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Pura

Essência
Thea Harrison

LIVRO 03.5 DA SÉRIE RAÇAS ANTIGAS

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Tradução:

Krika Prado

Revisão:

Juliana Vieira S. Machado

Leitura Final:

Josi T.

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Para Heather e Amy e minha família por tornar isso possível.

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UM

Morte

Não se mexa. Fique perfeitamente imóvel.

O enorme monstro imergiu através do apartamento com a velocidade letal de


um bombardeiro stealth. Um coquetel Molotov de feromônios e Poder cuspido
através do ar contaminado por sangue, os sinais clássicos de um forte macho
Wyr em fúria. Alice ficou só espiando, com o coração batendo tão forte que ela
pensou que ia explodir de seu peito. O assassino tinha voltado?

Em seguida, o monstro ficou mais devagar. Alice o ouviu proferir maldições


cruéis sob sua respiração enquanto ele se deparava com o corpo ainda quente
de Haley. Alice pegava o metrô de Nova York diariamente para trabalhar, e
pensou que tinha ouvido de tudo, mas aprendeu mais algumas coisas
enquanto o escutava. Será que ele xingou porque ele via a mulher assassinada
pela primeira vez, ou porque ele percebeu que tinha cometido algum tipo de
erro?

Ela mesma tinha acabado de chegar ao apartamento de Haley. Ela tinha


encontrado a porta aberta e correu para dentro para descobrir que o corpo de
sua amiga tinha sido colocado sobre sua cama. O torso de Haley havia sido
cortado e estava aberto, os órgãos deitado sobre a colcha florida como
brinquedos abandonados de uma criança.

Alice tinha ficado atordoada com aquela visão, a lógica normalmente fria e
suave de sua mente sobrepujada pelo choque. Em seguida, ela tinha ouvido
alguém subindo as escadas correndo. Ela mal tinha chegado ao seu
esconderijo antes que o monstro apareceu. Se ele fosse o assassino e ele

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tivesse voltado para limpar alguma pista que ele tinha deixado para trás, nem
Alice nem a polícia iriam saber qual era ela agora.

Ele rondava pela casa de Haley em completo silêncio. Alice não podia nem
ouvir os passos de suas macias almofadas. A consciência de que ele estava ali
era insuportável, como se alguém tivesse acariciado com uma lâmina de
barbear plana ao longo de sua pele nua com a promessa sorridente de um
corte. A presença dele era uma violação do espaço privado de Haley. Ele parou
a menos de 1m de Alice, tão perto que ela podia ver o bolso de sua jaqueta de
couro desgastado com o canto do olho e ouvir o som quase imperceptível de
sua respiração estável.

Ela queria gritar e atacá-lo. Ela queria fugir e discar 911. O corredor
assombreado do apartamento estava a milhões de quilômetros de distância, a
porta da frente aberta longe demais para ela chegar até lá correndo e esperar
não ser notada. Ela não se atreveu a se mover, não se atreveu até mesmo
mudar o seu olhar com medo de que se olhasse para a luz, esta poderia se
refletir em seus olhos e delatar sua posição. Ela mal se atrevia a respirar. A
única coisa que podia fazer era provar o ar e saber que, se nada mais, ela
poderia reconhecer este homem novamente pelo seu odor. Debaixo do cheiro
de violência, ele cheirava a calor e limpeza. Se eles estivessem em qualquer
outro tipo de situação, ela talvez teria achado seu cheiro sexy. Ela lutou contra
a súbita vontade de vomitar.

Espere. Se ela podia sentir o cheiro dele, então que tipo de trilha ela tinha
deixado para trás? Poderia ele senti-la também?

Seria ele capaz de reconhecê-la de novo, também? Oh, Deuses.

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Riehl lutou com sua fúria e conseguiu colocá-la sob controle. Seu corpo se
estabeleceu fora da transformação parcial.

Ele não conseguia se livrar da sensação de que alguém o estava observando.


Ele manteve uma mão perto de seu coldre com a SIG P226, e um pacote
invisível de whoop-ass* pronto na outra.

Corpo com o mesmo M.O.**, evisceração da cavidade abdominal. O assassino


nunca levava os órgãos. Ele só os colocava em um padrão distinto, como
estrelas numa constelação escura. O corpo humano médio continha 10 litros de
sangue. A colcha outrora bonita dessa mulher estava encharcada com o dela.
Ele pingava sobre o chão acarpetado do quarto, em uma piscina grossa e
pegajosa. Ele não ficaria surpreso se ela já tivesse encharcado o chão do
apartamento abaixo. Alguém ia ter um puta trabalho para limpar tudo aquilo.

Pelo amor de Deus, o corpo ainda estava quente! As chaves e a bolsa


parcialmente aberta estavam no chão, e os restos de uma roupa de negócios
apoiava, como um travesseiro, o seu corpo mutilado. Parecia que o assassino
a tinha surpreendido quando ela chegou em casa do trabalho. Não havia
nenhum sinal de arrombamento, o que significava que ela tinha pensado que
ela tinha razão para confiar nele. Será que o assassino fingiu ser um
funcionário público ou trabalhador da manutenção, ou ele era um conhecido?

* Substância perigosa, geralmente encontrada dentro de latas. Quando


liberada, pode causar um grande dano à pessoa alvo, e é geralmente utilizada
como arma de destruição. Muito frequentemente, o usuário avisa o alvo sobre a
abertura iminente da lata, caso este não aja da maneira desejada.

**M.O. - Modus operandi é uma expressão em latim que significa "modo de


operação". Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar
uma atividade seguindo sempre os mesmos procedimentos. Esses
procedimentos são como se fossem códigos.

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Se Riehl não encontrasse ninguém para em quem atirar o whoop-ass, ele
sempre podia guardá-lo para si mesmo. Se ele tivesse feito as ligações um
pouco mais rápido, se tivesse tido a resposta do D.P. de Jacksonville um
pouco mais cedo, se ele tivesse feito as pesquisas de dados na internet
imediatamente, em vez de ficar mastigando sobre as idéias com seu novo
chefe, sentinela Wyr e grifo Bayne, este moça bonita ainda podia estar viva.

Maldição, isso foi em parte culpa dele.

Ele precisava ligar para o Q.G.*, mas... Riehl fez um giro lento, seus olhos
penetrantes observando cada detalhe do lugar.

A casa da vítima era um apartamento de um quarto pequeno, do tamanho de


um selo, no andar de cima de um prédio de quatro andares, sem elevador. Ele
foi decorado com economia de espaço pela decoração da IKEA. Para Riehl, a
vítima tinha mantido o apartamento tão quente parecia sufocante. A TV de tela
plana estava montada em uma parede. Cada morador de pequeno
apartamento em Nova York deve ter aplaudido quando aquela inovação saiu.
Havia plantas e livros e merda, assim com um emaranhado de tranqueiras
femininas sobre uma cômoda do quarto. Ele cutucou armários abertos e eles
estavam cheios de coisas normais - roupas, sapatos, casacos e alguns guarda-
chuvas e pequenas caixas. Um jornal de quinta-feira estava dobrado sobre
uma pequena mesa, que mais parecia da boneca Barbie, na também pequena
área de refeições, junto com uma caixa aberta de decorações festivas, e uma
meia-máscara elegante, cheia de penas e lantejoulas, sobre ela.

Cristãos tinham Natal, Judeus tinham Hanukkah, e a o feriado Africano


universal era Kwanzaa. Para as Raças Antigas, o solstício de inverno era o
momento de comemorar os sete Poderes Primordiais na Masque ofthe Gods*.
A vítima estava no meio de decorar sua casa para o Festival da Máscara da
próxima semana. Talvez ela tivesse planejado comparecer a um dos muitos
bailes que seriam realizadas por toda a cidade.

*Quartel General

** Mascarada dos Deuses

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Aquela era uma boa máscara, do tipo que alguém usava e transmitia aos
próprios filhos. Deveria ter custado a alguém um salário ou dois. Talvez ela
tivesse olhado para ela com memórias felizes e ansiedade.

Ao todo, o apartamento era bastante típico para a cidade, e um lugar


perfeitamente encantador para uma fêmea pequena de 50 Kg, solteira como a
vítima. Riehl media 1,98m de altura e passava dos 98 Kg. Ele tinha decidido só
recentemente domesticar a si mesmo depois de 96 anos vagando como
capitão no exército do Senhor Wyr, Dragos Cuelebre. Ele estava acostumado a
um estilo de vida áspero e gastar muito tempo ao ar livre, muitas vezes em
condições meteorológicas adversas. Para ele, o pequeno lugar superaquecido
parecia claustrofóbico.

Não havia nenhuma dúvida em sua mente a invasão teve o objetivo de matar.
As joias dela ainda estavam espalhadas sobre a cômoda e o canto de uma
carteira era visível em sua bolsa aberta. Parecia que nada havia sido levado, a
menos que o assassino tenha cortado um pouco de algo de algum dos órgãos
para manter como uma lembrança, o que teria que ser determinado por uma
autópsia.

Ele simplesmente não conseguia afastar a sensação de alguém mais estar


presente. Ele estava procurando por algum tipo de show macabro. O olho de
alguém espiando por trás de uma porta do armário, ou uma webcam enfiada
dentro de um coelho rosa fofo. Ele até mesmo percorreu com os olhos a cena
coberta de neve do lado de fora da janela para ver se alguém estava olhando
de outro prédio.

Enquanto inspecionava, ele respirava de modo profundo, constante e


deliberado. O cheiro pesado de cobre do sangue permeava tudo. Tudo, menos
o cheiro normal da vítima. Havia outros odores que ele classificou como normal
e descartou, como o leve cheiro persistente de peixe frito e um mau cheiro
floral que vinha de um pote de potpourri. Se Riehl estivesse em sua forma Wyr,
seu lobo teria tido um ataque de espirros com o potpourri e procurado rolar
dentro do peixe.

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Ele notou duas outras coisas muito interessantes. Ele podia sentir levemente o
pingo de um gosto químico na parte de trás de sua garganta, que pairava no ar
ao redor da vítima, junto com o cheiro de borracha. Ele apostaria seu salário da
próxima semana que o assassino usara luvas de borracha, e que a mancha
química era Eliminador de Odor Inodoro KO, ferramenta útil e comum de
caçadores de cervos e criminosos Wyr.

Ele teria esperado as luvas, mas ao usar o KO, significava que o assassino era
ou Wyr, ou pelo menos estava familiarizado com as capacidades de
investigação dos Wyr. O assassino foi organizado, soube esconder seu cheiro,
e planejou com antecedência. Tudo aquilo coincidia com cuidado deliberado
com o qual ele havia posicionado os órgãos da vítima, exatamente como o
massacre de Jacksonville, sete anos atrás.

A segunda coisa muito interessante que Riehl notou foi o outro cheiro no
apartamento. Era um odor feminino leve, delicado, que atormentava seus
sentidos. Assombrando, era delicioso, e sugeria uma realidade misteriosa e
inesperada, na qual ele queria mergulhar de cabeça, exceto que o odor se
tornara irregular, com feromônios de estresse que trincou seus dentes e fez
sua mão se aproximar da arma. O cheiro não tinha tido tempo para ser
absorvido profundamente pelos arredores e já estava desaparecendo.

O corpo ainda estava morno, e uma mulher estivera no apartamento antes


dele. Bem, o que me diz disso.

Se a picada insistente na nuca de Riehl fosse algum indício, a mulher podia até
ainda estar por perto, mas se ela estava, ele não tinha a primeira pista de onde
ela poderia estar se escondendo.

Ele chegou a uma decisão repentina e marchou para fora do apartamento.

A queda de neve da semana passada tinha se transformado em lama escura


nas ruas e nas calçadas, mas o vento frio e molhado de dezembro trazia a
promessa de mais. Flocos macios de branco estavam apenas começando a
flutuar para baixo.

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Eles pareciam inócuos e bonitos como conto de fadas, mas eram o precursor
de uma grande tempestade de inverno que iria sufocar a cidade pelas primeiras
horas da manhã. Os limpa-neve já tinham começado a trabalhar nas ruas.

O vento tinha gosto de fumaça de escapamento, frituras, sal e areia.

Riehl fez um reconhecimento rápido quando ele atingiu a rua. Nenhum sinal de
um criminoso por ali, mas ele não esperava outra coisa. O cara podia ser
assassino louco de pedra, mas ele não era estúpido. Riehl não teria aquela
sorte nesta noite.

O apartamento da mulher morta era localizado no caldeirão do Norte de


Brooklyn, onde uma variedade de raças Antigas se fundia com uma miscelânea
étnica da humanidade. A mancha cinzenta do início da noite estava repleta de
brilhantes decorações de Natal nas vitrines frontais das lojas. A esquina da rua
próxima tinha uma loja de delicatessen / mercearia que era gerenciada por uma
família Wyr. Eles eram uma espécie de animal de pastagem, que gostavam de
se reunir em grupos. O supermercado ficava do outro lado da rua, em frente a
uma loja de bebidas dirigida por um casal mais velho armênio. A banca de
jornal ao ar livre tinha o cheiro forte de terra de um anão, que permanecia em
volta das beiradas da porta e do alçapão.

A banca de jornal já tinha encerrado suas atividades do dia, e também a


lavanderia que ficava a meio quarteirão de dist6ancia. O espaço fornecido pela
porta sombreada da lavanderia era raso demais para esconder seu corpo de
ombros largos. Na verdade, não havia nenhum bom esconderijo onde ele
pudesse ter a esperança de observar o prédio e permanecer despreocupado.

Riehl se moveu rápido, desviando dos veículos, para chegar à delicatessen.


Ele empurrou as portas e parou em frente aos caixas, perto da janela que dava
para a rua. O caixa era um homem magro, de meia-idade, que lhe deu um
sorriso nervoso que desapareceu assim que Riehl tirou e mostrou seu
distintivo.

"Ignore-me," disse Riehl. O homem assentiu com os olhos arregalados.

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Riehl foi para a beirada da janela de vidro e se encostou à parede. Naquele
ângulo, ele estava escondido da entrada do edifício de apartamentos. Ele
inclinou a cabeça até que pudesse ver a porta da frente.

Então ele esperou. Riehl deixava as pessoas nervosas na maioria das vezes, e
se a mulher estava se escondendo no apartamento, ela seria arisca.

Ele analisou. Poderia ela ter testemunhado o assassinato? Até mesmo


participado? Os registros do Departamento de Polícia de Jacksonville não
faziam nenhuma menção a um possível parceiro. Será que eles deixaram algo
escapar, ou este poderia ser um arranjo recente? Será que um assassino tão
cheio de ritual faria uma mudança tão drástica em sua metodologia?

Nah, ele estava tentando enfeitar demais o cenário. Se a mulher tivesse sido
uma participante ativa, ela teria usado luvas e camuflado seu perfume distinto,
e ela provavelmente teria saído com o assassino. E se ela havia testemunhado
o assassinato, ela teria tido tempo de sobra para fugir da cena antes que Riehl
chegasse. E que tipo de pessoa poderia permanecer imóvel e em silêncio
enquanto assistia alguém ser trucidado com tanta precisão? Humor já negro de
Riehl escureceu ainda mais.

Enquanto ele observava, ele pegou seu celular e apertou a discagem rápida.

Bayne respondeu. "Sim?”

"Ele a pegou," disse Riehl. "É o nosso menino e o corpo ainda está quente. Ela
não poderia estar morta há mais de uma hora, uma hora e meia." Ele ouviu a
sentinela praguejar.

Bayne perguntou, "O que você acha, é o assassino de Jacksonville ou um


imitador?"

"Se você está me pedindo para adivinhar, eu diria que sim, é o assassino de
Jacksonville. Você tem que ver com seus próprios olhos a carnificina
meticulosa que ele executou aqui. Um cara assim poderia ter o auto-controle
para esperar sete anos, se a espera tivesse algum tipo de significado especial
para ele. "Ele forneceu o endereço a Bayne e disse:" Escute, eu tenho que ir.
Estou seguindo uma possível testemunha."

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"Estou se dirigindo à cena pessoalmente. Me ligue de volta quando puder",
disse Bayne. A sentinela desligou sem dizer adeus.

Riehl começou a colocar seu celular no bolso quando a porta do prédio se abriu
e uma mulher saiu.

Ele congelou. Tudo congelou. Corpo, mente, espírito. O mundo se inclinou


sobre seu eixo e redefiniu os polos.

Embora o torso da mulher estivesse escondido sob um casaco de lã preto no


comprimento de suas coxas, ficou claro que ela tinha uma estrutura esbelta e
elegante. Uma abundância de ouro com cachos castanhos escuros nas pontas
saltava de sua cabeça. Ela usava calça jeans de corte reto, botas e óculos de
armação de metal, e sua pele era de uma cor rica e quente de chocolate com
creme. Ela se conduzia com a fragilidade tensa de alguém sofrendo de choque
profundo. Mesmo do outro lado da rua, seu rosto fino e inteligente parecia
tenso. Ela alcançou a calçada e fez uma pausa, uma mão pequena, de ossos
finos segurava as golas altas de seu casaco juntas, em um gesto defensivo,
enquanto examinava a rua.

Era ela, a mulher do apartamento. Ele sabia! Ele não tinha que captar seu
cheiro. Horror e tragédia ainda permaneciam em seus olhos.

Outro tipo de conhecimento se estabeleceu em seus ossos, uma estranha e


profunda piscina de certeza de que ele tinha sofrido uma mudança indefinida e
irrevogável, a qual ele não entendia ou tinha tempo para explorar. A mulher se
virou e começou a caminhar na direção da estação de metrô mais próxima.
Riehl empurrou a porta da delicatessen e se moveu para atravessar a rua, sua
atenção completamente focada, como uma mira a laser, na figura que se
afastava.

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Os pés de Alice começaram a conduzi-la automaticamente em sua rota normal
para casa, depois de visitar Haley, em direção à estação de metrô da Bedford
Avenue. Primeiro, Peter foi morto. Então, ontem eles descobriram que David
tinha desaparecido, e agora Haley estava morta.

David estava morto também. Ela sabia que ele estava, apesar da polícia ainda
não ter emitido nenhuma palavra oficial. Três de seus amigos partiram em
poucos dias.

A rua parecia inofensiva, mas uma pitada do cheiro do monstro ainda


permanecia, quente e sensual, no ar frio e úmido. Alice não conseguia parar de
tremer. A imagem do pobre corpo mutilado de Haley estava congelada em sua
mente. O que ela deveria fazer a seguir? Ah, sim, ligar para o 911.

Ela procurou por seu celular no bolso enquanto seu olhar disparava ao redor.
Ela olhou por cima do ombro.

Um homem de calça jeans preta e uma jaqueta de couro surrada estava


atravessando a rua. Ele era imenso, tão alto quanto uma árvore, com a
constituição de um jogador de defesa de futebol americano, e movia-se como
um assassino. Seu cabelo loiro-branco era curto, como o de um militar, e as
linhas severas e cruéis de seu rosto eram curtidas e duras. Seus olhos
penetrantes eram de algum tipo de cor pálida, cinza ou azul, e refletiram a luz,
conforme ele olhou diretamente para ela.

O chão sumiu sob os pés de Alice quando o reconhecimento a atingiu. Muitas


epifanias horripilantes ocorreram ao mesmo tempo. Elas quase a nocautearam,
levando-a ao chão.

Era o monstro. Ele já não estava preso na transformação parcial de um Wyr,


mas ela o conhecia. Ela o conhecia.

Ele a tinha encontrado, assim como ela tinha medo de que ele o faria. Ele havia
captado o cheiro dela, e agora ele tinha visto seu rosto.

E ela tinha visto o dele. Ele poderia ser aquele que tinha matado seus amigos.
Ele era o homem mais terrível que ela já tinha visto.

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E ele era seu companheiro.

Oh deuses! Oh deuses!

Uma onda quente de horror lambeu sua pele com labaredas invisíveis. Ela
tinha ouvido falar de tal coisa antes, dois Wyr reconhecendo um ao outro como
companheiros, à primeira vista. Ela pensara que se tratava de uma lenda
urbana. Mais profundo do que o amor, mais perigoso do que a luxúria, os Wyr
se acasalavam para a vida. Isso não poderia estar acontecendo. Isso não
aconteceria, não se ela pudesse fazer algo a respeito.

Ela girou. O terror deixou seu pensamento em branco e emprestou asas a seus
pés.

Riehl investiu em uma disparada, atrás da mulher.

Santo inferno, aquela garota podia se mover. Riehl era rápido, mas ele era
grande. Ela se arremessou rapidinho por entre carros e pessoas, como nada
que ele já tivesse visto, seu corpo pequeno e esbelto era capaz de fazer curvas
fechadas e se espremer em espaços apertados, de uma forma que ele não
poderia igualar.

Então, em um pulo na amarelinha da terra da esquisitice, conforme ela correu


ela se misturou às coisas a sua volta.

Ela não chegou a desaparecer, não totalmente. Sua roupa era muito sólida
para isso, mas de alguma forma, era mais difícil localizá-la apenas pela visão.

Uau! Aquilo foi fascinante como merda!

Ainda bem que ele poderia localizá-la com mais do que apenas a sua visão.
Ele poderia pegá-la se se transformasse. Se eles estivessem em qualquer
lugar, menos na cidade, ele o faria. Ele era mais rápido em sua forma de lobo,
e ele podia correr, literalmente, por vários dias. Mas se ele mudasse para o
lobo, ele não poderia falar, a menos que eles estavam perto o suficiente para a
telepatia, e ele já podia sentir o pânico dela no ar. Além disso, Nova York podia
ser a sede do território Wyr, mas também era o lar de milhões de outras

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pessoas. Ele não confiava na reação das pessoas ao verem um lobo de 90 Kg
correndo pela rua da cidade.

Ele respirou fundo e gritou, "NYPD! Pare!"

Claro que ela não parou. Ele também não teria parado só porque um estranho
idiota gritou com ele. Droga, ela estava indo para o metrô?

Ela estava. Em um movimento que de tão suicida roubou seu fôlego, ela
mergulhou quase que diretamente sob as rodas de um caminhão que se
aproximava enquanto corria atravessando a rua. Riehl desconfiou que o
motorista nem mesmo chegou a vê-la porque o caminhão não diminuiu.

Riehl não teve escolha senão se deter por alguns momentos vitais, que deu a
ela uma vantagem ainda maior.

Depois do caminhão, ele engrenou, engrenou tão firme quanto podia. Ele
explodiu calcada abaixo como um míssil termo-guiado, dispersando os
pedestres em seu rastro, como se fossem galinhas gritando. Ele ouvia os sons
de sua respiração, o vento cortante assobiando em suas orelhas. Na estação
de metrô, ele não se preocupou em pegar as escadas em sua corrida. Em vez
disso, ele se contraiu e atravessou o lance em um grande salto, mas não foi o
suficiente.

Vários metros à frente, a mulher se arremessou através da plataforma da


estação e subiu em um trem tão logo as portas se fecharam. Era como algo
saído de um filme feito para a maldita TV. Inacreditável. Riehl cuspiu uma
maldição quando alcançou as portas fechadas.

Eles se encararam através da barreira. A mulher estava ofegante e seus olhos


estavam negros dilatados em um rosto que era branco como giz, exceto por
duas bandeiras agitadas de cor em suas bochechas. Conforme ela absorvia a
expressão dele, ela se afastou da porta, só parando quando esbarrou nas
pessoas atrás dela.

O trem deu um solavanco. Ele ergueu as sobrancelhas, tirou seu distintivo e


mostrou para ela. Ela olhou para ele e seus olhos se arregalaram. Enquanto o

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trem se afastava, ela se aproximou novamente e colocou a mão no vidro, seu
olhar subindo para o dele.

Ele apontou para ela. "Estação de polícia mais próxima", ele murmurou. "Vá
lá".

A última visão que ele teve foi dela olhando para ele enquanto o trem se
sacudia para longe. Ele se perguntou se mostrar o distintivo teria um resultado
melhor do que gritar com ela na rua.

Era melhor ir localizar a delegacia mais próxima e descobrir.

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DOIS

Lei

Alice saiu do metrô na parada seguinte e subiu correndo as escadas para o


nível da rua. Ela estava um desastre total, sobressaltando-se com a mínima
coisa, enquanto ela tentava repassar o grito incrédulo ainda ecoando em sua
cabeça.

Teria ele experimentado a mesma epifania quando olhou para ela?

Companheiro. Assassino.

Polícia?

Seja inteligente, fique segura agora. Poderia o distintivo ser falso? Aturdida
como estava, aquilo parecia ser um chute muito alto - a menos que se passar
por um policial foi como ele tinha entrado no apartamento de Haley, em
primeiro lugar. A porta de Haley tinha sido aberta, não arrombada. Muitos
crimes tinham sido cometidos por pessoas que se passavam por policiais,
incluindo um dos mais famosos do século XX, o massacre do Dia de São
Valentim em 1920.

Mas ele lhe dissera para ir à delegacia de polícia mais próxima. Aquilo soou
autêntico - a menos que ele esperasse agarrá-la antes que ela realmente
consiga entrar. Por que ele faria isso? Agora ela estava parecendo paranoica e
irracional - exceto que ela tinha deixado os limites normais da realidade para
trás há dois dias, quando soube que Peter tinha sido morto.

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O grupo deles era pequeno e coeso por uma razão. As ondas de choque da
morte de Peter mal haviam começado a ecoar através do círculo quando Alex
Schaffer, líder do grupo, tinha enviado um email a todos, ontem, para lhes dizer
que não conseguia entrar em contato com David e se alguém mais tinha ouvido
falar dele.

Ninguém tinha. Alice e Haley tinha planejado para aquela mesma noite, se
juntarem e chorar por Peter e se preocuparem com o desaparecimento de
David. Alice estivera pronta para convencer Haley a arrumar uma mala e ir ficar
com ela, pelo menos, no fim de semana, e nem 15 minutos atrás, ela tinha
percebido que o oco vermelho escuro na cintura do corpo esparramado de
Haley era, na verdade, o interior do corpo de Haley.

Se aquele homem era o assassino e voltara ao apartamento de Haley para


limpar alguma coisa, se ele achava que ela poderia identificá-lo e conectá-lo ao
crime, ele iria querer fazer qualquer coisa que pudesse, mesmo arriscar a
proximidade à delegacia de polícia, a fim de se livrar dela.

Com um pouco de sorte ela deu de cara com um táxi quando chegou a rua com
a sua luz ligada. Ela acenou para ele e quando ele parou, ela pulou dentro do
carro e trancou as portas. "Dirija por aí,", disse ao taxista.

"Ok," disse o taxista. Ele era um Wyr inteligente, de aparência anêmica, em


seus quarenta e poucos anos, com um odor de pó e unhas roídas até ficar em
carne-viva. Ele olhou por cima do ombro para ela. "Há algum lugar em
particular que queria ir?"

"Eu vou te dizer em um minuto", disse ela. "Basta começar a dirigir."

"Fabuloso," o taxista disse com um encolher de ombros. "O dinheiro é seu."

Alice pegou o telefone celular e, finalmente, discou 911. Por sorte, um operador
atendeu depois de apenas alguns toques. "Eu preciso relatar um assassinato,"
disse Alice.

O táxi diminuiu a velocidade, e seu motorista lhe deu um olhar abrupto e mal-
humorado pelo espelho retrovisor. Ela olhou para ele e ele abaixou a cabeça. O
táxi acelerou novamente.

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A neve tinha engrossado. Alice observava as ruas passando através dos
limpadores de para-brisa, enquanto ela dava o endereço de Haley para o
operador, e todos os detalhes que ela conhecia. "Quando saí do edifício, um
homem me perseguiu," disse ela. "Ele esteve no apartamento. Eu consegui
entrar em um trem do metrô na hora em que as portas fecharam então eu
escapei dele, mas ele teve tempo para me mostrar um distintivo através da
janela. Ele disse que era um policial, e me mandou ir para à delegacia mais
próxima. Eu preciso verificar a identidade dele, se puder."

"Minha senhora, eu não posso fazer isso por telefone", disse o operador. "Você
precisa ir até a delegacia mais próxima."

"Olha, eu sou uma professora," disse Alice. Sua voz se desfazendo, juntamente
com sua compostura. "Eu não sou um soldado durão ou um tipo de policial que
lida com cenas de crime e morte todos os dias, eu ensino as crianças da
primeira série, ok? Normalmente, a pior parte do meu dia é tentar remover cola
e glitter de minha calça jeans, depois da aula de colagem e preparar as
conferências de pais e professores. Agora, eu tive três amigos mortos nos
últimos três dias. Hoje, foi um dos meus melhores amigos, e seu corpo está em
pedaços. Estou abalada e eu estou realmente com medo. E se esse homem
que está esperando por mim, do lado de fora da delegacia, não for na verdade
da polícia?"

"Tudo bem," disse o operador, com a voz se tornando gentil. "Olhe o que
vamos fazer. Você disse que você está em um táxi, correto?"

"Sim," ela disse.

"Fale para o motorista estacionar e me dê sua localização. Eu vou despachar


uma unidade para encontrar você. Certifique-se de esperar no taxi, com o
motorista, até que eles cheguem. Então você terá uma escolta policial até a
delegacia. Ok?"

O mundo de Alice parou de girar um pouco. Ela sussurrou: "Sim, ok."

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Em menos de dez minutos depois, uma viatura parou atrás do taxi, com as
luzes piscando, mas a sirene desligada. Alice pagou o taxista enquanto um dos
oficiais, uma policial, caminhava até eles. Alice saiu do táxi.

A policial disse: "Alice Clark?"

"Sim," disse Alice.

"Eu sou a Sargento Rizzo. Meu parceiro é o Oficial Garcia. Estamos aqui para
acompanhá-la até a Delegacia do 94o."

"Obrigada," disse Alice. Seu corpo tinha esfriado depois de sua corrida
precipitada pelas ruas, mas suas roupas ainda estavam úmidas de suor e a
temperatura estava caindo rapidamente. A tempestade de inverno
definitivamente tinha chegado. Ela se envolveu apertada em seu casaco
quando começou a tremer.

"Não há de quê." A policial caminhou com ela para o automóvel Cruiser.

"Sinto muito incomodá-lo," disse Alice. "Eu nem sei se isso era necessário."

"Não tem problema," disse Rizzo. O Sargento abriu a porta de trás e fez um
gesto para ela entrar. "Pelo que eu sei, você pode ter enfrentado um assassino
inteligente e violento. Nunca é demais ser cuidadoso."

Conforme Alice se instalava cautelosamente no banco traseiro, Garcia se virou


para sorrir para ela através da grade de proteção. "Temos uma mensagem
para você, que vai ajudar a acalmar sua mente. Acabamos de saber da divisão
do WDVC – A Divisão Wyr de Crimes Violentos. O Detetive Gideon Riehl
chegou ao 94º e está esperando por você lá. Ele pediu para lhe dizer que ele é
grande e loiro, e que sente tê-la assustado."

Alice afundou quando absorveu as palavras de Garcia. "Oh deuses, obrigada."

A reação chegou enquanto Garcia atravessava a tempestade espessa. Alice se


encolheu em seu casaco e sacudia com tanta força que parecia que poderia
desmontar a partir das juntas. Uma sucessão de imagens da última hora
passava por sua mente com uma urgência silenciosa.

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A expressão de Haley estava em branco, como se ela tivesse morrido tomada
de surpresa. Ou talvez sua expressão estivesse em branco simplesmente
porque ela estava morta, e havia sofrido inimaginável medo e dor em seus
últimos momentos. Teria ela olhado para o rosto de seu assassino e sabido
que ia morrer?

Teria ela olhado para o rosto de seu assassino e o reconhecido?

Alice limpou o rosto com a ponta de sua echarpe. Haley trabalhava - tinha
trabalhado - na mesma escola elementar que ela. Alguém teria que ligar para
Alex, que não era apenas o líder de seu grupo, mas o diretor da Broadway
Fundamental. Alguém iria entrar em contato com os pais de Haley. Ela supôs
que a polícia tinha um protocolo estabelecido para essas coisas, mas Haley era
- tinha sido - apenas uma criança. A notícia de sua perda seria um duro golpe.
Talvez a polícia deixasse Alice ajudar.

E Peter. Eles não tinham divulgado os detalhes de sua morte, só que ele tinha
sido atacado e morto.

Eles podiam não ter encontrado David ainda. Mas não mais do que dois dias
atrás, quando Alice e Haley tinha falado de Peter em voz baixa, na sala dos
professores, Alice soubera.

O pesadelo tinha voltado.

Embora a noite de sexta-feira ainda fosse jovem, o tráfego havia diminuído a


um ou outro carro, já que a visibilidade estava reduzida a metros. Um aviso de
tempestade de inverno recomendava somente viagens de emergência e até
mesmo os mais determinados consumidores de feriado abandonavam suas
buscas.

O mundo tinha se tornado estéril e tão traiçoeiro que levava embora as boas-
vindas, luzes elétrica brilhando no escuro. O vento uivava como se estivesse
repleto de lobos invisíveis caçando. Ele dirigia a neve com tanta força que
minúsculas agulhas de gelo atacavam qualquer pele exposta.

22
Havia dois tipos de tempestades, Alice pensou. Uma delas era um tipo
simpático que você poderia gostar de ver pela janela com uma xícara de chá.
Ela caia pelo céu com teatralidade, mas sem malícia real.

Esta tempestade era a outra, o tipo assassina. Há horrores que existe na noite,
o dito vento amargo, horrores que só as crianças e os demônios podem ver. Há
horrores que existe na mente também, que só o indivíduo pode testemunhar. O
vento do inverno cantava coisas que a mente não lembra, além daquele medo
nunca esquecido, cheio como as pessoas estão com as assombrações e as
tragédias que compõem as sombras de suas vidas. Nós não podemos suportá-
las, o vento sussurrou, pois quando a luz e o calor são realmente tomados,
ficamos tremendo, nus no escuro. Então ouvimos uma risada rouca, próxima,
que nos diz que somos as presas.

Nem mesmo as luzes do 94º distrito poderiam oferecer a Alice algum conforto,
conforme o edifício quadrado de tijolo e pedra apareceu de repente, uma
grande e desmedida massa, sombreada na noite em cinza e preto. Um
demônio sem rosto destruía seus amigos e perseguia sua comunidade. A dor e
o medo eram esmagadores.

Então havia isso, um tipo diferente de motivo para tremer, uma sensação
impossível de saber sobre alguém que ela não conhecia absolutamente. A
convicção invadiu seus ossos e agrediu sua alma cética e resistente.

Ela não queria um companheiro. Ela nem sequer gostava de namorar. Todas
aquelas perguntas que todo mundo fazia, as mesmas pessoas, sempre e
sempre. O que você faz para viver? O que você faz para se divertir? O que
você gosta de comer? Você está vendo mais alguém?

Será que alguém realmente respondia àquelas perguntas, de maneira sincera,


no primeiro encontro?

As tendências de Alice seguiam sua natureza Wyr tímida. Ela era uma pessoa
tranquila, que gostava de atividades solitárias.

Ela gostava de ler, de fazer quilt, longas caminhadas e passeios de bicicleta


em parques, de campismo e audiobooks. Sua ideia de ser um renegado era

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fazer uma mudança radical em uma receita de comida. Enquanto ela adorava
todas as quinze crianças peculiares e indisciplinadas de sua sala de aula, ela
frequentemente passava suas noites em casa, se recuperando das interações
sociais intensas do dia. Ela satisfazia suas necessidades sociais com a rotina
de encontros do seu grupo, outros professores na hora do almoço, telefonemas
periódicos e cartas para seus pais e, oh deuses, Haley.

O gigante estranho e ameaçador – do que Garcia o tinha chamado? Detetive


Gideon Riehl. Ele não poderia ser quem ela pensava que era. Ela tinha que
estar sofrendo de algum tipo de mau funcionamento do sistema interno, um
estranho subproduto de todo o estresse dos últimos dias.

Wyr eram mortais quando se tornavam criminosos. Por definição, qualquer um


que trabalhava na elite do Departamento de Polícia de Nova York, WDVC, vivia
uma vida perigosa e violenta. A fim de derrubar um criminoso Wyr, os membros
da WDVC tinham que ser assassinos melhores e mais eficientes do que o Wyr
que caçavam. Alice não poderia imaginar alguém mais diferente dela. Não é à
toa que ele a tinha aterrorizado.

Tinha ele sentido algo quando colocou os olhos nela pela primeira vez? Ele
compartilhava a mesma insana convicção de que ela era sua companheira? Se
ele não o fizesse, ela tinha que se preocupar com ela mesma. Se ele o fizesse,
então ela tinha um monte de outras coisas para se preocupar.

Ela avistou a inconfundível e imensa figura do detetive Riehl, conforme ele


andava para lá e para cá, em frente das portas da delegacia. Ele estava com a
cabeça descoberta, sua jaqueta de couro surrada com o zíper aberto.
Aparentemente, ele era imune à nevasca gritante e brutal que caia a sua volta.
Riehl se virou quando Garcia estacionava o carro de patrulha no meio-fio. Ele
já estava caminhando para frente quando o Cruiser desacelerou até parar
suavemente.

Uma insanidade poderosa tomou conta de Alice enquanto o observava se


aproximar. Ele movia o corpo maciço com fluidez atlética e confiante, aquelas
pernas impossivelmente longas cobrindo rapidamente a distância entre eles.

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Seu olhar de cor clara se fixou nela com a mesma intensidade enervante de
antes, mas em vez de enchê-la com pânico, desta vez, ela sabia que ele era o
seu único abrigo da tempestade mortal.

Seu olhar se agarrou a ele, a respiração raspava em sua garganta conforme


ela procurava por uma tranca, só tardiamente se lembrando de que não havia
trancas na parte de trás de um carro da polícia, quando Riehl estendeu a mão
e gentilmente abriu a porta para ela. Com seu olhar gelado constante, ele
estendeu as mãos poderosas para ela.

Talvez ela quisesse correr. A parte dela que continuava a ser aterrorizada
queria. A maior parte dela, a parte insana, alcançou as mãos estendidas dele e
as pegou com as suas. As mãos dele eram quentes e calejadas sob seus
dedos. Ele apoiou seu peso, enquanto ela de alguma forma fez com que seus
músculos trêmulos trabalhassem e saiu do carro. Seus dentes estavam
batendo audivelmente, seu orgulho, longe de ser encontrado. Ele olhou para
seu rosto deu-lhe um olhar ansioso e interrogativo, então ele simplesmente a
envolveu com seus braços. Seu calor e cheiro a rodeavam, e o alívio e conforto
eram indescritíveis.

"Tudo vai ficar bem agora", ele resmungou baixinho em seu ouvido. "Você está
segura. Eu tenho você."

Ela desistiu de todo o pensamento de fugir, abandonou todo o sentimento de


orgulho e decoro, e se inclinou contra seu amplo e musculoso peito. Parecia
uma casa forte e resistente.

Agora que estavam próximos fisicamente, Riehl achou Alice Clark uma coisinha
tão pequena, que praticamente podia pegá-la e colocá-la em seu bolso. Ele
esfregou suas costas esbeltas enquanto ela se amontoava contra ele. Por

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alguma razão, seu coração tinha decidido bater no ritmo de uma britadeira. O
lobo nele rosnou conforme ela tremia, mas ele manteve um aperto rígido em
sua besta. Agora não era a hora de agir agressivamente com ninguém e correr
o risco de assustá-la ainda mais. Mas ele inclinou a cabeça e mostrou os
dentes em aviso silencioso, quando os dois uniformizados saíram da viatura e
se aproximaram um pouco perto demais.

O macho uniformizado ergueu as mãos em um gesto apaziguador. A fêmea


estreitou os olhos para ele e disse deliberadamente, "Sra. Clark, há mais
alguma coisa que possamos fazer por você?"

O rosnado de Riehl se aprofundou quando os braços de Alice deixaram sua


cintura. Ela teria se afastado dele também, exceto que ele se recusou a soltá-
la. Ela virou a cabeça, então. Seus cachos dourados de saca-rolhas, selvagens
e adoráveis, pinicaram seu queixo, e ele quis esfregar o rosto em todos eles,
enquanto ela dizia, "Não. Obrigada por tudo."

"Não há de quê," disse a mulher, que olhou para ele novamente, com um olhar
fulminante, antes de se afastar com o seu parceiro, conforme voltavam para o
seu turno.

Alice inclinou a cabeça para olhar para cima, para ele. Ele avaliou sua
expressão tensa. Óculos de aros finos de metal dourado emolduravam grandes
e brilhantes olhos castanhos, com pintas de azul e verde, contra a pele de
chocolate e creme, tão lustrosa que deixava sua boca cheia de água com
vontade de lambê-la em todos os lugares. Suas feições delicadas e um tanto
contemplativas, estavam manchadas pelas lágrimas e vestígios remanescentes
do medo. De pé, no frio gélido, seu tremor tinha aumentado.

Aqueles belos olhos dela estavam severos com tanta emoção e lembranças do
horror. Ele chegou a outra de suas decisões rápidas e lhe disse: "Eu vou te
levar para casa."

A surpresa floresceu como uma flor se abrindo em seu rosto tenso e fechado.
Ela perguntou: "Você não vai me interrogar?"

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"Sim, mas você passou por um baita choque. Qualquer coisa que tenhamos a
dizer um ao outro pode ser feito no conforto de sua própria casa", disse ele.

Ele colocou um braço em volta dos ombros dela e a conduziu em direção ao


seu veículo, um Jeep Cherokee último modelo, negro e discreto. Ela não
protestou, mas se movia como um autômato. Ele destravou o carro com o
chaveiro e abriu a porta do passageiro para ela. Uma vez que ela estava
acomodada, ele se dirigiu rapidamente para o lado do motorista.

Com um rápido olhar de soslaio, ele se certificou que ela tivesse prendido o
cinto de segurança antes de ligar o Jeep e arrancar. Ele podia sentir através do
volante como traiçoeiramente escorregadia a estrada tinha se tornado. O motor
ainda estava quente, então ele ligou o aquecedor em plena potência para ela.
Se fosse só por ele, não teria se incomodado. Na maioria dos casos, ele
gerava calor do corpo suficiente para o seu próprio conforto.

Riehl tinha acabado de perceber o quão acostumado ao rústico ele tinha se


tornado, desde que ele tinha aceitado o novo trabalho.

Um recruta aos vinte anos, ele esteve no exército por mais tempo do que a
expectativa de muitas vidas humanas. Seu lobo ainda não estava confortável
com a decisão de se aposentar. Sempre que ele estava em alojamentos
compactos como os da vítima – como o apartamento de Haley Moore - ele
muitas vezes tinha a impressão de que derrubaria as coisas se mexesse muito
rapidamente.

De fato, esses últimos meses ele estivera considerando e com sérias dúvidas
sobre a sua decisão de deixar a vida militar e se estabelecer na cidade. Ele não
tinha certeza de que poderia se ajustar. O lobo estava satisfeito com um estilo
de vida errante, e o exército lhe havia dado o sentido de bando que ele
precisava. Era o homem que tinha ficado inquieto e decidido que era hora de
fazer uma mudança, mas a agitação não acalmou quando ele se mudou e
trocou de emprego.

Na verdade, ele não tinha diminuído até agora.

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Ele dirigiu outro olhar atento, de soslaio, a sua passageira. A tempestade
estava realmente despencando do lado de fora, e flocos de neve brancos
estavam presos ao seu cabelo. Eles estavam derretendo com o calor no carro.
O restante da umidade brilhava sobre ela como uma rede de pequenas joias. A
linha de seu perfil estava triste, até mesmo severa, a boca delicada em linha
reta e sem sorrir. Ela estava de luto, e ele era um filho de uma égua, porque
não conseguia parar de olhar para ela, e tudo no que ele podia pensar era, o
que seria necessário para que conseguisse deixá-la nua.

Ele sentiu de novo, a mudança do eixo do mundo, a convicção de que o norte


verdadeiro tinha se movido e nada jamais seria igual.

Ele sentiu. Ele simplesmente não tinha ideia do que isso significava.

A corrida até o apartamento dela deveria ter sido curta, mas o tempo a tornou
muito mais demorada. Alice olhou para Riehl algumas vezes quando ele pegou
o caminho correto sem pedir instrução. Suas mãos se apertaram quando ela as
segurou juntas em seu colo, mas ela permaneceu em silêncio. Ele não teve
tempo de fazer muita coisa quando recebeu o comunicado, mas tinha feito uma
busca rápida sobre o nome de Alice Clark, trinta e cinco anos de idade. Inferno!
Ele tinha estado no exército por mais tempo do que ela estava viva, por mais
de duas vezes seu tempo de vida. Registros da DMV afirmaram que ela
possuía um Prius. Ele se perguntou se, como muitos dos moradores da cidade,
que eram proprietários de automóveis, ela era um motorista de fim de semana.

Seu endereço acabou indicando um apartamento num condomínio de prédios


baixos, com bastante espaço aberto, em tijolo marrom, perto de Prospect Park.
Depois de estacionarem, ele a seguiu pelos degraus rasos e lisos como gelo,
até sua porta da frente. A grade de segurança de ferro forjado decorativo na
janela da frente estava coberta com gelo. O calor explodiu no rosto dele
quando entraram.

Ele já estava tirando o casaco enquanto ela fechava e trancava a porta da


frente.

Seu olhar muito avelã subiu para o rosto dele e deslizou para longe, enquanto
suas mãos se moviam para desabotoar seu casaco de lã preto. Cristo todo-

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poderoso, assisti-la se despir, mesmo que tão pouco, foi como levar um chute
de uma mula. Ele sugou o ar e girou para longe, para encarar a parede.

"Se você não se importa," ela disse, "Eu gostaria de colocar algumas roupas
secas." Ela parecia sem fôlego, sua voz pouco mais de um sussurro, e era tão
sexy, era como se ela tivesse passado um dedo levemente por sua espinha
nua.

Ele estremeceu, fez um esforço hercúleo e conseguiu articular algumas


palavras. "Faça isso."

Ela acendeu todas as luzes enquanto saia. Em sua ausência, a sala parecia
muito vazia. Enquanto Riehl esperava, ele zanzava por sua sala de estar e
parou na porta para olhar para a cozinha / sala de jantar. O apartamento estava
muito quente, é claro, mas ele sabia que estaria. A casa de Alice era maior do
que o apartamento de Haley Moore. Parecia possível que tivesse dois quartos,
e havia uma porta dos fundos. A espaçosa área foi decorada com alguns
girassóis coloridos estrategicamente posicionados para acentuar o verde
pistache dos armários. Uma máquina de lavar e secar roupa sobrepostas,
estava situada em um nicho que poderia ser escondido por uma porta
sanfonada de madeira. Uma mesa de carvalho robusta, simples, com quatro
cadeiras ficava na sala de jantar.

Ele se moveu para olhar para fora da janela da porta dos fundos, notando com
satisfação que era coberta com uma grade de segurança também. O que ele
podia ver através da tempestade branca, lá fora, era um pequeno quintal
cercado por uma cerca que oferecia privacidade, agora sombreado e coberto
com uma espessa camada de neve. Esse pequeno pedaço da propriedade
seria um paraíso refrescante na primavera, verão e outono.

Ela não ostentava, mas tinha mais dinheiro do que sua amiga. Ela podia
comprar um lugar maior, com um jardim e manter um carro na cidade.

Riehl voltou para a sala de estar. Mobiliário simples e confortável em tons de


terra, um sofá, uma cadeira de balanço e uma daquelas cadeiras longa-
coisinha – como eram chamadas? Uma chaise lounge. Muitas estantes cheias
com uma variedade de livros de capa dura e livros de bolso, vasos de plantas

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em todos os lugares, quilts, colchas artesanais realmente belas, dobradas e
colocadas ao longo das costas do sofá e cadeiras, e em um canto, outro quilt
parcialmente terminado aguardava sua vez preso a um bastidor redondo preso
a um suporte de chão. Várias peças de obras de arte originais estavam
penduradas nas paredes, cenas de selva luxuriantes, com verdes ricos e o
borrifo ocasional de flores exóticas. Riehl não era, nem de longe, um aficionado
da arte, mas todos eles tinham um estilo semelhante e pareciam ser do mesmo
artista. A lareira a gás com painéis de vidro estava contra uma parede.

Alice tinha usado bem as dimensões da sala para criar um oásis. Parecia
confortável e ao mesmo tempo transmitia uma sensação de espaço, brilho e
um toque de ar livre. Ele se virou para a lareira a gás e deu um passo atrás.
Lâmpadas estrategicamente colocadas ajudaram a criar um clima mais calmo
para a noite. Com as chamas de gás tremeluzindo, ele quase podia se imaginar
descansando perto de um anel de fogo, do lado de fora, cercado pela
vegetação viva. Ambos, lobo e homem, aprovaram de coração.

Faíscas suaves do Poder dela pontilhavam a casa, mais parecidas com brilhos
suaves do que qualquer outra coisa. O lugar cheirava a ela, aquele aroma
delicado, evocativo e irresistível. Ele respirou fundo e sentiu a tensão entre as
omoplatas aliviar. Seu lugar era atraente e acolhedor, e não espalhafatoso ou
pretensioso.

Ele não se sinta claustrofóbico aqui. Sentia-se bem.

Ouviu-a se mover no quarto e a imaginou tirando o resto de suas roupas.

Instantaneamente seu pau endureceu e tencionou contra os limites de seu


zíper.

Típico! Será que dava para se sentir mais culpado?

Ela tinha acabado de ter um dos piores dias que um corpo poderia ter, e ainda
não tinha terminado, porque, por mais que ele quisesse deixá-la descansar e
se recuperar, Riehl teria que interrogá-la. Ele deveria estar pensando no que
poderia fazer para ajudá-la, não em qual deveria ser o sabor dela, como seria a

30
sensação de tê-la se contorcendo debaixo dele enquanto ele se dirigia para
dentro de seu corpo elegante.

Falando em fazer algo de útil. Ele foi para a cozinha. A chaleira estava sobre o
fogão a gás. Ele a encheu com água e ajustou o queimador no fogo alto e abriu
e fechou armários, até encontrar seus suprimentos de chá. Foi aí que ele se
perdeu, ela tinha tantos chás estranhos que ele não tinha ideia do que
escolher. Eles estavam guardados em seu armário, então ela tinha que gostar
de todos eles, certo? Ele pegou uma caixa ao acaso e preparou uma caneca, e
quando a chaleira emitiu um assobio cortante, ele jogou água fervente nela.

Ele soube o momento em que ela entrou pela porta para observá-lo, mas ele se
forçou a ir com calma ao se virar e olhar para ela. Ela usava calças de flanela
cinza suave, um suéter de tricô azul frouxo, com a borda de uma velha
camiseta branca aparecendo no decote, e chinelos de ficar em casa. Ele
estava feliz por ver que ela tinha decidido ficar confortável e sabia que tinha
tomado a decisão certa ao trazê-la para casa. Ela parecia mais calma, mas
ainda assim tão triste, o que fez com que seu velho coração endurecido pelas
batalhas, se contorcesse.

Ele disse, com a voz rouca: "Você estava tão fria, que eu acendi a lareira e
achei que poderia gostar de algo quente para beber."

Ela olhou para a caneca e para a chaleira sobre o fogão, e sua expressão se
suavizou em um agradecimento gentil com tanta doçura, que passou por todas
as barreiras cínicas que ele já tinha construído para manter o mundo separado
de si mesmo.

"Obrigada," disse ela.

Ele deu um breve aceno de cabeça, enquanto lutava para manter seus pés em
um mundo que tinha se tornado instável.

O mundo tinha se inclinado sobre seu eixo.

E ela era seu verdadeiro norte.

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TRÊS

Lareira

Alice olhou para o homem de constituição poderosa em sua cozinha e lutou


contra a vontade de torcer os dedos. Seu rosto estava marcado com linhas
rudes e carimbado com uma maturidade afiada, que de um momento para o
outro, poderia torná-lo perigoso. Suas feições não carregavam um pingo de
suavidade. Elas mostravam que ele tinha ido a muitos lugares e visto coisas
inimagináveis e enfrentado a todos com inteligência e competência, ele não
sabia o que significava desistir.

Sua presença temperava o ar com exotismo e tornava o ambiente familiar,


estranho para ela. Pensara que seu apartamento tranquilo de dois quartos era
espaçoso, mas de alguma forma, ele preencheu todo o lugar com sua forte
energia masculina. Ele banhava seus sentidos cansados com vitalidade e um
renovado senso de propósito.

Ele usava apenas uma camiseta preta desbotada sob a jaqueta de couro. O
algodão esticava-se sobre os bíceps e ombros protuberantes na parte superior
de seus braços e continuava distendido por toda a impressionante largura de
seus peitorais. Usava uma arma em um coldre de ombro. Seu olhar se prendeu
a ela. Por muito tempo, ela não conseguia desviar os olhos da arma.

Conforme ela deixara seu quarto, notou desconcertada que ele certamente
sabia como ficar à vontade, sem ser convidado. Ele tinha acendido a lareira e
estava fazendo chá.

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E aí, ele levantou os olhos para ela, e seu olhar azul gelado a perfurou. Ela
teria dito que isso era impossível, mas aquele rosto assustadoramente cruel
dele se suavizou, e ela sentiu todas as suas entranhas se transformarem em
mingau.

A última coisa no mundo que ela esperava ouvir dele era que tinha
providenciado o fogo e o chá para ela. Ela teve que apertar bem os lábios para
impedir que sua boca tremesse.

"Você está se sentindo melhor?", Ele perguntou. "Mais confortável, pelo


menos?"

O som de sua voz profunda, selvagem e retumbante, raspou sua pele. Os


minúsculos pelos ao longo de seus braços se levantaram. Ela assentiu com a
cabeça, sem dizer nada.

Ele continuou. "Onde você quer se sentar, na sala, em frente à lareira, ou a sua
mesa?"

Ainda sem palavras, ela indicou a mesa de jantar. Ele pegou a caneca, colocou
em cima da mesa e segurou a cadeira para ela. Ela se instalou cautelosamente
enquanto perguntava, "Você não pegou nada para você?"

Ele deu-lhe um olhar de soslaio, que revelava uma pitada de charme malandro,
tão potente, que a atingiu no meio dos olhos. "Eu não sou um fã de chá."

Devastada com a intensidade de sua reação a ele, ela olhou para baixo, na
direção da caneca e piscou para ela cegamente. Ela colocou os dedos frios em
torno daquele bem vindo calor e limpou a garganta. "Eu tenho cerveja e
refrigerantes na geladeira, se você quiser algo para beber."

"Por enquanto, estou bem, obrigado." Ele ocupou a cadeira em frente dela e
apoiou os cotovelos sobre a mesa. E disse calmamente: "Você sabe que eu
tenho que lhe fazer algumas perguntas difíceis agora, não é?"

Ela assentiu. "Pergunte-me qualquer coisa que você precisar, Detetive."

"Certo”. Ele abaixou a cabeça, tentando capturar o olhar dela e ela permitiu. Ele
deu um sorriso rápido, persuasivo, "Por favor, me chame de Gideon."

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Uma porção pequena de calor forçou um caminhão para dentro de seu coração
apertado. Ela conseguiu responder com um pequeno e breve. "E eu sou Alice".

"Alice, eu não vou manter nenhum segredo sobre isso - estou muito feliz em
conhecê-la, mas eu sinto muito que teve que ser em tão terríveis
circunstâncias. Sinto muito pela perda de sua amiga." Gideon disse, segurando
seu olhar com seus próprios olhos azuis pálidos. Eles pareceram tão gelados
não há muito tempo. Agora, estavam preenchidos com uma compaixão solene
Uma compreensão sombria se escondia naquela expressão. Alice pensou, ele
sabe o que é perder pessoas próximas a ele.

"Amigos", ela sussurrou.

"Amigos" ele emendou. "Eu queria que você não tivesse que ter visto Haley
daquela forma. Eu a teria poupado daquilo se pudesse."

De alguma forma, ele simplesmente disse as coisas certas. Suas palavras


singelas admitiam a consciência de que havia algo entre eles, mas as
condolências deixavam claro que eles precisavam se concentrar no momento.
Isso trouxe equilíbrio a ela quando nada mais conseguiu. "Obrigada", disse ela,
sentando-se ereta na cadeira.

"Eu quero que você me diga tudo o que lhe aconteceu durante os últimos dias",
disse Gideon. "Não tenha pressa e não se preocupe se você acha que é
importante ou não. Eu decido."

"Tudo?" Ela olhou para ele perplexa. "Você não vai me fazer perguntas?"

"Você quer dizer, como em um programa de TV, onde os policiais conseguem o


que precisam saber em três ou quatro minutos de diálogo dirigido?" Um calor
tocou seu rosto e ela levantou um ombro timidamente. Ele deu um leve sorriso.
"Eu vou perguntar depois. Neste exato momento, eu não quero influenciá-la ou
impor minha programação ou opiniões a você. Há sempre a possibilidade de
que você saiba mais do que você imagina e de coisas que eu posso não saber
ainda para fazer perguntas."

"Tudo bem." Ela tomou um gole de chá para ter um tempo e reunir seus
pensamentos. Não fazia nem meia hora que ela tinha estado aterrorizada, um

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desastre emocional. Agora estava certamente de luto, mas se sentia mais
calma, apoiada, não mais sozinha e vulnerável no escuro.

Sentia-se segura.

Ela pensou em alguns dias atrás, como a vida fora diferente quando tinha ido
alegremente para o trabalho, sem nenhuma pista dos horrores que a semana
lhe traria. "Eu sou uma professora," disse ela. "Eu trabalho em uma escola
particular, a Broadway Fundamental. Haley trabalhava na mesma escola. O
diretor, Alex Schaffer, é um amigo nosso. Na hora do almoço, ele veio nos dizer
que um amigo em comum, Peter Brunswick, estava morto."

A princípio, as palavras vieram de maneira lenta e hesitante. Em seguida, elas


aceleraram e vieram rápidas e duras. Gideon permaneceu como um ouvinte
silencioso, seu olhar firme e sua presença forte e segura, uma tábua de
salvação que ela poderia segurar quando chegasse às partes difíceis.

Ela chorou. Ela não queria, mas não podia evitar. Quando chegou ao ponto
onde ela tinha olhado para o pobre corpo violado de Haley pela primeira vez,
tirou os óculos e cobriu os olhos com uma das mãos, enquanto as lágrimas
riscavam seu rosto.

A cadeira de Gideon raspou o chão. Ele contornou a mesa, ajoelhou-se ao lado


dela e puxou-a em seus braços. Pela primeira vez, este gesto não oferecia só a
sensação de ser abraçada, mas envolvida também.

Nenhum dos dois comentou sobre o fato de que, como um policial


questionando uma testemunha em potencial, muitas pessoas diriam que suas
ações eram inadequadas. Ele cruzara aquela linha já do lado de fora da
delegacia.

Alice deu a si mesma um presente - ela se permitiu fazer o que precisava fazer.
Ela colocou os braços ao redor dele, enfiou o rosto em seu pescoço robusto e
chorou com todo o seu coração.

Ele esfregava as costas e a segurava com uma paciência de santo, apenas


afrouxando seu abraço quando ela se acalmou e começou a se endireitar. Ele
perguntou em voz baixa, "Melhor?"

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Ela assentiu e tocou as costas da mão dele em agradecimento. Então, ela
recolheu os óculos e se levantou para lavar o rosto na pia da cozinha. A
sensação da água fria contra sua pele excessivamente quente e inchada foi
boa. Ela secou seu rosto com uma toalha e recolocou os óculos. À medida que
o mundo entrava em foco novamente, ela notou que o relógio de seu fogão
marcava 21:05h.

Ela olhou para Gideon que haviam se colocado de pé. Toda vez que colocava
os olhos sobre ele, o tamanho dele lhe causava um choque. Nenhum deles
tinha tido chance de jantar ainda. Ele ainda não tinha nem começado a lhe
fazer perguntas, então não estaria partindo tão cedo. Ela não achava que
poderia lidar com alimentos, mas um grande macho Wyr, especialmente
aqueles com o seu tipo de físico intenso, precisava comer.

"Se você está certa disso," disse ele com cautela. "Eu poderia comer alguma
coisa."

Considerando a cautela com a qual ele a tratava, sem dúvida que significava
que ele estava morrendo de fome, assim, o que quer que ela fizesse, teria que
ser substancial. Estava feliz por ter feito compras quando ouviu a previsão
sobre a tempestade de inverno.

Ela abriu a geladeira, pegou uma cerveja Corona e entregou a ele. Ele a
pegou, e seus olhos brilharam com uma gratidão hesitante. Deus do céu, ele
dava a impressão de que ninguém se oferecera para alimentá-lo antes. Ela se
virou para avaliar o conteúdo de sua geladeira enquanto tentava decidir o que
fazer. "Você é de algum tipo canino, não é?", Ela murmurou. Ele iria querer um
monte de proteína.

"Eu sou um lobo," disse ele.

Ela fez uma pausa enquanto absorvia isso. Um lobo, não um cão, o que
significava que ele não era muito manso ou domesticado. Sim, isso fazia
sentido. Ele seria de tirar o fôlego como lobo se seu pelo fosse do mesmo tom
loiro-branco de seu cabelo.

"E você é um camaleão arco-íris, certo?", Perguntou ele.

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A maçaneta da porta da geladeira escapou de seus dedos nervosos. A porta se
abriu amplamente, enquanto ela se virava para encará-lo e se apoiava contra o
balcão.

A expressão de Gideon mudou. Ele disse em uma voz calma, "Alice, está tudo
bem. Lembre-se, você está bem segura." Mais uma vez, ele agiu com
perfeição. Ele não avançou fisicamente, mas, em vez disso, se encostou contra
a mesa de jantar, com seu corpo maciço relaxado e colocou um pé sobre o
outro. Ele a olhava com a mesma calma constante que tinha mostrado a ela
durante a noite toda.

Ela relaxou com uma risada envergonhada. "Sinto muito," disse ela. "Eu não
esperava por isso, e nós não gostamos de falar sobre nós mesmos ou anunciar
que tipo de Wyr somos, você sabe. Um pouco disso vem de um
comportamento instintivo e um pouco é... bem... " Ela fez um gesto abrangente.

Ele balançou a cabeça e esfregou a parte de trás da nuca, parecendo


pensativo. "A história não tem sido boa para o Wyr camaleão."

Como a maioria das Raças Antigas, os Wyrkind não eram apenas da terra.
Algumas das espécies mais estranhas eram nativas das Outras terras, aqueles
lugares cheios de magia que tinham sido formados quando o tempo e o espaço
dobraram por causa da formação da Terra. Camaleões Arco-íris eram alguns
desses Wyr. Criaturas raras e tímidas, eles vieram de uma Outra terra remota
ligada à floresta Amazônica.

Camaleões Arco-íris não tinham seu equivalente Wyr. Eles também eram
únicos entre outras espécies comuns de camaleões, que normalmente só
podiam fazer algumas alterações na cor. Camaleões Arco-íris tinham a
capacidade de se camuflar em qualquer cor e podiam fazê-lo à vontade, para
se misturar com as coisas a sua volta.

Um dos primeiros exploradores das áreas profundas da Amazônia, o


conquistador espanhol Francisco de Orellana, fez o primeiro contato europeu
conhecido com o Wyr camaleão arco-íris, no início de 1542, enquanto viajava
pela extensão do rio Amazonas e procurava pela mística cidade de El Dourado.
Ao descobrir a capacidade única do camaleão arco-íris de sofrer mudanças

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radicais e complexas de cor, Orellana passou a cometer algumas das maiores
atrocidades, tanto na história espanhola, como na das Raças Antigas. Ele
sistematicamente caçou os camaleões Wyr e os dissecou, numa tentativa de
descobrir a origem de sua habilidade. O número exato de Wyr mortos por ele
era desconhecido, mas os historiadores estimaram no total algo em torno de
3000 a 5000, que eram números catastróficos para tal rara espécie.

Em seus experimentos, Orellana descobriu que o camaleão Wyr tinha uma


glândula semelhante à glândula pituitária humana. Extrações produziram um
líquido que, quando usado para tratar tecidos, podia produzir um efeito
interessante em peças de vestuário. Orellana nunca encontrou o El Dorado,
mas ele trouxe frascos do extrato de camaleão de volta à Espanha, que ele
vendeu pelo preço do resgate de um rei, mantendo em segredo suas origens. A
realeza espanhola e alguns certos nobres ricos exibiam trajes elegantes e
elaborados, feitos de tecidos fabulosos que mudavam de cor com uma fluidez
líquida, para combinar com o que estava a sua volta.

O segredo do extrato de camaleão foi descoberto em documentos de Orellana,


depois de sua morte, após o que o Rei Carlos I e sua mãe, a rainha
mentalmente instável Joanna, proibiram o uso de roupas confeccionadas com
tal substância, sob pena de morte. A monarquia espanhola fez uma grande
encenação sobre estarem moralmente indignados, mas a realidade política foi
que, independente da verdadeira reação que eles possam ter tido, eles tiveram
que agir publicamente com repúdio ou correr o risco de serem destruído pelos
governantes enfurecidos das Raças Antigas.

No entanto, rumores sobre a existência de tal vestuário foram sussurrados ao


longo dos séculos seguintes, em particular quando conectados aos famosos
roubos não resolvidos. Se aqueles rumores históricos eram verdadeiros ou
não, o camaleão Wyr permaneceu raro - Alice sabia de apenas cinquenta ou
mais vivendo atualmente nos EUA continental.

Os críticos números baixos de camaleões Wyr tornaram os crimes cometidos


há sete anos ainda mais terríveis. Uma pequena colônia de camaleões Wyr
vivia em Jacksonville, Flórida, onde sete deles haviam sido encontrados
mortos, uma semana antes do Festival de Máscaras de dezembro. Apesar de

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uma caçada humana nacional muito televisionada por diversas agências de
cooperação, o assassino dos camaleões nunca foi pego.

O silêncio foi quebrado pelo vento que levou fragmentos de gelo contra o
prédio, como um pesadelo tocando as janelas com dedos esqueléticos,
procurando uma maneira de entrar.

Alice estremeceu com aquela imagem sombria e a empurrou para longe. Ela
estava cercada de luz e calor, prestes a se alimentar de boa comida e bebida,
ela ganhara o inesperado presente de receber conforto e ter companhia em um
período terrível para se suportar sozinha. Ela deu a Gideon outro olhar de
desculpas e se virou para a geladeira aberta para começar a pegar coisas ao
acaso. Ela disse novamente: "Nós não gostamos de falar sobre a nossa
natureza Wyr para os forasteiros. Será que isso tem alguma coisa a ver com a
nossa história? "

"Quer dizer com o massacre do conquistador? Nós não encontramos nenhuma


evidência que liga os crimes atuais com aquilo." Gideon se endireitou de
repente. "Foi assim que você se escondeu de mim, não é? No apartamento de
Haley. Você mudou para sua forma Wyr."

Alice olhou por cima do ombro para ele, decepcionada. "Você sabia que eu
estava lá? Você não apenas me identificou pelo meu cheiro, quando cheguei à
rua?"

Ele a corrigiu, "Eu tive o pressentimento de que você estava lá. Eu não sabia
ao certo. Atravessei a rua para a delicatessen e observei a entrada do edifício
de lá. Onde você estava se escondendo?"

"Você se lembra do ficus trançado?"

Ele lhe deu um olhar vazio. "O quê?"

"O vaso de plantas no chão, no canto entre o corredor da frente e a sala de


estar." Ela ajeitou os cachos na parte de trás do pescoço envergonhadamente.
"Eu estava escondido nas folhas".

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Um sorriso tomou as feições duras dele. "Caramba, você estava lá. Muito bem!
Lembro-me de roçar aquela árvore, quando eu fui para a sala. Qual é seu
tamanho quando em sua forma Wyr?"

Ela sentiu uma explosão absurda de prazer com o elogio dele. "Fico com o
comprimento de seu antebraço. Talvez menor, se eu enrolo a cauda para cima,
em volta do meu corpo."

"É por isso que você tem tantas árvores em vasos em sua sala de estar?" Ele
olhou para ela com tanto prazer que o calor tocou seu rosto novamente.

Ela assentiu e confessou: "Às vezes, eu gosto de ficar nas árvores enquanto
assisto TV."

Ele soltou uma gargalhada. "Claro, porque não?" Assustada, ela se sentiu
ainda mais envergonhada. Ele lhe disse: "Às vezes, meu lobo gosta de
aparecer e roer um osso. Tem aqueles ossos preparados, realmente
saborosos, que você pode conseguir na WyrFoods."

Ela sorriu. WyrFoods era uma derivada especial da rede de supermercados


WholeFoods. Ela fazia compras lá, também. Ela olhou para os itens que ela
tinha tirado da geladeira. Uma caixa de ovos, um pacote de bacon, legumes,
queijo. Tudo bem. Parecia que ela ia fazer uma omelete. Espere, ela tinha
alguns pacotes de batatas fritas no congelador. Ela imaginou que ele poderia
comer a todos os doze ovos, uma boa quantidade de bacon, ambos os pacotes
de batatas fritas e ter espaço para saborear torradas também.

Ela tirou uma frigideira para a omelete, uma frigideira para o bacon, e uma
panela com laterais mais altas para as batatas fritas. Então, lavou os legumes
para a omelete e começou a picá-los - cebola, pimentão verde, cogumelos e
tomates.

Gideon assistia seu trabalho. Ela parecia mais calma e mais serena, já que se
movia com confiança por sua cozinha. Pensando nisso, ele se sentia mais
calmo e tranquilo só de olhar para ela.

Ela era uma mulher bonita em uma forma completamente discreta. Isso
aparecia nos movimentos graciosos das mãos esbeltas e nos ossos delicados

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de seus pulsos, na dignidade tranquila em seu rosto inteligente e naquela coisa
selvagem e totalmente contraditória que era seu rico e escuro cabelo.

Ele amava aquele cabelo. Ele tinha um desejo insano, similar à necessidade de
correr do lobo - ele queria esticar cada um daqueles cachos de saca-rolhas e
vê-los voltarem à posição original, enterrar seu rosto no dela e fazer-lhe
cócegas até sua tristeza e dignidade se separassem e ela perder o fôlego de
tanto rir.

Seu pênis se endureceu novamente. Filho de uma égua peluda. Ele respirou
fundo e virou uma das cadeiras próxima, para que pudesse se sentar nela ao
contrário. Isso lhe dava a vantagem de esconder a protuberância em sua calça
jeans. Ele cruzou os braços sobre o espaldar da cadeira e balançou a sua
garrafa de Corona pelos dedos de uma mão. Tomou um gole de sua bebida e
forçou sua cabeça a voltar ao trabalho.

Ele disse: "Pronta para continuar?"

Alice não olhou para cima de onde cortava os vegetais. Ela assentiu.

"Você sabe o que aconteceu na Flórida, há sete anos?"

Sua boca se apertou. "Cada camaleão arco-íris Wyr sabe o que aconteceu na
Flórida. Eles eram nossos amigos e familiares."

Gideon fechou os olhos por um instante e se chutou um pouco mais. "É claro
que eles eram," disse ele suavemente.

Ela passou os legumes picados da tábua de corte para uma frigideira aquecida.
Eles chiaram e o aroma de alimentos cozinhando encheu a cozinha. Ela disse:
"Você acha que é o mesmo assassino?"

Por que enrolar? Ele disse, "Sim, eu acho. Já que o assassino de Jacksonville
nunca foi pego, um monte de detalhes daqueles assassinatos nunca foram
libertados, mas quem matou Haley usou a mesma metodologia ".

Ela olhou para ele com os olhos arregalados. "Metodologia?"

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"O assassino era muito metódico. Ele mascarou seu odor com um agente
químico que caçadores usam, embora ainda não tenhamos um relatório sobre
a cena do crime de Haley, estou apostando que ele não deixou quaisquer
impressões digitais para trás. O assassino de Jacksonville também não. Cada
vítima morreu de uma punhalada no coração. Foi feito com muito cuidado, em
seguida, as cavidades abdominais são escavadas. Os órgãos são sempre
colocados para fora de seus corpos num mesmo padrão."

A mão que ainda segurava a espátula caiu para o lado dela, enquanto seu
rosto se movia. Ele atravessou a sala rapidamente para abraçá-la por trás em
um aperto firme. Ela sussurrou, "H-Haley estava morta antes que ele fizesse
aquilo com ela?"

"Sim", ele disse em uma voz forte. "O assassino tem algum outro interesse
além da tortura. Eu juro a você, Alice. Ela não sofreu."

Ela respirou fundo, lutando por controle. Ela disse: "Obrigado por isso. Eu estou
bem."

Ele a soltou e deu um passo atrás. Não muito longe, apenas alguns passos.
Então ele se elevou acima de sua linha de visão, observando seus movimentos
bruscos enquanto ela cozinhava com as mãos cerradas ao lado do corpo.
Havia pouca coisa que ele poderia fazer para ajudar e isso o estava deixando
um pouco louco. "Pronta para uma pausa?" ele perguntou, esperando que ela
dissesse que sim.

"Não." Ela olhou por cima do ombro para ele. "Por favor, continue."

"Você disse que seu diretor, Alex Schaffer, foi quem deu a notícia da morte de
Peter Baines para você e para Haley e ele também foi o único que espalhou a
notícia de que David Brunswick tinha desaparecido, correto?" Ele esperou que
ela assentisse e em seguida, continuou. "Por que Schaffer?"

"Depois de Jacksonville, Alex iniciou um grupo de apoio para os Wyr camaleão.


Primeiro, foi para ajudar a processar a dor, mas ao longo do tempo, o grupo se
tornou mais social. Agora, nos encontramos no primeiro domingo de cada mês,
quando cada um leva um prato de comida e alguns de nós se reúnem para um

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brunch no terceiro domingo. Às vezes, alguns de nós organiza uma caminhada,
ou sai para jantar ou ver um filme. "

"Pura Essência" disse Gideon.

Ela olhou para ele, surpresa. "Você conhece o grupo? Mantemos a sua
existência na surdina. Há um site onde todo mundo pode entrar e postar
notícias, mandar e-mail uns para os outros, ou convidar pessoas para um
passeio, mas é mantido em segredo. Nem sequer aparece na busca do
Google. "

Ele disse a ela, "O FBI mantém um arquivo sobre as atividades sociais dos Wyr
camaleão, que inclui informações sobre o site. Eu dei uma olhada nele hoje
cedo, mas eu não tive tempo de ler tudo. Eu não sabia que Schaffer foi o
fundador do grupo. "

"Sim, e tanto quanto eu sei, cada Wyr camaleão em Nova York é um membro."

"Vinte e três." Gideon murmurou.

"Me desculpe?" Alice lhe entregou pratos, talheres e guardanapos.

Ele pôs a mesa. "O site tem uma lista de todos os seus nomes. O grupo tem
vinte e três membros." Bem, tecnicamente, o total era de vinte agora, mas ele
não ia dar uma de convencido sobre isso quando ele podia lhe causar mais
dor. "O que a levou ao apartamento de Haley, mais cedo?"

"Nós tínhamos planejado passar a noite juntas. Eu iria tentar convencê-la a


ficar em minha casa por um tempo." Ele voltou até ela, e ela lhe entregou o sal
e pimenta, um vidro de ketchup e uma garrafa recém-aberta de Corona.

"Alguém mais sabia que vocês duas tinham planejado se encontrar esta noite?"
Ele levou a cerveja e os condimentos para a mesa.

"Não." Ela fez uma careta para ele. "Isso importa?"

"Talvez sim, talvez não. Vamos manter isso em segredo, por enquanto, ok?"
Será que reter informação seria útil? Ele afastou o pensamento para uma
análise mais aprofundada.

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"Tudo bem." Ela deslizou o último o bacon para fora da frigideira, claramente
perdida em pensamentos. "Como você sabia que devia aparecer na casa de
Haley?"

Ele sorriu para ela. "Por que não lhe conto mais tarde? Você pode não precisar
de uma pausa, mas eu preciso. Até que eu tenha a oportunidade de comer."

Ela suspirou. "Ok".

Ele mentira, mas ela não pareceu notar. Ele poderia ter contado mais detalhes
sobre o caso e os resultados da autópsia ao longo da refeição sem nem se
abalar, mas ele queria que ela relaxasse o suficiente para comer um bocado ou
dois.

Um novo choque não iria ajudá-la com isso.

Visto que a polícia já havia encontrado o corpo de David Brunswick no porão


da garagem de sua casa de tijolos e que o assassino era na verdade
extremamente metódico.

Apesar de todas as vítimas de Jacksonville terem sido encontradas ao mesmo


tempo, um dos pormenores ocultados pelas autoridades era que o grupo tinha
ficado preso por um tempo, em seu cativeiro. No início, a cena indicava um
assassinato em massa, mas logo se tornou evidente que as tendências de um
serial estavam presentes, pela maneira como o assassino tinha ritualmente
dissecado uma pessoa a cada dia, até que todos os sete estavam mortos. Os
resultados da autópsia confirmaram a sucessão de assassinatos. O relatório
listava as vítimas até a data de sua morte, e os nomes estavam em ordem
alfabética.

Naquela tarde, Gideon olhara para a lista de membros do grupo no site da Pura
Essência. Peter Baines, David Brunswick. A terceira na lista era Haley Cannes.
Ele havia ligado para a escola, mas Haley já tinha saído do trabalho.

Ele achou que poderia sonhar em se mover tão rápido e tão duro quanto podia,
até o endereço dela no Brooklyn, só para chegar tarde demais. Se ao menos
ele tivesse juntado as peças mais cedo, a amiga de Alice ainda estaria viva.
Talvez Haley até mesmo se sentasse à mesa para jantar com eles.

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Ele ajudou Alice a levar a comida para a mesa. Ela tinha uma dúzia de ovos
cozidos com os legumes salteados. A pretendida omelete tinha se tornado ovos
mexidos, sobre os quais ela tinha colocado colheres de creme de leite e queijo.
As batatas fritas estavam de um dourado delicioso, o bacon estava tão
aromático e crocante, que seu estômago emitiu um alto estrondo.

Ele lhe deu um sorriso tímido e Alice riu. Então, ela disse de repente: "Ah, eu
esqueci de fazer a torrada!"

Ele a capturou e, passando um braço em volta dos ombros, a redirecionou para


a mesa. "Por favor, sente e relaxe. Isso está mais do que perfeito. "

Ela franziu o cenho sobre a armação delicada de metal, empoleirada em seu


nariz delgado. "Desde que você tenha certeza." Ele se encolheu com um
desejo quase incontrolável de beijá-la. Não era a hora.

Ainda não, de jeito nenhum.

Ele disse, "Eu tenho certeza."

Ele segurou a cadeira de Alice para ela. Ela sorriu para ele enquanto se
sentava. "Não seja tímido", disse ela. "Coma. Como você pode ver, eu cozinhei
porções de acordo com o seu tamanho. "

E era verdade. Ele respirou fundo enquanto olhava para a comida cheirosa.
Deuses lá de cima, ele nem tinha que provar nada daquilo para saber que ela
era uma excelente cozinheira. Ele lhe disse: "Isto é mais do céu do que eu me
lembro de ter visto em um só lugar por muito tempo. Por favor, sirva-se de algo
antes que eu comece."

Sua linda pele de cacau e creme se tornou rosa com prazer. "Eu não estou
com muita fome, mas bem, ok."

Ela pegou um pouco de ovos mexidos, uma fatia de bacon e uma colher cheia
de batatas fritas. Não foi nem perto o suficiente para o seu olhar crítico, mas
em uma noite que foi tão difícil para ela, isso provavelmente teria que servir.

Ela podia perder seu apetite até mesmo para aquela pequena quantidade, se
ela percebesse que seu nome era o quarto na lista do site.

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Não que alguma coisa fosse acontecer com ela.

Não na cartilha de Gideon.

Ele morreria antes que deixasse isso acontecer.

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QUATRO

As profundezas

Verdadeiro Norte

O que diabos isso significa?

Gideon poderia desejar um pouco de tempo para contemplá-lo. Por enquanto,


porém, ele despejou metade do conteúdo de cada frigideira em seu prato,
serviu-se de um jato generoso de ketchup nas batatas fritas e atacou com
entusiasmo.

Aquelas primeiras mordidas rápidas foram indescritivelmente deliciosas. Carne


salgada, rico queijo derretido e creme de leite com ovos e vegetais, e batatas
crocante, todos na companhia de uma mulher bonita e suave, em uma cozinha
aconchegante, numa noite fria de inverno. De repente, Gideon se sentia mais
feliz do que jamais imaginou ser possível, mais feliz até do que seria
confortável. A emoção correu por ele com uma intensidade tão feroz, que seus
dedos tremiam enquanto ele agarrava seu garfo e faca. Ele apertou as mãos,
desejando que a instabilidade parasse.

Gideon tinha sido um dos cães de guerra mais mortais de Cuelebre, o capitão
alpha que liderou os lobos, os mastins e os mestiços. Sua brigada tinha sido a
mais talentosa e volátil, as tropas no limite extremo. Eles eram os primeiros a
se lançar em qualquer conflito, não latindo, mas correndo para a batalha em
um silêncio ansioso e assassino. Eles eram os batedores, os guardas enviados
para lugares muito perigosos para as tropas regulares, as sentinelas que

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patrulhavam os cantos escuros e se infiltravam nas linhas inimigas para
derrubar seus adversários por trás.

Gideon subira de posto quando ele ainda tinha o atletismo despreocupado da


juventude e um corpo forte, que poderia prosseguir para sempre, só porque ele
pedia a ele. Agora, aquela energia jovem e sem limites tinha se transformado
na maturidade disciplinada, e seu cabelo loiro havia desbotado como o pelo de
um envelhecido Golden retriever. Ele se exercitava e treinava duro para manter
seu físico musculoso, resistência e reflexos rápidos. Cada batalha que ele lutou
e venceu, fez saber que a juventude podia ter passado, mas ele ainda estava
em condições de atingir o máximo, e ainda não era a hora do alpha perder sua
posição de líder do bando.

Ele não era um dos Wyr estranhos e imortais que tinha começado a existir no
início do mundo.

O Lobo Wyr tinha uma vida útil de cerca de 200 anos. Se algo não o
derrubasse primeiro, ele esperava ver outros bons oitenta, oitenta e cinco anos.
Com disciplina e constante treinamento, ele poderia ter passado mais de
cinquenta anos no serviço de combate ativo antes da idade o ter forçado a
considerar outras opções.

Aqui, no santuário plácido da cozinha de Alice, decorado com bonitos girassóis


e armários verde pistache, com seu olhar sensível, brilhante, da cor de avelã,
descansando sobre ele de maneira pensativa e a mais gentil, mais generosa e
deliciosa refeição que alguém já tinha cozinhado para ele a sua frente, poderia
finalmente admitir a verdade para si mesmo sobre o porquê ele tinha parado -
tinha ficado cansado.

As pontas dos finos dedos dela tocaram as costas de uma de suas mãos.
"Você está bem?"

Riehl abaixou a cabeça. "Sim," ele disse, com sua voz rouca. "Obrigado pelo
jantar."

"Não há de quê." A ponta da língua dela tocou o lábio inferior. Ela parecia
querer dizer alguma coisa, mas ela abaixou a cabeça, ao invés disso.

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Eles jantaram em um silêncio que era surpreendentemente confortável.
Quando Alice terminou a comida em seu prato, Gideon pegou a colher de servir
e ofereceu-lhe outra porção do prato de ovos mexidos. Ela ergueu as
sobrancelhas, mas concordou com um sorriso. Ele observou com profundo
prazer conforme ela comia.

Seu celular tocou com o toque de Bayne, o "Stayin' Alive", dos Bee Gee’s. Ele
abaixou a cabeça ainda mais para enfiar o resto das batatas fritas na boca, ao
mesmo tempo em que enfiava a mão no bolso, procurando pelo telefone.
"Desculpe," ele murmurou. "É o meu chefe. Eu tenho que atender."

As sombras voltaram ao seu rosto. Ele odiava ver aquilo. Ela disse: "Claro que
sim".

Gideon entrou na sala de estar e clicou no telefone. "Sim."

"Ouvi dizer que você encontrou sua testemunha" disse Bayne.

"Sim, eu ainda estou com ela," disse Gideon. Ele começou a andar. "Estamos
na casa dela. O que há?”

"Estamos encerrando no apartamento de Haley Cannes." O Grifo disse para


mais alguém, "Empacote isso. Eu quero alguém para vasculhar todos os
arquivos no disco rígido, e conferir todos os contatos de sua lista de e-mail."
Então, sua voz voltou mais forte, "Você descobriu alguma coisa com Alice
Clark?"

Oh, sim! Um montão de coisas novas, mas a maioria delas não era da conta da
sentinela.

Gideon voltou a dar outra volta. Alice estava limpando a cozinha. Ela tinha
levado os pratos para a pia. Mesmo ela tendo uma máquina de lavar louça, ela
estava providenciando uma pia cheia de água e sabão. Parecia que ela sentia
a necessidade de fazer alguma coisa também.

Gideon disse: "Nós ainda estamos conversando."

"Ligue ou mande uma mensagem se você descobrir algo novo. Enquanto isso,
nós conseguimos localizar o paradeiro de todos os Wyr camaleão que vivem

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em Nova York. Agora que as escolas liberaram para as férias de inverno,
alguns estão viajando para os feriados. Uma família de quatro pessoas saiu
para Arizona, uma mãe solteira, seu namorado e seu filho foram para LA, e
alguns estão indo para Miami. Estamos verificando com os aeroportos para
confirmar seus voos, ver se sobraram antes da tempestade fechar tudo, mas
supondo que eles conseguiram partir, isso nos deixa com onze camaleões
ainda na cidade."

"Certo." Ele olhou para Alice novamente. Ela tinha terminado os pratos e
estava limpando a mesa. Ela tinha acabado de começar as férias de inverno?
Por um lado, gostava que ela tivesse um tempo para si agora. Ela precisava
disso.

Por outro lado, ele não gostava da idéia de seu possível isolamento. Ele
rosnou, "Onze é mais do que suficiente se ele está procurando fazer uma
repetição de sete anos atrás."

"Ele só precisaria de mais quatro, não é?", Disse Bayne. "Uma coisa me
incomoda em tudo isso. Se este for o cara de Jacksonville, a última vez que ele
se aproveitou de uma situação foi muito confortável para ele. Todas as suas
vítimas viviam juntas, em um só lugar, e eles tinham a tendência de se isolar,
de maneira que ninguém sabia que algo podia estar errado, quando o grupo
desapareceu por uma semana. Eles só foram encontrados depois que os
conhecidos sentiram falta deles no Baile de Máscara, que eles deviam
participar. Esse não é o caso com esses assassinatos."

Gideon esfregou a parte de trás do seu pescoço. "Ele planeja as coisas


cuidadosa e antecipadamente,” disse ele. "Ele tem um plano e ele acha que vai
dar certo."

"Sim", Bayne rosnou. "Isso me incomoda como o inferno."

Aquilo também incomodava Gideon. Ele perguntou: "Que tal proteção?" O


DPNY não teria condições em seu orçamento para fornecer proteção policial
para onze pessoas, mas a Divisão Wyr para Crimes Violentos era apoiada por
um fluxo de financiamento separado que vinha dos cofres do domínio. Como a

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sentinela que comandava a DWCV, Bayne poderia autorizar esse tipo de gasto
de mão de obra e dinheiro, se ele considerasse apropriado.

"Eu vou montar uma força-tarefa, quando voltar para o escritório", disse Bayne.
"A proteção está no topo da agenda. Deve ser providenciada para todos, pela
manhã. Eu quero que você supervisione isso."

Gideon parou de andar ao sentir uma onda instantânea de negação. Ele olhou
para Alice novamente, e disse a Bayne, "Não posso fazer. Você vai ter que
encontrar outra pessoa."

Bayne disse: "Eu suponho que você tenha uma razão convincente para recusar
esta tarefa urgente, e que você esteja disposto a compartilhar tal razão com o
seu novo chefe."

"De fato, tenho," disse Gideon. "Mas vai ser difícil entrar em detalhes agora.
Vou ter que ligar depois para você."

"Isso é algum tipo de código secreto, por ela poder ouvir tudo o que você diz?"

"Sim, algo assim. Nesse meio tempo, eu preciso voltar a interrogar Alice."

"Será que ela descobriu que é a próxima da lista?"

"Eu não sei," disse Gideon. "Talvez. Mas está tudo bem, já que eu vou passar a
noite aqui."

Alice levantou a cabeça e se virou para olhar para ele, com os olhos
arregalados e assustados.

"Eu estava prestes a lhe dizer para ficar com ela até que eu consiga
providenciar o negocio da proteção,” Bayne resmungou. "Pelo menos um item
a ser riscado da minha lista esta noite."

"Você pode levar isso para o próximo nível," Gideon disse. "Eu vou ser o x da
questão nesta tarefa."

Houve uma longa pausa do outro lado. "Existem implicações nisso?" perguntou
Bayne. "Eu não gosto de implicações. Eu não consigo entendê-las por conta
própria, muitas vezes."

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Gideon sorriu para Alice, tranquilizador. Ele disse a Bayne, "Falo com você em
breve."

"É melhor mesmo, filho. Você tem muito a me dizer," disse Bayne, que em
seguida, desligou.

O pulso de Alice rugia em seus ouvidos, enquanto ela observava Gideon


guardar o celular no bolso. Ela olhou para baixo e percebeu que estava
torcendo o pano de prato nas mãos. Ela lutou para respirar uniformemente
enquanto pendurava o pano no puxador do fogão. Roupas sussurraram quando
Gideon se mudou para a porta da cozinha. Tinha que haver algo sensato e
sensível que ela pudesse dizer, se ela simplesmente conseguisse pensar
nisso. Sua mente inquieta pulou como um coelho em uma série de declarações
e descartou cada uma rápida e sucessivamente.

Isso foi muito presunçoso de sua parte, Detetive. Eu disse que iria deixá-lo
passar a noite?

Claro que você tem que passar a noite aqui. Está muito perigoso lá fora para
qualquer um que tentar dirigir. E aquela tempestade, hein?

Nós nem sequer nos beijamos ainda. (NÃÃO. Não diga isso!)

Ela grasnou, "Você quer café?"

"Alice", disse Gideon.

Ela levantou a cabeça abruptamente.

Ao observá-la, Gideon sentiu uma poderosa onda de ternura, por causa da


confusão perturbadora que aparecia em seu rosto, ele não podia nem mesmo
sorrir, e pela primeira vez, o desejo inadequado ficou subjugado a sua vontade.

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Ele queria tomá-la em seus braços novamente, apenas para abraçá-la e dizer-
lhe que tudo ficaria bem.

Ele disse a ela em voz suave: "Me desculpe, eu não tive a chance de conversar
sobre isso com você antes, mas meu chefe e eu gostaríamos que eu me
instalasse em seu sofá esta noite."

Seus dedos instáveis alisavam a toalha. "Você acha que é uma boa ideia?"

"Achamos," disse ele. "Há muitos indícios de que o assassino sente a


compulsão de seguir certos padrões de ordem."

"O que você quer dizer?" Seus dedos pararam. "Você acha que ele tem
tendências obsessivo-compulsivas?"

"Pode ter. Ele é inegavelmente brilhante e capaz de uma grande dose de


organização, por isso ele também pode ser capaz de esconder sua verdadeira
natureza sob uma aparência de normalidade. A capacidade de ocultação que
alguns psicopatas têm é o que o psiquiatra Hervey Cleckley se referiu, quando
ele cunhou pela primeira vez o termo 'máscara de sanidade', em 1941." Gideon
respirou fundo e forçou-se a continuar. "Um monte de detalhes de Jacksonville
nunca foram liberados porque o assassino ainda não foi preso. Ele manteve o
grupo preso e executou um por dia. Eles foram mortos em ordem alfabética."

Ele notou a hora em que ela percebeu. Ela ofegou rápida e tremulamente e
olhou para cima de novo. Então, ele não conseguiu se segurar mais. Andou a
passos largos para se apoderar de seus esbeltos ombros finos, em um firme e
tranquilizador aperto.

"O que não vai acontecer desta vez," disse ele firmemente para seu rosto em
branco. "Também é bastante evidente que o número sete tem um grande
significado para ele."

"Ele é significativo para todas as Raças Antigas,” Alice murmurou. "Sete


territórios dentro dos EUA, sete Poderes Primordiais ou deuses".

"Os assassinatos anteriores ocorreram nos dias que antecederam o Festival de


Máscara," Gideon continuou. "Então nós achamos que os sete deuses têm

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algum significado especial para ele. Ele matou sete pessoas em sete dias.
Agora, sete anos depois, os assassinatos começaram novamente. Ele escava
sete órgãos de suas vítimas - o fígado, vesícula biliar, pâncreas, os dois rins, o
baço, e sobe, por baixo da caixa torácica, para remover o coração. E ele coloca
os órgãos em um padrão distinto, embora ainda não descobrimos qual seja o
significado disso."

As mãos em seus ombros eram enormes e quentes. Ela agarrou seus


antebraços, e a sensação da pele quente dele sobre o músculo sólido a
estabilizou novamente. Sua mente voou de volta para aquele terrível silêncio
no apartamento de Haley, mas quando ela se lembrou do buraco vermelho
escuro escancarado na cintura de Haley, ela congelou e não podia se obrigar a
ir mais longe.

Ela disse com os dentes cerrados, "Eu não consigo enxergar. Eu não me
lembro. Ele sempre usa o mesmo padrão?"

Ele hesitou, seus olhos pálidos e marcantes procuraram seu rosto. Ele disse
pesadamente, "Sim. O coração está no centro, com os demais órgãos
colocados em torno dele".

Ela franziu a testa para ele, com a boca tão apertada que seus lábios estavam
brancos, sem sangue. "Como eles estavam posicionados?"

Ela podia vê-lo em conflito com o impulso de protegê-la dos detalhes. Por fim,
ele disse: "Ele põe o fígado em doze horas, o baço as seis, a vesícula biliar e o
pâncreas a três e nove horas, respectivamente."

"As quatro direções," disse ela.

"Como?" ele perguntou surpreso. Seu olhar ainda estava focado nele, mas ele
não achava que ela o enxergasse.

"Sete deuses. Sete. Quatro. Dois." Ela perguntou: "Onde é que ele coloca os
dois rins?"

Sua expressão se tornou concentrada. "Em ambos os lados do fígado, na parte


superior do circulo."

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"Eu conheço esse padrão", disse Alice. "Eu o uso o tempo todo."

Ele olhou para ela. O domínio sobre os ombros dela se tornou mais firme.
Então ele a soltou e deu um passo para trás. "Mostre-me".

Ela saiu correndo da cozinha. Gideon caminhou atrás dela, observando-a


murmurar para si mesma. Ela andou pelo curto corredor e acendeu uma luz no
quarto da frente. Ela o tinha transformado em um escritório, com uma mesa e
cadeira para o computador contra uma parede, um sofá-cama em uma posição
de sofá contra a outra parede. Como Haley, Alice tinha retirado as caixas de
decorações de Máscara. Elas estavam colocadas no meio do chão. Ela caiu de
joelhos na frente de uma caixa e vasculhou dentro dela.

"É um passatempo bobo meu," disse ela sobre o ombro. "Eu realmente não sei
muito sobre isso. É só para me entreter, não é como para algumas pessoas.
Todos os anos organizamos a Máscara do Solstício de Inverno, como um jeito
de arrecadar fundos para a escola. Eu ofereci leituras de Tarô – eu uso o Tarô
Original, claro, não um daqueles baralhos europeus. Aqueles vieram mais
tarde, por volta do século XV, eu acho. O Tarô Original é muito, muito mais
antigo. Eu só sei meia dúzia das cartas mais usadas."

Ele esfregou a parte de trás do seu pescoço, enquanto a ouvia falar


rapidamente. "Você está falando de adivinhação?"

Ela se levantou, abandonando a caixa de papelão, com uma pequena caixa de


madeira pintada à mão em uma das mãos.

Suas bochechas estavam coradas. "Na verdade, historicamente, foi usado para
adivinhação e considerado um assunto religioso sério. Se isso foi usado em
uma forma de oração, era supostamente um jeito para os deuses falarem
conosco", disse ela. "Foi só no século XIX que se tornou mais parecido com a
adivinhação, que poderia ser encontrada em uma caravana de circo. Eu não
tenho qualquer poder de adivinhação real, nem posso praticá-la como uma
religião. Só enceno um show ao estilo do circo. Eu posso ganhar vinte e cinco
dólares por uma leitura de quinze minutos. É muito popular na escola.
Normalmente acabo com várias centenas de dólares, no final da noite."

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"Ok”, disse ele. Ele se agachou na frente dela. "Por que você não me mostra
do que você está falando?"

Ela se sentou de pernas cruzadas no tapete, abriu a caixa e tirou um velho


baralho de cartas. Gideon se colocou no chão a sua frente. Ele pegou a caixa
que ela tinha posto de lado. Era feita de madeira de cedro e um fraco Poder
zumbia suavemente em suas mãos, um antigo Poder que tinha saturado a
madeira envelhecida. Ele observou a pintura no topo. Era branco e azul royal e
dourado, com contornos pretos e um pequeno destaque do vermelho. As cores
devem ter sido brilhantes, uma vez, mas tinham desbotado com o tempo. A
pintura era de um rosto estilizado. Um lado era do sexo masculino e outro lado
do sexo feminino.

"Este é o Taliesin, certo?", Perguntou ele. Ele não era muito religioso, mas ele
sabia pelo menos aquilo. Para as Raças Antigas, os sete Poderes Primordiais
eram os sustentáculos do universo. Cada Poder tinha um personagem, ou uma
máscara de personalidade. Tanto macho como fêmea, Taliesin foi o primeiro
entre os deuses das Raças Antigas, o Poder Supremo ao qual todos os outros
se curvavam.

"Sim", disse Alice. "Não é incrível? Todo o baralho é pintado à mão. Eu


encontrei em uma loja de antiguidades há cerca de 12 anos." Ela tocou o canto
da caixa enquanto ele a segurava. "Eu me apaixonei e acabei pagando demais
por ele. Comi um monte de macarrão e queijo naquele ano."

Ele colocou a caixa de lado com cuidado e voltou sua atenção para Alice.

"O Tarô Original tem quarenta e nove cartas no baralho," disse ela. "Os
Arcanos Maiores neste Tarô são os sete deuses em seus aspectos originais,
ou como a maioria das pessoas o conhecem." Ela colocou a primeira carta no
chão entre eles e a nomeou. "Taliesin, o deus da Dança, é o primeiro entre os
Poderes Originais porque tudo dança, os planetas e as todas as estrelas,
outros deuses, nós mesmos. A dança é a mudança e o universo está em
constante movimento. Então, há Azrael, o deus da Morte; Inana, a deusa do
Amor; Nadir, a deusa das profundezas ou o Oráculo - diz a lenda que Nadir foi
quem deu o Tarô Original para as Raças Antigas."

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"Quando isso deve ter acontecido?" ele perguntou.

"Por volta do século III, ou pelo menos essa é a idade conhecida dos primeiros
Tarôs Originais. Depois há Will, o deus do Dom; Camael, a deusa do Lar. E
Hyperion, o deus da Lei "

Ele estudou cada carta conforme ela as mostrava, os famosos olhos verdes da
Morte, os sete leões reais que puxavam a carruagem de Inana, a sensação
sombria da vastidão capturada nas estrelas no olhar de Nadir. As cartas eram
interessantes, mas muito incômodas para serem bonitas.

Ele murmurou: "Alguém com Poder real já usou essas cartas."

"Eu acho que é a pessoa que os criou," disse Alice. "O resto das cartas são os
Arcanos Menores. Os deuses têm os seus aspectos principais, e então eles
têm todos os seus aspectos menores. Pegue Azrael, por exemplo. A Morte é o
seu aspecto importante, mas no baralho de Tarô, ele tem seis outros aspectos
secundários. Ele também é o deus da regeneração e das coisas que crescem
verdes, ele é conhecido como o Caçador e também é a Passagem ou caminho.
Vê?"

"Sim," disse Gideon. Ele estava ficando fascinado mesmo contra sua vontade.

"Inanna é fácil, seus aspectos secundários são Amor em suas manifestações -


romântico, platônico, etc - e também o oposto do amor, que é a apatia. O
aspecto principal de Taliesin é a dança, ou mudança, mas há também êxtase,
ou pausas entre os compassos na dança. Alguns dos outros aspectos de Will
são o estranho andarilho ou sagrado, do sacrifício e também a ganância."
Enquanto falava, ela colocava os Arcanos Menores em colunas laterais abaixo
das cartas Principais, seis em cada uma, até que todas as quarenta e nove
estavam colocadas sobre o chão. "Camael tem tanto a tolice sagrada como a
sabedoria antiga e Hyperion pode ser lei, mas ele também é o trapaceiro.”

"Eles vêm quando baixamos as cartas," Ela reuniu as cartas e as embaralhou


rapidamente. "Há três maneiras clássicas de baixar as cartas, usadas em
leituras de do Tarô Original, mas na verdade, só há uma maneira original, as
outras duas só adquiriram detalhes adicionais a partir dessa. Todas as outras

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maneiras de baixar foram criadas ou inventadas algum tempo após as três
originais. A pessoa que recebe a leitura deve ser a única a embaralhar e
apresentar as cartas. A primeira carta é chamada de Primus, ou a força
primária ou influência na vida de alguém, no momento da leitura. Às vezes, é
chamada de carta da pedra angular, na disposição. A interpretação de todas as
outras cartas é sempre baseada nesta."

Ela tirou uma carta e a colocou no chão. Eles olharam para os olhos verdes
esmeralda pintados de Azrael.

Senhor da Morte.

"Bem, isso tem mais a ver com o dia de hoje do que eu gostaria", ela
murmurou. "Há três tiragens para cada vez que baixamos - o Primus, o
Secondus e o Tertius e importa se uma carta está de cabeça para baixo ou
não. A parte de cima é no que você está trabalhando, seja um objetivo ou
algum evento inesperado. A parte inferior é de onde você está vindo. O lado
direito tem influências negativas, e o esquerdo é positivo. As duas últimas
cartas no topo têm realmente a ver com o futuro." Ela largou a última carta e
olhou para Gideon. "É desse padrão que você estava falando?"

Ele olhou para as cartas. "Inferno, sim!" disse ele. "É isso. Ele está tentando a
adivinhação. É por isso que ele faz nos dias que antecedem a Máscara. O
bastardo está tentando falar com os deuses."

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CINCO

A Dança

Gideon a chocou quando se inclinou e deu um beijo rápido na testa dela. "Você
caiu do céu," disse ele. Ele sorriu, nariz a nariz com ela, e ela sorriu de volta.
"Você sabe quantos doutores e especialistas em perfil sofisticados têm
estudado o caso de Jacksonville e nunca chegaram a isso? Eu tenho que ligar
para Bayne."

Ele saiu do quarto. Completamente aquecida com o elogio dele, Alice olhou
para todas as cartas abertas pela primeira vez. Seu sorriso sumiu e ela ficou
dormente.

Todas as sete cartas da Morte estavam ali. Era uma disposição pura.

Ela nunca tinha visto uma disposição pura antes, assim como nunca tinha visto
um royal flush, no poker. Hoje parecia ser um dia de raras primeiras vezes.
Normalmente ela teria contemplado a disposição e deixado sua mente vagar
livre para permitir que o sussurro de Poder nas cartas lhe dissesse o que eles
queriam. Mesmo ela tendo dito a Gideon a verdade e que ela não tinha muito
Poder, as cartas às vezes tinham sua própria maneira de agir.

Mas ela não podia lidar com as implicações deste tipo de leitura, nesta noite.
Sua mente parecia machucada e sem brilho, incapaz de ouvir a voz mansa e
delicada nas cartas. Se elas tivessem alguma coisa a dizer, iam ter que
esperar. Ela juntou o baralho, guardou na caixa forrada de seda e ficou de pé,

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com movimentos lentos e desajeitados, lentas de alguém emocionalmente e
fisicamente exausto.

Gideon tinha se mudado para a cozinha. Podia ouvi-lo andando e conversando.


Ele a tinha assustado tanto só há poucas horas. Como é que a sua presença
enorme, cheia de energia tornara-se um conforto em tão pouco tempo? Ela
sabia que, se ele já não estivesse planejando passar a noite ali, ela iria lhe
pedir para ficar.

Ela foi para a sala e se deitou no sofá. Se enrolou de lado para olhar para as
chamas de gás e ouvir o som daquela voz profunda e grave.

A morte e morte e morte. Morte no passado, Pedro e David. Morte no presente,


Haley. Morte como a força dominante em sua vida, e morte em seu futuro. Ela
tinha um assassino ao seu lado, e o Caçador como seu desafio. Ela fechou os
olhos. Ela queria muito mesmo poder desligar sua mente.

Ela teve a sensação de algo enorme pairando sobre ela. Ela abriu os olhos.
Gideon se inclinava sobre ela. Seu rosto duro estava atenuado em uma
expressão de tanta gentileza que seus olhos lacrimejaram. Ele acariciou um
cacho em sua têmpora. "O que eu posso fazer por você?"

"Nada, obrigada. Estou apenas cansada,” ela disse a ele. Ela se colocou em
uma posição sentada.

"Esta triste. Eu gostaria de vê-la feliz, algum dia, em breve." Ele segurou seu
rosto com os dedos longos e calejados. "É quase uma da manhã e terminamos.
Você acha que conseguiria dormir?"

Ela assentiu. "Eu vou pegar algumas coisas, algumas roupas de..."

"Não se preocupe comigo," disse ele. A linha dura de sua boca sexy se esticou
em um sorriso. "Eu vou pegar um kit de produtos de higiene pessoal no jipe e
então, se você não se importar, eu pensei que eu poderia deixar o meu lobo
sair. Ele tem um desejo ardente de tirar uma soneca em frente ao seu fogo, se
você permitir."

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Ela não tinha ideia de para onde suas barreiras tinham ido. Elas tinham
simplesmente desaparecido como a névoa da manhã. Ela colocou a mão sobre
a dele e deixou seus olhos demonstrarem seus sentimentos. "Eu adoraria
conhecer seu lobo. Eu sinto muito pela maneira como nos conhecemos, mas
eu estou muito feliz que isso aconteceu."

"É bom ouvir isso, querida," disse ele. Ele se inclinou para frente um pouco
mais e colocou a boca sobre a dela. Era um beijo quente, suave e casto e tão
absolutamente perfeito para quem e onde ela estava naquele momento.

Ela se deu outro presente: ela se inclinou e o beijou de volta, tocando seu rosto
esbelto, com dedos leves e hesitantes, e se permitiu confiar nele.

Ele se afastou e resmungou baixinho, "Ok, Alice, aviso válido. Isso é o melhor
que eu posso fazer. Você deveria saber, na maioria das vezes, eu sou
realmente um pedaço de merda".

Ela chocou a si mesma ao explodir em uma risada.

Ele deu um sorriso torto. "Apronte-se para deitar,” disse ele. "Eu vou pegar meu
kit. Volto logo."

Ela o observou caminhar até a porta. Quando ele a destrancou e fez menção
de sair apenas vestido com sua camiseta, ela perguntou, "Você não vai colocar
seu casaco?" A temperatura do lado de fora tinha que estar abaixo de zero
agora.

O olhar que ele atirou era de um pálido gelado, mas ardente. "Uma rajada de ar
frio seria útil agora."

A respiração dela estremeceu em sua garganta. Eu, ela pensou. Ele quer dizer
por causa de mim.

Ele abriu a porta. Quando ele saiu, um golpe de vento afiado como uma
espada, uivou para dentro do apartamento.

Ela pulou do sofá e se retirou para o relativo calor e privacidade de seu


banheiro.

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Depois de inspecionar seu rosto com olheira no espelho do banheiro, ela
escovou os dentes e tomou um banho rápido de cinco minutos para lavar a
sujeira da cidade. Sua camisola amarelo-limão, do comprimento de sua coxa e
robe azul escuro estavam pendurados em um gancho na porta do banheiro. Ela
os vestiu e saiu do banheiro.

A 5m de distância, na sala de estar, um lobo loiro-branco estava de frente para


a porta do banheiro com a cabeça apoiada em suas patas.

Ela perdeu o fôlego.

Ele era enorme, facilmente o dobro do tamanho de um lobo comum, totalmente


musculoso no peito e costelas, com pernas longas e fortes, e de aparência
poderosa. Seus olhos eram do mesmo azul gelo pálido, que eram quando ele
estava em sua forma humana. Quando ela olhou para o lobo, o rabo acenou
suavemente. Apesar de sua aparência feroz e tamanho intimidador, de alguma
forma ele conseguia parecer tímido.

Gideon disse em sua mente, Eu pensei que poderia ser uma boa ideia para
você encontrar o lobo desta forma antes de ir para a cama. Eu não quero
assustá-la se você se levantar no meio da noite. Eu não tenho que ficar assim,
se não estiver bem para você.

Bem para ela? Ele era a coisa mais linda que já tinha visto, e a mais perigosa.
Ela caiu de joelhos e estendeu a mão. "Você é lindo," disse para o lobo. "Você
não poderia ser mais perfeito."

Os olhos do lobo se iluminaram. Ele se levantou – meu pai, ele continuou


subindo e subindo - e caminhou lentamente ao redor. Ela percebeu que ele
estava lhe dando tempo para mudar de ideia.

Ela não mudou de ideia. Assim que ele chegou perto o suficiente para ser
tocado, ela passou a mão suavemente por seu pelo espesso. Era suave e
exuberante, até mesmo flexível sob a palma da mão. Ele se aproximou,
andando de lado, enfiou o nariz em sua mão e lambeu seus dedos com um
carinho tão explícito, que ela riu de novo em deliciosa surpresa.

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Ela se deu mais um presente, jogou a cautela pela janela e o abraçou. Ela
sentiu a mudança cuidadosa no corpo dele, quando se inclinou um pouco
contra ela, não muito, e colocou a cabeça em seu ombro. Ela esfregou o rosto
em seu pelo. Ele irradiava calor como um radiador. Sua grande e quente
presença preenchia lugares dentro dela que ela não sabia que estavam vazios.

"Obrigada por ficar," ela sussurrou.

Eu não gostaria de estar em nenhum outro lugar, ele disse calmamente. Ele a
acariciou com o nariz. Vá para a cama agora. Você está segura.

Algo apertado dentro dela se desenrolou. Ela caiu contra seu corpo poderoso e
robusto, e assentiu. Em seguida, ela ficou de pé, passou a mão sobre a cabeça
do lobo em uma última carícia, e entrou em seu quarto sombrio para subir na
cama.

A exaustão rodopiou ao redor de seu corpo assim que a cabeça atingiu o


travesseiro. Ela ouvia sons discretos conforme Gideon se movia pelo
apartamento e ela sabia que ele estava verificando as janelas e portas.

Ela achou que o lobo tinha vindo até seu quarto, para tocar o dedo indicador de
sua mão que estava para fora da cama, com o nariz frio, mas ela podia estar
sonhando àquela altura. Em seu sonho, o lobo descansava a cabeça na borda
da cama e olhava para ela com uma devoção, que ela teria acreditado ser
impossível antes desse dia. Então, alguém desligou todas as luzes em sua
cabeça, e ela dormiu.

Acordar não foi uma boa experiência. Ele veio forte e rápido. Ela emergiu de
um pesadelo com o frio de uma pele pegajosa e o barulho perverso do vento
chicoteando do lado de fora da janela de seu quarto.

Ela tinha arrancado todas as suas cobertas e se enrolado em uma bola


apertada. Ela forçou os músculos a se soltarem. Rolou para olhar por cima da
borda da cama para o chão. Nenhum lobo. É claro que ele não estava lá. Ele
estaria na frente do fogo, onde ele disse que ficaria.

Os números borrados em seu relógio de cabeceira mostravam 3h23. O quarto


parecia vazio e frio, quase não servindo de abrigo contra a tempestade. Seu

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pesadelo tinha sido cheio de facas escuras e molhadas, e ela sentia falta dele.
Ela simplesmente sentia falta dele.

Ela não se deu tempo para lutar contra o impulso. Colocou os óculos sobre o
nariz, pegou o cobertor de cima, enquanto ela saia da cama e caminhava até a
sala de estar.

Lá, ela encontrou tudo no mundo. O calor e a luz do fogo brilhavam sobre o
corpo maciço do lobo que estava deitado no chão, estendido de lado. Suas
roupas estavam dobradas em uma pilha bem feita nas proximidades, seu
coldre com a arma descansando no topo. Seus olhos semicerrados se moviam,
mas ele permaneceu imóvel quando ela se deitou no chão, atrás dele. Ela
colocou os óculos sobre a mesa de centro, nas proximidades, cobriu-se com o
cobertor e se enrolou tremendo contra as costas amplas e quentes do lobo.

A voz mental de Gideon ressoou silenciosamente em sua cabeça. Pesadelo?

"Sim", ela sussurrou e esfregou o rosto em seu pelo.

Os poderosos músculos das costas ficaram tensos. Está tudo bem se eu


mudar?

Ela assentiu. "Eu não me lembro do último pesadelo que eu tive," disse ela.
"Normalmente, não sou uma pessoa carente..."

Calma, querida.

O lobo rolou sobre seu estômago. Ele brilhou com a mudança. O que quer que
ela tivesse pensado em dizer voou para fora de sua cabeça conforme o corpo
humano, maciço e nu de Gideon, apareceu deitado diante dela. Uma luz
dourada dançava sobre os músculos amplos de suas longas costas e se
derramou no oco gracioso de sua coluna lombar, nádegas, coxas e eram coxas
poderosas. Ele era esbelto em todos os lugares, sua pele esticada e bronzeada
ondulava sobre a flexibilidade de músculos bem desenvolvidos e na fluidez dos
ossos quando ele se colocou sobre os cotovelos para olhar para ela.

A expressão em seu rosto forte e esbelto era séria, preocupada. Sua garganta
se fechou quando ele se virou e a recolheu contra seu peito. "Eu estou feliz por

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você não ser uma pessoa carente," ele murmurou. Sua voz ressoou contra sua
bochecha. "Mas eu quero que você precise de mim. Não se desculpe ou me
enrole. Apenas precise de mim."

"É muito assustador," ela respirava. "Quando eu almocei ontem, eu não sabia
que você existia."

Ele embalou sua cabeça em uma mão e se inclinou sobre ela. Seu olhar pálido
brilhava como águas-marinhas.

"Ontem se foi. Quem somos um para o outro hoje e o que seremos amanhã,
essas são as coisas que importam."

Ela leu as linhas e marcas em seu rosto severo com as pontas dos dedos, e
acariciou a longa e forte coluna de sua garganta. Um comprimento rígido e
duro cresceu contra sua coxa, e parecia estranho e novo, mas ao mesmo
tempo, tão familiar e necessário.

Ela olhou para ele com espanto visível. "Eu não entendo como tudo isso
aconteceu," disse ela, com os lábios trêmulos. "Nós nem nos beijamos ainda.
Quero dizer, nos beijamos, não realmente."

Um leve tremor percorreu a grande mão que embalava sua cabeça e seu rosto
corou com uma fome bruta e sensual. Ele fechou os olhos e rosnou, "Seus
últimos dias têm sido tão infernais. Eu estou tentando ser tão malditamente
cuidadoso e dar o que você precisa..."

Ela tocou a boca dele com espanto. Ela pensou, eu sonhei que um lobo veio
até minha cama e cuidou de mim enquanto eu dormia. Havia uma história épica
naqueles olhos silenciosos, de montanhas que haviam sido cruzadas e de um
mundo de luta, e incontáveis anos que tinham sido gastos no cumprimento do
dever e na solidão. E havia uma promessa naqueles olhos de lobo, a promessa
de uma velha alma de guerreiro que sabia o que significava compreender
profundamente e se manter fiel ao que ele alegava, não importa o que fosse.

Ouviu-se perguntar: "Você foi ao meu quarto mais cedo?"

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Eu tive um sonho sobre paixão, devoção e lealdade, e uma promessa que
significava tudo.

O tremor nas mãos dele aumentou. Ele sussurrou contra seus dedos, "Só para
ter certeza de que estava bem. Tudo o que você quiser, o que você precisar.
Diga-me e eu vou providenciar para você."

Tudo.

E por um momento brilhante, seu mundo se tornou simples, limpo e bom


novamente.

"Eu preciso de você," disse ela.

Ela sentiu a respiração deixar seu corpo. Seus olhos se abriram, e a expressão
neles brilhou. Como é que ela pode alguma vez pensar que aqueles olhos
azuis eram gelados, ela nunca saberia. Eles queimavam com uma chama firme
e pura.

Ela deslizou as mãos para longe de seu rosto quando ele trouxe sua boca até a
dela, e o impacto quente causado pelos lábios dele a fez fechar os olhos de
excitação. Ela era embalada por trás e acariciada por cima, e todo o tempo ela
sabia que aquele peso forte e firme pairava sobre ela, equilibrado por
enquanto, mas pronto para despencar. Suas mãos pousaram no arco pesado e
amplo de suas clavículas e deslizaram para baixo, pela expansão de seus
peitorais, enquanto sua boca formou um 'o' suave de surpresa para o quão
bom isso era, quão incrivelmente bom.

E ele tomou isso como um convite para deslizar para dentro. Ele enrolou a
língua entre os lábios dela, com uma suavidade sensual que falava de infinito
cuidado e profunda emoção.

Ela aprendeu alguma coisa com o seu beijo e a guardou no coração. Este
homem sentia coisas que nunca falou verbalmente. Em vez disso, as dizia com
seu corpo e olhos, sua boca e suas mãos, e nesse momento, enquanto ela o
beijava de volta, ela fez uma promessa silenciosa a ele, de aprender a língua
que ele falava para que ela ouvisse tudo o que ele tinha a dizer.

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Então, a linguagem dele mudou e se tornou mais difícil, mais exigente. Ele
falava de necessidade também, enquanto dirigia sua língua rígida para dentro
da boca dela e empurrava a coxa pesada entre as pernas dela. Seu corpo
maciço se tornou um grito silencioso de urgência. Ele balançou os quadris
contra os dela, massageando o comprimento quente do pênis contra o arco de
sua pélvis, e o tremor da respiração dele explodiu contra seu rosto, enquanto
segurava um dos seios e acariciava com os dedos o mamilo ereto e dolorido
através da fina camisola.

Ela pegou fogo. Ele correu brilhando como mercúrio líquido através de suas
veias. Ela arqueou com seu toque e gemeu enquanto agarrava a parte de trás
de sua cabeça. Suas mãos escorregaram contra o curto e sedoso cabelo de
cor de milho pálido.

"Diga-me para parar, querida," ele murmurou contra sua bochecha. "Basta
dizer a palavra, se estivermos indo muito rápido."

Seu corpo disse outra coisa, conforme ele se esfregava mais forte contra ela.

Dizia, por favor, por favor.

Ela acariciou o amplo arco de suas costas, enquanto sussurrava em seu


ouvido: "Você é meu companheiro. Eu nunca poderia dizer não para você."

Ele recuou a cabeça e olhou para ela com espanto.

Por um momento terrível, o horror escureceu sua visão e seu coração deu uma
guinada de causar enjoo. Ela pensou, eu não posso estar tão errada. Eu não
posso viver com isso se eu estiver tão enganada.

A alegria que tomou conta do rosto dele era tão incandescente, que cegava.
"Isso é o que significa," disse ele. "O verdadeiro norte".

Ela começou a tremer em reação. "O quê?"

Ele se apoiou sobre um cotovelo para acariciar o rosto dela. "Quando eu olhei
para você pela primeira vez, o mundo mudou. Foi como perder o chão sob
meus pés. Estive pensando que foi como se o norte verdadeiro tivesse
mudado, o impulso magnético de uma direção que você usa na navegação,

67
mas é mais como a força principal de sua disposição de cartas. Eu venho
tentando descobrir o que isso significava. Tudo que eu sabia era que foi você -
você se tornou meu verdadeiro norte, minha força principal. Simples assim, de
uma hora para a outra."

Ela fechou os olhos e engoliu em seco conforme o mundo entrava em foco de


novo. "Sim, isso foi o que aconteceu comigo também."

Ele se abaixou para acariciar o pescoço dela. "Isso me lembra de uma citação
de um filósofo francês. ‘O coração tem razões que a própria razão
desconhece’. Você o conhece?"

Ela passou os braços ao redor do pescoço dele, e deixou seu coração


assustado encontrar alívio e se encher dele.

"Eu o conheço, sim."

Eu tive um sonho de raridade e beleza incomparáveis.

Então eu acordei para ver que era verdade.

68
SEIS

Sacrifício

Gideon olhou para a mulher em seus braços. Ela era tão linda que o deixava
sem fôlego. Ele pensara que sua beleza era discreta e inteligente, mas naquele
momento, ela estava tão óbvia com cor e voluptuosidade que ele só podia olhar
para ela com admiração apaixonada.

Sua pele de chocolate e creme se tornou ouro, rico e profundo à luz do fogo, e
seus olhos vívidos brilhavam em azul e verde. Aqueles fabulosos cachos
dourados nas pontas se derramavam de maneira extravagante sobre suas
mãos, e aquela camisola amarela pálida se movia como seda contra sua pele
superaquecida. Seus seios estavam cheios e generosos, e a aréola escura de
seus mamilos empurravam contra o material fino.

Ele imaginou como seria vê-la envelhecer, uma pitada pálida de geada tocar
aqueles cachos, as linhas de riso crescendo nos cantos dos olhos e naquela
boca delicada e sensível. As cenas em sua imaginação o dirigiram a um nível
elementar. Ela só poderia se tornar mais adorável para ele conforme a
conhecesse melhor, na intimidade dela com o passar dos anos.

Ele abaixou a cabeça e acariciou o arco delgado de seu pescoço dourado com
os lábios. Sentiu o suspiro de prazer que a fez estremecer, a mudança sexy de
seu corpo se moldando para se adaptar ao dele, e, oh deuses santos, ele foi o
único que fez isso com ela, grande, bruto e pesadão como ele era. A maravilha
disso fechou sua garganta.

Ele sabia muito sobre como matar e quase nada sobre como viver em paz.
Inferno, mal sabia como ficar dentro de casa por qualquer período de tempo.

69
Ela era boa demais para ele, muito refinada. Ela colocava guardanapos de
tecido em sua mesa, lia livros de poesia, e ensinava crianças pequenas. As
colchas que ela criava eram obras de arte que alimentavam a alma.

Ele colocava balas em clipes para carregar suas armas, e lia arquivos de
crimes não resolvidos e tratados sobre guerra. Ele ensinava recrutas como
esperar, como obedecer a ordens, e como matar, ele jogava xadrez porque era
uma batalha de inteligência que mantinha sua mente afiada.

Ele colocou a testa junto ao seio dela. Suas mãos se fecharam sobre a
camisola.

Ele precisava voltar para casa, mas não sabia como. Ele nem sabia onde era a
casa até que olhou para o rosto dela pela primeira vez. Ele precisava ser bem-
vindo, mas não tinha certeza de que merecia.

Ela tinha fugido de seu quarto e de seu pesadelo com uma aparência de horror
surpreso. Mas ele sabia qual pesadelo ela tivera. Esse pesadelo era um velho
conhecido seu. Os detalhes podiam mudar, junto com os rostos das vítimas,
mas a história continuava a mesma. Era um conto de um fogo tão escuro que
queimava a alma até deixá-la negra. Ele era aquele pesadelo para algumas
pessoas.

Ela acariciou seu cabelo. "Gideon?"

Cristo, agora ele era o responsável por colocar aquela incerteza em sua voz,
bem no momento em que ela deveria estar encharcada do conhecimento de
quão adorável, quão desejável ele a achava. Ele se esforçou para dizer alguma
coisa, qualquer coisa, para que ela soubesse que nunca poderia haver nada de
errado com ela. Era sobre tudo o que estava errado com ele.

Ele sussurrou: "Eu quero ser um bom homem."

As mãos dela se acalmaram. Então ela as trouxe para sua mandíbula e o fez
erguer a cabeça. Ela procurou por sua expressão, com o lindo olhar
preocupado. "Por que você acha que não é um bom homem?" perguntou com
uma voz suave.

70
"Eu passei quase uma centena de anos no exército," disse ele, com a voz
estrangulada. "Eu vi coisas. Eu fiz coisas que você não pode imaginar. Eu nem
quero que você jamais seja capaz de imaginá-las. Você merece alguém muito
melhor do que eu, alguém mais sofisticado, que sabe como viver a sua vida."

"Como você sabe que não é esse homem?" perguntou. Ela se ergueu para
beijá-lo, a curva delicada de seus lábios acariciando os dele. "O coração tem
suas razões, lembra-se?"

Um tremor percorreu o corpo dele. "Você não sabe, você não entende."

"Você está certo, eu não sei e não entendo," disse a ele.

Alice acariciou lhe o rosto e passou a mão pela vasta extensão de suas costas,
tentando acalmá-lo.

Este era o mesmo sofrimento que o abalou anteriormente, à mesa de jantar.


Era difícil vê-lo sofrer, especialmente quando ela não tinha certeza de que ele
percebia o quanto estava sofrendo. "Não posso entender mesmo."

"Eu escolhi isso," disse ele. "Eu prosperei no exército. Eu era bom nisso."

Ele teria sido. Ela podia ver isso. Forte, responsável, estável, confiável como a
terra. Ele teria sido o primeiro a entrar em batalha e o último a sair dela, e a
necessidade de tudo isso teria sido tão óbvia para ele, que nunca teria
encarado tais coisas como sacrifício. A verdadeira nobreza nunca reconhecia a
si mesma

Ela podia tê-lo reconhecido como seu companheiro ontem, mas foi nesse
momento que ela se apaixonou por ele.

71
Ela disse: "Eu sou uma pessoa de fé, Gideon. Isso ficou um pouco abalado
ontem, mas está de volta, firme e forte agora. Eu não acredito que seríamos
companheiros sem também sermos certos um para o outro. O destino ou os
deuses, ou quem quer que tenha criado o Wyr a ser o que somos, não teria
sido tão cruel. "

Ele murmurou, "Eu não tenho a sua fé. Não depois de todas as atrocidades e
feiuras que vi. Maldades e injustiças existem; pesadelos são reais. E os deuses
permitem tudo isso." Ele encontrou seu olhar. "Mas eu sei de uma coisa - você
é o presente mais puro que já me foi dado, e vou fazer de tudo para mantê-la
segura e ser digno de você." Ele fechou os olhos e virou o rosto em sua palma.

Ela mordeu o lábio. Ela quase podia ver a barreira que o cercava. Ele queria e
precisava estar com ela, mas de alguma forma ele ainda estava fechado, e ela
sabia que não tinha avançado muito através daquela barreira, não a
ultrapassara. Não ainda.

Talvez fosse apenas questão de dar um tempo para permitir que a realidade do
que havia acontecido com eles fosse absorvida. Mas talvez...

"Você tem que se lembrar, nós nos conhecemos quando eu estava tendo um
dia realmente fora do comum," disse a ele. "Porque na maior parte do tempo eu
não sou tudo isso."

Seu olhar assustado voou para o dela, águas marinhas gêmeas congeladas à
luz do fogo.

Ela tocou seu nariz com o dedo e rolou os quadris para ele.

Os cantos de sua boca sexy começaram a enrolar. Ele veio para cima dela
mais completamente, e ela abriu as pernas, joelhos dobrados para acolhê-lo
com todo o seu corpo. Foi tão bom senti-lo segurar uma de suas coxas para
ancorá-la no lugar, que ela se sentiu úmida, encharcada. O comprimento rígido
de seu pênis descansava contra sua entrada. Ele pressionou no local onde ela
estava tão sensível que pode sentir sua ereção pulsar, e sabia que naquele
momento a barreira invisível tinha desaparecido e ele estava ali com ela, corpo
e alma.

72
"Se importa em explicar essa afirmação?" Ele murmurou.

Eles tinham tanto a aprender um sobre o outro. A barreira provavelmente


voltaria. Poderia levar um longo tempo até desaparecer de vez. Mas, por
enquanto, ela abriu a boca para lamber os lábios. "Não," ela disse, enquanto
lhe dava um pequeno sorriso. "Eu acho que você vai descobrir por si mesmo
muito em breve."

Os pés de galinha nos cantos dos olhos dele se aprofundaram. Ele abaixou a
cabeça e passou os lábios levemente ao longo da pele de seu pescoço,
enquanto sussurrava: "Eu mal posso esperar."

A respiração dele, úmida e quente, em sua pele sensibilizada era uma carícia
por si só. Tinha o mesmo efeito de acender um fósforo. Seu corpo brilhava
quente, como se uma folha de fogo a tivesse encharcado e a fome que sentia
por ele era tão voraz que ela tremia por causa disso. Oh deuses, era mais forte
do que qualquer coisa que ela já tivesse sentido antes. Este sentimento era tão
grande que ameaçava engoli-la inteira.

Ela tivera amantes. Apenas uns poucos, mas foram suficientes para que
achasse que sabia o que estava fazendo.

Ela tentou se preparar, se segurar em algum tipo de pensamento racional ou


expectativa. A primeira vez com um novo amante nunca era tudo aquilo. Ela
sempre tivera que fazer com que eles desacelerassem. Eles precisavam de
tempo para aprender sobre o que um e o outro gostava e não gostava, antes
que o ato de fazer amor se tornasse realmente bom, e não importaria nem um
pouco se ele - não fosse tão sensualmente talentoso, porque ele era tão bom,
tão malditamente perfeito em todos os outros -

Ele segurou sua camisola pelo decote e a rasgou. Em seguida, caiu sobre ela
como um homem faminto em um banquete. Todo seu corpo extraordinário
estava esculpido com todos os músculos poderosos tensos, o olhar em seu
rosto estava tão desesperado e ávido que lágrimas brotaram em seus olhos.
Sua cabeça disparou para baixo, para seus seios, ele lambeu e chupou seus
mamilos até que eles se projetavam, molhados e distendidos, botões
insuportavelmente sensíveis de carne. Ele se mudou de um para o outro,

73
enquanto acariciava com uma grande mão a parte interna de suas coxas e
provocava a abertura privada de sua fenda com dedos trêmulos. Ela se sentiu
umedecer ainda mais para ele, até que sua mão estava encharcada com o
prazer dela.

Ela o tocou em todos os lugares que podia alcançar, com a boca e com as
mãos, erguendo-se para esfregar a parte superior de seu corpo no dele. Ele
estava respirando com dificuldade e ganindo no fundo de sua garganta, um
som quase imperceptível, que mesmo assim, a capturou e deixou fora de si.
Quando ela tateou entre eles para segurar o eixo pesado e duro de seu pênis,
ele congelou com um gemido.

Ela olhou para seu olhar, pálido e ardente enquanto tocava sua ereção,
conhecendo-o pelo tato. A pele dele estava vermelha escura, os ossos do
rosto, rígidos. Suas mãos tremiam, também. Ele se sentiu enorme para ela, o
comprimento rígido de seu pênis entrelaçado com veias e encimado com uma
cabeça larga de pele aveludada. Ambos olharam para baixo, para o espaço
entre seus corpos. As esguias pernas femininas estavam espalhadas
abertamente para ele, sua delicada e suculenta carne, úmida e convidativa.

O vazio que sentia naquele ponto tornou-se um pico de necessidade. Ela o


puxou suavemente, permitindo-se acariciar seu comprimento com a mão.
"Venha para dentro," ela sussurrou. "Nós podemos ir devagar em outro
momento."

Ele balançou a cabeça, a respiração chegando em pequenos e duros arquejos,


na hora em que seu quadril esfregava de maneira lenta e empurrava seu pênis
na mão dela. "Não muito rápido. Não - Deus!"

O prazer agonizante que atravessou o rosto dele, enquanto ela o massageava


era a coisa mais deliciosa que já tinha visto. Sua necessidade aumentou,
esquentou mais ainda. Ela estava tão vazia que sentia dor. Ela sugou o ar e se
esforçou para dizer. "Gideon, por favor."

Ele encontrou seu olhar rapidamente. "Isso dói, querida?"

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Seu desespero não tinha sumido. Ele a manteve sob controle, a ternura e calor
em seus olhos fez com que as lágrimas que estavam em seus olhos caíssem.
Ela assentiu com a cabeça bruscamente.

Ele se inclinou e se aninhou em seus seios e sussurrou: "Eu vou melhorar


isso."

Ele puxou o pênis, tirando-o de sua mão. "Não" ela disse e se torceu para
tentar se apoderar dele novamente.

Ele evitou sua mão e se moveu para se colocar entre suas pernas. Ela se
apoiou num cotovelo e pegou seu braço, tentando pressioná-lo a se erguer
novamente. Ele mordeu a palma de sua mão, num beliscão rápido e afiado.

"Pare com isso."

"Você não vai fugir", ela suspirou. "Volte aqui já."

Ele rosnou. "Não me faça te prender em baixo de mim."

Espere, ela ouviu direito?

Ambos congelaram. Ele parecia indescritivelmente lindo, sem remorso,


travesso e meio selvagem, suspenso como estava, com seus ombros largos
entre as coxas dela. Paixão atordoante pulsou e ela ardeu completamente com
o calor de novo.

Ela disse: "É melhor não."

Seus olhos se estreitaram. Ele olhou para seu corpo e lambeu os lábios. "Ou o
quê?"

Poderia ter sido um jogo divertido de jogar, mas então seu clitóris faminto
pulsou tão forte que seus joelhos se ergueram em reação e ela perdeu toda a
compostura. Ela choramingou, "Eu não sei."

Suas mãos serpentearam, mais rápido do que a visão. Ele a agarrou pelas
partes internas dos joelhos e puxou as pernas, abrindo-as o máximo que
conseguiam. O choque do movimento, o sentimento de extrema
vulnerabilidade, era tanto, que ela emitiu um gemido trêmulo.

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Então sua cabeça mergulhou. Ele colocou a boca nela e ela explodiu de
maneira nuclear. Ele lambeu e chupou o pequeno e rígido botão envolto pelas
dobras de sua carne secreta. Sua boca estava tão segura e confiante, tão
urgente e suave, que ela tentou elevar os joelhos novamente, mas aquelas
mãos grandes e firmes dele abraçaram os joelhos e a segurou aberta para o
seu ataque.

O prazer foi insano. Era demais para aguentar. Ela estendeu as mãos, às
cegas, buscando por algo, qualquer coisa para segurar enquanto ele dirigia seu
corpo em um crescendo acentuado. Ela sentiu o clímax rugindo em direção a
ela, em seguida bateu em seu corpo com tanta intensidade que seu tronco
arqueou, deixando o chão e um ruído saiu dela, um grito alto, agudo e
descontrolado de incredulidade.

Ele manteve sua boca sobre ela, firme e quente, seu olhar pálido capturando-a
conforme sua língua massageava cada último pulso de prazer que saia dela, e
ao vê-lo trabalhando com tanta paciência, a intenção sensual a arremessou em
outro. Ela voou para ele, mais quente e mais forte do que antes, e os tendões
de seu pescoço se distenderam quando ela tentou gritar novamente, mas ela
tinha voado tão alto, que o ar estava muito fino, não conseguia aspirar e para
fazer qualquer ruído.

E todo o tempo, ele estava sussurrando dentro de sua cabeça. Linda, querida.
Você é tão linda. Deus, você é a coisa mais linda que eu já vi. Eu quero ver
você fazê-lo novamente.

Eu não posso! É-é muito - Gideon, POR FAVOR...

Em seguida, ela perdeu as palavras, mesmo para a telepatia. Ela estendeu as


mãos para ele em uma súplica muda. E seu controle se despedaçou.

Ele avançou sobre ela, guiando a cabeça de seu pênis grosso para a entrada
dela com uma das mãos, mesmo enquanto a beijava, seus lábios firmes e
necessitados. Sua boca estava escorregadia com o prazer dela. Ela o provou,
provou a si mesma.

Um som animal saiu dela.

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Ela já estava gozando novamente, seus músculos interiores ondulando,
enquanto ele deslizava para dentro dela por todo o caminho, até a base e foi
tão fodidamente perfeito, ela estava tão fodidamente perfeita, que ele foi direto
de pular aquela amarelinha e cair direto dentro da terra de loucos.

Ele derramou o próprio clímax em seu corpo acolhedor, um jorro trêmulo e sem
controle. Mas não era o suficiente, ele não estava nem perto do suficiente,
aquilo só alimentou sua fome. Um rugido profundo rompeu de seu peito. Ele a
pegou pelos pulsos e a prendeu para baixo, se dirigiu nela em arremessos
duros e compassados, enquanto ela saboreava avidamente sua boca e
combinava cada impulso de seus quadris com o dele. Ele gozou de novo, e de
novo, e cada vez ela gozava com ele, até que finalmente ela estava mole
debaixo dele e ele não tinha mais nada a oferecer.

Ele pode ter dormido, as mãos segurando seus pulsos frouxamente. Ele não
tinha certeza. Em algum momento, ele atingiu consciência suficiente para
murmurar: "Muito pesado?"

Seu pênis tinha suavizado, mas ele ainda estava dentro dela, e isso era tão
maravilhoso que ela não queria perder a sensação. Sua cabeça estava apoiada
em seu cabelo. Ela não podia mover a cabeça. Ela não conseguia nem abrir os
olhos. Ela fez um esforço hercúleo para responder e conseguiu, "Huh uh".

Ele se moveu com um grande suspiro. Ela podia sentir seu pulso, forte e lento,
contra seu peito.

Houve outro momento de impacto indistinto. Então ele disse, com a voz rouca
de sono, “Assim que o tempo melhorar, eu vou me mudar para cá."

Ele não pediu, afirmou. Ela provavelmente deveria achar ruim. Nah, ela estava
muito cansada. Mas notou que ele ficou muito quieto, enquanto esperava por
uma resposta dela.

Ela pensou que podia estar com uma queimadura por causa do tapete, e seu
nariz coçava. Ela deslizou um dos seus pulsos tirando do controle frouxo dele,
para que pudesse coçá-lo enquanto bocejava. "É bom você fazer isso. Mas nós
vamos ter que conversar sobre essa sua tagalerice após o sexo."

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Corpo a corpo como estavam, ela sentiu os músculos do estômago dele se
apertarem quando ele soltou uma gargalhada. O som rouco e baixo era tão
lindo quanto o resto do corpo dele. Ele levantou a cabeça de seu cabelo o
suficiente para que ela pudesse se virar e acariciar, e ele cobriu a boca dela
com a dele em uma resposta rápida, física. Ela adorava o jeito como ele era
carinhoso com ela. Ela adorava tudo sobre ele. Eles iriam brigar e descobrir
traços menos atraentes um do outro, e o pensamento dele se mudando para a
casa dela, francamente era um pouco assustador, mas simplesmente não
havia outra alternativa. Não houvera desde o momento em que ambos
reconheceram a mudança do acasalamento, então ela decidiu que poderia
muito bem ir em frente e aceitar as mudanças e aproveitar todo o processo,
porque ia ser maravilhoso acordar de manhã com ele em sua cama, ir dormir à
noite com ele em seu corpo.

Algo tocou nas proximidades.

O que foi isso? Ela não tem nada na sala de estar que tocava. Tocou de novo e
Gideon se levantou e se afastou de seu corpo. Ele ainda apresentava aquela
expressão concentrada de sensualidade, mas o olhar tinha se tornado alerta.
Ele se torceu para alcançar seu telefone celular.

Ele atendeu, "Sim.”

Ela viu seu rosto se tornar frio e ficar imóvel enquanto ele ouvia a voz profunda
e enfurecida, na outra extremidade.

Seu sono e prazer maravilhado desapareceram em um enrijecer de medo.

"O que você quer que eu faça?" Ele perguntou. "Eu posso levar Alice para aí.
Ela estaria segura na Central e eu poderia ajudar com a busca."

Ela se concentrou na voz do outro lado. Um homem disse: "Não há sentido em


fazer isso, filho. Eu tenho muita gente na caçada. Só queria colocar você a par.
Se ele está com eles, tudo o que ele precisa é de mais um agora."

"E quanto à proteção dos outros?" perguntou Gideon.

78
A voz disse, "Eu despachei o primeiro detalhe logo após nossa última conversa
e lhes disse para agir discretamente para não assustar ninguém, além dos que
já estavam. Estamos trabalhando malditamente tão rápido quanto podemos."

Ela sentiu enjoada. Oh, não. Não.

Ela se tornara fria sem o calor do corpo dele e se sentia vulnerável sem seus
óculos. Ela os colocou e estendeu a mão para a pilha confusa do cobertor para
se embrulhar nele, enquanto Gideon colocava o telefone de lado. Ele se virou
para ela, com uma expressão solene em seus olhos.

"O que aconteceu?"

"Bayne conseguiu a confirmação das companhias aéreas" Gideon disse a ela.


Ele estendeu a mão e a pegou, com cobertor e tudo, e a embalou contra seu
peito. "Os três camaleões programado para voar para Los Angeles nunca
fizeram o check-in. Seus lugares foram dados no último minuto para três
pessoas que aguardavam na lista de espera. Eu sei que você os conhece,
querida. Eles estão... "

"Stewart Rogers. Sua mãe, Leigh. Seu noivo, Jim Welch" ela sussurrou. Ela
pensou no rapaz de constituição delicada, seu doce e sério rostinho, os olhos
sérios por trás de óculos fundo de garrafa e seu tímido e raro sorriso. Ele foi
atrás de sua mãe, um tipo suave de mulher. Algo rugiu em seus ouvidos.

"Stewie está na minha classe, Gideon. Não Stewie. Por favor, não me diga
isso."

Ele a segurou com todo o seu grande corpo. Ele emanava calor como uma
fornalha, mas ainda não era o suficiente para afastar o frio assassino.

"Querida, eu daria qualquer coisa no mundo" Gideon disse, "para ser capaz de
não dizer isso."

Em algum lugar lá fora, ela podia jurar que ouviu o vento rir de maneira
perversa.

79
SETE

Amor

Ela ficou de pé, ansiosa para fazer algo, qualquer coisa, para empurrar aquela
notícia para longe. Gideon se ergueu para ficar ao lado dela. Ele esfregou suas
costas quando perguntou: "Você pode pensar em qualquer coisa que Stewart
ou sua mãe poderiam ter dito nos últimos dias que poderia parecer diferente ou
fora de contexto?"

Ele parecia tão calmo que ela queria gritar. Stewart e Leigh podiam ter sido
assassinados da maneira mais horrível, ao mesmo tempo em que ela e Gideon
estiveram fazendo amor. Ela colocou as duas mãos sobre a boca, tremendo
com o esforço de encontrar algum tipo de controle.

"Lembre-se, Alice, não sabemos o que aconteceu com eles" disse ele. Rogers
e Welch estavam muito abaixo, na lista do alfabeto. Se o assassino os levara,
ele poderia segurá-los até que tivesse seu sétimo sacrifício. "A única coisa que
sabemos é que eles estão sumidos. Eles podem não estar mortos."

Ela olhou para cima para encontrar Gideon observando-a de perto. Havia dor
em seus olhos. Mesmo que ele não conhecesse nenhuma das pessoas, aquilo
o estava machucando, também, por causa dela. A visão a colocou de volta ao
equilíbrio. "Dê-me um minuto," disse ela, "Eu preciso me acalmar para que eu
possa me concentrar."

Ele acenou com a cabeça. "Vou fazer um pouco de café."

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Ele entrou na cozinha, em outra hora ela iria se lembrar com prazer da visão
dele nu, se movendo por seu apartamento com total confiança. Por ora, ela
simplesmente pegou o cobertor e sua camisola rasgada e os levou para seu
quarto e jogou sobre a cama. Mesmo que ainda estivesse completamente
escuro lá fora, o relógio digital em sua mesa de cabeceira lia 7h08 a.m. Ela
tinha a impressão de que cada um daqueles eventos sombrios estava
marcando a passagem do tempo e ela nunca iria esquecer os números.
Pesadelo 3h23 a.m. Amigos sumidos 7h08 a.m.

Ela tomou um rápido banho de dois minutos para lavar a evidência do


acasalamento deles, passou a escova sobre os dentes, em seguida se vestiu
com as roupas macias e confortáveis que usara na noite anterior. Quando
terminou, era capaz de pensar outra vez.

Ela caminhou até a cozinha. Gideon tinha colocado seus jeans, mas
permaneceu com os pés descalços e o peito nu.

O café tinha acabado de coar, ele já servira duas xícaras. Entregou uma para
ela com um beijo rápido, a barba por fazer em seu rosto raspando-lhe o queixo.
"O café está forte" alertou.

"Tudo bem, eu preciso de forte agora" disse. Ela levou a xícara aos lábios e
sorveu. O líquido preto e pungente foi como um chute nos dentes. Foi uma
coisa boa. Ela limpou a garganta. "Eu só vou falar, como eu fiz ontem à noite.
Ok? "

"Tudo bem", disse ele. Encostou-se ao balcão, bebeu café e a observou.

"Stewie estava tão animado para visitar sua avó e avô. Eles não podem se dar
ao luxo de fazer a viagem frequentemente, por isso esta visita era tão
importante. Ele arrumou sua bagagem lá pela quarta-feira. Sua mãe lhe
permite levar todo e quaisquer brinquedos e livros que ele queira na sua
bagagem de mão, assim ele tem coisas para mantê-lo ocupado durante o voo.
Leigh e Jim tinha acabado de ficar noivos. Eles iriam contar as novidades para
os pais de Leigh, uma vez que chegassem à Califórnia.”

81
"Eles estão em contenção de despesas?” perguntou Gideon. Ela assentiu.
"Como é que Leigh paga o ensino particular para Stewart? Ou será que é por
isso que o seu orçamento é tão apertado? "

"Me parece que Leigh disse uma vez que seus pais ajudavam com as
mensalidades" disse. Ela bebeu mais da bebida amarga e continuou. Agora
que ela começara a falar, não parecia ser capaz de parar. "E eu tenho certeza
de que eles se qualificariam para uma bolsa de estudos, o que reduziria as
taxas. No grupo, todos nós ajudamos uns aos outros da melhor maneira, você
sabe, de acordo com a situação e do que a outra pessoa vai aceitar. Serviço de
babá gratuito ou qualquer outra coisa. Às vezes, trocamos. Leigh estava
bastante emocionada ao receber uma carona para o aeroporto JFK, em vez de
ter que pagar por um serviço de transporte... "

Sua voz foi sumindo. Gideon depositou sua xícara de café sobre o balcão e
perguntou calmamente: "Você sabe quem deveria lhes dar uma carona?"

Ela balançou a cabeça. "Eu sei que Alex ofereceu" disse ela. "Eu também o fiz.
Eu não sei se mais alguém fez ou qual das ofertas eles aceitaram."

"Ok" disse ele. "Precisamos falar com Schaffer e todos os outros para ver se
podemos identificar quem os viu por último." Ele falou por cima do ombro
enquanto se afastava. "Eu vou tomar uma chuveirada realmente rápida.
Querida, você se importa de ir para a delegacia comigo, por um tempo?"

"Nem um pouco" disse. Ela ficou olhando para ele enquanto saia da sala. À
medida que falava, seu Poder havia se cravado, afiado e caustico, mesmo que
seu rosto e seu comportamento permanecessem calmos como o de um
soldado. Ela dissera algo de interessante, talvez muito interessante, mas ele
não tinha visto a necessidade de compartilhar o que quer que fosse com ela.

Seus sentimentos não ficaram feridos. Ela estava disposta a esperar e


descobrir por que ele tinha encerrado o assunto.

Ela só queria saber o que dissera.

82
Gideon pegou sua pilha de coisas – arma, roupas, bolsa de higiene e telefone.
Movendo-se rápido, ele alcançou o banheiro, fechou a porta e ligou o chuveiro.
Assim que o som da água encheu o ambiente, ele acionou a discagem rápida
para Bayne.

Bayne atendeu ao primeiro toque. "O que está acontecendo?"

Gideon perguntou: "Onde está Schaffer?"

"Alex Schaffer? Da última vez que ouvi, os guardas relataram que ele se movia
dentro de sua casa, são e salvo. Todos os camaleões estão em casa, exceto
os três desaparecidos e os que confirmamos, chegaram ao Arizona. Por quê?"

"Eu não sei" ele rosnou. "O nome dele continua a aparecer na conversa. Isso
despertou meu interesse." Ele contou rapidamente a conversa com Alice, para
Bayne. "Todos os camaleões têm que ser interrogados novamente. Alice disse
que Schaffer ofereceu uma carona para Welch e para os Rogers até o
aeroporto. Ela também, mas sabemos que ela não os levou."

Bayne praguejou. "Estamos entrando em contato com todos os serviços de


limusine para ver se os Rogers reservaram uma viagem com um deles."

Segurando o celular à orelha com uma mão, Gideon desabotoou seu jeans
com a outra e os empurrou para baixo. Um banho de sessenta segundos, sem
se barbear. Ele e Alice poderiam fechar a porta em menos de cinco minutos.
Ele disse a Bayne, "Temos nos focados nos camaleões como sendo as vítimas.
O lance é, um deles também pode ser o assassino."

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Alice empurrou a mobília da sala de estar de volta no lugar. Ela ajeitou a mesa
de centro na frente do sofá. Alguém bateu na porta da frente, um toque suave e
hesitante que quase a fez saltar de sua própria pele.

Com seu coração ainda batendo forte, ela se moveu para acender a luz externa
e espiar pelo buraco da fechadura.

Alex estava de pé do lado de fora, com um casaco de lã preto e cachecol, com


as mãos sob os braços e os ombros curvados contra o açoite do vento, da
neve e do gelo. Ele era um homem de aparência modesta, tranquilo, no início
de seus sessenta anos, com entradas em seus cabelos grisalhos.
Normalmente, ele se arrumava meticulosamente, mas agora ele parecia
abatido e tão miserável, que ela se viu destravando e abrindo a porta.

Ela disse: "Alex, o que diabos você está fazendo aqui?"

Ele lhe deu um olhar triste enquanto dizia, "Eu não a acordei, acordei? Tenho
me preocupado com você a noite toda. Eu finalmente tive que vir ver se estava
tudo bem."

"Pelo amor de Deus, entre." Ela deu um passo para trás e abriu mais a porta.

Alex abaixou a cabeça e deu um passo à frente. O vento soprava pelos


degraus abaixo e pela abertura da porta. Ele trouxe com ele uma chicotada de
neve e o cheiro da rua.

E um leve odor químico... mas nada do cheiro de Alex.

Todos os seus pensamentos se alinharam enquanto ela cambaleava para trás.


Estupidamente, ela tentou fechar a porta novamente.

E o passo de Alex se transformou em um salto enquanto ele expunha suas


mãos enluvadas, tirando-as de debaixo dos braços. Um brilho de luz refletiu
numa faca longa e fina, que ele segurava com uma das mãos, ao mesmo
tempo em que mantinha a porta aberta com a outra.

"Oh deuses," disse ela.

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O olhar triste de Alex se tornou brilhante, com uma luz fanática. Ele disse: "Sim,
Alice, oh deuses. E Abraão disse ao Senhor: ‘Contemplai, aqui estou eu.’ Não
há sacrifício maior do que entregar aos deuses aqueles que você ama. E o
Senhor disse: 'Na bênção te abençoarei, e multiplicarei a tua descendência
como as estrelas do céu’..."

Ela estendeu a mão, agarrou alguma coisa e gritou: "Você, seu bastardo louco
e assassino!"

Perto dali, o barulho de madeira se partindo foi ouvido.

Alex desferiu um golpe mortal com a faca. "Somente me mostre a sua vontade,
deuses, enquanto eu te dou outro de meus próprios..."

Ela jogou o que tinha agarrado nele. Era um pequeno vaso de plantas. Ele
acertou Alex no peito, espalhando terra. Ele se encolheu e agarrou sua
garganta. A faca desceu.

Um gigante silencioso atingiu Alex com um golpe de corpo que enviou o


homem menor direto para o chão. Ao mesmo tempo, Alice foi empurrada para
trás por uma mão achatada em seu peito. Ela perdeu o equilíbrio, caiu e
afundou longe da porta com a cabeça abaixada.

Tudo ficou imóvel. Ela se atreveu a olhar para trás.

Alex estava deitado de costas. Sua garganta estava rasgada, a mão que
segurava a faca, irreconhecível, esmagada.

O monstro do apartamento de Haley agachava-se sobre o corpo. Os planos e


ângulos de seu rosto e corpo estavam todos errados. Havia uma diferença:
desta vez, ele estava bem nu e pingando de molhado.

Ele arreganhou os dentes, o olhar gelado desceu com fúria incrédula. "Você
abriu sua porta para ele?"

Alice ergueu as mãos e gritou: "Ele era meu chefe!"

Seu grito se transformou em um soluço e de repente o monstro se tornou


Gideon novamente. Ele mergulhou para frente, agarrou-a e a apertou contra o

85
peito. Ela escondeu o rosto em sua pele quente e úmida. Ele estava respirando
com dificuldade, um tremor fino ondulando através de seus músculos.

Gideon disse severamente: "Bem, ele não é mais."

E a hora do Festival anual da Máscara chegou novamente, onde todas as


criaturas, Raças Antigas ou deuses, homenageiam a dança que conduz e
sustenta o universo. Planetas giram em torno de seus sóis, galáxias giram no
espaço. Mesmo os minúsculos átomos juntavam-se ao movimento.

Cada solstício de inverno, a Torre Cuelebre organizava um dos espetáculos


mais luxuosos do mundo, completo com uma horda de paparazzi e um tapete
vermelho. Celebridades e dignitários da raça humana e de todas as Raças
Antigas compareciam. Uma multidão de dois mil participantes usavam trajes
extraordinários, e ornados com joias e máscaras que brilhavam com ônix e
diamantes. O hall público da Cuelebre era decorado com grandes extensões de
tecido marfim e dourado, esculturas enormes de gelo e o champanhe fluía
como água.

A Festa de Máscara começava oficialmente com um desfile de deuses e


terminava com todos removendo suas máscaras à meia-noite, embora a
maioria das festas continuasse até o amanhecer. A maioria dos grupos tinham
voluntários vestidos para desempenhar o papel dos deuses. Normalmente, no
levantamento de fundos da escola, os deuses eram interpretados pelos
administradores da escola. Aqui, ela não tinha nenhuma dúvida de que o
desfile dos deuses seria algo diferente, interpretado por atores profissionais.

Alice olhou para tudo e todos com os olhos arregalados. De vez em quando,
ela vislumbrava Dragos Cuelebre através do hall, o Senhor dos Wyr e sua nova

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e bela companheira. Daquela forma marcante que os Wyr acasaldos tinham,
eles se moviam em perfeita sintonia, sempre cientes de onde o outro estava.
Alice e Gideon iriam desenvolver a mesma habilidade ao longo do tempo.

A princípio, Alice ficara relutante em ir para o Baile de Máscara na Torre.


Juntamente com o resto de sua comunidade, ela estava de luto por seus
amigos que haviam morrido na semana anterior e ainda em estado de choque
por descobrir que Alex Schaffer tinha sido responsável pelo assassinato de dez
camaleões. À luz dos recentes acontecimentos, a Broadway Fundamental tinha
cancelado seu evento anual para levantar fundos, enquanto os administradores
da escola se esforçavam para se reagrupar e procurar por uma nova liderança.

Mas Gideon tinha conseguido dois ingressos para o baile na Torre numa hora
em que ninguém podia mendigar, pedir emprestado ou roubá-los. Ele a
convenceu e ela tinha capitulado, agora estava feliz que viera apenas para
testemunhar o grande espetáculo do evento. Eles haviam feito um pacto para
ficar até o momento de remover as máscaras, à meia-noite. Era o primeiro
encontro oficial deles.

Depois de dar uma olhada em toda a elegância extravagante na entrada, ela se


sentiu constrangida, ao usar um simples vestido preto, sapatos peep top de
couro preto, e uma meia-máscara simples de cetim preto liso. Ela tinha
comprado as lentes de contato apenas para a ocasião.

Ela alisou a saia. Esperava que não parecesse muito simples. Como se tivesse
lido sua mente, Gideon inclinou a cabeça para dizer em seu ouvido: "Você é a
mulher mais elegante e deslumbrante daqui."

Ela se virou para lhe dar um sorriso surpreso. Seu olhar pálido de gelo
encontrou e segurou o dela com um sorriso cúmplice. Vestido com um smoking
negro elegante e uma meia-máscara também negra que combinava com a
dela, ele era tão letalmente sexy que ela mal podia acreditar que era dela. "Eu
só espero que esteja fazendo justiça a você em meu papel de acompanhante."

Seu acompanhante, seu companheiro. A maravilha disso acalmou sua


respiração.

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Ele puxou um de seus cachos e o soltou, observando como ele saltava de volta
no lugar. Ele parecia nunca se cansar de fazer isso. Ela não teve coragem de
dizer a ele o quanto isso a irritava. Ele sussurrou: "Eu não poderia estar mais
orgulhoso de ser seu companheiro."

A multidão desapareceu e só havia os dois. Ela estendeu a mão para tocar o


canto de sua boca séria e sexy, e sussurrou: "Eu também."

Então, de repente, eles não estavam mais sozinhos. Um homem gigante, forte
e bronzeado, se juntou a eles. Era o chefe de Gideon, Bayne. Conforme Alice
se virara com Gideon para se dirigir ao recém-chegado, ela respirou fundo para
se preparar para o impacto de sua presença. Como todos os Wyr imortal,
Bayne irradiava uma energia feroz. Ele não se preocupara com uma máscara,
já havia retirado a gravata e sua camisa estava aberta no pescoço.

Bayne disse a Gideon, "Qual é o problema com você, filho? Vá pegar uma taça
de champanhe para sua companheira e alguns daqueles petiscos sofisticados
antes que acabem."

Gideon encontrou seu olhar. Ele sorriu. "Volto já."

"Obrigada" disse ela.

"O prazer é meu, meu amor."

Ele se virou para Bayne, que disse: "É melhor você se apressar. O desfile está
prestes a começar. Eu vou ficar com ela enquanto você estiver fora."

Ambos assistiram Gideon sair voando através da multidão para pegar as


bebidas e petiscos. Então Bayne se virou para ela. "É bom ver você, Alice.
Estou feliz por vocês dois decidirem usar os ingressos. Como você está?"

Bayne havia dado os ingressos para Gideon? "Foi um belo presente" disse ela.
"Estou muito melhor, obrigada."

Dizer que ela não estava em seus melhores dias quando se encontrou com o
grifo pela primeira vez era pouco. Ela tinha se segurado quando olhara
realmente para Alex, a faca largada no chão ao lado de sua forma
esparramada. Depois de segurá-la com tanta força que causou hematomas,

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Gideon tinha coberto o rosto e os ombros de Alex com a sua toalha de banho,
se vestiu e fez chamadas pelo celular. Alice se acomodou em uma das
extremidades de seu sofá e se manteve calma e quieta quando Bayne chegara
pouco depois, questionara os dois e supervisionara a remoção do corpo.

Então, ela dera uma olhada na piscina vermelha escura de sangue que tinha
encharcado seu tapete perto da porta da frente e teve um colapso completo.

Gideon a pegou e levou para fora da sala, com o rosto rígido. Ela não tinha
certeza de quem era o responsável, mas apesar da nevasca e de ser um
sábado antes de um feriado importante, ela teve um carpete novo instalado
dentro de uma hora.

Agora, suas bochechas se escureciam com a lembrança. Ela disse para a


sentinela que se elevava ao seu lado "Eu sinto muito sobre como nos
conhecemos."

"Eu também" disse Bayne. Ele olhou para ela, com pesar em seus traços
rudes. "Eu gostaria que tivéssemos sido capazes de pegar o filho da puta antes
que ele chegasse a você".

Ela lhe enviou um olhar de soslaio. "Não foi o que eu quis dizer."

O grifo ficou à vontade. Quando ele descansou as mãos nos quadris, o paletó
se abriu para revelar o vislumbre de seus dois coldres de armas. Na última
semana, com a mudança de Gideon e seus amigos, tanto do WDVC quanto do
exército, aparecendo casualmente como quem esperava ser alimentado, Alice
estava se acostumando com a visão de grandes pessoas musculosas vagando
armadas. Ela e Gideon também tinham comprado uma geladeira maior e um
conjunto de pratos maior.

"Eu sei o que você quis dizer" disse Bayne. "Você encontrou sua amiga
assassinada, descobriu seu companheiro e pegou um assassino, tudo em
menos de 18 horas. Para complicar, o assassino era alguém que conhecia e
em quem tinha confiado por anos. Você acha que não tinha o direito de ter um
piripaque?"

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Ela riu. "Bem, quando você coloca desta maneira." Então ela ficou séria. "Eu
continuo a tentar entender o que Alex estava dizendo no final e não consigo.
Eu acho que ele estava citando a Bíblia, no final das contas."

"Não desperdice sua energia tentando entender isso" disse Bayne. "Se me
permite o linguajar, o cara estava com o juízo fodido. Você não vai acreditar no
que encontramos no porão da casa dele. Ele tinha feito planos para iniciar o
grupo de apoio Pura Essência antes de ir pela primeira vez a Jacksonville, sete
anos atrás. Ele tinha livros e rabiscos de todas as grandes religiões e orações
pintados nas paredes e tetos. Ele somara e subtraíra todos os tipos de
números, que lhe disse que o papa era um baita anticristo. Ele tinha toda
aquela ilusão messiânica acontecendo, em relação a repovoar a Terra com o
Wyr camaleão, depois de ter sacrificado o que ele mais amava aos deuses -
seu povo. Ele planejava continuar matando até que ele conseguisse algum tipo
de sinal divino. Eu estou lhe dizendo – Loucoooo! "

Eles tinham encontrado mais do que livros e rabiscos no porão. Stewart, sua
mãe, Leigh, e Jim Welch foram encontrados amarrados e amordaçados, mas
vivos. Os guardas designados para Alex tinham a missão de manter um
assassino fora de sua casa, não manter Alex dentro dela. Ele lhes havia
passado para trás ao sair por sua porta dos fundos quando foi atrás de Alice.
Não fosse ele tão obcecado com a forma e ritual, Stewie e sua família não
teriam sobrevivido. Como era, ele lhes tinha dito que uma vez que ele
sacrificasse Alice, ele poderia matar o resto deles ao longo dos próximos dias.
Leigh disse a Alice, em um telefonema, vários dias depois, que Alex parecia
espantado com a angústia deles. Ele não conseguia entender por que eles não
estavam cientes da homenagem que ele estava lhes concedendo.

"Isso tudo é tão difícil de acreditar" Alice sussurrou. Ela estremeceu e esfregou
os braços nus. Alex sempre fora um pouco neurótico, um pouco meticuloso
demais, mas ninguém nunca tinha pensado nele como sendo nada além de
normal.

"Bem, inferno!" disse o Grifo. Ele a olhou com desgosto. "Gideon vai atirar em
mim. Esta deveria ser uma noite para você se divertir e aqui estou eu, fazendo
você parecer que viu um fantasma."

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"Está tudo bem" ela disse. "Falar sobre isso é muito melhor do que tentar
ignorar. Só vai demorar um pouco para processar."

Ela viu a cabeça loira clara de Gideon sobre a multidão. Ele abrindo o seu
caminho de volta para eles. A alegria que sentia ao vê-lo se aproximar era
quase demais para o seu corpo conter.

Bayne também se virou e viu Gideon. O grifo lhe disse em voz baixa: "Todos
nós o temos em alta conta. Ele é um dos melhores homens que eu conheço."

Com os olhos fixos em seu companheiro, Alice disse: "Ele é um dos melhores
homens que eu conheço, também."

Finalmente Gideon os alcançou. Ele a presenteou com um prato cheio de


iguarias e petitfours. Na outra mão, ele embalava duas taças de champanhe.
"Desculpe" ele disse para Bayne quando Alice pegou um dos copos dele.
"Achei melhor não arriscar malabarismos com três copos e deixar cair alguma
coisa."

"Tuuudo bem," disse Bayne. "Champanhe não é para mim."

Gideon deu um beijo rápido em Alice. "O que vocês dois estavam falando
enquanto eu não estava aqui?"

Ela e o grifo se olharam. "Acasalamento" disse ela. "E quão rápido ele pode
nos atingir."

"A culpa é do ar" disse Gideon. Ele piscou para ela. "Há uma enorme
quantidade de feronônios de acasalamento Wyr flutuando por ai, nestes dias."

"Bem, você dois parecem muito felizes, combinou tão bem com vocês" disse
Bayne, com tapinhas calorosos nos ombros de Gideon, que ameaçaram a
estabilidade do prato de comida. "Quanto a mim, eu só tenho que começar a
usar uma máscara de gás."

Naquele momento, a multidão se dividiu e o desfile dos deuses começou. Eles


eram liderados pelo deus Taliesin, que foi retratado neste ano por um homem
esbelto. Taliesin era logo seguido pelos outros deuses, cada um

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suntuosamente trajado e a multidão no hall saudou-os com grande reverência
enquanto eles passavam.

Alice não podia deixar de tremer quando Azrael, o deus da morte, se


aproximou. Antigas lendas diziam que um deus participava de cada Máscara.
Se havia algum momento em que a morte pode parecer, ela pensou, seria
neste Baile de Máscara.

A figura brilhante elegante passou. Ela respirou fundo e disse a si mesma que
era tola. A última no desfile era a deusa do amor, Inanna. A mulher alta e
marcante se movia com uma sinuosidade de rainha, uma juba selvagem de
cabelo loiro, no comprimento de sua cintura, fluía por trás de uma máscara
felina. O vestido tinha sete leões bordados puxando sete bigas. Quando Inanna
se aproximou, a deusa se virou para olhar para eles, quase como se tivesse
ouvido o que Bayne disse. Alice pensou ter um vislumbre de algo profundo e
divertido olhando para o grifo através dos buracos dos olhos da máscara. Alice
balançou a cabeça bruscamente e a visão estranha passou.

Em seguida, a orquestra tocou as primeiras notas, todos os participantes


tomaram seus lugares e a dança começou.

92
Uma prévia especial do próximo Romance das Raças Antigas.

Oracle's Moon

Por Thea Harrison

UM

Atrair o interesse de um Djinn, geralmente não é considerado uma coisa boa,


Grace.

Palavras pontiagudas da babá Janice continuaram saltando na cabeça de


Grace como uma bola de futebol solta num campo. Aquela bola estava a dez
metros de distância da zona de finalização, e tinha duas equipes de jogadores
da NFL, de 90kgs, se matando por ela, com toda a intensidade como se suas
carreiras multimilionários dependessem disso, e se aquela bola pudesse falar,
era certo que estaria choramingando: "Ah caramba! Isso vai doer."

O que era mais ou menos assim como Grace tinha se sentido por todo o dia,
incluindo o sentimento de desgraça iminente.

Então, obrigada pelo banquete de sarcasmo, Janice. Até parece que Grace
teve alguma coisa a ver com o Djinn aparecer em sua vida, pra começar. Ele
fizera parte do grupo que aparecera a sua porta às 3:30 a.m., porque não
podiam esperar até uma maldita hora mais decente para falar com ela.

93
Ela devia provavelmente parar de chamá-lo de “o Djinn”. Afinal de contas, ele
tinha um nome. Ele era Khalil alguma coisa. De acordo com um de seus
companheiros, ele era Khalil Alguma Coisa Importante.

Grace não tinha certeza, mas achava que o nome dele podia ser Khalil Ruína
de Sua Existência, mas ela não queria chamá-lo disso na sua... bem, sua cara,
quando ele escolhia vestir uma cara... porque ela não queria provocá-lo mais
do que já tinha feito, e ela esperava, realmente esperava, que ele se
entediasse e fosse embora agora que toda excitação tinha acabado.

Toda a excitação estava acabando, não estava?

A matança.

Ela nunca tinha visto alguém ser morto antes daquela manhã.

Ela empurrou as lembranças para o lado. Neste exato momento, ela precisava
cuidar de sua sobrinha e sobrinho, droga! Ela não tinha mais tempo para gastar
pensando no que acontecera. Merda, isso teria que esperar até que Chloe e
Max estivessem na cama.

Talvez o Djinn tivesse sumido quando ela e as crianças chegassem em casa


depois das compras. Grace podia ter esperança. Ela podia ter esperança em
relação a muitas coisas. Sempre havia a possibilidade do Mercado estar
distribuindo bifes de graça, hoje, e de uma vara de porcos poder estabelecer
um plano de voo com o tráfego aéreo do Aeroporto Internacional de Louisville.

Na verdade, ela tinha a suspeita de que ele os tinha seguido até a loja. Ela não
podia vê-lo, mas podia sentir a presença esfumaçada na borda de sua mente
desde que arrumou Max e Chloe no carro e dirigiu até o SuperSaver. A
consciência de seu cheiro psíquico amargo estalava seus nervos, como o
sentimento que ela tinha quando o carro de bombeiros passava pela rua com
as sirenes gritando.

Não importava se você conseguia ver o fogo. Você ainda sabia que algo
catastrófico pairava nas proximidades.

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Ela conseguiu uma vaga perto de um dos lugares onde ficavam os carrinhos de
compra. O dia úmido de junho, com temperatura de 35 graus a acertou em
cheio no rosto quando ela saiu do carro. Em questão de momentos, a camiseta
grudou em suas costas, e ela não queria mais nada, a não ser rasgar suas
calças largas de flanela na altura dos joelhos, exceto que ela não mais usava
shorts, nem mesmo perto de casa, desde que ela não suportava olhar para
suas pernas após o acidente de carro.

Grace pegou um carrinho de compras e voltou para onde as crianças


esperavam. No processo, ela vislumbrou a si mesma no vidro da janela do
carro. Ela tinha altura mediana, com uma cintura esbelta, e seios e quadris com
curvas. Se a genética familiar fosse algum indicativo, ela teria que tomar
cuidado quando atingisse a meia-idade, ou aquelas curvas dela se tornariam
generosas demais.

Seu cabelo curto, loiro avermelhado, estava todo arrepiado, em tufos, porque
ela continuava a passar os dedos por ele. Seus olhos da cor de avelã estavam
embotados, e a pele, pálida, pela falta de sono. Ela tocou seu reflexo na janela,
notando os círculos escuros debaixo dos olhos.

Eu costumava ser bonita, pensou. Então, ficou com raiva por isso importar para
ela.

Dane-se a beleza. Prefiro ser forte. A beleza desaparece com o tempo. A força
te ajudar a passar pelos maus bocados.

E isso importava, porque algumas vezes, havia muitos maus bocados.

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