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Bibliotecas Escolares e a Web 2.

Módulo 6
Avaliação de Recursos Educativos Digitais e a lógica do trabalho da BE

Palavras-chave
Recursos Educativos Digitais (RED)
Avaliação de RED
Qualidade
Bibliotecas escolares

Introdução

O crescimento exponencial e heterogéneo de recursos educativos digitais na Internet, produzidos por


professores, associações profissionais, bibliotecários, empresas de elearning, e estudantes de
diferentes níveis de ensino, faz com que os alunos tenham cada vez mais dificuldades em seleccionar
informação, uma vez que não dispõem de mecanismos fiáveis que lhes permitam avaliar os conteúdos
de acordo com critérios válidos. As bibliotecas escolares deverão ter, neste âmbito, um papel
importante, ao disponibilizarem aos seus utilizadores conjuntos de recursos seleccionados de acordo
com as áreas do currículo e adaptados ao nível etário dos seus alunos.

Como vimos na sessão 5 desta formação, a utilização de serviços de marcadores sociais permite
prestar esse serviço de uma forma fácil e rápida. Por outro lado, a constituição de repositórios e de
bibliotecas digitais vão tornar-se prática corrente a muito breve prazo, obrigando as bibliotecas
escolares a tomar decisões sobre o tipo de conteúdos que integrarão esses novos serviços. Para além
das questões financeiras e de protecção de direitos de autor que importa ponderar, é imprescindível
que os recursos seleccionados pelas bibliotecas escolares satisfaçam critérios pré-definidos de
qualidade nas suas dimensões essenciais, a fim de que a os conteúdos disponibilizados possam ser
utilizados de forma eficaz no processo de ensino-aprendizagem, cumprindo a sua finalidade educativa.
Por outro lado, é também importante que, no seu plano de formação de utilizadores, a biblioteca
inclua a avaliação de recursos digitais como uma das competências a desenvolver junto dos alunos,
sendo essa uma vertente fundamental de programas de literacia de informação e uma competência
imprescindível no processo de aprendizagem ao longo da vida.

Finalmente, e porque as bibliotecas são cada vez mais elas próprias produtoras de recursos, a prática
de reflectir criticamente sobre os conteúdos produzidos é essencial para manter padrões de qualidade
no serviço prestado e para tornar relevante o papel da biblioteca na sociedade da informação.
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O novo contexto da sociedade da informação e do conhecimento

A proliferação dos recursos de informação, as rápidas mudanças tecnológicas, o impacto das


tecnologias de informação e comunicação e uma tendência para a globalização são elementos que
caracterizam a chamada sociedade da informação. Além disso, com a emergência da Web 2.0 e a
consequente proliferação de ferramentas para gerar, armazenar, transmitir e aceder à informação, a
constatação de que a própria informação se tornou «matéria-prima» com um valor económico
incalculável, e a importância cada vez maior dada à aprendizagem ao longo da vida, fazem da gestão
da informação uma das actividades-chave da sociedade actual.

A capacidade de procurar com eficácia a informação, de saber analisá-la, avaliá-la e utilizá-la, é hoje a
principal vantagem competitiva da chamada economia do conhecimento e uma competência essencial
que todos os alunos deveriam dominar ao concluírem a sua escolaridade.

Avaliar: porquê?

Os sistemas de busca e recuperação da informação disponível nas redes digitais põe à disposição dos
seus utilizadores quantidades incomensuráveis de informação, seja qual for o assunto que se procure.
Obviamente, a qualidade da informação gerada e a que temos acesso não é uniforme, e a capacidade
de distinguir o que é bom e útil envolve processos complexos que exigem o desenvolvimento de
sistemas formais de avaliação de recursos.
De acordo com Nesbit, et al. (2002)1 algumas das razões que sustentam o desenvolvimento de
sistemas de avaliação recursos educativos digitais são os seguintes:
1Nesbit, J., Belfer, K., Vargo, J. (2002). A Convergent Participation Model for Evaluation of Learning
Objects. Canadian Journal of Learning and Technology.
a) Classificar e avaliar qualitativamente este tipo de materiais ajuda os indivíduos na pesquisa
e selecção de materiais e recursos de qualidade;
b) As avaliações podem fornecer informações e orientações sobre as melhores formas de usar
os recursos e particularmente úteis para os professores e paras as Escolas;
c) A qualidade dos materiais educativos pode aumentar através da avaliação, em especial nas
etapas de design e desenvolvimento;
d) As avaliações podem ajudar a melhorar as práticas de desenho e produção de materiais e
recursos digitais;
e) Participação nas actividades de avaliação pode contribuir para o desenvolvimento
profissional dos que trabalham com recursos ou objectos de aprendizagem;
f) As actividades de avaliação podem suportar comunidades de prática em relação aos
recursos e materiais avaliados;
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g) Avaliações positivas podem promover o reconhecimento social de conceptores e


programadores;
h) Um sistema de avaliação fiável pode ser uma etapa essencial tendo em vista o
desenvolvimento de modelos economicamente viáveis.

Actualmente, a maioria dos RED em língua portuguesa disponíveis na Internet são de utilização
gratuita, produzidos sobretudo por professores ou associações de professores, e em muitos casos
resultam simplesmente da digitalização de recursos pensados para outros ambientes que não os
digitais. Essa circunstância condiciona sobremaneira a qualidade dos recursos, sobretudo nas suas
dimensões de usabilidade em ambiente digital e na relação com o utilizador. Contudo, a tendência
será para a produção comercial de RED – espera-se que graças ao impulso do eixo dos conteúdos do
PTE – o que deverá implicar um acréscimo de qualidade nos recursos digitais disponíveis.
Evidentemente, esta circunstância não exonera a biblioteca de desempenhar um papel igualmente
importante, nomeadamente na ponderação das variáveis custo/benefício, na selecção de recursos
adequados ao seu público-alvo, e na sua disponibilização aos utilizadores.

Avaliar: como?

A avaliação de recursos educativos digitais deve contemplar as diferentes dimensões do recurso,


nomeadamente a sua dimensão técnica, a dimensão do conteúdo, a dimensão linguística, a dimensão
pedagógica e a dimensão de atitudes e valores. Para facilitar este processo, costumam usar-se
instrumentos de avaliação que incluem um conjunto de critérios e parâmetros que nos permitirão
emitir juízos de valor sobre cada uma das dimensões.
De acordo com Maria Pinto1, esses critérios e parâmetros podem ser agrupados da seguinte forma:

Qualidade intrínseca (valor da informação em si mesma independentemente da sua forma de


difusão, concepção ou público-alvo).

Qualidade contextual (contexto no qual se acede à informação e adequação às necessidades e


estilos de aprendizagem do aluno):

1
Pinto, Maria (2007), Evaluación de la cálida de recursos electrónicos educativos para el aprendizaje significativo, Cadernos
SACAUSEF, n.º 2, pp. 25-43. 5 Avaliação de Recursos Educativos Digitais
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Qualidade representativa (forma como a informação é representada: aspectos técnicos e


estruturais do recurso):

Qualidade do acesso (modo como se acede à informação)

Evidentemente, nem todos os parâmetros serão observáveis na maioria dos RED, e nem todos são
igualmente importantes para aferir a qualidade pedagógica de um recurso. Por outro lado, deverá
igualmente ter-se em conta, sobretudo no âmbito da Web 2.0, que muitos conteúdos estão em
constante evolução (ver o exemplo da Wikipédia) e que determinados juízos de valor perdem a sua
relevância perante a facilidade com que as actualizações/melhoramentos são feitos.
No contexto das bibliotecas escolares, importa ainda ponderar e determinar a partir de que limites de
qualidade a BE inclui/exclui o recurso do seu sítio de marcadores sociais, repositório ou biblioteca
digital.
Para finalizar, devemos salientar a necessidade de dispor uma equipa multidisciplinar, sobretudo
quando se trata de aferir critérios de qualidade intrínseca e contextual.

A avaliação de recursos e a Web 2.0

A Web 2.0 trouxe a questão da avaliação de recursos educativos digitais para uma nova dimensão,
não porque a quantidade de recursos aumentou exponencialmente, como já referimos, mas também
porque abriu aos utilizadores a possibilidade de eles próprios avaliarem os conteúdos disponíveis, o
chamado rating. Cada vez mais, navegando na Web, nos deparamos com conteúdos que permitem ao
utilizador avaliá-los quer quantitativamente (por exemplo, atribuindo uma pontuação de 1 a 5) quer
qualitativamente (por exemplo, mediante comentários). Os recursos em formato de wiki (de que o
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exemplo mais conhecido é a Wikipedia) permitem que os utilizadores se tornem, mais do que
avaliadores, correctores da informação, num processo contínuo de melhoramento/actualização. A
emergência das redes sociais, por outro lado, proporcionou, embora de forma indirecta, novos
esquemas de avaliação, por exemplo medindo o número de vezes que determinado recurso é
partilhado nessas redes.

As bibliotecas poderão e deverão tirar partido destes novos meios, envolvendo os utilizadores e
aproveitando a inteligência colectiva para melhorar os seus serviços (imaginemos as potencialidades
de um OPAC social…).

Obviamente, todos estes processos não estão isentos de polémica e a «ditadura das maiorias» pode
por vezes produzir efeitos perversos (lembremos apenas, a título de exemplo, um dos últimos ebooks
de Ken Follet, que a Amazon colocou à venda a um preço superior à edição em papel; como forma de
protesto, os utilizadores pontuaram negativamente o livro, o que para o utilizador comum poderia
sugerir que estariam a avaliar a sua qualidade intrínseca…). Por estas e outras razões, os sistemas
formais de avaliação de RED continuam a ser os instrumentos mais fidedignos, e a sua implementação
na biblioteca, uma necessidade incontornável.

Bibliografia

Beck, S. (2003), Evaluation Criteria: The Good, The Bad & The Ugly: or, Why It's a Good Idea to
Evaluate Web Sources, NewMexico State University Library [em linha]. [Consult. em 7/11/2010]
Disponível em: http://lib.nmsu.edu/instruction/evalcrit.html

Comissão Europeia (2003), Para uma Europa do Conhecimento. A União Europeia e a Sociedade da
Informação. [em linha]. [Consult. em 7/11/2010] Disponível em:
http://ec.europa.eu/publications/booklets/move/36/pt.pdf

Nesbit, J., Belfer, K., Vargo, J., (2002). A Convergent Participation Model for Evaluation of Learning
Objects, Canadian Journal of Learning and Technology.

Pinto, Maria, (2007), Evaluación de la cálida de recursos electrónicos educativos para el aprendizaje
significativo, Cadernos SACAUSEF, n.º 2, pp. 25-43.

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