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Awùrépépé 

(Spilanthes acmella – Jambú/treme treme)

Hoje vou falar sobre uma folha muito importante dentro do culto aos orixás, o jambú. Nas casas de
Candomblé Ketú recebe os nomes de awùrépépé, éurépepe ou ainda oripépe. Pela sua importância é tida
como uma planta de oro, ou seja, de fundamento. Folha ligada aos mistérios da Deusa da Fertilidade,
Oxum. Às vezes é confundida com o bánjókó (Acmella brasiliensis), erva também consagrada a Senhora
dos Rios. Suas flores são consagradas a Exú, orixá da procriação, aquele que promove as uniões. O
jambú costuma crescer em regiões úmidas, estando também, de certa forma, associado a Oxalá, o
Senhor da Criação. Quando observamos esses três aspectos ligados a essa planta
(Fertilidade/Procriação/Criação) conseguimos entender porque ela é tão importante no processo de
iniciação de um iyawo. Oxum é o grande útero que povoa o mundo. Exú é aquele que faz o possível (e o
impossível) para que esse útero seja fecundado, cabendo a Oxalá permitir que possamos ser criados no
mundo espiritual (orun) e assumir o nosso papel no ayé (mundo dos vivos). Podemos dizer que essa folha
carrega em si essa força, que permitirá o nascimento do iyawo dentro do culto aos orixás. O jambú é uma
planta tipicamente brasileira, sendo conhecido por vários nomes dentro da cultura popular: abecedária,
agrião-bravo, agrião-do-brasil, agrião-do-norte, agrião-do-pará, botão-de-ouro, erva-maluca, jabuaçú,
jaburama, jambu-açú, jamaburana, mastruço, nhambu. Dentro do mundo científico são conhecidas
diversas espécies que recebem a denominação de jambú, as principais são: Spilanthes acmella e
Blainvillea acmella. Dentro da medicina popular costuma ser utilizada para diversos fins, como:
antifúngico, anti-séptico, antibacteriano, anestésico, antigripal. É comum entre alguns povos da Amazônia
a mastigação das folhas e flores do jambú para aliviar dores nos dentes.

É interessante notar que esse conhecimento, acumulado principalmente pelas populações tradicionais
como ribeirinhos, grupos indígenas e quilombolas, vem sendo comprovado por diversos estudos
científicos. Alguns desses estudos indicam a presença de alcaloides com propriedades inseticidas,
podendo ser utilizados no combate do Aedes aegypti. Um dos principais compostos químicos presentes
no jambú é o espilantol. Infelizmente para nós, brasileiros, essa substância (espilantol) já foi patenteada
por Norte Americanos e Europeus. Com isso, se quisermos produzir e comercializar remédios e
cosméticos a base do nosso jambú teremos que pedir permissão e pagar a esses países. Por exemplo, já
existem laboratórios estrangeiros trabalhando na produção de cosméticos anti-rugas a base de espilantol.
Esse produto seria aplicado na musculatura subcutânea do rosto, inibindo as contrações musculares de
forma muito semelhante ao botox. Porém teria a vantagem de apresentar um grau de toxicidade menor. É
realmente uma situação lastimável, principalmente se lembrarmos que o conhecimento para se chegar a
esse cosmético provavelmente veio de nossas comunidades tradicionais.
Dentro da culinária da Amazônia e do Pará essa folha é muito apreciada, servindo como base para
diversos pratos, como o pato no tucupi e o tacacá. Ambos são herança de nossos povos indígenas. O
tucupi é um caldo retirado da raiz de mandioca brava, e que leva horas para ficar pronto, tempo
necessário para que perca todo o ácido cianídrico, extremamente tóxico. Já o tacacá é um prato
composto com o tucupi bem quente e misturado com farinha de tapioca, camarão e folhas de jambú.
Quando se come essa iguaria é normal que a língua fique dormente e os lábios comecem a tremer, fato
que justifica o outro nome dessa folha “treme treme”.

Outro fato interessante em relação a esse ewé é a sua utilização em pomadas para aumentar a libido
feminina, servindo assim como estimulante sexual para mulheres. Essa ação se daria principalmente
através do aumento da contração (peristaltismo) da região genital feminina. Um estudo realizado pela
Universidade Federal do Ceará constatou que a pomada de jambú utilizada em um grupo de homens e
mulheres conseguiu aumentar significativamente o desejo sexual e a excitação feminina, assim como o
desejo e a satisfação sexual masculina durante a atividade sexual. Mais um fato que comprova que
nossos mais velhos sabiam muito bem o porquê da sua utilização.

Vocês se recordam do início do texto? Exú/ Oxum/Oxalá (Procriação/Fertilização/Criação).

Embora muitos considerem essa folha como eró (que apazigua) o awùrépépé também pode ser
considerada uma folha gún (que acorda, desperta). Folha poderosa, que cantamos na Sassayin:

Ti éwerépepe

Omi pére pe

Éwerépepe

Okò ni pere pe

Éwerépepe

Omi pére pe

Éwerépepe

Ewerepepe

Água na dosagem certa

Eurepepe

Você não tem na dose certa

Eurepepe

Água na dose certa

Você não tem na dose certa

Ou ainda:

Awùrépépé pèlépèlé beó

Awùrépépé

Aurepepe sensatamente nos abençoe

E também:

Òsányìn Aláwo wa

Sawùrépépé orisá ewé

Òsányìn, Guardião de nosso culto

Suplicamos sua benção, orixá das folhas

oloje iku ike obarainan

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