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26 MAGNET ISMO E SPIRITUA L

a considera r a própria lição de Roustaing, nos seguin-


tes termos :
~Tudo quanto, pela ação do magnetismo humano, o
magnetiza dor pode fazer com outro indivíduo, podem-no
igualment e, pela ação do magnetism o espiritual, os Es-
píritos, sendo que estes atuam com maior discernimento
e mais ciência do que o homem sobre o homem e nas
condições necessária s à obtenção dos efeitos que quei-
ram produzir, dos resultados que desejem alcançar. Po-
dem ( como o sabeis, graças à ciência espírita) fazer que
o paciente sinta pancadas, ou dores, que aparecem ou
desaparec em à vontade dos operadore s invisíveis. Tam-
bém sabeis, por numerosos fatos observados em todos
os tempos e agora mesmo, como são sentidas essas pan-
cadas. Devemos ainda explicar-vos a ação do magne-
tismo sobre o Espírito do magnetiza do. O que a este
respeito vamos dizer se aplica tanto ao magnetism o hu-
mano, quanto ao espiritual . Apenas a ação deste é mais
pura em suas causas e efeitos. Os mesmos são, entre-
tanto, os resultados da ação de um e outro: o despren-
dimento do Espírito encarnado se produz em condições
mais ou menos boas, conforme o magnetiza dor (humano
ou espiritual ) é mais, ou menos elevado.»
Não pretendemos, portanto, combater, alterar ou mo-
dificar a distinção estabelecida por Kardec ou Rous-
taing entre o magnetism o espiritual e o magnetism o hu-
mano . Atendendo, porém, à fenomenalidade espiritual
da ação magnética, desejamos especialmente encarar a
questão sob esse prisma, sem contraria r contudo a dis-
tinção estabelecida, que, de resto, é racional e lógica.
Rouxel ( 30), inspirado em Van Helmont, depois de
estabelecer as íntimas relações entre o Espiritism o e o
magnetismo, propôs-se a escrever uma obra sob um ti-
tulo semelhant e - «Traire théorique et pratique de mag•
nétisme spiritualis te» que não sabemos se surgiu à
luz da publicidade.

( 30) Rouxel - "Rapports du Magnétism e et du Spi-


ritisme".
MAGNETISMO ESPIRITUAL 27

O título, todavia, que nos pareceu mais acertada-


mente em consonância com a realidade dos fatos, é o
que adotamos - «Magnetismo Espiritual>>.
Uma outra razão, ainda, nos fêz inclinar para essa
preferência . E ' que não convém aos espíritas a disso-
ciação de fenômenos da mesma natureza, que intima-
mente se entrelaçam, e que a eles, mais do que aos
magnetizadores, competirá a tarefa de reivindicar para
o magnetismo a verdadeira conceituação que lhe foi dada
desde remotos tempos.
Repeliram o magnetismo porque viram nele uma
filosofia transcendente (31) e suspeitaram de uma cau-
sa sobrenatural, expressão de que se tem abusado por
ignorância ou má fé. A repulsa abrangia, por igual, o
Espiritismo, que o aceitou como fenômeno natural e que
deve agora prosseguir nas pesquisas que conduzirão o
magnetismo ao seu verdadeiro lugar.
Cumpre que, de coração desnublado de paixões e
preconceitos, estudemos e compreendamos as leis divinas,
que tais são todas as leis naturais.
O estudo das propriedades do perispírito, dos flui-
dos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma, diz
Kardec ( 32), abre novos horizontes à Ciência e dá a
chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos
até então, por falta de conhecimento da lei que os rege
- fenômenos negados pelo materialismo, por se pren-
derem à espiritualidade, e qualificados como milagres ou
sortilégios por outras crenças. Tais são, entre muitos,
os fenômenos da vista dupla, da visão a distância, do
sonambulismo natural e artificial, dos efeitos psíquicos
da catalepsia e da letargia, da presciência, dos pressen-
timentos, das aparições, das transfigurações, da trans-
missão do pensamento, da fascinação, das curas instan-
tâneas, das obsessões e possessões, etc. Demonstrando
que esses fenômenos repousam em leis naturais, como os

(31) Du Potet - "Traité complet de Magnétisme ani-


mal" 8• edição, pág. 40 .
(32) Allan Kardec - "A Gênese" - Trad. de Guillon
Ribeiro, ed . da FEB.
28 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

fenômenos elétricos, e em que condições normais se po-


dem reproduzi r, o Espiritism o derroca o império do ma-
ravilhoso e do sobrenatu ral e, conseguin temente, a fonte
da maior parte das superstiçõ es. Se admite a crença
na possibilidade de certas coisas considera das por alguns
como quiméricas, também impede que se creia em mui-
tas outras cuja impossibilidade e irracional idade ele de-
monstra.
Resulta, portanto, de tudo quanto vem exposto, que
o magnetism o repousa sobre as proprieda des e sobre os
atributos da alma, devendo ser, por isso, classificado en-
tre os fenômenos rle ordem psíquica, ou espiritual .
«O Espírito quer, o perispírito transmite e o corpo
executa», eis a síntese do mecanism o de toda a ação
magnétic a.
A vontade de fazer o bem parte do Espírito, que
o deseja e o quer; essa vontade é determina da ao peris-
pirito, órgão sensitivo do Espírito, corpo fluídico que o
envolve, e que é o intermedi ário das suas manifesta ções,
agindo no duplo sentido de força centrífug a e centrí-
peta, isto é, recebe do exterior e transmite ao Espírito
e recebe deste para transmiti r ao exterior; a execução
é feita por intermédi o do corpo físico, que emite os flui-
dos do perispírit o.
O Espírito, a vontade, o perispírit o, o fluido e o
corpo físico - são, pois, os elementos integrant es do
fenômeno magnétic o.
O magnetism o, portanto, vem a ser o processo pelo
qual o homem, emitindo os fluidos do seu perispirit o,
age sobre outro homem, bem como sobre todos os corpos
animados ou inanimad os.
Capítulo IV
"Quando o penBamento eatd em alguma par-
te, a. alma também af eatd, poia que 6 a. alma
quem penea. O pensamento 6 um atributo."

(KARDro - O Livro dos EtJ7nrUoa,


- Resp. 89.)

Vimos que os elementos integrantes de toda a ação


magnética são: o Espírito, a vontade, o perispírito, o
fluido e o corpo físico.
Segundo a lição de Kardec ( 33), hã no homem três
coisas: 1° - o corpo ou ser material anãlogo ao dos
animais e animado pelo mesmo princípio vital; .29 - a
alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3•
- o laço que prende a alma ao corpo, princípio inter-
mediário entre a matéria e o Espírito.
A alma, pois, vem a ser o Espírito encarnado no
corpo.
A origem, a natureza e a formação do Espírito são
fenômenos que escapam à nossa compreensão . Nós ou-
tros, comenta Kardec (34), somos verdadeiros cegos com
relação à essência dos seres sobre-human os; não os po-
demos definir senão por meio de comparações sempre
imperfeit~, ou por um esforço de imaginação.
Contentemo-nos, portanto, em repetir os princípios
gerais: os Espíritos são a individuação do princípio inte-

(33) Alla.n Karàec - "O Livro dos Esplritos" - In-


trodução, 20• edição da FEB.
(34) Allan Kardec - "O Livro dos Esplritos" - Res-
posta n. 82.
30 MAG NETI SMO E SPIR ITUA L

ligen te, como os corpo s são a individuação do principio


mate rial .
No que tang e ao objet ivo do nosso traba lho, o es•
pírito, que é, como já se disse, a alma enca rnad a no
corpo, é enca rado como agen te princ ipal da ação mag-
nétic a. Quan do dizemos que o espír ito quer, afirm amos
simultâne amen te que ele pens a e delib era. Pens amen to
e vonta de são, pois, os dois elem entos de ordem espir itual
que dão inicio à ação .
O processo pelo qual se opera o fenômeno pens a-
ment o é prob lema que a ciência oficial não pôde até hoje
desve ndar, tendo -se limit ado a suste ntar arbit rària ment e
que ele mais não é senão secre ção do céreb ro. H. G.
Well s, Julia n Huxl ey e J. P. Wells (35), sábio s que não
se comp razem com a tese espír ita e, por isso mesmo,
insus peito s, confe ssam que, em term os gerai s, a Ciên cia
pode expli car o mecanismo físico do céreb ro, mas não
como o seu funci onam ento nos faz senti r e perce ber,
nem tão-pouco porq ue senti mos e perce bemo s; vemo-nos,
assim, em face de um enigma, que zomba de toda e
qualq uer explicação pura ment e fisiológica e mecâ nica da
vida; nem a Filosofia, nem a Teologia cons egue m so-
lucioná-lo.
Mas se a Filos ofia e a Teologia pode m expli car o
maquinismo sobre o qual se apóia a sensa ção, mas não
a sensa ção em si mesm a, o Espir itism o, entre tanto , den-
t ro da lógica do seu siste ma, nos apre senta notáv el pre-
leção atrav és da segu inte págin a (36) :
«- Esta mos diant e do órgão peris piritu al do ser
huma no, adeso à dupl icata física, da mesm a form a que
algum as parte s do corpo carna l têm estre ito conta cto com
o indum ento. Todo o camp o nervo so da criat ura cons-
titui a repre senta ção das potên cias peris piríti cas vaga -
rosamente conq uista das pelo ser, atrav és de milênios e
milên ios . Em renas cend o entre a~ form as perecíveis,

(35) "A Noss a Vida Ment al" - Trad ução do Profe ssor
Almi r Andr ade, pág. 18.
(36) "No Mund o Maio r" - Franc isco Când ido Xavi er
- Pelo Espir ito de A~dr é Luiz, Cap. IV, Estud ando o céreb ro.
MAG NET ISMO ESP IRIT UAL 31

nosso corpo sutil , que ~e cara cteri za, em noss a esfe ra


mehos densa, por extr ema leveza e extr aord inár ia plas-
ticidade, submete-se, no plan o da Cros ta, às leis de re-
capitulação, here ditar ieda de e desenvolvimento fisiológi-
co, em conformidade com o méri to ou dem érito que
traze mos e com a miss ão ou o apre ndiz ado nece ssári os.
O cére bro real é apar elho dos mais complexos, em que
o nosso «eu» refle te a vida . Atra vés dele sent imos os
fenômenos exte riore s segu ndo a noss a capa cida de recep-
tiva, que é dete rmin ada pela expe riênc ia; por isto vari a
ele de cria tura a criat ura, em virtu de da multiplicida-
de das posições na esca la evol utiva . Nem os símios ou
os antro póid es, a caminho da ligação com o gêne ro hu-
mano, apre sent am cére bros abso lutam ente igua is entr e
si. Cada individualidade revela-o cons oant e o prog resso
efetivo reali zado . O selvagem apre sent a um cére bro pe-
rispi ritua l com vibrações muit o dive rsas das do órgã o
do pens ame nto no homem civilizado. Sob esse pont o de
vista , o encéfalo de um sant o emite onda s que se dis-
tingu em das que despede a font e men tal de um cien tis-
ta. A escola acadêmica, na Cros ta Plan etári a, pren de-s e
à conc eitua ção da form a tangível, em trân sito para as
trans form açõe s da enfermidade, da velhice ou da mor te.
Aqui, porém, exam inam os o orga nism o que mod ela as
man ifest açõe s do campo físico, e reconhecemos que todo
o apar elha men to nervoso é de orde m subl ime. A célu la
nerv osa é entid ade de natu reza elétr ica, que cliàriamente
se nutr e de combustível adeq uado . Há neur ônio s sens i-
tivos, moto res, inter med iário s e reflexos. Exis tem os que
recebem as sens açõe s exte riore s e os que reco lhem as
impressões da consciência. Em todo o cosm o celu lar
agita m-se inter rupt ores e cond utore s, elem ento s de emis-
são e recepção. A men te é a orie ntad ora dess e univ erso
microscópico, em que bilhões de corp úscu los e ener gias
mult iform es se cons agra m a seu serv iço. Dela ema nam
as corr ente s da vont ade, dete rmin ando vast a rede de
estímulos, reag indo ante as exig ênci as da pais agem ex-
terna , ou aten dend o às suge stõe s das zona s inter iore s.
Colocada entr e o obje tivo e o subj etivo , é obri gada pela
Divina Lei a apre nder , verif icar, escolher, repe lir, acei-
32 MAG NE TISM O ESP IRIT UAL

tar, recolher, gua rdar, enriquecer-s e, ilum inar-se, prog re-


dir sem pre. Do plano obje tivo, recebe-l he os atrit os e
as influênci as da luta dire ta; da esfe ra subj etiv a, abso r-
ve-lhe a insp iração, mai s ou men os inte nsa, das Inte li-
gências dese ncarnad as ou enca rnad as que lhe são afins,-
e os resu ltados das . criações men tais que lhe são pecu
liares . Ain da que perm aneç a apar ente men te esta cion á-
ria, a men te pros segu e seu caminho, sem recuos, sob a
indefectível atua ção das forç as visíveis ou das invisíveis.
Se exis te a química fisiológica, tem os tam bém a química
espiritu al, como possuímos a orgâ nica e a inor gâni ca,
exis tindo extr ema dificuldade em definir-lhes os pon tos
de ação inde pend ente . Quase impossível é dete rmin ar-
-lhes a fron teira divisória, porq uant o o espí rito mai s sá-
bio não se anim aria a localizar, com afirm açõe s dogmá-
ticas, o pon to onde term ina a mat éria e começa o espí rito.
No corp o físico, diferençam-se as células de man eira sur-
pree nden te. Apr esen tam dete rmin ada pers onal idad e no
fíga do, outr a nos rins e aind a outr a no sang ue. Modi-
ficam-se infin itam ente , surg em e desaparecem, aos milh a-
res, em todo s os domínios da química orgâ nica , prop ria-
men te dita . No cérebro, porém, inicia-se o imp ério da
quím ica espi ritu al. Os elementos celulares, aí, são difi-
cilm ente subs tituí veis . A paisagem delicada e supe rior
é sem pre a mes ma, porq ue o trab alho da alm a requ er
fixação, apro veit ame nto e cont inui dade . O estô mag o pod e
ser um alambique, em que o mundo infin itési mo se re-
vele, em tum ultu ária animalidade, apro xim ando -se dos
quad ros infe rior es da vida, porq uant o o estô mag o não
necessita reco rdar , compulsóriamente, que subs tânc ia ali-
mentícia lhe foi dad a a elab orar na vésp era. O órgã o
de expressão men tal, contudo, recl ama pers onal idad es
químicas de tipo sublimado, por alim enta r-se de expe-
riências que devem ser regi stad as, arqu ivad as e lem bra-
das sempre que opo rtun o ou nece ssár io. Inte rvém , entã o,
a quím ica superior, dota ndo o cére bro de mat eria l in--
substituível em mui tos depa rtam euto s do seu labo rató
rio íntimo.~
E na impossibilidade de tran scre verm os todo o admi-
ráve l capitulo «Es tuda ndo o cérebro», para o qual, en-
MAGNET ISMO ESPIRITU AL 33

tretanto, remetemos o leitor, assinalemos esta definição:


«O cérebro é o órgão sagrado de manifesta ção da men-
te, em trânsito da animalida de primitfYa pam a espiri-
tualidade humana . »
A citação, embora longa, foi feita proposita damente
1 para pôr em relevo que a alma, sempre suscetível de
progresso, na escala evolutiva, até galgar os últimos de-
graus da perfeição, é quem pensa e delibera. E essa é
a razão pela qual a ciência materiali sta se sente em face
de um enigma, que zomba de t oda e qualquer explicação
purament e fisiológica e mecânica da vida, para explicar
os problema s de ordem espiritual .
Essa, igualmen te, é a lição de Adolfo Bezerra de Me-
nezes (37) quando afirma que a alma é que sente, que
recebe, que quer, segundo as impressõe s do mundo ext e-
rior ou interior; e tanto assim, que, separada do corpo,
pela morte ou simples desprendimento, ela exercita todas
as funções psíquicas, que exercia quando ligada ao cor-
po, possui e exercita a inteligência e a razão, a vontade,
a memória e a consciência; logo, os fenômenos intelec-
tuais e morais, que se manifesta m no correr da vida
corpórea, são devidos às faculdade s anímicas, e não às
proprieda des do corpo.
Mas se transcend e dos nossos conhecimentos e da
nossa própria compreensão a subjetivid ade do fenômeno,
assim não acontece com a sua objetivida de. Com efeito,
pela observaçã o e pela experime ntação, a Ciência não
pode desconhe cer a força e o poder do pensamen to. E
é isso precisame nte o que importa para a magnetiz ação:
pensar e manter a vontade firme para a ação.
Irradiando pensamen tos de amor e de bondade, já
beneficiamos largamen te os nossos semelhan tes . E , com
a vontade de fazer o bem, completam os o ato inicial da
nossa deliberação .
Por isso, ensinam os E spíritos que o nosso principal
cuidado deve Rer a educação do pensamen to por uma

(37) "A Loucura sob novo prisma" - E dição da FEB,


1946.
2
34 :MAGNE TISMO ESPIRI TUAL

mente sã e boa, a fim de só pensarm os em assunto s


belos, puros e elevados, pois as forças que dele ema-
narão serão, igualme nte, belas e benéfkn s.
«Pensar é uma ação divina, disse Aristóte les. Pen-
sar é criar condições atrativa s de pensam entos idênticos.
O que se faz mister é saber pensar, domina r o pensam en-
to, amoldá-lo à vontade , sujeitan do todos os element os
somátic os do organis mo ao domínio superio r do Eu» (38).
Todos os escritor es que versara m o assunto afirmam
que os melhore s magnet izadore s têm sido aqueles dota-
dos de grande força de vontade e atenção (39).
A nossa vontade atua mais sobre nós mesmos do
que fora de nós; produz uma atividad e maior no cérebro
e em todos os pléxus, e daí resulta uma emissão maior
e mais intensa na ação; quanto mais a vontade se ex-
prime com firmeza e continuidade, tanto mais a emissão
se faz abunda nte e intensa {40).
Todavia , a vontade só por si não terá a virtude de
tornar eficient e a ação magnéti ca, se não for acompa -
nhada de um outro elemento - a confian ça. Ora, se
sustent amos a tese que o magnet ismo é fenômeno de
ordem espiritu al, o elemento confian ça há-de surgir ne-
cessária e lógicam ente da nossa fé e do auxílio que sem-
pre recebemos do Alto. E', pois, a prece, a prece sentida,
fervoro sa, dita pelo coração, e não sómente por palavra s,
que nos aproxim a de Deus e que nos transmi te a con-
fiança na sua infinita miseric órdia.
Os Espírito s hão dito sempre, observa Kardec ( 41),
que: «A forma nada vale, o pensam ento é tudo. Ore,
pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que

(38) Dr. Bchwart z Reemer - "O Magneti smo Psiquico "


- Versão portugu esa de João Antunes .
(39) Aubin Gauthie r - "Traité Pratique du Magné-
tisme".
( 40) Ch. La/ontaine - "L' Art de Magnéti ser ou Le
Magnéti sme Animal" ; Deleuze - "Histoir e Critique du Mag-
nétisme Animal" ; Du Potet - wrraité Complet de Magnéti sme
Animal" .
( 41) "O Evangel ho segundo o Espiritis mo", pág. 358.
MAGN ETISM O ESPIR ITUA L 35

mais o toque . Um bom pensa mento vale mais do que


grand e núme ro de palav ras, com as quais nada tenha o
coraç ão . »
«Todas as vezes que empre gais com fé o magnetis-
mo ( 42) e visan do exclu sivament.e a obter alivio para a
Huma nidad e, vosso s Guias vos auxiliam, pela ação do
magn etism o espiri t ual, Imperceptível para vós. E esta
ação mais se desenvolve, se lhes pedis com fervo r a assis-
tência . Pratic ai com ardor, com perse veran ça e desin-
teress e esta ciênci a celest e que o Senho r vos confiou
e també m vós fa reis, se vos domin arem a frater nidade
e a abneg ação, que se empe rtigue m os que se acham
curva dos, que os surdo s ouçam e que os cegos vejam ;
també m vós poder eis caute rizar as chaga s, susta r as per-
das de sangue, fortal ecer os fraco s e endir eitar os coxos.
Não dizem os que a vossa vonta de baste . Ainda não
vos despr endes tes sufici entem ente da matér ia para que
seja assim . Mas a vossa perse veran ça, auxili ada pela
assistência e pela interv enção oculta de vossos Guias,
obter á com o tempo o que unica mente a vonta de do Mes-
tre conse guia num instante. Repet imos: não desprezeis
o tesou ro que o Senho r vos confiou. A prátic a séria e
perseverante desen volve rá os vossos poder es. Pratic ai,
pois, com fé e o Senho r abenç oará os vossos esforços.>
E' certo que a incred ulidad e não imped e a produ -
ção dos efeito s magn éticos , assim como não imped e a
própr ia manif estaçã o mediú nica. O que se deve assina -
lar, entre tanto , é que os incréd ulos deixa m muita vez
de ating ir a meta e de conse guir êxitos, precis amen te
pela falta de fé.
«O poder da fé se demo nstra, diz Karde c ( 43), de
modo direto e especial na ação magn ética; por seu in-
termédio o homem atua sobre o fluido, agent e unive rsal,
modifica-lhe as qualid ades e lhe dá uma impul são por
assim dizer irresi stível . Daí decor re que aquel e que, a

( '2 ) J . B. llo1'8tafflg - "Os Quatr o Evang elhos" , tra-


dução de Guillon Ribeiro.
( -'3 ) "O Evang elho segun do o Espiri tismo ".
36 MAGNETISMO ESPIRITUAL

um grande poder fluídico normal, junta ardente fé, pode,


só pela força de sua vontade dirigida para o bem, operar
esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos anti-
gamente por prodígios, mas que não passam de efeitos
de uma lei natural . Tal o motivo por que Jesus disse
a seus discípulos : se não o curastes, foi porque não
tendes fé . »
«Se a prece, diz Carlos Imbassahy, não é infalível
em todos os atos de nossa vida, visto que não temos a
medida no pedir, se não cabe a Deus fazer por nós o
que só a nós compete fazer, nem por isso deixa de haver
ocasiões em que nada realizamos sem o concurso da ora-
ção. Ela é, então, imprescindível. Com mais de 20 anos
de prática diuturna, em estudos psíquicos, sabemos que
nos trabalhos espiritualistas a prece é necessária» ( 44).
Há, por último, que acrescentar, ainda de acordo com
os princípios gerais da doutrina, que tanto maior será
a força do magnetizador quanto mais puro for o seu co-
ração. Quanto mais o homem se elevar espiritualmente,
t anto maior será o poder de sua irradiação.

( 44) Car'los lmbassahy - "Religião", pág . 216.


Capítulo V
"O pensamento e a -vontade representam em
nós um poder de açao que alcança muito além
dos limites da nossa esfera corporal. A prece que
façamos por outrem é um ato dessa vontade.
Se for ardente e sincera, pode chamar, em au-
xilio daquele por quem oramos, os bons Espiri-
tos, que lhe virão sugerir bons pensamentos e
dar a força de que necessitem seu corpo e 8UO
alma. Mas, ainda aqui, a prece do coração é
tudo, a dos lábios nada vale . "

(KARDEC - O Livro dos Espiritos,


- Nota à Resp .. 662.)

Já vimos que quanto mais forte for a nossa vontade


e quanto mais positiva for a nossa confiança, tanto mais
eficientes serão os efeitos da magnetização. Afirmamos,
por igual. que quanto mais nos elevarmos espiritualmen-
t e, t anto maior será o poder de nossa irradiação.
O perispírito, que é o órgão transmissor do pensa-
mento e da vontade da alma, recebe, logicamente, a
influência da elevação espiritual em que aquele se en-
contrar. Os mais evolvidos terão necessidade de órgãos
mais perfeitos para a transmissão de sua vontade e do
seu pensamento. Ã medida, pois, que ascendemos na
imensa escala evolutiva da espiritualidade, o nosso peris-
pírito, como órgão intermediário entre a alma e o corpo,
vai paulatinamente se aperfeiçoando.
Ainda aqui nos socorremos do substancioso trabalho
mediúnico de F rancisco Cândido Xavier ( 45), transcre-

( 45) Francisco 04ndido Xavier - .. No Mundo Maior",


pelo Espirito de André Luiz, pág. 181 .
38 · MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

vendo este trecho elucid ativo: «Nos lobos fronta is, exte-
rioriza ção fisiológica de centro s perisp irítico s impor tantes,
repous am milhões de células, à espera , para funcio nar,
do esforç o human o no setor da espirit ualiza ção. Nenhu m
homem, dentre os mais arroja dos pensad ores da Hu-
manid ade, desde o pretér ito até os nossos dias, logrou
jamais utilizá -las na décim a parte. São forças de um cam-
- po virgem , que a alma conqu istará, não sómen te em con-
tinuid ade evolut iva, senão també m a golpes de auto-e du-
cação, de aprim orame nto moral e de elevaç ão sublim e;
tal serviç o só a fé vigoro sa e revela dora pode enceta r,
como indisp ensáve l lâmpa da vangu ardeir a do progre sso
indivi dual.»
Não seria arroja do afirma r: alma mais evolvi da equi-
vale a pensam ento mais elevado, perisp írito mais deli-
cado, fluido mais puro e corpo físico mais sadio.
Tudo, pois, está intima mente entros ado dentro da
sabedo ria divina . ·
O perisp írito, portan to, como transm issor do fluido
magné tico, forma entre os agente s da ação.
Bezen. a de Menezes ( 46) dá-nos uma ideia do fenô-
meno físicG da ação e reação do espírit o sobre o corpo
e vice-v ersa, media nte o perisp írito. Este recebe , pelo
sistem a nervos o sensiti vo, todas as impres sões do corpo,
e, como um espelh o, reflete -as. O espírit o toma, por tal
arte, conhe cimen to delas e imprim e no perisp írito suas
volições, que são transm itidas ao corpo, media nte o con-
curso dos nervos motor es. O cérebr o, de onde decorr em
os dois sistem as de nervos , é a grand e pilha que segreg a
o fluido nervos o de que os fios de cada sistem a são sim-
ples canais condu tores, e é por isso que o cérebr o é cons-
tituído de duas substâ ncias, branca s e cinzen ta, das quais
uma segreg a o fluido sensív el e a outra o motor . Assim ,
por exemplo, se um mosqu ito nos picar, a impres são é
levada ao cérebr o pelos nervos sensív eis ou do senti-
mento , e ali gravad a no perisp írito, que é ligado a todas
as molécu las do corpo, e, no perisp irito, a alma toma

( 46) A Loucur a sob novo pri81na , pág. 108 .


MAGNETI SMO .ESPIRITUA L 39

dela conhecimento e sente a dor, e, sentindo-a, procura


remover a causa. Esta resolução traduz-se em movimen-
to imposto ao corpo pelo espírito, mediante o perispirito,
que a transmite ao cérebro, o qual, sempre pela força
da vontade anímica, p'Õe em ação os nervos motores,
necessários à ação de mover, suponhamos , o braço, para
matar ou afuguentar o mosquito . O perispírito, portanto,
é quem transmite à alma as impressões do corpo, con-
centradas no cérebro, e é quem transmite ao corpo as
volições da alma, pela impulsão dada ao cérebro, como
centro do sistema nervoso. O corpo é simples meio de
pôr a alma em relação. com o mundo externo, ligando-
-se-lhe pelo perispírito. 1

Vê-se, assim, que a ação magnética que 0 espírito


(alma) do magnetizado r imprime no s~u perispírito vai
influenciar o perispírito de quem recebe a ação.
Vale dizer que a transfusão do fluido neryoso ·se
opera de perispípto a perispírito. E, em se chegando
a essa conclusão, mais seguramente se compreende rá a
natureza espiritual da ação magnética e as íntimas rela-
ções entre o Espiritismo e o Magnetismo. E' por esses
motivos que consideramos o magnetismo como meio, como
processo, e não como ciência especializada.
O fluido magnético, vital ou fluido nervoso no en-
tender de alguns, que emana do corpo dos magnetizado -
res, e que tem sido o motivo principal das críticas da
ciência materialista , é uma transformaç ão ou modifica-
ção do fluido universal, que, por sua vez, sai do ~todo
universal», ou seja - do conjunto dq~ . ~lt!iqp§ _,~~ sie,ntes
no espaço .
~o fluido universal, que toca de perto a Deus e dele
parte, diz Roustaing ( 47), ·constitui, pelas suas quin-
ta-essências e mediante as combinações, modificações e
transformaçõ es de que é possível o instrumento e o meio
de que se serve a Inteligência Suprema para, pela oni-
potência da sua vontade, operar, no infinito e na eter-
nidade, todas as criações espirituais, materiais e fluídicas

(47) J. B. R011,8taing - "Os Quatros Evangelhos".


40 MAGN E TISMO ESPIRITUA L

destinadas à vida e à harmonia universais,_ para operar


a criação de t odos os mundos, de todos os seres em todos
os reinos da Natureza, de tudo que se move, vive, é.
O apóstolo Paulo sentia a - potência criadora do· Senhor,
quando dizia : «Tudo é dele, tudo é por ele, tudo é nele;
ex ipso et per ipsum et in ipso sunt omnia.» (Atos dos
Apóstolos, cap. XVII, 'v. 18.) - «E' nele que temos a
vida , o movimento e o ser: in ipso vivimus et movemur
et sumos.» (Epíst. aos Romanos, cap. II, v. 36. )
E xistirá ·m esmo o fluido? Como se poderá provar
a sua existência? Mera ilusão, concep~ão gratuita e ar-
bitrária, afirmam sectaristas çle todos os matizes de cam-
bulhada com os materialistas, pois nem sequer a Bíblia
a ele se refere. . . E houve mesmo cer-to autor que, Iio
afã de destruir mais e.s sa «mistificação» ( 48), ~Iterou
conceitos fundamentais, confundindo .o perispírito com o
«ectoplasma, od, _força vital, fluido humano>> e outros
supostos sinônimos, que apenas revelam profunda e abso-
luta ignorância da própria doutrina que criticam.
Entretanto, ace-itando, como - aceitam a - concepção
adâmica da raça humana, tal como se encontra na Bí-
blia - - «Formavit Deus hominem de limo t.errre et ins-
piravit in facien1 ejus spiraeulum vitre» - devi8.Il) pelo
menos desconfiar que o sopro da formação do homem
teria sido a emanação do fluido magnético, do fluido uni-
versal, que tão intransigente e confusamente negam.
Pelos métodos da ciência positiva e, portanto, pela
~xperimentação, pela observação, pela análise, pelo ra-
ciocínio lógico, deduzirão os cépticos a sua conclusão.
Desejam real e sinceramente a prova? Então, porque
não experimentam, porque não observam? São falhas,
gratuit as, desonestas as demonstrações que fazemos, a
ponto de nos truncarem as palavras e os . conceitos fun-
damentais ? Hi,· então, uma só alternativa: a demonstra-
ção contrária ou o silêncio .
Os casos de telepatia e de transmissão de pensa-

( 48) P adr e Agnelo Rossi - "A Ilusão Espir ita" , Biblio-


t eca Apologética, vol. VI, pág . 47.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 41

mento, ,não podem, sem escândálo; ser negados, bas-


tariam por si só par'a demonstrar a existência de um
fluido humano, qualquer que sé~ a' denomináção que lhe
queiram dar os mais ,sábios .
Com eféito, observa: Bertholet ( 49), para que possa,
ocorrer a comunicação t elepática entre dois cérebros é
necessário que- exista entre eles um veiculo que se pro-
pague de um para o outro como onda nervosa ou ·fluí.'
dica . Assim como é impossível conceber a existência ·da
telegrafia ~em fio sem as ondas elétricas, que atravessam
o espaço e influenciam os aparelhos receptores, assim
também não ·s_~ : pode conceb~_f. . .,Q.-..f.E}.!!,Q!D~WL...dL~Wlepatia
~~m a existência; de~-um ·ag_ e nte. ...fl.uidlc.o .
Os experimentadores são 'unâ,nimes em afirmar (50)
que os sonâmbulos não só vêem· o flu,ido, ·que se e~capa
dos dedos dos_magnetizadores, ,CO~O também atestam ''a
sua maior ou ·men,or intensidade ' e a .s ua qualidade pela
cor mais ou menos brilhante. A força, magnética do ope-
rador pode ser igualmente indicada por eles.
Lafontaine ( 51) apresentou a um sonâmbulo um copo
d' água magnetizada por diversos dos seus discípulos e
o paciente descreveu tantas camadas d_e fluidos quantos
eram os magnetizadores, dintinguindo uns dos outros.
Mas, em se tratando de assunto de tamanha mag- ·
nitude, não há como invocar em nosso aUXI1io Kardec,
t ranscrevendo esta brilhante e decisiva lição (52) ·:
«A t elegrafia humana_! Aí está uma coisa de molde
certamente a provocar o riso dos que se negam a admi-
tir o que não caia sob os sentidos materiais. Mas, que
importam as zombarias dos presunçosos? As suas nega-
ções, por mais que eles as multipliquem, não obstarão
a que as leis naturais sigam seu curso, nem a que se _
encontrem novas aplicações dessas leis, à medida que a

( 49) D r. Ed. Bertholet - "Le Fluide des Magnétiseurs."


( 50) Vide : D u Potet - "Traité Complet de Magnétisme
Animal" ; Deul,euze - "Magnétisme Animal"; A. Gauthier -
••Traité Pratique du Magnétisme et du Somnambulisme".
( 51) Oh. La/ontcdne - "L' Art de Magnétiser" .
(52 ) Allan Karàec - "Obras Póstumas" .
42 MAGNETISMO ESPIRITUAL

inteligência humana se ache eqi .estado de lhes experi-


mentar os efeitos. Se se pudesse suspeitar do im~o
mecanismo que o penfillmenio aciona e dos efeitos que
ele -produz de um indivíduo a outro, de um grupo .de seres
a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamen-
t os das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria
assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infini-
dade de detalhes, dia:qt e dessas inúmeras r edes ligadas
entre si por uma potente· 'v ontade e atuando h armôni- _
camente para alcançar um único objetivo: o progresso
universal . Pela t elegrafia do 1 pe~a:m,e;ito ele apreciará
em todo o seu valor, a lei da solidariedade, ponde~ando .
que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuo-
so, ou de outro gênero, que não tenha ação real s<;>bre
o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada ~
deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as conse-
quências, para outrem, de um pensamento perverso, pes-
soalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá in-
duzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral
da generalidade das criaturas, atentando nas consequên-
cias que sobre si, m_esmo produziria um · mau pensamento
de outrem. Que serão, senão úon·s equência~da telegr_a fia
do pe~samento, esses choques misteriosos qu~ nos adver-
tem da alegria ou do sofrimento de um ente caro, que
se acha ·1o_nge de nós? -Não é a um fenômeno do mesmo
gênero que devemos os sentimentos de simpatia ou, de
repulsão que nos arrastam para certos espíritos e nos
afastam de outros? Há certamente ai um campo imenso
para o estudo e a observação, mas do qual ainda não
podemos perceber senão as massas. O estudo dos porme-
nores resultará de um conhecimento mais completo das
leis que regem a ação dos fluidos, uns sobre os outros.>
Em verdade, aí reside a nossa imensa ignorância,
isto é, no conhecimento das leis que regem a ação dos
fluidos, as suas modificações e as suas combinações -
eis o infinito campo por desbravar e que até aqui -v-em
zombando da nossa limitada capacidade de entendimento ·
e compreensão. Não se trata, portanto, de demonstrar
a existência do fluido, coisa que a observação e a expe-
riência hão comprovado, mas sim de penetrar nos domf-
MAGNE TISMO E SPIRITUAL 43

nios dessa -~ov,a química ~§Pl~itu~, com a qual o 'tniso-


neismo se apavora. ·
Repetimos que a observação e a experiência são su-
ficientes para demonstrar a existência do fluigo, qualquer
que seja a denominação que -se lhe queira dar - mag-
nético, nervoso, elétrico, vital, nêurico etc.
Prop(?sitadamerite, não nos. referiremos aqui aos apa-
relhos inventados para o registro e medida do fluido
magnético, pomo o' magnetômet~o de Fortin, o biômetro
de Baraduc, o estenômetro -de Joire, e a pêndula magné-
tica de M. Gerbouin como, por igual, não mencionaremos
as eletrografias, as efluviografias (imagem do fluido que
se obtém pela colocação das mãos do magnetizador sobre -
uma chapa fotográ~ica, quer a seco, quer em banho reve-
la~9r ) e nem tão-pouco às experiências de Mondei! ( 53),
que conseguiu obter a iluminação de lâmpadas comuns
pelo contacto e fricção das mãos. Essas~ e outras inven-
ções são sempre objeto de infindáveis controvérsias, ao
p asso que a experimentação pessoal conduz, do mesmo
modo, à certeza, _com a vantagem das informações que
nos dão os sensitivos pela -visão difeta do fluido (54).
Os aparelhos poderão trazer-nos a certeza. Mas, sob pre-
texto, como tem acontecido, dé c.ombater e apontar as
falhas desses instrumentos, combateriam a ideia em si
mesma, isto é, negariam a existência do fluido.

(~) G. Mondeil - "Le Fluide humain devant la Phy-


sique révélatrice et la Métapsychique objecttve".
(54) Célestin Saint-Jean - "Guide du Magnétiseur Spi-
r ite.,.
Capítulo VI
"U1 na mul her que por doze ano s esta va pa-
decendo de uma hem orra gia e a que m ning uém
e a
pod ia. cura r, chegando-se por detr ás, toco u-lh
a sua
fímb ria da cap a; e ime diat ame nte cessou
u1
hem orra gia. Per gun tou Jesu s: Que m me toco
o
Neg and o-o todos, disse Ped ro: Mes tre, a mul tidã
ém
te ape rta e te opri me. Mas Jesus diss e: algu
me toco u, porq ue eu perc ebi que saír a de mim,
uma virtu de. A mul her, vendo-se perc ebid a, veio
na
trem end o, pros trar- se dian te .dele, e dec"la,rou
pres ença de todo o povo o mot ivo por que o
ha-
cura da.
tJia toca do e como fora ime diat ame nte
te
Efe lhe diss e: Filh a, a tua /é te curou~· vai-
em paz ."
LUCAS, cap. Vill , V. 43 a 48. )

Quando um magnetizador, depois de esta bele cer con-,


Alto
tact o com o pac ient e e de faze r a sua rog ativ a aocorp o,
impõe-lhe a mão, não tard ará muito que do seu cab eça
principalmente dos dedos, dos olhos, da boca, da re o
e do tóra x, saia m corr ente s de mat éria fluídica sob
omina
mag neti zad o. Ess a mat éria fluídica é que se dencorp os.
fluido magnético, muito sutil, que pen etra todos os
Mostrai vossas mãos a um sonâmbulo e ele ver á
s ou
escapar-se de vossos dedos um vap or luminoso, maio po-
menos intenso, mai s ou menos bril han te, conform.e vosso
der da vossa emissão mag néti ca e da qualidade do
flui do.
Não necessito de out ra pro va, exclama Laf onta i-
ne ( 55), par a a dem ons traç ão da existência do flui do, a
com
despeito das experiências de out ra ordem, realizadas sua
inst rum ento s de precisão, que nos dão a cert eza da

( 5f>) Oh. La/c mta .ne - "L'Art de Mag néti ser" .


MAGN ETISM O E SPIRIT UAL . 4.5

existên cia e da sua transm issão a todos os corpos vivos


ou inerte s. .
Na passag em do Evang elho d~ Lucas, acuna ~en..
cionad a, está perfeit ament e caract erizad ?, ~ sua qmn~
-essên cia, em toda a sua pureza e subhn udade , o fluido
magné tico, que se despre ndia do. corpo de J es~s, e a que
Ele denom inou como - uma virtude que saira do seu
corpo .
Lucas foi mais minuci oso no relata r esse episód io
do que os demais evange listas, o que levou Aubin Gau-
thier (56) a indaga r qual a razão dessa superi or!d~d e
de Lucas sobre os outros e porque a frase caract enstic a
da virtud e atribu ída a um simple s toque. E ele mesmo
respon de: - E' que Lucas era médico . Seu evang elho.
oferec e mesmo essa particu laridad e em relaçã o à Medi-
cina e ao itagne tismo, sendo ele o único que, ao referir -
-se à mulhe r doente , esclare ceu: «que ela havia despen -
dido tudo quanto possuí a, com os médicos, e que nenhu m
deles a havia curado ». A cura, para Lucas, era devida
à virtud e saída do corpo do seu Divino Mestr e. Ora, a
virtud e magné tica, que residia em grau incom paráve l em
J esus, existe em grau inferio r em todos os homen s. E
cada vez que o magne tizado r impõe suas mãos, sai dele
uma virtude.
Mas o texto evangé lico explica ainda a outra razão
da cura, dada por Jesus - «Filha , a tua fé te salvou » - ,
que, també m, no magne tismo espirit ual, é elemen to pre-
cioso de êxito, confor me veremo;; oportu namen te.
O certo é que aos sonâm bulos magné ticos devem os
as noções sobre o fluido e sua existên cia, que podem ser
resumi das, segund o as observ ações de divers os magneti--
zadore s (57), da seguin te manei ra:

(56 ) Aubin Gauthi er - "Magnétisme et Somna mbulis -


me", 1845 .
<,~7) J: P. F . Del,euze - "Histo ire Critique du Magné -
tisme ; Aubin Gauthi er - "Magn étisme et Somna mbulis me"·
Du Potet - "Manu el de l'Jf:tudi ant Magné tiseur" ; Dr. Ed. Ber:
tholet - "Le Fluide des Magné tiseurs ':
46 MAG NETIS MO ESPIR ITUA L

1. - O fluido magn ético, que se nos escap a conti-


nuam ente, forma em torno do nosso corpo uma atmos -
fera. Não sendo impul siona do pela nossa vonta de, não
age sensiv elmen te sobre os indiví duos que nos cerca m•
desde , porém , que nossa vonta de o Impulsione e o dirija :
ele se move com toda a força que lhe impri mirm os.
2. - O fluido penet ra todos os corpo s anima dos ou
inanim :tdos.
3. - O fluido possu i um odor, que varia segun do
o estad o de saúde física do indivíduo, dos seus dotes mo-
rais e espiri tuais, e do seu grau de evolu ção e purez a.
Melh or diríam os afirm ando, em síntes e, que o odor e a
color ação do fluido estão na razão direta do estad o de
evolu ção ~a alma ou do Espír ito.
Assim, sob o ponto de vista mora l (58), os fluido s
traze m o cunho dos sentim entos de ódio, de inveja , de
ciúme , de orgul ho, de egoísmo, de violência, de hipoc ri-
sia, de bonda de, de benevolência, de amor, de carida de,
de doçur a, etc.; sob o aspec to físico, são excita ntes, cal-
mante s, penet rante s, adstri ngent es, irrita ntes, dulcü ican-
tes, supor fficos , narcó ticos, tóxicos, repar adore s, expul -
sivos ; torna m-se força de transm issão , de propu lsão, etc.
O quadr o dos fluido s seria, pois, o de todas as paixõ es,
das virtud es e dos vícios da Huma nidad e e das propr ie-
dades da matér ia, corre spond entes aos efeito s que eles
produ zem.
4. - O fluido é visto pelos sonâm bulos como um
vapor lumin oso, mais ou meno s brilha nte, e que pode
toma r outra s colora ções - azul, verme lha, escur a etc.
- não só, como já se disse, em razão da evolução de
cada um, mas també m como resul tante de um estad o aci-
denta l da alma, em virtud e de doenç a física ou mora l.
Fôra impos sível fazer- se uma enum eraçã o (59) ou
classi ficaçã o dos bons e dos maus fluidos, ou especifi-

(58) Allan Karde c .,A Gênes e".


( G9) Allan Karde c "A Gênes e" .
MAGNE TISMO ESPIRI TUAL 47

car-lhes as respecti vas qualidades, por ser tão grande


quanto a dos pensamentos a diversidade deles. Os fluidos
não possuem qualidades sul-generis, mas as que adqui-
rem no meio onde se elabora m; modificam-se pelos eflú-
vios desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos
sais das camada s que atraves sa.
Os meios onde superab undam os maus Espírito s são,
pois, impregnados de maus fluidos que o encarna do ab-
sorve pelo perispírito, como pode absorve r, pelos poros
do corpo, substân cias nocivas, ou curativ as. Assim se
explicam os efeitos que se produzem nos lugares de reu-
nião. Uma assembleia é um foco de irradiaç ões de pen-
samento s diverso s. E' como uma orquest ra, ou coro de
pensamentos, onde cada um emite uma nota. Resulta
daí uma multiplicidade de corrent es e de eflúvios cuja
impress ão cada um recebe pelo sentido espiritu al, como
num coro musical cada um recebe a impress ão dos sons
pelo sentido da audição .
1
5. - O fluido magnético não é o fluido elétrico ;
um e outro são modificações, totalme nte diferen tes, do
fluido universal, convindo assinal ar que a maior parte
dos sonâmbulos têm verdade ira idiossin crasia pela ele-
tricidad e.
6 . - O fluido se propag a a grandes distânc ias, o
que depende, entretan to, da qualidade e da força do mag-
netizad or, e igualme nte da maior ou menor sensibil idade
magnét ica do pacient e.
7. - O fluido está também sujeito às leis de atra-
ção, repulsã o e afinidade. Nem todos os corpos são igual-
mente bons conduto res; há até os nocivos, v. g., o cobre,
que comunica más qualidades ao fluido que o atraves sa,
causand o ao pacient e irritaçã o e até queima duras.
8. - Precisa mente porque o fluido varia de indivi-
duo a indivíduo, é de notar-s e que certos magnet izadore s
têm mais facilidade em curar determi nadas molésti as
do que outras . , Sob esse aspecto, porém, convém não
esquecer que, alem do fluido propria mente humano , ou-
48 MAGNETISM O ESPIRITUA L

tros fluidos, dotados de diferentes propriedades , que ain-


da não conhecemos, poderão intervir na ação magnética.
«Antes mesmo que chegue às condições, diz Sayão
( 60), de se utilizar diretamente desses fluidos, poderá o
homem servir-se deles com bom resultado, mediante o
auxílio dos Espíritos protetores da Humanidade , os quais,
valendo-se do magnetismo espiritual, lhos colocarão ao
alcance, como, aliás, já o fazem com os médiuns cura-
dores.»
9. - O estado atmosférico pode de certo modo au-
mentar ou diminuir a intensidade do fluido e, portanto,
a eficácia da magnetizaçã o. O tempo seco, principalmen -
te no Verão, é mais favorável à ação magnética. Du-
rante os dias tempestuoso s, quando a atmosfera está
carregada de eletricidade, é aconselháve l evitar a mag-
netização . Os sonâmbulos ( 61), nessas circunstânci as,
acusam, depois de despertados, um acentuado gosto de
enxofre.
10. - A quantidade de fluido não é igual em todos
os seres orgânicos, variando segundo as espécies, .e não
é constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos
de uma espécie. Alguns há, que se acham saturados
desse fluido, enquanto outros o possuem em quantida-
de apenas suficiente. A quantidade de fluido se esgota,
podendo tornar-se insuficiente para a conservação da
vida, se não for renovada pela absorção e assimilação
das substâncias que o contêm (62).
11. - São extremamen te variados os efeitos da ação
fluidica (63) sobre os doentes, de acordo com as circuns-
tâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento
prolongado; doutras vezes é rápida, como uma corrente
elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que operam
curas instantânea s nalguns doentes, apenas por meio da

( 60) Antônio Luiz Bayão - "Elucidações Evangélicas" .


(61) Deleuze - "Hist. Crit. du Magnétisme Animal".
( 62) Allan Kardec - "O Livro dos Espiritos" .
( 63) Allan Kardec - "Obras Póstumas".
MA GN ETI SM O ESP IRI TU AL 49

ato da
imp osiç ão das mãos, ou, até, exc lusi vam ente porara dor es
von tad e. O fluido pode forn ece r princípios rep ime nto
alec
ao cor po. A cur a se ope ra med ian te o forter cur ativ o
e reeq uilí brio das mol écu las mal sãs . O pod
sub stân cia
esta rá, pois, na raz ão dire ta da pur eza da da von-
adm inis trad a; ma s depende tam bém da ene rgiante emis-
tad e que, qua nto ma ior for, tan to mai s abu nda etra ção
pen
são fluí dica pro voc ará e tan to ma ior forç a de
es daq uele
dar á ao flui do. Dep end e ain da das inte nçõ
írit o. Os
que des eje rea liza r a cur a, seja homem ou Esp
qua is sub s-
flui dos que ema nam de um a fon te imp ura são
tân cias medie:amentosas alte rad as.
cor-
12. - A liga ção ent re o fluido mag nét ico e os ca
forç a físi
pos que o rece bem é tão ínti ma que nen hum a
icos e o
ou quí mic a pode des truí -lo. Os rea tivo s quím eriê ncia s
fogo nen hum efei to têm sob re ele. Div ersa s exp
Dr. Loe-
· for am rea liza das pelo pro fess or Reu ss e pelo Bar ão Du
wen tha l, méd icos em Moscou, e rep etid as pelo
fogo e de
Pot et (64 ), os qua is sub met era m à açã o do
o inte r-
rea tivo s químicos obj eto s mag neti zad os, que, com ien tes.
pac
med iári os, hav iam pro duz ido o son o em seu s de lav a-
Ap rese nta dos nov ame nte esse s obj etos , dep ois sulf úric o
dos em álcool, amoníaco, ácido nítr ico, ácido de olh os
con cen trad o, ácido mu riát ico etc., os pac ient es, nci a foi
ved ado s, vol tara m ao son o. A mes ma exp eriêdid os, e
feit a com a cera , o enx ofre e o esta nho , fun pre com
com um a folh a de pap el red uzid a a cinzas, sem
o mes mo êxi to. ent re
Don de se conclui que há mu ito pou ca ana log ia
em e o
os flui dos imp ond eráv eis que os físicos conhec
f1 uido mag nét ico .
mag -
13. - Por último, não é dem ais rep etir que o ito
que mu
net ism o ens aia os seu s prim eiro s pas sos e
- o flui-
pouco sab emo s sob re o seu prin cipa l veículo erão um
do -, e que só o estu do e a exp erim ent açã o pod

néti sme Ani -


(64) Du Pot et - "Tr aité Com plet de Mag
mal ", 8• ed. , 1930, pág . 189 .
50 MA GNETISMO ESPIRITUAL

dia descortinar o vasto e ilimitado caminho a percorrer.


Magnetizadores, a vós outros é que especialmente
nos dirigimos (65). Trazeis em vós a fonte de todas
as descobertas, de todas as ciências . Abri, trabalhando
seriamente, as páginas desse grande livro e aí descobri-
reis todos os dias alguma beleza nova e vereis até onde
pode chegar o poder do homem, quando tem a susten-
tá-lo o amor do bem, da verdade e do belo. O magne-
tismo não constitui um jogo para divertimento dos curio-
sos; não é uma ciência ligeira destinada apenas a aliviar
alguns sofrimentos . E' um estudo grave, profundo, que
reclama, para se tornar proveitoso, ilimitado desinteresse,
fé viva, inesgotável amor ao próximo. Com esses três
auxiliares, podereis, homens, colher ousadamente os fru-
tos da árvore da Ciência; repelireis horrorizados o mal
e caminhareis a passos largos na senda do progresso. »
Por isso que os sonâmbulos encontram diferença
entre os fluidos, atestando a sua qualidade excepcional
para a cura de cada moléstia, somente a experiência pes-
soal poderá guiar com segurança o magnetizador neste
e em outros sentidos.
Dentro do princípio - «o Espírito quer, o perispí-
rito transmite e o corpo executa» - hemos passado em
revista os elementos integrantes de toda a ação magné-
tica - o Espírito, a vontaje, o perispirito, o fluido.
Resta-nos examinar o último elemento •- o corpo - ou
mais claramente - o magnetizador.

(65) J. B. Roustab1,g - "Os Quatro Evangelhos".


Capitulo VI I
"E d'8s e-lh es: Ide por todo o mundo e pregaA
for
o E1Jangelho a toda cria tura . O que crer e
batf.zado serd salv o; ma8 o que n4o crer serd
cond enad o. Aos que crerem, aco mpa nha rllo estes
mÃk lgre s: expu lsar 4o os de1n6nios em meu nOff
l6,

/ala rllo nova 8 líng ua., ; peg ar4o nas aerpe71,te


s e,
hum
se bebe rem qua lque r bebi da mor tal, esta nen
s e
mal lhes fard ; imp ordo as mdo s nos enfe rmo
este s sara r4o. Depo(s de lhes ter assi m falado,
o Senhor JeSU8 asce ndeu a-0 Céu , ond e está asse n-
tado 4 dire ita de Deu s. Os disclpulos part iram
e preg aram por toda a part e, cooperando com
eles o Senhor e confirmando-lhes a pala vra pel<M
atos que 86 lhes segu iam .''
(MARcos, 16 :15- 20.)

Todos podem mag neti zar, porque todos possuem o


fluido mag néti co ou fluido vita l.
Já vimos que o mag neti smo resu lta prin cipa lme nte
ento
das facu ldad es da alm a; '? corpo é ape nas o inst rum na
da execução. Assim come~ a qualidade do fluido está -
tam
razã o dire ta do esta do de evolução da alma, assi m en-
bém a mai or ou men or eficiência da mag neti zaç ão dep
de da saú de do corp o.
A razã o é óbv ia: um corpo sem saú de não
pode
seri a
tran smi tir aquilo que não pos sui; a sua irra diaç ão par a
frac a, ineficaz e mai s nociva do que útil, par a si e
o pac ient e.
Deve-se, entr etan to, dist ingu ir entr e uma pess oa in--
alte
cess ante men te doente, por tado ra de mol ésti as que nas
ram pro fun dam ente o «tonus» vita l, da que é ape
52 MAGN ETISM O ESPIR ITUA L

atingi da de uma doença local ( 66), v. g. , um mal de es-


tômago, dos rins etc . , em hora de carát er crônico.
Não se creia, entret anto, adver te Bué (67), que o
poder magnético caminhe de par com a força musc ular;
um homem sólidamente constituído, de enver gadur a her-
cúlea, é muita s vezes menos apto para a produção dos
efeitos magnéticos, do que um homem de aparê ncia mais
delicada, porém dotado de const ituiçã o física especial .
Provém isso de que o sistem a nervoso repre senta aqni
um grand e papel para conde nsar no interi or e proje tar
ao exteri or; e essa faculdade de condensação e emissão
não tem relação algum a com o vigor corporal, que não
poderia supri- la.
Aplicam-se ao magn etizad or todas as caute las salu-
tares aconselhadas aos médiuns em geral, quer em rela-
ção ao seu estado físico e moral, quer em relação ao
meio em que deve opera r.
Deleuze ( 68) apres enta o melhor magn etizad or como
sendo aquele que possui bom tempe ramen to; carát er ao
mesmo tempo firme e tranqu ilo; gérmen de paixões vi-
vas sem ser subju gado por elas; vontade forte sem entu-
siasmo; atividade reunid a à paciência; faculdade de con-
centr ar a atenção sem esforços; e que, magnetizando,
se ocupe unicamente do que faz.
A atenç ão e a direção da vontade não devem sofre r
nenhu ma solução de continuidade; devem ser const an-
tes, uniformes, tranqu ilas, sem vacilações, sem objeti vo
de produzir fenômenos curiosos, mas some nte de fazer
o bem.
Célestin Saint -Jean (69) nos apres enta o exemplo
do reptil que atrai o pássa ro. Seu olhar vivo, horrív el
pela imobilidade, fascin a sua vítim a; o fluido se lhe es-

(66) Aubin Gauth ier - "Magn étisme et Somn ambu-


lisme" .
(67) Alfons e Bué - "Magn étisme Curat if".
( 68) Deleuz e - "Histo ire Critiq ue du Magn étisme Ani-
mal,., vol . 19 , pág . 130 .
(69) Célest in Bcunt- Jean - "Guid e du Magn étiseu r
Spirit e".
53
MA GN ET ISM O ES PIR ITU AL

com sua s asa s


cap a da pupila, e o pás sar o, dominado, sta r que sua
estendidas, num a ati tud e de recuo, a ate os que exe cut a.
vontade est á sendo for çad a nos moviment inevitável, um
Ba sta ria , par a sub tra ir-s e à mo rte qua sedar . Um a for ça
só golpe de asa s, ma s que ele não pode ava nça sem pre
invisível, ma s poderosa, o domina; ele
-se seu túm ulo .
par a aqu ela goela abe rta , que irá tor nar a atr açã o ces sa
Mas se o rep til se dis tra ir um segundo,
e o pás sar o tom a o seu voo. s que deve
Ka rde c mu ito bem assinalou as qua lid ade cur ar pel a
de
pos sui r o ma gne tiz ado r (70 ): «A fac uld ade de um a for ça
e
imposição das mãos der iva evidentement cau~as concor-
excepcional de expansão, ma s div ers as de colocar-se,
rem par a aum ent á-l a, ent re as quais são os, o desin-
ent
na pri me ira lin ha: a pur eza dos sen timde pro por cio nar
ter ess e, a benevolência, o desejo ard ent e em De us; num a
alívio, a prece fer vor osa e a confiança for ça ma gné tic a
pal avr a: tod as as qualidades mo rai s. A for ça mu scu lar ,
é pur am ent e org âni ca; pode, como a em per ver so;
ser par tilh a de tod a gente, mesmo do hom exc lus iva me nte
ma s só o homem de bem se ser ve dela pessoal, nem
par a o bem, sem ideias ocu ltas de int ere sse Mais dep ura do,
de sat isf açã o de org ulh o ou de vai dad e. s e rep ara do-
o seu fluido possui propriedades ben faz eja o ou int ere s-
ios
ras , que não pode ter o do homem vic
combinação dos
sei ro. Todo efe ito mecânico res ult a da mé diu m. Pe la
fluidos que emitem um Esp írit o e um pri eda des no-
sua conjugação, esses fluidos adq uir em pro menos, não te-
vas, que sep ara das não ter iam , ou, pelo
um a ver dad eir a
ria m no mesmo gra u. A prece, que é solícitos em
evocação, atr ai os bons Esp írit os, sem preion ado ; o flui-
sec und ar os esf orç os do homem bem int encent e com o do
do benéfico dos pri me iro s se cas a fàc ilm ioso se jun ta
segundo, ao pas so que o do homem vic
ao dos ma us Esp írit os que o cer cam .»
às influên-
Po r isso mesmo que todos est ão suj eit os só Kardec,
não
cias dos bons ou dos ma us Esp írit os,

( 70) All an Kar dec - "Ob ras Pós tum as" .


54 MAGNE TISMO ESPIRIT UAL

mas também todos os que se entrega ram ao estudo do


magnetismo, inclusive os não espiritas1, adverte m que os
pacientes devem ter muito cuidado e muita cautela na
escolha dos magnetizadores .
Na verdade, sendo a faculdade de magnetizar, ou
de fazer o bem aos seus semelhantes por influência de sua
vontade, a mais bela e a mais preciosa que Deus deu
ao homem, deve-se encarar o exercfcito do magnetismo
como um ato religioso, que exige o maior recolhimento e
a intenção mais pura, considerando-se uma espécie de pro-
fanação magnet izar por curiosidade, por divertimento ou
para provocar efeitos singulares ou surpree ndentes (71).
Os que se entregam mais amiúde à prática do mag-
netismo costumam seguir um regímen de higiene física
e mental, que não é de todo desaconselhável. Alguns
procura m obter o domínio de si mesn10s e aument ar o
poder de sua vontade e atenção através de exercícios vá-
rios e contínuos. Outros preferem seguir um regímen
de alimentação adequado, de preferência o vegetariano,
ingerindo em abundância água pura. Outros ainda se
inclinam aos banhos de sol e aos exercícios respirat órios,
evitando todas as substâncias que possam diminuir a fa-
culdade irradiad ora; há mesmo alguns outros que apre-
sentam uma curiosa relação de alimen-tos antimagnéticos,
como chocolate, carne de porco, batata doce e muitos
outros (72) .
De um modo geral, deve-se evitar tudo quanto im-
porta no desgast e ou perda de energia : excessos sexuais,
trabalho s demasiados, alimentação imprópria, hiperácida,
hipercarnivora, energética, bem como o álcool, a nicotina
e os entorpecentes de toda espécie; deve-se, enfim, viver
mais naturalm ente e adquiri r melhores qualidades (73).
«Em resumo, diz com muita precisão Carlos Imbas-

( 71) Deleuze - "Instruc tion Pratique sur le Magnétis-


me Animal" .
( 72) Edmund Shaftesb ury - "lnstant eneous Persona l
Magneti sm" .
( 73) Fred Wachsm ann - .. Pela vitória do Espirito " .
MA GN ETI S MO ESP IRIT UAL 55

sahy (74) : o ser com põe-se de duas part es prin cipa is:
o corp o e o espí rito. O prim eiro, mate rial, pesado, é a
sede dos órgã os, pelos quai s o espí rito exerce a sua ati-
vida de . Sem o corp o, não pode ria este habi tar os mun -
dos com o o noss o, onde exec uta seu aprendizado, onde
adqu ire os seus conhecim ento s, onde eleva a sua mora l,
onde apri mor a as suas facu ldad es, onde se forta lece, nas
luta s e nos sofr imen tos da Terr a, para as gran des jor-
nada s do futu ro. Em regr a as religiões desc uram o cor-
po, malt ratam -no, desp reza m-no , e julg am até pont o de
fé, principio dout riná rio ou prát ica indis pens ável para
levá -lo ao Céu, enfr aque cê-lo pela s vigílias, pelo s jejun s,
pelos cilícios, pelos flagelos, pela sord ícia, pela falta de
higiene, pela falta de ar, pela falta de água , pela falta
de luz. Erro grav íssim o é este para o qual não nos can-
sare mos de cham ar a aten ção de noss os sem elha ntes . O
Espi ritism o, muit o ao cont rário do cam inho que segu em
os relig ioso s de vário s · mati zes, acon selh a que pres erve -
mos o noss o corp o dos elem ento s ou fato res que lhe di-
minu am a capa cida de de resis tênc ia, e assim terem os
que nos alim enta r, sóbr ia, mas sufic iente men te; não po-
dem os perd er a noite em praz eres inút eis ou os dias em
mau s cont ubér nios e em vícios; não deve mos entr egar -
-nos à ocio sidad e; não usar emo s vest es impr ópri as ao
clim a; não proc urar emo s exag erar o reca to até o ridíc ulo;
não sacr ifica remo s as bene sses da Natu reza em nom e
de convenções ou de u'a mor al movediça, inter mite nte,
errá tica, oriu nda dos mito s, das supe rstiç ões ou da igno -
rânc ia. E', enfim, noss o deve r, prom over a robu stez , en-
trete r a saúd e, alim enta r a exis tênc ia, por meio do exer -
cício físico, da giná stica , torn ando -se o hom em forte , não
para agre dir os seus irmã os do plan eta, não para lhes
faze r mal, senã o para resis tir às agre stias do meio am-
bien te; às intem périe s de toda a orde m, a que está su-
jeito ; às dific ulda des de todo o gêne ro, que o cerc am;
para sobr eviv er na luta pela vida, que tem por dian -
te cons tante men te, e que deve enfr enta r em bene ficio

(7') Carlo s Imba,aaahJI - "Cor po e Espl rito" .


56 MAG NETI SMO ESPI RITU AL

próprio, en1 benefício do progr esso unive rsal. Cremos que


é este o ensino dos nosso s maio res.»
Vida sóbri a, mode rada, sem abuso s e desequilíbrios,
sem excessos e desvios, é o que se presc reve ao mag-
netizador.
E' evide nte que, se exist em subst ância s que pertu r-
bam, enfra quec em e aniqu ilam a ação magn ética , dese-
quilib rando as funções nervo sas, outra s deve rão exist ir
que, do mesmo modo, facili tam, aume ntam e exag eram
a ação . E, de fato, existem, segun do o teste munh o de
muito s expe rimen tador es. Entre tanto , esses expe dient es
não natur ais são desac onsel hávei s. Bast ará o regím en
de alime ntaçã o e higiene, com obser vânc ia dos prece itos
indis pensá veis que a auto- educa ção nos indica e sem es-
queci ment o do cultiv·o da vida inter ior. Ness es exerc í-
cios de oraçã o, meditação, conte mpla ção e conc entra ção,
que o cultiv o da vida inter ior reclama, desenvolve-se pro-
digio same nte a intuição, e, mercê dessa intuição, eles se
enriq uecem com os fulgo res descidos do Céu, veiculado-
res de verda des divinas, que nenh um pens ador huma no
pode, sem esse auxLio, receber, nem, por conse guint e,
revel ar ( 75) . Deixemos as droga s e os tóxicos para os
hipno tizad ores e reser vemo s para os magn etiza dores a
medicina do espír ito, pois na alma se conc entra toda a
sua força e todo o seu pode r.
Já dissemos que se aplicam ao magn etiza dor as
caute las preco nizad as aos médi uns em geral . Assim, o
exercício muito prolo ngad o da magn etiza ção, tal como
da mediunidade, ocasi ona um dispêndio de fluido e, con-
seque ntem ente, a fadig a, que cump re repa rar pelo repou -
so (vide «O Livro dos Médiuns», Cap. XVIII - Dos In-
convenientes e perig os da medi unida de) (76).
Nunc a é demais insis tir na obser vânc ia das caute las
neces sária s que todo magn etiza dor deve ter em relaç ão
à sua própr ia força . O homem não é uma máqu ina que

( 75) Ange l Agua rod - "Gran des e Peque nos Pro-


blema s" .
( 76) Allm, Karde c -- "O Livro dos Médi uns"
MAGNETISMO ESPIRITU AL 57

segrega o agente magnético, adverte Du Potet (77) . O


fluido vital é essencial à vida, e isso é quase pleonástico ;
logo, não se deve transmitir , em nome de nenhum prin-
cipio, uma força já em grau de esgotamento, a qual, por
um lado, não beneficia a quem a recebe, e, por outro,
prejudica a quem a transmite .
O magnetizador que abusa da sua força, sem re-
pouso para recuperá-la, estiola-se, esgota-se: «Tenez de
l'huile en réserve, si vous ne voulez que votre lampe
s'éteigne» (78).
A fadiga que resulta das experiências muito prolon-
gadas ou muitas vezes repetidas reflete-se, particular-
mente, no cérebro, na cavidade do estômago e nas arti-
culações (79) .
Por último, cumpre observar que os homens de idade
avançada não devem magnetizar; de resto, salvo casos
excepcionais, a sua força não é eficiente. Os homens
na idade adulta são os mais aptos para a prática mag-
nética , desde que reúnam, é bem de ver, as demais con-
dições necessárias .

(77) Du P otet "Traité Complet de Magnétisme


Animal,, .
(78) Du Potet - Obr. cit.
( 79 ) CéleBtin Satnt-Jean - "Gulde du Magnétiseur
Splrite·" .
Capítulo VIII
"Sucedeu que, ao aproximar-se Jeffl-8 de Je-
ricó, estava um cego sentado 4 beira do caminho,
pedindo esmola. Ouvindo o tropel da multtddo
que passava, perguntou o que era aquJlo. Disse-
ram-lhe que era Jesus de Nazaré quem por aU
passava. Logo clamou ele: Jesus, filho de David,
compadece-te de mim! Os que iam à frente o
repreendiam, para que se calasse; ele, porém,
clamava cada vez mais forte: Filho de David,
tem compaixão de mim! Jesus parou e mandou
que lhe trouxessem o cego. Ao aproximar-se este,
falou ele: Senhor, faze que eu veja! Jesus lhe
disse: Vê; tua fé te salvou. Imediatamen te, o que
era cego viu e foi seguindo a Jesus, glorificando
a Deus. E todo o povo, tendo visto aquilo, lou-
vava a Deus."
(LUCAS, 5:35-43),

Já passámos em revista as qualidades do magneti-


zador e as condições que deve observar para manter-se
em estado de operar.
Agora trataremos do paciente, isto é, do magnetizado.
Nem todos os homens são sensíveis à ação magné-
tica, e, entre os que o são, pode haver maior ou menor
receptividade, o que depende de diversas condições, umas
que dizem respeito ao magnetizador e outras ao próppo
magnetizado, além de circunstâncias ocasionais oriundas
de diversos fatores.
Comumente, o magnetismo não exerce nenhuma ação
sobre as pessoas que gozam de uma saúde perfeita (80).

( 80) H. Duroille - "Magnétisme - Théories et Proce-


dés"; A. Oahagnet - "Thérapeutiq ue du Magnétisme" .
MAGNET ISMO ESP IRIT UAL

~tre tant o, o mesm o individuo, insensfvel à ação magné,-


ca no estad o de saúd e, torna -se extre mam ente sensivel
quan do doen te (81) .
Do mesm o modo há doen tes em que o magnetismo
~enh uma influê.ncia exer ce; outro s há em que a ação
e desd e logo evid ente e decisiva. Não se pode no estad o
atu~ I dos noss os conh ecim entos expli car toda s essas ano-
mali as, que, como dissemos, ora dependem do magn eti-
zado r, ora do magn etiza do, ora de ambo s.
Sob esse aspe cto, convém ter em ment e esta pági na
de Ang el Agu arod ( 82) :
. «O magll:e?smo, em certo s estad os de orige m psí-
quic a ou esp1 ntua l, basta , e, para certo s indivíduos, é
o melh or agen te cura tivo. Poré m, não se pode preconi-
zar º. ~agn etism o como agen te cura dor exclusivo, para
a ma1or1a dos caso s e dos indivíduos; é preciso ter isto
em cont a para se não come terem erros de trata men to,
em preju ízo e desc rédit o, por efeit o de inconsciente fana -
tism o, de um pode roso agen te de cura . Aos indivíduos
mate riali zado s, dose s mais forte s de medi came ntós; aos
sensitivos., men os mate rializ ados , doses mais aten uada s;
aos notà velm ente espir itual izado s, mais medicina espiri-
tual do que hum ana . Essa a regr a ; as exceções encon-
trá-l as-ei s em cada caso, se eleva rdes o vosso espír ito ao
Alto , para que chov am sobr e vós as bênçãos divinas.» (*)
Os auto res, em gera l, apon tam dive rsas condições

(81) A. Gauthier - "Magnétisme et Somnambulisme ..


( 82) A ngel Agua rod - "Gra ndes e Pequenos Problemas"
( •) A lição está de acordo com a 'lógica da comunica-
ção, quando afirm a: "A causa das enfermidad& é o que 86
deve buscar, para, suprimindo-a, acabar com 08 estados en-
fermiços. A ca-usa, eu vos posso afirmar, estd. na alma.. Toda
enfer mida de corporal acusa uma enfermidade an,mica;
quan-
do não houver alma s enfermas, tamb ém n4o have rá corpo
sem saúde, salvo os estados m6rb-idos derivados, nat~ralmen-s
te, da idade e da cond içllo humana, ou devidos ao ambi
ente
em que viva a criatura." S, como se v~, mais um arg11
,mento
em 8ocorro da nossa tese, quando afirm amos que o magn
e-
tismo é de ordem espiritual. - (Not a do Auto r.)
60 MAGNETISMO ESPIRITUAL

que o magnetizado deve observar para melhor êxito da


operação ou, pelo menos, para facilitar a receptividade
da ação. Entre essas condições, as mais importantes
são: a simpatia, a fé e a paciência.
Há uma relação ou uma simpatia física, moral e es-
piritual entre alguns indivíduos. E' uma decorrência da
lei de afinidade e, por paradoxal que pareça, essa relação
já é um princípio de magnetização.
E' muito comum a simpatia que nasce pela leitura
de um nome, pela audição de uma voz, pelo modo de
falar, pelo olhar, etc. Edmund Shaftesbury (83) fêz uma
ir...teressante observação sobre o assunto, apesar do ca-
ráter especulativo da sua obra, classificando, v. g., uma
voz magnética, um olhar magnético e até uma caligrafia
magnética. ·
Como quer que seja, a simpatia é espontânea. Na
ausência de simpatia, que gera a confiança, é necessário,
pelo menos, que entre operador e paciente não haja an-
tipatia, um motivo de repulsa que possa diminuir e até
anular a ação magnética.
Alguns autores negam a necessidade da fé, quer
para os magnetizadores, quer para os magnetizados, e a
substjtuem pela confiança.
Não é possível transigir nessa troca, somente admi-
tida por aqueles que apenas vêem no magnetismo um
fenômeno de efeitos puramente físicos.
Na verdade, a iterativa advertência evangélica, que
decorre de diversas passagens, como a que encima este
capítulo, nos mostra que a fé é a maior condição de
receptividade, e nela se incluem todas as outras.
Por isso mesmo, o nosso conselho é no sentido de
que o magnetizador deverá, antes de iniciar o processo
de magnetização, fazer uma ligeira doutrinação, a fim
de que o paciente se coloque por si mesmo em piedoso
recolhimento e que erga com o coração a sua rogativa
ao Alto, qualquer que seja a sua crença ou a sua reli-

( 83)
Edmund Bhaftes"bury - ••1nstataneous Personal
Magnetism", 1926 .
MAGNETISM O ESPIRITUAL 61

giao. Será a maneira mais eficiente para coadjuvar a


emissão e a recepção do fluido.
A paciência, outro fator de êxito, é o que, em regra,
falta aos doentes.
E' necessário considerar que o magnetismo excita
muitas vezes as dores na parte do corpo em que se acha
situado o mal e provoca outras crises, como veremos
mais adiante. Entretanto, esses fatos não devem atemo-
rizar o doente; eles são até certo ponto um prenúncio
de êxito, porque revelam a reação do organismo para
triunfar sobre a moléstia.
Toda cura, principalmente dos males crônicos, de-
manda tempo . E os piores doentes são os inconforma-
dos, sem nenhuma resignação.
Alfonse Bué ( 84) apresenta uma série de conselhos
salutares, que merecem sempre lembrados. Assim diz
ele, em resumo :
1 - O paciente deve observar com a maior aten-
ção todas as sensações que experimenta e transmiti-la s
ao magnetizador, quer durante a magnetização, quer no
intervalo das sessões.
2 - Deve evitar ser influenciado pelo meio em que
vive; não contrariar a ação do magnetismo, tomando, às
ocultas do magnetizador, substâncias cujos efeitos este
não poderá, por isso, distinguir, nem prever.
3 - Deve evitar os excessos de todo gênero : vigí-
lias, fadigas do corpo e do espírito, emoções vivas ou
deprimentes, tudo quanto, em uma palavra, possa per-
turbar o equilibrio do organismo ou o repouso da alma.
4 - Não deve abusar, quer de abluções, quer de
banhos; a ação repetida de duchas, quentes ou frias, di-
minui, no decurso do tempo, a receptividad e magnética,
determinando uma excitação periférica, que se transmite
pelos nervos vaso-motores ao centro do grande simpático.
5 - Todo agente manifestant e sedativo ou revul-

( 84) Alfonse Bué - "Magnétisme Curatif".


62 MAG NETIS MO ESPIRI TUAL

sívo, isto é, que retarda ou excita o movime nto vital,


deve ser modera dament e empreg ado em concorr ência com
o magnet ismo, de modo que não lhe embara ce o efeito.
6 - E' princip almente importa nte abster-s e de tudo
qua nto possa tender a destrui r ou ameniz ar a sensibil i-
dade nervosa , tais os perfum es, narcótic os e bebidas es-
pirituos as; sob a influên cia deprim ente dos anestés icos
ou dos t óxicos, a tensão vital acaba por se embota r de
tal modo, que se torna impossí vel ao magnet ismo desper-
tar no corpo uma reação qualque r.
7 - As pessoas que fazem ou fizeram uso imoder a-
do da morfina , da antipiri na, do éter, do ópio, do cloral,
do clorofó rmio e do sulfona l, ou foram tratada s durante
muito tempo por tóxicos violento s, tais a acetani lida, a
est ricnina, o salicila to de sódio e as varieda des de bro-
metos ou iodetos, perdem toda a receptiv idade magnét ica
e se tornam incuráv eis pelo magnet ismo .
8 - A quinina em altas doses, a atropin a, o cól-
chico, o abuso do álcool e do fumo, têm os mesmos efeitos
sobre o organis mo.
Du Potet ( 85) chama especia lmente a atenção para
os prepara dos farmacê uticos de mercúri o, arsênic o, cobre,
para o nitrato de prata e para todo o gênero de veneno s
que a nova medicin a nos apresen ta como remédio s. An-
t es de pretend er aliviar os doentes , o magnet ismo tem
necessi dade de elimina r, de expulsa r da circulaç ão esses
estranh os produto s de infelicí ssima invençã o, que tantos
males têm causado à Human idade.
Assim como existem pessoas de ambos os sexos que
não podem ser magnet izadas e outras cuja receptiv idade
é maior ou menor, assim também existem animais , vege-
tais, minerai s, que recebem mais ou menos fàcilme nte
o fluido magnét ico e os que não o toleram .

( 8õ) Du Potet - "Manua l de l'JDtudla nt Magnét lseur".


MAGNETISMO ESPIRITUAL 63

Segundo Mesmer (86), depois do homem os vege-


tai s, sobretudo as árvores, são os mais' ,
suscetíveis de
magnetização. ,
Todos os corpos animados ou inanimados - animais,
vegetais e minerais - que se aproximam de um doente
ou possam com este estabelecer contacto, devem ser mag-
netizados para que não se rompa a harmonia pela dispa,..
ridade de fluidos (87).
Experiências realizadas por Lafontaine ( 88) prova-
ram não só a analogia das propriedades dos fluidos nos
três reinos da Natureza, como também que, pela magne-
tização, eles deixam de ter influência própria, tornando-se
verdadeiramente neutros em relação àqueles que foram
submetidos à mesma ação magnética.
Entretanto, não podemos deixar de reconhecer com
De Bruno que há um magnetismo mineral, um magne-
tismo vegetal, um magnetismo animal, mas que se deve
distinguir cuidadosamente o do homem dos demais, por-
que o magnetismo humano resulta não somente das pro-
priedades do corpo, mas também das faculdades da alma.
Por outro lado, não devemos esquecer que cada ani-
mal, cada vegetal e cada mineral tem uma radiação pró-
pria. E essa radiação, em ✓relação a certos indivíduos,
poderá produzir um mesmo efeito, ao passo que, em re-
lação a outros, efeitos diferentes e até opostos.
Assim, por exemplo, Despine (89) nos conta que, nas
suas experiências com os sonâmbulos, a aproximação de
um gato causava viva repulsa ao paciente, ao passo que
Durville (90) nos apresenta o seguinte curioso fato:
Um eclesiástico, de cerca de trinta anos de idade,
estava em franca agonia, sob a influência de uma febre
aguda e pertinaz, que resistira a todos os recursos da

( 86) M esmer - "Memórias e Aforismos sobre o Mag-


netismo Animal", Afor. 304.
( 87) A. Gauthier - "Magnétisme et Somnambulisme".
( 88) Oh. LafontaÃne - "L'Art de Magnétiser" .
( 89) Despine - "Du Somnambullsme".
(90) H. Durville - "Traité Expérimental de Magné-
tlsme" .
64 MAG NET ISMO ESP IRIT UAL

Medicina. O doen te esta va satu rado de quin ina e já não


podia nem sequ er abri r a boca para tom ar nova s doses.
O médico assis tente prog nost icara com toda a segu ranç a
a sua mort e. O gato do eclesiástico, sem pre de rond a,
apro veito u o mom ento em que havi am deix ado o doen te
a sós, para , sorr ateir ame nte, galg ar o leito e deita r-se
sobr e o moribundo. Sem pre afug enta do pela enfe rmei ra,
volto u de novo à carg a, dura nte vári os dias . O prim eiro
cont acto do gato havi a prod uzid o uma tran spira ção abun -
dant e com a cons eque nte diminuição da febr e. Com o
segu ndo cont acto a tran spira ção torn ou-s e extr aord iná-
ria. A crise da cura , afina l, ocor rera : o doen te esta va
salvo. Qua nto ao gato , que se reve lara tão dedi cado mé-
dico, este havi a desaparecido. Enco ntra ram- no mor to,
no fund o do jardi m, com os pêlos eriça dos e os mem bros
cont raíd os. O brav o anim al havi a pago com a sua vida
a cura do seu senh or.
O mesm o auto r rela ta aind a o caso de um senh or,
de nome M. Dum as, que esta va atac ado de um fort e
reum atism o artic ular . Poss uía ele um belo cão, de três
anos de idade. Toda s as vezes que sobr evin ham as crise s
reum ática s, ele fazia o cão deita r-se ao seu lado, porq ue
lhe pare cia que o corpo do anim al, junt o da regi ão do-
loros a, o alivi ava. O cão, que de ordi nári o era mui to
aleg re e carin hoso , pass ou a apre sent ar sina is posi tivo s
de doen te e, quan do cons egui a esca par- se daqu ela situa -
ção, que tant o o afligia, refu giav a-se nos cant os mais
afas tado s da resid ênci a. Uma noite, poré m, em que as
crise s o assa ltara m com excepcional inten sida de, M. Du-
mas retev e o anim al junt o do seu corp o até o ama nhec er.
No dia segu inte as dore s havi am desa pare cido e o doen te
esta va cura do. E dois dias depois, em meio a conv ulsõ es
horríveis, o cão expi rava .
A prop ósito dos impo rtan tes resu ltado s terap êutic os
obtidos por meio da equi taçã o, assim se pron unci ou um
médico de Nov a Iorq ue sobr e a influ ênci a mag nétic a do
cavalo sobr e o cava leiro (91) : «O cava lo é uma verda-

{91) H. Durv ille - "Tra ité Expé rime ntal de Mag né-
tism. e".
MAGNETISMO ESPIRITUAL 65

deira pilha para a produção de eletricidade animal . Os


vapores das S\J.as narinas e do seu corpo estão carre-
gados de magnetismo. O homem a cavalo se encontra
envolvido numa atmosfera de fluidos magnéticos que
seu corpo enf raquecido absorve como a terra ressecada
absorve àvidamente a água da chuva.»
~ também sabido que o ar exalado pelos animais
é um antisséptico poderoso que mata os micróbios a
uma certa pressão de calor.
Mas o contrário também ocorre, atestando os peri-
gos dessa zooterapia. As radiações dos animais causam
muitas vezes males desconhecidos, principalmente quan-
do não gozam de boa saúde.
O mesmo acontece com os vegetais e com os mi-
nerais. Todos têm uma radiação própria e podem afetar
os indivíduos de maneiras diferentes, beneficiando uns
e prejudicando outros.
Vê-se, assim, quão complexo e profundo é o estudo
das propriedades dos fluidos nos três reinos da Natureza
e quão longo é o caminho a percorrer para a descoberta
de todas as combinações desses fluidos, que levarão um
dia o magnetismo ao seu justo lugar como supremo agen•
te da cura de todos os males que afligem a Humanidade.

,Í'
Capítulo IX
"O Espiritis mo e o Magneti smo nos dão a
chave de uma imens-idade de fenlJmenos sobre os
quais a ignordn cia teceu u1n sem número de fá-
bulas, em que os fatos se apresen tam exagera dos
pela irr.agina ção. O conheci mento lúcido dessas
dua~ ~cias que, a bem dizer, formam uma úni-
ca, nwstran do a realidad e das coisas e sua8 ver-
dadeiras causas, constitu i o melhor preserv ativo
contra as ideias supersti ciosas, porque revela o
que é possível e o que é i~mpossível, o que está
nas leis da Naturez a e o que não passa de ridícu-
la crendice . "

(KARDF.c - O Livro dos Espírito s,


Coment ário à resposta n 9 555.)

Passare mos agora a tratar do process o da magne-


tização. .
Quem compul sar os tratado s sobre magnet ismo obser-
vará desde logo a grande varieda de de process os usados
para concen trar e dirigir o fluido magnét ico. E quem
tiver feito seus estudos e experiê ncias reconhe cerá que
a diversid ade dos process os resulta princip almente da
própria naturez a e das proprie dades do fluido de cada
magnet izador. Uma observa ção acurad a nos levará à
convicção de que o essenci al é agir de acordo com os
princípios, sem ficar preso aos método s prescrit os, mas
adotand o aquele que for, em cada caso, o mais consen-
tâneo e eficient e.
. Como um dos nossos objetivo s é equipar ar os mag-
netizad ores aos médiun s curador es, procura remos orien-
tar nosso trabalh o no sentido de uniform izar igualme nte,
tanto quanto possível, o modo geral de ação que uns e
MAGNET ISMO ESPIRITU AL 67

outros devem observar de acordo com o método mais


conveniente.
A razão é óbvia, pois, como vimos, as pessoas dota-
das de força magnética formam apenas uma variedade
na classificação dos médiuns curadores, e muitas vezes
ignoram que possuem essa qualidade.
Tentaremos, portanto, escolher um conjunto de con-
selhos, para estabelecimento de um sistem.a comum, hau-
ridos nos melhores autores, e adaptá-los à prática mediú-
nica em geral.
O magnetizador deverá, antes de tudo, certificar-se
do ambiente em que vai operar, de maneira que possa
agir com calma, atenção, recolhimento, sem receio de que
possa ser perturbado. Para isso, salvo os casos de for-
mação da cadeia magnética, não deve permitir aglome-
ração de pessoas no recinto e aconselhar o maior silên-
cio. Todavia, é útil a presença de uma, duas ou três
pessoas, preferentemente das que mais .desejam a cura
do paciente.
Tomada essa cautela, deve o magnetizador, como ato
preliminar, dirigir o seu pensamento ao Alto e orar fer-
vorosamente, lembrando-se sempre do conselho espiri-
tual : «quando te achares na incerteza, invoca o teu bom
Espírito, ou ora a Deus, soberano Senhor de todos, e Ele
te enviará um dos seus mensageiros, um de nós» (92).
Passará, então, o magnetizador à tomada de relação,
isto é, a estabelecer entre ele e o paciente uma relação
magnética, pela qual se possa realizar a transmiss ão do
fluido de um para outro.
Para isso, sentado ou deitado o paciente, cômoda-
mente, e de modo que o operador fique sempre em ponto
mais alto, quer sentado ou de pé, ele iniciará a ação por
um dos processos aconselhados comumente pelos expe-
rimentadores. Esses processos variam. Mesmer, Puysé-
gur, Deleuze, Aubin Gauthier e Bruno faziam o contacto
pelos polegares do paciente dirigidos para cima e que
eles seguravam com as mãos fechadas levemente duran-

(92) Kardec - "O Livro dos Espiritos", Resp. n° 523.


68 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

te uns 5 minutos, processo esse ainda seguido moderna-


mente por J. Reno-B ajolais (93); outros estabelecem o
contacto pousando uma das mãos sobre os rins e a
outra sobre o epigastro, conservando deste modo o corpo
do paciente entre as duas mãos; outros ainda agem com
uma só das mãos colocada na cabeça ou sobre o epi-
gastro .
O Barão du Potet, que sempre procurou inovar os
processos de magnetização, só empregava a ação a dis-
tância , sistema, aliás, que achamos mais eficiente, mas
depois de to,nado o contac to pela imposição da mão
direita ou esquerda, indiferentemente, sobre a cabeça do
paciente. Recomendamos, por isso, este último processo,
sem deixar de reconhecer, todavia, que a prática , segun-
do as circunstâncias, é a melhor conselheira, principal-
mente para aqueles que, sempre bem assistidos, recebem
as melhores intuições.
A relação se estabelece ordinàriamente dentro do
espaço de 5 minutos, tempo esse que poderá ser dimi-
nuído nas magnetizações posteriores e até mesmo, o que
dependerá de observação, ser suprimido o ato prelim inar
da tomad a de relação.
Quando já se está um pouco exercitado, diz Bué (94),
sente-se depres sa quando a relação se estabelece: grande
calor nas mãos e formígamento na ponta dos dedos são
os indícios mais comuns.
Em relação ao paciente, os sintom as habitu ais são:
sensação de calor ou de frio, opressão, peso na cabeça,
sonolência, palidez, ansiedade, convulsões, agitação, con-
tratura s, dormência nos membros, tremur as, aceleração
ou diminuição do pulso, etc.
Estabelecida, assim, a relação magnética, o operad or
inicia o seu processo.

(93) J. Reno-B ajolais - "Techn ique Modern e de Mag-


néttsm e Humai n", pág. 6.
( 94) Alfonse Bu6 - "Magn éttsme Curatif " .
69
MAG NETI SMO ESPI RITU AL

Antes, porém, de iniciarmos o estudo da ação mag-


nética, que se constitui essencialmente pelas imposições
e passes, vamos trans creve r o processo do Barã o Du
Pote t (95), que, além da sua simplicidade, tem o méri to
de facilitar o entendimento do leitor. Diz ele: ·
«Quando o paciente pode assen tar-s e, nós o coloca-
mos em uma cadeira, permanecendo de pé à sua frent e
algum tempo, sem tocá-lo. Em seguida, nos assen tamo s
também em uma cadeira mais alta que a sua, de mane ira
que os movimentos que deveremos exec utar não nos fati-
guem muito. Quando o doente estiv er deitado, perm ane-
cemos de pé, ao lado do seu leito, e o convidamos a
aproximar-se de nós o mais que for possível. Pree nchi-
das essas condições, entregamo-nos, por algun s insta ntes, /
ao recolhimento, observando o doente com atenção. Logo
que nos julga rmos com a tranquilidade e a calm a de
espírito necessária, levaremos uma de nossa s mãos, com
os dedos ligeiramente separados, sem contr ação e sem
rigidez, à altur a da cabeça do doente, fazendo-a desc er
lentamente, mais ou menos em linha reta, até os pés,
repetindo esses movimentos (pass es) de uma mane ira
uniforme, dura nte cerca de um quar to de hora , exami-
nando com cuidado os fenômenos que se desenvolvem.
«Nosso pensamento está ativo e não tem outro obje-
tivo senão o de pene trar o conjunto dos órgã os e, sobre-
tudo, as regiões onde se esconde o mal que quere mos
ataca r e destruir. Fatig ado um braço, servimo-nos do
outro, e nosso pensamento e nossa vontade, cons tante -
mente ativos, aceleram a emissão de um fluido, que se-
gundo a nossa suposi~ão, parte dos centr os nervos~s e
segue o traje to dos condutores natur ais, os braço s e os
dedos. Nossa vontade põe evidentemente em movi ment o
um fluido de uma sutileza extre ma, que se dirige e desce
em direção dos nervos até à extre mida de das mãos
ultra passa a pele, indo ating ir os órgã os sobr e os quai~
s~ preten?e atuar . Quando a vonta de não sabe condu-
zi-lo, ele e levado, por meio de irrad iação , de uma parte

( 95) Du Potet - "Trai té Comp let de Magn étism e Ani-


mal", pág . 425 .
70 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

para outra, confor me a atraçã o que sofrer ; caso contrá -


rio, ele obedece à direção que lhe é determ inada e produz
o que dele exigis, dentro dos limites do possível.
«Os efeitos mais ou menos rápido s, resulta ntes de
toda magne tização , estão em razão da energi a da von-
tade, da força emitida, da duraçã o da ação e, princip al-
mente, da penetr ação do agente atravé s dos tecido s
human os.
«Tenhamos sempr e no pensam ento que as emissõ es
magné ticas sejam regula res e que nossos braços e nossas
mãos não estejam em estado de contra ção e tenham a
leveza para execut ar sem fadiga sua função de condu tor
do agente .
«Se os efeitos que resulta m orclinà riamen te dessa
prática não ocorre rem pronta mente , repous aremo s um
pouco, pois temos observ ado que a máqui na magné tica
human a não fornec e de uma manei ra contín ua, confor me
nosso desejo e nossa vontad e, o poder que dela exigim os.
Após cinco ou dez minuto s de repous o, recom eçamo s os
movim entos de nossas mãos (passe s), como de início,
durant e um novo quarto de hora, cessan do finalm ente
com o pensam ento de que o corpo do pacien te está satu-
rado do fluido que supom os ter emitido.
· «Essa prática - termin a Du Potet - tão simple s,
tão fácil, tão inócua na aparên cia, fornec e-nos, entre-
tanto, os maiore s resulta dos.»
Como dissemos, a ação magné tica se consti tui essen-
cialme nte de imposições e passes .
Hoje, os magne tizado res não dizem mais imposi ção
das mãos, mas simple smente imposiç:io, que se com-
preend e pelo ato de coloca r a mão sobre o pacien te.
Essa prática vem da mais remota antigu idade e era
usada pelos sacerd otes e pelos iniciad os nos mistér ios
do culto, entre os egípcios, que, por esse modo, opera-
vam ~uras marav ilhosas . Ela foi igualm ente seguid a
pelos impera dores Vespa siano e Adrian o, e pelos reis
de França , de Clóvis até Luís XV (96). A imposição da
(96) H. D1irvill6 - "Magn étisme -- Théori es et Pro-
cédés" .
\\ MAGNET ISMO ESPIRITU AL 71

mão sobre o doente era seguida das seguintes expres- _


sões : «Le Rol t,e touche -- Dieu te goérif;.»
1

As imposições podem ser feitas igualmente à dis-


tância de uns 10 a 15 centimetros, sendo geralmen te
precedida do contacto. Elas se executam com a mão
estendida naturalm ente, tendo a face palmar para baixo
e os dedos ligeiramente afastados , sem rigidez e sem
contração.
Os efeitos das imposições com contacto e das impo-
sições a distância variam extremam ente de caso a caso,
devendo o operador observá-los atentame nte para se
orientar com segurança. Homens há, diz Deleuze (97),
que dão alivio só com o simples contacto; outros há que
não fazem menos beneficio, e não necessitam tocar.
Bué relata o curioso caso do couraceiro do 119 Regi-
mento em Angers, França (98):
«Esse homem, diz ele, querendo fazer um assalto
à força com seus camarada s, à casa do encarrega do
das armas, ferira-se gravemen te na co:xa ao manejar
uma bigorna. A imobilização forçada do membro, em
consequência do ferimento, produzira uma pseudo-anqui-
lose na articulaçã o do joelho, que um tratamen to de
muitos meses não lograra reduzir, e eu consegui resti-
tuir-lhe o uso da perna em doze dias. Logo que fiz
a imposição da mão sobre o joelho doente, a perna
ficou dormente e imobilizou-se cemo se estivesse prega-
da ao soalho. Entretant o, não havia insensibilidade, por
isso que tão logo eu afastava a mão, desenvolviam-se
na articulaçã o dores intensas que arrancav am gritos ao
doente, qual se lhe tivessem revolvido o joelho com ferro
em brasa; e o notável é que quanto mais me afastava
dele, tanto mais as dores se tornavam intoleráv eis;
cessavam, porém, instantân eamente, desde que eu tor-
nava a colocar a minha mão sobre a parte doente.
Admirei-me bastante, então, e bem assim as pessoas
ante as quais operava, de um fenômeno que me parecia
insólito, do qual tive, porém•, posterior mente e em diver-
( 97) De'leuze - "lnstructi on Pratique" .
(98) Al/OM6 Bu~ - "Magnétis me Curatif".
'
/

72 MAGNETISMO ESPIRITUAL /
/

sas ocasiões, a oportunidade de verificar a constância,


de modo que não pude duvidar mais da sua realidade.»
Em regra as imposições precedem e preparam os
passes, mas também podem com estes últimos ser com-
binados e intercalados, de acordo com as circunstâncias.
Os movimentos que se fazem com as mãos sobre
o corpo do doente com o pensamento e a vontade de
curá-lo chamam-se passes.
Os passes, portanto, precederam de muito o Espiri-
tismo codificado por Allan Kardec, eis que o magnetismo
era conhecido e usado desde os mais remotos tempos.
E eles precederam também o próprio magnetismo, por-
que encontramos a sua origem, conforme nos adverte
Durville (99), no Velho Testamento, em que as imposi-
ções e os movimentos das mãos aparecem em diversos
episódios.
Assim, quando Moisés designou Aarão para condu-
zir o povo de Israel à terra prometida, primeiramente
aquele lhe impôs as mãos. (E Josué, filho de Nun,
estava cheio do espírito de sabedoria, porque Moisés
lhe impôs as mãos; e os filhos de Israel o ouviram,
fazendo o que o Senhor havia ordenado a Moisés) ( 100).
Na guerra que Moisés fêz aos Amalecitas, verifica-
va-se que, se ele se voltasse para o inimigo e erguesse
suas mãos para o céu, seu exército estava vitorioso, ao
passo que, quando, fatigado, ele as deixava cair, os
inimigos retomavam coragem e venciam (101). (E cada
vez que Moisés erguia sua mão, Israel vencia; e quando
ele a abaixava vencia Amalec. Mas as mãos de Moisés
estavam pesadas, por isso eles apanharam uma pedra
~ a colocaram debaixo dele e ele se sentou nela; e Aarão
e Hur mantinham suas mãos, um de cada lado; e suas
mãos ficaram na posição certa até o pôr do Sol. E Josué
dominou Amalec e seu povo pela espada.)
Isso no Velho Testamento. E que dizer do Novo
(99) li. Durville - "Théories et Procédés", tomo II, pá-
gtna 82.
(100) Velho Testamento - Deut . , 34 : 9.
(101) Velho Testamento - :S,xodo, 17 :11 a 13.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 73

Testamento, em que as curas chamadas milagrosas se


sucediam pela simples imposição das mãos do Divino
Magnetizador! ?
Entretanto, para assinalar o grande contraste e
como curiosidade histórica, tem cabida aqui a transcri-
ção da «Carta encíclica da Santa Inquisição romana
e universal a todos os bispos contra os abusos do mag-
netismo», concebida nos seguintes termos (102):
«Quarta-feira, 30 Julho 1856.
«Na reunião geral da Santa Inquisição romana uni-
versal, realizada no convento de «Sainte Marie de la
Minerve», SS. EE. RR. os cardeais inquisidores gerais
contra a heresia em todo o mundo cristão, depois de
terem maduramente examinado tudo o que lhes foi relata-
do de diversas fontes por homens dignos de fé, relativa-
mente à prática do magnetismo, resolveram dirigir a
presente encíclica a todos os bispos para reprimirem
os abusos.
«Pois está perfeitamente verificado que um novo
gênero de superstição surgiu dos fenômenos magnéticos,
aos quais muitas pessoas hoje se apegam, não para
esclarecer as ciências físicas, como se deveria fazer, mas
para seduzir os homens, na persuasão de que podem
ser descobertas as coisas ocultas, remotas ou futuras,
por meio ou pela influência do magnetismo, e sobre-
tudo por intermédio de certas mulheres que ficam unica-
mente sob a dependência do magnetizador.
«Já várias vezes a Santa Sé, consultada sobre casos
particulares, deu respostas que condenam como ilícitas
todas as experiências feitas fora da ordem natural ou
das regras da moral, e sem empregar os meios permi-
tidos ; assim, em casos semelhantes, foi decidido na
quarta-feira, 21 de Abril de 1841, que o uso do magne-
tismo, tal como o expõe a consulta, não é permitido.
Do mesmo modo, a santa congregação julgou com o
propósito de proibir a leitura de certos livros que divul-
gavam sistemàticamente o erro sobre esta matéria. Mas

( 102) Bin-et et Feré - "Le Magnétisme Animal", p. 38.


74 MAGNE TISMO ESPIRI TUAL

como, além dos casos particul ares, havia necessidade


de um pronunc iamento sobre a prática do magnetismo
em geral, foi estabelecido, como regra a seguir, na
quarta- feira, 28 de Julho de 1847: <tafastando~se todo
o erro, todo o sortilégio, toda invocação implícita ou
explícita do demônio, o uso do magnetismo, isto é, o
simples ato de empreg ar meios físicos, não interdit os
alhures , não é moralm ente proibido, contant o que isso
não seja para um fim ilícito ou mau; quanto à aplicação
dos princípios e de meios purame nte físicos a coisas ou
a efeitos verdade irament e sobrena turais para os expli-
car fisicamente, isso não é senão ilusão, de imediat o
condenável, e uma prática herética.~
«Posto que esse decreto geral explique suficiente-
mente o que há de lícito ou de proibido no uso ou abuso
do magnetismo, a perversidade humana foi levada ao
ponto de, abando nando o estudo regular da Ciência,
fazer com que os homens, consagr ados à pesquis a do
que pode satisfaz er a curiosidade em detrime nto da sal-
vação das almas e mesmo em prejuízo da sociedade civil,
se vangloriem de ter descoberto um meio de predize r
e de adivinh ar. Daí essas mulhere s de tempera mento
débil, que, entregu es, por gestos que nem sempre respei-
tam o pudor, às encenações do sonambulismo e do que
se chama clarividência, pretend em ver toda a sorte de
coisas invisíveis, e se arrogam , na , sua audácia temerá-
ria, a faculda de de falar sobre religião, de evocar as
almas dos mortos, de receber respost as, de descobr ir
coisas desconhecidas ou remota s; e de pratica r outras
superst ições desse gênero, que lhes rendem e aos seus
mestres ganhos consideráveis, em virtude do seu dom
de adivinhação. Qualqu er que seja a arte ou a ilusão de
todos esses atos, por isso que se empreg am meios físicos
para obtenção de efeitos que não são absolut amente
naturai s, há mistific ação de imediat o condenável, heré-
tica, e escândalo contra a pureza dos costumes. Também
para reprimi r eficazmente tão grande mal, decisivamen-
te funesto à religião e à sociedade civil, não se poderia
deixar de invocar a ativa solicitude pastora l, a vigilân-
cia e o zelo de todos os bispos. Tanto quanto possam,
MAGNET ISMO ESPIRITU AL 75

pois, com o auxílio da graça divina, empregue m os


ordinários dos lugares, ora as advertênc ias da sua pater-
nal caridade, ora a severidade das repreensões, ora, en-
fim, todas as vias de direito, segundo o que julgarem
útil diante do Senhor, levando em conta as circunstâ n-
cias de lugar, tempo e pessoas; que ponham todos os
seus cuidados no reprimire m esses abusos do magnetis -
mo, fazendo-os cessar, a fim de que o rebanho do Senhor
esteja defendido dos ataques do homem inimigo, que
o santuário da fé seja guardado , salvo e intacto, e que
os fiéis confiados à sua solicitude sejam preservad os da
corrupção dos costumes.
«Dado em Roma, na Chancela ria do Santo Ofício
do Vaticano, em 4 de Agosto de 1856.
V. Card. MACCHI.»
Deixando de lado as digressões, que já passaram
para o domínio da História, voltemos a tratar da nossa
heresia .. .
Os passes se executam, como vimos no exemplo de
Du Potet, com os braços estendidos naturalm ente, sem
nenhuma contração, e com a necessári a flexibilid ade
para executar os movimentos.
Como regra geral, que deve ser rigorosam ente obser-
vada, os passes não podem ser feitos no sentido contrário
às correntes, isto é, de baixo para cima, o que seria, se
assim nos podemos exprimir, uma verdadeir a desmagne-
tização, de consequências graves.
Por isso, cada vez que sé repete um passe, deve-se
ter o cuidado de fechar as mãos e afastá-la s do corpo
do doente e, assim, voltar ràpidame nte ao ponto de . par-
tida do primeiro passe.
Os passes que se fazem ao longo do corpo, isto é,
de cima para baixo, chamam-se longitudinais.
Esses passes, quando praticado s lentamen te ( cerca
de 30 segundos da cabeça aos pés), a uma distância de
5 a 10 centímetros do corpo, saturam o doente de fluido,
e são ativos e excitantes. Quando feitos a uma distân-
cia de 15 centímetros a um metro ou mais, recebem o
76 MAGNETISM O ESPIRITUAL

nome de passes de grandes correntes, e dão ao doente


uma sensação de bem .. estar e calma, e servem para
debelar a agitação e extinguir o calor das febres. Os
passes de grandes correntes, mas praticados ràpidamen-
te ( cerca de 2 segundos, da cabeça aos pés), têm notá-
vel poder dispersivo e sua ação é também calmante
e, além disso, regularizado ra da circulação.
Os passes da cabeça aos pés, adverte Deleuze ( 103),
são fatigantes e nunca podem ser continuados por muito
tempo; assim, em vez de conduzir a ação de uma extre-
midade a outra do corpo, de um só jacto, pode-se, então,
fazer o passe parar nos joelhos e, depois de certo núme-
ro desses passes, fazer igual número dos joelhos à
extremidade dos pés.
Os passes longitudinais , portanto, que são os feitos
ao longo do corpo ou dos membros, nas condições acima
apontadas. com a mão direita ou com a mão esquerda
ou com ambas as mãos, podem ser praticados tanto pelos
médiuns curadores não autômatos ( os autômatos não
dirigem a ação e são meros instrumento s), como pelos
magnetizado res em geral.
Podem ser feitos igualmente ao longo da coluna ver-
tebral, da nuca aos pés, de um só jacto, ou em dois
tempos, isto é, da nuca até à altura dos joelhos e dos
joelhos aos pés.
No fim de cada sessão, será de todo conveniente
fazer cerca de seis passes de grandes correntes ( a um
metro de distância do corpo do doente), da cabeça aos
pés, muito ràpidamente , para dispersar os fluidos e equi•
librar o orgaµismo.

( 103) DeZet,ze - "lnstruction Pratique".


Capítulo X
"Próximo a esse lugar havia uma proprie-
dade pertencente ao chefe da ilha; seu nome era
Públio; ele nos recebeu e bondosamente nos hos-
pedou por três dias. E o pai de Públio encon-
trava-se doente e de cama, com febre e disen-
teria_; Paulo foi ter com ele, orou e, impondo-lhe
as mãos, o curou. E depois desse fato, também
os outros hab·i tantes da ilha, que tin1iam doenças,
1)ieram e foram curados; estes também nos dis-
tinguiram com muitas honras: e, ao partirmos,
puseram a bordo tudo de que necessitávamos.''

( ATOS DOS APÓSTOLOS, Capí-


tulo 28 :7 a 10.)

Falámos sobre os passes longitudinais, que são feitos


ao longo do corpo, dos membros, braços ou pernas, de
cima para baixo.
Simultâneamente com esses passes - sempre que
houver ingurgitamentos, abcessos, obstruções, irritações
intestinais, cólicas, supressões e os males em geral do
baixo ventre -, são usados os passes rotatórios. Estes
se executam com a palma das mãos ou com os dedos
(movimento rotatório palmar ou digital), com ou sem
contacto, mui lentamente, operando-se movimentos cir-
culares da direita para a esquerda e da esquerda para
a direita, «tal qual se quiséssemos polir o castão de
uma bengala» ( 104), virando os dedos delicadamente
~qual se déssemos corda a .um relógio» ( 105) .

(104) A. Gauthier - "Le Magnétisme et Ie Somnam-


bulisme".
( 105) Alfonse Bué - "Le Magnétisme Curatif" .
78 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Todos os processos magnéticos são mais ou menos


eficientes, desde que se respeitem os princípios essen-
ciais do magnetismo. Mui oportunas e judiciosas são as
ponderações de Deleuze ( 106), quando estabelece uma
diferença entre os princípios e os processos: «Uns são
imutáveis, e outros variáveis; deve-se sempre respeitar
os princípios e deles nunca nos afastarmos; quanto aos
processos, o mesmo não se dá, pois a experiência é tudo,
e a prática pode, a cada momento, retificar o que se
fazia na véspera. :r>
Já nos referimos ao método do Barão Du Potet,
que julgamos mais simples e mais prático do que os de
Deleuze e de Lafontaine. Todos eles foram notãveis
magnetizadores e apresentaram sábias observações hau-
ridas em experimentações repetidas durante muitos anos.
Como não é nosso objetivo o estudo crítico dos
diversos sistemas, e como transcende da orientação que
nos traçámos o dar ao nosso despretensioso trabalho
uma extensão maior, com detalhadas informações, dei-
xamos de transcrever aqueles métodos.
Todavia, não nos furtamos ao dever de citar o pro-
cesso do Dr. L. Moutin, não só pela sua extrema facili-
dade, como também pelos excelentes resultados da sua
aplicação, comprovados em diversas experiências.
Quer nas moléstias graves, quer nas benignas, o
Dr. L. Moutin (107) agia invariàvelmente do seguinte
modo: estando ao lado do doente, impunha-lhe as mãos
- uma na nuca e a outra na boca do estômago, durante
15 a 20 minutos; depois fazia sobre todo o corpo do
paciente ligeiras fricções ( •), durante o mesmo lapso
de tempo, insistindo sobre as partes mais dolorosas.
Nada impede que se combine esse processo com o

( 10 Y De'leuze - "Magnétisme Animal" .


( 107) Dr. L. M outin -.- "Le Magnétisme Huma.in,
l'Hypnotisme et le Spiritualisme Moderne", pág. 211 .
( •) São as fricções magnéticas que se fazem lentamen-
te e mui suavemente, no sentido das correntes, isto é, de
cima para baixo, e não como naa massagens médicas, como
veremos mais adiante . - (Nota do Autor.)
79
MA GNET ISMO E SPIR ITUA L

do Barão Du Potet , como também que a imposição da.a


mãos seja feita à distância de cinco a dez centímetr os
da nuca e da boca do estômago ( epiga stro) , t udo depe~-
dendo da própr ia observação do operador, pois, como Já
acent uámos, o magn etismo age diferentemente sobre os
indivíduos, determinando por vezes fenômenos comple-
tamente opostos.
Mas, a propósito do sistema do Dr. Moutin merece
citado o seguinte curioso fato, extraído do seu notável
livro (108) :
«No mês de Julho de 1903, foi levado à minh a pre-
sença um menino, brasileiro, de oito anos de idade,
filho de M. D'A., estabelecido em Manaus, mas de ori-
gem portuguesa.
«Os D' A. são muito conhecidos em Portu gal. Uma
das grandes ruas de Lisboa traz o nome de um dos
antepassados do jovem doente.
«Aos quatro anos de idade , o pequeno D'A. foi
acometido de a taques de epilepsia. Os pais, gente de
fortuna, nada mediram para curar seu filho.
«Foram consultados todos os grand es médicos do
Rio de Janeiro; continuando, porém, o mal, o pequeno
veio a ser examinado e trata do pelas celebridades mé-
dicas da Europa, que, igualmente, não o curar am.
«Na ocasião em que iniciámos o trata ment o desse
menino, estav a ele sendo trata do por um célebre espe-
cialista de Paris, professor e membro da Academia de
Medicina.
«Dizer a quantidade de drogas absorvidas por essa
criança é impossível ... Todos os trata ment os imaginá-
veis haviam sido ensaiados sem o menor resultado.
«A primeira vez em que o vimos, estav a ele em
estad o lamentável: vários meses sem pode r anda r e sem
se ter de pé, com dez a catorze crises em cada 24 horas .
«Um mês nos bastou para fazer desap arece r intei-
ramente todas as desordens nervosas. A crian ça tor-
nou-se então irreconhecível.

(108) Dr. L. Moutin - Obr . cit., pág . 213 .


80 MAGNETISMO ESPIRITUAL

«Por precaução, continuámos nossos cuidados por


mais quinze dias. Desde então, e já há quatro anos,
o pequeno D'A. apresenta-se maravilhosamente : nunca
t eve uma recaída e tornou-se um guapo rapazinho.'>
Depois de mencionar muitos outros casos, o Dr. Mou-
tin termina afirmando que seria impossível fazer uma
relação completa dos êxitos obtidos com o seu sistema,
o que exigiria um alentado volume, mas assegura: «fize-
mos andar os paralíticos, restituímos a vista aos cegos,
o ouvido aos surdos, curámos e aliviámos grande número
de doentes por esses simples processos».
Nunca é demais dizer que o fluido magnético, por
si só, não apresenta nenhuma propriedade terapêutica,
mas age principalmente como elemento de equilíbrio. De
sorte que o -desequilíbrio das forças, ou, digamos melhor,
dos fluidos magnéticos que envolvem todos os órgãos do
corpo humano, acarreta a desordem nas funções desses
órgãos e, daí, a caracterização do que chamamos doença.
Todas as vezes, portanto, que se rompe o equilíbrio, quer
por excessiva condensação ou concentração, quer por
excessiva dispersão de fluidos, cumpre restabelecê-lo e,
daí, a cura.
Por isso, adverte Durville ( 109), o magnetizador
deve procurar equilibrar a atividade do movimento do
doente com o seu, diminuindo-a ou aumentando-a, de
acordo com os casos, de maneira a dar-lhe uma sincro-
nização conveniente. Nisso reside o segredo dos bons
magnetizadores. A prática metódica fàcilmente se adap-
ta a essas situações, pondo o operador nos estados vibra-
tórios especiais e convenientes, às vezes por instinto
e intuição.
Precisamente à argúcia do operador, à sua acurada
observação e à sua pronta deliberação, denominou La-
fontaine como a arte de magnetizar (110).

( 109) H. Durvílle - "Magnétisme - Théories et Pro-


cédesº.
(110) Oh. La/ont<IÁne - "L'Art de Magnétlser" .
MAGNE TISMO ESPIRIT UAL 81

Quintin Gomez (111) conta-n os que se encontr ava,


certa vez, muito excitado, em virtude de forte aborreci-
mento que o levara a um estado de cólera, poucos mo-
mentos antes de atender a um dos seus doentes. Ele
estava, pois, num estado de vibração, que lhe aumen-
tava até certo ponto a energia da ação, mas que poderia,
em consequência, perturb ar o doente. Com efeito, du-
rante a magneti zação o paciente experim entou reações
muito mais enérgic as do que habitua lmente. No dia
seguinte , dizia ele que não teria de que se queixar da
magnet ização da véspera, se não fôsse a sensaçã o de cóle-
ra e de irritaçã o que, contràr iamente ao seu humor
costume iro, suporta ra durante todo o dia. E' evident e
que o estado de alma do magnet izador refletiu sobre
o magnet izado através da energia da ação.
Assim como o magneti zado recebe as influênc ias
boas ou más do magneti zador, este também pode sofrer,
quando extrema mente sensível, em virtude dos efeitos
reflexo-magnéticos, as influências daquele. Convém acen-
tuar, todavia, que os sensitivos, sofrend o a ação das cor-
rentes, não são os mais aptos a curar pela ação mag-
nética, que exige uma qualidade radiado ra sumam ente
equilibr ada.
Contudo, há que distingu ir os efeitos reativos da
ação, que todos os magnetizadores, em maior ou menor
grau, experim entam, constitu indo o que se denominou
de tato magnético, faculdade preciosa no diagnós tico
das molésti as e que se pode desenvolver pelo exercício
e pela prática.
O estudo das sensações manuais , experim entadas
pelos magneti zadores , levaram Deleuze, Bruno, Aubin
Gauthie r, Du Potet e outros às mesmas conclusões, que
foram mais tarde repetida s por Bué (112).
Assim, quando o operado r sente em suas mãos um
calor seco e abrasan te, é indício de que no doente a

(111) Quintin L. Gomez - "Arte de curar por medio


dei Magneti smo" .
<112) Al/onse Bué - Obr. cit.
82 MAGN ETI SMO ESPIRITU AL

circulação geral está entravada por uma tensão anormal


dos nervos. Quando o calor é brando e húmido, é sinal
de que a circulação está livre· e prenuncia cessação
próxima, trazendo descargas orgânicas . Se, em vez de
calor, a magnetiz ador sente frio nas mãos, é indício
certo de que no paciente há atonia e paralisia dos
órgãos. Titilações e formigam entos nos dedos denunciam
a existência de excesso de bílis, sangue alterado, estado
herpético. Adormecimento nas mãos e dores de câimbras
nos dedos, que se propagam aos braços, é sinal de
estagnações linfáticas, de embaraço na função digestiva
e de acúmulo de viscosidades. Quando o magnetiz ador
experime nta estremecimentos nervosos, vibrações , abalos
rápidos e fugitivos, quais choques elétricos, é sinal de
um estado congestivo do sistema nervoso e de conges-
t ões fluídicas no paciente.
E' inútil, diz Bué, insistir sobre o partido que se
pode tirar dessa preciosa faculdade de percepção, que
permite julgar do estado dos órgãos e da marcha das
correntes . Estudand o com atenção as sensações que se
fazem experime ntar a um doente, e as que experime nta
em si mesmo o magnetizador, adquire-se logo a melhor
regra de exploração que pode guiar na conduta de um
tratamen to; pouco a pouco, essas percepções intuitivas ,
arrastand o a m-ão do operador para tal ponto do corpo
do doente, de preferênc ia a um outro, determina m a
escolha dos processos magnéticos mais próprios para
combater as alterações mórbidas, das quais se acaba
conhecendo melhor a extensão, a sede e a natureza.
A observação, compreende-se, será tanto mais con-
cludente e segura, quanto maior for o cabedal de conhe-
cimentos do magnetizador.
Vale, a propósito, citar o fato ocorrido nesta cidade,
com uma pessoa de nossas relações. Trata-se do comer-
ciante S. A., homem robusto, de cerca de 40 anos de
idade. Certo dia, começou a sentir dores na perna direi-
ta, à altura da coxa, a princípio suportáve is, mas que
foram aumentan do de intensidade. Chamado o médico,
aliás dedicado e competente, este aconselhou repouso
MAGNE TISMO ESPffiITUAL 83

numa estação de águas, suspeitando, de algum mal dos


rins. Homem de recursos, não foi · difícil ao enfermo
cumprir a prescrição. Melhoras ligeiras durante o tempo
de repouso. No regresso, porém, as dores reapareceram
com tamanha intensidade que o comerciante já não mais
podia ter o conforto de um sono reparador. Submetido
à magnetização, pôde ele dormir algumas horas, sentin-
do-se aliviado. Mas, no dia seguinte, as dores voltaram
e nova sessão magnética foi realizada, verificando-se que
os passes ao longo da coluna vertebral davam ao doente
a sensação de verdadeiras punhaladas e faziam recrudes-
cer as dores na perna. Repetidos os passes, o mesmo
fenômeno se reproduziu, fazendo crer que o mal residia
na grande rede nervosa - a coluna vertebral - dando
a impressão de um estado congestivo do sistema nervoso.
O magnetizador, embora nada entendesse de medicina,
apurou perfeitamente o fato, relatando-o, no dia seguin-
te, ao seu amigo, Dr. O. L., ilustre clinico aqui resi-
dente. Este, em face do que lhe fora relatado, respondeu
que os sintomas revelavam a existência de algum foco
infeccioso, possivelmente nos dentes, e que convinha
examiná-lo, acabando por diagnosticar a existência de
uma radiculite, moléstia de consequências graves pela
atrofia muscular que pode produzir. Ora, tudo foi leva-
do ao conhecimento do médico assistente, o qual fêz
examinar os dentes do comerciante, dai resultando a
confirmação da suspeita. E, em face do diagnóstico ense-
jado pelo magnetismo, o mal foi atalhado em tempo.
Assiste, por isso, razão ao Dr. Moutin quando diz
que não é necessário que o operador conheça profunda-
mente o magnetismo e nem os sintomas das moléstias
para conseguir uma cura. O diagnóstico é assunto que
interessa aos médicos, sendo de lamentar que muitos
deles desconheçam a ação benéfica do magnetismo.
Bué cita alguns casos interessantes, que comprovam
essa verdade :
t:O Sr. Oswald Wirth, bem conhecido pelas numero-
sas curas que obteve em Paris, tratava uma senhora, de
bronquite, quando sobrevieram dores na perna esquerda,
84 J\.IAGN ETISM O ESPIR ITUAL

e o tornozelo inchou, como se houvesse sido fortem ente


contundido. Não havia quase relação algum a entre estes
sintom as patológicos e a bronqu ite, mas a admira ção do
magne tizado r cessou quand o o doente lhe referiu que,
tempos antes, havia caido de um carro, ferindo -se grave-
mente na perna, e nunca se curara totalm ente desse
acidente. O acrésc imo de vitalid ade que lhe traziam as
magne tizaçõe s dirigid as contra a bronqu ite, determ inan-
do para a perna doente uma saluta r migraç ão das forças
vitais, tinha permit ido à Nature za recom eçar a obra de
repara ção que, entreg ue a si mesma, não poderi a con-
cluir. Pôde assim a doente desem baraça r-se, ao mesmo
tempo , das consequências da queda do carro e da bron-
quite.
«Este fato me lembra um outro não menos singul ar:
certa senho ra veio um dia pedir-me que a magne tizasse ,
por motivo de estar um de seus olhos sempr e lacrim e-
jando. Ao termo de duas ou três sessões de tratam ento,
o olho não ia muito melho r, mas a doente, surpre endi-
da e alegre , inform ou-me de que perdas consid erávei s,
que lhe minav am as forças e a saúde, havia meses,
tinham desapa recido ; confessou-me que não havia fala-
do dessas perdas , porque as sabia produz idas por uma
causa intern a tão grave, que ela não julgav a tivesse
a ação magné tica poder de combatê-la. Todas as nota-
bilidad es médic as tinham de fato declar ado incurá vel
a dita senhor a. Apesa r deste diagnó stico pouco lison-
geiro, não somen te cessar am as perdas compl etamen te,
mas ainda a causa grave que as ocasio nava desapa receu
no fim de 40 sessõe s : a ação magné tica, fora de todas
as previsões, havia determ inàdo essa migraç ão das for-
ças vitais para as regiõe s do organi smo bem mais seria-
mente compr ometid as, de igual modo que uma guarni ção
sitiada conduz, sob o impuls o do seu chefe, o grosso das
forças para os pontos ameaç ados.
«Um Sr. R., atacad o de pertur bações gTaves na
bexiga , havia sido muitas vezes exami nado por divers os
especi alistas , os quais nada encon traram de anorm al na
coluna verteb ral. Fiz coloca r o Sr. R. na cama e resolv i
85
MA GN ET ISM O ES PIR ITU AL

ro ( *). Quando
exp lor ar o tra jet o raquidiano pelo sop es, o doente, que
cheguei ao nível das vér teb ras lombar ira s insuflações,
até ent ão não se mo ver a sob as pri me qu e lhe hav ia eu
mexeu-se ràpidamente, per gu nta nd o ar- lhe qu e a mi-
en ter rado no dorso. Custou-me dem on strente o me u sop ro
nh a ação tin ha sido uniforme e tão sóm orosa. Tive qu e
hav ia det erm ina do aqu ela sen saç ão dollo, e, depois de
recom eça r mu ita s vezes pa ra convencê- str ado que ao nível
mu ita s provas, ficou cla ram ent e dem onia um a região, mui-
das pri me ira s vér teb ras lombares hav açã o dif ere nte da
to limitada, que recebia do sopro um a
ixo. Es se po nto
que era exe rci da tan to acima qu ant o aba so que lev a preci-
cor res po nd ia ao principal tronco nervo
os órg ãos de sta
sam ent e a enervação à bexiga e a tod oss, qu and o o tra ta-
dependentes. No fim de alg um as sem ana o ner vo sa, a sen -
me nto magnético regularizou a circulaçã
des apa rec eu e a
sibilidade mó rbi da desse ponto lom bar , sem pa rad as e
ene rva ção se fazia, de ent ão em diante
sem obstáculos.»
mu ita ate nç ão
E' cer to que devemos ag ir sem pre com con seq uên cia s
as
e prudência. Mas não devemos tem er pro vo cam os de ter -
da ação ma gn éti ca, porque assim como
gn eti zad o, ass im
mi nad as rea çõe s no org ani sm o do ma cis o con fia r. A fal -
também podemos faz er cessá-Ias. E' pre
( 11 3), faz o ti-
ta de confiança, diz Aubin Ga uth ier vez de o de sej ar;
mo rat o; teme-se o efeito magnético, em taç ão; os efe ito s
uie
se ele se apr ese nta , é recebido com inq
ulo, ou im pel em
imprevistos enchem de pas mo o incréd se da ria m em ha -
a im pru dên cia s e exa ger os, qu e nã o
cri tér io e a expe-
vendo po r dir etr ize s a reflexão, o
riência.
Já vimos que se pode ma gn eti zar ou ind ife ren tem ent e
com as du as
com a mã o dir eit a ou com a esq ue rda po lar ist as, ten do
mãos. Assim, porém, não ent end em os

ma is adi ant e. -
( •) Sobre as ins ufl açõ es fal are mo s
(No ta do Au tor .)
(11 3) A. Gauthter _:_ "Magnétls
me et Somnambulfsme".
86 MAGNETISM O ESPIRITUAL

à frente Durville (114), os quais afirmam que o corpo


humano, como qualquer corpo na Natureza, é polarizado,
&endo o lado direito positivo e o esquerdo negativo; que
a polaridade é inversa nos canhotos; que os pólos do
mesmo termo ( isônomos) excitam, e os pólos de termo
contrário (heterônomos) acalmam; que tendo, assim,
cada mão uma influência magnética particular, não se
pode magnetizar indiferentem ente com a mão direita
ou com a mão esquerda, por anular uma os efeitos pro-
duzidos pela outra, e reciprocamente.
Du Potet ( 115), Deleuze ( 116), Gauthier ( 117),
Cahagnet (118), Morand (119), Rouxel (120), Bué (121),
Lafontaine (122), Binet e Feré (123) e muitos outros
contestam as conclusões dos polaristas, afirmando que
a potência volitiva do magnetizado r unifica a ação radia-
dora e a conduz com igual segurança ao paciente, de
face, de lado, pelas costas, de perto ou de longe, e, às
vezes, mesmo de um compartimen to para outro, através
das paredes e sem estar vendo o paciente.
Em confirmação do que assevera a corrente con-
trária à teoria dos polaristas, citaremos um caso de
magnetizaçã o de um compartimento para outro, através
das paredes e sem estar vendo o paciente. Fêz essa
experiência Du Potet, no «Hôtel-Dieu», em Paris, na
presença do médico M. Husson e do professor Recamier.
Du Potet ficou num gabinete fechado à chave e a pacien-
t e, Srta. Samson (sonâmbula) , na sala contígua, sem

(114) H. Durville - "Traité Expérimenta l de Magné-


tisme", pág. 165.
( 115) Du Potet - "Traité Complet de Magnét. Animal".
( 116) De1.euze - "Instructions ".
(117) H. Gauthier - "Magnétisme et Somnambulis me".
( 118) A. Oahagnet - "Thérapeutiq ue du Magnétisme" .
( 119) Dr. J. B. Morand - "Le Magnétisme Animal''.
(120) Rouxel - "Rapports du Magnétisme et du Spiri-
tisme,. .
(121) AlfotUJe Bué - "Le Mgnétisme Curatü" .
( 122) Oh. Lafontaine - "L' Art de Magnétiser" .
(123) Binet et Feré - "Le Magnétisme Animal".
87
MA GN ET ISM O ES PIR IT UA L

er da pre sen ça do ma gn eti zad or. A um sin al conven-


sab be sse onde e a. que
cio nad o, sem qu e o op era do r sou
tân cia est av a a pa cie nte co loc ad a na sal a, iniciou-se
dis ras e cinco mi nu tos ;
a magnetização. Er am en tão nove ho esf reg ar os olhos
trê s mi nu tos depois, viu-se a pa cie nte .
e ca ir no seu sonambulismo ord iná tjo ersos dias, sen do
Es sa experiência foi rep eti da em divBe rtr an d, médico
.
que a últ im a vez po r exigência do Dr o so no ma gn éti co
da Fa cu lda de de Pa ris , que atr ibu ía ocasional da pa cie nte
à co inc idê nc ia de um a pre dis po siç ão
pa ra do rm ir ...
Capítulo XI
"Ped ro e João subi am ao ternp lo para a ora-
ção da hora nona . Era leva do u1n hom em, coxo
de nasc ença , o qual punh am cada dia à port a
do temp lo, cha1nada Form osa, para pedi r esm ola
aos que entra varn ,. Este , vend o a Ped ro e a João
,
que iam entr ar no temp lo, impl orav a-lhe s que
lhe dessem 1tnia esrn ola. Pedr o, fitan do os olho s
nele , junta 'men te com João , disse : Olha para nós.
Ele, esperr1-ndo rece ber deles algu ma coi..~a, olha
-
va-o s corn aten ção. Mas Pedr o diss e: Não tenh o
prata . nem. ouro , mas o que tenh o, isso te dou:
em, no'me de Jesu s-Cr isto, o Naza reno , anda . To-
m.an do-o pela mão direi ta, o leva ntou ; logo os
seus pés e artel hos se firm aram e, dand o um sal-
to, pôs-se em pé, e com eçou a a.nda r; e entr ou
c01n eles no te1nplo, anda ndo, salta ndo e louv an-
do a Deus . Todo o povo , vend o-o anda r e louv ar
a, Deus , e reco nhec endo ser este o hom
e1n que
se asse ntav a a esm olar à Port a Forn iosa do tem -
plo, ficar am, cheio s de ndni iraçã o e pasm o, pelo
que lhe acon tece ra . "

(ATO S DOS APôSTOLOS, 3:1 a 10.)


Já afirm ámo s que o fluido mag néti co se esca pa
tam bém dos olhos. Exis tem mesmo cert os mag neti za-
dores que não prescindem da ação dos olhos simu ltâ-
neam ente com os passes, como Durville ( 124) e Réno-
-Bajolais ( 125) .
Ente nde m eles que, se admitimos que o olha r de

( 124) H. Durv ille - "Thé ories et Proc édés " .


( 125) J. Ré·n -0-B ajola is - "Tec hniq ue Mod eme de Mag
nétis me Hum ain" . -
MAGNETISMO ESPIRITU AL 89

certas pessoas pode influenciar outras, temos que admi . .


tir igualn1ente que o olhar doce e benevolente de um
individuo simpático, de saúde equilibrad a, exerce uma
influência ou ação benéfica.
Nesse sentido assim se exprime o doutor Passa-
vant ( 126) : «A força mágica do olhar executa milagres;
cada olhar que fixamos de maneira constante, mesmo
a grande distância, encontrar á em breve os olhos aos
quais é dirigido; do mesmo modo, cada pessoa que
encontra um olhar, que lhe é fixamente dirigido, se
sente tocada màgicamente; não há ação e reação; a r e-
lação magnética logo se estabelece.»
Pondera Durville que o olhar deverá ser dirigido
sobre o doente ou sobre a parte do corpo que se quer
acalmar e que, se, em vez de olhar docemente, o ope-
rador olha com dureza e energia, a ação seria excitante
e o resultado procurado não seria alcançado.
Alguns indivíduos são dotados de uma força excep-
cional e são capazes de dominar os mais ferozes animais.
Célebre é a experiência feita por Lafontain e com um
leão, em Tours, no ano de 1840, sem que ninguém
soubesse da sua intenção. Aproximando-se da jaula,
Lafontain e fixou seus olhos nos da fera. Em alguns
instantes, não podendo suportar mais, o animal fechou
os olhos. Lafontaine, depois de dirigir o fluido magné-
tico sobre a cabeça do leão, durante o espaço de vinte
minutos, conseguiu fazê-lo dormir profundam ente. Aven-
turou-se, então, tocar com todas as precauções uma das
patas que se encontrav am junto das grades, picando-a
em seguida, sem nenhuma oposição. Convencido de que
havia produzido o efeito desejado, o magnetiza dor intro-
duziu a mão na garganta do animal, com grande pasmo
das pessoas presentes, que não ousavam acreditar na-
quilo que viam. Com os passes de dispersão, o leão abriu
os olhos, recuperou a sua atitude, o que não animava
a que se renovassem aqueles toques ...

(126) Dr. Passavant - "Recherch es sur le magnétism e


vital", apud Ch. Lafontaine - "L' Art de Magnétise r", •p. 330.
90 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Inteiramente contrários foram os efeitos da ação


do mesmo magnetizador sobre uma hiena. Logo que
sentia o fluido, dava ela sinais de inquietação· desde
então não mais sossegava, chegando aos paroxis~os do
furor. Com a renovação das tentativas, o mesmo ímpeto
e o mesmo furor. Por último, bastava sómente a pre-
sença de Lafontaine no pátio, para que a fera se deba-
tesse assustadoramente, a ponto de o proprietário pedir
insistentemente ao magnetizador para que não voltasse,
pois temia, a despeito da solidez da jaula, um grave
acidente.
Um jovem médico e dois companheiros seus, con-
ta-nos o mesmo autor, tendo lido em um livro que
antigos mágicos, pelo poder do olhar, conseguiam a
morte de um sapo, resolveram fazer a experiência, em-
bora nada entendessem de magnetismo. Colocaram o
sapo em um vaso de vidro de paredes muito altas,
impedindo, destarte, que ele conseguisse escapar. O jo-
vem doutor cruzou os braços e começou a olhar fixa-
mente o sapo à distância de cerca de dois pés. Durante
os dez primeiros minutos, os observadores não notaram
nenhuma modificação na pessoa do experimentador.
Depois, seu olhar passou a exprimir uma situação de
descontentamento e de contrariedade. Uns dez a quinze
minutos depois, o doutor insensivelmente se aproximou
mais, a 3 ou 4 polegadas do sapo.
Após quinze minutos, mudou a posição dos braços,
fechou as mãos, apoiando-se sobre elas; parecia que
crispavam. Seu olhar tomou a expressão de cólera. De
quinze a dezoito minutos, seu semblante tornou-se suces-
sivamente muito vermelho, em seguida muito pálido,
abundando em suores. A dezoito minutos, o sapo estou-
rou. Quanto a este último, nada haviam notado, a não
ser que mantinha também os olhos cravados no doutor,
fazendo-o experimentar uma sensação muitíssimo desa-
gradável. Nesse duelo perigoso, acrescenta ainda Lafon-
taine, se o operador fraqueja, o fluido do animal poderá
dominá-lo completamente, com risco da própria vida.
Durville confirma plenamente essas observações,
relatando-nos o perigo a que se expôs o abade Rous-
MAGN E TISMO E SPIRITU AL 91

seau (127). Um sapo, provàvelmente mais robusto que


outros, dando sinal de grande excitação, resistiu à ação
mortal do experimentador. Renovou este a experiência.
Mas, sofrendo por sua vez a ação do animal, caiu sem
sentidos , tendo sido encontrado pelo seu criado, quase
morto, algumas horas mais tarde. Tornand o a si, lem-
brou-se de que o sapo furioso dardeja va sobre ele os
aeus olhares ameaçadores ; e de tal modo o fazia que,
no fim de alguns instante s, se sentiu dominado por uma
força que parecia emanar do animal. Quis resistir, m.a s
fraquejo u e caiu vencido.
Não menos curiosa foi a experiência de Lafonta ine
com uma víbora de 15 polegadas de comprimento, colo-
cada em um recipiente de vidro branco de 15 centíme tros
de diâmetr o por 30 de altura. Os olhos da víbora pron-
tamente fixaram os do magnetizador. Alguns minutos
depois, ela se retraiu, mas continuando a olhar; em
seguida, voltou à ação, batendo a cauda, silvando e
movendo a língua triangul ar. Furiosa, ela tentava picar
o recipiente. Seus olhos, dizia Lafontaine, parecia m fogo.
Depois de 19 minutos de violentos esforços de parte a
parte, o reptil se ergueu um pouco de encontr o à parede
de vidro, abriu a goela, alongou a língua e ficou imóvel
nessa posição: estava morto. E o magnetizador, vito-
rioso nesse duelo, foi curar-se de violenta dor de cabeça
e banhar os olhos, que lhe ardiam, em água magne-
tizada ...
E ' sabido que certas pessoas são dotadas de um
poder extraord inário sobre os cães. A esse propósito,
iegundo se pode ver na obra de Lawrence (128), conta-se
que um indivíduo, atacado por um cão, e não encon-
trando no momento outro meio de defesa, tomou a
resolução extrema de avançar para o animal, fixando
nele, com energia, os seus olhos. Com a fuga imprevi sta
do agressor, notou ainda que o cão se acovard ara, dando

(127) H. Durville - "Magnet ismo Pessoal ou Psiquico ".


(128) Dr. J. Lawrenc e - "Magnet ismo Utilitári o y Mi-
lagroso" .
92 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

a im~n.1ssã.o de grande terror. Repetiu as experiências


por diversas vezes, acabando por tornarªse um curioso
profission al de apostas, enfrentando sempre com êxito
os mai~ ferozes caninos , até que um dia ganhou verd&-
dei:a fortuna sie um duque inglês, ao pôr em f uga os
mais f eroze~ caes da sua famosa coleção.
Não é lll~Cessário repetir o que conhecem os de con-
ceitos vulgares, mas que no fundo revelam verdades
inconteste s: o olhar encanta, fascina, domina, subjuga,
exalta, confunde, mata . . .
O estado de fascinação , o chamado prise du régard
dos franceses , constitui o exemplo típico do poder do
olhar, muito usado pelos experime ntadores hipnotista s.
Esse estado se revela sob a influência de um olhar
brilhante, de curta distância, em ambiente de luz muito
viva e muito clara, sob a condição de que o «sujet» fixe
os seus olhos nos do operador. O efeito é surpreend en-
te: os olhos ficam desmesur adamente abertos, as pupilas
dilatadas, o pulso de 70 passa a 120, e o «sujet» tem
o olhar fixo no do operador, seguindo- o sempre, sem
mais abandoná -lo. até receber o sopro dispersivo sobre
os olhos, quando, então, tudo volta à normalida de.
Nessa situação, o paciente fica insensível , embora
tenha consciênc ia do seu estado. Nos passos que dá
para seguir os olhos do operador, os braços ficam imó-
veis. Uma figura sem expressão , uma verdadeir a más-
cara petrificad a. Se lhe baterem, se lhe picarem a pele,
não sentirá dor. Se o insultarem ,· nem um músculo da
sua face se moverá, nem uma palavra proferirá , pare-
cendo que outra coisa não se apresenta ao seu cérebro
senão esta ideia fixa: não deixar o ponto luminoso do
olhar do experime ntador. Em suma, nesse estado, segun-
do Morand ( 129), o paciente se torna um perfeito
~ boneco articulado ».
O estado de fascinaçã o, chamado pequeno hipnotis-
mo por J. Luys (130), era provocad o por este autor,

( 129) Dr. J. 8. Morand - "Le Magnétism e Animal".


( 130) J . Lwya - "De l'Hypnotis me", pág. 217.
MAGNE TISMO ESPIRI TUAL 93

por maneira singula r. Ele punha o paciente a fixar


espelhos rotativo s, usados na caça de cotovias, de modo
a alcança r os mesmos efeitos sobre o olho humano
( «c'est le mirroir à alouette s»).
Os hipnotiz adores apontam o exercício prático de,
por meio da fixação dos olhos, fazer volt'ar uma pessoa
que se encontr a à sua frente ( 131). Em um lugar de
reunião , onde muitas pessoas estejam assenta das uma
após outra, fixe o homem o seu olhar nas costas de
outro, a uma distânci a de 2 e mesmo de 3 metros, concen-
t rando toda sua energia na ideia de influenc iá-la e de ·
fazê-la voltar. Vê-se primeir amente a pessoa visada fazer
alguns movime ntos de ombros, como se provass e o efeito
de cócegas. A sensaçã o cresce, torna-se mais nítida,
molesta e obriga quase sempre a pessoa a levar a mão
ao ponto fixado e, finalmente, a voltar-s e como cons-
ciente do toque e desejos a de impedir a ação.
Não é demais adverti r que o magnet izador deve
mostrar -se sempre cauteloso com o uso dos olhos para
a cura das molésti as, não se esquecendo do conselh o de
Gauthie r (132), de que se trata de um órgão muito deli-
cado, · que requer cuidados especiais. Por igual, convém
ter sempre present e no seu pensam ento a condena ção
de Durvill e (133), de que fixar os olhos nos olhos dos
seus semelha ntes, para neles provoca r o estado de fasci-
nação, é uma prática brutal de que o magnet izador niio
tem necessid ade de usar.
A mesma condenação é feita em termos veemen tes
por Martins Velho ( 134) :
«Aludimos aos fascinad ores, que produze m o sono
median te a simples fixação do olhar, ou os que, como
o abade Faria, que, depois de haver feito sentar o pas-

(131) Medeiro s e Albuque rque - "O Hipnoti smo".


(132) Attbin Gauthie r - "Magné tisme et Somnam bu-
lisme".
( 133) H. Durville - "Théorie s et Procédé s".
(134) Dr. A. A . Martins Velho - "O Magneti smo",
página 132.
94 MAGNETISMO ESPIRITUAL

sivo, lhe gritava de súbito ao ouvido, em voz retumbante


- dorme !
«E ' certo que os olhos e a voz são veículos efica-
cfssimos do fluido magnético; mas estes processos atuan-
do exclusivamente sobre o cérebro, tendem a produzir
o mesmo desequilíbrio nervoso que se dá com o processo
de Braid.
«Se compararmos agora estas manobras com os pro-
cessos magnéticos que empregam quase exclusivamente
os passes, ver-se-á que eles diferem fundamentalmente
entre si; pois que, enquanto que os hipnotizadores ata-
cam exclusivamente o cérebro, perturbando-lhe o funcio-
namento, os magnetizadores, atuando pelos passes sobre
o corpo toclo, concentram especialmente os seus esforços
sobre o epigastro e sistema nervoso ganglionar, pro-
curando equilibrar o melhor possível a corrente nervosa,
de maneira a obter a mais alta expressão da autonomia
funcional do ser. Aqueles destroem pela fadiga o «eu»
conscient,e, estes o elevam ao seu grau sintético mais
elevado. O magnetizador tem nos passes e nas lmposi-
ç,ões diversamente praticadas um meio eficacissimo para
regular e graduar o sono magnético.»
O Dr. De La Salzede escreveu uma obra notável
sobre magnetismo animal (135), estudando com sagaci-
dade e talento todos os seus fenômenos, sem se render
aos preconceitos filosóficos e religiosos, católico que
era, pois que encontrou no magnetismo verdades úteis à
Humanidade. Ao se lhe abrir o livro, encontra-se esta
advertência - «C'est lei un livre de bonne foi, Je-
ctieur» -, palavras de Montaigne. E, na verdade, a obra
plenamente justifica o conceito, revelando-se o autor,
não só um homem de boa fé, mas sobretudo um homem
de ciência, sincero e honesto. Mas, através desse admi-
rãvel trabalho, surge um outro, que vem a cada passo
citado, que é igualmente uma revelação de sinceridade
e de coragem. E' o livro do Abade Loubert - «Le

(135) Oh. De La Salz~de - "Lettres sur le Magnétfsme


Animal", Paris, 1847.

1
MAGN ETISM O ESPIR ITUA L 95

::«1'é tlsme . et le Somnambullsme devant les Corp"


~t;s, la Oour de Rome et les Théologlens» - que
infelizmente, pelo tempo em que foi publicado, há cerca
de doi~ séculos, deverá ter-se tornado raro.
Nao podemos deixar de transcrever, nesta altura
do nosso trabalho, alguns dos trechos do Abade Loubert,
apontados pelo Dr. De La Salzede.
Faz o abade referência à prática do magnetismo
entre . os ~adres do Egito, os quais, «pela inoculação
do pnncip10 da vida, dobravam por assim dizer a ativi-
dade do s!stema nervoso», para, em seguida, afirmar
que eles tinham sobre a questão «noções talvez mais
completas do que as possuimos hoje».
E continua:
«Os monumentos que revelam a ação curativa das
mãos são em grande número.
«O templo de tsis, consagrado à Natureza, continha
hieróglifos, cuja tradução outra coisa não revelava senão
a ciência do magnetismo. Vê-se aqui um homem colo-
cado no leito e diante do qual um outro faz passes a
distância; ali, um outro é submetido às mesmas práticas, 1
mas colocado em uma cadeira e na atitude de adorme-
cido; mais adiante, um operador dos mistérios egípcios
segur a um vaso de flores com a mão esquerda e com
a direita exerce a ação magnética de cima para baixo
(exerc e l'action ma.gnétique en agissant de haut en ba.s);
acolá, um vaso cheio de líquido que recebe a mesma
influência.
«Diodoro de Sicília exprime-se assim: os padres
egípcios pretendem que, do seio da sua imortalidade,
tais prazerosamente manifesta aos homens, durante o
sono, os meios de cura e indica aos que sofrem o remé-
dio próprio para seus males. .. 1
«Prosper Alpinus, no seu «Tratado de Medicina dos
Egípcios», diz que as fricções médicas e as fricções mis-
l
teriosas eram remédios secretos de que os padres se ser-
viam para as moléstias incuráveis; depois de nume ro~
cerimônias, os doentes, envolvidos em peles de carneiro,
eram levados para o santuário do templo, º!1de Deus lh~s
aparecia em sonho e lhes revelava o remédio que devena

1-
96 MAGNETISMO ESPIRITU AL

curá-los; quando os doentes não recebiam as comunica-


GÕes divinas, os padres chamados «Oneirópoles» ador-
meciam por eles e Deus não lhes recusava o benefício
solicitado.»
E reconhecendo a prática constante e habitual do
magnetismo entre os egípcios, acrescent a:
«Seria impossível que nesse longo perpassar de sé-
culos essa faculdade do homem não encontras se obser-
vadores. Encontrou -os, para gáudio dos padres pagãos,
que a explorara m, em benefício próprio, dando crédito
aos templos de Esculápio, 1sis e Serápis. Sabendo pro-
vocar e · dirigir o sonambulismo, eles se valiam do indi-
víduo dotado da faculdade de vista a distância e da
previsão para torná-lo órgão do seu deus no santuário
do templo. Outros, nas suas crises, sentiam a doença
dos que se aproxima vam, viam o estado orgânico do
doente, indicavam os acessos e os remédios. Quando,
no estado de sonambulismo, o paciente indicava o mal
e o remédio, e como, ao despertar , não guardava a
menor lembranç a do acontecido, os padres, que haviam
cuidadosa mente recolhido suas palavras, persuadia m-no
que tudo era obra de Deus.
«O que a História nos transmite acerca dessas curas
nos templos de Esculápio, lsis e Osíris, é, ao menos em
muitos casos, a história mesma do magnetism o e a prova
de sua existência e da sua eficácia em todos os tempos.
«Os padres da antiguida de fàcilment e se punham
nas circunstâ ncias mais favoráveis, pelo exercício e pelo
método, para fortalecer em a sua f acuidade magnétic a.
Fácil lhes era pôr seus consulent es em estado sonam-
búlico, quer pela imposição das mãos, quer pelas fricções
· aplicadas no silêncio da noite, quer pelos reservató rios
magnéticos ocultos e dissimulados adredeme nte. Adota-
vam, além disso, vapores, perfumes -narcótico s, certos
sons harmonio sos de música, e muitos outros aparelhos
que lhes permitiam obter resultado s mais completos e
mais constante s.»
~, como se vê, um depoimento de alta significação
que o Dr. De La Salzede põe diante dos nossos olhos,
contrarian do, assim, com absoluto destemor, as investi-
MAGNETISMO ESPIRI TUAL 97

das dos negativ istas, que não observam, que não experi-
mentam e que não estudam .
Na cura do coxo colocado à entrada do templo, não ,
devem passar despercebidas as minúcia s da cena: «Pedro,
fitando os olhos nele juntam ente com João, disse: olha
pa.ra nós».
A express ão portugu esa - fitando os olhos -,
parece-nos, não é bastant e rigorosa . Do mesmo modo,
a traduçã o latina - Intuens aurem ln eum Petrus cum
Ioanne, dlxlt: Respice in nos. Ao nosso ver, a traduçã o
do texto para o Esperan to (136) nos dá ideia mais
precisa da ação: - «Kaj Pedro, fikse rigardanre lin,
kun Johano, diris: Rigardu nin» - (traduç ão literal:
E Pedro , olhando-o f"ixament.e, com João, disse: Olha
para nós).
A traduçã o em Esperan to, como se vê, acresce nta
ao verbo olhar o advérbio flkse (fixame nte). Não se
trata de uma questão merame nte de preferên cia linguís-
tica, mas de precisão da ideia que melhor está em con-
sonânci a com os princípios gerais da magnetização.
De sorte que Pedro olhou fixamen te o coxo e a este
disse: olha para nós. ~ evidente que havia mister do
encontr o dos olhares ; de modo contrári o, não seria pas-
sível transmi tir e receber pelos olhos os fluidos podero-
sos que iriam operar a cura.
~ também evidente que Pedro tinha segura intuição
de que a cura que se ia operar não estava circuns crita
tão somente ao corpo físico, mas, pelo merecim ento do
coxo, ela atuaria mais profundamente, restituin do-lhe a
saúde da alma: «e entrou com eles no templo, andando ,
saltand o e louvando a Deus».
O olhar de Pedro e de João foi o olhar da fé, aquele
que transmi te os fluidos quintessenciados de amor e
benevolência em socorro dos nossos semelha ntes.
A Humani dade não pode ainda valer-se dessa práti-
ca maravil hosa e dela obter instantâ neamen te os resul-
tados que puderam conseguir os discípulos de Jesus.

( 136) La Bankta Biblio, Londono , 1927.


..
98 MAGNETISM O ESPIRITUAL

Aliás, estes mesmos algu..'llas vezes coraram em face da


advertência do Divino Mestre: «não o curastes, porque
não tivestes fé>➔•
Essa mesma advertência nos acompanhar á ainda
por muito tempo, pois que nos faltam as condições essen-
ciais de pureza, de amor e de fé.
As experiências humanas provaram, à evidência, que
poderoso é o nosso olhar, mas que também poderoso
é o olhar dos animais... Resta-nos transmitir pelos
nossos olhos - não os fluidos que dão a morte - mas
os fluidos que dão a vida, os fluidos da salvação, cujo
reservatório imenso está. à espera da nossa deliberação,
do nosso amor, da nossa fé e da nossa caridade.
As vibrações curativas do plano espiritual, do plano
divino, segundo a observação de Bertholet (137), quando
transmitidas por um canal puro, são carregadas de vida
divina, vida a que nada resiste e diante da qual toda
moléstia desaparece. Assim se explicam as curas instan-
tâneas ou súbitas de moléstias graves julgadas incurá-
veis pela ciência médica. A subitaneidade da ação é a
característic a fundamental das curas de natureza espi-
ritual.
De sorte que a .diferença entre a prática seguida
pelos padres do Egito, incontestàvelmente avançados no
conhecimento do magnetismo, e a que deverá seguir o
medium curador, está em que este não pode e não deve
recorrer à astúcia de transformar um fenômeno natural,
que está dentro da lei de Deus, em efeitos sobrenaturai s
ou milagrosos,· com o fim de atemorizar, dominar oii de
fazer proselitismo.
Sócrates disse que se os médicos são mal sucedidos,
tratando da maior parte das moléstias, é que tratam
do corpo, sem tratarem da alma.
E .Kardec (138) comentou: «O Espiritismo fornece
a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e

(137) Dr. Ed. Bertholet - "Le Chrlst et la Guérison


dee Maladies" .
(138) AUan Kardec - "O Evangeho segundo o Espiri-
tismo.,, Introdução.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 99

prova que um reage incessantemente sobre o outro.


Abre assim nova senda para a Ciência. Com o lhe mos-
t rar a verdadeira causa de certas afecQões, fac ulta-lhe
os meios de as combater. Quando a Ciência levar em
conta a ação do elemento espiritual na economia, menog
frequentes serão os seus maus êxitos.»
E essa é a mesma razão por que a terapêutica mag-
nética se socorre da terapêutica espiritual.
ADENDO
E:.;tava já escrito o presente capitulo, quando a curiosida-
de nos levou a un1a rigorosa busca na Biblioteca da Federação
Espirita Brasileira. Bem inspirado andámos: o compêndio,
que reputávamos raro, lá se encontrava, perfeito, em exce-
lente encadernação, como se fora dos mais modernos!
Compreende-se a nossa exultação e a nossa natural an-
siedade. :m que haviamas tomado como fiador o Dr. De La
Salzede para decretarmos in limine a excelência do trabalho
do abade Loubert.
Dai a sofreguidão com que o compulsámos para, ac cabo
da leitura, reconhecer que o fiador era, em verdade, idôneo,
tal como o haviamos considerado.
Efetivamente, a obra merece relevo. Trata-se de um es-
t udo profundo, detalhado, consciencioso do magnetismo, em-
bora, em alguns pontos, como é compreensivel, por força da
posição ideológica do seu ilustre autor, tenhamos que dele
discordar.
Logo na Introdução do livro ( 139), nas primeiras pala-
vras, surge esta confissão sincera:
"As conversas no seio de minha familia e nos meio!
mundanos me persuadiram de que o magnetismo e os que ·
dele se ocupavam não mereciam senão o desdém e o desprezo.
Habituado a encarar essa questão como mentira e os que a
defendiam como charlatães, ou loucos, ou velhacos, estava
eu de há muito na posse pacifica dessa alta sabedoria que
julga sem exame. Muita gente deplorou e ainda deplorará,
de minha parte, o abandono dessa sabedoria."
Mas o abade ouvia, como enfileirados •nessa ordem de
coisas, nomes venerados nos meios cientificos, como Husson,

( 139) M. l' Abbé J. B. L. - "Le Magnétisme et le Som-


nambulisme devant les Corps Savants, la Cour de Rome ct
les Théologiens" .
100 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Fouquier, Itard, Guersant, Hufeland, Koreff, Passavant e ou-


tros, e entrou a cogitar de proceder a um exame rigoroso
da matéria, dizendo consigo mesmo: "se é uma verdade, vale
a pena que eu a procure; se é uma mentira, procurarei por
igual, porque um erro verificado é uma verdade reconhecida."
Surpreendeu o abade, certo dia, um gato adormecido. Era
o momento propicio para a experiência. Os autores recomen-
dam que para magnetizar os gatos é bom começar a operação
quando eles se encontram em estado de repouso ( 140).
E o abade f êz a flua experiência :
"Sem dúvida, algum engraçado redator de folhetins ou
de artigos de dicionário de Medicina em 15 volumes aponta-
ria a maravilha, anunciando que um gato que já dormia pa-
receu, aos olhos do magnetizador crédulo, atirado ao sono
pela sua ação magnética; ou melhor ainda, que se descobrira
o segredo de despertar pelo magnetismo os gatos que dormem
desprevenidamente. . . Mas deixo aos que fazem profissão de
espirituoso explorar o assunto por esse prisma, sem contes-
tar-lhes o monopólio. Por mim, acrescentarei sómente que,
depois de alguns minutos de ação magnética, querendo expe-
rimentar se poderia produzir sobre o animal os movimentos
ligeiramente espasmódicos que os magnetizadores asseguram
determinar tão fàcilmente sobre as pessoas magnetizadas,
adquiri desde logo a convicção de que isso era realmente
_assim. Pude, à vontade, fazer agitar · espasmõdicamente, a
distância, ora a orelha direita, ora a esquerda, inúmeras ve-
zes, com maior ou menor rapidez; produzi os mesmos fenô-
menos sobre a pata direita e a esquerda, alternada ou simul-
tAneamente, como também sobre outras partes do corpo.
Percebo, ainda uma vez, o efeito de tudo isso que ofereço à
critica, ao relatar esses detalhes; a culpa, porém, não é mi-
nha se os franceses procuram as mais das vezes rir do que
instruir-se. Mais tarde, fiz experiências magnéticas deveras
importantes e curiosas, tendo observado fenômenos sonam-
búlicos notabilíssimos. E unindo-me, a seguir, a Deleuze, que
foi conduzido pelo estudo do magnetismo às ideias religiosas,
como também a Georget, igualmente aITancado, pela mesma
via, ao materialismo tão comum entre os médicos -, posso
dizer como este último, em seu testamento: - "Novas medi-
tações, e sobretudo os fenômenos do sonambulismo magnéti-

( 140)Albert de Rochas - "Les lttats Superficiels de


l'Hypnose", 5. • edição, pág. 139.
MAGNETISM O ESPIRITUAL 101

co, não me permitiram mais duvidar da existência em nós


e fora de nós de um principio inteligente, completamen te
diferente das existências materiais ... a alma e Deus. Nesse
sentido, há em mim uma convicção profunda, fundada em
fatos que julgo incontestávei s."
Em diversos lances do livro, na defesa do magnetismo,
o abade Loubert se torna veemente e vibrante. "Sigamos,
diz ele, um caminho mais proveitoso para a Ciência, mais
consentâneo com a dignidade de uma questão que interessa
o futuro do homem, tanto sob o ponto de vista filosófico como
sob o ponto de vista médico."
Transcreve um episódio do "Tratado de Sortilégios", de
Grillaudus, ocorrtdo em Roma, quando um touro em fúria,
conseguindo escapar-se, investiu ameaçadoram ente contra a
multidão que fugia. Surgiu, então, um homem, destemido e
resoluto, estendendo as suas mãos sobre a cabeça do touro;
o animal estancou vacilante, para depois acalmar-se e deixar
que · o prendessem, sem a menor resistência. Como recom-
pensa da sua generosa ação, o herói foi levado para a prisão,
pois pretendiam que respondesse a processo como feiticeiro.
Agora, o comentário do abade : "Punir um homem porque
possui ainda restos desse poder dominador de que Deus dotou
sua criatura sobre toda a Natureza! li'.: ignorância e é ceguei-
ra! Muitas vezes experimentei a influência do olhar do ho-
mem sobre os animais. E pude dominá-los completamen te."
Passemos todavia a apontar o resumo das principais con-
clusões a que chegou o abade Loubert sobre o magnetismo:
"O poder magnético é uma faculdade natural comum a
todos os homens.
"A faculdade magnéti~a está submetida a todas as leis
morais que regem as outras faculdades do homem. Ela tem
também leis fisiológicas gerais e particulares.
"A ação magnética modifica o individuo e é também
modificada por ele.
"Muitas objeções são devidas à ignorância e à presunção.
"No livre exercicio de todas as nossas faculdades, há
limites, há leis de que não nos devemos libertar e há, tam-
bém, as de que não nos podemos subtrair.
"Todos os "fatos negativos não destroem um só fato po-
sitivo.
"Os médicos como os teólogos não devem e não podem
julgar o magnetismo a priori, fazendo metafisica pura, porque
esse estudo é também e sobretudo fisiológico e experimental.
102 MAGNET I SMO ESPIRITUAL

"Os fenômenos magnéticos são ora de manifestação len-


ta, ora quase instantânea.
"Embor a a ação magnética seja o resultado da vontade,
não está em seu poder produzir tal ou qual fenômeno que lhe
agrada. E la tem leis que lhe são próprias.
"A experiência mostrou que, na maioria dos casos, o in-
dividuo sonambulizado se revela de moral mais perfeita e
mais r eligioso. Não é raro ver-se um sonâmbulo que, em
estado de vigília, não tem sentimentos religiosos, passar a
t ê-los profundamente no estado sonambúlico e orar a Deus
com fervor ( il est plus porté à rentrer en lui-méme) .
"O sonambulismo não é nem um estado de vigília, nem
um estado de sono rigorosamente falando; é uma combinação
desses dois estados. lt um modo particular de existir.
"Mais frequentemente, no sonambulismo, o sujet conser-
va o uso de todas as suas faculdades, da sua própria liber-
dade, que se torna muitas vezes mais ampla e mais perfeita.
"O sonambulismo natural tem a maior analogia com o
sonambulismo artificial.
"No sonambulismo a alma não faz senão manifestar
f acuidades que ela já possuia.
"O estado moral habitual influi sobre a natureza do fluido
magnético. lt uma ação do homem.
"O estado moral atual também influi sobre o fluido mag-
nético.
"Considerado nos limites de uma ação natural, há um
bom e um mau magnetismo.
"Combate-se o magnetismo pelas falsas alegações atri-
buídas aos sonâmbulos.
"Ignoram-se as leis mais simples e mais comuns da Fi-
siologia.
"A ignorância da Fisiologia vem juntar-se a da Fisica,
nas suas leis e nas suas relações numerosas com o homem
são ou doente. Dai as objeções pueris e ridículas.
"O estudo do magnetismo não ficou estacionário. Opuse-
ram-se-lhe maiores obstáculos do que à Quimica, cujo estudo
oferece enormes dificuldades.
"Espiritos prevenidos truncam fàcilmente as citações ou
não escolhem senão as que coincidem com uma opinião pre-
concebida.
"A prevenção cega fere as regras da mais simples filo-
sofia e contradiz os fatos mais comuns em relação ao homem
em estado de saúde e de doença. A Religião não tem neces-
MAGNETISMO ESPIRITUAL 103

sidade dessa maneira de argumentar: não é processo de


honrâ-la.
":m em virtude da ignorâ,ncia das leis do magnetismo
que se assegura que ele é essencialmente imoral.
"0 estudo sério, principalmente o estudo cristão do mag-
netismo, conduz o homem ao amor do seu semelhante, ele-
vando-o perante Deus; fá-lo descobrir novos beneficios de sua
divina providência ao contemplar a mãe amorosa que acon-
chega junto ao seu coração, cobrindo-o de beijos, seu filho
que sofre. Ele nos conduz ainda a reconhecer que nosso sen-
timento pelos males de nossos irmãos não nos foi concedido
para nos atormentar ou sõmente para nos fazer procurar
alhures os meios de lhes provarmos nossa boa vontade e para
exclamarmos como loucos: E não posso aliviá-lo com sacri-
ficio mesmo da minha própria vida!
"Se pudéssemos colocar sempre junto de um doente cris-
tão um magnetizador também cristão; se quiséssemos ver as
ordens religiosas entregues ao mister, pelas irmãs de caridade,
de aliviar os doentes pelo emprego desse meio, teriamos belas
páginas a escrever sobre a faculdade magnética, sobre esse
poder de praticar a caridade para com os entes sofredores.
Poderiamos assim responder a muitas páginas amargas, in-
justas, superficiais; seria necessário que examinássemos a
fundo a piedade e que indagássemos da nossa sensibilidade.
Um sentimento interior parece dizer-nos que podemos, que
devemos aliviar o doente, que nos agrada, apertar em nossos
braços aquele que consolamos em seus sofrimentos."
E assim termina :
"Nossa tarefa está concluida. Resta-nos augurar que a
ciência magnética encontre um pesquisador versado em Fisio-
logia, que seja cristão, que saiba atar os laços que existem
entre o mundo fisico e o mundo moral e que seja intérprete
imparcial da verdade cientifica e da verdade divina."
Capítulo XII
"Andava Jesus por toda a GalUeia, ensinando
nas sinagogas , pregando o Evangelho do Reino
e curando todas as doenças e enfermida des entre
o povo. A sua fama correu por toda a Biria;
trouxeram -lhe todos os enfermos, acometido s de
várias doenças e sofrimento s, endemonin hados,
epilépticos e paralíticos , e e'le os curou. Muita
gente o seguiu da Galileia, de Decápoles , de Je-
rusalé·m . da Judeia e dalém do Jordão."

( MARCOS, 4 : 23 a 25.)

Já falámos sobre os passes longitudin ais. Tratare-


mos agora das fricções e, em seguida, dos passes de dis-
persão e das insuflações.
Em magnetism o denomina-se fricção a ação de pas-
sar a mão sobre o corpo (141), sem nenhuma pressão,
mas por meio de um contacto suave, e diretamen te sobre
a pele.
Alguns autores chamam-l he afloração quando feita
por meio de um contacto muito superficia l e por cima
das roupas (142).
A fricção age profundam ente, estimulan do, a prin-
cípio, a rrunificação dos nervos sensitivos do derma, para
depois aléançar os tecidos subjacent es e estender- se por
todos os órgãos ( 143).
As fricções são palmares, digitais, longitudin ais e
rotatórias .

( 141) Aul>in Ga·u tmer - "Traité Pratique du Magné-


tisme et du Somnamb ulisme" .
{142) Marti11s Velho - .. O Magnetism o" .
( 143) H. D11rville - "Traité Experim. de Magnétism e".
MAGNETISMO ESPIRITUAL 105

As fricções palmares são feitas, conforme o nome


o indica, com as palmas da mão, em cheio, os dedos ligei-
ramente afastados, sem crispações e sem rigidez; as digi-
tais, com a mão aberta, ficando os dedos ligeiramente
afastados e um pouco curvados, evitando-se contração
e rigidez, com o punho erguido; as longitudinais são
.executadas com a mão aberta, como as fricções palma-
res, ou sõmente com as pontas do dedo, como as fricções
digitais, ao longo dos membros e do corpo, muito lenta
e suavemente (cerca de um minuto da cabeça aos pés),
no sentido das correntes, isto é, do alto para baixo, se-
guindo o trajeto dos nervos e dos músculos; as rotatórias
são feitas igualmente com a palma das mãos ou com
a ponta dos dedos, descrevendo círculos concêntricos no
sentido dos ponteiros de um relógio.
:m também aconselhável, de quando em quando, e à
medida que a mão ou os dedos deslizam pelo corpo,- fazer
ligeiras pressões como se quiséssemos deslocar alguma
coisa aderente à pele (144).
Não se deve esquecer que, ao fazer retornar a mão
ao ponto de partida, o operador a conservará fechada
e afastada do corpo do paciente, tal como age com os
passes.
Vê-se assim que a fricção magnética nada tem de
comum com a maneira pela qual são ministradas as
fricções médicas, em que predominam movimentos rápi-
dos, às vezes violentos, praticados em todas as direções
e geralmente com o emprego de pomadas, óleos e outros
medicamentos.
~ sobretudo importante, observa Bué (145), evitar
o emprego de substâncias mercuriais, arsenicais, iodadas
º:1 canforadas, que entravam totalmente a ação magné-
tica, pervertendo mais ou menos a sensibilidade e a re-

( 144) J. Réno-Bajolaia - "Technique Moderne de Mag-


.nétisme Humain,. . ·
( 145) Alfonae Bué - "Magnéttsme Curatif".
106 MAG NETI SMO ESPI RITU AL

cepti vidad e das ramif icaçõ es nervo sas do derma. E a esse


propó sito cita o segu inte caso eluci dativ o:
.:Tra tava eu de uma parap legia num indivíduo quase
sexag e~ári o. Ao fim de algum as sessões, apres entar am-s e
espo ntâne amen te movimentos autôn omos ; simples ações
feita s à distâ ncia de 50 centí metro s, e até a muito s
metr os do corpo, deter mina vam profu ndos abalo s nos
músc ulos e princ ipalm ente nos músc ulos das perna s, os
quais iam e vinha m em todos os senti dos, qual se o
pacie nte quise sse enve rniza r o soalho. Senti mos praze r
com a apari ção desta ginás tica natur al, que nos anun -
ciava a marc ha de migr ações vitais, quando, de repen te,
num a das sessõ es segui ntes, sem caus a apare nte, o fenô-
meno cesso u e tudo recai u na passi va inaçã o dos pri-
meir os dias; depois de todos esses gran des movi ment os
que nos mara vilha ram, não houve um só estre meci ment o
nos músculos. Donde podia prov ir a brusc a revir avolt a?
Tive em breve a explicação do enigma, inter roga ndo o
meu doente. Julga ndo proce der bem, ou, pelo menos,
que não pude sse entra var a ação magn ética , ele friccio-
nou vigor osam ente as perna s com álcool canfo rado. Ora,
esta ação, apare ntem ente inofensiva, subtr aindo momen-
tânea ment e às ramificações nervo sas do derm a toda a
recep tivid ade magn ética , prod uzira a para da do f enôme-
no; e se eu de tal pude sse duvid ar por um insta nte,
basta va a confi rmaç ão que me troux e algun s dias depois
o resta belec imen to dos movimentos, quan do se esgo tou a
ação anes tesia nte do álcool canfo rado. Pode ria citar ou-
tros exemplos, para corro bora r este fato, mas ab uno
disce omne s.»
Os passe s e as fricçõ es produ zem muit as vezes cer-
tos desequilíbrios orgân icos de pouc a mont a, e fàcilm ente
removíveis, oriun dos de acum ulaçã o dos fluidos em uma
ou algum as parte s do corpo. Esse s desequilíbrios con-
siste m comu ment e em opres são no peito, contr atura s e
espasmos. Em casos tais, como invar iàvel ment e no fim
de cada magn etiza ção, há necessidade de dispe rsar os
fluidos assim acum ulado s. .
A ação de dispe rsar, porta nto, é ação de equill-
MAGNETISMO ESPIRITUAL 107

brio e não, como insinua Lawrence, ação de desmagne-


tização ( 146) .
Diversos são os processos de dispersão. Citaremos,
todavia, os mais usados.
Em primeiro lugar indicaremos os passes transver-
sais e perpendiculares.
Os passes transversais se executam a alguma dis-
tância do corpo do paciente ( 30 a 50 centímetros).
O operador, colocado de pé e defronte do magnetizado,
estende os dois braços para diante, as mãos abertas,
com a palma e, bem assim, os polegares para baixo;
nessa posição, ele abre ràpidamente e com muita energia
os braços no sentido horizontal e depois volta com viva-
cidade à posição primitiva para recomeçar logo a seguir
da mesma maneira. Esses passes são repetidos quatro
ou cinco vezes e são dirigidos para o ponto do organismo
em que se quer dispersar.
Nos casos de dispersão geral, como acontece no fim
de cada sessão ou para despertar o sonâmbulo, esses
passes são dirigidos, em série, sucessivamente, à altura
da fronte, ao peito e aos pés.
Pode-se também executar o passe transversal só com
uma das mãos. Nesse caso, o operador impulsiona a mão,
batendo vivamente o ar por cima e na altura de 5 cen-
tímetros da parte visada, como se f ôsse agredir o pacien-
te, tendo o cuidado de, ao repetir o passe, fechar e
afastar a mão.
Os passes perpendiculares sõmente são praticados
no fim das sessões, mas depois dos passes transversais,
quando houver necessidade de mais segura dispersão.
A sua execução se faz do modo seguinte: o magne-
tizador se coloca ao lado do paciente, que deve ficar de
pé, e, impondo-lhe as mãos estendidas com as palmas,
à distância de 5 centímetros, mais ou menos, por sobre a
cabeça, desce-as ràpidamente até ao chão, uma pela fren ..
te e a outra por detrás do corpo. Pode igualmente o

( 146) Dr. J. La-wrence - "Magnetismo Utilitário y Mi-


lagroso".
108 MAG NET ISMO ESPI RITU AL

oper ador colocar-se por dian te ou por detr ás do paciente,


fazendo descer as mãos, nas mesmas condições, pelos
lados do corpo. Esse s pass es devem ser ~epetidoa, com
muit a vivacidade, cinco ou mais vezes, tendo-se sempre
a caut ela de obse rvar a regr a do fech ar as mãos e
afas tá-la s ao recomeçar o passe.
Pode-se igualmente disp ersa r com uma imposição
com contacto, fazendo pous ar a palm a da mão sobre o
pont o onde se quer dispersar, e ficando os dedos suspen-
sos e arqueados para cima, intei rame nte abertos, firmes
e imóveis. Por esse processo facilita-se o escoamento
dos fluidos acumulados pelas pont as dos dedos.
Devemos assin alar que a imposição sem contacto,
à distâ ncia de uns 3 centímetros, feita nas mesmas con-
dições da precedente, pelo tempo que for necessário, é
um excelente método para faze r cess ar as dores e resol-
ver os tumo res e inflamações.
Poderoso meio de dispersão é a insuflação fria, de
que trata rem os a seguir.
Segundo a vers ão que nos dá o Velho Test ame nto,
a vida foi tran smit ida ao homem pelo sopr o: «Do pó
da terra formou Deus Jeovah ao homem, e sopr ou-l he
nas nari nas o fôlego de vida; e o homem torn ou-s e um
ser vivente» (147).
Se as leis da Natu reza opõem à concepção adâm ica
sobr e a formação do homem razões pode rosa s e decisi-
vas, não se pode recu sar ao versículo, entr etan to, a forte
expr essã o de um simbolismo. Na verdade, o prim eiro
sopr o anun cia a vida, e o último sopro, ou, como dizemos
na linguagem corrente, o último suspiro, assin ala a
mor te do corpo.
Os pulmões,· órgã os da respiração, são, no homem
robusto e sadio, uma impo rtan te font e de ener gia vital
de que ele pode utilizar-se para o bem do seu sem elha nte
enfraquecido ou doente. Quando se resp ira a plenos pul-
mões, apre sent a-se realm ente toda s as apar ênci as de
saúde, ao passo que a dificuldade de resp irar indic a

(147 ) "Génesis", cap. 2, v. 7.


MAGNETISMO E SPIRITUAL 109

muitas vezes uma fraqueza geral, um desequilíbrio das


funções vitais. A Medicina vale-se muitas vezes da insu-
flação de boca a boca nos casos de asfixia e, especial-
mente, de morte aparente dos recém-nascidos (148).
Os magnetizadores, em sua generalidade, sempre
usaram com êxito as insuflações, classificando-as em
quentes ou frias.
O processo da insuflação quente é o seguinte: Colo-
ca-se sobre a parte do corpo, onde se quer acionar, um
lenço, ou um pano das mesmas dimensões, dobrado em
quatro, de lã, linho ou algodão (preferentemente de fla-
nela branca). Aplica-se a boca sobre o lenço, e, enchendo
os pulmões com a máxima quantidade de ar que possam
conter, sopra-se uma expiração muito lenta e o mais
prolongado possível, sem empregar contração, nem força.
Esgotada a provisão de ar, levanta-se a cabeça, afasta-se
a boca, e aspira-se do ar ambiente, pelo nariz, nova
provisão, e, aplicando .novamente os lábios sobre o pano,
começa-se outra insuflação (149).
Aplicadas seis insuflações sucessivas, é conveniente
descansar alguns minutos para aplicar outra série, sen-
do necessário.
Deve-se ter o cuidado, ao recomeçar cada insuflação,
em não aspirar conservando os lábios juntos ao pano.
Tal maneira de proceder prejudicaria o efeito propulsivo,
que é essencial à insuflação, além do perigo de absorções
nocivas para o magnetizador.
Quando a insuflação desenvolve um calor suave no
local, e quando esse calor se espalha gradualmente pelas
regiões vizinhas, é um bom sinal, porque prenuncia que
a circulação sanguínea se faz livre e normalmente. No
caso contrário, devem repetir-se as insuflações para total
desobstrução de qualquer possível congestionamento.
As insuflações quentes são empregadas com exce-

(148) H. Durville - "Téories et Procédés".


(149) Au.lnn GauthÃer - "Traité Pratique du Magnétis-
me et du Somnambullsme"; Dr. A. A. Martin8 Velho - "O
Magnetismo"; Alfonse BiuJ - "Magnétisme Curatif" .
110 MAGNETISMO ESPIR ITUAL

len!e~ resulta dos nos ingurg itamen tos, nas obstruções,


asfixia s, dores de estômago, cólicas hepáti cas ou nefrl-
ticas, enxaqu ecas, afecções glandu lares, dores de ouvido,
surdez, etc., t endo grande efeito sobre as articulações,
sobre o alto da _cabeça, o cerebelo, as têmpo ras, os olhos,
as orelhas, o ep1gastro, o baço, o fígado, os rins, a coluna
verteb ral e o coração.
P recisam ente porque a insufla ção quente é demasia-
damen te excita nte, deve-se tomar o cuidado de não apli-
cá-la quand o houve r lesões profun das e, especialmente,
nos casos de aneuri smas do coração e da aorta, e nos
casos de tuberc ulose adiant ada. Deleuze e Du Potet vão
mais longe, asseve rando que é sempr e perigo sa qual-
quer ação magné tica sobre os tuberc ulosos em grau avan-
çado (150).
A insufla ção quente pode também ser feita à dis-
tância de uns poucos centímetros, em lugare s mais aces-
síveis, como a cabeça, os olhos, os braços, os dedos, etc.
Nesse caso, não há necessidade de aplica r os lábios, e,
em vez do sopro lento e prolongado, fazem-se expira ções
muito curtas e sucessivas, como se costum a proced er
para limpar os óculos e para aquece r os dedos e as
mãos no tempo frio.
Quand o as conveniências não permit irem o sopro
direto sobre certas partes do corpo, os magne tizado res
costum am empre gar um tubo de vidro, mais ou menos
longo, tendo uma das extrem idades aplica da diretam ente
sobre o pano, e atravé s do qual fazem a insuflação.
Sobre a ação podero sa da insufla ção quente é típico
o exemplo citado por Deleuze (151) e també m por Aubin
Gauth ier (152):
M. Thiria t, profes sor de Ginecologia e médico nas
águas de Plomb ieres, forma ra segura convicção sobre

(150) Deleuz e - "Histo ire Critiqu e du Magné tisme Ani-


mal", 19 vol., pág. 155; DU Potet - "Traité Compl et de Mag-
nétism e Anima l", 8• ed . , pág . 266 .
( 151 ) Deleuz e -- "Instru ctlons Pratiqu es", pág. 247.
( 152) Aubtn Gauthi er - "Traité Pratiqu e du Magné tis-
me et du Somna m bulism e", pág. 127.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 111

a ação magnética. Depois de um acidentado parto, a


criança estava quase asfixiada, com os batimentos do
coração fraquíssimos e lentos. Aplicou, primeiramente,
fricções e imersão em água tépida, sem nenhum resul-
tado. Foi, então, que se decidiu a agir mais diretamente
sobre o coração e o diafragma. Aplicou na região des-
ses dois órgãos um pano seco e começou a soprar quente
sobre o coração, depois sobre toda a parte anterior
e inferior do tórax, conseguindo assim estabelecer o
funcionamento reguiar do coração, depois de desesperan-
çado de obter qualquer êxito pelos meios terapêuticos
ordinários.
A insuflação é fria quando executada numa distân-
cia de 30 centímetros a um metro e, conforme o poder
do operador, a uma distância maior.
Pode-se verificar por uma experiência pessoal que
a insuflação é tanto mais fria quanto mais longa a dis-
tância em que for executada.
Faz-se a insuflação fria soprando com rapidez e vio-
lência sobre a parte que se quer atuar, tal qual como
quem de longe tenta apagar uma vela.
A insuflação fria é calmante e refrigerante, cons-
tituindo-se um poderoso e eficacíssimo processo de dis-
persão. É usada com excelentes resultados para com-
bater as dores de cabeça, convulsões, agitações febris,
ataques nervosos, etc. Aplicada na testa e nos olhos,
desperta o paciente magneticamente adormecido, como
também faz cessar as crises na epilepsia.
Nem todos os magnetizadores possuem um sopro po-
deroso e eficaz. Cahagnet afirma, no que lhe diz respeito,
que não conhece recurso tão poderoso, citando, a propó-
sito, o caso da sua sonâmbula Adélia Maginot (153):
A · sonâmbula era lúcida. Cahagnet dava, invariàvel~
mente, aos sonâmbulos lúcidos plena liberdade de apre-
ciação, discussão e ação, durante o sono magnético. Em
consequência de uma altercação com seu magnetizador,

( 153) Alphonse OahagMt - "Thérapeutique du Magné-


tisme et du Somnambulisme", pág. 36 .
112 MAGNETISMO ESPIRITUAL

porque este não quis consentir que ela se erguesse da.


cadeira sem ser antes despertada, Adélia Maginot resol-
veu abandonar a sessão naquele estado sonambúlico. De-
pois de ter empregado pacientemente todos os meios
suasórios, a sonâmbula o desafiou a .impedir sua saída.
Os lúcidos têm às vezes desses caprichos que colocam
o magnetizador num grande embaraço. Cahagnet estava~
pois, diante deste dilema: ou travar uma luta corporal
com a sonâmbula, de uma força extraordinária, ou aban-
doná-la nesse estado na via pública, deixando-a enfren-
tar os mais graves perigos. Recuperando a calma, e fiado
na sua vontade e na sua força magnética, colocou-se
resolutamente em frente da sonâmbula, pensando que
ela não passaria. Puro engano! O magnetizador foi vio-
lenta e brutalmente lançado para um lado, enquanto a
fechadura da porta era estridentemente arrancada e
atirada ao chão. Numa ação rápida, Cahagnet sai pela
porta contígua e novamente se coloca face a face com
a sonâmbula e, apesar da distância de cerca de dois me-
tros que o separava desta, soprou-lhe fortemente sobre
a testa. E tal foi a força da insuflação que a magne-
tizada instantâneamente vacilou, para cair em seguida
em cheio nos braços do magnetizador, que assim a am-
parou. Grande foi, então, a surpresa do magnetizador,
vendo a senhora, antes tão irritada e voluntariosa, levar
a mão à testa, como se tivesse recebido um profundo
golpe, e em seguida récuperar toda a calma.
Capítulo XID
"Partiu Jesus daque'le lugar e 1.>oltou ao mar
da Galileia, e, tendo subido ao monte, alt se a,s-
~ou. Veio a ele uma grande multiddo, traZ6"-
do consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e ou-
tros muitos, e ptJ,Seram-lhos aos pés; ele os curou,
de modo que a multid4o Be maravühou ao ~r
mudos falar, aleijados ficar s{J,os, coxos an.dar,
cegos ver; e g'lorificaram ao Deus de Israel.''

(MATEUS, cap. 15, V. 29 :31.)

. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
"Jesus percorria todas as cidades e aldeias,
ett.8inanào nas sinagogas, pregando o e1>angel11o
do reino e curando todas as doenças e en/et'TM-
dades. Vendo ele as turbas, compadeceu-se àe'la8,
porque estavam aflitas e exaustas como ovelhaB
sem pastor. Entllo disse a seus discfpulo8: a aea--
ra, na verdade, é grande, mas os trabalhadorea
s4o poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara, Q"18
encie trabalhadores para ela . "

(MATEUS, cap. 9, V. 3õ-38.)

Já advertimos que muitos são os processos de mag-


netização e que o operador deve adotar aquele que melhor
convier ao caso, segundo a sua própria observação, va-
lendo-se do chamado tato magnético.
·- Trataremos agora da cadeia magnética, que, na opi-
n1ao de Deleuze ( 154), é o meio mais poderoso para
aumentar a força do magnetismo e para pôr em circula-
ção o fluido.

( 154) Deleuze - ,.Instructions Pratiques", pág. 89 .


114 MAGNETISMO ESPIRITUAL

A cadeia se forma de pessoas sãs, interessadas, ou


que se possam interessar pela cura do doente, ou, então,
pela reunião dos próprios enfermos, que se agrupam
para seu comum tratamento.
No primeiro caso, quando as pessoas se reúnem com
o fim de aliviar um doente, a cadeia se diz comunicativa;
no segundo caso, ela se denomina ativa ( 155).
Parece-nos, entretanto, mais acertado denominá-las,
respectivamente, de cadeia comunicativa, quando muitos
indivíduos comunicam sua força em benefício de alguém,
e de cadeia receptiva, quando diversos recebem a influên-
cia magnética para o tratamento em comum.
Na formação da cadeia comunicativa, depois de es-
colhidas as pessoas interessadas pela sorte do doente
e que possam concentrar toda a sua atenção e a sua
vontade para o fim único de concorrer para a cura,
o magnetizador estabelecerá a relação mediante contacto
com cada uma delas, pelo espaço de dois minutos.
A relação poderá ser estabelecida do seguinte modo:
estender o magnetizador as mãos abertas, com a palma
para cima, de modo que, cada uma a seu tempo, coloque
nelas, em cheio, as mãos - palma contra palma -,
tocando-se os dedos em toda a extensão.
Isso realizado, os componentes da cadeia comunica-
tiva dão-se as mãos mutuamente, formando uma fila, da
qual o primeiro tomará a mão do magnetizador, a fim
de que este, com a mão que se conserva livre, possa
atuar por meio de imposição e passes sobre o doente,
tal como se faz na magnetização em geral, obedecidos
os preceitos e as regras que já passámos em revista.
Nessa altura, com as mãos já ligadas, levante al-
guém, com sinceridade e fervor, uma breve rogativa ao
Alto, para que a assistência espiritual se faça sentir
em toda a sua plenitude. E só então a magnetização
terá começo, devendo terminar depois de vinte a trinta
minutos.

( 155) M esmer "Aphorismes", pág. 302 .


MAGNETISMO ESPIRI TUAL 115

Não será demais repetir com Bué ( 156), que, para


tais casos, não se pode, de maneira alguma, contar com
mercená rios ou pessoas de fé vacilante, cujo cepticismo,
sempre pronto à crítica ou à negação dos fatos, entra-
varia, em vez de desenvolver a ação magnética. Idêntica
advertê ncia faz Cahagn et (157), acrescentando que a
harmonia produz a harmon ia e a desarmonia produz
a desarmonia.
As cadeias comunicativas se formam com cinco a
dez pessoas, as quais, tanto quanto possível, deverão ser
conserv adas nas subsequentes sessões, se elas se repe-
tirem, a fim de que não haja solução de continuidade
na tonalidade da ação magnética.
A cadeia receptiva é um processo de co-magnetiza-
ção, de que usava com frequência Mesmer, porque não
lhe sobrava tempo para tratar insuladamente grande
número de doentes.
Ela se forma, como já dissemos, pela reunião dos
próprio s doentes, cujo número poderá ser ilimitado, o
que depende rá exclusivamente do local em que se reali-
zar a sessão.
~, entretan to, aconselhável, sempre que possível,
intercal ar alguma s pessoas sãs entre as doentes para
reforça r e acelerar a ação magnét ica ( 158).
Como princípio geral, ninguém poderá tomar parte
em uma cadeia sem a tomada de relação, pelo espaço
de dois minutos ~ mediant e contacto com o magnetizador,
tal como foi exposto em relação à cadeia comunicativa.
E essa precaução será tanto mais necessá ria se já estiver
f armada a cadeia.
A cadeia receptiv a poderá ser f onnada , em relação
à sua disposição e sistema de magnetização, de diversas
maneiras, sendo as mais usadas as seguint es: em fila,

( 156) Alphons e Bué - "Magné tlsme Curatlf" .


( 157) Alphons e Cahagne t - "Thérap eutique du Magné-
tisme et du Somnam bulisme ".
(158) Aubin Gauthie r - "Traité Pratique du Magnéti s-
me et du Somnam bulisme" , pág. 135; Deleuze - "Instruc -
tions", pá.g. 91.
116 MAGN ETISMO E SPIRI TUAL

em círculo com conta cto, em semicirculo sem contacto.


Na cadei a em fila, colocam-se cadei ras umas atrás
das outra s, o mais próximo possível, e nelas tomam
assen to os doentes. O opera dor, de pé, na frente do
prime iro enfermo, atua por meio de imposições e passes,
a distân cia, sobre a fila toda.
Essa disposição é sobre tudo recom endad a quand o
for pequeno o núme ro dos doentes.
Na cadeia forma da em círculo com conta cto, confor-
me está a indica r a denominação, as cadei ras são colo-
cadas em círculo, estabelecendo-se o conta cto dos doentes,
os quais, de vizinho a vizinho, dão-se mutua mente as
mãos e tocam -se com o joelho e a extrem idade dos pés.
O opera dor, de pé, conserva-se no centro do círculo
e atua sobre os doentes, conju nta ou separ adam ente,
por meio de imposições e passe s a distân cia.
As inconveniências e os perigos dessa forma ção são
apont ados por Gauth ier (159), o qual afirm a, entre ou-
tras coisas, que o magn etizad or nem semp re conhece a
natur eza da molés tia de cada enfermo, se é ela conta -
giosa ou não, e que outra s doenças, embo ra não trans-
missíveis, poder iam impre ssiona r ou causa r pertu rbaçõ es
aos pacien tes.
Bué (160) ainda apont a o inconveniente de ficar o
opera dor de costa s voltad as para algun s doent es e, por-
t anto, mal colocado para exerc er a sua ação e vigilância.
Na cadeia em semicírculo sem conta cto, as cadei ras
são colocadas na distân cia de 25 ou 30 centím etros umas
das outra s, em linha curva , de modo a forma r mais ou
menos um semicírculo. O opera dor se conse rvará de pé,
no centro , ou seja, equid istant e das duas extrem idade s
das cadeir as, e de modo a poder exerc er fàcilmente a
sua fiscalização sobre todos os . enfermos, os quais ne-
nhum conta cto fazem entre si. E nessa posição o ope-
rador inicia rá a ação de acordo com as regra s já esta-
belecidas para a magn etizaç ão em geral.

(159) Obr . clt., pág. 13.7 .


(160) Obr cit., pág 136.
117
MA GNE TIS MO ESP IRIT UA L

Convém repetir que, form ada a cad eia, e anteprec s de


e
inic iar a ação, qualquer dos pr esen tes fará a side rar
rog ando a assi stên cia esp iritu al. :m nec essá rio conQua ndo
que a prec e já é um prin cípi o de mag neti zaç ão. Ter ra
se diri ge o pen sam ento par a um ser qua lque r, na entr e
ou no E spaço, uma cor ren te fluiclica se esta bele cepor ção
um e out ro. A ene rgia da cor ren te gua rda pro
com a do pen sam ento e da von tade (16 1). E a ade med ida
.
des sa ene rgia está na sim plic idad e e na sinc erid
de
Na cad eia rece ptiv a, depois de algu ns min uto s
exp eri-
mag neti zaç ão, todo s os doe ntes sen tem a açã o e e o
men tam efei tos mai s ou men os sens ívei s, con formbém
esta do e a nat ure za de sua s afec çõe s. Sen tem tam pos tas
os efei tos da mag neti zaç ão as pes soa s que são
tem os
na corr ente . Tod os rece bem e por sua vez tran smiime nto,
flui dos . E, esta bele cida a unif orm idad e do mov
mu itas
o mag neti zad or pod erá reti rar- se da cad eia, o que doe n-
vez es aco ntec e par a aten der par ticu larm ente algu mdoe nte
te pos suíd o de cris es nerv osa s. Em caso s tais , o s pró -
é reti rad o, reco mpo ndo -se a cad eia pela uniã o mai s dois
xim a ou liga ção , con form e o sist ema usa do, pelo
vizi nho s do enf erm o afa s~d o. r
Vej amo s ago ra ó sist ema emp rega do por Mesme
atra vés do céle bre baquet.
a
Tod os sab em que se dav a o nom e de baquet a um
pilh as
caix a circ ular de mad eira , em que se enc ont rav am águ a
de vidr o, lim alha s de ferr o e gar rafa s che ias de ori-
de
mag neti zad a, sim etri cam ente disp osta s. Atr avé s
qua is
fícios feit os na caix a, safa m has tes de ferr o, as
o da
se unia m por mei o de um a cor da pas sad a em tom
cint ura .
o
Med eiro s e Alb uqu erq ue (162) assi m des crev e com
ar em
eram trat ado s os doe ntes : «To dos tom ava m lug
feit a-
torn o do baquet, e, ou se sen tiam logo dep ois per eiros
men te bon s, ou ent rav am em con vul sõe s: verdad

(161 ) Alla n Kar dec - ., O Eva nge lho segu ndo o Esp i-
ritismo" .
(162 ) Medeiro8 e Alb uqu erqu e - "O Hipnotismo", p. 5.
118 MAGNETISMO ESPIR ITUAL

ataque s de que freque nteme nte saiam curados. Estas


convulsões eram as crises, que se consid eravam salu-
tares. O fluido, penetr ando no organi smo em desequi-
líbrio, produz ia aquele abalo, mas acabav a por fazer
o seu efeito curativ o. Apenas, como o númer o de crisía-
cos de grande violência era crescido, foi necess ário pre-
parar- lhes um aposen to especial, todo acolchoado, onde
pudess em debate r-se à vontad e; este aposen to tornou -se
célebre, sob o nome de inferno das convul sões. O efeito
do baquet, como se deve ter notado, tinha a função de
um conden sador de força magné tica, e era reforç ado
pelas vibrações de uma música que se fazia em sala
próxima, vibrações que concorriam para melho r distri-
buição do fluido magnétic~.»
Deleuze ( 163), depois de mostr ar as vantag ens e os
inconvenientes do tratam ento simult âneo de muitos en-
fermos, preconiza a formaç ão de pequeno baque t para
um só . doente.· Na verdade, a composição de pequen os
baquets seria admirá vel nos tratam entos isolados, tendo
em vista princip almen te a desnecessidade da presen ça do
magne tizado r, ao qual se poupa riam o esforç o e a fa-
diga.
Em relação ao emprego da música como processo
auxilia r do magnetismo, convém assina lar que Mesmer,
que tocava com perícia harmô nica, dava prefer ência aos
instrum entos de sopro e às arias execut adas em ré menor.
Todos os magne tizado res reconhecem que a música
excita e desper ta a alma, deleita os sentidos, ergue os
espírit os melancólicos e deprimidos, acalma e adormece
as paixões e pertur bações .
Conta-nos o Velho Testam ento (164) que quando
o Espíri to se apode rava de Saul, tomav a David a harpa
e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alivio e o
Espíri to maligno se retirav a dele. ·:

(163) De"leuze - "Histoi re Critiqu e du Magné tisme Ani-


mal", pág. 116 .
(164) I. Samuel , cap . 16, v. 23.
MAG NET ISMO ESP IRIT UAL 119

O médico inglê s Rich ard Mea d, citad o pelo Barã o


du Pote t (165 ), rela ta que um músico perc ebeu que um
cão, que lhe ouvi a cons tante men te as execuções, irrit a-
va-se de tal :r,nodo quan do eram toca das mús icas de
dete rmin ado tom, pondo-se a ladr ar inin terru pta e
desa ssos sega dam ente . Cert o dia, çlesejando expe rime ntar
até que extre mos . cheg aria o cão, o mus icist a insis tiu tão
long ame nte na execução da mús ica, que o anim al, muit o
sensível, pereceu, deba tend o-se em convulsões.
Há pess oas que sent em efeit os part icula res ouvindo
dete rmin ados instr ume ntos ; outr as há em que a intol e-
rânc ia e a repu lsa são imed iatas . De sorte que, quan do
se serv e da mag netiz ação acús tica, é mist er que o próp rio
paci ente faça a esco lha do instr ume nto, ou man ifest e a
sua pref erên cia.
Gau thier (166 ) afirm a que a expe riênc ia dem onst ra
que os sons que part em de um instr ume nto mag netiz ado
prod uzem mais efeit o do que de um que não o seja , tor-
nand o-se a ação mais viva e mais acel erad a.
Por sua vez, du Pote t (167) asse vera que fêz algu -
mas expe riênc ias dess a natu reza com os sonâ mbu los, os
quai s reco nhec eram uma difer ença muit o sens ível entr e
os sons dos instr ume ntos prev iame nte mag netiz ados e
dos que não fora m mag netiz ados .
Como um dos meio s mais efica zes da mag netiz ação
simu ltân ea de muit os enfe rmos , apon tam os auto res as
árvores mag netiz adas . Entr e eles, Dele uze (168 ), o qual
acre scen ta: «não porq ue as árvo res seja m .prov idas por
si mesm as de algu ma virtu de, mas porq ue, reun indo -se
várias pess oas em torn o dela s e em plen o ar, elas põem
em circulaçã o uma gran de quan tidad e de fluid o, que
toma a direç ão e o tom do mov imen to que o mag neti-
zado r impr imiu aos da árvo re».

( 165) Du Pote t - "Tra ité Com plet de Mag nétis me Ani-


,
mar' pág . 422.
(166 ) Auln n Gau thier - Ob. ctt.
(167 ) .Du Pote t - Ob. ctt .
( 168) Delew:e - "Hia tolre Criti que du Mag nétim le Ani-
mal" , pág. 117.
120 MAGNE TISMO ESPIRIT UAL

Toda via, nem todas as árvores se prestam para a


cura de enfermidades. Estão nesse número todas aquelas
cujo suco é cáustico e venenoso.
Magnetiza-se uma árvore do seguint e modo: o ope-
rador começa por abraçar o tronco, conservando-se nessa
posição pelo espaço de cinco minutos, manten do a firme
vontade de transmi tir-lhe seu fluido; depois, afasta-se
cerca de dois a quatro metros, conforme a altura da
árvore, e dirige seus passes, com ambas as mãos, do alto
para o tronco, de modo a abrange r na descida os galho!
mais grossos ; desce em seguida as mãos para a base do
tronco e daí às raízes ; ao chegar às raízes, magnet iza
o espaço de terra que estas ocupam, fazendo uma volta
inteira em torno da árvore, para que o fluido as alcance
em toda a sua extensão ; terminado assim o primeir o
passe, o operado r se coloca no lado oposto da árvore,
para fazer o segundo nas mesmas condições, continu ando
assim sucessiva e alternad amente pelo espaço de trinta
minutos.
Essa operação deverá ser repetida durante quatro
dias, à mesma hora.
Terminado o processo de magnetização, aos galhos
mais acessíveis, sobretudo aos que partem do tronco,
são ligados cordões ou cordas de lã que desçam até à
terra, sem contudo a tocar. Esses cordões servem de
condutores do fluido e são seguros pelos enfermos, que,
se preferirem, poderão envolvê-los pelo corpo.
Não se pode precisar, diz Mesmer (169), quanto
tempo uma árvore conserva o magnetismo. Crê-se, entre-
tanto, que isso poderá alcança r muitos meses. O mais
&eguro, porém, é renovar a magnetização periodicamente.
Tornara m-se célebres os tratame ntos · realizados pelo
Marquês de Puység ur através da sua árvore magnetizada,
ao pé de uma fonte, em Busancy, França. Todos os au-
tores tratam do assunto com os mais vivos comentários.
Puységur, a fim de atender à grande massa de doen-
tes que o procuravam, tomou a resolução de magnet izar

( 169 ) Mesrner - "Aphori smes", pág . 30i .


MAGN ETISM O ESPIR ITUA L 121

uma árvore, segundo os princfpios do mesmerismo. Os


efeitos foram surpr eende ntes : o primeiro doente que
segurou a corda ligada aos galhos da árvor e entro u
inopinadamente em estado sonambúlico.
O espan to e a admiração do próprio Marquês não
tiveram limites e foram confessados numa carta de que
nos dá notícia o abade Loub ert (170) : «Je vous l'avoue,
monsieu.r, la tête me toum e de plaisir en voyant le bien
que je fais.»
Deleuze, como vimos, não considera que as árvor es
tenha m por si mesmas algum a virtud e excepcional. En-
tretan to, a opinião de Mesmer ( 171) é mais explícita,
quando diz que a árvor e goza de todas as virtud es do
magnetismo; as pessoas sãs que se colocam ao pé dela,
ou que a tocam, muita s vezes sente m os seus efeitos,
principalmente as que já foram magnetizadas, as quais
costumam ter as mesmas convulsões e as mesm as crises,
como se estivessem ao lado de um baquet.
Da mesma opinião é Gauth ier ( 172) ao afirm ar que
as árvor es estão carreg adas de força e de vida e que,
recebendo o fluido magnético, tornam -se poderosos re-
servatórios, sendo-lhes a ação quase semp re calma nte,
restabelecedora do equilíbrio nervoso e algum as vezes
regula rizado ra da circulação do sangue.
Confirma Roust aing ( 173) com estas . palav ras :
«Ficai sabendo: os auxílios estran hos aos fluidos mag-
néticos podem servir, combinando-se com estes. Há sim-
patia entre as planta s que curam e os fluidos que para
esse fim se assimilam. Aquelas se satur am destes fluidos
e os levam ao organismo. Atraí- os em seguida, por meio
do magnetismo humano, e obtereis duplo resultado. Eis
porque os sonâmbulos lúcidos, livres, pelo desprendimen-

(170) M. l'Abbé J. B. L. - "Le Magn étisme et le Som-


nambu lisme devan t les Corps Savan ts, la Cour de Rome et
les Théolo giens" , pág . 205 .
(171) Mesm er - "Apho rismes ", pág. 304.
( 172) Aubin Gauth ier - Ob. cit., pág. 155.
( 173) J. B. Rou8t aing - "Os Quatr o Evang elhos" , vo-
lume II, pág. 78.
122 MAGNE TISMO ESPIRIT UAL

to magnéti co, de quaisqu er influências, se mostram aptos


a escolhe r as plantas curativa s. Não desprezeis nenhum
dos meios que o Senhor vos confiou para atingird es
o fim.~
As passage ns do Evange lho que encimam este capí-
tulo nos dão conta de uma cadeia ativa ou receptiv a,
em que o fluido sublima do do meigo Nazaren o operava
sobre a multidã o dos doentes e dos aflitos, restituin -
do-lhes a calma e a saúde.
O que não encontr amos, porém, é o exemplo de uma
cadeia comuni cativa, em que várias pessoas de boa von-
tade se reúnem para aliviar os que sofrem atormen -
tados pelas enfermi dades e pelas aflições.
~ curial que esse exemplo não nos desse o Evan-
gelho, porque o Cristo não tinha necessid ade de auxilio
para realizar , pela sua vontade , pelo seu amor e pela
sua misericó rdia, as curas maravil hosas, que eram afir-
mações solenes de fé e de caridade .
Todavia , vendo as turbas aflitas e exausta s como
ovelhas sem pastor, o Divino Mestre obtemp erou que
a seara, na verdade , é grande, mas os trabalh adores
são pouc~s.
As cadeias comuni cativas do nosso fluido, da nossa
fé e do nosso amor ao próximo, esperam ainda os tra-
balhado res, que continu am sendo poucos. Roguem os, pois,
ao Senhor da seara que nos envie sempre novos traba-
lhadore s que nos ajudem a ter compaix ão dos aflitos e
dos exausto s.
Teste (174) exclamo u com razão que o Cristo resu-
miu através de dois versícul os o código inteiro do mag-
netismo :
«Eles porão as mãos sobre os doentes e os doentes
serão curados.> (Marcos , cap. 16, v. 18.)
«Se tiverdes fé como um grão de mostard a, direis
a este monte: passa daqui para acolá, e ele passará . Nada
voe será impossível.> (Mateus, cap. 17, v. 20.)

(17•> .AlphoMe Te8te - "Le Magnéti sme Animal Ex-


pliqué", pág. 64.
Capítulo XIV
"No d'° seguinte, ao 8G(rem de Betdftta, els
t eve f ome, e, diwando ao longe v,na / i gVe1ra
que tinha folhas , foi ue-r se acharia, nela algvma
coisa. A proximando-se, porém, nada ach<>11 Bms4o
folhas, poi., que não era tempo de figos. LMae-
-l he então: Nunca mais coma alguém fruto de
ti; o que por seus discipulos /oi ouvido .
Na manM seguinte, ao passarem por ali, t,t-
ram eles que a figueira secara até d raiz. Pedro,
lembrando-se das 'l)Olavras do Cristo, disse: Olha,
Mestre, como a figueira que amaldiçoa8te aeC011,.
Respondeu-lh e Jesus: Tende /é em Deus. Em ver-
dade vos digo que aquele que disser a este mon-
te: Tira-te da( e lança-te no mar, sem heritaT
no seu coração, crente, ao contrário, de que Be
cumprirá o que houver dito, verá que a8sim será
/eito. Por isso vos digo: Quando orardes, crede
que obtereis o que pedis e assim sucederá. Ma8,
quando vos puserdes a orar, se alguma coisa ti-
t,erdes contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que
vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe
os pecados. Porque, se não perdoardes, também
vosso Pai, que está nos céus, não perd-Oard os
vossos pecados."

(MARC-OS, cap. XI, V. 12-14 e 20-26.)

Todos os corpos, animados e inanimados, já o dis-


semos, são suscetíveis de magnetizaçã o, isto é, podem
carregar-se e saturar-se de fluido magnético.
Essa propriedade serve de base à magnetizaçã o indi-
reta ou intermediári a, que é a praticada com o auxílio
de corpos previamente magnetizados.
2 um excelente acessório de que se valem 08 mag-
netizadoreR no tratamento das moléstias.
124 MAGNE TISMO ESPIRITUAL

Todavia, é necessário proceder com muita cautela


na escolha desses corpos, porque alguns, pelas suas pro-
priedades peculiares, podem ser nocivos ao doente, e ou-
tros podem não ser bons condensadores das correntes.
Tudo, pois, pode ser magnetizado: vidro, ferro, aço,
ouro, prata, lã, tecidos de algodão, madeiras, objetos ma-
nufaturados, bebidas, alimentos, medicamentos, vestes do
homem e da mulher etc.
Embora a contestação de alguns autores, a seda é
apontada como obstáculo à passagem do fluido. Como
quer que seja, é aconselhável evitar-lhe o uso durante o
tratamento (175).
Alguns sonâmbulos não toleram as cores preta, ver-
melha e violeta (176).
Mas, em todos esses casos, predomina ainda o prin-
cípio da observação do operador, pois aquilo que pode
provocar a repulsa de um doente poderá ser útil para.
outro, como tratamento adequado para os seus males.
Em regra, esses corpos, impregnados do fluido mag-
nético, são colocados nas partes doentes, produzindo ex-
celentes resultados. O fluido neles depositado não altera,
mas aumenta a propriedade desses corpos.
A magnetização indireta ou intermediária nos levaria
a reflexões mais complexas e mais profundas, pela de-
monstração de que o fluido universal, que se nos apre-
senta sob as mais sutis nuanças, é a chave da explicação
de muitos fenômenos supranormais.
Assim, v .g., os fenômenos da psicometria encontra-
ram no princípio de Mesmer - de que todos os corpos
da Natureza são mais ou menos suscetíveis de magneti-
zação e, portanto, de se impregnarem do fluido - a sua
explicação natural e lógica.
Folgamos em verüicar que o clássico do assunto,
Ernesto Bozzano (177), não excluiu, mas admitiu clara

( 175) "Histoire Critique", pág. 130.


Deleuze -
(176) uTraité Pratique du Magné-
Aubtn GautMer -
tisme et du Somnambulisme", pág. 151.
( 177) Ernesto Bozzano - "Enigmas da Psicometria" •
MAGNET I SMO E SPIR ITUAL 125

e inequivocam ente a hipótese do fluido como o «modus


op~~ndi~ mais racional de toda a fenomenologia psico-
metr1ca.
Assim diz ele :
«Na psicometria parece evidente que os objetos apre-
s entados ao sensitivo, longe de atuarem como simples
estimulantes, constituem verdadeiros intermediári os ade-
quados, que, à falta de condições experimenta is favorá-
veis, servem para estabelecer a relação entre a pessoa
ou meio distantes, mercê de uma influência real, impreg-
nada no objeto, pelo seu possuidor.
«Esta influência, de conformidade com a hipótese
psicométrica , consistiria em tal ou qual propriedade da
matéria inanimada para receber e reter, potencialmente,
toda espécie de vibrações e emanações físicas, psíquicas
e vitais, assim como se dá com a substância cerebral,
que tem a propriedade de receber e conservar em latên-
cia as vibrações do pensamento.
«Após as experiências recentes e decisivas de Ed-
mond Duchatel e do Dr. Osty nos domínios da psico-
metria, não é mais possível duvidar da realidade dessa
influência pessoal, absorvida pelos objetos e percebida
pelos sensitivos.»
E Bozzano conclui decisivamente:
«Daí, o seguir-se que, para explicar os fatos, somos
levados, em tiodos os casos, a admitir a existência de um
f luido pessoal humano ligando-se aos objetos. É uma
conclusão esta corroborada por tantas circunstância s, ten-
dentes todas a demonstrá-la , que podemos considerá-la
como definitivame nte adquhida pela Ciência.»
A magnetizaçã o indireta ou intermediári a nos poria,
por igual, no caminho da magia, cujos fundamentos fo-
ram hauridos na mesma fonte.
Durante muito tempo, disse E. Salverte, citado por
Teste ( 178) «a magia dominou o mundo:., acrescentando
este último' que a sua história é a própria história do
magnetismo.
( 178) Alphonse Teste - "Le Magnétisme Animal. Ex-
pllqué'', pág . 57 .
126 MAGNETISMO ESPIRITUAL

De lado o exagero, é forçoso reconhecer que nos


usos, nas tradições e superstições que a Antiguidade nos
transmitiu, há muitas verdades que merecem analisadas
e meditadas, segundo adverte Durville (179).
Hã muitas deturpações do magnetismo, no que se
refere à magia, não só pelo sentido altruísta, mas tam-
bém .pelos processos postos em prática. Mas no fundo
, . . -
os pnnc1p1os gerais sao os mesmos.
Alexandra David-Neel (180) conta-nos curiosos deta-
lhes da ação dos magos do Tibet no preparar objetos por
meio dos quais procuram eliminar os seus inimigos. Me-
diante uma concentração do pensamento, depois de um
adestramento psíquico, entendem que podem transmitir a
qualquer objeto «ondas de energia», como se carregassem
um acumulador elétrico. A energia transmitida dá ao
objeto uma espécie de vida, tornando-o capaz de mobi-
lidade e, assim, apto a executar os atos que lhe tiverem
sido ditados.
Assim procedem no preparo, por exemplo, de um
punhal. Depois de uma concentração do pensamento, que
dura vários meses, o mago transmite ao punhal a von-
tade de matar determinado indivíduo. Quando supõe que
a arma está em estado de cumprir sua missão, pro-
cura colocá-la ao alcance do homem visado, de modo que
este, infalivelmente, se vê obrigado a fazer uso dela,
matando-se.
Assegura-se ainda que a arma, assim preparada, se
torna perigosa para o próprio mago, que, se não tiver
a habilidade necessária para defender-se, poderá conver-
ter-se em sua vítima.
Exemplos típicos dos princípios magnéticos aplicados
à magia são os talismãs, amuletos, filtros etc., que, des-
de os mais remotos tempos, foram empregados pelos ho-
mens como defesa contra os seus inimigos ou como armas
para dominar e vencer.

(179) H. Durville - "Tralté Expérimental de Magné-


tisme", vol. II, pá.g. 124 .
(180) Alexandra David NeeZ - "Mistlcos y Magos dei
Tibet", ed. castelhana, pág. 2õ2.
MAGNE TISMO E SPIRITU AL 127

Cahagn et (181) faz um estudo minucioso e sincero


de todas essas práticas e, sobretudo, dos sortilégios, qua-
lificando-as de «magnetismo de aparato , de agitaçõ es e
perturb ações>, que não visam ao bem da Humanidade,
mas ao triunfo das paixões desvair adas, com o seu sé-
quito de perversões e monstru osidade s.
«Os objetos (182), mormen te os de uso pessoal, têm
a sua história viva e, .por vezes, podem constitu ir o pon-
to de atenção das entidades perturb adas, de seus anti-
gos possuidores no mundo, razão pela qual parecem to-
cados, em muitos casos, de singula res influências ocultas ,
porém, nosso esforço deve ser o da libertaç ão espiri-
t ual, sendo indispensável lutarmo s contra os fetiches, para
conside rar tão somente os valores morais do homem na
sua jornada para o Perfeito.»
Kardec (183), com a síntese e a clareza de sempre ,
põe tudo nos seus devidos lugares :
«Algumas pessoas dispõem de grande força magné-
tica, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus
próprio s espíritos, caso em que possível se tqrna serem
secunda das por outros Espírito s maus. 1~ão se deve acre-
ditar, porém, num pretens o poder mágico, que só existe
na imaginação de criatura s supersticiosas, ignoran tes das
verdade iras leis da Naturez a. Os fatos que citam, como
prova da existência desse poder, são fatos naturai s, mal
observados e sobretu do mal compreendidos. Todas as
fórmula s são mera charlata naria. Não há nenhum a pa-
lavra sacrame ntal, nenhum sinal cabalístico, nem talis-
mã, que tenha qualque r ação sobre os Espírito s, por-
quanto estes s6 são atraído s pelo pensam ento e não
pelas coisas materia is. Efetiva mente, Espírito s há que
indicam sinais, palavra s estranh as, ou prescre vem a prá-
tica de .atos por meio dos quais se fazem os chamad os

( 181) L. A. Oahagn et_. - "Magie Magnéti que", pá,g. 360.


( 182) Francisc o 04ndiào Xavier - "O Consola dor", di-
tado por Emmanu el, n 9 143.
(183) Allan Kardec - "O Livro dos Esplrlto s", pági-
nas 269 e 270.
128 MAGNE TISMO ESPIRIT UAL

conjuros. Mas ficai certos de que são Espíritos que es-


carnecem e zombam da vossa credulidade. Ora, muito
raramente aquele que seja bastant e simplório para acre-
ditar na virtude de um talismã deixará de colimar um
fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que
seja o caso, essa crença denuncia uma inferioridade e
uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos Espi-
ri tos imperfeitos e escarninhos. Aqueles a quem chamais
feiticeiros são pessoas que, quando de boa fé, gozam de
certas faculdades, como sejam a força magnética ou a
dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente incom-
preensíveis, são tidas por dotadas de um poder sobrena-
tural. Os vossos sábios não têm passado muitas vezes
por feiticeiros aos olhos dos ignoran tes?,
Não se deve, portanto, confundir o magnetismo com
a magia, que são práticas diferentes e com objetivos tam-
bém diferentes.
Durville ( 184), tratando da magnetização interme-
diária, diz que é mais racional dizer que o movimento
vibratório dos átomos do corpo que magnetiza se trans-
mite aos átomos do corpo que é magnetizado, procurando
explicar destarte o «modus operandi, da transmissão e
fixação do fluido. ·
Em matéria de tamanha transcendência não arris-
caríamos nossa humilde opinião. Mas assalta-nos ao es-
pírito a intuição de que a explicação do fenômeno está
no próprio fluido. O átomo compõe-se fundamentalmente
de um próton, elemento elétrico positivo no nucleo atô-
mico, rodeado de eletrons, elementos elétricos negativos
que giram em torno do próton. Ora, como «tudo está
em tudo, (185), e sendo o fluido magnético e o fluido
elétrico modificações ou transformações da matéria con-
siderada como fluido universal, fácil é admitir novas
combinações desses fluidos pelo princípio da afinidade.
Como não se manifesta nos corpos modificação ai-

(18-4:) H. DurmUe -- ..Magnéti sme", vol. II, pá.g. 125.


( 18õ) Allan Kardec - "O Livro dos Esphitos ", pági-
nas 58 e 60.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 120

guma, pelo menos 8parente, quando os magnetizam, se-


ria difícil verificar o aumento das propriedades desses
corpos, se não houvesse um meio de controle, que é o
fornecido pelos sensitivos: os pacientes sensíveis sabem
muito bem, no estado magnético, distinguir um objeto
magnetiz[!do de outro que não o é ( 186).
A magnetização intermediária produz, às vezes, re-
sultados que não se conseguiriam fàcilmente pela mag-
netização direta. E isso ocorre, embora como exceções,
até mesmo com as pessoas que nunca foram magne-
tizadas.
A esse propósito, Lafontaine (187) relata o seguin-
te fato:
Er..contrava-se ele em Nápoles, nos salões do Embai-
xador da França, M. de Rayneval. Nessa ocasião, Mme.
Baudin, senhora do Almirante, lhe pediu que magneti-
zasse um objeto qualquer, pois estava curiosa por ver o
resultado que esse objeto lhe poderia produzir.
Lafontaine apanhou uma pequena caixa de ébano e
prata, que se encontrava sobre uma mesa, magnetizan-
do-a em alguns minutos. Mme. de Rayneval, que então
passava pelo salão em que se achava o magnetizàdor,
aguçada pela curiosidade, perguntou-lhe o que estava
fazendo. Em face da resposta de que se tratava de um
objeto magnetizado para uso de Mme. Baudin, ela pe-
diu insistentemente ao magnetizador para que 1este lho
entregasse. Recusar seria indelicado.
No momento em que recebeu a caixinha, Mme. de
Rayneval exclamou com vivacidade: Oh! Não posso abrir
a mao- .' . . . E meu b raço . . . ta)Ilb'em nao
- posso mexe-
,. 1o ....
,
Ocorrera o fenômeno muito comum da contratura
do braço. Todos os que se encontravam no salão, cerca
de trinta pessoas, aproximaram-se espantados. Cada qual
se revelou mais solícito no procurar abrir a mão e es-
tender os braços de Mme. de Rayneval, enquanto o mag-
netizador, ao lado, sorria ... Inoperantes todos os esfor-

(186) Al/onse Bué - .,Magnétisme Curatif" .


(187) Oh. La/ontaine - .,L, Art de Magnétiser", p. 310.

{
130 MAGNETISMO ESPIRITUAL

ços empregados. Afinal, com os passes dispersivos, a


mão e o braço voltaram à situação normal, em poucos
segundos.
Os corpos mais frequentemente usados, no tratamen-
to das moléstias pelo magnetismo, são a água, o vidro,
os tecidos, as plantas e os alimentos.
Da água trataremos em artigo separado, tal a sua
importância na terapêutica magnética, atestada, pode-se
dizer, pela unanimidade dos magnetizadores.
O vidro, igualmente, é considerado um excelente con-
densador e apontado como o corpo que mais intensamente
atua no organismo humano.
Pedaços de vidro de todo tamanho e de todos os
formatos, como placas, campânulas, bocais, etc., são co-
locados, depois . de magnetizados~ nas partes doentes.
Gauthier, de preferência, usava medalhões de vidro,
que eram atados por uma fita ou cordão ao pescoço
do doente, e de maneira a envolverem as partes afeta-
das (188). As experiências feitas por este e outros mag-
netizadores demonstraram que mui frequentemente o
vidro magnetizado se prende à pele, aí se conservando
durante horas, ou durante um dia ou uma noite.
Pode-se igualmente, sobretudo quando em uma si-
tuação de emergência, em que não se tenha tempo ou
oportunidade de polir as bordas do vidro, ou de escolher
um adequado, envolvê-lo em um tecido também magne-
tizado. Este processo tem a virtude de evitar qualquer
perigo para o paciente.
Para magnetizar uma placa de vidro, basta segurá-la
com os cinco dedos de uma das mãos, soprando quente
sobre a sua superfície e fazendo, com a outra mão, pas-
ses, segundo as regras já conhecidas, pelo espaço de três
a cinco minutos.
A magnetização dos óculos deve ser feita de vidro
a vidro, mas separadamente. Coloca-se o polegar sobre
um vidro, deixando-o aí em contacto durante dois minu-

. ( 188) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magné-


bsme et du Somnambulisme", pág. 180.
MAGNETISM O ESPIRITUAL 131

tos, e fazendo-se, em seguida, durante igual tempo, pas-


ses do centro dos óculos para a extremidade. Procede-se
da mesma maneira com o outro vidro.
A magnetização dos tecidos para uso dos doentes é
do mesmo modo eficaz no tratamento de determinada s
moléstias.
Para magnetizar um lenço, um retalho de flanela
ou de algodão, ou de qualquer outro tecido, basta con-
servá-los desdobrados na mão esquerda e sobre eles so-
prar quente, e com a mão direita, em seguida, fazer pas-
ses, segundo os preceitos gerais estabelecidos, pelo espaço
de cinco minutos.
Para todas as dores em geral, principalmen te u
provenientes do reumatismo e da gota, é necessário mag-
netizar as roupas ou vestidos, e não mudá-los senão por
outros também magnetizados (189).
A magnetizaçã o das vestes é feita de modo cômo-
do e simples: estendê-las em lugar adequado e proceder
como se estivesse magnetizando partes do corpo da pró-
pria pessoa. A duração da ação deve ser pelo espaço
de cinco minutos.
Pessoas há que conservam permanentem ente os pés
frios, principalme nte durante a noite, impedindo-as mui-
tas vezes de dormir. Nesses casos, o uso de sapatos de
lã magnetizados, atraindo o calor para as extremidade s,
produz resultados satisfatórios .
Já verificámos que a árvore é um excelente reser-
vatório magnético. Evidentemente, pelas mesmas razões,
o são as plantas em geral.
As plantas que comumente conservamos em casa,
em vasos e potes, ao mesmo tempo que se podem bene-
ficiar com a ação do magnetismo, servem igualmente
como meios acessórios na magnetização indireta.
Os doentes que guardam o leito poderão ligar aos
galhos da planta cordões de lã, os quais são colocados
nas partes doentes. A ação é essencialmente calmante.
Magnetiza-se a planta por meio de passes com uma

(189) Aubin Gauthier - Loc. cit.


132 MAGNETISMO ESPIRITUAL

ou com ambas as mãos, do alto até à extremidade do


vaso, durante dez minutos, à distância de cinco a dez
centímetros. Convém repetir periodicamente, à mesma
hora, a magnetização, como também irrigá-la sempre com
água magnetizada.
Os que ensaiam as primeiras experiências magnéti-
cas poderão valer-se das plantas para verificar-lhes a
eficácia e, ao mesmo tempo, avaliar a sua própria for-
ça. Para isso devem manter completamente separadas
as plantas que recebem o tratamento da rotina e as que
são tratadas pelos _passes e pela água magnetizada. Não
tardarão em verificar que o desenvolvimento e o cresci-
mento das magnetizadas superarão notàvelmente os das
plantas não magnetizadas.
Todos os magnetizadores apresentam observações
positivas sobre o fato, sendo que mais recentemente o
Dr. Bertholet (190), através de múltiplas experiências.
Aconselhável é, por todos os motivos, a magneti-
zação dos alimentos, quando os doentes, o que sói acon-
tecer frequentemente, têm por eles repugnância ou into-
lerância.
O fluido magnético comunica muitas vezes às subs-
tâncias alimentícias e aos remédios uma qualidade que
eles absolutamente não possuíam. Há vários exemplos
de pessoas que não podem tolerar o leite, mas que o
bebem impunemente quando magnetizado (191).
Magnetizam-se os alimentos sólidos por meio de pas-
ses mui lentos, com uma das mãos, a alguns centímetros
de distância, e terminando por passes mais rápidos. Bas-
ta proceder assim pelo espaço de 3 a 5 minutos.
A magnetização dos alimentos líquidos se faz pelo
mesmo processo que o da água, de que trataremos ulte-
riormente.
Convém, por último, assinalar que há corpos, do roes-

( 190) Dr. Ed. Bertholet - "Le Fluide des Magnéti-


seurs", pág. 30.
( 191) Deleuze - "Histoire Critique du Magnétisme
Animal", pág. 120.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 133

mo modo que pessoas, que são como esponjas ao contacto


da água: subtraem àvidamente todo o fluido magnético
com espantosa rapidez, a ponto de esgotar o magnetiza-
dor, ou de prejudicar o doente, quando presentes ao ato
da magnetização.
Nesses casos, não há outro remédio, diz Du Potet,
senão afastá-Ias ou renunciar às experiências (192).
A parábola do Evangelho acerca da figueira amal•
diçoada nos leva a meditações sérias e profundas, no
que tange ao mau uso da força magnética.
«O magnetismo ( 193) é uma das maiores provas do
poder da fé posta em ação. ~ pela fé que ele cura e
produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora
de milagres. Repito: a fé é humana e divina. Se todos
os encarnados se achassem bem persuadidos da força que
em si trazem e se quisessem pôr a vontade a serviço
dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje,
eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa
de um desenvolvimento das faculdades humanas.»
Teste (194), depois de afirmar que todos os precei-
tos do magnetismo estão resumidos em um livro divino,
profere estas calorosas palavras:
~Este livro é o Evangelho. E que esta alegação não
vos surpreenda e nem vos escandalize, porque se acon-
tecer que o magnetismo seja um dia aos vossos olhos,
como é hoje para os meus, uma grande e bela verdade,
e de todas as verdades a mais útil aos homens - não
tereis mais o direito de vos espantar que o Filho de Deus,
E le mesmo, anexou as noções do magnetismo a todas
as noções do justo, do verdadeiro e do belo, que Ele en-
cerrou em seu livro. :i>

( 192) Du Potet -- "Manuel de l'~udiant Magnétiseur",


página 210.
(193) Allan Kardec - ·- ••o Evangelho segundo o Espi-
ritismo", pág. 261 .
( 194) Alph. Teste - "Le Magnétisme Animal Expli-
qué", pág. 64.
134 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

. Jesus fêz secar a figueira, sabendo que não era tem-


po de figos.
Por que assim agiu o Divino Mestre?
Diz Roustaing (195) que Jesus dava a seus discípu-
los uma lição prática. A figueira nada significa, o fato
é tudo. Estivesse lá em lugar da figueira uma parreira
e do mesmo modo teria sido fulminada . Jesus tinha que
atuar sobre as inteligênc ias e não sobre a matéria.
Ao nosso ver, além das interpreta ções outras, a que
chegaram pelo raciocínio lógico, os mestres da matéria,
e a que o •texto dá lugar, uma se impõe com justeza,
encarado o fenômeno sob o aspecto da natureza da ação
magnétic a: Jesus quis também significar que assim, como
podemos praticar o bem, podemos, por igual, abusar das
nossas faculdade s para a prática do mal, segundo o nos-
so livre arbítrio.
A figueira secou subitamen te, diz Sayão (196), por
lhe terem sido retirados da seiva, a uma ordem mental
de Jesus, juntamen te com a essência espiritual , que foi
levada para outro ponto, os fluidos que dão vida à planta
e os fluidos necessários à vegetação material.
~ óbvio, portanto, que estava no poder de Jesus não
retirar da planta os fluidos necessários à vegetação, mas
revigorá-los para curá-la da esterilidade, admitindo que
esta esterilidade não fôsse exclusivamente simbólica, mas
efetiva e real.
Entretant o, o Divino Mestre assim não fêz, porque
objetivav a ensinar que pela fé, de coração puro, e por-
tanto sem hesitações, nos será concedido tudo que pe-
dirmos.
Mas advertiu também veladamente que quando orar-
mos - o que também equivale a dizer, quando agirmos
pelo poder da nossa vontade, porque a boa ação é a

(195) J. B. Roustaing - "Os Quatro Evangelho s", pá-


gina 24:3.
( 196) Antônio Luiz Sayão - "Elucidaçõ es Evangéli-
cas", pág. 269.
MAG NETI SMO ESPI RITU AL 135

melh or das preces - não devemos impulsionar, contr a


aqueles que nos fizeram mal, os fluidos maléficos da
cólera, do ódio e da vindi ta, porém, perdo ar-lh es para
que possamos tamb ém ser perdoados, isto é, para que
puro s e divinos se torne m os fluidos do nosso espír ito.
Capítulo XV
"Aquele que der de beber, ainda que seja um
co'J)O de água fria, a um destes pequeninos, por
ser num discípulo, em verdade vos digo que de
modo algum. perderá a sua recompensa."

(MATEUS, 10:42.)

De todos os corpos da Natureza, a água é o que mais


completamente recebe o fluido magnético, e o recebe de
maneira a chegar fàcilmente ao estado de saturação.
Desde a mais alta antiguidade, a água foi conside-
rada como elemento a que se emprestavam as mais di-
versas e excepcionais virtudes.
Com a tendência de divinizarem todos os corpos
essenciais à vida, os primeiros pagãos colocaram a água
entre os principais elementos aos quais dirigiam suas
orações. Segundo a Mitologia, Netuno era considerado
como a divindade que presidia ao mar ( 197).
Os hebreus possuíam a água da expi~, que era
também denominada água de separação. Essa água era
preparada com as cinzas de uma novilha vermelha, sa-
crificada numa curiosa cerimônia religiosa, e servia para
os males do corpo e do espírito ( +:·). Daí, sem dúvida, diz
Du Potet, a origem da água benta da Igreja romana, que
se preparava com sal e o concurso de orações e exor-
cismos (198).

( 197) D1l Potet - "Traité Complet de Magnélisme Ani-


mal", pág . 414.
( 198) Du Potet - Loc. cit.
(*) "Disse Jeová a Moisé8 e a. Aarão: Este é o estatuto
<la lei que Jeová ordenou, dizendo: Fala a.os fühos de Israel
que te. fraqo rn 1,('ma 11ovilha. 1 ermellrn , perfeita r.m, que Hão
1
MAGNETISM O ESPIRITUA L 137

Os iogues hindus entendem que a água é uma grande


força restaurador a do organismo humano. -Partindo do
princípio de que o nosso corpo é composto de oitenta
per cento de água, eles ingerem, em cada dia, cerca de
dois litros de água, mas o fazem aos goles, lentamente,
e depois de «pranizá-Ia» . Pra.na vem a ser, segundo eles,
o grande princípio universal de energia que penetra todos
os corpos da Natureza. Para tornar a água carregada
de pra.na, fazem-na passar de um copo a outro, em pleno
ar, repetidamen te. Aconselham também o uso da água

haja defeito e que ainda não tenha levado o jugo. Entregá-


-la-eis ao sacerdote Eleazer, e e'le a tirará para fora do ar- .
raial, e matá-la-ão diante de'le. E'leazer, o sacerdote, toman-
do do sangue dela com o dedo, aspergi-lo-á Bete vezes para
a frente da tenda da revelação. A vista dele será queimada
a novilha; queimar-se-á o couro, a carne e o sangue com o
excremento, e o sacerdote, tomando do pau de cedro, hissopo
e escarlata, os lançará no meio do fogo que queima a no-
vilha. Então o sacerdote lavará os seus vestidos, banhará
o corpo ern á_qua., depois entrará no arraial e estará imundo -
a.té à tarde. Também aque'le que a queimar lavará os Bett8
vestidos em água, banhará o corpo em água e estará tmundo
até à tarde. llm homem limpo recolherá a cinza e a 'deposi-
tará fora do arraial, nuni lugar limpo, e ela ficard, guardada
para a congregação dos filhos de Israel, como a água de pu-
rificação: é oferta pelo pecado. Aquele que recolher a cinza
da novilha lavará os seus vestidos, e e.!tard, ,mundo até à tar-
de; isto será estatuto perpétuo aos filhos de Israel e ao ea-
trangeiro que peregrina entre eles. Quem tocar em algum
morto, cadáver de algum homem, ficará imundo sete dias _ ;
esse purificar-se-á com esta água ao terceiro dia, e ao Béti-
m,o dia se tornará limpo; mas, se ao terceiro dia não se puri-
ficar, não se tornará linipo ao sétimo dia. Quem tocar em
algum morto, cadáver de algum homem que tiver morrido,
e não se puri/tcar, contamina o taberndculo de Jeová; esaa
a.l'!_M, será extirpada de Israel; porque a água de puri/tcaçllo
nao foi lançada Bobre ele, fica,rd imundo, a sua imund.fcia
ainda está tiele. Esta é a lei, quando um homem morrer
numa tenda; todo o que entrar na tenda e todo o que eet(-
ver na tenda eBtaroo imundoa 86te d'°-8. Todo vaso aberto,
sobre que nd-0 houver pano atado, e8td im.wido. Todo aquels
138 MAGNETISM O ESPIRITUAL

que~t~, não morna, t?~ada principalmen te pela manhã,


em JeJum, como um ton1co e estimulante, sobretudo para
os que sofrem de males do estômago.
Essa operação dos iogues, fazendo passar a água
de um copo para outro inúmeras vezes, antes de tomá-la,
não está de todo fora dos princípios do que se chama
magnetismo natural.
Com efeito, Mesmer (199) nos dá a seguinte lição:
«Deve-se considerar a fluidez e a solidez como esta-
dos relativos do movimento e do descanso das partículas
entre si; e nessas relações únicas encontra-se a razão
de todas as formas e propriedades possíveis. Os sólidos
pressupõem uma figura, e as figuras interstícios · cheios
da matéria menos sólida ou menos delgada; esta, con-
sistindo em pequenas massas de forma determinada , ofe-
rece ainda interstícios para matéria mais fluida; essas
divisões entre os interstícios e os fluidos se sucedem por
uma espécie de gradação até à última das subdivisões
da matéria, a que chamq _~lement.ar ou primordial, a úni-

que 110 campo tocar a alguém que for m.orto pe"la espada,
ou a um cadáver, ou a um osso de homem, ou a um.a sepul-
tura, estará imundo sete dias. Para o iniundo se tomarão
da cinza da queima da oferta pe'lo pecado, e se deitarão por
cima de'la águas vivas dentro dum vaso. Um home~ limpo~
tomando hissopo, molhá-lo-á na água e o aspergirá Bobre
a tenda, sobre todos os vasos, e sobre a8 pessoas que esta-
-vam ali, e sobre aquele que tocou no osso, ou ao que foi mor-
to, ou ao que /a"leceu, ou 4 sepultura. O limpo aspergirá o
imundo ao terceiro dia e ao sétimo; purificá-'lo-á no sétimo
dia, e aquele que era imundo lavará os seus vestidos, banhar-
-se-á em dgua e ficará limpo à tarde .. Porém o homem que
estiver imundo, e n4o. se purificar, será extirpado do meio da.
assembleia, porque contaminou o santuário de Jeová, a água
de purí/icaç4o ndo foi aspergida sobre e"le; está iniundo. Isto
lhea será por estatuto perpétuo: quem àspergir a água de
purí/icaçlLo, lavará os Beus vestidos; e quem tocar a dgua
de purificaçlío, eBtard imundo até à tarde. Tudo quanto o
fm•ndo tocar, ficará imundo; e a pessoa que tocar essa8 cai-
a.as, ficar4 mtinda até 4 tarde." (NôMEROS, 19:1-22.)
( 199) JfeBmer - "Memórias, pág. 64 .
MAGNETISMO ESPIRITUAL 139

ca de unia fluidez absoluta, em que os interstícios não


estão ocupados, eis que não existe matéria mais sutil (*).
«Estando a mobilidade da matéria na razão inversa
da falta de coesão, deve essa mobilidade corresponder
à sua sut ilidade : - por conseguinte, a mais fluida e a
mais sutil deve possuir a mais eminente mobilidade. As
três ordens de fluidez que caem sob os nossos sentidos
- a água, o ar e o ét.er - confirmam esta progressão.
(Cumpre aqui recordar que entre o éter e a matéria ele-
mentar há séries de matéria, de uma fluidez graduada,
capazes de penetrar e encher todos os interstícios.)
«Cada um dos três fluidos que conhecemos pode ser
condutor de um movimento particular proporcionado ao
grau de fluidez. A água, por exemplo, pode receber as

( * ) Convém assinalar aqui a concorddncia de Kàrdec


em "A Génese", pág. !60, nos seguintes termos: "A pureza
absoluta, da qual nada nos pode da-r ideia, é o ponto de par-
t ida do fluido universal; o ponto oposto é o em que e"le as
transforma em matéria tangível. Entre esses àoi8 extremos,
dão-se inúmeras traMform,<i,ç6es, mai.s ou menos aproxima-
das de um e de outro. Os fluidos mais próxi1nos da mate-
r i alidade, os menos puros, conaeguintemente, comp6em o que·
se pode chamar "a atmosfera espiritual da Terra". E' desse
mmo, onde igualmente vários s4o os gra'U8 de pureza, que oa
Espíritos encarnados e desencarnados, deste planeta, havrem
os e"le-mentos necessários 4 economia de suas eX1-Bt~. Por
m uito .mtis e impalpáveis que nos sejam esses flutdos, não
deixam por isso de ser de natureza grosseira, em comparação
com os fluidos etéreos das regi6es superiorea. O me8m0 se
dá na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de
constituição e as condiçõeB de vitalidade próprias de cada um. '-
Quanto menos material é a cida ne"les, tanto meno8 af""1da- '
dea têm os fluidos espirituatB com a matéria própriamente
dita. Não é rigorosamente exata a quaU/icação d6 "/lt1Ãdo3
eapiritua-i s", pois que, em definitiva, e"les são sempre matma
1nais ou menos qumteBsenciada. De realmente eapjrituaJ, só
a al?na ou principio inteligente. Dá-ae-lhes essa, denomina-
ção 'J>OT com.paraç4o apena., e, sobretudo, -pela a/ffltdad8 qus
eZes guardam com os Espwitoa. Pode dúer-se que aao a ma-
téria do mundo espiritual, raz4o por q1,e aao chamados "flui-
dos espirituais''. - (Nota do Autor. )
140 MAG NETI SMO ESPI RITU AL

modüicações do calor ; o ar, todos os movimentos de vi-


braçã o que o som, a harm onia e suas modulações podem
produzir. O éter em movimento cons titui a luz mesma.
As suas modificações estão deter mina das pelas form as,
pelas supe rfícies, pelas relações das distâ ncias e dos lu-
gares. Além disso, a ãgua e o ar podem ence rrar em
seus inter stício s partí culas de uma impo rtânc ia especí-
fica análoga, e assim se torna rem os veículos dos cor-
púsculos que, medi ante a sua configuração, são capazes
de produzir tais ou quais efeitos.»
A ãgua por si mesm a jã é um elemento primordial
à vida. Sob a ação da noss a vonta de e da noss a fé po-
demos impr egnã -la de um fluido mais sutil, enchen-
do-lh e «os interstícios~ até à satur ação .
Por isso, como acessório de qualq uer trata ment o, os
magn etiza dores empregam a ãgua magn etiza da com re-
sulta dos surpr eend entes . Assim, não se deve, na tera-
pêuti ca magnética, olvidar esse poderoso agen te dura nte
todo o tempo do trata ment o de uma doença.
Deleuze (200), lame ntand o que os magn etiza dore s
não empreguem cons tante ment e a água magn etiza da, que
pode ria evitar-lhes maiores traba lhos e fadig as, diz que
pode dar teste munh o dos efeitos mara vilho sos que obte-
ve com o seu uso, e que neles somente acred itou depois
de repet idas experiências, porque chegou a teme r que
fôsse presa de uma irresistível ilusão.
A água magnetizada tem a vanta gem de não fazer
mal e de ser inger ida fàcilmente pelos doentes.
Ordinàriamente, segundo algun s expe rime ntado res, a
água não age senão nas pessoas que foram magn etiza das
dura nte algun s dias. Entr etant o, a água ingerida, desde
o primeiro dia de magnetização, principalmente nas mo-
léstia s agud as, de um modo ou de outro , semp re produz
bons resul tados .
Nesse sentido, encontramos em Bué (201) um caso

(200) De'le ue - "Hist oire Critiq ue du Magn étism e Ani-


mar', pág . 120.
( 201 ) Alfo,ise Bué - ..Magn etism e Cura tif".
MAGNETISMO ESPIRI'I'UAL 11)

elucidativo. Solicitado pela Baronesa D. P., para ~eor. .


rer um velho amigo, Sr. P., dirigiu-se para a r eaidêncla
deste, onde encontrou dedicado enfermeiro, que lhe foi
logo dizendo :
«O bom do homem ( como ele familiarmente chama-
va o doente) está em· maua lençóis; há multo se arras-
tava com dores reumáticas, que o forçavam, de vez em_
quando, a guardar o leito; mas há 5 ou 6 meses que as
coisas se têm complicado; ele está de cama, sem poder
mexer-se, constrangido desde pela manhã até a noite,
já não se alimentando e nem defecando, e o pior de tudo
é que agora expele as matérias fecais pela boca. Ora,
quando se tem 72 anos, chegado a este ponto há poucas
probabilidades de salvação. Tudo se tem feito, entre-
tanto, os médicos se têm sucedido, ensaiaram-se todos
os tratamentos e nada de resultado. Receio muito que
não seja o senhor melhor Rucedido que os outros.>
Introduzido no <iuarto, descreve o Sr. Bué o que
encontrou:
«Sobre uma cama, no fundo duma alcova acanha-
da, muito mal iluminada por uma só janela, jazia um
moribundo, ofegante, contrafeito, deixando transparecer no
rosto o sofrimento, e cujo olhar sem expressão se voltou -
para mim, apenas ao aproximar-me. Em duas palavras
expus o fim da visita, dizendo-lhe da parte de quem vi-
nha; e no falar, dando à voz a mais suave vibração para
vencer melhor a desconfiança que transparecia no olhar
do velho, evitando a forma interrogativa para desobri-·
gã-lo de qualquer resposta, tomei-lhe as mãos que mal
se destacavam da alvura dos · 1enç6is. Obtive, assim, na-
turalmente, uma relação que, pouco a pouco, pôs o meu
do~nte em confiança e permitiu-me, alguns minutos de-
pois, colocar uma de minhas mãos sobre o seu epigastro.
~conc:ntrando-me então energicamente, com o in-
tenso deseJo de aliviá-lo, apoderei-me insensivelmente da
sua vontade hesitan~e; _a l ~ instantes depois, seu olhar
vago flutuou de rn1nhas tnaos para o meu rosto silen-
cioso, como se procurasse compreender o que eu fazia;
depois, suas pálpebras baixaram, a contração do sem-
142 MA GN ETI SM O ESP IRI TU AL

bla nte dissipou-se, a resp iraç ão menos bru sca


ser um lam ent o. deixou de
«Es forc ei-me, prin cip alm ent e, em atu ar sob
que fazi a um a saliência pro emi nen te na fos sa re o ceco,
reita e par ecia mu ito ten so e doloroso, como se ilíaca di-
infl ama ção. houvesse
«Depois dispersei os fluidos e, ant es de reti rar-
mag net izei um a gar raf a dág ua que enc ont rara me,
alc anc e, concitando insi sten tem ent e o Sr. P. ,,~o meu
desse liquido, até à pró xim a visita, que lhe anu a beb er
o dia seg uin te à mes ma hora.» nciei par a
Vol tan do no dia imediato, o Sr. Bué foi aco
de mu ito ma u hum or pelo doente, que ass eve rav lhido
frid o hor rive lme nte , sem dor mir tod a a noite, a ter so-
com a re-
cru des cên cia not áve l dos vômitos.
«Encontrei-o, con tinu a o mag net izad or, por tan
pouco disp osto a rec ebe r os meus cui dad os; exp to,
até o receio de que o meu trat am ent o lhe aum rim iu-m e
o sof rim ent o; tive, por ass im dizer, que me imp ent ass e
netizá-lo con tra a vontade. Andei bem, por isso or e ma g-
min ha per sev era nça devia, como se ver á, enc que a
ont rar re-
compensa.
~Ef etiv ame nte , no dia seg uin te agu ard ava -me
ver dad eira ova ção ; logo que apareci, o enf erm um a
aleg re, cor reu ao meu enc ont ro, ges ticu lan do:eiro , tod o
em tod a a linh a! Pel a ma nhã , às 8 hor as, o Sr. «Vit ória
t rês dejeções nat ura is e não vom itar a ma is ... » P. fize ra
«Mas esqueci-me de que a roc ha Tar pei a não
do Capitólio! No dia imediato, um a tem pes
dis ta
tad e form i-
dável dev ia des aba r-m e sob re a cab eça ! ...
q:Nesse dia, à min ha éhe gad a, o por teir o e sua
lher rec ebe ram -me con ster nad os: «Ah! sen hor , mu-
ele, o doe nte est á num a situ açã o des ola dor a! exc lam ou
t em às cinco hor as da tard e, faz-se nec ess árioDes de on-
à ban ca de dua s em dua s hor as. Diz que vai colocá-lo
que o que rem ma tar. Min ha mu lhe r e eu esta mo mo rrer e
dob ado ura ; com esta s ida s e vin das e o serviço s num a
com pre end e que, se isto dur ar mu ito tempo, não da cas a,
mos con tinu ar.» pode-
~subi aos apo sen tos do enfermo. Mas não me
pas -
MAGN ETI SMO ESPIR ITUAL 143

sava ainda pela ideia a cena tragicô mica que me


aguardava.
«Encontrei o doente sentado, porém muito super-
excitado ; já não era a atonia prostr ada e choram ingas
dos primeiros dias; sob as mechas rebeldes dos cabelos
brancos, o olhar brilhav a como o fogo, com o ardor da
febre; o sangue tingia levemente a região salien te do eeu
rosto ; o pescoço estava agitado dum tremo r convulso
e ele, com os braços tensos para mim, pareci a querer
fulmin ar-me com a sua maldiç ão. Com a voz que, pelo
esforço visível que fazia para dominar-se, se tornava se-
pulcral, dirigiu-me as mais acerba s censur as, acusando-me
de haver muito liberalmente aberto à Natureza as
saídas desde muito fechadas, e por t er deste modo abu-
sado, por vaidade sem dúvida, da minha força magné-
tica, para pôr nesse estado um pobre velho que só tinha
respira ção.
<l:Por mais que me defendesse desta imputa ção, ex-
plicando-lhe que a Nature za ao chama r a si os seus di-
reitos age como lhe apraz e que nenhu ma autori dade
possuímos para regula rizar o curso das coisas, ele não
me quis atende r.
«Sim, senhor , repetia ele; sim, abusas tes dos vossos
meios. E fizestes mal. Não . podíeis conten tar-vo s com
o marav ilhoso resulta do obtido em duas sessõe s? Não
vos bastav a ter sustad o esses vômitos horríveis, que não
conseguíamos parar? As dejeções natura is não estava m
restab elecid as? Por que razão escrav izar-m e a esta per-
pétua necessidade que, dia e noite, não me deixa trégua s
nem repous o? Já não posso mais, estou extenu ado e
sinto-me morrer .
«E, deixando cair a cabeça no travesseiro~ «Não, é
demais, é demais!~ repetia com voz dolente. ·
«Não era oportu no pensar em lutar contra essa ex-
citabilidade nervos a e injusta s prevenções; o alvitre mais
prudente, no própri o interes se do doente, era retirar -me.
Foi o que fiz.>
Dias depois, entretanto, a cura se operara integral-
mente.
Os efeitos produzidos pela água magnetiza.da são
144 MAGNE TISMO ESPIRIT UAL

múltiplos, às vezes mesmo até absolut amente opostos ;


alternat ivamen te tônica ou laxativa , a água magnet izada
fecha ou abre as vias de eliminação, segundo as neces-
sidades do organismo, pois toda magneti zação, direta
ou indireta , tem por fim o equilíbrio das corrent es e,
conseguintemen te, o das funções . O efeito será tônico,
quando houver excesso nas funções de elimina ção; será
laxativo, quando as funções de condens ação forem exa-
geradas.
O efeito laxativo da água magnet izada é notável e
às vezes até instantâ neo. Tomada em jejum e nas re-
feições, habitua lmente, restabel ece o equilíbr io das fun-
ções, fazendo assim desapar ecer as prisões de ventre.
E surpree dente é que a purgaçã o pela ãgua não abala
e nem deprime ; ao contrári o, sente-se o doente mais ani-
mado e revigora do.
Se o uso interno da água magnet izada produz tão
extraor dinário s efeitos, o seu uso externo não é menos
eficiente. Assim, pode ela ser aplicad a com os melhore s
resultad os nas doenças da pele, como feridas, erisipel as,
dartros , queima duras etc., como também nas molésti as
dos olhos.
Além dos efeitos apontad os, a água magnet izada fa-
vorece a transpir ação e a circulaç ão do sangue.
A magnet ização da ãgua se opera de modo simples.
Se se tratar da água de um copo, segurar o copo
com a mão esquerd a e fazer com a direita, durante cerca
de 3 minutos , imposições e passes sobre a superfíc ie do
líquido e ao longo das paredes externa s do copo, con-
vindo realizar os derrade iros passes acelera dament e e
com vivacidade.
Se se tratar de uma garrafa ou de um jarro, colo-
car a vasilha, destamp ada, na mão esquerd a, e fazer com
a direita imposições e passes sobre a entrada do vaso
e ao longo de suas paredes externa s, pelo espaço de
5 minutos .
Se se tratar de um recipien te maior e que não se
possa tê-lo na mão, deve-se colocá-lo sobre um móvel
ou mesa, e envolvê-lo, do melhor modo possível, com os
dedos abertos , durante 2 minutos , fazendo, em seguida .
1\1:AGNETISMO ESPIRITUAL 145

imp~sições e passes com as duas mãos, pelo espaço de


5 minutos, sobre o liquido e ao longo das duas paredes
ext ernas do recipiente.
Na terapêutica magnética é muito usado o banho
magnético para manter as forças do doente. Para mag-
netizar a água de um banho, passar a mão aberta pela
superfície da água, de uma extremidade à outra da ba-
nheira, mantendo-a mergulhada cerca de 3 minutos; de-
pois, estender a mão, fora da água, fazendo passes suces-
sivos, muito lentos, ·sobre a superfície do liquido, pelo
espaço de 10 a 15 minutos, conforme o maior ou menor
volume de água, tendo-se o cuidado de fazer o passe
sempre na mesma direção (202).
Os espíritas têm em grande apreço a água fluidifi•
cada, que mais não é senão a água que recebe os eflúvios
magnéticos dos planos espirituais através das nossas ro-
gativas fervorosas e sinceras.
São de Emmanuel (*) as seguintes palavras :
· «Meu amigo, quando Jesus se referiu à bênção do
copo de água fria, em seu nome, não apenas se repor-
tava à compaixão rotineira que sacia a sede comum.
Detinha-se o Mestre no exame de valores espirituais mais
profundos.
~A água é dos corpos mais simples e receptivos da
Terra. É como que a base pura, em que a medicação
do Céu pode ser impressa, através de recursos substan-
ciais de assistência ao corpo e à alma, emhora em pro-
cesso invisível aos olhos mortais.
«A prece intercessória e o pensamento de bondade
representam irradiações de nossas melhores energias.
li.A criatura que ora ou medita exterioriza poderes
emanações e fluidos que, por enquanto, escapam à aná•
lise da inteligência vulgar, e a linfa potável recebe-nos

(202) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magné-


tisme et du Somnambulisme", pág. 120 .
(*) Mc-nsagem sob o Utulo "Agua fluida", recebida pelo
médium Francisco Odndido Xavier, em sessdo pública da noi-
te de 5-6-~0, em Pedro Leopoldo. - (Nota do Autor . )
146 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

a influenciação, de modo claro, condensando linhas de


força magnétic a e princípios elétricos, que aliviam e sus-
tentam, ajudam e curam.
«A fonte que procede do <!oração da Terra e a ro-
gativa que flui do imo dalma, quando se unem na difusão
do bem, operam milagres.
<0 espírito que se eleva na direção do Céu é antena
viva, captando potências da Natureza superior, podendo
distribuí- las a beneficio de todos os que lhe seguem a
marcha.
<Ninguém existe órfão de semelhan te amparo.
«Para auxiliar a outrem e a si mesmo, bastam a
boa vontade e a confiança positiva.
«Reconheçamos, pois, que o Mestre, quando se re-
feriu à água simples, doada em nome de sua memória,
reportava -se ao valor real da providência, em benefício
da carne e do espírito, sempre que estacionem em zonas
enfermiça s.
«Se desejas, portanto, o concurso dos Amigos Espi-
rituais, na solução de tuas necessidades fisiopsíquicas ou
nos problema s de saúde e equilíbrio dos companheiros,
coloca o teu recipiente de água cristalina à frente de
tuas orações, e espera e confia. O orvalho do Plano
Divino magnetiz ará o líquido, com raios de amor, em
forma de bênçãos, e estarás, então, consagran do o su-
bliine ensiname nto do copo de água pura, abençoado
nos Céus.»
Capítulo XVI
"Depois disso, tendo chegad-0 a festa dos
Judeus, Jesus foi a Jerusa'lém. Ora, havia em
Jerusalém a piscina das ovel1ws, que se chama
em hebraico Betesd.a, a qual tinha cinco gale-
1ias, onde em grande número se achavam deita-
dos d-Oentes, cegos, coxos e os que tinham, resse-
cados os membros, todos à espera de que as águas
f ôssem agitadas - porque o mijo do Senhor, em,
certa época, descia àquela e lhe movimentava
a água e aquele que f ôsse o primeiro a entrar
ne'la, depois de ter sido movimentada a água,
ficava curado, qualquer que fôsse a sua doença.
Ora., estava lá um homem que se achava doente
havia trinta e oito anos. Jesus, tendo-o visto
deitado e sabendo-o doente desde kmgo tempo,
perguntou-lhe: Queres ficar curad-0 '! - O doen-
te respondeu: Senhor, não tenho ninguém que me
'lance na piscina depois que a dgua for movi-
men.tada, e, durante o tempo que levo para che-
gar lá, outro desce antes de mim. - Disse-lhe
Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e vai-te. -
No mesmo instante o homem se achou curado e.,
tomando de seu leito) pôs-se a andar.,.

( JCÃO, cap. V, 1 a 9.)

Já verificámos que a água é o agente da Natureza


que mais rápida e completamente absorve os fluidos.
Dai, o grande valor terapêutico da água magnetizada,
tanto para as moléstias internas como para as externas.
Na verdade, se detivermos a nossa atenção sobre
o fato, verificaremos a realidade da afirmação, não sõ-
mente no que tange aos fluidos, mas também em relação
a muitas outras substâncias solúveis na água.
148 MAGNETISM O ESPIRITUAL

Outra não é a explicação das águas minerais, águas


que se impregnaram , no subsolo, de su_bstAncias mine-
rais solúveis formando uma grande vanedade para uso
'
terapêutico, constituídas .
das mais diversas propriedades
e, por isso, aconselhadas taro bém para usos diferentes.
No Brasil, principalmen te, pela sua natureza inve-
jável, encontramos , a cada passo, sem nenhum esforço
para descobri-las, as mais ricas fontes de águas medi-
cinais, com as mais surpreenden tes propriedades , quer
pelos sais minerais que contêm, quer pela rádioatividad e
que apresentam.
A água é receptiva e é também criadora.
Diz o Velho Testamento (203) que Deus ordenou que
as águas produzissem enxames de seres viventes.
Em ~Nosso Lar», o interessante livrinho recebido
pelo médium Francisco Cândido Xavier (204), no capí-
tulo - «No Bosque das Águas> - há interssantes tre-
chos que merecem aqui oportuna transcrição:
«Na Terra quase ninguém cogita seriamente de co-
nhecer a importância da água. Em «Nosso Lar», contu-
do, outros são os conhecimentos. Nos círculos religiosos
do planeta, ensinam que o Senhor criou as águas. Ora,
é lógico que todo serviço criado precisa de energias e
braços para ser convenientemente mantido. Nesta cida-
de espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus
divinos colaboradore s semelhante dádiva. Conhecendo-a
mais intimamente , sabemos que a água é veículo dos mai.~
poderosos para os fluidos de qualquer natureza ( nossos
os grifos). Aqui, ela é empregada sobretudo como ali-
mento e remédio. Há repartições no Ministério do Au-

( 203) Gênesis, cap. I , 20 :21 : "Disse também Deus : Pro-


duzam as águas enxames de seres viventes, e voem as aves
acima da terra no firmamento do céu . Criou, pois, Deus os
grandes monstros marinhos, e todos os seres viventes que
se arrastam, os quais as águas produziram abundanteme nte,
segundo as suas espécies, e toda a ave que voa, segundo a
sua espécie . "
( 204) 11
N osso Lar", ditado pelo Espfrito de André Luiz,
página 51.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 149

xilio absolutamente consagradas à manipulação de água


pura, com certos principios suscetlveis de serem capta-
dos na luz do Sol e no magnetismo espiritual. Na maio-
ria das regiões da extensa colônia, o sistema de alimen-
tação tem aí suas bases. Acontece, porém, que só os
Ministros da União Divina são detentores do maior pa-
drão de espiritualidade superior, entre nós, cabendo-lhes
a magnetização geral das águas do Rio Azul, a fim cl~
que sirvam a todos os habitantes de «Nosso Lar,, co1.1
a pureza imprescindível. Fazem eles o serviço inicial dr.
limpeza e os institutos realizam trabalhos específicos
no suprimento de substâncias alimentares e curativas.
Quando os diversos fios da corrente se reúnem de novo,
no ponto longínquo, oposto a este bosque, ausenta-se o
rio de nossa zona, conduzindo em seu seio nossas quali-
dades espirituais.
«O homem é desatento, há muitos séculos. O mar
equilibra-lhe a moradia planetária, o elemento aquoso
fornece-lhe o corpo físico, a chuva dá-lhe o pão, o rio
organiza-lhe a cidade, a presença da água oferece-lhe a
bênção do lar e do serviço; entretanto, ele sempre se jul-
ga o abs~luto dominador do mundo, esquecendo que é
filho do Altíssimo, antes de qualquer consideração. Virá
tempo, contudo, em que copiará nossos serviços, encare-
cendo a importância dessa dádiva do Senhor. Compreen-
derá, então, que a água, como fluido criador, absorve,
em cada lar, as características mentais de seus morado-
res. A água, no mundo, não sómente carreia os resíduos
dos corpos, mas também as expressões de nossa vida
mental. Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos
generosas e, quando em movimento, sua corrente não só
espalhará bênçãos de vida, mas constituirá igualmente
um veículo da Providência Divina, absorvendo amargu-
ras, ódios e ansiedades dos homens, lavando-lhes a casa
material e purificando-lhes a atmosfera intima.>
Já tratáJnos da eficácia dos banhos em água mag-
netizada e indicámos também processo geralmente segui-
do para a sua magnetização.
150 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Seria igualmente possível a magnetização da água


contida em uma piscina?
Respondem pela afirmativa alguns autores, entre os
quais Mesmer e Gauthier, sendo que o primeiro estabe-
lece o seguinte processo de magnetização ( 205) : com um
bastonete de vidro, ou qualquer outro condutor do fluido,
traça-se uma linha na água, seguindo-se pela margem
da piscina de leste para o norte e de oeste para o norte,
e, depois, de leste para o sul e de oeste para o sul.
· Gauthier (206), por sua vez, alvitra que, se a pis-
cina é cercada de árvores, o uso dessas árvores, depois
de convenientemente magnetizadas, pode servir para a
magnetização da água da piscina, por meio de cordas
ligadas aos ramos e ao tronco, e introduzidas na piscina.
Como se deve encarar a narrativa de João no to-
cante à piscina de Betesda? Seria por ação do magne-
tismo espiritual que as águas se agitavam? Seria por
ação do mesmo magnetismo que as curas se realizavam?
Nada se poderia acrescentar, em resposta a essas
perguntas, aos comentários da obra de Roustaing (207):
«Abalos vulcânicos por vezes agitavam aquela fonte.
Suas águas, tornadas tépidas por um efeito térmico, eram
apropriadas à cura de certas moléstias. Desconhecendo
a causa do fenômeno, os homens de então o atribuíam
a uma ação «milagrosa».
«Havia exagero da opinião pública. .
«Quanto às épocas em que o fenômeno se produzia,
nada tinham de regulares. A aproximação delas era
pressentida por um ligeiro movimento na superfície da
água. ~ que pequenos abalos a encrespavam algum tem-
po antes que fôsse agitada pelas matérias calcãreas, que
a invadiam por ocasião das erupções subterrâneas.
«Aquele que primei~amente entrava na piscina, diz
a narração evangélica, depois de ter sido fortemente

( 205) M esmer "Aforismos", pág. 307 .


(206) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magné-
tisme et du Somnambulisme", pág. 202.
(207) J. B. Rottstaing - ''Os Quatro Evangelhos", vo-
lume IV, pág. 2-i<>.
MAGNETISM O ESPIRITUAL 151

movimentad a a água, ficava curado de qualquer doença


de que sofresse. Como nem sempre a cura f ôsse obtida,
deduziram desse fato que, para que ela se operasse, eram
necessárias determinada s condições.
«Curavam-se os que mergulhavam com fé na piscina.
Os que se achavam atacados de moléstias para as quais
aquelas águas tinham aplicação curavam-se, auxiliados
pelo magnetismo espiritual. Aqueles para cujas enfer-
midades elas nenhuma eficácia apresentavam eram cura-
dos direta e unicamente por efeito desse magnetismo.
Atraidos pela fé ardente com que esses enfermos ali iam,
os Espiritos do Senhor exerciam sobre eles, invisivelmen-
te, a ação magnética, servindo-se de fluidos apropriados
à natureza da moléstia de que se tratava e desse modo
produziam a cura.
~sabeis o que a fé pode alcançar. De fato, aquele
-que mergulhava na água, cheio de confiança, de reco-
nhecimento e, mais que tudo, de submissão aos decretos
da Providência, podia contar com a sua cura. Porém,
ainda mais talvez do que atualmente, os que buscavam
a piscina se limitavam, na sua maioria, a acompanhar
a corrente, a cumprir uma mera formalidade, dominados
pelo egoismo, que não permitia se elevassem os espíri-
tos e rendessem graças Aquele que é o autor de todos
os dons perfeitos.
«Daí, não conseguirem muitos doentes curar-se, o
que deu lugar à crença de que a cura dependia de uma
condição especial. Por seu lado, os anciães e os dou-
tores, para evitarem a confusão e o tumulto que resul-
tavam de quererem todos os doentes entrar na piscina,
aproveitaram -se daquela suposição e fizeram crer que só
obtinha a cura o que primeiro entrava, donde a repu-
tação que as águas de Betesda conservaram .
«De modo que, havendo sempre doentes apressados
e sucedendo, portanto, que muitos mergulhavam ao mes-
mo tempo, cada um julgando ser «o primeiro>, se alguns
se curavam, era pela razão de que, por terem molhado
seus corpos no mesmo instante, todos esses tinham sido
cada um o primeiro. Se a cura não se dava, isso não
podia provir senão de que os não curados, embora pa-
152 MAGNETISMO ESPIRITUAL

recendo ter mergulhado ao mesmo tempo, só o haviam


feito sucessivamente, sem que tivessem sido cada um
o primeiro.»

*
* *
~ possível a ação do homem sobre si mesmo?
Evidentemente é. E a isto se chama automagneti-
zação ou ipsomagnetização.
O processo é o mesmo. Usam-se na automagnetiza-
ção as imposições, os passes, as fricções e insuflações.
Ê bem de ver que nem sempre é fácil agir sobre
determinadas partes do próprio corpo, o que torna, por
conseguinte, muito restrita a sua aplicação. Por igual,
é impossível a aplicação quando o indivíduo já está domi-
nado pela doença, em estado de fraqueza ou debatendo-se
em febre. Assim como não pod~mos e não devemos, em
situação de doentes, magnetizar os nossos semelhantes,
assim, também, não nos podemos magnetizar a nós mes-
mos, em tal estado, porque a ação daí resultante seria
completamente inoperante.
De sorte que a automagnetização é mais útil e pro-
veitosa quando aplicada preventivamente contra as en-
fermidades, ou quando, em tempo, se pressente a apro-
ximação do mal.
Por isso, Gauthier (208) aconselha que os magneti-
zadores tenham sempre em sua casa um vigoroso arbus-
to magnetizado e um reservatório de água magnetizada,
como também outros objetos usados para a magnetiza-
ção intermediária, a fim de que se previnam contra todas
as eventualidades.
O mesmo autor asseverou: «Devo à ação magnéti-
ca, exercida sobre mim mesmo, a conservação de minha
saúde muitas vezes comprometida por longos e penosos
trabalhos.»
No mesmo sentido dá seu testemunho Alfonse Bué

(208) Aubin Gmlthier - Obr. cit . , pág. 437.


MAGN ETISM O ESPIR ITUA L 153

( 209) : «Tem ocorrido comigo mais de cem vezes, e dià-


riame n te ainda me acontece, restab elece r assim , em pou-
cos instan tes, as minha s funçõ es pertu rbada s por qualq uer
circun stânc ia fortui ta, e é graça s à autom agnet izaçã o,
não tenho dúvida, que me tem sido possível pross eguir ,
sem um só mome nto de parada~ duran te mais de cinco
lustro s, em traba lhos basta nte penosos e difíceis; tenho
evitad o muito s defluxos, fazendo-os abort ar de começo,
e atenu ado consi deràv elmen te as conse quênc ias de aci-
dente s, em queda s ou queim adura s.»
Todavia, sobre a autom agnet izaçã o cump re adver tir
que não se deve recor rer a esse processo, senão quand o
absol utame nte segur o do que se faz, conhecendo-se as
crises habit uais provo cadas pela magn etizaç ão e os efei-
tos que, em regra , ela produz.
Na vida, encon tramo s o perigo a cada passo , mesm o
nas coisas mais simpl es e inocentes. O que nos cump re
é mant er semp re a nossa vigilância de confo rmida de com
o meio e com as ativid ades qu~ exercemos.
É bem de ver que o magn etism o não poder ia fazer
exceção à regra geral. Ele oferece incon venie ntes e pe-
rigos em mãos inábe is e quand o exerc ido por indiví duos
de moral idade duvidosa, ou perve rsos. Volta remo s ao
assun to oport unam ente.
No mome nto, apena s fazemos a adver tência em re-
lação à autom agnet izaçã o, citand o um dos muito s exem -
plos encon trávei s nos tratad os de magn etism o.
Esse exemplo é relata do por Du Potet (210) . É o
segui nte:
«Um jovem estud ante de Direit o, testem unha dos
cuidados que eu prodi galiza va a sua mãe paralí tica, pôs-s e
a repeti r, a sós, em seu quart o, e sem que ningu ém
o soubesse, os gesto s que eu fazia duran te a magn eti-
zação. Ele se exerc itou, assim, duran te vário s dias, vol-
tando sobre si mesm o as mãos, antes de deitar -se. So-

(209) Alfu11s e Bllé Ob1·a cilada .


(210) D1t Potet "Manu el de l'ltdud iant :Mag- néliseu r",
p{1g- . 2ô().
154 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

breveio, em breve tempo, uma exaltação moral, que não


se sabia a que atribuir, e, em seguida, um delírio furioeo,
que exigiu o chamame nto de um médico e o emprego
imediato da camisa de força. Suas forças eram sobre-
-humanas , e do mesmo modo se podia falar da sua lin-
guagem. Ele espantav a e surpreendia, confundindo a
razão, pelas improvisações acerca de assuntos que nin-
guém seria capaz de supor que ele houvesse assim apro-
fundado. Ria-se da Medicina, dizendo-se menos louco do
que ela, e que ele se curaria quando bem o quisesse,
sem intervenç ão de qualquer pessoa ou de remédios, que,
de resto, nenhuma ação teriam sobre ele. Sangrias, ba-
nhos e outras providências de nada valeram; seu estado
parecia alarmant e; o delírio não havia diminuído. Fui
convocado para examiná-lo.
«Ao magnetizá-lo, ele fêz voltar sobre si mesmo suas
próprias mãos, posto que estivessem envolvidas, e levava
sua ação magnétic a até o plexo solar, isto é, à altura
da boca do estômago. Travava-se assim uma curiosa
luta entre duas vontades, duas ações, dois fluidos. Eu
o acalmava por momentos; mas ele próprio destruía essa
calma, essa sonolência, que os meus passes lhe produ-
ziam. E, seguro do seu poder, ria-se dos meus esforços.
Foi, então~ que ele me confessou a causa dos seus dis-
túrbios, e como os havia produzido, sem que, entretant o,
pudéssemos obter a promessa de que não mais se entre-
garia a esse perigoso exercício.
«Nesse estado, era presa de febre nervosa, possuído
de faculdades surpreendentes, cujo valor ele próprio sa-
bia apreciar. Nenhum raciocínio, nenhum argument o fi-
cava sem resposta; nada lhe parecia desconhecido, reju-
bilando-se com o espanto que causava aos circunsta ntes
por essa superioridade intelectual, que não era deles co-
nhecida.
~Ele passou assim cerca de quatro dias, com a língua
seca, os olhos inflamados, e sem nada comer. Foi ne-
cessário transport á-lo para uma Casa de Saúde, onde
lhe aplicaram duchas. Regressou calmo, tranquilo, e foi
finalmente curado - não pelas duchas, ficai sabendo,
mas porque não recebeu mais a excitação que ele pró-
MAGNETISMO ES Pff ilT UA L
155

do a cau sa
prio provocara com os seus passes. Cessan efeito.»
que a produzia, cessou consequentemente o tran sm itin -
Por meio de sugestões, Du Pot et acabou
a hou ver a
do ao moço est uda nte a convicção de que nad
acontecido. E, concluindo, afir mo u: s in-
«Esse pobre rap az não possuía senão faculdade
for ça mus-
telectuais muito limitadas, e a ext rao rdi nár ia írio, hav ia
cular, de que se ach ava possuído dur ant e o del
igualmente desaparecido.» se usa
Já dissemos acima que, na automagnetização, ámos
omend
o processo comum de magnetização que rec e-se atu ar
nos capítulos anteriores deste livro. Assim, pod pés, por
sobre o conjunto do organismo, da cabeça aosras já co-
meio de imposições e passes, segundo as reg cia lme nte
nhecidas. Pode-se do mesmo modo agi r da par
mão e do
sobre todas as par tes do corpo ao alcance
nosso sopro.
Cap itulo XV II
"Fitt.alm,ente, irm4os, tu.do o que é 1J87"dadei-
ro, tudo o que vener ável, tudo o qu.e é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo
o que é de boa fama , se há al,gum a 'Virtu de e se
M algum louvo r, seja isso o que ocupe os oossos
pensamentos. O que tamb ém aprendestes, rece-
be3tes e ouvis tes de mim e em mim vistes , '880
pratic ai; e o Deus de paz serd convosco. "

(EPISTOLA DE PAUL O AOS FILIP EN-


SES, cap. IV, V. 8 e 9 . )

Já vimos que o magn etiza dor deve ra reves tir-se de


toda a atenç ão, conc entra ndo- a ao mais alto grau , de
modo que a sua vonta de não sofra soluç ão de conti nui-
dade. Por igual , deve rá obedecer aos princípios gerai s
da magn etiza ção, mant endo semp re firme o seu gran de
desej o de fazer o bem, escud ado na sua fé.
Lemb remo -nos de que nem semp re nos é dado rea-
lizar o nosso desejo. Pode rá isso prov ir de nós mesmos,
da noss a impu reza, da noss a pouc a fé, da noss a fraqu eza,
como tamb ém pode rá prov ir do pacie nte, que não se en-
cont ra em situa ção de receb er a assis tênci a espir itual
nece ssári a para a boa recep ção dos fluidos e, consequen-
teme nte, para a sua cura.
Todavia, quan do não nos é dado curar , poderemos,
contudo, alivi ar os sofri ment os dos nosso s seme lhant es.
Mas estar á o magn etism o isent o de perig os? Pode rá
ser nocivo ao magn etiza dor ou ao magn etiza do ?
Já antec ipám os em capít ulos anter iores algun s casos
em que o magn etism o não deve ser aplicado, como tam-
bém os male s que pode rão advir para o próp rio opera dor
MAGNE TISMO ESPIRI TUAL 157

invigila nte, acresce ntando que os escolho s da magnet i-


zação são os mesmos da medi unidade em geral.
Voltam os agora ao assunto para comple tar as nos-
sas conside rações.
Em r elação à pessoa do magnet izador, devemo s acen-
tuar desde logo os perigos a que se expõe pelos excesso s
da prática magnét ica, sem o necessá rio descans o e sem
o preparo físico aconsel hado para o dispênd io das suas
reserva s fl uídicas.
Daí resultam consequ ências graves, que poderão levar
aos centros nervoso s um desequi líbrio complet o, quando
não afetem outras partes do organis mo, como, v. g.,
dores na articula ção e nos plexos.
Os adolesc entes não devem magnet izar, não porque
lhes falte a força necessá ria, mas porque, na idade de
crescim ento em que se encontr am, o fluido que despen-
dessem far-lhes -ia falta para o seu próprio desenvo l-
vimento .
Seria impossí vel fixar com seguran ça o limite má-
ximo de idade em que se deve magnet izar, porque isso
depende de cada caso, e, portant o, é variáve l conform e
o estado hígido de cada indivíduo. Entreta nto, alguns
autores aconsel ham que não se deve magnet izar depois
dos sessent a anos.
Como quer que seja, não nos esqueça mos nunca de
que o magnet izador despend e muita energia e que se
cansa muito mais do que geralme nte se pensa. ~ neces-
sário possuir uma constitu ição e uma saúde excepci onais
para que se possa magnet izar uma dezena ou mais de
paciente s em um só dia.
Assim, o operado r deverá precipu amente fiscaliz ar
seu próprio organis mo, observa r detidam ente a sua re-
sistênci a e as suas possibil idades, e nunca abusar do
exercicio magnéti co.
Em relação, pois, ao magnet izador, além dos atri-
butos de ordem moral, da firmeza absolut a de caráter,
do regímen de sobried ade que deve seguir sempre e da
higiene fisica e espiritu al que deve observa r, conform e
acentuá mos em capítulo anterior , é aconsel hável agir
sempre com prudênc ia.
158 MAGNE TISMO ESPIRI TUAL

Gauthie r (211), depois de ter meditado longam ente


no juramen to de Hipócrates para uso dos médicos, escre-
veu um outro para o magnetizador, assim concebido:
«Pela minha honra e minha consciência, diante de
Deus e dos homens,
«Prometo ensinar a todos indistin tamente os prin-
cípios da arte de curar os doentes pelo magnetismo, e
instruí-los na prática, depois que tiverem, por sua vez,
prestado este juramen to.
«Juro que cogitarei exclusivamente da saúde dos
doentes postos sob a influência das minhas mãos, que
estimularei neles a ação da Naturez a, secunda ndo-a e
sem jamais contrariá-la, evitando todos os atos impru-
dentes e nocivos.
«Nunca exporei os sonâmbulos à curiosidade públi-
ca; não farei com eles nenhuma experiência contrár ia
à sua cura.
«Tudo o que me for dito em estado de sonambulis-
mo, e que nunca deverá ser repetido, ficará para todos
em segredo e será para mim um depósito sagrado .
«Onde quer que seja chamado, respeitarei as senho-
ras e moças; não as seduzirei, nem tentarei seduzi-l as;
sairei puro, sem ousar qualquer ação desonesta.
«Se, em minha prática, descobrir qualque r meio de
fazer o mal, não o divulgarei; e, àqueles que vierem a
mim para aprendê-lo, recusarei torná-lo conhecido.
«Manterei este juramen to com fidelidade, sem violar
um só dos seus enunciados; se fizer o contrári o, se per-
jurar, que eu seja punido pela perda de minha reputaç ão
e pelo desprezo público.»
Os perigos e os acidentes do magnetismo, via de re-
gra, são provenientes dos experimentadores curiosos, que
agem sem as necessárias cautelas e sem conhecimento
dos principio~ em que ele se funda, e dos quais não se
pode afastar impunemente.

(211) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magné-


tisme et du Somnam bulisme" , pág. 59.

1
l
J
MAGNE TISMO ESPIRI TUAL 159

Na literatu ra sobre magnet ismo encontr amos a cada


passo exemplo s de acidente s devidos à imprudê ncia e à
ignorân cia dos experim entador es. Um deles é relatado
por La.fontaine (212), e merece citado:
Na cidade de Mans, França, após uma refeição , ou
seja, numa ocasião de todo inoport una, pois não se deve
perturb ar a digestão com a prática magnét ica, diversa s
pessoas resolve ram ensaiar o magnet ismo. Apresen tou-se
como pacient e um dos conviva s, indivídu o forte e mui-
to sanguín eo, e como operado r um outro, que havia
assistid o às lições do próprio Lafonta ine.
Iniciada a magnet ização, não tardara m os primeir os
efeitos. O magnet izador redobro u a sua ação e o aci-
dente então surgiu. O paciente , angusti ado, com distúr-
bios na respiraç ão, tomou- se vermelh o, depois azul, e
rolou da cadeira para o assoalh o, pesadam ente. O ope-
rador perturb ou-se e os present es, cada qual mais assus-
tado, fugiram . Felizme nte, Lafonta ine, avisado imedia-
tamente da ocorrên cia, compar eceu de pronto.
«Ataque i -- diz ele - forteme nte as carótida s, fiz
refluir o sangue que se acumul ava na cabeça, consegu in-
do despert ar o magnet izado que se encontr ava em sín-
cope. Combat i a seguir as desorde ns causada s pelo dis-
túrbio da digestã o; por meio de passes sobre o peito e
o estômag o, e insuflaç ões quentes , acalmei .as contraç ões;
em meia hora o mal estava reparad o. Fiz o pacient e
beber um copo dágua magnet izada para restabe lecer a
calma e destrui r todas as desorde ns provoca das.»
Precisa mente para evitar esses acident es, Deleu-
ze (213) adverti u que toda experim entação deverá ter
um fim útil e não a satisfaç ão de uma curiosid ade.
Mas nem sempre os acident es podem ser atribuíd os
à imperíc ia ou à levianda de. Casos há em que eles ocor-
rem naturalm ente, mas o operado r sagaz, quando não
os possa evitar, por surgirem de inopino ou por qualque r

[1' (212) Ch. La/onta ine - "L'Art de Magnéti ser", p. 167.


( 213) Deleuze - Histoire Critique du Magnéti sme Ani-
11

mal", pág. 69.

l
160 MAGNETISM O ESPIRITUAL

circunstânci a fortuita, conhece, pelo menos, os recursos


para combatê-los com êxito, sem perder a calma tão ne-
cessária sempre em face do imprevisto.
Há, porém, pessoas, v. g., tão sensíveis à ação mag-
nética, que, no curtíssimo espaço de vinte a trinta segun-
dos, são presas de crises profundas, de uma agitação que
poderá prolongar-se por muitas horas, rebelando-se con-
tra todos os recursos de que o operador venha a lançar
mão. Em casos tais, diz Du Potet (214), o único recurso
é renunciar ao tratamento, porque todos os processos
reconhecidos e proclamados como eficazes, para debelar
esses estados, outra coisa não fazem senão aumentá-los
de intensidade. O recurso mais seguro é afastar-se o
magnetizado r e esperar que uma modificação se opere
naturalment e.
Esses casos, felizmente, são excepcionais e ocorrem,
por igual, na Medicina, pois há doentes cujos órgãos se
irritam com a ingestão da mais inofensiva substância.
Um exemplo de acontecimento fortuito e inesperado,
pondo em risco a vida do paciente, oferece-nos igual-
mente Lafontaine.
Tratava-se de uma jovem posta em estado sonam-
búlico, na presença de médicos e de outras pessoas de
responsabilidade. Uma das senhoras presentes havia es-
tabelecido contacto com a sonâmbula, a quem se achava
ligada pelas mãos. Em dado momento, partiram da rua
gritos alarmantes de incêndio. A senhora em contacto
com a sonâmbula, abandonando a mão desta, pôs-se a
exclamar: Fogo? O' meu Deus! Salvemo-nos! Naquele
estado de extrema sensibilidade, que é o estado sonam-
búlico, a jovem foi tomada de um terror tão violento,
que se manifestaram desde logo os sintomas evidentes
de um ataque de apoplexia. Percebendo a gravidade do
caso, um dos médicos se lançou para a sonâmbula, de
bisturi em punho, pronto para sangrá-la. Lafontaine, po-
rém, subitamente interveio, atacando com decisão a caró-

(214) D·u Potet - "Manuel de l':11:tudiant Magnêtlseur" ,


-~
página 212.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 161

tida e as jugulares, detendo o curso do sangue para a


cabeça, acalmando em seguida a jovem por meio de pas-
ses, conseguindo afinal despertá-la sem outros acidentes.
O experimentador não deve ser timorato, mas cau-
teloso. Conhecendo sufici€:atemente os princípios do mag-
netismo e, portanto, os fenômenos que este pode produ-
zir, nada deve temer. Ele tem em suas mãos t~dos os
recursos necessários para enfrentar as situações impre-
vistas.
Por isso, Bué (215) adverte que cumpre fazer um
exame de si próprio, e refletir maduramente: conside-
rando o objeto a que se propõe ( curar, na altura do
verdadeiro sacerdócio), é necessãrio tomar a resolução
de imprimir a todos os seus a tos o mais correto proce-
dimento, as intenções mais puras, inteira discrição, de-
dicação absoluta, e só empreender o tratamento quando
certo de o levar a bom termo nas condições exigidas.
Entre os muitos fenômenos resultantes do magne-
tismo, um há que merece detida atenção, por se enfilei-
rar entre os chamados perigos morais - o da atração
dos sexos.
Embora se trate de fenômeno muito raro, Teste (216)
é de parecer que os magnetizadores não devem ocultã-lo,
mas antes devem revelá-lo com toda a franqueza e
verdade, como um dever de consciência, cumprindo aos
experimentadores honestos conhecê-lo em toda a sua ex-
tensão, para se precatarem contra as suas consequências.
E a esse propósito, Teste nos conta o caso de uma
senhora da alta sociedade parisiense, que o procurara,
certa vez, para submeter-se ao tratamento magnético:
· «Madame X. tinha então cerca de 28 anos. Nossa
entrevista ocorreu com toda a naturalidade. As pessoas
que me conhecem sabem que sou com os meus doentes,
particularmente com aqueles que vejo pela primeira vez,
de uma polidez antes reservada que expansiva. Trata-
va-se de uma afecção reumática do joelho direito, com

( 215) Al/onse Bué - "Magnétisme Curatif".


(216) Alph. Test~ - "Le Magnétisme ExpU.qué", p. 264.
6
162 MAGN ETISM O ESPIR ITUA L

dores vivas ao meno r contacto, e que havia resistido a


todos os recursos da Medicina (Teste era médico), acon-
selhados para casos semel hante s, num tratam ento que
se prolo ngava já por três anos.
<<No dia seguinte, à hora apraz ada, compareci na
residência de Madame X. para a prime ira sessão. A doen-
te, que sofria um pouco, recostou-se num canap é e eu
me assentei. Embo ra me tivesse declarado ser nervo-
sa e de excessiva impressionabilidade, ela possuía todas
as aparê ncias de boa saúde e era de forte compleição;
mas o tom frio, cerimonioso, refletido, com que me f êz
essa confidência, parecia desmenti-la. Em breve, porém,
tive ocasião de verificar-lhe a sinceridade.
«Achei sempre que a ação geral favorece a mag-
netização, ainda mesmo quando se preten de fazer uma
aplicação local. Por isso, comecei por algun s passe s da
cabeça aos pés. Ã medida que os passe s eram feitos,
a doente se inclinava imperceptivelmente para mim, sem
dizer uma palavra, sem ensai ar seque r um gesto , e sua
atitude, até o fim da sessão, foi de absol uta impassibi-
lidade. Senti nas extremidades dos dedos um formi ga-
mento, o formigamento carac terísti co que dizem os doen-
tes experimentar, e cuja intensidade me parec eu semp re
proporcional aos efeitos produzidos. A sessão durou cer-
ca de meia hora. Os dez primeiros minut os foram con-
sagra dos aos grand es passes longitudinais; duran te o res-
to do tempo agi exclusivamente sobre o joelho doente,
conseguindo eliminar as dores.
<:Terminada a sessão, Madame X., interr ogada por
mim sobre o que havia experimentado, não acuso u ne-
nhum a sensação partic ular, salvo a cessação das dores
locais, ao mesmo tempo que manif estav a uma tendê ncia
para o repouso, o que era natur al com a supre ssão do
sofrimento. A isso ficou limitada a nossa conversa, fi-
cando designado 9 dia seguinte, às mesmas horas , para
a segunc!a sessão.
«No dia seguinte, tendo saído muito cedo, soube, ao
regressar, que uma jovem senho ra se havia apres entad o
em minha casa. Pela descrição que me foi feita dessa
senhora, não tive dúvidas de que se tratav a da minha
MAGNETISMO ESPIRITUAL 163

doente do dia anterior. Minha criada, em virtude do


ansioso desejo que a matinal visitante havia manifestado
em ver-me, e da contrariedade extrema em não encon-
trar-me, disse-lhe que eu podia ser visto no escritório
de publicações que dirigia. Com efeito, ela se dirigiu
para a administração da «Enciclopédia do Século XIX»,
onde já me não encontrou. Disseram-lhe aí que eu po-
deria ser avistado na tipografia, para onde imediata-
mente seguiu, não tendo, porém, tido a sorte de encon-
trar-me.
«Bem é de ver o meu grande espanto ao tomar
conhecimento dessa insistente procura. Que ocorrera?
Teria acontecido alguma desgraça? Mas essa infatigável
criatura, entretanto, não estava morrendo e nem estava
morta. Urgentes ocupações não me permitiam dirigir-me
imediatamente para a sua residência. Resolvi escre-
ver-lhe. O empregado encarregado de levar-lhe minha
carta regressou com esta resposta estranha e lacônica :
«Tenho necessidade de ver-vos.» Para as pessoas alheias
à prática do magnetismo, esta explicação se tornaria
incompreensível. Entretanto, eu a compreendi e me pre-
catei.
«Ã noite, à hora convencionada, apresentei-me em
casa de Madame X. Ela me confessou que desde às 7
horas da manhã contava impacientemente os minutos;
mas, mau grado esta confissão muito significativa, e as
marchas e contramarchas da manhã, minha doente es-
tava ainda mais cerimoniosa do que na véspera. Feliz-
mente para ela, eu me apercebera em tempo da natureza
da influência involuntária que eu exercia, e da necessidade
de combater essa influência por meio de um remédio
decisivo.
«- Fiquei apreensivo, Madame - disse-lhe sem afe-
tação. - Receava, em verdade, encontrá-la mais doente
e que o magnetismo lhe tivesse agravado o mal.
«- Não me fêz bem nem mal - disse ela, rindo.
«- Que tinha, pois, para pressurosamente me co-
municar?
«Ela abaixou os olhos, sem responder. E como eu
insistisse, disse, corando :
164 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

«- Peço-v os, senhor , não mo pergun teis.


«Conf irmava -se destar te o que eu já sabia. Senti- me,
então, em grand e embar aço quanto à atitud e a tomar .
Recom eçar a magne tização , seria agrav ar o mal; abster -
-me, sem uma explic ação delica da, e que no mome nto
não me ocorri a, não seria de bom alvitre . Opinei por
um meio termo, que me parece u ser uma soluçã o razoá-
vel: abstiv e-me dos passes gerais para não afetar os
centro s nervos os e limitei -me a magne tizar o joelho , o
que fêz desapa recere m as dores, que haviam voltad o, em
conseq uência do excess ivo esforç o realiza do duran te a
manhã . A sessão durou ao todo vinte minut os. Reti-
rei-me logo depois .
«No dia seguin te, recebi uma carta menos lacôni ca,
mas muito mais expres siva do que a prime ira. Uma vi-
sita e duas magne tizaçõ es, ao todo uma hora e meia,
haviam sido suficie ntes para despe rtar em Madam e X.
uma incríve l intimi dade. «Ela me amava , sem saber por-
quê, como se ama um velho amigo , etc.»
«Essa carta singul ar termin ava por uma injunç ão
alarm ante - de me transp ortar incont inenti para junto
dela. E isso eu fiz, porque a morali dade não exclui a
polide z. Depois de alguns minut os de explic ações, dis-
se-lhe que um aconte cimen to imprev isto me forçav a a dei-
xar Paris naque le mesmo dia, por um lapso de tempo
cuja duraçã o seria imposs ível prever no mome nto, e que,
ao demai s disso, me havia engan ado sobre a nature za
da sua doença , chegan do à conclu são de que o magne tis-
mo não era indica do e aconse lhado para o caso. Teria Ma-
dame X. me compr eendid o inteira mente ? Ignoro . Toda-
via, nunca tive ocasiç ão de me defron tar com uma senho ra
no estado de estupe fação em que ela ficou. . . Ela me
estend eu as mãos e chorou copios ament e, eu me retirei
para nunca mais a ver.
«Quat ro meses depois , dela recebi o seguin te bilhet e:
c:O magne tismo, senho r, é uma coisa horrív el. Ele me
custou -dois meses de contín uos torme ntos·, mas , em com-
pens_açao, vos trouxe dois amigo s, de cuja dedica ção po-
dereis valer em qualqu er ocasiã o: meu marid o e eu.»
«Em contac to, depois dessa época, com divers os com-
MAGN ETISM O ESPIR ITUAL 165

patrio tas de Madame X., fiquei sabendo que a moralida-


de dessa dama passav a em seu pais por ter sido sempr e
irreprochável. O que posso dizer, com toda a convicção,
é que a súbita expansão de um sentimento, nascido no
curto prazo das nossas relações, daria azo a que o mun-
do a acusas se de um crime, sem nenhu ma atençã o para
a sua honra.
«Essa dama estava subme tida à influên cia de um
poder desconhecido. Entre ela e mim, sem dúvida, a Na-
tureza havia estabelecido uma espécie de afinida de que,
desenvolvida pela ação magnética, se tornou , desde o
primeiro dia, uma invencível atraçã o.
«A observação do mundo moral oferece a cada ins-
tante exemplos desses sentim entos instan tâneos , que não
se justifi cam nem pela razão, nem pelos encant os físicos
dos que no-los inspiram.'>
E Teste termin a a sua narrat iva, que consti tui
uma séria advert ência aos magnetizadores em geral, afir-
mando :
«O fenômeno tão caract erizad o da atraçã o moral, de
que Madame X. nos forneceu um exemplo admirá vel,
é felizmente muito raro. Digo felizmente, porque, se o
magnetismo produzisse freque nteme nte semelh antes re-
sultados, o mal que procederia do seu emprego excede ria
o bem que ele pode produzir, e seria, portan to, sensat o
aband onar a sua prática.»
Outros acidentes de pequena monta poderão surgir
durant e a magnetização, principalmente nos primei ros
minutos, como contra turas musculares, dispneia, range r
de dentes, riso convulsivo, lágrim as abund antes, palidez
com transp iração abund ante, forte pressã o na cabeça, etc.
Em casos tais, o magne tizado r deve usar os passes
dispersivos para restab elecer o equilíbrio e acalm ar o
doente, para depois prosse guir na sua ação.
Moutin (217) aconselha para comba ter esses aciden-
tes massagem geral, da cabeça aos pés, sopro frio sobre

(217) Dr. L. Moutin - "Le Magné tisme Humai n,


l'Hypn otisme et le Spiritu alisme Moderne", pág. 51.

l
166 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

a fronte e sobre o coraçã o, além de passes transv ersais


dirigid os para a testa e para o peito.
Já acentu ámos que o magne tizado r não deve provo -
car o sonam bulism o. O abuso de provo car esse estado ,
sobre ser nocivo , criou uma atmos fera de preven ções con-
tra o magne tismo. Não há necess idade desse exped iente
na terapê utica magné tica. Se o estado sonam búlico sobre-
vier natura lmente , então o operad or, com as cautel as que
serão indica das quand o tratarm os especi almen te desse
assunt o, poderá tirar partid o da situaç ão, mas tão só-
mente no que tange ao tratam ento da molés tia, seguin do
as prescr ições estabe lecida s pelo própri o sonâm bulo, mas
nunca para interro gatóri os meram ente especu lativos , que
nada visam senão à satisfa ção de uma curios idade, com
eviden te sacrifí cio do enferm o.
Capítulo XVIII
"Exerce r o curandeiris1no:
1 - Prescreve11do, niinistra ndo ou apli-•
cmido, habítual niente, qualquer substdnc ia.;
II - Usando gestos, palavras ou qualque r
outro 'meio;
III - Fazen<W diagnóst icos.
Pen<i: - Dete11ção de 6 meses a 2 anos."

( CÓDIGO PENAL, Art. 284.)

Estranh arão por certo os nossos leitores que as pa-


lavras colocadas no alto deste capítulo não sejam como
aquelas outras citas buscadas nas lições do Divino Mes-
tre e dos seus discípulos, e de que habitua lmente nos
temos servido para roteiro da nossa dissertação.
Na verdade a Lei divina nos aconsel ha:
"Ide, antes, em, busca, das ovelhas perdidas da casa.
de Israel; ide e pregai, dizendo: o reino dos Céus está
próximo ; curai os doentes, ressusci tai os mortos, limpai
os leprosos, expulsai os demônio s_. dai de gra.ça. o que
de graça recebest es" ( 218).

A lei terrena nos contrapõe, pela boca dos seus auto-


rizados intérpre tes :
"Permit ir que u1n com.erciário, um. tavernei ro, u.m
operário, um engenhei ro, 1t·m eletricis ta, uni motorist a.
sem habilitação médica, se arrogue a facuulad e de c,irar,
de receitar, de diagnost icar, sob pretexto de que é es-

(218) MatemJ, cap. X, v. 8 a 8.


168 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

pirita, de que age sob a influén cia do sobren atural, me-


diuniza do, coisa é que o senso comum repele e nenhum
pais civiz.izado admite . ..
"A tolerân cia no caso, sobre ser um acoroç oamen to
à obra do embus te e da fraude . . . ainda repres entaria
um singula r vrivilé gio, que se conced eria a uma crença
ou doutrin a que se presum e detento ra de todas as ver-
dades terrest res e · ultrate rrenas " ( 219) .

De sorte que o fundam ento das decisõ es judicia is


não está só e aparen temen te na proibi ção da cura do
doente por parte de quem não possua um diplom a regula r-
mente expedi do pelas nossas Faculd ades de Medic ina.
A parte exposi tiva de todos os julgad os atinen tes à
espéci e em exame é pródig a de digres sões contra o Espi-
ritismo , eis que essa doutri na interp reta com fidelid ade
as lições do Cristo , que se contra põem às lições dos có-
digos:
«Ama rás o Senho r teu Deus, de todo o teu coraçã o,
de toda a tua alma, de todo o teu espírit o. Esse o maior
e o primei ro manda mento . E aqui está o segund o, que
é semelh ante ao primei ro: Amará s o teu próxim o, como
a ti mesmo . Toda a lei e os profet as se acham contid os
nesses dois manda mento s» (220).
Nessa lei de amar o próxim o encon tram os espírit as
o verdad eiro roteiro da sua condu ta cotidia na. Pelo mag-
netism o espirit ual nada mais fazem os do que, pela nossa
fé e pela nossa vontad e, cumpr ir a lei divina , alivian do
física e espirit ualme nte os nossos irmão s que sofrem .
E quand o replica mos que a sanção da lei, tal como
está sendo interp retada , imped e a prátic a do Espiri tismo,
que outra coisa não é senão o Cristia nismo rediviv o, o
Cristia nismo puro que não se deform ou ao contac to das
secula res galas e das ostent ações engan adoras do mundo
respon dem-n os :

(219) Acórdã o da 1• Câmar a da antiga Corte de Ape-


lação do Distrit o Federa l, in "Direit o", vol. XXX, pág. 376.
(220) Mateus , cap . 12, v. 34 a 40 .
MAGNE TISMO ESPIRIT UAL 169

"E, certo que se argu, de unilateral a repressão, por-


que somente os prosélitos do Espiritismo t~m a desfortuna
de ser envolvidos em proc~ssos penais.
"Vegetação do sofisma.
"Be o fato ocorre singularmente, contribui para des-
tacar a persistlmcia dos espfritas em violar a lei - crian-
do-se um estado que está a exigir uma mais severa re-
pressão" ( 221) .

Aí têm os leitores como é encarado, sob o ponto de


vista da repressão, o exercício da mediunidade. Vale dizer
que os juristas do século XX teriam condenado o Cristo
com mais presteza e sem as dificuldades com que se
defrontaram os juízes do século 1. Cristo teria sido as-
sim, na linguagem do século, um «curandeiro» persisten-
te, contumaz, reincidente. ·
O antagonismo, portanto, entre as lições do Divino
Mestre e os preceitos da lei terrena, é absoluto.
Dir-se-ia, porém, que uma coisa é o curandeiro, que,
segundo os nossos léxicos, é aquele que cura ou intenta
curar sem um título oficial, e outra é o exercício de uma
prática espiritual, com fundamento na . fé, e, consequen-
temente, de natureza religiosa. E sendo assim, frente
ao texto constitucional, que garante a liberdade de cons-
ciência e o livre · exercício dos cultos, escapa à sanção
da lei o exercício da mediunidade curadora.
Assim deveria ser. Entretanto, não é essa a inter-
pretação dos nossos tribunais, segundo se vê do aresto
mencionado e de muitos outros que lhe seguiram.
Carlos Imbassahy, num primoroso livro (222), disse
tudo quanto se poderia dizer sobre o assunto, com des-
temor e muito brilho.
Diz ele:
«Há, portanto, na lei um caso interessante. Como
se vê, ela proíbe quaisquer gestos que tenham a finali-
dade de curar. O que incide na sanção penal é querer

( 221) Acórdão citado.


(222) Carlos lmbassa hy - "A Mediunid ade e a Lei".
170 MAGNETISMO ESPIRITUAL

pôr bom o seu semelhante. Não há punição para outros


gestos. O cidadão é livre de bracejar à vontade; pode
espreguiçar-se como quiser, esticar os braços como pu-
der, encolerizar-se como entender, ferir o espaço com
murros formidáveis; nada, absolutamente nada lhe fica
mal. Mas se levantar, quase imperceptivelmen te, os dedos
sobre a fronte de alguém, procurando minorar-lhe os
sofrimentos, está cometendo um crime.
«Preso, pois, um indivíduo a fazer gestos, ele tem que
demonstrar não possuir a menor intenção de curar;
que nunca lhe passou pela cabeça aliviar o outro; que não
entrou jamais em suas cogitações lenimentar as dores
alheias.
«Aí têm onde chegou a culminância do saber jurídico
dos nossos doutos patrícios. Até então a característica
do crime era a intenção de fazer o mal ; agora, o que
constitui o delito é a intenção de fazer o bem.
<!Diante desse prodígio de sabedoria legislativa, ex-
tasiaram-se e pasmaram os maiores vultos dos nossos
tribunais. Um deles chegou a declarar que este resul-
tado indica, na eloquência simples de sua signüicação
inconfundível, a alta civilização cultural a que já atingiu
o pensamento criminal brasileiro. .
«A alta civilização cultural a que já atingiu o pen-
samento criminal no Brasil consiste em impedir que al-
guém exerça um benefício que implica na minoração de
uma dor, na cura de uma doença, na salvação de uma
vida, e isto quando a Ciência tem os braços cruzados,
quando já ninguém mais, fora do aludido benfeitor, po-
deria minorar a dor, curar a doença ou salvar a vida. »
Não se diga que o magnetismo não esteja incluído
entre as práticas condenadas e passíveis de repressão.
Não. Ele mereceu especial referência do julgado, que, in-
fileirando-o entre «o curandeirismo religioso e toda essa.
fecunda herança de superstições, que envolvem na nebu-
losidade as almas simples dos crédulos impenitentes e
dos timoratos» - ainda acentuou:
"Eatá-ae a ver que o baixo espiritismo tem, infeliz-
mente) sido o clima favorável ds ousadas práticas d r>-
MAGNETISMO ESPIRITUAL 171

curc1,ndeirismo, que numa parte se filiou à velha expwra-


ção do magnetisrno, com aquele caráter que assumiu em
França."

Mas a afirmação de que nenhuma outra religião se


entrega a essas práticas, mereceria mais amplos reparos
se eles não excedessem ou exorbitassem dos nossos obje-
tivos. Assinalemos, entretanto, que o espírito sopra onde
quer. E quando nas outras religiões o fenômeno mediú-
nico surge inesperadamente ( a · mediunidade não é privi-
légio de nenhum credo e de nenhum homem), os seus
corifeus, em atoarda, proclamam as excelências da sua
crença e apontam, então, o milagre.
Ainda recentemente presenciámos um desses casos
de curas supranormais, ocorrido com o padre Antônio
Pinto, que também por meio de gestos - que tais são
as bênçãos dos católicos, como os passes dos espíritas - ,
servido de uma extraordinária força magnética e ampa.-
rado por uma profunda confiança em Deus, levou alívio
a muitos enfermos.
~, pois, inútil reclamar, pelo menos, a igualdade na
.:liberdade de exercer a fraternidade».
Ainda aqui tem absoluta razão C. Imbassahy (223):
«Não há mais dúvidas sobre a maneira de agir, de
resolver, de julgar. Aí está o acórdão. Nele se conden-
sam as ideias gerais sobre o magno problema do psiquis-
mo e as particulares sobre o curandeirismo, que é ful-
minado acremente. São vasculhados todos os pontos por
onde se poderia infiltrar um argumento contrário; pare-
ceria que o acórdão procurou seguir as pegadas de tantos
quantos verberam a «velhacaria» das curas, mostrando
as excelências da lei repressiva, como, talvez, a Iucubra-
ção mais útil, mais eficaz, mais esclarecida que já brotou
do engenho humano.»
~as a intolerância, a incompreensão, a presunção, o
~ectansmo, o desconhecimento de fenômenos que tanto
interessam o· mundo -cientifico, como os éírculos religio-

( 223) Ca.rlos lrnba8sahy - Obra citada.


172 MA GN ETI SM O ESP IRI TU AL

sos, não são males somente indigenas. Ex iste


mesma intensidade em out ras plagas. m com a
Ainda recentemente, em Fra nça , Pie rre Neuvill
blicou um inte res san te livro ( 224), em que nos e pu-
das cur as sup ran orm ais realizadas naquele paídá notícia
palmente por médiuns curadores dotados de s, princi--
nética. E nes sa galeria, constituída de cerca for ça mag-
dores, Pie rre N euville apresenta, como credenciade 18 cura--
um deles, o número de vezes em que foram prol de cada
em vir tud e de denúncias de médicos. cessados,
Re lata , por sua vez, Be rth ole t (225) as raz
condenação de um cur ado r: ões da
«Não vos digo que não tenhais obtido curas,
o presidente do tribunal. Todas as tes tem unh disse
clamam. Mas é jus tam ent e por isso que eu vosas o pro-
pois não vos ass isti a esse direito.» condeno,
1: ass az conhecido o processo a que foi sub
em Montpellier o Barão Du Potet. Est e ma metido
por nós constantemente citado, foi também gnetizador,
pelo rei tor da Academia de Medicina, tendo denunciado
pro ferido a sua defesa, que foi a seguinte: ele próprio
«Senhores Juízes:
«A Na tur eza oferece um meio universal de cur
pre ser var os homens. A Faculdade de Medicina ar e
que isto sej a verdade; censura aqueles que se não quer
par a vos convencer deste fato ; imitareis tal ofe recem
proceder? modo de
«Não poderei, per ant e vós, jus tifi car os magne
dores da suspeita de impostores, que pesa sob tiza-
«Todo o meu crime é ter solicitado o exame re eles?
não de uma doutrina, ma s de simples fenômeno público,
sábios da vossa cidade ignoram. A mocidade s que os
ao meu apelo; quis for ma r sua opinião sobre respondeu
ainda fora_ da ciência atu al; quis sab er se o uma coisa
lançado pelos sábios con tra o magnetismo era descrédito
mereci-
( 224) Pie rre N euc llle - "Le s Me ille urs Gué riss eur s de
Fra nce ".
( 225) Dr. Ed. BerthoZet - ,. Jus tice pou r les Gué ris-
seu rs".
MAGNETISMO ESPIRITUAL 173

do; desdenhando, por momentos, as tradições da Escola,


esses jovens estudantes apressaram-se a ver os novos
fenômenos.
«Condenar-me-eis por tal fato? Condenaríeis Paga-
nini por ter arrancado sons novos do seu instrumento?
o abade Parabêre porque a sua organização lhe faz en-
contrar mananciais?
«O primeiro que imantou uma barra de ferro e apre-
sentou-a à multidão, não seria também culpado? Con-
denaríeis a Galvani e Volta, se eles viessem demonstrar
os incríveis efeitos duma pilha de metais diversamente
superpostos?
«Em que sou mais culpado do que eles?
«Pequei contra a moral? - Ensino os homens a
fazerem de suas reservas vitais o emprego mais nobre:
aliviar os sofrim.enros dos seus semelhantes.
«Há nisto uma ciência, ou uma arte? Eu mesmo não
sei; tudo quanto posso dizer-vos é que· ensino a produzir
o sono, sem ópio, a curar a febre, sem qninina; a minha
ciência dispensa as drogas, a minha arte arruína os
boticários.
«Nós, magnetizadores, damos forças ao organismo,
sustentamo-lo quando ele sucumbe; damos óleo à lâm-
pada, quando ela. já I\ão no tem.
«Vêde quanto nos diferençamos dos sábios: estes,
com toda a sua ciência, só conseguem eliminar a vida;
nós lhe damos maior duração.
«O seu sabez: está contido em um livro, o nosso re-
side na própria natureza de cada ser. ·
«O nosso ensino é fácil e simples: não necessitamos
de dissecar os cadáveres e os vivos.
«Não é um:a ciência de palavras : é uma ciência de
fatos.
«Considerais culpado um homem leal que quis dar
provas daquilo que ele . acredita ser uma potência nova
capaz de prestar serviços importantes aos seus semelhan-
tes? um homem que só procurou pôr em ação as proprie-
dades do seu ser?
. «Será acaso necessário que eu vá pedir ao Sr. Mi-
nistro e ao Sr. Reitor permissão para caminhar?
174 MAG NET ISM O ESP IRIT UAL

«Caminhar, magnetizar, não constituem, em uma pa-


lavra, faculdade natu ral do homem?
«Grande número de sábios crê hon rar- se grandemen-
te, rejeitando sem exame as coisas novas. O tempo, no seu
curso, dar-lhes-á seve ra lição. Um dia o magnetismo será
a glória das escolas, os médicos emp rega rão os processos
que atualmente condenam.
«Finalmente, não se pode impedir de proc lam ar uma
verdade. Calar-se, porque esta verdade pode ofus car cer-
tos espíritos prevenidos ou reta rdat ário s, é, na min ha
opinião, mais do que um crime : é uma covardia.»
Bert hole t ( 226) indaga estarrecido porque os Esta -
dos, sobretudo os Esta dos cristãos, se conduzem como
inimigos declarados dos curadores místicos e dos mag -
netizadores, sancionando leis absurdas, draconianas, ao
invés de enco raja r a todos os homens, que, dotados de
dons excepcionais, queiram fazer o bem ao seu seme-
lhante, coadjuvando o próprio Esta do, cujo deve r precí-
puo é amp arar e defender a saúde e o bem esta r dos
seus governados?
«Chega-se, diz ele, a esta situação para dox al: é em
nome da saúde gera l e da higiene que se proibe os cura -
dores místicos de restabelecer a saúde dos doentes por
meios diferentes daqueles que são estampilhados pelas
Faculdades de Medicina (*) ou reconhecidos pelas auto -
ridades sani tária s. O doente, de conformidade com essa
concepção, pass a para um segundo plano. Entr etan to,
para aquele que sofre é completamente indiferente ser
curado por um processo médico sancionado pela Fa-
culdade, ou por outr os meios que ela reprova, as mais
das vezes por não ter querido estudá-los; para o doente o
que importa é ser c111'8do, e se o médico não obtém
o resultado desejado e se o cura dor místico ou o magne-

(226) Dr. Ed. Bert hole t - "Les lrltats et lecr attit ude
à l'éga rd de la guér isson spiri tuell e et du Mag nétis
me" .
( •) Convém ter em men te que o Dr. E. Bert
médico laure ado pela Univ ersid ade de Laus anne . - hole t é
(Not a
do Auto r.).
MAGNETISM O ESPIRITUAL 175

tizador realiza a cura, porque denunciá-los à Justiça para


fazer condená-los? A semelhante atitude faltam a digni-
dade e a caridade. Parece que, no exercício do seu sa-
cerdócio, os médicos deveriam interessar-se por todos os
processos suscetíveis de curar o doente.»
O magnetizado r Louis Gastin escreveu uma interes-
sante brochura (227) sobre o direito de curar e fundou
a «Liga de Defesa dos Doenties». Neste livro, depois de
estranhar a perseguição que sofrem os que seguem as
lições do Cristo, na sua pureza e na sua verdade, Gastin
pergunta:
«Porque não estender a interdição ao consumo das
bebidas alcoólicas, nocivas aos indivíduos, nocivas a tal
ponto que um grande estadista inglês foi levado a afir-
mar que o alcoolismo era um flagelo pior que a guerra,
a fome e a peste reunidas? Porque o Estado-Providência,
embora reconhecendo esta verdade, não promulgou até
agora nenhuma lei eficaz contra o alcoolismo ou contra
os mercadores do álcool, para suprimir de vez a trafi-
cância desse veneno terrível para o indivíduo e para a
raça? Porque ostenta tamanha severidade para com os
curadores e revela essa mansuetude para o comércio do
álcool?»
Gastin reproduz em seu livro um curioso manifesto
~Manifesto de Albert d' Angers», um magnetizado r que
fêz a sua própria defesa ante o Tribunal Correcional de
Chateaubria nd, por meio de 60 proposições em favor da
prática do magnetismo. Algumas dessas proposições me-
recem citadas :
«16 - A lei que regula o exercício da Medicina foi
feita somente no interesse dos médicos, prejudicando se-
riamente os interesses dos doentes, que, de resto, nunca
foram consultados.
«19 - Sendo a ação magnética a manifestaçã o de
uma força inerente à natureza humana, posta em jogo

(227) 'Louis Gastin - "Le Droit de Guérir".


176 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

pela vontade, proibir a aplicação dessa força seria o mes-


mo que pretender a proibição de pensar.
«25 - Atenta contra a liberdade dos doentes pri-
vá-los do direito, o mais sagrado que deve ter um cidadão
livre num Estado livre, de confiar sua vida e sua saúde
a quem possui sua inteira confiança.
«34 - As dúvidas dos médicos, suas contínuas ex-
periências, seus erros de diagnóstico, suas divergências,
os acidentes que ocasionam, demonstram claramen te que
a Medicina, embora constituída de arte e ciência, ainda
permanece em perpétuo empirismo.
«38 - A liberdade da Medicina não prejudica ria em
nada os bons médicos, que saberiam sempre ganhar e con-
servar a confiança dos doentes, por seu devotamento e
seus cuidados inteligentes e oportunos.
«45 - Impedir que uma pessoa, não munida de um
diploma oficial, aplique um meio curativo de reconhecida
eficácia para os doentes que a medicina ordinária não
pôde curar, equivaleria a obrigar estes últimos a sofre-
rem e mesmo a morreren;i para gáudio da Faculdade.
«56 - Se, em todos os ramos da atividade humana,
toda pessoa pode apresenta r modificações, ideias novas,
é difícil compreender porque, fora da Faculdade, um cé-
rebro bem dotado não possa fazer valer sua capacidade~>
Verifica-se destarte como os pobres médiuris curado-
res se devem acautelar para exercer a caridade ... , a
caridade que alivia as dores físicas e morais, a caridade
que manda dar de graça o que de graça foi recebido.
Os verdadeiros cristãos viveram, continuam a viver,
e viverão ainda por muito tempo nas catacumbas. . . Este
é o símbolo, este o galardão, este o roteiro da mediu-
nidade ...
Capítulo XIX
-
"Um a coisa nos con.sola desses fatos contriso
mad
tadore.~: é a certeza de que todo hom em ani de
s,
de u.m a simpatia profunda pelos deserdado aU-
e
um verdadeiro amor pelos que sofr em, pod era e
ma r seus semelhantes por um a prática sinc
esclarecida do magnetismo . "
(LtO N DEN IS - "Depois da Mo rte" ,
Cap. XV II.)

do mag-
Eis-nos chegados a um dos pontos capitais
netismo, que é o sonambulismo. coisas, é
Sabe-se que o sono, na ordem natural das à exis-
vel
um fenômeno necessârio e mesmo indispensâ
tência dos homens e dos animais. agentes
A Ciência, porém, capaz de prescrever os strou-se
mo
terapêuticos suscetíveis de provocar o sono,
incapaz de apontar a · sua natureza essencial. r e ana-
O que importa, diz Teste (228), é determina ter-se-
feito,
lisa r a causa natural e imediata do sono. Issoda Fisiologia.
-ia resolvido o mais interessante problema alimen-
Na verdade, sabe-se que a saúde perfeita, a ma do
a cal
tação sadia, os exercícios moderados, e mais
ões mais fa-
espírito e dos sentidos, constituem as condiç s à produ-
voráveis ao sono. Mas as condições favoráveiestranhas à
ção de um fenômeno podem ser, entretanto, abusos de
causa que o determina. Assim, a doença, os excitação do
alimentação, a inatividade ou a fadiga, a

(228) Alph. Teste - "Le Ma gné tism e ani mal expliqué",


páginas 294.
178 MAGNETIS.MO ESPIRITUAL

espírito ou dos sentidos, etc., são obstáculos ao sono.


Mas, porquê? como?
Sobre este ponto, diz Teste, a Ciência é muda.
Volvamos, pois, a nossa a tenção para a explicação
do sono no sentido espiritual, ou seja, no sentido do papel
que neste fenômeno representa a alma.
Verificaremos de imediato que a causa do sono re-
side precipuamente na alma, na luta constante pela sua
emancipação ou regresso ao mundo donde ela proveio.
Kardec trata do sono precisamente no capítulo VIII,
sob o título - «Da emancipação ·d a alma». O sono, por-
tanto, caracteriza-se pela necessidade que tem a alma
de emancipar-se.
E como sabemos que há recíprocas reações entre a
alma e o corpo, fácil será deduzir as circunstâncias ou
condições favoráveis ou não à produção do sono.
«O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quan-
do dorme, o homem se acha por algum tempo no estado
em que fica permanentemente depois que morre. Graças
ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação
com o mundo dos Espíritos. Por isso é que os Espíritos
superiores assentem, sem grande repugnância, em encar-
nar entre vós. Quis Deus que, tendo de estar em contacto
com o vício, pudessem eles ir retemperar-se na fonte do
bem, a fim de igualmente não falirem, quando se pro-
põem a instruir os outros. O sono é a porta que Deus
lhes abriu, para que possam ir ter com os seus amigos
do céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam
a grande libertação, a libertação final, que os restituirá
ao meio que lhes é próprio» (229).
Um dos efeitos do magnetismo é o sonambulismo,
que é um estado de emancipação da alma mais completo
do que o sono, em que as suas faculdades adquirem maior
amplitude.
E precisamente porque os sonâmbulos não dormen1,
na acepção vulgar do vocábulo, entendem alguns mag-
netizadores que imprópria é a denominação dada. É

( 229) Allrr.n Kardec -- "O Livro dos Espíritos", p. 21;;.


MAG NET ISM O ESP IRIT UAL 179

curioso assi nala r que participam dessa opinião os próprios


sonâmbulos, que prot esta m cont ra a alegação de sono
quando eles estã o vendo, ouvindo e sentindo.
Os magnetizadores espíritas, porém, de conformidade
com a Doutrina, sabem, igualmente, que no sono comum
a alm a jam ais está inativa, e que o repouso do corpo
se verifica em virtu de da liberdade ou ausência parcial
daquela. Parece-nos, assim, que deverá ser man tida aque-
la denominação, porque ambas as expressões - sono e
sonâmbulo - indicam para nós um esta do de emancipa-
ção da alm a e, consequentemente, de repouso do corpo (*).
A concepção espi ritua lista é que nos importa. E pas-
semos de larg o sobre as lendas e superstições, como acon-
tecia no século XVI, em que os sonâmbulos eram deno-
minados de mal-batizados, porque supu nham trat ar-s e de
uma afecção que tinh a como caus a o esquecimento de
algu ma pala vra sacr ame ntal ou de cerimônia imp orta nte
por ocasião de ter sido batizado pelo padr e (230).
Den tro dessa concepção nad a há a inov ar no re-
sumo teórico do sonambulismo apre sent ado por Alla n
Kardec ( 231).
~os fenômenos do sonambulismo natu ral, diz ele,
se produzem espo ntân eam ente e independem de qual quer
caus a exte rior conhecida. Mas, em cert as pessoas dota -

( *) Aub in Gau thier , sobr e a sigin ifica ção da pala vra


vo-
sona mbu lism o, diz que ela é fran cesa , cons tituí da de dois
ação
cábu los latin os: som nus e amb ulati o. Sign ifica , pois, a o do
de anda r dormindo, e foi criad a para indi car o fenô men
nos
sona mbu lism o natu ral. A pala vra sóm ente é enco ntra da
mag -
dicio nário s fran cese s a part ir de 1758. O sona mbu lism o o, foi
nético surg iu em 1784; e, na falta de outr a expr essã novo
usado o mesm o vocá bulo sona mbu lism o para indi carvras o
f o-
fenômeno. Depois dess a época, dive rsas outr as pala
es so-
ram prop ostas , tendo, poré m, prev aleci do as expr essõdo A.)
( N.
nam bulis mo natu ral e Bona mbu lismo mag nétic o. -
( 230) Du Pote t - "Tra ité Com plet du Mag nétis
me Ani-
mal" , pág. 469 .
(231) Alla n Kard ec - ·•o Livr o dos Espi ritos ", p. 231.
180 1"1A GN E TIS MO E SPIRITUAL

das de especial organização, podem ser provocados arti-


ficial.mente, pela ação do agente magnético.
«O esta do que se designa pelo nome de sonambulis-
mo magnético apenas düere do sonambulismo natural
em que um é provocado, enquanto o outro é espontâneo.
«O sonambulismo natural constitui fato notório, que
ninguém mais se lembra de pôr em dúvida, não obstante
o aspecto maravilhoso dos fenômenos a que dâ lugar.
Porque seria então mais extraordinário ou irracional o
sonambulismo magnético? Apenas por produzir-se artifi-
cialmente, como tantas outras coisas? Os charlatães o
exploram, dizem. Razão de mais para que não lhes seja
deixado nas mãos. Quando a Ciência se houver apropria-
do dele, muito menos crédito terão os charlatães junto
às massas populares. Enquanto isso não -se verifica,
como o sonambulismo natural ou artificial é um fato, e
como contra fatos não há raciocínio possível, vai ele ga-
nhando terreno, apesar da má vontade de alguns, no seio
da própria Ciência, onde penetra por uma imensidade de
portinhas, em vez de entrar pela porta larga. Quando
lá estiver totalmente, terão que lhe conceder direito de
cidade.
«Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que
um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a
Psicologia. ~ aí que se pode estudar a alma, porque
é onde ela se mostra a descoberto. Ora, um dos fenô-
menos que a caracterizam é o da clarividência indepen-
dente dos órgãos ordinários da vista. Fundam-se os que
cont estam este fato em que o sonâmbulo nem sempre
vê, e à vontade do experimentador, como com os olhos.
Será de admirar que difiram os efeitos, quando diferen-
tes são os meios ? Será racional que se pretenda obter
os mesmos efeitos, quando há e quando não há o instru-
mento? A alma tem suas propriedades, como os olhos
têm as s uas. Cumpre julgá-las em si mesmas e não
por analogia.
<4:De uma causa única se originam a clarividência do
sonâmbulo magnético e a do sonâmbulo natural. :m um
atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as par-
tes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites
MAGNETISMO ESPIRITUAL 181

não são outros senão os assinados à própria alma. O so-


nâmbulo vê em todos os lugares aonde sua alma possa
transportar-se, qualquer que seja a longitude.
«No caso de visão a distância, o sonâmbulo não vê
as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de
um telescópio. Vê-as presentes, como se estivesse no lu-
gar em que elas existem, porque sua alma, em realidade,
lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniqui-
lado e privado de sensação, até que a alma volte a habi-
tá-lo novamente. Essa separação parcial da alma do seu
corpo constitui um estado anormal, suscetível de duraç~.o
mais ou menos longa, porém não indefimdo. Daí a fadiga
que o corpo experimenta após certo tempo, mormente
quando aquela se entrega a um trabalho ativo.
«A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita
e não tem sede determinada. Eis porque os sonâmbulos
não lhe podem marcar órgão especial. Vêem porque vêem,
sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para
eles, na condição de Espíritos, a vista carece de foco pró-
prio. Se se reportam ao corpo, essé foco lhes parece estar
nos centros onde maior é a atividade vital, principalmente
no cérebro, na região do epigastro, ou no órgão que con-
siderem o ponto de ligação ma.is forte entre o Espírito
e o corpo.
«O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado.
O Espírito, mesmo completamente livre, tem restringidos
seus conhecimentos e faculdades, conforme ao grau de
perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos
os tem quando ligado à matéria, a cuja influência está
sujeito. É o que motiva não ser universal, nem infalível
a clarividência sonambúlica. E tanto menos se pode con-
tar com a sua infalibilidade, quanto mais desviada seja
do fim visado pela natureza e transformada em objeto
de curiosidade e de experimentação.
«No estado de desprendimento em que fica colocado,
o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil
com os outros Espíritos encarnados, ou não encarnados,
comunicação que se estabelece pelo contacto dos fluidos
que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao
pensamento, como o fio elétrico. O sonâmbulo não pre-
182 MAGNETISMO ESPIRITUAL

eis!, portanto, que se. lhe exprimam os pensamentos por


meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha.
J?; o que o torna eminentemente impressionável e sujeito
às influências da atmosfera moral que o envolve. Essa
também a razão por que uma assistência muito nume-
rosa e a presença de curiosos mais ou menos malevolen-
tes lhe prejudicam de modo essencial o desenvolvimento
das faculdades que, por assim dizer, se contraem, só se
desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou
simpático. A presença de pessoas mal inrencionadas ou
antipáti~ lhe produz efeito idêntico M do contacto da
mão na sensitiva.
«O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio
Espírito e o seu corpo, os quais constituem, por assim
dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência
corpórea e espiritual, existências que, entretanto, se con-
fundem, mediante os laços que as unem. Nem sempre
o sonâmbulo se apercebe de tal situação e essa dualidade
faz que muitas vezes fale de si, como se falasse de outra
pessoa. J?; que ora é o ser corpóreo que fala ao ser es-
piritual, ora este que fala àquele.
4:Em cada uma de suas existências corporais, o Es-
pírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de expe-
riência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em
matéria por demais grosseira, porém deles se recorda
como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam
conhecimentos acima do grau de instrução que possuem
e mesmo superiores às suas aparentes capacidades inte-
lectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e cientí-
fica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir
com relação aos conhecimentos que porventura revele no
estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim
que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria
experiência, da sua clarividência relativa às coisas pre-
sentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos.
Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos
adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos
certas.
«Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural,
quer magnético, a Providência nos dá a prova irrecusá-
MAGNETISMO ESPIRITUAL 183

vel •~~ exiSt ência e da independência da alma e nos faz


assis 1dr ao sublime espetáculo da sua emancipação Abre-
·
-nos ' ,. essa maneira, . ·
o hvro do nosso destino. Quando
ºd sotnambulo descreve o que se passa, a distância é evi-
,
- com os olh os do corpo. Vê-se
sienm e que vê , mas nao a
d esmo e ,se sente transportado ao lugar onde vê o que
d escreve. Lá se acha, pois, alguma coisa dele e, não po-
. endo essa alguma coisa ser o seu corpo, necessàriamente
e a sua. alma, ou Espírito. Enquanto o homem se perde
nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível,
em. ~usca das causas da nossa existência moral, Deus
cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão
os mais simples e patentes meios de estudarmos a psico-
logia experimental.»
Embora um pouco longa, essa transcrição se fazia
n~ria. Em vez de apanharmos alhures, através de
diversas citações, a teoria sobre o sonambulismo, prefe-
rimos recorrer ao resumo de Kardec, em que a lógica
e a clareza estão em perfeita consonância com o sistema.
Como vimos, para o Espiritismo, na opinião do mes-
tre, o sonambulismo é mais do que um fenômeno, é uma
luz projetada sobre a Psicologia, para o estudo da alma,
em que esta surge em estado, não de absoluta, porém
de mais completa emancipação.
Foi por isso que se disse que os magnetizadores
pressentiram o mundo espiritual.
Os adversários do Espiritismo, criticando a reen-
carnação, estranham que, na sua nova vida corporal, o
Espírito esqueça todo o seu passado. O sonambulismo
demonstra-lhes a improcedência desse reparo, eis que no
relativo estado de emancipação em que se encontra a
alma do sonâmbulo, este, ao despertar, isto é, ao con-
tacto com a matéria grosseira, esquece todas as ocor-
rências. Ora, se assim acontece num estado momentâ-
neo, e de relativa emancipação, sem o completo abandono
do corpo, que dizer-se após um estado absoluto de sepa-
ração e emancipação do Espírito?
Ainda aí o estudo da alma nos leva às mesmas e
exatas observações a que chegou o Espiritismo.
Os magnetizadores em geral confirmam a lição de
IR4 MAONETI SMO ESPIRIT UA L

Kardec sobre a analogia do sonambul ismo natural e do


artificial, salientando do mesmo modo a diferença da8
causas da produção do fenômeno, em um caso espontâ-
neo e nout ro provocado.
Todos conhecem, diz Du Pot.et ( 232), os casos dos
sonâmbulo s naturais, entre outros, o do jovem semina-
rista que se erguia durante a noite, e escrevia seus ser-
mões, fazendo-lhes correções minuciosa s, compunha mú-
sica, sabendo distinguir todas as notas, relia o que fora
escrito, mesmo quando se se lhe int.erpunh a um cartão
ou qualquer outro obstáculo diant.e dos olhos, os quais,
de resto, se conservav am completam ente fechados. Ora,
isso, diz ele, é a imagem do que acontece no sonambu-
lismo artüicial.
~ certo, e já tivemos oportunid ade de dizê-lo, que
a finalidade do magnetism o não é a de provocar o so-
nambulismo, e sim a de curar os doent.es.
Agradecemos à Providênc ia a gr~ça que nos conce-
de, adverte Gauthier ( 233), projetand o luz tão preciosa
no meio das trevas da nossa ignorância , e não caminhe-
mos além. Lembremo-nos de que não magnetiza mos para
obt.er uma vã satisfação de amor-próp rio chicanand o com
as ideias e as palavras, porém, unicamen te para aliviar
os sofriment os do doent.e que se entrega aos nossos cuida-
dos, à nossa benevolência e à nossa caridade.
«O primeiro conselho que posso dar, diz Deleuze
(234), é o de nunca se provocar o sonambulismo, mas
deixá-lo vir naturalme nte. Seria importuno que um doen-
te pudesse acreditar que só lhe é possível a cura tor-
nando-se sonâmbulo, pois, de cem pessoas, apenas dez
caem no estado sonambúlico.»
Por isso, sõment.e quando o magnetiza dor percebe
que o paciente é sonâmbulo e se convence de que, nesse

(232) Du Potet - "Traité Complet du Magnétism e Ani-


mal", pág. 202.
. (233) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magné-
tisme et du Somnambu lisme". .
( 234 ) Deleuze - "Instructio ns Pratiques" .
1,
M AO NE TI SM O ES P IR IT U A

tad o, ele po de rá co ncor re r pa ra a s ua pr óp ria cu ra,


es do so na mbulismo.
é que deve au xil iar a pr od uç ão
no s ma is au to riz a-
De um modo ge ral , e com ap oio res um o as pr inc ipa is
dos me str es , po de mo s ap on tar em
f ac u Idades so na mb úli ca s.
os op ac os e a dis-
O so nâ mb ulo vê atr av és de co rp
eis .
tân cia s ma is ou me no s co ns ide ráv
ê as su as cri se s e
El e vê o seu pr óp rio ma l, pr eve a ép oc a do ter mo
ira
as dos ou tro s, e an un cia a ma ne
fin al.
ind ica r os me ios
Vê a or ige m da s mo lés tia s e pode
ma is ac ert ad os pa ra cu rá- las .
mo lés tia da s pe s-
Ex pe rim en ta mo me ntâ ne am en te a .
aç ão
so as com as qu ais foi po sta em rel
sa be , e po de pe r-
~p"resenta ao es pír ito tud o qu an to
ceber, as vezes, o que nã o sabe.
e se m qu e se lh e
Lê o pe ns am en to, ouve e res po nd
ten ha falado.
ção do s pr oc es so s
M ag ne tiz a sem ter ne nh um a no
ma gn éti co s.
o flu ido es ca pa r-s e
Vê as rad iaç õe s ma gn éti ca s, vêgn eti za do r e ap on ta
ma
das ex tre mi da de s do s dedos do
a es te a su a qu ali da de e força.
tro s op era çõ es ci-
Ex ec uta em si me sm o e no s oume nto s e as mã os
tru
rú rg ica s e percebe qu an do os ins em no in ter io r do co rp o
do op era do r se int ro du ze m e ag
humano.
~ su sce tív el de rec eb er
im pr es sõ es mo ra is e rec eb er
sugest.ões pa ra de po is do de sp ertrec ar, qu an do pe rd e a me -
eb im en to da pr óp ria
mó ria dos se us ato s e até do
su ge stã o, que pe rsi ste tod av ia.
Es sa s fac uld ad es nã o ex ist em nta se mp re reu nid as no
so nâ mb ulo , co nv ind o ac res ce r, en tre tan to, que,
mesm o
em an cip aç ão da alm a,
como decorrência do es tad o de ito s.
todos sã o capazes de ve r os Es pír ári a de rea liz ar in ter-
Sobre a fac uld ad e ex tra or din

1
,·enct'f'~ r inírg icas. Gauth _ier ( 235) nos apon ta o caso
âa tnrnin a Mada lena Dura nd. que. afeta da aos 7 a.nos, de
11.m. tumo r ~cer oso na boea, foi abandonada. pela Me -
d1rma. que JUigou inexe quíve l a opera ção. Essa crian ça.
em estad o sonambúlico. no dia previ amen te por ela in -
dica.do, fêz a incisão e cortou com o bistu ri o tumo r .
cujas partes lhe saíam pela boca; depois dessa prime ira
opera ção, reaJiw u outra s, até que a cura se verifi cou.
O sonam bulism o produ zido pelos proce ssos magn éti-
cos conse gue apura r e regul ar essas preci osas facul da-
des, ao passo que o sonam bulism o provo cado pelos hipno -
tista.s não conse guiu realiz ar esses efeito s, segun do a opi-
nião insus peita do Dr. Jame s Braid , citad o por Bué (236 ):
«Os magn e:tiza dores - diz Braid , o funda dor do
hipno tismo - asseg uram posit ivam ente pode r realiz ar
certo s efeito s que eu nunc a pude provo car com o meu
método, se bem que o tenha tenta do. Os efeito s a que
aludo são, por exemplo, ler a hora num relóg io coloc ado
por detrá s da cabeç a ou na cavid ade epigá strica , ler
carta s dobra das ou um livro fecha do, recon hecer o que
se passa a distâ ncia de algun s quilô metro s, adivi nhar
a natur eza das enfer mida des e indic ar-lhe s o trata ment o
sem possu ir conhe cimen tos médic os, ·mag netiz ar sonâm -
bulos na distâ ncia de muito s quilô metro s, sem que eles
tenha m conhe cimen to da opera ção que se propõ em a fa-
zer. Devo dizer, a este respe ito, que não julgo razoá vel,
nem mesm o conve nient e, pôr em dúvid a as afirm ações
de exper imen tador es, home ns de talen to e de obser vação ,
cuja palav ra const itui autor idade em outra s maté rias,
sob prete xto de que não fui pesso alme nte teste munh a
dos fenôm enos, ou que não pude repro duzi- los, quer pelo
meu método, quer pelo deles.»
Onde estar á a razão dessa difer ença? Será porqu e

(235) Aubin Gauth ier -- "Hist oire du Somn ambu lisme ",
,·01. II pág . 189 .
(236) Alfo11se Bué - "Le Magn étism e Curat if".

j
187
MAGNETISMO ESP IRIT UAL

,
os hipnotistas, agindo violentamente sobre os sentidos-
desequilibram o sistema nervoso, ao passo que os mag
netizadores, agindo de preferência sobre o «plexus solar»,
denominado «o cérebro da vida orgânica», conseguem me-
lhor estabelecer aquele equilíbrio?
Ca pít ulo XX
"De: 1de o com eço, as cois as par ecem niis
rio.!a.,: o :com eta, o raio , a auro ra, a chu va, são te-
outro:J ta'1,tos fenô men os mis teri oso s par a aqu ele
que 0:1 vê pela prim eira vez. Tud o pare ce
zoáv el, enca rado sob ttm pon to de vist a con ra-
nien te; a., poss ibili dad es do Uni vers o são infive-
ni-
tas, com o a sua exte nsã o físic a. Por que pro cura
sem pre neg ar "a prio ri" a imp ossi bilid ade dasr
coisa:J que deco rrem de nos sa con cepç ão ord
nár ia f i-
Não dev emo s recu ar dian te de pro blem
gum , desd e que se apr esen te a opo rtun idadae al-
abo rdá- lo. Não dev emo s hesi tar em pro sseg uir de li-
vrem ente a inve stig açã o das leis, mis teri osa s em-
bora , que rege m a vida e o espí rito ; o que
mos , nad a é ao lado do que nos rest a apresab nde
e-
r.
Que rer rest ring ir a noss a pesq uisa , aos terr ,it6-
rios já mei o con quis tado s, é eng ana r a fé dos ho-
men s que luta ram pelo dire ito de livr e exa me, e
trai r as espe ranç as mai s legí tima s da Ciên cia ...''
( OLIVER LOD GE - "Ph anth om Wal ls". )
Vim os que o son amb ulis mo é nat ura l, ou pro voc
Ma s não só o mag neti smo e o hip not ism o pod ado .
pro voc ar esse esta do. Cau sas out ras, mu itas vez em
desc onh ecid as, pod em igu alm ente pro voc á-lo . es ain da
Os auto res pou co se deti ver am no estu do des sas
sas. Que m mai s amp lam ente exa min ou o assu cau -
nto foi o
Dr. Pro spe r Des pine ( 237 ), con sag rand o-lh e todo
o Ca-
(237 ) Dr. Pro 3per Des pine - ":i;'; tude Scie ntif ique sur
le Som nam buli sme ", 188 0.
JR9
l\-{AON ETI SM O ESP IRI TU AL

pUulo IV de sua not áve l obr a, e ch eg ~· à conclusão


de cer tas
de que diversas e&U 888 mó rbid as, pr ove n1e n~ s etc. , po-
Afecções, de acident es, de aspiraç ão de tóx ico
dem con duzir ao est ado sonambúllco. as
_c au-
Tod avia , o son am bul ism o pro voc ado por ess
888 mó rbid as d.ü ere pro fun da.m
ent e do son am b~s mo
ca unpri-
ma gné t ico. Ao pas so que , nes te últi mo, se bus e exc elen te
mir equ ilíb rio à ativ ida de ner vos a, torn and o-s aqu ele se
pro ces so tera pêu tico par a det erm ina dos cas os,
áte r dev e
apr ese nta como fen ôm eno pat oló gic o, e nes te car
ser trat ado . livr o
Par a ilus traç ão, e tam bém por que se tra ta denta dos
apo
raro , cita rem os doi s den tre os cas os cur ios os
por Despine. gás car -
O prim eiro cas o refe re-s e à into xic açã o pel o
em lug ar
bônico, qu_e, res pira do dur ant e alg um tem po, de son am -
de pro duz ir a asfi xia , det erm ino u um ace sso
bul ism o: L ... ,
Nu ma cas a de tole rân cia, no Havre , res idia m Per ce-
de 35 ano s de ida de, e a Sra . R., de
40 ano s.
am est ava
beu -se que a por ta do alo jam ent o que ocu pav gué m res -
fec had a hav ia mu itos dia s. Cha ma va- se, e nin da por ta.
pon dia . Pro ced eu- se, ent ão, ao arr om bam entava o
her me ti-
Ver ific ou- se que den tro do qua rto tud o est _papel sob re
cam ent e fech ado , ten do sid o col ada s tira s deext into . Um
tod as as fen das . Ao lad o, um fog ão já ent o. Ã apr o-
odo r pút rido e asf ixia nte infe cta va ·o apa rtam · cos tum e de
xim açã o das aut orid ade s, um a mu lhe r, em ro am bu-
noi te, pál ida , ma gra , como se fôs se um esp ect seu s olh os
lan te, erg ueu -se cam bal ean te e, fixa ndo nel es dig o que
ine xpr ess ivo s, dis se: - Psi u! Caluda! eu vos
ele dorme ...
Os age nte s pro sse gue m e des cob rem no
leit o o ca-
om pos ição .
dáv er de L., ves tido e em esta do de fra nca dec que a pob re
Um che ire infe cto exa lav a do am bie nte em
lou ca hav ia pas sad o oito dia s e oito noism tes, res isti ndo
as da put re-
à dup la açã o do gás car bôn ico e dos mia
fação.
R. foi tran spo rtad a par a o hos píc io num rta est ado que
do que
se ass eme lha va ma is ao de um a cria tur a mo
,nn MAG NET ISM O ESP IRIT UAl ,

viva. Con veniente men te t r atad a , ela recu pero u em pou


co
tem po a r azão. Inte rrog ada sobr e o que se hav ia pas-
sado dura nte os oi to dias em que fica r a enc erra da
qua rto, resp ondeu que de nad a se lem brav a. Evi dentno
e-
men te, o estado a norm al dess a mul her, qua lific ado
de
louc ura pelo s pres ente s, nad a mai s era do que o esta
do
de son amb ulis mo caus ado pela ação do gás car bôn
ico
sobr e o sang ue e, con sequ ente men te, sobr e o cére bro.
Sin tom as sem elha ntes fora m veri fica dos com a in-
t oxic ação pelo pr otóx ido de azot o e pelo hidr ato de clor
al.
O segu ndo caso é o do sona mbu lism o caus ado por
uma feri da no crân io:
F., um jove m can tor de café -con cert o, foi, na gue rra
de 1870-71, atingido por um proj etil que lhe estr açal hou
o pari etal esqu erdo num a exte nsão de oito cen tíme tros
Qua se que ime diat ame nte se veri fico u a para lisa ção .
braç o dire ito e, algu ns min utos dep ois, a da pern a do
mes mo lado . Perd eu o con heci men to de tudo , e só do
read quir iu mui tos dias depois, já pris ione iro em May o
ce. Seis mes es mai s tard e, foi tran spo rtad o par a a Fraen-
ça e hosp itali zado. No fim de um ano esta va cura n-
da feri da e da para lisia , tend o volt ado à prof issã do
cant or. Sob revi eram -lhe , poré m, aces sos de son amboulis de
mo, em inte rval os regu lare s e peri ódic os, de cinc o a seis-
dias .
De repe nte, e sem nen hum a tran siçã o, man ifes ta-
va-s e o esta do sona mbú lico . Olh os mui to abe rtos , pup ilas
imó veis e extr ema men te dila tada s, inse nsib ilida de à dor,
pers istin do, poré m, a sens ibili dade tátil , abo lida s a visã
e a audi ção, eis o qua dro. o
Nes se esta do, ele se loco mov ia natu ral e tran quil a-
men te. Qua lque r pess oa, desp reve nida , não duv idar ia
da
norm alid ade da situ ação . Qua lque r obst ácul o que se lhe
ante puse sse não lhe deti nha a mar cha ; desl izav a as mão
sobr e os obje tos, proc uran do-l hes os con torn os, e os af s
as-
tava . Com ia, bebi a, fum ava e se vest ia. Dur ante o dia
pass eava , à noit e desp ia-s e e deit ava- se às hor as hab
tuai s, pare cend o agir sob o imp ulso de háb itos mec i-
cam.ente bem regu lado s. Ao pass o que a sens ibili dadâ-
cutâ nea, de um mod o gera l, não se man ifes tava , neme
HJ J
tTAL
MA ONET ISMO ESPIR I'r

e ne m pe la s de sc ar ga ,s elétricas, a sensi-
pelas pi cadas re ve la va , at ra vés de ligeiras
bilidade dos m ús cu lo s se
in flu ên ci a de um a po de rosa corrente
contrações . sob a
el~trica.
o ao se u es ta do no nn al , F. não guardava a
Voltand oc orrido dura nte a crise,
br an ça do qu e ha vi a
n e_nor le m
1
ra çã o er a de qu in ze a trinta horas.
cn Ja du
, ne st e úl tim o ca so , a inexistência quase
Verificam os da de , o qu e nem sempre
qu er se ns ib ili
absoluta de qual m agnéticos. Estes, segund
o
co m os so nâ m bu lo s
ocorre
ge ra l do s ex pe rim en ta do res, se apresentam at é
a opin ião s ac en tuada. Deleuze ( 238),
sens ib ili da de m ai
co m uma ic ad o vá rios casos em que a
de ha ve r ve rif
v. g., depois ad a pe lo s médicos, acrescenta:
in sensibilida de er a co nf irm
m bu lo s nu nc a a m an ife staram; pelo con-
«Os meus sonâ s é 1n ais de licada do que no
ilida de de le
tr ário, a sensib ac to du m co rp o não magneti-
estado de vigília . O co nt
gr ad áv el, o to qu e de pessoa es tr an ha
za do lhes é desa m es m o a ce rteza de que cer-
al . Te nh o
lhes faz muito m ta ra m co nv ul sões e desperta-
to s sonâmbulos ex pe rim en ém
por te re m sid o to ca do s bruscamente por algu
ram,
o com eles.»
qu e não estava em relaçã ente confirma que a sensibi-
Ga uthier ( 239) igualm mbulo chega a causar es-
sonâ
lidade moral e físic a do anações físicas dos seres vi-
panto. Assim como as emos sonâmbulos ressentem, por
,
vos os afetam fortemente ento dos que os cercam e dos
igual, os efeitos do pensam to trazem. O fluido de cada
en
se ntim entos que no mom mbulo. Daí a perturbação que
pessoa é sentido pelo sonâ desannonia dos fluidos.
a
lhe ca usam a diferença e r que os sonâmbulos são ge-
t , pois, um erro supo
ralmenb} insensíveis. vezes, em consequência
se ns ibili da de oc or re , às
A in ou de magnetização inten-
ed isp os iç ão na tu ra l
de uma pr
sa e mal dirigida ( 240) .
115.
uctions Pr at iq ue s" , pág.
(238) Delettze - "I ns tr "T ra ité Pr at iq ue du Magné-
-
(239) A ubiri Gaut hier e" , pá g. 586.
lism
tis me et du Somnam bu tru cti on s Pr at iq ue s" , pág. 119.
(24 0) Deleu ze - "I ns
192 MAGNETISMO msPIFUTU AL

Tocando ttmA. pessOR enfenna, o sonâmbulo geral-


mente 96 reseent:e das dores na parte correspondente à
afetada no consulente. Essas dores são momentâneas,
mas persistem, algumas vezes, até o despertar.
Veremos, agora, como agir para favorecer o sonam-
bulismo magnético, ou para provocá-lo, nos casos em
que isso se torne absolutamente necessário para a cura
do enfermo.
Cada magnetizador tem o seu processo, mas todos
operam rigorosamente dentro dos princípios do magne-
tis.mo, havendo, portanto, muita semelhança no modo de
conduzir os passes e dirigir o fluido para os pontos essen-
ciais do organismo, pontos que favorecem a. produção do
fenômeno.
Aconselhamos o processo de Bué ( 241) , que é o mes-
mo preconizado por Gauthier ( 242) e seguido por outros
experimentadores, com ligeiras modificações:
Quando, ao magnetizar-se um indivíduo, não com a
intenção de sonambulizá-lo, mas de curá-lo ou aliviá-lo,
sobrevêm bocejos acompanhados de tremores dos olhos,
batimento e fechamento das pálpebras, inclinação da ca-
beça, e uma dormência mais ou menos profunda parece
querer invadi-lo, pode-se favorecer esse estado sonolento
conservando as mãos ou impondo os polegares sobre o
epigastro; depois, quando os olhos cessarem de rolar sob
as pálpebras e o movimento de deglutição, por momentos
acelerado, houver diminuído, levantam-se as duas mãos
em cima da cabeça do paciente, faz-se uma imposição
de alguns segundos no cérebro, descendo-as, em seguida,
em passes longos, muito lentos, na extensão dos braços,
até à extremidade dos dedos.
Repetem-se passes semelhantes, em frente ao tronco,
até à altura do epigastro, onde se faz uma parada de
cada vez, apresentando-se os dedos estendidos; também
se aplicam passes impondo as mãos sobre o cérebro e des-

( 241) Alphonse Bué - "Le Magnétism e Curatif" .


(242 ) Aubm Gauthier - "Traité Pratique du Magné-
tisme et du Somnambulisme", págs. 628, 631,
MAGNETISMO ESPI RITU AL 193

~=d o-a s por trás das orelhas e das espáduas, para


as pelos braços, de maneira a envolver completa-
mente o paciente com passes de grande corrente.
~ a melhor maneira de agir para produzir nonnal-
mente O estado sonambúlico, e desenvolver subsequen-
~~en te, a lucidez, podendo toda a incitação diret a e
vio ent:i, B<?bre o cérebro acarr etar inconvenientes e o
desequ1hb_r10 nervoso 1 prejudiciais aos sonâmbulos.
Depois de have r operado deste modo durante alguns
momentos, interroga-se delicadamente o paciente sobre o
seu atual estado: - «Está donnindo ?»
S~ ele estiv er apenas num estado de sonolência, des-
perta rá; susta-se então a operação dispersam-se os flui-
dos, transferindo para outrà ocasião uma tentativa que,
em benefício do próprio doente, nunca deve ser levada
ao extremo.
O sono pode ser tão profundo que nenhum barulho,
nenhuma sensação venha a pertu rbar o paciente; inter-
roga-se-lhe, e ele não responde; toca-se-lhe, e nem sequer
pestaneja. Este é o primeiro passo para o estado so-
nambúlico.
Pouco a pouco, este estado se acentua sob o impulso
da ação magnética prolongada; o paciente acaba por
perceber o som da voz; nesse momento, entretanto, não
o instigueis a falar ; é-lhe necessário tempo para habi-
tuar-se à sua nova situação: conserva-se num torpor,
num aniquilamento corporal em que se compraz; daí a
poucos instantes, responder-vos-á por um sinal de cabeça
ou de mão, e indicará o momento em que deseja ser des-
pertado. Por vezes, a pergunta - Dormis? - atinge-o
como faísca elétrica, e ele responde. .:m um sinal mani-
festo de que o paciente se acha em estado sonambúlico
completo.
Logo que se tenha certeza do estado sonambúlico
do paciente, cumpre evita r assoberbá-lo de perguntas.
Deleuze (243) recomenda que as perguntas sejam circuns-
critas ao seguinte:

( 243) Deleuze - "Instr uction s Pratiq ues", pág. 107.


7
194 MAGNE T ISMO ESPIRIT UAL

«Como vos sentis?


c:Vêdcs o vosso m al ?
<Os process os que empreg o vos s ã o conven ientes ?
«Sabeis qual o remédio que vos poderá cu r ar ?
«Contin uareis a ser sonâmb ulo?
«Quant o tempo desejai s dormir ?
«Quere is ser magnet izado ainda?
«Tende s alguns conselh os a dar-me ?
«Podeis ver se até à próxim a sessão ocorrer á
alguma modific ação no vosso estado e a cujo respeit o
deveis instruir -me?
- «Despe rtareis sem minha interve nção, ou será ne-
cessário que vos despert e?~
Neste último caso, para despert ar o pacient e, deve o
operado r empreg ar os process os que já foram explica dos
em páginas anterio res, utilizan do as dispers ões, as in-
suflaçõ es frias a distânc ia sobre a testa e sobre os olhos,
tocando vivame nte os supercí lios, desde a sua origem até
as têmpora s. :m importa nte dispers ar bem, a fim de
evitar o peso da cabeça e a dormên cia das pernas, que
poderia m persisti r.
Todos 03 autores adverte m que, não obstant e o em-
prego rigoros o dos process os dispersi vos, ocorre, às ve-
zes, que os doentes postos em estado sonamb úlico, em
poucos minutos , não podem ser despert ados senão ao cabo
de muitas horas. Du Potet (244) confirm a que, em ca-
sos semelha ntes, quanto maior era o esforço de sua von-
tade para despert ar o pacient e, tanto maior parecia a
intensid ade do sono.
Lafonta ine (245), por sua vez, cita diverso s casos
ocorrid os com magnet izadore s de suas relaçõe s, sendo
que, em alguns deles, houve necessi dade da sua interve n-
ção pessoal para fazer cessar o estado de sonamb ulismo.
Discute m os autores sobre a intensid ade do sono
magnét ico, classifi cando-o em graus.

(244) Du Potet - "Traité Comple t de Magnét isme Ani-


mal", pág. 170 .
(245) Oh. La/ontaà ne -- "L'Art de Magnét iser", p. 267.
19 5
1'1:AGNETISMO ES PI RI TU AL

se as pe cto é cu rio so as sin al ar que, en qu an to


Sob es
expressões - estados de
todos os hipnotistas usam as
- cla ssi fic an do -o s em gr au s mais, ou menos pro-
hipnose
ciais, os m ag ne tis ta s f a-
fundos e mais, ou menos superfio ou do sono magnético.
lam em gr au s do sonambulism s hipnotistas e nã o
pa lav ra hip no se é cr iaç ão do
t que a o, cujos princípios se as-
pode servir pa ra o magnetism er que seja, a pa la vr a
em ba se s ou tra s. Co mo qu
sentam
já es tá consagrada pelo uso. s e gr au s de sonam-
Nessa m at ér ia de cla ssi fic aç õe
inável o debate. Os mag-
bulismo ou de hipnose, é interm acordo geral, mesmo
ad or es nã o es tão lon ge de um
netiz de interesse m ai s de
ju lg am tra ta r-s e de qu es tão
porque ria m en te fisiológica, ao
ordem tax in ôm ica do qu e pr óp
algumas exceções, se per-
passo que os hipnotistas, salvo apresentando as m ai s
na co mp lex ida de de nu an ça s,
dem
ar bi trá ria s classificações. te a cla ssificação se gu in te :
Pi er re Ja ne t ( 24 6) ad mi
ep sia ; ~ ca tal ep sia let ár gi ca ; 3° ca ta le ps ia
1° Catal
tica; 5° le ta rg ia ; 6° le ta r-
sonambúlica; 4° letargia catalép o. ·
gi a sonambúlica; 7° sonambuliasmclassificação de Charcot,
De Rochas ( 24 7) aceita
e re pu ta clá ssi ca , ap on tan do os seguintes es ta do s: a
qu mbulismo.
letargia, a catalepsia e o sonace as espécies de sono:
Liébeault ( 248) estabele duprofundo ou sonambú-
no
A - o sono ligeiro; B - o so gr au s: 1° sonolência;
- so no lig eir o, co m qu atr o
lico. A ; 3° sono ligeiro m ai s
eir o pr óp ria m en te di to
~ sono lig
of un do ; 4° so no lig eir o in ter mediário. B - sono pro-
pr gr au s: 1° s.ono sonam-
ou so na mb úli co , co m do is
fundo
úlico profundo.
búlico ordinário; 2° sono sonamb

Pierre Janet - Ar tig o na "R ev ue Sc ien tif iqu e" ,


( 246)
S. M or an d - "L e M ag né tis me An im al" , pá g. 15 7.
ap ud ·
es ~t at s Pr of on ds de l'H yp
(247) A . de Roc'has - "L
nose", pá g. 5. ",
8) Dr . A. A. Lié bea11,lt - "L e So mm eil Pr ov oq ué
(24
pá gin a 29 0.
1~6 MAGNETISMO ESPI RITU AL

J. Luye (249) segue a mesma seriação de Charcot,


ao que ele chama grande hipnotismo com estes estados:
letargia - catalepsia - sona mbu li~o - vigília.
Du Pote t (250) simplificou os grau s do sonambulis-
mo, da seguinte maneira:
1° sono sem percepção; 20 sono com percepção em
começo, mas confusa; 39 lucidez.
Ochorowicz ( 251) aproximou-se de Du Potet, ao apon-
~ .as duas fases principais: o sono profundo, que se
dissi
' .
pa pouco a pouco, e o sono lúcido ou o sonambulismo
propnam.ente dito.
Alguns outros distinguem sete, dez e até mesmo trin-
ta e três estados de hipnose.
Gauthier ( 252) põe de lado as distinções especiosas
de muitos experimentadores, insinuando os adeptos do
magnetismo a tirar do sonambulismo tudo quanto ele pos-
sa dar, em qualquer grau que atinja. «Que impo rta o
número de degraus duma escada, se a altur a é a mesma»,
dizia lógicamente uma sonâmbula, à qual se pedia opinião
acerca das classificações.
Na realidade, diz Bué, só as distinções seguintes de-
vem e podem ser estabelecidas: «O sonâmbulo dorme,
mas não fala - primeira fase. Fala ; porém, concentrado
em si mesmo, não sente a vontade do magnetizador e
nada vê - segunda fase. Finalmente, sente a vontade
do magnetizador e é clarividente - terceira fase. Se o
sonâmbulo chega a ver a sua moléstia, a prever-lhe as
crises, e pode indicar a melhor marcha a seguir para
obter prontamente a cura, do ponto de vista curativo,
não é isto tudo quanto se deve espe rar do sonambu-
lismo?»
. E mais adiante completa o seu pensamento:

(249) J. Luys - "Leçons Cliniques sur les Princ ipaux


Phenomenes de l'Hypnotisme", pág. 21.
( 250) Du Pote t - "Man uel de l'JJ:tucliant Magn étise ur",
págin a 158 .
(251) Dr. J. Ochorowicz - "A Suge stão Ment al", pá-
gina 120.
(252) Aubi n Gaut hier - Obr. · cit., pág. 567
MAGNETISM O E SPIRITUAL 1 97

«Se o E:.8tado son ambúlico só comporta três fases, e


se essas três fases realmente não são mais que graus
ascendentes dum todo indivisivel não é menos verdade
que o fenômeno se nos apresenta. sob aparências com-
plexas, muito próprias a nos enganarem. São tão düe-
ren tes os sonâmbulos , quanto o são as gradações que eles
apresentam . Do mesmo modo que nenhum ser é igual
em a Natureza, assim também sonâmbulo algum é igual
a ou~o sonâmbulo. Cada indivíduo, inversamen te in-
fluenciado na razão de sua idiossincras ia e temperamen -
t o, vê surgir em si, nesse estado misto, toda a ininter-
rupta sucessão das relações que, sob a influência de
condições especiais de tempo, meios ou incitações diver-
sas, podem, incessantem ente, produzir-se entre as in-
fluências internas e externas.
~ir;, como no calidoscópio , uma diversidade infinita
de combinaçõe s e de gradações que se manifestam du-
rante a produção do fenômeno; e, /diante de tal variedade
de manifestaçõ es, não é de admirar que os experimen-
tadores, enganando- se quanto à origem dos fatos, tenham
atribuído ao próprio fenômeno aquilo que na realidade
é apenas simples reflexo da idiossincras ia dos sonâm-
bulos sobre os quais se experimenta ; daí, esses agrupa-
mentos artificiais e essas classificaçõe s que, longe de es-
clarecerem o problema, apenas conseguiram dificultá-lo. »
Importa precipuame nte, portanto, a o b s e r v a ç ã o
acurada dos fatos e dos fenômenos. O estudo de cada
caso, com atenção e critério, é tudo quanto se pode re-
comendar, em todas as fases do sonambulism o, sejam
elas duas ou trinta ...
Capítulo XXI
"O sonambulismo natural e artificia l, o ~x-
tase e a dupla vista são efeito~ vários, ou de mo-
dalidades diversas, de uma mesma causa. Esses
fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da
Naturez a. Tal a razão por que hão existido em
todos os tempos. A História mostra que foram
sempre conhecid-0s e até explorados desde a mais
remota antiguid ade e neles se nos depara a ex-
plicação de uma imensidade de fatos que os 'JYfe-
conceitos fizeram f ôssem tidos tais como sobrena-
turais ."
( ALLAN KARDEC - "O Livro dos
Espírito s". )

Verificamos que a tendência dos magnetizadores é


no sentido de reconhecer a existência de três graus no
estado sonambúlico, conforme a classificação de Charcot:
a letargia, a catalepsia e o sonambulismo.
Essa igualmente é a classificação aceita por Kar-
dec (253).
O estado letárgico é o mais profundo. O paciente
nada ouve, nada sente, não vê o mundo exterior, tornan -
do-se incapaz de toda vida consciente. O mais completo
aniquilamento da personalidade humana, diz Luys ( 254),
é o que se verifica nesse estado.
Para desper tar o paciente é necessário fazê-lo pas-
sar para o estado cataléptico, o que se consegue quase
instantâneamente pelo erguimento das pálpebras.
Não há ainda opinião definitiva sobre o período de

( 253) Allan Kardec - "O Livro dos Espirito s't, p. 222.


(254) J. Luys - "De I'Hypno tisme", pág. 32 .
199
MAGNETISMO ESP IRIT UAL

,
duração do estado letárgico. Casos há em que o paciente
entregue à própria sorte, pode assim permanecer durante
trinta ou mais dias, ou então sucumbir.
A catalepsia se caracteriza pela imobilidade dos mús--
culos e pela fixidez das atitudes em que o paciente é
colocado pelo experimentador. Assim, se lhe for erguido
um braço, nesta posição ficará indefinidamente.
Nesse estado, os olhos permanecem grandemente
abertos, fixos, com o semblante imobilizado, apresentan-e
do o paciente uma fisionomia impassível, sem emoção
sem fadiga.
. O operador, por meio de sugestões, pode fazer o pa-
ciente exprimir as mais diversas emoções, sem a menor
resistência. Assim, pode provocar nele a mímica do ê~-
tase religioso, da cólera, da alegria, do desgosto, da afli-
ção, da repulsão, etc.
lt muito conhecida a experiência que se faz com
as pessoas em estado ·cataléptico, que são colocadas em
posição horizontal entre duas cadeiras, tendo sobre elas
o corpo apenas apoiado pela cabeça e pelos pés. Nessa
situação, a contração dos músculos é de tal ordem, que ão
o corpo pode resistir aos maiores pesos. Ess a contraçdo
muscular, tão extraordinária e que ninguém em esta u-
normal poderia apresentar, prolonga-se por vários min
tos, numa completa rigidez.
O cataléptico é verdadeiramente um autômato nas
mãos do magnetizador, perdendo toda a liberdade de ação
e de movimentos. Não anda, não fala, não ouve, não
pensa, senão por determinação do experimentador, rque
poderá fazê-lo rir, chorar, cantar, gritar, sen tir calo ou
frio, etc.
Se o magnetizador disser, v.g., ao cataléptico : -
Ah? Que linda música! - vereis que ele passa ime
dia-
tamente à atitude de guem procura ouvir par a em segu i-
da responder: - Oh I é verdade I nunca ouvi mús
ica tão
bonita! E o seu semblante apresenta desde logo
uma
expressão de contentamento ( 255).
(255) -Dr. J. B. Mor and - "Le Magnétisme Animal"~
pág . 128 .
200 MAGNETISMO ESP IRI TUAL

a me-
Precisamen te porque o cataléptico não oferece
prestan -
nor resistência às detenninações do operador, lhe são
do-se assim às situações cômicas ou ridículas que ntações
impostas, é o estado preferido par a as represe de re-
via
públicas, par a deleite dos auditórios, que , em ulos par a
gra, ignoram os graves perigos desses espetác
experimen-
os pobres pacientes, que são atraídos par a a
como pode
tação. Pode ocorrer um desequilíbrio nervoso
sempre di-
sobrevir uma con trat ura generalizada, que é
fícil de ser debelada. cat a-
Além dos três estados apontados - letargia,
dam sep a·
lepsia e sonambulismo -, alguns autores estu
-lo corno
radamente o êxtase, com tendência a encará
out ro gra u do sono magnético. ma is
Kardec ( 256) considera o êxtase um estado
apurado de emancipação da alma. and a
No sono e no sonambulismo, diz ele, o Esp írit o em
etra
em giro pelos mundos terrestres. No êxtase, pen , com
eos
um mundo desconhecido, o dos Espíritos etér avia, lhe
os quais ent ra em comunicação, sem que, tod tran s-
os
seja lícito ultrapas-s ar certos limites, porque, se prendem
o
pusesse, totalmente se partiriam os laços que
do fulgor,
ao corpo. Cerca-o, então, resplendente e desusaconhecem,
inebriam-no harmonias que na Ter ra se des amente
pad
indefinível bem-estar o invade, gozando anteci
pousa um
da beatitude celeste, e bem se pode dizer que
pé no limiar da eternidade.
ter- .
Nesse estado, desaparecem todos os pensamentoscons-
que
restres, cedendo lug ar ao sentimento apurado, Int eira -
titui a essência mesma do nosso ser imaterial. ext átic o
o
mente entregue a tão sublime contemplação,
nea.
encara a vida apenas como paragem momentâ âm-
Dá-se com os extáticos o que se dá com os son , e
lucidez
bulos:_ mais, ou menos perfeita podem ter a
e a com-
o Espírito mais, ou menos est á apto a conhecer
nos ele-
preender as coisas, conforme seja mais, ou me ltação do
vado. Muitas vezes, porém , há neles mais exa

(256 ) Alk w Kar dec - "O Liv ro dott Esp írito s", p . 234.

j
M .\ ON J.:-fJ~MO E;SPJRJT t' AL

qu~ vtrdadeira lucidez, ou melhor. muitas vezes a exal·


1

taçio lhes prejudica a lucidez. Dai o serem, frequente-


mente. suas revelações um misto de verdades e erros, de
roisu grandios as e coisas absurdas, até ridículas. De&..,q
exaltação. que é sempre uma causa de fraqueza. quando
o indivíduo não sabe reprimi-la, E-spíritos inferiores cos-
tumam aproveitar-se para dominar o extático, tomando ,
com tal intuito, aos seus olhos, aparências que mais o
a~erram às ideias que nutre no estado de vigília. Há
msso um escolho, mas nem todos são assim.

Tratarem os agora da clarividência sonambúlica e do


fenômeno da lucidez.
Todos os autores versam o assunto com maior ou
menor amplitude, não havendo unifonnidade no modo de
apreciá-lo.
Dentro do nosso ponto de vista, de situar o nosso
estudo sob o seu aspecto predominantemente espiritua -
lista, abandonamos aqui a opinião dos autores profanos
para nos apoiarmos na lição magnífica de Kardec ( 257) ,
que nos explica a causa e a natureza da clarividência
sonambúlica e o fenômeno da lucidez.
É a seguinte :
«Sendo de natureza diversa das que ocorrem no es-
tado de vigília, as percepções que se verificam no estado
sonambúlico não podem ser transmit idas pelos mesmos
órgãos. t sabido que neste caso a visão não se efetua
por meio dos olhos que, aliás, se conservam, em geral,
fechados e que até podem ser abrigados dos raios lumi-
nosos, de maneira a afastar todo motivo de suspeita.
Ao demais, a visão a distância e através dos corpos opa-
cos exclui a possibilidade do uso dos órgãos ordinários
da vista. Forçoso é, pois, se admita que no estado de
aonambulismo um sentido novo se desenvolve, como sede

(257) Allan Kardtc - "Obras Póstumas", pág. 88 .


202 MAGNETISMO ESPI RITU AL

de f acuidades e de percepções novas, que desconhecemos,


e das quais não nos podemos aperceber, senão por ana-
logia e pelo raciocínio. Bem se vê que nada de impos-
sível há nisso; mas qual a sede desse novo sentido? Não
é fácil determiná-lo com exatidão. Nem mesmo os so-
nâmbulos fome cem a tal respeito qualquer indicação pre-
cisa. Uns há que, para verem melhor, aplicam os obje-
tos sobre o epigastro, outros sobre a fronte, outros no
occipício. O sentido de que se trata não parece, portanto,
circunscrito a um luga r determinado; é, todavia, certo
que a sua maior atividade reside nos centros nervosos.
O que é positivo é que o sonâmbulo vê. Por onde e como?
:m o que nem ele próprio pode explicar.
«No temos, porém, que, no estado sonambúlico, os
fenômenos da visão e as sensações que o acompanham
~o essencialmente diversos dos que se passam no estado
ordinário, pelo que não nos serviremos do termo «ver»,
senão por comparação e por nos falta r naturalmente um
com que designemos uma coisa desconhecida. Um povo
composto de cegos de nascença careceria de uma palav ra
para designar a luz e referiria as sensações que ela pro-
duz a alguma das que lhe fôssem familiares por lhes
estar ele sujeito.
«Alguém procurava explicar a um cego a impressão
viva e deslumbrante da luz sobre os olhos. Compreendo
- disse ele - é como o som de uma trombeta. Outro,
um pouco mais prosaico sem dúvida, ao qual queriam
fazer que compreendesse a emissão dos raios luminosos
em feixes ou cores, respondeu: Ah, sim, é como um pão
de açúcar. Estamos nas mesmas condições, relativamen-
te à lucidez sonambúlica: somos verdadeiros cegos e, do
mesmo modo que estes últimos com relação à luz, com-
paramo-la ao que tem mais analogia/ com a nossa fa-
culdade visual. Mas, se quisermos estabelecer analogia
absoluta entre essas duas faculdades e julga r de uma
pela outra, forçosamente nos enganaremos, como os dois
cegos que acabámo~ de citar. .:m esse o .erro de guase
todos os que procuram pretensa.mente convencer-se pela
experiência: intentam submeter a clarividência sonambú-
lica .às mesmas provas que a vista ordinária, sem pon-
MAGNmT ISMO ESP IRITUAL 203

derarem que entre elas a única relação existente é &


do nome que lhes damos. Dai, como os resulta.doe nem
se..mpre lhes correspondem à expectativa, acham maia sim-
ples negar.
«Se procedermo.a por analogia, diremos que o flui-
do magnético, disseminado por toda a Natureza e cujos
focos principais parece que são os corpos animados, é
o veícu lo da clarividência sonambúlica, como o fluido
lumi noso é o veículo das imagens que a nossa f acuidade
visual percebe. Ora, assim como o fluido luminoso tor-
na transparentes corpos que ele atravessa livremente,
o fluido magnético, penetrando todos os corpos sem ex-
ceção, torna inexistentes os corpos opacos para os so-
nâmbulos. Tal a explicação mais simples e mais mate-
rial da lucidez, falando do nosso ponto de vista. Temo-la
como certa, porquanto o fluido magnético incontestàvel-
mente desempenha importante papel nesse fenômeno; ela,
entretanto, não poderia elucidar todos os fatos. Há ou-
tra que os abrange todos; mas, para expô-la, fazem-se
indispensáveis algumas explicações preliminares.
«Na visão a distância, o sonâmbulo não distingue
um objeto ao longe, como o faríamos nós com o auxílio
de uma luneta. Não é que o objeiio, por uma ilusão de
óptirJI, se aproxime dele, ELE :m QUE SE APROXIMA
DO OBJETO. O sonâmbulo vê o objeto exatamente
como se este se achasse a seu lado; vê-se a si mesmo
no lugar que ele observa; numa palavra: transporta-se
para eMe lugar. Seu corpo, no momento, parece extinto,
a palavra lhe sai mais surda, o som da sua voz apresen-
ta qualquer coisa de singular; a vida animal também
parece que se lhe extingue; a vida espiritual está toda
no lugar aonde o transporta o seu próprio pensamento;
sômente a matéria permanece onde estava. Há pois uma
certa porção do ser que se lhe separa do corpo e se
t~p ort a instantâneamente através do espaço, condu-
zida pelo pensamento e pela vontade. Evidentemente,
é imaterial essa porção; a não ser assim, produziria al-
guns dos efeitos. que a matéria produz. 11; a essa par-
cela de nós me.srnos que cbarnarn"8: alma,
«i a alma que confere ao sonâmbulo as maravi-
204 MAGN.ETISMO IDSPIRITUAL

lhosa~ facul dades de que ela goza. A alma é quem, da.-


das certa s circu nstân cias, se mani festa , isolando-se em
parte e temp orària rnent e do seu invólucro corpóreo. Para
quem quer que haja obser vado com atenç ão os fenô-
menos de sonambulismo em toda a sua purez a. é paten -
te a exist ência da alma, torna ndo-s e-lhe uma insen satez
demo nstra da até à evidência a ideia de que tudo em nós
acaba com a vida anim al. Pode-se, pois, dizer com al-
guma razão que o Magn etism o e o Mate rialis mo são in-
compatíveis. Se algun s magn etiza dores se afast am desta
regra e profe ssam as doutr inas mate rialis tas, é sem dú-
vida que se hão cingido a um estud o muito super ficial
dos fenômenos físicos do magn etism o e não procu ram
seria ment e a solução do probl ema da visão a distâ ncia.
Como quer que seja, nunc a vimos um único sonâm bulo
que não se most rasse penet rado de profu ndo senti men-
to religioso, f ôssem quais fôssem suas opiniões no es-
tado vígil.
~volt emos à teori a da lucidez. Sendo a alma o prin-
cípio básic o das facul dades do sonâmbulo, neces sària -
ment e nela é que reside a clariv idênc ia e não nesta ou
naqu ela parte circu nscri ta do corpo mate rial. Essa a
razão por que o sonâmbulo não pode indic ar o órgão
dessa faculdade, como desig naria os olhos, se se trata s se
da visão exter ior. Ele vê por todo o seu ser mora l, isto
é, por toda a sua alma, visto que a clariv idênc ia é um
dos atrib utos de todas as parte s da alma, como a luz é
um dos atrib utos de todas as parte s do fósforo. Onde
quer, pois, que a alma possa pene trar, há clariv idênc ia;
essa a causa da lucidez dos sonâm bulos atrav és de todos
os corpos, sob os mais espes sos envol tórios e a todas as
distân cias.
«Uma objeção, como é natur al, se apres enta a esse
sistem a e apres samo -nos a respo nder a ela. Se as facul da-
des sonam búlic as são as mesm as da alma despr endid a
da maté ria, porque não são const antes essas facul dades ?
Porqu e algun s sonâmbulos são mais lúcidos do que ou-
tros? Porque, num mesmo indivíduo, a lucidez é variá -
vel? Concebe-se a imperfeição física de um órgão ; mas
não se concebe a da alma.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 20Fí

«Esta se acha presa ao corpo por laços misteriosos


que não nos fora dado conhecer antes que o Espiritismo
houvesse demonstrado a existência e o papel do peris-
pirito. Tendo sido essa questão tratada de modo especial
na «Revista Espirita, e nas obras fundamentais da Dou-
trina, não nos estenderemos aqui sobre ela, limitando-nos
a dizer que é pelos nossos órgãos materiais que a alma
se manifesta ao exterior. Em nosso estado normal, essas
manifestações ficam naturalmente subordinadas à imper-
feição do instrumento, do mesmo modo que o melhor ar-
tífice não pode fazer obra perfeita com utensílios ruíns.
Assim, por muito admirável que seja a estrutura do nos-
so corpo, qualquer que tenha sido a providência da Na-
tureza, com relação ao nosso organismo, para o exercício
das funções vi tais, acima desses órgãos sujei tos a todas
as perturbações da matéria, há a sutileza da nossa alma.
Enquanto, pois, ela se conserva presa ao corpo, sofre-lhe
os entraves e as vicissitudes.
«O fluido magnético não é a alma; é um liame, um
intermediário entre a alma e o corpo. Atuando mais
ou menos sobre a matéria é que ele toma mais ou menos
livre a alma, donde a diversidade das faculdades sonam-
búlicas. O sonâmbulo é o homem despojado apenas de
uma parte das suas vestiduras e cujos movimentos são
embaraçados pelo que lhe resta dessas vestiduras.
«Somente quando tem alijado de si os últimos restos
da ganga terrena, como a borboleta que abandona a sua
crisálida, encontra-se a alma na plenitude de si mesma
e goza de liberdade completa no uso de suas faculdades.
Se houvesse um magnetizador bastante poderoso para dar
liberdade absoluta à alma, romper-se-ia o liame terrestre
e a morte imediata se seguiria. O sonambulismo, por-
tanto, fêz que puséssemos o pé na vida futura; ergueu
uma ponta do véú sob que se ocultam as verdades que
o Espiritismo nos faz hoje entrever. Não na conhece-
remos, todavia, em sua essência, senão quando nos hou-
vermos desembaraçado por completo da cobertura ma-
terial que neste mundo a obscurece.»
Não se deve aproveitar da clarividênéia dos sonâm-
bulos para fins meramente especulativos, para satisfação
206 MAGNET ISMO ESPIRITU AL

da nOMa curiosidade ou para outros objetivos que não


dizem respeito ao tratament o e à cura daa moléstias.
~ certo que as pesquisas no interesse geral da Hu-
manidade jamais seriam realizadas se esse preceito fôsse
absoluto, o que impediria o avanço nesse terreno e a pos-
sível descoberta de novos fenômenos. Mas para casos
tais, entregues a operadores experimen tados e prudentes ,
cessa o rigor da proibição, desde que sejam consciente-
mente observados os cuidados necessários e imprescindí-
veis para salvaguar dar a saúde do paciente.
Como quer que seja, tenhamos sempre em mente
que a clarividência do sonâmbulo se manifesta com mais
precisão no prescreve r para si mesmo o tratament o de
que carece, a marcha da sua moléstia, as crises que se
verificarã o e o tempo da cura.
Outros enfermos poderão valer-se da clarividência
do sonâmbulo para tratament o e cura dos seus males.
Para isso não haverá necessidade de colocar o doente
em relação direta com o sonâmbulo, a fim de obter uma
consulta. Utiliza-se, em regra, de corpos intermedi ários,
que tenham servido ao doente, como quaisquer outros
do seu uso, e especialmente de uma mecha dos seus
cabelos.
Os cabelos, principalmente, diz Bué ( 258), possuem
a propriedade de conservar e manifesta r, melhor que
qualquer outro objeto, o estado patológico do doente; os
cabelos, esses nervos externos, como lhes chama Louis
Lucas, são efetivamente, qual os nervos, verdadeir os
acumuladores da força radiadora ; suas qualidades se mo-
dificam, ao mesmo tempo que a irradiação nervosa se
transform a com a idade, o sexo, o temperamento, a idio~
sincrasia, o estado de saúde ou de moléstia, e pode di-
zer-se que as impressões táteis e olfativas, que eles dão,
e.cham-se em relação direta com as evoluções físicas e
psíquicas do ser.
O sonâmbulo, ao qual se dê uma mecha de cabelos,
procura primeiram ente formar uma impressão pelo tato;

(258) Alfonse Bué - 11


Le Magnétisme Curatif" .
207
MAGNETISMO ES PIR IT UA L

em todos os sentidos;
manuseia-os, apalpa-os, alonga-os e do olf ato : cheira-os
submete-os, em seguida, ao exam sentido Instintivo, de-
por muito tempo; e o olfato, essetre os animais, parece
senvolvido em tão alto gr au en estado primitivo que
aqui, po r analogia, desempenhar,
no
a importância especial.
caracteriza o sono magnético, um

1
Capítulo XXD
"O mais santo não serd o que se isola em
nltares do auprem,o orgulho espiritual, emtando
o contacto dos que padecem, por temerem a de-
gradaç4o e a imundfcie, m,as, sim, aquele que
descer da própria grandeza, estendendo mãos fra-
ternas aos miserdveis e sofredores, elevando-lhes
a alma dilacerada aos planos da alegria e do en-
tendimento."

( FRANCISCO e. XAVIER - "Jesus no


Lar", pelo Espirito de N eio Lúcio. )

No estado sonambúlico o magnetizador transmite ao


paciente a sua vontade, como também o seu pensamento,
o seu estado emotivo e as sugestões de toda a natureza.
As sugestões constituem um eficiente processo na
terapêutica magnética para a cura das moléstias nervo-
sas e psíquicas, sendo empregado com grande êxito para
a reeducação dos indivíduos desviados pelos vícios e pelas
más tendências.
O modo de transmitir as sugestões depende de cada
um. A situação é a mesma de quando pretendemos acon-
selhar alguém para a prática das boas ações ou para a
abstenção de certos atos. A habilidade em transmitir
a sugestão, portanto, é mais do homem que do magne-
tizador própriamente.
Para a recepção da sugestão, basta o estado sonam-
búlico, pois já dissemos que o sonâmbulo, pela sua ex-
trema sensibilidade, se torna como que um aparelho
registrador de grande potencial.
Em alguns casos, as sugestões transmitidas devem
ter um cunho paternal; em outros, devem primar pela
elevação do pensamento ou pelo apelo aos sentimentos
MAGNETISMO ESP IRI TU AL 209

r o sentido
religiosos; em outros, ainda, deve predomina
essencialmente enérgico.
sempre
Como quer que seja, a gar ant ia do êxito está
na vontade inalterável do magnetizador.
a quem
Fournel (259) diz ter feito um sonâmbulo,
a mesa, no
ordenara, tom ar um chapéu que esta va sobre
um a pes-
meio do gabinete, e ir colocá-lo na cabeça de
soa da reunião. «Eu não exprimia esta vontad e, falando,
traç and o as
acrescenta elP., ma s somente com um sinal,
ina r no
linhas que lhe dava a per cor rer e que iam term s por
erto
chapéu.» O sonâmbulo, que tinh a os olhos cob
indicada
um pano, ergueu-se da cadeira, seguiu a direção péu no
cha
pelo dedo, avançou par a a mesa, tomou o
eça da pes-
meio de vários objetos, e foi colocá-lo na cab
soa indicada.
o re-
Diz Ochorowicz ( 260) que os gestos facilitam
cor ren tes
resultado, por força dos seguintes motivos: l 9 as tân cia ;
dis
de ar, que quase sempre são mui sen tida s a
os ges tos ;
2° as impressões auditivas, que acompanham 49
a
s, mu ito ativ as em cer tos son âm bul os;
3 as atraçõe
11

pró pria con centração mental no operador, fac ilita da pela


, .
mun1ca.
o sono
As sugestões são dadas e executadas dur ant e
serem exe-
lúcido, ou são dadas dur ant e esse sono par a
denominam
cut ada s no estado de vigília. Os hip not ista s
as últimas
as primeiras de sugestões intra-hipnóticas, e
pós-hipnóticas ( 261).
atolo-
Esc apa ao nosso objetivo o estudo da sintom
mos a dar,
gia das sugestões. Os exemplos que passare
com mais
e que poderão var iar ao infinito, ilus trar ão
operandi»
eloquência os nossos leitores sobre o «modus
do fenômeno sugestivo.

s", apud
( 259) Fou rne l - ºEs sais sur les probabilité
. 303 .
pág
Dr. J. Ochorowicz - .,A Sugestão Mental",
( 260) Dr. J. Ochorowicz - Obr. e Ioc.
cita das .
( 261) Abb é de Far ia - "De Ia cause du
sommeil lu-
cide", IntroducUon, pág . XXXIV .
2t0 M An NE'flSMO IIlSPUl.trtJ A'"

Com~çaremoe pelos casos selecionados por de R0-


chas ( 2n2 ).
I. P ACIENTE: - P.
SUGESTÃO : - «V. é M. X., empregad o da adminiB-
tra.ção do Asilo. (Experiên cia realizada no Asilo Saint -
-Robert, .)
O efeito: - Logo que foi despertad o, P. se dirige
com toda a naturalida de para Mme. X ., que assistia à
sessão e lhe diz :
- e V. tem a chave, não é?»
Puseram-s e todos a rir. Então, perguntei -lhe:
- «Que chave?">
- «Nada há de engraçado nisso, diz P., pergunto
a minha mulher se ela fechou convenientemente a porta
da casa, pois todos saíram.>
- «V. diz que Mme. X. é sua mulher; e que vem
a ser em tudo isso o Sr. M. X., que aqui está?»
P. o encara com um olhar espantado e diz :
- «~ apenas M. x.,,
- c:E V. então!?,
- «Sou o verdadeiro M. X. e ele é o falso.»
Apresenta ram-lhe um espelho, observando-lhe:
- «M. X. é barbado e V. não o é. Olhe bem neste
espelho.»
P., depois de fixar o espelho, diz:
- ~~ realmente a minha fisionomia; mas sou eu
M. X., o contador do Asilo.>
- ~Mme. X., entretanto , não pode ter dois mari-
dos . .. l)
- «~ verdade, diz P., é necessário que um de nós
desapareça.> - E imediatam ente avançou ameaçado ra-
mente para M. X.
Posto novamente em estado sonambúlico, foi-lhe re-
tirada a sugestão.
II. PACIENTE : - R., de 20 anos de idade, funcio-
nário da Prefeitura , em Grenoble.

( 262) Albert de Rochas - º Les ~tats Superticiel s de


l'Hypnose" , págs . 39-70.
21 J
MAGN ETI SMO ESP lRIT UA L

SUGESTÃO : - «Quando V. des per tar. M. F. tor-


nem o
nar--se-á invisível. V. não sen tirá a sua presença e
ouvirá.~
O efeito : - Ao despertar, R. não vê M. F., que
lhe
lquer
fala e o beli sca, sem provocar por par te daquele qua
fica
movimento. M. F. ergue um dos assistentes e R.
qual-
espantado vendo um homem suspenso no ar, sem lá-
que r apoio. M. F., em seguida, apa nha na mesa um
lápis
pis e o agit a no ar; R., não menos espantado, vê o cê-lo
agitar-se em pleno ar, sozinho. Procuram conven
lápis
de que se trat a de fenômeno mediúnico, e que o
as.
responderá às perguntas que lhe forem apresentad ,
Ora
R., então, indaga qual a sua idade e o sobrenome. o de-
o <láp is, respondeu com exatidão, pois M. F., que
tinha, era o chefe de serviço de R.
ill. PACIENTE: - R.
SUGESTÃO: - «Despertado, V. ouvirá imediatamente
ará
s sineta anunciando um incêndio, e depois V. confess
ter assassinado uma senhora.»
O efeito: - Depois de despertado, R. não tard
ou em
coisa.
tomar a atitude de quem esta va escutando alguma
Pergunta-se-lhe o que acontecia. E ele responde:
- «Não ouvem a sineta de incêndio?. . . É na rua
Pre s-Cloitre. »
Passou-se logo a conversar sobre um assassínio que-
aten
teri a sido cometido momentos antes; ele tudo ouve
par a
tamente, sem nada dizer. . . Depois, voltando-se au-
o
ele, De Rochas diz que ele está sendo acusado com 4a
tor desse crime. Ele nega. Mas diante da insistência
bou
acusação e da referência às provas colhidas, ele aca ..
io .
por confessar em prantos ser o aut or do assassín
Nova sugestão e tudo foi esquecido, pelo paciente.
-
IV. PACIENTE: - Benoit, de 18 anos de idade, fun
cionário público.
SUGESTÃO : - cV. apa nha rá na minha biblioteca, na
fo-
segunda estante, à direita, o terceiro volume, que V.
212 MAGNETISMO ESPIRI'fUAL

lheará. Ao chegar à página 34, V. encontrará o seu


retrato. V. o mostrará a M. L. Quando este último tocar
no seu próprio anel, tornar-se-á invisível. Então V. irá
ao quadro negro e nele escreverá o seu nome, isto é, Be-
noit, mas, chegando à letra «o», V. adormecerá.»
O efeito: - Benoit realiza o que lhe foi ordenado,
apanhando um volume de «La Nature». Ao chegar à
página 34, ficou espantado por encontrar o próprio re-
trato, e pergunta como isso teria acontecido. Ele o mos-
tra a M. L., acrescentando que o retrato é perfeito. Nesse
momento M. L. toca o anel. Benoit faz um gesto de
espanto, lançando os olhos ao seu derredor: M. L. havia
desaparecido. Benoit, então, vai ao quadro negro, escre-
ve «Ben», e, quando começa a escrever «o», adormece.
Despertado, ele recomeça, e os mesmos fenômenos se
reproduzem. Finalmente, impacientado, ele escreve de
novo e ràpidamente «Ben», hesita um instante, depois
deixa um pequeno espaço em branco e termina por «it»,
deixando escapar um suspiro de satisfação.
V. PACIENTE: - Benoit.
SUGESTÃO: - «Dentro de um quarto de hora V. verá
a porta abrir-se e entrar o porteiro da Prefeitura, que
lhe entregará uma carta; V. a lerá e verá que ela é do
Sr. Emílio, que lhe pede dizer-me que ele não poderá vir
esta noite; V. me dará o recado e despedirá o porteiro.»
O efeito: - Ao cabo de dez minutos, Benoit volta-se
para a porta e diz que chega o porteiro da Prefeitura.
Ele recebe a carta imaginária, que lê, dando em seguida
o recado, como lhe fora sugerido, e despedindo o por-
teiro.
Benoit volta para o seu lugar, junto do Sr. De Ro-
chas, e este lhe pede a carta. Ele a procura em todos
os seus bolsos e, não a encontrando, diz que possivel-
mente a devolveu ao porteiro, sem prestar atenção no
fato. De Rochas pede-lhe, então, que dissesse com exa-
tidão o que a carta continha. Ele respondeu: «Meu caro
Be~oit, peço dizer a De Rochas que não poderei ir esta
noite, como estava combinado.» De Rochas assegura a
213
MAGNETISMO ES PIR ITU AL

da mais era do que


Benoit que tud o quan to se passar a na. r e ape1a para o
uma sugest.ão. Ele não quer acredita
testemunho das pessoas presentes.
VI. PACIE NTE : - Benoit.
SUGESTÃO: - «Três e dois são
quatro, e não cinco. »

O efeiio: - Ao despertar, foi-lhe


pedido fa1'er a soma
d08 seguintes números:
35.142
29.473

Ele apresentou o seguinte resultado:


64.614
olva o seguinte
De Rochas pede-lhe, então, que res francos entre
entos
problema: «Dividir a soma de quinh nha a ter cem fran-
du as pessoa, de maneira que uma vela e responde: «uma
cos mais do que a outra.» Ele calcu ncos.» Pedida uma
terá 300 francos e a outra 200 fra = 400. Ele refaz
demonstração, ele escreve: 200 + 200 que ele não podia
seus cálculos e se embaraça. Vendo faz notar que 3 +
chegar a uma conclusão, De Rochas senão depois do se-
+ 2 = 5, o que ele não admitiu,
guinte diálogo:
- «Quanto são 3 + 1 ?>
- «Quatro.»
- «E 3 + 2?»
(Com hesitação:)
- «Quatro.» 3 + 1 = 4e
- «V. verá que isso não é possível:
4 + 1 = 5 e 3 + 2 = 5.»
chas o adorme-
Ele volta a raciocinar. Então, De Ror disso, no dia
esa
ceu para afastar a sugestão. E, ap teu ainda diversos
seguinte, no seu trabalho, Benoit come
qu ela sugestão. Foi
erros de cálculo sob o im pério da
ra van-er definiti-
necessário adormecê-lo novamentedopa
vamente da sua memória o absur .
214 MAGNETISMO ESPffiITUAL

VIL PACIENTES: - Emílio, de 16 anos de idade,


tipógrafo, e Benoit
SUGESTÃO: - «Vocês despertarão em um prado. To-
das as pessoa que se encontram. aqui, salvo eu, serão
carneiros ou cães de propriedade de vocês. Vocês almo-
çarão com uma cesta de morangos. Verão o guarda cam-
~stre, e este procederá a uma inquirição para o respec-
tivo processo.,
O efeiro: - A cena se produz, tal qual foi sugerida.
Os jovens pastores, assentados na relva, conversam e
comem. De quando em quando, um deles se levanta para
chamar o seu cão ou para fazer o gesto de quem lança
uma pedra num carneiro que se desgarra.
De Rochas apresenta-se para comprar carneiros e
os escolhe, regateando sempre no preço. Benoit defende
seus interesses, fazendo valer as qualidades correspon-
dentes a cada carneiro, segundo o aspecto da pessoa que,
como tal, era considerada. Um ( uma criança) era um
lindo cordeirinho; outro, um carneiro gordo; um tercei-
ro, um magnífico carneiro de lã abundante; um quarto,
possuía soberbos chifres, etc.
Quando o guarda campestre imaginário aparece e ini-
cia a inquirição, os pastores protestam, sob a alegação
de que não estão praticando mal algum e de que têm o
direito de permanecer no prado em que se encontram.
Intervém, então, De Rochas, e, levando Emílio para
um lado, observa que estão sozinhos, e que, para evitar
o processo, não haveria outro remédio senão se desem-
baraçarem do guarda. Para isso ofereceu-lhe um revól-
ver, que ele descarrega sem nenhuma hesitação sobre o
inimigo. De Rochas dirige-se incontinenti para o lugar
em que se encontrava a suposta vítima, abaixa-se, e de-
clara que ela se achava morta, mas que havia necessidade
agora de fazer desaparecer o cadáver. - «A propósito,
diz um deles, eis aqui um fosso, onde poderemos colocá-lo,
cobrindo-o em seguida com folhas.»
Emílio e Benoit tomam a aparência de que tivessem
agarrado o corpo, um pelos pés, outro pela cabeça, er-
21!j
MA GNETISMO ESP IRIT UA L

onde
guendo-o com esforço e trazendo-o par a um canto,
amassam folhas com os pés e com as mãos.
or
Ret irad a a sugestão, não guardaram. eles a men
al.
lembrança do ocorrido, voltando logo ao estado norm
VIII. PACIENTES: - Gabriela, 18 anos de idade,
costureira, Benoit e Emílio.
SUGESTÃO: - «Vocês despertarão no momento em
idade
que M. A. asso ar o nariz. Gabriela esta rá com a
Benoit
de 30 anos e será dona de um atelier de costura;
uma
e Emílio serão as costureiras do atelier. Benoit será ílio
jovem de 15 anos de idade e chamar-se-á Felícia. Em na.
será uma jovem de 18 anos, com o nome de Valenti
«Todos estarão no atelier, não verão e nem ouvirão
ante s,
ninguém, a não ser eu. Ao cabo de alguns inst
uma
vocês sentirão muito calor e mau cheiro, e abr irão sar
janela; ouvirão música militar ao longe e verão pas á
gar
o 113° Regimento; Madame L., aqui presente, che
então par a encomendar um vestido.
«Gabriela, você tomará as medidas; Mme. L., pag ar-
cos;
-lhe-á uma conta anterior com três moedas de 20 frandesse
você n~o saberá escrever e, por isso, enc arre gar á o
mister Felícia, a fim de que ela pãsse o recibo, com
papel e a tint a que se encontram na mesa.
(Felícia, no momento em que assinar o seu nome,
V. terá paralisados os braços e ~ pernas.»
O efeito: - A cena começa como foi indicada.
Ga-
Emí-
briela distribui o trabalho, e, quando vira as costas, e a
lio e Benoit, que cosem vestidos imaginários, põem-spar a
cochichar, projetando um passeio, antes de voltarem eles
a casa dos seus pais. Quando Gabriela os olha, di-
curvam a cabeça sobre o trabalho. Benoit se levanta abr ir
zendo que se sente mal com o excessivo calor, e vai
em à
a janela, aprestando o ouvido. Os outros se reún nel,
janela; um faz notar o tambor-mor, o outro, o coroda a
que passam. Benoit afirma que está sendo executa re-
marcha militar do Regimento. Depois, todos os três
tomam o seu trabalho.
Mme. L. pede para que sejam tomadas as medidas
216 MAGNETISMO ESPIRITU AL

para o sen vestido. Gabriela procura alguma coisa e aca-


ba por dizer que perdeu seu metro. Foi-lhe dado outro
e ela toma as n1edidas. Mme. L. diz que quer regulari-
zar sua conta, que é de 60 francos, e entrega três moedas
de 20 francos, pedindo um recibo.
Gabriela, embaraçad a, diz que não sabe escrever bem,
mas que Felícia passará o recibo.
Enquanto Benoit passa o recibo, De Rochas passa
os dedos pelas moedas que se encontram na mesa e obser-
va que correm no momento muitas moedas falsas, e que
aquelas não apresentav am boa aparência. Benoit as ex-
perimenta e diz que são excelentes, acrescenta ndo com
vivacidade que conhecia muito bem o dinheiro, ao mesmo
tempo que continuav a a escrever o recibo. Terminado
este, sente-se mal, alegando que não podia mover-se.
Emílio e Gabriela ficam espantados. De Rochas in-
daga de Gabriela se o mal de que Felícia havia sido aco-
metida ocorria frequentemente, e ela responde que não,
que era a primeira vez que tal coisa acontecia.
- «Há muito tempo que ela trabalha em sua casa?»
- «Sim, senhor.»
- «Como se chama ela?»
Gabriela hesita em responder.
- «Vê-se bem que a conhece há pouco tempo, pois
nem sequer se lembra do seu nome ... »
Ela interroga Emílio pelo olhar, o qual lhe sopra aos
ouvidos: Felícia !
- «Ah! sim, Felícia. 1!: que me encontro muito
perturbada .»
Varrida a sugestão, todos os três voltaram ao seu
estado normal.
IX. PACIENTE: -Benoit.
SUGESTÃO: - «Daqui a 15 dias, a contar de hoje, às
5 horas e meia, V. terá contratura no polegar da mão
esqúerda, e virá mostrar-m e o polegar.»
O efeito : - O efeito ocorreu 15 dias depois. Benoit
estava pescando a vários quilômetros da cidade, quando,
repentinam ente, às 5 horas e meia, a linha que pren-
MAG NETISMO ESP IRIT UAL 217

dia o anzo l t" bruscamente sacudida. Nessa ocnfiião,


com
a va
grande espanto, ele ve rifica n. cont ratu ra que se operper-
no seu polegar. Ele pensou em ir imed iata men te
o era
gu nta r a De Roc haR R exp licação do fato , mas , com
mu ito tard e, ad iou a perg unta para o dia segu inte .
A propósito desse caso , De Roc has cha ma a atenção
sse
para o perigo das suge stõe s. E com enta : «Se eu tive
se
dito a Ben oit: na prim eira vez em que V. for ban har-
mor-
no Loire, V. exp erim enta rá uma con trat ura gera l, a
auto r
te lhe seri a fata l. Como se pod eria reco nhe cer o
desse assa ssínio ?>>
X. PAC IENT E: - P. N.
SUGESTÃO: - «No ano próximo vindouro, no mesmo
1888,
dia de hoje e no mesmo mês ( tran scor ria o ano de
de
aos 12 dias do mês de Out ubro ), V. irá à resi dên cia
du-
Liéb ault , na part e da man hã. V. dirá , entã o, que,
bem
rant e todo o tran scur so de um ano, se sent iu mui to
agra -
dos olhos, e que, por esse motivo, esta va ali para
ram .
decer-lhe, bem como a Liégeois os cuidados que tive
issã o
V. exp rim irá sua grat idão a ambos e ped irá perm
inet e
para abra çá-l os. Isto feito, V. verá entr ar no gab
carr e-
do dou tor um cão e um macaco ame stra dos, mn
tas, e
gan do o outr o. Eles farã o mil trav essu ras e care
verá
isso lhe dive rtirá mui to. Cinco min utos depois, V.
feliz
entr ar um ciga no seguido de um urso. Sen tir-s e-ia
aco,
esse hom em se enco ntra sse seu cach orro e seu mac
ente s,
que julg ava já perdidos. E para dive rtir os pres
mui to
ele fará · dan çar o seu urso , de gran de port e, mas
ver
manso~ e de que m V. não terá medo. Quando ele esti
ao
de saíd a, V. ped irá a Liégeois dez cênt imo s para dar
cigano, a que m V. mes mo os entr egar á.»
O efeito: - Dia 12 do mês de Out ubro de 1889
. An-
de
tes das 9 hora s Liégeois já se enc ontr ava em casa
nin-
Liéb ault . As 9 hora s e meia, não tendo cheg ado
sição
guém, Liégeois retir ou-s e para sua casa, na supo
a ne-
de que a sug estã o feit.a um ano · atrá s , não prod uzir
s e
nhu m efei to. Mas o jovem· P. N~ chegou às 10 hora
tos,
10 min utos . Ele dirig iu a Liéb ault os agra deci men
218 MAGNETISMO ESPIR ITUAL

conforme lhe fora sugerido, e pergu ntou se Liégeoie não


,riria. Este, prevenido por um mensageiro, regres sou ime-
diatamente. Apena s chegado, P. N. se levant a para ex-
primir -lhe os mesm os sentim entos de gratid ão já teste-
munha dos a Liébau lt. A sugest ão, embor a retard ada pela
ausên cia de Liégeois, produz os seus efeito s precisamen-
te na ordem previs ta: P. N. vê entrar um macaco e um
cacho rro, que se entreg am aos seus exercícios ordiná rios,
divert indo-s e muito com isso; termin ados os exercícios,
ele vê o cão dirigir -se para o seu lado, para arreca dar
dinhei ro, levando um pires na boca; ele pede 10 cêntim os
a Liégeo is e faz o gesto de dar a moeda ; finalm ente,
ele vê um cigano~ que conduz o macaco e o cacho rro;
o urso não aparec eu, e P. N. não se lembrou de abraç ar
Liéba ult e Liégeois.
Como se vê, embor a execu tada rigoro samen te na or-
dem determ inada, a sugest ão não foi integr almen te rea-
lizada. Por esse motivo, Liégeois adormece o pacien te
para fazer-lhe, entre outras , as seguin tes pergu ntas:
- Não se teria V. engan ado na hora, pois creio ter
indica do 9 horas da manhã . •
- Não, senho r, o erro é vosso, pois determ inaste s
que viesse no mesmo dia e na mesm a hora, no ano se-
guinte ao da determinação, que me foi dada em 12 de
Outub ro de 1888, às 10 horas e 10 minutos, hora exata·
em que cheguei.
- Mas porqu e não viu o urso e nem nos abraço u?
- Porqu e isso me foi dito uma só. vez, ao passo que
o resto da sugest ão, duas vezes.
P. N., depois de despertado, não se lembrou mais
da sugest ão.

j
Capítulo XXIII
"A caridade é aofredora, é benigna; a cari-
dade não é invejosa, não trat a com le1J1andad6,
n4o se ensoberbece."

(PAULO - I Corfntios, 13 :4.)

Voltamos hoje a cita r novas experiências realizadas


com diversos sonâmbulos. na
Citaremos os casos de Teste, qu~ se encontram ci-
edição de 1845 do seu velho livro ( 263) , ainda hoje
tado como uma grande autoridade na matéria.
Tomemos o primeiro caso. Trata-se de uma jovem
rea-
senhora, sonâmbula muito lúcida. Numa das sessões de
lizadas, depois de despertada, com um ar inexprimível la-
ansiedade fixou os seus olhos no magnetizador, e exc
mou, aterrorizada:
- Vosso braço! Vosso braço esquerdo! Que é feito
dele? Não tendes senão um só braço!
Havia tan ta naturalidade na sua voz e nas suas ex-
um
pressões, que ao magnetizador não era dado duvidar Um
.
instante sequer da sinceridade da perturbação dela Mas
dos braços, pois, havia-se tornado invisível par a ela. te
par
porque o esquerdo e não o direito? Porque uma
ável.
do corpo e não todo o corpo? Isso parecia inexplic i:
- A~a1roai-vos, senhora, disse-lhe Teste, e olha
que
graças a Deus, tenho todos meus membros, e vereis
vos apresento minha mão esquerda.

(263) Alph. Teste -


11
Le Mag néti sme Ani mal Expli-
qué", pág . 410.
220 MAGNETISMO ESPIRITUAL

- Não, nÃo a tendes mais -- repeti u ela sem he-


si t.açÃo.
- - Pois, então. ides tocá-la.
E, ao mesmo tempo, o magnetizador tomou com a
sua mão esquerda a mão da paciente. A perturbação au-
mentou de intensidade .
. - Sinto a mão esquerda, mas não a vejo ... Dei-
xai-me! Tenho medo, tenho muito medo! ...
E sua .voz se foi extinguindo, ao mesmo tempo que
repetia _indefinidamente essas palavras, até cair nova-
mente em estado sonambúlico.
- Então, senhora, podeis agora explicar o que
-ocorreu?
- Sim. No instante em que fui despertada, por um
movimento espasmódico, e sem o querer, fechei a vossa
mão esquerda.
- E isso foi o bastante para torná-Ia invisível aos
vossos olhos? Que se passou então?
- Não via senão uma ligeira nuvem branca: era
uma atmosfera de fluido, que o meu esforço involuntário
havia envolvido em vossa mão.
Teste despertou a sonâmbula e ficou surpreendido
com o insólito fenômeno dessa estranha invisibilidade, de
um corpo involuntàriamente magnetizado. E provocou a
repetição do fenômeno, mas já sob a influência de wn
esforço voluntário.
Dez velas novas, do mesmo fabricante, da mesma
qualidade, foram colocadas em dez castiçais, ao mesmo
tempo que, no cômodo vizinho, Madame X. . . era ador-
mecida. Pediu-se à sonâmbula para que magnetizasse uma
das velas, que ela segurou durante um ou dois minutos.
Quando foi despertada, os assistentes lhe apresentaram
sucessivamente cada um dos dez castiçais. Sempre que
chegava a vez da vela, que ela havia segurado, a sonâm-
bula pretendia não tê-la visto. O fenômeno persistiu de
tal maneira, que ela se julgou objeto de alguma misti-
ficação. ·
Nova experiência é realizada. Madame X. . . mag-
netiza desta feita quatro velas, que permanecem acesas
no apartamento; as demais ficam apagadas. Despertadat
221
MAGNETISMO ES Pf fiI TU AL

so nâ mb ula ex cla ma que se en co ntra em absoluta es-


a
rid ão , ap es ar de ter os olh os abertos. Os seus olhos
cu ntram jun tos dela, e
m os as sisten tes qu e se en co
busca
o. Finalmente, a luz
não os encontram naquela escuridã nto em que foram ace-
somente voltou para ela no mome
urado.
sa s as velas que ela não havia seg
da jovem sonâm-
Vejamos o segundo caso. Trata-se grande impressio-
de
bula, Mademoiselle Henriette L.,
nabilidade.
salão, cri a mental-
Teste, colocado no meio do seu rca de um me tro
de ce
mente uma ba rre ira de madeira, ado es sa imagem, ele
de alt ur a. Depois de ha ve r bem fix o, pedindo-lhe _para
inh
despertou a paciente no quarto viz
rto dela. Mademo1selle
tra ze r um livro que se achava pe ro e vem; chegando,
Henri ett e, com efeito' toma o liv . 1m .,
. ag1.na1, :1a
a ba rre ira
porem, no lug ar em que se erguia tad a se alguma coisa
,

ela se deteve subitamente. Pe rg un eu:


nd
impedia a sua aproximação, respo
do po r um a ba r-
- Não estais vendo ? Es tai s cerca
reira ...
- Que loucura! Aproximai-vos.
- Já vos disse que não posso.vendo essa ba rre ira ?
- Como, em realidade, es tai s deira vermelha . ..
- Tal como se apresenta. . . de ma a ba rre ira de ntr o
um
Que ideia singular essa, de colocar
deste salão!
a paciente de que
O magnetizador tentou persuadir o, pegou-a pelas
ra iss
ela era vítima de uma ilusão e, pa seus pés fic ara m co-
s
mãos e forçou.-a a caminhar. Ma linava pa ra a frente.
lados ao chão; o busto apenas se incetizador es tav a com-
Finalmente, ela gr ito u que o magn o ao obstáculo que
ntr
primindo o seu estômago de enco
a detinha ...
a reunião íntima,
Esta mesma sonâmbula, em um
ia. Sob um pr ete xto
submete-se a uma nova experiênc fo ra do ap art am en to,
qualquer, a paciente é levada pa ra
os objetos que a im a-
e? qu ~t o os assistentes sugerem fixar. Um lembra chi-
gmaçao do magnetizador deveria mágico, uma se nh or a
fres de veado, outro um boné de
222 MAGNETISMO ESPIRITUAL

pede _p ara eer «metamorfos eada, em sultão, enquanto uma


teroe1ra sugere um leopardo, etc.
Tudo preparado, Mademoiselle regressa ao salão sem
de nada suspeitar. Mal a porta se abrira, ela recuou
alguns passos , exclamando:
- Que ajuntamento estranho!
- Que é que estais vendo?
- Um turco, um mágico, um veado, um tigre ...
enfim, uma «misturada,.
E tudo voltou aos seus lugares com os passes de
dispersão.
A seguir, o terceiro caso. A sonâmbula, Mme. G.,
havia sido adormecida por M., um culto magistrado. Re-
costada num divã, ela tinha os dois pés sobre o tapete.
Teste sussurrou aos ouvidos de M.: imaginai um pequeno
lago diante dela, em que faremos nadar os cisnes. E,
imediatamen te, Mm.e. G., que se viu envolvida pela água,
retira seus pés, alegando que ambos estavam já molhados
e procurando mantê-los no ar, numa posição fatigante e
grotesca, que a todos fazia rir. Depois da comicidade
dessa c~na, M. se dispunha a despertar a paciente, quan-
do se lembrou de perguntar a Teste:
- Que faremos que ela veja quando voltar ao es-
tado de vigília?
- O que lhe agradar.
- Um precipfoio?
- Não, isso poderia amedrontá-la, e o seu mal de
coração não o permitiria.
- Um lindo jardim?
- E porque não o paraiso terrestre?
M. pôs-se a rir.
- Ao menos ficaria eu curioso, disse Teste, em sa-
ber como fixaria em sua imaginação a ideia.
- Quer ser Adão?
- Serei a serpente, se lhe agradar.
- Bem. A poltrona grande será a árvore do fruto
proibido.
M., depois de alguns minutos de recolhimento, achou-
~{ AON t..:rtsMo IDA1'1RrT1J A L 223

nfl dPv-cr dt' rcl\ll~A.r o lftden que concebera . E com


""'&e
a ~tu\ dt'clamçA.o cie achA..r-ee tudo pron to, M. desp erta e.
&onA._mbule. jJ\. impa cient e pelo longo temp o deco rrido .
M1ne . G. abre os olhos , mas não dJz nada . Nenh u-
ma expres.t:Jão de surpr esa. apre senta em seu semblante.
Teri a sido falha a expe riênc ia, ou mesm o impossível ? Os
magn eti~a dore s entre olbav am-s e desapont ados. En treta n-
to, espe rava m ainda . A um movi ment o de Mme. G., eles
se volta m ansio sos par a ela, parec endo-lhes que seus olhos
expr imem espanto e admi ração.
Fina lmen te, ela excla ma:
- Que belas árvo res ! Que belas árvo res!
Mme. G. parec e duvi dar, a princ ípio, do que vê.
Esf rega as mãos pelos olhos , para bem se asse gura r de
tudo .
- Que horro r! - disse ela. . . - um home m nu!
M. t inha levad o a sua conc epçã o até esse pont o.
- Cois a estra nha! Quan do lhe dirij o a palav ra, pa-
rece que me ouve , mas não comp reend e o senti do doe
vocá bulo s ...
Depo is que M. destr uiu sua obra, fazen do Mme . G.
pass ar do para íso terre stre para o salão em que se en-
cont rava m, ensa iou a segu inte inter pelaç ão a Test e:
- Depo is do que acab ou de verif icar, eu perg unto ,
final ment e, se V. é mate rialis ta ou espir itual ista?
- Nad a sei dizer . Há dez anos que insis to em per-
gunt ar a mim mesm o. . . semp re com a gran de espe ranç a
de morr er crist ão ...
- Mas, afina l, que me diz desta expe riênc ia?
- O que disse inici alme nte: - daguerréotype de
la pens ée . ..
Ao quar to caso é que pode ríam os cham ar retro visão .
:Jt o segu inte:
Duas senh oras se apres entar am. em casa de Test e
para cons ultar a sua sonâ mbul a. Eram intei rame nte des-
conhecida s, send o que a senh ora doen te pare cia ter a
idad e de quar enta anos. A conv ersaç ão entab ulad a reve-
lou que a jovem que a acom panh ava era sua filha . A
doen ça era sem dúvi da um prete xto, porq ue a cons ulent e,
depo is de expr imir sua admi raçã o pela lucid ez da sonâ m-
224 MAGNETISMO ESPIRITUAL

bula, pediu pennissão para interrogá-la sobre assunto


estranho, que não se prendia ao seu estado de saúde.
Como a senhora manifestasse um interesse excepcio-
nal pela consulta, foi-lhe concedida a permissão, embora
em transgressão ao hábito de não se consentir qualquer
consulta estranha ao assunto da enfermidade.
Disse ela, então, à sonâmbula:
- Eu e meu marido somos separados há cinco anos.
Não sei o que lhe aconteceu desde então. Podeis dar-me
notícias dele?
- Tendes cabelos, ou qualquer coisa que lhe haja
pertencido ?
- Tenho apenas esta carta.
- Dai-ma. - E tomou a carta, que amarrotou em
suas mãos.
Apesar de a consulente ter recebido essa carta no
ano seguinte ao da separação, a sonâmbula, depois de
pequena pausa, disse:
- Vosso marido é um homem pequeno, muito forte,
moreno. . . com uma cabeça grande e a testa larga.
- Isso mesmo. Eis o seu retrato. . . Onde estará.
ele agora!
- Espantoso! Era um homem mau o vosso mari-
do! ... Vejo-o em uma grande cidade, perto do mar, e
nela as ruas são arborizadas ...
- Marselha! . . . - observou a consulente, que teria
tido notícias dele vindas dessa cidade.
- Mas não está mais aí. . . Ele chega em um país ...
em que as in ulheres são amarelas ...
- Argélia! . . . Ele foi visto em Argélia no ano se-
guinte - diz a consulente estupefata.
- Eis agora! Não está trajado como anteriormente ...
Usa uniforme e traz uma arma.
- Ter-se-ia tornado militar?
- Sim. Ele se bate . . . Que fúria!. . . Lá. . . ago-
ra. . . onde es t a, e1e agora ?. . . . N-ao .o veJo . 1 . . . I sso
. mais.
me impacienta'! ... Não o vejo mais! ... Sim, ei-lo nova-
mente. . . lá. . . Ê ele mesmo!. . . Doente, muito doen-
te. . . Tomai a carta, senhora, ela me ataca os nervos! ...
Vosso marido está morto!
MAGNETISMO ESPIRITUAL 225

- E eu duvide i - disse a senhora em prantos . . .


- Que o Céu lhe perdoe os males que me fêz !
A propósito desse caso, chamamos a atenção dos
nossos leitores para o que já ficou di to numa página
anterior, quando, com apoio na autoridade de Ernesto
Bozzano, lembrámos que a psicometria não passa de uma
das modalidades da clarividência. Estamos diante de ca-
sos típicos que confinnam a assertiva.
Vamos ao quinto caso.
O sonâmbulo Alexis já havia sido consultado por di-
versos assistentes, quando um deles lhe apresentou uma
espécie de pasta de couro envolta em várias folhas de
papel.
O sonâmbulo toma esse objeto, que examina e cheira,
e diz logo em tom de gracejo : ,.
- Isso dá a impressão de um buquê; entretanto, nao
o ofereceria a uma dama, porque não são flores, mas
sim uma pasta.
- De que cor?
- Do mais belo vermelho. E para que ninguém du-
vide, ei-la aqui . . .
Com efeito, ele rasga o invólucro de papel e mostra
uma pasta vermelha.
A pessoa que apresentou esse objeto se aproxima de
Alexia e pergunta a quem o mesmo pertence.
- A um guarda nacional.
- Enganais-vos.
- :t possível, porque esta pasta é nova e nunca foi
usada.
- Isso é absolutamente exato. Mas a quem per-
tence?
- A um militar, sem dúvida.
- Onde está ele ?
- Do outro lado do Sena.
- ~ verdade.
- Perto dos Inválidos.
- Prestai atenção, ele não se encontra mais aí.
- Ah! Esperai .. .
- Procurai bem.
8
226 MAGNETISMO ESPIRIT UAL

- Não o encontro.
- Bem. Vou ajudá-lo. O militar estava no hoepital
de Gros-Caillou, e . . .
- Não informe is mais nada . . . ferido. . . na cabe-
ça . . . na coxa . . . fratura dupla. . . queda do cavalo . . .
Tínheis razão. . . Esse homem não está mais no hospi-
tal . . . Está morto!
O sexto caso ocorreu com a sonâmb ula Rosália. De-
pois de magnetizada, Teste indagou que desejava m os
assisten tes que a sonâmb ula visse. Respondeu-se-lh e:
uma menina.
Teste aproximou-se de uma cadeira, e, por meio de
alguns passes, procuro u fixar nessa cadeira a imagem.
Em seguida, conduziu a paciente para junto da cadeira.
Houve um momento de hesitação, mas a sonâmb ula final-
mente disse:
- Vejo muito bem: é a pequena Hortêns ia.
Rosália é conduzida para outra sala, enquant o Teste
procura, pela mudanç a de lugar da cadeira, embara çar
a sonâmbula para que não reconheça a pequena Hortên-
sia. Aconteceu, entretan to, que o magneti zador hesitou,
colocando mentalmente a cadeira em diversos pontos do
salão, antes de fixá-la definitivamente num lugar.
Em seguida, despertou a sonâmbula, conduzindo-a
novamente para o salão. Mas, com grande espanto para
o magnetizador, a paciente não via apenas uma, mas seis
crianças.
Por meio de passes transver sais, o magneti zador pro-
cura desmanc har a multiplicidade das crianças . Todos
os esforços foram inúteis.
Curioso em conhecer a causa do que ocorrera , Teste
adormece novamente a paciente e lhe pede a explicação
do enigma.
- Tudo muito claro - responde a sonâmbula. -
Se não tivesse mudado a cadeira de lugar, eu teria visto
apenas uma criança. Mas, com a mudança, em toda a
parte do salão em que colocou a cadeira, o fluido que
a atravessava formou outras tantas crianças semelha ntes.
MAGNETISMO ESPIRITUAL 227

Não há dúvida de que esse caso é muito curioso, e


serve para nos colocar de sobreaviso na produção de fenô,.
menos insólitos, que surgem inesperadamente, sem que se
conheça ou se possa deduzir-lhes a causa.
A história do magnetismo está cheia dessas surpresas.
Capítulo XXIV
"O homem que ju,lga infa lível a sua razão
está bem perto do erro . Mesmo aque'les, cuja s
ideias são as mais fa"lsas, se apóiam na sua pró-
pria razão e é por isso que reje itam tudo o que
lhes parece impossível. ds que outr ora repe liam
as admiráveis descobertas de que a Humanidade
se honra, todos endereçavam seus apelos a esse
juiz, para repeli-las. O que se chama razão não
é muit as vezes senão orgulho disfarçado e quem
quer que se considere infa lível apresenta-se como
igua l a Deu s."

(ALLAN KARDEC - "O Livro dos


Espíritos", Intr odu ção. )

Prosseguindo na citação dos fenômenos mais inte res-


santes observados no estado sonambúlico, apresentaremos
agora os narrados por Deleuze ( 264).
Vejamos o primeiro caso. Trata-se de um jovem, de
a
20 anos de idade, doente havia alguns dias. Não tinh
grande confiança no magnetismo, e encarava o estado
sonambúlico como uma espécie de loucura, no qual não
desejava cair.
Apenas iniciada a ação magnética, o jovem caiu na-
quilo que não desejava: no estado sonambúlico acompa-
s
nhado de sintomas de catalepsia. Os braços e os dedo
permaneciam na posição em que eram postos; apenas
conservava a faculdade de fazer um pequeno movimento
de cabeça. Foram-lhe feitas diversas perguntas, que não

(264 ) Deleuze - "Histoire Critique du Magnétisme Ani-


mal", págs . 213 a 214.
MAGNETISMO ESPIRI TUAL 229

receberam resposta. Somente quando foi consultado se


desejava despertar, ele f êz um sinal de cabeça para dizer
que não. Eram já onze horas quando concordou em vol-
tar ao estado de vigília. Enorme foi seu espanto ao saber
que dormira durant e tanto tempo, pois certo estava de
que desper tara às sete horas.
Foi com dificuldade que Deleuze conseguiu a aquies-
cência do jovem para ser novamente magnetizado. Du-
rante uma semana inteira, os fenômenos se reproduziram
do mesmo modo; somente o sono era menos prolongado.
Nessa ocasião, Deleuze relatou a M ... , discípulo de
Mesmer, o caso do jovem sonâmbulo. M ... , que era
então considerado um vigoroso magnetizador, disse-lhe:
se o sonâmbulo não fala é porque não sabeis querer ;
ordenai, sabei querer, e ele falará.
Convidado por Deleuze, M. . . compareceu à sessão
seguinte. Repetiram-se os mesmos fenômenos, sem qual-
quer alteração. Momentos depois, M. . . tira do bolso
um bastonete de aço, entregando-o a Deleuze. Este, ime-
diatamente, colocou-o à altura do estômago do sonâm-
bulo, provocando-lhe um tremor convulsivo, tanto mais
digno de nota, quanto é certo que até então ele não havia
feito nenhum movimento. Devolvido o bastonete a M ... ,
este saiu logo a seguir. O sonâmbulo continuou silencioso.
Magnetizado n·o dia seguinte, o paciente ainda apre-
sentou a mesma imobilidade. Ao cabo de uma hora, po-
rém, ele estende as pernas e os braços, e esfrega os olhos,
dando a falsa impressão de que despertava; seus olhos,
entretanto, continuam fechados e ele prossegue em seu
sono. Depois de haver suspirado, diz:
- Bom Deus! Esse fluido, que me veio ontem, fêz-me
mal! Ele quis fazer-me falar; bem, falarei.
Perguntado se essa prática estava errada, respondeu:
- Precisava ficar em silêncio ainda durant e alguns
dias para eoordenar as ideias; tornar-me-ia assim um
excelente sonâmbulo, mas a interrupção verificada me
prejudicou, de algum modo, no sentido de vir a ser um
bom clarividente.
Foi-lhe ordenado, então, que voltasse à situação an-
terior, guardando silêncio por tanto tempo quanto julgas-
230 MAGNETISMO ESPIRITUAL

se necessário para recuperar o que fora perdido. Respon-


deu que isso seria impossível, e acrescentou:
- Quando esse fluido penetrou, ocupava-me com os
remédios; pensava em sene; já havia pensado em maná,
quássia, mibarbo, etc.
Estabeleceu-s e, logo a seguir, o seguinte diálogo en-
tre o magnetizador e o paciente:
- Mas se isso lhe prejudicava, porque, então, anuiu
em falar?
- Pela simples razão de que não pude resistir ao
fluido.
- Todavia, não era ele quem o magnetizava, e eu
não o forcei a falar.
- Não, mas não vos opusestes à vontade por ele
manüestada. Esse fluido tem uma vontade forte; não de-
sejaria ser magnetizado por ele, pois temeria ficar louco.
- E não terei porventura uma vontade igualmente
forte?
- Sim, mas é uma vontade calma, e que não obje-
tiva outra coisa senão curar.
Depois desse diálogo, M. . . bate à porta. O sonâm-
bulo não sabia que era M. . . que ali se encontrava, mas
o sentiu, manifestando de imediato uma grande inquie-
tude. Deleuze, porém, não o deixou entrar.
Sem embargo das circunstâncià s expostas, o sonâm-
bulo tomou-se, entretanto, bastante clarividente. Descre-
via seus males, apontava-lhes as causas e prescrevia o
remédio adequado com extrema precisão.
Certo dia, o paciente advertiu que se viesse a saber
que ele havia falado, durante o estado sonambúlico, não
consentiria mais em ser magnetizado. Aconteceu, porém.
que, por uma imprevidência de todo involuntária, e que
não vem ao caso relatar, o sonâmbulo conseguiu adivi-
nhar que falava. Desde então, foi inteiramente impos-
sível fazê-lo voltar às sessões.
Antes dessa interrupção, entretanto, apresentou fe-
nômenos singulares. Era possuidor de extrema sensibi-
lidade, com uma disposição para a melancolia. Contudo,
tranquilo era seu caráter. Havia passado dois anos em
Candia. Um dia, falando-se sobre esse lugar, ele declarou
MAGNETISMO ESPIRIT UAL 23 1.

que havia esquecido a língua nacional de Candia, m~,


se encontrasse alguém que a soubesse, recordar-se-ia e
a falaria com prazer. Deleuze, não podendo certificar-se
da veracidade da afirmação, entabulou com ele a conver--
sação seguinte, durante o estado sonambúlico:
- Lembra-se de ter lido alguns livros nessa língua?
- Sim. Em Candia, li um livro muito triste e que
me impressionou profundamente.
- Poderia citar-me alguma coisa desse livro?
- Certamente. E tanto quanto quiserdes.
E o sonâmbulo pôs-se a recitar «Nuit de Narcisse~,
de Young, precisamente como se estivesse lendo o livro.
No dia seguinte, certificou-se Deleuze de que ele
havia recitado duas páginas de «Nuit de Narcisse , e,
possivelmente, sem trocar sequer uma só palavra.
Uma derradeira experiência com esse sonâmbulo rea-
lizou-se na estrada, ao ar livre, quando de regresso de um
passeio ao campo. Ãs seis horas e meia, diz Deleuze,
hora habitual das sessões, estávamos ainda em caminho,
à distância de uma légua da cidade. O sonâmbulo diz que
estava sob o domínio de um sono irresistível. Coloquei,
então, pelo espaço de um minuto, minha mão sobre seus
olhos, dizendo-lhe com firme vontade: dorme e continua
a andar. Imediatamente, ele fechou os olhos, suspirou
e continuon a marcha.
O caminho era longo e muito acidentado. Algumas
vezes dizia que estava muito fatigado e indagava se es-
tavam ainda muito longe. Assentou-se numa pedra e
disse, queixando-se: esta cadeira é muito fria. Quando
encontravam outras pessoas na estrada, ele observava:
- eis um fluido que passa.
Ao chegar à cidade, foi despertado.
Passemos ao segundo caso.
A mulher de um tabelião da cidade de Pernes, Fran-
ça, encontrava-se, havia dois anos, gravemente enferma,
hemiplégica. Todo o lado direito do corpo estava privado
de qualquer movimento. Via e percebia muito bem tudo
quanto se passava em seu derredor, mas perdera a fa-
culdade de ler, de contar e de falar correntemente o fran-
232 MAGNETISMO ESPIRIT UAL

cês. E isso ocorria sem que apresentasse qualquer embara-


ço na língua, o que tornava o fenômeno singularíssimo.
Falando, ela não empregava, de maneira alguma, se-
não o infinitivo dos verbos e, por igual, não fazia uso
de nenhum pronome. Assim dizia, pronunciando clara-
mente, sem qualquer dificuldade - desejar bom dia, ficar,
marido vir - para exprimir: eu vos desejo bom dia, ficai,
meu marido virá em breve.
Quanto à faculdade de contar, ela conseguia chegar
até três, e a quatro quando ajudada. Assim, quando
lhe apresentavam três moedas, ela contava desembaraça-
damente - uma, duas, três. Se se acrescentasse uma
quarta, dizia: não saber; se, porém, esse número lhe
fôsse dito, repetia então corretamente - urna, duas, três,
quatro. Mas se se acrescentasse uma quinta, e embora lhe
fôsse declarado o número cinco, respondia invariàvelmen-
te - não saber.
Magnetizada por Deleuze, sentiu logo no primeiro dia
calor e formigamento nos braços; alguns dias depois, mo-
via os dedos, e ao cabo de quinze dias mexia o braço.
Aos poucos, foi readquirindo a faculdade de contar, pro-
gredindo sempre, até chegar a quarenta. Já dizia: an-
tigamente, não poder dizer eu, vós, tu, ele; agora di-
zer bem.
Vê-se que ela não havia ainda readquirido o hábito
de se servir dos pronomes e de conjuga r os verbos, mas
já estava concebendo paulatinamente o seu uso.
Forçado a partir, Deleuze deixou ao marido dela a
tarefa de terminar a cura ( *). Não tendo conseguido
reatar comunicação com a paciente, não podia, destarte,
informar o desfecho do curioso fenômeno.
Agora, o terceiro caso :
Um intelectual esclarecido e. observador, durante al-
gum tempo, ao entregar-se aos seus estudos, principal-

( •) Em casos tais, segundo já se disse anteriormente,


é necessário que o substitut o receba do substituíd o passes,
antes de prosseguir no tratamen to do doente, para que não
se altere o tom da magnetização. - (Nota do Autor.)
MAGNETISMO ESPIR ITUA L 2IJ,., V,:,

mente ~uando empr egava fortem ente a eua atenção, era


a~ometido de dores de cabeça, que impediam a continua-
çao do seu traba lho. Quis então aprov eitar- se dessa cir-
c~stâ ncia para verifi car se o magnetismo teria algum a
açao sobre ele. Eni consequência, pediu a seu irmão que
o magnetizasse, recomendando-lhe que a ação fôsse con-
centr ada sobre a cabeça, e de tal modo que viesse a
adormecer.
Assim foi feito. As dores de cabeça foram cedendo
à medida que a magnetização ia sendo feita metodica-
mente, sem nenhum acidente. Aconteceu, porém, que, ao
cabo de oito a dez dias, com grand e surpr esa, o intelec-
tual adqui riu uma faculdade singu lar: percebia na obscuri-
dade, tendo os olhos aberf:Gs, todos os objetos de cor
branc a; e esses mesmos objetos eram percebidos, à luz
do dia, conservando os olhos fechados. E como o paciente
apres entas se no órgão da visão uma irrita ção, com ten-
dências a aume ntar, seu irmão houve por bem suspe nder
• A •
as exper1enc1as.
Um mês ainda depois dessas experiências o fenômeno
persi stia. Foi então consultado um sonâmbulo sobre a
causa dessa curiosa faculdade. A respo sta não se fêz es-
perar . A causa do fenômeno residia na acumulação do
fluido no cérebro, e, uma vez dispersado este pela mag-
netização a grand es correntes, o equilíbrio fàcilmente se
restabeleceria.
Como se vê, estamos diante de mais um fenômeno in-
sólito, dos muitos que surgem inesperadamente nas mag-
netizações e cuja explicação não ocorre no momento ao
experimentador, por mais avisado que seja.
O quart o caso refere-se a uma senhora, que sofria
de hidropsia, e em quem haviam feito diversas punções.
Tornou-se sonâmbula. A partic ularid ade curio sa dessa
paciente residia no seguinte fato: sonambulizada, apre-
sentava suas mãos diant e do mà.gnetizador, como se se
aquecesse diante de um forno, para carre gar-s e assim
de fluido; em seguida, magnetizava-se ela própria, pas-
sando as mãos sobre todo o corpo, de alto a baixo, com
notãvel desembaraço.
234 MAGNETISMO E SPIRI TUAL

O quinto caso é o de uma sonâm bula epiléptica, mui-


to devota. No estado sonambúlico via anjos, que pousa -
vam em toda a parte por onde passa vam as mãos do seu
magnetizador. Deleuze estav a curioso para saber o que
repres ent avam, na sua realidade, esses anjos apont ados
pela paciente. Certa vez seu magn etizad or pediu a De-
leuze que o substi tuísse na sua ausência, enseja ndo-lhe,
desse modo, a oportunidade para conhecer de perto o
fenômeno A sonâmbula continuou a ver os anjos, mas
menos belos, menos brilha ntes. Diz, então, Deleuze que
esses anjos outra coisa não eram senão a luz do fluido,
que era muito menos viva quando eman ava dele do que
quando emana va do seu magn etizad or efetivo.
Já tivemos oportunidade de falar sobre o assun to,
quand o tratám os do fluido, afirmando então que este era
visto pelos sonâmbulos, que podiam distin guir nele diver-
sas qualidades e determ inar a própr ia força do magn eti-
zador. Há sonâmbulos que continuam a vê-los duran te
algun s minut os depois de despertados. E há igualm ente
indivíduos que conseguem percebê-los duran te a magn e-
tização, mesmo fora do estado sonambúlico, o que cons-
titui caso exceptivo, mas de extrem a rarida de.
O sexto caso põe em relevo um fenômeno psicológico,
não pouco raro, pelo qual o indivíduo, em estado sonam.-
búlico, se julga diferente de quando regres sa ao estado
natura l, como que constituindo uma outra pesso a comple-
tamen te distin ta.
Mme. N., possuidora de uma educação esmer ada,
como perdesse toda a sua fortun a, em consequência de
um processo judicial, resolveu dedicar-se à carrei ra tea-
tral, em que seu talent o lhe poderia asseg urar ilimitados
êxitos e consideráveis proventos. E quando se ocupa va
seriamente das providências essenciais para a realização
desse projeto, veio a adoecer. Subm etida ao tratam ento
magnético, tornou-se sonâmbula.
Posta em estado sonambúlico, ela expun ha e defen-
dia princípios completamente contrá rios à carrei ra teatra l,
o que era curioso, em face do seu grand e entusiasmo,
MAGNETISMO ESPI RITU AL 235

constantemente demonstrado, por essa carreira, no esta.-


do de vigília.
Desse antagonismo resultou o seguinte diálogo, pro-
vocado pelo seu magnetizador.
- Porque quereis entra r para o teatr o!
- Não sou eu que o deseja.
- Quem, então ?
- Ela.
- Quem?
- A outra ...
- Mas porque não afastais essa outra ?
- Que quereis que lhe diga, se ela é uma louc a! ...
Pelo sétimo caso, que segue, verifica-se que o so-
nambulismo se apresenta, algumas vezes, com todas as
aparências do estado de vigília, podendo ser prolongado
por muito tempo sem nenhum inconveniente, se o doente
julga r útil ao seu tratamento.
:m o seguinte :
Uma senhorita, com dezenove anos de idade, doente
desde a infância, recorrendo ao trata men to magnético,
tornou-se sonâmbula dentro de um mês. Quando entra va
no estado sonambúlico, seus olhos se fechavam. Mas,
meia hora depois, pedia habitualmente que os abrissem,
sem despertá-la, passando os dedos sobre as pálpebras.
E nessa situação ficava em contacto com todas as pes-
soas, durante bastante tempo.
Depois de muito ter procurado os processos de cura,
ela afirmou que não havia outro meio senão este: con-
duzi-Ia ao campo, a fim de que fizesse, pelos próprios
pés ou em charrete, um exercício bastante violento para
provocar e dirigir uma crise, que a tornaria, no começo,
mais doente. Como sua irmã mais velha, que a magneti-
zava, não pudesse acompanhá-la, seguiu ela em compa-
nhia de sua mãe. .,
Na véspera da partida, posta em estado 'sonambúlico,
ela pediu que a deixassem assim até que, por si mesma,
saísse desse estado, porque veria melhor o que conviria
ao seu tratamento e não se recusaria absolutamente a
fazê-lo.
236 MAGNETISMO ES PIR IT UA L

sem interrupção,
O sonambulismo durou oito dias, no dia. Sua mãe,
no no
voltando ela ao seu estado na tur al te sequer, informa-
nã o na ha via deixa do um ins tan
que espaço de tempo, de
va-a de tud o qu an to pa ssa va ne sse
visto, e que nenhuma
modo que todos quantos a tivessem ado, não viessem a
est
suspeita tiveram do seu verdadeiro mória.
me
ac red ita r que ela havia perdido a
de trê s semanas.
Sua permanência no campo foi
cri se qu e ha via anun cia do , e qu e ela mesma dirigiu,
A tod as as prescrições
realiz ou -se int eg ral me nte . Cu mp riu
regressando comple-
anunciadas no estado sonambúlico,
tamente curada.
dentre muitos ou-
Chegamos ao oitavo e último caso de Deleuze.
obra
tro s que se encontravam na citada vertência pa ra aque-
Esse caso constitui uma séria ad passatempo pa ra
ro
les que fazem do magnetismo me
satisfazer incontida curiosidade.
a voltada inteira-
Uma senhora, cuja atenção estav Magnetizada po r
eceu.
mente pa ra os seus dois filhos, ado ente o sonambulismo.
seu marido, manifestou-se imediatamsuas crises, a ma rch a
Nesse estado, a senhora anunciou a um dos seus filhos,
da doença, e deu úteis conselhos u marido, encantado
que se encontrava indisposto. Se va e com a facili-
tra
com a penetração que ela demons os assuntos, deixou
ers
dade de discorrer sobre os mais div o depois de curada,
sm
que ela continuasse livremente. Me ntinuou a pô-la em
co
po r mera curiosidade seu marido
estado sonambúlico.
paciente se exal-
Em pouco tempo a imaginação da coisas extraordi-
a ver
tou de tal modo, que ela começou
indicou ao seu marido
nárias e importantes. Assim é que is de suma importân-
o lugar onde estavam ocultos papésido levados e escon-
cia pa ra su a família, que haviam falecido havia muitos
didos por um dos seus parentes, já e de graves perigos.
anos, em tempos de perturbação sos detalhes, todas as
E apresentou ainda, com minuciora a descoberta desses
providências a serem tomadas pa
papéis ses essas visões,
Tendo-se prolongado durante trê s me
237
MAGNETISMO ESP IRIT UA L

bran-
sem que ela conservasse, ao despertar, a menor lem
rde-
ça, e como tudo que dizia estava perfeitamente coo em
nado, com absoluta clareza, seu marido, que não via
lveu
tudo isso senão um fenômeno incompreensível, resoitiva
verificar os fatos par a chegar a uma conclusão pos
sobre a sua veracidade.
Transportando-se par a os lugares que lhe haviam-
tam
sido indicados, não sómente nada encontrou, mas iam
b~m se certificou de que as redondezas, que lhe hav e-
sido minuciosamente descritas, não eram em nada sem evi-
lhantes à descrição. Nessas condições, concluiu pela her,
dente fantasia de tudo quanto lhe rela tara sua mul
no estado sonambúlico.
Uma sonâmbula clarividente foi então posta em con-
ilo
tacto com essa senhora, tendo concluído que tudoãoaquuma
que ela indicava com visos de verdade não era sen se en-
ilusão ocasionada pela extrema exaltação em que ambu-
contrava a paciente, em virtude de abuso do son
lismo.

n
Capítulo XXV
"Le Bpiriti8me ne fait que continuer de mar-
cher dan8 la voie ouverte par le magnétitme et
nous conduire plus loin et en plus grand nombre
dans le domaine de la spiritualité.
Toute la différence entre le Bpiritisme et le
Magnéti81ne, c'est que les moyens et procédés de
communication avec les Esprits sont dif férenta.
En magnétisme, le seul moyen à'entrer en
rapport avec les 4mes eles morts, c'est l'intérme-
àiaire du somnambule. Or, les bons somnà'"mbulea
sont assez rares; tout le monde ne trouve pas
l'occasion de recourir à leur ministere pour obte-
mr la démonstration désirée."
( ROUXEL - "Rapports du Magné-
tisme et du Spiritisme". )

Já dissemos que os magnetizadores pressentiram o


mundo espiritual através dos fenômenos do sonambulismo.
Com efeito, muitos sonâmbulos vêem os Espíritos,
descrevendo-os pelo corpo que cada um possuiu, pelo seu
caráter e pelas suas qualidades, e com eles se comunicam.
A esse propósito convém lembrar a advertência de
Rouxel ( 265) , e isso confirma os princípios gerais do mag-
netismo, que certos magnetizadores possuem a faculdade
de tornar seus sonâmbulos videntes, fenômeno que não
ocorre quando sob a ação de outros magnetizadores.
Sob esse aspecto, notáveis foram as experiências rea-
lizadas por Cahagnet.

(265) Rouxel - "Rapports des Magnétisme et du Spirt-


tlsme", pá.g . 328.
MAG NETISMO ESPIRITU AL 229

Zêus Wantuil, em brilhante artigo no «Reformador,


(266 ) sobre as obras e pesquisas de Afonso Cahagnet,
anteriores às de Kardec, disse com muito acerto:
«Não obstante todo o cuidado que se deve tomar na
aceitação das narrativas dos sonâmbulos, Gabriel Delanne
é o primeiro a afirmar que com Cahagnet o caso é dife-
ren te, sustentando que o célebre magnetista realmente
conversou com os Espíritos, identificando muitos deles.
«Não são simples reprodução de imagens dos seres desa-
parecidos: são individualidades que conversam, se movem,
vivem e afirmam categóricamente que a morte não as
atingiu» - fala Delanne, confirmando o intercâmbio en-
tre o Além e Cahagnet.,
Nos três volumes dos «Arcanos» (267) encontram.os
farta messe de experiências realizadas por Cahagnet com
oito extáticos. Dessas experiências foram redigidas cen-
tenas de atas, devidamente autenticadas por testemunhas
entre as quais merece citado o abade Almignana, doutor
em Direito Canônico, que não só se tornou, por esse mo-
tivo, adepto do magnetismo, mas também procurou de-
senvolver a sua mediunidade.
Passemos em revista algumas dessas experiências.
O primeiro caso resultou de uma sessão com o so-
nâmbulo Binet Bruno, com 24 anos de idade, de inteli-
gência muito restrita em matéria de espiritualismo, com
pouca leitura sobre magnetismo, mas que apresentava
fenômenos assaz interessantes.
- Seria muito mais lúcido - diz o paciente em es-
tado sonambúlico ao seu magnetizador - se não estivés-
seis acompanhado de um mau Espírito.
- Que quereis dizer com isso?
- Digo que uma pessoa com a qual não tendes mais
boas relações é a causadora de serdes obsidiado por um
mau Espírito.

( 266) Zêus Wantuil - Em o "Reformador'', ano e vo-


lume LXVIIl, 1950, pâg. 77.
(267) L. Alph. Oahagnet - "Arcanes de la vie futura
devoilés".
240 MAGNETISMO ESPIR ITUA L

. - Que ~de fazer esse Espírito, como pode influen-


ciar-me, ~ nao o temo e se nunca lhe senti a presença?
- Eis os homens que não temem nada ; ficai saben-
~o,. entretanto, uma vez por todas, que vosso poder nada
e di,ante de um Espír ito; é ele que possui a ação e a força,
e .ªº. Deu_s sabe que força um Espírito pode desenvolver!
D1ze1s nao ter nunca sentido a influência disso de que
vos f~lo; não vos lembrais que há cerca de três anos
e~penmentastes penoso mal-estar ao dormir, tivestes vi-
soes honiv eis, e, se quiserdes confessar, fostes erguido
do leito, e ainda agora deveis sofrer muitas dificuldades
para dormir.
- :m verdade· que há muito tempo padeço de crises
nervosas durante a noite, que atribuo à fraqueza da mi-
nha constituição. :m verdade também que tenho tido so-
nhos penosos. Mas isso não prova que seja a ação de
um Espírito, máxime enviado pela pessoa que indicastes
e que me causou semelhante distúrbio.
- Basta que saibais que fostes obrigado a conhecer
o poder de um Espírito, porque assim o desejastes atra-
vés das suas constantes experiências e evocações. Não
me dissestes toda a verdade, segundo me declara o meu
Guia, e ele acrescenta que, se o anjo de luz que vos guar-
da não fôsse tão poderoso, outros Espíritos viriam tomar
parte na ação para vos atira r do leito abaixo. Poderíeis
ter sofrido muito mais. Agora, orai e vos sentireis con-
pletamente desembaraçado.
- Não compreendo tudo que me dizeis. Na verdade,
ocorreram fatos que me surpreenderam e que muito me
fizeram sofrer. Mas atribuí esses fatos a uma irritação
nervosa e a causas de ordem puramente material.
- t verdade que os sofrimentos que experimentas-
tes podem ser atribuídos ao vosso sistema nervoso; tud~,
porém, que diz respeito à inteligência estava sob o dom1-
nio desse mau Espírito.
- Dizeis que me enviaram um Espírito. Entretan-
to, a pessoa indicada nada conhece sobre o assunto, e
estou certo do vosso erro.
- Explicar-vos-ei como os fatos se passaram. O
desentendimento que surgiu entre vós e essa pessoa, que
24]
MAGNETISMO ES PIR ITU AL

ificou-se por meio


se encontra a poucas léguas daqui, ver
a coisa que feri u
de cor respondência . Escrevestes algum
respondeu sob o
profundamente essa pessoa, a qual vos
tes. Es sa pessoa
império da contrariedade que lhe causas
ardentes. A vibra-
tem humores muito fortes e desejos
ção do seu pensamento foi intensa
no sentido de vos de-
vos dirigiu, e que
sej ar todo o mal. A car ta que então
desse fluido colé-
muito vos aborreceu, foi a condutora
encontráveis dei-
rico A disposição nervosa em que vos
desse fluido. Além
xou po rta aberta par a a penetração
cuja existência, a
disso, como evocáveis Espíritos, sobre
sob a ação dessas
esse tempo, não acreditáveis, fácil foi,
o, cuj a influência
circunstâncias, atr air um mau Espírit
, e ficareis livre
estais agora sentindo. Orai com fervor
desse jugo, e eu me tornarei lúcido. sas pa ra es-
Como era natural, fiz minuciosas pesqui apr ese nta da
dat a
tabelecer um nexo de relação entre a
No dia seguinte,
pelo sonâmbulo e a da suposta carta. ntecimento, co-
aco
uma pessoa, a quem havia narrado o
que efetivamen-
locou-me na trilha exata dessa inimizade, ra a car ta que
ebe
te datava desse tempo em que eu rec
tão profundamente me havia chocado.
É certo que tive visões ext rao rdi
nárias a pa rti r desse
acordado em meu
tempo; é também certo que, estando
o; que fui obriga-
leito, experimentei os efeitos da atr açã evi tar a mi nh a
ra
do, certa vez, a agarrar-me ao leito, pa
naquela ocasião
queda iminente. Não é menos certo que
Espíritos, tendo
procurei ent rar em comunicação com os
ões e dos fenô-
conservado notas e observações das vis ficando-os, po-
ssi
menos corporais que experimentei, cla
a, e não como os
rém, como sintomas de moléstia nervos
classificou o sonâmbulo. te, que, con-
Outro caso nos oferece o mesmo pacien espiritual,
mundo
sultado sobre a existência de cidades no
respondeu:
- Sim, há cidades no céu pa ra aqu
ele que deseja
habitar cidades. foi consul-
- O Espírito que em ou tra oportunidades respostas.
sua
tado sobre o assunto, pareceu hes ita r nas
Porquê?

l
242 MAGNETISMO ESPffiITU AL

- Porque lhe perguntaram coisas sobre as 9uais não


lhe era permitido pronunciar-se; e outras 9ue 1~orava.
Já vos disse que um Espírito não sabe senao aqwlo que
deseja saber. E nisso consiste a sua felicidade: conhecer
uma coisa, não se interessando pelas outras.
- Entretanto, todos os Espíritos deveriam ver ci-
dades, grupos de casas e de entidades, de vez que se
encontram em lugares habitados como na Terra.
- Os Espíritos não vêem senão o que querem ver;
se lhes agrada uma casa, não verão senão essa casa; se
lhes agrada uma cidade, vêem uma cidade, do mesmo
modo que um campo, jardim, lugar público e de reuniões;
se querem viajar, viajam; há de tudo e não há nada.
- Como nada! Não compreendo que alguma coisa
seja nada.
- Eu o compreendo bem. São imagens, aparências,
efeitos e nada; pois, satisfeito o desejo, nada mais resta:
são imagens destinadas pela bondade de Deus à natu-
reza dos seres.
- É vosso Guia que me responde essas coisas? Tão
prontamente me respondeis que chego a duvidar ...
- Não vos responderia com essa presteza se não
fôsse o meu Guia, que o está fazendo em meu lugar.
- Está convosco o vosso Guia?
- Já vos disse que um Espírito pode estar comigo,
falar pela minha boca sem que eu saiba como; meus lá-
bios mexem independentemente da minha v~ntade, articulo
as palavras de um jato e as ouço, algumas vezes, ao
meu lado. Outras vezes, não obtenho as respostas. Neste
momento meu Guia não está comigo, mas a centenas
de léguas; comunico-me com ele por um fio simpático;
considero-me, para melhor exprimir-me, como o porta-
-voz através do qual ele fala a distância.
- ::m surpreedente que possais ouvi-lo assim por
meio desse fio simpático.
- Tudo vos parece espantoso, mas não para mim;
não hã distância para nós: um Espírito poderia falar-me
do princípio do Universo, se o Universo tivesse .um prin-
cípio. O que mais vos espantará é. que um Espírito pode
falar e aparecer, ao mesmo tempo, a diversas pessoas e
243
MAGNETISMO ESP IRIT UA L

isso,
em luga res düerent.es. Fica i sabendo, todavia, que
mui tas vezes, não é senão sua imagem, uma espé
cie de
tod as as
desdobramento da sua pessoa, que pode tom ar
formas e ser encontrado em diferentes lugares, sem dei-a
x~.r o lug ar que ocupa no mundo esp iritu al.
Meu Gui
a
nao responde exclusivamente a uma só pessoa, mas
mui tas que se ach am sob sua influência.
a
A princípio, diz Cahagnet, fiquei esp anta do com
tempo,
revelação que um Esp írito pode esta r, a um só
Mas
em dife rent es luga res e fala r a dive rsas pessoas. o
a reflexão nos leva à confirmação do fato , tom and o com
obser-
pon to de par tida e como pro vas mat eria is o que
ânc ias.
vamos nos sonâmbulos, par a os qua is não há dist
rro-
Em sessões subsequentes voltou Cah agn et a inte
gar o sonâmbulo sobre o mesmo assunto.
des
- Dissestes-me que no mundo esp iritu al há cida
e luga res conforme o desejo de cada Esp írito .
Disses-
jado, o
tes-me também que não se via senão o obje to dese
do Es-
que faz pen sar que isso seri a o efei to da cria ção
eter na-
pírito, e não propriamente luga res que exis tem
mente.
- Há luga res que existem eter nam ente . Mas a faci-
mai s
lidade que se tem de comunicar-se com eles, e de não
o os
os ver, faz pen sar que não exis tem real men te com
ao vos-
objetos terr estr es. Dar-vos-ei um exemplo. Est ou
al. De-
so lado em um lug ar qua lque r do mun do esp iritu
casa ,
sejo esta r em um plano, em um jard im ou em uma
aí me acharei e verei o que quero, sem deix ar o meu
e que-
luga r; man ifes tais igualmente os vossos desejos,
esta reis
reis esta r em uma igre ja ou em out ro luga r, aí
sequer.
sem, entr etan to, me ter deixado um inst ante
aos dois
Ess as dua s coisas são sim ultâ nea men te visíveis
mis téri o
desejos e no mesmo luga r. Como vêdes, é um
, entr e-
incompreensível, que os homens neg arão , mas que
tanto, é absolutamente verdadeiro.
- A descrição que me fizestes faz duv idar que
haj a
alguma coisa de real no mundo dos Esp írito s e
- Tudo que há é mai s real do que aí na Ter ra, ond
plano
tudo perece ou mud a de forma, ao pas so que no
m a
espiritual todos esses objetos são imperecíveis e faze
244 MAGNETISM O ESPffiITUAL

n.ossa eterna alegria. E por isso que não estão subme-


tidos às mesmas leis que as da matéria, não há necessi-
dade. por exemplo, de demolir uma casa para construir
outra em seu lugar; torna-se desaparecida e uma outra
a substitui; posto que desaparecida, não deixa de existir,
porque ela não pode ser destruída, o que quer dizer que
ela não oferece nenhuma dificuldade para que se veja
outra em seu lugar.
- Então, no céu, cada qual, conforme seu gosto,
pode construir cidades, tem pios, palácios. Não é ?
- Não. Os desejos que os Espíritos têm, esses lhes
são comunicados por Deus, que é o único e grande arqui-
teto. O homem acredita fazer por si mesmo essas coisas,
quando nada mais faz senão desejá-las. Mas as cidades
aí são uniformes, os palácios cem vezes mais belos do
que tudo que a concepção humana poderia idealizar e
criar. E tudo isso adequado ·aos gostos e às necessidades
dos grupos que os habitam. Há tanta harmonia entre
os gostos espirituais, que um Espírito não saberia dese-
jar o que um outro não quisesse, principalmen te, notai-o
bem, quando o Espírito é membro da mesma sociedade
ou agrupamento , o que o torna de alguma sorte uma
fibra do mesmo corpo. Assim, onde percebem que não
impera o gosto, o desejo deles, aí não se associam.
- Dissestes-me que um Espírito podia aparecer em
vários lugares ao mesmo tempo. Como isso se opera?
- São as imagens do Espírito que aparecem; ele
pode possuir tantas quantas desejar e enviá-las até vós.
- Muito bem. Mas essas imagens falam?
- Sim.
- São, pois, outras tantas entidades?
- Não. É sempre a mesma.
- Todas essas imagens, dizeis, aparecem a um só
tempo em lugares diferentes e respondem a perguntas
também diferentes, o que faz supor que são multidões de
Espíritos, e não um só.
- ~ bastante difícil explicar-vos esse mistério. En-
tretanto, tentarei fazê-lo para vossa instrução O Espí-
rito que me dirige, e que está no céu, pode retirar de
MA GN ETI SM O ESP IRI TU AL 21G

est end em, e


si, ao infi nito , um a mu ltid ão de fios que se
çor res pon -
ser vem par a a com uni caç ão dos que des eje mfio a sem e-
der -se com ele. O Esp írit o pod e dar a cadapou co se fala
lha nça e o som da sua pal avr a, pos to que co me io de
ent re Esp írit os, poi s o pen sam ent o é o úni env iar seu
com uni caç ão. Ass im, ele pod e a um só tem po por inte r-
pen sam ent o aos que est ão em rela ção com ele,
mé dio des ses fios sim pát ico s.
. Vej am os um a exp eriê nci a com a ext átic a et. Ad élia Ma -
ginot, que cau sou sér ias apr een sõe s a Cah agn ase . Ca-
Ad élia ma nife sto u o des ejo de ent rar em êxt a, dei xou -a
?ag net , em bus ca de um a exp eriê nci a dec isiv o son âm -
a von tad e, dep ois de ter ado rme cid o tam bémpod eria ad-
bul o Bru no, que , pos to em rela ção com ela, ero de ex-
ver tir o ma gne tiza dor dos per igo s des se bul gên
a lhe hav ia
per iên cia . E isso por que a pró pri a son âm a não ma is
dito , em out ra ses são , que este ve pre ste s
reg res sar ao seu corpo.
exc la-
Dep ois de um qua rto de hor a, Bru no ent ra a
ma r ass ust adi ssim o : e! Nã o
- Per di-a de vis ta! Des per tai- a ime dia tam ent
há tem po a per der ! vol -
Diz Cah agn et que tod a a sua ate nçã o estseava enc on-
tad a par a o son âm bul o Bru no, con fiad o que
tra va na sua obs erv açã o e vig ilân cia.
hor a,
Suc ede u, por ém, que , dur ant e ess e qua rto dese tor -
po
tran sfo rmo u-s e o asp ect o da pac ien te. Seu corma is pul so,
nar a frio , a pon to de fica r gel ado ; não tin haam are lo-v er-
nem res pira ção ; sua fisi ono mia era de um hum sin al
de, seu s láb ios rox os, o cor açã o não dav a nen
de vid a.
a cha -
Cah agn et ma gne tizo u-a com gra nde ene rgi a par
ant e cinco
má -la à vid a, nad a obt end o de . apr eciá vel , dur
açã o ma gné -
min uto s. Am edr ont ado s com o ins uce sso damu ito con cor -
tica , Bru no e as pes soa s pre sen tes à ses são intr anq uilo , e
rera m par a per tur bar o ma gne tiza dor , já pel a sep ara-
que acr edi tav a que o fato est ava con sum ado
ção com ple ta e def init iva da alm a, do cor po. tiza dor foi
A cen a torn ara -se dra má tica . O ma gne
246
MAGNETISMO ESP IRIT UAL

obrigado a P:di r às pessoas presentes que se retirasse


m
para outr~ comodo, a fim de que, sozinho, sem qualquer
pertu:baçao, pudesse recuperar e concentrar toda a sua
energia.
. Depois de alguns instantes, alimentei a esperança,
diz Cahagnet, de que não teri a a deplorar semelhante
desgraça, embora, exausto, nada mais pudesse fisicamen-
te. E pôs-se de joelhos, numa fervorosa prece, pedindo
a ?eu s que aquela alma regressasse ao corpo, do qual
deixara part ir por causa da sua dúvida.
O magnetizador tivera a intuição de que aquela ade-
q~ada prece produziria os seus efeitos. Depois de um
minuto ainda de angústia, ele obteve estas palavras:
- Porque me chamastes? Tudo se consumara! Mas
Deus, ouvindo a vossa prece comovida, me mandou de
volta. Não devo mais penetrar no Céu Estou punida.
- De que punição quereis fala r?
- Rafael proibiu à minha mãe, ao meu pai e a todos
os parentes que voltassem a ver-me até nova ordem. E
essa privação, devo-a à vossa ação. Não mais poderei
volt ar ao Céu, quando, sem a vossa intervenção, eu esta
-
ria lá para sempre.
Cahagnet assumiu consigo mesmo o compromisso de
nunca mais voltar a essas experiências.
Tal qual a sonâmbula havia previsto, cessaram intei-
ramente as comunicações com seus parentes, exceto com
seu irmão, que a instruía e advertia das coisas desagra-
dáveis que ·1he podiam ocorrer se tentasse novamente a
expenencia.
o A •

·
Adélia, todavia, não abandonara a intenção -de suicí-
dio atra vés do êxtase. Ent re ela e o magnetizador estava
trav ada uma luta de sutilezas, a ponto de este último não
mais desejar magnetizâ-la. Ela tentou várias vezes rein
-
cidir nessa falta. Mas, a cada tentativa, ela sentia que
sua cabeça era fortemente impelida para frente, por mão
invisível, ao mesmo tempo que música barulhenta a ator-
mentava, fazendo fracassar a intenção suicida. De outras
vezes, alguém gritava aos seus ouvidos: isso é proibido.
Era o seu irmão que operava todos esses prodígios, além
de outros, para afastá-la do seu intento.
AL 247
MA GNETISMO ES PI RI TU

•*
*

a ou tra ex pe riê nc ia em que su rg em reve-


Passemos
a.
lações sobre a Ju sti ça Divin
que se ju lg av a ví tim a
Tr at av a- se( de um indivíduo
um fei tiç o. Du ra nt e a no ite ouvia em se u qu ar to
de alg du ra nt e o di a es ta va
lhe pe rtu rb av am o so no ;
ruídos que
essão de que alg um animal,
co ns tan tem en te sob a impr o
mo se fô ss e um ra to , lh e subia pe rn as acima at é
co
rosto.
, Adélia diz:
Po sta em estado sonambúlico
a m ul he r é a ca us ad or a de to da es sa pe rtu r-
- Um
baçã o.
? Nã o foi o pa sto r qu e me lançou o feitiço?
- Como e vejo .. . , que so-
me sm o a m ul he r qu
- Não. É
preces . . . Po r isso, ela vos
fre e que tem necessidade de
ato rm en ta.
- Quem é ela?
- Es tá morta.
- Conheci essa m ul he r?
- Sim, mujto.
- Dizei-me seu nome.
vos fa cil ita rá o reconhe-
- Darei seus $inais, o que
cimento. minuciosa que o con-
Adélia fêz uma descrição tão
:
sulente acabou po r exclamar ...
- Mas é minha m ul he r!.
ce~sidade de preces, e
- Exatam~nte. El a tem ne
vo-las pede. lo ; atormentou-me mui-
- Que ela me deixe tra nq ui
em vid a pa ra co nt in ua r a fazê-lo depois de morta.
to
ma is de qu inze an os ela me havia abandonado pa ra

tra r em um a ca sa de pe rd ição, onde levou um a vida
en sma faça as su as preces
que me desonrou. Que ela me
e me deixe em paz. vosso socorro! .. .
- Ela não o poderia sem o Em que essa mulher,
- Como se ria isso possível? direito de pedir preces
seu
intervém Cahagnet, funda o rm en tá-lo pa ra esse fim?
qu e de so nr ou e de ato
ao homem
248 MAGNETISMO ESPIRITUAL

t assim que ela julga aparecer com as melhores dispo-


sições para com o seu marido? Que ela mesma peça a
Deus que lhe perdoe!
Adélia respondeu :
- Poderias dizer-me qual o ofendido, Deus ou o ma-
rido, e quem em primeiro lugar devetia perdoar? ...
Acreditais que essa mulher ouse apresentar-se diante de
Deus, para gozar da sua infinita bondade, com as suas
impurezas e faltas que exigem reparação?. . . Acreditais
que é bastante que o criminoso peça a Deus perdão dos
seus crimes e das faltas de toda a natureza praticadas
contra suas vítimas, seus irmãos?. . . Que responderia
Deus a estes últimos, quando implorassem sua justiça
inflexível? . . . Quem teria recebido mais e quem mais
teria dado? . . . Onde estaria a balança eterna da equi-
dade? . . . Não, isso não é assim . . . Deus, cheio de mise-
ricórdia, perdoa as ofensas que lhe foram dirigidas, e dá
a cada um a liberdade de seguir-lhe o exemplo! ... Ne-
nhum Espírito pode entrar no seio das felicidades eter-
nas, se uma só voz clamar contra ele justiça! A melhor
prova de que essas faltas já foram esquecidas é pedir
o próprio marido que Deus lhe perdoe a esposa. . . Fazei
durante nove dias uma prece com o pensamento de per-
dão, e ficareis livre de toda a obsessão ...
E dirigindo-se a Cahagnet:
- E vós! Crêde na Justiça de Deus e no direito que
cada ser tem à aplicação dessa Justiça! ...
Capítulo XXVI
escrever aos atacados
"Que remédio, e,itão, pr Um
de cr uc ia nt es m al es ,
de obsessões cruéis e na
, o apelo ao Oéu. Se,
meio há in fal fv el : a fé
r ac er bid ad e do s vo ss os sofrimentos, en to - ar
1naio ,
anjo, à vossa cabeceira
des hinos ao Senhor, o e
rá o sin al da salvação
com a mão vos aponta m é-
areis. . . A fé é o re
lu ga r que um dia ocup ho-
to ; m os tra sempre os
dio seguro do so fri m en
s do In fin ito dia nt e dos quais se esvaem,
rizonte nos
os do presente. Não
os poucos dias brumos r
al o remédio pa ra cu ra
pergunteis, po rta nt o, qu ta l
ce ra ou ta l ch aga, pa ra ta l tentação ou
ta l úl
que aquele que cr i
é
prova. Lembrai-vos de u1n
/é e que'le que duvida
fo rte pelo remédio da te pu ni -
é imediatamen
instante da sua eficácia ng iti va s angústias da
pu
do, porque logo sente as ·
af liç ão ." - Sa nt o Ag
ostinho.
O ES PI RI TI SM O,
0 EVANGELHO SEGUNDO
pá gi na 91 .

magnífica experiência de
Citaremos, agora, ou tr a
Bué (268). e encontrei, diz ele, ho uv
e
nt re os so nâ m bu lo s qu
«E iti u
ja no tá ve l cl ar iv id ên ci a não somente m e pe rm
um cu riências de tra ns m is sã o
de
as m ai s cu rio sa s . ex pe r-
fazer stâ ncia, como ai nd a me fo
en to e vi dê nc ia a di
pensam ra s.
da s mais in te re ss an te s cu .
u m eios de ul tim ar um a os
nece ca nt ad or a jovem de 24 an -
so nâ m bu lo er a um a en pu
Meu ela definhava, sem que
«Havia muitos anos que
a moléstia.
dessem da r um nome à su
".
Al ph ou se Bt té - "L e M ag né tis m e Cu ra tif
(268)
MAGNETISMO ESPIR ITUAL

atrib«~inha consunção_ geral, e os médicos consultad08


veio ~~ndo -a a essa .c01sa vaga, indefinida, a que se con~
amar «anemia,, prescreveram como sempre sem
~:s~ltado: !e!ro, quinina, óleo de fígado de bacalhau,
gime f orbficante, etc. Os pais justamente alarmados
ante ~sse estado de abatimento que nada conseguia ven-
cer, tiveram a feliz ideia de recorrer ao magnetismo.
Co1:3-o houvesse entre nós íntima amizade, confiaram-me
a filha e Blanche veio habita r nosso lar, onde encontrou
todos os d~svelos de que carecia o seu estado de saúde.
«Depois de um tratam ento de seis meses cheio de
mil pe~pécias, a cura foi completa; sonâmbul~ de notá-
vel lucidez, a jovem doente ficou tão maravilhada com
os esforços para se chegar ao resultado que havíamos
alcançado, que me convidou insistentemente, quando se
achav a um dia em estado sonambúlico, a dar publicidade
à narraç ão dessa cura importantíssima.
«Para referi r com todos os pormenores as diferen-
tes fases da moléstia, minha narrat iva necessàriamente
falhar ia, por isso que deixei de tomar apontamentos du-
rante o curso do tratam ento; exprimi-lhe meu embaraço,
porém ela cortou a dificuldade oferecendo-se para fazer
o histórico da sua cura, enquanto permanecia em estado
sonambúlico.
· «Muito curioso em saber de que modo ela se sairia
dessa tarefa , aceitei o oferecimento com ardor, e eis o
documento que me foi ditado em três sessões conse-
cutivas. Não lhe acrescentei nem mudei palavra alguma.
:m impossível fazer, em estilo mais correto, uma exposi-
ção mais exata dos fatos que se passaram. Fora eu
encarregado dessa tarefa e dificilmente teria: atingido
o mesmo grau de clareza e precisão; além disso, essa
redacão teria exigido de minha parte um trabalho por
demais longo, o que não sucedeu à sonâ~bula.»
Eis o documento a que se refere Bue:
«Estou salva! Com o auxílio da homeopatia, o m~g-
netismo restituiu-me suavemente à vida, que se exb~-
guia pouco a pouco. Hoje, _depois de trê~ meses do !11ªIS
simples tratamento, do mais natural, veJo-me, e1;11 ves~e-
ras de ficar radicalmente curad a duma molestia mwto
251
MA GN E TIS MO ES PIR ITU AL

e os ign ora nte s neg ue1 n


grav e, fre que nte m ent e mo rta l. Qu icu liz em ; qu e os qu e
o ma gn e ti s mo ; que o s tol os o ridnci a em seu ger me fe-
têm int ere sse em asf ixi ar est a ciê tiç ari a; e nem po r iss o
c und o lhe ch am em n1a gia ou fei bri lha nte e un ive rsa l.
el a d cix ?.rá de ter u m dom íni o nd ido dos seu s err os
D ia vir á c m que o mu ndo , arr epecei tos , da sua ceg uei -
gro sse iro s, dos seu s vel hos pre con
lum ino sa sim pli cid ade
ra s iste má tic a, com pre end erá a er- lhe os ma rav ilh oso s
do m agn eti sm o e qu ere rá con hec
efe ito s.
«É a mi nh a cur a que eu
qu ero rel ata r, tal com o a
al a alm a, des pre nd ida
vej o nes te son o im ate ria l, no qu ao cor po, é tão cla ri-
dos laç os nat ura is que a pre nde m
e.
vid ent e e só se ins pir a na ver dadece r alg un s ceg os, con -
«P oss a est a nar raç ão esc lar
o for e o que qu er
ver ter alg un s inc réd ulo s. Se ja com um dev er pa ra com a
que pen sem os hom ens , cum pro Pre sto um a sol ene ho-
ciê nci a que me res titu iu a vid a.ant e e pro fun do , ao am i-
me nag em de rec onh eci me nto , toc açã o, aci ma do s mí se-
go ded ica do cuj a int eli gên cia e varcor
me sal run de mo rte im ine nte
ros esc rúp ulo s do vul go,
e pró xim a. ado du ma afe cçã o
«O ma gne tism o já me hav ia curinf ânc ia; log o qu e
nh a
do est ôm ago , que dat ava da mi sa du m aba tim ent o qu e
me sen ti fra ca, ela ngu esc ida , pre
de ve r cla ro e de bem
me arr eba tav a até a fac uld adel da saú de.
rac ioc ina r, rec orr i ao ma nan cia nen te am are lad a e ter -
«~. linh a tez est ava me don hru
as; tes ta, nar iz e que i-
ros a, os olh os cav os e com olh eir ção de po nto s pre tos ;
xo ach ava m- se cob ert os du ma por ern a: tud o anu nci ava
ind ício s cer tos du ma des ord em int sum açã o seg uia ma r-
um a dec om pos içã o gra du al - a con
cha pro gre ssi va e len ta. nen te e de cer ca
«A s pri me ira s ses sõe s (du as dià riru
lha ram -m e nu ma pro s-
de 3/4 de ho ra cad a um a) me rgu
ois de cad a ma gn eti za-
t:3- ção viz inh a da est upi dez : depem est ado de dep res são ,
çao , con ser vav a-m e lon gas ho ras alg un s pas sos , caí a une-
~u da e exa ust a; se ten tav a da r rdo ada , sem elh ant e a
dia tam ent e na cad eir a, ine rte , ato à qua l se tiv ess e dad o
cri anç a hab itu ada a beb er águ a e
252 MAGNETISMO ESPIR ITUA L

um vinho puro, generoso; estava como que ébria de um


fluido ainda muito forte para meu sangue enfraquecido.
<Não experimenta va grand e sofrimento, mas tal era
1

o torpo r geral, que, no sono sonambúlico, já não tinha


a mesma lucidez, a mesma segurança do olhar, a mes-
ma precisão da linguagem. Receitei, entret anto, alumina
Pª:ª fazer cessar a leucorreia que me enfraquecia; de-
pois arsenicum, a fim de restabelecer o equilíbrio dos
órgãos. Passa ram-s e três semanas; comecei a sair deste
entorpecimento mórbido; vi mais claramente o meu es-
tado: o magnetismo despertou a dor, rasgando o véu
que empa nava a minha penetração.
«O interi or do corpo apareceu-me claramente, como
num espelho, mais puro, mais fiel: uma inflamação ter-
rível roía-me as entran has, devorava-me o útero; após
dois meses no .máximo, uma peritonite aguda, mortal, se
declararia. Tomei sépia e aguardei uma prime ira crise,
que o magnetismo não podia deixar de operar. As dores
tornav am-se cada vez mais vivas duran te as sessões;
a imposição das mãos sobre o ventre, e principalmente
sobre o útero, causava-me cruéis sofrimentos: os dez de-
dos do meu magnetizador produziam o efeito de dez fer••
ros em brasa que caíssem pesadamente numa ferida viva,
revolvendo-a em todos os sentidos.
«Mas sempre admiràvelmente previdente, quando
mãos tão culposas quão inábeis não se antepõem aos
seus esforços ou as desviam do seu intento, a Natur eza
agia com precaução, medindo o seu trabal ho de acordo
com a debilidade, do mesmo modo qual mãe terna e pru-
dente, que, no momento de admin istrar ao filho querido
o remédio amarg o que deve restituí-lo à vida, acaricia-o
por muito tempo e multiplica os beijos na proporção dos
sofrimentos. A crise anunciada não se fêz esper ar: o
catamênio sobreveio e decidiu-lhe a explosão.
«Entã o compreendi donde partia esta moléstia de
útero, que podia causa r admiração a uma jovem. Ainda
muito nova, aos 11 anos, meu sangu e achava-se empo-
brecido, na idade ordin ária da puberdade. Havia neces-
sidade de ser renovado pelo casamento. Em vez disso,
uma existência concentrada, monótona, absolutamente
MAGNETISMO ESPIRITUAL 25~

contrária às aspirações ardentes da minha natureza es-


sencialme~te amorosa e ativa, havia esgotado em mim
a fonte Vltal; perdas brancas contínuas, regras demasia-
?amente frequentes, forçando o útero a um trabalho
incessante, tinham feito o resto.
«Durante esta crise de dores lancinantes, as sensa-
ções de queimadura eram tão agudas que eu parei com
o magnetismo, um dia inteiro. O fluido perfurava o úte-
ro, forrado de botões purulentos, com intensidade que
eu _não tinha ainda a força de suportar; a meu pedido,
3:phcou-se-me no ventre uma cataplasma de farinha de
hnhaça (feita com água magnetizada) e destinada sim-
plesmente a amolentar os tecidos, preparando-os para
uma saída de botões, que eu previa.
<<Esta se deu abundante, pruriginosa, causando-me
dolorosas comichões internas e externas; estando, porém,
o útero provisoriamente exonerado, levantei-me dessa
crise, já menos fraca.
Substituí o arsenicum pela sépia, que reservei para
as crises. Recomendei as abluções frias, a fim de resti-
tuir vigor aos nervos abatidos.
«Alguns dias depois, produziu-se uma segunda crise;
mas, desta vez, minhas forças permitiram tolerar o mag-
netismo; nova erupção, ainda mais considerável; prurido
intolerável nas partes tumefatas. Durante as sessões, os
choques eram tão fortes que eu afastava com violência
as mãos do magnetizador; meus braços se torciam, os
dedos em crispação davam estalidos, um suor frio tran-
sudava do corpo sacudido, convulsivamente; lágrimas
abundantes corriam-me dos olhos; meu rosto contraía-se
em movimentos espasmódicos e, no meio desses sofri-
mentos inauditos, eu afirmava, com segurança e sere-
nidade, a cura ainda indeterminada, mas certa.
«Duas outras crises se sucederam do mesmo modo,
sempre mais fortes, à medida que a fraqueza diminuía;
crises com corrimentos fétidos, nos quais se encontra-
vam pequenas peles delgadas, enegrecidas e destacadas
do útero.
~o estado geral era mais satisfatório; meu olhar
readquiria um pouco de vivacidade; as funções intesti-
254 MAGN ETISM O ESPIR ITUAL

nais se faziam regula rment e e a lucide z sonam .búlica


tornav a-se aguda , penetr ante. Desco bri, então, unido às
parede s do ovário esquer do, imóve l e meio oculto por
baixo da inflam ação, um tumor do taman ho duma noz,
porém , alonga do como uma amênd oa; não me atemo rizei
com isso; se enxerg ava o mal, certam ente també m já
via a cura; entret anto, ela devia fazer- se espera r; antes
que o magne tismo atuass e de manei ra enérgi ca e direta
sobre o tumor , era necess ário que o útero estive sse a
pleno camin ho da cura. Disse- o e repito : zelosa dos
seus meios, ambic iosa por atingi r o seu fim, mas, antes
de tudo, sábia e acaute lada, a Natur eza camin ha lenta-
mente e nunca proced e como os homen s, com interv alos
e movim entos brusco s.
«Cada crise e cada dor eram um passo para a saúde.
Eu bem o compr eendia . Seguia , escrup ulosam ente, os
progre ssos desse mal, que todos conve rgiam para um só
fim : - a cura. Meu corpo sofria , mas a alma pairav a
acima da Terra, admir ando e abenço ando essa vontad e
domin adora e sobera na que, com um só esforç o, me ador-
mecia num sono profun do, num repous o benéfi co, permi -
tindo- me sofrer tortur as que, acorda da, jamais teria po-
dido supor tar ...
«O quinto assalt o foi terríve l. Afetan do todas o mes-
mo caráte r, produz indo todas o mesmo resulta do, essas
crises só diferia m por uma intens idade sempr e cresce nte.
Para acalm ar os ardore s intoler áveis do útero, fiz que
me magne tizasse m meio litro dágua e pedi que pingas sem
nela duas gotas de amica e três de rhus toxico dendr on.
O útero ia melho r, aquela s erupçõ es cinco vezes repeti das
tinham atenua do o tumor , podero samen te; o apetit e era
bom, o sono menos agitad o; a vida circul ava mais quente
e rápida nas minha s veias regene radas.
«Um dia, após vigoro sa magne tizaçã o duran te a qual
sofri de arranc ar os cabelo s e gritei de manei ra áspera
e selvag em, depois de insufla ções quente s nos rins e do
lado, ouvi um choqu e no corpo. Era o tumor que se
desp_regava. Debaix o da ação caloro sa do magne tismo,
senti que ele batia e se agitav a. Não havia dúvida , tinha
mobili dade. Não restav a mais senão querer o resulta do ...
255
MAGNETISMO ESP ffiI TU AL

ent ão águ a
«Chegou a sex ta cris e; me u san gue , até
e beladona, al-
ver me lha , começava a esp ess ar- se; rhus
ura l, ao mes-
ter nad as, aca bar am por dar -lh e um a cor nat
a e apu rav a;
mo tem po que o ma gne tism o o for tifi cav
s, o que hav ia
as reg ras apa rec iam ent ão em épocas fixa
sse gui a, ent re-
dez ano s não aco nte cia : a Na tur eza pro
peção not áve l;
tan to, na sua obr a est raté gic a, com circuns
rem a: a vid a e
est ava tud o apa relh ado par a a lut a sup
bate decisivo.
a mo rte, face a face, iam dar -se um com
ele o age n-
«Pe rse ver ant e como a Na tur eza , de que é
tismo, vendo
te principal, o ma is fiel e zeloso, o magne
ria a gan har ,
um novo inimigo a combater, um a nov a vitó as par tes
ent e
dob rou de esforços cor ajo sos ; não sóm tam bém tod o
o
doe nte s for am imp reg nad as de fluido, com
inu nda da. Son s
o me u cor po; fiquei lite ralm ent e ban had a,
dos , ruí dos du-
sur dos , sem elh ant es a lam ent os ina rtic ula
-se ouv ir no
rad our os e de pav oro sa sonoridade, fizeram uto , deci-
red
ová rio ; era o inimigo que, forçado no seu
ers ário háb il
dia-se afin al aba ndo nar a pra ça. Como adv
o o tum or pelo
e implacável, o ma gne tism o hav ia ata cad
int eri or do fru -
cen tro , e, sem elh ant e ao ver me que rói o
-se e per der -se
to, ele fazia cor rom per o tum or, dissolver
em cor rim ent o. lis a fim de
«Ficámos nes te pon to; tomo carbo vegeta
e; me us sof ri-
faz er des apa rec er qua lqu er tra ço de cloros
is ins upo rtáv eis ,
me nto s são atrozes, ina udi tos e tan to ma
s, ant es que ~e
qua ndo se pro lon gam ao des per tar. Ma
dois me ses a
pas sem dois meses, vir á a cur a. An tes de
do a sua obr a.
Na tur eza e o ma gne tism o ter ão term ina
icação inf atig á-
Cinco meses de lab ore s pacientes, de ded
res sur reiç ão ...
vel, bas tar ão par a rea liza r est a prodigiosa
o do ma g-
«E ago ra que se ous e neg ar a pod ero sa açã
que o ma gne -
netismo. Que se ten ha a aud áci a de diz er
tismo não exi ste ...
ça e obt er
«Eu bem o sei ; par a pro voc ar a confian
do progresso»,
aprovação da nos sa sociedade «ch am ada
dad e sup erio r;
é necessário o apoio, a san ção dum a aut ori
dulos, os ho-
ao mesmo tempo, cépticos obs tina dos e cré
nta da por mãos
me ns repelem a luz que não lhe s é apr ese admitem como
legalmente aut ori zad as, quando, ent ret ant o,
256 MAGNETISMO ESPIRITU AL

artigos de fé certos absurdos ridículos, revoltantes. Pri-


meiramen te o egoísmo, depois os hábitos inveterados, são
outros tantos obstáculos à fundação de uma doutrina hu-
manitária, antes de tudo! ·
«Sim. A nossa civilização moderna se opõe a esse
espírito de confraternidade que deveria fazer palpitar
t?dos os corações, dirigir todas as ações; mas o magne-
tismo é a ciência de todos; o magnetismo triunfará con-
tra todos . . . Não é necessário ser mais ou menos in-
fluente membro duma Faculdade para ser depositário
desse fluido precioso, manancial de vida e de saúde; cada
qual o possui, pode servir-se dele com eficácia para fazer
o bem e ser útil ao seu semelhante.
<<Que de mais belo e maravilhoso? ~ necessário que
a inteligência tenha sido atrofiada por lucubrações noci-
vas, o coração esterilizado por um amor imoderado do
«eu», para que o homem, naturalme nte caritativo e bom,
desdenhe e menospreze uma força que o Cristo e seus
apóstolos haviam elevado ao ponto de divinizá-la. Mas,
paciência. O mundo voltará ao que deve ser, que era pri-
mitivamente: uma família imensa, unida pelos mesmos
interesses e os mesmos afetos. Será talvez o magnetismo
a cadeia misteriosa que ligará os seus elos desunidos;
todo amor e caridade, ele ensinará os· homens a se conhe-
cerem, a se fraternizarem, a se consolarem mutuamente,
enfim, a se amarem.
«Coragem, portanto, nobres campeões da mais gene-
rosa das causas; neste momento estabeleceis as bases
duma sociedade nova. O solo é árido, mas vós o desbra-
vareis. Não haja desfalecimento. Nossas fileiras, tão
cheias de claros, se tornarão numerosas e compactas; hoje
sois apupados, ridiculizados. Não vos entibieis, no cor-
rer dos tempos o vosso nome será abençoado, a vossa
lembrança será deificada, milhares de vozes entusiasta s
e reconhecidas, qual a minha, vos denominarão: - Sal-
vadores da Humanidade.»
Em conclusão, diz Bué, como se pode julgar pela
narração, não somente a minha sonâmbula tinha seguido
passo a passo a marcha da sua moléstia, determinando-
MAGNETISMO ES PI RI TU
AL 257

-lhe a. origem e a na tu re
za , vendo o estado dos ór
e predizendo a. época das gãos
su as crises, e.orno ainda, em
não tivesse conhecimento bo
algum da medicina homeo ra
tica, ha vi a indicado os re pá-
médios que convinham ao
es ta do e deviam favorecer-l seu
he a cura.
Capítulo XXVII
"Desde que a C~ncia sai da observação ma-
terial dos fatos, em se tratando de oa apreciar
e explicar, o campo está aberto 48 conjeturas.
Cad!l um arquiteta o seu mtemazi nho, disposto
a sustentá-lo com fervor, para /azA-Zo prevale-
cer. Não vemos todos os dimr as mai8 opostM
opiniões serem alternativamente preconizadas 6
rejeitadas, ora repelidas como erros absurdos,
para logo depois aparecerem proclama das como
verdades incontestáveis 1 Os fatos, eis o verda-
deiro critério dos nossos jidzos, o argumento sem
réplica. Na aus~ de fatos, a dúvida se jus-
tifica no homem ponderado . ,,

ALLAN KARDEC.

Todos os magnetizadores estudam o fenômeno a que


chamam. dupla vista, que ocorre por forc;a de uma forte
ação magnética (269), segundo uns, ou espontâneamente ,
segundo outros (270) .
Para Du Potet (271) o fenômeno resulta da acumu-
la.ção do fluido magnético no cérebro, nos plexos ou em
alguns pontos dos trajetos nervosos.
Por igua1 1 a literatura sobre o magnetismo se apre-
senta rica de exemplos e experiências, cada qual mais
interessante e mais surpreendente.
Urna coisa, porém, deve ser posta em relevo de imc-

(269 ) L. Moutit& - ºLe M&gnéti.sme Humain" . p. 277.


(270 ) J. S. Morand - "Le MagnéUs me Animal", pA-
gina 349 .
Baron dK Potet -
( 271 ) 'Trai té Complet de Magnétis -
me Animar•, pág . -434 .
MAGNETISMO ESPIRITU AL 259

diato: não há entre os autores que versaram o assunto


um ponto de vista uniforme sobre as verdadeiras causas
do fenômeno.
A razão parece estar com Bernardin de Saint-Pier-
re (272), quando diz que essas comunicações da alma,
com uma ordem de coisas invisíveis, são sempre rejeita-
das pelos nossos sábios modernos, porque não são perti-
nentes aos seus sistemas e aos seus almanaques; todavia,
quantas coisas existen1, que não estão nas conveniências
da nossa razão e que não foram sequer percebidas ! ...
O certo é que o fenômeno da dupla vista revela
apenas uma faculdade do indivíduo. E, como resultante
do estado de libertação da alma, o exercício dessa fa-
culdade tanto pode ser espontâneo como provocado pela
ação magnética, pois, como vimos, o sonambulismo é um
desses estados de libertação.
Segue-se, portanto, que a ação magnética apenas
revela ou enseja o fenômeno, mas não o produz propria-
mente.
A teoria de Du Potet da acumulação dos fluidos nos
trajetos nervosos pode igualmente ensejá-lo, tal como
acontece com outras circunstâncias, v. g., a moléstia, a
iminência de um perigo, uma grande comoção, etc.
Dentro da coerência, até aqui seguida pelo nosso tra-
balho, não nos é dado qeixar de largo a magistral lição
de Kardec, que, ainda uma vez, pôs todas as coisas no
seu devido lugar, transcrevendo-a como parte integrante
deste capítulo.
A teoria de Kardec é a seguinte (273):
«Desde que no estado sonambúlico as manifestações
da alma se tornam, de certo modo, ostensivas, fora absur-
do supor que no estado normal ela se ache confinada,
de modo absoluto, em seu envoltório, como o caramujo
em sua concha. Não é de maneira alguma a influência
magnética que a desenvolve; essa influência nada mais
faz do que a tomar patente pela ação que exerce sobre

(272) ~tudes de la Nature", apud Du Potet. loc. cit.


(273) Allan Kardec - "Obras Póstumas" , págs. 92 a 98.
260 MAGNETISMO ESPffiITUAL

os órgãos corporais. Ora, nem sempre o estado sonam ..


búlico é condição indispensável a essa manifestação. As
faculdades que se revelam nesse estado desenvolvem-se
algumas vezes espontâneamente, no estado normal, em
certos indivíduos. Resulta-lhes daí a faculdade de verem
as coisas distantes, por onde quer que a alma estenda
sua ação ; vêem, se podemos servir-nos desta expressão,
através da vista ordinária; e os quadros que descrevem e
os fatos que narram se lhes apresentam como efeitos de
uma miragem. ~ o fenômeno a que se dá o nome de
segunda vista. No sonambulismo, a clarividência deriva
da mesma causa; a diferença está em que, nesse estado,
ela é isolada, independe da vista corporal, ao passo que
é simultânea nos que dessa faculdade são dotados em
estado de vigília.
Quase nunca é permanente a segunda vista. Em ge-
ral o fenômeno se produz espontâneamente, em dados ·
momentos, sem ser por efeito da vontade, e provoca uma
espécie de crise ·que, algumas vezes, modifica sensivel-
mente o estado físico. O indivíduo parece olhar sem ver;
toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação.
~ de notar-se que as pessoas dotadas dessa fa-
culdade não suspeitam possuí-la. Ela se lhes afigura natu-
ral, como a de ver com os olhos. Consideram-na um
atributo de seu ser e nunca uma coisa excepcional.
Cumpre acrescentar que muito amiúde o esquecimento se
segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, cada vez
mais imprecisa, acaba por desvanecer-se como a de um
sonho.
Há infinitos graus na potencialidade da segunda vis-
ta, desde a sensação confusa, até a percepção tão nítida
quanto no sonambulismo. Há carência de um termo para
designar-se esse estado especial e, sobretudo, os indiví-
duos suscetíveis de experimentá-lo. Tem-se empregado
a palavra q;vidente» que, embora não exprima com exa-
tidão a ideia, adotaremos até nova ordem, em falta de
outra melhor.
Se agora confrontarmos os fenômenos de segunda
vista com os da clarividência sonambúlica, compreende-
remos que o vidente possa perceber coisas que lhe este-
MAGN ETISMO ESPIRI TUAL 261

jam fora do alcance da visão ordinár ia, do mesmo modo


que o sonâmbulo vê, a distAncia, acomp anha o curso dos
acontecimentos, aprecia-lhes a tendên cia e, em certos ca-
sos, lhes prevê o desenlace.
Esse dom da segund a vista é que, em estado rudi-
mentar , dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma
espécie de segura nça aos atos, o que se pode com justeza
denominar : golpe de vista moral. Mais desenvolvido, ele
acorda os pressen timento s: ainda mais desenvolvido, faz
ver acontecimentos que já se realizaram, ou que estão
prestes a realizar-se; fina]mente, quando chega ao apo-
geu, é o êxtase vígil.
Como já dissemos, o fenômeno da segund a vista é
quase sempre natural e espontâneo; parece, entreta nto,
que se produz com mais frequência sob o império de de-
t erminadas circuns tâncias : os tempos de crise, de cala-
midades, de grande s emoções, de tudo, enfim, que sobre-
excita o moral, que provoca o desenvolvimento. Dir-se-ia
que a Providência, diante de perigos iminentes, multipl ica
em torno das criatur as a faculdade de prevê-los.
Videntes sempre os houve em todos os tempos e em
todas as nações, parecendo, no entanto , que alguns po-
vos são mais natural mente predispostos a tê-los. Dizem
que na Escócia é muito comum o dom da segund a vista.
Não se lhe nota a existência entre a gente do campo e
os que habitam as montanhas.
Os videntes têm sido diversamente considerados, con-
forme os tfmpos, os costumes e o grau de civilização.
Para os cépticos, eles não passam de cérebro s desarra n-
jados, de alucinados; as seitas religiosas os arvora ram
em profetas, sibilas, oráculos; nos séculos de superst ição
e ignorância, eram feiticeiros e acabavam nas fogueiras.
Para o homem sensato. que acredit a no poder infinito
da Natureza e na bondade inesgotável do Criador, a du-
pla vista é uma faculdade inerente à espécie humana,
por meio da qual Deus nos revela a existência da nossa
essência espiritual. Quem não reconheceria um dom des-
sa natureza em Joana d'Arc e em toda uma multidão
de outrac; personagens que a Históri a qualifica -de ins-
piradas ?
262 MAG NET ISM O ESP ffiIT UAL

Mui to se tem falad o de pess oas que, deita ndo as car-


tas, diss eram cois as de surp reen dent e verd ade. De mod o
nenh um pret ende mos faze r-no s apol ogis ta dos ledo res da
«bue na-d icha », que expl oram a cred ulid ade dos espí ritos
frac os e cuja ling uage m amb ígua se pres ta a toda s as
com bina ções de uma imag inaç ão abal ada; mas , não é de
todo impo ssíve l que cert as pess oas, faze ndo disso um ofí-
cio, tenh am o dom da segu nda vista , mes mo mau grad o
seu. Send o assim , as cart as, entr e as suas mão s, não
pass am de um meio, de um pret exto , de uma base de con-
vers ação : Elas falam de acor do com o que vêem e não
com o que indic am as cart as para as quai s apen as olha m.
O mes mo se dá com outr os meio s de adiv inha ção,
tais com o as linh as da mão , a clar a de ovo e outr os sím-
bolo s míst icos . Os sina is das mão s talve z tenh am mais
valo r do aue todo s os outr os meio s, não por si mes mos ,
mas porqÚe, toma ndo e palp ando a mão do cons ulen te,
o pret enso adiv inho , se é dota do de dupl a vista , esta be-
lece relaç ão mais dire ta com aque le, com o se veri fica na~
cons ultas sona mbú licas .
Pode m inclu ir-se os méd iuns vide ntes na cate gori a
das pess oas que poss uem a dupl a vista . Com efeit o, do
mes mo 1nodo que esta s últim as, aque les julg am ver com
os olho s, mas , na reali dade , a alma é que vê e por essa
razã o é que eles vêem tão bem com os olho s aber tos
com o com os olho s fech ados . Segu e-se , nece ssàr iame nte,
que um cego pode ria ser méd ium vide nte, tant o quan to
um que tenh a perf eita a vista . Con stitu iria estu do inte-
ress ante inda gar se essa facu ldad e é mais freq uent e nos
cego s. Som os leva dos a crê-lo, dado que, com o se pode
veri ficar expe rime ntalm ente , a priv ação de com unic ar-se
com o meio exte rior, por falta de cert os sent idos , conf ere,
em gera l pode r maio r à facu ldad e de abst raçã o da alma
e, cons eque ntem ente , maio r dese nvol vime nto ao sent ido
intim o pelo qual ela se põe em relaç ão com o mun do
espi ritua l.
Pode m, pois, os méd iuns vide ntes ser iden tific ados àtiJ
pess oas que goza m da vista espi ritua l; mas , seria por-
vent ura dem asiad o cons ider ar essa s pess oas com o mé-
diun s, porq uant o a med iunid ade se cara cteri za unic ame nte
263
MAGNETISMO ESPI RITU AL

pela intenrenção dos Espiritoe , não se podendo ter como


ato mediünico o que algu ém faz por si mesmo. Aquele
que possuí a vista espir itual vê pelo seu próprio E spíri to,
não sendo de necessidade, para o surto da sua faculdad e,
o concurso de um Espírito estra nho.
Isto posto, examinemos até que pont o a facu ldad e
da dupla vista pode permitir se descubram coisas ocul tas
e se pene tre no futu ro.
Desde todos os tempos, os homens hão querido co-
nhecer o futu ro e volumes se poderiam escre ver sobr e
os meios que a supe rstiç ão inventou para ergu er o véu
que encobre o nosso destino. Muito sábia foi a Natu reza
no-lo ocultando. Cada um de nós tem a sua missão pro-
videncial na gran de colmeia hum ana e concorre para a
obra comum na sua esfer a de atividade. Se soubéssemos
de antemão o fim de cada coisa, é fora de dúvi da que
a harm onia gera l ficar ia pertu rbad a. A segu ranç a de
um porv ir ditoso tirar ia ao homem toda a atividade, pois
que nenh um esforço precisaria ele emp rega r para al-
canç ar o objetivo que sempre colima: o seu bem -esta r.
Para lisar -se-i am toda s as forças físicas e mora is. As
mesmas consequências produziria a certe za da infelici-
dade, em virtu de do desânimo que ganharia: a criat ura.
Ninguém se disporia a lutar cont ra a sente nça defin itiva
do destino. O conhecimento absoluto do futu ro seria ,
porta nto, um pres ente funesto, que nos conduziria ao dog-
ma da fatalidade, o mais perigoso de todos, o mais anti-
pático ao desenvolvimento das ideias. A ince rteza quan to
ao momento do nosso fim neste mundo é que nos faz
trab alha r até ao último batim ento do nosso coração. O
viaja nte levado por um veículo se entre ga ao movimento
que o fará cheg ar ao ponto demandado, sem pens ar em
lhe impor qualquer desvio, por esta r certo da sua impo-
t ência para consegui-lo. O mesmo se daria com o homem
que conhecesse o seu destino irrevogável. Se os videntes
pudessem infri ngir essa lei da Providência, igua lar-s e-iam
à Divindade. Por isso mesmo não é essa a missão que
lhes cabe.
No fenômeno da dupl a vista, por se acha r a alma
parcialmente liber ta do envoltó?io mate rial, que lhe limi-
264 MAGN ETISMO ESPIRI TUA L

ta as faculda des, não h á duração nem distâ ncia· visto


que lhes é dado abrang er o espaço e o t empo, t ~do se
lhe confund e n o present e. Livre dos entraves da ca rne,
ela j \~ga dos efeitos e das causas melhor do que nós,
q ue n ao podemo s fazer outro tanto; vê as consequ ências
d as coisas pr esentes e pode levar-n os a pressen ti-las.
:m neste sentido que se deve entende r o dom da presciê ncia
atribuíd o aos vidente s. Suas previsõ es resultam de ter a
a lma consciê ncia mais nítida do que existe e não de uma
prediçã o de coisas fortuita s, sem ligação com o present e.
l!; por dedução lógica do conheci do que ela chega ao
desconh ecido, depend ente muitas vezes da nossa maneir a
de procede r. Quando um perigo nos ameaça , se somos
avisado s, ficamos em condiçõ es de tentar tudo o que seja
preciso para evitá-lo , cabendo -nos a liberdad e de fazê-lo
ou não.
Em tal caso, o vidente tem diante de si um perigo
que se nos acha oculto; ele o assinala , indica o meio de
afastá-l o, pois de outro modo o acontec imento segue o
seu curso.
Suponh amos que uma carruag em envered ou por uma
estrada que vai dar num precipíc io que o conduto r não
pode percebe r. É evident e que, se nada ocorrer que a
desvie, ela ali se precipi tará. Suponh amos também que
um homem colocad o de maneir a a divisar a estrada em
toda a sua extensã o, vendo o perigo que corre o viajan-
te, consegu e avisá-lo a tempo de ele se desviar . O perigo
estará conjura do. Da sua posição , domina ndo o espaço,
o observa dor vê o que o viajante , cuja visão os acident es
do terreno circuns crevem , não logra divisar. Pode ele
ver se uma causa fortuita obstará à queda do outro:
conhece então, previam ente, o que se dará e prediz o
acontec imento.
Imagine mos que esse homem , do alto de uma mon-
tanha, divise ao longe, pela estrada , uma tropa inimiga
dirigind o-se para uma aldeia a que pretend e atear fogo.
Fácil lhe será, levados em conta o espaço e a velocida de,
prever quando a tropa chegará . Se, então, descend o à
aldeia, disser apenas: A tal hora a aldeia será incendia da,
caso o fato ocorra, ele passará , aos olhos da multidã o
MAGNETISMO ESPIRITUAL 265

ignorante, por a divinho, feiticeiro; entretanto, apenas viu


o que os outros não podiam ver e deduziu, do que vira,
as consequências.
Ora, o vidente, como esse homem, apreende e acom-
panha o curso dos acontecimentos; não lhes prevê o
resultado porque possua o dom de adivinhar: ele o vê
e, desde en tão, pode dizer-vos se estais no bom caminho,
indica r -vos outro melhor e anunciar o que se vos depa-
rará no ext remo do que seguis. ~. para vós, o fio de
Ariadne, mostrando a saída do labirinto.
Como se vê, longe está isso de predição propriamente
d ita, conforme a entendemos na acepção vulgar do ter-
m o. Nada foi tirado ao livre arbítrio do homem, que
conserva sempre a liberdade de agir ou não, de evitar
ou deixar que os acontecimentos se dêem, por sua von-
t ade, ou por sua inércia; indica-se-lhe um meio de chegar
ao fim, cabendo-lhe utilizá-lo. Supô-lo submetido a uma
fatalidade inexorável, com relação aos menores aconteci-
mentos da vida, é despojá-lo do seu mais belo atributo:
a inteligência; é assimilá-lo ao bruto. O vidente, pois,
não é um adivinho; é um ser que percebe o que não ve-
mos; é, para nós, o cão do cego. Nada nisto há, por-
tanto, que se contraponha aos desígnios da Providência
quanto ao segredo de nosso destino; é ela própria quem
nos dá um guia.
Tal o ponto de vista donde se deve considerar o
conhecimento do futuro, por parte das pessoas dotadas
de dupla vista. Se fôsse fortuito esse futuro, se depen-
desse do a que se chama acaso, se nenhuma ligação
tivesse com as circunstâncias, nenhuma clarividência po-
deria penetrá-lo e nenhuma certeza, nesse caso, ofere-
ceria qualquer previsão. O vidente (referimo-nos ao que
verdadeiramente o é), o vidente sério e não o charlatão
que simula sê-lo, o verdadeiro vidente não diz o que o
vulgo denomina «buena-dicha»; ele apenas prevê as con-
sequências que decorrerão do presente; nada mais e já
é muito.
Quantos erros, quantos passos em falso, quantas ten-
ta~ivas inúteis não evitaríamos, se tivéssemos sempre um
guia seguro a nos esclarecer; quantos homens se acham
266 MAG NETI SMO ESPI Rl'rlJ AL

deslo cados n a vida, por não se haver em lança do no ca-


minh o que a Natu reza lhes traça ra às facul dades ! Q ua n-
tos sof rem m alogr os por terem segui do os conse lhos de
uma obstin ação irrefl etida ! Uma pesso a poder ia ter-lh e
fal ado : ~Não empr eenda is isso, porqu e as vossa s fa-
culda des intele ctuais são insufi ciente s, porqu e não convé m
ao vosso carát er, nem à vossa const ituiçã o física , ou,
ainda , porqu e não sereis secun dados , como fora preci so;
ou, então , porqu e vos engan ais sobre o alcan ce do que
prete ndeis e topar eis com este emba raço que não pre-
vedes .» Nout ras circu nstân cias, ter-lh es-ia dito: «Sair -
-vos-e is bem de tal empr eendi mento , se vos condu zir-
des desta ou daque la mane ira; se evita rdes dar tal passo
que pode comp romet er-vo s.» Sond ando as dispo siçõe s e
os carac teres, poder ia dizer : «Desc onfiai de tal arma di-
lha que vos quere m prepa rar», acres centa ndo, em segui -
da: ~Esta is preve nidos , fiz o que me cump ria; mostr ei-
-vos o perig o; se sucum birde s, não acuse is a sorte , nem
a fatali dade, nem a Provi dênci a; acusa i-vos unica ment e
a vós mesm os. Que pode fazer o médic o, quand o o doen-
te não lhe dá atenç ão aos conse lhos? »
Capítulo XXVI ll
"Oui, l'ânie et la rai8on s'écrie,it d'un com-
111.unaccord: Entre Dieu et l'homme, il y a une
série d'étres gradueZlement croissant en intelli-
gence. L'dme humaine n'est pas le dernier terme
de la Création; il existe de purs esprits, et au-
-dessus de ces créatures célestes plane, de tout6
la di8tance qui sépare le créé de l'incréé, l'Btr~
éternel, l'Btre qui est parce qu'il est! . . . "
DR. CHARPIGNON.

O fenômeno da ressurreição das lembranças esqueci-


das de uma parte da vida, que Pitres batizou com o nome
de ecmnesia (274), foi assinalado por muitos autores que
se ocuparam com o sonambulismo.
Diz Richet (275):
«Se a memória ativa é profundamente perturb ada,
em compensação a memória passiva é exaltad a. Os so-
nâmbulos representam, com um luxo inaudito de porme-
nores precisos, os lugares que viram outrora , os fatos
aos quais assistiram. Têm eles descrito, durante o sono,
muito exatamente, tal cidade, tal casa que visitara m ou
entreviram antigamente, mas, ao acordarem, não podem
dizer o que fizeram em tempos idos, e X., que cantava
a ária do 2Q ato da «Africana», durante o sono, não lhe
pode achar uma só nota quando desperto.
«Eis uma mulher que foi, há 15 anos, passar uma
hora ou duas em Versalhes, e que esqueceu, quase com-

( 274) Gabriel Delmrne --- "Reenca rnação", pág. 135 .


( 275) Charles Richet - · .. L'Homm e et l'Intellig ence".
268 MAG NETI SMO E SPIR ITUA L

pletamente, esse curto passeio. t; mesm o absolutamente


incapaz de afinn ar que o deu. Entre tanto, se a fazem
dormir e falar de Versalhes, ela saberá descrever muito
fielmente as aveni das, as estátuas, as árvores. Verá o
parque, as aleias , a grande praça, e, com espan to dos
assist entes, dará detalhes extremamente precisos.,
Devemos a Bourru et Burot ( 276) a curiosa histó-
ria de J éanne R. :
Jéanne, de 24 anos, é uma jovem muito nervosa e
profundamente anêmica. i sujei ta a crises de choro e
soluços; não tem crises convulsivas, mas frequentes des-
maios; fàcilmente hipnotizável, dorme com profundo sono
e, ao acordar, perde a lembrança.
Disseram-lhe que se transportasse aos 6 anos. Ela
se acha com seus pais; faz-se serão, descascam-se as
castanhas. Quer dormir e pede para deitar-se. Cham a
seu irmão André para que a ajude a termi nar sua ta-
refa, mas este, em vez de traba lhar, diverte-se em fazer
casinhas com as castanhas. «i bem um vadio, descasca
umas dez e eu que descasque o resto.»
Nesse estado fala o patoá (limousin», não lê, mal
conhece o ABC. Não sabe uma palavra de francês. Sua.
irmãzinha Luísa não quer dormir. ~ preciso, diz ela,
ninar sempre minha irmã, que tem nove meses. Sua ati-
tude é de criança.
Depois de se lhe pôr a mão na fronte, diz-se-lhe
que vá à idade de 10 anos. Transforma-se-lhe a fisio-
nomia. Seu porte não é mais o mesmo. Ela se enco ntra
em Frais, no castelo da família Moustier, perto do qual
habitava. Vê quadros e os admira. Perg unta onde se
acham suas irmãs, que vieram com ela; vai ver se estão
na estrada. Fala como uma criança que está aprenden-
do a falar; vai, diz ela, à escola com as irmãs, há dois
anos, mas ficou muito tempo sem a frequentar. Sua mãe
esteve enferma longo tempo, e ela foi obrigada a cuida r
de seus irmãos. Começa a escrever há seis meses, lem-

( 276) B01trru et Burot - "Changéments de la persona-


lité", pág . 152.

J
MAGNETIS MO ESPIRITUAL 269

bra-se de um ditado que lhe deram quarta-feira, e es-


creve correnteme nte e de cor; foi o ditado que fêz com
a idade de dez anos. Diz não estar muito adiantada:
~Marie Coutureau tem menos erros que eu; estou sem-
pre perto de Marie Puybaudet e de Marie Coutureau ,
mas Louise Roland está perto de mim. Creio que Jéanne
Beaulieu é a que tem mais erros.>
Da mesma forma, disseram-lhe que fôsse aos 15
anos. Ela serve em Moutemart, em casa da Srta. Bru-
nerie: - 4'.Amanhã iremos a uma festa, a um casamento,
ao casamento de Batista Colombeau; o Marechal Léon
será o meu cavalheiro. Oh!, não irei ao baile, a Srta.
Brunerie não quer; eu bem que irei, por um quarto de
hora: ela, porém, não sabe.,
Sua conversa tem mais nexo do que há pouco. Es-
creve o «Petit Savoyard». A diferença das duas escritas
é muito grande. Ao acordar, fica espantada por haver
escrito o <<Petit Savoyard», que não conhece mais. Quan-
do lhe mostram o ditado que fêz aos dez anos, declara
que não foi ela quem o escreveu.
Comentando esse fenômeno, diz Delanne (277) que
se trata de uma superposição de impressões que não se
misturam, que permanecem em perfeita autonomia, e
que abraçam todos os estados da personalidade. Nas ca-
madas profundas da consciência se encontram fielmente
registrados todos os acontecimentos do passado, porque
eles lá deixaram traços indeléveis; as sensações ulterio-
res podem recobri-los até os fazer esquecer por completo,
mas não os destroem nunca.
Dessa categoria são as experiências realizadas por
Pierre Janet (278), professor de Filosofia na Sorbona.
Diz ele:
«Pode-se fazer que o paciente represente todas as
cenas da própria vida, e verificar, como se voltássemos
a cada época, os pormenores que ele acreditava com•

( 277 ) Gabriel Delanne - Obr . cit ., pág. 1S7.


(278 ) Pierre Janet - "O Automatismo psicológico"
página 160 .
270 MAGNETIS MO ESP IRITUAL

~Jetrunente esquecidos, e não os podia contar. L eo nie


ficou duas horas m etamorfoseada em m enina de dez anos
e r evivia sua exis tência , com vivacidade e alegria est ra-
nhas, gritando, correndo, chamando a boneca, falando
a pessoas d e quem não mais se lembrava, corno se a
pobre mulher t ivesse tornado, de f a to, aos dez a nos.
Apesar de es t ar, neste m omento, anestesiada do lado
esquerdo, retomava sua sensibilidade com pleta, para re-
presen tar aquele papel. As modificações da sensibili-
dade e dos fenômenos nervosos, por uma sugestão desse
gênero, dão lugar a singulares fenômenos. Eis uma obser -
vação, que parece um gracejo, mas que é exata, e, em
realid a de, bastante fácil de explicar.
«Sugiro a Rosa que não estamos em 1888, mas em
1886, no mês de Abril, para verificar, simplesmente, as
m odificações da sensibilidade que se poderiam produzir.
Dá-se porém um acidente bem estranho: ela geme, quei-
xa-se de fadiga, e de não poder caminhar. - Que tens?
- Nada, mas em minha situação! - Que situação? E la
me responde com um gesto; o ventre se lhe havia intu-
mescido de repente, e distendido por um acesso súbito
de timpanite histérica. Eu a tinha levado, sem o sa-
ber, a um período de sua vida em que estivera grávida.
Foi preciso suprimir a sugestão para que cessasse essa
situação.
«Estudos mais interessantes foram feitos com Ma-
ria, por esse meio: pude, trazendo-a, sucessivamente, a
vários períodos de sua existência, verificar os estados
diversos da sensibilidade pelos quais ela passou, e as
causas de todas as modificações.
«Assim, ela está agora cega da vista esquerda e
declara que o esteve desde que nasceu. Se a conduzimos
à idade de 7 anos, vemos que ainda está insensível da
vista esquerda; mas, se lhe sugerem que ela só tem 6
a nos, percebe-se que vê bem de ambos os olhos, e pode-
-se determinar a época e as circunstâncias muito curio-
sas em que perdeu a sensibilidade da vista esquerda.
A m emória realizou automàticamente u m estado de saú -
de d e que a paciente não tinha conserva do a menor
lembrança.~
271

f'\fl mtA tno R~"r·r o /. tAm ~tn A P•p~rlên~J4. r"':iU tA<J~


}'t)r ti() R.o r hfl.q ( 278 ) "º"'
A m/tcltum HrtA. MArla M&
~1,nt:1.tnbulJ
j,J,
JJ...
filhA <ir nn, Pn, t~n hrlr n ft3n rêtl . Pon to. ~m
or, em quf!
nil' . a ml--<iium ret on, s à encarnaçã() antêr1
t hf\nH1ve. Lin a, na épo ca de sua gra vid ez.
~fl'
rectUJac'I
A m~dium cho ra, torce-se, agarra.-se à aob na r~- -
m,
do Sr. de Rochas, enq uan to os seios apr ese nta
Hdade, volume ma ior que de ord iná rio
.
A médium se que ixa de dor es; de rep
ent e sos seg a
e diz : a tev e o
- Est á pro nto ; a cria nci nha nas ceu . Lin
seu bom-sucesso. ·
não se
Em um a época, diz De lan ne ( 280 ), em que mó ria,
da me
conheciam as exp eriê nci as sob re a reg res sãoírit o pod e ser
já ens ina va Ka rde c que, no Esp aço , o
Esp
mo do rec on-
ma gne tiza do, como na Ter ra, e por ess e
egr al. E cit a
qui sta r a ple nitu de de um a me mó ria int », pág . 175 :
o seg uin te fat o publicado na «Revue Spi rite est ima do,
«Tr ata -se do Esp írit o de um médico mu ito que, ape -
rin,
o Dr. Cailleu. Co nta ele, pelo mé diu m Mo ão, ach ou- se
sar de ter saído, hav ia mu ito, da per tur baç son o lúcido.
um dia em um est ado sem elh ant e ao de um um a esp éci e
Diz ele : qua ndo me u Esp írit o exp erim ent ousor te, ma gne -
de ent orp eci me nto , ach ava -me , de alg um a dev ia daí re-
tiza do pelo fluido de am igo s esp irit uai s; m ele s - é
sul tar um a sat isfa ção mo ral que - exp licaímu lo a que
a min ha recompensa, e, além disso, um est há mu itas
o,
con tinu e na est rad a que seg ue me u Esp írit por um son o
exi stê nci as já. Eu est ava , pois, ado rme cid o e em um pre -
ma gné tico esp irit ual ; vi o pas sad o for ma r-s des apa rec ida s
sen te fictício; reconheci ind ivid ual ida des o ma is que
no cor rer dos tempos, e que não tin ham sidr um a ,obr a
um e único indivíduo. Vi um ser com eçaape nas esbo-
médica, out ro ma is tar de con tin uar a obr a egu ei a ver,
çad a pelo primeiro, e ass im por dia nte . Ch ma r-se no
for
em menos tem po do que vos est ou a fal ar,

(27 9) Alb ert de Roc has - "Le s Vie s Suc ces sive s", p. 148.
( 280 ) Gab riel De' lann e - Ob r. cit. , pág . 157 .
272 MAGNETISMO IDSPlRITtJAL

decorrer das idades, aumentar , e tornar-se ciência, o que,


no principio, não passava dos primeiros ensaios de um
cérebro ocupado com o estudo do alívio do sofrer hu-
mano. Vi tudo isso, e quando chegu ei ao último destes
teres que tinham trazido, sucessivamente, um comple-
mento à obra, reconheci-me então. Ai tudo se apagou,
e voltei a ser o Espírito, ainda atrasado, do vosso po-
bre doutor.»
O Coronel Albert de Rochas estudou o fenômeno da
regressão da memória através de experiências realizadas
com 18 sonâmbulos, no período de 1893 a 1910, descr e-
vendo minuciosamente a imensa série de sessões, que
foram enfeixadas em seu livro «Les Vies Sucessives:,,
um alentado volume de 500 páginas, com numerosos de-
t alhes.
Citaremos resumidamente apenas o caso de Mme.
Trinchant, médium de cerca de 40 anos de idade, que ti-
nha a faculdade de provocar o fenômeno da escrita au-
tomática.
Posta em estado sonambúlico, de Rochas provocou
a regressão da memória por meio de sugestões : «tendes
25 anos, 10 anos ... »
~xito absoluto: ela toma a expressão e faz os ges-
tos da idade correspondente. Ã idade de um ano, ela en-
saia transformar o dedo do magnetizador em chupeta ...
Antes do seu nascimento, encontra-se em perturbação.
A princípio, não se lembra de ter vivido; depois, recor-
da-se de ter sido uma jovem árabe, cuja vida terminou
aos 20 anos de idade por um assassínio: fôra apunha-
lada por um ladrão. A mentalidade então dessa jovem
árabe era completamente absorvida pelos vestidos e pelos
seus cavalos, pois era riquíssima.
Antes dessa vida de jovem árabe, ela vivera, há mais
de mil anos, em Nápoles, em companhia de uma senhora,
que era sua grande amiga, e que, desencarnada, conti-
nuava ainda a protegê-la. Fôra essa amiga quem a im-
pelira a procurar o Sr. de Rochas, em Paris.
Sómente uma sessão havia sido realizada com Mme.
Trinchant. Alguns meses depois, ela escreveu ao Sr. de
Rochas a seguinte carta :

I
273
MAG NETI SMO ESPf fiITU AL

< •• •
1 Recordais as experiências de regressão da me-
mória que realizastes comigo por meio do sono magné-
tico? Vossas pergu ntas me levaram a dizer-vos que, em
uma existência anterior, havia habitado a Ãfrica, onde
fôra asass inada por um golpe de punhal. Narr ei à mi-
nha mãe, esboçando um sorriso, essa comunicação. Qual
não foi minha surpr esa quando ela me respondeu que,
duran te minha primeira infância, queixava-me muit as ve-
zes de experimentar a sensação brusc a de uma punh a-
lada, sensação inexata, evidentemente, para minh a vida
atual, mas que poderia ter certa relação com o assas sí-
nio de que teria sido vítima em uma existência anter ior.
«Acrescentarei, como circunstância inter essan te, que
um espírito amigo, engenheiro e homem digno, a quem
tive a ideia de falar de minha existência anter ior e do
assassínio de que teria sido vítima, ao mesmo tempo do
país que teria habitado, respondeu-me: «O Espír ito de
um dos meus amigos, Charles Carlier, disse-me que vos
conhece muito bem e de vos ter outro ra conhecido na
Arábia.» Isso me foi dito da forma mais categ órica e
mais positiva.'.'>
*
* *
Passemos a uma outra classe de fenômenos, a que
tivemos oportunidade de nos refer ir anteriormente.
~ a que se refer e à trans miss ão das sensações e
dos estados emotivos, que tanto pode ocorr er do mag-
netizador ao paciente, como deste àquele, como efeitos
reflexo-magnéticos, como ainda às pessoas posta s em
relação com os sonâmbulos.
Lafontaine (281) transcreve um curioso folhetim do
Sr. A. Lebrun com o titulo : «Transmissão das dores
de uma pessoa a outra», em que vem narra do o seguin-
te fato:
«Há dias encontrei dois poetas e um prosador. E

(281) Charles La/on taine - "Mém oires" , v. I, pág. 87.


27( MAGNE TISMO ESP IRITUA L

como a praxe, quando se fala de magnetismo, manda


que sejam citados os nomes, direi que os poetas eram
os Srs. Adolfo Mathieu e Van Hasselt, e o prosador o
Sr. Descham ps. O primeiro e o último eram dois incré-
dulos obstinados ; Van Hasselt já estava muito adiantad o
no caminho da fé, era um catecúmeno que só desejava
esclarecer-se completamente. Fui buscar os meus três
homens à rua des Cannes. Eu prevenir a o Sr. Montius
- o magnetizador -, que se encontrava em sua residên-
cia, já em companhia de uma sonâmbula. Imediatamente,
o operador pôs mãos à obra. A estranhe za da mímica
do magnetismo fêz rir interiormente os dois incrédulos.
Quanto ao Sr. Van Hasselt, estava grave e pensativo
como uma meditação de Lamarti ne. O Sr. Montius, per-
cebendo isso, concebeu logo uma opinião favorável do
poeta, e quis fazer com ele uma experiência. Nesse ín-
terim, a sonâmbula queixou-se de uma violenta dor de
cabeça que lhe ocorrera subitamente. O magneti zador
sorria com um ar de satisfação. Pergunt aram-lh e qual
o motivo desse misterioso sorriso.
- Na verdade, respondeu ele, fui eu quem lhe trans-
miti propositadamente a dor de cabeça.
Os incrédulos riram-se; mas a sonâmbula, que ou-
vira o Sr. Montius falar, exclamou:
- Se fostes vós que transmitistes, podeis retirá-la !
Retirai pois a dor! Desejo que a retireis !
- Um instante ! - disse o Sr. Montius.
E apoiando uma das mãos sobre a fronte da sonâm-
bula, e outra sobre a de Van Hasselt, fêz presente a este
da dor de cabeça da sonâmbula, que exclamou alegre-
mente:
- Obrigada! minha dor de cabeça já passou.
- Sim, ela passou, mas veio para mim ! - exclamou
vivamente o Sr. Van Hasselt com a fisionomia trans-
tornada.
Assim dizendo, o poeta batia a mão contra a tes-
ta, como para fazer sair uma ode, que se armava num
ponto . . . Estalãmos de riso, à exceção do paciente, cuja
MAGNE TISMO E SPIRITU AL 275

dor se tornava cada vez mais intensa. Suplicou ao mag-


netizado r que fizesse passá-la para outra cabeça.
- Tendes aqui a minha, disse então o Sr. Deschamps
( um clássico invetera do), e se conseguirdes fazer aqui
entrar o que há na cabeça do Sr. Van Hasselt, eu vos
proclam arei, não em verso, mas em prosa correta e po-
lida, um ser fantástico, um verdadeiro mágico!
- Tentarei, respondeu o magnetizador, porém, não
respondo pelo êxito ; a incredulidade é uma força que
pode repelir a ação magnética.
Ao mesmo tempo, erguendo o braço, colocou a mão
sobre a cabeça do Sr. Van Hasselt, e a outra sobre a
cabeça do Sr. Deschamps. Observei atentam ente a fisio-
nomia dest~ último; os dois cantos da sua boca, a prin-
cípio afastado s por um sorriso sardônico, aproxim aram-se
insensivelmente, de modo que, em instante s, formara m
um «o» perfeito. De repente, ele retirou a mão do Sr.
Montius, dizendo:
- Basta, eu me rendo! . . . Os diabos me levem, se
não tenho uma enxaqueca bem caracter izada!
- Nada mais tenho - disse por sua vez o Sr. Van
Hasselt.
- E eu começo a crer que estais todos combinados
para vos divertirdes à minha custa - disse o Sr. Ma-
thieu, que até então assim considerava a cena, parecendo
refletir profundamente.
- Transmiti-lhe portanto a dor, a fim de conven-
cê-lo - disse o Sr. Deschamps ao operador.
- Com todo o gosto - disse o Sr. Montius. E
operou sobre o Sr. Mathieu como fizera sobre os outros.
A experiência teve ainda pleno êxito, e tão completo
que o novo paciente sacudiu a cabeça por diversas vezes,
como para assegura r-se da tenacidade da dor que sentia.
Entretan to, quis conserva r a enxaqueca durante algum
tempo, receando que a sua convicção se dissipasse com
ela subitamente.»
298 MAGNETISMO ESPffiITUAL

~ assim, alternativamente, fiz passes, ora até à ex-


tr~m1dade das mãos, ora à dos pés, durante cerca de 10
min_utos, qu~ndo a paciente, pálida, com visível depressão,
pediu pa~a interromper a ação magnética, pois sentia que
1a desmaiar.
Exultei com essa solicitação, indício evidente de um
elevado grau de receptividade.
. In~errompi imediatamente a ação e fiz os passes de
dispersao, dando como encerrada a primeira sessão, de•
pois de a paciente me ter declarado aue se sentia bem.
Voltando para a segunda sessão,· dois dias depois,
notei no semblante da paciente maior confiança, como se
lhe renascesse a esperança de cura.
Repeti•lhe os mesmos passes durante 30 minutos,
verificando que melhor suportara a ação magnética, ten•
do acusado apenas peso na cabeça e dormência nos
braços.
Nas sessões subsequentes prossegui com os mesmos
processos, durante, em regra, quarenta e cinco minutos.
Procurava, assim com esses passes longitudinais, saturar
o corpo da paciente de fluidos.
Além disso, dirigi a minha ação insistentemente para
a parte inferior do corpo - ventre, rins, joelhos, barriga
das pernas, tornozelos - porque, por seu efeito atrativo
para os pés, no próprio sentido das correntes, produz uma
dispersão notável, acalma e descarrega abundantemente.
Depois de cerca de dois meses de magnetização, a
situação se apresentava bem mais animadora. As dores
haviam diminuído de intensidade e cessavam por com-
pleto durante longas horas após cada sessão. No espaço
de quarenta e oito horas, que mediava entre as sessões,
as dores se alternavam - ora no braço direito e no es•
querdo, ora nas pernas e sempre nas costas e mãos.
A paciente já conseguia dormir algumas horas du•
rante as noites, principalmente nos dias de sessão, apre-
sentando-se com uma aparência bem melhor.
Prosseguindo com os passes gerais, dirigi a minha
ação para a coluna vertebral. Colocava-me atrás da pa-
ciente e impunha•lhe a minha mão esquerda sobre o seu
ombro esquerdo, enquanto que com a minha mão direita
276 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Gauthier (282) cita o caso de uma senhora de cerca


de 50 anos que, presidindo aos diversos partos de sua
nora e ao colocar as mãos sobre o local da dor, sentia
e anunciava com antecedência as crises que deveriam
seguir-se.

(282) Aubin Gauthier - "Traité Pratique du Magnétis-


me et du Somnambulisme", pág. 233.

I
Capítulo XXIX
"O pen.,amento, utilizado como força magtt.é-
tica, poderia reparar bMtant~ d~orden. ,, de3-
truir muitas chagM sociais. Projetan do resoluta
e frequentemente nossa uontade ttobre os perver-
ttott, os transviad os, poderwm os con.,olar, conven-
cer, aliviar, curar. Por esse exer~ tte obteriam
ndo só resultados para o melhoram ento da es-
pécie, mas também se poderia dar ao pemame nto
ttma acuidade e uma /orça de penetraç4o incal-
culáveis . "

LroN DENIS - "Depois da Morte".

Verificámos na lição de Kardec, quando abordámos


o fenômeno da segunda vista, que esta se produz espon-
tâneamente, sem ser por efeito da vontade, e provoca
uma espécie de crise que, algumas vezes, modifica sen-
sivelmente o estado físico; e que há infinitos graus na
sua potencialidade, desde a sensação confusa, até a per-
cepção tão nítida quanto no sonambulismo.
Fenômenos análogos, dentro da generalidade, mas de
difícil classificação, como reconhece Kardec, pois a pa-
lavra videntie não explica com exatidão a ideia, são cita-
dos frequentemente pelos autores.
Um desses casos merece citado. t o apresentado por
Gibier (283), de que se serviu também de Rochas (284):
«M. H. é um jovem alto, louro, de uns 30 anos,
filho de pai escocês e mãe russa. t um artista grava-

(283) Dr. Paul Gibier - "Análise das Coisas", p. 124.


(284) Albert de Rochas - "Les Vies Successives", pá-
gina 281.
27~ MAGNETISMO ESPIRITUAL

dor, de talento. Seu pai foi dotado de faculdades mediú•


nicM muito poderosM. Sua mãe foi igualmente méd1um.
Conquanto nascido em um meio espiritualista, ele jamai8
ae ocupara de Espiritismo e nunca houvera experimen-
tado nada de anormal, até o momento em que sofreu
aquilo que apelidou de acidente e a respeito do qual veio
consultar-me, em princípios de 1887.
Há poucos dias, disse-me ele, entrava eu em casa,
pelas dez horas da noite, quando subitamente se apode-
rou de mim um sentimento de prostração estranha, que
eu não compreendia. Decidido, entretanto, a não me
deitar imediatamente, acendi a lâmpada e coloquei-a so-
bre a mesa da cabeceira, perto do leito. Apanhei um
charuto, acendi-o, aspirei algumas fumaças, depois me es-
tendi numa espreguiçadeira.
No momento em que indolentemente me virara de
costas, para encostar a cabeça na almofada do sofá, senti
que andavam à roda os objetos próximos, experimentei
como que um atordoamento, um vácuo; depois, de re-
pente, achei-me transportado ao meio do quarto. Sur-
preendido por este deslocamento, do qual não tinha cons-
ciência, olhei em torno de mim, e meu espanto aumentou
muito mais.
A princípio, dei comigo estendido no sofá, suave-
mente, sem rigidez, apenas tendo a mão esquerda acima
de mim, estando o cotovelo apoiado, e segurava o cha-
ruto aceso, cujo lume aparecia na penumbra produzida
pelo abajur da lâmpada. A primeira ideia que tive foi
que havia, sem dúvida, adormecido, e experimentava o
resultado de um sonho. Entretanto, reconhecia que nun-
ca sentira coisa semelhante e que me parecesse tão in-
tensamente a realidade. Direi mais: tinha a impressão
de que jamais havia estado tão deveras na realidade.
Compreendendo que não se tratava de um sonho, o se-
gundo pensamento que acudiu, de súbito, à minha ima-
ginação, foi de haver morrido. E, ao mesmo tempo, lem-
brei-me de ter ouvido dizer que há Espíritos, e pensei
que eu mesmo me tornara Espírito. Tudo quanto podia
saber sobre este assunto desenrolou-se longamente, mas
em menos tempo do que é preciso para lembrá-lo em

)
MAGNETISM O E SPI RIT UA L

de ter
minha vida interior. Lembro-me perfeitamente
iedade e
sido assaltado, então, por uma espécie de ans
receu-me
pesar por coisas inacabadas; a minha vida apa
qual uma profissão de fé.
o, ou
Aproximei-me de mim, ou antes, do meu corp
etáculo ,
do que acreditava ser já o meu cadáver. Um esp tem-
: con
que não compreendi logo, me atra iu a atenção
do meu
plei-me respirando, porém, vi mais o interior
em débeis
peito, e dentro dele o coração bat ia lentamente
gue, de
palpitações, mas com regularidade. Via meu san
Nesse mo-
um vermelho de fogo, correndo nas arté rias . ope de
mento compreendi que devia ter tido uma sínc ação
a
car áte r particular, a menos que as pessoas sob
de tud o
de uma síncope, pensava à parte, se esqueçam
ão, receei
quanto lhes ocorra durante o desmaio. Ent
perder a lembrança quando voltasse a mim ...
gun-
Sentindo-me mais animado, olhei ao redor, per
depois,
tando a mim mesmo até quando ia isso dur ar;
que con-
não fiz · mais caso do meu corpo, do outro eu,
o a ilu-
tinuava a repousar. Via a lâmpada continuand
ito per to
minar silenciosamente, pensei que ela esta va mu
segurei
do meu leito e poderia incendiar-lhe o cortinado: la, po-
gá-
o botão, isto é, na chave da torcida par a apa
sa! Sentia
rém, ainda aí, encontrei novo motivo de sur pre
por assim
perfeitamente o botão com a roseta, percebia,
ora desse
dizer, cada uma das suas moléculas, mas, emb
o movi-
voltas com os dedos, estes executavam sozinhos
mento, e debalde eu procurava mover o botão.
bora
Então, examinei-me a mim mesmo e vi que, em tia
o sen
minha mão pudesse pas sar atra vés do corpo, eu
branco, se
perfeitamente, e ele me pareceu vestido de
coloquei-
neste ponto a memória não me falha. Depois,
Em vez
-me diante do espelho, em fren te da chaminé.
a vista
de ver minha imagem no espelho, reparei que , pri-
-me
parecia .estender-se sem estorvo, e apareceram
quadros e
meiro, a parede, depois a par te posterior dos finalmen-
dos móveis que existiam na cas a do vizinho, e,
luz nesses
te, o interior do seu quarto. Notei a falt a de amente
aposentos, que a vista devassava, e divulguei clar
280 MAGNETISMO ESPIRITUAL

um raio de claridade, que, partindo do meu epigastro,


iluminava os objetos.
Ocorreu~me a ideia de penetrar na casa do vizinho,
a quem não conhecia, e que estava ausente de Paria na-
quele momento. Apenas pensei em visitar a primeira
sala, aí me achei conduzido. Como? Nada sei; mas julgo
que varei a parede tão fàcilmente quanto a vista a pe-
netrava. Assim me encontrei na casa do vizinho pela
primeira vez na minha vida. Examinei os quadros, gra-
vei seu aspecto na memória, dirigi-me a uma biblioteca
onde anotei com todo o cuidado muitos títulos de obras
colocadas numa prateleira à altura de meus olhos.
Para mudar de lugar, bastava-me querer e, sem es-
forço, achava-me imediatamente onde desejava ir.
Desse momento em diante, as minhas reminiscência!
ião muito vagas; sei que andei por longe, muito longe,
pela Itália, creio, mas não posso contar como empreguei
o tempo. Foi como se, não tendo mais ação sobre mim
mesmo, não sendo mais senhor das minhas ideias, andas-
se transportado de uma a outra parte, carregado para
onde meu pensamento me dirigisse. Ainda não tinha re-
cuperado a consciência; o pensamento se me dispersava
antes que eu pudesse apanhá-lo: a dona da casa, naquela
ocasião, levava a casa consigo.
O que posso acrescentar, concluindo, é que acordei
às cinco horas da manhã, no meu sofá, rígido, frio, segu-
rando ainda a ponta do charuto entre os dedos. A lâm-
pada apagara-se, enfumaçando o tubo. Atirei-me à cama
sem poder dormir e fui sacudido por um calafrio. Final-
mente conciliei o sono e, quando despertei, era dia claro.
Por meio de um estratagema inocente, no mesmo dia
induzi o porteiro da tal casa a ir examinar no aposento
&e tudo estava em ordem; e, subindo com ele, pude encon-
trar os móveis, os quadros vistos por mim, assim como
os títulos dos livros que houvera atentamente observado
durante a noite precedente.
Evitei com cuidado falar disso a qualquer pessoa, não
querendo passar por maluco ou alucinado; .. »
Esses fatos, comenta ainda Gibier, são raros. Se
fôssem vulgares, ninguém escreveria livros a esse respei-
MAGNETISMO ESPIRI TUAL 281

to ; de resto, não provocariam pasmo. Os fatos existem


e provam que, mesmo em vida, o homem pode assistir,
por assim dizer, à separação, ao desdobramento dos seus
diferentes principias.
Centenas de videntes, e já tivemos ocasião de assi-
nalar o fato, descrevem a forma pela qual a alma se
separa do corpo no momento da morte.
Um desses videntes, Jackson Davis, assim descreve
o momento crítico (285) :
«Minhas faculdades de vidência me permiti ram estu-
dar o fenômeno psíquico e psicológico da morte à cabe-
ceira de um moribundo.
Tratav a-se de uma senhora de cerca de sessent a anos,
a quem havia dado muitas vezes conselhos médicos. Quan-
do a hora da morte chegou, estava eu gozando muito boa
saúde, o que permitiu que pudesse exercer livremente,
sem qualquer obstáculo, as minhas faculdades de vidente.
Coloquei-me de maneira a não ser visto ou perturb ado
nas minhas observações psíquicas, e pus-me a estuda r
com acurad a atenção os misteriosos processos da morte.
Vi que a organização física não podia mais bastar
às necessidades do princípio intelectual, mas diversos ór- ,
gãos internos pareciam resistir à partida da alma. O
sistema vascula r se debatia para reter o princípio vital;
o sistema nervoso lutava com todo o seu poder contra
a «debacle» dos sentidos físicos, e o sistema cerebral es-
forçava-se para reter o principio intelectual. O corpo e
a alma, como dois esposos, resistiam à sua separação
absoluta. Esses conflitos internos pareciam a princípio
produzir sens~õ es penosas e perturbadoras, mas quedei-
-me tranquilo e mesmo feliz quando me apercebi que essas
manifestações físicas indicavam - não a dor e a angús-
tia -, mas simplesmente a separação da alma e do corpo.
Logo depois, a cabeça foi envolvida por uma atmos-
fera brilhante; de repente, vi o cérebro e o cerebelo es-
tenderem suas partes interiores, fazendo cessar suas fun-
ções galvânicas,; eles se tornara m saturad os de princípios

(285) Albert de Rochas - Obr. cit., pág. 287.


2~2 MAONl\.~ tSMO Jt~8PI Rt1' UAL

,·itais de eletr icida de ~ de magnellaroo que ponetr.11vam


pelas l)S.rte ~. sccltnd6.rias do corpo. Por1 outras palavr-311 :
o cén-bro subitamente ee tomou dez vezes mais vigor080
do que no seu estado normal. Esse fenômeno precede
invariàvelmente a dissolução física.
A seguir, verifique i o processo pelo qual a alma se
separa do corpo. O cérebro atrai os elementos de eletrl-
cidade, magnetism o, vida, movimento, sensibilidade, espa -
lhados por todo o organismo.
A cabeça ficou como que iluminad a e notei que, ao
mesmo tempo, as -extremidades se toma ram frias e es-
curas; o cérebro tomou um brilho parti cula r.
Em torno dessa atmosfera fluídica que envolvia a
cabeça, vi formar-se uma outr a cabeça que se desenhava
cada vez mais nitidamente; ela era tão brilhante que
eu só podia fixá-la com dificuldade, mas, à medida que
esta cabeça fluídica se condensava, a atmosfera brilhan-
te desaparecia. Daí deduzi que esses princípios fluídicos
que haviam sido atraídos de todas as parte s do corpo para
o cérebro, e então eliminados sob a fonn a de uma atmos-
fera particular, estavam antes unidos sólidamente de
acordo com o princípio superior de afinidade do Univer-
so, que se faz sempre sentir em cada parcela da matéria.
Com surpresa e admiração, segui as fases do fenômeno.
Do mesmo modo que a cabeça fluí dica, vi forma-
rem-se sucessivamente o pescoço, as espáduas, o dorso,
e enfim o conjunto do corpo fluídico. Tomou-se evidente
para mim que as partes intelectuais do ser humano são
dotadas duma afinidade eletiva que permite a sua reu-
nião no momento da morte. As deformidades do corpo
físico haviam desaparecido do corpo fluíd.ico.
Enquanto esse fenômeno espiritualista se desenvolvia
diante das minhas faculdades particulares, de outro lado,
para os olhos materiais das pessoas presentes no quarto,
o corpo da agonizante parecia experimentar sintomas de
angústia e de penosas dificuldades, que eram puramente
fictícios, pois provinham tão só da separação das forças
vitais e intelectuais, que se retiravam de todo o corpo
para se concentrarem no cérebro e, em seguida, no novo
organismo.
MAGN ETISM O ESPIR ITUA L 28~

O Espir ito ( ou Int.eligência desen carna da) ee colocou


no lngulo direit o da cabeç a do corpo aband onado , mas,
antes da separ ação final do laço que havia ligado duran -
te tanto tempo os elementos mater iais e intele etuais , vi
uma corre nte de eletri cidad e vital forma r-se na cabeç a
da agoni zante e na parte baixa do corpo fluídico. Isso
me deu a convicção de que a morte mais não era do que
um renas cimen to da alma ou do espíri to, passa ndo de
um estad o inferi or para um estad o super ior, e que o
nasci mento de uma crian ça neste mund o ou de um Es-
pírito no outro mundo eram fatos idênticos. Nada aí
falta, nem mesmo o cordã o umbilical, sob a forma de um
laço de eletri cidad e vital. Esse laço perma neceu duran te
algum tempo entre os dois organismos. Descobri então
o que me passa ra despercebido em minh as observações
psíquicas, isto é, que uma peque na parte do fluido vital
volta va ao corpo mater ial logo que o cordão ou laço
elétri co era rompido; esse eleme nto fluídico ou elétrico,
espal hando -se por todo o organismo, imped ia a dissolução
imed iata do corpo.
Não é prude nte enter rar o corpo antes que a de-
composição tenha começado. O cordã o umbilical a que
me referi não está muita s vezes ainda rompido. :m o que
acontece nos casos de morte apare nte, em que os indi-
víduos volta m à vida depois de um ou dois dias, como
na letarg ia, na catalepsia, etc.
Logo que a alma da pessoa que eu obser vava ficou
desem baraç ada dos laços terres tres do corpo, verifi quei
que o organismo fluídico era aprop riado ao seu novo es-
tado, mas que o conju nto se assem elhav a à aparê ncia
terres tre. Não me foi possível saber o que se passa va
nessa Inteli gênci a rediviva, mas lhe notei a calma e o
espan to ante a dor profu nda dos que chora vam ao lado
do seu corpo.
As lágrim as e as lamentações excessivas dos paren -
tes não provi nham senão do ponto de vista em que a
maior ia da Huma nidad e se coloca, isto é, da crenç a ma-
terial de que tudo acaba com a morte do corpo. Pelas
minha s diver sas experiências, posso afirm ar que, se uma
284 MAONIDTtSMO fflSPJRlTlJ A L

pessoa morre nBtUrt\Jmcnte, a alma n,o exper1mentll


nenhuma ecnsação dolorosa.
O período de t rnnsf orma çã,o acim a descr ito dura cer..
ca de duas horas , mRS não é o mesmo para tod08 os
eeres hun1anos. Se todos pudessem ver com os olhos
da alma, perce beria m ao la.do do corpo rígido uma form a
fluídi ca com a mesma aparência da pessoa que morre,
mas essa form a é mais bela e como que animada duma
vida. mais exuberante.,

Como se vê, não foi possível ao vidente, no caso


relatado, saber o que se passava com a Inteligência que
retornava ao mundo espiritual.
No livro de Francisco Cândido Xavier - «Voltei:.
- (286), encontramos não só a confirmação, aliás, de-
senvolvida e detalhada, do que ocorre no momento da
morte, mas também as primeiras sensações da alma ao
separar-se do corpo.
É desse livro a trans criçã o seguinte, à guisa de
elucidação:
«Alongando o raio de meu olhar, verifiquei a exis-
tência de prateado fio, ligando-me o novo organismo à
cabeça imobilizada.
Tortu rante emoção apossou-se de mim.
Eu seria o cadáver ou o cadáver seria eu? Por in-
termédio de que boca pretendia falar ? da que se fechara.
no corpo ou da que me serviria agora? Através de que
ouvidos assinalava as palavras de Marta?
Intentando ver pelos olhos mortos, senti-me atira do
novamente a espesso nevoeiro.
Assustado, soergui-me mentalmente.
Aquele grilhão tênue a unir-me com os despojos era
bem um fio de forças vivas, jungindo-me à maté ria den-
sa, semelhando-se ao cordão umbilical que liga o nasci-
turo ao seio feminino. Fitando, então, o corpo repousado
e inerte, simbolizando templo materno ao meu ser que

( 286) Franc isco Cândido Xavie r - "Voltei", pelo Es-


pirito do Irmão Jacob , pág. 30 .
MAGN ETIS MO ESPIR ITUA L
285

r essur gia na E spirit ualid ade, recor dei, certa mente in8pi-
rado pelos amig os que ali me socor riam, a enorm idade
dos meus débit os para com a carcaça que me retive ra
no Plane ta por exten sos e abenç oados anos. Devia-lhe
à coope ração precio so amon toado de conhe cimen tos, cujo
va lor inesti máve l naque la hora recon hecia . Cabia -me ven-
cer o ma l-esta r e a repug nânci a.
Tranq uilize i-me. Come cei a consi derar o corpo , mir-
rado e frio, como valios o comp anhei ro do qual me afas-
taria em defin itivo. Enqu anto perdu rou a nossa entro -
sagem , benef iciara -me ao conta cto da luta huma na. Jun-
to dele, recol hera bênçã os inext inguí veis. Sem ele, por
que proce ssos conti nuari a o apren dizad o? Fixei -o, enter -
necido, mas, aume ntand o o meu intere sse pela organ i-
zação da carne , imóve l, incap az de separ ar emoç ões e
seleci oná-la s, afund ei-me nas impre ssões de angú stia. Mi-
nhas energ ias parec iam retran sferir -se, acele radam ente,
ao envol tório aband onado .
Insup ortáv el const rangi ment o marti rizav a-me . Perce -
bi os confl itos da carne desgo verna da. A difere nça apre-
senta da pelos órgão s impu nha-m e terrív el desag rado. ~
Capítulo XXX
"O pensamento é o gerador dos in/racor-
pú.,culos ou da8 linhas de /orça do mundo svb-
atômico, criador de correntes de bem ou de mal,
grandeza ou decad~ncia, vida ou morte, segundo
a 1)0>itade que o exterioriza e dirige. E a moradia
dos homens ainda está mergulhada em fluidos °"
em pensamentos vivos e semicondensados de ea-
treiteza espiritual, brutalidade, angústia, ,ncom-
preensão, rudeza, preguiça_, má vontade, egoísmo,
injustiça, crueldade, separação, discórdia, indife-
rença., ódio, sombra e miséria .. . "

( FRANCISCO e. XAVIER - "Roteiro",


pelo Espirito de Emmanuel, pág. 120.)

Dos inúmeros casos de cura pela ação do magnetismo,


quando frustrados foram todos os recursos da Ciência,
dois merecem destaque. Um extraído da obra de Bué ( 287)
e o outro ocorrido nesta cidade.
O primeiro é assim relatado:
«Estamos em Setembro de 1873. Achava-me ainda
em Angers, no 11 9 Regimento de Couraceiros ( antigos
Carabineiros da Guarda) e tinha resolvido retirar-me do
Exército, a fim de me entregar mais livremente aos es-
tudos. As numerosas experiências magnéticas que tinha
feito, desde muitos anos, nessa cidade, e os resultados
que obtivera em casos reputados incuráveis pela própria
Academia, tinham-me granjeado uma certa notoriedade.
Recebi de um negociante da cidade, Sr. Dr., a longa

(287) Al/011se Bué - "Le Magnétisme Curatif", p. 175.


MA GNETISMO ES PIR ITU AL 287

a extensão, trans--
observação seguinte. e. ap esa r da su a do doente e da
crevo-a por inteiro. porque dá, a.cerc
de tal modo inte-
sua moléstia. detalhes mu ito preciMs. caso que vou ex-
ressantes. que eu não poderia fa.7.er do
po r uma pin tur a mais empolgante.
eira da insu-
Nada pode da r melhor uma ideia verdadples narração
sim
ficiência da art e médica. do que est a a enfermidade e
de um homem cruelmente atacado pel e cinco anos, à
te
pedindo, debalde, durante mais de vinentos. Mostra-nos,
Medicina um alívio aos seus sofrim
stres dessa arte,
também, como às vezes os maiores me podem tra nsv iar -
imbuídos de um pirronismo intratável, as de seu s pre-
im
-se nos seus julgamentos e tor na r vítdos compromissos,
conceitos pessoais aqueles que, à fé toriedade de que
no
cheios de cega confiança na elevada
gozam, vêm apelar pa ra as sua s luzes.
«Angers, 24 de Setembro de 1873.
«Senhor.
21 an os) , fui
«No inverno do ano de 1850 ( tin ha eu dos rins, que
tia
subitamente afetado de violenta molésaguda que pa rti a
em breve se complicou com uma do r ento ao nervo ciá-
do quadril direito e descia, em seguim nas.
tico, até ao joelho e à ba rri ga das per tivesse apa-
«Tintureiro de profissão, é provável que ra o rio, a
cina pa
nhado um resfriado ao pa ssa r da ofi ra o hospital e
pa
fim de lav ar as lãs ; tive que en tra r
banhos sulfurosos,
seguir um tratamento. Tomei alguns vesicatórios volan-
sem resultado; depois, aplicaram-me ·pernas.
s
tes sobre os rins, coxas e ba rri ga da meira aplicação,
«Não tendo produzido efeito est a pri
curados com clori-
deixaram-na, e os vesicatórios foram
dias, tendo melho-
dratio de morfina. Ao fim de alg un s
mi nh a constituição
rado, - o que atribuo an tes à força da
sai r do hospital.
do que ao próprio tra tam en to -, pudepo r isso que expe-
Longe est av a de considerar-me curado, o o lado direito
rimentava sempre dores atrozes em todAconselharam-me
e era obrigado a caminhar de muletas.
288 MAGNETISMO ESPIRITUAL

tis~as quentes e fumigações de hera aquecida ao forno,


a f un de determinar abundantes transpirações.
«Os suores acalmavam. um pouco as dores, mas en-
fraqueciam-me consideràvelmente.
«Contudo, pouco a pouco, consegui recuperar certa
energia. Abandonei as muletas pelo uso de uma simples
bengala, e finalmente, com auxílio da calma do Estio,
breve me achei suficientemente forte para recomeçar o
trabalho.
«Passados dezoito meses, a moléstia voltou com in-
crível violência. Ocorreu-me a ideia de usar banhos de
vapor, que já me haviam aliviado no começo da enfer-
midade. Como estávamos em pleno inverno, fiz-me trans-
portar para a abadia do Port-Engeard, próximo de Lavai,
onde me prodigalizaram os maiores desvelos. Mas os ba-
nhos de vapor não me deram alívio algum.
«Nesta época, caiu-me às mãos um livro de Medicina.
O autor, antigo membro da Faculdade de Medicina de
Paris, era o Rev. Pe. Debreyne, então trapista no Con-
vento de Mortagne (Orne).
«Nesta obra tratava-se de uma cura especial a que
tinham cedido numerosos casos de moléstias semelhantes
à minha. De tal modo •eu sofria, que resolvi ir solicitar
os cuidados do Rev. Pe. Debreyne. Fiz-me transportar
a Mortagne; mas ali recusaram admitir-me como pensio-
nista do Convento, e como se tratasse da aplicação de
largas moxas nos rins, no quadril e no joelho, hesitei
submeter-me a tratamento tão violento, e, logo depois,
pus-me a caminho.
«Estava desesperado. Meu estado, longe de melhorar,
tornava-se mais grave. Tomei uma deliberação definitiva.
Era absolutamente necessário reconquistar ràpidamente
a saúde, a fim de poder recomeçar o meu ofício e ganhar
a vida. Decidi-me partir para Paris.
«Ali, dizia eu, irei encontrar os médicos mais justa-
mente afamados, os príncipes da Ciência infalivelmente
me curarão.
«Cheguei, todo esperança, à grande cidade e imedia-
tamente me dirigi à consulta dos médicos de serviço noa
hospitais; apresentei-me sucessivamente à portaria do de

i
MAGNETISMO ESPIR ITUA L 28S)

S. Louis, ~auj on e Charité. Nessas visitas, soube que


o Dr. Bou1llaud era decano da Faculdade; indicaram~no
como um dos médicos mais hábeis de Paris. Resolvi re~
correr aos seus cuidados.
«Infelizmente, eu não era rico, e para entrar para
a clinica hospitalar do Dr. Bouillaud era necessário de-
clarar que morava em Paris e que ali exercia o meu em-
p~e~o há dois anos. Não hesitei empregar um subter-
fugio para poder fazer-me trata r pelo célebre doutor.
«No dia seguinte ao da minha entrada no hospital,
aguardava com ansiedade a hora da visita, quando vi o
Dr. Bouillaud aproximar-se do meu leito; depois de um
exame superficial, perguntou-me de que sofria.
- «Sofro há muito tempo, doutor - disse-lhe eu -,
de uma ciática aguda; é, pelo menos, assim que os médi-
cos que me têm tratado denominaram a moléstia; alguns
também pretendem seja infecção sacroooxálglca.
._ «Então - diz o doutor - fizestes estudos de
Medicina, meu rapaz?
- «Não, senhor doutor - respondi-lhe -, mas, in-
felizmente para mim, tenho ouvido muitas vezes falar dos
meus sofrimentos, aqueles que em vão têm procurado
curá-los, e apenas repito o que tenho ouvido falar. Tenho
estado tão gravemente afetado que, afinal, pensou-se por
momentos num amolecimento da medula espinhal.
- «Ora essa. Estais caçoando - disse o doutor,
Bl)rrindo - ; dizei, antes, que não há trabalho em Paris
neste momento, e que o hospital é um bom refúgio para
a má estação.
«E dirigindo-se para o leito próximo, sem mais preo-
cupar-se comigo e com o meu estado de saúde:
- «Dieta de saída a este rapaz - acrescentou ele.
«Fiquei consternado com esse acolhimento tão ines-
perado, e, para most rar ao doutor que não era o homem
que supunha, tirei da minha carteira as receitas dos mé-
dicos de Lavai que me haviam tratado. Estes testemu-
nhos, embora provassem realmente a minha moléstia, pu-
seram a descoberto o embuste bem inocente que eu havia
empregado para ter entrada no hospital.
«O Dr. Bouillaud, surpreendido com o tom resoluto
10
290
MAGNETISMO ESPIR ITUAL

com que eu lhe falara e no qual não podia deixar de


transp arecer o desap ontamento e a cólera voltou exami -
nou os papeis· · que eu atirar
• a sobre a cama,
' e,' depois
de c~ncentrar-sc um pouco, receitou que me aplicassem
dezoito ventos as escarificadas sobre a região renal e que
conse rvassem o sangue até à sua próxima visit a.
<<No dia seguinte, quando fêz de novo a sua visita
e passou pelo meu leito, ao apresentarem-lhe o sangue
que me tinham tirado, perguntou-me:
«De que lugar sois?
- «Da Morbihan - respondi-lhe.
- «Tão somente pelo exame do sangue eu deveria
adivinhar.
«E voltando-se para o séquito :
- «Vêde, senhores - disse ele -, como este sangue
é rico de seiva. Como este não encontramos outro no De-
partam ento do Sena.
«E ordenou de novo que me dessem alta.
«Decididamente, o doutor persistia em não acreditar
na realidade da minha moléstia.
«Eu não podia compreender porque me eram recusa-
dos os cuidados que viera procu rar tão longe e de que
tinha imperiosa necessidade; esbofei-me em persuadir o
doutor, insisti ardentemente para que me deixassem ficar.
Propu s tomar um quarto partic ular e pagar uma pensão.
Nada pôde demover o Dr. Bouillaud da sua decisão; obje-
tou-me que tinha o tempo tomado com os doentes do
Departamento, que não podia presta r cuidados aos estra-
nhos. Tive que sair.
«Fiquei alguns dias na casa de um paren te que quis
acolher-me. Depois entrei para o Hospital Beaujon, no
arraba lde do Roule, ao serviço do Dr. Ribert.
«Fui submetido, pouco depois de minha entrada, a
uma conferência de que faziam parte os Drs. Ribert,
Labbée, Velpeau, Ricord e Bouillaud. Esses senhores, e
o próprio Dr. Bouillaud, que alguns dias antes não qui-
sera recolher-me doente e me expulsara do seu hospit al,
decidiram que se devia aplicar-me a cauterização trans-
corrente de ferro em brasa dos rins até aos calcanhares.
,
N

«Cloroformizaram-me para fazer esta cruel operaçao.


MAGNETISMO ESPffiITUAL 291

Na ocasião nada senti; mas alguns dias depois, ao come-


çar a supuração, sofri torturas mil vezes mais horríveis
que a própria moléstia. Ao fim de quarenta dias, quan-
do as feridas feitas pelo ferro em brasa estavam apenas
cicatrizadas, falaram em submeter-me a uma segunda
operação. Não pude resolver-me a suportar novas tor-
turas e deixei o hospital.
<Já não sabendo a que santo recorrer, mais abatido
pelos ~tamentos violentos que tinha sofrido do que mes-
mo pela moléstia, fui procurar um médico homeopata,
cujas prescrições segui durante alguns dias ; depois, deci-
di-me voltar para Laval.
«Chefe de uma tinturaria, e já não estando obri-
gado a um trabalho manual fatigante, pude restabelecer-
-me aos poucos. Parei com todos os remédios e limitei-me
simplesmente a cobrir-me de lã. A moléstia desapareceu
com o correr do tempo e julgava-me restabelecido, quan-
do, dois anos depois, ela reapareceu bruscamente.
«Entrei para o hospital da localidade, onde fui sub-
metido a uma conferência. Fiz a exposição da minha mo-
léstia e do tratamento que me fizeram sofrer em Paris,
no Hospital Beaujon.
«No dia seguinte, o Dr. Hubert, em cuja enfermaria
me achava, mandou que eu ficasse nu no meu leito, e,
sem advertir-me do que ia fazer, de pincel em punho,
cobriu-me a pele, desde a nuca até os calcanhares, de
ácido sulfúrico, renovando com este cáustico violento as
cauterizações que me haviam feito em Paris com o ferro
em brasa. Um banho, que posteriormente me fizeram
tomar, trouxe uma supuração abundante, que me ocasio-
nou sofrimentos inenarráveis. Apesar de toda a minha
coragem e do ardente desejo que tinha de curar-me, tive
que renunciar ao tratamento que queriam renovar; e, dei-
xando o hospital, fui em demanda do Port Engeard, a
fim de descansar das torturas que me haviam feito sofrer,
e tomar alguDE banhos de vapor. Voltou a boa estação,
e, como sempre, com o calor reapareceu a saúde.
«Durante alguns anos, estive quase bom, julgava-me
livre dessa terrível moléstia, quando em 1859, estando
em Angers, como gerente de tinturaria na casa do Sr.
292 MAGNETISM O ESPffiITUAL

(?_riolle, fui de novo surpreendido pelas dores; como, en-


tao, me achava casado, fiz-me tratar em minha casa.
«Aplicaram primeiramente alguns vesicatórios, depois
me fizeram uma operação muito dolorosa, enterrando-me
na perna, ao longo do nervo ciãtico, catone agulhas.
«Depois dessa operação, tornando-se as dores mais
agudas do que nunca, procuraram acalmã-las com inje-
ções subcutâneas de morfina, fricções de linimentos di-
ferentes, tais como óleo canforado, bálsamo tranquilo,
óleo de meimendro, terebintina, etc., mas sem resulta-
do algum.
«Fatigado de ser deste modo torturado pela Medici-
na, sem alcançar nenhum alivio, acabei renunciando aos
médicos e contentei-me em ficar bem agasalhado e tomar
alguns banhos.
«Assim me fui arrastando durante dois anos, e afi-
nal me restabeleci inteiramente, pelo menos na aparên-
cia, porque de vez em quando experimentava ainda al-
gumas dores, que, entretanto, eram suportáveis.
«Durante a guerra de 1870, fui chamado à tinturaria
a fim de preparar os tecidos para o nosso Exército; apa-
nhei um resfriado que me trouxe uma recaída; minha
saúde desde então se alterou sensivelmente, e, apesar do
desgosto pronunciado que tinha para qualquer espécie
de tratamento, fui constrangido pelas circunstâncias a
entregar-me de novo aos médicos.
«Aconselharam-me as águas minerais, mandaram-me
sucessivamente para as termas de Mont-Dôre, de Bar-
botan e de Bagneres-de-Luchon.
«Longe de me acalmarem as dores, este novo tra-
tamento exasperou-as a tal ponto que a moléstia Re
complicou.
«Fiquei afetado de constipações tenazes e de cóli-
cas medonhas; as vísceras pareceram atacadas, como os
músculos, dessas dores pungentes, que me faziam desejar
a morte; todo o lado esquerdo, até então poupado, ficou
sofrendo como o direito.
«Fizeram-me passar, nessa ocasião, por todas as tor-
turas dos primeiros tratamentos : tintura de iodo, vesica-
MAGNETISMO ESPIRIT UAL 293

t~rios com cloridrato de morfina, injeções subcutAneas,


picadas de agulha, moscas, etc.
«Desde essa época, a moléstia só piorou; os ataques,
que se tornaram mais terríveis do que nunca, conserva-
vam uma periodicidade desoladora; das cinco horas da
tarde até meia-noite, não cesso de gritar; já não tenho
sono, nem posso conservar-me em posição alguma; todo
o lado esquerdo do corpo vai-se atrofiando e faz-me so-
frer horrivelmente; desde o quadril até os dedos do pé,
experimento dores lancinantes, afigurando-se-me cavarem
o osso da perna e arrancarem a rótula; os músculos apre-
sentam tremores e sobressaltos constantes; sinto alter-
nadamente calor ardente e frio intenso; a carne e a epi-
derme são de uma sensibilidade tal que me parece que
a carne está desnudada; qualquer contacto, por mais leve
que seja, é um sofrimento para mim.
«Não tenho esperança alguma de restabelecer-me
pelos meios comuns; e, ouvindo falar de vós, venho ape-
lar para os vossos bons cuidados, a fim de tirar-me desta
situação lamentável, se efetivamente julgais que o Mag-
netismo pode intervir beneficamente neste caso.
(Assinado) D.»

Comovido com essa extensa narração de sofrimento,


fui visitar o doente.
De simples operário, o Sr. D. tornara-se um dos
importantes negociantes da cidade de Angers; encontrei-o
na pequena sala de sua residência, todo vestido, envolto
em cobertores, estendido num canapé e incapaz de fazer
qualquer movimento. Era assim que ele passava dias e
noites e havia deliberado não mais despir-se para dei-
tar, por isso que qualquer movimento ou contacto lhe
arranca gritos. Fêz-me de novo a narrativa dos seus
males e, mostrando-me um revólver sobre a mesa, ao
alcance da mão, disse, banhado em lágrimas: «Há muito
tempo que teria acabado com a vida se não tivesse mu-
lher e filhos.»
No dia seguinte, comecei o tratamento ma~nétic_o.
Desde as primeiras sessões tive a inestimável sabsfaçao
294 MAGNETISMO ESPIRITUAL

de obter um resultado que permitiu favorável prognós-


tico sobre o êxito do tratamento; manifestou-se uma
melhora sensível, as crises diminuíram pouco a pouco de
intensidade, o sono voltou. Ao fim de duas ou três se-
manas, o doente conservava-se de pé e podia dar alguns
passos, a principio apoiando-se em duas bengalas e ar-
rastando dificilmente as pernas; mais tarde, com maior
f àcilidade.
Finalmente, o tratamento fêz tais progressos, que,
dois meses depois, nos primeiros dias de Dezembro, en-
contrei o Sr. D. em tão boas condições que cessei de
prodigalizar-lhe cuidados e confiei-o ao seu primeiro em-
pregado, um jovem muito inteligente, a quem mostrara
minha maneira de proceder, fazendo-o assistir às sessões
de Magnetismo.
Foi ele quem, por meio de magnetizações cada vez
mais espaçadas, terminou a cura e favoreceu o retorno
das forças que ainda faltavam ao patrão.
Apesar da estação desfavorável em que nos encon-
trávamos, o Magneti~1no tinha atuado com uma rapidez
que eu estava longe de esperar; o doente achava-se em
estado tão lastimável, tinha passado tantos anos em pe-
ripécias de tal ordem, que eu não podia contar com uma
cura tão pronta.
Eis aqui, certamente, um dos casos mais curiosos
da ação magnética, e não se pode deixar de estabelecer
um paralelo entre este modo de tratamento tão simples,
consistindo em alguns passes e imposições, sem sono pro-
vocado, e as violências que a medicina oficial impôs a
este infeliz doente, durante 25 anos consecutivos.»

)
Capftulo XXXI
"O poder da fé se demo?"stra, de mo~o direto
e especial na ação magn ética; por seu ,nterm é-
dio, o hor:iem atua sobre o fluido , agente uni~e r-
sal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma im-
pulsão por assi·m dizer irresisUvel. Daí _decorre
que aquele que, a um grande poder flufdi co nor-
mal, junta ardente fé, pode, só pela força d<!' s-ua
vontade dirigi da para o bem, opera r esses singu -
lares fenômenos de cura e outros, tidos antig a-
mente por prodígios, mas que não passa.m de
efeitos de uma lei natur al. Tal o motiv o por que
Jesus disse a seus apóstolos: se não o curaste~,
foi porque não tendes fé."

( ALLA N KARDEC - "O Evan gelho


segundo o Espir itismo ", pág. 255. )

O caso ocorrido nesta cidade, a que atrás nos refe-


rimos e que pode ser considerado como um dos mais
curiosos da ação magnética, apresenta como paciente a
Sr. M. W., de 27 anos de idade.
Os padecimentos dessa senhora são assim relata dos
por ela própr ia:
«Cerca de 9 meses após o nascimento de minha filha,
comecei a sentir sintomas de reumatismo em todo o cor-
po, principalmente nas articulações.
Iniciei o tratam ento médico, tendo consultado inúme-
ras autoridades no assunto. Durante quatr o anos conse-
cutivos, submeti-me aos mais diversos processos aconse-
lhados para o caso em que me encontrava. Fora m quatro
anos de contínuos sofrimentos, de apreensões e angús-
tias indescritíveis. Tomei muitas injeções, banhos de for-
no, massagens, drogas etc. E, finalmente, até banhos
296 MAGNETISMO ESPIR ITUA L

de parafi na fervente me foram aplicados nas junta s das


mãos e dos pés, os quais, como é fácil presumir, consti-
tuíam uma verdadeira tortur a, que ainda mais me pros-
travam e que me arrancavam lágrimas de dor.
Nenhum resultado, nenhum. E as pesquisas e os
exames continuavam, cada qual mais doloroso e mais de-
salentador.
Extraíram-me vários dentes, extirparam-me as amíg-
dalas, sofri uma laparatomia e, por último, uma inter-
venção para fixação do rim direito.
E o reumatismo não cedia, as dores continuavam
intensas. . . As noites eu as passava em claro, gemendo
e chorando.
Surgiu então o tratamento pelo Cortisone. Era uma
nova esperança. Aplicaram-me quatro gramas. As dores,
como por encanto, desapareceram. . . Mas, para meu de-
sespero, tão logo deixaram de aplicar-me esse medica-
mento, as dores voltaram ...
Nenhuma esperança mais restava. Apesar de me
julgar um espírito forte, em face de tantos insucessos e
depois de tanto martírio, já prostr ada pela insidiosa mo-
léstia, voltei meus olhos para Deus, a quem roguei pa-
ciência e resignação para supor tar a minha prova. _
Certo dia, ,meu sogro, testemunha dos meus padeci-
mentos, já apreensivo pela situação de miséria orgânica
em que me encontrava, com todos os membros do meu
corpo enfraquecidos e alguns até deformados, acercou-se
de mim para encorajar-me e, ao mesmo tempo, aconse-
lhar-me o tratam ento pelo magnetismo.
Aceitei de bom grado o alvitre, embora o meu cepti-
cismo em relação à possibilidade de minha cura . . .
~ fácil compreender esse estado do meu espírito, após
quatro anos de tormentoso tratamento, em que tudo fôra
experimentado em pura perda.
A minha situação era a de uma inválida em plena
· mocidade. Locomovia-me com grande dificuldade, tendo
os membros inferiores inchados e sempre doloridos. Não
podia segurar qualquer objeto, pois não me era possível
fechar as mãos e dobrar os dedos, tendo presa toda a
articulação. Igualmente, todos os movimentos do corpo
MA ON E'l'lfJMO JJ;Sf'HUTUA L 207

crarn folton com tromondoA Hacrlfíciott, poJo a dor Ae ca-


po.Jhrw,t ao longo da coluna vertebral. Dia a dia, minha
fndi1~0. o.umcntuvn, com o Aono ucmprc interrompido pehtH
dores in tcnnas o, O.H vczcR, cruciantes.
Nonrto onta.clo cm que me encontrava, foi inicf.ado n
tro.tnm cnto polo magnctlumo.
Sor-mo-io. tmposAívol dcAcrcver tudo quanto se pan-
eou do0<.lo o inicio desse tratamento. Posso, entretanto,
nf1rmar que, graças a Deus, depois de um ano, com pe-
quenos lntorva1os nas sceeõce ( duas, e às vezes três, por
seman a), estou completamente restabelecida.»
Vcjamoa como ae operou a cura, que pareci a su-
mamon to problemática, atravé s da sucint a descrição do
magnetizador:
«Esta va realm ente diante de um quadro desolador.
Não me foi dlffcil perceber o pessimismo <la paciente
quant o à poesibilldade da sua cura. Por isso, exorte i-a
a ter confiança e multa paciência, fazendo-lhe FJentir que
a sua assiduidade às sessões era condição precipua para
que o tratam ento seguisse a sua march a natura l.
Convidei-a a sentar -se em uma cadeira, cômodamen-
te, deixando-se ficar num estado de calma e descanso
passivos, a fim de atingi r o maia elevado grau de recep-
tividade.
Pus-me frente à paciente, tendo os joelhos e os pés
opostos aos seus, sem os tocar, e estabeleci contacto,
segura ndo-lh e oa polegares duran te ..cinco minutos, ao
mesmo tempo que erguia ao Alto a minha rogati va.
Como se vê, segui o processo de Mesmer, Puyse gur,
Deleuze, Gauth ier e Bruno, estabelecendo contacto mag-
nético pelos polegares, como ato prelim inar que precede
a magnetização.
Em seguida, aprese ntand o as minha s mãos estendi-
das, a face palma r para baixo, os dedos ligeiramente
afasta dos, sem contração, nem rigidez, numa distân cia
de 10 centimetros, sobre a cabeça da paciente, fiz descê-
-las com lentidão ao longo dos braços até à extremidade
dos dedos. J...,echei as mãos, afasta ndo-a s do corpo, para
voltar ao ponto de partid a, e descê-Ias novamente, com
a mesma lentidão, até à extremidade dos pés.
298 MAGNETISMO ESPffiITUAL

~ assim, alternativamente, fiz passes, ora até à ex-


tr~m1dade das mãos, ora à dos pés, durante cerca de 10
min_utos, qu~ndo a paciente, pálida, com visível depressão,
pediu pa~a interromper a ação magnética, pois sentia que
1a desmaiar.
Exultei com essa solicitação, indício evidente de um
elevado grau de receptividade.
. In~errompi imediatamente a ação e fiz os passes de
dispersao, dando como encerrada a primeira sessão, de•
pois de a paciente me ter declarado aue se sentia bem.
Voltando para a segunda sessão,· dois dias depois,
notei no semblante da paciente maior confiança, como se
lhe renascesse a esperança de cura.
Repeti•lhe os mesmos passes durante 30 minutos,
verificando que melhor suportara a ação magnética, ten•
do acusado apenas peso na cabeça e dormência nos
braços.
Nas sessões subsequentes prossegui com os mesmos
processos, durante, em regra, quarenta e cinco minutos.
Procurava, assim com esses passes longitudinais, saturar
o corpo da paciente de fluidos.
Além disso, dirigi a minha ação insistentemente para
a parte inferior do corpo - ventre, rins, joelhos, barriga
das pernas, tornozelos - porque, por seu efeito atrativo
para os pés, no próprio sentido das correntes, produz uma
dispersão notável, acalma e descarrega abundantemente.
Depois de cerca de dois meses de magnetização, a
situação se apresentava bem mais animadora. As dores
haviam diminuído de intensidade e cessavam por com-
pleto durante longas horas após cada sessão. No espaço
de quarenta e oito horas, que mediava entre as sessões,
as dores se alternavam - ora no braço direito e no es•
querdo, ora nas pernas e sempre nas costas e mãos.
A paciente já conseguia dormir algumas horas du•
rante as noites, principalmente nos dias de sessão, apre-
sentando-se com uma aparência bem melhor.
Prosseguindo com os passes gerais, dirigi a minha
ação para a coluna vertebral. Colocava-me atrás da pa-
ciente e impunha•lhe a minha mão esquerda sobre o seu
ombro esquerdo, enquanto que com a minha mão direita
MAGNETISMO ESPIRITUAL 299

fazia o passe à distância de cerca de cinco centímetros


do corpo, ao longo da coluna e até à altura dos rins.
Repetia esses passes durante alguns minutos.
No fim do terceiro mês de magnetização, as dores
que se localizavam nas costas desapareceram definitiva-
mente.
Entrámos no quarto mês. Nessa época, a paciente
me revelava que tinha muito sono e que não dormia du-
rante toda a noite tão somente porque, invariàvelmente,
às três horas da manhã, em ponto, sem discrepância de
um minuto, ·era despertada por fartes dores nos braços
e nas mãos.
Três horas da manhã!? E o fato era confirmado pelo
esposo da paciente, que a essa hora precisamente era
despertado pelos . seus gemidos.
Estava diante do desconhecido. . . E tanta coisa há
que desconhecemos!
Entreguei, então, à paciente placas de vidro magne-
tizadas para, envoltas em um pedaço de flanela, serem
aplicadas nos braços e nas pernas durante a noite, reco-
mendando igualmente o uso da água que eu magnetizava,
cerca de um litro, cada quarenta e oito horas.
Ao mesmo tempo, precisamente às três horas da
madrugada, da minha residência, dirigia em pensamento
os meus passes, durante quinze minutos, findos os quais
me sentia completamente exausto, o que não me ocorria
na magnetização ordinária.
Ao entrarmos no quinto mês de magnetização, as
curiosas dores da madrugada já não mais despertavam
a paciente, que passou a dormir, o que havia muitos ano·s
não acontecia: oito horas cada noite.
Mas não era ainda a cura. Brandas e alternadas
sentia a paciente dores nos braços, mãos e pés. Entre-
tanto, a não ser as mãos, que tinham os movimentos
ainda presos, essas dores eram bastante espaçadas.
Cada gênero de magnetização, diz Gauthier, deve
ser aproveitado de acordo com o caso; é preciso empre-
gar os processos, conforme a virtude correspondente.
Foi o que fiz na continuação das sessões. Ao mesmo
, tempo que conservei os passes longitudinais, pois não
300 MAGNETISMO ESPIR ITUA L

devia esquecer que a moléstia havia invadido todo o or-


ganismo, voltei especialmente a minha atenção para os
ombros, braços e pernas.
Coloquei minha mão direita sobre a espádua direita
da paciente e tomei a sua mão direita na esquerda. De-
pois de alguns segundos, desci lentamente a direita ao
longo do braço, e assim fiz um certo número de passes,
continuando a segurar-lhe a mão. Do mesmo modo atuei
sobre o braço esquerdo, colocando a mão direita sobre
a espádua esquerda e segurando a mão esquerda em mi-
nha esquerda.
Sentada, a paciente estendeu ambas as pernas sobre
uma cadeira, de modo a manter o corpo em posição cô-
moda, e a não me causar muita fadiga. Isso feito, iniciei
a ação sobre as pernas, a partir do joelho e até aos pés.
Fazia primeiramente os passes com muita lentidão e,
ao terminar, fazia-os com muita vivacidade e rapidez,
como se quisesse atrair a ação para mim, retirando e f e-
chando as mãos para fazê-Ias voltar ao ponto de partida.
Acontecia que, muitas vezes, a paciente acusava que
alguma coisa parecia desprender-se e descer ao longo
dos braços e das pernas, à medida que os passes eram
feitos. Essa, pelo menos, era a sua impressão, o que
me tranquilizava porque patente estava que a recepção
do fluido se operava no mais alto grau.
Ao completar o oitavo mês, apresentava-se o seguin-
te quadro: nenhuma dor nos rins e ao longo da coluna
vertebral, que, como já disse, desaparecera ao fim do
terceiro mês de tratamento; nenhuma dor nos braços e
nas pernas, tendo cessado completamente a inchação;
muito sono e muita disposição para a vida ativa.
Parecia assim que tudo caminhava para um completo
restabelecimento. Restava, porém, normalizar os movi-
m·entos das mãos, ainda doloridas e ress~ntidas.
Era necessário atacar com redobrada energia o re-
duto final. Foi o que fiz, embora espaçando as sessões
para duas por semana.
Dois processos preconizam os autores para casos tais :
a insuflação quente e a massagem magnética.
Usei ambos os processos, sem abolir de todos os pas-
MA GNETISMO ESP IRIT UA L 301

porém
ses gera is, que passaram a ser feitos por cautela,
num espaço de tempo menor.
Comecei pela insuflação quente, que, como é sabido,
é um processo dilatador, dissolvente e tônico. a
Coloquei, sobre as mãos da paciente, uma de cad
iquei
vez, um peãaço de flanela dobrado em quatro. Apl
por
a boca sobre a flanela, e, armazenando ar, soprei,
reg ar
uma expiração muito lent a e prolongada, sem emp n-
qua
contração, nem força. Ao fim de cada insuflação,
distan-
do me falt ava o sopro, afas tava a boca, e, assim
tava
ciado, aspirava o ar par a encher os pulmões e vol
a iniciar out ra insuflação.
os
Assim procedi pelo espaço de dois meses, findos
sem
quais passei a fazer uso da massagem magnética,
apre-
ante s ter deixado de not ar as sensíveis melhoras
dob rar
sentadas, podendo a paciente já fechar a mão e
os dedos, embora sentindo ainda um pouco de dor. que,
Passei ao processo da massagem magnética,
pres-
como se sabe, pode consistir de fricções, malaxações,
sões, percussões e de outros movimentos.
Preferi a fricção digital, que se executa com a mão
e um
aberta, ficando os dedos ligeiramente afastados ido o
pouco curvados, sem crispações, nem rigidez, ergu pele.
a
punho, par a que só a ponta dos dedos aja sobre lizar
Da altu ra do antebraço da paciente fazia des
força,
lentamente os meus dedos, sem empregar nenhuma
ureci-
mas apenas fazendo ligeira pressão nas par tes end
das dos tendões, até à extremidade dos dedos.
Essas fricções continuaram durante cerca de dois
dessa
meses. Um mês, porém, já havia decorrido do início ada
prática, quando a paciente me comunicou, com justific ...
o
alegria, que havia recomeçado os seus estudos de pian
Era a cura em toda a sua verdade.
a
Realmente, ao completar o décimo segundo mês,
an•
paciente deu por terminado o seu tratamento, julg mba·
do-se capaz de pra tica r todos os movimentos dese
raçadamente, sem nenhuma dor. ,
Antes de encerrar este relatório, em que procurei
, que-
principalmente, pôr em relevo os processos seguidos
ro destacar um fato, à margem do tratamento.
302 l\r{AONETISMO ESP IRITUAL

J!: o seguinte:
Assistia ao tratamento, durante todo o transcurso
das sessões, o marido da paciente que ficava sentado em
uma poltrona, a cerca de um metro, ao lado da sua esposa.
Verifiquei certa vez um movimento singular, como
o de uma pessoa em estado de aflição ou angústia, que
partia do marido da paciente. Atento como estava !º
ato da magnetização, não quis prestar maior ate.nçao
ao fato.
Ao fim da sessão tudo foi explicado. i que o esposo
da paciente, que se mostrou de uma extrema sensibili-
dade, não podia arredar a perna direita do assoalho, por
mais ingentes esforços que fizesse, o que o tornou irre-
quieto e nervoso. Apliquei-lhe alguns passes de disper-
são, batendo o ar com a mão direita em direção a sua
perna, e tudo se normalizou.
Esse fenômeno se repetiu por algumas vezes, já não
causando nenhuma apreensão. Ao contrário, tornou-se
motivo de hilaridade, porque, ao findar-se a sessão, quan-
do o esposo demorava erguer-se da poltrona, a pacien-
te lhe perguntava: quer que lhe retire o pé do «ato-
.
le1ro» ?
.... »
Esse caso, descrito com simplicidade e clareza, me-
rece a atenção dos estudiosos. Além de servir de modelo
para um tratamento regular, revela o poder da nossa
vontade e da nossa fé, postas ao serviço do bem. Imenso
é o manancial de recursos de que Deus .nos dotou, e que
se acham armazenados dentro de nós para o socorro aos
nossos semelhantes.
Capítulo XXXIl
nós adm i-
"Ce rta me nte ! nin gué m ma is do que
tive mo s pra -
ra as conquistas da Ciê nci a; sempre
corajosos dos
zer de render jus tiça aos esforços
os lim ites do
~dbios que fize rar n rec uar cada dia
é tud o. Bem
desconhecido. l'tlas a Ciência não
larecer a llu -
dúv ida ela tem con trib uíd o par a esc
do sempre
m.anidade; ent reta nto , tem-se mostra
e me lho r.,,
imp ote nte para a tor nar mais feli z

( LtO N DEN IS - "O Grande En igm a". )

ta his tór ia
Deixei par a o derradeiro capítulo a cur
destes esc rito s sobre o magnetismo. ento, asse-
Ainda no início, esboçámos o nosso pensam
verando:
«~ tempo, por tan to, de seguir o ma
gnetismo a su~
Ele nos conduzirá
tra jet óri a, den tro dos seus postulados.
uilo que os seus
ao domínio pleno da Espiritualidade. Aq ren atu ral - o
sob
adversários repeliram po r lhes parecer
a adesão da ver-
fluido - continua a receber, dia a dia, es, o descobre
dadeira Ciência, que, nas sua s observaçõ
em tudo e por toda a parte. gnético, são
«O que chamais fluido elétrico, fluido ma priamente
é, pro
modificações do fluido universal, que não is sut il e que
ma
falando, senão a ma tér ia mais perfeita, ro dos Espíri-
se pode considerar independente ( «O Liv os magnetiza-
tos», per gun ta 27 a). Foi esse fluido quemais tarde, re-
dores pressentiram e que o Espiritismo, unic·ações dos
conheceu e proclamou, segundo as com eriências.
Espíritos e atr avé s de observações e exp
1 1 1 1 1 1 1 t
t t 1 1
t t I t I t t I t t 1 1
t t t f t t t
f t t t t t I
I t I t I t I
a f t f t I t
304 MAGNETISM O ESPIRITUAL

«Essa distinção do magnetismo humano e do mag-


netismo espiritual, conforme a natureza do agente - se
o homem ou o Espírito - , é acertada.
«Entretanto, atendendo à natureza do fenômeno e
à maneira pela qual ele se produz, consideraremos, em
o nosso trabalho, como espiritual a ação magnética, quer
ela provenha do homem, quer provenha direta e exclusi-
vamente dos Espíritos. E daí a razão de ser do título
do nosso trabalho.

............ . . ... .. .. ......... . ..... . . .... .. .. . . .. ..


«Uma outra razão, ainda, nos fêz inclinar para essa
preferência. ~ que não convém aos espíritas a disso-
ciação dos fenômenos da mesma natureza, que intimamen-
te se entrelaçam, e que a eles, mais do que aos mag-
netizadores, competirá a tarefa de reivindicar para o
magnetismo a verdadeira conceituação que lhe foi dada
desde remotos tempos.
«Repeliram o magnetismo porque viram nele uma
filosofia transcendente e suspeitaram de uma causa so-
brenatural, expressão de que se tem abusado por igno-
rância ou má fé. A repulsa abrangia, por igual, o Espi-
ritismo, que o aceitou como fenômeno natural e que deve
agora prosseguir nas pesquisas que conduzirão o magne-
tismo ao seu verdadeiro lugar.
(j(Cumpre que, de coração desnublado de paixões e
de preconceitos, estudemos e compreendamos as Leis Di-
vinas, que tais são todas as leis naturais.
«O estudo das propriedades do perispírito, dos flui-
dos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma, diz
Kardec, abre novos horizontes à Ciência e dá a chave
de uma multidão de fenômenos incompreendidos até en-
tão, por falta de conhecimento da lei que os rege - fenô-
menos negados pelo Materialismo, por se prenderem à
Espiritualidade, e qualificados como milagres ou sortilé-
gios por outras crenças. Tais são, entre muitos, os fenô-
menos da vista dupla, da visão a distância, do sonambu-
lismo natural e artificial, dos efeitos psíquicos da cata-
lepsia e da letargia, da presciência, dos pressentimentos,
MAGNETISMO ESP IRI TUA L 305

do
das aparições, das transfigurações, da transmissão das
pensamento, da fascinação, das curas instantâneas,esses
obsessões e possessões, etc. Demonstrando que me-
fenômenos repousam em leis naturais, como os f enô re-
nos elétricos, e em que condições normais se podemhoso
produzir, o Espiritismo derroca o império do maravil or
e do sobrenatural e, conseguintemente, a fonte da mai sibi-
parte das superstições. Se admite a cr.ença na pos qui-
lidade de certas cois as consideradas por alguns com~ ras
méricas, também impede que se creia em muitas out..
cuja impossibilidade e irracionalidade ele· demonstra, gue
«Resulta., portanto, de tudo quanto vem exposto
re os
o magnetismo repousa sobre as propriedades e sob en-
atributos da alma, devendo ser, por isso~ classificado
tre os fenômenos de ordem psíquica, ou espiritu al.
o
«O Espíriro quer, o perispírlto transmite e o corp
executa, eis a síntese do mecanismo de toda a açã
o mag-
nética.
«A vontade de fazer o bem parte do Espírito, que
is-
o deseja e o quer; essa vontade é determinada ao per rme-
pírito, corpo fluídico que o envolve, e que é o inte tido
diário das suas manifestações, agindo no duplo senerior
de força centrüuga e centrípeta., isto é, recebe do extsmi tir
e transmite ao Espírito, e recebe deste par a tran corpo
ao exterior; a exec'1ção é feita por intermédio do
fisico, que emite os fluidos do perispírito.
«O Espírito, a vontade, o perispírito, o fluido e o
s do
corpo físico - são, pois, os elementos integrante
fenômeno magnético.»
Esse pensamento que esboçámos no início do nosso
trabalho, e que acaba de ser transcrito, era o em mesmo
es-
que nos dominava, antes mesmo de cogitarmos
crever este livro.
No princípio do ano de 1950,. tendo ido visitar, ema
ei
Belo Horizonte, pessoas de minha família, aproveit poldo.
oportunidade, estendendo a viagem até Pedro Leosegu n-
Cheguei àquela cidade precisamente em uma
da-feira, dia em que se reúne o Centro «Luiz Gon zaga».
Par a lá me dirigi, tomando lugar à mesa. Enq uanto
ium
os presentes debatiam o ponto do Evangelho, o méd
306 MAGNETISMO ESPIRITUAL

Francisco Cândido Xavier se entregava à sua santifican-


te tarefa, a um canto da mesa. Diversas mensagens fo-
ram recebidas. Uma delas me foi dirigida, com o se-
guinte teor:
"Irm4o Mkhae'Ztu,
mu,ta pae.
Beu plano quanto ao magnetismo curador, com expres-
ltôes técnicas de aproveitamento geral, não reBUlta de mera
elucubração pessoal. Procede do círculo elevado a que se
lhe filia a tarefa e creia, meu amigo, que o projeto objetiva
campo muito amplo de esclarecimento coletivo.
N 6s sabemos que seu cérebro e 8Ua8 mãos se encontram
assoberbados de serviço urgente. Missionário do Direito, seu
programa demora-se repleto de obrigações inadiáveis e pre-
mentes. Entretanto, o dia terrestre corre, e a oportunidade
de socorrer a esfera dos nossos companheiros encarnadoa
foge rápida.
Necessitávamos particularizar, mals detidamente, os •m•
perativos da atenção que o perispírito vem exigindo.
Não bastará compreender a mecdnica dos órgãos. E' im-
prescindível penetrar o terreno das causas. A vida mental
para os setores espiriti8ta8 é quase uma incógnita. O pen-
samento, traduzindo energia radiante, ~ relegado por muita
gente a posição secundária. O homem, como dínamo psíquico,
a que os complexos celulares se ajustam em obediéncia 48
leis que governam a matéria perispirituaZ, ainàa 6 de com-
preensão muito difícil.
Precisamos, sim, meu amfgo, de 8Ua ,nstmmentalidad~
intelectual. Voe~ podera realizar muitíssimo e f ard serviço
duradouro pela iluminação evangélica da intelig~cia. Pros-
siga em seus estudos e experimentações, concatene resultados,
reúna material selecionado e conte conosco. Sou um insig•
nificante cooperador, mas outros muitos permanecem 4 espe-
ra da sua decisão . A criatura aguarda a deliberação do Céu..
todavia há sempre maior ansiedade do Céu pela resolução
da criatura. Ligue sua ldmpada à usina da Espiritualidade
Buperior e verá que a Zu~ sublime lh<I incendiard
mi~to,.
o, fila-
307
MAGNETISMO ES PIR ITU AL

balhadores legítimo8
O ternpo, contudo, é estreito . Os tra
pou cos . As ded ica çõe s fiéis esc asseiam. N oo perca, de886
-'OO
olhar percuciente .
modo, o mapa que se desdobra ao
l reclama esse tipo
Nosso campo de realizações no Brasi
gnético em seus variados
de tra balho. O passe, o socorro ma
idos, a seleção dos reB-
ma tizes, o estudo progressivo dos flu
rentes psíquicas, a orien-
pec tivos doadores, a formação de cor
divisão de trabalhos nesse
tação das energias ectoplásmicas, a
tic ula r, a esp ecializaç ão de ser vid ores, com definição exa--
par
a ambientação dos recur-
ta dos tJalores passivos e positivos,
às mfrntes enfermiças,
sos espirituais, a assistência imperiosa
itismo evangélico espera
todo um mundo novo dentro do Espir
a Jesus e a si me sm os.
desbravadores e missionários fiéis
aí quanto aqui. Es -
Há problemas e experiências, tanto
esperem tJocês nos círcu-
tamos longe da equação final. Não
m substituir-lhes os bra-
los carnais que nossas mãos venha
o é universal .
ços. A instituição do esforço própri se incumbisse ds
E desejaríamos que sua inteligência
abo rar con osc o nes se vas to reino de "descobertas novas",
col
reve'ladas.
ou de identificação de verdades não prio mundo, perrmr
O Espiritismo, qual acontece ao pró
aprimoramento final. A
nece criado, ma s muito distante do
obra desalia-nos. eça e abençoe.
Que o Senhor nos proteja, nos fortal
Beu menor servidor,
IsM AE L SOUTO

rque nem sequer


Su rpr esa absoluta. E tan to ma ior po em .é Ismael
te. Qu
eu conhecia a entidade comunicanido Xavier se lhé era
Souto? Indaguei de Francisco Când
possível identificá-lo.
ele afi rm a que o
O médium de imediato respondeu:
, há alg un s meses, em um a ses são de tra ba lho s de
viu se aproximou na-
materialização, em Niterói, e que não da reunião pa ra co-
quele momento, pela impropriedade
git ar de assuntos dessa natureza. ocasião indica·
Em verdade, havi~ eu comparecido na Niterói.
da pelo médium a uma dessas reu
niões em
308 MAGNETISMO ESPIRITU AL

Regressando ao Rio, tive o cuidado de comunicar-me


com os componentes das reuniões em Niterói. Fiquei en-
tão sabendo que Ismael Souto era na realidade um dos
mentores espirituais daqueles trabalhos de materializa-
ção, desencarnado naquela cidade fluminense em plena
mocidade, vitimado pela tuberculose.
A princípio relutei muito. É certo que aquelas ideias
verrumavam-me o cérebro havia muito tempo. Mas a
complexidade do estudo, a ma~itude do problema e as
dificuldades naturais que surgem quando desejamos dar
acertada solução a assuntos de tal transcendência, fize-
ram-me meditar profundamente.
Afinal, pensei comigo, é preciso tom.ar uma inicia-
tiva. Se a tarefa não puder ser levada a bom termo,
outros trabalhadores virão mais capazes e mais resolutos.
E assim tomei a deliberação de publicar o trabalho
que hoje concluo, embora reconhecendo que o assunto
ainda comportava uma explanação mais completa.
Todavia, faltou-me o fôlego para ir mais longe. Mas
confesso sem vaidade que fiz muito, muitíssimo em re-
lação às minhas fracas forças; todavia, muito pouco,
pouquíssimo ante a complexidade e a transcendência da
matéria.
«Você poderá realizar muitíssimo e fará serviço du-
radouro pela iluminação evangélica da inteligência», diz
aquela comunicação.
Sim, todo esforço no sentido do bem é sempre «mui-
tíssimo» e também «duradouro», principalmente quando
desperta as almas para a continuação do labor iniciado.
Consola-me, portanto, essa esperança. E só pensar
que outros mais fortes e mais capazes completarão algum
dia a tarefa tão modestamente iniciada, já é uma gran-
de bênção.
Fiz o que pude - Feci q,uod potui, Jaciant meliora
potentes.
~


1

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j.·.

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