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Direito Processual Penal

Professor Renato Ercolin

INQUÉRITO POLICIAL

PERSECUÇÃO PENAL públicas, assim como outras infrações cuja prática


tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
Pode ser compreendida como a atividade de apuração das repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
infrações penais e a sua autoria, envolvendo as fases de (...)
investigação e processual. IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia
O inquérito policial está inserido na fase de investigação, judiciária da União
pré-processual ou preliminar. A fase processual se dá no § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
bojo da ação penal, num segundo momento. de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
Em regra, a investigação será realizada pela Polícia Civil ou União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
Polícia Federal (polícias judiciárias), conforme a atribuição infrações penais, exceto as militares.
de cada uma.
A investigação sempre será feita por meio da polícia A polícia administrativa ou de segurança é a que atua de
judiciária, valendo-se do inquérito policial? forma preventiva, de forma ostensiva, visando impedir que
Não, existem outros procedimentos investigativos ocorram infrações penais. Ex.: Polícia Militar dos Estados;
distintos do inquérito policial e outros órgãos que também Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal.
tem a atribuição de investigar
Exemplos: CONCEITO E FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL
• Inquéritos parlamentares, feitos pelas Comissões
Parlamentares de Inquérito – CPI; É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária
• Inquéritos policiais militares, a cargo da polícia para a apuração de uma infração penal e sua autoria,
judiciária militar, nos crimes militares; viabilizando o oferecimento de ação penal pelo seu titular.
• Procedimentos de Investigação Criminal – PIC, a cargo O inquérito policial serve de base para a futura ação penal
do Ministério Público;
• Inquéritos contra membros do Ministério Público, os (Art. 12, do CPP: “O inquérito policial acompanhará a
quais são presididos pelo PGJ; denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma
• Inquéritos contra juiz de direito, presididos por ou outra”)
Desembargador sorteado;
• Investigações do Conselho de Controle de Atividades O inquérito policial será presidido pelo Delegado de Polícia,
Financeiras (COAF) sobre atividades ilícitas que que determinará a realização de diligências para apurar a
configurem lavagem de dinheiro. (aplica penas materialidade e a autoria de uma infração penal.
administrativas e encaminha os fatos apurados para as
autoridades competentes) NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO POLICIAL
• Termos Circunstanciados, nos crimes de menor
potencial ofensivo, lavrados pela própria polícia É um procedimento administrativo, inquisitivo, de caráter
judiciária) preliminar e informativo.

POLÍCIA JUDICIÁRIA X POLÍCIA ADMINISTRATIVA: CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL:

A polícia judiciária é a que atua, em regra, após a ocorrência 1. É peça administrativa: o IP é peça meramente
das infrações penais, possuindo caráter repressivo. informativa. Seus vícios não afetarão ação penal
Constatada a existência de uma infração penal, incumbe à futura;
polícia judiciária a apuração da sua materialidade e autoria 2. Escrito: Eventuais atos produzidos oralmente terão
(Polícia Federal e Polícia Civil. Polícia Militar apenas que ser reduzidos a termo (art. 9º, CPP). Isso não
quando atua apurando crimes militares.). impede que sejam utilizados recursos audiovisuais. O
que importa é que estejam documentados. Não existe
Art. 144, CF IP oral e todos os elementos de informação obtidos
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão devem estar nele documentados.
permanente, organizado e mantido pela União e 3. Discricionariedade: Recebendo a notícia de uma
estruturado em carreira, destina-se a infração penal que deve ser apurada por meio
I - apurar infrações penais contra a ordem política e de IP, a autoridade policial deve instaurá-lo. A
social ou em detrimento de bens, serviços e interesses discricionariedade se volta para a forma de condução
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas das investigações. Nos artigos 6º e 7º do CPP há
disposições quanto às diligências que devem ou podem

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ser adotadas pelo Delegado de Polícia, no entanto, a a ação penal pública é condicionada e também na
ele pode determinar o melhor momento para realizar ação privada, a autoridade policial depende da vontade
diligências e a forma como ela deve ser feita. O ofendido da vítima para poder agir.
e a vítima podem requerer diligências para o Delegado, 8. Inquisitivo: Não há contraditório e ampla defesa
que pode ou não realizá-las, conforme o seu juízo de no IP. Essa característica permite a otimização da
oportunidade e conveniência (art. 14, CPP). investigação, todavia, os elementos de informação
4. Dispensabilidade: Se o titular da ação penal já tiver obtidos têm que ser corroborados em juízo, sob o crivo
elementos suficientes, poderá ingressar com a ação, do contraditório e da ampla defesa, para que tenham
mesmo sem ter existido o IP. valor e força probatória. Logo, apenas os elementos
5. Sigiloso: O art. 20 do CPP prevê o sigilo do IP, o qual coligidos no IP, sem que tenham sido confirmados
não se aplica ao juiz e ao membro do ministério público em juízo, não servem para que seja prolatada uma
do caso. Importante mencionar que o advogado do sentença penal condenatória.
investigado também poderá ter acesso ao IP (art. 7º, 9. Indisponível: A autoridade policial não pode arquivar
XIII e XV do Estatuto da OAB). Nesse ponto, importante o IP e não pode desistir da apuração. Se o delegado
ressaltar a Súmula Vinculante 14: “É direito do de polícia, após instaurar o IP, constatar que não há
defensor, no interesse do representado, ter acesso crime, ele deve relatar os fatos e encaminhar o IP para
amplo aos elementos de prova que, já documentados o Ministério Público a fim de que este órgão promova o
em procedimento investigatório realizado por órgão arquivamento em juízo.
com competência de polícia judiciária, digam respeito 10. Temporário: A investigação não pode ser permanente.
ao exercício do direito de defesa.” O investigado tem direito à razoável duração do
processo (Prof. Renato Brasileiro)
No entanto, o advogado do investigado só terá acesso
às diligências já documentadas e que não estejam em ATRIBUIÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL (“COMPETÊNCIA”)
andamento.
O parágrafo único do art. 4º do CPP fala em definição de
Inviabilidade do acesso pela defesa a procedimentos “competência” da polícia judiciária. Considerando que a
investigatórios não concluídos denominação “competência” se refere à delimitação da
jurisdição, é mais correto dizer que ela se relaciona aos
Autos de inquérito policial que estavam juízes. O delegado de polícia terá atribuições, as quais
circunstancialmente indisponíveis em razão da podem ser delineadas segundo os seguintes critérios:
pendência de realização de diligência sigilosa. Além • Territorial: Cada unidade policial terá atribuição
disso, os autos encontravam-se fisicamente em poder da sobre determinada região (circunscrição). Assim, a
autoridade policial, providência que, temporariamente, determinação sobre qual delegacia será responsável
impedia o imediato acesso da defesa. Razões atinentes por apurar um crime será feita a partir do local (região)
à gestão processual que evidenciam ausência de em que se consumou. (art. 4º, caput, CPP)
demonstração inequívoca de atos violadores da Súmula • Em razão da Matéria: A delegacia pode ter as suas
Vinculante 14. atribuições definidas a partir do tipo de crime que
[Rcl 25.012 AgR, rel. min. Edson Fachin, 2ª T, j. 14-3-2017, ocorreu (matéria). Ex.: Delegacia especializada em
DJE de 27-3-2017.] apurar homicídios;
• Em razão da pessoa: A figura da vítima é levada em
Segundo se extrai da leitura da Súmula Vinculante consideração. Ex.: Delegacia da Mulher
14, o defensor pode ter acesso às diligências já
documentadas no inquérito policial. No entanto, a O desatendimento a esses critérios gera nulidade do IP?
diligência à qual o reclamante pleiteia acesso ainda está Não, é mera irregularidade.
em andamento e, em virtude disto, a súmula vinculante
não é aplicável ao presente caso. Rcl 10.110, rel. min. Ademais, vale ressaltar que o art. 22 do CPP, autoriza a
Ricardo Lewandowski. 6. Assim, independentemente prática de diligências na região de outra circunscrição
da existência ou não da contradição suscitada pela dentro da mesma comarca.
defesa, o acesso às diligências que ainda se encontram
em andamento não é contemplado pelo teor da Súmula Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que
Vinculante 14. houver mais de uma circunscrição policial, a autoridade
[Rcl 22.062 AgR, voto do rel. min. Roberto Barroso, 1ª T, j. com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos
15-3-2016, DJE 103 de 20-5-2016.] a que esteja procedendo, ordenar diligências em
circunscrição de outra, independentemente de
6. Oficialidade: O IP é atribuição de um órgão oficial do precatórias ou requisições, e bem assim providenciará,
Estado, que é a polícia judiciária. até que compareça a autoridade competente, sobre
7. Oficiosidade: A autoridade policial deve atuar de qualquer fato que ocorra em sua presença, noutra
ofício (deve agir) no caso de tomar conhecimento da circunscrição.
ocorrência de infração penal de ação penal pública
incondicionada. Nos casos de infrações penais em que

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INSTAURAÇÃO DO IP - NECESSIDADE DE Art. 145 (...)


SABER A INICIATIVA DA AÇÃO PENAL Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art.
A fim de saber a forma de instauração do IP, devemos 141 deste Código, e mediante representação do ofendido,
observar qual é a espécie de ação penal relativa ao crime no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso
que será apurado. do § 3o do art. 140 deste Código
Vejamos o que dispõe o Código Penal:
Por fim se constar a disposição de que a ação “se procede
Ação pública e de iniciativa privada mediante queixa”, significa que ele é de iniciativa privada,
ou seja, que a própria vítima terá que contratar um
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei advogado para elaborar e ajuizar uma queixa-crime. Ex.:
expressamente a declara privativa do ofendido. Dano
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público,
dependendo, quando a lei o exige, de representação do Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante
queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para Ação penal
representá-lo. Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu
parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante
A regra geral é a que os crimes são de ação penal pública queixa.
incondicionada. Quando a lei não fala nada sobre a forma
como o crime se procede, significa que ele é de iniciativa INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL
pública incondicionada. Isto significa que não depende da
vontade da vítima para que se inicie a ação penal, a qual é Como se inicia o IP? A instauração do IP irá variar conforme
oferecida pelo Ministério Público. a espécie de ação penal
Ex.: Homicídio, pois no capítulo dos crimes contra a vida do
Código Penal não há menção sobre a forma como o crime Crimes de ação penal pública incondicionada:
se procede.
Se na lei constar que a ação “se procede mediante a. por auto de prisão em flagrante (APF): o próprio
representação” ou “se procede mediante requisição do APF é a peça que inaugura o inquérito, recebendo
Ministro da Justiça” significa que ela é condicionada, numeração sequencial aos inquéritos instaurados.
podendo ser oferecida pelo Ministério Público apenas b. de ofício (por portaria): ocorre quando a autoridade
se a vítima representar ou, se for o caso de requisição, o policial toma ciência de uma infração penal. Ex.:
Ministro da Justiça requisitar. Registro de boletim de ocorrência; Notícia em
jornal. (art. 5º, I, CPP).
Exemplo 1 (representação): c. por requisição do juiz ou do membro do MP: Apesar
de constar na lei a possibilidade de requisição
Ameaça pela autoridade judiciária, entende-se que esta
disposição não se coaduna com a Constituição
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou Federal de 1988, haja vista que viola o sistema
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe acusatório, adotado pelo ordenamento brasileiro.
mal injusto e grave: No que se refere a requisição do MP, a autoridade
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. policial deve atendê-la. Isso porque está obrigada
Parágrafo único - Somente se procede mediante a agir quando recebe a notícia de uma infração
representação. penal – princípio da obrigatoriedade, Ressalta-se
que não há hierarquia entre o membro do MP e o
Exemplo 2 (representação): Art. 129, caput, e §6º do CP. Delegado de Polícia (art. 5º, II, CPP).
Nesse caso, à disposição quanto à representação está no Hipóteses de não cumprimento da requisição do MP:
art. 88 da Lei 9.099/95: Fato evidentemente atípico, prescrito. Nesse caso
o Delegado de Polícia justifica a não instauração e
“Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da comunica o MP, preferencialmente, via corregedoria
legislação especial, dependerá de representação a ação de polícia (construção doutrinária).
penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e d. por requerimento da vítima ou do seu representante
lesões culposas.” legal: Nesse caso, o Delegado avalia se as
informações procedem e, em caso positivo, instaura
Exemplo 3: (requisição): No capítulo dos crimes contra a o IP, senão, poderá indeferir o requerimento (art. 5º,
honra. II, CPP)

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Art. 5º (...) Crimes de ação penal de iniciativa privada


§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre
que possível: Nesse caso, também não poderá ser iniciado o IP sem o
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; requerimento da vítima, do seu representante legal ou, no
b) a individualização do indiciado ou seus sinais caso de morte do ofendido ou se declarado ausente, pelo
característicos e as razões de convicção ou de presunção cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
de ser ele o autor da infração, ou os motivos de
impossibilidade de o fazer; Art. 5º (...)
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial
profissão e residência. somente poderá proceder a inquérito a requerimento de
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando
Polícia. declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
Quem é o Chefe de Polícia cujo recurso é dirigido? cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Depende da organização da polícia de cada
estado. Pode ser o Delegado-Geral, por exemplo, Exemplo de queixa-crime em caso de morte do ofendido:
ou o Secretário de Segurança Pública. No Art. 138 do Código Penal, que dispõe que é punível a calúnia
caso de atribuição da PF, o Chefe de Polícia é o contra os mortos.
Superintendente da Polícia Federal
O § 3º, do art. 5º, do CPP, dispõe que qualquer pessoa VALOR PROBATÓRIO DO IP
do povo que tiver conhecimento da existência
de infração penal em que caiba ação pública Os elementos de informação colhidos no inquérito policial
poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à não são regidos pelos princípios do contraditório e da ampla
autoridade policial, e esta, verificada a procedência defesa. Assim, o inquérito policial, isoladamente, não pode
das informações, mandará instaurar inquérito. servir de base para que um acusado seja condenado. Os
Por esta razão, alguns autores trazem mais uma elementos de informação devem ser confirmados em juízo
hipótese de instauração de IP: ou, ao menos, podem complementar a prova produzida
e. em razão de notícia oferecida por qualquer do povo. em juízo, influenciando no livre convencimento do juiz. Por
Vale mencionar, no entanto, o entendimento de que esta razão, o valor probatório do IP é relativo.
esta hipótese já estaria contida na instauração “de
ofício” ou “por portaria”. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
Crimes de ação penal pública condicionada: não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação,
No caso de crimes de ação penal pública condicionada, a ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
instauração do IP dependerá de representação da vítima, antecipadas.
ou seja, da manifestação da vontade dela em dar início a
apuração. É o que se extrai do art. 155 do CPP, quando utiliza a
Não é necessário que seja assinado um documento expressão “exclusivamente”. O juiz pode usar os elementos
específico, denominado “termo de representação” ou de informação colhidos no IP para complementar outras
“representação” para que essa condição seja atendida provas e indícios que verificou durante o processo. A
(apesar de ser muito comum na prática exigir a assinatura restrição que existe se refere a usar unicamente o IP
do ofendido, não há rigor formal). Basta que a vontade (exclusivamente) para condenar o acusado. Isso o juiz não
do ofendido esteja inequívoca quanto ao desejo de dar pode fazer.
início a persecução criminal (ex.: no boletim de ocorrência
consta expressamente que a vítima manifestou interesse Notitia Criminis:
em representar contra o autor do fato; ex.2: no termo de
declarações da vítima constou “que a vítima tem interesse É o nome que se dá para a situação em que a autoridade
em ver o autor do fato processado). policial toma conhecimento do crime, havendo a seguinte
classificação:
A representação constitui uma delatio criminis
postulatória, pois revela o crime e postula a abertura do IP a. notitia criminis de cognição imediata ou espontânea:
É o conhecimento da existência de uma infração
Art. 5º (...) penal que ocorre por meio das atividades de rotina
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública da autoridade policial (Ex.: matéria jornalística;
depender de representação, não poderá sem ela ser crime descoberto durante uma investigação)
iniciado b. notitia criminis de cognição mediata ou provocada:
A autoridade policial toma conhecimento a partir
da provocação de terceiros (Ex.: requisição do

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Ministério Público; requisição do Ministro da II - apreender os objetos que tiverem relação com o
Justiça; representação do ofendido; requerimento fato, após liberados pelos peritos criminais;
da vítima)
c. notitia criminis de cognição coercitiva: a infração A apreensão será útil para que o objeto, por exemplo,
penal é apresentada a autoridade policial junto seja utilizado como prova; para que possa ser periciado;
com o autor do fato (é a prisão em flagrante) ser feita contraprova; ser exibido no plenário do Júri; ser
declarada a perda do objeto em favor da União.
O que se entende por delatio criminis?
A delatio criminis é uma espécie de notitia criminis. Nesse III - colher todas as provas que servirem para o
caso, alguém do povo comunica uma infração penal esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
para a autoridade policial, ou seja, não é a vítima ou o IV - ouvir o ofendido;
representante legal dela que faz essa comunicação.
O ofendido não será compromissado a dizer a verdade, pois
Se a autoridade policial tomar conhecimento da infração não é testemunha, tendo ainda envolvimento emocional, que
penal, por meio de terceiro (alguém do povo), no pode influenciar na forma de retratar o que efetivamente
desempenho de suas atribuições rotineiras, estaremos aconteceu. Isso não significa que ele poderá falar o que
diante de uma notitia criminis de cognição imediata. bem entender sem ser responsabilizado. Caso o ofendido
Já se o fato criminoso for comunicado por um terceiro, dê causa à instauração de investigação imputando uma
por escrito, estaremos diante de uma notitia criminis de infração penal a quem ele sabe que é inocente, responderá
cognição mediata. por denunciação caluniosa (art. 339, CP).
Por fim, se o ofendido se recusar a comparecer para ser
Notitia criminis inqualificada: é a denúncia anônima. ouvido, poderá ser conduzido à presença da autoridade
Quando a autoridade policial receber uma denúncia policial (art. 201, § 1º, CPP)
anônima, antes de instaurar um IP, deverá determinar a
realização de diligências preliminares para confirmar o V - ouvir o indiciado, com observância, no que for
teor da denúncia. Caso sejam confirmadas as informações, aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste
poderá instaurar o IP. Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por
“Notícias anônimas não autorizam, por si sós, a duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
propositura de ação penal ou mesmo, na fase de
investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos O termo da oitiva do indiciado deve ser assinado por duas
de investigação, como interceptação telefônica ou busca e testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura.
apreensão” (informativo 819 – STF). É necessária a presença do advogado do indiciado? R.:
Não, pois o inquérito policial é inquisitivo. No entanto,
Diligências investigatórias: se o advogado quiser participar do ato de oitiva, poderá
acompanhá-lo.
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não acareações;
se alterem o estado e conservação das coisas, até a
chegada dos peritos criminais; Nesse caso, segue-se o disposto nos artigos 226 e 227 do CPP.

Essa diligência visa a preservação dos vestígios para a VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de
realização da perícia. corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
A lei nº 5970/73 prevê uma hipótese em que o local do
crime pode ser desfeito, ou seja não preservado: Lembrar das regras contidas nos artigos 158 e 167 do CPP
(obrigatoriedade do exame de corpo de delito quando
Art 1º Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou houver vestígios, não podendo a confissão do acusado
agente policial que primeiro tomar conhecimento do substituir o exame).
fato poderá autorizar, independentemente de exame
do local, a imediata remoção das pessoas que tenham VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua
se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o folha de antecedentes;
tráfego.
Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade A identificação criminal segue as disposições da Lei
ou agente policial lavrará boletim da ocorrência, nele 12.037/09, que será vista separadamente, ainda nas aulas
consignado o fato, as testemunhas que o presenciaram relativas ao IP.
e todas as demais circunstâncias necessárias ao FAP: vide art. 20, parágrafo único do CPP (“Nos atestados de
esclarecimento da verdade. antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial
não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a
instauração de inquérito contra os requerentes.”)

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IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o E quais são as hipóteses em que o civilmente identificado
ponto de vista individual, familiar e social, sua condição pode ser submetido a identificação criminal? Elas estão
econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e previstas no art. 3º da Lei nº 12.037/09:
depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter. Art. 3º Embora apresentado documento de identificação,
poderá ocorrer identificação criminal quando:
X - colher informações sobre a existência de filhos, I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de
respectivas idades e se possuem alguma deficiência falsificação;
e o nome e o contato de eventual responsável pelos II – o documento apresentado for insuficiente para
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade
As diligências elencadas não correspondem a um rol distintos, com informações conflitantes entre si;
taxativo. Existem outras diligências investigativas (Ex.: IV – a identificação criminal for essencial às
interceptação telefônica; afastamento de sigilo de dados investigações policiais, segundo despacho da
bancários,). autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício
Além disso, nem todas as diligências são obrigatórias. (Ex.: ou mediante representação da autoridade policial, do
reconstituição do fato delituoso). Ministério Público ou da defesa;
• Reprodução simulada dos fatos (art. 7º, CPP) V – constar de registros policiais o uso de outros nomes
Quanto à reprodução simulada dos fatos (vale lembrar ou diferentes qualificações;
que o acusado não está obrigado a participar do ato, pois VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou
isso poderá resultar em autoincriminação. Isso porque da localidade da expedição do documento apresentado
a reconstituição dos fatos exige um comportamento impossibilite a completa identificação dos caracteres
ativo do acusado e ele está protegido pelo princípio da essenciais.
não autoincriminação (nemo tenetur se detegere – ele Parágrafo único. As cópias dos documentos
não é obrigado a produzir provas contra si) apresentados deverão ser juntadas aos autos do
• Acesso a dados cadastrais de vítimas e suspeitos (art. inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que
13-A) consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
A requisição feita pelo Delegado de Polícia ou membro
do Ministério Público se refere apenas a dados O indivíduo não poderá se negar a realizar a sua
cadastrais de vítimas e suspeitos da prática dos crimes identificação civil, alegando que possui o direito a não
de sequestro e cárcere privado, redução a condição autoincriminação, que é uma garantia constitucional
análoga a de escravo, tráfico de pessoas, extorsão (art. 5º, LXIII, CF), pois a própria constituição prevê a
qualificada pela restrição de liberdade da vítima, possibilidade da realização da identificação criminal.
extorsão mediante sequestro e do crime do art. 239 do Assim, as duas normas constitucionais, aparentemente
ECA (envio de criança ou adolescente ao exterior), não em conflito, coexistem, com fundamento no princípio da
sendo necessária autorização judicial. harmonização ou concordância prática entre eles.
Ex.: requisitar a empresa de telefonia dados cadastrais Vale ressaltar que a Lei nº 12.654/12 trouxe também a
equivale a pedir informações sobre: Nome do titular da previsão de identificação do perfil genético. Nesse caso,
linha, qualificação e endereço (apenas isso). entende-se que não há obrigatoriedade do acusado em
Se o desejo for obter dados sobre ligações efetuadas fornecer material genético, pois se trata de uma prova
e recebidas, com data, hora, tempo, etc., haverá a invasiva. No entanto, se forem encontradas amostras de
necessidade de autorização judicial, pois não se tratará tecidos orgânicos, sangue, saliva, cabelo do suspeito, etc,
apenas de dados cadastrais. será possível a sua coleta.
Ex.2: operadoras de cartão de crédito (só dados
cadastrais. Não pode pedir informações sobre compras, Indiciamento:
locais, datas, valores, etc, dados estes que dependem
de autorização judicial) É um ato privativo do Delegado de Polícia, fundamentado,
• Requisição de dados de Estações Radio Base - ERB’s que se dá mediante análise técnico-jurídica do fato,
(art. 13-B) que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
Visa buscar a localização aproximada do aparelho circunstâncias.
celular O Juiz não pode requisitar indiciamento.
Existem restrições ao indiciamento? R.: Sim
Identificação criminal: Existem autoridades que não podem ser indiciadas:
Os magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79) e os
Art. 5º, LVIII - o civilmente identificado não será membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses LC 75/93 e art. 41, parágrafo único da Lei nº 8.625/93).
previstas em lei; Em relação a outras autoridades com foro por prerrogativa
(ex.: Deputados), há necessidade de autorização do relator
do inquérito.

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(Ex.: para indiciar um deputado estadual será necessário concluir o inquérito policial quando houver sido decretada
que o Desembargador relator autorize o ato) a prisão temporária. Há corrente que entende que o IP deve
• Indiciado menor (aquele que tem entre 18 e 21 anos): ser concluído assim que acabar o prazo da prorrogação
Não é mais necessária a nomeação de curador desde da prisão temporária (5+5 dias ou 30 + 30 dias) e há outra
o advento do Código Civil de 2002, que dispôs que os no sentido de que o prazo da prisão temporária não deve
maiores de 18 anos são absolutamente capazes. ser contado no prazo para encerrar o IP, pois a prisão
temporária é medida típica investigativa, com prazo certo.
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado Assim, segundo essa segunda corrente, o prazo da prisão
curador pela autoridade policial. temporária seria desprezado, mantendo-se a regra geral.
Riscar do CPP! O CESPE adota essa segunda corrente. Confira-se:

• Indiciamento direto: ocorre quando o indiciado está


presente (CESPE/Técnico Judiciário – Administrativa –
• Indiciamento indireto: ocorre quando o indiciado não STJ/2018) No que se refere aos tipos de prisão e aos
consegue ser localizado meios processuais para assegurar a liberdade, julgue o
• Desindiciamento: Se durante a investigação o Delegado seguinte item.
verificar que houve equívoco no indiciamento, pois o (( ) Situação hipotética: Pedro teve a prisão
indiciado não tem relação com o fato criminoso, ele temporária decretada no curso de uma
poderá promover o ato de desindiciamento. Além disso, investigação criminal. Ao final de cinco dias, o
por meio de habeas corpus, o indiciado pode trancar o Ministério Público requereu a conversão de sua
inquérito, caso não tenha relação com os fatos e esteja segregação em prisão preventiva. Assertiva:
indiciado. Este seria um desindiciamento de forma Nessa situação, o prazo para o término do
coacta. inquérito policial será contado da data em que
Incomunicabilidade do indiciado (Não se aplica mais): “ Art. a prisão temporária tiver sido convertida em
21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre prisão preventiva.
de despacho nos autos e somente será permitida quando o
interesse da sociedade ou a conveniência da investigação Gabarito: Certo
o exigir”
Veja-se que o CESPE adota a posição da interpretação
Essa disposição não foi recepcionada pela Constituição literal do art. 10 do CPP.
Federal (vide art. 5º, LXII e LXIII; art. 136, § 3º, IV, da CF)
(Riscar no CPP) Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10
dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou
PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO IP estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta
hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem
O prazo para conclusão do inquérito policial irá variar, a de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
depender das circunstâncias: mediante fiança ou sem ela.

Investigado Investigado PROVIDÊNCIAS POSSÍVEIS APÓS A REMESSA


PRESO SOLTO DO IP AO PODER JUDICIÁRIO:
(dias) (dias)
CPP (regra – IP polícia civil) 10 30
Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa
Inquérito policial federal 15 + 15 30
privada, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo
Lei de drogas 30 + 30 90 + 90
Crimes contra a economia popular 10 10
competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
Prisão temporária em caso de crimes ou de seu representante legal, ou serão entregues ao
30 + 30 -
hediondos e equiparados requerente, se o pedir, mediante traslado (art. 19, CPP)
Inquérito policial militar 20 40 + 20 Vale lembrar que nos crimes de ação privada a vítima tem
o prazo de seis meses para a propositura da queixa-crime,
Conclusão do IP: A autoridade policial encerrará o IP contados do dia em que tem conhecimento da autoria da
elaborando um relatório minucioso sobre tudo o que foi infração. Assim, a vítima tem que ficar atenta para que
apurado e encaminhará os autos para o juiz. Entende-se esse prazo não transcorra durante a investigação, pois ele
que a autoridade policial não deve fazer um juízo de valor não será interrompido ou suspenso.
sobre os fatos apurados, ressalvada a hipótese da Lei de Caso concluída a investigação e a vítima não queira propor
Drogas, que tem previsão expressa quanto à necessidade a queixa-crime (ação privada), ela não tem que promover
de que a autoridade policial justifique as razões que a o arquivamento. Basta que ela espere transcorrer o prazo
levaram a fazer a classificação do delito (art. 52, da Lei decadencial de seis meses. Se por acaso a vítima pedir o
11.343/2006) arquivamento, o juiz deve entender que houve renúncia
Obs.: A tramitação direta do IP entre a polícia e o Ministério ao direito de ação. Não se tratará propriamente de um
Público foi considerada legal pelo STJ. arquivamento, da forma como ocorre nos crimes de ação
Obs2: Há divergência na doutrina quanto ao prazo para penal pública.

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Direito Processual Penal

No caso de crime de ação penal pública, os autos do Súmula 524 do STF: Arquivado o inquérito policial,
inquérito serão enviados para o Ministério Público que por despacho do juiz, a requerimento do promotor de
poderá: justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas
• oferecer denúncia provas.
• requerer o arquivamento do IP
• requisitar diligências Procedimento do arquivamento:

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
devolução do inquérito à autoridade policial, senão para apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da inquérito policial ou de quaisquer peças de informação,
denúncia. o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de
• se manifestar pela declinação ou conflito de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
competência do juízo denúncia, designará outro órgão do Ministério Público
para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,
Arquivamento ao qual só então estará o juiz obrigado a atender

O arquivamento não pode ser feito pelo Delegado de Esse é o procedimento adotado na Justiça Estadual.
Polícia. Após a conclusão da investigação e a remessa para No âmbito da Justiça Federal, se o juiz discordar do pedido
o Poder Judiciário, os autos do IP são encaminhados para de arquivamento, ele deve remeter os autos do IP para a
o Ministério Público que, verificando se tratar de alguma Câmara de Coordenação e Revisão do MPF (art. 62, IV, da
das hipóteses de arquivamento, irá requerer ao juiz o LC nº 75/93)
arquivamento do IP. Quando o juiz discorda do pedido de arquivamento, ele
Hipóteses que fundamentam o arquivamento do IP (arts. aplica o princípio da devolução, enviando os autos do IP a
395 e 397 do CPP): um órgão do próprio Ministério Público, que é o titular da
ação penal.
a. ausência de pressuposto processual ou de Se o PGJ (esfera estadual) ou a Câmara (esfera federal)
condição para o exercício da ação penal: Ex.: A entender que realmente é o caso de oferecer denúncia,
vítima ofereceu representação (num crime de ação e o Procurador-Geral preferir não oferecer ele próprio a
penal pública condicionada) e depois se retratou denúncia, ele poderá designar outro Promotor de Justiça
b. falta de justa causa: é a falta de prova sobre a (esfera estadual) ou Procurador da República (esfera
existência do crime e de indícios suficientes de federal) para que seja oferecida a denúncia. Nesse caso,
autoria. há a obrigação de oferecê-la, pois o membro estará agindo
c. fato atípico: quando o fato apurado não constituir por delegação (longa manus) do Procurador-Geral.
crime. Obs.: Se o próprio Procurador-Geral é quem pede o
d. existência manifesta de causa excludente da arquivamento, O Tribunal está vinculado ao pedido,
ilicitude: quando estiver provado que houve devendo acatá-lo.
legítima defesa, estado de necessidade, exercício Ex.: PGR pede o arquivamento de um inquérito perante o
regular de direito ou estrito cumprimento do dever STJ. Não existe a hipótese do art. 28 do CPP. O STJ deve
legal) acatar o pedido de arquivamento, mesmo se não concordar
e. existência manifesta de casa excludente da com o pedido.
culpabilidade, salvo inimputabilidade: quando
estiver provado que houve coação moral irresistível, A vítima pode recorrer da decisão de arquivamento ou
obediência hierárquica, e erro de proibição. No caso impetrar mandado de segurança contra o arquivamento?
de inimputabilidade o MP oferece denúncia e o juiz R.: Não, a decisão de arquivamento é irrecorrível. Além
impõe medida de segurança (sentença absolutória disso, não cabe mandado de segurança contra ela, pois
imprópria) não existe direito líquido e certo nesse caso.
f. causa extintiva da punibilidade: Ex.: Prescrição
A vítima pode oferecer ação penal privada subsidiária
Reabertura do inquérito policial arquivado quando houver manifestação do Ministério Público pelo
arquivamento?
Se o arquivamento for arquivado por falta de provas, ele R.: Não, pois a ação penal privada subsidiária só tem
poderá ser reaberto. cabimento quando o Ministério Público não age (art. 5º,
LIX, da CF).
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito
pela autoridade judiciária, por falta de base para a Arquivamento implícito
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Ocorre quando o titular da ação penal deixa de incluir na
denúncia algum fato criminoso ou algum dos indiciados,
sem apresentar justificativa. Caso o juiz não se atente

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Direito Processual Penal

a este fato e deixe de aplicar o art. 28 do CPP, ocorrerá E em relação a autoridades que tem foro por prerrogativa
indevidamente o arquivamento do que foi omitido. em Tribunais? Nesse caso não há necessidade de prévia
Ex.: Há três indiciados e o Ministério Público faz a denúncia autorização (Resp 1563962/RN)
somente contra dois deles, sem justificar o motivo Ex.: Deputados Estaduais Distritais
pelo qual deixou um dos indiciados de fora da denúncia
(arquivamento implícito subjetivo) INDICIAMENTO (atribuição exclusiva do Delegado de
Ex.2: Há cinco crimes noticiados no IP e o Ministério Público Polícia)
denúncia o acusado apenas por quatro, nada falando a
respeito do quinto crime (arquivamento implícito objetivo) Lei 12.830/13
Art. 1º (...)
Arquivamento indireto § 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia,
dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
Ocorre quando o membro do Ministério Público deixa técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria,
de oferecer denúncia porque entende que o juízo é materialidade e suas circunstâncias.
incompetente, requerendo a remessa dos autos ao juízo
que entende que é competente, no entanto, o juiz não Existem autoridades que não podem ser indiciadas?
concorda com o pedido porque entende que é competente. Sim, os magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC
Nesse caso o juiz não pode ordenar que o membro do MP 35/79) e os membros do Ministério Público (art. 18,
faça a denúncia, por isso que se fala em arquivamento parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41, parágrafo único
indireto. A solução, segundo a doutrina, é a aplicação do da Lei nº 8.625/93)
art. 28 do CPP.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INDICIAMENTO COMO
Aprofundando o tema: Informações ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DA AUTORIDADE POLICIAL.
Complementares (Julgados Selecionados) O magistrado não pode requisitar o indiciamento em
investigação criminal. Isso porque o indiciamento constitui
TRAMITAÇÃO “DIRETA” DO INQUÉRITO POLICIAL ENTRE A atribuição exclusiva da autoridade policial. De fato, é por
POLÍCIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO meio do indiciamento que a autoridade policial aponta
determinada pessoa como a autora do ilícito em apuração.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. TRAMITAÇÃO DIRETA DE Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória,
INQUÉRITO POLICIAL ENTRE A POLÍCIA FEDERAL E O por meio da qual o delegado de polícia externa o seu
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Não é ilegal a portaria convencimento sobre a autoria dos fatos apurados,
editada por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n. não se admite que seja requerida ou determinada pelo
63/2009, estabelece a tramitação direta de inquérito magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente
policial entre a Polícia Federal e o Ministério Público do inquérito à conclusão de que determinado indivíduo
Federal. (...) seria o responsável pela prática criminosa, em nítida
Nesse desiderato, a tramitação direta de inquéritos entre violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento
a Polícia Judiciária e o órgão de persecução criminal traduz jurídico pátrio. (informativo 552 STJ)
expediente que, longe de violar preceitos constitucionais,
atende à garantia da duração razoável do processo - pois AUTORIZAÇÃO PARA INDICIAR AUTORIDADES COM FORO
lhe assegura célere tramitação -bem como aos postulados POR PRERROGATIVA (para indiciar alguém que tenha “foro
da economia processual e da eficiência privilegiado”, deve haver autorização do Desembargador,
(Informativo 574 – STJ) se for no âmbito dos Tribunais, ou do Ministro relator, se
for no âmbito de Tribunais Superiores)
AUTORIZAÇÃO PARA INVESTIGAR AUTORIDADES COM
FORO POR PRERROGATIVA NO STF EMENTA: “HABEAS CORPUS”. GOVERNADOR DE ESTADO.
(...) INDICIAMENTO. POSSIBILIDADE. PRESSUPOSTOS
5. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício LEGITIMADORES. NATUREZA JURÍDICA. ATO ESTATAL
inquérito policial para apurar a conduta de parlamentares NECESSARIAMENTE FUNDAMENTADO QUE SE INCLUI NA
federais ou do próprio Presidente da República (no caso ESFERA DE PRIVATIVA COMPETÊNCIA DO DELEGADO DE
do STF). No exercício de competência penal originária do POLÍCIA (LEI Nº 12.830/2013, ART. 2º, § 6º). MAGISTÉRIO
STF (CF, art. 102, I, “b” c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/ DOUTRINÁRIO. JURISPRUDÊNCIA. INVESTIGAÇÃO
STF, arts. 230 a 234), a atividade de supervisão judicial CRIMINAL INSTAURADA CONTRA PESSOA DETENTORA
deve ser constitucionalmente desempenhada durante DE PRERROGATIVA DE FORO “RATIONE MUNERIS”.
toda a tramitação das investigações desde a abertura INEXISTÊNCIA, MESMO EM TAL HIPÓTESE, DE IMUNIDADE
dos procedimentos investigatórios até o eventual OU DE OBSTÁCULO A QUE SE EFETIVE, LEGITIMAMENTE,
oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis. (STF ESSE ATO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DESDE QUE PRECEDIDO
Inq 2411 QO) DE AUTORIZAÇÃO DO RELATOR DO INQUÉRITO ORIGINÁRIO
Ex.: Deputados Federais e Senadores NO TRIBUNAL COMPETENTE (O STJ, NO CASO)
(...)
HC 133835-MC/DF (Info 825)

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Direito Processual Penal

DENÚNCIA ANÔNIMA (O Delegado não pode representar


pela interceptação telefônica ou pela busca e apreensão a
partir apenas de uma denúncia anônima).
A Turma, de início, reafirmou o entendimento da Corte no
sentido de que notícias anônimas não autorizam, por si
sós, a propositura de ação penal ou mesmo, na fase de
investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos
de investigação, como interceptação telefônica ou busca
e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de
informação e de provas que não pode ser simplesmente
descartada pelos órgãos do Poder Judiciário. Assim,
assentou a inexistência de invalidade na investigação
instaurada a partir de notícia crime anônima encaminhada
ao MPF.
(Informativo 819)

ARQUIVAMENTO
A vítima pode impetrar Mandado de Segurança contra
o arquivamento de Inquérito Policial? Não, pois inexiste
direito líquido e certo ao impedimento do arquivamento.
(informativo 565 - STJ).

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