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Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

O nosso ponto de partida (e de chegada) será a legislação laboral acerca


deste assunto. O primeiro diploma que iremos analisar (porventura o mais
importante em termos de Direito Laboral) é o Código do Trabalho. Nele, entre
os artigos 281º e 284º, consta a matéria sobre segurança higiene e saúde no
trabalho e a respetiva remissão para outros diplomas, igualmente
importantes:
O legislador destaca que o trabalhador tem direito a prestar trabalho em
condições de segurança e saúde, motivo pelo qual são identificadas as duas
situações passiveis de afetar o bem-estar do trabalhador: os acidentes e as
doenças.
Cabe-nos, agora, identificar quem detém a responsabilidade de
assegurar que o trabalhador exerce a sua profissão em condições de
segurança? A resposta só pode ser uma. Ao empregador.
Este deve: adotar todas as medidas de segurança preventivas
necessárias e para isso deve mobilizar os meios necessários nos domínios da
prevenção técnica, da formação, da informação e consulta dos trabalhadores
da empresa.
Dissecando:
 Deve tomar medidas preventivas de segurança
 Mobilizando os meios necessários no domínio:
o Da prevenção técnica
o Da formação dos trabalhadores da empresa
o Da informação dos trabalhadores da empresa (e,
acrescentamos, dos seus colaboradores)
o Da consulta dos trabalhadores da empresa através dos seus
representantes
Perguntamo-nos: quem tem, em caso de acidente de trabalho, direito a
ser compensado, reparado pelos danos emergentes (e pelo lucro
cessante, digo eu, como veremos num dos casos)?
 O trabalhador que sofre o acidente ou padece da doença, como
não poderia deixar de ser
 Os seus familiares mais próximos (a esposa e os filhos, por
exemplo, ou os pais com quem ele viva ou vivesse)
Note-se que existe uma lista de doenças profissionais publicadas no
Diário da República.
Finalmente, o diploma termina com uma referência a legislação avulsa
que passaremos a analisar.

O primeiro destes diplomas, e porventura o mais importante, é a Lei


98/2009 de 04 de setembro. Este define o que deve ser considerado
como acidente de trabalho.
Acidente de trabalho é: aquele que se verifica em local e no tempo de
trabalho e produza direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação
funcional ou doença de que resulte redução da capacidade de trabalho,
de ganho ou a morte.
Duas, ou três, notas que devemos ter em conta ao indagar se estamos
perante um acidente de trabalho:
 Saber se ocorreu no local de trabalho
 Saber se foi durante o tempo de trabalho
 Saber se existiu um nexo de causalidade entre o acidente (ou
a doença) e o trabalho desempenhado pelo trabalhador

Se estes três elementos estiverem reunidos então, parabéns (!)


conseguiram identificar um acidente de trabalho.
Nos casos práticos veremos estas situações com mais acuidade.

Importa reter algumas especificidades a estas notas gerais:


Primeiro, embora o legislador identifique o que se deve considerar como
local de trabalho e como tempo de trabalho. Também considera como
acidentes de trabalho:
 Aqueles que ocorrem no trajeto da ida e no regresso para o local de
trabalho
 A execução de serviços espontaneamente prestados e de que possa
resultar proveito económico para o empregador
 Nos casos de exercício do direito de reunião ou de atividade de
representação dos trabalhadores
 Quando em frequência de curso de formação profissional no local
de trabalho, ou fora deste, desde que expressamente autorizado
para tal frequência
 No local de pagamento de retribuição
 Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado na execução
de serviços determinados pelo empregador ou por ele consentidos.
Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o
trajeto normal tenha sido interrompido, ou sofrido desvios de modo a
satisfazer necessidades atendíveis do trabalhador, bem como, ocorrido
por motivo de força maior ou por motivo fortuito. Nestes casos presume-
se que se trata de um acidente de trabalho, cabendo ao empregador e à
seguradora afastar esta presunção;
Saliente-se que a predisposição patológica do sinistrado não exclui o
direito à reparação integral, salvo quando ela tiver sido ocultada.
O empregador não tem de reparar os danos decorrentes do acidente de
trabalho que forem dolosamente provocados pelo sinistrado, provier de
negligência grosseira do sinistrado;
O empregador não tem de reparar o acidente que provier de motivo de
força maior;
Por último, o diploma refere-se às doenças profissionais:
Destas pode resultar:
 Uma incapacidade temporária
o Parcial
o Absoluta
 Uma incapacidade permanente
o Parcial
o Absoluta para o trabalho habitual
o Absoluta para qualquer trabalho

Um outro diploma que somos chamados a conhecer é a Lei 102/2009 de


10 de setembro, referente ao regime jurídico da promoção da segurança
e da saúde no trabalho.
Neste diploma destacamos a preocupação com a prevenção, com a
informação e com a salvaguarda da segurança e saúde dos trabalhadores
no geral, mas também das grávidas e dos menores;

Quanto aos trabalhadores em geral: o diploma começa por afirmar que:


 O trabalhador tem direito à prestação de trabalho em condições
que respeitem a sua segurança e a sua saúde, assegurados pelo
empregador ou por quem detenha a gestão das instalações em que
a atividade é desenvolvida.
 A prevenção dos riscos profissionais deve assentar numa correta e
permanente avaliação de riscos e ser desenvolvida segundo
princípios, políticas, normas e programas que visem, entre outros, a
implementação de uma estratégia nacional, a promoção e a
vigilância da saúde do trabalhador, a sensibilização da sociedade de
forma a criar uma verdadeira cultura de prevenção;

Cabe ao empregador:
 assegurar as condições de segurança e saúde em todos os aspetos
do seu trabalho, devendo zelar pelo exercício da sua atividade de
modo a, entre outros, evitar os riscos, planificar a prevenção,
identificação dos riscos previsíveis, integração da avaliação dos
riscos para a segurança e a saúde do trabalhador no conjunto das
atividades da empresa, combate aos riscos na origem, assegurar
nos locais de trabalho que as exposições aos agentes químicos,
físicos e biológicos e aso fatores de risco psicossociais que não
constituam um risco para a segurança e saúde do trabalhador,
adaptação do trabalho ao homem, adaptação ao estado de
evolução da técnica, substituição do que é perigoso pelo que é
menos perigos, priorização das medidas de proteção coletiva em
relação às medidas de proteção individual; elaboração e divulgação
de instruções compreensíveis e adequadas à atividade
desenvolvida pelo trabalhador

Nesta medida, constituem obrigações do trabalhador: cumprir as


prescrições de segurança e saúde no trabalho estabelecidas, zelar perla
sua segurança e pela sua saúde, bem como pela saúde das outras
pessoas que possam ser afetadas pelas suas ações ou omissões no
trabalho, utilizar corretamente máquinas, aparelhos, instrumentos,
substâncias perigosas e outros equipamentos postos á sua disposição,
cooperar ativamente com a empresa, comunicar avarias e deficiências
por si detetadas que se lhe afigurem suscetíveis de originares perigo
grave e iminente;

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