Você está na página 1de 9

Direitos Reais – 1º Apontamento

I – Conceito de direito das coisas

Segundo a doutrina, o direito das coisas é o conjunto de regras que regulam as


situações jurídicas havidas entre os sujeitos de direito e os bens susceptíveis de
apropriação, bem como os modos de utilização económica de tais bens. São
exemplos de diversas manifestações regulado pelo direito das coisas a
aquisição, o exercício, a conservação, a reivindicação e a perda de bens.

O Direito das Coisas identifica um ramo de Direito que estabelece o regime de


direitos que se referem as coisas. Quanto a noção, modalidade, regime jurídico
próprio encontramos fundamentalmente nos arts. 202˚ e seguintes do C.C e
constituem precisamente o Direito das Coisas. Enquanto tais, formam uma
disciplina que tradicionalmente é objecto de estudo da Teoria Geral do Direito
Civil.

II - Coisa como objecto de direitos reais

Como dissemos anteriormente que o direito das coisas é o conjunto de regras


que regulam as situações jurídicas havidas entre os sujeitos de direito e os bens
susceptíveis de apropriação, bem como os modos de utilização económica de
tais bens. Contudo pode-se concluir que o objecto de direitos reais é a coisa.

Alguns autores exigem ainda que essa coisa tenha economicidade, uma
característica normalmente associada à autonomia, mas que em algumas
hipóteses pode não estar. Assim, por exemplo, uma abelha isolada não tem
economicidade apesar de ser independente. Isto tem como consequência que
ela não pode ser objecto de Direitos Reais, salvo quando integrada num
enxame; só nessa altura é que adquire valor económico e pode ser objecto do
direito de propriedade.
2.2. Classificação das Coisas

O art. 203˚ contem um elenco não exaustivo das classificações das coisas.

Desse elenco fazem parte as coisas:

Imóveis ou móveis ( arts. 204 e 205˚)

Simples ou compostas, ( art.206˚)

Fungíveis ou não fungíveis, (art.207˚)

Consumíveis ou não consumíveis, (art.208˚)

Divisíveis ou indivisíveis, (art 209˚)

Principais ou acessórias, (art. 210˚)

Presentes ou futuras, (art. Art.210˚)

Importa salientar que não inclui a distinção entre coisas corpóreas e incorpóreas
que se reveste de grande importância.

As coisas corpóreas são aquelas que têm existência física, são perceptíveis pelos
sentidos. Exemplo: a energia eléctrica porque é perceptível pelos sentidos,
muito embora o Código Civil não prever a ela.

São coisas incorpóreas as ideias inventivas ou criadoras. São coisas que só


podem ser captadas pela inteligência ou sensibilidade.

Oliveira Ascensão (1997) advoga que o direito de autor e os direitos sobre bens
2
industriais não são direitos de propriedade , nem outra espécie de direitos
reais, porque a obra intelectual, uma vez divulgada, não pode estar sujeita ao
domínio de um só sujeito.

Nisto surge o entendimento de que:


Todos desfrutam directamente desse bem;

Somente o seu titular pode beneficiar economicamente com ele;

Tem um exclusivo de exploração económica da obra;

Os direitos sobre bens intelectuais se inserem na categoria dos direitos de


exclusivo ou de monopólio;

O Código Civil prevê que tais direitos fiquem sujeitos a legislação especial e
que se lhes aplique subsidiariamente o disposto no Código Civil para as coisas
corpóreas (artigo 1303˚, nºs 1 e 2, respectivamente), a questão da natureza
jurídica dos direitos de autor e dos direitos da propriedade industrial acaba por
ter escassa utilidade prática.

III-Direito pessoal e direito patrimonial

O direito pessoal sobre a ideia criativa, consiste no poder de exigir que mais
ninguém falsifique o nome de outrem.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves assenta numa relação jurídica pela qual o
sujeito activo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui
uma relação de pessoa a pessoa e tem como elementos, o sujeito activo, o sujeito
passivo e a prestação.

O direito patrimonial é um poder de usar, fruir e dispor de um modo pleno,


absoluto e exclusivo daquela ideia inventiva ou artística (art. 1305˚).

Por esses direitos de exclusivo ou monopólio traduz-se num verdadeiro direito


de propriedade.

IV-Natureza jurídica de Direitos das coisas


Antes de apresentarmos a natureza jurídica importa frisar que o “Direito das

Coisas é um conjunto de normas jurídicas que rege atribuição das coisas com
eficácia real”.

De acordo com o critério corrente e sobejamente conhecido de repartição das


realidades jurídicas em patrimoniais e não patrimoniais, no plano de direito
Civil, o Direito das Coisas reveste-se de:

Natureza jurídica: Direito privado

Patrimonial

a) Direito Privado

As normas de direito reais localizam-se no Direito privado em particular no


Direito Civil.

Apesar de este ramo ser de natureza privada, não podemos esquecer das
projeções desta matéria jurídica no direito público. No regime dos direitos reais
se verifica a interferência de institutos próprios do direito público como
3
acontece com as expropriações e a requisição .

Natureza patrimonial;

Os direitos reais constituem mesmo ao lado dos direitos de crédito, uma das
mais importantes categorias de direito patrimonial.

A patrimonialidade interfere com relevantes aspectos do seu regime,


nomeadamente quanto a sua transmissibilidade, que é característica da
generalidade dos direitos reais.
Por outro lado, a expressão Direitos Reais pode ser usada para definir um Ramo
do Direito, mas também para referir o conjunto dos direitos subjectivos
regulados por tal ramo de Direito. Nesta vertente, são direitos reais:

O direito de propriedade,

O direito de superfície,

O usufruto.

Neste segundo sentido, pode definir-se direito real como um “direito


subjectivo, absoluto e inerente a uma coisa, que permite ao seu titular
determinada forma de aproveitamento jurídico desta”.

Aspectos caracterizadores dos direitos reais:

Natureza Privada;

Caracter absoluto;

Carácter patrimonial;

Que têm por objecto coisas.

Nenhum dos referidos aspectos é exclusivo dos direitos reais, mas apenas estes
os possuem cumulativamente.

V-Fontes do Direito das Coisas

Usa-se a expressão fontes de direito em vários sentidos. Retemos somente a


acepção técnico-jurídica, segundo a qual se trata dos modos de produção e
revelação de normas jurídicas, ou seja dos instrumentos de pelos quais essas
normas são estabelecidas e, do mesmo passo expostas ao conhecimento
público.

Na senda das fontes de Direito das Coisas à que mencionar em:


1º- A Constituição da República de Moçambique (CRM)

A CRM é a principal fonte de direito enquanto base de todo o sistema jurídico e


que, contêm a máxima proteção à propriedade privada, encontrando-se
vigentes normas que respeitam a matéria dos direitos reais, como è o caso do
art. 82˚, Capitulo V do já referido dispositivo legal que trata de propriedade
privada.

2º-Código Civil

O Código Civil e nele no seu livro III, constituem a sede fundamental do


regime dos direitos reais. Porem, nem a CRM, o C.C e nem o livro III, constitui
as únicas fontes do Direito das Coisas, nem contem todo o regime dos direitos
reais.

Por exemplo, em matéria de direito de propriedade, o C.C apenas se ocupa do


que tem por objecto coisas corpóreas. (vide art.˚ 1302˚).

VI- Características de direitos reais


Inerência

A inerência constitui, uma característica do direito real de grande relevo em


7
que a doutrina portuguesa lhe reconhece esse relevo embora nem sempre
configure nos mesmos termos de características de direitos reais.

Ela (inerência) estabelece uma relação com o modo por que o conteúdo do
direito real se projecta sobre a coisa corpórea determinada que constitui o seu
objecto.
O interesse do seu respectivo titular é realizado por ele mediante o aproveitamento
imediato de utilidades da própria coisa.

Transmite uma ideia de íntima ligação do direito à coisa.

Por ser inerente a coisa, o direito real muda, em geral, se passar a recair sobre
coisa diversa em contrapartida acompanha a coisa nas suas vicissitudes.

Sequela

É a possibilidade de o direito real ser exercido sobre coisa que constitui seu
objecto, mesmo quando na posse ou detenção de outrem, acompanhando-a nas
8
suas vicissitudes, onde quer que se encontre . Neste sentido, a sequela:

É manifestação dinâmica da inerência dos direitos reais e por isso são várias as
suas manifestações, de algum modo ligada ao particular conteúdo de cada uma
das suas modalidades.

Visa assegurar ao titular do direito a actuação sobre a coisa, que se mostre


adequada à realização, do seu interesse, segundo as faculdades que integram o
conteúdo do seu direito.

A doutrina aponta a sequela como característica específica dos direitos reais,


ligadas as relações existentes entre o seu conteúdo e o seu objecto. As suas
múltiplas manifestações constituem importantes meios de tutela e defesa dos
direitos reais. Em certos casos, como é o próprio de direitos reais de gozo, a
sequela tem de assegurar ao seu titular meios de atuação sobre a coisa. Aqui a
primeira e a imediata manifestação da sequela é a acção de revindicação (arts.
1311˚ e 1315˚).

Prevalência

O direito real prevalece sobre o direito de crédito;


De acordo com Mota Pinto, a prevalência é o corolário da natureza absoluta e
da inerência dos direitos reais;

Segundo Pinto Coelho A inerência não faz sentido enquanto não haver
incompatibilidade de direitos sobre a mesma coisa.

Tipicidade

Os direitos reais têm um conteúdo definido por lei;

Só são reais os direitos que a lei qualifica como tal nos termos do artigo 1306˚.

Perpetuidade

O tempo não enfraquece o vínculo do proprietário com sua coisa, ele é sempre
permanente;

O não uso importa na extinção do bem (ex. desapropriação do bem não usado,
usucapião, usufruto).

Exclusividade

Não pode existir dois direitos reais idênticos sobre a mesma coisa, de modo a se
excluir um deles;

Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido com


exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real;

Não é possível instalar-se direito real onde outro já exista.

Você também pode gostar