Sócios de uma modesta empresa herdada, Esdras e Efraim sentiam-se honrados pela responsabilidade concedida a eles e, também, honráveis pelas suas conquistas individuais e coletivas. Bom, quanto mais não seja até um certo momento inesperado. Ambos haviam arquitetado uma família prosaica; sem necessidades, sem demasia. Pais, um orgulhoso e o outro apoquentado, Efraim orgulhoso pelos primeiros passos de sua pequenina e Esdras apoquentado por causa de seu primogênito, recém-nascido, diagnosticado com fibromialgia. - Não sou nada especial; disso estou certo. Sou um homem comum, com pensamentos comuns e estou vivendo uma vida comum. Por que diabo não tenho um filho igual a mim, comum? Não há monumentos dedicados a mim e o meu nome, em breve, será esquecido, mas amarei a minha família com toda a minha alma e coração e, para mim, isso sempre bastará. – exprimiu Esdras (profundamente) Repentinamente, a conjuntura econômica, política e social tornou-se deveras enfática devido a um vírus catastrófico até então desconhecido pelos humanos. Não demorou para que a empresa fosse fechada “temporariamente”. Estava pintando um grave problema pois a empresa era a única fonte de sustento deles. O mundo praticamente parou, exceto, as cobranças financeiras. E como palavras não pagam dívidas, Efraim e Esdras não tiveram escolha, senão trabalhar, as escondidas, arduamente. Cautelosos, afastaram-se de suas famílias para evitar qualquer contato. Estavam exaustos constantemente, porém, nada era em vão. Tinham profusa motivação. Após tempos intermináveis de isolamento social, Efraim recebeu, finalmente, uma notícia bem- intencionada. Sua pequenina conseguiu, pela primeira vez, expressar-se através de palavras. Palavras simples, logicamente. Ele concluiu: - Aprendi, neste período amedrontador, que para os que esperam, o tempo é muito lento. Para os que têm medo, muito rápido. Muito longo para os que lamentam. Para os que festejam, muito curto. Todavia, para os que amam, o tempo é eterno. Sem alternativas para ajustar a empresa, financeiramente, Esdras planejou um contrato que tinha como objetivo o seguinte termo: “Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo seu poder, sob a direção suprema da vontade geral”. A fim de reduzir os gastos fixos da empresa. Esdras comunicou Efraim sobre a sua ideia ousada, o qual logo a apresentou em uma reunião inesperada convocada por ele mesmo, sem consultar o seu sócio. A proposta foi admitida pela maioria dos funcionários. Com o transcorrer desenfreado do tempo, aparentemente, a economia voltava gradualmente aos eixos, possibilitando o reerguimento econômico da empresa. O clima de esperança predominava, porém, é bom ter esperança, mas é ruim depender dela. Contudo, o déficit começou a avultar novamente, progressivamente. Aborrecido pelo seu fracasso, Esdras ainda foi julgado pelo irmão como imprudente. Em meio a toda essa tragédia, a doença incurável do primogênito de Esdras somente degenerava-se e o orçamento ampliava crescentemente, principalmente, graças aos remédios. Não obstante, Efraim levava uma vida serena, aluviada de bem-aventuranças. A esposa de Esdras exigiu que ele buscasse ajuda: - Peça ajuda ao seu irmão Esdras concordou, ainda que receoso da possiblidade de ajuda, por causa do desentendimento entre eles em relação a gestão da empresa: -Efraim, é o seu irmão, preciso, urgentemente, da sua ajuda. O meu salário na empresa é insuficiente para as minhas obrigações, estamos tendo que racionar a... -Quem disse que isso é problema meu, foi você que afundou a nossa herança com aquela ideia lunática. -Mas você que a apresentou, aliás, até isso você esconde. A minha intenção não era... -Não- Disse Efraim (friamente) Desesperado, Esdras, saiu para procurar outro emprego, em busca de um milagre. Entrou em pânico ao se deparar com todos os estabelecimentos comerciais fechados. Infortunadamente, recebeu, enquanto dirigia, uma ligação de sua prezada esposa. -Esdras, ele está sentindo uma dor intensa impossibilitando-o de controlá-la pois a dor pode ser controlado por todo mundo, exceto por quem a sente. Esdras tentou retornar, apressadamente, para a sua casa, no entanto, foi interrompido por um engarrafamento belizário. Chegando em casa, não encontrou nada, a não ser uma mulher chorando e uma pobre criança sem vida. Não suportando viver, cometeu o maior dos crimes, o único que não admite o arrependimento: o suicídio. Seria o suicídio um ato poético, o maior deles?