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Direito da União Europeia – Casos Práticos

1. O Parlamento Europeu e o Conselho adotaram, ao abrigo do processo legislativo ordinário, o Regulamento X/2021,

relativo a matérias relacionadas com a proteção e defesa dos consumidores. Em 2023, o Juiz do Tribunal Judicial de

Sintra, perante um caso que se encontrava a apreciar, considerou que certas disposições do Regulamento não

deviam ser aplicadas, tendo invocado dois fundamentos para sustentar esta conclusão: por um lado, o facto de o

Regulamento X/2021 ter sido tacitamente revogado pela Lei Z/2022 e, por outro lado, o facto de o Regulamento

X/2021 estar em conflito com normas constitucionais relativas à proteção dos consumidores e à política comercial,

consagradas nos artigos 60.º e 99.º, alínea e) da Constituição.

Quid Juris?

2. A Diretiva Z/2019 impunha o reconhecimento de determinados direitos aos trabalhadores do setor dos transportes,

dadas as particulares condições de trabalho nessa área. O prazo de transposição da diretiva terminava a 1 de Junho

de 2020, no entanto, o Estado Português não transpôs a Diretiva para a ordem jurídica nacional.

João é trabalhador da empresa “Serviços de Transportes Metropolitanos do Porto”, pessoa coletiva de direito

privado e cujo capital é detido integralmente pela Câmara Municipal do Porto. Por sua vez, António é trabalhador

da empresa “Transportes Urbanos do Norte”, detida integralmente pelo maior grupo empresarial privado do país.

João e António dirigiram-se ao serviço de apoio jurídico do “Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes” com o

intuito de compreender de que forma podiam exercer os seus direitos.

Quid Juris?

3. A Diretiva X/2015, relativa à deposição de resíduos em aterro, estabelecia que a construção de aterros tinha de ser

precedida de uma avaliação de impacto ambiental realizada pelas entidades públicas nacionais com competências

no domínio da proteção do ambiente. O Estado Português não transpôs a diretiva, ainda que o prazo de

transposição da diretiva terminasse a 1 de Dezembro de 2016.

A Câmara Municipal de Sintra atribuiu, em 2018 e em conformidade com a legislação portuguesa, uma licença

para a construção de um aterro de resíduos sólidos à empresa “Stabilo”, sem que tenha existido previamente uma

avaliação de impacto ambiental.

A Associação Ambiental “Futuro Verde” intentou uma Ação Administrativa no Tribunal Administrativo e Fiscal

de Sintra com vista à impugnação do ato de atribuição da licença. Confrontado com esta situação numa reunião do

Conselho de Administração da “Stabilo”, o Diretor Jurídico assegurou que, em virtude da não transposição da

diretiva, a posição da empresa estava completamente salvaguardada. Quid Juris?


4. Em 2012 e assim que completou 18 anos, Maria começou a trabalhar na Empresa XPTO, tendo sido despedida em

janeiro de 2022, duas semanas depois do termo do prazo de transposição da Diretiva X/2021, que concretizava um

quadro geral de igualdade de tratamento no emprego assente numa proibição de qualquer forma de discriminação.

Para além de ter ficado preocupada com o seu futuro, Maria sentiu-se profundamente surpreendida por ter sido

despedida com o aviso prévio de 1 mês, já que tinha consciência que o regime geral do Código do Trabalho obrigava

a que os trabalhadores com 10 anos de serviço fossem despedidos com o aviso de prévio de 6 meses.

Tendo dúvidas quanto à legalidade do despedimento, Maria contactou um advogado que lhe explicou que no

Código do Trabalho existia um regime especial que estabelecia que o tempo de trabalho prestado por um

trabalhador antes dos 25 anos de idade não deveria ser contabilizado para efeitos de cálculo do aviso prévio no

âmbito do despedimento. O advogado acrescentou que este regime especial tinha sido introduzido num período

de crise financeira, mas que hoje já não era justificado à luz de critérios objetivos.

Inconformada com a situação, Maria decidiu impugnar o seu despedimento tendo invocado o direito à não-

discriminação com base na idade concretizado na Diretiva X/2021.

Quid Juris?

5. O Parlamento Europeu e o Conselho adotaram a Diretiva V/2017, relativa à proteção da qualidade do ar, cujo prazo

de transposição terminou a 31.12.2018. Nos termos da Diretiva, os Estados-Membros deviam assegurar que não

eram construídos novos aglomerados industriais em zonas com elevada densidade populacional, a fim de assegurar

uma diminuição da poluição atmosférica. Em 22.06.2018, foi publicado em diário da república o Decreto-Lei

X/2018, que introduzia medidas de simplificação do licenciamento de atividades industriais. Nos termos do

Decreto-Lei, passou a ser permitida a construção de aglomerados industriais em zonas urbanas, algo que na

perspetiva do governo era justificado pela urgência de reindustrialização do país.

Quid Juris?

6. Em resposta a uma epidemia da gripe das aves, o Parlamento Europeu e o Conselho, adotaram a Diretiva Y/2018,

com o objetivo de instituir regras comuns de carácter sanitário nos aviários europeus. A Diretiva Y/2018, cujo prazo

de transposição terminou a 31.12.2018, atribuía aos trabalhadores o direito de exigirem uma indemnização às

entidades empregadoras, no caso de contraírem a doença no seu local de trabalho. O Estado Português, contudo,

não adotou qualquer medida quanto à transposição da Diretiva em causa.


Em 2019, Jaime ficou gravemente doente, após ter sido infetado, na empresa “Rei Dos Frangos, S.A” onde trabalha

há mais de 20 anos, por uma estirpe particularmente agressiva da gripe das aves. Depois de ter passado 3 meses

hospitalizado e após várias sessões de tratamento, Jaime contactou a sua entidade empregadora, a fim de ser

indemnizado, nos termos estabelecidos pela Diretiva Y/2018.

O Administrador Jurídico da “Rei dos Frangos, S.A” comunicou-lhe, no entanto, que a empresa não iria pagar

qualquer quantia a Jaime, invocando que a Diretiva Y/2018 não tinha sido transposta para o Ordenamento Jurídico

Português e que a empresa cumpria de forma exemplar toda a legislação nacional. Frustrado com a situação, Jaime

decidiu consultar um advogado, com a intenção de perceber a quem poderá exigir, pelo menos, o ressarcimento

das despesas hospitalares que teve de suportar.

Quid Juris?

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