como subsidiário aos demais ramos do Direito. Fracassando outras
formas de punição e de composição de conflitos, lança-se mão da lei
penal para coibir comportamentos desregrados, que possam lesionar
bens jurídicos tutelados.

Ainda, nas palavras de Nucci (2014, p. 51, grifo nosso) temos a explicação do
porque não se deve utilizar a seara penal como prima ratio:

Quando o ordenamento jurídico opta pela tutela de um determinado


bem, não necessariamente a proteção deve dar-se no âmbito penal.
A este, segundo o princípio da intervenção mínima, são reservados
os mais relevantes bens jurídicos, focando-se as mais arriscadas
condutas, que possam, efetivamente, gerar dano ou perda ao bem
tutelado.

Dito isso, concluímos que o Estado deve intervir o mínimo possível no dia a
dia do indivíduo, e caso ocorra algum conflito deve deixar os outros ramos do direito
agirem, como nos mostra Claus Roxin (1998, p. 28): “onde bastem os meios do
direito civil ou do direito administrativo, o Direito Penal deve retirar-se”. Em síntese: o
direito penal deve ser utilizado apenas como ultima ratio.
19

Uma vez analisado o princípio da intervenção mínima, passa-se na sequência


a observar o princípio da insignificância no campo do direito penal, buscando
delinear o seu conceito e o seu desenvolvimento doutrinário.

1.3 O princípio da insignificância no Direito Penal: conceito e desenvolvimento


doutrinário

Para a grande maioria dos estudiosos, o princípio da insignificância – também


conhecido como princípio da bagatela – surgiu no direito romano, onde era
representado pelo brocardo minimis non curat praetor, ou seja, o pretor não deve se
preocupar com coisas insignificantes (CAPEZ, 2011, p. 29).

Como leciona José Henrique Guaracy Rebêlo (2000, p. 31):

A mencionada máxima jurídica, anônima, da Idade Média,


eventualmente usada na forma mínimis non curat praetor, significa
que um magistrado (sentido de praetor em latim medieval) deve
desprezar os casos insignificantes para cuidar das questões
realmente inadiáveis.

Esse entendimento a respeito do princípio da insignificância é resultado das


pesquisas de Claus Roxin no ano de 1964, conforme diz Odone Sanguiné (1990, p.
39, grifo do autor):

O recente aspecto histórico do Princípio da Insignificância é


inafastavelmente, devido a Claus Roxin, que, no ano de 1964, o
formulou como base de validez geral para a determinação do injusto,
a partir de considerações sobre a máxima latina mínima non curat
praetor.

Nesse sentido também leciona Paulo Queiroz (2008, p. 51):

Por meio do princípio da insignificância, cuja sistematização coube a


Claus Roxin, o juiz, à vista da desproporção entre a ação (crime) e a
reação (castigo), fará um juízo (inevitavelmente valorativo) sobre a
tipicidade material da conduta, recusando curso a comportamentos
que, embora formalmente típicos, não o sejam materialmente, dada a
sua irrelevância.
20

Dito isso, vamos ao conceito do princípio da insignificância. Para que serve?


Qual o seu objetivo? Há um entendimento consolidado a seu respeito?

Nas palavras de Shecaira e Corrêa Junior, citados por Nucci (2014, p. 180)
entende-se que “o princípio da insignificância, por seu turno, equivale à
desconsideração típica pela não materialização de um prejuízo efetivo, pela
existência de danos de pouquíssima importância”.

Ainda temos o conceito definido por Paulo Queiroz (2008, p. 51):

Da mesma forma, em razão do princípio da proporcionalidade, não


se justifica que o direito penal possa incidir sobre comportamentos
insignificantes. Ocorre que, ainda quando o legislador pretenda
reprimir apenas condutas graves, isso não impede que a norma
penal, em face de seu caráter geral e abstrato, alcance fatos
concretamente irrelevantes.

Temos o entendimento consolidado nos Tribunais Superiores a respeito do


reconhecimento do princípio da insignificância e de seu caráter de exclusão da
tipicidade da conduta, conforme se evidencia no julgamento do REsp 234.271, Rel.
Min. Edson Vidigal:

O Superior Tribunal de Justiça, por intermédio de sua 5ª Turma, tem


reconhecido a tese da exclusão da tipicidade nos chamados delitos
de bagatela, aos quais se aplica o princípio da insignificância, dado
que à lei não cabe preocupar-se com infrações de pouca monta,
insuscetíveis de causar o mais ínfimo dano à coletividade.

Segundo entendimento jurisprudencial, o princípio da insignificância, para ser


utilizado, requer que sejam reunidas quatro condições essenciais, que são: a mínima
ofensividade da conduta, a inexistência de periculosidade social do ato, o reduzido
grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão
provocada.

Neste sentido temos as palavras de Paulo Queiroz (2008, p. 53):


21

É de notar, por fim, que há diversos precedentes do Supremo


Tribunal Federal condicionando a adoção do princípio aos seguintes
requisitos: a) mínima ofensividade da conduta; b) nenhuma
periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de
reprovabilidade; d) inexpressividade da lesão jurídica. Parece-nos,
porém, que tais requisitos são tautológicos. Sim, porque se mínima é
a ofensa, então a ação não é socialmente perigosa; se a ofensa é
mínima e a ação não perigosa, em consequência, mínima ou
nenhuma é a reprovação; e, pois, inexpressiva a lesão jurídica.
Enfim, os supostos requisitos apenas repetem a mesma idéia por
meio de palavras diferentes, argumentando em círculo.

Esses requisitos devem ser concomitantes, perdendo sua aplicabilidade nos


casos em que se mostra ausente qualquer um deles, como nos mostra o teor da
decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Habeas
Corpus 122167, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski:

PENAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.


INAPLICABILIDADE. REPROVABILIDADE DA CONDUTA DA
AGENTE. ORDEM DENEGADA.I - A ré foi condenada pela prática
do crime descrito no art. 155, §§ 1º e 4º, inciso II, do CP, pela
subtração de um aparelho de som avaliado em R$ 70,00. O STJ
apenas afastou a causa de aumento relativa ao repouso noturno.
Como se sabe, a configuração do delito de bagatela, conforme têm
entendido as duas Turmas deste Tribunal, exige a satisfação, de
forma concomitante, de certos requisitos, quais sejam, a conduta
minimamente ofensiva, a ausência de periculosidade social da ação,
o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão
jurídica inexpressiva. II – Ocorre, contudo, que os autos dão conta da
reiteração criminosa. A paciente tem em curso ações penais pelo
mesmo fato, consoante certidão às págs. 58-60 do documento
eletrônico 7. III – Revelada a periculosidade da paciente, não há falar
na aplicação do princípio da insignificância, em razão do alto grau de
reprovabilidade do seu comportamento. IV – Ordem denegada.
(BRASIL, 2016).

Com isso, fica claro que a aplicabilidade do princípio da insignificância


depende de vários fatores específicos encontrados apenas no caso concreto,
servindo estes para nortear o rumo que o magistrado dará ao processo, e baseado
neste, a sua decisão.

Estes requisitos auxiliam o magistrado e também garantem um julgamento


mais igualitário e uniformizado para o cidadão, pois, pelo menos, impõem alguns
critérios que deverão ser observados para a aplicação do referido princípio, fazendo
22

com que os magistrados não apenas possam, mas também sejam compelidos a
utilizá-los.

Outros critérios observados para a aplicação do princípio da insignificância


são: a consideração do valor do bem jurídico em termos concretos, a consideração
da lesão ao bem jurídico em visão global, e a consideração particular aos bens
jurídicos imateriais de expressivo valor social (NUCCI, 2014, p. 181-182).

Em alguns casos temos prejuízos tão ínfimos a bens jurídicos tutelados que a
aplicação de uma pena seria infinitamente mais prejudicial ao sistema punitivo,
carcerário e principalmente ao princípio da dignidade da pessoa humana, do que o
próprio delito praticado, pois estaríamos abrindo mão de um direito sagrado que é a
liberdade para “proteger” um bem material insignificante.

Um exemplo disso é o citado por Nucci (2014, p. 181):

Com relação à insignificância (crime de bagatela), sustenta-se que o


direito penal, diante de seu caráter subsidiário, funcionando como
ultima ratio, no sistema punitivo, não se deve ocupar de bagatelas.
Há várias decisões de tribunais pátrios, absolvendo réus por
considerar que ínfimos prejuízos a bens jurídicos não devem ser
objeto de tutela penal, como ocorre nos casos de “importação de
mercadoria proibida” (contrabando), tendo por objeto material coisas
de insignificante valor, trazidas por sacoleiros do Paraguai. Outro
exemplo é o furto de coisas insignificantes, tal como o de uma
azeitona, exposta à venda em uma mercearia. (...)

Porém devemos tomar cuidado para não confundir delito insignificante com
crimes de menor potencial ofensivo, como nos mostra Capez (2011, p. 31):

Não se pode, porém, confundir delito insignificante ou de bagatela


com crimes de menor potencial ofensivo. Estes últimos são definidos
pelo art. 61 da Lei n. 9.099/95 e submetem-se aos Juizados
Especiais Criminais, sendo que neles a ofensa não pode ser
acoimada de insignificante, pois possui gravidade ao menos
perceptível socialmente, não podendo falar-se em aplicação desse
princípio.
23

Até porque não é possível, muito menos correto, simplesmente punir qualquer
ato, até porque a lei é genérica, e por isso deve-se observar cada peculiaridade do
caso concreto.

Ainda temos as palavras de Nucci (2014, p. 51, grifo do autor):

Portanto, para a correta análise dos elementos do crime e, também,


para inspirar a aplicação da pena, é fundamental o conhecimento do
bem jurídico em questão, no caso concreto, avaliando se houve
efetiva lesão ou se, na essência, encontra-se ele preservado, sem
necessidade de se movimentar a máquina estatal punitiva para tanto.
Exemplo disso é o emprego do princípio da insignificância (crime de
bagatela), quando se percebe que, em face do bem jurídico
patrimônio, a conduta do agente, ainda que se configure em
subtração de coisa alheia móvel, é inócua para ferir, na substância, o
bem jurídico protegido.

Porém um fator muito prejudicial, assim como no subtítulo anterior, é o anseio


social, fator esse que interfere muito no princípio da insignificância, pois na sua
grande maioria esse anseio é por imposições penais ao indivíduo que cometeu um
delito, muitas vezes insignificante ao bem jurídico tutelado.

E a respeito desse anseio social por punição temos os dizeres de Luiz Luisi,
citado por Nucci (2014, p. 67) sustentando que:

O Estado deve evitar a criação de infrações penais insignificantes,


impondo penas ofensivas à dignidade humana. Tal postulado
encontra-se implícito na Constituição Federal, que assegura direitos
invioláveis, como a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a
propriedade, bem como colocando como fundamento do Estado
democrático de direito a dignidade da pessoa humana. Daí ser
natural que a restrição ou privação desses direitos invioláveis
somente se torne possível, caso seja estritamente necessária a
imposição da sanção penal, para garantir bens essenciais ao
homem.

Diante do exposto, fica claro que o princípio da insignificância, acima de tudo,


tem como objetivo não apenas diminuir a pena, mas afastar a tipicidade do crime,
eliminando qualquer possibilidade de punição.
24

Assim, temos as palavras de Bitencourt (2012, p. 441), para o qual “a


insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Mas essa insignificância só pode ser
valorada através da consideração global da ordem jurídica”.

Concluímos, portanto, que diferentemente do princípio da intervenção mínima


que, basicamente, visa ao afastamento do Estado punitivo das relações que podem
ser resolvidas nas outras searas do direito, o princípio da insignificância busca
afastar a tipicidade da conduta do agente, eliminando qualquer possível repressão,
tanto no direito penal como em todas suas outras áreas.
25

2 A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS JULGAMENTOS


DOS TRIBUNAIS SUPERIORES BRASILEIROS E A CONSOLIDAÇÃO DA
SELETIVIDADE PUNITIVA

O princípio da insignificância pode ser considerado um princípio relativamente


novo, isso por si só, pode ser considerado um fator importante quando falamos em
seletividade punitiva, pois dele pode decorrer a falta de critérios objetivos explícitos.

Confirmando o que foi dito temos Rebêlo (2000, p. 47) onde afirma que “o
primeiro caso em que o princípio se viu reconhecido pela Suprema Corte é o contido
no RHC 66.869/PR, relatado pelo Ministro Aldir Passarinho, em 6.12.1988”.

Feitas essas primeiras colocações, o presente capítulo tem por objetivo


analisar a aplicação do princípio da insignificância nos julgamentos dos Tribunais
Superiores brasileiros, ou seja, analisar diversos julgados, tanto do STF quanto do
STJ, com o intuito de demonstrar a seletividade punitiva presente no nosso sistema
penal, assim como os critérios utilizados por esses tribunais para a utilização do
referido princípio, nos subitens que seguem.

2.1 A verificação da seletividade punitiva a partir da aplicação do princípio da


insignificância aos crimes fiscais e patrimoniais

A aplicação do princípio da insignificância nos Tribunais Superiores brasileiros


vem sendo uma incógnita, pois seu conteúdo não está presente em nenhuma
legislação explícita, e isso dá margem a variadas interpretações, tanto a respeito dos
requisitos da sua aplicabilidade como a respeito do próprio resultado de sua
aplicação.

Contudo, seu caráter implícito não pode ser usado como argumento para sua
não aplicação, pois como nos mostra Sarmento citado por Ivan Luiz da Silva (2011,
p. 48):

A ordem jurídica constitucional não é composta apenas pelas normas


expressas em seu texto legal, mas também por princípios que
subsistem em estado de latência em seu interior, denominados de
26

princípios implícitos. Isso se dá em razão de o texto normativo não


exaurir a norma, sendo possível, portanto, extrair-se norma mesmo
onde não haja texto.

Porém todos os princípios precisam ser concretizados no direito para


poderem ser elencados e localizados (SILVA, 2011, p. 138). Neste sentido também é
o entendimento de Mauricio Antônio Ribeiro Lopes (2000, p. 409), ao afirmar que
“tanto implícito como expresso, todo princípio necessita, sem exceção, ser
concretizado para ter validade em determinada ordem jurídica”.

Além da necessidade da concretização do princípio, como dito anteriormente,


temos os requisitos que devem ser observados para a sua aplicabilidade, que no
caso do princípio da insignificância são: a) mínima ofensividade da conduta; b)
nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade; d)
inexpressividade da lesão jurídica.

Neste sentido temos o entendimento do Ministro do STF, Celso de Mello no


Habeas Corpus nº 84.412, DJ. 19.11.2004:

O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão


com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do
Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a
própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter
material. Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na
aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos
vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente,
(b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade
da lesão jurídica provocada. (BRASIL, 2017).

Em consonância com estes requisitos o princípio da insignificância deverá ser


aplicado quando reunidos esses requisitos. Entende-se que, nesses casos, a não
aplicação do referido princípio acarretará uma sanção penal, e esta será
infinitamente mais abusiva aos direitos fundamentais que tentamos proteger, do que
o próprio ato delituoso. Logo, da aplicação do princípio da insignificância não resulta
apenas a diminuição ou substituição da pena, mas sim a absolvição do réu, tornando
aquele ato atípico e excluindo totalmente sua ilicitude.
27

Diante do exposto, fica demonstrado que o resultado decorrente da não


aplicação do princípio da insignificância, assim como de qualquer outro princípio,
fere mais a norma penal que a pratica de um crime que se enquadre nesse princípio.

Assim também entende Rebêlo (2000, p. 11-12):

princípio é, por definição, o mandamento nuclear de um


sistema, seu verdadeiro alicerce, sua causa primaria, seu
germe. Por isso mesmo, violar um princípio é muito mais
gravoso do que agredir uma norma ou comando determinado,
porquanto implica repudio a todo um sistema.

Portanto, o princípio da insignificância, além de ser um princípio disponível ao


direito penal, é um princípio que garante a aplicabilidade dos direitos fundamentais,
tais como os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade, como nos mostra
Silva (2011, p. 126) ao referir que, “por seu turno, o Princípio da Insignificância
fundamenta-se nesses princípios, uma vez que, ao interpretar restritivamente o tipo
penal, visa concretizar esses princípios fundamentais do Estado de direito
democrático na seara penal”.

Assim, fica evidente que o ato mais gravoso para o indivíduo e para a
sociedade como um todo, não é aquele pequeno delito praticado, mas sim a não
observância de um direito fundamental. Decorrente disso, vemos muitas vezes a
aplicação de penas absurdas e desproporcionais, “caracterizadoras de um
retribucionismo exagerado que mais lesam a coletividade do que a protegem”, como
salienta Rebêlo (2000, p. 7).

Como resultado disso, o cidadão é deixado a mercê de uma sociedade


induzida que clama por punição, e de um direito penal que claramente foi criado
para perseguir o indivíduo desfavorecido. É nesse momento que a justiça deixa de
ser cega para poder selecionar quem “mereça” ser punido.

Diante disso devemos lembrar que a Constituição Federal de 1988 (CF/88)


estabelece, em seu artigo 5º, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”.
28

Porém não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que as nossas leis
são o reflexo da realidade, pois não são. A realidade é que o indivíduo pobre
representa a grande maioria do nosso sistema carcerário, e que desses, grande
parte é composta por indivíduos que cometeram um pequeno delito patrimonial, caso
no qual poderia ser aplicado o princípio da insignificância.

Contudo, a prática representa um sistema penal repleto de seletividade,


principalmente sobre indivíduos vulneráveis. Nesse sentido é o entendimento de
Cirino dos Santos citado por Nilo Batista (2007, p. 25-26), quando salienta que o
sistema penal é:

constituído pelos aparelhos judicial, policial e prisional, e


operacionalizado nos 10 limites das matrizes legais, pretende
afirmar-se como “sistema garantidor de uma ordem social justa”, mas
seu desempenho real contradiz essa aparência. Assim, o sistema
penal é apresentado como igualitário, atingindo igualmente as
pessoas em função de suas condutas, quando na verdade seu
funcionamento é seletivo, atingindo apenas determinadas pessoas,
integrantes de determinados grupos sociais, a pretexto de suas
condutas (As exceções, além de confirmarem a regra, são
aparatosamente usadas para a reafirmação do caráter igualitário).

As leis são feitas conforme sua reprovabilidade social, porém, com a ideia de
que os menos favorecidos cometem mais crimes, o que nos mostra um sistema
penal falho, pois desde a sua criação até a sua aplicação demonstra ser seletivo.
Um exemplo disso, no caso do presente trabalho, é a diferença das penas na prática
do furto e do descaminho, ambos abordados nesta pesquisa.

Os artigos 155 e 334, ambos do Código Penal, na teoria nos trazem a mesma
pena:

Art. 155 - subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena –
reclusão, de um a quatro anos, e multa
Art. 334 - Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou
imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria: Pena – reclusão, de um a quatro anos”. (BRASIL, 2017).
29

Porém, na prática a realidade é totalmente diferente. Isso porque


normalmente quem sonega é de classe média alta, e a grande maioria dos
indivíduos presos por furto pertencem à classe baixa. Diante disso, a realidade nos
mostra indivíduos presos por furtarem um xampu de supermercado no valor de R$
25,00, por exemplo, e, de outro lado, indivíduos que sonegam até R$ 20.000,00 e
que permanecem em liberdade, mesmo sabendo que a pena estipulada em lei é a
mesma para ambos.

A única diferença entre esses artigos é que um (art. 334) deve ser aplicado
em consonância com a Lei 10.522/2002 e as Portarias 75 e 130/2012 do Ministério
da Fazenda, e o outro (art. 155) não possui nada expresso para definir quando sua
aplicabilidade deve ser ignorada para não ferir direitos fundamentais.

A respeito do Art. 334, CP, temos o entendimento de Rebêlo (2000, p. 31),


que diz:

O descaminho do art. 334/CP, não será certamente a posse de


pequena quantidade de produto estrangeiro de valor reduzido, mas
sim a de mercadoria cuja quantidade ou cujo valor indique lesão
tributaria de certa expressão para o físico.

Diante disso fica claro o pensamento da sociedade em respeito a este crime.


Porém, não podemos esquecer que tanto para o furto, quanto para o descaminho a
lei estipula a mesma pena, que é de um a quatro anos de reclusão, mas que na
prática não é aplicado para um, mas é para o outro.

Ainda, além de todos os requisitos para a aplicação do princípio da


insignificância, essa seletividade no sistema punitivo brasileiro é um problema que a
sociedade enfrenta diariamente, pois o patamar elevado para a utilização do
princípio da insignificância nos delitos fiscais e a falta de um quantum que norteie as
decisões nos pequenos delitos patrimoniais é um dos principais motivos que leva ao
enorme número de julgados diferentes, com pesos e penas distintas.
30

A falta de orientação aos magistrados muitas vezes faz com que sejam
julgados improcedentes casos que nem poderiam ser considerados ilícitos, pois, se
utilizado o princípio da insignificância tornaria o fato atípico.

Além disso, não podemos desejar a prisão de um indivíduo por ter praticado
um fato jurídico de mínima relevância, onde, se feita esta prisão, tal fato acarrete
maior injustiça do que o próprio ato, até ali ilícito, conforme nos mostra o Habeas
Corpus (HC) 84.412, impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual o
ministro Celso de Mello concedeu a liminar em favor do paciente, que havia sido
condenado pela Justiça paulista pelo crime de furto de uma fita de vídeo game, no
valor de R$ 25,00 (vinte e cinco reais). (BRASIL, 2017).

Percebemos que em casos de furto, o objeto pode ter valor abaixo de R$


50,00 e não se encaixar no princípio da insignificância dependendo de suas
peculiaridades, enquanto em um delito fiscal pode chegar até o valor de R$
20.000,00, conforme o art. 20 da Lei 10.522/2002 e das Portarias 75 e 130/2012 do
Ministério da Fazenda:

Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante


requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das
execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União
pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados,
de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).
(BRASIL, 2017).

Portanto, os casos de delitos fiscais em que os valores estejam abaixo de R$


20.000,00 e que se encaixem no princípio da insignificância serão absolvidos,
conforme relatoria da Ministra Rosa Weber no Habeas Corpus 120.617 (Paraná):

Trata-se de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública da


União em favor de Charlie Cavaglieri contra acórdão do Superior
Tribunal de Justiça, que rejeitou os embargos de declaração no
agravo regimental no REsp 1.404.750/PR. O paciente foi denunciado
pela suposta prática do crime de contrabando ou descaminho,
tipificado no art. 334, § 1º, d, do Código Penal, por transportar
mercadorias de origem estrangeira desacompanhadas de
documentação legal, tendo elidido tributos federais no valor de R$
11.789,90 (onze mil, setecentos e oitenta e nove reais e noventa
centavos). O Juízo de Direito da 2ª Vara Federal da Subseção
31

Judiciária de Foz de Iguaçu/PR absolveu sumariamente o paciente,


por atipicidade da conduta, forte na aplicação do princípio da
insignificância. (BRASIL, 2016).

Por outro lado, temos os casos em que a utilização do princípio da


insignificância foi negada, conforme Habeas Corpus 122167 de relatoria do Ministro
Ricardo Lewandowski:

PENAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.


INAPLICABILIDADE. REPROVABILIDADE DA CONDUTA DA
AGENTE. ORDEM DENEGADA.I - A ré foi condenada pela prática
do crime descrito no art. 155, §§ 1º e 4º, inciso II, do CP, pela
subtração de um aparelho de som avaliado em R$ 70,00. O STJ
apenas afastou a causa de aumento relativa ao repouso noturno.
Como se sabe, a configuração do delito de bagatela, conforme têm
entendido as duas Turmas deste Tribunal, exige a satisfação, de
forma concomitante, de certos requisitos, quais sejam, a conduta
minimamente ofensiva, a ausência de periculosidade social da ação,
o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão
jurídica inexpressiva. II – Ocorre, contudo, que os autos dão conta da
reiteração criminosa. A paciente tem em curso ações penais pelo
mesmo fato, consoante certidão às págs. 58-60 do documento
eletrônico 7. III – Revelada a periculosidade da paciente, não há falar
na aplicação do princípio da insignificância, em razão do alto grau de
reprovabilidade do seu comportamento. IV – Ordem denegada.
(BRASIL, 2017).

Ainda temos o acordão do Habeas Corpus 124.748 MS, de relatoria da


Ministra Carmen Lúcia, que também nega a utilização do princípio da insignificância,
dessa vez em um caso de furto de R$ 240,00, alegando que essa quantia era
imprescindível para sua subsistência da vítima, e manteve este argumento mesmo
após o dinheiro ser devolvido, conforme segue:

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. INAPLICAÇÃO DO


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO DE R$ 240,00
(DUZENTOS E QUARENTA REAIS) DA APOSENTADORIA DA
VÍTIMA IMPRESCINDÍVEL PARA SUA SUBSISTÊNCIA. AUSÊNCIA
DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA. MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA.
VISTA AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. Relatório 1.
Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado pela
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, em benefício de JORGE
DOURADO, contra julgado da Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, que, em 4.9.2014, negou provimento ao Agravo Regimental
no Recurso Especial n. 1.448.852, Relator o Ministro Rogerio Schietti
Cruz. (BRASIL, 2017)
32

Com isso podemos ver os diferentes pesos que o judiciário tem dado a cada
caso: um caso refere-se ao crime de furto, delito normalmente praticado por pessoas
socialmente desfavorecidas, e que mereciam um cuidado especial por parte do
Estado, mas não o tem, e o outro caso refere-se a um delito fiscal, no qual a margem
para aplicação do princípio da insignificância pode chegar até o valor de R$
20.000,00, conforme legislação expressa, normalmente favorecendo pessoas que
ocupam espaços privilegiados na sociedade brasileira.

A situação financeira do indivíduo é um fator determinando quando falamos


em seletividade punitiva. Nesse sentido é o entendimento de Raquel Alves Rosa da
Silva (2014, p. 22):

O vetor da seletividade é flagrante, uma vez que os poucos – já que a


seleção criminalizante enseja uma massa carcerária quase
homogênea quanto a condições econômicas – presos que têm uma
situação financeira melhor se valem de recursos não rotineiros no
sistema carcerário, como o acompanhamento por advogado próprio,
qualidade na alimentação, objetos pessoais e até regalias
proporcionadas pela corrupção que geralmente acompanha o sistema
carcerário.

Portanto, é evidente que não apenas a norma, mas todo o sistema penal está
contaminado pela injustiça, pois a máquina estatal responsável por proteger o
cidadão é a responsável por toda seletividade entranhada no sistema punitivo, como
se evidenciará na sequência, a partir de uma seleção de julgados dos Tribunais
Superiores brasileiros acerca da aplicação do princípio da insignificância nos delitos
fiscais e patrimoniais.

2.2 Os critérios adotados pela jurisprudência dos Tribunais Superiores


brasileiros para a aplicação do princípio da insignificância nos delitos fiscais

Os critérios adotados pelos Tribunais Superiores para a aplicação do princípio


da insignificância têm algumas divergências. Porém, em sua maioria, seguem uma
mesma linha de raciocínio entre os dois principais tribunais brasileiros no caso do
delito fiscal de descaminho. São eles: a) a mínima ofensividade da conduta do
agente; b) a ausência de periculosidade social da ação; c) o reduzido grau de
33

reprovabilidade do comportamento; d) a inexpressividade da lesão jurídica causada.


(BRASIL, 2017).

Nesse sentido é o acordão do Supremo Tribunal Federal no Agravo


Regimental no Habeas Corpus 129.813 MS, de relatoria do Ministro Luiz Fux,
julgado em 31/05/2016:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. CRIME DE DESCAMINHO. ARTIGO 334
DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE.
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA
JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I.
HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE
COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. CARACTERIZAÇÃO DA
HABITUALIDADE DELITIVA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. O princípio da insignificância incide quando
presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a)
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma
periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade
do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica
provocada. 2. A aplicação do princípio deve, contudo, ser precedida
de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção
indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos
delitos. 3. O princípio da bagatela é afastado quando comprovada a
contumácia na prática delitiva. (BRASIL, 2017).

Assim também é o entendimento do Superior Tribunal de justiça no Agravo


Regimental no Recurso Especial 1589303 MT, de relatoria do Ministro Jorge Mussi
em 25/04/2017:

REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. PRINCÍPIO


DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
REITERAÇÃO DELITIVA. REGISTRO DE AUTOS DE INFRAÇÃO
FISCAL. RECURSO IMPROVIDO.
1. A aplicação do princípio da insignificância reflete o entendimento
de que o Direito Penal deve intervir somente nos casos em que a
conduta ocasionar lesão jurídica de certa gravidade, devendo ser
reconhecida a atipicidade material de perturbações jurídicas mínimas
ou leves, essas consideradas não só no seu sentido econômico, mas
também em função do grau de afetação da ordem social que
ocasionem.
2. Este Superior Tribunal de Justiça posiciona-se no sentido de que,
para além dos requisitos objetivos, o aspecto subjetivo,
consubstanciado, sobretudo, na verificação da reiteração criminosa
do agente, caso reconhecida, impede a incidência do princípio da
34

insignificância, porquanto demonstra maior reprovabilidade de seu


comportamento, circunstância suficiente e necessária a embasar a
incidência do Direito Penal como forma de coibir a reiteração delitiva.
3. A habitualidade no delito de descaminho, tendo em vista a
existência de vários procedimentos administrativos fiscais
instaurados, afasta o requisito referente ao reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento das agentes, impossibilitando a
aplicação do princípio da insignificância
4. Agravo regimental improvido. (BRASIL, 2017).

Outro fator primordial para o princípio da insignificância, porém desta vez para
a sua não aplicação, é a reincidência, ou seja, quando o indivíduo reiteradas vezes
pratica o mesmo fato delituoso. É incontestável que ambos os tribunais, STF e STJ,
tem o entendimento consolidado a respeito da inaplicabilidade do princípio da
insignificância quando se trata de indivíduo reincidente.

Neste sentido explica o Ministro Rogerio Schietti Cruz, do Superior Tribunal


de Justiça (STJ), no julgamento do Recurso Ordinário em Habeas Corpus número
31612 / Pb em 20/05/2014:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. REITERAÇÃO


NA OMISSÃO DO PAGAMENTO DE TRIBUTOS. EXISTÊNCIA DE
INÚMEROS PROCEDIMENTOS FISCAIS. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
1. A insignificância, enquanto princípio, revela-se, na visão de Roxin,
importante instrumento que objetiva restringir a aplicação literal do
tipo formal, exigindo-se, além da contrariedade normativa, a
ocorrência efetiva de ofensa relevante ao bem jurídico tutelado.
2. No terreno jurisprudencial, dispensam-lhe os tribunais, cada vez
com maior frequência, destacado papel na tentativa de redução da
intervenção penal, cujos resultados não traduzem, necessariamente,
reforço na construção de um direito penal mínimo, principalmente
diante do crescimento vertiginoso da utilização desse ramo do direito
como prima ratio para solução de conflitos, quando deveria ser a
ultima ratio.
3. Se, de um lado, a omissão no pagamento do tributo relativo à
importação de mercadorias é suportado como irrisório pelo Estado,
nas hipóteses em que uma conduta omissiva do agente (um deslize)
não ultrapasse o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) -
entendimento em relação ao qual registro minha ressalva pessoal -
de outro lado, não se pode considerar despida de lesividade a
conduta de quem, reiteradamente, omite o pagamento de tributos
sempre em valor abaixo da tolerância estatal, amparando-se na
expectativa de inserir-se nessa hipótese de exclusão da tipicidade.
4. O alto desvalor da conduta rompe o equilíbrio necessário para a
perfeita adequação do princípio bagatelar, principalmente se
considerada a possibilidade de que a aplicação desse instituto, em
35

casos de reiteração na omissão do pagamento de tributos, serve, ao


fim e ao cabo, como verdadeiro incentivo à prática do descaminho.
5. A sucessiva omissão (reiteração) no pagamento do tributo devido
nas importações de mercadorias de procedência estrangeira
impedem a incidência do princípio da insignificância em caso de
persecução penal por crime de descaminho. Precedentes.
6. Recurso em habeas corpus não provido. (BRASIL, 2017).

Reiterando este entendimento, temos o Agravo Regimental no Recurso


Especial número 1654789 / RS de relatoria do Ministro Reynaldo Soares Da
Fonseca, julgado em 09/05/2017:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


DESCAMINHO. HABITUALIDADE DELITIVA. INCABÍVEL A
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Conforme entendimento pacífico desta Corte Superior de Justiça,
apesar de não configurar reincidência, a existência de outras ações
penais, inquéritos policiais em curso ou procedimentos
administrativos fiscais, é suficiente para caracterizar a
habitualidade delitiva e, consequentemente, afastar a incidência do
princípio da insignificância. Precedentes do STJ.
2. Por haver notícia nos autos de que o réu já responde a outros
procedimentos administrativos pela prática do crime de descaminho,
o afastamento do princípio da insignificância, como causa de não
recebimento da denúncia, é medida que se impõe.
3. Agravo regimental improvido. (BRASIL, 2017).

Esse também é o entendimento do STF, a respeito da reincidência no delito


de descaminho, conforme Agravo Regimental em Habeas Corpus 137749 / PR de
relatoria do Ministro Roberto Barroso, Julgado em 02/05/2017:

Ementa: Penal. Agravo Regimental em Habeas Corpus. Falta de


impugnação específica dos fundamentos. Descaminho. Princípio da
insignificância. Reiteração delitiva. Recurso não conhecido. 1. A
parte recorrente não impugnou, especificamente, todos os
fundamentos da decisão agravada, o que impossibilita o
conhecimento do recurso, na linha da pacífica jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. 2. A notícia de que a paciente responde a
outros procedimentos administrativos fiscais inviabiliza, neste habeas
corpus, o pronto reconhecimento da atipicidade penal da conduta. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou orientação no
sentido de que a reiteração delitiva impede a adoção do princípio da
insignificância penal, em matéria de crime
de descaminho. Precedentes. 3. Agravo regimental não conhecido.
36

Reforçando esta tese, temos o Agravo Regimental em Habeas Corpus


número 122348 / RS de Relatoria do Ministro Luiz Fux, Julgado em 09/11/2016:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. CRIME DE CONTRABANDO
OU DESCAMINHO. ARTIGO 334, § 1º, C E D, DO CÓDIGO PENAL
(REDAÇÃO ANTERIOR). HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INADMISSIBILIDADE.
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA
JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I.
HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE
COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. VALOR INFERIOR AO
PREVISTO NO ARTIGO 20 DA LEI N.º 10.522/2002. PORTARIAS
N.º 75 E 130/2012 DO MINISTÉRIO DAFAZENDA. REITERAÇÃO
DELITIVA. COMPROVAÇÃO. INVIABILIDADE DO
RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O
delito de descaminho reiterado e figuras assemelhadas impede o
reconhecimento do princípio da insignificância, ainda que o valor
apurado esteja dentro dos limites fixados pela jurisprudência pacífica
desta Corte para fins de reconhecimento da atipicidade.
Precedentes: HC 133.566, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia
DJe de 12/05/2016, HC 130.489AgR, Primeira Turma, Rel. Min.
Edson Fachin DJe de 09/05/2016, HC 133.736 AgR, Segunda
Turma, Relator Min. Gilmar Mendes, DJe 18/05/2016. 2. In casu, o
paciente recorrente foi denunciado como incurso nas sanções do
artigo 334, § 1º, alínea c, do Código Penal (descaminho) e no artigo
1º, inciso III, da Lei 8.137/90, em razão de haver ingressado em
território nacional com equipamentos eletrônicos de origem
estrangeira desacompanhados de regular documentação de
regularização, sendo o tributo devido no importe de R$ 15.960,63
(quinze mil novecentos e sessenta reais e sessenta e três centavos).
Ademais, o paciente teria falsificado notas fiscais para vender as
mercadorias no estabelecimento comercial do qual é administrador.
3. A competência originária do Supremo Tribunal Federal para
conhecer e julgar habeas corpus está definida, exaustivamente, no
artigo 102, inciso I, alíneas d e i, da Constituição da República, sendo
certo que o paciente não está arrolado em qualquer das hipóteses
sujeitas à jurisdição desta Corte. 4. Agravo regimental desprovido.
(BRASIL, 2017).

Ainda temos o valor do objeto como um dos principais requisitos para a


incidência, ou não, do referido princípio, pois esse tem valor expresso no art. 20 da
Lei 10.522/2002 atualizado pelas Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda,
como visto no capítulo anterior.

Neste requisito, há um desentendimento entre os dois tribunais (STF e STJ),


pois enquanto o Supremo Tribunal Federal aplica o art. 20 da Lei 10.522/2002
37

atualizando-o pelas Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda, o Superior


Tribunal de Justiça não considera as portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda
válidas.

O argumento do STJ é de que a partir da criação da lei 10.522/2002 o


Ministério da Fazendo não tem mais autoridade para modificar o valor que a referida
lei nos traz por simples portarias. Nesse sentido é o relatório do Ministro Rogerio
Schietti Cruz em 12/11/2014 no REsp 1393317 / PR:

RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. VALOR DO TRIBUTO ILUDIDO. PARÂMETRO
DE R$ 10.000,00. ELEVAÇÃO DO TETO, POR MEIO DE
PORTARIA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA, PARA R$ 20.000,00.
INSTRUMENTO NORMATIVO INDEVIDO. FRAGMENTARIEDADE
E SUBSIDIARIEDADE DO DIREITO PENAL. INAPLICABILIDADE.
LEI PENAL MAIS BENIGNA. NÃO INCIDÊNCIA. RECURSO
PROVIDO. [...] 4. A partir da Lei n. 10.522/2002, o Ministro da
Fazenda não tem mais autorização para, por meio de simples
portaria, alterar o valor definido como teto para o arquivamento de
execução fiscal sem baixa na distribuição. E a Portaria MF n.
75/2012, que fixa, para aquele fim, o novo valor de R$ 20.000,00 – o
qual acentua ainda mais a absurdidade da incidência do princípio da
insignificância penal, mormente se considerados os critérios
usualmente invocados pela jurisprudência do STF para regular
hipóteses de crimes contra o patrimônio - não retroage para alcançar
delitos de descaminho praticados em data anterior à vigência da
referida portaria, porquanto não é esta equiparada a lei penal, em
sentido estrito, que pudesse, sob tal natureza, reclamar a
retroatividade benéfica, conforme disposto no art. 2º, parágrafo
único, do CPP. (BRASIL, 2017).

Com isso nos fica clara a posição adotada pelo STJ. Reforçando a afirmação
temos as palavras do relator Ministro Ribeiro Dantas no Agravo Regimental no
Recurso Especial número 1492408 de 27/04/2017:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PARÂMETRO.
VALOR DE R$ 10.000,00. NÃO CONSIDERAÇÃO DA PORTARIA
DO MINISTÉRIO DA FAZENDA QUE ELEVOU A QUANTIA PARA
R$ 20.000,00. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Esta Corte consolidou o entendimento de que não é possível a
aplicação do princípio da insignificância quando o valor do montante
do tributo devido for superior a R$ 10.000,00 (art. 20 da Lei n.
10.522/2002), não se aplicando, portanto, a Portaria MF n. 75/2012.
2. No caso, sendo o valor dos tributos elididos de R$ 15.011,25
38

(quinze mil, onze reais e vinte e cinco centavos), não é cabível a


aplicação do referido princípio.
3. Agravo regimental desprovido. (BRASIL, 2017)

Em sentido contrário, como já dito, temos o entendimento do Supremo


Tribunal Federal no Habeas Corpus 119.849 / PR de relatoria do Ministro Dias
Toffoli, julgado em 19/08/2014:

EMENTA Habeas corpus. Crime de descaminho (CP, art. 334).


Impetração dirigida contra decisão monocrática do Relator da causa
no Superior Tribunal de Justiça. Decisão não submetida ao crivo do
colegiado. Ausência de interposição de agravo interno. Não
exaurimento da instância antecedente. Precedentes. Extinção do
writ. Pretensão à aplicação do princípio da insignificância. Incidência.
Valor inferior ao estipulado pelo art. 20 da Lei nº 10.522/02,
atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da
Fazenda. Preenchimento dos requisitos necessários. Ordem
concedida de ofício. 1. A jurisprudência contemporânea do Supremo
Tribunal não vem admitindo a impetração de habeas corpus que se
volte contra decisão monocrática do relator da causa no Superior
Tribunal de Justiça que não tenha sido submetida ao crivo do
colegiado por intermédio do agravo interno, por falta de
exaurimento da instância antecedente (HC nº 118.189/MG, Segunda
Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 24/4/14). 2.
Extinção da impetração. 3. No crime de descaminho, o Supremo
Tribunal Federal tem considerado, para a avaliação da
insignificância, o patamar de R$ 20.000,00, previsto no art. 20 da Lei
nº 10.522/2002, atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do
Ministério da Fazenda. Precedentes. 4. Na espécie, como a soma
dos tributos não recolhidos perfaz a quantia de R$ 10.865,65, é de se
afastar a tipicidade material do delito de descaminho, com base
no princípio da insignificância, em relação ao paciente, que preenche
os requisitos subjetivos necessários ao reconhecimento
da atipicidade de sua conduta. 5. Ordem concedida de ofício.
(BRASIL, 2017).

Reforçando temos o Habeas Corpus número 139.393 / PR de relatório do


Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 18/04/2017:

Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE DESCAMINHO.


VALOR SONEGADO INFERIOR AO FIXADO NO ART. 20 DA LEI
10.522/2002, ATUALIZADO PELAS PORTARIAS 75/2012 E
130/2012 DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. PRECEDENTES. ORDEM
CONCEDIDA. I - Nos termos da jurisprudência deste Tribunal,
o princípio da insignificância deve ser aplicado ao delito
de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido
no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas pelas
39

Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. Precedentes. II


– Mesmo que o suposto delito tenha sido praticado
antes das referidas Portarias, conforme assenta a doutrina e
jurisprudência, norma posterior mais benéfica retroage em favor do
acusado. III – Ordem concedida para trancar a ação penal. (BRASIL,
2017).

Como demonstrado, não nos resta dúvidas a respeito das diferenças


jurisprudenciais entre os dois principais tribunais do país, porém este
desentendimento entre os dois órgãos não pode ser banalizado, uma vez que ele
pode acarretar injustiças, pois enquanto o STF afasta a tipicidade material do delito o
STJ não goza do mesmo entendimento e assim não reconhece a atipicidade do fato.

Um dos motivos que pode acarretar essa diferença jurisprudencial é a recente


consideração do princípio da insignificância quando se trata do delito fiscal de
descaminho, pois ele é novo comparado aos outros princípios e a nossa legislação
penal.

O Supremo Tribunal Federal levou em consideração a aplicação do referido


princípio no delito fiscal/descaminho apenas em 2005, mais especificamente seu
primeiro julgado nesse sentido foi em 07/06/2005 no Recurso Extraordinário 559.904
de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence:

EMENTA: I. Recurso extraordinário: descabimento: falta de


prequestionamento da matéria constitucional suscitada no RE:
incidência das Súmulas 282 e 356. II. Recurso extraordinário,
requisitos específicos e habeas corpus de ofício. Em recurso
extraordinário criminal, perde relevo a inadmissibilidade do
RE da defesa, por falta de prequestionamento e outros vícios
formais, se, não obstante - evidenciando-se a lesão ou a ameaça à
liberdade de locomoção - seja possível a concessão de habeas-
corpus de ofício (v.g. RE 273.363, 1ª T., Sepúlveda Pertence, DJ
20.10.2000). III. Descaminho considerado como "crime de bagatela":
aplicação do "princípio da insignificância". Para a incidência
do princípio da insignificância só se consideram aspectos objetivos,
referentes à infração praticada, assim a mínima
ofensividade da conduta do agente; a ausência de periculosidade
social da ação; o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada (HC
84.412, 2ª T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). A
caracterização da infração penal como insignificante não abarca
considerações de ordem subjetiva: ou o ato apontado como delituoso
é insignificante, ou não é. E sendo, torna-se atípico, impondo-se o
40

trancamento da ação penal por falta de justa causa (HC 77.003, 2ª


T., Marco Aurélio, RTJ 178/310). IV. Concessão de habeas corpus de
ofício, para restabelecer a rejeição da denúncia. (BRASIL, 2017).

Já o Superior Tribunal de Justiça vem aplicando o referido princípio ao


crime de descaminho desde 12/11/1996 no Recurso Ordinário em Habeas Corpus
número 5920 RJ de relatoria do Ministro Cid Flaquer Scartezzini:

EMENTA: RHC - CONTRABANDO OU DESCAMINHO - ART. 334,


PAR. 1., "C", CP - PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA - RECURSO
PROVIDO. - NÃO CARACTERIZA O CRIME PREVISTO NO ART.
334, PAR. 1, "C", DO CP, A APREENSÃO EM DEPOSITO DE DUAS
UNIDADES DE MERCADORIAS DE INFIMO VALOR EM SITUAÇÃO
IRREGULAR, EM MEIO A GRANDE QUANTIDADE EXAMINADA E
DEVIDAMENTE ACOMPANHADA DE DOCUMENTAÇÃO FISCAL. -
RECURSO PROVIDO PARA O FIM DE TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. (BRASIL, 2017).

Dito isso, ficou demonstrado que o Supremo Tribunal Federal apenas levou
em consideração a aplicação do princípio da insignificância no delito de descaminho
nove anos após o Superior Tribunal de Justiça. Desde então foram 122 processos
julgados pelo STF, enquanto o STJ tem 751 julgados onde estavam presentes o
princípio da insignificância e o delito de descaminho, dentre esses estão os julgados
providos e os improvidos.

Concluindo, restaram demonstrados os critérios utilizados por ambos os


tribunais, STF e STJ, quando falamos em delito fiscal/descaminho, alguns idênticos
e outros divergentes, o que de certo modo poderá acarretar injustiças, pois teremos
decisões diferentes para o mesmo caso.

2.3 Os critérios adotados pela jurisprudência dos Tribunais Superiores


brasileiros para a aplicação do princípio da insignificância nos delitos
patrimoniais

Os critérios adotados pelos Tribunais Superiores para a aplicação do princípio


da insignificância em sua maioria seguem uma mesma linha de raciocínio entre os
dois Tribunais Superiores brasileiros, no caso do delito patrimonial. São eles: a) a
mínima ofensividade da conduta do agente; b) a ausência de periculosidade
41

social da ação; c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) a


inexpressividade da lesão jurídica causada. (QUEIROZ, 2008).

Portanto, para poder se valer do princípio da insignificância, é indispensável


requisitos mínimos, conforme salienta Celso de Mello citado por Pierpaolo Cruz
Bottini (2011, p. 2):

O acórdão paradigmático – embora não o primeiro - para a formação


da jurisprudência da Corte acerca do princípio da insignificância é de
relatoria do Ministro Celso de Mello (Habeas Corpus nº 84.412, DJ.
19.11.2004) que, na discussão acerca do furto no valor de R$25,00,
estabeleceu critérios norteadores para o reconhecimento do
princípio, a saber, (i) a mínima ofensividade da conduta do agente,
(ii) nenhuma periculosidade social da ação, (iii) reduzidíssimo grau
de reprovabilidade do comportamento e (iv) inexpressividade da
lesão jurídica provocada.

Neste sentido é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, conforme


Agravo Regimental no Habeas Corpus 141.540 / SC de relatoria do Ministro Luiz
Fux, julgado em 02/05/2017:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. CRIME DE FURTO. ARTIGO 155 DO
CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CF,
ART. 102, I, ‘D’ E ‘I’. ROL TAXATIVO. MATÉRIA DE DIREITO
ESTRITO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PARADOXO.
ORGANICIDADE DO DIREITO. INAPLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PELAS
IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO HABEAS CORPUS COMO
SUCEDÂNEO DE RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O princípio da insignificância incide
quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições
objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b)
nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de
reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão
jurídica provocada. 2. A aplicação do princípio deve, contudo, ser
precedida de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua
adoção indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de
pequenos delitos. 3. O princípio da bagatela é afastado quando
comprovada a contumácia na prática delitiva. Precedentes: HC
123.199-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de
13/03/2017, HC 115.672, Segunda Turma, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJe de 21/05/2013, HC nº 133.566, Segunda Turma,
Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 12/05/2016, ARE nº 849.776-AgR,
42

Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 12/3/2015, HC nº


120.662, Segunda Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de
21/8/2014, HC nº 120.438, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber,
DJe de 12/03/2014, HC nº 118.686, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe de 04/12/2013, HC nº 112.597, Segunda Turma, Rel. Min.
Cármen Lúcia, DJe de 10/12/2012. 4. In casu, inexiste
excepcionalidade que justifique a concessão, ex officio, da ordem,
porquanto, o valor subtraído (R$ 520,00) não é o único critério a ser
examinado para fins de aplicação do princípio da insignificância. In
casu, não se mostra presente o reduzido grau de reprovabilidade no
comportamento do agente, máxime em razão da habitualidade
delitiva revelada. 5. A competência originária do Supremo Tribunal
Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida,
exaustivamente, no artigo 102, inciso I, alíneas “d” e “i”, da
Constituição da República, sendo certo que o paciente não está
arrolado em qualquer das hipóteses sujeitas à jurisdição desta Corte.
6. O habeas corpus não pode ser manejado como sucedâneo de
recurso revisão criminal. 7. Agravo regimental desprovido. (BRASIL,
2017).

Reforçando, temos o Habeas Corpus 136.896 / MS de Relatoria do Ministro


Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016:

EMENTA Habeas corpus. Penal. Princípio da insignificância.


Condenação. Pena restritiva de direitos. Furto em detrimento de
estabelecimento comercial no período noturo de 2 (duas) barras de
ferro avaliadas em R$ 160,00 (cento e sessenta reais). Res furtiva
restituída à vítima. Ausência de prejuízo material. Paciente primário
não costumeiro na prática de crimes contra o patrimônio. Reduzido
grau de reprovabilidade de seu comportamento. Conduta que não
causou lesividade relevante à ordem social. Satisfação concomitante
dos vetores exigidos pela Corte ao reconhecimento da
insignificância. Ordem concedida. 1. A configuração do delito de
bagatela, conforme tem entendido a Corte, exige a satisfação de
determinados requisitos, a saber: a) a mínima ofensividade da
conduta do agente; b) a ausência de periculosidade social da ação;
c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) a
inexpressividade da lesão jurídica causada[...]. (BRASIL, 2017).

Referente aos critérios usados pelo Superior Tribunal de Justiça para aplicar o
princípio da insignificância nos delitos patrimoniais temos o informativo número 0542
de 27 de junho de 2014, que diz:

DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. Aplica-se o princípio da insignificância à conduta
formalmente tipificada como furto consistente na subtração, por réu
primário e sem antecedentes, de um par de óculos avaliado em R$
200,00. A lei penal não deve ser invocada para atuar em hipóteses
43

desprovidas de significação social, razão pela qual os princípios da


insignificância e da intervenção mínima surgem para evitar situações
dessa natureza, atuando como instrumentos de interpretação restrita
do tipo penal. Posto isso, conveniente trazer à colação excerto de
julgado do STF (HC 98.152-MG, DJ 5/6/2009), no qual foram
apresentados os requisitos necessários para a aferição do relevo
material da tipicidade penal: "O postulado da insignificância - que
considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade
penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima
ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade
social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada
- apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no
reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal
reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a
intervenção mínima do Poder Público em matéria penal". Na hipótese
em análise, verifica-se a presença dos referidos vetores, de modo a
atrair a incidência do princípio da insignificância. AgRg no RHC
44.461-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/5/2014.
(BRASIL, 2017).

Reforçando e juntamente apresentando mais detalhadamente os critérios


utilizados temos o informativo número 0540 de 28 de maio de 2014 do Superior
Tribunal De Justiça:

Aplica-se o princípio da insignificância à conduta formalmente


tipificada como furto consistente na subtração, por réu primário, de
bijuterias avaliadas em R$ 40 pertencentes a estabelecimento
comercial e restituídas posteriormente à vítima. De início, há
possibilidade de, a despeito da subsunção formal de um tipo penal a
uma conduta humana, concluir-se pela atipicidade material da
conduta, por diversos motivos, entre os quais a ausência de
ofensividade penal do comportamento verificado. Vale lembrar que,
em atenção aos princípios da fragmentariedade e da
subsidiariedade, o Direito Penal apenas deve ser utilizado contra
ofensas intoleráveis a determinados bens jurídicos e nos casos em
que os demais ramos do Direito não se mostrem suficientes para
protegê-los. Dessa forma, entende-se que o Direito penal não deve
ocupar-se de bagatelas. Nesse contexto, para que o magistrado
possa decidir sobre a aplicação do princípio da insignificância, faz-se
necessária a ponderação do conjunto de circunstâncias que rodeiam
a ação do agente para verificar se a conduta formalmente descrita no
tipo penal afeta substancialmente o bem jurídico tutelado. Nessa
análise, no crime de furto, avalia-se notadamente: a) o valor do bem
ou dos bens furtados; b) a situação econômica da vítima; c) as
circunstâncias em que o crime foi perpetrado, é dizer, se foi de dia ou
durante o repouso noturno, se teve o concurso de terceira pessoa,
sobretudo adolescente, se rompeu obstáculo de considerável valor
para a subtração da coisa, se abusou da confiança da vítima etc.; e
d) a personalidade e as condições pessoais do agente, notadamente
se demonstra fazer da subtração de coisas alheias um meio ou estilo
44

de vida, com sucessivas ocorrências (reincidente ou não). Assim,


caso seja verificada a inexpressividade do comportamento do
agente, fica afastada a intervenção do Direito Penal. Precedentes
citados do STJ: AgRg no REsp 1.400.317-MG, Sexta Turma, DJe
13/12/2013; HC 208.770-RJ, Sexta Turma, DJe 12/12/2013.
Precedentes citados do STF: HC 115.246-MG, Segunda Turma, DJe
26/6/2013; HC 109.134-RS, Segunda Turma, DJe 1º/3/2012. HC
208.569-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2014.
(BRASIL, 2017).

Dessa forma temos o Habeas Corpus número 208569 / RJ do Superior


Tribunal de Justiça de relatoria do Ministro Rogerio Schietti Cruz, julgado em
22/04/2014:

HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. WRIT SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. DESVIRTUAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
SUBTRAÇÃO DE BIJUTERIAS. ATIPICIDADE MATERIAL DA
CONDUTA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
MANIFESTO CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à nova jurisprudência
da Corte Suprema, também passou a restringir as hipóteses de
cabimento do habeas corpus, não admitindo que o remédio
constitucional seja utilizado em substituição ao recurso em ação
cabível, salvo nas hipóteses de flagrante ilegalidade, abuso de poder
ou teratologia jurídica.
2. A despeito da subsunção formal de um tipo penal a uma conduta
humana, é possível concluir-se pela atipicidade material da conduta,
por diversos motivos, entre os quais a ausência de ofensividade
penal do comportamento verificado.
3. Não mais se sustenta, no processo penal atual, a ideologia
mecanicista de aplicação da lei, motivo pelo qual se exige a
singularização do caso julgado, de modo a construir-se
artesanalmente a decisão, externando, mercê da suficiente
motivação do ato, as razões que levaram o órgão competente a,
apreciadas as questões fáticas, com suas particularidades, escolher,
entre as possíveis interpretações jurídicas, a que melhor o conduziu
à justa aplicação do direito ao caso concreto.
4. Levando em conta as exigências de uma leitura diferenciada do
conflito de natureza penal - dadas as peculiaridades que distinguem
a jurisdição penal da civil -, não há de se fechar o juiz criminal aos
mandados de otimização que derivam de princípios que interferem
na atividade punitiva do Estado, máxime aqueles que subjazem à
ideia da necessidade, como base justificadora e legitimadora da
sanção penal.
5. No caso dos autos, a conduta atribuída ao paciente - a subtração
de bijuterias, do estabelecimento comercial vítima, avaliadas em R$
40,00 - se caracteriza como de escassa ofensividade penal e social,
sobretudo quando considerado o pequeno valor da res furtiva; a
primariedade do acusado e a integral e pronta restituição do bem
subtraído.
45

6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para


trancar a Ação Penal n. 0026269-24.2010.8.19.066, em trâmite na 2ª
Vara Criminal da Comarca de Volta Redonda.

Como demonstrado, entre os dois Tribunais Superiores temos vários critérios


que devem ser analisados antes de ser possível a aplicação do princípio da
insignificância. São eles: o valor do objeto, a reincidência do indivíduo, as
circunstâncias em que o crime foi cometido, dentre outros.

A reincidência é um critério que sofreu certas alterações com o passar do


tempo, principalmente nos últimos anos. Anteriormente se o réu fosse reincidente
automaticamente seria excluída a possibilidade da aplicação do princípio da
insignificância. Contudo, agora deve-se analisar mais cuidadosamente o caso
concreto pois a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto.

Dessa maneira temos o Habeas Corpus do Supremo Tribunal Federal número


106.292 / MG de relatoria do Ministro Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016:

EMENTA HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL E


DIREITO PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO
CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. TENTATIVA
DE FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HABITUALIDADE
DELITIVA. REPROVABILIDADE DACONDUTA. 1. Contra a
denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a
Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário.
Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a
impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo
escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao
preceito constitucional. 2. A pertinência do princípio da
insignificância deve ser avaliada considerando os aspectos
relevantes da conduta imputada. 3. A habitualidade delitiva revela
reprovabilidade suficiente a afastar a aplicação do princípio da
insignificância (ressalva de entendimento da Relatora). Precedentes.
4. Habeas corpus não conhecido.

Desta forma é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito da


reincidência, em regra quando o réu possuir mais de uma condenação transitada em
julgado por crimes de mesma natureza, por si só, será suficiente para a não
incidência do princípio da insignificância, conforme Agravo Regimental No Agravo
46

Em Recurso Especial número 1020261 / MG de relatoria do Ministro Rogerio Schietti


Cruz, julgado em 04/05/2017:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. AGRAVO NÃO
PROVIDO.
1. As instâncias ordinárias destacaram que o agravante registra mais
de uma condenação definitiva pretérita e responde a outros
processos por crimes de mesma natureza, a evidenciar a sua
contumácia em condutas destinadas a subtrair o patrimônio alheio, o
que, nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, é suficiente
para obstar, por si só, a incidência do princípio da insignificância.
2. Agravo regimental não provido.

Reforçando este entendimento do STJ temos o Agravo Regimental no


Agravo em Recurso Especial número 1005824 / MG de relatoria do Ministro Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 02/05/2017:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. VALOR DA RES
FURTIVA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. As instâncias ordinárias destacaram que o agravante registra mais
de uma condenação definitiva pretérita por crimes de mesma
natureza, a evidenciar a sua contumácia em condutas destinadas a
subtrair o patrimônio alheio, o que, nos termos da jurisprudência
desta Corte Superior, é suficiente para obstar, por si só, a incidência
do princípio da insignificância.
2. Além disso, o valor dos bens subtraídos (R$ 130,00) não permite
concluir pela inexpressividade da lesão jurídica, nos termos da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
3. Agravo regimental não provido.

O Supremo Tribunal Federal, por outro lado, atualizou o seu entendimento


sobre a reincidência, pois da mesma forma que o direito evoluí a nossa
compreensão sobre ele deve evoluir, conforme o Agravo regimental em habeas
corpus número 126.174 / MG de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, julgado em
26/04/2016:

Agravo regimental em habeas corpus. 2. Furto. Insignificância. No


julgamento conjunto dos HC 123.108, 123.533 e 123.734, o STF
fixou orientação sobre a aplicação do princípio da insignificância aos
casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados em
47

3.8.2015. Decidiu que, se a coisa subtraída é de valor ínfimo (i)


a reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras
do art. 155, § 4º, devem ser levadas em consideração, podendo
acarretar o afastamento da aplicação da insignificância; e (ii)
nenhuma dessas circunstâncias determina, por si só, o
afastamento da insignificância, cabendo ao juiz analisar se a
aplicação de pena é necessária. Além disso, conclui que, (iii) uma
vez aplicada pena privativa de liberdade inferior a quatro anos de
reclusão ao reincidente, o juiz pode, se considerar suficiente, aplicar
o regime inicial aberto, afastando a incidência do art. 33, § 2º, “c”, do
CP. 3. As instâncias ordinárias têm margem larga para avaliação dos
casos, concluindo pela aplicação ou não da sanção e, se houver
condenação, fixando o regime. Essa atividade envolve análise do
conjunto das circunstâncias e provas produzidas no caso concreto.
Apenas em hipóteses excepcionais a via do habeas corpus será
adequada a rever condenações. 4. Aplicação do princípio da
insignificância. Subtração de aparelho celular, avaliado em R$ 72,00
(setenta e dois reais). Reincidência específica. O paciente registrava
uma série de condenações e antecedentes, indicando que o furto em
questão não fora uma ocorrência criminal isolada em sua vida. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento.

Contudo, se na teoria o Supremo Tribunal Federal evoluiu seu


entendimento, na pratica nem tanto, pois alguns julgados que tinham apenas a
reincidência como fator negativo para a aplicação do princípio da insignificância
tiveram sua ordem denegada.

Dessa forma temos o Habeas Corpus número 123.734 / MG de relatoria do


Ministro Roberto Barroso, Julgado em 03/08/2015:

Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE


FURTO TENTADO. RÉU PRIMÁRIO. QUALIFICAÇÃO POR
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO E ESCALADA. 1. A aplicação do
princípio da insignificância envolve um juízo amplo (“conglobante”),
que vai além da simples aferição do resultado material da conduta,
abrangendo também a reincidência ou contumácia do agente,
elementos que, embora não determinantes, devem ser considerados.
2. Por maioria, foram também acolhidas as seguintes teses: (i) a
reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso
concreto; e (ii) na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou
socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância
por furto, em situações em que tal enquadramento seja cogitável,
eventual sanção privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra
geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33,
§ 2º, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da
proporcionalidade. 3. Caso em que a maioria formada no Plenário
entendeu por não aplicar o princípio da insignificância, nem abrandar
48

a pena, já fixada em regime inicial aberto e substituída por restritiva


de direitos. 4. Ordem denegada.

Neste julgado podemos perceber a controvérsia e até mesmo a seletividade


entranhada na jurisprudência dos Tribunais Superiores, pois além de se tratar de
furto tentado, onde não houve prejuízo a vítima do delito, o réu era primário,
sobrando apenas a qualificação por rompimento de obstáculo e escalada como
critério prejudicial à aplicação do princípio da insignificância.

Desta mesma maneira temos o Habeas Corpus 123.108 / MG de relatoria do


Ministro Teori Zavascki, julgado em 03/08/2015:

Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE


FURTO SIMPLES. REINCIDÊNCIA. 1. A aplicação do princípio da
insignificância envolve um juízo amplo (“conglobante”), que vai além
da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo
também a reincidência ou contumácia do agente, elementos que,
embora não determinantes, devem ser considerados. 2. Por maioria,
foram também acolhidas as seguintes teses: (i) a reincidência não
impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância
penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto; e (ii) na
hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente
indesejável a aplicação do princípio da insignificância por furto, em
situações em que tal enquadramento seja cogitável, eventual sanção
privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra geral, em regime
inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP no
caso concreto, com base no princípio da proporcionalidade. 3. No
caso concreto, a maioria entendeu por não aplicar o princípio da
insignificância, reconhecendo, porém, a necessidade de abrandar o
regime inicial de cumprimento da pena. 4. Ordem concedida de
ofício, para alterar de semiaberto para aberto o regime inicial de
cumprimento da pena imposta ao paciente. (BRASIL, 2017).

A respeito do Habeas Corpus número 123.108 do Supremo Tribunal Federal,


juntamente com mais dois HC temos o informativo nº 793 do STF:

A incidência do princípio da insignificância deve ser feita caso a caso.


Essa a orientação do Plenário ao concluir julgamento conjunto de
três “habeas corpus” impetrados contra julgados que mantiveram a
condenação dos pacientes por crime de furto e afastaram a aplicação
do mencionado princípio — v. Informativo 771. No HC 123.108/MG, o
paciente fora condenado à pena de um ano de reclusão e dez dias-
multa pelo crime de furto simples de chinelo avaliado em R$ 16,00.
Embora o bem tenha sido restituído à vítima, o tribunal local não
substituíra a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em
49

razão da reincidência. Nesse caso, o Colegiado, por decisão


majoritária, denegou a ordem, mas concedeu “habeas corpus” de
ofício para fixar o regime aberto para cumprimento de pena. No HC
123.533/SP, a paciente fora condenada pela prática
de furto qualificado de dois sabonetes líquidos íntimos avaliados em
R$ 40,00. O tribunal de origem não aplicara o princípio da
insignificância em razão do concurso de agentes e a condenara a um
ano e dois meses de reclusão, em regime semiaberto e cinco dias-
multa. Na espécie, o Pleno, por maioria, denegou a ordem, mas
concedeu “habeas corpus” de ofício para fixar o regime aberto para
cumprimento de pena. Por fim, no HC 123.734/MG, o paciente fora
sentenciado pelo furto de 15 bombons caseiros, avaliados em R$
30,00. Condenado à pena de detenção em regime inicial aberto, a
pena fora substituída por prestação de serviços à comunidade e, não
obstante reconhecida a primariedade do réu e a ausência de prejuízo
à vítima, o juízo de piso afastara a incidência do princípio da
insignificância porque o furto fora praticado mediante escalada e com
rompimento de obstáculo. No caso, o Colegiado, por decisão
majoritária, denegou a ordem. HC 123108/MG, rel. Min. Roberto
Barroso, 3.8.2015. (HC-123108). (BRASIL, 2017).

Como demonstrado nesses Julgados a única situação desfavorável ao


princípio da insignificância era ou a reincidência ou a qualificadora. Porém, em
ambos a ordem foi denegada, sendo que no primeiro a res furtiva foi restituída à
vítima, e nos outros dois os réus eram primários. Diante disso, ainda vemos a
contrariedade entre a teoria e a prática nos julgados, o que é um fator primordial
para a consolidação da seletividade no sistema penal brasileiro.

Em contrapartida, temos decisões em que mesmo o réu tendo condenação


anterior transitada em julgado em crime de mesma natureza, os Tribunais
Superiores entenderam que a conduta do paciente não traduz lesividade efetiva e
concreta ao bem jurídico tutelado.

Em concordância com o que foi dito temos o Habeas Corpus do Superior


Tribunal de Justiça número 299185 / SP de relatoria do Ministro Sebastião Reis
Júnior, julgado em 09/09/2014:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. FALTA DE CABIMENTO.


TENTATIVA DE FURTO SIMPLES. BENS DE PEQUENO VALOR
RESTITUÍDOS À VÍTIMA. REGISTRO DE ANTECEDENTE
CRIMINAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
50

1. O habeas corpus tem suas hipóteses de cabimento restritas, não


devendo vir como sucedâneo do meio próprio cabível.
2. Mesmo diante de writ manifestamente incabível, ao se deparar
com evidente coação ilegal, cabe ao Superior Tribunal de Justiça
expedir ordem de ofício.
3. A intervenção do Direito Penal há de ficar reservada para os casos
realmente necessários. Para o reconhecimento da insignificância da
ação, não se pode levar em conta apenas a expressão econômica da
lesão. Todas as peculiaridades do caso concreto devem ser
consideradas, por exemplo, o grau de reprovabilidade do
comportamento do agente, o valor do objeto, a restituição do bem, a
repercussão econômica para a vítima, a premeditação, a ausência de
violência, o tempo do agente na prisão pela conduta etc.
4. Nem a reincidência nem a reiteração criminosa, tampouco a
habitualidade delitiva, são suficientes, por si sós e isoladamente,
para afastar a aplicação do denominado princípio da insignificância.
5. Na espécie, as oito barras de chocolate foram integralmente
restituídas ao supermercado vítima da tentativa de furto, e, não
obstante a certidão de antecedentes criminais indicar uma
condenação transitada em julgado em crime de mesma natureza, a
conduta do paciente não traduz lesividade efetiva e concreta ao bem
jurídico tutelado.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem expedida de ofício,
extinguindo-se a ação penal.

Reiterando este entendimento temos o Agravo Regimental no Agravo em


Recurso Especial número 1015551 / MG de relatoria do Ministro Jorge Mussi,
julgado em 18/04/2017:

REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE, NA
ESPÉCIE. REINCIDÊNCIA. INEXPRESSIVIDADE DOS BENS
SUBTRAÍDOS. MEDIDA SOCIALMENTE RECOMENDADA.
RECURSO IMPROVIDO.
1. A aplicação do princípio da insignificância reflete o
entendimento de que o Direito Penal deve intervir somente nos casos
em que a conduta ocasionar lesão jurídica de certa gravidade,
devendo ser reconhecida a atipicidade material de perturbações
jurídicas mínimas ou leves, estas consideradas não só no seu
sentido econômico, mas também em função do grau de afetação da
ordem social que ocasionem.
2. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio
da insignificância tem como vetores a mínima ofensividade da
conduta, nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão
jurídica provocada. 3. A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação
do princípio da insignificância, salvo se verificado, no caso concreto,
ser a medida socialmente recomendável.
4. Na espécie, as peculiaridades do caso denotam a possibilidade
excepcional de conferir ao recorrido o benefício da bagatela, uma vez
que foram subtraídos gêneros alimentícios (arroz, feijão e latas de
51

óleo), cujo valor se mostra irrisório em comparação com o salário


mínimo vigente à época, circunstância que não indica a
reprovabilidade do comportamento, suficiente e necessária a
recomendar a intervenção estatal.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.

Diante dos julgados analisados devemos perceber a grande diferenciação


que há, em ambos os tribunais, quando falamos em réu reincidente e em
habitualidade delitiva, pois na teoria está consolidado o entendimento de que
nenhuma é suficiente, por si só e isoladamente, para afastar a aplicação do princípio
da insignificância. Porém, na prática percebemos que ao indivíduo reincidente, com
apenas uma condenação transitada em julgado no mesmo delito, é aplicado o
referido princípio, mas ao indivíduo com duas ou mais não se aplica.

Porém, devemos tomar cuidado ao analisar certos julgados, pois como dito
antes, a seletividade está tão entranhada no nosso sistema penal que se torna
explícita, quase vulgar, como no caso em que o princípio da insignificância não é
aplicado a um furto pelo réu ter condenação anterior transitado em julgado por lesão
corporal. Nesse sentido temos o Habeas Corpus número 114.723 / MG de relatoria
do Ministro Teori Zavascki, julgado em 26/08/2014:

Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS
SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA
DE INFRAÇÕES PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É
O PATRIMÔNIO. DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para se
caracterizar hipótese de aplicação do denominado “princípio da
insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é
indispensável que a conduta do agente seja marcada por
ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de
reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade
social. 2. Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito
negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante,
muito mais abrangente que a simples expressão do resultado da
conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu
sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância
apenas do resultado material, acabe desvirtuado o objetivo a que
visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de
se considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade
geral que dá sentido à ordem normativa” (Zaffaroni), levando em
conta também que o próprio legislador já considerou hipóteses de
irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas
para mitigar a pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de furto de
52

um engradado que continha vinte e três garrafas vazias de cerveja e


seis cascos de refrigerante, também vazios, bens que foram
avaliados em R$ 16,00 e restituídos à vítima. Consideradas tais
circunstâncias, é inegável a presença dos vetores que autorizam a
incidência do princípio da insignificância. 4. À luz da teoria da
reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos, a
contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem
jurídico tutelado pela norma penal não pode ser valorada, porque
ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente
considerada), como fator impeditivo do princípio da insignificância. 5.
Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau, na
parte em que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e
absolveu o paciente pelo delito de furto.

Além disso deverão ser analisadas todas as circunstâncias presentes no


delito, como qualificadoras e quaisquer outras peculiaridades do caso concreto.
Dessa forma temos o Habeas Corpus do Superior Tribunal de Justiça número
391923 / SP de relatoria do Ministro Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em
09/05/2017:

HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO


PRÓPRIO. FURTO QUALIFICADO TENTADO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. PACIENTE REINCIDENTE.
PRISÃO PREVENTIVA. RÉU COM EXTENSA LISTA DE
ANTECEDENTES CRIMINAIS. RISCO DE REITERAÇÃO.
NECESSIDADE DA PRISÃO PARA GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento firmado
pelo Supremo Tribunal Federal, passou a não admitir o
conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para
a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido formulado na inicial,
tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em
razão da existência de eventual coação ilegal.
2. O princípio da insignificância deve ser analisado em conexão com
os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do
Estado em matéria penal, no sentido de excluir ou afastar a própria
tipicidade penal, observando-se a presença de "certos vetores, como
(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada" (HC 98.152/MG, Rel. Ministro CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, DJe 5/6/2009).
3. A reiteração no cometimento de infrações penais se reveste de
relevante reprovabilidade e, em regra, se mostra incompatível com a
aplicação do princípio da insignificância. No caso, tendo em vista que
o paciente é reincidente, não é aplicável o aludido princípio.
4. A privação antecipada da liberdade do cidadão acusado de crime
reveste-se de caráter excepcional em nosso ordenamento jurídico, e
a medida deve estar embasada em decisão judicial fundamentada
53

(art. 93, IX, da CF), que demonstre a existência da prova da


materialidade do crime e a presença de indícios suficientes da
autoria, bem como a ocorrência de um ou mais pressupostos do
artigo 312 do Código de Processo Penal. Exige-se, ainda, na linha
perfilhada pela jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de
Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que a decisão esteja pautada
em motivação concreta, sendo vedadas considerações abstratas
sobre a gravidade do crime.
5. No presente caso, a prisão preventiva está devidamente justificada
para a garantia da ordem pública, em razão da periculosidade do
agente, evidenciada por dados de sua vida pregressa, notadamente
por ostentar diversas passagens pela polícia (posse de drogas para
consumo, tráfico, roubo qualificado, estelionato e furtos simples
consumados e tentados), bem como quatro condenações, sendo três
definitivas (roubo qualificado, furto simples tentado e lesão corporal)
e uma não definitiva (furto simples). A prisão preventiva, portanto,
mostra-se indispensável para conter a reiteração na prática de
crimes e garantir a ordem pública.
6. Mostra-se indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão, quando evidenciada a sua insuficiência para acautelar a
ordem pública.
7. Habeas corpus não conhecido.

Ainda temos o Habeas Corpus do Supremo Tribunal Federal número


131.618 / MS de relatoria da Ministra Cármen Lúcia, julgado em 15/12/2015:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL.


TENTATIVA DE FURTO DE UMA BATERIA AUTOMOTIVA
AVALIADA EM R$100,00 (CEM REAIS). PRETENSÃO DE
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. PACIENTE REINCIDENTE. DELITO
COMETIDO COM ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. ORDEM
DENEGADA. 1. A verificação da tipicidade penal não pode ser
percebida como o exercício abstrato de adequação do fato concreto
à norma jurídica. Além da correspondência formal, para a
configuração da tipicidade é necessária análise materialmente
valorativa das circunstâncias da espécie em exame, no sentido de se
concluir sobre a ocorrência de alguma lesão grave, contundente e
penalmente relevante do bem jurídico tutelado. Paciente reincidente.
Não incidência do princípio da insignificância. 2. A circunstância de
ter sido cometido o crime pelo Paciente com rompimento de
obstáculo, confirmada nas instâncias antecedentes, também afasta a
incidência do princípio da insignificância. 3. Ordem denegada.

Outro critério importante é o valor da res furtiva. Este, porém, não tem um
entendimento consolidado, diferentemente do delito fiscal/descaminho, pois há, de
certo modo, discordância até mesmo entre julgados do STF.
54

Desta forma temos o Habeas Corpus do STF número 108.149 / RS de


relatoria da Ministra Carmem Lúcia, julgado em 15/05/2012, que nos traz como valor
máximo para aplicação do princípio da insignificância um décimo do salário mínimo
vigente a época do fato, in verbis:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO QUALIFICADO DE


CHEQUE PREENCHIDO NO VALOR DE R$ 400,00.
APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:
INVIABILIDADE. ALTO GRAU DE REPROVABILIDADE DA
CONDUTA. ORDEM DENEGADA. 1. A tipicidade penal não pode ser
percebida como o trivial exercício de adequação do fato concreto à
norma abstrata. Além da correspondência formal, para a
configuração da tipicidade, é necessária uma análise materialmente
valorativa das circunstâncias do caso concreto, no sentido de se
verificar a ocorrência de alguma lesão grave, contundente e
penalmente relevante do bem jurídico tutelado. 2. O princípio da
insignificância reduz o âmbito de proibição aparente da tipicidade
legal e, por consequência, torna atípico o fato na seara penal, apesar
de haver lesão a bem juridicamente tutelado pela norma penal. 3.
Para a incidência do princípio da insignificância, devem ser relevados
o valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato, tais como
a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica causada. 4.
Nas circunstâncias do caso, o fato não é penalmente irrelevante do
ponto de vista social, pois, além do cheque subtraído ter sido
preenchido e sacado no valor de R$ 400,00, o que se aproxima
do valor do salário mínimo da época em que se deram os fatos, a
jurisprudência deste Supremo Tribunal é firme no sentido de que o
cheque furtado e preenchido com valor superior a um décimo do
mais alto salário mínimo do país não enseja adoção do princípio da
insignificância. Precedentes. 5. Habeas corpus denegado.

Por outro lado, temos o Habeas Corpus número 138.697 / MG de relatoria


do Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 16/05/2017, onde o valor da res furtiva
era superior a 10% (dez por cento) do salário mínimo vigente a época do fato,
contudo, foi aplicado o princípio da insignificância após analisado o caso concreto, in
verbis:

Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO


PELO CRIME PREVISTO NO ART. 155, CAPUT, COMBINADO
COM O ART. 61, I E ART. 65, III, TODOS DO CÓDIGO PENAL.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CONDENAÇÃO ANTERIOR.
POSSE DE ENTORPECENTES PARA USO PRÓPRIO. ART. 16 DA
LEI 6.368/1976. APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE. ORDEM
CONCEDIDA. I - O paciente foi condenado pela prática do crime
55

descrito no art. 155, caput, combinado com o art. 61, I, e art. 65, III,
todos do Código Penal, pelo furto de aparelho celular, avaliado em
R$ 90,00 (noventa reais). II - Nos termos da jurisprudência deste
Tribunal, a aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar
a ação atípica, exige a satisfação de certos requisitos, de forma
concomitante: a conduta minimamente ofensiva, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e a lesão jurídica inexpressiva. III - Assim, ainda que
conste nos autos registro de uma única condenação anterior pela
prática do delito de posse de entorpecentes para uso próprio,
previsto no art. 16 da Lei 6.368/1976, ante inexpressiva ofensa ao
bem jurídico protegido e a desproporcionalidade da aplicação da lei
penal ao caso concreto, deve ser reconhecida a atipicidade da
conduta. Possibilidade da aplicação do princípio da insignificância.
Precedente. IV - Ordem concedida para trancar a ação penal.

Desta maneira também é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.


Está consolidado o entendimento de que para ser possível a incidência do princípio
da insignificância a res furtiva não pode ultrapassar o valor máximo de 10% (dez por
cento) do salário mínimo vigente há época do delito.

A respeito do que foi dito temos o Habeas Corpus número 387862 / RS de


relatoria do Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/04/2017:

HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO


PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.
DELITO DE FURTO QUALIFICADO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR DO BEM
SUBTRAÍDO (BOTIJÃO DE GÁS) ULTRAPASSA 10% DO VALOR
DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO DELITO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento firmado
pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, não tem admitido
a impetração de habeas corpus em substituição ao recurso próprio,
prestigiando o sistema recursal ao tempo que preserva a importância
e a utilidade do habeas corpus, visto permitir a concessão da ordem,
de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade.
2. Consoante já assentado pelo Supremo Tribunal Federal, a
incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância
de quatro vetores: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b)
nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada (HC n. 84.412/SP, de relatoria do Ministro Celso
de Mello, DJU 19/4/2004). 3. De maneira meramente indicativa e não
vinculante, a jurisprudência desta Corte, dentre outros critérios,
aponta o parâmetro da décima parte do salário mínimo vigente ao
tempo da infração penal, para aferição da relevância da lesão
patrimonial. 4. Na espécie, é inviável a aplicação do princípio da
56

insignificância, pois, o bem subtraído (botijão de gás avaliado em R$


150,00) ultrapassa os 10% do valor do salário mínimo vigente à
época do crime (R$ 622,00), e o histórico do paciente (condenação
por roubo e crime contra a administração pública) impedem a
aplicação da bagatela ao caso. Precedentes.
5. Habeas corpus não conhecido.

Desta mesma forma temos o Agravo Regimental No Agravo Em Recurso


Especial número 983530 / MG de relatoria do Ministro Felix Fischer, julgado em
20/04/2017:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


FURTO PRIVILEGIADO. ATIPICIDADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. VALOR DO BEM
SUPERIOR A 10% (DEZ POR CENTO) DO SALÁRIO MÍNIMO.
I - A atipicidade material da conduta pela incidência do princípio da
insignificância pressupõe a presença de todos os vetores para sua
caracterização, quais sejam: (a) mínima ofensividade da conduta; (b)
nenhuma periculosidade social da ação; (c) reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento, e; (d) inexpressividade da lesão
jurídica provocada.
II. No caso destes autos, o valor do objeto subtraído supera o
balizamento indicado pela jurisprudência desta Corte, que, dentre
outros critérios, adotou como limite 10% do salário mínimo vigente à
época dos fatos para definir a aplicação do princípio da
insignificância. Agravo regimental desprovido.

Dito isso nos fica demonstrada a diferença entre os dois tribunais, em tese
os dois tem o mesmo entendimento, de que para ser possível a incidência do
princípio da insignificância a res furtiva não poderá ultrapassar o valor máximo de
10% (dez por cento) do salário mínimo vigente a época do delito. Porém na prática
não é isso que vemos, enquanto o STJ segue este entendimento à risca, o STF leva
mais em consideração a análise das peculiaridades do caso concreto, muitas vezes
aplicando o princípio mesmo quando o valor da res furtiva ultrapassa os 10%, como
foi demonstrado no HC 138.697 / MG.

Atualmente um caso teve bastante repercussão na mídia brasileira, onde uma


mulher foi condenada a 3 anos e 2 meses de reclusão pelo furto de 19 ovos de
Páscoa, sete barras de chocolate, dois peitos de frango e quatro vidros de perfume
em São Paulo. A respeito desse fato temos a Decisão Monocrática do Ministro do
Superior Tribunal de Justiça Nefi Cordeiro no HC 400229, publicada em 25/05/2017:
57

HABEAS CORPUS Nº 400.229 - SP (2017/0116055-0) RELATOR:


MINISTRO NEFI CORDEIRO IMPETRANTE: DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ADVOGADO: MAIRA
CORACI DINIZ - SP0248959 IMPETRADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE: ALINE DE CASSIA
MARTINEZ MAMANI (PRESO) DECISÃO A concessão de liminar em
habeas corpus é medida excepcional, somente cabível quando, em
juízo perfunctório, observa-se, de plano, evidente constrangimento
ilegal. Esta não é a situação presente, onde as pretensões de
absolvição por atipicidade material da conduta, em razão da
aplicação do princípio da insignificância ou a readequação da pena
ou, ainda, a determinação de que a condenação seja cumprida em
prisão domiciliar, são claramente satisfativas, de igual modo
descabendo a liminar expedição do alvará de soltura, para que possa
aguardar o julgamento do presente writ em liberdade, melhor
cabendo seu exame no julgamento de mérito pelo colegiado, juiz
natural da causa, assim inclusive garantindo-se a necessária
segurança jurídica. E, quanto ao regime prisional, não se vislumbra a
presença dos requisitos autorizativos da medida urgente, sobretudo o
fumus boni iuris, pois a admissão de circunstâncias judiciais
gravosas ao réu reincidente faz admitir como possível a fixação do
regime prisional fechado, devendo ser oportunamente analisado o
pleito pelo Colegiado, após a devida instrução dos autos. Ante o
exposto, indefiro o pedido de liminar. Oficie-se solicitando
informações à autoridade apontada como coatora e ao juízo de
primeiro grau. Após, ao Ministério Público Federal, para
manifestação. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 22 de maio de 2017.
MINISTRO NEFI CORDEIRO Relator. (BRASIL, 2017).

Os principais fatores, nesse caso, que podem acarretar a não aplicação do


princípio da insignificância são a reincidência e o valor da res furtiva, que chegou a
R$ 1,1 mil, além da ré ter cometido o crime enquanto cumpria pena em regime
aberto.

Ainda temos o Habeas Corpus do Superior Tribunal de Justiça número


43.513, de relatoria do ministro Paulo Gallotti, julgado em 23/04/2005:

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO DE UM FRASCO DE


XAMPU E OUTRO DE CONDICIONADOR. PRESCRIÇAO DA
PRETENSAO PUNITIVA. TRANCAMENTO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. TEMAS NAO
ENFRENTADOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. SUPRESSAO DE
INSTÂNCIA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA
CONDENATÓRIA. NAO PREJUDICIALIDADE DO WRIT.
1. Em princípio, não é dado ao Superior Tribunal de
Justiça examinar, em habeas corpus, tese não enfrentada pelo
Tribunal de origem, pena de supressão de instância.
58

2. A superveniência de sentença não prejudica o


julgamento de habeas corpus impetrado com o objetivo de trancar a
ação penal por falta de justa causa.
3. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa
extensão, concedido para determinar que o Tribunal de Justiça de
São Paulo julgue o mérito do habeas corpus ali impetrado, de
nº 515.336/1-00, bem como para assegurar à paciente o direito de
aguardar em liberdade o trânsito em julgado da sentença.

No referido julgado temos a paciente Maria Aparecida de Matos, presa por


tentar furtar um xampu e um condicionador, produtos avaliados em 24 reais. Ela
ficou presa por um ano e sete dias até ser posta em liberdade, ocorre que durante
esse tempo presa houve uma rebelião na cadeia em que ela se encontrava e nesse
episódio foi lançada uma bomba de gás lacrimogêneo contra as presas, após uma
das presas jogou agua no rosto de Maria para tentar ajudá-la a se limpar, porem
essa combinação fez com que seu olho se corroesse até ela perder a visão do olho
esquerdo.

Concluindo, nos restou demonstrada as consequências advindas da não


aplicação do princípio da insignificância no momento oportuno, pois parece que se
criou, de certo modo, um hábito de nas instâncias primárias não ser reconhecida a
insignificância do delito, para apenas em grau recursal nos Tribunais Superiores ser
aplicado o referido princípio.

Demonstrados os motivos e critérios usados pelos Tribunais Superiores para


aplicação, assim como, para a não aplicação do princípio da insignificância podemos
concluir que, apesar de todo um discurso feito pelos Tribunais Superiores visando a
proteção de direitos fundamentais, seus julgados são seletivos.
59

CONCLUSÃO

O princípio da insignificância, como demonstrado, busca afastar a tipicidade


da conduta do agente, eliminando qualquer possível repressão, tanto no direito
penal como em todas suas outras áreas, e com isso protegendo o indivíduo e a
sociedade de possíveis reflexos que seriam causados pela aplicação de uma sanção
penal a um indivíduo pela prática de um delito de valor ínfimo, onde a aplicação
desta sanção seria mais gravosa do que o próprio delito.

O principal objetivo deste trabalho foi demonstrar a seletividade punitiva


presente nos julgados dos Tribunais Superiores brasileiros, Supremo Tribunal
Federal e Superior Tribunal de Justiça, comparando os requisitos aplicados por
ambos em dois tipos de delitos, o fiscal/descaminho, normalmente praticado por
pessoas pertencentes a classes sociais privilegiadas, e o patrimonial, normalmente
praticado por pessoas pauperizadas e socialmente desfavorecidas. A partir desta
análise, ficou demonstrada a diferença entre os tribunais, e até mesmo a diferença
de análise dentro do mesmo tribunal.

A partir da análise de vários julgados dos Tribunais Superiores foi ficando


evidente que a falta de parâmetros precisos para aplicação do referido princípio é
uma das razões da consolidação da seletividade no sistema punitivo brasileiro,
quando se compara a incidência do princípio nos julgados que envolvem pequenos
delitos patrimoniais praticados por pessoas pobres, e nos delitos fiscais praticados
por pessoas pertencentes aos estratos privilegiados da sociedade. Também temos a
diferença entre julgados do STF e STJ como outra razão, pois enquanto um aplica a
portaria 75 do Ministério da fazenda ao delito fiscal, o outro não aplica.
60

Portanto, resta demonstrada que a falta de um quantum específico e de


parâmetros precisos para a aplicação do princípio da insignificância, além da classe
social e do poder econômico do indivíduo, são causas determinantes para a
seletividade punitiva dentro dos julgados dos Tribunais Superiores.

Em virtude dos fatos mencionados fica claro que o objetivo desta monografia
foi atingido, pois além de demonstrar a enorme desigualdade que há, quando
comparamos a incidência do princípio da insignificância, nos delitos fiscais e nos
delitos patrimoniais, também foi evidenciada a presença da seletividade que permeia
as decisões dos Tribunais Superiores brasileiros.
61

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