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R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
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n, Pará, 2005
A n a V i l a c y G a l u c i o , D e n n y M o o r e , H e i n v a n d e r Vo o r t O patr imônio linguístico do Brasil: novas per spectivas e
abordagens no planejamento e gestão de uma política da diver sidade linguística
Ana Vilacy Galucio, Denny Moore, Hein van der Voor t
a c i o n a l
O patrimônio linguístico do B rasil : novas
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perspectivas e abordagens no planejamento e
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gestão de uma política da diversidade linguística
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Introdução ao início da colonização europeia. Hoje, a
maioria das línguas indígenas é falada no
Estima-se que aproximadamente Norte do país e está altamente ameaçada pelo
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risco de desaparecer também.
d o
6 mil línguas sejam faladas no mundo.
e v i s t a
Destas, cerca de 180 são faladas no Brasil, Como cada língua é uma expressão única
incluindo as línguas oficiais, línguas de das capacidades cognitivas e neurológicas e
R
comunidades imigrantes e línguas indígenas1. das tradições culturais e trajetórias históricas
Com um número de quase 160, as línguas do ser humano, as línguas representam
indígenas constituem a vasta maioria e a um patrimônio imaterial essencial da
sua impressionante diversidade representa humanidade. Assim, constituem uma
uma herança de pelo menos 12 mil anos da grande conquista as medidas tomadas pelo
presença humana na região antes da chegada governo brasileiro para proteger a diversidade
dos europeus. No entanto, esse número linguística do país: em primeiro lugar, na
de línguas indígenas é o que restou depois Constituição de 1988 e, mais recentemente,
da extinção de aproximadamente 80% das por meio do Decreto nº 7.387, de 9 de
línguas durante os 500 anos que se seguiram dezembro de 2010, que institui o Inventário
Nacional da Diversidade Linguística – INDL,
1. Os autores agradecem a todos os povos indígenas de reconhecendo o valor dessa diversidade como
Rondônia que participaram do desenvolvimento do projeto do
levantamento das línguas de Rondônia; aos pesquisadores que patrimônio cultural imaterial da nação. Em
realizaram os levantamentos em campo; ao Departamento do
Patrimônio Imaterial do Iphan e à Superintendência do Iphan decorrência desse decreto, o Instituto do
em Rondônia, pela cooperação no desenvolvimento do projeto; à
Fundação Nacional do Indio – Funai, através de suas delegacias Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
regionais em Rondônia, e ao Sistema de Informação da Atenção
à Saúde Indígena – Siasi, pela cooperação técnica durante o – Iphan, órgão vinculado ao Ministério
desenvolvimento do projeto; a Dorotéa Lima, organizadora deste
número temático da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico da Cultura – MinC, foi encarregado de
Nacional, pelo convite para escrever o presente artigo; e a Jimena
Beltrão e aos editores da revista, pela leitura cuidadosa do
desenvolver o INDL, que visa coletar
manuscrito e sugestões de revisão. Quaisquer eventuais erros são informações abrangentes sobre todas as
de responsabilidade dos autores. Sobre a convenção de escrita, Escola do povo Kwazá
na Terra Indígena
informamos que neste artigo os nomes de línguas e povos estão línguas do Brasil para identificar a situação Kwazá do Rio São
grafados com inicial maiúscula, desde que não sejam usados Pedro (RO), 2015
como adjetivos. atual de cada uma delas. Com base nessas Foto: Hein van der Voort.
informações, será possível elaborar políticas poder, para o comércio e para o nivelamento
abordagens no planejamento e gestão de uma política da diver sidade linguística
O patr imônio linguístico do Brasil: novas per spectivas e
e tomar medidas de apoio de acordo com a Como o linguista Nicholas Ostler mostrou
situação de cada língua individualmente. no seu impressionante e divertido livro Em-
O patrimônio linguístico do Brasil é pires of the word (2005), línguas imperiais
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muito grande e pouco conhecido. Não havia faladas por milhões de pessoas têm surgido e
experiência prévia com a organização de desaparecido pelo menos desde que a história
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com o Censo do IBGE de 2010 indicou escrito. Durante o “reinado” de uma língua
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no âmbito do INDL sugeriram que uma ou se tornar invisíveis. Nos tempos atuais, o
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abordagem regional poderia ser o modo Português está entre as dez línguas mais fala-
A n a V i l a c y G a l u c i o , D e n n y M o o r e , H e i n v a n d e r Vo o r t
mais eficiente. Como os linguistas do Museu das no mundo. No Brasil, nos últimos dois
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Paraense Emílio Goeldi – MPEG têm séculos, o Português tem ocupado um status
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experiências e conhecimentos acumulados há tão elevado que uma grande parte da popu-
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mais de 40 anos na região e trabalhos com lação pensa que somente uma língua é falada
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quase todas as línguas faladas no estado de no país, ou seja, o Brasil seria monolíngue.
Rondônia, a área de linguística da instituição Nada poderia ser mais longe da realidade.
foi convidada a organizar um levantamento Embora a maioria dos 200 milhões de
da diversidade linguística naquele estado. brasileiros seja monolíngue em Português, o
O levantamento foi realizado entre 2014 e Brasil possui um patrimônio impressionante
2017 e a produção dos dossiês sobre cada de línguas indígenas, além da Língua
língua está agora em fase final. No presente Brasileira de Sinais – Libras e de uma dúzia
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artigo, abordamos a questão do INDL no de línguas de comunidades imigrantes. Há no
contexto da ciência linguística, relatamos mínimo duzentos municípios onde “maiorias”
nossas experiências no campo, no âmbito ou “grandes minorias” falam outras línguas
do levantamento regional, apresentamos os além do Português. Em Serafina Corrêa, na
desafios e sugerimos algumas soluções aos Serra Gaúcha, a língua Talian é a segunda
problemas encontrados. língua oficial da cidade. Em São Gabriel
da Cachoeira, no estado do Amazonas,
Contextualização da são faladas dezoito línguas, sendo oficiais,
questão além do Português, três línguas indígenas:
Nheengatu, Tukano e Baniwa. De acordo
É uma tendência característica de Es- com estimativas conservadoras, baseadas
tados-nação, sob governos centralizados, no critério de inteligibilidade mútua, no
promover o uso de uma única língua. O pre- Brasil são faladas entre 150 e 160 línguas
domínio de uma língua tem vantagens para indígenas diferentes. Esse número em si
a organização do Estado e a consolidação do não é necessariamente muito impressionante
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quando comparado com o número de línguas troncos linguísticos, o que representa uma
em algumas outras partes do mundo, como diversidade muito grande. Infelizmente, a
Índia, Nigéria, Nova Guiné e Austrália. riqueza de línguas indígenas no Brasil é pouco
Porém, tomando em consideração a conhecida, tanto pela população quanto pelas 197
diversidade genealógica das línguas indígenas, autoridades. Grande parte dos linguistas
o patrimônio linguístico do Brasil é quase no país não se dá conta da existência desse
incomparável. Tal medida de diversidade não tesouro e muito menos do seu valor científico
conta o número absoluto de línguas diferentes, para a disciplina. Apesar do crescimento
mas, sim, o número de famílias de línguas. do interesse nas últimas décadas, são ainda
A diversidade genealógica das 150 a 160 relativamente poucos os linguistas, em poucas
línguas indígenas faladas no Brasil inclui seis instituições no país, envolvidos no estudo das
famílias muito grandes – Arawak, Karib, línguas indígenas.
Macro-Jê, Pano, Tukano e Tupi –, oito É fato que, no mundo todo, a grande
famílias menores – Arawá, Bora, Txapakura, maioria das línguas indígenas está ameaçada Escultura zoomorfa
(arraia), etnia
Tukuna, coletor Curt
Guaycuru, Katukina, Nadahup, Nambikwara de extinção, como mostra o Atlas das Nimuendaju, 1941.
Coleção Etnográfica
e Yanomami – e, ainda, sete línguas isoladas línguas do mundo em perigo, da Unesco Curt Nimuendaju/
Acervo Museu
– Aikanã, Iranxe/Mky, Kanoé, Kwaza, Pirahã, (Moseley, 2010), no qual 2,5 mil das cerca Paraense Emílio
Goeldi.
Tikuna e Trumai. O Brasil possui, assim, 21 de 6 mil línguas do mundo estão registradas Foto: Fábio Jacob.
Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes por Curt Nimuendaju, Belém, 1944.
Acervo Museu Nacional/UFRJ
Reprodução: Francisco Moreira da Costa/CNFCP/Iphan, novembro de 2016.
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outro lado da moeda da emergência e da comunidade. Relacionado a isso, representa
diversificação de línguas. Durante toda a ainda uma estreita ligação com a história e
história da humanidade, línguas têm surgido a cultura de um povo, cujo conhecimento
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e desaparecido. Porém, desde o começo coletivo sobre os ecossistemas e as paisagens
da expansão colonial europeia, no século do ambiente em que vive está em certa
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16, o processo de extinção de línguas foi medida conectado às formas e às estruturas
e
muito acelerado. Estima-se que, à época da língua. A perda de uma língua geralmente
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da chegada dos portugueses, eram faladas faz parte da desintegração geral de um
mais de mil línguas no território que hoje povo e do seu hábitat. Isso é bem visível no
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corresponde ao Brasil (Rodrigues, 1993). Brasil, onde o desaparecimento das línguas
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A maioria delas provavelmente desapareceu indígenas é acompanhado pela desagregação
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com os seus falantes por causa de doenças das suas comunidades de falantes e da
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contagiosas trazidas do Velho Mundo e em destruição das suas terras. No final, o
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razão de genocídio. Pode-se ainda apontar desaparecimento de uma língua é uma perda
e v i s t a
como causa importante da perda das línguas para o patrimônio intelectual e cultural da
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o que os linguístas chamam de language shift humanidade em geral.
– substituição linguística. Nesse caso, uma Desde 1988 o Brasil possui uma
população abandona sua língua e adota outra, Constituição que fornece garantias explícitas
que, em geral, é uma língua majoritária, aos povos indígenas no que diz respeito às
economicamente mais vantajosa, na maioria suas terras, culturas e línguas. E por meio
das vezes reconhecida pelo governo e, por do Decreto nº 7.387, de 9 de dezembro
isso, também com mais prestígio. de 2010, que instituiu o INDL, o governo
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É pensamento corrente que a diversidade brasileiro oficialmente reconheceu o valor
de línguas prejudica a convivência pacífica de todas as línguas faladas no país como
dos povos, atrapalha o chamado “progresso” patrimônio cultural imaterial do Brasil.
e que seria melhor se todos falassem a Esse tipo de reconhecimento é de grande
mesma língua. Porém, esse pensamento é importância para ajudar a proteger as
um mito, uma ideia que não tem base na línguas indígenas. Tentativas nesse sentido,
realidade. Além disso, quando uma língua no entanto, exigem o esforço de linguistas
desaparece, não é somente o seu valor profissionais capacitados no assunto.
científico para os linguistas que se perde. As Com respeito às línguas indígenas, além
diversas estruturas linguísticas que as línguas de existirem ainda grandes lacunas na
apresentam refletem maneiras distintas que sua documentação e descrição, faltam
o ser humano inventou para se expressar e, profissionais para estudá-las. No passado,
consequentemente, implicam também seus muitas línguas desapareceram sem qualquer
possíveis limites psicológicos, cognitivos e registro e várias línguas atualmente faladas
neurológicos. A língua também representa, ou lembradas correm o perigo de um destino
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para aquelas línguas que requeiram ações e registro das línguas do Brasil. Esse banco de
mais urgentes. dados foi usado para alimentar o aplicativo
O conhecimento da real situação das
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no país com uma certa precisão, foi o Censo Brazil, de Moore & Galucio (2016).
d o
sobre o número de línguas faladas no Brasil, ficou evidente que, no caso das línguas, o
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quantos e quem são os seus falantes, além de levantamento é a ação mais importante, uma
outras informações necessárias para planejamen- vez que todas elas devem ser respeitadas,
to linguístico, é um dos objetivos que se espera protegidas e reconhecidas como parte
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alcançar com o INDL, como veremos a seguir. do patrimônio cultural brasileiro. Com
essa diretriz, a perspectiva era a de que o
Inventário Nacional da
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Segundo o compromisso definido pelo grupo 7.387/2010 pelo então presidente Luís
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de trabalho, o inventário deveria apresentar Inácio Lula da Silva. Esse decreto instituiu
as informações mais relevantes sobre cada o Inventário Nacional da Diversidade
língua, seguir uma metodologia padronizada Linguística, apresentado, no Artigo 1º,
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outras línguas etc); contexto de uso da levantamento poderia ser diferente para
língua; informações sobre escrita, grau de cada língua, mas que deveria contemplar as
alfabetização, questões ortográficas, uso informações definidas como importantes.
da língua na escola; informações sobre No caso das línguas indígenas, com o
ações de promoção e ações negativas objetivo de otimizar recursos financeiros
(organizações, eventos e programas de e diminuir o tempo necessário para a
208 revitalização, efeitos da atuação missionária execução do levantamento com abrangência
nas práticas tradicionais); literatura oral nacional, uma possibilidade que deveria
(narrativas tradicionais, música, festas), com ser avaliada era a de realização de pesquisas
informações sobre frequência e transmissão; regionais, em que todas as línguas faladas
literatura escrita; informações relativas a em uma determinada área geográfica fossem
pesquisas e estudos existentes sobre a língua; consideradas. Mais adiante discutiremos
exemplos da língua em uso (lista de palavras os resultados de um levantamento regional
padronizada, amostras independentes de desenvolvido em próxima cooperação entre
escrita, vídeos da língua falada de 3 a 5 o Iphan e o Museu Paraense Emilio Goeldi
minutos, com tradução). Essas informações – MPEG.
deveriam ser apresentadas em dossiês sobre
as línguas levantadas.
O trabalho realizado pelo GTDL,
5. O texto completo do Decreto nº 7.387/2010 pode ser
sob a coordenação do Departamento do encontrado no seguinte endereço eletrônico: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/
Patrimônio Imaterial do Iphan, culminou, D7387.htm>.
Guia módulo abrange um conjunto de temas.
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Em 2016, o Iphan lançou o Guia de pesquisa e mobilização social nos dois tipos
Pesquisa e Documentação para o INDL, em de inventário, nem todos os itens de um tema
dois volumes (Iphan, 2016), e um Suplemento são necessários para os inventários básicos e
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Metodológico on-line (Iphan, 2016). A há itens que são objetos específicos somente
preparação de um guia com orientações do inventário amplo.
A
específicas que pudessem ser seguidas por Visando contribuir para a reflexão sobre
e
pessoas interessadas em cooperar com os temas abordados no Guia, especialmente
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o levantamento das línguas foi uma das os dilemas para o fortalecimento da gestão,
determinações da Comissão Técnica do discutimos a seguir alguns tópicos que são
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INDL. Não estão claros para nós os fatores relevantes para o sucesso de uma política
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que condicionaram o produto final, mas de diversidade linguística em termos de
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várias diretrizes e orientações metodológicas inventário e registro, contrapondo-os com as
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que haviam sido consideradas importantes orientações contempladas no guia.
d o
pela Comissão Técnica do INDL não foram Inicialmente, é importante destacar que
e v i s t a
incorporadas ao guia, ou foram colocadas a abrangência e o escopo do levantamento
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como opcionais. devem ser os mais amplos. Todas as
O guia prevê a possibilidade de serem comunidades linguísticas precisam ser
realizados dois tipos de inventário: inventário alvo do levantamento e, no caso das
amplo e inventário básico. A produção de línguas indígenas, devem ser priorizados os
conhecimento sobre as línguas tem seu levantamentos regionais (por exemplo, em
escopo definido a partir de algumas temáticas áreas onde se encontram várias línguas, como
centrais para a metodologia do INDL. em Rondônia e no Xingu).
209
Essas temáticas estão sistematizadas num Um segundo ponto diz respeito ao
formulário específico, que é um dos produtos número e distribuição dos falantes e
dos inventários. O formulário é baseado semifalantes. Informações sobre o grau de
em questões padronizadas e tem como proficiência dos falantes e semifalantes por
objetivo sintetizar e organizar o trabalho faixa etária e por comunidade, incluindo
de pesquisa, possibilitando a construção o levantamento dos falantes indígenas fora
de um banco de conhecimentos sobre a das aldeias, são essenciais para o diagnóstico
diversidade linguística no Brasil. Ele está completo das línguas e para o planejamento
organizado em seis módulos: identificação de ações de políticas públicas, tais como
da pesquisa; caracterização territorial; programas de educação em língua materna,
identificação e caracterização da comunidade programas de (re)vitalização etc. O guia prevê
linguística; identificação e caracterização a coleta de informações sobre o número total
da língua de referência; diagnóstico de falantes, mas o número de semifalantes
sociolinguístico; avaliação da vitalidade é opcional, o que deixa a critério do
linguística, revitalização e promoção. Cada pesquisador informar ou não.
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Todos esses pontos devem, a nosso para cada tema sugerido. É fato que o Iphan
ver, fazer parte dos levantamentos tem buscado compreender melhor os desafios
sociolinguísticos no âmbito do INDL. para a implementação do INDL, em todo o
211
Para obter um diagnóstico real da situação país, bem como desenvolver um arcabouço de
linguística do país, esses pontos precisariam metodologias e experiências que possam ser
ser contemplados nos inventários de todas as compartilhadas, visando criar um referencial
línguas. Porém, em sua versão simplificada na gestão da política da diversidade linguística,
(inventário básico), o guia ou não contempla ampliar o número de diagnósticos das línguas
alguns desses pontos ou os contempla, mas faladas no país e, consequentemente, o núme-
permite que sua abordagem seja feita apenas ro de línguas reconhecidas como referência da
opcionalmente pelo pesquisador. cultura brasileira.
Em contraposição a esses questionamentos, Nesse contexto, considerando a experiên-
o Iphan tem comumente observado que o for- cia da área de linguística do Museu Paraense
mulário fornece um roteiro básico dos temas Emílio Goeldi, estabeleceu-se, em 2016, um
de pesquisa, mas não pretende ser exaustivo projeto de cooperação técnica entre essa insti- Jovens makurap
arquivando gravações
sobre os processos ou produtos de inventários. tuição e o Iphan para realizar o levantamento de várias línguas no
computador.
Como um roteiro, o formulário também não sociolinguístico em escala regional das línguas Terra Indígena
Rio Guaporé (RO), 2010
esgota as questões possíveis de investigação indígenas faladas em Rondônia. No próximo Foto: Denny Moore.
item, discutiremos os desafios enfrentados e grupos arredios que vivem no interior do
abordagens no planejamento e gestão de uma política da diver sidade linguística
O patr imônio linguístico do Brasil: novas per spectivas e
os principais resultados desse projeto no âm- estado e evitam todo contato. A situação de
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comunidades é imprescindível. Essa é uma anos 1940. Dois terços das línguas indígenas
das especialidades da área de linguística do de Rondônia têm menos de cinquenta
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MPEG, que tem se dedicado a trabalhos em falantes e um terço tem menos de dez
e
comunidades indígenas para coleta de dados e falantes. Como existe, entre os linguistas do
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estudos sistemáticos das suas línguas desde os Museu Goeldi, uma tradição de pesquisas
anos 1960. Nos anos 1980, como expressão com as línguas de Rondônia, há muito
H
de uma visão à frente do seu tempo, a ins- conhecimento sobre quase todas elas. Isso
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pesquisadores visitantes, com o objetivo de objetivo estabelecido para esse projeto6 era
d o
guas amazônicas. Além disso, a equipe de lin- línguas nativas de 26 povos indígenas de
guistas do Museu Goeldi e outros linguistas Rondônia, que somavam uma população de
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das línguas, como forma de avaliar as Metodologia: dificuldades
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Por exemplo, em várias áreas indígenas houve para estabelecer as relações interinstitucionais,
dificuldade em reunir pessoas em um mesmo uma vez que o projeto é uma ação de política
local por causa da distância entre aldeias, que pública do governo federal, coordenada pelo
214 frequentemente se encontram fora do alcance Iphan. Embora não houvesse sido prevista
do sistema telefônico. A solução encontrada inicialmente, concluímos que a carta de apre-
para superar esse obstáculo foi visitar as vá- sentação institucional é um item que deve ser
rias aldeias de uma etnia, em vez de chamar incluído nos projetos do INDL.
representantes da comunidade para ir a um Dados demográficos preexistentes: Uma
lugar central. Isso foi feito, por exemplo, com inovação metodológica foi o uso dos dados
os Wari’, os Tuparí e os Makurap, que vivem demográficos do Sistema de Informação da
distribuídos em várias aldeias. Atenção à Saúde Indígena – Siasi, vinculado
Relações interinstitucionais: A coope- ao Ministério da Saúde/Secretaria Especial
ração com os diversos órgãos representativos de Saúde Indígena – Sesai. Esses dados in-
do Estado, nas esferas federal e estadual, é cluem nome, idade, parentesco e aldeia de
Sueli Kanoé gravando
um fator importante, muito embora o nível cada indígena. O uso desses dados possibilita
uma lista de palavras
com seu avô, de cooperação seja definido caso a caso. No um levantamento mais preciso e completo e
Francisco Kanoé.
Terra Indígena Rio decorrer do projeto, observamos que uma reduz o tempo e o custo do levantamento. O
Guaporé (RO), 2010
Foto: Denny Moore. carta de apresentação do Iphan era necessária acesso a essas informações pode ser facilitado
pela carta de apresentação do Iphan, já men- que os grupos indígenas tendiam a ter
a c i o n a l
futuros, especialmente quando se tratar de reconhecimento da língua como referência
diagnósticos regionais e/ou com grupos po- cultural. Em alguns casos, isso pode provocar
pulacionais numerosos. É importante coletar uma resistência inicial em conceder a
N
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informações, na medida do possível, sobre o anuência para a condução do levantamento.
grau de fluência de todos os membros de um Uma estratégia encontrada pela equipe
A
grupo indígena, para obter uma visão com- envolvida no projeto e que é, de todo modo,
e
pleta da situação da língua e não restringir o crucial, é o esclarecimento da comunidade
i s t ó r i c o
levantamento a uma ou poucas aldeias (al- de fala sobre o INDL, sua função como
deias de referência, na terminologia do Guia diagnóstico, o valor de sua implementação,
H
do INDL). ações que podem ser oriundas do inventário
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Definição de fluência e verificação: Um etc. Deve-se informar, por exemplo, que o
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procedimento metodológico que se mostrou levantamento das informações sobre uma
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útil e eficaz foi o uso de quatro graus de comunidade de fala e os dados obtidos
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fluência para quantificar a variabilidade e poderão ajudar na formulação de projetos
e v i s t a
determinar, além do número de falantes, o práticos no futuro (educação, documentação,
R
número de semifalantes. A informação sobre (re)vitalização etc). Cumpre destacar, porém,
semifalantes é importante para o planejamen- que, ao apresentar os objetivos do INDL
to, uma vez que as pessoas nessa categoria e o que poderá ser feito com os resultados
podem recuperar a língua bem mais facilmen- do levantamento, é importante não gerar
te que pessoas que não falam nada da língua. expectativas de apoio direto e imediato, por
Com esse procedimento, os graus de fluência parte do Iphan ou de qualquer outro órgão
foram claramente definidos, de maneira inte- governamental, evitando-se o risco de criar
215
ligível aos indígenas, e as estimativas de fluên- uma demanda que não poderá ser cumprida.
cia foram verificadas independentemente.
Vale destacar a importância de usar medidas R e s u lta d o s obtidos: repercussão
outras cuja ineficiência foi comprovada. O faladas em Rondônia, é fraca, com indígenas
e
da situação real das línguas, tem o efeito de reclamando do material didático confuso ou
detectar perigos e problemas que eram pouco inexistente. Os programas de alfabetização
H
acuradas e confiáveis, podendo ser usadas por leigos ou por linguistas temporários,
e v i s t a
para corrigir eventuais informações errôneas. com pouco estudo da língua, tiveram os
Segundo o censo nacional de 2010, havia piores resultados. Uma crença frequente
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a c i o n a l
varia muito entre os grupos. Por exemplo, Rondônia, geralmente a primeira prioridade
em uma aldeia dos Paiter (Suruí de indicada foi a correção e padronização da
ortografia, entre os grupos cuja escrita é
N
Rondônia), o cacique lamentou ter sido
r t í s t i c o
proibido de cantar música antiga, senão problemática. Junto com essa prioridade, foi
seria acusado de trabalhar com o diabo . 7 manifestado o desejo de dispor de material
A
Em outra aldeia, a cultura indígena coexiste didático adequado. A segunda prioridade
e
é a documentação da língua e da cultura,
i s t ó r i c o
com uma igreja estabelecida na comunidade.
Entre os Zoró, rituais de pajelança e festas especialmente através de gravações de áudio
indígenas foram eliminados por efeito da e vídeo. Vinculado a essa prioridade está
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o desejo de acesso a equipamentos para
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ação evangélica. A presença de religiões
gravar e mostrar as gravações. Projetos de
A n a V i l a c y G a l u c i o , D e n n y M o o r e , H e i n v a n d e r Vo o r t
fundamentalistas entre vários grupos
indígenas e sua interferência direta na documentação têm estimulado o interesse
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vitalidade de aspectos culturais tradicionais, nesse assunto.
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como a pajelança e o patrimônio cultural Mobilização regional: O levantamento
e v i s t a
oral tradicional (mitos, músicas, festas), têm de dados concretos sobre a situação da
R
levado à eliminação dos mesmos. Em alguns língua teve o efeito de estimular a reflexão
casos, as comunidades indígenas encontram- sobre o futuro da língua e as medidas
se divididas entre dois grupos, o dos que necessárias para garantir sua manutenção.
pode levar à constituição de uma política cas oprimidas e silenciadas pela manutenção
efetiva para a salvaguarda da diversidade de uma identidade nacional monolíngue
linguística no Brasil. Para isso, sugerimos (Português). Nesse sentido, é uma conquista
o estabelecimento de um plano realista, importante o reconhecimento das línguas do
considerando a organização e a definição de país como parte do patrimônio cultural bra-
um padrão factível para todo o país, além sileiro, ou seja, como línguas de referência da
da eficiência em termos de investimento e cultura brasileira. Vinculado a esse reconheci-
218
tempo. Levando ainda em conta que inúmeras mento, é necessário também o planejamento
línguas estão em situação de vulnerabilidade de ações concretas, de acordo com as priorida-
e que não existem informações objetivas des definidas pelos povos falantes dessas lín-
sobre sua situação real, recomendamos, para guas, contribuindo para tirar do silêncio e dar
a implementação do inventário de todas as voz a essas línguas e a seus povos.
línguas do país, que algumas modificações nos A valorização das línguas indígenas é
atuais modelos de diagnóstico previstos no fundamental para que a língua ocupe espa-
Guia de Pesquisa e Documentação para o INDL ços na comunidade e também fora dela. Por
sejam consideradas pelos órgãos responsáveis exemplo, (re)aprender um pouco da língua
pela gestão dessa política. Para que o modelo dos ancestrais e ter a possibilidade de usar a
de diagnóstico seja mais adequado e eficiente, língua na escola tem sido um instrumento
as modificações devem minimizar partes do político-social importante na recuperação da
conteúdo do INDL que não são essenciais para identidade indígena do povo Puruborá, em
o diagnóstico de línguas e incorporar avanços Rondônia. Nessa mesma linha, existe ainda
metodológicos de eficiência demonstrada. uma demanda crescente, por parte dos grupos
indígenas, pela documentação de suas línguas Referências
a c i o n a l
timento na formação de pessoas com capa- AIKHENVALD, Alexandra Y. The languages of the
citação técnica para realizar documentação, Amazon. Oxford: Oxford University Press, 2012.
IBGE. Censo demográfico 2010. Características gerais
incluindo professores e técnicos indígenas.
N
dos indígenas: resultados do universo. Rio de Janeiro:
r t í s t i c o
Nesse contexto, os projetos de documenta- IBGE, 2012. Versão online: <http://www.ibge.gov.
ção e os arquivos digitais, como o Acervo de br/home/estatistica/populacao/censo2010/>; <http://
servicodados.ibge.gov.br/Download/Download.
A
Línguas e Culturas Indígenas do Museu do
ashx?http=1&u=biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
e
Índio/Funai/MJ e o Acervo de Línguas e Cul-
i s t ó r i c o
periodicos/95/cd_2010_indigenas_universo.pdf>.
turas Indígenas do Museu Goeldi/MCTIC, IPHAN. Guia de pesquisa e documentação para o INDL, v.
têm papel importante a desempenhar, deven- 1: Patrimônio cultural e diversidade linguística. Pesquisa
H
e textos de Thiago Chacon et al., Brasília: Iphan, 2016.
do, para isso, garantir não somente a susten-
a t r i m ô n i o
Disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/
tabilidade e conservação dos acervos sob sua ckfinder/arquivos/INDL_Guia_vol1.pdf.
A n a V i l a c y G a l u c i o , D e n n y M o o r e , H e i n v a n d e r Vo o r t
guarda, mas também a disponibilização dos IPHAN. Guia de pesquisa e documentação para o INDL,
v. 2: Formulário e roteiro de pesquisa. Pesquisa e textos
P
mesmos para a sociedade, especialmente para de Marcus Vinícius Garcia et al. Brasília: Iphan, 2016.
d o
os atores do processo de documentação, ou Disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/
e v i s t a
seja, os falantes das línguas documentadas. ckfinder/arquivos/INDL_Guia_vol2.pdf .
IPHAN. Guia de pesquisa e documentação para o INDL:
Concluindo, reafirmamos que lutar contra
R
patrimônio cultural e diversidade linguística. Suplemento
a perda da diversidade linguística no Brasil, metodológico. Brasília: Iphan, 2016. Disponível em
contra o enfraquecimento e empobrecimento http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/
SUPL_MET_%20GUIA_INDL.zip.
dessa diversidade é também lutar pela demo-
MOORE, Denny; GALUCIO, Ana Vilacy. “Perspectives
cracia e defender o direito à vida com dignida- for the documentation of indigenous languages in
de dos povos que representam essa diversidade Brazil”. In: BÁEZ, Gabriela Pérez; ROGERS, Chris;
hoje no país. As línguas são essenciais para a LABRADA, Jorge Emilio Rosés (orgs.). Language
documentation and revitalization: Latin American
identidade das pessoas e dos povos. Assegurar 219
contexts. Berlim, Boston: De Gruyter, 2016, p. 29-58.
a sua manutenção e a sua vitalidade implica as- MOSELEY, Christopher (org.). Atlas of the world’s
segurar um futuro melhor para todos. Em um languages in danger. 3 ed. Paris: Unesco Publishing,
2010. Disponível em http://www.unesco.org/culture/en/
país de dimensões continentais como o Brasil Boca preta. Aquarela.
endangeredlanguages/atlas. Expedição Científica
e que apresenta grande diversidade linguística, OSTLER, Nicholas. Empires of the word: a language
Alexandre Rodrigues
Ferreira (1783 a 1792)
o conhecimento das diversas línguas e culturas history of the world. London: HarperCollins Publishers, Acervo: Fundação Biblioteca
Nacional, Brasil.
Neste número
Ana Vilacy Galucio
António Miguel Lopes de Sousa
Camila Fernandes
Cristian Pio Ávila
Cristiana Barreto
Daiane Pereira
Denny Moore
Eliane Cristina Pinto Moreira
Elisabeth Costa
Fernando Canto
Hein van der Voort
Helena Pinto Lima
Hugues de Varine
Luciano Moura Maciel
Marcelo Brito
Marcia Bezerra
Márcio Couto Henrique
Marcondes Lima da Costa
Mariana Petry Cabral
Milton Hatoum
Roseane Costa Norat
Sérgio Paz Magalhães
O Patrimônio do Norte:
Outros Olhares para a Gestão