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Estratégias de Ensino II

Resenha Crítica
Fadi Simon de Souza Magalhães
Licenciatura em Física, CCT, UENF.

Esta é uma resenha da apresentação “Física ao Vivo – Física na BNCC: um breve


histórico, desafios e possibilidades”, realizada no dia 08/09/2021 no YouTube. A Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que tem o
objetivo de definir um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que
todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica
e é válida em todo território nacional [1]. O objetivo da apresentação foi propor uma
discussão acerca do tema “Física na BNCC”. A apresentadora foi a Dra. Cristina Leite,
professora no instituto de física da Universidade de São Paulo (USP) e atualmente
coordenadora do curso de licenciatura em física da USP. A Cristina integrou a equipe de
redatores da BNCC na área de Ciências da Natureza para o ensino fundamental e médio
no período de 2016 à 2018. A Dra. Cristina foi convidada para, a princípio, fazer uma
revisão da BNCC na área de física, em todas as suas modalidades.
As bases legais da BNCC são os marcos legais que dão suporte e fundamentação
legal para o documento. O primeiro marco que auxiliou a criação da BNCC foi a
constituição federal de 1988, que surge como alicerce legal para tudo que diz respeito à
educação básica no Brasil, e já infere no artigo 210 que há a necessidade de que haja um
currículo mínimo nas escolas para o desenvolvimento e a formação de profissionais e
cidadãos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 surge para
definir um currículo mínimo para todas as modalidades de ensino básico no Brasil, com
a especificação das áreas de ensino como ciências da natureza e suas tecnologias, por
exemplo. Outro documento que foi um alicerce legal para a BNCC é o documento das
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), que surge em 1998. Essas
diretrizes são promovidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que promove a
autonomia da construção dos currículos nas escolas. Neste contexto, existem os
Parâmetros Curriculares Nacionais, que não têm caráter obrigatório nas escolas (não são
leis) que surgem para auxiliar a construção desses currículos, como parâmetros e
referências. Em 2014 é estabelecido o Plano Nacional de Educação (PNE) que busca
atingir 20 metas para melhorar a educação básica, em um prazo de 10 anos. A BNCC
surge como uma estratégia específica para atingir 4 destas metas.
No que diz respeito à área de ciências da natureza e suas tecnologias, a versão
atualmente homologada da BNCC foi revisada e alterada por um grupo pequeno de
profissionais das diversas áreas que a compõem. O ensino fundamental foi alterado no
sentido que a temática de ciências da natureza serve de contexto e ferramenta no processo
de alfabetização, e até o 6º ano do fundamental o educador que trabalha com a disciplina
de ciências é o pedagogo, e, a partir do 7º ano, profissionais com formações específicas
assumem o papel de professores destes alunos. Ao longo dos anos iniciais os temas de
ciência vão ganhando complexidade. As temáticas (física, química e biologia) foram
divididas, o que não acontecia nas versões anteriores. Outro destaque feito na
apresentação foi uma solicitação da inclusão de processos e práticas da investigação
científica, que, neste contexto, procura enfatizar a criatividade e curiosidade das crianças
na definição de temáticas e problemas, trabalhar sua comunicação científica e intervir
nestes cenários, além do que era proposto nas versões anteriores, como trabalhar
quantitativamente em laboratório.
O ensino médio teve alterações mais acentuadas, e a Dra. Cristina Leite enfatiza
na apresentação que não houve a possibilidade de trabalhar nos itinerários. Os currículos
da BNCC nas áreas da ciência da natureza foram construídos por pequenos grupos de
profissionais de suas respectivas áreas, tendo enfoque nos conteúdos mais importantes e
essenciais a serem considerados nestes currículos. Logo, houveram diversos desafios em
determinar cada currículo. Neste contexto, houve diálogo com professores do Brasil
inteiro para que, ao serem apresentados ao documento, discutissem a determinação do
que era essencial na área destacada. Um pequeno grupo de leitores críticos, e, neste
momento da apresentação, a Dra. Cristina enfatiza que, para uma melhor versão do
documento, deveriam ter mais membros deste grupo. Diversos processos de avaliação
deste documento em todo processo também foram realizados. Não existe, no documento,
divisão de disciplinas, sendo todas elas apresentadas dentro da área de Ciências da
Natureza da BNCC.
Os possíveis temas do currículo escolar mínimo na área de física, em específico,
no ensino médio, são listados nas tabelas abaixo.
Competência Específica 1
Habilidade Tema
101 Conservação e Transformação de Matéria
e Energia
102 Sistemas Térmicos e Variáveis
Termodinâmicas
103 Radiações: Riscos e Benefícios
104 Composição e Toxicidade de Materiais
105 Ciclos dos Elementos: interferência e
suas consequências
106 Energia Elétrica: geração, transporte,
distribuição e consumo
107 Equipamentos Elétricos e/ou Eletrônicos
Tabela 1. Temas possíveis da área de física na Competência Específica 1 da BNCC, no
que diz respeito à Ciências da Natureza.

Competência Específica 2
Habilidade Tema
201 Analisar e utilizar Modelos Científicos
202 Condições favoráveis e Fatores
Limitantes à Manifestação da Vida
203 Efeitos de intervenções nos Ecossistemas
e nos Seres Vivos
204 Movimento de Objetos na Terra, Sistema
Solar e Universo
205 Utilizar noções de Probabilidade e
Incerteza
206 Preservação e conservação da
Biodiversidade
207 Ações de prevenção e promoção da
Saúde da Juventude
208 Evolução Humana
209 Evolução Estelar, Origem e Distribuição
de Elementos Químicos
Tabela 2. Temas possíveis da área de física na Competência Específica 2 da BNCC, no
que diz respeito à Ciências da Natureza.

Competência Específica 3
Habilidade Tema
301 Enfrentamento de situações-problema
sob uma Perspectiva Científica
302 Promover debates em torno de temas
Científicos e/ou Tecnológicos
303 Estratégias de seleção de fontes
confiáveis de informação
304 Situações controversas sobre a Aplicação
de Conhecimentos Científicos
305 Uso indevido de conhecimentos das
Ciências da Natureza
306 Uso de Equipamentos e Comportamentos
de Segurança
307 Propriedades específicas dos Materiais
308 Funcionamento de equipamentos
Elétricos e/ou Eletrônicos
309 Dependência atual em relação aos
Recursos Fósseis
310 Efeitos de programas de infraestrutura e
serviços básicos
Tabela 3. Temas possíveis da área de física na Competência Específica 3 da BNCC, no
que diz respeito à Ciências da Natureza.

A Prof. Dra. Cristina Leite também menciona acredita ser importante


implementar, nas novas licenciaturas, uma formação de um professor de ciências, ou seja,
com um caráter interdisciplinar. E, em relação às licenciaturas já em andamento, que
houvesse uma ênfase em ciências da natureza, ou seja, que o profissional que atua
diretamente na educação básica de ensino no Brasil tenha formação legal da grande área
Ciências da Natureza.
Definitivamente a BNCC deve ser alterada. Não se sabe ao certo as políticas de
trabalho e interesses por trás da produção da BNCC, mas certamente existem falhas no
método ou formato de produção do documento.
A formação de um professor de ciências vem se mostrando falha por não ter a
possibilidade de ter uma efetiva proposta de investimento de tempo acadêmico por
melhoramento do profissional/sistema de ensino básico. Seriam necessários muitos anos
para que houvesse a formação devida de um profissional que seria capaz de se apropriar
dos conceitos e habilidades distribuídas nas grandes áreas das ciências, o que acaba
inviabilizando a proposta, na minha opinião. Cursos de graduação em tempo hábil comum
entre as licenciaturas atuais com a proposta interdisciplinas já se mostrou incapaz de ser
eficaz na questão de aprofundamento e consolidação dos temas destas grandes áreas.
Os itinerários das áreas específicas (química, física e biologia) não podem ser
realizados por qualquer profissional da educação, mas sim por um licenciado na área
específica, pois um licenciado tem a capacidade de se apropriar dos conceitos e trabalhar
os temas de sua área de formação com propriedade. É mencionado na apresentação que
um licenciado em biologia é mais capaz que outros licenciados na área de Ciências da
Natureza por ter, em sua grade de graduação, disciplinas que os possibilitam mais que
outros, o que eu discordo profundamente.
No futuro, a educação privada e a educação pública podem se distanciar cada vez
mais no passo que a educação privada pode, através de adaptações, providenciar um
currículo muito melhor e eficiente, visto que, atualmente, a porta de entrada para as
universidades mais conceituadas no Brasil ainda é o vestibular tradicional, que, neste
contexto da BNCC, se distancia da proposta do currículo do ensino público. Ainda não
houveram alterações no ENEM com respeito a este sentido, o principal do Brasil hoje.
Países onde a educação básica tem uma liberdade de currículo muito grande e não
tornam obrigatório o ensino das ciências naturais já mostram que o cidadão formado tem
pouca capacidade de trabalhar com esses temas e cada vez mais profissionais estrangeiros
são necessários, visto que, eles tiveram mais incentivo e contato desde a educação básica
e se tornaram grandes potenciais em suas respectivas áreas de atuação.
A BNCC deve sofrer mudanças futuramente, mas também existe a necessidade da
discussão sobre a reforma de todo o ensino médio, o que é bem delicado e deve exigir
atenção de toda comunidade de professores e colaboradores, visando uma preparação
melhor tanto profissionalmente quanto de um currículo mais eficaz para a população,
culminando em uma sociedade melhor.

Referências
1. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular: educação é
a base, 2021. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acesso
em: 22 de Setembro de 2021.

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