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A arqueologia

Em vez de tentar identificar um objeto único e permanente (lembremos da Loucura, em história da


loucura), Foucault sugere que deveríamos estabelecer as regras que determinam o espaço onde os
objetos se perfilam e se transformam (!). Essas regras se manifestam em três níveis:

1. Através das superfícies de emergência: no caso da loucura, trata-se dos lugares onde podem
surgir e se manifestar essas diferenças individuais que serão analisadas, descritas em termos de
enfermidade, anomalia, neurose, psicose, etc. por exemplo: a família, o grupo social, o lugar de
trabalho.

2. Através das instâncias de delimitação: os diferentes estamentos sociais que designam, nomeiam
ou instauram os objetos. Em relação à loucura: a medicina, a justiça penal, a autoridade religiosa,
etc.

3. Através das grades de especificação: os sistemas segundo os quais se separam, opõem-se,


reagrupam-se, ou derivam-se umas das outras as diferentes loucuras como objetos do discurso
psiquiátrico. Por exemplo: o par alma-corop, a vida e a história do indivíduo, etc.

→ a formação dos objetos depende das relações que se estabelecem entre superfícies de
emergência, instâncias de delimitação e grades de especificação e essas relações não são alheias ao
discurso. Elas não explicam como o objeto está constituído, e sim por que em uma determinada
época começou a falar, por exemplo, de determinados comportamentos e condutas em termos de
loucura ou enfermidade mental; como essas condutas e comportamentos foram evidenciados no seio
da família ou do grupo social; como foram designados e circunscritos pelos distintos estamentos
sociais; servindo-se de que esquemas mentais foram classificados ou catalogados. E, sobretudo, que
relações foram estabelecidas entre essas diferentes instâncias. A tais relações, por não serem alheias
ao discurso, podemos chamar de relações discursivas.

Foucault conclui que a unidade do discurso clínico não provém, na realidade, da unicidade das
modalidades enunciativas, mas do conjunto de regras que possibilitaram a coexistência de todas
essas diferentes modalidades enunciativas. Por isso, deveríamos nos interrogar:

1. Acerca do estatuto de quem pode, por regramento ou por tradição, por definição jurídica ou por
aceitação espontânea, pronunciar determinados enunciados. Como o mostra claramente a história da
medicina, a palavra médica não pode ser pronunciada por qualquer indivíduo; seu valor, sua
eficácia e, em certa medida, seu poder terapêutico são indissociáveis do personagem
institucionalizado que a pronuncia. [eu e meu crachá de entrevistadora]

2. Acerca dos âmbitos institucionais que circundam o falante. Ex: o hospital, a biblioteca oficia, o
laboratório.

3. Acerca das diversas maneiras como o sujeito pode situar-se a respeito de determinados objetos ou
grupo de objetos. Esse sujeito pode situar-se como interrogante ou como percipiente ou como
transmissor. Assim, no início do século XIX, o discurso médico foi definido pela organização do
campo perceptivo e da posição que nele podem assumir os sujeitos.

4. Pela maneira como cada uma dessas instâncias se relacionam mutuamente.

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