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PROGRAMAÇÃO:

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MESA DE ABERTURA:

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SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

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ST 01. A Big History e a transdisciplinaridade
Coordenadores:
Daniel Barreiros (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
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ST 03. A centralidade da literatura “marginal” para a compreensão da(s) História(s): produções,


narrativas e representações
Coordenadores:
Geraldo Neto (SEMEC-Belém/SEDUC-PA), Carolina Nascimento de Melo (UFSCAR - Universidade Federal de
São Carlos), DIEGO RAMON SOUZA PEREIRA (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)
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ST 06. Análises plurais e interdisciplinares: o Vale do Paraíba, História, Memória e Patrimônio


Coordenadores:
Thiago Reis (UNIRIO/UNES/UVA/UFRRJ/INCT Proprietas), Magno Fonseca Borges (UNIRIO/CEDERJ e Colégio
dos Santos Anjos)
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ST 07. As mulheres e suas produções intelectuais no contexto dos séculos XIX e XX
Coordenadores:
Luciana Borges Patroclo (UNESA - Universidade Estácio de Sá), Cíntia Nascimento Conceição (UNESA -
Universidade Estácio de Sá)
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ST 08. As parcerias entre museus, historiadores e centros culturais- intercâmbios e conexões para a
escrita e a prática.
Coordenadores:
Sandra Cristina Donner (FACCAT e IFRS-Canoas), Ana Paula Brito (MLLC)
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ST 09. Audiovisual, História Pública e Ensino de História para além do filme histórico
Coordenadores:
Carlos Eduardo P. de Pinto (UERJ), Vitória A. Fonseca (UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO
JEQUITINHONHA E MUCURI), Ygor Pires Monteiro (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
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ST 10. Biografias e trajetórias pessoais: a sociedade nas escritas de singularidades e escritas da História.
Coordenadores:
Bruno Sanches M Silva (UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste), DANIELA REIS DE MORAES
(Colégio Uninorte Junior)
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ST 11. Ciências Sociais, saúde e estudos urbanos: interfaces na história do século XX aos dias atuais
Coordenadores:
Rachel de Almeida Viana (secretaria estadual de educação), Carolina Arouca (PPGHCS - COC / Fiocruz)
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ST 12. Cultura Material: Perspectivas e possibilidades
Coordenadores:
Daiane Brum Bitencourt (Sophia), Ana Paula Gomes Bezerra
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ST 13. Da Independência ao Modernismo: imagens e narrativas na perspectiva da História Cultural (1822-


1922)
Coordenadores:
Cláudia Mesquita (PPGH Universidade Salgado de Oliveira), Denise Maria C. G. Porto
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ST 14. Da urbanidade, do humano e da democracia: o que podem nos contar nossas cidades?
Coordenadores:
Fernando Pinho (Prefeitura de Belém), Robert Pechman (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional/ UFRJ), Stephanie Assaf (IPPUR/UFRJ)
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ST 16. Dimensões do Regime Vargas e seus desdobramentos


Coordenadores:
André Fraga (Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro), Thiago Mourelle (Arquivo Nacional),
Mayra Coan (Universidade de São Paulo)
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ST 17. Direitas cristãs: entre discursos religiosos e projetos políticos no Brasil dos séculos XX e XXI
Coordenadores:
MARCIA CARNEIRO (Universidade Federal Fluminense), Víctor Gama (Seminário Arquidiocesano Sagrado
Coração de Jesus)
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ST 18. Educação, Saúde e assistência às infâncias no Brasil: saberes, conhecimentos e práticas sociais.
Coordenadores:
Sônia Camara (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Luiz Otávio Ferreira (Fiocruz - Fundação
Oswaldo Cruz), Marilene Antunes Sant`Anna (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
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ST 19. Ensino de História e relações gênero: interfaces entre prática e teoria


Coordenadores:
Teresa Alves (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), Renata Rodrigues Brandão (Secretaria Municipal de
Educação do Rio de Janeiro)
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ST 20. Ensino de História: currículo, docência e formação de professores


Coordenadores:
Mariana Amorim (SME - RJ), Thays Merolla Piubel (Prefeitura Municipal de Maricá), Adriana Ralejo
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ST 21. Ensino de História: formação e prática do chão da escola às telas informatizadas
Coordenadores:
GIOVANNI CODECA DA SILVA (Seeduc RJ e UVA)
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ST 22. Europa para as Américas: O Espiritismo em Perspectiva


Coordenadores:
ADRIANA GOMES (PPGH UNIVERSO), Marcelo Gulão (Colégio Naval), Angélica Almeida (IF Sudeste MG)
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ST 23. Gênero e raça nos mundos do trabalho


Coordenadores:
Leonardo da Silva (FAPERJ), Isabelle Pires
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ST 24. Gênero e sexualidade: negociar, romper ou torcer as normas?


Coordenadores:
Rafael França (Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes), Jonathan Mendes (Universidade do
Estado de Minas Gerais), Fabio P. Bila (UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz)
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ST 25. Gênero, ciência e saúde em perspectiva histórica
Coordenadores:
Daiane (Fundação Oswaldo Cruz/Casa de Oswaldo Cruz), Polyana Valente (UEMG - Universidade do Estado
de Minas Gerais), Eliza Toledo (Fiocruz)
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ST 26. História da alimentação, da gastronomia e suas interfaces


Coordenadores:
Thaina Schwan Karls (UFRJ), Cleber Eduardo Karls (Universidade Veiga de Almeida)
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ST 28. História da medicina e da saúde no Brasil: saberes e práticas situadas
Coordenadores:
Luiz Alves (Fiocruz), Ingrid Fonseca Casazza (COC/Fiocruz), Ricardo Cabral de Freitas (Fiocruz)
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ST 30. História do Direito: cultura jurídica, práticas e normatividades


Coordenadores:
Renan Aguiar (FIOCRUZ)
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ST 32. História e Direito – os ‘sinais’ e a influencia do tempo social e histórico na configuração da
justiça/Direito.
Coordenadores:
Mauro Conceição (IBC/RJ), Maria Teresa Toribio (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
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ST 33. História e Memória do Turismo


Coordenadores:
Dalila Rosa Hallal (UFPEL), Sênia Bastos (Universidade Anhembi Morumbi), Dalila Müller (Universidade
Federal de Pelotas)
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ST 34. História e Memória: narrativas plurais no fazer da pesquisa histórica, desafios, perspectivas e
possibilidades
Coordenadores:
Maria Rita de Jesus Barbosa (SEE - MG e SME de Itapagipe/MG), Cátia Franciele Sanfelice (UNIR)
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ST 35. História e suas parcerias as independências da américa ibéria e o sentido dos 200 anos de
independência do Brasil
Coordenadores:
RENATA BASTOS (IPPUR/UFRJ - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Brasil.), Tiago Simões (Instituto Devecchi)
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ST 36. História oral, memorias e Lutas por Direitos


Coordenadores:
Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas), Michele Pires Lima (PPGH-UFAM), Tiago
Fonseca dos Santos (CEST/UEA)
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ST 37. História, Cidades e Memória


Coordenadores:
Raimundo Lima (UFPI)
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ST 38. História, Educação , Sociedade e Política
Coordenadores:
Desire Luciane Dominschek (UNICAMP/UNINTER)
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ST 39. História, Estudos Africanos e da Diáspora: séculos XIX e XX


Coordenadores:
Evander Ruthieri (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), Marcello Assunção (UNILA),
Naiara Krachenski (UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná)
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ST 40. História, patrimônio e cidade: em busca da urbanidade


Coordenadores:
Rosane Segantin Keppke (USP - Universidade de São Paulo), Francisco Carlos Ribeiro (PUCSP - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo)
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ST 42. História, Patrimônio e Culturas Afro-brasileiras e Indígenas: pesquisa e ensino
Coordenadores:
Nielson Bezerra (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Marta Ferreira (SEEDUC-RJ)
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ST 43. Imagens e práticas religiosas cristãs: saberes em perspectiva entre a História e a História da Arte
Coordenadores:
Tamara Quírico (UERJ), Aldilene César (CEFET/RJ), Maria Izabel Escano (Centro Educacional Marapendi)
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ST 44. Imprensa, sociabilidades políticas e eleições no Brasil do século XIX


Coordenadores:
Kátia Sausen da Motta (UFES - Universidade Federal do Espírito Santo), Adriana Campos (Ufes)
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ST 45. Indígenas e africanos: vivências, narrativas e identidades no Brasil


Coordenadores:
Ana Melo (Prefeitura da Cidade do Rio de janeiro), Cátia Louzada (Secretaria Municipal de Educação)
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ST 46. Intersecções entre colonialismo e deslocamentos de, em e para África
Coordenadores:
Felipe Antonio Honorato (IESCAMP - Instituto de Educação e Ensino Superior de Campinas), Rodrigo
Rezende (Universidade Federal Fluminense)
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ST 47. Loucura, crime e castigo: História e historiografia


Coordenadores:
Éder Mendes de Paula (UFJ), Raick de Jesus Souza
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ST 48. Memória e Literatura


Coordenadores:
Tanira Soares (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
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ST 49. Migrações, trabalho e cultura: movimentações populacionais, cultura e relações de trabalho no


mundo contemporâneo
Coordenadores:
Dra Joselene Ieda (UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Emeson Tavares da Silva (UFPI -
Universidade Federal do Piauí), Adriana de Carvalho Medeiros (UNEMAT)
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17
ST 50. Militares na História do Brasil: perspectivas interdisciplinares
Coordenadores:
Dr. Luiz Claudio Duarte (Universidade Federal Fluminense), Fernando Rodrigues (Universidade Salgado de
Oliveira), Paulo Ribeiro da Cunha (UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
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ST 51. Mulheres, Histórias e Resistências


Coordenadores:
Jailton Alves de Oliveira (UFES - Universidade Federal do Espírito Santo), Jhoana Gregoria Prada Merchan
(UNIVERSIDADE DE COLÔNIA)
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ST 52. Mulheres, política e movimentos sociais no século XX e XXI


Coordenadores:
Iracélli Alves (Instituto Federal da Bahia), Victor Strazzeri (Universidade de Genebra), Fernanda Lédo Flôres
(Colégio Sartre- Escola SEB)
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18
ST 54. Natureza e saúde nos debates sobre os sertões
Coordenadores:
Leda Agnes, Janille Campos Maia (SEEDUC/RJ), AILTON FERNANDES (SECRETARIA ESTADUAL DE
EDUCAÇÃO)
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ST 55. O patrimônio cultural como ponto de intersecção: história, educação, arquitetura, antropologia,
turismo, geografia e outras áreas correlatas formando parcerias
Coordenadores:
Almir Oliveira (PUC-SP)
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ST 56. O Pós-Abolição como uma chave de estudo de trajetórias, sociabilidades, trabalho, visões de
liberdade e ensino de História das relações étnico raciais.
Coordenadores:
Alessandra Tavares (SEEDUC), Natália Peçanha (Rede Particular de Ensino)
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19
ST 57. Os Direitos de Propriedades e o bem comum: História & Parcerias
Coordenadores:
Marina M. Machado (UERJ), Gabriel Almeida Frazão (IFF), Alan Cardoso (INCT Proprietas)
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ST 59. Patrimônio Cultural: Arte, Morte, Religiosidade e Sociedade


Coordenadores:
VIVIANE COMUNALE (Colégio Amorim), Michelle Ferreira Maia (Centro Universitário UNINTA)
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ST 60. Perspectivas epistêmicas pós-pandemia: Relações étnico-raciais, Direito, Gênero e Religiosidade


Coordenadores:
Lucimar Felisberto Dos Santos (Secretarias Municipais de Educação de Duque de Caxias e Guapimirim),
ALEXANDRE DE SALLES (Prefeitura de Guapimirim)
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ST 61. Política e Guerra nas Américas: a formação dos Estados Nacionais durante o oitocentos
Coordenadores:
Pedro Gustavo Aubert (História Social FFLCH/USP), Jéssica de Freitas e Gonzaga (FGV)
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20
ST 62. Raça, Ciência e Saúde no contexto da Escravidão e do pós-Emancipação
Coordenadores:
Paula Habib (Universidade Federal Fluminense), Silvio Cezar de Souza Lima (UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE), Iamara da Silva Viana (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
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ST 63. Reflexões sobre Tecnologia e Propriedade: dimensões históricas, econômicas e sociais.


Coordenadores:
Edite Moraes (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Leandro Malavota (IBGE - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), Gabriel de Azevedo Maraschin
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ST 64. Religiões e Religiosidades no império português entre os séculos XVI e XIX


Coordenadores:
Jaime Ricardo Teixeira Gouveia (Universidade de Coimbra), Ediana Mendes (UFOB - Universidade Federal
do Oeste da Bahia)
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21
ST 65. Religiões, Religiosidades e a História do Tempo Presente no Brasil
Coordenadores:
Fábio Py (UNIVERSIDADE ESTADUL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO), Prof. Lyndon Santos
(Universidade Federal do Maranhão)
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ST 67. Sociedades escravistas nas Américas: séculos XVI ao XIX


Coordenadores:
Caio da Silva Batista (Secretaria de Educação do Rio de Janeiro), Marianny Camara, João Batista Correa
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ST 68. Turismo e Patrimônio cultural: suas relações conceituais, legais, dimensionais e dialéticas nas
sociedades
Coordenadores:
Elis Angelo (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Isabela Fogaça (UFRRJ - Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro)
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22
ST 69. Um outro Rio de Janeiro como objeto historiográfico
Coordenadores:
Rui Aniceto Fernandes (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Eliana Laurentino (SEEDUC)
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23
ST 01. A Big History e a transdisciplinaridade

ST 01 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

O debate sobre a violência coalizacional letal e o modus operandi da extrema-direita nos século XX e XXI

Daniel de Pinho Barreiros (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O debate sobre o comportamento agressivo humano travado no campo da Etologia, da Antropologia e da Psicologia
Evolucionária tem importante dimensão instrumental para a História Política e para a História das Relações
Internacionais. Nessa comunicação busca-se analisar as contribuições da escola instintivista nascida das contribuições
ao estudo da violência e da agressividade realizados por K. Lorenz e N. Timbergen, por um lado, e a critica
antropológica e psicológica a essa perspectiva, em busca de elementos para a interpretação do comportamento
político dos coletivos ideologicamente alinhados à extrema-direita desde o século XX. Sem desconsiderar as profundas
especificidades históricas e transformações pela qual a noção de "extrema-direita" passou desde a Segunda Grande
Guerra, busca-se a identificar aspectos de longuíssima duração evolucionária manifestos no comportamento e nas
mentalidades cultivadas por esses grupos. Conclui-se que as práticas de extrema-direita em dois séculos mobilizam o
chamado "entusiasmo militante" a que se referiu Lorenz no sentido de construir um modelo de cognição da política
que iniba mecanismos etológicos pro-sociais e invoque o "arquétipo da guerra"

A mudança climática do fim da Idade Média – fenômeno global, impactos regionais

Daniel Ribera Vainfas

Apesar de constituir um fenômeno geral, com impactos em praticamente todas as regiões do planeta, o fim da
Anomalia Climática Medieval (MCA) e a instauração de um novo padrão climático com a Pequena Era do Gelo (LIA)
tiveram impactos regionais muito distintos, inclusive em áreas geograficamente próximas e de latitudes similares. Um
recorte importante que essa comunicação visa a investigar é a diferença do impacto sobre os regimes climáticos dentro
da Europa, marcando especialmente a diferença entre a região ao redor do Mar do Norte e as parcelas mais interiores
do continente. Essa diferença, manifestada sobretudo na alteração dos padrões pluviométricos, pode ter papel
importante na explicação de fenômenos históricos relevantes, como a divergência entre as estruturas de classes
sociais da Europa Ocidental frente a Europa Oriental, além de trazer elementos que ajudam a explicar a estruturação
de um padrão de comércio intra-europeu em torno de uma periferia exportadora e um centro importador de grãos.

Impérios e circuitos mercantis da Rota da Seda (1500-1800)

Pedro Rocha Fleury Curado (UFRJ)

O presente trabalho propõe discutir as mudanças nas dinâmicas sociais associadas ao comércio de longa distância na
Rota da Seda. Para tanto, objetiva analisar tanto a maneira como a expansão do comércio de bens de luxo e bens
básicos produziu impactos nos nichos produtivos e nas relações de produção existentes ao longo das unidades políticas

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imperiais englobadas pelos principais circuitos comerciais, como também a forma como tais circuitos se
transformaram em contato com os Impérios e as demandas de suas elites. Como questão de fundo, a pesquisa
interroga-se sobre o alcance das transformações ocorridas tanto nas relações de produção como nos nichos produtivos
em decorrência da ampliação e diversificação do comércio de bens de luxo e bens básicos. Indicando uma adaptação
entre um modo de produção tributário (Samir Amin, 1973) e a maior integração aos mercados através da
mercantilização de novas commodities, o trabalho aponta para os limites do comércio de longa distância como fator
de transformação das estruturas produtivas imperiais. Dois estudos de caso serão discutidos em perspectiva
comparada: o império Otomano e o império Mughal.

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ST 03. A centralidade da literatura “marginal” para a compreensão da(s) História(s):
produções, narrativas e representações

ST 03 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

“Saída do quarto de despejo”: gênero, raça e história na escrita feminina dos Cadernos Negros

Maria Clara Martins Cavalcanti

Em seu texto, “A narrativa feminina publicada nos Cadernos Negros sai do quarto de despejo” (2002), a escritora
Esmeralda Ribeiro faz referência a obra de outra escritora negra, Carolina Maria de Jesus, para afirmar a importância
da constituição coletiva da escrita feminina negra. Esmeralda afirma que o processo de visibilização dessa produção é
o movimento de saída do “quarto de despejo”, título do livro publicado por Carolina em 1960. Se o “quarto de despejo”
é o “pior lugar que sobrou para nós negros e negras na sociedade”, se “é como se disséssemos que estamos
desalojadas do nosso próprio eu”, sair do quarto de despejo significa caminhar para um reencontro (RIBEIRO, 2002).
Esmeralda Ribeiro é uma das escritotas dos Cadernos Negros, publicações independentes e marginais que, desde 1978,
lançam anualmente livros de autoras e autores negros e são uma das principais expressões da literatura
negrobrasileira. Os Cadernos surgiram no final da década de 1970, em um período de intensa movimentação política,
onde efervesciam organizações do movimento negro que denunciavam o mito da democracia racial e combatiam a
discriminação do povo negro no país. Nesse sentido, este trabalho espera analisar históricamente a escrita feminina
nos Cadernos Negros, especialmente interessado nos significados e discursos sobre gênero e raça que atravessam essa
produção literária. Essa análise busca não apenas historicizar essa literatura negrofeminina, como também pensar as
contribuições intelectuais destas escritoras na construção de narrativas que são também históricas e epistemológicas.
Espera entender ainda como essa produção literária pode ser entendida como exercício de autorrecuperação, prática
de contraconduta, a partir de Michel Foucault. Parte, portanto, do diálogo entre história e literatura e das perspectivas
dos femininos negros e decoloniais, inspirado em autoras como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Esmeralda Ribeiro,
Conceição Evaristo, Miriam Alves, dentre outras.

O rap como leitor da metrópole brasileira

Juliana Simoes de Lima

Esta pesquisa pretende abordar como o movimento Rap se apresenta enquanto importante ferramenta para leitura
do pensamento social brasileiro. O objetivo principal é trazer a metrópole brasileira como recorte central analítico de
proposta, onde o rap se popularizou inicialmente enquanto fenômeno e movimento. Buscaremos entender alguns
aspectos específicos das desigualdades e violências experimentadas e vividas nas metrópoles brasileiras e suas
dimensões espaciais, os agentes sociais envolvidos através das letras de alguns rap’s pre selecionados. Como
metodologia, serão utilizados métodos qualitativos para obtenção de informações sobre o movimento no Brasil, além
de análise de dados secundários através de um amplo levantamento documental musical e bibliográfico que busque
estabelecer essa relação. Espera-se com isso refletir no papel do rap como ponto de partida para investigação das
desigualdades e violências, que não podem de maneira alguma, serem pensadas dissociadas de um contexto das

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periferias metropolitanas brasileiras.Além disso, cabe ressaltar a ausência de leituras da sociedade brasileira que são
feitas e consideradas pelos próprios agentes construtores de um discurso contra-hegemônico, que se opõe à lógica
dominante que impõe a marginalização e o silenciamento das classes que ele representa. Portanto, a construção desse
trabalho se baseia em correlacionar o Rap com a leitura socioespacial das desigualdades metropolitanas no Brasil
contemporâneo. Entender esse debate é fundamental para construir a análise a partir das letras dos rappers e
reconhecê-los como parte do pensamento.

Cordel, República e Administração Pública: narrativas sobre o nordeste no período da I República

Diego Ramon Souza Pereira (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)

A compreensão do cordel no contexto da I República, literatura popular típica do nordeste brasileiro, pode ser
entendida como um mecanismo de produção e representação de narrativas imersos em um contexto de conflitos
regionalizados e anti-republicanos como por exemplo: o banditismo social instaurado pelos cangaceiros, os
movimentos religiosos populares como por exemplo o liderado pelo Antonio Conselheiro, a relação profícua entre o
coronelismo e a liderança religiosa local, ilustrado na figura do Padre Cícero entre outros elementos que margeiam a
Administração Pública desse período sociocultural e político descrito. Nesse cenário, esta comunicação apresenta
resultados de pesquisa dos cordéis de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), no recorte 1906-1918. O corpus para
esta comunicação é composto de 27 narrativas completas (história com início, meio e fim) com mecanismo de observar
nas narrativas temas pertinentes a administração pública do período da Primeira República: regionalismo, cenário
político internacional (conflitos, I Guerra Mundial, mudanças geopolíticas), cenário político nacional (da situação
neófita da República aos primeiros movimentos de sua crítica). Os resultados alcançados foram a identificação de
elementos de uma narrativa polifônica, acentuada em seu caráter regional, ilustrado pelo cordel, em momento de
profunda transformação brasileira.

A crítica social nos folhetos de cordel de “Seu Cardoso” em Belém do Pará nas primeiras décadas do século XXI

Geraldo Magella de Menezes Neto (SEMEC-Belém/SEDUC-PA)

A literatura de cordel, poesia produzida em versos rimados, está presente na Amazônia desde o final do século XIX
com a migração nordestina para a região no período do auge da economia da borracha. Nas primeiras décadas do
século XXI, a produção do cordel no Pará ganha um novo impulso com uma nova geração de poetas. Quem assume
importante papel nesse contexto é Cláudio Cardoso Costa (1962-2020), que assinava seus folhetos como “Seu
Cardoso”. Cardoso teve uma atuação militante em prol do cordel no Pará, sendo um dos criadores do “Encontro dos
Cordelistas da Amazônia”, realizado anualmente na Feira Pan-Amazônica do Livro em Belém; coordenava o Estande
dos Escritores Paraenses no mesmo evento, dando espaço para os poetas divulgarem seus folhetos; era proprietário
da Banca dos Escritores Paraenses, na Praça da República, na qual vendia folhetos; realizava palestras e oficinas de
cordel; por fim, foi um dos fundadores e presidente da Academia Paraense de Literatura de Cordel, fundada em 2019.
Neste trabalho, vamos analisar os folhetos de cordel de “Seu Cardoso” que tem por tema a crítica social: Entre a farsa
& a trapaça no reino da Zenaldolândia e Belém dos tapumes. Estes dois folhetos são caracterizados por uma forte
crítica do autor ao abandono da cidade de Belém do Pará pelo então prefeito Zenaldo Coutinho (2013-2020), do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em relação à demora na entrega de obras públicas, a corrupção, a

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violência, o lixo na cidade. Nesse sentido, “Seu Cardoso” se apresenta como um porta-voz de denúncia contra as
mazelas da cidade, seguindo uma tradição de poetas que se viam como representantes do povo e tinham a função de
expor as angústias da sociedade. Analisar seus folhetos nos ajuda a entender a crítica política em circuitos fora da
chamada “grande imprensa” a partir de uma literatura considerada “marginal”, fora dos cânones literários, mas que
se expressa como um veículo de reivindicação popular.

ST 03 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

A construção identitária da infância: um diálogo entre história e literatura

Elis Regina da Silva Oliveira (SEDUC GO)

Esta proposta de apresentação tem a finalidade de analisar a constituição identitária da infância em duas obras da
literatura brasileira: "Infância" (1945), de Graciliano Ramos, e "Meu Pé de Laranja Lima" (1968), de José Mauro de
Vasconcelos. Por meio de um exercício comparativo, estabelecemos um diálogo entre história e literatura acerca do
tema proposto. Tendo em vista as particularidades de cada uma dessas áreas, o objetivo deste estudo é o de refletir
sobre as formas de representação da infância no contexto das obras, considerando o lugar de escrita de cada autor.
Nessa perspectiva, a reflexão incide sobre a constituição identitária da criança não por uma falta, mas como um lugar
pensado por uma determinada realidade histórica e por diferentes grupos sociais. Esse exercício resulta em
tensionamentos de forças entre as representações dominantes e as dominadas (CHARTIER, 1990). Levando em
consideração que a literatura pode contribuir para o trabalho do historiador como importante fonte, esta pesquisa
parte das vozes narrativas e memorialísticas presentes nas duas obras por meio do diálogo com os estudos de Darnton
(1987), Le Goff (1990), Antônio Cândido (2011) e outros teóricos que tratam da interface entre história e literatura.

Literatura, projeto político e comercial: A Esquina Editora (1978-1981)

Ícaro Silva Jatobá (FGV)

Editora de um dos principais jornais alternativos do país, durante os anos de 1978 a 1981, a Esquina Editora atuou com
obstinado propósito contra a estigmatização das homossexualidades na sociedade, não somente através do periódico
Lampião da Esquina, principal produto de sua marca, mas também através de livros de literatura homossexual/sexual,
é o que apresentamos nessa pesquisa, resultado de uma dissertação de mestrado. A reconstituição historiográfica da
vida cotidiana da editora, nos permitiu identificar e apresentar informações até então desconhecidas no campo
acadêmico, que até aqui, concentrou esforços, de forma louvável, em torno do Lampião da Esquina. As lacunas
historiográficas nos permitiram analisar o interesse pela área editorial, os desafios políticos e econômicos de uma
editora de oposição de pequeno porte em meio ao regime militar e os obstáculos para a abordagem das
homossexualidades nos livros de literatura. Para isso, demos conta de uma robusta pesquisa documental e uma
sequência de entrevistas com personagens cruciais para a existência da editora, a exemplo do escritor Aguinaldo Silva
e o autor de um dos livros lançado pela Esquina, Nivio Ramos Sales. Em um período em que o regime político
censurava, descriminava e incentivava formas de controle ao ser “desviante”, identificamos que a Esquina Editora, de

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forma corajosa e ambiciosa, destinou todo o seu catálogo a livros que pautassem a temática, se tornando a primeira
do país a definir tal linha editorial.

"Não somo nada nessa vida": a denúncia do racismo em Clara dos Anjos.

Juliana Pinho Leite (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Nessa pesquisa procurei analisar como e de que modo as denúncias do racismo aparecem no romence Clara dos Anjos
de Lima Barreto. Clara do Anjos é um romance que foi publicado em 1923 depois da precoce morte de Lima Barreto.
O literato não teve tempo de ver essa obra lançada e, talvez, nem tenha tido tempo de escrever, de fato, o seu o final,
considerando que muitos estudiosos de Lima Barreto levantam a hipótese de que o romance esteja ainda incompleto.
Apesar das incertezas dessa hipótese, a verdade é que o literato se dedicou durante toda a sua vida a produzi-la. Se a
narrativa de Clara dos Anjos, lançada em formato de livro em 1948, é ou não a definitiva, nunca saberemos. O que
sabemos é que em todas as suas versões anteriores, Lima Barreto procurou abordar os principais problemas sociais,
políticos e culturais do contexto em que viveu. Trazendo para a literatura a realidade em que viveu, a personagem
principal do romance é uma jovem mulata, moradora do subúrbio carioca. Neta de ex-escravizados, filha de um
carteiro com uma dona de casa, Clara do Anjos viveu durante muito tempo sobre os intensivos cuidados de seus pais,
principalmente de sua mãe, quem tentou, com uma excessiva proteção, evitar que Clara conhecesse as dores que a
sua condição de mulata poderia lhe causar. Porém, Clara, com a sua inocência de jovem menina, acaba sendo seduzida,
abusada e abandonada por Cassi Jones, um homem branco de má reputação nas redondezas, que usava de toda a sua
lábia – e de alguma habilidade como violeiro – para seduzir as moças e, em seguida, abandoná-las. Lima Barreto desde
o início de sua carreira já sabia o que buscava: escrever uma literatura militante, uma expressão do meio em que vivia,
uma compreensão do fenômeno social. Será entrelaçado aos testemunhos – principalmente, ao romance Clara dos
Anjos, o qual investigaremos – um pouco do contexto político e social da época e a forma que as questões raciais
atravessaram a sua narrativa.

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ST 06. Análises plurais e interdisciplinares: o Vale do Paraíba, História, Memória e
Patrimônio

ST 06 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

A preservação dos caminhos do trem

Marcos Paulo dos Santos Silva (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

O presente trabalho tem objetivo apresentar a importância que as ferrovias tiveram durante o século XIX,
especialmente durante o período cafeeiro. Com o aumento de produção de café seria necessário que a produção
cafeeira chegasse de forma mais rápida aos portos do Rio de Janeiro, pois anteriormente o transporte do produtos
era feito por tropeiros e dependendo de onde partiam poderia demorar dias ou até mesmo meses. Outro grande
problema é que durante as viagens, poderiam ocorrer roubos e além disso, as condições dos caminhos feitos ao longo
do Vale do Paraíba, desde o período do Ciclo do Ouro que seriam utilizados para que tropeiros pudessem fazer o
trajeto até o Rio de Janeiro. Em 1860, período este que marca a construção de estações como a central do Brasil e
também da estação Dom Pedro II, com o auxilio das empresas inglesas e do capital dos grandes cafeicultores, que se
interessavam na melhora do escoamento do café. Neste momento também, marca a chegada abundante de escravos
vindos de outras regiões do país para trabalharem nas plantações de café. Além disso, os trens tiveram uma grande
contribuição no deslocamento de pessoas, pois no mesmo período houve a implementação dos primeiros trens de
passageiros e que perduram até o inicio do século XX.

O Ramal de Macacos da Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II

Fernando Cesar Ramalho Aguiar (PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACAMBI)

O Ramal de Macacos da Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II, trata-se de uma pesquisa voltada para mostrar
o início da implantação da ferrovia no séc. XIX no país e propriamente no Estado do Rio de Janeiro. Este trabalho se
dedica a mostrar as primeiras tentativas de se iniciar os modelos de estradas de ferro no Brasil com a instalação da
primeira ferrovia do país, a Estrada de Ferro Mauá e logo após, a implantação da Companhia da Estrada de Ferro Dom
Pedro II. Veremos os desafios de se transpor a Serra do Mar, e a abertura dos grandes túneis para se chegar ao Vale
do Rio Paraíba Fluminense e sanar a precariedade do transporte da produção cafeeira, que era tão clamado pelos
fazendeiros da época. E o tema central deste trabalho, que foi a opção de abertura deste ramal, chamado de Macacos
e inaugurado no ano de 1861, posteriormente chamado de Tairetá e atualmente município de Paracambi – RJ, que em
seu ápice, aliado a chegada da estrada de ferro à localidade, foi palco do um dos maiores empreendimento do Brasil
império, que foi a implantação da maior industrial têxtil da época na região, a Companhia Têxtil Brasil Industrial.

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O Arquivo Histórico Municipal de Piraí e a Micro História

Marcello Procópio Alves (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Ao pensarmos na História do Vale do Paraíba, é comum se delimitar uma linha do tempo que gire em torno dos ciclos
do café, e que busque explicar a região a partir da sua relação com ascensão e declínio dos barões do café. Trata-se
de uma visão macro da História, que dá enfoque aos personagens de maior poder aquisitivo e com uma influência
política grande. O resultado é a exclusão de milhões de personagens do cotidiano que, mesmo sem influência política,
faziam parte do contexto da época e ajudam a explica-la. É nesse sentido que a micro história inaugurada por Carlo
Ginzburg se mantém atual. Não só se mantém atual, como é de extrema importância para a manutenção de uma
história que revele o cotidiano de pessoas anônimas, e que privilegie uma análise em escala reduzida. Nesse sentido,
o Arquivo Histórico Municipal de Piraí conta com um acervo vasto, com fontes que se estudadas a partir de uma lente
microscopia poderão enriquecer o conhecimento acerca das relações sociais do vale do paraíba que vá além dos
“Souza Breves”.

ST 06 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

O “Soft Power” como arma de sedução em Volta Redonda sob a ótica da revista "Em Guarda: para a defesa das
Américas" (1940-1945)

Welder Barbosa Melquiades, Adson Luiz Trocades Pires, Matheus Campos Machado

Escrever sobre a história da imprensa é escrever sobre a história por meio da imprensa. O presente projeto tem como
objetivo analisar a revista “Em Guarda para defesa das Américas” buscando compreender os interesses velados norte-
americanos durante a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. Durante o período de
circulação (1940 a 1945), o periódico continha a promessa de civilizar a população brasileira de acordo com a visão de
progresso e desenvolvimento. A década de 1940 foi emblemática no sentido de persuadir tanto a classe dominante
(os militares e políticos) quanto as demais esferas sociais na difusão dos ideais propagados e defendidos pelos EUA.
Essa iniciativa consistiu em diagnosticar os recursos estratégicos do Brasil, padronizar o estilo de vida norte americano
como o modelo ideal (American Way of Life) e estender os ideais capitalistas (Soft Power). Utilizaremos a história da
imprensa (Tania Regina de Luca) como metodologia, para dar conta da análise do periódico. O quadro teórico
(Hegemonia e Americanismo) em Gramsci procuram explicar e dar sustentação para análise pretendida.

A metamorfose do espaço: um estudo ambiental do vale do rio Paraíba do Sul no século XIX.

Talita Silva Rabelo (Secretaria de Educação de Volta Redonda)

Proponho a apresentação do trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em História, escrita como resultado da
pesquisa histórica sobre a transformação ambiental do vale do rio Paraíba do Sul durante a intensa produção de café
no século XIX. Nele analiso um texto do barão de Paty de Alferes, a “Memória sobre a Fundação de uma Fazenda na
Província do Rio de Janeiro, sua Administração e Épocas em que se devem fazer as Plantações, suas Colheitas, etc.,
etc.” escrita em 1847. Desse modo, fundamenta-se na historiografia da região com os estudos sobre a formação da

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classe senhorial, a categoria da segunda escravidão, a formação do mercado mundial do café no século XIX e a
construção histórica do vale do rio Paraíba. Baseia-se também na historiografia ambiental realizada por Warren Dean
sobre a devastação da Mata Atlântica, por José Augusto Drummond e por José Augusto Pádua, que apresenta
expressões de princípios ambientais durante o século XIX. O estudo realiza ainda um esforço interdisciplinar ao seguir
as orientações teóricas produzidas por Milton Santos acerca do espaço geográfico e por se basear nas análises
produzidas por Adi Lazos, Rogéri Oliveira, Marcelo Dantas e Ana Luiza Coelho sobre as consequências ambientais
resultantes desta transformação. Em suma, o trabalho interpreta o processo de transformação ambiental, em que um
espaço de predominância da Mata Atlântica se tornou degradado e com a predominância de fazendas de café
correspondendo a dinâmica social e aos processos de produção.

Maçonaria e Questão Religiosa em Vassouras: o Interdicto contra Irmandade de Nossa Senhora do Rodeio no
apogeu e grandeza do Vale. Os personagens, o cenário e a peça. (1865-1880).

Maiara Aparecida dos Santos Monsores (pref)

A Questão Religiosa foi um conflito ocorrido no Brasil protagonizado pelo enfrentamento entre a Igreja Católica e a
Maçonaria, contribuindo para a crise do Império, onde atores políticos como: Papa Pio IX; Bispos de Olinda e Belém;
Dom Vital, Visconde do Rio Branco produziram grandes agitações que se estenderam aos mais distantes rincões do
país. A Historiografia sobre a Questão Religiosa no Brasil aponta questões marcantes, contudo, poucos conhecidas,
dessa maneira, desveleremos os impactos desse embate que refletiram no Vale do Paraíba, onde o Bispo D. Pedro
Maria Lacerda lançara um Interdicto contra a Irmandade de Nossa Senhora do Rodeio, de Vassouras. Nesse trabalho
apresentaremos os desdobramentos deste ato sobre a sociedade Vassourense, de que modo tudo isso se relacionaria
com as questões políticas, sociais e nas relações de força da época, quais foram as posturas e reações diante desse
cenário incorporado em um contexto social embebido pela promulgação da Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871
e todas as questões envolvendo o Projeto de Laicização, Estado das Luzes, Estado Liberal, Separação de Poderes
discutidos na Europa e no Brasil no século XIX e que ganham papel principal nesse vívido cenário onde a joia da coroa,
Vassouras, brilha e concomitantemente num jogo de interesses ofusca atuações que fazem dela retumbante meio a
seus personagens que a vestem de grandes histórias.

ST 06 – 21/10 – Quinta-feira (13:30 às 15:30)

A família Gonçalves de Moraes: movimentação e ocupação no interior da capitania do Rio de Janeiro (1761-1796)

Vladimir Honorato de Paula (SEEDUC)

A presente comunicação tem por objetivo apresentar os resultados de nossa pesquisa de doutorado sobre da família
Gonçalves de Moraes no contexto da migração e da ocupação colonial nas antigas freguesias de São João Marcos e da
Conceição do Campo Alegre. Por meio desse trabalho, pretende-se analisar as trajetórias individuais e familiar do
português Antônio Gonçalves de Moraes, e de sua noiva de origem ituana, d. Rita Clara de Souza, fundadores da família
Gonçalves de Moraes e os pais do rico, poderoso e influente barão do Piraí, um ilustre representante da classe
senhorial no Vale do Paraíba no século XIX. Através da análise destas duas trajetórias, pretende-se, a partir de fontes

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de pesquisa paroquiais e cartoriais, ampliar as possibilidades de estudo e discussão acerca dos primeiros povoadores
relacionado com o apossamento de terras no interior da capitania do Rio de Janeiro na segunda metade do setecentos.
Ao ampliar as possibilidades de estudo e discussão, procuramos dimensionar a importância desses povoadores na
ocupação destas duas freguesias com suas atividades econômicas.

A presença dos médicos no Vale do Paraíba Fluminense do século XIX: personagens e espaço de análise.

Anne Thereza de Almeida Proença

O presente trabalho tem o objetivo de compreender o Vale do Paraíba fluminense da segunda metade do século XIX
como um espaço vivo, em que as relações eram mutáveis e cujo ritmo determinava as ações dos diferentes grupo
sociais ali presentes, através de uma análise das trajetórias de médicos que lá atuavam. Estes homens não serão vistos
apenas como profissionais, mas como personagens que se adaptaram às dinâmicas sociais instituídas nesta região e,
a partir delas, construíram suas redes de contato, que determinavam as estratégias escolhidas para conquistarem
notabilidade e reconhecimento. Destacaremos como, através deste olhar prosopográfico, é possível compreender o
crescimento dos municípios, acompanhando o ritmo e a direção da expansão da produção cafeeira, identificando as
características de uma sociedade em transformação. A construção das redes de contato e dos espaços de sociabilidade
da região foi direcionada principalmente pela elite que se enriquecia, absorvendo as noções de civilidade e dos
chamados bons hábitos, importados dos grandes centros nacionais ou europeus. Consideramos importante frisar que
a presença dos médicos nos municípios do interior da Província do Rio de Janeiro oitocentista não deve ser entendida
como algo esperado e comum, mas também como uma demanda que surgiu pelas novas práticas instituídas no Vale.
Acompanhar os modos de inserção tanto profissional quanto pessoal dos clínicos nos fornece um lugar singular de
observação histórica, revelando a importância e o modo de construção das redes de contato, que faziam do Vale do
Paraíba fluminense um espaço de características sociais significativas, que não eram encontradas em outros locais,
desenvolvidas a partir da posição que passou a ocupar na economia e na política do Império brasileiro. Consideramos,
portanto, o grupo médico tanto como personagem quanto como espaço de análise, que nos releva as estruturas sociais
lá existentes.

Saúde e Fraternidade: o impacto da República em Vassouras.

Carlos Renato Dias do Lago (celetista)

Este trabalho é consequência de linha de pesquisa intitulado Elites Políticas Fluminenses, e o interesse de nossa
abordagem em relação ao impacto da República em Vassouras se deve a esta região ser percebida como privilegiada
para a compreensão do contexto das transformações ocorridas no final do século XIX nas estruturas políticas,
econômicas e sociais do país. Vassouras, portanto, tendo posição destacada como polo agrícola cafeeiro e escravagista
neste período, atividades que seriam substituídas pelo incremento da indústria e do trabalho livre em anos
posteriores, o que contribui para fornecer importante painel para os pesquisadores. Buscou-se privilegiar a
importância das impressões percebidas nos habitantes daquele período, utilizando-se da metodologia da História do
Imaginário e tendo como fontes primárias os exemplares do Jornal O Vassourense, de 1882 a 1890; atas da Câmara
Municipal de 1885 a 1890; e correspondências particulares variadas no período de 1889 a 1893. Percebe-se através
dessas fontes que o advento da República causou forte impacto no imaginário dos vassourenses, com destaque frente

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suas elites, receosas da perda de importância da última década, e passam a perceber na mudança de forma de
governo, a possibilidade do retorno à antiga prosperidade do café na região.

Patrimônio Cultural em uma cidade oitocentista do Vale do Paraíba

Thiago de Souza dos Reis (UNIRIO/UNES/UVA/UFRRJ/INCT Proprietas), Magno Fonseca Borges (UNIRIO/CEDERJ e
Colégio dos Santos Anjos)

A cidade de Vassouras é uma cidade localizada no médio vale do rio Paraíba do Sul, região Centro-Sul do estado do
Rio de Janeiro. Elevada à categoria de vila em 1833, Vassouras apresenta um desenvolvimento urbano intimamente
ligado à evolução da cafeicultura na região. Não só os edifícios da cidade e as faustosas sedes das fazendas
vassourenses relacionam-se ao café e ao seu cultivo, naquela região forjou-se uma cultura cafeeiro-escravista atrelada
a um centro urbano. Ambos são partes complementares de um projeto que se consolidou ao longo do século XIX.
Assim, espaço urbano e sociedade se desenvolveram em torno de interesses específicos, voltados para a manutenção
do status quo e da escravidão. A partir dessa constatação, a presente proposta de comunicação oral pretende analisar
como o patrimônio cultural vassourense se desenvolveu, sobretudo no período de maior opulência da cafeicultura na
região ao longo da segunda metade do século XIX. Nossa análise não se restringirá ao aspecto do patrimônio de
interesse da classe senhorial, mas dará especial atenção aos espaços e patrimônios marginalizados pela sociedade
vassourense.

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ST 07. As mulheres e suas produções intelectuais no contexto dos séculos XIX e XX

ST 07 – 20/10 – Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Virginia Woolf: uma intelectual de seu tempo

Gabriela Monteiro da Costa

Atualmente Virginia Woolf é mais conhecida e celebrada por sua produção literária e seus ensaios feministas. A autora,
porém, acumulou outras duas carreiras no mundo das letras: crítica literária e editora. Esta última foi exercida na
Hogarth Press, editora que ela e seu marido, Leonard Woolf, fundaram em 1917. Virginia, portanto, ocupou um lugar
especial na comunidade das letras. A acumulação do papel de escritora com o de editora permitiu que Woolf não só
criasse de forma mais ousada - tendo em vista que a editora lhe pertencia - como também arbitrasse e julgasse sobre
o trabalho de seus pares escritores, concedendo, ou não, permissão para publicação. Sendo assim, a relação da autora
com o mundo das letras e com o modernismo apresenta uma nova camada de complexidade. Woolf não só participava
do processo criativo, como também era um importante elemento na circulação de novas ideias, fossem elas literárias
ou políticas. Essa característica observada na autora põe fim a uma dicotomia que, segundo Angela de Castro Gomes
e Patricia Santos Hansen, desagrega a figura da intelectual produtora de bens culturais da intelectual mediadora desses
mesmos bens. O protagonismo de Virginia Woolf no processo de criação e no de circulação de ideias, une a figura da
intelectual produtora com a da mediadora. Este artigo, portanto, tem por objetivo demonstrar que Virginia Woolf foi
uma intelectual-mediadora por excelência.

Uma leitura interseccional de “Mulheres que correm com os lobos” a partir dos feminismos contemporâneos

Juliana Campos Gomides

Essa presente proposta de apresentação de trabalho é um desdobramento da pesquisa de mestrado intitulada


“Historicidades e subjetividades femininas: o Sagrado Feminino enquanto percepção da contemporaneidade” em
andamento no programa de Pós-Graduação em História/UFOP. Nosso objetivo central é entender como este
movimento de mulheres se entrelaça nas estruturas de poder historicamente construídas atualmente, dadas as
narrativas históricas que o sustenta. Essa apresentação pretende demonstrar como e o porquê da utilização do livro
“Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem”, publicado pela psicologia
junguiana Clarissa Pinkóla Éstes, em 1989, nos Estado Unidos, ser uma das principais referências teóricas para pensar
a categoria de “mulher” pelo Sagrado Feminino. Tal como entendido no campo da História Social desde 1970,
consideramos que a utilização deste livro nos possibilita compreender melhor o contexto de produção da obra,
principalmente no que tange os reflexos dos movimentos feministas do Norte-global desse período nas historicidades
apresentadas na ideia de “Mulher Selvagem”. Ainda que tal produção cultural não seja oriunda do interior do campo
da historiografia, e sim da Psicologia, enxergarmos a possibilidade de estabelecer ligações proveitosas com a fonte a
fim de construir perspectivas de análises transdisciplinares e que, ao mesmo tempo, partem de uma realidade comum,
ou seja, o mundo concreto. Portanto, essa apresentação busca demonstrar os efeitos e as consequências da

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apropriação da ideia trazida pela nossa fonte principal na contemporaneidade dada as presentes e constantes disputas
pelo sentido da contemporaneidade, das questões de gêneros e dos movimentos feministas.

O cordel no feminino: presença e participação de mulheres autoras

Sabrinne Cordeiro Barbosa da Silva, Nicoli Braga Macêdo (Universidade Autónoma de Lisboa)

A literatura de cordel presente na cultura de parte do Nordeste brasileiro, por muito tempo foi um reduto
majoritariamente masculino, para as mulheres restava o papel de “musas” de inúmeras dessas histórias, quase sempre
sem espaço para que as próprias pudessem expor suas narrativas. Em 19 de setembro de 2018, o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão de serviço público brasileiro, reconheceu a literatura de cordel
como Patrimônio Imaterial Brasileiro. O título foi conseguido após anos de pesquisas e nesta rede de estudiosos,
destaca-se a professora da Universidade Federal da Paraíba, Rosilene Alves de Melo, que desenvolveu um trabalho de
investigação voltado para a valorização da literatura popular. Mesmo que tardiamente, ao longo de todo o século XX,
tivemos mulheres presentes na literatura de cordel brasileira. Esta comunicação objetiva ressaltar a presença das
mulheres na cultura cordelista e alguns trabalhos produzidos por mulheres ao longo do século XX, evidenciando sua
representatividade e importância na área. Também ressaltamos como o machismo presente na literatura de cordel
nordestina, contribuiu para a construção de uma mentalidade cultural muito própria da região que se utiliza de
conceitos como força e valentia, reverberando um discurso patriarcal debatido desde meados do século XX graças à
teoria teoria feminista. O estudo dos cordéis através de mulheres autoras compõe o eixo de nossa investigação, deste
modo, ao decompormos o alicerce de estereótipos sobre o feminino em um estudo objetivo nos leva diretamente às
teorias historiográficas feministas. Sempre aliados, artes e os próprios movimentos feministas, colaboram para que
surjam cada vez mais manifestações, tanto artísticas, quanto sociais, voltadas à crítica dos modelos e pensamentos
passados que acabaram por excluir a mulher e colocando-a em um papel secundário, se compararmos com o universo
masculino, por exemplo.

Raphaelina de Barros e a produção feminina no cenário literário do início do século XX

Marina Rodrigues Custodio (ds)

O trabalho investigou a história de vida e a produção literária da escritora Raphaelina de Barros, traçando um
panorama da produção intelectual feminina no início do século XX, quando tal produção era sistematicamente
invisibilizada. O artigo apresentou sua trajetória, descreveu suas publicações literárias, e examinou-as dentro do
panorama social vigente. Optou-se como metodologia o levantamento de dados por meio de pesquisa documental e
bibliográfica, avaliação crítica, apresentação dos fatos, e análises e considerações finais. Raphaelina nasceu em 1862
no interior de São Paulo, e viveu no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1943. No início dos anos 1900 publicou seu
primeiro livro de contos, “Almenaras”, e contribuiu com as revistas literárias Kosmos e Rosa-Cruz. Seu segundo livro,
“Bíblicos”, foi publicado apenas em 1923. O que chama a atenção para a trajetória da autora é o fato de ser apontada
como possível amante de Machado de Assis. Tal boato ganhou espaço na mídia em 2008 após a publicação do Tomo
III da coleção “Correspondências de Machado de Assis”, organizada pela Academia Brasileira de Letras, onde aparecem
duas cartas do escritor para a autora. Raphaelina também é citada em biografias do poeta Emílio de Menezes, de
quem foi companheira. Observou-se que a produção intelectual da autora ficou invisibilizada, relegando seu lugar na

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história a um espaço coadjuvante e pejorativo, mesmo tendo intensa produção intelectual para sua época.
Atualmente, um exemplar de seu livro “Almenaras” está no Museu Gustavo Teixeira em São Pedro-SP, e outro na
biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, onde também está um exemplar do livro “Bíblicos”. Algumas
contribuições de Raphaelina para as revistas Kosmos e Rosa-Cruz estão no acervo digital da Biblioteca Nacional. O
exemplar em poder do Museu Gustavo Teixeira, contém dedicatória da autora para seu primo, Gustavo Teixeira, poeta
de projeção nacional no início do século XX, que residia em São Pedro.

ST 07 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Limites, permanências e silenciamentos: ideias políticas nos jornais femininos da corte do Rio de Janeiro de meados
do século XIX.

Isadora de Mélo Escarrone Costa

Desde seu surgimento, a imprensa veio se propagando e se consolidando como o principal meio de reprodução e de
produção de ideias, à medida em que se desenvolviam as características viáveis envolvendo essa atividade, como a
demanda de um público leitor, as condições comerciais e a autorização do Estado. Tais questões, ao longo da história,
nem sempre foram fáceis de conciliar, sobretudo, no tocante à imprensa feminina. Porém, na segunda metade do
século XIX os impressos brasileiros voltados para o público feminino tomaram um crescimento vertiginoso, seja devido
à estabilidade política do Segundo Reinado, seja devido ao ligeiro aumento do número de mulheres leitoras. Dessa
forma, o presente ensaio busca investigar esses periódicos femininos que eram publicados na corte do Império do
Brasil e compreender como a política perpassava tais impressos. Pretende-se analisar caminhos silenciosos e com
limites e permanências claras à atuação política da mulher na sociedade, uma vez que política não era um assunto,
em geral, esperado ou considerado de interesse das senhoras e damas letradas do império. Assim, utilizando-se da
História Política Renovada e da Perspectiva dos estudos de Gênero, o presente trabalho evidencia as maneiras pelas
quais as mulheres poderiam se apropriar e atuar na política de seu tempo.

O Escrínio: Protagonismo feminista nas páginas de um jornal bajeense (1898)

Clarisse Ismério (URCAMP - Universidade da Região da Campanha)

Num período em que o modelo de conduta feminino preconizado pela tradição patriarcal era de esposa, genitora e
formadora de homens, algumas mulheres romperam o silêncio construindo espaços para ressignificar suas vidas,
propagar suas ideias e marcar seu lugar na história. E como eram consideradas “educadoras por natureza” utilizaram
do ofício de professora para alçar voos mais altos e marcar espaço na sociedade, através de sua produção literária e
jornalística, difundiram seus ideais e questionaram os valores da sociedade machista e conservadora em que viviam.
Assim a educadora feminista Andradina de Oliveira rompeu com os padrões sociais ao propor o protagonismo e a
emancipação intelectual feminina nas páginas do seu jornal Escrínio, criado em 1898, na cidade de Bagé, Rio Grande
do Sul, conhecida pelo patriarcado e conservadorismo. O periódico atuou como um espaço de expressão na luta pela
igualdade civil, valorização do ensino e capacitação profissional das mulheres. Na investigação constatamos que

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existem apenas cinco exemplares desse período, mas a riqueza de conteúdo expressa nas páginas do Escrínio o torna
fiel guardião atemporal das evidências de uma militância feminista em terras bajeenses.

O pensamento de Angelina Vidal no Gazeta Operária. Uma socialista Portuguesa nas colunas do jornal operário de
Mariano Garcia. 1902-1903.

Sayonara Faria Sisquim

Angelina Vidal foi uma mulher à frente do seu tempo, atuando como importante líder socialista em Portugal. Seu
ativismo em torno dos direitos femininos - em particular à mulher operária - defendia a emancipação feminina como
uma condição fundamental para o progresso civilizacional. Seu pensamento atravessou fronteiras. No Brasil, suas
ideias eram difundidas por diferentes jornais operários, dentre eles, o Gazeta Operária, de Mariano Garcia, que assim
como ela, foi operário da indústria cigarreira, militante socialista e um atuante jornalista que lutou pela criação de um
partido operário como veículo de participação da classe trabalhadora na política formal, atuou pela construção de
uma identidade coletiva de classe, onde seus jornais operários foram importantes ferramentas de conscientização.
Lutou pela criação de direitos sociais tais como: direito à educação, moradias salubres, salários dignos, jornada de 08
horas diárias, e legislação que regulamentasse o trabalho infantil e das mulheres, pensamentos esses também
defendidos por Angelina Vidal, que nos primórdios da organização dos trabalhadores no Brasil Republicano, era uma
voz feminina que defendia nos jornais operários, um universo majoritariamente masculino, a educação para as
mulheres e os direitos das operárias, que através do seu trabalho procuravam garantir o sustento da família, sem abrir
mão das responsabilidades maternais.

As escritoras do “Paraná Intellectual”: retratos fotográficos das colaboradoras da revista “A Bomba” (Curitiba, 1913)

Luana Camargo Genaro

A revista ilustrada, humorística e literária “A Bomba” foi publicada em Curitiba, no ano de 1913. Entre as fotografias
reproduzidas pela revista, uma seção em particular reuniu nove imagens sob o título “Paraná Intellectual”. Cinco eram
retratos de mulheres: Myriam Catta-Preta, Aurea Pessoa, Annette Macedo, Zaida Zardo e Marianna Coelho. As
legendas informam que eram colaboradoras da redação de "A Bomba" e, algumas delas, membros do Centro de Letras
do Paraná, agremiação que reuniu escritores que marcaram a produção literária paranaense. A questão norteadora
da pesquisa consiste em investigar de que maneira essas mulheres estão representadas nos retratos. Para tal, serão
considerados os aspectos estéticos e morfológicos da fotografia e a legenda como um texto de apoio para a
interpretação da imagem, pois, a revista apresenta o padrão título/foto/legenda. A comparação com outras fotografias
publicadas pela “A Bomba” contribuirá para identificar como a figura feminina é apresentada fotograficamente pelo
periódico, assim como, melhor caracterizar os retratos das escritoras. Pouco se sabe sobre essas mulheres. A busca
pela presença feminina na literatura em Curitiba do início do século XX, mesmo fragmentária, é um meio para
contribuir com as pesquisas sobre a história das mulheres e as revistas ilustradas em seu contexto.

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ST 07 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Para além do companheirismo intelectual: uma biobibliografia de Lêda Boechat Rodrigues

Ilda Renata Andreata Sesquim

A presente comunicação tem como objetivo traçar uma discussão sobre a trajetória intelectual e profissional de Lêda
Boechat. Embora esta tenha desenvolvido uma proeminente carreira de jurista, historiadora e intelectual, fora do
âmbito restrito das ciências jurídicas, sua notável desenvoltura intelectual e profissional contrasta-se com o fato de
ser lembrada majoritariamente por tarefas secundárias ou de assessoria às obras do marido, o historiador José
Honório Rodrigues. Nesse sentido, a análise da biobibliografia de Lêda Boechat Rodrigues, permite que identifiquemos
um problema pertinente e ainda muito recorrente no contexto da memória disciplinar. Na Historiografia ocidental,
reconhecer figuras femininas como vozes ativas no processo de produção do conhecimento ainda não se constitui
como uma ação recorrente. Dessa forma, o problema que se desenvolverá aqui será o de evidenciar uma trajetória
intelectual própria, autoral e autônoma, invisibilizada pela estrutura sexista e patriarcal que reserva às mulheres o
estigma da submissão e da invisibilidade nos espaços de recordação e na memória disciplinar. Embora Lêda tenha
escolhido posicionar-se ao lado do historiador e assumir a tarefa de contribuir com seu trabalho e publicações, é
importante ressaltar que esta nunca recusou ou cessou a construção de sua própria atuação intelectual e autoral.
Portanto, estudar a trajetória de Lêda Boechat trata-se de evidenciar uma trajetória intelectual própria, autoral e
autônoma, porém invisibilizada pela estrutura sexista e patriarcal de um reconhecimento relegado àquele já obtido
por seu marido, José Honório Rodrigues.

Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça: contribuições feministas nas décadas de 1930 e 1940

Isabela Bracalente Infanger

A atuação feminina na vida literária, educacional e política brasileira, em meados dos séculos XIX e XX, foi significativa
e efetiva. Nomes esquecidos e excluídos voltaram à cena graças às pesquisas recentes, que trouxeram à tona a
legitimidade e visibilidade das atividades sociais e políticas de mulheres, atividades estas que fizeram parte,
efetivamente, da História do Brasil. A pesquisa em questão aborda uma das manifestações que melhor enfatizaram a
luta das mulheres em defesa da sua presença no espaço público: a conquista de direitos de cidadania política (votar e
ser votada). Tendo como recorte o período da chamada Era Vargas (1930 -1945), objetiva-se analisar a personagem
Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça (1896-1971), intelectual que atuou como ativista em diversos campos,
culturais e políticos, dessa maneira, em movimentos feministas e sufragista. Para tanto, serão utilizadas fontes que
informem sobre a trajetória e as ações de Anna Amelia, depositadas no Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, instituição em que se encontra
depositado o seu arquivo (AACM), que inclui, no total, sete séries, porém as utilizadas inicialmente serão as séries
militância feminista, participação e colaboração em associações, órgãos e institutos (1925-1950) e, inclusive, com um
importante conjunto de recortes de jornais (1930-1950). A pesquisa pretende contribuir para a compreensão das
propostas de feministas brasileiras, entendidas como agentes históricas, que atuaram na primeira metade do século
XX.

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Sobre mulheres e escrita da história: Juana Paula Manso e a produção de biografias na Argentina oitocentista

Deise Cristina Schell (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

"Queridas lectoras, al comunicaros el pensamiento que acaricio ha tiempo, he abierto un compromiso conmigo misma
y con el público”. Foi sob a forma de um dever assumido e a ser cumprido que Juana Paula Manso anunciou, em março
de 1864, que iniciava a produção de uma série de textos biográficos intitulada “Mugeres ilustres de la América del
Sur”. A notícia deste lançamento aconteceu no segundo número do jornal “La Flor de Aire”, um dos vários projetos de
letras dos quais Manso participou ativamente entre as décadas 1850 e 1870 em Buenos Aires. Foi neste jornal e no
semanário “La Siempre-Viva”, também de 1864, que a intelectual publicou narrativas que escreveu sobre as trajetórias
de duas mulheres sul-americanas: Encarnación Sanguinet de Varela e Luisa Díaz Vélez de La Madrid. Antes e depois
desta iniciativa, no entanto, Juana Manso produziu outras biografias femininas, como a de Camila O’Gorman e a de
Antonia Maza de Alsina. Esta comunicação se propõe a analisar estes escritos sobre o passado de Manso refletindo
sobre a sua atuação como uma “mediadora intelectual” (CASTRO; HANSEN, 2016) e, mesmo, como uma historiadora,
em uma perspectiva que relaciona os estudos de história da historiografia e os de gênero (SMITH, 2003; PALETCHEK,
2009; EPPLE, 2013; OLIVEIRA, 2018). Busca-se verificar a sua perspectiva, como mulher e feminista, sobre
acontecimentos, personagens e processos do passado e sobre o papel da história para a sociedade e para as mulheres
argentinas. Além disso, intenciona-se compreender a forma de narrativa empregada e os recursos metodológicos
utilizados por Juana Paula Manso em sua escrita da história, especialmente refletindo sobre como as mulheres
tematizavam o passado e quais eram as formas de circulação e apresentação de sua produção historiográfica no
oitocentos. Desta forma, pretende-se compreender de que maneira muitas delas participavam da cultura histórica do
século XIX, considerando, é claro, a Argentina como espaço de análise.

Entre sonho e realidade: Uma abordagem interseccional sobre a vida de uma mulher negra nigeriana no Reino Unido
em Cidadã de Segunda Classe de Buchi Emecheta

Sinaly Monteiro Paes Melo (FIC), Danielle Lins Lima Ferreira (seduc pe)

Este artigo tem por objetivo analisar o processo de formação da identidade social e construção do feminino de Adah,
protagonista do livro Cidadã de Segunda Classe de Buchi Emecheta, relacionando-os com os processos migratórios
entrelaçado com a perspectiva da interseccionalidade. O uso do conceito interseccional visa a instrumentalização
teórica metodológica da compreensão do sexista e do racismo na temporalidade da narrativa por apresentar um
caráter fictício com nuances autobiográfica que condiciona o romance as vivências de muitas mulheres negras no
período pós colonial. Instigando assim, uma experiência de leitura que confronta de modo prático reflexões sobre as
interfaces do que é ser uma mulher negra atravessada por classe, cor e gênero através da prosa literária de Buchi
Emecheta. Um artigo que compara literatura, história e subjetividades através do método de analise interseccional
abre caminhos para a fomentação de ações para o combate a estas discriminações de gênero no tempo presente,
tendo em vista o quão atual é o livro. O ensino de história é um catalisador de debates, ao trazer a escrita de uma
intelectual negra de origem Africana que desbravou o campo literário no século XX contribuímos de maneira
significativa para a construção de novos olhares a cerca da participação das mulheres na construção historiográfica
que por sua vez tem um maciço olhar masculino e eurocentrado. Propor novas maneiras de analise para a literatura e
a história inaugura um pensamento de que o século XXI será o lugar em que veremos como as mulheres de séculos

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passados nunca foram acomodadas, pelo contrário lutaram pela sua escrita e o direito de estar presente seja no seu
tempo ou no futuro.

ST 07 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Entre o magistério feminino e a escrita de livros escolares: ensino de História e autoria feminina no campo didático
oitocentista

Jeane Carla Oliveira de Melo (IFMA)

A presente comunicação visa apresentar aspectos da trajetória docente e intelectual desta professora desconhecida
da historiografia brasileira e da história da educação: Herculana Firmina Vieira de Sousa (1815-1903). Nascida
provavelmente na Ilha Terceira, nos Açores, em idade ainda não sabida aportou na província do Maranhão com seus
familiares, fixando residência em São Luís. Ministrou aulas particulares para meninas até 1856, quando foi aprovada
em concurso público para assumir a cadeira de Primeiras Letras, para o sexo feminino, na vila de Cururupu, local
situado no litoral ocidental maranhense. Atuava também como autora de livros didáticos e a presente comunicação
analisará mais detidamente da sua obra, intitulada Resumo da História do Brasil, editada primeiramente em 1868 e
depois em 1880. Tal compêndio escolar se trata de uma das primeiras narrativas históricas produzidas por uma mulher
no Brasil e esta comunicação, portanto, também se destina a pensar aspectos constitutivos da obra, tais como:
edições, conteúdo, recortes temporais e mobilização de práticas historiográficas que a autora instrumentalizou na
escrita do livro.

"Mujeres dominando los aires" Participação feminina na história da aviação Latino-americana: uma história
comparativa entre Peru e Brasil, s. XX.

Luz Estefany Ramos Dolorier (--)

La presente investigación tiene como propósito explorar las diferentes similitudes y desigualdades en el proceso de
inserción femenina en las fuerzas aéreas de Perú y Brasil entre 1979 a 1990. Desde los inicios del siglo XX, existieron
mujeres pioneras en la aviación de diferentes partes de América Latina y Norteamérica. Mencionando a: Amelia
Earhart, Ada Leda Rogato, Carmela Combe, Amelia Celia Figueredo de Pietra, Violeta Guirola de Avila, Thereza Di
Marzo, Amelia Villa de la Tapia, Inés Thomann, entre otras. Estas mujeres rompieron con dicho estereotipo de género
de profesiones para hombres y profesiones para mujeres, haciéndose visible su participación de aviadoras, dentro de
espacios militares. Ello marcó un precedente histórico importante para que diversos países latinoamericanos
presenciaran una figura femenina representativa y moderna a sus instituciones armadas. Esta investigación se apoya
en referentes teóricos de la historia de las mujeres. Se sentarán entonces las bases históricas de la presencia de las
mujeres aviadoras en Perú y Brasil en el siglo XX, procurando aportar desde la disciplina histórica, elementos de análisis
frente al vacío en la historiografía.

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A Parteira da Corte e a produção científica feminina nos Oitocentos: um estudo sobre os escritos de Madame
Durocher publicados nos Annaes Brasilienses de Medicina

Luciana Borges Patroclo (UNESA - Universidade Estácio de Sá)

A Comunicação – vinculada ao Programa de Pós-Doutorado em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro


(ProPEd/Uerj) – caracteriza-se como pesquisa centrada da análise da produção científica de Maria Matilde Josefina
Durocher, ou Madame Durocher, no contexto da participação das mulheres em instituições científicas nos Oitocentos.
Intitulada Parteira Oficial da Corte e a primeira obter o diploma para exercer tal profissão, nasceu na França em 1808.
Juntamente com sua mãe, Anna Durocher, desembarcou no Rio de Janeiro em 1816. Frequentou a Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro entre 1833 e 1834, período no qual as mulheres só podiam obter a certificação de parteira;
a diplomação como médica foi proibida ao sexo feminino até 1879 com a promulgação da Reforma Leôncio de
Carvalho. Em de 1871 foi nomeada membro adjunto da Academia Imperial de Medicina; tornando-se a única mulher
aceita nos quadros de sócios dessa instituição por cinquenta anos. Como parte de sua trajetória publicou uma série
de textos nos Annaes Brasilienses de Medicina, ou Anais da Academia Imperial de Medicina, entre os quais abordou
temáticas como a formação das parteiras e a função de ama de leite. Nesse contexto, o recorte temporal abrange as
décadas de 1870 e 1890; justamente o período no qual Madame Durocher fez parte da referida instituição científica.
O corpus documental é constituído pelos exemplares dos Annaes Brasilienses de Medicina disponíveis no acervo da
Hemeroteca Digital Brasileira; como também são utilizados registros pertencentes ao Centro de Memória Médica da
Academia Nacional de Medicina (ANM).

1º Congresso Brasileiro de Audiovisuais (1967): mulheres no audiovisual educativo.

Cíntia Nascimento de Oliveira Conceição (UNESA - Universidade Estácio de Sá)

Esta comunicação é sobre o 1º Congresso Brasileiro de Audiovisuais realizado em 1967 e promovido pela Associação
Brasileira de Educação (ABE) com o patrocínio do governo do Estado da Guanabara e do Ministério da Educação e
Cultura, destacando o trabalho desenvolvido pelas mulheres. O congresso foi realizado no Instituto de Educação sob
a coordenação da professora Alfredina de Paiva e Souza. Os trabalhos apresentados foram divididos em quatro temas
gerais: atualidade dos recursos audiovisuais; técnicas de reprodução, uso e distribuição dos audiovisuais; audiovisuais
na educação de adultos analfabetos; e audiovisuais para o ensino de qualidade. Nesse período a concepção de
audiovisual educativo no Brasil estava em processo de construção e foi discutido como ampliação do ensino a distancia
e também como recurso em sala de aula, considerando as implicações didáticas e a qualidade de ensino. O material
pesquisado faz parte do acervo documental da ABE, composto por manuscritos, documentos oficiais, cartas, atas,
panfletos e fotografias do congresso e também do acervo da Hemeroteca Digital Brasileira. O método de pesquisa
escolhido foi análise de conteúdo. Trabalhamos a partir da ideia de que a base filosófica da nova história é socialmente
construída pela experiência humana, evidenciando a importância histórica da opinião de pessoas comuns, como os
professores e estudantes que apresentaram suas reflexões no congresso e influenciaram na construção de diferentes
percepções de audiovisuais educativos. A análise do 1º Congresso Brasileiro de Audiovisuais identifica que a
construção do audiovisual educativo se caracterizou pela diversidade de ideias e a participação feminina.

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ST 08. As parcerias entre museus, historiadores e centros culturais- intercâmbios e
conexões para a escrita e a prática.

ST 08 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

História, memória e narrativas contra hegemônica: O arquivo Dona Orosina Vieira e o Chá de memória no Museu
da Maré.

Adrielly Ribas Morais (Museu da Maré)

Esse trabalho busca apresentar e analisar as ações desenvolvidas pelos profissionais do Museu da Maré, em relação a
história e memória contra hegemônica, da ocupação da favela da Maré, no Rio de Janeiro. Fundado em 2006, o Museu
da Maré é um projeto que faz parte do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), uma ONG que atua
desde 1997, com pesquisas em história e memória, através de fotografias ,objetos e entrevistas de história oral. O
espaço do museu possui uma exposição de longa duração intitulada "Tempos da Maré" , uma galeria para exposição
temporária e o arquivo Dona Orosina Vieira (ADOV), além de diversas ações no campo da educação popular, memória
e arte. Dentre os trabalhos desenvolvidos pelo museu o foco desse artigo será a atuação dos profissionais do ADOV ,
denominados griôs e a atividade do chá de memória que acontece a cada dois anos, que consiste em um encontro de
moradores idosos e jovens da região. A metodologia utilizada nesse trabalho é a investigação de documentos
institucionais , revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e observação participante.

Museu e Escola: um encontro possível

Silvio Silva Silveira (UFT - Fundação Universidade Federal do Tocantins)

Os espaços museológicos têm passado por transformações significativas neste início de século, o que vem a elevar os
museus a categorias nunca imaginadas. A educação/escola também tem sofrido ressignificações. De um espaço
fechado a mudanças, a escola do século XXI viu-se forçada a abrir-se a múltiplos saberes e métodos que atendessem
a uma sociedade cada vez mais plural. Entender ambos os conceitos como um processo em constante evolução no
que diz respeito à tecnologia, métodos de abordagem e significados é o primeiro passo rumo a uma parceria exitosa.
Neste compasso, o uso consciente das tecnologias digitais pode se tornar parte integrante do diálogo entre o espaço
museológico e a escola. O presente artigo busca refletir o conceito de museu e a possibilidade de seu uso na educação,
perpassando pelo uso crítico da tecnologia a ser aplicada a ambos os conceitos. Para tanto buscaremos entender os
museus não apenas como uma linha auxiliar do processo educacional. Outrossim, a noção de museu precisa ser
redimensionada de modo a elevar estes espaços culturais ao patamar de um produto integrante na construção do
conhecimento. No mesmo diapasão, a oferta do ensino nos tempos atuais não pode se dar apenas de uma maneira
formal, circunscrita aos espaços tradicionais das escolas. Novos métodos e práticas precisam ser incorporadas ao
processo ensino-aprendizagem. Uma forma de transmissão do conhecimento que no passado recente tenha se
mostrado revolucionária, pode, atualmente, não atender aos anseios de uma sociedade cada vez mais ávida por
inovações.

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ST 08 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Pop Up Museum: compartilhando histórias e memórias nos espaços públicos

Michel Kobelinski (UNESPAR - campus de União da Vitória)

Os Pop Up Museum’s ou Pop-up exhibition’s são exibições temporárias realizadas em espaços públicos onde
pesquisadores e comunidades apresentam histórias, artes e objetos de interesse público. Neste Simpósio Temático
refletimos as experiências colaborativas realizadas durante a 13ª Primavera de Museus (2019) no Museu Municipal
Deolindo Mendes Pereira, em Campo Mourão, Paraná. Em termos conceituais e práticos, concernentes aos campos
da história pública e da Nova Museologia, pretendeu-se difundir e produzir conhecimento a partir do envolvimento
de mestrandos dos Cursos de Pós-Graduação em História Pública (Stricto sensu) e Ensino de História – Profhistória da
Universidade Estadual do Paraná (Unespar) com o público engajado no evento Pop Up Museum: compratilhando
histórias. As experiências de ensino, pesquisa e extensão realizadas dentro e fora desse espaço museal e a parceria
com a Fundação Cultural de Campo Mourão (Fundacam) foram analisadas a partir das repercussões nos meios de
comunicação, das apresentações individuais e com o público, da construção de um site/video para o Museu e do
impacto destas ações entre esses mestrandos. Em complemento, discutem-se os resultados de pesquisa de opinião -
via quadro fixado na parede do museu, com acesso a QR Code – cujo objetivo era verificar tanto as impressões do
público sobre os serviços do museu quanto a forma como os professores e instituições escolares usufruiram de seu
acervo. O que a prática do Pop Up Museum ofereceu aos participantes? O que que podemos aprender com ela e quais
são suas vantagens e desvantagens? Com organizá-las e interagir com as audiências? Concluímos que historiadores e
públicos podem oferecer alternativas criativas de uso do espaço e do tempo para as exposições e repensar suas
memórias e as práticas museológicas.

As cores do tempo: possibilidades de ensino de história a partir do acervo da Pinacoteca Ruben Berta

Ramiro Lopes Bicca Junior (Colégio Anchieta)

O presente trabalho tem como tema a possibilidade de utilização das obras pertencentes ao acervo da Pinacoteca
Ruben Berta, em Porto Alegre, como ferramenta didático-pedagógica no ensino de história para alunos de ensinos
médio e fundamental. Tendo por base essa premissa e os estudos desenvolvidos a partir da Nova Museologia e da
História Cultural, busca-se refletir sobre as seguintes questões: a) As pinturas do acervo da Pinacoteca Ruben Berta
apresentam personagens, estilos artísticos, símbolos, paisagens, eventos, construções, etnias, etc, que podem servir
como formas de representação da época em que foram produzidas? b) É possível desenvolver estratégias de ensino
de história a partir de obras selecionadas do acervo da Pinacoteca? c) De que forma a interação entre museu, arte e
história pode contribuir para o processo de construção do conhecimento histórico a respeito de um determinado
contexto político, econômico, social, cultural e ideológico? d) Como o ensino de história a partir das artes e dos museus
pode contribuir para as reflexões e os projetos de valorização da memória e do patrimônio cultural na sociedade?

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ST 08 – 19/10 – Terça-feira (16:00 às 18:00)

Museu Major Novaes: a possibilidade de uma narrativa a contrapelo

Cláudia Isabel Ribeiro Santos (Prefeitura de Cruzeiro)

Os museus são campos de possibilidades e locais de disputas de narrativas, propor para os espaços museais uma
historiografia escovada a contrapelo, visa demonstrar que a história é de todos e para todos, assim, quando uma
instituição museológica se compromete com essa narrativa, concretiza a função social dos museus. Escovar a história
a contrapelo é buscar uma proposta museal que não vise à identificação única e exclusiva com a história do vencedor,
mas que a problematize, numa perspectiva que dialogue com a opção descolonial que significa entre, outras coisas,
aprender a desaprender. Ou seja, quais seriam os sentidos desse espaço museal, se o mesmo não for ressignificado
por e pela comunidade? É na medida em que se privilegia a comunidade, na construção da narrativa museal, que o
espaço de memória ganha sentidos e significados. Na medida em que a história é escova a contrapelo, dentro da
construção expográfica, na constituição de exposições de longa ou curta duração, é possível jogar luz em outros
sujeitos históricos, e possibilitar aos públicos de museu que se encontrem e se identifiquem com a sua história local,
ou seja, naquilo que o conecta com a sua cidade, enquanto, sujeito histórico e vivente daquele território. A memória
e a cidade é um direito de todos e todas, e as instituições museológicas devem atentar-se, a partir de uma perspectiva
metodológica historiográfica, que os museus, conforme proposto pela sociomuseologia, dialoguem de forma direta e
inclusiva para com suas comunidades.

O Historiador e o "seu" museu- reflexões sobre a construção de um museu de história local em Três Coroas/RS

Sandra Cristina Donner (FACCAT e IFRS-Canoas)

Esta comunicação surge a partir das reflexões do mestrado em museologia na UFRGS, em que analiso a construção de
um museu de história local a partir das coleções de um historiador amador que atuava na localidade. Pretendemos
discutir musealização, coleção e colecionamento e como estes conceitos se relacionam na construção de um museu
que será referencial para a identidade e a memória da região, a saber a cidade de Três Coroas, município da região
serrana do Rio Grande do Sul. O museu em questão, Museu Armindo Lauffer, surge da coleta diligente do historiador
local, de mesmo nome. Este cidadão, tratado por essa pesquisa como um mediador cultural, colecionava objetos
referentes ao passado colonial e de imigração da cidade e região. Em um primeiro momento ele alugou uma sala em
uma igreja de um distrito da cidade, para em seguida adquirir um casarão histórico e lá montar o seu museu. Após sua
morte a prefeitura da cidade encampou a coleção e o prédio, refundando o museu, agora com o nome do
colecionador/historiador. Pretendemos neste trabalho investigar e explorar estas conexões entre história, memória e
museu.

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ST 09. Audiovisual, História Pública e Ensino de História para além do filme histórico

ST 09 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

A Arquitetura romana como projeto de civilização em Asterix e o domínio dos deuses (2014) e as transformações
urbanas contemporâneas em um percurso didático.

Guilherme Gomes Moerbeck (UERJ)

A arquitetura e o universo urbano fazem parte do pano de fundo de muitos filmes históricos e de animações cujos
enredos se passam no mundo antigo. As relações entre a história, a arquitetura, os processos de urbanização e o
cinema/televisão podem ser interessantes ferramentas pedagógicas, pois dão movimento, encantam as pessoas,
tornam mais vivos processos e passados que só podem ser imaginados por meio dos escritos e da cultura material
antiga. Essa comunicação intui apresentar uma apreciação desse potencial pedagógico a partir da análise das
narrativas contidas na animação Asterix e o domínio dos deuses (2014) e como nelas se apresentam os elementos
iconográficos da arquitetura romana antiga. Para isso, além de fazer uma avaliação do filme por meio de análise
isotópica, método semiótico que consegue organizar os signos centrais aos discursos nos campos temático, figurativo
e axiológico, pretende-se sintetizar o diálogo imagem-logos na relação entre romanização, urbanização e poder
político na animação em questão. Por fim, apresentar-se-á um percurso de intervenção didática de História Antiga
para o 6º ano, em que, por meio da animação acima mencionada, os alunos possam ativamente refletir sobre
elementos conceituais em torno da arquitetura e urbanismo contemporâneos (especialmente no que se refere aos
processos de transformação urbanística que deslocam populações em função da modernização) e construir
habilidades do pensamento histórico (perspectiva crítica, empatia e a relação passado-presente).

Cinema e Literatura: um projeto de análise fílmica interdisciplinar no Colégio Pedro II

Wolney Vianna Malafaia (Colégio Pedro II)

Um projeto de análise fílmica interdisciplinar desenvolvido no Colégio Pedro II integrando as disciplinas de História e
Línguas Inglesa e Francesa, além de estudantes da segunda série do Ensino Médio. Esse projeto teve como objetivo
principal realizar a análise de três produções cinematográficas norte-americana, francesa e inglesa, que tiveram como
base adaptações literárias. As escolhas foram feitas considerando a importância das obras literárias adaptadas e sua
historicidade, a relação dessas obras com as sociedades e as suas épocas. Nesse sentido, ao propor a análise fílmica
dessas produções, partimos do pressuposto de que os filmes são produtos de sua época e a adaptação literária segue
não só os parâmetros estabelecidos pelas condições da produção fílmica, mas também a adaptação às questões
levantadas pelo contexto do momento em que se dá tal produção. O projeto se estruturou na escolha de três filmes e
a realização de um trabalho integrado com os estudantes, divididos em três grupos: um primeiro grupo analisou o
contexto histórico que serviu de inspiração à obra literária e ao filme; um segundo grupo analisou a obra literária,
contando com o apoio das equipes de Línguas Inglesa e Francesa; e um terceiro grupo realizou uma análise do filme,
da temática abordada e como a mesma é apresentada. Coube ao professor de História orientar o trabalho no sentido
de analisar a historicidade da obra fílmica e da obra literária, considerando o encontro de narrativas (histórica, literária

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e cinematográfica), parâmetro fundamental para a efetivação desse projeto. Para cada filme, obra literária e contexto
analisados foi produzido um material final, constituído de textos e imagens, para apresentação, objetivando uma
divulgação do projeto e do trabalho desenvolvido.

Um historiador na "aldeia global": ensino de História e teledramaturgia

Giovani José da Silva (Universidade Federal do Amapá)

Entre 2005 e 2006 a Rede Globo, o canal de televisão de concessão pública mais visto no Brasil nas últimas décadas,
exibiu a telenovela Alma Gêmea, de autoria de Walcyr Carrasco, com a colaboração de Thelma Guedes. Em 227
capítulos, Alma Gêmea narrava a história de Serena (papel de Priscila Fantin) - entre as décadas de 1920 e 1940 -, uma
mestiça que vê a aldeia de sua mãe indígena ser atacada por gananciosos garimpeiros, no Pantanal. A partir daí, Serena
ganha o mundo e vai ao encontro de seu grande amor, levando consigo os ensinamentos de "nijienigi" (o pajé,
interpretado por Francisco Carvalho) e da missionária Cleide (personagem da atriz Júlia Lemmertz). Como historiador
especializado em História Indígena e antropólogo, fui contratado para auxiliar uma equipe de mais de 120 pessoas,
liderada pelo diretor Jorge Fernando, e juntos construímos parte do enredo da telenovela. A comunicação apresentará
alguns desafios nos usos da teledramaturgia no ensino de História, olhares do historiador em relação ao audiovisual e
sugestões para outros profissionais da área sobre o trabalho em Televisão.

Entre práticas e prescrições: é possível pensar sobre o audiovisual no ensino de história?

Vitoria A. Fonseca (UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI)

O cinema vem sendo tematizado no ensino de História tendo como base algumas referências, dentre elas, o debate
"especializado" e aquele voltado para pensar usos de "fontes históricas" e "novas linguagens" no "ensino de". Assim,
multiplicam-se manuais e trabalhos que prescrevem diferentes usos nos moldes do "o professor deve", além dos
tradicionais "Cadernos do Professor" que acompanham as Coleções de Livros Didáticos. Por outro lado, principalmente
a partir das produções do ProfHistória, mestrado profissional voltado para docentes atuantes na área de Ensino de
História, as reflexões a partir das práticas docentes também se multiplicaram. Diante disto, podemos situar dois tipos
de produções: as para o(a) professor(a) e os dos(as) professores(as). Neste encontro de produções escritas, que tem
como foco o audiovisual no ensino de história, é possível refletir sobre os problemas enfrentados? É possível constituir
um debate ? É possível estabelecer diálogos entre os diferentes trabalhos? A partir de dados levantados nas diferentes
produções descritas aqui, a descrição e o cotejamento destes, propomos uma reflexão que visa sair da dicotomia
"relato de prática" versus "manual" e refletir as possibilidades de um debate mais amplo e profícuo para a área.

Fotografia e representação visual no processo de ensino-aprendizagem de História

Marli Moura Mesquita da Silva

Nesta comunicação, pretendemos abordar a história da fotografia como experiência visual importante no ensino de
História. Apesar de permitir muitas interpretações, a fotografia, de forma genérica, é uma criação feita por meios
tecnológicos variados, desde o seu surgimento até os dias atuais. A partir dela, é possível interpretar a realidade de

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acontecimentos de fatos reais, de gerações e épocas, o que contribui para o processo de ensino-aprendizagem de
História. Ao propor uma aproximação entre essa técnica e a História, nosso objetivo é enfatizar um diálogo para a
apropriação crítica e criativa sobre a experiência da representação visual. Consideramos relevante apontar para as
formas e os usos tanto das fotografias como e, sobretudo, das tecnologias que as compõem e que servem para a
interpretação da realidade nelas presentes. Sendo a fotografia um instrumento de representação eficaz, adotamos a
perspectiva de que ela também é um registro social que permeia nosso cotidiano na forma de uma linguagem. Assim,
vamos apresentar algumas fotografias selecionadas, propondo um estudo sobre a história da fotografia como
contributo ao ensino de História. Trata-se de uma via relevante de reflexão crítica sobre a experiência visual. Espera-
se que este estudo venha contribuir para a historiografia brasileira, especialmente para o campo do ensino e para
outras áreas que esta pesquisa se articula no caso, da fotografia e das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação.

ST 09 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

A mídia podcast como meio de produção de conteúdo de História

Everson Felipe Adão

A questão norteadora do presente artigo é analisar se a mídia podcast é um espaço propício para a divulgação de
conteúdos de História, e como estão localizados os podcasts que abordam a temática. De modo geral, o cenário
brasileiro de podcast (podosfera) foi formado de maneira individual e fragmentada, o que torna difícil a classificação
e coleta de dados em relação às produções e ouvintes. Para a análise, utilizamos os dados coletados e fornecidos pela
Associação Brasileira de Podcasters (Abpod) e levantamentos feitos pelos próprios autores. Convém ressaltar que a
Abpod é um órgão de filiação opcional e que, a mídia podcast se constituiu de forma individualizada e fragmentada.
Para o levantamento foram escolhidas cinco plataformas para análise de suas categorias, quais sejam: Spotify, Google
Podcast, Castbox, Podcast Addict e Pocketcast. Deu-se uma atenção maior ao aplicativo Spotify, pois, como
demonstrado na pesquisa, atualmente é a rede mais utilizada para propagação do conteúdo de mídia podcast.

Games e Ensino de História: relações entre os jogos eletrônicos e a consciência

David Emanuel Pereira de Souza (Inativo)

Frente ao debate referente as tecnologias e mídias e suas relações com processos educativos, problematizaremos –
nesta comunicação – o fato de que os cursos de formação de professores de história se negam a responder: a inserção
das tecnologias e mídias digitais em sua prática docente. Consideramos que grande parte dos cursos de formação de
professores está reproduzindo o pensamento tradicional em relação ao papel da tecnologia na sociedade
contemporânea. Sendo assim, propomos estudar as formas como os jogos eletrônicos reproduzem determinadas
visões sociais e narrativas sobre o passado. Defendemos que nossa proposta poderá contribuir de forma significativa
com a formação inicial e continuada de professores de história. O jogo utilizado neste estudo será o game: The Great
War (2014) da Ubisoft. O que dá para ser analisado e estudado em sala de aula não se limitando a uma única narrativa,
já que o jogo foi estruturado de acordo com vários diários de pessoas diferentes, tornando assim, um ensino mais

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dinâmico e interativo. Sobretudo, percebe-se que as metodologias tradicionais não são mais as únicas opções, e que
ainda se contrapõe nas atividades educacionais que são propostos através de práticas inovadoras, baseadas em novos
modelos de abordagem educacional, que possuem um maior envolvimento dos alunos. Nesse sentido, o presente
projeto de pesquisa irá citar a utilização de jogos digitais como uma prática pedagógica para a contribuição na
aprendizagem da disciplina de História.

A História no youtube: a construção de uma narrativa negacionista

Lidiane Macedo Cosmelli (Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro)

A presente comunicação é parte integrante da pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação


em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getúlio Vargas. Este trabalho busca analisar a playlist, dedicada à
História, nomeada de Brasil: a última cruzada presente no canal do Youtube da produtora Brasil Paralelo. A série
documental possui milhares de visualizações e pode ser considerada um sucesso no que se refere a adesão de público
ao canal e ao que é apresentado. O conteúdo do material audiovisual alinha-se ao que consideramos produção
negacionista da História, por criticar fontes e acusá-las de vício ideológico, desqualificar pesquisadores, fazer
generalizações superficiais e silenciar grupos. Questionamos em que medida as narrativas fílmicas dessa produção
legitimam um discurso falacioso da História em nossa sociedade. A produção analisada engloba-se dentro das
possibilidades de pesquisa desenvolvida pela História Pública e pelos pressupostos da memória social. Uma reflexão
de como a História do Brasil é construída nas redes e quais memória e grupos sociais se utilizam do passado histórico.
É importante frisar que o discurso da empresa é da produção de filmes sem viés ideológico, contudo, situamos como
produtores de conteúdos alinhados à Nova Direita no Brasil, nos quais é buscado constantemente estabelecer um
poder simbólico, de estrutura intelectual. Portanto, se faz necessário refletir de que forma o passado é representado
e quais as consequências da difusão de uma versão histórica que possui falhas, faz generalizações superficiais, silencia
fatos, personagens e manipula fontes.

A representação de Carlos Marighella no YouTube: estudo de caso com os vídeos de Eduardo Bueno

Ygor Pires Monteiro (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O poeta, escritor, político e guerrilheiro comunista foi um dos principais personagens da luta armada contra a ditadura
civil-militar brasileira entre o fim da década de 1960 e o início da década de 1970. Ao lado de Joaquim Câmara Ferreira,
Carlos Marighella liderou a Ação Libertadora Nacional (ALN), que expropriava dinheiro e armas para financiar a
guerrilha revolucionária comunista. No passado, ele foi considerado o inimigo "número um" da ditadura. Durante
algum tempo, Carlos Marighella permaneceu oculto na historiografia, nas aulas universitárias e no ensino básico. Mais
recentemente, o personagem foi redescoberto em trabalhos acadêmicos, documentários e livros. Então, no presente,
ele voltou a despertar controvérsias com a escrita da biografia "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo"
por Mário Magalhães e com a produção do filme de ficção por Wagner Moura. Isso aconteceu, por exemplo, na
internet, onde debates acalorados tomaram forma abordando as diferentes imagens atribuídas a Marighella, as
características/objetivos da luta armada, as narrativas em torno da ditadura civil-militar e a polarização política do
país. Considerando-se as repercussões contemporâneas de grande intensidade, essa comunicação pretende analisar
as narrativas e as linguagens mobilizadas para narrar a trajetória de Marighella em outro ambiente: o YouTube. Essa

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análise se concentra em dois vídeos feitos pelo jornalista Eduardo Bueno, chamados "A Aurora de Marighella" e "A
Morte de Carlos Marighella", buscando examinar as ferramentas audiovisuais utilizadas para dar sentidos específicos
ao passado ditatorial e à trajetória de Carlos Marighella.

ST 09 – 20/10 – Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Feira de memórias: documentário sobre a feira livre de Novo Cruzeiro - MG

Isac Newton Pedro de Souza

Este trabalho apresenta discussão embrionária acerca da criação de produto audiovisual contemplando a Feira Livre de Novo
Cruzeiro – MG. Busca-se abordar o espaço da feira livre municipal enquanto uma das engrenagens que move a cidade,
ressaltando a sua importância enquanto um espaço de resistência cultural e econômica, onde os pequenos produtores a usam
como fonte de renda, assim como o ponto de vista do consumidor, que a vê enquanto um espaço para rever os amigos e
adquirir produtos frescos semanalmente. No que tange o produto audiovisual, trata-se de um documentário em formato de
longa-metragem (duração mínima de 70 minutos), que buscará entender as diversas nuances da feira livre de Novo Cruzeiro,
os diversos tipos de troca e os simbolismos arraigados dentro deste evento, resgatando as múltiplas formas de memória
daqueles que a frequentam. O objetivo do documentário é a compilação dos diversos relatos advindos dos atores sociais que
fazem a feira acontecer, buscando mostrar o uso do espaço, as formas de encarar o tempo a partir da perspectiva do agricultor-
feirante e do consumidor, além de trabalhar a existência de memórias distintas sobre o mesmo evento, utilizando do conceito
de “autoria compartilhada”. Neste percurso, questões éticas e políticas são trazidas à baila, uma vez que o trato da memória
deve ser feito através de processo minucioso e com cuidado, sem interferências desnecessárias advindas daqueles que estão
por trás das câmeras. Por fim, busca-se contemplar não somente o público regional, pois embora gravado no Vale do
Jequitinhonha, o sentimento de pertencimento e as memórias ultrapassam barreiras geográficas, ao passo que se trabalha as
questões conceituais de feiras livres possibilitando a identificação daqueles que estão longe do objeto de pesquisa, mas apenas
fisicamente falando.

Lampejos de mim mesmo: Uma trajetória na Umbanda em documentário audiovisual

Mariana Santos Miranda (UFVJM - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)

O presente trabalho a ser apresentado é fruto de uma pesquisa em andamento, que dará origem a um documentário,
como ferramenta política social para dar voz aos autores e um mecanismo para compreender a configuração da
religião Umbanda dentro do contexto de uma cidade interiorana de Minas Gerais: Diamantina. Para a elaboração do
documentário parto do ponto de compreensão em que a Umbanda é uma religião que trabalha com diferentes
arquétipos que formam sua totalidade, assim como o indivíduo, ou seja, tal ponto trás para a religião uma diversidade
de arquétipos e uma pluralidade que varia de cada região e seguimentos dos dirigentes espirituais. Através do debate
da construção das pessoas enquanto indivíduos sociais e os arquétipos a pesquisa dará em torno do dirigente espiritual
Calebe Silva Ribeiro do Terreiro Ponto de Luz, localizado no bairro rural da cidade diamantinense. A ideia do trabalho
é mostrar a Umbanda enquanto um caminho espiritual e como seus arquétipos e pluralidades dialogam com a
totalidade que fazem a diversidade presente em cada indivíduo.

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A História intimista: relações entre imagens de arquivo e ficcionais em Os dias eram assim (2017)

Carlos Eduardo P. de Pinto (UERJ)

A apresentação aborda o contraste entre imagens de arquivo e ficcionais na supersérie Os dias eram assim, realizada pela Rede Globo
em 2017, cuja trama se desenvolve nas décadas de 1970 e 1980, acompanhando parte da ditadura civil-militar brasileira. Conforme
divulgado na ocasião de seu lançamento, a proposta da série era contar uma história ficcional que transcorresse em paralelo e fosse
afetada pela História factual (propositadamente escrita em maiúscula). A partir dessa premissa, a utilização dos registros visuais do
passado pela narrativa visava demarcar as duas dimensões, sendo mais ostensivamente mobilizada nos transcursos de tempo,
permitindo caracterizar os Anos de Chumbo, a Abertura e as Diretas já, entre outros contextos. Um exemplo de imagem de arquivo
apropriada pela série é o flagrante de um estudante que se manifesta contra a ditadura em 1968 e que, atacado por dois policiais,
perde o equilíbrio e começa a cair. Criação do fotojornalista Evandro Teixeira, a foto se tornou um ícone representativo daquele
contexto, sintetizando aspectos vários do momento histórico em que foi produzida. Na série, além de ser apresentada em uma
sequência de imagens de arquivo com a função de demarcar a época, a foto também inspirou a criação de imagens ficcionais que
buscam concretizar a ideia de contiguidade entre história e História. Contudo, longe de alcançar o efeito desejado, tal operação acaba
por distinguir drasticamente os dois conjuntos de imagens, realizando um deslizamento da esfera pública (imagens documentais)
para a privada (imagens ficcionais). Tal mudança é percebida por meio da análise das características formais de cada material: o
caráter dessaturado e os ângulos abertos das imagens de arquivo enfatizam a ideia de um passado asséptico, objetivamente
representado; já o âmbar e os ângulos fechados das imagens ficcionais geram a impressão de calor e intimidade. Cabe dimensionar
o impacto dessa representação para a releitura do passado proposta pela série.

Representações dos atentados de 11 de Setembro nas produções de documentários estadunidenses

Danilo Pontes Rodrigues (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJAÍ)

A comunicação pretendida visará analisar as representações dos atentados terroristas do dia 11 de Setembro de 2001.
Tais reflexões fazem parte do projeto de pesquisa de doutoramento em desenvolvimento no programa de pós-
graduação em História pela UERJ, onde visamos analisar uma seleção de produções de documentários estadunidenses
produzidas entre 2004 e 2008. Considerando que os conteúdos dos documentários são distintos, a comunicação
buscará compreender como diferentes imagens dos atentados foram utilizadas para compor as narrativas dos
documentários, expressando assim, as intencionalidades de seus produtores. Além da análise das diversas
representações, analisaremos seus contexto de produção e suas relações com os assuntos expressos nos
documentários. Entendemos os documentários, assim como outras produções audiovisuais, como construções sociais,
portanto, partiremos da percepção de que mídia é um espaço de disputa por hegemonia, dentro do que foi apontado
pelo Douglas Kellner. E para tanto, analisaremos os elementos formais dos documentários, partindo do que Bill Nichols
propõe em seu trabalho ao refletir sobre cinema, e mais especificamente, sobre documentários.

Cinema e memória: a memória atômica em Rapsódia em agosto(1991) de Akira Kurosawa.

Douglas Tacone Pastrello (UEM - Universidade Estadual de Maringá)

Os bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki demarcam os momentos finais da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, o ocorrido não é visto de forma única e reverbera de diversas formas na historiografia, sendo representado

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pelas correntes ortodoxas e revisionistas que apresentam argumentos a favor e contra o uso dos artefatos atômicos,
respectivamente. O objetivo deste trabalho é fazer um resgate da memória atômica através do filme “Rapsódia em
agosto” (1991) de Akira Kurosawa. O filme retrata a historia de Kane, uma hibakusha(sobrevivente da bomba atômica)
e por meio de três gerações distintas(Kane, seus filhos e netos) as narrativas em torno da bomba atômica florescem e
dão tom ao filme, demonstrando o silenciamento e dor da idosa frente as narrativas oficiais, assim como a relação das
gerações subsequentes com a memória atômica. Por meio da fonte fílmica será elaborado como esta memória pode
ser vista aos olhos dos sobreviventes e como as “narrativas oficiais” interagem com esta memória. Ainda, será
colocado em evidência como a memória individual interage com a coletiva, levando em consideração o sufocamento
e silenciamento da primeira, buscando ilustrar a formação desta memória atômica no pós-guerra e a formação da
narrativa oficial. Por fim, espera-se não só ilustrar o panorama desta memória por meio do filme tal como a
importância do tema para as gerações atuais.

ST 09 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Cinema Crítico CP2: série de vídeos de análise dos filmes de super-heróis

João Braga Arêas (CP2)

Minha apresentação tratará da experiência do "Cinema Crítico CP2", de produção de vídeos com os estudantes do
Colégio Pedro II, e, mais especificamente, da série de vídeos "Papo Reto - os super-heróis como você nunca viu", que
analisa as ideologias políticas em filmes de heróis. Pretendo explorar a trajetória do Cinema Crítico CP2, que já realizou
documentários sobre a democracia no Brasil ("As eleições e as Ruas", de 2015) e sobre a violência urbana
("Pacificação? As UPPs e a violência no RJ", de 2017). além de tratar de nossa produção em andamento, acima referida,
de análise fílmica de filmes hollywoodianos. Na série "Papo Reto", exploramos uma série de hipóteses sobre os filmes
de super-heróis e trabalhamos com a ideia de que os heróis são costumeiramente associados a Jesus Cristo, aos
Estados Unidos e ao braço repressivo do Estado (forças armadas, polícia e CIA). Já os vilões são associados às seguintes
ideias e valores: diabo, países e/ou grupos adversários (Rússia, China, "terrorismo árabe", dentre outros) e ao
pensamento crítico/de esquerda. Defendemos a hipótese que de que os filmes fazem muitas referências ao atentados
de 11 de setembro e às guerras do Afeganistão e do Iraque. Para apresentar tais hipóteses, os estudantes do projeto
simulam uma espécie de turma escolar que debate os filmes, de forma leve e bem humorada.

Imagens Sagradas? Épicos hollywoodianos e a Guerra Fria, 1949-1956.

Gustavo Henrique Shigunov (Estudante)

O trabalho têm como objetivo central situar os filmes épicos hollywoodianos nas dimensões políticas, econômicas e
sociais do período histórico da Guerra Fria. A partir da perspectiva da História Social do Cinema, procuramos não só
problematizar as representações sociais das produções, através de uma análise crítica de sua narrativa e elementos
diegéticos, intrinsecamente ligadas a seu momento histórico, mas também, como suas características fílmicas foram
tratadas em revistas, materiais publicitários, e jornais do período. Entendendo o cinema como “instituição” que
engloba um conjunto de fatores que intervém antes da exibição como financiamentos, legislações, infraestrutura da

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produção, decisões criativas e outros, depois do filme, influência social, valores políticos e ideológicos busca-se
compreender as produções dos épicos junto as estruturas de comunicação em massa e de hegemonia. Outra
contribuição teórica que o trabalho pretende discutir é o papel do gênero cinematográfico. Como elemento
intermediário que infere diretamente entre as questões sociais e posterior “classificação” que concatena as qualidades
da produção e demais eixos de análise central, distribuição e recepção cinematográfico, questionamos o que é o épico
hollywoodiano e de que maneira esse gênero dialoga com a Histórica e passado histórico apresentado. Outrossim,
procuramos enfatizar o caráter transnacional dessas produções e especialmente os processos de representações
sociais e construção de uma "historicidade fílmica". A leitura dos objetos fílmicos associado ao seu contexto histórico
e problematização do gênero cinematográfico tem como objeto dessacralizar as imagens sagradas que os filmes
apresentam ao público, possibilitando reeleituras e outras aproximações para com o cinema hollywoodiano.

Latinofobia e a Consonância Discursiva do Governo Trump em Rambo V (2019) : Uma Proposta Decolonial (2015-
2020)

Daniel Matheus de Souza Pereira (UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros)

Esta apresentação de trabalho tem como objetivo principal problematizar a relação entre o discurso latinofóbico
contido na campanha presidencial de D. Trump em 2016 com o quinto filme da franquia Rambo (2019). Para tanto,
será primeiramente exposto o processo de admissão do audiovisual como fonte, algo que a priori era rechaçado dentro
do campo historiográfico. É comum, ao se falar da mudança no aparato documental historiográfico, salientar a
proposta da Escola dos Annales na década de 1930. No entanto, mesmo essa proposta não debateu sobre o uso do
cinema como fonte. Esse debate ocorre décadas depois com os estudos de Marc Ferro e sua definição do filme como
agente histórico. Ademais, refletiremos sobre como o filme em questão segue uma constante maniqueísta de seus
volumes anteriores da década de 1980, na medida em que nas primeiras obras da franquia Rambo o protagonista é
representado como um arquétipo dos EUA, ao passo que seus antagonistas são alguns inimigos históricos dessa nação
como o Vietnã e a URSS. Nesse sentido, Rambo V atualiza o seu discurso abandonando a retórica da Guerra Fria e
assumindo o discurso latinofóbico que está em consonância com a proposta do Presidente Trump. Ao analisar a
questão latinofóbica atual faz se necessário averiguar a historicidade dos conflitos tanto territoriais quanto identitários
entre EUA e México, muitos deles remontam a colonização das 13 Colônias. Por fim, analisaremos através da Análise
de Conteúdo como o longa rechaça a imagem do México usando em suma enquadramentos fechados e uma fotografia
amarelada para as filmagens nesse território bem como menospreza os latinos uma vez que suas representações
atendem a um princípio caricatural. Para tanto, problematizaremos a própria posição de hegemonia estadunidense
no âmbito da 7ª Arte, o que acaba por contribuir para produção de discursos coloniais. Nesse sentido, faz se necessário
uma proposta decolonial de reaprendizagem visual que possibilite a decodificação imagética.

Arqueologia, Antropologia e História em Indiana Jones: Conhecimentos e Conceitos Vulgarizados em Ficção


Cinematográfica (1981, 1984, 1989, 2008)

Savio Queiroz Lima (Universidade Federal da Bahia)

A pesquisa aborda as representações de campos científicos existentes na franquia cinematográfica do aventureiro


Indiana Jones. Através da produção cinematográfica marcada pelos filmes Indiana Jones e os Caçadores da Arca

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Perdida (1981), Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984), Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) e Indiana Jones
e o Reino da Caveira de Cristal (2008), a investigação proposta aborda os conceitos de áreas do conhecimento como
Arqueologia, Antropologia, História, dentre outras, em suas exposições ao público. A Ficção é um forte meio de
disseminação de saberes diversos, que extrapola a veracidade ou o verossímil em prol do entretenimento, pois não
possui compromissos inerentes às ciências. A relação entre História e Ficção é de interinfluências, que a historiografia
contemporânea faz profícuo uso para entender sensibilidades representativas, discursivas e imaginárias do passado
e/ou sobre o passado. Vemos, deste modo, a existência de uma representação de um fazer arqueológico e
historiográfico através das dimensões públicas desses conceitos para uma audiência fora da academia, uma História
Pública, que tem na ficção seu uso e abuso. A franquia Indiana Jones entrecruza narrativas históricas dos campos
científicos da Antropologia e da Arqueologia com a tradição ficcional dos filmes de matinê, muito comuns nos anos
1920 e 1930, apresentando a difusão vulgarizada de um fazer profissional desatualizado e romantizado.

Masculinidades Vigilantes: representações fascistas em filmes policiais estadunidenses dos anos 1970

Everson Antunes Costa (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

O objetivo deste trabalho é analisar um conjunto de quatro filmes produzidos em um período e local específicos: os
Estados Unidos entre 1971 e 1974, mas que foram exibidos e alcançaram sucesso em vários outros países. Os filmes
são: Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), Magnun 44 (Magnun Force, 1973), Desejo de Matar (Death Wish,
1974) e Foxy Brown (Foxy Brown, 1974). A hipótese principal é que esses filmes representariam uma reação aos
movimentos sociais e de contracultura que haviam emergido em diversos países no final dos anos 1960, trazendo
reinvidicações de minorias da época (negros, mulheres, homossexuais) e contra a guerra e a repressão do estado.
Tentando resgatar os "valores tradicionais estadunidenses", antes já representados em filmes western, estes filmes
compartilham entre si a ideia de “justiça pelas próprias mãos”, feita, em geral, pelas mãos de homens brancos héteros,
que chegaram ao “limite da violência” por desacreditarem da efetividade das vias legais. A única exceção é o filme
Foxy Brown, cuja protagonista é uma mulher negra que combate o tráfico de mulheres (negras e brancas) comandado
por brancos, que acaba servindo de contraponto aos demais filmes. mas ainda assim manifesta certa ideologia
“justiceira” e o male gaze (visão masculina). Para a análise pretendo contextualizar social e politicamente o período e
utilizar de historiadores e pensadores sobre o fascismo, subjetividades, sociedade do controle e representações de
masculinidade, como: Eric Hobsbawn, Umberto Eco, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Michael Hardt, Laura Mulvey e
Antoine de Baecque, para pensar as imagens e discursos apresentados nos filmes.

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ST 10. Biografias e trajetórias pessoais: a sociedade nas escritas de singularidades e
escritas da História.

ST 10 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Biografia: um exercício historiográfico

Marcela de Oliveira Santos Silva

Inicialmente, tomar uma biografia como fonte pode parecer algo simples ou até mesmo uma questão de escolha.
Contudo, essa ideia não faz jus aos meandros e incertezas que tal objeto pode apresentar quando nos deparamos com
a tarefa de analisá-lo. Essa formulação, ou melhor, percepção, só foi possível de ser sistematizada ao longo de mais
ou menos oito anos. Assim, buscarei demonstrar a construção do cabedal teórico e metodológico que me permitem,
hoje, depreender a operação historiográfica por detrás da obra Hitler, 1889-1936: Hubris e Hitler, 1936-1945: Nemesis,
escrita pelo historiador britânico Ian Kershaw, em 1999 e 2000, respectivamente. Isto é, pretendo explicitar como, a
partir de uma abordagem histórica, correlacionar a análise da biografia Hitler e, por consequências, de Adolf Hitler e
da Alemanha nazista, com o contexto mais amplo no qual ela foi produzida. Desse modo, não tenho a pretensão de
descobrir quem realmente foi Hitler, mas de tentar depreender como foram produzidas as diferentes versões da
imagem do líder do Terceiro Reich apresentada pelo historiador, por meio da biografia.

A Prosopografia na História Política

Paulo Roberto Krüger (IFPR - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná)

O século XX foi marcado por renovações no campo da Historiografia, alcançando a História Política e, consequentemente, a
biografia e a prosopografia. Essa renovação esteve calcada em críticas realizadas pelo movimento dos Annales e na crise do
estruturalismo, desse modo, o que se viu no fim do século XX foi a exausta tradição acadêmica ocidental abrir espaço para o
diálogo interdisciplinar, a ampliação de fontes, a valorização dos indivíduos, a redução de escala observacional etc. Também
nesse período, mais precisamente em 1971, Lawrence Stone lançava seu artigo Prosopography, defendendo uma
aproximação da prosopografia (biografia coletiva) com a história política, o que a credenciou como uma ferramenta válida
às(aos) historiadoras(es) que visam trabalhar com grupos de indivíduos. Este artigo está dividido em três partes: uma
apresentação das renovações que ocorreram a partir da década de 1970 no campo da história política e que atingiram a
biografia e prosopografia (diferenciando as duas últimas); o estabelecimento da prosopografia como um método possível de
ser utilizada na história política; e, por fim, a descrição de como fazer e as dificuldades do fazer prosopográfico.

Trajetórias e Mundos do Trabalho: a investigação de trajetórias de trabalhadores como meio de estudo do


movimento operário

Luís Henrique Abilla Carboni Junior (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

A presente comunicação tem como objetivo suscitar reflexões sobre as diferentes possibilidades de investigações
históricas de trajetórias, sobretudo a que aborda trabalhadores enquanto objetos. Compreendendo, nesse sentido, a

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análise de trajetórias como via de acesso para a compreensão de questões mais gerais da história operária, priorizando
recuperar a tensão entre o indivíduo e o social, bem como as possibilidades de escolhas do trabalhador frente ao
sistema normativo. Para tornar a comunicação empírica, trataremos do caso de Mario Passini, carpinteiro, de instrução
básica, preso duas vezes por estar envolvido em greve e reivindicação operária na cidade de Piracicaba-SP.
Primeiramente em 1919, sendo secretário da Liga Operária; posteriormente em 1935, detido como perigoso elemento
comunista supostamente ligado ao PCB. Por fim, contrapondo a versão do delegado de polícia contida no processo de
1935 com as cartas escritas por Passini na prisão, pretendemos problematizar a “ilusão biográfica” do “eu” dotado de
uma identidade rígida e comportamento constante, ressaltando a existência do movimento e de mudanças no
desenrolar-se da trajetória pessoal.

Américo de Castro: entre concessões de obras públicas e relações políticas privadas (Rio de Janeiro, décadas 1870 a
1890)

Alexandra do Nascimento Aguiar (Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro)

O presente trabalho tem como objeto a biografia do concessionário Américo Castro, personagem que transitou nos
cenários dos anos finais da Monarquia e iniciais da República, migrando da carreira diplomática para os negócios de
expansão das linhas de ferro carril e das obras públicas e para o empreendimento habitacional. Castro foi atuante nos
debates sobre saneamento urbano e de combate aos cortiços e esteve à frente da proposta de construção de
habitações higiênicas para os trabalhadores pobres e que ficariam conhecidas como “evoneas”. Ele foi o primeiro a
conseguir a concessão para edificações com essa finalidade, abrindo caminho para outros empreendedores em
moradias higiênicas para operários. Américo de Castro nos conduz a fundação da Companhia Evoneas Fluminense,
trilhando na “política do encilhamento”, e em sua trajetória entrecruzaram-se eminentes figuras da política como Rui
Barbosa e Rodolfo Dantas, antigos e novos capitalistas, como o Barão do Rio Negro e o Conde de Sebastião Pinho, e
Antonio Jannuzzi, reconhecido construtor-licenciado e membro do Clube de Engenharia. A biografia de Américo de
Castro como objeto propicia a análise da relação entre o empresariado da construção civil e o Estado no século XIX,
além de possibilitar o vislumbre desse universo pelo qual circulavam anônimos engenheiros, acionistas, operários e
funcionários administrativos.

Jorge Ruffier: um sujeito moderno com uma câmera

Andrea Maio Ortigara (UFPEL - Universidade Federal de Pelotas)

No presente estudo apresentamos a biografia do Sr. Ruffier (1885-1975), imigrante francês que residiu no Rio Grande-
RS entre os anos 1910 e 1975. Para tanto, reunimos seus dados biográficos que são determinantes para a compreensão
deste como um sujeito moderno. Contribuem neste processo os países em que ele viveu na sua infância e
adolescência, a sua formação escolar e técnica, bem como a sua formação cultural e estudos em fotografia.
Destacamos sua motivação para a elaboração de narrativas sobre o seu cotidiano que resultaram na organização de
dezoito álbuns fotográficos e um caderno de memórias com 299 páginas, nas quais ele narrou a vida familiar, o lazer
desfrutado e o setor profissional em que estava inserido, diretamente relacionado com a energia elétrica – signo por
excelência da modernidade. As narrativas escritas e fotográficas construídas pelo Sr. Ruffier são representações da
sua memória, e materializam as percepções e o olhar de um sujeito sobre as suas vivências cotidianas e suas

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experiências urbanas. Nesse sentido, expressam a história da construção de identidade desse sujeito num cenário
social. Com o objetivo de compreender a sua trajetória de vida, e a sua identidade enquanto sujeito moderno
aplicamos a metodologia de análise iconográfica e interpretação iconológica das imagens, proposta por Kossoy no
livro Fotografia e História.

ST 10 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

As três fontes e partes constitutivas do pensamento de John William Cooke: Peronismo, Marxismo e Revisionismo
Histórico Argentino

Gustavo Santos da Silva

John William Cooke (1919-1968) foi mais conhecido como secretário pessoal de Juan Domingo Perón depois do golpe
de 1955 e colaborador de Ernesto Guevara e Fidel Castro após a tomada de poder pelos revolucionários do M-26 de
Julio em Cuba (1959), estabelecendo o primeiro elo entre Peronismo e Revolução Cubana. Podemos indicar
taxativamente que Cooke foi o artífice do chamado Peronismo Revolucionário ou antecessor da Esquerda Peronista
ao lançar a proposta de que o movimento policlassista que compunha deveria dar um salto qualitativo em direção a
uma estratégia socialista com características argentinas. No presente trabalho fazemos um apanhado da constituição
do pensamento original e criativo de John William Cooke marcado por três fontes: o nacionalismo, o marxismo e o
revisionismo histórico argentino. Onde através de um estudo de sua trajetória e formação política tendo como base
arquivos diversos como o Fondo Eguren-Cooke da Biblioteca Nacional Mariano Moreno (e outros), recompomos por
meio de manuscritos, fichamentos, anotações, correspondências, pronunciamentos como essas três fontes ingressam
aproximadamente na mesma época nas ideias de Cooke e se desenvolvem de modo multilinear, onde ora uma fonte
prevalece sobre a outra, mas em nenhum momento alguma delas desaparece.

A relação entre intelectuais mediadores e a ditadura civil-militar: a trajetória intelectual e política de Pedro Calmon
(1964-1985)

Leonardo Fetter da Silva, Mariana Canazaro Coutinho

Ao longo de sua vida, Pedro Calmon Moniz de Bittencourt (1902-1985) agregou para si inúmeras qualificações. Foi
bacharel em Direito, político, intelectual, ensaísta e historiador, além de ocupar cargos como deputado estadual pela
Bahia, ministro da Educação e Saúde (1950-1951), professor universitário, reitor, membro da Associação Brasileira de
Letras (ABL), presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), entre outros. Também produziu inúmeras
obras de História, ensaios e crônicas, essencialmente sobre a história do Brasil. É importante destacar que Calmon
pertencia à aristocracia brasileira e, ao se dedicar ao campo acadêmico, ocupou uma posição de significância dentro
da elite intelectual brasileira, participando de diversas instituições e associações culturais e de intelectuais, inclusive
durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Durante esse período, Calmon foi vice-presidente do Conselho Federal de
Cultura, presidente do IHGB e reitor da Universidade do Brasil, além de participar do Conselho de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana, atuando no interior do Estado ditatorial. Desta forma, notamos que, em um período de grande
repressão e censura, Calmon se encontrava entre intelectuais mediadores que, de forma ou outra, apoiaram e

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consentiram com o regime, de maneira ambivalente ou não. Nosso objetivo neste estudo é, por meio da trajetória
intelectual e política de Pedro Calmon, compreender a atuação dos intelectuais mediadores na sociedade brasileira,
principalmente os intelectuais modernistas conservadores durante a ditadura civil-militar. Portanto, ao considerarmos
que intelectuais mediadores são aqueles que produzem conhecimento e espalham ideias na sociedade, podendo estar
ligados à intervenção político-social, consideramos a trajetória intelectual de Pedro Calmon significativa para a
compreensão desta relação entre a elite intelectual modernista conservadora brasileira e a ditadura civil-militar.

Arthur Cezar Ferreira Reis (1906-1993), uma trajetória entre ditaduras e democracias

Vinicius Alves do Amaral (Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro)

O historiador amazonense Arthur Cezar Ferreira Reis construiu boa parte de sua carreira como intelectual em defesa
do desenvolvimento da Amazônia, no entanto ele também se envolveu em projetos governamentais como a
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, além de ter sido indicado governador de sua terra
natal em 1964. A proposta da presente comunicação é justamente analisar as contradições de uma trajetória que
alcançou relativo reconhecimento intelectual e prestígio na esfera do poder seja em períodos ditatoriais como o
Estado Novo e a Ditadura Militar, seja em períodos democráticos, como a experiência republicana entre 1945 e 1964.
O conceito de cultura política tal como foi definido por Serge Bernstein e Rodrigo Patto Sá Motta será extremamente
valioso para se compreender as articulações realizadas por esse intrigante personagem. As obras do historiador foram
tão essenciais para a pesquisa quanto seus documentos pessoais, especialmente sua correspondência, localizados na
Biblioteca Arthur Cezar Ferreira Reis em Manaus. Analisar os itinerários de Arthur Reis nos permite pensar não só na
complexidade de escrever biografias, mas também nas próprias raízes autoritárias da sociedade brasileira que ainda
detém muito espaço em nossa vida republicana.

Futebolistas canhotos: uma análise político-discursiva de Maradona e Sócrates na redemocratização do Cone Sul

Rodrigo Andrade Augusto (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O trabalho a ser apresentado, em estágio inicial, tem o objetivo de analisar comparativamente a trajetória de dois
futebolistas, que de origens sociais diferentes e ideologias que foram forjadas pelo contexto ditatorial da América
Latina das décadas de 1960 a 1980, utilizaram o esporte como um canal de manifestações políticas e comunicação
com as grandes massas. Em seus países, tanto Maradona quanto Sócrates vivenciaram transformações políticas
comuns diante de regimes ditatoriais promovidos no contexto da Guerra Fria. A disputa geopolítica, bélica e
tecnológica em meados do século XX, entre as duas maiores potências da época, EUA e a URSS, contribuiu para a
implantação de autoritarismo no continente sul-americano, principalmente nas duas grandes potências da região,
Argentina e Brasil. Buscamos nos orientar através da perspectiva gramsciniana com seu conceito de intelectualidade
orgânica e fazendo uso da análise discursiva dos dois atletas nos propomos a identificar as posições políticas, conflitos
e suas mobilizações na redemocratização dos dois países na década de 1980.

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Antônio Casemiro Belinati: a construção do capital político pelas ondas hertz.

Daniela Reis de Moraes (Colégio Uninorte Junior)

O sociólogo Pierre Bourdieu, elucida a relação de dominação por meio do poder simbólico, nela a força é determinada
quase que de modo imperceptível, pois sua estrutura está inserida em um campo em que se produz e se reproduz.
Dificilmente se questiona o exercício de subordinação, porque mal conseguimos identifica-la. É sob essa ótica que
propomos avaliar as relações de poder na política e rádio. Londrina possui um vasto histórico de radialistas/políticos,
o jornalista e sociólogo Osmani Ferreira Costa ao analisar esse perfil identificou que até 1991, 15 radialistas em
Londrina ocuparam cargos públicos tanto no legislativo, quanto no executivo. Em 1961 aos 18 anos, o pai de Belinati
o levou à Rádio Londrina, conversou com o também radialista e proprietário Otássio Pereira (rádio de maior referência
na época) e pediu uma vaga de emprego para o filho. Belinati começou trabalhando em serviços gerais, sem
remuneração, apenas para adquirir experiência, aprendeu os traquejos do ofício e começou a atuar como locutor
comercial nos programas de auditório, passou a trabalhar como repórter na mesma rádio, no programa “A voz do
povo”, de caráter popular. Além disso, trabalhava como rádio escuta cobrindo os plantões e folgas dos radialistas
oficiais. Mas, foi em 1967 que Belinati passou a comandar um programa próprio, com duração de meia hora, na mesma
emissora. A relação entre Antônio Belinati e Otássio Pereira da Silva demonstra como as teias políticas se estruturam
por meio de apadrinhamento político, por meio da rádio. Emedebistas, os radialistas traçaram suas trajetórias entre
as ondas “hertz” e cadeiras públicas. Em 1968 Belinati se candidatou para a vaga de vereador e venceu o pleito, como
o mais votado. Ao longo de sua trajetória política, foram 11 mandatos ocupando o executivo em Londrina, cadeiras
do legislativo no Paraná e como Deputado Federal. Dessa maneira, buscaremos perscrutar a relação entre rádio e
política por meio da percepção do capital simbólico.

ST 10 – 20/10 – Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Poderosa Leonarda: a proeminência de uma Dama da Corte Imperial

Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro)

O trabalho aborda a trajetória histórica de Leonarda Maria da Silva Velho, Dama da Corte Imperial, que nascera em
1754 no Rio de Janeiro, onde constituiu fortuna como negociante e como senhora de engenho até falecer na mesma
cidade em 1825. Quando viúva, herdou os negócios do marido e agiu com firmeza perante sua rede de sociabilidade,
construída no meio mercantil dos Oitocentos. Dona de um patrimônio avaliado em 285: 499$677 réis à ocasião de sua
morte, foi um exemplo de proeminência feminina, não apenas na praça mercantil do Rio de Janeiro, cujo meio era
predominantemente masculino, mas ainda na sociedade em que vivia. A reconstituição de seus passos se baseou em
três aspectos fundamentais, comprovados principalmente por seu inventário post morten, no Arquivo Nacional,
servindo para traçar seu perfil na sociedade do Rio de Janeiro do século XIX: a morte, representada de forma
majestosa, com fausto e luxo, considerando sua condição social elevada, conforme João José Reis; a partilha de seus
bens, considerando a importância de sua residência-localizada numa área habitada por demais membros da elite
carioca-, de seus hábitos de consumo, de sua participação efetiva no mercado de longa distância, segundo Manolo
Florentino e João Fragoso e de seus investimentos no setor, de acordo com Jorge Pedreira; por fim, sua família,
atestando ser este um espaço de poder da mesma, que soube utilizar sua influência para determinar seus laços de

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solidariedade e de sociabilidade dentro e fora de casa. Contrariando a visão de que mulheres do XVIII e do XIX, viviam
somente para os salões e festas promovidas pelo Império, a biografada provou exercer os papeis a ela previamente
destinados: o de mãe e o de mulher e, principalmente, o de uma relevante negociante, comprovado por sua
documentação estudada e explicitado por suas deliberações em vida e ainda naquelas que seriam dirigidas após sua
morte.

Revolucionar o mundo, reconstruir a vida: uma biografia histórica de Vera Sílvia Magalhães.

Higor Codarin (Universidade Federal Fluminense)

Esta apresentação se insere no contexto de uma pesquisa de doutorado em andamento, cujo objetivo é a realização
de uma biografia histórica de Vera Sílvia Araújo Magalhães. Buscando dialogar sobre as potencialidades e limites da
escrita biográfica, esta apresentação objetiva lançar as hipóteses e descobertas da pesquisa em andamento. Militante
política da esquerda armada brasileira, vinculada ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro, Vera Sílvia foi um dos
"casos-extremos", como diriam Carlo Ginzburg e Giovanni Levi, da geração de 1968 brasileira. Lançando mão do
conceito de geração proposto por Jean-François Sirinelli, esta biografia procura demonstrar como se criou, no seio da
geração de 1968, um ethos revolucionário baseado em perspectivas revolucionárias coletivas e individuais. Neste
sentido, a trajetória de Vera Sílvia é emblemática ao servir como ponto de inflexão para os sonhos, dilemas,
contradições e dificuldades da experiência militante, seja no período da militância, no exílio ou, após a Lei da Anistia,
no retorno ao Brasil. Em síntese, através da trajetória de uma mulher militante, intenta-se iluminar as subjetividades
militantes, especificamente as femininas, como também aspectos outros ligados à experiência militante, ainda
atualmente pouco estudados, como as dificuldades decorrentes do processo de desengajamento, consequências
diretas da falência do projeto revolucionário coletivo da luta armada que era, também, um projeto revolucionário
individual.

Fragmentos de uma biografia histórica: Iara Iavelberg (1944-1971)

Juliana Marques do Nascimento

Iara Iavelberg (1944-1971), militante de organizações revolucionárias durante a ditadura civil-militar, como
Organização Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP) e Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), é figura
conhecida entre as esquerdas. Vista na atualidade como a “musa da esquerda de 1968”, é famosa por sua beleza,
liberdade sexual – característica considerada “à frente de seu tempo” – e, muitas vezes, descrita como uma “feminista
dentro da luta armada”. Enquanto era viva, porém, a imagem que se criou a seu respeito era outra: Iara era descrita
pelos órgãos de repressão como promíscua, destruidora de lares e atrelada unicamente à figura de amante do capitão
da guerrilha Carlos Lamarca – narrativas ecoadas pela imprensa da época. Dentre tantas representações contraditórias
e polêmicas, como saber quem foi Iara? De qual dessas imagens sua personalidade se aproximava mais? Essas são
questões muito importantes para meu projeto de doutorado, que busca se afastar das concepções deslegitimadoras
da narrativa ditatorial, mas também dos discursos anacrônicos e romantizados produzidos por uma esquerda liberal
nos anos 1990 – materializados no livro biográfico produzido pela jornalista Judith Patarra, em 1992 – e que
repercutem até hoje. Voltando-me para a análise de fontes escritas sobre Iara e as organizações na qual militou e de
fontes orais – entrevistas com pessoas próximas a ela –, o objetivo do trabalho é produzir uma biografia histórica de

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Iara Iavelberg. Nesta biografia, para além de aspectos de sua vida pessoal e amorosa, pretendo compreender e elucidar
o ser político que era Iara, com análise de sua base teórica marxista e do histórico de seu engajamento, que vai desde
o movimento estudantil, em meados dos anos 1964, até seu assassinato por forças policiais, em 1971. Os resultados
que pretendo apresentar nessa comunicação serão parciais.

Vidas em risco: os escritos autobiográficos de Maura Lopes Cançado e de Simone Weil

Jessica Brisola Stori, Ana Paula Branco de Melo

Escrever é existir e inscrever-se no mundo, como observou Philippe Artières. Para as mulheres, a ação da escrita
tornou-se ainda mais importante em seus processos de elaboração de si, visto que o anonimato e o apagamento de
suas produções foi uma característica comum na retomada de suas trajetórias. A partir desta ideia, a presente
apresentação tem como objetivo aproximar as experiências de duas mulheres que escreveram no século passado,
Maura Lopes Cançado (1929-1993) e Simone Weil (1909-1943), através do diálogo com o conceito de “escrita de si”
de Michel Foucault e das reelaborações do termo a partir de pesquisadoras feministas. Consideramos a escrita de si
uma prática de liberdade presente no que Foucault chamou de estética da existência entre gregos e romanos, contudo,
feministas como Margareth Rago, ao se apropriarem dos estudos de Foucault, aproximaram esses conceitos às
experiências de mulheres em suas autobiografias. Cançado e Weil circularam por espaços distintos e produziram em
situações de risco, frequentemente denunciando condições de violência e de desigualdades, arriscando suas próprias
vidas em situações de embate e de combate. Assim, nosso interesse é apresentar suas trajetórias a partir de seus
escritos autobiográficos, identificando as reformulações possíveis de suas experiências em contextos de risco.

ST 10 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Trajetórias de vidas marcadas pelo patriarcalismo nas experiencias de mulheres idosas

Latif Antonia Cassab (UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná)

O trabalho em questão expressa-se como resultado de uma pesquisa qualitativa, cujo objetivo foi conhecermos os
reflexos do paradigma patriarcal nas experiências de vida das mulheres idosas, atendidas no Centro de Referência de
Assistência Social, de São João do Ivaí/PR. Por meio da História Oral, através da técnica do relato de vida,
empreendemos entrevistas, conhecendo a vivencia das mesmas, problematizando as desigualdades de gênero e a
conduta de opressão, exploração e truculência a que foram e são submetidas em suas vidas. Relatamos, ainda, os
papéis exercidos na sociedade machista e sexistas, permitindo-nos problematizar as condições históricas nas quais se
inscrevem as relações sociais pautadas na cultura patriarcal, cujo poder/autoridade é exercido pelo homem sobre a
família e, quase sempre, de forma violenta sobre as mulheres. A -pesquisa revelou pedaços de vida encharcados por
sutis violências, fosse nas relações empreendidas com os pais, entre irmãos, companheiros e, mesmo na forma como
educaram seus filhos.

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Gênero e política: possibilidades de análise da trajetória da primeira-dama Sarah Kubistchek

Bruno Sanches Mariante da Silva (UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste)

Sarah Kubistchek foi primeira-dama de Belo Horizonte (1940-1945), Minas Gerais (1951-1956) e do Brasil (1956-1961),
períodos em que se ocupou de atividades de assistência social, direcionadas aos cuidados de saúde e às crianças e à
maternidade. É relevante destacarmos que a figura da primeira-dama tem grande importância na história da
República, sendo que a partir da atuação de Darcy Vargas (1930-1945 e 1951-1954) o papel da primeira-dama adquire
maior relevância política e social, aproximando-se em definitivo do campo da assistência social. Sarah chegou ao poder
nacional em 1956, juntamente com seu marido, Juscelino Kubistchek, e criou uma instituição própria de assistência:
Fundação Pioneiras Sociais. Entendemos que a atuação da primeira-dama, significativamente mais próxima da
população, faz com que o capital simbólico por ela movimentado seja transformado, via assistência social, em capital
político. Para além da assistência social (ou em nome dela) Sarah Kubistchek também investiu sobre a moda e sobre
os desfiles de moda. Ali a primeira-dama converte seu prestígio – adquirido, em grande parte, em razão de um
cumprimento da ordem social esperada para mulheres de sua camada social, sua idade e sua posição política – em
capital social e político, ao promover grandes eventos de moda que bateram recordes de público e arrecadação de
fundos, bem como lançaram bases para uma profícua renovação da moda no Brasil. Um dos desafios de nossa pesquisa
é entender as estratégias e caminhos percorridos por Sarah Kubistchek, uma vez que sua influência transpassou o
período em que esteve no posto de Primeira-dama da nação, superando, inclusive, a presença física de Juscelino. Uma
vez viúva, Sarah atuou enfaticamente na política brasileira, mesmo num período de fins da ditadura militar, para
consolidar sua imagem e a do ex-Presidente Juscelino Kubistchek, empenhando-se na construção do Memorial JK, em
Brasília.

Eugênia Anna dos Santos: ialorixá e liderança em luta por direitos dos afrodescendentes no Brasil

Silene Ferreira Claro (FFLCH-USP)

Eugênia Anna Santos nasceu em 13 de junho de 1869, em Salvador, na Bahia, filha de Sérgio dos Santos e Lucinda
Maria da Conceição, ambos da etnia grunce, originária da região de Gana. Os grunces embarcavam, na África, na foz
do rio das Galinhas, no Benin, e foram trazidos como escravizados. Mãe Aninha tornou-se então bastante importante
dentro das discussões sobre ancestralidades dentro da religião. Trata-se, de forma simplificada, de um debate sobre
a genealogia dentro das casas de candomblé no Brasil. Mãe Aninha foi iniciada no antigo terreiro da Casa Branca, o
Engenho Velho, que pertencia a Maria Júlia de Figueiredo. Naquele terreiro, Mãe Aninha foi iniciada por Marcelina
Obá Tossi. As fontes não são precisas sobre o momento de sua iniciação, mas tudo indica que tenha ocorrido ainda no
século XIX, quando tinha por volta de 16 anos por volta de 1884. Mãe Aninha fundou o Ilê Axê Opô Afonjá em 1895,
na cidade do Rio de Janeiro e, depois em Salvador, no ano de 1910, se estabelecendo, primeiramente no alto da Santa
Cruz, no bairro do rio Vermelho e, posteriormente, para São Gonçalo do Retiro, onde se encontra até os dias atuais.
Mãe Aninha tornou-se conhecida e amiga de vários intelectuais que, especialmente na década de 1930, lutavam para
que os povos descendentes de africanos tivessem sua cultura reconhecida e valorizada. Entre tais lideranças destacam-
se Edison Carneiro, Arthur Ramos, Donald Pierson, Ruth Landes, dentre outros. Intelectuais profundamente envolvidos
com a necessidade de incluir o negro e sua cultura na identidade nacional. Mãe Aninha envolveu-se profundamente
nessa luta, tendo participado, na década de 1930, de congressos e outros movimentos. Até sua morte, na década de

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1930, Mãe Aninha teve importante atuação na luta, e é essa luta, com suas redes de sociabilidade, que se pretende
discutir nesse trabalho.

Um padre pioneiro nas Minas oitocentistas: a atuação de Padre Domingos frente à experiência educacional do Asilo
São Luiz.

José Gabriel Gomes Pinto Maffei

O objetivo desse trabalho é analisar criticamente os principais momentos que compreendem a atuação de Padre
Domingos Evangelista Pinheiro durante a fundação e administração do Asilo São Luiz, a partir de diferentes fontes do
século XIX. Dentre as fontes consultadas, destacamos o livro “O Pioneiro da Serra da Piedade”, escrito por Madre
Ângela. Esse trabalho reúne uma série de documentos oficiais e relatos relacionados ao Asilo São Luiz, além de
correspondências pessoais do Padre Domingos, fundador e diretor da instituição. Valendo-se do maior conjunto de
escritos do século XIX relacionados ao Asilo, o livro “O Pioneiro” será analisado juntamente a um conjunto de
periódicos mineiros. Em exemplares de jornais destacamos transcrições de discussões na Assembleia Provincial sobre
o Asilo e menções ao Padre Domingos, identificadas entre pautas sobre a educação pensada para a população mineira
e, em certa medida, para todo o país. Antes mesmo da fundação, a instituição propunha-se a assistência e instrução
de meninas ingênuas e desvalidas que, até o final da década de 1880, foram questões discutidas pelo religioso com
seus inúmeros interlocutores. A partir desse perfil, será delineado uma perspectiva crítica acerca das questões sociais
que envolvem a experiência educacional empreendida pelo clérigo juntamente aos demais aspectos da educação no
Brasil oitocentista. Os trabalhos de José Gonçalves Gondra e Alessandra Schueler (2008) muito contribuem para a
história da educação e a discussão sobre perspectivas referentes ao recorte temporal e geográfico determinado,
juntamente ao trabalho de Sidney Chalhoub (2017) que auxilia na compreensão epistemológica das “classes perigosas”
frente às questões sociais do oitocentos. Já o trabalho de Pierre Bourdieu (2017) nos fornece reflexões metodológicas
para compreender a trajetória biográfica de Padre Domingos, no referido contexto, a partir do heterogêneo conjunto
de fontes selecionado.

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ST 11. Ciências Sociais, saúde e estudos urbanos: interfaces na história do século XX aos
dias atuais

ST 11 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Do Asseio Público ao Asseio Individual: Cultura Material e as teorias médico-sanitárias entre 1850-1930 na cidade
de Porto Alegre, RS. Um estudo de casos dos sítios arqueológicos Asseio Público e Pontal do Estaleiro.

Daiane Brum Bitencourt (Sophia)

Sob a luz da ciência moderna e suas importantes descobertas no campo científico durante a segunda metade do século
XIX, diversas teorias médico-higiênicas, acabaram por ditar os usos dos espaços e comportamentos ditos salubres. São
pertencentes a este contexto histórico-social a criação de áreas de descarte de lixo, a manutenção e destruição de
cortiços em centros urbanos, a fiscalização de fontes de água, casas noturnas, além da influência exercida em planos
de urbanização com prerrogativas sanitárias. Dentro deste momento histórico, encontram-se os sítios arqueológicos
Asseio Público e Pontal do Estaleiro, na zona sul de Porto Alegre (RS), ambos localizados a beira do lago Guaíba.
Durante décadas o sítio arqueológico Asseio Público foi destinado a receber os dejetos das casas da área urbana da
cidade durante o século XIX, objetivando a não contaminação dos recursos naturais comuns da sociedade. O sítio
arqueológico Pontal do Estaleiro, por sua vez, apresentou evidências materiais das concepções médico-sanitárias do
final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Estas foram identificadas através de fragmentos de medicações
de fabricantes nacionais e estrangeiros, onde estas, são correspondentes as teorias hipocráticas e populares sobre
limpar os excessos dos humores (biles amarela, sangue, fleuma e biles negra), no qual são presentes os elixires,
revigorantes, purgantes, peitorais entre outros. Estes tipos de medicações foram muito utilizados até a primeira
metade do século XX, porém, ainda mantem influência em dias atuais em tratamentos populares na sociedade
brasileira.

Movimentos Antivacina: dilema social e contrapontos da história

Bianca Siqueira Martins Domingos (SENAI Cruzeiro), Aline Cristina Gomes da Costa (UNIVAP - Universidade do Vale do
Paraíba), Cilene Gomes (UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba), Valéria Zanetti (UNIVAP), Micael Henrique da
Silva Santos

Este artigo propõe uma análise sobre os movimentos antivacinas no contexto atual brasileiro de pandemia da COVID-
19, realizando um contraponto histórico com a Revolta da Vacina, ocorrida em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, a
fim de ressaltar o dilema social contido nas distopias da comunicação entre estado e sociedade no Brasil, bem como
o lugar da ciência e dos meios de comunicação de massa no contexto geral das relações entre política e saúde pública.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a Revolta da Vacina e um estudo etnográfico digital
(netnográfico) por meio da ferramenta Google Trends e das redes sociais Twitter, Instagram e Facebook, com base em
pesquisa de palavras-chave por algoritmos vinculados às hashtags sobre o período pandêmico de COVID-19, no
decorrer do ano de 2020. Será discutido também o papel dos meios de comunicação de massa na constituição da

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esfera pública contemporânea e o sentido da mutação política de nosso tempo capitaneado pelo negacionismo e pela
desinformação.

Cannabis Medicinal e as Associações no Brasil: AbraRio

Leticia Rodrigues Martins da Silva (Abrario), Leonardo Machado Coelho Monteiro (UFRJ - Universidade Federal do Rio
de Janeiro), João Vitor Rodrigues Martins da Silva

Este artigo propõe uma reflexão sobre uso da cannabis medicinal no Brasil e os entraves sociais relacionados à
discussão, tais como, preconceitos, tabus, e outros. O estudo tem por objetivo explicitar a importância do uso da
maconha como medicamento. Devemos destacar que há pouco investimento em pesquisas no Brasil, o que resulta na
escassez em referências bibliográficas no país sobre os benefícios e eficácias no tratamento de algumas doenças.
Movimentos sociais, direcionados à causa, serão destacados nesta pesquisa, bem como os avanços no âmbito dos três
Poderes, como a descriminalização, as regulamentações e os projetos de lei. O terceiro setor vem se expandindo, por
meio de associações, com o objetivo de intervir nesta área, visto a negligência do Estado diante dos benefícios que os
fitocanabinóides são capazes de proporcionar à saúde do indivíduo, auxiliando na promoção da saúde e na melhoria
da qualidade de vida. A Associação Brasileira de Acesso do Rio de Janeiro (AbraRio), foi criada pela Marilene Esperança,
no início de 2021, incentivada após seu filho, Lucas, necessitar deste tratamento para controle de crises de epilepsia,
desde sua infância. A AbraRio, e outras associações voltadas à esta luta, são de grande importância na sociedade para
quebrar os estigmas existentes sobre a cannabis medicinal, assim como, auxiliar as pessoas no acesso ao óleo
medicinal, ter o apoio do Serviço Social e propor assessoria jurídica, devido à extrema judicialização ao que o tema
está envolvido (importação, habeas corpus, autorização na ANVISA, etc.). Destacaremos, também, a importância da
AbraRio como espaço para troca de conhecimentos, com a educação permanente de profissionais da saúde, e
acolhimentos aos usuários desta terapêutica. Para a artigo, será utilizada uma metodologia qualitativa, que se dará
por meio de pesquisas bibliográficas e documentais, referentes à temática.

As respostas do Estado brasileiro ao HIV/Aids: a construção do Programa Nacional de DST/Aids (1985-1996)

Ana Cláudia Teixeira de Lima

O objetivo deste trabalho é discutir e analisar a organização, iniciada a partir de 1985, das respostas do Estado
brasileiro à epidemia de HIV/Aids e a criação, nesse mesmo ano, do Programa de Controle da Aids Brasileiro,
posteriormente denominado como Programa Nacional de DST/Aids (PN DST/Aids). Como pano de fundo e
entrecruzando esse cenário, há a conjuntura de redemocratização política do país, o movimento pela reforma sanitária
e a idealização e implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Esses componentes impactaram profundamente a
experiência de combate ao HIV/Aids do país e trouxeram para o debate a concepção de saúde como um direito cujo
acesso universalizado e gratuito deve ser garantido pelo Estado. Contudo, desse momento incipiente até a distribuição
gratuita e universal de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de Aids, em 1996, foi necessário um empenho
acentuado de ativistas e ONGs/Aids para que o Estado elaborasse políticas contundentes de prevenção, tratamento e
assistência baseadas nos princípios da reforma sanitária e do SUS. Assim, a construção do PN DST/Aids e do trabalho
integrado prevenção-tratamento resultou de pressão da sociedade civil; do estabelecimento de uma relação

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colaborativa Estado-ativistas; e da ação de governos federais que enfrentaram o posicionamento contrário da Igreja
Católica às campanhas de prevenção.

"Burocratização", mediação entre "Estado" e "Sociedade Civil": notas sobre o "Sistema Único de Saúde" (SUS).

Marco Antonio Siqueira Rodrigues (UFPA - Universidade Federal do Pará)

Investigo um elenco limitado de aspectos da sociabilidade, especificamente daqueles que interpreto (re)produzindo
formas de “Burocratização”. Para apreender citado movimento do existente e visando alcançar, minimamente, um
todo cujos elementos estão de algum modo conectados, ressalto que a parcela desses – ora abarcada – está
eventualmente cindida apenas almejando certa facilitação teórico-metodológica em torno de ditas formas
burocráticas. Admitido que nenhuma cognição individual é capaz de alcançar todo o existente (quiçá, nem mesmo a
conjunção das cognições humanas alcance) e com escopo no referido facilitar acionável ao processo social de
“burocratização”, cito dois grupos de argumentos interligados a orientar estes breves parágrafos: um primeiro,
“lógico”, majoritariamente teórico, onde categorias e conceitos são acionados enquanto "Determinações Reflexivas"
e "Prioridade Ontológica", e; um segundo, “ontológico”, majoritariamente empírico, identificando um processo social
relativo à estruturação (institucionalização) de um poder que, originário de interesses privados difusos, é extrapolado
ao ambiente público e nesse adquire caráter normativo. Calcada nas precitadas determinações e prioridade
(componentes da tradição dialética), esta minha tentativa de apreensão é uma das dirigíveis à categoria
“burocratização” e, assim, está circunscrita pela realidade em movimento, pelo status do conhecimento em vigor, pela
capacidade cognitiva deste analista, etc.; tal circunscrição talvez sirva para ressaltar uma das principais contradições
da ciência, qual seja: embora os cientistas desconheçam que suas atividades são parciais, limitadas, esse eventual
desconhecimento jamais obstaculiza apreender o real (mesmo) parcial-limitadamente. Como "locus" empírico da
"burocratização", trago aspectos verificados no Sistema Único de Saúde em Belém/PA e em Florianópolis/SC,
ressaltando especificidades - até de execução financeira desde 1995 - verificadas nessas localidades.

ST 11 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Os 120 anos de epidemias no Brasil: uma perspectiva crítica

Ivan Ducatti (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Estabelecer uma linearidade do desenvolvimento da trajetória das doenças no Brasil torna-se um desafio
intransponível ao pesquisador, se não forem levados em conta, pelo menos, quatro fatores do desenvolvimento
socioeconômico brasileiro: 1) a periodicidade que se queira adotar: necessariamente esta exige uma análise dos
determinantes econômicos, uma vez que as doenças, que são fenômenos cujas taxas de morbidade e mortalidade
estão neles contidos, colocam para a humanidade a necessidade de sua superação; 2) os investimentos e inversões
são direcionados para as instituições de saúde pública e institutos de pesquisas em saúde, ligados ou não às
universidades, uma vez que o complexo (composto por hospitais, clínicas, laboratórios) da saúde pública é a ponta de
lança para atuar no cuidado das pessoas; 3) toda ação em saúde pública no combate às doenças e suas respectivas
agendas de prevenção, ao menos nos últimos cem anos, têm exigido planejamento e domínio tecnocientífico de

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fármacos; porém estes são mercadorias dentro do controle do modo de produção capitalista, o que implica o fato de
o pesquisador ter um conhecimento substancial de que a ciência, que é realizada por cientistas, não se desenvolve de
forma autônoma aos marcos do grande capital; 4) o planejamento em saúde pública parte do mapeamento
epidemiológico de uma determinada territorialidade; no caso brasileiro, esta territorialidade é heterogênea,
colocando-se desafios. Nesse tipo de abordagem, algumas etapas do desenvolvimento devem ser consideradas: a) a
economia agrário-exportadora e o poder político das províncias; b) a Era Vargas como necessidade de centralização e
construção de estruturas básicas; c) o desenvolvimentismo: das estruturas básicas para o início da industrialização de
bens de consumo em massa; d) a reorganização dos Estados contra as ameaças revolucionárias na América Latina para
a implantação de políticas neoliberais; e) a abertura ao neoliberalismo e a governabilidade das esquerdas.

Os trabalhadores da Samarco como atingidos invisíveis do crime ambiental de Mariana (2015)

André Ricardo Valle Vasco Pereira (Universidade Federal do Espírito Santo)

Em novembro de 2015, a barragem de rejeitos da Samarco Mineração, localizada Mariana (MG), colapsou, provocando
uma grave contaminação do rio Doce e do litoral do Espírito Santo. No evento, 19 pessoa perderam a vida. Na
sequência, a empresa e suas duas proprietárias, as mineradoras Vale S. A. e a australiana BHP Billiton (hoje apenas
BHP), fizeram um acordo por meio do qual foi constituída uma fundação de direito privado, a Renova, que ficou
responsável pela tarefa de mitigar danos ao meio ambiente e à população atingida pelo evento. Até os dias de hoje
(2021), este processo sofre questionamentos e gera insatisfações, como da parte de várias pessoas que ainda
reivindicam o reconhecimento à indenização. Esta comunicação versa sofre um dos resultados de uma pesquisa
coletiva sobre os Termos de Ajuste que foram assinados com a Renova e sobre a situação dos trabalhadores da
Samarco, em Anchieta (ES), representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos do Espírito Santo. Tal pesquisa envolveu
equipes da UFES e da Faculdade de Direito de Vitória, tendo sido financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e
Inovação do Espírito Santo. Especificamente, a comunicação aborda o impacto do crime ambiental junto aos
trabalhadores de Anchieta, que não foram diretamente atingidos pela pluma que percorreu o rio Doce, mas que foram
convocados pela empresa a atuar nas primeiras ações de reparação e que acabaram sendo, em sua maioria, demitidos,
já que a firma ficou com as atividades suspensas entre 2015 e 2020, quando retornou com 26% de sua capacidade.
Pode-se qualificar os trabalhadores como atingidos “invisíveis” na medida em que foram também afetados pelo
evento. Muitos se viram na posição de defender o retorno da Samarco ao serviço, assim como moradores da localidade
de Anchieta e arredores, além de variadas autoridades estaduais. Desta forma, o trabalho discute a relação de
dependência a que vários setores são submetidos no caso de eventos catastróficos produzidos por grandes empresas.

"A perdição nos subúrbios": as reformas urbanas do Rio de Janeiro e o distrito de Irajá nas páginas do Echo
Suburbano

Fábio de Brito Rezende

As reformas urbanas do prefeito Pereira Passos impulsionam consideravelmente a expansão populacional nos
subúrbios cariocas, resultando em um choque entre as classes médias residentes na região e a população
predominantemente pobre expulsa do centro urbano da cidade, que em parte se deslocou para as áreas suburbanas.
Através do estudo da história da cidade do Rio de Janeiro e de suas freguesias rurais, animados pelas perspectivas da

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História Social e guiados pela História Urbana de Lefebvre e Abreu, verificamos de que forma as reformas urbanas
foram percebidas pelos residentes do distrito de Irajá e suas formas de mobilização política através do periódico Echo
Suburbano, no ano de 1911. Concluímos por nossa investigação que as tensões ocasionadas pela migração forçada
deste novo contingente de indivíduos em direção aos subúrbios cariocas foram amplamente abordadas no periódico
Echo Suburbano, cujos autores indicavam uma suposta degeneração moral da região e a formação de "antros de
perdição" nas áreas suburbanas.

A Sociologia de Carlos Alberto de Medina: reflexões sobre saúde, desenvolvimento e democracia no Brasil entre as
décadas de 1950 e 1970

Carolina Arouca Gomes de Brito (PPGHCS - COC / Fiocruz)

Este trabalho aborda a trajetória de Carlos Alberto de Medina, recifense nascido no dia 1º de novembro de 1931,
formou-se como Bacharel e Licenciado em Sociologia e História pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da
Universidade do Brasil (hoje UFRJ). Entre os principais temas de pesquisa desenvolvidos por Medina, ao longo de sua
trajetória intelectual, destaca-se a produção de conhecimento sociológico acerca das dinâmicas econômicas, políticas
e sociais que permearam os processos de transição e interlocução entre o rural e o urbano no país, especialmente a
partir de suas análises sobre as favelas no Rio de Janeiro, iniciadas na década de 1950. Medina atuou em projetos e
instituições de pesquisa como: Campanha Nacional de Educação Rural (CNER); Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP), Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS), além de participar dos estudos da
SAGMACS na década de 1960. Autor pouco conhecido na história das ciências sociais no Brasil, seus trabalhos lançam
luz, entretanto, sobre o modo como perspectivas sociológicas contribuíram para a reflexão acerca das relações entre
saúde, desenvolvimento e democracia no período. A partir da análise de sua produção intelectual e de suas inserções
profissionais pretende-se desvelar ainda parte da história das ciências sociais no Brasil no período.

As remoções das favelas do Rio de Janeiro na década de 1960 sob a perspectiva das agências internacionais

Rachel de Almeida Viana (secretaria estadual de educação)

Vista de forma associada à pobreza e à criminalidade, as favelas constituíram-se como objeto de estudo das ciências
sociais no Brasil durante a década de 1960. Dentro do contexto da mudança da capital para Brasília, a Sociedade de
Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas às Ciências Sociais realizou o primeiro estudo sobre as favelas sob a
coordenação dos cientistas sociais Jose Arthur Rios e Carlos Alberto de Medina. Em “Aspectos Humanos das Favelas
Cariocas”, a autoajuda e o sentido comunitário são ressaltados como meios para se alcançar a melhoria de vida de
seus moradores. Ao mesmo tempo, as agências internacionais de cooperação técnica criadas sob a égide do
desenvolvimento, das demandas da Guerra Fria e da política externa estadunidense, também tiveram atuação nas
favelas muitas vezes orientadas pelos mesmos princípios indicados no estudo da SAGMACS. Por outro lado, as políticas
remocionistas mobilizavam moradores e suas associações, bem como cientistas sociais, urbanistas e agências
internacionais. Assim como as habitações de baixa renda eram uma preocupação de entidades internacionais, as
remoções foram objeto de debates, ambiguidades e desacordos no âmbito institucional destas, resultando em uma
posição política indefinida e em um discurso com diversas nuances. Através da análise de documentos de agências
internacionais como Organização das Nações Unidas, Brasil Estados Unidos Movimento Desenvolvimento e

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Organização de Comunidade, Ação Comunitária do Brasil e Peace Corps Volunteers, bem como de notas de campo
produzidas pela rede científica formada em torno dos cientistas sociais Anthony e Elizabeth Leeds, este trabalho
mostrará as nuances envolvidas nas discussões obre as remoções levadas a cabo pelas agencias internacionais de
cooperação técnica que atuavam nas favelas.

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ST 12. Cultura Material: Perspectivas e possibilidades

ST 12 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Ecos da africanidade no Toque dos Sinos de São João Del-Rei/MG

Joyce Kimarce do Carmo Pereira (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais)

O Toque dos Sinos é uma tradição histórico cultural existente desde o “período colonial” brasileiro, a qual os sineiros
sobem no alto das torres das igrejas para realizarem os mais distintos toques no objeto sino. Cada toque tem uma
finalidade, dividindo-se em duas funções, a comunicativa, a qual os sinos ao dispararem informam a hora, notícias,
informações consideradas pertinentes e ainda convidam a comunidade para os festejos e solenidades; a festiva
religiosa, a qual contempla um emaranhado de toques específicos tocados em cada festividade. O estudo em questão
propôs averiguar a africanidade no toque dos sinos de São João del-Rei/MG. Como objetivos específicos pretende-se
traçar um panorama do cenário histórico cultural e festivo religioso do toque dos sinos da cidade, refletir sobre a
mediação e a valorização deste signo cultural e analisar como é assimilada a influencia africana nos toques são-
joanenses pelos sujeitos envolvidos no processo. A metodologia deste estudo é de caráter qualitativo, envolvendo
pesquisa bibliográfica e realização de entrevistas. A coleta de dados constatou a influência de matriz cultural africana
no toque dos sinos da cidade, uma vez que foi encontrada evidencias tanto nas pesquisas realizadas, quanto no
discurso dos sujeitos entrevistados, porém constitui-se como um tema que carece de valorização e discussões mais
aprofundadas. Aspectos como similaridade na estrutura dos toques dos sinos com os toques de terreiros de
candomblé; o uso das torres dos sinos como refúgio da opressão que viviam os negros que foram escravizados e a
simbologia dos toques enquanto elementos de resistência e resgate cultural para os negros, influenciando
sobremaneira na forma de tocar os sinos em Minas Gerais, são algumas das pistas observadas. Para os entrevistados
os toques são-joanenses são de raiz africana e carecem serem perpetuados a cada geração. O toque dos sinos
portanto, constituem-se como uma expressão humana social e cultural da cidade.

Sob o chão de São Joaquim: práticas funerárias de grupos africanos no rio de janeiro do século XIX.

Renata Nunes Alves (SME-RJ)

A Igreja de São Joaquim foi erguida em 1758 na Rua Estreita de São Joaquim, atual Avenida Marechal Floriano e sua demolição
deu-se no contexto das reformas urbanísticas, no Centro do Rio de Janeiro, empreendidas por Pereira Passos, em 1904, sendo
redescoberta com as obras para mobilidade urbana, em 2021. Durante as escavações, um conjunto de 32 remanescentes
arquitetônicos da antiga Igreja foi evidenciado, com destaque para as unidades estratigráficas [220] e [223]) onde foram
encontrados utensílios de uso cotidiano, inteiros, depositados, obedecendo um ordenamento, alguns com sedimentos em seu
interior, sugerindo intencionalidade na deposição dos artefatos. Esse contexto de deposição diverge de todo o restante da igreja
e a integridade e organização dos objetos e a sua localização próxima do altar-mor e sepulturas, sugerem tratar-se de uma área
ritual, com elementos semelhantes aos apresentados nos trabalhos sobre túmulos decorados e enterramentos de afro-
americanos nos Estados Unidos. O objetivo será o de analisar a presença de um ritual com elementos que remetem a rito fúnebre
vinculado a grupos de africanos escravizados ocorrido no interior de uma Igreja Católica e, por fim, a presença desse contexto em

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espaço de religião oficial oferece a possibilidade de pensar a dupla pertença religiosa de grupos africanos ao que Amaladoss (s/d)
chama de duplo pertencimento religioso, em outras palavras, os indivíduos podem relacionar-se com dois sistemas de crenças,
duas religiões, mas sem abandonar sua tradição religiosa, pois são vivências sociais e históricas distintas (AMALADOSS, s/d).

A construção da paisagem funerária no Languedoc Ocidental da Idade do Bronze Final e da Primeira Idade do Ferro

Thaís Rodrigues dos Santos

A região do Languedoc Ocidental é considerada privilegiada em relação a construção de necrópoles de cremação no


sul da França na proto-história. Nessa região, encontramos a necrópole de Moulin (Mailhac), com mais de trezentas
sepulturas datando do Final da Idade do Broze e da Primeira Idade do Ferro. Da mesma forma, encontramos a
necrópole de Agde, que data da Primeira Idade do Ferro, e nos concede mais de duzentas sepulturas para estudo.
Essas necrópoles apresentam grande quantidade de dados funerários concentrados em um local de passagem tanto
entre a Itália e a Península Ibérica, assim como do Mediterrâneo para o interior da França. A partir do estudo desses
casos, defendemos que podemos comparar e observar como diferentes comunidades ocupavam e apropriavam-se do
espaço funerário comum para a construção da sua memória, considerando-se tanto interesses particulares, assim
como práticas e crenças compartilhadas. Esse processo também vinculava-se a realização de performances rituais que
englobavam ações padronizadas, como a cremação dos mortos, mas também frequentemente inovações.

Arquitetura, Patrimônio e Cenografia no Design de Jogos.

Luiz Gustavo Martins Costa, Denise Damas de Oliveira Morelli (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

Este estudo tem como finalidade compreender as relações existentes entre a cenografia virtual dos videogames e os espaços
construídos do mundo real, por meio de traçar relações entre o processo de elaborar cenários detalhados, que colaborem com
a narrativa dos jogos e o estudo da paisagem urbana, questões patrimoniais e de conservação de edifícios históricos, que
permitem a esses produtos, oferecer experiências únicas e pautadas no mundo real. Ao longo desse artigo, será analisada a
importância da ambientação como ferramenta de imersão do usuário em narrativas, e como os cenários são instrumentos de
grande valor para alcançar esse objetivo em mídias visuais. Após estabelecido o mérito das estruturas em cena, o foco da
investigação é direcionado à evolução dessas estruturas nos videogames, até chegar ao ponto em que estão hoje; como elas
são definidoras de experiências durante o jogar, e como buscam conceitos habituais da relação homem/cidade,
homem/edifício e a conservação dessa paisagem urbana. A aplicação desse estudo consiste em elaborar espaços virtuais que
atendam às necessidades do uso dentro dos objetivos dos jogos, mas que também forneçam informações confiáveis sobre os
patrimônios em seu contexto, a fim de elucubrar sobre formas de impulsionar o interesse e o reconhecimento dos edifícios e
da morfologia das cidades como elementos importantes da história.

Uma história de longa duração da cachoeira do Teotônio (alto rio Madeira)

Thiago Kater Pinto (MAE-USP)

A proposta para esta apresentação é mostrar como certas paisagens podem ser encaradas como artefatos
arqueológicos, construídas ao longo do tempo através de diferentes relações entre o mundo biofísico e as sociedades

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humanas, a partir de lógicas próprias de ação, transformação e significação desses espaços. O acúmulo desigual dessas
experiências deixa marcas na paisagem que podem ser utilizadas pela Arqueologia como ‘fontes documentais’, a fim
de se identificar diferentes processos históricos e suas temporalidades. Como estudo de caso, apresento os resultados
das pesquisas arqueológicas realizadas no sítio Teotônio, localizado na margem da cachoeira homônima, no alto rio
Madeira (Porto Velho/Rondônia). A partir de uma perspectiva de longa duração, tendo como referencial o
protagonismo dessa cachoeira na história local, visto como um lugar significativo e persistente, pretendo discutir como
as diferentes ocupações no sítio se relacionaram com esse lugar ao longo dos milênios em que foi habitada e visitada.

A LEITURA DA MATERIALIDADE: alguns artefatos da escola

Micheli da Cruz Cardoso Tavares (SEB), Ana Cristina B. López M. Francisco (Pensi)

O presente trabalho tem como tema uma análise da cultura material de objetos de escola e de estudo, usados na
educação de crianças no século XIX, no que se refere ao significado, funções e valores sociais atribuídos a eles. A forma
de percepção dos objetos pode mudar de acordo com a forma como são entendidos nos diferentes grupos sociais,
sendo capazes de criar diferentes hábitos e costumes. A temática justifica-se à medida que traz à discussão a leitura
desses objetos correlacionando-os ao contexto histórico e social do local onde estão inseridos. O objetivo geral é o de
compreender a materialidade dentro do espaço escolar como uma construção que manifesta determinados discursos.
Em um plano mais específico, buscará refletir sobre as representações sensíveis produzidas em torno dos espaços e,
ainda, o modo de convivência e utilização. Os procedimentos metodológicos remetem a uma pesquisa qualitativa, de
acordo com Bassey (2003), André (2008), Meirinhos e Osório (2010) e Rocha (2016), essencialmente documental, que
tem como fonte principal as materialidades desde a arquitetura até todos os artefatos de uma escola do século XIX.
Como referencial teórico-bibliográfico, tomam-se os escritos de Escolano Benito (1998), Domínguez (2018), Bencostta
(2007), Viñao-Frago (1998). O estudo será finalizado apresentando que a cultura material escolar é um espaço rico
para o campo da história da educação onde seus artefatos, produtos da cultura escolar, são suportes de leitura e
carregam historicidade que contribuíram para o processo de escolarização ou de (des)colarização.

ST 12 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

A cultura material: a trajetória do objeto na História Cultural

Fred Rego Barros Pedrosa

Em nossa sociedade contemporânea estamos rodeados de objetos. Seus usos, manipulações, interações, atribuições
e valorações são dos mais diversos. Contudo, sua presença não é natural, sua existência possui uma intencionalidade,
consciente ou inconsciente, para o sujeito que o detém ou produz. Entendendo que os objetos da cultura material
possuem uma trajetória, contextos que foram criados e ressignificados, podendo ser realidades físicas para a produção
do conhecimento de uma determinada época. Os historiadores começaram a utilizar a cultura material como
documento em sua operação historiográfica. Este trabalho tem como objetivo analisar a trajetória de produções
historiográficas que utilizaram da cultura material como registro histórico. Partindo da renovação histórica proposta
pela Escola dos Annales até as produções mais atuais, mostraremos como a cultura material foi trabalhada e

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desenvolvida. Primeiramente, a cultura material foi operada de forma temática, tendo como principal fonte de análise
os registros textuais. Posteriormente, a cultura material foi utilizada como um diálogo entre a fonte escrita e o objeto,
sendo a segunda uma comprovação da primeira. E, por fim, os usos atuais, na qual a cultura material torna-se fonte
principal de análise dos historiadores da cultura material.

Consumo e Cultura Material: Perspectivas Antropológicas

Igor Mello Diniz (Cultura Inglesa S/A)

O presente trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões sobre como teorias antropológicas lidaram com os
temas do consumo, dos objetos e das trocas de presentes, em especial a partir das reflexões de Mary Douglas, Daniel
Miller, Arjun Appadurai e Marcel Mauss. A perspectiva adotada privilegia uma abordagem que permite vislumbrar o
circuito produção-distribuição-circulação-consumo ou, como sugeriria Douglas, ver o momento em que a cobra morde
a própria cauda, porém efetuando ainda uma crítica ao pensamento utilitarista na qual se baseiam teorias econômicas
liberais e neoliberais. A análise que se desdobra estabelecerá ainda uma pequena comparação entre dois momentos
etnográficos referentes a trocas cerimoniais, a saber: o Natal e um chá-de-panela - escolhidos por serem
representativos das indicações de Marcel Mauss em suas considerações sobre a dádiva e a reciprocidade. Por último,
far-se-á exposição de como essa perspectiva pode, ao nosso ver, se mostrar um caminho fértil para investigações
históricas, em especial daquelas que tenham cultura material como objeto de pesquisa ou como fontes de pesquisa.

Hospedaria de Imigrantes do Cristal (Porto Alegre, RS - Século XIX): considerações preliminares de um resgate
arqueológico

Maurício Clipes Cunha (Sophia Cultural), Vitória Giovana Duarte (SOPHIA CULTURAL), Toulouse Andrêas Santana
Schultz (Sophia Cultural)

O Brasil foi um dos principais receptores de imigrantes no continente americano a partir da segunda metade do século
XIX até 1914. Nesse período ingressaram no país mais de dois milhões de imigrantes, a maioria advinda da Europa. O
Rio Grande do Sul acolheu um contingente significativo de italianos, alemães, poloneses, entre outros. Nesse contexto,
os governos central e provinicial-estadual elaboraram políticas de recepção para os recém-chegados no território
brasileiro, como as hospedarias de imigrantes. Em Porto Alegre, foi criada a Hospedaria do Cristal, na zona sul da
cidade, ainda pouco estudada pela historiografia. Apesar da nomenclatura acolhedora, esses espaços intermediários
de circulação tinham por objetivo a triagem e a higienização desses sujeitos, considerando a florescência de ideias
médico-sanitárias alinhadas ao progresso urbanístico da capital. Este trabalho tem por objetivo apresentar os dados
iniciais do resgate arqueológico do sítio da Hospedaria de Imigrantes do Cristal (Sophia Cultural/IPHAN) ocorrido entre
novembro de 2020 e julho de 2021, assim como as conclusões preliminares a partir da leitura de autores da área de
cultura material e arqueologia urbana. Além dos artefatos arqueológicos resgatados, a metodologia de pesquisa
envolveu a consulta a reportagens em jornais regionais, com o recorte temporal sendo o período de funcionamento
da Hospedaria (década de 1890). Destaca-se a cultura material potencialmente trazida por imigrantes bem como
aquela relacionada à saúde, apresentando possibilidades de pesquisa que esses vestígios proporcionam.

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Pesquisa Arqueológica reescreve história da Ponta do Melo e descobre sítio arqueológico anterior ao descobrimento
da América (1434 – 1436)

Kelli Bisonhim (Sophia)

As escavações fizeram parte de uma pesquisa arqueológica preventiva realizada pela empresa Sophia Cultural,
coordenada pela Arqueóloga Me. Kelli Bisonhim, que buscou identificar na área a existência de sítios arqueológicos –
local onde foram encontrados vestígios da presença humana do passado. A pesquisa iniciou com o acompanhamento
da obra, tendo como finalidade verificar a existência de vestígios arqueológicos na área do empreendimento e avaliar
os possíveis impactos do mesmo em um local que poderia ter sido ocupado por uma civilização anterior a nossa. É
obrigatório através de leis federais e pela Instrução Normativa 01/2015 do IPHAN, que sejam realizados estudos
ambientais e arqueológicos em áreas onde serão implementados os empreendimentos. Esses estudos servem para
garantir a proteção de possíveis sítios arqueológicos que venham a existir no local, evitando assim a destruição e perda
de informação. Estes são feitos pelos arqueólogos, pesquisadores que estudam os objetos encontrados nos sítios
arqueológicos, e buscam encontrar objetos tais como: artefatos em rocha, cerâmicas, metais, ossos, ruínas e todo e
qualquer vestígio que possa ter sido produzido ou usado pelo homem no decorrer da história. É de responsabilidade
deles também registrar esses sítios, coletar, analisar e interpretar o material encontrado. Os sítios arqueológicos são
muito importantes, pois é através deles que se obtém informações da vida e cultura dos antepassados da humanidade.
Eles são considerados patrimônios arqueológicos, que são todos os bens materiais produzidos pelo homem no passado
e que servem de fonte de estudo no presente para conhecer e entender a história das populações que viveram no
local. Alguns deles também são patrimônio cultural, por representarem e expressarem a história de um povo e a sua
relação com o ambiente em que vivem.

REDE FÚNEBRES ENTRE CANANEUS E O EGITO ANTIGO - Uma análise das escavações do Israel Antiquities Authority

Paulo César de Souza

O Israel Antiquities Authority é uma entidade governamental responsável pelas escavações locais. Em 2017 a
descoberta de 67 tumbas em Jerusalém, datadas da Era do Bronze, lançou novas perspectivas quanto à cultura e
costumes funerários e seus intercâmbios. A arqueologia do sepultamentos está muito relacionada com a cultura
material do jeito de viver do que sobre a morte propriamente dita. Questões sobre posição social, costumes religiosos
e práticas coletivas de sepultamentos revelaram atitudes do passado e as relações de poder nas comunidades bem
como as relações conectivas entre cananeus e o Egito, permeando uma economia compartilhada através de um
intercâmbio funerário que fomentava o “kit da morte”, vivido no sentido da fertilidade agrícola, continuidade da vida,
e o fortalecimento com os deuses no processo de transição. Já na Era de Bronze, as sociedades ligadas às praticas
ritualísticas lidavam com a morte dentro de uma perspectiva do cotidiano e suas relações de poder – quase sempre
um poder divino que também era compartilhado com os mortais – e que permeava uma economia compartilhada
através de um intercâmbio funerário fomentado pelo multiculturalismo. É o que trataremos neste específico trabalho.

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Dispersão espacial das pinturas rupestres de antropomorfos de cabeça côncava na área arqueológica do seridó –
brasil

Nathalia Cristiny Silva Nogueira, Daniela Cisneiros (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)

Os registros rupestres fazem parte das diversas relações entre humanos intra e extra grupal. É possível definir
diferentes comportamentos refletidos nas representações gráficas, tais como rotas de passagem, territórios gráficos,
paisagens, entre outros. Trata-se de uma identidade gráfica, representativa, disseminada culturalmente e
materializada nos paredões rochosos. Para um estudo imerso na cultura gráfica dos grupos pré-históricos que
habitaram determinadas regiões ou nichos ecológicos, a primeira etapa de uma pesquisa consiste na caraterização
dos grafismos e no geoposicionamento desses comportamentos gráficos. A área arqueológica do Seridó está localizada
no nordeste do Brasil entre os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba. A partir de pesquisas arqueológicas
iniciadas na década de 1980, foram evidenciadas expressões gráficas pintadas singulares na região, essas
representações levaram a uma caracterização mais particularizada para os grafismos da área, denominada subtradição
Seridó. Essa subtradição, entre outras características, possui uma particularidade de representações antropomórficas
com cabeças côncavas, também denominadas cabeça de castanha de caju. A pesquisa em tela tem por objetivo a
identificação e a dispersão espacial dos sítios que apresentam essas representações rupestres na Área Arqueológica
do Seridó. Através dos dados obtidos foram identificados nichos arqueológicos que apresentam similaridades gráficas
e de localização entre os antropomorfos de cabeças côncavas, denotando identidades gráficas vinculadas a essas
representações, ao seu posicionamento espacial e a análise paisagística. Com os dados obtidos, foi possível perceber
que apesar da Área Arqueológica ter uma ampla espacialidade territorial em termos de registros rupestres, apresenta
pouca dispersão gráfica em relação aos antropomorfos de cabeça côncava, estas estão concentradas na sub-bacia do
rio Carnaúba.

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ST 13. Da Independência ao Modernismo: imagens e narrativas na perspectiva da História
Cultural (1822-1922)

ST 13 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

A Imperial Ordem da Rosa - terceira e última ordem do império

Fernanda Mirabelli Sampaio Lima

Com o propósito de firmar um novo ciclo de seu governo, na ocasião de seu segundo casamento com a princesa Amélia
Augusta Eugênia Napoleona de Leuchtenberg, D. Pedro I instituiu a Imperial Ordem da Rosa, seria a terceira e última
do império brasileiro. Se tratava de um período conturbado, muitos brasileiros não depositavam a sua confiança no
imperador e entendiam que o mesmo logo deixaria os interesses de Portugal falar mais alto. A IOR traz consigo todo
um simbolismo de nacionalidade e fidelidade ao imperador e à nação, certamente uma comenda que se tornou
cobiçada entre os indivíduos da sociedade de corte no Rio de Janeiro como também nas demais províncias, sejam por
intelectuais ou por combatentes de guerra ou até mesmo por proprietários de localidades que serviram de interesses
comuns ao Império. Este objeto se tornou famoso pela sua beleza e por ser uma ordem com características únicas, se
destacaria entre as demais ordens honoríficas do Brasil Império. Apesar de ser instituída por D. Pedro I, a IOR se tornou
conhecida e obteve grande número de concessões com D. Pedro II.

Na pena de Maria Graham, a escrita sobre a Confederação do Equador-1824.

Denise Maria Couto Gomes Porto

O presente trabalho, tem como objetivo investigar a intrigante participação da escritora inglesa Maria Graham na
Confederação do Equador. Em setembro de 1824, quando ela retornou ao Brasil pela terceira vez para assumir na
corte de D. Pedro I o seu posto de governanta da princesa primogênita D. Maria da Glória, Mrs. Graham encontrou o
porto de Recife bloqueado pela Esquadra Imperial. O motivo da cidade estar sitiada, deu-se pelo acirramento das
disputas políticas entre as forças do governo centralizador do Rio de Janeiro, e das reivindicações federalistas
defendidas pelas províncias conflagradas da Confederação do Equador. Neste sentido, a pedido do amigo Almirante
Lord Cochrane, comandante da Esquadra Imperial, e, por quem Maria Graham tinha grande admiração e estima, a
escritora aceitou intermediar um importante diálogo diplomático com o chefe da rebelião, no sentido de convencê-lo
a render-se às forças imperiais, juntamente com suas tropas confederadas. Esta relevante passagem da História da
Independência, foi detalhadamente descrita por Maria Graham na obra de sua autoria, Escorço Biográfico de D. Pedro
I. Nesta perspectiva, a problematização deste estudo contemplará, sob as lentes metodológicas da microanálise de
Carlo Ginzburg, uma abordagem biográfica e comparativa das fontes, de forma a estabelecer paramentos
interpretativos, que correlacionem as análises desta passagem que foram elaboradas por autores clássicos da
historiografia da Independência, a exemplo de nomes como os de Oliveira Lima e Evaldo Cabral de Mello, ao relato
descritivo e autoral de Maria Graham quanto à sua participação no episódio.

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De Pavilhão do Distrito Federal a Museu da Imagem e do Som: da celebração do passado à projeção do futuro (1922-
1965)

Gabriel Cheleiro Justino

Em 1922, o Brasil comemorava o primeiro centenário de sua independência de Portugal, realizada em 07 de setembro
de 1822. Para marcar essa efeméride, o governo brasileiro organizou uma exposição internacional para projetar-se às
outras nações de acordo com uma concepção europeia de modernidade, superando definitivamente o seu passado
colonial. A escolha do Rio de Janeiro para a realização dessa exposição deve-se a sua condição de capital federal, a
cidade mais conhecida internacionalmente e principal eixo político-cultural-econômico do Brasil. Em 1965, o edifício
destinado ao pavilhão do distrito federal é entregue ao público como Museu da Imagem e do Som, como parte das
comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro, após o prédio passar por reformas para se adequar às
instalações museológicas exigidas. Nossa apresentação tem como objetivo analisar o contexto da Exposição
Internacional de 1922 e das comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro, tomando como objeto o
antigo pavilhão do distrito federal, originalmente criado como representação de um país moderno e, recuperado, na
condição de museu, como um “lugar de memória” de um Rio, capital da modernidade brasileira.

Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda: A construção do modernismo nas revistas Klaxon e Estética

André Augusto Abreu Villela (SEE/MG)

Este trabalho tem como pretensão analisar a Semana de Arte Moderna de 1922, através dos periódicos modernistas,
principalmente através das Revistas Klaxon e Estética. A primeira paulista, capitaneada pelo intelectual Mário de
Andrade, já a segunda pelos jovens modernistas Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes, neto, na cidade
do Rio de Janeiro. Lançadas durante a chamada “fase heroica” do modernismo, serão importantes na construção e
estabelecimento da Semana de Arte Moderna, sendo Klaxon a primeira dessa leva, que duraria de 1922 a 1923, já
Estética lançada posteriormente no ano de 1924, que perduraria por apenas três volumes. O ponto central do artigo
é estabelecer uma ponte entre essas duas cidades, desconstruindo a narrativa paulista de “marco canônico” do
modernismo brasileiro, segundo a leitura de Mônica Pimenta Velloso, e estabelecendo um diálogo entre Mário de
Andrade e Sérgio Buarque de Holanda através das correspondências trocadas entre ambos, entre o período de 1922
a 1944, como bem abordou Pedro Meira Monteiro. Como bradou Sérgio Buarque e seu amigo Prudente de Moraes,
neto, “Modernismo não é escola, é um estado de espírito”. Segundo François Sirinelli, os intelectuais são produtores
de bens simbólicos, mediadores culturais e atores do político, relativamente engajados na vida da cidade ou nos locais
de produção e divulgação do conhecimento e de promoção dos debates. Para o autor, os lugares onde se fermentam
esse ideário de sociabilidade e de redes são muitas vezes cafés, bares, revistas, editoras, correspondências, livrarias
entre outros. Nesse ponto, Sirinelli dá uma atenção especial à revista, pois segundo ele, a revista é antes de tudo um
lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, e pode ser,
entre outras abordagens, estudada nesta dupla dimensão. Como cita Tânia Regina de Luca: “A ambição de toda revista
é modelar seu próprio tempo”.

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ST 13 – 18/10 – Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Erudito ou intelectual? A construção do personagem do tupinólogo e da língua tupi (1900-1959)

Mareana Barbosa Gonçalves Mathias da Silva (PPGHIS - UFRJ)

O trabalho tem como objeto a análise de dois tupinólogos: Rodolpho Garcia, membro da Academia Brasileira de Letras
e Rodolfo Garcia, membro da Academia Paulista de Letras e primeiro professor de tupi na recente Universidade de
São Paulo, a qual ajudou a fundar. Por meio da história das representações, pretendemos demonstrar como diferencia-
se a figura do inventariador da história, o erudito - representado por Garcia - e a institucionalização e especialização
do personagem do tupinólogo como essencial para a criação de uma determinada História do Brasil, calcada no índio
e no bandeirante; e é claro, na língua tupi. O representante desta passagem é Plinio Ayrosa, especialista da língua tupi
e que se preocupa quase que exclusivamente com a sua área de pesquisa e com a institucionalização dela. Por meio
da análise de suas trajetórias e seus escritos, o objetivo é, por meio da História cultural, avaliar as ressignificações do
passado colonial ao mesmo tempo que avalia-se o surgimento de um novo personagem para recriá-la: o especialista,
o intelectual.

Cataguases: cidade patrimônio da modernidade.

Rosângela de Mendonça Guimarães

A proposta do artigo tem por objetivo discutir as relações do modernismo e a cidade de Cataguases em Minas Gerais.
Cataguases, localizada na Zona da Mata Mineira, se diferenciou de outras cidades situadas na mesma região. A história
da cidade remonta ao início do século XIX e conheceu em meados do mesmo século, a cidade consegue a sua
prosperidade graças a economia cafeeira. Pouco depois, a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina alcançou o
munícipio e o trouxe um grande desenvolvimento socioeconômico a Cataguases que se transformou em um local de
comercialização e de embarque de todo o café produzido na região. Logo nos primeiros anos do século XX, Cataguases
alcançou a industrialização. Primeiro instalou-se ali a Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina e a Fábrica de
Fiação e Tecelagem. A cidade se urbanizou. Tudo isso contribuiu. Nos anos de 1920, Cataguases é palco de um ciclo
de cinema. Ali, Humberto Mauro e Pedro Comello e sua filha Eva Comello - Eva Nil - enveredaram nas produções
cinematográficas. O cinema por si só já nasceu moderno. A sétima arte encontrou em Cataguases terreno fértil para
as produções de Mauro. E o cineasta mineiro, seguiu por esse caminho por toda a sua vida. Cataguases abrigou
também o movimento literário modernista capitaneado por um grupo de jovens literatos que publicaram a Revista
Verde. Essa revista obteve repercussão nacional e circulou de 1927 a 1929. Na década de 1940, Cataguases abrigou o
ciclo de arquitetura e de artes modernistas. Residências, monumentos, praças, equipamentos como cinema e escola,
entre outros, deram à Cataguases Assim, Cataguases se tornou um laboratório modernista que se estendeu da década
de 1940 a 1960. A relação de Cataguases com o modernismo, principalmente com a arquitetura moderna teve seu
reconhecimento, ainda que tardio, com o tombamento das principais obras, em 1994 pelo Instituto do patrimônio e
artístico nacional, em 1994.

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Reflexos de um projeto de nação imaginada: as práticas culturais da Força Expedicionária Brasileira (1944-1945)

Florence Alencar Moreira (Pesquisa)

As práticas culturais da Força Expedicionária Brasileira (1944-1945) são fruto de um projeto de nação imaginada,
almejado em muitos períodos da história brasileira. Se, desde 1822 pensava-se na unificação social do Brasil, o jogo
político desencadeou fatores para a ascensão de Getúlio Vargas em 1930 e para a construção do Estado Novo (1937-
1945). Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao lado dos Estados Unidos da América, foi
estruturada a FEB – mesmo sem recursos disponíveis para tal feito. Sob a ótica da “nova história” é possível delimitar
um panorama da “história vista por baixo”, entrelaçando as perspectivas da antropologia e sociologia, com a “história
das mentalidades”, “nova história militar” e “nova história cultural”, debatendo temas importantes como o popular,
a religiosidade e as manifestações culturais dos soldados. Foram analisados os estudos de Burke (2008), Ferraz (2012),
Hobsbawm (1995), Le Goff (1996), Pereira (2021), Pollack (1989), Schwarcz (2018) e Vainfas (1997). Ainda, foram
analisados os relatos de Silveira (1997), a canção “Minha Homenagem” ao Regimento Sampaio (1966), e, de maneira
inédita na historiografia, a carta do combatente brasileiro João Ribeiro da Silva, censurada pelo Serviço Postal da FEB.
De cunho qualitativo e descritivo, a pesquisa documental delimita os resultados para uma ressignificação do
sentimento de pertencimento à Pátria, expresso pelo combatente brasileiro.

Imprensa e Comportamento Feminino: Jornal das Moças no Rio de Janeiro

Antonia da Silva Machado (UNIG - Universidade Iguaçu)

O trabalho apresenta uma investigação historiográfica sobre a imprensa e o comportamento feminino no rio de janeiro
na primeira metade do século XX. Neste contexto, o documento de pesquisa é o Jornal das Moças, em decorrência da
sua postura fortemente conservadora, tendo lugar de destaque pelo contraponto que representa em relação a um
processo de transição entre a tradição e a modernidade, diante do papel da mulher na sociedade brasileira. A pesquisa
busca analisar através dos dados históricos os comportamentos familiares, econômicos e culturais presentes nos
discursos desta publicação feminina nesse período, destacando noções de independência, modernidade e tradição.
diante de um período especificamente de mudanças em vários aspectos, curiosamente a revista Jornal das Moças atua
na imprensa sendo um contraponto ao movimento. Assim, pesquisar as fontes possibilita uma reflexão sobre esse
embate editorial e social considerado retrógado. As referências bibliográficas utilizadas como fundamentação teórica
tem como base os seguintes autores: Carla Bassanezi Pinsky, Cláudia Mesquita e Mary Del Priore, Ana Paula Goulart e
documento histórico a revista Jornal das Moças (1914-1965).

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ST 14. Da urbanidade, do humano e da democracia: o que podem nos contar nossas
cidades?

ST 14 – 19/10 – Terça-feira (13:30 às 15:30)

Um anseio de mudança: um literato brasileiro e sua expectativa do vir-a-ser (1870-1890)

Jéssica Ramalho Crispiniano (Bolsista)

Através da literatura, da imprensa e da disseminação de ideias pela rua (por meio de discursos, debates e leituras) é
possível identificar um anseio de mudança. Em seu trabalho, Mello identifica a agência do povo e dos intelectuais
tendo como palco a rua que ajudava a ampliar o alcance de ideias presentes nos diversos suportes da escrita. A autora
aponta para importância das relações sociais que se dão no espaço da cidade do Rio de Janeiro, em especial na Rua
do Ouvidor. Assim como Sevcenko (1999) em sua obra entende a literatura como o horizonte de futuro do escritor,
ou seja, como a possibilidade do vir-a-ser apresentada em forma de produção literária, outros estudiosos, tanto da
literatura quanto da história, passaram a avaliar o que está “por trás” da criação de uma obra literária. Como lembrado
por Bosi (2006) temas como a abolição e a República seriam fulcro do ideário do homem culto brasileiro desde 1870.
Formulações desenvolvidas por Comte, Taine, Spencer, Darwin e Haeckel circulavam no meio literário. É possível
encontrar rastros dessas apropriações nas obras literárias? De que maneiras essas ideias se conectam a formação de
uma cultura política? Qual era o papel dos literatos enquanto agentes politicamente engajados? Esse trabalho busca
promover uma reflexão a respeito dessas questões, focando especificamente na obra de Aluísio Azevedo, e na
expressão de seu pensamento. Foram selecionados alguns valores e ideias que ajudaram a dar corpo ao processo de
desenvolvimento dessa cultura republicana no Brasil. Esse trabalho parte da hipótese de que algumas tendências
voltadas para um dito cientificismo como o pensamento positivista se misturaram a obra de Aluísio Azevedo,
demonstrando o seu vir-a-ser. Esse pensamento assim como outras ideias que circulavam no período aponta também
para a forma como Aluísio Azevedo enquanto literato nutria expectativas para a nação e como sua obra era também
a expressão de um engajamento político.

Saboreando a cidade de Manuel Querino: explorações em torno da relação entre comida, cidade e civilização

Marcelo Coelho Oliveira

Este trabalho insere-se em uma exploração inicial acerca da relação entre comida e a sociabilidade urbana da Salvador
da virada do século XIX para o século XX. Mais do que identificar os atores em torno da alimentação em função de
hierarquias sociais ou de qualquer categoria rígida, pensa-se ser possível, a partir da comida, atravessar relações
complexas, acessar imaginários e compreender aspectos de projetos civilizatórios em disputa. Em um contexto de
reformas urbanas (realizadas no governo de J. J. Seabra, 1912-1916), em uma república ainda buscando se
compreender como nação (e apresentar-se como nação civilizada/embranquecida), Manuel Querino (1851-1923),
intelectual negro de importante participação no movimento abolicionista, escreve “A arte culinária na Bahia”.
Publicada postumamente em 1928, tratava-se de obra pioneira sobre a presença africana na culinária do recôncavo
baiano. Ao enunciar sobre o fazer culinário, Manuel Querino, mais que simplesmente constatar um fato social, elevava

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esta culinária ao estado de arte e de elemento civilizatório central da sociedade soteropolitana – civilização na qual
entendia que a população negra merecia lugar de destaque. Pretende-se partir da leitura desta obra de Querino, bem
como de outros escritos do autor, para iniciar a construção de um olhar sobre a relação entre culinária afro-brasileira
e projeto de civilização em uma sociedade em ebulição social, política e urbana como o Brasil da primeira República.

Higienismo, Urbanismo e Sanitarismo na Curitiba do século XIX: A Construção do Cemitério Municipal São Francisco
de Paula (1854 a 1856)

Aline Marinez Luciane Beatriz Andrea Ferreira dos Santos (PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná)

O presente artigo discorre sobre a construção do Cemitério Municipal São Francisco de Paula (1854 a 1856), e
apresenta as concepções sobre a história do urbanismo, higienismo e sanitarismo no Brasil, mais especificamente, na
capital Paranaense. Para a investigação do tema, a pesquisa recorre ao exame da documentação oficial: os relatórios
dos presidentes da província do Paraná (Zacarias de Goés e Vasconcelos e seu vice-presidente Beaurepaire Roham)
entre os anos de 1854 a 1856, com o objetivo de delinear as intenções políticas dos administradores, que estavam por
detrás da construção do Cemitério Municipal extramuro em Curitiba, e que utilizaram das recomendações da medicina
higienista e sanitarista do século XIX como argumento para as novas mudanças urbanas na cidade. Além disso, a
pesquisa também visa evidenciar o imaginário da população curitibana do período que se trata, frente às mudanças
na prática do sepultamento. Dessa maneira, foi possível explorar a história da necrópole com o objetivo de revelar
elementos que foram essenciais para a construção da memória da sociedade curitibana, e de suas práticas ritualísticas
de sepultamentos, que hoje conhecemos.

A cidade é o campo: o football na contramão do progresso.

Mayara de Araujo Silva (Instituto The Master)

Este trabalho pretende pensar a própria cidade do Rio de Janeiro a partir do futebol, mas não o praticado pelos grandes
clubes cariocas, mas sim nas ruas da capital. A popularização do esporte na cidade, gera a proliferação de práticas em
vias públicas nas diferentes regiões. Como é de conhecimento, a então capital do país, já no final do século XIX começa
a passar por transformações, tanto na economia como na cultura e no espaço urbano. O reordenamento urbano
perpassa tanto pela clara intenção das autoridades em excluir e afastar pobres do centro da cidade, como no interesse
em inserir novos hábitos a partir de uma noção burguesa de modernidade. O futebol introduzido na cidade durante
este período, com sua popularização, alcança as ruas e aos poucos vê seu sentido sendo modificado. Ao passo que,
homens e jovens, transformam os espaços públicos em grounds, fazem do futebol um elemento responsável por
contrariar as ideologias que legitimam as investidas do Estado durante o século XX. Logo, o presente trabalha busca
entender como as reclamações em torno do futebol praticado nas ruas, expostos pela imprensa entre 1910-1919,
possibilitam pensar as mudanças ao qual a cidade vem sendo submetida e as diferentes ressignificações do espaço,
mesmo com a forte política de controle social. O jogo nas ruas se relaciona diretamente com as noções de
modernidade que vêm sendo pensadas e impostas a partir do autoritarismo estatal.

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O fechamento do presídio da Ilha Grande: das primeiras tentativas de desativação até a implosão do presídio (1960-
1994)

Rosileide Ribeiro de Melo Souza (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Em 1994, o final do segundo mandato do governador Leonel Brizola marca o fim de uma era de presídios na Ilha
Grande. Mas, por que em meio à escassez de vagas nos presídios o governador Brizola desativou aquela instituição?
Seria uma atitude voluntariosa de marcação de posição política ou a desativação já teria sido projeto de gestões
anteriores? O início desta pesquisa prevê o enfoque no episódio da desativação do Instituto Penal Cândido Mendes.
Este acontecimento foi o ponto de partida para as inquietações desenvolvidas nesse estudo. Porém, esta decisão
governamental tem significado para além de uma rotina gerencial de destruir e construir prisões. O Instituto Penal
Cândido Mendes (IPCM) importa menos por seu valor material como patrimônio arquitetônico penitenciário do que
por seu valor simbólico, como registro de uma era. O presídio localizado em Ilha é um modelo institucional
penitenciário nos moldes do pensamento de uma época, quando as ilhas eram entendidas como região natural para
o confinamento de indesejáveis ao meio urbano. A gestão penitenciária, nos primórdios de sua sistematização no
Brasil, recomendava este modelo de confinamento em Ilhas. O presídio na Ilha [conforme a filosofia penitenciária que
foi empregada] foi o retrato de uma era penitenciária, da qual, este registro [as ruínas, o Museu existente e pesquisas
sobre tema] vale como uma prova do passado, que um modelo democrático não deveria se valer mais.

ST 14 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Emancipações municipais e instrumentalização do espaço urbano (Santa Rosa/RS, 1953-1963)

Maira Eveline Schmitz (IFFarroupilha - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha)

A vida política brasileira se inscreve nas cidades, tanto pelo fato de os principais lugares de atuação pública se
localizarem no espaço urbano, quanto por serem os municípios as unidades base de governo local. Historicamente,
apesar dos termos cidade e município já serem utilizados, foi com a República que surgiu o conceito de “autonomia
municipal”, pautado na eletividade da administração e no peculiar interesse local. Especificamente, foi na década de
1940 que os municípios adquiriram proeminência no sistema federativo, alcançando sua autonomia administrativa e
contando com uma incorporação da renda com o Fundo de Participação dos Municípios. O contexto democrático pós-
regime ditatorial de Vargas, ainda, marcou uma nova realidade econômica, caracterizada pela modernização
industrial, em especial, na agricultura e pelo fortalecimento do Setor Terciário. Isto contribuiu para a concentração
populacional nas áreas urbanas, estimulando uma conjuntura propícia à criação de novas cidades, pela expectativa da
oferta real ou simbólica das facilidades da vida urbana. O artifício legal da criação de municípios, por meio das
emancipações, teve maior frequência nos períodos democráticos – décadas de 1950 e 1960 e após 1988 –,
retrocedendo nos governos autoritários. Nesta direção, pretende-se pensar o papel das emancipações nos usos
políticos do território e do espaço urbano, refletindo sobre sua possível instrumentalização no sentido de ampliação
da cidadania e da participação popular. Para tanto, analisar-se-á o caso de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, cidade
que, entre os anos de 1953 e 1963, fragmentou-se e deu origem a nove outros municípios. Ressalta-se que a Lei de
Divisão Territorial do Estado, naquele período, determinava que todo pedido de emancipação deveria partir da

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comunidade local, além de ser aprovado em plebiscito. Isto não impediu, contudo, que os processos servissem de
barganha política e oportunidade de ascensão de grupos e pessoas específicos.

Ditadura Civil-Militar, desenvolvimento econômico e urbanização - diferentes escalas de 10 anos de expansão do


mercado imobiliário niteroiense (1970-1980)

Ademas Pereira da Costa Junior (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Conciliando uma linguagem abrangente com a análise de elementos pontuais que exigem maior atenção, esta pesquisa
apresenta, em diferentes escalas, a materialização da expansão do mercado imobiliário niteroiense. Se lança mão de
uma narrativa de síntese, a fim de explicar o momento de início dessa expansão até sua chegada no segundo distrito
da cidade, Itaipu, então uma zona rural, ao final da década de 70. Sem perder de vista que esta expansão foi a
manifestação local de um projeto de modernização capitalista que se realizou sob um regime autoritário, o artigo se
concentra no caso do empreendimento da Veplan-Residência para Itaipu. Com o apoio da prefeitura, militares e um
ex-ministro do planejamento, João Paulo dos Reis Veloso, esta empresa loteou uma extensa área litorânea,
oferecendo casas de alto padrão para, como citavam os jornais, “a primeira comunidade planejada do Brasil”. A
apresentação da pesquisa irá introduzir um panorama das questões que moviam a sociedade e a política brasileira no
momento anterior à consolidação da urbanização, levando em consideração os momentos e os motivos que
antecederam o golpe -civil-militar. Em seguida apresento uma reflexão sobre o fenômeno da urbanização do ponto
de vista das ações do regime militar para promovê-la, sem se perder de vista as ações do governo para financiar e
promover o mercado de habitações, explico a dinâmica do mercado imobiliário na formação de um tipo de padrão de
consumo excludente orientado para atender as necessidades das classes médias. Em seguida apresento aspectos a
nível local, nacional e global, que levaram o mercado imobiliário niteroiense da ascensão a sua crise em menos de 6
anos, visando explicar como a expansão para o então Distrito de Itaipu foi uma visto pelo poder público como uma
“solução urbanística”. Por ultimo, apresento o caso de participação de um ex-ministro como diretor de um
empreendimento de alto padrão em Itaipu-Niterói, que resultou na fundação de um bairro de classe.

“Joga pedra na Geni”: as representações sociais sobre as cidades e sua constituição imaginária.

Eliana Kuster (IFES - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo)

Tão importante quando entender a cidade em suas feições concretas, é desenvolver uma compreensão dos seus
aspectos subjetivos. Se considerarmos válida a colocação de Cornelius Castoriadis, quando afirma que a nossa
sociedade é produto de uma instituição imaginária, podemos mesmo entender a formação da cidade de concreto
como decorrente dessa outra cidade, que vai ser constituída, anteriormente, em nossas mentes. Essa instituição
imaginária nos gera valores, estabelece prioridades, define o que vale e o que não vale no chamado “mundo real”.
Pretendemos, aqui, investigar sobre alguns dos meios através dos quais essa cidade imaginária se estabelece, finca pé
em nossas percepções e influencia nossas ações na cidade cotidiana, para a qual saímos todos os dias atravessados
por ela: a cidade que existe em nossas mentes. Em seu livro “As cidades invisíveis”, Ítalo Calvino nos fala de Ercília, a
cidade que deixou para trás a sua materialidade. O que restou em Ercília foram os fios que estabeleciam as suas
relações subjetivas. O que propomos aqui é um exercício semelhante: desnudar a cidade material para entrever
através de quais fios ela se estrutura.

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A tradução imagética dos desejos das cidades nas obras de Alberto Manguel e Ítalo Calvino.

Giovana Zimermann

Quais são as histórias que contamos para saber quem somos? As histórias podem esclarecer, iluminar, apontar
caminhos, mas algumas precisam ser inventadas, mesmo que seja, para acalentar nossa alma. Em busca das verdades
bíblicas, sobre o Dilúvio de Noé, um jovem curador britânico encontra As tabuletas de Gilgamesh, trata-se de um
poema épico, que promove o encontro do rei injusto Gilgamesh com o homem selvagem ingênuo Einkidu, na cidade
de Uruk. Mas o que ela, a cidade, nos conta? Segundo Alberto Manguel (2008), Gilgamesh, versa sobre a história de
uma cidade e a história de um homem, traduzidas em palavras, no esforço de imaginar a vida em comum na cidade.
Ítalo Calvino imagina um diálogo fantástico entre Marco Polo e o imperador Kublai Khan, e como na obra Mil e Uma
Noites, de Sherazade, Polo vai descrevendo de forma imagética sua visão das 55 cidades por onde passou. Calvino
(1990), lembra que uma cidade é como um sonho, mas que os sonhos escondem desejos e medos, porém, mesmo
assim, em sua obra As cidades invisíveis (1972), o escritor reitera a necessidade de se escutar a cidade, pois elas
acreditam ser obra do espírito ou do acaso, mas sabem que isso não basta para sustentar suas muralhas. Destaca
Calvino que mais importante do que suas sete ou setenta maravilhas, são as resposta que elas nos dão às nossas
perguntas. Em qual medida a união entre as civilização artificiosa e o mundo natural se converte em história da própria
cidade? Emoldurando suas aventuras tanto Manguel quanto Calvino, encontram elogios para as cidades. Manguel
sugere, ainda, que escutemos os visionários, os poetas, os romancistas, os ensaístas e os cineastas, porque eles
redigiram, sonharam e contaram histórias sobre a vida nas cidades, e essas artes complementares, são pistas, que dão
voz a nossa percepção da realidade, podem ao final, nos contar quem somos.

Pintando a cidade. Intimidades a céu aberto

Robert Moses Pechman (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional/ UFRJ)

Não há sociedade sem pactuação, não há cidade sem urbanidade, não há convivialidade sem interdição, não há
encontro sem afetação. A vida social se estrutura no e pelo Pacto que em cada momento histórico se atualiza e marca,
e é marcado, pelo imaginário dominante. Ancorado nessa premissa me ponho a refletir sobre como a cidade se
estrutura para acolher encontros e afetos; fundando um certo sistema de orientação para evitar que nos deparemos
com o caos que tornaria as existências, social, urbana e afetiva, impossíveis. É nesse sentido que vou analisar diferentes
representações sobre os vínculos na metrópole que se impõem no campo das artes, fazendo das palavras e das
imagens sementes que fazem brotar cidades. Se a cidade é mesmo o lugar do humano, o lugar do encontro e, por isso
mesmo, o lugar do impulso em relação ao outro, a cidade é, inexoravelmente, o buraco da fechadura por onde
podemos vislumbrar os encontros urbanos, para o bem ou para o mal. O ensaísta e crítico literário Octávio Paz em seu
livro “A dupla chama: amor e erotismo” já havia entrevisto a intensa relação entre a poesia e o erotismo. Segundo
este, a relação entre erotismo e poesia é tal que se pode dizer que a primeira é uma poética corporal, e a segunda
uma erótica verbal. Exteriorizada na cidade, essa articulação irá possibilitar-nos capturar algo de sua atmosfera
convivial, que optei por fazê-lo, não a partir de sua textualidade, mas por sua poética visual presente nas imagens do
encontro, da sociabilidade, da urbanidade, da afetividade e do erotismo, propiciadas pela pintura. Ou seja, quer-se
submeter a cidade à dicção imagética para que ela exprima e conte, pelas imagens, aquilo que a palavra não alcançou
descrever.

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ST 14 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Horror e Cidade: narrativas contemporâneas do medo

Suelen Caldas de Sousa Simião

Recentemente, uma série de filmes que trazem como protagonista ou pano de fundo a cidade (ou a fuga dela), tem
se apropriado do gênero de horror e suspense para a construção das suas linguagens narrativas. Na Argentina, alguns
filmes jogam com diversas figurações do medo que se dá a partir da construção de muros físicos e simbólicos e de
sistemas de vigilância. O medo, no entanto, não se restringe às situações dentro dos condomínios e parece permear
todos os ambientes. No Brasil, há também uma produção expressiva especialmente a partir de diretores como Kleber
Mendonça Filho, Juliana Rojas, Marcos Dutra, Sérgio Bianchi, dentre outros. Dessa forma, tem-se identificado uma
espécie de nova categoria do horror film, a de “horror social”, que no caso dos filmes do Kleber Mendonça Filho, por
exemplo, aparece para expressar conflitos sociais e raciais que pareciam “pacificados” pela cordialidade. No contexto
do viver urbano atual, e é importante ressaltar que esses filmes são atados ao tempo presente ou ao tempo do
pensamento, o discurso sobre a violência e a insegurança urbana perpassa diversas esferas e é potencializado pelo
papel desempenhado pela mídia em retratar ou enfatizar dados. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é pensar
narrativas fílmicas contemporâneas que, ao se apropriarem de elementos ligados ao gênero de horror e suspense para
expressar a cidade, quebram a ideia de perfeição projetada para as bolhas urbanas e, ao mesmo tempo, colocam em
discussão conflitos sociais que pareciam apaziguados por uma aparente harmonia de classes, ou ainda a ideia de que
a violência se dá apenas na cidade. A hipótese central é que os filmes se apresentam não apenas como expressão, mas
sintomas de uma espécie de cidade (des)encontrada configurada no âmbito da crítica à implementação de políticas
neoliberais e do aumento do discurso sobre a violência urbana, instituída numa nova lógica espacial.

Narrativa urbanas: Salvador pela ótica da pandemia

Liliane Vasconcelos de Jesus (UCSAL - Universidade Católica do Salvador)

A falta convivência com o concidadão nos espaços públicos, o medo de se contaminar com o vírus SARS-CoV-2
transformou as maiores cidades do mundo no verdadeiro vazio em 2020. O isolamento social tornou-se a regra
principal adotada pelos governantes dos grandes centros urbanos do Brasil contra ameaça invisível da covid 19, dentre
elas Salvador que a partir de março adotou medidas e protocolos contra a crise sanitária vigente. Sobre este momento,
várias narrativas foram criadas para relatar e dar visibilidade ao momento pandêmico que vivenciamos nos últimos
tempos, dentre eles destaca-se a literatura e a produção do audiovisual como uma das diversas formas de registro e
produção de imagens e visibilidade da cidade soteropolitana na pandemia. Nesse sentido, o trabalho busca analisar
as imagens de Salvador representadas nas crônicas de Lorena Grisi (2020) e na série de curtas intitulado “ Dias
contados: o diário do coronavírus” de Chico Kertesz (2020). Como forma de expressar esse fenômeno ou até mesmo
de buscar perceber os diversos muros sociais mais visíveis na pandemia, Essas narrativas representam e produzem
Salvador a partir de espaços interditados pela presença do coronavírus e como os moradores se relacionam com eles.
A fim de alcançar esse resultado, o trabalho elege a mirada dos Estudos Culturais, que investem nos diversos contextos
da cidade enquanto texto, bem como em uma ótica multidisciplinar, alicerçada nos estudos urbanos em momentos
de pandemia.

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A força das narrativas da cidade sobre os indivíduos

Felipe Dias Ramos Loureiro (prefeitura)

A cidade em que vivemos não é a mesma da de nossos pais e avós. Enquanto esses experimentaram o aprofundamento
da modernidade, hoje nos deparamos com a pós-modernidade. Nessa perspectiva, este artigo objetiva compreender
algumas modificações da cultura urbana brasileira ao longo dos processos de transformação da cidade moderna,
manejando como recorte algumas práticas e dispositivos pedagógicos vinculados em massa. A emergência do que
chamamos de ordem urbana no Brasil se deu no final do Império. Nessa época, os “Manuais de civilidade” tiveram
importante papel, apresentando normas de etiqueta e padrões adequados de sociabilidade. Tal conteúdo se
consolidou no mercado editorial, mudando de formato e abordagem, mas mantendo seu viés pedagógico: focado em
ensinar boas maneiras de viver na cidade. Ao longo do século XX, surgiram diversas revistas que também cumpriram
essa função, como por exemplo, a publicação “Claudia”, cujo primeiro exemplar é de 1961. Entretanto, já na dita pós-
modernidade, tais edições foram perdendo relevância, dando lugar a outras mídias e formatos e, em última instância,
como os “Coachs” e seus discursos. Reconhecendo em tais documentos e práticas a presença de um projeto
pedagógico vinculado a algum ideal de sujeito, considera-se a noção de Biopolítica de Foucault. Assim como, o conceito
de “Bovarismo”, trabalhado por Maria Rita Kehl, que diz sobre as possibilidades dos sujeitos se conceberem
diferentemente do que são. Afinal, a afirmação da personalidade individual é parte essencial da cultura moderna.
Logo, a partir do que a ordem urbana tenta ensinar, tentaremos compreender como ela tem se transformado.

A espetacularização da vida em uma sociedade do desempenho: o que o corpo fala e não escutamos?

Natasha da Silva Fernandes

Se no início da vida é comum que façamos indagações, a partir de quando deixamos de questionar? Por que as crianças
passam a frequentar as escolas tão cedo e qual é o impacto dessa mudança? Esses questionamentos direcionaram
esta pesquisa ao pensamento Foucaultiano acerca da sociedade disciplinar e a necessidade de educá-las conforme a
lógica do capital. A disciplinalização dos nossos corpos em dóceis e a fabricação de modelo de um indivíduo tem
provado o que o filósofo Byung Chul Han nomeou de sociedade do cansaço. Assim, as facilidades da vida moderna nos
liberta ou nos aprisiona? É cada mais comum o sentimento de esgotamento físico e mental. A angustia por não ter
sido ou feito o suficiente, ainda que tenha trabalhado ou estudado o dia inteiro. Ou até mesmo o contrário, sentir-se
cansado, mesmo que não tenha feito nada, apenas passado longas horas rolando o feed de notícias nas redes sociais.
Isso se dá, porque já não é mais necessário um agente externo para explorar a mão de obra e conceber ao patrão,
aquilo que Karl Marx denominou de mais valia. No mundo contemporâneo, o sujeito do desempenho é senhor de si
mesmo e, sendo seu próprio soberano, é submisso a ele mesmo. Contudo, isso não significa que há predominância da
liberdade, mas que a mesma divide espaço com a coação. Nesta Era da produtividade e da “espetacutalarização da
vida”, o que se ecoa é a realização individual mascarada de autoexploração. Na sociedade multitarefada em que Eliane
Brum denominou de “exaustos, correndo e dopados”, as identidades são transformadas em empresas, as quais
desencadeiam doenças como ansiedade, depressão, síndrome de burnout e transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade – TDAH. Assim, o que os nossos corpos-máquinas gritam que nós, "seres humanos de telencéfalo
altamente desenvolvido e polegares opositores" insistimos em não escutar?

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Da topografia do terror ao gabinete do ódio: quando a palavra envenena a cidade

Stephanie Mesquita Assaf (IPPUR/UFRJ)

Topografia do Terror é um memorial dos terrores vividos durante o período nazista (1933 – 45), localizado na cidade
de Berlim. Uma vez em que, nessa região, ficavam os prédios que abrigavam a sede da Gestapo, e da SS, de onde
irradiava muito da violência desse regime. Foi nesse lugar que se construiu o núcleo operacional da “inteligência”
nazista. Muito se discutiu sobre a importância da propaganda para propagação dos ideários nazistas. Acrescento ao
debate as percepções do filólogo judeu-alemão Victor Klemperer que viveu na Alemanha esse período. Klemperer
examinou como tal ideologia penetrou na sociedade alemã, sobretudo pelo uso da linguagem que se espalhou e
envenenou as cidades, contaminando a vida cotidiana. Não por acaso, usarei a metáfora do envenenamento para
tentar decodificar alguns aspectos do que acontece nas cidades brasileiras atualmente. Observa-se um avanço
expressivo de formações associadas às extremas direitas, como de referências nazifascistas, inclusive circulando em
altos escalões do estado. Para além disso, os usos de elementos discursivos foram reconfigurados, especialmente pela
fábrica de linguagem operada pelo Gabinete do Ódio. O Gabinete do Ódio é o principal centro de “inteligência” do
governo federal brasileiro atual, creditado como importante elemento de sustentação desse agrupamento no poder.
Diferente da Topografia do Terror, as bases físicas desse maquinário não têm localização conhecida. Provavelmente,
suas bases estão fragmentadas ao longo de estações e servidores não mapeáveis. Palavras, discursos, e narrativas,
especialmente aqueles que são associados a grupos em posição de poder, nos contam muito das cidades. Nesse
sentido, pensar as cidades a partir da Topografia do Terror e do GdO nos impele a observar não a sua materialidade e
grandiosidade urbanística; mas sim, sobre os usos da linguagem, principalmente através do seu entortamento, e de
distorções dos acontecimentos.

ST 14 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Rondonópolis: a cidade e o agronegócio 1970-1990

Odemar Leotti (UFR- Universidade Federal de Rondonopolis)

A proposta dessa comunicação, tem como proposta colocar como problema a questão das cidades que sofreram com
a ocupação do capitalismo no campo, a provocação de um êxodo rural que irá inchar os seus espaços periféricos,
causando sérios problemas sociais e culturais. onde predominou a prática agrícola do agronegócio. Ao expulsar os
trabalhadores do campo, faz desaparece as pequenas e médias propriedades que garantiam uma cadeia cultural
alimentar, que os mantinham no espaço rural, sem necessidade de migrar para a cidade. Esse ato reflete na questão
do consumo nestas cidades pois essas agriculturas forneciam mantimentos agrícolas à cidade e consumia os
implementos de suas necessidades. Esse acontecimento, que aparece nas falas de sua população mais originária como
a vinda dos “fazendeiros do Sul” demarca para eles a ruptura com um tempo roubado e é possível sentir a dor desse
lamento pela perda desse elo cultural. A cidade daí em diante perde sua característica de relação cidade/campo
tornando o espaço urbano um lugar de seu padecimento. Daí seu paradoxo: uma população que padece carente de
referência cultural tornando um amontoado de moradores sem a mínima perspectiva de vida saudável. A dissolução
dos laços culturais rurais de um lado e a falta de perspectiva para seus descendentes, abre caminho para a violência e
extermínios dos jovens da periferia que passa a serem vistos como símbolos da violência na cidade. Esse aspecto

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alimentado pela mídia local coloca a política do agronegócio não como causador da desintegração da cultura local,
mas como exemplo de progresso. Essa comunicação é fruto de um projeto de pesquisa que ora estamos
desenvolvendo com o intuito de ouvir a cidade sobre sua memória e sobre sua história.

Unidade de vizinhança de Brasília: uma releitura de seu significado, limites e possibilidades de (re)qualificação

Maria de Fatima Magalhães Mariani (SEEDF)

O objetivo deste artigo é analisar limites e possibilidades da unidade piloto de vizinhança tendo como ancoragem a
literatura existente sobre a história e a experiência de unidade de vizinhança no projeto urbanístico de Lúcio Costa.
Dentre os conceitos significativos no debate acerca das superquadras residenciais de Brasília estão “isolamento” e
“exclusão” na relação com preservação da intimidade e tranquilidade de habitar. Limitações e possibilidades integram
a experiência de unidade de vizinhança em Brasília na opinião de sujeitos que convivem na superquadra. Dentre os
limitadores destacam-se espaços vagos em dias de feriado e no final de semana, violência, falta de estacionamento,
grande barulho, grande mobilidade de carros e pedestres em função dos eventos no eixo principal. Por outro lado, as
escolas públicas, estação de metrô, proximidade de unidades de saúde pública e particular, comércio, locomoção e
oportunidade de trabalho destacam-se como aspectos favoráveis. O artigo permitiu compreender com mais clareza o
conceito de unidade de vizinhança e sua relação com a cidade de Brasília, bem como serviu de incentivo para continuar
pesquisando a respeito do tema.

As lutas dos catadores de materiais recicláveis e dos moradores da Favela Cidade de Deus em Campo Grande-MS

Higor Cirilo da Costa, Maria Lúcia Torrecilha (UFMS)

A precariedade do trabalho e da habitação fundiram-se num mesmo espaço, em Campo Grande. De um lado do
Macroanel Viário ficava o Lixão (hoje convertido em Aterro Sanitário), onde os catadores de materiais recicláveis
trabalhavam, do outro a Favela Cidade de Deus, onde parte desses catadores moravam, junto com outras pessoas.
Ambos estão inseridos no Bairro Lageado, marcado por desigualdades socioespaciais, tendo um dos piores indicadores
socioeconômicos da cidade e com infraestrutura urbana precária. O bairro recebe e processa os resíduos sólidos
urbanos de toda a cidade e tem o maior percentual de pessoas negras na população. Em dezembro de 2012 houve
uma tentativa de fechamento do Lixão, sem que fossem garantidos postos de trabalho aos catadores que ali
trabalhavam, o que foi respondido com manifestação. Poucos dias depois, a segunda versão da Favela Cidade de Deus
tinha início com a ocupação de um terreno ao lado de onde a anterior havia sido removida, os barracos eram precários,
de materiais reaproveitados. Uma decisão judicial garantiu uma área de transição para os catadores continuarem suas
atividades. A luta organizada dos moradores foi fundamental para garantir o acesso à serviços públicos básicos, como
escola e saúde, bem como à energia elétrica, e resistiram a uma tentativa de remoção. Sem diálogo prévio, num espaço
de 7 dias, a Prefeitura Municipal mobilizou um grande aparato policial para primeiro fechar o Lixão, impedindo que o
catadores continuassem a trabalhar, e segundo para remover as mais de 400 famílias da favela, levando-os para novas
áreas sem habitações e infraestrutura urbana, entregando a eles apenas lona e pregos para montarem novos barracos.
Os moradores da favela ainda hoje se mobilizam para terem suas habitações construídas. A trajetória dos catadores e
dos moradores da favela é de muitas lutas, resistências, de (re)afirmação de sua territorialidade, permeados por muita
solidariedade.

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A relatividade fotográfica e o espaço-tempo como porta de acesso à cidade: visualidade e isolamento no paradigma
virtual.

Arthur Peluso Gomes

Este artigo apresenta reflexões acerca da possível emergência de uma nova sensibilidade sobre a cidade
proporcionada pelo surgimento e consolidação do paradigma virtual. Busca também refletir sobre como tal mudança
de paradigma opera em variáveis fundamentais tanto na história quanto na fotografia [tempo e espaço]; como
influenciam na produção e na recepção da imagem fotográfica digital, assim como sobre as possibilidades
proporcionadas pelas novas tecnologias nos estudos urbanos. Para tal, é realizado um breve estudo comparativo a
partir da análise histórica do processo da câmera escura e seus códigos em relação à sua apropriação contemporânea
por artistas como o cubano Abelardo Morell em sua famosa série Camera Obscura, como por Bruno Alencastro na
série Obs-cu-ra produzida durante o período de quarentena e o isolamento social devido a pandemia do novo
coronavírus. Busca-se compreender como a linguagem e a técnica fotográfica em conjunto com a visualidade digital
seriam capazes de proporcionar um acesso à dimensões espaço-temporais da cidade assim como acerca de seu
imaginário.

Entre cumbias, saltenhas, bugigangas, cataratas e vacinas. As cidades das trocas na fronteira Brasil- Bolívia.

Rachel Tegon de Pinho (UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso)

Em abril de 2021 o mundo ainda permanecia em estado de alerta por conta da pandemia do Covid-19, principal causa
de um número chocante de óbitos e infectados e ainda que em muitos países a vacinação contra a doença já ocorresse
em ritmo acelerado, para a maioria de nós brasileiros a vacinação possuía ainda o efeito de uma miragem,
considerando a falta de aquisição de vacinas por parte do governo federal. E foi neste período que sites de notícias
locais noticiaram um aumento incomum de brasileiros residentes em Cáceres/ MT, cidade pantaneira localizada na
região sudoeste do estado, na cidade boliviana de San Mathias com o objetivo de vacinarem-se contra o Covid-19. A
busca de brasileiros por algum tratamento de saúde na pequena cidade boliviana não é novidade. Em 2007, cerca de
quatro mil brasileiros procuraram consulta e cirurgia para catarata realizada por médicos cubanos, no único hospital
da localidade de forma gratuita. Distantes uma da outra cerca de 70 kms, a presença de bolivianos no cotidiano do
lado brasileiro ronda a paisagem citadina há tempos, da mesma forma como observa-se a presença de cacerenses na
pequena cidade boliviana, em ambos os casos motivados por interesses diversos, seja para o abastecimento de
gêneros e/ou serviços. Esta constatação nos remete imediatamente a cidade de Eufêmia, cidade portuária descrita
por Marco Polo ao Imperador Kubain Klan com seu comércio frenético, ainda que ofereça sempre os mesmos produtos
e também nos colocam em contato com peculiaridades da cidade de Cloé, também descrita pelo viajante genovês. E
é sob a inspiração destas cidades que voltamos nosso olhar para compartilhar algumas reflexões sobre as relações de
troca entre moradores de Cáceres e San Mathias e seus desdobramentos na musicalidade, na culinária, nas expressões
verbais e na busca por serviços de saúde.

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ST 16. Dimensões do Regime Vargas e seus desdobramentos

ST 16 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Os comunistas e o varguismo: a posição do Partido Comunista do Brasil (PCB) perante a ditadura de Getúlio Vargas
(1930-1945)

Érick Fiszuk de Oliveira

O Partido Comunista do Brasil (PCB) foi fundado em 1922, como uma confluência das lutas sociais que continuavam
desde a década anterior, da crise no movimento operário que levou à crítica radical das práticas anarquistas e
sindicalistas predominantes e das esparsas notícias, vindas pelos grandes jornais, sobre as Revoluções de Fevereiro e
Outubro de 1917 que derrubaram a monarquia na Rússia. A década de 1920 também ficaria marcada pela crise política
e econômica da Primeira República brasileira, regime caracterizado pelo domínio dos grandes produtores de café de
São Paulo e Minas Gerais e pelos acordos de cúpula entre as elites estaduais que decidiam a sucessão presidencial,
com eleições diretas grandemente fraudadas e de escassa participação popular. Em 1922 e 1924, ocorreram levantes
militares no Rio de Janeiro e em São Paulo que combinavam reivindicações corporativas com desejos de moralização
republicana, tiveram forte repercussão política e levaram a um endurecimento da repressão policial sobre o
operariado. Em 1930, a Aliança Liberal, frágil coligação política de oposição às oligarquias dominantes, concorreu à
presidência da República com o nome de Getúlio Vargas, ex-governador gaúcho e ex-ministro das Finanças do
presidente Washington Luís, mas perdeu para o paulista Júlio Prestes, candidato apoiado pelo governo. Em outubro,
uma insurreição armada das oligarquias dissidentes com amplo apoio popular levou Vargas ao poder, inaugurando um
regime unipessoal autoritário e modernizante, de caráter anticomunista e que, após sucessivas fases, duraria até 1945.
O objetivo desta comunicação é levantar questões relativas à atitude ambígua do PCB face às revoltas da década de
1920, à precoce rejeição da “Revolução de 30” como um ajuste oligárquico, à perseguição que sofreu sob Vargas e à
aliança antifascista com o regime em sua fase final (1943-45).

Percursos da anistia no Regime Vargas (1930-1935): entre a reabilitação política e o aproveitamento administrativo

Raphael Peixoto de Paula Marques (IDP), Rafael Lamera Giesta Cabral (Universidade Federal Rural do Semi-árido -
UFERSA)

A pesquisa tem como objetivo analisar o debate ocorrido sobre a anistia durante o Governo Provisório (1930-1934) e
a Assembleia Constituinte de 1933-1934. Parte-se do pressuposto que o instituto da anistia foi um importante
instrumento de disputa política e jurídica do período, servindo como um instrumento para selecionar quem seria
“perdoado”. As fontes primárias utilizadas na pesquisa incluem documentos legislativos e administrativos, as atas de
reunião da Subcomissão do Itamaray, os anais da Constituinte de 1933-1934, bem como o trabalho da Comissão
Revisora instituída pelo Decreto n. 254, de agosto de 1935, criada para analisar os pedidos de aproveitamento
administrativo. Partindo das discussões políticas e das demandas pela anistia feitas pelos atingidos por atos do
Governo Provisório, o trabalho procura identificar a forma e as razões das anistias concedidas durante o período, bem
como identificar as metáforas, imagens e representações construídas em torno dessa medida político-jurídico.

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Quem vigia os vigilantes? As investigações da Polícia Política do Estado Novo em 1943

Tadeu Alencar de Azevedo Sant'ana Lemos

Este trabalho tem por objetivo apresentar, a partir da análise do relatório anual produzido pela seção de segurança
social da DESPS/RJ em 1943, as investigações da Polícia Política do Distrito Federal e seus métodos para acompanhar
e vigiar de perto os movimentos sociais durante o Estado Novo. Mais especificamente, identificar as mudanças
provocadas pelo contexto da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, na maneira como os investigadores e a
própria instituição policial enxergavam a atuação política de variados setores da sociedade civil brasileira. Dentre eles,
estudantes universitários organizados na recém criada União Nacional dos Estudantes (UNE), sindicalistas e
organizações como a Liga da Defesa Nacional e a Sociedade Amigos da América. A agenda política de 1943, em grande
parte voltada para as campanhas do esforço de guerra, traz interessantes eventos para serem destrinchados - de um
carnaval com a temática da guerra até uma semana antifacista com o julgamento simbólico do Integralismo e seu líder
Plínio Salgado. O trabalho busca, desta forma, aprofundar as discussões a respeito da política de União Nacional em
torno de Vargas, os efeitos da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial e a relação entre o Estado Novo, sua
Polícia Política e a sociedade civil no início da década de 1940.

ST 16 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

O Jornal católico “O Legionário” e a relação com a ideia de sindicatos durante o I governo de Getúlio Vargas

Jéssica Thaís de Oliveira (Colégio Futura Geração)

Durante o I governo de Getúlio Vargas (1930-1945) ocorreu a implementação do decreto 19.770, a unificação dos
sindicatos de forma oficial, a Lei Sindical de 1931. Com ela, os diversos e plurais sindicatos existentes no Brasil tiveram
que se reorganizar. A Igreja Católica, envolvida com a questão trabalhista no Brasil, vê-se prejudicada frente a
construção de sindicatos com bases católicas. Uma das formas de relacionar com o povo leigo – algo incentivado
durante a retomada da Ação Católica no Brasil – era através da fomentação de sindicatos em bases católicas. Para
isso, através das leituras das encíclicas papais Rerum Novarum (1891) e Quadragesimo Anno (1930) - primeiras
encíclicas a tratar diretamente da questão social que surgia no mundo - a Igreja Católica no Brasil respalda-se para a
organização da relação com o operariado brasileiro. Situação visível no jornal “O Legionário”. O presente trabalho é
oriundo da dissertação de mestrado em andamento. O intuito do trabalho é o de mostrar a presença de assuntos
trabalhistas – tais como o sindicato – no jornal católico “O Legionário”, dirigido por Plínio Corrêa.

Do aparecimento à recepção: as representações sobre o Mensario do Jornal do Commercio (1938) e o seu projeto editorial

Raphael Ribeiro Machado (Universidade Federal de Ouro Preto), Alice Lopes Spindula (Mestranda em Educação),
Rosana Areal de Carvalho (Universidade Federal de Ouro Preto)

Nossa proposta de estudos está inserida no tema da educação enquanto fenômeno social durante os anos do Estado
Novo. Inquieta-nos, precisamente, os meios pensados, produzidos e utilizados para concretizar o ato educacional. Um

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deles foi o Mensario do Jornal do Commercio, publicado entre março de 1938 e setembro de 1946, totalizando 99
volumes. Atuamos sob a hipótese de que o Mensario foi fruto de uma estratégia político-cultural da empresa liderada
por Elmano Cardim - diretor geral do Jornal do Commercio (RJ) e sócio da Rodrigues & Co.- para participar diretamente
dos desígnios nacionais por meio da produção intelectual estabelecida no contexto de leitura, retórica discursiva e de
formação de uma nova nacionalidade. Nosso objetivo reside na análise comparativa entre a proposta inicial do
Mensario do Jornal do Commercio, contida no anúncio de seu “aparecimento” e as representações que diferentes
sujeitos fizeram sobre o primeiro volume no primeiro mês de circulação. Metodologicamente, privilegiando a pesquisa
realizada na Hemeroteca Virtual da Biblioteca Nacional, lançamos olhares junto da história da imprensa, do impresso,
do livro e da leitura, tratando nossa fonte/objeto enquanto lugar de produção, recepção e difusão de diferentes
matrizes de pensamentos sociais, culturais, econômicos e políticos. Percebemos como os intelectuais do contexto
leram o Mensario, categorizaram-no e entenderam sua função social em diferentes espaços de sociabilidades
brasileiros. Tomamos o Mensario como suporte da escrita de intelectuais no processo de produção da cultura nacional,
sob os auspícios da educação e da formação do novo homem brasileiro, apto para vivenciar o tempo do Estado Novo.

Faces de uma mesma moeda: reportagens do repórter político Murilo Melo Filho nas revistas Maquis e Manchete
(1956-1959)

Caio César Cuozzo Pereira (CAPES)

As revistas Maquis e Manchete apresentavam linhas editoriais aparentemente antagônicas. Enquanto a primeira foi
criada em 1956 como uma instituição de oposição ao governo Juscelino Kubistchek, a segunda atuou dando
publicidade em matérias jornalísticas ao projeto desenvolvimentista de JK, principalmente a construção de Brasília.
Na redação de ambas trabalhava o repórter político Murilo Melo Filho, jornalista que construiu uma extensa carreira
no campo da imprensa do Rio de Janeiro no período. Em função disto, o presente artigo pretende comparar as
reportagens escritas por Murilo Melo Filho nas revistas Maquis e Manchete objetivando reunir indícios que auxiliem
a corroborar a hipótese que sustenta que o lugar de onde se fala foi determinante para estabelecer diferenças em
como se constrói a escrita das reportagens produzidas pelo jornalista nas duas revistas. Em memórias sobre o período,
prevaleceu o seu trabalho pela revista de Adolpho Bloch na construção da idealização dos “anos dourados”.

ST 16 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

O incêndio na Cinemateca Brasileira e o debate sobre a produção audiovisual. A importância das imagens do
cinejornalista João Carriço na preservação do projeto trabalhista e nacionalista de Vargas

Renata Venise Vargas Pereira (Centro Universitário UniAcademia)

O incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira (29/07/21), na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo,
traz à cena o descaso governamental com a memória audiovisual do país. Ainda não há como dimensionar as perdas,
que incluem filmes nacionais produzidos entre 1920 e 1940, período que coincide com a produção do cineasta
juizforano João Gonçalves Carriço (1886/1959). Os cinejornais do mineiro estão no acervo da Cinemateca. O incêndio
renova as discussões sobre a importância do audiovisual como fonte de pesquisa no campo historiográfico. Em se

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tratando de Carriço, são deles as principais imagens do cotidiano de Juiz de Fora, feitas a partir da década de 1920. O
diretor filmava o dia-a-dia político, econômico, cultural e social da cidade, produção que ainda engloba fotos que
permanecem no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. João Carriço ganhou destaque em todo o país, ao produzir
cinejornais de circulação nacional. O mineiro, objeto do levantamento biográfico que vem sendo elaborado na tese de
doutorado em História, na Universidade Federal de Juiz de Fora, era proprietário do Cine Theatro Popular, e da Carriço
Film, produtora cinematográfica – cujo acervo encontra-se na Cinemateca. Foi responsável nos anos de 1930, 40 e 50,
pelos cinejornais exibidos no país. Entre as abordagens, práticas esportivas, festas religiosas, militares e populares,
além de acontecimentos políticos testemunhados por Juiz de Fora. Foram 23 anos de trabalhos ininterruptos
registrando temas inseridos no projeto trabalhista e nacionalista de Getúlio Vargas. O cinejornalista defendia acesso
à diversão como direito à cidadania e adotou os lemas: “filme que passa para um, passa para cem” e “Cinema do povo
para o povo”. Uma característica da produção audiovisual de 1930/40 era influenciar a adesão aos ideiais do Estado
Novo. O slogan da produtora impacta até hoje pelo efeito subjetivo: “Carriço Film, tudo vê, tudo sabe, tudo informa”.

Roberto da Silveira e o trabalhismo fluminense (1946-1961)

Andressa Cristina de Miranda do Carmo

Roberto Teixeira da Silveira (1923-1961) foi o principal nome do trabalhismo no antigo estado do Rio de Janeiro,
durante o período da primeira experiência liberal democrática no Brasil (1946-1964). Silveira ingressou no Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1946. Antes disso, tinha ajudado a fundar à ala jovem do Partido Social Democrático
(PSD), apoiando o então interventor Ernani do Amaral Peixoto (1905-1989), chegando a participar ativamente da
campanha presidencial de Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Entretanto, Silveira desligou-se do partido por ver-se mais
alinhado a política trabalhista do PTB, mais também por ser um grande admirador do ex-ditador Getúlio Vargas (1882-
1954), principal nome do partido. Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo problematizar a trajetória política
de Roberto da Silveira que dentre os diversos cargos que exerceu na política fluminense estão: vice-governador (1955-
1958) e governador (1959-1961). Vale ressaltar que sua trajetória está intrinsecamente ligada ao crescimento eleitoral
do PTB no antigo estado do Rio. Antes da sua trágica morte, em fevereiro de 1961, Silveira já era apontado como um
dos principais herdeiros de Vargas, havendo grandes expectativas com relação ao seu futuro político.

A condição das operárias grávidas na Fábrica Tacaruna a partir dos arquivos das Juntas de Conciliação de Recife/PE
(1951-1955)

Manoela Ferrari Leite

O presente trabalho analisa a condição das mulheres operárias na Fábrica Tacaruna apresentada em ações judiciais
trabalhistas arquivadas na Junta de Conciliação e Julgamento de Recife/PE entre os anos de 1951 a 1955. Os arquivos
judiciais se constituem como fontes riquíssimas de análise das condições de trabalho de uma época. A Fábrica
Tacaruna – também nomeada como Companhia Manufatora de Tecidos do Norte – no período estudado demonstrou
uma infeliz prática comum entre as indústrias de demissão de operárias grávidas em estado avançado de gravidez,
sem o pagamento da licença-maternidade previsto em art. 393 da CLT/1943. Os arquivos trabalhistas das Juntas de
Conciliação e Julgamento estão arquivados em laboratório na universidade federal de Pernambuco – o Laboratório de
História e Memória mantém a salvaguarda de mais de 200.000 processos judiciais em conjunto com o Tribunal

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Regional do Trabalho da 6ª Região desde 2004. E em análise do período estudado e utilizando-se da metodologia da
História Serial foram encontrados diversos processos judiciais em desfavor da Fábrica Tacaruna contestando
demissões de operárias grávidas sem o devido pagamento da licença maternidade, deixando-as desempregada e sem
qualquer tipo de amparo financeiro em um período tão delicado, sob a lógica do capital de que essas mulheres
representavam dispêndio para as fábricas, e que apesar de serem maioria nas indústrias têxteis desde o início da
industrialização brasileira são consideradas mão-de-obra descartável.

Por uma definição brizolista do brizolismo

Laura Vianna Vasconcellos

O brizolismo renasce como força política abertamente quando o golpe de 2016 derrubou Dilma Roussef do poder. É
quando a Campanha da Legalidade é evocada politicamente para mobilizar a resistência da sociedade civil diante do
golpe travestido de impeachment. Antes disso, porém, a figura de Brizola foi sendo restituída aos poucos, até alcançar
atualmente um patamar quase mítico. Praticamente todo o campo da esquerda idolatra Brizola como líder.
Entretanto, o brizolismo por sua intelectualidade segue sendo um grande enigma, porque vai de encontro à ideia que
preconceituosamente o constitui: um líder nascido da prática política, mas sem grandes formulações ideológicas. É
bem verdade que o brizolismo se define didaticamente a posteriori do fato político, mas isso não significa ausência de
ideias ou corpo doutrinário. Apresentam-se aqui definições de grandes intelectuais do brizolismo para destituir aquela
máxima preconceituosa: Paulo Schilling, Theotônio do Santos e Moniz Bandeira, - este mais janguista que brizolista.
Noutra ponta, o brizolismo enfrenta outra dificuldade: tendo sido interrompido na sua força política pelo golpe de
1964, muitas vezes ele é retratado de maneira seccionada. Ou é fenômeno gaúcho dos anos 1960, ou nasce como
expressão popular nos governos de Brizola no Rio de Janeiro. O exílio é um abismo. Entretanto, pela trajetória de
Schilling, o brizolismo pode ser entendido em todo o seu fluxo de sentido, como um fenômeno de longa duração. Foi
no desterro que Schilling teve acesso à intelectualidade dos países vizinhos, fundamentando nesse encontro as bases
do nacionalismo revolucionário. O exílio, nesse sentido, é uma janela de acesso à América Latina, o que faz do
brizolismo a ideologia brasileira mais latino-americana das nossas esquerdas.

ST 16 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Indígenas, militares e agentes do SPI: presença estatal, políticas tutelares e a nacionalização da fronteira Brasil-
Guiana Francesa (1934-1939)

Benedito Emílio da Silva Ribeiro (Museu Paraense Emílio Goeldi)

Este trabalho analisou e problematizou as políticas e ações tutelares projetadas pelo Estado brasileiro na fronteira
entre Brasil e Guiana Francesa, no período de 1934 a 1939, visando sua nacionalização e ocupação efetiva como forma
de controle do fluxo de pessoas nessa região limítrofe e, portanto, de segurança nacional. Para tanto, focalizou-se
casos envolvendo a gestão espacial, social e econômica direcionada aos povos indígenas na região e efetivadas pelo
Serviço de Proteção aos Índios (SPI), como a tentativa de transformar os grupos "selvícolas" locais em "guardas de
fronteira" e as ações para consolidar a presença do SPI nesses espaços de "sertão" do norte amazônico. Pontuou-se,

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ainda, as formas da agência indígena lidas a partir da documentação oficial, e enriquecida com as análises
antropológicas, para dimensionar as mediações, estratégias e territorialidades construídas, e acionadas, pelos Galibi-
Marworno, Karipuna, Palikur, Wayãpi, Wayana e Teko (os quais hoje vivem na Guiana Francesa). Para o estudo,
utilizaram-se as fontes escritas e imagéticas do acervo microfilmado do SPI, 2ª Inspetoria Regional, as quais trazem à
tona dinâmicas erigidas a partir do contato com o outro e das práticas e discursos projetados, percebendo a
complexidade dos processos de negociação e agenciamento gestados diante dessas ações de dominação tutelar. Os
episódios analisados revelaram um rol de estratégias adotadas pelos povos indígenas da fronteira Brasil-Guiana
Francesa para viver, existir e r-existir sob os padrões de assentamento, trabalho e presença estatal direcionados pelos
agentes do SPI. Logo, a pesquisa somou-se ao leque de estudos já realizados sobre os povos indígenas nas Guianas,
trazendo como foco o século XX - e especificamente o contexto do primeiro regime Vargas - e revelando o dinamismo
desse quadro de relações interétnicas na Guiana indígena no período em questão.

Um balanço das ações do ministério de Salgado Filho: a Exposição de Aeronáutica, de 1944

André Barbosa Fraga (Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro)

Getúlio Vargas criou, em 20 de janeiro de 1941, o Ministério da Aeronáutica e as Forças Aéreas Nacionais, mais tarde
chamadas de Força Aérea Brasileira (FAB). Para não provocar atritos desnecessários entre o Exército e a Marinha, caso
optasse por colocar para presidir a pasta recém-lançada o membro de uma dessas instituições, o chefe de Estado
escolheu um civil: o gaúcho Joaquim Pedro Salgado Filho. A opção por ele deve ser explicada tanto por tratar-se de
alguém da confiança do presidente quanto por sua extensa experiência política e administrativa, uma vez que,
formado em Direito, havia sido ministro do Trabalho, Indústria e Comércio (1932-1935), deputado federal (1935-1937)
e ministro do Supremo Tribunal Militar (1938-1941). Salgado Filho ocupou o cargo por quase cinco anos (1941-1945),
nos quais desenvolveu uma série de medidas que transformaram profundamente o setor aéreo brasileiro. O objetivo
deste trabalho é analisar uma exposição voltada exclusivamente à navegação aérea montada pelo Ministério da
Aeronáutica em 1944, a qual serviu como uma espécie de prestação de contas do ministro a respeito das atividades
exercidas por sua pasta.

A proteção do patrimônio científico brasileiro no governo Vargas (1933-1945) : o Conselho de Fiscalização das
Expedições Artísticas e Científicas no Brasil como estudo de caso.

Everaldo Pereira Frade (MAST)

No presente trabalho pretendo refletir sobre o papel do Estado na defesa do patrimônio científico brasileiro,
discutindo a regulamentação de atividades e a criação e/ou reformulação de órgãos públicos voltados para a
salvaguarda dos recursos minerais, da fauna, flora e povos originários, considerados como estratégicos no projeto de
desenvolvimento científico/cultural/industrial defendido por Getúlio Vargas. Como estudo de caso, destaco o papel
do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil (1933-1968), órgão fiscalizador de diversas
atividades realizadas ou intentadas por cientistas, artistas, comerciantes e, eventualmente, aventureiros, nacionais e
estrangeiros, que se interessaram por percorrer o território brasileiro buscando pesquisar sua fauna, flora, povos,
paisagens e manifestações culturais. O Conselho, apesar das dificuldades estruturais e da missão hercúlea para qual
foi criado, conseguiu acompanhar numerosas expedições que adentravam no país. Através do arquivo do Conselho,

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cerca de 10 mil documentos, hoje sob a guarda do Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências
Afins, é possível acompanhar os bastidores das expedições, desde o licenciamento até a liberação da exportação dos
artefatos e exemplares da fauna e flora para o exterior, além de obter informações sobre as viagens e as relações de
intercâmbio entre instituições nacionais e do exterior. O Conselho não impediu a saída para o exterior da totalidade
do que foi recolhido pelos cientistas/expedicionários, mas sua ação de fiscalização resultou em diversas apreensões
de objetos, artefatos indígenas e exemplares da fauna, flora e minerais que iriam enriquecer as coleções e pesquisas
de diversas instituições científicas brasileiras. Analisar a atuação do Conselho é essencial para a compreensão do
desenvolvimento da ciência e das instituições científicas no Brasil e da política protecionista implementada por Vargas
no seu governo.

Percepções populares sobre a política familiar estadonovista nas cartas para Getúlio Vargas (1937-1945)

Mayra Coan Lago (Universidade de São Paulo)

Durante as décadas de 1930 e 1940, Getúlio Vargas recebeu milhares de missivas de “pessoas comuns” de todas as
partes do Brasil. Elas foram lidas, encaminhadas a outros Ministérios pelos funcionários estatais e respondidas pela
Secretaria da Presidência da República. Nosso objetivo é compreender como as “pessoas comuns” interpretaram,
mobilizaram e utilizaram um dos pilares do projeto e da propaganda política estadonovistas, a família, para
apresentarem suas aflições e aspirações, assim como para fazerem as suas reivindicações. Nestas correspondências,
os missivistas buscavam proteção e justiça, amparados nos direitos e deveres dos pais e mães de família, que
antecediam o Estado Novo, mas que foram defendidos pelo Estado. Para esta apresentação destacaremos as
correspondências das pessoas que reivindicaram o abono familiar para as famílias numerosas, política que foi
estabelecida pelo governo com base no decreto-lei nº 3.200, assinado no dia 19 de abril de 1941. A comunicação será
realizada com base na análise das cartas e nos aportes teóricos a respeito dos imaginários sociais propostos por
Bronislaw Baczko. Também dialogaremos com estudos gerais e específicos acerca das correspondências, como os de
Angela de Castro Gomes, Teresa Malatian, Jorge Ferreira e José Rogério da Silva. A comunicação possibilitará
compreendermos as missivas como um canal de comunicação política direto com o presidente onde era possível as
“pessoas comuns” discutirem determinadas políticas, utilizarem das brechas da lei, reivindicarem seus direitos como
pais e mães de família e cobrarem o cumprimento das promessas do presidente para acessarem o “novo tempo”
brasileiro.

ST 16 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

El campo brasileño más allá de sus fronteras: expertos agrarios de Estado y el asesoramiento técnico de Brasil en
Suramérica (1930-1945)

Carolina da Cunha Rocha

El propósito de este trabajo es investigar la actuación internacional de los tecnocientíficos vinculados al Ministerio de
la Agricultura (MA/BR) y/o universidades e institutos federales en el Estado Nuevo (1937-1945). Se examinarán los
objetivos y prioridades del gobierno de Getúlio Vargas tras el intento de incrementar la cooperación técnico-científica

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y expandir los intercambios en el área de las ciencias agronómicas en el continente a comienzos de la década de 1940.
A partir del análisis de evidencia empírica procedente de archivos diplomáticos, este artículo se centra en exponer un
botón de muestra del argumento, estudiando las misiones agrícolas brasileñas en Paraguay entre 1942 y 1944,
momento en que Brasil buscó actuar como difusor de conocimientos en materia científica en el campo. La idea
también es discutir el pael de los tecnocientíficos, es decir, burócratas de perfil intermedio vinculados al Ministerio de
Agricultura (MA), institutos, universidades y secretarias federales y estatales en casos de asesoramiento técnico en el
continente latinoamericano. Se discutirá el concepto de burocracia intermedia y las diversas variantes en sus funciones
y actuación, especialmente aquellos agentes cuyo conocimiento técnico les volvió responsables de conducir misiones
en el exterior, con trabajo de asesoramiento directo en el campo, actuando en la “línea de frente” entre la formulación
y la implementación de políticas públicas agrarias.

Uma questão e diversos aspectos: Artur Hehl Neiva e o “Problema Imigratório Brasileiro”.

Guilherme dos Santos Cavotti Marques

Artur Hehl Neiva escreveu diversos artigos e trabalhos que versavam sobre imigração e colonização em suas variadas
facetas. Em 1943 apresentara ao I Congresso Brasileiro de Economia uma tese, publicada posteriormente na Revista
de Imigração e Colonização, cujo título demonstrava seu objeto de dedicação profissional: “O Problema Imigratório
Brasileiro”. Composto por mais de 100 páginas, tal tese apresenta importantes reflexões sobre imigração e colonização
e seus temas correlatos, como seleção, assimilação, nacionalização que permearam os debates políticos nas décadas
de 1930 e 1940. O trabalho se estruturava em oito partes, a saber: 1. Introdução; 2. Serviços da evolução política
imigratória brasileira; 3. Correntes imigratórias. Dados demográficos; 4. Problema imigratório brasileiro em seus vários
aspectos; 5. Problemas correlatos; 6. A situação atual. As contingências de guerra; 7. Previsão para o futuro. A
Fundação Brasil Central; 8. Conclusões. Nos deteremos para este trabalho sobre o item 4, cujo próprio autor entendia
ser o cerne de suas reflexões. Nesta, apresentava algumas facetas que a imigração comportaria, enquanto tema
envolto em matéria social e que só poderia ser estudado adequadamente estando relacionada a diversos elementos
e dentro do ambiente que lhe comportasse. Assim, divide tais aspectos em: antropogeográfico; étnico; político;
econômico; jurídico; cultural; religioso. Nossa análise pretende compreender como se constituíram as reflexões do
referido intelectual dentro da proposição de análise a partir de tais parâmetros que visavam, igualmente, influenciar
medidas de cunho prático por parte do governo.

O Bloco do Norte e a ascensão política de José Américo de Almeida (1930-1937)

Luiz Mário Dantas Burity

Do Governo Provisório à campanha presidencial de 1937, os nortistas tiveram poder na cúpula do poder central
brasileiro em uma dimensão poucas vezes vista na história nacional. A trajetória do personagem que então apresento
– José Américo de Almeida – é peça chave para compreender que forças foram mobilizadas nesse propósito. O objetivo
dessa comunicação é discutir a ascensão de José Américo em meio à agenda política brasileira da década de 1930. Eu
argumento que o capital de um grupo político – O Bloco do Norte – foi fundamental na construção de sua carreira, o
que, por sua vez, talvez possibilitou a inserção de uma agenda de interesse das elites nortistas como pauta de destaque
no programa ministerial e, de maneira geral, no poder central. Os nortistas tiveram um papel fundamental na ação

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militar e política que culminou na tomada de poder pelos revolucionários de 1930. Liderados por Juarez Távora e José
Américo, que assumiram, respectivamente, o comando militar e civil do movimento, esse grupo formaria um sólido
grupo político – o chamado Bloco do Norte – que constituiria uma base de apoio fundamental do presidente Getúlio
Vargas durante o Governo Provisório. Foi tendo em vista essa base de apoio e na tarefa de representar esse grupo no
poder central que José Américo foi nomeado Ministro de Viação e Obras Públicas em 1930. É sobretudo a partir desse
viés que devemos entender a sua atuação na pasta. Deixando a função em 1934, quando aos embates na arena pública
que tomaram espaço com o processo de constitucionalização, ele foi substituído por um outro nortista João Marques
dos Reis. Depois de um período de incertezas quanto à sua vida política, o ex-ministro seria escolhido pelo grupo
governista candidato à presidência da República em 1937. Mais uma vez, as alianças construídas no entorno dessa
região e do chamado Bloco do Norte foram fundamentais para os arranjos que levaram a essa decisão.

Os Intelectuais e os Estudos Amazônicos: Ciência, Saúde e Desenvolvimento na Amazônia (1937-1955)

Matheus Villani Cordeiro

Esta pesquisa busca analisar os estudos sobre a região amazônica realizados por intelectuais entre os anos de 1937 e
1955. Pretende-se compreender como a construção de intepretações, representações e conhecimentos forneceram
um novo olhar sobre a Amazônia contrastando com as políticas públicas para a região. Durante a Era Vargas,
especialmente durante a fase do Estado Novo (1937-1945), o poder central enquadrou a Amazônia como espaço
estratégico para o projeto de capitalismo nacional. Temos por hipótese que a urgência com a qual o Estado
demonstrou intenções de promover políticas intervencionistas direcionadas a Amazônia fomentou uma série de
estudos sobre a região que foram publicados em revistas cientificas, livros e relatórios. Esses estudos amazônicos, que
evolveram temas como saúde, saneamento, alimentação, agricultura, colonização, migração, fitogeografia, entre
outros, possivelmente, ficaram à disposição do Estado no que diz respeitos às políticas intervencionistas de integração
econômica e social da Amazônia. Os projetos de conquista da Amazônia englobavam uma série de discussões que se
desenvolviam no período, entre elas a superação das perspectivas deterministas que condenavam a região e a crença
na ciência e na técnica como caminho para o seu desenvolvimento. Essas pretensões ficariam mais claras com a criação
de políticas de ocupação e colonização, institutos de pesquisa e planos de valorização econômica ao longo da década
de 1940 e 1950. Desta forma, a pesquisa possibilita observar as continuidades e rupturas nas intepretações sobre a
região amazônica e as dinâmicas da atuação intelectual e suas relações com o âmbito do Estado.

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ST 17. Direitas cristãs: entre discursos religiosos e projetos políticos no Brasil dos séculos
XX e XXI

ST 17 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Alceu Amoroso Lima e o integralismo de Plínio Salgado: afinidades, convergências e controvérsias - 1932-1937

Gabriel Ícaro da Silva (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora)

A presente comunicação tem por objetivo apresentar resultados preliminares da pesquisa sobre um aspecto singular
da trajetória do crítico literário e líder do laicato católico Alceu Amoroso Lima durante a década de 1930: sua
aproximação e simpatia para com as propostas políticas propagadas pela Ação Integralista Brasileira, o movimento de
caracterização fascista liderado por Plínio Salgado. A partir da conversão ao catolicismo em 1928 Amoroso Lima
assumiu diversas funções à frente do movimento de "recatolização" do país promovido pela Igreja, e alcançou
relevante impacto em debates e decisões políticas, a exemplo do êxito das reivindicações católicas à Constituição de
1934. Fortemente marcado e em diálogo direto com o clima direitista e reacionário em vigor nos meios religiosos do
período, as articulações do intelectual em nome da Igreja deveriam ser, no entanto, pautadas por um discurso oficial
de suprapartidarismo, haja vista que não fora criado um partido propriamente católico no Brasil. A investigação que é
objeto desta comunicação toma como ponto de partida o contraste entre o referido discurso suprapartidário e
declarações públicas de Alceu Amoroso Lima onde são identificados claros acenos simpáticos e mesmo a
recomendação do ingresso de fiéis católicos à AIB. Procurou-se compreender as dimensões dessa aproximação, os
elos ideológicos, teóricos e estratégicos entre o projeto católico expresso por Lima e o projeto integralista da AIB, e
por fim, elaborar uma proposta interpretativa para este momento da trajetória do intelectual, do qual ele buscou se
dissociar a partir de sua posterior guinada ao campo do progressismo político na década de 1940.

A cidade cristã: secularização e imortalidade no Projeto de Estado Integralista brasileiro

Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro (Universidade Federal Fluminense)

A cidade cristã, pressupõe-se, segundo Calderón Bouchet, a realização do Reino de Deus para além da morte. A
sobrevivência do espírito, tal como designa a Igreja Católica, deveria ser garantida pelo respeito aos sacramentos.
Desta perspectiva, ainda conforme Calderón Bouchet, a tradição da Igreja Católica do dogma da ressurreição da carne
perpetuaria a existência do cristão na eternidade. Assim como definido pelo aprendizado tomista aplicado às questões
sociais do século XIX, a cidade cristã deveria servir para garantir a proposta sociopolítica/moral inspirada na caridade.
O integralismo brasileiro, assim como projeto espiritual eterno, conceberia sua própria formulação escatológica cujo
porvir se realizaria enquanto cidade cristã, como Estado Integral. Este que, segundo Plínio Salgado partiria de uma
concepção espiritual do Universo, cuja concepção do Homem, no Novo Estado, seria a de criatura divina. Sendo a
Nação e o Estado produções humanas. Sendo da "natureza da pessoa humana" a construção do ambiente social, os
Grupos Naturais, estes constituir-se iam enquanto Grupo biológico do qual provém a Família; os Grupos espirituais
reunem as igrejas e outros locais de culto, nos quais os entes humanos realizam suas re-ligações como sagrado. Os
Grupos econômicos, como corporções e sindicatos, reuniriam as associações profissionais enquanto direito natural da

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Pessoa Humana cujo trabalho deveria atender ao Bem Comum. Sobre os Grupos Educacionais, estes estariam
representados pelo sistema escolar e instituições culturais. Por fim, enquanto Grupo natural humano, a cidade, ou
município, e a nação. fazem parte dos Grupos políticos.

O jornal Reconquista como suporte de um projeto de intelectuais católicos (1952-1955)

Víctor Almeida Gama (Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus)

O jornal Reconquista, publicação mensal dirigida por Clóvis Lema Garcia, operou entre os anos de 1952 a 1955, num
curto período de tempo. Suficiente, entretanto, para formar no Brasil um grupo de pensadores católicos ligados ao
tradicionalismo hispânico, que mais tarde reverberariam suas ideias em outro periódico de maior duração, a Hora
Presente (1968-1978). Liderados por figuras de realce no laicato católico brasileiro como foram José Pedro Galvão de
Sousa e Arlindo Veiga dos Santos, os integrantes do jornal, formado por professores universitários, propunham a
difusão de reflexões fundamentadas em dois eixos fundamentais: o catolicismo romano e o tradicionalismo hispânico.
O grupo reunido no jornal seria o mais expressivo representante desta corrente católica no Brasil, que valoriza as
tradições, com forte tendência monarquista, temperada com elementos democráticos e aristocráticos, corporativista
e municipalista. Com divulgação em Portugal e na Espanha, o jornal alcança uma dimensão internacional, ligando
figuras da intelectualidade católica hispânica do período. Também se estabelecia um intercâmbio com periódicos de
tendência tradicionalista em países da América Latina e Europa, formando uma rede de sociabilidade engajada na
divulgação das ideias da hispanidade. Este trabalho está inserido numa pesquisa mais ampla acerca da presença da
direita católica no Brasil, e pretende refletir sobre a interação entre Reconquista e os intelectuais católicos alinhados
a esta corrente na América Latina, como recurso para entender um pouco mais acerca da ação política e cultural da
direita católica no Brasil.

ST 17 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

O projeto católico antimoderno: reflexos no Brasil na obra de Alceu Amoroso Lima (1930-1940)

Bruno Zottele Loss (SERVIDOR PÚBLICO)

O processo histórico da modernidade substituiu a cosmovisão cristã, operando uma verdadeira reconfiguração de
paradigma, de um mundo hierarquicamente constituído para uma nova forma de organização social, na qual a
subjetividade surge como valor. A questão religiosa, com isso, é deslocada da esfera pública para a esfera privada. A
Revolução Francesa e o Iluminismo minaram a Cristandade. Diversas correntes de idéias, oriundas da Revolução
Francesa, inspiravam os movimentos revolucionários do século XIX, como a democracia, o nacionalismo e o
liberalismo. Frente a tais movimentos, a instituição eclesiástica passou a reagir de forma dura e sistematizada, levando
a cabo profundas mudanças institucionais. No bojo destas modificações, forja-se a sensibilidade antimoderna ou
ultramontana que se expandiu por todas as igrejas locais, beneficiando-se da centralização romana. Também no Brasil
fez-se sentir o processo de romanização, aqui entendido como o processo de transição do catolicismo colonial ao
catolicismo universalista, tendo como figura paradigmática, no século XX, Alceu Amoroso Lima, cuja influência
intelectual atuaria de modo duradouro nas elites brasileiras. O objetivo do trabalho é investigar de que maneira o

100
pensamento de Alceu Amoroso Lima, expresso em seus livros e artigos, constituiu-se como uma concretização, em um
nível brasileiro, daquela doutrina contra-revolucionária, antimoderna, hegemônica no contexto da centralização
romana do século XIX. Será analisada a produção bibliográfica do autor no período 1930-1940, em que assumiu
completamente a perspectiva integrista, consubstanciada em livros e artigos para a revista A Ordem. Como aporte
teórico, utiliza-se a sociologia de Pierre Bourdieu e a sociologia da religião de Peter Berger.

Antônio de Castro Mayer: um clérigo da militância conservadora.

Vinícius Couzzi Mérida (SEEDUC RJ)

Dom Antônio de Castro Mayer (1904-1991) foi uma importante figura da hierarquia do catolicismo romano do século
XX. Ele é apresentado nesse trabalho em função do seu vasto trabalho em defesa do catolicismo conservador, alinhado
com os Papas que combateram o comunismo, o liberalismo e o modernismo. Por ser um adepto intransigente dessas
críticas, Castro Mayer escreveu várias cartas pastorais e artigos em jornais, notabilizando-se como atuante bispo
brasileiro ligado à TFP, crítico do comunismo e da reforma agrária e defensor da monarquia. De igual maneira, dentro
do catolicismo romano, ele atuou severamente contra as reformas propostas pelo Concílio Vaticano II, por entender
que este evento foi marcado pelas ideologias modernistas e revolucionárias. Portanto, por meio de análise
bibliográfica e documental, Dom Antônio de Castro Mayer mostra-se um intransigente personagem do catolicismo
brasileiro que combateu setores mais reformistas da Igreja e de igual maneira, rompeu com hierarquia católica,
preferindo o ostracismo alegando questão de consciência quando ele entendeu que a Igreja aderiu à ideias reprovadas
na passado.

ST 17 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

A cultura política e os evangélicos no Brasil

Luana Josephino de Melo (UDESC - Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina)

O crescimento do pentecostalismo no Brasil é fenômeno crescente desde o século passado e que se desdobra não
apenas em avanços no campo religioso, mas, também, em influência midiática e participação político-partidária
maciça e, além disso, poder para intervir no campo civil e defender seus interesses institucionais. Pensando na
projeção e alcance desses grupos religiosos no campo político, esse trabalho se propõe a oferecer algumas
contribuições iniciais sobre as relações entre os evangélicos e a política no Brasil, mobilizando para tanto o conceito
de cultura política. Buscado desse modo, identificar a maneira pela qual os pentecostais e neopentecostais se
apropriam de elementos centrais na cultura política brasileira, e de que forma incorporam essas práticas em suas
ações políticas, analisando como tradições culturais enraizadas no interior das relações políticas brasileira, a exemplo
do patrimonialismo e o clientelismo discutidos nesse trabalho, convivem com fenômenos sociais atuais e influenciam
experiências políticas do presente.

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A questão evangélica em São Luís

Ícaro Gabriel Cerqueira Novais

Há pelo menos três décadas a pesquisa brasileira que trata das religiões modernas tentam dar conta dos fenômenos
pentecostais e protestantes, sobretudo das relações de interdeterminação empreendidas por essas duas grandes
denominações cristãs. Evangélica, neopentecostal, assembleiana, batista ou presbiteriana, todas essas sub-denominações se
relacionaram e se desmembraram de tal forma que, ao nosso ver, uma crise denominacional instaurou-se no Brasil nas últimas
décadas. Tal crise, ao nosso ver, ainda não teve o devido tratamento da academia e da comunidade científica que, ainda presos
à perspectiva denominacional de entender a realidade cristã, deixa passar despercebido alguns pontos importantes dessse
campo tão múltiplo. Através do colhimento de entrevistas de profundidade, levantamento de fontes documentais da
instituição e a escrita de etnografias deste núcleo religioso, a pesquisa visa compreender como a Igreja Batista do Angelim,
originalmente pequena e local, alcançou o tamanho que possui hoje e de que forma relacionou-se direta e objetivamente com
os evangelismos ao redor do globo e com essa crise denominacional dos nossos tempos.

Fé em vertigem: vozes e influências de pastores da queda da Dilma à eleição de Bolsonaro (2013-2018)

Márcio José de Oliveira Rocha (UNIGRAN - Centro Universitário da Grande Dourados)

O presente trabalho faz parte de uma pesquisa em fase de desenvolvimento e tem por objeto investigar as influências
de pastores e pastoras pró ou contra o impeachment da presidenta Dilma Roussef (2016) e pró e contra a eleição de
Jair Messias Bolsonaro (2018). Para tanto usará a História oral temática para trabalhar com memórias de expressão
oral e procedimentos de História oral hibrida para constituir um Corpus Documental com os jornais: “Cidadão
Evangélico”, “O Jornal Batista”, "Mensageiro da Paz", sites oficiais, redes sociais, blogs, instagram, face book, you tube
e outros a fim de analisar, como e em que sentido, tais lideranças pastorais de Mato Grosso do Sul contribuíram para
estes acontecimentos. Neste sentido analisaremos as fontes a partir do conceito de Memória Cultural, noções da
História do Tempo Presente e História digital. A pesquisa está na fase de organização e seriação das fontes digitais e
redes sociais e fez duas entrevistas até o momento. Os critérios de definição dos entrevistas leva em consideração
pessoas com maior reserva de memória possível, circulação entre lideranças cristãs e influências pelas redes socias.
Mas, também, outros que surgirem a partir das próprias entrevistas.

ST 17 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Direita explosiva: ataques de extremistas na distensão da ditadura civil-militar (1980-82)

José Airton de Farias (Instituto Federal de Educação - IFCE)

No final da década de 1970 e começo da seguinte, grupos de extrema-direita, contrários à distensão da ditadura civil-militar,
realizaram vários atentados e ameaças Brasil afora. Em geral, os extremistas ficaram impunes e sequer foram identificados.
Em Fortaleza, porém, deu-se a prisão dos membros de um desses grupos, o Movimento Anticomunista (MAC). Os integrantes
do grupo eram jovens, universitários, de classe média. Os extremistas de direita creditavam que o fim da ditadura poderia levar
à implantação do comunismo no Brasil. Também se moviam por pautas moralistas, em defesa do valores religiosos e da família

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- daí os ataques a bancas que vendessem revistas tidas como pornográficas, afora os periódicos da imprensa alternativa. A
onda de atentados provocou uma onda de pânico na sociedade, em particular nos jornaleiros. O governo Figueiredo moveu
campanha para recolher as revistas pornográficas. O desbaratamento do MAC acabou sendo usado pelo governo como forma
de aliviar a pressão da sociedade e dos grupos intra militares contrários à distensão.

A produção da visão de mundo da diocese de Nova Iguaçu na gestão Dom Adriano Hypolito

Paulo César Limongi de Lima Filho

Este trabalho, a partir do conceito de representação e visão de mundo de Roger Chartier (2002), tem como objetivo
descrever a visão de mundo elaborada pela Diocese de Nova Iguaçu, durante a gestão do bispo Dom Adriano Hypólito.
Acredita-se que o caso citado ofereça uma nova possibilidade de revisitar as dicotomias entre integristas e teleogia da
libertação tal como pensandas por Gonçalves (2012). Temos, como objetivo parcial, oferecer uma nova possibilidade
analisar os conceitos de progressista e de conservador, dentro de um cenário criado no período histórico da ditadura
militar. Para o exame empírico, utilizamos a etnografia documental com bases em dois conjuntos de documentos da
diocese, um boletim interno e um jornal litúrgico. Para compreender como essa visão de mundo se concretiza ou se
apresenta para os sujeitos sociais, faremos uso da etnografia documental em dois documentos fontes. Acreditamos
que a antropologia documental, a compreensão do documento-como-sujeito, nos auxilia na análise dos documentos.
Isso porque a palavra etnografia busca dar uma nova conotação na análise documental propriamente dita. Com uma
abordagem etnógrafa, buscamos olhar o universo dos sujeitos sociais, compreender qual é a cultura do outro. No que
se refere aos documentos, a análise se concentrou em um boletim interno da diocese direcionada aos padres e demais
servidores; e, também, a uma revista litúrgica elaborada para assinantes provenientes da diocese

Formação Ideológica da Religiosidade Estadunidense e suas Influências sobre o Brasil de Bolsonaro

Luiz Carlos Checchia (Cia Teatro dos Ventos)

O Brasil vive hoje o avanço de forças políticas de direita e extrema-direta que têm entre suas formulações ideológicas
as leituras conservadoras dos evangelhos cristãos. Tais leituras têm fontes diversas, sendo as de origem estadunidense
uma das mais recentes e atualmente a com mais vigor e influência. No bojo dessa relação, há um processo de forte
influência cultural por parte dos EUA sob nossa própria cultura. Por meio dela, fortalecem-se valores e significados
caros à cultura estadunidense entre nós, como o individualismo, o apego ao núcleo familiar tradicional, a vida
comunitária e o culto ao empreendedorismo, todos valores que surgem, nos EUA, a partir da combinação de duas
importantes ideologias formativas daquela a sociedade: a doutrina do Destino Manifesto e a Tese da Fronteira, sendo
esta última formulada pelo historiador Frederick J. Turner, considerado o patriarca da historiografia moderna
estadunidense e responsável por formar gerações de historiadores daquela nação. Assim, o presente trabalho
investiga ambas ideologias - Destino Manifesto e Tese da Fronteira - buscando compreender como se tornaram a base
da mentalidade estadunidense, como participam de sua formação cristã e como impactam o Brasil atual, atuando
como base ideológica de convencimento do governo Bolsonaro e formam um “caldo de cultura” cujas raízes parecem
ser mais profundas e perigosamente mais duradouras que a atual presidência do Brasil.

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ST 18. Educação, Saúde e assistência às infâncias no Brasil: saberes, conhecimentos e
práticas sociais.

ST 18 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Crianças Anormais e seus Caminhos Institucionais: Um Estudo sobre o público infantil no Hospital Nacional de
Alienados e o método médico-pedagógico no Pavilhão Bourneville

Gabriel Weiss Roma (Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz)

O presente trabalho visa explorar a relação entre o diagnóstico e a terapêutica destinada às crianças encaminhadas
ao Hospital Nacional de Alienados (HNA) de maneira a compreender quem eram as crianças atendidas no Pavilhão
Bourneville, ala infantil do hospital, durante a década de 1920. O HNA, localizado no Rio de Janeiro, foi um dos
principais polos psiquiátricos do país. A análise do público do Pavilhão Bourneville é feita a partir do Pavilhão de
Observações, onde os pacientes encaminhados ao HNA eram examinados pela primeira vez para depois serem
enviados à seção do hospital que melhor atenderia sua demanda. Quando consultados os prontuários do Pavilhão de
Observações, notou-se uma predominância de epiléticos dando entrada no HNA. Entretanto, no Pavilhão Bourneville
foi encontrada uma maioria de crianças idiotas, diagnóstico que aparece apenas em terceiro lugar dentre as crianças
enviadas ao hospital. Essa constatação revela que possivelmente havia uma pré-seleção de indivíduos encaminhados
ao Pavilhão Bourneville, indicando que nem sempre a seção infantil era o destino da criança enviada ao HNA. Esta
preferência por tratar idiotas na seção Bourneville pode ser explicada ao se observar o método médico-pedagógico
empregado no Pavilhão Bourneville, desenvolvido pelo pediatra Antônio Fernandes Figueira. O método,
fundamentado nas experiência do Hospital de Bicêtre na França, privilegia o tratamento da criança idiota — figura que
passou a ser entendida como curável a partir do final do século XIX com uma abordagem médico-pedagógica metódica.
Para o epilético, isto não era possível por ele ser considerado iatrogênico ao tratamento dos outros pacientes, sendo
necessários outros dispositivos para seu tratamento, como colônias e laborterapia. Portanto, o tratamento no Pavilhão
Bourneville diferenciou uma parcela de crianças entre aquelas que podiam ser tratadas e educadas com o método
proposto daquelas que não eram “curáveis”.

O conceito de Educando na Revista de Educação de Goiás (1937-1946)

Débora Franco Silva (es)

A partir da classificação e organização da fonte encontrada até então, será iniciada uma construção textual sobre a
temática proposta, afim de responder as indagações que estará presente nesta pesquisa. Deste modo, o objetivo deste
trabalho é identificar o conceito de educando na Revista de Educação de Goiás (fonte periódica), a partir de uma
perspectiva de analisá-lo como um sujeito representante e aplicador do ensino/aprendizagem naquele período
(década de 30). Sendo assim, a revista como fonte periódica pode proporcionar ao pesquisador bases teóricas e
metodológicas a ponto de conseguir identificar propostas e práticas da história da educação em determinado período.
Para o início deste trabalho, foi necessário obter uma revisão bibliográfica sobre a política do Estado novo, a criação
do Ministério da Educação e Saúde Pública, e a política da Escola Nova na educação. No período de 1937-1945 é

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instituído um Golpe de estado, em que no contexto mundial deve ser considerado como uma ascensão a várias
ditaduras. Assim, argumentando que o regime constitucional vigente “perderá seu valor prático”, provocando um
Estado de “desordem” e “irresponsabilidade”, Getúlio Vargas determinou o encerramento das Assembleias
Legislativas, da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional. Também cerrou todos os partidos e organizações
civis e deu início a caçada política e, em alguns casos, prisão e morte de opositores e inimigos do estado. Logo, a
contextualização da fonte principal desta pesquisa, que é a Revista de Educação, composta por uma série de 33
números, destacando as continuidades e descontinuidades em publicações das questões educacionais, políticas e
culturais, com foco na difusão do conceito de educando. Portanto, se faz necessário analisar a revista como um dos
fatores contribuintes para a compreensão contextual sobre o processo de ensino/aprendizagem dos educandos
naquele período.

O Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: uma análise sobre a infância do amanhã (1929)

Victoria Guilherme Guedes de Moura (UERJ / CAPES)

O estudo proposto tem por objetivo analisar como a infância esteve presente nos debates e trabalhos apresentados
no Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia (PCBE), ocorrido em 1929, na cidade do Rio de Janeiro. O certame fez
parte da comemoração do Centenário da Academia Nacional de Medicina e ocorreu de forma concomitante com
outros congressos na capital. Intelectuais brasileiros e de outros países visaram conceber ações para o alcance do
melhoramento racial, para isso elegeram como fundamental discussões em torno da mortalidade infantil,
maternidade, casamento, alcoolismo, imigração entre outros temas. A eugenia no Brasil esteve associada a distintos
projetos de nação, em consonância com uma intelectualidade que discursava sob os vieses: da Educação, da Medicina,
da Antropologia, do Direito, ressaltando assim a heterogeneidade da ciência/movimento social no país. Desse modo,
torna-se fundamental a análise das atas, trabalhos e conferências do PCBE, em diálogo com periódicos e autores que
contribuem para entendimento da eugenia de forma articulada com ações sobre as infâncias na década de 1920.

Entre o ensino e a legislação, o rádio aponta o caminho: Hora Gymnasial e Hora da Juventude, a programação
radiofônica que formava e informava o ensino secundário no Brasil (1938 – 1945)

Niely Natalino de Freitas Leyendecker (Prefeitura Municipal de Itaboraí)

Este trabalho tem como objetivo analisar os programas radiofônicos Hora Gymnasial (1938-1943) e Hora da Juventude
(1940 – 1945), transmitidos respectivamente, pela Rádio Sociedade Vera Cruz e Rádio Nacional. Com programações
voltadas ao público infanto-juvenil, ambos teciam uma costura que sustentava as discussões a respeito da formação
do cidadão para o novo estado que havia sido estabelecido pelo regime ditatorial de Getúlio Vargas (1937 – 1945). De
um lado, o programa Hora Gymnasial foi promovido pelos representantes dos estabelecimentos de ensino privado,
recém-equiparados ao Colégio Pedro II e responsáveis por mais de 70% das matrículas nesse nível de escolaridade, à
época. Já o Hora da Juventude foi um projeto concebido pelo Ministério da Educação e Saúde Pública, dirigido pela
Divisão de Ensino Secundário do Ministério. Nesse sentido, buscamos compreender as fruições emanadas de duas
frentes formadoras do público infanto-juvenil, uma promovida por bases governistas e a outra, que emergia daqueles
que eram alvos das inspeções do Ministério. Perscrutamos, assim, as táticas e estratégias dos sujeitos (representantes
dos ginásios e do governo), entrelaçadas no cotidiano de formação dos alunos secundaristas. Nesse contexto, nosso

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olhar volta-se à formação do ensino secundário no país nos períodos anteriores e de instauração da reforma das Leis
Orgânicas do Ensino Secundário, sancionadas em (1942). Sinalizamos assim, o marco de 1938, início do programa Hora
Gymnasial (1938) e o momento final do programa Hora da Juventude, que coincide com a queda do Estado Novo
(1945). Nossas fontes contam com as matérias publicadas no jornal Gazeta de Notícias, que trazia semanalmente, a
descrição dos assuntos abordados no programa Hora Gymnasial, e o jornal A Noite com as notícias a cerca do projeto
radiofônico Hora da Juventude. Nossos referenciais teóricos contam com: Barros (2013, 2019), Certeau (2014),
Minhoto (2008), entre outros.

ST 18 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Propaganda e Ciência: o discurso médico do Jornal de Pediatra na divulgação da alimentação infantil (1935-1950)

Keice Ane Farias do Nascimento (Nenhum)

Este trabalho tem como objetivo estudar o periódico Jornal de Pediatria, com o objetivo de investigar anúncios de
alimentos infantis dos anos 30 a 50, bem como as políticas de diferentes governos entre os anos 1934-1950 voltadas
para a nutrição e para a infância. O argumento é que esses discursos colaboraram para a legitimação de produtos
voltados para a alimentação infantil. A metodologia do trabalho consiste no mapeamento do conteúdo do periódico
citado, onde foi possível entender alguns dos mecanismos de propaganda utilizados para incentivar o uso de serviços
médicos, do leite artificial e de outros produtos lácteos. Nosso trabalho baseia-se nas observações de Elizabete
Kobayashi, que destaca uma crescente preocupação médica e governamental com os cuidados em relação à higiene
e formas efetivas de nutrição para a população a partir da década de 1930. Este período, de acordo com Soren
Brinkmann, foi eficaz em articular seus interesses, em relação à melhoria das condições alimentares da população
brasileira, com o setor privado e com o discurso de sanitaristas da época. Por fim, o recorte temporal proposto foi
marcado por reformas urbanas e pela influência de outras culturas na sociedade carioca do início do século XX. Desde
finais do século XIX as estratégias de notícias e anúncios em jornais e revistas se sofisticavam com recursos de edição,
uso de bens simbólicos e imagens para atender aos mais diversos grupos sociais, segundo a historiadora Olga Brites.

Lemos Britto e a proteção à infância e à adolescência

Helber Renato Feydit de Medeiros (Colégio Militar do Rio de Janeiro)

José Gabriel Lemos Britto (1886-1963) é um nome bastante conhecido na História do Direito brasileiro tendo, inclusive,
seu nome em duas unidades prisionais, uma no Rio de Janeiro e outra na Bahia. No entanto, quando se procura algo
sobre sua vida dificilmente se encontra alguma coisa. Na verdade, Lemos Britto foi um autodidata. Advogado de
formação atuou em ramos diferentes, tais como jornalista e parlamentar, e escreveu obras de assuntos variados.
Desde obras de Direito, sua área de formação, a obras de História, Romance, Poema, Economia, Sociologia entre
outros. Foram mais de trinta obras literárias. Contudo, foi um dos pioneiros na luta pela defesa da reforma do sistema
prisional brasileiro no início do século XX, com destaque para proteção jurídica à criança e ao adolescente. A referida
análise visa, sobretudo, examinar suas ideias e se elas tiveram alguma influência na criação do Código de Menores de
1927. Vítimas de preconceitos raciais e sociais desde o fim do século XIX, as crianças abandonadas se tornaram temas

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de discursos eugenistas pela necessidade de se criar trabalhadores fortes e sadios para o futuro da nação.
Contemporâneo ao discurso do enfraquecimento da “raça” que essas crianças representavam em virtude da
“degeneração de seus pais vadios e alcoólatras”, a referida pesquisa visa realizar um levantamento em relação a vida
e algumas obras de Lemos Britto para analisar se o pensamento eugenista teve influência em suas práticas
profissionais.

Do exercício e ensino pediátrico: Moncorvo de Figueiredo e o ensino de pediatria na Policlínica Geral do Rio de
Janeiro (1882-1901)

Adnê Jefferson Moura Rodrigues

O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de construção da pediatria como especialidade médica a
partir da implantação do primeiro curso livre de clínica de moléstias das crianças, ministrado por Carlos Arthur
Moncorvo de Figueiredo e ofertado na Policlínica Geral do Rio de Janeiro (PGRJ). O curso promovido por Moncorvo de
Figueiredo na clínica de moléstias das crianças foi na prática um importante reduto de formação de médicos dedicados
ao serviço de clínica infantil. Por isso, o recorte deste trabalho concerne aos anos de criação do curso (1882) e de
morte de Moncorvo de Figueiredo. Nos anos 70 do oitocentos, Moncorvo se tornou uma das principais vozes de
setores médicos engajados em reformas no ensino médico brasileiro. Entre as mudanças defendidas pelo médico
estavam a liberdade de cátedra, a introdução de novas disciplinas no currículo e a construção de laboratórios e
hospitais que pudessem servir como centros de formação prática para os estudantes. Tais reivindicações foram
organizadas e publicadas no livro Do exercício e ensino médico no Brasil, de 1874. Entre as novas cadeiras sugeridas
por Moncorvo de Figueiredo, estava a de clínica e moléstias das crianças. Seu funcionamento, assim como das demais
cadeiras que sugeriu, deveria estar condicionado à existência de um local apropriado para o desenvolvimento de
atividades práticas de ensino, como um hospital de clínicas, em que os alunos poderiam desempenhar a função de
internos no atendimento em clínicas especializadas. A fundação da PGRJ, em 1882 – instituição filantrópica inspirada
na Policlínica Geral de Viena, Áustria, que reunia em um mesmo espaço dispensários voltados para as diferentes
especialidades, além de servir de local para formação prática de estudantes –, tornou possível implantar o curso livre
de moléstias das crianças. A criação do curso indica não somente a ênfase sobre a dimensão prática, mas mudanças
nas concepções de ensino médico e, especialmente, pediátrico no Brasil.

“Assistência social se faz com o coração”

Maria Angélica Aleixo Beck Lourenço (USP - Universidade de São Paulo)

Esta proposta de comunicação trata de uma pesquisa em andamento que analisa as práticas educacionais e midiáticas
da Legião da Boa Vontade, LBV, observando e descrevendo as trajetórias e redes de sociabilidade entre os atendidos
e colaboradores a partir dos espaços de atendimento social e educação de crianças e jovens. A frase título deste
resumo está contida no discurso de inauguração da Supercreche Jesus, em São Paulo, proferido pelo diretor-
presidente da instituição. Desde 25 de janeiro de 1986, esta unidade da LBV promove uma forma de conexão de
memórias, sentidos e afetos também através da música, elemento de formação intelectual e do sentimento. O
trabalho de educação musical aplicado aos integrantes da Orquestra Filarmônica Jovem Boa Vontade, objeto desta
comunicação, ocorre desde a fase da educação infantil, ou seja, alunos em idade de berçário e pré-escola. A proposta

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de ensino da LBV se dirige para a educação de seres humanos sensíveis, criativos e reflexivos e abarca ainda a dimensão
da espiritualidade ecumênica. Os integrantes da Orquestra Filarmônica Jovem Boa Vontade participam de uma
proposta de educação musical que se constrói também pela articulação interdisciplinar em que música e convivência
solidária estão inseridas dentro de um programa contínuo de reflexão sobre as potencialidades dadas ao som para a
partilha do sentido de cuidado, respeito e amor ao próximo. O público a que se destina o trabalho de educação da
LBV, portanto que majoritariamente irá compor os grupos musicais advindos da instituição, constitui-se de famílias
que vivem em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. A ação educativa no campo das artes
musicais não se desprende da perspectiva de promoção solidária das relações e prioriza a consciência de importar-se
com a sorte alheia e as muitas carências que atingem o humano, clamando por um gesto de ajuda e esperança. A
metodologia de estudo abarca etnomusicologia, estudos de rede e história oral.

ST 18 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Discursos sobre a assistência pública e privada na primeira metade do século XX

Deilson Barbosa da Silva (SME RJ), Luiza Pinheiro da Silva

A pesquisa em andamento pretende analisar as discussões sobre o assistencialismo público e privado no Rio de Janeiro bem
como no Brasil na primeira metade do século XX. Utilizaremos como fontes comunicações proferidas no Primeiro Congresso
Brasileiro de Proteção à Infância, idealizado pelo médico Arthur Moncorvo Filho; o livro Assistência pública e privada no Rio de
Janeiro, organizado pelo desembargador Ataulfo de Paiva; notícias veiculadas pela imprensa e discursos médicos. A assistência
aos desvalidos tomou centralidade em discussões realizadas na imprensa e nos congressos médicos e jurídicos, principalmente
em relação à infância abandonada material e moralmente, que, acreditava-se, fruto da influência do ambiente e da
hereditariedade. Amparada pela ciência, a assistência deveria atuar sobre os fatores que, segundo médicos, juristas,
filantropos, suscitavam na degenerescência do indivíduo e de seus filhos, como alcoolismo, sífilis, tuberculose etc. Os
congressos internacionais aos quais os brasileiros participavam puderam dar forma e reforçar suas ideias sobre o trato com a
população empobrecida. Como exemplo temos o congresso de Assistência Pública e Privada realizado em Milão (1906), o qual
Ataulfo de Paiva representou o Brasil como delegado. Chamava-se a atenção nesses congressos para a necessidade de maior
participação do Estado na organização da assistência pública e um louvor aos feitos da iniciativa privada. Ao aproximar-se o
centenário da independência em 1922, os brasileiros se abriram ao mundo para exibir suas realizações na política, arquitetura,
assistência, medicina, fabricando como produtos dessas comemorações: a Grande Exposição, o Primeiro Congresso Brasileiro
de Proteção à Infância, o Museu da Infância, e o livro de Ataulfo de Paiva, supracitado. Com isto, buscaram mostrar aos seus
pares, nacionais e estrangeiros, seu “progresso” e o que faltava para ocupar um lugar no concerto das nações civilizadas.

A Legião Brasileira de Assistência (LBA) e a saúde infantil nos Concursos de Robustez no Piauí 1944-1945

Francilene Teles da Silva Sousa (SEDUC/PI)

Este artigo tem o objeto de analisar as políticas de atenção à criança, promovidas pela a Legião Brasileira de
Assistência-LBA em parceria com o Estado e médicos, com foco na promoção da figura da criança divulgada nos
Concursos de Robustez Infantil realizados no Piauí de 1944 a 1945. A preocupação com a infância surgiu após a

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divulgação da Mensagem de Natal proferida pelo Presidente Getúlio Vargas em 1932 que confirmava ser a mortalidade
infantil um problema para o projeto de desenvolvimento do país. Os Concursos de Robustez Infantil foram
introduzidos no Brasil ainda no Século XX por Moncorvo Filho que trouxe esse modelo de evento da Europa. No Piauí,
os Concursos de Robustez Infantil eram realizados pela LBA que atuava sobre a Presidência da Primeira-dama Maria
do Carmo Mello esposa do Interventor do Piauí Leônidas de Castro Mello. Para a produção desta pesquisa foram
utilizadas as notícias do jornal Diário Oficial do Piauí. Para embasar o trabalho de análise foi realizada uma pesquisa
bibliográfica de autoras como Barbosa (2017), Freire (2006), Marinho (2018), Meneses (2014), Mott (2003), Oliveira
(2015), Sanglard (2003) e Sousa e Marinho (2021), dentre outras. Evidenciou-se, portanto, que foi durante a era
varguista que a assistência destinada à infância foi tratada como assunto relevante no debate político para o progresso
do país.

“O Rio e suas novidades escandalosas”: os menores nos teatros e casas de diversões da cidade do Rio de Janeiro na
década de 1920

Bruna Bottino da Silva (Prefeitura de Maricá), Marcele dos Santos Ribeiro Malaquias

O Trabalho tem como objetivo analisar a presença e o trabalho de menores nos teatros, “dancings” e casas de
diversões da cidade do Rio de Janeiro na década de 1920. Nesse período é possível observar de forma mais sistemática
iniciativas voltadas para assistência e proteção da infância, que estavam sendo pensadas desde os finais do século XIX
e início do século XX, mobilizados pelo ideal de modernização e civilização da cidade. Nesse sentido, podemos destacar
algumas leis e decretos, como a Lei Orçamentária Federal de 1921 (Decreto 4.242), que autorizou a organização do
Serviço de Assistência e Proteção à infância Abandonada e Delinquente; o decreto 16.272, relacionado a
regulamentação da assistência e proteção dos menores abandonados e delinquentes, a partir deste decreto também,
foi criado o Primeiro Juízo Privativo de Menores Abandonados e Delinquentes da cidade do Rio de Janeiro, no dia 2 de
fevereiro de 1924; e a promulgação do Código de Menores de 1927. Tais iniciativas possibilitaram um olhar
direcionado as especificidades da infância. Com isso buscaremos a partir de reportagens de jornais envolvendo
menores que estavam trabalhando em teatros, casas diversões, “dancings” e outros locais do gênero que circularam
durante o período destacado, analisar as medidas realizadas pelo Primeiro Juízo Privativo de Menores Abandonados
e Delinquentes, na assistência e proteção dessa infância, na medida em que muitas vezes proibiam o trabalho de
menores nesse locais, por considera-lo um local impróprio, fundamentados nas leis vigentes no período.

Médico, filantropo e político: Mirócles Campos Veras e a assistência à maternidade e à infância em Parnaíba/PI
(1930-1940)

Livia Suelen Sousa Moraes Meneses (UFPI)

Este trabalho apresenta um esboço da trajetória de Mirócles Campos Veras como médico, filantropo e político. Não
pretende ser um texto biográfico, mas tão somente compreender as relações entre os projetos elitários de
modernização em Parnaíba, no contexto em que a cidade constituía-se como principal centro comercial importador e
exportador do Piauí, tendo em vista a dinâmica da economia pelo extrativismo vegetal; a prática médica na urbe de
então e a ação benemerente concretizada na assistência à maternidade e a infância. Política, ciência e filantropia na
vida desse médico e professor cujo nome e capital simbólico são indiciários não apenas da medicina e de suas intimas

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relações com a filantropia, mas também dos diferentes projetos das elites locais frente aos imensos desafios para o
que lhes era tão caro alcançar: o progresso. Neste contexto, o médico obstetra Mirócles Campos Veras, esteve à frente
da prefeitura, assumindo em 1934 e a administrou até o fim da era Vargas, em 1945. O médico notabilizou-se por sua
ação na instituição de uma política de assistência materno-infantil, na cidade. Durante a sua gestão, o município
auxiliou na construção do Lactário Suzanne Jacob (1938), com subvenções, além de ter prestado assistência médica às
crianças com auxílio do médico pediatra Equililérico Nogueira na instituição. Mirócles Veras fundou a primeira
maternidade da cidade e pioneira no Estado, a Maternidade Marques Basto (1939). Ademais, atuou em cargos de
chefia em instituições que prestaram assistência à saúde de mulheres/mães e crianças, como o hospital da Santa Casa
de Misericórdia e o Centro de Saúde de Parnaíba. As fontes utilizadas constituem-se de memórias, artigos publicados
em almanaques e revistas, além dos relatórios de governo e o Livro do Centenário da Parnaíba (1945).

ST 18 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

O Grupo Escolar Ary Parreiras através das páginas manuscritas do “Jornal Esperança de Lage” - (1937-1938)

Adelly Magalhães Poyaes (SEEDUC/RJ)

O presente artigo tem como objetivo apontar eventuais formas como os alunos do Grupo Escolar Ary Parreiras, de
Laje do Muriaé, estado do Rio de Janeiro, projetavam a instituição. Para tanto, será analisado o “Jornal Esperança de
Lage”, escrito de forma manuscrita por alunos do grupo e que chegou até nós o total de 10 (dez) edições completas,
circulantes entre os anos de 1937 e 1938. As temáticas comuns aos exemplares eram as datas comemorativas, poemas
feitos pelos estudantes, o quadro de honras com os melhores alunos, os informes sobre acontecimentos da escola e
as informações gerais compartilhadas através de textos criados por eles próprios. Por meio de reportagens veiculadas
no “Jornal Esperança de Lage”, o Grupo Escolar Ary Parreiras foi criando vínculos com a comunidade local num duplo
movimento: ao mesmo tempo em que festejava datas importantes e anunciava seus trabalhos para a localidade,
também abria as portas para a participação local na instituição. Nesse sentido, se faz necessário compreender as
diferentes formas que os jornais escolares foram usados como meio para reforçar e difundir os valores republicanos
para a escola, no contexto do grupo escolar em questão.

Aferição do saber - Os Testes ABC idealizados pelo educador Lourenço Filho e a construção das classes seletivas na
década de 1930.

Milena de Melo Silva (FME)

O presente trabalho objetiva refletir acerca da consolidação do movimento dos testes psicológicos e pedagógicos no
Brasil, em específico, analisar as categorias de avaliação desenvolvidas pelos Testes ABC, idealizados pelo educador
escolanovista Lourenço Filho (1827-1970). Os processos educacionais foram cingidos pela classificação e padronização
da inteligência a partir da aplicação de testes de aferição do saber amplamente utilizados no Brasil na década de 1930.
No cenário de expansão da instrução pública, os testes se apresentaram como recursos pedagógicos centrais para a
instauração da medida do saber acadêmico assim como para o indiciamento de diagnósticos de desajustamento e
anormalidade da infância que acessava à escola. Assim, buscamos refletir sobre o papel assumido pelos Testes ABC

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em relação aos processos avaliativos, bem como na ressignificação das práticas pedagógicas mobilizadas pela escola
na determinação das condições para o aproveitamento do ensino. Para tal, recorremos às seguintes fontes primárias:
o livro Teste ABC — para a verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita (1933),
publicado pela Editora Melhoramentos; as oito atividades constantes na estrutura avaliativa dos Testes ABC; matérias
encontradas no Jornal do Brasil dentro do recorte da década de 1930, cujos debates se debruçaram sobre a
aplicabilidade dos Testes ABC. Para fundamentarmos o movimento de consolidação da expansão do uso dos testes
psicológicos e pedagógicos recorremos as contribuições teóricas desenvolvidas por Anastasi (1973, 1977), Lourenço
Filho (1969) e Monarcha (2010). Para analisarmos a ampliação da escolarização no Brasil destacamos o aporte teórico
de: Souza (1998), Câmara (2010), Botelho (2002) e Valle (2014), autores cujas temáticas de estudo referem-se aos
processos de modernização do país, na chave da expansão da escolarização e da promoção da cultura e da civilidade.

Assistência às infâncias e juventudes e o sistema socioeducativo: A atuação dos técnicos do Centro Educacional São
Lucas (São José – SC; 2007 – 2010)

Brenda Fante da Paixão

A presente comunicação objetiva analisar algumas característica da assistência às infâncias e juventudes no contexto
socioeducativo, a partir das memórias de profissionais (assistente sociais, psicólogos e pedagogos) que compuseram
a equipe técnica da unidade socioeducativa Centro Educacional Regional São Lucas entre 2007 e 2010. A partir de
fontes orais coletadas e analisadas sob a ótica da metodologia da História Oral e dispondo como repertório teórico as
conceituações foucaultianas sobre a sociedade disciplinar no Estado Moderno, busca-se evidenciar, na narração da
trajetória desse técnicos, das experiências vividas no interior da instituição, do cotidiano do trabalho exercido, das
redes de sociabilidades estabelecidas, entre outros temas ancorados nas entrevistas, o papel desempenhado por esses
“personagens extrajurídicos” nos direitos infantojuvenis. Com isso, pretende-se refletir, desde um caso regional em
escala micro, o contexto nacional que caracteriza o direito infantojuvenil no tempo presente, pensando as
ressonâncias e rupturas entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e o do Adolescente e essas reverberações
nas políticas assistenciais.

Disciplina obrigatória no regime militar: o que ensinava o livro didático do 1º Grau "TDMC Trabalho Dirigido de
Moral e Civismo"?

Rosa Maria Garcia Monaco (SEEDUC / FUNDAÇÃO CECIERJ)

A Educação Moral e Cívica (EMC) foi instituída como disciplina e prática educativa obrigatórias em todos os níveis de
ensino no país, a partir do Decreto-Lei nº 869/69, art. 1º, regulamentado pelo Decreto nº 68.065/71, fruto da
instauração do regime militar (1964-1985) no Brasil. Em consonância às legislações vigentes, foi homologado o Parecer
nº 94/71, do Conselho Federal de Educação (CFE), o qual descrevia a liberdade gozada pelos sujeitos como o centro
da Educação Moral, e a relação do homem com seus concidadãos e sua pátria como o cerne da Educação Cívica; ambos
a serem desenvolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Dessa maneira, os documentos legais, que nos servirão
de fonte histórica, estabeleciam em suas orientações que a ministração da EMC teria como objetivo a formação de
cidadãos e, por conseguinte, de uma pátria, que fizessem jus à democracia, por meio do investimento na educação
das crianças, adolescentes e jovens. Foi possível relacionar a obrigatoriedade da EMC em todos os níveis de ensino,

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com o caráter de massificação adotado pelo governo militar (VELHO, 1994). Em contrapartida ao que rezava os
documentos oficiais, a disciplina se apresentava com um caráter doutrinário em prol da formação de posturas
conformistas, voltada aos interesses do discurso institucional. Providencialmente, para servir como base à ministração
da disciplina, muitos livros didáticos foram lançados na década de 1970. Sendo assim, o objetivo do trabalho será
investigar o papel da EMC enquanto disciplina obrigatória no ensino de 1º Grau, por meio da análise do livro didático
“TDMC: Trabalho Dirigido de Moral e Civismo”, do 1º Grau, Vol. 1, do ano de 1976, sob a autoria de Elian Alabi Lucci,
da Editora Saraiva. Conjuntamente, participarão do arcabouço teórico metodológico, autores como Chervel (1988),
Chartier (1990) e Burke (2002).

ST 18 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

A persistência do “problema do menor”: uma análise do código de menores e da infância pobre nas páginas dos
jornais da ditadura militar

Juliana Mendes Alves (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Marilene Antunes Sant`Anna (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro), Fabiana de Mesquita do Patrocínio Dias

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o levantamento que vem sendo realizado em jornais no âmbito do
projeto intitulado “O código de Menores da ditadura militar brasileira: juristas, parlamentares e imprensa discutindo
a infância pobre nas décadas de 1960 e 1970”, vinculado ao NIPHEI (Núcleo interdisciplinar de pesquisa em História
da Educação e Infância) da Faculdade de Formação de Professores da UERJ. O trabalho aborda as questões e demandas
erigidas por políticos, juristas, assistentes sociais, dentre diferentes grupos, acerca de como fazer para tramitar e
aprovar o texto do novo código de menores no Brasil, ato ocorrido no ano de 1979. Ao acompanharmos as notícias,
editoriais, reportagens publicadas nos principais jornais do Rio de Janeiro nos anos de 1960 e 70, analisamos as
representações construídas sobre a continuidade do problema do menor, historicamente atrelado a judicialização de
crianças e jovens e suas famílias na condição de pobreza, abandono e delinquência desde o final do século XIX. (Pilotti
e Rizzini, 2011; Câmara, 2010; Vianna, 1999). Além disso, estamos atentas aos discursos que tratam da maioridade
penal, delinquência juvenil e da valorização das políticas de internamento, ocorrido principalmente através da atuação
da FUNABEM, estabelecendo assim interlocuções entre a assistência e controle disciplinarização de crianças e jovens
transgressores com o projeto econômico-político do regime militar interessado em garantir a segurança nacional e o
futuro de desenvolvimento e progresso para o país. (Frontana, 1999; Rodrigues, 2001; Arend, 2014; Boeira, 2018;
Daminelli, 2019)

A política varguista e os preventórios/educandários no Paraná (1930-1945): interseções entre política pública de


saúde e assistência à infância

Rafaela Paula da Silva

Durante a primeira metade do século XX separava-se os filhos saudáveis de pais com hanseníase, na época chamada
de lepra. Isso era parte de uma política pública de saúde mantida e referendada pelo governo Vargas (1930-1945). No
Paraná foram criados preventórios, também chamados de educandários para acolher estas crianças e adolescentes.

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Este texto propõe algumas reflexões sobre o acolhimento, os processos educacionais e a arquitetura, pautado em
dados de fontes primárias e secundárias sobre os preventórios paranaenses, na análise da legislação e, em discussões
de referências bibliográficas sobre o tema. Por exemplo, o livro de Castro e Imaguire (2006) que apresenta
reproduções de fotografias e plantas de colégios e educandários paranaenses e o documento intitulado Realizações
do governo – Manuel Ribas 1937-1942 no qual são elencados educandários e hospitais inaugurados durante sua
gestão. Nesse sentido, objetiva-se perceber como uma política nacional foi aplicada no estado, comparando
informações referentes as instituições de diferentes cidades como Castro, Curitiba e Maringá.

A implementação da "obra" do copo de leite pelo médico Almir Madeira, na Escola Euzébio de Queiroz, em 1917,
em Niterói

Alessandra Moura da Siva (SEE)

Este trabalho tem como intento analisar a implementação da "obra" do copo de leite pelo médico Almir Madeira (1884- 1972),
na escola Euzébio de Queiroz, em 1917, na cidade de Niterói e que tinha por objetivo alimentar as crianças, em horário escolar,
com um copo de leite e pão. Com auxílio de filantropos e por meio do Instituto de Proteção e Assistência à Infância de Niterói
(IPAIN), no qual fora fundador e diretor (1914-1929), o médico Almir Madeira pôde efetivar seu intento. O médico era um dos
representantes da sua geração que se colocava a enfrentar os males que assolavam à infância pobre brasileira como o
analfabetismo e a mortalidade infantil. A instauração da chamada obra do copo de leite fazia parte de uma das medidas instituídas
pelo médico que vislumbrava diminuir a mortalidade infantil e o analfabetismo que assolavam as crianças pobres na cidade de
Niterói. Nesse sentindo, buscamos compreender, à luz do pensamento e ações do médico Almir Madeira sua concepção de que
a criança alimentada, corretamente, não ficaria doente, prosseguiria em seus estudos, teria mais aptidão para as atividades físicas
e seria um braço forte para servir ao país. Assim, nosso olhar busca inserir a escola como um espaço de regeneração da infância,
onde a alimentação saudável, como o copo de leite, era um dos recursos, junto com outros para abolir o analfabetismo, pois
visava aumentar a frequência escolar, restaurar a energia física e a capacidade de aprendizagem. Para realização da pesquisa, nos
debruçamos sobre as fontes primárias disponíveis como: trabalhos apresentados por Almir Madeira em congressos, periódicos,
relatórios onde defendia suas ideias e ou descrevia suas ações em determinados empreendimentos. Para nos auxiliar no diálogo
com as fonte, Bloch (2001), Le Goff (2003), Prost (2012), Revel (1998), Sirinelli (2003), Marcilio (1998), Camara (2006, 2010, 2011,
2014), Sanglard (2014), Freire (2011, 2015), Rizzini (2011), entre outros.

ST 18 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

As infâncias perigosas pelas páginas da Revista Vida Policial na cidade do Rio de Janeiro (1925-1927)

Sônia de Oliveira Camara Rangel (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Ana Paula da Silva Marins

Esta comunicação tem como objetivo analisar as concepções de infância que circularam na Revista Vida Policial,
periódico semanal editado na cidade do Rio de Janeiro, capital federal, de março de 1925 a fevereiro de 1927. Em sua
formulação, o periódico apresentava-se como um hebdomadário noticioso, crítico e doutrinário destinado a promover
educação social. Ao longo deste período foram publicados oitenta e nove números da revista, vendidas avulsas ou por
assinatura semestral ou anual para as capitais e outras regiões do país. Em seus números, a revista apresentava

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ilustrações e quadros com cerca de cinquenta e duas páginas por edição em que é plausível apreender temáticas
variadas acerca da vida cotidiana da cidade capital a partir da perspectiva policial. Com este intento interessa analisar
a revista como fonte e objeto, procurando problematizar de que forma ela perspectivou a proteção social às infâncias
consideradas perigosas no contexto de efervescência dos debates pela aprovação do Código de Menores de 1927.
Durante a década de 1920, diferentes setores da sociedade visaram refletir acerca dos problemas envolvendo a
miséria moral e material do ambiente, as influências maléficas da hereditariedade, do alcoolismo, da imprensa, do
cinema, das profissões perigosas, da rua, do industrialismo, como também dos elementos constitutivos da formação
racial na degradação das futuras gerações. Deste modo, considera-se que ao fazer circular crônicas, contos e notícias
policiais envolvendo menores considerados “perigosos”, a revista contribuiu para a reafirmação da ideia de
periculosidade associada à pobreza e a tipos criminosos específicos. Partindo desta compreensão, o periódico estará
sendo compreendido como veículos de circulação, de promoção de ideias e de produção de sentidos acerca dos
diferentes "tipos" deletérios, entre eles à infância considerada criminosa e degenerada.

As interpretações de Manoel Bomfim sobre a formação da criança em livros de leitura e manuais pedagógicos (1910-1928)

Marcela Cockell Mallmann (professor)

Manoel Bomfim (1868-1932) foi um intelectual brasileiro marcado pelo engajamento em diferentes campos da virada
do século XIX para o século XX, no cenário histórico da Primeira República (1889-1930), e pela Belle Époque tropical
(1898-19140) – na capital. Como autor de livros, possui com uma produção a qual dedicou grande parte de seu debate.
Neste trabalho nos propomos a analisar investigar o seu ideário de formação da identidade nacional a partir das
questões envolvendo a educação da criança, a partir do debate em torno da higiene, da pedagogia e psicologia nos
escritos: Através do Brasil (1910); Lições de pedagogia: teoria e prática de educação (1915); Noções de psicologia
(1916); Primeiras Saudades (1920); Pensar e dizer: estudo do símbolo no pensamento e na linguagem (1923) e O
método dos testes: com aplicações à linguagem do ensino primário (1928). Estas produções se apresentam como livros
de leitura e manuais pedagógicos que objetivavam não apenas a literatura de formação ou cívico pedagógica, mas
também evidenciava no pensamento do autor a sua preocupação em torno da formação da nação pela educação,
especialmente pela criança, questionando o discurso científico eurocêntrico vigente, em torno da raça, atraso e
tradição com a concepção de “parasitismo social”. Sendo assim, é possível traçarmos uma dialética entre sua produção
e sua ação no Pedagogium (1896-1919), como diretor e professor, na Escola Normal do Distrito Federal (1897-1926),
na Liga Brasileira de Higiene Mental (1924) e na Associação Brasileira de Educação (1924). Sua produção centrada na
criança, revela uma singularidade marcada por um contradiscurso em torno das justificativas dos “males” do atraso
brasileiro em relação às questões de raça, da mestiçagem e clima, apresentando como a cura a educação.

"Legião, Bondade e Amor". A Legião Brasileira de Assistência em Goiás e sua atenção à maternidade e a infância.
(1942-1961)

Lara Alexandra Tavares da Costa

Esta pesquisa tem como objetivo analisar o papel da Legião Brasileira de Assistência no processo de interiorização da
assistência em Goiás. Trata-se de pensar os sistemas ou modelos de assistências compreendendo sua forma específica,
local e sua articulação com elementos culturais e sociais. A partir dessas questões pontuais e especificas é possível

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desdobrar a análise da pesquisa em questões pontuais como o desenvolvimento de Goiânia, a influência ou ruptura
do pensamento religioso cristão nas obras de assistência e na criação de um sistema de assistência social na nova
capital. Para tanto, selecionamos a atuação da LBA voltada para assistência à maternidade e a infância, por meio de
duas instituições por ela dirigida: a Casa da Criança e os Postos de Puericultura. A Casa da Criança atendia as crianças
em situação de abandono e os Postos de Puericultura cuidavam e acompanham o desenvolvimento da saúde e
nutrição das crianças. Tanto os Postos de Puericultura quanto a Casa da Criança desempenharam também um papel
educacional, sendo instituições que concentraram todo o objetivo ideológico da LBA, criar e cuidar da criança para o
futuro da nação. Neste trabalho faz-se necessário identificar qual foi o alcance dos projetos gestados pela LBA voltados
para infância e maternidade em Goiás.

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ST 19. Ensino de História e relações gênero: interfaces entre prática e teoria

ST 19 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Brancos, pardos, pretos e cabras: a mudança de perfil dos enjeitados da casa dos expostos da cidade do Rio de
Janeiro na segunda metade do século XIX

Beatriz Virgínia Gomes Belmiro

Este trabalho tem por objetivo compreender como se deu a assistência à infância abandonada na Roda dos Expostos
da cidade do Rio de Janeiro a partir da segunda metade do século XIX, utilizando como objeto de estudo o perfil dos
enjeitados, bem como, buscando identificar o perfil da pobreza assistida pela instituição. Assim, analisar quem eram
os pobres da cidade do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX. Para tal, irei estudar o perfil da infância
abandonada e, na medida do possível, caracterizar a família que abandonava a criança – através da leitura dos
bilhetinhos que acompanhavam as crianças deixadas na roda dos expostos da Santa Casa da Misericórdia do Rio de
Janeiro. O período estudado é marcado pela chegada significativa de imigrantes no Brasil e pelo processo de Abolição
da escravatura até culminar na abolição de fato em 1888. Interessa perceber de que maneira essas mudanças, como
por exemplo a Lei do Ventre Livre em 1871, influenciaram no perfil das crianças enjeitadas no Rio de Janeiro.

O pedagogo e a Educação Hospitalar: avanços e dilemas

Carmem Lucia Oliveira Nascimento de Lima (TÉC)

O presente trabalho visa abordar sobre a Educação Hospitalar, sua realidade e necessidades para apoio as atividades formais
na educação escolar. Com o crescimento das cidades, com o surgimento da globalização e os avanços das tecnologias a
educação formal obrigou – se a expandir – se para outros ambientes. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é de mostrar
a relevância da Educação Hospitalar para crianças e adolescentes internados para que eles não percam e tenham continuidade
aos seus estudos, por isso, é imprescindível a presença de um pedagogo nesse ambiente. Portanto, o pedagogo se faz
necessário em todos os espaços onde exista educação. Esse estudo de abordagem qualitativa e bibliográfica se pautou em
artigos, livros e periódicos que contribuíram de forma significativa para nossas análises. A pedagogia Hospitalar é uma
modalidade da Educação Especial Inclusiva e nosso principal intuito com esta pesquisa foi divulgar e explorar este espaço
formativo como atividade do professor e do pedagogo, para tanto destacamos às leis que amparam os pequenos cidadãos
que necessitam deste processo formativo para continuidade de seus estudos. Concluímos que através das práticas educativas
lúdicas, e adaptações e flexibilizações o pedagogo hospitalar humaniza o hospital, contribuindo para amenizar o sofrimento e
a ansiedade da criança, adolescente e seus familiares.

Imagens de Clio: as relações de gênero na iconografia dos livros didáticos de história

Miguel Vinicius da Silva Moura

O trabalho aqui apresentado tem como objetivo a análise das relações de gênero nas imagens da coleção de livros
didáticos intitulada Projeto Mosaico – História, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. A coleção escrita pelos autores

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Cláudio Vicentino e José Bruno Vicentino, foi publicada pela Editora Scipione, sendo aprovada na avaliação do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2017. Compreender as cenas históricas é o objetivo fundamental que
justifica a inclusão de imagens nos livros didáticos em maior número possível, significando que as ilustrações
concretizam a noção altamente abstrata de tempo histórico. Desde a década de 1980 a iconografia começou a deixar
de ser vista apenas como simples ilustração e passou a ser considerada como expressão da sociedade que a gerou.
Logo, pode-se perceber que a escola, como uma instância social, é generificada, pois é atravessada por relações de
gênero, sendo que os livros didáticos de História são frequentemente constituídos como a principal fonte de irradiação
das interpretações e atitudes de professoras, professores e estudantes diante do passado. Assim, a análise de gênero
com base nas imagens possibilita averiguar como estão sendo dispostas de forma visual as representações das
feminilidades e masculinidades nos livros didáticos da disciplina História no Ensino Básico.

“Onde mora o preconceito?”: um diálogo interdisciplinar para discutir preconceito no chão da escola

Teresa Vitória Fernandes Alves (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro)

Esse trabalho é fruto de uma atividade realizada com alunos e alunas do 8º ano do Ensino Fundamental, em uma
escola pública do município do Rio de Janeiro localizada na zona norte da cidade, num bairro visto e tido como “nobre”.
No ano de 2018 a escola em questão iniciou um projeto ligado a escrita com alunos e alunas do 8º ano. O resultado
desse trabalho resultaria numa experiência única e que se estendeu ao longo dos anos de 2019 e 2020. Infelizmente,
esse ano em virtude da Pandemia da COVID-19 esse projeto intitulado Prêmio Literário do Ensino Fundamental foi
suspenso. Mas a experiência que vou compartilhar aqui aconteceu no ano de 2019, quando nossos jovens alunos e
alunas levantaram a bandeira pelo fim do preconceito na nossa escola. Nesse ano, o tema era PRECONCEITO e como
trabalhar com jovens um assunto tão delicado e sério. Só para me localizar, nesse momento eu estava atuando como
regente de Sala de Leitura, contudo minha raiz de historiadora sempre esteve interligada com o meu trabalho de
difundir, estimular e ampliar a leitura de mundo desses meninos e meninas. E foi assim, com o intuito de ouvir e
permitir que eles se colocassem foi que, junto com os professores de Língua Portuguesa começamos a promover
encontros (na Sala de Leitura) como esses jovens. AS discussões foram tão interessantes que saíram desse espaço e
ganhou os corredores da escola. O que levou a um grande debate sobre questões que envolviam Racismo, Preconceito,
Xenofobia, Feminicídio e tantas outras formas de preconceito. O trabalho interdisciplinar permitiu um maior diálogo
entre História – Língua Portuguesa – Literatura – Cinema, já que essas formas de narrativas foram elementos centrais
nesse trabalho. Assim, essa experiência nos permite refletir acerca das práticas interdisciplinares e como a História
pode e deve ser uma disciplina integradora de temáticas que envolvem questões sociais, que vão muito além dos
manuais didáticos e dos conteúdos trabalhados no dia a dia de sala de aula.

História e sexualidade: diálogos possíveis e necessários na Educação Básica

Renata Rodrigues Brandão (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

O presente trabalho é uma narrativa de experiências como professora de história da rede municipal de ensino do Rio
de Janeiro. Defendo o necessário diálogo sobre a sexualidade na sala de aula para o enfrentamento da homofobia,
das práticas machistas e das discriminações de gênero. Relato as atividades do projeto sexualidade e cinema realizado
em uma escola da zona sul carioca em turmas do 8o ano durante os anos de 2010 a 2013 e os desdobramentos deste

117
projeto em minha prática pedagógica como professora de turmas de projeto de correção de fluxo nos anos 2017 e
2018. Vivenciamos na escola conflitos de raça, gênero, classes sociais e gerações; ignorar esses conflitos impede que
avancemos em uma prática educacional que faça de fato sentido para a vida dos(as/es) estudantes e que esteja voltada
para a defesa dos direitos humanos. Neste sentido, o relato traz reflexões para pensarmos: de que maneira podemos
abordar a sexualidade a partir das aulas de história? Além de interpelar os discursos e a ausência de discursos sobre a
sexualidade em alguns livros didáticos de história de coleções diversas adotados pelas escolas municipais do Rio de
Janeiro.

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ST 20. Ensino de História: currículo, docência e formação de professores

ST 20 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

A inserção da temática indígena no currículo escolar

Igor Meireles Bagdadi, Viviani Anaya (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)

Se tivesse que definir Currículo, atualmente, em uma frase, diria que é uma política educacional que seleciona as
culturas sociais que serão abordadas em instituições educativas. Por si só, essa rasa definição já retrata como a
sociedade se comporta com a questão indígena, seja nas instituições educacionais ou fora delas. Definir currículo não
é tarefa fácil, considerando sua complexidade, tanto em termos prescritos quanto na aplicabilidade em sala de aula,
em relação à questão indígena a dificuldade emerge potencializada. O currículo engloba toda a prática escolar, desde
a carga horária a ser cumprida até a contratação de novos profissionais. Portanto, ações administrativas e pedagógicas.
É um artefato tão complexo que podemos “[...]encontrar-se com perspectivas diversas que selecionam pontos de
vista, aspectos parciais, enfoques alternativos com diferente amplitude[...]” (SACRISTÁN, 2017, p. 14), diferentes
formas de abordagem para sua definição. Porém, podemos dizer que o currículo educacional é um conjunto de práticas
que tem como fim funções sociais e culturais dentro de uma intuição de educação, formando, portanto,
intrinsicamente, um sistema social, com particularidades e especificidades, a considerar as diferentes instituições de
ensino, com funções sociais e culturais selecionadas, a partir desses diversos subsistemas. Se a questão curricular é o
principal pilar de sustentação educacional, sendo elaborado de acordo com a cultura e sociedade onde se insere, visto
que toda a educação é um recorte cultural, a pressão que tal instituição sofre de agentes externos para compô-lo nos
aponta que esse artefato não é neutro. Todas as temáticas que provocam inquietações para compreender a realidade,
de alguma maneira estão ligadas ao currículo, estando ou não presente nele. Compreender essa dinâmica nos fornece
elementos para entendermos a estrutura educacional que afeta o debate da temática indígena, como componente
curricular, bem como elemento cultural e social.

Entre permanências e mudanças o conhecimento histórico escolar na BNCC

Rafaela Albergaria Mello (SEEDUC)

O trabalho que se pretende apresentar nesse simpósio é parte da minha pesquisa em andamento de doutorado no
PPGE da UFRJ. É uma análise da disputa do conhecimento histórico construção da Base Nacional Comum Curricular –
BNCC de História para o segundo segmento do ensino fundamental. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um
documento curricular desenvolvido pelo Ministério da Educação para toda a Educação Básica. Percebemos que o
processo de produção dessa normativa curricular entre os anos 2014 até 2017 esboça a disputa na comunidade
disciplinar (Goodson) de História sobre quais conhecimento deveriam ser valorizados e legitimados no currículo
nacional. Entendemos que houve uma disputa de sentidos sobre o conhecimento escolar. Compreendendo o
eurocentrismo como um conceito importante a ser refletido na constituição do conhecimento escolar, pretendemos
nesse trabalho analisar como este esteve presente nos conteúdos, se houve a permanência ou mudança na abordagem
dos conteúdos, se houve a manutenção de uma história eurocêntrica ou uma ruptura.

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A influência do Currículo Escolar de História no Processo de Identificação da criança negra na escola

Wallace Souza da Silva (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O presente trabalho trata-se da apresentação dos resultados obtidos na Pesquisa de Dissertação de mestrado, no qual teve por
finalidade analisar como o currículo escolar, compreendido aqui numa concepção pedagógica crítica, se constitui em meio às
relações de poder, é tido como fruto da relação implícita ao discurso social no qual é construído. Portanto, podemos compreender
currículo como mais do que um simples documento, estando para além de sua subjetividade, articulado no âmbito social com
diferentes espaços e territórios aos quais os indivíduos pertencem. Torna-se um documento de identidade que pode influenciar no
processo de autoconstrução identitária da criança negra na escola. Diante disso, será apresentado uma análise sobre o currículo a
partir de uma abordagem crítica ao modelo tradicional, analisando como tal, a proposta pode tornar-se um instrumento de poder.
Analisaremos o quanto o currículo pode ser visto como uma forma de reprodução das relações sociais de poder responsáveis por
reproduzir as desigualdades sociais presentes. Será apresentada uma análise crítica comparativa feita entre um importante
documento norteador curricular nacional que são as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira (2004), com o próprio Currículo escolar de História para os Anos Iniciais em vigor
na rede municipal o ensino de Japeri/RJ, a fim de perceber como o Currículo de História proposto para essa etapa escolar, pode
influenciar no processo de identificação da criança negra no espaço escolar. Tal análise crítica comparativa tem por objetivo principal
verificar, além de pontos fundamentais sobre a importância da Lei 10.639/03 - que norteia o currículo escolar -, analisar como a
própria proposta curricular da rede municipal de ensino de Japeri incorporou tais diretrizes e normas em seu currículo.

Produção de conhecimento histórico escolar antirracista na educação básica: propostas do chão da escola

Thays Merolla Piubel (Prefeitura Municipal de Maricá)

A presente comunicação tem por objetivo apresentar resultados da pesquisa de mestrado concluída no Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFRJ acerca da produção de conhecimento histórico escolar na educação básica
acerca do racismo, entendido no âmbito da pesquisa enquanto um tema sensível da história do Brasil. Os temas
sensíveis ou controversos se relacionam com questões de trauma e violência física/simbólica contra populações
historicamente marginalizadas que reverberam no tempo presente, se constituindo enquanto passado vivos. Na
pesquisa buscamos compreender como professores de História egressos do Mestrado Profissional em Ensino de
História (ProfHistória) que atuam em escolas públicas na região metropolitana do Rio de Janeiro mobilizam saberes
curriculares, pedagógicos, históricos, da experiência, da cultura escolar e de referenciais culturais amplos de maneira
a constituir um saber complexo, o conhecimento histórico escolar. Para isso foram realizadas entrevistas com esses
professores a partir da metodologia da História Oral, de maneira a estimular a produção de narrativas acerca de suas
práticas docentes, buscando identificar elementos antirracistas nessas produções curriculares.

ST 20 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Construindo diálogos entre narrativas carnavalescas e o ensino de História.

João Gonzales Moreira

Este trabalho parte de uma indagação: e se um desfile de escola de samba pudesse ser útil a confecção de uma aula
temática de História pautada no conceito de interculturalidade? Com a ajuda do (s) santo (s) esse desfile foi

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encontrado. O Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES) Estação Primeira de Mangueira, no ano de 2017, com o
enredo assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, desfilou a religiosidade do brasileiro a partir do “Só com a ajuda do
santo”. Esta narrativa indicava que o brasileiro, na sua manifestação particular do catolicismo, se permitia tolerante e
aberto em relação a outras práticas religiosas. Promovia um catolicismo de "intercessões", permissivo à grande
proximidade entre o devoto e a santidade, autorizando lhe relação íntima e pessoal com o divino, segundo palavras
do carnavalesco no "Abre Alas", livro que registra justificativas e detalhes do desfile. A partir do que sugere Laurence
Bardin (1977), me utilizei da sua metodologia, entre diferentes propostas, e apliquei no "Abre Alas" aquela que implica
em organizar, codificar e categorizar as informações do carnaval da Mangueira de 2017. Isso feito proponho um
material infográfico que apoia uma aula de História sob o viés da interculturalidade a partir do referido enredo e
também a criação de um material, do mesmo formato, visando fornecer apoio ao professor que queira aplicar a
referida aula. A intenção destes materiais é seguir projetando possibilidades de enlaces entre o carnaval carioca e o
Ensino de História. O carnaval, além de manifestação cultural, se constitui de uma infinidade de possibilidades e, entre
elas, se coloca essa de caráter magistral. É possível sim aprender com e no carnaval. Que o samba e o Ensino de História
nos ensine a vivermos respeitando e valorizando diferenças e encontros.

O ensino de história da Ditadura Militar: disputas narrativas em tempos de negacionismo histórico.

Marina de Freitas Giovanette

No atual cenário educacional, os historiadores e professores de história são frequentemente interpelados por relatos
memoriais, dados baseados em fontes não científicas e informações cunhadas por indivíduos que não possuem
compromisso com a ciência histórica, visando deslegitimar o conhecimento histórico e a produção historiográfica,
especialmente quando se trata do período em que ocorreu a Ditadura Militar brasileira (1964 – 1985). A formação
histórica depende em parte da escola, logo, deve-se considerar a influência do entorno dos estudantes, seja este os
meios de comunicação, a família, o círculo de fé, a internet, na formação das suas consciências históricas ao pensar a
prática docente, pois esses aspectos influenciam a forma como esses indivíduos ocupam a sala de aula. O ensino de
história da Ditadura Militar passou por diversas transformações desde a redemocratização e está inserido em uma
lógica de disputa de narrativas, onde o conhecimento histórico produzido em sala de aula lida diretamente com a
influência do contexto de pós-verdade, negação, revisionismo e principalmente, negacionismo da história. Sendo
assim, o presente projeto busca discutir acerca das disputas de narrativa presentes nas salas de aula na atualidade e
nos desafios encontrados pelos professores e professoras de história nas aulas sobre a Ditadura Militar brasileira,
possuindo como fonte principal a entrevista com os docentes da rede pública e privada do Rio de Janeiro que são
alunos no Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHistória).

Ensino de História e Educação Ambiental

Ely Bergo de Carvalho (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)

Há no ensino de História uma grande dificuldade em incorporar a educação ambiental, mesmo, especificamente, o
meio ambiente como tema contemporâneo transversal. A educação ambiental é ofertada de modo fragmentado, em
geral, ministrada com exclusividade nas disciplinas das ciências naturais. Ora, a História tem tanto a oferecer para a
educação ambiental quanto a Biologia e a Geografia, quando superado a visão disjuntiva entre o mundo natural e

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social, então entendemos que os desafios ambientais são frutos da inter-relação entre diferentes configurações sociais
e ecossistemas biofísicos. O presente estudo busca compreender o distanciamento entre a disciplina História e a
educação ambiental e com isso contribuir para procurar caminhos de aproximação. Os professores de História
continuam a lecionar como se os seres humanos vivessem em um mundo supranatural, em que haveria política,
economia, cultura, mas que tudo tivesse pouca relação com o fato de fazermos parte de uma pequena bolinha azul
que flutua em um universo imenso, em uma biosfera que é nosso lar, que nos constitui. Diante da crise ambiental-
civilizatória atual, deve haver uma renovação no modo como se pensa o ser humano e a natureza, para agir, não a
partir do modus operandi que gerou a crise, mas de uma forma nova. O ensaio apresenta como a emergência da
educação ambiental e da história ambiental insere no campo do ensino de História um desafio que não pode ser
solucionado com a inserção cosmética de um novo tema, mas implica em uma nova forma de compreender a história.
Um argumento central para entender a responsabilidade do professor é compreender como o ensino de História está
inserido na produção material e simbólica da natureza e nos conflitos por apropriação do mundo natural. Os
historiadores podem fazê-lo de forma ingênua ou crítica, mas inescapavelmente o fazem.

Interdisciplinaridade, arte e experiências nos processos de aprendizagem do Ensino Médio Técnico Integrado do
IFCE

Rodrigo Leonardo de Sousa Oliveira (Instituto Federal de Rondônia), Maria Auxiliadora Gadelha da Cruz (IFCE - Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará)

A proposta desta comunicação é apresentar os resultados parciais de nosso projeto de cooperação técnica
desenvolvido no Instituto Federal do Ceará, campus Fortaleza, durante o primeiro semestre do ano de 2021. Este
trabalho propôs a redação e o desenvolvimento de projetos de pesquisa entre os alunos do ensino técnico integrado
da referida instituição. No caso desta comunicação, apresentar-se-á a pesquisa intitulada “Interdisciplinaridade, arte
e experiências nos processos de aprendizagem do Ensino Médio técnico integrado do IFCE”, redigido pela aluna
Viviane dos Santos Moreira Sarmento e pelos professores Maria Auxiliadora Gadelha da Cruz (orientadora) e Rodrigo
Leonardo de Sousa Oliveira (coorientador). A presente comunicação estudou a importância de experiências
interdisciplinares no IFCE. Considerando que na sociedade atual, muitas vezes, o processo de ensino é bombardeado
por informações, a busca por melhores formas e mecanismos de aprendizagens é vital nos processos de ensino-
aprendizagem. Sobretudo para que rompam os limites da repetição, da falta de dinamismo e proporcione um maior
envolvimento entre estudantes e professores. No IFCE, por meio de propostas de trabalhos interdisciplinares, algumas
experiências vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, inclusive algumas que tentam aliar Arte às várias disciplinas
curriculares do Ensino Médio Técnico Integrado do IFCE. Esse estudo objetiva, a partir do conceito de
Interdisciplinaridade e de Ensino de Arte, identificar essas experiências no IFCE. Para tanto, na revisão de literatura,
trouxemos as contribuições de Abreu, Bezerra, Cruz (2016), Bondiá (2002), Fortes (2016), Francisco Júnior (2006) e
pesquisamos trabalhos interdisciplinares no IFCE, tal como a “Mostra Juventude, Arte e Ciência do IFCE” – JAC e a
“Mostra Ceará Litoral, Serra e Sertão – Feira do Ceará” e os projetos “A Matemática está em Tudo” e “Química
connection”, e, os “Diálogos Interdisciplinares para formação cidadã da juventude”.

122
ST 20 – 20/10 – Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Formação inicial e continuada de professores em Educação do Campo: diversas experiências nas ruralidades
fluminenses (2010-2021)

Marília Lopes de Campos (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Rosilda Benácchio (UFF - Universidade
Federal Fluminense)

A partir da criação do curso de Licenciatura em Educação do Campo em 2010 através da parceria entre a UFRRJ,
movimentos sociais/sindicais/organizações quilombolas/indígenas/ocupações urbanas e o PRONERA/ INCRA,
iniciamos um conjunto de ações de educação popular em diversos territórios rurais fluminenses, na perspectiva da
formação dos sujeitos daquelas diversas ruralidades como educadores nas áreas de Ciências Sociais e Humanidades
(História e Sociologia) e em Agroecologia e Segurança Alimentar. O curso funcionou pela Pedagogia da Alternância: os
estudantes ficavam 2/3 do semestre em Tempo Escola na Universidade e 1/3 do semestre em Tempo Comunidade
nas suas localidades de origem para realizar atividades diversas de pesquisa e extensão com orientação dos
professores. A presença dos estudantes em seus territórios de origem e educadores(as) da Universidade se
materializou em pesquisas e atividades de extensão. Em função do desconhecimento generalizado dos gestores
públicos em relação à Educação do campo, a presença dessas atividades produziu grande capilaridade ao debate da
Educação do Campo. Em 2013, a LEC foi institucionalizada como curso de licenciatura regular na UFRRJ através de
Edital PROCAMPO. A partir de 2014, se desdobraram diversas ações não apenas de formação inicial mas também de
formação continuada de professores na Educação do Campo, principalmente nos municípios de Angra dos Reis, Nova
Iguaçu, Queimados e Campos dos Goytacazes. As formações buscam fortalecer o diálogo entre educadores visando
ampliação da visibilidade da Educação do Campo como modalidade da Educação Básica. Partem todas da proposta de
Freire de Estudo da Realidade Local, sua problematização, organização do programa de estudos e devolução aos
parceiros das comunidades locais.

Seguindo o caminho do afeto na docência em História

Mariana de Oliveira Amorim (SME - RJ)

Professoras e professores de História, alunas e alunos ocupam um mesmo ambiente escolar (seja presencialmente ou
virtualmente) durante todo o ano letivo e desenvolvem suas relações por intermédio do ensino e da aprendizagem
dos conhecimentos históricos escolares. Nesses espaços-tempos das salas de aula, as relações de afeto podem
constituir-se em elementos-chave que contribuem para a construção de um lugar que propicie ensino e aprendizagem
significativos, experimentados tanto por docentes quanto discentes. Segundo Espinosa (2008, p. 237), afetos são as
“afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada, e, ao mesmo
tempo, as ideias dessas afecções”. Nesse sentido, Espinosa afirma que, a todo momento, somos afetados e que,
dependendo do tipo de encontro que experimentamos, oscilamos entre afetos alegres (que nos impulsionam, que nos
estimulam) e afetos tristes (que nos paralisam ou nos desanimam). Ainda segundo o autor, podemos ser passivos
diante das situações que nos acometem ou então podemos agir, aprendendo a observar quais encontros nos
fortalecem e aqueles que nos enfraquecem e, assim, poder aumentar a potência de nossas vidas. A questão do afeto
na relação entre professoras, professores, alunas e alunos é uma das linhas de força, uma das potências que

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atravessam as narrativas de quatro professores iniciantes de História entrevistados, em contexto de desenvolvimento
da pesquisa de doutorado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, entre 2015 e 2019. Todas as professoras e professores de História destacaram a importância dos afetos
para a constituição de suas docências, como estímulos para a construção de suas relações com alunas e alunos e para
o desenvolvimento e avaliação de suas aulas.

Multimídias, tecnologia e o processo ensino-aprendizagem de História

Luiz Gustavo Martins da Silva, George Leonardo Seabra Coelho (Universidade federal do Tocantins)

Nos últimos anos, observamos a popularização de diversos eletroeletrônicos como notebook, ipod, virtual reality,
tablet, iphone, vídeo game, entre outros. Até a década de 1990, esses equipamentos eram possíveis de serem
imaginados apenas em filmes futuristas como 2001: A Odisseia no Espaço (1968), Tron: Uma Odisséia Eletrônica (1982)
ou De Volta para o Futuro 2 (1989). Esses aparelhos imaginados pelas indústrias cinematográficas e agora
comercializados em lojas de departamentos variados, criaram e estão criando novas necessidades, despersonalizam
e, ao mesmo tempo, reformulam as relações sociais. A utilização desses eletroeletrônicos em ambientes escolares tem
provocado debates por parte de estudiosos no campo da educação. Tais discussões estão para além das preocupações
referentes às variedades de equipamentos comercializados, de suas formas de inserção nos imaginários sociais e do
modo como vêm modificando as relações sociais. Nossa comunicação justifica-se pelo fato de que se faz necessário
problematizar os usos desses dispositivos no processo de ensino e aprendizagem e no Ensino de História, pois a relação
entre professor-aluno-conhecimento, assim como, entre aluno-aluno, tem sido transformada a partir dos usos das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Alguns objetivos são: levantar questões referentes às TDIC
e suas interfaces com o ensino; problematizar a incorporação do lúdico pelas TDIC na educação e no ensino de História;
e apontar para as possibilidades de produção de material didático a partir dos suportes oferecidos pelas TDIC. Nesse
sentido, buscamos problematizar o conceito de Tecnologias Digitais, seus usos na educação e as possibilidades de
elaboração, desenvolvimento e produção de materiais didáticos e como foram e têm sido pensadas no processo de
ensino-aprendizagem de História. Por fim, nosso intuito também é dialogar sobre a avaliação crítica de jogos digitais
e outras mídias utilizadas em diferentes ambientes de aprendizagem.

Tecnologias Digitais: as Bibliotecas Virtuais como Ferramentas Educacionais

Nilson Giuvannucci Rosa (UFT - Fundação Universidade Federal do Tocantins)

A presente comunicação pretende realizar uma análise dos acervos digitais por meio de levantamento bibliográfico,
onde abordaremos as Tecnologias Digitais e as relações entre a Biblioteca Virtual, as Tecnologias Digitais de Ensino e
o Ensino de História. Este tema será desenvolvido a partir das possibilidades de usos da Biblioteca Digital da
Universidade Federal do Tocantins e os usos das midias sociais feitos pelos alunos do Curso de Licenciatura em História.
Consideramos que através da informatica e das redes sociais existem infinitas atividades a serem realizadas o que
certamente, poderá possibilitar transformar a disciplina de história em matéria dinâmica e não repetitiva. De modo
geral, defendemos que a aproximação entre Educação e as Tecnologias Digitais tornou-se de extrema importância na
atualidade, em particular devido a pandemia do COVID – 19 e a vacinação dos profissionais de educação e a
possibilidade da aplicação do ensino Hibrido. Neste contexto, o que antes era pensado apenas como política de

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inclusão através do EAD, ou seja, como política de informatização material (renovação de maquinário escolar), agora
se tornou um método imediato de ensino que já vem sendo aplicado e que tem sido enfrentado às pressas diante do
súbito problema epidemiológico. Defendemos que nosso estudo será de suma importância para discutir a melhor
formação dos futuros professores, assim como prestar suporte para os novos ingressantes universitários. Como
podemos ver, nossa pesquisa pretenderá abarcar todas as dimensões da Pesquisa, Ensino e Extensão, ou seja, o tripé
da Universidade Pública brasileira.

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ST 21. Ensino de História: formação e prática do chão da escola às telas informatizadas

ST 21 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Ensino de História: novos contextos e novas práticas

Renato Ramos Vieira (be)

Este artigo explora os impactos do crescente uso da tecnologia na área da educação, mais especificamente em relação
ao ensino de História, através de metodologias de ensino e aprendizado que tem utilizado novos recursos para
dinamizar a experiência pedagógica. Para isso, foi feita uma observação das antigas práticas de ensino, um
levantamento bibliográfico e uma análise profunda do uso de Tecnologias de Informação e Comunicação Digital no
espaço escolar. Essas análises nos fizeram observar que os desafios e os ganhos acerca do uso de novas tecnologias
não se limitam ao ensino de História e que os benefícios são observados em diversos segmentos das áreas das
licenciaturas. E nos apontam obstáculos como a falta de preparo docente, falta de apoio, falta de equipamentos, entre
outros. Porém, os dados analisados demonstram tentativas exitosas de contornar esses desafios. Em relação às
recepções por parte dos alunos, verificamos que a prática deve ser explorada e desenvolvida, não de maneira isolada,
mas com conteúdo interdisciplinar a ser trabalhado ou como foco principal da formação.

O ensino da história: O novo chão da educação

Yago Coelho Rocha (estagiário), Luiza Almeida Vieira

Este artigo aborda o impacto da virtualização do ensino e das diferenças de tratamento entre as escolas públicas e
particulares, traduzindo assim, a visão do aluno e dos professores durante este contexto pandêmico, buscando realizar
um debate imparcial sobre a educação no Brasil. Sua estrutura, evolução e mudanças nos últimos anos, a fim de
estabelecer-se dentro do documento feito pela UNESCO em 1996, e a Base Nacional Curricular Comum, suas mudanças
e a forma como ela foi tratada e usada durante a pandemia do Covid-19. É exposto os diferentes tipos de metodologias
de ensino que passaram pelo solo brasileiro desde o século XVI, com os jesuítas, até a aplicação da BNCC com a
proposta de uma escola integral. Citamos a deficiência do sistema educacional com a conjuntura do ensino virtual e a
ampliação do cenário de desigualdade educacional. Finalizamos com um depoimento pessoal da experiencia neste
novo sistema no âmbito escolar, com suas circunstâncias positivas e negativas para nós, os educandos e os
educadores, onde enfrentam suas dificuldades na adaptação deste novo processo que desenvolveu um denominador
comum, a individualização do ensino.

Tecnologia digital e ensino de história: proposições teóricas a partir do pensamento de pierre lévy e andrew
feenberg

Omar Sufen Filho (UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

Esta comunicação tem o objetivo de fazer uma análise da obra Cibercultura (1999) do filósofo Pierre Lévy.
Pretenderemos abordar o conceito de “Arvore do Conhecimento”, as possibilidades da “democracia eletrônica” e a

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relação entre a cibercultura e Educação. Considerando a comunicação interativa e coletiva oferecidas pelo
ciberespaço, temo o intuito de discutir a atualidade da obra deste filósofo a luz da teoria crítica da Filosofia da
Tecnologia proposta por Andrew Feenberg. A partir do pensamento contemporâneo – particularmente no campo do
ensino de História – referente as interações entre educação e tecnologias digitais, destacamos duas concepções: 1)
aqueles que são contra toda mediação eletrônica na educação, uma posição sem nenhum efeito na qualidade da
informatização, somente em seu ritmo; 2) e aqueles que adotam um modelo de educação à distância que depende da
interação humana pela via das redes de computador. Neste sentido, pretenderemos problematizar as relações entre
o ensino de História e a apropriação das tecnologias digitais na prática docente dentro das perspectivas destes dois
filósofos.

Scarborough Fair: A utilização da música no ensino da Idade Média

Jayza Monteiro Almeida (IFPA)

O presente trabalho é fruto da utilização das linguagens da arte no ensino e integração das disciplinas de História e
Língua Inglesa em um colégio público da Prefeitura Municipal de Vila Velha no estado do Espírito Santo. Através da
utilização da proposta triangular, buscou-se realizar a transposição didática do conteúdo sobre o Ressurgimento do
Comércio na Idade Média, dando enfoque a história cultural através da análise da balada medieval inglesa
Scarborough Fair. A análise da prática docente foi feita contrapondo as orientações dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular, mostrando as mudanças e permanências esperadas para o ensino de
História Medieval com as novas diretrizes. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi a pesquisa
qualitativa em conjunto com a observação participante e as informações apresentadas foram coletadas durante o
período de realização das atividades escolares, que duraram cerca de duas semanas e foram realizadas nos próprios
horários de aulas das disciplinas.

Do chão ao insta - tiras sociais na formação docente e nos diálogos reflexivos dos discentes

Giovanni Codeça da Silva (Seeduc RJ e UVA)

As vivências resultantes da parceria entre o curso de Licenciatura em História da Universidade Veiga de Almeida (UVA)
e o Colégio Estadual Antônio Prado Júnior (CEAPJ), nos anos de 2018/2019 nas modalidades de estágio supervisionado,
e nos programas da CAPES (PIBID e Residência Pedagógica), permitiram a construção de diferentes experiências
formativas para licenciandos e discentes da educação básica. Uma dessas experiências teve como material pedagógico
o uso de tirinhas, cartoons e histórias em quadrinhos (HQ) no chão da sala de aula. Para os licenciandos foi a
possibilidade de elaborar estratégias para criação de atividades com o uso desses materiais. Já para os discentes da
educação básica a experimentação esteve ligada a significação da teoria apreendida e seu uso nas linguagens
multiplas. Foi a partir desta experimentação que no planejamento das áreas de humanidades foi inserido o uso da,
tirinha "Os Santos" produzida por Leandro Assis e Triscila Oliveira e veiculada pelo instagram. "Os Santos - uma tira de
humor, ódio", onde a palavra humor vem riscada de vermelho e na mesma cor escrito ódio, tem como temática as
relações sociais e os traços marcantes do racismo e machismo. Mas as ações que iniciaram no chão da escola, logo
foram interrompidas pela propagação de Covid-19 e com o crescimento do contágio e sua classificação como
pandemia a virtualização foi uma consequência esperada a partir da adoção de medidas de distanciamento social.

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Neste novo cenário licenciandos e discentes da educação básica experimentaram o diálogo com questões
fundamentais para construção do pensamento crítico na sociedade brasileira através de diferentes plataformas
virtuais. Este texto aborda esta experiência ao longo dos anos de 2020/2021.

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ST 22. Europa para as Américas: O Espiritismo em Perspectiva

ST 22 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Projeto Allan Kardec: em busca de seus Correspondentes e suas Biografias.

Angelica Aparecida Silva de Almeida (IF Sudeste MG - Campus Juiz de Fora)

O estudo das religiões tem chamado a atenção de diversos pesquisadores nas áreas das ciências humanas. O
espiritismo que nasceu na França em 1857, se disseminou no Brasil, tanto que atualmente, os espíritas representam
o terceiro maior grupo religioso do Brasil. Kardec, se tornou um dos pensadores franceses de maior influência na
sociedade brasileira. Ele é provavelmente o autor francês mais lido no Brasil. Apesar de sua relevância histórica, o seu
trabalho de pesquisa, seus métodos e as relações estabelecidas por ele na construção do espiritismo continuam sendo
pouco conhecidos pelos pesquisadores e espíritas, devido à quase total ausência de fontes históricas primárias ao
pensador francês. O projeto Allan Kardec modifica esse cenário pois teve acesso a um grande número de manuscritos
originais e inéditos de Allan Kardec. Nesse projeto trabalhamos na pesquisa e construção das biografias dos
correspondentes de Kardec, contextualizando historicamente esses personagens dentro do processo de elaboração
do Espiritismo. A identificação desses correspondentes vêm mostrando a importância dessas cartas para a construção
da doutrina espírita de modo plural, através de uma variedade de informações obtidas que ajudaram Kardec nesse
processo, além da utilização desse veículo para orientar novos líderes do movimento espírita na França e fora dela.

Raça e reencarnação no Espiritualismo norte-americano: uma visão a partir da crítica de Allan Kardec (1857-1869)

Marcelo Gulão Pimentel (Colégio Naval)

O presente trabalho discute o tratamento da questão racial no Espiritualismo Moderno norte-americano, a partir da
hipótese de Allan Kardec, na Revue Spirite, de que a rejeição dos espiritualistas à crença na reencarnação se deveria
ao forte preconceito racial presente nos Estados Unidos. Segundo Allan Kardec, para quem a reencarnação era um
ponto importantíssimo na cosmologia espírita, essa divergência precisava ser explicada. Afinal de contas, o método
que ele desenvolveu para atestar a credibilidade das mensagens supostamente recebidas dos espíritos se baseava,
entre outros elementos, no consenso entre elas. Como, então, justificar a ausência da reencarnação no movimento
americano? A resposta de Kardec, publicada em um artigo na sua Revue Spirite em 1862, era tão simples quanto
incisiva: o preconceito de raça. Para ele, os americanos rejeitavam a ideia da reencarnação, tão cara aos espíritas,
porque, sendo uma sociedade em que a escravidão tinha existido por séculos, os brancos não conseguiam aceitar a
possibilidade de encarnar em uma “raça” que consideravam inferior. Assim, a cultura, na visão de Kardec, teria
condicionado o Espiritualismo Moderno ao ponto de lhe impor um “ponto cego” metafísico que só o tempo poderia
curar. A análise se dá em dois planos: primeiro, apresenta-se o estado atual do assunto na recente historiografia do
Espiritualismo; em seguida, descreve-se a maneira como Kardec tratou essa divergência doutrinária entre espíritas e
espiritualistas, tomando como estudo de caso os espiritualistas francófonos de Nova Orleans.

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Representações do Espiritismo no discurso médico-científico de Cesare Lombroso (1943)

Gabriela Harumi Araki

Em 28 de outubro de 1909, cerca de onze dias após o falecimento do médico psiquiatra italiano Cesare Lombroso
(1835-1909), foi publicada em Turim, na Itália, a última obra redigida pelo referido autor. Sob o título em língua italiana
de Ricerche sui fenomeni ipnotici e spiritici [Pesquisas sobre fenômenos hipnóticos e espíritas], este livro foi traduzido
para a língua portuguesa em 1943 por Hipnotismo e Mediunidade, sob a iniciativa da Federação Espírita Brasileira
(FEB). Em Hipnotismo e Mediunidade, Cesare Lombroso discorreu acerca de diferentes assuntos que convergiam à
temática do Espiritismo, tais como as aparições espirituais ou de fantasmas, a permanência da crença na comunicação
com os mortos em diferentes culturas, experiências médico-científicas com médiuns, em especial a médium italiana
Eusapia Palladino e as manifestações mediúnicas produzidas nas sessões em Milão, Itália, frente à um grupo de
intelectuais denominado por Sociedade de Milão. Compreendemos que os discursos médico-científicos do século XIX
ocupam um espaço privilegiado no campo dos saberes, neste sentido, a obra Hipnotismo e Mediunidade de Cesare
Lombroso nos possibilita refletir acerca das condições históricas que possibilitaram a produção de narrativas sobre as
crenças mediúnicas e o Espiritismo moderno do século XIX.

ST 22 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Espiritismo, ecologia e política: uma aproximação inicial às abordagens espíritas de questões ecológicas

Sinuê Neckel Miguel (UEPB - Universidade Estadual da Paraíba)

A pesquisa em andamento trata de examinar historicamente o modo como questões ecológicas têm sido apresentadas
e compreendidas em obras espíritas. Destacamos a dimensão política do modo como a natureza é concebida, de onde
a vinculação a temas como desenvolvimento sustentável, economia verde e afins. É particularmente interessante o
estudo das aproximações entre espiritismo e ecologia, dado que essa se desenvolveu também como movimento social.
Tais aproximações podem, então, conduzir a abordagens mais ou menos diretas acerca de questões socioambientais,
o que é potencialmente conflitivo com o discurso de neutralidade política tradicionalmente sustentado ao longo da
história do movimento espírita brasileiro. Por meio da análise de obras como Espiritismo e desenvolvimento
sustentável: caminhos para a sustentabilidade, de Carlos Orlando Villarraga, publicada em 2012, e Espiritismo e
ecologia, de André Trigueiro, já em sua quarta edição (2017), ambas publicadas pela editora da Federação Espírita
Brasileira, pretendemos uma aproximação inicial com a problemática apresentada, da qual damos comunicação.

A leitura espírita da Bíblia: bases doutrinárias para uma hermenêutica crítica

Daniel Salomão Silva

O Espiritismo tem Jesus como modelo e guia por excelência e busca discutir em suas obras, entre outros temas, a
essência da mensagem cristã, comentada e interpretada por Allan Kardec e pelos espíritos, destacadamente em "O
Evangelho segundo o Espiritismo", de 1864. O texto bíblico é alvo da atenção de Kardec também em outros livros,
onde é valorizado, mas analisado de forma crítica, seguindo a tendência das leituras mais liberais do século XIX.

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Questionamentos das traduções, interpretações e mesmo das redações dos evangelhos estão presentes nas obras
básicas espíritas, o que aponta para uma compreensão crítica ainda nos dias de hoje. Este trabalho tem por objetivo
destacar e discutir as premissas espíritas para uma leitura bíblica desapegada da literalidade e da expectativa de
infalibilidade dos textos, ainda que naturalmente direcionada pelos seus princípios básicos, compreendidos como
chave de entendimento para trechos aparentemente polêmicos ou ressignificados por interesses teológicos.

O movimento espírita brasileiro na década de 1930: a obra “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho” como
instrumento de unificação e legitimação política.

Emanuel Antunes da Silva Holanda (Colégio Convergente)

O presente trabalho analisa a obra “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier, buscando identificar as possíveis motivações para a publicação do texto e em quais bases
ideológicas o movimento espírita brasileiro se estabeleceu durante o final da década de 1930. Publicado no ano de
1938, o livro aborda a formação da sociedade brasileira a partir da visão espírita que estava se consolidando naquele
momento no Brasil. A análise pretende evidenciar como tal escrito tinha por objetivo angariar capital simbólico para
o movimento e estabelecer meios para sua legitimação como religião, tratando dos principais temas abordados na
obra, em diálogo com a historiografia referente ao Estado Novo e o imaginário político da época. A obra se constituiu
como um posicionamento do grupo dirigente da Federação Espírita Brasileira às transformações do início do século
XX, aproximando os espíritas ligados à FEB dos discursos políticos vigentes e do Estado brasileiro.

ST 22 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

A dissensão nos impressos cariocas sobre a liberdade religiosa dos espíritas no advento da criminalização

Adriana Gomes (PPGH UNIVERSO)

Propomos trazer à discussão nessa comunicação a atuação da imprensa carioca, representada pela Gazeta de Notícias,
pelo Reformador e pelo Jornal do Commercio, nos antecedentes da criminalização do Espiritismo no Código Penal de
1890 e seus desdobramentos após a criação do artigo 157. Por meio da análise de discursos retóricos, debruçamo-nos
em compreender os argumentos adversos às práticas espíritas, que contribuíram para a criação do dispositivo que
criminalizou o Espiritismo nas leis penais de 1890. Assim como, dedicamo-nos a investigar os debates ocorridos entre
o movimento espírita - representado pela Federação Espírita Brasileira - por intermédio do Reformador, que era o
jornal da instituição. Também discutiremos os debates ocorridos entre Adolpho Bezerra de Menezes, com a utilização
do pseudônimo de Max, com o Estado brasileiro, que estava sob a representação do legislador do Código Penal de
1890, João Baptista Pereira, em que o cerceamento às liberdades individuais e religiosas estavam entre as pautas de
discussões.

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A incorporação de delírios: categorias diagnósticas vinculadas ao espiritismo segundo Henrique Roxo

Naillivy Carvalho da Silva

A chegada da doutrina espírita no Brasil até a sua popularização passou por um processo de acomodação que envolveu
adaptações entre diferentes âmbitos da sociedade brasileira. O campo da psiquiatria que se institucionalizava em fins
do século XIX no país, trouxe ao debate de sua recém especialidade médica as atividades mediúnicas enquanto
desencadeadoras de alienação mental e como um tipo de charlatanismo. Entre aproximações e afastamentos de
psiquiatras e grupos espíritas houve um crescente interesse dos doutos brasileiros sobre as experiências envolvendo
o espiritismo. A partir das distintas abordagens que se construíam em diálogo com o conhecimento psiquiátrico
europeu, diferentes atores da área psiquiátrica dedicaram estudos a teorias, diagnósticos e terapêuticas relativas as
práticas espíritas. Tendo em vista essa interrelação de interesses, o trabalho a ser apresentado tem como objetivo
analisar como se deu o processo de patologização dos fenômenos espíritas, buscando situar a atividade científica
psiquiátrica, principalmente a que foi produzida no Rio de Janeiro, destacando o desenvolvimento de categorias
diagnósticas em especial o delírio episódico dos degenerados e o delírio espírita episódico que foram mobilizadas pelo
catedrático Henrique de Belford Roxo (1877-1969), o qual aparece como um dos personagens centrais ao sistematizar
uma entidade clínica especificamente para o espiritismo, juntamente com outros especialistas que atuavam no campo
da psiquiatria e da medicina legal.

Bezerra de Menezes: política e representações sertanejas em sua escrita romanesca (1880-1900)

Flávio Luan Freire Lemos (UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte)

O trabalho objetiva compreender as representações produzidas por Adolpho Bezerra de Menezes sobre os sujeitos e
práticas sertanejas, em sua escrita romanesca e doutrinária nas últimas décadas do século XIX. Para tanto, analisa-se
três folhetins – A Casa Assombrada, A Pérola Negra e Evangelho do Futuro – publicados no periódico espírita
Reformador, entre os anos de 1888 a 1911. Multiprofissional, Bezerra foi uma figura com grande circularidade na
capital brasileira. Médico por formação, atuou enquanto militar, presidente de associações, empresário, redator de
jornais entre outros. Destacaremos aqui sua atuação enquanto vereador e deputado na corte imperial, pelo Partido
Liberal entre os anos de 1861 a 1885. Após sua conversão ao Espiritismo em 1886, tornou-se um dos líderes históricos
do movimento espírita brasileiro. Todavia, essa conversão não representou o fim de seus interesses políticos. Entre
nossos resultados, apontamos que as representações sertanejas, constituídas em sua escrita, se inserem nas
produções literárias de caráter regionalista; o sertão apresentado pelo autor contém dicotomias com o
cosmopolitismo dos centros urbanos, principalmente o Rio de Janeiro, na ênfase de peculiaridades dos sujeitos, das
práticas culturais e políticas. Conclui-se que analisar essas representações é acessar os debates acerca de um projeto
de nação brasileira na transição do regime imperial para o republicano.

Que ciência é esse Espiritismo?

Marcos Moreira Marques (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)

O Espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec, surgiu na França em meados da década de 1850. Em sua
fundamentação, apresenta diversas menções ao uso do método científico, ao positivismo e sua consolidação como

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ciência de observação, elegendo como necessidade fundamental para análise da realidade a união entre ciência e
religião. Em contrapartida, ocorreram diversas modificações no que seria taxado de método científico, o positivismo
passou a ser encarado como um cientificismo e a modernidade sacramentou a separação irreconciliável entre religião
e ciência. Mas, que ciência seria o espiritismo? O que seria ciência no mundo ocidental do século XIX? Que recepção
esse tipo de pensamento teve no Brasil? Quais as aproximações, e afastamentos, do espiritismo com as demais
ciências da época? Que fatores teriam levado a supremacia do aspecto religioso na consolidação do espiritismo em
terras brasileiras? Essas e outras reflexões fazem parte desta comunicação, que pretende discutir a migração do
espiritismo para o Brasil e sua ressignificação como religião.

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ST 23. Gênero e raça nos mundos do trabalho

ST 23 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Classe trabalhadora e relações raciais no município de Barra Mansa (1920-1940)

Thompson Clímaco Alves

A cidade de Barra Mansa, entre 1920 e 1940, era reconhecida como a cidade mais desenvolvida industrialmente do
Sul do estado do Rio de Janeiro, microrregião também denominada como Vale do Paraíba Fluminense. Durante o
período destacado, sobretudo, após possuir energia elétrica, Barra Mansa recebe indústrias têxteis na década de 1920.
Já nos anos 1930, recebe duas grandes siderúrgicas, o maior moinho do Sul do estado do RJ e a segunda fábrica da
Nestlé do Brasil, é neste período que a cidade é apelida de “Manchester Fluminense” como demonstram as poucas
produções historiográficas acerca deste período. Na década de 1940, o 8° distrito de Barra Mansa (Volta Redonda) é
escolhido como sede da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Por conta da industrialização, a migração de
trabalhadores e trabalhadoras para Barra Mansa é intensa, principalmente do Nordeste e Minas Gerais. A maioria
desta classe trabalhadora recém chegada na cidade são negros/as. Porém, isso não é destacado na maioria das
produções historiográficas sobre o tema. É importante salientar que a microrregião Fluminense obteve grande
destaque na produção cafeeira no século XIX e a escravização era base deste sistema. Quase um século depois, neste
mesmo lugar, é constituído um dos principais polos metalúrgicos do país. Sendo assim, pretendemos analisar as
relações raciais da classe operária oriunda do processo de industrialização do município de Barra Mansa concomitante
às modificações socioespaciais, socioeconômicas e socioculturais para negros e brancos da classe trabalhadora local
entre os anos 1920-1940. Levando em conta possíveis influências do passado escravista do Vale Fluminense e a
intersecção das relações raciais na conformação do espaço urbano, as associações e tensões na construção de
identidades raciais e de classe na região, sem deixar de evidenciar que brancos/as também compõem um grupo racial
identitário.

Gênero e raça na União dos Operários em Fábricas de Tecidos (1926-1934)

Isabelle Cristina da Silva Pires

A União dos Operários em Fábricas de Tecidos do Rio de Janeiro foi fundada em agosto de 1917, tendo já no seu início
passado por um período pujante com grande número de sindicalizados/as e com forte influência sobre o setor têxtil,
entre os anos de 1917 e 1919 em que ocorreram diversas greves e protestos da categoria com apoio da União. Por
conta desse período efervescente, a UOFT foi reprimida e fechada por ser considerada uma das principais responsáveis
pelo surto grevista daquele momento. O sindicato foi reaberto em meados da década de 1920 pela solicitação de José
Pereira de Oliveira, que buscava retomar sua força por meio da luta pelo direito às férias e angariar a sindicalização
de homens e mulheres do setor têxtil. Nessa apresentação pretendo focalizar relações de gênero e raciais na União
dos Operários em Fábricas de Tecidos desde 1926, ano em que ocorreram reuniões para regulamentação da Lei de
Férias, até 1934, quando uma nova Lei de Férias foi promulgada. Para tal, utilizo como fonte os jornais "A Manhã",

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"Correio da Manhã", "Diario Carioca" e "Jornal do Brasil" e analiso as fotografias presentes em algumas matérias
jornalísticas para atentar para informações que, muitas vezes, não constam nos textos das notícias.

Na casa e na causa: A criação da Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro na década de
1960

Yasmin Getirana Gonçalves Vicente

Através de o relato oral de Nair Jane de Castro Lima, sindicalista e militante da causa das trabalhadoras domésticas,
sabemos que a criação de uma associação profissional da categoria no Rio de Janeiro surgiu a partir da vivência,
experiência e relatos em comuns entre as trabalhadoras. Mulheres negras e migrantes, em sua maioria, seus locais de
sociabilidade variavam entre a pracinha, entre uma atividade e outra, o espaço da casa e trabalho, que muitas vezes
se confundiam, e, no caso das fundadoras da APED-RJ, os pátios de Igreja. Imigrante de Minas Gerais, Odete Maria da
Conceição relembra que uma vez por mês as domésticas participantes da Juventude Operária Católica se reuniam com
trabalhadores de outras paróquias. Durante esses encontros, começaram a notar as diferenças entre elas e outros
trabalhadores no quesito reconhecimento legal e social. Esse relato, também compartilhado por Nair Jane, é rico para
entender como a categoria construiu a narrativa que estruturou sua mobilização coletiva. Em conformidade com os
estudos de Acciari, Vidal, Pinto, Reali e Bernardino-Costa, para nomear alguns, e segundo a noção teórica de
"cidadania-regulada", de Wanderley Guilherme dos Santos, é possível perceber que ao longo de décadas, o movimento
se fortaleceu e expandiu através da retórica da inclusão social através da garantia de direitos. Dessa forma, através da
análise de reportagens jornalísticas de periódicos da grande imprensa da época, buscarei mostrar como a demanda
dessas trabalhadoras eram representadas e como suas pautas foram criadas, divulgadas e transformadas ao longo dos
anos. Fica claro que, aos poucos, a APED-RJ foi incorporando com mais clareza elementos compartilhados pelas
associadas, que envolviam, invariavelmente, questões de gênero e raça.

Raça e gênero no Cluster Autonmotivo do Sul-Fluminense: rupturas e continuidades (2000-2021)

Leonardo Ângelo da Silva (FAPERJ)

A área nomeada de Sul-Fluminense no Estado do Rio de Janeiro é a mesma que, em séculos anteriores, continha o
chamado Vale do Paraíba, local que recebeu a cafeicultura agroexportadora e grande número de mão de obra dos
escravizados. Depois de políticas desenvolvimentistas, que também representaram a mudança de perspectiva de país,
de Brasil, nas décadas de 1940 e 1990, a região teve sobre discurso e práticas do que foi chamado modernização. Um
dos ícones deste processo foi e é a construção do Cluster Automotivo que atualmente conta com as seguintes
empresas: Jaguar Land Rover, Volkswagem caminhões, Stellantis e Hyunday; ademais também se localizam na região
vários de seus fornecedores. Segundo a própria direção do Cluster são 15.000 “colaboradores” envolvidos diretamente
no setor automotivo, seus sistemas e 45.000 pessoas envolvidas economicamente. Por trás desse discurso de
desenvolvimento que se tornou motor político-eleitoral e justificativa de isenções e guerras fiscais, fica a pergunta,
vista pelo viés dos trabalhadores e trabalhadoras: o que seria desenvolvimento? Com esse pergunta e adotando uma
perspectiva interseccional que partimos para esta apresentação, ainda ensaística, de um estudo que se inicia sobre a
questão.

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Racismo acadêmico: apontamentos sobre a exclusão das docentes negras e negros das universidades brasileiras

Daniel Carvalho de Paula (MACKENZIE - Universidade Presbiteriana Mackenzie), Antonia Aparecida Quintão
(MACKENZIE - Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Este artigo consiste em uma reflexão crítica sobre o racismo que garante que os caminhos de acadêmicas negras e
negros sejam especialmente tortuosos no acesso aos postos docentes no Ensino Superior, com particular interesse
sobre as mulheres. O trabalho aqui lançado também se presta a evidenciar a lacuna que existe na literatura acadêmica
sobre este tema, que compõe o imenso e multifacetado problema da desigualdade racial e de gênero no Brasil e os
mecanismos diretos e indiretos que funcionam no sentido de reproduzi-la. A inclusão do estudo das relações raciais
no campo acadêmico justifica-se também pelo fato de que esta proposta tem encontrado dificuldades para se afirmar,
tendo em vista a desqualificação das iniciativas e o cerceamento das oportunidades daqueles que se dedicam a
temática racial, propondo uma abordagem na perspectiva de superação do racismo, com temas de interesse direto
das populações negras, postulando o fortalecimento institucional das pesquisas sobre as relações raciais no universo
acadêmico. A pouca bibliografia sobre o tema demonstra a urgência de se efetivar uma representatividade de
docentes negras e negros nas universidades condizente com o quadro da formação étnico-racial do povo brasileiro.
Ou isso se realiza, ou a academia estará fadada a continuar majoritariamente elitista, monolítica e distante do Brasil
que existe para além dos muros das universidades.

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ST 24. Gênero e sexualidade: negociar, romper ou torcer as normas?

ST 24 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Gênero, poder e cansaço: a participação das mulheres na Federação Única dos Petroleiros

Mariana Marujo Velloso

A eleição para a direção da Federação Única dos Petroleiros no triênio 2017-2020 foi a primeira a observar cotas de
participação de mulheres na federação, na mesma porcentagem representada pelas trabalhadoras na Petrobras, sua
empregadora – o que significa cerca de dezesseis por cento. Entre direção titular, suplente e conselho fiscal, foram
eleitas oito mulheres, do total de trinta e seis dirigentes. Apesar de quantitativamente incipiente, trata-se de número
inédito nos quadros da entidade, existente desde 1994. A pesquisa se interessa pela análise do perfil desta diretoria,
notadamente no que diz respeito às diferenças nas condições de atuação para homens e para mulheres na entidade.
Nesta comunicação, busco expor, em específico, a problemática, percebida a partir da interlocução com os/as
dirigentes, no que diz respeito ao poder. A realidade com que as mulheres têm de lidar na federação foi relatada como
a realidade de uma minoria que precisa se adequar à conformação já estabelecida pelo espaço de poder criado e
mantido, majoritariamente, por homens – as mulheres buscam ali incorporar as suas oposições e propostas, é claro,
mas não podemos ignorar a discrepância entre o que elas desejam construir e as ferramentas disponíveis para a efetiva
construção, em especial a curto prazo. O foco da pesquisa se situa, então, nas narrativas das mulheres sobre os
conflitos com que lidam ao ingressar em espaço pautado por regras que sustentam a sua própria discriminação, bem
como sobre o cansaço peculiar a que se sentem submetidas em virtude da necessidade de constante resistência à
hostilidade presente em seu ambiente de militância.

Femininas Pretas do Paraíso de Cima: arranjando barracos e politizando diálogos de relações tabus em cenários
subjetivos biopoliticados (2011 a 2016)

Juliana Silva de Assis, Ana Clara Soares do Carmo de Castro Silva (Estudante)

Essa pesquisa tem como objetivo investigar os racismos e a discriminação contra as mulheres negras e periféricas,
tendo em vista o compromisso político de repensar privilégios desencadeadores de formas desiguais de tratamento,
na comunidade Paraíso de Cima (Barra Mansa/RJ), nos anos compreendidos entre 2011 e 2016. Os conceitos de
Sororidade (Kate Millett),Dororidade (Vilma Piedade) e Outridade (Grada Kilomba) formam um tripé teórico que
embasa as questõesétnicas e de gênero cotidianas. O primeiro refere-se à união das mulheres para o combate da
desigualdade entre o masculino e o feminino. O segundo refere-se à dor que a mulher negra sente, advinda do racismo.
Ea Outridadedistancia a possibilidade dofeminino negro ser reconhecido e se colocar no centro do diálogo. A História
Oral é a metodologia utilizada uma vez que abre espaço para as questões de gênero, subjetividade e eloquência do
silêncio. A Biopolítica, em Foucault, procura dar a sustentação teórica para esse trabalho. Os resultados finais serão
consolidados a partir da análise das entrevistas realizadas com as mulheres negras daquela comunidade.

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AUTONOMIA FINANCEIRA E EMPREENDEDORISMO: um estudo com as mulheres vítimas de violência doméstica em
Manaus

Célia Maria Nascimento de Oliveira (Nova Rede Mulher), Anne Hellen de Oliveira Barros, Maria Raimunda Nascimento
de Oliveira (SEDUC)

O presente estudo tem o como objetivo relatar a autonomia financeira das mulheres vítimas de violência doméstica
em Manaus através do seu empreendedorismo, pois dessa forma elas obtiveram sua legitimidade financeira para
conseguiram se manter financeiramente em poder fazer parte do mercado de trabalho mesmo que seja informal. É
de suma importância relatar as estratégias que essas mulheres desenvolvem para poderem conseguir conciliarem
afazeres domésticos com as atividades laborais mesmo até por que, além de ser um trabalho informal é realizado no
mesmo ambiente onde mora, sendo assim, essas mulheres mesmo tem consigo o espírito empreendedor e fazem
parte do mercado financeiramente de nossa sociedade. Ao realizar a pesquisa houve a necessidade de utilizar as
discussões acerca da mulher vítima de violência doméstica, sua autonomia financeira e empreendedorismo a partir
das leituras dos autores que estudam a temática abordada, assim como, os relatos das mulheres vítimas de violência
doméstica que conseguiram sua autonomia financeira. A referida pesquisa adotou abordagem de cunho participativo,
bibliográfico e qualitativo. Buscou-se destacar os direitos conquistados pelas mulheres ao longo dos anos, suas buscas
pela autonomia financeira, reconhecimento como empreendedora e o rompimento do ciclo vicioso que passavam com
a violência doméstica. Destaca-se ainda que todas as mulheres que contaram seus relatos concordaram participantes
da referida pesquisa.

Entre o estigma e o prazer: a prostituição em Lagoa Alegre-PI (1968-2005)

Vanessa Borges Diniz (...)

O presente trabalho tem como tema a análise da prostituição em Lagoa Alegre, município do estado do Piauí no
período de 1968 a 2005. Para isso, a abordagem tem como foco a conjuntura local que oportunizou a criação dos
bordéis, o cotidiano nos estabelecimentos por meio da identificação dos espaços, convivência das mulheres e relações
diárias com os clientes, as condições que levaram as mulheres a entrar na vida da prostituição, bem como a
investigação sobre as concepções religiosa e moralizadora, além dos tabus acerca dos prostíbulos na sociedade
lagoalegrense. A intenção entender a constituição de uma história dos sujeitos anônimos considerados indesejáveis
que, de forma direta ou indireta, fazem parte do processo de construção de identidade local. Lagoa Alegre por se
constituir uma cidade pequena e com poucos anos de emancipação, é um município ruralizado, com processo de
crescimento urbano lento e base religiosa voltada para o catolicismo. Tais aspectos mostram, previamente, que a
cidade preserva valores, fé e moral, voltados para uma influência, que de certo modo, contribui para um ideal de
ordem patriarcal em que o feminino é casto e obediente, visto que aquilo que se considerava como moça de família
ou moça direita constituía um ideal de feminilidade para as mulheres jovens. Tratava-se de uma representação, a
partir da qual, os gestos, os jeitos, os trejeitos e o usufruto do corpo sexuado eram adestrados, sendo que aquelas que
percorrem o caminho da prostituição são excluídas do meio social, pois podem influenciar as moças de famílias. Na
pesquisa foram utilizadas fontes como jornais, entrevistas e fotografias, a partir de uma bibliografia nacional e local.
Foi possível compreender que a cidade se envolve de uma maneira icônica na sustentação do meretrício, que ao
mesmo tempo que repudiam, mantém a atividade próxima e sem uma divisão entre alto e baixo meretrício pelas
circunstâncias locais.

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Patriarcado: Sistema de Adesão por recompensa

Rafael Azevedo Nespoli (JUSTIÇA FEDERAL DO ESPIRITO SANTO)

Diversos campos das ciências sociais e seus teóricos se debruçaram em conceituar, aferir a natureza, identificar a
origem, estudar a dinâmica e, especialmente, apontar as consequências e possibilidades de mudança do que se
convencionou chamar de “Patriarcado”. Questão imbricada, porém, está localizada no âmbito de sua manutenção.
Considerando o fato de que a dominação masculina perdura por cerca de cinco a sete mil anos, a depender da datação
considerada, está-se diante de estrutura que se confunde com a própria história dos povos e das civilizações. Propõe-
se investigar os mecanismos que permitem a manutenção e, portanto, a longevidade do patriarcado, introduzindo,
para tanto, o conceito de “sistema de adesão por recompensa”, pautado na ideia de obtenção de privilégios pelo
acúmulo de capital simbólico relacionado à observância a determinados atributos distintos e arbitrariamente
determinados a homens e mulheres. Concentrados em adquirir seus próprios ganhos e lutando por mantê-los, homens
e mulheres deixam poucos espaços para uma verdadeira insurgência contra o patriarcado. Pretende-se pensar,
portanto, a participação de homens e mulheres como sujeitos efetivos na manutenção da estrutura, bem como as
possibilidades de negociação ou mesmo de ruptura com a lógica inculcada para além dos mecanismos formais de
igualdade de gênero. Parte-se de conceitos afetos à História, Sociologia, Neurociência e Psicologia, tais como "poder
simbólico", "estigmatização", "sociobiologia" e "desamparo identitário".

ST 24 – 19/10 – Terça-feira (13:30 às 15:30)

LGBTFOBIA em foco: a atuação do Sistema Interamericano de Direitos Humanos

Luana Vasconcelos Rangel (outro), Marusa Bocafoli da Silva (UCAM - Universidade Cândido Mendes)

A violência sexual, moral, física e a exclusão, contra a população LGBTQIA+ é latente. Sociedades que se organizam
pela rígida classificação dual de gênero, ou seja, masculino e feminino, tendem a marginalizar todos aqueles que
subvertem essa ordem. A LGBTfobia está presente em todo o mundo, passando a ser uma cruel realidade para
milhares de indivíduos. No Brasil não é diferente, muitas pesquisas, estatísticas e levantamentos de organizações não
governamentais demonstram o alto índice da LGBTfobia no país. Entretanto, é preciso assinalar que este não é um
cenário recente. Considerando, apenas o caso brasileiro, existe um vasto histórico de violência e preconceito contra a
população LGBTQIA+ que remonta ao período colonial. Desde então, inúmeras práticas violentas foram perpetradas
contra essa população. Durante o período militar, travestis eram arbitrariamente presas e enquadradas na lei contra
a vadiagem. Com o passar do tempo a violência institucional foi ganhando outros contornos e no tecido social várias
outras formas de violência foram se materializando. Apesar de ser, uma prática existente em várias sociedades, a
LGBTfobia fere os Direitos Humanos consagrados em 1948. Como é sabido, os direitos humanos defendem a dignidade
da pessoa humana. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH) vem atuando na defesa e luta contra as
graves violações sofridas por pessoas LGBTQIA+ nos Estados americanos. A Comissão vem reiterando que os Estados
membros não devem apenas garantir igualdade perante a lei sob sua jurisdição, como também adotar medidas
legislativas efetivas para garantir que os direitos consagrados pelos tratados internacionais sejam exercidos. Desse
modo, o trabalho busca apresentar a evolução da ação da Organização dos Estados Americanos (OEA) acerca da

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temática dos direitos humanos da população LGBTQIA+ e a atuação de órgãos especializados para garantir a efetivação
e o desenvolvimento de acordos e recomendações nos Estados membros da Organização.

Faces da LGBTfobia: Fatores de exclusão/inclusão

Derliane de Oliveira Medeiros (UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais)

Este trabalho é baseado no projeto intitulado “Direitos Humanos para a População LGBT: acesso a políticas públicas e
participação social numa microrregião da Zona da Mata mineira”, que foi desenvolvido sob a orientação do professor
Doutor Jonathan Mendes Gomes. O projeto teve por finalidade propor uma pesquisa a respeito das reais condições a
que está submetida à população LBGT existente na microrregião de Carangola. No qual realizamos um levantamento,
englobando o período dos últimos 5 anos, sobre as formas de inserção dessa população nos mais variados âmbitos da
sociedade, (entre eles trabalho, saúde, segurança, justiça). Entretanto dentro dos aspectos do trabalho o que mais
chamou atenção foi os fatores de exclusão/inclusão, no qual foi possível observar que a comunidade LGBT não é
homogênea, pois, as condições de vida e inserção social variam de acordo com outros fatores de exclusão/inclusão,
como etnia/cor, religião, classe social, e nível de instrução. Dessa forma, observa-se que as formas de tratamento
variam de acordo com esses fatores. Sendo assim, percebe-se que á uma hierarquização LGBT na região, de forma
que, alguns LGBTs de classe social mais alta, são mais bem tratados do que os LGBTs de classe social mais baixa. O
quadro piora quando analisamos em relação à etnia/cor e as vestimentas. No qual observamos a falta de acesso desses
indivíduos á alguns elementos básicos, como saúde, trabalho, justiça, e a livre circulação. Em todos os relatos, pelo
menos um LGBT mencionou algum momento em que lhe foi negado acesso á um desses elementos básicos. Nota-se
que na região as pessoas precisam saber tudo sobre o individuo, para que assim, possam decidir se vai inseri-lo ou
excluí-lo. Estes dados foram coletados através de questionários com perguntas amplas e subjetivas. O publico alvo
foram os LGBT entre 18 e 29 anos. Percebemos em primeiro momento que a LGBTfobia esta presente nos vários
âmbitos da sociedade, e que a visibilidade esta por se construir.

Direitos Humanos para a População LGBT da Zona da Mata mineira: promoção, demandas e intersecções.

Jonathan Mendes Gomes (Universidade do Estado de Minas Gerais)

O presente trabalho consiste em um breve diagnostico acerca do status atual da promoção de direitos humanos para
a população LGBT, considerando a informação e acesso desse grupo a esse tema e a políticas públicas. O recorte se
deu sobre uma parcela da população LBGT existente na microrregião de Carangola (que inclui outros municípios
vizinhos), pertencente ao Território de Desenvolvimento 12 (Mata) do atual Plano Mineiro de Desenvolvimento
Integrado (PMDI). Tratou-se especificamente de refletir sobre como as demandas e lutas por direitos humanos mudam
dependendo de cada segmento da sociedade, podem mudar também dentro de um mesmo segmento (LGBTT), tendo
em vista que outros fatores (interseccionalidade) atuam nas demandas (etnia, gênero, classe social, nível de instrução).
Assim, pôde-se avaliar se os programas e políticas contemplam todas as demandas LGBT, encarada como grupo não
homogêneo, com experiências diversificadas, e particularidades na vivência de inserção social, visibilidade, etc. O
material usado para esse trabalho consistiu, além do próprio PMDI, em pesquisa de dados estatísticos em bancos de
dados de órgãos/instituições governamentais direcionadas à promoção dos Direitos Humanos à população LGBTT. Por
fim, realizou-se entrevistas com a população selecionada, utilizando um questionário com perguntas amplas e

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subjetivas referentes às questões mencionadas acima. Devido ao volume de possíveis participantes contatados, optou-
se por uma amostragem composta pelo que a ONU considera como Jovens, isto é, indivíduos entre a faixa etária dos
18 aos 29 anos. Esta escolha se justifica também pelo fato de que essa geração se desenvolveu marcadamente
acompanhada pela inclusão da pauta LBGT na ampliação dos Direitos Humanos e das ações afirmativas, como
programas e políticas públicas voltados para este segmento.

Histórias globais: identidades e movimentos LGBTQIA+

Henrique Cintra Santos

A suposição de que a História Global trataria apenas de processos de convergência promoveu a presunção de uma
incompatibilidade desta para com os Estudos de Gênero e Sexualidade. No entanto, o potencial de intersecção entre
os dois campos deve ser contemplado a partir de seus anseios comuns pela desconstrução de categorias essencialistas,
dos eurocentrismos e da colonialiade do saber. Assim, este trabalho traça alguns caminhos para a escrita da História
LGBTQIA+ a partir de uma perspectiva global. Um olhar transnacional para a questão das identidades e dos
movimentos LGBTQIA+ ainda é constantemente perpassado pela chamada “fantasia-de-difusão-a-partir-de-
Stonewall”. Nesse sentido, Stonewall é observado como precedente único da expansão de identidades homossexuais
modernas e da construção de movimentos pelos direitos LGBTQIA+. A História Global pode desconstruir esse
pressuposto e observar os diversos protagonismos de movimentos LGBTQIA+ no mundo e as várias identidades de
sexualidades modernas. Ao observarmos, por exemplo, os paralelos no século XX entre os binômios hierárquicos
"bicha/bofe" no Brasil e o "fairy/trade" nos Estados Unidos; ou entre a figura estadunidense do "wolf" e o tailandês
"seu abai", o Sul Global não é mais passível de ser lido como a expressão da “tradição”. Pelo contrário, esses contextos
passam a ser notados como respondendo a uma situação global comum concomitantemente as suas especificidades
locais. Além disso, a História Global também pode contribuir para pluralizar os vértices protagonistas de movimentos
LGBTQIA+ no mundo. Nesse sentido, a atenção recebida transnacionalmente pelo jornal Lampião da Esquina desponta
como um exemplo de que fluxos de influência não devem ser traçados apenas de forma unidirecional, dos centros
para as margens, mas multidirecional, o que contesta as próprias noções de centro e margem e desprivilegiam o Norte
Global como o ponto estável e universal para a História LGBTQIA+ contemporânea.

ST 24 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Lascivos e grotescos: dançarinos egípcios a partir da escrita de Eça de Queiroz (1869)

Francismara de Oliveira Lelis (Seeduc)

Em 1869, Eça de Queiroz empreende uma viagem que muito o impactou, inclusive na escrita de alguns de seus livros.
Com o pretexto de fazer uma cobertura jornalística da inauguração do canal de Suez, Eça viaja ao Egito e depois segue
para Síria e Palestina. Suas anotações descrevendo sua experiência com o Egito foram reunidas por seu filho e
publicadas postumamente com o título “O Egito – Notas de viagem”. Apesar de serem relatos da viagem, os escritos
de Eça não são descrições do passo a passo, mas uma produção literária inspirada pela experiência da viagem,
permeada de devaneios, metáforas e analogias, informando muito sobre o próprio autor e as sensações que o Egito

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lhe provocou, esse ambiente considerado exótico e estranho que atraía tantos europeus ansiosos em desbravar e
dominar esse território. A partir dessa fonte é possível historicizar a forma em que o autor português atribuiu
determinados sentidos ao “homem egípcio” – como forte, bruto, rígido, que escravizava suas mulheres – e o seu
desconforto ao conhecer homens que não podiam ser enquadrados nesse estereótipo de masculinidade projetado
por Eça de Queiroz: homens que se pintavam e dançavam da mesma forma que as mulheres. A existência desses
homens dançarinos, chamados “khawals”, cria fissuras no imaginário orientalista partilhado por Eça de Queiroz que
universalizava o papel do homem egípcio/árabe/oriental como selvagem, bruto e viril. Dialogando com os estudos de
gênero é possível analisar o discurso de Eça de Queiroz e as construções de masculinidades feitas pelo autor, tanto o
antagonismo orientalista entre “homem europeu” x “homem oriental”, quanto a imagem dos “khawals” como algo
grotesco que não caberia no seu imaginário.

Das bruxas às transgressoras do século XXI: a perseguição de mulheres como mecanismo de dominação patriarcal

Amanda Padilha Pieta (UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste)

O contexto da criminalização da perseguição, em março de 2021 pelo governo brasileiro, traz inquietações sobre a
identidade das vítimas desse tipo de violência. Apesar de afirmações de que mulheres sejam as mais perseguidas no
país, não há estudos estatísticos no Brasil que demonstrem se há de fato uma desproporção de gênero entre vítimas
dos casos. Este trabalho tem o intuito de propor um olhar sobre a perseguição em uma perspectiva de gênero, a fim
de compreender a magnitude dessa violência, como opera e quais os efeitos nas vítimas. O objetivo é reunir exemplos
de casos notificados e subnotificados de perseguição de mulheres. Para tal, será necessária a consulta ao quantitativo
de registros de denúncias e processos jurídicos instaurados no primeiro ano de vigência da lei, entre o período de 31
de março de 2021 e 31 de março de 2022. Além disso, objetiva-se realizar pesquisas de opinião e/ou entrevistas com
vítimas, acima de 18 anos de idade, que estejam dispostas a relatar seus casos, a fim de compor, ainda, um panorama
qualitativo da questão. Como metodologia para essa investigação, propõe-se a abordagem da pesquisa social, um
campo que busca entender o comportamento de indivíduos e sociedades. Neste sentido, a junção de dados
quantitativos e qualitativos se complementam e serão úteis para compreender os mecanismos e efeitos da
perseguição, entendida como uma violência estratégica, que mantêm as hierarquias do poder na sociedade.
Utilizaremos como referencial teórico base para as análises as considerações de autores que explicitam as relações
entre homens e mulheres como intrínsecas às estruturas de poder, tais como Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Joan
Scott e Judith Butler. Parte-se do pressuposto de que não basta sancionar a lei que criminaliza a prática, mas é
necessário, também, a verificação de sua aplicabilidade, acompanhando se haverá punição efetiva ou branda dos
violadores, e se a segurança e liberdade das vítimas de perseguição será restabelecida.

“Sujeito homem”: entre discurso e práticas

Renata de Souza Francisco (SEEDUC RJ), Rafael França Gonçalves dos Santos (Prefeitura Municipal de Campos dos
Goytacazes)

O presente artigo problematiza a construção de discursos e práticas de formação do chamado “sujeito homem”.
Analisamos a realidade vivida por adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de restrição de liberdade na
unidade do Departamento Geral de Ações Socioeducativas – Novo Degase. A instituição é destinada à internação de

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adolescentes do sexo masculino de 12 a 18 anos, da região Norte e Noroeste Fluminense. A unidade está localizada
em Campos dos Goytacazes, cidade de médio porte do interior do Rio de Janeiro. O “sujeito homem” produzido nas
práticas cotidianas de socialização é atravessado por uma marcação importante neste espaço: o pertencimento às
facções criminosas como o Comando Vermelho (CV), Amigo dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP).
Percebemos, assim, que performances dos masculinos e das masculinidades são gestadas e geridas neste contexto,
ora reificando valores como superioridade, coragem e força, ora negociando afetos, agenciando desejos e contatos
corporais. O artigo está dividido em três sessões: na primeira apresentamos brevemente a cidade de Campos dos
Goytacazes, em seguida discutimos a existência do DEGASE, descrevendo o lugar que essa instituição ocupa na cidade
e por fim problematizamos a produção do “sujeito homem” em três momentos – as duas triagens a que submetidos
os jovens que ingressa na unidade para o cumprimento da medida, por meio de textos escritos em aulas de Sociologia
e a partir da experiência docente com turmas do Ensino Médio em uma escola que funciona no interior da instituição.

Território Hostil: A caça aos militares desviantes das Forças Auxiliares no período ditatorial brasileiro (1964-1985)

Raian Souza Santos (GDF)

A proposta de comunicação que manifesto visa suscitar uma discussão crítica sobre aspectos referentes à afirmação
de uma masculinidade militar no período ditatorial brasileiro por meio da análise de um processo de pederastia
instaurado contra uma série de policiais militares do Distrito Federal-DF entre os anos de 1971 e 1972. A profusão de
afetos políticos presentes nesse processo coletivo de pederastia acabou revelando o quanto a representação dos
militares desviantes, ainda que involuntariamente, tensionava as expectativas construídas em torno de uma
identidade militar única e padronizada. Na conjuntura discursiva que compunha o processo o padrão militar
hegemônico era estruturado por concepções heteronormativas, hierárquicas, disciplinares e por valores entendidos
como conservadores e patriotas. A espionagem militar dos órgãos de informação das Forças Armadas buscava nas
sociabilidades dos desviantes fatos que servissem de mote para enquadra-los como promíscuos e subversivos. Ética,
decoro, honra e pundonor foram as principais ideias-força empregadas pelos agentes ditatoriais na caserna, esse
conjunto de valores, deveres e éticas militares serviam para compor a tessitura moralizante do processo. O
acionamento dessas ideias-força tinha o intuito de desqualificar os militares desviantes que eram tachados de
homossexuais e assim considerados incompatíveis com o serviço militar. A caça aos militares que supostamente
apresentavam o chamado “desvio sexual” estava inserida na política higienista de moralização das Forças Armadas e
também das Forças Auxiliares, política essa que foi posta em prática desde os primeiros anos do golpe civil-militar de
1964, abortando inúmeras carreiras através da sistemática do expurgo no funcionalismo público.

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ST 25. Gênero, ciência e saúde em perspectiva histórica
ST 25 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

A mulher eugênica: associações entre beleza e saúde na obra de Renato Kehl

Thayná Soares de Almeida Vieira (Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz)

Esse trabalho objetiva tratar sobre como alguns tipos femininos foram marginalizados por dizeres normativos e
disciplinares por meio de discursos proferidos nas obras de Renato Kelh acerca da ideia de beleza eugênica. Para isso,
recortamos o período entre 1917 e 1929 de sua obra para demonstrar como a beleza foi colocada como uma referência
de normalidade e adequação para as mulheres. Kehl considera a beleza o “epifenômeno da saúde” se igualando à
normalidade “somática, psíquica e moral e, para ele, são as mulheres belas que garantem a beleza de uma raça forte.
Assim, entendendo normalidade e beleza como sinônimos de saúde, Kehl coloca a beleza feminina como um dever de
toda mulher, traçando o perfil da mulher eugênica como aquela que cultivaria uma beleza honesta,“natural” e
higiênica, o que seria um indício da sua boa moral e de que esta seria uma boa esposa e uma boa mãe, apta a cumprir
o seu dever para com a nação por meio da criação de proles fortes, saudáveis e instruídas dentro dos preceitos
eugênicos.

A avaliação psiquiátrica de uma ré de crime passional: a "dor moral" e a construção da irresponsabilidade criminal

Carolina Valente dos Santos Blanco (Casa de Oswaldo Cruz)

Objetiva-se compreender de que forma os discursos psiquiátricos auxiliaram no enquadre criminológico de uma
mulher ré de crime passional no ano de 1930, no então, Distrito Federal. Ancorada nos pressupostos teórico-
metodológicos da arqueogenealogia de Michel Foucault e utilizando o gênero em perspectiva interseccional como
categoria analítica, pretende-se investigar de que forma os saberes psiquiátrico-criminológicos auxiliaram na
determinação da responsabilidade penal, a partir das informações contidas no laudo psiquiátrico redigido por
profissionais especializados na averiguação das condições das faculdades mentais. Muitos casos de crime passional
eram julgados segundo o parágrafo 4º do artigo 27 do Código Penal de 1890. No entanto, tal jurisprudência encadeou
acalorados debates na comunidade criminológica nos anos 1930 no que tange ao questionamento de sentimentos
como a paixão e a emoção serem desencadeadores de uma momentânea perturbação dos sentidos e da inteligência
na circunstância do crime. A perícia psiquiátrica constituía-se como instrumento essencial para avaliar as condições
mentais da/o criminosa/o, servindo de artefato para o julgamento no Tribunal do Júri. Busca-se, então, por meio do
laudo psiquiátrico da acusada, investigar como o campo da psiquiatria e as suas interlocuções com a justiça penal
interpretavam e corroboravam papéis e identidades sociais atribuídos aos homens e às mulheres no contexto em tela,
a fim de compreender como foi construído o discurso em torno da motivação do crime, do perfil social dos envolvidos
(ré e vítima) e os impactos que estes tiveram na concessão da irresponsabilidade criminal nesse caso específico.
Ressalta-se o contexto de inserção de mulheres das camadas médias e altas no mercado de trabalho e em espaços
socioculturais, contribuindo para modificações nas relações de gênero, em especial, nas relações conjugais. Além
disso, pretende-se demonstrar as diversas violências sofridas pela ré até o desfecho do crime.

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Um olhar sobre as internações psiquiátricas de presas políticas durante a Ditadura Militar no Brasil

Marina Soares Oliveira (Prefeitura Municipal de Araruama)

Este trabalho tem como objetivo apresentar um olhar sobre as internações psiquiátricas de mulheres presas políticas
durante a Ditadura Militar no Brasil, especificamente na década de 1970. Ligadas a diferentes organizações, segundo
os processos penais, estas mulheres tiveram seus comportamentos patologizados, de acordo com a moral em voga na
época. Os percursos e diagnósticos apresentaram singularidades e também similaridades nos onze casos abordados,
tanto uns em relação aos outros, como em relação a períodos históricos anteriores, mas mantendo entre si o elo da
experiência do interrogatório e da estigmatização a partir de uma ótica de “duplo desvio” contra o regime instaurado:
pelo fato de serem, supostamente, militantes comunistas e por serem mulheres que romperam com o lugar social a
elas destinado, o da esfera privada. A partir da análise dos discursos presentes nos laudos e em algumas fontes
secundárias, como jornais da época e partes dos processos penais, buscamos mostrar como o discurso médico-
psiquiátrico teve efeitos de verdade porque representava uma consonância com as formas de hegemonia vigentes na
ditadura, ocupando esta área da medicina uma posição relevante enquanto discurso científico sobre a doença mental
nas relações de poder-saber no período analisado, marcado pela crença em um “perigo vermelho”, que tomou os
corpos destas mulheres como parte da ameaça à ordem política e social, vinculando ideologias políticas, loucura e
estereótipos de gênero.

A Cultura da Imunização no Piauí: Refletindo Sobre as Campanhas de Vacinação no Estado(1950-2000)

Josias Gomes dos Santos Neto (UESPI - Universidade Estadual do Piauí)

O projeto de pesquisa “Campanhas de Vacinação no Piauí: a construção de uma “cultura da imunização”(1950-2000)”


tem como objetivo analisar a importância das campanhas de vacinação para a construção de uma “cultura da
imunização no Piauí”. Para isso, realizou uma discussão a respeito da forma como se deu a expansão das campanhas
de vacinação no Brasil, bem como está analisando o processo de produção e execução das mesmas no Piauí, no
período de 1950-2000. ). O recorte temporal da pesquisa, do ponto de vista nacional, está relacionado ao período em
que as campanhas de vacinação para erradicação da varíola tornaram-se mais consistentes, iniciando-se, ainda, o
trabalho de erradicação de endemias como o sarampo e a poliomielite (HOCHMAN, 2011). Em relação às condições
locais, coincide com o momento em que Estado foi integrado ao Serviço Especial de Saúde Pública-SESP, década de
1950, no contexto do “sanitarismo desenvolvimentista”, em que as questões de saúde foram relacionadas de forma
muito direta à economia.A produção dessa pesquisa está em sua fase final, o estudo da literatura de suporte e das
demais fontes estudadas permitiu perceber que a cultura da imunização surgiu em um clima de muito conflito e
resistência. Isso acontecia devido à produção, durante esse período, do que hoje chamamos de fake news, mas
também de motivações políticas que contribuíram para as mortes de milhares de brasileiros no período referente ao
combate da varíola e outras doenças infecto contagiosas. Na atualidade é possível perceber a importância dessas
políticas de saúde iniciadas até a primeira metade do século XX e aprimoradas depois desta data.Apesar de algumas
manifestações de resistência a respeito das Campanhas de vacinação, no geral pode-se afirmar que existe uma cultura
formada a respeito da imunização no Piauí. Este foi um projeto bem sucedido em quase todo território nacional.

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ST 25 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Heloísa Alberto Torres: entre a educação e o civismo pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro

Diana Priscila Sá Alberto (UFPA Instituto de Ciências Sociais Aplicadas)

A experiência das mulheres em espaços científicos no Brasil começa no século XX. A História e o Gênero trazem a
participação feminina na História das Ciências no Brasil. O Estado Novo no Brasil trouxe uma efervescência para as
mulheres brasileiras que conseguiram alcançar um espaço fora do ambiente privado e partir para o espaço público. O
campo da Ciência ainda era um espaço muito masculino, mas essas “frestas” ampliaram a fronteira onde o feminino
começa a circular na cidade. Heloísa Alberto Torres (1895-1977) ingressa no Museu Nacional do Rio de Janeiro – MNRJ
em 1925 como funcionária. O governo Vargas começaria, em termos provisórios a partir de 1930 até 1937, e as
mulheres surgem para a vida pública. A entrada de H. A. Torres no concurso do MNRJ desperta para as novas linhas
onde o feminino alcançaria no Brasil naquele momento. O objetivo é apresentar a participação de Heloísa em
momentos importantes da configuração da educação brasileira, quando alcançou o cargo de professora substituta no
MNRJ e esteve presente na educação no Brasil na década de 1920, realizando cursos de extensão e participando em
ações cívicas e filantrópicas. Sua trajetória é bastante analisada por sua gestão no MNRJ. Mas, sua participação em
ações como essas pouco tem sido analisada. Justifica-se esse artigo como parte da pesquisa de doutorado em
andamento sobre Emília Snethlage (1868-1929) primeira mulher cientista do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG
e sobre Heloísa Alberto Torres. A metodologia conta com jornais digitalizados pela Hemeroteca da Biblioteca Nacional
Digital entre 2018 até 2020. Os jornais são do Rio de Janeiro, de 1925 até 1945. Resultados até momento demonstram
que Heloísa teve uma participação ativa na condução de trabalhos educacionais externos ao MNRJ. Ao envolver-se em
cursos de extensão sobre História do Brasil e em ações filantrópicas como “O Dia da Victoria Regia” percebe-se que
essas fontes oferecem outro plano de investigação acerca da vida profissional dela.

Mulheres que fazem ciência: as primeiras pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz e a profissionalização da
pesquisa científica (Rio de Janeiro, 1938-1968).

Lia Gomes Pinto de Sousa

O trabalho segue uma orientação prosopográfica centrada na trajetória de 32 pesquisadoras do Instituto Oswaldo
Cruz que ali ingressaram entre 1938 e 1968, abordadas enquanto objeto coletivo significativo do ingresso feminino e
rompimento com a exclusividade masculina no campo científico. O objetivo central foi analisar as condições e
características do início e desenvolvimento de suas carreiras, atentando para o impacto da escolarização de mulheres
na organização das instituições científicas, que acompanhou alterações sócio-culturais de gênero e o próprio
movimento de profissionalização e especialização da ciência no Brasil. Com base em extensa pesquisa empírica que
contou com fontes variadas e uma análise tanto quantitativa como qualitativa, o trabalho confere visibilidade à
atuação de mulheres nas ciências e compreende a emergência do fenômeno à luz de mudanças históricas verificadas
desde o início do século XX. O perfil do grupo analisado reflete o pertencimento a um processo mais amplo em que se
associam a reconfiguração de identidades e papéis sociais tanto femininos quanto científicos num cenário de
permeabilidade institucional, potencializada no contexto do pós-guerra. A pesquisa demonstrou como o IOC se abriu
à participação de mulheres especialmente nos anos 1950 – um período de fragilidade e remodelação institucional –

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após o acesso delas aos cursos de ciências nas universidades, que também se modernizavam num padrão acadêmico
de valorização da pesquisa aliada ao ensino. Evidenciou-se que, em meados do século XX, mulheres poderiam se
interessar por ciência e ter habilidades para exercê-la, agarrando oportunidades e influenciando tanto os destinos de
novas cientistas, como os rumos do próprio processo de institucionalização da ciência no Brasil. Por meio do estudo
de caso do IOC, “mulheres que fazem ciência” surgem como novos atores históricos, até então pouco abordados,
participando de forma ativa do desenvolvimento de diversas especialidades da biomedicina.

A vulgariação do conhecimento através de um Manual de Parto do Rio de Janeiro no século XIX

Sara Fernanda Zan (Bolsista do Programa de Pós Graduação em História da Ciência e da Saúde (PPGHCS) da Casa de
Oswaldo Cruz (COC-Fiocruz).)

Pretendo com esse trabalho analisar a noção de vulgarização do conhecimento médico na primeira metade do século
XIX com base em um Manual de Parto publicado em 1830 no Rio de Janeiro. A obra em questão “Compendio das
doenças e outras indisposições das mulheres, para servir de guia as parteiras na arte do parto” é de autoria de uma
parteira francesa, mas residente no Brasil, onde atuou como parteira na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Tendo em vista sua formação na Faculdade de Medicina de Paris, bem como, sua atuação na Santa Casa – sendo esta
última espaço de assistência, mas também de ensino – convém a reflexão quanto a vulgarização do conhecimento
científico, em particular do ofício da parturição, em um Manual de parto publicado com intuito de instruir aqueles que
pretendiam iniciar os estudos no ofício, e que desprovidas de obras traduzidas para a língua portuguesa viam-se
carentes de conhecimentos médico. Além disso, será analisado o público para quem esse Manual seria destinado e as
limitações para obtenção deste. Concomitantemente serão contextualizadas a perspectiva e o debate existente no
período acerca de manuais de medicina popular no meio acadêmico.

A “prática dos civilizados" e a "magia médica": maternidade científica, parteiras e curandeirismo (1920-1945)

Yasmin Vianna Bragança (Universidade Federal Fluminense)

A partir do século XX, as mulheres passaram a ter papel central na sociedade brasileira, sendo consideradas um
elemento-chave para a execução de um projeto eugênico idealizado pelo governo, setores conservadores e
intelectuais. O objetivo era superar problemas que atrasavam o desenvolvimento econômico do país para adentrar a
modernidade. Com isso, o conceito de maternidade científica torna-se fundamental, baseando a prática na ciência
através de uma aliança entre mães e médicos, para solucionar problemas que atrasavam o desenvolvimento do país.
Com um plano educacional para as mulheres, as “mães modernas” teriam conhecimento científico para criar, educar
e desenvolver futuros cidadãos saudáveis física e moralmente. O protagonismo da classe médica também era uma
pauta importante. Os saberes do grupo se colocavam como únicos competentes e legítimos para intervir nos corpos
das mulheres. Em contraponto, atuavam também as “curiosas” e curandeiras, responsáveis pelo cuidado de mulheres,
e que foram criminalizadas dentro do plano de desenvolvimento civilizatório. Higiene, educação, eugenia,
maternidade e controle dos controles femininos foram temas do novo projeto republicano para solucionar os
problemas e, consequentemente, alcançar a "modernidade". Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo
apresentar o projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido no doutorado. O foco residirá na análise do projeto de
modernização conservadora elaborado em relação às mulheres, tendo como central o conceito de maternidade

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científica. Além disso, também pretende-se investigar a atuação e produção de discursos sobre as parteiras “curiosas”
e curandeiras, através das tensões entre o saber médico e a medicina popular, contextualizando os projetos de
políticas públicas e discursos do campo médico com os modelos políticos conservadores da Primeira República e do
governo Vargas, principalmente atrelado ao aborto.

“Perigoso para o bebê”: aborto com misoprostol no Brasil, 1986 a 1998.

Thayane Lopes Oliveira

O presente trabalho investiga o processo de conformação do “perigo” de malformação congênita relacionado ao


Cytotec (misoprostol) como um dos principais aspectos que contribuíram na perseguição e proibição desse
medicamento em território nacional. No debate em torno do seu uso para a prática ilegal do aborto, diferentes
discursos foram mobilizados favoravelmente e contrariamente ao medicamento. Por um lado, ginecologistas e
obstetras demonstravam que entre os métodos utilizados por mulheres para abortar, o Cytotec se apresentava como
menos danoso a saúde da mulher e, dessa forma, podendo solucionar um grande problema de saúde pública que são
as mortes maternas em decorrência de abortos malfeitos. Na contramão, profissionais dos campos farmacêutico e da
medicina genética apontaram para o risco de malformação congênita dos bebês associado ao uso do medicamento.
Essa controvérsia ultrapassou o campo científico e se fez presente na mídia nacional, mobilizando a atenção pública
em torno da proibição da comercialização que ocorreu progressivamente a partir de 1991 tendo como ápice de
medidas restritivas o enquadramento na regulamentação de substâncias especiais em 1998. Para o desenvolvimento
dessa pesquisa utilizamos fontes médicas (artigos científicos), documentos institucionais, jornais etc.

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ST 26. História da alimentação, da gastronomia e suas interfaces

ST 26 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Os Mouriscos e a sua alimentação a partir do compêndio do Padre Pedro Longás - La vida religiosa de los Moriscos

Ximena Isabel León Contrera (GEHIM/USP)

Esta proposta de comunicação tem como ponto de partida a compilação realizada pelo padre Pedro Longás em 1915
sobre a vida religiosa dos mouriscos. O trabalho que, ainda hoje é fonte importante para pesquisas sobre os mouriscos,
evidentemente vem sendo ampliado por pesquisas posteriores. Longás utilizou fontes diversas para traçar as práticas
religiosas do grupo (não homogêneo) que passa a ser converso desde a queda do reino muçulmano de Granada (1492)
até a expulsão de terras hispânicas (1609-1614). Procurou considerar fontes diversas relativas aos costumes dos
mouriscos em variados locais do território espanhol, inclusive as inquisitoriais. Este autor procurou se pautar pela
análise dos cinco deveres essenciais do Islã por parte dos mouriscos (muçulmanos forçados ao batismo, chamados de
novos convertidos de mouros, tagarinos no reino de Aragão ou naturais da terra em Granada), e que a partir do final
do século XV passam a ser súditos da Monarquia Católica, cristãos portanto, e com frequência suspeitos de praticarem
a “seita de Maomé” (criptomuçulmanos). A partir desta fonte, mas não exclusivamente, pretendo apresentar alguns
aspectos relacionados à alimentação do grupo mourisco tendo em vista preceitos e restrições religiosas, relacionadas
ao Islã, e que impactavam nas relações com a população cristã velha e autoridades eclesiásticas, inquisitoriais entre
outros. Longás trata da alimentação quando se refere ao jejum (a obrigação do jejum, a comida durante o Ramadán
entre outros) e no que tange aos ritos da caça, da degola de animais e dos alimentos lícitos. É importante lembrar que
o coletivo era considerado cristão e, assim, aspectos relativos às práticas dietéticas e de higiene alimentar se
constituíam em especial objeto de vigilância, por serem eventuais provas da prática do Islã e da dissimulação dessa fé
no seio de um mundo marcado pela contrarreforma e por conflitos com o Império Otomano.

Análise dos pescados como base da alimentação na capitania do Rio Grande do Norte, América portuguesa, 1650-
1750

Ana Lunara da Silva Morais (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

A pesca na capitania do Rio Grande do Norte foi uma atividade constante desde os primórdios de sua criação, ainda
no século XVI. Esta pesquisa tem por objetivo analisar a importância dos pescados para a alimentação da população
da capitania entre 1650 e 1750. Para verificar quais os pescados mais utilizados na base alimentar nesse período, serão
analisadas as regulamentações impostas pelo Senado da Câmara da cidade do Natal sobre a atividade pesqueira na
capitania do Rio Grande do Norte. Essa Câmara regularizava toda a dinâmica da atividade pesqueira na capitania entre
meados do século XVII até meados do século XVIII. Os oficiais camarários acordaram sobre o pagamento de impostos
pelo uso de embarcações e redes de pesca; sobre como deveria ser vendido o peixe; estipularam os valores das multas
pelo não cumprimento das ordens, como proibição do uso de determinadas redes de pesca; além de emitir uma série
de proibições e obrigações de acordo com as necessidades de moradores da capitania. Essas informações acerca da
administração da atividade pesqueira possibilitam avaliar dados relevantes acerca do consumo de pescados na

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capitania. Para esta pesquisa utilizou-se os termos de vereação do Senado da Câmara da cidade do Natal – existentes
no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) –, escritos de cronistas e documentos avulsos do
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU).

Os Restaurantes e as ideias de modernidade no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX

Thaina Schwan Karls (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O processo de modernização na cidade do Rio de Janeiro se tornou mais perceptível, especialmente a partir da década
de 1850. A aplicação das ideias de modernidade já vinha acontecendo de forma progressiva, pelo menos, desde a
chegada da família real portuguesa em 1808 e a independência do Brasil. À brasileira, o Rio de Janeiro passava a
representar no país, uma versão tropical e miscigenada de hábitos europeus que se materializava através de diferentes
vertentes. Frequentar restaurantes poderia ser interpretado como a representação de práticas modernas, evoluídas
e requintadas, adequadas a um país e a uma urbe que buscavam progredir. Quando apontamos que o século XIX foi
um ambiente de ampla propagação de ideias e discursos de modernidade, não estamos nos referindo a nenhum
modelo estático e imutável. A principal função dos restaurantes era a oferta de refeições: jantares, almoços e ceias.
Um destaque nesses espaços foi à forte presença de cozinheiros e chefs, sendo muitos deles de origem estrangeira, o
que se tornava um atrativo. Essa apreciação pode ser compreendida, também, como uma forma de aproximação do
Brasil com o mundo europeu, de demonstração de avanço, de uma postura civilizatória na Corte quando comparada
a outros países que consagraram a figura do chef de cozinha. Os restaurantes, principalmente aqueles anexos a hotéis,
sinalizavam também a presença de funcionários que se comunicavam em outras línguas. Outra singularidade,
principalmente a partir da década de 1860, foi a utilização de mesa redonda. Esta novidade era exaltada pela imprensa,
que avaliava a notícia com otimismo e fazia questão de divulgá-la como uma próspera inovação. Neste contexto, o
objetivo deste estudo é analisar como as ideias de modernidade em pauta na segunda metade do século XIX refletiram
nos restaurantes. Para isso, utilizamos como fonte os periódicos publicados na cidade no período em tela.

O ensino de História da Alimentação na Graduação: compartilhando experiências

Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ)

Tenho me dedicado ao ensino da História da Alimentação, ainda que não de forma contínua, desde 2011, quando foi
criado o curso de Gastronomia da UFRJ. Tal domínio temático é distinto daquele no qual desenvolvo minhas pesquisas,
voltadas para o estudo da hagiografia e do fenômeno da santidade medievais. Em tais investigações a alimentação
figura como um meio de manifestação de virtudes, como a recusa de alimentos requintados, ou de eventos
miraculosos, como a transformação de água em vinho. Assim, essa atuação docente me apresentou vários desafios e
suscitou muitas reflexões, relacionadas à seleção dos conteúdos; metodologia de ensino, proposição de atividades e
critérios de avaliação. A partir da experiência com os alunos de Gastronomia, ofertei disciplinas com temática
relacionada à alimentação também para os discentes do curso de Graduação em História. Primeiro, como uma unidade
em uma matéria optativa, com o título “Comer, rezar e Amar na Idade Média”, e, depois, em disciplinas direcionadas
à diversos aspectos da História da Alimentação. Ressalto, ainda, que em 2020 surgiu um novo desafio: adaptação dos
programas, elaborando versões para o ensino remoto. Na minha comunicação, apresentarei um relato dessas práticas,
sublinhando as dificuldades e os objetivos alcançados.

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ST 26 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Dos Saleiros aos Veleiros, uma análise a respeito de como a busca por melhores sabores na culinária, fomentou o
início do processo Colonizador Europeu durante o Séc. XV.

Pedro Henrique Santos e Silva

A Culinária tem um papel fundamental na formação da Sociedade e cultura desde o início da História humana.
Percebemos que quando o ser humano deixa a busca pela sobrevivência e começa a formação dos primeiros grupos
sociais, um dos elementos que logo se modificam é a sua alimentação, inicialmente por conta de novas necessidades
tais como conservação, tempo de preparo, quantidade etc. Porém, possuindo gradativamente um caráter pessoal a
medida em que se desenvolve as técnicas e preferências culinárias, consolidando a identidade culturas do grupo ao
longo de seu desenvolvimento. Através da análise a respeito da identidade cultural que a Gastronomia trás a uma
sociedade, podemos estabelecer com uma maior facilidade uma ponte entre Discentes e a disciplina História,
revelando assim com maior amplitude diversas características de uma sociedade e como tais aspectos estão presentes
no cotidiano. Através desta presente pesquisa acadêmica, pretendo expor, brevemente, como a alimentação faz parte
da cultura e da formação indenitária de uma sociedade em sua amplitude, e de modo mais especifico, como a
Gastronomia teve um papel fundamental para a fomentação das Grandes Navegações empreendidas pelos
Portugueses em meados do Séc. XIV e durante o Séc. XV. Evidenciando a utilização de tais elementos para a época e
sua alta importância e valor de mercado. Evidenciando por como metodologias envolvendo a Gastronomia podem
auxiliar ao discente no processo de aprendizado continuo, uma vez que o transporta para o recorte temático em
estudo e o auxilia na problematização dos eventos ocorridos e suas reverberações na História.

Comida Interiorana Cearense e sua Relação com a Terra

Tamires de Araujo Sousa

O trabalho irá apresentar diversos pratos e ingredientes que estão presentes em diferentes gastronomias regionais do
nordeste, porém expondo-os sob o olhar da população presente na região do interior do Ceará quando este sofria o
auge do êxodo rural. Os entrevistados para a elaboração do trabalho estiveram presentes em variados locais remotos
do estado durante as décadas de 70, 80 e 90, alguns possuindo também experiência como “flagelados da seca”, sendo
vítimas da grande seca que assolou a região de 1979 à 1983. É apresentada uma reflexão de como a relação com a
terra moldava diversos aspectos sociais, inclusive a gastronomia e o trabalho, que eram influenciados não só pelo
clima semiárido da região como também pela relação com os latifúndios fortemente presentes. Assim, a partir da
relação dos locais com a terra e como suas relações sociais e de trabalho eram ajustadas de acordo com a extensão
de terra que eles tinham sob seu poder, e como a alimentação deles também era afetada por isso.

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Alimentação e representação histórica no Grêmio Gaúcho

Cleber Eduardo Karls (Universidade Veiga de Almeida)

Porto Alegre, final do século XIX. Tempos de evolução tecnológica, intensa imigração europeia, desenvolvimento de
práticas esportivas e de entretenimento. A principal urbe do Rio Grande do Sul estava perfeitamente inserida em um
contexto de modernização e adoção de hábitos ditos civilizados, provenientes, em sua maioria, dos países do Velho
Continente. Da mesma forma como as demais importantes cidades do Brasil o antigo Porto dos Casais almejava
civilizar-se. No entanto, antagonicamente a toda esta tendência surgiu no meio urbano da capital sulina uma sociedade
voltada ao culto dos antepassados sul riograndenses. Como os próprios identificavam, tratava de “reviver os costumes
simples, francos e sãos”. Esta foi denominada Grêmio Gaúcho e foi fundada em 22 de maio de 1898. Entre suas ações
corriqueiras estavam atividades culturais e de divertimento, sempre inspiradas no passado do Rio Grande do Sul, onde
a alimentação tinha uma função destacada. Os seus festejos pareciam reinterpretar um ambiente rural e pecuarista,
característico da região fronteiriça e pampeana do estado, exótica e, de certa forma, anacrônica aqueles impetuosos
nativistas sócios do Grêmio. Inclusive os trajes “do antigo gaúcho”, que já não eram mais os seus do cotidiano
passaram a ser evocados e exaltados como a essência da sua existência. Em meio a churrasco, chimarrão e danças,
havia uma área específica onde os participantes montados a cavalo pousavam para fotografias, reinterpretanto um
passado tido por eles como glorioso. Com efeito, esse estudo busca analisar as características da utilização da
alimentação enquanto representação da cultura do Rio Grande do Sul através do Grêmio Gaúcho. Como fonte,
utilizamos os periódicos publicados em Porto Alegre nos anos finais do século XIX.

Gastronomia e Memória: Como a tradição da cozinha gaúcha é ressignificada na contemporaneidade pelo churrasco

Arthur Romanzini Lazzarotto

O estudo faz parte de uma pesquisa que vem sendo produzida na interface dos campos da História da Alimentação e da
Gastronomia com o objetivo de compreender como interagem as relações entre memória, culinária regional, gastronomia e
práticas de cozinha de fogo no estado do Rio Grande do Sul (RS). Partindo do churrasco, prato tradicional do estado, busca-se
entender como seu preparo e os ingredientes utilizados nesta tradição são atualizados pelos cozinheiros e cozinheiras em um
grupo variado de estabelecimentos e feiras. O motivo da escolha do churrasco como foco do estudo foi a conclusão de que é o
preparo de maior identificação no estado. Possivelmente, podendo ser comparado apenas ao consumo de chimarrão. No
entanto, não se observou uma disseminação comercial dele. Os restaurantes se utilizam da memória, mesmo que o preparo
considerado tradicional não esteja presente. A tradição de assar carne sobre o fogo possui ligações históricas com a formação do
RS, sua economia e as práticas culinárias tradicionais da região. A história do gaúcho ou “gaucho” se mistura entre as fronteiras
do RS, Argentina e Uruguai. Ela também é atualizada pelos chefs e festivais locais buscando adaptar sua prática para as novas
tendências e exigências do público. Foram observadas duas formas de expressão dessa memória e da tradição do churrasco no
comércio. Uma forma mais longeva servida em churrascarias modernas com espeto corrido, e outra considerada alta
gastronomia na qual os preparos sofrem intervenção criativa e de técnicas contemporâneas. A primeira parece estar conectada
com a tradição local fazendo uso dela na ambientação, em nomes e sendo associado ao lazer e festividades. O segundo tipo
parece estar mais ligado a movimentos e exigências de consumidores com tendências diversas, dietas vegetarianas, consumo
local e influências internacionais. Os dois tipos de estabelecimento remetem a memória coletiva do churrasco embora de maneira
completamente diferente.

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ST 28. História da medicina e da saúde no Brasil: saberes e práticas situadas

ST 28 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

O caso dos boticários não examinados e não autorizados de Capivary, na Província do Rio de Janeiro, nos anos
iniciais de 1850.

Ticiana Santa Rita

Para este simpósio, vamos abordar a trajetória dos boticários não examinados e não autorizados que atuavam no
município de Capivary (atual Silva Jardim) ano de 1850. Esta é uma parte da minha tese de doutorado ainda em
andamento que pretende analisar a inserção política de boticários e farmacêuticos nos Municípios da Província do Rio
de Janeiro, na última metade do século XIX e, outras análises ainda serão realizadas. Fizemos um levantamento das
informações contidas no Almanak Laemmert sobre boticários distribuídos pelos diversos municípios no referido ano,
porém, é importante destacar que os dados publicados pelo periódico dependiam do envio realizado por cada
município e que, por vários motivos, muitas vezes não chegavam de forma regular, mas, apesar disto, acreditamos
que os dados do Almanak se aproximam muito da realidade. Nas análises realizadas observamos que a penas o
município de Capivary apresentava uma lista de boticários não examinados e não autorizados e, ao olharmos mais de
perto estes boticários, destacou-se a história de Hermínio Cândido de Assis Lopes, boticário desde 1848 que, aparece
no periódico como “boticário não examinado” (1850) e posteriormente “boticário não aprovado” (1851-1854), que
atuou no auxílio à população local. Mesmo não estando relacionado como boticário desde 1854, Hermínio obteve o
reconhecimento pelos seus serviços publicado no jornal A Pátria em 1856. Outro dado interessante é que o antigo
boticário volta aparecer ocupando outros cargos, como cirurgião vacinador, vereador, presidente da Câmara
Municipal, entre outros. Buscamos no decorrer da pesquisa, identificar e analisar as redes de sociabilidades em que
este agente das artes de curar estava inserido e seu capital social, levando em consideração a história do grupo familiar
e as práticas políticas e farmacêuticas desenvolvidas dentro das localidades em que estavam inseridos.

Progresso, Saúde e Política local: representações sobre médicos, farmacêuticos e boticários no semanário 'O Baurú'
(1907- 1909)

Roger Marcelo Martins Gomes (UNISAGRADO)

No início do século XX, a cidade de Bauru era tomada pela ideia de progresso e desenvolvimento urbano, sobretudo
com chegada das ferrovias Sorocabana em 1905 e Noroeste em 1906. Num projeto de desenvolvimento urbano
firmado na ideia de progresso a elite local defendia fortemente a necessidade de investimentos em saúde pública e
saneamento básico. Sem um hospital que pudesse atender a demanda da cidade os farmacêuticos, boticários, médicos
atendiam a população local e de toda a região denominada Noroeste Paulista. A defesa de um projeto de
desenvolvimento urbano firmado num discurso postulado na ideia de progresso e de investimentos na área da saúde
proposto pela elite foi assumido também pela nascente imprensa local e, em especial, o semanário fundado em 1906
O Baúru. Esse semanário fora fundado por Domiciano Silva advogado, comerciante e político influente desde o
momento que Bauru se tornara Munícipio e Comarca. Em 1908 o semanário fora vendido a Almerindo Cardarelli que

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assumia uma postura oposicionista ao médico Álvaro de Sá que se tornara prefeito da cidade. Nas páginas de O Baurú
não faltaram críticas e deboches ao médico prefeito e muitas vezes à atividade médica. Sendo a imprensa um campo
discursivo e de embates políticos, procuramos nesta pesquisa compreender como os políticos e profissionais da saúde
eram representados nos discursos dos diretores e colaboradores do semanário O Baurú.

Uma Criminalização Entra em Debate: A Liberdade Profissional de Curandeiros nos Annaes da Câmara dos
Deputados Federais (1890-1899)

Jefferson Nascimento Albino

Este trabalho tem o objeto de analisar os debates políticos acerca da liberdade profissional que apresentavam o
curandeirismo como um dos enfoque entorno da construção da república (1891-1896). Combinando os debates
oficiais com a experiência de um curandeiro em específico, José Francisco Pinto Breves, almejamos discutir os impactos
do debate na busca pela formação de uma nação republicana enviesada nos trilhos da modernidade e progresso
científico, que permearam a mentalidade político-intelectual do século XIX. Ao fazermos isso, buscamos refletir sobre
ferramentas teórico-metodológico que nortearam a pesquisa no âmbito da Pós-Graduação como forma de se refletir
sobre a produção do conhecimento histórico acerca da temática das terapias populares. Com essa reflexão,
compreendemos a necessidade de se analisar um mesmo objeto de estudo através de diferentes olhares e escalas
para assim dimensioná-lo no seu contexto e produzir um conhecimento dinâmico, coeso e que perpassava por
diferentes esferas do pensamento social e político brasileiro.

ST 28 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

A "bôa época de prosperidade": o governo Leônidas Mello e a saúde pública piauiense (1937-1945)

Rakell Milena Osório Silva, Joseanne Zingleara Soares Marinho (UESPI)

O objetivo do trabalho é analisar as iniciativas do Interventor Federal Leônidas de Castro Mello no campo da saúde pública, a
partir das medidas que resultaram na instalação e funcionamento dos postos de saúde e das delegacias de higiene no território
do Piauí, durante o período estadonovista. O primeiro Governo Vargas empreendeu mudanças consideráveis no setor da
assistência pública a partir da atuação das administrações estaduais e municipais. Nesse contexto tiveram destaque os serviços
de saúde do interior do país, como é o caso do Piauí. Pode-se destacar a realização dos melhoramentos das condições salubres
do espaço urbano, que, desde o final da década de 1910 vinha encampando uma cultura sanitarista com a incorporação de
médicos que baseavam suas técnicas na medicina preventiva. Contudo, as condições eram notadamente precárias,
principalmente no interior do estado e entre a população pobre. Por isso, o interventor continuou os trabalhos do seu
antecessor Landry Salles e passou a investir de forma crescente na ampliação dos serviços de assistência médica, com o
aumento das verbas, não se limitando à capital, mas expandindo o trabalho dos postos de saúde e das delegacias de higiene
para municípios que, anteriormente, não possuíam serviços de profilaxia ou tinham assistência médica irregular, o que
resultava no aumento das enfermidades e, consequentemente, da mortalidade. Desse modo, com a administração
centralizada foi possível notar avanços na saúde pública piauiense, possibilitando algumas melhorias na condição problemática
do estado.

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Saúde, doença e práticas de cura nos escritos de Mário de Andrade

Luiz Gustavo Ayres dos Reis (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

As questões sanitárias no Brasil nos decênios do século XX compuseram um dos assuntos centrais da política nacional
de saúde pública. O trabalho que aqui se segue tem por objetivo discutir as relações entre saúde, doença e medicina
nos escritos do modernista Mário de Andrade (1893 – 1945). As narrativas do literário estão constituídas de
representações quanto as práticas populares e folclóricas a partir de uma realidade social e científica de um país
moderno. Durante uma viagem com destino a Amazonas, em 1927, o escritor entra em contato com a malária e publica
dois artigos no Diário Nacional: Maleita I e Maleita II. Em outro momento, já em 1939, o escritor elabora um ensaio
chamado Namoros com a Medicina. Livro dividido em duas partes: Terapêutica Musical resultado de uma Conferência
na Associação Paulista de Medicina e Medicina dos Excretos publicado no mensário Publicações Médicas, na coluna
Variedades. Nela o autor demonstra sua íntima relação com a medicina e reflexões sobre os males do corpo e da alma.
Os ensaios publicados em livros e jornais e os diários descritos nos periódicos, trazem um lado inquietante de Mário
de Andrade para os assuntos que tangenciam a temática da medicina. As fontes analisadas aproximam-se dos saberes
populares no tratamento e cura das doenças, mas não deixam de evidenciar o contexto de um Brasil moderno na
produção médica e cientificista nas suas diversas maneiras de observação do corpo como objeto da ciência e da arte.

Revista Saúde em Debate: Saúde e Democracia (1980-1985)

Amanda Silva Leão

Esse trabalho busca compreender como a classe médica se colocava no período de 1980-1985 em relação à situação
da saúde pública no Brasil, partindo dos discursos proferidos na Revista Saúde em Debate, produzida pelo Centro
Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) em 1976, nascendo a partir do movimento sanitarista, composto em sua
maioria por membros do Partido Comunista Brasileiro o CEBES tem como objetivo veicular questões levantadas pelo
movimento através da Revista Saúde em Debate. A ideia sobre voltar essa pesquisa para a questão da democratização
da saúde no Brasil, surgiu a partir da produção de um artigo sobre o processo de privatização da saúde que ocorria no
Brasil na década de 1970, visto que o Estado nesse momento tentava ampliar os serviços de saúde para uma parcela
maior da população brasileira, porém, utilizava de privatizações para isso. Partindo dessa ideia, foi possível enxergar
que o processo de privatização da saúde no Brasil caminhava para uma direção oposta à percepção do conceito de
saúde que o movimento sanitarista acreditava, essa nova concepção trazia a compreensão de que a saúde dos
indivíduos não dependia apenas de técnicas médicas, mas era necessário também pensar nas questões sociais,
políticas e econômicas que envolviam as pessoas, sendo necessária democratização não só da saúde, mas também do
sistema político em que o Brasil se encontrava.

Em nome da ciência e do sanitarismo: a Biblioteca Científica Brasileira do Instituto Nacional do Livro e a divulgação
científica no Brasil dos anos 1940-50

Mariana Rodrigues Tavares

Este trabalho se dedica a analisar algumas obras que compõem a Biblioteca Científica Brasileira, coleção de obras do
Instituto Nacional do Livro. Dedica-se a averiguar, mais particularmente, os títulos que se referem propriamente às

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questões médicas e sanitárias, tais como a Prática Sanitária Rural, de autoria de H.S. Mustard, e Saneamento Urbano
e Rural, de V.M. Ehlers e E.W. Steel. Editada entre os anos 1940 e 1950, esta coleção se destinava a suprir as carências
dos “problemas urgentes de nossa cultura técnica e científica”. Dividida em duas séries, A e B, a Biblioteca Científica
contemplava em seu primeiro conjunto de livros toda a contribuição científica original, referente de modo particular
ao nosso país. Na série B estavam contempladas as traduções de obras estrangeiras, isto é, os trabalhos considerados
fundamentais sobre os diversos ramos da ciência e da técnica. Inserida na conjuntura de expansão do ensino superior
no Brasil dos anos 1940-50, a Biblioteca Científica representa uma amostra do que os cientistas consideravam
relevante compartilhar entre a comunidade científica e divulgar para o público.

ST 28 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

“O miasma paludoso é o Anopheles”, mas não é apenas ele: uma breve história da malária nos primeiros anos da
república em Manaus (1898-1904)

Márcio De Carvalho e Silva (seduc am)

Os primeiros anos de República em Manaus foram movimentados devido às alterações significativas na paisagem da
cidade, como a construção e o nivelamento de ruas e o aterro de igarapés. Esses acontecimentos foram propiciados
graças ao acúmulo de capital advindo da comercialização do látex, a ponto de a cidade ficar conhecida como a “Paris
dos Trópicos”, dada o cosmopolitismo que a cidade assumira com a economia da borracha. Ao mesmo tempo em que
se expandiu enquanto cidade, Manaus também assistiu a expansão de doenças como a malária, esta que protagonizou
sucessivas epidemias no período da Belle Époque. No presente artigo iremos abordar como a doença ganhou uma
visibilidade diferenciada em relação à época provincial, destacando-se nos relatórios de autoridades sanitárias e dos
governantes no alvorecer da República em Manaus. Para tanto utilizaremos a técnica da análise de discursos de modo
a verificar as mudanças e permanências no entendimento sobre a doença entre 1898 e 1904. Ao mesmo tempo, iremos
verificar como o recrudescimento da doença na cidade traz, à reboque, novos embates entre a elite médica
amazonense em relação à etiologia e à transmissão da moléstia, isto é, a partir da ideia do mosquito enquanto vetor
nos primeiros anos do século XX.

Maconhismo: uma entidade nosológica do século XX?

Saulo Carneiro Pereira dos Santos (Casa de Oswaldo Cruz - Fio Cruz)

O maconhismo pode ser compreendido como a doença que acometia os usuários crônicos de maconha, sendo descrito
pela primeira vez em 1915 pelo médico sergipano José Rodrigues da Costa Dória no trabalho: Os fumadores de
maconha: effeitos e males do vício. No referido texto, Dória aborda o conjunto de sintomas do maconhismo, quais
sejam: depressão das funções nervosas, cacheixa, emagrecimento, dyspepsia gastro-intestinal, physionomia triste e
abatida, bronquite, entre outros. Um dos sintomas mencionados, a cacheixa, teria como resultado a morte em pouco
tempo. A etimologia da palavra maconhismo evidencia sua similaridade com o alcoolismo, ambas possuem o mesmo
sufixo e tratam de adicções. O trabalho de Dória é pioneiro na medicina ao tratar dos efeitos biopsicossociais da
maconha e é também fundante na constituição do estilo de pensamento proibicionista, assim, em um movimento de

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sucessão, o sistema de valores engendrado nas ideias de Dória é levado adiante por outros médicos como José Lucena
e Garcia Moreno, que assim como ele se debruçaram nos estudos sobre os efeitos, usos, usuários da maconha e sobre
o maconhismo na primeira metade do século XX. Considerando a emergência do que denominou-se maconhismo,
busco nesta proposta, analisar, a partir dos elementos teóricos de Ludwik Fleck, a possibilidade de enquadramento do
maconhismo como uma entidade nosológica ‘descoberta’ e ‘desenvolvida’ pelos médicos reunidos no coletivo de
pensamento proibicionista, que se formou na primeira metade do século XX. E, a partir disto, compreender as relações
engendradas no discurso médico-científico sobre a maconha. Além disso, também almejo entender se o discurso
médico-científico sujeitou-se ao estilo de pensamento proibicionista. Para tanto, busco aferir esta hipótese a partir da
análise da produção dos referidos autores.

“Tratado de Educação Física para os Meninos para uso da Nação Portuguesa (1790)”: o conhecimento médico a
serviço dos sujeitos infantis na segunda metade do século XVIII

Eduarda Troian (UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos)

Esta comunicação apresenta as discussões iniciais provenientes do meu projeto de mestrado, que prevê a análise da
obra “Tratado de Educação Física para os Meninos para uso da Nação Portuguesa” (1790), escrita pelo médico luso-
brasileiro Francisco de Mello Franco. Nesse sentido, a nossa proposta é identificar, através da análise desse tratado, a
concepção de saúde infantil em Portugal na segunda metade do século XVIII, a partir das orientações destinadas ao
público infantil que constam na obra. É importante destacar que esta obra foi uma das primeiras a enfocar os cuidados
que os sujeitos infantis masculinos demandavam no século XVIII, tendo sido também a primeira a ser oficialmente
assinada por seu autor, cuja prática de publicar textos anônimos provocou acusações e denúncias de heresia junto ao
Tribunal do Santo Ofício. O Tratado, composto por 12 capítulos, aborda o desenvolvimento da criança, atentando para
cuidados básicos que deveriam ser adotados ainda no período gestacional, até os mais específicos que envolviam
orientações comportamentais e alimentares dessas crianças. É importante lembrar que a obra de Mello Franco estava
nitidamente influenciada pelos princípios iluministas difundidos na sociedade portuguesa na segunda metade do
século XVIII, razão pela qual apresenta caráter bastante inovador para o período, sendo uma das primeiras a elucidar
os cuidados específicos destinados à educação de meninos saudáveis no reino de Portugal. Interessa-nos, por isso,
também reconstituir as teorias e a prática da Medicina vigentes e as transformações sociais que estavam acontecendo
em Portugal no período em que a obra foi publicada.

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ST 30. História do Direito: cultura jurídica, práticas e normatividades

ST 30 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

O poder materno na Primeira República (1895-1921)

Alan Wruck Garcia Rangel (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Trata-se de pesquisa em andamento que aborda o tema da história do direito das mulheres. A metodologia que
pretendemos empregar encara a mulher como sujeito histórico dos seus direitos a retirando da posição de passividade
e subordinação. Durante muitos séculos, o sistema do direito de família relegou a mulher a uma posição secundária,
justificada pela religião e pelo direito natural, através do poder doméstico masculino. Com o advento da Primeira
República, o direito privado tradicional é parcialmente reformado pelo Decreto n° 181 de 24 de fevereiro de 1890 que
institui o casamento civil. Nesse decreto, a viúva passa a ter pátrio poder, bem como a mãe solteira a ter algum direito
sobre o filho natural. Surge, assim, nos tribunais, o debate sobre a extensão e limites do poder materno em face do
pátrio poder. A pesquisa descobriu 14 julgados de habeas corpus nos tribunais superiores (Supremo Tribunal Federal,
Superior Tribunal de Justiça e no Tribunal de Justiça), entre 1895 e 1921, em que mães postulam direitos equivalentes
àqueles do pátrio poder para obter direitos sobre os seus filhos. Os resultados, ainda parciais, revelam as mentalidades
acerca do papel da mulher na família e na sociedade por intermédio do debate jurídico e judiciário em um momento
de transformação e enfraquecimento do antigo pátrio poder.

A inquisição na rota do gado dos sertões de fora: reflexões metodológicas da presença do Santo Ofício no Ceará
durante o século XVIII

Adson Rodrigo Silva Pinheiro (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo investigar os meios de ação, as experiências e os modos como agentes de
instituições locais e a sociedade colaboraram com o Santo Ofício para identificar os crimes da alçada inquisitorial nos
anos de 1716 a 1790 no Siará Grande por meio da denúncia. A partir do debate aqui proposto, compreendemos o
processo de formação das vilas do Ceará grande, marcado pelo avanço da pecuária, do intenso comércio entre vilas,
disputas de terras e por status social e pelos intensos embates com os povos indígenas. A partir desse cenário, busca-
se compreender como a inquisição se insere no processo de ocupação desse sertão e como atua nas disputas locais
por meio da apropriação da instituição. Para além de construir uma narrativa que contemple apenas a história
institucional, o trabalho proposto visa aproximar-se das práticas, experiências e sentidos dos agentes históricos que
participavam da rede social de denúncias para atuarem na vigilância dos comportamentos sociais e religiosos
esperados pela Igreja Católica e traduzidos pelos mecanismos do poder local. A conduta ansiada pela Igreja em relação
aos seus devotos ou dos agentes que a servia, muitas vezes, ia de encontro necessidades individuais que muitas vezes
poderiam se sobrepor às obrigações que operavam o sistema de denúncia, pois tinham sonhos, interesses e
necessidades individuais que muitas vezes poderiam se sobressair às obrigações legais. A partir dela, pretende-se
analisar, como fonte central da pesquisa as denúncias, as experiências e relações construídas pelos denunciadores,

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tanto para se tornar um delator, quanto para legitimar seu depoimento presentes tanto nos cadernos do promotor
quanto em processos inquisitoriais durante o século XVIII.

O papel dos Códigos de Posturas na dinâmica de segurança pública do Rio de Janeiro no século XIX.

Thiago José Aguiar da Silva (autônomo)

O presente trabalho tem como objetivo debater acerca do papel da legislação dos Códigos de Posturas na dinâmica
de segurança pública da cidade do Rio de Janeiro no século XIX. Em geral, quando se debate aspectos pertinentes à
prevenção da criminalidade e ordem pública, tem-se a atenção voltada para a legislação penal/criminal. Desse modo,
a pesquisa em curso pretende discutir a centralidade do direito administrativo, principalmente os Códigos de Posturas,
para cumprir esse papel. Essa legislação tinha como principal função ordenar e regulamentar a atividade de “ganho”
dos escravizados urbanizados e, a partir dessa gestão, evitar revoltas. Os escravizados de ganho realizavam toda sorte
de serviços além de atuarem o comércio ambulante na cidade. A pesquisa é realizada a partir da revisão bibliográfica
de autores que investigam a escravidão urbana brasileira no Século XIX, análises da legislação a ser debatida (Código
de Posturas da cidade do Rio de Janeiro oitocentista) além de busca a fontes primárias de notícias sobre conflitos
urbanos envolvendo escravizados de ganho em periódicos – jornais, revistas, anuários, boletins etc - disponíveis na
hemeroteca digital brasileira da Biblioteca Nacional.

As influências da Faculdade de Direito do Recife na magistratura fluminense: o estudo de caso da trajetória dos
juízes da Comarca de Magé (Província do Rio de Janeiro, 1860-1888)

Antônio Seixas (Comissão Pró-Memória da OAB-Magé)

Os primeiros Cursos Jurídicos no país foram criados, em 1827, com a finalidade de atender as necessidades
burocráticas do Estado imperial. O bacharel ou tornava-se um empregado público ou dedicava-se à advocacia, à
política e/ou aos negócios. Ao ingressar na magistratura, deveria aplicar a lei e assegurar a manutenção da ordem. O
presente artigo versa sobre a atuação, na Província do Rio de Janeiro, dos egressos da Faculdade de Direito do Recife,
tomando como objeto de estudo a trajetória dos bacharéis que ocuparam os cargos de Juiz de Direito e de Juiz
Municipal e de Órfãos, na Comarca de Magé. O recorte cronológico compreende da criação da comarca, em 1860, e
se estende até 1888, quando de sua elevação à categoria de entrância especial. Objetivamente, buscamos analisar
como a Faculdade de Direito do Recife e o movimento da Escola do Recife teriam influenciado a trajetória dos
bacharéis que ingressaram na magistratura. A hipótese é que através da trajetória dos juízes de Magé podemos
perceber a extensão da influência da academia recifense na magistratura fluminense. A revisão bibliográfica específica
sobre a História Social do Direito demonstrou que, enquanto a Faculdade de Direito de São Paulo formou novos
quadros para a política, a do Recife produziu os primeiros pensadores. Com base em fontes contemporâneas,
especialmente os periódicos da Biblioteca Nacional, recorreu-se ao método onomástico para identificar os formados,
no Recife, que ocuparam postos na comarca. A partir do método biográfico de análise individual, construímos
microbiografias que nos permitiram perceber a dinâmica da carreira da magistratura. Os resultados sinalizam para
uma pequena influência da Faculdade de Direito do Recife na magistratura da Província do Rio de Janeiro, pois a
maioria dos Juízes Municipais e de Órfãos analisados não foram promovidos nem reconduzidos. A rejeição pode ser
atribuída a uma postura critica a ordem imperial, afinal, estudaram sob a influência da Escola do Recife.

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Cidade e crime no século XIX: o Estado de São Paulo e os códigos de posturas municipais (1860-1870)

Beatriz de Santana Prates (Defensoria), Beatriz dos Santos Funcia (adv), Claudia Coutinho Linhares (ad)

A pesquisa discute o controle social paulista e a dinâmica da escravidão urbana entre décadas de 1860 e 1870, a partir
dos Códigos de Posturas municipais. O método consiste em revisão bibliográfica sobre a escravidão urbana e as
posturas municipais, além do levantamento de fontes primárias, como notícias publicadas na imprensa local. À época,
estava em vigência o Código Criminal do Império, mas o estudo das posturas demonstra que o controle social também
ocorria de maneira administrativa e local. Apesar de não terem sido códigos criminais, parte desses instrumentos
constituíam verdadeiras normas de segurança pública. O período analisado é posterior à Lei Eusébio de Queiroz (Lei
nº 581 de 1850), que proibiu o tráfico internacional de escravos e viabilizou o tráfico interprovincial, principalmente
após o deslocamento da economia brasileira para a região cafeeira. A expansão da produção do café em São Paulo
provocou rupturas no campo econômico e do trabalho, forjando uma urbanização improvisada e atravessada por
tensões sociais. Impôs-se, assim, uma reorganização dos espaços urbanos no capitalismo emergente, sem, contudo,
absorver a massa de escravizados. A exclusão e concentração de renda desse processo, ensejaram a gestão de novos
conflitos, simbolizados, por exemplo, na figura das negras de tabuleiro, personagens centrais para entender o período
de transição ao trabalho livre e que tiveram seu trabalho amplamente regulado por posturas municipais. Em suma, o
objetivo é estudar essas nebulosas normas administrativas, que combinavam sanções administrativas e penais ao
regular condutas sanitárias, estéticas e morais. Apesar de constitutivas da realidade urbana paulista do século XIX, elas
precisam ser entendidas dentro de um contexto de enormes contradições, no qual, diversas vezes os escravizados se
esquivaram de sua aplicação, pelo protagonismo que assumiram no cotidiano urbano, manifestado nas diversas
formas de resistência.

ST 30 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

O Tratado de Direito Natural e Tomás Antônio Gonzaga: formação de juristas e cultura jurídica no período
pombalino

Hiago Rangel Fernandes (ME)

O presente trabalho, fruto da pesquisa para conclusão de curso, teve como objetivo a apresentação de uma possível
interpretação acerca da obra de Tomás Antônio Gonzaga, um jurista geralmente lembrado como magistrado régio
envolvido na malograda Inconfidência Mineira e pelas obras poéticas como Marília de Dirceu e Cartas Chilenas.
Formado em Leis na Universidade de Coimbra entre o "terremoto político" e a reforma da instituição em 1772, o então
posterior ouvidor de Vila Rica esteve situado nos debates políticos e jurídicos durante o ministério do Marquês de
Pombal, que se esforçou por uma maior centralização política ao criar novas instituições de controle e intervenção
social, que conflitaram com a estrutura sinodal do Antigo Regime português. Além disso, no período de estudo do
nosso jurista em questão, buscou-se, através da Lei da Boa Razão de 1769, racionalizar o direito, enfatizando o direito
pátrio na tentativa de diminuir o uso considerado arbitrário do "ius commune", por parte dos magistrados. A obra de
Gonzaga se insere, portanto, nesse contexto de reformas e polêmicas com a tradição jurídica e de pensamento
neoescolástico, protagonizado pelos jesuítas. O objetivo da pesquisa foi averiguar como este estudante do Direito se
comportou intelectualmente na discussão acerca da formação da sociedade civil, bom governo e sua finalidade -

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passando pela relação entre súditos e monarca- , que estiveram na ordem das novas concepções e orientações por
parte dos juristas em torno do Marquês de Pombal, que envolveram as formulações sobre o direito natural. Para uma
análise comparativa que nos permita fazer uma interpretação acerca do pensamento gonzaguino, consideramos, além
dos textos pombalinos, o de teólogos neoescolásticos jesuítas e juristas da Restauração, que ainda circulavam até a
proibição pela Real Mesa Censória, na década de 70, importantes, portanto, para o mapeamento do contexto
linguístico e de ideias dos quais Gonzaga poderia se inserir.

A Lei de Segurança Nacional no Superior Tribunal Militar brasileiro (1975-1979): Edward Thompson e a
desnaturalização da lei

João Vitor Hugo Menezes do Nascimento

Esta investigação tem como objetivo analisar o arcabouço legal que fundamentou a condenação de presos políticos,
no âmbito do Superior Tribunal Militar (STM), durante a ditadura brasileira, sobretudo no período do governo de
Ernesto Geisel (1974-1979), além de problematizar noções baseadas no binômio legal e ilegal, chamando a atenção
do caráter de classe de uma lei, sobretudo a partir das reflexões de Edward Palmer Thompson. Nesse sentido, será
enfocada a Lei de Segurança Nacional, dispositivo legal que embasou a condenação de presos políticos na justiça
militar. O decreto lei 898/69 será o mais abordado, que sucedeu o decreto lei 314/67, sendo a primeira Lei de
Segurança Nacional da ditadura. Objetiva-se investigar a Lei de Segurança Nacional e sua aplicação pelo STM a partir
das emergências que se apresentavam ao governo ditatorial para controlar a sociedade e assegurar o poder, bem
como é necessário identificar que a conformação de uma lei que visa a segurança do Estado apresenta origens bem
anteriores, além de se expressar em diversas partes do mundo sob a égide da doutrina de segurança nacional. Assim,
a contingência de estabelecer essas leis só se deram pois antes articulou-se uma determinada ideologia, sendo
necessário articular mais de uma duração do tempo histórico para entendermos o significado das Leis de Segurança
Nacional e seu papel como instrumento de dominação de classe do Estado ditatorial.

Direito e administração da Justiça: uma análise sobre a advocacia brasileira durante os séculos XVIII e XIX

Caroline Rodrigues Coelho

No presente trabalho analisaremos as práticas da advocacia colonial/imperial brasileira, durante os séculos XVIII e XIX,
buscando compreender a sua importância tão somente para a sociedade e o acesso à Justiça, mas principalmente seu
arranjo dentro da organização jurídica e administrativa do Antigo Regime, e posteriormente, do início do Império.
Entretanto, para a compreensão dos advogados provisionados, ou rábulas – como também são chamados – entende-
se que somente é possível se considerarmos a sua inserção em um contexto mais amplo, objetivando entender o
Direito e o aparelho judicial em geral. Dessa maneira, o referente trabalho de pesquisa passará por uma breve análise
do aparato jurídico-administrativo, nos permitindo compreender de maneira mais ampla a existência dessas figuras
no território brasileiro. As fontes utilizadas nesta pesquisa foram os instrumentos legais vigentes à época, bem como
as documentações encontradas Arquivo Histórico Ultramarino, presentes na plataforma de pesquisa criada pelo
Projeto Resgate da Biblioteca Nacional de Portugal. O conjunto destes documentos possuem em sua descrição os
nomes “provisões” ou “pedidos para advogar”, e constituem-se em uma série de cartas e requerimentos avulsos
oriundos do centro político-administrativo colonial, ora Conselho Ultramarino.

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O Golpe de 1964, os Atos Institucionais e o caminho escolhido para institucionalizar um regime militar no Brasil

José Fabio Rodrigues Maciel (TC)

O golpe de 1964, promovido pelas elites econômicas brasileiras com o apoio de setores da classe média,
autoproclamando-se revolução, foi responsável pela ruptura da ordem jurídica e democrática que vigorava desde o
fim do Estado Novo. Com apoio de juristas de renome nacional, o novo regime buscou estabelecer sua legitimidade
jurídica, que se deu principalmente com a edição de Atos institucionais e com a autoritária Constituição de 1967,
elaborada pelos juristas ligados à ditadura e convalidada por um Congresso submetido ao Poder Executivo, em claro
desrespeito à autonomia dos poderes, destacando-se o famoso AI-5, de 13 de dezembro de 1968. Logo após o Golpe
houve um grande um esforço realizado pelos que tomaram o governo para construir juridicamente um processo de
burocratização do autoritarismo e da centralização dos poderes da ditadura, com concentração de poderes no
Executivo, cujos efeitos permanecem até a atualidade, não tendo ocorrido de fato uma ruptura mesmo com o advento
da Constituição de 1988.

Narrativas do racismo estrutural no Brasil

Luciano Rodrigues Santos (SEDUC GO)

Este estudo documental analisa o racismo no âmbito educacional como mecanismo estrutural de opressão e
preconceito, no Brasil. Partimos, então, de uma análise crítica acerca do racismo estrutural no âmbito da educação
superior, a partir dos dados no MEC/Inep, dos censos da educação nacional dos anos específicos de 2011 e 2018. A
escolha do ano de 2011 se deu por ser o ano anterior à implementação da Lei n.º 12.711, de agosto de 2012 (Lei de
Cotas), e da Lei n.º 11.645/2008, que altera a Lei n.º 9.394/1996, modificada pela Lei n.º 10.639/2003, a qual
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira e indígena”, do ponto de vista prático na vida da
população afro-brasileira. Já o ano de 2018, por se tratar dos dados mais atualizados disponibilizados pelo MEC/Inep.
A partir da problematização do impacto das leis, no âmbito cultural e social, este estudo aborda a perspectiva do
racismo estrutural na educação superior brasileira.

ST 30 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

A Repetição da República de Weimar no Brasil

Francisco de Assis Macedo Barreto (TRT)

O cotejo da República de Weimar (1919-1933) pelos Ministros Edson Fachin e Celso de Mello, do Supremo Tribunal
Federal, com a hodierna política governamental praticada pelo Poder Executivo federal brasileiro, reverberando nos
meios midiáticos, concita, academicamente, amealhar-se exegeses de alguns membros da comunidade jurídica dos
intérpretes tedescos neste primórdio nazista, v.g., Hugo Preuss, Carl Smith, Max Weber e Hans Kelsen. Colima-se
sopesar, indiciariamente e na esfera da hermenêutica jurídica, traços de similaridade sob correlação principiológica às
duas quadras temporais no gradiente da imputação de que teria sido a destinação topográfica dos Direitos Sociais na

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Constituição de 1919 uma causa do advento do conseguinte regime totalitarista do nacional-socialismo,
defenestrando a Democracia. A questão avulta em sede de Direito Material do Trabalho em razão da contrariedade
reiteradamente manifestada pelo patronato, economistas, juristas consequencialistas do Economic Law e políticos, ao
arrolamento normativo de direitos subjetivos sociais categorizados como Fundamentais na Constituição de 1988 (art.
7º), nos moldes da Constituição alemã de 1919 (art. 157 e art. 162) e, antes, da Constituição mexicana de 1917 (art.
123), posto que dificultaria o processo legislativo revogatório, mas não o impede. Acresça-se a eiva de fomentar a
exegese jurisdicional principiologica constitucional, sobranceira aos limites da norma infraconstitucional ordinária
menos protecionista aos Trabalhadores, perpetrada pelos membros da Justiça do Trabalho, organismo que também é
objeto de inconformismo irascível. Como elemento distintivo entre as três Constituições, as duas últimas foram
partejadas no bojo de revoluções sociais, com a assunção parcial e temporária do poder por grupos socialistas,
enquanto a brasileira, não.

O estabelecimento empresário na antiguidade e na atualidade.

Eson Alvisi Neves (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O trabalho destina-se à investigação da existência do reconhecimento de uma sistematização sobre o instrumento


negocial, atualmente identificado como estabelecimento de empresa, pelo sistema jurídico da antiguidade romana.
Intuito que levou a análise da casuística e opiniões, descortinando não só a noção dessa base física seja pela “tabernae
instructa”. Esse termo foi utilizado pelos antigos juristas romanos em demonstração de perfeito domínio de seu papel
no centro de negócios profissionais, enquanto unidade autônoma sediando a atividade. Destacamos as passagens do
“Corpus Iuris” em que a descrição para a “tabernae instructa” apresentou um conceito identificado com o conceito
hodierno. Assim, a composição da base física da empresa também é um conceito operacional que pode ser verificado
na legislação ou na jurisprudência que o define. Dada a definição a comparação de seu conteúdo com a dos sistemas
jurídicos estudado permite a identificação ou não da gênese do conceito no período histórico que precedeu a
codificação da modernidade. A análise dos conceitos permite compreender a continuidade ou a ruptura na produção
intelectual e o uso como objeto de estudo histórico, pressupõe a sua percepção como uma unidade semântica apta a
proporcionar uma unidade de sentido, histórica segundo os diversos contextos. O estabelecimento empresário
preenche esses parâmetros na dogmática jurídica, devendo assim ser investigada nas obras dogmáticas. Pautado em
Koselleck, a compreensão dos usos dos conceitos dá-se através do estudo das formas como são interpretados e
modificam os sentidos dos conceitos do passado. Os registros dos conceitos e de seus usos são subsequentemente
mantidos, alterados, ou transformados e a separação entre linguagem e história social é percebida, presente a
necessidade metodológica de associar mudança linguística à história dos eventos.

Concurso de credores na antiguidade romana

Lorrayne Fialho Neves (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O concurso de credores se dividia em duas fases, uma primeira fase de formação do concurso e de verificação das
quotas e uma segunda fase judicial. A primeira fase era denominada de “vocatio in tributum” e se iniciava com a
chamada pretorial ao concurso e, depois, havia o chamamento processual do dono para integrar a diretoria do
concurso. Ocorria, então, a chamada dos gestores em nome do dono, a chamada universal dos demais credores e a

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constituição do concurso mercantil. O pretor nomeava um árbitro e um contador para realizarem a cessão direta da
empresa peculiar e do fundo aos credores, o cálculo, a divisão e a distribuição e a liquidação. Por fim, se procede às
cauções tributorias para garantir o pagamento futuro e a satisfação dos créditos restantes, bem como para dívidas
ocultas e futuras. Procedia-se o cálculo e a liquidação: divisão e distribuição proporcional, do valor do fundo que se
negociava para o pecúlio e os benefícios obtidos por elas, com o conhecimento do dono. Labeão nos informa que se
engloba todos os bens e ganhos que tenham procedência na negociação daquele fundo. Os escravos são forças de
trabalho e adquiridos com a mercancia peculiar eram propriedade da empresa comercial. Correspondia aos casos em
que ocorria a quebra da empresa peculiar, em que o dono participava do concurso de credores, junto com os demais
que buscavam a satisfação dos créditos. Uma vez formado o concurso, todos os credores possuíam a mesma condição
jurídica, com exceção do dono da empresa que apresenta direito preferencial sobre os créditos. Adicionalmente, os
credores podiam requerer cauções proporcional ao negociado, tendo todos, inclusive o dono, a mesma condição com
relação ao fundo, que se davam ao fim da primeira fase concursal. Os mesmos aspectos se aplicam às empresas
vicárias.

Os poderes do juiz na trajetória do procedimento de insolvência das empresas brasileiras (1850-2020)

Dones Manoel de Freitas Nunes da Silva (uff)

A insolvência de empresas tem recebido atenção e tratamento do legislador e do sistema jurídico brasileiro em todo
o percurso histórico. A herança da justiça privada comercial foi incorporada a justiça estatal, em cenário de
desenvolvimento da burocracia estatal e afirmação de independência e autonomia do Poder Judiciário brasileiro.
Nessa trajetória, a possibilidade de manutenção da estrutura econômica era considerada uma responsabilidade dos
próprios agentes do mercado, que assim decidiam organizados e orientados pelos seus órgãos representativos, cuja
função primordial era fazer a defesa do mercado de sua abrangência, garantindo a manutenção do monopólio privado
sobre a área geográfica. Essa tradição foi incorporada à nossa legislação inaugural, o Decreto Imperial 737 de 1850,
(Código Comercial do Império do Brasil) e, também, pela estruturação da justiça especializada, Tribunal do Comércio,
criada pelo Decreto Imperial 738 de 1850. Nessa lógica, um terceiro responsável pela administração justiça,
permanece sendo um particular representante do órgão representativo da classe, mas agora atuando em nome do
Estado. Esse é o início da trajetória de incorporação pelo agente estatal, das funções intervencionistas inerentes às
relações privadas alocadas no funcionamento do mercado econômico. O percurso a seguir é de discursos e práticas
corporativas sequenciais, que ao longo das conjecturas políticas, vai fixar um uma política de controle do mecanismo
de reestruturação econômica-financeira dos integrantes do mercado de produtos e serviços. Apresentando-se como
um campo de interesse para as corporações do campo jurídico, que buscam aumentar o sua inserção, ainda que o
mercado permita com estratégia.

A informalidade dos processos sumários no Antigo Regime

Adriana Aloe (TJ/RJ)

Dos processos sumários do Antigo Regime emergiu uma tradição jurídica, cuja circunscrição histórica só pode se tornar
visível e compreensível pela análise do agir dos atores históricos em um tribunal civil. O processo sumário era bem
informal, vedando, inclusive a presença de advogados. Os julgamentos fundavam-se nas declarações das partes em

164
litígio, cuja legitimidade das razões não dependia de sua conformação a uma regra, mas ao fato de terem sido
constituídas consensualmente em momento anterior. Era um processo que desconsiderava saberes locais acerca do
Direito e dos costumes. Era uma justiça supralocal, cujo processo possuía como fontes as práticas sociais e as decisões
fundavam-se na legitimidade conferidas ao agir dos agentes históricos. Este modelo de justiça remontava ao
jusnaturalismo escolástico e a concepção de “razão prática”. No entanto, esta tradição era evocada como uma fonte
de legitimação das ações e das demandas de justiça e, ao mesmo tempo, estas mesmas ações e reinvindicações
construíram um contexto no qual a tradição era reformulada, recriada e transformada.

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ST 32. História e Direito – os ‘sinais’ e a influência do tempo social e histórico na
configuração da justiça/Direito

ST 32 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

As Constituições brasileiras de 1824 e 1891 e a consolidação da ruptura da ordem política

Heron Abdon Souza (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O constitucionalismo pode ser definido a partir de três diferentes perspectivas: formal, material e histórica. Sob a
perspectiva formal, o constitucionalismo designa o ideal de dotar os Estados de constituições escritas. Em sua
dimensão material, o constitucionalismo é o reflexo da incidência da ideologia liberal sobre o fenômeno constitucional.
Por fim, o constitucionalismo pode ser ainda empregado para denotar o processo histórico que conduziu à
homogeneização das formas e dos conteúdos das constituições do mundo ocidental contemporâneo. O trabalho
propõe-se a comparar as Constituições brasileiras de 1824 e 1891 demonstrando, numa narrativa histórica, que a
primeira Constituição da República consolidou a ruptura da ordem política (monárquica/parlamentarista/unitária) e
instauração de uma nova ordem (republicana/presidencialista/federativa). A metodologia científica adotada durante
à execução da pesquisa pautou-se numa abordagem interdisciplinar (História do Direito e Direito Constitucional) haja
vista a natureza do objeto.

Processo Transicional e o Desenho Constitucional Brasileiro: reflexões entre Inconvencionalidade e


Constitucionalismo Multinível

Ygor da Silva Sarmanho Vasconcelos (Cartório)

Acompanhando as tendências autoritárias que se espalharam pela América Latina/Central durante o final do século
XX, o Brasil inseriu-se em uma onda de repressão e violações a direitos que perdurou por cerca de 21 anos, levando o
país a vivenciar o contexto de uma Ditadura fruto de um Golpe-Civil/Militar realizado nos meses iniciais de 1964. Nesse
diapasão, o presente estudo busca apreciar as peculiaridades do Regime Militar Brasileiro, de modo a avaliar o período
transicional aplicado ao final do regime e as opções institucionais dos atores da época quanto ao processo
Constitucional e de redemocratização fruto das condicionantes sociais e políticas de conciliação e ruptura. Isto posto,
parte-se do Desenho Constitucional formulado para apresentar a atuação dual do Brasil no concernente a
Constitucionalismo Multinível e Inconvencionalidade, tendo por base as determinações da Corte Interamericana de
Direitos Humanos nos julgados Gomes Lund e outros “Guerrilha do Araguaia” Vs. Brasil e Herzog Vs. Brasil. Utilizando
o método de pesquisa qualitativa e tendo por base o marco teórico demonstrado, a linha reflexiva que se pretende
abordar tende a ratificar os pontos positivos e negativos do processo transicional brasileiro e de forma tais questões
impactaram no Desenho Constitucional formulado, levando a ocorrência tanto de prática fortalecedoras do
Constitucionalismo Multinível quanto na ocorrência de Inconvencionalidade nas questões que versam sobre reforma
das instituições e revogação da lei de Anistia, implicando em fragilidades ao nosso modelo jurídico vigente,
deslegitimando a concretude dos Direitos Humanos em nosso país e afastando-se dos ideais de uma transição efetiva
e reparadora.

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A ‘cor’ e a ‘pele’ da constituição de 1824

Mauro Marcos Farias da Conceição (IBC/RJ)

A constituição imperial que adornou, nas letras da lei, e em seu tempo histórico de ‘fala’, o conceito de cidadania, também
definiu critérios objetivos, e subjetivos, à assunção legal e natural do vocábulo. Assim a cor da pele, a condição econômica e
social – escravos ou libertos – os pobres, os analfabetos, os religiosos constituíram-se requisitos à negativação da cidadania. A
Constituição do Império, no artigo 6º, “Dos cidadãos Brazileiros”, denotou deliberada ausência às questões e interesses
referentes à população negra e escravizada. Esquecimento que consubstanciou qual condição, legal e social, atribuiu-se a esta
parcela da sociedade imperial. O artigo 1º da constituição, em sua primeira parte, afirma que “O IMPERIO do Brazil é a
associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros...”. Em razão desses dois últimos termos, há por indagar, como se se
equacionou essa unidade política se, no Império, inexistia a universalidade da cidadania? Esta, diante das observações que se
desenvolve no artigo, constituiu-se a ‘senha’ explicativa da imbricada relação entre a constituição, de 1824, e a sociedade que
acolheu este compilado legal. Considerando, para esta unicidade, as restrições e os direcionamentos que essa matriz legal
estendeu ao escopo ordenatório imperial.

O projeto de Código Civil de Clóvis Bevilacqua e as discussões sobre casamento civil e condição jurídica da mulher
na passagem à modernidade no Brasil

Roberta Alcântara Gomes da Silva

Neste trabalho, temos como objetivo refletir sobre as discussões relacionadas ao casamento civil e à condição jurídica
da mulher no decorrer do processo de aprovação do projeto de Código Civil de Clóvis Bevilacqua, sancionado em 1916.
Identificamos que os temas relacionados ao direito de família inflamavam os debates e expunham conflitos ideológicos
entre os juristas envolvidos, sendo assim de nosso interesse compreender as razões para isso. Investigamos,
primeiramente, o contexto histórico em que esse processo se desenrola, levando em consideração o cenário de
rupturas e continuidades que se constitui com a passagem à modernidade no Brasil. Ao mesmo tempo em que
ocorriam diversas transformações políticas, econômicas, sociais, arquitetônicas e ideológicas, surgia, também, fortes
resistências a todas estas transformações. Evidenciamos, sobretudo, as resistências ideológicas e afetivas, que ligadas
ao conservadorismo clerical influenciaram as discussões sobre casamento e condição da mulher de forma decisiva.
Destacamos, ainda, o intenso processo de circulação de ideias que estabeleceu um diálogo entre os intelectuais
brasileiros e as principais correntes de pensamento da Europa. Examinamos, por fim, a trajetória pessoal e a formação
intelectual de Bevilacqua, buscando compreender suas propostas sobre direito de família, bem como a posição
assumida por ele nos debates sobre seu projeto de codificação civil. Para a realização deste trabalho, analisamos livros
e artigos por ele publicados, entre o final do século XIX e o início do século XX , e uma série de documentos relacionados
a essas discussões, como as atas das reuniões da Comissão Revisora da Câmara dos Deputados.

Nova República [?]: A Justiça do Trabalho no contexto da redemocratização.

Reynaldo de Oliveira Pessôa

Busca-se com a presente comunicação analisar a ação da Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro no contexto da
redemocratização, aferindo as permanências e rupturas no interior de tal ramo da Justiça, a importância das fontes

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judiciais para a escrita da história, bem como os discursos e práticas presentes no estabelecimento do neoliberalismo
no país. Partindo, primordialmente, das Reclamações Trabalhistas oriundas do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª
Região (RJ), será analisado o processo de mudança de paradigma no mundo do trabalho na virada dos anos de
1980/1990, em que a velocidade das transformações impostas pelo capital passa a se chocar diretamente com direitos
há muito consagrados. Nesse momento, vive-se a abertura política, a escalada inflacionária, a crítica ao Estado e a
promulgação da Constituição de 1988. Compreendendo a especificidade da Justiça do Trabalho, social por excelência,
e que o tempo do direito e do debate democrático colidem com o tempo dos negócios, serão extraídas reflexões desse
choque para entender o mundo do trabalho na Nova república e a história do tempo presente do país.

“Um desordeiro habitual, especialíssimo vagabundo”: a vadiagem na Bragança-PA do início do século XX

Filipe de Sousa Miranda (UFPA - Universidade Federal do Pará)

O presente trabalho objetiva desvelar aspectos referente as concepções de vadiagem na cidade de Bragança-PA, nas
primeiras décadas do século XX. Neste contexto, esta cidade do interior da Amazônia experienciou a efervescência de
ideias ligadas às noções de “modernidade” e “civilidade”, época em que vivenciava transformações econômicas,
urbanísticas, sociais e culturais, influenciadas pela chegada da Estrada de Ferro Belém-Bragança, em 1908. A
investigação oferece um contributo às pesquisas historiográficas desenvolvidas na Amazônia a partir de fontes
judiciárias, demonstrando as potencialidades desta documentação para a construção de estudos que, dentre outros
elementos, lacem luz sobre as relações entre o Judiciário local e os sujeitos que compunham as camadas menos
abastadas dessa sociedade, bem como sobre as formas com que delegados, promotores, juízes e advogados,
operavam o direito, consolidando determinadas concepções. A análise proposta compartilha as perspectivas da
“História vista de baixo” e foi construída mediante pesquisa bibliográfica e documental, pautando-se em uma
abordagem qualitativa dos Autos Crimes de Ferimentos Leves, datados de 1913, em que é réu o pescador e agricultor
Chrispiano Pereira da Silva. Ao término do estudo foi possível abstrair a dimensão conflituosa da convivência nos
diversos espaços que compunham uma Bragança-PA, caracterizada pela fluidez das fronteiras entre campo/cidade e
urbano/rural. Também se abriram precedentes para problematizar em que sentido, o emprego de termos, como
“vagabundo” e “desordeiro”, recorrentes nos discursos produzidos por autoridades policiais e judiciárias e previstos
pelo Código Penal de 1890 como delitos passíveis de punições legais, atuaram no processo de criminalização de
sujeitos, cujas práticas estavam em desacordo com o padrão de “civilidade” que se buscava implantar.

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ST 33. História e Memória do Turismo

ST 33 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

História Oral: a experiência do Museu Virtual de Turismo no Brasil.

Dalila Rosa Hallal (UFPEL)

O trabalho tem como proposta discutir a constituição de um acervo de história oral no Museu Virtual de Turismo no
Brasil. Tomando por base as discussões levantadas durante o processo de criação do museu - que será um espaço
interativo, colaborativo e educativo da História do Turismo -, julgou-se importante registrar e valorizar diversas
narrativas. Assim, nos aproximamos da história oral, que é uma metodologia e processo de trabalho que tem como
base o diálogo e a colaboração. No espaço do museu, sua utilização passa a ser uma ferramenta que auxilia na
construção de narrativas e nos ajuda a responder às demandas atuais, ainda que muitas vezes estejamos lidando com
eventos do passado – isso tem a ver com a questão da memória ser fabricada no tempo presente, atendendo às suas
necessidades, sempre em diálogo. Assim, iniciamos a realização de entrevistas sobre o passado para tratá-las seguindo
técnicas que permitam guardar e divulgar o testemunho vivo dos entrevistados. A história oral permite valorizar a
diferença e dar voz também aos sujeitos até então marginalizados, possibilitando que pessoas comuns passem a ser
vistas e se compreendam como sujeitos históricos, incitando um posicionamento do historiador mais engajado
politicamente e mais solidário ao sujeito que investiga. Nesse sentido, entendemos que o museu é um espaço
privilegiado para o exercício da reflexão histórica, enquanto um instrumento que garanta o direito à memória do
turismo e à cidadania, fortalecendo com isso, a diversidade de narrativas entendidas como plurais e múltiplas.

Aparelhos Ideológicos da Memória e Turismo: a Metodologia Implícita

Susana Gastal (UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL)

A memória social tem sido tratada como uma construção (social) organizada em narrativas, levando Candau (2010) a
falar em ‘aparelho ideológico da memória’, pela demarcação em termos do que lembrar e do que esquecer ou relevar.
Para os historiadores tal enfoque não seria novo, mas suas implicações em termos do turismo ainda têm sido pouco
aprofundadas. Roland Barthes talvez tenha sido dos primeiros ao propor tal aproximação, quando no texto “O Guide
Bleu”, no livro Mitologias (2001), analisa o guia homônimo afirmando, ali, ser o cristianismo “o primeiro fornecedor
do turismo e [que] só se viaja para visitar igrejas” (p.73). Diz ainda Barthes que o Guide, em edição dedicada à Espanha,
determina o que pode “aceder ao panteão da viagem” (p.72), situação em que “a humanidade do país desaparece
frente à exclusividade que se oferece aos seus monumentos” (p. 72). Considerando os enfoques de Barthes e Candau,
o presente tem por objetivo discutir possíveis contribuições do turismo ao aparelho ideológico da memória. Para
atualizar discussão iniciada por mim em 2006, em que enfocava as percepções temporais contemporâneas e as
memórias decorrentes, proponho agora percorrer as construções de sentido das neo-memórias e, nelas, a apropriação
pelo turismo. Trago, a partir de Hyussen (2000), a metodologia implícita nestes processos e que tem sido aplicada,
especialmente, na criação de museus. A metodologia para criação de produtos memorialísticos envolveria: prédios

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monumento; tematização; intervenção tecnológica; diálogo com as mídias tradicionais e com as mídias digitais;
promoção de eventos; oferta educativa (acadêmica ou não); e roteirização turística.

Os relatos de viagem como fontes históricas das origens do turismo na Amazônia brasileira

Larissa Melo dos Santos

O estudo ora apresentado tem por intuito contribuir para uma construção historiográfica do turismo no Brasil
tomando por base relatos de viagem e produções literárias originadas de viagens à Amazônia brasileira entre os
séculos XIX e XX, e que deixaram importantes registros sobre o país, notadamente, sobre a floresta amazônica. Para
tanto, iniciamos refletindo sobre o significado de viajar e apresentamos, de maneira breve, a relação entre ser humano
e ser viajante. Em seguida definimos turismo enquanto viagem por lazer e abordamos a realização de viagens visando
a expansão do conhecimento científico. Buscamos corroborar para o entendimento de que é possível olhar, por
exemplo, para os livros "Viagens pelo Amazonas e Rio Negro", do naturalista britânico Alfred Russel Wallace; "Inferno
Verde", do escritor Alberto Rangel; ou mesmo "A Amazônica que eu vi", do médico, escritor e intelectual Gastão Cruls,
a partir de suas contribuições para o entendimento da gênese das viagens à Amazônia e da própria história do turismo
no Brasil, uma vez que o percurso da atividade, ao longo do tempo, tem sido tratado de maneira periférica na
bibliografia especializada, ou mesmo por não especialistas. Interessou-nos, por fim, perceber como os relatos de
viagem se relacionam com a tradição das viagens na região amazônica.

A dimensão poética nas pesquisas históricas: ensaiando o uso de diferentes grafias na história da hotelaria

Dalila Müller (Universidade Federal de Pelotas), Renata Duarte (UFPEL - Universidade Federal de Pelotas)

Partindo dos pressupostos da Antropologia Visual este trabalho propõe pensar a possibilidade de incorporar uma
diferente grafia, o desenho, nas pesquisas históricas. Especificamente, procura evidenciar as potencialidades do
desenho para representar e entender acontecimentos narrados pela imprensa ocorridos nos e com os hotéis
pelotenses. A ideia é que o desenho consiga traduzir a emoção do momento a partir do pensamento e olhar de alguém.
Podemos dizer que o desenho "dá a ver" o acontecimento. O desenho é sempre interpretativo e detém, em si mesmo,
um certo grau de poética na sua interpretação do real. Nessa primeira abordagem, foram selecionadas quatro matérias
jornalísticas sobre um dos principais hotéis da cidade de Pelotas no século XIX e início do XX, o Hotel Aliança. A
proposta foi, a partir da leitura das matérias e da visualização de algumas fotografias do hotel, que a cena descrita
fosse representada através do desenho. Os acontecimentos representados foram banquetes, uma luta e a chegada da
iluminação. É importante salientar que a interpretação da matéria jornalística foi realizada pela bolsista do projeto,
pois, o desenho faz-se, torna-se, constrói-se, a partir dos paradigmas, dos modos de ver o mundo do seu autor. No
caso da pesquisa histórica, o desenho é o resultado de uma captura do que se lê, não do que se vê, como na
antropologia, ou seja, o desenho é realizado a partir do olhar de outrem, neste caso, dos redatores do jornal. Nesse
sentido, o desenho se transforma em estrutura visual do que antes era escrito. O desenho possibilita o conhecimento
sobre o que está sendo descrito na matéria jornalística? Assim como nas pesquisas antropológicas, é possível colocar
a dimensão poética – inventiva, criativa – nas pesquisas históricas? Será que é possível utilizar esta metodologia para
representar e entender o passado? Buscamos respostas para esses questionamentos que foram levantados a partir
da experiência realizada com os desenhos.

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ST 33 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

História e Memória do Turismo na ANPUH: celebrando 10 anos de encontros e parcerias

Valeria Lima Guimarães (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo preservar a memória e registrar a história dos 10 anos de realização do
Simpósio Temático História e Memória do Turismo, no âmbito da Associação Nacional de História (ANPUH). As
motivações da criação do simpósio temático, a trajetória do mesmo ao longo de uma década, os sujeitos protagonistas,
os trabalhos apresentados e os esforços de formação de redes de pesquisadores sobre a história e a preservação da
memória do turismo serão enfocados, ressaltando a importância dessa iniciativa na valorização da pesquisa acadêmica
na área. Para isso, foram consultados os registros das edições do referido simpósio temático, acessíveis nas páginas
virtuais dos encontros nacionais da ANPUH, entrevistados pesquisadores que coordenaram os simpósios e alguns dos
apresentadores de trabalho. Também foi feita uma análise dos temas dos trabalhos apresentados, dos seus recortes
temporais e geográficos e da região e instituições de origem dos pesquisadores participantes. Os resultados
apresentam um mapa da pesquisa e dos pesquisadores acadêmicos sobre História e Memória do Turismo que
contribuíram para o alargamento do campo, as parcerias entre esses saberes e entre os seus pesquisadores e apontam
para uma reflexão sobre as lacunas a serem preenchidas nessa interface e os desafios para os próximos 10 anos.

A História do Turismo em Gramado (RS) sob os olhares do PPGTURH-UCS

Felipe Zaltron de Sá

O destaque turístico de Gramado/RS, no país, tem consolidado estudos acadêmicos sobre o local, e em diversas
nuances, envolvem desde pesquisas sobre planejamento turístico a discussões sobre práticas dos/nos eventos
culturais. Partindo desse pressuposto, o levantamento bibliográfico mostrou que a literatura sobre o município releva
a questão histórica, partindo de cronologias já dadas. Nesse contexto, analisou-se as produções do Programa de Pós-
Graduação em Turismo e Hospitalidade (UCS), que tivessem Gramado como referencial de abordagem, resultando em
um corpus integrado por 9 dissertações e 1 artigo. Constata-se que o já dado na cronologia do município é marcado
por fragmentação histórica e recorrências do que já esteja dito, como o registro de que o Turismo se desenvolveu com
a chegada do trem, trazendo veranistas da capital em busca do clima ameno da região durante o verão. O quadro se
altera quando a ascensão do sistema rodoviário e cancelamento da linha férrea, e a qualificação nas condições de
acesso ao litoral do Estado, atraindo o fluxo turístico antes da região serrana. Tal contexto leva a comunidade local a
se mobilizar, através de uma política de realização de eventos, nos momentos iniciais baseados nos segmentos de
malhas e artesanato em cerâmica e madeira. A análise da produção permitiu organizar cronologicamente os processos
locais, nas seguintes fases: Exploração [anterior a 1875], marcada pela presença indígena e circulação de tropeiros;
Construção [1875-1920], marcada pela presença de migrações internas de itálicos e germânicos, levando a ocupação
rural e início do núcleo urbano; Desenvolvimento [1921-1960], marcada pela chegada da via férrea, exploração
extrativista da madeira; introdução da hotelaria e primórdios do Turismo; Transição [1961-1970], a diminuição do
fluxo turístico exigindo repensar o Turismo; Renascimento [1971-1990], a invenção da marca Gramado, os eventos
turísticos; Consolidação [1991-2014], a relação atual com o Turismo.

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O papel do carnaval na construção do Rio de Janeiro turístico

Lara Jogaib Nunes (Colégio Monteiro Lobato)

Hoje, inegavelmente, o Rio de Janeiro configura-se como uma opção de destino turístico nacional e internacional. Mas,
nem sempre foi assim. A cidade, que encanta seus visitantes, entre outros pontos, por sua beleza natural, resulta de
um processo de modernização que foi sendo desenvolvido, principalmente, ao longo do século XX. Aproveitando as
suas potencialidades, a vocação turística da capital carioca foi sendo moldada. Foi em meio a essas transformações
urbanísticas e estéticas que o carnaval passou a ser entendido como um atrativo turístico fundamental. A festa, já
consolidada na cidade, começou a receber atenção especial das autoridades municipais, com regularidade, a partir de
1932. Foi neste ano que a prefeitura e o Touring Club do Brasil tornaram-se responsáveis pela organização da folia,
estabelecendo, como um dos seus objetivos, o fomento a vinda de visitantes para curtir uma das suas principais festas.
Antes disso, na gestão do prefeito Antônio Prado Junior (1926-1939), foram desenvolvidas ações que demonstram
como o carnaval já era entendido pelo governo municipal como um produto turístico economicamente importante.
De forma geral, o objetivo deste trabalho é mostrar como o carnaval participou da construção do Rio de Janeiro
turístico entre as décadas de 1920 e 1930.

Para o turista se sentir na TV: escolas de samba, televisão e turismo na configuração de um modelo narrativo no
carnaval de Florianópolis (1975-1989)

Willian Tadeu Melcher Jankovski Leite

As escolas de samba constroem anualmente desfiles com caráter narrativo. Em Florianópolis, onde as primeiras
escolas de samba desfilaram na década de 1940, essa característica se desenvolveu durante as décadas de 1970 e
1980. Este processo envolveu disputas e tensões em torno da regulamentação do carnaval, da disputa anual pelo
campeonato e da própria sobrevivência das agremiações carnavalescas, segmentos da cultura popular que buscam
sua inserção no mercado de bens simbólicos. Através da análise de fontes diversas, como textos produzidos pelas
agremiações, imprensa escrita, documentações produzidas pelos órgãos de Turismo e audiovisuais, esta pesquisa
discute a relação entre Carnaval, Turismo e Televisão na configuração de um modelo narrativo para as escolas de
samba da capital catarinense. Inspirado na forma de narrar e desfilar das escolas de samba cariocas, a apropriação
deste modelo foi uma relevante mudança na forma de desfilar durante o Carnaval. Na esteira de processos de
transformação urbana, os órgãos da gestão municipal que financiavam parcialmente os desfiles impulsionaram o
crescimento do carnaval - então associado à semelhança com o carnaval do Rio de Janeiro - através da regulamentação
e da mudança de palco. Este processo envolve a circulação do modelo de desfile carioca através de jornais, revistas e
da transmissão televisiva, que atua na configuração das expectativas acerca de um desfile também voltado ao turista.
As constatações apresentadas neste texto fazem parte da edificação de tese que investiga os usos do passado pelas
escolas de samba, propondo o estudo das relações entre diferentes agentes culturais, seus saberes e produções que,
em formas diversificadas (textos, sambas-enredo, representações plásticas, coreografias, transmissões televisivas),
constroem uma narrativa comum.

ST 33 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

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A divulgação do turismo em estradas de rodagem pelo Clube dos Bandeirantes do Brasil e sua relação com a
formação do bairro do Recreio

Vânia da Silva (Servidor público)

Esta comunicação analisa a atuação da comissão de turismo do Clube dos Bandeirantes do Brasil, a partir de sua
publicação oficial, um boletim semanal impresso, que circulou no Rio de Janeiro entre 1928 e 1929. A comissão de
turismo do clube era presidida por J. W. Finch, proprietário de terras no bairro do Recreio dos Bandeirantes e principal
responsável pelo conteúdo da publicação. O boletim trazia notas sobre a importância do desenvolvimento do turismo,
apresentava exemplos de outros países e detalhava excursões realizadas pelo clube aos arredores da cidade do Rio de
Janeiro. Em suas páginas comunicava descontos aos sócios em serviços de garagens e hotéis e auxiliava o leitor com
mapas de trajetos que levassem ao Recreio dos Bandeirantes. Também mostravam os lotes propícios para a
construção de casas de veraneio. Finch publicava anúncios de seus lotes à venda e deixava claro que ele mesmo pagava
pela divulgação no periódico. O boletim era distribuído gratuitamente para sócios e vendido em bancas. O Clube dos
Bandeirantes foi fundado no final de 1925, batizado assim pela Associação de Estradas de Rodagem (AER), entidade
paulista que homenageou o pequeno grupo de automobilistas que viajou do Rio de Janeiro a São Paulo para uma visita
à entidade, como bandeirantes desbravando os novos caminhos. A AER também realizava ações voltadas para o
turismo em sua publicação oficial, que naquele momento se chamava revista Boas Estradas. Da mesma forma que seu
padrinho paulista, o Clube dos Bandeirantes trazia no boletim da comissão de turismo os roteiros e mapas de viagens
pelas estradas, além de anunciar dois guias feitos pelo clube (das estradas Rio-Petrópolis e Rio-São Paulo). Ao turista
vindo de São Paulo ou de outro lugar, também era oferecida uma oportunidade de negócio, com a compra de um lote
com vista ao mar, para que descansasse no Recreio (desses bandeirantes) ao final da aventura em automóvel.

Piauí em (re) vista: paisagem, turismo e desenvolvimento nas revistas O Cruzeiro e Manchete (1961-1974)

Pedro Vagner Silva Oliveira (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação tem como objetivo, analisar a partir da revistas O Cruzeiro e Manchete, as paisagens naturais
do Piauí e o projeto político e turístico capitaneado pelo governo estadual desse período. Ao pesquisarmos na
Hemeroteca Digital, observamos que no ano de 1974 as citadas magazines fizeram duas reportagens sobre o estado,
sendo elas, a edição de número 1133 da Revista Manchete, saída em cinco de janeiro; e de número 11 da O Cruzeiro,
circulado em março do daquele ano. Nas edições das referidas magazines, o Piauí foi apresentado para leitores de
todo Brasil enquanto unidade federativa desconhecida, exótica e atraente, conceito bastante diferente do que era
veiculado nas mesmas revistas em anos anteriores. Entendemos que esse “novo” retrato não foi ao acaso, mas sim,
parte tanto do modo de fazer política do governador Alberto Silva, quanto de ilustrar que o estado nordestino estava
na mesma marcha desenvolvimentista do Brasil no contexto histórico vivenciado pelo “milagre”. Desse modo, a partir
das citadas edições das duas revistas, é possível compreender a construção de um “novo” Piauí que estava aos poucos,
se transformando e se contrapondo à antiga imagem de estado pobre e atrasado.

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História do Turismo em Teresópolis (1945 – 1980)

Carlos Artur Esteves Gomes dos Santos

A pesquisa aborda a história do turismo em Teresópolis entre os anos de 1945 a 1980, com enfoque no significado social e cultural
do Várzea Palace Hotel para o turismo em Teresópolis na 2ª metade do século XX, seguido pelas influências exercidas por este,
pela ferrovia e estradas de rodagem Teresópolis – Itaipava e Rio – Teresópolis, no turismo local e desenvolvimento do mesmo,
analisando em conjunto as influências do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, das estradas de rodagem: Teresópolis – Rio de
Janeiro e Teresópolis – Itaipava. Foram utilizadas como ferramentas metodológicas a abordagem qualitativa como apoio ao
método quantitativo, pois o qualitativo trouxe à tona fragmentos da realidade social do período estudado, como por exemplo, às
entrevistas analisadas na revista Serrana, escritores, jornalistas, políticos e algumas pessoas pertencentes à camada do grosso da
população e faziam parte direta ou indiretamente do setor turístico, depoimento de viajantes e tabelas recolhidas durante a
pesquisa. Na Pesquisa bibliográfica, usamos como principais fontes primárias, artigos de jornais, revistas e fotografias, tendo como
secundárias, livros e documentários. A pesquisa de caráter documental foi empregada neste caso, em que se analisaram estas
fontes, nos valendo sobremodo da técnica denominada survey, onde avaliamos o levantamento de pesquisas de opinião
realizadas pela revista Serrana e a Gazeta de Teresópolis com alguns indivíduos a respeito do turismo na cidade. As análises
documentais foram feitas com fontes primárias que ainda não haviam sido exploradas por nenhum pesquisador com a análise
de conteúdo, onde deslindamos o assunto baseado na perspectiva de alguns autores e de suas teorias. Por último, a análise crítica
do discurso de alguns elementos e seus respectivos relatos acerca do turismo em Teresópolis.

Projeto de Desenvolvimento Turístico de Perynas em Cabo Frio/RJ.

Karla Maria Rios de Macedo (IF Fluminense - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense)

O presente artigo pretende refletir acerca da intenção da Companhia Salinas Perynas em promover um processo de transição
de sua atividade fim – setor secundário/produção de sal para o setor terciário/turismo – e os reflexos disso em diferentes
campos da localidade onde a empresa estava instalada, a cidade de Cabo Frio. Para tanto utilizamos como recursos
metodológicos, a bibliografia existente sobre o tema, pesquisas na Hemeroteca da Biblioteca Nacional e no Arquivo Histórico
da Câmara Municipal de Cabo Frio, além de entrevistas realizadas com os ex-prefeitos da cidade, que acompanharam o
processo de transformação da cidade. O artigo está divido em três seções, a primeira descreve sobre o acesso à cidade e o
turismo nascente, a segunda reflete acerca dos diferentes projetos propostos para Cia. Salinas Perynas, ao longo dos anos, e
por fim, algumas considerações sobre a investigação. Em suma, os projetos apresentados por Perynas, assim como os demais
megaprojetos apresentados para a cidade, nunca chegaram a sair do papel. Dessa forma, Cabo Frio continuou a investir na
vertente que marcou a atividade turística na cidade desde o seu início.

Políticas Públicas de Turismo e os Megaeventos Esportivos no Brasil sob a Perspectiva da Sociologia Pragmatista

Daiko Lima e Silva (Instituto Federal Catarinense), Monica Fernandes Canziani (UNILA - Universidade Federal da
Integração Latino-Americana)

O artigo trata de aspectos relacionados ao planejamento e implementação de políticas públicas de Turismo e


megaeventos esportivos no Brasil a partir da perspectiva da sociologia pragmatista. Tais políticas receberam destaque
a partir dos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro, passaram pela Copa do Mundo de Futebol da FIFA em

174
2014 e chegaram aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil em 2016. O objetivo do estudo é realizar a análise
pragmatista de questões imbricadas para adoção de estratégias de internacionalização do Turismo. Trata-se de um
estudo teórico-prático, exploratório e qualitativo, fundamentado em autores da sociologia pragmatista. O estudo
contribui com as discussões teóricas sobre políticas públicas de turismo e estimula a reflexão sobre seus impactos
sociais, políticos e financeiros. Além disso, elucida, através da análise pragmatista, aspectos como: engajamentos e
mobilizações coletivas articuladas, justificações e instrumentos utilizados para capturas e as tradicionais controvérsias
nas arenas públicas. Aspectos estes, que podem ser considerados por países ou destinos turísticos antes de adotarem
tais estratégias e políticas públicas.

ST 33 – 19/10 – Terça-feira (16:00 às 18:00)

Para conhecer o Rio de Janeiro: turismo e história nos tours, rolês, visitas guiadas e mediadas pelas ruas da cidade.

Amanda Danelli Costa (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A presente comunicação visa identificar diferentes experiências de passeios pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro -
tours, rolês, visitas guiadas e mediadas -, buscando analisá-las comparativamente, observando como elas se
distinguem e como se aproximam. Neste momento, são objeto de nossa atenção as seguintes iniciativas: Rolé Carioca,
projeto idealizado e executado por professores de história da Universidade Estácio de Sá; Rio - Casas e Prédios Antigos,
projeto levado à cabo pelo jornalista e guia Rafael Bokor; e também Rio by foot - Free Walking Tour, cujo projeto é
desenvolvido por guias, que, de origem, advinham de diferentes formações acadêmicas. Tais iniciativas se posicionam
na contramão dos tradicionais city tours, produzindo variadas e criativas oportunidades de imersão em diferentes
espaços da cidade, dentro ou fora de sua zona turística. Também nos interessa refletir sobre como essas experiências
mobilizam a cultura histórica para construir narrativas sobre a cidade do Rio de Janeiro que sejam atrativas e
formativas tanto para os visitantes, brasileiros ou estrangeiros, que estejam de passagem pela cidade como para seus
próprios moradores.

Imigração e turismo em perspectiva histórica no bairro da Liberdade (São Paulo/SP)

Senia Regina Bastos (Universidade Anhembi Morumbi)

O artigo historiciza o programa de revitalização instituído nos anos 1970 que visou a conversão do bairro da Liberdade
em um destino turístico associado às especificidades étnicas ali presentes. Nesse sentido, seu objetivo geral é
compreender as características desse território, o programa de revitalização estabelecido e as medidas destinadas a
sua consolidação. A pesquisa apoia-se em levantamento bibliográfico e documental (periódicos da comunidade
japonesa e imprensa paulistana, plantas e fotografias da cidade), realização de entrevistas e registros fotográficos. O
programa de revitalização potencializou características culturais do território, abaladas por obras de urbanização e
construção da linha azul do metropolitano, em contrapartida, memórias e evidências materiais têm sido mobilizadas
para a desconstrução da narrativa predominante do bairro oriental pelos movimentos sociais, por meio de diferentes
frentes de ação e que resultam em novas identidades, apropriações e sociabilidades no território.

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Sedes de Fazendas Históricas do Vale do Café: a história da hospitalidade no Sul Fluminense

Dan Gabriel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O Vale do Café fluminense é uma das regiões turísticas fluminenses que se destaca pela sua projeção relacionada às
ruralidades, às memórias agrária, arquitetônica e social. O processo de conquista do território localizado ao sul do
estado do Rio de Janeiro, liderado por elites agrárias fluminenses vindas das Baixadas, sustentou-se na dizimação de
povos puris e coroados a consolidar um modelo plantation lastreado no trabalho escravo de africanos e seus
descendentes, bem como ao extermínio da biodiversidade local. Dos ícones turísticos de maior atração, as sedes das
fazendas cafeicultoras são parte da memória da hospitalidade do Sul Fluminense, posto que foram desde polo de
hostilidades aos povos originários e a quem não se submetesse ao processo de colonização, como importantes espaços
para recepção de agentes políticos, comerciais, familiares e, hoje, turísticos. Desde o século XIX até os dias de hoje,
compreender os processos aos quais se estabelecem relações sociais entre anfitriões e hóspedes permite não somente
reposicionar o processo de centralidade da hospitalidade enquanto tessitura social, mas sobretudo enquanto campo
para compreensão de suas multidimensionalidades relacionadas aos interesses e valores sociais mediados no receber,
alimentar, acolher e entreter.

Comunidades tradicionais e turismo: territórios em disputa – Colônia Z-13 (Copacabana – Rio de Janeiro/RJ) e Paraty
Mirim (Paraty/RJ)

Angela Fileno da Silva (Instituto Çarê), Luzimar Soares Bernardo (Latam linhas aéreas), Marcelo Vilela de Almeida (USP
- Universidade de São Paulo)

Esta comunicação tem como objetos de estudo duas comunidades de pescadores artesanais situadas em localidades
distintas do Estado do Rio de Janeiro: a Colônia Z-13, localizada na praia de Copacabana (Rio de Janeiro/RJ), e a
comunidade caiçara de Paraty Mirim, um distrito do município de Paraty/RJ. Paraty Mirim é uma vila caiçara que fica
a cerca de 18 quilômetros do centro urbano de Paraty. Seu território abriga as ruínas do Complexo Arqueológico da
antiga Fazenda Paraty Mirim, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (1731) e integra a Área de Proteção Ambiental
(APA) Cairuçu. A Colônia Z-13, fundada oficialmente em 29 de junho de 1923, situa-se no último canto de areia antes
do Forte de Copacabana e abriga pescadores que são, na sua maioria, migrantes de diferentes procedências. Por
apresentar uma estrutura geográfica concentradora, tornou-se também refúgio para outros sujeitos, tais como:
esportistas, vendedores ambulantes e turistas. Nosso ponto de partida é a percepção de que, em ambos os lugares,
existe uma sobreposição de usos e de significados do território por parte dos atores sociais presentes: pescadores
artesanais, caiçaras e turistas. Neste sentido, propomos uma discussão acerca de como as atividades ligadas direta ou
indiretamente ao turismo transformaram as relações das populações locais com o meio natural e com o trabalho. Os
procedimentos que integram esta comunicação foram divididos em duas etapas: (1) levantamento da historiografia
produzida acerca das duas localidades; (2) realização de entrevistas junto às comunidades tradicionais, tendo como
suporte metodológico a história oral. Resta ainda mencionar que as reflexões apresentadas são um recorte de dois
trabalhos de pesquisa mais amplos, cujos propósitos incluem a análise de como a atividade turística modifica os fazeres
tradicionais das populações estudadas.

176
ST 34. História e Memória: narrativas plurais no fazer da pesquisa histórica, desafios,
perspectivas e possibilidades

ST 34 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Historiografia e o som nosso de cada dia: reflexões iniciais sobre o território sonoro Ciudad del Este/PY

Victória Tupini Pereira

A presente exposição vai de encontro com a perspectiva de uma historiografia descolonial, entendendo que está se
encontra em seu processo de construção. Partimos da análise de que a História, baseada em preceitos modernos e,
portando, com suas teorias e métodos articulados a partir de contexto Europeu, por vezes ignora e não subsidia
contextos fora do eixo Norte, onde o Sul é visto como lugar de trabalho e não de articulador de conhecimento. A
metodologia desenvolvida combina trabalho de campo e a paisagem sonora, apontando para a História a possibilidade
da escuta, sendo essa não somente fonte ilustrativa, com entrevistas orais que passam por um crivo científico, mas
sim, a escuta como primeira pessoa, como contadora de narrativas e autoexplicativa. Nosso objetivo portando, é
somar a metodologia dos Estudos Sonoros e a História. Também desenvolver reflexões acerca da paisagem sonora
orgânica e as bases culturais orais da América Latina, afim de desierarquizar a noção da ciência como detentora única
de conhecimento, pensando tanto a interdisciplinaridade como a ecologia dos saberes. Por fim, apontar dados iniciais
da pesquisa que tem como território sonoro Ciudad del Este, Paraguai, para entender através do som a subjetividade
nos moradores, suas dinâmicas de saberes e identidades.

Vou pra Praça da Bandeira, e depois pro Formigueiro: Memórias e sociabilidades do rock independente em Macapá
(2008-2015)

Lucas de Souza Maximim (UNIFAP - Universidade Federal do Amapá)

A história da música é um campo do conhecimento histórico com muitas especificidades, devido a existência de
inúmeros gêneros musicais, com suas estruturas de composição variadas, desde arranjo instrumental a partes líricas,
que emergiram em variados momentos ao longo da história, servindo a diversos grupos sociais. Assim sendo, este
projeto tem por objetivo investigar a produção de rock independente na cidade de Macapá, entre os anos de 2008 e
2015, através das memórias dos integrantes deste movimento, considerando as comissões organizadoras, dentre elas,
coletivos como o Liberdade ao Rock, Casa Fora do Eixo (CAFE), Coletivo Palafita, entre outros. Considerando também
a criação de festivais como Liberdade ao Rock, Festival Quebramar e Grito Rock, esta pesquisa propõe-se a
compreender a produção destes festivais, que trouxeram para a cidade de Macapá artistas de projeção nacional e
internacional, para se apresentar em locais como o anfiteatro da Fortaleza de São José de Macapá, Praça da Bandeira,
e Largo dos Inocentes (Formigueiro), que são importantes referências para o patrimônio cultural material amapaense.
Serão utilizados para fins de pesquisa a plataforma Toque no Brasil, pois ela traz em seu acervo registro de bandas
macapaenses que realizaram performances em alguns destes festivais, e as produções fonográficas dos artistas
envolvidos neste movimento, e para além desta, plataformas de streaming como YouTube, Spotify, SoundCloud e
Bandcamp. Também serão utilizados editais de fomento à cultura, ilustrações e cartazes destes eventos. Entretanto,

177
a partir do ano de 2013, alguns destes circuitos festivos tem suas realizações interrompidas, gerando um período de
maior dificuldade para a produção de rock independente na capital. Acredita-se que a ausência de financiamento por
parte do Estado, por meio de programas de incentivo a cultura seja uma das principais causas da interrupção da
realização destes festivais.

Memória, Identidade e Fé: Festejo do Divino Espírito Santo em Arraias Tocantins.

Flávio Alexandre Martins Xavier

Nesta pesquisa discutiremos a religiosidade popular através da análise antropológica do Festejo do Divino Espírito
Santo em Arraias-TO. A pesquisa tem por objetivo investigar como a fé, a identidade e a memória se articulam com a
identidade cultural dos festeiros no município. O presente trabalho se justifica em reforçar os aspectos pedagógicos e
históricos, mostrando a riqueza e a dimensão de uma festividade tão importante para a comunidade, procurando
valorizar os saberes histórico, culturais e religiosos, na qual todos os arraianos devem ter uma perspectiva de
fortalecimento e valorização cultural. Acreditamos que compreender uma manifestação da cultura popular tão
importante para um grupo social como o de Arraias-TO, pode contribuir com ideias para estudos e projetos de resgate
cultural que servirão para valorizar a comunidade local, assim como, auxiliar na compreensão de grupos sociais
pertencentes às mais variadas culturas religiosas. O momento presente é também de valorização da cultura como
caminho para enfrentar os desafios da modernidade. Sabemos que a democratização da cultura é um meio através do
qual podemos integrar as pessoas em torno de atividade educativas e formativas, valorizando o ser humano e
transformando a sociedade. Em relação aos pontos de vista metodológicos da pesquisa, a estratégia utilizada será de
cunho de base qualitativa. Para investigar esse assunto, utilizaremos as contribuições da História Oral como
metodologia de pesquisa, pois consideramos que a abordagem em torno da oralidade é fundamental para a
compreensão das experiências sociais vividas dos festeiros. Com a intenção de valorizar os saberes históricos culturais
e colaborar para o resgate cultural do Festejo, uma vez que, essas experiências foram silenciadas durante muito
tempo. Neste sentido, buscaremos preservar o patrimônio cultural religioso, e além de dá vez e voz as pessoas simples,
que contribuirão efetivamente para com o processo histórico cultural dessa comunidade.

Sob marcas da memória e dos estigmas: a História Oral e suas possiblidades de pesquisa sobre a história da
hanseníase

Gabriel Rocha da Silva (Universidade Federal do Piauí), Marcelo de Sousa Neto (Univ. Estadual do Piauí)

O presente artigo tem como objetivo apontar possibilidades teóricas para a utilização das concepções sobre memória
em pesquisa de História voltada aos aspectos socioculturais da hanseníase na cidade de Teresina-PI, no final do século
XX. Dessa forma, quanto a metodologia a pesquisa configura-se como bibliográfica por se tratar de uma análise através
da leitura de teóricos sobre memória e História Oral, articulada com a historiografia referente à trajetória da
hanseníase e como tais conceitos podem se articular com as discussões sobre a problemática da doença. Para isso,
enfatiza-se o trabalho de Alvarenga (2013), por ser a única tese em História que trata sobre esses debates no Piauí. Ao
final do artigo, percebeu-se que as discussões não se esgotam e devem ser sempre relacionadas tanto com a ampliação
do objeto de estudo, a partir de novas problematizações, como com a necessidade de não articular essas questões

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dissociadas das teorias, abrindo, assim, possibilidades para diferentes reflexões através da utilização dos conceitos de
memória e História Oral.

A Referência da Memória na Experiência Estética

Rodrigo Tavares Godoi (Universidade Federal de Rondônia)

A relação história/memória está intensamente articulada com o lugar-comum experiência-percepção e por essa
articulação compreendemos tensões entre historiografia analítica e idiossincrasias. Esta afirmação está sendo
realizada para assinalar que existe, principalmente em contextos (neo)populistas, conflitos entre história (profissional)
e outras formas de narrativas históricas (subjetivas). Nesses casos, comumente, recorremos à definição de memória
de Maurice Halbwachs para dar ênfase à politização, seleção e representação das lembranças, ainda mais quando
grupos tendem a disputar a memória no seio da cotidianidade. Entretanto, ainda que possamos reconhecer que o
lugar-comum memória-coletiva seja inevitável, precisamos atualizar esse conceito por tensioná-lo através da nostalgia
(de um lado) e da différence (de outro). Sob a experiência estética, a memória passa a ser compreendida diante uma
intriga metodológica no interior da analítica e da dialética que preferimos chamar de hermenêutica da memória.
Assim, para atualizar o conceito de memória coletiva temos de estabelecer a crítica de suas razões a fim de
compreender o lugar da referência na memória quando tratamos de assuntos polêmicos como regime militar, por
exemplo, considerando a experiência estética.

ST 34 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

O acervo mobiliário para além de patrimônio cultural: fonte histórica, a memória nacional no interior do Edifício do
Escritório de Representação no Rio de Janeiro no Itamaraty

Adna Gomes

O texto pretende tecer algumas considerações acerca do mobiliário do Edifício Administrativo do Escritório de
Representação no Rio de Janeiro do Complexo do Palácio do Itamaraty. Pensando na sua tipologia para além de
patrimônio cultural, servindo também como fonte de estudo da memória nacional. A saber da sua relação com os
homens no tempo, visto que, traz à lembrança, através das peças, o propósito da edificação, juntamente com a
organização das suas partes interiores. O edifício sofreu duas intervenções de reformas importantes na Primeira
República, uma em 1908 e outra em 1927, e nesse contexto, o conjunto mobiliário organizado no seu interior reflete
a linguagem e o pensamento social-político da época. Por meio da sua descrição, tal aspecto, nos permite considerar
o designer arquitetônico da mobília como uma referência do cenário temporal vivenciado pelos atores. Assim, para
este estudo optou-se pelo recorte temporal a partir de 1908 até a atualidade, utilizando como metodologia a análise
qualitativa, debruçando-se sobre a fonte primária, que primordialmente, foi o acervo mobiliário, cotejado com a
documentação constituída por; relatórios, cartas, jornais e minutas, bem como revisão bibliográfica.

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Crescimento e crise da pecuária leiteira: um estudo de caso da Fazenda Travessão de Baixo e da Cooperativa
Agropecuária de Rio das Flores (1970-1990)

Myleide Meneses de Oliveira Machado (SECRETARIA MUNICIPAL DE DOURADOS)

A pesquisa apresentada neste artigo vem mostrar uma análise contextual do perfil sócio econômico retratado no
município de Rio das Flôres, entre décadas de 70 e 90 do século XX, à partir de estudos de caso, onde a economia era
impulsionada pela pecuária leiteira. Aqui vamos apresentar a partir do estudo de caso da produção leiteira de uns
maiores produtores da época, Sr. José Benedito Machado, que no auge desta atividade teve um papel fundamental
para sociedade da época. As fontes usadas na pesquisa foram cedidas pela Cooperativa Agropecuária de Rio das Flôres
Ltda., fundada em 1942, cujas atas, balancetes, tabelas, faturamentos se encontram em perfeito estado de
organização e conservação. Outras fontes usadas foram depoimentos de antigos funcionários e membros da diretoria
da cooperativa e do próprio Sr. José Benedito, tudo previamente autorizado por ele. Como bases teóricas, usamos
artigos de Robert Owens, que realizou estudos do modo de gestão social adotado pela classe, o cooperativismo.

Memórias e narrativas sobre a luta armada: “Lamarca: o capitão da guerrilha” (1980)

Edson Silva (UESB), José Alves Dias (UESB)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise do livro “Lamarca: o capitão da guerrilha”, de Emiliano
José e Oldack de Miranda, publicado, pela primeira vez, em 1980. Na abordagem proposta consideramos a obra como
uma narrativa mobilizadora de uma memória da luta armada, construída a partir de entrevistas e investigação
jornalística, e como expressão de uma luta política. De tal modo, indagamos, quais as características desta produção
memorialista? Como ela se manifesta em oposição à ditadura civil-militar no Brasil? A partir das teorias da memória e
dos escritos de Walter Benjamin nas suas teses “Sobre o conceito de história” (1940) procuramos destacar o papel da
memória em evidenciar aquilo que foi silenciado, esquecido ou recalcado pelo discurso oficial ou dos vencedores. Por
outro lado, assinalamos que a rememoração das lutas do passado não é importante apenas como forma de evitar o
esquecimento, mas, também, para destacar a inserção da memória no tempo presente. Deste modo, apontamos para
a construção narrativa, operando tanto no sentido de impedir o esquecimento das lutas passadas, como em um
embate pela elucidação e denúncia dos atos de terrorismo de Estado e dos crimes cometidos pela repressão dos
governos militares, na reparação das vítimas e no direito à memória. Constatamos que a narrativa do livro procurou
reivindicar este direito à memória dos mortos e ex-militantes da luta armada e instituir uma interpretação dos
acontecimentos sobre o período, criando uma memória a contrapelo da ditadura civil-militar, ao avesso dos relatos
oficiais e da memória dos vencedores. Assim, destacamos a produção de narrativas e memórias como uma forma de
militância política. Em outros termos, enquanto a manifestação de um comprometimento ético e político com as
gerações passadas, numa continuidade de suas lutas e reparação das injustiças sofridas.

A memória da pandemia: reflexões sobre a construção da memória pós Covid - 19

Karinna Adad de Miranda

A pandemia trouxe às sociedades uma nova maneira de se relacionar, mediada por telas. Nesse contexto, a tecnologia
- em especial, a internet – foi determinante para ditar novas regras de convívio. Através do celular e do computador

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conectados à internet tornou-se possível e recomendável: assistir aulas, trabalhar, fazer compras, conversar com
familiares e amigos, realizar consultas médicas, praticar exercícios físicos, dentre outras competências. Partindo dessa
nova realidade, debruço-me sobre trabalhos de Halbwachs, Pollak e Nora, bem como sobre produções mais recentes
envolvendo mídias e memória, para levantar hipóteses sobre como se dará a construção da memória nacional do
período pandêmico. A partir de quatro constatações, que envolvem: a necessidade de isolamento físico e o uso
intensivo de mídias, argumento que as memórias formadas deverão ser disformes, esparsas e pouco confiáveis. Nesse
sentido, sugiro que as “memórias” surgidas, por não constituírem memórias coletivas, sejam chamadas de
‘experiências vividas’.

Visões da religiosidade asteca na obra do frei Bernardino de Sahagún durante o processo de “conquista espiritual”
do México: os Coloquios y Doctrina Cristiana (1524) e a Historia General de las Cosas de la Nueva España (1577)

Daniela Rigon Ratochinski (UEM - Universidade Estadual de Maringá)

A pesquisa proposta analisará como a religiosidade asteca aparece em algumas das principais obras produzidas pelo
frei franciscano Bernardino de Sahagún durante o processo de “conquista espiritual” do México, intitulada por Robert
Ricard [1993]; (2014). As obras selecionadas como fontes para a pesquisa são: Coloquios y Docrtina Cristiana (1524) e
Historia General de las Cosas de Nueva España (1547-1577). Buscaremos identificar possíveis mudanças em relação à
percepção da religiosidade asteca nessas duas fontes produzidas, respectivamente, no período inicial da catequização
e no período de consolidação da imposição do catolicismo sobre os indígenas da região, iremos focar na descrição das
religiosidades indígenas. A linha teórico-metodológica do trabalho será a da História Cultural, com base principalmente
em trabalhos como os de Carlo Ginzburg (2006; 1989) e Héctor Bruit (1995), que ajudam a entender como traços de
uma cultura podem ser identificados em fontes produzidas pelo olhar de uma outra.

DICOTOMIAS DA HISTÓRIA: histórias escritas e memórias faladas na cidade de Itapagipe/MG

Maria Rita de Jesus Barbosa (SEE - MG e SME de Itapagipe/MG)

A comunicação é parte de minha pesquisa de doutorado. Os sujeitos históricos e as narrativas produzidas na história
local da cidade, grafados com a letra em documentos escritos, em arquivos de imagens e monumentos dialogam com
o mesmo personalismo e elitismo da história tradicional, tão recorrente na história escrita euro-ocidental e
antropocêntrica. A pesquisa procura compreender o apagamento da memória e história das populações
trabalhadoras, pobres e pretas da cidade, e do outro lado as formas de resistências e espaços de sociabilidade
construídos por essas populações que foram afastadas das regiões centrais da cidade. Como forma de construção
desta pesquisa a História Oral é a metodologia que me permite ouvir outras histórias. As histórias de mulheres e
homens, pobres, pretos e grande parte dessa população são trabalhadores no campo, que não tiveram suas histórias
contadas e ouvidas, contadas e por fim registradas no livro “Nossa História”, escrito por uma mulher ilustre da cidade.
O livro “Nossa História” é uma espécie de livro didático da história local, ou seja, utilizado em todas as escolas do
município. A presente comunicação é uma proposta de reflexão sobre os sentidos de excluir grande parte da
população de Itapagipe da história local, a construção da história local a partir da narrativa dos vencidos. Quais os
sentidos da exclusão dessa grande massa que compõe a população local, como isso reverbera no ensino de história
local para os sujeitos, crianças e jovens que não se reconhecem como indivíduos participantes e integrantes dessa

181
história local? O distanciamento de alguns temas pelos historiadores, não ocorrem sempre de forma deliberada, é
importante não considerar essas escolhas como de caráter aleatório, mas o acesso às fontes, documentos, imagens,
entre outros, podem gerar o privilegiamento de alguns temas, o que acaba excluindo outros.

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ST 35. História e suas parcerias as independências da américa ibéria e o sentido dos 200
anos de independência do Brasil

ST 35 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Os Sentidos dos 200 Anos das Emancipações das Américas Ibéricas

Ricardo José de Azevedo Marinho (UNYLEYA EDUCACIONAL)

Essa comunicação realiza a comparação das ideias-movimento das emancipações na construção das nacionalidades
no longo século XIX, com a obra de Oliveira Lima. O Quixote Gordo, para usar o Gilberto Freyre mostra que a questão
das ideias-movimentos das emancipações na construção dessas nacionalidades é que os membros dessas sociedades,
a despeito do desconhecimento de uns e dos outros na sua grande maioria, se sentem ligados entre si por simbologias,
referências e experiências em comum caracterizadas pela obra de Cervantes e seus personagens resignificados na
America Ibérica. Na obra de Oliveira Lima, a ideia da independência na construção dessas nacionalidades é realizada
pelos núcleos formativos coloniais na formação dos Estados em emancipação face as suas relações com as
Monarquias. A experiência do Brasil por ter vivido a instalação da sociedade de corte após a assinatura da Convenção
secreta sobre a transferência para o Brasil da sede da Monarquia Portuguesa, e ocupação temporária da Ilha da
Madeira por tropas britânicas de 1807 que propiciou a vinda de toda a Família Real, num sincretismo com a natureza
e as etnias e raças presentes. Foi com a política que se possibilitou a criação de uma matriz institucional de cunho
nacional no Brasil e sua consolidação como Nação, se dá principalmente pelo viés das artes e da ciência. Já nas
experiências das Américas Espanhola as nacionalidades são construídas pela adoção de um ideal de Republica em
repulsa a Monarquia sem ter uma base societal de pessoas comuns e livres com uma relação confusa com a natureza
vista como selvagem num embate em que tanto as pessoas como o meio ambiente são transformados. Essa interação
muito das vezes conflituosa das pessoalidades-meio ambiente, que se caracteriza como a experiência das Américas
Espanhola, gera um produto cultural distintamente hispano-americano, desejando assim romper os laços com a
Europa e criando uma sociedade caracterizada pelo atrito e a eterna busca do melhoramento.

A Perspectiva da Estruturação de uma Gestão Pública mais Equânime nos 200 de Independência do Brasil

Juliana Matias Pereira Sales (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marja Lopes de Souza

O curso “Encontros Internacionais: O Brasileiro Entre Outros Hispanos, afinidade, contrastes e possíveis futuros nas
suas inter-relações'' é um projeto de pesquisa e de extensão de iniciação artístico-cultural oferecido pela coordenação
de extensão do curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Instituto Cervantes do Rio de Janeiro (IC-RJ), como o objetivo de democratizar a
cultura. O convênio da UFRJ com uma autarquia como o Instituto Cervantes, que completa 30 anos em 2021, possibilita
uma experiência inovadora para a Gestão Pública, visto sua ligação com o Governo Espanhol e seu alcance
internacional. Nessa perspectiva, por meio da multiplicidade literária descrita, o curso de extensão engloba os cenários
históricos político-sociais da administração pública da América Ibérica e do Brasil. Dentre outras obras
estudadas,“Nada”, de Carmen Laforet, aprofunda-se na temática da guerra civil espanhola, tendo em vista o panorama

183
de caos instaurado devido a falta de uma administração pública eficiente, e "República dos Sonhos” de Nélida Piñon
que elucida uma exposição histórica do Brasil no século XX, esclarecendo as relações políticas e conexões históricas
de uma administração pública presente e palpitante com denúncias. Portanto, mediante as perspectivas das escritoras
Carmen Laforet e Nélida Piñon será contemplada uma escrita mais inclusiva e democrática que faça denúncias para a
estruturação de uma gestão pública mais equânime.

ST 35 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Olhares republicanos no centenário da Independência: permanências e rupturas a partir de jornais em 1922

Ana Beatriz Lima Assumpção Camarinha

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o Centenário da Independência como uma comemoração que foi
pensada para sacralizar as representações comuns em desenvolvimento desde o processo de Independência de 1822,
esse considerado o marco de nascimento da nacionalidade, e consolidar uma memória coletiva, importante para a
criação de um universo responsável pela organização do novo espaço público. Ideias modernizantes e projetos
nacionalistas circulavam em 1922, principalmente no Rio de Janeiro, estando relacionados com o imaginário popular
de uma nação que emergia e buscando apresentar um desenvolvimento significativo, progresso de base positivista a
partir de transformações políticas, sociais, econômicas e urbanísticas propostas baseadas na estética europeia de Belle
Époque. Logo, para discuti-las serão apresentados periódicos, dentre eles o Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Jornal
do Commercio, e o Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência e da Exposição Internacional do Rio
de Janeiro.

Nelson Werneck Sodré, a independência sob uma perspectiva moderna de história

Tiago Conte

A proposta do presente trabalho é apresentar os principais argumentos de As razões da independência, obra de Nelson
Werneck publicada em 1965, e relacioná-los com o conceito moderno de história conforme as considerações de
Reinhart Koselleck sobre o tema. Militar por formação profissional, Sodré também exerceu atividades como crítico
literário, historiador e articulista por mais de meio século, com uma bibliografia que abrange mais de cinquenta livros.
Além de atuar em diferentes instituições ao longo de sua trajetória, Sodré também se destacava como um dos
principais autores marxistas brasileiros e alinhado com as posições do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que lhe
deixou em evidência sobretudo nas décadas de 1950 e 1960. De acordo com essa formação teórica, em As razões da
independência Sodré relaciona a autonomia política do Brasil com a conjuntura econômica e política da América
espanhola, a expansão capitalista inglesa e os conflitos internos que se estenderam até o período regencial, em um
processo que se mostra mais complexo e não se limita aos eventos políticos de 1822. Por esses aspectos, observa-se
que Sodré avalia a independência brasileira dentro de um contexto internacional mais amplo, ponto que remete às
reflexões de Koselleck (2006) sobre as transformações no conceito de história ocorridas entre meados dos séculos
XVIII e XIX, quando ela passa da crônica de acontecimentos particulares para uma “história em si”, compreendida
como um processo de dimensão universal e coletivo dirigido para o progresso e o futuro.

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ST 35 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Vidas Públicas: como temas republicanos impactam a integração de crianças refugiadas nos espaços escolares e de
ensino do Estado

Mariana Perillo Velloso Barbosa

O projeto de extensão “Vidas públicas: como os temas republicanos impactam a integração de crianças refugiadas nos
espaços escolares e de ensino do Estado” é resultado da parceria entre o IPPUR e o IRID, ambos institutos da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este projeto visa alcançar crianças refugiadas e migrantes que estão nas
escolas da rede pública do Rio de Janeiro e promover um maior acolhimento e integração dessas crianças e
adolescentes nestes espaços de ensino. Tendo em vista que a imigração é uma questão mundial latente que desafia o
campo da Gestão Pública, o projeto entende a importância e a necessidade de um olhar didático dessa temática. Com
isso, lemos e debatemos textos que abordam a questão da imigração e seus entraves, além de pensar maneiras mais
efetivas de integração dessas crianças no ambiente escolar por meio de mapeamento e localização dessas crianças e
adolescentes e reuniões com diretores e professores dessas escolas que as recebem. Ao longo do projeto, um dos
textos debatidos foi “Por que os antropólogos não gostam de crianças?” de Lawrence A. Hirschfeld. Com base nele é
possível entender o quanto as crianças são subestimadas como produtoras e reprodutoras de cultura pela
antropologia. O que vai em desacordo com o relato da coordenadora pedagógica Jaspe Mattos da Escola Municipal
Capistrano de Abreu que em entrevista ao projeto relatou a dificuldade de adaptação de uma aluna imigrante com a
comida oferecida na escola.Com isso, pode-se compreender que a questão da integração de crianças imigrantes e
refugiadas vai além dos diferentes hábitos alimentares e perpassa suas famílias, condições socioeconômicas, questões
como xenofobia e muitas outras problemáticas que o projeto Vida Pública busca entender e debater visando noções
de cidadania e acolhimento.

A Administração Colonial entre o governo geral e local por Caio Prado Júnior em seu Formação do Brasil
Contemporâneo (1942)

Renata Bastos da Silva (IPPUR/UFRJ - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Brasil.)

Nas décadas de 1930 e 1940 do século passado, observou-se no Brasil uma dedicação, por parte do seu pensamento
social, na elaboração de interpretações cujo objetivo era entender a trajetória do país. Entre elas, surgiu a de Caio
Prado Júnior; de seus escritos, destacamos Formação do Brasil Contemporâneo (1942), lançado no ano que a
independência administrativa do Brasil completou 120 anos. No entanto, a questão que alguns desses intérpretes se
colocavam era de como incorporar esses trabalhos na discussão pública sobre os caminhos a serem seguidos na
política brasileira. Para tentar enfrentar essa discussão, abordaremos recorremos à essa obra de Caio Prado Júnior dos
anos de 1940, que, no nosso entender, contribuíram como fundamento para sua atuação como constituinte paulista
e deputado estadual, pelo Partido Comunista do Brasil, em 1947 e início de 1948. Em especial destacaremos o capítulo
intitulado Administração da obra de 1942 de Caio Prado Júnior. Nessa nosso autor apresenta uma análise rigorosa do
relatório do marquês do Lavradio a respeito da Administração colonial. Particularmente Caio Prado Júnior aponta que
não havia uma divisão demarcada entre governo geral e local. Assim, a administração de cidades como o Rio de Janeiro

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se tornavam submissas à administraçao colonial, dificultando o levantamento das demandas locais. As Câmaras locais
se tornavam verdadeiros orgãos da administração geral e se curvavam aos seus interesses.

ST 35 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Curso de Atualização de Servidores Públicos na área da Seguridade Social

Sofia Piscitelli Trindade

A seguridade social, em seu tripé de saúde, previdência e assistência social faz parte da gestão pública republicana e
democrática, assim é apresentada na nossa Constituição Federal de 1988. Uma das principais formas de o Estado
oferecer aos seus cidadãos políticas públicas da área e, nesse momento de pandemia, é indispensável retomar a sua
importância, suas principais formas de atuação e os princípios que a fundamentam. Assim, a Gerência de
Desenvolvimento e Educação Permanente (GDEP) da Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro
(SMAS-RJ) solicitou, ao final de 2018, um curso de extensão para a atualização a respeito dos princípios de Gestão
Pública à Pró-reitoria de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que delegou a elaboração à
coordenação de extensão do curso de graduação de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social
(GPDES) da UFRJ. Deste modo, desde 2019 é oferecido o Curso de Atualização Profissional de Servidores Públicos na
Área da Seguridade Social, com o objetivo de incrementar e aperfeiçoar o conhecimento desses profissionais sobre a
área em que atuam e atualizá-los sobre novas possíveis práticas em consonância com o momento atual. A parceria
entre a GDEP e a coordenação de extensão do GPDES promove esse incremento, sintonizando a atuação desses
profissionais às mudanças sociais e institucionais que estão ocorrendo nesse momento no Brasil. E nesse momento de
200 anos da nossa independência, torna-se urgente essa modernização do serviço público e sua adaptação aos dias
atuais. Apesar de ser algo recentemente consolidado, a seguridade teve diversos avanços recentes que a centralizaram
e aumentaram seu escopo de atuação. Além disso, o curso também levou ao nosso grupo de pesquisa e extensão a
oportunidade de nos aperfeiçoarmos na área de investigação sobre as políticas públicas da área da Seguridade Social
e a promover sua inovação.

A crise do "apagão": um estudo sobre a gestão da crise no setor elétrico e o apagão em 2001.

Milena de Oliveira Gomes

O presente trabalho tem o objetivo de realizar um breve estudo de caso sobre a gestão da crise no setor energético
brasileiro em 2001. Portanto, foi utilizado como objeto, a crise enfrentada durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, a qual resultou em "apagões" e racionamento de energia em diversos estados do território nacional. Com o
propósito de analisar quais foram as medidas adotadas, qual foi o papel dos gestores públicos e das instituições na
coordenação da crise, em especial a atuação do governo federal. Logo, para nortear o estudo foram levantadas as
seguintes hipóteses: até que ponto o "apagão" da administração e o desleixo das gestões podem revelar a história de
uma crise anunciada? Em que medida o estudo da história da administração pública pode auxiliar na conduta dos
gestores públicos e nos procedimentos administrativos que serão utilizados em um período de crise. Para tanto,
através da metodologia do levantamento bibliográfico será possível apresentar o “estado das artes” sobre o tema e

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analisar os procedimentos adotados pela administração em momentos de crise no qual a ação da gestão pública é
emergencial.

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ST 36. História oral, memorias e Lutas por Direitos

ST 36 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

O acidente nuclear de Chernobyl e características da sociedade e do homem soviético: uma análise a partir do livro
Vozes de Tchernóbil

Bárbara Oasky Garofalo

Esse trabalho tem como objetivo refletir acerca do acidente nuclear de Chernobyl – ocorrido em 1986 nas
proximidades da fronteira da Bielorússia com a Ucrânia, pertencente, no momento, à União Soviética (URSS) –, a partir
do livro Vozes de Tchernóbil da escritora e jornalista bielorussa, Svetlana Aleksiévitch. Estaremos trabalhando,
portanto, a partir de uma literatura de testemunho que é apresentada pela linguagem das memórias e esquecimentos,
rememorações voluntárias e involuntárias, que ao serem narradas apresentam novas possibilidades de investigar o
acidente nuclear. a proposição do uso de Vozes de Tchernóbil a partir das narrativas nele organizadas, se coloca como
possibilidade de trabalhar o acontecimento a partir da perspectiva dos sobreviventes do acidente nuclear pelas
memórias de pessoas comuns, como trabalhadores, cientistas e soldados, expandindo a visão sobre o acidente para
além de uma história contada a partir da perspectiva do Estado. Propomos não só pensar os processos que essas
pessoas encaram por ter vivenciado uma experiência traumática, mas acreditamos que os elementos históricos dos
testemunhos expostos nos dão a oportunidade de refletir sobre características da sociedade e do “homem soviético”,
e levantarmos debates acerca da capacidade destrutiva das grandes tecnologias desenvolvidas, entendendo a crise
nuclear soviética como uma combinação de falhas, descaso e falta de preparo que ocorreram desde a construção de
usinas feitas às pressas para dar conta do Plano, passando pelos erros ocorridos durantes testes que antecederam à
explosão, até as medidas de emergência adotadas após o acidente.

A História de vida de Vazanteiros deslocados pela UHE Estreito em Babaçulandia-TO

Lucas André da Luz Silva Dias

No ano de 2019, atendendo decisão judicial movida pelo CESTE (Consórcio Estreito Energia), responsável pela
operação da hidrelétrica, os vazanteiros deslocados pela UHE de Estreito, residentes no município de Babaçulândia,
sofreram um novo revés, a expulsão de seu território, o acampamento Ilha Verde. Buscamos nesse trabalho,
compreender os caminhos aos quais essas famílias tiveram que recorrer, para lidarem com mais esse despejo em suas
trajetórias de vida. Objetivando compreender às articulações políticas desenvolvidas pelos ribeirinhos, em sua luta
pela terra, que além de judicial, é simbólica e afetiva. Compreendemos que o território não significa para essas famílias
somente uma fonte de renda, sendo também uma forma de enfrentamento perante esses grandes projetos
desenvolvimentistas como a UHE. Lançando mão da história oral, e sua técnica história de vida, procuramos dessa
maneira que, os ribeirinhos contem suas trajetórias, narrem, rememorem suas relações com rio, vazante e os
processos de expulsão compulsória já sofridos por eles.

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Mobilizações coletivas contra a fome em épocas de seca no Semiárido brasileiro

Francisco Ruy Gondim Pereira (Secretária de Educação)

A partir dos anos 1930, o Seminário brasileiro foi palco recorrente de mobilizações de massa deflagradas nos centros
urbanos em épocas de seca. Após longo processo de aprendizagem que remonta à seca de 1877, uma tradição de
saques a depósitos de alimentos foi consolidada nos anos 1950 diante da constituição de um sujeito coletivo
emergente, reivindicando a aplicação de medidas de assistência para as comunidades ruais afetadas pela quebra da
produção alimentar. A apropriação de alimentos por meio da ação direta foi continuada nas décadas seguintes e
ampliada a partir da grande seca de 1979-1983, sendo incorporada à cultura política dos subalternos em vastas regiões
do Nordeste brasileiro. Estimulados pela necessidade de lutar contra à fome e a ineficácia da ação estatal em meio a
tragédia da miséria, os saques se estabeleceram como a arma mais poderosa para impor a aplicação de medidas
emergências pelo Estado. O objetivo desta comunicação é compreender a dimensão política das mobilizações coletivas
contra à fome nas secas do Seminário brasileiro na segunda metade do século XX.

Historia Oral como disciplina- A primeira greve dos profissionais da saúde de Cachoeiro de Itapemirim.

Isabel de Oliveira Costa

O presente trabalho tem como foco discutir a utilização da história oral como disciplina e as dificuldades em empregá-
la, tendo como base o método de José Carlos Bom Meihy e Fabíola Holanda, que possibilita uma forma diferente de
trabalhar com história oral. Neste método o relacionamento entre entrevistador- entrevistado é de colaboração, visto
que é um trabalho feito a dois e portanto ambos têm a autoria do trabalho. Nesse sentido a colaboração deve ser feita
em forma de consentimento, o colaborador deve aprovar o texto, e se não aprovar pode modificá-lo. A grande
diferença desse modo de trabalhar com as entrevistas está na textualização, isto é, a transformação da entrevista em
um texto (como a uma crônica) que deve ser aprovado e modificado pelo colaborador do trabalho. Para essa discussão
utilizarei um trabalho feito em conjunto com a colaboradora Maria José, personagem do trabalho, que foi uma
trabalhadora da área da saúde em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Espírito Santo, e junto com seus colegas de trabalho
protagonizou a primeira greve dos profissionais da categoria na cidade em 1987. A greve tomou grandes proporções
e foi repercutida pelo Estado inteiro através da TV, ao fim do movimento grevista formou-se a associação dos
trabalhadores da área da saúde de Cachoeiro que com o passar do tempo e da aderência dos profissionais tornou-se
o sindicato existente até os dias atuais. O trabalho além da greve é sobretudo sobre a história de vida de Maria José,
estamos diante de um relato de vida, que tem uma unidade, um sentido geral, que podemos resumir em uma de suas
frases: “Eu estava ali por um ideal”. Ela foi dita sobre a greve, mas o ideal geral é o mesmo do início ao fim: o das boas
relações, do diálogo, do contato, da humanidade que deveria, na visão dela, ter se dado também entre os grevistas.
Assim não foi e vieram as consequências. Ela estava se arriscando, sabia disso e pagou o preço. Como mulher e
trabalhadora, enfrentou dificuldades e soube resolvê-las.

ST 36 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

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“QUEREMOS LIBERDADE E DIREITOS” Associação de Profissionais do sexo (Manaus-AM) 2008-2019

Bárbara Rebeka Gomes de Lira

O ano de 1987 representa um marco para a categoria de profissionais do sexo no Brasil, nascia o primeiro movimento de
articulação política no país, a Associação de Prostitutas no Brasil, na vila Mimosa, Rio de Janeiro, onde também foi realizado o
primeiro Encontro Nacional de Prostitutas que contou com 11 estados brasileiros sendo representados e marcou o início dos
movimentos sociais, entre eles o pioneiro Gempac, o “Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará – GEMPAC”, fundado
em 1° de maio de 1990, mas articulada desde 1987. Em Manaus, a formação da associação surgiu mais tarde, no ano de 2008,
batizada de “As Amazonas – Associação de Prostitutas e ex-Prostitutas do Amazonas”, que contou com a presença de mulheres
do Gempac, do Pará, para dar o apoio no processo de fundação da Associação ‘As Amazonas’ – nome que faz referência ao mito
das guerreiras amazônicas – que desde então vem realizando atividades, mobilizações, encontros para apoiar e informar as
trabalhadoras sexuais das lutas pelos seus direitos, sem esquecer a luta para manter suas portas abertas. Este presente trabalho
trata de buscar os rastros das atividades da Associação para profissionais do sexo em Manaus, sob a ótica da agência, da
resistência e da construção de novos valores para o trabalho. O presente estudo será viabilizado através do uso de documentação
da associação, como atas, relatórios, entrevistas, documentário, e etc., trata-se de vasto material cedido pela própria instituição.

Memória e Luta: um estudo sobre a Associação de Travestis de Mato Grosso do Sul (ATMS)

Ludmila Neves Muller

O leque de produção acadêmica sobre as experiências travestis no Brasil vem crescendo expressivamente desde o ano
2000, sendo estudos sobre gênero, sexualidade, HIV, transformações corporais, prostituição e violência, em especial a de
Estado, o tipo de abordagem mais comum. As práticas de resistência e militância política das travestis brasileiras foram
discutidas em poucas, porém respeitadas pesquisas e etnografias para algumas capitais brasileiras. No entanto, é ainda
inexistente um trabalho sobre a temática focado na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. No caso campo-
grandense, analisar fontes e estudos sobre violência de Estado contra a população travesti, com balizas temporais que
abrangem duas décadas (2001-2021), é possível perceber processos como a continuidade das práticas policiais violentas
mesmo em contexto democrático e sua diminuição como consequência da ascensão de organizações de resistência. De
acordo com último relatório da Transgender Europe, o Brasil segue sendo o país que mais mata travestis e transexuais no
mundo, de maneira que este também é um dos grupos com menos acesso a políticas públicas. O presente trabalho propõe
a produção de um estudo detalhado sobre o processo de criação, formalização e desenvolvimento da ATMS, uma
organização que nasceu como tentativa de resposta a esses fatos. Entrecruzando respeitadas pesquisas sobre a história do
movimento travesti no Brasil, o acervo da associação em questão e depoimentos do tipo trajetória de vida de suas
fundadoras, faz-se possível a contribuição acadêmica de novos pontos de vista sobre a história do Brasil e a história dos
movimentos sociais, tanto no âmbito político, quanto cotidiano.

"Eu comecei ir à luta junto com elas": experiências transAtvistas em Manaus/AM (1992-2019)

Michele Pires Lima (PPGH-UFAM)

Está comunicação se propõe a compreender o surgimento do movimento LGBT no Amazonas e a criação da Associação
de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (ASSOTRAM) por meio das memórias nos jornais e das

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transativistivas Flor de Lis, Nichole Oliveira, Camila Dantas e Rebeca Carvalho. Estas sujeitas carregam nos seus corpos
e subjetividades a superação do limite etário de 35 anos para pessoas trans num país que mais mata travestis e
transexuais no mundo. Para isso, utilizamos a História Oral como metodologia que viabiliza o registro das memórias
individuais e coletivas, os significados do gênero, da importância do ativismo político, os sentidos produzidos sobre si
enquanto sujeitos históricos e as ferramentas produzidas para resistir numa sociedade fixada em desigualdades e
exclusões sociais. Esta comunicação, portanto, busca abrir para o diálogo com travestis e transexuais para que suas
histórias também sejam escutadas atentamente, interpelando a atual historiografia, a saber: “o que diz respeito à
História e o que não diz?”

ST 36 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

História oral, feminismo e memória: a luta feminina por direito no Município de Parintins no século XX.

Roger Kenned Repolho de Oliveira

No decorrer da história a mulher teve sua presença limitado os espaços de poder assim na educação, esse lugar muitas
vezes considerado um lugar não natural à mulher, essa limitação foi diminuindo no final do século XIX, mas é na
segunda metade deste mesmo século junto ao movimento feminista que suas reivindicações mais expressivas em
busca por direitos são atendidas. Muitas dessas mudanças ocorrem no período das duas grandes guerras e
posteriormente a elas. Esse trabalho tentou discutir as mudanças ocorridas no século XX e a relação da mulher e sua
tomada de consciência no município de Parintins. Junto a esse debate, tentar ver nos movimentos de mulheres no
município no século XX, com um olhar feminista em suas reivindicações. Se utilizando das ferramentas proporcionadas
pela metodologia de História oral e uma análise bibliográfica, para daí vermos esses embates e luta por direito no
município de Parintins. Tentaremos aqui, ver em que medida se pode perceber a presenças das ideias feministas no
movimento de mulheres em Parintins na segunda metade do século XX.

História oral, memórias e um missionário no interior do Amazonas: Clinton Benjamin Thomas e a Igreja de Cristo
em Urucará

César Aquino Bezerra (UFAM - Universidade Federal do Amazonas)

A metodologia da História Oral possibilita o registro do processo de construção de memórias ou memórias


compartilhadas sobre eventos históricos ocorridos no chamado tempo presente, recorrendo a entrevistas com sujeitos
que participaram ou testemunharam tais eventos. Nossa escolha pelo estudo da memória e fontes orais elucida a
importante contribuição que a história oral oferece à compreensão dos processos envolvendo o protestantismo no
interior do Amazonas, através de sujeitos que foram participantes da fundação e crescimento do cristianismo não
católico na região. Para tal, investigamos a trajetória de Clinton Benjamin Thomas (1930-2007), missionário no Norte
do Brasil entre as décadas de 1950-1990. Natural de Williamsport, Pensilvânia, ele foi enviado pela Igreja de Cristo nos
Estados Unidos, movimento religioso nascido no século XIX e que se estabeleceu no Brasil a partir de 1948. A família
Thomas, após passar por Belém e Macapá, chega a Urucará, no interior do Amazonas, em 1965, com o propósito de
fundar a primeira igreja protestante da cidade. Naquele momento, a presença da Igreja Católica e do próprio Estado

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eram frágeis na região, o que provocará relações e tensões entre religiosos e autoridades. As atividades de Clinton e
sua esposa, Phyllis Eleanor Thomas (1934) se desenvolvem em Urucará por três décadas, quando retornam
definitivamente aos Estados Unidos. Dessa forma, nossa pesquisa busca registrar e analisar as memórias de
contemporâneos a Clinton Thomas em Urucará, para desvelar as ações dos missionários, apontadas como não restritas
ao pioneirismo na área religiosa, mas também marcada por forte atuação na área da saúde, além de mecânica e
educação, revelando sua legitimação e tensões junto à população urucaraense.

Memorias e Lutas por Direitos nas narrativas orais de Ruth de Souza, Léa Garcia e Zezé Motta

Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas)

“O que sempre me moveu foi a paixão pelo cinema, pelo teatro, além de muita força de vontade e determinação.” Na
primeira sessão da biografia, Ruth de Souza: a estrela negra, encontra-se em destaque as idealizações de Ruth de
Souza quando menina, seus sonhos de tornar-se atriz. Os relatos orais das atrizes Ruth de Souza, Léa Garcia e Zezé
Motta evidenciam como em um país marcado pelo racismo estrutural, o desejo por adentrar em um campo
profissional, pautado pela visibilidade, pode ser marcado por sonho, desejos, mas sobretudo, pela luta por direitos e
o enfrentamento ao racismo. Ancorado nos pressupostos teórico-metodológico da história oral, nossa comunicação
busca refletir acerca da questão, a saber. Em que medida existências profissionais forjadas em meio as lutas por
direitos e rupturas estabelecidas com a criação de espaços para atrizes e atores negros no universo das artes cênicas,
as remetem a uma dupla dimensão, estrelas das artes cênicas e protagonistas no acontecer histórico?

Movimentos sociais, educação antirracista e implementação da Lei 10.639/2003

Cecilia Silva Guimarães (Centro Universitário La Salle)

Para analisarmos a História do negro no Brasil é importante identificarmos a produção historiográfica do século XX,
que apresenta uma História ora negligenciada, ora forjada pela ideia de democracia, ora analisada sob o viés
econômico, ora pelo viés sociocultural e, por fim, reforçada pelo conceito de memória e a necessidade do não
esquecimento, trazendo à tona inúmeras trajetórias individuais e coletivas. Portanto, no campo historiográfico
acompanhamos uma série de transformações, tanto nas metodologias utilizadas, quanto nas teorias reestruturadas
e, por fim, nos resultados das pesquisas sobre a formação da sociedade brasileira e o papel do negro na História do
Brasil. Ante o exposto, torna-se necessário problematizarmos outra conjuntura, na qual uma série de personagens foi
fundamental para as inúmeras conquistas políticas e sociais da população afrodescendente em nosso país. Neste
sentido, o presente trabalho busca reforçar a importância dos movimentos sociais, principalmente, do Movimento
Negro, na luta por uma educação antirracista, que foi fundamental para implementação da Lei 10.639/2003.

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ST 37. História, Cidades e Memória

ST 37 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Itaboraí, cenário e personagem: noções de urbanidade no séc. XIX

Pâmella Victória Oliveira Souza Mateus

Ao observar que as intervenções humanas inscrevem e imprimem no território características únicas propõe-se, por
meio de uma breve análise da obra “O Rio do Quarto” (1869), se aproximar da história urbana da cidade de Itaboraí
no RJ. Esta cidade, assim como as demais de origem colonial, tem como núcleo fundacional uma grande praça, que é
cenário e personagem da criação literária em questão. Para esta investigação, se aplica o que Pesavento (2014) chama
de história cultural do urbano. A historiadora também menciona uma metodologia, apresentada por Willi Bolle (1994),
em que o pesquisador realiza sobreposição das camadas históricas e dos fragmentos urbanos, “justapondo
personagens, imagens, discursos, eventos, performances ‘reais’ ou ‘imaginárias’ do espaço urbano”. Esta pesquisa, se
fundamenta na abordagem histórica por meio documental, conta com análise cartográfica, iconográfica e de
referenciais teóricos, tendo no campo disciplinar da literatura uma das ferramentas. Tal qual o trabalho do arqueólogo,
pode-se desvendar nesta centralidade camadas e sobreposições históricas capazes de resgatar o processo de
desenvolvimento da cidade, da memória urbana e dos valores simbólicos atribuídos por Macedo (1869). O objetivo
proposto é vislumbrar a descrição do traçado urbano da Vila de São João de Itaboraí no atual tecido urbano,
justapondo o romance, a história, documentos cartográficos, iconográficos e outra obra literária do autor, “Memórias
da Rua do Ouvidor” (1878), para elucidar as noções de urbanidade experimentadas pelo memorialista.

Giros e piruetas em terras molhas do pantanal

Acir Fonseca Montecchi (83133)

Naquela alvorada úmida do dia 24 de fevereiro de 1926, o Vapor Etrúria serpenteava pelo Rio Paraguai nas
proximidades de São Luiz de Cáceres Mato Grosso, Epitácio, o comandante da embarcação, disse ao seu imediato,
vamos atracar no porto da cidade por volta das 7:30 horas. Vinda do Rio de Janeiro, a companhia de Balé de Maria
Olenewa. As bailarinas se deparam com uma cidade pequena e se encantam. A coreógrafa com o passar dos dias, se
viu imersa numa localidade habitada por gente humilde e hospitaleira. A cidade, o casario, impressionou a russa
habituada a visitar lugares, sentiu se instigada pelo glamour das edificações. A diversidade de estilos arquitetônicos
dessa cidade portuária, erguida entre o cerrado e o pantanal, dava pistas da diversidade, das influências culturais
presentes na constituição daquele belo mosaico. Propomos dar a ler, através de revista em quadrinhos, aspectos
relacionados à História da cidade. Trata-se de uma construção literária/histórica/imaginária/imagética, resultante do
diálogo de vestígios/registros do passado com a liberdade de criação. A arte se ancora-se em acontecimentos do
passado, resultados de pesquisas bem ao modo dos historiadores, reconstruindo a paisagem urbana em seus traçados,
lendo o físico e o cultural. Abundantes fontes iconográficas, periódicos, obras da literatura de memórias e outros
escritos que permitem, recriar os espaços citadinos de onde as tramas tecem a dinâmica à narrativa. Governantes
conservadores e preconceituosos, elaboravam planos para a permanência da visível desigualdade social. A diretora da

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companhia de balé se vê pressionada a exibir um espetáculo de dança clássica, somente para a elite local, refutando
a possibilidade de acesso para o povo, na apresentação prevista para o Largo da Matriz. As bailarinas, vasculham as
ruas estreitas dessa cidade portuguesa do século XVIII, observam o modo de vida da urbe, gente alegre em perfeita
sintonia com o movimento das águas do Rio Paraguai.

"Porque São Paulo não para numa fotografia, move-se num filme": curtas-metragens da cidade em Laranja da China,
de António de Alcântara Machado

Leonardo da Silva Claudiano (PUC - SP)

Composto por doze contos, Laranja da China, de António de Alcântara Machado, foi publicado pela primeira vez em
1928. Elogiado pela crítica do período, o livro aprofunda as inovações na prosa modernista e reafirma o ambiente
urbano como cena e cenário dos seus enredos. As narrativas se apresentam como recortes da cidade – fragmentos
pinçados do contínuo de ruas e avenidas, posteriormente reelaborados pela técnica literária em profundo diálogo com
o cinema e a publicidade. O trânsito por outras linguagens se faz pela tentativa de representar a simultaneidade
entrecortada da metrópole, bem como captar as sensações inéditas de um novo viver urbano. Falamos de curtas-
metragens cujos enredos se contam em doze fragmentos autossuficientes; entretanto, apesar da existência em
separado, são instantâneos que se costuram, que apontam histórias entrecruzadas, feitas em meio aos choques e
solavancos citadinos. Alcântara Machado nos apresenta um processo de modernização acelerado e desigual, em uma
São Paulo sobreposta de temporalidades díspares. Seus personagens transitam por quarteirões e viadutos; leem a
cidade, ecoam e reelaboram textos urbanos: palavras que estão no concreto, no traçado cartográfico; e que estão,
igualmente, no tatear de seus habitantes, na sôfrega tentativa de se localizarem num espaço em mutação, imersos no
tempo que se expande e se condensa, a ponto de demandarem novas gramáticas de comportamento. A presente
comunicação buscará em Laranja da China os diálogos, as afirmações e negações entre lugares e vivências urbanas.
Percorrerá a São Paulo percebida por António de Alcântara Machado: um amálgama de tempos e espaços a permear
as relações de seus personagens, a unir recortes imprecisos num todo heterogêneo, conflitante e sedutor.

ST 37 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Espaços e vivencias: práticas cotidianas dos moradores da cidade de Floresta do Piauí-PI na década de1980

Luísa Neta da Silva Lima

O trabalho analisa as práticas cotidianas dos moradores da cidade de Floresta do Piauí-PI, na década de 1980.
Problematiza a formação da cidade, seus primeiros moradores e, sobretudo, as práticas cotidianas desenvolvidas no
espaço da urbe, acerca de aspectos econômicos, educacionais, religiosos e de lazer. Fundamenta-se em fontes
imagéticas, dados do IBGE e, principalmente, relatos orais dos moradores da cidade. Teórico e metodologicamente o
trabalho se respalda em autores como, Michel de Certeau (2008), José D’assunção Barros (2012) e, Mariana Floracir
de Moura (2014), entre outros. A pesquisa apontou as transformações da cidade, como o aumento de construções
residenciais e comerciais, pavimentação de ruas, fornecimento público de água e energia elétrica para todos os

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moradores; bem como uma constante interação social, nos diversos espaços da urbe, que promove um sentimento
de pertencimento nos citadinos, em seus comportamentos e ações.

ENTRE MELODIAS, RUÍDOS E RITMOS: sonoridades urbanas da cidade de Picos-PI, nas décadas de 1980 e 1990.

Ana Ester de Matos Silva

A pesquisa tem por objetivo analisar as representações urbanas da cidade de Picos-PI, a partir das percepções
sensoriais, expressadas por meio de uma memória auditiva nas décadas de 1980 e 1990. Objetivamos também
caracterizar as práticas auditivas desenvolvidas nos múltiplos espaços desta urbe. Esta narrativa é construída tendo
como base variadas fontes como jornais, Código de Postura Municipal, relatos orais, poesias e crônicas de escritores
picoenses e fotografias. A análise das fontes e as reflexões teóricas, sobre o campo temático de história e cidades, são
pautadas nos estudos de Sandra Pesavento (1999; 2001; 2007), Raquel Rolnik (1995) e Michel de Certeau (2008). Na
discussão sobre memória e História Oral contamos com o aporte teórico de Jacques Le Goff (1924), Michael Pollak
(1989; 1992), Pierre Nora (1993), Sônia Freitas (2006), Ecléa Bosi (2003), e Alessandro Portelli (2016). Sobre espaço e
sonoridades as discussões teóricas são pautadas no estudo de Murray Schafer (2011) e José Miguel Wisnik (2017). O
trabalho aponta a cidade de Picos-PI, no recorte temporal proposto, como uma urbe marcada pela diversidade de
rastros sonoros, percebidos através da audição de músicas em festas privadas e em eventos públicos nas
apresentações artísticas, vozerios e conversas, na difusão do repente nos variados espaços. Indica as sonoridades
emitidas no cotidiano urbano, por meio de práticas individuais e coletivas dos citadinos picoenses, assim como o
alarido de boêmios e notívagos em bares.

NA FLANERIE PELA CIDADE, OS CHEIROS NOS CONSOMEM: memórias olfativas em torno da cidade de Picos-PI, nas
décadas de 1980 e 1990

Nayara Gonçalves de Sousa

O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre as memórias olfativas que foram construídas em torno da cidade
de Picos-PI pelos seus habitantes, no período que compreende as décadas de 1980 e 1990. A pesquisa foi construída
com base em variadas fontes, que incluem entrevistas orais, os jornais Macambira e Jornal de Picos e o Código
Municipal de Posturas. A análise dessas fontes e as discussões presentes no trabalho contaram com o referencial
teórico de diversos estudiosos, a qual destaco os mais relevantes: Raquel Rolnik (1995), Ana Fani Carlos (2007), Michel
de Certeau (2008) e Roberto Corrêa (2007) para as questões de cidades; Sandra Pesavento (2007), Alain Corbin (1987),
Milena Kanashiro (2003), Palmira Ribeiro e Nadja Santos (2018) para as questões das sensibilidades urbanas; Jeane
Gagnebin (1998), Jacy Seixas (2004), Márcio Silva (2008), Maurice Halbwachs (2006), Michael Pollack (1989), Paul
Ricouer (2007), Ecléa Bosi (2003) e Francisco Nascimento (2002) para as questões de memória; Sônia Freitas (2006),
José Carlos Meihy (1996) e Verena Alberti (2004) para as compreensões acerca da história oral.

ST 37 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

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Primeira Praça de Salvador: Tomé de Souza seus usos e apropriações

Alzilene Ferreira Da Silva

São nos espaços da cidade, moldados a partir dos usos e apropriações cotidianos que a vida se efetiva, como produto
das relações sociais, da acumulação histórica e da tecedura realizada no presente. Nessa relação, o velho e o novo são
elementos que constituem esse cenário, resultante das construções das sucessivas gerações. A praça é vista como
exemplo dessa relação, pois consiste em um espaço fértil de possibilidades de convivência urbana. No rastro dessas
considerações, surge o presente estudo sobre a apropriação e sociabilidade na Praça Tomé de Sousa, localizada no
Centro Histórico, na cidade de Salvador-Ba. Primeira Praça da cidade, consiste em um valioso exemplo dos múltiplos
usos e funções da praça no Brasil Colônia e também na atualidade. Foi a partir da primeira praça da cidade, que o
processo de urbanização de Salvador ganha impulso. Participe deste tempo histórico, sua trajetória percorre mais de
460 anos. Dessa maneira, as praças da cidade de Salvador e, em especial, sua Praça Matriz, são espaços onde ocorrem
uma série de manifestações culturais, políticas e religiosas. Para a feitura do trabalho, afora a revisão bibliográfica,
realizou-se observações participantes na Praça Tomé de Sousa, entrevistas semi-estruturadas com freqüentadores da
Praça. Também investigação em jornais e revistas impressos e na Internet, além de fontes documentais e
iconográficas. O registro fotográfico apresenta-se como importante contributo ao trabalho de campo. A pesquisa
desenvolve-se, portanto, a partir da compreensão de que são as práticas sociais, que tornam possíveis os usos e
apropriações dos espaços. Nessa perspectiva a praça surge como um locus privilegiado onde afloram-se possibilidades
de múltiplas manifestações que as práticas sociais podem engendrar.

Memórias de um prostíbulo: Boate Chantecler e os espaços de prazer do Recife (1939-1984)

Olívia Tereza Pinheiro de Siqueira

O presente trabalho, tem como objetivo examinar a ascensão e o declínio do funcionamento, de um dos principais
prostíbulos da capital pernambucana, a Boate Chantecler, tal como, sua atuação dentro dos espaços de prazer da
cidade, entre o período de 1939 até 1984, com a decadência da zona meretrícia do centro do Recife. Devido à sua
última localização, em um prédio atualmente tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
IPHAN, iniciamos este artigo trabalhando com o conceito de justa memória, de Paul Ricouer e de memória coletiva de
Jacques Le Goff, visto que há um aparente silenciamento da história deste estabelecimento, no site do próprio
Instituto. No que se refere aos estudos sobre gênero, este artigo trabalha sob uma perspectiva descolonial, com a
teoria da colonialidade de gênero proposta por María Lugones. Para que possamos situar nosso objeto em seu tempo
histórico, a historiografia sobre a cidade do Recife, durante o período supracitado, será de fundamental importância,
fornecendo-nos o contexto necessário em que o Chantecler foi criado e se manteve em funcionamento. Logo,
utilizaremos autores como Antônio Paulo Rezende, Maria das Graças Andrade de Ataíde de Almeida, dentre outros.
As fontes analisadas neste artigo, são provenientes de jornais de grande circulação na capital, durante o período
mencionado, como o Diário de Pernambuco e o Diário da Manhã, e prontuários presentes no site O Obscuro Fichário
dos Artistas Mundanos. É relevante salientar que esta pesquisa, faz parte de um projeto de dissertação de mestrado,
encontrando-se neste momento em plena construção.

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PALMAS DO LADO DE CÁ: narrativas que versam sobre os espaços da cidade utilizados para a realização de
atividades físicas

Jeany Castro dos Santos (Universidade Estadual do Tocantins), Temis Gomes Parente (Universidade Federal do
Tocantins)

Este artigo tem por objetivo apresentar outros olhares sobre Palmas. A proposta é refletir sobre a utilização da rua
para a realização de atividades físicas. Nesta perspectiva, a cidade é vista como um cenário para a realização de
eventos históricos, como também protagonista de mudanças que proporcionaram a Palmas outras formas de habitar
a cidade. As mudanças a que este estudo se refere, data do período compreendido a partir de 2006 em que Palmas
passou a desenvolver outras formas de urbanidade, sendo estas proporcionadas por diversas modalidade esportivas
realizada nas ruas da cidade. A urbanidade em Palmas ocorre por meio da realização de atividade físicas, diferentes
das desenvolvidas em outras cidades, em que a mesma se desenvolve no cotidiano dos deslocamentos diários das
pessoas. Para esta reflexão recorre-se aos apontamentos de Rounet (1992) ao afirmar que o ser humano habita a
cidade e a cidade habita no ser humano. Como metodologia será utiliza a história oral, tendo como fonte a poesia
contemporânea escrita por Ana Lúcia Pinto (2021) que narra a respeito das suas vivências nas ruas de Palmas por meio
do esporte. A partir deste poema realiza-se uma análise da sociabilidade e sensibilidades (Pesavento, 2007) retratadas
por Pinto (2021) sobre Palmas.

ST 37 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Terra firme de memórias e histórias: o bairro, a rua, a feira, cenas da memória e das práticas cotidianas

Ana Claudia dos Santos da Silva (Museu Goeldi)

Este texto apresenta reflexão sobre a relação entre memória social/individual, sociabilidade e pertencimento nas
cidades modernas. Tem como objetivo de caracterizar os marcos sociais da memória coletiva do bairro da Terra Firme,
em Belém do Pará, a partir das formas de interação, estratégias e táticas de resistência e configuração de identidades
de seus atores (feirantes e antigos moradores) e o fortalecimento do sentimento de resistência e pertencimento ao
lugar percebido nas suas trajetórias e experiências de vida. Propõem-se como recorte do estudo os espaços públicos
que compreendem a feira, o mercado e as ruas circundantes, onde ocorrem as práticas cotidianas representadas pelas
trocas, conversas com linguagem própria, formas específicas de fazeres e saberes que caracterizam a identidade do
bairro. Entende-se que esses espaços se configuram como espaços de memória, de interações e de práticas
relacionadas ao cotidiano. A Feira e o Hortomercado são entendidos como catalizadores das singularidades e
regularidades do bairro, onde a cena da vida cotidiana se apresenta nas diversas formas de sociação, sociabilidade,
interações e conflitos. A metodologia desta pesquisa foi a História Oral, para a coleta de relatos das narrativas de
memória dos atores sociais do bairro (moradores e feirantes), mostrando seus percursos biográficos e as formas de
pertencimento e suas estratégias para reforçar os laços sociais e resistência à ausência de diversas políticas públicas.
Outra metodologia utilizada foi a etnografia de rua, que consiste em caminhadas pelas ruas do bairro, visando à
descrição dos espaços da rua, feira e hortomercado, além da observação das interações sociais que se estabelecem
nesses espaços. Concluímos que as narrativas dos atores abordados expressam o seu apego pelo bairro e seus espaços

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de vivência e pertencimento e suas histórias de vida levam a perceber a sua realidade, pautada na resistência pela luta
cotidiana em busca de uma a vida melhor.

As tramas políticas no processo de implantação do Ensino Secundário em Timon em 1968.

Aline Carla de Sousa Leite Cipriano (SEMED)

O presente trabalho teve como objetivo investigar os tramas políticos que envolveram a implantação do Ensino
Secundário na cidade de Timon – MA e as implicações sociais, políticas, econômicas e culturais no período entre 1968.
O recorte temporal se dá em virtude de em 1968 ser fundada a primeira escola de nível secundário no referente
munícipio, qual seja, Ginásio Bandeirante, sendo muito ansiada pela comunidade, inaugurando um momento de
perspectivas e oportunidades de ensino. Enquanto problemática da pesquisa se inqueriu como as implicações sociais
e políticas refletiram na implantação do Ensino Secundário da cidade de Timon no período entre 1968? Para o
desenvolvimento do estudo se apoiou na abordagem qualitativa, do tipo documental e bibliográfico, assim levando
em conta as novas formas de abordagens atribuídas às fontes, redefinidas pela História Cultural. Como fundamento
teórico da pesquisa se utilizou autores como Pesavento (2003), Le Goff (1990), Nascimento (2013), Castro (2019),
Pessanha, além de autores locais que subsidiaram os conhecimentos. Com isso podemos perceber que o processo de
implantação do Ensino Secundário no município de Timon- MA foi carregado de interesses políticos que dominavam
o cenário local, regional e nacional, que promoveram mudanças na cidade. Outro aspecto visualizado na pesquisa foi
à implementação lenta e atrasada da introdução do Ensino Secundário o que gerou consequências educacionais, uma
vez que este nível de ensino representava ascensão social. Assim constatamos que a introdução do ensino secundário
timonense é reflexo de uma política ideológica de cunho estadual e local, que evocava o ideário moderno de formação
de uma sociedade que deseja ser próspera.

A Ludicidade e a História Local: ensinando a Ilha do Governador entre o real e o virtual

Juberto de Oliveira Santos (SME/RJ)

A preocupação inicial da pesquisa almeja refletir importantes possibilidades de estudo de História Local (a História da
Ilha do Governador) nas escolas, sendo forjada junto com os demais processos históricos brasileiros no contexto do
Currículo no Ensino de História para a educação básica. A região, localizada na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro,
é possível potencializá-la, através do Lúdico, podendo agregar um diferencial na formação de estudantes insulanos.
Assim, pensar essas práticas também na montagem de um material em formato de portfólio ou cartilha digital visando
contribuir para professores de outras localidades poderem se apropriar dessas possibilidades lúdicas e levar tais
práticas de aula para a realidade de sua cidade, bairro, onde leciona ou reside. Não pensar uma “receita de bolo”, mas
oferecer diversos “ingredientes”, para dar maior acessibilidade e visibilidade aos atores sociais em que possam ser
escolhidos e manuseados de acordo com a realidade de cada professor, estudantes, escola e demais membros da
comunidade. Ponderar o âmbito presencial e também virtual devido à Pandemia da Covid-19 precisou ser visto e, a
partir disso, entender possibilidades de integrar esse estudo da História local no espaço escolar formal e não formal.
A História Local teria mais espaço nas salas de aula com atividades mais prazerosas e dinâmicas. O trabalho também
observará se há mais empatia e significado na aprendizagem da História, a partir também do entendimento de sua
região onde habitam. Trabalhando o lúdico na educação e suas inserções nas aulas de História, pesquiso propostas de

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atividades dentro e fora das salas de aula com o uso dos “Vetores de Ludicidade”, se eles conseguem ampliar mais a
percepção dos estudantes para o entendimento dos processos históricos ensinados na escola. Daí entender a
importância desse aprendizado visando gerar cidadãos mais críticos e que valorizam a memória e o patrimônio cultural
a sua volta.

ST 37 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

A cidade de Viseu no século XVI: o constructo do quotidiano

Liliana Andrade de Matos e Castilho (Instituto Politécnico de Viseu)

A cidade de Viseu, cidade portuguesa de média dimensão, que nos propomos abordar nesta comunicação, revela-se
no século XVI um espaço múltiplo de crescimento orgânico, construído não mediante qualquer plano prévio de
urbanização, mas decorrendo dos percursos e atividades do quotidiano. A cidade é assim fruto do Homem que a habita
e constrói. Essa criação resulta em parte do poder instituído, quer seja o Senhorio, pertença no século XVI da Casa
Real, o poder eclesiástico ou a autoridade civil representada pela Câmara. Estes órgãos de poder intervinham
profundamente no dia-a-dia dos habitantes da cidade, e certamente na face da mesma, quer através das suas próprias
edificações, programáticas e com recurso a materiais e artistas de custos elevados, quer pela gestão das inúmeras
propriedades que detinham na cidade. Também o comum habitante da urbe imprimiu nela o seu cunho, quer através
da cristalização de trajetos quotidianos, que se concretizaram em ruas, praças e adros, quer pela construção da sua
habitação. A realidade abordada será, não tão só a dos vestígios materiais que chegaram até nós, pouco abundantes
e representativos, mas a que a documentação da época nos permite recuperar. A visão que obtemos é sempre parcial,
mas nem por isso menos significante e, a partir do que conhecemos, recriamos o provável: o colorido da cidade em
dias de festa, as colchas penduradas nas janelas, o chão pejado de junco e alecrim, os pendões dos ofícios, a música,
o incenso tentando ocultar o cheiro dos despejos e dejetos dos animais, o mundo feminino e doméstico dos espaços
internos intercomunicantes, o complemento alimentar produzido nos logradouros, a Praça repleta de tabuleiros de
venda e de pregões, onde se ouviam as últimas notícias trazidas pelos viajantes que se hospedavam na rua das
Estalagens, o som dos sinos marcando as “horas”, as idas e vindas para a fonte - construções quotidianas da cidade.

Freguesias do Açúcar: A Cultura Material Remanescente de Ipojuca Colonial enquanto Fonte de Pesquisa Histórica

Eduardo Augusto de Santana (UPE - Universidade de Pernambuco)

Ipojuca já havia se constituído como freguesia entre 1589 e 1590, uma vez que, segundo frei Venâncio Willeke, nesse período a
sua paróquia já estava devidamente constituída, além disso, a sua jurisdição se estendia de Tabatinga e da aldeia de Nossa
Senhora de Escada até a aldeia de Una (limites atuais entre Pernambuco e o Estado de Alagoas). Sendo isso, um indicativo de que
a freguesia gozava de prestígio diante das autoridades eclesiásticas da colônia, pois detinha a jurisdição de outras importantes
paróquias religiosas da mata Sul pernambucana. Domingos Loreto Couto a descreve como um sítio que comportava um
convento, três importantes igrejas, diversas capelas, portos, fortificações, arruados e núcleos urbanos. Para este trabalho, esses
bens materiais se configuram em testemunhos do imaginário da época e da posição que Ipojuca desfrutou no passado. Essas
construções são aqui analisadas enquanto elementos representativos de valores culturais / civilizatórios valorizados pelos grupos

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sociais que dominaram aquele espaço, pois entende-se que todas as ações do sujeito registradas em uma dada época são
derivadas dos valores culturais que o sujeito carrega consigo. Sobre isso, o José de D’ Assunção Barros, sustenta que tudo aquilo
que é produzido pelo homem ou trazendo vestígios de sua interferência, pode nos proporcionar um acesso à compreensão do
passado humano, enquanto que a Sandra Jatahy Pesavento defende toda sorte de materialidade resultante de um processo de
construção e acumulação história se torna uma possível fonte. Já para o Le Goff, a transfiguração do documento em monumento,
é justamente a sua relação e utilização pelo poder. Essa dita transfiguração em monumento está nos usos que lhes foram
conferidos em uma dada conjuntura sociocultural. Assim, a cultura material remanescente da freguesia de Ipojuca, nos dá a
possibilidade de elucidar diversos questionamentos do passado em razão das possibilidades de pesquisa que ela oferece.

Barragens Património e Comunidades Afogadas: Um Estudo Comparativo de Alqueva e Itaparica.

Maria S. Ramalho Braga (Secretaria de Educação de Pernambuco)

Este estudo procurou relacionar e analisar historicamente a construção de duas barragens hidrelétricas, no Brasil e Portugal
com a ideia conceitual de desenvolvimento regional entre as duas regiões, deslocamento compulsório e prejuízos culturais aos
atingidos entre as duas comunidades. A barragem de Alqueva construída na região do Alentejo sul de Portugal, é conhecida
por gerar o maior lago artificial da Europa. Situação semelhante é verificada no Brasil, na região do submédio são Francisco do
Sertão Pernambucano com a construção da hidrelétrica de Itaparica. No entanto, não foi só desenvolvimento económico que
se vê com as megas construções hidrelétricas entre os dois países, mas sim, desequilíbrio territorial, migrações regionais, perda
de património material e imaterial e desapropriação de comunidades. A escolha destas duas construçoes para investigação se
deu por suas singularidades, que permitiram destacar o ponto de interseção das políticas públicas de desenvolvimentos
económicos nos dois países, ambas criaram espelhos d’água que fizeram submergir núcleos de povoações tradicionais
suscitando algumas controvérsias socioculturais. Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo alcançar
analiticamente semelhanças e diferenças sobre o tema do deslocamento compulsório e prejuízos socioculturais entre os dois
países no período considerado.

Luzes e Sombras na Belle Époque: a iluminação elétrica como produto socioespacial na modernização de Belém
(1894-1906)

Marcos da Silva Valadares (UFPA - Universidade Federal do Pará)

Entre as diversas discussões no bojo da Belém do fim do século XIX, as que remontam sobre o conceito de
Modernidade e Modernização que a cidade viveu nesse período e as inerentes memórias desse processo, se fazem
essenciais para o andamento da presente pesquisa, que apresenta aqui, resultados parciais em processo de término
da dissertação. A partir disso, a modernização por meio da iluminação elétrica, como projeto estudado em três
diferentes mandatos da intendência de Belém, apresenta-se como uma frente essencial para a compreensão da
atuação do poder público em prol de um embelezamento urbano por meio dos métodos experimentados décadas
antes na Europa, no que tange a organização espacial e logo, o impacto dessa medida nos distintos lugares da
metrópole paraense. Da criação do projeto em 1894, implantação do serviço em 1896 e da efetivação mediante uma
parceria público-privada em 1905, o serviço de iluminação atravessou crises de fornecimento e críticas de jornais
locais, apontando debilidades na malha elétrica de Belém. Outro aspecto relevante para os horizontes da pesquisa são
os traços da personalidade política de Antônio Lemos e suas medidas de cunho higienista e impopular na redação do

200
contrato com a Pará Eletric, demonstrando preocupação com a visibilidade das reformas e com um marcado discurso
de progresso urbano, repleto de inclinações aos modelos europeus de reformas e desenvolvimento, visando incluir a
capital paraense além da rota econômica da exportação da borracha, num completo processo de mimetização estética
e social desses parâmetros. Isso se faz a partir do uso de documentação oficial da administração municipal, estadual,
periódicos e álbuns publicados pelos governos imersos ao recorte da pesquisa. Evidenciando assim, os inúmeros
registros que levam a presente pesquisa a um estudo historiográfico da formação socioespacial da cidade de Belém
por meio da implantação do serviço de luz elétrica e suas memórias de uma cidade supostamente enriquecida.

ST 37 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Lugares de memória e práticas do espaço: um percurso pela cidade de Curitiba do século XIX ao XX

Mayla Louise Greboge Montoia (ESTADO DO PARANÁ), Stella Titotto Castanharo

Esta comunicação é uma versão resumida de algumas reflexões realizadas para a disciplina de prática de docência de
História em ensino superior, do Programa de Pós-graduação em História da UFPR. Através dela, buscamos estabelecer
diálogos entre uma pesquisa de mestrado, e outra, de doutorado, que se encontram em andamento sob orientação
da Profa. Dra. Roseli Terezinha Boschilia. A primeira, investiga as estratégias de fixação dos e/imigrantes portugueses
em Curitiba ao longo do século XIX, através da documentação judicial do Departamento de Arquivo Público do Paraná.
Enquanto a segunda volta-se para a temática da ditadura civil-militar em Curitiba, na segunda metade do século XX,
considerando as problemáticas acerca dos lugares de memória e consciência, por meio de fontes testemunhais. Apesar
da distância temática e temporal que separam as duas pesquisas, ambas utilizam documentos de caráter institucional
e pensam a cidade de Curitiba como um ambiente material e simbólico, que comporta diferentes experiências
históricas. Estas, são, muitas vezes, marcadas pelo conflito entre pessoas e grupos que fazem uso do espaço de
diferentes formas. Desta maneira, esta comunicação se propõe a pensar as tensões entre presente e passado, no que
tange a questão da rememoração e uso dos lugares públicos; bem como, a importância da pesquisa histórica para
trazer à baila sujeitos e grupos que constituem a cidade, mas que são invisibilizados em uma história dita “oficial”.
Diante disso, inicialmente a comunicação será apresentada articulando as temporalidades e práticas sociais
desenvolvidas nas ruas XV de Novembro e Dr. Muricy, no centro histórico da capital paranaense. Considerando as
transformações da cidade no decorrer dos anos, a noção de “centro” será expandida e serão incluídas também as
praças Rui Barbosa e Oswaldo Cruz como lugares de memórias carregados de simbologia e funcionalidade para o
município, partindo também da perspectiva de permanências e descontinuidades.

Memória, Representação e Imaginário: os (I)migrantes poloneses da região das Missões/RS

Andressa Domanski (Secretaria de Estadual de Educação)

O presente trabalho traz a breve discussão sobre teoria da História e a Representação e Imaginário dos (i)migrantes
poloneses na região das Missões/RS, em especial no município de Guarani das Missões. Essa reflexão almeja
desenvolver o embasamento teórico para a investigação que será realizada no referido município e tem por objetivo
compreender a representação e a cultura material polonesa no contexto regional missioneiro. A investigação insere-

201
se no desenvolvimento da pesquisa de Doutorado em História, que está em andamento, tendo como problemática
principal a construção identitária na lógica regional. O município de Guarani das Missões, localizado na região Noroeste
do Rio Grande do Sul, desde sua formação como uma colônia pertencente ao município de São Luiz Gonzaga, recebeu
imigrantes suecos, russos, austríacos, alemães, italianos, poloneses, entre outros. No entanto, com o passar das
décadas, os descendentes poloneses passaram a corresponder pelo maior número, evidenciando, assim, suas origens
culturais, tradições e religiosidade. A denominação do município faz referências aos grupos nativos que viveram e
ainda vivem na região. A localidade emancipou-se em 1959 e, desde então, desenvolveu-se influenciada por muitos
aspectos da cultura polonesa, a partir de manifestações culturais com a fundação de associações, promoção de festas
e exaltação da religiosidade, muito significativas e células identificadoras de Guarani das Missões na região. Esta
pesquisa será realizada com o embasamento teórico sobre teoria da História (BURKE, 2010), Memória (CANDAU,
2011), Representações (CHARTIER, 1992, 2002), Imaginário (BACZKO, 1985), (PESAVENTO, 1995). O percurso
metodológico adotado será a partir de estudos bibliográficos realizados ao logo do doutoramento. Os resultados
almejados estão relacionados à compreensão de como esse município supracitado entende sua identidade e como se
encaixa no contexto regional missioneiro, objetivo que a tese almeja alcançar.

“OEIRAS SEMPRE SERÁ OEIRAS”: A campanha cívica em defesa do nome da cidade - 1943

Fernanda da Costa de Sousa Santos (Programa de Pós Graduação em História do Brasil - UFPI)

O presente artigo objetiva investigar as memórias e os (res) sentimentos dos oeirenses no ano de 1943. Durante esse
extrato temporal, Oeiras a primeira capital do Piauí foi acometida pelo o processo da Divisão Administrativa e Jurídica
do país, proposta de governo do Estado Novo que efetivava mudanças nas nomenclaturas das sedes municipais, que
formavam duplicata. Essa cidade por sua vez possuía um homônimo, a Oeiras do Pará, portando grandes riscos de
perder seu nome. A possibilidade dessa mudança surgiu como uma surpresa desagradável, desencadeando
descontentamento e aflição naqueles oeirenses. A perca do nome significaria quebrar o elo com o seu passado, a sua
história e tradição. Dessa maneira, nesse período a cidade foi cenário de muitas lutas, conferências e interlocuções,
dando-se início a campanha cívica em defesa do nome de Oeiras, pois nesse sentido a defesa não era apenas de uma
nomenclatura, mas de um patrimônio representado por um passado histórico de quase dois séculos. Em diálogo com
os escritos da historiadora Sandra Jatahy Pesavento (2007), é possível compreender a cidade como um reduto de
sensibilidades, que se configura não apenas como físico-geográfico, mas como um espaço que comporta sentimentos.
Dialogando também com Stella Bresciani (2004) e Márcia Naxara (2004), a qual apontam que a questão das memórias
e ressentimentos desafiam os historiadores a restituir e explicar o devir dos sentimentos individuais e coletivos de
sujeitos e/ou grupos. As principais fontes utilizadas foram o memorial elaborado nessa campanha, cartas, telegramas
escritos por autoridades e intelectuais da cidade durante esse recorte e publicações no jornal O Gazeta, além do
documento Memórias de Oeiras da série de palestras na rádio Primeira Capital que o intelectual Possidônio Nunes
Queiroz rememora e narra esse momento, e editoriais do jornal O Cometa.

ST 37 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

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Mercado da segurança portuária: Polícia do Cais do Porto no Rio de Janeiro (1919-1942)

Pedro Guimarães Marques (PUC-Rio/ Colégio Pedro II)

Este trabalho objetiva analisar a estruturação e atuação da Polícia do Cais do Porto (P. C.P.) no DF na primeira metade
do século XX. Criada para a vigilância de armazéns externos ao porto, essa organização mista foi financiada por
entidades comerciais importantes como a Associação Comercial do Rio de Janeiro, o Centro de Comércio e Café, o
Centro de Navegação Transatlântica, o Lloyd Brasileiro, a Leopoldina Railroad Co., o Centro de Empreiteiros da Estiva,
o Centro de Proprietários de Veículos, a Companhia das Docas. Imiscuída de não apenas reprimir furtos aos armazéns
durante a noite, bem como alertar para incêndios e combater o contrabando, esta corporação possui os motivos por
trás de sua criação ligados às greves de 1917-1919 e os receios conjuntos do governo federal e de comerciantes com
os prejuízos causados com a criminalidade portuária, cujos expoentes eram os denominados "ladrões do mar", ou
piratas cariocas. Os excessivos roubos contra propriedade no porto carioca fizeram companhias de seguro
suspenderem coberturas às mercadorias que atracavam na cidade. Em consequência disto, com o aumento do frete
para o seu transporte e o peso de indenizações recaindo sob os colos de capitães de navios, companhias de navegação
ameaçaram suspender as linhas que passavam pelo Rio, o que impunha sérias ameaças ao Tesouro Federal, do qual
grande parte da receita vinha de impostos aduaneiros. A P. C. P. simbolizou um mecanismo híbrido de policiamento.
Uma historiografia internacional recente vem trabalhando com a segurança privada para problematizar paradigmas
clássicos da história e sociologia da polícia, a saber o monopólio da violência legítima e a leitura do interregno entre a
segunda metade do século XIX e primeira do XX como um terreno dominado pelo policiamento moderno, de caráter
público. Este trabalho quer inserir a historiografia brasileira neste debate, ainda negligenciado pela nossa academia.

Entre a novena e a seresta: um olhar sobre a dimensão social de Alagoinha do Piauí, durante o festejo do padroeiro
(1945 à 2016)

Regivalda Raimunda de Sousa (UFPI - Universidade Federal do Piauí)

O presente trabalho versa em torno do campo temático da " História das Cidades", abordando especificamente o festejo do
padroeiro São João Batista e os espaços de sociabilidade que ativa e/ou transforma, como a praça, os bares, a rua. O principal
objetivo do nosso artigo é perceber a importância do evento religioso para a vida social de Alagoinha do Piauí, bem como perceber
a sua influência sobre os demais espaços sociais urbanos , que, à priori , ganham vida e/ou aumentam seu público em função do
festejo. Além disso, também é nosso objetivo perceber o caráter sagrado e profano da referida festividade, analisando os ritos e
as festas que lhes são característicos. Para alcançar nossos objetivos, utilizamos como fonte registros memorialísticos/ literários,
como os poemas , escritos por moradores à partir da tradição oral. Afim de promover uma análise profícua das fontes que
elencamos, incluimos em nosso aporte teórico-metodologico , os conceitos de Sandra Jetahy Pesavento ( 2007), Ana Fani
Alessandri Carlos( 2007), Maurice Halbwack (2006), entre outros.

A Umbanda e as estruturas da intolerância religiosa no Rio de Janeiro

Juliana Dias da Silva

O presente trabalho tem como objetivo, além de contar a história da Umbanda e sua relação com o Rio de Janeiro,
apresentar a religião a partir de uma perspectiva histórica, com o intuito de ressaltar seu caráter multicultural. O

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objetivo desse trabalho é possibilitar um espaço de debate para as temáticas que envolvem a cultura brasileira e a
cultura das chamadas “minorias”, em especial a Umbanda, como uma expressão da cultura popular, ainda tão
discriminada, na sociedade contemporânea. Abordaremos os conceitos e concepções fundamentais para a
compreensão da Umbanda enquanto religião, mas principalmente, enquanto manifestação da cultura popular. Depois
apresentaremos o histórico de um problema antigo no Brasil, que vem ganhando visibilidade midiática atualmente, a
Intolerância religiosa. Demonstrando que a multipluralidade ou circularidade cultural aplaudida exteriormente, unida
ao caráter mental de país colonizado, embora resulte no encontro de diferentes culturas abre espaço para dificuldades
ainda vigentes. Por fim, entenderemos a relação da sociedade carioca com a sua primeira religião genuinamente
brasileira e qual a contribuição e importância da Umbanda para a cidade.

ST 37 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Cidade, lugar como espaço de relação de memória estimulada pela música

Angela Maria da Silva (SEDUC - TO)

Na presente comunicação temos o intuito de mostrar uma experiência do fazer pedagógico intrínseco ao processo de
ensino e aprendizagem desenvolvido com os alunos da educação básica nas aulas de história. A proposta metodológica
de ensino envolvendo a música sertaneja de raiz para abrir caminho de levar o aluno para uma postura reflexiva de
pesquisador com capacidade de relacionar sua vivência de seu espaço. E destacar a memória cultural de sua cidade
como lugar de construção de relações. Culturalmente o conhecimento dessas vivências deve levar a postura reflexiva
frente ao conteúdo (objeto do conhecimento). Para isso, o aluno precisa se reconhecer como sujeito de identidade
ligado ao meio por traços refletidos pela memória. A história é uma das ciências que trabalha com conceitos sociais e
culturais que são influenciados e influenciam o meio ambiente e os elementos que o compõe. E no espaço como uma
cidade, isso pode ser visto refletindo elementos de recordações e lembranças. Pois cada lugar habitado pelo sujeito
lhe faz ser parte dele e se compõe não só pela delimitação com perímetro definido fisicamente, mas com dimensões
fisicamente empírica e histórico-cultural. Diante disso, a memória pessoal e coletiva pode fortalecer o processo de
ensino e aprendizagem. E vimos na música sertaneja de raiz um recurso didático para aula de história que levasse a
relacionar com traços culturais de Conceição do Tocantins. Dessa forma, alunos do Colégio Estadual Cel. José Francisco
de Azevedo viram caminhos para o registro da cultura da cidade e do campo. E ao longo desta pesquisa-ação de caráter
qualitativo e base bibliográfica problematizaremos o quanto a memória social e os elementos da memória pessoal dos
indivíduos do lugar precisam fazer parte do espaço educacional escolar para o papel político-social como sujeitos de
identidade do lugar.

Ela vê, ela ouve, ela sente: representação e a formação de identidades nas canções e trajetória artística do Grupo
Candeia, nas décadas de 1970-1980 em Teresina- PI

Tatiane Carvalho da Silva

Este trabalho tem como objetivo principal analisar as representatividades, a partir das músicas e da trajetória artística
dos integrantes do Grupo Candeia, durante a década de 1970-1980, a sua importante contribuição na formação de

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uma identidade artística e musical na capital piauiense. Procurando identificar nas letras, nas músicas, no contexto de
composição das canções, nas vivências citadinas dos integrantes, assim como as trocas artísticas que estavam
acontecendo em Teresina naquele período, que foram indispensáveis na formação de atores e intelectuais que se
tornaram grandes influenciadores da música. Acreditamos que, por meio das andanças pela cidade e pela produção
das músicas, os integrantes do Grupo Candeia, assim como artistas de outros conjuntos musicais, conseguiam meios
de expressar em suas canções suas vontades, inquietudes, e por meio das músicas representarem seu olhar sobre
Teresina, fosse sobre a vida, sobre sentimentos, sobre as belezas da cidade ou suas questões sociais e politicas as quais
giravam entorno de suas vivências e espaços que frequentavam.

O rock e as artesanias urbanas: a Central de Artesanato de Teresina-PI e os festivais de rock nas décadas de 1980 e
1990

Raimundo Nonato Lima dos Santos (UFPI)

O texto discute as relações da Central de Artesanato Mestre Dezinho com os festivais de rock, realizados na cidade de
Teresina, capital do Piauí, no período das décadas de 1980 e 1990. Aponta as múltiplas modalidades artísticas,
desenvolvidas nesse ambiente, que o configuraram como um dos principais espaços culturais da urbe, no recorte
temporal da pesquisa. Fundamenta-se em fontes imagéticas, hemerográfica e registros memorialísticos escritos, como
poemas e relatos sobre a história do rock na cidade. Segue as reflexões teóricas de Sandra Pesavento (2007), para
discutir as questões de cidade; Lucilia Delgado (2006), Jacques Le Goff (2003), Ricoeur (2007), para discutir as questões
de história e memória; e, Roger Chartier (2002), para discutir as questões de representação. O trabalho apontou os
festivais de rock, realizados por toda a cidade, principalmente o evento ocorrido na Central de Artesanato, como uma
prática que evidencia a interação entre gentes e espaços e que promove a emergência do ethos urbano, configurando
a cidade não apenas por suas construções materiais, mas, principalmente, pelo modo de viver dos seres humanos que
nela habitam.

Recortes de memórias: o movimento punk em Juiz de Fora

Bárbara Schettini Andrade

O punk foi um movimento de contracultura surgido no fim da década de 1960, nos Estados Unidos e que ganhou força
ao ser implantado ao cenário britânico, funcionando como forma de dar voz a população suburbana, que buscava no
contexto do movimento, romper com o tradicionalismo imposto culturalmente. Em relação a memória, é necessário
pensá-la a partir de um caráter coletivo, pois mesmo se tratando de um fenômeno individual, está sujeita a
construções sociais e a partir das memórias compartilhadas, constroem uma identidade social e uma memória
coletiva. Resgatar as lembranças presentes no movimento punk e permitir que essa história não se apague com o
tempo, é também uma oportunidade de lançar luz sobre grupos marginalizados e silenciados por um sistema político
que usava da força e da censura como forma de controle. No Brasil o movimento punk tem seu período impetrado
durante a Ditadura Civil Militar. Neste sentido, é necessário frisar que a construção política por trás da memória do
movimento na cidade de Juiz de Fora, nosso loco de análise, e a forma com a qual a censura e o autoritarismo
moldaram esse perfil e a luta social estabelecidos em solo juizforano, ao mesmo tempo em que a cidade passava por
um período de extremo conservadorismo. A música, a moda e as manifestações políticas deram cara e voz a todo um

205
embate contra o sistema vigente. Afim de pensar os reflexos e o contorno cultural do movimento, este trabalho tem
como objetivo principal analisar o movimento punk na cidade de Juiz de Fora, entre os anos de 1978 a 1985, tendo
como foco principal a memória coletiva e individual de seus membros, levando em consideração questões como
ideologia, identidade e coletividade do grupo. Com o desenvolvimento da pesquisa, poderemos entender melhor os
traços culturais desse movimento social e suas particularidades.

206
ST 38. História, Educação , Sociedade e Política

ST 38 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Neoliberalismo, Mercantilização e Financeirização da Educação no Brasil: o caso do Grupo Kroton (2003-2018)

Rosane de Oliveira e Silva (OAB/RJ)

A presente pesquisa visa analisar, em uma perspectiva histórica, o neoliberalismo e o processo de mercantilização do
ensino superior brasileiro e de seu controle pelo capital financeiro, assim como a exploração do trabalho docente no
ensino superior, numa nova luta de classes, através do estudo de caso do Grupo Kroton Educacional. O recorte
temporal delimitado para nosso estudo compreende o período entre 2003 e 2018. No ano de 2003, com o início do
primeiro governo Lula da Silva, sancionou-se a Lei nº 10.260/2001, que criou o Fundo de Financiamento ao Estudante
de Ensino Superior (FIES). Esse programa, que tinha como principal meta o financiamento de cursos de graduação a
estudantes de baixa renda, em instituições privadas de ensino superior, foi a política pública preponderante de
incentivo à formação de grandes agrupamentos empresariais do setor do ensino privado superior brasileiro, tal como
o caso do Grupo Kroton Educacional. A partir de então, este Grupo vem alcançando uma posição monopolista no setor
da educação, incorporando para si várias instituições de ensino superior privadas. No marco cronológico final de nossa
investigação, em 2018, temos a completa consolidação do Grupo, com a aquisição de novos polos -totalizando 1.110
centros, em 2017-, incentivando ainda a dinâmica da transformação digital e organizando parceria com o Banco Itaú,
em conformidade com o Portal do Kroton 2018, demonstrando as elites no comando de nossa educação. Buscamos,
então, demonstrar o neoliberalismo e a financeirização, manejados "de cima", como parte do cenário da luta de classes
no universo da educação superior privada -o que também se adequa aos níveis fundamental e médio-, no Brasil
contemporâneo, diante dessas expressões das formas atuais de expropriações da classe trabalhadora pelo capital.

A Função Histórica da Escola.

Jonathan Sergio de Freitas

A relação pedagógia, precisamente a relação professor e aluno se dá pelos desafios, pois todo pedágogo, professor,
educador sabe que a sala de aula é um lugar complexo, e para que se volte a paixão, a ética e a amizade na sala de
aula, deve-se ater aos váriados debates das dimenções políticas e éticas que fazem parte do cotidiano das escolas,
havendo um pensamento especial nas salas de aulas. A relação do aluno com o professor e com o conhecimento são
o foco de como buscar o processo da aprendizagem, isso com a interação, a reflexão da troca e de construção em
conjunto dos professores na sala de aula. A relação que se dá em determinado momento em conjunto para que haja
o conhecimento individual e coletivo. O processo de ensino é um processo de relação entre o professor e o aluno, e
éssa complexidade vem a partir de ações conjuntas, como uma obra para que haja uma construção, sem a imposição
do mais conhecedor para com o que não conhece sobre determinado assunto. O papel do professor se dá apartir de
uma negociação com o aluno, desde o planejamento semanal que o professor faz, até a relação de como e o dever de
perpassar o assunto para os alunos, sempre observando a reação dos alunos, o centro de tudo é a relação do professor
e o aluno.

207
Indícios históricos de atuação do Grupo Lemann na Rede Estadual de Educação de São Paulo

Viviane Cardoso da Silva (Prefeitura de Hortolândia)

A agenda dos governos ultraneoliberais tem sido avassaladora no desmantelamento dos direitos sociais e trabalhistas,
subordinando as políticas públicas à lógica mercado. A educação pública e estatal, como política social também tem
sido alvo dessas ações, destituindo a sua função humana e social para o desenvolvimento da nação para colocar no
lugar uma educação aos moldes dos interesses mercadológicos e empresariais. Esta pesquisa analisa as ações que o
Grupo Lemann vem desenvolvendo junto à Rede Estadual de Educação do Estado de São Paulo e tem como perspectiva
metodológica a pesquisa histórica, a partir de estudos bibliográficos e documentais. O Grupo Lemann é uma rede de
instituições ligadas aos negócios do empresário Jorge Paulo Lemann, que tem atuado nas redes de educação pública
em vários Estados e Municípios no país. As ações realizadas pelo Grupo Lemann abordam desde a elaboração dos
planos municipais e estaduais de educação e planejamento estratégico das Secretarias de Educação; formação de
quadros de liderança, gestão pública e professores e avaliação, dentre outras áreas. Como resultados apontamos
indícios de atuação do Grupo Lemann nas ações realizadas pela Educação Estadual, tanto na gestão educacional por
resultados, como forma de controle do trabalho e dos projetos pedagógicos, quanto na avaliação das metas, ações e
resultados que a Rede Estadual alcançou, dados verificados a partir da Imprensa Oficial do Estado. A partir destes
resultados verifica-se a forte presença de projetos neoliberais, norteando as ações desenvolvidas pelo Grupo
Empresarial estudado na rede estadual do Estado de São Paulo, evidenciado processos de responsabilização das
escolas.

A constituição histórica da educação no Brasil : a dualidade estrutural

Greika Favile (ESCOLA TRILHAS)

Nesse estudo busca-se evidenciar que a sociedade brasileira configura-se por acentuadas desigualdades sociais, é
constituída nas diversas polarizações políticas, econômicas e culturais, essencialmente quando nos referimos à
educação pública estando vinculada e submetida aos interesses dominantes, abordando condições históricas nos
deparamos com uma educação que se caracteriza dualista, tanto na formação que proporciona, quanto na divisão do
trabalho que perpassa por antagonismos das classes. No estudo dos papéis que a educação pública atuou e os
objetivos que constituiu em determinados períodos históricos e na atualidade, na intencionalidade compreender a
constituição histórica da educação, as contradições existentes no âmbito educacional brasileiro que a caracteriza dual,
os elementos dessa dualidade estrutural e como se perpetua sendo visto a necessidade do comprometimento da
educação com a classe trabalhadora em sua totalidade histórico-concreta. A universalização da educação escolar
manifestou-se com as revoluções da burguesia, mas o intuito de “escolarizar todos os homens era condição para
converter servos em cidadãos, era a condição para que esse cidadãos participassem do processo político, e,
participando do processo político, eles consolidaram a ordem democrática, democracia burguesa, é óbvio”(SAVIANI,
2007 p.40). Na perspectiva da história da educação e acerca das políticas educacionais, a metodologia utilizada possui
um cunho histórico qualitativo, uma pesquisa bibliográfica como aponta Severino (2007) é elaborada por meio de
pesquisas anteriores, como artigos, livros, teses, com pesquisas já evidenciadas e devidamente compostas por outros
pesquisadores da área. Os referenciais norteadores para constituição da pesquisa são: Saviani (2019),Florestan
Fernandes(2020), Braga (2019). Entre outros referenciais acerca do tema, visibilizando investigação históricas e
repercussões atuais do dualismo educacional.

208
Políticas de formação de professores e a PEC 32/2020: reflexões sobre as reformas neoliberais na educação

Helen Eckile Ferreira dos Santos Luiz (Prefeitura Municipal de Fazenda Rio Grande)

Esta pesquisa objetiva analisar as reformas neoliberais no campo educacional, no que tange as políticas de formação
de professores na atualidade e a sua relação com a Projeto de Emenda Constitucional (PEC) nº 32/2020, que trata da
reforma administrativa, versando sobre os servidores públicos, os empregados públicos e toda a organização
administrativa do poder público. Trata-se de uma pesquisa a partir do materialismo histórico-dialético, elaborada com
aporte no estudo bibliográfico e documental. Desde 1990, a educação tem sido vista pelos economistas como
importante nicho de mercado sob a lógica neoliberal, cujas reformas buscaram atender aos interesses dos organismos
internacionais e de grupos empresariais. Com a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), desde
2017, pauta-se uma série de teorias que não deram certo no cenário americano, modelo adotado pelo Brasil, segundo
Freitas (2018) com base nos estudos de Loveless (2012): teoria da qualidade (melhor desempenho dos alunos), teoria
dos padrões de desempenho rigorosos (responsabilização de professores e gestores) e teoria da padronização
(eficiência, eficácia e otimização de recursos), alargando a diferença entre o currículo planejado do implementado, de
acordo com Freitas (2018), perdendo de vista a sua finalidade. Na esfera pública, estamos passando por momentos
turbulentos a partir da tramitação da PEC nº 32/2020, que prevê, dentre outras proposições, o fim da estabilidade
para servidores públicos, a contratação de comissionados e de servidores por tempo determinado. Por fim,
destacamos que no caso da educação, existem fortes interesses privados neste tipo de reforma, almejando maior
controle sobre o trabalho docente, tornando a escola cada vez mais empresarial, meritocrática e de responsabilização
pelos “bons” ou “maus resultados”.

Professores Paranaenses: A luta histórica contra a política neoliberal e a busca da valorização docente

Luciana Correa Barbosa Botelho (Prefeitura Curitiba)

Nessa pesquisa valendo-se de uma abordagem quantitativa e qualitativa a partir de uma revisão bibliográfica e uma
análise documental no sentido amplo, buscamos entender como as lutas trabalhistas dos professores do Paraná ao
longo da história repercutiram na valorização do trabalho docente. Para melhor entender sobre este movimento,
buscamos conhecer um pouco sobre os acontecimentos que marcaram a luta e a resistência da classe dos profissionais
de educação, dentre os movimentos de greve ocorridos de 1980 até a contemporaneidade nesse trabalho demos
ênfase a dois ocorridos em contextos históricos bem diferentes, a de 1988 e a de 2015, porém cada um com seu
impacto social. Em 1988 o Brasil passava por uma significativa mudança política, o regime mudara de uma ditadura
para democracia, surgia uma nova Constituição Federal e as manifestações eram por melhores salários e condições
de trabalho, já no contexto de 2015 a luta foi para se manter os benefícios conquistados ao longo dos anos e contra o
desmanche das escolas, já que nesse período foi o que teve maior número de escolas fechadas no Paraná. Em ambos
as manifestações houve repressão e violência, direitos retirados e perdas para educação e para sociedade. Um grande
diferencial do movimento de greve de 2015 em relação a 1988 foi à repercussão, pois os acontecimentos na praça da
Salete em Curitiba/Pr no dia 29 de abril alcançaram a população mundial em tempo real, através da televisão, rádio e
internet, que pode analisar e se manifestar, instantaneamente. Conclui-se que tanto o movimento de greve dos
professores em 1988, quanto o de 2015, são acontecimentos que devem estar sempre na memória do paranaense
como uma demonstração de força luta e resistência contra esse poder hegemônico, no qual o interesse de alguns
prevalece ao direito de toda uma classe trabalhadora.

209
ST 38 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Educação Prisional contexto histórico e a complexidade do trabalho do professor

Maria Letícia da Silva Dias Aguilar

O presente trabalho provém de pesquisas realizadas para o trabalho de conclusão de curso, as ideias aqui discutidas foram
fomentadas no Grupo de Estudos História, Educação, Sociedade e Política (GHESP), no núcleo de Políticas Públicas em Educação.
A pesquisa é bibliográfica e documental de cunho qualitativo, analisamos documentos como o Plano Estadual de Educação no
Sistema Prisional do Paraná e o Parecer CNE/ CEB nº 4 /2010 e a lei de execução penal nº 7210. Esta pesquisa busca trazer
relevância ao trabalho do professor nos espaços prisionais, abordando brevemente alguns aspectos históricos da sociedade
brasileira, realizando uma análise das primeiras leis que garantem o direito à educação dos aprisionados e sua principal intenção,
que almeja garantir aos encarcerados um retorno bem sucedido à sociedade após o cumprimento da pena, visto que muito deles
tiveram seus direitos negligenciados por meio do Estado, o que pode ter colaborado com a inserção no mundo do crime.
Analisando o trabalho do professor e suas dificuldades, neste ambiente que possuí uma característica própria de funcionamento
e suas particularidades, que influenciam na dificuldade da efetividade da educação nos espaços prisionais.

Cultura Escolar em Arraias: o colégio Joana Batista Cordeiro como Lugar de Memória

Ionielle Santos Paula de Souza

Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção socioeconômico, político e cultural. Assim, podemos dizer
que o objetivo desse artigo é estudar a história do colégio Joana Batista Cordeiro no município de Arraias -TO e este espaço escolar
como lugar de memória. Essa pesquisa é importante, pois trará a luz os espaços de experiência da comunidade escolar, assim
como, o cotidiano de pessoas que compartilhavam da vivência no colégio. Para a realização desta pesquisa adotaremos duas
metodologias: História Oral e Analise Documental. Os conceitos importantes para a concretização desta investigação serão
“Lugares de Memória”, “oralidade” e “cultura escolar”. Ao longo desta pesquisa demonstraremos o papel da Educação deste
Colégio no município de Arraias-TO e as dificuldades de acesso a ela, ao mesmo tempo, a valorização da História do colégio JBC.
Esse estudo ainda esta em fase de desenvolvimento, mas já podemos encontra três questões básicas: identificar a transitoriedade
do Instituto Nossa Senhora de Lourdes, que era um instituto de freiras para a Escola Joana Batista Cordeiro, demostra que essa
mudança deixou um aspecto histórico na cidade e por fim podemos analisar se a cultura escolar modificou-se do tempo do
Instituto para os dias de hoje. Nesse sentido, trabalhar com os lugares de memória desse lugar é compreender que não podemos
fazer julgamentos antes de conhecer a História. Diante de tudo, consideramos que o colégio JBC tem muito a oferecer e a ser
explorado, assim acreditamos que o estudo das memórias de alunos e professores é de suma importância para a construção de
Histórias dentro da História da cidade onde se localiza o Colégio.

As Metodologias de Ensino na Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes Modalidade Normal no


Paraná de 2006 à 2014

Ligia Lobo de Assis (UNINTER - Centro Universitário Internacional)

O currículo para a formação docente, a partir da criação do Curso Normal tem uma trajetória que vai desde a quase
ausência de conteúdos ou cadeiras de formação específica até a inclusão progressiva disciplinas de fundamentos da

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Educação e de metodologias de ensino. Desde o princípio, a literatura aponta das diversas críticas à tal fato, indicando
que uma das principais preocupações na formação docente é o saber fazer, hoje compreendida como atividade
complexa, que acaba sendo apenas a parte aparente do trabalho docente. Esta produção como objetivo evidenciar as
propostas pedagógicas para as disciplinas de Metodologia de Ensino nos documentos oficiais do Curso Normal das escolas
públicas da cidade de Curitiba, Estado do Paraná, abordando as recomendações contidas na Proposta Curricular para Formação
de Docentes na Modalidade Normal no Paraná, vigente entre os anos de 2006 e 2014. A análise foi realizada com base nos
documentos Orientações Pedagógicas Para os Anos Inicial (2010) e Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental:
saberes e práticas (2012), que a Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED) disponibiliza em seu portal eletrônico. A
prescrição destas disciplinas na proposta curricular é composta pelos itens Ementa e Indicações Bibliográficas, variando
significativamente entre as áreas, o que não é suficiente para demonstrar efetivamente, a articulação entre os pressupostos
teórico-metodológicos, seu conteúdo e as indicações bibliográficas. Para possibilitar a análise destes elementos, foram
estabelecidos seis critérios principais referentes às áreas do conhecimento envolvidas.

O PIBID e a Pedagogia Histórico-Crítica: uma aproximação metodológica

André Henrique Boazejewski Pereira

Este trabalho, a qual tem origem na Iniciação Científica, no Projeto “Impactos do PIBID e à Docência”, ligado ao Grupo de Pesquisa
História, Educação, Sociedade e Política – GHESP, junto à participação do autor no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência, analisou as aproximações entre o PIBID e a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), a qual foi desenvolvida pelo professor
Dermeval Saviani. Nesse sentido, além de fornecer subsídios metodológicos para a educação, esclarecendo sua especificidade,
natureza, relação política e contradições (movimento dialético), a PHC também possibilita uma práxis educativa com maior qualidade
e criticidade, se apropriando de conteúdos significativos, desenvolvendo plenamente o aluno enquanto “síntese de inúmeras
relações sociais”. Corrobora com essa concepção o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), o qual tem como
objetivo a valorização da formação inicial docente, proporcionando assim um maior tempo e vínculo com as escolas da Educação
Básica; a troca de ideias e debates entre professores, supervisores e licenciandos; a compreensão da realidade do sistema
educacional brasileiro; e uma teoria e prática (práxis) educativa mais significativa e qualitativa (DOMINSCHEK; ALVES, 2017). Nessa
perspectiva, tanto os objetivos do PIBID quanto a apropriação do licenciando no contexto escolar se articulam com os cinco passos
da Pedagogia Histórico-Crítica, a saber: prática social como ponto de partida, problematização, instrumentalização, catarse e prática
social como ponto de chegada (SAVIANI, 2018). Desse modo, objetivou-se relacionar os cinco passos preconizados por Saviani com
o processo de ensino-aprendizagem do licenciando e do professor no PIBID. No que tange a metodologia, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica e documental com abordagem qualitativa (SEVERINO, 2016), tendo como principal base teórica Dominschek e Alves
(2017), Saviani (2013, 2018, 2019), Gatti (2014) e Galvão, Lavoura, Martins (2019).

Dimensões Históricas da Atualidade: Professor, Aluno e o Uso das Redes

Arthur Lima de Almeida (UNINTER - Centro Universitário Internacional)

Com o passar do tempo é notável o aumento das redes por conta do avanço da tecnologia, ou seja, a geração dos
nativos digitais nasce com todo acesso a essa tecnologia de maneira habitual e da mesma forma aos que se adaptam
a todas essas informações, conhecido como os imigrantes digitais. Indubitavelmente ambos têm acesso aos quatro
cantos do mundo submergindo em todos os assuntos, curiosidades e temas possíveis. Notável o enorme poder das

211
redes quanto a aproximação afetiva com indivíduos distantes. Simultaneamente observa-se quanto o uso da rede tem
afetado no relacionamento entre as pessoas, podendo aproximar os que estão distantes e exilando aos que estão
perto. O desempenho docente submerge na relação entre o mundo físico e o mundo virtual. O olhar de novas dimensões visa
uma possibilidade de inovação, movimento desse contexto virtual, onde ele passa a se destacar em suas ações no proceder
conversacional no mundo. Por esse meio virtual, é possível a ação do proceder pedagógico, concebendo novas ideias ao
conhecer e ao aprender. Em um tempo atrás, a forma como a conversação era introduzida no contexto educacional era, um
tanto, pouca empregada, pois seu uso naquele contexto não se via necessário. Um período em que se situa a pandemia nota-
se a importância desse meio de comunicação e em oposição é visível o acesso e não acesso a tantos indivíduos. Portanto, é
necessário enxergar que o uso das redes e a tecnologia no contexto educacional é uma aliada indispensável nesse processo,
pensando que ela nos permite potencializar também o uso de novas metodologias, contribuindo para que nessa fase o aluno
consiga atravessar as adversidades e ser protagonista do seu conhecimento.

A compreensão da ciência a partir da iniciação científica

Sabrina Pindziura Bitencourt (outro), Marcio Anderson de Araújo, Edna Barros

A presente pesquisa tem origem no Projeto de pesquisa desenvolvido no programa de pesquisa docente e no programa de
iniciação científica: Projeto Impactos da Iniciação GHESP –História, Educação, Sociedade e Política. Este trabalho tem por objetivo
mostrar os pontos positivos e negativos da realidade dos alunos que participaram ou participam da Iniciação Científica, com base
em dois artigos. O primeiro artigo: “A Docência e pesquisa: o PIBIC e o PIBID como estratégias pedagógicas”, apresenta as
contribuições da Iniciação Cientifica para a aprendizagem dos alunos na docência. O segundo artigo: “A Iniciação Cientifica muitas
vantagens e poucos riscos”, demonstra a importância do programa para o estudante do curso superior, enfatizando o papel
complementar de melhoria da sua análise crítica, maturidade intelectual, compreensão da ciência e possibilidades futuras, tanto
acadêmicas como profissionais. Descrevendo as vantagens e também alguns riscos a serem analisados, devemos salientar a
importância da pesquisa no âmbito acadêmico. Esta pesquisa foi qualitativa, realizada em campo, conforme verificado na análise
de cinco relatos. Com isso, vimos que o projeto tem grande importância na formação acadêmica dos alunos, porque aprimora os
conhecimentos, ajuda na oralidade, na escrita e no comprometimento, trazendo um benefício pessoal e intelectual, tendo mais
autonomia e criando gosto pela leitura. Muitos autores defendem que os bolsistas da iniciação científica apresentam melhores
coeficientes de rendimentos nos seus cursos de graduação (Leitão Filho,1996; Cabelon, 2003; Aguiar, 1997; Bridi, 2004; Beglia,
2002; Pires, 2002), porque os alunos desenvolvem estratégias de aprendizagem. Através do projeto, os alunos conhecem autores
que na universidade se tem contato superficial. Como ponto negativo, pode-se elencar a pouca divulgação do projeto, a qual
possui a carga horária extensa, o que para alguns alunos, acabam se desinteressando.

ST 38 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

O processo de feminização do magistério no Brasil oitocentista (pós 1850)

Nathália Feliciano Moreira da Silva

No decorrer do século XIX a educação brasileira passa a ser vista como uma mola propulsora capaz de promover a
civilização dos cidadãos e a modernização/industrialização do país. Diante desse cenário, a partir da segunda metade

212
do oitocentos as mulheres obtiveram maiores oportunidades à educação e, portanto, aos poucos a instrução das
meninas deixou de ser restrita a uma responsabilidade do âmbito privado (família) para ser incumbência do âmbito
público (Estado). Neste sentido, era necessário profissionalizá-las para que se tornassem professoras qualificadas, e
este processo acabou culminando na feminização do magistério. Sob este prisma, busca-se analisar os discursos que
giram entorno da defesa das mulheres como docente dos anos iniciais de ensino, tendo como enfoque os meandros
que compõem a feminização do magistério. Para tal, este estudo utiliza como fonte os periódicos que circulavam na
época com o intuito de compreender como estes abordavam a temática da educação e a profissionalização das
mulheres. Por fim, a presente pesquisa se propõe a contribuir para os estudos de História das Mulheres e História da
Educação, preenchendo possíveis lacunas existentes.

Educação, História e Formação Docente: Teatro como elemento formador na educação escolar

Susane Nogueira de Alencar Telles (outro)

O seguinte artigo é resultado do trabalho de conclusão de curso, fomentado das pesquisas realizadas junto ao Grupo
de Pesquisa História, educação sociedade e política durante a iniciação científica. A intencionalidade é apresentar o
teatro como recurso pedagógico e como instrumento interdisciplinar nas práticas docentes nos anos iniciais do ensino
fundamental, destacando o desenvolvimento cognitivo da criança ao incluir o teatro nas disciplinas em sala de aula,
abordando sucintamente o papel da escola para utilização desse recurso. O trabalho utiliza como base as teorias de
Lev S. Vygotsky, trazendo como eixo principal a influência que o meio tem no desenvolvimento do indivíduo, como as
relações sociais podem impulsionar e desenvolver funções mentais superiores, destacando o desenvolvimento mental
e aprendizagem. (JOENK, 2002, p.8). A pesquisa busca elucidar questões que abordam a capacitação de professores,
as formas de como o teatro é ensinado dentro da disciplina de artes, ainda na graduação. Ostetto, 2007, p.5 nos fala
“o professor deve se colocar como interlocutor privilegiado, dando suporte às crianças em sua criação.”. Para que isso
aconteça efetivamente no ambiente escolar, é necessário que o professor seja conscientizado sobre a importância e
a relevância do teatro para o desenvolvimento do aluno, articulando a teoria e a prática em sua docência. Contudo, o
trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica e documental, na qual aborda a formação docente, o teatro e tudo
que ele agrega para a educação, oriunda de vários artigos, livros, documentos, etc. sobre o teatro, auxiliando e
sanando as dúvidas levantadas ao longo do processo, sendo a fonte do tema pesquisado Severino 2008, “A pesquisa
bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrentes de pesquisas anteriores, [...] No caso
da pesquisa documental, tem-se como fonte documentos no sentido amplo,” buscando agregar ao conteúdo
informações coerente com o tema escolhido.

Entre EUA e URSS: os percursos de Paschoal Lemme e Robert King Hall pelo campo da educação na década de 1950

Adriana Mendonça Cunha

Este trabalho discute as concepções de educação defendidos por Paschoal Lemme e Robert King Hall a partir da análise
de seus escritos, produzidos nos anos 1950. Lemme foi um educador brasileiro, integrante do movimento dos
pioneiros da Escola Nova. Ao longo de sua trajetória, atuou em instituições como Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (INEP), realizou viagens pedagógicas aos Estados Unidos e União Soviética e produziu uma série de
trabalhos nos quais defendeu um projeto educacional pautado em reformas sociais mais amplas. Nos anos 1940,

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aderiu ao marxismo e se tornou um crítico à influência estadunidense na educação brasileira. Já Hall foi um
pesquisador estadunidense com uma carreira marcada por viagens a diversos países, entre eles o Brasil, onde realizou
uma série de pesquisas, entrou em contato com intelectuais e instituições, a exemplo do INEP, com a qual colaborou
como técnico. Suas produções foram marcadas pela crítica aos sistemas nazista e socialista, classificados como
totalitários, e a defesa de uma educação descentralizada e democrática, semelhante ao modelo adotado nos EUA.
Tanto as concepções de Lemme quanto de Hall foram marcadas pelo contexto da Guerra Fria, conflito travado entre
EUA e URSS após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Ambos participaram de um intercâmbio entre a
Universidade de Michigan e o Instituto Brasil-EUA nos anos 1940, quando Lemme chegou a ajudar Hall na coleta de
dados no Brasil. Já no pós-guerra, com a disputa do bloco estadunidense e soviético, o educador brasileiro criticou a
presença de Hall no país. O objetivo deste trabalho é mostrar como estes dois personagens, que viveram num mesmo
período, trilharam caminhos diferentes e desenvolveram seu pensamento educacional pautado em diferentes
modelos ideológicos. A partir da análise de suas produções, constata-se que ambos foram participantes ativos dos
debates travados durante a Guerra Fria.

Formação de professor para utilização de Metodologias Ativas na Educação Infantil.

Geizilene Alves Bandeira (UNINTER - Centro Universitário Internacional), Thalita da Silva (parlenda)

O presente resumo é resultado de uma pesquisa em andamento, referente a um trabalho de conclusão de curso, pois
atualmente, há muitas discussões no que se refere ao uso da tecnologia na educação, então é importante pensar na
formação docente para que seja possível alcançar resultados significativos relacionadas a essa prática. Nesse aspecto,
cabe um questionamento: como formação de professores pode contribuir para a prática pedagógica na utilização de
metodologias ativas na educação infantil? Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo instigar nos professores o
interesse em inovar sua prática pedagógica, utilizando as metodologias ativas como estratégia para tornar o aluno o
centro do processo de ensino aprendizagem, pois quando o aluno aprende desde a educação infantil a buscar seu
aprendizado através da mediação do professor, ele terá resultados significativos nas próximas etapas da educação
básica, e também no ensino superior. Ao final da pesquisa, será disponibilizado formas de aplicabilidade dessas
metodologias ativas, para que os professores possam usufruir, podendo adaptá-las ao seu planejamento, respeitando
a realidade da escola onde leciona. A metodologia usada para este trabalho, foi a pesquisa bibliográfica, buscando no
estudo científico de grandes autores, a base para promover um diálogo entre teoria e prática, afim de promover um
processo de ensino aprendizagem significativo.

Pesquisa Científica e o uso das fontes documentais

Gabriela Pereira de Oliveira (secretaria da educação do Paraná), Armando da Silva Tomé Vara

Este trabalho se vincula ao Programa de Iniciação Científica da UNINTER, e ao grupo de pesquisa Ghesp – História,
Educação Sociedade e Política e apresenta as discussões sobre fontes documentais desenvolvidas no Projeto de
Pesquisa Arquivos e Museus e a preservação da memória na formação docente. Em toda pesquisa se faz necessário o
desenho metodológico, as estratégias de coleta de dados, o foco nos referenciais bibliográficos e documentais. Os
documentos sustentam a argumentação e análises estabelecidas pelo pesquisador. É preciso interpretarmos as fontes,
interrogá-las, a partir do foco de estudo de cada pesquisa. A realidade de cada pesquisa e a intencionalidade do

214
pesquisador necessitam de um aporte teórico de conceitos e procedimentos. Aos pesquisadores cabe a
responsabilidade pelas escolhas e recortes destes conceitos e procedimentos. A pesquisa é, paralelamente, o imparcial
tratamento analítico dos documentos disponíveis. Ademais, há outros tipos de fontes, arquivos, documentos oficiais
e mesmo além do documento em formato texto. Como registros fotográficos, arte e outros legados deixados
espontaneamente, ou até fenômenos não produzidos pelo homem. Esta utilização de variadas fontes documentais,
tipos e origens, faz com que a pesquisa possa abranger maior esclarecimento e compreensão do objeto analisado.A
fonte documental é um importante aporte para pesquisadores de distintas áreas do conhecimento. Nossa discussão
propõe o debate sobre o uso das fontes e suas variedades, elementos necessários para alavancar qualquer pesquisa,
em diversas áreas. Pensar o uso de documentos como fontes é refletir sobre sua produção, sua guarda, sua existência,
e aos pesquisadores cabe a tarefa de interroga-los, descreve-los para além de sua composição material. Para isso
citaremos como referências Bacellar,Barros, Severino, Bloch,Le Goff Souza como base para ampliar a reflexão.

A pedagogia dos industriais no Brasil : A didática para a formação para o trabalho

Desire Luciane Dominschek Lima (UNICAMP/UNINTER), Mara Regina Jacomeli (unicamp)

Esta pesquisa apresenta reflexões sobre a organização do ensino técnico profissional no Brasil a partir do início do
século XX. Para configurarmos este movimento destacamos a figura de Roberto Mange, um dos idealizadores das
escolas do SENAI. O inicio do século XX, remonta as ideias de modernidade, e Mange reflete sua formação na
organização das escolas senasianas. Apresentamos Roberto Mange, como um intelectual de seu tempo, destacamos
ele como intelectual do ensino profissional visto o seu engajamento político, cultural e científico no campo do ensino
industrial. Este trabalho discute parte da trajetória de ensino concebida por Roberto Mange para as escolas do SENAI.
Roberto Mange trouxe para o SENAI sua longa experiência como diretor do IDORT e como professor de engenharia
mecânica na escola politécnica, e sua enorme bagagem intelectual, com teorias sobre métodos adequados para a
formação e socialização dos industriários aprendizes. Consta do acervo do Arquivo Edgard Leuenroth Centro de
Pesquisa e Documentação Social Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Estadual de Campinas, vasta
documentação sobre Roberto Mange, materiais que apresentamos como fontes primárias para a análise deste texto,
com o objetivo de compreender as visões deste homem para a educação profissional brasileira.

ST 38 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Como fazer história : O arquivo público do Paraná

Ana Carolina Souza Oliveira (UNINTER - Centro Universitário Internacional)

Este trabalho busca apresentar o arquivo público do Paraná a partir de uma pesquisa documental e descritiva e de
campo. Nossa análise identifica os arquivos como lugares de memória, onde o historiador encontra suas fontes.
Entendemos que as fontes não falam por si, assim como por si não se tornam documento; o que as fontes transmitem
confronta-se com a subjetividade ou a objetividade do historiador. A realidade do passado e a intencionalidade do
historiador necessitam de um aporte teórico de conceitos e procedimentos. E aos historiadores cabe a
responsabilidade pelas escolhas e recortes destes conceitos e procedimentos metodológicos. Segundo Le GOFF (1991),

215
a história é que transforma os documentos em monumentos, e neste sentido esta pesquisa explora a importância do
Arquivo Público do Paraná. Identifica-se a relevância deste estudo para a área de história e também para a história da
educação na medida em que o objetivo norteador do trabalho foi apresentar o arquivo enquanto espaço de memórias
e que produz memórias e histórias a partir da intencionalidade do históriador. Além disso, fazer emergir a narrativa
deste arquivo enquanto local de preservação da memória de instituições, intelectuais é destacar a intencionalidade
dos percursos históricos que podem emergir a partir de pesquisas científicas. Ainda na direção do que nos apresenta
Le Goff, os monumentos são nossas heranças do passado.

A Iniciação Científica com relação a formação acadêmica e profissional

Janaina Silva Teixeira de Lima Ferreira, Anna Elizandra Sonego Fernandes

A presente pesquisa tem origem no Projeto de pesquisa desenvolvido no programa de pesquisa docente e no
programa de iniciação científica: Projeto Impactos da Iniciação: Impactos de programas de iniciação científica e
iniciação a docência no desenvolvimento profissional de professores, ligado ao grupo de pesquisa GHESP – História,
Educação, Sociedade e Política. A pesquisa se desenvolveu mediante embasamento teórico de cunho bibliográfico
com o objetivo de evidenciar questões relativas aos avanços acadêmicos proporcionados pelos programas de iniciação
científica e iniciação à docência. A hipótese levantada pressupõe que a iniciação científica e a iniciação à docência são
um elemento propulsor ao avanço acadêmico, sendo um diferencial na qualificação profissional docente. A seguinte
pesquisa trata, em linhas gerais, das vantagens e imprecisões da Iniciação Científica (IC) para os estudantes,
compreendendo as influências e melhoras que pode obter-se em tal projeto. Com isso, a pesquisa cientifica pode
conciliar o discente em vários aspectos, pois pode proporcionar a maioria dos alunos experiência em vários âmbitos
da vida escolar e social. Nesse sentido, a Iniciação Cientifica (IC) traz inúmeros benefícios aos discentes que nela atuam.
Entre eles, podemos destacar: o maior acesso ao meio científico (artigo, análise crítica, socialização de saberes da
ciência); o desenvolvimento da autonomia e da reflexão; a contribuição para a redução do tempo médio de titulação
de mestres e doutores, além da permanência do estudante na pós-graduação; estimular o aluno no desenvolvimento
pessoal, intelectual e social; diminuição da evasão na graduação e nos demais níveis, entre outros. Assim, optamos
metodologicamente por uma abordagem qualitativa, que tenha como escopo a perspectiva histórica e critica.

A formação docente feminina no Piauí (1900-1940)

Lorena Maria de França Ferreira

A pesquisa em evidência traz a formação docente feminina no Piauí das quatro primeiras décadas do século XX, no
intuito de questionar e compreender como ocorreu a formação docente no Estado do Piauí e também a inserção
feminina dentro do contexto educacional. Durante essas décadas foram criadas instituições de ensino destinadas ao
Ensino Normal por todo o Piauí, com os modelos educacionais guiados pela Escola Nova. O feminino foi inserido em
ambientes de ensino com o intuito de atuação nas escolas primárias que deveriam se multiplicar por todo o território
estadual a fim de diminuir os elevados números de analfabetismo e guiar a população ao modelo de governo
republicano, onde a educação ganharia destaque para a obtenção da cidadania. Dessa forma, esta pesquisa adentra
aos modelos de ensino desejáveis às mulheres dentro das Escolas Normais ao mostrar como essas foram sendo
configuradas ao longo do tempo com seus modelos pedagógicos e curriculares, as escolas primárias com as suas

216
dificuldades de implantação dos grupos escolares em cidades e povoados com poucas estruturas físicas e pedagógicas
e também a constituição de uma República Brasileira que via a educação como uma possibilidade de ampliação de
sujeitos aptos a exercerem o direito e o dever do voto.

Fotografias e a pesquisa científica

Mariah Burnier de Moraes, Robson Silva de Queiros

Trabalho vinculado ao Programa de Iniciação científica da UNINTER, grupo de pesquisa Ghesp apresenta discussão
sobre fotografias realizada no Projeto: Patrimônio Histórico educativo em Museus e Arquivos no Paraná: sua relação
com a formação docente. Para Halbwachs (2004) memória é construção social, embora sejam indivíduos que lembrem,
são grupos sociais que determinam o que é “memorável” indispensável para a formação da identidade “(...)elemento
essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais
dos indivíduos e das sociedades de hoje.” (LE GOFF, 1996, p. 476)Registros fotográficos podem ser usados na pesquisa
científica? Somente com a escola dos Annales houve a ampliação da noção de documento, em1960 a revolução
documental.[...]entre os seus objetivos está o de evitar que esta revolução necessária se transforme num derivativo e
desvie o historiador do seu dever principal: a crítica do documento – qualquer que ele seja – enquanto monumento.
O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo
as relações de forças que aí detinham o poder. [LE GOFF, 1996, p.470]. Conforme KOSSOY (2001, pg.37) “imagem é o
que resta do acontecido, fragmento congelado de uma realidade passada, informação maior de vida e morte, além de
ser o produto final que caracteriza a intromissão de um ser fotógrafo num instante dos tempos”. Através da fotografia
se dialoga diretamente com o passado. [...] a leitura de imagens requer uma “alfabetização do olhar”, isto é, para a
compreensão da imagem é preciso submetê-la a uma crítica que leve em consideração a interação fotógrafo, a
tecnologia empregada na produção da fotografia e o objeto registrado. (SOUZA,2001,p.87). Fotografias podem ser
analisadas como imagens que apresentam potencial de investigação, principalmente, por permitirem o contato com
uma realidade passada que é referenciada através da sua representação.

A educação na contemporaneidade: O Impacto do PIBID à Docência no ambiente remoto

Daiana da Silva Walkiu (IMAP), Giovana Bruzon Gomes

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) tem por objetivo valorizar o professor, o bolsista e a
instituição em que está inserida. Nessa perspectiva, o programa não parou durante a pandemia, desenvolvendo em
seu núcleo atividades de maneiras adaptadas para o formato de ensino remoto, levando diversos conteúdos
bibliográficos, as experiências trazidas pelas professoras supervisoras das escolas neste contexto, a participação em
eventos, apresentações de seminários e reuniões de formação, permitindo o desenvolvimento dos seus discentes.
Com isso, venho destacar a importância do programa em um período pandêmico para a valorização da formação
docente. Dessa forma, o novo desafio do isolamento social, fez com que os licenciandos, que participam do programa,
tivessem uma aproximação com a escola através dos relatos dos docentes, contribuindo para sua formação no
ambiente remoto. Assim, os discentes, que tinham seus estágios obrigatórios em um formato presencial, por vezes de
cunho observatório, (GATTI, 2010), passaram para o virtual, o qual os distanciou ainda mais das vivencias escolares.
Partindo destas evidências, o presente trabalho, a qual tem origem na Iniciação Científica, no Projeto “Impactos do

217
PIBID e à Docência”, ligado ao Grupo de Pesquisa História, Educação, Sociedade e Política – GHESP, junto à participação
da autora no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, tem por objetivo trazer as experiências do PIBID
e seu impacto para a formação de alunos no contexto virtual. No que tange a metodologia, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica e documental com abordagem qualitativa (SEVERINO, 2016), tendo como principal base teórica
Dominschek e Alves (2017), Gatti (2010), Saviani e Galvão (2021).

218
ST 39. História, Estudos Africanos e da Diáspora: séculos XIX e XX

ST 39 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Corpos Enfermos e Anômalos na África Colonial

Henrique Germano Etges (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

Desde o final do século XIX, a representação de uma “África doente” foi sendo construída por discursos científicos
como na emergente medicina tropical. O desafio de “higienizar as colônias” ensejou também o discurso em prol de
uma “colonização científica”. Com base na nova historiografia e nos estudos visuais sobre o colonialismo, o presente
trabalho analisa um corpus iconográfico sobre a representação médica dos “corpos enfermos” e discute o propalado
discurso higienista e das campanhas sanitárias em África durante as primeiras décadas do século XX. O projeto Corpos
Enfermos e Anômalos na África Colonial tem por fonte e objeto de estudo um conjunto de imagens de acervos digitais
que permite abordar a relação entre colonialismo e biopolítica pelo viés da medicina tropical. Para essa comunicação,
destaca-se a agência africana de auxiliares e empregados da incipiente rede de serviços de saúde da chamada
“assistência médica aos indígenas. Ao propor uma mirada sobre auxiliares e empregados africanos para além da
dicotomia das relações entre médicos europeus e africanos doentes, torna-se possível observar a complexidade dessas
relações e a agência africana nos quadros do colonialismo.

Intermediários africanos na expedição francesa a Segu (África do Oeste, 1863-1866)

Rafaél Antônio Nascimento Cruz (USP - Universidade de São Paulo)

Nesta comunicação pretende-se discutir a expedição francesa que partiu da colônia do Senegal em 1863 com o
objetivo de, entre outras coisas, estabelecer relações diplomáticas com o “Império Tukulor” – maneira genérica
adotada pela historiografia para se referir à estrutura política formada pelo jihad liderado por al-hajj Omar Tal a partir
da década de 1850 e que estabeleceu o controle sobre as terras do médio rio Níger (atualmente, o território faz parte
do Mali). A expedição era constituída por dois franceses e por dez subordinados oeste-africanos e ela será abordada
com base no relato do oficial francês que chefiou a missão, Eugène Mage. Além de seu relato de viagem, recorremos
também às cartas que foram enviadas ao governador da colônia do Senegal pelo oficial durante sua estadia de vinte
e seis meses na capital omariana, Segu. Por meio de uma leitura crítica dessa documentação, propõe-se uma análise
da expedição a partir da experiência de seus integrantes africanos. Seria possível, a partir de peças da “biblioteca
colonial”, acessar a vida desses sujeitos? Pensando nessa chave, busca-se colocar em relevo o papel dos intermediários
africanos para a realização de expedições europeias em África no século XIX. Assim, ressalta-se o caráter coletivo da
expedição e sua dependência de auxiliares locais que dominavam os conhecimentos geográfico, linguístico e simbólico
e que, ao mesmo tempo, eram também responsáveis pela efetivação física do empreendimento. Foram os
subordinados oeste-africanos de Mage que tornaram as negociações mutuamente inteligíveis, que carregaram as
bagagens e conduziram os animais de carga, que guiaram a comitiva, que coletaram informações, que atuaram como
mensageiros e etc. A expectativa é encontrar um caminho para romper com abordagens que reforcem o poderio que

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os europeus atribuíam a si próprios em seus escritos, de modo a precisar a experiência dos integrantes africanos da
expedição.

RÉGULOS E ADMINISTRADORES COLONIAIS PORTUGUESES: construção de Imagens e representações em


Moçambique (1860-1890)

Lana Lessa dos Santos Hora (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)

No período anterior ao século XIX, o controle político de Portugal nos territórios africanos era limitado aos entrepostos
comerciais e no intuito de facilitar as trocas mercantis mantinham-se alianças com alguns chefes locais, conhecidos
como régulos. Entretanto, com a expansão portuguesa dentro desses territórios e o interesse em transformar as terras
moçambicanas em uma colônia essencialmente produtiva do ponto de vista capitalista, organizaram-se comissões e
expedições para conhecer, explorar e analisar os desafios que seriam enfrentados pelos militares, administradores e
viajantes portugueses na consolidação de sua influência e domínio. As expedições em torno da região do vale do
Zambeze, conhecida como terra dos prazos, intensificaram, pois buscavam argumentos que justificassem a extinção
do domínio dos régulos dessa região e, sobretudo, vislumbravam novas possibilidades de exploração econômica das
populações locais e das matérias primas existentes. Além disso, o diferencial do século XIX consistiu no fato das
narrativas coloniais serem pela primeira vez narrativas em que o poder político pressupunha de um conhecimento
cientifico, bem como muitos propagadores da ciência da época se utilizavam das expedições patrocinadas pelo Estado
para reafirmar suas teorias. Dessa forma, partindo do pressuposto de que a relação entre os régulos e representantes
portugueses estava inserida em uma rede de interesses econômicos, políticos e sociais, esta pesquisa tem o objetivo
de analisar a produção de narrativas coloniais durante as expedições na região do vale do Zambeze frente aos régulos
que se posicionaram contra as mudanças no sistema de relações comerciais, sociais e políticas.

ST 39 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

“Igrejas Africanas-Cristãs em Moçambique”: ordem colonial, crenças e preocupações subversivas na primeira


metade do século XX.

Denilson Lessa dos Santos (UNEB)

A ordem colonial, através da administração política e com o apoio da Igreja Católica, não apenas se preocupava com
a presença em terras moçambicanas das missões protestantes, chamadas de missões estrangeiras, mas com outras
denominações religiosas separatistas (movimentos etiópico e zionista) que o Estado genericamente às denominava
de “Seitas Gentílicas” e subversivas. Muitos dos integrantes das chamadas “seitas gentílicas” ou nativistas em África
não só eram oriundos das igrejas protestantes, como, também, estavam infiltrados “nas fileiras da Igreja Católica”. É
o caso, por exemplo, de Sebastião Chitungane Chaxuaio, da “tribu changane”, que nasceu aproximadamente em 1905,
nas terras da regedoria Muxaxane, do conselho de Chibuto. Frequentou escola formal, dirigida pelo Estado com apoio
das missões católicas, exerceu várias profissões como criado, engraxador, trabalhador das minas do Rand, chegou até
ser jardineiro nos finais dos anos 1930 da Igreja Católica em Loureço Marques. Sebastião, depois de ter descoberto
dom de cura pelo espírito santo, já conhecido como pastor, levou nos finais dos anos 1940, a “seita” denominada “fé

220
nos apóstolos” para Lourenço Marques. Naquela oportunidade, a administração colonial, em linhas gerais, afirmava
que era preciso vigiar os adeptos de tal seita, entre outras, a exemplo da Igreja Etiópica Luso-Africana. Dessa forma,
este trabalho, a partir de um amplo relatório elaborado pelo administrador Afonso Ivens Ferraz de Freitas na década
de 1950 e numa perspectiva dos Estudos Africanos e da História Social, irá tratar de aspectos em torno do surgimento
das chamadas igrejas negras, problematizando quando e como foram fundadas, quais eram seus membros
fundadores, quais os objetivos das seitas e o porquê de tanta preocupação causada à igreja católica e, especificamente,
à administração colonial quanto ao surgimento e a disseminação das referidas “seitas gentílicas” para o colonialismo
português em Moçambique.

A Ditadura Democratizada: As Matrizes Históricas do Centralismo Político na Construção do Estado Angolano e


Moçambicano.

Jochua Abrão Baloi (Universidade São Tomás de Moçambique)

Este artigo tem como objetivo analisar as matrizes históricas do centralismo político na construção do Estado angolano
e moçambicano, que concorreram para a concepção de uma ditadura democratizada. O argumento central que o
norteia é que a maior parte dos países africanos, no geral não possui uma história de descolonização nem um período
de independências que se acompanhou por uma democratização per si, portanto, a construção dos Estados pós-
independências na maior parte destes países, só era possível através da criação de um poder centralizado patente
num único partido centralizado, onde Angola e Moçambique não constituíram exceção. Para secundar este
argumento, avança-se a premissa segundo a qual em países com uma democracia em construção, coexistem no
mesmo espaço territorial vários modelos democráticos, democracias locais e até mesmo práticas antidemocráticas,
que variam dentro das diferentes escalas nacionais. Ao se analisar os preceitos legais no caso dos dois países em
análise denota-se que foi a partir de 1975, que se fundou o Estado pós-colonial, a Primeira República dos dois países
que herdou o centralismo político da estrutura colonial portuguesa de gestão centralizada que continua até aos dias
de hoje. Este artigo será desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa e multidisciplinar desde a história política
até a análise jurídica e serão elementos de análise, uma breve análise da herança colonial de uma estrutura
centralizada nos dois países por um lado e, por outro lado, um debate sobre o ensaio na construção do Estado
centralizado sob liderança do MPLA e da FRELIMO, por fim far-se-á uma análise do processo da ditadura democratizada
nos dois países.

A emoção é negra: a negritude de Léopold Sédar Senghor no 1° Festival de Artes Negras

Maybel Sulamita de Oliveira

Em 1966 realizou-se no Senegal, na cidade de Dakar, o 1° Festival Mundial de Artes Negras (FESMAN), promovido pela
República do Senegal com o apoio e suporte da UNESCO. O festival pretendia atrair diversos artistas ligados as artes
negras, promovendo integrações e contatos entre diversos países. O país que outrora havia sido colônia francesa e
obteve sua independência em 1960, teve como seu primeiro presidente o poeta da Negritude, Léopold Sédar Senghor,
também idealizador do festival. A ideia de um país africano sediar um evento de porte internacional dialogava com as
intenções de demonstrar o caráter cosmopolita de Dakar, ao mesmo tempo em que fortaleceria os ideais acerca da
negritude e do socialismo africano de Senghor. Dessa forma, entender as questões identitárias, ideológicas e artísticas

221
presentes no 1° Festival Mundial de Artes Negras não é uma tarefa fácil, visto que ao pensarmos no festival,
observamos o quanto ele está envolvido em série de camadas históricas, vivenciadas desde a primeira metade do
século XX. O festival teve em seu cerne as influências tanto do pan-africanismo, quanto do movimento da Negritude,
pilares esses que sustentavam tanto o evento, quanto a própria política de Léopold Sédar Senghor. Considerando
esses aspectos, essa proposta visa compreender quais foram os processos de formação da negritude senghoriana e
como elas influenciaram a realização do festival, contribuindo para a construção de um novo pensamento sobre o
negro e suas manifestações artísticas.

ST 39 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Uma análise sobre a migração e diáspora africana a partir do cinema

Leonardo Breda (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

O presente trabalho visa analisar a partir de uma abordagem transversal como a diáspora e a migração são abordadas
por cineastas de diferentes países africanos. O tema da migração está presente em diversas obras de cineastas de
várias gerações da cinematografia africana, aparecendo desde o primeiro curta-metragem feito por um cineasta de
África, o curta Afrique-sur-seine (1955), de Paulin Soumanou Vieyra. A partir de uma perspectiva em História Global é
possível não só fazer uma análise dos inúmeros países dos quais as pessoas emigram e para os diferentes países para
os quais elas migram, mas também analisar as influências coletivas dos cineastas africanos. Nesse sentido, é possível
perceber muitas relações e referências entre os próprios artistas de vários países nas obras cinematográficas. Sendo
assim, o cinema africano pode ser inserido em uma perspectiva global de produção de obras cinematográficas que
dialogam entre si, desde o cinema soviético, ao produzido na América Latina e Europa. Levando isso em conta, os
filmes são fontes promissoras para a análise do movimento diaspórico que parte da África para todos os continentes.
Além disso, outro tema recorrente na filmografia de África é a crítica ao colonialismo e as sociedades pós-coloniais,
muitas vezes inserida nos dilemas da migração e da diáspora africanas. Dessa forma, o cinema pode contribuir para
compreender essas relações em um aspecto mais amplo.

If we must die: a African Blood Brotherhood versus a modernidade estadunidense no periódico The Crusader

Luan Kemieski da Rocha

Seguindo a proposta do “Simpósio Temático de História, Estudos Africanos e Diáspora: século XIX e XX” que tem como
objetivo apresentar temas de pesquisas que dialoguem com os estudos africanos e de diáspora, buscamos, através
dessa proposta de comunicação, apresentar de maneira introdutória a organização chamada African Blood
Brotherhood (ABB – 1918/1924). Uma organização radical, fundada por imigrantes caribenhos que visava a luta pela
libertação do povo negro, atuando no contexto dos Estados Unidos no início do século XX. Através de seu principal
meio de difusão de ideias, a revista The Crusader, essa sociedade trouxe para a discussão as complexidades das
relações de poder do sistema estadunidense. Introduzindo um viés radical para o debate da exploração e violência
racial, as relações da modernidade e os processos de dominação. Seus integrantes traziam no programa e nas ações a
ideia de raça e classe através da combinação de elementos do marxismo com a ideologia da primazia racial enquanto

222
categoria de análise da situação dos negros. A finalidade com essa proposta de comunicação, é introduzir quem eram
seus membros, como se deu sua formação, qual sua linha de pensamento e como ela se dissolveu. Na medida que é
uma organização pouco conhecida, se apresenta dentro de uma memória negra pouco explorada, porém que estava
em constante dialogo com seu contexto, o do movimento do Novo Negro e do Renascimento do Harlem.

Escravos em anúncios de Jornais Piauienses do Século XIX: A Escravidão na Imprensa Piauiense de 1848-1885

Anderson da Silva Machado

Este trabalho tem como proposta de pesquisa, analisar os anúncios de escravos em jornais piauienses de 1848–1885.
Para tanto, partiremos dos periódicos: A Imprensa: periódico político de 1865-1885, A Opinião Conservadora: de 1874-
1876, A Voz da Verdade: jornal político, literário e comercial de 1849, O Escholastico de 1849, O Governista de 1848,
O Piauhy de 1869-1873, A Epoca: órgão conservador de 1878-1879. Essa pesquisa propõe-se identificar através da
análise de discursos, o contexto escravista que estava instaurado no Piauí oitocentista. Partindo dos ditos jornais,
pensaremos que relações eram desenvolvidas entre senhores/escravos. Nessa perspectiva, analisaremos os anúncios
como espaço imagético do escravo. Percebendo e problematizando através dessas relações, estratégias e resistências
que forjaram e condicionaram a escravidão no Piauí; Investigaremos o escravo, partindo de suas características
afirmadas, percebendo a partir do silêncio desses sujeitos, evidencias, fragmentos de falas, rastros deixados através
dos discursos em torno desses indivíduos e por fim, explicaremos as diferentes maneiras de resistência escrava no
período, problematizando as múltiplas formas de castigos dispensados pelos senhores, e as disposições que partiam
desses castigos com relação aos escravos. Essa pesquisa é fruto de um minucioso trabalho onde progredimos na
catalogação e análise de escravos, com nomes, características físicas, idade, cor, raça, etc. , tendo a Biblioteca Nacional
como principal acervo digital. Tivemos como inspiração para pensar a temática a obra do Gilberto Freyre, “O escravo
nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX”. As bases teóricas dessa pesquisa estão em: Freyre, Lima, Brandão,
Chaves, dentre outros.

ST 39 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

To be Young, Gifted and Black: Encorajamento e militância negra nos EUA de Nina Simone (1960-70)

Yhandê Aguiar (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

Nina Simone é um expressivo nome da música negra global. Denunciou o racismo através de sua música, e com ela,
tocou em vários temas urgentes nos anos 1960 e atuais. Este trabalho, portanto, visa verificar os aspectos da sua
biografia e de suas canções que parecem ter contribuído para a politização dos negros nos anos 1960. Por isso, sua
biografia é entendida de maneira interseccional porque as diversas categorias sociais em que habitou, moldaram sua
experiência social e a maneira que decodificou isso em linguagem musical. Além disso, há enfoque nas sociabilidades
que manteve com outros artistas que articulavam a denuncia ao racismo através de suas artes, porque articulada com
alguns deles, esteve articulada também à questão do racismo em nível global.

Sendo suas canções o tema principal da pesquisa, sua música é analisada como fonte histórica primária indo além do
discurso escrito de suas canções, já que sua performance e instrumentação também parecem ser elementos

223
importantes da sua mensagem. Nas canções de Nina Simone, é possível perceber que no trabalho crítico da artista,
permeiam vários aspectos sociais, como questões de raça, gênero e classe. Raça, inclusive, parece ser uma categoria
elástica, em uma rica perspectiva da diáspora africana nos EUA, já que buscou se conectar com questões políticas e
culturais da libertação em África. Tais aspectos parecem contribuir para a construção de uma identidade negra
partindo de duas formas, o encorajamento à beleza da negritude, que passa pelo tema da negritude global, e a
denuncia ao racismo, isto é, alguns aspectos que norteiam as canções parecem reforçar e motivar o orgulho negro
enquanto que outros tratam de se posicionar social e politicamente como forma de protesto. Nesse sentido, propõe-
se com a pesquisa, responder a seguinte problemática: qual a relevância e o impacto do trabalho de Nina Simone na
construção de uma identidade negra, que uma vez empoderada, denuncia sua condição e se articula por mudanças?

A cadeia mercantil da cera de abelha: um produto do extrativismo africano na formação do Mundo Atlântico
(séculos XVI ao XIX)

Juliano Whitaker Auler (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Busca-se apresentar a cera de abelha como uma mercadoria importante na história de sociedades da África Central e
Ocidental a partir do século XVI, com o surgimento do tráfico transatlântico de escravizados, até o XIX, quando o
produto se torna um dos principais produtos lícitos africanos. A cera, uma substância única produzida por abelhas no
processo de construção dos favos da colmeia, é extraída juntamente com o mel por apicultores. Apesar de ser pouco
conhecida, é um produto com uma infinidade de usos, presente desde antiguidade até em importantes rotas
comerciais na Idade Média, quando a fabricação de velas de altar feitas com cera de abelha faz a demanda pelo
produto crescer significativamente. É somente após o século XVI, com a colonização das Américas, que a cera de
abelha passa a circular em proporções globais, produzida, em grande parte, em uma região onde até esse período a
cera era pouco utilizada: a África. A cera de abelha de regiões como a Senegâmbia era de alta qualidade, e rapidamente
tornou-se um dos principais produtos africanos no chamado Mundo Atlântico. Apesar do momento atual de
aprofundamento nas análises de cadeias mercantis como o marfim e o couro, a historiografia africanista e atlanticista
em geral deu pouca atenção para as especificidades dessa mercadora. A cera é um subproduto de origem animal, fruto
de uma atividade extrativista que não requer mão de obra especializada ou qualquer tipo de aparato tecnológico
complexo. Isso permite considerar a hipótese de que sua produção e comércio podem ser realizados por pessoas
comuns e grupos marginalizados, fugindo de monopólios comerciais que sempre pressionaram o comércio na costa
africana. Dessa afirmação decorrem perspectivas instigantes: é preciso, cada vez mais, demonstrar que a História da
África não pode ser reduzida apenas a escravidão. Mais ainda, procura-se articular as possibilidades que a história da
cera têm a partir de perspectivas locais, globais, ambientais, econômicas e sociais.

Uma interpretação Decolonial para a pesquisa intersdisciplinar da História com a Literatura

Alexandre da Silva Santos (UNINORTE - Centro Universitário do Norte)

Esta proposta de estudo surge do seguinte tema de pesquisa: “História e Decolonialidade: a ausência de uma produção
preta e a presença de subalternizados na literatura do clube da madrugada (1950-1970) e visa compreender, à luz da
Teoria Decolonial, um movimento cultural literário, formado por escritores chamado Clube da Madrugada, filhos de
uma geração que ainda era remanescente do período em que o Amazonas presenciou as experiências da economia

224
da borracha. Convém esclarecer que esta investigação situa-se nos estudos decoloniais, e tem o objetivo de produzir
respostas a colonialidade em todas as suas dimensões, isto é, social, cultural e política. Assim, ao tomar como
investigação a produção em prosa da literatura do Clube da Madrugada, estamos orientados – inicialmente - nos
apontamentos de Boaventura de Sousa Santos, quando escreve a respeito da autoria, escrita e oralidade das
epistemologias do Sul. Nisso, compreendemos que a produção em prosa do Clube da madrugada, em escritores como
Erasmo Linhares, Carlos Gomes, Francisco Vasconcelos, Max Carphentier, está posicionada como produção autoral de
quem possui em uma das suas formas de reconhecimento a expressão de uma coletividade. Dessa forma, a literatura
nesta proposta de estudo se entende como um conhecimento escrito, uma expressão do saber do homem de uma
época. Nas palavras de Santos (2020): “Contam-se histórias, cantam-se canções com o mesmo objetivo de criar um
sentido intensificado de partilha e de pertencimento que irá contribuir para reforçar e radicalizara vontade de
transformação social .” Com efeito, como resultado dessa expressão que visa o sentimento de pertença, percebemos
a construção de uma nova epistemologia, que em sua ecologia de saber articula diferentes tipos de conhecimento.

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ST 40. História, patrimônio e cidade: em busca da urbanidade

ST 40 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Patrimonialização de uma instituição centenária na periferia de São Paulo segundo a Paisagem Urbana Histórica
(HUL)

Emily Kruger Bertazzo (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

Reconhecido como patrimônio pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental
da Cidade de São Paulo (CONPRESP) em 2018, o Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) é uma
instituição educacional fundada em 1915 por missionários estadunidenses e europeus no então sertão de Santo
Amaro, região atualmente conhecida como Capão Redondo. Pretende-se nesta pesquisa analisar o processo de
patrimonialização desta instituição centenária através da abordagem da Paisagem Urbana Histórica (HUL). Esta
abordagem foi escolhida primeiramente tendo em vista que nas recentes discussões das Novas Abordagens para o
Patrimônio, dentro do campo do patrimônio e da preservação de bens culturais, a preservação urbana já ter se
estabelecido como uma área específica de estudo e trabalho, sendo possível perceber a crescente demanda do
desenvolvimento desta temática. Em segundo lugar, devido o complexo tombado ser uma referência tanto espacial
quanto afetiva, e por seu patrimônio estar localizado em um ambiente que, apesar de estar outrora em área rural,
está atualmente no coração da densa área urbana da zona sul da capital de São Paulo.

São Miguel Arcanjo: a arte missioneira de Sete Povos das Missões

Francisco Carlos Ribeiro (PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

O objetivo desta pesquisa é analisar o patrimônio cultural e artístico encontrado no sítio arqueológico de São Miguel
Arcanjo, localizado na região de Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul. Os jesuítas ao virem para a América
estavam estruturados em um arcabouço teológico-espiritual católico-romano. Deixaram suas casas e partiram para os
mais variados lugares desconhecidos, com o propósito de cumprir a Grande Comissão, que Jesus confiou a seus
seguidores em Mateus 28:29: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo”. Portanto, o patrimônio artístico-cultural deixado por eles deve ser apreciado dentro desse
quadro referencial de evangelização, onde tudo que existiu (templos, casamentos, escolas, festas etc.) visava tornar o
cristianismo a religião predominante e oficial da América. São Miguel Arcanjo foi fundada pelos padres Cristóvão de
Mendoza e Paulo Benavides em 1632, mas, com as invasões bandeirantes entre 1630 e 1641, a redução foi transferida
para a outra margem do rio Uruguai, voltando a ser repovoada a partir de 1687. Com a Guerra Guaranítica (1753-
1756), provocada por causa do Tratado de Madrid de 1750, a missão foi destruída, sendo restaurada e repovoada por
alguns poucos anos. Com a expulsão dos jesuítas das terras portuguesas em 1759, a redução entrou em completa
decadência, sendo seus últimos habitantes dispersos totalmente no início do século XIX. Com o tempo, São Miguel
Arcanjo se tornou a mais famosa das reduções do Tape, principalmente por causa de sua igreja, construída por
Giovanni Primoli a partir de 1731, e por ter sido a terra de Sepé Tiaraju (1723-1756), um dos líderes da Guerra

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Guaranítica. Hoje, suas ruínas atraem milhares de turistas anualmente, fazendo com que seu sítio arqueológico se
tornasse, a imagem predominante de Sete Povos das Missões.

VICTOR DUBUGRAS e cópias arquitetônicas

Cristina Sanches Morais (Faculdade de Tecnologia Gráfica Theobaldo de Nigris)

Victor Dubugras (1868 a 1933), nascido em Sarthe na França, falecido no Brasil, na cidade de Teresópolis no Estado do
Rio de Janeiro. Foi um arquiteto da cidade de São Paulo, de 1880 á 1920. Ele era um excelente pintor aquarelista,
arquiteto e professor. Seu acervo de plantas arquitetônicas e de cópias está na biblioteca de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo. E exerceu o papel de professor na escola Politécnica, SP. O arquiteto Dubugras foi um
grande precursor do modernismo no Brasil, fez uso do material de concreto armado, com objetivo de modernizar e
racionalizar a construção. Em seu trabalho acompanhou os movimentos arquitetônicos com estilo eclético, um pouco
de art nouveau e o neocolonial. Em sua produção arquitetônica teve uma diversidade de clientes desde empresas
públicas à pessoas particulares. Os pedidos eram de casas, moradias populares, monumentos, igrejas, palacetes,
estações ferroviárias, cadeias, grupos escolares, e edifícios. Realizou projetos de construções para a elite cafeeira de
São Paulo. A cópia dos desenhos de arquitetura surge da necessidade de fazer réplicas idênticas de boa qualidade
técnica. Ela foi rapidamente aceita pelos arquitetos, pois, havia mais facilidade de reproduzir o desenho, este sim, era
muito mais demorado na sua manufatura. Ela começa a ser produzida com importância nas construções e em seus
processos construtivos, definindo as localidades de objetos no espaço. Logo os trabalhadores (mestres de obras e
engenheiros) passaram a conferir as recomendações dos arquitetos nestes documentos, e também as anotações de
mudanças do projeto.

ST 40 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Disputas e conflitos entre preservação do patrimônio cultural e planejamento no Bixiga-SP

Mariana Cavalcanti Pessoa Tonasso (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

Este trabalho se propõe a problematizar a falta de integração entre os setores de planejamento e preservação do
patrimônio cultural na cidade de São Paulo, a partir do estudo de caso de um trecho do bairro da Bela Vista, conhecido
como Bixiga, uma das áreas mais antigas da cidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, baseada sobretudo em
revisão bibliográfica e análise legislativa/ cartográfica. A discussão aponta que a desconsideração das áreas envoltórias
dos bens tombados no Zoneamento é determinante para intensificar a desconexão existente. Estas deveriam receber
especial atenção, principalmente em se tratando de um instrumento urbanístico, pois são necessárias para preservar
a ambiência urbana dos bens culturais. Além de não serem integradas, e talvez por isto, as diretrizes de uso e ocupação
do solo contradizem aquelas de preservação e estabelecem precedentes para disputas imobiliárias que ameaçam os
valores culturais e ambientais do bairro. Nota-se também que a própria concepção do instrumento urbanístico de
preservação é equivocada ao enquadrar imóveis isolados como “zonas” especiais de preservação, além de uma
contradição semântica. Por fim, reflete-se como o patrimônio é percebido ora como empecilho, ora como exceção,

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isolado ao universo da cultura, privado de papel ativo nos planos e projetos urbanos e muitas vezes afastado das
práticas sociais cotidianas que poderiam irrigá-lo, tornando-o parte viva das cidades.

Capão Redondo: histórias, culturalidades e urbanidades periféricas

Fabio Leonardo Vasconcelos da Silva (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo), Giulia Estéfany de
Miranda Silva (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo), Gleice Reis Pacheco

Na década de 90, os distritos do Capão Redondo, Jardim São Luís e jardim Ângela ficaram conhecidos como "triângulo
da morte" devido aos altos índices de violência e esse apelido é responsável por criar uma imagem estigmatizada dos
moradores dessa região. Entretanto, o que muitos não sabem é sobre a luta para o crescimento do distrito iniciada
através dos movimentos multirantes de ocupação. Não obstante, o crescimento populacional da cidade fez surgirem
projetos como a COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), para solucionar a questão dos
loteamentos irregulares e assegurar o direito a habitação, saneamento e acesso a políticas públicas. Além disso, os
movimentos operários contribuíram para formação do bairro e fomentaram a desapropriação de parte das terras do
Instituto Adventista de Ensino (IAE) que possibilitou a criação do Parque Santo Dias um dos raros parques periféricos
que abriga um remanescente da mata atlântica preservada após a desapropriação parcial da fazenda adventista. Entre
as franjas periféricas, o bairro do Capão do Redondo possui um conjunto de valores histórico-culturais e tem grandes
nomes que compõem a sua identidade, como se pode citar: “1 Da Sul”, uma marca de grife que virou símbolo na
periferia de São Paulo, a “Cia. Sancroma”, o “Sarau” e “Slam do Capão” e o “Projeto Vida Corrida”. Outro destaque do
bairro é a forte projeção de ritmos musicais principalmente de influência negra, que fazem parte do cotidiano dos
moradores e auferiram reconhecimento a nível nacional de grupos formados na região, como o “Raiz Coral” e o
“Racionais MC’s”. A pesquisa pretende expor outro aspecto além da marginalização e violência retratada nas mídias,
e apresentar um outro lado do local, trazendo o resgate e a construção de narrativas sobre a memória do bairro através
de uma perspectiva cultural e urbana, que enfrenta o desafio de não ser confundida ou reduzida aos polêmicos bailes
funk.

ST 40 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Estudo social e arquitetônico visando o bem-estar do idoso na cidade de Limeira.

Lays Vizotto Carvalho (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

O presente artigo analisa o idoso em contexto mundial, estadual e regional através dos parâmetros de qualidade de
vida e inserção na paisagem urbana. A pesquisa fez um comparativo entre o idoso nacional e o internacional para
descobrir suas divergências e usar referências para melhorar a vida da população brasileira desta faixa etária. Como
resultado desta pesquisa e do comparativo feito notou-se a necessidade de maior integração destas pessoas ao meio
urbano. Instituições que se adequem ao cotidiano familiar e particular de cada usuário em todo o mundo vem sendo
apresentado como solução. Portanto o centro de vivência do idoso é um tipo de instituição moderna que mantém o
sentimento de autonomia e auxilia o cotidiano e a vida familiar do idoso, mantendo uma experiência positiva e um

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envelhecimento saudável. Por isso para o idoso contextualizado em Limeira um centro de vivência projetado para tal
público-alvo será de grande relevância na vida destas pessoas.

Uma possível história da Cúpula do Teatro Amazonas – Manaus

Bruno Miranda Braga

Em 31 de dezembro de 2021, o Teatro Amazonas, de Manaus completa seus 125 anos. O teatro como sua
monumentalidade, expressividade e beleza encanta a todos, e se tornou o emblema, o ícone da cidade, especialmente
por sua peculiar Cúpula multicolorida. Falar do Teatro Amazonas e falar da cidade de Manaus ao fim dos oitocentos.
Manaus cresceu, enriqueceu à custa dos trabalhos e da comercialização da borracha o que acarretou seu
aformoseamento urbano. A história da construção de um “theatro de alvenaria” na cidade era almejo da população
enriquecida que via projetar seus “modos estrangeiros” na Floresta Amazônica, nesse sentido, dentre os edifícios
construídos, o do Teatro sobressai pelas particularidades presentes no prédio, especialmente pela enigmática Cúpula.
De fato, a peça não fazia parte do projeto arquitetônico original, acrescida a posteriori e “roubando a cena.” A
estrutura em ferro fundido veio da Bélgica e tomou posse e cor no trópico úmido. Neste trabalho focamos
especialmente numa possível história desta Cúpula que se sobressai e torna o prédio único em todo o globo.
Mostraremos como a ideia de um teatro lírico foi empreendida no final do século XIX, como foi que a cúpula passou a
integrar a arquitetura do prédio, como foi recebida pelos moradores e imprensa local, e como ao passar dos anos, esta
cúpula se tornou o emblema da cidade.

ST 40 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Cidades, urbanização e parcerias

Arlete Assumpcao Monteiro (PUC / SP)

A história da cidade de São Paulo está relacionada com as plantações de chá. Com a urbanização do centro da cidade
nos idos de 1820, alguns produtores instalaram-se em terras mais distante, como é o caso da Fazenda Morumbi, pelo
inglês Rudge Ramos. Em 1952, teve início a construção do Estádio do Morumbi, um projeto do arquiteto Vilanova
Artigas. Em 1970, o Estádio foi inaugurado com o nome de Estádio Cícero Pompeu de Toledo. O desenvolvimento da
região ocorreu rapidamente, principalmente com a saturação de outros bairros da cidade e grandes empreendimentos
surgiram como Condomínio Portal do Morumbi, Hospital Albert Einstein, Colégio Visconde de Porto Seguro, muitas
casas e prédios residenciais. Concomitantemente, foram se instalando na região migrantes do nordeste brasileiro, em
geral trabalhadores da construção civil, ocupando terras vazias existentes. A presente pesquisa trata da preocupação
com as crianças, fora do período escolar, filhos dos migrantes que se instalaram na região, chamando posteriormente
seus familiares. Moradores dos novos empreendimentos preocupados com as crianças que perambulavam pelo bairro,
se organizaram junto a paroquia Vila Susana, recém-criada, e passaram a acolher as crianças depois do período escolar,
dando apoio às famílias que precisavam trabalhar para garantir o sustento das crianças e familiares. Surgiu assim a
Cáritas Vila Suzana, funcionando num salão da igreja, depois em um container e, recentemente , instalada num edifício

229
onde acolhe as crianças desde que estejam matriculadas na escola, ofertando apoio às tarefas escolares e atividades
educacionais, alimentação.

Memórias de vidas, patrimônio de uma cidade.

Yvone Dias Avelino (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

A cidade, de forma metafórica, pode ser comparada a um palco de representações, onde se desenrolam variadas
tramas realizadas entre os sujeitos que nela habitam. No ano de 1921 a cidade de São Paulo vai abrigar, no Bairro de
Perdizes, o Convento de Santa Tereza, das Irmãs Carmelitas, que nele viveram até o ano de 1946 quando o Cardeal
Motta mandou construir um espaço menor e as transferiu para outro bairro do Jabaquara, na cidade de São Paulo,
para criar a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, palco de grandes realizações políticas, educacionais e
culturais. O vanguardismo dessa instituição de ensino superior deixou marcas significativas de atuação em São Paulo
e no Brasil . Sempre foi respeitada pelo brilhantismo de seus cursos e pela capacidade docente e discente. Nesta
comunicação, numa pequena abordagem histórica, pretendemos trazer a patrimonialização feita pelo Condefhat -
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - em1998,
começando pelo seu teatro quando este sofreu um terrível incêndio.

ST 40 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Entre a impermanência e a persistência da memória: considerações sobre a espacialização da arte, intervenções e


monumentos urbanos.

Renan Battisti Archer

Intervenções artísticas urbanas e monumentos cívicos compartilham espaços dentro de uma mesma esfera de
atuação, a cidade, contudo envolvendo práticas discursivas, ideológicas e estéticas amplamente distintas. Em vários
níveis, os contrastes entre as duas formas são de clara oposição, da intervenção negando existência material e
memorial do monumento. Neste trabalho, pretende-se localizar as naturais discordâncias entre as práticas e refletir
sobre sua relevância no espaço público e no cotidiano de seus habitantes. O debate se dará sobretudo a partir de um
repertório conceitual que compreende desdobramentos da escultura moderna e contemporânea e suas implicações
com o espaço da cidade. Neste artigo, a questão das obras tridimensionais e seus limites espaciais e temporais é
analisada a partir de diferentes contribuições teóricas que abordam o amplo campo da espacialidade, como as
definições de intervenção para Brian O’Doherty (2002), o espaço moderno de Alberto Tassinari (2001), o site-specific
de Miwon Kwon (2008) e o que são os monumentos para Alois Riegl (2014). Esse debate é também articulado com
reflexões sobre a cidade contemporânea, seu cotidiano e o espaço ocupado pela arte através das intervenções e
monumentos urbanos, para as quais são importantes as contribuições de Argan (2005), Nelson Brissac Peixoto (1999)
e Vera Pallamin (2000). Não procura-se aqui restringir compreensões, nem limitar os conceitos expostos, muitos deles
já amplamente debatidos entre historiadores da arte. Busca-se, sobretudo, propor um debate tanto teórico quanto
reflexivo sobre a pertinência da arte pública em suas diferentes formas, suas relações com a memória da cidade e
peso criação de espaços de fruição artística e vivência coletiva.

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Testigos gigantes. El crecimiento de Lima y las torres de agua.

Israel Leandro Flores (Ah6studio)

Lima, una de las capitales más pobladas del mundo y la quinta ciudad más poblada de América, ha sido parte
fundamental del discurso urbano latinoamericano. Lima es larga con más de 110 km de sur a norte y alta porque varía
de 0 a casi 1,000 msnm. Lima tiene casi 500 huacas o centros ceremoniales que pueden datar más de 3500 años. Con
tres ríos que tenían valles ubérrimos en los que ahora más del 90% se ha perdido. Una ciudad que puede tener por
metro cuadrado un precio mayor a Manhattan y que a la vez tiene alrededor de 1 millón de personas sin agua. Es una
ciudad que, junto a Bogotá, es la más densa de América y a la vez tiene un déficit habitacional de casi medio millón de
viviendas. El problema es que la historia de la ciudad dejó de estar signada por estos controladores: si antes se
dependía de la Torre para crecer, ahora, ya no. La altura artificial cedió a la altura natural. La historia de Lima es una
historia del agua. Y la historia del agua la puede contar estos Testigos Gigantes. Esta ciudad empezó bien, pero terminó
mal. La presente ponencia pretende resumir la situación actual de Lima desde una reconstrucción epistemológica:
Lima creció gracias a las Torres de Agua. Primero, se hará una reconstrucción y definición del hecho patrimonial desde
una mirada tradicional. Segundo, se hará un definición y sustentación patrimonial desde el lado de la filosofía y en el
caso particular, desde la mirada de Heidegger y la definición de DASEIN. Tercero, se hará una taxonomía de las torres
de agua, desde su mirada de contexto y desde la mirada georreferenciada como primer catastro de Torres de Agua.
Cuarto, el testimonio pulsante de una de las torres que ya no existe. Con la reconstrucción testimonial de quienes
dejaron sus escritos en plena demolición. Quinto, se hará una aproximación testimonial directa de lo que fue la torre
ingresando a ella y testimoniando y tratando de demostrar su valía.

ST 40 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

População em situação de rua: Um olhar de alteridade

Amanda Sanara Oliveira da Silva (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo), Jessica de Almeida Polito
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

No trabalho trata-se sobre o tema arquitetura social, pessoas em situação de rua, e mais especificamente, relaciona as
contribuições que o espaço de habitar influência na vida desses cidadãos. Os objetivos foram associar as orientações do
método "Housing First" na cidade de Limeira-SP, com a recolocação da população em situação de rua no âmbito social,
apontando de forma primária aspectos que os levaram ao estado de vulnerabilidade e atrelar essa temática com o espaço
urbano. Quanto aos resultados, a escolha do local foi justificada em ver a necessidade de se implementar um novo modelo
que atraia essa população, e consequentemente deixem de viver às margens. O "Housing First", ou seja, habitação primeiro,
tem como principal recurso pra a emancipação individual, o acesso primeiro a moradia. Esse método contribui minimizando a
população que faz das ruas seu espaço de habitação. Compreendeu-se que estes precisam de um olhar de alteridade, para
que queiram novamente reencontrar a identidade que antes fora perdida.

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Arauto ambíguo da modernidade: transição entre a arquitetura modernista e eclética em São Paulo no caso do Edifício
Santo André.

Lucas Arantes Lorga

O presente trabalho pretendeu analisar a transformação arquitetônica de São Paulo na década de 1930, período
tradicionalmente esquecido pelos pesquisadores, expressa no bairro da região central, Higienópolis. Tal território
passava por uma transição entre a arquitetura eclética de palacetes ao molde europeu, principalmente francês, para
a introdução da arquitetura moderna. Com tal intuito, escolheu-se como objeto o Edifício Santo André, projetado em
1935 pelo arquiteto francês Jacques Pilon, ainda pouco estudado pela historiografia da arquitetura e um dos
precursores da verticalização no bairro. O grande objetivo da pesquisa foi identificar as rupturas e continuidades entre
as duas tipologias arquitetônicas, apesar do discurso modernista de rompimento e inovação, que podem ser
estendidas para muitos processos semelhantes de verticalização na capital paulista. Para tal, utilizou-se do
comparativos entre as plantas de palacetes tradicionais do bairro com a planta do Edifício Santo André, para
demonstrar as semelhanças e diferenças identificadas na disposição dos cômodos e da segregação de espaços.

ST 40 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Monumento a Ramos de Azevedo em São Paulo: um patrimônio urbano deslocado

Amanda Regina Celli Lhobrigat (Restauraação arquitetura e restauro ltda), Haroldo Gallo (UNICAMP - Universidade
Estadual de Campinas)

Este artigo a ser apresentado no 3º encontro internacional História & Parcerias e 7º Seminário Fluminense de Pós-
graduandos em História, na temática “História, patrimônio e cidade: em busca da urbanidade”, é um recorte da
pesquisa de mestrado: “Memórias perdidas da arte urbana: ponderações sobre a descontextualização do Monumento
a Ramos de Azevedo em São Paulo”. Artefato concebido a partir de concurso público para homenagear vida e obra do
arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Inaugurado em 25 de janeiro de 1934 na Avenida Tiradentes. Mas a
partir de 1956 passou a ser visto como empecilho ao trânsito paulistano. Desmontado na gestão de Faria Lima em
1967, e remontado em tempo e localidade distantes do propósito inicial. Levando a perdas de significado, memória e
identidade. Aqui apresentaremos as consequências à cidade de São Paulo dos diferentes tratamentos urbanos
pensados a partir dos planos urbanos de Prestes Maia (1930) e Faria Lima (1969) a partir do caso deste Monumento.

Hospital Matarazzo: tombamento e ressignificações

Thaís Teixeira Dias Brambilla (----)

A presente comunicação tem como objetivo apresentar um pouco da história do hospital Umberto Primo, também
conhecido como Hospital Matarazzo. Inaugurado em 1904, sendo uma associação beneficente da comunidade italiana
imigrada para São Paulo, e tombado em 1986 o antigo hospital foi considerado pelo órgão responsável pelo seu
tombamento (CONDEPHAAT) como um representante da presença italiana em São Paulo. Os prédios que compunham
o antigo complexo hospitalar de aproximadamente 27.000m², localizado em uma área nobre da capital, próxima a

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Avenida Paulista, foram abandonados após o encerramento das atividades em 1993. Algum tempo depois o imóvel foi
leiloado e comprado pela Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, que também manteve o imóvel
sem uso. Após vários anos de deterioração e descuido, em 2011 foi vendido para um grupo de investidores franceses,
que está transformando o antigo hospital em um complexo de luxo composto por shopping center, hotel, escritórios,
centro cultural.

ST 40 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

O Capão redondo e os Adventistas: Identidades paralelas?

Gabriela Borges Abraços (UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)

Este trabalho propõe uma reflexão sobre o patrimônio imaterial criado e legado pelos adventistas do sétimo dia no
bairro de Capão Redondo, na região sul da cidade de São Paulo, fomentando uma comparação entre as marcas
identitárias da comunidade adventista da região, em meio à cultura de periferia praticada no bairro. Podemos localizar
convergências, Divergências, ou Amálgamas? No momento em que, o grupo adventista fundou seu primeiro núcleo
religioso e escolar na cidade de São Paulo em 1915, no bairro de Capão Redondo, a região era somente um balneário
salutar. A região era freqüentada por paulistanos que buscavam ambientes junto à natureza, escapando aos padrões
da cidade grande repleta de concreto. A escolha da região para o estabelecimento do Colégio adventista de São Paulo,
deu-se pela busca dos mesmos requisitos, por ser um ambiente natural, distante de núcleos urbanos adensados. No
entanto, a região de Capão redondo passou por drásticas transformações ao longo do século XX: Inicialmente recebeu
assentamentos de colonos alemães e foi sede de vários agrupamentos rurais de cunho religioso. No entanto, ao longo
das décadas de 1950, 60, 70 e 80 o bairro recebeu um grande contingente de migrantes brasileiros que vinham
trabalhar na capital paulista, e buscavam ali, moradias mais baratas. O bairro de Capão Redondo transformou-se em
um núcleo suburbanizado, com carências estruturais e econômicas, gerando um cenário de violência e hostilidade.
Neste contexto, propõe-se a reflexão comparativa entre o patrimônio cultural do grupo religioso adventista, diante
do crescimento das cultursa do rap, hip hop que surgiram no bairro, como manifestações da vida suburbana. Muito
embora, nos pareçam elementos culturais tão distantes, é nosso objetivo discutir encontros, descrever desencontros
e analisar os momentos de amálagamas onde ambas puderam colaborar conjuntamente para o desenvolvimento e
melhoramento da vida no bairro.

Projeto “A Casa e a Rua”: em busca de urbanidade na periferia

Rosane Segantin Keppke (USP - Universidade de São Paulo)

Na produção social do espaço, a relação centro-periferia é uma discussão que perpassa múltiplas escalas, da escala
planetária ao espaço intraurbano – onde a cidade formal e a cidade informal convivem lado a lado no mesmo distrito,
bairro e quadra, mas não sem o inerente e histórico conflito de classes. A coexistência involuntária de classes produz
artifícios de segregação – condomínios, câmeras, seguranças, muros. Por outro lado, a exclusão social também induz
a comportamentos antiurbanos: ocupação do espaço público com moradia e comércio ambulante, descarte
inadequado de resíduos e efluentes, bailes “funk”. As motivações são diferentes, mas o resultado é a negação do

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espaço público. Neste contexto, ruas e praças deixam de ser locais de convívio para serem locais de disputa ou
abandono, enquanto as “pessoas de bem” se enclausuram em suas casas. (DAMATTA, 1997). Esta problemática foi
objeto de reflexão e projeto de extensão universitária realizado na Subprefeitura Campo Limpo, periferia de São Paulo,
junto ao poder público local, cujo desafio seria propor estratégias e ações mitigadoras dentro de um orçamento quase
nulo. Após analisarem a região e identificarem muitos passivos urbano-ambientais, os professores, alunos e técnicos
municipais prospectaram as seguintes possibilidades. Primeiro, realizar uma força-tarefa de numeração oficial de
domicílios. A invisibilidade desta agenda afeta quase metade das ruas e domicílios dos distritos periféricos da cidade.
Certamente os tomadores de decisão desconhecem a dificuldade de serem encontrados por ambulâncias, bombeiros,
defesa civil, correio e entregadores. Segundo, elaborar projetos participativos de praças e ruas de convívio. Nos dois
distritos de alta vulnerabilidade social, as propostas consideraram equipamentos de lazer para todas as idades,
inclusive arvorismo, aproveitando a vegetação existente, quiosques para geração de trabalho e renda, obras em
regime de mutirão ou patrocínio do comércio regional

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ST 42. História, Patrimônio e Culturas Afro-brasileiras e Indígenas: pesquisa e ensino

ST 42 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Cultura-afro-brasileira: perspectivas na educação e no patrimônio

Sirley da Conceição Ferreira

O presente estudo tem como proposta de analise apresentar reflexões teóricas na formação do afro-brasileiro na
sociedade brasileira e no reconhecimento de seu patrimônio cultural, que por sinal são questões que apresentam
varias nuanças, por outro lado a formação educacional e cultural também é marcado pelo processo histórico por um
determinismo biológico e racial, onde o negro era visto como povo degenerado e de não ascensão na sociedade,
fatores esses imbricados no processo político de branqueamento (eugenia) e o mito da democracia racial restringindo
o acesso a educação do negro. Nesta perspectiva, a educação e patrimônio são centrais na (re) construção da auto-
imagem do afro-brasileiro, e pode ser trabalhado em diferentes espaços baseados numa educação multicultural. A
reflexão também parte da ideia de que a valorização por parte dessa população de conservar o seu próprio patrimônio
cultural e de (re) conhecer como parte de sua formação identitária é através da educação. Preliminarmente, o
patrimônio como recurso para a educação, se discute a importância de se estudar a cultura afro-brasileira, no sentido
de desmistificar e resgatar a contribuição do negro (a) nas áreas social, política, econômica e a educação pertinentes
à historia do Brasil, por fim, como construção social e complemento da cultura e como elemento central na políticas
publicas, e que auxilia no processo de construção das tradições e elementos de (re) existência dos grupos minoritários.
Desde então, o presente artigo consiste em um aporte de considerações históricas, das ciências sociais e da
antropologia que são importantes para compreendermos que houve uma dispersão da formação do negro na
sociedade e que ainda se encontra em percurso de construção, visto que o seu reconhecimento pelo Estado ainda é
recente, e é preciso rediscutir o processo de formação educacional do negro (a) sua posição nos diferentes setores da
sociedade, na educação e o reconhecimento de suas referências culturais.

Galeria dos Feiticeiros: Religiosidades Pretas, Identidades e Resistência na Cidade do RJ 1890-1930

Thamires Guimarães de Oliveira

O objetivo deste artigo é investigar certas identidades pretas, assim como as diversas formas de resistência visando a
continuidade de seus costumes e religiosidades na cidade do Rio de Janeiro em um período onde a população negra
vivia a liberdade, mas ainda sofrendo vários impactos dos tempos do cativeiro. Durante o início do período republicano
a repressão sobre a população negra ficou cada vez mais intensa, sobretudo no que se refere às suas expressões
culturais e religiosas. As dimensões entre a repressão e a resistência estão nas fontes de época e pode ser uma
perspectiva para as problematizações possíveis de serem feitas. A visão que a sociedade da chamada Belle Époque
carioca sobre os sacerdotes e as casas das religiosidades africanas baseada em valores europeus de civilidade e limpeza
social levaram os periódicos e a literatura de época trata-los por casas de feitiçaria e os adeptos por feiticeiros. O
principal ponto de partida dessa pesquisa é a Galeria dos Feiticeiros, uma coluna publicada nos noticiários do Rio de
Janeiro, no início do século XX.

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Patrimônio cultural, danças e ancestralidade: resgate e inserção da cultura quilombola na educação física escolar.

Roberta Taize de Jesus Evangelista, Larissa Oliveira Guimarães (Faculdade AGES - Faculdade Ages de Senhor do Bonfim)

representa a tradição de um povo sofrido, que viu na dança, um refúgio de suas tristezas diante da seca. Esta dança
cultural faz parte da história da cidade, e foi reconhecida como patrimônio imaterial. Assim, necessita ser abordada e
estudada dentro da escola, para que essa riqueza não se perca, pois representa resistência e luta dos descendentes
locais. Nesta perspectiva, a dança se configura como um elemento da Educação Física escolar que representa um
patrimônio cultural, a força da ancestralidade e a história de um povo, em uma interdisciplinaridade que reúne dança,
história, antropologia e artes. A escola como uma das protagonistas na socialização tem o papel de fornecer aspectos
históricos e culturais para a formação crítica, consciente e transformadora dos cidadãos. O resgate da ancestralidade
através da dança favorece o empoderamento de um povo que conta a sua história com os cantos e a expressão
corporal, potencializa o diálogo escola-comunidade e preserva a cultura local.

ST 42 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO. Cultura Popular, Religiosidade e Racismo

Elaine Pereira Rocha (University of the West Indies)

Este trabalho discute elementos das memórias da escravidão que estão presentes nas práticas cotidianas do folclore
e da religiosidade, e que se inserem nas dinâmicas de resistência, conformidade ao doutrinamento colonialista. Com
este fim, selecionei alguns elementos mais conhecidos da cultura brasileira, como a devoção a São Benedito, a lenda
do Saci Pererê, a figura do Zé Pelintra, entidade da umbanda, e a reencarnação, conforme entendida pelo kardecismo.
Utilizando de leituras de Cultura Popular e História Social, conforme proposto por autores como Michel De Certeau, é
possível identificar representações e interpretações do passado e do cotidiano, que facilitam o entendimento do
comportamento brasileiro nas relações raciais, que continuam a reproduzir aspectos da ideologia racista inspirada no
catolicismo colonial e no Darwinismo Social. A cultura popular desenvolve conceitos, pelos quais se orienta,
elaborando estratégias de resistência que incluem conformismo e resistência. Dessa forma, a demonização de
entidades de resistência como o Saci Pererê e o Zé Pelintra é contrastada pela santificação da obediência, como no
caso de São Benedito, enquanto que o Kardecismo instrui pelo conformismo e aceitação da opressão, da qual o
indivíduo escaparia ao reencarnar, enquanto o opressor enfrentaria o castigo (educador) na nova vida. A proposta do
estudo se justifica, na tentativa de entender a lógica popular criada para explicar os conflitos raciais no Brasil, e como
certas doutrinas contribuem para perpetuar a opressão dos negros.

Olhares decoloniais e os itans nos terreiros: ancestralidades como patrimônio

Marta Ferreira (SEEDUC-RJ), Nielson Rosa Bezerra (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Neste artigo debatemos a ideia de um outro princípio para o paradigma de patrimônio, considerando que a
ancestralidade, cotidianamente tratada nos terreiros de candomblé, pode ser uma perspectiva que rompe com uma
lógica colonizadora que permeia esse debate na sociedade brasileira. Os tradicionais ítans yorubás emprestam as

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narrativas que serviram de fontes para a elaboração das reflexões aqui apresentadas. As narrativas patrimoniais da
sociedade brasileira sempre encontraram lugar de privilégio nos princípios paradigmáticos colonizadores. Contudo, a
formação social do Brasil foi marcada por diferentes matrizes culturais, em especial os povos africanos que vieram
para as Américas durante o tráfico atlântico, entre os séculos XVI e XIX. Com aquelas pessoas, significados, tradições
religiosas e expressões culturais atravessaram o oceano, contribuindo para forjar uma cultura nacional. O conjunto
patrimonial do Brasil tem sido ampliado ao longo das últimas décadas, uma vez que expressões das culturas
afrodiaspóricas têm sido inseridas nas coleções a serem tombadas e registradas pelos órgãos competentes. Todavia,
neste artigo, não se pretende pensar as expressões, símbolos, edifícios e objetos que poderiam fazer parte da coleção
nacional do patrimônio cultural do Brasil. Nossas reflexões aqui apresentadas se fundamentam na busca por um outro
princípio conceitual de patrimônio. A ancestralidade, um princípio de conexão e reconexão entre diferentes indivíduos,
oferece uma dimensão coletiva, seja material ou imaterial, que demarca um sentimento de pertencimento entre
pessoas com origens diversas. Para abordar a questão da ancestralidade como um princípio coletivo de patrimônio,
buscamos ítàn da tradição yorubá para pensar diferentes perspectivas que perpassam a materialidade e a
imaterialidade que evocam as identidades coletivas de uma sociedade

Contribuições de Gisèle Cossard (Omindarewa) para o universo religioso e social de Santa Cruz da Serra, Duque de
Caxias.

Barbara Rosalino Pinheiro Matos (Colégio Carlos Gomes)

O presente artigo relata a trajetória de vida da Gisèle Cossard Binon, a Yalorixá Omindarewá líder religiosa do Ilê Asè
Atara Magbá localizado no Parque Equitativa, Santa Cruz da Serra em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. O objetivo
central do trabalho é a partir da análise de sua história, tratar as suas contribuições sociais e religiosas, tornando
possível dessa forma, a identificação dos níveis de influência de seus feitos. Relatar a vida de Cossard torna-se
fascinante quando observamos dentre tantos aspectos relevantes, a sensibilidade de uma pessoa com costumes e
hábitos finos oriundos de sua criação europeia, embora com tantas mudanças. O valor atribuído por ela a cultura e as
pessoas em solo africano desde sua primeira estadia por lá, já em idade adulta. Descrever sua caminhada desde a
França, sua residência em Cidade do Cabo na África do Sul, até sua chegada ao Brasil é vislumbrar um universo amplo
de sua acessibilidade e interesse diante destas novas culturas, até seu encontro com o Candomblé. Sua inserção neste
universo se dá de forma lenta, cercada de novas buscas e conhecimentos. Com seu retorno à França, a iniciação
religiosa torna-se algo ainda mais inviável diante da possível oposição de seu esposo. visto. O retorno ao Brasil traz a
Cossard novos caminhos, sua iniciação ocorre através de uma figura emblemática do Candomblé: Joãozinho da
Goméia, um homem homossexual e negro, em um país ainda mais preconceituoso do que o dos dias atuais.
Posteriormente, Gisèle leva o Candomblé à Europa e ao mundo, participando de entrevistas em canais de televisão e
revistas e publicando artigos de relevância, como o de seu doutoramento na Sorbonne. Tratar suas contribuições
sociais e religiosas é, sobretudo, demonstrar a sua importância tanto para a sociedade local onde residia, quanto para
o universo religioso no qual ela estava inserida.

ST 42 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

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Análise crítica dos livros didáticos de História sobre a História e Cultura Afro-brasileira

José Luiz Xavier Filho (Prefeitura Municipal de Lagoa dos Gatos - PE)

Livros didáticos são materiais e instrumentos de trabalho do professor e do aluno. São suportes fundamentais na
mediação entre o ensino e a aprendizagem, e são usados com frequência nas aulas de História. De acordo com a Lei
10.639/2003, se tornou obrigatório o ensino sobre a História e a Cultura Afro-brasileira em sala de aula. Qual tem sido
o papel dos materiais didáticos no ensino, aprendizagem e inserção desses conteúdos nas aulas de História? Para
responder essa inquietação, apresentamos uma pesquisa de caráter bibliográfico e de análise crítica da coleção
didática da disciplina de História, escolhidas por uma escola de rede pública do Ensino Fundamental dos Anos Finais,
onde investigamos se os conteúdos abordados contemplam o que é exigido por Lei. Analisamos também como os
materiais didáticos interferem na formação dos alunos e como são contemplados os conteúdos que fazem parte da
história dos negros e negras no Brasil, as visões estereotipadas e abordagens incompletas sobre a participação dos
mesmos e mesmas na formação cultural brasileira. A familiaridade com o uso do livro didático faz que seja fácil
identifica-lo e estabelecer distinções entre ele e os demais livros. Entretanto, trata-se de objeto cultural de difícil
definição, por ser uma obra bastante complexa, que se caracteriza pela interferência de vários sujeitos em sua
produção, circulação e consumo. Esperemos que através da leitura desse trabalho, leitores, estudantes, acadêmicos
e professores da educação básica, possam ampliar a visão crítica sobre assuntos que estão sendo trabalhados no
cotidiano escolar e busquem formas de contemplar e inserir novos conteúdos inclusivos, que há muito tempo estão
sendo silenciados.

Uma análise da representação do indígena no livro didático de História

Aldrin da Costa Cruz (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana)

O presente artigo trata da ampliação de estudos realizados para uma dissertação de mestrado na área de educação,
que teve como objeto de estudo o indígena no livro didático de História, e a (des)construção de discursos e
representações pelo professor indígena Pataxó. A análise transitou entre a narrativa de um professor indígena sobre
diversidade cultural dos povos tradicionais, coletado por meio de entrevista semiestruturada, a partir de uma imagem
e do texto que abre o capítulo cinco do livro de História do 7ª ano do Ensino Fundamental que, de modo específico,
fala da temática indígena. Esse livro foi adotado pela Escola Indígena Coroa Vermelha situada no município de Santa
Cruz Cabrália no Sul da Bahia. Os dados foram analisados a partir da perspectiva teórico-metodológica da Análise do
Discurso de Linha Francesa. Constatamos que o professor indígena desconstruiu o discurso estereotipado presente na
imagem do livro didático de história analisado, no que concerne a diversidade cultural dos povos indígenas e
identificamos um significativo o equívoco na relação entre texto e imagem que abre o capítulo cinco do livro didático
em questão.

Deixa a fumaça entrar na sala: o invisível que reexiste na disputa

Bruna Maria de Almeida Luiz (SEEDUC), Lady Christina de Almeida (Seeduc/RJ)

Refletindo a Educação como possibilidades e entrelaçamento de seres e saberes múltiplos, o presente trabalho lança-
se a aventura de enfrentamento aos cativeiros coloniais. Quebrando as “correntes” do currículo como um grande

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curral aniquilador, é que existe a possibilidade da inclusão, trazendo as culturas de crianças e adolescentes para dentro
da sala de aula. As Leis 10.639 e 11.645, para além de uma reparação histórica, são instrumentos reivindicadores de
que os saberes subalternizados sejam postos na Educação e nas escolas; saberes que também são ricos em suas
estruturas e que seu conhecimento funciona como prática de libertação e experiências outras de mundo, dentro de
toda diversidade existente; ampliando, inclusive, repertórios de estudantes, cultivando o respeito a pluralidade de
existências, através do conhecimento, das trocas, dos aprendizados mútuos, sem aniquilações de outras práticas
diferentes. Um dos caminhos dessa aventura foi a criação do Projeto “Tocando Corações” em desenvolvimento no
CIEP Cora Coralina, na cidade de Duque de Caxias, RJ. A lógica do “Tocando Corações” é uma Educação que parte do
pressuposto de liberdade e autonomia, da valorização dos cotidianos, saberes e a construção de sentidos nas variadas
formas de se praticar o dia-a-dia com responsabilidade e comprometimento com a liberdade, justiça social e plenitude
de direitos de expressão. Os materiais criados e divulgados nas redes sociais, lançam as flechas de reencantamento de
mundo, exaltando, inclusive, outras formas de percepções da vida, sabedorias e conhecimentos assentados nas
culturas afro-ameríndias, muitas vezes, presentes nas próprias vivências de estudantes e ex-estudantes da escola.

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ST 43. Imagens e práticas religiosas cristãs: saberes em perspectiva entre a História e a
História da Arte

ST 43 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Santa Maxelenda e um manuscrito para a abadia de Saint-André-du-Câteau

Pamela Wanessa Godoi

Santa Maxelenda é uma santa de devoção local, cultuada no norte da França. Sua hagiografia narra que a jovem, tendo
escolhido ser monja, recusou o casamento arranjado por seu pai e fugiu. Ao ser encontrada por seu pretendente, foi
esfaqueada e morreu. O futuro esposo, no entanto, ficou cego na mesma hora em que a espada ultrapassou
Maxelenda. Quando de seu enterro, o homem cego se redimiu, pedindo perdão e se convertendo ao cristianismo,
sendo então curado. O relato, posto por escrito no século X, explica que o episódio da virgem e mártir da região do
Câteau-cambresis teria se passado no século VI. Embora a devoção a Maxelenda seja ainda hoje muito presente no
norte da França, há poucas imagens medievais suas. Uma delas está na miniatura de abertura do manuscrito
catalogado como BM Cambrai 0528, um Homiliário feito no século XII. A miniatura de página inteira, feita no fólio 2r,
apresenta o Cristo Triunfante no interior de uma grande mandorla. No seu lado direito está Santo André, abaixo
encontramos um irmão de nome Rainerus, e do lado esquerdo a imagem de Santa Maxelenda. A miniatura chama
atenção para a relação entre Santa Maxelenda e a abadia de Saint-André-du-Câteau, para o qual o manuscrito pode
ter sido destinado.

As Cristianizações da Antiguidade Clássica: readequações dominicanas do Caronte dantesco em Santa Maria Novella
(1350-1357 ca.)

Bruno dos Santos Menegatti (ECA USP)

O Trecento italiano pode ser caracterizado como um período de transformações no imaginário cristão do pós vida e
consequentemente do Inferno. A longa tradição medieval das visões do Inferno até o fim do século XIII indica o uso
da desordem e da ambiguidade como elementos descritivos da natureza onírica e inconsciente dos relatos visionários.
As imagens do tema, ao mesmo tempo, são geralmente reduzidas ao canto inferior-direito da composição, sobretudo
nas pinturas do Juízo Final. Ao longo do século XIV surgem novas propostas iconográficas entre as quais, uma das mais
notáveis, está o Inferno da Capela Strozzi (1350-1357 ca.) na Basílica dominicana de Santa Maria Novella. Esta pintura
– um segmento de um ciclo de afrescos do Julgamento – é um dos primeiros testemunhos de monumentalidade e
alinhamento pictórico com as descrições topológicas do Inferno de Dante. A ampla fatura crítica desta relação entre
imagem e texto revela a sugestão de um elogio à Commedia, que em verdade, esconde profundas críticas teológicas
promovidas por mendicantes toscanos que, por vezes, beiravam um julgo de heresia a obra dantesca. Entre as críticas,
estavam o excesso de mitologia, de secularismo e de poetização inadequado a uma visão cristã. Estes elementos são
provenientes, sobretudo, da Antiguidade Clássica que sem a devida readequação cristã e medieval, os mendicantes
não poderiam conferir a sua inspiração divina. Mas se Dante não pôde ser considerado um visionário pelas ordens
mendicantes, quais as razões para a citação de sua obra em um ciclo de afrescos do Juízo Final numa capela

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dominicana? A consideração deste desnivelamento entre texto dantesco e imagem cristã revela, a partir da
documentação histórica e de metodologias transversais, um novo vigor para reflexões e integrações entre a Dantistica
e a História da Arte Medieval.

A Interpretação da Arte Sacra Cristã: O uso da Iconologia e da Iconografia em interdependência com outras ciências.

Vivian Greco Cavalcanti de Araujo (Colegio Pedro II)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise da importância da iconologia e da iconografia, como
métodos de interpretação no campo da Arte Sacra Cristã. Para isso, primeiramente, será apresentado um panorama
dos entendimentos desses conceitos através dos estudos dos alemães Aby Warburg (2010) e Erwin Panofsky (2014),
do italiano Cesare Ripa (1987) e dos franceses Émile Mâle (1908) e Louis Réau (2005). A partir da compreensão desses
conceitos, o estudo pondera a hipótese de uma interdependência entre as análises iconológica e iconográfica e o
campo de conhecimento teológico, historiográfico da Igreja e hagiógrafo quando aplicados na observação de objetos
artísticos sacros. A iconologia, somada a iconografia podem ser vistas como uma forma de tirar o símbolo de sua
abstração e trazer-lhe a visualidade. A Arte Sacra, apreendida como uma forma de produção artística, é impregnada
de sentidos e símbolos e, partindo desse entendimento, para conseguir traduzi-los os métodos iconológico e
iconográfico são uma das formas mais pertinentes de análise. Porém, sem um prévio conhecimento teológico,
principalmente no momento de análise iconológica, pode ocorrer falhas interpretação.

ST 43 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Realidade e Religiosidade: A Consciência Moral nas Representações de Tentações de Santo Antão por Jacques Callot

Fellipe Eduardo Gonçalves Amorim

Durante um período de grandes conflitos ideológicos, políticos e sociais, ocorrido entre os séculos XVI e XVII,
resultando na chamada Guerra dos Trinta Anos, o gravador francês Jacques Callot produziu diferentes versões de
gravuras com aspectos religiosos morais que tiveram suas características compositivas alteradas conforme o caos e a
violência se espalhavam por grande parte da Europa. Diante de suas vivências pessoais, em um período que anunciava
o início da modernidade, Callot escolheu a temática das Tentações de Santo Antão para demonstrar sua visão sobre
as mudanças na relação social com os pecados no primeiro momento, voltados para os prazeres carnais e no segundo,
para a violência e os crimes de guerra. Em sua primeira versão das tentações, produzida entre os anos 1615-1617,
período anterior à Guerra dos Trinta Anos, Callot apresenta ao espectador um ar pecaminoso e festivo, deixando Santo
Antão em segundo plano diante de tantos acontecimentos grotescos inseridos em cena. Porém, na segunda versão
produzida em 1635, durante a guerra e no ano da morte do artista, foram inseridas características do caos e violência,
criando um ambiente bélico e conflituoso, incentivado também pelos acontecimentos sociais do período. Através da
análise das gravuras, é possível perceber como a força dos ensinamentos morais contidos na história de Santo Antão
(que viveu no Egito entre os séculos III e IV) e da economia simbólica criada pela religião cristã ao longo dos séculos,
influenciou a produção de Jacques Callot em um contexto histórico ímpar. Esses aspectos reforçam também a
importância de Antão como figura exemplar, próxima dos fiéis e influente sobre eles. Um homem que, através de seus

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feitos em busca da salvação dos pecados, e da aproximação com Deus, se transformou em um sábio transmissor de
conhecimentos santos, que chegaram a Callot e foram adaptados pelo artista, ganhando traços da realidade social dos
séculos XVI e XVII, como registros religiosos e históricos.

A ‘calcatio’ de imagens cristãs no Japão do século XVII

Christiane Meier

O cristianismo é a religião da palavra oral e escrita, dado que Deus criou o mundo com comandos de voz e Seu Verbo
se fez carne. A Bíblia, a palavra escrita, contem muitas imagens literárias que, pouco a pouco, foram traduzidas para a
pintura, o mosaico e a escultura. Os usos dessas imagens pictóricas foram variados: pertencimento, diferenciação,
identidade, memória, liturgia, catequese, ensino, devoção etc. Com as grandes navegações dos séculos XV e XVI e a
conquista de não cristãos, as imagens são chamadas para auxiliar na catequese de povos com idiomas muito diferentes
e que eram, em parte, ágrafos. Observando as missões religiosas no Japão, notaremos que elas sofreram resistência
de monges budistas e não puderam prosperar por muito tempo, menos de cem anos de cristianismo no arquipélago
nipônico. Como as autoridades e a elite japonesas desconfiassem de uma colonização católica por parte de espanhóis
e portugueses (era a época da união das coroas), proibiram o cristianismo e fecharam missões e igrejas; os fiéis
nipônicos foram obrigados a apostatar, pisando sobre imagens de Jesus e de Nossa Senhora. A presente comunicação
abordará os aspectos mencionados e analisará essa outra função dada por japoneses às imagens cristãs no século XVII,
a ‘calcatio’. Recusar-se a pisar sobre as imagens significava permanecer na fé cristã e ser torturado até a morte;
lembramos que o calcar o mal já é mencionado no Antigo Testamento e aparece igualmente no Novo. Verificaremos
ainda a recepção da ‘calcatio’ no século XX e XXI, no livro de Shusaku Endo da década de 1960, e a versão para o
cinema, de Martin Scorsese, de 2016, bem como sua repercussão junto ao Papa Francisco.

Representações angelicais andinas: os anjos arcabuzeiros de Calamarca

André Luis da Rocha Perrett

Os anjos arcabuzeiros são das temáticas mais significativas dentro da produção artística do Vice-Reino do Peru, área
administrativa do império espanhol na América que engloba a região dos Andes e corresponde ao espaço da parte
ocidental da América do Sul, incluindo regiões no Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. As pinturas dos anjos
arcabuzeiros surgiram por volta de 1660. A série apresentada especificamente aqui, dos anjos arcabuzeiros de
Calamarca, foi atribuída a um pintor anônimo identificado como o Mestre de Calamarca, ativo no século XVII. Os anjos
arcabuzeiros são considerados os soldados de Deus, logo possuem armas e indumentária militar características dos
soldados espanhóis do período colonial. Os anjos da série de Calamarca se diferenciam da construção europeia da
figura do anjo militar por pequenas inserções de elementos que correspondem à realidade vivida por eles nos Andes.
A utilização do branco, vermelho e azul nas penas e fitas carregam em si as cores representantes do império Inca; além
disso, o caráter militar é atualizado pelo uso do arcabuz, armamento muito comum na época de desenvolvimento das
obras. No período colonial a produção artística nos Andes serviu como instrumento da evangelização realizada pela
Coroa espanhola. A série dos anjos arcabuzeiros de Calamarca é importante por nos ajudar a compreender os impactos
da colonização espanhola, principalmente na produção artística local. Ela possui uma dualidade na medida em que
esses anjos com aspecto mais delicado carregam em suas mãos uma arma militar comum à época de produção. Os

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soldados de Deus representam a realidade da invasão espanhola, a religião como o único caminho a ser seguido, tudo
isso feito sob a conduta armamentista sugerida pelo arcabuz. Assim, esses anjos se tornaram mensageiros dos
ensinamentos cristãos a fim de sobrepor a manifestações autóctones. É disso que trataremos nessa apresentação.

Purgatórios na América Andina Colonial e a modernização de um tema medieval.

Letícia Roberto dos Santos

O historiador Jacques Le Goff encontrou no Purgatório um tema muito fértil para lidar com o imaginário medieval no
seu livro clássico “O Nascimento do Purgatório”. O autor demonstra como o conceito de Purgatório ganhou força na
Idade Média, resultado do encontro de tradições populares e eruditas. O Purgatório é considerado pelos doutores da
Igreja como um estado de expiação dos pecados para almas que já garantiram a Salvação mas que ainda não estão
preparadas para desfrutar do Reino dos Céus. Sua investigação demanda dos pesquisadores lidar com a imaginação,
registrada em tratados teológicos, literatura e registros visuais do período. O Purgatório dialoga diretamente com a
doutrina dos Novíssimos. Embora os quatro temas dos Novíssimos sejam a Morte, o Julgamento, o Céu e o Inferno,
encontramos nas séries dos Novíssimos na região andina a presença do Purgatório, seja como parte integrante de
outros temas ou com uma pintura totalmente dedicada a ele. A presença dos Novíssimos nas pinturas decorativas de
igrejas coloniais andinas é entendida como um “sintoma medieval”, como a persistência de um cristianismo da Idade
Média em terras ultramarinas. O Purgatório, tema afim dos Novíssimos, também se cristalizou no imaginário católico
durante a Idade Média. No entanto, a presença do Purgatório na iconografia cristã colonial andina abre a possibilidade
de discussão de como os temas medievais precisaram reagir ao impulso colonizador e às demandas dos povos
originários conduzindo a uma transformação do tema em algo novo na América. Na hipótese da utilização dos
Novíssimos pelo projeto colonizador, é possível levar-se em consideração que o Purgatório apareça como fator de
negociação entre os europeus e os indígenas. É para discutir o papel do Purgatório em pinturas coloniais andinas que
apresenta-se esta proposta.

ST 43 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Iconografia e imprensa religiosa: notas sobre os emblemas dos jornais A Imprensa Evangelica e O Apostolo

Mariana da Silva Rodrigues de Lima

Durante a década de 1860 surgiram muitos jornais religiosos em diversas províncias do Império do Brasil e a maioria
destes impressos era de orientação católica. Entre os jornais religiosos criados neste período destacam-se o jornal
protestante Imprensa Evangelica, que em 1868 teve seu título modificado para A Imprensa Evangelica, e, o jornal
católico ultramontano O Apostolo. Ambos foram publicados na cidade do Rio de Janeiro e versavam sobre temas
religiosos apresentando seções variadas, entretanto, teciam também comentários políticos. Esses dois jornais tinham
iconografias em seus frontispícios, O Apostolo portava um emblema desde a sua fundação em 1866, ao passo que, A
Imprensa Evangelica adotou um emblema a partir de 1868, acompanhando a mudança de título do jornal. O espaço
desta comunicação é destinado para a análise das imagens dos emblemas que estes jornais portavam, buscando

243
compreender seus significados para o projeto editorial destas publicações, proporcionando, assim, a ampliação do
entendimento sobre suas materialidades.

Imaginária popular: a imaculada conceição de Carambeí-Pr encontrada no século XIX pelos tropeiros

Althieres Ademar Carvalho

A imaginária popular apresenta características distintas de acordo com a região em que foi produzida. Concebidas por
santeiros ou devotos para ocupar em sua maioria espaços domésticos, algumas imagens – tão pequenas que cabiam
na palma da mão – testemunhavam a devoção dos fiéis que as carregavam como amuleto, um habito que deflagrou
em muitas perdas. É o caso da imaginária singela da Imaculada Conceição encontrada na cidade de Carambeí-PR por
tropeiros que passavam pela região, no século XIX. Por meio deste contexto, o ponto de partida para esta comunicação
é a – imagem, suas inquietações e, a força pela qual nos motivam a querer entender mais de história, e arte. As
reverberações causadas pela imaginária imaculista para esta pesquisa implicam em contextualizar a gênese do dogma
da Puríssima, bem como a sua caracterização, mediante metodologia bibliográfica. Considera-se que a imaginária
singela encontrada por devotos no século XIX ocasionou a construção da Capela Imaculada Conceição de Carambeí-
Pr.

Santeiro e político - Veiga Valle e a arte sacra em Goiás no século XIX

Fernando Martins dos Santos (Colégio Meta)

José Joaquim da Veiga Valle nasceu, em 09 de setembro de 1806, no arraial de Meia Ponte (atualmente Pirenópolis).
No arraial de Meia Ponte, se torna membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento e no primeiro pleito eleitoral
para a Câmara de Vereadores, em Meia Ponte, ele se candidata, mas não é eleito. Sua primeira eleição ocorrerá em
1836. Foi durante sua vivência em Meia Ponte que ele iniciou sua produção artística. Não é possível saber com exatidão
como se deu o seu aprendizado, mas é importante destacar que em Meia Ponte, existia um ambiente envolto de
igrejas que lhe proporcionou um olhar apurado para iniciar a confecção de suas peças sacras. Quando Veiga Valle se
muda para a então capital, em 1841, ele se casa com a filha do então presidente da província. Da mesma forma que
participava da vida política em Meia Ponte, ele tenta o mesmo caminho na capital, agora como deputado provincial.
Depois de inúmeras tentativas, em 1862 ele consegue se eleger e fica no cargo até 1872, mantendo a média de votos.
A obra de Veiga Valle é exclusivamente sacra. Tendo as madonas como sua maioria, mas o artista também esculpiu
santos, como: São Sebastião, São Miguel Arcanjo, Santo Antônio, São Joaquim e ainda Meninos-Deus. Suas peças não
trazem nenhuma inovação em sua produção, pois seguia os padrões exigidos da iconografia da encomenda. No
entanto, é no esgrafiado que ela se destaca, pela luminosidade, leveza e diversidade decorativa com seus medalhões
ovais, os buquês, folhas de acanto, entre outros. Enquanto viveu, no século XIX, Veiga Valle era visto entre os
vilaboenses mais como um político que um artista, mesmo que suas estivessem presente em todas as igrejas da cidade
e em inúmeros oratórios da cidade. Fato que se explica, quando ocorreu sua morte em 29 de janeiro de 1874, sua vida
e obra ficou silenciada. Suas peças continuaram fazer parte das celebrações religiosas da cidade, mas não se fazia uma
referência que ela seria de Veiga Valle. Fato hoje impensável.

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A Casa Sucena e a importação das esculturas devocionais da Casa Estrella e Maison Raffl no período da Belle Époque

Cristiana Antunes Cavaterra (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)

Originada em 1806, no Rio de Janeiro, a Casa Sucena, de propriedade de Azevedo & Ramos, passou por vários
proprietários, sendo o Conde de Sucena, José Rodrigues Sucena, aquele que lhe deu o nome, maior fama e expansão.
Considerado o estabelecimento mais antigo do país, desde a sua fundação comercializava artigos para igrejas e, em
1888, era o “Unico fornecedor por contrato de todas as matrizes da Provincia do Rio de Janeiro e demais dioceses do
Império”, distribuindo seus catálogos comerciais compostos por cinco volumes. Fornecedora de imagens sacras
fabricadas na França e Portugal, durante a administração de José Rodrigues de Sucena, mantinha um escritório na
cidade do Porto, de onde exportava imagens sacras da Casa Estrella, e outro em Paris, o “Estabelecimento de vestuário
e artigos religiosos”, de onde possivelmente exportava os produtos da Maison Raffl et Cie e outras casas francesas.
Duas casas que forneciam esculturas devocionais de tipologias diversas, a portuguesa, imagens sacras esculpidas em
madeira dourada e policromada com características barrocas e rococós; e a francesa que, além de imagens sacras
esculpidas em madeira, fornecia as inovadoras imagens sacras fundidas em “carton-romain” e gesso de estilo
“sulpicien”. Neste artigo, pretende-se apresentar os estudos preliminares sobre estas três casas, os estilos e técnicas
construtivas, materiais e pinturas decorativas das esculturas produzidas pelas Casas Estrella e Raffl, elaborados a partir
de fontes primárias e catálogos distribuídos pelas oficinas, e que farão parte da tese à ser apresentada ao programa
de Doutoramento em História da Arte da UNIFESP.

ST 43 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Do naufrágio à Assunção de Maria: um estudo das obras feitas por João Zeferino da Costa na Igreja da Candelária

Julia Belo Bocayuva Cunha

Localizada no centro histórico do Rio de Janeiro, a Igreja de Nossa Senhora da Candelária é um templo católico que foi
palco de importantes acontecimentos da história brasileira desde sua fundação no final do século XVIII. O objetivo da
pesquisa é analisar os textos publicados em periódicos de época que corroborem para o estudo do processo de
elaboração e para análise dos elementos presentes nas obras de arte realizadas pelo pintor fluminense João Zeferino
da Costa na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, encomendado pela da Irmandade do Santíssimo Sacramento da
Candelária, na provedoria de Julio Cesar de Oliveira. A pesquisa tem como objetos centrais as obras presentes na nave
central, capela-mor e cúpula representando a história da igreja, quatro passagens da vida da Virgem Maria e as 7
virtudes, respectivamente; e visa aprofundar o estudo acerca das pinturas de João Zeferino da Costa no templo.
Alcançando todos os objetivos aqui listados, esperamos colaborar para a expansão do conhecimento sobre a arte sacra
carioca, mais especificamente, da Igreja da Candelária. Desta forma, partir das ações tomadas nessa pesquisa,
conseguimos reunir informações detalhadas sobre os quadros do artista aqui estudado, a partir de ocorrências que
divulgaram visitas às obras da Igreja com a presença do próprio pintor, além de publicações com explicações
minuciosas das obras da nave central, cúpula e altar-mor feitas pelo próprio Zeferino da Costa. Mais à frente,
descobrimos informações importantes acerca do processo de realização das obras, desde os estudos realizados na
Academia di San Luca, em Roma, até sua inauguração em 1898. Além de detalhes sobre as pinturas em si, encontramos

245
publicações que elucidaram a importância destas obras no currículo do pintor, assim como a notoriedade atribuída à
Igreja da Candelária após a realização dos painéis.

A festa da Santíssima Trindade no Hospital dos Lázaros: devoção e paradoxos

Márcia Valéria Teixeira Rosa (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Dijavan Mascarenhas
Campos (Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária)

O presente artigo pretende analisar a festa da Santíssima Trindade realizada no antigo Hospital dos Lázaros,
administrada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária. Esta solenidade ocorreu até a década de 1970
e era promovida na capela do Hospital e tinha como particularidade uma missa com convidados e membros da Mesa
Administrativa da Irmandade e, em seguida, uma procissão de São Lázaro no jardim. Considerando as fotografias do
Arquivo F. B. Marques Pinheiro, a procissão tomava todo o espaço do jardim e era acompanhada pelo Provedor, os
membros da Mesa e demais Irmãos, que levavam os andores com as imagens devocionais de São Lázaro e de Nossa
Senhora da Candelária. Além destes, observamos a presença das alunas do Educandário Gonçalves de Araújo, uma
banda sinfônica e demais convidados, entre estes, autoridades eclesiásticas e políticas e o público em geral. Além das
fotos, a concorrida festa foi descrita nos Relatórios dos Provedores, Atas de reuniões da Mesa Administrativa e
divulgada nos jornais de época. Mediante esta constatação, indagamos por que esta festa, com as particularidades
descritas acima, era realizada dentro de um hospital destinado a pessoas cuja enfermidade era contagiosa? Por que
convidar publicamente para uma festa religiosa dentro de um hospital especializado no tratamento da hanseníase?
Interessa-nos, então, apresentar dois paradoxos: primeiro, o contexto desta cerimônia em um ambiente caracterizado
pelo isolamento social dos doentes, uma vez que eram retirados deste convívio. Segundo, a intenção da Irmandade
era sensibilizar a sociedade na manutenção desta atividade filantrópica, mas acabando expondo o público ao contágio
da doença. Além destes questionamentos, pretendemos apresentar a sequência desta celebração religiosa, quando
todos os presentes voltavam para o prédio e ocorria a entrega do pão de ló aos doentes e em algumas circunstâncias,
a Irmandade também inaugurava pinturas de retratos de membros de sua Diretoria.

“C. Campus M.” – Um escultor português no Brasil de meados do século XX

Maria Regina Emery Quites (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais), Mariana de Paula Corrêa Silva

A historiografia reconhece a importância da presença de escultores portugueses no Brasil Colonial, que permaneceram
no litoral ou se deslocaram para a região das minas do ouro. A escultura cristã é testemunho da ação de membros de
ordens religiosas no século XVII como o beneditino Frei Agostinho da Piedade, ou de mestres como Francisco Xavier
de Brito, que atuou para os leigos no século XVIII, tanto no Rio de janeiro como em Minas Gerais. Pesquisando a
escultura religiosa do século XX em Minas Gerais sobressai a assinatura “C. Campus M.” em inscrição na base das
obras, com datação do fim da década de 50 até a década de 70 do século XX, além da abreviatura “Rio J.” Foi
encontrado um documento que registra a encomenda de uma imagem da Pietá a um escultor de nome Carlos Campos
Maia, residente na cidade do Rio de Janeiro. A tradição de incorporar o sobrenome à origem do escultor nos deu o
indício, que nos levou a região de Maia, e consequente descoberta da nacionalidade portuguesa. A análise das obras
e da oficina portuguesa do norte de Portugal nos mostra a trajetória destes homens e objetos, as funções destas
imagens no contexto da produção religiosa e artística de meados do século XX.

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O estudo iconográfico dos putti no processo de conservação e restauração de pinturas murais religiosas

Silvana Borges da Silva (ICOM)

A partir do estudo iconográfico no processo de conservação e restauro das pinturas murais da Igreja Matriz da
Freguesia do Ó em São Paulo, surgiram algumas questões, relativas ao conhecimento daqueles que fazem uso do
espaço litúrgico, a respeito do significado e simbolismo dos elementos pictóricos existentes, e se a tarefa de disseminar
essa informação para a comunidade poderia ser o caminho de maior conscientização sobre a preservação do
patrimônio. Para este efeito, foi realizada a pesquisa, em uma perspectiva histórico-cultural, de algumas das pinturas
existentes, que, na arte cristã, não consistem em representações decorativas isoladas, mas de elementos que
compõem a ambiência religiosa e relacionados a liturgia. A presente comunicação abordará o estudo iconográfico do
nível de pinturas denominado putti e guirlandas, investigando as significações e apropriações dessa iconografia na
arte da pintura, escultura, arquitetura e mobiliário, por meio de uma perspectiva histórico-cultural, com apresentação
de exemplos de sua utilização no espaço litúrgico e doméstico. As representações iconográficas dos putti
permaneceram quase que inalteradas desde os primeiros registros remanescentes do século II d.C. e que ao longo do
tempo foram sendo apropriadas pelas diferentes culturas, inseridas nos novos estilos artísticos, nas mais variadas
utilizações, na concepção do espaço religioso ou civil, seja na pintura, escultura, arquitetura e mobiliário, em objetos
e espaços de uso litúrgico ou doméstico, até ter o seu simbolismo presente em uma igreja paulistana do início do
século XX.

ST 43 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Ausência e Presença: Discursos da Arquitetura Sacra Cristã na Contemporaneidade

Richard Gomes da Silva (ARCHOUSE)

O tema, parte da tese de doutorado em andamento, tem como enfoque analisar os aspectos simbólicos em torno da
concepção do espaço sacro contemporâneo. Partindo da premissa de que mesmo na ausência dos ornamentos, estas
arquiteturas buscam expressar narrativas que se relacionam com a liturgia e a arte cristã, de modo especial do período
medieval, fonte primária de todo o arcabouço simbólico da cristandade. Para este fim, a pesquisa toma como objeto
de análise um dos onze modelos arquitetônicos contemporâneos expostos pelo Vaticano na “XVI Bienal de Arquitetura
de Veneza”, ocorrida em 2018: o “Pavilhão Asplund”. Concebido pelos os arquitetos Francesco Magnani e Traudy
Pelzel, o Pavilhão fora o único objeto não-religioso da mostra, porém concebido relacionando-se com a forma nórdica
de construção das “stavkirker” – tipo de igreja comumente encontrada em países do noroeste Europeu, especialmente
na Noruega, cujas construções marcaram definitivamente a mudança do culto pagão viking para o cristianismo durante
o século XI. Logo, esta comunicação deseja abordar os paralelos formais que constituem tal releitura, colocando-a
tanto sob o tema da recepção das linguagens da arte e arquitetura cristã medieval, como também de seus discursos,
na concepção dos espaços sacros na contemporaneidade.

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O Cristo sigaudiano: entre o sagrado e o profano na pintura religiosa de Eugênio de Proença Sigaud.

Luciana de Fátima Marinho Evangelista (UEL)

Em meados do século passado, o arquiteto-fluminense Eugênio de Proença Sigaud, mudou-se para o norte do Paraná
para realizar intervenções arquitetônicas e criar um programa artístico para a catedral Diocesana de Jacarezinho.
Encomenda feita por seu irmão bispo Dom Geraldo de Proença Sigaud que resultou em 600m² de pinturas murais que
vieram a ser tombadas, em 1990, pela Secretaria da Cultura do Paraná. Por um olhar apressado, a temática de Cristo
nessa igreja pode passar despercebida, tendo em vista a ênfase dada ao Antigo Testamento e seus profetas e
profetizas. Entretanto, por uma mirada mais atenta reconhecemos uma criação com aspectos singulares da imagem
de Jesus, o que permite identificar a construção de um Cristo sigaudiano. Demonstração disso, é o caso da pintura
intitulada "O Sermão da Montanha" foi composta por um Cristo, com feição de um dos pedreiros que trabalharam na
construção do templo, dividindo a cena com Karl Marx e Lênin. Dessa maneira, destacaremos, nesta comunicação,
imagens artísticas de Cristo criadas por Sigaud e as formas de interação de sua arte com a cidade e os/as
moradores/moradoras de Jacarezinho-PR.

Anchieta ou O Evangelho nas selvas: da epopeia de Varela a associações imagéticas entre Anchieta e Jesus Cristo

Christina Bielinski Ramalho (Universidade Federal de Sergipe)

Anchieta ou O Evangelho nas selvas, poema épico em dez cantos, de Fagundes Varela, publicado em 1875, é uma
epopeia romântica religiosa, que tem como matéria épica a evangelização dos indígenas brasileiros e, como herói, o
jesuíta José de Anchieta, cujo protagonismo, no poema, é literariamente construído a partir de um paralelo entre
Anchieta e Jesus Cristo, recurso épico que, pela associação entre a vida e as ações de Cristo, projeta o jesuíta no plano
maravilhoso, componente fundamental do gênero épico. Nesta abordagem, pretendo demonstrar a legitimidade da
composição criativa de Varela, trazendo à cena as pinturas: O sermão da montanha, de Carl Heinrich Bloch, de 1877;
O sermão na montanha, de Ivan Makarov, de 1889; Evangelho nas Selvas, de Benedito Calixto, de 1893; e Retrato de
Anchieta, de Oscar Pereira da Silva, de 1920, para estabelecer, a partir de reflexões de Roger Caillois, Joseph Campbell,
Georges Gharib e Pierre Bourdieu sobre o simbólico, o sagrado e suas representações, entre elas, o pantocrator, alguns
parâmetros para a compreensão de temas como “cristianização”, “aculturação” e “dominação simbólica”.

ROTTING CHRIST, NAILED TO CROSS: imagens e referências religiosas na produção fonográfica do Sepultura (1984-
1986)

Thales Reis Alecrim (Colégio Newton Braga)

Na presente comunicação analisamos a ressignificação dos símbolos cristãos na produção fonográfica do Sepultura,
logo, compreendemos todos elementos que compõem os discos, tanto imagens quanto canções e informações
técnicas. Nesse sentido, focamos especificamente nas duas primeiras gravações da banda, o “Bestial Devastation”
(1984) e o “Morbid Visions” (1986). Nesses dois discos encontramos uma maior profusão de discursos estético-
ideológicos com referências religiosas. Para conduzir essa análise, partimos das considerações da História Cultural, da
Semiótica e dos Etnomusicologia, visto que nosso objeto se apresenta em uma linguagem hibrida, pois vincula sons,
imagens e textos. A partir desses discos, podemos acessar representações que compunham um período atravessado

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pela ascensão do neoliberalismo como modelo econômico, pela expansão da globalização e pela integração dos
mercados culturais que passam a produzir com mais intensidade vínculos identitários por meio da cultura de massa.
Dessa forma, enquanto analisamos a relações de determinados indivíduos com os símbolos da cristandade, também
podemos investigar como o gênero musical denominado “heavy metal” se expandiu globalmente. Objeto de estudo,
aliás, prenhe de significados, principalmente quando observamos que o “metal” produz fortes sentimentos de
pertencimento e que no seu momento de emergência estavam em xeque as certezas que balizavam a existência. Em
nossa hipótese, a ressignificação dos símbolos cristãos surge como uma forma de se prostrar contra o status-quo, que,
por sua vez, eram utilizados pelos movimentos conservadores em voga. Dessa maneira, opera-se uma forma de
pertencimento baseada em um discurso estético-ideológico que atravessava diversos países, mobilizando narrativas
identitárias e formas de percepção da realidade material.

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ST 44. Imprensa, sociabilidades políticas e eleições no Brasil do século XIX

ST 44 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Entre "vivas" e festas: o entusiasmo com o liberalismo em 1821.

Arthur Ferreira Reis

O movimento liberal historicamente conhecido como Revolução do Porto, que teria acontecido em 1820 em Portugal,
causou profundas mudanças na política do Império Luso-brasileiro. Ao analisa-lo em suas várias faces, a historiografia
tem reconhecido sua importância no processo de divulgação e consolidação das ideias liberais no Brasil, já que após o
acontecimento, livros, panfletos e periódicos passaram a circular de forma mais ampla, principalmente a partir do fim
da censura prévia. A divulgação dessas ideias liberais e a multiplicação no número de jornais aconteceu de forma
paralela a uma série de comemorações, festas e aclamações de novas autoridades provinciais e do louvor à
constituição e às liberdades. Destas celebrações, grande parte delas foi noticiada nos periódicos, que entre discursos
dos personagens e descrição dos enfeites, acabavam apontando para um entusiasmo com o liberalismo no ano de
1821. A partir disso, esse trabalho tem como objetivo analisar os “vivas” e outras palavras que aparecem nos jornais
em torno dessas manifestações. Lançando mão de um software chamado Iramuteq, apresentaremos dados
quantitativos e qualitativos sobre essas descrições em que alguns elementos centrais na política e na construção do
novo regime que se instaurava, tornam visíveis as permanências e rupturas na cultura política.

A representação política no Reverbero Constitucional Fluminense

Lucas Cabral da Silva

Um dos periódicos de mais destaque durante o movimento de Independência do Brasil, o Reverbero Constitucional
Fluminense, redigido por Joaquim Gonçalves Ledo e por Januário da Cunha Barbosa, demarcou a luta constitucionalista
de dois liberais contrários ao despotismo. A intenção da comunicação volta-se à percepção de ambos em relação ao
espaço de atuação dos cidadãos na vida cívica. Na ótica dos redatores, somente com a implementação do regime
representativo e de uma constituição tornava-se possível evitar as arbitrariedades, constituindo, assim, um Estado
livre. Seus escritos, dirigidos aos fluminenses, eram crivados por uma determinada concepção em relação a
precedência do povo na organização do corpo político. Em outras palavras, que o poder residia na nação, formada
pela união dos povos submissos a uma mesma lei e a um mesmo sistema de governo. Como condutores da opinião
pública, defenderam a publicidade da política e transformaram seus escritos em instrumento para a didatização de
um novo vocabulário político. A atenção está dirigida, ainda que não somente, a um número específico do periódico,
no qual Gonçalves Ledo e o cônego Januário teceram comentários, alicerçando sua argumentação em Jean-Jacques
Rousseau, acerca de preceitos do direito natural que deveriam estar anunciados na “Constituição de um Povo”. Coube
o entendimento de que era necessário anunciar tais direitos a fim de que o despotismo não triunfasse. Por sinal,
observa-se – entre os dez pontos sustentados pelos redatores – uma maior atuação dos cidadãos na formação do
corpo legislativo, ainda que concretizada apenas por meio do mecanismo da representação. Isto é, compreendida
como incompatível com a democracia, a adoção da monarquia representativa decorreu da percepção de este ser o

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único modo de desfrutar da liberdade, sem que os excessos desta emergissem. Espera-se, portanto, clarificar alguns
aspectos da ação discursiva dos redatores, ressaltando a propagação de uma “nova Religião Política”.

Rusgas e risos: Marcelino e Januário e o embate através de comédias teatrais

Victor Augusto Mendonça Guasti

O presente trabalho é fruto da pesquisa de mestrado, em andamento, que analisa o conflito político, jornalístico e
literário que ocorreu nos anos de 1834 e 1835, entre o Padre Marcelino Pinto Duarte Ribeiro e o Cônego Januário da
Cunha Barbosa. A batalha jornalística e literária de ambos culminou na escrita de duas peças teatrais em que cada um
dos clérigos satirizava a atuação política e intelectual do outro. Tal embate é um retrato do conflito político e ideológico
que ocorria entre os Liberais Moderados (facção à qual pertencia o Januário) e os Liberais Exaltados (facção à qual
pertencia Marcelino), durante a primeira metade do período regencial brasileiro. A contenda entre Padre Marcelino,
proveniente de uma província periférica, e o Cônego Januário, proveniente da capital do império, exprime o choque
ocorrido entre os que desejavam um sistema federalista com maior autonomia das províncias e os que desejavam o
fortalecimento do poder e da administração central do império. A reflexão foi produzida a partir das leituras e
discussões propostas pela disciplina História, Cotidiano e Poder, do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É abordado o método da redução de escala e da construção da história
conceitual do político, bem como os conceitos de opinião pública, opinião popular, poder simbólico e capital político.

ST 44 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

"Estamos ao pé do abismo": a distinção de identidades na imprensa do Rio de Janeiro (1837)

Driely Neves Coutinho

O ano de 1837 é considerado neste trabalho como espaço profícuo para o surgimento dos primeiros rastros de
identidade que formaram os partidos políticos Liberal e Conservador na década de 1840. Deste modo, a distinção
entre regressistas e progressistas, verificada na imprensa, estabelecendo posicionamentos divergentes diante os
resultados políticos das reformas liberais que foram implementadas durante os primeiros anos do período regencial,
é interpretado nesta pesquisa como aspecto embrionário para a formação dos partidos que se consolidaram ao longo
do Segundo Reinado. Diante disso, o ano elucidado é marcado por variados prismas acerca do contexto vivenciado
pelos personagens que escreviam os jornais. Os redatores do Dezenove de Setembro, do Regresso e do Sete d'Abril,
por exemplo, verificavam na figura de Diogo Antônio Feijó as causas dos males que assombravam a nação. Já os
publicistas responsáveis pelo Republico e pelo Parlamentar, salientavam que, embora o país vivenciasse de fato um
péssimo momento, o Padre Regente ia bem em sua gestão. Tais considerações são estudadas através da metodologia
das linguagens políticas e do conceito de cultura política, que juntas possibilitam a imersão no contexto linguístico dos
escritores, assim, justificando a ótica que os personagens possuíam diante a realidade que vivenciavam, como
também, a autoridade que exerciam no mundo político.

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O conflito para além do campo de batalha: a Guerra do Paraguai na imprensa capixaba do século XIX (1864- 1870)

Marcos Antonio Briel

Esta proposta possui o objetivo de discutir as percepções sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870) na província do
Espírito Santo com base nas publicações dos periódicos capixabas do século XIX, Correio da Victória e Jornal da Victória.
De acordo com suas edições e com as análises acerca do conceito de Cultura Política, pretende-se averiguar quais os
acontecimentos do conflito platino eram noticiados e de que forma eram abordados, bem como apresentar quais os
tipos de manifestações cívicas que foram protagonizadas pelos diversos setores da sociedade espírito-santense.
Também, faz-se pertinente destacar a adesão dos habitantes da localidade ao recrutamento militar e se a politização
e as disputas de narrativas oriundas da Corte em torno das principais lideranças militares e políticas, juntamente com
o saldo final da guerra, estiveram presentes entre a elite política do Espírito Santo. Por fim, pretende-se realizar uma
breve análise historiográfica sobre as principais obras que discutem os eventos da Guerra da Tríplice Aliança,
especialmente com o incremento de novas discussões e formas de abordagens propiciadas nas últimas décadas.

Jogo político nos projetos sobre escravidão, 1868-1870: parlamento e imprensa

Bruna Oliveira da Silva (Colégio Vital Brazil)

Na década de 1860, diferentes parlamentares como Silveira da Motta, Francisco Jê Acaiaba Montezuma e Tavares
Bastos procuraram interferir nas práticas ligadas ao uso de mão de obra escrava e apresentaram, respectivamente, no
Senado e na Câmara dos Deputados, projetos que, com pautas diversas, tinham tal finalidade. A presença do Estado
no âmbito particular não foi aceito pela maior parte dos parlamentares, opositores das ideias ligadas às limitações
presentes nos projetos. Entre as medidas propostas, constaram, por exemplo, a proibição do leilão público de
escravos, colocada em debate em 1860 por Motta na Câmara alta e aprovada em 1869 no parlamento. No entanto, o
acúmulo dos debates permitiu a construção de um repertório discursivo que foi utilizado no interior das instituições
para aprovação de projetos já no fim da década de 1860. O jogo construído pelos parlamentares favoráveis e
opositores as propostas, assim como a disputa no campo da construção da opinião pública, na imprensa, permitiu a
compreensão da dinâmica política que foi utilizada para canalização dos debates em torno do uso de mão de obra
cativa na década de 1860, tanto no parlamento, quanto na imprensa.

Analfabetismo como incapacidade política? Os debates de reforma eleitoral e a construção da ideia de incapacidade
política.

Leandro Duarte Montaño (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O presente trabalho apresentará alguns dos resultados preliminares da minha pesquisa de doutoramento em
Educação pela UFRJ e abordará o processo que levou a construção da ideia de incapacidade política e eleitoral
associada aos níveis educacionais e econômicos no contexto de debates que marcaram as propostas de reformas
eleitorais de 1878-9 e 1880-1. A análise apresentada partiu dos discursos do deputado Rui Barbosa proferidos por
ocasião da defesa da reforma eleitoral nas legislaturas de 1878 e de 1881 assim como os debates travados no
parlamento, com o objetivo de identificar a tipificação da incapacidade de ler e escrever com um obstáculo ao exercício
da cidadania. As reformas eleitorais – a tentativa de 1878 (Sinimbu) e a bem-sucedida de 1881 (Saraiva) – tinham como

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aspectos principais mudanças nas regras de participação eleitoral baseada em medidas mais restritivas de
comprovação de renda e de saber ler e escrever. Essas alterações propostas geraram debates no parlamento, levando
Rui Barbosa a defender o projeto diante dos ataques das alas mais “radicais” do Partido Liberal, como os de José
Bonifácio, o moço. Também foram utilizados como fontes os Anais da Câmara dos Deputados dos anos de 1878 e 1881
(ocasião da discussão dos dois projetos) bem como dados do Recenseamento Geral do Império de 1872, além do
projeto de lei de reforma eleitoral apresentado em 1878 e a lei 5.029 de 9 de janeiro de 1881 (Reforma Eleitoral). A
leitura desses documentos foi guiada pela perspectiva da História Intelectual (SIRINELLI, 2003), associada a História
Vista de Baixo (THOMPSON, 1997; 2012) associada ao conceito de “estigma social” (ELIAS; SCOTSON, 2000) para
entender a tipificação do analfabetismo como uma questão que se relacionaria diretamente com a incapacidade de
atuar politicamente.

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ST 45. Indígenas e africanos: vivências, narrativas e identidades no Brasil

ST 45 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Terras de Preto, Terras de caboclos e Terras de santo: processo de territorialização- Alcântara/MA

Denise Cerveira Tavares

O presente artigo aborda sobre as categorias Território e Territorialidades em uma perspectiva de identidade cultural.
Este trabalho sustenta-se nas discussões teóricas das categorias de território e identidade que permitem refletir acerca
do processo de territorialização das comunidades quilombolas de Alcântara- Maranhão. Com isso, cabe destacar os
conflitos enfrentados pelas comunidades quilombolas diante da implementação do Centro de Lançamento de
Alcântara (CLA). A discussão proposta no artigo tem o intuito de avançar nos estudos sobre territorialização na
formação das comunidades quilombolas de Alcântara, remetendo a historiografia da população negra, desde a história
da colonização brasileira até a questão central na luta de terras, acentuando ao longo do texto temáticas como: cultura
e identidade. Em um primeiro momento, buscou-se trazer um breve histórico do município de Alcântara para tentar
compreender o processo de territorialização das comunidades de quilombos. Pois, parte-se do princípio de que a
definição de territórios é muito mais do que uma questão técnica cartográfica, embora seja importante. Considera-se,
sobretudo, questões sociais, políticas, econômicas e culturais. No segundo momento, iremos debater os conceitos de
território e territorialidade em um contexto de identidade cultural da comunidade de quilombo de Alcântara- MA.

Carolina Maria de Jesus: a literatura produzida pela mulher negra brasileira como forma de resistência social e
preservação da memória

Clarice Maria Silva Campos (PCRJ)

Essa apresentação busca evidenciar a importância na atualidade do resgate da vida e obra literária da escritora negra
Carolina Maria de Jesus num momento de discussões sobre interseccionalidade e em que mulheres buscam seu espaço
e sua voz na sociedade. Analisaremos a trajetória e obra da autora, considerando o estrondoso sucesso do seu livro
Quarto de despejo: diário de uma favelada,o tempo de ostracismo no final da vida, e após a morte da autora, o resgate
dessa voz que faz parte de uma minoria dentro de uma sociedade em que a produção literária consumida é
principalmente produzida pela elite econômica e masculina. As fontes principais para a pesquisa serão os livros de
autoria de Carolina e os textos de cunho biográfico sobre a escritora. Ao tematizar sobre as questões vividas por
mulheres negras e faveladas, Carolina apresenta uma narrativa contra-hegemônica, capaz de visibilizar e inspirar
mulheres negras brasileiras ainda na atualidade, após mais de 60 anos da publicação do seu livro mais famoso.

Ensino de História e escravidão no Brasil: currículos e o protagonismo dos escravizados

Cátia da Costa Louzada de Assis (Secretaria Municipal de Educação)

Era o ano de 1867 quando José Martins da Cruz Jobim contou a seu amigo que havia alforriado a preta que lhe serviu
de cozinheira por mais de vinte anos e foi à compra de uma nova escravizada para ocupar seu lugar. Fato comum no

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Rio de Janeiro do século XIX o comércio de escravizados que exerciam as mais diversas atividades domésticas, pelas
ruas da cidade, diretamente para seus proprietários ou ao ganho, e em ocupações agrícolas. A nova cozinheira, como
tantas outras mulheres escravizadas, tinha filhos e, para que não se separassem, ela chorou, chorou muito, e
convenceu Jobim a comprá-los. Esse pequeno fragmento das experiências vividas por esta família, constitui o ponto
de partida de minhas reflexões sobre a no Currículo Carioca de História, da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro,
acerca das temáticas da escravidão. As discussões sobre currículo escolar com base em histórias de famílias
escravizadas, neste trabalho especificamente conjugais e matrifocais, tem por objetivo contribuir para práticas
pedagógicas que, em consonância com a Lei nº 10.639, considerem o protagonismo de pessoas escravizadas no
cotidiano da escravidão no Brasil.

ST 45 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

O pardo como problemática na sociedade baiana e a classificação do IBGE em 'cor e raça'

Francisco Gonçalves Queiroz Payayá (FUNDAÇÃO PEDRO CALMON)

Este trabalho busca criticar através das abordagens decoloniais e dialética a perspectiva única da categoria parda
reivindicando este termo igualmente às sociedades indígenas em contexto urbano compreendendo de qual maneira
isto afeta essas nações desde a colonização quanto a escravização, sua relação com a sociedade baiana, a
miscigenação, o debate das hierarquias raciais presentes no século XIX os quais necessitam de novas revisões além da
falsa limitação que o racismo se apresenta ainda hoje. Faz uso das revisões bibliográficas como João Pacheco de
Oliveira intitulado Pardos, Mestiços ou Caboclos (1997), Racismo Estrutural (2019) de Silvio Almeida e Psicologia Social
do Racismo de Maria A. Silva Bento e Iray Carone para entender a origem do termo e a complexidade de classificar
populações originárias distintas. Este artigo científico visa esclarecer problemáticas presentes para que no próximo
censo de 2022 os nativos sejam identificados como pardos e posteriormente haja a exclusão desta categoria e os
originários identifiquem-se de acordo com sua identidade étnica.

CLAVICULÁRIO DA VIDA: acesso a esse mundo com chave de pertencimento à coletividade revela nossa identidade.

Tadeu dos Santos (Universidade Estadual de Maringá- UEM)

Este trabalho busca delinear na autoetnografia novos olhares e sentidos no campo pesquisa em história, propõe
analisar narrativas que transitam no campo antropológico e da história e da cultura. Porque se conectam, nos
princípios chave da interdisciplinaridade desta operação interpretativa. Para alcançar este objetivo, abordaremos o
método em etnohistória. Utilizo da etnografia em sua relação dialógica etnohistória para uma construção da
autoetnografia, conforme os seguintes autores (GEERTZ, 1973), (CERTEAU, 1998), (TRIGGER, 1982), (VERSIANI, 2005)
e (MOTA,1994) tecemos conexões com uma rede subjetiva conectadas na interculturalidade e palavra claviculários,
receptáculo que guarda as chaves de acessos. Nessa perspectiva dialética claviculário e chaves no contexto cotidiano,
possibilitando e potencializando outras esferas como espaços geradores de etonoconhecimentos estéticos, artísticos
e culturais.

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Movimentos Indígenas: a utilização de plataformas virtuais como mecanismo de luta durante a pandemia de 2020

Ana de Melo (Prefeitura da Cidade do Rio de janeiro)

O presente trabalho pretende analisar o impacto da pandemia na articulação dos Movimentos Indígenas, a utilização
de novas ferramentas e estratégias na divulgação de suas realidades, mostrando assim, como eles estão enfrentando
antigos e novos desafios. Decerto, que o uso das plataformas virtuais, forneceu maior visibilidade e engajamento aos
Movimentos Indígenas, como demonstram as pesquisas divulgadas pelas organizações indígenas e indigenistas. Assim,
a militância virtual nesse período pandêmico, aponta para um novo rumo de atuação e uma mudança na
conscientização da sociedade brasileira em relação aos povos indígenas. O uso de ferramentas digitais para protestos,
campanhas e denúncias, possibilitou maior enfoque, maior alcance, maior diversidade de público e, por conseguinte,
maior repercussão, haja visto a abrangência planetária da rede de computadores. Pensaremos também no uso das
mídias escritas e televisivas em diferentes momentos da história indígena em contraponto com o momento atual,
demonstrando assim que o uso dos meios de comunicacão pelo povos indígenas não é algo particular do século XXI

Vozes da Amazônia: Heranças e Lutas

Luiza Helena Dias Braga

Este trabalho pretende se integrar na estrutura dos pressupostos ético-filosóficos e de construção de pensamento de
Paulo Freire, adentrando concomitantemente à análise no campo teórico da metodologia da história onde propõe
avaliar a articulação de fontes textuais e orais que circunscrevem sobre o tema da Literatura de Cordel na Região
Norte, sobretudo na Amazônia. Evidenciando que os folhetos de literatura de cordel devem também ser
fundamentados no campo de Patrimônio Cultural ao entendermos que toda a produção cordelística integra a
identidade brasileira quando nos referimos às suas heranças e tradições e de conterem a materialização de narrativas
orais e produção de perspectivas futuras nos leitores e ouvintes, podemos enfaticamente considerar que tal prática
cria uma perspectiva histórica que carrega elementos que estão intimamente relacionados ao ponto de vista dos
grupos sociais que os produzem, desta maneira este trabalho considera a possibilidade de integrar-se de forma incisiva
às heranças e tradições dos povos originários da terra e de tradições africanas e quilombolas quando também situa
em sua fundamentação teórica e avaliação de fontes relacionadas à produção cordelística e a interdisciplinaridade
com o campo teórico da Filosofia, que correspondem academicamente ao sentido da filosofia denominada
Afroperspectivista.

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ST 46. Intersecções entre colonialismo e deslocamentos de, em e para África

ST 46 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Os efeitos da colonização nos fluxos migratórios contemporâneos da Argélia para a França

Guilherme Silva Pires de Freitas (Jornalista)

Este breve estudo irá abordar as consequências que a brutal colonização francesa na Argélia, entre os séculos 19 e 20,
tiveram nas recentes ondas migratórias do país norte africano para o europeu e dos ressentimentos entre estes dois
Estados e seus cidadãos que o período causou. Durante 114 anos a Argélia esteve sob domínio francês, que através
de uma violenta colonização, massacres e diversos abusos contra a população local, gerou profundos e pesados
ressentimentos entre as partes que nem a sangrenta guerra de independência conseguiu resolver. Após o conflito
milhões de argelinos imigraram para o território francês ao longo dos anos seguintes e hoje compõem a maior
comunidade estrangeira no país. A pesquisa abordará estes temas mostrando como a época colonial impactou na
atual relação social turbulenta entre argelinos, seus descendentes e franceses que também se reflete na cultura
popular, caso principalmente do futebol com ídolos como Zinedine Zidade, por exemplo, que será também
brevemente abordado.

Dinâmicas migratórias em Moçambique no pós-independência e seus reflexos no século XXI

Raynara Escala Ribeiro Torres (UFF - Universidade Federal Fluminense), Allana Helen Peixoto de Souza (UFF -
Universidade Federal Fluminense)

Neste artigo, pretendemos fazer uma análise sobre como os fluxos migratórios do período do pós-independência
influenciaram na formação social e no desenvolvimento de Moçambique. Este país é marcado por um contexto social
complexo, em relação aos movimentos migratórios ocorridos em seu território, sendo esta uma condição
característica da história do país. Após a independência, as marcas deixadas por todo o processo compulsório que
ocasionou o êxodo rural e o trabalho forçado no período colonial provocaram conflitos sociais violentos que se
refletiram sobre toda a população moçambicana. Assim surge a necessidade de fuga aos conflitos internos, na maior
parte das vezes através do deslocamento forçado e do refúgio em países vizinhos, acompanhando o ritmo dos avanços
dos conflitos e das exigências sociais tidas a partir das situações que foram surgindo durante o final do século XX. Com
isso, pretendemos analisar as migrações internas em Moçambique, principalmente, a questão do êxodo rural. A
relação do estado com este fenômeno e o motivo das implementações de políticas públicas que impediam este
movimento entre campo e cidade, tendo em vista o desemprego e a insegurança sofrida por parte da população
moçambicana, causada pela guerra. No desenvolver deste trabalho visamos explorar os fatores condicionantes que
desencadearam os processos migratórios, após a guerra civil, e as consequências deixadas na composição do espaço
social e urbano em Moçambique. Ao observarmos os processos migratórios internos e externos, a partir da perspectiva
política moçambicana entre os séculos XX e XXI, notamos que esses deslocamentos se difundem em diversos fatores
ou da combinação de vários, decorrentes de desestabilidade política, dos conflitos armados, de perseguições culturais,
religiosas e catástrofes naturais, dentre outros.

257
A análise iconográfica no combate ao colonialismo na educação: o livro didático de história em questão.

Suely dos Santos Souza (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana), Glaucia Maria Costa Trinchao Paula (UEFS
- Universidade Estadual de Feira de Santana)

O presente trabalho tem a intenção de discutir a presença da colonialidade em livros didáticos, especialmente o de
História, problematizando a utilização de imagens, obras de arte produzidas no séc. XIX, como textos imagéticos em
apoio ao texto verbal, que, sem maiores reflexões, podem contribuir para a disseminação do racismo, principal
estratégia da colonialidade para dominar sujeitos e grupos não brancos, historicamente expropriados de seus direitos,
sua cultura e sua dignidade. O objetivo é, a partir do conhecimento do Desenho aliado à Educação e sob a perspectiva
de autores decoloniais, Quijano (2002; 2005), Maldonado-Torres (2007), Mignolo (2017) e Dussel (1993), analisar a
aquarela Navio Negreiro, de Johan Muritz Rugendas, presente em livros de História, indicados pelo PNLD. Utilizamos
o método iconográfico de Panofsky (1955), que alia a iconografia à iconologia para investigar a maneira como a
imagem foi composta, associado a técnica de percepção visual no campo do Desenho. Assim, com o auxílio de autores
como Arnheim (2007), Burke (2009), Silva (2004), Souza (2016), Schwarcz (2015), dentre outros, analisamos e
interpretamos tanto as técnicas utilizadas na composição das imagens, como identificamos os preceitos e ideologias
que inspiraram essas composições, no entendimento de que toda imagem é pensada para corporificar uma ideia.
Concluímos que imagens podem ser produzidas conscientemente para compor um ideário preconceituoso e racista e
impregnar materiais como o Livro Didático de História e que a aquarela produzida por Rugendas tem essa
característica. Nessa perspectiva, defendemos a importância de um trabalho crítico sobre essas obras, inseridas no
livro didático que, se não forem criteriosamente trabalhadas podem disseminar o racismo e o preconceito e moldar
concepções sobre os sujeitos negros, africanos e afro-brasileiros, contribuindo, dessa forma, com os propósitos da
colonialidade.

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ST 47. Loucura, crime e castigo: História e historiografia

ST 47 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Psiquiatria, saberes criminológicos e anarquismo na imprensa republicana nas primeiras décadas do século XX

Bruno Corrêa de Sá e Benevides (Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz)

Esta comunicação é parte de minha tese de doutorado, cujo intuito é analisar a influência que os discursos médicos
exerceram sobre algumas instituições republicanas no Brasil no processo de criminalização da prática do anarquismo
entre os anos de 1890 e 1924. O objetivo é verificar como tais saberes vão, gradualmente, sendo apropriados por
bacharéis, magistrados e políticos na repressão desta prática política, que possuiu forte presença e adesão entre o
proletariado, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Esta perspectiva teve inspiração e influência de teorias
europeias, uma vez que no velho continente o anarquismo passou a ser entendido e estudado como um mal social
que deveria ser decifrado e controlado. Deste modo, inúmeros textos de base científica elaboraram uma série de
críticas com o propósito de patologizar e criminalizar os anarquistas, os quais tiveram grande disseminação entre a
intelectualidade médica e jurídica nacional. Tendo isso em vista, nesta apresentação, busco demonstrar que tais
proposições científicas sobre o militante ácrata, no início do século XX, também foram objeto de análise e publicação
dos principais jornais republicanos, assim como tiveram forte inserção nas páginas dos periódicos operários,
evidenciando o papel exercido pelos escritos jornalísticos enquanto instrumentos de recepção e propagação de teorias
criminológicas e da psiquiatria forense. Ao divulgarem casos criminais em publicações diárias, esses veículos de
comunicação se apropriavam desses debates, replicando-os sempre a partir de novas perspectivas e interpretações.
As notícias sobre o anarquismo transbordaram na grande imprensa ao longo de toda a primeira República. Todavia,
destaco especialmente aquelas que trouxeram uma dimensão médica e criminal a este movimento, contribuindo para
a construção, no imaginário popular, da figura do militante anarquista enquanto um criminoso político perigoso,
subversivo e portador de uma anomalia mental.

Alcoolismo e loucura no pensamento social brasileiro (1868-1889)

Raick de Jesus Souza

A proposta desta comunicação é discutir a relação entre alcoolismo e loucura no pensamento de cientistas e
intelectuais brasileiros durante o século XIX. No Brasil, a luta antialcoólica emergiu concomitante as mais decisivas
transformações socioculturais, na medida em que o uso excessivo de determinadas substâncias alcoólicas era
associado à degeneração racial e moral da população, sendo simultâneo ao fim da escravidão, à passagem do Império
à República e do grande fluxo imigratório europeu que afluía para as diversas regiões do país. Nesse mesmo processo,
o alcoolismo era visto enquanto sintoma de doença mental, e, dessa forma, havia o enorme paradoxo na forma de
tratamento dos alcoolistas por parte dos agentes do Estado. A partir de uma revisão bibliográfica, apresentaremos as
principais transformações em torno das ideias de alcoolismo e loucura, tendo como referencial as teses médicas e os
jornais médicos, religiosos e políticos em circulação entre os anos de 1868 e 1889. Esperamos contribuir com os

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estudos que analisam as inter-relações entre o movimento antialcoolista e o pensamento social de fins do período
imperial brasileiro, com ênfase na abolição da escravidão e no aumento da imigração estrangeira.

Benedicto Moreira de Carvalho (o Monstro de Guaianases): criminoso ou doente?

Osvaldo Evangelista Júnior (MACKENZIE - Universidade Presbiteriana Mackenzie), Carla Priscila Del Nero (MACKENZIE
- Universidade Presbiteriana Mackenzie)

O presente trabalho tem por objeto a análise de uma série de crimes sexuais e de homicídios, quase todos cometidos
no Município de São Paulo e em cidades vizinhas, durante o período compreendido de 1936 a 1952, contra vinte e
nove vítimas distintas identificadas, cujos fatos foram imputados a Benedicto Moreira de Carvalho, que ficou
conhecido como o Monstro de Guaianases. Os crimes foram de tamanha repercussão para a sociedade de sua época,
que o então Secretário de Segurança Pública determinou a criação de força tarefa composta por policiais para
identificar o responsável pelos crimes e prendê-lo. Como consequência da notoriedade de tais fatos, os originais dos
inquéritos policiais que apuraram as práticas delitivas perpetradas por Benedicto foram destinados ao acervo do
Museu da Polícia Civil, localizado na Academia de Polícia Dr. Coriolano Nogueira Cobra – ACADEPOL, de São Paulo/SP.
O objetivo do trabalho é permitir o resgate histórico do caso, descrevendo a vida de Benedicto, desde seu nascimento
até sua prisão, oportunidade em que confessou a prática de crimes contra dez vítimas distintas. A metodologia
empregada será a pesquisa dos documentos encartados nos autos originais de inquéritos policiais e do processo
criminal que apuraram os crimes, bem como de textos produzidos à época e posteriormente sobre o acusado e
referentes aos crimes. O resultado pretendido com o trabalho será a melhor compreensão os fatores endógenos e
exógenos que motivaram as práticas delitivas de Benedicto. Com base na leitura almeja-se obter elementos subsidiem
a conclusão se Benedicto foi um criminoso ou um doente, ou seja, se o Judiciário acertou nos dois primeiros casos
praticados isoladamente, considerando-o imputável e condenando-o a pena privativa de liberdade ou se o Poder
Judiciário acertou quando o julgou pela prática dos demais, considerando-o inimputável e absolvendo-o, mas
determinando a aplicação da sanção de medida de segurança, por tempo indeterminado.

Hosptial Antônio Paulo Cançado: Trajetórias e Possibilidades sobre a Loucura em Jataí.

Éder Mendes de Paula (UFJ)

O presente trabalho tem como objetivo a discussão sobre o acesso e fontes referentes à saúde mental no município
de Jataí, localizado no sudoeste goiano. Essa problemática se faz pertinente para, ao observarmos a trajetória de
pesquisa, refletirmos sobre as possibilidades de analisar a relação entre sociedade e loucura no século XX. A instituição
pesquisada se trata do Hospício Antônio de Paulo Cançado, inaugurado nos anos de 1960 pelo movimento espírita da
cidade de Jataí e, teve atuação profícua na comunidade ao longo dos anos que esteve em funcionamento. os vestígios
deixados pela instituição ao longo dos anos, constituem um compilado de documentações administrativas ou não que
auxiliam na compreensão da concepção de loucura em tempo e espaço específicos. Assim, para além de levantar
questionamentos sobre a instituição em si e suas práticas, pretende-se suscitar reflexões sobre os caminhos de
pesquisa através da busca pelas fontes, o que permite vislumbrar como tal sociedade lida com as memórias da saúde
mental.

260
ST 48. Memória e Literatura
ST 48 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

“AUTOR NACIONAL/CULTURA BRASILEIRA”: a editora Alfa-Omega nos anos de 1970.

Gustavo Orsolon de Souza (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Neste evento, tenho o objetivo descrever parte da pesquisa que venho desenvolvendo no Programa de Pós-Graduação
em História Social da UERJ/FFP. O tema central é a trajetória da editora paulista Alfa-Omega, fundada em 1973, na
cidade de São Paulo, pelo jovem casal Fernando Mangarielo e Claudete Machado Mangarielo. A editora se destaca por
publicar obras de oposição dentro de um período marcado pela censura e repressão da ditadura civil-militar. Dentro
desse contexto, pretendo explorar parte da trajetória dos editores, tendo como ponto de partida as suas lembranças
pessoais. Em seguida, a ideia é entender o processo de construção e consolidação da Alfa-Omega no mercado de livros
no Brasil, de forma a situar e contextualizar a editora dentro do período em questão. Por fim, a intenção é analisar
parte da sua produção, destacando alguns livros e uma coleção de revistas que marcam o catálogo de 1984. Sobre os
livros, vale destacar que dois deles são proibidos de circular, após o veto dos órgãos repressivos; e sobre a coleção,
intitulada História Imediata, trata-se de um material atual com temas quentes para o colar da hora, como, por
exemplo, a Guerrilha do Araguaia e a greves operárias na região do ABC paulista.

Literatura dramática em “Incêndios”: a relação entre teatro, memória e esquecimento

Plínio José Borges Mósca (UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul)

Sabe-se que no âmago da literatura dramática existem as diferentes noções da tragédia que, por serem plurais, não podem mais ser
intituladas de uma nova concepção da tragédia contemporânea, e sim de novas concepções da tragédia atual, “Incêndios” faz parte
dessa lista de novas concepções, pois nesse novo “trágico”, alguém como indivíduo ou como coletivo, aborda um acontecimento
cuja destruição ou desaparecimento provoca uma ferida tão incurável que se pode comparar com uma cratera a ser preenchida pela
morte biológica ou subjetiva de quem a provocou. A literatura dramática/teatro é uma das formas de arte e de comunicação
bastante artesanal e eficaz. O estudo da relação entre a tragédia moderna de Wajdi Mouawad com a memória e o esquecimento é
transportado ao público especialmente na personagem da mãe Nawal, e as revelações de sua memória individual passarão pela
sublimação de seus nós de memória e cuspir as bolas de fios trancadas na garganta foi a única maneira de respirar em paz nos seus
minutos finais. Ressalta-se que a literatura dramática/teatro é uma das formas de arte e de comunicação bastante artesanal e eficaz
no emprego da palavra falada, da palavra encenada como uma manifestação de poder, e seu alcance permite fazer a afirmação de
sua importância no âmago da nossa sociedade, sem medo de estarmos sendo insinceros.

Literatura marginal arquivada: Torquato Neto e o Centro de Cultura Alternativa

Júlia Souza cabo (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Este trabalho discute a forma como, no início da década de 1980, o Centro de Cultura Alternativa utilizou-se da figura
e da obra do poeta, letrista e jornalista Torquato Neto para validar sua atuação. Este Centro, que fazia parte da

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Fundação de Artes do Rio de Janeiro, foi criado em 1980 a partir da justificativa de que houve durante as décadas de
1960 e 1970 uma corrente cultural à margem do sistema comercial que deveria ser preservada. Assim, este tinha como
objetivo recolher e preservar todo tipo de material impresso que circulou nas décadas anteriores à margem do sistema
oficial. Indo de encontro, portanto, à ideia de que a década de 1970 havia sido um momento de vazio cultural, o Centro
de Cultura Alternativa buscou não apenas recolher e catalogar diversas das manifestações artísticas deste período,
mas também lançou uma série de iniciativas cujo objetivo era manter esta produção que estavam arquivando viva.
Segunda a diretora do Centro na década de 1980, Maria Amélia de Mello, o objetivo do Centro não era apenas servir
como um arquivo, mas sim também como um espaço de criação de encontros, exposições, feiras de poesia e outras
atividades culturais para a cidade. Assim, a partir das reflexões de Aleida Assmann acerca da relação entre arquivo e
memória em seu livro Espaços de Recordação, busco analisar a forma como o Centro de Cultura Alternativa mobilizou
o nome e a obra de Torquato Neto para criar uma ponte entre aquilo que Assmann nomeou como memória funcional
e memória cumulativa. Portanto, analiso o lançamento do Prêmio Torquato Neto (e da antologia resultante deste
prêmio) em 1983 e do LP em homenagem ao autor em 1985 como parte deste esforço do Centro em manter a
produção que buscavam coletar dentro da memória funcional em um momento em que se estava consolidando uma
memória coletiva sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil.

Entre o passado e o presente, o que fica é a memória da gente

Vânia Inácio Costa Gomes (Secretaria de Estado de Educação do Paraná - SEED)

A presente Artigo é fruto de um trabalho de entrevistas realizadas com cinco mulheres idosas, ex-parteiras e
benzedeiras da região do Vale do Ivaí paranaense, como forma de obter informações sobre a prática de benzimento
e de realização de partos domiciliares por meio de parteiras na segunda metade do século XX, para levantamento de
dados para a realização de minha dissertação de mestrado. Ocorre, que ao realizar as entrevistas, as informações por
elas oferecidas apresentavam-se inundadas de narrativas que fazem parte das memórias que elas próprias
construíram sobre o passado e a relação de convivência com outras pessoas. Muito mais do que construir uma
narrativa, essas mulheres apresentaram uma maneira diferente de enxergar o lugar e a realidade vivida pelas pessoas
que nele habitavam na segunda metade do século XX. Por meio de suas narrativas, memórias afloraram-se e a mistura
entre passado e presente muitas vezes fizeram com que o real e o fictício se fundissem numa só realidade. São relatos
de fatos ocorridos, de realidades vividas por muitas pessoas que foram atores na construção e desenvolvimento das
cidades que compõem o local. Porém, esses fatos, com o passar do tempo, ganharam uma nostalgia especial. No olhar
dessas senhoras, que viveram experiências ímpares em um espaço onde eram tidas como a salvação das pessoas, uma
vez que seus saberes e fazeres curavam doenças e sanavam os males da alma, a memória torna-se um artifício, algo
que lhes concede o poder de fazer releituras do passado e recontar histórias acontecidas, com o olhar do presente,
tornando essas narrativas um misto de realidade e ficção que apenas elas próprias conseguem dimensionar, o que
torna essas entrevistas uma fonte de produção literária com suas teias de saberes contidos em silêncios, informações
oferecidas pelo olhar entristecido ou simplesmente reconstrução amena de um passado difícil, muitas vezes doloroso,
em que narrador e personagem viveram ou poderiam ter vivido o fato narrado.

ST 48 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

262
Escritor Migrante: Memórias e exílio na trajetória artística de Marjane Satrapi

Flávia da Silva Barbosa

O autor migrante carrega em si as marcas de sua história pessoal confundida com a história do seu povo. O
deslocamento provocado pela mudança, o movimento de deixar sua terra natal e ir viver em um país desconhecido
está registrado em sua obra. É comum que essa mudança ocorra dentro de um contexto colonial, ou seja, o autor é
nascido em um país ou região marcada pela colonização e se transfere para viver e trabalhar em um país ocidental,
normalmente Europa e Estados Unidos. Seguindo esse movimento as suas obras refletem suas questões, seus anseios
e suas críticas que ecoam dessa experiência. Os choques culturais estimulam seu trabalho e marcam suas trajetórias
pessoais. A artista franco-iraniana Marjane Satrapi, deixou o Irã e atualmente está radicada na França, ficou conhecida
do grande público a partir de sua obra autobiográfica e biográfica. Com uma narrativa que tem como inspiração, além
da sua história particular, a história da sua família e a história do seu povo, a também cineasta provoca e estimula o
questionamento do público. Em sua série autobiográfica estão os livros Persépolis, Bordados e Frango com Ameixas.
O primeiro foi adaptado para o cinema no gênero animação, o filme Persépolis recebeu o prêmio do júri em Cannes
no ano de 2007 e concorreu ao Oscar em 2008 como melhor filme de animação. Em 2005 Marjane Satrapi escreveu
uma coluna de opinião para o jornal “The New York Times'' sobre sua vida em Paris com o título de “An Iranian in
Paris”. Partindo da inspiração intelectual e engajada de Edward Said acerca de suas reflexões sobre o exílio e seus
escritores, o atual trabalho tem como objetivo estudar a trajetória artística de Marjane Satrapi no que se refere à
escrita e memórias em sua condição de expatriada. Destaca-se aqui que seus trabalho estão repletos de críticas tanto
ao atual governo iraniano quanto a cultura e a mídia do ocidente, suas críticas se formulam em torno do discurso
imperialista e do nacionalismo islâmico do seu país.

Milongueando memórias: as cordas memoriais de Borges

Jucelino Viçosa de Viçosa (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

O propósito dessa comunicação é abordar as relações possíveis entre a construção literária de Jorge Luis Borges em
poemas de Para las seis cuerdas e a ideia que se tem com respeito à memória e suas mais diversas manifestações, de
modo a abordar passagens evidenciadas nos poemas e sua relação com o referencial teórico relativo à memória e à
literatura em autores como Assmann (2011), Barthes (2004), Bernd (2011 / 2013), Berwanger (2009), Candau (2014),
Gondar (2008) Halbwachs (1990), Pollak (1992), entre outros. A memória se configura como um momento em que há
uma busca constante de se construir/desconstruir e sua conquista sempre se apresenta de forma fragmentária,
inacabada, em razão de ser um ponto de referência entre as mais diversas influências sociais recebidas pelo indivíduo
e a forma como este articula suas lembranças. A escrita literária deve ir além daquilo que é efêmero e transcendental
para adquirir maior extensão, aí reside o grande poder da literatura. Cabe à literatura registrar os fatos e
acontecimentos representativos de um determinado povo em sua respectiva época, procurando manter as situações
características dos vencedores ou vencidos, assim como dos opressores e oprimidos; ao mesmo tempo em que
possibilita a transformação de um mero espaço de página em algo que possa ser traduzido em uma página do mundo,
que parte de um viés local e adquire, por vezes, a plenitude do universal.

263
Herança e transmissão em “Azul Corvo”, “Mar Azul” e “A chave de casa”

Tanira Rodrigues Soares (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

A herança, além de englobar a esfera da memória familiar e geracional, também se manifesta na memória cultural por
meio de suas dimensões ligadas à cultura e à tradição, vista como fontes e características de determinado grupo e/ou
sociedade em um dado tempo e espaço, e continuam expostos e cultivados na contemporaneidade. Os fragmentos,
os detalhes, as peculiaridades são responsáveis por transportarem, de maneira simbólica e afetiva, informações de
um passado adormecido, que pode ser reconstruído e ressignificado no presente. A herança e a transmissão
interligam-se e possibilitam que ocorra uma aceitação, negociação ou rompimento com aquilo que foi objeto de
herança, de modo a estabelecer um estímulo ao reforço da memória ou um esquecimento intencional, no âmbito da
família ou do grupo social. A memória, por estar vinculada ao pensamento coletivo e social, resulta na transmissão de
uma herança constituída de lembranças e de esquecimentos, negociados permanentemente por parte de herdeiros e
oportuniza que o processo de transmissão seja dinâmico e atual. As narradoras-protagonistas de “Azul corvo”, de
Adriana Lisboa; “Mar azul”, de Paloma Vidal; “A chave de casa”, de Tatiana Salem Levy adotam uma postura de
herdeiras e se inserem no processo de transmissão, ao (re)apropriar, (re)orientar e (re)definir seu passado,
considerando as necessidades e finalidades do presente e, também, a projeção de um futuro, pois aquele que herda
tem o poder de escolher, com liberdade, o que deseja incorporar como herança.

Viagens e visões do tempo: contrastes do Brasil moderno em Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, e Tristes
trópicos (1955), de Claude Lévi-Strauss

Juliana de Souza dos Reis

O trabalho mobiliza o encontro das obras Os sertões (1902), do escritor brasileiro Euclides da Cunha, e Tristes trópicos
(1955), do antropólogo Claude Lévi-Strauss, a fim de traçar caminhos para o tratamento dos textos na acepção do
binômio “civilização e exclusão”. O encontro visa fornecer elaborações interpretativas para a discussão do tempo a
partir das impressões que as viagens ao interior do Brasil acometem em seus projetos interpretativos. O esforço em
pôr em diálogo obras separadas por aproximadamente meio século sustenta-se por ambos trabalhos terem como
cenário histórico momentos diferentes da formação e da sociedade brasileiras, emergindo visões de um Brasil-
processo. A aproximação comparativa entre Os sertões e Tristes Trópicos é motivada por ambos indicarem as visões
de seus autores acerca do processo civilizatório brasileiro, debruçando-se sobre os choques culturais que sucessivos
processos trouxeram ao país. Assim, o trabalho organiza-se a partir dos seguintes eixos: a recepção de ambos livros
enquanto sui generis, livros que transitam entre ciência e literatura; a experiência da guerra que os motivam a
escrever; a viagem e o encontro com o outro, marcados principalmente pelo encontro com um outro espaço
geográfico.

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ST 49. Migrações, trabalho e cultura: movimentações populacionais, cultura e relações de
trabalho no mundo contemporâneo

ST 49 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

América Latina em movimento: Fluxos migratórios da/na América Colonial e Contemporânea.

Emeson Tavares da Silva (UFPI - Universidade Federal do Piauí)

A migração é um fenômeno universal e, em certa medida, transhistórico. Afinal, é um dos quatro mecanismos de
evolução biológica (juntamente com mutações, deriva genética e seleção natural) e, portanto, é parte do surgimento
de nossa espécie e da maioria das demais. Nesse sentido, precede e cria a história humana. É também a forma como
nos dispersamos globalmente a partir de nosso berço, no sudeste da África, a fonte da diversidade racial e cultural, e
como respondemos a desafios ecológicos para além da adaptação, um fenômeno relativamente recente em nossa
longa história. A proposta deste texto é analisar de que modo as migrações transcontinentais, nas várias formas que
assumiram (o primeiro assentamento paleolítico, conquista e colonialismo, escravidão, movimentos de massa livres e
diásporas mercantis) e a maneira como estas interagiam com os ambientes receptores moldou a formação histórica
da América Latina. Além disso propomos mostrar como essas interações explicam as aparentes contradições da
América Latina: o fato de ser a região mais diversa do mundo em termos raciais e, ao mesmo tempo, aquela
culturalmente mais homogênea; a que exibe as mais altas taxas de criminalidade / homicídio, mas também os menores
índices de guerras civis e internacionais, holocaustos e outras formas de violência coletiva; e a que mostra os níveis
mais altos índices mundiais de desigualdade social, mas que incluiu também algumas das áreas historicamente mais
igualitárias no mundo.

Imigração na literatura e na história contemporâneas a partir do romance Go, Went, Gone de Jenny Erpenbeck

Lucas André Berno Kolln (UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná)

A imigração é uma questão muito controversa na Alemanha. É conhecida a fórmula do discurso oficial que afirma que
a Alemanha “não é um país de imigração”, com todas suas implicações funestas. As recentes mudanças quanto à
política imigratória alemã e quanto à presença dos imigrantes no país, notadamente na década de 2010, fazem parte
de um processo longo, no qual as experiências do pós-Segunda Guerra, da bipolaridade da Guerra Fria e das feridas
da reunificação nos anos 1990 são importantes pontos de ancoragem. O avanço da globalização e do neoliberalismo
a partir dos anos 1980 tensionou ainda mais essa questão, pois promoveu, direta e indiretamente, vultosas
movimentações de pessoas e de capitais. Os indicadores estatísticos e quantitativos são por demais conhecidos para
serem repisados, motivo pelo qual esse trabalho pretende insistir noutra direção: pensar a experiência social da
imigração na Alemanha contemporânea, particularmente a partir do romance Go, Went, Gone, da romancista Jenny
Erpenbeck, publicado em 2015. A obra toca nas feridas históricas alemãs a partir do exercício de alteridade criado pela
trama: refugiados e imigrantes africanos são confrontados com as dificuldades para permanecer na Alemanha por
meio de um personagem alemão, mas oriundo do lado oriental do antigo Muro de Berlim. Assim, ambos os

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personagens, os africanos e o berlinense oriental, constituem uma espécie de encarnação de alguns dos dilemas
históricos da questão imigratória na Alemanha e no mundo contemporânea.

Mulheres Migrantes e Refugiadas: percursos, violência e vulnerabilidade nas fronteiras

Adriana de Carvalho Medeiros (UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso)

Segundo dados fornecidos pela ACNUR e a ONU, atualmente existe o maior número de pessoas deslocadas e
refugiadas no mundo desde a II Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 65,5 milhões de pessoas deslocadas, que
continuam (ou não) dentro das fronteiras de seus países de origem. Junta-se a esse número, milhares de homens,
mulheres e crianças que não entram nesta conta, pois são classificados como migrantes, imigrantes ilegais, apátridas,
mas que devido a guerras, conflitos armados, pobreza, mudanças climáticas, e alteração nos modos de produção e
sobrevivência em suas comunidades de origem, foram obrigados a se deslocarem e buscar trabalho em outras
localidades. Segundo a OIM, cerca de 3,5 % da população Mundial em 2019 eram migrantes internacionais. Mulheres
e crianças são sujeitos mais vulneráveis entre este vasto grupo. As mulheres, principalmente as desacompanhadas e
com crianças são as maiores vítimas de violência, estando exposta a diversas formas de violação de direitos, durante
trânsito e/ou no local de chegada e acolhimento. Neste sentido, de acordo com dados produzido pela ACNUR, OIM, é
evidente que na última década aumentou de forma considerável o deslocamento e migração de mulheres
desacompanhadas, que em busca de melhores condições de vida, acesso á educação, ou fugindo da miséria e violência
sofrida nas comunidades de origem, tem buscado refúgio e trabalho em outras localidades dentro e fora de suas
comunidades. O aumento da migração feminina é resultado de transformações nas relações de trabalho, bem como,
tem haver com maior acesso a informação e a luta contra sistemas tradicionais de poder em comunidade
tradicionalistas e paternalistas. Assim, a partir de fontes orais e dados produzidos pela UNESCO, OIM, ONU buscamos
com este trabalho apresentar uma breve discussão sobre percursos, violência e violação de direitos de mulheres e
migrantes em direção aos países da União Europeia.

Transitologia, consolidologia, populismo e demandas democráticas: possibilidade de análise às crises


sócioeconômica, política e humanitária venezuelanas

António Raúl Sitoe

O artigo pretende analisar criticamente às propostas sobre a construção da democracia surgidas entre as décadas de
1970 e 1990, a transitologia e a consolidologia para além de teorias explicativas; são disciplinas que se dedicam ao
estudo de processo de transição do sistema autoritário ao regime democrático que se encontra impresso em alguns
países europeus bem como nos países latino-americanos, particularmente na Venezuela. Por outro lado, emerge o
populismo como um eixo pendular entre o regime autoritário e o regime democrático, que busca não só a transição
de um modelo ao outro, mas um modelo híbrido com adapatações de elementos que identificam cada um desses
sistemas de governo. O populismo como construção de um povo e de uma identidade coletiva só é possível através
de mecanismos de representação e não só, mas também da construção de uma pluralidade de demandas sociais que
formam uma cadeia de equivalências. Colocar a pergunta, que país os venezuelanos desejam? Possibilita a promoção
de uma identidade capaz de construir uma hegemonia com capacidade de capatação das massas ou do eleitor, conduz
ao entendimento de uma ideia abraçada pela maioria. A pesquisa teoricamente será embasada em Schmitter,

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Zaverucha, Whitehead, Rustow, Przeworski, Barany, Di Palma, Banegas, Laclau e Chantal que abordam sobre as
transições, consolidações democráticas e populismo. Para a problematização do nosso artigo, far-se-á uma revisão
bibliográfica de literatura que trata sobre estas questões e adotarem também análise discursiva com aporte na
retórica.

ST 49 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Militantes portugueses na Insurreição Anarquista (Rio de Janeiro, 1918)

Luciano de Moura Guimarães (Colégio Pedro II)

Na turbulenta conjuntura do pós-guerra e do período que se seguiu ao advento da Revolução Russa, centenas de
militantes anarquistas e sindicalistas organizaram uma insurreição. O objetivo dos insurretos era instaurar no país uma
República de Operários e Soldados, de caráter soviético. Apesar do fracasso da sublevação, se examinada a partir de
uma abordagem que privilegie a análise das trajetórias dos militantes envolvidos, a denominada Insurreição
Anarquista, vértice e ponto de convergência de percursos de ativismo, pode ser considerada um evento capaz de
desvelar a urdidura das redes de relações e militância libertárias tecidas ao longo da I República no Rio de Janeiro. Seu
estudo pode auxiliar na identificação e análise dessas redes, uma vez que é possível observar a atuação de muitos dos
revoltosos de 1918 nas mais diversas iniciativas anarquistas, nas esferas sindical, cultural e educacional. Dentre os
insurretos, encontramos uma forte presença de militantes brasileiros e de imigrantes portugueses. Contestando certa
visão historiográfica que associa mecanicamente os fenômenos do anarquismo à imigração no Brasil, ressaltando a
excepcional radicalidade dos imigrantes italianos em detrimento da experiência de outros trabalhadores nacionais e
estrangeiros, esta comunicação tem como objetivo analisar e compreender a atuação dos militantes portugueses na
organização e consecução da Insurreição Anarquista. Esta meta justifica-se, além disso, pela constatação de ter
ocorrido uma tentativa insurrecional similar em terras lusas, exatamente no mesmo 18 de novembro de 1918. Para
atingir este propósito, mobilizaremos uma abordagem micro-histórica, com o foco nas trajetórias daqueles ativistas.
Como fontes, ao lado da imprensa comercial e operária, salientam-se as policiais e judiciárias, tais como requerimento
de habeas corpus, processos de expulsão de estrangeiros e prontuários policiais.

Os portugueses na "cidade febril": associativismo e assistência no Rio de Janeiro do século XIX

Camila Menegardo Mendes Jogas (bolsista)

Durante o século XIX, a prática do associativismo se popularizou no Brasil. Variados grupos sociais articulavam
solidariedade e a defesa de seus interesses em associações reunidas por afinidades étnicas, profissionais, de origem,
lazer ou outros interesses pessoais. Elas reuniam trabalhadores de diversos estratos sociais, que uniam seus recursos
financeiros a fim de destiná-los a si próprios ou outros sócios nas horas de necessidade. Entre a gama de associações
disponíveis, as associações de auxílio mútuo, sem dúvidas, foram as mais populares. Dos socorros oferecidos por elas,
merecem destaque os auxílios médicos e hospitalares e a concessão de pensões (por morte, doença ou desemprego),
uma vez que à época não existiam leis que garantissem esses benefícios e as enfermidades e os acidentes eram
razoavelmente comuns, dadas às péssimas condições de trabalho e de higiene. Associar-se era um investimento,

267
muitas vezes de baixo custo, que garantia ao trabalhador pobre e sua família assistência nos variados momentos em
que, por força maior, não pudesse estar inserido no mercado de trabalho, e por isso, sem qualquer amparo do Estado,
representavam os momentos de maior dificuldade financeira. Diante de um mercado de trabalho em acelerada
transformação, que vivia a transição da mão de obra escravizada para a livre e assistia à entrada maciça de imigrantes,
os trabalhadores portugueses buscaram formar laços de solidariedade a partir de associações próprias. Aqui,
apresentarei parte das discussões que pretendo expor em minha tese, onde investigo como as associações mutuais e
beneficentes criadas por imigrantes portugueses no Rio de Janeiro, no século XIX e início do século XX, contribuíram
para a sobrevivência dos portugueses no além-mar, principalmente no que diz respeito aos socorros relacionado à
saúde. Aqui, tentarei demonstrar como as associações tornaram-se uma importante estratégia de sobrevivência da
população portuguesa no Rio de Janeiro.

Ditadura, repressão e exílio: a experiência conosureña da década de 1970

Bárbara Geromel Campanholo

Durante a década de 1970, golpes militares seguidos de violentas ditaduras abalaram a realidade política do Cone Sul.
Inspirados pela Doutrina de Segurança Nacional, os regimes emergentes no Uruguai, Chile e Argentina criaram um
contexto de medo e insegurança que forçaram parte de seus nacionais aos deslocamentos forçados pelo mundo. Os
números do exílio nesses países apontam para centenas de milhares os indivíduos que abandonaram suas terras
natais, submergindo na complexa experiência exiliar que se estendeu, em muitos casos, para além do retorno à
democracia. Trata-se de indivíduos que perceberam na fuga uma oportunidade de escapar à barbárie representada
pelas prisões arbitrárias, às torturas, às execuções sumárias e aos desaparecimentos em massa. O presente trabalho
tem como objetivo refletir sobre o exílio conosureño deste período, em especial sobre as experiências uruguaias,
chilenas e argentinas, focalizando a emergência de governos ditatoriais, a repressão por eles desencadeada, e sobre
as transformações e os novos sentidos que esses movimentos forçados adquiriram no contexto tratado.

Maranhão, Estado solução? Políticas públicas e estratégias de controle populacional na Amazônia maranhense
durante o regime civil-militar (1960-1980).

Irisnete Santos de Melo (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHAO)

A proposta inicial dessa pesquisa é analisar as discursividades que foram constituindo o espaço maranhense como
solução para os deslocamentos populacionais, sobretudo de nordestinos entre as décadas de 1960-1980. Nesse
trabalho optei por sinalizar o discurso dos planejadores e as políticas de “ocupação racional” com foco na Amazônia
maranhense. O objetivo principal é e refletir sobre o processo de ocupação recente da parte oeste do Maranhão,
problematizando conceitos homogeneizadores que ignoram a diversidade territorial, social, cultural e política desse
território. A ênfase recai no aparelho de Estado e nas políticas públicas empreendidas pelos governos militares (1964-
1985), nos quais, fixa-se, como meta, a ocupação e controle dos espaços amazônicos, considerados, segundo as falas
oficiais, uma área de “vazio demográfico”, a fim de desenvolvê-los economicamente e conectá-los aos grandes centros
econômicos do país e do mundo. Ao longo do recorte temporal adotado (1960-1980) o Maranhão ganha espaço no
cenário nacional, assumindo protagonismo na política dos grandes projetos de desenvolvimento do Estado
(empreendimentos agrícolas, pecuários, minerais, madeireiros etc.) e da expansão da fronteira agrícola nos espaços
da Amazônia. As estratégicas governamentais para a ocupação desse território sustentam-se em diversos projetos

268
como a construção da rodovia Belém-Brasília (1962), a implementação da Lei Estadual de Terras (1969), os projetos
de colonização e o Projeto Grande Carajás (1985). Em linhas gerais, essas medidas governamentais desencadearam
profundas alterações na estrutura agrária e nas relações sociais camponesas no oeste maranhense. Os processos
deflagrados como a expropriação dos camponeses, o aumento da violência no campo, reconfiguraram o mapa
simbólico e político do Maranhão, atraindo e expulsando diversas redes migratórias que se constituem em referências
cruciais para os estudos sobre a violência da ocupação recente da Amazônia brasileira.

Situação de terras no Paraguai entre 1954-1989 – uma análise da migração brasileira

Elisandra Tomascheski (SED MS)

Este trabalho, discorre sobre a situação de terras do Paraguai entre os anos 1954 e 1989, período histórico no qual se
registrou a entrada massiva de mulheres e homens brasileiras/os no supracitado país. Parte de uma pesquisa maior
na qual almeja-se estudar as relações construídas entre os povos nativos e migrantes a partir do olhar e histórias de
vida das mulheres paraguaias. Esta proposta investigativa tem como objetivo apresentar um estudo sobre a percepção
feminina paraguaia a respeito os deslocamentos migracionais, buscando compreender como concebem e analisam a
entrada massiva de famílias brasileiras em seu país e as rivalidades culturais e sociais instaladas entre estes sujeitos
que passam a coexistir em um mesmo espaço. Para tanto inicialmente foi construído um panorama histórico da
situação das terras paraguaias marcadamente disputadas por hierarquias políticas de cunho exploratório, no período
mencionado, sendo este o mesmo momento no qual o Paraguai foi governado pelo presidente Alfredo Stroesnner.
Assim discorre-se a cerca dos conflitos e contradições agrarias que marcaram as disputas e ocupações das terras tanto
por paraguaios/as como por migrantes neste caso especificamente de brasileiros/as, buscando destacar como se deu
a abertura e condições que abarcaram tanto nativos como ou “outros” que chegavam em seu contato, diferenças e
trabalho com a terra.

269
ST 50. Militares na História do Brasil: perspectivas interdisciplinares

ST 50 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

As experiências de defesa e militarização na América Portuguesa: segunda metade do século XVIII

Christiane Figueiredo Pagano de Mello (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

A finalidade desta exposição é refletir sobre as experiências de defesa e militarização no Império Ultramarino
Português. O contexto espacial delimitado compreende duas áreas: o Norte e o Centro-Sul da América Portuguesa.
Mais especificamente, as zonas de fronteira, lugares onde a necessidade de prevenir-se é constante, onde os vassalos
deveriam estar atentos e preparados para não deixarem margem a que o agressor os surpreenda. Essas regiões
fronteiriças, pelo menos idealmente, deveriam dispor de uma eficaz estrutura defensiva para garantir a posse do
território. Pretendemos fazer uma breve analise comparativa a fim de obter uma compreensão mais ampla sobre a
política militar utilizada pela Coroa Lusitana nas suas possessões ultramarina, na segunda metade do século XVIII.
Devemos lembra que, a partir do período pombalino (l750-1777) se passa a reforçar o princípio da interdependência
entre os domínios portugueses da América, no que se referia ao encargo da defesa do território. Sob essa perspectiva,
o trabalho analisa o processo de incorporação das duas áreas em estudo - Norte e Centro-Sul da América Portuguesa
- na nova lógica militar implantada em Portugal a partir de 1750.

A Questão Nabileque e as fontes em arquivos militares: Metodologias e análises das fontes com base no
conhecimento e experiência de historiadores em instituições arquivísticas

Valdenora de Oliveira Rufino Owerney

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem sobre os pressupostos teóricos metodológicos utilizados
pelos historiadores que trabalham com as fontes disponíveis em arquivos militares, que foram amplamente debatidos
na disciplina Fontes e metodologias para pesquisa em Arquivos Militares ministrada pelo Profº.Dr. Fernando da Silva
Rodrigues. As temáticas trazidas para a discussão foram as relativas a pesquisa em arquivos, principalmente os
militares: o campo histórico e suas abordagens, o campo histórico e o ofício do historiador, as abordagens de
documentos escritos, o uso da história oral, o uso da memória, a cartografia histórica, o uso de fotografias para
pesquisa em história, história monumento, uso de diários e fonte sensíveis de regimes repressivos. Além dos debates
teóricos, a disciplina nos proporcionou a visitação ao Arquivo Militar do Exército Brasileiro (o PDC – Palácio Duque de
Caxias), o que nos propiciou o conhecimento das fontes constantes no arquivo. A partir desse embasamento teórico
metodológico e prático, será dado evidencia às possibilidades de sua aplicação no contexto da pesquisa acadêmica “A
Questão Nabileque”, tema da minha pesquisa. Com base no exposto, torna-se imprescindível que seja evidenciado o
contexto histórico que a temática esteva inserida (1905 – 1940). Assim o artigo dedicará um momento para uma breve
explicação sobre o contexto histórico e geopolítico, enfatizando de maneira clara o que foi “A Questão Nabileque”,
fato pouco conhecido tanto no meio acadêmico, quanto na sociedade.

270
Comandantes, diretores ou tutores: uma análise sobre a atuação dos militares junto aos povos indígenas entre os
séculos XVIII e XIX

Francieli Aparecida Marinato (IFMT - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso)

Muito antes da formação do Exército Brasileiro, os corpos militares criados pelo governo português e mantidos nas
primeiras décadas do Estado Imperial aglutinavam homens que atuaram longos períodos ou por toda a vida no serviço
militar. Eles tiveram papel relevante na condução da colonização, nos contatos com povos indígenas, na execução de
políticas indigenistas e nas diferentes tentativas de submissão e absorção dos nativos à sociedade que se formava em
todo Brasil. Nesta comunicação, proponho discutir a atuação dos militares junto aos índios, tendo como referência
minhas pesquisas sobre Mato Grosso em fins do século XVIII e Espírito Santo nas primeiras décadas do oitocentos. Além
disso, demonstro as potencialidades dos documentos produzidos por militares para estudos no campo da história
indígena. Em seus escritos, os comandantes registraram a presença dos índios de forma direta ou não, em relatos que
muitas vezes eram bem detalhados acerca do cotidiano local das vilas onde atuavam ou dos povoados formados no
entorno de quarteis e fortes militares. Com experiência de pesquisa em conjuntos de manuscritos formados pelas
correspondências e relatórios militares, tenho direcionado o olhar primordialmente para as relações e formas de atuação
dos povos nativos, buscando uma compreensão que privilegie os possíveis protagonismos indígenas. Mas, é necessário
considerar todo o contexto em que eles estavam inseridos, e nisso o papel dos militares se destaca. Sendo eles os
emissores dos documentos, os interlocutores e mediadores das vozes e ações nativas das quais só encontramos ecos e
vestígios, são seus escritos que permitem compreender reminiscências do universo indígena.

A Engenharia no Brasil Imperial: formação acadêmica, sociabilidade intelectual, legitimação profissional e


construção do ideário moderno na cidade do Rio de Janeiro.

Luciana de Almeida Silveira (IME - Instituto Militar de Engenharia)

Considerando as culturas urbanas em construção na cidade do Rio de Janeiro no século XIX, procurou-se escrutinar as diferentes
estratégias e táticas dos engenheiros na tessitura de suas redes de sociabilidade intelectual, legitimação profissional e construção
do sentido de urbanidade. Engenheiros estes formados pela Escola Militar (1840) e Escola Central (1858), envolvidos nos planos
de melhoramentos da cidade, como o Marechal Beaurepaire-Rohan, Jerônimo R.M. Jardim, Marcelino Ramos da Silva e Francisco
Pereira Passos. O processo de modernização implicava repensar as formas de saber técnico-científico a partir da medicina,
educação e engenharia. Nesse sentido, a Escola de Engenharia se destacava na formação de intelectuais, que conduziria o
processo civilizador e a construção de um ideário moderno na cidade. Desde a Academia Real Militar (1810), havia uma
preocupação com o ensino prático a partir de um currículo formado por disciplinas de natureza militar (Tática, Estratégia,
Fortificação) e civil (Arquitetura Civil, Pontes e Portos). A partir dos anos de 1850, com o advento da Guerra do Paraguai e da
crescente urbanização brasileira, desencadeou-se o processo de separação entre o ensino militar e o ensino civil, resultando na
Escola Polytechnica (1874). Enfim, constatou-se que as mudanças curriculares da Escola de Engenharia funcionavam como uma
resposta ao processo emergente de industrialização no país, no qual os engenheiros assumiam certo protagonismo e buscavam
legitimar um discurso reformista e civilizatório. Em busca da urbanidade, a cidade ideal buscava romper com o passado colonial
e ignorava as contradições da cidade real. Suas trajetórias profissionais possibilitaram indiciar ainda os possíveis papéis exercidos
pela Escola de Engenharia, por meio da inserção destes intelectuais em diferentes espaços de poder-saber (magistério, planos
urbanos, projetos escolares, arquitetura civil, imprensa, movimentos abolicionistas, produção de compêndios, exposições).

271
“Ta na hora do picado pessoal ou seria picado malhado?” A alimentação dos “trabalhadores do Mar” em tempos de
Paz e Guerra: o caso da Companhia de Aprendizes de Marinheiros (1840) e da guerra da Tríplice Aliança contra o
Paraguai (1864-1870) – prime

Jorge Antonio Dias (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO MS)

O presente ensaio tem como objetivos apresentar e brevemente discutir sobre o tipo de alimentação disponível e
oferecida aos “trabalhadores do mar” em dois momentos históricos e políticos da Marinha Imperial do Brasil: a Criação
da Companhia de Aprendizes de Marinheiros (1840) e a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870). Para
sua execução nos valemos de fontes oficiais disponíveis nos relatórios e anotações das autoridades navais constituídas
nos períodos correspondentes. Ao final, concluímos que apesar da temporalidade e espaços específicos para onde
concentramos nosso olhar e, até onde podemos alcançar inicialmente, muitas foram as dificuldades e total
dependência das forças de mar em tempos de Paz e Guerra às estruturas de apoio e logística necessárias ao bom êxito
para aquilo que se foram idealizados e desenrolados os respectivos momentos; oriundas principalmente pelas
estruturas hierárquica social e política experimentadas pelos dois eventos presentes na Marinha Imperial.

ST 50 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

O Problema Civil dos Assuntos Militares: O Caso da Marinha

Sylvio dos Santos Val (SME-RJ)

O problema das relações civis e militares é frequentemente tratado na perspectiva das relações políticas , a partir da entrada
dos militares na cena isntitucional, por intervenção ou moderação, sempre atendendo a um projeto conservador, de classe ou
vinculado a uma visão militar corporativa em particular. Por sua vez, os civis, seja a sociedade ou o poder representativo de
quem comanda o Regime Político em última instância, se abstem dos assuntos militares e estratégicos, dando uma indevida
liberdade aos militares de determinarem o desenho e os objetivos das Forças Armadas, porque, ao fim e ao cabo, as forças
armadas são vistas masi como instrumento de controle político do que de defesa. Esse arranjo é visto como um problema para
o controle civil das atividades militares, ou, pelo lado do discurso militar, o verdadeiro problema do afastamento entre a
estrutura do Estado e os objetivos da soberania nacional, o quais os militares acreditam ser os reais e legítimos arquitetos.
Dessa forma ,os civis são vistos elementos a ser coopatados e não como reais colaboradores. Através da discussão do problema
estratégico naval, esse ensaio pretende expor como esse arranjo histórico se tornou conveniente para ambos atores civis e
militares, e uma armadilha de difícil superação.

Os militares e a política: da criação da ESG ao Governo civil-militar de 1964-1985.

Karina de Carvalho Brotherhood (Professora da Rede Estadual da Educação do Rio de Janeiro - SEEDUC)

Esse estudo tem por objetivo analisar a contribuição da criação da Escola Superior de Guerra – ESG - criada em 1948,
que visava oferecer cursos extensivos aos oficiais das três armas, identificando quais foram os conceitos desenvolvidos
pela Escola que estavam atrelados à segurança e à estratégia nacional. Pois até a década de 1950 a ESG seguia o
conceito de Estado Desenvolvimentista aplicado pelo governo Vargas, mudando o seu entendimento e preceitos

272
devido as mudanças conjunturais criada pela Guerra Fria e com o alinhamento do Brasil e Estados Unidos. Após essa
maior aproximação entre as duas nações as práticas ligadas à intervenção do Estado na economia foram condenadas
surgindo uma polarização no pensamento ideológico militar, onde havia os adeptos do nacionalismo de esquerda e
do liberalismo pró-estadunidense de direita. Com a concretização e implantação do governo civil-militar a partir de
1964-1985, observamos uma outra divisão entre os militares denominada de linha dura x esguianos.

Da Doutrina de Guerra Revolucionária a Guerra Híbrida do Século XXI: uma perspectiva do Brasil

Fernando da Silva Rodrigues (Universidade Salgado de Oliveira)

Na condição de esforço inicial, a comunicação tem por objetivo discutir a definição do conceito de Guerra Híbrida, sua
relação com os conflitos contemporâneos e seus reflexos no Planejamento Estratégico do Exército brasileiro. O
trabalho foi desenvolvido, a partir do debate sobre os estudos dos conflitos vistos pela história e pela teoria da guerra,
e posteriormente foi desenvolvido o conceito sobre Guerra Híbrida, no nosso caso, a partir da identificação de estudos
sobre as principais guerras e conflitos globais e sua relação com as mudanças nas condições políticas, socioeconômicas
e tecnológicas ocorridas desde o fim da Guerra Fria. A investigação foi apoiada na evolução da teoria da guerra, no
debate sobre a Doutrina de Segurança Nacional, passando pela Doutrina da Guerra Revolucionária, com enfoque na
Guerra Híbrida, a partir do questionamento e profundo debate bibliográfico com a literatura nacional, internacional e
com aporte dos documentos produzidos pelo Ministério da Defesa do Brasil e pelo Comando do Exército.

O surgimento da ISP no Brasil: uma história de colaboração entre as Forças Armadas e o estado do Rio de Janeiro a
partir da Operação Rio 1 em 1994

Zoraia Saint Clair Branco (SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL)

Esse artigo tem como proposta analisar a criação da Inteligência de Segurança Pública (ISP) e a implantação dos
estudos da ISP no Brasil em meados da década de 1990, favorecidas pela Operação Rio 1, iniciada a partir do dia 1º de
novembro de 1994. Nosso objetivo, é identificar a relevância e a contribuição das Forças Armadas para execução de
um “novo” modelo de serviço de informação e de inteligência dentro das forças de Segurança Pública no Estado do
Rio de Janeiro. Tal ocorre no Estado do Rio de Janeiro no período dos governos de Leonel Brizola (1991-1994), Nilo
Batista (1994-1995 – após renúncia de Brizola para concorrer à Presidência da República) e Marcelo Alencar (1995-
1999). Em estágio embrionário como modelo de inteligência integrada e integradora das forças de segurança pública
a ‘Inteligência de Segurança Pública’ no Brasil, foi assim nominada no Estado do Rio de Janeiro recebendo este nome
por não ser mais somente policial isoladamente. A supra referida Operação, que visava a reprimir a criminalidade no
estado, deu origem à necessidade de as forças de segurança pública terem um serviço que assessorasse seus decisores.
A ISP é, por definição, uma atividade de assessoramento aos principais decisores de organizações que envolvam a
Segurança Pública, que teve, em seu nascedouro, o apoio de militares do Exército visto ser a Segurança Pública uma
atividade de Estado, sendo indelegável para a esfera privada e que necessita de dados e informações analisados e de
conhecimento produzido para a tomada de decisões.

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Forças Armadas e Segurança Pública: uma perspectiva histórica

Felipe Ramos Garcia (USP - Universidade de São Paulo), Leonardo José Ostronoff (NEV-USP)

Nas últimas três décadas, a atuação das Forças Armadas no gerenciamento da segurança pública no país tornou-se
uma prática usual. A despeito de não possuírem uma formação específica para a tarefa, as operações de atuação dos
militares das Forças Armadas no âmbito da segurança pública no país já somam 143 intervenções desde 1992, todas
por meio do dispositivo da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Não obstante a criação do Ministério da Defesa ter
ocorrido apenas em 1999 e a criação do repertório legal que regulamenta as operações de GLO ter ocorrido em 2001,
as intervenções dos militares na gestão da segurança pública no país já faziam parte das alternativas do Estado para
administrar problemas como greves de policiais, violência urbana e segurança de grandes eventos. Nesse sentido, nos
propomos neste trabalho a pensar as intervenções como um uso político das Forças Armadas. Para tal, partiremos do
modelo instrumental de interpretação das relações civis-militares no Brasil historicamente e do arcabouço teórico que
a sociologia da violência têm construído em torno do tema para analisar e contextualizar as intervenções.

ST 50 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Decretos de ensino militar: a preocupação em forjar uma nova elite militar:

Regiane Aparecida Pontes Botelho Nogueira, Thiago Machado Souza (Colégio Militar do Rio de Janeiro)

O presente estudo parte da premissa que os decretos que regularam o ensino militar, ao longo da primeira metade
do século XX, fizeram parte de um projeto político militar que tinha como um dos objetivos formar uma nova elite
militar, no Exército brasileiro, e eram alinhados aos interesses de construção de uma “nova” sociedade brasileira. O
trabalho refletirá sobre o ensino militar e as propostas presentes nos decretos que eram articuladas à política de
modernização do Exército brasileiro. Além de refletir o processo de mudança do paradigma doutrinário germânico-
francês para o americano. O recorte temporal compreende os iniciais da Primeira República até o período do Estado
Novo (1937-1945) com Getúlio Vargas. Este trabalho faz parte de uma dupla reflexão resultantes das pesquisas da
doutoranda Regiane Botelho e do mestrando Thiago Souza. A primeira construída através da montagem do material
de qualificação, para o doutorado, que terá como uma das temáticas abordadas à profissionalização do Exército
brasileiro, no período supracitado, visando à construção e modernização de uma nova elite militar que atendia a
critérios, muitas vezes excludentes, de formação resultado da demanda em se "descobrir" como forjar o ideal de nação
brasileira, dentro dos critérios cientificistas do período. E a segunda resultado da constituição de arcabouço teórico,
para ingresso no mestrado, para compreender os impactos das relações internacionais do Exército brasileiro com os
Estado Unidos, através da Missão Militar Americana para a montagem de uma nova defesa costeira e armamentos,
no período de Getúlio Vargas, que se processava a perspectiva da instrução de novos quadros, técnicas e inspeções
que ratificavam a obsolescência do nosso material e as fortificações existentes.

As legiões revolucionárias do Paraná e a oposição tenentista ao interventor Mário Tourinho

Natália Cristina Granato (SEED)

As legiões revolucionárias tiveram seu início a partir de outubro de 1930, e desde então começaram as dissidências
políticas em relação ao situacionismo. A organização política tenentista surgiu a partir da ação dos militares que

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atuaram no movimento armado de 1930 no estado, reunindo também apoiadores civis do movimento tenentista da
década de 1920 e da Aliança Liberal. No Paraná, a oposição ao interventor Mário Tourinho começou a ser organizada
em dezembro de 1930. Os elementos militares ligados às legiões e clubes revolucionários tenentistas se revoltaram
com as práticas políticas da interventoria. Esses agentes enviaram uma série de telegramas ao gabinete de Oswaldo
Aranha, um dos principais articuladores do governo Vargas com as interventorias, com grande poder de negociação
entre os tenentes revolucionários e os oligarcas dissidentes. Essa crise teve como desfecho a exoneração de Mário
Tourinho na interventoria federal, em dezembro de 1931. Esse trabalho pretende investigar as oposições tenentistas
ao interventor a partir das fontes do Arquivo Oswaldo Aranha, disponíveis no acervo do CPDOC-FGV. Através das
correspondências enviadas ao gabinete ministerial, analisaremos as ações de oposição ao interventor feitas pelas
legiões revolucionárias, relacionando esses fatos com o estilo de centralização política praticado pelo Governo
Provisório de Getúlio Vargas.

Psiquiatria, higiene e exército: A medicina militar na produção do médico militar Murillo de Campos (1920-1930)

Tiago Vicente Penteado Bomfim (Escola)

Este trabalho tem por intenção discutir alguns aspectos da produção intelectual de Murillo de Campos que atuou pelo
Serviço de Saúde do Exército brasileiro no início do século XX. Será utilizado como recorte a temática da medicina
militar, especificamente as discussões sobre higiene mental. Esta discussão tornou-se importante no meio militar
devido a circulação de ideias no Brasil após o fim da Primeira Guerra Mundial. Com a busca pela modernização dos
exércitos, uma nova concepção de soldado foi criada, que passa a não ser somente o defensor da nação em tempo de
guerra, mas também em tempo de paz. Essa nova proposta que passava a ser disseminada em discursos e projetos
tinha como objetivo conscientizar aqueles que passaram pelas fileiras do exército do papel social que esta instituição
lhe atribuía. Nesse sentido, a psiquiatria foi um dos campos de conhecimento que se destacou neste contexto de
modernização dos exércitos. Dentre os temas que discutiu, a higiene foi a porta de entrada de Murillo de Campos para
pensar a psiquiatria no Brasil, sendo um dos primeiros médicos militares a se preocupar e criar uma obra na qual
estabelecia os padrões da higiene no campo militar. Desta maneira, tenho como objetivo discutir neste trabalho como
Murillo de Campos passou a ascender dentro do campo médico/intelectual brasileiro a partir das suas discussões
psiquiátricas.

A Revolta da Chibata (1910) e a Rebelião dos Sargentos (1915) em perspectiva comparada: sobre anseios
corporativos e políticos – interpretações em confronto?

Eduardo Rizzatti Salomão (Escola Superior de Guerra)

Entre os temas menos investigados na história social e política dos militares na Primeira República destaca-se a
Rebelião dos Sargentos (1915), suscitando questões que passam pelo debate teórico-metodológico, a problemática
da limitação das fontes e a necessidade de buscar dar “voz” aos atores de outrora a iluminar outras possibilidades
investigativas. Diante desse desafio, sugerido a este pesquisador pelo historiador José Miguel Arias Neto, este trabalho
apresenta resultados do confronto entre os anseios presentes na Revolta da Chibata (1910) e na Rebelião dos
Sargentos (1915), tendo como referencial o ferramental da História Comparada. O propósito é iluminar,
reciprocamente, esses episódios, tendo como foco apreciar os anseios corporativos e o conteúdo político desses

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movimentos, estimulando o debate sobre as possibilidades investigativas a desafiar as interpretações mais aceitas
sobre as motivações das reivindicações de militares da baixa hierarquia. No tocante a metodologia comparativa, este
trabalho fundamenta-se nas produções de Charles Tilly e José D’Assunção Barros; quanto à história política e social
dedicada ao universo militar, encontra referencial nos trabalhos de Edgar Carone, João Quartim de Moraes, José
Miguel Arias Neto, Frank McCann, José Murilo de Carvalho e Paulo Ribeiro Cunha.

Oficiais do Exército e da Força Pública na Revolta de 1924 em São Paulo: redes e expectativas

Maria Clara Spada de Castro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Esta apresentação é oriunda de pesquisa de doutorado em andamento, que busca analisar, sob a perspectiva da
História Social, quem foram os envolvidos na Revolta de 1924 em São Paulo e entender melhor quais eram suas
motivações e intenções, a partir da perseguição de algumas trajetórias de condenados no Processo movido pela Justiça
Federal contra os envolvidos. Chama atenção as diversas relações que foram mobilizadas para o planejamento e
execução do movimento, bem como a multiplicidade de expectativas que estavam em jogo. A Escola Militar do
Realengo foi um importante núcleo de conspiração e disseminação da revolta. Ali, seus alunos conheciam uns aos
outros, teciam contatos densos e os mantinham após suas transferências para os mais diversos postos espalhados
pelo país. O próprio governo federal com o seu sistema de repressão contribuiu com o espalhamento dos movimentos
revoltosos. A partir de transferências de suspeitos e do julgamento dos envolvidos nos levantes de 1922, nota-se uma
crescente solidariedade entre militares. Dois anos depois, registrou-se revoltas em diversos estados brasileiros. Para
a organização e ocorrência da Revolta de 1924 em São Paulo, redes foram tecidas e mobilizadas não só entre militares,
mas também entre membros da Força Pública e civis. Dentre estes últimos haviam familiares, amigos, vizinhos ou
simpatizantes do movimento e de suas ideias, bem como indivíduos que se envolveram por motivos de sobrevivência,
diante da fome que se instalou com a ocupação militar da cidade e a suspensão dos trabalhos das fábricas e comércios.
A partir de uma multiplicidade de envolvidos, as expectativas para com o movimento foram diversas. Motivações e
interesses variavam entre civis, militares do Exército e membros da Força Pública de São Paulo, a depender do lugar
que ocupavam em meio à hierarquia militar, de suas origens sociais e interesses individuais.

ST 50 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

O STM como instrumento de legalidade autoritária no contexto da abertura política

Leandro Ribeiro de Lacerda (Faculdades Integradas Helio Alonso)

Tomando como base arcabouços teóricos que passam por temas como legalidade autoritária, conflitos na caserna e
repressão à oposição, este artigo tem como objetivo discutir como o STM serviu de instrumento político no contexto
da abertura política experimentada a partir do Governo Ernesto Geisel (1974-1979). Para fomentar a discussão, foi
estabelecido o seguinte problema: como a transição do regime militar influenciou o posicionamento dos ministros
durante os julgamentos secretos no STM? Atrelado à questão, o objetivo central deste artigo é analisar os argumentos
apresentados pelos ministros do STM durante as sessões secretas e problematizar como a corte atuou no tratamento
político e jurídico de denúncias contra supostos integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Para contemplar o

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problema e o objetivo foi possível estabelecer a seguinte hipótese: durante as sessões secretas, apesar dos registros
em áudio, os ministros não se sentiam intimidados e apresentavam, em diversos casos, posicionamentos políticos para
julgar os acusados. Assim, os julgamentos secretos eram estratagemas para que o Estado mantivesse a mão firme e o
domínio sobre quaisquer opositores, em especial casos envolvendo acusações contra supostos membros do PCB. Por
isso, ainda que não houvesse sustentação jurídica, o importante era chegar ao resultado desejado, não importa como.
Logo, realizar sessões secretas era um meio de manter oculta a fundamentação das decisões, uma vez que, nem
sempre, os documentos oficiais reproduziam o que fora discutido no plenário. Dessa forma, o STM servia como mais
um instrumento para garantir uma transição “lenta, gradual e segura”.

Narrativa e ditadura: O irmão Alemão, de Chico Buarque

Paulo Cesar Silva de Oliveira (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A comunicação se concentra na análise do romance O irmão alemão, de Chico Buarque, para discutir, de forma
comparativa, como a ficção contemporânea revisita os lugares de trauma marcados pelo período de exceção instalado
a partir do Golpe Militar de 1964. Concentrados na poética de Buarque, faremos um retorno panorâmico às obras
capitais que marcaram as décadas de 1960 a 1990 e que propiciaram uma espécie de arquivo da ditadura sob a forma
de discursos ficcionais. Chico Buarque se vale de uma narrativa contemporânea, porosa e multifacetada para, dentre
outras questões, revisitar nosso passado recente em seu romance O irmão alemão. Deste modo, iremos discutir as
possibilidades do texto ficcional face os discursos históricos e como o escritor contemporâneo problematiza a questão
do passado histórico, por meio de uma narrativa instável em que as relações entre literatura, sociedade e cultura estão
marcadas pela inespecificidade do discurso literário, que não somente dialoga com as fronteiras do texto artístico,
mas mantém relações intrínsecas com as outras artes e, principalmente com o discurso histórico. O trabalho se justifica
pela relação interdisciplinar entre literatura e história.

Poder Político e Forças Armadas: os conflitos desnecessários e as convergências necessárias.

Marcio Rocha (UFF - Universidade Federal Fluminense)

No desenvolvimento histórico envolvendo a formação e a estrutura política do Brasil, desde o início da República até
o presente momento, foi comum a ocorrência de graves conflitos envolvendo o Poder Político e as Forças Armadas.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar os fatores que expli-cam as causas desses conflitos, bem como caracterizar
o nível da relação civil-militar no Brasil na atualidade. Sendo o Poder Político o legítimo representante da Sociedade,
e, portanto, com a responsabilidade de definir e orientar as ações necessárias para o fortalecimento da Defesa
Nacional, contribuindo para a elevação do nível de segurança almejada pela Sociedade, é considerado que o Poder
Político tenha uma ascendência e autoridade natural sobre as Forças Armadas. Por outro lado, a Força Armada se
destaca por ser uma Instituição de Estado e com uma missão claramente definida, qual seja, a defesa da Pátria contra
ameaças externas, garantindo a manutenção da independência e soberania frente a potenciais ameaças externas.
Assim, é desejável que o relacionamento entre o Poder Político e as Forças Armadas ocorram em um ambiente de
harmonia, de cooperação e esforço conjunto na busca do alcance dos objetivos estratégicos de interesses da Defesa
Nacional. A justificativa desta pesquisa reside em contribuir com a literatura sobre a relação civil-militar e na
compreensão das causas dos permanentes conflitos verificados nas últimas décadas.

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Forças Armadas, apartheid e política externa: a proposta da Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS) e seus
desdobramentos (1966-1978)

Tiago Francisco Monteiro (Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro)

O objetivo desse trabalho é analisar as posições dos líderes das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em relação às
propostas da formação de um tratado militar anticomunista que envolveria determinados países banhados pelo
Atlântico Sul. As autoridades sul-africanas foram as principais defensoras dessa parceria e, ao longo dos anos,
dirigentes de países como Portugal e Argentina também se empenharam em tal empreitada que na maior parte do
período ficou conhecida como Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS). Todavia, os diferentes líderes civis e
militares brasileiros se colocaram contrários a esses acordos e as razões dessa atitude têm sido estudadas segundo
diferentes pontos de vista. Em geral, as pesquisas dedicadas sobre tal assunto consideram que recusa das diferentes
cúpulas governamentais brasileiras foram motivadas pelo desinteresse de Brasília em se associar com o regime
segregacionista da África do Sul – o apartheid –; pela tradição universalista da política externa brasileira, pela vontade
de não desagradar países produtores de petróleo e que não possuíam bons vínculos com os sul-africanos – como a
Nigéria, a Argélia e países do Oriente Médio –; entre outros pontos. Diante do exposto, nossa perspectiva analítica
visa aprofundar os conhecimentos nesse tema a partir de uma abordagem que privilegiará as razões estratégicas dos
militares brasileiros. Do mesmo modo, refletir sobre a maneira como a cúpula militar avaliou as questões relativas à
OTAS possibilitará examinar a visão castrense sobre os países que seriam seus potenciais aliados de pacto militar, quais
eram as prioridades das FFAA brasileiras no campo geopolítico no período proposto e o papel da Doutrina de
Segurança Nacional (DSN) na definição dos parâmetros da política externa brasileira.

Operação Mesopotâmia: a Ditadura Militar e o silenciamento como estratégias de controle da História.

Melk Eloi da Silva (IFPA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará)

A região amazônica, sobretudo na confluência dos estados, Maranhão, Pará e Goiás, tornou-se local estratégico para
a formação de um movimento guerrilheiro com ideias de revolução nacional. Esse movimento que ficou conhecido
como Guerrilha do Araguaia representa um conjunto de disputas e confrontos contra o Regime Militar implantado em
1964. Com a deflagração da Guerrilha na região Amazônica os militares produziram campanhas de combate aos
envolvidos, tais operações tinham como principal característica a prisão de pessoas contrárias ao regime ditatorial. O
presente trabalho busca analisar alguns relatos produzidos sobre os desdobramentos da operação nomeada pelas
forças de segurança como “Mesopotâmia”, e procurar compreender, através dos relatórios da operação, de que forma
as ações desencadeadas corroboram com os interesses políticos da época. Além disso, busca refletir em como esse
episódio se insere em um conjunto de ações planejadas pelo Ditadura Militar (1964-1985) contra grupos contrários ao
regime militar que se organizaram na região do Araguaia-Tocantins e que configuraram o que conhecemos hoje como
Guerrilha do Araguaia. A Operação Mesopotâmia desencadeada pelas Forças Armadas em agosto de 1971 tinha como
objetivo colher informações e prender militantes na divisa entre Pará, Maranhão e Goiás (hoje Tocantins). Nesta
operação, Epaminondas Gomes de Oliveira, militante do PRT, tornou-se alvo, preso, torturado e morto sob a tutela do
Exército Brasileiro em Brasília, DF. Os dados levantados demonstram vestígios do modo como as Forças Armadas
desenvolveram suas atividades operacionais contra os chamados “elementos subversivos”.

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ST 50 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

As Operações de Garantia da Lei e da Ordem: O Reforço da Visibilidade Militar

Luiz Claudio Duarte (Universidade Federal Fluminense)

A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu art. 142 duas missões para as Forças Armadas: a “defesa da Pátria”,
que se referre ao seu emprego pelo Estado em caso de agressão externa à soberania nacional e a “garantia dos poderes
constitucionais”, o qual remete à possível participação dos militares em operações de Segurança Pública, isto é, seu
uso em operações internas de Segurança; ações voltadas não contra forças militares estrangeiras (ações de Defesa),
mas contra cidadãos brasileiros, pessoas ou grupos envolvidos em ações tidas, segundo a legislação vigente, como de
desordem, ameaça à segurança interna, à segurança das instituições ou à segurança pública. Indivíduos ou grupos que
então são conceituadas como Ameaças, mas que, contudo, não configuram risco à Defesa Nacional. Seus sujeitos não
são “inimigos”, mas aqueles a quem a Publicação MD33-M-10 classifica como Agentes de Perturbação da Ordem
Pública (APOP). O presente trabalho visa analisar a participação bastante volumosa dos militares em operações de
Garantia da Lei e da Ordem nos governos dos presidentes Dilma Rousseff e Lula da Silva.

Forças Armadas e a crise institucional de 2021: o mito do ethos democrático e da idoneidade.

Priscila Carlos Brandao (UFMG)

No dia 29 de março de 2021 ocorreu um abalo nas forças institucionais do país, em função da demissão sumária do Ministro da
Defesa e pela reunião que se seguiu entre os três comandantes militares e sua proposta de demissão coletiva, algo inédito no
país. A partir de então, uma serie de declarações, amplamente absorvidas, compradas ou vendidas pela mídia, procurou enfatizar
o distanciamento das forças armadas em relação a um suposto projeto aventureiro de Bolsonaro, quem vinha, há tempos,
tentando concentrar ainda mais poderes em suas mãos. No entanto, esta proposição de renúncia coletiva criou no país uma ideia
fantasiosa de que aqueles militares estariam saindo de suas posições por serem idôneos, democráticos e por não apoiar nenhuma
tentativa golpista de Bolsonaro, bem como para evitar uma possível politização dos quarteis. O texto que ora se apresenta tem
como, a partir de um breve olhar sobre os primeiros meses de 2021, explorar como o atual comportamento militar é um legado
de uma prática inaugurada juntamente com a República, aliás em função de sua criação, guardadas as devidas proporções das
evoluções políticas, tecnológicas e sociais. As forças armadas nunca foram democráticas, sempre foram politizadas e se
perceberam enquanto uma espécie de poder moderador, fiador da ordem pública (não propriamente da democracia). Tão pouco
são essas forças um locus privilegiado de honestidade e idoneidade, haja vista, também historicamente, o seu grau de
envolvimento em casos de corrupção, extremamente aprofundados durante a o regime burocrático-autoritário, quando
estiveram à frente do Estadorecente ditadura militar. Um olhar sobre esta fantasia da democracia e idoneidade será considerado
a partir da perspectiva da capacidade de veto que estes players nacionais ainda impõem sobre a democracia, à luz de um debate
sobre “Justiça de Transição”.

Batismo de fogo: Tortura e suas metodologias no ensino das Bandas e Fanfarras de São Paulo

Elizeu de Miranda Corrêa (Univeritas-Ung)

Este estudo, ainda em desenvolvimento, se propõe inicialmente a apresentar algumas visões e versões acerca das
noções de tortura/violência amplamente utilizadas por certos instrutores das Bandas e Fanfarras do estado de São

279
Paulo, entre os anos de 1980 até 1995. A baliza cronológica elite, foi sugerida por constartamos a persistência de
heranças da ditadura civil-militar, especialmente a tortura praticada contra os integrantes. Ressalta-se que as
coorporações musicais, inseridas nesse contexto, exerceram um efeito disciplinador e moralizador nos componentes,
servindo ainda de lazer e sociabilidades para esses sujeitos. Portanto, pensar a ideia de tortura nas Bandas e Fanfarras
após a ditadura civil-militar, permite romper com uma visão romântica cristalizada no público, sobre esse fenômeno
e identificar a permanência dos elementos da ditadura nesta prática cultural. Por fim, para o desenvolvimento desta
pesquisa, recorreu-se a testemunhos orais de ex-integrantes e maestros, jornais e regulamentos internos das
corporações.

Os Grupos de Extermínio e a Opinião Pública no Brasil: Os Mão Branca em Campina Grande-PB (1979-1985).

Helmano de Andrade Ramos (EREMACOA)

O objetivo é recompormos a prática utilizada pelo grupo de extermínio Mão Branca na cidade de Campina Grande,
Paraíba, e com isso, questionarmos a classificação das suas vítimas tanto na imprensa quanto na historiografia
campinense. Para isso, utilizamos a teoria da história oral dos depoentes, denunciantes e testemunhas do Esquadrão
da Morte em São Paulo, articulada à transformação na cultura jornalística paulistana sobre os grupos de extermínio e
a origem do jornalismo investigativo no Estadão. A partir daí, abordamos a proximidade da opinião pública carioca
com o grupo de extermínio Mão Branca, da Baixada Fluminense, a quem, o nome das vítimas e os locais onde os corpos
seriam encontrados, eram informados e publicados em matérias de capa do Última Hora. Tal método de imposição da
ordem militar remanescente da ditadura e da “limpeza social” foi transportado do Rio de Janeiro para Campina Grande
em 1979, quando o grupo de extermínio Mão Branca se formou, ainda sem a nomenclatura, mas baseado na extorsão
e na tortura de marginais da zona leste da cidade. Isso, até a expulsão de um dos seus membros, Temporal, que ao
retornar à corporação como policial de oficio, por intermédio do segundo membro, o delegado da Polícia Civil da
Paraíba, Ciço Tomé, foi lotado como subordinado ao terceiro membro do grupo, o chefe de investigação da Primeira
Delegacia Distrital, Zezé Basílio. Formava-se a versão campinense dos Mão Branca, que no ano de 1980, aparecia no
jornal Diário da Borborema como o justiceiro, algoz de bandidos perigosos, e como supomos, a partir do paradigma
indiciário de Ginzburg, influenciou o tratamento historiográfico campinense.

Tráfico e Exploração Sexual de Mulheres: Uma Política Pública de Cultura Misógina de Governos Militares

Rosely Maria da Silva Pires (UFES)

Esta pesquisa é parte da minha tese de doutorado em Sociologia e Direito pelo programa PPGSD/UFF. Trabalhamos
com o método indiciário de Ginzburg e nossa base de análise principal é a circularidade da ideias e apropriação cultural
focando nos estudos de Gizlene Neder. A temática de pesquisa é trafico e exploração sexual de mulheres, em especial,
bailarinas. Ressaltamos a urgência do tema considerando que o Brasil ocupa o terceiro lugar em exploração sexual de
mulheres. Neste texto apresentaremos os dados sobre as reedições e permanências do tráfico e exploração sexual de
mulheres na história, encontramos, na década de setenta, o episódio em que o General Emílio Garrastazu Médici usou
como política pública de turismo a imagem da “mulata do carnaval”, (não utilizamos esse termo por ser um temo
racista), vendida como produto de exportação em uma campanha milionária da EMBRATUR, Empresa Brasileira de
Turismo criada em 1966. O foco nas ações da Embratur se dá porque foi uma política pública de cultura que

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representou a expansão do tráfico e exploração internacional de mulheres. Analisamos como, nos períodos de crise,
foram utilizadas propagandas culturais em que a dançarina do carnaval, exibida como pertencente a um pacote, no
turismo sexual, em 1970. A análise foca no debate sobre as bailarinas e dançarinas negras como imagens femininas
vendidas como produtos culturais milionários. Esta política governamental foi um marco decisivo no aumento do
índice de tráfico e exploração sexual de mulheres. Sobre a resistência à publicidade da mulata-exportação, no período
de 1970, apresentamos as marchinhas de carnaval daquele ano, que, em pleno regime militar, denunciavam o pátrio
poder, apresentando enredos cheios de crítica à violência contra a mulher. Como permanências culturais de longa
duração citamos o atual governo do Brasil e sua seu protagonismo no aumento estrondoso de sites de turismo
estabelecendo relação entre símbolos brasileiros e pornografia.

ST 50 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

As Investigações Contra os Professores pela Delegacia de Ordem Política e Social do Paraná – DOPS/PR durante a
Ditadura Militar no Brasil (1964 A 1985)

Júlia Aliot da Costa Ilkiu (UNC - Universidade do Contestado), Valquiria Elita Renk (PUCPR - Pontifícia Universidade
Católica do Paraná)

O presente trabalho tem como objetivo analisar a atuação da Delegacia de Ordem Política e Social do Paraná –
DOPS/PR perante os professores, durante a Ditadura Militar brasileira, de 1964 a 1985. Este trabalho desenvolve uma
pesquisa histórica, de forma interdisciplinar entre Educação, História e Direitos Humanos, apresentando como fontes
de pesquisa essenciais a legislação em vigor no período analisado e os arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social
paranaense. A Ditadura Militar no Brasil de 1964 a 1985, foi marcada por um forte aparato estatal de controle,
vigilância e repressão social, que ocasionou na violação sistemática de direitos humanos. As Delegacias de Ordem
Política e Social faziam parte do braço repressor do Estado e tinham como finalidade garantir o controle social e a
coleta de informações, a partir, principalmente, de atividades de investigação, monitoramento e vigilância de pessoas
e entidades consideradas subversivas, ou seja, àquelas que, segundo o governo, poderiam contestar o regime. Dentre
os suspeitos, os professores se tornaram um dos principais alvos da repressão estatal e das atividades de investigação
daquela delegacia especializada. Através dos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social paranaense é possível
verificar o modo de atuação dos agentes policiais contra os professores, as violações de direitos humanos contra eles
perpetradas, mas também as atitudes de resistência contra o regime militar e ações de colaboração com o mesmo.
Neste sentido é importante a pesquisa nos arquivos da DOPS do Paraná, pois como um instrumento de preservação
da memória nacional, revela as práticas de poder do Estado, bem como traz à luz a repressão e a violência estatal
cometidas contra os professores.

A Novembrada e o Movimento Militar Constitucionalista: a Intervenção da Esquerda Militar

Paulo Ribeiro Rodrigues da Cunha (UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)

Ao delinearmos apontamentos sobre a Novembrada de 1955 e a luta pela defesa da democracia, e que naquele
contexto teria por significado maior a garantia da lisura do processo eleitoral e a posse dos eleitos, incluso o presidente

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Juscelino Kubitechek, cabe antes chamar atenção sobre uma corrente política pouco conhecida, ou melhor, um grupo
de militares nacionalistas e de esquerda que estiveram confrontando o planejado golpe de direita que somente seria
bem sucedido em 1964. Formado por militares comunistas, legalistas e democratas, era um grupo bem heterogêneo,
mas que confluía politicamente em apoio ao projeto nacionalista, ressaltando ainda que, apesar de sua complexidade
e clivagens internas, igualmente se identificou, ao menos em sua maioria, pelo compromisso com a democracia e a
defesa da legalidade democrática. Entretanto, nossa hipótese re mete particularmente ao resgate da intervenção do
MMC - Movimento Militar Constitucionalista que seria expressão militante e interveniente do Antimil - Setor Militar
do PCB.

As principais ideologias a fermentar o anticomunismo no Exército: catolicismo, nacionalismo e liberalismo (1917-


1964)

Felipe Varzea Lott de Moraes Costa

Neste artigo, buscaremos analisar a incidência das principais correntes do anticomunismo no Brasil, mapeados pelo
historiador Rodrigo Patto Sá Motta, em sua obra recém lançada "Em guarda contra o perigo vermelho: o
anticomunismo no Brasil (1917-1964), no Exército. Discutiremos como o catolicismo, o nacionalismo e o liberalismo
influíram nas disputas entre os partidos militares e na configuração do partido fardado no Brasil, no período estudado
por Rodrigo Patto Sá Motta. Para isso, recuaremos até o ano de 1850, data da Reforma de Promoções, que
implementou as modernas regras de organização militar desenvolvidas pela reforma militar prussiana do século XIX.
Em resposta à expansão napoleônica, a reforma militar prussiana do século XIX estruturou o exército como uma escola
da nacionalidade, servindo como formador do nacionalismo militar moderno. Tais transformações no Brasil sofreram
grandes resistências, o que impeliu os militares brasileiros a uma atuação revolucionária no país, que somente teve
fim com a Revolução de 1930. Nesse processo de modernização, a Igreja Católica chegou a ser expulsa da caserna,
após a vitória dos republicanos em 1889. A partir do final dos anos 1910, a Igreja começou a reconquistar posições
perdidas nos quartéis desde a Proclamação da República. Nos anos 1930, a Igreja e Exército formaram uma aliança
profundamente coesa, servindo como principais agentes na repressão ao comunismo. Liberal da segunda metade do
século XIX até a Revolução de 1930, o liberalismo no Exército brasileiro perdeu muita força até recuperar posições
importante na IV República. Conforme se avançou na IV República, as posições liberais na caserna foram crescendo.
Ao chegar ao governo Jango, católicos, nacionalistas e católicos se uniram contra o comunismo, realizando o golpe de
1964.

Duas Táticas da Direita Militar: Intervenção Política na Constituinte à Disputa de um Projeto de Poder (1986-1994)

Carlos Henrique dos Santos Ruiz

Em 1985, após 21 anos de regime militar, José Sarney toma posse na presidência. Com o fim da ditadura, esperava-se
afastar os militares da política, o que não aconteceu. Os militares, como atores políticos, continuaram ativos, por meio
de lobby ou tutelando governos. Destes, uma Direita Militar atuou através de seus Grupos de Pressão, intervindo
politicamente na Assembleia Constituinte e nas eleições presidenciais de 1989, apoiando o candidato vitorioso
Fernando Collor. Tendo o governo Collor desapontado essa mesma Direita Militar, eles elaboraram um projeto de
poder, visando as eleições de 1994, o qual não obtiveram o resultado esperado. O objetivo da presente pesquisa é

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investigar e analisar a intervenção politica da Direita Militar entre o período de 1986-1994, em dois momentos -
atuação via lobby e pressão, e preparação de um projeto de poder para disputar eleições - seguindo a linha
metodológica Instrumental do estudo das relações entre militares, sociedade e Estado, bem como trabalhar na
identidade politica da Direita Militar, da qual a pesquisa parte como característica inicial, mas não a única, do
anticomunismo.

Militares pela Democracia: a ADNAM e a memória da ditadura militar (1964 -2020)

Rodrigo Musto Flores (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Os militares estão marcados na memória coletiva pela condução e operação do aparelho repressivo. Entretanto, parte
deste grupo foi também um dos alvos do mesmo aparato repressor que se mostrou extremamente articulado e eficaz.
As estimativas dos estudos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontam que cerca de 6,5 mil
militares tenham sido perseguidos pela ditadura. Os dados levantados pela referida comissão, portanto, invalidam a
hipótese de um comportamento monolítico, coeso e homogêneo no interior das Instituições Militares às vésperas e,
posteriormente, ao golpe civil-militar de 1964. Nesse sentido, a presente comunicação tem como objetivo tecer
considerações iniciais relacionadas ao projeto de pesquisa com o mesmo título, que está sendo desenvolvido à nível
de doutorado, cujo objetivo central é entender a articulação dos militares cassados em torno da “Associação
Democrática Nacionalista de Militares” (ADNAM), instituída em 1983, como sucessora da AMIC. Entendendo estas
instituições como ponto de articulação mais definitivo, bem como seu papel na representação de pautas importantes
para àquela coletividade, tais como: a revisão da lei de Anistia, redemocratização do país e da luta pelos direitos dos
militares atingidos. Com efeito, o presente projeto toma o espaço associativo como polo articulação política de seus
associados, mas, sobretudo, como uma instituição que irá atuar na construção de uma memória de resistência ao
regime ditatorial, cujos agentes são os próprios militares cassados.

ST 50 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

As tramas do recrutamento militar nos jornais do século XIX

Lis de Araújo Meira (SEDEC-JP E SECCT-PB)

O presente trabalho tem como objetivo principal a analisar os discursos produzidos sobre o recrutamento militar no
período que se estabelece entre 1840 até 1852, na província da Paraíba. Para isso, utilizaremos jornais que circulavam
no século XIX no Brasil, dando ênfase em dois periódicos paraibanos de orientação política oposta e que veicularam
visões sobre o recrutamento militar na província da Paraíba. Nos debruçamos sobre os jornais digitalizados pela
Hemeroteca Nacional para observarmos diversas visões sobre o recrutamento, bem como denúncias de arbitrariedade
no processo, posições de partidos sobre o alistamento, perseguições políticas, contendas locais, entre outros temas.
Dedicamos mais atenção a dois jornais paraibanos: “A Ordem” e “O Reformista”, que sendo de orientações políticas
opostas, conservador e liberal, respectivamente, trocaram acusações sobre excessos no sistema de alistamento,
utilizando-o como instrumento de coerção. Para dar suporte a essa investigação também analisamos outros tipos
documentais, como os relatórios de alguns presidentes de província e legislação que estava em vigor e

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correspondência entre autoridades provinciais. Sendo assim, pretendemos analisar como o processo de alistamento
de homens para as instituições militares era vista por conservadores e liberais. Além disso, buscamos compreender
como o recrutamento poderia ser utilizado como instrumento de perseguição a inimigos políticos durante os períodos
eleições, bem como no controle da população livre pobre, como um recurso de manutenção da ordem.

“Tem havido muitas injustiças e muito patronato”: clientelismo político e recrutamento militar durante a Guerra do
Paraguai em Uberaba/MG

Flavio Henrique Dias Saldanha (Universidade Federal do Triângulo Mineiro)

A presente comunicação tem por finalidade discutir a pressão causada pelo recrutamento militar, especialmente,
durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) nas redes de proteção locais. É sabido que havia um acordo tácito entre as
partes envolvidas sobre a quem deveria recair o encargo militar. No entanto, com a demanda cada vez maior por mais
recrutas, houve uma interferência crescente por parte do Estado imperial brasileiro nos assuntos locais,
especialmente, as clientelas políticas, cujas redes de proteção se viram pressionadas. Chefes das localidades,
principalmente, os comandantes superiores da Guarda Nacional tiveram a capacidade de proteção de suas clientelas
e, acima de tudo, seu prestígio colocado em xeque. Sendo assim, analisaremos um caso particular de uma sessão
extraordinária da câmara municipal de Uberaba, localizada no antigo Sertão da Farinha Podre, no extremo oeste de
Minas Gerais, como exemplo destas pressões em prol do recrutamento militar como parte do esforço de guerra contra
a república do Paraguai.

A Missão Suez (1956) - política externa do Brasil no governo JK

Virgílio Caixeta Arraes (UnB), Bruno Rezende Santiago Chagas (SE)

Após o imbroglio diplomático e militar entre Egito, Grã-Bretanha, França e Israel em torno do controle do estratégico
canal de Suez, Estados Unidos e União Soviética convergiram nas Nações Unidas (ONU) para um encaminhamento em
que houvesse a estabilidade da região, haja vista sua importância para a economia mundial e seus reflexos na política
de nacionalismo e descolonização na região. Assim, constituir-se-ia a UNEF, sob liderança do Canadá e com a
participação do Brasil. No país, seria conhecida como Batalhão Suez. Integrar uma missão multilateral auxiliaria o
governo JK a abafar tensões políticas internas ao passo que projetaria imagem positiva do Brasil no mundo. De modo
sintético, orbitavam ao redor do papel do Batalhão Suez três características de um mesmo processo histórico:
relacionamento com a ONU e conjunto de objetivos que o país desejava nela, em especial o assento permanente no
seu Conselho de Segurança; multilateralismo defendido pelo Itamaraty e ESG com relação à abertura para África e
Ásia – sem olvidar o interesse na América do Sul – e por último aliança com os Estados Unidos, principal via para a
pragmática arquitetura em política externa e militar. Deste modo, o Batalhão Suez foi a súmula disso, dada sua
durabilidade na cena interna e internacional. Congregava em si tensões geopolíticas que implicavam versatilidade
política na tessitura do objetivo almejado: projetar o país no cenário internacional com marca de democracia,
autodeterminação e autonomia.

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Militares e a nação brasileira: a atualidade dos “jovens turcos”

Leila Maria Corrêa Capella

Em recente nota de 07.07.2021, o Ministro de Estado da Defesa e os Comandantes das Forças Armadas repudiaram
de forma veemente a declaração do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, feita na
mesma data. O motivo da indignação do mais alto poder militar foi o desabafo do Senador Aziz que, a propósito das
evasivas de um depoente, militar reformado, comentou que os bons das Forças Armadas deveriam estar muito
envergonhados, porque fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos
com falcatrua dentro do governo. Em sua nota, o ministro e os três comandantes consideraram que as Forças Armadas
haviam sido desrespeitadas, porque estas são “ciosas de se constituírem em fator essencial da estabilidade do País”.
Algo bem próximo foi dito no passado pelo então Tenente Mário Clementino, no editorial do primeiro número da
revista A Defesa Nacional, criada por um grupo de jovens oficiais conhecidos como “jovens turcos”. Na ocasião,
expressou a visão de seu grupo acerca do papel dos militares na vida nacional. Em suas palavras, embora não desejasse
de forma alguma a incursão injustificada dos elementos militares nos negócios internos do país, considerava que, nas
“sociedades nascentes”, o Exército é “um fator decisivo de transformação política ou estabilização social”. (publicado
em 10 de outubro de 1913). Cento e oito anos separam as duas declarações mencionadas. Embora tenham sido feitas
em contextos históricos bastante diferentes, percebe-se uma aproximação entre discursos tão distantes no tempo. Os
“jovens turcos” foram capazes de elaborar um pensamento bem articulado não apenas sobre o Exército brasileiro,
mas também acerca da sociedade brasileira e do seu papel nessa sociedade. Conhecer este pensamento pode lançar
luz e ajudar a compreender o momento atual, em que a presença militar na sociedade brasileira se aprofunda cada
vez mais.

Uma Democracia “Pacificada”? Política, democracia e conflito social no pensamento de militares contemporâneos

Wallace da Silva Mello (SEEDUC-Rio)

O texto analisa a concepção sobre democracia e política no pensamento de militares brasileiros contemporâneos.
Como alguns militares analisam e interpretam o funcionamento do sistema político brasileiro? Qual o papel das
relações sociais e de classes no Brasil? Como entendem a democracia em nossa sociedade? São algumas perguntas
que suscitaram a elaboração deste trabalho. O ponto fundamental que busca-se analisar aqui é a existência de uma
concepção de democracia que, no limite, negaria o conflito social e justificaria, nesse sentido, intervenções político-
militares para restabelecimento da pacificação social idealizada. As fontes da pesquisa são livros, capítulos, textos,
artigos de jornal e publicações em redes sociais de militares da reserva das Forças Armadas. Os textos escolhidos foram
escritos, principalmente, por militares do alto escalão do Exército, com algum destaque na caserna ou no âmbito civil
no pós-ditadura. Para tratar esses dados qualitativos e textuais, adota-se o uso da Análise de Conteúdo. Argumenta-
se que há entre esses militares analisados uma certa concepção de democracia e de povo brasileiro caracterizada, no
limite, pela negação do conflito social e das diferenciações sociais. Elas relacionam-se com narrativas internas à
caserna mas também à mitologia civil, como a miscigenação, a cordialidade, a questão da solução alternativa à
escravidão e seu legado, a construção de uma sociedade “pacificada” e do próprio passado militar redentor. Acusam
movimentos sociais de fomentarem a divisão social com pautas exógenas à realidade brasileira, tais como o
“politicamente correto” e as questões de minorias, dialogando assim com o anticomunismo militar. As Forças Armadas
seriam intérpretes dos anseios nacionais e o sistema democrático seria um entrave à estabilidade social que exigiria

285
uma ação forte (autoritária) em dados momentos. Assim, o conflito político institucionalizado, característico das
democracias, seria visto como problemático e indesejável.

286
ST 51. Mulheres, Histórias e Resistências

ST 51 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Vozes no silêncio: a presença feminina na história do pensamento ocidental

Danubia Faria de Almeida (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O artigo tem por objetivo apontar, nas estruturas do pensamento ocidental, fatores que contribuíram para a formação
do pensamento predominantemente masculino, responsável por reafirmar a desigualdade entre os gêneros através
de um aparato argumentativo. Através de uma análise dos discursos filosóficos, iremos identificar fatores que
contribuíram para que as mulheres tivessem seus pensamentos excluídos e silenciados ao longo da história. A análise
sobre os discursos é parte importante pois se faz compreender os motivos que levaram a exclusão e silenciamento
das mulheres tanto no âmbito intelectual quanto social. Em um segundo momento, iremos contrapor esses
argumentos conservadores do pensamento ocidental através de um levantamento da memória do feminino, que
apesar de oculto e silenciado, existe e deve manter a sua importância na história da humanidade. Através da análise
da influência da mulher em diferentes épocas, podemos contra argumentar alguns discursos que insistem em
prevalecer até os dias atuais, reforçando e preservando argumentos que reforçam a superioridade masculina frente a
feminina. Através dos acontecimentos advindos da modernidade, onde as necessidades de mudanças foram se
tornando cada vez mais fortes, as mulheres se fizeram cada vez mais presentes e atuantes socialmente. As
transformações desencadearam na reflexão do papel da mulher na sociedade, levantando tanto questões
argumentativas em defesa das suas lutas, quanto despertando a consciência da mulher como Ser presente na sua
própria realidade. Objetivo desse artigo é apresentar que, apesar de todo o aparato que constitui os reflexos
tradicionais da estrutura sócio histórica que privilegia o masculino, surge na contemporaneidade, uma nova
perspectiva capaz de resgatar a memória do feminino e levantar debates que analisam a estruturação social e busca
o reconhecimento da mulher como Sujeito, proporcionando a igualdade entre os gêneros, tão importante para um
convívio social igualitário e justo.

Vandana Shiva e Ivone Gebara: anjos do ecofeminismo?

Tânia Regina Zimmermann (UEMS)

Nesta pesquisa objetiva-se discutir a participação feminina da indiana Vandana Schiva e da brasileira Ivone Gebara e
suas inserções no ecofeminismo permeadas pela religiosidade e espiritualidade a partir de uma pesquisa bibliográfica.
Estas duas intelectuais são referências na atualidade nessas discussões sobre desigualdades Norte-Sul, indiferenças
com a insustentabilidade do planeta, o endeusamento do consumo, direitos das mulheres e de gênero e o uso
irracional de recursos como água. Para elas, a experiência espiritual das muitas mulheres aduz a uma conexão
específica com o meio ambiente e com diferentes modos de ativismos políticos. A nossa crise ecológica perpassa
rediscussões sobre valores binários atribuídos ao mundo social e natural. Estas autoras acreditam que a participação
das mulheres é importante na construção de uma nova ecovisão de mundo. A pesquisa pontua que nos escritos
ecofeministas dessas mulheres alenta-se para o cuidado como afetação, para a solidariedade e a gratuidade,

287
reforçando a sensibilidade e a justiça social, mas apontam para a não-exclusividade do feminino no cuidado de nossa
casa comum.

ST 51 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Maria Sibylla Merian: uma estudiosa seiscentista na interface entre a arte e a História Natural

Luma Cabrera de Araújo

A obra da gravadora, aquarelista e observadora dos ciclos de vida dos insetos nascida em Frankfurt durante a segunda
metade do século XVII, Maria Sibylla Merian, pode ser estudada a partir de diversas perspectivas. Uma das mais
exploradas, inclusive por ser o ponto focal de seu trabalho, seu interesse pela metamorfose dos insetos (especialmente
de borboletas e mariposas), resulta em uma torrente de resultados de pesquisas online. Muitos outros estudiosos se
dedicam a analisar sua obra sob a perspectiva da arte, evidenciando suas inegáveis qualidades técnicas e artísticas no
trabalho de gravação em cobre e na arte da aquarela, muito evidentemente, influenciada pela minúcia e pelo
descritivismo típicos das obras sob a inspiração da renascença do norte da Europa. Outros estudos, típicos da
contemporaneidade, destacam sua trajetória pessoal, principalmente em livros infanto juvenis que se dedicam à
divulgação de trabalhos realizados por mulheres. Mas, apesar de relativamente abundantes no exterior, são raros os
trabalhos acadêmicos sobre Maria Sibylla Merian realizados no Brasil. O presente trabalho tem por objetivo discutir a
influência e a historiografia que envolvem a obra desta autora seiscentista e quais foram suas influências para os
estudos relativos à História Natural na posteridade.

Lençóis ao Sol: visões feministas sobre o patrimônio cultural.

Nerita de Carvalho Oeiras Alves (Estu)

A partir da fotografia dos anos 1960 de um antigo espelho d’água na cidade de Paraty, RJ, e que já não existe no
conjunto arquitetônico, o trabalho reflexiona sobre a construção ideológica do relato patrimonial da cidade. Usa-se
da teoria feminista para realizar uma leitura crítica do significado de patrimônio, pensando sobre como as noções do
que é considerado relevante para a questão patrimonial se costuram a partir de vozes institucionais masculinas e
letradas. O trabalho avalia os impactos dessas noções hegemônicas de patrimônio na configuração do Centro Histórico
da cidade. O turismo de massas se erige a partir de elementos teórico-institucionais misóginos, instituindo em Paraty
o imaginário de uma cidade masculina e “fixada” no século XVIII, que conduzem a um gradual desaparecimento de
rituais cotidianos. Um deles era a prática de lavar e secar lençóis nos espelhos d’água e rios, condenada pelo código
de posturas vigente, mas que no passado aumentava a visibilidade das mulheres no espaço público. O apagamento de
lugares de memória de mulheres é uma evidência de como operam os mecanismos de poder, com uma grande carga
de violência simbólica e apagamento sistemático da memoria de grupos não-hegemônicos. Essa noção de patrimônio
dá sustento a narrativas sobre o Estado-nação que levam a que persistam atualmente, já no contexto da cidade
turística, uma série de relações de opressão, direcionadas tanto a mulheres com a outros grupos. O comportamento
institucional traz consigo protocolos e códigos de posturas que impõe padrões de comportamento e modelos
essencialistas de cidadania. Esses modelos são valorações que podem, e devem, ser reconstruídas e rearticuladas.

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Com a teoria feminista podemos obter critérios não hierarquizantes para entender, avaliar e regulamentar o
patrimônio cultural e, quem sabe, conquistar mudanças institucionais que se desenhem desde as subjetividades e
reconheçam, ainda que tardiamente, o papel fundamental das mulheres para a cidade.

ST 51 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

As Escritoras do "Clarim da Alvorada": o protagonismo e as redes de sociabilidades construídas por mulheres negras
em São Paulo.(1924-1940)

Ingrid Andresa Neles de Aquino (Colégio e curso Progressão)

A apresentação terá como objetivo apresentar a escrita de algumas mulheres negras no famoso periódico paulista “O
Clarim da Alvorada” (1924-1940), que por muito tempo ficaram invisibilizadas pela historiografia da Imprensa Negra
no Brasil. Essas mulheres contavam com uma página feminina na folha, clubes negros femininos, mobilizavam ações
sociais a fim de cuidar de famílias negras que viviam em condições de miserabilidade, entre outros. Mesmo com todas
as questões de gênero, raça e classe que perpassavam o cotidiano de mulheres negras, elas não assistiram de forma
passiva a essa opressão, uma vez que transgrediam a ordem social posta, a partir de pequenos gestos e atitudes na
vida prática. Ademais, produziram diversos tipos de saberes ao longo do tempo e que serão salientados ao longo da
explanação. Como pode-se observar, este trabalho surgiu de uma inquietação, ao perceber a maneira com que a
narrativa histórica silenciou o protagonismo dessas mulheres. Vale ressaltar, que há carência de pesquisas e
necessidade de renovação historiográfica no que tange à temática, até mesmo para que não se perpetue a visão
errônea de um movimento negro criado e organizado apenas por homens, como se não tivesse contado com o
trabalho e mobilização feminina.

Entre súplicas e lutas: a atuação de mulheres no Parlamento brasileiro (1823-1829)

Ana Luzia Pereira Martins (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O surgimento do constitucionalismo no Brasil ocorreu devido a Revolução do Porto, em 1820. Tal movimento, de
princípios liberais, foi responsável pela transformação da história de Portugal e também do Brasil ao propor a reunião
das Cortes portuguesas em 1821 para a elaboração de uma Constituição portuguesa e posteriormente a Assembleia
Geral Constituinte e Legislativa de 1823, no Brasil. Estabelecida em maio de 1823, a Assembleia, além de confeccionar
a primeira Constituição brasileira, tinha a tarefa de analisar petições e requerimentos enviados por diferentes setores
sociais, dentre eles, as mulheres. Diante disso, a presente pesquisa apresenta como objetivo principal o estudo de
atuações femininas no contexto do constitucionalismo brasileiro por meio da análise de petições e requerimentos
enviados por mulheres ao Parlamento brasileiro. O estudo da prática peticionária nesta conjuntura torna-se relevante,
pois permite compreender as ações de indivíduos considerados “excluídos” destes processos. Podemos conferir como
as mulheres viam esta instituição e de que maneira se dirigiam ao Parlamento com o intuito de assegurar os seus
direitos. A pesquisa ao se debruçar sobre a prática peticionária e a participação feminina nesta conjuntura, busca
contribuir com as pesquisas relacionadas ao Primeiro Reinado e à História das mulheres.

289
ST 51 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Uma mulher na luta pela educação e ciência: Francisca Senhorinha da Motta Diniz no jornal O Sexo Feminino

Aline de Souza Araújo França

No Brasil do século XIX, o nível de analfabetismo era muito alto: segundo dados do Censo de 1872, apenas 18,5%
da população livre de todo o Império era alfabetizada. Entre estes, as mulheres estavam em número menor em
relação aos homens. A elas, a dificuldade de acesso à instrução era ainda maior. Condições sociais, culturais e
também econômicas interferiam na admissão das mulheres no mundo escolar. A partir da segunda metade do
XIX, houve uma intensificação na produção de impressos: livros, jornais e folhetos passaram a fazer parte do
cotidiano da maior parte da população, e as mulheres se tornaram grandes consumidoras, especialmente de
periódicos. Diversos jornais e revistas surgiram tendo como principal público alvo as mulheres. Seus temas e
assuntos variavam, como moda, decoração, higiene, costumes, cuidados com as crianças, maternida de, literatura,
poesias, voto feminino, política e discussões sobre ciência e educação. A proposta desta comunicação é tratar
sobre uma mulher que esteve à frente da redação de alguns periódicos no período, entre eles O Sexo Feminino
(1873-1876; 1889). Essa mulher, Francisca Senhorinha da Motta Diniz, professora, jornalista e escritora, lutou
através de palavras para o acesso das mulheres à instrução, pois entendia que era somente por esse meio que se
alcançaria a emancipação. Sendo assim, seus escritos podem ser vistos como uma forma de resistência. A partir
da análise de algumas seções de O Sexo Feminino se procurará verificar, como Francisca Senhorinha pensava a
questão da educação e da ciência para mulheres.

Educação civilizadora e sociabilidade em Les Promenades de Victorine

Anna Beatriz Esser dos Santos (Universidade Iguaçu)

O objetivo desta comunicação é analisar as percepções e construções sobre educação feminina produzidas no manual
de boas maneiras Les Promenades de Victorine, de Mademoiselle Lenoir. Por meio desta obra, verificaremos as
práticas de sociabilidades, os conselhos e regras voltadas a uma boa educação de meninas e moças. Estes manuais
normatizavam as práticas femininas dentro do espaço público e privado, incutindo condutas e hábitos, fazendo parte
de um programa de civilidade em que a internalização de regras de comportamento e boa conduta acabou por
influenciar os modos de ser nos processos de formação individual e coletivo de diversas mulheres. O conceito de
civilidade aqui apresentado será desenvolvido a partir de Norbert Elias, que tomou a literatura de civilidade como
representação do funcionamento da própria sociedade no qual a educação civilizadora é pautada na conformação de
comportamentos sociais, elementos desenvolvidos através de manuais de civilidade como Les Promenades que
seguem uma linha de escritos ordenadores do comportamento de mulheres.

ST 51 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

290
“Se a chuva cair sobre um dos meus amigos, todos ficam molhados”: Mulheres e a Guerra Religiosa no Município
de São Gonçalo

Camilla Fogaça Aguiar (FAPERJ)

O presente texto aborda investigações ainda em transito, explicitando parte do percurso e observações que estamos
desenvolvendo desde 2015, em São Gonçalo, município que compõe a região metropolitana do Estado do Rio de
Janeiro . Como parte de uma investigação maior, esta pesquisa decorre de seis anos de trabalho de campo (2015-
2021), e apresenta entrevistas realizadas com quatro membros de terreiro: Marcia D’Oxum, B. D’Xangô, W. D’Obaluaê
e P. D’Oxalá . Objetivo desta pesquisa é apresentar como duas figuras femininas se apresentam dentro de suas esferas
sociopolíticas e em meio à guerra religiosa no município de São Gonçalo. Tendo como análise a ex-prefeita do
município e declaradamente evangélica, Aparecida Panisset, e uma das maiores representantes de terreiros do
município devido a suas influencias políticas e execuções de grandes projetos, Marcia D’Oxum. A apresentação
pretende levantar observações sobre como duas figuras femininas ocupam posições controversas, desenvolvem
articulações e lugares de liderança em diversos conflitos religiosos que acontecem em São Gonçalo. Utilizamos como
espaço temporal para esta análise o período dos dois mandatos de Aparecida Panisset (2005-2012). Neste período
observamos que os entrevistados sempre apontavam o governo de Aparecida Panisset como de maior intolerância
religiosa contra o “povo de axé” do município. Com objetivo de elaborar estratégias contra o poder público vigente,
determinados grupos sociais estabelecem identificações a partir do que lhes é posto pela sociedade como negativo,
como no caso do racismo presente na sociedade brasileira que aponta pejorativamente para fenótipos, como cor da
pele, cabelo, ou atividades culturais e religiosas, como a capoeira, candomblé e a umbanda, entre outros. Como M.
D’Oxum, que desempenham o papel de construção social através da resistência cultural e política do negro,
configurando uma insubordinação de cunho étnico frente à imposição de outras culturas dominantes.

Objetificação e pressão estética em corpos femininos

Maria Rita Ribeiro dos Santos (Faculdade AGES - Faculdade Ages de Senhor do Bonfim)

A mulher foi vista historicamente na sociedade como um objeto. Essa objetificação do corpo feminino estava ligada
desde a função que ela exercia, como mãe, esposa, filha, até a chegada no mercado de trabalho e o início da ruptura
com esse padrão. Entretanto, o corpo feminino e a sua função é reinventado constantemente para definir beleza e
aceitação, tornando-se objeto na indústria estética, no imaginário do desejo sexual, nas passarelas de moda. O corpo
é objeto consumido apenas por existir. Cada período histórico teve um padrão de corpo a ser seguido, almejado e
consumido. Na sociedade contemporânea, novas formas de consumo surgiram com as mídias de digitais. Essas
moldam o que é socialmente aceitável, “postável” e curtido, criando um padrão inatingível no mundo real, sem filtros
e aplicativos que transformam. Contrariando a pressão estética imposta por grande número de páginas, formas de
resistência surgem para “libertar” e dar voz a corpos estigmatizados, como os corpos gordos. Assim, surge o
movimento “Corpo Livre”, com uma ideia emancipatória, enaltecendo a beleza real de corpos naturais. Dessa forma,
o presente trabalho tem como objetivo estudar a pressão estética sobre as mulheres a partir das mídias sociais, mais
especificamente o Instagram, para isso foi feita uma netnografia, de duas páginas que tem como pauta o corpo livre.

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ST 51 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

"De agrado também se morre": violência feminina e o caso dos "Crimes do Agradinho" (Uberaba - MG, década de
1960)

Maíra Cristina Tomé Fonseca

O presente trabalho tem como intuito analisar uma série de crimes ocorridos na cidade de Uberaba, Minas Gerais,
entre os anos de 1957 e 1962, mas que só vieram a ser descobertos em 1964. Como autoras dos crimes, foram
acusadas quatro mulheres, moradoras da Rua Campos Sales, no Bairro Abadia, que teriam se utilizado do
envenenamento como forma de matar. Esse envenenamento se dava através de comidas que elas cozinhavam e
ofereciam à suas vítimas, na forma de um “agrado”. Por isso, o caso ficou popularmente conhecido como “Crimes do
Agradinho”. Juntas, acredita-se que essas mulheres teriam matado mais de doze pessoas. Os estudos que se dedicam
à criminalidade feminina nos mostram que, em se tratando do homicídio – um crime mais associado ao universo
masculino –, a mulher ultrapassa os limites de uma feminilidade que lhe é exigida socialmente, pois não se espera que
uma mulher cometa crimes, sobretudo crimes de morte, o que implicará na produção de discursos e representações
que irão recair sobre ela. Em nosso caso, esses discursos partem de muitos lugares: dos agentes jurídicos, dos oficiais
da polícia, do campo médico-psiquiátrico, das vítimas, testemunhas e da imprensa, geralmente ligados a questões
moralizantes relacionadas ao gênero. Assim, buscaremos analisar quais foram as percepções de gênero acionadas pela
Justiça e pelos demais agentes sociais identificados no processo, bem como as representações criadas pela imprensa,
e como elas recaíram sobre aquelas mulheres. As fontes que amparam nossa análise são jornais e revistas da época,
tanto de circulação local quanto nacional, bem como o processo-crime que se encontra no Fórum da Comarca de
Uberaba.

O léxico das transgressões femininas e vocabulário social do meretrício na América Portuguesa

Alexandre Rodrigues de Souza

O léxico sociológico de cada comunidade reflete o seu contexto e suas vivências, mas muitas vezes foi reduzido ou
essencializado a formulário de fonte nas pesquisas. Como hoje, as sociedades do passado utilizavam alcunhas para
identificar ou estigmatizar socialmente os indivíduos. Discutir os termos, palavras e expressões que dialogam com a
temática do meretrício na América portuguesa é a proposta dessa apresentação pois, muitas vezes, essa conduta foi
confundida com outros comportamentos sociais mais visíveis, como o concubinato, os “tratos ilícitos”, o adultério ou
as relações entre pessoas desiguais. As mulheres consideradas transgressoras aparecem descritas nas fontes com as
mais variadas pechas: “devassas do seu corpo”, “desonestas”, “mulher pública”, “mundanas”, de “usarem mal de si”,
de “tratos ilícitos”, de encontrem “muitos homens” ou de “meretrizes”. A multiplicidade de termos, por um lado,
mostra a variedade de relações estabelecidas entre os grupos e gêneros, por outro, revela um contexto de colonização
ibérica, herdeira dos critérios reformadores cristãos, que buscava o controle dos comportamentos e tinha uma visão
dualista da conduta feminina. Nesse sentido, estereótipos morais e sociais como, por exemplo, ser solteira ou morar
sozinha, levavam uma mulher a ser acusada de meretriz. Argumento que, no contexto escravista das Américas, este
processo incorporou a variável de cor e raça, naturalizando um lugar comum de que a mulher africana e escravizada

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era, até que prove o contrário, desonrada e desonesta. Desse modo, as características da escravidão deram novos
contornos às formas de construção dos estigmas e vocabulários sociais.

ST 51 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Mães em fuga- maternidade nas últimas décadas da escravidão

Letícia Maria da Silva Mattos

Na Corte Oitocentista, as mulheres negras (cativas, livres e libertas) tiveram suas experiências de maternidade
marcadas pelas questões referentes à raça, classe e gênero, que diferenciaram suas vivências como mães, daquelas
das mulheres brancas e livres. Seus corpos foram utilizados como “produtores” e “reprodutores” da escravidão,
podendo ser meio de lucro dos senhores, tanto no aumento da propriedade cativa, como também, para servir para
venda/aluguel como amas de leite. No período da Lei do Ventre Livre (1871), a maternidade das escravizadas foi
oficialmente “descoberta” e a libertação do ventre cativo se tornou questão central no processo de emancipação
gradual. Nesse contexto, ser mãe e escravizada se torna uma experiência ainda mais complexa, visto que os filhos
nascidos a partir de 28 de setembro de 1871, não teriam mais a mesma condição jurídica de suas mães. Assim, esse
trabalho tem como principal objetivo investigar de que maneira as mulheres escravizadas exerceram a própria
maternidade nesse contexto marcado pelas mudanças político-sociais referentes à emancipação. Para isso,
investigarei os anúncios de jornais da Corte entre as décadas de 1870-1880, que relataram as fugas de mulheres cativas
que escaparam da casa de seus proprietários levando consigo seus filhos já nascidos, e também aquelas que fugiram
estando grávidas. Utilizarei as perspectivas metodológicas da interseccionalidade e da micro-história, para, a partir
dos anúncios de fuga, investigar quem eram essas mulheres (ocupação, aspecto físico e idade) e quem eram seus
filhos. Considerando essas fugas como atos de resistência que tiveram as mulheres como protagonistas, na tentativa
de exercerem a própria maternidade, criando e recriando laços de afeto com seus familiares, longe do jugo senhorial.

A "Música do Diabo": o blues como expressão da cultura feminina afro-americana

Natália Martins Besagio (Col)

Nem só de homens se faz um gênero musical. Assim como aconteceu no trabalho árduo das lavouras, no blues, as
mulheres protagonizaram a trajetória dos negros na América. Enviesaram pelo caminho da música e quebraram os
tabus da desigualdade de gênero tão apreciada pela sociedade branca e patriarcal que, ao longo dos séculos,
monopolizou (e ainda o faz) a formação dos países americanos. No material produzido pelas mulheres negras, o blues
abordou abertamente a sexualidade, tanto masculina quanto feminina, expondo uma estrutura característica da
cultura afro-americana, muito distinta da recorrente misoginia e preconceito herdados da cultura europeia. Tornou-
se não só canção, mas expressão da árdua vida do negro no continente americano. Direto e realista, se constituiu
como a herança dos gritos dos escravos “coisificados” e maltratados pelos senhores brancos, funcionando como uma
espécie de catarse que transformou a cultura em caminho de resistência à opressão. Diante desse contexto, o presente
artigo tem como objetivo evidenciar a música como viés de luta para as mulheres negras, que deixaram um amplo
legado à cultura norte-americana.

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ST 51 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

As mulheres negras em movimento: histórias, memórias e narrativas dos carnavais da cidade de Florianópolis

Carol Lima de Carvalho (UDESC - Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina)

O presente trabalho apresenta a proposta de um estudo em andamento sobre narrativas e memórias de mulheres
negras, sua presença e protagonismo no Carnaval na cidade de Florianópolis/SC. A história do carnaval na cidade,
segundo Tramonte (2003), é marcada por processos de resistências, reexistências na luta contra o racismo e a
discriminação social, a partir da construção de blocos, festas e das escolas de samba. Enquanto estratégia de
sobrevivência, os cantos, as festas, as músicas e as performances, são reflexos de memórias afro-diaspóricas ancoradas
em corpos negros. Desse modo, partimos do pressuposto que considerar e evidenciar os conhecimentos passados de
geração para geração é compreender que os universos culturais e sociais da população negra, neste caso o carnaval,
é permeado por culturas e memórias que se constituem das práticas de matrizes africanas vivenciadas no Brasil. No
entanto, a presença das mulheres negras neste processo ainda é invisibilizada ou é refletida apenas por corpos
hipersexualizados. O trabalho, portanto, apresenta a necessidade de contribuir para alterar este cenário, machista,
racista e sexista propondo ponderações sobre o tempo e os acontecimentos históricos. Para isso, por meio de
entrevistas a proposta é construir narrativas plurais sobre a presença e protagonismo das mulheres negras na
historiografia do carnaval da cidade de Florianópolis –SC. Neste sentido, a pesquisa insere-se nos estudos sobre
universos culturais negros, interseccionalidades, decolonialidade de corpos, tradição oral, oralidades e
ancestralidades.

Mulheres pretas, pardas e brancas: valores femininos, vivências e formas de trabalho nas camadas sociais populares
em Minas Gerais (1808-1850)

Séfora Semíramis Sutil Moreira (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O século XIX, no Brasil, preconizou a modernização do Estado e da sociabilidade. A vinda da Corte (1808), além de
inaugurar o processo de estruturação de um novo aparato estatal, reverberou na vida social quando o espaço público
e as práticas culturais foram alterados pela urbanização. A medicina social surgiu como a prática que viabilizaria o
projeto civilizador, disciplinando e higienizando os costumes. Para tanto, a honra feminina era preponderante para a
transmissão dos “bons costumes” na família. As transformações foram rápidas – o Brasil tornou-se Reino (1815),
depois Independente (1822) – o que seria uma ruptura com o Antigo Regime não fosse a permanência da estrutura
escravista e patriarcal verticalizando as relações marcadas por diferenças sociais, de raça e gênero. As novidades
escovam Império à fora, mas em que medida impactaram a vivência e os valores das mulheres escravizadas, libertas
e livres não abastadas em Minas Gerais é uma questão a se debater. Por meio de fontes criminais e censitárias,
investigamos o cotidiano dessas mulheres e como as diferenças sociais e de raça incidiam na forma de trabalho,
organização do núcleo familiar e nos valores partilhados entre elas. Os estudos indicam que, nas camadas populares,
as atribuições de gênero não eram fixas, pois as mulheres invertiam a ordem social na qual eram objeto dos cuidados
e da disputa masculina porque suas sobrevivências demandavam conduta ativa. Para auxiliar ou sustentar suas
famílias, elas iam às ruas trabalhar e o cotidiano exigia a manifestação de qualidades consideradas masculinas. Elas
tinham que ter autonomia nos ambientes públicos, confiança para propor e aceitar negócios, iniciativa para decidir a

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vida amorosa e bravura para disputar interesses. Dar visibilidade às mulheres pobres, muitas delas marcadas pela
escravidão, requer o cruzamento de variáveis a fim de as perceber enquanto sujeitos históricos ativos que nem sempre
tinha como parâmetro os mesmos valores da mulher de elite.

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ST 52. Mulheres, política e movimentos sociais no século XX e XXI

ST 52 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

“Com a cara e a coragem”: o ativismo de mulheres negras do Rio de Janeiro durante a distensão política (Década de
1980)

Gabrielle Oliveira de Abreu (Instituto de Estudos da Religião)

A partir de 1974, o Brasil começava a enxergar horizonte para, enfim, romper com o autoritarismo que tomava conta
do país desde o golpe civil-militar de 1964, que introduziu a ditadura de 21 anos. Neste contexto, avolumaram-se as
reivindicações pela anistia dos presos políticos e retorno dos exilados que haviam deixado o país na tentativa de driblar
a repressão. A Lei da Anistia foi promulgada em 1979 e, mesmo abarcando militantes e militares, possibilitou uma
intensificação da luta por liberdades democráticas e fim da ditadura. Na esteira do processo de abertura política, os
movimentos sociais se fortalecem, incluindo o ativismo antirracista. As mulheres negras ocuparam lugares centrais no
interior de organizações dos movimentos negro e feminista, contudo, viram algumas de suas contribuições camufladas
em razão do sexismo e do racismo de muitas dessas entidades. Buscando um espaço de militância seguro para expor
questões que lhes eram peculiares, as ativistas negras criaram seus próprios coletivos. Associações como Aqualtune,
Luiza Mahin, Grupo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, Nzinga Coletivo de Mulheres Negras e Centro de Mulheres
de Favela e Periferia surgiram no estado do Rio de Janeiro na virada da década de 1970 para 1980 (FERREIRA, 2020, p.
66). Ainda que formados numa conjuntura de arrefecimento das políticas repressivas da ditadura, esses grupos não
passaram incólume à vigilância e ao controle dos órgãos do regime. São muitos os documentos que atestam que as
atividades políticas das mulheres negras foram frequentemente monitoradas. O intuito desta comunicação é
apresentar como se deu o nascimento do movimento de mulheres negras contemporâneo à luz do cerceamento da
ditadura na década de 1980 no Rio de Janeiro. Para tanto, a documentação produzida por agentes do Serviço Nacional
de Informações (SNI) e os materiais (cartazes, jornais, informativos etc) de algumas dessas entidades formada apenas
por mulheres negras serão importantes fontes para a análise.

"Eu toda vida eu fui meia política" - travessias de Dona Elba: narrativa de vida, trabalho e atuação política de uma
mulher negra sem terra

Flávia Pereira Machado (Instituto Federal de Goiás)

Esta comunicação é fruto das reflexões da minha pesquisa de doutoramento em andamento, sobre as narrativas e
trajetividades de mulheres sem terra em Goiás entre os anos 1990 e 2020. Para tanto, foram entrevistadas onze
mulheres sem terra, na condição de assentadas e acampadas. Entre estas mulheres, delimito a trajetória de Dona Elba,
mulher negra, sem terra, aposentada, casada, mãe de três filhxs; acampada no Acampamento Leonir Orbak, em Santa
Helena de Goiás. A travessia de Dona Elba se entrecruza com a história rural e agrária no Brasil, bem como das lutas
sociais empreendidas no campo a partir dos anos de 1980 a favor da reforma agrária. Sua narrativa demarca os
atravessamentos em seu corpo enquanto mulher, negra, pobre, desterrada; ao mesmo tempo que evidencia a sua
agência impulsionada por essas subordinações cruzadas. Desta maneira, a narrativa de vida, trabalho e atuação

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política de Dona Elba me possibilita identificar as intersecções entre raça, gênero, classe e desterramento na
constituição dessa sujeita que é demarcada pela sua singularidade, assim como pela coletividade das mulheres que se
colocam na luta pela terra e luta na terra. Me interessa ainda, por meio da narrativa de Dona Elba, evidenciar os
entrecruzamentos de sua história de vida com a história das mulheres negras e do mundo rural e de suas
perspectivações enquanto uma mulher no mundo da política e na (des)construção dos lugares sociais e de fala, não
acessíveis aos/às sujeitos/as subalternizados/as.

Modos de produzir, modos de (re)existir: políticas públicas e o movimento de mulheres agricultoras rurais de
Ihambupe-BA

Elaine de Araújo Carneiro

Trata-se de uma reflexão sobre modos de produção de mulheres agricultoras rurais da região de Inhambupe-BA,
baseada em dados iniciais de pesquisa e mobilizada pelo crivo da Crítica Cultural, através do diálogo com autoras e
autores como: Federici(2019), Paredes(2015), Adichie(2012), Moreira(2008,2011,2015), Singer(2002),
Messeder(2020) e Shiva (2003). Com isso, busca-se tensionar o signo fixado a respeito da representação da mulher
agricultora rural, apontando seus enfrentamentos e estratégias para atuação social e política no contexto de políticas
públicas voltadas para a produção de uma outra economia que combata a lógica do capitalismo tardio. Assim,
vislumbra-se, em contraponto ao pagamento e exploração capitalista-patriarcal que se impôs sobre tais mulheres, as
formas como estas têm recriado a economia e a si mesmas, propondo outros saberes, outros modos de vida, mais
sustentáveis, solidários, ao tempo em que se afirmam enquanto sujeitos de direitos, apontando, também, para um
feminismo comunitário, para outro mundo possível.

ST 52 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Feminismo entre ondas no Brasil e a política da intimidade

Iracélli da Cruz Alves (Instituto Federal da Bahia)

Na comunicação meu objetivo é analisar parte das discussões políticas promovidas no Brasil por mulheres do
movimento feminista de orientação comunista entre as décadas de 1940 e 1970. O movimento foi articulado por
mulheres cisgênero e desenvolvido em sintonia com o Partido Comunista do Brasil – que depois viria a se chamar
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Antes da emergência do pós-estruturalismo, o grupo desafiou – não sem
contradições – a naturalização do que significava ser mulher ou homem em um momento em que o gênero ainda não
tinha sido forjado enquanto conceito. Aqui, me concentro, especialmente nas discussões envolvendo a política da
esfera privada, fenômeno geralmente lido como uma novidade do feminismo da década de 1970. Entre os vários
temas que movimentaram os debates, destaco as relações de poder no interior da família, a moral sexual e os meios
considerados fundamentais para a conquista da independência para as mulheres. A escolha não foi aleatória, mas
serve de demonstração empírica de como a discussão geralmente descrita como uma novidade da década de 1970 já
vinha sendo tecida décadas antes. Partindo dessas experiências, entendo feminismo como qualquer movimento
político – individual ou coletivo, autodeclarado ou não – que constrói instrumentos teóricos e práticos capazes de

297
demonstrar como a construção de gênero é uma fonte de poder e hierarquia que impacta mais negativamente a vida
das mulheres e dos homens distantes do ideal de masculinidade hegemônico.

Mulheres conservadoras e pautas progressistas durante os anos 1960 e 1970

Eduardo dos Santos Chaves (Instituto Federal de Santa Catarina)

A comunicação pretende discutir as ações de mulheres conservadoras no Brasil em causas reivindicadas historicamente pelas
esquerdas, a partir de dois casos. O primeiro refere-se às atividades assistenciais dos grupos femininos de direita, organizados
no início da década de 1960 em diversas cidades do país, junto às populações marginalizadas da sociedade. O segundo caso
diz respeito à trajetória política de Dercy Furtado, ex-deputada estadual da ARENA-RS, em defesa das trabalhadoras
domésticas. O trabalho busca refletir de que forma as direitas estiveram envolvidas com pautas demandadas pelas esquerdas,
como a questão da desigualdade social e a defesa de mulheres trabalhadoras. A pesquisa, ainda em andamento, revela que
tanto as estratégias quanto as finalidades das direitas nessas ações demarcavam suas diferenças em relação às esquerdas.
Além disso, é preciso enfatizar que tanto as entidades femininas quanto o caso da deputada arenista carregavam forte postura
elitista em muitas de suas atividades junto às populações marginalizadas, o que também nos ajuda a delineá-las entre os
segmentos conservadores, as direitas.

A participação das mulheres na direção do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES-SN)

Caroline de Araújo Lima (UNEB), Eblin Farage (Universidade Federal Fluminense)

Analisa a participação das mulheres e como a presença destas impulsionou uma mudança na política sindical do ANDES-SN.
Considera os avanços das pautas feministas no conjunto da sociedade e a incorporação dessas bandeiras de luta, na leitura da
conjuntura nacional e internacional e nas questões organizativas do Sindicato Nacional. Considerando a particularidade do
capitalismo brasileiro, estruturado a partir do patriarcado que gera relações de gênero como relações de poder, identifica que
apesar das mulheres estarem fortemente presentes na base do movimento docente, existiu e ainda existe uma histórica restrição
no que tange à ocupação de cargos de maior expressão política. Esse processo é demonstrado no resgate histórico sobre a
participação das mulheres na estrutura do ANDES e sobre o espaço ocupado pela temática de gênero em uma parte de sua
produção. Termina com a explicitação de alguns desafios para o conjunto do sindicato na perspectiva de fortalecer a
consubstancial relação entre classe-raça/etnia-gênero.

ST 52 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Não serei eu feminista? As disputas em torno da posição sujeito feminista, Brasil e Portugal, 1910-1920

Jaqueline Moraes de Almeida (CEIS20 - Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX)

Apesar de sua breve participação em uma associação autodesignada feminista, Maria Lacerda de Moura - que, depois
de certa altura, negará, inclusive, uma identidade feminista - foi, nos anos 1980 e é atualmente recuperada como
representante do feminismo. Assim como ela, muitas outras mulheres - críticas, em seus respectivos tempos, das

298
desigualdades (incluindo a de gênero) - têm sido recuperadas e associadas aos feminismos ressignificados. Diante
disso, o presente trabalho pretende evidenciar algumas mulheres brasileiras e portuguesas, especialmente associadas
aos movimentos operários, que, mesmo tendo feito críticas ao feminismo de suas épocas e lugares, poderiam, hoje,
ser identificadas enquanto... feministas. Nesse sentido, são exemplos: a brasileira Maria Antónia Soares, militante
anarquista que atuou nas primeiras décadas do século XX, escrevendo para a imprensa libertária e auxiliando na
fundação do Centro Feminino Jovens Idealistas; e sua contemporânea, a portuguesa Julia Cruz, ligada ao
associativismo operário, que impulsionou a criação da União de Mulheres Anarquistas. Ambas compartilharam
subjetividades libertárias, certa compreensão das particularidades da situação das mulheres trabalhadoras e fizeram,
cada qual a sua maneira, críticas ao feminismo burguês. Com este trabalho, nosso objetivo não é apenas evidenciar
mulheres que atuaram a partir de uma percepção interseccional das desigualdades (classe e gênero) - já que,
felizmente, pesquisas com tal intuito são cada vez mais frequentes e complexas -, mas analisar aspectos da
consolidação de certo feminismo que, adequado a uma moral e a um projeto de sociedade burguesa, acabou por
afastar sujeitos e possibilidades de emancipação (e não apenas às mulheres, propriamente). Nosso objetivo, também,
é perceber como o movimento é ressignificado na atualidade, e como tal prática é importante para a própria
democratização dos feminismos, sobretudo em tempos de discursos e políticas "neoliberais progressistas".

Reconstruir uma história do feminismo sindical na França: o caso “Antoinette” (1955-1989)

Annabelle Bonnet (EHESS)

"Antoinette", a revista feminista da Confederação Geral do Trabalho (CGT), foi, por mais de trinta anos, a principal publicação de
referência do feminismo sindical francês. Editada por e para mulheres trabalhadoras do país inteiro, criada no pós-guerra por
mulheres sindicalistas da CGT, também figuras da resistência antifascista e militantes comunistas, ela constituiu uma experiência
única na história do feminismo francês do século XX. Revista extremamente popular, chegava a vender mais de 80 000 exemplares
ao ano – tiragem muito elevada para a época, e mesmo para os padrões atuais. Nela se discutiram inúmeros temas sob uma
perspectiva feminista classista. Como responder às demandas específicas das mulheres trabalhadoras e como elaborar, ao mesmo
tempo, uma prática feminista que trabalhe pela emancipação humana no seu conjunto? Qual deve ser o papel do feminismo na luta
socialista e sindical? É possível um diálogo com os feminismos que desconsideram a exploração capitalista? A revista procurou
relacionar as questões teórico-politicas às questões concretas cotidianas das trabalhadoras. A contracepção, a sexualidade, o aborto
– ilegal na França até o ano 1974 –, o infanticídio, a violência conjugal, a organização da família proletária foram temas que nela se
encontravam debatidos. A revista constituiu um verdadeiro espaço coletivo, que abordou muitos dos temas comumente atribuídos
à assim denominada “segunda onda” do feminismo dos anos 1970. Apesar de seu papel de vanguarda, essa experiência foi
amplamente desconsiderara, tanto pelos recentes movimentos feministas surgidos nos anos 1970, quanto pela corrente de pesquisa
da assim chamada “história das mulheres”, elaborada no mesmo período e que silenciou sua existência. O presente trabalho procura
resgatar a história desse importante projeto coletivo da segunda parte do século XX e problematizar essa ausência.

A dupla militância: mulheres comunistas e feministas na Itália dos anos 1970.

Victor Strazzeri (Universidade de Genebra)

A Itália dos anos 1970 foi marcada por dois fenômenos sócio-políticos de ampla repercução, mas aparentemente
desconexos. Uma forte mobilização feminista - como em muitas partes do mundo durante aquela década - e o ápice

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do sucesso eleitoral e do prestígio popular do Partido Comunista Italiano. Ainda que não isento de fortes tensões, os
movimentos comunista e feminista tiveram um forte diálogo (e mesmo entrelaçamento) neste período, um fato pouco
conhecido e estudado. Com base em pesquisas de arquivo e entrevistas, o trabalho considerará as trajetórias dos
sujeitos privilegiados deste 'encontro', as chamadas 'duplas militantes', isto é, mulheres que, paralelamente a sua
atividade de partido, participaram dos grupos feministas autônomos que surgiram em toda Itália. O trabalho
argumentará que as 'comunistas feministas' tiveram um impacto chave no engajamento do partido comunista em
importantes conquistas de direitos nos anos 1970 (entre elas o direito ao divórcio e a descriminalização do aborto),
alterando fundamentalmente a política do partido diante da 'questão feminina'. Ao mesmo tempo, o trabalho discutirá
como as 'duplas miltantes' contribuíram para a difusão do debate feminista para além do meio estudantil e intelectual
associado a sua gênese na Itália nos anos 1960, alcançando trabalhadoras e operárias. Finalmente, discutirá o impacto
das comunistas num debate feminista italiano fortemente anti-institucional e centrado na diferença sexual, atuando
de maneira que as lutas contra a desiguladade social e a precarização - além da solidariedade com as lutas do Terceiro
Mundo - também fossem contempladas num cenário de crise econômica global. Finalmente, considerará as
dificuldades (e potencialidades) da síntese comunismo/feminismo - tanto num plano individual quanto político - num
final dos anos 1970 marcados pela violência política e o início da ofensiva neoliberal no país.

O fio da memória: apontamentos sobre memória, gênero e patrimônio cultural das arpilleristas do MAB

Erica Barros de Almeida Araújo (SEEDUC-RJ)

O presente trabalho tem por objetivo apontar questões acerca do conceito de Patrimônio Cultural e sua relação com
a memória assim como com a formação da identidade de gênero na contemporaneidade, a partir do estudo de caso
sobre a utilização do patrimônio chileno da arpilleria pelas mulheres que integram o Movimento dos Atingidos por
Barragem. Buscaremos, desta forma, analisar de que maneira o conceito de patrimônio pôde ser ampliado na pós-
modernidade, abarcando formas de expressões culturais que transcendem limites nacionais e recortes temporais
através da apropriação e ressignificação da técnica da arpilleria chilena pelas mulheres atingidas por barragens do
assentamento de Serra Queimada no município de Cachoeiras de Macacu, região metropolitana do Rio de Janeiro. O
saber-fazer que permeia a tapeçaria guarda através da técnica camadas de memórias inscritas no corpo do artesão
que são expressas através do movimento de suas mãos na confecção de objetos que antes de remeterem ao utilitário,
produzem linguagens que revelam uma dimensão simbólica informando acerca do tempo e as condições nas quais
foram produzidos. Entre os eixos norteadores para a análise do uso da arpilleria pelas mulheres do MAB estão: a
verificação do lugar ocupado pelas artes têxteis e pelas mulheres na arte contemporânea e a relação entre as artes
têxteis e o universo feminino.

300
ST 54. Natureza e saúde nos debates sobre os sertões

ST 54 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

Superando as limitações do meio: natureza e ferrovias nos debates sobre a integração do sertão do Piauí

Laila Pedrosa da silva (Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz)

A proposta de pesquisa procura mostrar a relação entre a natureza e a construção de estradas de ferro nos debates
sobre a integração do sertão do Piauí. Nas primeiras décadas do século XX as elites piauienses utilizaram-se de
diferentes visões para falar da natureza daquela região – ora apresentada como nefasta ora como abundante - como
estratégia para atrair investimentos para o desenvolvimento das potencialidades econômicas do estado. Nesse
contexto, a construção de ferrovias foi vista como a tecnologia que facilitaria o melhor aproveitamento dos recursos
naturais da região, já que a falta de vias de comunicação dificultava o escoamento da produção economia e a
exploração de regiões consideradas ricas em recursos naturais. A perspectiva à época era de que as vias férreas,
quando em funcionamento, se estenderiam por longínquas regiões e formariam povoados ao longo dos trilhos. Assim,
sua implementação era justificada “como forma de superar as limitações do meio”, tendo em vista que, na medida
em que a locomotiva avançasse pelo território revelaria várias tensões que, por sua vez, modificariam não só as
estruturas sociais e econômicas, mas também do meio físico. Diante disso, ficou perceptível que a chegada da ferrovia
deu novas características a região, vencendo os empecilhos impostos pela natureza, produzindo transformações
relevantes no meio físico e diminuindo as distâncias. No entanto, a implantação das vias férreas também causou
impactos negativos na sociedade, de modo particular, por meio dos acidentes ao longo dos trilhos. Os principais
acidentes eram atropelamento de pessoas, sobretudo, crianças que brincavam a beira ou sobre os trilhos, incêndios
nas casas de palhas provocados pelas faíscas da locomotiva, descarrilhamento dos trens, onde a maioria das vítimas
eram os trabalhadores, e choques entre as locomotivas. De modo geral, as intervenções humanas para a construção
das estradas de ferro no Piauí provocaram transformações tanto sociais como ambientais.

As narrativas em torno da natureza na seca de 1932 no Ceará

Leda Agnes Simões de Melo

O fenômeno da seca perpassa a história dos sertões do Ceará ao longo de diversos contextos. Este trabalho tem por
objetivo analisar como na seca de 1932 a natureza foi vista e narrada. A ideia é possibilitar uma reflexão por meio dos
discursos em torno desta seca no Ceará; o que pode ser um caminho possível para compreensão do que se entendia
por sertões na década de 1930. A natureza ganha centralidade na vida de regiões como as semiáridas, ainda mais em
meio a uma crise climática. Vista, muitas vezes, como problema e entrave ao desenvolvimento dos sertões, o modo
como ela foi pensada neste contexto, revela percepções do social que vão além das questões apenas climáticas e
geográficas. A seca traz para o cerne dos debates sobre os semiáridos, diversos problemas conjunturais e coloca em
xeque visões simplistas em relação à natureza, às mazelas e às desigualdades sociais que acometem essas áreas. Neste
sentido, analisar as narrativas em torno da natureza dos sertões cearenses, viabiliza perceber a construção de

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estereótipos existentes sobre esses espaços, e revela a grande dificuldade existente no imaginário nacional em
considerar as potencialidades e pluralidades da geografia dos sertões do Nordeste brasileiro.

O Semiárido Brasileiro em Perspectiva Transnacional: a Exploração Científica da Palmeira Carnaúba (Copernicia


cerifera) e as atividades da Companhia SC Johnson & Son (1935-1945)

Paulo Italo Moreira

O objetivo deste trabalho é analisar as atividades da companhia norte-americana SC Johnson & Son no Brasil entre
1935 e 1945, particularmente a realização de uma expedição científica e a construção de uma estrutura voltada para
a exploração da cera de carnaúba no semiárido brasileiro. No início da década de 1930, Herbert Fisk Johnson Jr.,
presidente da SC Johnson & Son à época, uma indústria transnacional de produtos de limpeza de pisos, de móveis e
de automóveis fundada em Racine, Wisconsin, buscava novas áreas para exploração de um dos componentes
fundamentais para a fabricação de seus produtos: a cera. A partir de pesquisas documentais que envolviam a literatura
sobre as ceras vegetais e animais, incluindo-se livros de viagens, relatórios científicos e estatísticas oficiais, Herbert
decidiu realizar uma expedição científica para perscrutar a região nordeste do Brasil, local de maior ocorrência de
palmeira cerífera em grande escala do mundo naquele período. Herbert, acompanhado de cientistas especialistas em
ceras, aportou no Brasil em outubro de 1935, permanecendo no país por cerca de três meses. Dois anos após a
expedição, a companhia norte-americana iniciou os trabalhos de montagem de uma usina para beneficiamento de
cera de carnaúba em Fortaleza e construiu uma estação experimental para cultivo e estudos científicos nos arredores
da cidade. Tendo em vista a interseção entre História das Ciências e História Ambiental, a proposta é investigar, sob a
perspectiva da História Transnacional, os meandros das atividades da SC Johnson & Son para exploração de um
espécime típico da região semiárida brasileira e compreender a circulação transnacional e científica da cera de
carnaúba entre Brasil e Estados Unidos num momento de forte introdução de métodos científicos na indústria
extrativa e de aproximação entre ciência e indústria.

ST 54 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Seca e varíola: relatos científicos sobre ambiente e doença no Ceará oitocentista

Janille Campos Maia (SEEDUC/RJ)

O presente trabalho visa compreender de que maneira os relatos científicos condicionaram a epidemia de varíola no
Ceará ao agravamento da seca na região. Pretende-se, portanto, refletir sobre a relação entre ambiente e doença,
mais especificamente entre seca e varíola, buscando mapear de que modo a doença se configurou como problema a
ser combatido no Ceará. Tendo em vista o protagonismo assumido pelo ambiente nas narrativas oficiais e científicas,
o presente trabalho deseja evidenciar a estreita relação existente entre os campos da História Ambiental e História da
saúde e das doenças. O destaque alcançado pela seca nos dá pistas sobre como a literatura médica promoveu a
associação entre ambiente e varíola. Segundo Rosenberg, a doença não existe como fenômeno social até ser
configurada como tal e o diagnóstico tem papel fundamental nesse processo: a doença começa com manifestações
físicas que são interpretadas e classificadas por agentes de saúde que tem a função social de curar estes sintomas. Tal

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aspecto pode ser percebido em diferentes temporalidades históricas, assumindo suas especificidades de acordo com
o contexto abordado. No caso analisado nesta pesquisa, a província do Ceará do final do século XIX, notamos que essa
“classificação” é respaldada inicialmente, do ponto de vista da medicina oficial, pelo conhecimento proveniente da
teoria miasmática, que confere protagonismo ao ambiente ao avaliar o surgimento e a disseminação de uma doença.
Será com base nos preceitos advindos desta teoria que uma série de medidas serão tomadas para conter o avanço da
varíola durante a epidemia de 1878. Chama a atenção, no caso considerado, a conexão estabelecida por médicos e
intelectuais do período entre o fenômeno da seca e a eclosão da doença, já que uma se seguiu à outra entre os anos
de 1877 e 1878.

A epidemia chega ao Macacu: As febres intermitentes no interior da província do Rio de Janeiro (1829-33)

Ailton Fernandes da Rosa Junior (SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO)

O presente trabalho tem como objetivo investigar o processo de desagregação territorial da Vila de Santo Antônio de
Sá, interior da província do Rio de Janeiro, ao longo da primeira metade do século XIX. Para tanto, utilizamos como
lentes de análise a emergência das febres do Macacu (epidemia de febre intermitente palustre), os discursos médicos
produzidos no período e sua intrínseca relação com a salubridade dos lugares e o dos ambientes. Em fase inicial de
produção, a pesquisa tem como ponto de partida o Parecer da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro sobre a
enfermidade, produzido ao longo dos primeiros anos da epidemia e publicado em formato de livro em 1831, além dos
artigos publicados na imprensa, tanto leiga como especializada, entre os anos de 1829 e 1833, com destaque para os
jornais Aurora Fluminense, o Semanário de Saúde Pública e o Diário Fluminense. Tais fontes são importantes para nos
dar uma perspectiva médica acerca da disseminação da doença e a forma pela qual a mesma foi descrita pela imprensa
leiga. Partindo dos esforços, estabelecidos pela História Ambiental e pela História das Doenças, em tornar as narrativas
mais inclusivas, entendo a natureza, e as percepções que dela derivam como agentes e presenças na história, busco
analisar a manifestação da epidemia de febre do Macacu, assim como os discursos médicos construídos a partir de
então, como possíveis fatores do processo de desestruturação da Vila de Santo Antônio de Sá e de sua paulatina perda
de importância no contexto econômico da província.

Entre riquezas e doenças: o rio Parnaíba e suas intervenções no projeto modernizador de Teresina-PI (1930-1947)

Danielle Filgueiras Santos

Esse trabalho tem por objetivo analisar as intervenções do rio Parnaíba em Teresina, capital do estado do Piauí,
considerando a relação entre saúde e meio ambiente, no período entre 1930 e 1947. Ainda no século XIX, a capital
piauiense foi estrategicamente planejada e edificada nas margens desse caudaloso curso d’água visando garantir o
progresso e o desenvolvimento, não apenas da cidade, mas de todo o estado, por meio da navegabilidade do grande
rio. Nas décadas de 1930 e 1940, esse empreendimento possibilitou uma significativa melhora econômica, pois foi
quando a navegação a vapor, que estava diretamente ligada à exportação de produtos extrativistas, atingiu o seu auge.
Todavia, a proximidade com o rio Parnaíba também resultava em uma condição de vulnerabilidade para as
comunidades ribeirinhas, pois Teresina tornava-se ainda mais propensa ao aparecimento das doenças de veiculação
hídrica, como as gastrointestinais e também as infectocontagiosas, além dos prejuízos causados pelas cheias
desregradas dos rios. Conclui-se que embora proporcionasse riquezas para o Estado e subsidiasse a sobrevivência de

303
muitas famílias beiradeiras, o rio Parnaíba também propiciava o aparecimento de várias moléstias que acometiam os
ribeirinhos teresinenses e se agravavam nos períodos de inundações. Nesse sentido, ele contribuía para a estagnação
das iniciativas governamentais que visavam modernizar o estado.

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ST 55. O patrimônio cultural como ponto de intersecção: história, educação, arquitetura,
antropologia, turismo, geografia e outras áreas correlatas formando parcerias

ST 55 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

O patrimônio cultural como ponto de intersecção entre saberes e a formação de parcerias

Almir Félix Batista de Oliveira (PUC-SP)

A presente proposta de trabalho ora apresentado ao ST 55 no 3º Encontro Internacional História & Parcerias tem por
objetivo geral discutir o Patrimônio Cultural, tanto na sua materialidade quanto em sua imaterialidade, como um
campo de pesquisa existente na condição de intersecção/fronteira e que é capaz de interconectar diversas áreas do
conhecimento das ciências humanas, sociais e aplicadas (tais como: História, na Educação, na Antropologia, na
Arquitetura, no Turismo, na Geografia, nas Ciências Sociais, nas Políticas Públicas, na Biblioteconomia, na Museologia,
na Geologia, entre outras áreas), formando parcerias entre as mesmas. Essa proposta é decorrente e procura
consolidar as discussões iniciadas no Simpósio Nacional de História ocorrido no ano de 2019 na cidade do Recife-PE e
no ano de 2021 virtualmente. Esperamos poder contribuir para a discussão que já a algum tempo se coloca desse
papel desempenhado pelo patrimônio cultural em suas várias vertentes e assim garantir a efetiva discussão da
temática.

Espaços de memória na cidade de João Pessoa: história, turismo e preservação do patrimônio

Gabriela de Freitas Xavier (SEECT/PB)

A presente proposta de trabalho ora apresentada ao ST 55, no 3º Encontro Internacional História e Parcerias, tem por
objetivo abordar a importância dos espaços de memória para o desenvolvimento do Turismo e para a valorização da
História e do Patrimônio Cultural de uma cidade. Fundada 1585, João Pessoa, a capital do estado da Paraíba, é a
terceira mais antiga do Brasil. Pela sua posição estratégica já nasceu com o título de cidade sem jamais ter sido vila ou
aldeia, por se tratar de sede de capitania real. Ao longo de 436 anos de história, acumulou um rico patrimônio histórico,
cultural, arquitetônico e natural, distribuído especialmente nas proximidades do Rio Sanhauá, local de seu nascimento.
Nestes espaços pode-se observar um complexo acervo histórico importante não só para a cidade como também, para
o Brasil. O fato é que esses lugares estão sofrendo com a ação do tempo e com a falta de políticas públicas que
promovam não só a sua restauração, como também a sua requalificação e consequente interseção, através da
promoção de ações educativas que visem a valorização por parte da população que poderá passar a se identificar com
a sua história, e assim preservar o seu patrimônio. Mas como manter viva a história e o patrimônio de uma localidade
sem a participação da própria sociedade? Como garantir a preservação da memória e a valorização do patrimônio
cultural sem o conhecimento histórico? Diante deste contexto, este artigo trata da educação patrimonial e da
necessidade de promoção e preservação de espaços de memória como ferramentas para garantir a valorização da
História, uma vez que o primeiro passo à salvaguarda dos bens materiais e imateriais seria apresentar à própria
sociedade a importância histórico-cultural local. Com isso, através das ações acima citadas, naturalmente, o ambiente
irá favorecer o turismo, movimentando o espaço, levando segurança e desenvolvimento para a cidade como um todo.

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Bela vila dos engenhos: proposta para Ilhabela-SP

Barbara Marie Van Sebroeck Lutiis Silveira Martins

Ilhabela hoje se destaca como um destino de Sol e praia no Litoral Norte de São Paulo e tem se esforçado em focar no
turismo de natureza como chave para o seu desenvolvimento turístico. Na ilha de São Sebastião observa-se um rico
acervo arqueológico e patrimônio edificado que remonta aos séculos XVIII, XIX e XX. Dentro desse rol de ruínas e
prédios, encontra-se um interessante e ainda pouco analisado momento produtor da ilha: os engenhos de açúcar e
cachaça. Catalogados (INHERING,1897), foram 31 centros produtores ao longo de quase duzentos anos de um período
em que a cana-de-açúcar alterou consideravelmente a paisagem da ilha. Nesse sentido, a presente pesquisa pretende,
ao abrir uma nova frente de estudo para compreender a memória agrícola a partir dos remanescentes dos engenhos
ilhabelenses, propor estratégias para assegurar sua proteção por meio do desenho de um itinerário cultural que
englobe os engenhos e sua relação com o território de Ilhabela. A pesquisa sobre os engenhos de Ilhabela foi
desenvolvida como parte do mestrado da mesma autora no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
de Campinas – IFCH Unicamp e os dados obtidos nesta pesquisa pretendem alimentar o itinerário cultural proposto.
O percurso desta pesquisa optou pela construção de um inventário dos engenhos e analisar as decisões pelo
tombamento ou não de dois exemplares pelos órgãos de proteção ao patrimônio. Ainda foram objetos de discussão
como a produção era escoada para o porto de Santos e, sobretudo, a construção da paisagem do arquipélago com os
anos de cultivos extensivos de cana-de-açúcar e café. O patrimônio poderia ser interpretado então, como uma das
esferas fundamentais da história pública contemporânea. É importante, portanto, a questão da memória e procurar
estabelecer qual o papel social dos engenhos em Ilhabela.

ST 55 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Patrimônio, memória e identidade da Vila das Almas em Brejo/MA: luta, resistência e desafios

Josenildo Campos Brussio (UFMA - Universidade Federal do Maranhão), Daciléia Lima Ferreira (IFMA)

O presente trabalho aborda um relato de pesquisas realizadas ao longo de seis anos na comunidade da Vila das Almas,
no quilombo Saco das Almas, em Brejo/MA. A Vila das Almas é uma das comunidades quilombolas mais antigas do
Estado do Maranhão, que tem lutado pela posse de suas terras há muitos anos. Atualmente, os moradores da
comunidade desenvolvem diversas atividades culturais que traduzem as suas memórias e identidades quilombolas e
ratificam a existência de um patrimônio material e imaterial, inegavelmente, valioso para eles. São manifestações que
misturam tradição e inovação, que transitam entre o sagrado e o profano e condensam formas híbridas (Canclini,
2018) de existir na contemporaneidade. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa etnográfica, que em tempos
de pandemia, realizou-se com a etnografia virtual (Hine, 2000) e a história oral, através de rodas de conversa e
entrevistas pelo Google Meet e WhatsApp. Como resultados, temos a diversidade de patrimônios (materiais e
imateriais) da comunidade quilombola, que carregam as memórias e identidades de seus moradores: o tambor de
crioula da Vila das Almas, a capoeira, o túmulo de João Velho, a culinária emblemática da Vila das Almas, o artesanato
(nas capembas de babaçu, nas peças de madeira, nas biojóias e peças de decoração do lar), entre outras
manifestações.

306
Ilha Bela, espaços da recordação: Entre ruínas, memórias e o direito de narrar (Ceará-Mirim, 1930-2000)

Maria José Félix Martins (Prefeitura do Natal)

presente pesquisa está sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, com área de concentração em História e Espaços. O objetivo é analisar a construção da memória
da comunidade denominada Ilha Bela, localizada no município de Ceará- Mirim/RN, a partir das escritas
memorialísticas de alguns de seus ex-moradores. Assim, buscamos com este trabalho analisar a construção da
memória do Patrimônio Histórico e Cultural Ilha Bela (ruínas) - cuja materialidade foi quase completamente destruída.
Entendemos que o patrimônio de um povo, principalmente aquele que representa parte de sua história de vida, deve
ser preservado, no caso da Ilha Bela sua preservação material não aconteceu, portanto, a relevância da preservação e
registro de sua memória é de suma importância para a história pessoal e coletiva do grupo que a viveu, bem como
para a historiografia da cidade de Ceará-Mirim. Nesta oportunidade analisamos os resultados prévios de pesquisa, que
se desenvolve a partir da análise do material escrito sobre o lugar de memórias, a Ilha Bela, que possui um vasto acervo
iconográfico preservado por seus reminiscentes, e que servem como fontes para a escrita que narra a significação e
descreve o local em suas peculiaridades, como o funcionamento da Usina de Açúcar e Álcool que sustentavam a
economia do lugar, as relações sociais, a vida familiar dos autores, partindo de uma memória individual e chegando
ao coletivo por meio das recordações do lugar experenciado por esses sujeitos durante boa parte de suas vidas. O
espaço Ilha Bela teve importância cultural, econômica, social e simbólica para o povo cearamirinense, porque suas
lembranças, as histórias narradas oralmente acerca desse local, ainda são constantes nas conversas e ainda reuniões
que tem como objetivo a rememoração das lembranças de quem viveu neste lugar.

Parati é geribita: a bebida que atravessou o Atlântico.

Camila Moraes Marques (UVA)

A conexão da produção do Litoral Sul Fluminense, especificamente de Paraty, com o comércio no Atlântico Sul, entre
fins do século XVIII e meados do XIX, inseriu a região na hinterlândia do Rio de Janeiro. Com uma economia dinâmica
e flexível, os proprietários de terras e de trabalhadores escravizados de Paraty, pequenos e grandes, souberam
aproveitar o momento em que os negociantes do porto carioca assumiram a centralidade no comércio de escravos: a
cachaça, nesse momento, era moeda de peso na troca por cativos na costa africana, produto diretamente acessível
pelos negociantes do porto carioca. Diante desse processo, acreditamos que a produção, a circulação e amplitude da
cachaça de Paraty, entre fins do século XVIII e meados do XIX, estiveram relacionadas ao aumento do comércio de
escravos no continente africano. Dessa forma apontamos que as dimensões dessa bebida que passa a ser considerada
patrimônio, um símbolo da identidade nacional, são mais amplas do que as fronteiras definidas pelos agentes das
patrimonializações, assim como são diversos os significados dos seus usos pelos grupos sociais, no transbordo da
história da cachaça.

ST 55 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

307
A Literatura como veículo de preservação e atualização do Patrimônio Cultural Peruano nas cidades de Cusco e
Abancay no romance Los Ríos Profundos.

Shirlene dos Santos Silva (UFF - Universidade Federal Fluminense)

O conceito de Patrimônio cultural vem sendo enriquecido ao longo do século XXI, de acordo com a professora
argentina Carmen Díaz Cabeza (2010), e a sua proposta de identificar os bens criados por um determinado povo não
está mais estritamente relacionada à monumentos ou obras arquitetônicas, mas foi ampliado para as manifestações
culturais, paisagens naturais, gastronomia, danças, entre outras produções de uma sociedade. Desta forma o
patrimônio cultural de um povo visa a preservação da identidade cultural, da memória, da natureza e das diversas
formas de manifestações culturais de uma comunidade. A professora afirma que a partir do século XXI o conceito
passa a englobar o enfoque antropológico e sociológico o que contribui para a preservação dos bens materiais e a
salvaguarda dos bens imateriais. Em Los ríos profundos (1958), romance do escritor e antropólogo peruano José María
Arguedas, constrói o espaço andino peruano segundo o olhar do narrador-protagonista Ernesto, um jovem de
quatorze anos que viveu entre brancos e indígenas, a partir dessa experiência passou a ter um olhar crítico para
condição social deste último grupo. Em seu processo de formação, Ernesto vê as ambivalências de uma sociedade
nascida a partir do encontro de duas culturas distintas, a indígena e a europeia. A narrativa inicia-se na cidade de Cusco
e, em seguida, o protagonista segue para o interior do país com seu pai, até ser enviado para viver na cidade de
Abancay, em um colégio interno. Diante das experiências e reflexões de Ernesto, analisa-se a relação da personagem
com os diferentes elementos componentes do Patrimônio Cultural Peruano nas citadas cidades.

HISTÓRIAS E CULTURAS EM NOSSOS QUINTAIS: experiências outras com Sítio Arqueológico Pacoval em Macapá,
Amapá/Brasil no Ensino de História

Eliana da Silva Ribeiro (Secretaria de Educação do Estado do Amapá)

O estudo fundamenta-se em experiências com os vestígios arqueológicos do sítio Pacoval, localizado na cidade de
Macapá/Amapá-Brasil no Ensino de História, por meio de ações de Educação Patrimonial subsidiadas nas perspectivas
epistemológicas das pedagogias freiriana e decolonial voltadas para alunos(as) do 6º ano do ensino fundamental
(antiga 5º série), da rede pública e particular de ensino. As ações pedagógicas realizadas na escola Estadual Deusolina
Salles Farias como aulas dialogadas, oficina de escavação simulada, palestras, visitas a museus e entrevistas com
especialistas que tiveram contato com o material do sítio mencionado, visam contribuir com o que preconiza a Lei
Federal nº 11.645/2008 sobre a inserção da temática indígena na Educação Básica e possibilitar a problematização e
desconstrução de discursos canônicos e eurocêntricos, bem como a construção de atitudes e procedimentos
emancipatórios que respeitem e valorizem a História e a Cultura dos povos indígenas, habitantes do Amapá, no
passado e no presente. Para tanto, as análises seguiram a linha da pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico com
foco no Ensino de História, na Educação Patrimonial, na Arqueologia da Amazônia e no diálogo com temáticas acerca
das pedagogias freiriana e decolonial, com corpus documental construído durante as vivências com os educandos em
sala de aula e fora do espaço escolar.

308
Educação Patrimonial na Memória e História local

Ana Gabriela Saba de Alvarenga

Este trabalho se propõe a apresentar parte da pesquisa doutoral que teve como tema a Educação Patrimonial
em projetos escolares de professores de História na rede municipal da cidade do Ri o de Janeiro. A partir da
linha de Memória e Patrimônio ocorreu a observação etnográfica do projeto escolar “Rolé na Penha”, que tinha
como proposta trabalhar Memória, História Local e Educação Patrimonial no Ensino de História. Projeto este
que foi criado em uma escola periférica localizada na Vila Cruzeiro, uma favela carioca no bairro da Penha. A
Igreja da Penha foi o patrimônio inicial para a identificação de mais sete referências culturais do bairro, para
aquela comunidade escolar, que realizou um trabalho de resgate das memórias e guiamento no bairro
resultando aos participantes e envolvidos uma ampla ressignificação das memórias e histórias. Uma pesquisa
que permitiu perceber a relevância do trabalho escolar dialógico, com a escuta profunda das possív eis leituras
patrimoniais, a partir do pertencimento e da apropriação das histórias e território pelos próprios detentores.
Como embasamento teórico para compreensão do projeto foi utilizada a ideia de experiência e narrativa de
Walter Benjamin e a proposta de ecologia dos saberes de Boaventura de Souza Santos para se pensar uma
Educação Patrimonial decolonial a partir das epistemologias do Sul.

ST 55 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

Edificações invisíveis nos processos de registro patrimonial: a arquitetura moderna em Joinville (SC)

Tayna Vicente (Arquiteta Autônoma), Nadja de Carvalho Lamas (UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville)

Uma das perguntas mobilizadoras da socióloga francesa Nathalie Heinich é o questionamento sobr e como um
bem entra para o conjunto de patrimônio nacional, de modo prático, trocando o “porquê” pelo “como”. Sob a
perspectiva da autora, nessa comunicação, busca-se refletir sobre o processo de “fabricação do patrimônio
cultural”. Utilizando a teoria dos valores de Nathalie Heinich como fio condutor para um debate teórico -
conceitual, explora-se, em torno dos valores e funções patrimoniais, um meio de analisar a arquitetura
moderna em Joinville (SC), sua patrimonialidade e suas possibilidades à patrimonial ização, uma vez que, esses
bens não estão inseridos nas Unidades de Interesse Patrimonial, em processos de tombamento ou com
tombamentos consumados. Essa proposta procura entender como os bens modernos respondem e se inserem
nas políticas de patrimônio regionais e sua articulação com o recorte arquitetônico patrimonial escolhido para
a cidade de Joinville do ponto de vista da sociologia pragmática de Nathalie Heinich, apresentando assim uma
axiologia do patrimônio.

Templo românico: da superação do discurso teológico pela estética arquitetônica

Julia Gollino (au)

A questão que se coloca, neste trabalho, perpassa o entendimento da maneira como o que é encontrado no mundo
cruza os “limites” do externo para o interno: esteticamente, do mundo das coisas para o mundo da mente e,

309
teologicamente, do mundo das coisas para a alma, a fim de teorizar a percepção do espaço e estudar as
intersecções entre história, filosofia e arquitetura, sob a perspectiva monumental do templo românico.
Levando em conta as contradições e ambiguidades da tensão filosófica presente na significação do espaço
sagrado cristão, são lançados questionamentos em relação ao modo como a arte e a arquitetura cristãs são
admitidas pela história, de modo a explorar como o discurso teológico na Alta Ida de Média gera, em diálogo
com as mais variadas técnicas arquitetônicas, um estilo capaz de suscitar em seus observadores tanto a
percepção sacro-cristã quanto a percepção artística. Assim, para além de uma argumentação acerca do
potencial artístico do medievo, em especial da produção românica, é suscitado um ideal de autonomia da arte,
isto é, uma noção de superação do discurso teológico que lhe é atribuído, sobretudo, em função da manutenção
do templo românico ao longo do tempo, pois, enquanto resolução es tética, o templo dialoga tanto com a
teologia, quanto com a filosofia, extrapolando-as, permanecendo na história como um expoente estimado,
contemplado pelo cristão, ou ainda, pelo não cristão. Com efeito, é resguardada a grandeza do estilo românico
oferecida pelos arquitetos às obras arquitetônicas com qualidade estética, pois, na medida em que parecem
reduzir a obra arquitetônica às amarras das concepções teológicas, eles criam uma forma estética capaz de
superar as próprias amarras, permitindo compreender que até mesmo a austeridade e simplificação românicas
implicam grandeza estética e requerem uma revisão da historiografia especializada.

Estudo dos jardins nos mosteiros beneditinos

Miriam Aparecida Moreira (GDL)

Selecionamos para apresentar nesse congresso um estudo de revisão de literatura secundária e bibliográficos
para termos embasamento sobre como era a relação dos monges beneditinos com a paisagem em seus
mosteiros durante o medievo. Pesquisando a paisagem medieval e o cultivo de jardim herbários medicinais,
encontramos a forma de vida dos beneditinos e sua regra fundamental, ora et labora. Para tanto, vamos
abordar ideias de alguns beneditinos, seus mosteiros e dissidência: os cistercienses, São Bernardo de Carabal
e Santa Hildegarda de Binden, a fim de compreender melhor o uso da terra, o cultivo e a disposição das áreas
de plantio, bem como, as espécies cultivadas para o cuidado da saúde. Na cultura dos monges do cristianismo
primitivo. São Bento se dá ao isolamento (o silêncio como forma de oração), e em pouco tem tempo seu refúgio
árido recebe e passa a ter uma gama de seguidores. Enquanto o império Romano se encontra em declive,
respectivamente os povos das regiões: norte, oeste e central da Europa (barbáros) se levantam. Enquanto isso,
os novos cristãos estão se afirmando como discípulos. Jardim, palavra que vem do hebreu gan (defender) e
eden (prazer), desta forma, deve ser considerado um local agradável e protegido. Este conceito irá evoluir ao
longo do tempo e a relação do ser humano com a natureza. Refletindo assim seu sentido estético, condição
social, e por fim os costumes de cada época. Vamos abordar brevemente e pela ordem cronológica, algumas
ideias de São Bento, o fundador da ordem e autor da regra dos monges. Bem como, personagens imp ortantes
e também aspectos da construção de dois mosteiros em regiões diferentes, mas contemporâneos.

ST 55 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

310
Organização do acervo do Instituto Aldo Krieger: um relato de experiência

Eraldo Isidio Pereira Junior, Izabel Krieger Moritz (Instituto Aldo Krieger), Patrícia de Oliveira Areas (UNIVILLE -
Universidade da Região de Joinville)

Este trabalho é um relato de experiência que apresenta a organização de livros que compõem o acervo bibliográfico
do Instituto Aldo Krieger - IAK. Este trabalho foi objeto do projeto aprovado e viabilizado pela Lei de Emergência a
Cultura Aldir Blanc. A proposta do projeto foi intitulada como "Tratamento e organização do acervo bibliográfico do
Instituto Aldo Krieger". O trabalho seguiu adotando no processo de um acervo sistematizado as normas de catalogação
e classificação da biblioteconomia (AACR2, Classificação Decimal Universal) e uso da tabela de Cutter (indicação de
autoria de obra no processo de classificação de exemplares). As atividades realizadas no processo de tratamento e
organização do acervo foram: análise do material; higienização e limpeza; catalogação. Na automação da biblioteca
foi escolhido um software de acesso livre e gratuito. O sistema possui aderência de instituições como a Biblioteca da
Fundação Catarinense de Educação Especial. Ele possibilita a catalogação de recursos informacionais variados (livro,
tese, periódico, artigo de periódico, música (som), partitura, objeto 3D). Ao fim de três meses foi apresentado um
relatório a fundação cultural de Brusque-SC com as atividades realizadas e com o número de 535 (quinhentos e trinta
e cinco) exemplares catalogados. O trabalho realizado pelo projeto possibilitou avaliar o acervo e perceber que um
dos seguintes passos importantes é, em conjunto com bibliotecário (a), arquivista e museólogo (a), construir uma
política interna de gestão de coleções que atue em todas as dimensões do museu. A política de formação e
desenvolvimento de coleções, esta ação fundamenta o processo de organização e balizam a tomada de decisão. Deve
ser destacado nas próximas etapas que visam a organização da biblioteca, do acervo documental e do acervo
museológico o uso interdisciplinar de recursos humanos, para preservar os procedimentos adotados e impulsionar as
atividades e serviços proporcionados pelo espaço.

Os bens culturais na intersecção entre história e teologia católica: um estudo dos documentos do Conselho
Pontifício para a Cultura

Mauricio de Aquino (UENP - Campus Jacarezinho)

Este trabalho apresenta e analisa as perspectivas da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) sobre os bens culturais
a partir dos documentos publicados pelo Conselho Pontifício para a Cultura (CPC), um órgão da Santa Sé (Vaticano).
Nesses documentos do CPC identifica-se uma elaborada concepção de bens culturais e de patrimônio cultural na
intersecção entre história e teologia católica. Neles também observa-se que as premissas teológicas e as premissas
socioculturais são articuladas na concepção e compreensão dos bens culturais da Igreja e de seu lugar na 'via
pulchritudinis' (itinerário do sublime belo) enquanto processo mistagógico e humanizador. Uma concepção católica
que evidencia a complexidade da questão e a importância de estudos sobre patrimônio cultural a partir das
intersecções entre diferentes áreas, campos e instituições e lança luzes também sobre os significados associados ao
patrimônio histórico brasileiro ao se considerar que trinta e dois por cento dos bens tombados no Brasil estão
associados à ICAR.

311
Dos engenhos aos teatros: reflexões sobre a história da orquestra brasileira

Sebastião Gonçalves Feitosa

No Brasil, por muitos motivos, a orquestra nasceu mestiça. Os primeiros grupos que aqui surgiram foram criados
vinculados às igrejas ou por senhores de engenhos, que o fizeram menos por apreciar música do que para demonstrar
poder econômico e refinamento cultural. Eram conjuntos formados por mulatos, mestiços indígenas e negros forros.
Esse é o início de uma exclusão e de uma delimitação entre o que a música pode e o que ela não pode ser no processo
de formação identitária da música brasileira. Por um lado, a atividade musical passa a ser vista em dois polos opostos:
se praticada no âmbito profissional, em geral é mal vista por ser um trabalho subalterno; no outro extremo, torna-se
uma atividade diletante, praticada como lazer por pessoas economicamente mais abastadas e com refinamento
cultural. A partir dos engenhos e das missões, onde cumpriam papel principalmente religioso, os conjuntos musicais
coloniais crescem com as cidades, onde passarão a cumprir papéis religiosos, cívicos e artísticos. Nas cidades, o
trabalho de músico nas orquestras e bandas passa a ser uma possibilidade de subsistência para os negros e mestiços
e, ao mesmo tempo, uma atividade cercada de preconceitos sociais e étnicos. Nos processos de criação das orquestras
brasileiras nos séculos XIX e XX, ocorreu sempre uma alegação de que os músicos brasileiros, de modo geral, têm
muitas deficiências técnicas. Por esse motivo, aconteceram em vários momentos importações de músicos, vindos
principalmente da Europa ou dos Estados Unidos da América, com salários e privilégios diferenciados daqueles
concedidos aos brasileiros. A orquestra brasileira é, desse modo uma instituição sempre impregnada pela mesma
ideologia étnica europeia e o músico brasileiro, nesse contexto, é sempre alguém sujeito a vários estigmas, muitos
deles ligados historicamente a estereótipos raciais.

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ST 56. O Pós-Abolição como uma chave de estudo de trajetórias, sociabilidades, trabalho,
visões de liberdade e ensino de História das relações étnico raciais.

ST 56 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Outros desejos de Mãe Catirina: presença negra feminina e identidades em Parintins - Amazonas.

Jessica Dayse Matos Gomes (Secretaria de Estado de Educação do Amazonas)

Este trabalho apresenta registros da cultura negra feminina em Parintins, município do interior do Estado Amazonas,
fronteira com o Pará. Analisamos o contexto do Auto do Boi-bumbá e a atuação de mulheres locais como a
personagem Mãe Catirina, essencial no campo do folclore de Parintins. Realizamos pesquisas bibliográficas que tratam
sobre a presença feminina no boi-bumbá (MONTEVERDE E MONTEVERDE, 2003; SOUZA; 2016), toadas compostas
para a realização do Auto dos bois Caprichoso e Garantido (SAUNIER. 1989; FARIAS, 2005) e entrevistas que dialogam
com base na História Oral e Etnografia. As fontes possibilitam a abordagem sobre o Folclore de Parintins e a atuação
negra no boi-bumbá. A discussão sobre história, culturas, vivências de africanos e identidades afrodescendentes no
território amazonense é de suma importância para o conhecimento da pluralidade cultural na região amazônica,
contribuindo para diferentes interpretações e análises que saiam das limitações ou equívocos sobre a formação
histórico-social e identidade étnico-racial na região.

Cultura Popular X Cultura Negra: Escolas de samba do Rio de Janeiro como movimentos políticos e sociais.

Alessandra Tavares de Souza Pessanha Barbosa (SEEDUC)

As escolas de samba surgiram no cenário carnavalesco da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1920.
Predominantemente formadas por pessoas negras, as agremiações são lugares de memórias de saberes diaspóricos,
irradiadoras de identidades, “reconhecimento e de pertencimento de um grupo na sociedade” . Além de toda a performance
contidas em seus enredos, o que as escolas de samba levam às ruas em cada carnaval são as memórias de seus ancestrais em
forma de ritmos, experiências e corpos negros. São espaços privilegiados de produção e ressignificação cultural diaspórica, ou
seja, Cultura Negra. Ao demarcar as escolas de samba do Rio de Janeiro como agremiações de Cultura Popular Negra, ou
simplesmente: Cultura Negra, estou considerando o protagonismo e as diferentes formas que os indivíduos lidaram com a
dialética de preservar, negociar e ressignificar suas manifestações culturais diante de cada conjuntura. Considerando aspectos
que caracterizam suas formas de brincar o carnaval nas ruas do Rio de Janeiro, em profundo diálogo com as lutas pela (re)
existências culturais, sociais e simbólicas das pessoas negras no pós-abolição.

História Pública e as diferentes linguagens no ensino de História antirracista: um estudo pela Pequena África

Natália Batista Peçanha (Rede Particular de Ensino)

Ao pensarmos em divulgação científica através da concepção de História Pública, acabamos esbarrando na


possibilidade de ampliarmos nossos olhares para outras formas de linguagens, que não apenas o uso do tradicional
livro didático nas salas de aula ou em outros espaços não formais de ensino. O uso do Patrimônio Cultural Histórico,

313
neste sentido, surge aí como uma importante ferramenta didática para se pensar temáticas já discutidas em sala de
aula, ampliando não só a concepção de fonte histórica, de métodos a serem utilizados, bem como de um ensino-
aprendizagem baseado na pesquisa que pode se construir para além dos muros da sala de aula. Além disso, ao nos
apropriarmos de espaços de memória, recorremos à História Pública no aspecto da divulgação, mas, sobretudo, no
seu sentido de mobilização política-ideológica. Neste sentido, a pesquisa tem como objetivo analisar a como fontes,
no nosso caso o patrimônio material e imaterial, quanto a empreitada de amplificação do público, para além da sala
de aula mostra-se como um ato político de aplicabilidade da lei 10639/03.

A Revolta da Chibata e João Cândido: Olhares e Perspectivas na História Pública e na História Escolar

Geisa Oliveira Balbino Ferreira (Prefeitura)

A presente pesquisa, objetiva compreender como a circularidade sobre a memória e as produções sobre a Revolta da
Chibata de 1910 e o marinheiro João Cândido Felisberto se manifestam no Tempo Presente com enfoque na análise
de livros didáticos, visando contribuir assim com um novo estudo sobre a temática. Para tal, utilizamos o conceito de
memória nacional e memória coletiva, de Maurice Halbwachs, visto que as memórias sobre este fato histórico e seu
principal líder foram, em certa medida, silenciadas pelo discurso oficial, cristalizada pela instituição da Marinha do
Brasil, onde essa Revolta ocorreu. Logo, utilizamos os autores que trabalham sob a perspectiva da educação
antirracista e da História Pública, entre eles: Hebe Mattos, Martha Abreu, Juniele de Almeida, Daniel Pinha, entre
outros. Uma vez que o espaço da escola é palco de debates e discussões, tais memórias são objetos de disputa e
negociação dos currículos de Ensino de História, e, por isso para a realização desta análise utilizamos como arcabouço
teórico os seguintes autores: Nilma Gomes, Ana Monteiro, Helenice Rocha. Para contextualizar a historiografia sobre
a Revolta e seu líder trabalhamos com as obras dos autores Álvaro Nascimento e Edmar Morel que desenvolvem uma
narrativa de apoio ao resgate da memória sobre o levante e a importância da figura de João Cândido. Fugindo de uma
visão unilateral desta memória, esta pesquisa também utiliza a obra, de caráter institucional militar, de autoria do
almirante Hélio Leôncio Martins intitulada A Revolta dos Marinheiros 1910. Como fonte documental esta pesquisa
baseia-se na análise de livros didáticos sobre a temática, mais precisamente nos livros do 9° ano da disciplina de
História selecionados pelo PNLD no ano de 2020, e destinados às escolas públicas, do Ensino Fundamental II das
escolas brasileiras. De antemão, vale salientar que, tal pesquisa se encontra em pleno desenvolvimento, sendo parte
de uma dissertação de mestrado.

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ST 57. Os Direitos de Propriedades e o bem comum: História & Parcerias

ST 57 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

A relação direta da riqueza com o poder no reino visigodo baseado na Lex Visigothorum

Paulo Henrique Linhares da Silva

A Lex Visigothorum, lei magna dos visigodos, foi publicada em 654 pelo rei Rescevinto, mas teve também algumas
modificações nos reinados de Ervígio e Égica, mas sem dúvida, baseou a construção e a solidificação de toda a
sociedade visigótica do final do século VII até o seu fim em 711. Nesta fonte primária, que me baseio na construção
da minha dissertação de mestrado, sendo o meu objeto de estudo a atuação do poder régio dentro da Lex
Visigothorum. No texto criado para apresentação neste seminário elenquei um tópico visto, algumas vezes, dentro da
Lex Visigothorum e edificado outras vezes em bibliografias de diversos autores que tratam sobre o tema - A relação
diretamente proporcional entre a riqueza e o poder dentro da sociedade visigoda vista pela Lex Visigothorum. Na
estrutura do seminário começarei apresentando a estrutura da Lex Visigothorum que é constituída de 12 livros,
diversos títulos e inúmeras leis que retratam e formalizam a sociedade visigoda do Século VII. Após esta apresentação
da Lex Visigothorum, desenvolverei ao longo deste seminário as relações construídas entre o poder régio e as
aristocracias que se fortaleceram com as doações e transferências de riqueza, logo, ter poder no reino visigodo é ter
posses. Tudo isso, baseado na ótica da Lex Visigothorum.

Legar ao Além: notas sobre as propriedades da Irmandade da Misericórdia do Rio de Janeiro (c.1640-c.1780)

Karoline Marques Machado (Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente trabalho se propõe a introduzir o debate acerca das propriedades recebidas pela Irmandade de Nossa
Senhora da Misericórdia, em específico, da cidade do Rio de Janeiro no período colonial. Durante o século XV, era
proibido pela monarquia portuguesa que as Irmandades possuíssem bens de raiz, não sendo possível manter sobre o
seu domínio imóveis que fossem recebidos através de doação. Como toda regra possui uma exceção, a Misericórdia
recebeu o privilégio de manter sob o seu controle alguns dos bens legados a ela. As propriedades recebidas pela
Misericórdia foram em sua maioria recebidas através de doações estipuladas em testamento por indivíduos que
almejavam alcançar o paraíso. O imaginário construído acerca do Purgatório fez com homens e mulheres incluíssem a
Misericórdia como uma de suas herdeiras, ficando a Irmandade com a responsabilidade de rezar missas pelas suas
almas. Cabia a Confraria aceitar ou não o legados pios a ela destinada, ou seja, não era a todos que a Misericórdia
estava disposta a ajudar no caminho da salvação. A administração dos bens legados aos órfãos também constituiu um
dos elementos da composição proprietária da Misericórdia. A arca dos órfãos possibilitou o acesso a inúmeros bens
em aquém e além-mar fazendo com que a confraria obtivesse avultados lucros. O negócio das almas representou a
maior fonte de renda para Irmandade. Nos compromissos da Misericórdia de Lisboa, impressos a partir de 1516, ficou
estabelecido quais legados deveriam ser aceitos e, além disso, de irem ao pregão todos os bens de raiz. A exceção,
neste caso, se dava em relação a aqueles que os indivíduos, ao testar, impedissem a venda. Teria a exceção virado
regra? Essas são alguns dos elementos e indagações que permeiam a trajetória das Misericórdia acerca da composição

315
das suas propriedades. Podemos afirmar que as propriedades uma das principais fontes de rendimento ao longo de
sua existência. Pretendemos, neste caso, discorrer sobre tais aspectos.

Propriedade da terra e preservação do patrimônio familiar

Eleide Abril Gordon Findlay (Universidade da Região de Joinville- Univille)

Pensar a ocupação territorial a partir do processo de formação da propriedade se constitui em uma tarefa primordial,
e árdua para todos que buscam estudar a formação do patrimônio territorial, bem como as formas de apropriação da
terra pelos diferentes atores sociais de uma determinada realidade social. Para tanto, é imperativo estudar a
propriedade para além da concepção formal da jurisprudência, posto que diferentes contextos históricos, econômicos,
geográfico e demográfico produzem lógicas reprodutivas próprias. As possibilidades de acesso a propriedade aos
diferentes grupos que compõem uma dada sociedade estão determinadas por questões que ultrapassam as condições
próprias da localidade. Aliada ao processo de ocupação territorial tem-se o da construção do patrimônio familiar, e a
análise desse processo também pressupõe um diálogo da história com outras ciências sociais. Para o estudo da
propriedade familiar, especialmente aquela dedicada à agricultura, as informações contidas nas fontes documentais
jurídicas e nos mapas de população se constituem em instrumentos de pesquisa que podem iluminar o estudo da
preservação do patrimônio familiar. Os testamentos e partilhas trazem informações que possibilitam a identificação
das estratégias familiar para a conservação do patrimônio familiar, ou uma possível fragmentação da unidade de
produção. E, também, a possibilidade de identificação da hierarquia interna das famílias, e, principalmente,
informações dos distintos papeis que homens e mulheres exercem na dinâmica social no processo de reprodução
social.

Proprietários rurais e suas atuações em diferentes cargos na região de Alagoinhas e Inhambupe (1854-1863)

Antonio Hertes Gomes de Santana (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

A comunicação tem como objetivo proporcionar uma discussão sobre a atuação de proprietários de terras em cargos
na região baiana de Alagoinhas e Inhambupe, para compreender melhor as propostas que esses agentes tinham para
o meio rural, além dos conflitos sobre o direito à terra. Ao cruzar os nomes dos declarantes de terras nos registros
paroquiais e nos inventários com os nomes nos Almanaques Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, nas
correspondências das autoridades, entre outros documentos, percebemos que alguns sujeitos considerados
proprietários atuaram em diferentes cargos no período pesquisado e, de alguma forma, contribuíram para um certo
controle ou ordenamento das atividades agrícolas que eles próprios tinham mais interesse. As fontes apontam que os
agentes ligados à segurança, tais como os comandantes superiores, delegados, subdelegados e também os vereadores
eram os que mais figuravam enquanto proprietários e que possivelmente mais tendiam a defender seus interesses,
ao propor posturas ou outras formas de controle no meio rural.

ST 57 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

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Apropriações de indígenas guaicurus em discursos parlamentares do Império brasileiro: disputas políticas e
interesses em terras reivindicadas pelo Paraguai (1855-1860)

Dandriel Henrique da Silva Borges (UERJ)

O objetivo dessa comunicação é a análise de discursos não-indígenas acerca de indígenas guaicurus, principalmente
os perpetrados por senadores e deputados do Parlamento Brasileiro em sessões onde se propunham discutir assuntos
sobre as relações fronteiriças entre o Império do Brasil, mais especificamente a província do Mato Grosso, e a república
do Paraguai. As fontes utilizadas foram jornais e outros escritos disponibilizados através da Hemeroteca Digital
Brasileira da Fundação Biblioteca Nacional. A motivação desse estudo não é a apropriação desses discursos para buscar
compreender a factualidade das ações históricas descritas. Mais do que compreender quem eram verdadeiramente
os guaicurus, aqui almejasse entender como eles foram “construídos” por não-indígenas e como isso foi manipulado
pelos interesses dessas figuras dentro do recorte proposto e, claro, quais teriam sido esses tais ímpetos. Embora ainda
em andamento, essa pesquisa direciona-se para a compreensão de que houve sobreposições de interesses entre
políticos, frente a potenciais posturas mais estáveis dentro de mesmo partido. As fontes corroboram para a
compreensão de que a atribuição de algum grau de cidadania aos guaicurus variaram conforme os interesses e as
argumentações dos políticos. Esses indígenas eram mais compreendidos dentro uma ideia de “brasileiros” quando
associados aos territórios que ocupavam e, então, tomados enquanto argumentos de que tais regiões limítrofes
seriam, por consequência, propriedade do Império frente às reivindicações paraguaias. Ainda assim, discursos
antagônicos existiram e foram perpetuados em situações onde os primeiros representariam problemas para seus
autores. No meio dessas vozes moldadas por grupos dominantes não só os territórios ocupados pelos guaicurus se
mostravam não plenamente reconhecidos, como o status desses indígenas dentro do Brasil e, mesmo suas
identidades, foram moldadas ao bel-prazer de terceiros, conforme a esses fosse mais interessante.

Entender as propriedades da terra urbana: caminhos entre a filosofia, a história e o espaço.

Gustavo Rodrigo Faccin Araujo de Souza (Sem filiação)

Este trabalho apresenta uma forma de entender as propriedades da terra urbana em perspectiva multidisciplinar a
partir de 3 eixos de análise: a filosofia política, a história e a relação entre propriedade da terra e espaço urbano.
Primeiramente, são comentados dois argumentos clássicos da filosofia política da propriedade construídos por Locke
e Hegel, ambos importantes para a constituição da concepção moderna e absoluta dos regimes proprietários. Em
contraposição, trabalha-se com os conceitos trazidos pelos historiadores Paolo Grossi e Rosa Congost, que
propuseram formas de compreender a propriedade como relação social, plural e mutável, criticando o caráter unívoco,
juridicista e abstrato das concepções modernas e valorizando o papel da história no debate. Como último eixo, propõe-
se uma forma de articular essa concepção de propriedade da terra com os conceitos de espaço e território,
entendendo a propriedade da terra urbana como prática social que articula dialeticamente formas jurídicas e
territoriais na produção do espaço. Por fim, conclui-se que a problematização dessas propriedades demanda uma
reflexão capaz de 1) relacionar propriedade da terra e espaço urbano a partir de uma compreensão plural e mutável
desses direitos e 2) construir uma história dessas propriedades, capaz de potencializar a formulação de outros regimes
possíveis para o acesso à terra urbanizada.

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A propriedade fundiária a partir dos códigos de posturas municipais

Diego José Baccin

A perspectiva de comunicação que se submete para análise decorre de discussões realizadas no interior do grupo
Dominium, vinculado ao INCT Propietas, composto por jovens pesquisadores que no escopo de suas preocupações
está a questão da propriedade e seus direitos de acesso e permanência. Estou a oferecer uma reflexão acerca dos
códigos de posturas municipais e suas potencialidades enquanto fontes históricas que cotejam alternativas de
pesquisa principais ou assessorias para a análise da propriedade fundiária. A partir da realidade do Rio Grande do Sul,
em sua porção norte, no contexto do final do seculo XIX e primeiras décadas do seculo XX, explorarei as posturas
municipais promulgadas na cidade de Passo Fundo, na especificidade de identificar e pensar criticamente como a
propriedade individual e coletiva fora normatizada neste códigos no "encalço" de recompor algumas relações de
poderes locais que foram mobilizados e articulados entre as elites regionais diante da conjuntura proposta.

Reforma Agrária x Propriedade da Terra: o debate no senado brasileiro nos anos de 1960

Rafaelle Gonçalves dos Santos Pessôa

Na década de 1960 a reforma agrária se encontra no centro dos debates empreendidos por diferentes atores políticos,
individuais e coletivos, tais como os partidos, os movimentos sociais, a Igreja Católica, o governo, os parlamentares
etc. Nessa ambiência, parte da classe política, com a poio de amplos setores da sociedade, chega à conclusão de que
o latifúndio seria um impeditivo para o desenvolvimento social e nacional, residindo nesta questão o cerne da querela
política como um todo. Nesse quadro de referências, João Goulart, o então presidente do Brasil, leva à frente seu
projeto das Reformas de Base, no qual a reforma agrária figuraria como elemento central de mudança do paradigma
de produção e organização social do país. Nesse sentido, a presente comunicação visa expor como é encaminhado o
debate no Senado durante o governo Goulart, com a emergência da proposta de reforma agrária capitaneada pelo
presidente, na qual se prevê o pagamento das desapropriações de terra a partir dos títulos da dívida pública, fato que
para realizar-se ensejaria uma alteração na Constituição, gerando, por sua vez, intenso debate e grandes controvérsias.
Em resumo, há, de um lado, um forte movimento pela reforma agrária e pela alteração constitucional; por outro lado,
há forte resistência às mudanças, apoiando-se na ideia consagrada da propriedade da terra como intocada; há também
setores com propostas fora das polarizações. Destacam-se para a presente investigação os partidos que formam
maioria de senadores eleitos e possuem, consequentemente, centralidade nas negociações, bem como nos
posicionamentos a respeito da reforma agrária, cuja ação de cada um interfere diretamente na aprovação, reprovação
e nos termos e orientações gerais de sua consolidação no país. Dessa análise é possível traçar o panorama histórico
do período, bem como os alicerces discursivos e políticos que impediram a realização de uma mudança na estrutura
fundiária no país.

O direito a educação escolar nos territórios indígenas a partir da constituição de 1988

Diêgo Fernando Silva Rabêlo (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Este trabalho tem por objetivo analisar como se constituiu a trajetória da educação escolar indígena no Brasil. Neste
sentido recorremos a Constituição Federal de 1988, a LDB Nº 9.394/96, as Diretrizes Curriculares Nacionais da

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Educação Escolar Indígena - RCNE, sendo que esses documentos normatizaram a educação intercultural, diferenciada
e bilíngue em território indígena. O direito a educação escolar indígena é resultado da mobilização do movimento
indígena que a décadas vem lutando por uma educação que valorizasse as identidades étnicas e suas línguas maternas.
Os principais teóricos utilizados na revisão bibliográfica para compreender o percurso da Educação Escolar indígena
foram: Gersem Baniwa, Daniel Munduruku, Manuela Carneiro da Cunha e Bergamaschi. Com relação a questão das
categorias analíticas de políticas públicas e autoderminação, utilizamos como referência os textos dos professores
Vinodh Jaichand, Ronald Dworkin, Pierre Bourdieu e André Sampaio que serviram para lapidar meu olhar de como o
campo da legislação é um campo de intensos conflitos, sendo que o campo jurídico é uma arena, onde desde a
colonização até os dias atuais os povos indígenas vêm reivindicando direitos.

319
ST 59. Patrimônio Cultural: Arte, Morte, Religiosidade e Sociedade

ST 59 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

Aromatibus Conditum: O embalsamamento, os cadáveres preservados e os patrimônios culturais e científicos no


decorrer da Idade Média europeia

Eduardo Mangolim Brandani da Silva (UEM - Universidade Estadual de Maringá), Gessica de Brito Bueno

A metodologia usual de tratamento cadavérico que se observa presente no contexto da Idade Média europeia, fora
da limpeza do cadáver ao lado do processo de inumação. Esse tipo de metodologia atravessava o tecido social em suas
diferentes hierarquias. Apesar desse tipo de tratamento ser o mais usual, arqueólogos vem destacando cada vez mais,
que o embalsamamento esteve em uso contínuo no decorrer de todo o medievo. Quando as evidências são colocadas
lado à lado, fica claro que a tradição de produção de cadáveres embalsamados no medievo possui raízes no
cristianismo primitivo e no embalsamamento romano que teve espaço de uso entre os séculos I e V D.C. A partir da
ideia de que o embalsamamento esteve presente em todo o medievo, esse trabalho visa analisar essa metodologia
em diferentes perspectivas. Primeiramente cabe entender quem era embalsamado. Ao que tudo fica aparente os
defuntos de santos, membros da realeza, nobres e funcionários da igreja são os casos existentes de preservação. Isso
denota que o embalsamamento servia para uma questão de poder político e cultural no caso da realeza. No caso da
igreja a ideia era produzir um cadáver preservado que pudesse ser visitado pelos fiéis, o que gerava muitas
peregrinações. Nos dois casos esses cadáveres preservados tinham a função de patrimônio para as populações do
período, sendo um de tipo religioso e outro de poder político e cultural. Com essas determinações situadas, esse
trabalho propõe um segundo tipo de análise patrimonial, a ideia de patrimônio científico. Isso porque esses cadáveres
recebiam tratamentos baseados em conhecimentos cristãos ao lado de noções humorais que vinham da antiguidade
greco-romana. O uso do embalsamamento criou tradições técnicas durante o medievo, de forma que cirurgiões e
físicos médicos se pautavam nos tratamentos anteriores e nos ensinamentos novos para compor suas metodologias.
Sendo os casos anteriores estudados no período, pode-se construir a ideia de um patrimônio científico.

Hibridização cultural nas estelas do cemitério de Leontópolis

Brian Gordon Lutalo Kibuuka (Universidade Estadual de Feira de Santana)

As inscrições funerárias encontradas em Tell el-Yehoudieh, cidade situada a 35 km ao norte do Cairo, evidenciam a
existência de um assentamento ptolomaico e romano chamado de Leontópolis. Em tal assentamento, Ptolomeu VI
Filometor, que reinou entre 180-145 a.C., permitiu que alguns exilados judeus de origem aristocrática pudessem se
instalar. A grande maioria dos epitáfios em Tell el-Yehoudieh está inscrita em estelas retangulares, geralmente dentro
de uma moldura estreita encimada por um frontão. Mais de 50% dos nomes preservados nos epitáfios são
distintamente judeus. Porém, a fraseologia usada nos epitáfios evidencia a existência de múltiplas referências
culturais, às quais podem ser discernidas e identificadas nos artefatos. Esta comunicação visa demonstrar as evidências
de hibridização cultural na comunidade de Leontópolis a partir da análise de suas estelas funerárias. Utiliza-se nesta

320
comunicação as concepções de hibridização social, material ou cultural relacionada à colonização, migração ou
aculturação de Knapp e Voskos (2008).

Por uma abordagem reflexiva da religiosidade no Cemitério Municipal Nossa Senhora da Piedade na cidade de
Crato-CE.

Jaiamy Elaine Bernardo da Silva (UNILAB - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)

Este presente trabalho objetiva refletir sobre as ações diante da morte e dos mortos a partir da construção de um
habitus religioso que surge por meio da necessidade de integrar o morto ao seu novo local social. Também discutimos
sobre a introdução de elementos religiosos como uma forma de mediação com o sagrado, ao passo que também vão
se construindo as relações afetivas por meio da manutenção da memória e das práticas que ressignificam o sentido
de morte. O Cemitério constitui-se como um lugar de memória e religiosidade, haja vista, os túmulos e jazigos antigos
e os mais atuais contêm uma representação religiosa que nos leva a entender a ideia do luto e a busca pela ligação
com o sagrado. Sendo assim, o Cemitério é um campo sacralizado construído a partir da relação direta com a morte.
O morto também passa a ser sagrado, pois à medida que acontecem as visitas até o túmulo, torna-se indissociável da
memória e da religião. Com base nisso, buscamos refletir as conexões do sagrado e a manifestação do sagrado a partir
do luto, que propicia um lugar autêntico e legítimo de memória e religiosidade na cidade de Crato-CE. Para dar
procedimento a esta pesquisa no que concerne aos aspectos teóricos e metodológicos, optamos pela História das
Mentalidades, memória, imaginário social, religiosidade e, principalmente, a ideia de objeto como forma de mediação
com o sagrado, que muito se encaixa no intento deste trabalho. Para a coleta de dados, utilizamos a visita ao campo
e entrevistas, bem como a análise de convites de missas de sétimo dia, que corrobora o sentido da religiosidade a
partir do construção da memória do morto que referencia o Cemitério como campo social sagrado.

Gerindo a Saudade: O morrer e a sepultura de dois zeladores do Cemitério Municipal de Juiz de Fora

Leandro Gracioso de Almeida e Silva (UNIFESSPA - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará)

Os cemitérios oitocentistas deixam aos poucos de ser um tabu. Atualmente, pesquisas importantes sobre esses
espaços vêm sendo desenvolvidas em todo o território nacional. Com diferentes enfoques, os pesquisadores têm
proposto interpretações inovadoras para o campo historiográfico. Trazem ao conhecimento da comunidade e da
historiografia elementos sobre a vida de pessoas que talvez ficassem desconhecidos sem as suas pesquisas. Muitos
pesquisadores procuram, portanto, interpretar os sentidos do mundo dos vivos por meio do mundo dos mortos. Nesse
aspecto, este artigo que combina pesquisas de uma dissertação e tese desenvolvidas nos últimos anos se dedica a
apresentar uma possível visão de morte que as famílias dos dois gestores do Cemitério Municipal de Juiz de Fora
quiserem representar e perenizar. O Cemitério Municipal de Juiz de Fora é fruto de uma visão de morte que desejava
separar o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Seguindo assim, os padrões higiênicos da época, foi inaugurado em
2 de novembro de 1864. Esse cemitério também, foi palco de intensas disputas desde os seus primórdios entre duas
visões de mundo que se chocavam. De um lado, havia o catolicismo pré-reforma ultramontana que era resguardado
pelo Padroado, do outro havia uma visão mais secular de mundo. Os zeladores, termo utilizado à época, Padre Tiago
Mendes e Victorino Braga coadministraram o principal espaço funerário público de Juiz de Fora em meio a intensos
embates. Mas as suas sepulturas, curiosamente, optaram pelo silêncio e/ou pela simplicidade. O que teria movido

321
essa intenção? Por que esse conflito foi silenciado? Desse modo, o que se pretende é apresentar uma possível
interpretação desses jazigos perpétuos e em que medida os discursos dos túmulos dialogam ou não com a gestão dos
homenageados.

ST 59 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Vale do Paraíba: Os cemitérios como fonte de pesquisa

Viviane Comunale (Colégio Amorim)

Os cemitérios da região do Vale do Paraíba histórico, assim como os instalados em São Paulo, apresentam
representações que distinguem as relações sociais e diferenciações culturais, econômicas e religiosas, pois nem na
morte somos todos iguais. Nos cemitérios investigados, no Vale do Paraíba, o panorama não é diferente. Em algumas
cidades como Bananal, Guaratinguetá, Lorena e Queluz fica evidente essa condição social dentro destes espaços,
portanto, os túmulos se tornam fontes primárias para o estudo dessas sociedades. Principalmente quando não existe
a salvaguarda e a preservação de sua arquitetura e documentação histórica. É necessário salientar que estudar a região
do Vale do Paraíba por meio de seus documentos históricos é desafiador. Cidades como Lorena e Guaratinguetá
lutaram para manter preservados os fragmentos do passado de sua história, ambas as comarcas se empenharam em
deixar sua documentação em seus arquivos municipais. Esta comunicação é um recorte da minha tese de doutorado
defendida em 2020 intitulada Patrimônio Funerário: Os cemitérios históricos do Vale do Paraíba (1820-1890).

O Monumento Rossa (1942) e a Concepção Simbolista da Escultura Funerária

Eva Pralon Catelli

Em 1942, o escultor piemontês Materno Giribaldi (1870-1951) projetou sua última obra em espaço público, o Monumento da
Família Rossa, erguido na Necrópole São Paulo. Concebido enquanto alegoria da energia vital subjacente tanto à vida quanto
à morte, o autor se distancia da tradição retratista do século XIX, assim como da releitura formal de temas funerários
recorrentes por parte de artistas atentos às proposições modernistas das primeiras décadas do século XX. A análise do
monumento, cujo significado e forma se demonstram indissociáveis, foi possível através da recuperação de sua planta,
localizada no Arquivo Geral da Prefeitura Municipal de São Paulo, e da recente confirmação da filiação de Giribaldi à
“scapigliatura” milanesa enquanto aluno e colaborador de Ernesto Bazzaro (1859-1937). Além disso, a obra de Leonardo
Bistolfi (1859-1933) fornece um elo fundamental ao estudo, uma vez que incorporou procedimentos dos “scapigliati” à
linguagem plástica que elevou seus monumentos funerários à aclamação pública.

In memory: estruturas tumulares de mestres e capitães britânicos no Cemitério dos Ingleses, Salvador - BA

Fabiana Comerlato (UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)

O objetivo dessa apresentação é analisar como as estruturas tumulares evocam o prestígio e a importância social de
mestres e capitães britânicos do século XIX. Nesse sentido, as lápides funcionam como dispositivos de memória para

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a comunidade inglesa na cidade do Salvador. O Cemitério dos Ingleses em Salvador abriga um importante conjunto de
túmulos da comunidade britânica nos trópicos sul-americanos, sendo o primeiro cemitério cristão acatólico construído
na cidade. Para a pesquisa foram selecionadas, as pedras tumulares erigidas em memória aos homens com maior
hierarquia na tripulação de embarcações britânicas (mestre, capitão e primeiro imediato). Tais monumentos
documentam a navegação inglesa e seu comércio nas costas sul-atlânticas, além de envolverem episódios da história
trágico-marítima. A análise foi realizada em lápides selecionadas, sendo que os atributos pesquisados incluíram os
signos verbais e os não-verbais, analisando os aspectos epigráficos e os signos nelas presentes. A análise das estruturas
tumulares foi possível perceber as atitudes e práticas de perpetuação da memória daqueles que morreram no mar.

"Cemitério de São Benedicto da cidade de São Paulo"

Alvaci Mendes da Luz (Universidade São Francisco)

As confrarias católicas foram as mais importantes associações leigas durante o Brasil colonial, que atravessaram o
período Imperial e chegaram até os dias atuais. Elas tinham com uma de suas principais atribuições “dar um enterro
digno” aos irmãos que delas faziam parte. Subdividas entre as camadas sociais brasileiras, que classificavam a
sociedade pela cor da pele, estas agremiações eram formadas por brancos, pretos, pardos, crioulos, etc. Na cidade de
São Paulo, o Cemitério de São Benedito localizado no Largo São Francisco, pertenceu a uma dessas associações
classificadas como de "homens de cor". Durante séculos ela cumpriu seu papel de enterrar seus irmãos, mandar "dizer
missas" por eles, acompanhar o irmão à sepultura, bem como, a manutenção do espaço dito "sagrado" ou "campo-
santo". Em meados do século XIX o cemitério destes irmãos foi lembrado em um dos poemas do abolicionista Luís
Gama; os enterros continuaram ocorrendo nele a revelia do "novo cemitério público da Consolação", contudo, no
início do século XX, suas menções desaparecerem da historiografia oficial.

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ST 60. PERSPECTIVAS EPISTÊMICAS PÓS-PANDEMIA: Relações étnico-raciais, Direito,
Gênero e Religiosidade

ST 60 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

O negro no livro didático: uma breve reflexão da presença negra em um livri didático do ensino fundamental

Alter Rodrigues Elvas Cordeiro (Prefeitura Municipal de Maricá)

O presente artigo busca analisar as formas como estão sendo implementadas as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08 ,
que determinam o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana e indígena, em todo o âmbito curricular. Além
disso, procuraremos observar a aplicação das diretrizes do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) . Analisaremos a representatividade dos negros em um livro didático adotado por
duas diferentes redes públicas municipais de ensino do Estado do Rio de Janeiro, as redes municipais de ensino de
Maricá e Queimados, as quais são os sistemas de ensino no qual atuo. Observaremos a forma com que o autor do livro
didático abordou a inclusão desta camada da sociedade e as maneiras utilizadas para estar em consonância a legislação
vigente e as diretrizes educacionais nacionais de modo a valorizar os aspectos da História e da Cultura afro-brasileira.
Outro aspecto que refletiremos é a influência da pandemia do novo coronavírus frente a luta contra o racismo e a
busca da igualdade racial e como este evento influenciou na prática do ensino.

Educação, História, patrimônio e território: notas acerca da experiência do ensino de Patrimônio no município de
Magé, Baixada Fluminense

Antonio Ramos Bispo Neto (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Neste trabalho buscarei analisar minha experiência enquanto docente de História em uma escola localizada no bairro
da Piedade, no município de Magé, na Baixada Fluminense, no ano de 2021, em meio a pandemia do Corona vírus.
Como uma nota de pesquisa, busco analisar a relação entre os alunxs e o patrimônio material e imaterial que circunda
a escola. Argumento que este patrimônio pode ser utilizado como material didático para o ensino da História. O bairro,
embora esteja ainda fortemente marcado pela segregação racial e sócio-espacial, sobretudo de serviços (como
transporte e saneamento básico) e contar com a violência urbana cotidiana, sobretudo contra a população negra,
contém diversos patrimônios tombados, materiais e imateriais, possíveis de serem mapeados e utilizados como texto,
em sala de aula. Por isso buscarei dialogar os conceitos de história pública, território e patrimônio no sentido de abrir
possibilidades de intervenções de políticas públicas nessas áreas, em diálogo constante com a sala de aula.

Por que estudo História? Apontamentos sobre o Ensino de História sob uma perspectiva curricular Decolonial.

Camila Abreu de Carvalho

O artigo pretende fazer uma breve reflexão sobre os sentidos, desafios e obstáculos do ensino de história, levando em
conta a pandemia do Covid-19 e as dificuldades dos alunos de escola pública nesse contexto pandêmico, com o fim de
problematizar as propostas curriculares atuais, após a formulação da BNCC e partir daí refletir sobre o currículo de
História, através de uma perspectiva decolonial, isto é, propor como possibilidade de ensino a quebra do paradigma

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eurocêntrico como forma de aproximar os conteúdos da disciplina a realidade dos alunos, propondo uma educação
libertadora que vise à construção de uma consciência histórica dos discentes. Num ano turbulento como 2020, com
uma série de fatos relevantes acontecendo ao mesmo tempo, fico me perguntando enquanto professora de História,
qual será a sensação dos alunos ao testemunharem eventos presentes, será que eles associam ao que aprenderam
nas aulas de História? Será que ficaria mais fácil eles compreenderem as narrativas das mudanças históricas a partir
de uma experiência presente? E se entender esses eventos tanto passados como presentes consegue impactar
diretamente na sua visão de mundo? O artigo consiste, então, numa breve reflexão da construção de um sentido para
os alunos no ensino de História, especialmente os alunos de escola pública localizadas em áreas periféricas que
geralmente enfrentam dificuldades e possuem outras demandas de vida para além do bom cumprimento da vida
escolar, partindo de uma perspectiva decolonial.

Letramento e sociabilidades negras no Rio de Janeiro do século XX

Stephane Ramos da Costa

O presente trabalho tem por objetivo apresentar e discutir acerca das experiências de educação popular e as redes de
sociabilidades tecidas por sujeitas e sujeitos envolvidos nos movimentos sociais negros no Rio de Janeiro. Tendo como
fio condutor a trajetória do professor José Cláudio e Nascimento e espaços como o Renascença Clube e a Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, busco compreender as as dinâmicas de construção
de espaços educativos e análise de padrões comportamentais dos sujeitos que traçaram suas estratégias a cidade
carioca durante a primeira metade do século XX. O debate sobre os projetos de letramento e associativismo da então
capital do país serve de base para uma compreensão mais ampla sobre a história da educação brasileira, a relação do
governo de Getúlio Vargas com estas iniciativas e a possibilidade de debates sobre uma “classe média negra
metafórica” (BUTLER, 2011) no Brasil.

ST 60 – 20/10 – Quarta-feira (16:00 às 18:00)

A pandemia da Covid-19 acentua os contornos da pós-modernidade e aguça seus reflexos no Ensino Superior

Gabriela Adler Lopes

Por conta da pandemia da COVID-19, estamos vivendo uma situação contraditória e muito diferente de tudo o que já
vimos e assistimos até hoje. A sociedade civil assiste a um espetáculo macabro, com um número tão alarmante de
mortes e infecção pelo vírus, que se espalha de forma incontrolada, enquanto espera a imunização das pessoas. Além
da saúde, a educação tem sido um dos setores mais atingidos por essa mudança de comportamento da sociedade.
Muito se tem discutido, buscando entender os atenuantes e os agravantes educacionais advindos desse período tão
inesperado e sombrio, tendo como resultado a indicação do isolamento social, a ausência das aulas presenciais sendo
substituídas por aulas remotas, metodologias diferenciadas e o exaustivo trabalho dos professores. Nesse contexto,
este estudo busca avaliar por meio de uma pesquisa bibliográfica com uma abordagem etnometodológica, como a
pós-modernidade tem sido potencializada durante a pandemia da Covid-19 no âmbito educacional, principalmente, a
partir da inserção rápida e sem planejamento das novas tecnologias no Ensino Superior, em especial na esfera privada.

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Pretende-se entender os reflexos decorrentes dessa mudança abrupta na vida acadêmica de docentes e discentes ao
longo dos anos de 2020 e 2021. O que se pretende é compreender a influência das tecnologias digitais na esfera
educacional, mais conhecida como Educação 4.0, em decorrência da 4ª revolução industrial com vistas a responder o
seguinte questionamento: Em que medida a nova forma de ensino atende a todos de forma igualitária? De primeira
mão, somos impelidos a responder negativamente e a criticar os riscos da louvação à tecnologia. O que se percebe é
o crescimento das desigualdades sociais já estabelecidas pelas vias da carência de acesso aos recursos materiais,
culturais e tecnológicos em meio à dependência digital para o cumprimento dos calendários acadêmicos.

UM NOVO OLHAR SOBRE “RAÇA” ENQUANTO CATEGORIA HISTÓRICA: o impacto do movimento “BLACK LIVES
MATTER” na Década de Affroescendentes

Lucimar Felisberto dos Santos (Secretarias Municipais de Educação de Duque de Caxias e Guapimirim)

O Estado brasileiro é signatário de diversos acordos e tratados internacionais que visam assegurar, de forma direta ou
indireta, os direitos humanos. Convencidos de que a doutrina da superioridade baseada em diferenças raciais é
cientificamente falsa, desde os anos 1960, as nações membros da Organização das Nações Unidas comprometeram-
se a tomar medidas separadas e conjuntas em defesa da dignidade e da igualdade inerentes a todos os seres humanos.
Reconhecem, portanto, que a “discriminação entre as pessoas por motivo de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo
às relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos e a
harmonia de pessoas vivendo lado a lado, até dentro de um mesmo Estado”. Os debates internacionais sobre esses
acordos e os movimentos reivindicatórios que a eles deram origem – que monitoram seus desdobramentos para
reivindicar o cumprimento efetivo dos compromissos assumidos pelos signatários – têm a sua historicidade. O objetivo
deste capítulo é recuperar processos históricos das conjunturas de elaboração desses acordos e convenções e os
sentidos e significados desses movimentos. Fundamentalmente, levarei em conta dois registros mais atuais, a saber,
a declaração da Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas que estabeleceu a Década Internacional dos
Afrodescendentes (2015-2024) e o Movimento Black Lives Matter. Será ainda testada a hipótese de que um novo olhar
sobre “raça”, enquanto categoria histórica, emerge desses dias pandêmicos tanto por conta da circularidade das ações
dos movimentos reivindicatórios quanto por termos aguçado a nossa sensibilidade e empatia.

O acesso à justiça ante a acelerada virtualização das relações processuais em tempos pandêmicos.

Lucimara Felisberto dos Santos Francisco (OAB/RJ)

No ano de 2020 em razão da pandemia do COVID-19 diante da necessidade de dar prosseguimento às relações
processuais já existentes e, ainda, de receber novas demandas houve uma reestruturação emergencial do sistema de
trabalho. O sistema judiciário brasileiro vem desde os anos noventa caminhando á passos curtos para validar a
utilização da via eletrônica como meio eficaz na prática de atos processuais. Assim, ante a importancia dos Princípios
Constitucionais inerentes ao processo, o objetivo do capítulo será apresentar resultados de um estudo no tocante à
aplicação destes e á possível violação de tais Princípios, no processo de implementação dos novos trâmites
processuais. Mais especificamente no tocante os princípios: da Igualdade, do Devido Processo Legal, do Contraditório
e Ampla defesa. Tratar-se-á, também, da questão do acesso a justiça e a possibilidade de enxergar a “evolução digital”

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trazida pela pandemia como elemento contribuidor para consecução do efetivo acesso a justiça, ante a existência de
barreiras econômicas, territoriais e culturais.

Pandemia e discriminação social da população negra no Brasil

Maria do Carmo Gregório (Secretaria Estadual de Educação)

Com o título “basta”, o enredo da escola de samba Gaviões da Fiel de 2021 faz críticas aos ataques ocorridos ao regime
democrático brasileiro, através do resgate de acontecimentos que explicitaram temas como o colonialismo, a
escravidão de africanos e a dominação dos povos originários. Todos esses fatos remetem a discriminação social
associada a ideia de territorialidade, ou seja, ocorre a hierarquização na aplicabilidade dos direitos constitucionais
associados a determinados territórios e sujeitos sociais no interior e nas grandes metrópoles. Os conflitos pela posse
da terra, a culpabilidade pela densidade demográfica, a potencialidade de violências praticadas e sofridas nas áreas
periféricas das grandes cidades encontram no discurso de criminalização da pobreza, um lugar comum. Passado e
presente se encontram, no racismo e no desrespeito aos povos originários e quilombolas. Inserimos a reflexão desse
artigo no binômio passado-presente, pois, politicamente a terra como espaço territorial de pertença, nacionalidade e
a terra como propriedade, são associados na letra do samba e é com essa associação que dialogamos no decorrer
desse texto. Nossa proposta nesse artigo é identificar fatos e personagens históricos acionados pelo samba enredo na
construção da consciência histórica, assim como as analogias estabelecidas entre espaços e tempos distintos. Ao
reivindicar um lugar de fala a produção cultural através do samba, estabelece diálogos com o pensamento sociológico
reforçando a ideia de circularidade cultural.

ST 60 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

A (Re)Construção da Subjugação dos Corpos Femininos: Sociedades Machistas no Contexto de uma Pandemia.

Elaine de Abreu Gomes (Município de Cabo Frio)

O objetivo do capítulo é levar à reflexão sobre o estereótipo, em relação às mulheres, criado por uma sociedade
machista, mulher, o sexo frágil. Compreender que os olhares os quais subjugam os corpos femininos e tomam
sua singularidade estão pautados em valores que foram construídos ao longo da nossa história. Esses valores
têm a virilidade do homem como base para que esse se sinta superior, portanto, dete ntor dos corpos femininos.
O texto apresenta os tipos de violência que as vítimas de agressão sofrem, a maioria invisível aos outros olhos.
são corpos docilizados, que têm suas subjetividades atravessadas e reconstruídas a partir dos desejos do
homem. É durante o período pandêmico, período em que as pessoas estão mais vulneráveis, que esse processo
de violência se faz mais forte, mais presente. O lar é o lugar do algoz. É preciso compreender que, ao
identificarmos uma mulher, vítima de violência, precisamos acolhê-la, ouvi-la sem julgamentos e reconhecer
que seu corpo pertence somente a ela.

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CUIDADO EM SAÚDE MENTAL ÀS ESTUDANTES NEGRAS: desafios da Atenção Primária em Saúde de Guapimirim
durante a pandemia de Covid-19.

Valdemir Francisco da Silva Junior (CAPS de Guapimirim)

Este capítulo tem como objetivo central apresentar o trabalho desenvolvido pela APS - Atenção Primária em Saúde do
município de Guapimirim, da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Os sujeitos dessa pesquisa são adolescentes,
estudantes da rede municipal de ensino. O grupo era formado, em sua maioria por meninas negras. Tal atuação trás
o contexto de cuidado em saúde mental de diversos casos de comportamento suicida, dentre outras, manifestações
do sofrimento emocional, protagonizados pelo PSE (Programa Saúde na Escola), pela Estratégia de Agentes
Comunitários de Saúde, com participação efetiva do matriciamento em saúde mental como parte do NósDaRede.
Usamos como suporte teórico metodológico Bertolote (2012), para problematizar o conceito de suicídio, Freud
(1919,1929), para pensar o mal-estar na sociedade. Dialogamos também com Birmam (2005) sobre o mesmo conceito.
Para analisar as relações étnicas raciais os autores selecionados foram: Almeida (2018), Nogueira (2007) e Sousa
(1983). Um dos resultados encontrados com esse trabalho foi o perceber a existência de diálogo entre os fundamentos
do Programa Saúde na Escola com o pensamento e obra de Darcy Ribeiro. Na esteira da interdisciplinaridade e
intersetorialidade, constatamos a potência que tal programa tem nas tentativas de respostas às expressões das
questões sociais, entre as quais o suicídio está elencado.

Ibeji: o arquétipo dos gêmeos na tradição afro-brasileira

Alexandre de Salles (Prefeitura de Guapimirim)

As representações arquetípicas africanas ainda são conflitantes para a sociedade brasileira e, sobretudo na educação
há muitas questões a serem colocadas em pauta. O resgate das tradições afro-brasileiras é uma demanda posta pela
Lei 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e a cultura afro-brasileira e ressalta a importância da cultura negra
na formação da sociedade brasileira. Ao contar uma história utilizamos o recurso da memória que ajuda a pensar as
relações entre o passado, o presente e o futuro. Ibeji em terras africanas, assim como, a influência do mito dos gêmeos
afro-brasileiros na vida e na educação de crianças, surge como um desafio na defesa da tolerância e suas
potencialidades nas relações sociais em tempos de pandemia. Mitos aqui são pensados numa trajetória de
potencialidade para a vida humana. É por isso, que este artigo possibilita à comunidade educacional uma releitura do
mito de Ibeji, arquétipo dos gêmeos africanos em diversas roupagens na tradição brasileira. A temática em questão
se justifica em função das plurais representações dos mitos afro-brasileiros para o universo infantil. Nosso objetivo é
analisar a dimensão representativa de Ibeji na sociedade africana e afro-brasileira e o impacto que as suas diversas
facetas implicam na vida das crianças, nos discursos, nos nomes, nos símbolos e decodificações que suas relações
sociais estabelecem.

328
ST 61. Política e Guerra nas Américas: a formação dos Estados Nacionais durante o
oitocentos

ST 61 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

A Armada Nacional e Construção do Estado Nacional na Amazônia (1850 – 1868)

Raimundo Nonato Da Silva (Universidade Federal do Pará)

Em 1852 o governo brasileiro começou a desenvolver uma serie de acordos com os países banhados pela bacia do rio
Amazonas, esses tratados tinham por objetivo construir uma dinâmica maior na região e permitir o desenvolvimento
econômico. Uns dos principais acordos foi feito com a República do Peru e tinha como função construir uma linha de
navegação entre os dois países, sendo o Estado brasileiro o principal encarregado pela manutenção do projeto. O
processo de abertura para a navegação dos países Ribeirinhos, termo utilizado para caracterizar os estados nacionais
banhado pelo rio amazonas, era motivo constante de disputas no campo diplomático, gerando a necessidade de
fortalecimento das forças militares responsável pela fiscalização do território nacional. Nesse contexto, a presença da
Armada nacional ganhava cada vez mais importância dentro da região amazônica, essa comunicação apresenta alguns
elementos algumas discussões acerca desse momento histórico e o papel da marinha nesse cenário. Esse trabalho e
fruto da pesquisa nos relatórios da marinha, relações internacionais e dos presidentes de províncias do amazonas e
do Pará, além dos jornais que circulavam na capital paraense e federal. Tendo com objetivo construir debate com a
historiografia especializada sobre história militar e da Amazônia. Usando como aporte teórico os trabalhos de Pierre
Bourdieu e sua tese que o estado se constitui como um elemento de poder simbólico.

Guerra de 1812: Reflexões sobre a invasão dos Estados Unidos ao Canadá

Débora Jacintho de Faria, Iago Torres da Rocha

Em 1776, os Estados Unidos da América (EUA) tornaram-se uma república independente. O Canadá, vizinho ao norte
dos americanos, nesse mesmo período, ainda era parte do Império Britânico, não tendo feito esforços revolucionários
para sua independência junto com as antigas treze colônias. Os EUA, no entanto, esperavam que tal empenho viria
em breve e inclusive incluíram, nos Artigos da Confederação – documento que precedeu a Constituição – uma previsão
para eventual entrada do Canadá como parte da Confederação dos Estados Unidos, com todas as vantagens conferidas
a um estado-membro. Desse modo, muitos americanos esperavam, mesmo após o fim da vigência dos Artigos, que os
canadenses estariam ansiando por uma chance de serem libertados. Durante a Guerra de 1812, uma das frentes de
expansão era justamente o território do Canadá. O conflito aconteceu entre 1812 e 1815, período no qual os britânicos
travavam outro confronto na Europa e o Canadá teve um protagonismo interessante. Adentrar o território canadense
fazia parte de uma das frentes da guerra e de um projeto de expansão arquitetado principalmente por William Henry
Harrison (que alguns anos depois se tornaria presidente dos EUA), naquele momento governador do território de
Indiana. Madison, presidente americano no período, esperava que os canadenses receberiam os soldados americanos
como libertadores – mas não foi o que ocorreu. Não só o exército canadense resistiu à entrada dos americanos, como
em alguns momentos chegou a ocupar parte do território dos EUA, inclusive tomando a cidade de Detroit. O objetivo

329
dessa comunicação, dessa forma, é analisar alguns aspectos da Guerra de 1812 e as relações entre os EUA e o Canadá
nesse período. Intenciona-se fazer reflexões sobre o significado da invasão americana ao território canadense do
ponto de vista dos dois países, e como esse conflito construiu elementos de identidade nacional no Canadá,
especialmente.

A coalizão da Igreja Católica e de La Regeneración na Colômbia do final do século XIX

Giovana Eloá Mantovani Mulza (UEM)

A Colômbia do século XIX compreendeu uma sociedade ávida por “civilizar-se” e se inserir no denominado “concerto
das nações civilizadas”. Divergências políticas e coalizões interpartidárias – comuns na história latino-americana do
século XIX – consistiam em tentativas de promover a harmonia social e a unidade territorial. Os desafios residiam
sobretudo na acentuada fragmentação físico-geográfica do país, bem como nas múltiplas identidades regionais
vinculadas à presença de distintas culturas indígenas no então território colombiano. Tais pautas integrariam o cenário
político colombiano do século XIX, especialmente o período de “La Regeneración” – que consistiu em um conjunto de
governos centralistas que visaram promover a unidade territorial e cultural do país e que prevaleceu politicamente
nas décadas finais do século XIX. La Regeneración objetivou construir um “homem colombiano” compatível com os
ideais da civilização ocidental e que permitisse a prosperidade do país. Para tanto, os presidentes regeneradores
conferiram à Igreja Católica um papel protagonista neste processo de “civilizar” a Colômbia, nomeada pelo Estado
para ministrar a educação pública e promover missões aos povos indígenas. Esta união – aparentemente contraditória
em um contexto visualizado como de laicização e secularização dos Estados nacionais – consistiu em uma alternativa
coerentemente empregue pelos presidentes regeneradores, haja visto o influente papel que o catolicismo e o clero
católico exerciam para os habitantes da Colômbia. Este trabalho, portanto, visará tratar dessa relação promovida entre
os governos colombianos e a Igreja Católica durante o período regenerador, abordando os intuitos desta aliança e o
contexto que a instigou. As reflexões apresentadas sintetizam as discussões promovidas em nossa pesquisa de
mestrado em andamento.

O debate historiográfico sobre a inflexão da política externa dos Estados Unidos ao final do século XIX:
considerações a partir do pensamento de W.A. Williams.

Flávio Alves Combat (docente)

William Appleman Williams foi o primeiro historiador norte-americano a defender, no intenso debate historiográfico
pela redefinição de uma memória sobre a origem e as consequências da Guerra Fria, uma interpretação distinta
daquela sustentada pelos autores ortodoxos e amplamente aceita como a “história oficial” da política externa
estadunidense. Ao contestar as teses da ortodoxia, Williams foi além, propondo uma interpretação singular da
sociedade norte-americana e de seus interesses refletidos na política externa conduzida pelos Estados Unidos desde
o final do século XIX. O objetivo central do artigo é retomar, do ponto de vista historiográfico, as teses seminais
desenvolvidas por Williams no livro “The Tragedy of American Diplomacy” (1959), no qual analisa a origem do
expansionismo norte-americano e a sua centralidade na definição da política externa conduzida pelos EUA a partir do
final do século XIX. A análise retoma a tese da fronteira (“frontier thesis”), que, na interpretação de Williams, é o
fundamento da política externa primordialmente expansionista conduzida pelos Estados Unidos no período em

330
observação. Nesse sentido, são analisadas importantes iniciativas de política externa tomadas pelos Estados Unidos a
partir do final do século XIX, sustentando a estreita relação entre a “política de portas abertas” (“open doors policy”)
e o objetivo primordial de tornar o mundo seguro e aberto para os interesses norte-americanos. Por fim, o texto
introduz o debate sobre a tese mais polêmica de Williams: a ideia de que a verdadeira “tragédia” da diplomacia norte-
americana decorreu precisamente da introjeção da “tese da fronteira” na política externa dos Estados Unidos, a partir
do final do século XIX. É exatamente nesse sentido que, para Williams, os Estados Unidos traíram os princípios mais
caros à democracia norte-americana ao violar a autodeterminação de diversos países na busca pela expansão de suas
fronteiras econômicas.

ST 61 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Influência da formação intelectual do Visconde do Rio Branco em sua atuação diplomática e política

Caio Henrique

O presente artigo buscará identificar e discutir a influência da formação que José Maria da Silva Paranhos, Visconde
do Rio Branco (1819-1880), obteve na Real Academia dos Guardas-Marinha em sua prática diplomática e política.
Analisando o currículo, os estatutos e a lista de livros da biblioteca da Real Academia, será delineado um perfil
intelectual do jovem Paranhos em seu período de estudos na Academia, de 1836 a 1840-41, que buscaremos
relacionar com sua atuação enquanto diplomata e parlamentar. O Visconde do Rio Branco, apesar de importante
articulador saquarema e hábil diplomata, presente em momentos críticos, como a ocupação do Paraguai derrotado,
diferenciava-se de seus pares, em larga maioria juristas formados em Coimbra, S. Paulo e Olinda, por sua formação
matemática. Não obstante, além de sua trajetória nesses campos, teve também vasta atuação jurídica, como quando
da reestruturação do Ministério dos Negócios Estrangeiros por ele empreendida ou mesmo durante seu período como
consultor jurídico do Ministério. Assim, buscaremos construir uma situação dos conceitos, referências teóricas e
políticas do período formativo do político Saquarema para, a partir desses parâmetros, identificar continuidades e
rupturas conceituais em seus discursos no Parlamento e na imprensa sobre temas de política externa, mas também
em sua atuação jurídica no Ministério dos Negócios Estrangeiros. A comparação entre conceitos como o interesse
nacional na visão de Paranhos e os princípios de sua formação permitirá não só aprofundar o entendimento sobre um
lugar de memória da política e a diplomacia nacional, mas também a influência de instituições não-jurídicas no
desenho e construção das instituições onde atuou o Visconde.

Formação nacional no Rio da Prata: entre o capital e a coerção (1828-1852)

Daniel Rei Coronato (Universidade Católica de Santos)

O processo de formação dos Estados nacionais platino foi marcado por um complexo contexto de interações e
disputas, simultaneamente causa e resultado das condições regionais. Dominado por uma dinâmica pré-nacional, as
populações ligadas ao Rio da Prata buscaram construir Estados e nacionalidades em uma realidade de fragilidade
interna, rivalidade doméstica pelo monopólio da violência, deficiências estruturais nos aparelhos de tributação, além
das fronteiras indeterminadas e em constante disputa. Desse espaço emergiram conflitos de caráter singular - ligados

331
ao tipo de ambiente - e os meios pelos quais os grupos políticos dirigiam suas ações e percebiam sem interesses.
Assim, o objetivo dessa apresentação será debater o contexto internacional da primeira metade do século XIX,
demonstrando as condições e meios pelos quais as sociedades rio-platenses buscaram manejar seu próprio destino.
Ademais, nota-se que a existência de conflitos e guerras foram presentes em parte fundamental desse intervalo de
tempo, ainda que nem sempre perenes, e um traço indistinto desse longo e tortuoso processo de consolidação das
nacionalidades platinas. Defende-se que essa permanência foi consequência direta do ambiente e das condições
internacionais da região.

Da Queda de Rosas à Guerra do Paraguai

Pedro Gustavo Aubert (História Social FFLCH/USP)

A historiografia dedicada à política externa do Brasil oitocentista, em sua grande parte, dá ênfase em dois momentos
específicos: a derrubada de Rosas em Monte Caseros (1852) e a Guerra do Paraguai (1864-1870). Porém, há, de modo
geral, um vácuo na produção historiográfica justamente no que diz respeito ao entre-guerras, aparecendo
normalmente citado em notas de rodapé ou em algumas poucas páginas. Esse foi caracterizado pela pax armada e
acirramento das relações com o governo de Assunção. A iminência de uma nova guerra caracterizou a conjuntura
política do período. O Estado Imperial estabeleceu uma Estação Naval no Rio da Prata e com tropas regulares em
Montevidéu com o objetivo de defender seus interesses, inclusive, mediante demonstração de poder bélico. No
tocante à República Oriental do Uruguai, os tratados impostos mediante a ameaça de guerra transformaram aquele
Estado em um satélite político do Império, de modo que atraiu a atenção das grandes potências da época, contrárias
à posição brasileira na região. Não é demais lembrar que em 1864 quando Atanásio Aguirre rompeu com o Império,
queimou em praça pública os tratados com o Brasil. No que concerne ao Paraguai, consolidada sua independência,
após a queda de Rosas, em 1852, as relações políticas com o Império sofreram uma inflexão. Passou a condicionar a
navegação de embarcações imperiais em seu território a um ajuste de limites que tomaria grandes porções de Mato
Grosso, comprometendo a comunicação da capital com a fronteira ocidental do Império. Houve m dois momentos
missões diplomáticas acompanhadas de Esquadra de Guerra: Missão do Comandante Pedro Ferreira de Oliveira (1855)
e Missão José Maria da Silva Paranhos (1858).

332
ST 62. Raça, Ciência e Saúde no contexto da Escravidão e do pós-Emancipação

ST 62 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

“Se eu repito tantas vezes que sou mulato...” Raça e cidadania na trajetória do médico Joaquim Cândido Soares de
Meirelles.

Silvio Cezar de Souza Lima (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

O objetivo desta apresentação é analisar os limites da cidadania e do “pertencimento racial” para um homem negro
livre e letrado no Império brasileiro à partir da trajetória profissional e de vida do médico e cirurgião Joaquim Candido
Soares de Meirelles (1797-1868). Meirelles participou ativamente do processo de independência do Brasil, na
abdicação em 1831 e no processo de antecipação da maioridade de Pedro II. Foi articulador e um dos fundadores da
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, que posteriormente tornou-se a Academia Imperial de Medicina, presidente
da Junta de Higiene Pública, Cirurgião-mor e Chefe do Corpo de Saúde da Armada, um dos principais reformadores do
Ensino Médico no império, além de outros atributos e títulos. Meirelles foi um dos mais influentes médicos do Império
e sua trajetória se confunde com a própria institucionalização da medicina no Brasil. Entretanto, frequentemente era
envolvido em polêmicas relacionadas à sua cor de pele. Para este trabalho, analisaremos alguns eventos de sua
trajetória pessoal e profissional em foi acusado de sedição e difamado. A partir destes episódios podemos entender
como o intelectual negro se percebe como homem de cor livre em uma sociedade escravista.

Verdadeiramente ilustrado: o homeopata José Antonio do Valle e seu combate à escravidão, 1840-1850

Gabriela Vitória Monteiro da Silva (UFSJ - Universidade Federal de São João Del Rei)

A presente comunicação tem como proposta analisar a produção antiescravista do médico e literato José Antonio do
Valle Caldre e Fião (1821-1876), levantando, também, alguns apontamentos acerca das redes de sociabilidade das
quais fez parte quando de sua passagem pela cidade Imperial do Rio de Janeiro nas décadas de 1840 e 1850. Sul-rio-
grandense, nascido ano antes da independência do Império brasileiro, Caldre e Fião não figura entre os nomes mais
conhecidos do período oitocentista, todavia nos deixou escritos bastante interessantes que podem auxiliar nas
investigações sobre certo antiescravismo que tinha lugar, ainda que com apequenado alcance, no Brasil em fins da
primeira metade do século XIX. O retratado se interessou pelas “sciencias medicas” ainda em sua província, onde
montara sua própria botica, depois de ter passado por aprendiz na Santa Casa de Misericórdia e Caridade de Porto
Alegre. Mudou-se, em 1843, para a Corte com vistas a obter grau de doutor em Medicina. Ao assentar-se no Rio de
Janeiro, Caldre articulou-se com outros senhores letrados em associações diversas, aproximou-se da homeopatia e
teve participação ativa nos espaços públicos, principalmente através de periódicos, a exemplo d“O Philantropo” e “O
Americano”. Na maioria dos vestígios a respeito de José Antonio do Valle ou por ele escritos, deparamo-nos com um
discurso antiescravista cravejado de contradições e complexidades, aliando nacionalismo, valorização das ciências e
ilustração, negrofobia e projetos de encaminhamento político da escravidão. São justamente esses os pontos sobre
os quais pretendemos discorrer.

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O caso da família Steiger: perspectivas senhoriais da escravidão e do pós-abolição, Ilhéus-BA (1860-1893)

Victor Santos Gonçalves

Esta proposta visa apresentar percepções da família Steiger de Ilhéus, sobre a escravaria da fazenda Victoria, nos
tempos da crise da escravidão e do pós-abolição. O nosso repertório de fontes será constituído do livro Mato Virgem
de Maximilian von Habsburg, a biografia sobre Ferdinand Steiger e a nota auxiliar sobre a plantation Victoria. O recorte
temporal dessa proposta pretende revisitar as décadas de 1860 a 1890, através de uma microanálise das noções da
família Steiger de Ilhéus a respeito da escravidão, Abolição e os anos seguintes. Nessa investigação daremos prioridade
a uma compreensão fragmentada do racismo senhorial das últimas décadas da escravidão no Brasil e, quais teriam
sido as mudanças e permanências ocorridas nos primeiros anos do pós-abolição. Tentaremos compreender as ideias
senhoriais sobre o fim da escravidão, tendo em vista alcançar os problemas enfrentados pelos escravos, libertos da
sesmaria Victoria naquele período. Enfim, as percepções senhoriais dos Steiger de Ilhéus serão utilizadas como um
vetor, para investigarmos a crise da Abolição no Brasil como algo relacional, expondo os conflitos entre senhores,
escravos, ex-senhores e libertos naquele contexto.

ST 62 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

De Mãe Preta à Ama Suspeita: racismo científico no discurso médico-político por trás do conto “A Mãi Escrava”

Marjorie Nogueira Chaves

Entre os anos de 1879 e 1888 o periódico A Mãi de Familia: Jornal Scientifico, Litterario e Illustrado educava as
mulheres para a maternidade higienizada em contraponto à “amamentação mercenária” das amas-de-leite, tendo
como fundador o médico Carlos Costa. O jornal publicado no Rio de Janeiro foi importante veículo de popularização
do discurso médico sobre aleitamento materno, apontando o suposto perigo de se delegar a amamentação das
crianças brancas para as amas escravizadas ou libertas, portanto, desempenhando a função social da ciência na
sociedade que se pretendia moderna. No imaginário científico da segunda metade do século XIX, o aleitamento
materno de mulheres brancas seria fundamental para a saúde de suas crianças, uma vez que essas podiam ser
infectadas moralmente ao serem alimentadas com o leite de mulheres racialmente inferiores. O conto de cunho
abolicionista “A Mãi Escrava”, publicado na seção “variedades” entre o fim de 1879 e início de 1880 e assinado por
Solrac (anagrama de Carlos), apresenta os argumentos defendidos pelo médico por meio da trajetória de vida de Clara,
negra escravizada alugada para servir de ama-de-leite de uma família abastada. A narrativa se desenvolve com o
propósito de ressaltar a bondade senhorial em relação à Clara, ao passo que enfatiza a fragilidade do afeto da ama
pela criança branca, convencendo as/os leitoras/as sobre o perigo que escravizadas/os domésticas/os representavam
para as famílias. O objetivo desse trabalho é apresentar uma análise da narrativa de Solrac, estabelecendo a relação
entre racismo científico e trabalho de reprodução social na escravidão, como fundamental para a construção da
maternidade legítima. Como resultado, observamos a preocupação do discurso médico com a normalização do papel
das mulheres brancas, enquanto mães, à medida que fortalecia teses sobre a condição moral suspeita de mulheres
negras.

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Corpos femininos escravizados: sociabilidades, senzalas e dores escravizadas, século XIX.

Iamara da Silva Viana (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

O conhecimento da anatomia dos corpos escravizados no século XIX, a partir de 1831 com a publicação da primeira lei
de fim do tráfico de africanos, passou a ser elemento sine qua non para a manutenção da escravidão. Afinal, cada
etnia possuía características físicas e também culturais que, na perspectiva médica acadêmica e científica interferiam
em qualidades desejáveis aqueles indivíduos, tais como, ser bom trabalhador, força física, boa moral, o não
desenvolvimento de moléstias, e, no caso de mulheres, também a fertilidade. Corpos africanos foram descritos na
literatura médica como incivilizados e, portanto, mais resistentes a dor e predispostos aos trabalhos manuais que
exigissem força física. Anatomicamente seria possível, por meio do conhecimento da anatomia humana, identificar o
melhor africano escravizado a ser comprado ilegalmente. Tal conhecimento permitiria a proprietários perceber
moléstias e intervir rapidamente, impedindo a morte precoce. Da mesma forma, o corpo também sinalizava quando
a menina se transformava em mulher podendo gerar mais “propriedades”. Meninas, mulheres que produziam e
reproduziam riquezas e propriedade escravizada para a sociedade do Império do Brasil.

Raça, mestiçagem e natalidade: a parturiação como meio de produção do saber médico racialista na virada do século

Júlia de Macedo Rabahie (Universidade de São Paulo)

Na virada do século, as cidades brasileiras em transformação viviam intensas mudanças políticas, sociais, demográficas
e econômicas. No despontar da República, o conhecimento médico sobre os corpos femininos constituiu um dos
dispositivos fundantes da medicina social alinhada a preceitos de modernidade e civilização. A produção desses
saberes em relação à maternidade e ao parto é parte fundante das novas cidades e novas relações sociais almejadas
pela classe dominante republicana. Este trabalho tem como objetivo analisar como a reprodução, o corpo da mulher,
a natalidade o parto foram ferramentas para a produção do discurso médico racialista na virada do século XIX para o
XX. A imigração e seu incentivo estatal, na virada do século, foram a concretização das teorias racistas que, apoiadas
nas correntes científicas oriundas ainda do XIX, afirmavam uma suposta inferioridade dos negros. A imigração,
principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, passou a significar uma nova constituição das camadas pobres dessas
cidades. Assim, a partir da segunda metade do século XIX, principalmente nos seus anos finais, a maternidade
imprópria é identificada quase que mecanicamente à mulher negra. No início do XX, com instituições voltadas à higiene
e à saúde da população, fruto da convergência de interesses das classes dirigentes e do Estado, atributos de gênero
recairão de forma desigual inclusive entre mulheres brancas: brancas, mas de diferentes origens e condições sociais.
Assim, vemos o discurso racial e a construção do racismo científico encarnados no corpo feminino. Nomes renomados
no campo da medicina à época, como Nina Rodrigues e Érico Coelho, foram centrais para a produção de conhecimento
que reivindicava a inferioridade racial dos negros. Os professores da Faculdade de Medicina da Bahia e do Rio de
Janeiro, respectivamente, conviveram com outros pares que, ao estudar a gravidez, o parto e o puerpério, também
pensaram a mestiçagem e produziram conceitos racialistas.

ST 62 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

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As cores da selva: raça, engenharia social e trabalho na Amazônia do pós-emancipação (c.1890 - c. 1930)

Santiago Silva de Andrade (Universidade Federal de Rondônia - Unir)

A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré aparece como elemento central no conjunto de escritos literários e
historiográficos que tomaram como objeto de reflexão a fundação da cidade de Porto Velho e o desenvolvimento dos
centros urbanos nos seus arredores, na Amazônia. As memórias e interpretações sobre a ferrovia a colocam como a
principal responsável pelo processo de modernização daquela região e por sua inserção no fluxo da dinâmica
civilizatória contemporânea. O objetivo inicial desta apresentação é apontar para a necessidade de uma historiografia
orientada por um temporalidade mais rica e complexa do que aquela determinada pela construção da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré: a temporalidade do Brasil pós-emancipação. A intenção aqui é superar as interpretações
historiográficas que insistem em reduzir o processo de construção de uma sociedade multirracial, recém-saída da
escravidão e localizada na Amazônia, a um mero reflexo das ideologias baseadas nas ideias progresso e ordem,
produzidas pelas elites responsáveis pela construção da ferrovia. Em segundo lugar, valendo-se de fontes judiciais,
registros de casamento e óbito e correspondências produzidas pela Delegacia de Polícia, pretende-se, com as
contribuições da História Global do Trabalho e historiografia sobre o pós-abolição nas Américas, traçar um quadro -
para além do protagonismo, por vezes artificioso, da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - de histórias conectadas de
conflitos, arranjos, hierarquias e agências historicamente articuladas entre homens e mulheres no início do século XX
na Amazônia. A imposição de um ordenamento social a partir de bases teóricas racializadas, pelas elites ilustradas da
Amazônia pós-emancipação, quase sempre esbarrou nas aspirações de autonomia de grupos (afro-antilhanos,
indígenas, descendentes de ex-escravizados, etc) que recorreram a outras concepções de liberdade, raça e trabalho,
referenciadas por experiências que remetiam ao contexto atlântico das emancipações escravistas.

O corpo negro em O Presidente Negro ou O Choque das Raças. O romance americano de 2228, de Monteiro Lobato

Paula Arantes Botelho Briglia Habib (Universidade Federal Fluminense)

José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), escritor paulista, conhecido como pai do Jeca Tatu e do Sitio do Picapau
Amarelo, também escreveu contos, crônicas e romance. O Presidente Negro ou O Choque das Raças. O romance
americano de 2228, romance publicado em 1926, é um texto no qual a trama principal acontece em um futuro
bastante distante, nos Estados Unidos da América do Norte, no ano de 2228 e tem como enredo a eleição do primeiro
presidente negro do país. Para além de um enredo muito próximo a ficção cientifica, o romance apresenta a eugenia
de forma clara e didática. A ciência criada pelo inglês Francis Galton em 1883 e que tinha como lema principal mens
sana in corpore sano, em outras palavras "mente sã em corpo são", teve adeptos no Brasil, associações para sua ampla
divulgação, ocupou espaço em jornais de grande circulação e revista dedicadas ao seu debate. A concepção racial da
eugenia se faz presente em muitos de seus escritos. Para a grande maioria dos prosélitos da eugenia no Brasil, o negro
e suas características físicas e morais eram objeto de estudo para fundamentar o debate em torno da miscigenação e
suas conseqüências para o país. Se a eugenia foi debatida e divulgada em meios acadêmicos e da sociedade civil, a
"ciência do aperfeiçoamento físico e moral do homem" também foi objeto de um romance literário. O objetivo desta
comunicação é discutir de que maneira o corpo negro foi apresentado no romance futurista escrito por Monteiro
Lobato. De que maneira o autor associou as questões eugênicas debatidas no Brasil e nos Estados Unidos da América
do Norte nas décadas de 1910 e 1920 com o país norte-americano de 2228? Procurar compreender de que forma o
corpo negro está inscrito e é apresentado no romance pode ser uma forma de melhor compreender como as questões

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raciais perpassam não apenas a literatura produzida pelo autor, mas em especial uma determinada leitura racialista
do Pensamento Social Brasileiro nas primeiras décadas do século XX.

Notas de pesquisa sobre a presença da Drancunculose no Brasil

Olivia da Rocha Robba (USP - Universidade de São Paulo), Keith Valéria de Oliveira Barbosa (UFAM - Universidade
Federal do Amazonas)

Esta apresentação aborda a presença do verme aficano “Dracunculus Medinensis Linneaeus”, também conhecido
como ‘verme da Guiné’, no Brasil sob a perspectiva do intenso tráfico de escravos da África para o Brasil até o final do
século XIX. "Dracunculus medinensis é um verme nematoide capaz de infectar as pessoas através do contato com a
água contaminada. A princípio, a sua presença no organismo humano seria assintomática e não é capaz de causar a
morte do indivíduo. Porém, após cerca de um ano, é possível identificar bolhas nos pés e pernas do portador da
doença, que se rompem quando o verme sai pela pele, o que também provoca a sensação de queimação. Trata-se de
um helminto comum, principalmente, entre os povos que habitam o Oriente Médio e África. A ausência do hospedeiro
intermediário, os copépodes, impediu que a espécie completasse seu ciclo reprodutivo e se espalhasse pelo continente
americano. Contudo, devido ao tráfico atlântico, inúmeros portadores da dracunculose foram trazidos para o território
brasileiro, o que tornou possível o seu registro em algumas regiões do Brasil até as primeiras décadas do século XX.
Desta forma, pretende-se discutir, a partir de registros de sua presença no Brasil e a sua importância para
compreender a dinâmica das doenças que afetavam a saúde de africanos escravizados e contribuir para as pesquisas
que dialogam com História da Medicina, das doenças e da escravidão no Brasil.

"Não tem sido satisfatório o nosso estado sanitário": os obituários no jornal Alto Madeira (1918-1946)

Daniela Paiva Yabeta de Moraes (Universidade Federal de Rondônia)

Em janeiro de 2021 o estado de Rondônia viveu um colapso na saúde diante do enfrentamento da pandemia do
coronavírus. Inúmeras notícias destacando a falta de leitos e médicos circularam no Brasil e no exterior. Diante desse
cenário, pacientes que apresentavam quadro de saúde grave, foram transferidos para outras capitais. Logo em
seguida, municípios do interior começaram a sinalizar o perigo da falta de oxigênio em hospitais, tal qual ocorreu em
Manaus (AM). No momento em que essa situação chegou ao limite, eu estava isolada em Porto Velho há 11 meses
ministrando aulas remotas, desenvolvendo o projeto de extensão “Amazônia em Quarentena” e pesquisando no
periódico Alto Madeira notícias sobre comunidades negras rurais no Vale do Guaporé, região que faz fronteira com a
Bolívia. Ao vivenciar esse contexto, realizei uma busca na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional pelos obituários
publicados no referido jornal e encontrei registros entre 1918/1946. As notícias indicam cerca de 50 óbitos, a grande
maioria ocorridos no Hospital da Candelária em Porto Velho, local que foi construído para atender majoritariamente
trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. São registros da morte de homens, mulheres e um grande
número de crianças, ocasionados por tuberculose pulmonar, pneumonia, endocardite, hemoglobinúria, beribéri,
peritonite, influenza hespanhola, bronquite, paludismo, cistite aguda e piemia. Alguns desses documentos informam
que o motivo da morte foi: “sem assistência médica”. Ainda que os obituários não tragam especificamente a cor desses
sujeitos, encontramos indígenas, peruanos, bolivianos, barbadianos, portugueses e brasileiros nascidos no Pará,

337
Amazonas, Ceará e Rio Grande do Sul. Essa comunicação tem o objetivo de apresentar esses dados acompanhado de
um breve panorama sobre as condições de saúde em Porto Velho e no Vale do Guaporé no período indicado.

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ST 63. Reflexões sobre Tecnologia e Propriedade: dimensões históricas, econômicas e
sociais.

ST 63 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

O papel dos escravos negros na transferência de tecnologia em metalurgia para a colônia

Antonio Carlos Souza de Abrantes (Pesquisador)

Os escravos trouxeram técnicas de metalurgia, no entanto, não havia no Brasil colônia qualquer estímulo à inovação
ou transferência dessa tecnologia. A condição de escravo submetido a uma disciplina de trabalho rígido, em princípio
poderia vetar qualquer possibilidade de transferência desse conhecimento. No entanto, a existência de brechas no
sistema escravista pode ser explorada pelos negros escravizados de modo que esse conhecimento acabou, de alguma
forma, sendo incorporado à tecnologia de mineração e às práticas de ourivesaria, como na fabricação de artefatos de
metal e balangandãs. Outras forma de aproveitamento desse conhecimento foi na inserção social de tais artesãos nas
irmandades de pretos ou mesmo na organização de quilombos com a fabricação de armas. Este artigo mostra algumas
das técnicas trazidas por escravos negros na metalurgia, mineração e ourivesaria e procurar explorar em que medida
tal transferência de tecnologia pode ter se concretizado mesmo em um ambiente hostil à inovação. As técnicas
trazidas, contudo, não puderam se desenvolver, de modo que as iniciativas pioneiras da moderna siderurgia foram
baseadas na contratação de técnicos estrangeiros, ainda que para sua realização contaram com uma mão de obra
escrava que já estava familiarizada com técnicas de metalurgia, o que facilitou sua implantação.

O Efeito Costa Ribeiro: um estudo de caso sobre patentes e financiamento público sobre a pesquisa científica
nacional

Gabriel de Azevedo Maraschin

Este trabalho tem como objetivo analisar o papel que o físico brasileiro Joaquim da Costa Ribeiro teve no
desenvolvimento do campo científico a partir do resultado de sua pesquisa mais emblemática: o efeito
termodielétrico, também chamado de Efeito Costa Ribeiro. Fruto imediato das transformações da comunidade
científica brasileira a partir do foco urbano-industrial adotado para a economia nacional com início da década de 1930,
o trabalho de Costa Ribeiro lhe proporcionou o capital necessário para sua inserção em um grupo seleto de cientistas,
militares, políticos e empresários que conduziram a modernização das instituições científicas nacionais, tal como a
formação das novas gerações de cientistas e o desenvolvimento de políticas públicas de valorização da ciência, da
tecnologia, da educação e da divulgação científica. Tal como outras descobertas científicas de cunho nacional, o Efeito
Costa Ribeiro foi utilizado como ferramenta de legitimação da ciência brasileira no campo científico internacional,
tendo de enfrentar as disputas pela sua notoriedade, em virtude da concorrência de outros cientistas na descoberta
do mesmo efeito, principalmente nos EUA. Assim, não apenas a discussão sobre a importância de patentear
descobertas e invenções foi feita no âmbito do CNPq, principal instituição de fomento a partir de 1951, como também
o financiamento da continuação da pesquisa sobre o efeito termodielétrico proporcionou uma rede de pesquisa e de
sociabilidade, interconectando diferentes instituições de ensino e pesquisa e, por fim, direcionando novas linhas de

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investigação, principalmente na área de Física do Estado Sólido. Portanto, os principais pontos a serem abordados
estão na lógica da patente e do fomento em pesquisas científicas de grande vulto como forma de proteção da pesquisa
nacional para o consequente desenvolvimento do campo científico, da cultura e da economia brasileiras.

Política, tempo, normas de patentes de biotecnologia e saberes locais sobre plantas medicinais: aspectos históricos,
teóricos e sociais

Daniel França Oliveira (PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Normas internacionais de patentes de biotecnologia têm se ampliado. Embora essas dinâmicas normativas
constituam-se a partir de discursos de desenvolvimento socioeconômico, elas têm efeitos assimétricos que
marginalizam comunidades ligadas culturalmente aos saberes sobre plantas medicinais. Pode-se citar alguns pontos
de mudança normativa e histórica desses processos. Na década de 1970, tem-se a apropriação de micro-organismos
nos EUA (1980). A partir de 1994, difunde-se o Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual relativos ao Comércio.
Após 2010, emergem acordos inter-regionais que ampliam a proteção de patentes de biotecnologia (EUA, 2020,
UNIÃO EUROPEIA, 2018). A Convenção de Diversidade Biológica, de 1992, e o Protocolo de Nagoya, de 2010, também
são inflexões, que apesar de difundirem salvaguardas do saber local, não possuem enforcement e são contestadas por
comunidades locais. Estudos interdisciplinares demonstram que é possível entender criticamente os aspectos sociais
de processos legais e históricos da Propriedade Intelectual (PI), se esses forem conceituados como parte co-
constituinte de uma política do tempo, a partir da qual se constroem conceptualizações do tempo e da história, que
definem que, como e porque conhecimentos devem ser apropriados (VATS, 2021, MANDIC, 2018, FOSTER, 2016,
BOATENG, 2013, 2011, RAJAN, 2012, BIAGIOLI, 2011, AOKI, 2000, BROWN, 1998, SHIVA, 1993). Propõe-se analisar
aspectos históricos e sociais das mudanças normativas das patentes de biotecnologia na sua relação com os saberes
locais de plantas medicinais, a partir de uma discussão teórica da literatura que explora a política do tempo da PI.
Espera-se demonstrar que abordagens da política do tempo da PI revelam “barreiras temporais” (BLAINEY,
INAYATULLAH, 2010) que encobrem contradições sociais, normativas e históricas das patentes de biotecnologia, cujos
um dos efeitos são as subjugações de diferentes modos de ver e viver os saberes sobre plantas medicinais.

ST 63 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Sobre o desenho industrial e sua proteção jurídica

Eduardo Rodrigues Rio (INPI)

A proteção legal dada às formas dos objetos, desvinculada de sua função e de forma independente das legislações de
patentes ou de direito autoral, aparece pela primeira vez na França, por volta do ano de 1710, chegando
posteriormente a outras nações europeias e a suas colônias. De forma análoga, a partir da Revolução Industrial a
Inglaterra passa a assumir papel de destaque nesse campo, configurando-se como uma das genitoras do moderno
design e de sua proteção legal. Desta forma, o objetivo deste trabalho é apresentar as principais características
legislativas de proteção ao desenho industrial em ambos os países, desde sua gênese na indústria têxtil até sua
consolidação. Busca-se, ainda, traçar um paralelo com o cenário brasileiro, a partir das mudanças advindas do

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surgimento da instalação fabril no Brasil e suas consequências com relação ao desenvolvimento de um produto
tipicamente brasileiro e sua respectiva proteção legal. Para finalizar, é apresentado, resumidamente, como se
encontra hoje o “estado da arte” na proteção a esse ativo de propriedade industrial.

A participação do Brasil no sistema internacional de propriedade industrial: notas de pesquisa

Leandro Miranda Malavota (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

A propriedade intelectual constituiu um direito internacionalizado, cuja regulação é efetuada por meio de uma malha de tratados
e convenções que estabelecem padrões de normatização e obrigações recíprocas entre os países, além de sistemas internacionais
de registro, depósito e classificação. Todos esses acordos são administrados por uma estrutura de governança composta por
instâncias multilaterais e regionais. O primeiro pilar desse arcabouço jurídico-institucional foi fincado em 1883, com a ratificação
da Convenção da União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP), primeiro tratado multilateral sobre a matéria,
do qual o Brasil foi signatário original. O Acordo de Paris estabeleceu princípios e padrões mínimos de proteção a serem seguidos
por todos os países membros da União, além de criar um foro internacional permanente de discussão e deliberação sobre
assuntos concernentes à concessão, regulação e aplicação dos direitos de propriedade industrial em nível global. O presente
artigo constitui parte de uma pesquisa mais ampla — e ainda em andamento — sobre a participação do Brasil no sistema
internacional de propriedade industrial, desde a sua formação, no último quartel do Oitocentos, até o contexto atual. Pretende-
se apresentar os primeiros resultados da investigação em curso, efetuando-se um balanço geral da atuação da diplomacia
brasileira nos debates promovidos no âmbito da CUP e de seu posicionamento diante das mais importantes questões ali
levantadas, sempre à luz das estratégias e diretrizes de política externa e dos impactos do sistema de propriedade industrial sobre
o processo nacional de desenvolvimento. A análise proporcionou a identificação de quatro fases distintas na atuação do país
dentro do referido foro multilateral, apontando para a possibilidade da abertura de uma quinta fase na conjuntura do governo
de Jair Bolsonaro, caracterizada por uma significativa ruptura na chamada “diplomacia das patentes”.

O Patent Prosecution Highway: Novo modelo para uma patente mundial?

Fernando Cassibi de Souza (INPI), Diego Boschetti Musskopf (INPI)

Até a assinatura do Acordo sobre Aspectos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS), distintos
regimes coexistiam em diferentes países, resultando em razoável grau de assimetria de direitos. Após TRIPS, o mundo
mudou e abriu caminho para novas iniciativas de harmonização patentária. É neste contexto que surge o intitulado
Patent Prosecution Highway (PPH), apresentado pelos países desenvolvidos como uma modalidade de trâmite
prioritário resultante de um projeto de cooperação para o reaproveitamento dos relatórios de busca e exame de um
instituto de patentes por outro. A questão que surge no artigo é: até que ponto o PPH se constitui em um modelo para
uma patente mundial? A partir de um método histórico crítico, este artigo trabalha com a hipótese de que o PPH, em
si, não constitui uma patente mundial, mas que ele é considerado por diferentes entidades dentro do sistema
internacional de patentes como uma etapa para este fim. São apresentados quatro argumentos principais. O artigo
conclui que uma das razões para se evitar a adoção ou não do PPH, a desconfiança dos institutos de patentes, tem
caído gradativamente e que o PPH pode ser considerado um passo lento, mas firme, em um processo que caminha
rumo a um cenário de concentração de decisões de patenteabilidade em poucos institutos de patentes.

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A história recente do sistema digital público do Estado: a constante modernização do sistema informacional dos
órgãos públicos e os desafios de acesso as políticas previdenciárias pelos pescadores artesanais

Karla da Silva Sampaio

Este trabalho busca compreender e investigar o processo de informatização do Estado brasileiro. Neste contexto, a
história do tempo presente contribuirá para contar a história social da informatização do sistema público digital, com
ênfase no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Serão utilizados os conceitos de pesca artesanal, história do
tempo presente, Estado, direitos sociais e meio técnico-científico-informacional, com o objetivo de entender a
constante mudança e atualização do sistema digital público previdenciário, marcado pela aceleração da história. Entre
os sistemas digitais, será dado ênfase no Sistema de Informações Gerenciais do Regime Próprio de Previdência Social
(SIG-RPPS). Como ponto de partida, foram utilizadas e analisadas as fontes documentais da pesquisa (legislações),
levantamento e análise de fontes, relatos de experiências dos servidores públicos.Como resultado foi possível verificar
que a digitalização das informações permite que o governo tenha um controle ainda maior sobre os corpos por meio
do controle dos dados, no entanto, a constate mudança nos sistemas digitais dificulta o acesso aos direitos sociais e
as políticas públicas por motivos de falta de equipamento tecnológicos e dificuldade de acompanhamento as
constantes mudanças dos sistemas digitais, característica da intensificação dos ritmos da história nas últimas décadas.

ST 63 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

O Matadouro Público de Santa Cruz: Reflexões sobre Tecnologia e Propriedade.

Edite Moraes da Costa (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O século XIX foi marcado por importantes transformações das estruturas socioprodutivas, iniciadas com a Revolução
Newtoniana, que consolidaram uma economia baseada no conhecimento. No Brasil, tais transformações foram
impulsionadas pelo imperador D. Pedro II, através da criação de instituições voltadas para pesquisa e desenvolvimento
da produção agrícola. Assim, o Matadouro Público Industrial de Santa Cruz, passa a ser um centro de inovações
tecnológicas e científicas reunidas em uma só praça, como modelo de Modernidade para as demais municipalidades
do Império, sob o comando da Câmara Municipal. De grande valor econômico para os cofres públicos, sua construção
foi imposta pelo imperador, que trouxe tal investimento para a Imperial Fazenda de Santa Cruz, propriedade particular
da família imperial. A primeira inovação tecnológica que o Matadouro atraiu, foi a expansão da malha férrea até a
referida fazenda, para atender a sua construção e seu efetivo funcionamento após a inauguração.

As Exposições da Indústria no Brasil dos anos 1860: projeção econômica e crítica à participação brasileira

Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O artigo discute o significado econômico das exposições nacionais como parte das grandes exposições universais do
século XIX, partindo-se da participação brasileira desde 1862. Analisando-se especificamente o caso brasileiro,
objetiva-se discutir a respeito de características que se destacaram nesses eventos relacionadas aos interesses
econômicos daqueles que se projetavam nas exibições, com apoio do governo. Se propõe uma reflexão sobre a

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veiculação de um projeto nacional a partir daqueles que eram apoiados e incentivados pelo governo a representar o
Brasil nas exibições, não escapando à crítica social. Essa análise é realizada a partir das seguintes fontes: uma sátira
política publicada no periódico Semana Illustrada e dos relatórios do Júri das Exposições Nacionais da década de 1860,
respectivamente dos anos de 1861 e de 1866. Além de se destacarem os elementos críticos à participação do país nas
exposições universais, o artigo tem como objetivo mostrar também como os relatórios se constituíram em ricas fontes
de pesquisa sobre decisões econômicas adotadas pelo governo imperial.

O Privilégio Tropical: Patenteamento e Construção da Indústria Nacional de Fármacos (1873-1910)

Lucas Amaral Santana (Nenhum)

O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de formalização do setor farmacêutico nacional durante o
quartel final do século XIX e a primeira década do XX, observando as transformações dentro deste campo não somente
enquanto um capítulo importante de seu processo de formalização, mas também como um momento de disputa de
saberes entre diferentes grupos da sociedade brasileira. Pois falar em conhecimento fármaco-medicinal durante os
oitocentos no Brasil é falar da transformação de um saber até então popular e empírico num conhecimento que
buscava cada vez mais rigor e respaldo técnico-científico. Para realizar tal debate contarei com o auxílio dos pedidos
de patentes disponíveis no Fundo de Privilégio Industriais do Arquivo Nacional. Este por sua vez contribuí de forma
singular para o estudo, fornecendo uma janela para este momento em que o patenteamento assumiu um papel
estratégico como engrenagem fundamental no desenvolvimento da indústria, atingindo relevância ainda maior no
Brasil após a Nova Lei de Patentes de 1882. Desta forma, através do levantamento de dados fornecidos pela
documentação pretendemos também traçar um perfil deste setor no quartel final dos oitocentos. Ao analisar o que
estava sendo patenteado, a descrição da composição dos produtos e o quantidade de pedidos submetidos
anualmente, podemos ilustrar as características únicas deste segmento industrial durante seu árduo e disputado
processo de institucionalização.

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ST 64. Religiões e Religiosidades no império português entre os séculos XVI e XIX

ST 64 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

Feiticeiras nas Minas Gerais: práticas mágicas, religiosidade e cotidiano social feminino (1713-1808)

Letícia Maia Dias

Ao longo de toda a história do Brasil colônia, a Igreja com o apoio da Monarquia portuguesa, buscou moralizar e
regular os comportamentos, ações e costumes dos habitantes coloniais em conformidade com os preceitos e
normativas da fé católica. Em vista disso, a Inquisição (1536-1821) e os Bispados consolidaram-se como instrumentos
de enraizamento e vigilância do catolicismo na sociedade colonial, combatendo os pecados e heresias praticadas nas
diversas localidades da América portuguesa, fato que não foi diferente no que se refere a Minas Gerais. Mediante às
especificidades de sua formação e povoamento, que evidenciava uma grande heterogeneidade social e cultural, o
catolicismo foi essencial na tentativa de estruturar a religiosidade local e exercer um maior controle da população . E,
embora não tenha havido uma visitação do Santo Ofício na capitania das Gerais, ele se fez presente por meio da ação
dos comissários, notários e familiares e das visitas eclesiásticas realizadas pelas autoridades do clero local. Logo, este
trabalho enquanto resultado do meu projeto de pesquisa de doutorado que ainda se encontra em seus primórdios, se
concentra essencialmente no decorrer do século XVIII e início do XIX, período que nos permite perceber melhor as
particularidades da formação histórica, cultural e social mineira. Assim, abordaremos as mulheres acusadas de
desenvolver práticas mágicas ligadas à adivinhação, cura, proteção, sortilégios, pacto diabólico e a esfera das
afetividades. Portanto, ao considerarmos a feitiçaria como um fenômeno que adquire os contornos específicos da
sociedade na qual se apresenta, a incidência das mulheres neste delito constitui um importante parâmetro de análise
da religiosidade e do cotidiano sociocultural feminino nas Minas setecentistas.

Pacto com demônios: as concepções demonológicas na Inquisição de Coimbra (1720-1740)

Elson Cerqueira da silva júnior

Esta trabalho tem dois objetivos, a primeiro delas foi através da pesquisa quantitativa, em que fiz um levantamento
no site do Arquivo Nacional da torre do Tombo - ANTT acerca de pessoas acusadas de terem praticado pacto com
Demônios, construir um banco de dados e com as informações encontradas no site já mencionado e partir disto foram
formadas tabelas com o perfil social de cada acusado e acusada que encontremos entre os anos 1720-1740. O segundo
objetivo é a análise de um processo de uma acusada de ter praticado pacto com o demônio em Portugal, mais
especificamente na região Mairos, Bispado de Mirando sob tutela da Inquisição de Coimbra, por fim, neste segundo
momento nos dedicamos ao processo inquisitorial e suas conexões com o demonológico, neste sentido, deve ser
levado em consideração e compreendido que esse processo aqui estudado já foi produzido no período em que o
pensamento demonológico já estava arraigada nas classes populares e isso não só influenciou no processo, como
também a própria sociedade da época que já era enviesada nesta direção.

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Proposições heréticas na era das Luzes e das Revoluções (América Portuguesa, 1770-1821)

Rossana Agostinho Nunes (PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAÉ)

Este trabalho pretende analisar as proposições heréticas enunciadas na América Portuguesa entre 1770, década
marcada por importantes reformas régias que repercutiram em todo império, e 1821, data da extinção do tribunal da
Inquisição e de intensos debates na América Portuguesa. Os casos consultados cobrem todo o espaço colonial e a
pesquisa teve como pano de fundo uma pergunta central: como os Brasis se inseriram na Era da Luzes e das Revoluções
Atlânticas? Ou seja, de que forma e em que medida as novas atitudes perante o mundo e o além-mundo, as notícias
sobre os eventos políticos revolucionários, o saber científico, o conteúdo de livros proibidos ou mesmo das reformas
políticas, educacionais e teológicas conduzidas pela Coroa Portuguesa ao longo do século XVIII invadiram conversas
cotidianas, gerando rumores, discussões e atitudes em solo colonial? Quem falava e sobre o quê? Existiram variações
regionais nos discursos proferidos? Subjacente a todas essas questões reside um ponto fundamental que nos direciona
para o universo das relações políticas e sociais tecidas localmente em torno das palavras proferidas, o que, por um
lado, ajuda a tornar mais complexa nossa compreensão do léxico político disponível na América Portuguesa e, por
outro, permite discorrer sobre as mudanças que estavam ocorrendo nas práticas devocionais dos fiéis.

“Não me levo de paixão em dar estas denúncias”: Saião ao serviço da Inquisição. Minas, séculos XVIII e XIX.

Juliana Aparecida Leopoldino Lúcio

O presente trabalho tem por objetivo compreender a ação do Santo Ofício em Minas Gerais a partir da colaboração
dos “agentes da fé” não habilitados nos quadros institucionais do Tribunal de Lisboa. Para tanto, recorreremos a
análise de um estudo de caso, sobre o padre João Luiz de Sousa Saião, que nos anos finais do século XVIII e início do
XIX se destacou nessa função. Responsável pelo envio de 167 denúncias para o Tribunal Inquisitorial, mostrou-se um
eficiente colaborador do Santo Ofício, sobretudo no que diz respeito às denúncias contra moradores de Minas, sem
ser de fato um agente habilitado pela Inquisição. Natural de Vila Rica, Saião estudou direito canônico na Universidade
de Coimbra. Ao retornar para Minas, por decreto régio, ocupou logo a cadeira de tesoureiro-mor do Cabido de
Mariana, um dos cargos mais altos dentro da instituição. Foi neste momento que a trajetória de Saião cruzou com a
Inquisição portuguesa. Após entrar para o cabido diocesano, sendo parte da alta hierarquia eclesiástica do Bispado de
Minas Gerais, Saião iniciou uma série de delações ao Santo Ofício. Sua colaboração se expressou de forma singular,
num momento muito particular da história da Inquisição, que já havia passado pelas reformas pombalinas e caminhava
para o seu fim. Mesmo que as denúncias não tenham finalizado em processos, são muito significativas para pensarmos
nas formas de atuação e enraizamento do Tribunal do Santo Ofício na América portuguesa.

ST 64 - 20/10 - Quarta-feira (16:00 às 18:00)

Entre a norma e a desobediência: os familiares do Santo Ofício e a resistência ao recrutamento militar (Rio de
Janeiro, século XVIII)

Roberta Cristina da Silva Cruz

O presente trabalho tem como objetivo examinar a resistência dos familiares do Santo Ofício residentes no Rio de
Janeiro setecentista em comparecerem aos exercícios militares. O Rio foi a capitania que recebeu o maior número de

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habilitações ao título de familiar durante o século XVIII em relação ao restante da América portuguesa. O receio de
invasões e a resistência dos agentes ao exercício militar foi uma preocupação constante das autoridades locais do Rio.
Tal questão gerou diversos conflitos entre eles (em conjunto com os moedeiros) e os governantes ao longo do período
analisado. Os agentes inquisitoriais buscaram pleitear que seus privilégios fossem usufruídos até mesmo pelos agentes
que não tinham direito. Por esse motivo, analisar-se-á a relação entre a norma e a prática quanto à aplicação da regra
dos “familiares do número”, ou seja, aqueles que poderiam desfrutar dos privilégios. Por investigarmos o
cumprimento ou não das normas impostas, serão destacadas as vantagens que a insígnia poderia oferecer aos
membros da Confraria de São Pedro Mártir e como foram utilizadas para reivindicarem o que lhes fosse conveniente
de acordo com seus interesses. As fontes examinadas estão depositadas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e no Arquivo Histórico Ultramarino.

A categorização dos sujeitos e o disciplinamento no Bispado do Maranhão setecentista

Rafael de Lima Ribeiro (J. Lima Fregapani Eireli - Escolas IDAAM)

A comunicação propõe analisar, a partir das devassas de visitas episcopais, os mecanismos de vigilância e controle
social em espacialidades correspondentes ao Bispado do Maranhão no século XVIII. Sendo assim, essa pesquisa buscou
contextualizar as normativas para realização das visitas no Maranhão colonial, apresentar as sentenças disciplinadoras
aos denunciados nas devassas de visita e discutir os registros contidos nos termos de culpa das visitas. Os resultados
evidenciaram que as visitas episcopais foram um mecanismo de vigilância, disciplina e controle, que exerceu influência
impositiva sobre os fregueses que, por sua vez, reproduziram essas normatividades. Ao aplicarmos essas ideias ao
papel desempenhado pela Igreja, conseguimos identificar essas relações de poder por meio dos seus dispositivos,
assim como pelos mecanismos complementares de controle sobre os indivíduos no Brasil colonial. Essa relação de
poder foi aplicada ao cotidiano das pessoas, categorizando os indivíduos em disciplinados e indisciplinados, os que
seguiam os preceitos da igreja e os desviados.

Não havia orações para Deus: A negação da figura divina por uma Clarissa portuguesa ( 1718)

Andressa Guimarães Barbosa

Em 25 de abril de 1718, Joanna Maria de Nazaré – de dezoito ou dezenove anos, religiosa professa na primeira regra
de Santa Clara, no convento das Clarissas de Alcântara em Lisboa – escreveu uma carta ao Tribunal do Santo Oficio de
Lisboa, nela a religiosa confessava alguns dos pecados contra a fé que teria cometido. Essa carta da inicio a passagem
de Joanna pela mesa inquisitorial onde foi julgada em duas ocasiões por delitos de heresia e feitiçaria. Enquanto
passava pelos processos de exame de consciência, Joanna declarou que em uma ocasião, estando na companhia de
uma irmã religiosa que fazia vários elogios a figura divina, acabou por dizer a ela que não acreditava que existisse
Deus. A partir dessa confissão a religiosa passa a apresentar a inquisição variadas ideias sobre a figura de Deus e seu
papel na religião católica. De sua visão particular ela expõem várias questões sobre a trindade, o céu, o inferno e a
imortalidade da alma, criando e recriando concepções religiosas, enquanto prossegue seu processo. Neste trabalho
propomos falar sobre as ideias que Joanna apresentou sobre o divino, em uma tentativa de analisar a construção que
a religiosa faz da figura de Deus e da santidade católica, e o papel da Inquisição, enquanto tribunal de disciplinamento,
na construção e desconstrução dessas ideias.

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Espiritualidade clariana nos impérios Ibéricos, séculos XVI e XVII.

Igor Santiago Costa (UFBA - Universidade Federal da Bahia)

No ano de 1634 foi fundado na Cidade do Nome de Deus de Macau um convento do ramo feminino franciscano, tendo
como principal fundadora a toledense Madre Leonor de São Francisco (1583-1651). Sobre ela, suas companheiras de
fundação e cerca de quarenta outras religiosas, foi escrito em finais do século XVII um memorial narrando suas vidas
e práticas devocionais. Vivendo em um momento de florescimento de vivências robustas e exacerbadas da
religiosidade católica, essas mulheres constituíram um espaço religioso de grande prestígio e que carregava traços
específicos da espiritualidade clariana em voga na época. Desse modo, com base nesse memorial e em outros escritos
da OFM que tratam desta e de outras casas monásticas fundadas no reino e em suas conquistas, a presente
comunicação investiga as formas pelas quais as religiosas da Ordem de Santa Clara se organizaram em matéria de
vivência espiritual no mundo Ibérico moderno. Atentando para traços e correntes místicas e ascéticas nessas "vitae",
analisaremos os "tópos" agenciados pela historiografia franciscana do período e como eles se coadunavam com a
defesa do ramo observante da Ordem. Além disso, entendendo as motivações e implicações que emergem dessas
narrativas, buscamos conjecturar o teor doutrinante incutido nesses escritos e como eles modelaram perfis ideais para
a conduta religiosa feminina, mas também como estas receberam, aplicaram e reformularam essas prescrições.

ST 64 - 21/10 - Quinta-feira (13:30 às 15:30)

A Nunciatura de Portugal na defesa da jurisdição eclesiástica (1573-1578)

João Nunes (Instituto Politécnico de Viseu)

Com esta comunicação pretende-se analisar e discutir a ação da Nunciatura de Portugal, no decurso da maioridade do
rei D. Sebastião, matéria que não tem sido suficientemente explorada pela historiografia. Foram anos de graves
dissensões entre a jurisdição eclesiástica e os poderes seculares em Portugal, motivados pela intervenção sistemática
dos juízes seculares em matérias eclesiásticas. A Nunciatura teve papel ativo na defesa da jurisdição da Igreja. Era um
importante instrumento do poder pontifício, quer em matérias eclesiásticas, quer religiosas. As estratégias utilizadas
passavam por concitar o apoio político, do monarca e de importantes figuras próximas do monarca, por forma a
inclinar o poder régio para a defesa das posições da Igreja. Passavam, igualmente, por buscar a unidade da Igreja
portuguesa, sobretudo das principais figuras da hierarquia da instituição, nomeadamente os bispos, na defesa do foro
eclesiástico. Contudo, pese embora os esforços diplomáticos, os resultados não foram os mais esperados na perspetiva
da Nunciatura. O rei não se imiscuiu nos conflitos. As divisões não foram sanadas. Assim, os conflitos entre jurisdições
não foram resolvidos. Ao invés, acabaram por se tornar endémicos ao longo de toda a Idade Moderna.

O clero secular e as instâncias de poder: sobre o perfil e o recrutamento de párocos no extremo sul da América
portuguesa no século XVIII.

Rafaela Zanotto Casagrande

Este trabalho aspira tratar, alicerçado em nossa pesquisa de mestrado, de alguns aspectos da composição e do
recrutamento do clero paroquial no Rio Grande de São Pedro no século XVIII. Em primeiro lugar, com base em uma
investigação prosopográfica, vamos identificar o perfil dos párocos de três freguesias investigadas por nós – Rio

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Grande, Rio Pardo e Santo Amaro. Neste ponto, vamos debater sobre as características biográficas individuais e
familiares do grupo, como naturalidade, idade, instrução, composição familiar, perfil socioeconômico e experiência
profissional. Assim, a partir do conhecimento destes agentes e da análise das alterações do seu perfil ao longo do
setecentos, sinalizaremos as diversas conjunturas e instâncias – Igreja, Coroa, poderes locais, legislação, indivíduo e
família – que constatamos marcar as trajetórias e as dinâmicas de recrutamento do clero secular nessa região.
Privilegiaremos, neste ponto, aprofundar a análise na atuação de agentes externos, mais precisamente na ação do
poder local e na sua relação com os poderes centrais – Coroa e bispado –, com um estudo de caso sobre a ordenação
de “naturais” ou “compatriotas” do Continente de São Pedro no último quartel do século XVIII. Em suma, visamos
discutir as relações entre a Igreja, o Estado e os súditos no que diz ao provisionamento de postos da administração
paroquial, contribuindo com outras perspectivas sobre modos e estratégias de territorialização e consolidação do
poder luso no extremo sul da América portuguesa.

“Se não tivesse intervindo, sem dúvida seria ocupada pelos hereges”: o bispado da Bahia na guerra contra os
holandeses

João Guilherme Veloso Andrade dos Santos

Esta comunicação tem por objetivo discutir duas visitas ad limina do bispo da Bahia D. Pedro da Silva de Sampaio
(1634-1649). Como instrumento fundamental de uma tentativa de maior controle de Roma sobre a atuação do
episcopado, ainda mais ao tratar-se de uma diocese ultramarina, mais distante de Roma, instituída e governada no
âmbito do Padroado Régio, as visitas ad limina podem iluminar análises sobre a atuação episcopal na defesa e
ampliação do catolicismo, às quais estava intimamente ligado o enraizamento do poderio português no Império. Pedro
da Silva de Sampaio era um religioso de carreira, chegou a fazer parte da hierarquia inquisitorial antes de embarcar
rumo a Salvador. Ao chegar à Bahia encontra um bispado mutilado pela guerra contra os holandeses, chegou a
presenciar a investida nassoviana contra a capital da América Portuguesa, na qual teve importante papel defensivo a
partir de sua mitra diocesana. Dessa forma, as visitas ad limina do bispo revelam o esforço de afirmação da autoridade
episcopal e defesa da Igreja de Roma em um contexto de guerra contra um inimigo herege e de instabilidade política
no Reino, o que acaba ecoando no outro lado do Atlântico. A prelatura de Pedro da Silva é um braço do Império
português e da Igreja católica no ultramar.

Uma reflexão sobre a intelectualidade católica: tradição e modernidade em Maistre (1753-1821), Bonald (1754-
1840) e Donoso Cortés (1809-1853)

Roney Marcos Pavani (IFES - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo)

Nosso trabalho procura fazer uma reflexão sobre as especificidades da intelectualidade católica europeia do século
XIX, reativa ao projeto das Luzes e da Revolução Francesa. Temos como objeto as ideias elementares dos autores
franceses Joseph de Maistre (1753-1821) e Louis de Bonald (1754-1840), bem como, e com maior ênfase, do pensador
espanhol Juan Donoso Cortés (1809-1853). Embora existam semelhanças evidentes nas ideias dos três intelectuais,
não é conveniente considerá-los como um bloco homogêneo, à semelhança do que é feito por uma historiografia mais
clássica. As particularidades e divergências no pensamento dos autores podem ser observadas, primeiramente, a partir
de suas concepções sobre o papel da razão e da lógica no homem - desde totalmente inócuas a relativamente

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importantes. O mesmo se dá no que tange às relações indivíduo versus sociedade, ou no trato conferido aos dogmas
católicos. Em outras palavras, Donoso, diferentemente dos demais, utiliza-se de valores essencialmente modernos,
ainda que para combater essa mesma modernidade: a noção linear e universal de História, uma ideia mista de
progresso (moral e material), o papel não necessariamente positivo conferido à Idade Média, dentre outros. Se para
Maistre e Bonald a modernidade representa decadência, para Donoso, esse juízo de valor não é tão claro. Isso, por
fim, pode ser observado pela forma como o autor atravessa sutilmente os conceitos de "Estado laico" e "cultura laica",
o que seus congêneres não fazem.

ST 64 - 21/10 - Quinta-feira (16:00 às 18:00)

Batismos solenes em Goa: suntuosidade para conversão do gentio (século XVI)

Felipe Augusto Fernandes Borges (IFPR - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná), Elenice Alves
Dias Borges (UEM - Universidade Estadual de Maringá)

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre um aspecto da religiosidade em Goa, as suntuosas cerimônias de
batismo, que denominamos batismos solenes. Conquistada pelos portugueses em 1510, Goa se tornou a sede
administrativa e religiosa do Estado da Índia. Nossas fontes são documentos do século XVI, contidos nos volumes I, II,
III e IV da Documenta Indica, organizada por Joseph Wicki. Foi realizado um levantamento a respeito destes batismos
solenes na documentação citada, que foi analisada de forma a se pensar o fenômeno das festas religiosas. Apoiamo-
nos, ainda em numa extensa historiografia pertinente ao Estado da Índia no século XVI. Compreendemos que a
suntuosidade dos batismos solenes apontava para os benefícios de se fazer cristão no Estado da Índia. Batismos de
figuras importantes das sociedades locais eram revestidos de suntuosidade e de festejos, a fim de demonstrar o
poderio cristão e as honras destinadas aos convertidos. Assim, os batismos solenes eram mecanismos utilizados para
encorajar conversões nas populações locais.

Francos desgraçados: hostilidade religiosa anti-islâmica no Império Português no olhar das crônicas árabes do século
XVI

Gabriel Mathias Soares

A forte presença muçulmana pelas águas e orlas do Oceano Índico apresentavam um desafio para imposição de um
domínio português, obstruindo os desígnios comerciais e religiosos dessa empreitada. Além de buscar o controle das
rotas das especiarias do Oriente, a Coroa de Portugal tentava no início do século XVI consolidar alianças com reinos
cristãos semi-mitológicos, expandir a fé cristã e a unificar a Cristandade frente o Islã. As marcas desse processo não
estão apenas em arquivos europeus, nas narrativas em português e nas correspondências oficiais. A hostilidade anti-
islâmica dos portugueses foi registrada em narrativas de letrados muçulmanos em várias regiões conquistadas,
atacadas e de outras maneiras afetadas pelas explorações e conquistas portugueses. O olhar das crônicas árabes do
século XVI fornecem uma perspectiva antagônica à oficial do dilema da alteridade religiosa no Império Português numa
ampla região onde não só o cristianismo era minoritário, mas onde a religião cada vez mais hegemônica era o Islã. A

349
análise desse processo por essa documentação historiográfica árabe também contribui para compreensão de uma
Alta Idade Moderna muito mais multicêntrica, não apenas uma extensão da História Europeia.

A construção do ideário missionário na Índia Meridional na primeira metade do século XVI

Gustavo Nascimento Rocha Dias (Pré-Vestibular Social da Juventude)

Essa pesquisa procurou analisar os discursos para a conversão e missionação na Ásia portuguesa, sobretudo para
identificar suas influências, similaridades e diferenças. Através da comparação, principalmente entre as personagens
Miguel Vaz e Francisco Xavier, mas não apenas, busquei demonstrar como a primeira metade do século XVI foi
importante para a organização, sistematização e implementação das políticas para a conversão. Para isso tentei
compreender como: a conjuntura dos agentes eclesiásticos que foram para a Índia portuguesa e seus arredores
influenciou no desenvolvimento de suas ações; o desenvolvimento da temática da conversão no processo histórico do
próprio Cristianismo latino impactou o quadro da evangelização; a conversão foi incorporada no processo imperial
português, com o propósito de construir uma nova identidade para seus súditos. Portanto, esse trabalho é um esforço
em identificar e analisar, em parte, as experiências que fundaram o ideário das missões asiáticas portuguesas.

“Castelhanos” e “portugueses” nos vilancicos de Reis do século XVII

Laís Morgado Marcoje

O presente trabalho pretende analisar como foi construída a imagem de “castelhanos” e “portugueses” a partir de
vilancicos de Reis entoados na Capela Real portuguesa durante a Restauração de 1640. Os vilancicos são um gênero
poético musical, característico da Península Ibérica. Tem-se como hipótese a de que os vilancicos foram um possível
meio de construção de um sentimento comum entre os súditos do novo rei, d. João IV. Para isso, será necessário
regressar um pouco temporalmente para trabalharmos a questão da fronteira. Fronteira aqui é um termo alegórico
para delinear as “diferenças” entre os dois reinos. Desse modo, pensamos a fronteira além do campo territorial, ou
seja, fronteiras linguísticas e culturais serão o foco da análise, mas considerando é claro o debate acerca de fronteira
territorial. Portugal e Espanha compuseram uma monarquia dual durante os anos de 1558 e 1640. No entanto, cabe
discutirmos a noção de fronteira para vermos a complexidade da ideia e como podemos usar o termo para a questão
da língua e identidade de cada reinado.

350
ST 65. Religiões, Religiosidades e a História do Tempo Presente no Brasil

ST 65 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

A Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro e a Sua Posição Irradiadora: uma análise panorâmica das missões batistas
no Rio de Janeiro (1884-1910).

Álvaro Ramon Ramos Oliveira (PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

A Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro foi fundada em agosto de 1884 através dos trabalhos evangelísticos do
reverendo William Buck Bagby. Implantada na Rua do Santana (região central da antiga capital federal). Em 1928 essa
comunidade religiosa foi transferida para Rua Frei Caneca, ao pé do atual Morro do São Carlos. Tal mudança trouxe
impactos diretos para a sua composição. A partir da segunda metade da década de 1920 foi possível constatar, com
maior intensidade, a entrada de imigrantes pobres, costureiras, operários, negros e domésticas para as fileiras da
igreja. Certamente, esse novo espaço possibilitou um maior relacionamento da instituição com as classes subalternas.
Curiosamente, foi justamente nesta época que essa comunidade religiosa se afirmou em sua posição irradiadora na
implantação da fé batista no Brasil. Em linhas gerais, ela se notabilizou por capacitar e enviar os seus fiéis para a
fundação de novas igrejas (dentro e fora da capital), receber e hospedar missionários norte-americanos e proporcionar
os subsídios necessários para a construção da estrutura denominacional. Desse modo, pretende-se aqui situar
historicamente a “capitalidade” da PIBRJ e problematizar a expansão da fé batista através das iniciativas dessa
comunidade religiosa.

Silas Malafaia: agente religioso para além do sagrado, do segundo governo Dilma à ascensão de Bolsonaro.

Stella Fátima Coelho Garrido (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A presente apresentação busca elucubrar a relação de Silas Malafaia, como líder evangélico, e o discurso de uma nova
direita que apoiou a ascensão do bolsonarismo, se valendo de argumentos como marxismo cultural, ideologia de
gênero e ataque às pautas de costume que colocam a família tradicional em risco. Uma dinâmica discursiva travada
na arena da religião e da política, que tem como momento histórico o ano de 2016, com o impedimento da presidente
Dilma, até a eleição do candidato do PSL em 2018. Para pensar nesse processo político por meio das bases teóricas
historiográficas, iremos recorrer à História do Tempo Presente, como um processo para entender as demandas
produzidas nesse curto espaço de tempo. Para notar a maneira que Malafaia constrói a relação com o poder no
período citado, iremos utilizar como corpus documental as suas postagens nas redes sociais para analisar como ele se
coloca em uma posição de ataque em relação ao PT e as esquerdas, criando um discurso que demoniza tal espectro
político, usando assim uma visão maniqueísta para exaltar a direita, sacralizando-a e a colocando como uma opção
para além da política. Tal dinâmica faz com que o pastor se aproxime mais de Bolsonaro, dando apoio e suporte no
meio evangélico para que o então deputado ganhe notoriedade e se fortaleça com as bases religiosas, usando as
pautas de costumes, bandeiras da Frente Parlamentar Evangélica.

351
Michel de Certeau e a Ditadura Militar Brasileira

Eduardo Gusmão de Quadros (Universidade Estadual de Goiás)

O historiador e jesuíta Michel de Certeau esteve no Brasil em 1967, ficando empolgando com a renovação do
catolicismo que testemunhou - um "enorme laboratório de novas experiências eclesiais - e, ao mesmo tempo,
preocupado com o sistema repressivo implantado pelo golpe civil-militar de 1964. Em 1969, ele publicou um texto na
França, intitulado Os cristãos e a ditadura militar no Brasil, no qual analisa a recente história política e religiosa
brasileira. Esse artigo não deixa, também, de ser uma forte denúncia das perseguições que os movimentos sociais
estavam sofrendo, do rápido silenciamento das vozes críticas e da perseguição tanto aos movimentos da Ação Católica
quanto dos intelectuais leigos. Nessa comunicação, faremos uma análise das noções que apresenta no artigo, dos
paradoxos do poder militar que, para ele, anularia as bases da vida política e formaria uma sociedade de laços frágeis,
excluindo mais da metade da população. Concluímos debatendo a necessária relação entre história e ética que
subsidia seu texto, pois o relato feito trouxe, a nosso ver, implicações nas noções teóricas da historiografia que
elaborou e difundiu na década seguinte.

ST 65 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

A identidade batista brasileira vista pela estrutura de trabalho em uma igreja local na década de 1960

Vitor Hugo Quima Corrêa (Colégio e Curso Aplicação - Vila Militar)

O presente trabalho integra uma série de reflexões feitas na pesquisa "Entre mudanças e permanências: o jogo das
identidades na Primeira Igreja Batista em Chatuba (1998-2008)", que ainda está em andamento. Antes de analisarmos
as mudanças na identidade batista brasileira na virada do século XX para o XXI, foi necessário identificarmos o que era
entendido como identidade padrão de uma igreja batista. O presente trabalho pretende-se apresentar como a forma
de trabalho de uma igreja é um elemento importante dessa identidade e como esse padrão de trabalho foi construído
no Brasil na década de 1960 a partir de forte influência de missionários estadunidenses da Southern Baptist
Convention que ocupavam cargos estratégicos dentro da Junta de Escolas Dominicais e Mocidade da Convenção
Batista Brasileira. Como arcabouço teórico utilizamos a analise organizacional proposta por Roger Haight em sua obra
"A comunidade cristã na história" e as considerações sobre identidade feitas por Tomaz Tadeu da Silva em "Identidade
e diferença".

UM DILEMA PARA A HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE: restrições impostas pela covid 19 nas Comunidades de
Terreiro em São Luís-MA.

Maria da Graça Reis Cardoso (UFMA)

A presente pesquisa pretende contribuir com reflexões acerca da História do Tempo presente no que tange, a questões
que estão postas na atualidade em virtude da pandemia do covid 19. É inegável que o evento da covid 19 gerou numa
perspectiva planetária impactos de toda natureza, que vão do aprofundamento das desigualdades generalizadas até
a morte imensurável de pessoas em todo o mundo. Visto nestes termos, as religiões de Matriz Africana conhecidas

352
como Comunidades de Terreiro, sofreram grandes impactos advindos da Covid 19, que influenciaram suas práticas
religiosas quase na totalidade, convém mencionar que essas comunidades tiveram grandes perdas de seus membros.
Diante da importância desse evento indaga-se como as comunidades de terreiro ressignificaram suas práticas,
principalmente no que diz respeito aos rituais de desligamentos desses religiosos da vida terrena? Na busca dos
resultados utilizou-se recursos da História Oral, instrumentos válidos para a compreensão da História do Tempo
Presente e também pesquisa bibliográfica que norteia todo o estudo. Para essas comunidades a morte, tem um valor
simbólico no campo do sagrado, durante a pandemia, tais práticas foram cerceadas por conta do distanciamento social
necessário para a preservação da vida. Sublinha-se que a presente pesquisa encontra-se em construção, mostrando
assim resultados parciais.

O Jubileu de 250 anos de Aparecida e o governo Costa e Silva (1967)

Mathews Nunes Mathias (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Este trabalho tem como objetivo compreender as complexas relações que o Santuário Nacional de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida manteve com os primeiros governos da ditadura civil-militar a partir da festa do Jubileu de 250
anos de Aparecida celebrada em 1967. Considerando que a figura de Nossa Senhora Aparecida foi muito mobilizada
pelas direitas no contexto de radicalização política anterior ao golpe de 1964 e nas Marchas da Família com Deus pela
Liberdade, esta pesquisa também busca compreender os sentidos patrióticos que a imagem da Padroeira do Brasil
assumiu não só para os segmentos sociais que apoiaram o golpe civil-militar, mas também para grupos mais amplos
que veneravam a santa. Nesse sentido, as peregrinações da imagem da santa por todo o Brasil entre 1965 e 1966, a
pedido do marechal Castello Branco, e a festa do Jubileu de 250 anos de Aparecida em 1967, com a participação do
presidente Costa e Silva, são entendidas como elementos de manutenção do diálogo não somente entre a Igreja
Católica e o regime, mas também entre a ditadura e a sociedade, que mesmo nos períodos de maior repressão,
manteve a sua fé no Brasil do futuro e renovou o consenso em torno dos governos militares. Assim, tomando o
consentimento como uma das expressões da relação entre o governo Costa e Silva e a grande massa de fiéis que
participou ativamente do Jubileu, buscamos compreender o significado das celebrações dos 250 anos de Aparecida
para a ditadura em 1967 e a sua importância para a renovação do consenso em torno do regime. Além disso,
pretendemos propor algumas reflexões sobre os revezes da memória sobre a festa no tempo presente a partir do
episódio da romaria o A romaria à Aparecida por Lula Livre e pela paz no Brasil realizada em 20 de maio de 2018.

ST 65 - 19/10 - Terça-feira (13:30 às 15:30)

MULHERES NO ESPAÇO RELIGIOSO CATÓLICO: A concepção religiosa das Irmãs Franciscanas de Santo Antônio de
Pádua no médio sertão de Alagoas

Derllânio Telecio da Silva (Escolinha Alegria do Saber)

Este estudo se fundamenta no conjunto de investigações pertinentes as Irmãs Franciscanas de Santo Antônio de Pádua
(IFSAP) elucidando particularidades da vida feminina e concepção religiosa na Igreja Católica Apostólica Romana. Desta
forma, a pesquisa inclui a análise das formas de relacionamento das freiras europeias com os sujeitos sertanejos,

353
analisando como se manifestam as questões do sagrado, bem como as interações das religiosas com a esfera pública,
iniciativa privada e órgãos do terceiro setor. É o fio condutor desta pesquisa, detectar as possíveis influências religiosas
trazidas para os municípios sertanejos de Pão de Açúcar, Palestina e São José da Tapera. Haja vista isto, serão
analisadas as práticas pastorais das freiras, tais como o conceito da congregação de “missão”, as formas de
catequização, a aplicação dos trabalhos missionários, além de outras. Serão utilizados como fontes na pesquisa
documentos concedidos pela Diocese de Palmeira dos Índios-AL. Além disso, serão realizadas entrevistas com o
público assistido pelos trabalhos das missionárias. Espera-se com esta pesquisa, identificar elementos específicos
inerentes ao catolicismo e as suas implicações para âmbito sociocultural do médio sertão de Alagoas.

Iemanjá, desperta: uma análise das Festas de Iemanjá do Mercadão de Madureira na gestão Crivella

Jonatan da Silva Alves Firmino (IFMA - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão)

Este trabalho busca levantar reflexões sobre os impactos concretos das políticas públicas e dos atos municipais da
Prefeitura do Rio de Janeiro, durante a gestão de Marcelo Crivella (de 2017 a 2020), no que dizem respeito à
preservação e ao incentivo às festas de Iemanjá realizadas pelo Mercadão de Madureira. O Mercadão de Madureira é
um importante centro de comércio popular localizado no bairro de Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro. Seus
comerciantes promovem anualmente a festividade em homenagem ao orixá desde 2002, em agradecimento pela
reconstrução do espaço, após um grande incêndio ocorrido em 2000. Tradicionalmente, a Festa de Iemanjá era
composta por uma grande carreata que percorria o trajeto de Madureira, no subúrbio da cidade, até Copacabana, na
zona sul. Ao chegar à praia, a comemoração se dava com cânticos e danças e finalizada com a entrega no mar do barco
de Iemanjá, patrocinado pelos comerciantes, e das muitas oferendas entregues pelos participantes. Já a partir do
primeiro ano de mandato do então prefeito Marcelo Crivella, os organizadores do evento passaram a enfrentar
dificuldades de várias ordens para sua realização. Em 2019, no auge dos conflitos com a prefeitura, a festa não recebeu
o alvará que permitiria sua realização nas ruas da cidade, de tal modo que, pela primeira vez, não houve carreata e a
festa aconteceu dentro das instalações do mercadão. Ao registrar o desenvolvimento da Festa de Iemanjá, ao longo
desses quatro anos, mais do que quantitativamente, esta investigação pretende apontar questões sobre políticas
públicas no Rio de Janeiro, representatividade e visibilidade das culturas e religiões de matrizes africanas e a ocupação
de espaços públicos por seus adeptos. Dadas as condições em que ocorreram, esta pesquisa visa a apresentar desafios
encontrados na manutenção das sociabilidades construídas a partir dessas festas e os conflitos surgidos nas relações
entre seus participantes, o poder público e o espaço da cidade.

Um breve debate teórico acerca da intolerância religiosa e a construção da tolerância

Joice Viviane Silva (Secretaria de Estado da Educação)

A despeito de época, modernização ou letramento dos povos, a intolerância religiosa se fez presente em diversas
ocasiões provocando tortura, extermínio e assassinato de pessoas, simplesmente por essas pessoas desejarem exercer
em liberdade suas práticas religiosas. A discussão em torno da intolerância religiosa abrange inúmeros conceitos,
desde a dicotomia intolerância/tolerância, passando pela liberdade religiosa, diversidade, pluralismo, laicização, até
respeito e justiça. Portanto, mesmo que se pontuasse cada um desses conceitos e os relacionasse com a intolerância
religiosa, ainda assim não seria suficiente para explanar de forma satisfatória todos os aspectos que o tema exige.

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Portanto, neste texto buscarei apresentar algumas percepções de pesquisadores provenientes de diversas disciplinas
que examinaram o tema, este, o qual o debate se faz tão urgente quanto necessário. Para situar historicamente o
debate acerca da intolerância e tolerância religiosa, utilizei apontamentos de Jaqueline Romilly e Jacques LeGoff, que
trazem respectivamente uma noção de como esse conceito era visto na tradição grega e na Idade Média. E também
recorri aos escritos de John Locke, filósofo do século XVII, em busca de corroboração para entender o conceito de
intolerância. Para analisar o conceito de intolerância recorri a alguns autores que fizeram parte do Foro Internacional
Sobre a Intolerância, que ocorreu em março de 1997 na França, que resultou na organização da obra A Intolerância,
organizada pela Academia Universal das Culturas, que através de Elie Wiesel, destacou a necessidade do volume,
afirmando que “A intolerância não para de crescer em todo o mundo.” Entre esses autores, serão ressaltadas as
colocações de Wole Soynka, Elie Wiesel, Umberto Eco, Françoise Hérietier e principalmente de Paul Ricouer. Para fazer
um contraponto sobre o uso do conceito de tolerância, apresento as críticas de Leila Shahid e Zvi Yavetz, que preferem
reforçar a noção de respeito.

ST 65 - 19/10 - Terça-feira (16:00 às 18:00)

DA HISTÓRIA AO DIREITO: Uma análise sobre Liberdade Religiosa no Brasil Contemporâneo

Elisaura de Fátima Martins Carrijo

Fruto das lutas pela tolerância no contexto histórico ocidental, a liberdade religiosa no Brasil se apresenta como uma
conquista social e jurídica, atrelada aos direitos fundamentais como a igualdade e a dignidade da pessoa humana. O
trabalho traz um recorte temporal partindo da Constituição Federal de 1988, até a atualidade. Com um recuo histórico
para compreender as evoluções sociais e jurídicas. Bem como a apresentação do tema nas constituições brasileiras,
até a consagração da liberdade religiosa como direito e garantia fundamental, constituindo-se em um conceito jurídico
e moderno. Bem como a conceituação enquanto direito fundamental e suas peculiaridades e características,
analisadas na forma de direito constitucionalmente previsto. Sua abrangência traçando um alcance a liberdade de
crença, de consciência, de culto e de organização religiosa. A eficácia de direito de aplicabilidade imediata e as
limitações da liberdade religiosa, quanto contraposta aos demais direitos fundamentais. Trazendo a análise ainda, um
olhar sobre a realidade das intolerâncias religiosas na atualidade, o posicionamento de neutralidade do Estado Laico,
e as aberrações constituídas pelos fundamentalismos. Buscando compreender os conceitos de laicidade e
fundamentalismo e suas inter-relações nos embates sociais, políticos e jurídicos do Brasil contemporâneo.

Os saberes das professoras evangélicas e as interlocuções com o tempo presente na Terra do Sol

Karine Nascimento Silva (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)

A pesquisa em andamento oriunda do cenário nacional onde os discursos religiosos de defesa da família tradicional e
a agenda antigênero têm sido elemento de unificação entre vários estratos autointitulados como conservadores.
Nesta senda, tais discursos ancoraram no campo da educação interpelando as políticas educacionais, tendo recorte
temporal entre 2014 e 2017. O estudo pretende investigar os saberes das professoras protestantes-evangélicas, suas
práticas pedagógicas no tempo presente e interlocuções com as questões de gênero e sexualidades nas escolas

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situadas em Jequié/BA, bem como compreender de que forma estas professoras se apropriam do capital simbólico do
grupo religioso que pertencem e os desdobramentos no movimento de construção curricular na atualidade. Neste
sentido, propomos o estudo de caso, utilizando o método da história oral, na perspectiva das trajetórias de vida
construídas através da inter-relação dialógica entre a pesquisadora e as sujeitas pesquisadas. A técnica para coleta de
dados será a entrevista semiestruturada, tecendo um fio condutor composto pelas categorias previamente definidas
na fundamentação teórica desta pesquisa. Considerando o atual contexto de crise mundial sanitária - a pandemia da
COVID-19, serão realizadas entrevistas com 06 (seis) professoras que atuam no Ensino Fundamental-Anos Finais por
meio de mídia social digital, visando assegurar as medidas protetivas. Como também serão analisados os documentos
curriculares elaborados com a participação das referidas professoras nos quais registram saberes localizados e
multirreferenciais. O campo teórico da pesquisa versará sobre religiosidades e o tempo presente, reconhecendo como
a intersecção entre a religião, gênero e as sexualidades nas suas dimensões políticas podem ser construtoras de formas
mais dialógicas para a sociedade contemporânea.

Religião e tempo presente: os moradores da Chatuba em São Fidélis e suas organizações religiosas em meio a
pandemia.

Allan Fábio da Silva Soares (Bolsista)

O presente trabalho tem como foco perceber a dinâmica religiosa e a História do tempo presente no bairro Jonas de
Almeida e Silva (Chatuba) que está localizado na cidade de São Fidélis (RJ). A Chatuba é um bairro periférico localizado
numa área de difícil acesso por isso a metodologia na qual se utilizará para descrever as dinâmicas religiosas é a
etnografia das comunidades religiosas do local. É pretendido nesse trabalho verificar as ações do Estado no tocante a
esse bairro antes e durante a pandemia e identificar os grupos religiosos e suas contribuições para a comunidade nesse
momento, usando para isso, relatos orais dos moradores. A construção de todo o cabedal histórico sobre a cidade de
São Fidélis e em especial sobre o Bairro Jonas de Almeida e Silva (Chatuba) servirá como pano de fundo para que seja
debatida as questões referentes a religiosidade, em todas as vertentes possíveis com enfoque nas contribuições que
deram a população no período que se dá desde o início da pandemia até os dias atuais.

ST 65 - 20/10 - Quarta-feira (13:30 às 15:30)

O avanço das igrejas evangélicas em comunidades tradicionais: uma História do Tempo Presente da comunidade
Goiabal em Campos dos Goytacazes/RJ

Isabella Carvalho Soares

Esta pesquisa tem como objetivo compreender na História do Tempo Presente de que forma se dá a configuração
sociorreligiosa da comunidade de Goiabal, localizada no município de Campos dos Goytacazes. A partir do trabalho de
história oral, buscamos entender as mudanças ocorridas no panorama religioso da comunidade, uma vez que existem
poucas pesquisas sobre as mudanças religiosas nas comunidades tradicionais, e ainda menos sobre a comunidade de
Goiabal. Entender a relação do indivíduo com o meio é indispensável, e, uma vez notada a relevância do papel da
igreja evangélica em comunidades tradicionais e consequentemente na dinâmica espacial, social, econômica e cultural

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daquele local (em razão da pluralidade abarcada pela religião), também faz-se necessário o estudo sobre estes
acontecimentos e seus impactos. Muito nos interessa discutir sobre o avanço evangélico no tempo presente, em
especial o pentecostal, e sua espacialidade, formando áreas de influência. A hipótese aqui levantada e que busca-se
verificar a veracidade é que, com a ausência e negligenciamento estatal, restam a outras organizações (como as
organizações religiosas) prestar assistência, e estas, por sua vez, se espacializam e alteram as dinâmicas sociais,
econômicas e culturais em que se inserem.

Nossa Senhora de Loreto: Da adoração às Festividades

Thamires de Lourenzo de Avelar e Silva

O presente trabalho apresenta o início da devoção à Nossa Senhora de Loreto, no Santuário de Nossa Senhora de
Loreto, na Itália e no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Loreto, localizado no bairro da Freguesia de Jacarepaguá
no Rio de Janeiro. A Santa Casa de Nazaré, onde segundo a Bíblia católica acontece a Anunciação do Anjo Gabriel à
Maria, foi milagrosamente transportadas para a cidade de Loreto, na Itália, sendo então o primeiro Santuário dedicado
à Santíssima Virgem. No tocante à Adoração, na Itália, esta teria começado por volta do ano 1315, com uma pequena
igrejinha onde se venerava a Imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus no colo. No Brasil, em 1568, é criada, no
Rio de Janeiro, a Capela Curada de Nossa Senhora de Loreto, onde começou-se a devoção à Santa. Posteriormente, é
erguida a Igreja Nossa Senhora de Loreto, atualmente, Santuário Nacional. Em 1920, o Papa Benedito XV declarou
Nossa Senhora de Loreto como Padroeira da aviação Internacional, o que fez com que a Santa passasse a ser adorada
também pelos aviadores. Outro aspecto a ser explorado são as festividades para Nossa Senhora de Loreto no Brasil,
que acontecem todo dia 10 de Dezembro, em seu Santuário Nacional, na Freguesia de Jacarepaguá no Rio de Janeiro,
assim como as atividades que estas incluem, considerando-as ligadas diretamente à Adoração de Nossa Senhora de
Loreto e Ação de Graças à Santa.

História do tempo presente : A religião como projeto de poder no Brasil atual

Flavio Cavalcante Veiga (IFAL - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas)

Conforme afirma a historiadora Mari Del Priore: “O Brasil nasceu à sombra da Cruz” e essa sentença tem um peso
simbólico acerca da formação histórica do nosso país. Desde a colonização portuguesa, em 1500, a Igreja Católica se
faz presente, passando pelo período Imperial até a República, que com a proclamação, decorre a declaração da
laicidade do Estado e, consequentemente a disputa da Igreja católica com as demais denominações cristãs,
notadamente, o protestantismo histórico e de missão. Chega-se ao século XXI com a sociedade brasileira em ebulição
perante um cenário ultraconservador e com gestos fundamentalistas de algumas lideranças religiosas de segmentos
católicos, evangélicos pentecostais, do protestantismo histórico, entre outros. A partir da década de 1970 o espaço
político institucional passou a contar cada vez mais com representantes católicos e de segmentos evangélicos nas
disputas eleitorais, com êxitos no poder legislativo, se constituindo, inclusive, em frentes parlamentares. A exploração
da face do sagrado, na seara política, culminou com a chegada da extrema direita ao poder na figura de Jair Bolsonaro,
nas eleições de 2018. Sem dúvidas a religião foi um elemento político importante. A agenda política conservadora da
extrema direita populista se utiliza da religião para o seu projeto de poder. Interessa-nos refletir sobre as implicações
desse fenômeno na democracia brasileira, na real configuração do Estado laico e na repercussão da implementação

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de uma agenda ultraconservadora nos costumes e ultraliberal na economia. Essa trajetória política da extrema direita
tem sustentação numa teologia autoritária, por meio de uma agenda pública que explora a moral cristã, os valores
patriarcais, a ‘família tradicional’ e o sufocamento das minorias e maiorias invisibilizadas. Dessa forma, prossegue-se
a execução do projeto neoliberal com a diminuição do papel do estado, consequentemente a fragilização e a negação
dos direitos humanos e das políticas sociais.

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ST 67. Sociedades escravistas nas Américas: séculos XVI ao XIX

ST 67 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

Os estudos afro-americanos sobre a escravidão atlântica: possibilidades e reflexões.

Alec Ichiro Ito (USP)

Neste texto realizaremos um balanço historiográfico sobre os estudos afro-americanos, dando particular ênfase à
escravidão atlântica. Em um primeiro momento, apresentaremos o ambiente social e política que propiciou o
surgimento de alguns estudos afro-americanos, associando a ebulição política vivida entre as décadas de 1960 e 1970
com algumas inovações acadêmicas que surgiram na época. Nesse sentido, explanaremos sobre alguns círculos
acadêmicos mais influentes nesses circuitos de criação do conhecimento, dando especial atenção aos sediados nos
Estados Unidos. Em um segundo momento, adentraremos as ressonâncias dessas mudanças, apontando para algumas
tendências metodológicas e historiográficas que prevalecem no Brasil, sobretudo a partir da década de 1980. Por
último, sustentaremos a hipótese de que a imbricação das problemáticas da agência, do mundo atlântico, das
identidades múltiplas e das reproduções sociais conforma o chão-comum para a conexão de estudos e historiografias
distintas.

Caminhos, estratégias e trajetórias: Famílias negras nas décadas finais da escravidão na Freguesia de Itaguahy (1850-
1888)

Fernanda Vasconcelos de Andrade

Essa presente apresentação busca debater sobre as famílias escravizadas da Freguesia de São Francisco do Xavier de
Itaguahy, localizada no Estado do Rio de Janeiro, entre os anos 1850 e 1888. Partindo das objeções de minha pesquisa
de mestrado, há o intuito de analisar as formações, projeções e trajetórias desses indivíduos em um período final da
escravidão no Brasil, pondo em debate tais questões em uma Freguesia pouco analisada pela historiografia. É
importante ressaltar que os anos finais do sistema escravista propuseram uma nova dinâmica para o interior dos laços
cativos, com uma possibilidade maior de alcance de liberdade e mobilidade social. Além disso, destaca-se nesse
período as leis que movimentaram o sistema, e consequentemente, os caminhos dos escravizados, como a Lei Eusébio
de Queiroz(1850) e a Lei do Ventre Livre (1871), além de uma crise e alternância produtiva que acometia a localidade
de Itaguahy. Visto isso, a pesquisa se embasa, dentre outras fontes, em uma pesquisa onomástica baseada nos
registros paroquiais da região de São Francisco Xavier do Itaguahy, sobretudo de batizados de escravizados e de filhos
de escravizados. Desse modo, e adicionando esses parâmetros na análise, reforça-se o intento de traçar os passos das
famílias inseridas na conjuntura acima, para que além de compreender melhor as suas próprias trajetórias, observar
também, as suas articulações diante dessas mudanças sociopolíticas.

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Negras e mestiças feiticeiras: escravidão, gênero, práticas mágicas e poder em Minas Gerais colonial

Giulliano Gloria de Sousa (Instituto Federal de Minas Gerais)

Este trabalho analisa a relação entre as mulheres negras e mestiças e as práticas mágicas em Minas Gerais colonial a
partir das tensões sociais decorrentes do escravismo e das diversas estratégias utilizadas pelas agentes. Nas últimas
décadas a historiografia sobre a escravidão no Brasil rompeu com paradigmas clássicos de análise e apontou a
complexidade, a dinâmica e o enraizamento social de um sistema que perdurou por mais de três séculos. Os estudos
sobre as forras/os, o segundo maior agrupamento social da capitania mineira na segunda metade do Setecentos,
apontaram as diversas possibilidades de mobilidade abertas aos cativos/as e acionadas de modo variado por meio de
intricadas redes sociais e de poder. Nesse universo as práticas mágicas desempenharam um importante papel, sendo
utilizadas para o abrandamento das duras condições de vida do cativeiro e obtenção de recursos materiais, distinção,
poder e fortuna. Condenadas e perseguidas pelas autoridades eclesiásticas e civis, tais práticas parecem ter sido
utilizadas de modo especial pelas negras e mestiças, tendo em vista a sua profusão nos registros eclesiásticos. A
associação dessas mulheres à feitiçaria reflete a construção e reiteração constantes de um imaginário marcado pela
misoginia e pelas distinções sociais baseadas principalmente nos critérios de qualidade, cor, gênero e condição
jurídica. Identificadas como feiticeiras, sobre as negras e mestiças recaíram o estigma social e a repressão institucional,
reafirmando as bases sociais de uma sociedade marcada pela hierarquia, pelo ordenamento e pelas distinções sociais.
Procuramos, assim, compreender como escravidão, gênero, práticas mágicas e poder se entrecruzavam na capitania
mineira de forma ambígua, desnudando possibilidades abertas e concretas de mobilidade social e reforçando, ao
mesmo tempo e de forma paradoxal, as hierarquias e o lugar de cada um(a) numa sociedade marcada pelos valores e
práticas do Antigo Regime.

"Truculentos, desbocados e rebeldes": a soldadesca no Rio de Janeiro no início do século XVIII

Fernando Pitanga (Prefeitura Municipal de Duque de Caxias)

Esta comunicação pretende resgatar, a partir especialmente de documentação expedida por Câmara, Governadores
e Conselho Ultramarino, acerca das condições de vida dos soldados que compunham a guarnição da cidade do Rio de
Janeiro nas primeiras décadas dos setecentos, debruçando-nos sobre sua relação com as instâncias citadas, bem como
com a população da praça, que apresentava um vertiginoso crescimento em função de sua posição estratégica no
acesso à região mineradora e escoamento das levas de ouro que eram embarcadas no porto do Rio de Janeiro. Nesse
sentido, nosso texto procurará fornecer elementos para compreender como essas tropas se inseriam no cotidiano da
cidade, atuando como forças mantenedoras da ordem ao mesmo tempo em que, em determinadas conjunturas,
tornavam-se elementos da desordem, desnudando o dúbio que o soldado da tropa paga poderia assumir na América
portuguesa. Para isso, pretendemos abordar alguns episódios de tensão em que esses homens estiveram envolvidos
no período.

ST 67 – 19/10 – Terça-feira (13:30 às 15:30)

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Corpos Negros Entre a Paróquia e a Tributação - Os Registros dos Negros Escravizados Entre os Séculos XVI e XIX

Bruna Di Fátima de Alencar Carvalho (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)

O presente trabalho busca expor as razões sociais relacionadas aos registros de negros escravizados entre os séculos
XVI e XIX, tendo em vista a implantação das paróquias e dos registros de pessoas realizados pelos párocos, dinâmica
intrínseca à administração dos sacramentos religiosos estabelecidos para os fieis, bem como para proceder em uma
contabilidade de almas, nos moldes do Concílio de Trento; e também às "razões de estado", relacionadas à tributação
do negro escravizado e sua disposição enquanto mercadoria, tendo em vista sua inicial natureza jurídica de
patrimônio, o que muda com o advento do Decreto de 13 de maio de 1888. Se pretende, portanto, compreender aos
diversos sentidos e significados de tais registros ao longo do período, em especial o impacto do avanço do Movimento
Abolicionista, da Independência e da Proclamação da República. Para tanto se utilizará os registros do período
digitalizados e hospedados na Hermeoteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional a partir de uma perspectiva de
Demografia Histórica e História Econômica. Assim, acerca da pesquisa em curso, se pode antecipar de que por
resultados se apresentará uma sistematização da situação jurídica sobre os negros escravizados durante o período,
tanto no que toca à adesão ao registro público e suas implicações sociais e estatais.

A pia batismal: uma possibilidade de liberdade na freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu 1750-1815

Juliana Batista

O presente trabalho tem como objetivo analisar as relações de compadrios formadas pelas mães e pais das crianças
cativas que alcançaram alforrias no momento da celebração do batismo. Além disso, propõe apresentar um caso de
“excepcional normal” onde mãe e filha foram alforriadas na pia batismal. O estudo concentra-se na freguesia rural de
Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu, na passagem do século XVIII ao XIX. A região encontrava-se situada no Recôncavo
da Guanabara e interligava os portos fluminenses com o interior da América Portuguesa. Também estava inserida no
mercado ultramarino produzindo e exportando gêneros alimentícios, principalmente para a cidade do Rio de Janeiro,
e adquirindo africanos escravizados. Através da microanálise, foi possível reconstruir a atuação dos cativos que
batizaram seus filhos. Nesse sentindo, constituíram parentescos espirituais com escravos, mas também com outros
grupos sociais e econômicos que possibilitou a conquista da liberdade para seus rebentos. Por meio do cruzamento
nominativo dos assentos de batismos de escravos de 1750 a 1815, do mapa populacional do Distrito de Guaratiba de
1797 e o Relatório do Marquês de Lavradio de 1778 foi possível identificar as interações e práticas de compadrios dos
escravos na comunidade local.

A importância dos Santos óleos: os batismos de escravos em São João Baptista do Presídio (1810-1825)

Igor Nogueira Lacerda

O primeiro sacramento introduzia os indivíduos na sociedade guiada pelos moldes morais cristãos. Alinhando
cristandade e controle administrativo da Coroa Portuguesa, as águas do batismo transformavam os conceitos de
civilidade e fé. Para aqueles que se encontravam em condição jurídica de escravidão, o batismo não servia apenas
como um mecanismo de transformação de tradições, no caso os adultos, mas também legitimava a posse e o domínio
sobre os filhos dos escravos já nascidos no Brasil. Compreendendo isto, temos como objetivo discorrer sobre as

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conexões percebidas entre os textos das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia e da Lei mineira de Nº46 de
1836, alinhados a literatura do tema. Partiremos também de uma premissa destinada à análises demográficas,
estabelecendo comunicação com as demais fontes oriundas de São João Baptista do Presídio, através de ligações
nominativas. Trazendo como foco para discussão, os assentos de batismos da freguesia em questão, entre os anos de
1810 a 1825, juntamente com a base de dado presentes na Lista nominativa de 1819, pertencente a mesma localidade.

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ST 68. Turismo e Patrimônio cultural: suas relações conceituais, legais, dimensionais e
dialéticas nas sociedades

ST 68 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

Patrimônio Mundial e Turismo: imbricamentos entre Unesco e a turistificação patrimonial (1960-1980)

Valéria Fernanda Serpa Steinke (Secretaria de Estado da Educação)

O presente trabalho é resultado de pesquisas empreendidas para a realização de uma dissertação de mestrado em
Patrimônio Cultural e Sociedade na Universidade da Região de Joinville – Univille. Tem como tema as relações entre
patrimônio e turismo no âmbito da construção da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural da Unesco de 1972 e tem como objetivo compreender como a Unesco problematizava a aproximação entre
patrimônio, turismo e desenvolvimento no contexto de criação da Convenção do Patrimônio Mundial. Em se tratando
da metodologia utilizada para a pesquisa, optou-se por duas principais: a pesquisa bibliográfica – realizada por meio
de plataformas virtuais de busca, visando artigos e livros, principalmente; e a pesquisa documental – empreendida
nos Arquivos da Unesco, no ano de 2018 em Paris, onde digitalizou-se documentos pertinentes à história da
Organização, como por exemplo: relatórios do diretor-geral, atas de conferências gerais, memorandos internos, entre
outros. Como resultado, percebeu-se que desde o contexto de criação da Convenção de 1972, a Unesco já possuía
intenções de gerar desenvolvimento econômico através da patrimonialização.

Turismo e Patrimônio Cultural Imaterial: a gastronomia em evidência

Romário Oliveira de Sant'ana (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

O presente estudo tem por objetivo compreender aspectos elementares do turismo, discorrer sobre o patrimônio
cultural e práticas alimentares evidenciando o turismo gastronômico. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada
a cerca dos conceitos do turismo, patrimônio, alimentação e gastronomia como atrativos. A gastronomia se constitui
como um dos elementos do patrimônio imaterial que está envolta a memórias, sentimentos e prazer. O turismo é
muito mais abrangente do que uma mera atividade econômica, há uma complexidade de relações, fatores
desencadeantes e consequências que fazem surgir novos modos de pensar e construir. O patrimônio cultural
compreende os bens de natureza material e imaterial, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade. Vivência e instinto formam de maneira dinâmica as práticas alimentares
que são tão peculiares na identidade de um povo. A cultura está presente em todo comportamento social que se
utiliza de símbolos para construir, criar ou transmitir. O turismo gastronômico é uma vertente do turismo cultural, em
que o deslocamento de visitantes se dá por motivos vinculados às práticas gastronômicas de uma determinada
localidade. O turismo gastronômico tem ganhado cada vez visibilidade, fazendo-se necessário que, cada vez mais, o
planejamento turístico coloque os elementos gastronômicos das regiões como uma das prioridades a serem
trabalhadas. As abordagens discutidas nesta pesquisa mostram que novas discussões são imprescindíveis para
aperfeiçoar a compreensão de todos os aspectos que permeiam as relações alimentares no turismo gastronômico.

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Educação Patrimonial em uma perspectiva de campo do conhecimento : limites, desafios e possibilidades

Joana D`Arc Cesar Viana (Prefeitura Municipal de Belford Roxo)

O objetivo deste artigo é refletir sobre os limites, os desafios e as possibilidades do crescente diálogo entre educação
e patrimônio. Essa reflexão se debruça sobre as referências conceituais dos campos da educação e patrimônio e seus
aspectos epistemológicos. A proposta busca argumentos que possam construir perspectivas no campo do saber a
favor do patrimônio cultural, visando não apenas o sentido social e cultural das palavras, mas como ambas, podem
contribuir no campo científico educacional. Os estudos darão ênfase aos dados e contextos sócio-históricos pelos quais
os mesmos foram sendo ressignificados nas sociedades contemporâneas. E como estas reconhecem o sentido do que
é herdado seja no âmbito do privado ou coletivo. Para tanto, a pesquisa tomou como base os estudos sobre da antiga
estação ferroviária de Vila de Cava, a vivência dos grupos de moradores e suas experiências em torno desta estação
situada no município Nova Iguaçu, região da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. As relações destes grupos e suas
lembranças serão utilizadas no campo da memória cuja reflexão partiu dos conceitos de lugar e direito a memória
visando fomentos na perspectiva da Educação Patrimonial. Para que esta possibilite incrementar a construção de
relações identitárias e sociais de forma interdisciplinar a serviço do patrimônio cultural. Viabilizando a preservação,
conservação e salvaguarda para as gerações futuras no prisma de campo do conhecimento para além de um processo,
um instrumento, uma expressão. E assim, constituir uma percepção sobre a educação em patrimônio num sentido
mais amplo, além das abordagens a serviço de outras áreas do conhecimento, mas como um campo do saber
independente que faça parte do currículo educacional. Refletir a respeito desta perspectiva seria a possibilidade
proteger, conservar, viabilizar turismo, sustentabilidade e conhecimento aos patrimônios culturais materiais e
imateriais nos espaços urbanos, em pequenos lugarejos ou nas grandes cidades.

O Forte de Santa Tecla encontra a Rainha da Fronteira

Paloma Falcão Amaya

Este trabalho busca apresentar o Forte de Santa Tecla, localizado na cidade de Bagé no Rio Grande do Sul, e que fez
parte de um projeto de conquista da fronteira sul no período colonial, como objeto de memória local, relacionando
questões sobre arqueologia, patrimônio e turismo. Seus vestígios materias não se encontram mais no espaço em que
no passado havia sido edificado, mas sua presença ainda é percebida e marcada na paisagem. A comunidade local tem
se esforçado para preservar o espaço em que antes fora o Forte de Santa Tecla, pois entende o local como um
significativo elemento de sua memória regional. A Formação da fronteira sul foi marcada por conflitos e embates entre
as Coroas Ibéricas, que disputavam o controle e domínio territorial desta região. Durante o século XVIII, o Forte de
Santa Tecla foi palco dessas disputas, tendo sido controlado tanto por espanhóis como portugueses ao longo das
décadas. Os acontecimentos que ocorrem em sua paisagem marcaram a história da formação da cidade de Bagé, e
desta forma se constituiu como um importância espaço patrimonial para a cidade. Em função de sua importância
histórica os pesquisadores locais buscam incentivar, onde foi construído o Forte de Santa Tecla, um espaço com
potencial turístico para a região. A comunidade local busca preservar e reviver as memórias de outrora que ainda se
mostram pela cidade. A cidade de Bagé tem sua trajetória histórica altamente ligada ao Forte de Santa Tecla, desta
forma, esta apresentação procura ressaltar a importância desse patrimônio simbólico e contribuir com o movimento
da socidade que busca sua valorização.

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ST 69. Um outro Rio de Janeiro como objeto historiográfico

ST 69 - 18/10 - Segunda-feira (10:00 às 12:00)

"O grande celeiro eleitoral do estado do Rio": Baixada Fluminense e a formação do eleitorado na Terceira República

Felipe da Silva Barbosa

Um relativo consenso na historiografia sobre o regime político inaugurado no Brasil em 1945 aponta para a crescente
importância dos setores urbanos na definição das disputas políticas. Nesse contexto, as campanhas eleitorais
ganharam centralidade, demonstrando a necessidade de conquistar eleitores, com destaque especial para os
trabalhadores. No estado do Rio de Janeiro, durante a Terceira República, lideranças políticas como Amaral Peixoto,
Roberto Silveira e Tenório Cavalcanti buscaram atingir essas populações com base em discursos e práticas específicas.
Esta apresentação busca, com base na conjuntura evidenciada, analisar a importância de determinadas regiões do
estado do Rio, afetadas tanto pelo crescimento populacional, quanto pela industrialização, característica dos anos pós-
guerra. A partir da análise de dados censitários, jornais e relatos de atores políticos da época, buscamos compreender
os possíveis sentidos da afirmação do governador trabalhista Badger da Silveira, eleito em 1962, que considerou a
Baixada Fluminense como região decisiva para política estadual. Além disso, é de nosso interesse avaliar os impactos
desse reconhecimento nos discursos dos candidatos, isto é, compreender como esses representantes buscavam
articular as reinvindicações populares aos seus programas políticos.

Duque de Caxias: uma Cidade Entrelaçada por Francisco Barboza Leite e Silbert dos Santos Lemos

Tania Maria da Silva Amaro de Almeida (IH CMDC)

Esta apresentação tem como objetivo principal pensar, a partir das fontes literárias sobre a região da Baixada
Fluminense, as concepções de cidade esboçadas por Francisco Barboza Leite e Silbert dos Santos Lemos, que
escreveram na e sobre a cidade de Duque de Caxias, em sua própria contemporaneidade. Com seus textos,
percebemos a complexidade de uma cidade que constrói suas próprias interpretações a partir de sua produção
literária, revelando suas sensibilidades na percepção e representação da realidade, além de trazerem múltiplas
abordagens das memórias e identidades da cidade. Nessa perspectiva, aproximaremos a Literatura e a História,
apresentando as contribuições da primeira como fonte para os estudos de História Local e Regional, buscando
explicitar o processo de representação da historicidade e dos registros de memórias por meio das obras dos autores
selecionados, que vivenciaram o cotidiano de uma cidade entrelaçada por seus escritos.

A abordagem síntese sobre Baixada Fluminense: a História Local e os usos do passado

Eliana Santos da Silva Laurentino (SEEDUC)

A presente proposta de trabalho propõe apresentar como a produção de história local recente sobre a Baixada
Fluminense contém uma abordagem de síntese e se afirma com a função de compromissos com o local e a

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aplicabilidade de ações sensíveis ao território. A proposta desta apresentação é parte do resultado da pesquisa de
doutorado, que investigou como escrita da história local se configurou por meio do Instituto Histórico da Câmara
Municipal de Duque de Caxias (RJ), entre os anos de 1971 e 2008. O período corresponde à autorização de criação do
espaço, em 1971, como resposta aos impactos do enquadramento do município como Área de Segurança Nacional,
durante o período da ditadura militar no Brasil, e aos desdobramentos dos investimentos de práticas patrimoniais
para a construção de uma identidade fluminense. Após a abertura política o instituto histórico se reinventou e, por
meio da criação de uma Associação de Amigos (ASAMIH), em 2001, promoveu um encontro geracional entre os
membros em defesa do acervo e da manutenção do espaço que resultou, em 2008, em sua transformação em ponto
de cultura por meio de um projeto estadual. O objetivo geral do trabalho foi analisar as dimensões de poder da
produção do conhecimento a partir da criação do Instituto, considerando os interesses políticos dos intelectuais nas
obras, o impacto no desenvolvimento de pesquisas com foco na História Local e a divulgação das produções, em um
perspectiva de escala (REVEL, 1998).

A Superintendência de Urbanização e Saneamento – SURSAN – do Rio de Janeiro e as obras públicas do governo de


Carlos Lacerda (1960 – 1965)

Pedro Sousa da Silva

A Superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN) foi criada no Rio de Janeiro na segunda metade dos anos
1950 durante os últimos anos da cidade como capital federal. Obra da gestão de Negrão de Lima (1956-1958) a nova
autarquia atendia a uma antiga pauta dos técnicos da Secretaria Geral de Viação e Obras e dos empreiteiros locais que
reivindicavam a criação órgão municipal dotado de autonomia financeira e encarregado de realizar uma série de
empreendimentos urbanísticos que estavam paralisados ao longo da primeira metade dos anos 1950.As verbas da
SURSAN tinham origem no imposto sobre vendas e consignações que destinava 10% de sua arrecadação para o novo
órgão. Após perder a condição de capital do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro foi convertida em estado da Guanabara
e elegeu seu primeiro governador em 1960. Durante a gestão de Carlos Lacerda, a SURSAN ampliou seu campo de
atuação sendo responsável por grandes obras como as obras do Túnel Catumbi-Laranjeiras; da Avenida Perimetral; o
desmonte do Morro de Santo Antônio e o aterramento da orla marítima entre a Glória e o Flamengo es posterior
construção do parque na mesma localidade. No turístico bairro de Copacabana a nova entidade iniciou um ambicioso
projeto de reforma e construção de túneis. Para compensar o grande volume de obras nas áreas mais ricas da cidade,
o plano de obras da entidade também previa a urbanização e saneamento de diversos rios do subúrbio da cidade,
como o Jacaré, Timbó e Faria, celebres pelas grandes enchentes que castigavam seus arredores a cada verão. Apesar
da vasta produção historiográfica sobre a urbanização da cidade do Rio de Janeiro, os estudos sobre o planejamento
urbano não analisam com profundidade a trajetória da SURSAN. Com base na análise de relatórios e outros materiais
produzidos pela entidade, nosso trabalho examinará a formação, estruturação e as diversas alterações sofridas pelo
plano de obras da SURSAN em seus primeiros anos de existência.

ST 69 - 18/10 - Segunda-feira (13:30 às 15:30)

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A imigração japonesa para o estado do Rio de janeiro: do pioneirismo ao pós Segunda Guerra Mundial

Marília Luíza Ramos da Cruz

O presente trabalho tem por objetivo principal demonstrar a relevância da imigração japonesa para o estado do Rio
de Janeiro. Algo que é constantemente ignorado na bibliografia é o fato do estado ter possuído a primeira colônia
japonesa do país. Além disso, os imigrantes japoneses possuíram influência na vida urbana carioca, com diversos
restaurantes, lojas e empresas. Na primeira metade do século XX, o Japão fazia parte de um modismo, as revistas
ilustradas cariocas anunciavam diversos produtos japoneses como leques, quimonos e cosméticos. Também devemos
citar as numerosas colônias que se construíram por todo o estado. Traremos uma análise ampla da imigração japonesa
em suas diferentes fases, do período pioneiro definido como pré Kasato Maru, a fase de início chamada de Imigração
Experimental, até a Imigração em Massa e o período do pós Segunda Guerra Mundial. Também trataremos da entrada
de japoneses na Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, um dos principais locais oficias de recepção de imigrantes
nas Américas, localizado no município de São Gonçalo.

A Ilha das Flores e o Rio de Janeiro : Um estudo sobre a imigração portuguesa para o Rio de Janeiro na Ilha das Flores
de 1900-1930

Wanderson Silva Bonifácio Junior

A presente comunicação se propõe a fazer um balanço da imigração portuguesa para o Rio de Janeiro através da
Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores no recorte temporal de 1900-1930, com enfoque nas mudanças ocorridas
no fluxo imigratório português na Ilha das Flores após a Primeira Guerra Mundial. A Hospedaria da Ilha das Flores foi
um local criado em 1883, pelo governo imperial visando tornar o país um destino atraente para potenciais imigrantes,
neste sentido a hospedaria atuou em três dimensões do processo imigratório, recepcionava, abrigava e transportava
os imigrantes para o destino desejado ou para o local acordado em contrato de trabalho entre o imigrante e o
contratante. Este dispositivo funcionou até o ano de 1966, tendo flutuações no seu grau de importância nos
contingentes imigratórios para a nação, levando em consideração a atuação da Ilha das Flores, também pretendemos
levantar a hipótese de que a hospedaria deixou de funcionar como entreposto para o meio rural do Rio de Janeiro.
Para tal proposta, usaremos como fontes os livros de ingressos da Hospedaria da Ilha das Flores, junto a bibliografia
relacionada ao tema da imigração.

A História desenhada nas charges e caricaturas: um olhar sobre outras fontes de pesquisa/ensino.

Reinaldo Ramos Diniz (IFSULDEMINAS)

Na atualidade, a produção imagética nos oferece, através de incontáveis fontes, uma visão das relações sociais e como
estas são progressivamente mediadas por elas. Estamos em um mundo cada vez mais sensível à iconográfica da
publicidade, do cinema, da televisão, da internet. A apreensão das ideias representadas por esta narrativa, junto com
uma análise histórica, geográfica, antropológico-etnográfica, sociológica nos ajuda a compreender a nossa sociedade,
tanto a do presente quanto a do passado. Neste sentido, este texto apresentará a metodologia de trabalhar com as
imagens como fontes históricas primárias, na pesquisa e ensino, e como a “vistura” destas são indícios de uma forma
narrativa de uma época, problematizando-a. Para exemplificar como essas linguagens desenhadas teceram realidades,

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utilizarei a minha pesquisa de doutoramento sobre os “Chargistas/ caricaturistas pedagogos da civilização de Momo”.
Estes foram, junto com outros jornalistas carnavalescos, os grandes responsáveis pela transição do carnaval carioca
do entrudo para o carnaval “civilizado” de Momo. Demonstrarei, resumidamente, como as suas crônicas imagéticas
foram utilizadas, de forma ideológica junto as classes subalternizadas e a emergente classe média, na difusão e
assimilação do projeto “civilizatório” eugenista da elite da primeira república , entronizando Momo, Colombina,
Pierrot, Arlequim como a nova realeza do carnaval carioca, durante a Bella Èpoque (1900-1920). Entre estes
“chargistas/ caricaturistas pedagogos da civilização de Momo” citamos Ângelo Agostini, Raul Pederneiras, Kalixto, J.
Carlos, dentre outros. Analisaremos algumas charges e caricaturas presentes nas revistas ilustradas que divulgaram e
contribuíram para a tessitura desta "civilização" momesca. Dentre estes podemos citar a Revistas Ilustradas- onde
atuava Ângelo Agostini- a revista Fon-Fon!– onde desenhava Raul Pederneiras e Kalixto e a revista O Careta - com
marcante atuação de J. Carlos.

Notas sobre oralidade e historiografia no Rio de Janeiro: Povo da rua: Exus e Pombagiras na construção do
imaginário afro-carioca e na constituição dos espaços de poder dos marginalizados

Maria Vitória Sanmartin Carballo Marins

O presente trabalho versa sobre a construção de uma identidade moderna afrobrasileira através da cristalização
simbólica, a partir da década de 1930, com a criação da Umbanda, das figuras da boemia e malandragem carioca,
transcritas e representadas nas entidades, Exus e Pombagiras, e como essa transcrição através da oralidade pode
trazer uma nova fonte historiográfica de estudos sobre a africanidade urbana, o candomblé de rua e a umbanda negra
e demais expressões e experiências religiosas do Rio de janeiro. A essência e a prática do povo da rua pode ser
encontrada em manifestações e espaços de poder não necessariamente religiosos, na música popular, nos trejeitos
da malandragem e na trama de resistência criada para proteger e validar suas identidades e processos sagrados
perante ao Estado, em suas organizações de memória e preservação. Os rituais de transe, a construção do caráter
ocultista que desperta curiosidade e fascínio se apresentam entranhados no cotidiano carioca. A pombagira é a
representação afrobrasileira de mulher, que tendo sido prostituta ou cortesã, pode evocar o caráter místico para
pedidos amorosos e sexuais. As diversas linhas (ou gamas por assim dizer) dos Exus concentram as personalidades
malandras e andararilhas, que ocupam a noite e os caminhos dos boêmios bairros cariocas, com sua simpatia a cachaça
e ao charuto e todos os trejeitos escorregadios alternativos a moral cristã vigente. O lado marginalizado da nossa
cidade é um espelho da luta, cultura e memória da negritude brasileira, e as práticas e representações da religiosidade
ancestral, em consonância com o sincretismo católico, refletem os processos de resistência aqui estudados. O
conhecimento do papel cultural, social e de crença coletiva nestas entidades nos permite um novo olhar historiográfico
sobre o Rio de janeiro, um olhar sobre as inconfessas faces que constituem a história da nossa cidade.

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