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Inconsciente
Uma Nova Perspectiva
O fenômeno psicótico sempre despertou o interesse do homem normal pela compreensão de seus
mecanismos de funcionamento, da forma como se estrutura e das causas que o originam. Baseado
nos princípios da razão, o homem buscou traduzi-lo para a sua linguagem racional a fim de
atribuir-lhe um significado, como uma tentativa coerente de classificar o que lhe soa incoerente.
Contudo, apesar dos vários intentos ao longo dos dois últimos séculos de estudos, a razão pura e
simples, dentro de seus limites, não conseguiu encontrar uma definição absoluta e plenamente
satisfatória para um fenômeno de tal ordem, o que se mostra na dificuldade de se estabelecer um
diálogo entre a linguagem racional e a linguagem do psicótico. Diversas abordagens existentes
acerca do assunto dedicam seus olhares racionais ao fenômeno, o que, muitas vezes, acaba por não
permitir uma apreensão mais acurada do sentido que lhe é inerente.
Entretanto, a evolução que se faz, cada vez mais, evidenciar no meio intelectual, iniciada já no
século passado, nos permite uma ampliação da própria capacidade de visualização e de
compreensão das experiências pelas quais passamos. Avanços teóricos e tecnológicos na área da
Física - como a teoria quântica, as descobertas a nível microfísico e a teoria da relatividade de
Einstein, por exemplo – demonstram que certa dualidade outrora cristalizada na visão de mundo que
se possuía já não se faz mais valer de forma tão absoluta. Quando se fala em uma aproximação
entre matéria e energia, cabe rever os conceitos anteriormente formulados para se explicar a
realidade. Nesse sentido, não cabe à realidade ser considerada como apenas sendo aquilo que se
dá a nível dos sentidos, nem àquilo que não se pode apreender sensorialmente como pertencendo à
ordem do sub-real. É considerando essas novas possibilidades de entendimento que Carl Gustav
Jung estabelece sua concepção de realidade e, assim, fundamenta uma nova psicologia.
Não sei de nada que diga respeito a uma super-realidade. A realidade contém tudo quanto posso
conhecer, pois qualquer coisa que atue sobre mim é real e presente. Se uma coisa não age sobre
mim, não noto nada e, portanto, nada sei sobre ela. Só poderei fazer afirmações sobre coisas reais,
e nunca sobre coisas irreais, super-reais ou sub-reais. A menos que ocorra a alguém limitar o
conceito de realidade de tal maneira que o atributo ‘real’ seja aplicado somente a um segmento
particular da realidade do mundo (...) à chamada realidade material ou concreta de objetos
percebidos pelos sentidos (Jung apud Silveira, 1992)
O Significado da Imagem
Conforme escreveu a psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1991), “a imagem não é a simples cópia
psíquica de objetos externos, mas uma representação imediata, produto da função imaginativa do
inconsciente (...) Na qualidade de experiência psíquica, a imagem interna será mesmo, em muitos
casos, mais importante que as imagens das coisas externas”. Sua concepção de imagem baseia-se
na teoria junguiana, segundo a qual as manifestações da psique trazem consigo uma representação
daquilo que está ocorrendo a nível inconsciente, sendo de sua natureza representar suas atividades
por meio de imagens. Sendo assim, a própria energia psíquica transforma-se em imagem. Essas
imagens provenientes do inconsciente distinguem-se em dois tipos, conforme aquilo a que se
relacionam seus conteúdos. Elas podem ser da ordem do inconsciente pessoal, o qual abarca
vivências, emoções e sentimentos do próprio indivíduo ao longo de sua história, ou podem provir dos
estratos mais profundos da psique, nos quais estão as vivências primordiais da humanidade como
um todo, inerentes ao psiquismo de cada ser humano e que constituem o chamado inconsciente
coletivo. De acordo com Jung, é nessa segunda dimensão do inconsciente que se encontra a fonte
da imaginação criadora, que se exprime nas imagens arquetípicas presentes nas mitologias de todos
os tempos.
Nesse sentido, o trabalho com as imagens produzidas pela capacidade criadora da psique
configura-se como uma possibilidade de acesso ao que se passa no mais profundo do inconsciente
do psicótico, uma vez que essas representações denotam, por si mesmas, o próprio significado.
Tanto na pintura quanto no desenho e na escultura, podem ser encontradas as imagens e os
símbolos arquetípicos que povoam o inconsciente coletivo e que, na condição de psicose, dominam
o psiquismo em vez de serem integrados à sua totalidade. Tendo em vista a história do processo
evolutivo da espécie humana, assim como os órgãos do corpo, a psique também apresenta
considerável evolução desde os tempos primordiais da humanidade. A respeito do inconsciente e de
seus arquétipos, escreve Jung (apud Santos, 2006):
Ao se expressar por meio de imagens, o psicótico está comunicando, na linguagem peculiar de seu
inconsciente, o que ele vivencia no momento, como está experienciando a realidade. Ao terapeuta,
cabe estabelecer as conexões entre essas imagens e a vivência emocional do paciente, a fim de
conseguir compreender o significado de sua situação e, dessa forma, trabalhar no sentido de
ajudá-lo. Vale ressaltar que a relação, a ser estabelecida, da imagem com o conteúdo inconsciente
não consiste numa interpretação, pois esta acabaria por distorcer o verdadeiro sentido já expresso
nos próprios símbolos.
O Atelier do Inconsciente
Será preciso partir do nível não-verbal. É aí que se insere com maior oportunidade a terapêutica
ocupacional, oferecendo atividades que permitam a expressão de vivências não verbalizáveis por
aquele que se acha mergulhado na profundeza do inconsciente, isto é, no mundo arcaico de
pensamentos, emoções e impulsos fora do alcance das elaborações da razão e da palavra(1992).
A psiquiatra deu preferência à pintura e à escultura por serem meios que facilitam a expressão do
psicótico, visto que, pela palavra, seria muito complicada qualquer transmissão de impressões
internas dada a cisão do ego e, consequentemente, a incapacidade da consciência de encadear as
idéias de forma lógica e coerente. Em seu trabalho, verificou a propriedade terapêutica de tais
recursos, uma vez que são um meio pelo qual as emoções perturbadoras podem se expressar sem
proporcionar desconforto ao paciente, na medida em que são despotencializadas e, assim, ele
próprio tem a oportunidade de se voltar à sua consciência. “Retendo sobre cartolinas fragmentos do
drama que está vivenciando desordenadamente, o indivíduo dá forma a suas emoções,
despotencializa figuras ameaçadoras”(Silveira, 1992).
Com base nessas verificações, foi desenvolvido um método para a análise das produções dos
pacientes que consiste no agrupamento de seus trabalhos em séries que, quando examinadas
atentamente pelo terapeuta, revelam o desdobramento dos processos intrapsíquicos e permitem a
identificação de uma continuidade no fluxo de imagens do inconsciente. Também é possível
identificar temas míticos e representações arquetípicas que consistem na emergência de conteúdos
arcaicos própria da condição psicótica e, utilizando o recurso da pesquisa histórica de mitos e de
símbolos, é possível compreender o valor de tais representações dos psicóticos. Contudo, é
necessário lembrar que a linguagem dos símbolos é arcaica e que possui uma gramática própria,
colocando o seu interlocutor em posição de aprendiz.
As diversas modalidades de expressão dos esquizofrênicos são muito ricas em símbolos que
condensam profundas significações, constituindo linguagem arcaica de raízes universais (...) Não
nos preocupamos em dissecar intelectualmente a imagem simbólica. Nós nos esforçamos para
entender a linguagem dos símbolos, colocando-nos na posição de quem aprende ou reaprende um
idioma. (Silveira, 1992).
A função criadora se mostra benéfica também após o término do tratamento, o que se verificou junto
aos vários ex-internos que retornavam ao atelier apenas para trabalhar em novas produções. Tal fato
constitui-se numa ação preventiva, uma vez que o equilíbrio conquistado por eles encontra-se
ameaçado por situações que propiciem uma ativação intensa do inconsciente. Jung utiliza a
metáfora do terreno que, após a guerra, encerra explosivos encapsulados em seu subsolo, para
descrever essa condição delicada de quem já experienciou o desequilíbrio psicótico. Expressando-se
artisticamente, o indivíduo encontra uma possibilidade de aceitação social e, também, um recurso
para alcançar o equilíbrio psíquico, considerando-se que não há doença, propriamente dita, mas sim
“tropeços no caminho de volta á realidade cotidiana” (Silveira, 1992). Essas consistem nas metas do
trabalho pioneiro de Nise da Silveira, que pôde ampliar os horizontes da psicopatologia em geral,
proporcionando maior dignidade no tratamento de psicóticos, não só por respeitar a sua condição
humana essencial, mas também por caminhar em direção a um novo paradigma.
Arteterapia
Atualmente, seguindo o caminho aberto pelo trabalho de Nise da Silveira, vem-se desenvolvendo o
campo da Arteterapia, que tem como base a utilização terapêutica da expressão artística no auxílio a
pessoas que apresentam distúrbios psíquicos, emocionais ou de aprendizagem e que encontra
respaldo teórico na Psicologia Analítica de Jung. É uma disciplina que associa a área das artes em
suas diversas possibilidades de expressão (pintura, escultura, música) aos saberes terapêuticos
como a psicologia, a medicina e a terapia ocupacional com uma finalidade que se direciona ao
processo curativo. Segundo Santos (2006), essa disciplina in status nascendinão deve ser
considerada sob o ponto de vista da dimensão estética e de valor a que o termo arte se refere, pois
sua finalidade principal não é a produção de obras de arte, mas sim, atuar como um meio de
compreensão, de aproximação do universo psíquico daqueles que por ela se expressam. “Torna-se
mister que possamos, então, direcionar o estudo e o trabalho do arteterapeuta para formas
específicas de reflexão e, consequentemente, de ação, dentro das práticas terapêuticas diversas”
(Santos, 2006). Uma dessas formas de reflexão, que fundamenta a arteterapia, consiste na
concepção junguiana da natureza da psique.
(...) a psique é constituída essencialmente de imagens. A psique é feita de uma série de imagens, no
sentido mais amplo do termo; não é, porém, uma justaposição ou uma sucessão, mas uma estrutura
riquíssima de sentido e uma objetivação das atividades vitais, expressa através de imagens(Jung,
1984 apud Santos).
Expressar o conteúdo que habita o inconsciente por meio de imagens é uma forma de trazê-los para
a consciência e, assim, compreender-lhes o significado. No caso dos psicóticos, de poder
compreender as emoções que lhe atormentam, como uma forma de comunicação no processo
terapêutico. Este seria a o princípio fundamental da Arteterapia: dar forma aos conteúdos por meio
das imagens, proporcionar um reencontro com o mundo interior e, possivelmente, encontrar
respostas a muitas questões não respondidas pela pura razão.
Enquanto o homem arcaico insere-se física e psiquicamente no seu mundo, o homem moderno
crê estar desassociado da natureza, pois enxerga o mundo de forma objetiva, o que nega a sua
realidade psíquica, em outras palavras, nega o que Jung concebe por suas projeções arcaicas do
inconsciente. Para Jung, a grande relevância dada à objetividade no mundo moderno em
detrimento dos mitos constitui um risco ao mundo psíquico, pois os mitos fazem parte do
inconsciente coletivo e atuam na mediação entre o consciente e o inconsciente.
Como percebemos, o homem arcaico dava sentido ao mundo por meio dos mitos. Com o advento
da modernidade o homem perdeu a capacidade de produzir símbolos, passando esta a ter uma
relevância psíquica, uma vez que o inconsciente mantém essa capacidade. Sendo assim, a
relação entre os mitos arcaicos e os símbolos do inconsciente é de grande importância para o
trabalho analítico, pois permite interpretar os símbolos tanto em seu aspecto histórico universal
como no sentido psicológico.
Além disso, a partir dos estudos antropológicos podemos perceber muitos mitos da sociedade
moderna e contemporânea que encontram uma raiz paralela com as sociedades antigas. Um
exemplo disso é o mito do herói que passa por provações para alcançar um objetivo heróico. Os
heróis das mitologias arcaicas muito se assemelham aos heróis contemporâneos da indústria
cinematográfica (Homem de Ferro, Thor, etc.), o que demonstra que os mitos antigos não deixaram
de ter importância simbólica nos dias atuais.
A Psicologia Analítica de C.G. Jung foi a psicologia que mais contribuiu para o estudo do material
simbólico da humanidade. Jung fez várias viagens, conheceu várias culturas e com isso pôde
vislumbrar uma conexão universal entre os homens, uma herança psicológica construída ao longo
da evolução humana.
Através da concepção de inconsciente coletivo, Jung concebe que todos os homens, primitivos ou
modernos, compartilham de um conhecimento arquetípico universal. O inconsciente coletivo rompe
com a linearidade espaço-tempo, ampliando a visão do psiquismo para além da simples
causalidade.
A partir da análise onírica é possível o acesso ao material arquetípico do inconsciente, que de tão
arcaico não tem, muitas vezes, sentido para o homem moderno.
Deste modo, a análise é de grande importância para o resgate simbólico, para compreensão das
imagens oníricas e consequentemente para uma compreensão mais profunda de si mesmo. Para
tanto o analista deve ter um conhecimento amplo acerca da origem e do sentido dos símbolos,
para assim, fazer analogias entre os mitos arcaicos e o material onírico do paciente.
A metodologia da análise Junguiana é simbólico-analógica, ou seja, busca amplificar a imagem
simbólica, traçando relações de semelhança com outros símbolos, para melhor interpretá-los.
A amplificação da imagem onírica a torna acessível à interpretação, uma vez que promove uma
visão mais profunda desta por meio de paralelos com toda a produção simbólica da humanidade
(mitologia, religião, arte, etc). Assim, o mito possibilita a amplificação da situação vivida pelo
paciente, possibilitando sua melhor compreensão, uma vez que seus sonhos e fantasias têm a
mesma raiz dos mitos arcaicos. (Boechat, 2008).
O Homem e a Questão Simbólica
Jung ao estudar o homem arcaico em comparação ao homem civilizado, concluiu que ambos
sentem e percebem o mundo da mesma forma. O homem primitivo não vê o mundo de maneira
diferente do moderno, na verdade o que os difere são suas hipóteses, a forma como consideram
os eventos da natureza.
Para o homem moderno, os eventos podem ser explicados através de relações causais
perceptíveis. Já o homem primitivo, que tem uma visão mágica do mundo, explica tais eventos
através de termos não perceptíveis, sobrenaturais.
A crença nos poderes sobrenaturais, nas sociedades arcaicas, é devida, em parte, às projeções do
inconsciente sobre o mundo físico, de tal maneira que não há distinção entre as projeções e o
mundo objetivo.
Deste modo, enquanto o homem arcaico está inserido física e psiquicamente no seu mundo, o
homem moderno acredita estar apartado da natureza. O homem moderno enxerga o mundo de
maneira objetiva, negando sua realidade psíquica, ou seja, negando as projeções arcaicas do
inconsciente.
Nas sociedades tribais os mitos são vivos, pois cumprem sua função de dar sentido ao mundo como
nos explica:
“Os trabalhos de Malinowski deixaram clara a noção fundamental do mito vivo nas
sociedades tribais. Há uma importância essencial da mitologia na organização da vida diária
dessas culturas. Sem o mito, essas sociedades simplesmente não se organizariam. O
nascimento, a infância, o casamento, a caça e a guerra, o comércio e a morte, todas as
atividades, enfim, são ritualizadas e mitologizadas para ganharem sentido.” (Boechat, 2008, p.
19)
A grande importância dada à objetividade no mundo moderno em detrimento dos mitos constitui,
segundo Jung, um perigo ao mundo psíquico, uma vez que aqueles fazem parte do inconsciente
coletivo e agem como mediadores entre o consciente e o inconsciente.
Sobre a importância do mito como guia e auxilio para lidar com os conflitos, escreve:
“No mundo pré-moderno, a mitologia era indispensável. Ela ajudava as pessoas a encontrar
sentido em suas vidas, além de revelar regiões da mente humana que de outro modo
permaneceriam inacessíveis. Era uma forma inicial de psicologia. As histórias de deuses e
heróis que descem às profundezas da terra, lutando contra monstros e atravessando
labirintos, trouxeram à luz os mecanismos misteriosos da psique, mostrando as pessoas
como lidar com as crises íntimas. Quando Freud e Jung iniciaram a moderna investigação da
alma, voltaram-se instintivamente para a mitologia clássica para explicar suas teorias, dando
uma nova interpretação aos velhos mitos.” (Armstrong, p.15, 2005)
O homem antigo dava sentido ao mundo através dos mitos. Com a modernidade o homem perdeu
sua capacidade de produção simbólica, passando esta a ter uma importância psíquica, uma vez que
o inconsciente conserva essa capacidade. Deste modo, ligação entre os mitos arcaicos e os
símbolos do inconsciente é de grande valor para o trabalho analítico, uma vez que permite
interpretar os símbolos tanto em seu aspecto histórico–universal como no sentido psicológico,
como veremos na relação simbólica entre a saga do herói e o desenvolvimento egóico.
O Desenvolvimento do Ego e o Mito do Herói
O arquétipo do herói é algo muito presente na contemporaneidade. Nos filmes, novelas, livros, etc.,
as sagas heróicas são a todo tempo contadas e recontadas, o que demonstra seu aspecto
estruturador da psique. Os desafios do herói representam a luta do desenvolvimento do ego
frente às forças regressivas do inconsciente, como explica:
“Na luta travada pelo homem primitivo para alcançar a consciência, este conflito se exprime
pela disputa entre o herói arquetípico e os poderes cósmicos do mal, personificado por
dragões e outros monstros. No decorrer do desenvolvimento da consciência individual, a
figura do herói é o meio simbólico através do qual o ego emergente vence a inércia do
inconsciente, liberando o homem amadurecido do desejo regressivo de uma volta ao estado
de bem-aventurança da infância, em um mundo dominado por sua mãe.” (Henderson, p. 118,
1977).
Neumann (2000), em seus estudos sobre o desenvolvimento da consciência e sua emergência,
fala da condição primordial da totalidade, que seria o caos indiferenciado, onde não há
diferenciação entre a criança e a mãe, ou seja, o ego está contido no inconsciente, como a criança,
na mãe.
Desse modo, o verdadeiro contato com o self seria obtido através do processo de individuação,
que é único para cada ser humano. O processo de individuação tem como objetivo desenvolver a
personalidade individual, o potencial que cada um tem dentro de si, a fim de conseguir discernir as
mensagens vindas do self que o guiarão à auto realização.
Segundo Von Franz:
“A experiência dessa extremidade mais elevada, ou centro, traz ao indivíduo um senso de
significado e de realização, na presença do qual ele pode aceitar a si mesmo e encontrar um
caminho intermediário entre os opostos presentes na natureza interior. Em vez de ser uma
pessoa fragmentada, obrigada a apegar-se a apoios coletivos, o indivíduo torna-se um ser
humano inteiro, autoconfiante, que já não precisa viver como um parasita do seu ambiente
coletivo, mas que enriquece e fortalece esse mesmo ambiente com sua presença.” (Von Franz,
1997, p. 63).
Assim, o ego frágil sente-se pressionado pelo mundo externo e busca meios de lidar com isso
agindo defensivamente, se desvirtuando do processo de individuação, apegando-se a apoios
coletivos. Pode recolher-se num estado exageradamente introvertido, retirando-se para o mundo
da fantasia, como perigo de ser inundado pelo inconsciente, ou pode perder o senso de interior por
um ajustamento exageradamente extrovertido, cedendo às pressões ambientais no seu agir.
(Weinrib, 1993).
Jung sugere em sua teoria uma relação simbólica entre o arquétipo materno e o inconsciente,
pois, como a mãe é fonte da vida física, também o inconsciente é a fonte da vida psicológica.
Portanto, a mãe e o inconsciente podem ser vistos como símbolos femininos equivalentes. O
impulso de retorno à mãe pode ser visto como um impulso de volta ao inconsciente. Sob certas
circunstâncias, isso pode ser regressivo, levando à neurose e à psicose; doença psicológica ou
morte. Em outras circunstâncias, ou seja, no processo de individuação, a regressão pode ser
temporária e em prol da renovação psicológica e do renascimento simbólico (“recuar para
saltar melhor”).
Sobre a regressão e o processo de cura, Jung diz:
“Parece que o processo de cura mobiliza essas forças para alcançar os seus objetivos. É que
as representações míticas, com seu simbolismo característico, atingem as profundezas da
alma humana, os subterrâneos da história, aonde a razão, a vontade e a boa intenção nunca
chegam. Isso porque elas também provêm daquelas profundezas e falam uma linguagem,
que, na verdade, a razão contemporânea não entende, mas mobilizam e põem a vibrar no
íntimo do homem. A regressão que poderia assustar-nos à primeira vista é, portanto, muito
mais um ‘reculer pour mieux sauter’, um concentrar e integrar forças, que no decorrer da
evolução vão constituir uma nova ordem.” (Jung, C.G. , 2007, p. 13).
Assim, a diferenciação do ego do inconsciente, não se dá de forma absoluta, uma vez que o ego
necessita recuar para restabelecer suas relações com o self, de modo a preservar sua saúde
psíquica. Em alguns mitos o herói deve passar continuamente pelas trevas, por provações, para
posteriormente vencer o monstro.
As provações do herói representam sua morte simbólica para posterior renascimento, pois
permitem ao “ego-herói”, o contato com sua sombra, os aspectos ocultos, reprimidos da
personalidade. Através da morte simbólica (katábase ou rito iniciático), o herói passa a ter maior
conhecimento de suas forças e fraquezas, alcançando a maturidade necessária para transpor os
desafios de sua jornada.
Deste modo, o símbolo do herói representa uma tentativa do inconsciente de levar a libido
regressiva para um ato criativo, mostrando assim o caminho para a solução do conflito. Assim, o
arquétipo do herói está associado aos ritos de passagem, fundamentais para estruturação da
consciência, através do mitologema do herói que mata o monstro, como veremos no mito de
Perseu que mata a Medusa.
O Mito de Perseu: Uma Visão Mítica Acerca do Desenvolvimento do Ego.
Na perspectiva Junguiana, o estudo do material mitológico, presente na história da humanidade, é
fundamental para um olhar mais profundo do ser humano. Isso se deve ao fato do mito expressar
estórias simbólicas que transmitem imagens significativas, que tratam das verdades dos homens
de todos os tempos. (Boechat, 2008).
Jung compreende que ao se “mitologizar” a psique, possibilitamos uma melhor compreensão dos
processos psíquicos, uma vez que o mito traz uma ampliação da situação existencial vivida pelo
paciente em análise.
Assim, seguindo essa proposta analisaremos o mito de Perseu e sua luta contra a Medusa, que
simboliza o desenvolvimento do ego frente os aspectos regressivos do inconsciente.
Neste mito, Perseu é incumbido de trazer para o rei Polidectes, seu padrasto, a cabeça de
Medusa, ser monstruoso com cabelos de serpente. Esta, por transformar em pedra todos que a
olham, representa o arquétipo da mãe devoradora e sua influência regressiva que aprisiona seus
filhos.
O rei Polidectes pretendia se livrar de Perseu enviando-o para tal missão. Polidectes, com medo de
ser destronado por Perseu, propôs um torneio no qual o vencedor seria quem trouxesse a cabeça
da Medusa, e o instinto aventureiro de Perseu não o deixou recusar.
O herói representa a natureza humana, que muitas vezes em sua imperfeição, é dominado pela
vaidade, pelo orgulho (hybris), lançando-se em missões sobre-humanas, muito além de sua
capacidade. Daí surgir seres superiores, divinos, para proteger e auxiliar o herói em sua jornada.
Esses seres divinos são representações do self que possibilitam ao ego o alcance de um novo
estado de consciência.
No mito em questão, Perseu foi vitorioso graças à ajuda de Atena, Hades e Hermes, seus deuses
tutelares. Atena deu a ele um escudo tão bem polido, que podia se ver o reflexo ao olhar para ele,
Hades lhe deu um capacete que torna invisível quem o usa, e Hermes deu a ele suas sandálias
aladas, objetos que foram definitivos para a vitória de Perseu.
Atena (Minerva, na mitologia romana) na mitologia grega era filha de Zeus, nascida de sua cabeça.
Ela é conhecida como a deusa da inteligência e sabedoria (além de ser a deusa que preside as
artes e os trabalhos manuais). No mito Atena representa o arquétipo da anima de Perseu, sua
contraparte feminina, sua guia ou mediadora entre o mundo interior e o self.
Atena representa a mãe superior ou espiritual que auxilia seu filho na passagem da infância para
a vida adulta. Assim, podemos perceber no mito de Perseu os dois aspectos do arquétipo materno:
devorador (Medusa) e o transformador (Atena). (WOOLGER, 1987).
Medusa representa a mãe terrível, devoradora, que paralisa seus filhos, permanecendo em estado
caótico e inconsciente. Desse modo, a luta contra a Medusa nos alude ao processo de integração
do ego, através da saída do estado urobórico, onde não há diferenciação entre a consciência e o
inconsciente. A petrificação da Medusa nos remete aos estados psicóticos de extrema regressão
presentes nas formas graves de esquizofrenia (estupor catatônico). (Boechat,W., 2008).
Por fim, a deusa Atena representa os aspectos transformadores do self, pois cede o instrumento
capaz de vencer a petrificação, através do olhar indireto do reflexo do espelho.
Considerações Finais
Na perspectiva Junguiana o conhecimento dos mitos é importante para melhor compreensão do
material arquetípico que irrompe ao longo do trabalho analítico. Assim, o propósito da Psicologia
Analítica não é valer-se dos mitos para explicar a clínica de um paciente, ou pior, de vários
pacientes.
Na verdade, a Psicologia Analítica propõe uma amplificação dos símbolos em análise, através do
método simbólico-analógico. Este método orienta-se a partir da percepção do material que provém
do inconsciente do analisando, através de símbolos oníricos, da expressão plástica ou, por outras
técnicas terapêuticas, não se restringindo as interpretações gerais e deterministas.
Afirmamos isso por compreendermos que este método orienta-se a partir da percepção do material
provindo do inconsciente daquele que está em análise, através de símbolos oníricos, da expressão
plástica ou, por outras técnicas terapêuticas, não se restringindo as interpretações gerais e pior,
deterministas.
Deste modo, o estudo dos mitos e dos símbolos do inconsciente é, para Jung, a chave que abre a
porta que nos dá acesso a um conhecimento profundo do ser humano, que vai além do sensível e/ou
palpável e do racional, que possibilita o religar do homem consigo mesmo e com a humanidade
como um todo.
CARVALHO, Flávio de. Os Mitos: Fontes Simbólicas. Disponível em: https://www.jungnapratica.com.br/os-mitos/; Modificado em 11 de
outubro de 2017; acessado em 08/10/2021 às 18:04
Psicologia analítica
Psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana ou psicologia complexa, é um
ramo de conhecimento e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung. Ela enfatiza a
importância da psique, do inconsciente, dos arquétipos e do processo de individuação.[1][2] Ela se
distingue da psicanálise, iniciada por Freud, e da psicologia de Adler e seus contemporâneos, por
uma noção diferenciada e abrangente da libido, a conceituação do inconsciente coletivo e o
surgimento da função transcendente.[3]
A psicologia analítica foi desenvolvida com base na experiência psiquiátrica de Jung, nos estudos de
Freud e no amplo conhecimento que Jung tinha das tradições da alquimia, da mitologia e do estudo
comparado da história das religiões, as quais ele veio a compreender como autorrepresentações de
processos psíquicos inconscientes.
Costuma-se dizer que diferentemente de Freud, Jung via o inconsciente não apenas como um
repositório das memórias e das pulsões reprimidas, mas também como um sistema passado de
geração em geração, vivo, em constante atividade, contendo todo o esquecido e também
neoformações criativas organizadas segundo funções coletivas e herdadas. O inconsciente coletivo
que propõe não é, apesar das incessantes interpretações de seus críticos, composto por memórias
herdadas, mas sim por predisposições funcionais de organização do psiquismo (comparáveis às
condições a priori da experiência, de Kant).[3]
As teorias de Jung foram investigadas e elaboradas por Toni Wolff, Marie-Louise von Franz, Jolande
Jacobi, Aniela Jaffé, Erich Neumann, James Hillman, Anthony Stevens e Nise da Silveira.
História
Jung iniciou sua carreira como psiquiatra em Zurique, Suíça. Lá, ele realizou uma pesquisa para o
Experimento de Associação de Palavras na Clínica Burghölzli. A pesquisa de Jung lhe rendeu uma
reputação mundial e inúmeras honras, incluindo um diploma honorário da Universidade Clark,
Massachusetts, em 1904; outro diploma honorário da Universidade de Harvard em 1936;
reconhecimento da Universidade de Oxford e da Universidade de Calcutá; e nomeação como
membro da Royal Society of Medicine, Inglaterra.
Quando Jung conheceu a obra de Freud, identificou-se com grande parte de suas ideias e logo quis
conhecê-lo. Em 1907, Jung conheceu Freud em Viena, Áustria, e a admiração foi mútua, pois Freud
rapidamente recebeu o jovem como seu colaborador e um dos defensores de suas ideias. Por seis
anos, os dois estudiosos trabalharam juntos e, em 1911, fundaram a Associação Psicanalítica
Internacional, da qual Jung foi o primeiro presidente. Devemos lembrar que Freud enfrentava grande
resistência do mundo científico às suas ideias e, em contrapartida, Jung já tinha reconhecimento no
mundo acadêmico pelos seus estudos com associações de palavras que deram origem ao polígrafo
e foram a base teórica experimental para a comprovação dos complexos. Freud, em sua obra, atribui
este termo a Jung. No entanto, no início da colaboração, Jung observou que Freud não toleraria
ideias diferentes das suas. A parceria durou pouco, pois Jung mostrava-se insatisfeito com algumas
das posições de Freud, especialmente a teoria da libido e sua relação com os traumas. Em 1912, a
Psicologia do Inconsciente de Jung (Wandlungen und Symbole der Libido) foi publicada (reeditada
como Símbolos da Transformação em 1952) (C.W. Vol. 5). As ideias inovadoras da obra
contribuíram para uma nova base em psicologia, bem como para o fim da amizade entre Jung e
Freud em 1913. Os dois estudiosos continuaram seu trabalho sobre desenvolvimento da
personalidade de forma independente: a abordagem de Jung é chamada de Psicologia Analítica (em
alemão: analytische Psychologie) e a abordagem de Freud é chamada de Escola Psicanalítica
(psychoanalytische Schule), que ele fundou.
Ao contrário da maioria dos psicólogos modernos, Jung não acreditava que experimentos usando
ciências naturais fossem o único meio de obter uma compreensão da psique humana. Ele viu como
evidência empírica o mundo dos sonhos, mitos e folclore como o caminho promissor para uma
compreensão e um significado mais profundos. A escolha desse método está relacionada à escolha
do objeto de sua ciência. Como Jung disse: "A beleza do inconsciente é que ele é realmente
inconsciente."[4] Portanto, o inconsciente seria 'intocável' por pesquisas experimentais, ou mesmo
qualquer tipo possível de alcance científico ou filosófico, precisamente porque é inconsciente.
Embora o inconsciente não possa ser estudado usando abordagens diretas, é, de acordo com Jung,
pelo menos, uma hipótese útil. Seu inconsciente postulado era bem diferente do modelo proposto
por Freud, apesar da grande influência que o fundador da psicanálise exercia sobre Jung. A
diferença mais conhecida é a suposição do inconsciente coletivo (ver também arquétipos
junguianos), embora a proposta de Jung de inconsciente coletivo e arquétipos tenha sido baseada
na suposição da existência de padrões psíquicos (mentais). Esses padrões incluem conteúdos
conscientes - pensamentos, memórias etc. - da experiência de vida. Eles são comuns para todos os
seres humanos. Sua prova do vasto inconsciente coletivo era seu conceito de sincronicidade, uma
conexão inexplicável e misteriosa que todos compartilharíamos.
A "neurose" resulta de uma desarmonia entre a (in)consciência do indivíduo e seu Self superior. A
psique é um sistema adaptativo autorregulador. Os seres humanos são sistemas energéticos e, se a
energia é bloqueada, a psique fica presa ou doente. Se a adaptação é impedida, a energia psíquica
para de fluir e regride. Esse processo se manifesta em neurose e psicose. O conteúdo psíquico
humano é complexo e profundo. Eles podem cismar, dividir e formar complexos que assumem a
personalidade de um indivíduo. Jung propôs que isso ocorre através de uma adaptação inadequada
às realidades externas ou internas. Os princípios de adaptação, projeção e compensação são
processos centrais na visão de Jung da capacidade de adaptação da psique.
Definição
A teoria da energia psíquica de Jung se pretende ao mesmo tempo diacrônica e sincrônica, causal e
final, introvertida e extrovertida, redutiva e construtiva, etc. Mas na fenomenologia dos complexos
apresenta o contexto de forças entre as exigências do individual e do coletivo a qual somos
submetidos e que apontam para um lado de cada uma das oposições elencadas há pouco. São
específicos à psicologia analítica ainda a introdução de conceitos como arquétipo, complexo,
símbolo, tipos psicológicos, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, sincronicidade e
individuação.[5] Sua prática clínica não vê os sonhos como via régia do inconsciente (como já
postulou Freud um dia em relação à psicanálise) e sim nos complexos um caminho privilegiado aos
conteúdos do Inconsciente e, segundo Carl Jung, seria a única psicologia que levou adiante dois
legados de Freud, a saber: a pesquisa sobre os resíduos arcaicos e a sexualidade.
De um ponto de vista epistemológico, segundo Paolo Francesco Pieri, a Psicologia Analítica é uma
"denominação que Jung atribui em 1911 à psicologia das relações entre consciência e inconsciente,
e em particular à reflexão sobre o método e sobre a verdade da psicanálise. Para Jung existe
psicologia analítica quando no exercício da psicanálise existirem contemporaneamente as seguintes
condições teórico-práticas, que se remetem entre si:
2. todo conhecimento (tanto de si como do outro e do mundo) deve ser positivamente crítico não
apenas do sujeito que o pronúncia, mas também da cultura em que pode ser pronunciado;
3. todo processo de verificação da verdade deve estar consciente não apenas do enunciador e
da cultura na qual, e pela qual, as coisas foram tornadas pronunciáveis, mas deve empenhar
em primeiro lugar e eticamente, o sujeito particular que o veicula".[6]
Fundamentos
A suposição básica é que o inconsciente pessoal é uma parte potente - provavelmente a parte mais
ativa - da psique humana normal. A comunicação confiável entre as partes consciente e inconsciente
da psique é necessária para a totalidade.
Também crucial é a crença de que os sonhos mostram ideias, crenças e sentimentos que os
indivíduos não estão prontamente conscientes, mas precisam estar, e que esse material é expresso
em um vocabulário personalizado de metáforas visuais. Coisas 'conhecidas mas desconhecidas'
estão contidas no inconsciente, e os sonhos são um dos principais veículos para o inconsciente
expressá-las.
A psicologia analítica distingue entre um inconsciente pessoal e um inconsciente coletivo. O
inconsciente coletivo contém arquétipos comuns a todos os seres humanos. Ou seja, a individuação
pode trazer à tona símbolos que não se relacionam às experiências de vida de uma única pessoa.
Esse conteúdo é mais facilmente visto como respostas às questões mais fundamentais da
humanidade: vida, morte, significado, felicidade, medo. Entre esses conceitos mais espirituais podem
surgir e ser integrados à personalidade.
Inconsciente coletivo
O conceito de inconsciente coletivo de Jung muitas vezes tem sido mal compreendido, e é
relacionado aos arquétipos junguianos. O termo apareceu pela primeira vez em 1916 no ensaio de
Jung "A Estrutura do Inconsciente".[7] O ensaio distingue entre o inconsciente "pessoal", freudiano,
repleto de fantasias e imagens reprimidas, e o inconsciente "coletivo", abrangendo a alma da
humanidade em geral.[8]
Em "A Significância da Constituição e Hereditariedade em Psicologia" (Novembro de 1929), Jung
escreveu:
“E o essencial, psicologicamente, é que, em sonhos, fantasias e outros estados mentais
excepcionais, os motivos e símbolos mitológicos mais absurdos podem aparecer de forma autóctone
a qualquer momento, muitas vezes, aparentemente, como resultado de influências particulares,
tradições e excitações trabalhando no indivíduo, mas mais frequentemente sem nenhum sinal delas.
Essas "imagens primordiais" ou "arquétipos", como eu os chamei, pertencem ao estoque básico da
psique inconsciente e não podem ser explicadas como aquisições pessoais. Juntos, eles formam o
estrato psíquico que foi chamado de inconsciente coletivo. A existência do inconsciente coletivo
significa que a consciência individual é tudo menos uma tabula rasa e não é imune a influências
predeterminantes. Pelo contrário, é no mais alto grau influenciado por pressuposições herdadas,
além das influências inevitáveis exercidas sobre ele pelo meio ambiente. O inconsciente coletivo
compreende em si a vida psíquica de nossos ancestrais, desde os primórdios. É a matriz de todas as
ocorrências psíquicas conscientes e, portanto, exerce uma influência que compromete a liberdade de
consciência no mais alto grau, pois está continuamente se esforçando para levar todos os processos
conscientes de volta aos velhos caminhos.[9]”
Arquétipos
O uso de arquétipos psicológicos foi avançado por Jung em 1919. Na estrutura psicológica de Jung,
os arquétipos são protótipos universais inatos de ideias e podem ser usados para interpretar
observações. Um grupo de memórias e interpretações associadas a um arquétipo é um complexo, p.
ex. um complexo mãe associado ao arquétipo mãe. Jung tratou os arquétipos como órgãos
psicológicos, análogos aos físicos, pois ambos são dados morfológicos que surgiram através da
evolução.
Os arquétipos são coletivos bem como individuais, e podem crescer por conta própria e se
apresentar de várias maneiras criativas. Jung, em seu livro Memórias, Sonhos, Reflexões, afirma
que ele começou a ver e conversar com uma manifestação de sua anima e que ela o ensinou a
interpretar sonhos. Assim que ele conseguiu interpretar sozinho, Jung disse que ela parou de falar
com ele porque não era mais necessária.
Autorrealização e neuroticismo
Uma necessidade inata de autorrealização leva as pessoas a explorarem e integrarem essas partes
renegadas de si mesmas. Esse processo natural é chamado de individuação, ou o processo de se
tornar um indivíduo.
Segundo Jung, a autorrealização é alcançada através da individuação. A dele é uma psicologia
adulta, dividida em duas camadas distintas. Na primeira metade de nossas vidas, nos separamos da
humanidade. Tentamos criar nossas próprias identidades ("eu", "eu mesmo"). É por isso que existiria
tal necessidade de homens jovens serem destrutivos e que pode ser expressa como animosidade
por parte dos adolescentes direcionados aos pais. Jung também disse que temos uma espécie de
"segunda puberdade" que ocorre entre os 35 e 40 anos: as perspectivas mudam da ênfase no
materialismo, na sexualidade e em ter filhos para preocupações com a comunidade e a
espiritualidade.
Na segunda metade de nossas vidas, os humanos se reúnem com a raça humana. Eles se tornam
parte do coletivo mais uma vez. É quando os adultos começam a contribuir para a humanidade
(tempo de voluntariado, construção, jardinagem, criação de arte etc.) em vez de destruição. Eles
também são mais propensos a prestar atenção aos seus sentimentos inconscientes e conscientes.
Os rapazes raramente dizem "sinto raiva" ou "estou triste". Isso ocorre porque ainda não voltaram à
experiência coletiva humana, comumente restabelecida em seus anos mais velhos e sábios, de
acordo com Jung. Um tema comum é que os jovens rebeldes "busquem" seus verdadeiros eus e
compreendam que uma contribuição para a humanidade é essencialmente uma necessidade para
um self integral.
Jung propõe que o objetivo final do inconsciente coletivo e da autorrealização é nos levar à
experiência mais elevada. Isso, é claro, é espiritual.
Se uma pessoa não procede ao autoconhecimento, podem surgir sintomas neuróticos. Os sintomas
são amplamente definidos, incluindo, por exemplo, fobias, psicose e depressão.
Sombra
A sombra é um complexo inconsciente definido como as qualidades reprimidas, suprimidas ou
repudiadas do eu consciente. Segundo Jung, o ser humano lida com a realidade da sombra de
quatro maneiras: negação, projeção, integração e/ou transmutação. Segundo a psicologia analítica,
a sombra de uma pessoa pode ter aspectos construtivos e destrutivos. Em seus aspectos mais
destrutivos, a sombra pode representar as coisas que as pessoas não aceitam sobre si mesmas. Por
exemplo, a sombra de alguém que se identifica como sendo gentil pode ser dura ou cruel. Por outro
lado, a sombra de uma pessoa que se considera brutal pode ser suave. Em seus aspectos mais
construtivos, a sombra de uma pessoa pode representar qualidades positivas ocultas. Isso tem sido
referido como o "ouro na sombra". Jung enfatizou a importância de estar ciente do material das
sombras e incorporá-lo à consciência para evitar projetar qualidades das sombras nos outros.
A sombra nos sonhos é frequentemente representada por figuras sombrias do mesmo sexo que o
sonhador.[10]
A sombra também pode estar relacionada a grandes figuras na história do pensamento humano ou
mesmo mestres espirituais, que se tornaram grandes por causa de suas sombras ou por sua
capacidade de viver suas sombras (ou seja, suas falhas inconscientes) por completo sem
reprimi-las.[11]
Anima e animus
Jung identificou a anima como sendo o componente feminino inconsciente dos homens e o animus
como o componente masculino inconsciente nas mulheres. No entanto, isso raramente é tomado
como uma definição literal: muitos praticantes junguianos modernos acreditam que toda pessoa tem
uma anima e um animus, e Jung considerou por exemplo um "animus da anima" em homens, em
sua obra Aion e em uma entrevista em que ele diz:
"Sim, se um homem realiza o animus de sua anima, então o animus é um substituto para o velho
homem sábio. Veja, o ego dele está em relação ao inconsciente, e o inconsciente é personificado por
uma figura feminina, a anima. Mas no inconsciente há também uma figura masculina, o velho sábio,
e essa figura está relacionada à anima como seu animus, porque ela é uma mulher. Assim, alguém
poderia dizer que o velho sábio estava exatamente na mesma posição que o animus para uma
mulher."[12]”
Jung afirmou que a anima e o animus atuam como guias para o Self unificado inconsciente, e que
formar uma consciência e uma conexão com a anima ou o animus é um dos passos mais difíceis e
gratificantes do crescimento psicológico. Jung relatou que ele identificou sua anima quando ela falou
com ele, como uma voz interior, inesperadamente um dia.
Frequentemente, quando as pessoas ignoram os complexos anima ou animus, a anima ou o animus
competem por atenção, projetando-se nos outros. Isso explica, de acordo com Jung, por que às
vezes somos imediatamente atraídos por certos estranhos: vemos nossa anima ou animus neles. O
amor à primeira vista é um exemplo de projeção de anima e animus. Além disso, pessoas que se
identificam fortemente com seu papel de gênero (por exemplo, um homem que age agressivamente
e nunca chora) não reconheceram ou envolveram ativamente sua anima ou animus.
Jung atribui o pensamento racional humano à natureza masculina, enquanto o aspecto irracional é
considerado uma mulher natural (sendo racional definido como envolvendo julgamento, irracional
sendo definido como envolvendo percepções). Consequentemente, o humor irracional é a progênie
da sombra da anima masculina e as opiniões irracionais da sombra do animus feminino.
Velho sábio/velha sábia
"Após o confronto com a imagem da alma, o aparecer do velho sábio, a personificação do princípio
espiritual, pode ser distinguido como o próximo marco do desenvolvimento interior."[13] Como
arquétipos do inconsciente coletivo, tais figuras podem ser vistas como, "em termos psicológicos,
uma personificação simbólica do Self".[14]
Psicanálise
A análise é uma maneira de experimentar e integrar o material desconhecido. É uma busca pelo
significado de comportamentos, sintomas e eventos. Muitos são os canais para alcançar esse maior
autoconhecimento. A análise dos sonhos é a mais comum. Outros podem incluir expressar
sentimentos em obras de arte, poesia ou outras expressões de criatividade.
Dar uma descrição completa do processo de interpretação e individuação dos sonhos é complexo. A
natureza da complexidade está no fato de o processo ser altamente específico para a pessoa que o
realiza.
Enquanto a psicanálise freudiana pressupõe que o material reprimido escondido no inconsciente é
dado por instintos sexuais reprimidos, a psicologia analítica tem uma abordagem mais geral. Não há
suposição pré-concebida sobre o material inconsciente. O inconsciente, para analistas junguianos,
pode conter impulsos sexuais reprimidos, mas também aspirações, medos etc
Tipos psicológicos
A psicologia analítica distingue vários tipos ou temperamentos psicológicos.
Extravertido
Introvertido
Segundo Jung, a psique é um aparato para adaptação e orientação e consiste em várias funções
psíquicas diferentes. Entre elas, ele distingue quatro funções básicas:[15]
Autonomia
Embora todos os arquétipos possam ser considerados como sistemas dinâmicos autônomos, alguns
deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados
da personalidade, dentre eles a persona, a anima (lê-se "ânima" em português do Brasil), o animus
(lê-se "ânimus" em português do Brasil) e a sombra. Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos
percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se
como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São
estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, os quais as dirigem. A sua origem não
é conhecida, e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo - mesmo onde
não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por "fecundações cruzadas"
resultantes da migração.
Publicidade
Mais tarde, em 1900, um psicólogo vienense chamado Dr. Ernest Dichter pegou essas construções
psicológicas e as aplicou ao marketing. Dichter mudou-se para Nova York por volta de 1939 e enviou
a todas as agências de publicidade da Madison Avenue uma carta com sua nova descoberta. Ele
descobriu que a aplicação desses temas universais aos produtos promovia uma descoberta mais
fácil e uma maior lealdade às marcas.[13]
Crítica literária arquetípica
A crítica literária arquetípica argumenta que os arquétipos determinam a forma e a função das obras
literárias e que o significado de um texto é moldado por mitos culturais e psicológicos. Arquétipos
culturais são as formas básicas desconhecidas personificadas ou concretizadas por imagens,
símbolos ou padrões recorrentes (que podem incluir motivos como a "busca" ou a "ascensão
celestial"; tipos de personagens reconhecíveis, como o "trickster", o "santo", "mártir" ou "herói";
símbolos como a maçã ou a cobra; e imagens) e que foram carregados de significado antes de
serem incluídos em qualquer trabalho em particular.
Os arquétipos revelam papéis compartilhados entre sociedades universais, como o papel da mãe em
suas relações naturais com todos os membros da família. Esse arquétipo pode criar uma imagem
compartilhada, definida por muitos estereótipos que não se separaram da estrutura tradicional,
biológica, religiosa e mítica.[14]
Narratologia
Jung constatou que, além de elementos tipicamente ligados à psique, como os sonhos, os
arquétipos do inconsciente coletivo também se expressam através de narrativas, destacando e
estudando especialmente o mito e o conto de fada. Ele diz:[15]
“ Nos mitos e contos de fada, como no sonho, a alma fala de si mesma e os arquétipos se
revelam em sua combinação natural, como formação, transformação, eterna recriação do sentido
eterno. ”
Jung fez ampla análise literária com base em sua psicologia e imagens arquetípicas; destacam-se
sua interpretação de Nietzsche do Assim Falou Zaratustra e de diversos mitos, contando com cerca
de 900 entradas de diferentes citações.[16][17][18] Numerosos discípulos o seguiram nessas
leituras, por exemplo Marie-Louise von Franz em seus diversos estudos e interpretações sobre
contos de fadas.[3]
Não foi senão até o trabalho do crítico literário canadense Northrop Frye que a crítica arquetípica foi
teorizada em termos puramente literários. A principal obra de Frye para lidar com arquétipos é
Anatomia da Crítica (1957), mas seu ensaio "Os Arquétipos da Literatura" é um precursor do livro. A
tese de Frye em "Os arquétipos da literatura" permanece praticamente inalterada em Anatomia da
Crítica. O trabalho de Frye ajudou a substituir a Nova Crítica como o principal modo de analisar
textos literários, antes de dar lugar ao estruturalismo e à semiótica.[19][20][21]
As obras de Jung e Frye foram consideradas desbravadoras nos estudos literários. O impacto deles
estimulou o desenvolvimento de tipologias universais para heróis e marcos poéticos.[3] Outros
estudiosos, como Maud Bodkin (que escreveu em 1934 Padrões Arquetípicos de Poesia, a primeira
obra sobre crítica literária arquetípica), Morris Philipson, Joseph Campbell e Christopher Vogler,
considerando a definição junguiana, também sugerem interpretações a respeito da expressão dos
diversos arquétipos em uma narrativa, independente de seu caráter fantástico ou não, e
considera-se que críticos como Harold Bloom e Helen Vendler adaptaram as ideias arquetípicas.[3]
Para Campbell, os arquétipos fazem parte de todo ser humano, como órgãos de um corpo,
fenômenos biológicos.[22]
Vogler, por sua vez, influenciado pela obra de Vladimir Propp, que observa a narrativa a partir de
funções desempenhadas pelos personagens, sugere que os arquétipos sejam tomados como
máscaras das quais os personagens de uma história dispõem, utilizando-as temporariamente
conforme a necessidade do andamento do enredo.[23]
Outras perspectivas, também sugeridas por Vogler, são:[23]
Esquema de complexo de acordo com C. Jung. Archetype - arquétipo; Images - Imagens; Symbols -
símbolos; Emotions - emoções; Behavior - comportamento
Até que os complexos sejam tornados conscientes e trabalhados, como é comum na psicoterapia
neo-junguiana, eles operam "autonomamente e interferem nas intenções da vontade, perturbando a
memória e o desempenho consciente".[17]
O próprio ego pode ser pensado como um complexo, ainda não totalmente integrado a outras partes
da psique (a saber, o superego e o id, ou inconsciente). Conforme descrito por Jung, "por ego,
entendo um complexo de ideias que constitui o centro do meu campo de consciência e parece
possuir um alto grau de continuidade e identidade. Por isso, também falo de um complexo do
ego".[18]
Jung costumava usar o termo "complexo" para descrever um agrupamento parcialmente reprimido,
mas altamente influente, de material psíquico carregado, separado ou em desacordo com o "eu"
consciente.[19] Daniels (2010) descreveu os complexos como "aglomerações 'presas' de
pensamentos, sentimentos, padrões de comportamento e formas somáticas de expressão". Em
relação à sua natureza como tonificada por sentimento, Jung escreveu "[um complexo] é a imagem
de uma certa situação psíquica que é fortemente acentuada emocionalmente e, além disso, é
incompatível com a atitude habitual da consciência. Essa imagem tem uma coerência interna
poderosa, tem sua própria totalidade e, além disso, um grau relativamente alto de autonomia, de
modo que está sujeita ao controle da mente consciente apenas em uma extensão limitada e,
portanto, comporta-se como um corpo estranho animado na esfera da consciência."[20]
O caráter autônomo da psique parcial do complexo é visualizado na personificação dos sonhos ou
na forma de "vozes" em certas psicoses. No entanto, a origem mais frequente do complexo como
uma psique parcial dividida não reside na psicopatologia, mas no conflito moral derivado da aparente
impossibilidade de afirmar a totalidade da essência humana[21]
E definitivamente:
Os complexos são em verdade as unidades vivas da psique inconsciente, cuja existência e
natureza só podemos reconhecer graças a eles. De fato, se não houvesse complexos, o
inconsciente, tal como aparece na psicologia de Wundt, seria apenas um resíduo de ideias
moribundas "sombrias" ou a fringe of consciousness, como William James o chama..[13]
Jung, que adotou o termo de seu professor Pierre Janet, concebia o complexo como a via régia para
o inconsciente:[22]
No entanto, a via regia para o inconsciente não são sonhos, como ele pensa, mas complexos,
que são a causa de sonhos e sintomas. Essa rota é de natureza menos régia, pois o caminho
assinalado pelo complexo se assemelha a uma senda mais acidentada, com muitas revoltas, que
muitas vezes se perde na vegetação rasteira e quase nunca atinge o coração do inconsciente, mas
seus arredores.[13]
Em suas Considerações gerais sobre a teoria dos complexos (1934), ele introduz a consideração de
que todo mundo hoje sabe que alguém "possui complexos", mas que é menos conhecido que os
complexos podem nos possuir. Toda constelação de complexos deixa palpável um estado alterado
de consciência, uma ruptura da unidade da consciência, dificultando a vontade e a memória.
Consequentemente, o complexo é um fator psíquico cuja valência energética excede
temporariamente a da consciência. Um complexo ativo pode momentaneamente nos reduz a um
estado de falta de liberdade,[23] com alguns complexos podendo usurpar o poder do ego e causar
distúrbios e sintomas psicológicos resultantes do desenvolvimento de uma neurose, como
pensamentos e atos obssessivos.[19] Jung descreveu a natureza autônoma e autodirigida dos
complexos sentimentalmente carregados quando disse
"o que não é tão conhecido, mas muito mais importante teoricamente, é que os complexos podem
nos tomar. A existência de complexos lança sérias dúvidas sobre o ingênuo pressuposto da unidade
de consciência, que é equiparada com a "psique", e sobre a supremacia da vontade. Toda
constelação de um complexo postula um estado de consciência perturbado. A unidade da
consciência é rompida e as intenções da vontade são impedidas ou feitas impossíveis. Até mesmo a
memória é visivelmente afetada, como vimos. O complexo deve, portanto, ser um fator psíquico que,
em termos de energia, possui um valor que às vezes excede o de nossas intenções conscientes;
caso contrário, essas rupturas na ordem consciente não seriam possíveis. E, de fato, um complexo
ativo nos coloca momentaneamente sob um estado de coação, de pensamento e ação compulsivos,
para os quais, sob certas condições, o único termo apropriado seria o conceito judicial de
responsabilidade diminuída"[24]
Por outro lado, Jung falou das "funções diferenciadoras" como essencialmente o desenvolvimento
saudável de complexos úteis, mas não sem causar efeitos colaterais muitas vezes indesejáveis.
"É verdade que não nos referimos a isso [treinamento e desenvolvimento de funções] como
obsessão por um complexo, mas como unilateralidade. Ainda assim, o estado real é
aproximadamente o mesmo, com essa diferença, de que a unilateralidade é pretendida pelo
indivíduo e é promovida por todos os meios em seu poder, enquanto o complexo é considerado
prejudicial e perturbador. As pessoas geralmente não conseguem perceber que a unilateralidade
conscientemente voluntária é uma das causas mais importantes de um complexo indesejável e que,
inversamente, certos complexos causam uma diferenciação unilateral de valor duvidoso.[25]
Em Tipos Psicológicos, Jung descreve os efeitos das tensões entre as funções diferenciadoras
dominantes e inferiores, geralmente formando complexos e neuroses, em tipos altamente e até
extremamente extremamente unilaterais.
"Nas descrições anteriores, não desejo dar a meus leitores a impressão de que esses tipos
ocorrem com frequência de forma tão pura na vida real. São, por assim dizer, apenas retratos de
família galtonescos, que destacam os traços comuns e, portanto, típicos, enfatizando-os
desproporcionalmente, enquanto os traços individuais são igualmente desproporcionalmente
apagados.[26]
Constelação
No início de suas Considerações gerais sobre a teoria dos complexos (1934), Jung faz uma
apresentação do experimento de associação de palavras. Nele, ele aponta que a própria situação
experimental leva à constelação de complexos. Ou seja, que diferentes personalidades se afetam e
que em interação cria-se um campo psíquico que estimula complexos. O termo constelação
refere-se, assim, à criação de um momento psicologicamente carregado, em que a consciência é
perturbada por um complexo ou está prestes a ser.
Sob esse conceito, expressa-se que a situação externa provoca um processo psíquico que
consiste na recompilação e fornecimento de determinados conteúdos. A expressão "estar
constelado" significa que se adota uma atitude de prevenção expectante, a partir da qual reagirá de
maneira muito determinada. A constelação é um processo automático que surge involuntariamente,
pelo que ninguém pode evitá-la. Os conteúdos constelados são certos complexos que têm sua
própria energia específica.[27]
As reações a um complexo são bastante previsíveis quando os complexos específicos de um
indivíduo são conhecidos (erótico, infantil, materno, paterno, poder etc.).
_________. Complexo_(psicologia). Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_(psicologia). Modificada em 27/07/2021 às 19:50.
Acessada em 08/10/2021 às 19:04.
Individuação
Individuação, princípio de individualização, ou "principium individuationis" (em latim, de individual,
que por sua vez proveniente de "individuus": indivisível),[1] descreve a maneira pela qual uma coisa
é identificada como distinta de outras coisas.[2] O conceito aparece em numerosos campos e é
encontrado em obras de Carl Jung, Gilbert Simondon, Bernard Stiegler, Friedrich Nietzsche, Arthur
Schopenhauer, David Bohm, Henri Bergson, Gilles Deleuze e Manuel DeLanda.
A palavra "individuação" é utilizada de forma diferente na filosofia em relação a psicologia junguiana.
Na filosofia
É expressada a ideia geral de o objeto referenciado sendo identificado como algo individual, logo
"não sendo outra coisa." Isso inclui como uma pessoa una é realizada para ser diferente dos outros
elementos do mundo e como ela se distingue de outras pessoas.
Na psicologia junguiana
Na psicologia junguiana, também chamada de psicologia analítica, expressa o processo em que o
“eu” individual se desenvolve a partir de um inconsciente indiferenciado. É um desenvolvimento do
processo psíquico durante o qual elementos inatos da personalidade, os componentes da imatura
psique e as experiências da vida da pessoa se integram ao longo do tempo em um todo, onde
funcione bem: centralizar as funções a partir do ego em direção à autorrealização do si-mesmo (ver
Self na psicologia junguiana).
Na sociologia, o conceito de "individuação" é utilizado pelo sociólogo Danilo Martuccelli, na sua
entrevista “Como os indivíduos se tornam indivíduos”, ele ressalta a importância de estudar os
fenômenos sociológicos através da ótica dos indivíduos, o que ele chama de "Teoria da
individuação". Segundo o mesmo, estudar a realidade segundo as vivências históricas particulares,
nos auxilia no processo de compreensão dos mecanismos responsáveis pela produção de sujeitos
em diversos contextos.[3] A individuação é um fenômeno que se mostra eficiente para desvendar os
problemas sociais, portanto, uma excelente ferramenta de estudo sociológico, podendo ser aplicada
a qualquer fenômeno. Dessa forma, o entendimento de cada problema ou manifestação social deve
ser analisado do micro para o macro, traduzindo a nível de experiências individuais os grandes
desafios coletivos de uma sociedade. A individuação dos sujeitos se desenvolve quando estes se
veem envoltos pelas forças dos processos de racionalização e aceitação social impostos. Todos os
sujeitos estão destinados a encarar as mesmas dificuldades, o que Martuccelli denomina de “prova”.
Porém a resposta de cada um será diretamente proporcional à sua própria identidade, posição
social, raça, gênero e recursos. Daí nasce a individuação. Esse processo também é derivado da
variação entre sociedades e também entre períodos históricos.
Ainda sobre o conceito de “provas”, segundo Martuccelli, estas são desafios estruturais que podem
variar. É importante ressaltar que tais provas não são determinantes, ou seja, não definem o futuro e
a identidade dos sujeitos, mas podem influenciá-los. E através de provas comuns é que se produzem
indivíduos singulares. A noção de prova possui quatro aspectos: o primeiro se refere à percepção
dos indivíduos frente a situações difíceis. O segundo, diz respeito às respostas ou reações dos
indivíduos frente a tais dificuldades. O terceiro aspecto menciona o caráter seletivo de tais provas. O
sujeito poderá obter sucesso ou falhar. E por último, cada sociedade possui um conjunto de provas
que podem ser mais ou menos pré-determinadas. Neste mesmo raciocínio, encontramos também,
nos textos de Martuccelli, a noção de “suporte”. Esse conceito está baseado no fato de que os
indivíduos necessitam se estruturar para se manterem firmes frente a sociedade, uma vez que ser
um indivíduo implica na soberania sobre si mesmo e na diferenciação em relação aos demais. Esses
suportes estarão diretamente relacionados às respostas que os indivíduos dão ao enfrentarem uma
prova, portanto, podem ou não garantir o sucesso do sujeito.[3]
Síntese
A individuação, conforme descrita por Jung, é um processo através do qual o ser humano evolui de
um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma
ampliação da consciência. Através desse processo, o indivíduo identifica-se menos com as condutas
e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas do
si-mesmo, a totalidade (entenda-se totalidade como o conjunto das instâncias psíquicas sugeridas
por Carl Jung, tais como persona, sombra, self, etc.) de sua personalidade individual.[4] Jung
entende que o atingir da consciência dessa totalidade é a meta de desenvolvimento da psique, e que
eventuais resistências em permitir o desenrolar natural do processo de individuação é uma das
causas do sofrimento e da doença psíquica, uma vez que o inconsciente tenta compensar a
unilateralidade do indivíduo através do princípio da enantiodromia.
Jung ressaltou que o processo de individuação não entra em conflito com a norma coletiva do meio
no qual o indivíduo se encontra, uma vez que esse processo, no seu entendimento, tem como
condição para ocorrer que o ser humano tenha conseguido adaptar-se e inserir-se com sucesso
dentro de seu ambiente, tornando-se um membro ativo de sua comunidade. O psicólogo suíço
afirmou que poucos indivíduos alcançavam a meta da individuação de forma mais ampla.
Um dos passos necessários para a individuação seria a assimilação das quatro funções (sensação,
pensamento, intuição e sentimento), conceitos definidos por Jung em sua teoria dos tipos
psicológicos. Em seus estudos sobre a alquimia, Jung identificou a meta da individuação como
sendo equivalente à "Opus Magna", ou "Grande Obra" dos alquimistas. A individuação também pode
ser compreendida em termos globais como o processo que cria o mundo e o leva a seu destino
(Rocha Filho, 2007)[vago], não sendo, por isso, uma exclusividade humana. A individuação, neste
contexto, se identifica com o mecanismo de autorrealização, ou primeiro motor do universo.
Já numa formulação próxima dos Estudos em Comunicação, de acordo com Samuel Mateus, "Tomar
o indivíduo segundo as formas de individuação significa, assim, a capacidade de incluir a
singularidade na pluralidade (e vice-versa), bem como de assimilar uma diversidade de
manifestações heterogéneas - por vezes incoerentes entre si - num todo aglutinante que molda a
auto-consciência individual. Significa também incorporar modos de interpretação do indivíduo
fundados nas relações tensionais, interdependentes e imprevisíveis operadas entre um indivíduo que
oscila entre a singularidade e a pluralidade, entre um pólo individual e um pólo social".[5] Esta última
perspectiva trabalha o conceito de individuação a partir da Sociologia tendo uma clara filiação nos
trabalhos de Georg Simmel e Norbert Elias.
A perspectiva da individuação segundo Martuccelli, ressalta a importância de estudar os fenômenos
sociológicos através da ótica dos indivíduos, o que ele irá chamar de "Teoria da individuação". De
acordo com o mesmo, estudar a realidade segundo as vivências históricas particulares, nos auxilia
no processo de compreensão dos mecanismos responsáveis pela produção de sujeitos em diversos
contextos.[3] A individuação é por ele considerada um fenômeno que se mostra eficiente para
desvendar os problemas sociais e é considerada uma excelente ferramenta de estudo sociológico
passível de ser aplicada a qualquer fenômeno.[3]
_________. Individuação. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Individuação. Modificada em 15/07/2021 às 18:40. Acessada em
08/10/2021 às 19:05.
Eu (psicologia)
Eu (do termo do latim vulgar eo) designa, em psicologia, a instância interna conhecedora ("eu" como
"conhecedor"), portadora de consciência, em oposição ao si mesmo, o conhecimento que o indivíduo
tem sobre si próprio ("si mesmo" como "conhecido").[1] Pode ser considerado um sinônimo de
personalidade.[2]
_________. Eu. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Eu_(psicologia). Modificada em 11/09/2019 às 15:29. Acessada em 08/10/2021 às
19:11.
Ego
Ego (do latim, "eu"), lugar em que se reconhece, eu de cada um[1] designa na teoria psicanalítica
uma das três estruturas do modelo triádico do aparelho psíquico: Id, Ego e Superego.[2] O ego
desenvolve-se a partir do Id, na medida que o bebê vai tomando consciência de sua própria
identidade, com o objetivo de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta
o mundo externo: é o chamado princípio da realidade. É esse princípio que introduz a razão, o
planejamento e a espera no comportamento humano. A satisfação das pulsões é retardada até o
momento em que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de
consequências negativas.[3]
O Ego é lógico e racional. Sempre cumpre a função de lidar com a realidade externa (faz um meio
campo entre o mundo interno e externo), lidando com a estimulação que vem tanto da própria mente
como do mundo exterior.. Assim, o ego atua como mediador entre o id e o mundo exterior, tendo que
lidar também com o superego, com as memórias de todo tipo e com as necessidades físicas do
corpo. A sua energia é extraída do Id.
Psicologia do ego
Sob os auspícios dessa nova escola, influente desde a morte de Freud e hegemônica por décadas, a
psicanálise surge integrando múltiplas facetas, passando a se ordenar em torno de novos objetivos
terapêuticos, novos métodos de investigação dos processos psíquicos – o empírico no sentido
positivista –, novos conceitos, novas táticas e técnicas. Em função desta pluralidade de inovações,
os mentores desta escola julgaram mesmo procedente criar uma nova denominação psicanalítica,
passando a denominá-la de “psicologia psicanalítica do ego” (RAPAPORT, 1962, p. 42).
Nomeação deveras mais apropriada para o que lograram construir. O conceito de ego, que ordenou
todo o arcabouço teórico e técnico da “psicologia psicanalítica do ego”, forçou a metonímia, sem
dúvida feliz no que diz respeito à invenção freudiana: foi simplesmente como “psicologia do ego”
(sem psicanálise no nome) que esta escola passou a ser reconhecida. A homologação do ego à
função da consciência foi o grande equívoco praticado por toda uma geração de analistas que
sucedeu a Freud, convertendo-se numa rota de desvio cujos rumores se fazem ainda ouvir em
nossos dias. Esta virada teórica veio refletir-se de modo pontual no manejo técnico, ordenando no
campo analítico uma técnica calcada no fortalecimento do ego com vistas ao adestramento do
desejo inconsciente.
O inconsciente é definido por Freud como um sistema composto por representações instituídas por
meio do recalque. O recalque, ao instituir o campo das representações, institui em ato o próprio
inconsciente e confere a uma representação seu estatuto inconsciente, de modo que inconsciente e
recalque são conceitos indissolúveis e correlatos: “A teoria da repressão [recalcamento] é a pedra
angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise”.
A principal função do Ego é procurar atender e aplacar as exigências constantes do Id e a realidade
do Superego, logo preservará a saúde, segurança e sanidade da psique.Há muitos conflitos entre o
Id e o Ego, pois os impulsos não civilizados do Id estão sempre querendo expressar-se. Freud
destacava que os impulsos do Id são muitas vezes reprimidos pelo Ego por causa do medo de
castigo. Ou seja, o Ego pode coibir os impulsos inaceitáveis do Id, por exemplo se uma pessoa te
fecha no trânsito, o ego te impede de perseguir o carro e agredir fisicamente o motorista infrator,
seria um impulso do id (que é totalmente inconsciente). Porém, visto que o indivíduo não pode
sobreviver obedecendo somente aos impulsos do Id, é necessário que ele reaja realisticamente a
seu ambiente de convívio. O conjunto de procedimentos que leva o indivíduo a comportar-se assim,
é o Ego. O Ego é, portanto, mais realístico do que o Id, visando sempre as consequências dos
impulsos inconscientes do Id.[4][5]
O Ego não é completamente consciente, os mecanismos de defesa fazem parte de um nível
inconsciente.
_________. EGO. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ego. Modificada em 09/09/2020 às 13:46. Acessada em 08/10/2021 às 19:14.
Filosofia do si
A filosofia do si ou self, ou filosofia do eu, em referência ao eu essencial ou si mesmo, define, entre
outras coisas, as condições de identidade que tornam um sujeito da experiência distinto de todos os
outros. As discussões contemporâneas sobre a natureza do self não são, portanto, discussões sobre
a natureza da personalidade ou da identidade pessoal. O eu às vezes é entendido como um ser
unificado essencialmente conectado à consciência, autopercepção e agência (ou, pelo menos, com a
faculdade da escolha racional). Várias teorias sobre a natureza metafísica do eu foram propostas.
Entre elas, a natureza metafísica do eu foi proposta como sendo a de uma substância imaterial.
Definições do eu
A maioria das definições filosóficas do si - por Descartes, Locke, Hume e William James - são
expressas na primeira pessoa.[1] Uma definição de terceira pessoa não se refere a qualia mental
específica, mas busca objetividade e operacionalismo.
Para outra pessoa, o eu de um indivíduo é exibido na conduta e no discurso desse indivíduo.
Portanto, as intenções de outro indivíduo só podem ser inferidas a partir de algo que emana desse
indivíduo. As características particulares do eu determinam sua identidade.
Conceitos de si
O eu nas tradições orientais
Na espiritualidade, e especialmente nas tradições não-duais, místicas e orientais meditativas, o ser
humano é frequentemente concebido como estando na ilusão da existência individual e da
separação de outros aspectos da criação. Esse "senso de autoria" ou senso de existência individual
é a parte que acredita que é o ser humano e acredita que deve lutar por si mesma no mundo; é, em
última análise, despercebido e inconsciente de sua própria natureza verdadeira. O ego é
frequentemente associado à mente e ao sentido do tempo, que pensa compulsivamente para ter
certeza de sua existência futura, em vez de simplesmente conhecer o seu próprio eu e o presente.
O objetivo espiritual de muitas tradições envolve a dissolução do ego, em contraste ao Self
essencial,[2] permitindo que o autoconhecimento da própria natureza verdadeira se torne experiente
e atuado no mundo. Isso é conhecido como iluminação, nirvana, presença e "aqui e agora".
Autoconhecimento
Ambas civilizações ocidental e oriental se ocuparam com o autoconhecimento e ressaltaram sua
importância, citando particularmente a combinação paradoxal de disponibilidade imediata e
obscuridade profunda envolvida em sua busca.[3] Para Sócrates, o objetivo da filosofia era
"conhecer a si mesmo". Lao Tzu, em seu Tao Te Ching, diz: "Conhecer os outros é sabedoria.
Conhecer o eu é iluminação. Dominar os outros exige força. Dominar o eu exige força".[4] O caso é o
mesmo para os videntes dos Upanishads, que sustentavam que o conhecimento real último envolve
uma compreensão da essência do eu e da natureza de Deus.[5] Adi Shankaracharya, em seu
comentário sobre o Bhagavad Gita, diz que "somente o autoconhecimento erradica a miséria".[6] "O
autoconhecimento por si só é o meio para a maior felicidade".[7] "A perfeição absoluta é a
consumação do autoconhecimento."[8]
Uma teoria sobre o autoconhecimento descreve o conceito como a capacidade de detectar que as
sensações, pensamentos, estados mentais e atitudes são suas.[9] Está ligado a outras concepções,
como autoconsciência e autoconceito. A teoria racionalista, inspirada por Immanuel Kant, também
afirma que nossa capacidade de alcançar o autoconhecimento através da reflexão racional deriva
em parte do fato de nos vermos como agentes racionais. Esta escola rejeita que o autoconhecimento
seja meramente derivado da observação, pois reconhece o sujeito como autônomo devido à sua
capacidade como agente de moldar seus próprios estados.[10]
O eu como uma atividade
Aristóteles, seguindo Platão, definiu a alma como a essência central de um ser vivo, e, apesar de
afirmar que ela não existia separada do corpo,[11] considerava a sua parte denominada "intelecto"
como tendo característica imortal e perpétua,[12][13] em contraste às suas funções
vegetativa/nutritiva e perceptiva dependentes do organismo. Em sua teoria das causas e de ato e
potência, Aristóteles enfatiza os seres em relação à manifestação em ato deles, e por sua vez a alma
era também definida por seus efeitos atuais. Por exemplo, se uma faca tivesse uma alma, o ato de
cortar seria considerado essa alma, porque "cortar" faz parte da essência do que é ser uma faca.
Mais precisamente, a alma é a "primeira atividade" de um corpo vivo. Este é um estado, ou um
potencial para atividade real ou 'segunda'. "O machado tem uma vantagem para cortar" era, para
Aristóteles, análogo a "os seres humanos têm corpos para atividade racional", e o potencial para
atividade racional constituía, assim, a essência de uma alma humana. Ele afirma: "A alma é uma
realidade ou essência formulável de algo que possui uma potencialidade de ser animada", e também
"Quando a mente é libertada de suas condições atuais, ela aparece exatamente como é e nada
mais: só isso por si é imortal e eterno".[14] Aristóteles usou seu conceito de alma em muitas de suas
obras; sua obra principal sobre o assunto é De Anima (Sobre a Alma).[15][16]
Aristóteles também acreditava que havia quatro seções da alma: as partes calculativa e científica no
lado racional usadas para tomar decisões, e as partes desiderativa e vegetativa no lado irracional
responsável por identificar nossas necessidades. Uma divisão das funções e atividades da alma
encontra-se também na teoria tripartite de Platão. A problemática de um em muitos é também
lembrada por Aristóteles, no entanto:
“Se então a alma é de sua própria natureza divisível, o que a mantém unida? Não é o corpo,
certamente: muito pelo contrário, parece ser verdade que a alma mantém o corpo unido; pois quando
parte, o corpo expira e se decompõe. Se há algo que o torna único, esse outro é a alma. Alguém
então teria que perguntar, com relação a esse outro, se é uma ou várias partes. Se é um, por que
não chamá-lo de alma imediatamente? Mas se é divisível, a razão exige novamente, o que é que
mantém isso unido? E assim por diante ''ad infinitum''.[17]
Self independente dos sentidos
Enquanto ele estava preso em um castelo, Avicena escreveu seu famoso experimento mental
"Homem Flutuante" para demonstrar a autopercepção humana e a substancialidade da alma. Seu
experimento mental diz a seus leitores que se imaginem suspensos no ar, isolados de todas as
sensações, o que inclui nenhum contato sensorial com o próprio corpo. Ele argumenta que, nesse
cenário, ainda se teria autoconsciência. Assim, ele conclui que a ideia do eu não é logicamente
dependente de qualquer coisa física, e que a alma não deve ser vista em termos relativos, mas como
algo dado principal, uma substância. Mais tarde, esse argumento foi refinado e simplificado por René
Descartes em termos epistêmicos quando afirmou: "Posso abstrair da suposição de todas as coisas
externas, mas não da suposição de minha própria consciência".
Teoria do eu como feixe
David Hume apontou que tendemos a pensar que somos a mesma pessoa que éramos há cinco
anos. Embora tenhamos mudado em muitos aspectos, a mesma pessoa parece presente como
estava presente na época. Podemos começar a pensar sobre quais recursos podem ser alterados
sem alterar o eu subjacente. Hume, no entanto, nega que exista uma distinção entre as várias
características de uma pessoa e o eu misterioso que supostamente apresenta essas características.
Quando começamos a examinar, "nunca estamos intimamente conscientes de nada além de uma
percepção específica; o homem é um feixe (bundle) ou coleção de percepções diferentes que se
sucedem com uma rapidez inconcebível e estão em fluxo e movimento perpétuos".[18]
É claro que, no curso de nosso pensamento, e na constante revolução de nossas ideias, nossa
imaginação passa facilmente de uma ideia para outra que se assemelha a ela, e que essa qualidade
por si só é, para a fantasia, um vínculo e associação suficientes. É igualmente evidente que, como
os sentidos, ao mudar seus objetos, são necessários para alterá-los regularmente, e tomá-los
conforme eles permanecem contíguos, a imaginação deve, por muito tempo, adquirir o mesmo
método de pensamento e seguir as partes de espaço e tempo na concepção de seus objetos."[19]
Na visão de Hume, essas percepções não pertencem a nada. Em vez disso, Hume compara a alma
a uma comunidade, que mantém sua identidade não em virtude de alguma substância essencial
duradoura, mas por ser composta por muitos elementos diferentes, relacionados e, ainda assim, em
constante mudança. A questão da identidade pessoal passa a ser uma questão de caracterizar a
coesão solta da experiência pessoal. (Observe que, no apêndice do Tratado, Hume disse
misteriosamente que estava insatisfeito com seu relato do si, mas nunca voltou ao assunto.)
O paradoxo do navio de Teseu pode ser usado como uma analogia do eu como um feixe de partes
em fluxo.
Budismo
A posição de Hume é conhecida em inglês como "bundle theory", muito semelhante às teorias e
debates dos budistas indianos sobre o self, que geralmente consideram uma teoria de feixe para
descrever os fenômenos da mente agrupados em agregados (skandhas), tais como
sensopercepções, discriminação intelectual (saṃjñā), emoções e volição. Desde o início da filosofia
budista, várias escolas de interpretação assumiram que um self não pode ser identificado com os
agregados transitórios, pois eles são vazios de eu, mas algumas tradições questionaram além do
mais se poderia haver um solo de fundo imutável que defina uma identidade individual real e
permanente e que sustente os fenômenos impermanentes; conceitos como natureza de Buda são
encontrados na linhagem Maaiana, e de uma realidade última na tradição dzogchen, por exemplo em
Dolpopa[20] e Longchenpa.[21] Embora os budistas critiquem o ātman imutável do hinduísmo,
algumas escolas budistas problematizaram a noção de uma personalidade individual; mesmo entre
as primeiras, como a visão do Pudgala, ela foi levantada implicitamente em perguntas como "quem é
o portador do feixe?", "o que carrega os agregados?", "o que transmigra de um renascimento para
outro?" ou "qual é o sujeito do auto-aperfeiçoamento e da iluminação?".[22]
O Buda
O Buda, em particular, atacou todas as tentativas de conceber um eu fixo, enquanto ao mesmo
tempo afirmava que sustentar a visão de que "eu não tenho eu" também está errado. Este é um
exemplo do caminho do meio traçado pelo Buda e pela escola de budismo Madhyamaka. Essa
ausência de uma definição do self é direcionada para evitar o apego ao "eu", buscar-se a realidade e
alcançar o desapego,[23] e é encontrada em muitas passagens dos mais antigos sutras de Buda,
registrados no Cânone Páli, como este:
"Bhikkhus, a forma não é o eu ('é anatta', não-self). Se a forma fosse, então essa forma
não levaria à aflição, e poder-se-ia tomá-la assim: 'Seja minha forma assim, que minha forma
não seja assim.' E como a forma não é o eu, leva à aflição, e ninguém pode tê-la assim: 'Seja
minha forma assim, que minha forma não seja assim.'... Bhikkhus, o sentimento não é o eu...
Bhikkhus, a percepção não é o eu... Bhikkhus, as determinações não são o eu ... Bhikkhus, a
consciência (vijñāna) não é o eu... é a forma permanente ou impermanente?..."[24]
O eu como centro de gravidade narrativo
Daniel Dennett tem uma teoria deflacionária do "eu". Eus não são fisicamente detectáveis. Em vez
disso, são uma espécie de ficção conveniente, como um centro de gravidade, que é conveniente
como uma maneira de resolver problemas de física, embora não precisem corresponder a nada
tangível - o centro de gravidade de um aro é um ponto no ar. As pessoas constantemente se contam
histórias para dar sentido ao seu mundo, e aparecem nas histórias como personagem, e esse
personagem conveniente, mas fictício, seria o eu.[25][26]
O eu como uma construção sintática indispensável, não uma entidade
Aaron Sloman propôs que palavras como "eu", "eus", "ela mesma", "ela mesma", "isto mesmo", "eles
mesmos", "eu mesmo" etc. não se referem a um tipo especial de entidade, mas fornecem
mecanismos sintáticos poderosos para construir enunciados que se referem repetidamente à mesma
coisa sem repetição tediosa e obscura de nomes ou outras expressões referentes.[27]
_________. Filosofia do si. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_do_si. Modificada em 26/10/2020 às 19:35. Acessada em
08/10/2021 às 19:21.
Si mesmo
Si mesmo (em inglês, self; em alemão, Selbst) é um termo que tem uma longa história na psicologia.
William James, um dos pais da psicologia, distingue em 1892 entre o "eu", como a instância interna
conhecedora (I as knower), e o "si mesmo", como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si
próprio (self as known).[1] Carnotauros (2014), partindo da definição de James e do trabalho da S. N.
Cooley, propõe que o "si mesmo" se baseia em três experiências básicas do ser humano:[2]
a consciência reflexiva, que é o conhecimento sobre si próprio e a capacidade de ter
consciência de si;
Nigredo
Nigredo é uma palavra em latim que significa escuro. Foi adotada pelos alquimistas para designar o
primeiro estado da alquimia: a morte espiritual, significando decomposição ou putrefação. É sucedido
pelos estados albedo (purificação), citrinitas (despertar) e rubedo (iluminação).[1] Os alquimistas
acreditavam que no primeiro passo para a Pedra Filosofal, todos os ingredientes tinham que ser
preparados até criarem uma matéria preta uniforme.[2]
Na psicologia analítica, o termo se tornou uma metáfora para "a noite escura da alma, quando um
indivíduo confronta a sua sombra interior"[3].
_________. Nigredo. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Nigredo. Modificada em 26/12/2019 às 18:30. Acessada em 08/10/2021 às 19:26.
Persona (psicologia)
Persona (do latim persona) é a instância psíquica responsável pela interação entre o ser e a
comunidade de forma geral[1]. Ela e constituída em paralelo com o ego e com a sombra, desde o
inicio da vida. Na psicologia analítica de Jung, é "uma espécie de máscara projetada, por um lado,
para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outro, dissimular a verdadeira natureza do
indivíduo", a face social que o indivíduo apresenta ao mundo. O termo persona vem do teatro grego
antigo, onde o ator usava uma mascara para amplificar a voz.[1][2] A persona também pode se
referir à identidade de gênero, a um estágio do desenvolvimento (como a adolescência), a um status
social, a um emprego ou profissão. Ao longo da vida, muitas personas serão usadas e muitas podem
ser combinadas a qualquer tempo.[3]
Persona
O Arquétipo Persona dá ao sujeito a possibilidade de criar um personagem que pode não ser de fato
ele mesmo.Dentro de cada persona existe um conjunto de ideias que se originam da sociedade, no
qual denominamos regras sociais. A Persona é muito importante para a sobrevivência humana.
Através dela, nos tornamos capazes de conviver com o outro, inclusive nos ajuda a conviver com
aquelas pessoas que nos são desagradáveis de maneira saudável e equilibrada. Este Arquétipo é
ideal quando ele é flexível, ou seja, não é unilateral.
Ela tem o compromisso em expressar a individualidade do individuo no contexto social rodeado por
códigos sociais e as variáveis de outras pessoas.
Inicia-se através da imitação, de maneira inconsciente, dos mais próximos e aos poucos, se torna
flexível e individualizado. Sua principal função é a interação de um individuo com o outro. Nossos
papeis sociais constituem aspectos da persona.
Sombra
A sombra é responsável por aquilo que o Ego não aceita, mantendo assim esses conteúdos em um
lugar do inconsciente, mas que há a possibilidade de se tornarem conscientes.
A Sombra no seu total é denominada como as qualidades negativas que todos possuem e que o ego
acaba por esconder. Também é composta por muitas qualidades e dons natos que acabam não se
desenvolvendo devido a condições externas. Ela é uma sombra arquetípica que pode ser
responsável pelos conteúdos humanos gerais, que não são assimiladas a cultura coletiva.
É a fonte de tudo que há de melhor e pior no homem.
A Sombra e a Persona são opostos, polaridades do ego e que provem do Self.
Aqueles traços que nós não gostamos, ou preferimos ignorar, se juntam para formar o que Jung
chamou de Sombra. Essa parte da psique, que também é fortemente influenciada pelo inconsciente
coletivo, é uma forma complexa e geralmente é o complexo mais acessível pela mente consciente.
Jung não acreditava que a Sombra não tivesse propósito ou mérito; ele sentiu que “onde há luz,
também deve haver sombra” - o que significa que a Sombra tem um papel importante a
desempenhar no equilíbrio da psique geral. Sem um lado sombrio bem desenvolvido, uma pessoa
pode facilmente tornar-se superficial e extremamente preocupada com as opiniões dos outros, uma
Persona ambulante. Assim como o conflito é necessário para avançar o enredo de qualquer romance
bom, claro e escuro são necessários para o nosso crescimento pessoal. Jung acreditava que, não
querendo olhar diretamente para as Sombras, muitas pessoas projetam-nas nos outros, o que
significa que as qualidades que muitas vezes não podemos suportar nos outros, temos em nós
mesmos e não queremos ver. Para realmente crescer como pessoa, é preciso cessar a cegueira
voluntária da Sombra e tentar equilibrá-la com a Persona.
Identificação
O desenvolvimento de uma persona social viável é uma parte vital da adaptação e preparação para
a vida adulta no mundo social externo. "Um ego forte se relaciona com o mundo exterior através de
uma persona flexível; identificações com uma persona específica (doutor, erudito, artista, etc.) inibe o
desenvolvimento psicológico. Assim, para Jung, "o perigo é que [as pessoas] se tornem idênticas a
suas personas — o professor com seu livro de ensino, o tenor com sua voz”. O resultado poderia ser
"o tipo de personalidade rasa, frágil e conformista que é 'todo persona', com sua preocupação
excessiva com "o que as pessoas pensam " - um estado de espírito irrefletido - no qual as pessoas
são totalmente inconscientes de qualquer distinção entre si e o mundo em que vivem. Eles têm
pouco ou nenhum conceito de si mesmos como seres distintos do que a sociedade espera deles. O
estágio foi estabelecido para o que Jung denominou enantiodromia - o surgimento da individualidade
reprimida de baixo da persona mais tarde na vida: "o indivíduo ou será completamente sufocado sob
uma persona vazia ou uma enantiodromia nos opostos ocultos ocorrerá".
Individuação
A individuação, para Jung, era a busca da inteireza que a psique humana invariavelmente
empreende, a jornada para se tornar consciente de si mesmo como um ser humano único, mas
única apenas no mesmo sentido que todos nós, não mais ou menos do que outras. Jung não tentou
fugir da importância do conflito para a psicologia humana; ele via isso como inerente e necessário
para o crescimento. Ao lidar com os desafios do mundo exterior e dos seus próprios muitos opostos
internos, a pessoa lentamente 2 se torna mais consciente, iluminada e criativa. O produto da
superação desses confrontos foi um "símbolo" que, segundo Jung, contribuiria para uma nova
direção em que se fizesse justiça a todos os lados de um conflito. Esse símbolo era visto como um
produto do inconsciente, e não do pensamento racional, e apresentava aspectos de ambos os
mundos, consciente e inconsciente, em seu trabalho como agente transformador. O desenvolvimento
que brota dessa transmutação, tão essencial à psicologia junguiana, é o processo de individuação.
Desintegração
"O colapso da persona constitui o momento tipicamente junguiano, tanto na terapia quanto no
desenvolvimento" - o "momento" em que "o excessivo comprometimento com os ideais coletivos
mascarando uma individualidade mais profunda - a persona - se decompõe ... se desintegra". A
visão de Jung de que "a persona é uma semelhança ... a dissolução da persona é, portanto,
absolutamente necessária para a individuação". No entanto, sua desintegração pode levar
inicialmente a um estado de caos no indivíduo: "um resultado da dissolução da persona é a liberação
da fantasia ... a desorientação ". À medida que o processo de individuação se inicia" a situação se
desfez da casca convencional e se desenvolveu em um encontro com a realidade, sem falsas veias
ou adornos de qualquer tipo ".
O colapso da persona constitui-se tipicamente no momento Jungiano tanto na terapia quanto em seu
desenvolvimento, e é quando o comprometimento excessivo à ideias coletivas passam a mascarar a
individualidade mais profunda. Dado que a visão de Jung era que a persona é uma semelhança, de
modo que sua dissolução é absolutamente necessária para a individuação.
Restauração negativa
Uma reação possível à experiência resultante do caos arquetípico foi o que Jung chamou de "a
restauração regressiva da persona", segundo a qual o protagonista "laboriosamente tenta remendar
sua reputação social dentro dos limites de uma personalidade muito mais limitada ... fingindo que ele
é como ele era antes da experiência crucial. "Da mesma forma no tratamento pode haver" a fase de
restauração de persona, que é um esforço para manter a superficialidade "; ou mesmo uma fase
mais longa destinada a não promover a individuação, mas trazer o que Jung caricaturou como "a
restauração negativa da persona" - isto é, uma reversão para o status quo.
Restauração
A recuperação, o objetivo da individuação, "não é apenas alcançada pelo trabalho nas figuras
interiores, mas também, como condição sine qua non, por uma readaptação na vida exterior" -
incluindo a recriação de uma nova e mais viável persona. "Desenvolver uma personalidade mais
forte ... pode parecer inautêntica, como aprender a" desempenhar um papel "... mas, se alguém não
puder desempenhar um papel social, sofrerá". Assim, um objetivo para a individuação é que as
pessoas "desenvolvam uma personalidade mais realista e flexível que as ajude a navegar na
sociedade, mas não colide nem esconda o seu eu verdadeiro". Eventualmente, "na melhor das
hipóteses, a persona é apropriada e de bom gosto, um verdadeiro reflexo da nossa individualidade
interior e do nosso sentido exterior do eu".
Ausência
A alternativa é suportar viver com a ausência da persona - e para Jung "o homem sem personalidade
... é cego para a realidade do mundo, que para ele tem apenas o valor de um playground divertido ou
fantástico". Inevitavelmente, o resultado do "fluxo do inconsciente para o reino consciente,
simultaneamente com a dissolução da 'persona' e a redução da força diretiva da consciência, é um
estado de equilíbrio psíquico perturbado". Aqueles presos em tal estágio permanecem "cegos para o
mundo, sonhadores sem esperança ... Cassandras espectrais temiam por sua falta de tato,
eternamente incompreendida".
_________. Persona. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Persona_(psicologia). Modificada em 22/09/2021 às 17:39. Acessada em
08/10/2021 às 19:30.
Self na psicologia junguiana
O ponto central é o Ego, enquanto o Self é ambos o todo e o ponto central.
O Self ou si mesmo na psicologia junguiana é um dos arquétipos junguianos, significando a
unificação do consciente e do inconsciente em uma pessoa e representando a psique como um
todo.[1]
O Self, de acordo com Carl Jung, é percebido como o produto da individuação, que na sua opinião é
o processo de integração da personalidade. Para Jung, o Self é simbolizado pelo círculo
(especialmente quando dividido em quatro quadrantes, chamado quaternidade),[2] o quadrado ou a
mandala.[3]
Centros gêmeos
A ideia de que existem dois centros da personalidade distingue a psicologia junguiana. O ego é visto
como o centro da consciência, enquanto o Self é definido como o centro da personalidade total, que
inclui a consciência, o inconsciente e o ego; o Self é o todo e o centro. Enquanto o ego é um centro
autônomo do círculo contido no todo, o Self pode ser entendido como o círculo maior.[3][4]
Emergência do Self
Jung considerou que, desde o nascimento, todo indivíduo tem um senso original de totalidade – do
Si mesmo – , mas que, com o desenvolvimento, uma consciência do ego separada se cristaliza a
partir do sentimento original de unidade.[5] Esse processo de diferenciação do ego fornece a tarefa
da primeira metade do curso da vida, embora os junguianos também considerassem a saúde
psíquica dependente de um retorno periódico ao sentido do Self, algo facilitado pelo uso de mitos,
cerimônias de iniciação e ritos de passagem.[5]
Retorno ao Self: individuação
Depois que a diferenciação do ego foi alcançada com sucesso e o indivíduo está firmemente
ancorado no mundo externo, Jung considerou que uma nova tarefa então surge para a segunda
metade da vida – um retorno e uma redescoberta consciente do Eu: individuação. Marie-Louise von
Franz afirma que "os processos reais de individuação – o consciente chegar a um termo com o
próprio centro interior (núcleo psíquico) ou o Self – geralmente começam com um ferimento na
personalidade".[6] O ego atinge um impasse de um tipo ou de outro; e precisa pedir ajuda para o que
ela chamou de "uma espécie de tendência oculta de regulação ou direção ... [um] centro
organizador" na personalidade: "Jung chamou esse centro de 'Self' e o descreveu como a totalidade
de toda a psique, para distingui-lo do 'ego', que constitui apenas uma pequena parte da psique".[7]
Sob a orientação do Self, surge uma sucessão de imagens arquetípicas,[8] gradualmente
aproximando cada vez mais seus aspectos fragmentários do Self da sua totalidade. O primeiro a
aparecer, e o mais próximo do ego, seria a sombra ou o inconsciente pessoal – algo que é ao
mesmo tempo o primeiro representante da personalidade total[9] e que às vezes pode, de fato, estar
em conflito com o Si mesmo.[10] A seguir, aparecerão a Anima e o Animus, a imagem da alma, que
novamente, por uma espécie de atalho psicológico, pode ser tomada como idêntica a todo o Self.[11]
Idealmente, no entanto, o animus ou anima passa a desempenhar um papel mediador entre o ego e
o Self.[12] O terceiro arquétipo principal a emergir é a figura de Mana do velho sábio/velha sábia[13]
– um representante do inconsciente coletivo ainda mais próximo do Self.[14]
Depois disso, vem o arquétipo do próprio Self – o último ponto no caminho para a autorrealização da
individuação.[15] Nas palavras de Jung, "o Self... abraça a consciência do ego, a sombra, a anima e
o inconsciente coletivo em extensão indeterminável. Como uma totalidade, o self é uma coincidentia
oppositorum; portanto, é brilhante e escuro e, no entanto, nenhum dos dois".[16] Alternativamente,
ele afirmou que "o Self é o homem total e atemporal ... que representa a integração mútua entre
consciente e inconsciente".[17] Jung reconheceu muitas imagens de sonho como representando o
eu, incluindo uma pedra, a árvore do mundo, um elefante e o Cristo.[18]
Perigos do Self
Von Franz considerou que "o lado sombrio do Self é a coisa mais perigosa de todas, precisamente
porque o Self é o maior poder da psique. Ele pode fazer com que as pessoas 'girem' fantasias
megalomaníacas ou outras fantasias ilusórias que as alcançam", de modo que a vítima "pensa com
entusiasmo crescente que compreendeu os grandes enigmas cósmicos; portanto, perde todo o
contato com a realidade humana."[19]
Na vida cotidiana, o Si mesmo pode ser projetado em figuras poderosas como o estado, Deus, o
universo ou o destino.[20][21] Quando essas projeções são retiradas, pode haver uma inflação
destrutiva da personalidade – um contrapeso potencial a isso sendo, no entanto, os aspectos sociais
ou coletivos do Self.[22]
Crítica ao conceito junguiano de Self
Young-Eisendrath e Hall escrevem que "no trabalho de Jung, o self pode se referir à noção de
individualidade subjetiva inerente, à ideia de um centro abstrato ou princípio de ordenação central e
à descrição de um processo que se desenvolve ao longo do tempo".[23]
Fritz Perls objetou que “muitos psicólogos gostam de escrever o self com um S maiúsculo, como se
o self fosse algo precioso, algo extraordinariamente valioso. Eles vão à descoberta do self como uma
escavação de tesouros. O self não significa nada além de algo como é definido pela alteridade”.[24]
_________. Self. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Self_na_psicologia_junguiana. Modificada em 01/09/2021 às 14:32. Acessada em
08/10/2021 às 19:30.
Sombra (psicologia)
Conceitos Junguianos
Carl Gustav Jung foi um dos maiores estudiosos da vida interior do homem e tomou a si mesmo
como matéria prima de suas descobertas - suas experiências e suas emoções estão descritas no
livro "Memórias, Sonhos e Reflexões"
Jung realizou um avanço teórico quando resolveu se dedicar a descrever a psique de um ponto de
vista mais dinâmico e menos estrutural. Na segunda década do século XX, desenvolveu o conceito
de energia psíquica e passou a focalizar funções e processos, sendo o mais importante deles o de
individuação. Sua ênfase recaiu, sobretudo, sobre a relação, sempre presente e muito dinâmica,
entre a consciência e o inconsciente. A consciência é definida de uma forma em que o aspecto
dinâmico e relacional passou a ser o central: “A consciência pode até ser igualada à relação entre o
eu e os conteúdos psíquicos”. Para Jung, o inconsciente é a matriz psíquica básica que oferece a
cada ser humano um manancial de possibilidades para constituição de sua personalidade, na
medida em que embasa suas maneiras de apercepção das situações que vive na relação com a
mãe, a família, o meio social, suas características físicas, elementos da cultura e, também, com suas
próprias ideias e emoções.
O inconsciente coletivo pode ser visto como a “mãe” da consciência, que a gesta e deixa nascer
depois de um processo em que o ego, seu centro, vai se formando pouco a pouco durante a infância,
a partir das experiências sendo vividas, no meio em que se desenvolve a criança. O próprio ego,
centro da consciência, é definido por Jung como um complexo, dada sua maneira de se constituir,
que é a mesma de todos os complexos. Tem de específico o fato de ter como arquétipo embasador
o próprio self, isto é, o arquétipo da totalidade psíquica, o que faz com que ele assuma um senso de
identidade pessoal e, uma vez constituído, possa dispor de certo livre-arbítrio, na medida em que
tem para si uma parcela própria de energia psíquica.
Paralelamente à constituição do campo da consciência e do complexo do ego, vai-se formando o
inconsciente pessoal, fruto do recalque de conteúdos incompatíveis com a consciência que está
sendo desenvolvida. O inconsciente pessoal corresponde ao que Jung posteriormente passa a
chamar de sombra pessoal.
Sombra
A sombra abarca além dos complexos, conteúdos esparsos que correspondem a percepções
subliminares, isto é, aqueles que compõem as situações vividas mas de maneira que não atingem o
patamar mínimo para serem assimilados pela consciência. A sombra é a companheira inevitável da
consciência, a qual é equiparada com a luz que ilumina e permite discriminações mais acuradas. A
sombra dá conta daquilo que o ego não assimila nas vivências pessoais, e mantém tais conteúdos a
uma certa distância dele, mas com a possibilidade de virem a se tornar conscientes no futuro.
Enquanto instância psíquica, ela é fundamental, em si um arquétipo, coadjuvante a todo momento do
funcionamento da consciência que é, inerentemente, limitado. Pode-se considerar, também, uma
sombra arquetípica, responsável pelos conteúdos humanos gerais, que a cultura não consegue
assimilar à consciência coletiva. Cada um de nós tem conteúdos que dificilmente alcançarão o limiar
da consciência. Além disso, a relação da sombra com o ego é intensamente dinâmica e presente ao
longo da vida. Embora ele não possa considerá-la de maneira a reconhecer seus conteúdos, ela se
mantém presente e operante o tempo todo.
Persona
Construída em paralelo ao ego e à sombra desde o início da vida, a persona é a instância psíquica
responsável pela interação com os outros e com o meio de maneira geral. O termo persona refere-se
à máscara usada no teatro grego antigo, através da qual o ator fazia sua voz amplificar-se e
espalhar-se pelo ambiente. Manifesta-se nos papéis que desempenhamos na vida, abrangendo
também nossas maneiras de fazê-lo. É um recorte que consiste, segundo Jung, num segmento mais
ou menos arbitrário da psique coletiva, mas havendo nele algo de pessoal. A persona é a estrutura
que tem o compromisso de expressar algo de nossa individualidade num contexto pautado por
códigos sociais e por variáveis das outras pessoas. Forma-se inicialmente por meio da imitação dos
mais próximos, de maneira inconsciente, podendo e sendo desejável que vá, pouco a pouco, sendo
conscientizada no maior número possível de seus aspectos, para que se torne flexível e adequada,
fruto também da escolha egoica, e sirva a cada momento às demandas do processo de individuação.
Nossos papéis sociais ilustram aspectos da persona. Cada profissão tem sua persona, pois a cultura
define, em grande medida, o que se espera dela enquanto maneira de ser e de interagir. A persona
consiste numa estrutura arquetípica, cuja principal função é possibilitar a interação do indivíduo com
os outros, atendendo, por um lado, a papéis socialmente estabelecidos, e, por outro, assumindo uma
expressão pessoal ao fazê-lo. Ela é dinâmica e constantemente requer atualizações.
Individuação
O que Jung descreve como processo de individuação frequentemente refere-se à possibilidade de
personificar elementos do inconsciente que se apresentam para facilitar o estabelecimento de uma
relação dialógica e dialética entre eles e a consciência. Por isso ele valorizava tanto os símbolos que
se configuravam nas vivências, e, também, a própria imaginação como faculdade psíquica, em prol
da individuação. Um caminho que leva a uma diferenciação crescente da personalidade e ao
desenvolvimento da dimensão pessoal de forma mais consistente.
Nesse caminho, a ideia de Jung é que a pessoa se torna mais completa, o que não significa ser mais
perfeita; mais ela mesma e autêntica, o que não significa ser mais egoísta; mais participante de
maneira ética, compromissada, singular e significativa em seu contexto e relações, o que não
significa ser mais conformada. Para percorrer esse caminho é preciso ego e self, determinação da
vontade e deliberação da consciência e, também, consideração pelo imponderável, irracional e
imprevisível. É preciso que ambos se ponham em uma relação criativa, de reconhecimento e
interação.
O self, como concebido por Jung, tem intrinsecamente a função de constituir um centro e promover a
autorregulação psíquica. O ego, por sua vez, precisa, antes de mais nada, ser formado, o que se dá
paulatinamente ao longo da infância, para depois continuar se transformando ao longo da vida, no
sentido de desempenhar o papel de importante referência psíquica, na medida em que se abre às
vivências simbólicas e busca formas de incluí-las, discriminá-las e assimilá-las. A relação entre as
duas instâncias torna-se o foco de atenção do terapeuta e de apoio ontológico e existencial da
pessoa. E ao ego resta, ainda, o desafio do sacrifício de si próprio em alguns aspectos, sempre que
esta se apresentar como a solução para a totalidade em processo de individuação.
_________. Sombra. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Sombra_(psicologia). Modificada em 14/09/2019 às 14:01. Acessada em
08/10/2021 às 19:36.
Anima e Animus
A anima e o animus são descritos na escola de psicologia analítica de Carl Jung como parte de sua
teoria do inconsciente coletivo. Jung descreveu o animus como o lado masculino inconsciente de
uma mulher, e a anima como o lado feminino inconsciente de um homem, cada um transcendendo a
psique pessoal. A teoria de Jung afirma que a anima e o animus são os dois principais arquétipos
antropomórficos da mente inconsciente, em oposição à função teriomórfica e inferior dos arquétipos
das sombras. Ele acreditava que eles são os conjuntos de símbolos abstratos que formulam o
arquétipo do Self (Si Mesmo).
Na teoria de Jung, a anima compõe a totalidade das qualidades psicológicas femininas inconscientes
que um homem possui e o animus as masculinas possuídas por uma mulher. Ele não acreditava que
eles fossem um agregado de pai ou mãe, irmãos, irmãs, tias, tios ou professores, embora esses
aspectos do inconsciente pessoal possam influenciar a anima ou o animus de uma pessoa. Para que
a personalidade fique bem ajustada é necessário um equilíbrio entre anima e animus, ou seja: o lado
feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher devem ser
integrados ser expressos na consciência e nas atitudes.
Jung acreditava que a sensibilidade de um homem costuma ser menor ou reprimida e, portanto,
considerada a anima como um dos complexos autônomos mais significativos. Jung acreditava que a
anima e o animus se manifestavam aparecendo nos sonhos e influenciavam as atitudes e interações
de uma pessoa com o sexo oposto. Jung disse que "o encontro com a sombra é a 'obra de aprendiz'
no desenvolvimento do indivíduo … aquele com a anima é a 'obra-prima'".[1] Jung via o processo da
anima como uma das fontes de capacidade criativa, sendo relacionada ao papel das musas na
poesia. Refletindo sobre experiências românticas e visões psíquicas de seu conteúdo inconsciente
ao longo de sua vida, Jung buscou explicar o sentimento do amor identificando esses conceitos
como imagens contrassexuais (do sexo oposto) internas ao ser humano, baseadas nas quais
desenvolvem-se a afinidade, projeção, transformação e integração do indivíduo, e ele associou a
anima e o animus a símbolos alquímicos de conjunção, encontrando sua presença também nas
imagens das mitologias e contos.[2]
Origem
Jung postulou uma estrutura inconsciente que representa a parte sexual oposta de cada indivíduo;
ele denomina tal estrutura de Anima no homem e Animus na mulher. Esta estrutura psíquica básica
funciona como um ponto de convergência para todo material psíquico que não se adapta à
auto-imagem consciente de um indivíduo como homem ou mulher. Portanto, na medida em que uma
mulher define a si mesma em termos femininos, seu animus vai incluir aquelas tendências e
experiências dissociadas que ela definiu como masculinas.[3] "Todo homem carrega dentro de si a
eterna imagem da mulher, não a imagem desta ou daquela mulher em particular, mas uma imagem
feminina definitiva. Esta imagem é...uma marca ou ''arquétipo'' de todas as experiências ancestrais
do feminino, um depósito, por assim dizer, de todas as impressões já dadas pela mulher...Uma vez
que esta imagem é inconsciente, ela é sempre inconscientemente projetada na pessoa amada e é
uma das principais razões ou aversões apaixonadas."[4]
Anima
Anima é uma palavra originada do latim e foi originalmente usada para descrever ideias como
respiração, alma, espírito ou força vital. Jung começou a usar o termo no início dos anos 20 para
descrever o lado feminino interno dos homens.[5]
''Um bom exemplo da Anima como uma figura interior da psique masculina é encontrado nos
feiticeiros e profetas (xamãs) dos esquimós e de outras tribos árticas. Alguns chegam mesmo a usar
roupas femininas, ou seios desenhados nas roupas, de modo a evidenciar o seu interior feminino,
que lhes vai permitir entrar em contato com “o país dos espíritos” (isto é, com o que chamamos
inconsciente)."[6]
Animus
Animus é originário do latim, em que era usado para descrever ideias como alma racional, vida,
mente, poderes mentais, coragem ou desejo.[7] No início do século XIX, animus era usado para
significar "temperamento" e era tipicamente usado em um sentido hostil. Em 1923, começou a ser
usado como um termo na psicologia junguiana para descrever o lado masculino das mulheres.
Níveis de desenvolvimento da anima
Jung acreditava que o desenvolvimento da anima possui quatro níveis distintos, os quais em "A
psicologia da transferência" ele nomeou Eva, Helena, Maria e Sofia. Em termos gerais, todo o
processo de desenvolvimento da anima em um homem é sobre o sujeito masculino que se abre à
emocionalidade e, dessa maneira, uma espiritualidade mais ampla, criando um novo paradigma
consciente que inclui processos intuitivos, criatividade e imaginação e sensibilidade psíquica em
relação a ele próprio e outros onde talvez não existisse anteriormente.
Eva
A primeira é Eva, nomeada segundo o relato de Gênesis sobre Adão e Eva. Ela se trata do
surgimento do objeto de desejo de um homem. A anima está completamente ligada à mulher como
fornecedora de alimento, segurança e amor, puramente biológica num sentimento de posse.[8]
O homem nesse nível de anima não pode funcionar bem sem uma mulher e é mais provável que
seja controlado por ela. Ele é frequentemente impotente ou não tem desejo sexual.[9]
Helena
A segundo é Helena, uma alusão a Helena de Troia na mitologia grega. Esta fase ainda é dominada
pelo Eros sexual, mas ganha dimensão romântica e estética e nela as mulheres são valorizadas em
sua individualidade, vistas como capazes de sucesso mundano e de serem auto-suficientes,
inteligentes e perspicazes, mesmo que não sejam totalmente virtuosas. Esta segunda fase pretende
mostrar um forte cisma nos talentos externos (negócios cultivados e habilidades convencionais) com
falta de qualidades internas (incapacidade para a virtude, falta de fé ou imaginação).[8]
Maria
A terceira fase é Maria, nomeada segundo o entendimento teológico cristão da Virgem Maria (mãe
de Jesus). O Eros passa a ser devocional e espiritualizado, atingindo valor religioso. Nesse nível, as
mulheres agora podem parecer como possuindo virtude pelo homem que as percebe (mesmo que de
maneira esotérica e dogmática), na medida em que certas atividades consideradas conscientemente
não-virtuosas não podem ser aplicadas a ela.[8]
Sofia
A quarta e última fase do desenvolvimento da anima é Sofia, nomeada segundo a palavra grega
para sabedoria. A integração completa ocorreu agora, o que permite que as mulheres sejam vistas e
relacionadas como indivíduos particulares que possuem qualidades positivas e negativas.[8] O
aspecto mais importante deste nível final é que, como sugere a personificação "Sabedoria", a anima
agora é desenvolvida o suficiente para que nenhum objeto possa conter total e permanentemente as
imagens com as quais está relacionada.
Níveis de desenvolvimento do animus
Jung se concentrou mais na anima do homem e escreveu menos sobre o animus da mulher. Jung
acreditava que toda mulher tem um animo análogo em sua psique, sendo este um conjunto de
atributos e potenciais masculinos inconscientes. Ele via o animus como sendo mais complexo que a
anima, postulando que as mulheres têm uma série de imagens de animus, enquanto a anima
masculina consiste apenas em uma imagem dominante.
Jung afirmou que existem quatro níveis paralelos de desenvolvimento do animus em uma
mulher.[10]
Homem de mero poder físico
O animus "aparece pela primeira vez como uma personificação do mero poder físico - por exemplo,
como um campeão atlético ou homem musculoso, como 'o herói fictício da selva Tarzan'".[11]
Homem de ação ou romance
Na próxima fase, o animus "possui iniciativa e capacidade de ação planejada...o homem romântico -
o poeta britânico do século XIX Byron; ou o homem de ação - o americano Ernest Hemingway, herói
de guerra, caçador, etc."[12]
Homem como professor, clérigo, orador
Na terceira fase "o animus se torna o verbo, aparecendo frequentemente como professor ou clérigo
... o portador da palavra - Lloyd George, o grande orador político".[12]
O homem como guia espiritual
"Finalmente, em sua quarta manifestação, o animus é a encarnação do significado. Nesse nível mais
alto, ele se torna (como a anima) um mediador da...profundidade espiritual".[13] Jung observou que
"na mitologia, esse aspecto do animus aparece como Hermes, mensageiro dos deuses; nos sonhos,
ele é um guia útil". Como Sophia, esse é o nível mais alto de mediação entre a mente inconsciente e
a consciente. No livro The Invisible Partners, John A. Sanford disse que a chave para controlar a
anima/animus é reconhecê-la quando ela se manifesta e exercitar nossa capacidade de discernir a
anima/animus da realidade.[14]
Anima e animus comparados
Os quatro papéis não são idênticos com os gêneros revertidos. Jung acreditava que, embora a
anima tendesse a aparecer como uma personalidade feminina relativamente singular, o animus pode
consistir em uma conjunção de múltiplas personalidades masculinas: "desse modo, o inconsciente
simboliza o fato de que o animus representa um elemento coletivo e não pessoal".[15]
O processo de desenvolvimento do animus lida com o cultivo de uma ideia de eu independente e
não socialmente subjugada, incorporando-se um verbo mais profundo (conforme uma perspectiva
existencial específica) e em se manifestando esse verbo. Para esclarecer, isso não significa que um
sujeito feminino se torne mais estabelecido em seus caminhos (já que esse verbo é rico em
emocionalidade, subjetividade e dinamismo, assim como uma anima bem desenvolvida), mas que
ela está mais consciente internamente do que ela acredita e sente e é mais capaz de expressar
essas crenças e sentimentos. Assim, o "animus em sua forma mais desenvolvida às vezes...a torna
ainda mais receptiva do que um homem a novas ideias criativas".[16]
Os estágios finais do desenvolvimento do animus e da anima têm qualidades dinâmicas
(relacionadas ao movimento e fluxo desse processo contínuo de desenvolvimento), qualidades
abertas (não há ideal aperfeiçoado estático ou manifestação da qualidade em questão) e qualidades
pluralistas (que transcendem a necessidade de uma imagem singular, pois qualquer sujeito ou objeto
pode conter vários arquétipos ou até papéis aparentemente antitéticos). Elas também formam pontes
para as próximas figuras arquetípicas a emergir, à medida que "o inconsciente muda novamente seu
caráter dominante e aparece em uma nova forma simbólica, representando o Eu".[17] - os arquétipos
da Velha Sábia/Velho Sábio.
Entre neojunguianos, pode ocorrer a afirmação de que ambos anima e animus são polaridades
presentes tanto em homens quanto em mulheres, com Jung tendo considerado um "animus da
anima" em homens, em sua obra Aion e em uma entrevista em que ele diz:
“ "Sim, se um homem realiza o animus de sua anima, então o animus é um substituto para o
velho homem sábio. Veja, o ego dele está em relação ao inconsciente, e o inconsciente é
personificado por uma figura feminina, a anima. Mas no inconsciente há também uma figura
masculina, o velho sábio, e essa figura está relacionada à anima como seu animus, porque ela é
uma mulher. Assim, alguém poderia dizer que o velho sábio estava exatamente na mesma posição
que o animus para uma mulher."[18]
Cuidados junguianos
Os junguianos alertaram que "toda personificação do inconsciente - a sombra, a anima, o animus e o
Eu - tem ambos aspectos claro e escuro....a anima e o animus têm aspectos duplos: podem trazer
desenvolvimento vivificante. e criatividade para a personalidade, ou podem causar petrificação e
morte física".[19]
Um perigo era o que Jung denominou "invasão" do consciente pelo arquétipo inconsciente -
"Possessão causada pela anima...mau gosto: a anima se envolve com pessoas inferiores".[20] Jung
insistiu que "um estado de possessão da anima ... deve ser evitado. A anima é assim forçada ao
mundo interior, onde ela funciona como o meio entre o ego e o inconsciente, assim como a persona
entre o ego e o meio ambiente".[21]
Alternativamente, o excesso de consciência da anima ou do animus poderia fornecer uma conclusão
prematura do processo de individuação - "uma espécie de curto-circuito psicológico, a identificar o
animus pelo menos provisoriamente com a totalidade".[22] Em vez de se contentar com uma posição
intermediária, o animus procura usurpar "o eu, com o qual o animus do paciente se identifica. Essa
identificação é uma ocorrência regular quando a sombra, o lado escuro, não foi suficientemente
realizada".
_________. Anima e Animus. Acessível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Anima_e_Animus. Modificada em 10/03/2020 às 01:47. Acessada em
08/10/2021 às 19:41
Teoria da personalidade
A teoria da personalidade tem por objetivo organizar o conhecimento a respeito da personalidade de
tal maneira que a grande quantidade de informação gerada pela pesquisa científica seja organizada
de maneira sistemática e coerente e novas hipóteses possam ser geradas para uma futura
comprovação.[1]
A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da nossa vida, e uma elaboração
da nossa história, da forma que sentimos e interiorizamos as nossas experiências, acompanha e
reflecte a maturação psicológica. Em suma, a personalidade é um processo activo e que intervém
em diferentes factores.
Diversos autores se dedicaram à pesquisa da personalidade, cada um com ênfases teóricas e
metodológicas diferentes, o que os levou muitas vezes a resultados completamente distintos. Apesar
de todas as diferenças, no entanto, todos os teóricos procuram oferecer resposta a algumas
perguntas básicas:[1]
1. Estrutura da personalidade: Como a personalidade é estruturada e pode ser estudada? Quais
são suas unidades básicas?
2. Processos da personalidade: Quais são e como funcionam os aspectos dinâmicos da
personalidade?
3. Crescimento e desenvolvimento da personalidade: Como a personalidade se desenvolve para
formar a pessoa que somos hoje?
4. Psicopatologia e modificação comportamental: Como as pessoas podem se modificar e
porque algumas pessoas têm mais dificuldades?
Estrutura da personalidade
A expressão "estruturas da personalidade" refere-se àquelas características estáveis da
personalidade. As diferentes teorias da personalidade se diferenciam quanto às estruturas
consideradas como base para o estudo:[1]
1. Traços ou disposições referem-se à consistência das reações de um indivíduo a diferentes
situações. Por exemplo, quando se diz que uma pessoa é "aberta", quer-se dizer que ela se
comporta dessa maneira em diferentes situações. Em geral os traços psicológicos são vistos
como dimensões contínuas, ou seja, todas as pessoas têm mais ou menos de determinada
característica; exemplos de modelos que se baseiam neles são a teoria pentafatorial do Big
Five e a divisão das dimensões de temperamento e caráter por C. Robert Cloninger no
Inventário de Temperamento e Caráter.[2]
2. Tipos psicológicos referem-se a um padrão estável de traços de personalidade. Tipos
psicológicos são considerados mais como categorias do que como dimensões. Por exemplo
os termos "introvertido" e "extrovertido" foram criados por Carl G. Jung como descrição de
dois tipos psicológicos, ou seja, algumas pessoas são extrovertidas e outras introvertidas.
Posteriormente os termos foram tomados por Hans Eysenck para descrever os dois extremos
de uma dimensão, de tal forma que qualquer pessoa pode ser classificada como mais ou
menos extrovertida. O construto de Eysenck, apesar de baseado em tipos psicológicos de
Jung, é na verdade um traço de personalidade.
3. Outros autores preferem ver personalidade como sistema ou conjunto de sistemas, ou seja,
eles não procuram características isoladas de uma pessoa (abertura, extroversão) mas
procuram observar como tais características, e mesmo a pertinência a determinado tipo
psicológico, são geradas através da interação entre diferentes processos mentais (emoções,
pensamento, cognições etc.). Tais autores, assim, não vêm "extroversão" como algo que uma
pessoa tem ou que uma pessoa é, mas uma descrição da forma como a pessoa se comporta
e é resultado da interação entre as formas de pensar e sentir do indivíduo.
As diferentes teorias da personalidade não se diferenciam somente quanto às unidades que tomam
como base, mas também quanto à relação que há entre elas. Alguns autores consideram, por
exemplo, que diferentes traços de personalidade se relacionam de maneira hierárquica. Existem
duas formas de relação hierárquica entre duas características: (1) característica A é um exemplo da
característica B (ex. ser "sociável", "conversador" são exemplos de "extroversão) ou (2)
característica A serve a característica B (ex. ser "pontual" está a serviço (é um caminho para) ser
"consciencioso"). Já outros autores como Albert Bandura consideram que as diferentes estruturas e
sistemas da personalidade podem se influenciar mutuamente sem necessariamente serem
organizadas hierarquicamente.
Processos da personalidade
As diversas teorias da personalidade diferenciam-se também quanto à maneira como explicam a
dinâmica da personalidade, ou seja, a motivação e outros aspectos que levam à ação observável.
Algumas teorias, ditas hedonistas, afirmam que o comportamento humano tem dois objetivos
principais: a busca de prazer e evitar sensações desagradáveis. Assim as necessidades humanas
surgem de um aumento da pressão interna (desagradável) que exige uma solução (ver pulsões) ou
ainda da busca de um estado de maior prazer, por exemplo, de fama, dinheiro, poder,
reconhecimento, etc. Outras teorias, pelo contrário, partem do princípio de que o ser humano busca
sobretudo sua autorrealização, ou seja, seu desenvolvimento pleno enquanto pessoa. Segundo tais
teóricos, o desenvolvimento de si-mesmo possui um valor tão importante para o ser humano, que ele
estaria disposto aceitar uma aumento de tensão e estresse para atingi-lo. Outras teorias dão ainda
maior ênfase aos processos cognitivos, ao esforço do indivíduo de compreender a si mesmo e ao
mundo que o cerca. Para tais autores o maior esforço do ser humano não está tanto direcionado ao
hedonismo ou à autorrealização, mas à busca de consistência interna e compreensão do mundo.
Isso significa aqui, que o ser humano está empenhado a construir (cognitivamente) uma autoimagem
e uma imagem do mundo que o cerca consistentes, mesmo que à custa de dores e desprazeres.[1]
No correr do desenvolvimento da psicologia da personalidade a pesquisa deu ênfase maior ora a
uma tipo de motivação ora a outro. No entanto a pesquisa recente parece apontar para um quadro
mais complexo, em que os diferentes tipos de motivação desempenham um papel de importância
variada, mas sempre em interação.
Crescimento e desenvolvimento
As diferentes teorias da personalidade se diferenciam também, quanto à maneira com que explicam
crescimento e desenvolvimento e ao valor que dão aos diferentes fatores que desempenham um
papel nesse processo:[1][3]
1. Fatores genéticos e biológicos
2. Fatores psicológicos - a história pessoal do indivíduo, experiências de vida, etc.
3. Fatores ambientais - cultura, classe social, família, contato com coetâneos, etc.
Quais são os fatores reais que influenciam a personalidade?
Psicopatologia e modificação comportamental
As primeiras teorias da personalidade surgiram em um contexto clínico e com um fim muito prático:
oferecer um fundamento teórico para os transtornos mentais e seu tratamento. As teorias
posteriores, mesmo não tendo se originado em um contexto clínico, oferecem também novas
possibilidades para a psicoterapia. A capacidade de determinada teoria de guiar e enriquecer a
prática terapêutica é um dos principais elementos para uma avaliação da relevância dessa teoria.[1]
O consciente (al. das Bewusste), que abarca todos os fenômenos que em determinado
momento podem ser percebidos de maneira consciente pelo indivíduo;
O pré-consciente (al. das Vorbewusster), refere-se aos fenômenos que não estão conscientes
em determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se ocupar com eles;
O inconsciente (al. das Unbewusster), que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não
são conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. (O termo
subconsciente é muitas vezes usado como sinônimo, apesar de ter sido abandonado pelo
próprio Freud.)
Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve inconscientemente. Ele
foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente esse território. Segundo ele, os desejos e
pensamentos humanos produzem muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não
fossem armazenados no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de estabilização
da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o inconsciente é alógico (e por isso aberto
a contradições); atemporal e aespacial (ou seja, conteúdos pertencentes a épocas ou espaços
diferentes podem estar próximas). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos
inconscientes.
Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a compreensão da motivação na
psicanálise clássica: muitos desejos, sentimentos e motivos são inconscientes, por serem muito
dolorosos para se tornarem conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a
experiência consciente da pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos
aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão, sentimento de culpa. Assim, os
sentimentos, sonhos, desejos e motivos inconscientes influenciam e guiam o comportamento
consciente.
Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica)
Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da personalidade, em que o aparelho
psíquico se organiza em três estruturas:[2][3]
Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica, a libido. O id é formado
pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. Ele funciona segundo o
princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja, busca sempre o que produz prazer e evita o
desprazer. Não faz planos, não espera, busca uma solução imediata para as tensões, não
aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma
satisfação na fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id
desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego, irracional,
antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente inconsciente.
Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que seus
impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o mundo externo, por intermédio do
chamado princípio da realidade. É esse princípio que introduz a razão, o planejamento e a
espera ao comportamento humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em
que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de
consequências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização inicialmente
entre os desejos do id e a supervisão/realidade/repressão do superego.
Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir
como suas;
Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma característica de outro. Uma
forma especial de identificação é a identificação com o agressor;