Você está na página 1de 5

ARTIGO

COMPLEXO TENÍASE/
INTRODUÇÃO

A
maioria das verminoses
são transmitidas de ma-

CISTICERCOSE: UMA REVISÃO.


neira semelhante. As ver-
minoses são transmitidas
por alimentos contaminados, frutas
e verduras mal lavadas, água conta-
minada, carnes cruas ou mal cozidas,
mãos sujas, objetos contaminados,
Rômulo César Clemente Toledo portanto, um maior cuidado básico
Juliana Borges Franco de higiene pode evitar a dissemina-
ção dessas parasitoses (PRAXEDES
Lucimar Silva Freitas 2003).
Carla Katielli A teníase e a cisticercose são ver-
minoses transmitidas pela Taenia. O
Amanda Rodrigues Franco de Freitas complexo teníase/cisticercose é cau-
Instituto Federal do Triângulo Mineiro. Campus Ituiutaba, MG sado pela mesma espécie de cestó-
*romulo@iftm.edu.br dio, em fases diferentes do seu ciclo
de vida. A cisticercose é uma entida-
de clínica provocada pela presença
da forma larvária nos tecidos de su-
ínos, bovinos (outra espécie de tae-
RESUMO nia, Taenia saginata) ou do homem
(FNS, 2017). Em humanos a teníase,
As verminoses são doenças frequentes causadas por diferentes tipos de é também conhecida como solitária,
vermes. A teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas, cau- é provocada pela presença da forma
sadas, respectivamente, pelas Tenia e sua forma larvária Cysticercus cellu- adulta da Taenia saginata ou da Ta-
losae. O complexo teníase/cisticercose é causado pela mesma espécie de enia solium, que se localizam no seu
cestódio, em fases diferentes do seu ciclo de vida. Estas verminoses podem intestino delgado.
contaminar o homem por meio de alimentos contaminados. O controle dessas A Taenia soium e a Taenia sagi-
doenças tem como estratégia fundamental a interrupção do ciclo de vida do nata pertencem à classe Cestoidea,
parasito, por meio de controle higienicossanitário. Neste trabalho realizou-se ordem Cyclophillidea, família Ta-
um levantamento bibliográfico, buscando ressaltar as principais caracterís- enidae e gênero Taenia. Na forma
ticas destas verminoses, sua epidemiologia, forma de diagnóstico e controle larvária (Cysticercus cellulosae da
realizado pela indústria de alimentos para segurança dos consumidores. Taenia solium e Cysticercus bovis da
Palavras-chave: Parasitose. Inspeção de carnes. Controle sanitário. Taenia saginata) causam a teníase.
Na forma de ovo a Taenia saginata
ABSTRACT desenvolve a cisticercose no bovino
e a Taenia solium, no suíno ou no ho-
mem (REY, 1991).
Verminoses are common diseases caused by different types of worms. Te-
A literatura científica traz duas vi-
niasis and cysticercosis are two distinct morbid entities caused, respective-
sões sobre a cisticercose humana. A
ly, by the Tenia and its larval form - Cysticercus cellulosae. The teniasis /
primeira é que a cisticercose humana
cysticercosis complex is caused by the same species of cestode considering
causada por cisticercos de T. saginata
its different stages of its life cycle. Since these verminoses can contaminate
é extremamente rara ou não ocorre,
humans through (contaminated) food, the control of these diseases has as its
(BENENSON, 1992; SCHANTZ et
main strategy the interruption of the life cycle of the parasite, through hygie-
al., 1994; SCHENONE et al., 1982).
nicosanitary control. This work is a bibliographical survey, seeking to highli-
A segunda, admite a possibilidade
ght the main characteristics of these verminoses, its epidemiology, diagnosis
de cisticercose humana por ambas as
and control by the food industry to prevent contamination of consumers.
espécies de tênia (GEMMELL et al.,
Keywords: Parasite. Meat inspection. Sanitary control. 1983; PAWLOWSKI & SCHULTZ,

30
Higiene Alimentar - Vol.32 - nº 282/283 - Julho/Agosto de 2018

1972; REY, 1973; REY, 1991). viáveis o mesmo sofre a ação do suco doença, a neurocisticercose, cisticer-
Este trabalho é uma revisão bi- gástrico, evagina-se e se fixando, por cos podem se alojar no sistema ner-
bliográfica que teve como objetivo meio do escólex, na mucosa do intes- voso do homem e levar até a morte
discorrer sobre os agentes causado- tino delgado, dando origem a tênia (CALASANS, 2009).
res da teníase e cisticercose, bem adulta (FLISSER et al., 2005). O complexo teníase/cisticercose,
como as características destas doen- O homem (hospedeiro definitivo) portanto, é uma zoonose, doença
ças e possíveis medidas para o seu se infecta ao ingerir carne suína mal transmitida do homem para o ani-
controle. cozida ou mal assada contendo os mal e vice-versa. Esta doença ocor-
Ciclo de vida cisticercos vivos. Após três meses da re quando o homem ingere carnes,
Os hospedeiros intermediários, ingestão do cisto o homem começa verduras e legumes contaminados com
T. solium (suíno) e T. saginata (bo- a eliminar proglotes grávidas pelas ovos de tênia (ROPPA, 2017).
vino), tornam-se infectados quando fezes e reinicia-se o ciclo (FLISSER
ingerem ovos ou proglotes presentes et al., 2005). Patogenia e sintomatologia clí-
no ambiente (OLIVEIRA e BEDA- Um homem infectado pode elimi- nica
QUE, 2008). O homem é o hospe- nar milhares de ovos ao dia, livres A teníase é uma infecção menos
deiro definitivo, passando a integrar nas fezes ou com segmentos intactos, grave e têm como sintomatologia
o ciclo biológico destes parasitas cada um contendo grande quantida- mais frequente dores abdominais,
quando ingere a carne crua ou mal de de ovos, que podem sobreviver náuseas, debilidade, perda de peso,
passada, vegetais e frutas contamina- no ambiente durante vários meses. flatulência, diarreia frequente e cons-
dos por cisticercos de origem suína Estes ovos depositados no solo con- tipação em adultos. O prognóstico é,
ou bovina (SHANDERA et al., 1994; taminam as pastagens e a água excepcionalmente, causa de compli-
OLIVEIRA e BEDAQUE, 2008). (URQUHART et al., 1996). Estas cações cirúrgicas, resultado do tama-
A prevalência de infecções por T. verminoses também podem evoluir nho do parasita ou de sua penetração
solium varia muito de acordo com o em hospedeiros intermediários anor- em estruturas do aparelho digestivo
nível de saneamento, com as práticas mais, como o cão, o gato e o macaco tais como apêndice, colédoco e duc-
na criação de suínos e com os hábitos (ROPPA, 2017). to pancreático. Na maior parte dos
alimentares de cada região (MUR- O homem também pode ser o hos- casos, o indivíduo somente toma ci-
RELL, 2005). O suíno adquire esses pedeiro intermediário pela ingestão ência da infecção quando observa a
ovos através de alimentos contami- de ovos da T. solium procedente de liberação das proglotes, fato este que
nados com fezes humanas. Depois alimentos contaminados com fezes só é notado muito tempo após a in-
de ingeridos, os ovos se transformam de humanos portadores de teníase fecção. Consequentemente, o doente
em estruturas denominadas oncosfe- ou pela autoinfecção (GARCIA e pode disseminar a doença por perí-
ras, que seguem através do sangue DEL BRUTTO, 2000; DECKERS e odo bastante longo antes da suspei-
para a musculatura estriada e desen- DORNY, 2010). Quando ingeridos, ta de sua contaminação (BRASIL,
volve-se a forma larval, o cisticerco esses cisticercos podem se alojar em 2002).
(Cysticercus cellulosae) (SILVA et diversas regiões do organismo inclu- Já a cisticercose humana é uma
al., 2000). sive sistema nervoso central gerando doença mais grave caracterizada pelo
Os ovos de tênia são ingeridos sérios problemas e podendo levar pleomorfismo, sendo que o cisticerco
pelos hospedeiros intermediários, os inclusive à morte (GUIMARÃES- pode se alojar em diversas partes do
embriões (oncosferas) se libertam do -PEIXOTO, et al., 2012; PFUET- organismo, sendo a região de maior
ovo no intestino delgado pela ação ZENREITER 2000). A doença cau- frequência o Sistema Nervoso Cen-
dos sucos digestivos e bile. As on- sada neste caso é a neurocisticercose tral, inclusive intramedular, o que
cosferas penetram na parede intesti- (SORVILLO et al., 2007). traz maiores repercussões clínicas.
nal e, em 24 a 72 horas, difundem-se Caso os ovos de tênia sejam inge- A cisticercose é uma das enfermida-
no organismo através da circulação ridos pelo homem estes podem de- des mais perigosas, transmitidas por
sanguínea. Ocorre então formação senvolver a fase larval (cisticercose). parasita aos seres humanos. A larva
de cisticercos nos músculos esque- Essa forma de infecção pode se tor- pode se instalar no sistema nervoso
léticos e cardíaco (GEMMELL et nar muito grave, pois há um grande central (neurocisticercose) no olho
al., 1983). Os cistos medem de 7 a tropismo pelo sistema nervoso cen- (ocular), na pele, no tecido celular
12mm de comprimento por 4 a 6mm tral, onde, geralmente, os cisticercos subcutâneo, no fígado e outras loca-
de largura (REY, 1992). desencadeiam reações inflamatórias, lizações (DEL BRUTO, 1999).
Quando o homem ingere cisticercos provocando a forma mais grave da A neurocisticercose epiléptica

31
ARTIGO
(NCC) é a infecção parasitária mais condenação pelo serviço de inspeção questões estéticas e comerciais, não
comum do sistema nervoso central resulta em perdas entre 10 a 100% são retalhados todos os órgãos, vís-
(SNC) e a principal causa de epilep- do valor das carcaças. No estado ceras e músculos das carcaças, caso
sia de origem secundária no Brasil, do Mato Grosso do Sul, por exem- contrário a depreciação da mesma
sendo causada apenas pelo parasita plo, estima-se que as perdas causa- seria muito grande (BRASIL, 2002;
Taenia solium (COSTA et al., 2007). das pelo diagnóstico post mortem 1980). As carcaças são condenadas
da cisticercose bovina no período de quando apresentam infestações in-
Epidemiologia 2010 a 2012, em média foi de a USD tensas, com a comprovação de um
Tanto a Taenia solium quanto a T. 9.000.000 (FERNANDES; BUZET- ou mais cistos em incisões praticadas
saginata são parasitos de ampla dis- TI 2002). em várias partes da musculatura, por
tribuição, encontradas principalmen- A incidência do complexo teníase- outro lado, quando se verifica infes-
te em regiões onde existe o hábito de -cisticercose permanece com eleva- tação discreta ou moderada, após
ingerir carne de gado e/ou de suíno, dos índices no Brasil, principalmente cuidadoso exame sobre os músculos,
crua ou mal cozida e vegetais con- no que se refere à etiologia pela T. estas devem ser removidas e con-
taminados com as fezes destes ani- saginata/Cysticercus bovis (SOU- denadas todas as partes com cistos,
mais. Estima-se que mais de 70 mi- ZA et al., 2007). A maior parte dos inclusive todos os tecidos circunvi-
lhões de pessoas estejam infectadas relatos no território brasileiro é pro- zinhos. Para a carne tratada por sal-
por T. saginata e que até 2,5 milhões veniente de matadouros frigoríficos. mora, pelo prazo de vinte e um dias
possam estar infectadas por T. solium A infecção tem sido relatada nos es- (esse período pode ser reduzido para
no mundo (GOMES 2001). tados da Bahia, Rio de Janeiro, Mi- dez dias, desde que a temperatura
A teníase por T. saginata pode ser nas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio seja mantida sem oscilação e no má-
encontrada em vários países com Grande do Sul e Rondônia (RAMOS ximo a um grau centígrado) podem
destaque para a África, Oriente Mé- E ALMEIDA, 2013; SANTOS et al., ser aproveitadas as carcaças que
dio, Ásia Central e América Latina, 2013; GUIMARÃES- PEIXOTO et apresentem um cisto já calcificado,
há também relatos em países euro- al., 2012; MANHOSO e PRATA, após a remoção e condenação desta
peus, Japão e Filipinas e com menor 2008; SOUZA et al., 2007; PEREI- parte. Quando o número de cistos for
incidência – Austrália, Estados Uni- RA et al., 2006; ALMEIDA et al., maior do que a infestação moderada,
dos e Canadá (HARRISON 1999). 2006; CORREA et al., 1997). mas não alcançando a generalização
Em relação à teníase por T. solium, da carcaça, esta será destina à esteri-
tem endemicidade alta na América Diagnóstico lização por calor (MEDEIROS 2008;
Latina (HUGGINS 1999). Nas co- No Brasil, apesar da importância BRASIL, 1980).
munidades judaicas a prevalência da cisticercose para a saúde pública Para o diagnóstico da cisticercose
é muito baixa, provavelmente pela animal e de suas consequências eco- suína utiliza-se o exame de língua
proibição religiosa da ingesta de car- nômicas, não existe a obrigatorieda- in vivo e o exame natomopatológico
ne de suínos (HARRISON 1999). de de notificação da doença em hu- post-mortem (PINTO et al., 2000). A
A cisticercose suína praticamente manos. (ALMEIDA et al., 2002). palpação da língua, não é muito sen-
não é reportada, em função da tec- O diagnóstico da cisticercose bo- sível e pode subestimar a prevalên-
nificação das granjas; no entanto, o vina é realizado na inspeção post cia da cisticercose suína em regiões
consumo de carnes, bovinas e suínas, mortem que ocorre durante o abate endêmicas (SATO et. al., 2003), mas
proveniente de animais não inspecio- nos matadouros e consiste basica- é muito utilizado na prática já que
nados ainda ocorre em muitos esta- mente na avaliação visual macros- não requer conhecimentos técnicos
dos do Brasil (ACEVEDO-NIETO cópica de cisticercos nos tecidos e (SCIUTTO et al., 1998). A inspeção
et al., 2012a). Segundo Pinto et al. órgãos da carcaça. A inspeção das post mortem das carcaças em abate-
(2002), o consumo de carne não ins- carcaças é feita mediante incisões douros, consiste da observação do
pecionada consiste em um importan- praticadas em áreas consideradas de cisticerco nos músculos, a língua,
te fator de risco, pois a prevalência predileção para o cisticerco, como o masseter, os membros posterio-
da doença em animais de criações coração, músculos da mastigação, res, paleta, intercostais e cérebro,
domésticas pode ser cinco vezes língua, diafragma e seus pilares e como também em outros órgãos, in-
maior que em animais criados em massas musculares da carcaça. Po- cluindo o coração, o baço e os rins
sistemas tecnificados. rém, a inspeção por si só não conse- (PATHAK, 1989). A incisão nesses
No Brasil, a cisticercose bovina gue detectar todos os cisticercos pre- locais durante a inspeção da carne
está presente em todos os estados. A sentes na carcaça, uma vez que, por permite identificar as formas larvais

32
Higiene Alimentar - Vol.32 - nº 282/283 - Julho/Agosto de 2018

da Taenia solium, caracterizadas por produtos clandestino. Promoção de desaparecimento da Taenia solium
formações vesiculosas, ovóides e de conscientização da população quanto em muitos países da Europa é uma
cor branco-amarelada (GIL, 2000). aos riscos desta infecção são algumas importante evidência do potencial
Partes da carcaça suína como o medidas de controle dessa parasitose de erradicação do complexo teníase/
lombo, pernil e masseter de suínos (GARCIA, 2007). cisticercose nestes países, atribuído
possui de 50% de chances de se en- A incidência de cisticercose au- ao seu desenvolvimento econômico
contrar cistecercos, com os músculos menta pela falta de tratamento dos (SARTI et al., 2003) e ao progresso
intercostais, paleta, língua e diafrag- esgotos urbanos, que poluem os ma- nas condições sanitárias, criações
ma, apresentando valores inferiores nanciais que irão abastecer os ani- tecnificadas e à inspeção eficiente
a 50%. Animais com baixa carga de mais e até o próprio homem. A fal- das carcaças (FLISSER et al., 1999).
cisticercos podem escapar à inspeção ta de fossas no meio rural contribui A inspeção de carnes em mata-
de carne, além do que cistos caseosos para a poluição do meio ambiente, douros tinha sido por anos uma for-
resultantes de infecções prévias, po- sendo comuns os casos em que os ma efetiva de evitar a disseminação
dem ser mais facilmente detectáveis animais acabam consumindo fezes da cisticercose. Esta estratégia foi
do que cistos vivos, o que pode levar humanas. O uso de irrigação de hor- empregada para erradicar a enfermi-
a registros falsos de transmissibilida- tas e pomares com água contaminada dade em vários países (GONZÁLEZ,
de e de infecções viáveis (SCIUTTO é uma grande fonte de infecção para 1993). A inspeção de carcaças no
et al., 1998). o homem (ROPPA, 2017). abate de suínos e bovinos e o seques-
Outros testes podem ser utilizados A profilaxia do complexo teníase- tro das contaminadas com cisticercos
para a detecção desta contaminação -cisticercose depende de inúmeros interrompem a cadeia de transmissão
como os testes sorológicos para Ta- fatores combinados, como: a educa- da cisticercose. Outra medida para
enia solium. Tais métodos podem ção sanitária do homem; a detecção países endêmicos, que poderia ser
ser altamente específicos e sensíveis e tratamento do indivíduo parasitado, adotada é o congelamento da carne
podendo auxiliar no diagnóstico de pois ele é o disseminador da cisticer- com o objetivo de diminuir a trans-
suínos com baixa carga de cisticer- cose; o uso de instalações sanitárias missão da parasitose (PFUETZEN-
cos, os quais podem escapar à inspe- com fossas ou redes de esgoto; in- REITER e ÁVILA, 2000).
ção da carne (NUNES et al., 2000). gestão de carnes ou produtos deri- A inspeção veterinária de carnes,
As análises são mais confiáveis para vados (salsichas, linguiça etc.) bem executada pelo Serviço de Inspeção
a detecção de suínos infectados pela cozidos ou assados (FORTES, 2004). Federal (SIF), é a principal medida
Taenia solium do que a palpação da Faz-se necessárias medidas epi- na prevenção da teníase pois, apesar
língua, já que 34% dos animais ne- demiológicas, tais como: esclarecer de suas limitações, a inspeção identi-
gativos a este teste são soropositivos a população sobre os riscos e com- fica as carcaças com infecções inten-
pelo ELISA (SATO et al., 2003). bater a prática do abate clandestino sas e leves, desde que exista alguma
dos bovinos; garantir a esterilização alteração visível macroscopicamen-
Controle parasitária das águas residuais na sa- te, e atua também como crivo sani-
O controle dessas doenças tem ída dos efluentes das áreas urbanas tário, impedindo a disseminação de
como estratégia fundamental a inter- e o uso de fossas nas áreas rurais; agentes zoonóticos (RIBEIRO et al.,
rupção do ciclo de vida do parasito rastrear os animais abatidos e posi- 2012; SOUZA et al., 2007; ALMEI-
evitando a infecção de animais e se- tivos para cisticercose bovina, com DA, 2006).
res humanos, através de controle hi- posterior tratamento verticalizado,
gienicossanitário, como construção por parte das autoridades sanitárias CONCLUSÃO
de sistemas de esgoto, conscientiza- (FERNANDES, 2002).
ção da população quanto a práticas Uma vez que, a erradicação des- Concluiu-se, com este trabalho,
de higiene, como o não consumo de ta zoonose é atribuída, principal- que a cisticercose é um problema
carnes cruas e higienização adequa- mente, ao desenvolvimento econô- de saúde pública que não pode ser
da das verduras a serem ingeridas mico local, a ativa participação da desconsiderado pelos órgãos públi-
cruas. O melhoramento das condi- comunidade é fundamental para o cos fiscalizadores e nem pela comu-
ções de criação de animais como os cumprimento das medidas de con- nidade. Essa enfermidade também
suínos, evitando acesso de animais a trole contra o parasita no animal e causa prejuízos no âmbito econômi-
fezes humanas. Promover uma rígida no homem, desde que as taxas de co, devido ao número substancial de
inspeção em relação a produtos cár- cisticercose suína são indícios de pa- condenações das carcaças. Para se
neos evitando abate e comércio de rasitose humana (SARTI, 2003). O prevenir a doença é necessário tanto

33
ARTIGO
a fiscalização correta dos estabeleci- controle. Bioscience Journal, v.20, PFUETZENREITER, MR; PIRES, FDA.
mentos de abate por parte de órgãos n.3, 2004. Epidemiology of teniasis/cysticer-
públicos competentes, como também FERREIRA, H et al. Estudo epidemioló- cosis by Taenia solium and Taenia
a realização de intervenções educa- gico localizado da freqüência e fato- saginata.  Ciência Rural, v.30, n.3,
tivas junto ao consumidor e princi- res de risco para enteroparasitoses p.541-548, 2000.
palmente aos produtores rurais res- e sua correlação com o estado nu- PRAXEDES, PCG. Aspectos da qualida-
ponsáveis pela criação animal, para tricional de crianças em idade pré- de higiênico-sanitária de alimentos
que realizem o manejo correto dos -escolar. UEPG: Ciências Biológicas consumidos e comercializados na
animais. e da Saúde, v.12, n.4, 2006. comunidade São Remo, São Paulo,
FERNANDES, JOM; BUZETTI, WAS. Pre- Capital. 2003. Tese de Doutorado.
REFERÊNCIAS valência de cisticercose em su Universidade de São Paulo.
ínos abatidos em frigoríficos sob inspe- REY, L. Parasitologia - parasitos e doen-
AGAPEJEV, S. Aspectos Clínico-Epide- ção federal da 9ª Região Adminis- ças parasitárias do homem nas Amé-
miológicos da Neurocisticercose trativa de Araçatuba, SP. São Paulo: ricas e na África. 2 ed. Rio de Janeiro
no Brasil: Análise Crítica. Rev Arq Rev Hig Alimentar, v.2, n.1, p.14- : Guanabara Koogan, 1991. 731p
Neuro-psiquiatria, v.61 n.3b, p.822- 17, 2002. ROPPA, L. Suínos: mitos e verdades.
828, 2003. FORTES, E. Parasitologia veterinária. São Paulo: Disponível em: <http://
ALMEIDA, L P et al. Cisticercose bovina: 4. ed. rev. São Paulo, SP: Ícone, www.suinos.com.br/pdf/carne-sui-
um estudo comparativo entre ani- 2004. na.pdf>. Acesso em 18 set. 2017.
mais FNS - Fundação Nacional da Saúde. SANDERS, TAB. Food production and
abatidos em frigoríficos com serviço de Disponível em: <http://www.pgr.mpf. food safety. BMJ: British Medical
inspeção municipal. Rev Hig Ali- gov. br>. Acesso em: 17set. 2017. Journal, v.318, n.7199, p.1689,
mentar, v.16, n.99, p.51-55, 2002. GARCIA, HH et al. Taenia solium cysti- 1999.
BRASIL. Guia de Vigilância Epidemio- cercosis. The Lancet, v.362, n.9383, SANTOS, JMG; BARROS, MCRB.
lógica. Fundação Nacional da Saú- p.547-556, 2003. Cysticercus bovis e cysticercus
de. 5ª edição. Vol II. Brasília: FUNA- GARCIA, HH et al. Strategies for the eli- cellulosae:endoparasitas de impor-
SA, 2002, 399p. mination of taeniasis/cysticercosis. tância no comércio da carne. Rev
CALASANS, MWM. Ocorrência de Cys- Journal of Neurological Sciences, em Agronegócios e Meio Ambiente,
ticercus cellulose e Cysticercus v.262, n.1, p.153-157, 2007. v.2, n.1, p.21-39, 2009.
bovis em Matadouro-Frigorífico GARRO, FL et al. Diagnosis of Bovine SILVA, AAP; SILVA, MV. Teníase na po-
no Estado do Sergipe. Monografia Taeniasis-Cysticercosis Complex in pulação do bairro Nossa Senho-
(Lato - Sensu em Higiene e Inspe- São João Evangelista, Minas Gerais, ra Aparecida município de Correia
ção de Produtos de Origem Animal) Brazil.  Arq Bras de Medic Vet Zoo- Pinto-SC, em 2003 e 2004. Rev Bras
- Pernambuco, Universidade Federal tec, v.67, n.4, p.1063-1069, 2015. Analise Clinicas. v.39, p.143-145,
Rural do Semi-Árido.Recife-Pernem- 2007.
GUIMARÃES-PEIXOTO, RPM et al. Dis-
buco. 2009. TAKAYANAGUI, OM et al. Fiscalização
tribuição e identificação das regiões
Disponível em:<https://www.equalis. de risco para a cisticercose bovina de hortas produtoras de verduras
com.br/biblioteca_online/downlo- no Estado do Paraná. Pesq Vet Bras, do Município de Ribeirão Preto, SP:
ad_pdf.php?...Acesso em: 31/10/17. v.32, n.10, p.975-979, 2012. Rev Soc Bras Medicina Tropical,
CAMARGO, EP et al. Doenças tropi- LUNARDE, EG. Teníase e o Complexo- v.33, n.2, p.169-174, 2000.
cais. Estudos Avançados, v.22, n.64, -Cisticercose: Uma ZOONOSE Es- URQUHART, GM et al. Parasitologia ve-
p.95-110, 2008. quecida. São Carlos (SP): [s.n.] , terinária. Rio de Janeiro, RJ: Guana-
COSTA, AO et al. Neurocisticercose do 2008. bara Koogan, 1996.
Lobo Temporal Esquerdo com Ma- MARTINS-MELO, FR; RAMOS, AN; CA- VIEIRA, ESS. Defesa agropecuária e
nifestações Epilépticas e Psiquiá- VALCANTI, MG; ALENCAR, CH; HEU- inspeção de produtos de origem
tricas: Relato de caso. Porto Alegre, KELBACH, J.  Neurocysticercosis-re- animal: uma breve reflexão sobre a
v.13, n.4, Dezembro. 2007. lated mortality in Brazil, 2000–2011: Operação Carne Fraca e possíveis
DE ARRUDA PINTO, PS et al. Cisticer- Epidemiology of a neglected neuro- contribuições ao aprimoramento dos
cose suina: aspectos clinico-epi- logic cause of death.  Acta tropica, instrumentos normativos aplicáveis
demiologicos, imunodiagnostico e v.153, p.128-136, 2016. ao setor. Senado Federal. 2017.

34

Você também pode gostar